Usos abusos dos livros didáticos e paradidáticos 1 NOTAS SOBRE OS USOS DO MATERIAL DIDÁTICO PARA ENSINO DA HISTÓRIA DA MPB Luã Ferreira Leal1 Escola Superior de Ciências Sociais [email protected] O que dizem os historiadores da música popular brasileira ao narrar determinadas versões sobre os mitos de origem da MPB para alunos do ensino básico? Quais os principais desafios encontrados pelos mediadores responsáveis pela transposição de uma grande linha condutora da história da MPB para as salas de aula? Como ensinar a história da música popular brasileira nas escolas? No trabalho “Notas sobre os usos do material didático para ensino da história da MPB”, essas questões estão diretamente ligadas ao debate sobre usos e abusos dos livros didáticos e paradidáticos, pois será analisado o material produzido pelo Instituto Cravo Albin para distribuição na rede pública do Estado do Rio de Janeiro. No campo da música popular brasileira, o Instituto Cravo Albin está inserido como um lugar espaço de guarda de bens simbólicos que amalgamam a memória coletiva sobre a musicalidade brasileira. O material didático multimídia Kit “MPB nas escolas” será o objeto dessa análise, a qual buscará verificar como podemos compreender a transposição de uma narrativa hegemônica na historiografia da música brasileira para dentro das salas de aula. Este trabalho, portanto, apresentará um estudo de caso que abordará a produção e a reprodução de uma linha narrativa histórica sobre a cultura musical do Brasil que abarca diferentes gêneros, artistas e canções. Palavras-chave: intelectuais, história da música, historiografia, transposição didática, MPB Como ensinar a história da música popular brasileira nas escolas? Este trabalho apresentará um estudo de caso que aborda a produção e a reprodução de uma linha narrativa histórica sobre a cultura musical do Brasil em material didático. Conforme aponta Marcos Napolitano, “um conjunto de críticos, memorialistas, cronistas, historiadores, folcloristas e artistas, produziram discursos históricos e valores estéticos até hoje presentes em boa parte da crítica e na historiografia, e que ajudaram a institucionalizar uma determinada tradição musical brasileira”. A construção dessa tradição segue os passos da narrativa historiográfica responsável pela periodização da música popular brasileira, organizando de forma cronológica a sucessão de gêneros musicais, os fios da meada da história da MPB. O objeto de análise deste estudo será o Kit “MPB nas escolas”, produzido pelo Instituto Cravo Albin (ICA). Esse material didático inclui, de acordo com as informações divulgadas no sítio eletrônico da instituição, “pastas didáticas, contendo um CD com gravações históricas e cartazes que remetem a segmentos estrategicamente estudados pelo ICA como a melhor maneira, do ponto de vista didático, de transmitir a história da MPB e sua importância na formação cultural do Brasil; [...] contendo o desenvolvimento das informações 1 Luã Ferreira Leal é graduando em Ciências Sociais na Escola Superior de Ciências Sociais. Usos abusos dos livros didáticos e paradidáticos 2 históricas em linguagem adaptada aos jovens, bem como os principais verbetes individualizados, de cada um desses ‘segmentos estratégicos’ da história da MPB”2. Tive acesso ao material didático após ir ao Instituto Cravo Albin para pesquisar em seu acervo. Recebi como doação uma pasta contendo os itens do Kit “MPB nas escolas”: seis cartazes, o primeiro volume de uma série de livros e um CD. Tentarei apresentar os três componentes desse material didático para poder abarcar as múltiplas dimensões de escrita da história da música: a organização textual do livro, a seleção de faixas no CD, além das imagens e dos textos presentes nos cartazes. É importante compreender a iniciativa dessa instituição como um avanço importante para inserção dos estudos sobre música no projeto pedagógico das escolas, abandonando em parte o papel outrora relegado à música de suporte para a compreensão de fenômenos sociais nas aulas de história, geografia ou sociologia. A transformação da música como objeto de reflexões na sala de aula, ainda que seja positiva para a socialização de jovens na escola, suscita uma série de questões, inerentes às escolhas dos conteúdos didáticos, referentes às versões sobre a história da música popular brasileira que serão narradas. Fundado em 2001, o Instituto Cravo Albin é resultado do esforço de Ricardo Cravo Albin para criar um espaço para preservação da memória da música popular brasileira. Na condição de “guardião da memória”, Cravo Albin intervém juntamente com os pesquisadores