UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL PROJETO ÉTICO POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL: TENSÕES E DILEMAS DE UM PROJETO EM EXECUÇÃO. Kelly Samara do Nascimento Silva João Pessoa – PB 2010 12 Kelly Samara do Nascimento Silva PROJETO ÉTICO POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL: TENSÕES E DILEMAS DE UM PROJETO EM EXECUÇÃO. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Serviço Social da Universidade Federal da Paraíba, como um dos requisitos para a obtenção do grau de mestre. Orientadora: Maria Aparecida Ramos de Meneses João Pessoa – PB 2010 13 Kelly Samara do Nascimento Silva Projeto Ético Político do serviço social: tensões e dilemas de um projeto em execução. Dissertação submetida ao corpo docente da Escola de Serviço Social da Universidade da Paraíba como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre. BANCA EXAMINADORA: ____________________________________ Profª Drª Maria Aparecida Ramos de Meneses Orientadora _________________________________ Prof. Dr. Jaldes Reis de Meneses Examinador _________________________________ Prof. Dr. Galdino Toscano de Brito Filho Examinador João Pessoa – PB 2010 14 Ao Senhor JESUS, aquele que era, que é, e que a de vir. A minha irmã Sheila (in memória) 15 AGRADECIMENTOS A trajetória de aprendizado contou com a ajuda, o companheirismo e a compreensão de muitas pessoas que comigo sentiram “a dor e a delicia” da caminhada. Um agradecimento especial: A DEUS que me deu, e me dá forças, amor, coragem, sabedoria e paciência para poder compreender todo conteúdo acumulado nesses anos. À minha família que com amor agüentaram meus ataques de chatice, minhas ausências e meu mal humor. Obrigada por ser meu porto seguro em que encontro repouso e renovação das forças para continuar. A meu pai e minha mãe que me deram educação e souberam compreender minhas escolhas (apesar dos conflitos) e nunca desistiram de mim e que mesmo distantes geograficamente pareciam estar ao meu lado. A meu esposo Jairo por quem tenho profundo e intenso amor e compartilhou comigo as indecisões, tristezas, alegrias e com toda sua paciência soube me compreender, dando o ombro amigo e por muitas vezes deixou sua vida para dar prioridade as minhas escolhas. Obrigada, amo muito você. À minha filha Karina que com jeito de menina-moça e que em muitos momentos fez o papel de mãe, me surpreendendo com frases do tipo “assistente social não trabalha em sala com ar-condicionado”, 16 sabedoria de quem ainda tem muito que aprender mais que também consegue compreender um pouco da realidade da vida. Amo muito você. A meu filho Caio que com seu jeito carinhoso, me enchendo de beijos e abraços e muitos “eu te amo” enche minha vida de alegria e esperança e tenho a certeza que crescemos juntos neste período, até do estatuto da criança e do adolescente você aprendeu comigo. Eu te amo. A meu amigo Alison, companheiro de CRESS sempre soube que nossa amizade ultrapassaria os limites institucionais. Obrigada pela seriedade e sobriedade na condução do mestrado e de nossa amizade. Ao Movimento Estudantil de Serviço Social, o qual me deu uma formação jamais encontrada nos limites da universidade e no qual fiz verdadeiras amizades e inimizades – afirmando o espaço de pluralidade – e me fez enxergar que “um outro mundo é possível”. Obrigada a todos e todas que contribuíram para minha formação política e profissional. As companheiras e companheiros do Centro Acadêmico de Serviço Social os quais compartilharam comigo muitas lutas, decepções, alegrias, tristezas e principalmente amizade que o tempo pode ser inimigo mais não apagara momentos marcantes nas nossas vidas. As professoras do Programa de Pós-graduação de Serviço Social que contribuíram para uma melhor apreensão dos conteúdos referentes à profissão. A professora Aparecida Ramos, minha eterna orientadora, que nesses anos de aprendizagem me ensinou além do que estar proposto nos programas de disciplinas me ensinou da vida, me ensinou e ensina a 17 amar o que faz com tamanha intensidade. Obrigada pelo companheirismo e amizade. Às professoras Edna Tânia e Luciana Cantalice que ao longo deste período aprendi a amar e compreendê-las melhor como pessoas, vocês ajudaram na minha formação acadêmica e pessoal, foram e são pessoas de referencia na minha vida. À professora Socorro Vieira, orientadora de todos os momentos e de vários assuntos, (PAIR, SUAS, PNAS), você é parte da minha formação pessoal e profissional. Obrigada. Aos amigos e amigas do grupo de estudos sobre Karl Marx, que apesar de só nos encontrarmos uma vez por semana fazem parte da minha vida e contribuem para minha formação humana, política e profissional. Enfim a todos e todas que de alguma forma contribuíram para minha formação. 18 RESUMO A presente dissertação apresenta o produto do curso de mestrado na Universidade Federal da Paraíba e está centrada na discussão do projeto ético-político da profissão de serviço social. Nesta dissertação procuraremos apreender as discussões a cerca das categorias que balizam o projeto ético-político do serviço social procurando os determinantes históricos e teóricos, analisando como a introdução, a partir do projeto ético-político do serviço social, de uma direção baseada na perspectiva critica foi apreendida e incorporada na categoria em sua produção acadêmica e intelectual. O presente estudo centra-se na analise teórica da produção de pesquisadores de serviço social, e para além deste, que discutam o projeto ético-político e as categorias que o circundam, na analise dos projetos societários e profissionais com José de Paulo Netto, Marcelo Braz e Maria Beatriz Abramides, entre outros. Utilizaremos ainda fontes adicionais as quais possam subsidiar a compreensão dos componentes que norteiam o projeto ético-político e suas dimensões. O período da pesquisa vai do primeiro semestre de 2009 ao primeiro semestre de 2010. Palavras-chaves: projeto ético político, serviço social, profissão 19 ABSTRACT This dissertation presents the product of master course at the Federal University of Paraíba and is focused on discussion of the ethical-political project of the profession of social service. This thesis will try to seize the discussions about the categories that guide the ethical-political project of social service seeking the historical and theoretical determinants, analyzing how the introduction, from the ethical-political project of social service, a direction based on the critical perspective was seized and incorporated in the category in their academic and intellectual production. The present study focuses on the theoretical analysis of the production of social service researchers, and beyond, to discuss the ethical-political project and the categories that surround it, in the analysis of corporate and professional projects with José Paulo Netto, Marcelo Braz and Maria Beatriz Abramides, among others. Also will use additional sources which can support the understanding of the components that guide the ethicalpolitical project and its dimensions. The survey period runs from the first half of 2009 to the first half of 2010. Keywords: political ethical project, social service, profession 20 S586p Silva, Kelly Samara do Nascimento. Projeto ético político do serviço social: tensões e dilemas de um projeto em execução / Kelly Samara do Nascimento Silva.-- João Pessoa, 2010. 92f. Orientadora: Maria Aparecida Ramos de Meneses Dissertação (Mestrado) - UFPB/CCHLA 1. Serviço social. 2. Projeto ético político. 3. Serviço social- pesquisadores - produção - análise teórica. 4. Projetos societários - análise. UFPB/BC CDU: 36(043) 21 LISTA DE SIGLAS ABEPSS Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social ABESS Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social ABI Associação Brasileira de Imprensa APAS Associação de Profissionais de Serviço Social CBAS Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais CBCSIS Centro Brasileiro de Cooperação e Intercambio de Serviço Social CEAS Centro de Estudos e Ação Social CFAS Conselho Federal de Assistentes Sociais CFESS Conselho Federal de Serviço Social CNE Conselho Nacional de Educação CNSS Conselho Nacional de Serviço Social CRAS Conselho Federal de Assistentes Sociais CRESS Conselho Regional de Serviço Social DC Desenvolvimento de Comunidade ENESSO Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social FHC Fernando Henrique Cardoso LBA Legião Brasileira de Assistência MEB Movimento de Educação de Base OAB Ordem dos Advogados do Brasil ONU Organização das Nações Unidas PEPSS Projeto Ético Político do Serviço Social 22 PUC Pontifícia Universidade Católica SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem SESI Serviço Nacional da Indústria UNE União Nacional dos Estudantes 23 24 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ....................................................................................... 26 CAPITULO I ........................................................................................... 30 1. Marcos Históricos do Serviço Social e sua dimensão política................ 31 1.1 Gênese do Serviço Social brasileiro e sua representação social .... 31 1.2. Processo de renovação do serviço social ....................................... 50 1.3. Significado social da profissão ...................................................... 54 1.4. Intenção de ruptura: protagonismos do serviço social crítico ........... 61 1.5. Contemporaneidade do Serviço Social .............................................. 64 CAPITULO II .......................................................................................... 68 2. Projeto Profissional e Projetos Societários ........................................... 69 2.1. Projeto Profissional do serviço social ............................................. 77 2.2 A organização da categoria e o PEPSS........................................... 86 2.3. Construção do Projeto Ético Político do Serviço Social e suas contradições ........................................................................................ 91 CONCLUSÃO ......................................................................................... 98 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICA .......................................................... 103 25 INTRODUÇÃO A presente dissertação apresenta como o produto do curso de mestrado na Universidade Federal da Paraíba e está centrada na discussão do projeto ético-político da profissão de serviço social. Nesta presente dissertação procuraremos apreender as discussões a cerca das categorias que balizam este projeto, procurando os determinantes históricos e teóricos analisados a partir da introdução de uma direção baseada na perspectiva critica a qual foi apreendida e incorporada na categoria em sua produção acadêmica e intelectual, a partir dos anos 1970. A motivação por este tema sempre esteve presente durante o período de formação acadêmica e quanto de nossa inserção no mercado de trabalho no qual podemos constatar varias dificuldade de operacionalização das ações cotidianas com o projeto ético político da profissão e as limitações enfrentadas pelos profissionais para a consolidação do projeto profissional. Projeto ético-político consiste no projeto profissional de caráter coletivo que fundamenta a formação e o exercício do trabalho do Assistente Social. A priori, sustenta-se na Lei de Regulamentação da profissão (Lei 8662/93), no Código de Ética de 1993 e Diretrizes Curriculares de 1996, pauta-se em valores fundantes como a liberdade com valor ético central, articulados à defesa da democracia, como valor ético-político em favor da equidade e justiça social. 26 O Projeto ético-político profissional apresenta a profissão à sociedade a partir de seus princípios, valores, objetivos e funções, que comumente respaldam o trabalho do assistente social nos espaços sócio-ocupacionais, sejam de natureza pública ou privada. Trata-se de um projeto profissional que imprime uma finalidade às ações dos assistentes sociais, possibilitando aos mesmos, afirmar seu compromisso com a classe trabalhadora. Portanto, o compromisso ético-político do profissional de serviço social com a classe trabalhadora presente no projeto da profissão, expressa uma direção social que prima por uma nova ordem social. Subjacente a este compromisso está uma concepção teórico- metodológica que não defende a manutenção da ordem social existente, mas seu contrário aponta caminhos para a superação da mesma. O projeto ético-político defende o compromisso com a universalização do acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais, bem como, sua gestão democrática, no entanto, conforme a literatura crítica é a partir da segunda metade da década de 1990, que no Brasil, estes elementos são alvo de críticas e reajustes de orientação neoliberal. Essas questões atingem de forma direta a prática do assistente social, uma vez que esse profissional além de intervir nas manifestações da questão social, também sofrerá os rebatimentos do acirramento de suas manifestações enquanto trabalhador assalariado. 27 Nesse sentido, propõem-se uma análise presidida pela teoria social crítica, de forma a elucidar o projeto ético-político no movimento do trabalho profissional e as implicações no processo de sua materialização a partir da investigação bibliográfica nos acadêmicos que discutem a temática. O fio condutor da análise, não é aleatório ao pensamento dialético crítico a que se inscreve o serviço social no redimensionamento e vigência de sua fundamentação. As referências teóricas deste estudo gestam no projeto de pesquisa e são complementadas com outros autores, publicações recentes sobre o tema e leituras clássicas da teoria social crítica. A escolha deste conjunto de bibliografias deve-se à consideração da importância qualitativa de apreender a direção do pensamento a que incorre o projeto ético-político do serviço social, com vistas a aproximações e possíveis respostas ou contribuições à problemática da pesquisa. O período da pesquisa vai do primeiro semestre de 2009 ao primeiro semestre de 2010. No primeiro capitulo iremos tecer alguns comentários a cerca dos marcos históricos do serviço social, sua representação social e o capitalismo contemporâneo, a partir das grandes transformações ocorridas nos anos 1970 e os resultados dessas transformações na sociedade incorrendo inclusive na crise do pensamento e das organizações de esquerda, contribuindo para que as relações sociais reproduzam tendências da estrutura social que se vincula a comportamentos fundados no irracionalismo e no conservadorismo. 28 No segundo capitulo apresentaremos os elementos conjunturais e materiais que se apresentaram para a construção e implementação do PEPSS, sobretudo a própria construção do projeto nos marcos do serviço social brasileiro. As preocupações que movem essa pesquisa centram o processo de materialização do Projeto ético-político, buscando aproximações do significado do trabalho no âmbito das condições objetivas e subjetivas do serviço social. Por fim, procuraremos identificar através das bibliografias estudadas, os fatores determinantes para operacionalização do projeto ético político do serviço social no cotidiano profissional. 