Livro tenta explicar porque alguns ambientes favorecem bem estar

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Livro tenta explicar porque alguns
ambientes favorecem bem-estar e cura
Médica explora formas de arquitetura que ajudam na saúde humana.
Locais considerados sagrados teriam efeito indireto no organismo.
Digamos que você esteja vivendo em um ambiente que não é ideal. Seu vizinho de
cima freqüentemente muda os móveis de lugar, de madrugada. O cachorro do apartamento da
frente é solitário e late alto. O dono dele resmunga quando você passa. Sua sala de estar tem
o formato errado, as janelas estão no lugar errado, à cor da tinta, que parecia tão criativa e
chique há cinco anos, está lhe dando nos nervos.
Aí você se muda. Enquanto você mergulha no silêncio e na simetria, com vizinhos
agradáveis, uma vista incrível e paredes brancas e calmantes, algo se acende no seu cérebro.
Ou será que se apaga? De qualquer forma, você se sente muito bem.
Afinal, o que causou o acendimento? Essas são perguntas enganosamente fáceis que
Esther Sternberg tenta responder em "Healing Spaces" (em tradução livre: "Espaços que
Curam"), uma exploração sobre as influências ambientais no cérebro, no corpo e (com todo o
respeito por sua nova situação de vida, mas existem assuntos mais importantes no momento) o
curso da doença física e mental.
Sternberg, célebre neuroimunologista do Instituto Nacional de Saúde Mental, propôs a
si mesma uma tarefa gigante, incorporando arquitetura, estética, psicologia, neurobiologia,
fisiologia e aromaterapia, entre várias outras disciplinas. Ela não tem tanto sucesso na tarefa,
mas seu esforço define os parâmetros complexos do que pode ser um dos maiores mistérios
remanescentes da ciência médica.
Depressão
Afinal, se seu cérebro pode deixá-lo depressivo em uma sala de estar, imagine o
quanto as coisas provavelmente pioram em um típico quarto de hospital, cercado de barulho,
confusão, cheiros desagradáveis e vistas nem um pouco belas. Você achava que uma ciência
tão adepta a examinar o cérebro encontraria uma forma de acalmá-lo com a mesma destreza.
No entanto, o circuito neural responsável pela tranqüilidade mental, apesar de
essencial, é incrivelmente complexo. Além disso, a ciência que descreve a relação entre a
estética e o bem-estar físico – a famosa conexão mente e corpo – é experimental e
controversa. A maioria dos tratamentos ainda tem de ser rigorosamente avaliada.
Tudo começa com os cinco sentidos. É lá onde Sternberg também começa: "Se você
fosse um paciente em uma cama de hospital, acabando de acordar de uma cirurgia, o que
preferiria ver quando abrisse os olhos – uma parede de tijolo ou uma fileira de árvores?"
Você pode pensar que sabe a resposta certa e a justificativa para ela, mas considere
todas as variáveis que os cientistas devem considerar para analisar sua decisão. Entre elas,
estão a posição dos tijolos e das árvores (partes distintas do cérebro cuidam da percepção de
próximo e longe) e as cores envolvidas (sua visão verde-amarela foi a primeira a evoluir; será
por isso que o verde nos agrada tanto?). Pacientes diferentes podem ter respostas
condicionadas diferentes a tijolos e árvores.
Além do mais, será que visões de jardins realmente ajudam a curar incisões
abdominais? Alguns estudos menores sugerem que sim, mas serão que as descobertas podem
ser generalizadas para todos os pacientes, todos os tijolos e todas as árvores? E pacientes
míopes, paredes de tijolo ensolaradas e árvores morrendo?
Som e cheiro
Isso é apenas o começo. O som e o cheiro também devem ser considerados. E existe
também a noção de lugar, orientação espacial e direção, uma experiência composta tão
afinada que se perder em um lugar estranho e escuro (como o porão do hospital, a caminho da
radiologia) pode trazer o pior tipo de estresse. Caminhar lentamente e intencionalmente ao
longo de corredores alinhados de um jardim-labirinto é receita de tranqüilidade.
Dá o que pensar considerar que, entre todas as grandes mentes que exploraram esse
fenômeno, Walt Disney foi, provavelmente, o que mais obteve sucesso na manipulação em
larga escala do ambiente para acalmar e alegrar o cérebro. Mesmo os brinquedos
assustadores da Disneylândia – Sternberg desconstrói os “Piratas do Caribe" do ponto de vista
científico – são cuidadosamente projetados para acender as faíscas certas do cérebro nas
direções certas.
Da mesma forma, uma nova casa de repouso tem uma rua principal à La Disneylândia
para acalmar os neurônios em deterioração dos seus residentes. Isso está a um pequeno
passo neurológico de Lourdes, na França, lugar de curas milagrosas, onde um conjunto de
fatores ambientais pode acender cérebros adequadamente preparados e levá-los a um estado
de êxtase, liberando um fluxo de potentes mediadores neuroquímicos capazes de aliviar o
sofrimento. Assim, Sternberg delineia uma biologia experimental do milagre, que, como ela se
apressa em dizer, "não diminui a maravilha do fenômeno".
É missão da Academia de Neurociência para Arquitetura, cujas conferências oferecem
a Sternberg um material fascinante, simplesmente reproduzir um pouco de Lourdes em cada
cenário médico. Éramos bem melhor nessa tarefa do que somos hoje; a medicina do século 20,
com seu medo mortal de germes, interferiram. Entretanto, em algum ponto, "estéril" passou a
ser uma característica ruim, e agora tentamos recapturar um pouco da grandiosidade e da
beleza de hospitais antigos, com janelões, jardins e belas vistas.
Sternberg é uma escritora seriamente entediante, e sua narrativa nunca desvia de uma
brandura intencionada para não ofender nem aos cientistas mais radicais, nem aos místicos
new age. Ela ignora alguns dos paradoxos mais complexos da área (uma ala hospitalar com 30
camas pode oferecer mais privacidade e tranqüilidade que um quarto compartilhado com outra
pessoa; e mais, a aromaterapia de uma pessoa muitas vezes causa enjoos no paciente ao
lado). Ainda assim, qualquer pessoa que já sentiu a paz se instaurar em ambientes
agradabilíssimos poderá encontrar algumas sementes de explicações em seu livro.
HEALING SPACES: The Science of Place and Well-Being
Esther M. Sternberg
The Belknap Press of Harvard University Press
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