vinculados ao instituto como formuladores da história da MPB. Ao lado da PUC – Rio, o Instituto Cravo Albin construiu o Centro de Referência da Música Popular Brasileira. Além do Dicionário Cravo Albin da MPB e do “MPB nas Escolas”, são mantidos outros projetos como a Revista Carioquice e a organização de catálogos temáticos selecionados a partir do acervo documental, além da realização de eventos culturais na sede do instituto. Localizado no Rio de Janeiro, na Urca, o Instituto Cravo Albin também é responsável por atividades de preservação de acervos de colecionadores particulares, promovendo assim a ampliação de sua função de lugar de guarda da memória. No campo da música popular brasileira, o Instituto Cravo Albin está inserido como um espaço de guarda de bens simbólicos que amalgamaram a memória coletiva sobre a musicalidade brasileira. Inicialmente formada apenas com as doações de Cravo Albin, essa instituição conta com documentos textuais, recortes de jornais e revistas, roteiros de espetáculos musicais, vídeos com depoimentos, programas musicais, além do arquivo fonográfico, com discos, fitas sonoras em rolo, fitas cassetes e CDs. O Instituto Cravo Albin também apresenta em seu 2 Disponível em http://institutocravoalbin.com.br/projetos/projeto-mpb-nas-escolas/. Usos abusos dos livros didáticos e paradidáticos 3 acervo esculturas, quadros, medalhas, troféus e mobiliário de personalidades da música popular brasileira. O Dicionário Cravo Albin da MPB teve sua edição impressa publicada em 2006 pela Editora Paracatu, mas os usuários também podem acompanhar a atualização permanente da versão online no site do Instituto Cravo Albin. Esse empreendimento intelectual consolida um processo de enquadramento da memória coletiva a respeito do resgate das canções e dos personagens transformados em protagonistas na história da canção popular brasileira (Pollak, 1992). Como historiador orgânico, Ricardo Cravo Albin realiza um investimento no trabalho de memória que busca manter a unidade em torno de uma narrativa geral que permite o alinhamento de diferentes períodos históricos de produção artística dentro de um mesmo fio condutor: a MPB como marca da identidade nacional. Vimos nessa introdução que esse mediador cultural, com a criação da instituição que leva seu nome, conquistou um lugar específico no campo de pesquisadores que, apesar de estarem fora do âmbito acadêmico, tornaram-se referências obrigatórias para os historiadores da música brasileira. Conforme aponta Bourdieu, a estrutura dinâmica do campo intelectual pode ser entendida como uma pluralidade de agentes isolados definidos por sua posição nesta estrutura e pela autoridade que pretendem exercer sobre o público (Bourdieu, 1968). Seguiremos nesta discussão as considerações de intelectuais sobre autenticidade da música nacional, para depois passarmos a uma análise mais detida do material didático composto pelo Kit “MPB nas escolas” e, por fim, trataremos da reprodução de uma narrativa hegemônica na historiografia da música popular brasileira no ambiente escolar. I - O que dizem os historiadores da música? Diversos estudos sociológicos voltados para o pensamento social brasileiro mostraram o envolvimento de intelectuais com projetos de valorização da cultura popular nacional. O movimento modernista na década de 1920 e suas repercussões para a posteridade, em um projeto estético que incorpora o popular para o desenvolvimento da arte (Naves, 1998; Squeff e Wisnik, 1987), e o movimento folclorista, que promoveu a institucionalização dos estudos sobre os elementos culturais populares no período compreendido entre 1947 e 1964 (Vilhena, 1997), são dois exemplos de atuação dos intelectuais na valorização do “popular” e do “nacional”. Seguindo, ainda que por muitas vezes de forma não declarada, a orientação de Silvio Romero, esses movimentos valorizaram os elementos populares e nacionais como Usos abusos dos livros didáticos e paradidáticos 4 fornecedores dos traços de identidade do país. Para além da compreensão dos processos que levaram à valorização de determinadas manifestações da música popular na escrita da narrativa histórica em detrimento de outras, é necessário contextualizar a entrada da música como objeto de estudo na área de estudos da história. O tom jornalístico, ao longo do século XX, tornou-se preponderante nas pesquisas sobre música popular, as quais não contavam com apoio institucional das agências de fomento, ficando a cargo de jornalistas/pesquisadores a responsabilidade pela escrita da história e pela memória da cultura popular urbana, o que explica em parte o registro