29 CAPITULO I 30 1. Marcos Históricos do Serviço Social e sua dimensão política 1.1 Gênese do Serviço Social brasileiro e sua representação social Ao colocarmos em debate os marcos históricos da profissão, precisamos compreender as posições assumidas pela categoria nos diversos contextos históricos, políticos e sociais. Há que mencionar que nas protoformas da profissionalização (Netto, 2001) o Serviço Social esteve sob os auspícios da influência da Igreja Católica, que buscou incidir na direção social da profissão. A literatura da área revela que desde as premissas do seu desenvolvimento, evidencia-se uma “atividade social, com bases mais doutrinarias 1 que científicas” (Silva, 2002, 14). É nessa visão que o Serviço social vai rumar desde suas origens assumindo perspectivas de uma formação doutrinária a partir dos fundamentos e princípios filosóficos ostentados nos pressupostos do neotomismo (até a década de 1960 do século XX) a partir de uma percepção conceitual conservadora de homem e sociedade. Desde então, a ética difunde uma dimensão importante para o serviço social, pois, “Sem uma perspectiva moral, não existe prática profissional” (AGUIAR, 1989 p.36). 1 Destacando a orientação da Igreja Católica, expressa nas Encíclicas Rerum Novarum (Pio XI) e Quadragésimo ano (1931). O subtítulo do referido documento é “Sobre a Restauração e Aperfeiçoamento da Ordem Social em conformidade com a lei Evangélica”. A ação católica tem como missão a divulgação da doutrina da Igreja em vista à Reforma Social (AGUIAR, 1989). 31 Na passagem do capitalismo concorrencial para o capitalismo monopolista 2, o Estado passa a redefinir suas funções com a classe trabalhadora. Ocorreu por parte da classe trabalhadora uma necessidade de organizar-se para enfrentar os desafios postos pela conjuntura adversa, que tem na classe dominante seu representante, devido às mudanças de sistema de produção. O Estado tem a função de conter a ofensiva do proletariado e para tanto começa a utilizar-se da ampliação de direitos sociais e trabalhistas como forma de amenizar as pressões dos trabalhadores. No Brasil o Estado passou a organizar-se no sentido de “tratar” a questão social 3 não mais como caso de polícia, mas buscando o enfrentamento através das políticas sociais. O Estado passa a ter um papel fundamental, de garantir sistematicamente a reprodução, além da manutenção da força de trabalho, a fim de conter as crescentes reivindicações dos trabalhadores. (Silva, 2002, 16) O protagonismo da classe operária no Brasil, devido ao processo de industrialização, alicerçada pelo sistema capitalista provocou conflitos de ordem econômica e social. Ao conjunto de conflitos emergentes desse processo dar-se o nome de questão social que segundo Netto é o “conjunto de problemas econômicos, sociais, políticos, culturais e Segundo Netto: trata-se período histórico em que ao capitalismo concorrencial sucede o capitalismo dos monopólios, […] tornou-se conhecido como o estagio imperialista. Ver mais em Netto: Capitalismo Monopolista e Serviço Social 3 Não queremos aqui dizer que somente neste momento histórico surge a questão social, pois a mesma apresenta diferentes manifestações nos diferentes estágios que passou o sistema capitalista. Ver Alejandra Pastorini em a categoria questão social em debate, 2004 2 32 ideológicos que cercam a emersão da classe operária como sujeito sócio-político no marco da sociedade burguesa”. (Netto, 1980, 90). Para o serviço social a questão social concebe-se como o principal objeto de intervenção, constituindo-se como base sócio-histórica da intervenção da profissão. Na década de 30, no Brasil estávamos presenciando o declínio do sistema agroexportador em detrimento do industrial, período marcado por uma série de alianças realizadas, pelo governo Vargas, com os trabalhadores e principalmente com a classe dominante, pois o Estado atua como instrumento de organização da economia, um tipo de mediador para aliviar as tensões ocasionadas por esse novo modelo de capitalismo. Essa intervenção, por parte do Estado, tem um caráter de garantidor dos lucros para os capitalistas, ou seja, o Estado mantém a ordem social através de suas políticas para a sociedade, principalmente para a classe operária, e o capitalismo tem assim a “paz” necessária para a garantia de superlucros. O Estado passa a ter suas funções políticas ligadas às funções econômicas. A intervenção do Estado se colocava no sentido de preservar a propriedade privada e ao mesmo tempo minimizar os efeitos da exploração do trabalho e desmobilizar politicamente os trabalhadores. O Estado intervém na relação entre o empresariado e proletariado através de uma série de legislações sociais e trabalhistas, e na prestação de serviços sociais previstos nas políticas sociais, funcionando também como estratégias de enfrentamento do processo de pauperização do 33 proletariado, cuidando 4 assim das suas necessidades imediatas e de subsistência. Paralelamente a essa transição de sistemas – capitalismo concorrencial para o capitalismo monopolista – acontece o surgimento das lutas de classes, movimento organizado de operários e trabalhadores contra o esmagamento dessas classes imposto pela classe burguesa que tem nessa transição a retomada de um poder totalizante. Tanto pela consolidação política do movimento operário brasileiro quanto pela legitimação política do Estado Burguês a existência da questão social torna elemento fundamental de disputa política e social entre as classes. A Igreja Católica firma aliança com o Estado e o empresariado para o enfrentamento da questão social, pois tem o discurso de recristanizar a sociedade como também tenta por um fim ao movimento comunista que estava em crescimento e assegurar assim, dentro do aparelho do Estado, posições desejáveis para a consolidação de sua influência. A legitimação e institucionalização do Serviço Social se deram num contexto de minimização da questão social num cenário em que a pobreza era naturalizada e vista como ameaça à ordem burguesa, a categoria assumia assim uma posição assistencialista da ideologia e da prática católica visando à harmonia social e manutenção da ordem vigente. Esse “cuidado” tinha como objetivo principal enfraquecer a organização de luta da classe trabalhadora em defesa de seus direitos. 4 34 Segundo Iamamoto (2001), o serviço social surge a partir da iniciativa de grupos dominantes (Burguesia, Estado e Igreja), formado basicamente por mulheres militares dos movimentos católicos, os quais já estavam à frente das ações sociais da igreja católica. As pioneiras do serviço social tinham na formação doutrinaria católica o enfrentamento dos “problemas sociais”, elas possuíam contato direto com o ambiente do operariado, pelo trabalho desenvolvido com a igreja e tinham como objetivo principal manter o funcionamento adequado da sociedade para a consolidação do sistema. Em seu processo de construção histórica o serviço social brasileiro recebe influencia européia e surge uma visão diferenciada da caridade, até então executada. A proposta apresentava-se através ações educativas junto às famílias dos trabalhadores e na prevenção dos “problemas sociais”. As instituições assistências que surgem nesse momento – todas sobre a tutela da Igreja – são a Associação das Senhoras Brasileiras (1920) no Rio de Janeiro e a Liga das Senhoras Católicas (1923) em São Paulo ambas eram compostas por mulheres de famílias burguesas paulistas e cariocas e tinham como planejamento às obras assistenciais. “O surgimento dessas instituições se dá dentro da primeira face do movimento de ‘reação católica’ da divulgação do pensamento social da igreja e da formação das bases organizacionais e doutrinárias do apostolado laico”. (Carvalho e Iamamoto, 2001, 166) É a partir dos Movimentos Laicos e do crescimento da juventude católica – Juventude Operária Católica, entre outras – que se criam 35 bases materiais e humanas para a Ação Social e então o surgimento de escolas de Serviço Social. A figura da Sra. Estella de Faro – coordenadora da Ação Social – é considerada uma das grandes pioneiras do Serviço Social no Rio de Janeiro. O Serviço Social se caracterizava, assim, por ser um movimento ao qual se dedicam mulheres de famílias abastadas, reunidas a parti de seu relacionamento e militância no meio católico. (Carvalho e Iamamoto, 2001, 216) O Centro de Estudos e Ação Social – CEAS – de São Paulo foi o órgão responsável pela formação dos assistentes sociais a partir de 1932. O CEAS era o organismo, que a época, qualificava os agentes para a realização da prática social. O objetivo central do CEAS será o de “promover a formação de seus membros pelo estudo da doutrina social da Igreja e fundamentar sua ação nessa formação doutrinaria e no conhecimento aprofundado dos problemas sociais”, visado “tornar mais eficiente à atuação das trabalhadoras sociais [...]” (Carvalho e Iamamoto, 2201:169) Com o objetivo de difundir a doutrina e ação da igreja, é lançada as suas diretrizes através das encíclicas papais Rerum Novarum (1891) e a Quadragésimo Anno (1931) as quais continham orientações e posicionamentos antiliberal e antiimperialista. Percebemos que o serviço social surge para atuar em favor da classe dominante em detrimento dos trabalhadores e sua organização, impedindo as lutas e conquistas destes, pois estas entram em confronto 36 com os interesses da burguesia. Mesmo assim as pioneiras do serviço social tinham como convicção que suas ações tinham rebatimento direto no enfrentamento da questão social. Essas ações representavam uma alternativa às ações de caridade, ou seja, havia um sentimento que de uma maneira ou de outra as ações baseadas pela doutrina católica ajudava a compor um projeto de sociedade. A crescente intervenção do Estado nos processos de regulação e reprodução social propiciou a profissionalização do Serviço Social e de tantas outras profissões. Quando o Estado passa a agir no capitalismo monopolista – não somente nele, mas para ele – como mediador no conflito entre capital e o trabalho, este apresenta fortes tendências a apoiar os interesses do capital e passa a intervir na questão social deixando a prática coercitiva e passando a tratá-la através das políticas. Ao serviço social é também demandada a sua inserção em outros organismos institucionais – as filantrópicas de caráter privado ou publico – o que confere uma particularidade frente às profissões requisitadas. Apesar de no Brasil a profissão de serviço social tenha sido considerada uma profissão questionada, pois para independente não dispõe liberal5, realizar do a as controle autonomia suas das profissional atividades condições de é forma materiais, organizacionais e técnica para o desempenho de suas funções. Mas isso 5 Segundo Iamamoto e Carvalho (2003, p.80, nota 12), “a portaria 35, de 19.4.1949, do Ministério de Trabalho, Indústria e Comércio enquadra o Serviço Social no 14º grupo de profissões liberais”. Entretanto, o exercício da profissão de Assistente Social só é regulamentado com a Lei nº. 3.252, de 27 de agosto de 1957 (Cf. CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 2006) 37 não significa que a profissão não disponha de uma relativa autonomia e de algumas características as quais estão presentes numa profissão liberal, tais como: o caráter não rotineiro do trabalho, a presença de um Código de Ética o qual orienta suas ações, a singularidade que pode exercer na relação com o usuário, a possibilidade de apresentar propostas de intervenção a partir de seus conhecimentos técnicos e, finalmente, a Regulação legal da profissão6. O serviço social no Brasil se institucionaliza e se legitima profissionalmente a partir da demanda posta pela conjuntura, como um dos recursos mobilizados pelo Estado e pelo empresariado, com o suporte da igreja católica na perspectiva de enfrentamento da questão social. A questão social em suas mais variadas expressões é incorporada na profissão como “matéria-prima” e a justificativa da constituição do espaço do serviço social na divisão sócio-técnica do trabalho e na construção das atribuições e da identidade profissional. A partir dos anos 30 a intensidade e extensão das manifestações da questão social no cotidiano da vida social adquirem expressões de política, o Estado assume a regulação e tensões entre as classes sociais mediante um conjunto de medidas, entre elas: Consolidação das Leis Trabalhistas, o salário mínimo e outras de cunho regulador assistencial e paternalista. Requisitando do assistente social um conjunto de Lei 8662 de 7 de junho de 1993 – que dispõe sobre o exercício profissional, suas competências, atribuições, privativas e fóruns que objetivam disciplinar e defender o exercício profissional. 6 38 atribuições, de referenciais teóricos, enfim de um acervo instrumental teórico para atender as necessidades apresentadas. Em 1936, a partir desses esforços e com apoio da hierarquia da igreja é fundada a primeira Escola de Serviço Social do Brasil, em São Paulo e no ano seguinte a Escola de Serviço Social do Rio de Janeiro. As primeiras relacionadas com iniciativas o de organização protagonismo de da alguns categoria grupos estão sociais, majoritariamente femininos, participante do movimento católico leigo e responsável pelo trabalho com os segmentos mais vulneráveis e empobrecidos da classe operária. A igreja católica foi responsável pelo ideário, conteúdos e pelo processo de formação dos primeiros assistentes sociais brasileiros. A formação profissional se pautava pela influencia franco-belga que se baseava no humanismo cristão, ou seja, na filosofia Neotomista7, na ação católica e na valorização de preceitos morais e doutrinários, ao qual é a continuidade e persistência no tempo de um conjunto de idéias constituídas da herança intelectual européia do século XIX, com a manutenção da ordem capitalista. Sendo a organização da sociedade vista como fruto de uma ordenação natural do mundo. Assim a atuação do assistente social se legitimava através de setores sociais que, dentro de uma estratégia de manutenção da ordem vigente e da harmonia social, inscrevia a sua intervenção na perspectiva do controle social e na difusão da ideologia dominante. 7 Movimento de retorno à filosofia tomista da Idade Média, filosofia do pensador italiano São Tomas de Aquino, com o objetivo de resolver os problemas contemporâneos. 