Fisioterapia Brasil Ano 8 - no 1 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro de 2007 Colaboração Janeiro / Fevereiro de 2007 ISSN 1518-9740 Síndrome patelofemoral • Taping patelar e fisioterapia • Desempenho e capacidade funcional após reabilitação Gravidez • Dor lombar e idade gestacional Cardiorrespiratório • Dor e função pulmonar após revascularização miocárdica • Fisioterapia após cirurgia com circulação extracorpórea Ensino • Estágios curriculares em fisioterapia www.atlanticaeditora.com.br !Capa.indd 1 12/3/2007 09:50:14 Fisioterapia Brasil Ano 8 - no 2 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - Março / Abril de 2007 Março / Abril de 2007 ISSN 1518-9740 Traumato • Luxação anterior do ombro • Lesão obstétrica de plexo braquial Postura • Densidade de colchões Neuro • Treinamento aeróbico dos membros em paraplegia • Treienamento da marcha na diplegia espástica Laserterapia • Laser vs. medicamento antiinflamatório www.atlanticaeditora.com.br !Capa.indd 1 20/4/2007 17:11:53 Fisioterapia Brasil Ano 8 - no 3 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - Maio / Junho de 2007 Maio / Junho de 2007 ISSN 1518-9740 Biomecânica • Lordose lombar e marcha em esteira inclinada Ombro • Cinesioterapia do ombro após cirurgia do câncer da mama • Avaliação do estado funcional do ombro Eletromiografia • Ativação muscular sobre a prancha de equilíbrio Neuro funcional • Treinamento da marcha na diplegia espástica • Acesso de crianças com paralisia cerebral à fisioterapia • Paraplegia e treinamento da musculatura respiratória Mulher • Exercícios de fortalecimento do assoalho pélvico www.atlanticaeditora.com.br Fisioterapia Brasil Ano 8 - no 4 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 4 - Julho/Agosto de 2007 Julho/Agosto de 2007 ISSN 1518-9740 Câncer da mama • Patologia do ombro no pré-operatório Esporte • Atitudes escolióticas em atletas de judô • Lesões em atletas de montaria em touros Gravidez • Incontinência no pós-parto Cardiorrespiratório • Avaliação respiratória na espondilite anquilosante www.atlanticaeditora.com.br !Capa.indd 1 28/8/2007 15:25:06 Fisioterapia Brasil Ano 8 - no 5 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 5 - Setembro/Outubro de 2007 Setembro/Outubro de 2007 ISSN 1518-9740 Cardiorrespiratório • Percussão manual e parâmetros cardíacos • Avaliação pulmonar após cirurgia cardíaca • Insuficiência mitral Vertigem • Fisioterapia e disfunção vestibular Laserterapia • Laser e estimulação da osteogênese • Laser e inflamação granulomatosa Prostata • Incontinência urinária após prostatectomia radical Traumato • Síndrome da dor fêmoro-patelar www.atlanticaeditora.com.br !Capa_V8n5.indd 1 8/11/2007 16:46:49 Fisioterapia Brasil Ano 8 - no 6 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 6 - Novembro/Dezembro de 2007 Novembro / Dezembro de 2007 ISSN 1518-9740 Tecnologias • Iontoforese na fisioterapia • Iontoforese e eletrodos móveis • Ondas de choque na fascite plantar Trabalho • Escala de estressores em linhas de produção Dança • Hiperlordose e posição dos pés Neurologia • Doença de Parkinson e desempenho cognitivo-motor • Reabilitação e mirror visual feedback Queimaduras • Reabilitação e queimaduras torácicas www.atlanticaeditora.com.br !Capa_V8n6.indd 1 10/1/2008 17:07:44 Fisioterapia Brasil (vol.8, nº1 janeiro/fevereiro 2007 - 1~80) EDITORIAL A voz do povo é a voz de Deus.......será?, Marco Antonio Guimarães da Silva ............................................................................... 3 ARTIGOS ORIGINAIS Avaliação isocinética da performance funcional dos músculos quadríceps femoral e isquiotibiais de jogadores profissionais de futebol, José Renato Sousa Bulhões, Adriano Prado Simão, Karina Nogueira Zambone Pinto, Marcelo Tavella Navega, Stela Márcia Gonçalves Mattiello Rosa ............................................................................................................................................ 4 Análise da eficácia do taping patelar associado a um programa de tratamento fisioterapêutico em indivíduos do sexo feminino com disfunção patelofemoral, Rafael Aleixo Favarini, Lygia Paccini Lustosa ................................................................................................................................... 9 Avaliação da dor e da função pulmonar em pacientes submetidos à cirurgia de revascularização miocárdica, Camila Pereira Leguisamo, Moana Franken de Freitas, Natália Fialho Maciel, Paulo Donato ................................................................................................... 14 Avaliação da progressão no desempenho e capacidade funcional em indivíduos em reabilitação devido à síndrome patelo femoral, Claudius de Melo César, Fabiana Cunha Alves, Leonardo Tadeu Napoleão Gonsálves, Juliana Ocarino, Paula Lanna .......................................................... 19 Análise da confiabilidade do teste de Lasègue e do teste de Slump para verificação da tensão neural, Priscilla Hellen Martinez Blanco, Rafael Augustus de Souza Moraes, Ligia Maria Facci ..................................................................................................................... 25 Freqüência de dor lombar em grávidas e relação com a idade gestacional, Eliane de Oliveira Guedes de Aguiar, João Santos Pereira, Marco Antonio Guimarães da Silva ...................................................... 31 Método terapêutico-pedagógico no tratamento da dor lombar, Tiene Deccache, Marco Antônio Guimarães da Silva..................................................................................................................... 36 REVISÕES Amamentação e respiração bucal: abordagem fisioterapêutica e odontológica, Fernanda Vargas Ferreira, Fabiana Vargas Ferreira, Zuleica Tabarelli .................................................................... 41 Reabilitação vestibular, Daniella Regina Porto Buzatti, Cíntia Albertin, Silvana Teixeira Carmona, Anna Eliza Almeida Lima de Oliveira, Cláudia Byrro, Luís Roberto..................................................... 47 O papel da fisioterapia respiratória precoce na evolução de pacientes submetidos à cirurgia cardíaca com circulação extracorpórea, Clarissa Blattner, Eduardo Keller Saadi...................................... 53 Estágios curriculares em fisioterapia, Lázaro Juliano Teixeira, Maria Amélia de Campos de Oliveira ........................................................................................................................................... 57 Terapia de restrição e indução do movimento em pacientes pós-AVC, Wilma Costa Souza, Adriana B. Conforto, Charles André ............................................................................................................. 64 ESTUDO DE CASO Efeitos da estimulação elétrica neuromuscular sobre o stiffness do membro hipertônico, Luciane Aparecida Pascucci Sande, Cyntia Rogean de Jesus Alves, IsmaeI Fatarelli, Rafael Ferraz Marques, Andréia Regina Hernandez, Priscila Zimbardi de Almeida ........................................................................ 69 NORMAS DE PUBLICAÇÃO ..........................................................................................................................................74 EVENTOS ..........................................................................................................................................................................76 Fisioterapia_v8n1.indb 1 12/3/2007 10:18:33 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 2 Fisioterapia Brasil www.fisioterapiabrasil.com.br Editor científico Prof. Dr. Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ – Rio de Janeiro) Editor assistente Dra. Karina de Lima Dias – Bauru, SP e Dra. Noemi Damasceno de Oliveira – Rio de Janeiro Conselho científico Profa. Dra. Anamaria Siriani de Oliveira (USP – Ribeirão Preto) Prof. Dr. Dirceu Costa (Unimep – São Paulo) Profa. Dra. Elaine Guirro (Unimep – São Paulo) Prof. Dr. Esperidião Elias Aquim (Univ.Tuiuti – Paraná) Profa. Dra. Fátima Aparecida Caromano (USP – São Paulo) Prof. Dr. Guillermo Scaglione (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina) Prof. Dr. Hugo Izarn (Univ. Nacional Gral de San Martin – Argentina) Prof. Dr. Jones Eduardo Agne (Univ. Federal de Santa Maria – Rio Grande do Sul) Prof. Dr. José Rubens Rebelatto (UFSCAR – São Paulo) Prof. Dr. Marcus Vinícius de Mello Pinto (Centro Universitário de Caratinga – MG) Profa. Dra. Margareta Nordin (Univ. de New-York – NYU – Estados Unidos) Prof. Dr. Mario Antônio Baraúna (Univ. do Triângulo Mineiro – UNIT – Minas Gerais) Profa. Dra. Neide Gomes Lucena (Univ. Fed. da Paraíba – UFPB – João Pessoa) Profº Dr. Nivaldo Antonio Parizotto (UFSCAR – São Paulo) Prof. Dr. Norberto Peña (Univ. Federal da Bahia – UFBA – Bahia) Prof. Dr. Roberto Sotto (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina) Profa Dra Tania de Fátima Salvini (UFSCAR – São Paulo) Dr. Antonio Neme Khoury (HGI – Rio de Janeiro) Dra. Claudia Bahia (FAFIS/IAENE – Salvador) Dr. Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Dr. Hélio Pio (Rio de Janeiro) Prof. Dr. João Santos Pereira (UERJ – Rio de Janeiro) Dra. Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina) Grupo de assessores Dr. Jorge Tamaki (PUC – Paraná) Dra. Marisa Moraes Regenga (São Paulo) Dra. Luci Fabiane Scheffer Moraes (Univ. do Sul de Santa Catarina) Dr. Paulo Henrique Eufrásio de Oliveira (UNIRB – Bahia) Prof. Dr. Paulo Heraldo Costa do Valle (UNICID – São Paulo) Dr. Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard) Revista Indexada na LILACS - Literatura Latinoamericana e do Caribe em Ciências da Saúde Direção de arte Cristiana Ribas [email protected] Rio de Janeiro Rua da Lapa, 180/1103 20021-180 – Rio de Janeiro – RJ Tel./Fax: (21) 2221-4164 / 2517-2749 E-mail: [email protected] www.atlanticaeditora.com.br São Paulo Praça Ramos Azevedo, 206/1910 01037-010 – São Paulo – SP Tel.: (11) 3362-2097 Recife Monica Pedrosa Miranda Rua Dona Rita de Souza, 212 52061-480 – Recife – PE Tel.: (81) 3444-2083 / 9204-0346 E-mail: [email protected] Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin [email protected] Publicidade e marketing René Caldeira Delpy Jr. [email protected] Assinaturas 6 números ao ano: Brasil - 1 ano: R$ 180,00 América Latina - 1 ano: US$ 180,00 Europa - 1 ano: 180,00 Colaboradora da Redação Guillermina Arias [email protected] Atendimento ao assinante Edilaine Silva [email protected] Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço por correio ou por e-mail aos cuidados de Jean-Louis Peytavin Rua da Lapa, 180/1103 20021-180 – Rio de Janeiro – RJ [email protected] www.atlanticaeditora.com.br Ilustração da capa: Músculos do crânio e do rosto, ilustração de G. Devy, Traité d’anatomie humaine de Leon Testut, Paris, 1904. I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. © ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. Fisioterapia_v8n1.indb 2 12/3/2007 10:18:42 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 3 Editorial A voz do povo é a voz de Deus.......será? Marco Antonio Guimarães da Silva,Med.Dr.Sci. [email protected] Antes que se faça alguma interpretação ou leitura equivocada de minha opinião sobre a afirmação de Popper (Karl Raimund Popper, 1920-1996) que, com a retirada da indagação, acaba por ser o título do presente editorial, quero confessar que, apesar de tudo, ainda sou um democrata confesso. A expressão “apesar de tudo” é aqui usada para expressar a desilusão com um sistema que acabou abrigando em seu seio lideres como um Jörg Haider, na Áustria , um Jean Marie Le Pen, na França, e a penca de populistas que parecem florescer como nunca na América Latina. Todos “de um modo ou de outro” eleitos “democraticamente” e dirigentes da sociedade contemporânea. Mas qual poderia ser a diferença entre os regimes e a sociedade do passado e a democracia supostamente sedimentada no presente. Haveria semelhanças entre ambas? A concepção de sociedade na antiga Grécia encontrava na República (Platão) a sua melhor definição e admitia o mito do destino que condenava essas sociedades a seguir por um caminho previamente traçado pelo visionário de plantão. Platão acaba sendo o paladino desse tipo de sociedade ao defender, em seu modelo de Estado, um governo totalitário. A sociedade que defendia era utópica, esteticista e perfeccionista, identificada com um ideal social abstrato, não levando em conta a natureza do homem e a realidade material do mundo. Para Platão, somente o iluminado pelas idéias poderia dirigir a sociedade para a sua perfeição. Ao povo, não iluminado pela idéia, a República, segundo palavras de Platão, “deverá ensiná-lo a não sonhar nunca, a não atuar com independência e a tornar-se incapaz de fazê-lo.” Esse tipo de sociedade foi denominada por Popper de sociedade fechada e foi defendida na contemporaneidade por Hegel e Marx. A concepção marxista da sociedade, dirigida exclusivamente pela economia, em permanente luta de classe, era formada por uma infra-estrutura material e superestrutura política e cultural, não deixando margem a nenhuma outra interpretação e a qualquer critica externa. Ou se estava com o Marxismo ou se estava contra ele. Para Popper a sociedade Marxista era utópica, messiânica e mal dirigida por umas profecias que prometiam uma igualdade perfeita. Tal qual a sociedade Platônica, a sociedade Marxista negava a liberdade aos que não pertenciam ao grupo de profetas iluminados. A massa deveria seguir docilmente a seus lideres. As doutrinas defensoras deste tipo de sociedade pretendiam que a historia fosse dirigida por idéias ou metas finais e acabariam, segundo Popper, provocando um anquilosamento social. A solução para o problema, ainda segundo Popper, seriam a liberdade de todo mundo para opinar e contradizer os líderes políticos. Ao que tudo indica, o Marxismo não mais é o fantasma que apavora a atual e “globalizada” (?) economia e a República parece não ser a bíblia da maioria dos dirigentes, até porque alguns deles teriam dificuldade em lê-la. O limiar de pobreza, expresso em seus limites máximos em alguns paises da África e em quase todos os paises da América Latina, e a ingênua credulidade das grandes massas, presentes nessas regiões e em paises da Europa e América do Norte, podem estar contribuindo para o surgimento dos populismos abertos ou velados, manejados pelos tiranetes de plantão, travestidos como democratas ou como republicanos. O resultado para tudo isso: a violação das mais elementares normas da humanidade. Lamentavelmente essa é a realidade do século XXI. E é uma lástima ter que constatar que o real e o ideal não andam de mãos dadas. O nosso ideal submetido a fatalidade modificável da história, acabou por adaptar-se a uma ditatorial e demagógica democracia. Platão nunca esteve tão atual!! *Professor da UFRRJ e de curso de Doutorado recomendado no exterior e Editor cientifico da Revista Fisioterapia Brasil Fisioterapia_v8n1.indb 3 12/3/2007 10:18:43 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 4 Artigo original Avaliação isocinética da performance funcional dos músculos quadríceps femoral e isquiotibiais de jogadores profissionais de futebol Isocinetic evaluation of the functional performance of quadriceps and ischiotibial muscles in professional soccer players José Renato Sousa Bulhões*, Adriano Prado Simão*, Karina Nogueira Zambone Pinto*, Marcelo Tavella Navega, D.Sc.**, Stela Márcia Gonçalves Mattiello Rosa, D.Sc.** *Universidade Federal de São Carlos, **Curso de Graduação de Fisioterapia da UFSCar Resumo Abstract O objetivo deste trabalho foi analisar o pico de torque concêntrico e excêntrico e a relação isquioitibiais/quadríceps, em jogadores profissionais de futebol, ao final do campeonato paulista da 2ª divisão. Oito jogadores foram avaliados em um aparelho isocinético Biodex System II. Entre os jogadores avaliados não encontramos diferenças significativas entre os membros dominantes e não dominantes, prevalecendo um maior valor de pico de torque para o músculo quadríceps femoral do que os ísquios-tibiais de acordo com nossa expectativa. The aim of this study was to analyze eccentric and concentric peak torque and the relation between ischiotibial/quadriceps, in professional soccer players, at the end of the second division of Paulista championship. Eight players were evaluated using a Biodex System II isokinetic. We did not find significant difference between the dominant and the non-dominant limbs, a higher torque peak of the femoral quadriceps muscle prevailed on ischiotitibial according to our expectative. Key-words: quadriceps, ischiotibial, isocinetic evaluation. Palavras-chave: quadríceps, isquiotibiais, avaliação isocinética. Introdução O futebol é considerado o esporte mais popular do mundo. Acompanhando esta alta taxa de popularidade existe um alto índice de lesões, sendo que a maioria ocorre principalmente nos membros inferiores, de 69 a 88% dos casos [1]. O joelho, com 26%, obtém a maior porcentagem e os músculos da coxa tem 11% das lesões em jogadores de futebol [2]. Coisier et al. [3] especificam os ísquiotibiais como a musculatura com maior incidência de distensões musculares em atletas e uma alta porcentagem de re-ocorrências também está presente, sendo problemático não só para o atleta, mas para os treinadores e o departamento médico. Vários são os fatores que podem levar a lesões como fraqueza muscular, for- talecimento não balanceado, flexibilidade diminuída, fadiga e aquecimento inadequado. Segundo Weineck [4] a força em aceleração (concêntrica) pode ser verificada em saltos e finalizações, já as frenagens (força excêntrica) têm como exemplos típicos as paradas bruscas, as mudanças de direções e a fase inicial das corridas e dos saltos. Devido a grande solicitação desses músculos torna-se alta a probabilidade de lesões, que poderiam ser prevenidas com a realização de aquecimento adequado antes dos jogos de futebol, assim como por meio de um programa de exercícios diários, incluindo alongamento e fortalecimento muscular [5]. Pela sua ação antigravitacional, o músculo quadríceps femoral é cerca de três vezes mais forte que os isquiotibiais [6,7], sendo assim, o torque máximo do quadríceps femoral é Recebido em 20 de dezembro de 2004; aceito em 9 de fevereiro de 2007. Endereço para correspondência: José Renato Sousa Bulhões, QRSW 01 Bloco B15 apto. 302, Sudoeste, 70675-135 Brasilia DF, E-mail: jrsb1@ zipmail.com.br Fisioterapia_v8n1.indb 4 12/3/2007 10:18:43 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 maior que o torque máximo dos isquiotibiais. Segundo Smith et al. [8] a diferença de torque entre estes grupos musculares pode estar relacionada com a área de secção transversal, sendo que os extensores geralmente apresentam o dobro da área de secção transversal dos músculos flexores do joelho, além do que o quadríceps femoral tem um braço de força mais longo, quando comparado com os músculos isquiotibiais. Em estudo realizado por Cometti et al. [9], entre jogadores de futebol da França da primeira e segunda divisão e amadores, foi constatada diferença significativa de força excêntrica na musculatura flexora do joelho, quando comparados com jogadores da primeira divisão com amadores, nas diferentes velocidades angulares. Segundo os autores, este aumento da força dos isquiotibiais pode ser devido ao mecanismo de controle articular que ele exerce, limitando a amplitude de movimento do joelho durante um chute ou agindo na desaceleração quando o indivíduo está correndo. Além da capacidade funcional isolada de cada músculo, a relação quadríceps femoral e ísquiotibiais, segundo Ladeira e Mage [10], pode predispor o jogador de futebol a maiores ou menores números de distensões musculares. Em estudo realizado com jogadores amadores canadenses, antes do início de um campeonato de futebol, estes autores identificaram que os atletas com alta proporção da razão entre os flexores e extensores do joelho, obtidas na avaliação pré-campeonato, sofreram mais distensões musculares nos membros inferiores do que seus companheiros com baixa proporção. Soderman et al. [11] verificou em seu estudo com atletas de futebol que 05 sofreram lesões no ligamento cruzado anterior e esses atletas possuíam uma razão concêntrica diminuída entre os músculos ísquios-tibiais e quadríceps femoral, quando comparado ao membro contralateral. Orchard et al. [12] encontraram em atletas lesões dos ísquios-tibiais naqueles que possuíam uma musculatura fraca comparada com a contralateral de acordo com a razão existente entre ísquios-tibias e quadríceps-femoral. Citam que após uma lesão nos ísquios-tibiais é importante se recuperar, através de um trabalho em um equipamento isocinético, a proporção agonista/antagonista de uma maneira equilibrada, reduzindo a incidência de nova lesão. Portanto, alguns autores [1,7,8] citam a importância de se realizar um fortalecimento de forma adequada e equilibrada, ao invés de se preconizar o fortalecimento de um grupo muscular ignorando o treinamento de outros. Além disso, também é preciso considerar o papel principal do membro inferior na prática esportiva, analisando se o mesmo é utilizado com a finalidade básica de apoio ou para a realização do chute, o que poderia determinar o valor de torque gerado assim como os valores de relação isquiotibiais/ quadríceps, dependendo da respectiva ação destes músculos. Com este intuito, Holtmann e Hettinger [13] realizaram um estudo com jogadores de futebol no qual foram encontradas diferenças significativas de força entre o quadríceps direito e esquerdo, sendo que a perna preferida de apoio desenvolveu maior valor de força estática, o que foi justificado pelos autores Fisioterapia_v8n1.indb 5 5 pelo fato de a mesma ter a função de garantir a estabilidade do corpo. Em outro estudo, Rahnama et al. [14] citam a importância do fortalecimento que vise não somente um aumento de força, mas de resistência a fadiga. Foram submetidos a um protocolo de futebol trinta jogadores, que passaram por avaliações isocinéticas antes do programa, no intervalo e ao final do protocolo e verificaram uma diminuição progressiva da força muscular através do pico de torque do músculo quadríceps e ísquios-tibiais. Devido à importância de uma adequada relação funcional entre os músculos quadríceps femoral e isquiotibiais do mesmo membro inferior e entre os membros contralaterais para a realização da prática do futebol e prevenção das lesões que podem acompanhá-la, justifica-se a realização deste trabalho. Material e métodos Sujeitos Participaram deste estudo oito atletas do sexo masculino, com idade média de 21,1 ± 3,4 anos que praticam profissionalmente a modalidade desportiva futebol pelo Grêmio Esportivo Sãocarlense, disputando o campeonato paulista da segunda divisão. Foram excluídos da pesquisa os voluntários que apresentaram lesões do sistema músculo esqueléticas, identificadas por avaliação funcional fisioterapêutica. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo comitê de ética local e todos os atletas foram instruídos sobre o objetivo da pesquisa e a forma de realização dos procedimentos, assinando um termo de consentimento. Procedimento experimental Para a coleta do pico de torque concêntrico e excêntrico foi utilizado um dinamômetro isocinético da marca Biodex System II (Versão Software 4.5) localizado no Ambulatório de Fisioterapia da Universidade Federal de São Carlos. Inicialmente o aparelho foi calibrado conforme as orientações do fabricante. Após essa etapa, efetuou-se o aquecimento dos membros inferiores dos atletas, em uma bicicleta ergométrica estacionária, durante cinco minutos com carga mínima, ficando o atleta apto a realizar a avaliação isocinética concêntrica e excêntrica de flexão e extensão de ambos os joelhos. Para a avaliação isocinética utilizou-se a metodologia proposta por Cometti et al., [9]. Com o jogador sentado, alinhamos visualmente o côndilo lateral do joelho do atleta (escolhido aleatoriamente) com o eixo do dinamômetro isocinético. O atleta foi estabilizado por um cinto pélvico, dois cintos torácicos em cruz e um cinto no terço distal da coxa, para evitar ao máximo as compensações e permitir movimentação livre do joelho a ser testado. Antes de iniciar o teste, foi realizada uma familiarização com o equipamento consistindo de 3 até 5 contrações concêntricas submáximas (~50%) e uma contração concêntrica máxima. O arco de movimento foi 12/3/2007 10:18:44 6 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 de 90º de flexão até extensão total. Para a realização do teste concêntrico, os jogadores realizaram três contrações máximas concêntricas nas velocidades de 60, 120 e 300º/segundo, com um período de descanso de 2 a 3 minutos entre as séries. O mesmo procedimento foi feito para o outro membro. Finalizado os testes concêntricos com ambos membros, foi dado um intervalo de 5 minutos e iniciada a avaliação excêntrica. O paciente manteve-se posicionado no equipamento da mesma forma que a anterior. O joelho a ser testado foi o joelho contralateral ao que foi testado por último na contração concêntrica, devido ao maior tempo de descanso para uma melhor recuperação. Para o teste excêntrico repetiu-se todo o protocolo adotado para o teste concêntrico, porém houve alteração somente nas velocidades angulares, utilizando-se somente duas velocidades a de 60 e 120º/segundo. Finalizado os testes, obteve-se o relatório do próprio equipamento indicando a razão entre os flexores e extensores do joelho nas modalidades concêntrica e excêntrica e os valores de pico de torque. Figura 2 - Médias e desvios padrão do pico de torque, na velocidade de 120°/seg. Analise estatística Figura 3 - Médias e desvios padrão do Pico de Torque, na velocidade de 300°/seg. Conc= concêntrico, excen= excêntrico, ND= membro não dominante, Dom= membro dominante. Os valores de pico de torque na contração concêntrica na velocidade de 300°/seg., também não apresentaram diferença significativa entre os membros, representados na figura 3. Os dados foram analisados estatisticamente através de técnicas descritivas. Para comparar os valores de pico de torque e a relação isquiotibiais/quadríceps, entre os membros inferiores dominante e não dominantes, foi utilizado o Teste t de Student. Para as conclusões das análises estatísticas foi utilizado o nível de significância de 5% ( p ≤ 0,05). Resultados Os resultados do Pico de Torque, obtidos nas avaliações isocinéticas concêntrica e excêntrica, para os membros inferiores dominante e não dominante nas velocidades de 60 e 120°/seg., como mostram as Figuras 1 e 2, respectivamente, não apresentaram diferença significativa entre os valores médios de pico de torque, tanto para contração concêntrica, como para excêntrica. Figura 1 - Médias e desvios padrão do Pico de Torque (Nm), na velocidade de 60°/seg. ND= membro não dominante, Dom= membro dominante. Quando foi comparada a relação isquiotibiais/quadríceps, o teste aplicado também não identificou diferença entre os membros, como mostra a Tabela I. Tabela I - Médias e desvios padrão da relação Isquiotibiais/Quadríceps para Pico de Torque isocinético, nas velocidades de 60, 120 e 300/s. Membro não dominante Membro dominante Teste t-Student 51,95±5,03 54,20±12,18 56,68±7,77 68,25±20,26 73,58±5,69 50,88±6,00 53,65±6,65 57,58±8,83 57,32±6,97 72,51±7,82 NS NS NS NS NS Concêntrico 60º/s Excêntrico 60º/s Concêntrico 120º/s Excêntrico 120º/s Concêntrico 300º/s Valores expressos em porcentagem. NS = não significativo (p > 0,05). conc= concêntrico, excen= excêntrico, ND= membro não dominante, dom= membro dominante Fisioterapia_v8n1.indb 6 12/3/2007 10:18:45 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 Discussão Em jogadores de futebol profissional local parece não existir diferença da capacidade funcional entre os músculos quadríceps femoral e isquiotibiais. Os jogadores têm a preocupação de ganhar os diferentes campeonatos almejando disputar as divisões mais importantes. Para o cumprimento desta meta, estes atletas são submetidos a vários tipos de treinamentos e sobrecargas musculares, que poderiam resultar em alterações funcionais principalmente da musculatura flexo-extensora dos membros inferiores, de acordo com a especificidade de treinamento e da atividade desenvolvida pelo membro durante a prática do futebol. Para a avaliação funcional destes músculos, uma das variáveis do nosso estudo foi o valor do pico de torque desenvolvido pelos flexores e extensores do joelho do membro inferior utilizado para o chute e o membro de apoio, aqui denominados, dominante e não dominante, respectivamente. Não encontramos diferença estatisticamente significativa entre o valor do PT do membro inferior – dominante ou não dominante - independente da velocidade (60,180 e 300º/seg) e do tipo de contração do teste (concêntrica e excêntrica), tanto para flexão quanto extensão do joelho. Apesar destes achados, Holtmann e Hettinger [13] encontraram diferenças significativas de força entre o quadríceps do membro de apoio e o de chute em jogadores de futebol, com maior força estática desenvolvida pelo membro de apoio. No nosso trabalho só foram realizadas avaliações isocinéticas, não fez parte de nossa metodologia a avaliação isométrica, de tal forma, não é possível discutir os resultados deste trabalho. No entanto, nossos resultados são corroborados pelos obtidos por Magalhães et al. [1], que também não encontraram predomínio do torque gerado pelos músculos flexores e extensores de acordo com a função desencadeada pelo membro inferior em campo, realçando o caráter bilateral do treino e atuação desta modalidade. Em relação ao comportamento do pico de torque excêntrico, segundo Westing et al. [15], o músculo quadríceps femoral não altera o seu pico de torque excêntrico com a variação de velocidade, sendo ele sempre maior que o pico de torque concêntrico. Ainda segundo o autor supracitado, essa diferença entre o torque produzido nos dois tipos de contração aumenta com a elevação da velocidade angular de teste. Nossos resultados corroboram os achados descritos acima, uma vez que analisando o pico de torque gerado nos dois tipos de contração avaliados, pudemos observar uma tendência de aproximação dos valores concêntrico e excêntrico do mesmo membro inferior na velocidade de 60º/seg, tanto para quadríceps quanto para isquiotibiais, e uma tendência de aumento do PT excêntrico em relação ao concêntrico na velocidade de 120º/seg, também para os dois grupamentos musculares. Além disso, observamos também a manutenção dos valores Fisioterapia_v8n1.indb 7 7 do pico de torque excêntrico com o aumento da velocidade de teste, como referido pelos autores acima. De acordo com Dvir [16], estes resultados seriam justificados pelo fato de apesar de o valor de PT diminuir para os dois tipos de contração com o aumento da velocidade de teste, a contração concêntrica seria mais “velocidade dependente”, ou seja, o valor de pico de torque concêntrico apresentaria queda mais visível com o aumento da velocidade, resultando no aumento proporcional do valor do pico de torque gerado na contração excêntrica. A média de idade dos atletas em nosso trabalho foi de 21,1 anos ± 3,4 anos, porém Gur et al. [17] demonstram a importância de se considerar a variável idade. Em seus trabalhos dividiram 25 jogadores de futebol em adultos (> 21 anos) e jovens (≤ 21 anos) e encontrou valores de pico de torque concêntrico maiores no membro dominante em atletas adultos comparando aos jovens. Quanto aos resultados obtidos sobre a relação funcional isquiotibiais/quadríceps femoral, não foi encontrada diferença estatisticamente significativa entre o membro dominante e não dominante em nenhuma das velocidades de teste, no entanto, houve um aumento progressivo do valor de torque gerado pelo grupamento flexor do joelho em relação ao extensor com o aumento da velocidade angular. Dvir [16] confirma estes achados, considerando esta variação da proporção I/Q uma variável dependente da velocidade angular, com valores menores para velocidade baixas e acréscimo dos valores com o aumento da velocidade de teste. Rochongar [18], propôs recentemente uma concepção funcional (excêntrico flexor/concêntrico extensor) como um método preventivo para lesões musculares e do ligamento cruzado anterior. Poderíamos também considerar a influência da especificidade do treinamento dos músculos flexores e extensores do joelho nesta atividade esportiva. No entanto, para isso seria preciso avaliar as atividades específicas para a função de cada jogador na equipe, o que não seria possível analisarmos neste trabalho, uma vez que foram avaliados voluntários com diferentes funções em campo. Conclusão Baseado nos resultados obtidos neste estudo, pudemos concluir que a capacidade funcional do joelho de jogadores de futebol apresentaram torques semelhantes aos encontrados em outros estudos. Entretanto, mais estudos são necessários buscando informações quanto ao desempenho especificamente de jogadores de futebol, considerando divisões diferentes, posição em campo, idade e outras variáveis, para que desse modo, fisioterapeutas e preparadores físicos possam melhorar programas de prevenção e tratamentos das lesões decorrentes desse esporte. 12/3/2007 10:18:45 8 Referências 1. Magalhães J, Oliveira J, Ascensão A, Soares J. Avaliação isocinética da força muscular de atletas em função do desporto praticado, idade, sexo e posições específicas. 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O objetivo do estudo foi verificar a eficácia do uso do taping patelar de McConnell na diminuição da dor e na melhora do desempenho funcional, em um programa de tratamento, de indivíduos do sexo feminino, com diagnóstico de SDPF. Participaram do estudo cinco indivíduos, do sexo feminino, com idade média de 21,5 anos (± 2,57). Todas as voluntárias foram avaliadas pelo mesmo examinador antes, após a 9ª. sessão de tratamento e após a 18ª. sessão. A avaliação constou de testes de flexibilidade, testes específicos para diagnóstico de SDPF, Escala Visual Analógica de Dor para quantificar o nível de dor e aplicação da Escala de Karlsson para quantificar o desempenho funcional. Três voluntárias realizaram tratamento através de alongamentos específicos e exercícios de reforço muscular em cadeia cinética aberta (Grupo I). Duas voluntárias realizaram os mesmos exercícios, mas com a colocação do taping patelar segundo McConnell, antes da realização dos exercícios de reforço muscular (Grupo II). Os resultados não demonstraram diferença significativa entre os grupos, quanto a melhora da dor e do desempenho funcional após a 9ª. sessão (p = 0,34, p = 0,08, respectivamente). Também não houve diferença significativa entre os grupos após a 18ª. (p > 0,18). Não é possível afirmar, através dos resultados obtidos, que o uso do taping patelar associado ao programa de exercícios para o tratamento da SDPF, seja mais eficaz na melhora da dor e no desempenho funcional, que o uso somente do programa de exercícios. Patellofemoral painful syndrome (PPS) is described as a hard to treat multifatorial dysfunction. Various conservative therapeutic approaches are proposed to manage such syndrome with the intention to strengthen the knee extensor mechanism to promote better joint stability. One of the rehabilitation resources is the McConnell taping technique associated to physical therapy. The goal of this study was to verify the efficacy of patellar taping in reducing pain and improving functional performance associated to a treatment program in female patients diagnosed with PPS. Five female subjects, average age of 21,5 (± 2,57) years, participated in the study. The same examiner, before and after the 9th and 18th treatment session, evaluated them. Evaluation was comprised of flexibility tests, specific tests to diagnose PPS, pain analogue visual scale to quantify the intensity of pain and Karlsson scale to quantify functional performance. Three volunteers were submitted to specific stretching and strengthening muscle exercises in open kinetic chain (group 1). Two volunteers performed the same exercises done by the group 1 plus patellar taping technique described by McConnell, before performing the strengthening exercises (group 2). Results showed no significant difference between groups concerning pain relief and functional performance after the 9th session (p = 0,34, p = 0,08, respectively). Also, there was no significant statistical difference between both groups after the 18th session (p > 0,18). It is not possible to affirm, through the present results, whether the patellar taping technique associated to physical therapy to treat PPS shows more efficacies to reduce pain and functional performance than exercises alone. Key-words: taping patellar, patellofemoral disfunction, pain, functional outcomes. Palavras-chave: taping patelar, disfunção patelofemoral, dor, desempenho funcional. Recebido 6 de dezembro de 2005; aceito em 12 de dezembro de 2006. Endereço para correspondência: Lygia Paccini Lustosa, Rua Alvares de Azevedo, 122, Bairro Colégio Batista, 31110-290 Belo Horizonte MG, Tel: (31) 9983-1854, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v8n1.indb 9 12/3/2007 10:18:46 10 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 Introdução Material e métodos O termo síndrome dolorosa patelofemoral (SDPF) define uma queixa comum de dor anterior ou retropatelar no joelho [1,2]. Essa disfunção está geralmente associada com o exercício e piora com atividades que aumentam as forças compressivas do joelho como o permanecer por longos períodos na posição sentada, o subir e descer escadas e o agachar [1-10]. Tem maior incidência em adolescentes do sexo feminino e em indivíduos ativos [1], com idade entre 10 e 35 anos [3,7,8,11,12]. A SDPF é discutida como uma afecção multifatorial com causas diversas, mas talvez a mais comum seja a síndrome de deslocamento lateral [13]. Alguns dos fatores que podem desencadear o deslocamento lateral da patela incluem as anormalidades ósseas, a tensão do retináculo lateral e da banda iliotibial [4], a tensão do músculo isquiosural e/ou do músculo gastrocnêmio, o tendão patelar alongado, a patela alta, o mau alinhamento da tíbia [2,14,15], o geno valgo, o aumento do ângulo Q, a anteversão femoral, o joelho recurvatum, a pronação excessiva do pé e os traumas [2,4,13-15]. O tratamento fisioterapêutico para a dor na articulação patelofemoral é direcionado principalmente para a reabilitação do músculo quadríceps e especificamente, o músculo vasto medial oblíquo (VMO), que é definido como o estabilizador dinâmico medial da patela [16,17]. Esse tratamento inclui geralmente o fortalecimento do músculo quadríceps favorecendo a ativação do músculo VMO, o alongamento do músculo isquiosural, do gastrocnêmio, do tensor da fáscia e da banda iliotibial, o treinamento da estabilidade articular, a aplicação do taping patelar ou o uso do bracing, a indicação de órteses para correção da pronação excessiva da subtalar e as modificações das atividades de vida diária [2,3,5,11-14,1721]. Para a realização dos exercícios de fortalecimento Laprade et al. [7] e Fonseca et al. [22] avaliaram uma série de exercícios utilizados na prática clínica em cadeia cinética aberta e em cadeia cinética fechada, com o objetivo de demonstrar a sua eficácia através da análise da ativação muscular. Esses autores sugeriram que exercícios envolvendo a extensão do joelho associado à rotação da tíbia poderiam ser utilizados por apresentar uma melhor relação entre o músculo VMO e o músculo vasto lateral [7,22]. McConnell [14] introduziu a técnica do taping patelar em seu programa de tratamento em meados dos anos 80, com o objetivo de melhorar o posicionamento da patela, diminuindo a dor e favorecendo o fortalecimento do músculo quadríceps. A autora preconiza que a correção da patela e o seu melhor posicionamento favorecem a função do músculo quadríceps. O objetivo do estudo foi verificar a eficácia do uso do taping patelar de McConnell na diminuição da dor e na melhora do desempenho funcional, em um programa de tratamento, de indivíduos do sexo feminino com diagnóstico de SDPF. Foram convidados a participar do estudo indivíduos do sexo feminino, com idade variando entre 15 e 35 anos, que apresentavam características de SDPF. Os critérios de exclusão para o estudo foram história pregressa de cirurgia de joelho, instabilidade patelar, lesão meniscal, lesão ligamentar e fraturas prévias dos membros inferiores. As voluntárias foram recrutadas através de cartazes afixados em uma instituição de ensino particular e assinaram um termo de livre consentimento e esclarecido, concordando em participar do estudo. A mesma avaliação foi repetida após a realização da nona sessão e ao final do tratamento (18ª. sessão), pelo mesmo examinador que não teve conhecimento em momento algum, do grupo de tratamento das participantes. Após a avaliação inicial, as voluntárias foram sorteadas para o início do tratamento para Grupo I ou Grupo II. O Grupo I realizou exercícios de alongamento específicos conforme a avaliação e exercícios para reforço do músculo quadríceps em cadeia cinética aberta. O Grupo II realizou os mesmos exercícios que o Grupo I, mas associado ao uso do taping patelar, conforme a técnica descrita por McConnell [14], colocado pelo mesmo examinador, antes do início dos exercícios de reforço muscular. Esse examinador acompanhou todo o tratamento, mas não participou das avaliações. Dessa forma, foram avaliadas 13 mulheres, com idade variando entre 15 e 25 anos (21,5 ± 2,57anos). Dessas voluntárias, quatro não iniciaram o tratamento. Das nove participantes que deram início ao tratamento, uma abandonou o tratamento após a primeira sessão, duas abandonaram o tratamento após a segunda sessão e uma após a quarta sessão. Todas elas alegaram motivos pessoais e dificuldade quanto ao horário e deslocamento para o local de tratamento. Apenas cinco participantes deram continuidade ao estudo, concluindo o tratamento. O Grupo I constou então de três voluntárias e o Grupo II de duas voluntárias. A avaliação fisioterapêutica constou da aplicação da escala de Karlsson [23], específica para a articulação patelofemoral. Essa escala foi preenchida pela própria participante, tendo recebido apenas a informação que os sinais e sintomas referiam-se a “última semana” antes da aplicação da mesma. Todas as voluntárias foram orientadas a manter o mesmo nível de atividade física durante a realização do tratamento, sem dar início a nenhuma atividade nova, para que não houvesse possíveis alterações em relação ao quadro clínico e do desempenho funcional. Para quantificar o nível de dor utilizou-se a Escala Visual Analógica de Dor [2]. Os testes para pesquisa da flexibilidade muscular foram o teste de Ober para o encurtamento do músculo tensor da fáscia lata [24], o teste de Ely para o encurtamento do músculo reto femoral [24], o teste de Thomas modificado para avaliar a presença de encurtamento do músculo iliopsoas [24], o teste para encurtamento de adutores [25] e o teste para encurtamento dos isquiosurais [25]. Finalmente, foram realizados testes especiais Fisioterapia_v8n1.indb 10 12/3/2007 10:18:47 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 para a disfunção patelofemoral: teste de McConnell, sinal de Zohler e sinal de Frund [24]. Essa mesma avaliação foi repetida pelo mesmo examinador, que não teve conhecimento dos grupos de tratamento, após a voluntária realizar a 9a sessão e após a 18a sessão de tratamento. Durante o tratamento, tanto as participantes do grupo I quanto as do grupo II realizaram os mesmos exercícios de reforço muscular para os músculos extensores do joelho. Esses exercícios seguiram a descrição de Fonseca et al. [22] para a extensão do joelho em cadeia cinética aberta mantendo a rotação externa de quadril (Figura 1). Foram realizados ainda, os exercícios para a extensão do joelho em cadeia cinética aberta direcionando o movimento para a rotação interna da tíbia e exercício para a extensão de joelho em posição neutra de acordo com a descrição de Laprade et al. (Figura 2 e 3) [7]. O tratamento foi realizado três vezes por semana, durante o período de seis semanas (total de 18 sessões). Nas voluntárias do grupo II foi colocado o taping patelar (Figura 4) antes do início dos exercícios de reforço muscular citados acima. 11 Figura 3 - Contração isométrica em cadeia cinética aberta com o membro inferior em posição neutral. Figura 4 - Técnica de colocação do taping patelar segundo McConnell. Figura 1 - Contração isométrica em cadeia cinética aberta mantendo a rotação externa do quadril. Análise estatística Figura 2 - Contração isométrica em cadeia cinética aberta saindo da rotação externa e direcionando para a rotação interna do quadril. A análise estatística foi realizada através do programa estatístico SPSS 11.0. Para a comparação entre os grupos, quanto ao nível de dor e desempenho funcional, após a nona sessão e após a décima oitava sessão foi utilizando o teste não-paramétrico de Wilcoxon. O nível de significância foi estabelecido em α = 0,05. Fisioterapia_v8n1.indb 11 12/3/2007 10:18:47 12 Resultados Apesar de haver melhora em todos os parâmetros analisados, os resultados não demonstraram diferença significativa quando comparado os grupos I e II, quanto ao nível funcional p = 0,08 e quanto a melhora do nível da dor p = 0,34, após a nona sessão de tratamento. Da mesma forma quando comparados os grupos após a 18a. sessão, também não houve diferença significativa na melhora da funcionalidade e na melhora da dor (p > 0,18). Discussão O presente estudo teve como objetivo verificar a eficácia da utilização do taping patelar associado a um programa de exercícios no tratamento de indivíduos com SDFP, quanto à melhora da dor e do desempenho funcional. No entanto, os resultados não demonstraram diferença significativa entre os grupos estudados, o que não permite afirmar que o taping patelar aumente a eficácia do tratamento da SDFP. O tratamento das disfunções patelofemorais baseia-se no fortalecimento do músculo VMO, no intuito de estabelecer uma maior estabilidade articular [14,26]. Acredita-se que esse fortalecimento muscular possa promover uma maior medialização da patela, levando ao seu melhor alinhamento durante a extensão do joelho [14]. No entanto, existem controvérsias quanto ao melhor exercício e a melhor ativação desse grupo muscular [26]. O taping patelar proposto por McConell teve como objetivo não só a melhora da dor, mas também uma maior possibilidade do posicionamento adequado da patela. Bockrath et al. [17], utilizando o taping patelar durante o tratamento da SDFP, demonstraram que houve significativa redução no nível da dor, comprovando sua eficácia no resultado do tratamento. Ao contrário, Kowall et al. [12] também comparando grupos que utilizaram o taping com aqueles que não utilizaram, demonstraram que não houve diferença significativa entre os grupos estudados, o que corrobora com os resultados encontrados neste estudo. No presente estudo, uma das limitações que pode ter interferido nos resultados foi o número reduzido de participantes envolvidos, tornando a amostra muito pequena. Com relação ao tempo de tratamento, foi estabelecido o período de 6 semanas baseado no estudo de Crossley et al. [2] que demonstrou ser necessárias 6 semanas de tratamento para o alívio da dor utilizando o taping patelar associado a um programa de exercícios. No entanto, o período ideal de tratamento também apresenta controvérsias, visto existirem evidências que 4 semanas podem ser suficientes para a melhora da dor e retorno completo à funcionalidade, como afirmam Wittingham et al. [27]. Os resultados observados no presente estudo demonstraram melhora nos dois grupos principalmente entre a 1ª. e 9ª. sessão de tratamento. Esses resultados foram semelhantes ao do estudo de McConnell [14] que encontrou que 92% dos pacientes tratados, ficaram Fisioterapia_v8n1.indb 12 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 livres da dor após 8 sessões de tratamento utilizando o taping patelar e exercícios. Apesar da ausência de diferença significativa entre os grupos estudados, pôde-se observar uma melhora dos sintomas e da função após o tratamento. Essa observação sugere que o tratamento apresenta resultados satisfatórios, mas que novos estudos deverão ser realizados, para verificar o real papel do taping patelar no tratamento da SDPF. Conclusão Apesar da melhora observada nos grupos estudados, os resultados encontrados neste estudo não permitem afirmar que a utilização do taping patelar associado a um programa de fortalecimento muscular, para o tratamento da SDPF, seja mais eficaz do que apenas o programa de exercícios, na diminuição da dor e na melhora do desempenho funcional. Referências 1. Andrade PH, et al. Comparação da atividade elétrica dos músculos vasto medial oblíquo e vasto lateral oblíquo em indivíduos com disfunção fêmoro-patelar. Rev Fisioter Univ São Paulo 2001;8:65-71. 2. Crossley K, et al. Physical therapy for patellofemoral pain: a randomized, double-blinded, placebo-controlled trial. Am J Sports Med 2002; 30:857-65. 3. Cowan SM, et al. Physical therapy alters recruitment of the vasti in patellofemoral pain syndrome. Med Sci Sports Exerc 2002;34:1879-85. 4. Cowan SM, Bennell KL, Hodges PW. 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Participaram neste estudo 25 pacientes submetidos a CRM eletiva. Os resultados mostraram altos escores na percepção de dor no primeiro dia de pós-operatório, os quais se reduziram no quarto dia de pós-operatório. Os valores médios dos volumes pulmonares do primeiro para o quarto dia de pós-operatório aumentaram, porém não retornaram aos valores do pré-operatório. Analisando a dor e a função pulmonar, foi verificado que não houve relação entre as mesmas. Verificou-se que a CRM altera a função pulmonar e provoca dor torácica em repouso, contudo esta não influenciou nos dados espirométricos. The Coronary Artery Bypass Grafting (CABG) constitutes a procedure that can be done in patients with ischemic cardiopathy. The surgery trauma has a direct effect in the pulmonary function of the patient. The research was almost an analytic and experimental study with the general objective of assessing and comparing the perception of thorax pain at rest and also measuring and comparing the pulmonary function. In this study, there were 25 patients who were submitted to elective CABG. The results showed high scores in the perception of the thoracic pain at rest on the 1st postoperative day considering that they decreased on the 4th postoperative day. The medium pulmonary volume marks increased from the 1st to the 4th postoperative day, however, they did not return to the preoperative ones. When the pain and pulmonary function were analyzed we could notice there was no relation between them. On this study we could check that the CABG alters the pulmonary function and provokes the thoracic pain at rest, however, this pain did not influence the spirometric data. Palavras-chave: CRM, dor, espirometria. Key-words: CABG, pain, spirometry. Introdução A cirurgia de revascularização miocárdica (CRM), descrita por Favaloro no final da década de 60, tornou-se um procedimento cirúrgico freqüentemente realizado em muitos hospitais, sendo altamente efetivo para o tratamento da doença arterial coronariana, com definida melhora da sobrevida em grupos selecionados [1]. A hospitalização e a passagem por procedimento cirúrgico trazem mudanças sensitivas ao ser humano, dentre elas a dor. De acordo com a Sociedade Internacional para o Estudo da Dor, esta é definida como uma experiência desagradável de Recebido em 19 de dezembro de 2005; aceito em 14 de fevereiro de 2007. Endereço para correspondência: Camila Pereira Leguisamo, Rua Capitão Eleutério, 69/304, Centro, Passo Fundo RS, Tel: (54) 33146473/99769840, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v8n1.indb 14 12/3/2007 10:18:49 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 caráter sensorial emocional associada a lesão tecidual real ou potencial. Assim, em pós-operatório de CRM, torna-se importante a avaliação da dor torácica em repouso, que pode ser mensurável através da escala numérica visual [2]. Outra análise importante na avaliação de pacientes hospitalizados e que farão CRM é a da função pulmonar, vista através de índices espirométricos, uma vez que no pósoperatório há redução dos volumes pulmonares, em razão da disfunção diafragmática, da ausência de respirações profundas, dor, alterações pulmonares e mecânicas [3]. Avaliar a percepção da dor torácica em repouso e a função pulmonar foi o objetivo geral da presente pesquisa. Os objetivos específicos compreenderam: avaliar e comparar a percepção da dor torácica em repouso através da escala numérica visual, bem como mensurar e comparar a função pulmonar através de índices espirométricos de volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1) e capacidade vital forçada (CVF), além de verificar se há relação entre as mesmas no pré-operatório, no primeiro e no quarto dia pós-operatório em pacientes submetidos a cirurgia de revascularização miocárdica. Assim, o fisioterapeuta, como integrante de uma equipe multidisciplinar, pode avaliar a dor torácica em repouso e a função pulmonar nesses pacientes, para identificar alterações sensitivas e funcionais a fim de proporcionar melhores condições para esses pacientes no período de internação hospitalar. Materiais e métodos A pesquisa caracterizou-se por um estudo quase experimental analítico, através do qual se avaliou a dor torácica em repouso e a função pulmonar no pré-operatório, no primeiro e quarto dias de pós-operatório, em 25 pacientes submetidos à cirurgia eletiva de revascularização miocárdica com anastomose mamária e/ou ponte de safena, internados na CTI cardiológica ou em leitos hospitalares do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP) na cidade de Passo Fundo – RS, no período de maio a julho de 2005. O projeto de pesquisa do presente estudo foi encaminhado e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do HSVP. Após, foi encaminhado ao Comitê de Ética da Universidade de Passo Fundo, na cidade de Passo Fundo, RS, pelo qual obteve aprovação. Posteriormente, foi lido, entregue e assinado pelos pacientes, individualmente, um termo de consentimento livre e esclarecido elucidando de forma clara e objetiva os procedimentos, riscos e benefícios da pesquisa para sua autorização de participação na mesma. A amostra teve como critério de exclusão pacientes que se negaram a assinar o termo de consentimento livre e esclarecido ou que exerceram seu direito de desistir, a qualquer momento, de sua participação. Foram preenchidas fichas de avaliação contendo dados de identificação pessoal, diagnóstico clínico dos pacientes e posteriormente os dados obtidos, primeiramente, através Fisioterapia_v8n1.indb 15 15 da avaliação da percepção da dor torácica em repouso, pela Escala numérica visual, que varia de 1 a 10 pontos, sendo 1 indicativo de dor mínima e 10, de dor máxima (o valor 0 indica ausência de dor) [2], e, seqüencialmente os dados da função pulmonar, através da espirometria simples, conforme o I Consenso Brasileiro de Espirometria [4]. Foi utilizada a Anova para medidas repetidas a fim de comparar as variáveis nos três momentos distintos. O teste de comparações múltiplas Post Hoc Scheffé foi empregado na identificação das diferenças específicas, quando os valores de F encontrado mostraram-se superiores ao critério de significância estatística estabelecido em p < 0,05 [5]. A fim de analisar a relação entre a dor torácica em repouso e a função pulmonar, utilizou-se a correlação de análise multifatorial, dividindo-se as variáveis nas seguintes classes: CVF em cinco classes de 0,51 a 3,00 em um intervalo de 0,49; VEF1 em quatro classes de 0,31 a 2,70 num intervalo de 0,59 e a dor em quatro classes de 0 a 10 num intervalo de 2,5 [6]. Resultados e discussão Fizeram parte deste estudo 25 pacientes, sendo 17 homens (68%) e 8 mulheres (32%), apresentando uma média de idade de 60 ± 2,82 anos. Todos apresentaram diagnóstico clínico de cardiopatia isquêmica e realizaram fisioterapia respiratória e motora, conforme rotina hospitalar. A média de percepção da dor no pré-operatório foi de 0,48 ± 0,87 e, no primeiro dia pós-operatório, foi de 4,12 ± 2,64, valores que se modificaram no quarto dia pós-operatório para 2,48 ± 2,20 (Tabela I). A análise desses resultados pode mostrar diferença significativa (p = 0,000000) entre todos os grupos (Tabela II). Tabela I - Valores médios e desvio-padrão referentes à DOR de pacientes submetidos a CRM. Variáveis DORPRÉ DOR1º DOR4º N 25 25 25 Média 0,48 4,12 2,48 DP 0,87 2,64 2,20 F p 28,12 0,000000 Tabela II - Post Hoc Scheffé para DOR. DOR1PRÉ (1) DOR1º (2) DOR4º (3) 1 (0,48) ______ ______ ______ 2 (4,12) 0,000000 ______ ______ 3 (2,48) 0,000712 0,006066 ______ A verificação da administração analgésica foi realizada por meio de dados do prontuário diário dos pacientes e não interferiu na rotina das avaliações. Nenhum paciente estava sob efeito analgésico no período pré-operatório, ao passo que, no primeiro e quarto dia de pós-operatório, 22 (88%) e 13 (52%), respectivamente, haviam utilizado algum tipo de medicamento analgésico antes das avaliações (Fig. 1 e 2). 12/3/2007 10:18:50 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 16 Figura 1- Controle analgésico no primeiro dia pós-operatório. Tabela IV - Post Hoc Scheffé para CVF. CVFPRÉ (1) CVF1º (2) CVF4º (3) Figura 2 - Controle analgésico no quarto dia pós-operatório. 1 (3,08) ______ ______ ______ 2 (1,26) 0,000000 ______ ______ 3 (1,61) 0,000000 0,043459 ______ A Tabela V mostra que o valor médio de VEF1 obtido no pré-operatório foi de 2,16 + 0,81 l/min; no primeiro dia pós-operatório, a média foi de 0,88 + 0,35 l/min e, no quarto dia pós-operatório, de 1,16 + 0,45 l/min. Com esses dados, pode-se observar diferença significativa (p = 0,00000) entre o pré e o primeiro dia pós-operatório e entre o pré e o quarto dia pós-operatório, porém entre o primeiro e o quarto dia pósoperatório não houve diferença significativa (p = 0,075691), observada na Tabela VI. Tabela V - Valores médios e desvio-padrão referentes à VEF1 de pacientes submetidos a CRM. Variáveis VEF1PRÉ VEF11º VEF14º Em estudo semelhante, analisou-se a percepção de dor em pacientes submetidos à cirurgia cardíaca, observando que, mesmo sob o efeito de analgésicos, os pacientes indicavam altos escores nas escalas de dor no período pós-operatório [7]. Esse achado também foi comprovado no presente estudo, pois estar ou não sob efeito analgésico não influenciou na percepção da dor torácica em repouso. No quarto dia de pós-operatório pôde-se verificar uma menor média da percepção da dor em relação ao primeiro dia de pós-operatório, o que pode ser relacionado ao fato de já ter ocorrido a retirada dos drenos. Há redução dos escores da percepção da dor nesses pacientes após a retirada dos drenos [8]. Na espirometria o valor médio da CVF foi de 3,08 + 0,80 l/min no período pré-operatório; no primeiro dia pósoperatório a média foi de 1,26 + 0,43 l/min e, no quarto dia pós-operatório, foi de 1,61 + 0,54 l/min. (Tabela III). Com a análise dos dados identificados (Tabela IV) observou-se diferença significativa (p = 0,000000) entre o pré-operatório e o primeiro dia pós-operatório, entre o pré-operatório e o quarto dia pós-operatório e entre o primeiro e quarto dia pós-operatório. Tabela III - Valores médios e desvio-padrão referentes à CVF de pacientes submetidos a CRM. Variáveis CVFPRÉ CVF1º CVF4º Fisioterapia_v8n1.indb 16 N 25 25 25 Média 3,08 1,26 1,61 DP 0,80 0,43 0,54 F p 101,68 0,000000 n 25 25 25 Média 2,16 0,88 1,16 DP 0,81 0,35 0,45 F p 63,34 0,00000 Tabela VI - Post Hoc Scheffé para VEF1. VEF1PRÉ (1) VEF11º (2) VEF14º (3) 1 (2,16) ______ ______ ______ 2 (0,88) 0,000000 ______ ______ 3 (1,16) 0,000000 0,075691 ______ O principal achado que responde ao objetivo de avaliar a função pulmonar foi a redução dos índices espirométricos do pré-operatório para o pós-operatório. Essa redução dos volumes pulmonares pode ser explicada pelo fato de os pacientes estudados serem cardiopatas e apresentarem no préoperatório uma diminuição do fluxo sangüíneo para os tecidos e, conseqüentemente, uma redução da oferta de oxigênio para a musculatura respiratória, podendo acarretar prejuízo à função pulmonar, pois, afinal, essa condição está presente nos pacientes desde o pré-operatório até após o procedimento cirúrgico [3]. Apesar de ocorrerem danos inevitáveis na função pulmonar no pós-operatório, muitas vezes esses não oferecem significância clínica [9]. O sistema de correlações da análise multifatorial mostrou neste estudo que a dor não esteve relacionada tanto à função pulmonar quanto ao uso analgésico em nenhum dos momentos analisados. Os valores de CVF e VEF1 diminuíram no primeiro dia pós-operatório, independentemente do tipo de analgésico utilizado [10]. Nos pacientes do presente estudo, percebeu-se que estar ou não sob efeito analgésico não influenciou os dados de volumes pulmonares e na percepção da dor torácica em repouso (Fig.3). 12/3/2007 10:18:50 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 Figura 3 - Distribuição das variáveis de dor, volumes pulmonares e analgésicos. 17 A pesquisa mostrou que 19 pacientes utilizaram a veia safena associada à artéria mamária interna (Fig. 5). A estabilidade do esterno é afetada tanto nos pacientes que utilizaram somente a veia safena como nos que a utilizaram e a artéria mamária interna, porém nestes últimos o aporte sanguíneo para os músculos intercostais pode estar reduzido. Esses fatores podem ter favorecido para a redução da mecânica pulmonar observada no presente estudo e, por conseqüência, a redução da função pulmonar quando comparados os valores dos volumes pulmonares do pré-operatório aos valores obtidos no período pós-operatório [13,14]. Conclusão Após a CRM, três pacientes (12%) utilizaram dreno pleural bilateral, seis pacientes (24%), dreno mediastinal e 16 pacientes (64%) fizeram uso tanto de dreno pleural quanto mediastinal (Fig.4). Pequenas efusões na pleura influenciam na redução dos volumes pulmonares e o posicionamento dos drenos pode ter influenciado nos resultados referentes à função pulmonar e na percepção da dor [11]. O grupo dos pacientes que realizou a CRM somente com veia safena utilizou somente dreno mediastinal e obteve melhores índices de CVF e VEF1 em relação ao grupo que realizou o mesmo procedimento cirúrgico, porém com o enxerto da artéria mamária interna. A literatura mostra que a percepção de dor relatada pelos pacientes é menor naqueles que utilizam somente veia safena [12]. Figura 4 - Utilização de drenos. Com a presente pesquisa, verificou-se que a CRM provoca dor torácica em repouso e altera a função pulmonar. Os volumes pulmonares diminuíram do período pré-operatório para o primeiro dia de pós-operatório, com aumento dos índices de CVF e VEF1 no quarto dia de pós-operatório, sem retornar aos valores iniciais. Fatores como a presença de drenos e tipo de enxerto utilizado podem ter influenciado nos dados obtidos. O estudo verificou que as variáveis de dor torácica em repouso e volumes pulmonares não estiveram relacionadas, mesmo quando analisadas com o uso de analgésicos. Há carência na literatura consultada de estudos que tragam essa relação, pois, observou-se que as variáveis são estudadas de forma isolada ou relacionadas a procedimentos que envolvem a CRM. Assim, fazem-se necessários estudos que analisem essas relações, até mesmo correlacionando-as, por exemplo, a fatores de riscos e variáveis transoperatórias, bem como ao tipo de dreno e enxerto utilizados, já que estes são fundamentais para a realização desse procedimento cirúrgico. Dessa forma, torna-se de suma importância que o fisioterapeuta, bem como os demais profissionais da área da saúde, continue a buscar, através de estudos, melhores condições para pacientes tanto no período pré-operatório quanto durante o pós-operatório. Referências Figura 5 - Utilização da artéria mamária interna e/ou veia safena. Fisioterapia_v8n1.indb 17 1. Sant´Anna JRM, Castro I. Revascularização miocárdica. In: Castro I et al. Cardiologia: princípios e prática. Porto Alegre: Artmed; 1999. p.750-8. 2. Pereira MHC, Slullitel A. Analgesia, sedação e bloqueio neuromuscular no pós-operatório de cirurgia cardíaca. In: Auler Júnior JOC et al. Pós-operatório de cirurgia torácica e cardiovascular. Porto Alegre: Artmed; 2004. p.116-37. 3. Carvalho JBR et al. Evolução das pressões e volumes pulmonares na cirurgia cardíaca. Salusvita 2003;22(1):85-98. 4. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisologia. I Consenso Brasileiro de Espirometria. J Pneumol 1996;22(3):105-64. 5. Pestana MH, Gageiro JN. Análise de dados para ciências sociais - A complementaridade do SPSS. 3a ed. Lisboa: Sílabo; 2003. 6. Carvalho H. Análise multivariada de dados qualitativos – Utilização da HOMALS com SPSS. Liboa: Sílabo; 2004. 12/3/2007 10:18:51 18 7. Boldt J et al. Pan management in cardiac surgery patients: comparison between standard therapy and patient – controlled analgesia regimen. J Cardiothorac Vasc Anesth 1998;12(6):654-58. 8. Bonacchi M et al. Respiratory dysfunction after coronary artery bypass graffiting employing bilateral internal mammary arteries: the influence of intact pleura. Eur J Cardiothorac Surg 2001;19(6): 827-33. 9. Leguisamo CP et al. A efetividade de uma proposta fisioterapêutica pré-operatória para cirurgia de revascularização do miocárdio. Rev Bras Cir Cardiovasc 2005;20 (2):134-41. 10. Boisseau N et al. Improvement of ‘dynamic analgesia’ does not decrease atelectasis after thoracotomy. Br J Anaesth 2001;87(4):564-69. Fisioterapia_v8n1.indb 18 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 11. Bourn J, Jenkins S. Post-operative respiratory physiotherapy (indications for treatment). Physiotherapy 1992;78(2):80-85. 12. Hagl C et al. Site of pleural drain insertion and early postoperative pulmonary function following coronary artery bypass grafting with internal mammary artery. Chest 1999;115:757-61. 13. Berrizbeitia LD et al. Effect of sternotomy and coronary bypass surgery on postoperative pulmonary mechanics – comparison of internal mammary and saphenous vein bypass grafe. Chest 1989;96(4):873-76. 14. Vargas FS et al. Relationship between pleural changes after myocardial revascularization and pulmonary mechanics. Chest 1992;102(5):1334-6. 12/3/2007 10:18:52 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 19 Artigo original Avaliação da progressão no desempenho e capacidade funcional em indivíduos em reabilitação devido à síndrome patelofemoral Improvement evaluation in functional performance and capacity in individual rehabilitation due to patellofemoral syndrome Claudius de Melo César, Fabiana Cunha Alves, Leonardo Tadeu Napoleão Gonsálves, Juliana Ocarino, M.Sc.*, Paula Lanna, M. Sc.* * Professoras do Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH) Resumo Abstract De acordo com a Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF), o estado funcional de um paciente pode ser classificado em dois componentes distintos: capacidade e desempenho funcional. O objetivo deste estudo foi avaliar a progressão no desempenho, na capacidade funcional e no nível de dor de indivíduos em processo de reabilitação devido a Síndrome Patelo Femoral (SPF). Participaram do estudo, nove indivíduos de ambos os sexos, com diagnóstico clínico de SPF. Como instrumentos foram utilizados a Escala de Avaliação de Kujala (EAK), a Escala Análoga Visual (EAV) e o Teste de Oscilação e o Teste do Degrau. Os participantes foram avaliados na primeira semana de tratamento, 20 e 40 dias após a primeira avaliação. Para análise estatística foram utilizados o teste de Friedman, uma ANOVA com um nível de medida repetida e contrastes pré-planejados. Foi observado um aumento significativo do escore da EAK (p = 0,0001) e do número de repetições realizadas no teste de oscilação (p = 0,0001) e no teste do degrau (p = 0,0001), quando comparadas as 3 avaliações. Em relação à intensidade da dor foi observada uma diminuição do nível de dor apenas quando comparadas as avaliações 1 e 2. Os resultados do presente estudo demonstraram que pacientes com SPF após o tratamento fisioterápico, tiveram uma melhora significativa nos 3 níveis de classificação do CIF, avaliados através da capacidade, do desempenho funcional e do nível de dor. According to the International Classification of Functioning (ICF), a disease or pathology may have impact on three different levels denominated body function and structure, activities and participation. The ICF classifies patient’s functional status in two distinct components: capacity and performance. The objective of this study was to evaluate increasing on performance, capacity and pain in individuals treated due to a patellofemoral syndrome (PFS). Nine individuals with PFS from both sex participated of this study. Kujala Scoring Questionnaire (KSQ) was used to evaluate the functional performance. The level pain of the subjects was evaluated by visual analogue scale (VAS). The step down and balance tests were used to evaluate the functional capacity. The first evaluation was done in first week of treatment. The participants had been evaluated again 20 and 40 days after the first one. To statistical analysis was used the analyses of variance with one level of repeated measure and Friedman test. In addition was used pre planed contrasts. According to obtained results, it was observed a significant increase in the KSQ score (p = 0.0001) and repetition number realized in the balance (p = 0.0001) and step test (p = 0.0001) after treatment. In addition, was observed a significant decrease in the pain level when compared the evaluations 1 and 2. The results of the present study demonstrated that patients with PFS after physiotherapy treatment obtained a significant improvement in the pain and in functional capacity and performance. Palavras-chave: função, síndrome patelofemoral, reabilitação. Key-words: function, knee pain, patellofemoral syndrome, rehabilitation. Recebido em 5 de junho de 2006; aceito em 20 de janeiro de 2007. Endereço para correspondência: Juliana de Melo Ocarino, Av. Dr João Augusto da Fonseca e Silva, 995, Eldorado, 32341-100 Contagem MG, Tel: 031-33560853 / 9741-8509, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v8n1.indb 19 12/3/2007 10:18:52 20 Introdução O processo de reabilitação é definido como um conjunto de serviços integrados que tem como objetivo, prevenir, avaliar, identificar a ocorrência de deficiências e incapacidades, minimizando-as e revertendo-as [1-4]. Enquanto a medicina visa o controle e a prevenção da patologia e seus sintomas, a fisioterapia concentra seus esforços nas conseqüências funcionais que uma doença traz. Como uma mesma doença pode ter impacto funcional diferente na vida de cada indivíduo, é importante se desenvolver intervenções individualizadas para cada paciente [2,4]. Dado isso, é importante que haja um modelo teórico que enfatize o conteúdo funcional, explicando todo processo vivenciado por um indivíduo desde a instalação da doença até suas conseqüências funcionais [2,4]. A OMS desenvolveu um modelo teórico deste tipo, denominado Classificação Internacional de Funcionalidade Incapacidade e Saúde (CIF), que busca classificar as conseqüências funcionais de uma doença ou patologia. Este modelo viabiliza a caracterização de um perfil funcional individualizado dos pacientes, guiando o processo de avaliação e intervenção fisioterapêutica [4]. De acordo com a CIF, uma doença ou patologia pode resultar disfunções em três níveis [4]. O primeiro nível denominado estrutura e função do corpo tem como objetivo identificar anormalidades dos sistemas orgânicos. O segundo nível descreve a dificuldade na realização de tarefas e atividades sendo denominado atividade. O terceiro nível caracteriza a dificuldade de um indivíduo participar socialmente e culturalmente, ou seja, é o envolvimento de um indivíduo numa situação de vida real e é denominado participação [5]. Nestes dois últimos níveis, existem dois itens que os qualificam: a capacidade e o desempenho [4]. A capacidade descreve a aptidão de um indivíduo para executar uma tarefa ou uma ação, tendo como objetivo avaliar o nível máximo de função que a pessoa pode atingir. No entanto, é necessário ter um ambiente padronizado para excluir qualquer interferência de ambientes diferentes. O desempenho descreve aquilo que o indivíduo faz no seu ambiente de vida diária, incluindo o contexto social. Portanto, a capacidade e o desempenho qualificam a atividade e participação em um ambiente padronizado e real de vida diária, respectivamente, proporcionando uma informação importante para o profissional da saúde atuar no ambiente do individuo e melhorar seu desempenho. É importante que os profissionais da equipe de reabilitação, incluindo o fisioterapeuta, conheça os três níveis de função, especificadas pelo modelo já citado, para que as terapêuticas relacionadas visem, mudanças nestes três níveis e não sejam baseadas apenas em informações sobre a patologia [2,4]. A Síndrome Patelo Femoral (SPF) é uma patologia ou entidade clínica comum usada para descrever uma variedade de condições patológicas associadas com a articulação entre a superfície patelar e o côndilo femoral [5-8]. É comum encontrar na grande maioria dos portadores com a SPF dores Fisioterapia_v8n1.indb 20 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 difusas no joelho, creptação, subluxação, rigidez na articulação do joelho, edema, alteração distrófica da pele e decréscimo no nível de atividades [6,7,9-11]. Apesar da fisiopatologia da SPF ser ainda desconhecida, ela pode ser causada por uma variedade de fatores incluindo a fraqueza do quadríceps, insuficiência do vasto medial oblíquo (VMO) associado à tensão do músculo vasto lateral (VL), aumento do ângulo Q, tensão do retináculo lateral, mau alinhamento patelar e alterações biomecânicas nas extremidades inferiores [1,2,7,9,11-18]. Portanto, indivíduos acometidos pela SPF podem apresentar disfunções. Essas possíveis causas da SPF estão relacionadas com o nível de estrutura e função do corpo. Além das disfunções anteriores, indivíduos com SPF também apresentam restrições no nível de atividade tais como sentar e ficar ajoelhado por tempo prolongado, subir e descer escadas, agachar, correr, atividades que requerem flexão repetitivas do joelho [5,7,10,19-21]. No nível de participação os indivíduos podem apresentar restrições que afetam seu papel social na comunidade, interferindo em suas atividades diárias e esportes [1]. Portanto, os estudos encontrados na literatura demonstram claramente o impacto funcional da SPF. Como os fisioterapeutas centram suas ações na resolução das disfunções resultantes de uma patologia, estes profissionais parecem ter um papel fundamental no tratamento de indivíduos apresentando a SPF [22]. As ações do fisioterapeuta são centradas no tratamento das disfunções no nível da estrutura e função do corpo [23-26]. No entanto, espera-se que as intervenções resultem em modificações também em outros níveis. Apesar disto, poucos estudos documentam as progressões funcionais no nível de atividade de indivíduos com SPF submetidos a tratamento fisioterapêutico. Dessa forma, foi objetivo do presente estudo, avaliar a progressão no desempenho e na capacidade funcional, além da melhora da dor de indivíduos em processo de reabilitação que apresentam a SPF. Materiais e métodos Amostra Nove voluntários com diagnóstico clínico de Síndrome Patelo Femoral (SPF) participaram do estudo. Os participantes foram 4 homens e 5 mulheres com média de idade de 29,43 (DP = 12,29) que estavam iniciando o tratamento no Centro Universitário Uni-BH e PUC-Betim. Aqueles indivíduos que já se encontravam em tratamento fisioterápico e/ou aqueles que foram submetidos a procedimentos cirúrgicos para SPF não foram incluídos no estudo. O perfil de atendimento fisioterapêutico da Clínica Escola do UNIBH e PUC Betim é baseado na filosofia do modelo da OMS – CIF. O tratamento foi individualizado e visou intervir nas disfunções específicas encontradas nos pacientes durante a avaliação, não sendo baseado em protocolos determinados apenas por informações a respeito da patologia. Além disso, 12/3/2007 10:18:53 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 o tratamento buscou o aumento da capacidade dos pacientes para lidar com as demandas específicas de suas atividades. Esta pesquisa foi aprovada pelo comitê de Ética em Pesquisa do UNI-BH. Instrumentação Para avaliar o desempenho funcional dos indivíduos com SPF, foi utilizada a Escala Funcional de Kujala (EFK). Esta escala é constituída de 13 perguntas de múltipla escolha relacionadas a atividades de vida diária (AVD’s) e a dificuldade em realizá-las. A EFK foi escolhida por ter suas propriedades psicométricas documentadas. Além de ter sido validada para pacientes com SPF, possui alta responsividade e confiabilidade (ICC de 0,81) [20]. Para quantificar a dor do paciente foi utilizada a Escala Análoga Visual (EAV), numerada de 0 a 10 sendo, 0 nenhuma dor e 10 dor máxima [27]. Procedimento Inicialmente todos os participantes foram informados sobre os procedimentos do estudo e assinaram um termo de consentimento concordando com sua participação no mesmo. Em seguida foi indagado ao voluntário o quanto de dor ele sentiu na última semana, sendo quantificada através da EAV. Após a avaliação da dor, foi aplicada a EFK, sendo que os participantes responderam aos aplicadores qual opção dentre as oferecidas melhor representava sua realidade. O escore da EFK foi calculado fazendo-se a soma dos pontos referentes às respostas dadas pelos participantes em cada questão. Após a avaliação do desempenho funcional e da dor, a capacidade funcional foi avaliada através de dois testes específicos descritos na literatura [7]. O primeiro teste, denominado “Teste do Degrau” é uma avaliação unilateral, realizada a partir de uma plataforma de 17cm de altura. Para a realização deste teste, o voluntário permanecia com os dois pés na plataforma, e em seguida dava um passo à frente com uma das pernas, encostando a ponta dos dedos no chão e imediatamente retornava a mesma para o degrau, estendendo a perna de apoio. Este movimento repetiu-se continuamente durante 30 segundos, e foi registrado para análise o número de repetições que o participante conseguiu realizar. O segundo teste é denominado “Teste de oscilação”. Para a sua realização, primeiramente foi solicitado ao participante para oscilar sua perna acometida (ou mais acometida) e apoiar o seu calcanhar à frente, alcançando a maior distância possível, sem perder o equilíbrio. A distância entre a ponta do pé de apoio e o calcâneo da perna foi então mensurada. Este procedimento foi realizado três vezes e a maior medida foi registrada. Em seguida, calculou-se o valor referente a 80% da distância máxima alcançada e esta distância foi marcada com fita crepe no chão. Para a realização do teste, o partici- Fisioterapia_v8n1.indb 21 21 pante posicionou as pontas dos pés na marca inicial, oscilou uma das pernas e em seguida apoiou o calcanhar à frente o mais distante possível sem desequilibrar. Esta atividade foi realizada continuamente durante 30 segundos e o número de repetições foi quantificado. Cada repetição foi considerada válida para a contagem, somente quando o participante conseguia atingir, a marca de 80% ou ultrapassasse a mesma. Ambos os testes foram realizados com as duas pernas, sendo a primeira avaliação realizada na perna não acometida ou na perna menos acometida. A ordem de realização dos testes de capacidade foi randomizada. A primeira sessão de testes foi realizada no máximo 1 semana após o início do tratamento dos voluntários (avaliação 1). Os mesmos foram reavaliados 20 dias (avaliação 2) e 40 dias (avaliação 3) após a primeira avaliação. Análise estatística Uma análise de variância (ANOVA) com um nível de medida repetida foi utilizada para verificar diferenças nas médias das variáveis dependentes: EFK, testes do degrau e oscilação nas três avaliações. Contrastes pré- planejados foram utilizados para verificar os pares entre os quais as diferenças forma significativas. Teste não paramétrico de Friedman com contraste foi utilizado para analisar os resultados obtidos na EAV de dor. Foi estabelecido um nível de significância de 0,05 para todas as análises. Resultados Escala funcional Kujala A ANOVA demonstrou que houve um aumento significativo no escore obtido na EFK após o tratamento (F = 31,249; p = 0,0001). Os contrastes pré-planejados demonstraram diferenças significativas entre todas as avaliações: 1X2 (p = 0,0001), 1X3 (p = 0,0001) e 2X3 (p = 0,0203). Figura 1 - Médias e desvios padrão dos escores obtidos no questionário de Kujala nas avaliações 1, 2 e 3. 12/3/2007 10:18:53 22 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 Teste do degrau Discussão Para o teste do degrau, a ANOVA demonstrou um aumento significativo no número de repetições realizadas pelos participantes (F = 42,385; p = 0,0001). Os contrastes pré planejados também demonstraram diferenças significativas entre todas as avaliações: 1x2 (p = 0,0001), 1x3 (p = 0,0001) e 2x3 (p = 0,0007). Visto que o processo de reabilitação é um conjunto de serviços integrados que previne, avalia, identifica a ocorrência de deficiências e incapacidades objetivando minimizá-las e revertê-las, a fisioterapia necessitou de um modelo teórico que enfatizasse o conteúdo funcional, que difere do modelo médico. O modelo denominado CIF [4], desenvolvido pela OMS satisfaz esta necessidade. Neste modelo estão classificados três níveis nos quais uma doença ou patologia pode ter impacto: Estrutura e Função do Corpo, Atividades e Participação. Como todas as patologias ou doenças, a SPF leva o indivíduo à alteração nestes três níveis propostos na CIF comprometendo assim o nível de funcionalidade do indivíduo. Normalmente, a ação da fisioterapia se concentra no nível de estrutura e função do corpo da CIF, buscando também alteração nos outros dois níveis. Entretanto, atualmente poucos estudos documentaram os resultados desta atuação no nível de atividade e participação. Assim, este estudo tem como objetivo somar conhecimento a respeito de resultados obtidos com o tratamento fisioterápico ao avaliar a progressão da capacidade e desempenho funcional de pacientes com dor femoro patelar. De acordo com os resultados obtidos no presente estudo, foi observada uma melhora significativa no desempenho funcional desses pacientes, detectado através da EFK. O escore obtido neste questionário aumentou significativamente ao comparar as avaliações iniciais, após 20 dias e após 40 dias de tratamento. Estes resultados estão em concordância com outros estudos que demonstraram uma melhora no desempenho funcional de pacientes com SPF após tratamento fisioterápico utilizando diferentes tipos de questionário [23-26]. Witvrouw et al. [26] e Callaghan et al. [24] observaram uma melhora significativa no escore da avaliação de Kujala após o tratamento. Estes achados demonstram uma melhora no que o indivíduo faz no seu ambiente de vida diária, incluindo o contexto social, proporcionando uma informação importante para o profissional da saúde atuar no ambiente do individuo para melhorar seu desempenho funcional. Os números de repetições realizados nos testes do Degrau e Oscilação aumentaram significativamente após o tratamento de forma progressiva. Dessa forma, além da melhora no desempenho funcional foi observado um ganho significativo também na capacidade funcional desses pacientes. Ou seja, após o tratamento fisioterápico, o estado funcional do indivíduo seja no ambiente padronizado ou habitual apresentou uma melhora significativa. Em relação à avaliação de intensidade de dor, classificada pela CIF como estando no nível de estrutura e função do corpo, foi observada uma melhora significativa da dor após o tratamento. A diminuição na pontuação da EAV foi significativa quando comparadas apenas as avaliações iniciais (avaliação 1) e no vigésimo dia (avaliação 2). A pontuação obtida na avaliação 2 e 3 não diferiram estatisticamente. Este Figura 2 - Médias e desvios padrão do número de repetições obtidos no Teste do Degrau nas avaliações 1, 2 e 3. Teste de oscilação A ANOVA demonstrou um aumento significativo no número de oscilações realizadas pelos participantes F = 36,514; p = 0,0001). Nos contrastes pré planejados foi detectada diferença significativa em todas as comparações: 1x2 (p = 0,0002), 1x3 (p = 0,0001) e 2x3 (p = 0,0022). Figura 3 - Médias e desvios padrão do número de oscilações obtidos no Teste de Oscilação nas avaliações 1, 2 e 3. Avaliação da dor O teste de Friedman demonstrou diferença significativa na variação do nível de dor entre as 3 fases (p = 0,007). O contraste demonstrou diferenças significativa de melhora somente entre avaliação 1x2 (p = 0,0007) e 1x3 (p = 0,001), sendo 2x3 não significativa (p = 0,1123). Isto demonstra que o grande ganho no quadro álgico dos pacientes acontece nas duas primeiras semanas de tratamento. Fisioterapia_v8n1.indb 22 12/3/2007 10:18:54 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 resultado demonstra que o grande ganho no quadro álgico dos pacientes aconteceu nas duas primeiras semanas de tratamento, ocorrendo a partir da vigésima semana de tratamento uma possível estabilização desse quadro álgico. Outros estudos demonstraram uma evolução positiva em relação a dor após tratamento fisioterápico [22-25,27-29]. Witvrouw et al. [26] também perceberam que a melhora do quando álgico foi melhor em sua comparação da primeira com a segunda avaliação (intervalo de 5 semanas) se comparando a segunda e terceira avaliações (5 semanas para 3 meses) em que a melhora da dor parece ter se estabilizado. Estes achados corroboram os resultados do presente estudo que demonstram a melhora significativa da dor após o tratamento fisioterápico. Figura 4 - Medianas dos escores obtidos na EAV nas avaliações 1, 2 e 3. 23 além de incrementar o corpo de conhecimento científico já existente sobre os benefícios do tratamento fisioterápico para pacientes com SPF. Conclusão O presente estudo demonstrou que indivíduos em tratamento fisioterápico devido a SPF apresentaram, além da melhora da dor, uma melhora significativa no escore da AFK e no número de repetições no teste de oscilação e do degrau. Estes resultados indicam que após o tratamento houve uma progressão funcional nos parâmetros de capacidade e desempenho classificados pela CIF. É importante que os profissionais da equipe de reabilitação, incluindo o fisioterapeuta, conheça os três níveis de função, especificados pelo modelo da CIF, para que as terapêuticas relacionadas visem mudanças nesses níveis e vivenciem desde a instalação da doença até suas conseqüências funcionais. Agradecimentos Agradecemos ao Centro Universitário de Belo Horizonte, especialmente a Coordenadora Professora Lívia Lazzarotto pelo constante incentivo a produção do conhecimento científico. Referências Os testes do Degrau e Oscilação utilizados no presente estudo com o objetivo de avaliar a capacidade funcional foram validados na literatura para pacientes com SPF [7]. A escala de Kujala [8] embora tenha sido validada apenas no país de origem, possui perguntas e opções de respostas extremamente objetivas e não sujeitas à interpretações culturais. Dessa forma, todos os testes e instrumentação utilizados neste estudo foram adequados para se detectar possíveis modificações na capacidade e desempenho funcional de pacientes submetidos a tratamento para SPF. A melhora do estado funcional de pacientes é um dos principais objetivos da fisioterapia. Os resultados do presente estudo demonstraram que, após o tratamento fisioterápico, pacientes com SPF apresentaram uma melhora significativa não apenas da dor, mas também do seu desempenho e capacidade funcional. Esta melhora pode ser evidenciada mesmo após 20 dias de tratamento para ambos os parâmetros, uma vez que houve uma diferença significativa entre as avaliações 1 e 2. Além disso, o presente estudo possibilitou avaliar distintamente os dois parâmetros que qualificam o estado funcional de pacientes de acordo com a CIF. O estado funcional avaliado no ambiente do indivíduo (desempenho) ou em um ambiente padronizado (capacidade) sofreu mudanças positivas após o tratamento fisioterápico. Dessa forma, este estudo permitiu incorporar e difundir a nomenclatura e classificação propostas pelo modelo de funcionalidade da OMS Fisioterapia_v8n1.indb 23 1. Lichota DK. Anterior knee pain: Symptom or syndrome? Sports Medicine and Orthopedics 2003;3:81-86. 2. Sampaio RF, Mancini MC, Fonceca ST. Produção científica e atuação profissional: aspectos que limitam essa integração na Fisioterapia e na Terapia Ocupacional. Rev Bras Fisioter 2002;6:113-118. 3. Fulkerson JP. Diagnosis and treatment of pacients with patellofemoral pain. J Sports Med 2002;30(3):447-456. 4. CIF - Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde; 2003. 5. Powers CM, Ward SR, Chen YJ, Chan LD, Terk MR. Effect of bracing on patellofemoral joint stress while ascending and descending stairs. Clin J Sport Med 2004;14(4):206-214. 6. Juhn MS. Patellofemoral pain syndrome: A review and guidelines for treatment. Am Fam Phys 2004;60:2012-22. 7. Loudon JK, Wiesner D, Goist-Foley H, Asjes C, Loudon KL. 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Fisioter Bras 2003; 4:389-393. 2003. 12/3/2007 10:18:55 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 25 Artigo original Análise da confiabilidade do teste de Lasègue e do teste de Slump para verificação da tensão neural Analysis of the reliability of the Lasègue test and slump test for verification of the neural tension Priscilla Hellen Martinez Blanco, Ft.*, Rafael Augustus de Souza Moraes, Ft.*, Ligia Maria Facci, M.Sc.** *Fisioterapeutas, **Centro Universitário de Maringá (CESUMAR) Resumo Abstract Alguns testes específicos, como o teste Lasègue e o teste Slump, têm sido elaborados para verificar a presença de tensão neural e, desta forma, direcionar a melhor alternativa de tratamento das síndromes compressivas da coluna lombar. Quarenta pacientes com queixas músculo-esqueléticas de diferentes diagnósticos clínicos foram selecionados no setor de ortopedia e reumatologia da clínica de fisioterapia do Cesumar. Após a inclusão, dois avaliadores aplicaram os testes de tensão neural Lasègue e Slump, para verificar a confiabilidade dos mesmos na determinação do diagnóstico de pacientes com queixa de dor lombar. Os resultados obtidos demonstraram respostas positivas dos testes em pacientes com queixa de dor lombar e, na maioria dos pacientes com ausência de tal queixa, foram negativos. A média da angulação obtida na aplicação foi de 42,46º (graus) no teste de Lasègue e de 45,70º (graus) no teste de Slump. Não foi verificada diferença significativa entre os resultados obtidos pelos examinadores em ambos os testes. Os resultados deste estudo confirmaram a confiabilidade dos testes de Lasègue e Slump no diagnóstico de comprometimento neural. Some specified exams, as the Lasègue and Slump tests, have been created to check the presence of the neural tension and in this way, to conduct the best attempts of treatment from some compression syndromes of the low back column. Forty patients with some skeleton-muscles claims, from different medical diagnoses, were selected in the orthopedic and rheumatologic sections of the physical therapy office located at Cesumar. After the inclusion, two observers applied both tests of the neural tension, to check if they are really reliable in the diagnoses determination of the patients with some back pain complaints. The final results obtained showed positive answers from the exams in those patients and among the major part of them without it were negative. The average in this point of view marks were from 42,46° in the Lasègue test and 45,70° in the Slump one. It was not find any significant differences among the obtained results by the examiners from both exams. The final results from these studies confirmed the reliability of these mentioned tests into the diagnoses of the neural commitments. Key-words: Lasègue, slump, low back pain, diagnoses. Palavras-chave: Lasègue, slump, lombalgia, diagnóstico. Introdução Complexas e de âmbito multidisciplinar, as síndromes dolorosas lombares persistem como um desafio contínuo e intrigante, necessitando de atenção constante e de uma ampla abordagem terapêutica. Desta forma, podem ser consideradas um problema de saúde pública, afetando grande parte da população mundial [1,2]. Hoje, entre 60% e 90% da população está acometida ou se queixará de dor na coluna lombar em algum momento da vida [3]. As afecções da coluna lombar podem ocorrer em decorrência de lesões ligamentares, do disco intervertebral, dos nervos periféricos, das articulações, dos forames de conjugação e, mais comumente, de alterações mecânicas ou fisiológicas [4]. Esta gama de informações, na maioria das vezes, dificulta o diagnóstico clínico e fisioterapêutico adequado [5]. Independente da causa, as síndromes dolorosas lombares provocam distúrbios funcionais que geralmente se tornam crônicos [2], sendo, portanto, responsáveis por impacto físico, Recebido em 26 de junho de 2006; aceito em 20 de janeiro de 2007. Endereço para correspondência: Ligia Maria Facci, Rua Alfredo Pujol, 1288, 87015-250 Maringá PR, Tel: (44) 30276360, E-mail: facci@wnet. com.br Fisioterapia_v8n1.indb 25 12/3/2007 10:18:55 26 emocional, social e econômico e, além disso, está entre as causas mais freqüentes de ausência ocupacional [3]. Diante da grande incidência de tais afecções e da variedade dos fatores que as causam, uma boa avaliação clínica torna-se essencial [6], tanto no esclarecimento do diagnóstico como na delimitação da melhor alternativa para tratamento. Nos últimos anos, fisioterapeutas têm buscado novas formas de avaliação voltando a sua atenção para a mobilização do sistema nervoso. O sistema nervoso, que é um tecido contínuo, ou seja, apresenta conexão com os músculos e articulações que compõem o corpo humano [7-9], tem sido relacionado às lesões da coluna vertebral. A justificativa para tal relação é baseada no fato de que há demonstrações de que a tensão neural é maior onde os nervos se ramificam ou entram no músculo [10] e, assim, qualquer alteração ao seu nível poderá ser transmitida a todos os outros sistemas corporais [9]. Alguns testes específicos têm sido elaborados para verificar a presença de tensão neural [5] e, desta forma, criar uma forma de tratamento mais específico para as síndromes compressivas da coluna lombar [11]. Os testes de tensão neural, como o Slump e o Lasègue, são os procedimentos mais atuais e familiares de uma avaliação neuro-ortopédica, sendo realizados da forma mais simplificada possível para facilitar sua aplicação, que também pode ser realizada com intuito terapêutico, como para auxiliar na execução de pesquisas [7,9,12]. Alguns estudos realizados buscam validar os resultados obtidos com os testes de Lasègue e Slump, quando estes são aplicados em uma avaliação ortopédica [7,13]. O teste de Lasègue é o mais conhecido e utilizado na prática clínica [14-17], sendo freqüentemente relacionado ao nervo ciático [18-20]. Alguns autores [21] relatam que o nervo ciático é o maior nervo do corpo humano em diâmetro, constituído pela continuação do plexo sacral e formado pelas raízes ventrais de L4 a S3.. Este se encontra envolvido na maioria das afecções lombares [22]. Vários pesquisadores relatam que o teste de Lasègue se encontra positivo na presença de compressão das raízes nervosas de L4/L5/S1, na presença de alterações discais, em processos compressivos do nervo ciático, ou na presença de qualquer tipo de comprometimento lombar [23-26]. Para Hoppenfeld [27] o alcance que a perna pode adquirir durante o teste de Lasègue, na ausência de dor, pode variar. De uma forma geral, o ângulo compreendido entre a perna e a mesa de exame deve ser de 80º. Se o teste for positivo por presença de tensão neural, a dor será reportada por toda a perna acompanhando o trajeto do nervo ciático. Para Kapandji [20], entretanto, em angulações acima de 60º de flexão de quadril a dor já está relacionada à tensão dos músculos ísquiotibiais. Alguns trabalhos têm discutido a angulação obtida durante a elevação do membro inferior na realização do teste de Lasègue [28,20]. Volpom [29] refere que esse teste só é específico Fisioterapia_v8n1.indb 26 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 para o nervo ciático até os 40º de flexão de quadril. Oliver e Middleditch [30] discordam, ressaltando que acima de 70º não há movimento adicional da raiz nervosa, podendo-se, então, apresentar-se positivo. Para Buckup [31] o teste de Lasègue só deve ser considerado como um sinal verdadeiro se a dor reportada atingir a perna de maneira fulminante acompanhando o trajeto da raíz nervosa afetada. Devillé et al. [32,33] mencionaram estudos que buscam apurar a confiabilidade do diagnóstico obtido através da aplicação do teste de Lasègue em pacientes portadores de hérnia discal e dor lombar. Há, porém, importância em se determinar a extensibilidade, a flexibilidade e a atividade muscular durante a aplicação do teste de Lasègue, pois estes fatores podem influenciar nas respostas obtidas [34]. Hoogen et al. [14] mostraram que a reprodução do sinal de Lasègue na prática geral ortopédica pode parecer baixa, porém sua reprodução ocorre em maior incidência em pacientes com queixa de dores lombares ou comprometimento discal. O teste de Slump é um método sensível que estira a dura-mater, a medula, as raízes nervosas e o nervo ciático até sua terminação distal [30]. Neste, é executada flexão cervical associada à elevação da perna para tensionar as raízes da coluna lombar [35]. Isto ocorre porque o neuroeixo e as meninges se alongam e se movem anteriormente ao canal vertebral durante o movimento de flexão. Desta forma, este teste é considerado poderoso e seguro por envolver muitas estruturas [9]. Para Johnson e Chiarello [36] e Salgado [37], este teste é considerado o teste neural mais usado na avaliação da tensão neural. O teste de Slump, em um estudo anterior, demonstrou ser 100% efetivo no diagnóstico de dor lombar [38]. Já Jensen [6] afirma que ele pode agravar a dor reproduzida no teste de Lasègue, já que ele causa uma tensão a nível neuromeníngeo. Sendo assim, este é considerado por Butler [9] um teste poderoso, pois envolve além do nervo ciático outras estruturas que podem estar envolvidas nas disfunções lombares. Bracht [5] comparou os resultados obtidos com a aplicação dos testes Slump e Lasègue em indivíduos com dor lombar, tendo verificado que o primeiro foi mais efetivo em relação à determinação do diagnóstico clínico e fisioterapêutico. É importante salientar que, durante a aplicação dos testes citados, é necessária cautela por parte do terapeuta. Isto se justifica pelo fato do sistema neural ser único, envolvendo várias estruturas corporais. Deste modo, o estado geral do paciente, assim como a presença de encurtamentos musculares, principalmente dos grupos envolvidos na execução dos testes, pode interferir na aplicação e nos resultados obtidos [9]. Para obter-se, de forma confiável, resultados de positividade do teste de Lasègue, este deve ser aplicado de forma precisa [39]. Goeken [34] relata que novas pesquisas buscam analisar as possibilidades de diagnóstico, especialmente no que se diz respeito ao comportamento muscular durante a execução do teste de Lasègue. 12/3/2007 10:18:56 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 Devillé et al. [32] relatam que a exatidão diagnóstica do teste de Lasègue é limitada pelo seu baixo poder de especificidade. Já Guelfi et al. [40] relatam que tanto o teste de Lasègue quanto o teste de Lasègue sensibilizado, ou seja, com a adição da dorsiflexão de tornozelo, apresentam alto poder de confiabilidade. Bracht [5], entretanto, conseguiu em seu estudo ratificar a afirmativa de que o teste Slump é mais efetivo do que o teste de Lasègue e que este, aplicado isoladamente traz pouca contribuição para o diagnóstico das disfunções lombares. O objetivo deste estudo foi verificar a confiabilidade dos resultados obtidos com a aplicação dos testes de tensão neural de Lasègue e Slump, assim como comparar os resultados obtidos entre os mesmos. Materiais e métodos O estudo foi realizado no setor de ortopedia e reumatologia da clínica de fisioterapia do Centro Universitário de Maringá (CESUMAR). Para a execução deste, foi utilizada uma maca recoberta por lençol e dois goniômetros da marca CARCI. Foram avaliados 40 pacientes, ambos sexos, com idade superior a 18 anos, encaminhados para tratamento fisioterapêutico ao referido local, com ou sem queixa de dor em região lombar associada à irradiação para o membro inferior. Após o esclarecimento da metodologia do estudo, aqueles indivíduos que se prontificaram a participar do estudo assinaram um termo de consentimento por escrito. Foram excluídos os pacientes que apresentaram grande limitação de amplitude de movimentos em membros inferiores decorrente de seqüela traumática, aqueles que apresentaram fatores de precaução para aplicação dos testes de tensão neural, como lesão medular, diabetes, imunodepressão, esclerose múltipla, tonturas, vertigens e distúrbios circulatórios [9], além dos que não consentiram em participar do estudo. Após a inclusão, os pacientes foram submetidos aos procedimentos de avaliação. Dois avaliadores, previamente treinados, aplicaram os testes de tensão neural para membros inferior e tronco Lasègue e Slump. Cada examinador aplicou os testes na ausência do outro, não havendo, desta forma, influência nos resultados obtidos. Além disso, os examinadores não tiveram contato com o diagnóstico clínico específico de cada um dos pacientes previamente à execução dos testes para, deste modo, não serem induzidos às respostas habitualmente relacionadas às lesões músculoesqueléticas. Além disso, os pacientes foram orientados a não mencionarem quais eram as suas queixas e seu diagnóstico clínico específico. O primeiro procedimento aplicado foi o Teste de Lasègue (Elevação da perna retificada - SLR) seguindo o protocolo proposto por Kapandji [20]. Os pacientes foram posicionados em decúbito dorsal na maca, tendo o membro inferior elevado passivamente um de cada vez apoiando em calcanhar, Fisioterapia_v8n1.indb 27 27 mantendo o joelho em extensão e dorsiflexionado em seguida o tornozelo, visando assim o estiramento do nervo Ciático e reprodução dos sintomas. Em indivíduos normais essa manobra não é dolorosa, só aparecendo dor na parte posterior da coxa e no final da elevação, devido à tensão dos músculos isquiotibiais e não por tensão do nervo ciático. Trata-se do verdadeiro sinal de Lasègue, quando os sintomas aparecem abaixo dos 60º, onde o nervo ciático atinge sua tensão máxima. Por isso, há importância de se medir o ângulo máximo encontrado durante a elevação do membro inferior, para que, assim, possa obter-se uma indicação quanto à gravidade do comprometimento da raiz nervosa [31]. Em seguida, foi aplicado o teste de Slump (Teste de Inclinação anterior), seguindo o protocolo descrito por Butler [9]. Os pacientes foram posicionados sentados no leito de exame, com as coxas sustentadas totalmente, joelhos juntos, sem apoio dos pés, mãos entrelaçadas atrás das costas e a coluna cervical em posição neutra. O examinador, posicionado lateralmente e aproximado ao paciente, orientava que este realizasse flexão da coluna, a seguir da coluna cervical, aproximando o mento no tórax. A seguir, o paciente deveria estender o joelho ativamente, associando à dorsiflexão do tornozelo. A resposta foi considerada positiva quando o paciente referiu sintomas de tensão neural, ou seja, quadro álgico em região posterior de tronco e/ou em membro inferior, com extrema dificuldade de estender o joelho. Nos casos onde ocorria ausência de dor faltando 30 graus para a extensão do membro inferior, foi considerada uma resposta negativa, comumente justificada por encurtamento muscular [5]. O teste foi executado em ambos os membros inferiores. Após a coleta desses dados, estes foram analisados estatisticamente, sendo os resultados encontrados pela aplicação do Teste de Lasègue e Slump confrontados posteriormente entre si e entre os examinadores. Usou-se o Qui-quadrado para determinar o índice de significância entre os testes, em que p < 0,05 foi considerado significante e o cálculo do Índice de Kappa, utilizando o programa SPSS versão 9, para observar o grau de concordância entre os examinadores, tendo para tal que os resultados menores 0,40 refere-se a um grau de concordância baixo ou ruim, valor entre 0,40 a 0,75 refere-se a um grau de concordância razoável e valores maiores que 0,75 refere-se a um grau de concordância excelente. Resultados Foram avaliados quarenta pacientes com queixas músculo - esqueléticas nos setores de ortopedia e hidroterapia da clínica de fisioterapia do Centro Universitário de Maringá (Cesumar). Destes, 23 (57,5%) eram do sexo feminino e 17 (42,5%) do sexo masculino, com faixa etária média de 49,07, variando entre 19 a 81 anos. Entre os pacientes avaliados, 20 (50%) apresentavam queixa de dor na coluna lombar, caracterizando o grupo 1 (um) 12/3/2007 10:18:56 28 (Fig. 1) e 20 (50%) queixavam-se de dor em outros segmentos corporais formando, assim, o grupo 2 (dois) (Fig. 2). Figura 1 - Diagnósticos clínicos dos pacientes envolvidos no estudo pertencentes ao grupo 1. Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 O índice de Kappa demonstrou que os procedimentos analisados neste estudo apresentaram concordância excelente, não havendo diferença significativa entre os resultados obtidos pelos examinadores (Tabela I). Tabela I - Análise da concordância entre os examinadores obtida através do Índice de Kappa. Testes Lasègue Slump MID 1 MIE 1 MID 1 MIE 1 MID 2 0,90 _______ 0,84 _______ MIE 2 _______ 0,91 _______ 0,85 Legenda: MID 1: Membro inferior direito, examinador um; MIE 1: Membro inferior esquerdo, examinador um; MID 2: Membro inferior direito, examinador dois; MIE 2: Membro inferior esquerdo, examinador dois. Figura 2 - Queixas clínicas dos pacientes envolvidos no estudo pertencentes ao grupo 2. Com relação aos resultados obtidos nos testes, onze pacientes (27,5%) tiveram respostas positivas em ambos os procedimentos de avaliação, e dentre os indivíduos que tiveram respostas negativas, nove pacientes (22,5%) apresentavam queixa de dor lombar e dezenove pacientes (47,5%) outros diagnósticos ortopédicos. A respeito dos pacientes que apresentavam queixas na coluna lombar, onze pacientes (55%) tiveram respostas positivas e nove pacientes (45%), mesmo havendo a presença de comprometimento neste segmento, apresentaram negatividade nos testes. Dezenove, ou seja, (95%) dos pacientes com outros diagnósticos ortopédicos ou queixas em diferentes segmentos apresentaram respostas negativas nos testes. Fisioterapia_v8n1.indb 28 Em apenas um dos pacientes (2,5%) do grupo 1 e um dos pacientes (2,5%) do grupo 2 houve discordância nos resultados obtidos entre os avaliadores na aplicação do Teste de Lasègue. Em relação aos resultados obtidos pelos examinadores na aplicação do teste de Slump, apenas um (2,5%) dos pacientes, com queixa de dor lombar, apresentou divergência entre o resultado obtido pelos examinadores em relação ao membro inferior direito. Quando comparados os resultados obtidos na avaliação do membro inferior esquerdo, houve três pacientes (7,5%) e um paciente (2,5%) de divergência entre os examinadores nas avaliações dos indivíduos com e sem diagnóstico lombar, respectivamente. Os respectivos diagnósticos clínicos dos pacientes, que apresentaram positividade nos testes aplicados durante este estudo foram: osteoartrose lombar, lombociatalgia, lombalgia, hérnia discal L4/L5/S1 e fratura do 5º metatarso. As patologias dos pacientes que não referiram nenhum sintoma durante a execução dos testes foram: escoliose lombar, osteoartrose, pós operatório de artrodese L1, pacientes com alteração no ombro, punho, mão, e joelho. A angulação média na determinação de positividade nos testes, em ambos os avaliadores, foi de 42,46º, variando de 15º a 72º, para o Teste de Lasègue e 45,70º, variando de 13º a 68º, para o Teste de Slump. Discussão A aplicação dos testes de tensão neural contribui tanto para o diagnóstico como também no tratamento dos pacientes acometidos por afecções da coluna lombar [11]. Santos [12] demonstrou que existe grande efetividade das técnicas de mobilização neural, em diversos tipos de lesões ortopédicas, não somente a nível lombar. Quando se aplica uma tensão sobre um nervo, a pressão intraneural aumenta a medida que a área seccional diminui. Durante a realização do teste de Slump, portanto, o neuroeixo e as meninges e, em parte, o trato ciático, são deslocados e ten- 12/3/2007 10:18:57 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 sionados durante o movimento de flexão cervical, principalmente quando se associa o SLR (elevação da perna retificada). Já durante a execução do teste de Lasègue, as raízes nervosas lombosacras são tensionadas no sentido crânio-caudal e, quando se adiciona a dorsiflexão de tornozelo, ocorre uma tensão ainda maior [4]. A maioria dos pacientes avaliados sem queixa de dor lombar, ou seja, 95% deles, tiveram respostas dos testes negativas. Estes achados concordaram com os de Guelfi [40], que relatou que a posição da medula varia com os movimentos da coluna vertebral, e em flexão a medula é tensionada para cima, não apresentando problema em acompanhar os movimentos fisiológicos da coluna vertebral. Por isso, em indivíduos sem estes comprometimentos, os testes neurais irão apresentar-se negativos. Como as estruturas neurais se movem dentro do canal vertebral, acompanhando o movimento dos segmentos vertebrais, a seqüência da aplicação dos componentes do teste de Slump tenciona as estruturas neurais [35]. Ladeira [7] realizou um estudo no qual os testes de Lasègue e Slump se apresentaram positivos com a adição da flexão cervical. Este afirma que tais testes são bem aceitos pela sua validade e confiabilidade na avaliação do progresso clínico dos pacientes, afirmativas confirmadas por Casarrubios et al. [13]. Vários estudos realizados previamente demonstraram que a manobra de Lasègue possui alto índice de positividade em pacientes com acometimento de L4/S1 e L5/S1 [1,31,24]. Em uma pesquisa realizada com 133 pacientes diagnosticados com hérnia discal L4/L5 e L5/S1 foi encontrado o teste de Lasègue como o sinal mais freqüente [17]. Da mesma forma, Morán et al. [15] realizaram outro estudo em 562 pacientes com hérnia discal e também encontraram o teste como um sinal freqüente, ou seja, positivo em 509 (90,6%) dos pacientes. Segundo Buckup [31] o sinal de Lasègue será positivo, em geral, na compressão das raízes nervosas L5 e S1. Kermani [26] acrescenta que este se encontra positivo tanto na protusão com na extrusão discal. Para Calliet [39], se o indivíduo referir dor no membro inferior, com ou sem a presença de lombalgia, esta pode ser considerada discogênica. Em um de seus estudos, Knoplick [25] verificou que o teste de Lasègue foi positivo em 97,6% dos pacientes submetidos à cirurgia de hérnia discal. Outro estudo realizado com 43 pacientes com suspeita de radiculopatia lombar verificou que o teste de Lasègue estava positivo em 74,4% dos indivíduos [24]. Através dos resultados obtidos neste trabalho, pode-se observar que os testes de Lasègue e Slump geralmente se encontram positivos na presença de compressão das raízes nervosas de L4/L5 e S1, nos quadros de lombalgia, lombociatalgia e processos degenerativos da coluna lombar. Segundo Hoogen et al. [14], respostas negativas também foram encontradas na aplicação do teste de Lasègue em 96% dos pacientes com lombalgia e em 91% dos pacientes com comprometimento pélvico e alterações na coluna vertebral, como escoliose. Da mesma forma, foi verificado, neste estudo, resultados negativos nas avaliações de pacientes Fisioterapia_v8n1.indb 29 29 que apresentavam alterações na coluna lombar, tais como escoliose. Kermani [26] descreve que a positividade do teste de Lasègue está relacionada, de forma significativa, com o tipo de herniação. Neste caso, este se mostra mais efetivo em pacientes com extrusão discal. Para Antônio [2] o teste de Lasègue é muito útil no diagnóstico de processos compressivos do nervo ciático. Além disso, Volpon [29] menciona que o teste de Lasègue deve ser aplicado primeiramente do lado assintomático ou menos assintomático do indivíduo, e depois no lado comprometido. Estes achados não puderam ser confrontados com os deste estudo, pois a metodologia aplicada diferiu. No caso da síndrome do piriforme, o teste de Lasègue, que irá produzir um tensionamento do nervo periférico na área da lesão, apresentar-se-á positivo. Com relação ao teste de Slump, este tensiona a dura-mater mais proximal da área da lesão e, desta forma, será negativo [22]. Da mesma forma dos dados anteriores, estas afirmativas não puderam ser confrontadas a este estudo, pois não houve a participação de pacientes comprometidos pela síndrome do piriforme. Com relação aos pacientes com comprometimento do nervo ciático e irradiação para membros inferiores, houve positividade nas respostas dos testes, mostrando que eles podem ser utilizados com grande efetividade no diagnóstico de comprometimento do nervo ciático. Há grande divergência e falta de padronização de estudos anteriores com relação à angulação tomada como referência para serem consideradas respostas positivas. Kapandji [20] descreve como verdadeiro sinal de Lasègue aquele no qual os sintomas aparecem abaixo de 60º de flexão de quadril pois, nesta posição, o nervo ciático já atingiu sua tensão máxima. Da mesma forma, Moreira e Carvalho [23] afirmam que, na presença de qualquer afecção lombar, a elevação entre 30º a 70º desencadeará dor. Cipriano [28] também classifica como positivo o teste que apresenta sintomas entre 35º a 70º, quando nervo ciático se tensiona sobre o disco intervertebral. Oliver e Middleditch [30] enfatizam que acima de 70º não há movimento adicional da raiz nervosa. A média da angulação obtida na aplicação do teste de Lasègue neste estudo foi de 42,46º, concordando com os autores citados anteriores. As respostas deste estudo, porém, discordaram de Volpon [29], que relata que esse teste só é específico para o nervo ciático até 40º de flexão de quadril. A média da angulação obtida no teste de Slump nesta pesquisa foi de 45,70º em ambos os examinadores, concordando com Bracht [5], que refere que a ausência de dor faltando 30º para a extensão do membro inferior pode estar relacionada ao encurtamento muscular. Bracht [5] comparou os resultados obtidos da aplicação dos testes Slump e Lasègue em indivíduos com dor lombar, tendo verificado que o primeiro foi mais efetivo na determinação do diagnóstico clínico e fisioterapêutico. Este trabalho, porém, não confirma os achados do estudo citado anteriormente, pois não verificou diferença significativa entre os resultados obtidos pelos testes analisados. 12/3/2007 10:18:58 30 Conclusão Após a realização deste trabalho, foi possível concluir que os testes de tensão neural são de extrema importância em uma avaliação neuro-ortopédica, por serem capazes de auxiliar o fisioterapeuta, assim como o clínico, na determinação do diagnóstico de tensão nervosa. Não foi constada diferença significativa entre os testes analisados neste estudo, demostrando-se que ambos são confiáveis no diagnóstico de comprometimento neural. A pequena discordância existente entre os resultados, provavelmente, deve-se ao treinamento prévio e à padronização realizada pelos avaliadores. Referências 1. Alexandre NMC, Moraes M.A. Modelo de avaliação físicofuncional da coluna vertebral. Rev Latinoam Enfermagem 2001;9(2):67-75. 2. Antônio SF. Abordagem diagnóstica e terapêutica das dores lombares. RBM Rev Bras Med 2002;59 (6):449-61. 3. Sakata RK, Issy AM. Guias de medicina ambulatorial e hospitalar. 1a ed. São Paulo: Manole; 2004. p. 45-46. 4. Smaniotto ICG, Fonteque MA. A influência da mobilização do sistema nervoso na amplitude de movimento da flexão do quadril. Revista Terapia Manual 2004; 2(4):154-7. 