capins para condições extremas

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Pastagens
fotos: arquivo matsuda
Capins para
condições
extremas
Matsuda lança uma cultivar de andropógon
de ciclo longo para o semiárido e outra de
setária para solos mal drenados.
Maristela Franco
O
[email protected]
monocultivo de gramíneas forrageiras é uma realidade preocupante na pecuária, que conta com
poucas opções para cultivo, especialmente em
condições edafoclimáticas diferenciadas. Ciente desse
problema, a Matsuda, uma das poucas empresas privadas do País a desenvolver variedades de capim para
bovinos, acaba de lançar duas novas cultivares: a MG 7
Tupã, indicada para regiões de clima quente e solos ra-
Principais características da Tupã
Nome científico
andropogon gayanus
Fertilidade do solo
Média a baixa
Forma de crescimento
Touceira ereta
Altura de planta
Até 2,60 m
Utilização
Pastejo direto
Digestibilidade
Boa
Palatabilidade
Boa
Tolerância à seca
Alta
Tolerância ao frio
Média a baixa
Teor de proteína
7% a 10% na MS
Produção de forragem
16 a 20 t/ha/ano de MS
Fonte: Matsuda
54 DBO março 2016
Touceira do
andropogon
MG7 Tupã:
porte mais
baixo e talos
mais finos.
sos, cascalhentos, como os do semiárido mineiro; e a MG
11 Tijuca, que tolera excesso de umidade ou alagamentos periódicos típicos do Pantanal. Esses ecossistemas
são carentes de gramíneas adaptadas para formação de
pastagens com boa capacidade de lotação. “Nossa intenção é contribuir para o desenvolvimento da pecuária,
atendendo demandas de produtores de todo o Brasil”, diz
o agrônomo Marcelo Ronaldo Villa, do Departamento
Técnico da Matsuda.
As duas novas cultivares fazem parte da série Gold,
linha criada pela empresa para sementes com alto teor
de pureza, que recebem tratamento prévio com fungicidas/inseticidas; peletização com polímero especial
que aumenta a aderência dos produtos químicos, além
de regular a absorção de água; e, finalmente, incrustação com organominerais que aumentam seu peso em 2,5
vezes, facilitando a semeadura e a regulagem da plantadeira. Segundo Villa, essas tecnologias garantem melhor germinação das sementes e formação adequada do
pasto. Com os dois novos lançamentos, a Matsuda passa a contar com oito cultivares de gramíneas forrageiras
e leguminosas protegidas (registradas no Ministério da
Agricultura, para salvaguarda de direitos de propriedade
intelectual), conseguindo diversificar seu portfólio.
Pensando no semiárido
A cultivar MG7 Tupã pertence ao gênero andropógon, que já foi bastante difundido no Brasil, mas perdeu
espaço para os capins do gênero Brachiaria, devido a
dificuldades de manejo. Entretanto, em algumas regiões do País, como certas áreas do Centro-Oeste, norte
mineiro e oeste baiano, ele continua ocupando vastas
áreas, por ser resistente à seca, adaptado a solos pouco férteis, rasos, com presença de cascalho, e, principalmente, por sua alta capacidade de rebrota. “Quando
começam a chuvas, a massa de folhas secas dos outros
capins apodrece, retardando sua recuperação, enquanto
o andropogon ressurge sem dificuldades”, explica Villa.
Segundo ele, a MG7 Tupã mantém essa característica
altamente desejável e ainda apresenta outras vantagens,
como o ciclo mais tardio (110 dias, ante 100 das outras
cultivares existentes no mercado). As plantas estendem
seu ciclo vegetativo, emitindo folhas, e demoram mais
para florescer. Isso alonga o período de uso do pasto e
garante forragem de maior qualidade nutricional.
A nova cultivar foi obtida por meio do cruzamento de
acessos de andropógon pertencentes ao banco genético
da Matsuda, localizado em Álvares Machado, SP. Após a
identificação de plantas com as características almejadas,
estas foram cruzadas pelo método policross, que envolve
vários genitores. Depois, a empresa seleciou os melhores
indivíduos decorrentes dos cruzamentos, submetendo-os
a testes de homogeneidade, estabilidade e distinguibilidade. Este último consiste em verificar se o material realmente se diferencia dos já existentes no mercado. Conforme normas do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento, é necessário que o material seja testado
sempre em comparação com uma cultivar da mesma espécie já registrada e disponível para venda.