39 Entre as décadas de 40 e 50 o serviço social passa a obter um caráter técnico-científico com a aproximação das ciências sociais e o desenvolvimento das escolas e faculdades, especialmente com a vertente empirista norte-americana. Apesar dessa mudança com o aprofundamento técnico-científico, não ocorreram grandes mudanças na atuação dos assistentes sociais, os quais continuaram a intervir de forma pragmática e com ação educativa na vida do operário que se estende à sua família como forma de prevenção dos problemas sociais. No contexto do pós segunda guerra mundial o serviço social brasileiro, incorpora o trabalho a partir de uma perspectiva de “comunidade” como projeto de intervenção. A solidariedade constituía-se como principal elemento norteador das ações onde deveria ter uma cooperação mútua entre seus integrantes a fim de que as potencialidades individuais pudessem ser colocadas a disposição do coletivo. Incorpora-se o principio da solidariedade como diretriz ordenadora das relações sociais, em tensão com seus fundamentos históricos concretos. As relações sociais passam a ser vistas invertidamente: a coisificação alienadora das relações que se estabelece no universo da mercadoria é obscurecida, fazendo reaparecer, na base mesma da sociedade, relações pessoais, solidárias, personalizadas. (Iamamoto, 2002, 27) A partir dos anos 40 a sociologia conservadora norte-americana insere no serviço social brasileiro os métodos de caso, grupo e comunidade – estas técnicas eram oriundas da psicologia e da psiquiatria que visavam o controle social por meio de uma perspectiva 40 positivista/funcionalista8 – e futuramente incorpora a noção de comunidade como forma de analisar a sociedade capitalista quando se encontra estruturada nos parâmetros da racionalidade burguesa da reprodução do capital. Ao mesmo tempo em que o Serviço Social parte do principio da solidariedade como base ordenada das relações sociais e do suporte técnico da noção de comunidade, agrega um novo elemento: a filosofia social humanista cristã com fundamentos no reformismo conservador e na base filosófica aristotélico-tomista. Este arranjo teórico doutrinário operativo permite que a profissão mantenha o seu caráter missionário, atualizando as marcas de uma origem e atendendo concomitantemente, as exigências de tecnificação que lhe impõe a modernização da sociedade e do Estado. (Carvalho e Iamamoto, 2001:28) Enquanto os procedimentos de intervenção do serviço social norteamericano, no que se refere ao trabalho com comunidade, passam ser incorporado ao serviço social brasileiro, são progressivamente racionalizados para um projeto profissional fundado no reformismo conservador de base filosófica tomista. Sendo assim, os profissionais atendiam as exigências de tecnificação, impostas pela modernização da sociedade capitalista e do Estado, sem perder seu caráter missionário. Com o aprofundamento corporativista do Estado e a política econômica do país votada para a industrialização – chamada Era Vargas – no final dos anos 30 e começo dos anos 40, há uma expansão das 8 A inserção do funcionalismo no Serviço Social significa a importância de técnicas que compõe a metodologia norte-americana, evidenciando-se no pós Segunda Guerra Mundial e disseminação do ideário capitalista pós Guerra Fria para os países Latinos Americanos 41 instituições assistenciais estatais, paraestatais e autarquias, como exemplo: o Conselho Nacional de Serviço Social (CNSS-1938), a Legião Brasileira de Assistência (LBA-1942), o Serviço Nacional de Aprendizagem (SENAI-1942) e o Serviço Social da Indústria (SESI1946). Essas instituições foram criadas a partir da necessidade do Estado em controlar a classe trabalhadora, este passando a deter o controle da regulamentação da força de trabalho e a política assistencial proposta aos trabalhadores. Ao mesmo tempo em que isso acontece essas instituições emergem como forma de dar ainda mais legitimação à profissão de Serviço Social, representando uma ampliação no mercado de trabalho da categoria tornando-a, institucionalizada pelo Estado e a classe burguesa. Este processo consolida a profissionalização do assistente social, que se torna categoria assalariada, e recruta seus membros entre os setores médios. (Iamamoto, 2002:31) No inicio da de 50, começa a surgir na profissão uma perspectiva de analise da contradição existente entre os objetivos e as ações, amparadas na recusa dos excessos de exploração do sistema capitalista sobre a classe trabalhadora, ou seja, as ações profissionais negavam essencialmente os princípios cristãos. Neste sentido a profissão defendia a parceria do proletário com a classe burguesa na perspectiva de cooperação já que ambos pertenciam à mesma comunidade produtiva, surgia assim o discurso da “cooperação mútua” estratégia que se articulava aos interesses da burguesia, pois era 42 forma como está disfarçava a exploração da mais-valia9. O Estado passa então a ser um componente fundamental nesse processo, pois passa não só a intervir na regulação da força de trabalho, mas também no controle de uma política assistencial vinculada as representações de classe, que nesse caso passa ser a da burguesia. As instituições sócio-assistenciais surgem então no sentido de atender as reivindicações dos proletariados, absorvendo as legislações sociais e trabalhistas, mas como forma de impedir uma organização mais especializada e uma consciência de classe. Com isso amplia-se o mercado de trabalho do assistente social tornando-se uma atividade legitimada e institucionalizada pelo Estado e pelo conjunto da classe dominante. Embora não estivesse visivelmente presente no seu discurso, a profissão servia aos interesses burgueses, que buscaram o profissional do serviço social para atuar frente às demandas da classe trabalhadora. Porém, o serviço social não era requisitado pela clientela, mas era imposto aos usuários como obrigação burocrática às suas aspirações, que eram, na verdade, os serviços sociais prestados pelas instituições e a efetivação dos mesmos. Para Iamamoto, o serviço social brasileiro deixa de ser um mero distribuidor da caridade das classes dominantes para transformar-se numa das engrenagens de execução das políticas sociais do Estado e dos setores empresariais. Nome dado por Karl Marx à diferença entre o valor produzido pelo trabalho e o salário pago ao trabalhador, que seria a base do lucro no sistema capitalista. 9 43 O casamento parecia perfeito, enquanto a classe trabalhadora aparecia com um movimento de recusa ao serviço social, a burguesia apoiava sua pratica, pois a partir da oferta de serviços e benefícios assistenciais ocultava, ou melhor, mascarava a dimensão política das expressões da questão social. O objetivo central da classe dominante, segundo Martinelli, se colocava num esforço de bloquear do desenvolvimento da consciência de classe do proletariado e sua organização política. Os assistentes sociais eram responsáveis pela operacionalização dos serviços sociais prestados à população pelas instituições, e tornavam-se os próprios representantes do Estado em contato com o proletariado. Os profissionais tinham nas mãos um papel de extrema importância, pois sustentavam a estratégia de controle social, difundindo o modo capitalista de pensar. Para eles, essa aliança com o Estado e com a Igreja, através de uma prática voltada aos interesses burgueses, era uma forma de consolidar-se como grupo profissional. O Desenvolvimento de Comunidade surge enquanto ideologia do desenvolvimento e estratégia de superação do subdesenvolvimento, difundida pelos organismos internacionais aprofundado com a criação da ONU – Organização das Nações Unidas – em 1945, com uma visão de que a sociedade é harmônica e equilibrada, e que todo desenvolvimento depende apenas da união das forças da população e governo. No 44 governo de Juscelino Kubitschek10 (1956-60) no Brasil o centro da política era o desenvolvimentismo, ou seja, a ordem e o crescimento econômico se efetivaria pela exploração da mão de obra, e o Serviço Social, que nesse período sofre grande influência norte-americana, adota o DC como proposta oficial a qual constitui-se num instrumento ideológico de interação da população pobre aos projetos de desenvolvimento. A intervenção do Assistente Social no mercado de trabalho sofre alterações, pois passa do trabalho com pequenos segmentos da população em geral para amplos setores do proletariado. Esse processo faz com que a profissão se consolide e se torne uma categoria assalariada. “Em suma, o Serviço Social deixa de ser um instrumento de distribuição da caridade privada das classes dominantes, para se transformar, prioritariamente, em uma das engrenagens de execução da política social do Estado e de setores empresariais”. (Carvalho e Iamamoto, 2001, 32) Em 1947, ocorre a realização do I Congresso Brasileiro de Serviço Social, o qual marca o início de uma tendência de valorização da categoria, apresentada nos diversos discursos, debates e polêmicas pelos profissionais. A leitura dos Anais do Primeiro Congresso Brasileiro de Serviço Social mostra a ausência de uma temática central. O mandato presidencial de Juscelino Kubitschek de Oliveira é comumente conhecido pelo epíteto de ''anos dourados'', visto ao grande processo de industrialização que o país passou, bem como da estabilidade política. 10 45 As preocupações do reduzido meio profissional existentes nesse momento se voltam para um sem-número de frentes [...] As teses apresentadas referem-se a uma longa listagem de temas de difícil sistematização. (Carvalho e Iamamoto, 2001, 331) À medida que há o desenvolvimento do país, o Serviço Social busca uma nova identificação com a conjuntura e as demandas sociais, pois existe uma crescente ampliação de profissionais e multiplicação das Escolas especializadas. No processo de modernização vivenciado pelo Estado nesse período, o qual tem seu complemento no período da ditadura militar, constatamos o aprofundamento do capitalismo no Brasil, influenciando diretamente e profundamente o modo de vida da população, especialmente da classe trabalhadora. O surgimento das grandes instituições assistenciais e previdenciárias colocaram-se como resposta do Estado passa a intervir no processo de reprodução das relações sociais, assumindo um papel regulador e promotor tanto da acumulação capitalista como do atendimento das necessidades sociais da população mais pauperizada. A política assistencial passa a ser controlada também pelo Estado, visto que este já detinha a regulação da força de trabalho, vinculada às organizações representativas das classes produtoras. Com isso o número de profissionais para a demanda, a qual aumenta significativamente, nas instituições sócio-assistenciais era escasso já que ocorria nesse período um declínio da militância católica na centralidade da profissão, passando a classe média ser celeiro 46 desses profissionais. A grande diferença dos profissionais oriundos da classe média era que estes não possuíam aspirações religiosas, mas fundamentalmente buscavam qualificação profissional, ascensão e melhores salários. Essa condição de assalariamento tem conseqüências fundamentais, que segundo Netto (1992), favorecem o entendimento posterior que este sujeito se reconheça enquanto membro da classe trabalhadora, provocando um avanço na construção da categoria profissional. Observamos nesse período uma mudança no perfil das pessoas que ingressam no processo de formação profissional, o surgimento das instituições representa a ampliação no mercado de trabalho do profissional. Se o caráter de missão de apostolado social e a origem de classe dos ‘pioneiros’ conferiam legitimidade à intervenção do profissional, agora essa legitimidade à intervenção do profissional, agora essa legitimidade será derivada do mandato institucional, confiado ao assistente social, direta ou indiretamente, pelo Estado. (Iamamoto, 2002, 31) A profissão amplia a sua área de atuação e alarga as bases sociais de seu processo de formação, mesmo com a mudança no processo de institucionalização e demanda o serviço social brasileiro ainda iria manter as características da prática e do pensamento conservador que o acompanha deste a sua origem. Sendo assim, gradativamente o Estado vai demandando a profissionalização do assistente social e ampliando seu campo de 47 trabalho em função das novas formas de enfrentamento da questão social. A política social apresentadas por um Estado com forte característica paternalista e ao mesmo tempo repressiva interferiria no desempenho profissional dos assistentes sociais no sentido da fragmentação, assumindo um caráter pontual e localizado, pois aquelas são concebidas, segundo Yasbek (2009), setorialmente como se o social fosse à simples somatória de setores da visa sem articulação, numa apreensão particularizada da realidade social. Com a adoção das políticas sociais, como estratégia de enfrentamento da questão social, o perfil do público-alvo da profissão de serviço social se amplia e passa a atingir grandes parcelas de trabalhadores. As diferentes conjunturas históricas e suas correlações de forças sociais evidenciam o papel normatizador e regulador do Estado no campo social e consequentemente na atuação do profissional de serviço social, gestando as condições necessárias para que no processo de divisão social do trabalho. A atuação do serviço social está sempre referida aos processos de criação das condições fundamentais para a reprodução social da vida, assim está atuação profissional na divisão social do trabalho se modifica e sofre redefinições com as mudanças e os contornos da questão social. Todavia a constituição e institucionalização do serviço social como profissão na sociedade depende, ao contrário, de uma progressiva ação do Estado na regulação da vida social, quando passa a administrar e gerir o conflito de classe, o que pressupõe, na sociedade brasileira, a relação capital/trabalho constituída por meio do processo de industrialização e urbanização. (Iamamoto, 2003, 23) 48 Embora o serviço social seja uma profissão reconhecidamente liberal no Brasil, o assistente social não tem essa tradição na sociedade brasileira. Este é um trabalhador que vende a sua força de trabalho que é a capacidade de decifrar a realidade posta, responsável pela execução das políticas sociais, mas não dispõe do controle das condições materiais, organizacionais e técnicas para o desenvolvimento do seu trabalho. Os anos 60 marcaram o inicio de mudanças significativas no serviço social brasileiro, aprofundamento o do país estava debate político vivendo na uma conjuntura sociedade mediante de o agravamento da questão social e dos níveis de empobrecimento da população trabalhadora, contratando com os elevados índices de crescimento econômico verificados no final dos anos 50. O marco oficial desenvolvimentista e da a inserção adoção do da profissão DC – no projeto de Desenvolvimento de Comunidade – é o II Congresso Brasileiro de Serviço Social, realizado no Rio de Janeiro, colocando a profissão numa perspectiva modernizadora frente às novas demandas do Estado e dos setores dominantes. Os Assistentes Sociais se propõe a aceitar o desafio de sua participação no novo projeto desenvolvimentista, exigem posições e funções, e avaliam as formas para preparar-se para desempenhá-las a contento. Propõem-se, através do DOC e DC, a contribuir para o processo de mudança exigido pelo desenvolvimento. Propõem-se a participar num processo de mudanças estruturais que tem em vista integrar amplas parcelas da população, que subsistem 49 marginalizadas do progresso. (Carvalho e Iamamoto, 2001, 353) Esse período é marcado também pelo crescimento das classes populares organizadas, no campo com as Ligas Camponesas e o sindicalismo rural e na cidade com o Movimento de Educação de Base (MEB) e os Centros de Cultura Popular. Esse movimento político-cultural reúne profissionais, intelectuais e trabalhadores em torno da luta antiimperalista e pela defesa de um projeto nacional-desenvolvimentista. Influenciado pela conjuntura o serviço social inicia criticas às praticas tradicionais, assistencialistas desenvolvidas no país. Na categoria começa a despertar a necessidade de mudança e de dar respostas às demandas macrossocietárias. Esse processo é marcado pela experiência de um grupo de assistentes sociais ligadas à igreja católica e aos projetos de educação de base e de organização popular em comunidades urbanas e rurais. 