5. Bracht MA. Estudo comparativo entre os testes Slump e Lasègue em pacientes portadores de síndromes dolorosas da coluna lombar. Revista Terapia Manual 2003;2(2):46-51. 6. Jensen S. Back pain – clinical assessment. Aust Fam Physician 2004;33(6):393-401. 7. Ladeira CE. 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Terapia Manual 2004;2(4):158-61. 12/3/2007 10:18:58 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 31 Artigo original Freqüência de dor lombar em grávidas e relação com a idade gestacional Frequency of low back pain in pregnant and relation with pregnancy period Eliane de Oliveira Guedes de Aguiar*, João Santos Pereira**, Marco Antonio Guimarães da Silva*** *Mestranda do Programa Stricto Sensu em Ciência da Motricidade Humana (PROCIMH) Universidade Castelo Branco - RJ, **Médico, Prof. titular do PROCIMH da UCB – RJ, ***Doctor Med Sci, Professor adjunto da UFRRJ Resumo Abstract A lombalgia é uma queixa comum entre as gestantes. Apesar de comum a lombalgia deve ser tratada e não encarada como conseqüência normal da gestação, pois é um problema que gera uma grande repercussão à saúde da mulher no período gravídicopuerperal. Nesse estudo se objetivou avaliar a relação da dor lombar com a Idade Gestacional (IG). A maioria das entrevistadas referiram dor lombar em algum período, porém poucas fizeram tratamento. Participaram deste estudo 163 gestantes, à partir do 2º trimestre de gravidez, com idade entre 18 e 36 anos. Os dados foram coletados através de um questionário fechado adaptado do Quebec Back Pain Dasability Scale, onde se percebeu alta freqüência de lombalgia na amostra (I = 79,14%). O Teste Qui-quadrado não mostrou existir relação entre a freqüência da dor e a Idade Gestacional (χ2 0,05;3 = 0,379; p > 0,05). Os resultados revelaram um número significativo de mulheres apresentando dor lombar na gestação, independente da IG. A lombalgia gera desconforto à gestante, afetando sua qualidade de vida, por isso se faz necessário ampla discussão multiprofissional sobre lombalgia no período gravídico-puerperal. Low back pain is a common and frequent claim during pregnancy period. The majority of the interviewed pregnant referred low back pain in some of their pregnancy period, but few of them look for medical assistance or treatment. 163 pregnant women, 18 to 36 years old, were included in this study, from their second trimestre of pregnancy. Data were collected through a closed questionnaire adapted from the Quebec Back Pain Dasability Scale, and it was possible to notice the high frequency of low back pain in this sample (I = 79,14%). The χ2 test noticed that do not exit any relation between the frequency of pain and the pregnancy period. (χ2 0,05;3 = 0,379; p > 0,05). The results show a significant number of women with low back pain during their pregnancy period, independently of pregnancy period. Low back pain is very uncomfortable during pregnancy period, affect the quality of life. It is necessary a large discussion multiprofessional about the low back pain during the pregnancy period. Key-words: low back pain, pregnant, pregnancy period. Palavras-chave: lombalgia, gestantes, idade gestacional. Introdução A lombalgia é um problema comum relatado entre as gestantes. O desconforto devido à dor lombar é considerado um fator inerente à gravidez, sendo por vezes previsível pelos profissionais de saúde, que, em conseqüência disso, valorizam pouco a situação deixando de orientar a mulher quanto a um tratamento que atenue suas queixas álgicas. A incidência da dor lombar durante a gravidez é de aproximadamente 50%, iniciando-se comumente após a sexta semana de gestação, podendo durar até seis semanas após o parto [1]. Análise qualitativa de publicações científicas Recebido 16 de outubro de 2006; aceito 15 de janeiro de 2007. Endereço para correspondência: Eliane de Oliveira Guedes de Aguiar, Estrada do Mendanha, 2795 Campo Grande 23092-000 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21) 9621-5989 / 7896-8619, E-mail: draguedesfi[email protected]. Fisioterapia_v8n1.indb 31 12/3/2007 10:18:58 32 nacionais e internacionais indexadas realizada no período de 1999 a 2005 revelou que cerca de 50% das gestantes queixam-se de lombalgia [2]. A intensidade e a persistência da dor é suficiente para muitas vezes modificar o estilo de vida da gestante, apresentando-se em um terço destas com características de muito grave [3]. Estudo com gestantes jovens entre o 1º e 3º trimestres na cidade de Goiânia revelou índice de dor lombar em 76,6% das participantes, evidenciando a idade gestacional como fator de risco para o desenvolvimento da lombalgia. Entretanto, a maioria das gestantes (65,4%) não recebeu informações com relação a prevenção da dor lombar [4]. Mais de um terço das mulheres grávidas refere dor lombar localizada na região lombossacra ou a dorsolombar, provavelmente pela tentativa de buscar o equilíbrio na mudança do centro de gravidade, compensando as curvaturas da coluna vertebral [5]. A desconstrução da lógica que analisa atualmente a lombalgia como sendo uma característica normal da gestação, poderá contribuir para a conscientização dos profissionais de saúde e possibilitar nova visão sobre a sintomatologia da mulher gestante [6]. Dentro desse contexto, percebe-se a importância de um estudo que se refere a um desconforto tão importante e que acomete uma grande maioria de mulheres grávidas levando até mesmo a incapacidade. Sabe-se que a maior dificuldade para que se adotem medidas preventivas ainda no período gestacional é justamente o fato dos profissionais de saúde considerarem a lombalgia como uma queixa comum da gravidez e acreditarem que com o fim da mesma findarão estes desconfortos, o que nem sempre é verdade. Apesar da dor lombar, em muitos casos, ser pouco significativa durante a gravidez, pode-se tornar freqüente após o parto. Isto pode decorrer dos efeitos da relaxina sobre a estabilidade da coluna lombar [3,7]. Diante destes fatos objetivou-se, através deste estudo, verificar a freqüência da lombalgia na gravidez a partir do segundo trimestre e relacioná-la com a idade gestacional. Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 Grupo A (GA) – IG variando entre 16 e 20 semanas: 41 gestantes Grupo B (GB) – IG variando entre 21 e 24 semanas: 35 gestantes Grupo C (GC) – IG variando entre 25 e 28 semanas: 33 gestantes Grupo D (GD) – IG variando entre 29 e 32 semanas: 32 gestantes Grupo E (GE) – IG variando entre 33 semanas ou mais: 22 gestantes A IG de 16 semanas foi escolhida por ser o período em que as gestantes encontram-se em remodelagem postural, o que na maioria das vezes leva a queixas álgicas. Como método para avaliação da dor lombar aplicou-se o questionário de Quebec Back Pain Disability Scale devidamente validado e adaptado. O mesmo era aplicado pela manhã, sempre no mesmo horário, em local adequado, onde cada gestante era entrevistava em média por 10 minutos, sempre ignorando as outras partes do corpo e concentrando suas respostas apenas nas alterações da região lombar. Resultados e discussão Apesar do primeiro episódio de dor lombar ocorrer em qualquer etapa da gravidez, na maioria das mulheres encontra-se entre décima sexta e vigésima oitava semanas devido ao aumento do peso que requer uma reorganização na mecânica corporal da gestante [8]. Na amostra estudada, observou-se alto índice (I) de lombalgia, tanto nos grupos de interesse como no total da amostra (I = 79,14%), porém através do teste Qui-quadrado não se evidenciou diferença estatisticamente significativa entre os grupos (χ2 0,05; 4 = 0,218; p > 0,05), como se pode observar na Gráfico 1 e Tabela I. Gráfico 1 - Índice de dor lombar em gestantes na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Materiais e métodos Participaram do estudo 194 gestantes, moradoras da Zona Oeste do Município do Rio de Janeiro, voluntárias, com idade entre 18 e 36 anos, incluídas após obedecer ao critério de inclusão com Idade Gestacional (IG) a partir das 16 semanas e os de exclusão com antecedentes de traumatismo ou patologias envolvendo a região lombar. Após seleção a amostra passou a ser constituída por 163 gestantes com idade média gestacional de 26,64 ± 6,03 semanas. O estudo obedeceu a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, sendo iniciado após assinatura do termo de livre consentimento esclarecido pelas participantes. Os dados foram tabulados de acordo com os grupos de interesse, conforme descrito: Fisioterapia_v8n1.indb 32 12/3/2007 10:18:59 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 Tabela I - Distribuição dos grupos em relação à dor lombar (n= 163). Grupos GA GB GC GD GE TOTAL Dor lombar Sim Não 33 8 26 9 28 5 28 4 14 8 129 34 Total I 41 35 33 32 22 163 80,49% 74,29% 84,85% 87,50% 63,64% 79,14% 33 No Gráfico 3 e Tabela III pode-se observar os resultados obtidos pela análise da escala de percepção de intensidade da dor lombar no seu pior momento ou de maior intensidade. Embora a relação entre a intensidade da dor lombar em seu pior momento e a idade gestacional não seja estatisticamente significativa através do teste Qui-quadrado (χ2 0,05; 8 = 0,090; p > 0,05), observa-se, neste estudo, que a presença da dor ocorre durante todo período gestacional com diferentes intensidades de acometimento. Gráfico 3 - Intensidade da dor lombar em seu pior momento. No Gráfico 1 percebe-se alto índice de lombalgia na amostra em geral (I = 79,14%), bem como em ambos os grupos de interesse, entretanto, ao se realizar a análise através do Teste Qui-quadrado não se evidenciou diferença estatisticamente significativa entre os grupos (χ2 0,05; 4 = 0,218; p > 0,05). Embora alguns estudos relacionem a dor lombar com a IG, os dados obtidos revelaram em um número significativo de mulheres entrevistadas dor lombar durante a gestação, independente da idade gestacional. Assim, os resultados encontrados estão de acordo com as pesquisas que afirmam que apesar das regiões mais acometidas serem a articulação sacroilíaca, a coluna lombar e a região cervicotorácica, a freqüência da dor não aumenta com a idade gestacional [4,5]. Em relação à periodicidade da dor, se diária, semanal ou mensal, observou-se que a partir do GB (IG variando entre 21 a 24 semanas) a maioria das gestantes referia dor diariamente, conforme apresentado no Gráfico 2 e Tabela II, apesar de estatisticamente através do Teste Qui-quadrado não se evidenciar relação entre a freqüência da dor e a IG (χ2 0,05; = 0,379; p > 0,05). Já as gestantes pertencentes ao Grupo 3 GC (IG variando entre 25 e 28 semanas) apresentavam maior freqüência de lombalgia, pois referiam dor diariamente ou semanalmente. Gráfico 2 – Freqüência da dor lombar. A questão “Intensidade da Dor Lombar” revela como era percebida a dor em seu pior momento. Analisando-se as respostas, percebe-se que as gestantes com o decorrer da gravidez aprendem a conviver com a dor lombar, uma vez que a grande maioria referia a mesma como moderada (GA 51,52% - GB 46,15% - GC 78,57% - GD 60,71% - GE 35,71%). Estes resultados estão de acordo com autores que observaram no decorrer da gravidez uma “habituação” a esse tipo de dor, sendo as queixas rotuladas como “normais” durante a gestação e, portanto por não apresentarem ameaça relevante ao desenvolvimento da gravidez, consideradas como parte de um processo fisiológico[6]. Durante as atividades diárias ou repouso não se observaram qualquer alteração no grau de comprometimento da dor, já que não ocorreu uma tendência positiva ou negativa com o passar das semanas. A freqüência relativa de manifestação da dor lombar pela gestante, em suas atividades diárias ou em repouso apresentadas pelos grupos de interesse, está demonstrado no Gráfico 4. Gráfico 4 – Manifestação da dor lombar em atividade e em repouso. A lombalgia é um fator marcante na vida de quase todas as gestantes, visto seu alto índice e os prejuízos ocasionados. Comumente as orientações das consultas de pré-natal não trazem resultados significativos para sua diminuição, necessitando, na maioria das vezes, de orientações mais específicas para reduzir a dor lombar em sua freqüência e intensidade [9]. Fisioterapia_v8n1.indb 33 12/3/2007 10:19:00 34 Observou-se nesta pesquisa, que a dor lombar pode se manifestar independente da gestante estar ou não em movimento, porém se percebe que no GE, onde a IG está entre 33 semanas ou mais, esta situação é mais freqüente, já que 14 gestantes referiram dor lombar tanto em repouso quanto em atividade. Outro fato relevante foi que em média 18,96% das gestantes haviam se afastado do trabalho devido à lombalgia. Entretanto, quando se realizou a análise estatística por grupos, estes não evidenciaram diferenças significativas (χ2 0,05; 8 = 0,032; p > 0,05). O mesmo se observou em relação ao afastamento de outras atividades (em média 11,55% da amostra, sendo χ2 0,05; 8 = 0,713 com p > 0,05), conforme apresentado no Gráfico 5. Gráfico 5 - Afastamento do trabalho ou outras atividades em função da dor lombar. Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 Gráfico 6 - Procura por atendimento médico. Ao compararmos o percentual de mulheres que sentiram dor lombar no período gestacional (79,14%), com as que procuraram atendimento médico (26,02%), observa-se que a dor deve ser tolerável ou aceitável pelas gestantes, como característica normal da gravidez. Embora haja relatos de que a lombalgia no início do século XX era um dos problemas mais negligenciados na gestação [14], parece que tal fato ainda se repete nos dias atuais, sob a fundamentação de que a lombalgia é apenas um desconforto inerente ao período gestacional [15]. Conclusão A lombalgia é uma das principais queixas no trabalho. Embora representem 40% das queixas da população trabalhadora, somente cerca de 20% das mulheres desenvolvem distúrbios na coluna vertebral de ordem ocupacional. Isto, talvez se deva ao fato de haver menos envolvimento físico desta população nas atividades profissionais [10]. No presente estudo, uma percentagem significativa de gestantes referiu a dor lombar como um fator limitante para a realização das suas tarefas domésticas diárias. Considerando que a maioria das entrevistadas eram donas de casa, isto nos demonstra uma conseqüência extremamente relevante. A dor lombar pode ser tão intensa que poderá incapacitar a gestante tanto para as atividades domésticas como para as atividades extradomésticas [11]. Os resultados encontrados estão de acordo com a literatura consultada, pois a lombalgia na gestação, nos últimos dez anos, tem merecido maior atenção, sendo uma importante causa de afastamento do trabalho [6]. Observa-se alta prevalência de disfunções da coluna vertebral como produtoras de incapacidade funcional [12]. Cerca de 30% das mulheres solicita licença saúde durante a gestação, podendo a mesma se estender até o parto [13] devido à freqüência, a intensidade e o grau de incapacidade que a dor lombar ocasiona na gestante [10]. Neste estudo, apenas 26,02% das gestantes havia procurado atendimento médico em função de dor recorrente (Gráfico 6). Fisioterapia_v8n1.indb 34 Encontrou-se no presente estudo alto índice de lombalgia, independente da idade gestacional, sendo a freqüência da dor diária nas gestantes entre 21 e 32 semanas e semanalmente apenas no grupo entre 16 e 20 semanas. Apesar de 20,86% da amostra não referir dor lombar durante a gestação, das que apresentaram dor lombar em algum período de sua gestação, poucas procuraram atendimento médico ou fizeram algum tipo tratamento, o que nos leva a crer que ocorre uma habituação da dor. De acordo com os resultados, a lombalgia é freqüente na gestação independente da idade gestacional. Apesar de comum, deve ser tratada e não simplesmente encarada como conseqüência normal da gravidez, pois gera grande repercussão à saúde da mulher no período gravídico-puerperal. Assim, deve-se incentivar a promoção de saúde da mulher gestante a fim de melhorar a qualidade de vida num período tão sublime que é estar grávida, visto que a lombalgia interfere intensamente na vida das gestantes. Referências 1. Collinton J. Back pain and pregnancy: Active management Strategies. Phys Sportsmed 1996;24:1-6. 2. Novaes FS, Shimo AKK, Lopes MHBM. Lombalgia na gestação. Rev Latino-Am Enfermagem 2006;14(4):620-4. 3. Polden M, Mantle J. O alívio para o incômodo da gravidez. In: Fisioterapia em Obstetrícia e Ginecologia. 2ª ed. São Paulo: Santos; 2000. p.133-60. 4. Assis RG, Tibúrcio RES. Prevalência e características da lombalgia na gestação: um estudo entre gestantes assistidas no 12/3/2007 10:19:00 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 5. 6. 7. 8. 9. programa de pré-natal da Maternidade Dona Íris em Goiânia [Monografia].Goiânia: Universidade Católica de Goiás; 2004. Martins RF, Silva JLP. Prevalência de dores nas costas na gestação. Rev Assoc Med Bras 2005;51(3):144-7. Ferreira CHJ, Nakano MAS. Reflexões sobre as bases conceituais que fundamentam a construção do conhecimento a cerca da lombalgia na gestação. Rev Latino-Am Enfermagem 2001;9(3):95-100. Souza LM, Alves RN, Gonçalves RV, Caldeira VMFR. Fisioterapia durante a gestação: um estudo comparativo. Fisioter Bras 2005;6(4):265-70. Ferreira CHJ, Nakano AMS. Lombalgia na gestação: etiologia, fatores de risco e prevenção. Femina 2000;28(8):435-8. Martins RF, Silva JLP. Tratamento da lombalgia e dor pélvica posterior na gestação por um método de exercícios. 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Tratamento da lombalgia na gestação; Fisioter Bras 2006;7(2):138-41. 12/3/2007 10:19:01 36 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 Artigo original Método terapêutico-pedagógico no tratamento da dor lombar Method of therapeutic pedagogical assistance for treatment of low back pain Tiene Deccache, Ft.*, Marco Antônio Guimarães da Silva, Med. Dr. Sci.** *Fisioterapia na Faculdade de Medicina da Universidade de Buenos Aires, **Professor associado da UFRRJ Resumo Abstract O objetivo deste estudo foi confirmar a eficácia do método de atendimento terapêutico-pedagógico (AT-P) no tratamento da dor lombar. No método AT-P, o fisioterapeuta é convidado a estabelecer com seu cliente uma relação educador-educando. A metodologia adotada se apóia nos princípios biomecânicos da coordenação motora das fisioterapeutas Béziers e Piret, nos conceitos educativos do método de alfabet ização Paulo Freire e nas Escolas da Coluna. Os grupos estudados foram selecionados aleatoriamente, a partir de 300 bombeiros militares do Estado do Rio de Janeiro. Para estabelecer uma análise comparativa utilizou-se o teste t de Student e o teste Qui-Quadrado, com significância estatística de p < 0,05. Os resultados apresentaram uma melhora altamente significativa no perfil álgico do grupo experimental em relação ao grupo controle para os valores médios dos escores totais (p = 0,00009 < 0,05) e para o grau de benefício relativo obtido pelos pacientes, observados a partir da avaliação do padrão de morbidade da dor lombar (p = 0,000433 < 0,05), e ainda, para os dados referentes à escala analógica visual que avaliou a intensidade da dor percebida pelo cliente (p = 0,0058 < 0,05). This study aims at confirming the method of therapeutic pedagogical assistance (AT-P) efficiency for treating low back pain. In AT-P method, the physiotherapist is invited to build an educator-educatee relationship with his/her patient. The methodology adopted is based on Motor Coordination biomechanical principles created by physiotherapists Béziers and Piret, on the educational concepts of Paulo Freire’s method of literacy and on the Schools of Vertebral Column. The groups under assessment were selected randomly, from 300 military firemen working in the State of Rio de Janeiro. In order to perform a comparative analysis, Student’s t-test and chi-square test (statistical significance of p < 0.05) were used. The outcomes showed a highly significant improvement in the personal pain profile of the experimental group, when compared to the control group, for average values of total scores (p = 0.00009 < 0.05) and for the relative benefit degree reached by the patients, observed from the back pain morbidity standard (p = 0.000433 < 0.05), and yet for data referring to the visual analogic scale, which has assessed the intensity of pain felt by the patient (p = 0.0058 < 0.05). Palavras-chave: dor lombar, cinesioterapia, educação, autonomia e co-responsabilização. Introdução Embora a dor lombar afete cerca de 80% da população, apenas de 5% a 10%, aproximadamente, evoluem para um quadro crônico. Porém, nos EUA, esta pequena minoria é responsável por cerca de 80% dos gastos com despesas médicas [1-3]. Key-words: low back pain, cinesiotherapy, education, autonomy and co-responsabilization. Os comprometimentos socioeconômicos gerados pelo alto índice de reincidência e cronicidade do sintoma estimularam pesquisas e o desenvolvimento tecnológico nesta área. No entanto, o surgimento, nos anos 70 e 80, de exames de RX, Ressonância Magnética e Tomografia Computadorizada além do aumento significativo do número de cirurgias de coluna não foram suficientes para evitar a progressão desenfreada do Recebido em 6 de dezembro de 2006; aceito em 12 de janeiro de 2007. Endereço para correspondência: Marco Antônio Guimarães da Silva, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v8n1.indb 36 12/3/2007 10:19:01 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 sintoma [4]. Nesta mesma época, com propostas contrárias às abordagens intervencionistas, surgiam as Escolas da Coluna trazendo o foco para o reequilíbrio funcional da coluna lombar e para a educação do indivíduo como recursos de prevenção da dor lombar. Os objetivos dos programas educativos se identificam com a afirmativa de Broadhust [5] e Van Wijmen [6] de que, dentre todos os pacientes com lesões vertebrais mecânicas diagnosticadas, cerca de 70% podem aprender satisfatoriamente como mitigar a DL presente e – o que é mais importante – como prevenir futuros problemas. E, ainda, que o paciente com lombalgia inespecífica pode ser orientado a se auto-socorrer com o uso de recursos facilmente implementados. Com o atual aporte científico, já não se questiona mais a importância da cinesioterapia como o principal recurso terapêutico no resgate da nutrição do disco vertebral e da cartilagem, na elasticidade mioligamentar, na organização fibrilar do tecido cicatricial e na coordenação das unidades motoras [7]. Além disso, como afirmam as fisioterapeutas Béziers e Piret [8], a complexidade do mecanismo de organização da motricidade permite perceber, não apenas elementos separados (músculos e sua inervação, ossos, articulações), mas a sua síntese, o todo, a auto-imagem global. As autoras corroboram o valor do processo educativo quando concluem que o equilíbrio biomecânico entre forma e função corporal depende da consciência e do comprometimento do indivíduo para que ele possa interferir diretamente na transformação de sua realidade e do mundo. O método AT-P integra os princípios mecânicos globais da coordenação motora das fisioterapeutas Béziers e Piret e a abordagem pedagógica do método de alfabetização Paulo Freire [9,10], com objetivo de encorajar o indivíduo a assumir o papel de principal agente do processo de cura. A proposta desta pesquisa é comprovar que a abordagem apresentada pelo método de atendimento terapêutico-pedagógico é eficaz no tratamento da dor lombar. Material e método No presente estudo, utilizou-se de um questionário autoaplicável para a definição do coorte lombálgico. A partir de uma amostra de 300 bombeiros do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro, os sujeitos foram selecionados randomicamente e distribuídos entre o grupo experimental (GExp) (n = 22) e o grupo controle (GCtrl) (n = 26). Os componentes eram do sexo masculino, com idade variando entre 24 e 55 anos e com sintoma de dor lombar inespecífica. Todos os participantes foram informados sobre as condições do estudo e confirmaram sua participação ao assinarem um termo de consentimento. Através da marcação feita pelo próprio sujeito ao longo da base de uma escala analógica visual, foi possível definir como Fisioterapia_v8n1.indb 37 37 cada componente considerava a intensidade de sua dor, nos últimos sete dias. O quadro de avaliação do padrão de morbidade álgica, validado por Lassale B. e Garçon P. em 1990, permitiu identificar o perfil da dor lombar. O referido avaliou sete itens: dor irradiada em repouso; dor irradiada no trabalho; dor em repouso; dor durante o trabalho; dor incômoda à noite; necessidade de atenção médica / uso de medicamento; e interferência da dor na rotina do trabalho. A partir dos pontos em cada item foi possível definir o escore total e o benefício obtido por cada componente na avaliação final. O tratamento com o método AT-P foi aplicado no quartel do 3ºGBM, local de trabalho dos bombeiros incluídos no GExp, com duas sessões semanais de 90 minutos por, aproximadamente 2 meses. Ao longo desse período, o grupo GCtrl, sediado no quartel do Destacamento Charitas do 3º GBM, foi monitorado semanalmente quanto à ocorrência e à intensidade máxima da DL percebida nos últimos sete dias, com referência no Quadro Ilustrado de Identificação da Dor que apresentava as opções: sem dor, dor leve, dor moderada e dor severa. Os testes comparativos dos referidos grupos foram realizados no início do tratamento (pré-teste) e após o período de monitoramento de seis meses (pós-teste). Destaca-se, contudo, que para manter o cuidado com a confiabilidade da pesquisa e impedir a manipulação dos dados, cada grupo investigado foi avaliado e acompanhado por uma equipe de monitores diferente. O método de atendimento terapêutico-pedagógico A estrutura pedagógica do método AT-P foi desenvolvida para que o paciente se descubra autônomo e capaz de transformar o quadro de desconforto e limitação. Para isso, cada etapa do tratamento estimula uma relação dialógica entre o terapeuta, o cliente e o universo que envolve o sintoma, seus hábitos, limites e potencialidades de cuidado e prevenção. Objetivos do método AT-P: • Despertar e fortalecer a consciência da multicausalidade da DL; • Acrescentar e reforçar os recursos individuais de autocuidado - não medicamentosos; • Possibilitar a troca de saberes e poderes entre os pacientes através do trabalho de grupo; • Evitar a instalação de um quadro de descondicionamento (perda de flexibilidade, tônus, força muscular e coordenação motora); • Aumentar e refinar o repertório gestual do indivíduo; • Construir uma consciência crítica individual e coletiva sobre a realidade da DL. Didaticamente, sua estrutura metodológica se distribui em quatro etapas fundamentais: 1) Investigação de base: Momento destinado a fazer um levantamento criterioso sobre o universo da DL dos compo- 12/3/2007 10:19:02 38 nentes e estabelecer o perfil álgico, funcional e cognitivo do grupo. 2) Elaboração do repertório terapêutico-pedagógico: Definição das metas do tratamento e de eleição dos recursos terapêuticos e pedagógicos adequados ao tratamento e à construção do conhecimento do grupo estudado. 3) Aplicação do repertório terapêutico-pedagógico. Momento em que as situações terapêuticas desafiadoras permitem a revelação da realidade corporal do paciente, usada no desenvolvimento de sua autonomia e sua co-responsabilização diante da dor. Nesta etapa, o terapeuta afasta qualquer possibilidade de tornar a realização dos exercícios um adestramento corporal, todo movimento deve ser vivido de forma criativa e reflexiva. A partir dos exercícios, manobras e debates, os pacientes são conscientizados da relação entre a melhora do quadro e o fortalecimento dos sentimentos de confiança. Ao final de cada sessão, os clientes são estimulados a escolherem um exercício diferente para vivenciar em casa e trazer na sessão seguinte as dúvidas e as limitações que encontrou para realizá-lo. 4) Elaboração do Programa Individual de Prevenção da Dor Lombar (PIP): Momento caracterizado pela participação ativa do paciente na formulação do PIP. Utilizando-se de fotografias e um quadro ilustrado com as manobras e exercícios realizados no tratamento, os componentes avaliam e selecionam os recursos que vão compor o seu Programa Individual Domiciliar de Prevenção. A vivência consciente dos movimentos é de grande importância para esta etapa do tratamento, na qual o indivíduo confirma sua autonomia. Resultados Na análise dos dados foram aplicados os testes t de Student e Qui-quadrado no sentido de comparar as distribuições de freqüências observadas nos cruzamentos Inter e Intragrupos e entre os extratos temporais pré e pós-teste, estabelecendo-se o Nível de significância de p < 0,05. A homogeneidade da amostra no estrato temporal préteste foi demonstrada em todos os aspectos testados, a partir da aceitação da hipótese nula. Os resultados observados em uma análise intergrupos feita através da escala analógica visual, indica diferenças significativas (p = 0,0058 << 0,05) entre as Distribuições de Freqüências dos Grupos no estrato temporal Pós-teste. Os dados da análise intragrupo denotam que os componentes do GExp (sig.p = 0,00013 << 0,05), contrário ao comportamento do GCtrl (sig. p = 0,3487 > 0,05), alteraram positivamente a classificação do nível de intensidade da sua dor. (Tabelas I e II). O resultado da análise intergrupos, tomado após aplicação do tratamento indica que existem diferenças significativas entre os valores médios dos escores totais do padrão de morbidade da dor lombar dos GCtrl e GExp, sendo o GCtrl (13,65 ± 4,00) significativamente menor (p = 0,00009 < 0,05) que o GExp (18,50 ± 0,71). Fisioterapia_v8n1.indb 38 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 Tabela I - Distribuições de freqüências, numa análise intergrupos (pós-teste) referente à Escala Analógica Visual Intensidade da dor Nula Leve Moderada Severa Total Análise intergrupos Pós-teste Experimental 8 (36,4%) 9 (40,9%) 5 (22,7%) 0 (0,0%) 22 (100,0%) Controle 1(3,8%) 8 (30,8%) 14 (53,8%) 3 (11,5%) 26 (100,0%) Total 9 (18,8%) 17 (35,4%) 19 (39,6%) 3 (6,3%) 48 (100,0%) Sig.p = 0,0058 < 0,05 Tabela II - Distribuições de Freqüências, intragrupos (Pré X Pós) referente Escala Analógica Visual. Intensidade da dor Nula Leve Análise intragrupo EAV Experimental * Pré Pós 0 (0,0%) 8 (36,4%) 3 (13,6%) 9 (40,9%) Moderada 13 (59,1%) Severa 6 (27,3%) Total 22 (100,0%) *Sig.p = 0,00013<0,05 5 (22,7%) 0 (0,0%) 22 -100,00% Controle ** Pré Pós 0 (0,0%) 1 (3,8%) 5 (19,2%) 8 (30,8%) 14 (53,8%) 7 (26,9%) 26 (100,0%) 14 (53,8%) 3 (11,5%) 26 -100,00% **Sig.p=0,3487 > 0,05 Para a maioria dos parâmetros definidores do escore total de avaliação do padrão de morbidade da dor, no estrato temporal pós-teste, observam-se diferenças significativas (p < 0,05) entre as distribuições de freqüências dos GExp e GCtrl.. Este resultado demonstra a significância da interferência do tratamento. Combinando-se as classificações dos benefícios obtidos, observa-se uma clara inversão no comportamento das distribuições de freqüências da avaliação do padrão de morbidade da dor lombar. Isto é, o GExp apresentando 72,7% de Excelente ou Bom e o GCtrl com uma freqüência acumulada igual a 27,3% (sig.p = 0,000433 < 0,05). Gráfico 1 - Distribuições de freqüências dos benefícios combinados dos grupos experimental e controle. 12/3/2007 10:19:02 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 Na abordagem intra-grupo, o resultado para os escores totais demonstram que o GCtrl não alterou o seu perfil álgico entre os valores médios dos estratos temporais Pré e Pós-teste. (p = 0,0889 > 0,05), enquanto no GExp, a diferença entre 39 os valores médios dos dois estratos temporais demonstra que houve uma melhora expressiva (p = 0,0002 < 0,05) no quadro da dor desses pacientes (Tabela III). Tabela III - Valores médios (desvio padrão) e análise comparativa, Intra e Intergrupos (Exp X Ctrl), das Distribuições de Freqüências dos escores da Avaliação do Padrão de Morbidade da Dor Lombar Pré-teste e Pós-teste, a significância p calculada a partir do teste Qui-quadrado. *Dor Lombar Experimental Pré IR 3,5 (1,1) IT 2,5 (0,9) DR 1,6 (1,1) DT 0,7 (0,6) DN 2,0 (1,1) MD 1,6 (0,6) RT 2,2 (0,7) ET 14,1 (4,2) Pós 3,6 (0,9) 2,8 (0,5) 2,5 (0,8) 1,5 (0,6) 2,9 (0,4) 2,0 (0,0) 2,6 (0,5) 17,9 (2,6) Controle Sig.p / dif 0,753 0,617 0,0026 0,0015 0,0059 0,0156 0,0466 0,0002 Pré 3 (1,4) 2,3 (1,1) 1,4 (1,1) 0,7 (0,7) 1,9 (1,0) 1,3 (0,8) 1,8 (0,7) 12,3 (4,2) Pós 3,1 (1,1) 2,3 (1,0) 2,0 (0,7) 0,7 (0,7) 2,0 (1,0) 1,6 (0,5) 1,9 (0,7) 13,7 (4,0) Intergrupos Sig.p / dif 0,3386 0,2956 0,0609 0,911 0,9916 0,0601 0,4942 0,0889 Pré 0,4811 0,1622 0,2107 0,6994 0,9336 0,1931 0,1695 0,1422 Pós 0,1545 0,1003 0,0372 0,0021 0,003 0,0011 0,0069 0,0001 * Parâmetros definidores do Escore Total > IR= Dor irradiada; IT= Dor irradiada no trabalho e/ou atividade física; DR= Dor em repouso; DT= Dor localizada no trabalho e/ou atividade física; DN= Dor noturna; Necessidade de medicamento; RT= Rotina no trabalho; ET= Escore Total *Sig.p = 0,0058 < 0,05 Discussão O Método AT-P tem como principal objetivo, gerar um reequilíbrio de forças e tensões corporais através da reeducação do movimento e do desenvolvimento consciente da capacidade de autocuidado e prevenção. Desta forma, destaca-se que a opção de utilizar uma amostra composta por esses militares representou um grande desafio, pois são profissionais que sobrecarregam seus sistemas músculo-esqueléticos com repetidas agressões físicas e emocionais. Corroborando esta afirmativa, retomam-se os resultados encontrados por Nuwayhid et al. [11] já citados anteriormente, que revelam uma significância estatística de alto risco para o desencadeamento e agravamento da lombalgia na rotina dos bombeiros, tais como: operar mangueira carregada com água (Odds Ratio = 3,26), subir escadas (OR = 3,18), quebrar e cortar estruturas (OR = 6,47), procurar pontos de fogo durante incêndios (OR = 4,32) e levantar objetos com peso igual ou acima de 18 kg (OR = 3,07). A proposta de obter a reabilitação global da mecânica vertebral como o principal caminho para o alívio da dor lombar está associada à estabilidade do tronco e da coordenação funcional dos seus movimentos. Seguindo essa perspectiva, Tawfik [12] postula que a tendência de similaridade da função dos lados direito e esquerdo do tronco é a melhor indicação para o alívio da DL. O autor identifica que a variação do movimento assimétrico durante a rotação é menor em pacientes saudáveis do que em um grupo de pessoas com lombalgia crônica, o que reforça a importância de organizar os movimentos simétricos (enrolamento e endireitamento) e assimétricos (torções) do tronco [8,13]. Fisioterapia_v8n1.indb 39 Ressalta-se, que a participação efetiva do indivíduo na definição dos exercícios e manobras contidos no seu próprio Programa Individual de Prevenção (PIP) é um aspecto de grande relevância na metodologia AT-P, pois não se encontrou no acervo bibliográfico pesquisado qualquer outro trabalho que apresentasse essa característica. No AT-P esta renovação dos conceitos de autonomia e co-responsabilização se faz através da utilização de instrumentos de auto-análise da dor, ilustrações, objetos anatômicos, registros fotográficos, debates e dinâmicas em grupo. As dinâmicas tornam o processo consciente e desafiador, o que facilita o estímulo à curiosidade crítica e ao comprometimento de autogerenciamento à medida que avança o processo terapêutico. Ressalta-se que no final do tratamento, momento de elaboração do Programa Individual de Prevenção (PIP), a construção da autonomia ganha muita força, já que as normas estabelecidas para escolha e aplicação dos exercícios, manobras e posturas de tratamento domiciliar são criadas pelo próprio cliente garantindo, ele mesmo, a personalização de seu cuidado domiciliar. A importância desta abordagem encontra apoio na afirmativa de Frost et al. [14] e Cherkin et al. [15] de que o uso desse recurso na manutenção dos efeitos do tratamento e da prevenção de futuros episódios não apresenta eficácia no alívio da DL quando aplicados sem o cuidado de envolver o paciente no processo terapêutico. Observou-se uma diferença altamente significativa para os dados referentes à escala analógica visual (p = 0,0058 < 0,05) e para os graus de benefícios relativos, observados a partir do escore total da avaliação do padrão de morbidade da dor lombar (p = 0,000433 < 0,05). Isto comprova o valor 12/3/2007 10:19:03 40 indiscutível do AT-P na melhora do perfil lombálgico do GExp em relação ao GCtrl, confirmando, assim, a hipótese alternativa da presente pesquisa. A análise estatística para o parâmetro DL no trabalho mostrou diferenças bastante significativas na comparação intergrupos (p = 0,0021). Isto é, houve um aumento de 9% para 55% a proporção de pacientes do GExp que afirmaram não sentir DL em suas atividades profissionais. Da mesma forma, comprovou-se a eficácia do tratamento nas limitações provocadas pela DL na rotina do trabalho (p = 0,0069). Contrário a esta evolução, o GCtrl manteve as mesmas características apresentadas no estrato temporal pré-teste. Observou-se ainda, que 100% dos bombeiros do GExp, que inicialmente adotavam medicamentos para DL, deixaram de recorrer a este método analgésico nos momentos de dor. Tendo em vista os resultados da estatística inferencial (p = 0,0011), constata-se que os exercícios associados aos recursos pedagógicos atuam, de forma positiva, na melhora da qualidade de vida do paciente e na mudança do desfavorável cenário econômico que envolve as etapas de diagnóstico e tratamento da DL, já citado por diversos autores [1,2,3,15-18]. Conclusão De acordo com as análises estatísticas, concluímos que o resgate da autonomia do indivíduo diante do seu processo de cura é o principal estímulo para que ele inicie uma transformação real dos hábitos, condutas, espaços e relações que desencadeiam ou agravam o sintoma. Além disso, é fundamental lançar mão de uma estratégia educativa que se comprometa com a construção de uma nova relação entre o indivíduo, a dor e os recursos de prevenção. Com base nos resultados, altamente positivos, obtidos com o método AT-P, sugerimos que os profissionais de saúde assumam a sua responsabilidade de educadores diante do uso indiscriminado de medicamentos. Isso porque, são incontáveis as campanhas que incentivam cada vez mais o consumo de produtos farmacêuticos, sem levar em conta as conseqüências geradas pelos riscos de toxicidade, de efeitos colaterais produzidos por esta terapêutica e, sobretudo, pelo alto custo que representa para o indivíduo e para o Estado. Fisioterapia_v8n1.indb 40 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 Referências 1. Cheren A. A coluna vertebral dos trabalhadores – alterações da coluna relacionadas com o trabalho. Rev Med Reabil 1992;31:17-25. 2. Fortes F, Souza C, Barros T. Lombalgia: magnitude do problema. Acta Ortop Bras 2000; 8(1):47-51. 3. Halpern M, Hiebert R, Nordin M, Goldsheyder D, Crane M. The test-retest realibity of a new occupational risk factor questionnaire for outcome studies of low back pain. Appl Ergon 2001;32:39-46. 4. Lutz GK, Butzlaff M, Schultz-Venrath U. Looking back on back pain: trial and error of diagnoses in the 20th Century. Spine J 2003;28(16):1899-905. 5. Broadhust NA. Chronic low back pain – What are the treatment options? Aut Fam Physician 1999;28(1):25-30. 6. Van Wijmen PM. O manejo da lombalgia recorrente. In: Grieve GP. Moderna terapia manual da coluna vertebral. São Paulo: Interamericana; 1994. p.756-76. 7. Vanvelcenaher J et al. 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Rev Bras Med Esporte 2001;7(4):132-7. 12/3/2007 10:19:03 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 41 Revisão Amamentação e respiração bucal: abordagem fisioterapêutica e odontológica Breastfeeding and mouth breathing: physiotherapeutic and odontological approach Fernanda Vargas Ferreira, Ft.*, Fabiana Vargas Ferreira**, Zuleica Tabarelli, M.Sc. ** *Departamento de Fisioterapia UFSM,**Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), *** Prof. UFMS Resumo Abstract A correlação entre a morfologia crânio-facial e o padrão respiratório é de grande interesse pela importância prática para ortodontistas, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, pediatras e otorrinolaringologistas já que o hábito da respiração bucal pode acarretar modificações neuromusculares, esqueléticas, dentárias e funcionais. A partir desta revisão, pode-se aferir a complexidade de alterações do paciente com a síndrome do respirador bucal no que se refere à multiplicidade de áreas envolvidas no diagnóstico e tratamento. Diante disso, enfatizase a necessidade de uma atuação multidisciplinar e interdisciplinar, a fim de que as condutas terapêuticas sejam precoces e efetivas visando à normalização das inadequações funcionais. The relationship between the cranium and the face structures and the respiratory pattern is of great practical interest for orthodontists, orthopaedists, physical therapists, phonoaudiologists, paediatrists and otorrinolaringologists since respiration by mouth can get functional alterations on neuromuscular and skeletal systems, bad tooth implantation and other abnormalities. By means of this revision on literature it can be seen the complexity of alterations in patients that show mouth breathing according to the great number of areas involved in diagnosis and treatment. For these reasons it is emphasized the necessity of a whole treatment looking to all dysfunctional aspects with therapies sooner applied and of effectiveness looking for normalization of dysfunctional problems. Palavras-chave: respiração bucal, fisioterapia, odontologia. Key-words: mouth breathing, physical therapy, odontology. Introdução O sistema estomatognático é uma região anátomo-funcional que engloba estruturas da cabeça, face e pescoço e que compreende estruturas ósseas, dentárias, musculares, glandulares, nervosas e articulares envolvidas com as funções da cavidade oral. Destas funções destacam-se a mastigação, a deglutição e a fonoarticulação, atividades realizadas com a atuação do sistema neuromuscular. O correto desempenho dessas funções é de grande importância para a estimulação e manutenção do equilíbrio durante e após o desenvolvimento crânio-facial, pois esses são mecanismos naturais de controle do crescimento. Qualquer alteração ocasionará anomalias estruturais das bases ósseas [1]. A respiração normal é realizada por via nasal e com selamento de lábios e esses aspectos têm importância fundamental no estabelecimento da forma dos arcos dentários e dos contatos oclusais funcionais [2]. No entanto, muitas vezes a inspiração é realizada pela boca. A respiração bucal, como é chamada a inalação de ar através da cavidade oral pode ser definida como uma respiração executada em detrimento das vias normais, o que representa um fator etiológico potencial no desenvolvimento de injúrias morfo-funcionais em todo o organismo [3]. Apesar da respiração bucal ser considerada um desvio funcional, pode, às vezes, ser usada como uma respiração substitutiva (nos processos em que há obstáculo temporário à respiração nasal, como nos processos gripais) ou comple- Recebido em 1 de julho de 2005; aceito em 10 de janeiro de 2007. Endereço para correspondência: Fernanda Vargas Ferreira, Rua Visconde de Pelotas, 517, 97010-440 Santa Maria RS, E-mail: [email protected]. br Fisioterapia_v8n1.indb 41 12/3/2007 10:19:04 42 mentar (nos processos em que há necessidade de maior aporte de oxigênio, como no exercício físico) utilizada para garantir um fluxo de ar adequado aos pulmões [4,5]. Quando ela é rotineira é que produz alterações nas estruturas do sistema estomatognático. Segundo Rickets [6] a respiração bucal ou síndrome obstrutiva respiratória nada mais é do que uma alteração do padrão respiratório fisiológico nasal, visto que o nariz é o órgão apropriado para as funções de aquecer, filtrar e umidificar o ar inspirado e estimular o desenvolvimento crânio-facial. Para Lino [7] a respiração oral é um hábito deletério por ser altamente comprometedora na definição de forma e contornos dos arcos dentários, bem como de todo processo nasomaxilar. Além do aspecto respiratório, a criança que desde o nascimento teve aleitamento natural apresenta um crescimento harmonioso da face, porque a atividade muscular é estímulo para o crescimento dos ossos da face [8-11]. Lusvarghi [4] concluiu que a amamentação materna, além de contribuir para o crescimento da mandíbula e para o posicionamento lingual adequados, também proporciona coordenação para as forças musculares atuantes. Também Schinestsck [12] sugere que para o desenvolvimento e crescimento harmoniosos do sistema estomatognático são fundamentais os estímulos oriundos da amamentação materna, da respiração nasal e da mastigação adequada dos alimentos. Através desse trabalho muscular, há a movimentação da mandíbula para frente e para trás em sincronia com a deglutição, sendo que a respiração, durante a sucção ou mastigação, é realizada somente pelo nariz. Esse autor concluiu que a amamentação proporciona uma estimulação ao crescimento da mandíbula, prevenindo assim as diasto-oclusões (Classes II de Angle). Para Haddad, Pastor & Montana, Lusvarghi e Paiva et al. [4,5,13,14], o aleitamento materno, além de estimular o crescimento ânteroposterior da mandíbula, reforça o circuito neurofisiológico da respiração nasal, pois excita as terminações neurais das fossas nasais, promovendo o desenvolvimento adequado entre o neuro-crâneo e o víscero-crâneo do recém-nascido, um melhor relacionamento entre os rodetes gengivais e o desenvolvimento de padrão de respiração nasal e deglutição normais, ambos com vedação labial e postura adequada da cabeça, e ao desenvolvimento equilibrado de músculos, mandíbula e articulações temporomandibulares. Sies & Carvalho [15] verificaram que, durante o aleitamento natural, a criança recebe vários estímulos como os tátil-cinestésicos, térmicos, olfativos, visuais, auditivos e motores. Esses estímulos interferirão no desenvolvimento dos aspectos fisiológicos de funções como sucção, mastigação, deglutição e respiração. Eles consideram a respiração nasal como sendo fundamental e imprescindível para a manutenção da organização dos sistemas ósteo-dentário e muscular. Caso ocorram alterações nas funções supracitadas, poderão se estabelecer alterações de todo o equilíbrio bucofacial, produzindo seqüelas e sintomas muitas vezes irreversíveis. Fisioterapia_v8n1.indb 42 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 Segundo Carvalho e Costa et al. [16,17], a amamentação natural previne disfunções crâneo-mandibulares, dificuldades na fonação, hipotonia e/ou hipodesenvolvimento muscular, respiração bucal, vários tipos de má-oclusão, deglutição atípica, patologias do sistema respiratório, hábitos orais deletérios, sendo, portanto, justificável levá-la em consideração quanto à promoção da saúde integral do indivíduo. Para uma corrente de pesquisadores, a amamentação com leite de vaca aumenta a gravidade e a freqüência dos quadros alérgicos, contribuindo para a mudança do padrão respiratório do recém-nascido, o qual é totalmente nasal [4]. Dessas considerações, conclui-se que a amamentação natural é importante visto que estimula a respiração nasal, propicia trabalho muscular mais eficiente fazendo com que os músculos envolvidos no processo se tornem melhor preparados para a mastigação, estimula adequado crescimento e desenvolvimento do sistema mastigatório, das estruturas ósseas e articulares adjacentes, favorecendo o crescimento ântero-posterior da mandíbula e fazendo com que a mesma saia de uma posição de disto-oclusão para uma posição fisiológica de neutro-oclusão. Essa posição induzirá a um correto relacionamento dos dentes nos arcos dentários antagonistas [18,13,19,20]. O objetivo dos autores foi, através de revisão de literatura, verificar a atuação do fisioterapeuta e do odontólogo na correção da Síndrome do Respirador Bucal. Causas da respiração bucal De acordo com Silva et al. [21] a respiração bucal surge na presença de qualquer obstáculo no sistema respiratório especialmente na região nasal e/ou faríngea. Nessas condições, o indivíduo se utiliza da boca para compensar o volume de ar necessário para a realização das necessidades vitais do organismo. Esse indivíduo passa a apresentar manifestações clínicas em diversos sistemas, produzindo sinais e sintomas nem sempre relacionados diretamente à respiração bucal como é o caso das alterações na morfologia craniofacial e das alterações na função vegetativa. Fatores obstrutivos, muitas vezes associados a problemas alérgicos, e alterações neuromusculares, em especial aquelas relacionadas com a redução do tônus, podem predispor a criança a apresentar um quadro de respiração bucal. Ferreira [22] e Milanezi et al. [23] apontam como fatores etiológicos que poderiam representar um obstáculo para o fluxo aéreo nasal a existência de pólipos, cistos, tumores, rinites, rinolitos, neoplasmas, desvios de septo, colapso da asa nasal, hiperplasia de tonsilas palatinas e faríngeas no trajeto do fluxo de ar. Para Valera et al. [24], a hipertrofia de adenóides e as tonsilas palatinas são a 2ª causa mais freqüente de obstrução respiratória e conseqüentemente, respiração bucal em crianças. Marchesan & Krakauer e Nobre et al. [25,26] concordam e complementam as causas da respiração oral. Problemas orgânicos como obstrução nasal por problemas já aponta- 12/3/2007 10:19:05 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 dos ou por infecções repetitivas das vias aéreas superiores como laringites, rinite alérgica, sinusites e a existência de má formações congênitas, bem como hipotonia de musculatura elevadora de mandíbula como conseqüência de uma rotina de alimentação pastosa, podem produzir uma viciosa respiração bucal. Esses problemas induzem abertura de boca com língua mal posicionada e postura corporal viciosa, o que também contribuiria para produzir respiração oral. Para Nobre et al. [26] dentre os vários fatores etiológicos da respiração bucal, estão os hábitos bucais nocivos como sucção do dedo, chupeta ou mamadeira por tempo prolongado. Segundo Paiva et al. [5] e Lusvarghi [4], a respiração bucal de caráter obstrutivo é mais observada em crianças dolicocefálicas do que as braquicefálicas, pois as primeiras são mais predispostas a apresentarem alterações no padrão de desenvolvimento e crescimento craniofacial devido a esse hábito. Bio-alterações no respirador bucal Alterações craniofaciais, dentárias e fonoarticulatórias Agurto et al. [27] afirmam que a respiração bucal não só produz alterações no sistema estomatognático como também em outros sistemas do organismo, considerando-se que a síndrome produz uma grande quantidade de manifestações em outros sistemas e deformações na criança em crescimento, por isso a consideram o mais danoso dos hábitos bucais. Moreira [28] cita aspectos que permitem a identificação do respirador bucal crônico: corrimento nasal, irritação peribucal ou nasal, língua “em morango”, gengivites, engasgos freqüentes durante a alimentação e alterações fonoarticulatórias. Dentre as seqüelas da respiração bucal, tem-se a atresia maxilar, com conseqüente apresentação de palato ogival e mordida cruzada posterior, lábios hipotônicos, distalização da mandíbula, vestíbuloversão exagerada dos dentes ântero-superiores, incompetência labial quando em repouso, aumento do terço inferior da face, sorriso mostrando gengivas, narinas estreitas e inclinadas para cima, acompanhadas de ângulo nasolabial aberto [22,29]. O aprofundamento do palato nos respiradores bucais ocorre, segundo Guardo [30], pela ausência do vedamento bucal anterior e posterior da cavidade oral. Isso impede a formação da pressão negativa, que se constitui numa força fisiológica que estimula o abaulamento do palato em crescimento. Com a ausência desta força, o palato não desce, tornando-se mais profundo. Outra possível explicação para o aprofundamento do palato, segundo Breuer [31], é que a língua, colocada atrás e abaixo, no piso da boca, não se contrapõe às forças laterais exercidas sobre os maxilares superiores pelos músculos bucinadores. Desta forma, ela não exerce a sua função modeladora durante a fala, mastigação e deglutição pela contínua postura de boca aberta. Fisioterapia_v8n1.indb 43 43 O paciente respirador bucal pode apresentar boca entreaberta ou falta de selamento labial, expressão facial vaga, hipotonicidade do lábio superior, hipertonicidade do lábio inferior, incisivos superiores protruídos ou vestibularizados, lábio superior curto, lábio inferior proeminente e interposto entre os dentes anteriores, molares em neutro ou em distoclusão, narinas pequenas ou pouco desenvolvidas, pálpebras superiores inchadas, cefaléia matinal, cansaço noturno, halitose, sono leve e pressão nos ouvidos [32]. Ferraz [33] cita o respirador bucal com uma estrutura facial alterada, alongada (faces adenóides), estreitamento da arcada superior, do palato e das narinas pelo desuso, gengiva hipertrófica, olfato prejudicado, lábios e língua com posturas anormais, hiperplasia dos tecidos linfóides ao redor da Trompa de Eustáquio, podendo obstruir contribuindo para a perda auditiva e a má oxigenação do cérebro. Marchesan & Krakauer [24] apontam ainda a hipotonia e a hipofunção dos músculos elevadores da mandíbula, hipotonia de bochechas, lábios rachados e com alteração de cor, gengivas hipertrofiadas com alteração de cor e freqüentes sangramentos, anteriorização da língua ou elevação do dorso para regular o fluxo de ar e propriocepção bucal bastante alterada. A respiração bucal ocasionará, além das alterações faciais e das arcadas dentárias, uma irritação nos tecidos gengivais. Isso vai ser ocasionado pelo contato do ar frio e seco sobre as gengivas provocando um ressecamento. O processo constante de umedecimento e secura representa um processo irritativo para a gengiva [34,5]. Outra conseqüência da respiração bucal consiste na grande viscosidade da saliva, devido ao excesso de mucina e ao ressecamento da mucosa bucal, pela entrada constante de ar pela boca, o que propicia o desenvolvimento de gengivites e de lesões de cárie [35,34]. Lascalla [36] afirma que os pacientes respiradores bucais apresentam uma microbiota potencialmente mais patogênica, pois as proteções locais encontram-se diminuídas com o afastamento dos lábios e exposição gengival, com a ação de “lavagem” da saliva e com o conseqüente aumento do atrito entre as mucosas labiais e gengivais. Ferreira et al. [20] cita que a maioria dos respiradores bucais são portadores de má-oclusão do tipo Classe II esquelética de Angle, com predominância de face média, palato ogival e as alterações da face se dão principalmente durante a fase de crescimento. Para Lusvarghi [4] o bruxismo é mais freqüente em respiradores bucais e pacientes com problemas alérgicos. Celia et al. [37] citam outras alterações em pacientes respiradores bucais: deformidade torácica, flacidez da musculatura abdominal, olheiras e olhar cansado. Ombros fletidos para frente, comprimindo o tórax, diminuição da audição, assimetria facial, sinusites freqüentes, aumento das amígdalas e adenóides, alteração do sono, baba noturna, menor rendimento físico, agitação e ansiedade, mastigação ineficiente, a deglutição atípica com alteração da fala. 12/3/2007 10:19:05 44 Alterações posturais Aragão [35] enfatizou a relação entre respiração bucal e postura. Ele relatou que a respiração é uma função muito importante do sistema estomatognático e que o cérebro recebe 70% do ar inspirado. O autor refere que a perda do selamento labial acarreta problemas não só na respiração, que se torna bucal, mas também em todo o sistema estomatognático, resultando na diminuição do espaço oro-naso-faríngeo. A ausência da pressão subatmosférica na deglutição com lábios abertos cria uma “expressão distendida”. Os músculos mastigatórios pressionam a maxila para baixo e levam a língua para o soalho da boca. Deste modo, a criança leva o pescoço para frente, retificando o espaço oro-naso-faríngeo, para ser possível respirar pela boca, alterando a função muscular e modificando a atitude do corpo. Saboya [38] afirma que a postura mandibular atua diretamente sobre a postura de cabeça devido ao mecanismo muscular e articular, tendo, então, compensações em todo o corpo, pois a postura de cabeça relaciona-se com a cintura escapular e também com a cintura pélvica, proporcionando o reequilíbrio entre os seguimentos corporais, a fim de vencer a gravidade a que o corpo está submetido. O desequilíbrio postural da língua e mandíbula, como conseqüência da respiração oral, está associado à desarmonia no padrão de cabeça e pescoço, que conseqüentemente causará prejuízos para o eixo corporal. Marchesan & Krakauer [24] citam algumas alterações posturais em pacientes respiradores bucais, tais como: deformidades torácicas, músculos abdominais distendidos ou flácidos, posição inadequada da cabeça em relação ao pescoço provocando mudanças posturais na tentativa de compensar o mau posicionamento, ombros posicionados para frente comprimindo o tórax. Carvalho e Farah & Tanaka [39,40] referem que com todo o comprometimento muscular, a criança que respira pela boca o faz de forma mais rápida e mais curta, criando uma deficiência de oxigenação. Neste processo, a ação do diafragma é pequena, levando-o ao relaxamento. O mesmo acontece com a musculatura abdominal, que associada à ingestão de ar, contribui para a protusão do abdômen. Os joelhos também se adaptarão, apresentando-se em semiflexão, genu vago e os pés apresentarão diminuição do arco plantar, pois com toda esta desorganização corporal, o centro de gravidade ficará mais anteriorizado, o apoio dos pés ficará mais frontal para manter o equilíbrio, desviando o hálux e alterando assim, a marcha. Tratamento Tratamento odontológico Segundo Ferreira e Paiva et al. [22,5] o tratamento da respiração bucal será mais efetivo quanto mais precoce a intervenção. Seixas et al. [32] referem que o tratamento deve Fisioterapia_v8n1.indb 44 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 iniciar com a conscientização do problema e suas possíveis conseqüências. Tanto no respirador bucal vicioso quanto nos respiradores bucais pós-cirurgias de nariz emprega-se a mentoneira sem compressão favorecendo o vedamento labial. Schwartz et al. [41] consideram importante um controle de placa efetivo, cobertura da gengiva com uma substância semelhante à saliva para reduzir o efeito de ressecamento, assim como a confecção de uma moldeira que cubra a gengiva e evite que o ar alcançe os tecidos. Para Lusvarghi [4] a principal contribuição do ortodontista no tratamento está mais diretamente relacionada à expansão da arcada superior. Com isso, há a promoção do aumento da cavidade nasal, aumento da permeabilidade nasal, principalmente nos pacientes com alto grau de dificuldade respiratória. A expansão da arcada superior pode ser realizada por meio de aparelhos removíveis ou fixos, sendo os últimos mais eficazes para melhorar efetivamente o padrão respiratório nasal. Martins et al. [42] citam a Ortopedia Funcional dos Maxilares (OFM) como uma técnica que se propõe a corrigir disfunções do sistema estomatognático com aparelhos relativamente simples de construir, onde o movimento dentário não é apropriado, mas sim o restabelecimento do desvio funcional. Conforme Lusvarghi [4] um dos elementos básicos de diagnóstico do ortodontista é a telerradiografica da face em norma lateral. Através dela, o especialista estuda as características de crescimento dentoesqueletais, constata se é a maxila que está projetada ou a mandíbula que está retraída, mede as dimensões da nasofaringe e da orofaringe e avalia a postura ao analisar a posição das sete primeiras vértebras da coluna cervical. Tratamento fisioterapêutico O trabalho cinesioterápic com reforço e alongamento da musculatura responsável pelo vedamento labial é um complemento do trabalho realizado pelo ortodontista. A reeducação respiratória serve para o estabelecimento da mudança no hábito respiratório bucal para nasal e do padrão muscular respiratório adequado, ou seja, diafragmático, o qual vai trazer benefícios ao paciente [43]. Para Costa [44], o tratamento fisioterapêutico consiste na fisioterapia respiratória, através da cinesioterapia respiratória e pela reeducação funcional respiratória, pois fornecem ao paciente suporte muscular respiratório e melhora da mobilidade tóraco-abdominal a fim de prevenir complicações respiratórias reincidentes, sobretudo pneumonias e outras complicações pulmonares ou torácicas. Ribeiro e Soares [45] sugerem que a proposta de tratamento deva ser globalizada, considerando as alterações posturais e respiratórias. Para isso, citam a terapia manual com alongamentos da musculatura acessória da respiração (escalenos e esternocleidomastóideo), alongamento de músculos peitorais e grande dorsal para corrigir a elevação das costelas e protusão de ombros, fortalecimento abdominal para favorecer o 12/3/2007 10:19:06 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 trabalho diafragmático (abertura do gradil costal pelo apoio visceral e abaixamento das costelas). O método do reequilíbrio tóraco-abdominal (RTA) é citado por Slutzky [46] como um incentivo à ventilação pulmonar através da normalização do tônus, comprimento e força dos músculos respiratórios. Apóia-se no entendimento de que as disfunções e doenças respiratórias resultam de alterações musculares, posturais e sensório-motoras. Marins [47] cita vários métodos que podem ser utilizados para o tratamento como a reeducação postural global (RPG), o alongamento isométrico (isostretching), a cinesioterapia clássica e a reprogramação postural. Os exercícios posturais para o paciente respiratório devem enfatizar o alongamento dos músculos peitorais e anteriores do quadril e fortalecimento dos músculos escapulares, dorsais e abdominais [48]. Rolf [49] cita o “rolfing” como um método de estruturação e educação, o qual consiste na promoção de mudanças na estrutura corporal através de um melhor alinhamento do eixo vertical. É uma metodologia que age a fim de liberar os segmentos corporais (membros, tronco, coluna vertebral e cinturas pélvica e escapular) de padrões de tensão adquiridos. Conclusão Diante da revisão empregada, pode-se aferir que a síndrome do respirador bucal é complexa, de etiologia multifatorial, a qual requer o envolvimento de diversos profissionais como o odontólogo e o fisioterapeuta. A respiração bucal sendo um hábito deletério gera inúmeras alterações craniofaciais, dentárias e posturais. Sendo assim, no contexto multifatorial e multiprofissional, conclui-se que há necessidade de uma atuação conjunta visando à correção das alterações bem como à conscientização. Referências 1. Faltin JRK, Faltin RM. Ortodontia preventiva na saúde bucal. In: Krieger, Laboprev Promoção de saúde bucal. São Paulo: Artes Médicas; 1997. p. 349-351. 2. Rêgo FM, Wanderlei BT. Hábitos bucais deletérios (diagnóstico, prevenção e tratamento). Rev ABO Nac 2004;12(1):30. 3. Albernaz PLM, Fukuda Y, Ganança MM, Munhoz MSL. Otorrinolaringologia para o clínico geral. São Paulo: BYK; 1997. 4. Lusvarghi L. Identificando o respirador bucal. Rev APCD 1999;53(4):265-76. 5. Paiva JB et al. Identificando o respirador bucal. Rev Assoc Paul Cir Dent 1999;53:265-74. 6. Ricketts RM. Respiratory obstruction syndrome. Am J Orthod 1968;54:495-514. 7. Lino AP. Ortodontia preventiva básica. 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Assim, o reconhecimento destes fatores múltiplos contribui para o resultado de uma resposta postural e ajudam os fisioterapeutas a determinar a abordagem e a eficácia de sua estratégia de intervenção para o treinamento e a restauração da função postural. The vestibular rehabilitation has become popular to treat patients with dizziness, disequilibrium and gait instability. It is well known that the vestibular system is part of an accurate processing which has sensory information about the brain movements and the postural movements. The vestibular system accomplishes a lot of tasks in the postural control and act in the individuals when they are standing up or walking, it also acts when the somatosensitive information is not available. Thus, the recognition of those multiple factors contributes for the results of postural responses and helps the physical therapist to determine the approach and the effectiveness of the treatment to restore the postural function. Palavras-chave: reabilitação, tontura, sistema vestibular, instabilidade, equilíbrio. Introdução Nas últimas décadas, um crescente número de pacientes com disfunções vestibulares tem incentivado médicos e profissionais da reabilitação, principalmente fisioterapeutas, a direcionarem seus estudos para o entendimento do sistema vestibular (SV). O SV pode ser comprometido por processos infecciosos, inflamatórios, vasculares e/ou traumáticos e que, de uma maneira geral, traduzem-se em sinais e sintomas como instabilidade postural, nistagmo, vertigem e tontura. As atividades exercidas no dia-a-dia parecem ser simples, porém, para pacientes que sofrem de disfunções vestibulares, tarefas simples como levantar-se da cama ou ir ao banheiro podem tornar-se extremamente complexas. Dependendo da Key-words: rehabilitation, dizziness, vestibular system, instability, equilibrium. intensidade, duração e prevalência da sintomatologia, pode ocorrer uma total restrição quanto às atividades da vida diária (AVD’s), acarretando em comprometimentos nas atividades profissionais e sociais destes pacientes [1]. A reabilitação vestibular (RV) é um procedimento terapêutico, fisiológico e eficaz, cujo objetivo é restaurar o equilíbrio do paciente, através dos mecanismos de compensação, substituição, habituação e adaptação. Nesse aspecto, seu uso tem melhorado a qualidade de vida dos doentes de forma surpreendente, estimulando a vida saudável e orientando o paciente a conhecer e de certa forma, controlar seus sintomas. Desta maneira, o objetivo deste trabalho é realizar uma revisão bibliográfica para melhorar a compreensão dos princípios neurofisiológicos e as aplicações terapêuticas da RV. Recebido em 30 de setembro de 2005; aceito em 20 de dezembro de 2006. Endereço para correspondência: Daniella Regina Porto Buzatti, Rua Cure d’Ars, 1016 Gutierrez 30430-080 Belo Horizonte MG, Tel: (31)33711055, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v8n1.indb 47 12/3/2007 10:19:07 48 O sistema vestibular O SV pode ser considerado a bússola humana, uma vez que responde a duas questões básicas da vida: “qual caminho seguir” e “onde estou indo”. Isto porque este órgão sensorial nos fornece informações sobre a posição e o movimento da cabeça, auxiliando-nos a manter o equilíbrio, a coordenar os ajustes da postura corporal e influenciando no modo como percebemos o espaço [2]. Em geral, o funcionamento do SV só é percebido quando sua função é interrompida e resulta em sensações desagradáveis como vertigem, náuseas e uma sensação de desequilíbrio acompanhada ou não de movimentos incontroláveis dos olhos (nistagmo). O SV situa-se próximo ao órgão auditivo (cóclea) e, na verdade, compartilha com ele um sistema de canais cheios de líquido; o labirinto membranoso e o labirinto ósseo [3]. Tanto os órgãos sensoriais da audição quanto os do equilíbrio (canais semicirculares e órgãos otolíticos) são sensíveis ao mesmo tipo de estímulo: o estímulo mecânico. Os mecanorreceptores desses órgãos são as células ciliadas, presentes na cóclea, nos órgãos otolíticos (sáculo e utrículo) e nos canais semicirculares. O labirinto vestibular inclui dois tipos de estruturas com funções distintas: os órgãos otolíticos e os canais semicirculares, que serão abordados a seguir. A resposta do SV central é transmitida aos músculos extraoculares e à medula para preparar dois reflexos importantes, o reflexo vestíbulo-ocular (RVO) e o reflexo vestíbulo-espinhal (RVE) [4]. O RVO tem a função de produzir movimentos oculares iguais e opostos aos movimentos cefálicos, para estabilizar a imagem visual, ou seja, ele é o reflexo que estabiliza a imagem na retina. O RVE, por sua vez, controla e ajusta o tônus muscular do tronco e dos membros diante das diferentes situações em que o corpo pode se encontrar no espaço. O cerebelo controla a fixação ocular diminuindo a intensidade dos movimentos oculares com os olhos abertos. Ele modula o processo de interação dos núcleos vestibulares que também recebem aferências de outras partes do sistema nervoso (SN) [5]. A via vestibulovagal, que liga os núcleos vestibulares ao nervo vago, por sua vez, é responsável pelas manifestações neurovegetativas como náuseas, vômitos, sudorese, palidez e taquicardia, que podem se associar à vertigem e outras tonturas de origem vestibular. A integração das informações vestibulares, visuais e somatossensoriais é processada nos núcleos vestibulares do tronco encefálico e, por meio de atos reflexos, as vias vestibuloculares e vestibuloespinhais intervêm, propiciando respostas motoras que permitem manter a estabilização do olhar e a postura adequada para o perfeito equilíbrio corporal no meio ambiente [6]. A RV, através de protocolos de exercícios oculares, cefálicos e de controle postural, buscando minimizar os déficits oriundos do SV, recruta o RVO e RVE através dos mecanismos de neuroplasticidade: compensação, adaptação, substituição e habituação. Fisioterapia_v8n1.indb 48 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 O papel do sistema vestibular no controle postural O SV realiza diferentes funções no controle postural para manter o equilíbrio e o alinhamento do corpo sobre uma superfície instável. Para manter a postura estável e permanecer ereto com os diversos segmentos corporais alinhados, são necessários vários ajustes que objetivam a sustentação da cabeça e do corpo tanto contra a gravidade quanto contra outras forças externas. Além disso, participam na manutenção do centro de massa corporal dentro dos limites da base de sustentação no solo e a estabilização de determinados segmentos do corpo, enquanto outros se encontram em movimento. Estes ajustes são obtidos principalmente por meio de mecanismos antecipatórios, que prevêem distúrbios do equilíbrio corporal e produzem respostas pré-programadas; e de mecanismos compensatórios, desencadeados pelas informações sensoriais que acompanham a respectiva perda do equilíbrio [7-9]. As funções mais importantes do SV no controle postural são: Sensação e percepção do movimento: O SV apresenta dois sensores de movimentos: os canais semicirculares e os orgãos otolíticos. Os canais semicirculares detectam os movimentos rotacionais da cabeça; sendo que os canais verticais detectam movimentos no plano sagital e frontal (como o movimento cefálico que representa o “sim” e a inclinação lateral da cabeça), e os canais horizontais detectam movimentos no plano horizontal (como o movimento cefálico que representa o “não”). Os órgãos otolíticos detectam a aceleração linear, tanto vertical quanto horizontal, e também fornecem informações sobre a direção da gravidade, que muda sistematicamente à medida que a cabeça é inclinada. O sáculo detecta a aceleração linear vertical da cabeça, como o movimento cefálico produzido durante a flexão dos joelhos ao agachar. O utrículo identifica a aceleração linear horizontal, como o movimento cefálico produzido quando o indivíduo anda para frente. Enquanto os canais semicirculares são mais sensíveis a movimentos cefálicos rápidos, como os que ocorrem no choque de calcanhar durante a marcha ou ao tropeçar, os órgãos otolíticos, por sua vez, sinalizam inclinações em relação à gravidade, sendo mais sensíveis a movimentos lentos e suaves. Orientação da cabeça e do corpo em relação à vertical: O SV sinaliza a direção da gravidade, exercendo uma função importante, mas não exclusiva, no alinhamento da cabeça e do tronco. As informações visuais e proprioceptivas também contribuem para o alinhamento corporal [10]. O indivíduo que tem acometimento unilateral do SV desvia a cabeça e o corpo para o lado acometido, posicionamento este que permanece somente na fase aguda da lesão, e normaliza - se dentro de seis meses a um ano. Em casos de hipofunção vestibular bilateral, o indivíduo projeta a cabeça para frente. 12/3/2007 10:19:07 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 As informações vestibulares são ainda mais importantes para a orientação do corpo quando o ambiente não permite que se tenham estímulos visuais ou proprioceptivos adequados (situações de maior conflito sensorial) [9]. Controle da posição do centro de massa corporal: Respostas eferentes do SV contribuem para as posições estáticas do corpo e dos movimentos posturais dinâmicos, que ajudam a controlar o centro de massa corporal dentro dos seus limites de estabilidade [10]. O movimento do centro de massa corporal é feito por duas estratégias: a estratégia do tornozelo, que é normalmente utilizada quando o indivíduo está de pé, em superfície de apoio firme e plana; e a estratégia do quadril, usada sobre as superfícies estreitas de apoio, flexíveis ou inclinadas. Pacientes com perdas vestibulares podem contribuir para uma representação corporal interna incorreta dos limites da estabilidade: eles se comportam como se pequenos distúrbios na postura os empurrassem para além dos limites de estabilidade, ou como se fossem muito maiores, reagindo com movimentos exagerados, podendo levá-los a quedas. Estabilização da cabeça durante os movimentos posturais: Apesar de ocorrer um certo movimento cefálico no espaço durante a maioria das tarefas locomotoras, a posição da cabeça em relação à gravidade é constante, independente dos movimentos amplos do corpo que podem ocorrer durante tarefas como pular e correr. O controle da posição cefálica é desencadeado por mecanismos vestibulares, que através de uma estratégia de controle com antecipação, realiza a ativação dos músculos do pescoço prevenindo as inclinações exageradas da cabeça em relação à gravidade que poderiam ocorrer durante os movimentos amplos do tronco [10]. Patologias do sistema vestibular As vestibulopatias, com ou sem acometimento do sistema auditivo, são muito freqüentes. As principais são: Neurinoma e outros tumores do VIII nervo (Schwannoma vestibular), Doença de Ménière, Vertigem postural paroxística benigna (VPPB), Labirintopatias, Trauma labiríntico (TCE, por exemplo), Síndromes cervicais, entre outros, que apresentam em comum o principal quadro clínico: Vertigem e outras tonturas, hipoacusia, zumbido, distúrbios de equilíbrio, manifestações neurovegetativas, ansiedade, depressão e medo [11]. Muitas patologias citadas acima restringem-se apenas à área de atuação médica, pois seus tratamentos baseiam-se somente em medicamentos e/ou cirurgia. Dessa forma, antes do início da RV, para que sejam afastadas possíveis causas não indicadas para esse tipo de tratamento (ex: tumores), é necessário que seja realizado uma avaliação médica detalhada constituída de: • Anamnese: os dados de identificação de cada paciente podem ser muito valiosos para a suspeita diagnóstica; Fisioterapia_v8n1.indb 49 49 • Exame físico: fundamental, deve constar das seguintes etapas: exame otorrinolaringológico, pesquisa de pares cranianos, pesquisa de nistagmo espontâneo e semi – espontâneo, avaliação da postura geral do paciente, avaliação do equilíbrio estático e dinâmico e avaliação da marcha; • Avaliação auditiva: pode incluir de acordo com a necessidade e indicação de cada caso clínico os seguintes: audiometria vocal e tonal limiar, imitaciometria, otoemissões acústicas, eletrococleografia, audiometria de tronco cerebral, potenciais auditivos de média latência e potenciais cognitivos; • Avaliação vestibular: pode incluir os seguintes testes: teste calórico com água ou com ar, auto-rotação cefálica, nistagmo pós-rotatório, nistagmo de posicionamento e equilíbrio estático dinâmico. Desenvolvimento Reabilitação vestibular O tratamento de indivíduos com disfunção vestibular através de uma série de exercícios foi primeiramente utilizado por Terence Cawthorne, um médico otorrinolaringologista e Cooksey, um fisioterapeuta, na Inglaterra (1944). Os exercícios tinham como estratégia básica a movimentação da cabeça nas posições que provocam tontura, quando observou-se que, estes movimentos eram importantes na recuperação da função [6]. Em 1977, Sterkers, considerando os exercícios de Cawthorne e Cooksey, introduziu outros tipos de exercícios, os quais denominou de reeducação vestibular. Enquanto isso, Norré (1979) sugeriu a habituação vestibular como uma terapêutica importante e em determinados casos, o tratamento de escolha [12]. Nos últimos dez anos, o estudo da RV tornou-se obrigatório em todos os centros de otoneurologia, apresentando-se como um tratamento eficaz para grande parte dos pacientes com tontura e/ou vertigem. Esta eficácia, deve-se ao fato de que a RV apresenta como objetivo principal de tratamento a maximização dos eventos, afim de que a função do equilíbrio seja restaurada e/ou o sistema de equilíbrio se aproxime ao máximo da normalidade [13]. Para que o objetivo da RV seja atingindo, a mesma se baseia em quatro pontos fundamentais: • Interação vestíbulo-visual durante a movimentação da cabeça [13,14]; • Estabilização visual durante a movimentação cefálica, aumentando a tolerância aos movimentos de cabeça [13,15]; • Diminuição da sensibilidade individual durante a movimentação cefálica [13]; • Estabilização postural dinâmica e estática nas situações de conflito sensorial [13,6]. 12/3/2007 10:19:08 50 Ainda, para que seja realizado o tratamento, a RV utiliza–se de quatro técnicas da neuroplasticidade; adaptação, compensação, habituação e substituição [16]. O processo de adaptação (capacidade que o SNC confere ao paciente portador de disfunções vestibulares persistentes de recuperar a sua orientação espacial e seu equilíbrio corporal) é constituído de habituação e compensação, no qual o primeiro é baseado na estimulação vestibular repetitiva, realizada em intervalos regulares, expondo o paciente a posições e movimentos em que a tontura aparece. O mecanismo de recuperação funcional do equilíbrio corporal após uma lesão vestibular é denominado de compensação, o qual pode ser facilitado pela técnica de substituição, que nada mais é do que substituir a informação vestibular que está inadequada pelo sistema visual ou pelo sistema proprioceptivo, sendo, porém muito limitada por não poder ser utilizada em todas as circunstâncias. Apesar de eficazes, estes princípios, dependem de uma série de fatores: a idade, em que o processo ocorre com mais facilidade em indivíduos jovens; a motivação, que induz uma participação ativa do paciente; determinados medicamentos, que facilitam ou retardam o processo de compensação; e a estabilidade emocional, que faz com que os indivíduos compensem mais facilmente [7]. O programa fisioterápico, utilizando-se dos princípios da neuroplasticidade, identifica o típico movimento que produz os sintomas, e então providencia um lista de exercícios que reproduzam este mesmo movimento com o intuito de ocasionar uma redução ou até mesmo remissão da sintomatologia [10]. Atualmente, os protocolos de exercícios da RV propostos são baseados nos trabalhos de Cawthorne e Cooksey, citados anteriormente. Um dos mais utilizados é o da Associazione Otologi Ospedalieri Italiane (AOOI), elaborado no congresso da Sociedade Italiana de Otorrinolaringologia realizado em Bolonha, em 1983 (Quadro1). A AOOI sugere que os exercícios sejam realizados inicialmente na clínica sob supervisão do especialista e, a seguir, repetidos em casa, duas vezes ao dia [17,18]. Quanto a duração das sessões, o protocolo básico contendo 17 exercícios, preconiza de 20 a 30 minutos, tempo que pode variar dependendo da seqüência de exercícios utilizada e dos números de repetições. Devido a grande variabilidade de casos, cabe ao especialista adequar–se e escolher a melhor maneira de reabilitar o seu paciente. O tempo de tratamento normalmente pode variar entre 60 a 90 dias [17,18]. Após o tratamento, um controle poderá também ser necessário. Com base ainda no protocolo da AOOI, Cesarani e Alpini, em seus estudos, apontam como sendo este o melhor e o mais efetivo tratamento para os distúrbios de equilíbrio [17]. Nos trabalhos de Herdman, são citados exercícios para desenvolver a adaptação vestibular que visam aumentar o ganho do RVO e a tolerância aos movimentos da cabeça. O estímulo ideal para facilitar a adaptação do RVO é oferecer à retina uma imagem móvel durante os movimentos da cabeça, Fisioterapia_v8n1.indb 50 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 Quadro 1 - Protocolo básico de exercícios sugeridos pela AOOI, para reabilitar os pacientes vítimas de disfunções vestibulares. Passe da posição sentada para a posição supino; Passe da posição supina para o decúbito lateral direito; Passe da posição supina para o decúbito lateral esquerdo; Na posição sentada, gire a cabeça para a direita; Na posição sentada, gire a cabeça para a esquerda; Na posição sentada, flexione a cabeça; Na posição sentada, estenda a cabeça; Em supino, gire somente a cabeça para a direita; Em supino, gire somente a cabeça para a esquerda; Na posição sentada, olhe para cima, para trás e para a direita; Na posição sentada, olhe para cima, para trás e para a esquerda; Em ortostatismo, junte as mãos com os braços estendidos acima da cabeça e olhe para eles; Em ortostatismo, flexione o tronco anteriormente; Sentada em uma cadeira rotatória, gire todo o corpo no sentido horário; Sentada em uma cadeira rotatória, gire todo o corpo no sentido anti - horário; Enquanto gire todo o corpo na cadeira rotatória nos sentidos horário e anti - horário, mantenha os olhos fixos em um único ponto; Após girar todo o corpo na cadeira rotatória nos sentidos horário e anti – horário mantenha os olhos fixos em um único ponto. através de duas estratégias: na primeira, pede-se ao paciente que gire a cabeça 45º de um lado para o outro, mantendo o olhar focalizado em palavras escritas em um cartão fixado a sua frente e na segunda, pede-se para movimentar o cartão e a cabeça em direções opostas e manter as palavras escritas em foco. Os exercícios para desenvolver a estabilização estática e dinâmica também foram propostos por Herdman e tendem a estimular o SV, a visão e a propriocepção, auxiliando no desenvolvimento da autoconfiança para que os indivíduos possam voltar a realizar as AVD’s [19]. Segundo Caovilla [20], a estimulação do RVO horizontal e vertical pode ser realizada em pacientes com alterações dos parâmetros destes reflexos, através de exercícios em que o paciente movimenta a cabeça no plano horizontal, como se estivesse expressando um “não”, focalizando um alvo fixo. Esses movimentos devem ser progressivamente mais rápidos até atingir o seu máximo. Quando não conseguir aumentar mais a velocidade, o paciente pára os movimentos e, depois de cerca de dez segundos, reinicia o procedimento, que deve ser repetido 10 vezes. A seguir, é realizada outra série de exercícios com as características mantidas, porém com a estimulação no plano vertical, como se o paciente estivesse expressando um “sim”. 12/3/2007 10:19:08 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 Norré, em um de seus estudos, selecionou 60 pacientes vertiginosos com base em suas histórias pregressas, nos exames audiológicos e na eletronistagmografia (ENG), e os submeteu a um programa de tratamento com base na habituação vestibular, composto de 19 tipos de exercícios que evidenciavam a vertigem. Observou a intensidade e a duração dos sintomas e a presença ou não de nistagmo. De acordo com os resultados obtidos, Norré concluiu que a habituação vestibular é comprovadamente um tratamento eficaz para vertigem [12]. Apoiando-se na teoria de que a RV é o melhor tratamento para os principais sintomas das disfunções vestibulares, Horak em seu trabalho, submeteu 25 indivíduos diagnosticados com disfunções vestibulares, a três tipos de tratamentos: a RV propriamente dita (baseada nos exercícios dos protocolos citados anteriormente), a administração somente de medicamentos e a associação de outros tipos de tratamentos que não incluíam a RV. Após seis semanas de tratamento, Horak comprovou através de exames como a posturografia, que somente o grupo que foi submetido a RV obteve resultados significativos no tratamento da tontura e do desequilíbrio, quando comparado aos outros grupos [21]. Em um outro estudo, Horak sugere um tratamento para as disfunções vestibulares através dos mecanismos que visam restabelecer o controle postural, entre eles: o sistema músculo esquelético, os componentes da coordenação motora e a orientação postural [22]. Todos estes estudos relatam que após a RV, os pacientes retornam às suas atividades sociais com conseqüentes melhoras na qualidade de vida. A partir dos exercícios elaborados por Cawthorne e Cooksey, Herdman, Caovilla, Cesarani e Alpini desenvolveram seus estudos, tendo como base comum as técnicas da neuroplasticidade. Apesar de terem o mesmo conceito fundamental, cada autor defende uma técnica diferente: Herdmam, por exemplo, propõe a RV por meio da adaptação [19]; enquanto que Norré defende a habituação vestibular, afirmando ser esta a técnica mais eficaz no tratamento das disfunções vestibulares [12]. Horak, por sua vez, defende um outro tipo de intervenção, feita somente através dos fatores que influenciam o controle postural [21]. Quanto à execução dos exercícios, alguns autores afirmam que os exercícios supervisionados resultam em uma melhor remissão dos sintomas (85%) quando comparados aos exercícios realizados em casa (64%) [23,20,24-26]. Em relação à eficácia do tratamento, o fator idade apresenta grande controvérsia. Algumas pesquisas relatam que a idade não interfere significativamente no resultado final da reabilitação [27,20,24] outras porém, afirmam que as respostas ao tratamento são mais lentas nos pacientes com idade superior a 60 anos e em pacientes com alguma alteração do SNC [25,28]. Observa-se que, ao compararmos os diversos estudos com técnicas e princípios diferentes, na maioria deles o índice de resultados satisfatórios foi de 80-85% [20,29,14]. Quanto aos 15-20% que não obtiveram os resultados es- Fisioterapia_v8n1.indb 51 51 perados, é importante ressaltar que os fatores psicológicos (motivação do paciente para a RV) são fundamentais para o sucesso do tratamento, pois é fato que alguns pacientes se apoiam nos sintomas para conseguir a atenção dos familiares. Outros desistem do tratamento ou se mostram incapazes de realizar tais exercícios [17]. Conclusão De acordo com esta revisão bibliográfica, observa-se que a neuroplasticidade apresenta-se como o princípio fundamental no tratamento das disfunções vestibulares, evidenciando a capacidade do SNC de alterar sua estrutura a fim de receber novos estímulos, recuperando a área lesada. Desta forma, as áreas íntegras do cérebro assumem as funções das áreas lesadas, propiciando ao indivíduo a integridade de suas funções. Tendo em vista as técnicas de neuroplasticidade, a RV propõe um protocolo de exercícios que através da interação dos sistemas visual, vestibular, proprioceptivo e cerebelar, visam a restauração do equilíbrio. Assim sendo, torna-se evidente a importância de uma abordagem global no tratamento de indivíduos que apresentam alterações no controle postural, sejam estas por distúrbios vestibulares ou por déficits neurológicos. Além do significativo papel da abordagem global, os profissionais da saúde, principalmente os fisioterapeutas, precisam aprimorar seus conhecimentos a respeito da neurofisiologia do SV para que os resultados no tratamento das desordens sejam ainda melhores. Apesar de ainda ser pouco o domínio dos fisioterapeutas acerca do SV, é eminente o valor de sua atuação e abordagem no processo de reabilitação, no qual um plano de tratamento bem elaborado é primordial à recuperação do paciente e reintegração do mesmo a vida social. Referências 1. Kandel ER, Schwartz JH, Jessell TM. Principles of neural science. 4th ed. New York: Mcgraw-Hill; 1991. 2. Cohen H, Kane-Wineland M, Miller LV, Hatfield CL. Occupation and visual vestibular interaction in vestibular rehabilitation. Otolaryngol Head Neck Surg 1995; 112(4):526-32. 3. Shepard NT, Telian SA. Programmatic vestibular rehabilitation. Otolaryngol Head Neck Surg 1995;112(1):173-82. 4. Horak FB. Clinical measurement of postural control in adults. 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Revista Brasileira de Atualização em Otorrinolaringologia 1995;2(1):24-34. 12/3/2007 10:19:09 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 53 Revisão O papel da fisioterapia respiratória precoce na evolução de pacientes submetidos à cirurgia cardíaca com circulação extracorpórea The role of early respiratory physical therapy in evolution of patients after cardiac surgery with cardiopulmonary bypass Clarissa Blattner*, Eduardo Keller Saadi** *Ft, Hospital São Lucas – PUCRS, **Cirurgião cardiovascular, UFRGS / Hospital de Clínicas de Porto Alegre Resumo Abstract O presente artigo compreende uma revisão da literatura do manejo fisioterápico respiratório em pacientes submetidos à cirurgia cardíaca. A análise dos fatores de risco que predispõe às complicações cirúrgicas é de grande importância. A atuação do fisioterapeuta em pacientes submetidos a cirurgias cardíacas, principalmente as de revascularização do miocárdio, permite a remoção do acúmulo de secreções brônquicas, reinsuflação de áreas atelectasiadas e incremento das trocas gasosas, possivelmente melhorando a evolução e minimizando o aparecimento de complicações pós-operatórias. Tendo em vista a escassez de dados no que diz respeito a benefícios e eficácia da fisioterapia e, além disso, ao manejo fisioterapêutico de pacientes ainda em ventilação mecânica, esta revisão busca analisar a evolução de pacientes submetidos à cirurgia cardíaca eletiva, no que diz respeito a tempo de extubação e desenvolvimento de complicações, a fim de discutir sobre a atuação do fisioterapeuta de forma cada vez mais precoce. Como as complicações respiratórias representam importante mortalidade e morbidade no pós-operatório de cirurgia cardíaca, todo o esforço deve ser empreendido no sentido de reduzi-las. The present study is a literature review about respiratory physical theray in patients who underwent cardiac surgery. The analysis of risk factors predisposing to surgical complications is very important. The physical therapist role in management of patients submitted to cardiac surgery, mainly cardiopulmonary bypass, allows to remove bronchial secretions, to re-expand atelectatic areas, and enhance gas exchange, possibly improving evolution and minimizing postoperative complications. This review purposes to assess the evolution of patients submitted to elective cardiac surgery, regarding to extubation time and complications, aiming to discuss the physical therapist actuation in increasingly early stages. Several techniques are available to management of these patients, mainly related to therapeutic application of PEEP. As respiratory complications results in great mortality and morbidity to post-operative of cardiac surgery, all efforts must be employed to reduce them. Key-words: physical therapy, cardiac surgery. Palavras-chave: fisioterapia, cirurgia cardíaca. Recebido em 15 de junho de 2006; aceito em 20 de fevereiro de 2007. Endereço para correspondência: Clarissa Blattner, Av. Protásio Alves, 7157, Bloco 02 Apto 602, Alto Petrópolis, Porto Alegre RS, Tel: (51) 3334 0746, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v8n1.indb 53 12/3/2007 10:19:09 54 Introdução As doenças cardiovasculares representam a principal causa de morte no mundo ocidental. Apesar dos avanços nas técnicas de intervenção percutânea e no tratamento clínico da cardiopatia isquêmica a cirurgia de revascularização do miocárdio (CRM) ainda é, nos dias de hoje, uma das cirurgias mais frequentemente realizadas. Nos pacientes que necessitam algum procedimento cirúrgico, está previsto que a incidência de doença cardiovascular na população com mais de 65 anos aumentará de 25% a 35% nos próximos 30 anos [1]. São realizadas 25 milhões de cirurgias não cardíacas anualmente nos Estados Unidos; destas, 3 milhões são realizadas em pacientes com risco de doença arterial coronária, 50.000 pacientes sofrem infarto do miocárdio peri-operatório, e destes, 20.000 são fatais [2]. O objetivo desta revisão é o de enfatizar a busca constante pela intervenção precoce na prevenção de complicações relacionadas ao procedimento. A CRM está associada a efeitos pulmonares adversos caracterizados por uma reação inflamatória que leva a edema intersticial e aumento do risco de infecção devido ao comprometimento dos mecanismos de defesa do hospedeiro [3]. A composição e produção de surfactante podem ser alteradas pela hipotermia, isquemia do epitélio alveolar, propriedades tóxicas da solução cardioplégica, e elevada concentração de oxigênio inspirado [4]. São comuns pequenos derrames pleurais e estes contribuem para a redução de volume pulmonar. Ocasionalmente a perda de volume é decorrente de disfunção diafragmática decorrente de uma lesão no nervo frênico induzida pelo frio [5]. Em um estudo com 16 pacientes, Locke et al. [6] demonstraram uma expansão reduzida e descoordenada da caixa torácica após a esternotomia, e sugeriram que esta contribui para o defeito ventilatório restritivo. Após a cirurgia é comum um período de ventilação por pressão positiva intermitente (IPPV) e esta predispõe a um colapso pulmonar descendente e infecção pulmonar iatrogênica. No período pós-operatório inicial a atelectasia por absorção pode ser acelerada pelas elevadas concentrações de oxigênio inspirado administradas aos pacientes no momento em que os volumes pulmonares estão severamente reduzidos [7]. Geralmente os pacientes permanecem no leito nas primeiras 36 a 48 horas após a cirurgia o que contribui para a redução da Capacidade Residual Funcional (CRF) [8]. A função pulmonar e oxigenação estão comprometidas em 20-90% dos pacientes submetidos à cirurgia cardíaca com circulação extracorpórea (CEC) [9]. Isto provavelmente resulta de uma resposta inflamatória sistêmica de grau variável, sobrecarga hídrica e formação de atelectasias [10]. Foi demonstrado que as manobras de recrutamento pulmonar melhoram a oxigenação pela reabertura das regiões pulmonares colapsadas [11], mas nestes pacientes ainda não foi esclarecido se a pressão expiatória positiva final (PEEP) é necessária para manter a melhor oxigenação e volume pulmonar. Após as manobras de recrutamento pulmonar nos pacientes com Fisioterapia_v8n1.indb 54 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 condição cardiopulmonar saudável com colapso pulmonar associado à anestesia, os pulmões permanecem expandidos sem o uso de PEEP, caso a fração inspirada de oxigênio (FiO2) seja baixa. Contudo, se foi utilizada uma FiO2 elevada, é necessário o uso de PEEP [12]. Pacientes em pós-operatório de cirurgia cardíaca são, geralmente, extubados tão logo cesse o efeito anestésico, tendo a modalidade ventilatória pouco impacto na decisão da extubação [13]. Tipicamente, a CRF é reduzida em torno de 40% e a tensão de oxigênio arterial (PaO2) é de apenas 7,5 kPa nas 48 horas após a cirurgia cardíaca. Estas alterações são acompanhadas por uma queda de 60% na capacidade vital (CV) a qual é ainda maior quando a artéria mamária é utilizada como enxerto [8]. Embora os volumes pulmonares e tensão de oxigênio gradualmente sejam recuperados, eles permanecem significativamente abaixo dos valores pré-operatórios no momento da alta hospitalar e por algum tempo após [5]. Desenvolvimento Visto que os volumes pulmonares e PaO2 são mais severamente reduzidos após a cirurgia cardíaca do que após cirurgias de abdômen superior, pode-se esperar que a incidência de complicações respiratórias seja maior [8]. A extensão na qual é possível prevenir estas anomalias fisiopatológicas e o desenvolvimento subseqüente de atelectasias e infecção tem sido base de muitas pesquisas e é a premissa básica por trás da ação da fisioterapia em pacientes que foram submetidos à cirurgia abdominal ou cardíaca. A maior parte dos estudos que avaliam o uso de medidas profiláticas na prevenção de complicações pulmonares pós-operatórias apresentam resultados confusos. Existem muitos problemas inerentes na comparação destes estudos devido a grande variabilidade nas modalidades de tratamento, diversidade de grupos de pacientes e medidas de resultado. Não há um ‘padrão ouro’ ao qual os tratamentos possam ser comparados ou concordância sobre os critérios de diagnóstico a serem utilizados para avaliação das complicações pulmonares [14]. Uma variedade de técnicas fisioterápicas respiratórias tem sido usada em pacientes ventilados mecanicamente. O objetivo da fisioterapia em pacientes internados em unidades de terapia intensiva (UTI) é maximizar o desempenho musculoesquelética e oxigenação, manter ou melhorar a função cardiopulmonar e prevenir complicações incrementando o clearance mucociliar e expansão alveolar [15,16]. A terapia expiratória manual passiva (TEMP) é mais conhecida no Japão como “squeezing” (compressão leve). No entanto, o paciente submetido a cirurgias torácicas e/ou cardíacas tem incisões anteriores ou laterais além de fraturas e instabilidades ósseas, de costelas e esterno, o que limita o uso dessas técnicas nessa fase inicial [17]. Na maioria dos estudos, os adjuntos mecânicos, principalmente EI (inspirometria de incentivo) ou IPPB (respira- 12/3/2007 10:19:10 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 ção com pressão positiva intermitente), têm sido comparados com exercícios respiratórios [18]. Com exceção do estudo de Oulton et al. [19] não foram observadas diferenças entre os grupos de tratamento. Stock et al.[20] compararam exercícios respiratórios, EI, e uso de CPAP (pressão positiva contínua em vias aéreas) aplicado por máscara facial em 38 pacientes submetidos a cirurgia cardíaca ou substituição de válvula. Embora o CPAP tenha falhado em acelerar a recuperação dos volumes pulmonares e PaO2, estes autores sugeriram que o CPAP pode ser preferível comparado a EI ou respiração profunda, pois este é aplicado independente do esforço do paciente. Vraciu e Vraciu [21] relataram uma menor incidência de complicações respiratórias em pacientes de alto risco (história recente de tabagismo, CFV < 80% do previsto normal, VEF1/CVF < 75% ou acima de 60 anos de idade), quando foram adicionados exercícios respiratórios supervisionados duas vezes ao dia na rotina de enfermagem, consistindo de EI a cada duas horas e exercícios respiratórios e tosse a cada hora. Em outro estudo [22], em 2000, no qual utilizaram o CPAP como recurso terapêutico durante e após o procedimento cirúrgico, em 14 pacientes, destaca-se a eficácia da PEEP, tendo em vista que, 18h após a cirurgia todos os pacientes ventilados em CPAP foram extubados e transferidos a uma unidade de tratamento intermediária. Neste mesmo estudo, alguns pacientes do grupo controle, que não utilizaram o CPAP, desenvolveram síndrome de disfunção multiorgânica após a operação, necessitaram cuidados de terapia intensiva e permaneceram em ventilação mecânica por mais seis dias antes de serem extubados. Embora o uso de técnicas de fisioterapia respiratória no tratamento de pacientes submetidos à cirurgia cardíaca seja amplo, existem poucas avaliações científicas detalhadas. Em um estudo, realizado por Akdur et al. [23], foram avaliados 269 pacientes a fim de avaliar o teste de função pulmonar pré e pós-operatório e comparar os efeitos do longo período de intubação. Todos os pacientes submetidos a esse estudo realizaram um programa de reabilitação cardiopulmonar, incluindo exercícios pulmonares diafragmáticos, educação de tosse, técnicas de drenagem postural e exercícios de mobilização geral durante sua internação, iniciando no primeiro dia de extubação. A hiperinsuflação manual (bagging) pode ser usada como uma técnica de ventilar um paciente ou durante a fisioterapia. Ao ventilar manualmente os volumes correntes normais são distribuídos de forma geral, enquanto que, como método fisioterápico, respirações mais longas ou alternância entre hiperinsuflações rápidas e mais lentas serão necessárias. O “bagging” pode ser oferecido usando tanto um circuito de bolsa de água quanto um ambú. Em casos de pacientes dependentes de PEEP ou, que se beneficiariam com os efeitos da PEEP, uma válvula de PEEP deve ser instalada no ambú a fim de manter a pressão expiratória final positiva durante o procedimento [24]. Fisioterapia_v8n1.indb 55 55 A hiperventilação manual como técnica fisioterapêutica é bem mais difundida nas unidades de terapia intensiva, sendo primeiramente descrita em 1968 [25]. Seu principal objetivo é auxiliar na remoção do acúmulo de secreção brônquica e na “reinsuflação” de áreas pulmonares atelectasiadas de pacientes ventilados artificialmente [25,26]. O aumento da complacência pulmonar, a melhora das áreas atelectasiadas e o incremento das trocas gasosas tem sido relatados [27]. Suh-Mwa et al. [28] analisaram diversos fatores como aspecto da secreção, capacidade do sistema respiratório e relação PaO2/FiO2, em dois grupos, nos quais um recebia técnicas de hiperinsuflação manual três vezes ao dia, durante 5 dias, e o grupo controle recebia o tratamento convencional, usando também ventilação mecânica, porém sem técnicas de hiperinsuflção adicionais. Segundo esse estudo, houve melhora significativa no que diz respeito a sinais radiográficos (melhora das atelectasias) e incremento da relação PaO2/FiO2. Em 1999, Denehy [29] ressaltou que na prática clínica, os fisioterapeutas observam grande eficácia no uso da hiperinsuflação manual, com e sem o artifício adicional da PEEP, para a remoção de secreção brônquica e conseqüente melhora do fluxo aéreo e melhora das atelectasias. Conclusão Tendo em vista a escassez de dados no que diz respeito a benefícios e eficácia da fisioterapia e, além disso, ao manejo fisioterapêutico de pacientes ainda em ventilação mecânica, esta revisão buscou analisar de maneira crítica a literatura no que diz respeito à atuação do fisioterapeuta de forma cada vez mais precoce no paciente crítico. Associado a isto, como as complicações respiratórias representam importante mortalidade e morbidade no pós-operatório de cirurgia cardíaca, todo o esforço deve ser empreendido no sentido de reduzi-las. Ressalta-se a importância de uma equipe multiprofissional estar envolvida no manejo de pacientes submetidos à cirurgia cardíaca. Referências 1. Mangano DT. Perioperative cardiac morbidity. Anesthesiology 1990;72:153-84. 2. Gedebou T, Barr S, Hunter G, et al. Risk factors in patients undergoing major nonvascular abdominal operations that predict perioperative myocardial infarction. Am J Surg 1997;174:7558. 3. Westaby S. Complement and the damaging effects of cardiopulmonary by-pass. Thorax 1983;38:321-5. 4. Johson NT, Pierson DJ. The spectrum of pulmonary atelectasis: Pathophysiology, diagnosis and therapy. Respir Care 1986;31:1107-20. 5. Estenne M, Yernault JC, Smet JM, Troyer A. Phrenic and diaphragm function after coronary artery bypass grafting. Thorax 1985;40:293-9. 6. Locke TJ, Griffiths TL, Mould H, Gibson GJ. Rib cage mechanics after median sternotomy. Thorax 1990; 45(6):465-8. 12/3/2007 10:19:10 56 7. Burger EJ, Macklem P. 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Materiais e métodos: Foi realizada uma revisão da literatura sobre a legislação relativa a estágios em fisioterapia, buscando identificar a correlação entre a legislação federal sobre estágios, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), as Diretrizes Curriculares para Cursos de Graduação em Fisioterapia e as resoluções do Conselho Federal de Fisioterapia (COFFITO). Resultados: A LDB assegura a autonomia das instituições de ensino para a proposição de estágios. As Diretrizes Curriculares de Fisioterapia mencionam que estágios podem ser desenvolvidos desde o início do curso, porém sempre sob a responsabilidade de docente fisioterapeuta. As atividades complementares não obrigatoriamente dependem de supervisão docente direta. O COFITTO determina que estágios em serviços só podem ser realizados a partir do 6º período da graduação ou sob supervisão direta de docentes. Conclusão: As resoluções do COFFITO não estão em consonância com a LDB e com o PRO-SAUDE e podem constituir obstáculo ao estabelecimento das parcerias tão necessárias à formação de profissionais de saúde para o SUS. Introduction: The Brazilian Health Ministry’s National Program for the Professional Formation in Health (PRO-SAUDE) recommends that health professionals’ education should be made in association with the health services. Objective: Reviewing the legal basis concerning professional physiotherapeutic training. Material and methods: A literature review was accomplished about the relative legislation on physioterapeutic training, to identify the correlation between the federal legislation related to the interships in health fields, Guidelines and Basis to National Education (LDB), the Curricular Guideline to Physiotherapy Undergraduated Courses and the resolutions of the Federal Council of Physiotherapy (COFFITO). Results: The LDB guarantees the autonomy of the universities to define the intership. According to Curricular Guidelines of Physical therapy, the students can have periods of training in health services since the beginning the course with the supervision of a professor. Extracurricular activities do not depend on direct supervision of a professor. The COFFITO has decided that the direct supervision of a professor is mandatory up to the 6th semester of undergraduated studies. Conclusion: The COFFITO resolutions are not in agreement with the LDB and the PRO-SAUDE and can represent an obstacle to the partnerships between the schools of physical therapy and the health services. Palavras-chave: fisioterapia (especialidade), educação superior, bolsas e estágios. Key-words: physical therapy (specialty), education, higher, fellowship and interships. Introdução pelos processos de trabalho, que podem variar de acordo com o momento histórico e cultural do sistema de saúde. Ribeiro et al. [1] traçam um paralelo entre o processo de trabalho vigente e o que é preconizado pelas diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS). No caso da maioria dos profi ssionais liberais, o trabalho em saúde é feito por uma sistemática compartimentalizada de cuidados, fundamentada na especialização, na qual cada segmento A formação de profissionais de saúde deve estar voltada para o trabalho que o futuro profissional irá realizar e a referência para a formação deve ser o próprio trabalho, aqui entendido como “categoria sociológica, ação humana, dotada de intencionalidade, que transforma a natureza de acordo com as necessidades”. Essa intencionalidade é circunscrita Recebido em 26 de novembro de 2006; aceito em 4 de janeiro de 2007. Endereço para correspondência: Lázaro Juliano Teixeira, Rua Ana Garcia Pereira, 167, 88340-000 Camboriú SC, Tel: (47)3365-2930, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v8n1.indb 57 12/3/2007 10:19:11 58 profissional trabalha com problemas específicos e com alta delimitação. Atualmente propõe-se a ruptura desse “modelo queixaconduta” por meio de processos de trabalho que envolvam toda equipe de saúde na tomada de decisão, gerenciamento e planejamento do processo de produção do cuidado em saúde, com ações e atividades refletidas e organizadas para intervenções mais efetivas [1-4]. Para estar em consonância com o sistema de saúde vigente no país, o campo profissional deve adotar os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo a Constituição Federal [5], artigo 200, inciso III, “ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei: ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde”. Essa formação passa pela necessidade de compromissos compartilhados entre os setores de saúde e da educação, visando atenção integral à saúde individual e coletiva [3]. Sugere-se, então, que a formação de novos profissionais deve ser feita em parceria com os serviços, especialmente os serviços públicos de saúde ligados ao SUS, pois será nesses locais que os futuros profissionais exercerão seu ofício. Espera-se, assim, que estudantes tenham oportunidades de presenciar e vivenciar o cotidiano dos serviços, percebendo aspectos relevantes da realidade e criando perspectivas para melhorá-la ou aperfeiçoá-la, dentro de suas possibilidades. Esta parceira de trabalho e de vivências pode ocorrer por meio de visitas, estágios ou projetos de extensão [2]. No caso da Fisioterapia, o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO) faz uma leitura peculiar Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 dos estágios. Na intenção de proteger o mercado e usuários, regulamentou as atividades e as relações de parcerias entre alunos das instituições de ensino e os serviços de saúde em favor da defesa do mercado de trabalho dos profissionais já formados, interferindo, todavia, na autonomia das instituições de ensino. Além deste panorama conflituoso, o problema cresce ao ser constatado que 50% dos coordenadores de cursos de Fisioterapia de Santa Catarina admitem desconhecer a legislação relativa aos estágios obrigatórios e 60% admitem desconhecer a legislação referente aos estágios não obrigatórios. Tais dados foram obtidos por meio do levantamento feito por Guimarães et al [6] e coordenado pelo CREFITO-10 (Conselho Regional de Fisioterapia da 10º Região) em Santa Catarina que analisou questionários de 10 dos 13 cursos de Fisioterapia deste estado. Além disso, segundo os mesmos autores, 20% dos cursos não têm um setor de estágio na instituição. Este estudo teve como objetivos fazer uma revisão da base legal para os estágios em Fisioterapia e explorar as contradições que há entre os diferentes documentos na atualidade e as intenções propostas pelo Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde [7]. A legislação para estágios em fisioterapia A legislação para estágios em Fisioterapia no Brasil teve início com a legislação federal de estágios, que data de 1977. Desde então evoluiu em vários aspectos até a atualidade, conforme Figura 1. Figura 1 - Linha do tempo representando as principais leis, decretos e resoluções sobre estágio em Fisioterapia em Santa Catarina. Fisioterapia_v8n1.indb 58 12/3/2007 10:19:12 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 A primeira lei a tratar do assunto, a Lei nº 6.494, de 07 de dezembro de 1977 [8], assevera que: “qualquer instituição pública ou privada pode aceitar para estágios alunos regularmente matriculados” [...] (Art. 1º), “em unidades que tenham condições de proporcionar experiência prática na linha de formação [...] (§ 1º) e “que propiciem a complementação do ensino e da aprendizagem a serem planejados, executados, acompanhados e avaliados em conformidade com os currículos, programas e calendários escolares, a fim de se constituírem em instrumentos de integração” (§ 2º). São consideradas atividades curriculares todas aquelas desenvolvidas pelo estudante enquanto estiver vinculado à universidade e que contribuem para o seu processo formativo. A presença do estagiário nos serviços deve ser autorizada por termo de compromisso, com interveniência obrigatória da instituição de ensino. Apenas os estágios realizados sob a forma de ação comunitária estão isentos dessa exigência. A Lei deixa claro que: “o estágio não cria vínculo empregatício de qualquer natureza e o estagiário poderá receber bolsa, ou outra forma de contraprestação que venha a ser acordada, [...] devendo o estudante, em qualquer hipótese, estar segurado contra acidentes pessoais” [8]. A jornada de atividade em estágio a ser cumprida pelo estudante deverá compatibilizar-se com o seu horário escolar e com o horário da parte em que venha a ocorrer o estágio, não devendo interferir, então, no desempenho e aproveitamento das atividades curriculares. Os períodos de férias escolares devem ser acordados entre as partes, sempre com interveniência da instituição de ensino. A lei cita a possibilidade de intermediação das parcerias por agentes de integração, com função de intermediar a relação entre a instituição de ensino e pessoas jurídicas públicas e privadas, cadastrando estudantes e campos de estágio, identificando oportunidades e bolsas para o pagamento destes estágios. O Decreto nº 87.497, de 18 de agosto de 1982 [9], regulamentou a Lei nº 6.494 e, em seu artigo segundo, definiu estágio curricular como “atividades de aprendizagem social, profissional e cultural, proporcionadas ao estudante pela participação em situações reais de vida e trabalho de seu meio. Podem ser realizadas na comunidade em geral ou junto a pessoas jurídicas de direito público ou privado” . Essas atividades são de responsabilidade e coordenação da instituição de ensino, que deve estabelecer convênio com a instituição concedente do estágio mediante “instrumento jurídico, periodicamente reexaminado, [firmado] entre a instituição de ensino e pessoas jurídicas de direito público e privado, onde estarão acordadas todas as condições de realização do estágio”. O Decreto nº 2.080, de 26 de novembro de 1996 [10], apenas incluiu a necessidade da entidade concedente do estágio providenciar seguro de acidentes pessoais. Na maior parte das vezes, essa é uma obrigação da instituição de ensino. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) [11] disciplinou a educação escolar, que se desenvolve Fisioterapia_v8n1.indb 59 59 predominantemente por meio do ensino, em instituições próprias. Afirma que “a educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social”. Ao listar os princípios da educação no Brasil, enfatiza o “pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas” ; “a coexistência de instituições públicas e privadas de ensino”; “a valorização da experiência extra-escolar” e a “vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais”. A LDB também faz menção à interação entre a escola e sociedade, ou seja, considera que “os estabelecimentos de ensino terão a incumbência de se articular com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola” (Artigo 12, inciso VI). Afirma ainda que “no exercício de sua autonomia, são asseguradas às universidades estabelecer planos, programas e projetos de pesquisa científica, produção artística e atividades de extensão” (Artigo 53, inciso III). Quanto ao estágio, a LDB assegura a autonomia das instituições de ensino, estabelecendo que “os sistemas de ensino estabelecerão as normas para realização dos estágios dos alunos regularmente matriculados no ensino médio ou superior em sua jurisdição” (Artigo 81). Além disso, reafirma que “os estágios não estabelecem vínculo empregatício, podendo o estagiário receber bolsa de estágio, estar segurado contra acidentes e ter a cobertura previdenciária prevista na legislação específica” (Art. 81, parágrafo único). Na área da saúde, que reúne profissões que demandam vivências práticas do cotidiano, observação e entendimento dos processos de trabalho, além de treino de habilidades manuais e procedimentos, os estágios curriculares são ferramentas fundamentais para a formação integral do profissional. As diretrizes curriculares para os cursos de graduação em saúde fazem menção aos estágios como parte da formação dos profissionais das diferentes áreas. As Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Fisioterapia, estabelecidas na Resolução nº 4 do CNE/CES [12], identificam entre as habilidades e competências gerais do fisioterapeuta, a necessidade de aprender a aprender, ter responsabilidade e compromisso com a educação permanente, com o treinamento de futuros profissionais, tudo de acordo com o sistema de saúde vigente no país, ou seja, o Sistema Único de Saúde (SUS). Mencionam ainda que as Instituições de Ensino Superior devem criar mecanismos de aproveitamento de conhecimentos adquiridos pelo estudante por meio de estudos e práticas independentes presenciais ou à distância, a saber: monitorias, estágios, programas de iniciação científica etc. As atividades práticas que antecedem o estágio curricular podem ser desenvolvidas desde o início do curso, com complexidade crescente, e devem ser realizadas na própria instituição de ensino superior (IES) ou em instituições conveniadas, sob a responsabilidade de docente fisioterapeuta (Art. 13, inciso II). O governo do estado de Santa Catarina, por sua vez, também aprovou legislação específica para regulamentar os estágios curriculares em instituições públicas estaduais através da Lei nº 10.864/98-SC de 29 de julho de 1998 [13], dos decretos nº 387 de 23 de julho de 1999 [14] e nº 1.323, de 12/3/2007 10:19:12 60 23 de dezembro de 2003 [15] e da Instrução normativa nº 13/2003 [16]. Os estágios curriculares em instituições públicas desse Estado podem fazer parte do programa de governo denominado “A primeira chance” a partir do qual estudantes carentes podem receber bolsa [13,14]. A Lei 10.864 [13] afirma que é facultado aos órgãos e às entidades da administração pública estadual direta e indireta conceder estágio a aluno matriculado em curso regular de ensino (Art. 1º), condicionada à existência, no órgão ou na entidade, de estrutura que assegure ao estagiário experiência prática em sua área de formação, sob supervisão e orientação de profissional habilitado (Art. 1º, Parágrafo único). Além de prever a possibilidade de remuneração de estagiários, essa lei não distingue o estágio curricular obrigatório do não obrigatório quanto à necessidade de bolsa. Isso significa que mesmo alunos em estágio curricular obrigatório de cursos da saúde realizados em serviços públicos estaduais podem receber a bolsa pelo estágio. Somente o Decreto nº 387/99-SC de 1999 [14] estabelece a diferenciação entre estágio curricular obrigatório e não obrigatório e mesmo assim não exclui nenhum dos dois da bolsa: “I - Obrigatório, que se constitui em elemento essencial à diplomação do aluno, em conformidade com os currículos, programas e calendários escolares; II - Não obrigatório, que se constitui em atividade complementar à formação acadêmico-profissional do aluno, realizado por sua livre escolha.” Historicamente, o estágio de estudantes nos serviços de Fisioterapia foi visto por muitos como o emprego de mãode-obra barata, ficando o aprendizado em segundo plano. Em 1992, o Conselho Federal de Fisioterapia, por meio da Resolução nº 139 [17], regulamentou que a responsabilidade técnica pelas atividades profissionais só pode ser exercida por profissional registrado no referido Conselho e que os estágios curriculares nos serviços só podem ser realizados a partir do 6º período da graduação, com uma relação máxima de um preceptor para três acadêmicos, diferentemente de outros cursos na área da saúde. Em seu artigo 7º, a Resolução é bastante clara quanto aos estágios curriculares: Art. 7º. É atribuição do profissional responsável técnico observar que os estágios curriculares, sempre que oferecidos, o sejam de acordo com a Lei n.