A Tupã apresentou maior facilidade de manejo do
que a testemunha escolhida (cultivar Planaltina), devido a seu porte 13,3% mais baixo e seus colmos 11,3%
mais finos, que são consumidos mais facilmente pelos
animais, evitando perda de forragem. A nova cultivar de
andropogon da Matsuda forma touceiras eretas de até 2,6
m de altura, ante 3 m da Planaltina, sem prejuízo à produção de forragem (que atinge de 16 a 20 t/ha). Ele também apresenta maior quantidade de folhas, que são mais
largas e compridas. Ainda não foram feitos testes de pastejo, mas a empresa recomenda adotar, por enquanto, os
mesmos parâmetros de manejo da Planaltina: 50-60 cm
de altura para entrada e 18-20 cm para saída do piquete.
A Tupã pode ser consumida tanto por bovinos (de qualquer categoria), quanto por equinos.
Resistência à umidade
A outra cultivar lançada pela Matsuda, batizada de
MG11 Tijuca, pertence ao gênero setaria, espécie sphacelata. Forma touceiras e se adapta a solos pobres como
o Tupã, mas é resistente à umidade. Cresce bem em solos
mal drenados ou sujeitos à inundação temporária, como
os do Acre e Pantanal, regiões também carentes de alternativas forrageiras. Foi desenvolvida com base na metodologia já descrita (cruzamento policross) e testada em
comparação com a cultivar africana Kazungula, introduzida no Brasil na década de 60, a partir de sementes
vindas da Austrália. A Tijuca apresenta boa produção de
forragem, com maior quantidade de folhas. Seus colmos
são 45,8% mais finos, seu porte 17,5% mais baixo (1,6
m, ante 2 m da testemunha) e seu ciclo 20% mais longo (150 dias, em contraste com 120 dias da Kazungula).
Como já foi dito, essas características favorecem o manejo do pasto.
O principal destaque da Tijuca, entretanto, é seu menor teor de oxalato de cálcio, composto químico que está
presente em algumas variedades de setária e pode causar intoxicação nos bovinos, desencadeando distúrbios
como diarreia, tetania (contrações musculares dolorosas,
acompanhados de tremores), andar cambaleante e corri-
mento nasal, às vezes sanguinolento. Pode provocar também deficiência de cálcio, principalmente em eqüinos,
pois o oxalato se liga a esse elemento químico presente no trato gastrointestinal, impedindo sua absorção pela
corrente sanguínea e seu aproveitamento pelo organismo. Em função disso, verifica-se um processo de extração de cálcio do sistema esquelético. Os primeiros ossos
atingidos são os da face, que ficam aerados e volumosos,
provocando protuberâncias características da “doença da
cara inchada”.
A concentração de oxalato na planta depende das
condições climáticas, do tipo de solo e da suplementação mineral fornecida, mas o ideal é minimizar riscos.
A Tijuca, segundo Villa, apresenta teores médios desse
composto (em torno de 4%, ante 7% encontrados na cultivar Kazungula). O Tijuca pode ser também uma excelente alternativa para rápida formação de pastos em áreas
sujeitas ao alagamento, em contraposição à Brachiaria
humidícula, cujas sementes possuem dormência elevada, demorando 30 dias para germinar. As da setária desenvolvida pela Matsuda nascem em sete dias. “Quando
se tem chuvas intensas no começo do período chuvoso,
é fundamental que o capim cresça rapidamente para que
suas folhas fiquem acima da lâmina d’água, captando luz
para a planta continuar se desenvolvendo. Do contrário,
perde-se o plantio”, diz o técnico.
n
Principais características da Tijuca
Menor teor
de oxalado
de cálcio
diminui
risco de
intoxicação
Nome científico
setaria sphacelata
Fertilidade do solo
Média a baixa
Forma de crescimento
Touceira ereta
Altura de planta
Até 1,65 m
Utilização
Pastejo direto
Digestibilidade
Boa (51 a 53%)
Palatabilidade
Muito boa
Tolerância à seca
Muito boa
Tolerância ao frio
Muito boa
Teor de proteína
7,9 a 8,7% na MS
Produção de forragem
10 a 12 t/ha/ano de MS
Tolerância à umidade
Muito boa
Teor de oxalato
4%
Fonte: Matsuda
DBO março 2016 55
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