1.2. Processo de renovação do serviço social Observamos que a partir da segunda metade da década de cinqüenta, configura-se dentro do serviço social posicionamentos que questionam as bases tradicionais do exercício profissional, fazendo emergir incisivas criticas ao que se denominou “serviço social tradicional”, com suas praticas empiristas, reiterativas, paliativas e burocratizadas orientadas por uma ética liberal-burguesa, que visava enfrentar as incidências psicossociais da “questão social” sobre indivíduos e grupos sociais, sob um víeis funcionalista, voltada para a 50 reprodução dos interesses da classe dominante. De acordo com Netto a renovação implica a construção de um pluralismo profissional, o qual dá base a prática e valida teoricamente a profissão bem como seus procedimentos. A partir do golpe militar de 64, o Brasil impõe uma nova ordem político institucional apoiada no fortalecimento do Estado, voltado estrategicamente para a consolidação da chamada modernização conservadora, ou seja, modernizar e ampliar as funções econômicas, sociais, políticas e culturais com uma orientação clara de integrar a economia brasileira aos padrões internacionais exigidos pelos mecanismos de controle econômico. Para tanto, o Estado restringiu com autoritarismo e repressão os espaços da sociedade civil, desarticulando as instituições políticas existentes, os movimentos do campo, da cidade e as lideranças das forças populares de esquerda. Nesse contexto, a questão social passa ser tratada a partir do binômio repressão/assistência e um leque de políticas sociais e assistenciais é implantado pelo Estado de forma centralizada, autoritária e burocrática. Nessa conjuntura no serviço social há uma forte expansão do espaço sócio-ocupacional e das instituições de ensino superior, como também a adequação da profissão as demandas impostas pelo regime ditatorial, cujo modelo econômico elevou, de forma gigantesca, os 51 índices de empobrecimento, deteriorando ainda mais as condições de vida e de trabalho da população. Esse período traz posicionamento no serviço social que buscava aperfeiçoar o instrumental operativo com novas técnicas de ação na busca de padrões de eficiência, na sofisticação dos modelos de analises, diagnósticos e planejamento. Diante do clima repressivo e autoritário, fruto das mudanças políticas da década de 60, os Assistentes Sociais refugiamse, cada vez mais, em uma discussão dos elementos que supostamente conferem um perfil peculiar à profissão: objeto, objetivos, métodos e procedimentos de intervenção enfatizando a metodologia profissional. (Iamamoto, 2002, 33) Observamos neste período uma forte tendência, em alguns segmentos específicos da profissão, a psicologização das relações sociais, ou seja, os problemas de ordem pessoal e funcional passariam a ser tratados através do dialogo, dando prioridade às necessidades e problemas de ordem subjetiva. Alguns elementos marcam profundamente a pratica profissional nesse processo de atualização da herança conservadora. O primeiro refere-se à economia política que tem a tendência de transformar-se em problemas assistenciais, mudando o enfoque das conquistas sociais do proletariado em concessões de benefícios. E segundo acentua-se os mecanismos que dificultam uma compreensão mais clarificada da apreensão dos verdadeiros efeitos da ação do assistente social. 52 Nesta perspectiva, a resolução da “crise da profissão” reduzse, constantemente, a um maior aperfeiçoamento técnicoinstrumental; vincula-se ao reconhecimento, pelas instancias responsáveis pela elaboração e implementação das políticas sociais, das potencialidades daquele instrumental, para atuar sobre a “questão social”. (Iamamoto, 2002, 35) Segundo Netto, essa alteração da discussão teórica da profissão encontra seu foco nos setores organizados da profissão onde o debate torna-se palco privilegiado, destacamos a ABESS11 e o CBCISS12. O processo de renovação altera substantivamente as instancias de fomento da categoria, no que diz respeito às discussões, pois esses espaços tornam-se palco de aprofundamento das temáticas tratadas com um elevado grau de aprofundamento e problematização. Segundo Netto, esses espaços deixaram de serem somente encontros com tom de narcisismo profissional e se consagraram por se configurar em territórios de polêmicas da categoria. As instancias de organização da categoria tem seu perfil também modificado, pois se vêem obrigadas a incorporar nas discussões não mais questões coorporativas mais agregar discussões de outras naturezas relevantes ao momento. Netto aponta quatro aspectos que contribuíram para o processo de renovação do serviço social: A ABESS realiza periodicamente convenções nacionais desde de 1951. O CBCSIS tem destaque nos seminários de Araxá, Teresópolis, Sumaré e Alto da Boa Vista e foi responsável pelo periódico Debates Sociais o qual se constituiu num significativo núcleo de difusão editorial da profissão. 11 12 53 a) instauração do pluralismo teórico, ideológico e político no marco profissional, deslocando uma sólida tradição de monolitismo ideal; b) a crescente diferenciação das concepções profissionais (natureza, funções, objeto, objetivos e praticas do Serviço Social), derivada de recurso diversificado a matrizes teórico-metodológicas alternativas, rompendo com o viés de que a profissionalidade implicaria uma homogeneidade (identidade) de visões e de práticas; c) a sintonia da polemica teórico-metodológica profissional com as discussões em curso do conjunto das ciências sociais, inserindo o Serviço Social na interlocução acadêmica e cultural contemporânea posta por funções meramente executivas; d) a constituição de segmento de vanguarda, sobretudo, mas não exclusivamente inseridos na vida acadêmica, voltados para a investigação e a pesquisa. (Netto, 2001, 135-136) O serviço social tem a necessidade de apresenta-se como alternativa confiável para o enfrentamento da questão social, legitimando e ampliando sua intervenção frente às instancias empregadoras e conseqüentemente à população. 1.3. Significado social da profissão Segundo Yasbek, a compreensão do serviço social no processo de reprodução das relações sociais só pode ser desvendada através da analise no interior da profissão, ultrapassando a analise do 54 serviço social em si mesmo e passá-lo a situar no contexto de relações sociais mais amplas da sociedade capitalista. Então, um conceito fundamental para a compreensão da profissão na sociedade capitalista é o conceito da reprodução social que, na tradição marxista se refere ao modo como são produzidos e reproduzidos as relações sociais nesta sociedade. (Yasbek, 2009, 127) A reprodução das relações sociais passa pelo entendimento de totalidade da vida social em reprodução, ou seja, além da reprodução da vida material e do modo de produção, está também incluída a reprodução da vida social e das formas de consciência social da qual o homem constrói ou toma posição ao longo da sua vida em sociedade. Partindo do pressuposto de que a sociedade na qual estamos inseridos é dividida em classes com interesses antagônicos, independente das elaborações ideológicas, pois dada a apropriação privada dos meios de produção, a riqueza produzida é monopolizada por uma parte da sociedade – a classe dos capitalistas. A reprodução desigual de acumulação, que é socialmente produzida, necessita da recriação e ampliação das classes e uma fundamental nesse processo é a dos trabalhadores e o aumento do poder da classe capitalista, portanto ocasionando uma ampliação da pobreza para a classe dominante, expressando assim a luta travada entre as classes. A forma como o serviço social está inserido na sociedade está fundamentada na concepção de reprodução social num processo de totalidade das relações sociais, ou seja, de uma totalidade em 55 permanente movimento o qual cria as e recria os conflitos resultantes dessa relação. O serviço social participa do processo de reprodução dos interesses de preservação do capital, assim como é demandado para responder as necessidades de sobrevivência dos que vivem do trabalho. A analise do serviço social a partir dessa perspectiva nos permite apreender as implicações políticas do exercício profissional desenvolvido no contexto das relações entre as classes, ou seja, compreender que a pratica profissional é necessariamente polarizada pelos interesses das classes sociais. Como também nos permite apreender as dimensões objetivas e subjetivas do trabalho do assistente social, as quais de acordo com Yasbek, as objetivas se apresentam no sentido de considerar os determinantes sócio-históricos do serviço social ao passo que as dimensões subjetivas se apresentam no sentido de identificar a forma como o assistente social incorpora em sua consciência o significado do seu trabalho e a direção social do seu exercício profissional. A influência neotomista e positivista nos pressupostos do serviço social ocultaram o elemento fundante da questão social e reproduziram um profissional inserido num processo de moralização13 da questão social. Na trajetória do trato da questão social observamos a naturalização da questão social em que os problemas sociais são vistos como algo natural do sujeito e como natural no processo de sociabilidade 13 Explica os fatos exclusivamente por seus aspectos morais. A moralização trata a questão social de forma a-histórica, acrítica, e apolítica. 56 moderna, como característica imanente de todo e qualquer processo de civilidade; há também a psicologização da questão social na qual os problemas sociais derivam de funções psicológicas. Essas formas de enxergar as expressões da questão social individualizam o sujeito, descaracterizando a questão social do seu caráter histórico vinculado à dinâmica da ordem burguesa. Esses elementos que em determinado momento passam ser indicadores da intervenção da profissional dos assistentes sociais – naturalização, psicologização e a moralização – requer um profissional especifico, que desenvolve uma pratica particular e ocupa papel e função específicos, na ordem burguesa, ou seja, o da reprodução material e ideológica da classe trabalhadora. A base de intervenção do serviço social, deste a sua gênese como profissão é a questão social. O significado social se dá na vinculação concreta que a profissão vai ter na sociedade capitalista, ou seja, na contradição de quem paga e quem demanda seus serviços. Essa contradição não se revela de imediato como parte integrante da organização da profissão, mas é compreendida e adquire sentido no espaço das relações sociais concretas da sociedade da qual faz parte. O assistente social atua no campo da mediação, no espaço de convergência e de contradições, que é a própria sociedade. Esse caráter contraditório do exercício profissional é configurado pelo campo dos interesses antagônicos entre as classes. Romper com o 57 pragmatismo/fatalismo14 – visão determinista da sociedade – ou messianismo/voluntarismo15 – visão heróica da profissão – é entender esse caráter contraditório, pois esse tipo de olhar são distorções dos processos sociais e que não reconhece a realidade do mercado de trabalho. A profissão de serviço social também precisa ser analisada sob dois ângulos os quais são indissociáveis, por um lado as respostas dos assistentes sociais as demandas que são postas no cotidiano profissional, por outro lado as condições societárias que estabelecem o terreno sócio-histórico onde se realiza a profissão, remetendo as dimensões objetivas e subjetivas anteriormente explicitadas. Essas dimensões da atividade profissional, como atividade vivida e representada pela consciência do profissional de serviço social e também como atividade socialmente determinada, apresentam-se de forma contraditórias. A dimensão objetiva é contraditória visto que estamos numa sociedade capitalista, pois o profissional encontrará limites dentro da conjuntura social e histórica, mas, contudo buscando possibilidades de apresentar, criticamente, as alternativas e possibilidades. 14 Constitui uma escola de filosofia, com origens nos Estados Unidos da América, caracterizada pela descrença no fatalismo e pela certeza de que só a ação humana, movida pela inteligência e pela energia, pode alterar os limites da condição humana. Este paradigma filosófico caracteriza-se, pois, pela ênfase dada às consequências - utilidade e sentido prático - como componentes vitais da verdade. Fonte: Wikipédia 15 Caracteriza movimentos ou atitudes movidas por um sentimento de "eleição" ou "chamado" para o cumprimento de uma tarefa "sagrada". Fonte: Wikipédia 58 O significado social da profissão está em responder as determinações históricas e sociais, para isto acontecer a profissão precisa estar inserida na própria sociedade criando e recriando essas determinações históricas e sociais. A profissão de serviço social situa-se no contexto das relações sociais e necessariamente precisa ultrapassar a situação de “em si mesmo”. Para Iamamoto e Carvalho (2000) para compreender o serviço social precisamos considerar as condições e relações sociais que nos permitam apreender o significado social da sociedade capitalista, pois a profissão está situada como um dos elementos que participa da reprodução e das relações de classe, sem localizá-la de forma focalizada, a-critíca e a ahistórica. Para Montaño há a necessidade de se compreender a gênese do serviço social a partir de duas teses as quais nos permite refletir sobre as abordagens utilizadas pelos assistentes sociais e suas perspectivas de superação frente aos rebatimentos impostos pela sociedade capitalista. Os assistentes sociais, em diversas oportunidades, se “debatem” em torno de duas concepções, duas teses sobre a natureza e o processo da gênese do Serviço Social. Agora bem, tais concepções, que podemos com relativa generalização agrupar em suas perspectivas, se comportam como verdadeiras teses. Elas contêm um arsenal heurístico teórico-metodológico que extrapola a mera consideração sobre a gênese do Serviço Social. (Montaño, 2007, 07) 59 A natureza do serviço social, segundo Montaño, apresenta duas teses, antes já referenciadas como distintas e antagônicas. A primeira tese refere-se à perspectiva endógena a qual sustenta que a origem do serviço social advém de um processo de evolução e profissionalização das antigas formas de ajuda e da caridade. Os teóricos que defendem esta tese apresentam a idéia do serviço social tradicional, ou seja, uma profissionalização e sistematização da caridade e da filantropia. Essa tese aborda e entenda a profissão como sendo vista a partir de si mesma, ganhando autonomia histórica perante a sociedade, as classes e as lutas sociais, defende uma visão particularista ou focalista, pois compreende o surgimento do serviço social atrelado as atividades e ações de sujeitos particulares, como sendo resultado pessoal e a historia da sociedade entendida apenas como sendo uma crônica paralela ao desenvolvimento da profissão sem rebatimentos a esta. A segunda tese refere-se a perspectiva históricocritica a qual entende a profissão como resultado da síntese histórica dos projetos políticos-ecônomicos, inseridos no contexto capitalista monopolista, reproduzindo-o de maneira material e ideologicamente, no qual o Estado toma para si a responsabilidade da precariedade do sistema materializado na questão social. Enquanto a primeira aceita e defende a continuidade existente entre Serviço Social atual e formas anteriores de ajuda, filantropia e até caridade; a segunda percebe e defende que houve, de verdade, uma ruptura na essência funcional do Serviço Social. 60 1.4. Intenção de ruptura: protagonismos do serviço social crítico A proposta de renovação do serviço social nesse momento seria uma ruptura com as tradições e as demandas sociais através de um melhoramento em suas técnicas e teorias – Movimento de Reconceituação, que tem como base à pretensão de romper com a herança teórico-metodológico do pensamento conservador. Nos seminários de Araxá (1967) e Teresópolis (1970), os profissionais têm a oportunidade de discutirem essa proposta, com tudo devido à conjuntura vivenciada na década de 60 – repressões ao pensamento intelectual, entre outros tipos de privação de expressão política, cultural e ideológica – restando assim, fazer um aprofundamento tão somente das técnicas. Na tentativa de retomar uma postura critica e romper com o conservadorismo do serviço social faz uma emersão no movimento de “renovação do conservadorismo”, o qual embora questione e se opunha ao serviço social conservadorismo. tradicional Surgem assim não dois consegue processos romper com o antagônicos e fundamentais para a concepção do que hoje temos como relação ao serviço social: a “reatualização do conservadorismo” e a “intenção de ruptura”. A “reatualização do conservadorismo” apresenta-se com um discurso teórico, adotando a fenomenologia como diretriz teóricometodológica. 