º 6.494/77, seguindo os seguintes critérios: I - Só poderá ser realizado com a interveniência obrigatória da Instituição de Ensino Superior. II - Só poderá ocorrer a partir do 6º. período da graduação, por ser parte do ciclo de matérias profissionalizantes, consoante com a Resolução CFE n.º 04/83. III. Só poderá alcançar uma relação máxima de 1 (um) preceptor para 3 (três) acadêmicos. IV - A preceptoria de estágio curricular, nos campos assistenciais da Fisioterapia e/ou da Terapia Ocupacional, só poderá ser exercida, com exclusividade, por profissional Fisioterapeuta Fisioterapia_v8n1.indb 60 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 e/ou Terapeuta Ocupacional, conforme a área em que o mesmo ocorra. No ano seguinte, através de outra resolução [18] o mesmo Conselho Federal determinou que o número máximo de acadêmicos por preceptor nos estágios obrigatórios promovidos diretamente pela Instituição de Ensino Superior seria de seis acadêmicos para cada supervisor e não mais três acadêmicos. As atividades práticas e de estágio são de responsabilidade e coordenação da instituição de ensino e cabe a ela a decisão sobre a matéria. A própria Resolução nº 139[17], no seu Artigo 7º, inciso I, também afirma que o estágio só pode ser realizado com a interveniência obrigatória da Instituição de Ensino Superior. Para promover a aproximação entre a formação de graduação no país e as necessidades da Atenção Básica, o Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES) e em conjunto com Ministério da Educação, mais especificamente a Secretaria de Educação Superior (SESu) e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), lançou recentemente o Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde – Pró-Saúde [7]. O programa destina-se prioritariamente a reorientação da formação dos cursos de Medicina, Enfermagem e Odontologia, mas não é exclusivo para estes. Uma de suas principais recomendações é que “a interação ativa do aluno com a população e profissionais de saúde deverá ocorrer desde o início do processo de formação, proporcionando ao estudante trabalhar sobre problemas reais, assumindo responsabilidades crescentes como agente prestador de cuidados compatíveis com seu grau de autonomia”[7]. O semestre de realização do estágio curricular obrigatório é previsto na grade curricular em praticamente todos os cursos de bacharelado em Fisioterapia, embora com duração variável. Em geral, em Santa Catarina ocorre nas últimas fases do curso: tem início no 4º semestre em apenas 10% dos cursos; a maioria inicia no 6º ou 7º semestre (70%). Há cursos que iniciam seus estágios obrigatórios apenas no final do curso, ou seja, na 8º fase (10%) ou na 9º fase (10%) [6] . Percebese que, na maioria dos cursos, o estudo do conteúdo teórico antecede a atuação nos cenários de prática, diferentemente do que preconiza o Ministério da Saúde e da Educação [7]. Percebe-se a diferença entre a situação atual de legislação para estágios na Fisioterapia e o modelo recomendado pelos Ministérios da Saúde e da Educação, que faz parte de um conjunto de iniciativas voltadas à promoção de mudanças na formação de trabalhadores da saúde no país. Tipos de estágio A legislação específica permite constatar que todo estágio é atividade curricular, quer seja obrigatório e não obrigatório. Deve propiciar aprendizagem, ser planejado de acordo com o calendário escolar da instituição, executado, acompanhado por supervisor e avaliado em conformidade com os currícu- 12/3/2007 10:19:13 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 los, programas, além das diretrizes nacionais e institucionais previstas em seus Projetos Pedagógicos. O estágio obrigatório é uma atividade do currículo do curso a ser cumprida para a integralização curricular. Deverá ser regulamentado no âmbito do projeto pedagógico de cada curso de graduação, obedecidos os dispositivos legais e as normativas institucionais. É importante salientar que o estágio curricular distingue-se das atividades práticas realizadas em campo, com supervisão docente direta. Estas atividades práticas em campo caracterizam “aula prática”, que, ao invés de ser realizada em laboratório ou clínica escola, é realizada em um serviço de saúde ou na comunidade. Já o estágio não obrigatório constitui atividade de interesse do estudante, de sua livre escolha, com a interveniência e o acompanhamento da Universidade, desde que contempladas atividades inerentes à sua área de formação. A duração máxima dos estágios não obrigatórios na mesma unidade concedente e/ou área de trabalho é variável, de acordo com as instituições, mas, de um modo geral, a duração é de no mínimo um semestre e no máximo dois anos. As Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Fisioterapia mencionam que as atividades práticas que antecedem o estágio curricular podem ser desenvolvidas desde o início do curso, porém sempre sob a responsabilidade de docente fisioterapeuta (Art. 13, inciso II) [12]. Há instituições de ensino que adotam o termo Atividades Complementares para designar estágios não obrigatórios feitos pelos alunos em locais previamente cadastrados pela instituição em convênios específicos [19]. Em várias IES, as atividades não obrigatórias, como estágios voluntários, participação em eventos, monitorias, entre outras, contam carga horária como atividades curriculares. De acordo com a legislação do COFFITO e as Diretrizes Curriculares, no entanto, essas atividades só poderão ocorrer sem a presença do professor da instituição se forem realizadas após o 6º período do curso, com supervisão direta de um profissional de fisioterapia, denominado responsável técnico. Se este tipo de estágio for proposto antes disso, o aluno só poderá fazê-lo acompanhado do professor. Desafios para o desenvolvimento de estágio nos serviços O estágio possibilita ao estudante enfrentar situações reais, permite a vivência prática e oportuniza ao aluno expressar e desenvolver seu potencial científico, humanístico e ético. Se, por um lado, o estágio curricular precisa da interveniência da instituição de ensino, necessita também do envolvimento do serviço. Em geral, nas profissões da saúde, a supervisão do estágio nos serviços é realizada pelo pessoal do próprio serviço. Na Fisioterapia, entretanto, a supervisão de estágios curriculares e atividades práticas só pode ser feita por professor da instituição de ensino, conforme as Resoluções do COFFITO de nº 139 [17] e 153 [18] e as Diretrizes Curriculares Fisioterapia_v8n1.indb 61 61 [12]. O estágio não obrigatório, realizado sob supervisão do profissional do serviço, só poderá ocorrer se o estudante já estiver cursado ou estar no 6º semestre do curso. As Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de fisioterapia [12] defendem a realização de atividades práticas nos semestres iniciais do curso desde que com presença do docente. Entretanto, as chamadas atividades complementares, previstas na LDB, são todas as atividades relativas ao ensino, pesquisa e extensão que complementam a formação profissional, podendo incluir atividades de monitoria, cursos complementares à formação, participação em pesquisas, publicações, programas de extensão e estágios não obrigatórios realizados desde o início do curso. De acordo com a LDB, as atividades complementares não dependem obrigatoriamente de supervisão direta docente. Como o estágio é uma atividade de ensino, trata-se de uma interferência do Conselho profissional na área de ensino. Essa “ingerência” do Conselho profissional não deixa de ser um forte fator regulador da atividade profissional, pois a prática da fisioterapia por profissional não habilitado caracteriza prática ilegal da profissão, situação a que está exposto o estudante se o estágio não for muito bem conduzido, bem como sua finalidade básica de aprendizagem adequadamente observada. De fato, em muitos serviços, a presença de estagiários vinha sendo usada com a intenção de barateamento da mão-de-obra. Prestadores de serviços, na maioria privados que prestam assistência a usuários do SUS, admitiam alunos para estágio não obrigatório acima da relação preceptor/aluno sugerida pelo Conselho, submetendo-os a uma grande demanda de pacientes sob responsabilidade e supervisão de um único profissional do serviço. Dessa forma, conseguiam aumentar o número de atendimentos sem elevação proporcional de custos, pois se abstinham de contratar profissionais formados, tendo como justificativa o baixo valor dos honorários dos serviços prestados. O foco no aprendizado e nas vivências do aluno no serviço ficava em segundo plano, pois a preocupação de prestador não era essa. Apesar da legislação que ampara os estágios prever a necessária relação com a área de formação profissional do aluno e a prevalência do aspecto formativo sobre o produtivo, o estágio não obrigatório tem sido, em muitos casos, utilizado como instrumento de fraude nas relações trabalhistas [20,21]. Na tentativa de coibir essa prática, o COFFITO acabou por interferir através das resoluções citadas acima, de nº 139 [17] e 153 [18], tendo em vista o “tênue limite entre o estágio e a prática profissional”, como expressou o presidente do Conselho Regional de Fisioterapia (CREFITO 10), em comunicação pessoal. A Associação Brasileira do Ensino em Fisioterapia (ABENFISIO), após o VIII Encontro Nacional de Coordenadores de Fisioterapia, realizado em 01 de junho de 2006, em João Pessoa, Paraíba, propôs a revisão da normatização pertinente aos estágios em fisioterapia [22]. A ABENFISIO definiu estágio obrigatório como “aquele inserido no Projeto Político Pedagógico do Curso e que deve ter no mínimo 20% da 12/3/2007 10:19:13 62 carga horária total deste, oferecido pela IES em locais próprios ou conveniados, realizado sob supervisão docente”, ou seja, de professor contratado pela IES ou de fisioterapeuta fora do horário de expediente no serviço, se for também contratado do serviço [22]. Na teoria, essa medida impede que profissionais fisioterapeutas que integram equipes de Programas de Saúde da Família atuem como supervisores de estágios obrigatórios em Fisioterapia, já que o horário de funcionamento desses serviços, em tese, é de oito horas diárias, ou seja, em regime integral. Este impedimento não ocorreria em caso de estágios não obrigatórios. Quanto aos estágios não obrigatórios, a ABENFISIO considera apenas que deve ser desenvolvido fora dos 20% da carga horária destinada aos estágios obrigatórios citada acima. Conclusões A prática do novo modelo de saúde por parte dos cursos de fisioterapia sofre a interferência de legislação profissional que, por mais que assuma a autonomia e necessidade de intervenção da instituição de ensino, delimita formas de execução dos estágios, como o semestre mínimo que o aluno pode acompanhar serviços ou programas de saúde sem o acompanhamento direto de professor da instituição e o número mínimo de alunos a serem recebidos nos serviços. As IES têm autonomia para propor seus planos políticos pedagógicos e definir seus estágios curriculares. Diferentemente das aulas práticas realizadas em campo, com supervisão direta do professor, os estágios curriculares não necessitam da supervisão direta do professor em outras profissões. Se um dos objetivos do estágio curricular é realizar uma transição da vida acadêmica para o mundo do trabalho, não parece necessária, nem sequer desejável, a supervisão direta do professor. A supervisão direta pode e deve ser realizada pela equipe multiprofissional que atua no serviço, daí a necessidade de parcerias entre IES e serviços, na forma de convênios. As resoluções do COFFITO não levam em conta a atual legislação federal para os estágios e é preciso refletir com clareza se isso não é um impedimento para o estabelecimento das parcerias tão necessárias à formação de profissionais de saúde para o SUS. Na legislação relativa ao ensino (LDB, Diretrizes curriculares) e nas recomendações dos Ministérios da Saúde e da Educação, verifica-se o incentivo para que o contato do aluno com práticas profissionais seja gradual e ocorra desde os semestres iniciais do curso. O acompanhamento pelos alunos das visitas domiciliares realizadas pela equipe de saúde, atividade que poderia ocorrer desde o início do Curso sem necessariamente o acompanhamento do docente, por exemplo, atualmente não podem ser implementadas, se observadas pelo prisma das resoluções do COFFITO. Assim, para viabilizar a implementação das mudanças preconizadas pelo SUS na área do ensino da prática fisio- Fisioterapia_v8n1.indb 62 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 terapêutica, faz-se necessário debater, revisar e repensar a legislação profissional relacionada aos estágios curriculares em fisioterapia. Referências 1. Ribeiro EM, Pires D, Blank VLG. A teorização sobre processo de trabalho em saúde como instrumental para análise do trabalho no Programa Saúde da Família. Cad Saúde Pública 2004;20(2):438-46. 2. Cyrino EG, Pereira MLT. Reflexões sobre uma proposta de integração saúde-escola: o projeto saúde e educação de Botucatu, São Paulo. Cad Saúde Pública 1999;15 Supl. 2:39-44. 3. Silva ACF. Aprender SUS e os cursos da graduação na área da saúde: uma realidade bem próxima. Associação Brasileira do Ensino em Fisioterapia (ABENFISIO) [online]; 2006. [citado 2006 mai 13]. Disponível em: URL: http://www.abenfisio.com. br/aprendersus.html. 4. Sório RER. Educação e trabalho em saúde: perspectivas de debate sob os marcos legais da educação profissional. In: Santana JP, Castro JLD (Eds.). Capacitação em desenvolvimento de recursos humanos de saúde - CADRHU. Natal: EDUFRN; 1999. p. 215-32. 5. Brasil. Constituição 1988. Constituição da República Federativa do Brasil. 26a ed. São Paulo: Saraiva; 2000. 6. Guimarães FV, Fabris L, Jorge IMP. Panorama dos estágios curriculares obrigatórios e não obrigatórios nos cursos de graduação em Fisioterapia e Terapia Ocupacional do estado de Santa Catarina. Comissão de Ensino do CREFITO-10 (Conselho Regional de Fisioterapia de 10a Região) maio 2006. 7. Brasil. Ministério da Saúde. Ministério da Educação. Pró-Saúde: Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional de Saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2005. 8. Brasil. Lei n. 6.494, de 7 de dezembro de 1977. Dispõe sobre os estágios de estudantes de estabelecimentos de ensino superior e de ensino profissionalizante do 2º (segundo) grau e supletivo e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília 9 dez. 1977. 9. Brasil. Decreto n. 87.497, de 18 de agosto de 1982. Regulamenta a Lei nº 6.494, de 7 de dezembro de 1977, que dispõe sobre o estágio de estudantes de estabelecimentos de ensino superior e de 2º grau regular e supletivo. Diário Oficial da União, Brasília 19 ago. 1982. 10. Brasil. Decreto n. 2.080, de 26 de novembro de 1996. Dá nova redação ao art. 8° do Decreto nº 87.497, de 18 de agosto de 1982, que regulamenta a Lei nº 6.494, de 7 de dezembro de 1977, que dispõe sobre os estágios de estudantes de estabelecimentos de ensino superior e de ensino profissionalizante do 2° grau e supletivo. Diário Oficial da União, Brasília 27 nov. 1996. 11. Brasil. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da União, Brasília 23 dez. 1996. 12. Brasil. Resolução CNE/CES n. 4, aprovada em 19 de fevereiro de 2002. Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Fisioterapia. Diário Oficial da União, Brasília 4 mar. 2002. 13. Santa Catarina. Lei n. 10.864/98-SC, de 29 de julho de 1998. Dispõe sobre estágio para estudante em órgão e entidade da administração pública. Diário Oficial do Estado, Florianópolis, 29 jul. 1998. 12/3/2007 10:19:14 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 14. Santa Catarina. Decreto n. 387, de 23 de julho de 1999. Regulamenta o programa de estágio para estudante de estabelecimento de ensino superior, médio e de educação profissional, previsto na Lei nº 10.864, de 29 de julho de 1998, alterada pela Lei n º 11.120 de 28 de junho de 1999, e dá outras providências. Diário Oficial do Estado, Florianópolis, 23 jul. 1999. 15. Santa Catarina. Decreto nº 1.323, de 23 de dezembro de 2003. Altera o art 5º, do Decreto nº 387, de 23 de julho de 1999, que regulamenta o programa de estágio para estudante de estabelecimento de ensino superior, médio e de educação profissional, previsto na Lei nº 10.864, de 29 de julho de 1998, alterada pela Lei n º 11.120 de 28 de junho de 1999. Diário Oficial de Estado, Florianópolis, 23 dez. 2003. 16. Santa Catarina. Instrução normativa SEA/DIRH n. 013/2003, de 23 de dezembro de 2003. “Estabelece normas e procedimentos para a operacionalização do programa de estágio “A primeira chance”, para estudantes de estabelecimentos de ensino superior, médio e de educação profissional com base na Lei nº 10.864 de 29 de julho de 1998, alterada pela Lei nº 11.120 de 28 de julho de 1999 e 11.467 de 06 de julho de 2000, c/c o Decreto nº 387 de 23 de julho de 1999”. Diário Oficial do Estado, Florianópolis, 7 jan. 2004. 17. Conselho Federal de Fisioterapia Ocupacional (COFFITO). Resolução nº 139 de 28 de Novembro de 1992. Dispõe sobre Fisioterapia_v8n1.indb 63 63 as atribuições do Exercício da Responsabilidade Técnica nos campos assistenciais da Fisioterapia e da Terapia Ocupacional e dá outras providências. Diário Oficial da União. Brasília, 26 nov. 1992. Seção 1, p. 16389-90. 18. Conselho Federal de Fisioterapia Ocupacional (COFFITO). Resolução n. 153 de 30 de novembro de 1993. Inclui Inciso V, no Art. 7º., da Resolução COFFITO-139, de 18.11.1992 (D.O.U. de 26.11.92), fixando a relação máxima de preceptor/acadêmico, quando o estágio curricular for promovido diretamente por Instituição de Ensino Superior. Diário Oficial da União, Brasília, 28 dez. 1993. Seção 1, p. 20925. 19. Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). Conselho Universitário. Resolução n. 097/2003. Aprova o regulamento geral dos estágios curriculares na UNIVALI. Itajaí, SC; 2003. 20. Associação Catarinense das Fundações Educacionais (ACAFE). Grupo de Trabalho sobre Estágios [online]. Florianópolis; 2006. [citado 2006 mai 13]. Disponível em: http://www.reitoria.ufsc. br/estagio/documentos110.html. 21. Universidade Federal de Santa Catarina. Convocações do Ministério Público do Trabalho [online]. [citado 2006 mai 13]. Disponível em: http://www.reitoria.ufsc.br/estagio/documentos/Convoca%E7%F5es%20MPT-016.04.03.doc. 22. Associação Brasileira do Ensino em Fisioterapia (ABENFISIO). Relatório do 8º Encontro Nacional de Coordenadores de Fisioterapia. João Pessoa; 2006. 12/3/2007 10:19:14 64 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 Revisão Terapia de restrição e indução do movimento em pacientes pós-AVC Constraint-induced movement therapy in hemiplegic stroke patients Wilma Costa Souza, M.Sc.*, Adriana B. Conforto, D.Sc.**, Charles André, D.Sc.** *Professora da Universidade Gama Filho, **Assistente da Divisão de Clínica Neurológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, ***Professor Adjunto de Neurologia, Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Rio de Janeiro Resumo Abstract Objetivo: Após o acidente vascular cerebral (AVC), a recuperação da função motora do membro superior parético não é, em geral, adequada. A terapia de restrição e indução do movimento (TRIM) tem sido considerada como capaz de promover melhora da quantidade de uso da extremidade superior gravemente afetada. O objetivo deste estudo foi rever criticamente estudos sobre a TRIM. Métodos: Foram revisados artigos indexados nas bases de dados Pubmed, Lilacs e Scielo publicados de 1990 a 2005, em inglês e português. Foram pesquisados os seguintes unitermos: acidente vascular cerebral, hemiplegia, terapia de restrição de movimento, fisioterapia e membro superior. Resultados: De modo geral, as pesquisas demonstram que a TRIM produz melhora na função motora em um período de duas semanas; que o efeito do tratamento permanece estável por vários meses após o término da terapia; e que este efeito é transferido para o dia a dia do paciente. Entretanto, a maioria dos estudos mostrou falha metodológica, tais como ausência de randomização. Conclusão: A TRIM pode contribuir para a recuperação funcional do membro superior após AVC em pacientes que preencham critérios de inclusão para esta modalidade de tratamento. As dificuldades apontadas em relação à terapia dizem respeito à intensidade do tratamento, aderência e segurança do paciente. São necessários estudos mais aprofundados sobre a eficácia da TRIM. Objective: The recovery of motor function of the hemiparetic arm after a stroke is often inadequate. Constraint-induced movement therapy (CIMT) has been shown to produce improvements in actual amount of use of a severely affected upper extremity. The aim of this study was to critically review the literature on CIMT. Method: Systematic review of articles published in Pubmed, Lilacs and Scielo from 1990 to 2005 in Portuguese and English. Keywords: cerebrovascular accident, hemiplegia, constraint-induced movement therapy, upper extremity and physical therapy. Results: In general, studies show that CIMT produce better functional outcomes after a two-week treatment period and that these gains remain stable for several weeks after the end of the therapy. CIMT is able to increase the amount of use of the upper limb in daily life. However, most studies exhibited methodological flaws such as lack of randomization. Conclusions: CIMT may contribute to improve upper limb function in patients who fulfill inclusion criteria for this therapeutic approach. Treatment intensity, adherence, and patient safety may constitute limitations for its wide utilization. Further studies about the effectiveness of TRM are deeply needed. Key-words: cerebrovascular accident, hemiplegia, constraintinduced movement, upper extremity. Palavras-chave: acidente vascular cerebral, hemiplegia, terapia de restrição do movimento, membro superior. Recebido em 13 de novembro de 2006; aceito em 15 de janeiro de 2007. Endereço para correspondência: Wilma Costa Souza, Travessa dos Tamoios, 8/402, 22230-050 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21)255 2413, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v8n1.indb 64 12/3/2007 10:19:14 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 65 Introdução Resultados O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é condição com alta incidência e mortalidade. Além disso, deixa seus sobreviventes, muitas vezes, com deficiências físicas, cognitivas ou alterações de natureza psicológica. O aumento do número de idosos e o surgimento de novas opções terapêuticas na fase aguda indicam que haverá, nas próximas décadas, um número crescente de sobreviventes com diferentes tipos e graus de incapacidade [1]. No Brasil, ainda que com taxas declinantes, a doença cerebrovascular constitui a primeira causa de mortalidade [2]. Em uma revisão sistemática de artigos sobre a incidência e a prevalência do AVC na América do Sul, as taxas de prevalência variaram de 1,74 a 6,51 por 1000, com uma taxa de incidência anual de 0,35 a 1,83 por 1000 habitantes [3]. A incidência na população americana é maior em homens do que em mulheres e é duas vezes mais alta em pessoas negras do que em brancas [4]. O AVC provoca incapacidades funcionais de grau variado. Por exemplo, diversos estudos apontam a doença como a maior causa de incapacidade neurológica na América do Norte. Aproximadamente quatro milhões de americanos lidam com deficiências e incapacidades decorrentes do AVC. Desses, 31% requerem assistência, 20% necessitam de ajuda para caminhar e 16% estão em instituições para pacientes crônicos [4]. As evidências apontam que fisioterapia é efetiva após o AVC; e que quanto maior a intensidade do tratamento, melhores os resultados [5]. Entretanto, alguns autores acrescentam que a modalidade de terapia pode influenciar os resultados [6,7]. Aparentemente, a partir de resultados de estudos em curso, estratégias de intervenção voltadas para tarefas específicas, treinamento, fortalecimento muscular e estímulos ao aprendizado motor oferecem interessantes possibilidades [8]. Os avanços teóricos na área da neurociência, especialmente no que diz respeito à neuroplasticidade, novos modelos de controle motor e teorias de aprendizagem têm contribuído para o desenvolvimento de novas técnicas de tratamento [8]. O objetivo desta revisão é apresentar, a partir de uma perspectiva histórica, alguns métodos de tratamento para pacientes vítimas de AVC e apontar os fundamentos teóricos de uma técnica mais recente e conhecida como Terapia de Restrição e Indução do Movimento. Esta revisão baseou-se em artigos indexados nas bases de dados Pubmed, Lilacs e Scielo produzidos no período de 1990 a 2005, publicados nos idiomas inglês e português. Foram pesquisadas referências relevantes através dos termos: cerebrovascular accident, hemiplegia, constraint – induced movement therapy, physiotherapy and upper extremity e suas traduções correspondentes, em combinações variadas. Foram consultadas também as listas de referências dos artigos considerados relevantes a fim de incluir novos artigos. Desenvolvimento das principais abordagens fisioterapêuticas Fisioterapia_v8n1.indb 65 Durante a primeira metade do século XX, havia pouca especialização em fisioterapia neurológica, e uma abordagem similar era usada na maioria dos pacientes com diversas condições incapacitantes [9]. A principal abordagem consistia de reeducação muscular centrada em músculos individuais. Os testes musculares eram usados para identificar os músculos enfraquecidos e os pacientes aprendiam exercícios específicos para fortalecê-los [8]. Outra abordagem freqüentemente usada era a da compensação. Neste caso, os pacientes hemiplégicos eram estimulados a usar o lado não afetado para compensar a paralisia do lado afetado. A prescrição indiscriminada de órteses, como muletas e aparelhos ortopédicos, fazia parte do arsenal terapêutico. Ao longo do tempo, observou-se que o uso preferencial do dimídio não afetado nas atividades funcionais contribuía para o desenvolvimento de atrofia e deformidades dos membros superiores e inferiores afetados [9]. Os resultados das abordagens descritas eram decepcionantes. Na metade do século XX, fisioterapeutas e outros profissionais começaram a desenvolver novas abordagens para o tratamento dos problemas neurológicos. A qualidade no desempenho do movimento tornou-se um importante objetivo observando-se então, uma mudança considerável em relação ao período anterior [10]. Técnicas baseadas na teoria do neurodesenvolvimento (Bobath) defendiam que os padrões anormais de movimento deveriam ser inibidos e os padrões normais, facilitados. A repetição destes padrões normais automaticamente seria transferida para as tarefas funcionais [11]. Já as técnicas de Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva (Kabat) tinham como idéia subjacente a de que seria possível alterar ou facilitar padrões motores específicos através de estímulos sensoriais, especialmente por via motora proprioceptiva. Esta estimulação sensorial produziria efeitos permanentes no sistema nervoso [12]. A eficácia das técnicas de facilitação de padrões normais (Bobath) como a utilização de estímulos sensoriais (Kabat) para favorecer o desempenho de atividades funcionais tem sido questionada por diversos autores. Por um lado, as bases científicas destas abordagens são frágeis 13,14 e, por outro lado, elas carecem de pesquisas rigorosas sobre sua efetividade clínica [9,15]. A facilitação de padrões de movimento parece não garantir sua utilização nas atividades da vida diária. Estes métodos enfatizam padrões motores, fornecendo estimulação sensorial apropriada e reforçando respostas corretas [8]. Os novos modelos de controle motor e as teorias de aprendizagem enfatizam o treinamento físico intensivo através da prática de tarefas [16]. Recentemente, as bases 12/3/2007 10:19:15 66 científicas do treinamento físico intensivo após AVC foram revistas [17]. O mapeamento do córtex motor de macacos mostrou diferenças individuais na topografia dos mapas corticais, e permitiu a formulação da hipótese de que a variabilidade individual refletiria as experiências de cada animal até o momento em que o mapa cortical foi produzido [18]. Animais que foram submetidos à lesão cortical tiveram as áreas motoras relativa aos dígitos e patas mapeadas no córtex. Após treinamento intensivo, verificou-se um aumento das áreas de representação cortical, com conseqüente ganho funcional, concluindo-se que mudanças na representação podem ser não só prevenidas, mas também revertidas quando se enfatiza o treinamento motor [19]. Os resultados de estudos controlados sugerem que o início precoce e a intensidade do tratamento em humanos são fatores importantes na recuperação funcional [20]. Em uma metanálise que incluiu vinte estudos, quatorze mostraram efeito estatisticamente significativo a favor do grupo com maior intensidade de tratamento, enquanto em seis estudos a fisioterapia adicional não resultou em eficácia superior. Os estudos selecionados envolveram 2686 pacientes. A maioria (dezessete) investigou o efeito da intensidade dentro dos primeiros seis meses após o AVC [21]. Desenvolvimento da terapia de restrição e indução do movimento (TRIM) No final dos anos 1970 e início dos anos 1980, Edward Taub realizou rizotomia dorsal em primatas, retirando a sensação somática da extremidade superior. Após este procedimento, o animal imediatamente parou de usar sua extremidade deaferenciada. A restauração do uso foi induzida pela imobilização do membro intacto por vários dias enquanto o membro afetado era treinado [22]. O resultado após treinamento foi de utilização permanente, persistindo pelo resto da vida do animal. Evidências experimentais indicaram que a perda da função motora após deaferentação foi o resultado de um comportamento aprendido chamado por Edward Taub de “não uso aprendido” [23]. Os experimentos com animais o motivaram a formular a terapia de restrição do movimento (TRIM) em humanos [22]. O “não uso aprendido” se desenvolve durante o estágio inicial que se segue ao AVC, quando o movimento funcional é difícil e o paciente realiza compensações com o membro não afetado. O uso desta estratégia compensatória dificulta ou impede a recuperação do membro parético [19]. Apesar dos pacientes freqüentemente serem capazes de usar sua extremidade afetada com qualidade de movimento razoável, a maioria mostra o não uso completo ou relativo do membro parético. Sugeriu-se que a técnica de prevenção do “não uso aprendido” em macacos, após a deaferentação, pudesse ser utilizada como abordagem para aumentar o uso do membro afetado em pacientes após o AVC. Diversos ex- Fisioterapia_v8n1.indb 66 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 perimentos que restringiram o uso do membro não afetado em humanos e submeteram o membro afetado a treinamento intensivo surgiram dessa idéia [24]. A TRIM tem como eixo central induzir o paciente a usar o membro parético por várias horas por dia em dias consecutivos. A restrição do uso da extremidade não afetada é essencial, sendo indicado para tal o uso de tipóia ou luva que impeça os movimentos. Além disso, o paciente é submetido a treinamento intensivo de movimentos funcionais. Esta prática maciça de tarefas motoras tem por objetivo promover a reorganização cortical uso-dependente [25]. O mapeamento cortical antes e depois da aplicação da TRIM em pacientes pós AVC foi realizado através de estimulação magnética transcraniana [25], e através de ressonância magnética funcional [26]. Em ambos os estudos houve reorganização cortical após o treinamento. A transferência da aprendizagem do ambiente da reabilitação para o mundo exterior é um ponto importante para tornar a reabilitação motora funcionalmente eficaz e economicamente eficiente. A transferência do desempenho aprimorado de uma ação não ocorre sem o treinamento específico desta mesma ação [8]. O treinamento de tarefas específicas é capaz de produzir a modulação nos mapas corticais em áreas que estão sendo usadas; por exemplo, a realização de um movimento repetido do polegar por curto tempo, 15 a 30 minutos, é capaz de promover o rearranjo motor cortical [27]. As atividades repetidas, orientadas para a tarefa, que demandam atenção e recompensa têm o potencial de facilitar aprendizagem motora e neuroplasticidade, tanto na área lesada quanto em áreas não afetadas [22]. Os estudos iniciais com a TRIM consistiram em uso forçado da extremidade parética em no mínimo 90% do tempo em que o paciente se mantinha acordado. O uso forçado foi induzido pela contenção do membro superior não afetado por quatorze dias e treinamento a partir de prática massiva do membro superior afetado por cerca de seis horas diárias. No treinamento motor eram usados utensílios de uso doméstico como pratos, garfos, copos entre outros e jogos infantis ou para adultos como, por exemplo, dominó e cartas [28]. O treinamento motor enfatizava o shaping, um método comumente usado em condicionamento operante. Neste caso o objetivo comportamental, ou seja, o movimento seria alcançado em pequenos passos onde se colocavam dificuldades crescentes e progressivas. Os pacientes eram recompensados com a aprovação entusiástica durante a atividade e jamais punidos caso falhassem [23]. Inicialmente, foram incluídos pacientes com mais de um ano de seqüela de AVC e que pudessem realizar no mínimo 20º de flexão dorsal do punho e 10º de flexão dos dedos [28]. Um dos primeiros estudos de Taub [29] consistiu na aplicação da TRIM em quatro pacientes de acordo com o protocolo descrito anteriormente. O grupo controle foi informado de que poderia usar muito mais o membro parético do que na verdade fazia e foi estimulado a realizar exercícios passivos 12/3/2007 10:19:16 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 no ambulatório e em domicílio. Ao final, o grupo submetido ao uso forçado mostrou ganho funcional com a utilização dos movimentos aprendidos durante as atividades diárias, tendo mantido esses ganhos até o último teste, realizado dois anos depois. O grupo controle não apresentou qualquer mudança em relação ao uso funcional no mesmo período. A TRIM foi comparada a diversas abordagens fisioterapêuticas, tais como treinamento bimanual [22]; treinamento bimanual com ênfase em técnicas baseadas na teoria do neurodesenvolvimento [30]; fisioterapia tradicional com ênfase em técnicas de facilitação neuromuscular [28,27,31]; e fisioterapia convencional [19]. Em todos os casos, a TRIM mostrou-se mais eficaz. De modo geral, as pesquisas demonstram que a TRIM produz melhora na função motora em um período de duas semanas; que o efeito do tratamento permanece estável por vários meses após o término da terapia; e que este é transferido para o dia a dia do paciente. A terapia é um dos poucos métodos que demonstrou eficácia em experimentos controlados e cujos efeitos terapêuticos se transferem para a vida real. Estudos mais recentes passaram a incluir com sucesso, pacientes que realizavam pelo menos 10º de flexão dorsal, 10º de abdução do polegar e 10º de extensão de no mínimo dois dedos [24]. Porém, cerca de 20 a 25% dos pacientes hemiparéticos crônicos preenchem estes critérios de inclusão, o que impede a aplicação generalizada da TRIM. Apesar do grande interesse na reabilitação pós AVC, são poucas as pesquisas clínicas randomizadas e controladas sobre o assunto [31]. Recentemente foi concluída, nos Estados Unidos, a primeira pesquisa multicêntrica e prospectiva sobre o efeito da TRIM em pacientes pós AVC [32]. O estudo classificou os pacientes como muito ou pouco funcionais de acordo com a avaliação prévia dos movimentos de punho e dedos. Os resultados apontaram melhora no desempenho de tarefas funcionais naqueles pacientes classificados como “pouco funcionais” antes da aplicação da TRIM. Participaram da pesquisa pacientes com 3 a 9 meses após o AVC. Não se observou melhora significativa nos pacientes classificados como “muito funcionais”. Tais resultados apontam para a especificidade do efeito do tratamento, de forma que, aparentemente, apenas os pacientes com baixo desempenho motor pós-AVC apresentariam ganho funcional importante (Wolf SL: Oral Presentation, International Stroke Meeting, Kissimmee, Fl., Feb 18, 2006). As dificuldades apontadas em relação à aplicação da terapia dizem respeito à intensidade do tratamento, aderência e a segurança do paciente. Na prática clínica é preciso ressaltar o alto custo do tratamento já que o paciente deve permanecer no ambulatório por várias horas diariamente [33]. A TRIM tem sido descrita pelos fisioterapeutas como de difícil implementação clínica. Sessenta e oito porcento dos pacientes contatados para participarem de um programa de TRIM referiram desconforto devido à restrição de uso da mão não afetada e a quantidade de tempo devotado ao tratamento [34]. Fisioterapia_v8n1.indb 67 67 A TRIM pode desencadear frustração e ansiedade na medida que exige considerável esforço dos pacientes, confrontando-os diretamente com suas dificuldades. Em um estudo que envolveu 12 pacientes, todos, em algum momento, mostraram tristeza e frustração com suas limitações [35]. Conclusão Nos últimos anos, a partir das referências na literatura, há uma maior preocupação com o desenvolvimento de estratégias de reabilitação com o objetivo de limitar as incapacidades relacionadas ao AVC. A reabilitação procura potencializar a recuperação, diminuindo-se a sobrecarga dos familiares e da sociedade. Considerando-se as inúmeras técnicas de reabilitação existentes, torna-se necessário testá-las quanto a sua eficácia e efetividade [1]. A investigação de protocolos que enfatizem a prática em domicílio diminuindo-se o tempo de permanência em ambulatório é essencial para viabilizar a aplicação da TRIM na prática clínica. Outra possibilidade seria desenvolver protocolos que pudessem ser aplicados ao longo de várias semanas, em dias alternados, diminuindo-se da mesma forma, o tempo diário de restrição de uso do membro não afetado. São necessários estudos controlados que comprovem a eficácia desses protocolos. Encontra-se em curso na Universidade Federal do Rio de Janeiro, pesquisa clínica, randômica e controlada, desenvolvida pelos autores desta revisão. O estudo é realizado com 20 pacientes e tem o objetivo de comparar dois protocolos de TRIM, sendo que um deles envolve treinamento parcialmente domiciliar. No caso do treinamento domiciliar, este é realizado com ajuda de um cuidador previamente capacitado e os exercícios são realizados ao longo de dez sessões que se realizam em dias alternados. O objetivo principal do referido estudo é desenvolver um protocolo mais adequado à realidade de países em desenvolvimento através da diminuição do custo operacional. Referências 1. Gresham GE, Alexander D, Bishop DS, Giuliani C,Goldberg G, Holland A, et al. Rehabilitation. Stroke 1997;28:1522-26. 2. André C, Curioni CC, Cunha CCB, Veras R. The progressive decline in stroke mortality in Brazil between 1980 - 1982, 1990 - 1992 and 2000 - 2002. Stroke 2006 (accepted for publication). 3. 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Utilizou-se um protocolo de 30 minutos de estimulação com um Endophasys R ajustado no limiar sensorial, freqüência modulada de 2500Hz e freqüência de pulso de 20Hz. A avaliação foi realizada antes e imediatamente após o protocolo. A EAM pontuou 3 tanto antes como após a intervenção. O teste isocinético detectou redução do stiffness após uso da corrente com destaque para os torques extensores na velocidade de 90o/s (p < 0,005). Estes resultados se assemelham àqueles obtidos em outros estudos, embora apresentem discrepâncias nas metodologias. A estimulação elétrica parece ser um potente adjuvante na reeducação de indivíduos com alterações no controle motor. The study aimed to analyse stiffness of hemiparetic lower limb after electrical stimulation. Subjects: A hemiparetic with 39 years old, male was evaluated. It was used Modified Ashworth Scale (MAS) and flexor and extensor torques were measured by isokinetic apparatus Cybex. A 30 minutes electrical stimulation protocol was applied with the Endophasys -R apparatus. It was applied a current at sensory threshold, carry frequency 2500 Hz and stimulation frequency of 20 Hz. Evaluation procedures were made before and immediately after electrical stimulation.. Both MAS pointed 3 before and after stimulation. Isokinetics tests detected significant reduction in resistance after intervention, with prominence for extensor torques obtained in the higher velocity (90o./s) (p < 0,005) These dada have similarities with other studies, although it presented discrepancies concerning methodologies. The results reinforce that electrical stimulation intervention is a potential adjuvant in reeducation for individuals with motor control alterations. Palavras-chave: rigidez, espasticidade, hipertonia, estimulação elétrica transcutânea, acidente vascular cerebral. Key-words: stiffness; spasticity, transcutaneous electrical stimulation, stroke. Introdução muscular à movimentação passiva em seres humanos pode ser caracterizada como a relação torque-ângulo. Os pacientes com espasticidade apresentam músculos com maior sitffness, interferindo no uso funcional do segmento afetado e facilitando a instalação de deformidades musculoesqueléticas. Portanto, é de interesse da reabilitação que a espasticidade seja controlada. Para tanto, várias propostas de tratamento têm sido aventadas ao longo dos anos, embora atualmente se reconheça que a espasticidade não é o único fator limitante da funcionalidade. A paresia e perda da capacidade de fracionar movimentos determinam grande parte das deficiências motoras de indivíduos com lesão de motoneurônio superior [4-6]. Um dos vários sinais de lesão do motoneurônio superior é a espasticidade. Por este termo subentende-se o aumento da resistência à mobilização passiva rápida associado a hiperreflexia [1,2]. Tal resistência, também conhecida como stiffness, pode ser medida em Newton/metros ou Libras/ pés, e ser definida como a curva da relação comprimento – tensão. Sendo assim, há uma relação curvilinear entre comprimento muscular e tensão, ou seja, o stiffness de um músculo alongado passivamente aumenta em função de seu comprimento [3]. Considerando um movimento articular, a resistência Recebido em 10 de maio de 2006; aceito em 12 de janeiro de 2007. Endereço para correspondência: Cyntia Rogean de J. Alves, Rua Aldo Focosi, 205/01, Presidente Médici 14091-310 Ribeirão Preto SP, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v8n1.indb 69 12/3/2007 10:19:17 70 Foram creditados tanto à estimulação neuromuscular (NMS), estimulação elétrica funcional (Fes) como também a estimulação elétrica transcutânea (Tens), efeitos facilitadores dos processos de recuperação da lesão de motoneurônio superior devido a condições aguda ou subagudas [7]. Tais efeitos correlacionavam-se com manutenção ou aumento do estado trófico dos músculos e com modificações no controle da postura, locomoção e movimentos finos. Um estudo recente de Lourenço et al. [8] obteve aumento na função da mão (escala Minnessota de destreza manual) e na força isométrica dos extensores do punho e dedos de hemiparéticos tratados com 2 sessões semanais de FES, por no mínimo 6 meses. Chen et al. [9] estudaram o efeito da estimulação elétrica transcutânea sobre os tendões de músculos espásticos. Participaram do estudo 24 indivíduos hemiparéticos que foram divididos em 2 grupos, um controle e outro experimental. Esse último foi submetido a 1 mês de estimulação elétrica diária, por 20 minutos, 6 dias por semana. O grupo controle utilizava o mesmo aparelho, porém com 0 de intensidade. Medidas clínicas (Escala de Ashworth Modificada - EAM e teste de 10m de caminhada) e eletrofisiológicas (medida do reflexo H, sua latência e curva de recuperação) foram obtidas antes e após 1 mês de estimulação. Os achados sugerem que o protocolo foi efetivo na redução da hipertonia, inclusive aumentando a velocidade de marcha do grupo experimental. Gritsenko e Prochazka [10] também obtiveram resultados positivos utilizando a modalidade FES para a função de membros superiores em 6 hemiplégicos. A melhora obtida foi confirmada por análise cinemática. Um efeito inibidor da espasticidade obtido com variados métodos de aplicação também é citado na literatura. Seib et al.[11] e Potisk et al. [12] descrevem a aplicação de estimulação elétrica cutânea sobre músculos espásticos de pacientes com trauma raquimedular ou lesão encefálica e relataram redução temporária da espasticidade. Burridge e McLellan [13] investigaram o efeito do estimulador de para pé caído sobre a espasticidade e concluíram que o paciente se beneficiava mais do uso de tal aparato quando os elementos neurais tinham maior interferência sobre a musculatura da panturrilha. Hipotetizaram que o resultado foi devido a inibição recíproca induzida eletricamente ao se estimular os dorsiflexores. Alfiere [14] também relatou diminuição da hipertonia muscular e melhora da coordenação da atividade agonista-antagonista, confirmados por eletromiografia (EMG) após estimulação elétrica medular. Armutlu et al. [15] utilizaram eletroestimulação para reduzir a espasticidade em 10 portadores de esclerose múltipla. O tratamento era diário e durou 4 semanas. Os resultados apontaram uma redução da hipertonia, confirmada em EMG e na escala de Ashworth, porém tal redução não modificou significativamente o desempenho dos pacientes na marcha. Wang, Chan e Tsai [16,17] utilizaram um protocolo de estimulação transcutânea aplicado ao nível de T12-L1 em 10 pacientes acometidos por acidente vascular cerebral e verifica- Fisioterapia_v8n1.indb 70 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 ram redução da espasticidade extensora do tornozelo e joelho. Os achados eletromiográficos foram altamente correlacionados à pontuação da escala de Ashworth modificada. Outros relatos da literatura não corroboram com os achados dos estudos anteriormente citados. Dimitriijevic et al. [18] relatam aumento da espasticidade decorrentes da estimulação elétrica em lesados medulares. Uma publicação de Sonde et al. [19] testou a chamada estimulação elétrica transcutânea (Tens) com o intuito de reduzir a espasticidade. No entanto, nenhuma diferença na espasticidade foi relatada. Portanto, a eletroestimulação como recurso terapêutico para a redução da espasticidade ainda permanece controverso. Caracterizada pelo aumento da chamada stiffness originária de componentes neurais e musculoesqueléticos, a espasticidade pode ser mensurada com variadas metodologias e graus de complexidade descritos na literatura [20-26]. A escala de Ashworth modificada [20] gradua a espasticidade de 0 a 5 e é amplamente utilizada, embora constitua uma medida clínica e subjetiva. Outras medidas utilizadas em laboratório também são citadas na literatura tais como o teste do pêndulo [21], testes eletrofisiológicos e testes de reflexos [20,22,23-25] e as medidas isocinéticas [26]. A relevância de tais mensurações está na necessidade de se investigar a real contribuição da espasticidade para os déficits na motricidade voluntária, bem como elaborar intervenções eficazes. Portanto, o objetivo do presente estudo foi verificar a eficácia da estimulação elétrica neuromuscular na redução da espasticidade através da medida isocinética do stiffness no membro espástico de um sujeito hemiparético. Materiais e métodos Foi selecionado para o estudo um indivíduo do sexo masculino, 39 anos, vítima de AVC há 4 anos e paciente de uma clínica-escola de fisioterapia da cidade de Ribeirão Preto/SP. Apresentava hemiparesia com espasticidade de leve a moderada (pontuação 3 na escala de Ashworth) e estava bastante adaptado em suas atividades de vida diária. Porém, uma de suas queixas referia-se a “rigidez” (espasticidade extensora) predominante em membro inferior esquerdo ao realizar a marcha. O paciente foi submetido a duas avaliações subseqüentes com a escala de Ashworth e em um dinamômetro isocinético computadorizado (Cybex Norm) para mensuração da stiffness nos membros inferiores. O membro não-afetado (MID) foi utilizado como controle. Algumas medidas antropométricas (peso = 96 Kg, comprimento de côndilo femoral lateral até maléolo lateral E = 46cm, D = 46,2 cm) também foram feitas para auxiliar no cálculo dos torques. Para o tratamento foi utilizada uma corrente com freqüência carreadora de 2500 Hz, freqüência de estimulação de 20 Hz e intensidade ajustada para produzir uma estimulação sensorial [16]. O equipamento utilizado para a estimulação elétrica foi um aparelho Endophasys R. 12/3/2007 10:19:17 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 A avaliação inicial, constou da coleta dos dados antropométricos, a aplicação da escala de Ashworth e o teste no dinamômetro isocinético. A resistência ao movimento passivo (modo CPM) de flexão/extensão do joelho foi determinada nas velocidades angulares com incrementos de 1, 10, 30 e 90 º/s. Foram realizadas apenas 3 repetições em cada velocidade de teste, uma vez que um número maior delas poderia induzir a um relaxamento da musculatura espástica [27]. Os torques flexores e extensores (Ftls) registrados nos joelhos em cada velocidade angular foram calculados. A seguir, o paciente recebeu a estimulação elétrica, de acordo com os parâmetros adaptados do estudo de Wang, Tsai e Chan [16], sobre a região paravertebral, no nível de T12 e L1 bilateralmente. A localização dos eletrodos justifica-se pela distribuição das raízes relacionadas à musculatura espástica. Foram utilizados dois eletrodos de superfície separados 5 cm, por um período de 45 minutos. Em seguida, o paciente foi reavaliado, utilizando a escala de Ashworth e o dinamômetro isocinético. A pontuação da escala de Ashworth e os torques registrados, medida indireta do stiffness nas variações angulares em cada velocidade foram comparados entre os membros e nas condições pré e pós- intervenção. Resultados A pontuação da escala de Ashworth antes e após a estimulação elétrica não sofreu variações [3], sugerindo manutenção da hipertonia no segmento afetado. Os resultados das variações angulares dos joelhos na velocidade de 30o e 90o são exemplificados na Figura 1, considerando o torque flexor e o extensor antes e após a aplicação da corrente. Figura I - Gráfico dos Torques (Ft/lbs) extensor e flexor do membro inferior esquerdo (afetado) e membro inferior direito (sadio) em função do ângulo articular do joelho, nas condições sem corrente (linha pontilhada) e com corrente (linha contínua), obtidos nas velocidades 30 e 90o. /s. 71 A aplicação do teste T pareado comparou os valores do teste isocinético, considerando as diferenças entre os membros inferiores direito/ esquerdo e entre as situações pré e pós-intervenção. Nota-se que em todas as situações de teste (pré e pósestimulação elétrica), os torques do membro hipertônico (esquerdo), e portanto o ‘stiffness’, superam aqueles obtidos no membro sadio. A Tabela I contém os valores da média e desvio–padrão dos torques aferidos antes da intervenção (estimulação elétrica). Observa-se que os torques atingem valores maiores no membro inferior afetado (E), sendo tal diferença estatisticamente significativa (p < 0,005). Este dado apenas confirma, mesmo que de forma indireta, que o sttifness do membro hipertônico é maior que do membro sadio. Tabela I - Torques do membro inferior afetado (E) e sadio (D) antes da estimulação elétrica. Membro afetado (E) Torque extensor Torque Velocidades Média Desvio Média padrão 1o. -8.11 0.22 6.48 10º. -7.78 0.01 6.86 30º. -7.49 0.01 6.34 90º. -7.33 0,08 6.00 Membro sadio (D) 1o. -6.27 0.65 2.85 10º. -4.62 0.22 3.01 30º. -0.44 0.87 2.49 90º. -0.44 0.19 3.61 flexor Desvio padrão 0.02 0.01 0.01 0.03 1.17 0.39 0.19 0.62 Nos torques obtidos após a estimulação elétrica (Tabela II), observou-se decréscimo nos valores do membro afetado, sendo este estatisticamente diferente daqueles obtidos na situação prévia à intervenção (p < 0,005). Vale ressaltar que a redução dos torques também ocorreu no membro inferior sadio, embora com menor intensidade. Nota-se de modo geral que o torque e, portanto o stiffness é maior no membro hipertônico comparando com o membro sadio. Além disto, é nítido que a corrente exerceu um efeito positivo no sentido de reduzir o stiffness todas as velocidades. O efeito maior desta redução pode ser visto na velocidade de 90º/s, torque flexor. Tabela II - Torques do membro inferior afetado (E) e sadio (D) após a estimulação elétrica. Membro afetado (E) Torque extensor Velocidades Média Desvio padrão 1o. -6.64 0.11 10º. -6.34 0.038 30º. -6.14 0.083 90º. -6.08 0.043 Membro sadio 1o. -4.44 10º. -1.52 0.24 30º. -1.22 0.59 90º. -3.92 0.23 Fisioterapia_v8n1.indb 71 Torque flexor Média Desvio padrão 4.86 0.03 5.26 0.02 4.74 0.06 4.41 0.05 1.23 0.42 0.29 2.13 0.07 0.21 0.02 0.46 12/3/2007 10:19:18 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 72 Outro dado obtido refere-se às velocidades testadas e sua correlação com os torques gerados (Tabela III). Quanto ao torque extensor, houve uma alta correlação entre este e a velocidade do membro afetado (MIE) pré-estimulação, ocorrendo um aumento diretamente proporcional. Merece destaque o fato desta correlação não ser detectada na avaliação pós-intervenção, dado sugestivo da mudança na resistência oferecida pela musculatura extensora do joelho antes da eletroestimulação. Já o torque flexor no membro inferior esquerdo manteve uma alta correlação com a velocidade tanto na situação pré quanto na pós-intervenção. Como hipotetizado anteriormente, este resultado sugere que não houve alteração considerável no stiffness flexor, uma vez que esta musculatura não apresentava considerável hipertonia. Tal correlação é negativa, pois o torque flexor é gerado pelos antagonistas aos músculos espásticos. Tabela III - Valores de r (correlação) para os torques extensor e flexor, pré e pós eletroestimulação dos membros inferiores sadio (MID) e afetado (MIE). Torques extensor flexor r Pré-estimulação MID MIE 0.25 0.76 0.40 -0.85 r Pós-estimulação MID MIE -0.004 -0.11 0.72 -0.83 Discussão Este estudo de caso reproduziu os achados da literatura acerca das alterações previstas na avaliação isocinética de um segmento espástico. Além disso, notou-se que a estimulação elétrica na região tóraco-lombar foi efetiva na redução temporária da espasticidade e, portanto do stiffness nos músculos da coxa. Vale ressaltar que tal redução foi detectada mesmo se tratando de apenas uma sessão de eletroestimulação. Hipotetiza-se que um efeito ampliado poderia ocorrer caso o protocolo de eletroestimulação fosse extenso. O protocolo de Wang, Tsai e Chan [17], no qual nosso estudo se baseou, alcançou redução da hipertonia em 9 dos 10 sujeitos estudados utilizando 5 sessões. O fato de não ter existido mudança nos resultados da escala de Ashworth não significa que a hipertonia não tenha reduzido, mas que uma medida clínica e subjetiva pode não detectar alterações mais sutis [28]. Soma-se a isto a condição de paresia do paciente avaliado, fato este que nos possibilita cogitar a interferência da contração voluntária e dificuldades em relaxar no momento de avaliação clínica. Devido ao caráter do estudo, é relevante considerar uma melhor movimentação ativa do joelho relatada pelo paciente logo após a eletroestimulação, embora este seja um dado subjetivo. Já o resultado obtido no dinamômetro isocinético constitui uma medida mais objetiva dos efeitos do protocolo aplicado. O uso da estimulação elétrica na redução da espasticidade ainda é um assunto controverso, pois não se conhece o mecanismo preciso de sua ação. Os efeitos são difíceis de Fisioterapia_v8n1.indb 72 determinar e os parâmetros de estimulação variam consideravelmente de um estudo para outro. Num estudo recente, van der Salm et al. [29] testaram intervenções envolvendo eletroestimulação do dermátomo do tríceps sural, do agonista e antagonista ao músculo espástico e a situação placebo. Os resultados sugerem que a estimulação do antagonista ao espástico foi mais eficaz para reduzir a hipertonia. Porém, já na década de 80, alguns autores relataram diminuição do que eles denominam de “tônus” em pacientes hemiparéticos e atualmente o tema tem sido objeto de estudo novamente. Wang, Tsai e Chan [17] exploraram os efeitos da estimulação de média freqüência, com eletrodos de superfície sobre a região tóracolombar de hemiparéticos espásticos. Estes autores encontraram uma redução considerável do torque isocinético passivo (modo CPM) após cinco sessões de tratamento, além de observarem uma correlação positiva entre estes torques e os resultados da escala de Ashworth. No entanto, o torque do movimento ativo permaneceu inalterado. Para entender este achado, poderiam ser considerados os dados de Tate e Damiano [30] que ressaltam as diferenças encontradas nos torques isotônicos e isométricos de portadores de espasticidade, alertando que nesta população as relações torque-atividade eletromiográfica não são lineares. No presente estudo de caso, no entanto, os torques isotônicos não foram mensurados, não permitindo então qualquer confronto com a literatura. O presente estudo, utilizando metodologia similar à de Wang, Tsai e Chan [17], buscou inserir outras variáveis: 1) velocidades de teste isocinético menores (1 e 10º/s) também foram utilizadas; 2) o membro inferior sadio também foi estudado; 3) tanto o torque flexor quanto o extensor foram medidos e,4) foram considerados os efeitos imediatos da corrente. O uso de velocidades de teste menores foi útil para confirmar sua incapacidade de detectar a hipertonia. Incluir o membro sadio na avaliação parece ser uma alternativa interessante para comparação. Os resultados dos torques isocinéticos se aproximam aos achados de Wang, Tsai e Chan [17], embora os valores da escala de Ashworth não mostraram alteração. Conclusão Sugestões para futuros trabalhos nesta vertente incluem a replicação do estudo com uma amostra considerável, a inclusão de medidas funcionais, sejam para a marcha ou alcance/preensão, medidas estas não aplicadas neste estudo de caso por se tratar de um paciente já adaptado. Efeitos a longo prazo do protocolo proposto ainda permanecem inexplorados e também constituem uma lacuna a ser preenchida. De modo diferente de outras intervenções, como a eletroestimulação percutânea, o bloqueio nervoso ou o uso de drogas anti-espásticas, não existem relatos de que o procedimento utilizado no presente estudo tenha gerado efeitos deletérios. Apesar de suas potencialidades, tal recurso tem sido pouco utilizado na prática clínica. 12/3/2007 10:19:19 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2007 Referências 1. Brust JC. A prática da neurociência. Rio de Janeiro: Reichmann & Afonso; 2000. 43p. 2. Lundy-Ekman L. Neurociência: Fundamentos para a Reabilitação. 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Electromyogr Clin Neurophysiol 2002;42(6):347-57. 12/3/2007 10:19:19 Fisioterapia Brasil (vol.8, nº2 março/abril 2007 - 81~152) EDITORIAL Sob a tutela do Grande Irmão, Marco Antonio Guimarães da Silva ............................................................................................. 83 ARTIGOS ORIGINAIS Análise eletromiográfica da influência do recrutamento muscular do fibular longo no arco longitudinal comparando o biofeedback e a eletroestimulação neuromuscular, Santiago Cattin Munho, Fabio Navarro Cyrillo, Camila Torriani ................................................................................................. 84 Efeitos do laser de baixa intensidade HeNe sobre a atividade eletrográfica do músculo gastrocnêmio de ratos Wistar submetidos à lesão do nervo ciático, Alexandre Ademar Hoeller, Edison Sanfelice André ....................................................................................................................... 89 Análise da excreção urinária de hidroxiprolina e do nível de dor em sujeitos com lombalgia após alongamento na hidrocinesioterapia, Michelle Guiot Mesquita, Lenita Caetano, Carlos Soares Pernambuco, Elirez B. Silva, Estélio Henrique Martin Dantas ....................................................... 99 Compressão manual torácica em pacientes com insuficiência respiratória aguda, Bruna de Souza Sixel, Daniela Aires Lemes, Karina Alvitos Pereira, Fernando Silva Guimarães ................................................... 103 Impacto da fadiga nas atividades de vida diária de paciente portador de esclerose múltipla, Belmira da Silva Cunha, Simone da Silva Soares, Nilce Helena do Nascimento ........................................................................... 107 Protocolo de reabilitação em pacientes no pós-operatório de luxação traumática anterior do ombro, Andréia Basta, Heloisa Anhaia de A. Botelho, Marcus Vinicius Grecco, Rodrigo J. Dini .................................................................................................................................... 112 Efeitos da terapia combinada comparados aos da corrente interferencial e ao ultra-som no tratamento da cervicalgia crônica, Cinthia Paris Rodrigues, Ligia Maria Facci .................................................................................................................................. 120 Alterações posturais induzidas por colchões de diferentes densidades, Angelo Piva Biagini, Mário Antônio Baraúna, Roberto Sergio Tavares Canto, Hugo Machado Sanchez, Graciana Lucia Grespan, Arley Andrade Teymeny ............................................................................... 126 Estudo comparativo da atividade antiinflamatória da laserterapia e do meloxicam, Paulo César Tostes Campos Júnior, Marcus Vinícius de Mello Pinto, José Maria, Rúbia Mara Gomes da Silva, Karla de Lima Garonci, Thiago Coelho .......................................................................................... 132 RELATOS DE CASO O direito dos pacientes em consentir participar de pesquisas fisioterapêuticas, Altair Argentino Pereira Júnior, Walter Celso de Lima ................................................................................................................. 136 Um ano de evolução da escoliose com RPG, Cristina Elena Prado Teles Fregonesi, Claudia de Marco Valsechi, Maria Rita Masselli, Claudia Regina Sgobbi de Faria, Dalva Minonroze Albuquerque Ferreira....................................................................................................................................... 140 Tratamento fisioterapêutico de um paciente com lesão obstétrica de plexo braquial, Letícia Amaro da Silveira Dornelles ............................................................................................................................................. 143 NORMAS DE PUBLICAÇÃO .........................................................................................................................................148 EVENTOS.........................................................................................................................................................................150 Fisioterapia_v8n2.indb 81 24/4/2007 15:07:57 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 82 Fisioterapia Brasil www.fisioterapiabrasil.com.br Editor científico Prof. Dr. Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ – Rio de Janeiro) Conselho científico Profa. Dra. Anamaria Siriani de Oliveira (USP – Ribeirão Preto) Prof. Dr. Dirceu Costa (Unimep – São Paulo) Profa. Dra. Elaine Guirro (Unimep – São Paulo) Prof. Dr. Esperidião Elias Aquim (Univ. Tuiuti – Paraná) Profa. Dra. Fátima Aparecida Caromano (USP – São Paulo) Prof. Dr. Guillermo Scaglione (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina) Prof. Dr. Hugo Izarn (Univ. Nacional Gral de San Martin – Argentina) Prof. Dr. Jones Eduardo Agne (Univ. Federal de Santa Maria – Rio Grande do Sul) Prof. Dr. José Rubens Rebelatto (UFSCAR – São Paulo) Prof. Dr. Marcus Vinícius de Mello Pinto (Centro Universitário de Caratinga – MG) Profa. Dra. Margareta Nordin (Univ. de New-York – NYU – Estados Unidos) Prof. Dr. Mario Antônio Baraúna (Univ. do Triângulo Mineiro – UNIT – Minas Gerais) Profa. Dra. Neide Gomes Lucena (Univ. Fed. da Paraíba – UFPB – João Pessoa) Profº Dr. Nivaldo Antonio Parizotto (UFSCAR – São Paulo) Prof. Dr. Norberto Peña (Univ. Federal da Bahia – UFBA – Bahia) Prof. Dr. Roberto Sotto (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina) Profa Dra Tania de Fátima Salvini (UFSCAR – São Paulo) Dr. Antonio Neme Khoury (HGI – Rio de Janeiro) Dra. Claudia Bahia (FAFIS/IAENE – Salvador) Dr. Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Dr. Hélio Pio (Rio de Janeiro) Prof. Dr. João Santos Pereira (UERJ – Rio de Janeiro) Dra. Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina) Grupo de assessores Dr. Jorge Tamaki (PUC – Paraná) Dra. Marisa Moraes Regenga (São Paulo) Dra. Luci Fabiane Scheffer Moraes (Univ. do Sul de Santa Catarina) Dr. Paulo Henrique Eufrásio de Oliveira (UNIRB – Bahia) Prof. Dr. Paulo Heraldo Costa do Valle (UNICID – São Paulo) Dr. Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard) Revista Indexada na LILACS - Literatura Latinoamericana e do Caribe em Ciências da Saúde Rio de Janeiro Rua da Lapa, 180/1103 20021-180 – Rio de Janeiro – RJ Tel./Fax: (21) 2221-4164 / 2517-2749 E-mail: [email protected] www.atlanticaeditora.com.br São Paulo Publicidade e marketing René Caldeira Delpy Jr. [email protected] Direção de arte Cristiana Ribas [email protected] Rua Teodoro Sampaio, 2550/cj15 05406-200 – São Paulo – SP Tel: (11) 3816-6192 Recife Monica Pedrosa Miranda Rua Dona Rita de Souza, 212 52061-480 – Recife – PE Tel.: (81) 3444-2083 / 9204-0346 E-mail: [email protected] Assinaturas 1 ano: R$ 180,00 Rio de Janeiro: (21) 2221-4164 São Paulo: (11) 3361-5595 Email: [email protected] Recife: (81) 3444-2083 Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin [email protected] Editor Guillermina Arias [email protected] Gerência de vendas de assinaturas Djalma Peçanha [email protected] Atendimento ao assinante Vanessa Busson [email protected] Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço por correio ou por e-mail aos cuidados de Jean-Louis Peytavin Rua da Lapa, 180/1103 20021-180 – Rio de Janeiro – RJ [email protected] www.atlanticaeditora.com.br Ilustração da capa: Músculos profundos do pescoço: escalenos e músculos pré-vertebrais, ilustração de G. Devy, Traité d’anatomie humaine de Leon Testut, Paris, 1904. I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. © ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. Fisioterapia_v8n2.indb 82 24/4/2007 15:08:02 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 83 Editorial Sob a tutela do Grande Irmão Marco Antonio Guimarães da Silva,Med.Dr.Sci. [email protected] No momento inicial do curso de Recuperação funcional baseada em evidências, que ainda ministro em cursos de pósgraduação, tenho o hábito de fazer uma aparente digressão: remeto-me ao passado e lembro do filme o “Mágico de Oz”, para falar sobre a importância da pergunta na pesquisa. Esclareço: no filme, ao dar-se conta de que deveria encontrar a cidade encantada, a pequena Dorothy pergunta a Glenda (bruxinha boa) por onde deveria começar para encontrar a tal cidade. A resposta de Glenda: todo bom começo é sempre uma boa pergunta. Analogia à parte, a idéia é mostrar que uma boa pesquisa tem que ser sempre precedida de uma boa pergunta. Um exemplo que dou no curso já é um clássico: será que existe relação entre um programa X de televisão e o aumento do grau de violência em crianças? Ato contínuo, antes de, no curso, trabalhar esse exemplo (para descontração), lanço uma outra pergunta: Será que o programa “Grande Irmão”, que a rede Globo insiste em denominar de “Big Brother”, contribui para aumentar o grau de idiotização e alienação de uma população? No contexto da aula, uso os exemplos a fim de, didaticamente, ilustrar a importância que uma boa pergunta representa para a uma boa pesquisa. Aproveitando o fato de que, nos últimos dias, passei diante do Hospital Egas Moniz, em Lisboa, - cujo nome me remete à lobotomia e, derivativamente, para alienação imposta - estabeleço o elo que precisava para dar o rumo, sem perder o prumo, para este editorial. Tento, portanto, refletir, e espero também induzir desde logo o leitor à reflexão, sobre o porquê de os resultados do IBOPE para o “Grande Irmão” conseguirem alcançar tão incríveis níveis de audiência. Satisfazer à curiosidade descobrindo o que faz o vizinho ao lado sempre foi um divertido passatempo de pessoas que viviam em comunidades menores. O habitar em um grande centro, em edifícios de apartamentos que impõem um certo isolamento, terminaria por se constituir em uma barreira natural que acabaria por matar o hábito da curiosidade sobre alheia. Mas parece que as idéias sobre as nossas privacidades andaram mudando e muito. Afinal, de onde surgiu a idéia de alimentar toda uma população, ou parte dela, com a matéria prima bisbilhotice? Em 1991, o projeto Biosfera II, precursor dos reality show, retratava a experiência de um grupo de cientistas, com transmissão pela TV, que se isolaram em uma casa sobrevivendo apenas ao que lá existia. O surgimento da internet e das webcams otimizou a transmissão e permitiu que, em qualquer parte do mundo, o internauta tivesse acesso, com permissão consentida, às imagens transmitidas desde a intimidade da casa do transmissor. A experiência pioneira com a webcam deve ser creditada Jennifer Ringley. O cinema também oferece a sua contribuição para o tema em questão e o filme O show de Truman faz na telona uma releitura de George Orwell. De Volta ao “Grande Irmão” da aldeia global, e desde já pedindo desculpas pelas heresias sociológicas que venha a cometer, tomo a ousadia de usar Weber para citar dois aspectos relacionados a esse flagelo que vem tomando o nosso cotidiano, já tão sobrecarregado de desgraças, e que devem ser considerados para as futuras reflexões. O primeiro desses aspectos refere-se ao poder, entendendo-se aqui o poder como as oportunidades que a aldeia global utiliza para impor sua vontade sobre a vontade dos globalizados, servindo-se “magnificamente” do fascínio que a mídia exerce sobre os “lobotomizados”. O público alvo, aqui caracterizado como pacientes metafóricos da técnica de Egas Moniz, aguarda ansiosa e diariamente o desenrolar de mais um capítulo muito bem editado mas que igualmente prima pelo grotesco O outro aspecto seria a troca entre a aldeia global e o globalizado, que aponta para todo um complexo sistema de forma de pagamento: você me oferece a oportunidade de compartilhar de uma medíocre rotina do dia-a-dia de um grupo de pessoas travestidas de pseudo-atores e, em contrapartida, eu assisto às mediocridades ali transmitidas e, sobretudo, dou a minha contribuição financeira, telefonando para o programa e enchendo as burras do cofre da fonte transmissora. Estamos a ocupar um lugar de destaque como país cujos habitantes quando lêem não sabem interpretar e sequer entender o que leram. Sei que, de alguma forma, poderíamos direcionar a qualidade técnica e operacional de nossos veículos televisivos, que são concessões públicas, para, senão resolver, ao menos minimizar tal problema descrito. Sei também que a solução está muito longe dos programas de reality show. Cá ao meu modo, tenho oferecido a minha contribuição, omitindo propositalmente as indicações das citações que ocasionalmente utilizo em meus editoriais e, principalmente, escrevendo, para esta revista, textos que fogem à regra do esperado como editorial de uma revista de fisioterapia. Desse modo, obrigo as meninas e os gajos (influência lusitana também proposital) a pesquisarem sobre os autores e a verem as coisas com um olhar um pouco diferente daquele que fomos acostumados na área da fisioterapia. Assim, espero, como dizia Foucault, que o olho não permaneça nas coisas e se eleve até as visibilidades. Que tal mudarmos a proposta da sociedade do futuro, preconizada no livro “1984”, tão atual em 2007, para uma sociedade que possa fazer aquilo que pensa e que foi fruto da sua reflexão, e não daquilo que nos é imposto, quase sempre como o resultado de um reflexo condicionado? *Professor Associado da UFRRJ e de curso de Doutorado recomendado no exterior e Editor cientifico da Revista Fisioterapia Brasil Fisioterapia_v8n2.indb 83 24/4/2007 15:08:02 84 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 Artigo original Análise eletromiográfica da influência do recrutamento muscular do fibular longo no arco longitudinal comparando o biofeedback e a eletroestimulação neuromuscular Electromyographic analysis of influence of the muscular recruitment of the long fibular in the longitudinal arch comparing the biofeedback and the electrical neuromuscular stimulation Santiago Cattin Munho, Ft.* Fabio Navarro Cyrillo**, Camila Torriani** *Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas - UniFMU **Professor da UniFMU Resumo Abstract Objetivo: Este trabalho teve como objetivo verificar a influência do músculo fibular longo no arco longitudinal, e identificar qual dos dois recursos é mais eficaz para o recrutamento muscular: o biofeedback ou a eletroestimulação neuromuscular. Métodos: Seis indivíduos foram selecionados e submetidos a uma avaliação dos arcos plantares no plantígrafo. Para a avaliação da atividade muscular do fibular longo foi utilizada a eletromiografia de superfície. Além destas avaliações, foi realizada a medida da distância do primeiro metatarso e do arco plantar até o solo. De forma randomizada, os indivíduos foram divididos em dois grupos: um grupo fez o recrutamento através do biofeedback eletromiográfico e o outro realizou a eletroestimulação neuromuscular. Após 10 sessões, foi realizada uma reavaliação no plantígrafo, no eletromiógrafo e das distâncias do primeiro metatarso e do arco plantar até o solo. Resultados: apesar de os dados não terem significância estatística, os resultados sugerem que o biofeedback é mais efetivo no recrutamento do fibular longo que a EENM e que este músculo influencia no aumento do arco plantar. Conclusão: os resultados observados sugerem que para a amostra estudada, o músculo fibular longo tem ação na elevação do arco plantar e que o tratamento com biofeedback eletromiográfico terapêutico foi mais efetivo comparado com a EENM. Objective: The objective of this work is to verify the influence of the long fibular muscle in the longitudinal arch and to identify which method, either neuromuscular electrical stimulation (NMES) or biofeedback therapy, is more effective for the muscle recruitment. Methods: Six subjects were selected and submitted to a plantar arch assessment in the “plantigraphyc”. To evaluate long fibular muscle activity, it was used the surface electromyography. The distance of the first metatarsal and the plantar arch until the ground was also evaluated. The individuals were divided into two randomized groups: one made the recruitment with electromyography biofeedback and the other with NMES. At the end of 10 sessions, it was performed another evaluation in the “plantigraphyc”, with the electromyography and the distances of first metatarsal and the plantar arch until the ground were taken. Results: Despite the samples did not have statistical importance, the results suggest that the biofeedback is more effective in the recruitment of long fibular muscle than neuromuscular electric stimulation and also that muscle has influence in the plantar arc increase. Conclusion: The results suggest that, for the samples studied, the long fibular muscle elevates the plantar arch and the treatment with electromyography biofeedback is more effective recruiting this muscle than the neuromuscular electric stimulation. Palavras-chave: eletromiografia, arco plantar, tratamento, postura. Key-words: electromyography, plantar arch, treatment, posture. Recebido em 16 de agosto de 2005; aceito em 12 de fevereiro de 2007. Endereço para correspondência: Santiago Cattin Munhos, Rua Benjamin de Oliveira, 450/36 Brás, 03006-020 São Paulo SP, Tel: (11) 3326-2744, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v8n2.indb 84 24/4/2007 15:08:02 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 Introdução O pé é uma estrutura consideravelmente pequena, quando comparada com o quadril, porém, bem mais complexa. Composto por 26 ossos e inúmeros ligamentos dispostos no compartimento medial, lateral, anterior e posterior, destacam-se o talo fibular e o deltóide, que ligam o pé à fíbula e a tíbia e limitam os movimentos de inversão e eversão, respectivamente [1,2]. As articulações do pé envolvem os ossos tarsais, metatarsais e as falanges. As articulações intertársicas mais importantes são a articulação transversa do tarso (articulações calcaneocubóidea e taloclacaneonavicular) e a articulação talocalcânea (subtalar). Além disto, 12 músculos intrínsecos e outros 11 agem sobre o pé [3,4]. O plano de movimento do tornozelo é sagital, possibilitando os movimentos simples de flexão plantar e flexão dorsal [5,2]. A articulação que permite os movimentos de eversão e inversão é a calcâneotalar, com medida passiva entre 4 e 5 graus, em indivíduos jovens para a eversão, sendo que o excesso desse movimento pode deixar o pé valgo [1,3,4]. Os arcos plantares são formados pelos ossos do tarso e metatarsos, no qual 2 deles, os arcos longitudinal medial e lateral, estendem-se desde o calcâneo até os metatarsos e os ossos do tarso. O arco transverso é formado pelas bases dos metatarsos. O pé plano ou pé valgo é caracterizado pelo desabamento do arco plantar [6,5]. Esse desabamento pode ocasionar alterações importantes, pois a descarga de peso no pé se altera e muda os eixos das articulações, ocasionando desequilíbrios articulares e musculares em todo o membro inferior, o que pode gerar compensações no joelho e posteriormente no quadril [7]. O biofeedback pode ser definido como uma retroalimentação de informações. O Biofeedback eletromiográfico utiliza um equipamento para revelar ou informar ao usuário, de forma visual e/ou auditiva os eventos fisiológicos que ocorrem, durante a contração muscular, possibilitando o controle e modificação destes eventos [8,9] A atividade muscular, dados goniométricos, eletrocardiograma, temperatura dérmica, freqüência cardíaca são exemplos de eventos fisiológicos que podem ser monitorados e usados terapeuticamente [10]. O biofeedback pode ser usado para o paciente estimular e recrutar um maior número de fibras de um músculo, ou para relaxar um músculo hiperativo [10-12]. O biofeedback é mais comumente usado para o tratamento de incontinência urinaria, porém, não há muitos trabalhos com o uso do recurso no tratamento de problemas posturais como escoliose, pé plano ou cavo [11]. O objetivo deste trabalho foi verificar se o músculo fibular longo apresenta influência no arco longitudinal do pé, identificando qual recurso entre o biofeedback eletromiográfico e a corrente elétrica possibilitam melhor recrutamento do músculo. A literatura descreve que o desabamento do pé pode trazer conseqüências agravantes para todo o membro inferior, e Fisioterapia_v8n2.indb 85 85 por este motivo é de suma importância saber quais músculos podem ser recrutados para conter o desabamento deste arco e aumentar sua curvatura. Alguns laboratórios de marcha utilizam o fibular longo para trabalho com arcos desabados. Materiais e métodos Este trabalho foi realizado no laboratório de biofeedback da clínica de fisioterapia do FMU. Seis indivíduos foram selecionados segundo os critérios de exclusão (não poderiam apresentar história de fratura no pé e nem apresentar frouxidão ligamentar). Os sujeitos foram submetidos a uma avaliação postural em simetógrafo e avaliação dos arcos plantares no plantígrafo. Para avaliação da atividade muscular do fibular longo, foi utilizada a eletromiografia de superfície com o aparelho da marca Miotec® modelo Miotool 400 de 4 canais. Foi feita assepsia da região e colocação do eletrodo, segundo Seniam, que era circular, pré-geldado, de Ag/ClAg da marca Meditrac®. Além desta avaliação, foi realizada a medida da distância do primeiro metatarso e do arco plantar até o solo. Os indivíduos foram divididos, aleatoriamente, em dois grupos: um fez o recrutamento por meio de biofeedback eletromiográfico, com séries de dez repetições, dez segundos de contração e dez segundos de repouso; e o outro grupo realizou a eletroestimulação neuromuscular com o aparelho da marca Quark, com freqüência de 80Hz, em um período de sustentação de dez segundos e repouso de dez segundos, em uma serie de dez repetições. Os dois grupos realizaram o recrutamento por cinco semanas, duas vezes por semana, com os mesmo parâmetros, totalizando um total de dez sessões cada. Ao término das dez sessões foi realizada uma reavaliação nos mesmos parâmetros anteriores. Resultados Foi utilizada uma técnica não paramétrica de medidas repetidas para dados ordinais. Esta abordagem permite que sejam realizadas as duas comparações citadas anteriormente. Foram verificadas também a existência de interação nos resultados, ou seja, comportamentos diferenciados em função de uma outra variável. Desta forma, a interação pode indicar que os grupos apresentam comportamentos diferenciados de acordo com o momento observado, e pode também indicar que há diferenças entre os tempos para determinado(s) grupo(s), porém para outro(s) não há. Para todas as comparações, foram consideradas haver diferenças quando o resultado do teste apresentou nível descritivo abaixo de 0,05 (p-valor < 0,05), ou seja, o nível de significância adotado foi de 5%. Por se tratar de variáveis quantitativas, nas descritivas foram utilizadas médias e medianas, para resumir as informações, e desvios-padrão, mínimo e máximo para indicar a variabilidade dos dados. 24/4/2007 15:08:03 86 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 Tabela I - Descritivas para as médias dos grupos. Tabela III - Descritivas para os valores máximos nos Grupos (segundo modo). Média inicial Média final Média Mediana Desvio Padrão Mínimo Máximo Média Mediana Desvio Padrão Mínimo Máximo Grupo Biofeedback 44,3 40,9 22,7 23,4 68,5 58,5 59,0 1,1 57,2 59,3 EENM 49,8 49,4 1,1 49,0 51,1 50,0 51,7 3,3 46,2 52,0 Grupo Biofeedback EENM Média Mediana Valor máximo Desvio Padrão inicial Mínimo Máximo Média Mediana Valor máximo final Desvio Padrão Mínimo Máximo 158,2 141,0 109,2 58,6 275,0 173,0 222,0 130,2 25,5 271,6 195,3 187,0 62,9 137,0 262,0 192,7 198,0 74,1 116,0 264,0 Efeito de interação: p-valor = 0,337 Efeito de interação: p-valor =1,000 Diferenças entre os momentos (início e reavaliação): p-valor = 0,150 Diferenças entre os momentos (início e reavaliação): p-valor = 0,655 Diferenças entre os grupos: p-valor = 0,273 Diferenças entre os grupos: p-valor = 1,000 Por meio dos resultados acima foi possível notar que não houve diferenças entre os momentos (p > 0,05), nem entre os grupos (p > 0,05), porém há fortes evidências de que as diferenças não tenham sido encontradas devido ao baixo tamanho de amostra. Observando as estatísticas descritivas, observou-se que para o grupo que utilizou o Biofeedback os valores substancialmente aumentaram mais quando comparados com a estimulação neuromuscular. Pelas descritivas, notou-se que para o grupo que utilizou o Biofeedback, em geral, os valores máximos foram maiores do que o grupo EENM em qualquer um dos momentos. Há indicações também que para o grupo Biofeedback, em média, os valores máximos foram maiores na reavaliação do que no início. Tabela II - Descritivas para os valores máximos nos Grupos (primeiro modo). Valor máximo inicial Valor máximo final Média Mediana Desvio Padrão Mínimo Máximo Média Mediana Desvio Padrão Mínimo Máximo Grupo Biofeedback 158,2 141,0 109,2 58,6 275,0 156,2 221,0 113,2 25,5 222,0 EENM 195,3 187,0 62,9 137,0 262,0 192,7 198,0 74,1 116,0 264,0 Efeito de interação: p-valor = 0,784 Diferenças entre os momentos (início e reavaliação): p-valor = 1,000 Diferenças entre os grupos: p-valor = 0,836 Observando as estatísticas descritivas, foi possível observar que o grupo que utilizou o Biofeedback apresentou valores máximos maiores do que o grupo EENM em qualquer um dos momentos. Fisioterapia_v8n2.indb 86 Tabela IV - Descritivas para os desvios padrões dos grupos. Desvio Padrão - inicial Desvio Padrão - final Média Mediana Desvio Padrão Mínimo Máximo Média Mediana Desvio Padrão Mínimo Máximo Grupo Biofeedback 33,8 37,5 21,0 11,1 52,7 57,9 58,0 8,1 49,8 66,0 EENM 48,4 49,1 1,2 47,1 49,1 46,5 52,0 17,6 26,9 60,7 Efeito de interação: p-valor = 0,451 Diferenças entre os momentos (início e reavaliação): p-valor = 0,097 Diferenças entre os grupos: p-valor = 0,542 Para a comparação das diferenças das medidas arco solo, também devido ao baixo tamanho de amostra, foi utilizado o teste não paramétrico de Mann-Whitney. Não foi possível observar diferenças significativas (p > 0,05), porém verificou-se fortes evidências de que o grupo com Biofeedback apresentou maior aumento do início para o final do estudo, e além disto os valores encontrados para o grupo que usou EENM, as diferenças foram bastante baixas. 24/4/2007 15:08:03 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 Tabela V - Médias de início e reavaliação encontradas entre os grupos. Média inicial Média Mediana Desvio Padrão Mínimo Máximo Grupo Biofeedback 14,23 16,30 22,77 -9,50 35,90 EENM 0,13 2,30 4,37 -4,90 3,00 p-valor = 0,513 Tabela VI - Da distância da cabeça do 1º metatarso e do arco até o solo. Grupo Biofeedback Antes Indivíduo 1 Indivíduo 2 Indivíduo 3 Média 0,4cm 0,4cm 0,3cm 0,36cm Depois 1,6cm 1,3cm 1,8cm 1,56cm 0,6cm 0,5cm 0,4cm 0,5cm 1,8cm 1,4cm 2,0cm 1,73cm Tabela VII - Da distância da cabeça do 1º metatarso e do arco até o solo. Grupo EENM Antes Indivíduo 1 Indivíduo 2 Indivíduo 3 Média 0,3cm 0,7cm 0,4cm 0,46cm Depois 1,3cm 2,0cm 1,6cm 1,66cm 0,4cm 0,6cm 0,4cm 0,46cm 1,3cm 2,0cm 1,7cm 1,7cm Discussão A partir dos resultados observados, o estudo sugere que o músculo fibular longo parece auxiliar no aumento do arco longitudinal, mesmo sabendo que ele não é o principal músculo responsável por esta atividade [13]. Kapandji [13] descreve que existem quatro músculos responsáveis pelo aumento do arco plantar, o tibial posterior que é o principal auxiliado pelo fibular longo, flexor do hálux e adutor do hálux e que estes músculos são os responsáveis pela sustentação prolongada do arco plantar. Já Bienfait [14] segue uma linha de raciocínio contraria, dizendo que o arco plantar é sustentado pela aponeurose plantar e seus ligamentos e que os músculos apenas amortecem as pressões impostas ao arco. Ambos concordam que o músculo tibial posterior é um músculo que age diretamente na elevação do arco plantar, contudo Bienfait acredita que somente os músculos quadrado plantar, flexor curto dos dedos e flexor curto do hálux auxiliam o tibial posterior. Seguindo Kapandji, este trabalho mostrou que mesmo o fibular longo, não sendo o principal músculo a elevar o arco plantar, é um músculo atuante neste fundamento [13]. O músculo tibial posterior não pôde ser recrutado, neste trabalho, por ser um músculo profundo e de difícil captação de atividade pela eletromiografia de superfície. Fisioterapia_v8n2.indb 87 87 Alguns trabalhos como os de Basmanjian, Colborne e Intiso [15-17] mostram que a utilização do biofeedback terapêutico no músculo fibular longo é efetivo para pacientes que apresentam o pé caído decorrente de lesões neurológicas. Apesar do número de indivíduos não ter sido suficiente para verificar-se significância estatística, pode-se observar que, em todo momento, o biofeedback terapêutico mostrou-se mais efetivo no recrutamento muscular quando comparado à EENM, tanto para aumento da atividade muscular quanto para o aumento do arco plantar. Considerando a média de cada grupo, o grupo que realizou o trabalho com biofeedback antes do tratamento tinha a distância de 0,36cm da cabeça do primeiro metatarso ao solo e 1,56cm do meio do arco plantar ao solo, após o trabalho de recrutamento muscular essa distância passou a ser em média de 0,5cm na primeira medida e 1,73cm na segunda. Enquanto o grupo que fez o recrutamento com EENM, antes do tratamento apresentava em média uma distância de 0,46cm da cabeça do primeiro metatarso ao solo e 1,66cm do meio do arco plantar ao solo, e após o trabalho de recrutamento manteve-se a média de 0,46cm na primeira medida e 1,7cm na segunda medida. Também observou-se um aumento na distância ente o 1ºmetatarso ao solo, sendo que a medida na média, antes do tratamento com Biofeedback, era de 0,36cm e após passou a ser de 0,5cm, um ganho de 0,14cm. E a medida média do grupo que se tratou com EENM, inicialmente, era de 0,43cm passando a ser de 0,5cm após tratamento, havendo um ganho de 0,07cm. Esse ganho pode ser notado quando foi feita uma nova avaliação no plantígrafo, mostrando que a parte medial do pé não tocava tanto o solo quanto na 1ª avaliação. Seria importante fazer uma nova media, seis meses após esse tratamento, para verificar se o aumento do arco foi definitivo ou se apenas temporário, podendo, assim, afirmar se a musculatura auxilia ou não na sustentação do arco plantar como acredita Kapanji. Conclusão Embora o número de amostras não tenha sido suficiente para validação estatística, os resultados observados sugerem que, para a amostra estudada, o músculo fibular longo possui ação na elevação do arco plantar e que o tratamento com biofeedback eletromiográfico terapêutico pode ser mais efetivo no recrutamento muscular do que a EENM. Vale lembrar que a continuação deste trabalho com um número maior de indivíduos e com um tempo mais prolongado de recrutamento se mostra importante para a confirmação da hipótese levantada. Referências 1. Calais-Germain B. Anatomia para o movimento. Barueri: Manole; 1992. 24/4/2007 15:08:03 88 2. Sobotta J. Atlas de anatomia humana. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2000. 3. Moore KL. Anatomia orientada para clínica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2001. 4. Gabrielli C. Arco plantar superficial en el hombre: características anatómicas y comparadas. Rev Chil Anat 1999;17(2):225-30. 5. Hall SJ. Biomecânica básica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2000. 6. Hamill J. Bases biomecânicas do movimento humano. Barueri: Manole; 1999. 7. Bricot B. Posturologia. São Paulo: Ícone; 2001. 8. Robinson AJ, Snyder-Macker L. Eletrofisiologia clínica: eletroterapia e teste eletrofisiológico. Porto Alegre: Artemed; 2001. p.383-397. 9. Durson N, Durson E. Electromyographic biofeedback-controlled exercise versus conservative care for patellofemoral pain syndrome. Arch Phys Med Rehabil 2001; 82(12):1692-5. 10. Soares AV. Biofeedback eletromiográfico na recuperação do pé caído. Rev Fisioter Univ São Paulo 1998;5(2):104-10. Fisioterapia_v8n2.indb 88 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 11. Thimothy AH. Eletroterapia clínica. Barueri: Manole; 2003. 12. Cyrillo FN, Torriani C. Biofeedback: conceitos básicos e aplicabilidade clínica. Rev Fisioter UniFMU 2003;1(1):118. 13. Kapandji AI. Fisiologia articular membros inferiores. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2000. 14. Bienfait M. Os desequilíbrios estáticos. São Paulo: Summus; 1995. 15. Basmajian JV et al. Biofeedback treatment of foot: drop after stroke compared with standard rehabilitation technique: effect on voluntary control and strength. Arch Phys Med Rehabil 1975;56: 231-6. 16. Colborne GR, Olney SJ, Griffin MP. Feedback of ankle joint and soleus electromyography in the rehabilitation of hemiplegic gait. Arch Phys Med Rehabil 1993;74(1):1100-16. 17. Intiso D, Santilli V, Grasso MG, Rossi R, Caruso I. Rehabilitation of walking with electromyographic biofeedback in footdrop after stroke. Stroke 1994;25(6):1189-92. 24/4/2007 15:08:03 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 89 Artigo original Efeitos do laser de baixa intensidade HeNe sobre a atividade eletrográfica do músculo gastrocnêmio de ratos Wistar submetidos à lesão do nervo ciático The effects of low-power HeNe laser on the eletrographic activity of the gastrocnemius muscle in Wistar rats submitted to sciatic nerve injury Alexandre Ademar Hoeller*, Edison Sanfelice André, D.Sc.** *Ft, Curso de Fisioterapia da Universidade Regional de Blumenau - Bolsista PIBIC/CNPq: 2004/2005, Laboratório de Fisioterapia Neurológica Experimental - LFNE, **Ft, Departamento de Fisioterapia da Universidade Regional de Blumenau, Laboratório de Fisioterapia Neurológica Experimental - LFNE Resumo Abstract O presente estudo teve como objetivo avaliar os efeitos do laser de baixa intensidade HeNe sobre a regeneração nervosa periférica em ratos Wistar, submetidos à lesão por esmagamento do nervo ciático, utilizando como instrumento de investigação a eletromiografia (EMG) do músculo gastrocnêmio. Foram utilizados 8 ratos, divididos em um grupo controle (não irradiado pelo laser) e um grupo irradiado diariamente, durante 28 dias. Os registros do EMG foram efetuados no período pré-operatório, e no 1o, 7o, 14o, 21o, e 28o dia pós-operatório. As aplicações diárias de laser (28 dias consecutivos) foram iniciadas no 1o dia pós-operatório, através da técnica pontual com uma dose de 9 J/cm2. Como resultado, observou-se que as médias espectrais das potências das freqüências do EMG do grupo irradiado mostraram-se menores se comparadas ao grupo controle, além de apresentar maior organização e homogeneidade dos potenciais musculares analisados, indicando maior capacidade de regeneração nervosa periférica. Resultados significantes também foram observados na comparação das potências, segmentadas por bandas de freqüência, entre o período pré-lesão e os dias pós-lesão do grupo controle e do grupo irradiado, quando o animal encontrava-se andando. Os resultados obtidos sugerem que o laser de baixa intensidade favoreceu o processo de regeneração nervosa periférica, comprovando que, juntamente aos dados histológicos e funcionais da marcha obtidos previamente, o laser de baixa intensidade é capaz de acelerar o processo de regeneração do nervo ciático após axoniotmese em ratos Wistar. The aim of the present study was to evaluate the process of peripheral nerve regeneration in rats submitted to a crush lesion of the sciatic nerve under the effects of the low-power laser (HeNe), using the gastrocnemiu’s electromyography as an instrument of investigation. Eight male Wistar rats were used, divided in two groups: a group control (not irradiated with laser) and a group irradiated everyday with the laser HeNe, during 28 days. The EMG acquisitions were made in the pre-operative period, in the first postoperative day after the crush injury, and in the 7th, 14th, 21st and 28th day after surgery. The daily laser applications were initiated on first postoperative day, using the punctual technique (5 points), with a dose of 9 J/cm2. Was observed that the averages of the power spectrum of the laser group was lower in relation to the control group, presenting organized and homogeneity muscle potentials, indicating an important capacity of peripheral nerve regeneration. Significant results was observed too in the comparison of potentials segmented for frequency bands, between the pre-crush period and in the postoperative days after crush injury, on the control and laser group, while the animal was walking. These results suggest that the low-power laser favored the sciatic regenerative process, proving that, together with previous histological and functional data, the low-power laser is able to accelerate the sciatic nerve regeneration after axonotmesis in Wistar rats. Key-words: Peripheral nervous system, electromyography, lowlevel laser, nerve regeneration, sciatic nerve. Palavras-chave: sistema nervoso periférico, eletromiografia, laser de baixa intensidade, regeneração nervosa periférica, nervo ciático. Recebido 21 outubro 2005; aceito 15 de dezembro de 2006. Endereço para correspondência: Prof. Dr. Edison Sanfelice André, Universidade Regional de Blumenau – FURB, Centro de Ciências da Saúde, Departamento de Fisioterapia, Laboratório de Fisioterapia Neurológica Experimental – LFNE, Rua Antônio da Veiga, 140, 89010-971 Blumenau SC, Tel: (47) 3321-0287, E-mail: [email protected], homepage: http://home.furb.br/sanfelice Fisioterapia_v8n2.indb 89 24/4/2007 15:08:04 90 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 Introdução Os meios de mensuração da regeneração nervosa são vastos, podendo-se citar além de índices funcionais [10] e estudos histomorfométricos [11], a eletromiografia (EMG). Este método envolve a detecção, a amplificação e a apresentação das flutuações elétricas correspondentes à atividade muscular. Esses sinais são diminutos, mas se amplificados, podem ser visualizados em um osciloscópio ou tela de computador, ouvidos por intermédio de um alto-falante ou, ainda, registrados em gráficos [12]. Em sentido restrito, o termo eletromiografia envolve tanto o registro dos potenciais de ação de fibras musculares sob as condições do movimento voluntário quanto à observação de potenciais de ação espontâneos, caso estes estejam presentes, registrando as fibras musculares em repouso [13]. Pelo fato de as agressões aos nervos provocarem diferentes comprometimentos na interação nervo-músculo, a eletromiografia torna-se um método importante para análise da regeneração nervosa periférica. Comumente, no período pós-lesão, ao exame eletromiográfico, observa-se que a amplitude do potencial evocado fica diminuída, e isso se deve ao fato de os axônios perderem sua capacidade de conduzir potenciais funcionais através da zona lesionada. Por outro lado, se a membrana de um músculo está instável devido a uma desnervação, suas fibras se tornam hipersensíveis à acetilcolina, e sobrevém a fibrilação e o aumento da amplitude dos potenciais musculares por atividade espontânea. Se o músculo for reinervado, são registrados potenciais musculares de amplitude maior que a normal, devido aos axônios inervarem um número maior do que o normal de fibras musculares. Com o passar do tempo, esses potenciais tendem a ser refinados e somente a atividade resultante da interação nervo-músculo pode ser captada pelo EMG [14]. Estudos anteriores do nosso laboratório [15] e de outras fontes mostraram que aplicações de laser de baixa intensidade podem ocupar uma importante posição na lista de recursos terapêuticos empregados na regeneração nervosa periférica. Apesar disso, esses estudos se ocuparam, principalmente, em avaliar aspectos morfológicos e comportamentais de tal condição e não os eletrofisiológicos. Assim, tendo como base os registros eletromiográficos do músculo gastrocnêmio, buscou-se avaliar as repercussões do laser HeNe na regeneração do ciático esmagado mecanicamente ao longo de 28 dias de experimentação. Freqüentemente o homem é exposto a situações traumáticas ou patológicas que ocasionam lesões no sistema nervoso periférico. Há anos cientistas do mundo inteiro buscam ampliar o entendimento sobre o processo de regeneração nervosa, tentando encontrar, através de diversos recursos terapêuticos, a forma ideal para que um nervo lesionado possa voltar a apresentar sua total funcionalidade [1]. Após a lesão nervosa periférica, a capacidade de regeneração e do retorno funcional das conexões dos vários axônios é dependente do local, do tipo de lesão e da distância para transpor a lesão e alcançar seus alvos [2]. Pelo fato dos neurônios periféricos terem axônios longos e corpos celulares pequenos, a maioria das lesões do sistema nervoso periférico envolve danos axonais. A transecção de um axônio, ou agudamente por uma incisão ou mais lentamente por compressão, é chamada de axotomia e suas conseqüências deletérias são inúmeras [3]. Segundo Stoll e Muller [4], após a lesão por esmagamento, ocorre degeneração walleriana dos segmentos distais dos axônios, que envolve a remoção de debris axonais e mielínicos. O esmagamento do nervo rompe o axônio, mas a membrana basal da célula de Schwann que cerca a fibra nervosa fica intacta, fornecendo as pistas para guiar os axônios em regeneração. Após o estabelecimento do contato com a periferia, as células de Schwann iniciam a mielinização das fibras em regeneração e a reinervação é finalizada. Existem várias diferenças na estrutura da fibra nervosa remielinizada se comparada aos axônios intactos, e uma completa remielinização é essencial para a completa restauração das funções do sistema nervoso periférico [5]. O nervo ciático de ratos é comumente utilizado como modelo de estudos sobre a regeneração nervosa periférica por ser um tronco nervoso com comprimento e espaço adequado para a manipulação cirúrgica e a introdução de enxertos ou outro material. O nervo ciático divide-se acima da fossa poplítea em três ramificações: ramo tibial, ramo fibular e ramo sural. Cada ramificação conduz diferentes proporções de axônios motores, sensoriais e autonômicos para os músculos, receptores da pele e vasos sanguíneos ou glândulas, localizados em territórios específicos da pata posterior do roedor [2,6], permitindo estudos neurofisiológicos em diferentes níveis. Métodos que visem aumentar ou a acelerar a regeneração nervosa são necessários, sendo que a degeneração é inevitável nas varias lesões nervosas periféricas [7]. Nesse contexto, inúmeras pesquisas foram realizadas com intuito de analisar os efeitos da laserterapia de baixa intensidade sobre o sistema nervoso periférico de animais, obtendo uma série robusta de resultados favoráveis (para revisão recente, vide: [8]). Numa série elegante de experimentos, Rochkind et al. [9] demonstraram que aplicações transcutâneas de laser HeNe favoreciam a regeneração axonal e preveniam o desaparecimento dos pericários de neurônios motores no corno anterior da medula espinhal e de neurônios sensoriais no gânglio da raiz dorsal. Fisioterapia_v8n2.indb 90 Material e métodos Foram utilizados 8 ratos adultos (300 g) machos da linhagem Wistar fornecidos pelo Biotério Central da Universidade Regional de Blumenau. Os animais foram alojados no biotério setorial do Laboratório de Fisioterapia Neurológica Experimental (LFNE), sendo acondicionados em gaiolas individuais, em temperatura ambiente controlada (~22o C), com ciclo claro-escuro de 12h (07h00-19h00 – claro sob luz artificial) e recebendo água e ração ad libitum. Após duas semanas de 24/4/2007 15:08:04 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 91 ambientação, os animais foram aleatoriamente divididos em dois grupos distintos: Grupo HeNe (n = 4) submetido à lesão nervosa periférica seguida de irradiação diária, durante 28 dias, de laser HeNe; Grupo Controle (n = 4) submetido à lesão nervosa por esmagamento e não irradiado com laser HeNe. Os dois grupos sofreram, também, a implantação crônica de eletrodos bipolares no músculo gastrocnêmio direito para a coleta dos potenciais eletromiográficos. Durante os procedimentos cirúrgicos todos os animais receberam uma dose de 0,3 ml/100g de cloridrato de cetamina em associação a uma dose fixa de 0,1 ml de xilazina via intraperitoneal. Todos os procedimentos aqui descritos foram realizados mediante aprovação do Comitê de Ética na Experimentação com Animais da Universidade Regional de Blumenau (CEEA-FURB) sob o número 014/04. Figura 1 - Alguns passos da cirurgia de implante do sistema de EMG no músculo gastrocnêmio do rato. A) Liberação de fáscias da região da coxa e dorso do animal. B) Inserção de uma agulha no músculo gastrocnêmio utilizada para transpassar o eletrodo de EMG no ventre lateral, e posteriormente medial, do músculo do rato. C) Final da cirurgia, fixação do conector cefálico através de sutura e adição de acrílico autopolimerizante. D) Situação de registro com o animal conectado ao sistema de aquisição. Implantação dos eletrodos Após a constatação da profundidade desejada de anestesia (ausência de reflexos de retirada da pata frente ao pinçamento das pregas interdigitais) executou-se a tricotomia do escalpo e de todo o membro posterior direito. Após, executaram-se duas incisões nas mesmas regiões, permitindo a exposição da calota craniana e do músculo gastrocnêmio. Na seqüência, foram implantados eletrodos bipolares confeccionados com fio isolado de liga de níquel-cromo (0,06 mm de diâmetro) nos ventres do músculo gastrocnêmio. Os eletrodos foram soldados em uma das extremidades de um fio flexível que percorria subcutaneamente o dorso do animal até o limite da incisão da pele do crânio onde, por sua vez, era soldado a um conector. Para que os eletrodos pudessem ser implantados no gastrocnêmio, foi utilizada uma agulha hipodérmica que, depois de inserida no ventre, servia como guia de passagem para o eletrodo. Após a fixação dos eletrodos no músculo, procederam-se três trepanações nas quais foram fixados três microparafusos que serviram de âncora para o conector elétrico. Depois de posicionados, os microparafusos e o conector foram colados com acrílico autopolimerizante de uso odontológico, permitindo a fixação definitiva do conector ao crânio do animal. Ao final desses procedimentos, os animais receberam aplicação tópica de antiflogístico e antibiótico nos dois campos cirúrgicos, e foram mantidos em ambiente aquecido até a recuperação completa da anestesia. Lesão do ciático Dois dias após a implantação dos eletrodos, foram coletados 20 minutos contínuos de EMG contendo diferentes estados comportamentais, incluindo momentos de relaxamento (animal imóvel e em vigília relaxada) e de deambulação dentro da gaiola de registro. Depois da coleta, os animais foram anestesiados e o nervo ciático direito foi estrangulado por 30 segundos com o auxílio de uma pinça hemostática (para detalhes dessa cirurgia, vide [15]). Fisioterapia_v8n2.indb 91 Aplicações de laser Vinte e quatro horas após a lesão do ciático, os animais do grupo HeNe foram irradiados diariamente com o laser HeNe (632,8 nm, vermelho visível, emissão contínua, 3mW de potência nominal, marca KLD, série LHN 879) com uma dose de 9 J/cm2 com técnica pontual de 5 pontos longitudinais de acordo com o trajeto do nervo, de proximal para distal, durante 28 dias consecutivos. O grupo controle foi submetido aos mesmos procedimentos de irradiação, mas com o aparelho desligado. Registro do EMG Tanto no período pré-estrangulamento quanto nos dias 1, 7, 14, 21 e 28 após o estrangulamento do ciático, os animais foram acondicionados em uma gaiola metálica e conectados, por meio de um cabo flexível, a um sistema digital de aquisição e análise de sinais biológicos (MP-100/WSW, Biopac, Inc.). Esse sistema foi configurado para obter um ganho de sinal de 1000x, com filtro Butterworth de 2a ordem para atenuar a interferência provocada pela freqüência da rede comercial (60 Hz), e taxa de amostragem de 200 Hz. Então, durante um período de 20 minutos, registrou-se o EMG acompanhado de anotações dos comportamentos do animal dentro da gaiola. Ao final dos experimentos, todos os traçados eletromiográficos foram submetidos à averiguação minuciosa para a separação de trechos de 20 segundos referentes aos comportamentos de máxima e de mínima atividade comportamental, que deveriam ser submetidos à transformada rápida 24/4/2007 15:08:04 92 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 de Fourier, e à demodulação complexa para a obtenção da freqüência e da amplitude instantâneas. Após esse processo, os dados da análise espectral (Fourier) foram segregados em bandas de potência de 10 em 10 Hz, desde zero até 50 Hz. Os dados dessas bandas de freqüência, então, foram inseridos em planilha eletrônica para análise estatística. Apesar de terem sido feitos registros em diferentes dias, serão apresentados, apenas, os resultados referentes ao 21º e ao 28º dia, pois foram nesses em que encontramos diferenças marcantes. A Figura 2 caracteriza-se por apresentar um sinal eletromiográfico típico de um animal sadio, demonstrando amplitudes e freqüências compatíveis com a integridade do binômio nervo-músculo. Na Figura 2A observam-se, num trecho de 20 segundos, os potenciais de ativação relacionados ao caminhar do animal, seguidos de potenciais em repouso. Em 2B nota-se uma atividade elétrica intensa, com ondas monofásicas, trifásicas e polifásicas de grande amplitude, positivas e negativas. Em 2C o sinal caracteriza-se por apresentar uma atividade elétrica diminuída, sendo que as ondas apresentam amplitudes visivelmente menores. Na análise espectral (2D e 2E) observa-se uma homogeneidade das amplitudes das espículas nas freqüências de 0 a 50 Hz, nos períodos de atividade e repouso, salientando o fato de que no período em atividade destaca-se um pico de maior potência (~3,2 x 10-7 μV2/Hz) na freqüência de 25 Hz, enquanto no período em repouso, as amplitudes são menores, com picos de ~3,6x10-9μV2/Hz nas freqüências aproximadas de 5 a 10 Hz e picos homogêneos nas freqüências de 10 a 30 Hz.. Em ambos os espectros de freqüência (2D e 2E) observam-se diminuições das espículas entre as freqüências de 40 a 50 Hz. Em 2F Observam-se amplitudes de até 15 μV compatíveis com alta atividade muscular durante a deambulação. Figura 2 - Registro eletromiográfico coletado antes da lesão do ciático. A) Trecho de 20 segundos contendo atividade muscular intensa e diminuta (destaques). B) Segmento de 2 segundos destacado do trecho A, caracterizado por ser um período onde animal está caminhando. C) Segmento de 2 segundos destacado retirado do trecho A, onde o animal encontra-se em repouso. D) Espectro de freqüência referente ao trecho B. E) Espectro de freqüência referente ao trecho C. F) Amplitudes instantâneas do segmento A. Figura 3 - Registro eletromiográfico de um animal do grupo controle, no 21o dia após a lesão do nervo ciático. A) Trecho pré-selecionado com 20 segundos de um registro de EMG com duração de 20 minutos. B) Segmento de 2 segundos retirado do trecho A, onde o animal encontra-se caminhando. C) Segmento de 2 segundos retirado do trecho A, onde o animal encontra-se em repouso. D) Espectro de freqüência referente ao trecho B. E) Espectro de freqüência referente ao trecho C. F) Amplitudes instantâneas do segmento A. Análise estatística Visando comparar as possíveis diferenças existentes entre as bandas de freqüências do EMG dos dois grupos experimentais, utilizou-se a análise de variância (ANOVA de uma via). Além disso, comparações intra-grupo entre os dias pósestrangulamento e o momento pré-lesão foram realizadas de maneira pareada, através do teste t de Sudent. Como nível de significância optou-se por p < 0,05. Resultados Fisioterapia_v8n2.indb 92 24/4/2007 15:08:04 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 93 Na Figura 3, são expostas as características eletromiográficas de um animal com lesão nervosa periférica após 21 dias, referentes ao grupo não irradiado pelo laser HeNe. É possível constatar um posicionamento diferente da atividade mioelétrica, notando que os potenciais musculares encontram-se alterados em relação à Figura 2. Em 3A o traçado é composto de um sinal heterogêneo, com variação das amplitudes inclusive no período em repouso. Em 3B observa-se maior atividade eletromiográfica, com a presença de espículas bifásicas agudas. Em 3C o trecho apresenta uma atividade elétrica diminuída em relação ao trecho de ativação, apesar de encontra-se aumentada em relação ao registro de repouso do período pré-lesão de animais do mesmo grupo (Figura 2). Em 3D observa-se uma homogeneidade maior dos picos de freqüência em relação ao gráfico 3E, sendo que as maiores espículas permanecem no valor aproximado de 0,6 x 10-7μV2/Hz, indicando maior organização das unidades motoras no período de ativação da fibra muscular. Em 3E observa-se grande variação dos picos de freqüência indicando desorganização dos potenciais de ação pelas unidades motoras no período em que o animal encontra-se em repouso. Em 3F observam-se amplitudes de até 9 μV nos momentos de intensa atividade muscular. Na Figura 4 são apresentados os sinais eletromiográficos característicos produzidos após 28 dias da lesão do ciático do grupo não irradiado pelo laser. Torna-se nítida a desorganização do sinal, com potenciais emitidos espontaneamente, distribuídos ao longo do traçado, apresentando amplitudes de magnitudes variadas, positivas e negativas. Em 4B observa-se uma maior atividade do traçado, com a presença de espículas monofásicas agudas. Em 4C o traçado apresenta uma atividade elétrica diminuída em relação ao trecho de ativação, apesar de encontra-se aumentada em relação ao registro de repouso do período prélesão de animais do mesmo grupo. Em 4D observa-se uma maior homogeneidade dos picos de freqüência em relação ao gráfico 4E, indicando uma maior organização das unidades motoras no período de ativação da fibra muscular. Nota-se a semelhança entre as Figuras 4D e 4E, caracterizadas por apresentarem freqüências semelhantes. Em 4E observa-se grande variação dos picos de freqüência indicando desorganização dos potenciais de ação pelas unidades motoras. Ressalta-se a presença de potenciais de amplitude considerável mesmo com o animal permanecendo em um período de repouso. Em 4F observam-se grandes amplitudes de até 7 μV e uma desorganização no restante do sinal mantendo uma amplitude média de 2 μV. Figura 4 - Registro eletromiográfico de um animal do grupo controle, no 28o dia após a lesão do nervo ciático. A) Trecho pré-selecionado com 20 segundos de um registro de EMG com duração 20 minutos. B) Segmento de 2 segundos retirado do trecho A, onde o animal encontra-se em atividade. C) Segmento de 2 segundos retirado do trecho A, onde o animal encontra-se em repouso. D) Espectro de freqüência referente ao trecho B. E) Espectro de freqüência referente ao trecho C. F) Amplitudes instantâneas do segmento A. Figura 5 - Registro eletromiográfico de um animal do grupo irradiado pelo laser HeNe, no 21o dia após a lesão do nervo ciático. A) Trecho pré-selecionado com 20 segundos de um registro de EMG com 20 minutos. B) Segmento de 2 segundos retirado do trecho A, onde o animal encontra-se em atividade. C) Segmento de 2 segundos retirado do trecho A, onde o animal encontra-se em repouso. D) Espectro de freqüência referente ao trecho B. E) Espectro de freqüência referente ao trecho C. F) Amplitudes instantâneas do segmento A. Fisioterapia_v8n2.indb 93 24/4/2007 15:08:05 94 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 É possível observar diferenças nítidas na Figura 5, correspondente aos sinais eletromiográficos obtidos 21 dias após a lesão nervosa de um animal do grupo irradiado pelo laser HeNe. Os sinais registrados encontram-se desorganizados em relação à Figura 2 porém, observa-se maior homogeneidade dos potenciais em relação às Figuras 3 e 4. Observa-se, também, que as amplitudes encontram-se mais homogêneas, limitadas ao período em que o animal estava andando. No período em repouso fica clara a maior organização dos potenciais, que se apresentam diminutos. Em 5B observa-se maior atividade deste traçado, com a presença de espículas monofásicas mais agudas. Em 5C o sinal apresenta uma atividade elétrica diminuída em relação ao trecho de ativação, encontrando-se aumentada em relação ao registro de repouso do período pré-lesão de animais do mesmo grupo. Em 5D observa-se homogeneidade dos picos de freqüência, havendo destaque para a freqüência de aproximadamente 20 Hz. As demais freqüências participam menos na composição do EMG, indicando melhor organização dos potenciais musculares, dando indícios de regeneração nervosa. Em 5E observa-se homogeneidade semelhante ao trecho 5D, porém com picos de freqüências menores, mantendo amplitudes de aproximadamente 0,3 x 10-8 mV nas freqüências de 0 a 50 Hz. Em F observa-se a maior amplitude de todo o trecho registrado, apontando para 10 μV. Na Figura 6 são expostos os sinais obtidos após 28 dias da lesão do nervo ciático do grupo irradiado pelo laser HeNe. De maneira geral observa-se maior organização do traçado em relação aos sinais correspondentes do grupo não irradiado pelo laser HeNe (Figura 4). É possível observar que os sinais da Figura 6 não se assemelham aos sinais obtidos no animal sadio, registrado anteriormente à lesão nervosa (Figura 2), indicando que a regeneração completa do nervo lesionado ocorre em um período maior que 28 dias. Mesmo assim, os dados obtidos no grupo submetido à laserterapia de baixa intensidade encontraram-se, significantemente diferentes em relação ao grupo não irradiado, denotando maior semelhança dos potenciais musculares captados antes da lesão do ciático. Em 6B observa-se atividade elétrica intensa, com ondas monofásicas, trifásicas e polifásicas de grande amplitude compatível com alta atividade comportamental. Em 6C o sinal se caracteriza por uma atividade elétrica marcadamente diminuída, compatível com inatividade comportamental. Em 6D observam-se picos de freqüência heterogêneos, distintos, com amplitudes variando entre 10 e 20 mV. Observam-se maiores potências nas maiores freqüências, 25, 30 e 45 Hz. Em 6E observa-se distribuição mais homogênea dos picos de freqüência enquanto o animal encontrava-se em repouso. Em 6F observa-se uma amplitude de aproximadamente 20 μV referente à somatória das espículas mais pronunciadas da Figura 6A (referente ao máximo de atividade comportamental daquele período). Na Tabela I apresenta-se a comparação das potências, segmentadas por bandas de freqüência, entre os períodos pré- e pós-lesão do grupo controle, durante a deambulação. Esta tabela deixa claro que, independentemente da banda de freqüência, a situação da média das potências do período pré-lesão, em relação ao 1o dia após lesão do ciático, apresenta-se sempre superior, evidenciando presença marcante de potenciais que denunciam atividade eletromiográfica espontânea e espúria. Concomitantemente, na comparação entre os períodos pré-lesão e o 7o dia após a lesão, nota-se uma similaridade das médias de potências. Nos demais períodos, em todas as bandas de freqüência, foi observado que as médias de potências encontravam-se menores no período pré-lesão em relação aos dias 14o, 21o e 28o após lesão, denotando estatisticamente que após a lesão nervosa, não foi verificada regeneração do nervo ciático dos animais do grupo controle, tendo em vista que as médias de potência do 28o dia, em todas as bandas de freqüência, encontraram-se superiores às potências do período pré-lesão. Da mesma forma, realizaram-se comparações das médias das potências das freqüências no grupo irradiado com laser HeNe (Tabela II). A partir dos dados expostos, nota-se que nos dias 14 e 21 após a lesão as médias das potências encontraram-se superiores ao período pós-lesão assemelhando-se ao grupo controle. Por outro lado, quando comparados, os dias pré-lesão com o 28o dia após lesão apresentam semelhança entre as médias das potências, excetuando a banda de 0 a 10 Figura 6 - Registro eletromiográfico de um animal do grupo irradiado por laser HeNe, no 28o dia após a lesão do ciático. A) Trecho de 20 segundos pré-selecionado de um registro de EMG de 20 minutos. B) segmento de 2 segundos do trecho A, caracterizado por ser um período onde animal está caminhando. C) segmento de 2 segundos do trecho A, onde o animal encontra-se em repouso. D) Espectro de freqüência referente ao trecho B. E) Espectro de freqüência referente ao trecho C. F) Amplitudes instantâneas do segmento A. Fisioterapia_v8n2.indb 94 24/4/2007 15:08:06 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 Tabela I - Comparações intra-grupo (pré- versus pós-lesão) do grupo controle, realizadas pelo teste t de Student referentes às bandas de potências das freqüências detectadas pela transformada rápida de Fourier da atividade eletromiográfica ao longo de 28 dias de experimentação. (*) Diferenças estatisticamente significantes, p < 0,001. Banda (Hz) Dia 1 7 0 ~ 10 14 21 28 1 7 10 ~ 20 14 21 28 1 7 20 ~ 30 14 21 28 1 7 30 ~ 40 14 21 28 1 7 40 ~ 50 14 21 28 Situação Pré- > Dia 1 Pré- = Dia 7 Pré- < Dia 14 Pré- < Dia 21 Pré- < Dia 28 Pré- > Dia 1 Pré- = Dia 7 Pré- < Dia 14 Pré- < Dia 21 Pré- < Dia 28 Pré- > Dia 1 Pré- = Dia 7 Pré- < Dia 14 Pré- < Dia 21 Pré- < Dia 28 Pré- > Dia 1 Pré- = Dia 7 Pré- < Dia 14 Pré- < Dia 21 Pré- < Dia 28 Pré- > Dia 1 Pré- = Dia 7 Pré- < Dia 14 Pré- < Dia 21 Pré- < Dia 28 Teste t t = 7,48* t = -0,55 t = -8,97* t = -4,87* t = -3,28* t = 5,87* t = -1,36 t = -8,77* t = -5,37* t = -4,72* t = 5,69* t = -0,59 t = -8,26* t = -8,31* t = -3,72* t = 5,28* t = -1,00 t = -6,05* t = -8,47* t = -3,22* t = 5,41* t = 0,25 t = -5,10* t = -8,82* t = -2,35* 95 Tabela II - Comparações intra-grupo (pré- versus pós-lesão) do grupo irradiado com laser HeNe, realizadas pelo teste t de Student referentes às bandas de potências das freqüências detectadas pela transformada rápida de Fourier da atividade eletromiográfica ao longo de 28 dias de experimentação. (*) Diferenças estatisticamente significantes, p < 0,001. Banda (Hz) 0 ~ 10 10 ~ 20 20 ~ 30 30 ~ 40 40 ~ 50 Dia 1 7 14 21 28 1 7 14 21 28 1 7 14 21 28 1 7 14 21 28 1 7 14 21 28 Situação Pré- = Dia 1 Pré- = Dia 7 Pré- < Dia 14 Pré- < Dia 21 Pré- < Dia 28 Pré- = Dia 1 Pré- = Dia 7 Pré- < Dia 14 Pré- < Dia 21 Pré- = Dia 28 Pré- = Dia 1 Pré- < Dia 7 Pré- < Dia 14 Pré- < Dia 21 Pré- = Dia 28 Pré- = Dia 1 Pré- = Dia 7 Pré- < Dia 14 Pré- < Dia 21 Pré- = Dia 28 Pré- = Dia 1 Pré- < Dia 7 Pré- < Dia 14 Pré- < Dia 21 Pré- = Dia 28 Teste t t = -0,20 t = -1,27 t = -6,86* t = -7,83* t = -3,69* t = -0,31 t = 0,78 t = -8,97* t = -6,74* t = -1,20 t = 0,18 t = -2,83* t = -7,13* t = -9,49* t = -0,92 t = -1,66 t = -0,78 t = -7,79* t = -5,35* t = -0,90 t = -0,20 t = -2,76* t = -7,03* t = -8,82* t = 1,16 Tabela III - Valores da ANOVA referentes às médias das potências das freqüências obtidas em diferentes dias, pela transformada rápida de Fourier, durante estados de repouso dos animais. A coluna “Situação” foi obtida através do teste (post-hoc) das diferenças máximas significantes de Tukey. Banda (Hz) 0 ~ 10 10 ~ 20 20 ~ 30 30 ~ 40 40 ~ 50 Fisioterapia_v8n2.indb 95 Dia 21 28 7 21 28 7 21 28 21 28 21 28 Situação Controle > Laser Controle > Laser Controle > Laser Controle > Laser Controle > Laser Controle > Laser Controle > Laser Controle > Laser Controle > Laser Controle > Laser Controle > Laser Controle > Laser ANOVA [F(1, 478) = 39,5, p < 0,0001] [F(1,478) = 34,6, p < 0,0001] [F(1,478) = 9,34, p < 0,002] [F(1,478) = 53,8, p < 0,0001] [F(1,478) = 29,1, p < 0,001] [F(1,478) = 6,75, p < 0,009] [F(1,478) = 96,8, p < 0,0001] [F(1,478) = 23,8, p < 0,0001] [F(1,478) = 97,5, p < 0,0001] [F(1,478) = 22,1, p < 0,0001] [F(1,478) = 102,9, p < 0,0001] [F(1,478) = 10,1, p < 0,001] 24/4/2007 15:08:06 96 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 Hz. Os dados obtidos no 28o dia após a lesão apontam para a ocorrência de regeneração nervosa periférica no grupo de animais irradiados com laser HeNe, tendo em vista que as médias de potências apresentaram-se semelhantes entre os períodos pré-lesão e o 28o dia após a lesão. Foi realizada, também, a comparação das médias das potências do espectro de freqüência de 0 a 50 Hz, entre os grupos controle e o grupo irradiado com laser HeNe. De acordo com os dados expostos na Tabela III, nota-se a superioridade das médias das potências das freqüências do grupo controle em relação ao grupo irradiado com laser HeNe. Essas diferenças evidenciam que o grupo submetido à laserterapia de baixa intensidade apresentou melhor recuperação, pois a expressão da atividade eletromiográfica no grupo irradiado não revela potenciais espúrios. Apesar de a Tabela III não mostrar, nos demais dias não foi possível observar diferenças estatisticamente significantes entre os grupos estudados, apontando para o fato de ambos apresentarem o mesmo nível de comprometimento funcional nesses dias. Após a desnervação, pode ocorrer um processo de reinervação, uma vez que se trate de uma lesão parcial (axoniotmese), por um processo de brotamento colateral de axônios de neurônios sobreviventes. Este processo de reinervação se manifesta eletromiograficamente sob a forma de potenciais polifásicos, que são um reflexo do aumento de dispersão temporal das fibras musculares que constituem o potencial de ação de unidade motora, que descarregam assincronicamente em função de uma maior variação da localização anatômica das placas mioneurais de cada uma delas, e da lentificação na condução nervosa dos colaterais nervosos imaturos [16]. Conforme Finsterer [17], na análise do espectro de potência ocorre a decomposição das ondas senoidais de diferentes fases, freqüências e amplitudes, realizada através da transformada rápida de Fourier (FFT). A maior banda de freqüência do espectro de potência é resultante da duração dos potenciais da unidade motora (PUM). Para Ferreira [16], altas freqüências refletem um curto tempo de subida e curta duração dos PUMs, e ondas polifásicas. Baixas freqüências refletem longa duração dos potencias da unidade motora com um longo tempo de subida. Durante a tentativa de contração muscular máxima, em função de uma diminuição no número de unidades motoras e conseqüentemente de fibras musculares, há redução no número de potenciais de ação de unidades motoras recrutadas, tornando o traçado rarefeito. Normalmente, em uma contração muscular de esforço máximo, são recrutadas tantas unidades motoras que não é possível individualiza-las, caracterizando o chamado padrão interferencial. O simples recrutamento de alguns potenciais de ação de unidade motora é sinal de que, ao menos, existe continuidade parcial do nervo através da lesão e, portanto, melhor prognóstico. De acordo com Navarro [18] e Gramsberger, IjkemaPaarsen e Meek [19], a perda de continuidade entre um nervo e um músculo esquelético pode ser imediatamente identificada pela eletromiografia. A presença de potenciais de fibrilação em um músculo relaxado pode ser um sinal de desnervação, entretanto normalmente eles não aparecem antes de três semanas depois do surgimento da lesão. As neuropatias periféricas caracterizam-se pela redução da atividade das unidades motoras até o ponto de perder o padrão de interferência, inclusive durante esforço máximo. Os potenciais de ação são, geralmente, polifásicos devido provavelmente às alterações na velocidade de condução dos ramos que inervam as fibras da unidade motora. As amplitudes e durações são normais ou ligeiramente inferiores. Os potenciais polifásicos precedem a recuperação das fibras musculares desnervadas e são vistos durante a regeneração nervosa. Já os potenciais da unidade motora agrupados podem ser vistos em lesões pósisquêmicas da porção do neurônio motor inferior e geralmente aparecem após regeneração nervosa. Os primeiros sinais de desnervação ativa ocorrem após aproximadamente 14 dias de injúria, com presença de ondas agudas positivas e fibrilações. Os potenciais de desnervação surgem primeiramente nos Discussão Apesar dos grandes avanços nas técnicas de cirurgia reconstrutora de nervos lesionados ocorridos nos últimos anos, não existe, até então, meios que assegurem um retorno funcional plausível após tal intervenção. Em face desse desafio, desde a década de 1970 tem se tentado desenvolver alternativas terapêuticas que visam a potencializar a recuperação funcional e a melhora clínica de indivíduos portadores de seqüelas decorrentes de lesões nervosas periféricas. Dentre essas alternativas destaca-se o emprego da laserterapia de baixa intensidade, e a comprovação da eficácia de tais alternativas se dá através de estudos morfológicos, funcionais, comportamentais e eletrofisiológicos. Pelo exposto até então, acredita-se que a irradiação de laser HeNe é capaz de promover regeneração acelerada do nervo ciático de ratos Wistar e, guardadas as devidas proporções, a sua indicação também pode servir à condição humana. Os registros apresentados nas Figuras 2, 3, 4, 5 e 6 corroboram os dados de Ferreira [16], ressaltando que o músculo íntegro não apresenta atividade elétrica no repouso, exceto os chamados “potenciais de placa”, que são gerados na placa mioneural e que são fisiológicos. Quando ocorre uma lesão nervosa periférica, de magnitude tal que haja comprometimento axonal (axoniotmese e neurotmese), há o aparecimento de potenciais de fibrilação e ondas positivas. Estes potenciais representam a descarga espontânea de fibras musculares desnervadas em função de uma instabilidade da membrana celular muscular e indicam desnervação. O surgimento dos potenciais de fibrilação e de ondas positivas ocorre em torno de 2 a 5 semanas após a lesão, dependendo da distância entre o músculo examinado e a lesão. Quanto mais próximo estiverem, mais rapidamente aparecerão estes potenciais, uma vez que o tamanho do coto axonal que sofre degeneração é menor. Fisioterapia_v8n2.indb 96 24/4/2007 15:08:06 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 97 músculos mais próximos da lesão e posteriormente nos músculos mais distais. Esses potenciais podem persistir nos músculos parcialmente desnervados por tempo indefinido. Já em lesões completas, onde o músculo é totalmente desnervado e atrófico, os potenciais de desnervação desaparecem em aproximadamente 1 ano. Após duas semanas de lesão, os potenciais de desnervação (ondas agudas positivas e fibrilações) começam a surgir na axoniotmese e na neurotmese. Teoricamente, quando a lesão for puramente neuropráxica, não há potenciais de desnervação no EMG. Entretanto, na prática, mesmo em lesões predominantemente neuropráxicas, algum grau de degeneração axonal secundária ocorre e potenciais de desnervação podem ser registrados [20]. Buerger et al. [15] estudaram o processo de regeneração nervosa periférica de ratos submetidos ao laser de baixa intensidade, através do diodo laser GaAlInP (658 nm) numa dose de 6 J/cm2, por meio de análises histopatológicas, e observaram que as estruturas estudadas (músculos e nervo ciático) apresentavam sinais claros de recuperação morfológica no grupo irradiado. Silva [21], utilizando o mesmo protocolo acima, realizou a avaliação funcional da marcha de ratos empregando o IFC (Índice Funcional do Ciático). Nesse estudo o autor observou que os animais que receberam irradiações diárias de laser apresentavam melhores resultados, sob o ponto de vista funcional, que aqueles que receberam laser em dias intercalados ou aqueles que não foram irradiados. Esses resultados apontam para a necessidade de uma rotina de irradiação imediata e contínua, pois o grupo irradiado intercaladamente por 21 dias não apresentou os mesmos resultados favoráveis. Camargo et al. [22] realizaram um estudo comparativo entre o laser de AsGa (904 nm) com uma dose de 4 J/cm2 e HeNe com uma dose de 9 J/cm2 através da técnica pontual e de varredura sobre o nervo ciático de ratos lesionados por esmagamento, efetuando para isso a análise funcional da marcha dos animais através do IFC. Nesse estudo observaram que os animais irradiados com laser HeNe apresentaram evidente recuperação da marcha quando comparado aos animais controle ou irradiados com laser AsGa. Rochkind e Ouaknine [23] propõem a hipótese de que a radiação laser é absorvida por sensibilizadores endógenos como as porfirinas, ou por fotorreceptores que são componentes da cadeia respiratória, como as flavinas, citocromos e enzimas mitocondriais (citocromo-oxidase). A estimulação laser aumenta a liberação de Ca2+ pela mitocôndria para o citoplasma juntamente ao aumento da produção de ATP na mitocôndria. Em células eucarióticas, o laser promove a proliferação celular, sendo que nos neurônios ocorre o mesmo efeito, potencializando o crescimento do nervo. Além disso, a mobilização de Ca2+ nos terminais axônicos gera liberação exocitótica de acetilcolina, neurotransmissor responsável pela transmissão sináptica dos potenciais de ação de uma célula nervosa ao músculo, explicando os potenciais eletro- miográficos encontrados seletivamente após o 21º dia de experimentação aqui descritos. Adicionalmente, a mobilização estimulada de Ca2+ no cone de crescimento axonal promove a ativação de cinases intracelulares que atingindo o pericário, por transporte axonal retrógrado, promovem a transcrição de RNA mensageiro que sintetizam proteínas do citoesqueleto e que, por sua vez, promovem a expansão dos filopódios do cone em direção aos seus alvos originais, culminando em reinervação muscular [4,24,25]. Fisioterapia_v8n2.indb 97 Conclusão Sustentados nos resultados obtidos é possível inferir que o laser de baixa intensidade HeNe é capaz de favorecer o processo de regeneração nervosa periférica após a lesão por axoniotmese. Nossos dados estão em consonância com os de outros autores que apontam para a possibilidade do emprego dessa técnica, também, em indivíduos humanos. Essa afirmação se apóia nas fortes evidências que indicam que modelos animais e seres humanos compartilham profundas semelhanças estruturais e funcionais no que tange o sistema nervoso periférico. Agradecimentos À Pró-reitoria de pesquisa e pós-graduação da FURB pelo apoio logístico e financeiro dado ao projeto. Ao departamento de Fisioterapia da FURB pelo empenho e incentivo aos projetos de pesquisa conduzidos sob a sua tutela. Ao CNPq pela bolsa de iniciação científica do então acadêmico Alexandre Ademar Hoeller. Referências 1. Waldram M. Peripheral nerve injuries. Trauma 2003;5:79-96. 2. Rodríguez FJ, Valero-Cabré A, Navarro X. Regeneration and functional recovery following peripheral nerve injury. Drug discovery today: disease models; 2004. p.177-185. 3. Sanes JR, Jessel MT. A formação e a regeneração das sinapses. In: Kandel ER, Schwartz JH, Jessel TM. Princípios da neurociência. 4a ed. São Paulo: Manole; 2000. 4. Muller BK. Growth cone guidance: first steps towards a deeper understanding. Annu Rev Neurosci 1999;22:351-88. 5. Mert T et al. Changes in electrophysiological properties of regenerating rat peripheral nerves after crush injury. 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Fisioterapia_v8n2.indb 98 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 19. Gramsberger A, Ijkema-Paarsen J, Meek MF. Sciatic nerve transection in the adult rat: abnormal EMG patterns during locomotion by aberrant innervation of the hindleg muscles. Exp Neurol 2000;161:183-93. 20. Almeida DF. Trauma de nervos. [citado 2005 jun 20]. Disponível em: http://www.emglab.com.br/html/trauma_de_nervos. html. 21. Silva ES. Avaliação funcional da marcha de ratos submetidos à laserterapia de baixa intensidade após a lesão do nervo ciático. [Trabalho de Conclusão do Curso de Fisioterapia]. Blumenau: Universidade Regional de Blumenau; 2003. 22. Camargo VM. Estudo comparativo entre dois tipos de raios laser de baixa potência e seus respectivos efeitos sobre a regeneração nervosa periférica. [Trabalho de Conclusão do Curso de Fisioterapia]. Blumenau: Universidade Regional de Blumenau; 2005. 23. Rochkind S, Ouaknine E. New trend in neuroscience: low power laser effect on peripheral and central nervous system (basic science, preclinical and clinical studies). Neurological Research 1992;14(1):126-35. 24. Skaper SD, Moore SE, Walsh SF. Cell signaling cascades regulating neuronal growth-promoting and inhibitory cues. Prog Neurobiol 2001;65:593-608. 25. Yasuda H et al. Diabetic neuropathy and nerve regeneration. Prog Neurobiol 2003;69:229-85. 24/4/2007 15:08:07 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 99 Artigo original Análise da excreção urinária de hidroxiprolina e do nível de dor em sujeitos com lombalgia após alongamento na hidrocinesioterapia Urinary excretion of hydroxyproline analysis and pain in subjects with low back pain after stretching in hydrotherapy Michelle Guiot Mesquita, M.Sc.*, Lenita Caetano, Ft**, Carlos Soares Pernambuco, M. Sc.***, Elirez B. Silva, D.Sc.****, Estélio H.M. Dantas, D.Sc.***** *Universidade Castelo Branco, **Universidade Castelo Branco,***Universidade Estácio de Sá, ****Universidade Gama Filho, *****Universidade Castelo Branco Resumo Abstract O objetivo deste estudo foi mensurar os níveis de excreção de Hidroxiprolina (HP) e da lombalgia, através de um programa de hidrocinesioterapia, enfatizando o alongamento em água aquecida a 34°C. Participaram do estudo 8 policiais militares do Estado do Rio de Janeiro, do sexo masculino, entre 25 e 45 anos; todos com sintomatologia de lombalgia de causa idiopática e com encaminhamento médico à hidrocinesioterapia. O estudo realizou-se no Centro de Fisiatria e Reabilitação da Polícia Militar do Rio de Janeiro. A piscina onde foi realizada a intervenção media 12 x 6 m, 1,20 de profundidade, com a água a 34°C. A intervenção consistiu de dez sessões de hidrocinesioterapia, duas vezes por semana. Durante cada sessão de 50 minutos, foram realizados os seguintes exercícios: 5 minutos de aquecimento – caminhada; 40 minutos de exercícios específicos – bicicleta em suspensão com flutuador na região axilar; e 5 minutos de alongamento de paravertebrais, bíceps femural, glúteo médio e máximo, tensor da fascia lata, quadrado lombar e tríceps sural. A dor lombar foi mensurada através da escala CR-10 de Borg, antes e após as dez sessões do tratamento, e o nível de HP através do protocolo HPROLI 2h. Os resultados demonstraram que os níveis de HP, antes e depois do tratamento, foram iguais a 53,3 ± 22,6 e 31,6 ± 11,3 mg/d, respectivamente. O teste t de Student apresentou valor para t igual a 3,93, para p = 0,008 demonstrando haver diferença significativa entre HP antes e após a hidrocinesioterapia. Os níveis de dor mensurados, antes e depois do tratamento, foram iguais a 5 ± 2 e 2 ± 1, respectivamente. O teste de Wilcoxon apresentou valor para Z igual a 2,20, para p = 0,03 demonstrando haver diferença significativa entre estes níveis antes e após a hidrocinesioterapia. Conclui-se que o método de alongamento utilizado na hidrocinesioterapia, em pacientes com lombalgia, promoveu redução dos níveis de HP e dor lombar. The aim of this study was to measure excretion levels of hidroxyproline (HP) in subjects with low back pain through a hydrotherapy program, emphasizing the stretching in warm water 34°C. The subjects of the study were 8 military policemen of the state of Rio de Janeiro, between 25 and 45 years old, all of them with idiopathic low back pain and recommendation to practice hydrotherapy. The intervention was in the Physical Medicine and Rehabilitation Center of Military Policy of Rio de Janeiro. The swimming pool measured 12 x 6 m, with 1,20 of depth and water temperature of 34°C. The intervention consisted of ten sessions of hydrotherapy, twice a week. The exercise program, with 50 minutes each session, was as follows: 5 minutes of walking, 40 minutes of specific exercises – float suspension bicycle in the axillar area and 5 minutes of stretching of paravertebral, biceps femuralis, gluteus maximus and medius, tensor faciae latae muscle, lumbar quadrate and triceps surae. The low back pain was measured by Borg scale CR-10 before the 1st session of the intervention and after the last one, as well as HP level using HPROLI 2h protocol. The results showed that HP levels before and after treatment was 53.3 ± 22.6 and 31.6 ± 11.3 mg/d, respectively. The t Student test showed t 3.93, and for p = 0.008 showing a significant difference between HP levels before and after hydrotherapy. The low back pain before and after treatment was 5 ± 2 and 2 ± 1, respectively. The Wilconxon test showed Z 2,20 and for p = 0,03 and with significant difference between these levels before and after hydrotherapy. One concludes that the stretching method used by hydrotherapy in patients with low back pain promoted reduction in HP levels and low back pain. Key-words: low back pain, hydroxyproline, hydrotherapy, stretching. Palavras-chave: lombalgia, hidroxiprolina, hidrocinesioterapia, alongamento, flexionamento. Recebido 1 de novembro de 2005; aceito 15 de dezembro de 2006. Endereço para correspondência: Michelle Guiot Mesquita, Estr. Boiúna 1133/ 104 Taquara, Rio de Janeiro RJ, Tel: 93332290, E-mail: michelle. [email protected] Fisioterapia_v8n2.indb 99 24/4/2007 15:08:07 100 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 Introdução de hidroxiprolina e hidroxilisina na urina aumentou após o exercício, chegando ao ápice no segundo dia, sugerindo um aumento da lesão no tecido conjuntivo, possivelmente ligado à resposta inflamatória local. Um aumento na excreção urinária da hidroxiprolina indica dano nos tecidos conjuntivos acrescentando que há uma correlação significativa entre o dia em que os níveis se encontram mais altos com os níveis de dor mais intensa relatados pelos indivíduos [4]. Visto a abundância de colágeno contidas nas estruturas envolvidas nas lesões lombossacra e sua possível relação com a lombalgia, questiona-se a direta correlação com as queixas de dor dos pacientes com esse diagnóstico. Dentro de um programa de tratamento fisioterapêutico, além das preocupações em diminuir o quadro álgico e de se reabilitar as seqüelas oriundas das diversas patologias, não se deve esquecer da necessidade de recuperar a flexibilidade dos tecidos envolvidos nas lesões [8]. No tratamento da dor é necessário recuperar a flexibilidade dos tecidos, pois os nervos sensoriais que estão no interior dos tecidos moles ficam, muitas vezes, deficientes após uma lesão ou tensão prolongada [2]. A flexibilidade é a qualidade física responsável pela execução voluntária de um movimento de amplitude articular máxima, por uma articulação ou conjunto de articulações, dentro dos limites morfológicos, sem o risco de provocar lesão [9]. O mesmo autor afirma que o treino de flexibilidade melhora o desempenho físico e possibilita a diminuição do risco de lesão músculoesquelética. O uso de exercícios de alongamento para aumentar a flexibilidade é baseado na idéia de que podem diminuir a incidência, a intensidade ou a duração da lesão musculotendinosa e articular [10]. Contudo, essa afirmação não deve ser interpretada como se a flexibilidade articular máxima fosse prevenir a lesão. É possível verificar os níveis de HP na excreção urinária através de exames laboratoriais e, assim, uma vez considerados como marcador bioquímico da formação e reabsorção dos ossos, o aumento dos seus níveis na urina indica catabolismo de colágeno do aparelho locomotor. Níveis mais baixos de HP pós-exercícios caracterizam um menor grau de microlesão sobre o citado aparelho. Assim, é possível inferir que o menor catabolismo do colágeno no meio líquido pode indicar o método mais seguro de realizar o alongamento [11]. O objetivo deste estudo foi mensurar os níveis de excreção de HP e dor em sujeitos com lombalgia submetidos a um programa de hidrocinesioterapia, enfatizando o alongamento em água aquecida a 34°C. A lombalgia é conceituada como dor na coluna lombar apresentando a prevalência de 18% nas sociedades industrializadas. A lombalgia tem um custo de aproximadamente 15 a 50 bilhões de dólares por ano nos Estados Unidos [1]. As pesquisas têm mostrado, de forma coerente, o processo de cicatrização nos tecidos após uma lesão. Porém, o fator mais agravante de uma lesão na coluna vertebral é a proximidade de estruturas importantes como medula espinhal e raízes nervosas. Sabe-se que, após microtraumas repetitivos, os tecidos reagem com inflamação, dor constante e a limitação na mobilidade devido ao edema nos tecidos e à proteção muscular reflexa. O mecanismo de dor muscular se dá pelo aumento da atividade dos nociceptores dos ventres musculares. A localização desses terminais nervosos livres é a parede das arteríolas e tecido conjuntivo do músculo [2]. Visto a abundância de colágeno contidas nas estruturas envolvidas nas lesões lombossacras e sua possível relação com a lombalgia, questiona-se que uma lesão de tecido conjuntivo, em pacientes com lombalgia, pode ser mensurada através dos níveis de HP na urina, e ainda defende-se que o decréscimo destes níveis se dá em função do decréscimo da dor. A identificação dos níveis de colágeno relacionados aos componentes bioquímicos de uma estrutura é determinante na regeneração de lesões pelo aumento de sua bioatividade molecular [3]. A hidroxiprolina (HP) é um aminoácido fundamental presente no colágeno [4]. Ela, por sua vez, é um constituinte da matriz óssea e não provém de fontes dietéticas, mas da hidroxilação da prolina, durante os estágios iniciais da biossíntese do colágeno, entrando no metabolismo durante sua decomposição [5]. Nesta decomposição, formam-se peptídeos contendo hidroxiprolina, que em grande parte não sofrem a hidrólise e são eliminados na urina [6]. A cartilagem é composta de fibras de colágeno dos tipos II, IX, X e XI e é deformada toda vez que há compressão mecânica sobre ela. Com a insistência dessa força mecânica, poderá ocorrer a degeneração da fibra do colágeno tornando irregular a matriz da cartilagem [2]. A geração de força elevada, durante a contração muscular excêntrica, pode afetar o metabolismo do colágeno e até as estruturas musculares e tendíneas de tecido conjuntivo [7]. A ressíntese aumentada de colágeno pode representar uma resposta adaptativa ao músculo e uma excreção aumentada de hidroxiprolina, hidroxilisina e piridinolina na urina, podendo indicar a quebra do colágeno com resultado de uma ressíntese aumentada. O autor em questão investigou o efeito de uma série de 50 exercícios excêntricos voluntários no quadríceps, em relação aos índices indiretos de lesão musculoesqueléticas e marcas bioquímicas de catabolismo do colágeno na urina, com a hipótese que ambos, tecido conjuntivo e musculoesquelético foram usados por exercícios excêntricos. A excreção Fisioterapia_v8n2.indb 100 Material e métodos Participaram do estudo 8 policiais militares, do Estado do Rio de Janeiro, do sexo masculino, entre 25 a 45 anos, todos 24/4/2007 15:08:07 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 com sintomatologia de lombalgia de causa idiopática e com encaminhamento médico à hidrocinesioterapia. O estudo realizou-se no Centro de Fisiatria e Reabilitação da Polícia Militar do Rio de Janeiro. A piscina onde foi realizada a intervenção media 12 x 6 m, 1,20 de profundidade. Durante toda a intervenção, manteve-se a água a 34°C – temperatura considerada dentro dos padrões terapêuticos. A intervenção consistiu de dez sessões de hidrocinesioterapia em intervalos de duas sessões a cada semana. Os exercícios estabelecidos para a intervenção foram realizados durante 50 minutos. Cada sessão consistia de 5 minutos de aquecimento – caminhada, 40 minutos de exercícios específicos – bicicleta em suspensão com flutuador na região axilar e os exercícios de alongamento de paravertebrais, bíceps femural, glúteo médio e máximo, tensor da fascia lata, quadrado lombar e tríceps sural. Ao final de cada sessão, realiza-se 5 minutos de relaxamento com manobras clássicas do método Watsu. As verificações dos níveis de HP, na excreção urinária, tiveram como base os valores laboratoriais normais em adultos, maiores de 21, a taxa de 15-43 mg/d, 114-330 mol/d [12] e de 07-21 mg de HP/g de creatinina através do método HPROLI 2h. Foram realizados um pré e um pós-teste para verificação dos níveis de HP. Também foi utilizado para verificação dos níveis de dor a Escala CR10 de Borg [13] antes e após a hidrocinesioterapia. Foi utilizado o teste t pareado para verificar a ocorrência de diferenças significativas na hidroxiprolina e teste de Wilcoxon para a dor. O nível de significância adotado foi de 0,05. Os testes utilizados pertenciam ao programa Statistica 6.0, da StatSoft, 1981-2004. Resultados A hidroxiprolina antes e depois do tratamento foi igual a 53,3 ± 22,6 e 31,6 ± 11,3 mg/d, respectivamente. O teste t de student apresentou valor para t igual a 3,93, para p igual a 0,008, demonstrando haver diferença significativa (p < 0,05) entre HP antes e após a hidrocinesioterapia. Os níveis de dor lombar antes e depois do tratamento foram iguais a 5 ± 2 e 2 ± 1, respectivamente. O teste de Wilcoxon apresentou valor para Z igual a 2,20, para p = 0,03, demonstrando haver diferença significativa (p < 0,05) entre a dor antes e após a hidrocinesioterapia. Nota-se, na Tabela I, a redução dos valores médios dos níveis séricos de hidroxiprolina dos indivíduos participantes do estudo, demonstrando que a inferência proposta promoveu alterações significativas (p < 0,05). Como o coeficiente de variação das amostras observado neste estudo ultrapassou 25%, nas duas variáveis, adotou-se a mediana como medida de tendência central. Observa-se, no mesmo quadro, que a variação percentual apresentou o valor x = -38,81. O valor negativo denota a redução dos valores médios de HP. Fisioterapia_v8n2.indb 101 101 Tabela I - Analise descritiva dos resultados. X /sd md e ∆% CV% p-valor HP–pré 53,3±22,6 44 8,5 X 42,41 0,05 HP–pós 31,6±11,3 33 4,3 -38,81 35,83 0,01 BORG pré 4,7±2 5 0,8 X 43,52 0,03 BORG pós 1,4±0,8 2 0,3 -59,73 54,93 0,01 HP = hidroxiprolina - mg/dia; BORG = Escala CR10; x = média; md = mediana; sd = desvio padrão; ε= erro padrão; Δ% = variação percentual; CV = Coeficiente de Variação; p-valor obtido pelo teste de K-S = Kolmogorov-Smirnov Na Tabela II observa-se redução do valor médio dos níveis de dor dos sujeitos participantes da pesquisa aferidos pela escala de dor CR10. A variação percentual também apresentou redução média significativa (p < 0,05) de ~x = -59,7. Tabela II - Análise inferencial. Correlação de Pearson HP/B 0,45 Teste t Student 3,9 0,01 K-S 1,9 0,02 Wilcoxon 105,0 Z = -4,514 Covariância % HP= 179,586 % Borg = 1088,399 HP/B = Hidroxiprolina e Borg; K-S = Kolmogorov – Smirnov; z tabelado = 3,79 ; t tabelado = 1,895 Observa-se, na tabela acima, que a distribuição dos valores encontrados, segundo o teste de normalidade KolmogorovSmirnov, seguem uma distribuição normal. O teste t de Student demonstrou não haver diferença significativa (p < 0,05) entre as variáveis testadas. Apesar disto, estes valores demonstraram haver correlação positiva entre as mesmas variáveis. Esta relação se fortalece ao observamos a covariância positiva das variáveis, ou seja, havendo uma redução dos níveis de HP haverá também uma redução dos níveis de dor segundo a escala CR 10 (Figura 1). O teste de Wilcoxon, ao comparar os efeitos da inferência dos métodos, demonstrou que as amostras são semelhantes, não havendo diferença significativa (p < 0,05). Figura 1 - Nível de excreção de HP antes e após o tratamento hidrocinesioterapêutico. 24/4/2007 15:08:08 102 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 Discussão Conclusão Esta investigação constatou a ocorrência de diminuição significativa nos níveis de excreção urinária de HP nos sujeitos submetidos ao alongamento no meio aquático. Foi observada, também, a diminuição significativa da dor lombar comprovada pelo decréscimo da dor dos índices de 5 para 2 na escala CR-10 de Borg. Tais dados reafirmam estudos que sugerem que submeter a coluna vertebral por meio de imersão juntamente com o estímulo sensitivo pelo fluxo ao longo do corpo e a temperatura da água pode contribuir para a redução da dor [14]. O sofrimento muscular está intimamente relacionado com o dano nos tecidos conjuntivos associados ao músculo; ou seja, as fáscias do tecido conjuntivo: o endomísio, o perimísio e o epimísio [15]. De acordo com o mesmo autor, estas investigações revelam, através de sua pesquisa, uma significativa correlação positiva entre a excreção urinária de hidroxiprolina (HP) e a incidência subjetiva de sofrimento muscular e a irritação ou dano do tecido conjuntivo. Uma análise feita em outro estudo demonstra um aumento significativo (para p< 0,05) no flexionamento em solo dos níveis basais de HP, podendo afirmar que as atividades de treino em solo contribuem para a elevação dos riscos de ocorrência de microlesões, uma vez que os níveis de HP na excreção urinária se apresentaram mais elevados se comparados ao flexionamento na água [11]. Cabe ressaltar que o efeito das referidas microlesões está diretamente ligado aos danos do tecido conjuntivo sintetizado nas células, resultante da elevada concentração de hidroxiprolina. A hidroterapia tem uma terapêutica abrangente que utiliza os exercícios aquáticos na reabilitação de diversas patologias [16]. Essa terapêutica promove os resultados de relaxamento muscular, alívio da dor, redução do espasmo muscular, redução da força gravitacional, aumento da amplitude de movimento, melhora da circulação periférica, e dentre outros, a melhora da moral e da autoconfiança. Apesar de haver um consenso na literatura, no que diz respeito ao benefício de atividades aquáticas, com o objetivo de tonificar ou reforçar os oblíquos musculares próprios das estabilidades dorsolombares e lombares, não se pode esquecer de que um dos maiores benefícios da hidrocinesioterapia é proporcionar a diminuição da pressão intra-articular e da tensão dos músculos antigravitacionais. O alongamento na água aquecida pode ser usado na fase de reabilitação de uma lesão e na presença de tensão e rigidez muscular, sendo recomendado como um meio de contribuir na supressão do encurtamento muscular. Acredita-se que isto se deve a redução das forças gravitacionais que aumenta a mobilidade para muitos pacientes com lesão e dor lombar [17]. Pelos resultados obtidos, foi possível verificar que o método de alongamento utilizado na hidrocinesioterapia, em pacientes com lombalgia, promoveu redução dos níveis de HP e de dor lombar, sugerindo a presença de lesão de tecido conjuntivo através da análise dos níveis da HP na excreção urinária. Recomenda-se o desenvolvimento de estudos que relacionem a concentração de HP e a percepção subjetiva de dor lombar de diversas etiologias, assim como o aumento do grupo experimental, utilização de outros métodos que desenvolvam a flexibilidade, tais como flexionamento dinâmico, estático e a facilitação neuroproprioceptiva (FNP), visando constatações mais relevantes no contexto populacional. Fisioterapia_v8n2.indb 102 Referências 1. Panjabi MM Clinical spinal instability and low back pain. J Electromyogr Kinesiol 2003;13:371-379. 2. Cailliet R. 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Rio de Janeiro: Manole; 2004. 24/4/2007 15:08:08 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 103 Artigo original Compressão manual torácica em pacientes com insuficiência respiratória aguda Manual chest compression in patients with acute respiratory failure Bruna de Souza Sixel, Ft.*, Daniela Aires Lemes, Ft.*, Karina Alvitos Pereira, Ft.*, Fernando Silva Guimarães** *Pós-Graduação em Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFRJ,**Professor Adjunto do Curso de Fisioterapia da UFRJ Resumo Abstract A compressão unilateral do tórax é um recurso manual de Fisioterapia Respiratória conhecido como direcionamento de fluxo. Este procedimento é realizado em unidades de tratamento intensivo para promover a expansão do hemitórax contra lateral. O objetivo deste estudo foi caracterizar o padrão ventilatório antes, durante e após esta modalidade de intervenção. Foram avaliados 14 pacientes entubados ou traqueostomizados, sob ventilação com pressão de suporte apresentando drive ventilatório preservado e PaO2/FiO2 > 300. A manobra consistiu em compressão manual de 70 mmHg aplicada à parede torácica inferior direita por 2,5 minutos. Durante a manobra, observou-se alteração no padrão ventilatório caracterizada pelo aumento de freqüência respiratória (p < 0,05), redução do volume corrente (p < 0,05) e manutenção do volume minuto (p > 0,08). Após o período compressivo, as variáveis retornaram aos valores iniciais. Concluímos que a aplicação de carga elástica unilateral, em pacientes sob ventilação com pressão de suporte, promove redução do volume corrente e aumento da freqüência respiratória. Estas adaptações ventilatórias sugerem que não ocorre expansão compensatória do hemitórax contra-lateral, durante a aplicação da manobra de direcionamento de fluxo, em pacientes ventilando espontaneamente. The unilateral chest compression is a manual respiratory physiotherapy technique known as airflow directioning. This technique is usually carried out in the intensive care unit to induce expansion of the contralateral hemithorax. This study aims to characterize the ventilatory pattern before, during and after this intervention. Fourteen intubated or tracheostomized patients were evaluated. All patients received pressure support ventilation with preserved ventilatory drive and PaO2/FiO2 > 300. The maneuver consisted of manual compression of 70 mmHg applied to right lower rib cage during 2 minutes and 30 seconds. During treatment, ventilatory pattern modifications was observed due to an increase in respiratory rate (p < 0.05), a decrease of tidal volume (p < 0.05) and maintenance of minute ventilation (p > 0.08). After compression period, these variables returned to previous values. One concluded that unilateral elastic load application, in patients with pressure support ventilation in patients promotes reduction on tidal volume and increase in respiratory rate. These ventilatory adaptations suggest that compensatory expansion of the contralateral hemithorax, during the airflow directioning, in spontaneously breathing patients, does not happen. Palavras-chave: cuidados intensivos, respiração artificial, terapia respiratória, técnicas de fisioterapia. Introdução A compressão manual torácica unilateral, também conhecida como direcionamento de fluxo (DF), é um recurso da Fisioterapia Respiratória utilizado em pacientes pouco ou não cooperativos, especialmente em Unidades de Tratamento Intensivo. Esta intervenção é descrita como de cunho reexpansivo e utilizada em situações em que se evidenciam áreas hipoventiladas [1,2]. Acredita-se que a compressão do hemitórax melhor ventilado auxiliará na elevação do gradil costal do hemitó- Key-words: intensive care, artificial respiration, respiratory therapy, physical therapy techniques. rax hipoventilado, aumentando, assim, o fluxo de ar nessa região e conseqüentemente sua ventilação [1]. Regenga [3] cita a técnica para pacientes em pós-operatório de cirurgias cardíacas. Assim como outras formas de manipulação do tórax, o DF é amplamente difundido na prática clínica, embora seus efeitos sobre a mecânica respiratória e sobre o padrão ventilatório não sejam conhecidos. Desde a década de 50, diversos autores vêm caracterizando os efeitos fisiológicos gerados pela restrição total do tórax, espe- Recebido 10 de fevereiro de 2006; aceito em 10 de fevereiro de 2007. Endereço para correspondência: Fernando Guimarães, Av. Brigadeiro Trompowski, s/n, Faculdade de Medicina, Curso de Fisioterapia, Cidade Universitária, Ilha do Fundão 21941-902 Rio de Janeiro RJ, E-mail: fguima@hucff.ufrj.br Fisioterapia_v8n2.indb 103 24/4/2007 15:08:08 104 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 cialmente para o estudo dos reflexos de pulmão e parede torácica e suas compensações ventilatórias. Caro et al. [4] demonstraram que a restrição total do tórax de adultos jovens normais e despertos reduz os volumes pulmonares, piora a relação pressãovolume do pulmão e altera o padrão ventilatório, aumentando a freqüência respiratória e reduzindo o volume corrente. Essas alterações se mantêm após a retirada da restrição até que seja realizada uma inspiração profunda. Estudos posteriores [5-9] corroboraram os achados de Caro et al. [4] e extrapolaram os resultados para indivíduos anestesiados. O objetivo deste estudo foi caracterizar o padrão ventilatório antes, durante e após a compressão torácica unilateral (DF) em pacientes com via aérea artificial e submetidos à ventilação mecânica. A análise do padrão ventilatório foi realizada através das medidas de volume minuto (VM), freqüência respiratória (FR) e volume corrente (VC). O VC foi obtido através do quociente entre VM e FR. Foi utilizado um ventilômetro de Wright acoplado a válvula expiratória do ventilador mecânico para obtenção do VM. As medidas foram realizadas em três tempos: antes do inicio da intervenção (M1), durante a intervenção (M2) e após esta (M3). Para execução de M1, aguardou-se 3 minutos para estabilização do padrão ventilatório após o ajuste dos novos parâmetros. M2 ocorreu durante a compressão, porém após um minuto e trinta segundos do seu início. Por fim, M3 foi realizada após um minuto e trinta segundos do término da manobra (Figura 1). O tempo de realização de cada medida foi de 1 minuto. A manobra consistiu na compressão manual aplicada à parede torácica inferior direita durante 2 minutos e 30 segundos. A compressão foi ajustada para produzir uma pressão de 70 mmHg, medida através de um manguito de 15 cm X 25 cm, interposto entre a mão do terapeuta e o tórax do paciente, e conectado a um manômetro analógico para leitura de pressão. Materiais e métodos Foram avaliados quatorze pacientes (10 homens e 4 mulheres), internados no Centro de Tratamento Intensivo do Hospital Municipal Souza Aguiar (Tabela I). Foram incluídos, no estudo, pacientes com via aérea artificial (tubo orotraqueal ou traqueostomia), ventilados mecanicamente e com estímulo neuro-muscular ventilatório preservado. Foram excluídos pacientes com instabilidade hemodinâmica, presença de trauma de tórax, drenos torácicos ou abdominais e relação PaO2/FiO2 < 300. Dos quatorze pacientes selecionados, 8 apresentavam quadro de insuficiência respiratória por pneumonia, 4 em pós-operatório de neurocirurgia, 1 por traumatismo crânio encefálico não cirúrgico e 1 por cetoacidose diabética. Inicialmente, todos os pacientes foram posicionados em decúbito dorsal, com a cabeceira elevada a trinta (30) graus. Em seguida, realizou-se a aspiração traqueal e o ajuste dos parâmetros ventilatórios com pressão de suporte que correspondesse a um volume corrente de 8 ml/kg. A PEEP e a fração inspirada de oxigênio foram mantidas. Tabela I - Caracterização da amostra. Paciente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 Sexo M M M F F F M M F M M M M M Idade 35 68 63 62 76 55 19 70 58 58 34 61 73 79 VAA TOT TQT TOT TOT TOT TQT TOT TOT TQT TOT TOT TOT TOT TQT PS 19 19 8 9 18 20 10 14 16 18 10 10 18 10 M: sexo masculino; F: feminino; TOT: tubo orotraqueal; TQT: traqueos- Figura 1 - Caracterização temporal. VAA: via aérea artificial; M1 = medida pré-compressão; M2 = medida durante a compressão unilateral do tórax; M3 = medida após a compressão. A análise dos resultados foi realizada de forma descritiva, utilizando-se média, desvio padrão e percentual de diferença. Como teste de hipótese foi utilizada a análise de variância de medidas repetidas, considerando-se p < 0,05, e intervalo de confiança de 0,95. Para realização dos cálculos estatísticos foi utilizado o programa SigmaStat 3.1. Resultados Os resultados encontrados estão demonstrados na Tabela II e Figura 2. Durante a compressão torácica (M2), houve aumento da FR de 29,6% (p < 0,05), redução do VC em 19% (p < 0,05) e manutenção do VM quando comparado à M1. Após a supressão da manobra as variáveis retornaram aos seus valores iniciais. Os intervalos de confiança obtidos pelas diferenças encontradas entre antes e durante a compressão (M1-M2), durante e após a compressão (M2-M3) e antes e após (M1-M3) estão representados na Tabela III. Observa-se que os intervalos de confiança reafirmam a significância estatística obtida pelo teste de hipótese. tomia; PS: pressão de suporte Fisioterapia_v8n2.indb 104 24/4/2007 15:08:08 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 Tabela II - Variáveis ventilométricas antes, durante e após compressão unilateral do tórax. Variáveis M1 Média (± DP) 8,86 (±2,03) VM (l) FR (ipm) VC (l) 17,86 (±4,69) M2 Média (± DP) M3 Média (± DP) 9,37 (±2,46) 8,96 (±1,83) 23,14 (±5,89)* 18,07 (±4,12)** 504,10 (±67,61) 407,98 (±68,71)* 502 (±62,36)** M1 = medida pré-compressão; M2 = medida durante a compressão unilateral do tórax; M3 = medida após a compressão; VM: volume minuto; FR: freqüência respiratória; VC: volume corrente. * = valores significativamente diferentes com relação a M1, ** = valores significativamente diferentes com relação a M2. Figura 2 - Freqüência respiratória e volume corrente antes, durante e após manobra compressiva. Média ± desvio padrão M1= antes, M2=durante e M3=após Tabela III - Intervalo de confiança entre as diferenças das variáveis ventilométricas nos diferentes tempos. Variáveis VM FR VC M1 – M2 M2 – M3 M1 – M3 -0,7 ; 1,09 -1,08 ; 0,3 -0,3 ; 0,5 2,9 ; 7,6 -7,5 ; -2,7 -0,9 ; 1,3 -136,4 ; -55,9 56,7 ; 131,2 -23,4 ; 19,0 VM: volume minuto (L) ; FR: freqüência respiratória (ipm); VC: volume corrente (mL) M1-M2: antes – durante; M2-M3: durante – após; M1-M3: antes - após Discussão A redução do VC, com ventilação minuto mantida através do aumento da FR observada em nosso estudo, assemelha-se aos resultados encontrados por diversos autores que avaliaram os efeitos ventilatórios da restrição total do tórax [4,5,8,9]. Considerando-se que o objetivo desta intervenção fisioterapêutica é direcionar o fluxo de ar para um dos pulmões a Fisioterapia_v8n2.indb 105 105 fim de expandi-lo [1-3], a restrição unilateral do tórax parece não ter sido capaz de alcançar este objetivo. Como a pressão de suporte foi a mesma para todo o protocolo, esperar-se-ia que, durante a intervenção, o VC não se alterasse significativamente. Da mesma forma, após o término da manobra compressiva, poderia haver aumento do VC para a mesma pressão de suporte, caso o efeito reexpansivo da intervenção resultasse em melhora da mecânica respiratória. Como este estudo não foi aplicado a pacientes, comprovadamente, apresentando colapso pulmonar, esta hipótese deve ser melhor avaliada em estudos subseqüentes. Em estudos em que a mecânica respiratória foi analisada, durante a restrição total do tórax, a alteração na curva pressão x volume do pulmão caracterizou piora da complacência pulmonar [4-,8,10). Os autores atribuíram este resultado ao aumento do recolhimento elástico gerado pela imposição de pressão sobre o tórax. Considerando que a manobra de direcionamento de fluxo, também, promove sobrecarga elástica e que a magnitude das alterações ventilométricas de nosso estudo foi semelhante a dos autores que avaliaram a restrição total do tórax, estes achados sobre a mecânica respiratória, talvez possam ser extrapolados para nossa intervenção, sendo possível, assim, suspeitarmos de um potencial efeito deletério da manobra, só que de forma localizada. Uma vez que, nos estudos de compressão total do tórax , a complacência pósrestrição só foi normalizada após respiração profunda [4,6], caso o direcionamento de fluxo venha a ser utilizado, talvez seja recomendável algum procedimento para aumento da pressão transpulmonar, após a manobra, objetivando a reversão do possível colapso homolateral. Nesta situação, a manobra de direcionamento de fluxo deveria apresentar um efeito expansivo, superior às técnicas convencionais, para justificar sua utilização, uma vez que um procedimento reconhecidamente expansivo deveria ser utilizado para desfazer seus possíveis efeitos deletérios no hemitórax contra-lateral à região que se deseja expandir. Outro possível agravante à condição geral do paciente diz respeito ao possível aprisionamento de ar causado pela técnica, visto que respirações com baixo VC e FR elevada podem induzir esta condição [11,12]. O aumento da FR, em resposta a sobrecarga elástica imposta ao tórax, ocorre por resposta reflexa [13] e tem por objetivos manter o oxigênio e gás carbônico arteriais em níveis adequados, bem como atenuar o aumento de trabalho respiratório [14]. Esse aumento da FR caracteriza a habilidade do sistema respiratório em manter uma ventilação adequada mesmo com imposição de cargas elásticas [15]. Em indivíduos com comprometimento da função respiratória, ventilando espontaneamente (com ou sem suporte ventilatório), a sobrecarga de trabalho elástico pode ser mais um agravante para a condição geral do paciente. Com a restrição ventilatória do hemitórax que sofre a compressão, as trocas gasosas dependerão, principalmente, da integridade funcional do pulmão contra-lateral. Considerando-se que este é o pulmão que se deseja tratar (doente), pode haver risco de aumento da de- 24/4/2007 15:08:09 106 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 manda ventilatória e/ou hipoxemia arterial, dependendo do grau de comprometimento pulmonar de cada paciente. Acreditamos que, em nosso estudo, a manutenção do VM, em todos os momentos, só foi possível pelo fato de nossa amostra ser composta de indivíduos com estímulo neuromuscular ventilatório preservado. Talvez, em indivíduos com depressão ventilatória e/ou distúrbios do controle da ventilação, as adaptações do padrão ventilatório não ocorram ou se apresentem de forma diferente [7]. Os resultados deste estudo não se aplicam a pacientes em ventilação com volume controlado, visto que a intervenção foi aplicada durante a ventilação com pressão de suporte. Provavelmente, em modos de ventilação com volume controlado, as adaptações ventilatórias se dariam de forma diferente devido ao VC pré-determinado. Nesta situação, pela maior impedância respiratória no hemitórax homolateral à compressão, maior fração do volume corrente será direcionada para o hemitórax contra lateral, porém, dependente de um aumento na pressão de admissão proporcional à carga elástica imposta pela manobra. Em vista deste efeito, pode-se considerar o simples aumento do VC estipulado no ventilador mecânico para promover a expansão, evitando-se desta forma o risco de colapso proporcionado pela compressão do hemitórax homolateral. Estudos adicionais são necessários para avaliar especificamente a variação de volume corrente no hemitórax contralateral durante a compressão, as repercussões deste tipo de intervenção nas trocas gasosas e na mecânica respiratória, bem como o efeito do DF em indivíduos apresentando atelectasia contra-lateral à compressão do tórax. Referências Conclusão A compressão manual torácica unilateral promove alteração do padrão ventilatório em pacientes com via aérea artificial e ventilando espontaneamente. A redução do volume corrente e o aumento da freqüência respiratória decorrentes da manobra sugerem que a imposição de carga elástica promove adaptações ventilatórias não compatíveis com a expansão do hemitórax contra-lateral, além de gerar sobrecarga ventilatória. Por nosso estudo caracterizar apenas o padrão ventilatório, são necessários novos estudos avaliando especialmente os efeitos deste procedimento sobre a mecânica respiratória e trocas gasosas. Fisioterapia_v8n2.indb 106 1. Barbosa S. Fisioterapia respiratória na encefalopatia crônica da infância. Rio de Janeiro: Revinter; 2002. p.72. 2. Presto BLV, Presto LDN. Manobras de expansão pulmonar. In: Fisioterapia respiratória: Uma nova visão. 2a ed. Rio de Janeiro: BP; 2004. p.183. 3. Regenga MM. Fisioterapia em cardiologia: Da UTI à reabilitação. São Paulo; Roca; 2000. 4. Caro CG, Butler J, DuBois AB. Some effects of restriction of chest cage expansion on pulmonary function in man: an experimental study. J Clin Invest 1960;39:573-83. 5. Stubbs SE, Hyatt RE. Effect of increased lung recoil pressure on maximal expiratory flow in normal subjects. J Appl Physiol 1972;32(3):325-31. 6. Sybrecht GW, Garrett L, Anthonisen NR. Effect of chest strapping on regional lung function. 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Material e métodos: A pesquisa foi realizada com cinco pacientes do sexo feminino, com idade média de 39,2 anos. Foram simuladas atividades para cada paciente, levando-se em conta as seguintes variáveis: freqüência cardíaca (FC), pressão arterial (PA), tempo em minutos e escala de Borg para cansaço. Após avaliação, foram orientados a realizar um programa de conservação de energia, durante quarenta dias, para posterior reavaliação. Resultados: Após análise dos dados, observou-se resultado significativo na diminuição da FC nas atividades propostas. A PA não se alterou em nenhuma das atividades. Conclusão: Para este grupo que utilizou o método de avaliação proposto neste trabalho, houve melhora do impacto da fadiga nas AVD para duas pacientes. Objetive: To evaluate the impact of fatigue on daily activities of people with multiple sclerosis and to propose a program of energy restriction to reduce the impact of fatigue on daily activities. Material and methods: The subjects of the research were five women with an average 39.2 years old. Activities were simulated for each patient, considering the following variables: heart rate, arterial blood pressure, time and Borg’s scale for fatigue. After evaluation, the patients were recommended to follow a program of energy restriction for forty days, for later revaluation. Results: After data analysis, significant result was observed in heart rate reduction in the proposed activities. The arterial blood pressure did not change in any activities. Conclusion: For this group and using the method of evaluation proposed in this work, there was improvement of impact of fatigue on daily activities for two patients. Key-words: multiple sclerosis, fatigue, daily activities. Palavras-chave: esclerose múltipla, fadiga, atividades cotidianas. Introdução A esclerose múltipla (EM) é caracterizada como uma doença inflamatória e degenerativa com etiologia presumidamente autoimune [1]. É caracterizada como uma das principais causas de incapacidade neurológica, em adultos jovens e de meia idade, e pode variar de um simples déficit neurológico ou, em sua forma mais grave, ao óbito em poucas semanas ou meses [2]. Clinicamente, a EM manifesta uma variedade de sintomas, sendo que a fadiga é o mais comum, relatada por 70-90 % dos pacientes [3,4]. A definição de fadiga pode ser feita de várias maneiras, permitindo interpretações diferentes. Para os fisiologistas, é considerada como uma dificuldade em manter a contração muscular, podendo ser objetivamente analisada e quantificada, no entanto, essa definição considera apenas a fadiga muscular, tornando-se muito limitada na prática clínica [5]. Por outro lado, os pacientes de EM referem à fadiga como Recebido em 1 de abril de 2006; aceito em 12 de fevereiro de 2007. Endereço para correspondência: Belmira da Silva Cunha, Rua Biotônico, 1680, Vila Urupês 08615-000 Suzano SP, Tel: (11) 4742-2469 Fisioterapia_v8n2.indb 107 24/4/2007 15:08:09 108 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 sendo um sintoma ou queixa subjetiva de cansaço físico e/ou mental profundos, com perda de energia e exaustão, porém, pouco é conhecido sobre seus mecanismos fisiopatológicos [6-8]. Estudos recentes sugerem que os fatores imunes e neuroendócrinos sejam os causadores principais do surgimento da fadiga, que pode ser transitória ou persistente, muitas vezes apresentando-se de forma severa, e quando persistente, sendo incapacitante e prejudicando, na maioria das vezes, os pacientes em sua performance profissional e social e levando, assim, a um maior impacto na qualidade de vida diária [912].Visando-se esse relevante sintoma da EM, objetivou-se, principalmente neste estudo, analisar o impacto da fadiga sobre as atividades de vida diária e elaborar um programa de conservação de energia com o intuito de diminuir este impacto na execução das mesmas, objetivando a melhora da qualidade de vida. medidas em repouso, foram solicitadas as simulações das seguintes atividades: escovar os dentes, lavar o rosto, pentear os cabelos, tirar a camisa, vestir a camisa, calçar e descalçar sapatos, andar no plano por 5 minutos, subir e descer escada de 3 degraus por 5 vezes e andar com peso de 5 kg nos membros superiores. No início de cada atividade, foi disparado o cronômetro e desligado ao final da atividade. Ao final de cada atividade, foram colhidos os seguintes dados: FC mais alta, tempo total para a realização da atividade e Borg para cansaço. Após a simulação de todas as atividades, foi aplicado o questionário de impacto de fadiga modificado. Após a aplicação das avaliações, foi proposto as pacientes um programa de conservação de energia para que estes o realizassem, em seu domicílio, durante 40 dias, e, após este período, serem reavaliados segundo os mesmos critérios anteriores. O programa de conservação de energia era composto por orientações simples para a realização das atividades em casa, como, por exemplo, controlar o ritmo respiratório; eliminar atividades desnecessárias; incluir períodos de repouso entre as atividades; apoiar os cotovelos para a realização de atividades como se barbear e escovar os dentes; evitar curvar-se e levantar objetos, ao invés disso, puxar, empurrar e afastar; utilizar calçadeiras para colocar os sapatos e tomar banho sentado. As orientações foram explicadas detalhadamente a todos os pacientes. Após os 40 dias de treinamento, os pacientes retornaram e foram reavaliados. Os dados coletados na reavaliação foram enviados para análise estatística e foram utilizados os testes Correlação de Spearman (com nível de significância 0,05) e ANOVA (com nível de significância Rc = 0, 55). Materiais e métodos Foi elaborada uma ficha de avaliação neurológica para evidenciar dados pessoais e questões relacionadas à patologia. Utilizou-se, também, o questionário Escala de Impacto de Fadiga Modificada – MFIS [13], a Escala de Borg Modificada [14] para avaliação das medidas de sensação de cansaço, cronômetro, estetoscópio da marca Rappaport, esfigmomanômetro da marca Sankey e um informativo com o programa de conservação de energia. Sujeitos: a pesquisa foi realizada com cinco pacientes do sexo feminino, com média de idade de 39,2 anos, portadoras de esclerose múltipla. Procedimento: Após a coleta dos dados pessoais e sobre a patologia, foi realizada a avaliação das atividades de vida diária (AVD). Foram colhidas primeiramente as variáveis de freqüência cardíaca (FC), pressão arterial (PA) e mostrada a paciente a Escala de Borg para que indicasse se havia alguma sensação de cansaço em repouso. Após serem tomadas as Resultados Tabelas com a distribuição dos dados pré e pós-conservação de energia dos pacientes I, II, III, IV e V. Tabela I - Paciente 1. Atividade Escovar os dentes Lavar o rosto Pentear Tirar a camisa Vestir a camisa Calçar sapatos* Descalçar sapatos* Andar no plano por 5 minutos* Subir e descer escada* Peso 5kg* FC(bpm) Pré 72 68 68 80 ² 70 ³ Pós 80 80 80 80 ² 80 ³ PA(mmHg) Pré 100/70 100/70 100/70 100/70 100/70 Pós 110/80 110/80 110/80 110/80 110/80 Tempo(min) Pré 46,68 ¹ 38,39 1,16 0,20 0,36 Pós 28,38 ¹ 11,47 3,94 36,28 19,22 Borg Pré 0,5 0,5 1² 1 1³ Pós 0 0 0² 0 0³ ¹ Pré > Pós (p = 0,01) ² Pré > Pós (p = 0,02) ³ Pré > Pós / FC (p = 0,05), Borg (p = 0,008) * paciente não realiza a atividade Fisioterapia_v8n2.indb 108 24/4/2007 15:08:10 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 109 Tabela II - Paciente 2. Atividade FC(bpm) Pré Pós PA(mmHg) Pré Pós Tempo(min) Pré Pós Borg Pré Pós Escovar os dentes 74 73 100/70 110/70 1,25 ¹ 1,06 ¹ 2 2 Lavar o rosto 74 73 100/70 110/70 0,55 0,44 2 2 Pentear 74 73 100/70 110/70 0,20 0,20 2² 2² Tirar a camisa 74 ² 73 ² 100/70 110/70 0,13 0,17 2 2 Vestir a camisa 74 4 73 4 100/70 110/70 0,32 0,13 24 24 Calçar sapatos 74 ² 73 ² 100/70 110/70 0,44 0,28 2 2 Descalçar sapatos Andar no plano por 5 minutos Subir e descer escada 75 ² 75 75 ³ 73 ² 73 75 ³ 100/70 100/70 100/70 110/70 110/70 110/70 0,12 5,00 0,21 0,14 5,00 0,26 3 3 3³ 3 3 3³ Peso 5 kg 75 75 100/70 110/70 2,19 ² 1,22 ² 4 4 Borg Pré Pós ¹ Pré > Pós (P = 0,01) ² Pré > Pós (p = 0,02) ³ Pré > Pós / FC (p = 0,01), Borg (p = 0,009) 4 Pré > Pós / FC (p = 0,05), Borg (p = 0,008) Tabela III - Paciente 3. Atividade FC(bpm) Pré Pós PA(mmHg) Pré Pós Tempo(min) Pré Pós Escovar os dentes 62 72 100/70 110/70 2,50 ¹ 0,34 ¹ 0 0 Lavar o rosto Pentear 64 64 72 73 100/70 100/70 110/70 110/70 0,30 0,09 0,26 0,10 0 0² 0 0² Tirar a camisa 64 ² 73 ² 100/70 110/70 0,05 0,09 0 0 Vestir a camisa 64 4 73 4 100/70 110/70 0,08 0,07 04 04 Calçar sapatos 65 ² 70 ² 100/70 110/70 0,46 0,32 1 0 Descalçar sapatos 65 ² 70 ² 100/70 110/70 0,23 0,10 0 0 Andar no plano por 5 minutos 64 66 130/80 110/70 5,00 5,00 2 0,5 Subir e descer escada 64 ³ 72 ³ 130/70 110/70 0,42 0,41 1³ 0,5 ³ Peso 5 kg 68 70 130/70 110/70 5,00 ² 5,00 ² 2 0,5 ¹ Pré > Pós (P = 0,01) ² Pré > Pós (p = 0,02) ³ Pré > Pós / FC (p = 0,01), Borg (p = 0,009) 4 Pré > Pós / FC (p = 0,05), Borg (p = 0,008) Após análise dos dados pré e pós-conservação de energia, como descrito nas Tabelas I, II, III, IV e V, foi possível observar significância na variável (FC) para as atividades de vestir e tirar a camisa para todos os pacientes; na atividade de calçar e descalçar sapatos para os pacientes 2, 3, 4 e 5 e, na atividade de subir e descer escada para os pacientes 2, 3 e 4. Quanto a variável (PA), não houve alteração significativa em nenhuma das atividades para nenhum paciente. Na variável Tempo, observou-se significância nas atividades de escovar os dentes para todos os pacientes e na atividade de caminhar carregando uma carga de 5kg nas mãos para os Fisioterapia_v8n2.indb 109 pacientes 2, 3 e 4. Observou-se significância da variável Borg para a atividade de pentear os cabelos e vestir a camisa, para todos os pacientes e na atividade de subir e descer escada para os pacientes 2, 3 e 4. Na atividade de lavar o rosto não houve alteração em nenhuma variável para nenhum dos pacientes. Em relação à atividade de andar no plano por 5 minutos, não se observou significância em nenhuma variável. Quanto à avaliação da escala de impacto da fadiga modificada (MFIS), observou-se resultado significativo para duas pacientes, comparando-se o período pré com o pós-conservação de energia, como mostra a Tabela VI. 24/4/2007 15:08:10 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 110 Tabela IV - Paciente 4. Atividade FC(bpm) Pré Pós PA(mmHg) Pré Pós Tempo(min) Pré Pós Borg Pré Pós Escovar os dentes 92 120/80 1,47 ¹ 0 0 82 120/80 1,15 ¹ Lavar o rosto 90 82 120/80 120/80 1,00 1,03 0 0 Pentear 101 85 120/80 120/80 0,41 0,39 0² 0² Tirar a camisa 91 ² 85 ² 120/80 120/80 0,13 0,16 0 0 Vestir a camisa 90 4 85 4 120/80 120/80 0,27 0,08 04 04 Calçar sapatos 90 ² 85 ² 120/80 120/80 0,11 0,21 0 0 Descalçar sapatos 90 ² 85 ² 120/80 120/80 0,07 0,06 0 0 Andar no plano por 5 minutos 88 88 110/80 120/80 5,00 5,00 0,5 0,5 Subir e descer escada 92 ³ 88 ³ 110/80 120/80 0,24 0,48 0,5 ³ 0,5 ³ Peso 5 kg 102 100 120/80 120/80 2,21 ² 2,22 ² 3 4 ¹ Pré > Pós (p= 0,01) ² Pré > Pós (p = 0,02) ³ Pré > Pós / FC (p = 0,01), Borg (p = 0,009) 4 Pré > Pós / FC (p = 0,05), Borg (p = 0,008) Tabela V - Paciente 5. Atividade FC(bpm) Pré Pós PA(mmHg) Pré Pós Tempo(min) Pré Pós Borg Pré Pós Escovar os dentes 66 62 110/70 90/70 1,41 ¹ 0,54 ¹ 1 3 Lavar o rosto 66 62 110/70 90/70 1,08 0,22 1 2 Pentear 66 62 110/70 90/70 0,40 0,26 1² 2² Tirar a camisa 66 ² 63 ² 110/70 90/70 0,32 0,09 2 2 Vestir a camisa 65 ³ 62 ³ 110/70 90/70 1,19 0,40 2³ 2³ Calçar sapatos 68 ² 62 ² 110/70 90/70 2,01 0,30 4 1 Descalçar sapatos 68 ² 62 ² 110/70 90/70 0,18 0,21 0 0 Andar no plano por 5 minutos* Subir e descer escada* Peso 5kg* ¹ Pré > Pós (p = 0,01) ² Pré > Pós (p = 0,02) ³ Pré > Pós / FC (p = 0,05), Borg (p = 0,008) * paciente não realiza a atividade Tabela VI - Avaliação da escala de impacto da fadiga modificada (MFIS), pré e pós-conservação de energia. *Rc=0,55 Fisioterapia_v8n2.indb 110 Número MFIS 1 0,39 2 0,46 3 0,43 4 0,55* 5 0,69* Discussão Na EM, a fadiga é um sintoma freqüente e geralmente incapacitante, com freqüência é observada antecedendo ou acompanhando o surto da doença, prejudicando a qualidade de vida dos pacientes [9,12]. Assim, é de suma importância a orientação sobre conservação de energia, pois há uma necessidade de priorizar as atividades mais importantes sabendo como executá-las da melhor maneira, ou seja, com menor gasto energético. No estudo realizado, as variáveis que sofreram alterações pós-conservação de energia foram (FC), Borg para cansaço e 24/4/2007 15:08:10 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 tempo de realização das atividades sendo que, a mais significativa foi a (FC), pois se alterou na maior parte das atividades que obtiveram resultados significantes (tirar a camisa, vestir a camisa, calçar sapatos, descalçar sapatos e, subir e descer escadas). Um aumento de (FC) ocorre devido à elevação da temperatura corpórea, chegando às vezes ao dobro do normal [15]. Presumivelmente, estes efeitos resultam do fato do calor aumentar a permeabilidade iônica da membrana celular, resultando em aceleração do processo de auto-excitação. A força contrátil do coração é, por vezes, aumentada temporariamente devido à elevação moderada da temperatura, porém a sustentação da hipertermia exaure os sistemas metabólicos do coração causando fraqueza e assim aparecem os sinais de fadiga. Demonstrou-se com este estudo que, após a execução do programa de conservação de energia, houve uma diminuição da (FC), sugerindo menor gasto energético na realização das atividades e, conseqüentemente, diminuindo a fadiga. Conclusão Observou-se, neste estudo, que houve uma redução das variáveis: freqüência cardíaca, Borg para cansaço e tempo de realização das atividades, sugerindo um menor gasto energético na realização das atividades após treinamento do programa de conservação de energia. Segundo o relato das pacientes, houve uma melhora global nas atividades de vida diária, pois com a conservação de energia conseguiram ter mais facilidade na execução de suas tarefas, tendo assim mais disposição para novas atividades. Portanto, concluiu-se que para este grupo analisado e utilizando-se do método de avaliação proposto neste estudo, houve melhora do impacto da fadiga nas atividades de vida diária de duas pacientes. Fisioterapia_v8n2.indb 111 111 Referências 1. Lucchinetti C, Bruek W, Parisi J, et al. Heterogeneity of multiple sclerosis lesions: implications for the pathogenesis of demyelination. Ann Neurol 2000;47:707-17. 2. Souza L, Bates D, Moram G. Neurologia para fisioterapeutas. São Paulo: Premiere; 2000. 3. Zifko UA. Therapie der tagesmüdigkeit mit multipler sklerose. Wien Med Wochenschr 2003;153:65-72. 4. Ward N, Winters S. Results of a fatigue management programme in multiple sclerosis. Br J Nursing 2003;12:1075-80. 5. Mendes MF, Tilbery CP, Balsimelli S. Fadiga na forma remitente recorrente da esclerose múltipla. Arq Neuropsiquiatr 2000;58(2B):471-5. 6. Schwid SR, Covington M, Segal BM, Goodman DA. Fatigue in multiple sclerosis: current understanding and futures directions. 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Physiopathology and treatment of fatigue in multiple sclerosis. J Neurol 2001;248:174-9. 14. Borg G. An introduction to Borg’s RPE-Scale. New York: Mouvement Publications; 1985. 15. Guyton AC. Tratado de fisiologia médica. 9a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1997. 24/4/2007 15:08:10 112 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 Artigo original Protocolo de reabilitação em pacientes no pósoperatório de luxação traumática anterior do ombro Protocol of rehabilitation in patients in the postoperative of anterior traumatic luxation of shoulder Andréia Basta, Ft.*, Heloisa Anhaia de A. Botelho, Ft.**, Marcus Vinicius Grecco, Ft.**, Rodrigo J. Dini** *Supervisora de reabilitação da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, **Fisioterapeutas e Especialistas da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo Resumo Abstract A luxação traumática anterior do ombro é uma afecção muito comum na prática ortopédica, despertando grande interesse nos profissionais da saúde. O objetivo deste trabalho foi elaborar um protocolo de reabilitação para pacientes com luxações traumáticas anteriores de ombro, que foram submetidos a procedimentos cirúrgicos. As técnicas cirúrgicas usadas foram: capsuloplastia de Neer, reparação de Bankart e colocação de enxerto ósseo (técnicas por via aberta). Duas técnicas artroscópicas, também, foram usadas: Bankart e retensionamento capsular. Participaram da aplicação do protocolo 16 pacientes (16 ombros), que foram encaminhados pelo grupo de ombro e cotovelo da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (ISCMSP). Foram reavaliados 14 pacientes (14 ombros) através da mensuração da amplitude de movimento, segundo a Academia Americana dos Cirurgiões Ortopedistas (AAOS), e força muscular, além da aplicação da tabela da University of Califórnia, Los Angeles (UCLA). A aplicação de um protocolo de reabilitação imediato, para pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos mostrou-se eficaz, uma vez que, 11 (78,5%) pacientes obtiveram resultados satisfatórios e apenas três (21,4%) apresentaram índices insatisfatórios. The traumatic anterior luxation elbow is a very common affection in orthopedics and interesting for health professional. The present work proposes a rehabilitation protocol for patients with traumatic anterior elbow luxation, who were submitted to surgical procedures. The techniques used were: Neer capsuplasty, Bankart reparation and bone grafting (open techniques). Two arthroscopy techniques were also used: Bankart repair and retension capsular. Participated sixteen patients (elbows) addressed by the Elbow Group of Santa Casa de Misericórdia of São Paulo. In fourteen of them were measured the movement amplitudes, according to Orthopedic American Academy, and muscular strength, with application of University of California, Los Angeles table. The application of an immediate rehabilitation protocol for patients submitted to surgical procedures was efficient, because eleven (78,5%) of the patients obtained a satisfactory result. Key-words: rehabilitation, shoulder, luxation, trauma. Palavras-chave: reabilitação, ombro, luxação, trauma. Introdução O ombro é responsável pela execução da maior parte da movimentação e posicionamento do membro superior no espaço. Graças as suas características anatômicas e funcionais, o ser humano consegue realizar tarefas que, do ponto de vista biomecânico e de integração neuromotora, são muito complexas [1,2]. Em virtude de sua anatomia e biomecânica, é uma das articulações mais instáveis e, freqüentemente, luxadas no corpo, respondendo por aproximadamente 50% de todas as luxações [1-3]. A maioria dos autores concorda que existe um continuum entre luxação e instabilidade. Em outras palavras, pensava-se que a luxação se devia, exclusivamente, a uma ruptura traumática em que ocorria a desinserção do labrum da reborda da glenóide, e que a instabilidade se devia à cápsula hipermóvel. Recebido em 15 de julho de 2006; aceito em 15 de março de 2007. Endereço para correspondência: Marcus Vinicius Grecco, Rua Ribeiro de Barros, 81/31 Vila Pompéia 05027-020 São Paulo SP, E-mail: mvgrecco@ ig.com.br Fisioterapia_v8n2.indb 112 24/4/2007 15:08:11 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 113 Sabe-se, hoje, que ambas podem coexistir no mesmo ombro [4]. Segundo Fiorentini apud Lech [4], luxação recidivante do ombro é aquela que, depois de uma luxação provocada por um traumatismo mais ou menos violento, se produz com freqüência e facilidade na ocorrência de traumatismos mínimos ou, também, durante a execução dos movimentos usuais do braço. Ela ocorre em torno de 80% dos casos de luxação traumática primária e caracteriza-se por novas luxações determinadas por traumatismos de menor intensidade [4]. A luxação recidivante do ombro é, na grande maioria das vezes, anterior ou ântero-inferior. Trata-se de uma lesão bastante comum nos consultórios ortopédicos e, por acometer jovens, muitas vezes atletas, pode ser bastante incapacitante [5]. Como conseqüência da luxação da cabeça do úmero em relação à cavidade glenóide, pode ocorrer a desinserção do lábio glenoidal, conhecida como lesão de Bankart, e lesão na região póstero-lateral da cabeça do úmero, conhecida como lesão de Hill-Sachs [6]. A correção cirúrgica está indicada nos casos de luxação anterior do ombro, pois os pacientes com este problema, geralmente, são incapazes de participar de atividades com movimentos acima da cabeça, cada luxação inflige certo dano à superfície articular e o tratamento conservador não é efetivo em prevenir a instabilidade contínua [9,10]. Pardini e Freitas [7] sugerem que, após uma cirurgia do ombro, a reabilitação costumava ser iniciada tardiamente, após a cicatrização dos tecidos, o que resultava em atrofia significativa da musculatura do ombro e em uma compensação da musculatura escapular durante a elevação do braço. É justamente com o intuito de iniciar uma reabilitação mais precoce e minimizar os efeitos maléficos causados pela imobilização prolongada pós-operatória, que este trabalho se propõem. bem definida, através de um trauma importante; possuindo edema e dor com possível lesão nervosa; precisa de ajuda para reduzir e a lesão é quase sempre unidirecional [4]. As luxações anteriores compreendem cerca de 85% dos casos e podem ser de vários tipos (subcoracóide, subglenóide, subclavicular e intratorácica) [4]. As lesões anatômicas mais comumente associadas à luxação do ombro são: a Bankart (desinserção da porção anterior da cápsula articular anterior do labrum); a Hill Sacks (fratura compressiva da região póstero-lateral da cabeça umeral, provocada pelo impacto desta contra a borda inferior da glenóide); a Slap Lesion (lesão anterior e posterior da região superior do lábio da glenóide e do tendão da cabeça longa do bíceps braquial), as fraturas, lesões do manguito rotador e as vasculonervosas (lesão nervo axilar e artéria axilar) [5,11,4]. O diagnóstico é clínico, a anamnese e o exame físico são fundamentais, a classificação é de extrema importância para planejar o tratamento. É importante determinar a etiologia (traumática ou atraumática), a direção (anterior, posterior, ou multidirecional), facilidade ou não de redução, recorrência, tipo e duração da imobilização utilizada durante a luxação inicial, sinais e sintomas de lesões nervosas, além de outras características da instabilidade. Além da história, que geralmente é típica, há manobras (teste de apreensão, sinal de gaveta, sinal de sulco e o teste de recolocação) no exame físico que confirmam o diagnóstico. Os exames radiológicos complementam o diagnóstico e ajudam a identificar lesões associadas, importantes no planejamento do tratamento. Quando são necessárias mais informações sobre o complexo cápsulo-ligamentar, pode-se indicar a artro-ressonância magnética [1,7,4]. Os médicos ortopedistas da ISCMSP tendo o diagnóstico preciso, submetiam os pacientes participantes deste trabalho à técnicas cirúrgicas por via aberta, como: capsuloplastia de Neer, reparo de Bankart e enxertia óssea.Usaram também duas técnicas artroscópicas: retensionamento capsular e reparo de Bankart (menos agressivo que a via aberta) [5,12,11,13]. Luxação traumática anterior do ombro O ombro normal pode tornar-se instável como resultado de trauma. Embora, o ombro possa ser luxado por traumatismo direto, tal como um golpe dirigido ao úmero proximal, uma força indireta constitui a causa mais comum de entorse, subluxação ou luxação de ombro. A combinação de forças de abdução, extensão e rotação lateral aplicadas ao braço podem resultar em uma luxação anterior [8]. Nevasier et al., citado por Lech, relatam o mecanismo de lesão envolvendo forças indiretas aplicadas no membro superior com o ombro na posição de rotação lateral combinada com abdução ou hiperextensão [4]. Segundo Lech [4], a luxação traumática anterior é causada por força violenta (impacto direto, queda, etc.) sobre a articulação escapuloumeral, sem lesão prévia, ocorrendo, geralmente, ruptura e desinserção do labrum (lábio), dos ligamentos glenoumerais e da cápsula, originando a lesão de Bankart. O paciente não possui sintomas prévios no ombro e a lesão é Fisioterapia_v8n2.indb 113 Materiais e métodos No período compreendido entre março de 2002 a dezembro de 2003, foram atendidos no setor de fisioterapia do membro superior, no centro de reabilitação da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (ISCMSP), 16 pacientes (16 ombros), de ambos os sexos, submetidos a procedimento cirúrgico de capsuloplastia, via aberta ou artroscópica, podendo ter associado reparação da lesão de Bankart e colocação de enxerto ósseo, os quais foram encaminhados pelo grupo de ombro e cotovelo desta mesma instituição. Foram excluídos, deste trabalho, os pacientes que realizaram o procedimento cirúrgico em outra instituição e os que apresentavam quadros de epilepsia, lesão associada do manguito rotador e grandes alterações degenerativas articulares. 24/4/2007 15:08:11 114 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 Todos os pacientes foram submetidos a uma avaliação (Anexo I), na qual foi colhida a identificação do paciente, data da cirurgia, tipo de cirurgia, dominância, lado acometido, história da lesão e exame físico (inspeção, palpação e sensibilidade). Os itens de amplitude de movimento (ADM), força muscular (FM) e ritmo escapulotorácico foram mensurados, a partir da 12ª semana de pós-operatório, com o objetivo de preservar o membro operado. Para mensurar os graus de amplitude articular usamos o goniômetro, cujo método é descrito pela Academia dos Cirurgiões Ortopedistas (AAOS), em que são medidos os ângulos de movimentos em relação à elevação ativa e rotação lateral ativa com cotovelo a 90º de flexão junto ao tronco. A rotação medial foi mensurada de acordo com o nível vertebral (número da vértebra) alcançado pelo polegar do lado acometido. A mensuração da força muscular da elevação, rotação lateral e medial foi realizada manualmente pelo terapeuta e baseou-se na escala de força muscular (0 a 5). Ambas as medidas foram realizadas bilateralmente. O protocolo de reabilitação (Anexo II) teve início no primeiro dia de pós-operatório, com atendimento ao paciente na enfermaria, onde foi realizado analgesia, posicionamento no leito e orientações quanto à imobilização (velpeu). As fases seguintes do protocolo foram divididas em três e os atendimentos passaram a ser ambulatoriais, duas vezes por semana, com sessões de 45 minutos. É importante ressaltar que, os pacientes submetidos a procedimento cirúrgico via artroscópica apresentam algumas diferenças no protocolo de reabilitação. Por ser uma cirurgia menos agressiva estes podem iniciar o trabalho de ganho de força muscular com 12 semanas de pós-operatório, enquanto os pacientes submetidos a via aberta só o fazem com 16 semanas. Ao término do tratamento, os pacientes foram reavaliados, e foi mensurada a amplitude de movimento e força muscular final dos movimentos de elevação, rotação lateral e rotação medial. A análise dos resultados foi feita através da escala definida pela University of Califórnia, Los Angeles (UCLA), (Anexo III). Nesta escala, a máxima pontuação é de 35; são considerados excelentes os casos com 34 ou 35 pontos, bons os com pontuação entre 28 e 33, regulares entre 21 e 27 e ruins com 20 pontos ou menos. pacientes (71,42%). O membro superior dominante era o direito em 13 pacientes (92,85%), e o esquerdo em apenas um paciente (7,15%). Resultados A mensuração da amplitude de movimento ativa foi realizada, inicialmente, na primeira sessão e reavaliada ao fim do tratamento, e tiveram como média inicial 116,6º de elevação (90ºa 160º); 22,8º de rotação lateral (0ºa 45º) e T12 de rotação medial (sacro aT7). Ao final do tratamento, as médias obtidas para estas mesmas amplitudes foram: 153º de elevação (110ºa 180º); 45,2º de rotação lateral (5ºa 65º) e T7 de rotação medial (sacro a T5). Foram tratados, no setor de fisioterapia do membro superior 16 pacientes (16 ombros) com tempo de tratamento variando de 3 a 9 meses (média de 4,8 meses). Dois pacientes (dois ombros) foram excluídos do trabalho, pois um não retornou aos atendimentos e o segundo evoluiu com capsulite adesiva, abandonando o tratamento. Destes, um era do sexo feminino (7,15%) e 13 do sexo masculino (92,85%), com idades variando de 14 a 57 anos de idade (média de 35,7 anos). O lado esquerdo estava envolvido em quatro pacientes (28,57%), e o direito em 10 Fisioterapia_v8n2.indb 114 Com relação ao tipo de procedimento cirúrgico, três pacientes (21,42%) realizaram artroscopia e 11 pacientes (78,57%) realizaram cirurgia via aberta, sendo que, dos que realizaram a via aberta, quatro colocaram enxerto ósseo (33,3%). Amplitudes Elevação Rot. Lat. Rot. Medial Inicial 116,6º 22,8º T 12 Final 153º 45,2° T7 24/4/2007 15:08:11 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 Força Musc. Elevação Rot. Lat. Rot. Medial Inicial 3 3,2 3,6 Final 4,2 4,4 4,6 As médias de força muscular, no início do tratamento, foram grau 3 (3 a 4) para elevação; 3,2 (3 a 4) para a rotação lateral e 3,6 (3 a 4) para a rotação medial. Ao final do tratamento, as média obtidas foram: grau 4,2 (4 a 5) para elevação; 4,4 (4 a 5) para a rotação lateral e 4,6 (4 a 5) para rotação medial. Como já foi dito, todos os pacientes foram reavaliados pela tabela da UCLA, e a média encontrada foi de 29,8 pontos (19 a 34), obtendo-se, assim, dois resultados excelentes (14,28%), nove bons (64,28%), dois regulares (14,28%) e um ruim (7,14%). Portanto, 11 pacientes obtiveram resultados satisfatórios (78,57%) e três insatisfatórios (21,42%). O protocolo de reabilitação, quando iniciado no pósoperatório imediato, é eficaz. A comprovação vem do teste de wilcoxon (nonparametric statistics for the behavioral siences), no qual o p-valor = 0,001.Este resultado foi obtido dos 14 pacientes que tinham no inicio da avaliação UCLA <= 20(ruim), e na reavaliação tivemos: 2 pacientes com resultado excelente; 9 com bom resultado; 2 com resultado regular e 1 sem melhora(citado exaustivamente acima). Discussão A luxação traumática anterior do ombro acomete, preferencialmente, pessoas de sexo masculino e adultos jovens, que tem atividade física e esportiva bastante intensa [5]. Este dado coincide com os nossos resultados, uma vez que, 13 pacientes (92,85%) eram do sexo masculino e a média de idade variou de 14 a 57, com uma média de 35,7 anos de idade. Com relação ao procedimento cirúrgico, observamos que 11 pacientes (78,57%), realizaram a cirurgia por via aberta e apenas três (21,42&%), realizaram artroscopia. Fisioterapia_v8n2.indb 115 115 Este dado não coincide com a literatura, pois sabemos que a artroscopia é um procedimento menos agressivo e vem, a cada dia, ganhando espaço nas cirurgias de ombro. Porém, como este trabalho foi realizado em uma instituição filantrópica, o baixo número de cirurgias artroscópicas se deve, na maioria das vezes, à falta de material apropriado para a realização deste procedimento. Jorgensen apud Hayes [14] relata não existir muitas diferenças entre as técnicas (aberta e artroscopia), porém ressalta que na cirurgia por via aberta, o paciente está mais propenso a apresentar uma limitação da rotação lateral no pós-operatório, o que não acontece com os pacientes submetidos ao procedimento por via artroscópica [14]. Infelizmente, não podemos concordar com esta informação, uma vez que temos apenas três pacientes submetidos a procedimento via artroscópica, que é um número muito pequeno dentro da nossa amostra. O mesmo podemos dizer dos pacientes submetidos a procedimento cirúrgico por via aberta, com colocação de enxerto ósseo, que, neste caso, estariam mais propensos a evoluir com déficit da rotação lateral. Porém, não temos número suficiente de pacientes, na nossa amostra, para comprovar essa afirmação. Nicoletti et al, citado por Lech, consideram a capsuloplastia de Neer e a técnica de Bankart eficazes na recuperação funcional, em pacientes submetidos a estas técnicas, sendo um procedimento adequado para o tratamento da instabilidade glenoumeral recidivante [4]. Concordamos com esta afirmação, já que, após a aplicação do protocolo, os resultados obtidos mostraram uma melhora significativa no ganho de amplitude de movimento e de força muscular inicial e final e obtivemos um índice de 78,57% de resultados satisfatórios após a reavaliação. Acreditamos que o protocolo de reabilitação, quando iniciado, no pós-operatório imediato, em pacientes com luxação traumática anterior do ombro, submetidos a procedimentos cirúrgicos, aqui citados, é eficaz e tem grande índice de satisfação. Embora muito se fale de luxação traumática anterior do ombro, que é uma patologia muito comum em nosso meio, e do seu tratamento cirúrgico, com várias técnicas descritas, pouco sabemos sobre a reabilitação no pós-operatório desta patologia, uma vez que quase não existem trabalhos sobre este assunto. Podemos dizer que a reabilitação é essencial no pós-cirúrgico desta patologia, pois por acometer adultos jovens, estes necessitam do máximo de função no membro acometido, para que possam exercer as mais diversas atividades com este. Vale a pena salientar que, para se obter sucesso na reabilitação destes pacientes, é essencial que se crie vínculos com a equipe médica, já que, a luxação traumática anterior do ombro pode apresentar grande número de lesões associadas e, para a plena recuperação do paciente é essencial sabermos todas as lesões que foram reparadas durante o procedimento cirúrgico. 24/4/2007 15:08:12 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 116 Conclusão Concluímos que: é uma patologia que acomete principalmente adultos jovens; a reabilitação no pós-operatório é essencial para um retorno mais rápido as atividades de vida diária; após a aplicação do protocolo observamos aumento da amplitude de movimento e força muscular no membro acometido; 13 pacientes se consideram satisfeitos com o tratamento. Referências 1. Américo ZP et al. Reabilitação do ombro e cotovelo. In: Amatuzzi MM , Greve J MDA. Medicina de reabilitação aplicada à ortopedia e traumatologia. 1a ed. São Paulo: Roca; 1999. p.159-80. 2. Arrigo C et al. Reabilitação do ombro. In: Andrews JR, Harrelson GL, Wilk KE. Reabilitação física das lesões desportivas. 2a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2000. p.350-403. 3. Checchia SL, Doneux P et al. Luxação anterior inveterada de ombro. Resultados obtidos no tratamento cirúrgico. Rev Bras Ortop 1996;31(8). 4. Lech O. Traumatismos do ombro. In: Hebert S et al. Ortopedia e traumatologia: princípios e práticas. 3a ed. Porto Alegre: Artmed; 2003. p.981-1021. 5. Checchia SL, Doneux PS et al. Tratamento cirúrgico da luxação recidivante anterior do ombro pela técnica da capsuloplastia associada com a reparação da lesão de Bankart. Rev Bras Ortop 1993;28(9). 6. Rowe C et al. Diagnosis and treatment of traumatic anterior instability of the shoulder. Clin Orthop Relat Res 1993;291:75-84. 7. Pardini AG, Freitas PP.Tratamento fisioterapêutico do membro superior. In: Herbert S et al. Ortopedia e traumatologia: princípios e práticas. 3a ed. Porto Alegre: Artmed; 2003. p.1160-82. 8. Rockwood CA et al. Glenoumeral instability. 2a ed. Philadelphia: WB Saunders; 1998. p. 483-543 9. Neer CS et al. Causes of failure in repairs for recurrent shoulder dislocation. In: Neer C S II shoulder reconstruction. Philadelphia:WB Saunders; 1990. p. 279. 10. Neer CS et al. Inferior capsular shift for inferior and multidirecional instability of the shoulder: a preliminary report. J Bone Joint Surg Am 1980;62(6):897-908. 11. Doneux P et al. Tratamento da luxação recidivante anterior do ombro: uso de enxerto ósseo na deficiência da glenóide. Rev Bras Ortop 1997;32(9). 12. Carrera E F, Amatuzzi MM. Reparação de Bankart por via artroscópica. Rev Bras Ortop 1995;30(10):779-82. 13. Sandoval FA et al. Reconstrução cirúrgica da lesão de Bankart. Rev Bras Ortop 1998;33(9):719-23. 14. Hayes K et al. Shoulder instability: management and rehabilitation. J Orthop Sports Phys Ther 2002;32(10). Anexo I Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo Avaliação no pós-operatório de luxação traumática anterior do ombro Data da avaliação:____/____/____ Fisioterapeuta: _________________ Nome:____________________________________________________________________ Reg:_______________ Tel:_______________ Data de Nascimento:____/___/____ Idade:______ Sexo: Feminino Masculino Data da cirurgia ___/___/___ Técnica Cirúrgica: Via aberta Artroscopia Lesão Bankart Enxerto Dominância: destro canhoto Local da lesão: dominante não dominante História da lesão: __________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________ Inspeção: Edema: local generalizado Postura: normal antálgica Musculatura: hipotrofia hipertrofia _________________ _________________ _________________ _________________ Palpação: Dor: acrômio art. acromioclavicular processo coracóide art. esternoclavicular espinha escapular cabeça do úmero clavícula tendões _________________________ músculos ______________________________ Fisioterapia_v8n2.indb 116 24/4/2007 15:08:12 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 117 Sensibilidade: Tátil: normal alterada (esponja) Térmica: normal alterada (gelo) Dolorosa: normal alterada (digito pressão) OBS: (Avaliar a partir da 12ª semana, os tipos de dor e o grau de mobilidade e força). Dor: Dinâmica Estática Noturna Grau de mobilidade e Força: DE ADM: Elevação ___/____ º FM: D - 0 1 2 3 4 5 E-012345 Ritmo escapuloumeral: normal Diurna DE Rotação lateral ____/_____ º 012345 012345 DE Rotação medial ____/____ 012345 012345 alterado Anexo II Reavaliação Tempo de tratamento: início:____/_____/______ término: ____/____/_____ normal alterada Funcionalidade: Grau de mobilidade e força: Sensibilidade: Tátil: normal alterada (esponja) Térmica: normal alterada (gelo) Dolorosa: normal alterada (digito pressão) UCLA: Pontos Dor Função A.D.M F.M Satisfação Total Anexo III Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo Protocolo de reabilitação no pós de luxação traumática anterior do ombro 1 Fase (0 – 4 Semanas): Analgesia – Gelo, TENS Eletrotermoterapia – U.S (Ultra-som pulsátil) – Reparação tecidual Cinesioterapia – Exercícios pendulares (sem cargas) Movimentação passiva em rotação lateral neutra Mobilização cervical (flexão, extensão, circunducão e inclinação lateral Alongamento (musculatura cervical) Tração cervical e escapula em DD Massagem clássica, relaxamento do ombro e cervical escapular. Massagem cicatricial, ventosa (via aberta). Manual de orientação – Posicionamento Exercícios Cuidados Fisioterapia_v8n2.indb 117 24/4/2007 15:08:12 118 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 2 Fase (4 a 12 Semanas via aberta): Cinesioterapia – Elevação passiva e ativa do ombro Movimentação passiva em rotação completa (limite de dor) Mobilização cervical (flexão, extensão, circunducão e inclinação lateral Alongamento (musculatura cervical) Tração cervical e escapula. Massagem cicatricial, ventosa (via aberta). Aumento ADM Propriocepção (sem impacto) Mobilização ativa (bastão, bola) 3 Fase ( 12 semanas até alta ) (Fortalecimento 12 semanas via artroscópica / 16 semanas via aberta ) Cinesioterapia – Fortalecimento (Série de Neer) Propriocepção (disco, bola) Alongamento (livres) Movimentos de atividades diárias Coordenação (bate bola, arremesso) Pliometria (bastão, cama elástica) Anexo IV Escala de avaliação da dor no ombro Universidade da California de Los Angeles Dor Presente o tempo todo e insuportável; medicação potente frequente Presente o tempo todo, mas suportável; medicação potente ocasional Nenhuma ou pouca dor em repouso, pior nas atividades; AINH frequente Presente apenas em atividades pesadas ou específicas; AINH ocasional Dor ocasional e leve Nenhuma dor 01 02 04 06 08 10 Função Incapaz de usar o membro Realiza somente algumas atividades leves Capaz de fazer leves trabalhos domésticos e a maioria das AVD’s Realiza maioria das AVD’s, dirigir, pentear-se, vestir-se e colocar o sutiã Pequenas restrições, capaz de realizar trabalhos acima do nível do ombro Realiza as atividades normalmente 01 02 04 06 08 10 ADM (elevação ativa) 150º ou mais De 120º a 140º De 90º a 120º De 45º a 90º De 30º a 45º Menos de 30º Fisioterapia_v8n2.indb 118 05 04 03 02 01 0 24/4/2007 15:08:12 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 119 Força muscular (elevação: teste manual) Grau 05 – Normal Grau 04 – Bom Grau 03 – Regular Grau 02 – Ruim Grau 01 - Contração Muscular Grau 0 – Sem Contração Muscular 05 04 03 02 01 0 Satisfação do paciente Satisfeito – Melhor Insatisfeito – Pior 05 0 Total: ______ pontos (Pontuação Máxima = 35 pontos) 34 / 35 Excelente 28 / 33 Bom 21 / 27 Regular 20 ou menos Ruim Fisioterapia_v8n2.indb 119 24/4/2007 15:08:12 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 120 Artigo original Efeitos da terapia combinada comparados aos da corrente interferencial e ao ultra-som no tratamento da cervicalgia crônica Effects of the combined therapy compared of the current interferential and the ultrasound in neck pain chronic treatment Cinthia Paris Rodrigues, Ft.*, Ligia Maria Facci, M.Sc.* *Centro Universitário de Maringá Resumo O objetivo deste estudo foi comparar os resultados obtidos com a aplicação da Terapia Combinada (Corrente Interferencial e Ultra-som) em indivíduos com cervicalgia crônica com a utilização dos mesmos recursos separadamente. Dezesseis pacientes, sendo 14 do sexo feminino e 2 do sexo masculino, foram avaliados por um examinador independente, através de uma ficha pré-elaborada que continha mapeamento de pontos gatilhos, escala análoga visual da dor (EVA) e uma escala de capacidade funcional. Após a seleção e a inclusão, os pacientes foram randomizados em dois grupos: grupo 1 (Terapia Combinada e pompages) e grupo 2 (Corrente Interferencial, Ultra-som e pompages) com 8 pacientes cada, sendo submetidos, então, a 10 sessões consecutivas de tratamento. Foram encontrados benefícios estatisticamente significativos em ambos os grupos, sendo, porém, maiores no grupo 1, quando comparados com o grupo 2. Desta forma, no presente estudo, verificou-se a eficácia terapêutica do uso da Terapia Combinada na diminuição do quadro doloroso, assim como a desativação dos pontos gatilhos e melhora na capacidade funcional. Palavras-chaves: eletroterapia, cervicalgia, pontos gatilhos, fisioterapia. Introdução A cervicalgia, queixa de dor na região do pescoço, é extremamente comum na população em geral, principalmente devido à grande mobilidade da coluna cervical [1,2]. Esta pode estar relacionada a diferentes mecanismos e ao comprometimento de várias estruturas, tais como discos intervertebrais, ligamentos, músculos, facetas e raízes nervosas [3]. Abstract The objective of this study was to compare the results obtained with the application of the Combined Therapy (Current Interferential and Ultrasound) in individuals with chronic neck pain with the use of the same resources separately. Sixteen patients, being 14 of the feminine gender and 2 of the masculine gender, were evaluated by an independent examiner, through a pre-elaborated record that localized the trigger points, visual analogue pain intensity scale (EVA) and functional capacity. After the selection and the inclusion, the patients were randomized in two groups: group 1 (Combined Therapy and pompages) and group 2 (Current Interferential, ultrasound and pompages) with 8 patients each, where they underwent 10 consecutive sessions of treatment. Were found significant benefits statistically in both groups, being, however, larger in the group 1, when compared with group 2. In this way, in the present study, the therapeutic effectiveness of the use of the Combined Therapy was verified in the decrease of the painful picture, as well as the turning off the trigger points and improvement in the functional capacity. Key-words: electrotherapy, neck pain, trigger points, physiotherapy. Há grande dificuldade em obter dados fiéis da prevalência das cervicalgias, pois esta se enquadra em um grupo de afecções com aparência clínica multifatorial [4]. Sua prevalência na população, em geral, é cerca de 29% nos homens e 40% nas mulheres, mas estes índices podem ser ainda maiores quando se relacionam a indivíduos cujas atividades exercidas no trabalho são distintas [5]. Recebido em 31 de julho de 2006; aceito em 14 de fevereiro de 2007. Endereço para correspondência: Ligia Maria Facci, Rua Alfredo Pujol, 1288, 87015-250 Maringá PR, Tel: (44)30276360, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v8n2.indb 120 24/4/2007 15:08:12 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 121 Atualmente, as queixas cervicais apresentam uma clara relação com as alterações músculo-esqueléticas e com fatores ocupacionais. Existem evidências de que as cervicalgias estão relacionadas com posturas fixas e prolongadas, curvatura exagerada do tronco, flexão cervical acentuada durante as atividades e ergonomia inadequada [6]. Apesar de afetar grande proporção da população [2] acarretando importante impacto socioeconômico quando comparadas com as dores lombares, as queixas álgicas na região cervical são pouco estudadas [7-9] e menos freqüentes [5]. Há um grande número de causas para o aparecimento de dor cervical, variando desde tumores, traumas, infecções até desordens inflamatórias e congênitas. A principal incidência é de osteoartrose cervical, relacionada à grande mobilidade do pescoço e ao processo de degeneração, principalmente após os 35 anos de idade. Na maioria dos casos, nenhuma doença sistêmica pôde ser descoberta como causa subjacente das reclamações, sendo então a afecção denominada cervicalgia pura [1]. É importante ressaltar que há grande relação entre estas queixas principalmente em pacientes sem diagnóstico definido, com situações de estresse, e também de dores originárias do ombro [9]. O quadro clínico da cervicalgia envolve cefaléias, tonturas, distúrbios visuais e presença de pontos gatilhos (PGs), estes associados ao espasmo muscular, dor referida e envolvimento dos tecidos moles [1,10]. Os pontos gatilhos freqüentemente situam-se nos músculos suboccipital, esternocleidomastóideo, escaleno, músculos da cintura escapular que são o trapézio superior, trapézio inferior, elevadores da escápula e rombóides [10,11]. Dentre as alternativas de tratamento para a dor cervical, podem ser mencionadas eletroterapia, calor superficial e profundo, terapia manual, cinesioterapia ou a combinação destes recursos [12-16]. A Corrente Interferencial refere-se à aplicação transcutânea de correntes elétricas alternadas de média freqüência, possuindo amplitude modulada em baixa freqüência, com finalidades terapêuticas [17,18]. Ela estimula músculos voluntários, reduzindo a resistência da pele, permitindo o tratamento de tecidos profundos, promovendo aumento do fluxo sanguíneo periférico e redução da dor [14,15,19,20]. O Ultra-som terapêutico possui vibrações mecânicas que geram efeitos fisiológicos térmicos e não térmicos que, por sua vez, desencadeiam alívio de dor, redução de rigidez articular e aumento do fluxo sanguíneo [14,21]. A Terapia Combinada (TC) também é um método sugerido para o tratamento e desativação dos pontos gatilhos presentes nas cervicalgias, envolvendo a aplicação de duas modalidades eletroterapêuticas ao mesmo tempo, sendo comum a associação do Ultra-som com uma corrente elétrica, principalmente a Corrente Interferencial. Sugere-se que, além dos efeitos benéficos da localização dos pontos gatilhos e do tratamento dos mesmos, economiza-se tempo com a aplicação concomitante dos equipamentos. Há também possibilidade de haver efeito amplificador de uma terapia sobre a outra, o que promove analgesia localizada nas áreas dolorosas, redução da tensão muscular e aumento do fluxo micro-circulatório, podendo aumentar o limiar de dor e apresentar maior efetividade. Não há, porém, número suficiente de estudos que comprovem os resultados de tal instrumento terapêutico [13,14]. Almeida et al. [14] compararam os efeitos da Terapia Combinada com um grupo controle em 17 pacientes com fibromialgia, tendo encontrado efeitos significativos na redução do quadro doloroso e na melhora do sono. Van der Heijden et al. [22], entretanto, não verificaram diferença nos resultados obtidos com a Corrente Interferencial associada ou não ao Ultra-som e ao exercício no tratamento das lesões de tecidos moles em síndromes dolorosas do ombro. Apesar da aparente eficácia de sua utilização na prática clínica, poucos estudos que tenham investigado a efetividade da Terapia Combinada em pacientes com queixa de dor cervical têm sido realizados [13,14,21]. Kroeling et al. [16] realizaram uma revisão sistemática para investigar se a eletroterapia, associada ou não a outro recurso terapêutico, promove alívio da dor, melhora da função, e satisfação aos pacientes com distúrbios na coluna cervical. Estes autores incluíram 11 publicações em seu trabalho, envolvendo 525 pacientes. A análise deste estudo, porém, foi limitada pela baixa qualidade dos estudos, não conseguindo, desta forma, encontrar evidências da efetividade da eletroterapia nos pacientes com dor cervical. A terapia manual também é um recurso utilizado nas pessoas que apresentam queixas de dor cervical. Dentre as várias opções desta modalidade, destacam-se as pompages cervicais, que têm como finalidade liberar bloqueios articulares, relaxar a musculatura e mobilizar fáscias [12,23,24]. O objetivo deste estudo foi comparar os resultados obtidos com a aplicação da Terapia Combinada (Corrente Interferencial e Ultra-som) com a utilização dos mesmos recursos usados separadamente em indivíduos com cervicalgia crônica e, desta forma, verificar qual destas alternativas terapêuticas seria a mais eficaz. Fisioterapia_v8n2.indb 121 Materiais e métodos O estudo foi realizado no setor de ortopedia da clínica de fisioterapia do Centro Universitário de Maringá (CESUMAR), utilizando-se dois aparelhos: a Corrente Interferencial e o Ultra-som, ambos com entrada para Terapia Combinada. Foram selecionados pacientes, na faixa etária de 18 a 80 anos, dos dois sexos, que se encontravam na fila de espera para atendimento da clínica, com queixa de dor na região cervical, há mais de 3 meses, ou com ou sem algia na cintura escapular, independente do diagnóstico clínico. 24/4/2007 15:08:13 122 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 Os critérios de exclusão foram: história prévia de trauma na área, sinais e sintomas de fibromialgia, pacientes que apresentavam déficits neurológicos que acometessem membros superiores, aqueles que estavam recebendo outro tratamento e os que não consentiram em participar da pesquisa. Após a seleção e a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido para a participação no estudo, todos os pacientes foram incluídos e avaliados por um examinador independente, que não sabia a qual grupo os mesmos seriam designados, através de uma ficha pré-elaborada. Esta continha mapeamento de pontos gatilhos, escala análoga visual da dor (EVA) e uma escala de capacidade funcional para portadores de cervicalgia [25,26]. Seguindo o protocolo de avaliação de Radhakrishna e Burnham [27], as áreas de possíveis localizações de pontos gatilhos a serem investigadas foram: os músculos trapézio superior, trapézio inferior, elevador da escápula e rombóides, tendo como limites bordas da sétima vértebra cervical, porção lateral de acrômio, e os ângulos superiores da escápula, bilateralmente. Após a avaliação inicial, os pacientes foram divididos em dois grupos: grupo 1 (Terapia Combinada e pompages) e grupo 2 (Corrente Interferencial, Ultra-som e pompages). A divisão foi aleatória, ou seja, os pacientes foram randomizados em blocos, através de números gerados por computador. Após a geração dos números, estes foram colocados em envelopes selados para, desta forma, impedir que o avaliador escolhesse o grupo para o qual o paciente seria designado. Nos dois grupos a Corrente Interferencial foi calibrada com freqüência de 4000 Hz, amplitude modulada de freqüência em 50 Hz, variação da freqüência em 25 Hz, tempo de 20 minutos, com a colocação de um eletrodo contra-lateral na espinha da escapula no grupo 1 e de forma bipolar entre os músculos trapézio superior e inferior bilateral no grupo 2. O Ultra-som foi aplicado da forma pulsado, com cabeçote de 3 Mhz, freqüência de 100 Hz, 20%, tempo de 5 minutos nos músculos trapézio superior, trapézio inferior, elevador da escápula e rombóides. Para o tratamento com a Terapia Combinada os aparelhos foram calibrados da mesma forma, sendo, porém, interligados por um cabo, utilizando o tempo total de 10 minutos. Nos dois grupos de tratamento, os pacientes receberam 20 minutos de pompages, executadas nos músculos esternocleidomastóideo, escaleno, trapézio superior, trapézio inferior e elevadores da escápula, por 2 séries de 1 mim cada grupo, totalizando 4 minutos bilateral. Após a execução do protocolo de tratamento, os pacientes foram reavaliados pelo mesmo examinador e os dados do estudo foram encaminhados à análise estatística. Foi utilizado o teste “t” para dados pareados pelo programa estatístico SPSS, sendo considerados significantes os valores de p menores que 0,005 (p > 0,005). Resultados Fisioterapia_v8n2.indb 122 Foram selecionadas, para o presente estudo, 28 fichas de pacientes que se encontravam na fila de atendimentos da clínica de fisioterapia do Cesumar com queixa de cervicalgia crônica. Dentre estes, 4 não quiseram receber tratamento por motivos pessoais, 5 não foram localizados por telefone e 3 desistiram depois do início do protocolo. Dezesseis pacientes foram incluídos no estudo, sendo 14 do sexo feminino e 2 do sexo masculino, com faixa etária média de 41,5 anos, variando de 18 a 74 anos. Oito dos selecionados foram designados ao grupo 1 (Terapia Combinada e pompages) e 8 ao grupo 2 (Corrente Interferencial, Ultrasom e pompages), tendo os diagnósticos clínicos variados (Tabela I). Tabela I - Características dos pacientes envolvidos no estudo. Legenda: Grupo 1 (Terapia Combinada e pompages); Grupo 2 (Corrente Interferencial, Ultra-som e pompages). Idade (anos, média) Sexo (média) – Fem Masc Diagnósticos clínicos Grupo 1 45,3 Grupo 2 37,6 87,5 % 12,5% 87,5% 12,5% 62,5% Cervicalgia não específica* 12,5% Artrose cervical 12,5% Hérnia discal 12,5% Síndrome Miofascial 62,5% Cervicalgia não específica* 37,5% Cervicobraquialgia não específica* *Pacientes encaminhados com queixa de dor cervical crônica, sem diagnóstico clínico definido. Observando os valores obtidos na pontuação da escala funcional para cervical do grupo 1 (p = 0,000) e do grupo 2 (p = 0,012) (Figura 1), verificou-se melhora estatisticamente significativa na maioria dos pacientes, tendo o grupo 1 apresentado maiores alterações. É importante salientar que os pacientes incluídos no grupo 1 estavam mais limitados neste aspecto ao início do estudo. Apenas um paciente do grupo 2 teve piora de 18 pontos no mesmo instrumento. Com relação à alteração da dor, avaliada pela escala análoga visual da dor (EVA), apesar do quadro doloroso ao final do tratamento em ambos os grupos ter sido semelhante, o grupo 1 apresentava média dolorosa maior ao inicio do estudo (Figura 2). Desta forma, a redução média da dor no grupo 1 foi de 3,7 cm (p = 0,01) e de 2,3 cm (p = 0,052) no grupo 2, sendo estatisticamente significativa apenas no grupo 1. 