61 A intenção de ruptura do Serviço Social com a herança conservadora passa pela adoção de novas bases de legitimidade de ação profissional do Assistente Social que a partir de um conhecimento mais profundo da realidade dos usuários busca colocar-se de forma objetiva para o atendimento de suas necessidades. No inicio dos anos 70, a Escola de Serviço Social de Minas Gerais faz experiências e formulações efetivas para o rompimento da herança conservadora, essa tentativa recebeu o nome de Método de BH. Nos Seminários de Sumaré (1978) e Alto da Boa Vista (1984) há uma tendência a uma postura fenomenológica, “embora a crítica fenomenológica dos aspectos da sociologia convencional tenha sido importante, a tendência a considerá-la como uma forma alternativa de sociologia foi contraproducente em detrimento de qualquer exame da realidade social, estrutura social ou das conseqüências da ação”. (Smart apud Netto 1990:210) Nos anos 80 a linha metodológica apontada nos ensinamentos teórico-metodológicos tem suas bases no pensamento marxista com uma abordagem na lógica de reprodução das relações sociais. Uma das sistematizadoras dessa nova linguagem e interpretação para o Serviço Social é Marilda Iamamoto, com seus ensaios de interpretação sociológica da profissão. O serviço social inicia a gestão de projeto profissional comprometido com os direitos humanos e sociais, com a ampliação da democracia social e econômica, com a qualificação das políticas publicas e a construção da cidadania para todos. A década de 80 consolidou no plano 62 ideopolítico o rompimento com o histórico conservador no serviço social. O posicionamento ideopolítico modificou a qualidade de atuação do assistente social no atendimento direto com o usuário, a forma de como elaborar e executar as políticas sociais nas respostas cotidianas aos “problemas sociais”. A intenção de ruptura surgiu como resposta a crise estrutural do serviço social, como uma renovação da profissão sobre os parâmetros ideológicos, na tarefa histórica de vinculação com a classe trabalhadora construindo um exercício profissional democrático à hegemonia dessa classe social na totalidade da vida humana. O desafio consiste na lucidez de analisar os limites do serviço social perante o projeto de vida abrangente e universal em seus atributos e demandas sociais de liberdade humana. Precisamos primeiramente compreender os “problemas sociais” num contexto histórico e cultural do sistema, segundo estes enquanto resultados das relações tensas e antagônicas das classes sociais, quer sejam a classe trabalhadora e a classe burguesa, compreender o usuário como sujeito histórico, como parte de construção da sociabilidade humana e por fim compreender o serviço social como mediação necessária nesse processo histórico de transformação social. Enfim, o processo de ruptura da profissão serviu para enriquecer o debate profissional, dar ritmo e significação ao Serviço Social, inspiração ao pensamento marxista, abertura e ampliação de horizonte ideoculturais e deu ao profissional um posicionamento critico a respeito da conjuntura resultando assim num confronto as idéias e concepções antes não registradas. 63 1.5. Contemporaneidade do Serviço Social As questões que se colocam na contemporaneidade para o serviço social brasileiro são múltiplas, particularmente as décadas de 80 e 90 e os primeiros anos do século XXI, sem deixar de recorrer aos fundamentos que legitimam a profissão e a criação de espaços sóciohistóricos configuradas na emersão do mercado de trabalho. Segundo Iamamoto: Um dos maiores desafios que o assistente social vive no presente é desenvolver sua capacidade de decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criativas e capazes de preservar e efetivar direitos, a partir de demandas emergentes no cotidiano. Enfim, ser um profissional propositivo e não só executivo. A autora aponta ainda a emergência de romper com uma visão endógena, ou seja, uma visão para dentro dos muros da profissão há necessidade de extrapolar suas relações com a sociedade, com os movimentos sociais de classes e com o Estado, assumindo uma postura mais propositiva e não somente de um mero executor terminal de políticas sociais, o mercado demanda um profissional que trabalhe na esfera da execução, formulação e gestão das políticas sociais. Identificar as particularidades do fazer profissional com as demandas estabelecidas no cotidiano requer do assistente social competência e qualificação para o exercício profissional. O protagonismo 64 do sujeito profissional está em requerer da realidade tendências e possibilidades que estabeleçam ações efetivas no cotidiano profissional. Estamos aqui falando de uma competência crítica, ou seja, aquela capaz de desnudar a realidade tendo como base uma visão totalitária da mesma, articulando com o acumulo teórico adquirido e as estratégias de ações. Competência critica requer ainda um diálogo crítico com as bases históricas da profissão e um profissional atento culturalmente e politicamente com a conjuntura do seu tempo, buscando ações e estratégias presentes na realidade. Precisamos ultrapassar a analise do serviço social em si mesmo e passá-lo a situá-lo no contexto das relações sociais estabelecidas pelo sistema capitalista. Relações estas que são manifestadas em suas muitas dimensões e que tem como frente à questão social e suas múltiplas manifestações na vida da sociedade, demandado resposta ao assistente social na perspectiva de contribuir para a reprodução social. Entendemos a reprodução social como a reprodução de um determinado modo de vida, de valores, e práticas culturais e políticas e do modo como se produzem as idéias na sociedade. O processo de reprodução da sociedade estabelece um movimento que cria e recria nas sociedades de classes conflitos os quais fundamentam o serviço social como profissão inserida na sociedade. A pratica profissional do assistente social é polarizada pela relação entre as classes sociais, constituindo-se uma ação contraditória entre as intenções profissionais e os resultados produzidos. 65 A dimensão objetiva do trabalho do assistente social está ancorada nos determinantes sócio-históricos do exercício profissional nas diferentes conjunturas. Enquanto que a dimensão subjetiva na forma como o assistente social incorpora em sua consciência a direção social do seu fazer profissional. O serviço social participa tanto no que concerne nas respostas às necessidades da população atendida, quanto no processo de reprodução dos interesses e preservação do capital. Para tanto, o serviço social é uma profissão inserida na divisão social e técnica do trabalho, pois a sua atuação ocorre no âmbito das políticas socioassistenciais quer seja na esfera privada e publica, esta ultima sendo o maior empregador desse profissional. O assistente social que tem a questão social como objeto de trabalho, com suas diversas expressões. Para Netto (1992) o serviço social não pode esgotar sua ação somente na execução terminal das políticas, mas fazer a reflexão da questão social ampliando sua atuação para a reflexão da questão social e dos rebatimentos do sistema capitalista perante a população atendida. A atuação do assistente social realiza-se em organizações públicas e privadas e em diferentes áreas e temáticas, como: proteção social, educação, programas socioeducativos e de comunidade, habitação, gestão de pessoas, segurança pública, justiça e direitos humanos, gerenciamento participativo, direitos sociais, movimentos sociais, comunicação, responsabilidade social, marketing social, meio ambiente, assessoria e consultoria, que variam de acordo com o lugar que o 66 profissional ocupa no mercado de trabalho, exigindo deste um conhecimento teórico-metodológico, ético-político e técnico-operativo. Se as políticas sociais como observa Montaño (1997:117) se constituem em fator de sustentação funcional ocupacional dos assistentes sociais (sua funcionalidade, sua instrumentalidade, sua legitimidade) se estas foram significativamente alteradas no atual contexto sócio-econômico e político (suas orientações e funcionalidade) podemos, pois, afirmar que a base de sustentação funcional-ocupacional do Serviço Social tem sofrido (ou ainda estão sofrendo) transformações relevantes. Com base nestas observações é importante destacar que apesar do maior empregador ainda ser o Estado, também existe una tendência de abertura para novos postos de trabalho em outras esferas, como nas Organizações Não Governamentais, ampliação das consultorias devido a terceirização dos serviços, e nos serviços privados de saúde entre outros. Como afirma Netto (1996: 89) as profissões não são só os resultados de processos macroscópicos devem também ser tratadas, cada qual como corpus teórico e políticos que condensam projetos sociais, onde emanam dimensões ideológicas que dão a direção aos mesmos processos sociais. 67 CAPITULO II 68 2. Projeto Profissional e Projetos Societários A legitimidade de qualquer profissão advém do movimento da sociedade, sua regulamentação e afirmação pratica fundada na organização política, demarcada pelo interesse coletivo da categoria para a valorização de sua identidade. Portanto é possível apreender de que a origem transformações de e determinada fenômenos que profissão se advém expandem e das próprias requisitam a mobilização material ou imaterial 16 para tratar seus significados. A regulamentação formal da profissão passa a orientar um projeto profissional coletivo, pois a profissionalização, a busca do conhecimento inerente aos seus agentes passa a informar a legitimidade de base teórica e cientifica seguida da institucionalização jurídica. Para Netto, os projetos profissionais apresentam a auto-imagem da profissão e que é substanciada por um projeto profissional de caráter coletivo o qual institui as bases para carrear os princípios e valores consoantes à formação e o trabalho profissional do assistente social e ao mesmo tempo faz uma interlocução com os projetos societários e sua legitimidade enquanto profissão na sociedade. 16 O trabalho imaterial em Marx é definido em contraposição ao trabalho produtivo. Trabalhos que não formam valor, mas que fazem o valor se movimentar com mais rapidez, que dão maior dinâmica ao processo de valorização. São atividades vinculadas, em sua maioria, aos serviços e dentro desses à utilização da capacidade intelectual do coletivo de trabalhadores. Trata-se de um conceito figurativo, metafórico que Marx usou em determinados momentos de sua análise do capitalismo para ilustrar relações mercadológicas de transição (entre a produção e a circulação) que não compreenderiam particularmente o “espírito do capitalismo”, mas que, nem por isso, deixariam de ser controladas pelas relações sociais fundamentais que as orientam na direção da extração de maisvalia. (Henrique Amorim) 69 Os projetos profissionais caracterizam-se por se desenvolverem ligados a projetos coletivos societários, bem como por uma construção de caráter heterogêneo e passiveis de mudanças de acordo com o movimento da sociedade. As bases de um projeto profissional se articulam a um processo de estrutura ou de reestrutura das bases de acumulação capitalista e interesses da classe dominante em detrimento dos trabalhadores. Os projetos apresentam a imagem da sociedade a ser construída, que reclama determinados valores, privilegiando certos modos de vida e meios (materiais e culturais) para concretizá-la. Os projetos societários são projetos coletivos, mas o seu traço peculiar reside no fato de se constituírem projetos macroscópicos em propostas para o conjunto da sociedade. Só eles apresentam essa característica, os projetos coletivos (por exemplo, os projetos profissionais) não têm esse nível de abrangência e inclusividade. (Netto 1999, 94) Ou seja, na história dos últimos dois séculos da humanidade o projeto societário vigente obedece à ordem do modo de produção capitalista, o qual apesar de alguns avanços por parte da classe trabalhadora no sentido de conquistas sofre ainda muitas derrotas na luta pela emancipação humana. Os projetos societários, em nossa sociedade, são também projetos de classes, apesar das transformações em curso da ordem capitalista ter reduzido o peso das classes sociais e seu antagonismo na demanda da sociedade. Por isso é que os projetos societários requerem 70 necessariamente uma dimensão política que envolve relações de poder. Como afirma Marx e Engels “A história de todas as sociedades até nossos dias tem sido a história das lutas de classes”, ou seja, os projetos societários encontram-se em disputa entre as classes com interesses antagônicos. A compreensão é de que a concorrência entre projetos societários é um fenômeno próprio da democracia política. Em um contexto de estado de exceção17 é comum que a vontade da classe social que exerce o poder político prevaleça para a implementação do seu projeto societário valendo-se de mecanismos e dispositivos coercitivos e repressivos. Apenas com a garantia da liberdade política e individual e ideológica é que os projetos podem se confrontar e buscar a adesão da sociedade. Entretanto a história tem demonstrado que mesmo num quadro de democracia e liberdade, as razões econômicas, sociais e culturais se sobrepõem a projetos de interesses da classe trabalhadora, pois estes sempre se encontram em condições desfavoráveis para enfrentar os projetos da classe dominante, ou seja, temos visto ao logo da história que os projetos societários vinculados a classe trabalhadora e subalterna não competem de igual modo como os projetos correspondentes aos da classe dominante, apesar de termos um quadro de democracia política, 17 Estado de exceção é uma situação oposta ao Estado de direito, decretada pelas autoridades em situações de emergência nacional, como agressão efetiva por forças estrangeiras, grave ameaça à ordem constitucional democrática ou calamidade pública. Caracteriza-se pela suspensão temporária de direitos e garantias constitucionais, que proporcionam a necessária eficiência na tomada de decisões para casos de proteção do Estado, já que a rapidez no processo de decidir as medidas a serem tomadas é essencial em situações emergenciais e, nesse sentido, nos regimes de governo democráticos - nos quais o poder é dividido e as decisões dependem da aprovação de uma pluralidade de agentes a agilidade decisória fica comprometida. Em http://pt.wikipedia.org/wiki/Estado_de_exce%C3%A7%C3%A3o 71 mas na ordem do capital as razões econômicas, sociais, políticas e culturais sobrepõe qualquer intenção de interlocução de projetos. A crise econômica dos anos 80 apresentou-se como pano de fundo conjuntural para a estagnação da economia e o declínio da ditadura nos países da América Latina. Contraditoriamente está crise proporciona o fortalecimento dos movimentos populares, sociais e do novo sindicalismo apontado por Abramides (2007), com aqueles que se contrapuseram à velha estrutura sindical, datado