24/4/2007 15:08:13 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 123 Figura 1 - Avaliação da média da capacidade funcional dos pacientes com cervicalgia dos grupos 1 (Terapia combinada e pompages) e 2 (Corrente Interferencial, Ultra-som e pompages) antes e após o tratamento. Figura 3 - Variação do número de pontos gatilhos (PGs) dos pacientes com cervicalgia de dos grupos 1 (Terapia Combinada e pompages) e 2 (Corrente Interferencial, Ultra-som e pompages) antes e após o tratamento. Destaca-se que o grupo 1 apresentou uma evolução mais rápida quando comparado ao grupo 2 no aspecto dor. Este fato é justificado por, em média, o quadro doloroso ter reduzido bruscamente na terceira sessão no grupo 1, enquanto no grupo 2 apenas na sétima sessão. Foram observados benefícios estatisticamente significativos em ambos os grupos, e em todos os desfechos investigados (Tabelas 2 e 3). Comparando-se os resultados do grupo 1 com os do grupo 2, apesar dos pacientes que receberam Terapia Combinada terem apresentado maiores benefícios, não houve diferença estatisticamente significante nos aspectos dor (p = 0,749), na escala funcional (p = 0,489) e na redução do número de pontos gatilhos (p = 0,227). Figura 2 - Avaliação da média da escala análoga visual da dor (EVA) dos pacientes com cervicalgia dos grupos 1 (Terapia Combinada e pompages) e 2 (Corrente Interferencial, Ultra-som e pompages) antes e após o tratamento. Discussão Em ambos os grupos a redução do número de pontos gatilhos foi estatisticamente significante, apresentando o grupo 2 (p = 0,008) uma média menor que o grupo 1 (p = 0,001) ao final do tratamento. É importante destacar que o grupo 2, no início do estudo, apresentava média menor de pontos quando comparado ao grupo 1 (Figura 3) . Fisioterapia_v8n2.indb 123 Os estudos que investigaram os feitos da Terapia Combinada, citados previamente, não podem ser diretamente comparados com este trabalho pela falta de padronização do tipo de doença estudada, pela amostra de pacientes não ser semelhante e também por apresentarem objetivos diferentes. Desta forma, não foram encontrados estudos que tenham comparado a utilização da Terapia Combinada com a aplicação do Ultra-som e da Corrente Interferencial em indivíduos com cervicalgia crônica, o que dificulta o confronto dos resultados deste estudo com os de trabalhos anteriores. Vários estudos antecederam este na tentativa de se encontrar evidências que justificassem a utilização da eletroterapia no tratamento da dor cervical. De acordo com Kroeling et al. [16], que realizaram uma revisão sistemática para confirmar a efetividade destes recursos, ainda não há evidência que suporte a aplicação de vários recursos eletroterápicos no tratamento da cervicalgia. Discordando destes autores, na presente pesquisa foi possível confirmar a efetividade da Corrente Interferencial e do Ultra-som, separados ou em terapia combinada, no tratamento da dor cervical. Almeida et al. [14] compararam os efeitos da TC com um grupo controle em 17 pacientes com fibromialgia, tendo en- 24/4/2007 15:08:13 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 124 Tabela II - Média dos resultados obtidos no grupo 1 (Terapia Combinada e pompages) após o tratamento. Média de dor –EVA (cm) Pontuação na escala funcional Número de pontos gatilhos Média 3,7375 36,9625 2,8750 Desvio Padrão (+/-) 2,0908 15,3459 1,4577 Erro Padrão da Média 0,7392 5,4256 0,5154 Intervalo de confiança 1,9896 – 5,4854 24,1330 – 49,7920 1,6563 – 4,0937 p 0,001 0,000 0,001 Tabela III - Média dos resultados obtidos no grupo 2 (Corrente Interferencial, Ultra-som e pompages) após o tratamento. Média de dor –EVA (cm) Número de pontos na escala funcional Número de pontos gatilhos Média 2,2625 19,7500 2,3750 Desvio Padrão (+/-) 2,7443 16,6455 1,8468 contrado efeitos significativos na redução do quadro doloroso e na melhora do sono. Os autores utilizaram mulheres com mais de 50 anos, com dor e distúrbios do sono, de duração maior que seis meses. Foram utilizados como procedimentos de avaliação a escala de dor e o mapa dos pontos gatilhos no corpo, através de pressão digital de forma bilateral. O tratamento consistiu na aplicação de 12 sessões de fisioterapia dentro de um período de 4 semanas. Os pacientes que foram submetidos ao grupo de Terapia Combinada utilizaram Ultrasom pulsado (1 MHz; 2.5 w/cm2) e Corrente Interferencial em cada ponto. No estudo citado acima a aplicação da Terapia Combinada demonstrou relevante melhora no grupo 1 em todas as variáveis analisadas, achados condizentes com os resultados deste estudo. Van der Heijden et al. [22] avaliaram eficácia da eletroterapia com a Corrente Interferencial bipolar e o Ultra-som pulsado nas desordens dos tecidos moles no ombro, porém, esta associação entre os aparelhos não eram de forma combinada. O estudo foi randomizado, um grupo recebeu: 1) Corrente Interferencial e o Ultra-som pulsado; 2) Corrente Interferencial e placebo do Ultra-som; 3) placebo da Corrente Interferencial mais o Ultra-som ativo; 4) placebo da Corrente Interferencial e placebo do Ultra-som; 5) nenhum auxílio. Os mesmos realizaram 12 sessões de terapia com exercício em seis semanas. Os autores, no entanto, não verificaram diferença nos resultados obtidos com a Corrente Interferencial associada ou não ao Ultra-som e ao exercício no tratamento das lesões de tecidos moles em síndromes dolorosas do ombro. Concordando com os estudos realizados por Van der Heijden et al. [22], não foi possível verificar, diferença estatisticamente significativa nos resultados obtidos com a Corrente Interferencial associada ou não ao Ultra-som no tratamento da cervicalgia crônica nesta pesquisa, como comprovado por meio dos dados. Low e Reed [13] sugerem que não há necessidade de se aplicar diferentes técnicas terapêuticas ao mesmo tempo para comprovar a efetividade da eletroterapia, sendo encontrados os efeitos terapêuticos nas mesmas proporções das terapias individuais. Mas, estes relatos divergem do presente estudo, o qual demonstrou maiores benefícios clínicos aos pacientes cujo tratamento contou com a aplicação das modalidades Fisioterapia_v8n2.indb 124 Erro Padrão da Média 0,9703 5,8851 0,6529 Intervalo de confiança -0,0318 – 4,5568 5,8340 – 33,6660 0,8310 – 3,9190 p 0,052 0,012 0,008 concomitantes (grupo 1), tornando a terapia eficiente, em termos de tempo despendido pelo terapeuta e pelo paciente e propondo um efeito amplificador de uma terapia sobre a outra, tornando a combinação mais efetiva do que cada terapia sozinha. Conclusão Através dos achados deste estudo, foi possível verificar que os efeitos da Terapia Combinada (Corrente Interferencial e Ultra-som ao mesmo tempo) foram mais expressivos quando comparados à utilização dos recursos que a compõe de forma separada. Apesar desta pesquisa não ter calculado uma amostra com grande número de pacientes, encontrou-se evidências significativas quanto aos benefícios dos recursos averiguados. Neste estudo, a Terapia Combinada foi mais efetiva nos pacientes com cervicalgia crônica em relação aos vários aspectos investigados, além de diminuir o tempo de tratamento. Sobre este último aspecto salienta-se que os benefícios foram tanto para o fisioterapeuta como para o paciente. É importante ressaltar, porém, que este estudo utilizou dois aparelhos ao mesmo tempo, o que na prática clínica, pode atrasar os atendimentos dos pacientes, e não justificar essa opção. O mercado oferece, entretanto, alguns modelos de aparelhos, não nacionais, de Terapia Combinada. Diante das vantagens terapêuticas da utilização da Terapia Combinada em comparação aos mesmos recursos utilizados separadamente, sugere-se que, na prática clínica, tal alternativa seja a melhor escolha para pacientes com cervicalgia crônica. Referências 1. Mercúrio R. Dor nas costas nunca mais. São Paulo: Manole; 1997. p. 39-43. 2. Lavin RA, Pappagallo M, Kuhlemeier KV. Cervical pain: a comparison of three pillows. 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Fisioterapia_v8n2.indb 125 24/4/2007 15:08:14 126 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 Artigo original Alterações posturais induzidas por colchões de diferentes densidades Postural alterations induced by mattresses of different density Angelo Piva Biagini, D.Sc.*, Mário Antônio Baraúna, D.Sc.*, Roberto Sergio Tavares Canto, D.Sc.**, Hugo Machado Sanchez, M.Sc.***, Graciana Lucia Grespan, M.Sc.***, Arley Andrade Teymeny**** *Fisioterapeuta, Docente do Centro Universitário do Triângulo - UNITRI, **Médico, Docente do Centro Universitário do Triângulo - UNITRI, ***Fisioterapeuta, Centro Universitário do Triângulo - UNITRI, ****Fisioterapeuta, Pós-graduação em Fisioterapia do Centro - Universitário do Triângulo - UNITRI Resumo Abstract O estudo procurou correlacionar as curvaturas da coluna vertebral nas posições deitada, em colchões de várias densidades, com a posição ortostática. Este estudo teve como objetivo verificar as alterações posturais da coluna vertebral, induzidas pelo uso de três colchões de diferentes densidades. Foram avaliadas 29 voluntárias, nos decúbitos ventral e lateral direito, bem como na posição ortostática, através da avaliação das imagens analisadas pela biofotogrametria computadorizada. Quando comparadas as angulações da coluna vertebral na posição ortostática com os decúbitos no colchão popular, verificou-se que houve diferença estatisticamente significante no aumento das curvaturas da coluna. Porém, quando comparou-se a posição ortostática com os decúbitos nos colchões de densidades 28 e 33 kg/m3, não foram encontradas diferenças significantes. O que permiti-nos inferir que nos colchões de densidade 28 e 33 kg/m3 houve uma maior aproximação dos valores angulares à postura ortostática apresentada pelas voluntárias. Conclui-se, também, que houve diferença estatística dos valores angulares da coluna vertebral entre os colchões de densidade 28 e 33 kg/m3 quando comparados com o colchão popular, tendo como parâmetro a posição ortostática. The project tries to make a correlation between the curves of the vertebral column in a lying position, on mattresses of various densities, and the orthostatic position. The goal of this study is to verify the possible posture alterations of the vertebral column with three mattresses of different densities. Through evaluation of image analysis by means of computerized biophotogrammetry, twenty-nine volunteers were evaluated on the ventral the right side decubitus and in the orthostatic position. When compared the arching of the vertebral column in the orthostatic position with the decubitus in a popular mattress, a significant statistical difference was verified, in the increase of the curvatures of the column. However, when the orthostatic position was compared to the decubitus in mattresses with densities of 28 and 33 kg/m3, no significant difference was found. It can be suggested that the volunteer showed a closer orthostatic posture on mattresses with densities of 28 and 33 kg/m3. One can conclude that one finds a statistical difference between mattresses with densities of 28 and 33 kg/m3 when compared with popular mattress, having the orthostatic position as the parameter. Key-words: mattresses, vertebral column, density, posture. Palavras-chave: colchão, coluna vertebral, densidade, postura. Introdução A principal finalidade do colchão é auxiliar o posicionamento do corpo, durante o repouso e o sono, para que ele possa proporcionar um maior relaxamento possível. A posição ideal de repouso de uma articulação é aquela cujas forças que agem sobre a mesma estejam diminuídas nas superfícies articulares, sendo as menores possíveis; isto é, há diminuição do peso do segmento, da força da gravidade e da contração muscular. O colchão ideal, do ponto de vista ortopédico, seria aquele que possibilitasse, ao maior número de articulações do corpo, o maior repouso possível [1]. A fim de se evitar desarranjos musculoesqueléticos na coluna vertebral, faz-se necessário uma perfeita adequação do binômio colchão/corpo, e não apenas do colchão [2]. A maioria das pessoas despende muito tempo deitadas ou dor- Recebido em 30 de agosto de 2006; aceito em 12 de fevereiro de 2007. Endereço para correspondência: Ângelo Piva Biagini - UNITRI - Centro Universitário do Triângulo, Av. Nicomedes Alves dos Santos, 4545 Gávea 38411-106, Uberlândia MG, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v8n2.indb 126 24/4/2007 15:08:14 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 mindo, motivo pelo qual estas variáveis necessitem de uma maior atenção tanto pelos fabricantes de colchões quanto pelos pesquisadores [3]. Quando o colchão tem uma densidade muito elevada, o peso do corpo fica preferencialmente distribuído sobre as eminências ósseas, acarretando desconforto e dor nessas superfícies, com conseqüente contratura muscular. Se o colchão tiver baixa densidade, deforma-se excessivamente e não proporciona uma estabilidade suficiente ao corpo em repouso, sobrecarregando estabilizadores articulares como ligamentos e músculos [1]. Dentre os fundamentos biomecânicos que regem a concepção de um colchão, destaca-se a pressão localizada e o apoio, a fim de garantir uma perfeita distribuição dos segmentos corporais. Quando isto não ocorre, percebe-se uma maior atividade dos músculos estabilizadores [4]. Sob o aspecto mecânico, defeitos em alinhamento e mobilidade criam diferentes tipos de problemas: compressão indevida sobre superfícies articulares e tensão indevida sobre os ossos, ligamentos e músculos. A compressão indevida nas articulações pode resultar em um desgaste da superfície articular, enquanto a tração indevida pode resultar em aumento no crescimento ósseo no ponto de inserção [5]. A biofotogrametria computadorizada é um entre tantos recursos validados de avaliação da coluna vertebral, que apresenta duas grandes vantagens na efetividade de sua aplicação clínica: o baixo custo do sistema de imagens e fotointerpretação e a precisão e reprodutibilidade dos resultados, além de apresentar-se como método confiável e eficaz [6,7]. Desta forma, o objetivo deste trabalho foi avaliar as alterações posturais da coluna vertebral, nos decúbitos lateral e ventral, em colchões de diferentes densidades (28 e 33 kg/m2) e em colchões populares. Materiais e métodos A pesquisa seguiu o padrão de um estudo observacional, transversal. Todas as participantes deste estudo assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e obtiveram informações necessárias sobre a metodologia a ser utilizada. Convém ressaltar que todas as participantes da pesquisa foram voluntárias, sendo o estudo autorizado pelo Comitê de Ética do Centro Universitário do Triângulo (UNITRI). Assim, participaram do estudo 29 voluntárias, com idade entre 18 e 30 anos, e idade média de 22 anos (+/- 3,17), peso entre 51 kg e 80 kg e média de 57,44 kg (± 7,40), altura superior a 1,50 m e média 1,67m (± 0,05), e IMC médio 20,60 kg/m2 (± 2,30), alunas do Centro Universitário do Triangulo (UNITRI). Foram excluídas voluntárias com presença de deformidades e dores musculoesqueléticas, no momento de coleta de dados ou até um mês antes, obesas e voluntárias que estives- Fisioterapia_v8n2.indb 127 127 sem em período gestacional, ou aquelas que apresentassem alterações fisiológicas que pudessem interferir no aparelho musculoesquelético. Utilizou-se na coleta de dados uma câmera fotográfica digital, demarcadores adesivos de superfície, fita dupla face, antropômetro, rolo de posicionamento, balança aferida, tripé a nível e a prumo, um computador com gravador de CD, um colchão popular, dois colchões da marca Castor nas densidades 28 e 33 kg/m3, respectivamente, e um travesseiro de apoio adequado. Para aquisição das imagens das posturas em decúbito ventral, lateral direito e ortostatismo, utilizou-se uma câmera fotográfica digital sobre tripé, posicionado em um plano paralelo ao lado da voluntária a uma distância de 1,52 m e uma altura de 0,90 cm. Para aquisição das imagens em ortostatismo, foi registrada uma fotografia do plano perfil direito, adotada como referência padrão de alinhamento da coluna vertebral. Para o decúbito ventral, registrou-se a fotografia do dorso, sendo esta adotada como referência para o decúbito lateral direito, onde os pontos anatômicos demarcados para a análise das imagens foram; C7, T3, T6, T12, S2 e o ponto mais alto da região glútea. Foram registradas fotos nos decúbitos ventral e lateral direito. Para registro da imagem no decúbito ventral, orientou-se a permanência dos membros em abdução do ombro aproximadamente a 130° e 90° de flexão de cotovelo, com a cabeça em rotação, voltada para o lado oposto da máquina fotográfica. Para o decúbito lateral direito, fez-se uso de um travesseiro que posicionou a cabeça alinhada com o tronco e entre os membros superiores. O membro inferior que estava em contato com o colchão (membro inferior direito) permaneceu em extensão, enquanto o outro (membro inferior esquerdo) manteve-se em semi-flexão de quadril, apoiado sobre um rolo posicionador. Figura 1 Figura 2 Fotografia da voluntária em posição ortostática vista de perfil e vista dorsal, no momento da captação da imagem pela máquina fotográfica. 24/4/2007 15:08:14 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 128 Figura 3 Figura 4 Tabela I - Dados de mensuração feitas para as variáveis em estudo nos decúbitos e nas posições ortostáticas após o tratamento matemático adotado (média, mediana, desvio padrão e coeficiente de variação). mento da captação da imagem pela máquina fotográfica. A coleta teve Variáveis Ortostático vista perfil DV POP DV 28 DV 33 Ostostático vista dorsal DLD POP DLD 28 DLD 33 início com o colchão popular (POP), seguido do colchão com espuma Fonte: Dados da pesquisa. Fotografia da voluntária em decúbito ventral e decúbito lateral, no mo- MA 189,92 169,91 174,42 174,98 179,76 193,17 189,10 189,42 MD 190,27 169,77 175,09 175,18 179,94 192,94 190,01 188,85 DP 5,60 3,75 2,58 3,13 2,45 3,75 3,62 3,62 CV% 2,95 2 19 1,48 1,79 1,39 1,94 1,91 1,91 de densidade 28 kg/m3 (D28), e do colchão com espuma de densidade 33 kg/m3 (D33). Em cada colchão foi fotografada inicialmente a voluntária em decúbito ventral e, posteriormente, em decúbito lateral direito. A mesma permaneceu deitada por 1 minuto, para que se acomodasse à superfície de apoio. A cada mudança de decúbito os marcadores adesivos foram remarcados nos respectivos pontos anatômicos da coluna vertebral: C7, T3, T6, T12, S2 e o ponto mais alto da região glútea. Em seguida, as imagens foram gravadas em CD e obtidos os fotogramas referentes para análise angular fotogramétrica. Os pontos demarcados foram ligados por duas retas que se cruzaram formando um determinado ângulo, o qual foi quantificado pelo programa ALCimagem 2.1. A primeira análise estatística foi à verificação da normalidade, ou não, da distribuição dos dados através do teste de Kolmogorov-Smirnov, (α = 0,05), em seguida, foi realizado o teste de Jones (1969) verificando a assimetria e curtose. Posteriormente, utilizou-se a ANOVA, seguida pelo teste de TUKEY, para verificar-se possíveis diferenças entre as alterações posturais, proporcionadas pelo uso dos colchões POP, D28, D33 e as posturas ortostáticas, perfil e ventral, estabelecendo-se significância de p < 0,05. Resultados Nas Tabelas II e III, observa-se os resultados da estatística inferencial, a partir do teste Tukey, para todas as variáveis analisadas. As significâncias estatísticas (P) foram alocadas, no quadro, nos cruzamentos das variáveis comparadas. Como verificado na Tabela 2, obteve-se diferença estatística para o decúbito ventral entre a posição ortostática vista perfil e os colchões DVPOP, DV28 e DV33; entre os colchões DVPOP, DV28 e DV33. Na tabela 3, demonstra-se os resultados nos cruzamentos realizados para o decúbito lateral, observando-se diferença estatística semelhante à observada para o decúbito ventral, ou seja, entre a posição ortostática vista dorsal e os colchões DV POP, DV28 e DV33; entre os colchões DV POP, DV28 e DV33. Tabela II - Quadro de significância estatística (P) encontradas em meio às comparações efetuadas através do teste Tukey no decúbito ventral com suas variáveis. Variáveis Ortostático vista perfil DV POP DV 28 DV 33 Ortostático vista dorsal x DV POP DV28 DV33 P<0.001* P<0.001* P<0.001* x x x x x x P<0.001* P<0.001* x P>0.05 x x Fonte: Dados da pesquisa. Foram realizadas avaliações em 34 voluntárias. Destas, cinco foram excluídas por apresentarem posturas inadequadas, observadas após a realização da fotografia, que comprometeria a análise fotogramétrica e conseqüentemente os resultados. Pode-se observar na tabela I, através do coeficiente de variação que todas as variáveis em estudo apresentam-se homogêneas. Consideraram-se homogêneas as amostras que tiveram um coeficiente de variação menos que 10%. Pode-se ainda verificar que, em relação à média, a variável decúbito ventral colchão D28 (DV28), decúbito ventral colchão D33 (DV33), decúbito lateral direito D33 (DLD33) foram as que mais se aproximaram da média da variável Ortostática. Nota: O asterisco representa a diferença estatisticamente significante encontrada (*p < 0,05). Tabela III - Quadro de significância estatística (P) encontradas em meio às comparações efetuadas através do teste Tukey no decúbito lateral direito com suas variáveis. Variáveis Ortostático DLD POP DLD 28 DLD 33 vista dorsal Ortostático x P< P < 0,001* P <0,001* vista dorsal 0,001* DLD POP x x P < P <0,001* 0.001* DLD 28 x x x P.0.05 DLD 33 x x x x Fonte: Dados da pesquisa Nota: O asterisco representa a diferença estatisticamente significante encontrada (*p < 0,05). Fisioterapia_v8n2.indb 128 24/4/2007 15:08:15 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 Discussão Este estudo visou analisar as alterações das curvaturas da coluna vertebral, induzidas por colchões de diferentes densidades, objetivando colaborar com a prevenção de doenças do sistema musculoesquelético. Muito se estudou sobre pressão de interface, especialmente sistemas de alívio de pressão, com a intenção de evitar úlceras de decúbito em condições patológicas [2,8-13]. Porém, há poucos estudos sobre características de superfícies de apoio relacionados à manutenção da saúde, em indivíduos normais [14]. Devido à falta de referências que abordam assuntos como diferentes densidades de colchões, posturas em diversos decúbitos, e seus efeitos sobre a manutenção da saúde corporal, tornou-se importante à realização deste estudo, visto que a população, de uma forma geral, passa, boa parte do seu dia, em decúbitos, os quais, muitas vezes inapropriados, comprometem o bem estar da biomecânica normal do organismo. As características biomecânicas do colchão têm influência sobre a postura deitada e, conseqüentemente, sobre o conforto. Isto traz repercussões para o sono e à saúde. Não há dados científicos sobre a avaliação objetiva da postura deitada. Sabe-se que um colchão adequado deveria manter o corpo em uma posição de equilíbrio durante o sono, embora não se descreva adequadamente que posição seja esta. Porém, o meio científico carece de um método quantitativo de avaliação da postura deitada [14]. Evidentemente que um colchão adequado e confortável auxiliará na obtenção de um sono profundo e tranqüilo. O colchão inadequado tem sido implicado como fator causador ou agravante de diversas patologias [15]. Somente 10% dos colchões de espuma comercializados receberam o selo do INER (Instituto Nacional de Estudo do Repouso), o qual garante um mínimo de seriedade na utilização. Há uma quantidade relativamente grande de colchões populares, muito usados pela população de mais baixa renda, fabricados por empresas descompromissadas com critérios de promoção da saúde. Colchões ortopédicos correspondem a um núcleo em forma de caixa de madeira, coberto com uma fina camada de espuma de baixa densidade. Faz parte de uma forma de pensar que quanto mais firme a superfície de apoio, melhor o corpo estará sustentado. É pertinente quando comparado a este trabalho, pois os colchões de densidades 28 e 33 são os que obtiveram melhor alinhamento da coluna vertebral [14]. Todos os colchões pressupostamente terapêuticos têm algo em comum, apresentam-se anatomicamente inadequados, bem como desconfortavelmente inflexíveis. Entretanto, seguramente, os colchões de densidade 28 e 33 mantêm uma postura em decúbito mais fisiológica que os colchões populares conforme comprovado neste estudo [2]. Saad e Schwartsmann & David corroboram que tanto valores muito elevados de pressão (deitar-se sobre o chão Fisioterapia_v8n2.indb 129 129 duro) quanto valores muito baixos (deitar-se em uma rede) seriam indesejáveis. Um bom sistema de apoio deve respeitar o ponto de equilíbrio no qual haveria baixa pressão com bom alinhamento [1,14]. Atualmente, as pessoas têm como parâmetro para compra de colchões a tabela peso-altura, desenvolvida pelo INER (Instituto Nacional de Estudo do Repouso). Embora este estudo tenha sido realizado com uma população insuficiente do parecer de vista estatístico, para determinar se esta tabela é fidedigna, observou-se coerência com os resultados obtidos. Krouskop et al. observaram que a eficácia relativa de cada superfície de apoio foi independente da compleição corporal [16]. Assim, a relação entre o peso e a estatura, expressa pelo IMC, tem potencial duvidoso para influenciar a geração de pressões de interface. Conseqüentemente, é duvidoso se uma determinada amostra deva ser estratificada pelo IMC para estudo da postura deitada; talvez alguma outra divisão em tipos físicos pudesse ser aplicada. Na análise das propriedades mecânicas dos colchões de espuma, a densidade e a dureza estão como aliadas, pois somente uma delas não é suficiente para qualificar o material. As espumas de alta densidade normalmente têm maior resistência à fadiga mecânica mantendo as propriedades físicas por mais tempo [17]. Apesar da comparação entre os colchões de densidade 28 e 33 não apresentarem significância, acredita-se que a densidade 33 possivelmente proporcionará uma manutenção, por tempo maior, da densidade inicial. Indiscutivelmente, o colchão popular apresenta grande deformação como demonstrado no trabalho. É notório que para se obter um colchão ideal, o mesmo deveria ser adaptado ao biótipo da pessoa, no qual o único parâmetro hoje utilizado é a tabela peso-altura, desenvolvida pelo INER (Instituto Nacional de Estudo do Repouso) [14]. Porém, existem autores que questionam este parâmetro e acreditam que, talvez, alguma outra divisão em tipos físicos pudesse ser aplicada [16]. Devido à dificuldade da possibilidade de se fabricar um colchão para cada pessoa individualmente, pelo menos a densidade deveria se enquadrar ao peso e a altura da tabela já citada do INER [14]. Embora não tenha sido realizada uma análise das pressões sobre as diferentes partes do corpo, que é uma tecnologia complexa e pouco acessível, acredita-se que o estudo fotogramétrico realizado serviu de parâmetros para que colchões de maior densidade distribuam melhor as pressões, pois, indiscutivelmente, deformam menos. Para a Polyurethane Foam Association a densidade afeta, significativamente, a durabilidade da espuma, em termos de perda de altura e mudança da firmeza. No colchão popular, a pelve, certamente, tende a ficar em uma posição rebaixada, o que alterará muito mais as pressões nos diferentes pontos anatômicos do organismo [18]. Na fabricação de colchões, são de extrema importância as três propriedades da espuma: apoio, conforto e durabilidade, desta forma, os colchões de densidade 28 e 33 que mantiveram 24/4/2007 15:08:15 130 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 o melhor alinhamento da coluna vertebral têm muito mais chance de obedecer às três propriedades das espumas. Segundo a Polyurethane Foam Association, quanto maior a densidade menor a perda potencial com o tempo das propriedades da espuma [18,19]. Só é possível manter uma boa postura se tivermos um bom conhecimento do corpo, associado a estímulos sensoriais e modelos posturais adequados. A obtenção de um colchão com adequada densidade ao biótipo, seguramente, prevenirá futuras complicações da coluna vertebral e, certamente, preservará o bem estar de cada indivíduo [20]. Como em todos os testes, é preciso haver uma padronização ao avaliar o alinhamento postural. O alinhamento esquelético ideal usado como padrão na postura ortostática envolve uma quantidade mínima de esforço e sobrecarga, e conduz a eficiência máxima do corpo indivíduo [21]. Pela ausência da descrição de padrões para avaliação da postura deitada, optou-se por fazer uma analogia com algo já bastante conhecido, que é a postura ortostática [14]. Como as diferentes densidades foram comparadas por uma única postura ortostática para todas voluntárias, concorda-se que o parâmetro de comparação é válido. A postura ortostática foi o marco inicial com o qual tudo foi comparado. A avaliação necessita, por vezes, de instrumentos validados, que tenham a capacidade de reprodutibilidade e fidedignidade. A saúde relacionada à ciência encontra-se em um estado emergente, necessitando de instrumentos próprios que possam avaliar com confiabilidade e praticidade. A incorporação das análises computadorizadas aos registros tornou-se fundamental para o desenvolvimento e validação da técnica na avaliação sistemática de posturas estáticas e dinâmicas. A biofotogrametria, quando comparada aos outros recursos, diferencia-se por ser um método simples que detecta pequenas alterações posturais. Além disso, de possuir ampla aplicabilidade [6,7,22-24]. Uma contribuição importante deste trabalho foi detectar alterações posturais significativas na comparação da posição ortostática dos diferentes decúbitos em colchões de diferentes densidades. Nos decúbitos no colchão popular, os resultados foram significantes quando comparados com a posição ortostática e as posições de decúbito em colchões de densidade 28 e 33. Embora não se possa afirmar que essas alterações posturais irão se traduzir em desconforto, distúrbio do sono e doenças, torna-se bastante provável que isto possa acontecer. cantes entre as alterações das curvaturas da coluna vertebral oriundas no uso do colchão popular aos colchões de densidade 28 e 33 nos decúbitos lateral e ventral, e que não houve diferenças estatisticamente significantes entre as alterações das curvaturas da coluna vertebral oriundas no uso dos colchões entre as densidades 28 e 33 nos decúbitos lateral e ventral. Conclusão Baseado nos resultados encontrados no presente estudo, conclui-se que houve diferenças estatisticamente significantes das curvaturas da coluna vertebral, entre a posição ortostática vista dorsal e perfil, quando comparado ao colchão popular, ao colchão de densidade 28 e ao colchão de densidade 33. Verificou-se, ainda, diferenças estatisticamente signifi- Fisioterapia_v8n2.indb 130 Referências 1. Schwartsmann CR & David A. 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In Touch - Information on Flexible Polyurethane Foam 1991;1(1):1-4. 20. Braccialli LM, Vilarta R. Postura corporal: Reflexões teóricas. In: Junior JRV & Azato M FK. Alterações posturais decorrentes da discrepância dos membros inferiores. Fisioter Bras 2003;4(3):173-80. 21. Kendall FP, McCreary EK, Provance PG. Músculos: provas e funções. 4a ed. São Paulo: Manole; 1995. Fisioterapia_v8n2.indb 131 131 22. Barreto RR. Avaliação postural de indivíduos portadores de deficiência visual, através da biofotogrametria computadorizada [dissertação]. Centro Universitário do Triângulo: Uberlândia; 2003. 23. Silva TFA. O uso da biofotogrametria computadorizada na mensuração da curva escoliótica [dissertação]. Centro Universitário do Triângulo: Uberlândia; 2002. 24. Schulz E. Avaliação da postura corporal de mastectomia a partir da biofotogrametria computadorizada [dissertação]. Centro Universitário do Triângulo:Uberlândia; 2003. 24/4/2007 15:08:16 132 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 Artigo original Estudo comparativo da atividade antiinflamatória da laserterapia e do meloxicam Comparative study of antiinflammatory activity of laser therapy and meloxicam Paulo César Tostes Campos Júnior, M. Sc.*, Marcus Vinícius de Mello Pinto, D. Sc.**, José Maria, D. Sc.***, Rúbia Mara Gomes da Silva****, Karla de Lima Garonci****, Thiago Coelho***** *Professor Titular de Farmacologia e Pesquisador do Laboratório de Dor, Inflamação e Laserterapia - LABIINFLA do Centro Universitário de Caratinga, **Professor do Mestrado em Ciências da Reabilitação e Pesquisador do Laboratório de Dor , Inflamação e Laserterapia - LABIINFLA do Centro Universitário de Caratinga, ***Professor de Bioética do Mestrado em Ciências da Reabilitação e Pesquisador Centro Universitário de Caratinga - UNEC-MG, ****Curso de Fisioterapia do Centro Universitário de Caratinga, Professor do Curso de Química do Centro Universitário de Caratinga Resumo Abstract Este estudo experimental visa comparar os efeitos do meloxicam e da laserterapia sobre a inibição da permeabilidade vascular, induzida por histamina, na região dorsal dos animais. Foram utilizados 25 ratos wistar divididos em 5 grupos, contendo 5 animais cada e classificados da seguinte maneira: 1) grupo controle (solução fisiológica, i.p.); 2) Meloxicam 10 mg/kg, i.p.; 3) laser 30J/50mW; 4) laser 60J/50mW e 5) laser 120J/150mW. As aplicações do laser foram, em modo de varredura, distribuídas em quatro pontos no dorso dos animais. Estes foram tratados 20 minutos antes da injeção do corante por via i.v. Dez minutos após a última injeção do mesmo, o mediador foi aplicado por via intradérmica no dorso dos ratos. A quantidade de corante extravasado foi mensurada por medida espectrofotométrica, utilizando comprimento de onda de 620 nm. Os resultados foram submetidos aos testes T de student e ANOVA com p < 0,05. A inibição do processo inflamatório pelo meloxicam e Laser 30J apresentou valor percentual semelhante. This experimental study aims to compare meloxicam’s effects and laserterapy on the inhibition of the vasculary permeable, induced by histamine, in the dorsal region of the animals. The sample was composed by 25 mice wistar divided into 5 groups, contained 5 animals and classified as following: 1) control group (physiologic solution, intraperitoneal); 2) meloxicam 10 mg/kg, intraperitoneal; 3) laser 30J/50mW; 4) laser 60J/50mW and 5) laser 120J/150mW. The application of the laser was distributed in four points in the back of the animals. They were treated 20 minutes before the injection of intravenous ink. Ten minutes after the last injection, the mediator was applied by intradermic in the back of the mice. The quantity of overflowed ink was measured by spectrophotometry using wavelength of 620 nm. The results were submitted to Student T test and ANOVA with p < 0.05. The inhibition of the inflammatory process by meloxicam and laser 30J presented similar percentile value. Palavras-chave: laserterapia, meloxicam, permeabilidade vascular, histamina. Introdução O processo inflamatório consiste em um mecanismo fisiopatológico básico sendo desencadeado em resposta a diversas doenças, apresentando-se como um conjunto de reações locais do organismo, que ocasionam a saída de líquidos e células do sangue para o interstício [1]. Key-words: laser therapy, meloxicam, vascular permeability, histamine. O agente inflamatório atua nos tecidos induzindo a liberação de mediadores que, ao agirem nos receptores existentes nas células da microcirculação e nos leucócitos, produzem aumento da permeabilidade vascular e exsudação do plasma e de células sanguíneas para o interstício [1-3]. Mesmo a inflamação, sendo um mecanismo de defesa, poderá causar danos ao organismo [2,4-7]. Recebido em 17 de outubro de 2006; aceito em 12 de fevereiro de 2007. Endereço para correspondência: Marcus Vinícius de Mello Pinto, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v8n2.indb 132 24/4/2007 15:08:16 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 133 Basicamente, a inflamação atua sobre as membranas celulares, levando os leucócitos a liberarem enzimas lisossomais. Em seguida, a liberação do ácido araquidônico ocorre a partir de compostos percussores e a síntese de vários eicosanóides é estimulada, entre eles as prostaglandinas, mediadores que desempenham um papel importante no processo inflamatório. A interferência em sua síntese determina uma redução significativa nas alterações provocadas pela inflamação, por isso o mecanismo de ação de muitos antiinflamatórios não hormonais é via inibição da síntese de prostaglandinas, e seus efeitos constituem atividades analgésicas, antipiréticas e antiinflamatórias [8-12]. Várias fosfolipases podem contribuir para liberação de ácido araquidônico em vários tipos de células. Uma vez liberado, uma parte do araquidonato é metabolizada rapidamente em produtos oxigenados por vários sistemas enzimáticos distintos, incluindo ciclooxigenase ou uma das várias lipoxigenases ou o citocromo [2,13-15]. As duas principais vias de metabolismo do ácido araquidônico ocorrem a partir das lipoxigenases e ciclooxigenases. As lipoxigenases levam à formação do HPETE (ácido hidroperoxieicosatetraenóicos), HETE (ácido graxo hidroxi) e dos leucotrienos, a via da cicloxigenase leva aos endoperóxidos cíclicos (PGG – prostaglandina G e PGH – prostaglandina H) e os produtos metabólicos subseqüentes. A COX-1 (ciclooxigenase-1) é constitutivamente expressa. A COX-2 (ciclooxigenase-2) é induzida por citocinas, fatores de crescimento e pela endotoxina, um efeito bloqueado pelos glicocorticóides [13-15]. A COX-1 é responsável pela síntese de prostaglandinas, essenciais para a manutenção das funções gástricas e renais, enquanto a COX-2 encontra-se basicamente nas células inflamatórias [5,13]. A não seletividade pela COX-2 é responsável pelos efeitos adversos de alguns AINES [16]. Assim, os fármacos seletivos da COX-2 terão ação antiinflamatória, sem produzir agressões ao organismo, como redução da função renal ou formação de ulcerações gástricas [15]. O meloxicam é classificado como um AINE inibidor seletivo da COX2, diminuindo, assim, os efeitos iatrogênicos sobre a mucosa gástrica, acentuando um efeito profilático [16]. Além disso, obteve-se resposta positiva em relação ao seu efeito antiexudativo em edema de pata traseira de rato induzido por carragenina [17,13]. Estudos recentes demonstram grande diferença do processo inflamatório entre os animais tratados com laser, quando comparados com os animais não tratados. Freqüentemente, a laserterapia utilizada é a de baixa freqüência, pois não apresenta possibilidade de provocar aquecimento detectável nos tecidos irradiados [1,12]. A estimulação com laser tem seus efeitos dependentes do comprimento de onda, dose e intensidade da luz utilizada na irradiação, sendo que o comprimento de onda apresenta grande influência na interação laser-tecido [18]. O sucesso do tratamento com laser deve-se às respostas induzidas nos tecidos como: redução do edema e do processo inflamatório, aumento da fagocitose e da síntese de colágeno, aumento da microcirculação local e do sistema linfático, os quais têm sido demonstrados em estudos in vitro e in vivo [2,4,19]. Muitos trabalhos têm sido realizados para tentar entender melhor os efeitos terapêuticos da laserterapia, mas apesar de tantas investigações realizadas e do freqüente e importante uso clínico desta terapêutica, a aceitação da mesma e os resultados obtidos são controversos [1,18,11,12]. Uma das principais atuações da laserterapia no processo inflamatório constitui na reorganização celular e nos vasos sanguíneos, modulando a neovascularização, tendo como conseqüência diminuição da perda funcional, incremento da oxigenação tecidual e aumento da microcirculação regional [12]. Os AINES apresentam alto risco de lesões gastroduodenais e renais como efeito adverso, o que pode desencadear um aumento da morbidade e da mortalidade dos pacientes que estarão sob efeito desta classe de medicamentos [1,17]. Os efeitos fisiológicos da laserterapia, para redução de edema descritos em estudos, apresentam-se como uma alternativa terapêutica [1]. Portanto, o estudo da potência antiinflamatória da laserterapia, se comparada à terapia medicamentosa convencional, torna-se necessário, sendo que poderá levar a adoção de novas condutas terapêuticas. O objetivo do presente estudo foi comparar a potência da atividade antiinflamatória da laserterapia perante o meloxicam, em um modelo experimental de permeabilidade vascular induzido por histamina. Fisioterapia_v8n2.indb 133 Materiais e métodos Neste experimento foram utilizados ratos Wistar, machos, pesando aproximadamente 180g a 310g, com idade de 2 meses, provenientes do biotério central do UNEC – Centro Universitário de Caratinga. Os animais ficaram 24 horas, antes do experimento, com água ad libium, sendo divididos em 5 grupos de cinco animais cada, classificados da seguinte maneira: Grupo 1: grupo controle (solução fisiológica, i.p.) Grupo 2: meloxicam 10 mg/kg, i.p. Grupo 3: laser 30J/50mW Grupo 4: laser 60J/50mW Grupo 5: laser 120J/150mW Os animais foram anestesiados por inalação de éter etílico e, em seguida, tricotomizados na região dorsal, sendo a mesma realizada uma semana antes da indução do processo inflamatório. Os laseres utilizados foram dento flex® diodo visível (632,8 nm), em uma densidade de 30J/cm2 com potência do feixe de 50mW, e diodo invisível (904 nm), em uma densidade de energia 60J/cm2 e 120J/cm2 com potência de feixe de 50 mW e 150 mW, respectivamente. As aplicações foram em varredura, 24/4/2007 15:08:16 134 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 distribuídas em 4 pontos na região dorsal dos animais, sendo que cada aplicação teve a duração de 31segundos. Para avaliação da ação antiinflamatória dos grupos sobre o processo inflamatório, utilizou-se o modelo de permeabilidade vascular, usando como agente pró-inflamatório injeções intradérmica de histamina (50 μg/animal). Este método baseia-se na determinação espectrofotométrica da quantidade de corante extravasado para o espaço intersticial, por ação da histamina. Os animais subdivididos em seus respectivos grupos foram tratados 20 minutos antes da injeção intravenosa do corante azul de Evans (25 mg/kg). Dez minutos após a administração do corante, o mediador histamina foi aplicado por via intradérmica no dorso dos animais em um volume de 0,1 ml distribuído entre quatro pontos. Vinte minutos após a última injeção do mediador, os animais foram sacrificados por deslocamento cervical. Para extração do corante, as peles destes foram retiradas e as áreas próximas aos locais de aplicação das injeções do mediador foram removidas, com auxílio de um punch de 5 mm de diâmetro. Essas amostras foram fragmentadas e colocadas em tubos contendo 3ml de formamida e mantidas a 37ºC durante 24 horas. Após este período, o material foi filtrado e submetido à dosagem espectrofotométrica. A quantidade de Azul de Evans foi mensurada espectrofotometricamente, utilizando o comprimento de onda de 620 nm, e as concentrações do corante foram determinadas a partir da densidade óptica (DO), multiplicada por um fator calculado a partir da curva padrão. Para a analise estatística foi utilizado o teste T de student e ANOVA, com nível de significância de 5% (p < 0,05) [10]. de 22,79% (p > 0,05) e 17,48% (p > 0,05) respectivamente, quando comparado com o grupo controle. O grupo irradiado com laser de 120J não apresentou valores significativos para inibição da inflamação quando comparado com grupo controle. Resultados A figura 1 exibe o resultado da ação antiinflamatória da laserterapia e do meloxicam diante do modelo experimental de permeabilidade vascular induzida por histamina. Figura 1 - Gráfico de permeabilidade vascular induzida por histamina. No grupo tratado com a substância teste meloxicam, os resultados demonstram que houve inibição de aproximadamente 28,22% (p > 0,05) do processo inflamatório em relação ao grupo controle. Os grupos tratados com laser 30J e 60J apresentaram inibição do processo inflamatório, aproximadamente, na ordem Fisioterapia_v8n2.indb 134 Discussão Uma das grandes dificuldades em estabelecer informações a respeito da laserterapia nos diversos sistemas e tecidos biológicos deve-se a grande diversidade de parâmetros estabelecidos para tratamento encontrados na literatura, embora a maioria dos autores corrobore que os efeitos da radiação laser são dependentes da dose, intensidade da luz e do comprimento de onda utilizados [1,18]. Torna-se difícil comparar os nossos resultados com os encontrados na literatura, pela metodologia não ser a mesma, pois a grande maioria das pesquisas analisou os efeitos da laserterapia de baixa potência. Várias são as teorias propostas para descrever o mecanismo de ação do laser. Até o momento, a teoria fotoquímica descrita no estudo de Ferreira [20] é a base para discutir-se a grande maioria das pesquisas sobre o mecanismo de ação envolvendo este assunto. Esta teoria baseia-se nos efeitos de radiação laser sobre a cadeia respiratória, na qual ocorre a aceleração da produção de ATP fornecendo energia para a célula, e desta forma, permitindo a modulação da resposta inflamatória [1,6]. Lange et al. [21] verificaram através da análise histológica realizada, após indução de queimadura de 3º grau em ratos Wistar tratados com laserterapia, que o processo de edema e o número de neutrófilos diminuiu, e ainda, observaram o aparecimento de linfócitos e macrófagos numerosos. O estudo de Albertini et al.[1] sugere que a ação do laser de baixa potência, na inibição da evolução do edema, possa incidir sobre a via hipófise - hipotálomo - adrenal. Nos resultados apresentados, a laserterapia não produziu efeito antiinflamatório em animais adrenalectomizados. As glândulas adrenais são responsáveis pela liberação de glicocorticóides, hormônios com reconhecida ação antiinflamatória [2] . No presente estudo, o grupo tratado com laser na dose de 30J/50W apresentou inibição da evolução do processo inflamatório induzido por histamina quando comparado com o grupo controle, o que é confirmado pelo estudo de Honmura et al. [4], no qual foram utilizados 31, 8J, sendo realizada aplicação antes e após a indução do edema. Na figura 1 está demonstrada que o grupo tratado com meloxicam apresentou maior efetividade na inibição da evolução do edema do que os grupos tratados com a laserterapia. Albertini [1] utilizando laser As-Ga-Al (650nm), operando com 2,5 J/cm2 aplicados na primeira, segunda e terceira hora após a indução do edema, observou que houve inibição da inflamação, em relação ao grupo não-tratado da ordem de 47,7%. Ferreira [20] sugere que altas dosagens de laser promovem efeito antiinflamatório através da inibição das atividades 24/4/2007 15:08:16 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 enzimáticas. Neste experimento, observou-se que os grupos tratados com laser de 30J e 60J obtiveram alterações inflamatórias mais discretas que o grupo controle, confirmando o estudo de Pugliese et al [6]. Carvalho et al. [22] sugerem que a radiação laser, quando aplicada até 3 horas após a lesão, diminui o exsudato inflamatório, influenciando na permeabilidade vascular. O presente estudo não teve por objetivo avaliar a redução do processo inflamatório, mas, sim, buscar informações a respeito da inibição da inflamação aguda em um modelo de permeabilidade vascular induzida por histamina. Vicensi e Carvalho [12] comprovaram em seu experimento que a laserterapia reorganizou o processo inflamatório, tanto em células como em vasos sanguíneos. Segundo Matera, Tatarunas e Oliveira [5], o raio laser pode penetrar no tecido humano cerca de 0,5 a 2,5 cm, sendo que os comprimentos de onda maiores atingem maior profundidade. O laser diodo tem maior penetração do que o laser de Hélio Neônio. Ainda nesse estudo, foi comprovado que o uso do laser diodo invisível com comprimento de onda 904nm, potência 27mW e densidade de energia 4J/cm2, exerce ação antiinflamatória e analgésica sobre os tecidos, como sugerido por Honmura et al. [4]. Apesar do laser diodo 904nm, utilizado no presente estudo, apresentar maior penetração nos tecidos, ele não foi o mais efetivo para inibição do processo inflamatório induzido por histamina, o que pode ser visualizado através dos experimentos realizados. Os resultados obtidos concluíram que, para a fluência de 120 J/cm2, os animais irradiados não apresentaram diferenças significantes em relação ao grupo controle. Uma das justificativas encontradas corrobora com as afirmações de Torres e Brito [11], pois indicam que a utilização de fluências baixas ou extremamente altas pode ter causado o efeito indesejado no achado experimental. Conclusão Concluímos que: a laserterapia está indicada para processo inflamatório agudo; a dosagem de 30 J apresentou-se mais efetiva na inibição da evolução do edema do que os outros grupos submetidos a laserterapia; e a inibição do processo inflamatório pelo meloxicam e laserterapia com dosagem de 30 J apresentaram valor percentual semelhante. Sugerimos que novos experimentos sejam realizados comparando os efeitos da laserterapia de alta e baixa potência utilizando outros modelos para indução de edema. Agradecimentos Profª.D.Sc. Marina Moura, Rafael Neides Vieira, Sidiney Marcos Rodrigues, a empresa Dentoflex, pelo apoio total a esta pesquisa, ao Centro Universitário de Caratinga – MG Fisioterapia_v8n2.indb 135 135 Referências 1. Albertini R et al. Análise do efeito do laser de baixa potência (As-Ga-AL) no modelo de inflamação de edema de pata em ratos. Fisioter Bras 2002;3(1):05-15. 2. Brasileiro Filho G. Bogliolo patologia. 6a ed. 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Porém, é preciso que estas estejam sempre em observância aos princípios bioéticos e aos direitos do paciente. Para que estas investigações científicas sejam realizadas, o sujeito pesquisado deve assinar um termo de consentimento livre e esclarecido. Desta forma, tanto o pesquisador como a instituição que realiza o experimento evitam futuros problemas morais ou legais. Principalmente, respeita-se o direito dos pacientes e salvaguarda os pesquisadores. Bioethic is applied to establish dialogue between ethics and life. The human rights and bioethic inevitably go hand-in-hand. Any intervention on human beings should be subordinate to ethical principles. It is important to carry out scientific researchers on human beings permanently. Nevertheless, it is necessary that this research be always in accordance with bioethical principles and patient’s rights. In order to carry out such scientific researches, the patient is asked to sign the informed consent. Thus, either the researcher or the institution avoids future moral and legal problems. It ensures, mainly, patient’s rights and researchers safeguard. Key-words: patient’s rights, scientific research, consent. Palavras-chave: direitos do paciente, pesquisa cientifica, consentimento. Introdução A necessidade da pesquisa está fundamentada na expectativa de que o conhecimento e os avanços, gerados por ela, possam gerar o bem estar da humanidade. Nos dias atuais, é muito grande o número de pesquisas científicas que são elaboradas anualmente. As exigências das universidades fazem com que os acadêmicos elaborem monografias para conclusão do curso, ocasionando, às vezes, falhas nos aspectos bioéticos e no respeito aos direitos dos participantes da pesquisa. É interessante salientar que a produção científica em fisioterapia tem sido muito grande devido à expansão e crescimento da profissão. Deve-se, no entanto, observar a forma que estas pesquisas têm sido realizadas e a importância do consentimento e do direito dos pacientes que contribuem para o desenvolvimento destas. Bioética e os direitos humanos O valor da vida humana e as transformações da humanidade foram os fatos que levaram o médico oncologista americano Van Rensselaer Potter a definir a palavra bioética em 1970 [1]. Partindo da origem etimológica do vocábulo, bioética consiste no esforço de estabelecer um diálogo entre a ética e a vida [1]. A definição de bioética e a sua estruturação como disciplina situa-se na intersecção de diversas ciências tecnológicas (nomeadamente a medicina e a biologia, com todas as suas especializações), de ciências humanas (como a sociologia, Recebido em 9 de dezembro de 2004; aceito em 12 de janeiro de 2007. Endereço para correspondência: Altair Argentino Pereira Júnior, Rua 700, n° 285, Várzea, 88220-000 Itapema SC, Tel: (47) 363-7068, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v8n2.indb 136 24/4/2007 15:08:17 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 137 psicologia, ciência política,...) e de diversas outras disciplinas que não se localizam no campo das ciências, como o direito, a filosofia e a teologia. Situa-se assim em um ambiente multidisciplinar, abordando o estudo sistemático de diferentes dimensões ético-morais (visão moral, decisões, regras de conduta, políticas, entre outras), utilizando uma diversidade de metodologias éticas, para um determinado problema [2,3]. Desde os primórdios da medicina, a relação terapeutapaciente era primordiosa e solene. Atualmente, na gestão da medicina cientifica, a elaboração das pesquisas cientificas em saúde, volta a ocupar lugar de destaque [4]. A bioética engloba a ética médica, porém, não se limita a ela. A ética médica, em seu sentido tradicional, trata dos problemas relacionados com valores surgidos da relação entre o médico e o paciente. A bioética compreende os problemas relacionados com valores que surgem em todas as profissões da saúde e vida bem como nas ciências humanas, sociais, nas tecnologias e engenharias que se relacionam com o ser humano. Aplica-se a investigação biomédica e do comportamento, independente de influírem ou não na ética médica. Aborda uma ampla gama de questões sociais relacionadas à saúde e vai além da vida e da saúde humana, pois compreende questões relativas à vida dos animais e vegetais, concerne as experimentações com animais e as demandas ambientais conflitivas, além dos relacionamentos dos sujeitos da pesquisa com as ciências humanas e sociais [3]. Os direitos humanos e a bioética andam necessariamente juntos. Qualquer intervenção sobre a pessoa humana, suas características fundamentais, sua vida, integridade física e saúde mental deve subordinar-se a preceitos éticos [5]. A necessidade da realização de pesquisas em seres humanos é permanente. Porém, faz-se necessário que as pesquisas estejam sempre em observância com o respeito aos princípios da justiça, beneficência, não maleficência e autonomia. O princípio da justiça exige eqüidade na distribuição de bens e benefícios em qualquer setor da ciência. O princípio da beneficência assegura o bem estar das pessoas, evitando danos e que seus interesses sejam atendidos. O princípio da não maleficência assegura que sejam minorados ou evitados danos físicos aos pacientes. O princípio da autonomia requer do profissional o respeito à vontade, crença e valores morais do paciente, reconhecendo o domínio do paciente sobre sua própria vida, e o respeito a sua intimidade. mento que tem como característica essencial à aplicação de recursos, técnicas, conhecimentos e habilidades pelo terapeuta como provedor de saúde em favor do seu semelhante [4]. Esta relação terapeuta-paciente remonta a épocas muito anteriores à medicina como se conhece nos dias atuais. É uma relação de interdependência desigual, pois o terapeuta possui o conhecimento do tratamento, tendo, assim, aparentemente, um maior poder frente ao paciente. Quando procura o tratamento, o paciente, geralmente, se encontra fragilizado devido à sua doença [7]. A pesquisa cientifica em seu curso pode encontrar como “material disponível” o ser humano, seja este doente ou saudável. Com o passar dos anos e a realização das pesquisas, os pesquisadores observaram e as pessoas exigiram, que os estudos científicos deveriam ser conduzidos de tal forma que não levasse em conta somente o avanço cientifico, mas também protegessem os direitos e o bem estar das pessoas [3]. A pesquisa em saúde deve ter como fim último o estabelecimento de procedimentos, métodos e produtos para a prevenção de doenças, recuperação ou reabilitação da saúde, de cunho diagnóstico e/ou terapêutico. A pesquisa deve-se mover eticamente pelo princípio da beneficência, objetivando cuidar da saúde, aumentar o bem estar do paciente, fazer o bem. Deve-se acatar o princípio ético hipocrático de não causar danos, da não maleficência. Quanto ao princípio da justiça, eqüidade, é necessário possibilitar a todas as pessoas de forma igual, que se tornem participantes da pesquisa e beneficiários dos resultados destas. O conhecimento dos direitos do paciente, ou seja, do seu direito e dos seus dependentes é essencial para se obter melhor relação terapeuta-paciente, e a realização de pesquisas cientificas [8]. Qualquer ação humana que tenha algum reflexo sobre as pessoas e seu ambiente deve implicar o reconhecimento de valores e uma observação de como estes poderão ser afetados. O primeiro desses valores é a própria pessoa, com as peculiariedades que lhe são inerentes à sua natureza, inclusive às necessidades materiais, psíquicas e espirituais. Ignorar essa valorização ao praticar atos que produzam algum efeito sobre a pessoa humana, seja diferentemente sobre ela ou através de modificações sobre o meio em que a pessoa existe, é reduzir a pessoa à condição de coisa, retirando a sua dignidade [5]. Os seres humanos dependem uns dos outros para sobrevivência, e a percepção deste fato faz da vida um valor nas sociedades. Na convivência necessária com outros seres humanos, cada pessoa é condicionada a este valor e pelo dever de respeitá-lo [5]. A reflexão da bioética, em relação às pesquisas com seres humanos, é garantir os direitos dos pacientes e o respeito a sua dignidade humana, um valor fundamental que é referenciado no princípio de Kant, de que cada indivíduo deve sempre ser tratado como um fim em si mesmo e não como um meio para satisfazer terceiros, da ciência ou cientistas ou dos interesses industriais. Pesquisas científicas e fisioterapia As experimentações humanas ocorrem em muitas áreas de conhecimento: na educação, fisioterapia, terapia ocupacional, a educação física, a sociologia, antropologia e assim por diante. Porém, sempre que se pensa em experimentação humana, o foco se concentra na área médica [6]. A relação terapeuta-paciente é por excelência uma relação humana cuja prioridade é a promoção da saúde. É um mo- Fisioterapia_v8n2.indb 137 24/4/2007 15:08:17 138 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 A defesa do princípio da autonomia da pessoa humana caracteriza que todo indivíduo participante de pesquisa deva ser devidamente esclarecido, para que possa manifestar seu consentimento ou recusa a submeter-se à pesquisa. Respeitar a autonomia do indivíduo é reconhecer seu direito de tomar decisões baseadas em idéias, capacidades e valores próprios, tanto na prática clínica como nas experimentações. O princípio da autonomia requer que o participante da pesquisa deva ser livre para permanecer ou retirar-se da pesquisa a qualquer momento. Entre os direitos do pacientes estabelecidos pela portaria do Ministério da Saúde nº 1286 de 26/10/93 – art. 8° n°74 de 04/05/94 destaca-se: • O paciente tem direito a ser esclarecido se o tratamento ou o diagnóstico é experimental ou faz parte de pesquisa, e se os benefícios a serem obtidos são proporcionais aos riscos e se existe probabilidade de alteração das condições de dor, sofrimento e desenvolvimento da sua patologia. • O paciente tem direito de consentir ou recusar a ser submetido à experimentação ou pesquisas. No caso de impossibilidade de expressar sua vontade, o consentimento deve ser dado por escrito por seus familiares ou responsáveis. • O paciente tem direito a consentir ou recusar procedimentos, diagnósticos ou terapêuticas a serem nele realizados. Deve consentir de forma livre, voluntária, esclarecida com adequada informação. Quando ocorrerem alterações significativas no estado de saúde inicial ou da causa pela qual o consentimento foi dado, este deverá ser renovado. • O paciente tem direito de revogar o consentimento anterior, a qualquer instante, por decisão livre, consciente e esclarecida, sem que lhe sejam imputadas sanções morais ou legais. to, deixa-se claro que a assinatura do paciente não significa, necessariamente, que o paciente consentiu em participar do experimento. Isso porque muitos pesquisadores usam, ou já usaram, uma linguagem incompreensível para o leigo, ou ainda os participantes da pesquisa aceitam assinar o consentimento por confiar no pesquisador, mas estes não sabem ao certo o que realmente está acontecendo [10,11]. O termo de consentimento deve ser livre e esclarecido. É um documento legal, assinado pelo paciente que protege tanto o pesquisador como a instituição que realiza o experimento assim como os pacientes. Este documento deve fazer parte do protocolo e ser redigido de forma simples, linguagem clara e exata. É importante ressaltar que a palavra consentimento implica a idéia tomada por livre e espontânea vontade da pessoa em participar da pesquisa, mas nem sempre o conhecimento dos fatos. Todo participante de pesquisa tem direito à explicação. Afinal, se o paciente assinar um formulário sem receber informação adequada sobre a situação experimental e não tiver capacidade de decidir, é cômodo acreditar que houve consentimento, mas na verdade o participante foi usado como cobaia, tratado como objeto [10]. No Brasil, os aspectos éticos envolvidos em atividades de pesquisa em seres humanos estão regulamentados através da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde de outubro de 1996. Estas diretrizes foram detalhadas para pesquisas que envolvam seres humanos, envolvendo novos fármacos, medicamentos, vacinas e testes diagnósticos através de uma outra resolução (251/97), de agosto de 1997. Novas resoluções estão sendo elaboradas para tratar de outras áreas temáticas especiais, como genética clínica. O objetivo maior da avaliação ética de projetos de pesquisa é garantir três princípios básicos: a beneficência, não maleficência e autonomia. Porém, não é ético um protocolo de pesquisa que cumpra os princípios bioéticos, mas não contenha o termo de consentimento por escrito do paciente livre esclarecido. Sempre que houver capacidade de decisão, esta deve ser privilegiada, pois tem relação com a pessoa humana na sua totalidade, sua razão, emoções, mesmo que seu estado jurídico aponte outra direção. No caso dos incapazes de consentir alguém tomará as decisões em seu lugar [12]. O consentimento livre e esclarecido As normas éticas que regem as pesquisas em seres humanos foram desenvolvidas e implantadas, tendo como preocupação o seu contexto e sua influencia global dentro da sociedade. Envolvem elementos como a necessidade da pesquisa e os imperativos morais, que precisam ser analisados em cada projeto pelas comissões de ética para elaboração das pesquisas [6]. Para as atividades de pesquisa em saúde, o pesquisador somente pode acessar o prontuário do paciente após ter elaborado um projeto e o mesmo ter sido aprovado por um comitê de ética em pesquisa. As informações fornecidas pelos pacientes, assim como resultado de exames e procedimentos realizados com finalidades diagnóstica ou terapêutica são de propriedade dos pacientes sendo necessário o seu consentimento para utilização deste em pesquisa, sempre visando preservar a privacidade do paciente [9]. A experimentação em seres humanos só pode ser realizada mediante consentimento. É o consentimento que transforma o que seria simples uso da pessoa em participação consciente dessa pessoa em um empreendimento cientifico. No entan- Fisioterapia_v8n2.indb 138 Relato de caso Mulher de 60 anos realizou reabilitação uroginecológica em uma clínica de fisioterapia. Durante seu tratamento, foram usadas técnicas fisioterapêuticas para fortalecimento do períneo, entre estas a eletroestimulação transvaginal do períneo. Somente após as sessões de tratamento, a paciente foi avisada que estava sendo incluída em uma pesquisa científica. A paciente relata que não queria participar da pesquisa e posteriormente processou o serviço de fisioterapia por invasão de privacidade e por este realizar uma pesquisa sem esclarecê-la. 24/4/2007 15:08:17 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 Observa-se, nesta conduta, que a paciente deve consentir antes de participar do tratamento e da pesquisa, pois se deve respeitar a autonomia da paciente. Para isso, é necessário que a paciente assine um termo de consentimento livre e esclarecido. O fisioterapeuta precisa conversar com a paciente, antes de aplicar a técnica, para esclarecê-la de todos os procedimentos que serão adotados em seu tratamento. O principio da autonomia diz que um indivíduo autônomo age livremente de acordo com um plano próprio, de forma análoga que um governo independente administra seu território e estabelece suas políticas. Uma pessoa com autonomia diminuída é, pelo menos em algum aspecto, controlada por outros ou é incapaz de deliberar ou agir com base em seus desejos e planos [13,14]. Neste caso, uma paciente de 60 anos, quando portadora de alguma neuropatia degenerativa, pode ter a autonomia reduzida. Observa-se descuido do pesquisador em incluir a paciente na pesquisa sem prévio esclarecimento, desrespeitando o principio da beneficência, que assegura o bem estar das pessoas, evitando danos, físicos ou psicológicos, e seus interesses atendidos. O pesquisador não questionou a paciente se era de seu interesse a participação na pesquisa. Conclusão Em qualquer pesquisa científica realizada, que envolva seres humanos, deve-se considerar a autonomia do participante. Todo indivíduo autônomo age de forma livre. Este deve ser respeitado, e pode decidir sobre sua própria vida. Toda intervenção para ser realizada necessita do consentimento prévio do paciente ou do seu representante legal. O paciente tem o direito ao sigilo e a privacidade, necessita ser esclarecido se o seu tratamento está sendo incluído em pesquisas, e quais serão os benefícios e os riscos proporcionados. Respeitar o paciente é essencial para que não se perca o objetivo primordial da relação medico paciente, que é a promoção da saúde e o bem estar dos indivíduos. Para que isto ocorra, é necessário o conhecimento e o respeito aos princípios bioéticos. Fisioterapia_v8n2.indb 139 139 Referências 1. Kuramoto JB. Bioética e direitos humanos. In: Siqueira JE, Prota L, Zancanaro L. Bioética estudos e reflexões. Londrina: UEL; 2000. 2. Costa PF. O que é a bioética? 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Sc.*, Claudia de Marco Valsechi**, Maria Rita Masselli, D. Sc.*, Claudia Regina Sgobbi de Faria, D. Sc.*, Dalva Minonroze Albuquerque Ferreira, M. Sc.* *Fisioterapeuta, Professora da Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista (FCT/UNESP), ** Faculdade de Ciências e Tecnologia - Universidade Estadual Paulista (FCT/UNESP) Resumo Abstract O presente estudo foi desenvolvido com uma adolescente com escoliose lombar idiopática. A paciente foi submetida a tratamentos fisioterapêuticos semanais, 1 sessão por semana, para correção e/ou manutenção da curva escoliótica, através da Reeducação Postural Global (RPG), no decorrer de um ano. Foram realizadas duas avaliações clínicas e quatro radiológicas. No exame clínico foram determinados o peso, a altura e o padrão postural. No exame radiológico, o grau de Risser, a discrepância entre os membros inferiores, o grau de inclinação lateral e a vértebra mais rodada foram analisados. Durante o tratamento fisioterapêutico, foram realizadas correções posturais nas diferentes posturas da RPG a fim de minimizar as retrações musculares assimétricas. Observou-se diminuição da rotação da vértebra mais rodada e estabilização do grau de inclinação lateral. Conclui-se, portanto, que o tratamento com RPG não foi suficiente para reduzir a angulação de uma escoliose evolutiva, porém, estabilizou a curvatura. The present study was developed with a female adolescent with idiopathic scoliosis. The patient was allocated to a weekly sessions of physical therapy treatment, once weekly, for correction and/or maintenance of the scoliotic curve, using Global Posture Reeducation (GPR) method for a year. Two clinical and four radiological evaluations were carried out. On clinical examination, weight, height and pattern postural were determined and, on the radiological examination, Risser grades, discrepancy in the lower limbs, lateral inclination degree and the more rounded vertebra were analyzed. During physical therapy treatment, postural corrections were monitored in different postures of GPR in order to minimize the asymmetrical muscular retractions. It was observed a reduction on the more rounded vertebra rotation and stabilization of lateral inclination degree. One concludes that RPG treatment was not enough to reduce the angulations of an evolutionary scoliosis, but, the curvature was stabilized. Palavras-chave: escoliose, reeducação postural global. Key-words: scoliosis, global posture reeducation. Introdução deformidade na escoliose idiopática do adolescente envolve o tronco em geral, as costelas, os órgãos internos e a aparência da superfície da coluna. O risco evolutivo da escoliose idiopática do adolescente está diretamente relacionado ao período de crescimento [4], com grau de inclinação lateral da curva escoliótica e com a rotação axial da vértebra ápice da curva [5]. Há, ainda, uma maior prevalência no sexo feminino em relação ao masculino de 3,6:1 [6]. A literatura aponta vários métodos e recursos fisioterapêuticos que têm sido utilizados no tratamento da escoliose: métodos Schroth, exercícios físicos, estimulação elétrica dos músculos, colete associado a exercícios ou isolado, reorgani- A escoliose, inicialmente definida como sendo um simples desvio lateral da coluna vertebral [1,2], tem na verdade uma conotação muito mais complexa. Devido ao maior entendimento da natureza tridimensional dessa patologia, passou a ser definida como uma deformidade nos três planos, sendo o desvio lateral no plano frontal, a rotação vertebral no plano axial e a lordose no plano sagital [3]. As deformidades vertebrais na escoliose estão intimamente relacionadas com a sua patogênese, que permanece desconhecida, especialmente a escoliose idiopática, que representa mais de 80% de todas as escolioses. Segundo Stokes et al. [3], a Recebido em 03 de novembro de 2005; aceito em 10 de fevereiro de 2007. Endereço para correspondência: Cristina Elena Prado Teles Fregonesi, Universidade Estadual Paulista, Campus de Presidente Prudente, Departamento de Fisioterapia, Rua Roberto Simonsen, 305, 19060-900 Presidente Prudente SP, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v8n2.indb 140 24/4/2007 15:08:18 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 141 zação tônica e fásica da postura, osteopatia, iso-stretching, reeducação postural global (RPG), dentre outros [7]. A preocupação com o elevado índice de escoliose idiopática entre os adolescentes direcionou o presente trabalho, tendo como finalidade analisar a evolução de uma adolescente portadora de escoliose lombar idiopática e submetida, ao longo de um ano, a sessões semanais de Reeducação Postural Global – RPG. A paciente foi submetida a uma sessão semanal de Reeducação Postural Global (RPG) por um ano. No decorrer do tratamento, foram realizadas correções posturais, em diferentes posturas da RPG, a fim de minimizar as retrações musculares assimétricas [10]. Em todas as sessões, posturas em decúbito foram associadas a posturas em carga, utilizando-se calços de compensação, quando necessário. Os exames clínicos e radiológicos foram repetidos no final do tratamento. Foram realizadas mais duas radiografias panorâmicas ântero-posteriores, durante o tratamento, para acompanhar a evolução da escoliose, sendo realizadas as medidas de inclinação lateral e de rotação vertebral nestas. Em seguida, os dados clínicos e radiológicos foram distribuídos em tabelas e analisados. Material e método O presente estudo acompanhou uma adolescente com diagnóstico prévio de escoliose lombar idiopática, com 13 anos de idade e primeira menarca há 10 meses. Após assinar o termo de consentimento para participação em pesquisa científica, a paciente foi submetida a um exame clínico e radiológico, em posição ortostática. No exame clínico foram determinados o peso, a altura e o padrão postural. No exame radiológico foi determinado o grau de Risser, através da medida de ossificação da crista ilíaca, e a discrepância entre os membros inferiores, através de escanometria, e, nas radiografias panorâmicas (ântero-posteriores), foi determinado o grau de inclinação lateral, pelo método de Cobb [8], e a vértebra mais rodada, no ápice da curva, pelo método de Raimondi [9]. Para mensuração do ângulo de inclinação lateral, foi determinada a vértebra limite superior e a vértebra limite inferior da curvatura escoliótica, sendo, respectivamente, a décima segunda vértebra torácica (T12) e a quarta vértebra lombar (L4). A segunda vértebra lombar (L2) apresentou maior rotação axial, do início ao final da pesquisa. Resultados Nas avaliações iniciais, por meio do exame radiológico, o Risser foi classificado em grau II e a escanometria acusou um centímetro de encurtamento no membro inferior direito. Na avaliação final essa diferença de um centímetro foi mantida. Os dados coletados nas avaliações clínicas foram apresentados na Tabela I. Os valores de inclinação lateral e de rotação vertebral obtidos na análise radiológica, representados em graus, estão mostrados na Tabela II. Tabela I - Idade, peso e altura inicial e final. Inicial Final Idade 13 anos 14 anos Peso 52kg 54kg Altura 1,65m 1,68m Tabela II - Análises radiológicas da angulação e rotação vertebral. Rotação vertebral L2 Ângulo de Cobb T12L4 Radiografia I 23/02/04 16° 26° Radiografia II 07/05/04 12° 20° Radiografia III 23/09/04 13° 25° Radiografia IV 15/02/05 10° 25° L2 e L4 – 2ª e 4ª vértebras lombares; T12 – 12ª vértebra torácica. Discussão Os valores do Risser grau II e da escanometria, acusando um centímetro de encurtamento no membro inferior direito, somados aos graus de inclinação lateral (26°) e de rotação vertebral (16°), observados na primeira avaliação, eram indicativos de uma escoliose em fase evolutiva. Segundo Ferreira e Defino [3], um importante fator na deformidade da escoliose idiopática é a rotação axial vertebral que acompanha o desvio lateral vertebral. A presença de rotação axial combinada com a inclinação lateral pode contribuir para o desenvolvimento das curvas escolióticas exageradas. A estabilidade da coluna é garantida por componentes intrínsecos, como os discos vertebrais e ligamentos, e por Fisioterapia_v8n2.indb 141 um componente extrínseco, formado pela fixação muscular, principalmente de músculos antigravitacionais [11]. Por ser a escoliose, muitas vezes, fixada por retrações assimétricas dos músculos espinhais, a redução dessas retrações, por meio da RPG, pode proporcionar melhora do padrão postural. Portanto, a fim de se evitar ou minimizar a progressão da curva escoliótica, a paciente foi submetida a sessões semanais de RPG, durante um ano. Nessas sessões, era associada uma postura em decúbito a uma em carga, já que, segundo Souchard e Ollier [10], as posturas em decúbito permitem melhor modelagem manual do terapeuta e as posturas em carga permitem maior participação do paciente e confrontam as correções morfológicas ao equilíbrio axial e ponderal. 24/4/2007 15:08:18 142 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 A evolução da curva foi acompanhada por meio da análise dos valores de inclinação lateral e de rotação vertebral, em quatro momentos distintos. Jeffries et al. [12] comentam que a avaliação radiológica é importante no controle da escoliose de três maneiras: confirma sua presença, auxilia na determinação da etiologia e flexibilidade da deformidade e quantifica o grau inicial da curvatura do tronco e qualquer alteração subseqüente a uma terapia. As mensurações radiológicas foram realizadas sempre pela mesma pessoa e os parâmetros adotados foram os mesmos nas quatro avaliações. Gunzburg et al. [13] relatam que a habilidade para mensurar a rotação vertebral acuradamente na radiografia em ântero-posterior é clinicamente importante, pois é uma técnica de baixo custo, requer pouca radiação e, se interpretada corretamente, é segura. No primeiro trimestre do tratamento fisioterapêutico, observamos uma evidente diminuição tanto do grau de inclinação lateral, sendo este de 26° para 20°, quanto do grau de rotação da vértebra mais rodada, de 16° para 12°. Após esse período, observamos aumento no grau de inclinação lateral, de 20° para 25°, mantendo-se neste nível até o final do tratamento. Considerando-se que a paciente obteve um crescimento em 3 cm, de 1,65m para 1,68m, era de se esperar, segundo Thometz et al. [14], uma evolução da curvatura que, provavelmente, foi minimizada com a diminuição inicial da curva escoliótica. Molina e Camargo [15] realizaram técnicas de alongamento muscular em posturas de contração muscular isotônica excêntrica, uma vez por semana, por 10 a 24 sessões em nove adolescentes com escoliose. Os autores observaram redução da curva escoliótica, medida pelo método de Cobb, em todos os casos. Assim, comparando-se a primeira com a última avaliação, podemos observar que, após um período de um ano, com tratamento fisioterapêutico semanal, não observamos melhora no grau de inclinação lateral, embora caiba ressaltar que esta também não piorou, o que seria esperado em uma escoliose evolutiva, porém a rotação axial vertebral se mostrou diminuída, de 16º a 10º. Essa diminuição na rotação vertebral pode ser um indicativo de melhora, influenciando diretamente na estabilização da curva escoliótica, pois segundo Souchard e Ollier [10], o desvio lateral vertebral é precedido de uma rotação axial vertebral nas escolioses idiopáticas do adolescente. A escoliose, por ser uma complexa deformidade tridimensional da coluna vertebral [3], estabilizar a angulação pode ser considerado positivo [10]. Conclusões Fisioterapia_v8n2.indb 142 O tratamento da escoliose com técnicas adequadas, como a RPG, pode proporcionar ao paciente, além de melhora no padrão postural minimizando as retrações assimétricas dos músculos espinhais, diminuição na rotação da vértebra do ápice da curva escoliótica, podendo minimizar a evolução da escoliose. Referências 1. Cailliet R. Escoliose - Diagnóstico e tratamento. São Paulo: Manole; 1977. p.17-54. 2. Basmajian JV. Terapêutica por exercícios. São Paulo: Manole; 1987. p. 557-579. 3. Ferreira DMA, Defino HLA. Avaliação quantitativa da escoliose idiopática: concordância das mensurações da gibosidade e correlações com medidas radiológicas. Rev Bras Fisioter 2001;5(2):73-86. 4. Stokes IAF, Armstrong JG, Moreland MS. Spinal deformity and back surface asymmetry in idiopathic scoliosis. 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Demonstra-se o caso de um paciente de 1 ano e 8 meses, acompanhado durante seis atendimentos onde se verificou o efeito das condutas aplicadas. O paciente apresentava hipotonia em MSE, diminuição da amplitude de movimento (ADM) ativa de flexão e abdução de ombro esquerdo, ausência de supinação ativa de antebraço e extensão de ombro esquerdo. As condutas foram apresentadas de forma lúdica, para que a criança participasse ativamente do tratamento. Após o término das sessões pode-se observar que houve aceitação das condutas pelo paciente, que passou a colaborar mais nas atividades solicitadas. Ocorreu, também, o incremento no uso do MSE, nas AVD, bem como, durante as sessões de fisioterapia. The objective of the present study is to report the case of a patient with Erb paralysis in the left arm, due to an injury to the brachial plexus caused by an obstetric lesion. The patient was 1 year and 8 months old and was observed during six therapy sessions, where were observed the effects of the treatment. The patient showed symptoms like: hypotenia in the left arm; reduction in active amplitude of movements in the left shoulder in flexion and abduction; absence of active supination in the forearm and extension in the left shoulder. In order to make easier for the patient to have an active participation, the treatment was presented in a ludic form. After the end of the sessions, was observed that the procedure was accepted by the patient who collaborated with the activities. There was an increase of movements in the left arm in daily activities and during the sessions of physiotherapy. Palavras-chave: lesão de plexo braquial, fisioterapia, condutas lúdicas. Key-words: injury to the brachial plexus, physiotherapy, ludic treatment. Introdução que apresenta este distúrbio. O plexo braquial é o local de concentração das raízes nervosas que partem da medula para inervar os músculos e a pele do braço. Há cinco raízes nervosas envolvidas no plexo, as quais saem da cavidade torácica inferiormente à clavícula, através da axila [3,4]. A incidência de lesão do plexo braquial é de cerca de 0,5 a 2,5 por 1.000 nascidos vivos [2]. Outros autores estimam que os danos ao plexo braquial ocorram em aproximadamente 0,25% de todos os partos [5]. Os principais fatores de risco para que ocorra lesão obstétrica de plexo braquial são apresentação pélvica, distócia de ombro, oligodramnia, recém nascido grande para idade gestacional, parto prolongado, baixa estatura materna, crânio volumoso [1,2]. O plexo braquial é um conjunto de raízes nervosas formado pela união das raízes ventrais de C5 a T1 (segmentos medulares). Os ramos de C5 e C6 formam o tronco superior, os ramos de C8 e T1 formam o tronco inferior e o ramo de C7 o tronco médio [1]. A lesão do plexo braquial é a lesão de nervo periférico mais comum em partos vaginais. Foi descrita pela primeira vez em 1764, mas somente em 1861 Duchenne introduziu o termo “paralisia obstétrica”. Posteriormente, Erb relacionou o plexo braquial como o sítio anatômico da lesão [2]. As lesões do plexo braquial têm graves repercussões sobre a vida familiar, profissional e a qualidade de vida do indivíduo Recebido 16 de março de 2006; aceito 15 de janeiro de 2007. Endereço para correspondência: Letícia Amaro da Silveira Dornelles, Rua Jaú Guedes da Fonseca, 292/ap. 303-Bloco B,Coqueiros 88080-080 Florianópolis SC, Tel: (48) 9121-4350, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v8n2.indb 143 24/4/2007 15:08:19 144 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 O plexo braquial pode sofrer lesão durante um parto difícil quando se aplica tração ou forte flexão lateral sobre a cabeça durante o desprendimento do ombro, quando o ombro do bebê, no momento do parto, é forçado em abdução ou flexão excessiva, por anomalias como costela cervical ou vértebra torácica ou ainda durante um parto pélvico, no estágio em que a cabeça ainda esta retida, e uma forte flexão lateral é aplicada ao tronco e à coluna cervical [6-10]. A lesão nervosa é causada por estiramento dos nervos que compõem o plexo braquial. Esta lesão é provocada por tração, onde as raízes nervosas e nervos periféricos podem ser lesados por um estiramento severo, produzindo uma laceração parcial ou completa, que resultará numa lesão traumática [7-9]. Observa-se logo após o nascimento, que o bebê apresenta postura assimétrica: o braço afetado flácido ao seu lado ao invés de apresentar uma postura normal do recém nascido, na qual predomina a flexão. A fraqueza ou distúrbio dos músculos leva a substituição por músculos intactos, o que resulta em desempenho motor de caráter compensatório, em contratura de tecidos moles e no possível desuso do membro afetado [9]. São classificadas três formas de paralisia por lesão obstétrica de plexo braquial, de acordo com o nível de lesão. A Paralisia de Erb é o tipo mais comum onde são afetados os troncos superiores (C5 e C6) resultando em paralisia do ombro e parte superior do braço. A Paralisia de Klumpe atinge os troncos inferiores do plexo braquial (C8-T1) causando paralisia dos músculos do antebraço e da mão. Já a Paralisia Braquial Completa causa perda da sensibilidade e paralisia completa de todo o membro superior [6,11]. Neste estudo, será abordada somente a primeira forma de paralisia, já que é o tipo de lesão apresentada pelo paciente a ser abordado. Na Paralisia de Erb, o membro superior do paciente encontra-se em rotação interna, pronação, com abdução ativa impossível, o cotovelo pode estar fletido levemente ou em extensão completa, o peitoral maior está presente e proporciona a anteriorização do membro superior, não existem sinais vasomotores e a criança reage a estímulos dolorosos no antebraço e na mão, o punho apresenta-se em extensão dorsal tendendo a palma da mão a ficar para cima. A postura adotada é conhecida como paralisia do “garçom pedindo gorjeta”, a qual ocorre por fraqueza de deltóide, flexores do cotovelo e braquiorradial, além de fraqueza na rotação externa, na extensão e na abdução do ombro, na supinação do antebraço e na extensão do cotovelo. Esta é a forma mais comum de paralisia braquial e caracteriza-se por ausência do reflexo de Moro e tônico do pescoço no lado da lesão, ausência de reflexo biciptal, preservação da preensão palmar, ombro caído, braço em adução, imóvel, rodado internamente no ombro e com pronação ao nível de cotovelo [4,5,8,12]. Pode ocorrer paralisia ou paresia do elevador da escápula, rombóide, deltóide, serrátil anterior, supra e infra-espinhoso, bíceps braquial, braquial, braquiorradial, supinador do antebraço e extensores do punho, dedos e polegar. As contraturas podem surgir devido a desequilíbrios musculares [10]. Aproximadamente 5% dos pacientes apresentam comprometimento do diafragma ipsilateral à lesão [12]. O acompanhamento fisioterapêutico é imprescindível para o desenvolvimento da função adequada do membro afetado. Os primeiros objetivos da fisioterapia consistem em criar as melhores condições possíveis para a recuperação da capacidade funcional, em proporcionar as condições ambientais necessárias para os músculos poderem reassumir sua função, controlar dor e edema, manter ou aumentar a amplitude de movimento do membro afetado, manter atividade e força dos músculos não lesados realizar estimulação sensorial no membro afetado, treinar transições de sentado para a postura de gatas até a postura ortostática, treinar o controle motor mediante exercícios que os incentivem a alcançar, agarrar e manipular objetos [8,9,11]. Será apresentado neste estudo o caso clínico de um paciente com Paralisia de Erb devido à lesão obstétrica do plexo braquial atendido no setor de pediatria do Centro Catarinense de Reabilitação, na cidade de Florianópolis, Santa Catarina. Fisioterapia_v8n2.indb 144 Materiais e métodos O paciente G.R.A., sexo masculino, etnia branca, um ano e oito meses, nascido no dia 23 de novembro de 2003, apresenta lesão de plexo braquial à esquerda. Realiza atendimento fisioterapêutico desde os três meses de idade até um ano, quando o tratamento foi interrompido devido à criança se negar a realizar as atividades da fisioterapia e reiniciou o acompanhamento com um ano e quatro meses. Com esta idade foi realizada nova avaliação fisioterapêutica. A mãe do paciente relatou ter tido trabalho de parto bastante prolongado e que o bebê sofreu lesão do plexo braquial durante o parto. No exame físico foram verificados: • Inspeção geral: evidenciou que o membro superior esquerdo (MSE) apresentava-se em rotação medial e adução de ombro, semi-flexão de cotovelo e pronação do antebraço; Figura 1- Postura do paciente (observar posição do membro superior esquerdo). Fonte: Dados da autora 24/4/2007 15:08:19 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 145 • Palpação: apresentou ponto de contratura em cabeça longa do bíceps braquial esquerdo; • Atividades motoras: apresentava alterações no desempenho de algumas atividades motoras como ao rolar para o lado esquerdo mantinha o MSE sob o tronco, em prono mantinha o MSE semi-fletido em cotovelo, em gatas depositava maior descarga de peso em membro superior direito (MSD) do que em MSE, engatinhava com apoio em MSE porém sem sustentação de peso neste membro; • Tônus/trofismo: apresentou hipotonia à palpação e mobilização em todo MSE, não apresentou alterações no trofismo; • Observações gerais: o paciente não realiza supinação de antebraço e extensão do ombro ativamente, quando observado em suas atividades de brincadeira evidencia-se sub-uso do MSE; mãos, empurrar carrinhos de brinquedo com o MSE sentado e engatinhando, encaixar argolas de plástico em suporte cônico utilizando MSE, entre outras. Figura 2 - Adaptação postural do paciente para alcançar objetos acima da linha do ombro. Figura 3 - Exemplo de conduta adotada com o paciente. Fonte: Dados da autora Figura 4- Exemplo de conduta adotada com o paciente. Fonte: Dados da autora • Goniometria: não foi possível realizar a goniometria devido à falta de colaboração e resistência do paciente ao exame. Após a coleta de dados, realizada através da avaliação, foi estabelecido o diagnóstico fisioterapêutico de hipotonia em MSE, diminuição da amplitude de movimento (ADM) ativa de flexão e abdução de ombro esquerdo, ausência de supinação ativa de antebraço e extensão de ombro esquerdo. Depois de definido o diagnóstico fisioterapêutico, foram traçados os seguintes objetivos: evitar encurtamentos e aderências, estimular ADM ativa, maximizar força muscular, adequar tônus, estimular o uso do MSE nas atividades de vida diária (AVD´s). Com os objetivos do tratamento identificados, foram realizadas as seguintes condutas de alongamento ativo de MSE, atividades lúdicas para estimular o uso do MSE, exercícios ativos de MSD auxiliando a elevação do MSE, descarga de peso em MSE. As atividades foram realizadas de forma lúdica, para que a criança participasse ativamente do tratamento através de brincadeiras como lançar bolas para o alto, empurrar para frente e para trás bolas de maior diâmetro, “escalar” o espelho com a ajuda das mãos, alcançar brinquedos acima da linha da cabeça, empurrar carrinhos de boneca utilizando as duas Fisioterapia_v8n2.indb 145 Fonte: Dados da autora Figura 5- Exemplo de conduta adotada com o paciente. Fonte: Dados da autora 24/4/2007 15:08:19 146 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 Figura 6 - Exemplo de conduta adotada com o paciente. usando feedback verbal para conseguir que a criança ative os músculos certos para o ato que dela se exige. É importante enfatizar o treinamento dos músculos abdutores, flexores e rotadores externos do ombro; os supinadores do antebraço; os extensores do carpo e o abdutor do polegar. Com uma criança mais velha, podem-se realizar brincadeiras, com finalidade de melhorar a percepção sensitiva em relação ao membro afetado. Deste modo, oportuniza-se melhores condições para realização de suas atividades de vida diária juntamente com um desenvolvimento motor mais adequado e compatível com a sua idade [9,14]. Condutas que visem estimular a descarga de peso no membro afetado, restrição do uso do braço não lesado durante as sessões, atividades que estimulem a sensibilidade, atividades que se enquadrem no desenvolvimento neuropsicomotor próprio da idade do paciente parecem ser as mais adequadas [10]. Ao se rever o histórico de pacientes que sofrem lesão de plexo braquial observa-se o papel fundamental da fisioterapia na estimulação do membro lesado e na tentativa de evitar a instalação de deformidades. Sabe-se que a goniometria poderia fornecer dados mais precisos do aumento da amplitude de movimento do MSE, porém foram realizadas diversas tentativas onde o paciente se negou a aceitar o exame mesmo com a presença da mãe. Porém, no desenvolvimento deste estudo pode-se observar que o houve aceitação satisfatória das condutas pelo paciente, já que este passou a colaborar mais nas atividades solicitadas e verificou-se um maior uso do MSE nas AVD´s (segundo informações fornecidas pela mãe) e durante as sessões de fisioterapia. Fonte: Dados da autora As condutas expostas foram aplicadas por seis atendimentos ao paciente, no período de 29 de julho a 16 de agosto de 2005, com duração de 30 minutos cada sessão, totalizando 180 minutos de atendimento. Resultados e discussão Os principais objetivos da fisioterapia no tratamento de seqüelas de lesão de plexo braquial consistem em criar as melhores condições possíveis para a recuperação da capacidade funcional, em proporcionar as condições ambientais necessárias para os músculos poderem reassumir sua função, manter ou aumentar a amplitude de movimento do membro afetado, realizar estimulação sensorial no membro afetado, treinar transições de sentado para a postura de gatas até a postura ortostática, treinar o controle motor mediante exercícios que os incentivem a alcançar, agarrar e manipular objetos [8,9]. Outro fator importante ao tratamento desta modalidade de pacientes é evitar que ocorra desuso de uma articulação a fim de evitar que a cápsula, ligamentos e a membrana sinovial fiquem progressivamente mais atrofiados. Aderências e ligações cruzadas anormais provocam a formação de contraturas e diminuem o movimento da articulação (podendo ser representada por fibrose). A cartilagem também é afetada já que depende de líquido sinovial, podendo haver diminuição da sua nutrição e destruição gradual da cartilagem. A fibrose ou contratura indica perda articular por encurtamento de tecido conjuntivo e músculos [13]. Por estes fatores é imprescindível que estas crianças sejam estimuladas o mais precocemente possível a fim de evitar seqüelas por desuso do membro afetado. O treinamento motor visa especificamente os atos importantes em relação à idade da criança, merecendo ênfase especial, os atos de estender o braço para tocar e finalmente apanhar e manusear objetos diferentes. Os atos da criança precisam ser acompanhados mediante orientação manual, Fisioterapia_v8n2.indb 146 Conclusão Através do atendimento dispensado a este paciente, podese observar que, as técnicas que são dirigidas ao tratamento de determinada patologia/défict não se enquadram a todos os pacientes que as apresentam. As condutas dirigidas à pacientes pediátricos devem ser aplicadas conforme a colaboração do paciente e de forma a entretê-lo para que coopere com o andamento do tratamento. Independente dos resultados obtidos com este paciente, um tratamento bem sucedido necessita de escolha correta das condutas para o caso específico do paciente e que estas sejam aplicadas em uma fase de recuperação após a lesão que permita que as condutas possam ter os resultados esperados. O atendimento fisioterapêutico baseado na conduta empregada é de grande importância e validade na prevenção e/ou minimização de possíveis alterações decorrentes da lesão de plexo braquial. Referências 1. Rede Sara. Paralisia braquial obstétrica. Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação, 2002. [citado 2006 jan 23]. Disponível em 24/4/2007 15:08:20 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 2 - março/abril de 2007 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. URL: http://www.sarah.br/paginas/doencas/po/p_10_paralisia_braquial_obst.htm. Chieppe AO. 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Fisioterapia e crescimento na infância. São Paulo: Santos; 1999. p. 284-5. 24/4/2007 15:08:20 Fisioterapia Brasil (vol.8, nº3 maio/junho 2007 - 153~224) EDITORIAL Uma música, uma ficção e a ação, Marco Antonio Guimarães da Silva ................................................................................... 155 ARTIGOS ORIGINAIS Análise qualitativa histo-diferenciada do processo de reparo da pele de Rattus Norvégicus tratados por ultra-som terapêutico pulsado de 3.0 Mhz, Glauco Alexandre Gaban, Glória Maria Moraes Vianna da Rosa, Walker André Chagas, Lúcia Helena Orofino da Silva, Leonardo Davi Pistarino Pinto, Sandoval Lages da S. Sobrinho, Isabel da Cunha Barbosa Leite, Ubirajara Peçanha Alves, Odir de Souza Carmo .......................................................................... 157 Perfis dos níveis de estresse e pressóricos de adultos hipertensos do Hospital PAM Bangu RJ, Alessandro Carielo de Albuquerque, Carlos Soares Pernambuco, Daniel Teixeira Belloni, Franz Knifis, Sílvia Bacelar, Estélio Henrique Martin Dantas ........................................................................................................................... 162 Cinesioterapia na amplitude articular do ombro no pós-cirúrgico do câncer de mama, Silvia Helena da Silva, José Maria Pereira de Godoy, Geovana C. Rincão, Lucelene Paschoal ....................................................... 168 Campos elétricos produzidos por equipamentos de diatermia de microondas, Silvio Rainho Teixeira, Marcus Cezar Recco Gonsalles, Maria Rita Masselli, Iracimara de Anchieta Messias.................................................................... 173 Prevalência de dor em atletas da Seleção Brasileira de Voleibol Paraolímpico e sua relação com o deslocamento em quadra e fundamentos do voleibol, Ana Carolina d´Avila de Assumpção, Adriana Ribeiro de Macedo, Ana Paula de Araújo Alves .............................................................................................................. 178 O acesso de crianças com paralisia cerebral à fisioterapia, Cristiane Mattos de Oliveira, Alexandra Prufer de Q. C. Araújo ............................................................................................................................................... 183 Análise biomecânica da lordose lombar durante a marcha em esteira inclinada, Alexandre Marin Hernandez Cosialls, Ricardo Arida ................................................................................................................... 188 Ativação eletromiográfica em exercícios sobre a prancha de equilíbrio, Pâmella Lago da Cunha, Thatia Regina Bonfim ................................................................................................................................................................. 192 REVISÃO Análise crítica dos exercícios de fortalecimento do assoalho pélvico na gravidez, Cristine Homsi Jorge Ferreira, Geraldo Duarte, Ana Carolina Rodarti Pitanguy.......................................................................... 198 Os instrumentos de avaliação do estado funcional do ombro, Rodrigo da Silva Assis Coelho ................................................. 202 RELATOS DE CASO Tratamento fisioterapêutico pós tenorrafia do tendão calcâneo, Deise Elisabete de Souza, Melissa Sayuri Hoshino, Anderson Ricardo Fréz, Gladson Ricardo Flor Bertolini........................................................................ 210 A influência do treinamento da marcha com suporte parcial de peso corporal na diplegia espástica, Nadiesca Taisa Filippin, Carla Fabiane Murazo, Manoela Rigotti, Elenita Costa Beber Bonamigo ............................................... 214 Efeitos do treinamento aeróbico com o cicloergômetro sobre a performance da musculatura respiratória na paraplegia por traumatismo raquimedular, Antonio Vinicius Soares, Marcos Antônio dos Anjos, Helton Eckerman da Silva, Aline M. Busatto, Angélica A.A. Bloemer, Mariana R. Furtado, Michelle B. Machado, Nilceia Marcelino, Sheron R. Borges ....................................................................... 218 NORMAS DE PUBLICAÇÃO ......................................................................................................................................223 EVENTOS .......................................................................................................................................................................224 Fisioterapia_v8n3.indb 153 4/7/2007 18:09:16 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 154 Fisioterapia Brasil www.fisioterapiabrasil.com.br Editor científico Prof. Dr. Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ – Rio de Janeiro) Editor assistente Dra. Karina de Lima Dias – Bauru, SP e Dra. Noemi Damasceno de Oliveira – Rio de Janeiro Conselho científico Profa. Dra. Anamaria Siriani de Oliveira (USP – Ribeirão Preto) Prof. Dr. Dirceu Costa (Unimep – São Paulo) Profa. Dra. Elaine Guirro (Unimep – São Paulo) Prof. Dr. Esperidião Elias Aquim (Univ.Tuiuti – Paraná) Profa. Dra. Fátima Aparecida Caromano (USP – São Paulo) Prof. Dr. Guillermo Scaglione (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina) Prof. Dr. Hugo Izarn (Univ. Nacional Gral de San Martin – Argentina) Prof. Dr. Jones Eduardo Agne (Univ. Federal de Santa Maria – Rio Grande do Sul) Prof. Dr. José Rubens Rebelatto (UFSCAR – São Paulo) Prof. Dr. Marcus Vinícius de Mello Pinto (Centro Universitário de Caratinga – MG) Profa. Dra. Margareta Nordin (Univ. de New-York – NYU – Estados Unidos) Prof. Dr. Mario Antônio Baraúna (Univ. do Triângulo Mineiro – UNIT – Minas Gerais) Profa. Dra. Neide Gomes Lucena (Univ. Fed. da Paraíba – UFPB – João Pessoa) Profº Dr. Nivaldo Antonio Parizotto (UFSCAR – São Paulo) Prof. Dr. Norberto Peña (Univ. 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Souchard (Instituto Philippe Souchard) Revista Indexada na LILACS - Literatura Latinoamericana e do Caribe em Ciências da Saúde Rio de Janeiro Rua da Lapa, 180/1103 20021-180 – Rio de Janeiro – RJ Tel./Fax: (21) 2221-4164 / 2517-2749 E-mail: [email protected] www.atlanticaeditora.com.br São Paulo Publicidade e marketing René Caldeira Delpy Jr. [email protected] Direção de arte Cristiana Ribas [email protected] Rua Teodoro Sampaio, 2550/cj15 05406-200 – São Paulo – SP Tel: (11) 3816-6192 Recife Monica Pedrosa Miranda Rua Dona Rita de Souza, 212 52061-480 – Recife – PE Tel.: (81) 3444-2083 / 9204-0346 E-mail: [email protected] Assinaturas 1 ano: R$ 180,00 Rio de Janeiro: (21) 2221-4164 São Paulo: (11) 3361-5595 Email: [email protected] Recife: (81) 3444-2083 Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin [email protected] Editor Guillermina Arias [email protected] Gerência de vendas de assinaturas Djalma Peçanha [email protected] Atendimento ao assinante Vanessa Busson [email protected] Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço por correio ou por e-mail aos cuidados de Jean-Louis Peytavin Rua da Lapa, 180/1103 20021-180 – Rio de Janeiro – RJ [email protected] www.atlanticaeditora.com.br Ilustração da capa: Músculos do crânio e do rosto, ilustração de G. Devy, Traité d’anatomie humaine de Leon Testut, Paris, 1904. I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. © ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. Fisioterapia_v8n3.indb 154 4/7/2007 18:09:27 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 155 Editorial Uma música, uma ficção e a ação Marco Antonio Guimarães da Silva,Med.Dr.Sci. [email protected] Há um tema filosófico - iniciado por Rousseau e muito discutido pelos filósofos dos séculos XIX e XX - que pergunta se a cultura é inimiga da vida. A questão acaba parando no pensamento do pai da psicanálise, o qual retoma a interessante oposição entre a biologia e a cultura. Para Freud, o homem aspira à felicidade, obviamente buscando o prazer e fugindo da dor. Na tentativa de fugir dessa dor e alcançar a almejada felicidade, esse homem lança mãos de zilhares de estratégias. Isso explica o sucesso e a fortuna de alguns escritores especializados em confortar e iludir, sem preocupação com o rigor ou a criação literária, as pobres almas humanas ávidas pela tal felicidade. Tal fato igualmente justifica o espaço tomado pelas propostas religiosas e evangélicas, que, de forma semelhante aos tais escritores oportunistas de plantão, faturam como nunca nos nossos e em outros distantes rincões. O refúgio em um mecanismo psicológico de sublimação dos instintos parece encobrir momentaneamente o problema. Procurando refletir sobre a infelicidade humana, o mesmo Freud define, em um primeiro momento, três fontes para as suas causas: o poder da natureza; a decadência de nosso próprio corpo e insuficiência de nossos métodos para regular as relações humanas na família, no estado e na sociedade. Mas o psicanalista acaba por observar que a principal causa da nossa infelicidade e dor não são os fatores naturais nem os fatores externos, e sim aqueles que dependem do tipo de sociedade e cultura que nós mesmos construímos. E aí, seguindo a teoria freudiana, vamos chegar à repressão dos instintos (e tal e coisa), considerados forças antagônicas ao homem, o qual, muitas vezes, biologicamente, deseja a desordem; enquanto os valores que estabelecemos na nossa cultura impedem essa mesma desordem. Os instintos de agressão e autodestruição, carros chefes da desordem, podem decidir a destruição dos valores culturais instituídos. Podem decidir ou já decidiram, caso levemos a sério o que os jornais estampam em seus noticiários, cujas reportagens são a expressão de uma sociopatia capaz de fazer inveja à sociedade das almas inquilinas das trevas. Ideologias, credos, classe e funções sociais encontram, nas noticias desses jornais, forças suficientes para estratificar a sociedade em que vivemos em ruim, numa visão muito otimista, ou muito ruim, numa visada mais realista Enquanto esperamos o fim do fim, ao que tudo indica ingênua e resignadamente, e esquecemos, momentaneamente, as profecias apocalípticas desse editor, podemos lançar mão dos seguintes meios atenuadores: Primeiro: ouvir a musica “Vilarejo”, cuja letra e refrão transcrevo em parte abaixo, e imaginar-se transportado para o paraíso: Há um vilarejo ali Onde areja um vento bom Na varanda, quem descansa Vê o horizonte deitar no chão Pra acalmar o coração Lá o mundo tem razão Terra de heróis, lares de mãe Paraiso se mudou para lá Por cima das casas, cal Frutos em qualquer quintal Peitos fartos, filhos fortes Sonho semeando o mundo real Toda gente cabe lá Palestina, Shangri-lá ...Lá o tempo espera Lá é primavera Portas e janelas ficam sempre abertas pra sorte entrar E em todas as mesas: pão, flores enfeitando Os caminhos, os vestidos, os destinos E essa canção tem um verdadeiro amor Para quando você for... Marisa Monte, Pedro Baby, Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes. *Professor da UFRRJ e de curso de Doutorado recomendado no exterior e Editor cientifico da Revista Fisioterapia Brasil Fisioterapia_v8n3.indb 155 4/7/2007 18:09:27 156 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 Segundo: fingir-se turista em sua própria cidade. A gente acaba descobrindo que, quando somos turistas, em qualquer cidade do mundo, fora do Brasil é claro, não nos preocupamos com eleições de políticos corruptos, com máfias seja de onde for, com imundícies e sujeiras de bairro,apesar de sabermos que, também lá, esses problemas existem, em escala infinitamente menor. Não nos esqueçamos, inclusive, do direito de ir e vir, no ar ou na terra, sem correr risco de vida, o que, por aqui, parece que se tornou um luxo. Talvez possamos acrescentar ainda uma opção: indignarmo-nos e agir, seja participando de passeatas, seja organizando abaixo assinados e, principalmente, votando com muito cuidado na próxima eleição (sem esquecer de rezar para que apareça alguém digno de receber os nossos votos, já que, na política esse espécime parece estar em extinção). Espero que a primeira das sugestões nos mostre que, pelo menos no plano imaginário, “o lugar” pode existir; que a segunda sugestão sirva apenas, no plano da meditação, para nos dar a isenção e o equilíbrio necessários a sábias decisões; mas que a última das sugestões possa se incorporar no cotidiano do nosso agir. Fisioterapia_v8n3.indb 156 4/7/2007 18:09:28 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 157 Artigo original Análise qualitativa histo-diferenciada do processo de reparo da pele de Rattus Norvégicus tratados por ultrasom terapêutico pulsado de 3.0 Mhz Histo-differentiated qualitative analysis of healing process of skin in Rattus Norvegicus treated with 3.0 MHz pulsed therapeutic ultrasound Glauco Alexandre Gaban, Ft.*, Glória Maria Moraes Vianna da Rosa, M.Sc.**,Walker André Chagas, D.Sc.***, Lúcia Helena Orofino da Silva, M.Sc.****, Leonardo Davi Pistarino Pinto, Ft.*****, Sandoval Lages da S. Sobrinho******, Isabel da Cunha Barbosa Leite, M.Sc.*******, Ubirajara Peçanha Alves********,Odir de Souza Carmo, M.Sc.******** *Prof. de Histologia da UNIG e Cinesioterapia da UNIG e FESO (Teresópolis), **Profª Titular de Termoterapia e Cinesioterapia da UGF, ***Prof. Titular da Área de Histologia e Embriologia da UGF, ****Profª Assistente da Área de Histologia e Embriologia da UGF, *****Prof. de Cinesioterapia da FESO, ******Prof. Titular de Técnica Cirúrgica e Cirurgia Experimental da UGF, *******Profª e responsável técnica do Biotério da UGF, ********Diretor administrativo do Centro de Pesquisas Biomédicas Gonzaga da Gama Filho, *********Prof. Diretor do Curso de Fisioterapia da UGF Resumo Abstract A aceleração do reparo tecidual pode propiciar a prevenção de inúmeras complicações associadas à perda de sua continuidade. Estudos utilizando o ultra-som (US) terapêutico têm demonstrado seu efeito benéfico sobre a regeneração de tecidos e, para a análise de seus efeitos sobre a concentração dos diferentes tipos celulares e componentes da matriz extracelular, durante o processo de reparo cutâneo, foi realizado um estudo histo-diferenciado, utilizando-se técnicas de coloração especiais na pele de 20 Rattus Norvégicus 5 dias após terem sido submetidos à incisão cutânea experimental. Os animais foram divididos em 5 grupos, sendo um grupo controle e quatro grupos sonados com diferentes intensidades, tendo como resultados menor quantidade de PMN (polimorfonuclerares) e ausência de mastócitos granulosos no local da incisão nos animais sonados, quantidades de colágeno similares em todos os grupos embora mantendo, no grupo sonado, um padrão de organização cicatricial mais próximo do normal. O sistema elástico não apresentou recuperação levando-se a concluir que o US acelera o processo de reparo da pele de ratos, influencia no padrão de organização das fibras colágenas, sem, contudo parecer atuar na recuperação do sistema elástico na fase do reparo analisada. The acceleration of the tissue repair can prevent a lot of complications associated to the loss of its continuity. Studies using therapeutic ultrasound (US) have demonstrated beneficial effect in the tissue regeneration. With the objective of analyzing its effects on the concentration of different cellular types and the extracellular matrix component during cutaneous repair process, a histo-differentiated study was carried out, using special stain techniques in the skin of 20 Rattus Norvegicus, 5 days after cutaneous incision. The animals were divided in 5 groups, a group control and four groups treated with different intensities of US. Were observed a decreasing of polymorphonuclear cells and absence of granular mast cell at the place of incision in animals treated with US, similar quantities of collagen in all the groups although maintaining, in the group treated with US, a closer to normal organization pattern. The elastic system did not present recovery. Was concluded that US accelerates the repair process in mice’s skin, influences the pattern organization of collagen fibers, without acting in the recuperation of elastic system in the analyzed phase repair. Key-words: wound healing, collagen, ultrasonic therapy, stain. Palavras-chave: cicatrização de feridas, colágeno, terapia por ultrasom, coloração. Recebido em 15 de abril de 2005; aceito em 12 de fevereiro de 2007. Endereço para correspondência: Glória Maria Moraes Vianna da Rosa, Av. Oliveira Botelho, 504 Alto 25960-001 Teresópolis RJ, Tel: 26423545, [email protected] Fisioterapia_v8n3.indb 157 4/7/2007 18:09:28 158 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 Introdução de irradiação de 0,8 cm² com 100Hz de freqüência de pulso sônico, sendo calibrado em balança de precisão acústica UPM. A técnica de aplicação foi realizada de forma direta, com gel para acoplamento estéril, hipoalergênico e quimicamente inerte fabricado por Pointer Química Industrial Ltda. Os movimentos do transdutor foram realizados longitudinal à lesão com velocidade 1cm/seg, de acordo com a indicação de Byl et al. [7]. Os fragmentos da pele do animal foram obtidos sob anestesia gasosa por inalação de éter etílico através de incisão elíptica em torno da ferida cirúrgica, com margem de segurança de 0,5 cm e excisão interessando o segmento de pele compreendendo a cicatriz. O material sofreu o tratamento padrão para análise histológica, sendo fixado com formol a 10%, lavado em álcool e incluído em parafina, segundo Bancroft & Stevens [8]. A clivagem foi realizada perpendicularmente à ferida, com cerca de 2 mm de espessura, cortes em micrótomo rotativo, tipo Minot com 5μm de espessura, corados com série de 5 cortes por lâmina, pelos Métodos Dominici, para evidenciar mastócitos, neutrófilos e eosinófilos; Picro Sirius Red para observar fibras colágenas; Tänzer Unna – Orceína para evidenciar fibras elásticas e Perls para evidenciar macrófago com hemossiderina [8]. A análise foi feita em microscópio óptico Binocular Leitz Ortholux e os parâmetros observados foram: presença de polimorfonucleares (PMN), de mastócitos e de macrófagos, fibroplasia, grau de densidade e de organização do colágeno e neoformação de fibras elásticas. A habilidade do organismo em reparar lesões é um dos pré-requisitos da integridade física. A aceleração do processo de cicatrização tecidual permite diminuir o tempo de permanência do paciente no leito, minimizando uma série de complicações como infecções hospitalares, assim como permite seu retorno mais rápido às atividades laborativas. Nas últimas décadas, pesquisas têm sido realizadas visando desenvolver equipamentos e também metodologias que auxiliem os processos naturais de reparo de forma a obter um melhor e mais eficaz resultado no tratamento de sistemas biológicos [1]. Vários estudos, utilizando o ultra-som (US) terapêutico, têm demonstrado seu efeito benéfico sobre a regeneração de tecidos [2-4] e síntese das proteínas [5]. Contudo, a literatura sobre esses efeitos ainda é incompleta e muito conflitante [6]. Este trabalho tem por objetivo, através de um estudo histo-diferenciado, analisar, qualitativamente, os efeitos do US terapêutico de 3.0 MHz pulsado em intensidades diferentes sobre a concentração dos diferentes tipos celulares e componentes da matriz extracelular da pele de ratos em processo de cicatrização. Material e métodos A amostra constou de 20 Rattus Norvegicus (variedades Wistar) adulto-jovens, machos não consangüíneos e com cerca de 200g. Estes foram mantidos em caixas apropriadas, 1 animal por caixa, em biotério com ciclo de luz / escuro de 12/12 horas e cerca de 24 a 28 °C, recebendo ração balanceada (Purina). A manipulação e procedimentos com os animais obedeceram aos princípios do Comitê de Ética para o uso de animais em pesquisa da Universidade Gama Filho (UGF). Os animais sofreram anestesia gasosa por inalação de éter etílico seguido por tricotomia em região lateral de membro pélvico. O ato cirúrgico consistiu de incisão cutânea cortante e transversal, com 2cm de extensão seguida por rafia com fio de mononaylon 5.0 com pontos eqüidistantes. As patas tratadas receberam ultra-som de 3.0MHz nas proporções apresentadas no quadro I. Quadro I - Detalhamento quanto à composição e características dos animais em estudo. Intensidade Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Grupo 4 Grupo controle Taxa de Repe- Tempo tição 0.3 w/cm² 10% 2 min 1.0 w/cm² 20% 2 min 1.0 w/cm² 10% 4 min 1.0 w/cm² 10% 2 min Sofreram as mesmas aplicações, porém com o aparelho desligado. Resultados Mastócito No grupo controle e no grupo 01, os mastócitos revelaram-se com menor volume a nível dérmico e mais volumoso a nível hipodérmico, sendo que, na hipoderme a congestão vascular estava presente com mastócitos mais constantes, comparados aos demais grupos (Figura 1). Nos demais grupos sonados, o método revelou ausência de mastócitos granulados na área cicatricial, porém, esta ausência foi melhor observada no grupo 04 (Figura 2). Figura 1 - Fotomicrografia óptica de pele de rato do grupo controle corado pela Técnica. de Dominici. Observa-se mastócitos (→) dérmicos (D), ao lado do processo cicatricial da incisão (▼), menores e em menor quantidade do que os mastócitos (→) hipodérmicos (H), estes, O ultra-som utilizado foi o Sonacel Expert de 3.0 MHz, da Bioset Indústria de Tecnologia Eletrônica Ltda, com área efetiva Fisioterapia_v8n3.indb 158 próximos de vasos sangüíneos congestos (VS). 40X. 4/7/2007 18:09:29 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 159 Figura 2 - Fotomicrografia óptica de pele de rato do grupo 04 corado pela técnica de Dominici. Figura 5 – Fotomicrografia óptica de pele de rato do grupo 04 corada pela Técnica. de Tanzer-Unna. Verifica-se a epiderme hipertrófica no local da incisão (▼) e na região dérmica fibrose cicatricial intensa (D) e ausência de mastócitos junto da incisão (∗) e presença de apenas uma Vê-se fragmentos de fibras elás- célula mastocitaria (→) na ticas pré-existentes positivos (→) região hipodérmica (H). 40X esparsos na cicatriz incisional. Macrófagos No grupo controle, no qual houve uma congestão periférica mais intensa e um maior extravasamento hemorrágico, os macrófagos, em atividade fagocitária apresentaram-se em maior quantidade. Os grupos sonados revelaram a presença de macrófagos com hemossiderina (Figura 3). Figura 3 - Fotomicrografia óptica de pele de rato do grupo 04 corado pela Técnica de Perls. 400X Colágeno A fibroplasia foi relativamente igual em todos os animais em estudo e o picro sírius permitiu observar poucos colágenos novos, no local da lesão, em todos os animais em estudo em contraste com o colágeno dérmico já existente. O padrão de organização colágena, contudo, mostrou-se mais próximo do normal apenas nos animais dos grupos 2, 3 e, principalmente, nos do grupo 4. Em um animal do grupo 04 inclusive, evidenciou-se fibras colágenas antigas a nível dérmico ligadas as poucas fibras colágenas subepidermicas imaturas com tumefação nas áreas de fusão (Figura 6). Figura 6 - Fotomicrografia óptica de pele de rato do grupo 04 corada pela Técnica de Picro Sirius. Observa-se macrófagos positivos Vê-se a epiderme (E), uma para hemossiderina (→). 400X área subepidermica (*) regenerativa predominando fibroblas- Fibras elásticas to com poucas fibras colágenas imaturas, confrontando-se com derma (D) preservado em cuja A incisão rompeu as fibras elásticas e o processo cicatricial não evidenciou fibroplasia elastogênica (Figura 4), o que se observou no local são fragmentos de fibras pré-existentes (Figura 5). Figura 4 - Fotomicrografia óptica de pele de rato do grupo 01 corada pela Técnica de Taenzer-Unna. interface sofreram tumefação (→). 