do Novo Estado, no qual o Estado detinha o controle das organizações sindicais brasileiras. Algumas organizações se destacaram, tais como a UNE (União Nacional dos Estudantes), a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), a ABI (Associação Brasileira de Imprensa) e setores progressistas da Igreja Católica na luta pela democratização do país. O movimento político de reivindicações se destacava tanto nas lutas pela concessão de direitos trabalhistas como reposição salarial, direito a greve, liberdade, autonomia sindical e melhores condições de trabalho, quanto nos assuntos de interesse social, ou seja, para população em geral, tais como: divida externa, a privatizações das empresas estatais, entre outros. Estes momentos político fortaleceram os movimentos sociais fazendo surgir uma mobilização pelo voto direto e universal. Como afirmamos anteriormente o serviço social tem o surgimento marcado pela consolidação do sistema capitalista e o afloramento da questão social, esta tem uma relação com o serviço social desde sua gênese e dá base a sua intervenção toda via não aparece de imediato nesta relação, pois as conexões genéticas do serviço social profissional 72 não se entretece com a questão social, mas com suas particularidades no âmbito da sociedade burguesa fundada na organização monopólica (Netto, 2000, 18). Historicamente o serviço social assume frente a classe trabalhadora um compromisso na ampliação de direitos desta, frente a classe dominante, através da participação política e cívica, engajamento frente aos movimentos sociais e na produção de uma literatura critica. Esse movimento iniciado nos anos 70 contribui para que os assistentes sociais compreendessem o significado social da profissão, seus valores e as teorias que orientavam a pratica profissional. Os projetos coletivos encontram-se também os que dizem respeito às profissões, “não a qualquer profissão, mas àquelas que, reguladas juridicamente, supõe uma formação teórica e/ou técnico interventiva, em geral nível acadêmico-superior” (Netto, 1999, 95) No quadro da renovação do serviço social brasileiro, a partir dos anos 60, quando do movimento de reconceituação, desponta a dimensão política, ou seja, as bases para construção de uma trajetória de ruptura com o pensamento conservador e o desafio coletivo de explicitar um novo significado da profissão na sociedade, a partir de um processo de maturação acadêmica com referencia na teoria social crítica. Essa dimensão não pode ser confundida com a perspectiva partidária, apesar dos partidos políticos se apresentarem como instituições indispensáveis para a organização democrática da vida social. 73 No serviço social a dimensão política passa por uma compreensão e aprofundamento teórico no interior da tradição marxista a partir da década de 80. Quando as analises partem de uma mesma perspectiva teórico-política e fornecem elementos substantivos e que os referenciais sócio-históricos tornam imprescindíveis para decifrar os projetos coletivos como expressão de sociabilidade. Os projetos profissionais apresentam a auto-imagem de uma profissão, elegem os valores que a legitimam socialmente, delimitam e priorizam os seus objetivos e funções, formulam os requisitos (teóricos, institucionais e práticos) para seu exercício. (Netto, 1999, 95) Os componentes estruturais, conjunturais, sociais, econômicos, políticos e culturais são preponderantes para a construção dos projetos profissionais, pois estes devem analisar continuamente a realidade social a fim de que as suas ações possam efetivamente ter impacto na sociedade. A modernidade traz a disputa dos projetos societários e a internacionalização dos direitos, e, na arena da sociedade movimentada pelo capital, a desigualdade desafia a liberdade. Indissociável deste processo, os projetos coletivos conjugam-se aos projetos societários, nem sempre em perfeita harmonia, pois, como afirma Netto (1999), é possível que o projeto societário hegemônico seja contestado por projetos profissionais que conquistem hegemonia. Os projetos profissionais requerem, além disso, uma base teóricooperativa, investigativa e de sistematização de saberes profissionais advindos do acumulo teórico e intelectual dos profissionais, ainda é 74 necessário que se tenha em sua base uma categoria fortemente organizada e articulada com organizações e instituições sociais privadas e publicas. Essa organização pressupõe o envolvimento dos profissionais, pesquisadores, docentes e estudantes da área. O mesmo autor aponta aspectos e elementos que emergem da própria fundamentação teórico-filosófica e histórica da profissão. As premissas para a abordagem da construção do projeto profissional do serviço social na sociedade brasileira instiga a retrospectiva de alguns aspectos fundamentais, os quais conjugam as transformações da sociedade e o movimento que lhe é próprio no cenário histórico social. No Brasil a organização da categoria compreende o conjunto CFESS/CRESS (Conselho Federal de Serviço Social e os Conselhos Regionais de Serviço Social), a ABEPSS (Associação de Ensino e Pesquisa em Serviço Social), a ENESSO (Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social) e os sindicatos e demais associações dos assistentes sociais. Os projetos profissionais se renovam e se modificam levando em consideração a dinâmica das estruturas da sociedade, as resposta às alterações no sistema de necessidade sociais sobre as quais a profissão opera às transformações econômicas, históricas e culturais como ainda as transformações ocorridas na sociedade. As dimensões política e ética dão sustentação a um projeto profissional e têm natureza diferenciada, pois se constituem mediações, pressupõe autonomia embora haja uma articulação entre ambas. No 75 caso do projeto ético-político do serviço social a dimensão ética tem sua objetivação ontológica no Código de Ética (1993). À diversidade de concepções e direções numa categoria profissional com relação à construção de um projeto profissional, as pessoas que compõe a profissão são necessariamente diferentes – têm origens, expectativas, motivações, condições intelectuais distintas. Não exatamente por isso, mais por causa dessa diversidade de pensamentos que nos projetos profissionais há campos de disputas e tensões. Para tanto afirma Netto: Por isto mesmo, a elaboração e afirmação (ou se quiser, a construção) de um projeto profissional deve dar-se com a nítida consciência de que o pluralismo é elemento factual da vida social e da profissão mesma, cabendo o máximo respeito a ele, respeito, aliais, que é um principio democrático. (Netto, 1999, 96) A afirmação de idéias, o debate, a discussão, divergências e contradições são elementos próprios de afirmação e consolidação de um projeto, o confronto de ideias dar-se-á mediante a interlocução e não por mecanismos coercitivos e excludentes. Apesar de que sempre existirão opiniões contrárias num mesmo projeto, a conquista da hegemonia não será garantida. Netto nos chama atenção no sentido de não confundirmos tolerância intelectual com pluralismo, o verdadeiro debate de ideias “só pode ter como terreno adequado o pluralismo que, por sua vez, supõe também o respeito às hegemonias legitimamente conquistadas.” 76 A atenção se dá no sentido de que há naturalmente tensões entre projetos societários e projetos profissionais, principalmente quando este último contesta ou põe no debate questões, ligada aos interesses da classe trabalhadora. Este enfrentamento, numa sociedade capitalista, tem limites quando o projeto profissional crítico e avançado se depara com as condições institucionais de trabalho marcadas pela reestruturação produtiva. 2.1. Projeto Profissional do serviço social Entendemos o serviço social como uma profissão que se constitui a partir de um momento histórico determinado, sustentada pela contradição que permeia o sistema capitalista (capital x trabalho) e seu significado social, segundo Iamamoto (1992), se dá na vinculação que esta profissão vai ter na sociedade capitalista, ou seja, na contradição entre quem paga e quem demanda serviço. O serviço social brasileiro surgiu como decorrência da divisão sociotécnica do trabalho, e afirma-se como profissão que traz em seu bojo uma dimensão teórico-metodológica e técnico-operativa, além de assumir todas as implicações éticas e políticas. Sendo assim o assistente social tem respaldado a sistematização dos debates sobre os saberes que constrói aliado a um acervo intelectual herdado do pensamento social critico. 77 Segundo Iamamoto (2001) na década de 1980 o serviço social atinge a sua maior idade, devido ao crescimento do mercado editorial, impulsionado pela pós-graduação e também pelo terreno fértil que a produção acadêmica se colocava ultrapassando os muros profissionais permitindo a interlocução teórica com outras áreas de maior tradição na pesquisa social. Essa condição de estar com uma produção teórica qualificada e acumulada nas ultimas décadas proporcionou no seio da profissão um embate mais forte com setores conservadores do serviço social, no que se refere a interpretação teórico-metodológica. A ABEPSS tem seu papel na construção do projeto profissional do serviço social, como uma instituição formada visando o estabelecimento de uma política de formação que desse unidade ao ensino de serviço social no Brasil. Ao final da década de 60 quando a profissão de serviço social vinha exigindo um projeto de formação profissional e quando na década de 70 a profissão passa por um período de efervescência política e intelectual, a ABEPSS protagoniza este debate sobre a formação do assistente social brasileiro, articulando-o a conjuntura da sociedade brasileira e embasada na teoria social critica. Para tanto, todo esse movimento culminou com a redefinição do currículo mínimo dos cursos de serviço social, aprovado pelo CNE em 1982. No que se refere à dimensão ética houve um significativo avanço. O código de ética constitui-se, democraticamente, direitos e deveres dos assistentes sociais, segundo princípios e valores humanistas, além de se tornar um guia para o exercício profissional. De acordo com Barroco: 78 Um código de ética representa uma exigência legal de regulação formal da profissão e, como tal, é um instrumento especifico de explicitação de deveres e direitos profissionais, ou seja, refere-se a uma necessidade formal de legislar sobre o comportamento dos profissionais (Barroco, 2001, 81) Podemos destacar no campo ético-político o reconhecimento da liberdade como valor ético central, com o reconhecimento da autonomia, da emancipação e da expansão dos sujeitos sociais e seus direitos; ainda a defesa intransigente dos direitos humanos; o aprofundamento e a consolidação da democracia; o posicionamento a favor da equidade e da justiça social; o empenho na eliminação de toda forma de preconceito e discriminação, com a garantia do pluralismo e mais do que tudo o compromisso com a qualidade dos serviços prestados, procurando a articulação com outros profissionais r trabalhadores. Outro pilar da profissão que merece destaque é a Lei de Regulamentação da Profissão a qual se apresenta e representa a defesa da profissão na sociedade e situa-se como norte para a formação acadêmica e as diretrizes curriculares propostas pela ABEPSS e aprovadas pelo CNE. São elementos fundamentais para o desenvolvimento do projeto ético político, além da conjuntura favorecida pela democratização da vida política brasileira, da qual o período de fim dos anos 80 proporcionava, a organização política da categoria e seu acumulo teórico, especialmente na tradição marxista, como também a composição do ethos profissional fundado na dimensão normativa, expresso no Código de Ética. 79 A constituição desse novo ethos se deu nos anos 80, procurando estabelecer uma identidade moldada em posicionamentos éticos e políticos vinculados a uma participação cívica e política, do trabalho e da vivencia de novas necessidades e escolhas de valor com compromissos voltados a classe trabalhadora. O posicionamento ético-político assumido pelo serviço social impulsionou a renovação dos aportes teóricos e metodológicos da profissão. A visão da profissão muda em diversos aspectos, tais como na sua relação com a realidade, na trajetória histórica e na sua relação com os empregados e usuários. Consideramos que as mudanças na perspectiva profissional são possíveis num contexto político democrático. A década de 1980 foi um período fértil para a ruptura com o caráter conservador da profissão, mas a quebra com a hegemonia da concepção conservadora do Serviço Social é um processo que atravessa décadas e atinge sua maturidade, nas produções teóricas brasileiras, na entrada de 1980 e 1990. Com o advento do Movimento de Reconceituação, a direção teórica e política do Serviço Social passam por mudanças, nos 80 e 90 este processo de amadurecimento teórico, político e cultural experimentado pela profissão intensificou-se, tornando possível a consolidação de uma perspectiva crítica no meio profissional; tal amadurecimento teóricopolítico só foi possível porque parcelas significativas da categoria profissional aproximaram-se do “marxismo de Marx” isto é, do próprio legado de Marx e de marxistas fiéis a ele, como George Lukács. A obra que resgata as ideias originais de Marx no serviço social é a de Marilda Vilela Iamamoto e Raul de Carvalho, Relações Sociais e 80 Serviço Social no Brasil: uma interpretação histórico-metodológica18, os autores analisam o serviço social sob a ótica das relações sociais capitalistas. A dimensão política da atividade profissional é explicitada pela sua função na divisão social e técnica do trabalho, bem como a possibilidade de rompimento com práticas reiterativas e burocratizadas que sempre permearam o universo profissional. Nas palavras de Iamamoto: (...) Parece-me que há algo que mobiliza a todos nós, ou pelo menos a maioria da categoria: a busca de se atribuir à prática profissional uma nova qualidade, portando novos rumos tanto no âmbito da análise teórica da sociedade e da profissão, em consonância com o movimento histórico concreto da sociedade nacional, quanto no exercício da prática cotidiana no âmbito do mercado de trabalho. (...) É essa reavaliação da dimensão política da prática profissional e de seu vinculo com a cidadania de classe e com o aprofundamento da democratização ampla da vida social que pode nos conduzir a novas luzes na efetivação de um exercício profissional de nova qualidade, que contribuía para o processo de construção de um novo bloco histórico na sociedade, com a hegemonia daqueles que criam a riqueza e dela não se apropriam. (Iamamoto, 2000: 123/130, grifos no original ) Este processo de amadurecimento intelectual, político e cultural culminou nos anos 90, com a construção do chamado projeto éticopolítico profissional; tal amadurecimento tem proporcionado uma ruptura com conservadorismo profissional. Esta ruptura não foi e nem é substantiva. Neste período, as vanguardas progressistas puderam lograr maior êxito no debate Único clássico da literatura profissional (Netto, 2002) e que teve sua primeira publicação em 1982 e está na 24ª edição. 