100X Polimorfonucleares Apresentou-se em maior quantidade no grupo controle e no grupo 01, próximo da área cicatricial e nos exsudatos formados nas fendas incisionais. Discussão Observa-se que a trama elástica (→) dérmica (D) desfaz-se na área cicatricial da incisão (∗) Local da incisão (▼). Região hipodérmica (H). Fisioterapia_v8n3.indb 159 No processo de reparo, a fase inflamatória é marcada pela infiltração de neutrófilos, monócitos e células T. Cada tipo de célula parece ter papel importante nesse processo. Neutrófilos limpam os debris e micróbios de ferida; macrófagos são importantes na fagocitose de células apoptóticas e são 4/7/2007 18:09:29 160 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 fonte de fatores de crescimento para estimular a proliferação e a regeneração da lesão tecidual, segundo Leibovic e Ross, citados por Egozi et al. [9]. O papel das células T não está totalmente claro, mas parece ser capaz de regular as fases tardias do reparo [10,11]. Evidências sugerem que os mastócitos, encontrados no tecido conectivo, com mais freqüência na pele e próximos a vasos sangüíneos e linfáticos [9,12-14], têm papel chave no reparo de feridas, influenciando o recrutamento de neutrófilos na fase inflamatória. No trabalho de Egozi et al. [9] foi observada uma diminuição no recrutamento dos neutrófilos nos animais com deficiência de mastócitos no primeiro e terceiro dias pós-lesão. Com respeito à ativação funcional, o mastócito da pele, o qual está estrategicamente localizado entre vasos e nervos, é estimulado diretamente por sinais imunológicos (citocinas IgE e frações complemento) e por estímulos de origem nervosa, segundo autores citados por Noli e Miolo [15]. As células endoteliais em torno da lesão, uma vez ativadas pela inflamação, liberam substâncias químicas que aumentam a migração, proliferação e diferenciação de mastócitos, como observado por Metcalfe et al. e Baghestanian et al., citados por Noli e Miolo [15]. Os mastócitos, então, desgranulam e diminuem drasticamente em número, em poucas horas após a lesão, tendo seus níveis normalizados cerca de 48 horas [16-18]. Montenegro e Franco [19] descreveram que quando os mastócitos são estimulados, os grânulos aumentam de volume e fundem-se na parede da membrana celular abrindo-se para o interstício. Os resultados do nosso trabalho não evidenciaram mastócitos granulosos, próximo e no interior da incisão, na maioria dos animais que compõem os grupos sonados; o mesmo não ocorrendo com o grupo controle e com o grupo 1 cujos mastócitos, a nível hipodérmico, apresentaram-se inclusive mais volumosos que a nível dérmico. A hipoderme dos animais desses grupos apresentou-se com maior congestão do que a nível dérmico. A presença de mastócitos mais volumosos nessa região congestionada evidencia o estágio ainda inicial da fase inflamatória do processo de reparo tecidual. As colorações especiais utilizadas também revelaram maior quantidade de polimorfonucleares (PMN) no grupo controle e no grupo 1, comparando-os aos animais dos grupos tratados com US por cinco dias na incisão cutânea, o que ratifica a afirmativa anterior já que os mastócitos quando estimulados proporcionam aumento no número de neutrófilos. A menor quantidade de PMN associado à ausência de mastócitos granulosos no local da incisão dos animais sonados, com doses mais elevadas, parece, então, indicar uma aceleração da fase inicial do processo de reparo tecidual concordando com os resultados dos trabalhos de Young e Dyson [20-22]. Com relação a quantidade de macrófagos, Young e Dyson [20] observaram maior quantidade destas células no grupo controle comparado com o grupo sonado. Nossos resultados também demonstraram uma quantidade maior destas células fagocitárias no grupo controle, e pela técnica histológica utilizada, também, pudemos perceber maior extravasamento hemorrágico e atividade inflamatória nos animais do grupo controle e grupo 1. Os resultados deste trabalho não detectaram grandes diferenças com relação à fibroplasia colagênica entre os grupos sonados e controle o que está de acordo com Kaurfman [23] e Loch et al. [24]. A coloração com Picro Sirius permitiu-nos observar presença de poucos colágenos novos no local da reparação da incisão em todos os animais em estudo. Trabalhos como os de Egozi et al. [9] ressaltam que o conteúdo de colágeno tem seus níveis aumentados gradativamente, durante o processo de reparo, atingindo seu pico máximo em 10 a 14 dias pós-lesão. O tempo do trabalho de cinco dias pode não ter sido suficiente para promover a colagenização máxima. Embora a fibroplasia não tenha demonstrado grandes diferenças, o padrão organizacional colagênico mostrou-se mais próximo do normal nos grupos sonados, principalmente no grupo 04 comparados ao grupo controle. Byl et al. [25] observaram o mesmo resultado nos grupos sonados com 0,5 w/cm² e 1,5 w/cm² tratados por três dias, não sendo, contudo as diferenças estaticamente significativas. Para Dyson [26] e Webster [4] o US também pareceu atuar no padrão de deposição do colágeno, assumindo a pele sonada, uma arquitetura tridimensional semelhante a não lesionada. Com relação às fibras elásticas, os resultados deste trabalho, obtidos através do método de Orceína, não revelaram neoformação, no local da incisão, nos animais estudados no período observado. È provável que o período de 5 dias tenha sido insuficiente para estimular a atividade elastogênica, já que nenhum animal do estudo apresentou neoformação de fibras elásticas. Por isso, torna-se precoce afirmar que o US não tem influência na produção das mesmas durante todo o processo cicatricial. Fisioterapia_v8n3.indb 160 Conclusão O US parece realmente acelerar o processo de reparo evidenciado por um menor número de mastócitos granulosos, de PMN e de macrófagos na maioria dos animais do grupo sonado. O período de 5 dias não se mostrou suficiente para alterar o conteúdo de novas fibras elásticas no grupo de animais em estudo, parecendo, desta forma, não ter o US ação sobre esse processo, durante o período em estudo, embora outros trabalhos tenham que ser desenvolvidos para melhor exploração deste efeito. Embora não havendo atividade fibroblastica colagênica intensa, o US parece influenciar no padrão organizacional do colágeno tornando a pele com uma aparência mais próxima da normal. 4/7/2007 18:09:30 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 Referências 1. Viljanto J. Biochemical basis of tensile strength in wound healing. Acta Chir Scand Suppl 1964; 333. 2. Dyson M, Pond JB, Joseph J, Warwick R. Stimulation of tissue repair by pulsed wave ultrasound. IEEE Transaction on Sonics and Ultrasonics 1968;17:133-40. 3. Dyson M, Franks C, Suckling J. Stimulation of healing varicose ulcers by ultrasound. Ultrasonics 1976;14:232-36. 4. 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Winnipeg: Canadian Physiotherapy Association; 1981. p.110-123. 4/7/2007 18:09:30 162 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 Artigo original Perfis dos níveis de estresse e pressóricos de adultos hipertensos do Hospital PAM Bangu RJ Profiles of stress and pressure levels in hypertensive adults of Hospital CSM Bangu RJ Alessandro Carielo de Albuquerque*, Carlos Soares Pernambuco*, Daniel Teixeira Belloni*, Franz Knifis*, Sílvia Bacelar**, Estélio Henrique Martin Dantas*** *Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência da Motricidade Humana/PROCIMH/UCB-RJ, Laboratório de Biociências da Motricidade Humana – LABIMH, **Laboratório de Biociências da Motricidade Humana – LABIMH, Professora do Programa de Pós-Graduação Strictu Sensu da UnigranRio – RJ, Professor Titular do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência da Motricidade Humana da UCB-RJ, Laboratório de Biociências da Motricidade Humana – LABIMH/UFRN, Universidade do Grande Rio - UNIGRANRIO Resumo Abstract O objetivo deste estudo foi analisar o perfil dos níveis de estresse e pressóricos de adultos hipertensos. Participaram deste estudo 23 voluntários hipertensos, sedentários de ambos os sexos, com idade média de 52,12 (± 5,52 anos). Foram identificados os seguintes dados com seus respectivos protocolos: pressão arterial e nível de atividade física. Foi avaliada, também, a fase do estresse em que se encontra cada um desses indivíduos. Utilizou-se a estatística descritiva (shapiro wilk) para apresentar a idade e pressão arterial. Para as respostas do questionário de estresse, foi aplicado o teste Qui-quadrado com nível de significância de p < 0,05. Os resultados mostram que nas duas extremidades de classificação dos níveis de estresse, a fase de exaustão e a não existência de estresse apresentam oito indivíduos (35%) e um indivíduo (4%), respectivamente. Dos oito indivíduos que se encontraram na fase de exaustão, cinco deles foram classificados como hipertensos graves e os demais deste subgrupo não apresentaram nenhuma prevalência. O único indivíduo que não apresentou estresse foi o que mais se aproximou da normalidade da pressão arterial. Concluímos que o sedentarismo, hipertensão arterial e estresse, estão intimamente correlacionados. The aim of this study was to analyze the profile of stress and blood pressure levels of adults with hypertension. The study was composed by twenty-tree volunteer subjects with hypertension, sedentary of both genders, average age 52.12 (± 5.52 years). Data were identified with the following protocols: blood pressure and level of physical activity. Also, stress stage was analyzed to know in which stage each subject was. It was used a descriptive statistical (Shapiro Wilk) to show age and blood pressure. Chi-quadrate test with significance level of p < 0.05 was applied to report on the stress questionnaire. The results showed that in the two extremities of the stress levels classification, eight subjects (35%) reached exhaustion stage and one subject (4%) showed non existence of stress. Five of eight subjects in the exhaustion stage were diagnosed severe hypertension while the others had no prevalence. Only one subject showed no stress and blood pressure was quite normal. One concludes that stress, blood pressure and sedentariness were intimately connected. Key-words: blood pressure, stress, sedentary. Palavras-chave: hipertensão arterial, estresse, sedentárismo. Recebido em 20 de maio de 2006; aceito em 15 de fevereiro de 2007. Endereço para correspondência: Alessandro Carielo de Albuquerque, Rua Arlete C. Ayres Wanderley, nº 336, 95291430 Sulacap RJ, Tel: (21) 95291430, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v8n3.indb 162 4/7/2007 18:09:30 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 Introdução A hipertensão arterial é uma doença poligênica que resulta de anormalidades dos mecanismos de controle da pressão arterial [1]. A pressão arterial é o produto do débito cardíaco pela resistência vascular periférica, e a elevação anormal de um ou ambos causa a hipertensão arterial, que é o maior risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares [2]. A hipertensão arterial é definida como pressão sanguínea sistólica maior que 140 mmHg e pressão diastólica maior que 90 mmHg [3]. Porém já se classifica com mais rigor os indivíduos hipertensos (antes não considerados hipertensos), sendo aqueles que possuem pressão sistólica entre 120 a 139 mmHg e uma pressão diastólica entre 80 a 89 mmHg, sendo então classificados como: indivíduos com pressão normal elevada [4]. Cerca de 14 milhões de brasileiros são hipertensos, sendo 15% desse total adultos, em idade economicamente ativa, aumentando consideravelmente os custos sociais por invalidez e absenteísmo ao trabalho [5]. Vinte e nove por cento das aposentadorias por doenças são concedidas por diagnóstico de doenças do sistema circulatório e 18,1% têm como causa da aposentadoria o diagnóstico de hipertensão arterial [6]. A classificação atual da pressão arterial substitui os termos leve, moderada e severa por estágios que variam de 1 a 3 (tabela I). Tabela I – Classificação da pressão arterial conforme os níveis pressóricos. Classficação Ótima Sistólica < 120 Diastólica < 80 Normal Normal-elevada < 130 130 – 139 < 85 85 – 89 Hipertensão Arterial Estágio I (leve) Estágio II (moderada) Estágio III (grave) 140 – 159 160 – 179 > 180 90 – 99 100 – 109 > 110 Hipertensão sistólica > 140 < 90 Fonte: Brandão et al. [11]. Diversos fatores estão ligados à etiologia da hipertensão arterial: obesidade, idade, tabagismo, diabetes, trabalho, fatores socioculturais e estresse [4]. O termo estresse tem sido usado para definir situações que causam uma mudança fisiológica e psicológica nos seres humanos [8]. Um certo nível de stress é normal para ajudar o indivíduo a enfrentar os desafios da vida; porém níveis elevados de stress causam inúmeras reações desagradáveis ao homem, levando a quebra da homeostase do organismo [4]. O mecanismo pelo qual o stress pode desencadear a hipertensão arterial é explicado da seguinte maneira: o stress estimula centros cerebrais que libera o hormônio corticotrofina, que, por sua vez, estimula a hipófise a produzir o hormônio Fisioterapia_v8n3.indb 163 163 adrenocorticotrófico. Este último estimula as glândulas suprarenais. De um lado a medula da supra-renal produz adrenalina e noradrenalina, enquanto o córtex libera aldosterona e cortizona. Esses hormônios na corrente sanguínea aumentam a freqüência cardíaca e a pressão arterial [9]. O objetivo deste trabalho foi analisar os perfis das fases de estresse e dos níveis pressóricos sistólicos e diastólicos de adultos hipertensos e sedentários, de ambos os sexos, pacientes do Posto de Atendimento Médico (PAM-Bangú – R J), procurando pela correlação existente destes fatores. Material e métodos Determinou-se o universo pela consulta de todos os prontuários ativos da citada unidade de saúde (n = 93) extraindo-se deste total os que apresentavam diagnóstico de hipertensão arterial e sedentarismo, totalizando 23 indivíduos. A prevalência deste estudo foi de 11% dos indivíduos [10]. Tanto os critérios de inclusão como os de exclusão foram identificados através de anamnese inicial, utilizando os protocolos dos seguintes dados: pressão arterial [11,12] e nível de atividade física [13]. Para os critérios de inclusão, foram considerados os indivíduos adultos com idade média 52,12 (± 5,52 anos), portadores de hipertensão arterial, de ambos os sexos, sedentários, controlados por drogas e voluntários, assinando o termo de participação consentida. Para os critérios de exclusão, foram considerados os indivíduos que participavam de algum programa regular de atividade física e não estavam fazendo uso regular de medicamentos. Esta pesquisa é de cunho descritivo, em que os métodos de pesquisa são baseados em estudos de status, amplamente utilizados em educação, os quais procuram obter informações acerca de condições existentes, com respeito a variáveis ou condições, em uma determinada situação [14]. O presente estudo atende às normas para a realização de pesquisas com seres humanos, conforme a orientação do Conselho Nacional de Saúde, respeitando-se as Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisa envolvendo seres humanos, vigentes a partir de 10 de outubro de 1996, Resolução nº 251, e aprovadas no Comitê de Ética em Pesquisa da UCB/ RJ. Todos os indivíduos foram submetidos a dois procedimentos, ou seja, foi analisada a fase do estresse em que se encontravam [15] e a aferida as pressões arteriais. Essa aferição foi realizada pelo método indireto utilizando um aparelho esfigmomanômetro aneróide da marca Tycos (USA) e um estetoscópio da marca Littemann Quality (Alemanha). O questionário que avaliou a fase do estresse (Inventário de Sintomas de Estresse para Adultos de Lipp) foi composto por uma série de perguntas divididas em três questões subdivididas da seguinte maneira: 1A e 1B, 2A e 2B e 3A e 3B [15]. O tratamento estatístico foi composto por análise descritiva, objetivando obter o perfil do conjunto de dados, através 4/7/2007 18:09:31 164 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 de medidas de localização (Média), dispersão (Desvio-padrão – s, Coeficiente de variação – CV) e análise inferencial através do teste de Shapiro-Wilk. Em seguida, foi realizada a estatística inferencial por meio do Teste Qui-Quadrado, a fim de verificar se a freqüência de um determinado acontecimento observado se desvia significativamente ou não da freqüência esperada. O estudo admitiu o nível de significância de p < 0,05. Gráfico 1 - Fase do Stress. Resultados Na Tabela II estão expostos os resultados das análises descritiva dos dados da amostra. Observa-se, neste gráfico, que 35% (n = 8) encontraram-se na fase de exaustão e o menor quantitativo 4% (n = 1) não obteve estresse. Na Tabela III estão expostos os resultados relativos aos sintomas que os indivíduos experimentaram nas últimas 24 horas, referentes às questões 1 A e 1 B, respectivamente. Observa-se na questão 1A que os itens que apresentaram resultados significativos (p < 0,05) foram: hipertensão arterial súbita e passageira, boca seca, insônia, hiperventilação e mudança de apetite. Já na questão 1B foram: vontade súbita de iniciar novos projetos e entusiasmo súbito. Na Tabela IV estão expostos os resultados relativos aos sintomas que os indivíduos experimentaram na última semana, referentes às questões 2 A e 2 B, respectivamente. Observase na questão 2A que os itens que apresentaram resultados significativos (p < 0,05) foram: problemas com a memória, hipertensão arterial, mal estar generalizado, sensação de desgaste físico e cansaço constante. Já na questão 2B foi: dúvida quanto a si próprio. Na Tabela V estão expostos os resultados relativos aos sintomas que os indivíduos experimentaram no último mês, Tabela II - Resultados da análise descritiva da amostra. Variáx/s Md ∈ CV z veis Idade PAS 52,12±5,52 53 153,21±20,32 148 1,15 10,58 4,23 13,26 pvalor 0,85 0,00 0,92 0,08 PAD 91,91±14,13 90 2,94 15,37 0,92 0,10 X = média; S = desvio padrão; Md = mediana; ∈= erro padrão da média; CV = coeficiente de variação; Z = Teste Shapiro-Wilk; P < 0,05. Nessa tabela, observa-se que as variáveis idade, PAS e PAD apresentaram baixa dispersão (CV < 25%), tendo a média como melhor medida de tendência central. A variável: idade não seguiu a distribuição Normal (p < 0,05). Com relação à classificação da fase do estresse que os indivíduos se encontravam, os valores estão expostos no gráfico 1. Tabela III - Resultados da análise da questão 1 A e B. Itens Md Fr Fr% Q p-valor Mãos e pés frios Nó no estômago Tensão muscular Diarréia passageira Taquicardia Hipertensão arterial Boca seca 1,00 1,00 1,00 1,00 2,00 1,00 1,00 23 11 9 10 15 5 2 100 47,80 39,10 43,50 65,20 21,70 8,70 0,04 1,08 0,39 2,13 7,34 15,69 0,83 0,29 0,53 0,14 0,00 0,00 Aumento da sudorese Ranger dos dentes Insônia Hiperventilação Mudança de apetite 2,00 1,00 1,00 2,00 1,00 16 9 6 20 5 69,60 39,10 26,10 87,00 21,07 3,52 1,08 5,26 12,56 7,34 0,06 0,29 0,02 0,00 0,00 Aumento de motivação Vontade de iniciar projetos Entusiasmo súbito 1,00 1,00 2,00 9 6 20 39,10 26,10 87,00 1,08 5,26 12,56 0,29 0,02 0,00 1A 1B Md = mediana; Fr = freqüência absoluta; Fr % = freqüência percentual; Q = Teste Qui-quadrado; p < 0,05. Fisioterapia_v8n3.indb 164 4/7/2007 18:09:31 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 165 Tabela IV - Resultados da análise da questão 2 A e B. Itens Md Problemas com a memória Formigamento das extremidades Mudança de apetite Hipertensão arterial Aparecimento de úlceras Mal estar generalizado Sensação de desgaste físico Problemas dermatológicos Cansaço constante Tontura / sensação de flutuar 2,00 2,00 1,00 2,00 1,00 1,00 2,00 2,00 1,00 2,00 Sensibilidade emotiva Pensar em um só assunto Diminuição da libido Dúvida de si Irritabilidade 2,00 1,00 2,00 2,00 2,00 Fr Fr% Q p-valor 17 16 9 22 8 2 18 16 1 12 73,90 61,60 39,10 95,70 34,80 8,70 78,30 69,60 4,30 52,20 5,26 3,52 1,08 19,17 2,13 15,69 7,34 3,52 19,17 0,04 0,02 0,06 0,29 0,00 0,14 0,00 0,00 0,06 0,00 0,83 12 9 19 19 13 52,20 39,10 82,60 82,60 56,50 0,04 1,08 9,78 9,78 0,39 0,83 0,29 0,00 0,00 0,53 2A 2B Md = mediana; Fr = freqüência absoluta; Fr % = freqüência percentual; Q = Teste Qui-quadrado; p<0,05. Tabela V - Resultados da análise da questão 3 A e B. Itens Md Diarréia freqüente Dificuldades sexuais Insônia Náusea Tiques Hipertensão arterial Problemas dermatológicos Mudança de apetite Excesso de gases Tontura freqüente Úlcera Enfarte 1,00 1,00 2,00 2,00 1,00 2,00 1,00 1,00 2,00 2,00 1,00 1,00 Impossibilidade de Trabalhar Pesadelos Sensação de Incompetência Vontade de fugir de tudo Apatia, depressão Cansaço excessivo Pensar em um só assunto Irritabilidade Angústia/Ansiedade Hipersensibilidade emotiva Perda do senso de humor 2,00 1,00 1,00 2,00 2,00 2,00 2,00 2,00 2,00 1,00 2,00 Fr Fr% Q p-valor 5 9 20 15 7 18 5 4 17 14 0 0 21,70 39,10 87,00 65,20 30,40 78,30 21,70 17,40 73,90 60,90 100 100 7,34 1,08 12,56 2,13 3,52 7,34 7,34 9,78 5,26 1,08 - 0,00 0,29 0,00 0,14 0,06 0,00 0,00 0,00 0,02 0,29 - 3 11 9 18 16 18 20 15 17 11 12 13,00 47,80 39,10 78,30 69,60 78,30 87,00 65,20 73,90 47,80 52,20 12,56 0,04 1,08 7,34 3,52 7,34 12,56 2,13 5,26 0,04 0,04 0,00 0,83 0,29 0,00 0,06 0,00 0,00 0,14 0,02 0,83 0,83 3A 3B Md = mediana; Fr = freqüência absoluta; Fr % = freqüência percentual; Q = Teste Qui-quadrado; p<0,05. Fisioterapia_v8n3.indb 165 4/7/2007 18:09:31 166 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 referentes às questões 3 A e 3 B, respectivamente. Observase na questão 2A que os itens que apresentaram resultados significativos (p < 0,05) foram: diarréia freqüente, insônia, hipertensão arterial, problemas dermatológicos, mudança de apetite e excesso de gases. Já na questão 3B foram: impossibilidade de trabalhar, vontade de fugir de tudo, cansaço excessivo, pensar constantemente em um só assunto e angústia/ansiedade diária. No gráfico 2 estão expostas as classificações da pressão arterial. Neste 35% dos indivíduos foram classificados como hipertensos estágio I e 22% como estágio III. Os efeitos da tensão do organismo diferem em cada pessoa, a uma mesma situação; da mesma forma, o corpo reage de uma maneira característica em cada indivíduo. Há pessoas, por exemplo, que têm dores de cabeça quando se acham tensas, enquanto outras sofrem de pertubações gástricas ou intestinais, pressão alta, asma [17]. Esses dados estão de acordo com nosso estudo, já que alguns indivíduos responderam que tinham mal estar, nó no estômago, náusea, hipertensão arterial continuada e hiperventilação. O sedentarismo também tem uma relação direta com o aumento da pressão arterial, visto que, há algum tempo, vem sendo mencionado, por diversos estudos, como um importante fator de risco para as doenças cardiovasculares [18]. Um estilo de vida sedentário é fortemente associado ao aumento da mortalidade, doenças coronárias e maior risco de hipertensão arterial [19]. Na população estudada, todos os indivíduos eram sedentários, o que também contribui para o aumento da pressão arterial, ratificando os dados da literatura. Gráfico 2 - Classificação da PA. Conclusão Discussão Nos dados coletados, verifica-se que os resultados estão de acordo com os dados da literatura que relata que a fase mais avançada do estresse, chamada de fase de exaustão, é a fase patológica e mais negativa do estresse [15]. Nesta fase ocorre um desequilíbrio interior muito grande e a pessoa entra em depressão podendo ocorrer doenças graves, como: hipertensão arterial, psoríase e vitiligo. As outras fases são: fase do alerta (fase positiva do estresse); fase de resistência (fase do alerta prolongado, em que o organismo entra em ação para impedir o desgaste total de energia) e fase de quase exaustão (quando a tensão excede o limite do gerenciável, havendo muita ansiedade e efeito negativo sobre o sistema imunológico) [15]. Esses dados, também, estão de acordo com pesquisadores da Universidade de Michigan, que submeteram 2300 homens da Finlândia a diversos fatores estressantes, medindo a pressão arterial antes e depois. Em 72% dos indivíduos a pressão arterial aumentou significativamente, aumentando o risco de desenvolver um derrame [8]. Outro estudo relata que o estresse pode ser causado por diversos fatores, tais como: tensão física, tensão emocional, ansiedade, medo, aflição e depressão, cujas respostas podem ter um efeito devastador no corpo, inclusive o cardiovascular, predispondo o indivíduo a hipertensão arterial, aterosclerose, arritmias e isquemia do miocárdio [16]. Em nosso estudo, os indivíduos também responderam que possuíam: tensão muscular, sensação de desgaste físico, cansaço excessivo, angústia/ansiedade diária, vontade de fugir de tudo, apatia, pensamento em um só assunto, boca seca e impossibilidade de trabalhar. Fisioterapia_v8n3.indb 166 Considera-se que os resultados do estudo em questão respondam ao problema apresentado, que é identificar os perfis pressóricos e a fase de estresse de adultos hipertensos e sedentários do gênero masculino e feminino dos pacientes do Posto de Atendimento Médico (PAM Bangú RJ). Concluímos que o sedentarismo, a hipertensão arterial e o estresse estão intimamente correlacionados e dentre os dados mais significativos que foram respondidos no questionário aplicado, destacam-se: hipertensão arterial, boca seca, insônia, hiperventilação, mudança de apetite, problemas com a memória, mal estar generalizado, sensação de desgaste físico, cansaço constante, diminuição da libido, dúvida de si mesmo, insônia, problemas dermatológicos, vontade de fugir de tudo, pensamento em um só assunto e angústia/ansiedade diária. Diante do exposto, recomenda-se a investigação dos sintomas mais encontrados no questionário aplicado e intervenção imediata dos indivíduos: sedentários, hipertensos e estressados, cujo tratamento pode ser de forma medicamentosa e não-medicamentosa [20]. O tratamento não-medicamentoso da hipertensão arterial tem por objetivo básico, diminuir a morbidade e mortalidade cardiovascular por meio de modificações do estilo de vida que favoreçam a redução da pressão arterial [21]. Além desses benefícios, as modificações no estilo de vida, também, podem reduzir a quantidade de medicamentos ingeridos, amenizando, assim, seus efeitos colaterais [22]. Referências 1. Pereira AC, Krieger JE. Dos fatores de risco clássicos ao perfil de risco individualizado: quais são os caminhos? Revista da Sociedade Brasileira de Hipertensão 2005;8:131-7. 4/7/2007 18:09:32 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 167 2. Ketelhut RG, Franz IW, Scholze J. 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Fisioterapia_v8n3.indb 167 4/7/2007 18:09:32 168 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 Artigo original Cinesioterapia na amplitude articular do ombro no pós-cirúrgico do câncer de mama Kinesitherapy and shoulder amplitude improvement after breast cancer surgery Silvia Helena da Silva*, José Maria Pereira de Godoy**, Geovana C. Rincão***, Lucelene Paschoal*** *Aluna do Curso de Mestrado da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto e docente do Instituto Municipal de Ensino Superior de Catanduva, **Livre docente dos cursos de Graduação e Pós-Graduação da FAMERP e pesquisador CNPq, ***Acadêmicas do curso de Fisioterapia IMES, Catanduva Resumo Abstract O objetivo deste estudo foi avaliar a eficácia dos exercícios terapêuticos na aquisição de amplitude articular do ombro póstratamento cirúrgico do câncer de mama. Participaram da pesquisa 12 mulheres submetidas a mastectomia (sete) e quadrantectomia (cinco). A goniometria foi utilizada para avaliação de amplitude articular do ombro, antes e após a execução do programa de exercícios. A cinesioterapia foi realizada por doze semanas, em sessões de quarenta e cinco minutos, duas vezes por semana. Para análise dos resultados foi utilizada porcentagem e média. À primeira avaliação, todas as pacientes apresentaram limitação articular do ombro na flexão e quase todas na abdução. Após o programa de exercícios, os valores da amplitude aumentaram em 9,6% na flexão do membro comprometido e 12,5% no mesmo movimento no lado sadio e, 15,4% na abdução do membro comprometido e 11,1% no contralateral (p < 0,01). Houve aumento dos valores de ADM para os movimentos de ambos membros. A cinesioterapia específica mostrou-se eficaz para aumentar amplitude articular do ombro no pós-cirúrgico do câncer de mama. The objective of this study was to evaluate the efficacy of therapeutic exercises to restore the extent of movement of shoulder after breast cancer surgery. Seven women submitted to mastectomy and five submitted to quadrantectomy were enrolled in the study. Goniometry was utilized to evaluate the amplitude of movement of the shoulder joint before and after the exercise program. Kinesitherapy was performed for sessions of 45 minutes, 2 times per week over 12 weeks. Percentages and means were used to analyze the results. In the first evaluation, all the patients presented limitations in shoulder flexion movements and almost all in abduction movements. After the exercise program, the extent of movement increased by 9.6% for flexion of the affected limb and 12.5% for the contralateral limb. For abduction movements the improvement was 15.4% for the affected limb and 11.1% for the contralateral arm (p < 0.01). There was improvement in the extent of movements of both arms. Kinesitherapy proved to be efficacious to improve shoulder joint movements after breast cancer surgery. Palavras-chave: fisioterapia, câncer de mama, amplitude articular, ombro. Key-words: physiotherapy, breast cancer, articular extent, shoulder. Recebido em 05 de junho de 2006; aceito em 15 de abril de 2007. Endereço para correspondência: José Maria Pereira de Godoy, Rua Floriano Peixoto, 2950, 15020-010 São José do Rio Preto SP, E-mail: godoyjmp@ riopreto.com.br Fisioterapia_v8n3.indb 168 4/7/2007 18:09:32 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 Introdução O câncer de mama é um dos mais prevalentes em mulheres. Como tratamento, a remoção cirúrgica é considerada eficiente, principalmente se acompanhada de terapias auxiliares, como radio, quimio e hormonioterapias. Além do próprio tumor na glândula mamária, os linfonodos axilares também são removidos, tanto para a realização do diagnóstico, como para o controle local. No entanto, sua retirada pode ocasionar conseqüências como limitação de movimento do ombro, seroma, linfedema e desconforto [1,2]. A morbidade do membro superior, com impacto negativo na qualidade de vida das pacientes, pode estar presente nesses casos [3]. Em estudo envolvendo 17 mulheres com três meses de período pós-cirúrgico do câncer de mama, 64,7% apresentaram limitação de movimento do ombro [4]. Pesquisa retrospectiva em 55 pacientes submetidas à mastectomia radical modificada ou conservadora, com ressecção dos linfonodos axilares e média de 2,7 anos pós-cirurgia, observou prevalência de 9% - 16% na limitação de Amplitude de Movimento (ADM) do ombro [5]. Por outro lado, o interesse nos exercícios físicos como intervenção em pacientes com câncer está sendo destacado. As intervenções incluem exercícios aeróbicos e de resistência e indicam efeitos fisiológicos e psicológicos promissores. Exercícios terapêuticos podem ser eficientes na recuperação da cirurgia de mama, possibilitando a aquisição de movimentos e de funções livres de sintomas, a prevenção da disfunção, o aumento da força, a resistência à fadiga e maiores mobilidade, flexibilidade, relaxamento, coordenação e habilidade dos membros superiores [6]. O objetivo deste estudo foi avaliar a eficácia de exercícios terapêuticos na aquisição de amplitude articular do ombro pós-tratamento cirúrgico do câncer de mama. Materiais e métodos Participaram da pesquisa 12 mulheres, submetidas tanto à mastectomia (sete) quanto à quadrantectomia (cinco), escolhidas de forma aleatória e encaminhadas ao setor de Fisioterapia aplicada à Ginecologia e Obstetrícia da Clínica Escola IMES – Catanduva, no período de julho a outubro de 2005. O critério de inclusão foi queixa de limitação articular do ombro homolateral à cirurgia. Os critérios de exclusão foram a presença de infecção no local da cirurgia ou de doença ativa e a amplitude de movimentos normais. As pacientes foram submetidas à cinesioterapia, composta pelo seguinte programa de exercícios: alongamento global, com ênfase na cintura escapular; exercícios ativos livres do ombro nos movimentos de fl exão, extensão, abdução e rotação interna e externa, com e sem auxílio de bastões, sempre associados à respiração; ao final, relaxamento induzido. Fisioterapia_v8n3.indb 169 169 Para a avaliação de amplitude articular do ombro, foi utilizada a goniometria [7], antes e após a execução do programa de exercícios. A cinesioterapia foi realizada em sessões de 45 minutos, duas vezes por semana, durante 12 semanas. Para análise dos resultados foi utilizada porcentagem, média e teste t pareado, considerando erro alfa de 5%. Resultados A média de idade das pacientes foi de 55,6 anos, enquanto a média do período pós-cirúrgico foi de 3,3 anos. Todas as pacientes foram submetidas à quimioterapia, das quais oito (67%) pacientes foram submetidas também à radioterapia. Conforme indicado na Tabela I, à primeira avaliação, todas as pacientes apresentaram limitação articular na flexão do ombro comprometido, cujo valor médio foi de 138,30. Após o programa de exercícios, esta média alcançou 151,7 ± 15,0 graus, mostrando melhora (p < 0,01) de 9,6% no movimento de flexão do membro acometido. Tabela I - Evolução das amplitudes de movimento (ADM) de flexão no membro comprometido de pacientes mastectomizadas submetidas a sessões de cinesioterapia Paciente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Média ± DP a,b ADM antes, o 140 160 110 140 110 145 140 130 145 140 160 140 138,3 ± 15,0a ADM após, o 150 180 120 150 110 160 145 160 165 145 165 170 151,7 ± 19,3b Evolução, o 10 20 10 10 0 15 5 30 20 5 5 30 13,3 ± 9,4 Evolução, % 7,1 12,5 9,1 7,1 0,0 10,3 3,6 23,1 13,8 3,6 3,1 21,4 9,6 ± 6,9 Médias seguidas de letras diferentes indicam diferença estatística (p < 0,01) pelo teste T pareado. Da mesma forma, todas as pacientes apresentaram limitação na flexão do membro contralateral e abdução no membro homolateral, cujos valores médios, ao início da pesquisa, foram de 155,8 ± 9,5 e 133,9 ± 19,6 graus, respectivamente (Tabelas II e III). Ambos os movimentos apresentaram melhora (p < 0,01) com as sessões de cinesioterapia. 4/7/2007 18:09:33 170 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 Tabela II - Evolução das amplitudes de movimento (ADM) de flexão no membro são de pacientes mastectomizadas submetidas a sessões de cinesioterapia Tabela IV - Evolução das amplitudes de movimento (ADM) de abdução no membro são de pacientes mastectomizadas submetidas a sessões de cinesioterapia. Paciente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Média ± DP a,b ADM antes, o 160 160 160 150 140 150 160 140 170 150 170 160 155,8 ± 9,5 a ADM após, o 170 180 170 150 160 170 180 170 170 155 170 180 168,8 ± 9,2 b Evolução, o 10 20 10 0 20 20 20 30 0 5 0 20 12,9 ± 9,7 Evolução, % 6,3 12,5 6,3 0,0 14,3 13,3 12,5 21,4 0,0 3,3 0,0 12,5 8,5 ± 6,6 Médias seguidas de letras diferentes indicam diferença estatística (p Paciente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Média ± DP a,b ADM antes, o 170 160 180 150 130 130 160 130 170 170 180 158 157,3 ± 17,8 a ADM após, o 180 180 180 150 180 155 170 170 170 180 180 180 172,9 ± 10,1 b < 0,01) pelo teste T pareado. Tabela III - Evolução das amplitudes de movimento (ADM) de abdução no membro comprometido de pacientes mastectomizadas submetidas a sessões de cinesioterapia. Discussão 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Média ± DP a,b ADM antes, o 130 160 110 130 110 122 137 110 130 170 160 138 133,9 ± 19,6 a ADM após, o 140 180 110 150 140 150 150 160 165 170 165 158 153,2 ± 17,3 b Evolução, o 10 20 0 20 30 28 13 50 35 0 5 20 19,3 ± 14,3 Evolução, % 7,7 12,5 0,0 15,4 27,3 23,0 9,5 45,5 26,9 0,0 3,1 14,5 15,4 ± 12,8 Médias seguidas de letras diferentes indicam diferença estatística (p < 0,01) pelo teste T pareado. De acordo com a Tabela IV, ao início do tratamento fisioterápico, apenas duas pacientes apresentavam movimento normal de abdução do membro contraletaral, cujo valor médio foi de 157,3 ± 17,8 graus. Conforme os demais movimentos, foi observado melhora na movimentação do membro com a cinesioterapia (p < 0,01), com aumento de 11,1% no ângulo de movimento, sendo que sete mulheres apresentaram, ao final, o valor de movimentação considerado normal. Fisioterapia_v8n3.indb 170 Evolução, % 5,9 12,5 0,0 0,0 38,5 19,2 6,3 30,8 0,0 5,9 0,0 13,9 11,1 ± 12,2 Médias seguidas de letras diferentes indicam diferença estatística (P < 0,01) pelo teste T pareado. Paciente Evolução, o 10 20 0 0 50 25 10 40 0 10 0 22 15,6 ± 15,8 O presente estudo mostra que houve aumento da amplitude de movimento de flexão e abdução, tanto do membro homolateral como do contralateral à cirurgia após a abordagem fisioterapêutica específica, apesar de ser encontrado na literatura a importância do início precoce da fisioterapia em mulheres mastectomizadas, para prevenir as complicações como o linfedema, a limitação da amplitude de movimento, a função e a dor no membro homolateral após cirurgia [810]. Incapacidades como linfedema, dor no ombro e cervicalgia [11] são comuns e podem aparecer logo após a cirurgia. Estudos também indicam altos índices de morbidade [12] e piora da qualidade de vida [13], após a mastectomia. A morbidade do ombro apresentou-se relacionada ao tipo de abordagem cirúrgica axilar, com piora na linfadenectomia axilar em relação à biópsia do linfonodo sentinela, após três anos do tratamento cirúrgico [14,15]. A radioterapia pós-operatória pode induzir à fibrose subcutânea e influenciar a função do ombro homolateral a cirurgia, principalmente na mobilidade ativa. Houve indicadores de morbidade do membro superior homolateral à cirurgia nas mulheres participantes [16,17]. Não houve estratificação do tipo de cirurgia no presente estudo, porém destaca-se a melhora significativa na ADM, independente da abordagem cirúrgica. Em nossa avaliação inicial foi constatada limitação nas amplitudes de ambos os movimentos, tanto dos membros contralaterais como homolaterais, que se apresentavam abaixo do normal (menor de 1800). A ADM dos membros acometidos apresentou-se 4/7/2007 18:09:33 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 171 menor que a dos membros sadios, sugerindo que a cirurgia é fator agravante para a redução da ADM. Entretanto, há estudo indicando que outros fatores, como a idade avançada em mulheres, parecem ser determinantes de diminuição de amplitude do movimento [18]. Estudo em fase de publicação mostra que a idade contribui para alteração dos movimentos, mesmo no membro não envolvido com a cirurgia. Apesar de haver influência do tipo de cirurgia e da submissão à radioterapia, os resultados da fisioterapia na função do ombro de 139 pacientes no pós-cirúrgico foram positivos, tanto nas cirurgias radicais quanto conservadoras. Estas mulheres submeteram-se a um programa de exercícios de 12 sessões de 60 minutos/ 2 vezes por semana [14]. A reabilitação de mulheres no pós-cirúrgico por meio de um programa de danças, durante treze semanas, proporcionou melhora na ADM de 102,00 ± 15,8 para 116,70 ± 16,9 [19]. A prática dos exercícios foi efetiva para a melhora da mobilidade do ombro, assim como no presente trabalho, mesmo tendo como partida um comprometimento inicial da mobilidade inferior ao descrito no estudo acima. Em outro estudo, envolvendo 12 mulheres pós-câncer de mama, avaliou-se um programa de exercícios, durante 12 semanas, simultaneamente ao tratamento de quimioterapia / radioterapia, constatando-se melhora na função física, redução na fadiga e aumento na qualidade de vida das pacientes. Estes autores sugerem que um programa de exercícios estruturado em grupo, durante os tratamentos adjuvantes, é seguro, bem tolerado e efetivo para prover tanto benefícios físicos quanto psicológicos [20]. As considerações acima justificam a necessidade do profissional qualificado para a avaliação e execução do programa de acordo com as características encontradas nos grupos de pacientes. No presente estudo, as mulheres já haviam concluído os tratamentos adjuvantes e apresentavam seqüelas de ADM, sendo efetivo o acompanhamento fisioterapêutico. Desta forma, evidencia-se a importância da fisioterapia para o ganho de movimento e como instrumento de reforço das orientações necessárias nas atividades de vida diária, mesmo no pós-operatório tardio. Em estudo com oito semanas de exercícios, foi constatado melhora na força física, saúde e vitalidade [13]. A qualidade de vida em mulheres no pós-tratamento de câncer de mama foi confirmada em estudo de programa de exercícios progressivos de 8 semanas [5]. O presente estudo não avaliou a qualidade de vida, mas evidenciou melhoras clínicas na mobilidade do membro constituindo em ganho facilitador para as atividades de vida diária e laboral. Estes dados reforçam a necessidade de programa de exercícios para melhorar a amplitude articular tanto do membro afetado como do contralateral para potencializar a qualidade do movimento do ombro mesmo no pós-operatório tardio (média de 3,3 anos). Em estudo de revisão foi constatado o aumento do interesse nos exercícios físicos como intervenção em pacientes com câncer. As intervenções incluem exercícios aeróbicos e de resistência. Os estudos indicam efeitos fisiológicos e psicológicos promissores [21]. Não foram constatados efeitos adversos como o linfedema em mulheres que participaram de grupos de exercícios. Houve melhora da fadiga e qualidade de vida. As participantes relataram aprovação, com benefícios nas orientações e a oportunidade de experimentar diferentes exercícios [22]. Os exercícios realizados em nosso estudo caracterizaram-se por movimentos livres e sem resistência, visando o ganho da ADM e melhora de coordenação. Apesar de a movimentação restrita a 90 graus ser a de eleição para pacientes com até 15 dias de pós-cirúrgico [23], o uso da movimentação livre não diferiu da restrita, em estudo que avaliou a eficácia de um protocolo de exercícios físicos na recuperação do movimento do ombro em mulheres mastectomizadas com esvaziamento axilar [24]. Portanto, o protocolo terapêutico utilizado no presente trabalho não foi agressivo às mulheres. Fisioterapia_v8n3.indb 171 Conclusão A atribuição de programa de exercícios específicos a mulheres submetidas ao tratamento cirúrgico do câncer de mama melhora a amplitude articular do ombro. Referências 1. Pressman P. Surgical treatment and lymphedema. American Cancer Society. Cancer Supplement Dec 1998;83(12):278287. 2. Jinno H, Ikeda T, Matsui A, Katagawa Y, Katasjima M, Fujii H, Nakamura K, Kubo A. Sentinel lymph node biopsy in breast cancer using technetium 99 min colloids of different sizes. Biomed Pharmacother 2002;56 suppl 1:213-216. 3. 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Fisioterapia_v8n3.indb 172 4/7/2007 18:09:34 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 173 Artigo original Campos elétricos produzidos por equipamentos de diatermia de microondas Electric fields produced by microwave diathermy equipments Silvio Rainho Teixeira, D.Sc.*, Marcus Cezar Recco Gonsalles, Ft.**, Maria Rita Masselli, D.Sc.***, Iracimara de Anchieta Messias, D.Sc.**** *Professor Assistente do Departamento de Física, Química e Biologia da UNESP/FCT, **UNESP/FCT, ***Professor Assistente (UNICAMP/FOP) do Departamento de Fisioterapia na área de Ortopedia e Traumatologia da UNESP/FCT,****Professor Assistente do Departamento de Planejamento da UNESP/FCT Resumo Abstract O objetivo deste trabalho foi avaliar os níveis de radiação eletromagnética produzidos por equipamentos de diatermia por microondas, presentes no ambiente de trabalho do fisioterapeuta, e verificar se esses valores são compatíveis com os recomendados pelos organismos nacionais e internacionais. Foram medidos os campos elétricos (E) produzidos por três equipamentos de diatermia por microondas na cidade de Presidente Prudente SP. Foi usado um equipamento marca Wandel & Goltermann, modelo EMR – 200, sonda isotrópica Tipo 8 (de 100 kHz a 3 GHz), para medidas de campo elétrico. Próximo dos aplicadores, de dois dos equipamentos avaliados, os valores medidos estão acima do valor limite (137 V/m) recomendado. Para aplicações no ombro, foram medidos valores de até 650 V/m próximo aos olhos do paciente. Os resultados indicam que existe risco de exposição à doses altas de radiação eletromagnética para os pacientes e para os fisioterapeutas que operam equipamentos de diatermia. The objective of this study was to evaluate the levels of nonionizing radiation, produced by microwave diathermy equipments, in the physiotherapists workplaces and check if these values are compatible with the ones adopted by national and international organizations. The electric fields (E) were evaluated around three microwave diathermy equipments in Presidente Prudente SP. To measure the electric fields it was used a Wandel & Goltermann equipment (EMR – 200) with an isotropic probe type 8 (of 100 kHz to 3 GHz). The results show that the electric field is higher than the recommended limit value (137 V/m) near the applicators, to two equipments. During application of microwave on a patient’s shoulder, values were measured up to 650 V/m near the patient’s eyes. The results indicate that there is risk of overexposure to electromagnetic radiation for patients and physiotherapists who work with diathermy equipments. Palavras-chave: microondas, radiação não-ionizante, radiação eletromagnética, diatermia. Introdução A aplicação médica das radiações eletromagnéticas, tais como ondas curtas, laser e microondas com fins terapêuticos no tratamento de dor e inflamações nos tecidos do corpo humano, é amplamente difundida. Na área de saúde existe, hoje, uma infinidade de equipamentos que usam radiação eletromagnética, ionizante e não-ionizante, tanto para diagnóstico médico como para fins terapêuticos [1]. De modo Key-words: microwave, non-ionizing radiation, electromagnetic radiation, diathermy. geral, as correntes eletromagnéticas de alta freqüência são usadas na fisioterapia para a obtenção dos efeitos característicos de toda a terapia através do calor (diatermia), tais como: efeito analgésico, antiinflamatório, antiespasmódico e hiperemiante [2-4]. O estudo dos efeitos biológicos da energia de radiofreqüência é uma área científica madura com mais de cinqüenta anos de história e com uma literatura extensa de dados, mas de qualidade desigual [5]. Os efeitos biológicos conhecidos, Recebido em 26 de junho de 2006; aceito em 10 de março de 2007. Endereço para correspondência: Silvio Rainho Teixeira, Universidade Estadual Paulista - UNESP, Faculdade de Ciências e Tecnologia - FCT, Departamento de Física, Química e Biologia, Rua Roberto Simonsen 305, 19060-900 Presidente Prudente SP, Tel: (18)229-5355, E-mail: rainho@ prudente.unesp.br Fisioterapia_v8n3.indb 173 4/7/2007 18:09:34 174 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 benéficos ou danosos, são de natureza térmica. Alguns destes efeitos, como por exemplo, formação de catarata, já foi confirmado. Entretanto, apesar de existirem muitos trabalhos sobre efeitos carcinogênicos ou teratogênicos, os resultados são especulativos e não confirmados [2,5]. Existem muitos trabalhos afirmando que a exposição à radiação pode afetar estruturas ou sistemas, tais como: neurológico, neuroendócrino, hematológico, imunológico e cardiovascular. Além destes efeitos, também pode alterar as lentes oculares, populações de células ou sistemas, estruturas sub-celulares, afetar a gestação e o desenvolvimento embrionário. Certos órgãos ou sistemas orgânicos são descritos por serem afetados pelas radiações, através de distúrbios funcionais, pelas alterações estruturais, ou ambas. Existem milhares de trabalhos científicos sobre efeitos biológicos associados com exposição à energia eletromagnética. Entretanto, a qualidade destes estudos não é uniforme, variando de pobres ou incompletos a excelentes. Os trabalhos de Michaelson [6] e Adair & Petersen [5], apresentam avaliações críticas sobre os dados e a literatura disponível nesta área. Limites de exposição a campos eletromagnéticos tem sido, até o momento, objeto de críticas e controvérsias. Estes limites foram desenvolvidos e utilizados durante anos e, somente na década passada, foram modificados extensivamente, refletindo um conhecimento crescente dos efeitos biológicos associados com a exposição à energia eletromagnética, assim como avanços na dosimetria, superando falhas óbvias nas últimas normas de exposição [7]. Baseado nos dados da literatura, um comitê internacional (International Comission on Non-Ionizing Radiation Protection ICNIRP) estabeleceu orientações, em 1985, para limitar a exposição a campos eletromagnéticos, que forneçam proteção contra efeitos conhecidos, danosos à saúde [8]. No Brasil, somente em julho de 2002, a Agência Nacional de Telecomunicação (ANATEL), através da resolução n° 303, estabeleceu limites para a exposição humana a campos elétricos, magnéticos e eletromagnéticos, na faixa de radiofreqüência entre 9 kHz a 300 GHz. Este regulamento foi baseado no trabalho desenvolvido pela Comissão Internacional de Proteção à radiação não-ionizante [8]. Os limites referem-se tanto para exposição ocupacional quanto para a exposição à população em geral [9]. Na cidade onde esta pesquisa foi desenvolvida existem duas faculdades de Fisioterapia, clínicas e ambulatórios que utilizam equipamentos de diatermia. Muitos dos profissionais que atuam nessas clínicas desconhecem a existência de normas que regulem os valores admissíveis de exposição aos campos eletromagnéticos gerados pelos equipamentos de diatermia, bem como recomendações dirigidas no sentido de diminuir a exposição do operador. Em trabalho anterior, sobre ondas curtas [10], foi observado que, próximo das placas dos aplicadores e dos cabos de alimentação, a densidade de potência apresenta as maiores intensidades, decaindo exponencialmente com a distância. Foram medidos em alguns equipamentos valores de até 87 V/ m, próximo aos olhos do paciente e de até 250 V/m, próximo aos cabos e aos aplicadores. Considerando o valor limite [8,9] de 61 V/m, foi mostrado que o operador está sujeito a altos índices de exposição no local de trabalho. A diatermia por microondas é menos comum em clínicas de fisioterapia do que a por ondas curtas, embora ela desempenhe um importante papel em fisioterapia e medicina esportiva [3]. Apesar de ser uma técnica usada desde há muito tempo [11], a quantidade de equipamentos em uso ainda é pequena no Brasil. Este trabalho tem por objetivos divulgar e destacar a importância do controle de exposição à radiação eletromagnética para os profissionais da área de fisioterapia; medir a intensidade dos campos elétricos próximos aos equipamentos de microondas; e comparar os valores obtidos com os valores limites recomendados. Fisioterapia_v8n3.indb 174 Materiais e métodos Todas as medidas de campos eletromagnéticos foram feitas com os equipamentos de diatermia operando nas potências usuais de tratamento. Para as medidas de intensidade de campo elétrico produzidos por equipamentos de diatermia de microondas foi utilizado um equipamento para medidas isotrópicas de campos elétricos marca Wandel Goltermann, modelo EMR – 200, com sonda tipo 8 para freqüências de 100 kHz a 3 GHz. Foi utilizado o modo “Average” para se obter a média dos valores, a partir do modo instantâneo, em intervalos de tempo prédeterminados (90, 120, 180, 240 e 360 segundos). As medidas foram feitas nos únicos três equipamentos de microondas em funcionamento na cidade, dois de fabricação nacional, de mesma marca e modelo, e um equipamento importado. Os pontos (ou locais) medidos foram escolhidos de forma a descrever a variação da intensidade do campo elétrico com o aumento da distância ao centro da antena de microondas. Essas distâncias foram de 20, 40, 60, 80, 120 e 200 cm. Para cada posição da sonda, ou seja, em cada distância diferente, aferições em diversas intensidades de trabalho foram realizadas. Para os aparelhos nacionais, as intensidades escolhidas foram de 40, 60 e 80% da potência de pico e, para o importado de 60, 100, 140 e 180 Watts. Segundo o manual de operações do equipamento nacional, a potência de pico é de 480 Watts e a potência média de 120 Watts. Na realização destas medidas foi utilizada uma garrafa plástica (PET/2 litros), preenchida com solução salina, com o objetivo de simular o tecido humano nos aspectos de condutividade, absorção e reflexão da radiação. Esse procedimento foi adotado tendo em vista o longo tempo de tomada de medidas o que poderia expor um voluntário a altas doses de microondas. Foram realizadas, também, medidas próximas da cabeça e dos olhos de um voluntário em três situações diferentes: durante simulação de tratamento no ombro, no quadril e na coluna lombar. Essas medidas foram realizadas com o equipa- 4/7/2007 18:09:34 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 175 mento de diatermia importado trabalhando em intensidades de 60 e 100 Watts. aumento de radiação pode estar associado à propriedade de reflexão da radiação quando atinge uma superfície metálica como descrito por Low & Reed [1]. Como as microondas são fortemente refletidas pelas superfícies metálicas, pode ter concentrado o campo de microondas na região do detector. Portanto, convêm reforçar a recomendação de não usar divãs metálicos para aplicação de diatermia. Considerando o valor limite 137 V/m, observa-se que, para o equipamento importado (Figura 1) e um dos equipamentos nacionais (Figura 2), a área de risco se estende até aproximadamente 50 cm do emissor de microondas. Como observado nas Figuras 2 e 3, os dois equipamentos nacionais produzem campos elétricos de intensidades muito diferentes, para a mesma potência de trabalho. Além disso, não são observadas diferenças nas intensidades dos campos elétricos medidos, quando a potência de trabalho do equipamento é mudada. Estas observações mostram que é importante e necessário fazer revisões e calibrações periódicas nestes equipamentos. No equipamento que apresentou menor intensidade de campo elétrico (Figura 3), o valor limite não é atingido mesmo na menor distância medida (20 cm). Resultados As medidas de campo elétrico foram realizadas em distâncias próximas à antena de radiação de microondas, nas distâncias pré-estabelecidas. Os resultados dos valores referentes à intensidade de campo elétrico em função da distância ao aplicador estão expressos nas Figuras 1, 2 e 3. A Tabela I mostra os resultados referentes à intensidade de campo elétrico, próximo à cabeça do paciente, durante simulações de aplicações de microondas no ombro, no quadril e na coluna lombar. Discussão Os resultados deste trabalho concordam com a observação feita por Martin et al.[12] que, se o fisioterapeuta permanecer afastado pelo menos um metro dos eletrodos do aparelho de ondas curtas e da antena do aparelho de microondas, há pouco risco dele receber níveis que excedam os limites de referência estabelecidos pelos órgãos internacionais. Deve ser destacado que, embora o risco de exposição dos olhos do fisioterapeuta seja pequeno, deve-se tomar cuidado para garantir que os olhos do paciente não fiquem muito próximos dos pontos onde os níveis de radiação eletromagnética sejam mais elevados. Foi observado que a intensidade do campo elétrico do equipamento importado foi bem maior quando comparado aos outros equipamentos e, que os dois equipamentos nacionais, da mesma marca e modelo, apresentam valores de intensidade de campo elétrico muito diferentes para as mesmas condições de medida (distância e intensidade). As diferenças de intensidades entre o equipamento importado e os nacionais não devem ser levadas em conta, tendo em vista que as potências de trabalho são diferentes. Como pode ser observado, nas Figuras 1, 2 e 3, todas as intensidades de campo elétrico apresentam um decaimento com o inverso do quadrado da distância ao aplicador. Este decaimento está de acordo com as características de propagação retilínea da radiação eletromagnética. Segundo a lei óptica do inverso do quadrado da distância, a intensidade da radiação incidente sobre uma área unitária do corpo é inversamente proporcional ao quadrado da distância entre a fonte de energia e a superfície, desde que a fonte de energia seja puntiforme [13]. A conseqüência é que pequenas mudanças na distância causarão grandes alterações na intensidade [1], o que é bom para a segurança do fisioterapeuta. Nas Figuras 2 e 3, para os dois equipamentos nacionais, as medidas de intensidade de campo elétrico apresentam uma descontinuidade para as distâncias entre 40 e 60 cm. Nestes dois locais, em que essa descontinuidade foi encontrada, os divãs têm estrutura de tubo metálico e, para as distâncias citadas, a sonda estava próxima à lateral dos divãs. Esse Fisioterapia_v8n3.indb 175 Figura 1 - Decaimento da intensidade do campo elétrico (em V/m) em função do aumento da distância (em cm) entre o aplicador de microondas e o ponto de medida, do equipamento importado. Figura 2 - Decaimento da intensidade do campo elétrico (em V/m) em função do aumento da distância (em cm) entre o aplicador de microondas e o ponto de medida, do equipamento nacional. 4/7/2007 18:09:34 176 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 Figura 3 - Decaimento da intensidade do campo elétrico (em V/m) em função do aumento da distância (em cm) entre o aplicador de microondas e o ponto de medida, do segundo equipamento nacional. sugestão para futuros trabalhos seria a avaliação da eficiência de blindagens, para toda a cabeça do paciente, usando um tubo (capacete) montado com o mesmo material (tela) da janela dos fornos de microondas doméstico. Tabela I - Valores de campos elétricos medidos próximos à cabeça do paciente durante diferentes aplicações. Locais de tratamento Potência do Equipamento Ombro 60 Watts Na Tabela I é mostrado que, para todas as aplicações de microondas (coluna lombar, quadril e ombro) as intensidades do campo elétrico, próximos da cabeça do paciente, é superior ou muito superior (650 V/m) ao limite estabelecido de 137 V/m, para exposição ocupacional. Para o público em geral, neste caso o paciente, os valores encontrados em todas as medidas podem chegar a ser dez vezes maior que o valor limite estabelecido (61 V/m). Como foi relatado por Adair e Petersen [5], a exposição à radiação pode afetar sistemas ou estruturas diferentes, além de poder alterar as lentes oculares, divisões celulares e afetar a gestação e o desenvolvimento embrionário. Pode-se observar nesses resultados que a radiação próxima aos olhos do paciente é de fundamental importância, pois em razão de sua estrutura, o olho absorve seletivamente as microondas e não é capaz de dissipar calor facilmente, podendo, desse modo, ficar excessivamente aquecido. Muitos autores vêm estudando o aparecimento e possível formação de cataratas após exposição dos olhos a altas doses de radiação de microondas [1]. Além disso, em decorrência da forma da órbita e da refração do feixe de microondas, a radiação pode ser concentrada no interior dos olhos, lesionando o cristalino [13]. Embora a literatura mencione que várias formas de proteção, inclusive para os olhos, têm sido estudadas [1,3], não existe material de proteção disponível comercialmente. Ainda existe controvérsia sobre o uso de alguns tipos de proteção para os olhos, como óculos refratários a microondas. No capítulo sobre radiação eletromagnética do livro de Low & Reed [1], os autores citam o uso de dois tipos de óculos: com malha de metal que reflete praticamente toda a radiação de microondas ou lentes com um filme fino de metal depositado sobre o vidro, que também reflete a radiação. Estes óculos não podem ser confundidos com aqueles usados para ultravioleta ou laser. Como o objetivo destes estudos é minimizar a exposição à radiação, no caso de tratamentos em que a radiação possa atingir os olhos, o fisioterapeuta deve procurar posicionar a antena de microondas e o paciente de modo a minimizar a incidência de microondas sobre os olhos do paciente. Uma Fisioterapia_v8n3.indb 176 Quadril 60 Watts Coluna lombar 100 Watts E S (V/m) 140,8 (acima da cabeça) 228,6 (10 cm à frente dos olhos) 649,6 (abaixo da cabeça) 147,3 (10 cm à frente dos olhos) 274,0 (10 cm à frente dos olhos) (W/m2) Região de campo próximo (distância ao aplicador < 3λ). 57,6 199,1 V/m =volts por metro; W/m2 = watts por metro quadrado; λ = comprimento de onda Em aplicações de diatermia de microondas realizadas próximas ao quadril ou da região abdominal dos pacientes, atenção especial deve ser dada, principalmente, em pessoas do sexo masculino. Apesar de aumentos pequenos de temperatura poderem interferir com a espermatogênese, em mamíferos há pouca evidência que o aquecimento leve tenha qualquer efeito prejudicial. Portanto, a irradiação direta dos testículos deve ser evitada, tomando-se o cuidado de impedir que grande quantidade de radiação refletida ou dispersa atinjam a região, tendo em vista que ela apresenta uma má dissipação de calor [1]. Embora o tempo de exposição do paciente a estes campos elétricos seja muito curto, em geral 20 minutos, os valores encontrados são muito superiores aos valores limites estabelecidos para os pacientes. Portanto, um efeito cumulativo deve ser levado em consideração, pois não há um limite estabelecido para o número máximo de aplicações que o paciente pode receber. Como os equipamentos de diatermia são diferentes, não sendo possível manter a mesma sintonia e potência para todos eles, os resultados não permitem comparações entre marcas e modelos de equipamentos. Como o objetivo deste trabalho é verificar se existe radiação eletromagnética que possa colocar em risco a saúde dos profissionais da área de fisioterapia e dos pacientes que recebem tratamento de diatermia, essas diferenças nas condições de medida não prejudicam os resultados da pesquisa. Conclusões Os valores encontrados para campos elétricos, próximos a equipamentos de diatermia, mostram que existem regiões 4/7/2007 18:09:35 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 onde o operador está sujeito a doses elevadas de radiação eletromagnética, colocando em risco sua saúde, de acordo com os limites estabelecidos para proteção contra radiação. Portanto, destacamos a importância de orientar os profissionais de fisioterapia dos riscos a que eles (e os pacientes) estão sujeitos e dos possíveis danos à saúde que poderão surgir futuramente, devido à exposição à radiação eletromagnética. Embora os pacientes recebam o tratamento durante um tempo curto, as doses recebidas por eles estão muito acima dos limites estabelecidos. Portanto, é importante posicionar adequadamente o paciente e a antena de microondas para proteger, principalmente, os olhos do paciente. Os resultados mostram a necessidade de aferição e calibração periódica dos equipamentos de microondas. Agradecimentos Os autores agradecem ao Laboratório de Dosimetria (USP/SP) pelo empréstimo do equipamento de medida, aos ambulatórios de fisioterapia da UNOESTE e UNESP pela colaboração na obtenção dos dados e à FAPESP pela bolsa de iniciação científica (03/01534) concedida para Marcus C. R. Gonsalles. Referências 1. Low L, Reed A. Eletroterapia explicada: princípios e prática. São Paulo: Manole; 2001. 2. Goats GC. Microwave diathermy. Br J Sports Med 1990;24:21218. Fisioterapia_v8n3.indb 177 177 3. International Labor Organization (ILO). Occupational hazards from non-ionising electromagnetic radiation: occupational safety and health series, n. 53. Geneva: ILO; 1985. 4. World Health Organization (WHO). Electromagnetic fields (300 Hz to 300 GHz): environmental health criteria 137. Geneva: WHO; 1993. 5. Adair ER, Petersen RC. Biological effects of radio-frequency: Microwaves radiation. IEEE Trans Microwave Theory Tech 2002;60:953-61. 6. Michaelson SM. Biological effects of radiofrequency radiation: concepts and criteria. Health Phys 1991;61(1):3-14. 7. Petersen RC. Radiofrequency/ microwave protection guides. Health Phys 2001; 61(1): 59-67. 8. International Comission on Non-ionizing Radiation Protection (ICNIRP). Guidelines for limiting exposure to time-varying electric, magnetic and electromagnetic fields (up to 300 GHz). Health Phys 1998;74:494-522. 9. Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL). Resolução n. 303 de 02 de julho de 2002, Brasília, DF. 10. Teixeira SR, Messias IA, Peña AFV, Masselli MR, Converso MER. Campos eletromagnéticos produzidos por equipamentos de ondas curtas usados em fisioterapia: Uma avaliação em Presidente Prudente – SP. Rev Bras Fisioter 2001; 5:35-40. 11. Stuchly MA, Repacholi MH, Lecuyer DW, Mann RD. Exposure to the operator and patient during short wave diathermy treatments. Health Phys 1982;3:341-66. 12. Martin CJ, McCallum HM, Strelley S, Heaton B. 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São Paulo: Manole; 1998. p. 174-90. 4/7/2007 18:09:35 178 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 Artigo original Prevalência de dor em atletas da Seleção Brasileira de Voleibol Paraolímpico e sua relação com o deslocamento em quadra e fundamentos do voleibol Pain prevalence in athletes of the Paralympic Volleyball Brazilian Team and its relationship with volleyball basis and displacement in court Ana Carolina d´Avila de Assumpção, Ft.*, Adriana Ribeiro de Macedo, M.Sc.**, Ana Paula de Araújo Alves, Ft.*** *Anatomia humana e biomecânica (UCB / RJ), **Professora Assistente IBMR e SUAM, Engenharia Biomédica (COPPE/UFRJ), ***Especialista em Biomecânica do Movimento (PESTALLOZI), Professora assistente do IBMR Resumo Abstract Existe atualmente um importante conhecimento da biomecânica e dos mecanismos de lesão em vários esportes tradicionais. Tal conhecimento favorece o direcionamento de condutas preventivas, incluindo a orientação da técnica e a preparação física dos atletas. Os esportes criados ou adaptados para deficientes físicos apresentam suas peculiaridades. Todavia, no voleibol paraolímpico, poucos estudam a influência dessas peculiaridades nos mecanismos de lesão. O deslocamento em quadra é uma das diferenças entre o voleibol tradicional e o paraolímpico. Sabe-se que o esporte contribui para a qualidade de vida dos portadores de deficiência física. Entretanto, as lesões decorrentes da prática esportiva devem ser prevenidas e tratadas precocemente para que não limitem a capacidade funcional dessa população. O presente trabalho analisa a influência do deslocamento em quadra no quadro álgico em atletas da Seleção Brasileira feminina de voleibol paraolímpico. Os resultados apontam para o deslocamento como um dos fatores desencadeadores do quadro álgico das atletas. There is an important knowledge of biomechanics and injury mechanisms in traditional sports. Such knowledge permits to address preventive conducts, including technique orientation and physical training. The sports created or adapted for physical disabilities have peculiarities. Though, there are few studies about the relationship between those peculiarities and injuries on paralympic volleyball. The displacement in court is one of the differences between traditional and paralympic volleyball. It is known that sports contribute for handicaps life style. However, more studies are necessary to avoid capability functional limitation of the handicap players. The present work analyzes the influence of the court displacement in pain episodes in athletes of the female Brazilian volleyball paralympic team. The results indicate the displacement as one of the unleash factors of the athletes’ pain episodes. Key-words: sitting volleyball, court displacement, overuse, pushup. Palavras-chave: voleibol sentado, deslocamento, overuse, pushup. Introdução A prática esportiva possui um importante papel na vida de pessoas portadoras de deficiência. Ludwig Guttmann, responsável pelo surgimento do paradesporto, ao criá-lo, objetivava introduzir o esporte como recurso integrante do processo de reabilitação dessa população [1,2]. Além dos benefícios físicos inerentes à atividade praticada, o esporte favorece a integração social e atua na melhoria da qualidade de vida e no bem estar dessa população. Os deficientes praticantes alcançam maior independência e funcionalidade nas atividades diárias e os atletas, em particular, são vistos em seu meio como símbolo de eficiência e beleza [2-5]. Recebido em 26 de junho de 2006; aceito em 12 de abril de 2007. Endereço para correspondência: Ana Carolina d´Avila de Assumpção, Bvd. 28 de Setembro, 163/404, Vila Isabel, 20551-030 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21) 2568-8621, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v8n3.indb 178 4/7/2007 18:09:35 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 Os esportes tradicionais para serem praticados por deficientes precisam ser adaptados às limitações destes indivíduos. Por outro lado, algumas modalidades esportivas são criadas para uma determinada população, como o goalball, criada especialmente para cegos [1,6]. O voleibol é um exemplo de esporte tradicional praticado por portadores de deficiência. As adaptações para a prática ocorreram na década de 50 na Holanda. Houve grande aceitação por parte dos deficientes e o esporte se difundiu rapidamente. O vôlei adaptado pode ser conduzido com os jogadores em pé ou sentados, de acordo com a deficiência. Porém, nos jogos paraolímpicos de Sydney em 2000, o vôlei em pé deixou de integrar o programa dos jogos. O vôlei paraolímpico ou vôlei sentado é praticado em 21 países e é hoje considerado um dos mais agradáveis e competitivos das paraolímpiadas [5,7]. As regras do voleibol sentado são determinadas pela Federação Internacional de Voleibol e pela Organização Mundial de Voleibol para o Deficiente. Dentre as principais diferenças em relação ao voleibol tradicional estão a menor dimensão da quadra e a menor altura da rede (cerca de um metro). Adicionalmente, os praticantes devem jogar sentados [5,7], por conseqüência, movimentam-se em quadra com o auxílio dos membros superiores. Esses são apoiados no solo e o tronco erguido para que os jogadores se desloquem de encontro à bola. É sabido que várias lesões de tecidos moles ocorrem em praticantes do vôlei tradicional em decorrência da repetição excessiva do gestual esportivo na execução de seus principais fundamentos [8]. Cohen e Abdalla [9] afirmam que as lesões sofridas por portadores de deficiência podem ser as mesmas dos atletas da modalidade tradicional, com algumas peculiaridades. O conhecimento dos movimentos realizados pelos praticantes do vôlei e dos mecanismos de lesão possibilita reduzir o acometimento das estruturas osteomioarticulares [10]. Brinner e Benjamin [11] acrescentam que a familiarização com as lesões mais comuns pode facilitar o diagnóstico, o tratamento e a reabilitação dos praticantes, além de possibilitar a prevenção. A colocação dos autores pode ser extensiva aos praticantes do vôlei paraolímpico. O gestual esportivo dos fundamentos do vôlei tradicional é amplamente estudado e conhecido. Sabe-se que há maior acometimento dos membros superiores (46,13%) e que o ombro é a região mais afetada (29,8%) devido às suas características anatômicas e ao gestual esportivo, que solicita a elevação repetida do membro superior acima de 90º em quase todos os fundamentos [8]. No voleibol sentado, os jogadores além de realizarem os fundamentos com os membros superiores também o utilizam para o deslocamento em quadra, e esse deslocamento é realizado de forma repetitiva, tanto durante os treinamentos quanto durante os jogos e competições. O presente trabalho tem por objetivo estudar a prevalência de lesão entre atletas de vôlei paraolímpico e analisar a influência do deslocamento em quadra no quadro álgico das atletas. Fisioterapia_v8n3.indb 179 179 Materiais e métodos Foi realizado o acompanhamento de uma etapa dos treinos da Seleção Brasileira Feminina de Voleibol Paraolímpico, durante o período de preparação das atletas para o Campeonato Mundial da Holanda, em Junho de 2006. A seleção, nesta época, era composta por 14 atletas e dessas, 12 participaram da pesquisa. Foram incluídas no estudo todas as atletas da seleção sem a presença de comprometimento neurológico e cuja deficiência física fosse exclusivamente em membros inferiores. A idade média das atletas é de 31 ( ± 11,8) anos e estas praticam voleibol sentado a 12 ( ± 9,4) meses. Todas as etapas de desenvolvimento deste trabalho foram explicadas às atletas, que assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido. A pesquisa foi aprovada pela comissão técnica da Seleção Brasileira de Vôlei Paraolímpico. Posteriormente, os movimentos realizados pelas atletas, durante o deslocamento em quadra, foram observados e registrados por uma máquina fotográfica digital (Nikon Coolpix 3100, EUA). As atletas também responderam a um questionário contendo informações referentes à identificação da atleta, ao tipo de deficiência, à prática esportiva, à regiões com quadro álgico e às características da dor em tronco e membros superiores (tipo, localização, incidência, duração, movimento desencadeador, entre outros), conforme protocolo adotado por [12]. Análise do deslocamento das jogadoras em quadra A regra do voleibol sentado estabelece que o jogador, ao interagir com a bola deve estar com a pélvis em contato com o solo, exceto em algumas ocasiões especiais [5]. Entretanto, as atletas apóiam os membros superiores no solo e elevam o corpo para irem de encontro à bola ou para se movimentarem em quadra. Estes movimentos responsáveis pelo deslocamento em quadra são repetidos durante todo o treino ou jogo. A velocidade, a intensidade, a potência, a direção e o sentido do deslocamento estão diretamente relacionados às necessidades da partida. A análise do deslocamento em quadra foi baseada na observação dos movimentos articulares e correlação desses movimentos com os grupos musculares envolvidos, conforme sugerido por Rasch [13]. Foi observado apenas o início do movimento de deslocamento, momento no qual ocorre o apoio dos membros superiores no solo e a elevação do tronco, retirando a pélvis do chão, conforme as posições da Figura 1. Considera-se que esta seja a fase de maior aceleração do movimento de deslocamento. Não há na literatura a descrição cinesiológica do deslocamento em quadra no voleibol sentado. Todavia, este movimento é análogo ao push-up, definido por [14] como o movimento de empurrar-se para cima com apoio das mãos (Figura 2). Esse movimento é muito utilizado por indivíduos com lesão medular ou amputados para elevar o tronco na cadeira de rodas ou fazer transferências quando sentados [15,16]. 4/7/2007 18:09:36 180 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 Durante a fase inicial do push up, ocorre o apoio das mãos e o cotovelo encontra-se em ligeira flexão. A partir de então é realizado um complexo de movimentos contra-resistência em cadeia cinética fechada, envolvendo depressão, retração e rotação medial das escápulas, adução da glenoumeral, extensão de cotovelos e a conseqüente transferência do peso corporal para os membros superiores [15,16]. Envolvem o trabalho positivo dos músculos tríceps braquial, peitoral maior, grande dorsal, redondo maior, deltóide posterior, peitoral menor, rombóides e trapézio inferior [15,16]. Entretanto, quando esse movimento parte do solo, como no caso do deslocamento em quadra, atuam, principalmente, os músculos tríceps braquial, peitoral maior e grande dorsal [15]. Figura 2 - Push up com apoio nas rodas da cadeira de rodas. Figura 1 - Posição de espera do voleibol paraolímpico, vista lateral (A) e posterior (B). Esta posição sentada com as mãos apoiadas é mantida enquanto o atleta observa o jogo e decide para onde deve se deslocar. Fase inicial do deslocamento em quadra vista lateral (C) e posterior (D). Nesta etapa, a atleta, mantendo as mãos apoiadas, eleva o tronco e transfere o peso corporal para os membros superiores, elevando a pélvis. Partindo do princípio de que a ação muscular e o suporte do peso corporal pelos membros superiores, durante o deslocamento em quadra, adicionam carga sobre as estruturas da região, é razoável entender que este movimento também possa ser causador de lesões osteomioarticulares, devido a diversos fatores associados ao treinamento e à pratica desportiva. Assim, as questões levantadas no questionário objetivaram a análise da relação entre a dor e o movimento do deslocamento em quadra. Os resultados obtidos são apresentados a seguir. Resultados Foi constatado que todas as atletas apresentaram alguma queixa de dor em membro superior e/ou tronco. A incidência de regiões álgicas relatadas está apresentada na Figura 3. A maior parte das atletas relataram dor leve (58%). Vinte e cinco por cento relataram dor moderada e 17% relataram quadro álgico intenso. Todas as atletas relataram que as dores surgem ou se acentuam durante a temporada de treinos e jogos, quando o treinamento é intensificado, e são desencadeadas ou potencializadas pelo deslocamento em quadra e/ou por algum fundamento do vôlei. O fator desencadeador foi relatado pelas atletas antes do treino. Foi solicitado que essas atentassem para a situação causadora da dor no decorrer do treino. Após o treino, cada atleta relatou novamente o mecanismo desencadeador. O relato das atletas pré e pós-treino está sumarizado na Figura 4. Nenhuma atleta participava de programas de condicionamento físico regular. Fora da temporada de competições, estas treinam isoladamente em seus respectivos clubes, em média duas vezes por semana, cerca de três horas por dia. A Seleção Brasileira se reúne em etapas pré-programadas, com intervalos de três meses, nas quais treinam quatro dias seguidos com dois treinos por dia. Fisioterapia_v8n3.indb 180 4/7/2007 18:09:37 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 181 Figura 3 - Incidência de dor em atletas da Seleção Brasileira de Voleibol Paraolímpico. Os fundamentos do voleibol são amplamente estudados por estarem relacionados a mecanismos de lesão neste esporte. O ombro é a região mais acometida devido à solicitação excessiva de movimentos dos membros superiores acima da cabeça. No voleibol sentado podemos adicionar a sobrecarga gerada pelo deslocamento em quadra. O número de lesões em membros superiores, principalmente ombros, pode ser maior em atletas que apresentam diminuição da capacidade funcional em outras partes do corpo, pois há interação com cargas mais elevadas não apenas durante a prática esportiva, como também nas atividades de vida diária como locomoção ou transferências [9]. Este estudo contou com a participação de 86% das atletas da seleção brasileira de voleibol paraolímpico. Cinqüenta por cento das atletas referiram dor na região do ombro. No relato pré-treino, mais da metade das atletas consideraram o deslocamento em quadra como o principal fator desencadeador das dores durante o treino. Um quarto delas responsabilizava os fundamentos do voleibol pela instalação do quadro álgico e 8% atribuíram à dor tanto o deslocamento em quadra quanto a execução dos fundamentos. Após o treino, subiu para 25% o número de atletas que relataram dor em ambas as situações, deslocamento em quadra e fundamentos. O relato de dor ocasionada apenas pelo deslocamento em quadra diminuiu, e o relato de dor decorrente exclusivamente da execução dos fundamentos do vôlei aumentou. O relato pré-treino demonstra que a associação entre o deslocamento e a dor é alta. Entretanto, através do aumento do relato de dor em ambos os movimentos na fase pós-treino, observa-se que este fator é importante como desencadeador do quadro álgico, mas não é o único responsável. Entretanto, observa-se que a importância do deslocamento enquanto desencadeador do processo álgico permanece. Figura 4 - Situações desencadeadoras da dor. Relato pré (A) e póstreino (B). Discussão Uma lesão osteomioarticular pode acontecer quando as cargas em interação com as estruturas corporais ultrapassam o limite de tolerância tecidual, seja em magnitude, em freqüência ou em duração. Fatores como a direção, ponto de aplicação, constância ou variabilidade da carga e a integridade dos tecidos também influenciam na resistência das estruturas às forças atuantes sobre elas [17,15]. No âmbito dos esportes, as lesões por uso excessivo correspondem a aproximadamente 50% das lesões esportivas e acometem principalmente partes moles [9,17-20]. Scott [20] afirma que os danos causados por atividades repetitivas ficam sintomáticos quando são suficientes para causar deficiência orgânica e dor. As lesões esportivas acometem atletas portadores ou não de deficiência física, e a prevalência de lesões em ambos os casos é semelhante [9], apesar de variar com a modalidade esportiva praticada e com o tipo de deficiência apresentado pelo praticante. Fisioterapia_v8n3.indb 181 Conclusão É sabido que a prática esportiva melhora a qualidade de vida dos portadores de deficiência. A dor apresenta-se como um fator limitante dessa funcionalidade, e está presente nas modalidades paradesportivas. Pouca atenção é dada na literatura científica aos portadores de deficiência física [21]. Um maior conhecimento dos mecanismos de lesão no vôlei adaptado torna-se necessário para melhoria e direcionamento da preparação física das atletas, de trabalhos de prevenção e tratamento das lesões e para aquisição dos benefícios provenientes da prática esportiva com menor risco de perda funcional. O presente trabalho aponta para problemas outros que não os fundamentos do vôlei na etiologia da dor nas praticantes. O conhecimento da biomecânica dos fundamentos e os mecanismos de lesão no voleibol tradicional são bastante explorados [8,11,10,22]. Todavia, maiores estudos sobre a biomecânica do deslocamento em quadra e dos mecanismos de lesão no voleibol paraolímpico tornam-se necessários. 4/7/2007 18:09:37 182 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 Agradecimentos 9. Cohen M, Abdalla RJ. Lesões nos esportes: diagnóstico, prevenção e tratamento. Rio de Janeiro: Revinter; 2005. 10. Pera CE, Brinner Junior WW. Volleyball injuries during the 1995 U.S. Olympic Festival 738. Med Sci Sports Exerc 1996;28(5): supl.124. 11. Brinner Junior WW, Benjamin HJ. Volleyball injuries: managing acute and overuse disorders. Phys Sportsmed 1999;27(3):4851. 12. Magee DJ. Avaliação musculoesquelética. São Paulo: Manole; 2005. 13. Rasch PJ. Cinesiologia e anatomia aplicada. 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Abordagem cinesiológica e aspectos clínicos no movimento de ataque na prática do voleibol. Fisioter Bras 2001;2(4):253-258. À Associação Brasileira de Voleibol Paraolímpico (ABVP) e o Técnico da Seleção Feminina, Alaxandre Medeiros, às atletas de Voleibol Sentado, que possibilitaram a realização deste trabalho, e a fisioterapeuta Ana Lúcia Lessa Valente pela importante colaboração científica. Referências 1. Gorgatti MG, Costa RF. Atividade física adaptada: qualidade de vida para pessoas com necessidades especiais. São Paulo: Manole; 2005 2. Reis T. A história do esporte paraolímpico. Associação Brasileira de Desportos em Cadeira de Rodas (ABRADECAR). [citado 2005 Jan 30]. Disponível em URL: http:/www.abradecar.org. br/abrad/histor.php 3. A atividade física e o portador de deficiência [editorial]. Revista do Conselho Federal de Educação Física; 2003;2:4-11. 4. Sem limite: inclusão de portadores de deficiência no mercado de trabalho. Rio de Janeiro: Senac; 2002. 5. 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Araújo** *Fisioterapeuta, Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira, UFRJ, **Neuropediatra, Professora Adjunta do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Resumo Abstract Objetivo: Estudar a idade de acesso à reabilitação (fisioterapia motora) e discutir possíveis fatores relacionados a esta acessibilidade. Método: Estudo retrospectivo transversal de série de casos composto por uma amostra de conveniência de 38 crianças, de 2 a 5 anos de idade, com diagnóstico de Disfunção Neuromotora (DNM), em acompanhamento no Setor de Neurologia de um Hospital Universitário no período de 2000 a 2002. Resultados: Apenas 6 crianças iniciaram a fisioterapia motora até os 6 meses de vida (17,6%), apesar da maioria (92,1%) apresentar registro de fatores perinatais de risco em prontuário. O acesso à reabilitação foi mais precoce nos casos de acometimento mais difuso (razão de prevalência de 1,35 (0,23 < RP < 8,10)). Conclusão: O acesso à reabilitação de pacientes com DNM ocorre tardiamente. Dentre outros fatores, dificuldades no reconhecimento dos sinais precoces da DNM e dificuldades no acesso aos centros de reabilitação podem estar relacionados à demora do início da terapia. Objective: To study the age of access to rehabilitation (physical therapy) and discuss the possible factors related to this accessibility. Methods: Retrospective sectional case series, of a convenience sample of 38 children, aged 2 to 5 years, diagnosed as cerebral palsy and followed at the neurology section of a University Hospital from 2000 to 2002. Results: Only 6 children began physical therapy before the age of 6 months of life (17.6 %), although the majority had registered perinatal risk factors (92.1 %). Access to therapy was earlier in children with more diffuse involvement (prevalence ratio of 1,35 (0.23 < RP < 8.10)). Conclusion: Late access to rehabilitation occurs in children with cerebral palsy. Among other factors, difficulties in recognition of the early signs of cerebral palsy and access difficulties to rehabilitation centers maybe related to the delay at the beginning of the therapy. Key-words: health services accessibility, physical therapy, cerebral palsy, rehabilitation centers. Palavras-chave: acesso aos serviços de saúde, fisioterapia, paralisia cerebral, centros de reabilitação. Introdução Paralisia Cerebral (PC), Disfunção Neuromotora (DNM) ou ainda Encefalopatia Crônica não Progressiva da Infância são termos que definem um distúrbio neurosensoriopsicomotor secundário a uma lesão não progressiva em um cérebro imaturo [1]. O distúrbio sensoriopsicomotor se expressa por alterações no movimento, na postura e na coordenação motora, que interferem com o desenvolvimento normal. Estudos em diferentes estados americanos apontam para cifras de 1 a 2,5 por 1000 nascidos vivos [2-4]. Desta forma, uma deficiência motora, que se expressa por demora em alcançar um marco motor, costuma ser o sintoma inicial que conduz a suspeita deste diagnóstico, confirmado se não houver evidências de piora progressiva. São crianças que necessitam de suporte médico, educacional, social e de reabilitação, particularmente de fisioterapia [5-6]. Recebido em 8 de julho de 2006; aceito 15 de março de 2007. Endereço para correspondência: Cristiane Mattos de Oliveira, Praia das Pitangueiras, 435/107, Ilha do Governador, 21930-360 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21) 2467-8626, E-mail:[email protected] Fisioterapia_v8n3.indb 183 4/7/2007 18:09:38 184 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 Não existe cura da DNM, porém, existe a possibilidade de melhora dependendo da intensidade e local da lesão e dos cuidados que o indivíduo receba ao longo da vida. As funções não acometidas podem ser estimuladas e aquelas alteradas, abordadas a fim de evitar danos secundários. O prognóstico nem sempre é fácil de estabelecer, pois o cérebro da criança desenvolve-se de acordo com o seu potencial, este diminuído em função do dano, mas também em função do estímulo que recebe. Estudos indicam que o tratamento precoce melhora o prognóstico da DNM pela prevenção de contraturas e por facilitar a adaptação da vida familiar [7]. Vale ressaltar a importância de programas de acompanhamento de bebês de alto risco para a detecção precoce de distúrbios do desenvolvimento [8]. Somente após serem reconhecidas é que estas crianças serão encaminhadas às terapias necessárias. A idade média do diagnóstico, em países como a Suécia e o Japão, gira em torno de 1 ano [7-9]. No Brasil, ignora-se a quantidade de crianças com DNM. Pode-se presumir uma prevalência elevada dado ao precário acesso aos cuidados gestacionais e a assistência perinatal [10]. Se tomarmos como base a taxa de 1:1000, e o número de nascidos vivos no estado do Rio de Janeiro, no ano de 2001, teríamos cerca de 200 crianças, que nascidas naquele ano, desenvolveriam DNM em nosso estado [11]. Este estudo tem como objetivo estudar a idade de acesso à reabilitação (fisioterapia motora) e discutir possíveis fatores relacionados a esta acessibilidade. Acreditamos que, embora multifatorial, a idade de acesso à reabilitação encontra-se em parte associado ao atraso no reconhecimento deste distúrbio. Foram excluídas da nossa amostra todas as crianças que apresentaram manifestações clínicas semelhantes a DNM, porém atribuídas à outra etiologia pelo médico responsável por seu acompanhamento, bem como crianças que não apresentaram o cartão da maternidade ou em cujo prontuário não constaram informações sobre a gestação, o parto e o período neonatal. Todas as crianças da nossa amostra passaram obrigatoriamente por pelo menos 3 consultas com o neuropediatra para que fosse comprovado o diagnóstico de DNM e, desta forma, descartado o diagnóstico de uma doença progressiva. Além disso, neste trabalho consideramos a lesão pós-natal apenas até 30 dias após o nascimento. As crianças foram submetidas a uma avaliação realizada por uma fisioterapeuta, as informações de seus prontuários e do cartão da criança, bem como outras obtidas por entrevista com seus responsáveis, foram anotadas na ocasião da avaliação. Classificamos as crianças de acordo com as partes do corpo envolvidas, como: quadriplegia, aquelas com acometimento dos quatro membros do corpo; diplegia, quando o envolvimento predominava nos membros inferiores; hemiplegia, se a criança apresentasse paresia em um hemicorpo. A classificação foi também baseada no distúrbio do movimento [11-12]: espástica se apresentasse aumento do tônus muscular, resistência à movimentação passiva e reflexos profundos exaltados; discinética se dominada por manifestações extra-piramidais, como a distonia ou atetose; atáxica, quando presente a hipotonia, tremores de ação, dismetria e fala disártrica. Algumas crianças apresentaram características de mais de uma das formas citadas e foram classificadas como mistas. A idade do diagnóstico bem como a idade de início da fisioterapia motora foi verificada no prontuário quando relatada e quando não, estas informações foram colhidas com os responsáveis. Procurou-se limitar possíveis vieses de informação, limitando-se a faixa etária dos incluídos e desta forma limitando o viés de memória relacionado a fatos passados. Baseou-se sempre que possível em dados documentais, como prontuários e cartão da criança e só utilizando-se os dados de entrevista quando inexistentes os dados em outras fontes. Os dados coletados foram armazenados no programa Epi-Info versão 6.04 e foram verificadas as freqüências e distribuição. Para uma analise exploratória dividiu-se o grupo de acordo com o acomentimento (difuso ou localizado) e verificou-se a razão de prevalência para o acesso a reabilitação antes ou após 1 ano de idade. Material e método O estudo foi retrospectivo transversal de série de casos e composto por uma amostra de conveniência de 38 crianças, de 2 a 5 anos de idade, com diagnóstico de Disfunção Neuromotora, em acompanhamento no Setor de Neurologia do IPPMG no período de 2000 a 2002. Trata-se de parte de uma tese de Mestrado do curso de Pós-graduação em Saúde da Criança e do Adolescente da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Todos os responsáveis legais assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. O estudo foi analisado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do IPPMG e aprovado em 22 de julho de 2003. Foram convidadas para participar deste estudo 122 crianças através de cartas ou no momento da consulta médica com o seu neuropediatra. Tivemos uma perda de 72 crianças que não compareceram ao nosso agendamento e 12 exclusões. Dentre as exclusões, 7 não apresentaram diagnóstico de DNM, 3 não apresentaram o cartão da maternidade e 2 pela não autorização dos responsáveis em participar. Desta forma, nossa amostra de conveniência foi composta de 38 crianças. Fisioterapia_v8n3.indb 184 Resultados Foram avaliadas 38 crianças com DNM. Predominou o acometimento misto com 14 casos (36,8%), seguido da quadriplegia com 13 casos (34,2%), diplegia e ataxia com 3 casos ambos (7,9%), hemiplegia em 2 casos (5,3%), mono- 4/7/2007 18:09:38 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 185 plegia em 1 caso (2,6%) e 2 casos não classificáveis (5,3%). Estes últimos não apresentavam comprometimento motor evidente por ocasião da avaliação, tendo, no entanto, no passado, registro deste envolvimento em prontuário. Dentre as formas mistas, a principal combinação foi da quadriplegia com a atetose em 10 casos, e 2 casos apresentavam diplegia com ataxia. A idade de acesso à reabilitação em relação à idade do diagnóstico está apresentada na Figura 1. Apenas 6 crianças iniciaram a fisioterapia motora até os 6 meses de vida (17,6%), e 4 crianças nunca haviam feito fisioterapia motora. Metade da amostra iniciou esta terapia após 1 ano e um quarto apenas após 2 anos. mais difuso (grupo A) ter acesso a fisioterapia antes de 1 ano foi 1,35 vezes maior que um caso com acometimento mais restrito (grupo B). Tabela II - Distribuição da amostra pelo tipo de DNM relacionada à idade de acesso à fisioterapia. IPPMG/UFRJ, 2005. Tipo de DNM Grupo A Grupo B Total Acesso à fisioterapia Antes de 1 ano Após 1 ano 13 12 4 5 17 17 Total 25 9 34 Legenda: Grupo A: Quadriplegia e casos mistos. Figura 1 - Distribuição da amostra pela idade do diagnóstico relacionada à idade de acesso à fisioterapia motora. IPPMG/UFRJ, 2005. Grupo B: Monoplegia, hemiplegia, diplegia, ataxia e não classificável. Da amostra estudada, 35 crianças (92,1%) apresentaram registro de fatores de risco relatados em prontuário. Entre estes fatores de risco relatados, os mais comuns foram sofrimento fetal, icterícia neonatal, hipertensão gestacional, infecção neonatal e bolsa rota com perda de líquido amniótico. Discussão Legenda: m = mês; a = ano Das 17 crianças que iniciaram a fisioterapia motora após 1 ano de vida, 9 tinham sido diagnosticadas como DNM até 1 ano e 8 crianças após 1 ano de vida. A distribuição da classificação da DNM diagnosticados antes e depois de 1 ano de idade está apresentada na tabela I. Tabela I – Distribuição dos tipos de DNM diagnosticados antes e após 1 ano de idade. IPPMG/UFRJ, 2005. Diagnóstico Quadriplegia Diplegia Hemiplegia Monoplegia Misto Ataxia Não classificável TOTAL Casos Antes de 1 ano 9 3 1 1 9 2 2 27 Após 1 ano 3 0 1 0 5 1 0 10 Obs: 1 caso sem informações sobre a época do diagnóstico. Os resultados observados neste estudo descritivo com amostra de conveniência indicam que o acesso à reabilitação de pacientes com DNM ocorre tardiamente. Apesar de apresentarem um distúrbio determinado no período perinatal, metade das crianças desta amostra só iniciou a fisioterapia após a idade de 1 ano. O acesso é uma das etapas integrantes do fluxo de eventos na utilização de serviços de saúde, centrado na entrada a este sistema [13]. As crianças com distúrbios do desenvolvimento dependem de serviços de reabilitação em suas terapias, sendo fundamental para as que apresentam DNM a fisioterapia motora. Um inquérito por telefone no Canadá mostrou que apenas 36 % das crianças que haviam sido encaminhadas à fisioterapia motora ainda não freqüentavam este serviço 6 meses após o contato médico que indicou tal terapia [6]. A simples suspeita diagnóstica, nestes casos, decorrente do atraso do desenvolvimento motor, poderia suscitar o encaminhamento à fisioterapia motora. Apenas 3 casos da presente amostra haviam iniciado a fisioterapia antes do diagnóstico definitivo, o que indica que, na minoria dos casos, o pediatra, ao suspeitar de algo anormal, encaminhou o paciente tanto para investigação complementar com o especialista como orientou para um tratamento inicial. Estes 3 casos foram diagnosticados pelo neuropediatra como mostra a Figura 2. Quando relacionamos a idade de acesso à reabilitação com o grau de acometimento da DNM, encontramos uma razão de prevalência de 1,35 (0,23 < RP < 8,10) (Tabela II). Ou seja, a chance de um caso de DNM com acometimento Fisioterapia_v8n3.indb 185 4/7/2007 18:09:38 186 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 Figura 2 - Distribuição da amostra relacionando o intervalo de tempo entre o diagnóstico e o início da fisioterapia bem como o profissional responsável pelo diagnóstico. IPPMG/UFRJ, 2005. Tabela III - Distribuição da amostra quanto à orientação do pediatra de rotina. IPPMG/UFRJ, 2005. Grupos 1 Orientação pelo pediatra de rotina Neurologia Casos 3 2 Neurologia Ortopedia Neurologia e Fisioterapia Centro de reabilitação Observação 5 1 1 1 1 3 Neurologia Neurologia e Ortopedia Nenhuma recomendação 12 1 1 4 Neurologia Neurologia e Fisioterapia Fisioterapia Ortopedia Terapia ocupacional Nenhuma recomendação 2 1 1 1 1 2 5 Neurologia Terapia ocupacional Não informado 2 1 1 38 Legenda: Grupo 1: Iniciou a fisioterapia antes da confirmação do diagnóstico. Grupo 2: Iniciou a fisioterapia após a confirmação do diagnóstico, com latência < 6 meses. Grupo 3: Iniciou a fisioterapia após a confirmação do diagnóstico, com latência > 6 meses. Grupo 4: O inicio da fisioterapia bem como a confirmação do diagnóstico ocorreu tardiamente, após os 2 anos de idade. Grupo 5: Nunca fez fisioterapia. Obs: Em um caso do grupo 5 não obtivemos as informações pertinentes à figura acima. Alguns fatores podem estar retardando o acesso à reabilitação destes pacientes. Levantaremos aqui algumas hipóteses. É possível que algumas crianças não sigam um acompanhamento rotineiro com os pediatras; no presente estudo, este aspecto não foi avaliado. Outras, acompanhadas de forma adequada pelos pediatras podem estar sendo encaminhadas para outros especialistas e não para a fisioterapia motora. É possível que essas crianças infelizmente não estejam sendo reconhecidas pelos seus pediatras como necessitadas de reabilitação. De acordo com os dados obtidos pelos responsáveis mostrados na Tabela III, apenas 3 crianças foram orientadas a fisioterapia motora pelo pediatra. Outras crianças foram encaminhadas à ortopedia e a terapia ocupacional. Ademais, 3 crianças não receberam nenhuma recomendação pelo seu pediatra e um responsável foi orientado apenas a observar a evolução de seu filho. O pediatra pode ter dificuldade para fazer este diagnóstico. Cerca de 84% da nossa amostra (31 crianças) foi diagnosticada pelo neuropediatra e apenas cerca de 16% (6 crianças) pelo pediatra (Figura 2). Na nossa amostra, 71% (27 casos) foram encaminhados ao neuropediatra pelo pediatra de rotina para investigação de diagnóstico (Tabela III). Se diante da detecção de uma anormalidade do desenvolvimento, o atraso motor, o paciente depende de outro especialista para estabelecer não só o diagnóstico definitivo, mas também para obter o encaminhamento a fisioterapia, o início desta terapia será mais tardio. Fisioterapia_v8n3.indb 186 Total Dificuldades no acesso ao sistema de saúde, referentes aos recursos disponíveis, materiais e humanos, que resultam na oferta de vagas podem justificar certa latência no ingresso à reabilitação. Tal suposição poderia ser uma explicação para a observação de 4 pacientes desta amostra, com diagnóstico estabelecido, nunca haverem feito fisioterapia. A idade de diagnóstico da DNM em 71 % dos casos, no presente estudo, foi antes de 1 ano. Este dado está de acordo com o observado em outros estudos de outros países. Na Suécia a idade média do diagnóstico de DNM é de 12,4 meses [7] e no Japão são diagnosticadas por volta de 1 ano 42% dos hemiplégicos, 39% dos diplégicos e 33% dos atáxicos [9]. Apenas as crianças quadriplégicas e as atetóides alcançam o diagnóstico mais precocemente [9]. Este dado também foi verificado no presente estudo como mostrado na Tabela I. Cabe ressaltar a importância do acompanhamento do desenvolvimento de bebês de risco desde o período neonatal. Avaliação periódica para crianças de risco é uma estratégia efetiva para o diagnóstico e início do tratamento precoce [14]. Todos os pacientes com fatores de risco ou sinais neurológicos anormais deveriam ter o desenvolvimento motor acompanhado de perto [13-15]. As recomendações recentemente publicadas acerca da avaliação diagnóstica deste distúrbio enfatizam ser este um diagnóstico eminentemente clínico [5]. Se este seguimento se iniciar logo no período neonatal em 4/7/2007 18:09:39 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 crianças de risco, não só o diagnóstico e o encaminhamento tenderão a ser mais rápidos, mas será formado um vínculo maior da família com os profissionais da saúde, que favorecerá a adesão as terapias propostas [15]. Sabe-se que o início precoce da reabilitação traz benefícios para a criança ajudando na socialização, adaptação familiar, e ajuda a criança a alcançar o seu potencial máximo de desenvolvimento [16]. Vimos em nossa amostra que 4 crianças (10,5%) nunca fizeram fisioterapia e em outras 13 crianças (33,8%) houve abandono. Os motivos relacionados por estes responsáveis foram os mais variados: falta de vaga nos centros de reabilitação procurados, falta de disponibilidade do responsável em levar a criança para a fisioterapia, distância da residência, e até mesmo contra-indicação por parte de alguns profissionais da área da saúde. Tais motivos justificam em parte a dificuldade no acesso, mas também na manutenção de um tratamento ideal, ou seja, para a utilização de serviços de saúde. Condições sócio-econômicas precárias, o analfabetismo, famílias numerosas, freqüentes mudanças de residência e a não avaliação em centros especializados podem privar a criança de um cuidado apropriado [13]. Estes são possíveis fatores determinantes da utilização dos serviços de saúde. Conclusão Este estudo permite a formulação de hipóteses, por tratarse de estudo descritivo, baseado em amostra de conveniência de um Hospital Universitário. Porém não deve suscitar generalizações. Não podemos comparar nosso estudo com outros feitos em nosso país ou no exterior pela forma diferente que a coleta de dados foi feita ou por se tratarem de amostras selecionadas com base em outros critérios. Se nossa amostra fosse oriunda de uma população aleatória e não de um hospital universitário, talvez o quadro apresentado fosse diferente. Pois, talvez tenham comparecido apenas para o nosso estudo àquelas crianças mais graves, sendo as mais leves julgadas pelos responsáveis como curadas ou não necessitadas de acompanhamento. As barreiras de acesso à reabilitação merecem estudos futuros que analisem as hipóteses aqui apontadas, garantindo então um acesso e utilização mais adequada destes serviços de saúde. O efetivo uso continuado dos serviços poderá contribuir para adequada redução dos efeitos das doenças crônicas, particularmente daquelas que repercutem no desenvolvimento. Fisioterapia_v8n3.indb 187 187 Referências 1. Piovesana AMSG, Moura-Ribeiro MV, Zanardi VA, Gonçalves VMG. 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Material e método: Foi realizada uma seleção aleatória de dez indivíduos atletas de futebol profissional. A caminhada se iniciou com 0,0% de inclinação, com aumento de 2% até o limite do aparelho de 14% de inclinação. A avaliação foi realizada através de três marcas colocadas na região lombar (L1, L3, L5) e fotografada durante a inclinação da esteira. Essa avaliação foi realizada por um sujeito não participante do estudo (avaliador-cego). Resultados: Observou-se três padrões diferentes entre os participantes da amostra. Uma análise de agrupamentos deu embasamento para que os indivíduos fossem classificados em três categorias: Grupo 1 (indivíduos 7, 8 e 9), Grupo 2 (indivíduos 2, 3, 5 e 6) e Grupo 3 (indivíduos 1, 4 e 10). Entretanto, nenhuma variação de angulação quanto à inclinação foi considerável. Conclusão: Não observamos em nosso estudo correlação estatística quanto ao aumento da curvatura lombar com a inclinação da esteira. A analise de grupos de indivíduos com diferentes características, precisam ser estudados no intuito de compreender detalhadamente o fenômeno estudado. Objective: To analyze whether walking on inclined treadmill modifies the subject lordosis lumbar bending. Material and method: Ten professional soccer players were selected. The walking started at 0,0% of inclination, with 2% increase until 14% of inclination. The evaluation was carried through three marks placed in the lumbar region (L1, L3, L5) and photographed during the inclination of the treadmill. This evaluation was carried out through by a appraiser-blind subject. Results: Three different patterns among the participants were observed. An analysis of groupings gave basement so that the individuals were classified in three categories: Group 1 (individuals 7, 8 and 9), Group 2 (individuals 2, 3, 5 and 6) and Group 3 (individuals 1, 4 and 10). No significant variation of angulations concerning the inclination was observed. Conclusions: We did not observe in our study statistic correlation to the increasing of the lumbar bending with the treadmill inclination. The analysis of groups of individuals with different characteristics is necessary to better understand this phenomenon. Key-words: lumbar posture, inclined treadmill. Palavras-chave: postura lombar, esteira elétrica e inclinação. Introdução A atividade física e o exercício físico tem sido reconhecidos como fatores que desempenham um papel essencial no aprimoramento da saúde. O papel da atividade física visa minimizar os custos com a saúde e promover o bem estar social e cultural, na prevenção e cura de doenças [1]. Inúmeras variáveis fisiológicas, comportamentais e psicossociais estão relacionadas com atividade física. As razões comuns de não se exercitar incluem falta de tempo, segurança pessoal, ambiente familiar ou social [2]. Muitos tipos de atividade física podem fornecer um estímulo adequado para a melhora do condicionamento físico, dependendo da intensidade e duração do exercício físico. Ao escolher o tipo de treinamento apropriado, o participante deve estar familiarizado com as diversas atividades disponíveis. No entanto, uma determinada atividade variará em intensidade de acordo com a carga empregada. Recebido 31 de julho de 2006; aceito 15 de fevereiro de 2007. Endereço para correspondência: Alexandre Marin Hernandez Cosialls, Rua Teodoro de Beaurepaire, 197/72, Torre Blue Ipiranga, 04279-030 São Paulo SP, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v8n3.indb 188 4/7/2007 18:09:39 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 189 Ultimamente, a atividade física vem crescendo em seus adeptos, muitas vezes orientada por um profissional da área da saúde e, outras vezes por vontade própria. Com esse crescimento, as industrias fabricantes dos equipamentos voltados ao ramo da atividade física, também pensando na otimização do tempo das pessoas que os utilizam, criam modernos equipamentos para que possam exigir mais das pessoas em menos tempo. Neste sentido, torna-se importante verificar os riscos da caminhada em esteira elétrica inclinável para a coluna quanto ao aumento da sobrecarga, e a partir de qual inclinação ela possa acontecer. Vinte sujeitos saudáveis, que corriam mais do que vinte quilômetros por semana, participaram de um estudo coorte, para identificar a coordenação entre a lombar e a pelve. Os sujeitos foram submetidos à esteira elétrica à 4,0 m/s e observou-se, através de estudo 3D, uma alta correlação entre a lombar e a pelve nos movimento de flexo-extensão e inclinação lateral. Contudo, foi encontrada uma pobre correlação no que diz respeito ao movimento axial entre a pelve e a lombar [14,15]. Algumas pessoas relatam sentir fortes dores na região lombar após a caminhada ou corrida em plano inclinado. A literatura não apresenta dados específicos que caracterize alguma alteração na região lombar durante essa atividade. Foram escolhidos para o nosso estudo atletas de futebol profissional, já que os mesmos possuem uma musculatura treinada e a influência da fadiga na musculatura desses indivíduos na atividade proposta é menor. Alterações posturais da lordose lombar A lordose lombar normal é de 45 a 50 graus. Alinhamentos anormais, como hiperlordose, podem ser fatores para desencadear a dor lombar [3]. A maioria dos estados dolorosos pode ser atribuída ao aumento do ângulo lordótico lombar. Este aumento na lordose lombar é comumente chamado de “hiperlordose”. Pode-se afirmar com segurança que 75% de todas as lombalgias derivam desta alteração [4]. Alguns autores sugerem que as alterações posturais contribuem para a dor lombar causada pela sobrecarga aplicada ou sustentada por um período de tempo, resultando em estresse acumulativo dos tecidos e sua possível falha [5]. Estudo realizado com cadáveres mostrou que as alterações da lordose lombar favoreceram a degeneração do disco intervertebral entre L5 e S1 [6]. Pesquisas demonstram que a as alterações na lordose lombar contribuem para o aumento da pressão intradiscal e dor lombar [7-9]. Alterações posturais durante a marcha em esteira rolante elétrica O estudo de Leroux [10] investigou as alterações posturais com inclinação, durante a caminhada, e o ortostatismo com a esteira em inclinação de 0,5 e 10%. Uma posteriorização do tronco em relação à linha de gravidade, durante a caminhada, foi observada, sem nenhuma diferença durante o ortostatismo. A angulação dos membros inferiores formados pelo joelho, tornozelo e calcâneo, durante a marcha em plano inclinado, através de vídeo 2D, não sofreram alteração significativa durante a inclinação [11]. A angulação entre o pé e a perna não se modifica com o aumento da inclinação. Utilizando também uma plataforma de força com caminhada a 3,0 m/s em cinco inclinações. Iversen [12] mostrou que o pico de força do pé na inclinação é de 0,12 radianos. Um estudo analítico comparou as oscilações angulares entre o tronco (T12) e a pelve (S1), de 22 voluntários, durante a caminhada na esteira com inclinação de 0 a 10%, concluindo que a deambulação em inclinação exerce maior influência na região torácica, não influenciando a região pélvica [13]. Fisioterapia_v8n3.indb 189 Objetivo Analisar a angulação da curvatura lombar em indivíduos submetidos à caminhada em esteira inclinada e estabelecer se a caminhada na esteira inclinada oferece sobrecarga à coluna e a partir de qual angulação ela acontece. Material e métodos Esta pesquisa, de caráter quantitativo, foi realizada na Clínica Escola do Centro Universitário São Camilo e obteve a aprovação do comitê de ética da Universidade de Mogi das Cruzes. A amostra foi composta de dez sujeitos, atletas profissionais de futebol, média de idade = 23,7 ± 5,0 anos; estatura = 1,74 ± 0,1 m; peso = 74,2 ± 8,3 kg. Todos os voluntários foram submetidos à avaliação postural prévia e aferição da pressão arterial. Critérios de inclusão: ser voluntário e ter ciência do estudo; faixa etária de 20 a 30 anos; atestado médico sem restrições; sem alterações posturais relevantes para o estudo; sujeitos do sexo masculino; atleta de futebol profissional. Critérios de exclusão: sujeitos com afecções ortopédicas no prazo de 15 dias prévio ao teste; sujeitos que não possuíam calçado adequado; sujeitos com alterações na marcha normal; sujeitos que não contemplavam os critérios de inclusão. Equipamentos utilizados: 01 esteira com inclinação Moviment RT 300 Pro; 01 câmera fotográfica Sony Cybershot DSC 521 2.0 Mega pixels; computador Pentium 4 /512 Mb 2.0 G (memória); software Image Tool; atestado médico; ficha de autorização dos participantes; 01 esfigmomanômetro Glicomed Premium; 01 estetoscópio Littman Classic II; 03 bolas de isopor (marcas); 03 eletrodos auto-adesivo (CARCI); tripé. Método de avaliação: a colocação das marcas (esferas) de isopor presas ao eletrodo auto-adesivo foi realizada com o sujeito desnudo na parte do tronco, e orientada por palpação 4/7/2007 18:09:39 190 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 em L1, L3 e L5 e fixada pelo eletrodo auto-adesivo. A região de L3 foi utilizada como parâmetro entre L1 e L3, já que a cada inclinação as esferas se movimentam (Figura 1). Tabela I - Valores individuais e médios de curvatura lombar, sob cada uma das angulações. Figura 1 - Colocação das marcas. Previamente ao teste, os sujeitos foram submetidos à caminhada para identificarmos qual seria a velocidade confortável para a caminhada. Portanto, o teste foi iniciado com marcha sem aquecimento e alongamento muscular prévio, a uma velocidade de 5,0 km/h na esteira sem inclinação (0,0%), por 3 minutos, para adaptação do sujeito. A foto foi realizada precisamente no terceiro minuto de cada inclinação. A inclinação foi aumentada de 2 em 2% até 14%, que é a inclinação máxima da esteira rolante deste estudo. A marcha foi analisada através de câmera fotográfica digital no plano lateral com a distancia de 1 metro do sujeito e altura de 1,20 m do solo apoiada sobre um tripé. A imagem foi analisada através do software Image Tool. Utilizamos como parâmetro a angulação lombar da caminhada sem inclinação. As variáveis deste estudo foram: curvatura lombar (expressa em graus); inclinação (0 a 14%). Análise estatística: análise de agrupamentos [16]. Indivíduo 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Média DP 0,0 % 48,2 52,8 46,5 47,2 51,8 45,5 42,3 41,3 43,1 51,3 47,0 4,1 02 % 55,2 55,4 47,5 57,2 54,4 47,1 39,6 39,4 40,3 49,4 48,5 6,9 04 % 49,8 48,5 48,8 49,6 48,0 47,8 44,7 43,7 45,6 53,2 48,0 2,8 06 % 55,4 49,1 52,2 56,4 48,1 52,0 42,2 42,0 43,1 52,5 49,3 5,3 08 % 52,8 52,5 49,7 53,8 52,0 48,7 39,5 39,0 40,0 49,8 47,8 5,9 Indivíduo 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Média DP 10 % 51,6 50,7 47,6 51,7 49,7 47,4 42,9 41,9 43,2 51,5 47,8 3,9 12% 56,6 49,5 49,9 56,8 49,3 48,9 46,5 46,2 47,1 56,2 50,7 4,2 14 % 52,9 48,1 52,0 53,9 48,1 51,0 44,5 43,4 44,0 53,7 49,1 4,1 Média 52,8 50,8 49,3 53,3 50,2 48,5 42,8 42,1 43,3 52,2 48,5 DP 2,9 2,5 2,1 3,6 2,3 2,1 2,4 2,4 2,4 2,2 Figura 2 - Intervalos de confiança para a média da curvatura lombar, avaliada sob cada angulação. Resultados e discussão Os dados obtidos em nosso estudo mostram uma oscilação da região lombar referente às inclinações (Tabela I). Foi utilizado como parâmetro para o tratamento estatístico angulação da curvatura sem inclinação. Todos os sujeitos estudados possuem uma característica muito parecida que oscilou quando se variou a angulação, não sendo linear com o aumento da angulação. Não existiu diferença significativa entre as angulações que pudessem caracterizar algum tipo de risco em qualquer uma das angulações estudadas para todos os sujeitos que fizeram parte deste estudo. Esses resultados foram obtidos com baixa velocidade (caminhada), podendo ou não existir variação quando se aumenta a velocidade ou o tempo da atividade. Fisioterapia_v8n3.indb 190 Observa-se na Figura 2 que existe uma oscilação conforme a inclinação da esteira que não foi linear. Uma análise de agrupamentos [16] deu embasamento para que os indivíduos fossem classificados em três categorias: Grupo 1 (indivíduos 7, 8 e 9), Grupo 2 (indivíduos 2, 3, 5 e 6) e Grupo 3 (indivíduos 1, 4 e 10) como verifica-se no dendrograma da Figura 3. Na Figura 4 podemos observar a variação de cada grupo em sua angulação. 4/7/2007 18:09:40 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 Figura 3 - Dendrograma obtido do agrupamento dos indivíduos, segundo perfil de curvatura lombar. Figura 4 - Perfis individuais de curvatura lombar, sob cada angulação, segundo os grupos formados. Os resultados encontrados neste estudo não podem ser confrontados com os da literatura, pois até o momento não existe nenhum estudo que enfatizou a curvatura lombar em corrida no plano inclinado. Os estudos encontrados analisam os membros inferiores ou a curvatura lombar sem estar no plano inclinado. Conclusão 191 Referências 1. Foss ML, Keteyian SJF. Bases fisiológicas do exercício e do esporte. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2000. p.356-8. 2. Harris MB. Feeling fat motivations, knowledge and attitudes of overweight women and men. Psych Reports 1990;67(3 Pt 2):1191-202. 3. Lyle J, Gillian A. Lesões da coluna lombar no atleta jovem. 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O tamanho pequeno da amostra não permite que sejam tiradas conclusões acerca da associação entre a angulação da esteira e a curvatura lombar. No entanto, a analise de grupos de indivíduos apresentaram diferentes características e precisam ser estudadas no intuito de compreender mais detalhadamente o fenômeno estudado. Fisioterapia_v8n3.indb 191 4/7/2007 18:09:40 192 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 Artigo original Ativação eletromiográfica em exercícios sobre a prancha de equilíbrio Electromyographic activation in exercises on balance board Pâmella Lago da Cunha, Ft.*, Thatia Regina Bonfim, M.Sc.