18 81 profissional, mas o ranço conservador da profissão mantém-se, principalmente no âmbito da prática profissional, conforme nos afirma Netto: (...) Decorridos quinze anos dessa análise45, os termos da questão foram alterados — mas o problema permanece em aberto. Se amadureceu, no campo profissional, um vetor de ruptura com o conservadorismo, ele ainda não consolidou uma “nova legitimidade" para o Serviço Social junto às classes subalternas (...). (Netto, 1996:108). Portanto o debate a cerca do Projeto Ético Político Profissional coloca-se em pauta no seio da categoria mais sistematicamente a partir dos anos 90, nos marcos do novo Código de Ética (1993), das Diretrizes Curriculares (1996) e a nova Lei que Regulamenta a Profissão (1993) documentos os quais dão materialidade ao projeto profissional na esfera institucional. O projeto profissional é fruto de um acumulo histórico de lutas pela construção de uma direção hegemônica no seio da categoria. A arena em que se constituiu o projeto foi marcada por embates teóricos, ideopolíticos, e de método de analise, mostrando o campo plural de combate e recusa do ecletismo.19 O avanço da perspectiva da profissão, ao longo dos últimos 30 anos, culminou no projeto denominado “intenção de ruptura” (Netto, 1995) o qual se configurou em um processo de ruptura profissional com o 19 conservadorismo. O legado marxiano, a tradição marxista, as Tentativa de conciliar interesses inconciliáveis em nome do pluralismo (Netto, 1999, 96) 82 diferentes analises teóricas e políticas constituíram referencias consideráveis para a construção de um efetivo e permanente combate ao pensamento único. O processo profissional e a de ruptura direção com o conservadorismo, sociopolítica estabelecida o através projeto desse processo, os quais têm como foco central os interesses da classe trabalhadora, tem seu marco publico e coletivo no III CBAS20 – Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais – em São Paulo (1979), conhecido como o “congresso da virada”. Pensar coletivamente a profissão e acoplar a luta da classe trabalhadora em seus interesses imediatos assim como de construção da democracia, exigiu um esforço da categoria no sentido de fundamentar o projeto na teoria social marxiana e da tradição marxista, analisando a partir da conjuntura econômicas, políticas sociohistórica e culturais no nas múltiplas âmbito das determinações contradições e interesses das classes sociais em disputa na sociedade brasileira. Foi na conjuntura da transição democrática que o projeto de intenção de ruptura se desenvolveu, projeto este que resultou em amplas mobilizações sociais da classe trabalhadora no final dos anos 70. Com a obra emerge a apreensão do serviço social como especialização do trabalho coletivo, inserido na divisão sócio-técnica do trabalho e participe do processo de produção e reprodução das relações 20 Virada na direção política da profissão e por romper coletivamente com o conservadorismo e assumido o compromisso com a classe trabalhadora. 83 sociais, configurando-se também como a primeira obra diretamente inspirada no legado marxiano. O combate ao conservadorismo tem origem na década de 70, com o movimento de reconceituação no lastro das grandes mobilizações e lutas sociais emerge o protagonismo das direções e vanguardas profissionais, coletivamente articulados e organizados. A vinculação com os movimentos sociais torna-se determinante para a construção do projeto profissional no inicio dos anos 90, com a profissão assumindo o compromisso com a luta dos direitos sociais na conquista da liberdade, da igualdade e de uma sociedade sem exploração de classe, sem discriminação e opressão de gênero, raça, etnia na perspectiva de um projeto de emancipação humana. O projeto político profissional do serviço social apreende a profissão como um produto histórico, constituído de forma coletiva na divisão sociotécnica do trabalho, com um significado social e ideopolítico inscrito no âmbito das relações sociais entre as classes e destas com o Estado. Se nos anos 80 o projeto profissional apresentava um campo de conquistas nos marcos das lutas sociais e democráticas no país, nos anos 90 por outro lado a categoria presencia um avanço arrasador na consolidação do neoliberalismo, bem como as profundas transformações no mundo do trabalho através da reestruturação produtiva de acumulo flexível e o reordenamento do Estado. [...] a própria luta pela conquista e aprofundamento da democratização da vida social – do Estado e da sociedade no país, horizonte da socialização da política e da economia, que gesta o alicerce sociopolítico o qual vem permitindo tanto o deslocamento das interpretações modernizantes e 84 integradoras, de cunho estrutural funcionalista, da cena principal do debate brasileiro, como a crescente liderança intelectual e política que as análises de inspiração marxista, na sua diferencialidade, passam a adquirir no palco do debate do Serviço Social brasileiro. (IAMAMOTO apud ORTIZ, 2007, 241). No caso brasileiro as contra-reformas do Estado, segundo Behring, na previdência social, no ensino superior, na legislação trabalhista e sindical implantadas nos governos de FHC – Fernando Henrique Cardoso – (1994-2002) e no governo Lula destruíram direitos sociais, trabalhistas e sindicais legitimamente conquistados. Conduzindo a um aumento considerável na precariedade das condições de vida e de trabalho, aumentando o estado de miséria ao mesmo tempo em que ocorria a diminuição nos postos de trabalho. Para Netto, um combate ético, teórico, político e prático-social ao neoliberalismo é em que está amparado o futuro do projeto ético-político profissional (1995:15), portando a direção estratégica emancipadora do projeto, vinculada aos movimentos sociais que detenham uma perspectiva emancipadora vai vislumbrar o futuro do projeto político profissional. A centralidade do projeto de ruptura com o conservadorismo estar em compreender a relação entre o projeto profissional e o projeto societário que propõe à de uma nova ordem social sem opressão social, de gênero, etnia e raça trazendo para o centro do debate o protagonismo da classe trabalhadora em ter na direção um projeto de ruptura com a ordem burguesa, avançando para a tomada de poder político, supondo uma organização classista. 85 O reconhecimento das aspirações e demandas das massas trabalhadoras deve estar expresso no projeto ético-político profissional, “a um projeto societário que, antagônica ao das classes possuídas e exploradas tem raízes efetivas na vida social dos brasileiros” (Netto 1999:106) 2.2 A organização da categoria e o PEPSS No III CBAS, conhecido como o “congresso da virada” em 1979, a organização política da categoria é disputada pelos setores de esquerda da profissão que até então estavam organizados nas entidades sindicais da categoria. Em meio a uma articulação política nacional esses profissionais disputaram eleição para os então CRAS (Conselho Regional de Assistentes Sociais) – atualmente CRESS – buscando avançar na democratização das entidades profissionais como também estabelecer uma articulação com as diversas entidades da categoria dos assistentes sociais. Por meio de uma articulação política, os assistentes sociais atuantes nos Sindicatos e APAS – Associação Profissional dos Assistentes Sociais incentivaram, em todo território nacional, a formação de chapas para disputar as eleições dos CRAS, no sentido de avançar na democratização das entidades profissionais e de estabelecer uma articulação permanente entre as diversas entidades da categoria dos assistentes sociais. (Abramides, 2006, 49) A busca pela hegemonia do projeto de ruptura foi fruto da luta política travada no primeiro lastro dos anos 80 que teve seu mote no amadurecimento teórico necessário aos processos de formação profissional. É nesse período que se constrói no debate com o 86 neotomismo21 o código de ética de 1986 que pela primeira vez no interior da categoria (CFAS/CRAS) a perspectiva marxista se apresenta. Até então a concepção ética vigente na profissão se apresentava em descompasso com os avanços teóricos obtidos no meio acadêmico com aproximação do legado marxiano o qual contribuiu progressivamente para os fundamentos teórico-metodológicos da formação profissional. A aproximação, ou melhor, os avanços político-organizativos da categoria na esfera sindical estabeleceram um suporte necessário à profissão, no sentido de orientação política, pois ainda era insuficiente o acumulo filosófico que possibilitasse um discernimento aprofundado da dimensão ética. Segundo Barroco, a partir dos anos 90 o serviço social brasileiro mostra seu amadurecimento teórico-político da questão ética, construindo as bases necessárias para a legitimação de um novo código de ética, superando uma visão legalista da ética formal. Nesta etapa valorizou-se os valores, princípios e fundamentos otológico possibilitando discernir a dimensão ética da dimensão política na profissão. A ABEPSS22 entidade que congrega as unidades de formação do país, na esfera da graduação e pós-graduação de responsabilizou, a 21 É o movimento de retorno à filosofia tomista da Idade Media, resgatada à luz das tendências intelectuais modernas e retomada especialmente a partir de 1879 por influencia da encíclica do Papa Leão XII. Fonte Wikipédia 22 A ABESS foi criada em 1946, então denominada Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social, uma década após a instalação do primeiro curso de Serviço Social no Brasil, a Escola de Serviço Social da PUC-SP. Esta importante entidade acadêmico-científica completou 63 anos em 87 nível de formação profissional, em fazer a articulação entre ensino, pesquisa e extensão, acompanhadas por grandes discussões [...] no sentido de adequar à formação profissional, em nível de graduação, às novas condições postas seja pelo enfrentamento, em marco democrático da questão social, potenciada pela ditadura, seja pelas exigências intelectuais que a massa critica em acumulação poderia atender. (Netto) No sentido de redimensionar o ensino com capacidade de responder as demandas emergentes da sociedade. Esse período foi acompanhado pela proposta de revisão curricular proposta pela PUC – São Paulo, a qual foi amplamente aderida pela comunidade acadêmica nacional. A renovação do serviço social tem sua gênese a partir da segunda metade da década de 70, quando da expansão do mercado de trabalho profissional em consonância com o modelo econômico do país e o crescimento político dos movimentos sociais, resultando na ampliação na oferta dos cursos de serviço social, abrangendo respectivamente três tendências, segundo Netto: Perspectiva modernizadora; A reatualização do conservadorismo; O projeto de intenção de ruptura. 2009. Uma marca na trajetória da ABESS/ABEPSS tem sido o processo democrático expresso na participação intensa dos sujeitos que constroem a formação profissional, com debates enraizados nas unidades de formação acadêmica, nas regionais e no nível nacional. Tem sido assim, desde o currículo mínimo de 1982 que significou a afirmação de uma nova direção social hegemônica no seio acadêmico-profissional, o que se consolidou com a elaboração das Diretrizes Curriculares para o Curso de Serviço Social, aprovada pela categoria em 1996 e aprimorada pela Comissão de Especialistas em documento de 1999. fonte site da ABEPSS. 88 A perspectiva modernizadora está sistematizada nos documentos de Araxá (1967) e Teresópolis (1971) concebendo ao serviço social um conjunto de técnicas sociais que deveriam se operacionalizadas nos marcos do desenvolvimento capitalista. Expresso através da fenomenologia 23, a reatualização do conservadorismo, tem na sua base teórica a rejeição ao positivismo24 e a recusa do pensamento crítico dialético. O projeto de intenção de ruptura, cuja concepção e prática teórica tem como direção sociopolítica os interesses e direitos da classe trabalhadora. Sistematizações e construções de procedimentos metodológicos e técnico-operativos, uma atitude mais investigativa, um compromisso maior com os direitos e conquistas da classe trabalhadora mostraram-se como avanços efetivos que a formação profissional trouxe no âmbito do exercício profissional. O movimento de intenção de ruptura, que buscava romper com o tradicionalismo da profissão, deu inicio a trajetória histórica de amadurecimento político, ético e teórico do serviço social que hoje se materializa no projeto político da profissão. O processo de renovação do serviço social, expresso na vertente de ruptura com o conservadorismo, coincidiu com a crise do regime ditatorial brasileiro conduzida por uma frente de oposicionistas de setores descontentes da burguesia e que ganhou profundidade e Filosoficamente a fenomenologia parte do estudo acerca do fenômeno puro e da essência livre de acontecimentos pessoais e culturais. 24 Positivista/funcionalista - A inserção do funcionalismo no Serviço Social significa a importância de técnicas que compõe a metodologia norte-americana, evidenciando-se no pós Segunda Guerra Mundial e disseminação do ideário capitalista pós Guerra Fria para os países Latinos Americanos. 23 89 qualidade quando no segundo lastro da década de 70 a classe operaria reapareceu na cena política, especialmente os metalúrgicos das indústrias de São Paulo mais especificamente do ABC Paulista. O projeto de intenção de ruptura teve sua formação inicial na experiência acadêmica realizada pela Escola de Serviço Social da Universidade Católica de Minas Gerais. Conhecido como o método BH desenvolvido entre os anos de 1972 e 1975 que teve como base o legado do movimento de reconceituação latino-americano do serviço social. Àquela época em Belo Horizonte havia importantes movimentos sindicais e populares organizados que, segundo Netto, a cidade viva um caldo cultural próprio a partir das lutas dos trabalhadores, das greves em Contagem e dos movimentos da juventude da igreja católica. É nessa efervescência política que um grupo de profissionais do serviço social começa a criticar as praticas conservadoras da profissão, denominado então de projeto de intenção de ruptura, que a principio parecia ser mais um, de acordo com Netto: À primeira vista, parecia que a emergência da intenção de ruptura era algo episódico, marginal ao desenvolvimento do serviço social no Brasil e destinado a nota de rodapé num avultado compêndio da história da profissão nestas plagas. (Netto 2001, 263) Contudo a contribuição que o projeto de intenção de ruptura trouxe para a formação profissional foi de profunda importância para a profissão e está centrada na revisão curricular de 1982, reconhecida pelo CNE – 90 Conselho Nacional de Educação – como currículo mínimo aprovada na convenção da ABEPSS em 1979, o qual buscava superar o serviço social tradicional. Ocorre então a necessidade de direcionar a formação profissional para a criação de um novo perfil profissional dotado de competência teórica-crítica. De acordo com Iamamoto: Os rumos assumidos pelo amplo debate efetuado na década de 80 apontaram ainda, para o privilegio – ainda que não exclusividade – de uma teoria social critica desveladora dos fundamentos da produção e reprodução da ‘questão social’. (2003, 185) Às respostas profissionais à demanda apresentada, necessariamente precisava contemplar um perfil profissional que para além de sua competência técnica-política, fosse capaz de encontrar respostas eficazes e que contemplasse forças voltadas para o fortalecimento na defesa da democracia, ou seja, um profissional comprometido com os valores de liberdade, igualdade e justiça. 