** *Fisioterapeuta, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, campus Poços de Caldas, Pós-graduanda pela faculdade Gama Filho, **Fisioterapeuta graduada pela Universidade Estadual de Londrina, docente do curso de Fisioterapia da PUC Minas, campus Poços de Caldas Resumo Abstract O objetivo deste estudo foi investigar a ativação eletromiográfica dos músculos tibial anterior e fibular longo, dois importantes estabilizadores do tornozelo, durante a movimentação da prancha de equilíbrio e durante a manutenção da postura estática sobre a prancha, em apoio monopodal e em apoio bipodal. Participaram deste estudo oito indivíduos do sexo feminino, as quais foram submetidas a uma avaliação eletromiográfica, na qual foi investigada a atividade dos músculos tibial anterior e fibular longo, durante a tarefa de movimentação ântero-posterior e médio-lateral da prancha e durante a tarefa de manutenção da postura ereta sobre a prancha de equilíbrio. O registro, processamento e análise dos dados eletromiográficos foram realizados por meio de eletromiográfo e software da EMGSystem do Brasil. Os resultados obtidos demonstraram que o músculo tibial anterior apresenta maior ativação nos exercícios com prancha de equilíbrio em apoio bipodal, nas direções ântero-posterior e médio-lateral e em apoio monopodal na direção ântero-posterior. Enquanto que, o músculo fibular longo mostrou maior ativação apenas nos exercícios em apoio monopodal na direção médio-lateral. Assim, numa reabilitação de tornozelo em que a entorse tenha sido em inversão, o treinamento sensoriomotor deve enfatizar exercícios na prancha em apoio monopodal na direção médio-lateral. The objective of this study was to investigate the electromyographic activation of anterior tibial and peroneus longus muscles, two important stabilizers of the ankle, during the movement of the balance board and during the maintenance of the static posture on the board, in single-leg stance and double-leg stance. Eight individuals female participated and were submitted an electromyographic evaluation where it was investigated the activity of the muscles anterior tibial and peroneus longus, during the task of antero-posterior and medium-lateral movement of the board and, also, during the task of maintenance of the erect posture on the balance board. The registration, processing and analysis of the electromyographic data were realized through equipment and software of the EMGSystem of Brazil. The results obtained demonstrated that the anterior tibial muscle presents larger activation in the exercises with balance board in double-leg stance, in the antero-posterior and medium-lateral directions and in single-leg stance in the antero-posterior direction. For other hand, the peroneus longus muscle showed larger activation only in single-leg stance in the medium-lateral direction. In this way, in ankle rehabilitation whose sprain has been in inversion, the sensorimotor training should be emphasized exercises in the board in single-leg stance in the medium-lateral direction. Palavras-chave: entorse de tornozelo, propriocepção, treinamento sensoriomotor, prancha de equilíbrio, eletromiografia Introdução A entorse de tornozelo é uma das lesões mais freqüentes da extremidade inferior na área traumatológica [1]. Esta lesão pode variar de uma simples sobrecarga excessiva, em que os Key-words: ankle sprain, proprioception, sensorimotor training, balance board, electromyography ligamentos são estirados, à laceração das fibras ligamentares, com ou sem avulsão dos ossos aos quais elas se inserem. A maioria das lesões de tornozelo ocorre na parte lateral da articulação, provocadas por uma sobrecarga em inversão e flexão plantar. Segundo Hoppenfeld [2], o esforço excessivo Recebido em 5 de fevereiro de 2007; aceito em 16 de abril de 2007. Endereço para correspondência: Pâmella Lago da Cunha, rua Atalaia, 55 Jardim dos Estados 37701-088 Poço de Caldas MG, E-mail: pamellalago@ yahoo.com.br Fisioterapia_v8n3.indb 192 4/7/2007 18:09:41 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 193 em inversão é o principal causador das lesões do tornozelo por duas razões: o maléolo medial é mais curto que o lateral, assim sendo, o tálus pode ser mais forçado a inverter do que a evertir; e os ligamentos da face lateral da articulação são separados, além de, não serem tão resistentes quanto o ligamento deltóide da face medial. Os sinais e os sintomas das lesões ligamentares do tornozelo variam de acordo com a gravidade da lesão, os tecidos acometidos e a extensão de seu acometimento. Em geral, são evidentes graus variáveis de dor, tumefação, hipersensibilidade localizada, incapacidade funcional e instabilidade mecânica. Após uma avaliação específica é possível a escolha do tratamento adequado para a entorse de tornozelo, sendo que o mesmo pode ser cirúrgico ou conservador. A cirurgia raramente é necessária, mas pode ser indicada se houver história clínica de entorses recorrentes e de rupturas ligamentares completas e graves [3]. Enquanto que, a entorse pode ser tratada conservadoramente com a utlização de gesso, de órteses funcionais, de medicamentos antiinflamatórios e de fisioterapia. O tratamento fisioterapêutico pode ser iniciado imediatamente após a lesão, consistindo primeiramente de aplicação de gelo, compressão, elevação e repouso da articulação, mais conhecido como protocolo Price [4] seguido de outros recursos fisioterapêuticos. O objetivo final do protocolo fisioterapêutico é fazer com o que o indivíduo recupere completamente a função da articulação do tornozelo e volte a realizar suas atividades de vida diária (AVD), naturalmente. A fim de atingir esse objetivo, o processo de reabilitação deve ser enfocado na melhora das condições funcionais do paciente [5]. No passado, o tratamento fisioterapêutico ortopédico do paciente enfatizava somente princípios da mecânica articular, tal como: aumento da amplitude de movimento, ganho da força muscular e a resistência, sem qualquer consideração sobre o papel do mecanismo neuromuscular. A limitação destes programas de reabilitação tradicionais freqüentemente resultava numa restauração incompleta da capacidade e, com bastante probabilidade, num aumento do risco de novas lesões. Na última década, porém, um outro aspecto importante no protocolo cinesioterapêutico, ganhou destaque especial: o trabalho proprioceptivo [6]. A reeducação proprioceptiva, também nomeada reeducação sensório-motora ou reprogramação neuromuscular proprioceptiva é uma atividade cinesioterapêutica que visa desenvolver e/ou melhorar a proteção articular através do condicionamento e treinamento reflexivo, promovendo assim, uma eficiente restauração funcional [4]. Deste modo, um programa fisioterapêutico abrangente de não deve desprezar o componente de controle neuromuscular necessário para a estabilidade articular. O reparo dos elementos estáticos ou dinâmicos de contenção e o fortalecimento dos músculos, de maneira isolada, não preparam adequadamente uma articulação para as modificações bruscas de posição a que é exposta no dia-a-dia. Portanto, uma das fases mais importantes do treinamento cinesioterapêutico é, sem dúvida, a reeducação sensório-motora [3]. A informação sensorial fornecida pelos receptores presentes nas estruturas articulares do tornozelo pode sofrer alterações decorrentes de uma lesão, como a entorse de tornozelo, pois o trauma pode causar lesões ligamentares e capsulares, rompendo fibras nervosas menos resistentes e, consequentemente, prejudicando a ação dos mecanorreceptores [7]. Com isto, ocorre uma diminuição da capacidade proprioceptiva da articulação, levando a um prejuízo do equilíbrio postural e da atividade da musculatura envolvida, podendo, desta maneira, não haver uma correção adequada de movimentos excessivos da articulação do tornozelo [8] e de posturas corporais. Uma categoria principal da reeducação sensório-motora é o treinamento de equilíbrio com pranchas. Esses exercícios ajudam a readaptar o sistema proprioceptivo, maximizando a proteção articular e promovendo uma eficiente restauração funcional. As atividades com pranchas de equilíbrio podem incluir apoio monopodálico, apoio bipodálico, desequilíbrios provocados pelo terapeuta ou pelo próprio exercício, variando a intensidade, a tarefa a ser executada e o nível de informação disponibilizada (por exemplo, variação de olhos abertos para olhos fechados) [7]. No entanto, apesar deste tipo treinamento sensório-motor com pranchas de equilíbrio ser amplamente utilizado e citado como importante nos protocolos cinesioterapêuticos da entorse de tornozelo, há poucos estudos que evidenciam seus reais efeitos. Especificamente, em relação a musculatura predominantemente ativada durante este tipo de treinamento, o que facilitaria a programação de exercícios específicos com a prancha. Deste modo, o objetivo do presente estudo foi investigar a ativação eletromiográfica dos músculos tibial anterior (TA) e fibular longo (FL), dois importantes estabilizadores do tornozelo, durante a movimentação da prancha de equilíbrio (desvio ântero-posterior e médio-lateral) e durante a manutenção da postura estática sobre a prancha, em apoio monopodal e em apoio bipodal. Fisioterapia_v8n3.indb 193 Material e métodos Participantes Participaram desde estudo 8 indivíduos do gênero feminino, estudantes universitárias da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Campus Poços de Caldas, com média de 22 anos de idade, 56,5 kg de massa e 1,63 metros de altura. Estes indivíduos foram submetidos a uma avaliação inicial, composta coleta de dados pessoais, anamnese, mensuração de massa e altura. Para a seleção dos participantes, os critérios de inclusão adotados foram: ser do gênero feminino, estar na faixa etária entre 18 e 25 anos, possuir Índice de Massa Corpórea entre 18 e 24 kg/m2 e não ter história de 4/7/2007 18:09:41 194 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 entorse de tornozelo. Foram excluídos do estudo indivíduos que apresentassem qualquer cirurgia, trauma ou lesão do sistema osteomioarticular do membro inferior, qualquer dor aguda ou crônica em membros inferiores, assim como, qualquer doença reumatológica, neurológica ou distúrbio do sistema vestibular. a excursão completa do movimento, ou seja, movimentação no desvio ântero-posterior (excursão máxima voluntária na direção anterior seguida de excursão máxima voluntária na direção posterior) e movimentação no desvio médio-lateral (excursão máxima voluntária na direção medial seguida de excursão máxima voluntária na direção lateral) . No caso da tarefa de manutenção da postura ereta sobre a prancha, o registro eletromiográfico foi realizado durante um período de 30 segundos. As tentativas foram realizadas de maneira aleatória, sendo três tentativas para cada condição experimental, totalizando 24 tentativas. Ainda, foi estabelecido um intervalo de 1 minuto de repouso entre cada uma das tentativas, para evitar a fadiga das participantes. Procedimentos Inicialmente, as participantes foram esclarecidas sobre os objetivos e procedimentos do estudo e assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da PUC Minas (CAAE 0109.0.213.00005). Em seguida, foram submetidas a uma avaliação eletromiográfica. Na avaliação eletromiográfica, foi investigada a atividade dos músculos tibial anterior e fibular longo, durante a tarefa de movimentação ântero-posterior e médio-lateral da prancha e, também, durante a tarefa de manutenção da postura ereta sobre a prancha de equilíbrio. Para isto, foi utilizado um eletromiógrafo de 4 canais (EMG System do Brasil), composto por um conversor A/D (análogico-digital) de doze bits, mantendo uma freqüência de amostragem de 1000 Hz e o filtro numa passagem de 20 Hz a 500 Hz. Foi também utilizada uma prancha de equilíbrio retangular, medindo 60 cm de comprimento, 40 cm de largura e 15 cm de altura, confeccionada em madeira e revestida com material antiderrapante. Primeiramente, previamente a colocação dos eletrodos de superfície, a pele foi devidamente limpa com álcool a 70% e, quando necessário foi realizada a tricotomia do local. Utilizando como parâmetro a descrição de Delagi [9], para o registro da atividade eletromiográfica do músculo tibial anterior, os eletrodos foram afixados a pele, numa distância aproximada de 7 centímetros abaixo da tuberosidade anterior da tíbia. Para o músculo fibular longo, os eletrodos foram afixados a pele, numa distância aproximada de 5 centímetros abaixo da cabeça da fíbula. O eletrodo de referência foi colocado no punho direito com um gel condutor em sua face metálica. Após a colocação dos eletrodos, a atividade eletromiográfica foi registrada em 4 condições especificas: 1) movimentação ativa da prancha em desvio ântero-posterior, em apoio bipodal e monopodal; 2) movimentação ativa da prancha em desvio médio-lateral, em apoio bipodal e monopodal, 3) manutenção da postura ereta sobre a prancha, com a mesma posicionada em desvio ântero-posterior, em apoio bipodal e monopodal; 4) manutenção da postura ereta sobre a prancha, com a mesma posicionada em desvio médio-lateral, em apoio bipodal e monopodal. Nas condições que exigiam movimentação ativa, foi solicitado a participante que realizasse o movimento proposto na excursão máxima possível, no entanto, sem que houvesse contato da prancha com o solo. Assim, os sinais eletromiográficos foram registrados durante Fisioterapia_v8n3.indb 194 Análise dos dados O processamento e análise dos dados eletromiográficos foram realizados por meio de um programa específico (AqDados 5.0). O método utilizado para análise quantitativa da amplitude do potencial elétrico, nas tarefas propostas neste estudo, foi o da raiz quadrada média (RMS – root mean square), expresso em microvolts (μV). Nas condições em que havia movimentação estabelecida sobre a prancha, a análise eletromiográfica foi realizada no intervalo de tempo compreendido para a realização da atividade proposta (movimentação completa ântero-posterior ou médio-lateral), sendo este tempo individualizado e diferente entre as tentativas e os indivíduos. No caso das condições em que havia a manutenção da postura, a análise eletromiográfica foi realizada no intervalo de 30 segundos. A normalização dos dados eletromiográficos foi obtida pelo Pico Máximo do Sinal Eletromiográfico. Este sinal é caracterizado pelo pico do sinal eletromiográfico encontrado no movimento ou ciclo estudado (método do pico dinâmico) [10]. A este pico atribuiu-se 100% e a partir disto, todo sinal eletromiográfico foi normalizado por este valor. Então, a partir deste valor de pico, a porcentagem da ativação elétrica realizada pelos músculos investigados foi calculada em cada condição proposta, para as três tentativas, e os mesmos são apresentados em unidades arbritárias (U.A.). Segundo Robertson [11] esta é a melhor forma para normalizar contrações dinâmicas. Análise estatística Foram realizadas duas análises de multivariância (MANOVAs) para investigar a ativação muscular em duas tarefas diferentes sobre a prancha de equilíbrio, uma para a tarefa de movimentação e outra para a tarefa de manutenção da postura ereta. Estas MANOVAs tiveram como fatores os 2 apoios (bipodal e monopodal) e as 2 direções (ântero-posterior e médio-lateral), sendo estes fatores tratados como medidas repetidas. Para estas MANOVAs as variáveis dependentes foram a porcentagem de ativação dos músculos tibial anterior 4/7/2007 18:09:41 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 195 e fibular longo. O nível de significância foi mantido em 0,05 e quando necessário testes univariados foram realizados. Todos os procedimentos estatísticos foram realizados utilizando o programa SPSS (SPSS para Windows - Versão 10.0 - SPSS, Inc) Figura 1 - Médias e desvios padrão dos registros eletromiográficos (RMS) normalizados dos músculos tibial anterior e fibular longo na atividade de movimentação, nos apoios bipodal e monopodal e nas direções antero-posterior (AP) e médio-lateral (ML). (* Indica diferença estatisticamente significativa, p < 0,05). Resultados De modo geral, os resultados obtidos demonstraram que o músculo tibial anterior apresenta uma maior ativação, nos exercícios de movimentação sobre a prancha de equilíbrio, em apoio monopodal do que em apoio bipodal, para as direções antero-posterior e médio-lateral. Os resultados também indicaram que há um aumento significante da ativação do músculo fibular longo na movimentação sobre a prancha de equilíbrio na direção médio-lateral, quando comparada à direção ântero-posterior. Na tarefa de manutenção da postura ereta sobre a prancha de equilíbrio não houve diferença de ativação entre os músculos tibial anterior e fibular longo, em ambos os apoios e em ambas as direções investigadas. A seguir são descritos os resultados nas duas tarefas analisadas. Atividade eletromiográfica dos músculos tibial anterior e fibular longo na movimentação da prancha de equilíbrio Os resultados indicaram que a atividade eletromiográfica do músculo tibial anterior foi estatisticamente maior no apoio monopodal do que no apoio bipodal, para as direções antero-posterior e médio-lateral. E que o músculo fibular longo apresenta uma ativação estatisticamente maior na direção médio-lateral do que na direção antero-posterior, nos apoios bipodal e monopodal. A figura 1 apresenta as médias e os desvios padrão dos registros eletromiográficos normalizados dos músculos tibial anterior e fibular longo, nos apoios bipodal e monopodal e nas direções ântero-posterior e médio-lateral. A MANOVA revelou efeito significante para apoio, Wilks’Lambda = 0,144, F(2,6) = 17,88, p < 0,05, e para a interação apoio e direção, Wilks’Lambda = 0,336, F(2,6) = 5,92, p < 0,05. No entanto, não indicou diferença significante para direção, Wilks’Lambda = 0,543, F(2,6) = 2,52, p > 0,05. Testes univariados para o efeito de apoio revelaram diferença significante para o músculo tibial anterior, F(1,7) = 27,56, p < 0,05, mas não indicaram diferença significante para o músculo fibular longo, F(1,7) = 0,304, p > 0,05. Para o efeito de direção revelaram diferença significante para o músculo fibular longo, F(1,7) = 5,89, p < 0,05, mas não indicaram diferença significante para o músculo tibial anterior, F(1,7) = 2,45, p > 0,05. Isto indica que, o músculo tibial anterior é mais ativado na movimentação sobre a prancha em apoio monopodal do que em apoio bipodal, em ambas as direções. Enquanto que, o músculo fibular longo é mais ativado na movimentação sobre a prancha na direção médio-lateral do que na direção antero-posterior, em ambos os apoios. Fisioterapia_v8n3.indb 195 Atividade eletromiográfica dos músculos tibial anterior e fibular longo na manutenção da postura ereta sobre a prancha de equilíbrio Os resultados indicaram que na tarefa de manutenção da postura ereta sobre a prancha de equilíbrio, a atividade eletromiográfica dos músculos tibial anterior e fibular longo foram similares em apoio bipodal e em apoio monopodal, nas direções antero-posterior e médio-lateral. A figura 2 apresenta as médias e os desvios padrão dos registros eletromiográficos normalizados dos músculos tibial anterior e fibular longo na atividade de manutenção da postura ereta, nos apoios bipodal e monopodal e nas direções ântero-posterior e médio-lateral. Figura 2 - Médias e desvios padrão dos registros eletromiográficos (RMS) normalizados dos músculos tibial anterior e fibular longo na atividade de manutenção da postura ereta, nos apoios bipodal e monopodal e nas direções ântero-posterior (AP) e médio-lateral (ML). 4/7/2007 18:09:42 196 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 A MANOVA não revelou efeito significante para apoio, Wilks’Lambda = 0,892, F(2,6) = 0,362, p > 0,05, para direção, Wilks’Lambda = 0,838, F(2,6) = 0,582, p > 0,05 e para a interação apoio e direção, Wilks’Lambda = 0,936, F(2,6) = 0,206, p > 0,05. múltiplos durante 6 semanas. Os autores não encontraram diferença significante no tempo de reação muscular após o treinamento para os músculos tibial anterior, fibular longo e fibular curto. Segundo os autores, os resultados não foram significantes, pois o treinamento proposto não foi específico para os músculos testados, uma vez que, foram utilizados diferentes tipos equipamentos, como pranchas de equilíbrio, step e cama elástica. Assim como na análise da atividade eletromiográfica, não foram encontrados estudos que avaliassem o equilíbrio com as mesmas variáveis. Porém, existem estudos similares que utilizaram plataformas de força para verificar os efeitos do treinamento sensório-motor com pranchas de equilíbrio no controle postural. Tropp & Odenrick [13] realizaram estudo com 10 jogadores de futebol que apresentavam instabilidade funcional do tornozelo. Estes foram submetidos a um programa de treinamento com pranchas de equilíbrio durante 8 semanas, 5 vezes por semana, 10 minutos por dia. Ao final do treinamento foi constatado uma melhora no controle postural, o que confirmou a eficácia do treinamento. Em concordância, Eils & Rosenbaum [12] também observaram melhora significante no controle postural em pacientes com instabilidade crônica do tornozelo após um treinamento sensório-motor com pranchas de equilíbrio durante 6 semanas. Visto a importância desse tipo de treinamento sensoriomotor e a escassez de estudos nessa área, essa pesquisa teve como objetivo avaliar o real efeito da ativação muscular dos dois músculos importantes estabilizadores do tornozelo, com a análise eletromiográfica, a fim de analisar qual músculo é o mais ativado nos diferentes exercícios realizados com a prancha de equilíbrio e em suas diferentes posições e apoios, para que através disso, pudesse ser realizada uma reabilitação ou até mesmo uma prevenção de uma entorse de tornozelo enfatizando a musculatura mais afetada. Por exemplo, em um entorse em inversão, o músculo que restringe o movimento evitando que esse entorse aconteça é o fibular longo e para fazer uma prevenção dessa entorse ou até mesmo um trabalho cinesioterapêutico é necessário saber em qual direção e/ou em qual apoio o músculo fibular longo é mais ativado, a fim de que o trabalho sensório-motor seja realizado de uma maneira mais específica e eficaz. Discussão O objetivo do presente estudo foi investigar a atividade eletromiográfica dos músculos tibial anterior e fibular longo, dois importantes estabilizadores do tornozelo, durante duas tarefas específicas: a movimentação sobre a prancha de equilíbrio (em desvio ântero-posterior e médio-lateral), em apoio monopodal e bipodal e; a manutenção da postura ereta sobre a prancha, ou seja, durante a manutenção do equilíbrio. A fisioterapia utiliza muito o treinamento sensório-motor com pranchas de equilíbrio, mas, apesar de ser muito citado na literatura e utilizado no tratamento fisioterapêutico da entorse de tornozelo, são poucos os estudos que comprovam seus efeitos, inclusive no que diz respeito a musculatura predominantemente ativada durante esse tipo de treinamento, o que facilitaria a programação de um protocolo de tratamento mais específico. Sendo assim, a fisioterapia teria requisitos para prescrever o melhor protocolo de tratamento para determinado tipo de entorse, em função da musculatura que é mais ativada. De modo geral, os resultados demonstraram que o músculo fibular longo apresenta uma maior ativação em exercícios sobre a prancha de equilíbrio em desvio médio-lateral, quando comparado com o músculo tibial anterior. Enquanto que, o músculo tibial anterior apresenta uma maior ativação em exercícios em apoio monopodal quando comparado ao apoio bipodal, nas direções ântero-posterior e médio-lateral. Não foram encontrados, na literatura, estudos com as mesmas características e variáveis analisadas neste estudo. No entanto, há estudos similares que utilizaram como variável dependente o tempo de reação muscular, isto porque, de maneira geral, o treinamento com a prancha provoca desequilíbrios o que poderia possibilitar uma diminuição do tempo de reação muscular. Por exemplo, Sheth et al. [8], realizaram um estudo com 10 pessoas saudáveis (sendo 5 homens e 5 mulheres), no qual estes participaram de um programa de treinamento sensório-motor com pranchas de equilíbrio por um período de 8 semanas, com duração de 15 minutos por dia. Ao final do treinamento, não foram encontradas diferenças significantes no tempo de reação muscular dos músculos tibial anterior, fibular longo, tibial posterior e flexor longo dos dedos. A justificativa dos autores para estes resultados foi o fato do decréscimo no tempo de reação muscular dos músculos testados ter sido pequeno, e assim, não possibilitaram que os testes estatísticos apontassem diferença significante. Em concordância, Eils & Rosenbaum [12] realizaram estudo com 20 pacientes com instabilidade crônica do tornozelo, onde foram realizados exercícios proprioceptivos Fisioterapia_v8n3.indb 196 Conclusão Concluindo, os resultados obtidos demonstraram que o músculo tibial anterior apresenta maior ativação nos exercícios com prancha de equilíbrio em apoio monopodal, nas direções ântero-posterior e médio-lateral. Enquanto que, o músculo fibular longo mostrou maior ativação nos exercícios de movimentação sobre a prancha na direção médio-lateral. Visto isso, em um protocolo fisioterapêutico do tornozelo cujo entorse tenha sido em inversão, o treinamento sensório-motor deve ser enfatizado com exercícios na prancha na direção médiolateral, a fim de fortalecer o fibular longo de uma maneira 4/7/2007 18:09:42 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 mais rápida e eficaz, para evitar um entorse posterior, sendo o fibular longo o principal músculo que restringe o movimento em inversão. Referências 1. Silvestre, Michelli V, Lima, Walter C. Importância do treinamento proprioceptivo na reabilitação de entorse de tornozelo. Fisioterapia em Movimento 2003;16(2):27-34. 2. Hoppenfeld S. Exame do pé e tornozelo. In: Stanley Hoppenfeld. Propedêutica ortopédica coluna e extremidades. 1a ed. São Paulo: Atheneu; 2001. p.208-45. 3. Peterson L, Renstrom P. Prevenção e tratamento. Lesões no esporte. 1a ed. Barueri: Manole, 2002. 4. Bandy, William D, Sanders B. Exercícios terapêuticos: técnicas para intervenção. 1a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2003. 5. Alonso AC, Vieira PR. Avaliação e reeducação proprioceptiva. In: Greve J. Tratado de reabilitação. São Paulo: Roca. No Prelo. 6. Voight M, Blackburn T. Treinamento e testes de propriocepção e equilíbrio após a lesão. In: Ellenbecker TS. Reabilitação dos ligamentos do joelho. São Paulo: Manole; 2002. Fisioterapia_v8n3.indb 197 197 7. Peccin MS, Pires L. Reeducação sensoriomotora. In: Cohen M, Abdalla RJ. Lesões nos esportes. Diagnóstico, prevenção e tratamento. 1a ed. Rio de Janeiro: Revinter; 1998. 8. Shelth P et al. Ankle disk training influences reaction times of selected muscles in a simulated ankle sprain. Am J Sports Med 1997;4(4):538-43. 9. Delagi EF, Perotto A, Iazzettie J, Morrison D. Anatomic guide for the eletromyographer: the limbs. Charles C. Thomas; 1991. 10. Burden A, Barlett R. Normalisation of EMG amplitude: an evaluation and comparison of old and newmethods. Med Eng Phys 1999;21:247-57. 11. Robertson DGE, Caldwell GE, Hamill J, Kamen G, Whittlesey SN. Research methods in biomechanics. United States: Human Kinetics; 2004. 12. Eils E, Rosenbaum D. A mult-station proprioceptive exercise program in patients with ankle instability. American J College of Sports Med 2001;1991-8. 13. Tropp H, Odenrick P, Gillquist J. Stabilometry recordings in functional and mechanical instability of the ankle joint. Int J Sports M 1985;6:180-2. 4/7/2007 18:09:42 198 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 Revisão Análise crítica dos exercícios de fortalecimento do assoalho pélvico na gravidez Critical analysis of pelvic floor strength exercise during pregnancy Cristine Homsi Jorge Ferreira, D.Sc.*, Geraldo Duarte, D.Sc.**, Ana Carolina Rodarti Pitanguy, Ft.*** *Profa. Titular do Curso de Fisioterapia da Universidade de Ribeirão Preto, Coordenadora do curso de especialização “Lato Senso” em Fisioterapia em Saúde da Mulher – Universidade de Ribeirão Preto, **Prof. Titular do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo, *** Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Saúde Pública da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo Resumo Abstract Na gravidez ocorre redução da performance de vários grupamentos musculares, incluindo aqueles do assoalho pélvico. Visto o importante papel da musculatura do assoalho pélvico sobre os mecanismos da continência urinária, justifica-se a preocupação com a busca de intervenções que possam realmente amenizar ou reverter os efeitos da gravidez sobre a sua função. O treinamento dos músculos do assoalho pélvico quando realizado na gravidez, poderia aumentar a força desse grupo muscular e prevenir a incontinência urinária tanto na gestação quanto no pós-parto. Além disto, espera-se que estas intervenções possam reduzir o período expulsivo do parto e a ocorrência de trauma perineal. O objetivo deste artigo foi analisar criticamente os resultados dos estudos que investigaram as repercussões de programas de treinamento dos músculos do assoalho pélvico na gravidez. Sabe-se que investigações sistematizadas sobre esse tema ainda são escassas e os resultados controversos, não permitindo afirmar que o treinamento da musculatura do assoalho pélvico pode proporcionar ganho de força muscular. Entretanto, existem fortes indícios de que as taxas de incontinência urinária poderiam ser reduzidas por meio desses programas. During pregnancy occurs a reduction of the performance of several muscular groups, including pelvic floor muscles. The pelvic floor musculature has an important role in the urinary continence mechanisms, and justifies interventions that can really prevent or revert the effects of the pregnancy on its function. Pelvic floor muscle training during pregnancy could increase muscle strength and prevent urinary incontinence during pregnancy and immediate postbirth period. Besides, it is hoped that those interventions can reduce labor period and the occurrence of perineal trauma. The aim of this article was to critically analyze the results of the studies that investigated the effects of pelvic floor musculature training programs during pregnancy. It is known that systematic investigations on that topic are still scarce and the results are controversial, and did not confirm that pelvic floor musculature can increase muscular strength. However, there are strong indications that rates of urinary incontinence could be reduced through those programs. Key-words: pelvic floor, pregnancy, physical exercise, training, urinary incontinence. Palavras-chave: assoalho pélvico, gravidez, exercício físico, treinamento, incontinência urinária. Introdução No decorrer da gravidez ocorrem notáveis modificações e adaptações músculo-esqueléticas no organismo materno. Apesar do ganho ponderal progressivo e da frouxidão ligamentar generalizada, este período da vida da mulher têm sido associado a uma diminuição da performance de vários grupos musculares, incluindo o assoalho pélvico (AP) [1-4]. Desde que os músculos do AP desempenham um importante papel na manutenção da continência urinária, é perfeitamente compreensível que, em algumas mulheres, isto resulte em alterações na função de continência. Segundo Morkved et al. [5], a incontinência urinária de esforço (IUE) é um sintoma comum na gravidez, com prevalência variando entre 20% a 60% . Recebido em 13 de dezembro de 2005; aceito em 12 de fevereiro de 2007. Endereço para correspondência: Cristine Homsi Jorge Ferreira, Rua Manoel Ache, 980/222, Jardim Santa Ângela , 14025-610 Ribeirão Preto SP, Tel: (16) 36203529, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v8n3.indb 198 4/7/2007 18:09:42 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 199 Várias técnicas têm sido usadas para avaliar a função dos músculos do assoalho pélvico, destacando-se a perineomanometria, palpação digital, cones vaginais, eletromiografia e, mais recentemente, a ultra-sonografia [6]. Alguns estudos já compararam e verificaram um maior volume e força muscular do AP em mulheres continentes do que em incontinentes, tanto em não gestantes quanto em gestantes [5,7]. Hipoteticamente, espera-se que os exercícios de fortalecimento do AP, quando realizados na gravidez, possam aumentar a força desse grupo muscular e prevenir a IUE tanto durante a gestação quanto após o parto, além de reduzir a duração do período expulsivo do parto e a ocorrência de trauma perineal. O objetivo deste artigo foi avaliar criticamente os resultados decorrentes das investigações nesse campo, analisando as repercussões de programas de treinamento dos músculos do AP durante a gravidez, de dados divulgados na literatura indexada até o momento. dados. O questionário perguntava sobre a ocorrência de IUE desencadeada por tosse leve, tosse forte, espirro e o gargalhar. Os resultados indicaram redução significativa dos sintomas de IU no grupo sob intervenção. Apesar de se ter observado que o grupo de intervenção tinha força muscular maior, com seis semanas e seis meses após o parto, essa diferença não foi estatisticamente significante. Os sintomas de IUE foram obtidos por meio de questionário específico. Em 2002, Reilly et al. [9] realizaram estudo prospectivo, randomizado e controlado envolvendo 268 grávidas com o objetivo de avaliar o efeito de exercícios supervisionados de fortalecimento do assoalho pélvico em primigestas, com aumento da mobilidade do colo vesical (maior que 5mm), iniciando estes testes com 20 semanas de gravidez, visando a prevenção de IUE no pós-parto. As imagens ecográficas eram feitas com um transdutor curvilíneo de 5MHZ, em repouso, e com o uso de manobra de Valsalva. Para uma amostra de 20 pacientes foram realizadas medidas repetidas para cada uma das pacientes pelo mesmo observador e por outro observador para se obter medidas de erro intraobservador e interobservador. Para esse estudo foram excluídas pacientes com qualquer manifestação de IU anterior à gestação ou desordens neurológicas. As gestantes foram randomicamente distribuídas em um grupo que realizava exercícios de fortalecimento do assoalho pélvico supervisionado por uma fisioterapeuta, durante toda a gravidez, ou em um grupo controle. Os observadores que realizaram as avaliações da força do assoalho pélvico, mobilidade do colo vesical e coletaram os relatos de sintomas não sabiam a qual grupo pertencia as mulheres avaliadas. As mulheres que faziam parte do grupo de exercícios supervisionados foram atendidas individualmente pela fisioterapeuta, mensalmente, a partir de vinte semanas de idade gestacional até o final da gravidez. O protocolo de exercícios incluía três séries de oito contrações sustentadas por seis segundos com um intervalo de dois minutos entre as séries. A avaliação da força da musculatura do AP foi realizada com um perineômetro. Três meses após o parto, as mulheres eram questionadas se desenvolveram IUE, a qual era classificada como leve, moderada e severa (ocorrência de uma vez por semana, duas ou mais vezes por semana ou diariamente). As mulheres que não apresentavam perda urinária nas últimas quatro semanas foram classificadas como continentes. Os resultados mostraram que o grupo que realizou exercício supervisionado de fortalecimento do assoalho pélvico apresentou menor taxa de IUE (19,2%), quando comparado ao grupo controle (32,7%). Não houve mudança relacionada à mobilidade do colo vesical, ou diferença entre os grupos quanto à força do assoalho pélvico. Entretanto, os autores verificaram que as mulheres que tiveram IUE no pós-parto, apresentavam menores escores de força muscular indicado pelo perineômetro do que aquelas que continuaram continentes. Em 2003, Morkved et al. [10] avaliaram se exercícios específicos para o assoalho pélvico realizado durante a gravidez prevenia IUE. Nesse estudo foram incluídas 301 Material e métodos Em 1998, Sampselle et al. [8] testaram os efeitos de exercícios para o AP sobre as manifestações clínicas de IUE no pós-parto e a força muscular durante a gravidez e o pós-parto. Fizeram parte da amostra 46 primigestas com 20 semanas de idade gestacional, maiores de 18 anos, sem história de doença geniturinária. Estas mulheres foram randomicamente distribuídas em dois grupos e acompanhadas durante um ano após o parto. Os dados foram coletados com vinte e trinta e cinco semanas de idade gestacional e com seis semanas, seis e doze meses após o parto. O grupo de intervenção recebeu orientações sobre exercícios do assoalho pélvico e o grupo controle a assistência pré-natal rotineira, sem orientação de exercícios. Os dados relacionados à força muscular e aos sintomas de IUE foram coletados por um pesquisador que não sabia a qual grupo as pacientes pertenciam. A prescrição dos exercícios foi baseada em uma avaliação da capacidade individual de cada mulher, ensinando-lhe a técnica correta de contração da musculatura do AP. O número de contrações recomendadas foi trinta por dia com intensidade máxima ou sub-máxima. A força da musculatura do assoalho pélvico foi obtida quantificando-se a força máxima de contração voluntária com o uso de um tipo especial de espéculo desenvolvido para este estudo (adaptação de um espéculo ginecológico comum e posicionado de maneira similar). Terminais para registro da força de contração da musculatura pélvica (expressa em Newtons) foram adaptados na porção superior e inferior do especulo. Após a colocação do espéculo, suas lâminas ficavam separadas cerca de 2cm, permitindo medir a contração muscular. Os testes com este instrumento mostraram reprodutibilidade de 13% de minuto a minuto e de 27% de semana a semana. O maior nível de contração gerado durante o máximo esforço isométrico foi definido como força de contração voluntária máxima. Duas contrações voluntárias máximas eram coletadas nas avaliações, sendo utilizada a melhor para análise dos Fisioterapia_v8n3.indb 199 4/7/2007 18:09:43 200 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 gestantes nulíparas que foram randomicamente distribuídas em um grupo de exercício (n = 148) ou grupo controle (n = 153). As gestantes dos dois grupos foram instruídas quanto à anatomia do assoalho pélvico e como contraí-lo antes da aleatorização. O grupo experimental realizou um programa intensivo de treinamento dos músculos do assoalho pélvico supervisionados por fisioterapeutas durante doze semanas, enquanto o grupo controle recebeu apenas as informações citadas, ma sem receber o treinamento intensivo do grupo experimental. Durante a coleta de dados, o pesquisador principal não esteve envolvido com o treinamento das mulheres e não sabia em qual grupo elas foram arroladas. Foram avaliados os sintomas auto-relatados de IU e a força muscular do assoalho pélvico mensurada. A avaliação da capacidade de contrair corretamente a musculatura foi feita através de palpação vaginal e pela visibilização do movimento do períneo durante a contração. O grupo de intervenção seguiu um programa de exercícios que incluía o AP e exercícios gerais. As sessões de exercício eram realizadas uma vez por semana, por sessenta minutos, durante doze semanas (entre 20 e 36 semanas), assistidas por um fisioterapeuta que a incentivava a realizar a máxima contração do AP e a manter a contração por 6-8 segundos. No final de cada contração, era solicitado que ela realizasse três a quatro contrações rápidas. O período de intervalo era de cerca de seis segundos. Além disso, as mulheres foram orientadas a realizarem 8 a 12 contrações do AP, duas vezes por dia, em casa. A aderência ao programa foi avaliada com base em diários das gestantes e os registros dos fisioterapeutas. Os resultados mostraram que houve diferença significante entre os grupos quanto ao relato de IUE. Com 36 semanas, 32% do grupo de exercício relatou IUE versus 48% do grupo controle. Com 3 meses após o parto, 20% do grupo de exercícios e 32% do grupo controle. O programa de exercício preveniu IUE em uma a cada seis mulheres, durante a gravidez, e em uma a cada oito após o parto. Em relação à força muscular do AP, os autores verificaram também uma diferença significativa com 36 semanas de IG e com 3 meses após o parto, tendo obtido maiores escores de pressão vaginal entre as mulheres do grupo que se exercitou. Na amostra estudada por Morkeved et al. [10], Salvensen & Morkeved [11] estudaram também os efeitos do treinamento da musculatura do AP sobre o parto. Para isso foi realizado um estudo retrospectivo com revisão dos prontuários das pacientes, coletando as seguintes informações: tipo de parto, uso de analgesia peridural ou ocitocina, ocorrência de episiotomia, laceração perineal e resultados neonatais. O revisor não esteve envolvido com o treinamento das mulheres do grupo de exercícios e não tinha conhecimento da alocação das mulheres nos grupos estudados bem como a equipe que prestou assistência ao parto. A duração do primeiro e do segundo estágios do trabalho de parto foi obtida através dos partogramas. O segundo estágio do trabalho de parto foi considerado como “a hora de puxos ativos”. Foi definido como segundo estágio do trabalho de parto prolongado como período de puxos espontâneos maior que 60 minutos. As mulheres do grupo de exercícios de treinamento do AP apresentaram menores taxas de segundo estágio de trabalho de parto prolongado. Utilizando o modelo de análise de sobrevida (Kaplan-Meier), verificou-se que no grupo de treinamento que essa taxa foi de 24% contra 38% para o grupo controle. A duração do segundo estágio do trabalho de parto não foi estatisticamente significante entre os grupos. Houve ligeiramente mais casos de nascimentos pré-termo e com mais baixo peso no grupo que se exercitou do que no grupo controle. A taxa de cesárea por segundo estágio do trabalho de parto prolongado e os índices de Apgar não diferiram entre os grupos. O grupo que se exercitou teve significativamente menor taxa de episiotomia (51% versus 64%). Alguns estudos sugerem que tanto o exercício aeróbico quanto atividades físicas recreativas e atividades extenuantes e repetitivas podem aumentar as taxas de parto pré-termo e de baixo peso fetal ao nascimento [12-14]. No estudo realizado por Clapp [15], o peso fetal foi substancialmente menor em mulheres que exercitaram acima de 50% da intensidade dos níveis pré-gestacionais. Outros estudos não confirmaram esses achados e, em um deles, a média de peso ao nascimento foi maior para o grupo de mulheres que se exercitaram na gestação [16-20]. Parece que o peso ao nascimento não é afetado pelo exercício em mulheres que têm um aporte energético adequado e que o parto pré-termo apresenta risco aumentado de ser desencadeado apenas em mulheres que já possuam este risco previamente [19,21]. Os dados disponíveis não permitem que se corra o risco de incluir mulheres com maior risco de parto pré-termo ou restrição de crescimento fetal em programas de exercício aeróbico. Em relação aos programas de treinamento que envolvam grupos musculares específicos como o assoalho pélvico, há necessidade de amplas investigações sobre a influência que os mesmos possam exercer sobre as taxas de parto pré-termo e peso o nascer. Fisioterapia_v8n3.indb 200 Conclusão Com esses resultados não é possível afirmar que o treinamento da musculatura do AP pode proporcionar ganho de força muscular, entretanto, existem fortes indícios de que as taxas de IUE podem ser reduzidas utilizando estes programas. As investigações sobre esse tema ainda são escassas e os resultados controversos. Há necessidade de mais pesquisas que venham elucidar não só a efetividade do treinamento dos músculos do AP na prevenção da IUE durante a gravidez, a redução do período expulsivo do trabalho de parto e a prevenção de laceração perineal, como também os mecanismos pelos quais ocorreriam esses possíveis benefícios. Nenhum dos estudos até agora divulgados se aprofundou nas respostas fisiológicas maternas e fetais acarretadas pelos exercícios de fortalecimento do AP na gestação, demandando urgente avaliação neste sentido. 4/7/2007 18:09:43 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 Referências 1. 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Br J Sports Med 2003;37(1):612. 4/7/2007 18:09:43 202 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 Revisão Os instrumentos de avaliação do estado funcional do ombro Evaluation instruments of functional status of shoulder Rodrigo da Silva Assis Coelho Instituto de Educação Continuada da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Resumo Abstract A avaliação do estado funcional do ombro se tornou imprescindível, na tentativa de se compreender e documentar o impacto da dor e dos sintomas das diversas patologias do ombro sobre a funcionalidade. Este estudo tem por objetivo fazer uma revisão sistematizada do conteúdo e da qualidade psicométrica dos instrumentos de avaliação do estado funcional do ombro. Foi realizada uma revisão sistemática sobre o assunto em 5 bases de dados eletrônicas. Foram analisados 19 instrumentos e o respectivo conteúdo. A qualidade psicométrica dos instrumentos foi avaliada através de uma lista de checagem aplicada sobre os instrumentos originais. Os instrumentos Disability of the Arm, Shoulder, and Hand scale (DASH), Simple Shoulder Test (SST) e Shoulder Pain and Disability Index (SPADI) são os mais estudados, utilizados e que apresentam as melhores propriedades psicométricas. Nenhum destes instrumentos foi adaptado para ser utilizado no Brasil. The evaluation of the functional state of the shoulder is essential, to understand and register the impact of the pain and the symptoms of various pathologies on shoulder function. The aim of this study to do a systematic review of content and psychometric quality of the instruments of evaluation of the functional activity of the shoulder. A systematic revision using 5 electronic databases was carried out. 19 instruments and its content were analyzed. The psychometric quality of the instruments was evaluated through a checklist applied on the original instrument. The instruments Disability of the Arm, Shoulder, and Hand scale (DASH), Simple Shoulder Test (SST) and Shoulder Pain and Disability Index (SPADI) are more studied, used and present the best psychometric properties. None of these instruments was adapted to be used in Brazil. Key-words: shoulder, evaluation, functional, disability. Palavras-chave: ombro, avaliação, funcional, desabilidade. Introdução Com o objetivo de se compreender e documentar o impacto da dor e dos sintomas decorrentes do acometimento do ombro na funcionalidade dos pacientes, a avaliação do estado funcional se tornou uma tarefa crucial [1]. Os instrumentos de avaliação do estado funcional podem ser genéricos (mensuram a saúde geral) ou específicos (relacionados à patologia ou a determinada estrutura corporal); discriminativos (determinam se a condição está melhor ou pior) ou evolutivos (aferem quanto o resultado alterou) [2]. Tais recursos têm possibilitado pesquisas em diversas áreas de interesse de fisioterapeutas e de outros profissionais que tenham como foco de interesse a funcionalidade humana. Nas esferas científica e clínica, o uso de medidas subjetivas para se avaliar o nível funcional durante a execução de AVP´s assegura que os processos de avaliação e de tratamento sejam direcionados para as necessidades do paciente, e não simplesmente para a resolução da doença [3]. A funcionalidade do ombro tem sido convencionalmente avaliada através de medidas objetivas, como a amplitude de Recebido em 1 de abril de 2006; aceito em 12 de março de 2007. Endereço para correspondência: Rua Curimatã, nº. 481, Bairro São Gabriel, 31980-670 Belo Horizonte MG, Tel: (31) 3493-2194, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v8n3.indb 202 4/7/2007 18:09:44 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 203 movimento (ADM) e a força muscular (FM). Embora as desordens do ombro sejam freqüentemente associadas com déficits de ADM e de FM, estas medidas não tem significado clínico direto para os pacientes, que se importam primordialmente com a ausência de dor e a capacidade de realizar as suas atividades de vida prática (AVP) [4]. Atualmente, a eficácia das modalidades terapêuticas está sendo freqüentemente avaliada através de resultados que são mais relevantes para os pacientes, ao invés de se utilizarem medidas objetivas [4]. O método habitual de se realizar uma avaliação estruturada do estado funcional consiste na utilização de questionários, quer auto-aplicados ou concebidos para entrevistas face a face, sistematizados por meio de uma série de escalas que mensuram os principais componentes da função. Estes escalas têm sido denominadas de “instrumentos de avaliação funcional” [5]. Uma mudança primordial no compreendimento e na interpretação da funcionalidade e da desabilidade ocorreu quando se passou a utilizar a Classificação Internacional de Funcionalidade, Desabilidade e Saúde (CIF), proposta pela Organização Mundial de Saúde (OMS) [6]. A CIF é baseada em um compreendimento bio-psico-social do processo saúdedoença e reflete a distinção entre três perspectivas da saúde: corporal, pessoal e social. Os conceitos funcionalidade e desabilidade servem para englobar aspectos positivos e negativos da saúde. Utilizando o modelo CIF, as manifestações de uma doença podem resultar em três níveis de disfunção – estrutura e função do corpo, atividade e participação. Nos últimos 20 anos, inúmeros instrumentos de avaliação do estado funcional do ombro foram desenvolvidos [7-31]. A escolha de determinado instrumento para ser utilizado deve levar em conta o grupo em estudo, o objetivo do instrumento utilizado e suas propriedades psicométricas. Ainda é escasso o número de estudos que comparam o conteúdo e a qualidade psicométrica dos instrumentos de avaliação do estado funcional do ombro. Como conseqüência, existe uma evidência escassa para a seleção adequada do instrumento de aferição do estado funcional. O objetivo deste trabalho é o de se fazer uma revisão sistematizada do conteúdo e da qualidade psicométrica dos instrumentos de avaliação do estado funcional do ombro publicados na literatura, a fim de se fornecer aos clínicos e aos pesquisadores as habilidades para escolherem adequadamente a ferramenta mais apropriada para atender os seus objetivos. self-assessment, outcome measure, outcome assessment. Na base LILACS, os equivalentes dos termos em português foram utilizados. Os nomes dos instrumentos identificados foram utilizados como termos para pesquisas nestas mesmas bases de dados, como palavras-chave ou palavras-título. Os instrumentos foram incluídos nesta revisão mediante os seguintes critérios: 1) fossem auto-aplicáveis; 2) específicos para a condição (problemas específicos do ombro ou uma combinação de patologias do ombro e dos membros superiores); 3) incluíssem itens de desabilidade ou funcionalidade; 4) necessariamente terem sido publicados ou utilizados em pesquisas publicadas em revistas indexadas até Dezembro de 2004; e 4) terem sido validados em outros estudos que não o de apresentação do instrumento. Foram analisados os estudos realizados nas línguas inglesa e portuguesa. Os estudos foram elegíveis para esta revisão caso o foco do estudo fosse o desenvolvimento e/ou a avaliação das propriedades psicométricas de um instrumento de avaliação do estado funcional do ombro. Apenas os estudos obtidos em sua forma completa foram analisados. Foram excluídos os estudos que apresentavam instrumentos para avaliação do estado funcional do ombro em que a queixa primária não era uma desordem do ombro. Após a seleção dos instrumentos, iniciou-se uma avaliação da qualidade metodológica e das propriedades psicométricas. Esta parte do estudo envolveu a avaliação sistemática dos estudos de validação, confiabilidade e adaptação transcultural dos instrumentos selecionados. Ao se analisar a qualidade metodológica dos instrumentos, foi observada a descrição, a população alvo, o domínio dos itens do instrumento e sua classificação (dor; sintomas; desabilidade; funções física, emocional e social), número de escalas, número de itens constituintes, opções de resposta, faixa de resultados mínimos e máximos, o tempo necessário para completar o instrumento, e o(s) grupo(s) utilizado(s) no(s) estudo(s) de validação do(s) instrumento(s) analisado (s). Os dados descritivos de cada instrumento foram extraídos dos mesmos. Para se avaliar e comparar as propriedades psicométricas dos instrumentos, foi utilizada uma lista de checagem a partir do estudo de publicação do mesmo. Essa lista de checagem foi parcialmente baseada nos critérios desenvolvidos por autores que tinham como objetivo a confecção de listas de checagem para a avaliação da qualidade metodológica de ensaios clínicos sobre o estado funcional [32,33,34]. Dois revisores independentes pontuaram a qualidade metodológica de cada estudo, de acordo com a lista de checagem. Caso um instrumento apresente mais de uma escala, apenas a subescala que contêm os itens referentes à desabilidade e função foi revisada. As possíveis discordâncias entre os revisores foram discutidas e resolvidas em um encontro consensual. Esta lista de checagem contém os seguintes itens: validade de conteúdo, consistência interna, validade de constructo, efeitos piso e ceifante, confiabilidade, concordância, responsividade, interpretabilidade, diferença clínica mínima importante (MCID), erro padrão médio (SEM) e análise fatorial. Metodologia Inicialmente, os instrumentos foram selecionados das bases de dados computadorizadas Medline (1966-Dezembro 2004), Lilacs (1990-Dezembro 2004), Cinahl (1988Dezembro 2004), Psychinfo (1990 - Dezembro 2004) e Sportsdiscus (1990 - Dezembro 2004). Nas bases Medline, Cinahl, Psychinfo e Sportdiscus as seguintes palavras-chave foram utilizadas: shoulder, function, questionnaire, instruments, scale, functional status, upper-extremity, disability, self-report, Fisioterapia_v8n3.indb 203 4/7/2007 18:09:44 204 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 Resultados Onze estudos forneceram informação insuficiente sobre os aspectos metodológicos do estudo. Foram encontrados efeitos piso e ceifante em 3 instrumentos: SDQ-UK, UEFL e SDQNL. O SDQ-UK apresentou efeito ceifante em uma amostra comunitária de pessoas com dor no ombro [12]. O UEFL apresentou efeito piso em mulheres idosas de uma comunidade [19], enquanto o SDQ-NL mostrou efeito ceifante para pacientes com queixa primária de acometimento do ombro [20]. Além disso, informações sobre itens não respondidos e perda de follow-up foram ausentes. De maneira geral, o DASH recebeu a maior pontuação para as suas propriedades psicométricas. O valor Cronbach-α variou de 0,71 a 0,99. Os instrumentos SIQ, RC-QOL, OSQ e a escala de desabilidade do SPADI apresentaram um Cronbach-α superior a 0,90. Informações sobre a confiabilidade teste-reteste foram encontradas em 16 instrumentos. O coeficiente de Pearson foi utilizado para calcular a confiabilidade teste-reteste do SIQ e do SRQ, enquanto o ICC foi utilizado nos outros questionários. Em todos os instrumentos, exceto para o SPADI, os coeficientes foram superiores a 0,70. A confiabilidade teste-reteste do SPADI foi investigada em 4 estudos e o ICC para a o domínio desabilidade variou de 0,87 a 0,84. Para se testar a confiabilidade teste-reteste, foram utilizados os métodos SEM, coeficiente de confiabilidade [43] e a porcentagem de concordância para medidas repetidas. Apenas 6 instrumentos (ASES, SPADI, SST, UESS, WORC e U-Penn) foram estudados através de análise fatorial. O SPADI foi concebido para medir os constructos dor e desabilidade, mas investigações têm demonstrado que este instrumento possui carga em apenas 1 fator [44]. O WORC foi desenvolvido para medir 5 constructos, mas a análise fatorial realizada em uma investigação de suas propriedades psicométricas encontrou a presença de apenas 3 fatores [45]. Já o SST foi desenvolvido para medir um único constructo, mas um estudo utilizando análise fatorial mostrou a presença de 2 fatores [44]. O SSRS apresentou correlação moderada com outros instrumentos de desabilidade (0,47-0,50). As correlações entre o SST, SSI, ASES, DASH e SPADI foram altas (> 0,75). A responsividade de 17 instrumentos foi avaliada. Apenas 13 estudos sobre a responsividade formularam alguma hipótese. A maioria dos estudos comparou os resultados antes e após o tratamento, apresentando apenas à média da mudança nos resultados. Não foram encontrados dados sobre a responsividade dos instrumentos UEFL e WOOS. O número de pacientes utilizados para se medir a responsividade foi pequeno (< 43) em 10 dos 23 estudos. A interpretabilidade dos resultados foi estudada em 11 trabalhos, e em 6 instrumentos (ASES, DASH, SRQ, SPADI, SDQ-NL e U-Penn) o MCID foi utilizado. Foram encontradas informações sobre os resultados de diferentes grupos de desabilidade do ombro ao se utilizar o SST [46]. Os valores de média e de desvio padrão dos resultados, Inicialmente foram selecionados 26 instrumentos nas bases de dados. Utilizando os critérios de inclusão descritos na seção Metodologia, chegou-se ao número de 19 instrumentos de avaliação do estado funcional do ombro apresentados na Tabela I. Todos os instrumentos foram originalmente publicados no idioma Inglês. The shoulder: a balance of mobility and stability. Rosemont, Illinois: The American Academy of Orthopaedic Surgeons. Foram encontrados 586 estudos relacionados, sendo que 118 são de confiabilidade e/ou validade. Os instrumentos DASH, SPADI e SST foram os mais utilizados, correspondendo a aproximadamente 47% dos artigos captados (n = 275). O DASH é o questionário mais estudado em pesquisas que tinham como objetivo a verificação da confiabilidade e/ou da validade. Os instrumentos DASH, UEFS e UEFL foram desenvolvidos como questionários para os Membros Superiores, mas podem ser utilizados para se avaliar qualquer articulação ou condição da extremidade superior, e todos estes instrumentos são utilizados em pacientes com desordens ombro. Dois instrumentos foram desenvolvidos para lesões do manguito rotador (RC-QOL, WORCT), 1 para osteoartrite (WOOS) e 2 foram projetados para pacientes que apresentam instabilidade do ombro (SIQ, WOSI). Os demais instrumentos foram desenvolvidos para desordens em geral do ombro. Além da sub-escala funcional, o questionário UCLA possui as sub-escalas FM, ADM ativa, dor e satisfação com o ombro. Somente a sub-escala funcional foi revisada. O ASES possui uma parte auto-aplicável e uma parte referente a desempenho. Apenas a parte auto-aplicável foi revisada. A descrição dos instrumentos é apresentada na Tabela II. Uma grande parte dos instrumentos (n = 10) utiliza a escala análoga visual (EAV) para realizar as medidas a que se propõe. Os instrumentos SRQ, WORC e WOSI utilizam as maiores quantidades de escalas para realizarem as suas medidas. O UCLA possui a menor quantidade de itens (n = 3), enquanto o RC-QOL possui a maior quantidade (n = 34). Sete instrumentos apresentam tempo de aplicação inferior a 5 minutos. Nenhum dos instrumentos selecionados foi adaptado para ser utilizado no Brasil. A maior parte dos instrumentos é desenvolvida por uma equipe que geralmente é composta de especialistas, pacientes e investigadores. A Tabela III apresenta a avaliação da qualidade metodológica dos instrumentos de avaliação do estado funcional do ombro, analisados a partir da utilização de uma lista de checagem que foi aplicada sobre o estudo de publicação do instrumento. Os itens desta lista foram pontuados em bom, dúbio, pobre e ausente. Apenas uma parte dos estudos informou de maneira clara e completa a metodologia utilizada e a população do estudo. Doze instrumentos não informaram adequadamente as características do grupo estudado. Em sete instrumentos, as informações sobre a análise dos dados não foram publicadas. Fisioterapia_v8n3.indb 204 4/7/2007 18:09:44 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 205 Tabela I - Descrição dos instrumentos. Instrumento Autor American Shoulder and Elbow Surgeons Standardized Shoulder Assessment Form (ASES) [7] Disabilities of the Arm, Shoulder, and Hand Scale (DASH) [8] Rotator Cuff Quality of Life Measure (RC-QOL) [9] Oxford Shoulder Questionnaire (OSQ) [10] Shoulder Disability Questionnaire (SDQ-NL) [11] Shoulder Disability Questionnaire (SDQ-UK) [12] Shoulder Instability Questionnaire (SIQ) [13] Shoulder Pain and Disability Index (SPADI) [14] Shoulder Rating Questionnaire (SRQ) [15] Shoulder Severity Index (SSI) [16] Subjective Shoulder Rating Scale (SSRS) [17] Simple Shoulder Test (SST) [18] Upper Extremity Functional Limitation Scale (UEFL) [19] Richards RR et al J Shoulder Elbow 1994 Surg Hudak PL et al Upper Extremity Function Scale (UEFS) [20] Western Ontario Osteoarthritis of the Shoulder index (WOOS) [21] Western Ontario Rotator Cuff Index (WORC) [22] Western Ontario Shoulder Instability Index (WOSI) [23] University of Pennsylvania Shoulder Scale (U-Penn) [24] University of California Shoulder Scale (UCLA) [25] Total Periódico Inglês Validade/ Confiabilidade 9 Utilização Internacional 25 Adaptação para o Brasil 0 Total de Estudos n N% 34 5.80 1996 Inglês 30 106 0 136 23.21 2000 Inglês 5 4 0 9 1996 Inglês 6 8 0 14 2.39 1996 Inglês 3 19 0 22 3.75 1994 Inglês 3 26 0 29 4.95 Inglês 3 17 0 20 3.42 Roach KE et al J Bone Joint Surg 1999 Br Arthritis Care Res 1991 Inglês 17 51 0 68 11.60 L’Insalata JC et al Patte D J Bone Joint Surg 1997 Am * 1987 Inglês 5 31 0 36 6.14 Inglês 2 30 0 32 5.47 Kohn D et al Arch Orthop Trauma Surg ** 1997 Inglês 3 13 0 16 2.73 1993 Inglês 12 59 0 71 12.13 2001 Inglês 1 4 0 5 1997 Inglês 4 15 0 19 3.25 2001 Inglês 3 4 0 7 1.19 Kirkley A et al. 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Instrumento População-alvo ASES DASH RC-QOL Domínios Problemas no ombro Escalas Itens Opções Faixa de de resresultados posta 2 16 EAV; 2; 4 0-100 Dor, sintomas e função física Desordens na extremi- Dor e funções 1 dade superior física, emocional e social Tempo para População administra- estudada * ção (min) 3-5 Centro médico [31,35] 30 5 0-100 <5 Centro médico [35], clínica de medicina do esporte [23] e clínica de extremidades superiores [36] Centro de medicina esportiva [8] 1 34 EAV 0-100 ? 1 1 12 16 5 3 12-60 0-100 ? 5-10 Clínica ortopédica [10,37] Centro de reabilitação [11], clínica geral [38] 1 22 2 0-22 ? 1 12 5 12-60 ? Comunidade e clínica geral [12] Clínica ortopédica [13] 2 13 EAV; 11 0-100 3-10 Dor e funções 6 física e social Dor e função física ? 21 EAV; 5 17-100 5-10 31 EAV; 3; 5 1-100 7 SPADI Patologias do mangui- Dor e funções to rotador física, emocional e social Cirurgia no ombro Dor e função física Desordens no ombro, Dor e funções físiacometimento do ca e emocional tecido mole Sintomas no ombro Funções física, emocional e social Instabilidade do Dor e funções físiombro ca e emocional Dor no ombro Dor e função física SRQ Desordens no ombro SSI Dor no ombro SSRS Problemas no ombro Sintomas dolorosos 1 e função física 5 3; 4; 5 0-100 <5 SST Ombro Função física 1 12 2 ? <3 UEFL Extremidade superior Função 1 3 5 ? ? UEFS Extremidade superior Função física (ocupacional) Osteoartrite do ombro Dor e funções física, emocional e social Acometimento do Dor e funções manguito rotador física, emocional e social Instabilidade do Dor e funções ombro física, emocional e social Extremidade superior Dor, função física e satisfação Desordens no ombro Dor, função física e atividades 1 8 11 8-80 <5 4 19 EAV 0-1900 10 5 21 EAV 0-2100 5-10 Clínica de medicina esportiva [22] 5 21 EAV 0-2100 ? Clínica de medicina esportiva [23] 2 20 EAV, 4 0-60 5-10 Clínica ortopédica [26] 2 3 EAV; 2 0-25 <5 Clínica da extremidade superior [25] OSQ SDQ-NL SDQ-UK SIQ WOOS WORC WOSI U-Penn UCLA Fisioterapia_v8n3.indb 206 Centro médico [35], ambulatório [14], clínica da extremidade superior [39], clínica de fisioterapia e prática privada [40] Hospital Universitário [41] Clínica da extremidade superior [42] Clínica ortopédica [17], clínica da extremidade superior [43] Clínica de ombro e cotovelo [18], centro médico [35], clínica da extremidade superior [43] Mulheres idosas da comunidade [19] Clínica da extremidade superior [20] Clínica de medicina esportiva [21] 4/7/2007 18:09:45 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 207 Tabela III - Sumário da avaliação da qualidade metodológica dos instrumentos de avaliação do estado funcional do ombro, analisados a partir do estudo de publicação do instrumento. Instrumen- Validade Consisto de con- tência interna teúdo ASES 0 DASH + ? RC-QOL + ? OSQ + 0 SDQ-NL 0 ? Validade de constructo Efeito piso e Confiabi- Concorceifante lidade dância Responsivi- Interpreta- MCID dade bilidade SEM Análise Fatorial + (c); 0 (d) + (c,d); 0 (c) + + + + (d); 0 (c) + (c) + + - (b) SDQ-UK SIQ SPADI + + - ? 0 0 SRQ SSI SSRS SST UEFL UEFS WOOS WORC WOSI U-Penn UCLA + ? + + + + + + 0 ? ? 0 ? + ? ? ? ? + 0 (c,d) + (c), 0 (d) ? + + (b); 0 (b) ? + + (c); 0 (b,d) 0 0 (d) 0 (d) 0 (c,d) ? 0 0 ? 0 ? ? 0 (c, d) + (c) ? ? ? 0 (d) + (c) 0 + ? + + (b) – (c) + + + (c); 0 (b,d) + (b, c) ? 0 0 (c, d) 0 + (c) 0 (c) + (c); 0(d) + 0 0 + + ? + 0 0 (d) 0 (d) 0 (d) ? ? 0 + + + + ? + + (c); 0 (d) 0 0 (d) 0 (d) 0 (c,d) ? ? ? + ? ? + ? + (c) + (d) + (c) - (a) + ? ? ? ? ? + + 0 + + ? ? ? ? + + + + ? + ? ? ? ? ? ? + + ? ? + ? ? ? ? ? + 0 ? + + ? + ? ? ? ? ? 0 ? ? ? ? ? ? ? ? + ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? + ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? + ? MCID = diferença clínica mínima importante; SEM = erro padrão médio. tanto na avaliação inicial e no follow-up, foram encontrados em 13 instrumentos. Não foram encontrados dados sobre a distribuição dos resultados para os questionários SDQ-UK, WOSI, WOOS, SSI e UEFL. Método ou resultado foi pontuado da seguinte forma: + bom; 0 dúbio; - pobre; ? sem dados Tipos de populações utilizadas nos estudos: (a) comunitário; (b) atendimento primário; (c) ambulatório; (d) paciente hospitalar. Dos instrumentos avaliados, o DASH e o SPADI são os que possuem os resultados de confiabilidade e validade mais consistentes. Estudos utilizando o DASH reportaram vários aspectos psicométricos, como confiabilidade teste-reteste, consistência interna, validade de constructo, de critério e preditiva. Foram encontrados 30 estudos de validade e confiabilidade, conforme indicado na Tabela I. Discussão A mensuração do estado funcional é de suma importância para a avaliação de pacientes com desordens do ombro. Existem diversos instrumentos de mensuração do estado funcional do ombro, com estruturas e objetivos diversos. Estes instrumentos podem ser utilizados para fins científicos ou clínicos. A escolha de determinado instrumento está condicionada ao objetivo, à população em estudo e ao ambiente de trabalho [47]. Fisioterapia_v8n3.indb 207 Neste trabalho, foram identificados 19 instrumentos de avaliação do estado funcional em pacientes portadores de disfunção do ombro que apresentaram propriedades psicométricas descritas. De maneira geral, o DASH é o instrumento que apresenta as melhores propriedades psicométricas. Para a avaliação da qualidade psicométrica dos instrumentos, foi utilizada uma lista de checagem para se verificar as propriedades psicométricas dos instrumentos. O uso de listas de checagem permite verificar a qualidade metodológica dos estudos e a identificação de estudos que possam ter seus resultados comprometidos em virtude de falhas metodológicas. Através dessa abordagem, o DASH foi o instrumento que recebeu a maior nota ao se aplicar a lista de checagem (8 pontos em 11 disponíveis). Pesquisas sobre confiabilidade e validade dos instrumentos de avaliação do estado funcional do ombro apontam que o DASH possui excelentes propriedades psicométricas [4,47-50]. Ao se comparar as Tabelas I, II e III, observa-se que os instrumentos com maior número de estudos de utilização são os que possuem os melhores níveis de confiabilidade e validade. É importante ressaltar que instrumentos de avaliação como questionários, escalas e testes de desempenho têm objetivos e finalidades bem definidas, e não devem substituir as tradicionais avaliações não padronizadas, como a anamnese e o exame físico. Estas permitem uma maior flexibilidade e a 4/7/2007 18:09:45 208 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 oportunidade de avaliar de maneira mais rápida e profunda as respostas não esperadas [49]. Entretanto, o uso de medidas e testes padronizados, como os instrumentos de avaliação do estado funcional, permite ao profissional de saúde estabelecer uma linha de base bem delineada sobre a qual as futuras decisões clínicas podem e devem ser tomadas. A identificação de uma alteração do nível funcional do ombro, advinda do uso de tais instrumentos em reavaliações periódicas, permite discernir melhor se deve haver ou não alteração da abordagem terapêutica, ou mesmo a alteração da terapêutica utilizada caso ocorra uma redução do nível funcional. A presença de efeitos piso e ceifante podem influenciar a responsividade de um instrumento. Caso se utilize um instrumento que apresente efeito piso ou ceifante, uma intervenção pode passar como não sendo efetiva. Os efeitos piso e ceifante são dependentes da população em estudo. Um dos resultados desta revisão é que são necessários mais estudos sobre a interpretação dos resultados dos instrumentos. A interpretabilidade dos resultados foi estuda apenas em 11 trabalhos, e em apenas 6 instrumentos (ASES, DASH, SRQ, SPADI, SDQ-NL e U-Penn) o MCID foi utilizado. Quando investigadores não fornecem uma indicação clara sobre como devem se interpretadas as mudanças em medidas de saúde, como o estado funcional do ombro, os achados desta pesquisa têm seu uso limitado [50]. Os instrumentos DASH, SRQ, SST, SPADI e UCLA são freqüentemente os mais utilizados. Além de suas propriedades psicométricas, a escolha de um instrumento depende do objetivo e de sua aplicabilidade. Os instrumentos com poucos itens e de administração mais rápida são mais práticos para a rotina clínica diária [50]. Para a confiabilidade teste-reteste, um valor de ICC > 0,70 é considerado adequado para a comparação entre grupos, e um ICC maior ou igual a 0,90 é considerado ideal para comparações individuais [5]. A partir desta análise, os instrumentos SPADI e SSRS não devem ser aplicados em comparações individuais. Esta revisão fornece a clínicos e a pesquisadores informações que facilitarão a escolha entre os diversos instrumentos de avaliação do estado funcional do ombro existentes. Não existe o “melhor” instrumento, e sim o mais adequado para cada situação. Para cada situação deve ser avaliada a patologia em questão, a população em estudo e a abordagem terapêutica empregada. Os instrumentos ASES, DASH, SPADI, e SST são os mais estudados e utilizados [3]. Estes instrumentos não possuem efeitos piso e ceifante, e sua responsividade tem sido estudada. Os resultados do presente estudo apontam para a raridade em se adaptar formalmente os instrumentos de avaliação do estado funcional do ombro para serem utilizados no Brasil. Isto leva a suspeitar que possam ter sido traduzidos sem formalidade ou, se o foram, os achados não estão publicados. Isto reforça a idéia da pouca importância dada à utilização de tais instrumentos no Brasil, mesmo quando novos instrumentos estão sendo desenvolvidos. Conclusão O instrumento DASH é o mais utilizado e estudado na literatura. No geral, é o que possui as melhores propriedades psicométricas. Foi o que recebeu a maior nota para as suas propriedades psicométricas e é o que possui a maior quantidade de estudos de confiabilidade e de validade com qualidade superior. Fisioterapia_v8n3.indb 208 Referências 1. Grotle M, Brox JI, Vollestad NK. Functional status and disability questionnaires: What do they assess? Spine 2004;30(1):130-40. 2. Guyatt GH, Jaeschke R, Feeny D. Measurements in clinical trials: choosing the right approach. In: Spilker B, organizador. Quality of life and pharmacoeconomics in clinical trials. 2nd ed. Philadelphia: Lippincott-Raven; 1996. p. 41-8. 3. Bot SDM, Terwee CB, van der Windt DAWM, Bouter LM, Dekker J, de Vet HCW. Clinimetric evaluation of shoulder disability questionnaires: a systematic review of the literature. Ann Rheum Dis 2004;63(4):335-41 4. Higginson IJ, Carr AJ. 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Med Care 2000;38(suppl): II175-9. 4/7/2007 18:09:46 210 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 Relato de caso Tratamento fisioterapêutico pós tenorrafia do tendão calcâneo Rehabilitation after Achilles tendon tenorrhaphy Deise Elisabete de Souza, M.Sc.*, Melissa Sayuri Hoshino, Ft.*, Anderson Ricardo Fréz, Ft.***, Gladson Ricardo Flor Bertolini, M.Sc.*** *Fisioterapia, Doutoranda em Biologia pela UERJ, **Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), ***Especialista em ciências morfofisiológicas pela UNIOESTE,**** Doutorando em Ortopedia, Traumatologia e Reabilitação pela FMRP-USP Resumo Abstract Este estudo está baseado na apresentação de dois casos cirurgicamente tratados de ruptura de tendão calcâneo, com posterior tratamento fisioterapêutico, visando auxiliar no processo cicatricial conduzindo ao reparo, reduzir fibrose no local, aumentar amplitude de movimento (ADM), fortalecer a musculatura envolvida, restabelecer a propriocepção e proporcionar o retorno dos pacientes às suas atividades exercidas antes da lesão. O objetivo deste trabalho foi avaliar os efeitos do tratamento fisioterapêutico pós tenorrafia do tendão calcâneo. Os pacientes foram submetidos ao tratamento cirúrgico (tenorrafia), subseqüente à lesão e após o período de imobilização realizaram tratamento fisioterapêutico com crioterapia, laser, ultra-som, massagem transversa e cinesioterapia na Clínica de Fisioterapia da UNIOESTE – PR, durante cinco meses, e foram analisados os dados da goniometria e da força muscular desses pacientes. Observou-se uma melhora na amplitude de movimento e na força muscular de ambos pacientes: foram capazes de correr, subir e descer escadas e rampas sem dor. Os resultados obtidos com pacientes após reparo cirúrgico de tendão calcâneo, sugerem que o tratamento fisioterapêutico seja capaz de promover o retorno dos pacientes às suas atividades exercidas antes da lesão. This study is based on two cases of surgical repair for Achilles tendon and physical therapy treatment later, aiming to aid in the healing process, to reduce fibrosis in the site, to increase the range of motion, to strength the enrolled muscle, to restore the propriception and patients returning to their activities before the lesion. The aim of this work was to evaluate the effects of physical therapy treatment after the Achilles tendon tenorrhaphy. The patients were submitted to surgical treatment (tenorrhaphy) after the lesion, and after immobilization they began physical therapy treatment with cryotherapy, laser, ultrasound, oblique massage and kinesitheraphy in UNIOESTE’s Physical Therapy Clinic – PR, during five months, and data of the goniometry and the muscular strength of these patients were analyzed. It was observed an improvement in the range of motion and in the muscular strength of the patients and they were able to run, to ascend and to descend stairs and ramp without pain. We concluded that the results with patients after surgical repair for Achilles tendon suggest that physical therapy treatment was able to promote patients returning to their activities before the lesion. Key-words: Achilles tendon, tenorrhaphy, rehabilitation, kinesitherapy. Palavras-chave: tendão calcâneo, tenorrafia, tratamento fisioterapêutico, cinesioterapia. Introdução O tendão calcâneo é o maior, mais forte e espesso tendão do corpo humano [1]. Possui grande capacidade de resistir à forças tensionais [2], porém, é um dos locais mais comuns de injúrias por “overuse” [3]; principalmente em praticantes de atletismo são computadas como fontes lesivas: corridas em superfícies duras, erros de treinamento, flexibilidade e força de tornozelo diminuídas [1]. De acordo com Möller et al. [4], o complexo do tendão calcâneo é propenso a sofrer lesão se houver uma contração excêntrica brusca e vigorosa dos músculos gastrocnêmiossolear. Esse mecanismo é demonstrado mais facilmente, durante as atividades de salto e de aterrissagem, nas quais Recebido em 9 de novembro de 2005; aceito em 10 de dezembro de 2006. Endereço para correspondência: Gladson Ricardo Flor Bertolini, Clínica de Fisioterapia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Rua Universitária, 2069 Bairro Universitário, Caixa Postal: 711, 85819-110 Cascavel PR, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v8n3.indb 210 4/7/2007 18:09:46 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 211 o joelho permanece estendido enquanto o tornozelo exibe uma dorsiflexão excêntrica. A ruptura geralmente ocorre sem que haja um trauma direto proveniente de um objeto ou de contato com jogador oponente. Dentre as causas, citam: tecidos tendinosos com lesão prévia, alterações degenerativas, sobrecarga persistente da articulação, tendinite do tendão calcâneo, lesões traumáticas, injeções excessivas de cortisona e o frio súbito. Na lesão, o indivíduo relata um estalido audível e a sensação de ter sido atingido por um pontapé na perna, em geral, constata-se fraqueza imediata da flexão plantar, dor, tumefação e um defeito palpável. As mudanças degenerativas são consideradas como fator de risco mais importante para ruptura total do tendão. Esta afirmativa está embasada em estudos histológicos, nos quais os resultados apresentam orientação anormal das fibras colágenas, mudanças na composição do colágeno, degeneração mucóide e mudanças hipóxicas [5]. O colágeno tipo III tem um aumento em sua quantidade no lugar da ruptura, quando comparado a grupos sem ruptura; este tipo de colágeno acumula-se no lugar da ruptura, provavelmente, por microtraumas e processos cicatrizantes subseqüentes, gerando fibras colágenas mais finas, com redução de força tensora e finalmente a ruptura total do tendão [6]. Existe incerteza sobre o tempo mínimo necessário para a cicatrização, recuperação das características anátomo-histológicas e ganho de resistência indispensável, para que o tendão calcâneo possa voltar a exercer sua função de altíssima solicitação de esforços. A grande preocupação é sobre o tempo em que pacientes poderão retornar às atividades exercidas anteriores à lesão sem maiores riscos [7]. O objetivo deste estudo foi avaliar os efeitos do tratamento fisioterapêutico em dois casos cirurgicamente tratados de ruptura de tendão calcâneo, visando a total recuperação dos indivíduos. durante 20 dias, com o pé em plantiflexão e mais 20 dias com o pé em dorsiflexão (55 dias de imobilização). Cinqüenta e sete dias após a lesão, o paciente procurou atendimento fisioterapêutico. Na avaliação física, apresentou cicatriz cirúrgica na região do tendão calcâneo esquerdo e espessamento deste, diminuição da massa muscular em MIE (sural), edema em MIE (tornozelo); na palpação o paciente referiu dor em região medial (maléolo medial), ligamento deltóide e dor em região distal de tríceps sural do MIE. Paciente B, 49 anos, lavrador, sofreu uma queda em um degrau e rompeu o tendão calcâneo direito. Foi submetido a procedimento cirúrgico um dia após a lesão, ficando imobilizado por 15 dias com tala e 38 dias com aparelho gessado, totalizando 53 dias de imobilização após a cirurgia; 68 dias após a lesão, o paciente procurou atendimento fisioterapêutico. O paciente já havia rompido o tendão calcâneo esquerdo há 16 anos. Na avaliação física, apresentou cicatriz cirúrgica na região posterior do tornozelo direito e edema muito leve; na palpação relatou leve dor próximo ao maléolo medial e lateral do MID. Material e métodos Este estudo apresenta o tratamento de dois pacientes com ruptura total do tendão calcâneo, submetidos ao tratamento cirúrgico (tenorrafia) e posterior tratamento fisioterapêutico na Clínica de Fisioterapia da UNIOESTE – Campus Cascavel PR, no período de novembro de 2002 a abril de 2003. Os pacientes, após o período de imobilização médio de 54 dias, foram encaminhados para tratamento fisioterapêutico e durante a admissão destes, foi realizada avaliação contendo: anamnese e exame físico (inspeção, palpação, goniometria, força muscular e sensibilidade), sendo posteriormente traçados objetivos e condutas conforme o comprometimento de cada paciente. A amostra foi composta por dois indivíduos do sexo masculino, denominados paciente A e B. Paciente A, 32 anos, professor, sofreu ruptura do tendão calcâneo do MIE ao jogar futebol, tendo relatado uma sensação de “pedrada” ao colidir ao chão após um salto. Dois dias após a lesão, foi submetido a procedimento cirúrgico, permanecendo quinze dias com tala longa, aparelho gessado, Fisioterapia_v8n3.indb 211 Tratamento do paciente A Na 1ª sessão de fisioterapia, o paciente chegou de muletas, não realizando apoio total do MIE; realizou-se crioterapia 10 minutos na região do tornozelo esquerdo; terapia com laser 830 nm, 2 J/cm2 ao redor da cicatriz cirúrgica em MIE; ultra-som (US) pulsado, 1MHz, 2:8, 0,5w/cm², tempo médio de 6 minutos (figura 1). O US e o laser foram utilizados concomitantemente até a 20ª sessão, e a partir desta, o tratamento foi realizado apenas com laser até a 37ª sessão. Massagem pericicatricial a partir da 2ª sessão até a 7ª sessão (figura 2). Cinesioterapia: exercício leve de alongamento ativo com lençol do tendão do calcâneo e isquiotibiais, treino de propriocepção com bola e deslizamento. A partir da 8ª sessão, realizou descarga de peso na prancha de equilíbrio e manteve o restante da conduta. Na 10ª sessão realizou propriocepção na cama elástica. A partir da 13ª sessão passou a fazer treino de equilíbrio no colchonete, com apoio unipodal, proprioceção na prancha de Freeman e balancim. A partir da 22ª sessão, iniciou a esteira durante 5 min (3km/h). Trote em terreno irregular a partir da 24ª sessão, durante 5 min. O paciente recebeu alta da fisioterapia na 37ª sessão. Figura 1 - Uso do USP em região peritendínea. 4/7/2007 18:09:46 212 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 Figura 2 - Uso de massagem pericicatricial. Resultados Tratamento do paciente B Na 1ª sessão, o tratamento consistiu de laser 2 J/cm2, 830 nm, na região cicatricial do tendão calcâneo direito; USP, 1 MHz, 2:8, 0,7 W/cm, 7 min. na região do tendão direito. O laser e o US foram usados concomitantemente durante todas as sessões. Massagem pericicatricial, alongamento de tendão calcâneo ativo com lençol sentado no divã e propriocepção com bola foram realizados a partir da 6ª sessão até a 40ª sessão. Na 14ª sessão realizou alongamento ativo em rampa para tríceps sural (figura 3). Na 18ª sessão iniciou propriocepção na cama elástica, atirando bola contra a parede e sobre prancha de propriocepção. Na 25ª sessão continuou com propriocepção na cama elástica com chutes na bola com o MID (figura 4). Na 36ª sessão o paciente realizou trote leve em pequena distância (50m). A partir da 38ª sessão, corrida por 20 min. O paciente recebeu alta da fisioterapia na 40ª sessão. Figura 3 - Alongamento tendão calcâneo. Os dados referentes a goniometria, perimetria e força muscular de cada paciente, na avaliação inicial (1ª sessão de fisioterapia), foram comparados com os valores obtidos na reavaliação (11ª sessão), conforme prioridades temporais do tratamento fisioterapêutico nas dez primeiras sessões, os objetivos iniciais foram: auxiliar no processo cicatricial e ganhar amplitude de movimento da articulação envolvida. Na primeira sessão foi avaliada a amplitude de movimento (ADM) do tornozelo, através da goniometria seguindo os métodos descritos por Marques [8]. No paciente A, observou-se dorsiflexão de tornozelo D 20º e, E 5º; plantiflexão de 40º no MID e de 10º no MIE (tabela I). Os dados obtidos foram comparados com a avaliação realizada na 11ª sessão, na qual obteve-se na dorsiflexão 18º no MID e 11º no MIE; na plantiflexão 40º no MID e 38º no MIE. Tabela I - Goniometria do paciente A. Dorsiflexão Plantiflexão 1a Sessão MID MIE 20O 5O 40O 10O 11a Sessão MID MIE 18O 11O 40O 38O Fonte: prontuários da Clínica de Fisioterapia UNIOESTE. A força muscular dos pacientes foi avaliada através do teste manual descrito por Kendall, McCreary e Provance [9]. Os resultados obtidos pelo paciente A, na primeira sessão, foram grau 5 para os movimentos de dorsiflexão e plantiflexão bilateral, exceto a plantiflexão do MIE. Na 11ª sessão, os resultados também foram grau 5, incluindo a plantiflexão (tabela II). Tabela II - Força muscular do paciente A. Dorsiflexão 1ª Sessão MID MIE 5 5 Plantiflexão 5 - 11ª Sessão MID MIE 5 5 com dor 5 5 Fonte: prontuários da Clínica de Fisioterapia UNIOESTE. Figura 4 - Treino proprioceptivo em cama elástica. Durante a avaliação do paciente B, a mensuração da ADM mostrou: 4º de dorsiflexão em MID, e 20º em MIE; 40º de plantiflexão em MID e 50º em MIE (tabela III). Na 11ª sessão foi mensurado 10º de dorsiflexão em MID e 15º em MIE; e na plantiflexão obtido 50º em MID e 50º em MIE. Tabela III - Goniometria do paciente B. Dorsiflexão Plantiflexão 1a Sessão MID MIE 4º 20º 40º 50º 11a Sessão MID MIE 10º 15º 50º 50º Fonte: prontuários da Clínica de Fisioterapia UNIOESTE. O paciente B apresentou, durante a primeira avaliação, força muscular grau 5 nos movimentos de dorsiflexão e plantiflexão Fisioterapia_v8n3.indb 212 4/7/2007 18:09:47 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 213 bilateral, exceto a dorsiflexão do MID, no qual foi obtido grau 4. Na 11ª sessão, tanto a dorsiflexão quanto a plantiflexão, foram obtidos grau 5, bilateralmente (tabela IV). meses após a lesão do tendão calcâneo. No presente trabalho, ambos pacientes foram tratados cirurgicamente e obtiveram resultados satisfatórios quanto à capacidade funcional associada ao tratamento fisioterapêutico, que reduziu os comprometimentos do pós-operatório, tais como: atrofia muscular, demora na recuperação da ADM do tornozelo, prejuízo da cartilagem articular e longo prazo na recuperação da força muscular. Tabela IV - Força muscular do paciente B. Dorsiflexão Plantiflexão 1ª Sessão MID MIE 4 5 5 5 11ª Sessão MID MIE 5 5 5 5 Conclusão Fonte: prontuários da Clínica de Fisioterapia UNIOESTE. A partir da 11ª sessão, o tratamento fisioterapêutico visou a obtenção de resultados funcionais dos pacientes, como a realização de marcha normal, ADM total, aumento da força muscular, melhora do equilíbrio e coordenação, para que os pacientes retornassem ao nível de atividade anterior à lesão. Portanto, os pacientes receberam alta da fisioterapia, sendo capazes de correr sem dor, subir e descer escadas e rampas sem prejuízo da função ou déficit proprioceptivo. Discussão Segundo Ying et al. [1], a incidência da ruptura do tendão calcâneo tem aumentado nas últimas duas décadas, havendo significativa correlação entre o espessamento progressivo do tendão com a ruptura. Para Eitner et al. [10], a ruptura do tendão calcâneo é uma lesão atlética clássica que se tornou mais freqüente nos últimos anos. Wren et al. [3] relata que a alta incidência de ruptura neste tendão, também, está relacionada com indivíduos normalmente sedentários envolvidos em uma atividade física intermitente e árdua. Isto pode ser comprovado neste trabalho, pois ambos indivíduos eram praticantes de esporte na forma não competitiva, ou seja, um era trabalhador braçal, mas não atleta, e o outro docente e mantinha apenas como atividade recreativa a prática de futebol aos finais de semana. Em outro estudo, Wren et al. [11] indicam que a avulsão do tendão calcâneo depende da força óssea em relação à densidade mineral óssea, a redução dessa densidade proporciona maior probabilidade de avulsão antes da ruptura do tendão. A densidade mineral óssea diminui com a idade e mais avulsões são prováveis de ocorrer em indivíduos idosos, enquanto em indivíduos mais jovens é mais provável ocorrer ruptura do tendão. Tendo em vista que as duas formas de lesão do tendão do calcâneo apresentam sintomas similares, mas requerem tratamentos diferenciados, o fisioterapeuta deve estar atento quanto ao tipo de lesão para realizar o tratamento apropriado. Moller et al. [4] estudaram um grupo de pacientes com ruptura do tendão calcâneo submetido a tratamento cirúrgico e outro grupo tratado não-cirurgicamente, através de aparelho gessado durante oito semanas. Concluíram que o tratamento cirúrgico resultou na reabilitação funcional precoce em relação ao tratamento não-cirúrgico, no entanto, a força muscular entre os grupos não apresentou diferenças significantes na avaliação realizada seis Fisioterapia_v8n3.indb 213 Após a comparação das características apresentadas entre os casos relatados, sugere-se que o tratamento fisioterapêutico conduzido após lesão do tendão calcâneo, tendo sido este submetido ao procedimento cirúrgico, seja capaz de alcançar o retorno dos pacientes às suas atividades exercidas antes da lesão. Para tanto, foram necessárias, em média, 39 sessões de fisioterapia, obtendo-se resultados satisfatórios desde a décima primeira sessão, na qual foram submetidos à reavaliação e constatou-se melhora na amplitude de movimento e na força muscular de ambos pacientes. O tratamento fisioterapêutico pós-tenorrafia do tendão calcâneo auxilia no processo cicatricial, restaura a ADM e proporciona uma qualidade de vida independente e ativa ao paciente, retornando-o a atividades de nível semelhantes às anteriores à lesão. Referências 1. Ying M, Yeung E, Li B, Li W, Lui M, Tsoi CW. Sonographic evaluation of the size of Achilles tendon: the effect of exercise and dominance of the ankle. Ultrasound in Med Biol 2002;29:637-42. 2. Ohberg L, Lorentzon R, Alfredson H. Good clinical results but persisting side-to-side differences in calf muscle strength after surgical treatment of chronic Achilles tendinosis: A 5-year follow-up. Scand J Med Sci Sports 2001;11:207-12. 3. Wren T, Yerby SA, Beaupré GS, Carter DR. Mechanical properties of the human Achilles tendon. Clin Biomech 2001;16:245-51. 4. Möller M, Lind K, Movin T, Karlsson J. Calf muscle function after Achillers tendon rupture. Scand J Med Sci Sports 2002;12:9-16. 5. 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Clin Biomech 2001; 16: 529-34. 4/7/2007 18:09:47 214 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 Relato de caso A influência do treinamento da marcha com suporte parcial de peso corporal na diplegia espástica TThe effects of gait training with partial body weight support in spastic diplegia Nadiesca Taisa Filippin, Ft.* Carla Fabiane Murazo, Ft.**, Manoela Rigotti, Ft.**, Elenita Costa Beber Bonamigo, M.Sc.*** *Especialista em Análise e Planejamento de Produtos e Processos Fisioterapêuticos (UFSM – RS) e Mestranda do Programa de Pós-graduação em Fisioterapia da Universidade Federal de São Carlos, **Universidade de Cruz Alta, UNICRUZ, Cruz Alta-RS, ***Professora dos Cursos de Fisioterapias da Universidade de Cruz Alta, UNICRUZ, Cruz Alta-RS e Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, UNIJUÍ, Ijuí –RS Resumo Abstract A ênfase no treino repetitivo e contextualizado de habilidades motoras favorece o ganho funcional e o condicionamento físico de indivíduos com variados graus de incapacidades. O objetivo deste estudo foi verificar os efeitos de um programa de treinamento em esteira com o uso de suporte parcial de peso corporal sobre o equilíbrio e a mobilidade. Participou do estudo uma criança diplégica, com nove anos de idade. As avaliações constaram de um protocolo de equilíbrio, teste de caminhada de seis minutos, impressões plantares e performance qualitativa da marcha. O treinamento teve duração de três meses e consistiu em andar na esteira com e sem apoio manual em diferentes velocidades e condução dos pés. Quanto aos resultados, houve incremento no equilíbrio, no comprimento do passo e da passada, bem como melhora no ângulo de rotação dos pés e na largura da base de apoio. Assim, a criança melhorou a qualidade dos passos, o que proporcionou melhor controle do movimento e diminuição da influência da espasticidade dos membros inferiores durante a marcha. O estudo confirma a importância do treino em esteira e dos benefícios do suporte parcial de peso corporal, o qual permite a intensificação do treino e a diversificação da terapia. It is well known that the emphasis on repetitive and contextualized training of motor skills benefits the functional gain and the physical conditioning of individuals with varied degrees of inabilities. The purpose of this study was to investigate the effects of a training program with partial body weight support on a treadmill over balance and mobility. A 9 year old diplegic child volunteered to this study. The evaluation consisted of a balance protocol, 6-minute walking test, footprints and the SWAPS test. A three months training was administered and consisted of treadmill walking in different velocities with and without manual support and step guidance. An increase in balance and step length was observed as well as improvements in the foot rotation angle and the support base width. This there was a better overall walking performance and movement control, thereby decreasing the spasticity influence over the lower limbs during gait. In conclusion, the benefits of treadmill training with partial body weight support were confirmed and this procedure has proven to intensify the training and to diversify the therapy. Key-words: gait, partial body weight support, diplegia, velocity. Palavras-chave: marcha, suporte parcial de peso corporal, diplegia, velocidade Introdução A paralisia cerebral pode ser definida como uma lesão nãoprogressiva, mas permanente no cérebro imaturo, que provoca desordens músculo-esqueléticas que levam a alterações na postura e no equilíbrio, impedindo a aquisição de reações rápidas e eficazes e, conseqüentemente, comprometendo a marcha e outras funções motoras. Fatores como a espasticidade dificultam os ajustes posturais dinâmicos, fazendo com Recebido 1 de abril de 2006; aceito 15 de fevereiro de 2007. Endereço para correspondência: Nadiesca Taisa Filippin, Departamento de Educação Física e Motricidade Humana, Universidade Federal de São Carlos, Rod. Washington Luís, km 235, CEP 13565-905 São Carlos SP, E-mail: nadifi[email protected], Tel: (16)3351-8765/8768 Fisioterapia_v8n3.indb 214 4/7/2007 18:09:47 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 215 que a criança mantenha um padrão imaturo de marcha com passos curtos e instáveis [1]. A insatisfação com as terapias convencionais levou ao surgimento de novas abordagens, orientadas para tarefas específicas, ou seja, “se queremos melhorar a marcha temos que caminhar”. Assim, os terapeutas manipulam o ambiente limitador para ajudar o sistema nervoso central (SNC) a aprender a resolver déficits motores em uma variedade de modos e nesse contexto a criança é um participante ativo [2,3]. Estudos que elucidam os diferentes componentes do prejuízo motor na paralisia cerebral suportam o conceito de aperfeiçoar habilidades e força muscular pela prática da tarefa específica. Além disso, estudos clínicos têm mostrado que o início precoce do treinamento locomotor na esteira, com e sem suporte de peso é viável em crianças jovens espásticas antes que a marcha independente seja adquirida [2]. A ênfase no treino repetitivo e contextualizado de habilidades motoras favorece o ganho funcional e o condicionamento de indivíduo com variados graus de incapacidades. A utilização do suporte parcial de peso corporal (SPPC) permite o treino precoce da locomoção, pois é mais fácil trocar passos sem ter que se preocupar em se manter contra a gravidade e, conforme esta tarefa vai sendo automatizada, pode-se diminuir o suporte de peso permitindo um maior controle por parte do paciente [2]. Neste contexto, os três componentes da marcha: suporte de peso, equilíbrio e passo podem ser retreinados simultaneamente sob condições dinâmicas [4]. Este trabalho utilizou uma abordagem terapêutica tarefaorientada, utilizando um treino intensivo em esteira com o uso de colete estabilizador, proporcionando uma vivência da marcha em um ambiente sensorial alterado, em diferentes velocidades, com e sem apoio dos membros superiores, além da condução dos pés. O objetivo do estudo foi analisar a influência desta terapêutica sobre o equilíbrio, o condicionamento físico e as variáveis gerais da marcha de uma criança diplégica. Performance de Deambulação com Suporte – SWAPS) [2]. Todas as avaliações foram realizadas antes e depois do treinamento. O treinamento na esteira usando SPPC (10% a 30% de suporte dependendo da fase do ciclo da marcha), com e sem apoio manual foi realizado durante três meses, com três sessões semanais. A terapêutica seguiu o seguinte protocolo diário: verificação da freqüência cardíaca de repouso, alongamento geral e o trabalho na esteira, que seguiu seis estágios: aquecimento em uma velocidade de 1 km/h; andar sem apoio de uma mão; sem o apoio da outra mão; sem apoio manual; com apoio bimanual, iniciando o incremento da velocidade até o máximo suportado pela criança e; com apoio bimanual em uma velocidade baixa para recuperação. Posteriormente, repetia-se o ciclo, que tinha duração média de oito minutos. A percepção do esforço foi avaliada conforme a Escala de Borg. O tempo total médio das sessões foi de 20 (± 2,6) minutos sendo que foi dado ênfase à condução dos pés da criança buscando o alinhamento e o aumento no comprimento do passo. Os dados foram analisados utilizando-se estatística descritiva para comparação das variáveis no pré e pós-treinamento. Material e métodos Fez parte desta pesquisa uma criança, portadora de paralisia cerebral diplégica, do sexo feminino, com nove anos de idade, 20 kg de massa corporal e 1,21 m de estatura, possibilidade de marcha independente, necessitando de supervisão. A mesma sofreu uma tenotomia aos 2 anos de idade e apresenta uma postura típica de semiflexão e rotação interna dos quadris e semiflexão e valgismo de joelhos, com marcha típica de espásticos. Após a aprovação do projeto, os responsáveis assinaram um termo de consentimento. Para avaliação quantitativa da marcha foram mensuradas variáveis gerais através de impressões plantares, incluindo comprimento do passo, da passada, largura da base de apoio e ângulo de rotação dos pés. Além disso, foram avaliados equilíbrio [5], capacidade funcional (teste de caminhada de 6 minutos) e performance qualitativa da marcha (Escala de Fisioterapia_v8n3.indb 215 Resultados e discussão A velocidade inicial durante as primeiras sessões foi de apenas 1 km/h, justificada pela instabilidade da paciente e pelo objetivo de executar a tarefa sem o uso das mãos para ganho de mobilidade e equilíbrio. Após atingir este objetivo a velocidade era então aumentada para 2 km/h, uma vez que em baixa velocidade havia maior oscilação do tronco para a troca de passos, prejudicando o padrão de marcha. Com relação à velocidade final observou-se um crescimento constante, atingindo um pico máximo de 4,6 km/h. Acredita-se que a variação na performance em alguns dias se deu por fadiga relacionada a atividades antes da terapia. A Figura 1 representa as variações na velocidade. Figura 1 - Velocidade inicial e final durante as sessões de treinamento. 4/7/2007 18:09:48 216 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 A velocidade do andar é um fator importante na análise da marcha, pois alterações neste parâmetro são acompanhadas por alterações de tempo, distância, dispêndio de energia e atividade muscular [6]. A manipulação na velocidade da esteira foi utilizada como uma forma de modificar o padrão e o condicionamento. As altas velocidades provocaram a emergência de reações mais complexas e as baixas velocidades no início de cada ciclo favoreceram um prolongamento na atividade, diminuindo a fadiga e facilitando a realização da tarefa. A intensidade é um fator importante para a aprendizagem e automatização de novas tarefas, pois só adquirimos um novo padrão ao atingirmos um limite crítico [7]. O treino da marcha com SPC pode ser mais efetivo que a fisioterapia convencional para melhorar parâmetros da marcha e mobilidade quando está direcionado para o aumento da velocidade [8]. As variáveis apresentadas na Tabela I fornecem as características da marcha e demonstram a influência do treinamento. plégico. A excessiva rotação foi tratada através condução dos pés durante a troca de passos na esteira, procedimento que se mostrou eficiente, uma vez que houve diminuição da rotação interna, com alinhamento do pé esquerdo. A melhora nas variáveis gerais da marcha encontrada neste estudo confirma a eficiência do treino em esteira já relatada em pesquisas prévias [4,8,10]. Para estudar outros fatores que podem influenciar a marcha foram utilizados alguns testes clínicos referentes ao equilíbrio e a necessidade de suporte (SWAPS). A capacidade funcional também foi analisada. Dessa forma, observa-se que houve melhora em todos os itens avaliados após o treinamento na esteira, com aumento de 7% nos escores de equilíbrio e da SWAPS, que pode ser atribuído à ênfase do treino sem apoio manual. Esses resultados podem ser evidenciados nas impressões plantares coletadas durante a marcha, que demonstram a diminuição da largura da base de apoio e aumento do comprimento dos passos, e que também se refletiu no aumento da distância percorrida no teste de caminhada. Isto indica que houve melhora em todos os itens avaliados, porém os valores ainda permanecem diminuídos em relação ao esperado. Estudos citam a falta de endurance como um fator limitante para o desempenho de crianças com paralisia cerebral. Porém, ao mesmo tempo em que elas só irão adquirir resistência praticando, é óbvia a dificuldade para suportar terapias por períodos mais prolongados [11]. Esta dificuldade aparece ao se exigir mais na terapia ou ao se tentar colocar pacientes em uma esteira elétrica [12]. Neste estudo, utilizando-se o treinamento intervalado e o SPC foi possível uma permanência média de 20 minutos na esteira, com aumento da velocidade, o que provocou melhora na performance nos testes clínicos durante a marcha no solo. Já, na análise qualitativa da marcha em esteira foi possível observar que a criança apresentou um melhor desempenho deambulando em maiores velocidades. Também no solo houve melhora na qualidade dos passos após o treinamento. Isto demonstra a importância deste treino para o controle do movimento e o favorecimento da autonomia motora. Tabela I – Variáveis gerais da marcha. Variáveis Comprimento do passo (cm) Comprimento da passada (cm) Largura da base de apoio (cm) Ângulo de rotação - pé direito (o) Ângulo de rotação - pé esquerdo (o) * Pré-teste Pós-teste 28 (± 5,97) 35 (± 4,56) 45,5 (± 5,81) 62,5 (± 7,89) 15 (± 7,04) 9 (± 5,69) 30 (± 7,4)* 10 (± 6,83)* 15 (± 4,45)* 0 (± 5,04) Ângulo de apoio dos pés em rotação interna. Como é possível verificar, houve uma diferença das variáveis gerais da marcha no pré e pós-teste, com incremento do comprimento do passo e da passada. Estas variações revelam que a criança melhorou a qualidade dos passos, antes verticais passando para horizontais curtos, provavelmente devido a uma melhora do controle do movimento e diminuição da influência da espasticidade nos membros inferiores durante a marcha. Estes resultados também demonstram que houve transferência dos ganhos da atividade na esteira para a marcha no solo. Os valores encontrados confirmam a descrição do diplégico, que inicia o andar mais tarde, com velocidade mais lenta e redução no comprimento do passo e da passada [3], diferentemente de crianças normais [9]. A largura da base de apoio em uma marcha funcional deve ser 1/3 da largura da pelve [1], mas ela geralmente está aumentada nos déficits de equilíbrio. Neste estudo, a largura da base teve uma variação importante, pois houve um decréscimo médio de 6 cm, o que demonstra a maior estabilidade da paciente para andar depois do treinamento. A medida do ângulo de rotação do pé aponta a rotação interna do quadril, outra característica da marcha do di- Fisioterapia_v8n3.indb 216 Conclusão O treinamento da marcha em esteira, com SPC, em diferentes velocidades e com condução dos pés, promoveu um ambiente sensorial alterado e, conseqüentemente, o desenvolvimento de habilidades motoras, com ganho de autonomia por parte da criança. A melhora da qualidade da marcha é outro ponto positivo, confirmando a importância de uma abordagem de tarefas específicas repetitivas. Além disso, o treinamento proporcionou um aumento do condicionamento físico, por trabalhar a capacidade aeróbia, reduzida em portadores de paralisia cerebral. Apesar dos resultados satisfatórios, é importante enfatizar que eles não podem ser generalizados devido à variabilidade encontrada nessa população. 4/7/2007 18:09:48 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 Referências 1. Vaughan A. The acquisition of mature gait patterns in children. Anais do IX Congresso Brasileiro de Biomecânica, Gramado (RS); 2001. 2. Richards CL, Malouin F. Critical review of physical therapy approuches for the treatment of children with spastic cerebral palsy: future perspectives. Gion Neuropsch Età Evo 1998;2 (supl): 93-103. 3. Shumway-Cook A & Woollacott MH. Controle motor: teoria e aplicações práticas. 2. ed. São Paulo: Manole; 2003. 4. 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Borges**** *Professor-pesquisador do Núcleo de Pesquisas em Neuroreabilitação - NUPEN da Associação Catarinense de Ensino - ACE e do Bom Jesus/ IELUSC, **Professor-pesquisador do Núcleo de Pesquisas em Neuroreabilitação - NUPEN da Associação Catarinense de Ensino - ACE, Bom Jesus/ IELUSC e UNIVILLE, ***Fisioterapeuta, especialista em Fisioterapia Cardio-respiratória, Professor da ACE, ****Acadêmicas da Faculdade de Fisioterapia e Estagiárias do Núcleo de Pesquisas em Neuroreabilitação - NUPEN da Associação Catarinense de Ensino - ACE Resumo Abstract O objetivo desta pesquisa foi avaliar os efeitos do condicionamento aeróbico com cicloergômetro para os membros superiores e inferiores sobre a performance da musculatura respiratória, aptidão física, e sua possível repercussão sobre a qualidade de vida e independência funcional em um paraplégico (nível T1) por TRM. Um estudo descritivo do tipo exploratório, utilizando-se da manovacuômetria digital para avaliação das pressões inspiratória (Pimáx) e expiratória (Pemáx) máximas de pico e endurance, Perfil de Saúde de Nottingham (PSN) e escala FIM para a qualidade de vida e independência funcional, respectivamente. Os resultados indicam que após 6 semanas de treinamento (3x/semana) houve um incremento da Pimáx de forma a superar o valor referencial, atingindo 109% deste, e da Pemáx atingindo 90% do valor referencial. Na avaliação da endurance inspiratória e expiratória houve um aumento estatisticamente significativo (endurance inspiratória p < 0,001; endurance expiratória p < 0,02). A melhora da aptidão física foi verificada com base na performance do teste de esforço. Não ocorreram alterações significativas na qualidade de vida e independência funcional. Conclui-se que mesmo em paciente crônico, reabilitado e independente, o protocolo proposto pode trazer benefício em curto prazo na força e endurance da musculatura respiratória. The aim of this study was to evaluate the effects of aerobic conditioning with cycle ergometer for lower and upper limbs on performance of breathing muscles, physical ability, and its possible repercussion in quality of life and functional independence in a paraplegic (level T1) by spinal cord injury. This study consists in a detailed and exploratory research, using digital manovacuometry to evaluate inspiratory and expiratory pression, maximum peak and endurance, Health Profile of Notthingan (HPN) e FIM Scale to life quality and functional independence, respectively. The results indicate that after six weeks of training (3 times/week) there was a increase of inspiratory pression, in a way to overcome the reference value, reaching 109%, and expiratory pression 90%, in endurance inspiratory and expiratory evaluation with a statistical significant rise (inspiratory endurance p < 0,001, expiratory endurance p < 0,02). The improvement of physical ability was verified in the effort test. Did not occur significant alterations on quality of life and functional independence. It was concluded that, even in chronic rehabilitated and independent patient, the protocol used brought short time benefits in strength and endurance of breathing muscles. Key-words: aerobic training, cycle ergometer, breathing muscles, paraplegia. Palavras-chave: treinamento aeróbico, cicloergômetro, músculos respiratórios, paraplegia. Recebido 18 de abril de 2006; aceito 15 de janeiro de 2007. Endereço para correspondência: Antonio Vinicius Soares, NUPEN – Núcleo de Pesquisas em Neuroreabilitação, Faculdade de Fisioterapia da Associação Catarinense de Ensino, Joinville SC, Tel: (47) 3026-4000, E-mail: [email protected]. Fisioterapia_v8n3.indb 218 4/7/2007 18:09:49 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 Introdução A lesão medular é uma das mais graves e devastadoras síndromes incapacitantes que pode atingir o ser humano, pois causa falência de muitas funções importantes como a locomoção, sensibilidade, sexualidade, dentre outras. Considerando-se o fato, que as maiores causas da lesão medular são as traumáticas e que a maioria da população atingida tem menos de 40 anos, observa-se uma grave incapacidade direcionada a uma população hígida, jovem e ativa, de uma forma abrupta com todas as repercussões físicas e psicológicas conseqüentes [1]. O traumatismo raquimedular geralmente reduz a capacidade do indivíduo de participar das atividades diárias vigorosas necessárias para a manutenção de um estilo de vida saudável aumentando a prevalência de morbidade. A propulsão de uma cadeira de rodas não é uma atividade das mais exigentes, por isso provoca rapidamente uma fadiga muscular localizada, em conseqüência da utilização de uma massa muscular limitada e de um baixo rendimento mecânico [2]. A lesão medular leva a perda completa ou parcial do controle voluntário dos músculos inervados abaixo do nível da lesão, perda de força e resistência muscular. A perda de força e resistência também inibe a resposta cardiorespiratória ao exercício, uma vez que a fadiga local evita que os músculos mantenham as cargas de trabalho prescritas. Atualmente, as causas prevalentes de morte em pacientes com lesão medular em longo prazo, parecem estar relacionadas a desordens cardiovasculares e respiratórias. Os distúrbios ventilatórios decorrentes reduzem a força e endurance da musculatura respiratória, acarretando limitações desde as atividades de vida diária (AVDs) até a exclusão social, devido depressão na capacidade cardiorespiratória pela inatividade e pelo próprio comprometimento da musculatura torácica. A fraca resistência muscular respiratória pode reduzir a tolerância ao exercício e contribuir para a falência respiratória [3]. É possível realizar uma avaliação tanto na força quanto na endurance da musculatura respiratória através da manovacuometria digital [4]. Esse método avalia a força do conjunto dos músculos inspiratórios (Pimáx) e/ou expiratórios (Pemáx) [5]. Através da cicloergometria para os membros superiores (MMSS) e inferiores (MMII) é possível realizar uma avaliação e treinar a capacidade de trabalho dos indivíduos paraplégicos por TRM. A estimulação de grupos musculares preservados visa alcançar o potencial funcional do paciente incluindo os músculos respiratórios [1]. Então, para o treinamento aeróbico, geralmente é utilizado o exercício prolongado para MMSS que tem despertado interesse em várias populações com necessidades especiais, incluindo indivíduos com incapacidade nos MMII [6,7]. Entretanto, para a prescrição do exercício para o portador de deficiência, devem ser avaliadas as limitações fisiológicas, o Fisioterapia_v8n3.indb 219 219 histórico e o estado clínico do paciente para que o exercício seja prescrito com segurança. Deve-se levar em consideração, a freqüência, duração e intensidade do treinamento. Com o aumento da expectativa de vida dos pacientes com lesão medular, os profissionais de reabilitação devem preocupar-se em proporcionar o máximo de independência funcional visando melhorar a qualidade de vida destes. A promoção e a atenção à saúde dos indivíduos portadores de lesão medular englobam medidas preventivas, restauradoras e de reabilitação, visando preservar, restaurar ou desenvolver funções, com a intenção de recuperar e compensar os fatores que causam perda ou diminuição do bem-estar destes pacientes. Com a prática da atividade física ocorre incremento da musculatura respiratória em força e endurance, prevenindo complicações pulmonares, pois amplia o limite da ventilação ao exercício físico, contribui para a inclusão social, facilitando o acesso às atividades regulares na sociedade [8]. O objetivo desta pesquisa foi avaliar os efeitos do treinamento aeróbico com cicloergômetro para MMSS e MMII sobre a performance da musculatura respiratória na paraplegia por TRM. Material e métodos O presente estudo foi realizado no Núcleo de Pesquisa em Neuroreabilitação – NUPEN na Faculdade de Fisioterapia da Associação Catarinense de Ensino – ACE. Realizou-se uma pesquisa descritiva tipo exploratória. O sujeito da pesquisa foi um indivíduo de 38 anos, do sexo masculino, portador de paraplegia alta, nível neurológico T1, espasticidade extensora do joelho grau 3 bilateralmente pela Escala de Ashworth Modificada [9], decorrente de lesão por arma de fogo há 3 anos, foi submetido a um pré-teste, seguido por treinamento, e posteriormente um pós-teste para avaliar o tratamento, verificando as possíveis mudanças na performance dos músculos respiratórios, bem como na aptidão física e qualidade de vida. Inicialmente no pré-teste, foi realizada uma avaliação do paciente utilizando-se do Protocolo de Avaliação Neurológica e Escala de Deficiência da ASIA (American Spinal Injury Association) [10], aplicação da Escala de Medida de Independência Funcional (FIM) [10] e a verificação da qualidade de vida pelo Perfil de Saúde de Nottingham (PSN) [11]. Posteriormente, mensurou-se: peso corporal, freqüência cardíaca, freqüência respiratória em repouso e da pressão arterial em repouso na posição sentada, permitindo o cálculo da FC Máx (220 – idade – 13bpm), da FC alvo (70% da FC Máx) e da FC limite (85% da FC Máx); teste com o Manovacuômetro Digital (MVD 300 – Globalmed) para avaliar as pressões inspiratória e expiratória máximas de força e endurance dos músculos respiratórios; por fim, o teste submáximo cardiorrespiratório, como preconizado pelo ACSM – American College Sports Medicine [12] e adaptado ao cicloergômetro para os quatro membros (Ciclomaster Embreex - modelo 603). 