2.3. Construção do Projeto Ético Político do Serviço Social e suas contradições A postura assumida pelo serviço social nos anos 60, com a critica ao tradicionalismo, a cerca de seus fundamentos e de sua pratica, possibilitou mudanças, lutas e transformações não somente na profissão, 91 mas a própria conjuntura social permitiu a mudança também na sociedade. Nesta década a categoria se mostrou bastante produtiva com questionamentos que colocavam em xeque os valores do pensamento conservador, a ordem vigente, a hierarquia marcando essa época pelo modo de pensar baseada na ética critica dos valores presentes na sociedade. Segundo Barroco (2001) a década de 60 promoveu, o surgimento de projetos políticos coletivos, com o incentivo a participação cidadã com direcionamentos anticapitalistas e revolucionários. Ela aponta ainda, a aproximação da juventude com a Igreja apontando, segundo Barroco, uma importante criação de uma nova militância que recusa a ordem burguesa e se vincula ao pensamento cristão e o marxismo, possibilitando assim, na historia do serviço social com a Igreja Católica, novas bases de legitimação e abrindo um campo maior de possibilidade na construção do ethos profissional critico. Gerando um conjunto diversificado de indagações e respostas, tal movimento permite uma primeira aproximação com um posicionamento ético-político potencialmente negador do tradicionalismo profissional: a explicitação da dimensão política da profissão e do compromisso éticopolítico com as lutas populares. (BARROCO, 2001, p.107;108). Essa efervescência política incidiu sobre as bases de sustentação do serviço social tradicional, produzindo pensamentos críticos, 92 mobilizações e a politização de jovens profissional, especialmente os ligados à Igreja Católica. A postura critica de romper com o conservadorismo, a ditadura nos países latinos, os movimentos revolucionários e os debates teóricometodológicos permitiram, ou melhor, alicerçaram uma primeira experiência de ruptura, representada pelo método BH, já amplamente discutido no capitulo I, e que segundo Netto (1991) fez-se no espaço universitário um importante local para os assistentes sociais se dedicarem às pesquisas e a inserção nos campos de estágio. Uma pluralidade de projetos profissionais foram apresentados frente a dinâmica da ditadura versus os movimentos revolucionários, permitindo a base de uma ideologia para a profissão. Neste momento o projeto profissional apresentado tinha no seu discurso a defesa da ordem e segurança nacional, em face ao temido e dito monstro do comunismo. Nesta perspectiva, o clima favorecedor de rupturas coexiste com reações conservadoras; isto é, nesse movimento entre a construção do novo e a luta pela conservação do instituído, que podemos situar as condições sócio-culturais para a transformação ou conservação dos valores sociais inscritos na ética profissional tradicional. (BARROCO, 2001, 112). A abertura democrática no Brasil nos anos 80, e o movimento de reconceituação da profissão na América Latina, proporcionaram o amadurecimento teórico do serviço social resultando numa nova ética profissional. 93 A vinculação e o compromisso do serviço social com a classe trabalhadora proporcional mudanças no significado da profissão junto aos trabalhadores, pois sempre fomos vistas por estes como a profissão que legitima os interesses da classe burguesa e do Estado e com essa nova postura o serviço social passa a lutar pela democratização do país, assumindo o comprometimento efetivo com a classe trabalhadora, através da participação na política e nos movimentos populares. Os anos 80 mostraram-se como o ano de efervescência do serviço social, possibilitando um salto qualitativo da profissão, nos anos 90 com os muitos debates, seminários, encontros e oficinas resultaram as diretrizes curriculares para os cursos de serviço social no Brasil. A década de 90 marca para o serviço social a base de rompimento com o conservadorismo, para a profissão constrói sua historia enquanto ser social, tendo a liberdade como eixo orientador. A conjuntura brasileira desta época manifesta a contra reforma do Estado, sob orientação do Consenso de Washington, revelando mais uma vez a opção política do serviço social pela classe trabalhadora. Barroco (2003, 180) faz a seguinte referencia à este momento: As condições sócio-econômicas e ideo-políticas dos anos 1990 atinge diretamente a classe trabalhadora, rebatendo duplamente no Serviço Social, seus agentes são atingidos como cidadãos e trabalhadores assalariados e como profissionais viabilizadores de direitos sociais. A vertente profissional que, nos anos de 1980, ganhou a legitimidade na direção das entidades de profissionais e estudantes, na organização sindical, no debate crítico, na produção inserida na tradição marxista, na revisão curricular de 1982 e na reelaboração do Código de Ética de 1986, defronta-se com o 94 desafio de responder à essa conjuntura, sem perder suas conquistas. A profissão além de ser atingida enquanto classe trabalhadora pelas ofensivas, reformas e ajustes da sociedade capitalista é sujeita da construção de um projeto coletivo viabilizando os direitos sociais. A construção do projeto ético político do serviço social revela a profundidade existente entre este e o projeto hegemônico de sociedade vigente, pois exige do assistente social uma formação continuada, critica e direcionada para o fim da exploração de classes. Apesar de o serviço social não ter rompido efetivamente com as praticas conservadoras, pois o projeto hegemônico da classe dominante contribui para a reformulação das praticas tradicionais. Diante disto alguns desafios se colocam para o serviço social, como: a garantir a interlocução com os movimentos sociais de luta e defesa da classe trabalhadora, profissional, elaborar manter a direção estratégias de hegemônica apreensão pelo do projeto conjunto da categoria dos fundamentos que norteiam o projeto ético político do serviço social. A contradição de construção de uma sociedade emancipada politicamente passa pelo reconhecimento destas questões. A analise dessa situação não pode ser limitada ao serviço social, pois estas questões são colocadas a partir da exigência de um debate coletivo com um amplo confronto de ideias e posições a fim de que se possa aparecer procedimentos abertos e democráticos que nos leva a construção do projeto ético político, conforme Netto(2004). 95 O projeto conservador dominante impregnado pelo sistema capitalista causa uma reestruturação política e ideológica conservadora do capital passando por período de grande perda de rentabilidade e governabilidade durante a década de 1970, conforme afirma Iamamoto: o capital cria as condições históricas necessárias para a generalização de sua lógica de mercantilização universal, submetendo aos seus domínios e objetivos de acumulação o conjunto das relações sociais: a economia, a política, a cultura. O sistema capitalista na construção do seu projeto “culpa” as conquistas sociais, pois seu caráter conservador expressa as desigualdades sociais como inerentes do sistema e que estas podem causar gastos sociais excedentes. A intenção do Estado no atendimento às necessidades sociais pouco é recomendada, transferido ao mercado e a filantropia como alternativa dos direitos sociais. Conforme já explicitado, o serviço social brasileiro teve na década de 80 seus grandes avanços, tanto na formação profissional (Diretrizes Curriculares) quanto na intervenção (Código de Ética e a Lei que Regulamenta a profissão) possibilitando à profissão um maior amadurecimento e a efetivação desses avanços na década de 90. Apesar da contra tendência do período de crise do sistema capitalista, em que este não pode ser limite para intervenção profissional, pois é justamente no enfretamento dos limites existentes no mundo do trabalho que está a atuação dos assistentes sociais. 96 A luta pela efetivação dos direitos passa ser o discurso da profissão, tornando-se uma prioridade na atuação, esta postura foi apreendida através do amadurecimento teórico e critico da profissão. Neste sentido o projeto ético político do serviço social direciona a produção do conhecimento, a formação e a ação profissional. A produção do conhecimento e formação através das diretrizes curriculares implementas nas escolas de serviço social, através da elaboração de projetos de pesquisa e extensão, dos espaços de formação no cotidiano profissional e na ação profissional no fazer do assistente social quanto este luta em prol da classe trabalhadora em detrimento de sistema opressor e excludente. 97 CONCLUSÃO Gostaríamos neste momento, tecer algumas considerações acerca da temática em questão. Por entendermos que pesquisas na área social se tratam de apreensões inacabadas, uma vez que a realidade está em constante movimento, não é nossa pretensão realizar aqui conclusões definitivas, mas, levantarmos algumas questões, que consideramos pertinentes, e que poderão servir para estudos futuros. Como já explicamos, os projetos profissionais apresentam a autoimagem da profissão e esses projetos são construídos coletivamente, de acordo com Netto, o conjunto de membros dá efetividade à profissão, tanto os profissionais que estão no cotidiano profissional, denominados de “campo”, como os que estão “pensando” a profissão, ou seja, pesquisadores, acadêmicos. Não há especialmente indivíduos hegemonia os desta projetos na construção profissionais, construção são coletiva pois diferentes dos projetos, necessariamente em suas os origens, concepções, situações, posições, ideologias, etc, configurando-se em um espaço plural e um campo de tensões e lutas e que segundo Netto as afirmações e consolidações de um projeto profissional em seu interior não suprimi as divergências e contradições. O confronto de ideias, o debate e as discussões surgem como mecanismo de minimizar as tensões e de encontrar caminhos para a construção e consolidação do projeto que se pretende para a profissão. 98 O debate em torno do projeto ético político do serviço social é datado da segunda metade dos anos noventa. A própria construção do projeto vinculado à profissão tem sua historia bem recente, neste período a critica e o enfrentamento ao conservadorismo na profissão, configurou os veios do projeto profissional da categoria, vinculado a um determinado projeto societário contrário a qualquer forma de discriminação e exploração com vista à construção de uma nova sociedade. A década de 90 foi marcada pela concretização dos diversos avanços da profissão no campo da ética, da fiscalização do exercício e da formação profissional. Os avanços destacados referem-se às elaborações teórico-metodológicas, técnico-operativas e ético-políticos. A partir dos anos noventa assistimos o profundo amadurecimento do serviço social. E muito se deve à consolidação da produção teórica, apesar de na pratica não se encontrar respaldo, conforme Netto: É no âmbito da pós-graduação, cujos primeiros frutos se colhem na passagem da década de 70 à de 80, que vai iniciar-se e, nos anos seguintes, consolidar-se a produção de conhecimento do Serviço Social brasileiro, num processo em que, pela primeira vez, a categoria principiou a sua acumulação teórica. (...). Um balanço da produção mostra que, apesar de muito desigual, ela engendrou uma massa critica considerável, que permitiu à profissão estabelecer uma interlocução fecunda com as ciências sociais e, sobretudo, criar e revelar quadros intelectuais respeitados no conjunto da categoria e, inclusive, em outras áreas de saber. (...). (Netto, 1999:101/2). Uma pesquisa realizada por Vasconcelos (2002), acerca do trabalho do assistente social no setor da saúde, demonstra a falta de compreensão e entendimento da direção social da profissão. Alguns elementos contribuem para isso como a forma enviesada de apreensão 99 do marxismo na profissão, a complexidade da teoria social, pois esta requer de seus interlocutores uma postura rigorosamente critica e investigativa a fim de se compreender a realidade social em sua totalidade e complexidade demandando uma solida formação acadêmica, cultural e política que de acordo com Vasconcelos significa ter uma formação e conhecimento político de alta complexidade exigindo no cotidiano profissional ações com a incorporação de conhecimentos distintos e amplos. A reestruturação no mundo do trabalho e suas conseqüências para os trabalhadores impuseram ao serviço social o fortalecimento de um projeto com a direção social e política, isto significou para alem do amadurecimento da profissão mais sua posição de resistência perante a crise do capital. Para Netto tratou-se da formalização de um projeto ético político para o serviço social: [...] ainda as escolhas teóricas, ideológicas e políticas das categorias e dos profissionais – por isto mesmo, a contemporânea designação dos projetos profissionais como projetos ético-políticos revela toda a sua razão de ser: uma indicação ética só adquire efetividade histórico-concreta quando se combina com uma direção político-profissional. (1999, p. 99.) Fica claro que o debate profissional dos anos 90, imprimiram ao serviço social uma serie de novas demandas e exigências, além do amadurecimento, uma construção de uma nova proposta de formação que dessem respostas aos desafios e exigência contemporâneas. Para que o projeto ético político do serviço social adquira legitimidade na categoria é necessário sua objetivação na pratica 100 profissional, e isto ocorre quando os profissionais articulam os princípios e valores do código de ética no seu exercício profissional, para tanto é necessário criar estratégias para que estes princípios e valores sejam hegemônicos no meio profissional. Um dos maiores desafios que encontramos para efetivação do projeto profissional é o nível de comprometimento posto pela categoria, pois a exigência de uma forte organização política de cunho critico da realidade é necessário para compreender o momento histórico e suas complicações para o exercício profissional. Contudo não depende única e exclusivamente do comprometimento individual, mas requer o envolvimento da categoria como um todo. Para se construir uma política direcionada a consolidação de direitos dos usuários a efetivação do projeto político profissional passa ser fundamental pois este dá a direção social ao profissional a fim de que o mesmo não passe pela condição de mero executor das ações mas transcenda o plano das intencionalidades. Os limites para consolidação do projeto ético político do serviço social se coloca mediante a sociedade capitalista, uma vez que este projeto tem como horizonte a emancipação política e humana da sociedade. Por as bases de sustentação do projeto político são demandadas pela coletividade e não pela vontade individual; demanda condições políticas e teórico-metodológicas que permitam a concretização e condução de uma pratica concernente com a direção social assumida pelo serviço social. O modelo de sociedade posto pelo projeto hegemônico da sociedade burguesa é incompatível com o projeto defendido pelo serviço social, o qual defende a democracia e o estado 101 de direito como meios para construção de uma sociedade que garanta a autonomia e a igualdade entre os sujeitos sociais. Por fim gostaríamos de registrar, que apesar dos limites nas analises, a efetivação do projeto ético político do serviço social está alicerçada em referenciais teóricos e metodológicos eu legitimam o transito das questões éticas. E que somente o reconhecimento disto não impede a concretização dos princípios estabelecidos no projeto. 102 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICA ABRAMIDES, Maria Beatriz Costa. O Projeto Ético-Politico Profissional do Serviço Social Brasileiro - Tese de Doutorado (Pós Graduação em Serviço Social), Pontifícia Universidade Católica/SP, São Paulo, 2006. AMORIM, Henrique. Trabalho Imaterial: Marx e o debate contemporâneo – São Paulo: Annablume; FAPESP, 2009 AGUIAR, Geraldo. 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