4/7/2007 18:09:49 220 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 Uma vez avaliado, o indivíduo foi submetido a um protocolo de condicionamento aeróbico, com utilização do cicloergômetro para os quatro membros, o programa de treinamento foi constituído de três sessões semanais, com duração aproximada de 60 minutos por um período de seis semanas. Cada sessão foi constituída de uma fase de aquecimento de 15 minutos, seguida por uma fase de endurance de 30 a 40 minutos com velocidade média iniciada em 80 rpm, progredindo ao longo da sessão conforme a FC e Escala CR 10 de Borg [13], como parâmetro para graduar velocidade e carga. Por fim, concluía-se a sessão com uma fase de volta a calma com duração de três minutos com velocidade decrescente e carga zero no clicloergômetro. Ao término da sexta semana, o indivíduo foi submetido ao pós-teste, onde foram realizados os mesmos procedimentos do pré-teste. A partir dos resultados da avaliação e reavaliação, foram feitas as análises comparativas e descritivas dos mesmos. pressões inspiratória e expiratória sustentadas. As variáveis avaliadas obtiveram nível de significância p<0,001 para endurance da pressão expiratória e p< 0,02 para pressão inspiratória. Resultados e discussão As variáveis da função muscular ventilatória foram avaliadas pré e pós- treinamento, no final de 6 semanas como ilustrado no Gráfico 1. Gráfico 1 - Pressões inspiratória e expiratória de pico. Após 6 semanas, na avaliação pós-treinamento, foi possível detectar um incremento da Pimáx de forma a superar o valor referencial, correspondente à 109%, e na Pemáx também houve alteração alcançando 90% do estimado, e mesmo que não tenha alcançado o valor referencial, deve ser considerado um resultado significativo, visto que a lesão decorrente do TRM compromete a ação dos músculos expiratórios – paciente com paraplegia alta completa nível neurológico T1. Como não existem valores referenciais para endurance da musculatura respiratótia através da manovacuômetria digital descritos na literatura e/ou fabricante, para esta pesquisa adotou-se como metodologia a média do tempo em que o sujeito conseguiu manter pressões ≥ 70 % da pressão alcançada no exame das pressões inspiratória e expiratória de pico, conforme ilustrado no Gráfico II, baseado nos estudos de Nickerson e Keens [14] e Hart et al. [15], os quais descrevem como sendo, Fisioterapia_v8n3.indb 220 Gráfico 2 - Pimáx e Pemáx antes e depois de treinamento de endurance. Liaw et al [16] observaram que após 6 semanas de treinamento específico da musculatura respiratória em pacientes com lesão cervical completa, ocorre um aumento significativo da Pemáx e Pimáx. Silva et al. [17] também encontraram com o treinamento aeróbico de MMSS em indivíduos com lesão medular torácica, um incremento na resistência à fadiga da musculatura respiratória. Já Uijl et al. [18] encontraram um incremento na execução do exercício aeróbico com o treinamento da musculatura respiratória de indivíduos com lesão medular cervical incompleta, isto indica que o treinamento dos músculos respiratórios resulta em um aumento na resistência destes músculos, juntamente com um aumento no desempenho do exercício aeróbico, logo, um indivíduo que não pode participar de um programa de treinamento aeróbico, pode ao menos desenvolver o treinamento domiciliar da musculatura respiratória e aumentar sua resistência aeróbica. Van Der Esch et al. [19] em um estudo com pacientes com espondilite anquilosante (patologia que reduz a complacência torácica) concluíram que as pressões inspiratória e expiratória estão significativamente relacionadas com a aptidão física, particularmente a pressão inspiratória está fortemente correlacionada com a capacidade física máxima. A melhora da tolerância aos esforços (aptidão física) foi expressa através do teste de esforço adaptado, conforme tabela I. Os relatos de fadiga do paciente entre 9 e 10 na escala CR10 de Borg, referindo-se a fadiga muscular e respiratória respectivamente, promoveram a interrupção do teste de esforço pré-treinamento aos 18 minutos, completando 9 estágios, com velocidade de 90 rpm, carga 40, com FC de 122 bpm. No teste pós-treinamento, no estágio equivalente ao que houve a interrupção do primeiro teste, com a mesma velocidade e carga, o paciente referiu absolutamente nada de esforço percebido, ou seja, zero; mantendo a FC em 78 bpm. O pós-teste foi interrompido aos 28 minutos do 14º estágio, devido a limitação do cicloergômetro, pois o indivíduo atingiu a carga máxima do equipamento. Após este estágio o mesmo permaneceu no cicloergômetro por um período de 40 minutos, sendo a atividade interrompida aos 68 minutos, quando 4/7/2007 18:09:49 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 221 o paciente referiu mal estar físico, socilitando para encerrar a atividade. Portanto, observa-se uma importante evolução no teste de esforço, o que indica uma melhora na aptidão física, pois o indivíduo tolerou melhor o estágio do teste pós-treinamento, apresentando menor sensação de esforço. dorso superior, usando um ergômetro com cadeira de rodas [21]. Várias publicações têm demonstrado adaptações cardiorrespiratórias benéficas nos pacientes paraplégicos quando submetidos a treinamento com cicloergômetro de MMSS, seus efeitos estão relatados na literatura e descritos abaixo: Dicarlo apud Nascimento [6] propôs avaliar os efeitos de treinamento com cicloergômetro de MMSS na função cardiopulmonar e resistência funcional na propulsão de cadeira de rodas em indivíduo com tetraplegia crônica. Este estudo demonstrou um aumento significativo na função cardiopulmonar e resistência funcional, contribuindo também na execução das AVDs. Os resultados indicaram que a melhora qualitativa e quantitativa da capacidade cardiorrespiratória pelo exercício aeróbico realizado com os MMSS, é comparativamente a mesma observada com os MMII. Haddad [20] utilizou um programa de TF de endurance com cicloergômetro de MMSS para melhorar a capacidade cardiorrespiratória ao exercício submáximo e máximo em um indivíduo com tetraplegia. Os resultados verificados após o término do TF revelaram que a capacidade máxima de exercício e a potência aeróbica aumentaram 37% e 55% respectivamente. Nascimento [6] descreve em seu estudo que há uma diminuição da função cardiorrespiratória em paraplégicos sedentários em comparação com atletas em cadeira de rodas, essa fraqueza cardiorrespiratória pode ser superada com a implementação de um programa de exercício regular para os MMSS. Finalmente, os resultados da presente pesquisa não mostraram alterações quanto ao status da qualidade de vida e funcionalidade segundo o PSN e Escala FIM respectivamente, uma vez que o paciente apresentou no início do tratamento uma pontuação de 14 no PSN e ao término do tratamento uma redução de 1 ponto, verificada no item 7 que corresponde “Eu me sinto extremamente irritado (com os nervos a flor da pele)”. Na escala FIM, apresentou independência total, níveis 6 e 7, antes e após o tratamento. Baseado nos relatos verbais do paciente há indícios de que houve uma melhora no seu cotidiano, relacionada à disposição e sensação de bem estar. Mesmo que estes dados sejam subjetivos, contrastam com os resultados do PSN e Escala FIM, visto que na admissão no programa de treinamento o sujeito da pesquisa já se encontrava reabilitado e totalmente independente, pressupõe-se que alterações sutis não foram detectadas pelos instrumentos de medida utilizados. Tabela I - Teste de esforço adaptado com o cicloergômetro para os MMSS e MMII. Variáveis Velocidade Carga FC Borg resp Borg musc Tempo Estágio Pré- treinamento 90 rpm 40 rpm 122 bpm 10 9 18 min 9 Pós- treinamento 90 rpm 40 rpm 78 bpm 0 0 18 min 9 Os aumentos da tolerância aos esforços também podem ser confirmados através da análise da média das variáveis avaliadas semanalmente durante o treinamento, sendo estas: tempo, FC, velocidade e carga. Estas duas últimas variáveis foram controladas de modo a manter a FC em 70% da FCmáx, e a estimativa de esforço percebido tanto muscular quanto respiratório, por meio da escala CR10 de Borg entre 2 a 5 equivalente ao esforço aeróbico, conforme Tabela II. Quanto à aptidão cardiorespiratória, houve uma ampliação no tempo de treinamento, velocidade e carga tolerada pelo indivíduo. Tabela II - Médias das variáveis coletadas durante as 6 semanas de condicionamento aeróbico. Estágio de treinamento 1ª SEM Velocidade (rpm) 86.94 0 Tempo (min) 25,33 2ª SEM 88,3 9,66 39,33 3ª SEM 87,5 13,33 41,00 4ª SEM 87,5 24,45 41,00 5ª SEM 92,5 32,78 41,00 6ª SEM 102,5 39,63 41,00 Carga Knutsson et al. apud Haddad [20], estudaram os efeitos do treinamento físico (TF) de MMSS em indivíduos paraplégicos. Eles realizaram de quatro a cinco sessões de TF semanais com duração total de seis semanas. Nos paraplégicos com lesão abaixo da 6ª vértebra torácica aumentou a capacidade de trabalho físico em 50%. Ao contrário, nos indivíduos com lesão entre a 5ª vértebra cervical e a 6ª torácica, houve pouca ou nenhuma melhora em resposta ao programa de TF. De acordo com o princípio da especificidade, o treinamento com manivela de braços, ou seja, cicloergometria de MMSS, não beneficia um aumento na função dos MMSS ou a propulsão da cadeira de rodas. Para isto é importante aumentar a força dos músculos posteriores do ombro e Fisioterapia_v8n3.indb 221 Conclusões A partir das análises dos resultados encontrados pode-se concluir que o treinamento aeróbico com o cicloergômetro para membros superiores e inferiores foi benéfico neste caso de paraplegia alta por TRM. Houve um significativo incremento da endurance da musculatura respiratória, aumento da 4/7/2007 18:09:50 222 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 3 - maio/junho de 2007 força da musculatura respiratória e da tolerância ao esforço, sem alterar a qualidade de vida e a independência funcional. E mesmo o paciente sendo crônico, reabilitado e totalmente independente, o protocolo proposto pôde trazer benefícios em curto prazo. Recomenda-se que pacientes lesados medulares por TRM sejam encaminhados a programas de treinamento aeróbicos, logo que o quadro clínico esteja estabilizado. Visto que este treinamento mostrou-se eficiente mesmo no estágio crônico de reabilitação, sugere-se continuar os estudos com cicloergometria dos quatro membros. O baixo custo e a segurança na realização dos procedimentos envolvendo a cicloergometria devem encorajar pesquisadores e clínicos no uso desta técnica. 8. Stokes M. Neurologia para fisioterapeutas. São Paulo: Premier; 2000. 9. Bohannom R, Smith W. International reability of a modified Ashworth scale of muscle spasticity. Phys Ther 1981;67:2067. 10. Ditunno JF et al. The international standars booket for neurological and functional classification of spinal cord injury. Paraplegia 1994;32:70-80. 11. Teixeira-Salmela LF et al. Adaptação do perfil de saúde de Nottinghan: um instrumento simples de avaliação da qualidade de vida. Cad Saúde Pública 2004;20:905-14. 12. Balady GJ et al. Diretrizes da ACSM para testes de esforço e sua prescrição. 6 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2003. 13. Borg G. Escalas de Borg para a dor e o esforço percebido. São Paulo: Manole; 2000. Referências 1. Greve JMD. Diagnóstico e tratamento da lesão da medula espinhal. São Paulo: Roca; 2001. 2. Nadeau M et al. Fisiologia aplicada na atividade física. São Paulo: Manole; 1985. 3. Glaser RM et al. The physiology of exercise. In: Apple DF, ed. Physical fitness: A guide for individuals with SCI. Department of Veterans Affairs-Veterans Health Administration, 1996; 323. 4. Pryor JA, Webber BA. Fisioterapia para problemas respiratórios e cardíacos. 2 ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan; 2002. 5. Costa D. Fisioterapia respiratória básica. São Paulo: Atheneu; 2004. 6. Nascimento APC. Projeto e desenvolvimento de um cicloergômetro para membros superiores e inferiores. [Dissertação]. São Carlos: Instituto de Química de São Carlos - Universidade de São Paulo, 2004. 7. Frontera W et al. Exercício fisico e reabilitação. Porto Alegre: Artmed; 2001. Fisioterapia_v8n3.indb 222 14. Nickerson BG, Keens TG. Measuring ventilatory muscle endurance in humans as sustainable inspiratory pressure. J Appl Physiol 1982;52:768-72. 15. Hart N et al. A novel clinical test of respiratory muscle endurance. Eur Respirat J 2002; 19:232-39. 16. Liaw MY et al. Resistive inspiratory muscle training: its effectiveness in patients with acute complete cervical cord injury. Arch Phys Med Rehabil 2000;81:752-56. 17. Silva AC et al. Effect of aerobic training on ventilatory muscle endurance of spinal cord injured men. Spinal Cord 1998;36:240-5. 18. Uijil SG et al. Training of the respiratory muscles in individuals with tetraplegia. Spinal Cord 1999;37:575-9. 19. Esch MVD et al. 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J Neurol Phys Ther 2005. 4/7/2007 18:09:50 Fisioterapia Brasil (vol.8, nº4 julho/agosto 2007 - 225~304) EDITORIAL Da miséria absoluta para a miséria relativizada, Marco Antonio Guimarães da Silva ............................................................... 227 ARTIGOS ORIGINAIS A eficácia do alongamento excêntrico associado ou não à eletroestimulação, Cristiani Matiko Onishi, Tatiana Raquel Filippin, Gladson Ricardo Flor Bertolini ...................................................................... 228 Avaliação cognitiva de idosas institucionalizadas através do mini-exame do estado mental com ou sem tratamento fisioterapêutico, Akinori Cardozo Nagato, Monique Gomes dos Santos, Teissa de Freitas Pinto Martins, Samuel Santos Valença, Frank Silva Bezerra, Mônica Viana Serva .............................................. 233 Lesões referidas em atletas de montaria em touros, Leonice Aparecida Doimo, Maria Vitória Ortiz Jimenez ....................................................................................................................................................... 239 Avaliação da qualidade postural em pré-adolescentes: construção e validação de escala, Sergio Fernando Zavarize, Solange Muglia Wechsler.................................................................................................................... 243 Prevalência de patologias de ombro no pré-operatório de câncer de mama: importância para a prevenção de complicações, Anke Bergmann, Thiago Barbosa Pereira, Erica Alves Nogueira, Ana Carolina Padula Ribeiro, Nathália Bourrus, Julio Guilherme da Silva ................................................................................... 249 Antecedentes obstétricos/neonatais e desenvolvimento motor-adaptativo de crianças pré-termo e com baixo peso entre 24 e 36 meses de idade, Milena Luchetta, Cibelle Kayenne Martins Roberto Formiga, Eloísa Tudella .......................................................................................................... 255 Flexão anterior do tronco: quantificação das forças e dos momentos de força que agem na coluna lombar, Heleodório Honorato dos Santos, Luis Carlos Carvalho, Francisco Soares Másculo, Francisco dos Santos Rebelo ........................................................................................................................................................ 261 Avaliação da expansibilidade torácica e da capacidade vital forçada em pacientes portadores e não portadores de espondilite anquilosante, Ângelo Piva Biagini, Mario Antonio Baraúna, Eliane Maria Carvalho Silva, Marcus Vinícius de Melo Pinto, Roberto Sérgio Tavares Canto, Valéria Sachi Magazoni ........................... 268 Incidência de atitudes escolióticas em atletas de judô com idade a partir de 18 anos, Milena Menezes de Amorim, Rodrigo Ribeiro de Oliveira, Aline Carla Araújo Carvalho, Ícaro A. Gama de Lima ...................... 274 REVISÕES Alongamento estático como recurso cinesioterapêutico na síndrome do piriforme encurtado, Cláudia Brízida Borga, Christianne Pereira Giesbrecht Chaves, Marco Orsini, Bruno Presto, Victor Hugo Bastos....................... 278 Benefícios dos exercícios excêntricos e concêntricos dentro do programa de fortalecimento muscular, Lygia Paccini Lustosa, Douglas José da Silva Michel, Gabriel Sanábio Martelli, Janaína Iara Moreira Costa, Roberto Lopes Santoro Neiva .......................................................................................................... 283 Fisioterapia na incontinência urinária no pós-parto, Laudimarcia Correia Parente, Sylvia Helena Ferreira da Cunha Henriques ................................................................................................................................ 288 RELATO DE CASO Estudo do perfil energético com eletrodiagnóstico ryodoraku em atletas velocistas de ciclismo, Guido Assis Cachuba de Sá Ribeiro ............................................................................................................................................. 294 NORMAS DE PUBLICAÇÃO .........................................................................................................................................299 EVENTOS.........................................................................................................................................................................300 Fisioterapia_v8n4.indb 225 30/8/2007 17:15:59 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 4 - julho/agosto de 2007 226 Fisioterapia Brasil www.fisioterapiabrasil.com.br Editor científico Prof. Dr. Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ – Rio de Janeiro) Conselho científico Profa. Dra. Anamaria Siriani de Oliveira (USP – Ribeirão Preto) Prof. Dr. Dirceu Costa (Unimep – São Paulo) Profa. Dra. Elaine Guirro (Unimep – São Paulo) Prof. Dr. Esperidião Elias Aquim (Univ.Tuiuti – Paraná) Profa. Dra. Fátima Aparecida Caromano (USP – São Paulo) Prof. Dr. Guillermo Scaglione (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina) Prof. Dr. Hugo Izarn (Univ. Nacional Gral de San Martin – Argentina) Prof. Dr. Jones Eduardo Agne (Univ. Federal de Santa Maria – Rio Grande do Sul) Prof. Dr. José Rubens Rebelatto (UFSCAR – São Paulo) Prof. Dr. Marcus Vinícius de Mello Pinto (Centro Universitário de Caratinga – MG) Profa. Dra. Margareta Nordin (Univ. de New-York – NYU – Estados Unidos) Prof. Dr. Mario Antônio Baraúna (Univ. do Triângulo Mineiro – UNIT – Minas Gerais) Profa. Dra. Neide Gomes Lucena (Univ. Fed. da Paraíba – UFPB – João Pessoa) Profº Dr. Nivaldo Antonio Parizotto (UFSCAR – São Paulo) Prof. Dr. Norberto Peña (Univ. Federal da Bahia – UFBA – Bahia) Prof. Dr. Roberto Sotto (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina) Profa Dra Tania de Fátima Salvini (UFSCAR – São Paulo) Dr. Antonio Neme Khoury (HGI – Rio de Janeiro) Dra. Claudia Bahia (FAFIS/IAENE – Salvador) Dr. Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Prof. Dr. João Santos Pereira (UERJ – Rio de Janeiro) Prof. José Roberto Prado Junior (Rio de Janeiro) Dra. Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina) Grupo de assessores Dr. Jorge Tamaki (PUC – Paraná) Dra. Marisa Moraes Regenga (São Paulo) Dra. Luci Fabiane Scheffer Moraes (Univ. do Sul de Santa Catarina) Dr. Paulo Henrique Eufrásio de Oliveira (UNIRB – Bahia) Prof. Dr. Paulo Heraldo Costa do Valle (UNICID – São Paulo) Dr. Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard) Revista Indexada na LILACS - Literatura Latinoamericana e do Caribe em Ciências da Saúde Rio de Janeiro Rua da Lapa, 180/1103 20021-180 – Rio de Janeiro – RJ Tel./Fax: (21) 2221-4164 / 2517-2749 E-mail: [email protected] www.atlanticaeditora.com.br São Paulo Publicidade e marketing René Caldeira Delpy Jr. [email protected] Direção de arte Cristiana Ribas [email protected] Rua Teodoro Sampaio, 2550/cj15 05406-200 – São Paulo – SP Tel: (11) 3816-6192 Recife Monica Pedrosa Miranda Rua Dona Rita de Souza, 212 52061-480 – Recife – PE Tel.: (81) 3444-2083 / 9204-0346 E-mail: [email protected] Assinaturas 1 ano: R$ 180,00 Rio de Janeiro: (21) 2221-4164 São Paulo: (11) 3361-5595 Email: [email protected] Recife: (81) 3444-2083 Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin [email protected] Editor Guillermina Arias [email protected] Gerência de vendas de assinaturas Djalma Peçanha [email protected] Atendimento ao assinante Vanessa Busson [email protected] Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço por correio ou por e-mail aos cuidados de Jean-Louis Peytavin Rua da Lapa, 180/1103 20021-180 – Rio de Janeiro – RJ [email protected] www.atlanticaeditora.com.br Ilustração da capa: Músculos do abdômen, vista anterior, camada superficial e segunda camada, ilustração de G. Devy, Traité d’anatomie humaine de Leon Testut, Paris, 1904. I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. © ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. Fisioterapia_v8n4.indb 226 30/8/2007 17:16:08 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 4 - julho/agosto de 2007 227 Editorial Da miséria absoluta para a miséria relativizada Marco Antonio Guimarães da Silva,Med.Dr.Sci. [email protected] A recente declaração do Sr. Lula da Silva, envolvendo a elite, a bolsa família e a bolsa acadêmica, me fez refletir sobre o tema. As bolsas acadêmicas oferecidas pelos órgãos fomentadores de investigação científica (CAPES, CNPq, Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa, etc.) destinam-se à formação de massa crítica. Ainda com uma colocação abaixo dos países emergentes, o investimento que se tem feito nessa área, no país, tem demonstrado que o caminho parece ser esse. Mesmo perdendo para Índia, China, Rússia e Coréia do Sul o Brasil ocupa o 15º lugar no ranking mundial, no quesito artigos publicados em revistas, com crescimento de 33% nos dois últimos anos. Já formamos doutores em ritmo semelhante ao de paises ricos, ocupando o 12º lugar no ranking mundial, ainda abaixo da Argentina e Chile, quando se leva em conta a proporção populacional. De qualquer forma, apesar de algumas distorções, parece que o investimento que se tem feito na área começa a dar resultados, que serão otimizados com a experiência que o tempo se encarregará de oferecer a grande quantidade dos recém-doutores. A pouca intimidade que tenho com relação ao tema da bolsa família me faz buscar algumas informações na mídia escrita e fico a par de que esse programa já beneficia 46 milhões de brasileiros, aproximadamente um quarto de toda a nossa população. Na tentativa de maiores esclarecimentos, recorro também à página eletrônica que o Ministério da Saúde mantém no ar e encontro ali a seguinte informação: “O BOLSA FAMÍLIA é um programa de transferência de renda destinado às famílias em situação de pobreza, com renda per capita de até R$ 120 mensais, que associa à transferência do benefício financeiro o acesso aos direitos sociais básicos - saúde, alimentação, educação e assistência social.” Chama minha atenção a parte da informação que grifei e me vem à cabeça a seguinte pergunta: onde diabos estão a saúde, a educação e assistência social prometidos pela informação colhida no site? Os profissionais da área de saúde conhecem muito bem o sofrimento que os menos privilegiados financeiramente tem para obter uma vaga ou atendimento para si em um hospital. Esclareça-se, embora não seja o momento para tal, que mesmo os que podem e pagam planos de saúde têm muitas dificuldades para obter atendimento ambulatorial à altura das elevadas quantias que mensalmente desembolsam. Obter uma vaga em CTI, ainda que com exorbitante pagamento, igualmente não é a tarefa fácil. Os pais, por sua vez, também sabem da dificuldade de obtenção de uma vaga para os seus filhos em escolas publicas. Obter a tal vaga em escola pública é tarefa hercúlea que inclui noite insone em longas filas. E finalmente, quando se consegue a vaga, não há a garantia de que o aluno conseguirá aprender alguma coisa. Não poderia, por falta de conhecimento, criticar a bolsa família. O benefício pode estar carregado de boas intenções, conseguindo, realmente, levar para a população alvo o alimento imprescindível. Mas será que o caminho é esse, ou só esse? Não estaríamos criando um mecanismo puramente assistencialista que traria como conseqüência uma inevitável acomodação? Teriam os beneficiários dessa bolsa alguma perspectiva ou esperança de trabalho digno e educação para os seus filhos? O assistido durante anos, ou talvez durante toda sua existência, fora acostumado com alimentação escassa que mal permitira a garantia da sua própria existência. Aparece então a bolsa família e agora ele sai da miséria absoluta para uma miséria relativizada, brindando com louvores o pai governo que veio para salvar-lhe. Tento inutilmente resistir à tentação de buscar na filosofia alguma explicação para o fato, mas não posso deixar de fazer uma incursão nessa área. Audaciosamente, proponho, então, uma leitura para a situação. “Pão e água proporcionam o maior dos prazeres quando são levados à boca dos que tem necessidade” (Carta a Meneceo - Epicuro, 341-270 AC). Para Epicuro o limite do prazer se encontra na completa ausência de dor e surge tanto da satisfação do desejo como no posterior equilíbrio alcançado. O raciocínio epicurista, amparado no empirismo, associa a origem do conhecimento à experiência sensível. A moral epicurista também não é do tipo que possa ter efeitos sociais de longo alcance. É uma concepção que tende a brindar um indivíduo ou grupo de indivíduos ligados por laços de amizade. Essa idéia talvez explique porque saciar a fome de alguém pode trazer tantos louvores para o “benfeitor”. Os repetidos cheques doados mensalmente antecipam a presença real e efetiva desse benfeitor. A benfeitoria estabelece laços quase que pessoais com o beneficiado e cria uma rede de intimidade ampliada mais ainda com a imagem de expobre, coitado, que o benfeitor insiste em manter. Seria esse o motivo da conquista de tanta aprovação e admiração? Em carta a Meneceo, Epicuro oferece estratégias muito eficientes para superar as tensões, os medos e as limitações, enfim, a ultrapassagem do sofrimento humano. A linha de argumentos utilizada no livro poderia ser comparada às modernas estratégias da reestruturação cognitiva, cuja máxima reside em arranjar a “cabeça” para chegar à felicidade. Parece que no caso assistencialista que aqui discutimos esse arranjo se inicia e termina no trato digestivo. *Professor da UFRRJ e de curso de Doutorado recomendado no exterior e Editor cientifico da Revista Fisioterapia Brasil Fisioterapia_v8n4.indb 227 30/8/2007 17:16:08 228 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 4 - julho/agosto de 2007 Artigo original A eficácia do alongamento excêntrico associado ou não à eletroestimulação The effectiveness of the associated eccentric stretching or no electrical stimulation Cristiani Matiko Onishi, Ft.*, Tatiana Raquel Filippin, Ft.*, Gladson Ricardo Flor Bertolini, M.Sc.** Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, Docente do Curso de Fisioterapia UNIOESTE Resumo Abstract O alongamento muscular através do uso de eletroestimulação, para a obtenção de aumento de flexibilidade, é uma técnica recente, existindo poucos estudos comparando essa técnica de alongamento com outras técnicas tradicionais. O objetivo deste estudo foi analisar o ganho de flexibilidade do músculo tríceps sural, em resposta ao alongamento excêntrico, associado ou não a eletroestimulação, comparando-os a um grupo controle. O experimento consistiu da análise dos graus de dorsiflexão através de mensuração goniométrica, em 14 indivíduos saudáveis, apresentado retração muscular do tríceps sural. Os indivíduos foram divididos em 3 grupos: I – 5 no grupo que realizou alongamento excêntrico do tríceps sural (17,2º, ± 4,4º); II – 5 no grupo que realizou alongamento excêntrico associado a eletroestimulação (17,9º, ± 2,3º); III – 4 no grupo controle (17,3º, ± 7,8º). Os participantes do grupo I, na segunda mensuração, apresentaram em média 23,7º (± 2,9º, p ≤ 0,05); o grupo II apresentou 23,9º (± 3,6º, p ≤ 0,05); e o grupo III apresentou 18,8º (± 8,6º, p > 0,05). Conclui-se que a técnica de alongamento excêntrico e associação da eletroestimulação apresentaram resultados superiores ao grupo controle, sendo ambas, técnicas úteis para a realização do ganho de flexibilidade muscular. The muscle stretching through electrical stimulation, for increasing flexibility, is a recent technique. Few studies exist comparing that stretching technique with other traditional techniques. The objective of this study was to analyze flexibility gain of the triceps surae muscle, in response to the eccentric stretching, associated or not with the electrical stimulation, comparing them to a control group. The experiment consisted of analysis of dorsiflexion degrees through goniometric measurement, in 14 healthy individuals with muscle retraction of the triceps surae. The individuals were divided into 3 groups: I - 5 in the group that carried out eccentric stretching of the triceps surae muscle (17.2º, ± 4.4º); II - 5 in the group that carried out eccentric stretching associated to electrical stimulation (17.9º, ± 2.3º); III - 4 in the control group (17.3º, ± 7.8º). The participants of group I, in the second measurement, showed an average of 23.7º (± 2.9º, p = 0.05); the group II showed 23.9º (± 3.6º, p = 0.05); and the group III showed 18.8º (± 8.6º, p> 0,05). It was concluded that the eccentric stretching technique and association of electrical stimulation showed better results than the control group, and both are useful techniques for gaining muscle flexibility. Palavras-chave: alongamento muscular, eletroestimulação, alongamento excêntrico, contração muscular. Introdução A flexibilidade é descrita como a amplitude de movimento possível de ser alcançada em uma articulação e seus músculos circunvizinhos [1]; pode ser influenciada pela idade, sexo e raça [2]. Para uma amplitude de movimento normal são necessárias mobilidade e flexibilidade dos tecidos moles que circundam a articulação. Diversos fatores podem limitar a amplitude de movimento (ADM), resultando em encurtamento adaptativo Key-words: muscle stretching, eletroestimulation, eccentric stretching, muscular contraction. dos tecidos moles, como: imobilizações prolongadas, mobilidade restrita, doenças do tecido conectivo ou neuromusculares, processos patológicos devido a traumas e deformidades ósseas [3]. A redução no comprimento da fibra muscular está associada ao aumento da resistência passiva do músculo durante o alongamento. Um músculo retraído apresenta duas características básicas, redução no número de sarcômeros em série e aumento na densidade de tecido conjuntivo, resultando em menor elasticidade. O perimísio é o tecido que mais contribui Recebido em 12 de maio de 2006; aceito em 18 de junho de 2007. Endereço para correspondência: Gladson Ricardo Flor Bertolini, Rua Universitária, 1476/21, Bairro Universitário, 85819-110, Cascavel PR, Tel: (45) 324-4470, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v8n4.indb 228 30/8/2007 17:16:08 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 4 - julho/agosto de 2007 para resistência passiva extracelular no músculo esquelético, sendo que a força imposta ao músculo durante o alongamento é transmitida através do tecido conjuntivo intramuscular [4]. O tecido conjuntivo possui propriedades viscoelásticas; o componente viscoso permite um estiramento plástico que resulta em alongamento permanente do tecido depois que a carga é removida, e o componente elástico torna possível o retorno do tecido ao comprimento anterior após a retirada do estímulo [5]. Então, quando submetido a um alongamento, o músculo pode passar por três fases, a primeira consiste na fase elástica; a segunda plástica, e a última fase na ruptura da fibra muscular [6]. Um treinamento de flexibilidade sob a forma de um programa de exercícios planejados e regulares tem por finalidade alongar ligamentos, cápsulas e aumentar a extensibilidade das unidades músculo-tendíneas, aumentando a ADM da articulação [7,8]. Portanto, os tecidos moles ao redor da articulação devem ser alongados de maneira progressiva a fim de aumentar a flexibilidade de uma articulação [1]. O objetivo do presente estudo é comparar duas diferentes formas de alongamento (excêntrico e alongamento através da eletroestimulação associado à contração excêntrica) com um grupo controle, demonstrando a eficácia terapêutica de cada método. Materiais e métodos O presente estudo comparou duas formas de alongamento excêntrico (associado ou não à eletroestimulação). O grupo muscular escolhido como alvo das formas de alongamento foi o tríceps sural, pois, segundo Kottke e Lehmann [9] e Kendall, McCreary e Provance [10] mesmo em pessoas saudáveis, pode apresentar algum grau de encurtamento por cruzar múltiplas articulações. Participaram do estudo, após a aprovação do mesmo pelo Comitê de Ética para Pesquisas em Humanos da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, 14 acadêmicos da UNIOESTE, de ambos os sexos, sendo 10 mulheres e 4 homens, na faixa etária entre 18 a 28 anos, os quais foram divididos aleatoriamente, em 3 grupos. Como critérios de exclusão foram listados: limitação do movimento articular por alterações outras, que não retração muscular; história de fratura recente em tornozelo; dor intensa e aguda aos movimentos articulares ou com o alongamento muscular; hematoma ou outras indicações de traumatismos teciduais no tornozelo ou tecidos próximos; contraturas ou tecidos moles encurtados formando a base para maiores capacidades funcionais, ou maior estabilidade articular; déficit de sensibilidade ou alteração da mesma; processo inflamatório ou infeccioso agudo nas articulações ou ao seu redor. No primeiro grupo (G1) foi aplicado alongamento através de contração excêntrica de tríceps sural, com o auxilio da eletroestimulação, este grupo foi composto por 4 mulheres e 1 homem com idade de 23,4 ± 2,3 anos; o segundo grupo (G2) realizou apenas alongamento com contração excêntrica, Fisioterapia_v8n4.indb 229 229 sendo formado por 3 mulheres e 2 homens com idade de 23,2 ± 0,84 anos; e o terceiro grupo (G3) foi o controle, composto por 3 mulheres e 1 homem com idade de 23,0 ± 1,41 anos. A mensuração da amplitude de dorsiflexão foi realizada através da goniometria, obedecendo aos critérios de Marques [11], sendo realizada com o paciente em decúbito dorsal, com os joelhos estendidos e o pé em posição anatômica. O braço fixo do goniômetro foi posicionado na face lateral da fíbula, o braço móvel na face lateral do pé, paralelo à superfície do quinto metatarso, com o eixo posicionado na articulação do tornozelo, junto ao maléolo lateral. O alongamento foi realizado diariamente durante duas semanas, com intervalo de dois dias entre a 5a e 6a sessões, totalizando 10 dias de alongamento, aproximadamente no mesmo período do dia, eram repetidos por 5 vezes em cada sessão, totalizando 50 alongamentos para cada músculo. Neste período, os indivíduos foram instruídos a não realizar nenhum tipo de atividade física intensa, assim como qualquer outro tipo de alongamento, que pudesse interferir nos resultados finais. Em G1 a eletroestimulação foi realizada com o equipamento Kinesis Corrente Russa da marca KW, com certificado de calibração válido no período da pesquisa. Os parâmetros utilizados foram: tempo de subida - 3s, tempo de permanência da corrente - 15s, tempo de descida - 2s, e tempo de repouso - 27s (o tempo de repouso foi o máximo permitido pelo aparelho); perfazendo um total de 20s de alongamento e 27s de repouso. O alongamento foi repetido 5 vezes em cada membro inferior, com intensidade regulada de acordo com a sensibilidade individual. O participante era posicionado em decúbito dorsal com os membros inferiores estendidos, um dos eletrodos era colocado no terço superior e o segundo no terço inferior do ventre muscular do tríceps sural, adaptados à perna do paciente por meio de gel condutor e fixados por fitas adesivas. Era solicitado o alongamento do grupo tríceps sural ativamente, por contração do grupo dorsiflexor mantendo-se durante a passagem da corrente. A aplicação da corrente foi realizada em ambos membros inferiores simultaneamente (Figura 1). Figura 1 - Uso da eletroestimulação elicitando contração do grupo tríceps sural, o alongamento é realizado através de contração ativa dos músculos dorsiflexores. Fonte: dos autores. 30/8/2007 17:16:09 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 4 - julho/agosto de 2007 230 Para G2 o alongamento foi realizado passivamente, com o indivíduo apoiando o pé em uma escada; após o voluntário relatar a sensação de alongamento, solicitava-se a contração do músculo tríceps sural até que tal sensação diminuísse, mantendo assim o alongamento com contração excêntrica durante um período de 20s por 40s de repouso (Figura 2). Figura 2 – Alongamento do grupo tríceps sural, com contração excêntrica destes. G2 inicialmente apresentou 17,0 ± 4,47o em MID e 18,0 ± 4,47o em MIE, após 10 sessões, verificou-se 24,8 ± 3,27o (p = 0,0136) em MID e 23,8 ± 3,90o (p = 0,0603) em MIE; os resultados computando os valores dos dois membros iniciais foram 17,50 ± 4,25o e após as sessões 24,30 ± 3,43o, neste grupo também houve diferença significativa após a realização dos alongamentos (p = 0,0009). Os dados individuais podem ser vistos na tabela II. Tabela II - Valores observados em graus para os participantes, do grupo de alongamento através de contração excêntrica na 1a e na 10a sessão de alongamento, para os membros direito e esquerdo. Participante 1a direita 1 20 2 10 3 20 4 15 5 20 10a direita 30 22 22 25 25 1a esquerda 20 10 20 20 20 10a esquerda 30 22 20 25 22 Fonte: dos autores. Fonte: dos autores. No grupo controle (G3) os indivíduos apresentavam características semelhantes aos demais grupos, porém, não foi realizada nenhuma terapêutica visando o ganho de flexibilidade muscular. Os dados foram analisados através de estatística descritiva e pelo teste t de Student, utilizando-se o programa Excell Microsoft Office 2000. Resultados Na avaliação inicial G1 obteve no membro inferior direito (MID) 17,6 ± 2,51o de dorsiflexão, e 18,6 ± 2,19o no membro inferior esquerdo (MIE); após os procedimentos, os resultados foram 23,8 ± 4,82o (p = 0,0340) para MID e 24,8 ± 2,49o (p = 0,0030) para MIE; ao comparar ambos os membros pré (18,10 ± 2,28o) e pós-intervenção (24,30 ± 3,65o) houve diferença estatisticamente significativa após os 10 dias de alongamento (p = 0,0002). Os dados individuais podem ser observados na Tabela I. Tabela I - Valores observados em graus para os participantes do grupo de eletroestimulação associado à contração excêntrica, na 1a e na 10a sessão de alongamento, para os membros direito e esquerdo. Participante 1a direita 1 20 2 18 3 15 4 15 5 20 10a direita 28 30 20 20 21 1a esquerda 20 20 15 18 20 10a esquerda 21 25 25 25 28 G3 apresentou valores iniciais e finais de 18,25 ± 8,80o para o MID (p = 1); no MIE o valor inicial foi 19,5 ± 9,47o e o final de 19,25 ± 9,70o (p = 0,9718), neste grupo não houve diferença entre os da primeira para a segunda avaliação (p = 0,9771). Os dados individuais podem ser vistos na tabela III. Tabela III - Valores observados em graus para os participantes do grupo controle, na 1a e na 10a sessão de alongamento, para os membros direito e esquerdo. Participante 1a direita 10a direita 1 30 30 2 12 11 3 11 12 4 20 20 1a esquerda 30 12 11 25 10a esquerda 30 10 12 25 Fonte: dos autores. Ao comparar inicialmente entre os grupos G1 (18,1 ± 2,28o) com G2 (17,5 ± 4,25o) não havia diferença significativa (p = 0,6987). Na avaliação final as médias se igualaram para os grupos eletroestimulação (24,3 ± 3,65o) e cinesioterapia (24,3 ± 3,43o) novamente não havendo diferença significativa entre os grupos (p = 1). Discussão De acordo com Alter [7] e Watkins [8], o aumento na ADM de uma articulação só é possível mediante a aplicação de um programa de exercícios planejados e regulares. Hall [12] ressalta que o aumento da flexibilidade ocorre mediante a aplicação de alongamentos de tendões, fáscias e músculos. Fonte: dos autores. Fisioterapia_v8n4.indb 230 30/8/2007 17:16:09 σ Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 4 - julho/agosto de 2007 Segundo Deyne [13], a deformidade plástica dos tecidos expostos a tensões mecânicas pode ser explicada de acordo com as propriedades dos materiais; quando uma substância é exposta a uma força passiva, ela deformar-se-á de acordo com suas propriedades materiais, e quando uma força relativamente baixa é sustentada durante um longo período do tempo, a maioria de materiais deformar-se-á em uma maneira tempo dependente. Esta plasticidade é o resultado das propriedades viscoelásticas de quase todos os tecidos. Quando a força é aplicada em um curto período, o tecido retornará a seu comprimento original, também em uma maneira tempo dependente. O alongamento só ocorre quando é mantida a tração por tempo suficiente para que haja a deformação do tecido conectivo [14]. Esse tempo deve ser consideravelmente longo, visto que a duração da tração é diretamente proporcional à capacidade de deformação viscoelástica do músculo [6]. Um alongamento de baixa força e longa duração otimiza mudanças plásticas no tecido, sempre que estas mudanças são induzidas ocorre uma reorganização molecular e enfraquecimento do tecido por um curto período, essa sobrecarga estimula o tecido a adaptar-se [15]. Segundo Marques [4], o exercício ativo excêntrico é aquele em que há aumento da tensão muscular obtido através da ativação das fibras musculares extra-fusais, e realização do movimento voluntário de alongamento do músculo. Esse exercício estimula a adição de sarcômeros em série, promovendo hipertrofia muscular e remodelação do tecido conjuntivo, por ser um exercício ativo e livre não promove lesões, quando respeita os limites morfofuncionais do indivíduo, sendo assim uma boa indicação para se obter alongamento de um determinado grupo muscular. Lynn e Morgan apud Deyne [13] descreveram a utilização da contração excêntrica no músculo para conduzir à geração de sarcômeros em série. Os resultados apresentados neste estudo demonstraram que tanto a aplicação do alongamento excêntrico quanto da eletroestimulação associada ao alongamento excêntrico resultaram em deformidades plásticas do músculo contribuindo para o aumento da flexibilidade. A média inicial da técnica excêntrica foi de 17,50 ± 4,25o, após a décima terapia observou-se uma elevação para 24,30 ± 3,43o. A aplicação da eletroestimulação apresentou uma média inicial de 18,10 ± 2,28o e final de 24,30 ± 3,65o. Com a elevação da média final conclui-se que ocorreu uma elevação na flexibilidade muscular, com a aplicação do alongamento excêntrico e da eletroestimulação. Feland et al. [16] avaliaram diferentes variáveis associadas ao alongamento, incluindo a força ou a intensidade, posicionamento, freqüências, duração e repetição, e suas influencias em maior ganho de amplitude de movimento. O estudo foi realizado em idosos de aproximadamente 65 anos, nos quais ocorreu um maior ganho de amplitude de movimento quando o tempo do alongamento foi maior, sendo que a intensidade, freqüência e tempo de estiramento eram invariáveis para todos Fisioterapia_v8n4.indb 231 231 os participantes. Relatam ainda que para ocorrer à mudança plástica do tecido conectivo o alongamento deve ser lento de baixa-intensidade e os estiramentos de longa-duração, para que não cause lesão muscular otimizando a eficácia da escala crescente do movimento. Uma variedade de ganhos terapêuticos pode ser obtida estimulando-se eletricamente a contração muscular como: reeducação muscular, fortalecimento, retardo da atrofia, aumento da amplitude de movimento, e, bombeamento do sangue [17]. Nunes e Davini [18] utilizaram a estimulação elétrica nos músculos extensores da perna verificando a variação da força destes músculos. Contudo, a literatura disponível é pobre com relação à indicação desta forma terapêutica para o alongamento muscular. Segundo o informativo da KLD [19], o método de alongamento muscular associado a eletroestimulação oferece vantagens em relação aos demais métodos, pois enquanto o músculo é eletroestimulado há produção de calor pela contração muscular, fazendo com que no músculo aumente a temperatura durante o trabalho, produzindo um efeito positivo sobre a matriz de colágeno, tornando-o mais maleável. Infere-se que a eletroestimulação apresentou resultados positivos em todos os participantes avaliados. Mas, apesar dos argumentos descritos, amplamente favoráveis a eletroestimulação [19], no aumento da flexibilidade em proporções efetivas, os resultados obtidos neste estudo, não mostraram que o alongamento através da técnica de eletroestimulação foi superior ao da técnica excêntrica. Conclusões Pode-se concluir após a coleta e avaliação dos dados, que um treinamento de flexibilidade se aplicado corretamente é técnica eficaz para aumentar a amplitude de movimento de uma articulação. As duas técnicas de alongamento excêntrico apresentadas obtiveram bons desempenhos ao comparar com o grupo controle, sendo que ambas apresentaram resultados semelhantes, com respeito ao ganho de flexibilidade. Sendo que ambas as técnicas quando bem orientadas podem ser realizadas periodicamente, não apenas como uma forma de terapêutica, mas também como prevenção na instalação de encurtamentos. Referências 1. Martin JM, Canavan PM. Fortalecimento e condicionamento: a criação de um plano. In: Canavan PK. 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Amparo: KLD Biossistemas Equipamentos Eletrônicos; 1999. 30/8/2007 17:16:10 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 4 - julho/agosto de 2007 233 Artigo original Avaliação cognitiva de idosas institucionalizadas através do mini-exame do estado mental com ou sem tratamento fisioterapêutico Cognitive evaluation of elderly through the mini-mental state exam with or without physical therapy Akinori Cardozo Nagato*, Monique Gomes dos Santos*, Teissa de Freitas Pinto Martins*, Samuel Santos Valença, D.Sc.**, Frank Silva Bezerra***, Mônica Viana Serva*** *Alunos da Universidade Severino Sombra, Vassouras RJ, **Docente da Faculdade Adventista da Bahia, ***Docentes da Universidade Severino Sombra, Vassouras RJ Resumo Abstract O objetivo deste estudo foi investigar o déficit cognitivo entre idosos de duas instituições da cidade de Vassouras RJ com ou sem tratamento fisioterapêutico. A distribuição dos resultados foi analisada através dos dados obtidos, segundo a aplicação do miniexame do estado mental (MEEM), sob a observação das condições distintas entre as duas instituições. A soma dos escores do MEEM obtidos entre a amostra de idosos do Asilo Barão do Amparo (ABA) e Asilo Sagrado Coração (ASC) foram, respectivamente, 18,2 e 16,34. O nível de escolaridade e o tratamento fisioterapêutico não exerceram qualquer tipo de influência sobre os escores do MEEM ao se comparar as idosas do asilo ABA com as idosas do asilo ASC. Nossos resultados indicaram que não houve fatores associados ao baixo escore na avaliação do MEEM nos parâmetros analisados em ambos os grupos, exceto a idade avançada. The aim of this study was to investigate the cognitive deficit between elderly of two institutions in the city of Vassouras RJ with or without physical therapy. The distribution of the results was analyzed through the data according to application of the mini-mental state exam (MMSE), under distinct conditions between the two institutions. The addition of MMSE scores between the institutions ABA and ASC were 18.2 and 16.34, respectively. The educational level and the physical therapy had not effect about the MMSE when compared elderly from ABA and ASC. Our results showed no factors involved to the low scores in the MMSE evaluation for the parameters analyzed in both groups, except the advanced age. Key-words: mini-mental state exam (MMSE), elderly, asylum, physical therapy. Palavras-chave: mini-exame do estado mental (MEEM), idosos, asilo, fisioterapia. Introdução A proporção de indivíduos idosos tem aumentado de forma significativa, tanto no Brasil como em muitos lugares do mundo e, nos próximos 20 anos, a população idosa representará quase 13% do total da população mundial ao final desse período [1,2]. Sabe-se que a velhice é um período no qual ocorre o declínio crescente dos processos fisiológicos, em que o corpo não responde da mesma maneira tanto a estímulos internos como também externos. A fisioterapia para os idosos institucionalizados é de grande importância, pois ajuda a restabelecer as atividades de vida diária e a minimizar os efeitos degenerativos sobre o sistema osteomioarticular [3-5]. Segundo Davim [6], o envelhecimento populacional acelerado no Brasil certamente aumentará o número de idosos institucionalizados. Sobre este aspecto, o conceito de autonomia de populações progressivamente mais idosas tornou-se foco de diversos estudos de quantificação da qualidade de vida. Estes, então, fundamentam-se epidemiologicamente em diversas vertentes, e visam, conjuntamente, uma linha de abordagem mais coerente segundo as necessidades relativas dos idosos [7]. Recebido em 25 de junho de 2006; aceito em 15 de março de 2007. Endereço para correspondência: Samuel dos Santos Valença, Caixa Postal 18, 44300-000 Cachoeira BA, Tel:(75)3425-8121, E-mail: valenc@ zipmail.com.br Fisioterapia_v8n4.indb 233 30/8/2007 17:16:10 234 Segundo alguns estudos [5,8,9], é possível afirmar que o estado cognitivo tem importância para se avaliar a capacidade de reabilitação e adaptação de idosos institucionalizados ao meio ambiente. O estado cognitivo torna-se para esse ponto de vista um aspecto sugestivo, portanto, uma necessidade de um inquérito epidemiológico do momento cognitivo da população idosa, que una às necessidades relativas o conhecimento clínico, terapêutico, preventivo e reabilitador dos profissionais da saúde [10]. O fenômeno do envelhecimento implica em aumento progressivo da prevalência de doenças crônicas não transmissíveis - como as relacionadas à senilidade; os distúrbios mentais são comuns e correspondem a 8% dessas doenças [11]. Estudos europeus revelam a prevalência de, aproximadamente, 10 a 20% de demência entre os idosos [12]. Já entre os norteamericanos estima-se que a partir de 65 anos, pelo menos, 15% dessa população prevalece com déficit cognitivo: risco de deterioração mental que pode aumentar com o avançar da idade [13-15]. Na observância deste quadro, o mini-exame do estado mental (MEEM) foi proposto por Folstein [16], como um exame simplificado do estado mental, que se resume em pontuações geradas pela aplicação de um questionário investigativo, resultando em um escore individual. Atualmente, a comunidade científica internacional se refere a este método como um instrumento para detectar um possível comprometimento cognitivo; documentar alterações com o passar do tempo; e avaliar os efeitos dos agentes terapêuticos em potencial no funcionamento cognitivo [3,15,17,18]. Sobretudo, outra finalidade, diferentemente das aplicações clínicas descritas anteriormente, é defendida por Brito-Marques [19,20]: aplicação do MEEM como um instrumento de pesquisa epidemiológico populacional. Desde 1994, autores sugerem algumas adaptações no MEEM para que este possa ser utilizado em ambiente hospitalar, consultório ou estudos populacionais [21]. A aplicação do MEEM no rastreamento do déficit cognitivo atende os critérios epidemiológicos por ser um teste de fácil aplicação, rápido e que gera respostas interpretáveis à luz da sua normatização, embora tenha especificidade limitada para síndromes clínicas individuais. Evidências da literatura indicam que existem relações diretas entre os resultados obtidos no teste e os aspectos relacionados à prevalência de comprometimento cognitivo [22]. Indivíduos com mais de oito anos de instrução formal são protegidos contra uma redução de suas capacidades para solucionar testes cognitivos. Entretanto, indivíduos com baixo nível de instrução não têm esta capacidade e, dessa forma, apresentam sinais de envelhecimento antes de se tornarem pessoas idosas [9,23,24]. A presente pesquisa faz parte de um projeto de estudo relacionado aos idosos, realizado em dois asilos da cidade de Vassouras RJ onde um grupo recebeu atenção fisioterapêutica, e utilizou como referência epidemiológica os dados obtidos no Asilo Barão do Amparo (ABA) e Asilo Sagrado Coração Fisioterapia_v8n4.indb 234 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 4 - julho/agosto de 2007 (ASC). O objetivo do estudo foi investigar o modo de distribuição do déficit cognitivo dos idosos asilados, através de uma análise comparativa dos escores obtidos na aplicação do MEEM entre os idosos de ambos os asilos mencionados. Material e métodos O estudo realizado no ABA e ASC foi possível após aprovação do projeto de pesquisa “Viabilização do mini-exame do estado mental como recurso inter-profissional diante da estratificação de depressão em déficit cognitivo em idosos”, aplicado e supervisionado com apoio da Universidade Severino Sombra – RJ e seu respectivo comitê de ética para trabalhos científicos com seres humanos, no período de agosto de 2005 a fevereiro de 2006. O inquérito epidemiológico foi realizado através de integração entre uma amostra padronizada por anamnese, seguido da aplicação do MEEM. O MEEM é um teste cognitivo amplamente utilizado na prática clínica para identificar alterações cognitivas iniciais. É uma ferramenta útil por se constituir de um questionário rápido, prático, validado e seguro em seus resultados em relação ao estado cognitivo dos indivíduos avaliados. O MEEM é composto por 30 questões categóricas e, a cada resposta considerada correta, é atribuído um ponto ao paciente. Normalmente a pontuação é feita da seguinte forma: 30 a 26 pontos, função cognitiva preservada (normal); 25 a 24 pontos, o paciente apresenta uma alteração leve sugestiva de déficit; com 23 ou menos pontos, o teste sugere déficit de cognição [16]. O critério de elegibilidade de inclusão para a amostra analisada esteve delineado sob dois aspectos: consentimento informado das entidades envolvidas e das idosas entrevistadas, observando-se o anonimato dos entrevistados. Os desempenhos dos resultados obtidos no MEEM foram comparados sob três aspectos qualitativos, com base nos escores referentes à orientação temporal, orientação espacial e memória imediata. A idade do grupo ABA foi comparada à idade do grupo ASC, assim como o nível de escolaridade para ambos. Foram selecionados, inicialmente, em ambos os asilos, um total de 63 idosos, sendo 25 do sexo masculino (39,68%) e 38 do sexo feminino (60,32%). Contudo, foi observado que todos os idosos do sexo masculino foram inábeis em interpretar e responder corretamente as indagações da anamnese + MEEM, o que forçou-nos a excluir esse grupo da pesquisa e utilizar os dados provenientes do sexo feminino somente. Dentre as pacientes do sexo feminino, um grupo considerável de idosas foi inábil em interpretar e responder corretamente as indagações da anamnese + MEEM, o que reduziu de forma significativa o número de idosas em teste para esse trabalho. O tratamento fisioterapêutico aplicado ao grupo de idosas do asilo ASC consistiu de exercícios isotônicos e isométricos para os principais grupos musculares do tronco (abdominais e paravertebrais) e dos membros inferiores (flexores e extensores de quadril e joelho, dorsi-flexores e flexores plantares do 30/8/2007 17:16:11 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 4 - julho/agosto de 2007 tornozelo). Eram realizadas duas séries de 10 repetições para cada grupo muscular com intervalo de repouso entre elas. Não foram utilizadas cargas para esse programa de exercícios. Antes e após de qualquer tipo de atividade, as pacientes recebiam orientações quanto ao alongamento e mobilidade do tronco e membros e relaxamento muscular. Foram incluídos para as análises os dados obtidos das idosas, a partir de 64 anos e que responderam a todos os critérios da anamnese (n = 11), com abordagem, dentre outras questões, dos seguintes aspectos: instituição que reside; idade; tempo de internação e escolaridade. A análise dos dados foi realizada através de estatística não paramétrica com o uso do teste ANOVA para comparação do grupo ABA e ASC com a pontuação base nos quesitos referentes à orientação temporal, orientação espacial e memória imediata, considerando um p < 0,05 como significativo. Para comparação da idade e nível de escolaridade nos grupos ABA e ASC, o teste de Mann-Whitney foi realizado considerando um p < 0,05 como significativo. Resultados A Figura 1 apresenta o resultado da comparação entre a média de idade no grupo ABA e no grupo ASC. Não houve diferença para a idade entre os dois grupos. Entretanto, ao se comparar o nível de escolaridade do grupo ABA com o grupo ASC, foi notado um aumento significativo para o grupo ASC conforme pode ser observado na figura 2 (p < 0,01). O mini-exame do estado mental foi apresentado sob três aspectos principais e ambos os grupos, ABA e ASC, foram comparados à pontuação base. Ao se investigar a orientação temporal, foi notado que ambos os grupos, ABA e ASC, apresentaram escores diminuídos em comparação à pontuação base com um p < 0,05 (Figura 3). Embora o grupo ASC apresentasse um escore ligeiramente diminuído em comparação com o grupo ABA, essa diferença não foi significativa. A investigação da orientação espacial revelou que os grupos ABA e ASC obtiveram escores menores que a pontuação base (Figura 4). Essa diminuição foi de p < 0,01 para ABA e p < 0,05 para ASC em comparação a pontuação base. Para tal investigação, pode-se notar que ambos os grupos não eram diferentes entre si. O último aspecto principal do mini-exame do estado mental a ser avaliado foi à memória imediata. Assim como para os outros aspectos avaliados, os grupos ABA e ASC obtiveram escores diminuídos em comparação ao grupo controle. Essa diminuição foi de p < 0,001 para ambos os grupos, os quais não apresentaram diferença significativa entre si (figura 5). A Tabela I apresenta os dados das instituições detalhadamente, na qual é possível observar o distanciamento das pontuações obtidas em comparação à pontuação base. Os resultados são apresentados como média dos escores obtidos por grupos de pacientes em diferentes itens avaliados e em diferentes instituições. Como pode ser observado na tabela Fisioterapia_v8n4.indb 235 235 o escore final do asilo ABA foi maior que o escore final do asilo ASC. Figura 1 - Comparação da média ± DP de idades referente às idosas do asilo ABA e ASC. Não houve diferença estatística entre as idades da amostra estudada. Figura 2 - Comparação da média ± DP do nível de escolaridade referente às idosas do asilo ABA e ASC. As idosas do asilo ASC tem em média um nível de escolaridade maior que as idosas do asilo ABA. Essa diferença é significativa (p < 0,01). Figura 3 - Comparação da média ± DP da pontuação do miniexame do estado mental (MEEM) para o quesito orientação temporal. A pontuação base representa a pontuação máxima que pode ser atingida. Ambos os grupos de idosas, do asilo ABA e ASC, apresentaram uma diminuição significativa da orientação temporal em comparação com a pontuação base (p < 0,05). 30/8/2007 17:16:11 σ 236 Figura 4 - Comparação da média ± DP da pontuação do MEEM para o quesito orientação espacial. A pontuação base representa a pontuação máxima que pode ser atingida. Ambos os grupos de idosas, do asilo ABA (p < 0,01) e ASC (p < 0,05), apresentaram uma diminuição significativa da orientação espacial em comparação com a pontuação base, entretanto como pode ser visto, a diminuição é ligeiramente maior no grupo de idosas do asilo ABA. Figura 5 - Comparação da média ± DP da pontuação do MEEM para o quesito memória imediata. A pontuação base representa a pontuação máxima que pode ser atingida. Ambos os grupos de idosas, do asilo ABA e ASC, apresentaram uma diminuição significativa da memória imediata em comparação com a pontuação base (p < 0,001). Tabela I - Distribuição da média dos resultados do mini-exame do estado mental (MEEM). Como pode ser observado na parte inferior da tabela, o grupo de idosas do asilo ABA obteve uma soma de pontos ligeiramente maior que o grupo de idosas do asilo ASC. Fisioterapia_v8n4.indb 236 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 4 - julho/agosto de 2007 Discussão Nossos dados apresentam um resultado que é muito interessante do ponto de vista cognitivo e, devido à falta de uma amostra maior, é bem possível que não possamos extrapolar esses resultados diretamente para as populações de idosos institucionalizados. Entretanto, esse é um estudo original e traça uma investigação sobre o MEEM em dois grupos de idosos provenientes de instituições diferentes. Esse aspecto da instituição é particularmente peculiar devido à diferença entre as estruturas físicas de cada uma. A instituição descrita como ABA é filantrópica e se mantêm através de doações como roupas, cestas básicas e contribuições financeiras. A instituição denominada ASC, instituída como congregação, utiliza recursos vinculados à prática religiosa para sua manutenção e subsistência. As duas entidades diferem em suas estruturas organizacionais. Observa-se aspectos distintos, tais como: condição financeira favorável às necessidades da instituição; contato afetivo; condições nas elaborações das atividades de lazer; prevalências de atendimentos médicos particulares; dieta individualmente balanceada, com horários controlados; arejamento do ambiente, boa luminosidade e atuação fisioterapêutica na instituição ASC. Apesar das diferenças em termos de organização e suporte entre as instituições mencionadas, uma possível relação entre as condições asilares e o grau de comprometimento cognitivo parece não existir, uma vez que o distanciamento entre os escores obtidos entre as idosas do asilo ABA e do asilo ASC foram mínimos e desprezíveis. Embora a eficácia e validade do MEEM estejam comprovadas, pacientes institucionalizados normalmente possuem baixas performances em testes que avaliam a capacidade de seqüenciamento e ordenação temporal de idéias, fatos e memória [25,26]. Pequenas deteriorações mentais e intelectuais, características do processo de envelhecimento, podem por si só comprometer em alguns casos o teste do MEEM [13,27-30]. Laks [31] descreve que as modificações realizadas nos itens cópia e cálculo do MEEM adaptado podem ter influenciado no melhor desempenho encontrado no aspecto da idade, quando comparada com o questionário proposto por Folstein [16]. Outro aspecto de influência sobre o teste é o tempo de institucionalização. Sabe-se que há uma correlação positiva entre o comprometimento cognitivo e o comprometimento adaptativo em pacientes esquizofrênicos idosos institucionalizados [6]. Algumas instituições ainda possuem características socioeconômicas e de saúde semelhantes às encontradas na literatura, pontuando-se baixas condições financeiras, contato familiar conflituoso, atividades de lazer limitadas ou ausentes, saúde precária, com restrição no atendimento médico e de enfermagem, além da ausência de planos privados de saúde [32,33]. Nossos resultados mostram que o asilo que apresenta condições organizacionais inferiores obteve escore semelhante ao asilo com melhores condições através do MEEM. Esse discreto distanciamento entre as pontuações do MEEM entre os asilos 30/8/2007 17:16:11 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 4 - julho/agosto de 2007 ABA e ASB vem a confirmar o descrito na literatura a respeito do avançar da idade e a relação direta com a presença do déficit cognitivo. O asilo ABA obteve maior pontuação do MEEM na orientação espacial e na memória imediata, enquanto a orientação espacial foi motivo de maior pontuação no asilo ASC. Nesse sentido, é possível sugerir que um maior grau de escolaridade e o tratamento fisioterapêutico podem estar associados com uma melhor orientação espacial. Entretanto, nossos resultados a princípio são precários e não podem suportar completamente esta especulação. Apesar da diferença entre o nível de escolaridade, nossos resultados mostram que, isoladamente, cada item do MEEM apresentou-se sem diferença entre as idosas provenientes de instituições diferentes. Acreditamos nesse resultado mais devido à idade avançada da nossa amostra que devido a real diferença dos resultados. Outro fator relevante é quanto às atividades desenvolvidas por essas idosas. Não adianta muito o fato de ter as idosas um maior nível de escolaridade se atividades educacionais e de estímulo ao raciocínio não são desenvolvidos [9,12,23,24]. Conclusão O desempenho cognitivo medido pelo MEEM esteve significativamente reduzido em ambos os asilos. Os dados sugerem que as condições estruturais, o nível educacional e o atendimento fisioterapêutico não são fatores que influenciam de forma geral o estado cognitivo. Devido ao tamanho da amostra, é possível que essas alterações sejam particulares aos asilos estudados, e soma-se o fato para uma interferência direta das condições físicas pré-existentes e idade avançada das idosas analisadas. Contudo, estas considerações devem ser constantemente revistas ao longo do processo de direcionamento dos programas de planejamento de proteção e atendimento aos idosos, em específico, aqueles institucionalizados. Referências 1. Busse A, Sonntag A, Bischkopf J, Matschinger H, Angermeyer MC. Adaptation of dementia screening for vision-impaired older persons: administration of the Mini-Mental State Examination (MMSE). J Clin Epidemiol 2002;55(9):909-15. 2. MacKenzie DM, Copp P, Shaw RJ, Goodwin GM. Brief cognitive screening of the elderly: a comparison of the Mini-Mental State Examination (MMSE), Abbreviated Mental Test (AMT) and Mental Status Questionnaire (MSQ). Psychol Med 1996; 26(2):427-30. 3. 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Dentre os entrevistados, 10 profissionais e 28 amadores reportaram ter sofrido lesões em etapas anteriores, totalizando 84 abrasões, 48 distensões, 34 contusões, 34 fraturas, 15 entorses e 19 luxações. As lesões concentraram-se nos membros inferiores sendo a coxa o segmento mais acometido com 102 ocorrências, principalmente distensões, seguida do joelho (60), perna (36), quadril (20), pé (16) e tornozelo (14). A montaria em touros é um esporte emocionante com grande potencial para ferimentos decorrentes de forças que não são vistas em outros esportes. A fim de estudar mais detalhadamente os padrões das lesões e avaliar fatores de risco para os mesmos um estudo epidemiológico em grande escala deve ser empreendido, possibilitando identificar e estabelecer estratégias preventivas. The bull riding arrived at Brazil in middle of years 80, becoming one of the biggest attractions of rodeo parties being recognized as regulated sport in 2001. The purpose of this study was to describe the types of injuries in this modality during the 2005 national rodeo season. After informed consent 48 male (24,5 ± 3,0 years old) answered to a structuralized questionnaire and all mentioned injuries were classified as proposed by Flegel (4). Ten professionals and 28 inexperienced competitors had reported to have suffered injuries being 84 wounds, 48 sprains, 34 contusions, 34 fractures, 15 strains and 19 dislocations, and indicating the injuries were to the lower extremity complex. The most frequent site of injury was the thigh with 102 occurrences followed by the knee (60), leg (36), hip (20), foot (16) and ankle (14). The bull riding is a very exciting sport with injury potential that includes forces that are not seen in other sports. In order to study injury patterns in more detail and to assess risk factors for injury a larger scale epidemiological study should be undertaken. Through such risk-based analysis preventative strategies could be identified. Key-words: rodeo, cowboys, injury, trauma. Palavras-chave: rodeio, peão, lesão, trauma. Introdução A montaria em touros chegou ao Brasil em meados dos anos 80 e, desde então, passou a ser uma das maiores atrações das festas de rodeio. O competidor deve permanecer “apenas” oito segundos sobre o touro para que seja considerado vencedor. O rodeio completo consiste de oito provas, sendo sete masculinas e somente uma feminina (prova dos três tambores). A modalidade passou a ser reconhecida como esporte regulamentado conforme Lei 10.220, de 11/04/2001, equi- parando seus praticantes aos demais atletas profissionais. Em 2002, outro projeto de Lei (116/2001) obriga os promotores de tais eventos a colocarem à disposição peões auxiliares, médicos e ambulâncias bem como exigir dos participantes um seguro de vida. A montaria em touros é considerada um esporte perigoso já que o adversário pesa, aproximadamente, dez vezes mais que o competidor o que exige de seus praticantes coragem, reflexo, equilíbrio, coordenação e muita ousadia. Ao adquirir o status de esporte, a coragem dá lugar à destreza e o treinamento constante contribui para a fama dos melhores peões. Assim, Recebido em 26 de outubro de 2006; aceito em 28 de março de 2007. Endereço para correspondência: Leonice Aparecida Doimo, Departamento de Educação Física, Universidade Federal de Viçosa, Campus Universitário, 36570-000 Viçosa MG, Tel: (31) 3899-2249, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v8n4.indb 239 30/8/2007 17:16:13 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 4 - julho/agosto de 2007 240 aspectos culturais, possibilidades de altos ganhos e notoriedade contribuem para fazer do rodeio um esporte excitante, com um alto potencial para lesões, muitas delas fatais. Por tratar-se de um assunto novo no meio científico, existe escassez de material bibliográfico referente aos diversos aspectos desta modalidade, principalmente no Brasil. A literatura internacional aponta para a ocorrência de uma ampla gama de lesões que necessitam ser identificadas, objetivando o tratamento adequado bem como a recuperação íntegra e rápida do atleta, tanto adulto quanto jovem [1,2]. Este estudo objetivou descrever os tipos de lesões referidas em homens praticantes da modalidade montaria em touros, a partir de relatos dos próprios praticantes, durante a realização de uma das etapas do circuito nacional de rodeio de 2005. Utilizou-se um questionário estruturado, aplicado sob forma de entrevista pela própria pesquisadora. O mesmo incluía questões sobre identificação (nome, data de nascimento), prática da modalidade (tempo de prática, freqüência e duração de treinos semanais, realização de alongamentos pré e pós competição, atividade física habitual) e identificação dos tipos e segmentos corporais acometidos por lesões sofridas até a presente etapa. Foi solicitado que se referissem somente a lesões ocorridas durante os eventos oficiais da modalidade, desde o início da prática até a presente etapa, desconsiderando-se as ocorridas nos treinos. Foram consideradas todas as lesões mencionadas, classificando-as conforme Flegel [4]. Os resultados foram analisados em termos de percentuais encontrados para cada variável. Material e método Resultados Os dados coletados referem-se ao relato de 48 homens que participaram das etapas anteriores à pesquisa, por ocasião da realização do circuito nacional de rodeio 2005. A amostra foi selecionada pelo critério de melhor acessibilidade [3], incluindo atletas amadores (30 sujeitos) e profissionais (18 sujeitos), com idades entre 19 e 31 anos (média 24,5 ± 3,0 anos). Todos foram informados sobre os objetivos do estudo e concordaram voluntariamente com a participação, assinando um termo de consentimento, o qual garantia a privacidade das informações pessoais. Dos 48 atletas entrevistados, 38 (10 profissionais e 28 amadores) reportaram ter sofrido lesões em etapas anteriores, desde o início da prática, identificando-se assim a ocorrência de 248 lesões, com média de 6,5 lesões por atleta. Conforme Tabela I, as lesões mais referidas e respectivos números de menções foram abrasões (84), distensões (48), contusões (34), fraturas (34), entorses (15) e luxações (19). A coxa foi o segmento corporal mais acometido com 102 ocorrências, seguida de joelho (60), perna (36), quadril (20), pé (16) e tornozelo (14). Tabela I - Tipo, segmento corporal, quantidade e porcentagem de lesões referidas por atletas profissionais e amadores praticantes de montaria em touros. Quadril Distensão Contusâo Entorse Fratura Luxação Abrasão Total n° % n° % n° % n° % n° % n° % n° % Coxa 48 19,3 26 10,5 Perna 4 1,6 12 4,8 4 1,6 20 8 Tornoz. 6 2,4 16 6,5 28 11,3 102 41,1 Pé 2 0,8 14 5,7 22 8,9 Com relação ao tempo de prática, metade dos sujeitos reportou ter entre um a seis anos de experiência, sendo cinco a seis anos o período com maior número de indicações (14 sujeitos). A outra metade mencionou ter entre sete e 13 anos ou mais de experiência, sendo que 12 deles reportaram ter entre nove e 10 anos de prática na modalidade. A prática de atividade física semanal limitou-se à prática de futebol nos finais de semana (13 sujeitos), musculação (8 Fisioterapia_v8n4.indb 240 Joelho 44 17,7 60 24,2 8 3,2 36 14,5 8 3,2 6 2,4 14 5,7 16 6,5 Total 48 19,3 34 13,7 30 12,2 34 13,7 18 7,2 84 33,9 248 100 sujeitos; duas vezes/semana) e condicionamento físico com acompanhamento (11 sujeitos; mínimo 3 vezes/semana), com duração média de sessenta minutos por sessão. Dezesseis sujeitos (33,3%) mencionaram não realizar nenhum tipo de atividade física semanal. Somente 22 (45,8%) realizam aquecimentos antes da montaria e 42 (87,5%) mencionaram realizar alongamentos após a mesma. Dos 38 atletas que sofreram lesões, 24 (63%) referiram algum 30/8/2007 17:16:13 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 4 - julho/agosto de 2007 tipo de dor no segmento corporal acometido após período de reabilitação. Discussão Em geral, pesquisas que abordam a questão das lesões na área esportiva somente realizam uma comparação entre diferentes modalidades de esporte, apontado aquelas com maior percentagem de lesões, a proporção de lesões entre os sexos e o período das ocorrências (durante treinamento e/ou competição), sem a preocupação de buscar uma correlação entre os mesmos [5]. O rodeio, em se tratando de uma modalidade esportiva recentemente reconhecida e sendo praticado por homens de várias faixas etárias, começa a fazer-se presente com freqüência no cenário esportivo nacional, principalmente pela sua visibilidade midiática crescente, tornando-se um nicho com possibilidades de pesquisas em diversos aspectos, dentre eles as lesões físicas decorrentes da sua prática. Neste estudo piloto, das 248 lesões identificadas, 84 foram abrasões acometendo, pela ordem, joelhos, coxas e pernas. Isto é compreensível devido ao atrito da pele com o corpo do animal e também pelo fato de tratar-se de uma modalidade cuja quantidade de quedas é muito grande, implicando um atrito com o chão, principalmente quando o atleta não consegue desvencilhar-se das rédeas, ficando preso e sendo arrastado pelo touro. Em termos de segmento corporal, a coxa foi o mais acometido, principalmente por distensões, provavelmente devido à grande contração isométrica dos adutores do quadril, resultado de uma força mecânica intensa agindo brevemente sobre os tecidos musculares, na tentativa do atleta em manter-se sobre o animal durante os oito segundos exigidos. Dessa forma, exercícios de aquecimento realizados antes da montaria poderiam permitir melhor adaptação da situação de repouso para a de exercício, melhorando o desempenho e podendo contribuir para minimizar as lesões nesta região, pelo fato de dinamizarem as propriedades viscoelásticas dos músculos e tendões das coxas e quadril para resistirem a cargas que produzem altos níveis de tensão [6]. Um aspecto interessante refere-se à influência que a prática de uma atividade física regular pode ter sobre a incidência dessas lesões, pois evidências sugerem que a prática de exercício sistemático (mínimo duas vezes por semana) não garante menor risco de lesões para esta modalidade [7]. Provavelmente esse “efeito protetor” esperado do exercício não seja verificado pelo fato das atividades praticadas pelos competidores não apresentarem alguma particularidade, sobretudo técnica, que pode ser transferida para o rodeio. Por exemplo, diferente da musculação, cujo objetivo básico é o fortalecimento e hipertrofia muscular, a prática de uma arte marcial como o judô, além dos benefícios músculo-esqueléticos, poderia também contribuir para aumento da cinestesia corporal, através da prática de técnicas de amortecimento de quedas ou ukemi, cujo objetivo principal é anular os efeitos das mesmas. Caindo-se com a superfície toda dos braços e mãos bem estendidas, Fisioterapia_v8n4.indb 241 241 tem-se um aumento da superfície da queda, transmitindo ao solo, de maneira mais eficiente, as vibrações produzidas pelo choque, ou seja, saber cair é prevenir ou diminuir a gravidade das lesões, não somente no caso específico do judô mas em diversas situações [8]. A associação entre a experiência do competidor e a incidência de lesões foi um aspecto levado em consideração num estudo conduzido por Butterwick & Meeuwisse [1], na medida em que poderia interferir na localização e, principalmente, na gravidades das lesões. Um estudo prospectivo entre atletas experientes e não experientes, no período de 1995 a 1999, concluiu que, em geral, indivíduos inexperientes não apresentaram altas taxas de lesões severas ou maior quantidade de lesões em relação às diferentes partes do corpo quando comparados com sujeitos mais experientes, porém, nos primeiros, as lesões foram mais freqüentes nos membros superiores. O que se observa é que a experiência parece ser um fator irrelevante quando se considera que a interação homem-animal, durante a realização da prova, forma um sistema demasiado complexo que padece de uma imprevisibilidade natural. Este aspecto é característico de habilidades motoras abertas, onde as ações se desenrolam em um ambiente que muda no tempo e no espaço, ou seja, o executante deve tentar agir sobre o estímulo de acordo com a ação do mesmo. Este estudo piloto evidenciou o perfil da prevalência de lesões na amostra estudada, permitindo agrupá-las também por tipo e local. Observou-se que, apesar de todo o corpo ser susceptível às mesmas, todas se localizaram nos membros inferiores. Porém, estudos reportam alta incidência de traumas também nos membros superiores direito e esquerdo (mão, punho, antebraço, cotovelos e braço), de gravidade variada. Evidências radiográficas também indicam alta presença de traumas repetitivos nos membros superiores e inferiores [9]. Contusões e fraturas foram relatadas em proporções iguais, originadas a partir de um golpe direto por ocasião da queda de cima do animal. Contusões em ossos e músculos podem ser graves na medida em que podem causar perda de função se não convenientemente detectadas e tratadas logo após sua ocorrência. Essa brevidade no atendimento de emergência proporciona um leque maior de opções de tratamento que não estarão disponíveis com o passar do tempo. Assim, um aspecto importante a ser considerado refere-se ao tipo de atendimento médico prestado aos atletas desta modalidade durante a realização dos eventos. Kotarba [10] menciona que os sistemas de atendimento médico podem ser agrupados em três tipos, ou seja, elitista, controlado e primitivo cada um refletindo a qualidade do serviço prestado e a classe social atendida. No caso do rodeio, a partir de dados etnográficos, o autor salienta que o atendimento para seus praticantes é do tipo primitivo, pelo fato da maioria dos mesmos pertencer a uma classe economicamente inferior e praticar uma modalidade encarada como uma subcultura esportiva individualista. Estes aspectos sugerem um sistema de atendimento barato, não médico em sua filosofia e, na grande maioria das vezes, ineficiente, não 30/8/2007 17:16:13 σ 242 permitindo um diagnóstico e tratamento correto das lesões. Talvez a qualidade do atendimento imediatamente após a lesão além de não permitir implementar melhores possibilidades terapêuticas para o processo de reabilitação, possa também estar associada ao fato de vários atletas que sofreram agravos reportarem sentir dor e desconforto após tratamento das mesmas. A dor pode se manifestar de forma aguda ou crônica. No primeiro caso, a mesma tem duração inferior a um mês, porém, a definição para dor crônica diverge entre pesquisadores, com alguns considerando o período de duração superior a um mês, outros mais de três meses e outros, ainda, maior que seis meses. Contudo, há um consenso de que a dor crônica não deve ser classificada somente com base na sua duração, mas também pela forma com que sua presença influencia a vida do paciente [11]. A demora no diagnóstico e tratamento pode levar à prática de tratamentos paliativos que não surtem efeito podendo, inclusive, comprometer atividades rotineiras. Quando o processo álgico se cronifica, pode gerar incapacidades permanentes e intenso estresse físico e emocional para o paciente, interferindo na realização das atividades cotidianas e também no desempenho desportivo. A alteração do nível da atividade física após lesão é um dos aspectos mais importantes no tratamento de esportistas necessitando, portanto, de atuação de uma equipe multidisciplinar objetivando preservar ao máximo o condicionamento e habilidades do atleta. Porém, uma reabilitação esportiva abrangente e de excelente qualidade torna-se difícil em virtude dos altos custos, o que limita o acesso do atleta de rodeio a um tratamento rápido e especializado. Finalizando, para a amostra estudada, este estudo permitiu a obtenção de um panorama relativo à incidência e sítios de lesões nos atletas de montaria em touros, evidenciando que a maioria mencionou a ocorrência de um número significativo de lesões. Não se objetivou verificar a reincidência das mesmas, de modo que suas quantidades poderiam ter sido maiores que o reportado. Contudo, algumas considerações devem ser feitas como o fato de se atentar para a questão da objetividade dos dados coletados, pois os mesmos foram obtidos a partir do relato individual e não diretamente dos serviços médicos presentes durante os eventos. Embora toda pessoa possa ter consciência do que seja sofrer uma lesão, deve-se considerar que a administração de um questionário implica em um recordatório onde, muitas vezes, esta se reportará apenas aos eventos que tenham sido mais relevantes. Outro aspecto importe é o fato do avaliado não saber definir com propriedade o tipo e gravidade da lesão sofrida, o que pode ser fonte de erros no momento da classificação dos traumas. Assim, para futuras pesquisas, sugere-se obter os dados através de formulários padronizados, preenchidos diretamente pela equipe médica responsável, durante a realização das diversas etapas do rodeio. Isto possibilitaria estudar com maior segurança os tipos, locais, gravidade, reincidências e aspectos ligados ao processo de reabilitação das mesmas, dentre outros, não somente para a montaria em touros, mas de outras provas do rodeio. Fisioterapia_v8n4.indb 242 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 4 - julho/agosto de 2007 Também poderia ser empreendido um estudo epidemiológico em grande escala objetivando estudar mais detalhadamente os padrões das lesões e avaliação dos fatores de risco para as mesmas, possibilitando identificar e estabelecer estratégias preventivas para os adeptos deste esporte. Conclusão Este estudo permitiu obter um panorama das lesões sofridas por atletas da modalidade montaria em touros. As lesões acometeram os membros inferiores, sendo a coxa o segmento corporal mais acometido, principalmente por distensões, seguida pelo joelho, perna, quadril, pé e tornozelo. Abrasão foi o tipo de lesão predominante devido ao atrito e às quedas e pela dificuldade em desvencilhar-se das rédeas sendo arrastado pelo animal. Lesões graves como fraturas foram reportadas bem como a referência à dor após processo de reabilitação. Levando-se em consideração que o rodeio é um esporte de alto risco, requerendo muita habilidade de seus praticantes, é de suma importância que os dados referentes às lesões sejam observados e avaliados sob diferentes enfoques para que sejam desenvolvidos mecanismos de prevenção e também para que tenham eficácia na minimização dos riscos e das conseqüências advindas da prática desse esporte. Referências 1. Butterwick DJ, Meeuwisse WH Effect of experience on rodeo injury. Clin J Sport Med 2002;12(1):30. 2. Butterwick DJ, Brandenburg MA, Andrews DM, Brett K, Bugg BH, Carlyle KJ, et al. Concussion in rodeo group: agreement statement from the 1st international rodeo research and clinical care conference: Calgary, Alberta, Canada (july 7-9, 2004). Clin J Sport Med 2005;15(3):192-5. 3. Polit DF, Hungler BP Nursing research: principles and methods. Philadelphia: Lippincott Company; 1989. 4. Flegel M.J. Primeiros socorros no esporte. São Paulo: Manole; 2002. 5. De Loes M, Dahlstedt LJ, Thomee R. A 7-year study on risks and costs of knee injuries in male and female youth participants in 12 sports. Scand J Med Sci Sports 2000;10:90-7. 6. Alter M. Ciência da flexibilidade. Porto Alegre: Artes Médicas Sul; 1999. 7. Sinclair AJ, Ransone JW Physical activity and its relationship to rodeo injury and success. J Strength Cond Res 2004;18(4):8737. 8. Dos Santos SG, Melo SI. Biomecânica aplicada ao judô. In: Franchini E, editor. Judô: desempenho competitivo. 1aed. São Paulo: Manole; 2001. p. 97-125. 9. Meyers MC, Sterling JC, Souryal TO Radiographic findings of the upper extremity in collegiate rodeo athletes. Med Sci Sports Exerc 2003;35(4):543-7. 10. Kotarba JA Conceptualizing sports medicine as occupational health care: illustrations from professional rodeo and wrestling. Qual Health Res 2001;11(6):766-79. 11. Teixeira, MJ et al. Dor: contexto interdisciplinar. 1a ed. São Paulo: Maio; 2003; 632p. 30/8/2007 17:16:14 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 4 - julho/agosto de 2007 243 Artigo original Avaliação da qualidade postural em pré-adolescentes: construção e validação de escala Assessment of the quality posture in pre-teenagers: scale construction and validation Sergio Fernando Zavarize, Ft.*, Solange Muglia Wechsler, D.Sc.** *Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Especialista em RPG, Clínica Fisioterapêutica Zavarize, Mogi Mirim SP, ** Psicóloga, Professora Titular da PUC Campinas Este artigo é parte do Projeto de Dissertação apresentado para Defesa ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia - Centro de Ciências da Vida da Pontifica Universidade Católica de Campinas, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Psicologia Escolar – 2006. Resumo Abstract A proposta deste estudo foi elaborar uma escala de qualidade da postura corporal para pré-adolescentes. Duas amostras foram utilizadas: 1) 4 fisioterapeutas, que participaram como juízes para avaliar o conteúdo da escala; 2) 92 pré-adolescentes, 40 masculinos e 52 femininos, 35 de escola privada e 57 de escola pública, idade entre 10 e 12 anos. A “Escala de Qualidade Postural para Pré-adolescentes” mediu 4 áreas: postura sentada, postura em pé, postura deitada, postura em relação ao material escolar. Foi utilizado também um programa de avaliação postural computadorizada, denominado “Posturograma”. Através da utilização da correlação de Pearson, foi possível observar correlações significativas entre as 4 áreas da escala, indicando sua validade de conteúdo. No entanto, quando comparados os resultados da escala com as medidas da avaliação computadorizada, somente 3 correlações significativas foram encontradas. Conclui-se que foi possível avaliar a qualidade postural de pré-adolescentes através de instrumentos válidos, no entanto, outros estudos se fazem necessários nesta área. The purpose of this study was to elaborate a scale to measure the quality of corporal posture for teenagers. Two samples were used: 1) 4 physiotherapists, who participated as judges to evaluate the scale content; 2) 92 teenagers, 40 men and 52 women, 35 of private school and 57 of public school, ages between 10 to 12 years old. A “Quality Posture Scale for Teenagers” was elaborated, measuring 4 areas: seated posture, stand posture, laid posture, posture in relation to school materials. A computerized program named “Posturograma” was also utilized. Through the use of Pearson correlation it was possible to observe significant correlation (p ≤ 0.05) among all 4 areas in the scale, indicating its content validity. However, when comparing the scale results with measures of Assessment Computerized only 3 significant correlations were found. Concluding it was verified the possibility to assess the quality posture of teenagers through a valid instrument, although more studies are necessary to have more comprehensive means of assessing it. Key-words: scale, quality, assessment, posture. Palavras-chave: escala, qualidade, avaliação, postura. Introdução A postura está diretamente relacionada com o equilíbrio e a coordenação motora, regulados e adaptados adequadamente para a realização de determinados movimentos nos quais o aparelho locomotor é exigido [1]. É uma posição ou atitude do corpo devidamente organizada para uma determinada atividade ou de modo a sustentá-lo, o que ilustra aspectos como função e equilíbrio corporal [2]. Por sua vez, a postura pode ser classificada de boa ou má, partindo-se do princípio que é a caracterização de um conjunto, harmônico ou não, de atitudes globais do corpo. Deve exigir o mínimo de sobrecarga das estruturas, com um menor gasto energético. A postura se caracteriza Recebido em 12 de dezembro de 2006; aceito em 16 de abril de 2007. Endereço para correspondência: Sergio Fernando Zavarize, Rua Padre José, 396, 13800-170 Mogi Mirim SP, Tel: (19)3862-4180, E-mail: sergio. [email protected] Fisioterapia_v8n4.indb 243 30/8/2007 17:16:14 244 pela composição das posições de todas as articulações do corpo [3]. A Academia Americana de Ortopedia define a postura como um inter-relacionamento relativo entre as partes do corpo [1]. O equilíbrio entre as estruturas que sustentam e protegem o corpo, ossos, músculos, tendões e ligamentos, está em oposição a agentes externos ou internos, que de uma forma ou de outra tentam quebrar a harmonia estática e a dinâmica desse equilíbrio. Por outro lado, a ‘boa postura’ deve satisfazer determinadas especificações biomecânicas e estéticas. Critérios dos mais variados são utilizados, muitas vezes de maneiras arbitrárias, ainda na idade escolar. Portanto, a postura não pode ser classificada em normal ou anormal e por isso, usa-se o termo “boa e má”. A postura ideal em pé é descrita da seguinte forma: os pés ficam à frente dos tornozelos e fazem com que a linha da gravidade que cai no meio deles situe-se à frente desta articulação, provocando um desequilíbrio anterior. Para corrigi-lo, obedecendo à lei do mínimo esforço, o joelho irá se posicionar ligeiramente atrás da linha da gravidade, o ventre à frente, as costas atrás e a cabeça à frente. A manutenção do equilíbrio torna-se fundamental, e a desorganização de um segmento do corpo implicará em uma nova organização de todos os outros. Sendo assim, se a cabeça é projetada para frente, conseqüentemente as costas assumem posição posteriorizada e o ventre vai para frente em um deslocamento de massas, com força e direção contrárias a toda força que propiciou o desequilíbrio [4]. A postura sentada proporciona várias alterações nas estruturas músculo-esqueléticas da coluna lombar. O simples fato de o indivíduo passar da postura em pé para a sentada, aumenta em cerca de 35% a pressão interna no núcleo do disco intervertebral e todas as estruturas, como os ligamentos, pequenas articulações e os nervos, que ficam na parte posterior, são alongadas e esticadas. Esta postura em tempo prolongado, além dos problemas lombares, tende a reduzir a circulação de retorno dos membros inferiores, gerando edema nos pés e tornozelos e, também, pode provocar desconfortos na região do pescoço e membros superiores [5]. O comportamento postural da criança durante os primeiros anos escolares vem a ser o grande responsável pelos vícios posturais adquiridos, levando-se em consideração a evolução da postura ereta, as condições anatômicas, a coluna vertebral e as relações da criança com o meio social em que vive [6]. Portanto, torna-se necessário que especial atenção seja dada à saúde da criança em idade escolar, já que as doenças da coluna são freqüentes na população, sendo cada vez mais crescente entre os jovens e em geral não há uma causa patológica subjacente. É de fundamental importância uma boa educação e conscientização postural precoce, visto que quando as alterações posturais estão no início, são susceptíveis e de fácil correção. A infância é o período mais adequado para iniciar o trabalho educativo com a finalidade de orientar e enfatizar com seriedade a relevância do uso correto das posturas [7]. Fisioterapia_v8n4.indb 244 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 4 - julho/agosto de 2007 Material e métodos Amostra 1 - Quatro fisioterapeutas do sexo feminino, que atuam em clínicas particulares no tratamento e prevenção de problemas posturais, em cidade situada no interior do estado de São Paulo, participaram como juizes para a construção da escala. Amostra 2 - Participaram da presente pesquisa 92 pré-adolescentes, sendo 40 do sexo masculino e 52 do sexo feminino, 35 de escola particular e 57 de escola pública, de 10 a 12 anos, regularmente matriculados e cursando quintas e sextas séries de uma escola particular e uma escola pública do interior do estado de São Paulo. Portadores de paralisias ou doenças incapacitantes não participaram da pesquisa. Instrumentos 1. Escala de Qualidade Postural para Pré-adolescentes – esta escala foi construída em formato tipo ‘liKert’ em 4 pontos, totalizando 34 itens que abrangeram 4 áreas: Área 1Postura sentada, Área 2 - Postura em pé, Área 3 - Postura deitada e Área 4 - Postura em relação ao material escolar. A escala utilizada foi especialmente elaborada para crianças e pré-adolescentes. As respostas foram ilustradas com ‘carinhas’, que representam o grau de confirmação-negação ou aceitação-rejeição ao item proposto que sugerem – sempre, quase sempre, quase nunca, nunca - respectivamente. Subdividiram-se em 4 escolhas, justamente para que não existisse opção neutra em relação às respostas. 2. Posturograma – programa computadorizado de avaliação postural. O programa consiste em sistemas de mensurações feitas a partir de posturas previamente fotografadas. Através do programa são mensuradas as distâncias entre pontos anatômicos em fotografias da vista anterior, posterior, perfil direito e esquerdo, flexão anterior na vista também anterior e flexão anterior em vista perfil. A partir destas imagens e mensurações são feitas avaliações gráficas da postura avaliada com medidas em centímetros e metros. Posteriormente, pode-se transformar todas as medidas para centímetros a fim de facilitar os trabalhos estatísticos. Procedimento Após esclarecer aos juízes os objetivos da pesquisa, a escala lhes foi apresentada. Para cada item da escala, os juizes assinalaram a área que melhor o representou marcando com números de 1 a 4. Para que houvesse concordância do item com o que ele pretendeu medir, a área um deveria ser assinalada com o número 1, área dois com o número 2, área três com o número 3 e área quatro com o número 4. Depois de aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com seres humanos da PUC-Campinas, foram enviadas duas cartas de autorização para os diretores de escola, uma para o diretor da escola particular e outra para o diretor da escola pública. 30/8/2007 17:16:14 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 4 - julho/agosto de 2007 Após autorização dos diretores, os pais ou responsáveis dos participantes foram consultados para que permitissem a participação destes, na presente pesquisa. Foram também informados de todos os aspectos importantes a serem estudados tanto no âmbito da prevenção como do tratamento, garantindo-lhes o anonimato e a devolutiva dos resultados. Para a aplicação da escala junto aos participantes, houve a necessidade do pesquisador orientar e acompanhar a leitura dos itens e, quando necessário, auxiliou na compreensão dos mesmos. Os participantes assinalaram resposta de próprio punho, na presença do pesquisador, marcando as escolhas que melhor representaram sua opinião. Feito isto, a mesma escala já respondida foi encaminhada aos pais e/ou responsáveis para sua apreciação e confirmação ou não das respostas assinaladas por seus filhos. Os participantes também foram fotografados individualmente pelo pesquisador e através do programa de avaliação computadorizado, denominado posturograma, se realizou a mensuração das distancias entre pontos anatômicos. Para a realização das fotos padronizou-se a postura em pé com o posicionamento dos pés num ângulo de 30º para todos os participantes - rotação lateral a partir da articulação de quadril. Isto foi feito com ajuda do pesquisador, que se utilizou de linhas traçadas com giz no chão. Todas as medidas foram posteriormente convertidas para centímetros para a realização dos estudos estatísticos. Análise da Variância Univariada (ANOVA) foi realizada para comparar diferenças de sexo nos resultados das áreas da Escala e as medidas da Avaliação Postural Computadorizada. Além disso, foram feitas correlações de Pearson para comparar as áreas entre si, as medidas da avaliação postural entre si, como também as áreas da escala com as medidas da avaliação postural computadorizada. 245 e 4 e a área 4 com a 1, 2, e 3. Isto demonstra a validade de construto da Escala de Qualidade Postural. Tabela I - Correlação de Pearson das Áreas entre si. Área 1 Fisioterapia_v8n4.indb 245 Área 3 Área 4 Área 1 Correlação de 0,45(**) 0,33(**) 0,31(**) Pearson Área 2 Correlação de 0,19 0,26(*) Pearson Área 3 Correlação de 0,24(*) Pearson Área 4 Correlação de Pearson * p ≤ 0,05; ** p ≤ 0,01; *** p ≤ 0,001 A fim de compreender as diferenças entre sexo e tipo de escola, a Tabela II apresenta o resultado das médias de pontos obtidos na escala de qualidade postural e o desvio padrão. Tabela II - Média dos resultados das áreas por sexo e tipo de escola e seu respectivo desvio padrão. Tipo de Escola Áreas da Escala Particular Área 1 Pública SEXO Feminino Resultados 1) Resultados da amostra 1 - Houve 100% de concordância entre os juízes para todos os itens propostos, indicando assim a validade de conteúdo da escala. Como relata Menezes [8], a validade de conteúdo julga se o instrumento é capaz de abranger todos os aspectos do objeto a ser medido, sem que alguns elementos possam ser atribuídos a outros objetos, o que foi plenamente atingido com a escala utilizada. 2) Resultados da amostra 2 - Foi realizada a correlação das áreas entre si, a fim de comparar suas dimensões e demonstrar a validade de construto da escala. Através dos valores demonstrados na Tabela I, pode-se observar o forte grau de correlação entre as áreas da escala. Portanto, a postura sentada (área1) tem correlação com as posturas em pé (área 2), postura deitada (área 3) e postura em relação ao material escolar (área 4). O que mostra a influência dessa postura na qualidade das outras. A área 2 também se correlaciona com as áreas 1, 3 e 4, a área 3 com as áreas 1 Área 2 Masculino Média 2,41 Desvio Padrão 0,44 Área 2 2,95 0,41 Área 3 2,96 0,47 Área 4 2,85 0,47 Área 1 2,42 0,43 Área 2 2,54 0,48 Área 3 2,88 0,38 Área 4 2,86 0,54 Área 1 Média 2,26 Desvio Padrão 0,35 Área 2 2,53 0,50 Área 3 2,90 0,42 Área 4 2,75 0,55 Área 1 2,62 0,45 Área 2 2,91 0,40 Área 3 2,90 0,42 Área 4 3,01 0,43 Houve pouca diferença entre o tipo de escola em relação à postura para as diferentes áreas, evidenciando-se uma pontuação maior para a escola particular na área 3, relacionada à posição deitada. Já em relação ao sexo, nota-se pontuação maior em quase todas as áreas para o sexo masculino, com exceção da área 3 onde as médias dos pontos se igualam. A Análise da Variância Univariada foi realizada a fim de investigar as diferenças por área segundo sexo e tipo de escola. Como foi demonstrado na Tabela III, evidenciou-se resultados significativos (p ≤ 0,05) em relação ao sexo na área 1, na área 2 e na área 4. 30/8/2007 17:16:14 σ Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 4 - julho/agosto de 2007 246 Tabela III - Análise da Variância Univariada por área segundo sexo e tipo de escola. Áreas Variáveis Sexo Área 1 Tipo de escola Sexo * tipo de escola Sexo Área 2 Tipo de escola Sexo * tipo de escola Sexo Área 3 Tipo de escola Sexo * tipo de escola Sexo Área 4 Tipo de escola Sexo * tipo de escola MQ 2,81 0,18 0,01 1,52 2,35 0,59 0,02 0,15 0,01 1,37 0,11 0,20 F 17,55*** 1,11 0,06 8,39* 13,02** 3,26 0,09 0,83 0,07 5,44** 0,44 0,79 * p ≤ 0,05; ** p ≤ 0,01; *** p ≤ 0,001 Através da avaliação postural computadorizada, pôde-se observar medidas mais expressivas na diferença entre o ápice da curva da coluna dorsal em relação à espinha ilíaca póstero-superior – E.I.P.S., que refletem o grau de flexibilidade e alongamento muscular da cadeia posterior e de ísquio-tibiais, para o sexo feminino de escola pública. Nas medidas entre o ápice posterior do corpo até o acrômio na vista perfil, no sexo masculino também de escola pública. Outros desvios importantes foram observados em relação à vista lateral: na distância entre o ápice posterior do corpo até o pavilhão auditivo e entre o ápice posterior até a crista ilíaca ântero-superior no sexo masculino de escola pública. Pôde-se constatar que a as medidas mostraram-se significativas em relação à diferença de altura entre os ângulos inferiores das escápulas até o chão, na vista posterior, pelo sexo. Na lateralização da cabeça em relação à linha de prumo – Glabela – na vista anterior, por sexo e tipo de escola. Na diferença entre o ápice da curva do tórax e a espinha ilíaca póstero-superior – E.I.P.S. na vista perfil com flexão de quadril e tronco e membros inferiores em extensão, por sexo. Observou-se também tendências com um valor de p ≤ 0,10 nas seguintes medidas: relativas às diferenças dos ângulos de Tales, na vista posterior, por sexo em relação ao tipo de escola; na média do perfil ao acrômio, na vista perfil onde se mediu a distância entre o ápice posterior do corpo até o acrômio, por sexo; na média do perfil na lordose, isto é, medida que verificou a distância entre o ápice posterior do corpo até a lordose lombar ao nível da terceira vértebra, por sexo em relação ao tipo de escola; na diferença entre o ápice da curva da coluna dorsal e a espinha ilíaca póstero-superior – E.I.P.S. – na flexão de tronco na vista perfil e entre o ápice posterior do corpo até o acrômio em vista perfil, por tipo de escola. A Tabela IV refere-se à correlação entre as áreas avaliadas na Escala de Qualidade Posturas e as medidas da Avaliação Postural Computadorizada. Fisioterapia_v8n4.indb 246 Tabela IV - Correlação de Pearson entre Áreas e Medidas. Medidas da Avaliação Área1 Área 2 Área 3 Área 4 Dif alt acromios -0,12 -0,19 -0,03 0,01 Dif cinturas esc/pelv 0,01 -0,16 0,02 0,12 Dif alt ang inf escápulas Dif dos ápices da curva dorsos Glabela (cm) -0,21(*) -0,20 -0,06 -0,12 -0,18 -0,17 0,06 -0,18 0,05 0,22(*) -0,04 0,08 Dif âng tales 0,01 -0,10 0,12 0,02 Dif ápice curv tórax e e.i.p.s. Média apice posterior prumo Média perfil pavilhão auditivo Média perfil acromio 0,05 -0,18 -0,07 -0,02 0,12 0,18 0,18 0,28(**) -0,09 -0,00 0,15 0,13 0,10 0,18 0,13 0,20 Média perfil lordose -0,00 0,10 -0,07 0,08 Média crista ilíaca perfil 0,03 0,05 0,17 0,04 * p ≤ 0,05; ** p ≤ 0,01; *** p ≤ 0,001 Observou-se correlação significativa da área 1, postura sentada, com a diferença de altura dos ângulos inferiores das escápulas na vista posterior. Na área 2, relativa a postura em pé, houve relação significativa com a lateralização da cabeça em relação à linha de prumo na vista frontal – glabela. Na área 4, que diz respeito ao material escolar encontrou-se correlação com a medida do ápice posterior do corpo, isto é, ponto mais distante da linha média na vista lateral com a linha de prumo. Discussão As diferenças por área, segundo sexo e tipo de escola, são importantes, pois se referem aos hábitos posturais entre sexo na posição em pé, sentada e em relação ao material escolar, respectivamente. Com efeito, na Tabela III foi demonstrado a superioridade do sexo masculino nas áreas 1, 2 e 4, o que se comprova pela análise da variância para cada área. Em relação ao tipo de escola, observou-se indicadores significativos apenas na área 2, relativa à postura em pé. As informações contidas nos números encontrados na correlação entre as áreas avaliadas na Escala de Qualidade Posturas e as medidas da Avaliação Postural Computadorizada são relevantes em vários aspectos. O primeiro ponto é que se observou correlação nas áreas 1, 2 e 4, enquanto não se observou correlação da área 3 (postura deitada) com as medidas da avaliação postural. Nem sempre a amostra é grande e/ou significante para comprovar relações existentes entre variáveis. Portanto, número de participantes pode estar relacionado com esses resultados. Pôde-se observar que houve relação esperada entre qualidade postural e medidas da avaliação postural computado- 30/8/2007 17:16:15 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 4 - julho/agosto de 2007 rizada, na relação significativa e negativa referente à medida da Diferença do Ângulo Inferior da Escápula com a postura sentada (área 1). Entretanto, houve correlação positiva entre a Glabela e a postura em pé (área 2) e Média do Ápice Posterior Prumo com a postura relativa ao material escolar (área 4). Tabela IV. Essas duas medidas, assim como várias outras, eram esperadas como estando significativamente e negativamente relacionadas. Quanto melhor a qualidade postural, menor as diferenças entre medidas. Portanto, o estudo da validade de critério da escala deverá ser ainda melhor avaliado, com maiores amostras e comparado com outros critérios de avaliação. Este fato pode ter ocorrido devido ao número de participantes ou à forma que o programa atribui os valores, ora em centímetros, ora em metros e em escalas que necessitavam ser adequadas para cada medida. Portanto, para definições mais precisas e abrangentes a respeito das associações entre escala e avaliação postural se faz necessário, do ponto de vista do autor, um número maior de participantes. Análise qualitativa do percentual médio das respostas segundo os itens da escala Na Área 1 – postura sentada – em relação ao Tipo de Escola, pôde-se observar que, tanto na escola particular quanto na pública, os jovens relataram ficar muito tempo sentados (mais de 50%). O uso do computador, embora não seja muito extenso na faixa etária estudada, é significativo e mais acentuado na escola particular, o que se espera devido às diferenças sócio-econômicas. O hábito de assistir televisão está associado a uma postura ruim em mais de 40% dos casos. Dobrar o corpo para frente quando se escreve obteve um alto índice e pode estar associado a um automatismo da postura no ato de escrever. Mais de 40% dos alunos referiram sentar-se com postura inadequada na escola. Em relação ao sexo, notou-se diferença importante na postura feminina que relatou sentar-se de pernas cruzadas bem mais que os meninos. Este fato cria uma descarga de peso alterada na pelve e, conseqüentemente, na coluna. Os meninos relataram ficar um pouco mais que as meninas no computador. A grande maioria, para ambos os sexos, referiu estudar sentada na cadeira e as meninas têm um índice maior que os meninos no que se refere a dobrar o corpo para frente quando escreve. Os meninos também relataram sentar-se com postura inadequada ao assistirem TV, mais do que as meninas. Fato que também aparece em relação à postura sentada na escola. Portanto, posturas incorretas utilizadas por um longo período, como nos casos em que o indivíduo sentado realiza a flexão anterior do tronco com falta de apoio lombar e falta de apoio do antebraço, as alterações serão potencializadas, sendo que a pressão dentro do disco intervertebral aumenta para mais de 70%. Essa pressão aumentada nos discos gera desconforto e readaptações posturais subseqüentes [5]. Fisioterapia_v8n4.indb 247 247 Outro ponto a ser observado é que o apoio irregular ou assimétrico dos ísquios na posição sentada, muito comum quando se adota a postura sentada com as pernas cruzadas, cria uma curva côncava lombar para o mesmo lado do apoio e, possivelmente, outra curvatura compensatória acima da primeira [3,9]. Naturalmente, isto gera diferença na altura das escápulas, quando medidas na posição em pé. Em relação à Área 2 – postura em pé – os participantes da escola pública referiram maior incidência na postura incorreta (torta), assim como no sexo feminino. No terceiro item, que indica apoio maior sobre um membro, as maiores incidências também ocorreram na escola pública e no sexo feminino e indica hábito incorreto, já que cria um desnivelamento da pelve e desvios laterais da coluna. Quando ocorre um apoio assimétrico sobre um membro inferior na posição em pé, a coluna lombar apresenta uma concavidade para o lado do apoio, devido à báscula da pelve, e a coluna dorsal adota uma postura contrária criando uma concavidade para o lado do membro sem carga. Já a coluna cervical adota uma curvatura para o mesmo lado da curvatura lombar, isto é, de concavidade para o lado do apoio [9]. Referente a Área 3 – postura deitada – observou-se que a grande maioria dos participantes dorme de lado, com os joelhos flexionados e com travesseiro. Mais de 50% referiram ter o hábito de deitarem no sofá e a minoria referiu dormir com o corpo torcido. Levando-se em consideração que se dormem oito horas em média por noite, a postura ao dormir pode contribuir para um aumento na deformidade quando em posturas incorretas. Na Área 4 – postura em relação ao material escolar – observou-se que a maioria dos participantes, tanto em relação ao tipo de escola quanto ao sexo, relatou, pelas respostas aos testes, que consideram o material escolar pesado, principalmente na escola particular e no sexo masculino. O sexo feminino referiu carregar o material escolar nas mãos em maior incidência que o masculino, mas representa a minoria em relação ao uso da mochila. A grande maioria dos participantes usa a mochila para o transporte do material escolar e uma minoria referiu apoiar a mochila em um dos ombros, com maior incidência no sexo feminino. As crianças deveriam transportar, no máximo, cargas que fossem iguais à força dos grupos musculares, de acordo com a idade e com o tipo de bolsa que utilizam para o transporte do material escolar, valor bem abaixo do encontrado [10]. Conclusão Concluiu-se que é possível averiguar a qualidade postural através de uma Escala preenchida pelos próprios alunos e confirmada por seus pais. Por sua vez, os pais e ou responsáveis apresentaram poucas divergências nas respostas aos itens. Os juízes que avaliaram validade de conteúdo da Escala foram unânimes em relação ao instrumento. Houve 100% 30/8/2007 17:16:15 248 de concordância para todos os itens propostos, indicando validade de conteúdo da escala. Observou-se correlação entre todas as áreas da escala. A correlação entre as medidas da avaliação postural mostrou associações principalmente nas medidas de lateralidade entre si e das medidas de perfil entre si. Praticamente não houve associação entre as medidas de lateralidade e perfil. Outras medidas também não apresentaram correlação entre si. Embora este estudo tenha sido traçado para investigar também a validade de critério da Escala com as medidas da Avaliação Computadorizada, poucas correlações mostraramse significativas. Em relação ao sexo, nas respostas aos itens da escala, notou-se pontuação maior em quase todas as áreas para o sexo masculino, com exceção dos itens que se referiram à postura deitada onde as médias dos pontos se igualaram. A análise qualitativa do percentual nas respostas obtidas em relação aos itens da escala apontou os hábitos posturais dos participantes e, em vários momentos, refletiram tendências posturais que embora não tenham sido significativas, foram observadas nos trabalhos estatísticos realizados. Esta pesquisa teve limitação no tamanho da amostra e idade dos participantes. Futuros estudos deverão aumentar a amostra e ampliar a faixa etária. Outro dado importante é que se poderá acrescentar a observação clínica do fisioterapeuta para os aspectos relacionados aos hábitos posturais, da criança: como ela se senta, deita, anda, fica em pé, dorme, etc. Em relação à avaliação postural, poder-se-á comparar resultados do exame físico realizado pelo fisioterapeuta, com resultados da avaliação postural computadorizada. Conclui-se que é possível e importante avaliar a qualidade postural de pré-adolescentes para elucidação das características posturais dessa população, com a finalidade de auxiliar os pais e os professores na compreensão do problema postural. Fisioterapia_v8n4.indb 248 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 4 - julho/agosto de 2007 Referências 1. Brito Júnior CA. Alterações posturais. In: Lianza S. Medicina de reabilitação. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2001. 2. Lehmkuhl LD, Smith LK. Cinesiologia clínica de Brunnstrom. São Paulo: Manole; 1989. 3. Kendall FP, Mccreary EK, Provance PG. Músculos: provas e funções. São Paulo: Manole; 1995 4. Shouchard PE. Reeducação postural global - Método do campo fechado. São Paulo: Ícone; 1986. 5. Coury HJC. Self-administered preventive programme for sedentary workers: reducing musculoskeletal symptoms or increasing awareness? Appl Ergon 1998;29(6):415-421. 6. Levin E. A clínica psicomotora: o corpo na linguagem. Petrópolis: Vozes; 1995. 7. Sanchez MD. Importancia de la educación postural en escolares como método de prevención del dolor de espalda. Revista Medicina General. Espanha, n.º 24, may 2000. [citado 2004 ago 02]. Disponível em: URL: http://www.Semg.es/revista/revistas_2000htm. 8. Menezes PR. Validade e confiabilidade das escalas de avaliação em psiquiatria [Edição especial]. Rev Psiquiatr Clín 1998;25(5):214-6. 9. Kapandji AI. Fisiologia articular – tronco e coluna vertebral. São Paulo: Panamericana; 2000. 10. Rebelatto JR, Caldas MAJ, De Vitta A. Influência do transporte do material escolar sobre a ocorrência de desvios posturais em estudantes. Rev Bras Ortop 1991;26(11-12):403-10. 30/8/2007 17:16:16 Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Número 4 - julho/agosto de 2007 249 Artigo original Prevalência de patologias de ombro no pré-operatório de câncer de mama: importância para a prevenção de complicações Prevalence of shoulder disease before breast cancer surgery: importance for prevention of complications Anke Bergmann, D.Sc.*, Thiago Barbosa Pereira**, Erica Alves Nogueira**, Ana Carolina Padula Ribeiro***, Nathália Bourrus****, Julio Guilherme da Silva, M.Sc.***** *Pesquisa em Fisioterapia – Centro Universitário Augusto Motta, **Especialistas em Fisioterapia em Oncologia, Hospital do Câncer III – Instituto Nacional de Câncer ***Acadêmica de Iniciação Científica, Área de Fisioterapia do Hospital do Câncer III – Instituto Nacional de Câncer, ****Acadêmica de Iniciação Científica, Pesquisa em Fisioterapia - Centro Universitário Augusto, *****Sexologia Humana, Pesquisa em Fisioterapia – Centro Universitário Augusto Motta Resumo Abstract Introdução: A incidência do câncer de mama vem aumentando significativamente no Brasil. Em decorrência das diversas opções terapêuticas para tal enfermidade, a qualidade de vida e o déficit funcional nas atividades de vida diária podem ser afetados nas mulheres com câncer de mama, principalmente aquelas relacionadas às patologias do complexo do ombro. Objetivo: Avaliar a prevalência de alterações prévias no ombro em mulheres com indicação cirúrgica de linfadenectomia axilar para tratamento do câncer de mama. Metodologia: Foram avaliadas 73 mulheres com diagnóstico de câncer de mama e indicação cirúrgica de linfadenectomia axilar no período do estudo. A investigação das patologias prévias do ombro foi realizada baseada na anamnese, exame físico e na investigação do prontuário. Foi realizada análise univariada para descrever o perfil da população e análise bivariada para identificar os fatores associados às patologias de ombro. Resultados: 24,7% das mulheres apresentavam patologia em ombro homolateral ao câncer de mama. A tendinite do manguito rotador foi a de maior prevalência (12,3%), seguida da tendinite do supra-espinhoso (11%). As pacientes maiores de 60 anos apresentaram um maior risco de possuírem patologias de ombro, bem como as mulheres com índice de massa corporal (IMC) maior que 30. Conclusão: Os nossos resultados demonstraram a importância do exame detalhado no pré-operatório, possibilitando, assim, uma atuação por parte da fisioterapia no estabelecimento de condutas preventivas das possíveis complicações osteomioarticulares no complexo do ombro nas pacientes com câncer de mama. Introduction: The incidence of the breast cancer has been increasing significantly in Brazil. As a result of the diverse therapeutical options for such disease, the quality of life and the functional deficit in performing daily life activities can be affected in breast cancer patients, mainly those related to the complex shoulder injury. Objective: To evaluate the prevalence of previous alterations of shoulder in women with surgical indication of axillary linfadenectomy for breast cancer treatment. Method: Seventy-three women were analyzed with diagnosis of breast cancer and surgical indication of axillary linfadenectomy. The previous investigation of the shoulder injury was made based on anamnesis, physical examination and medical records. Univariate analysis was performed for describing the population profile. Bivaried analysis was performed in order to identify associated factors involved on the development of shoulder pathology. Results: In this study 24.7% women presented pathology in homolateral shoulder to the breast cancer. The rotator cuff tendonitis was to the high prevalence (12.3%), followed of the supraspinatus tendonitis (11%). The patient