biográfico, impressionista e apologético dos textos (Moraes, 2000). Ricardo Cravo Albin, presidente do Instituto Cravo Albin, é um dos principais intelectuais que contribuíram para a construção de uma linha narrativa historiográfica que engloba diferentes manifestações artísticas da música brasileira produzidas no final do século XIX e no decorrer do século XX. Autor de diversos livros que relatam as trajetórias de artistas classificados como responsáveis pela consolidação da música popular brasileira, como “MPB: A História de um século”, publicado pela Editora Funarte em 1997, “Driblando a censura: de como o cutelo vil incidiu na cultura”, publicado pela Editora Gryphus em 2003, mesmo ano de publicação de “O livro de ouro da MPB”, lançado pela Editora Ediouro, Cravo Albin também é o supervisor geral do Dicionário de Música Popular Brasileira. Podemos verificar a interpretação desse o autor sobre a MPB na Introdução do “Livro de Ouro de MPB”, obra em que a define como um conjunto de diferentes gêneros, resultado das “muitas musicalidades de nosso povo” (Albin, 2003). Na direção do Museu da Imagem e do Som (1965-1971), Cravo Albin foi responsável pela produção de discos a partir de 1967. No início da década de 1970, dirigiu a Embrafilme e o Instituto Nacional de Cinema. Cravo Albin escreveu uma coluna no jornal “O Dia” e foi articulista do jornal “O Globo”, assim como auxiliou nas pesquisas para especiais sobre música na Rede Globo no último quartel do século XX. Foi indicado para representar a Associação Brasileira de Rádio e Televisão no Conselho Superior de Censura em 1979. No ano seguinte, ocupou a cadeira nesse organismo subordinado à Divisão de Censura de Diversões Públicas, que por sua vez atuava no âmbito institucional do Ministério da Justiça. Em seu livro de memórias sobre seu posicionamento ao atuar dentro de um órgão voltado para censurar artistas, Cravo Albin se apresenta como um personagem importante na defesa dos interesses da classe artística, principalmente os músicos, que representariam a alma do povo através de suas músicas. Na condição de especialista, autoridade reconhecida e Usos abusos dos livros didáticos e paradidáticos 5 legitimada no campo (Bourdieu, 1996), participou de diversos eventos de música como comentarista ou jurado, inclusive no Carnaval carioca. De forma análoga a trajetórias de outros pesquisadores e jornalistas militantes da música popular brasileira, como José Ramos Tinhorão e Sérgio Cabral, Cravo Albin expressa o seu projeto intelectual dentro de um campo de possibilidade, circunscrito histórica e culturalmente, atrelado às prioridades e aos paradigmas culturais de uma determinada época (Velho, 2008). Seu projeto deixa de ser apenas individual à medida que torna consciente e público o sentido de um conjunto de questões veiculadas a uma perspectiva orientada para a organização social da memória de determinados períodos e gêneros da música brasileira. Torna-se, portanto, um projeto social. É possível identificar uma linhagem intelectual, estabelecendo as continuidades entre as narrativas historiográficas da primeira geração de pesquisadores da música popular urbana, a qual lançou as bases interpretativas sobre o tema, com a geração que começou a produzir suas reflexões a partir da década de 1960 (Moraes, 2006). A organização do discurso historiográfico de ambos os períodos esteve fortemente atrelada às crônicas ou aos registros memorialísticos. Ocorreu, portanto, uma invenção da tradição das formas de contar sobre as origens, um modelo de como relatar baseado na tênue linha entre memória e história, formulada pelos pesquisadores da música popular brasileira na primeira metade do século XX (Moraes, 2000). Cravo Albin pode ser considerado como autor filiado à geração da segunda metade do século XX. Suas contribuições aos estudos de música popular brasileira serão consideradas dentro de certo espírito de herança, de lugares-comuns, temáticas e problemáticas. As obras de sua autoria, assim como os projetos desenvolvidos pelo Instituto Cravo Albin, serão analisados levando em consideração um “conjunto de questões e temas obrigatórios que definem o campo intelectual de uma época” (Bourdieu, 1968). Na próxima seção do texto, trataremos das notas sobre os usos do material didático Kit “MPB nas escolas” com o intuito de compreender o esforço dos responsáveis pelo projeto em imprimir uma marca, referente à determinação interpretação, da história da música popular brasileira. II – Usos do material didático e a escrita da história O Kit “MPB nas escolas” começou a ser enviado para algumas escolas de Ensino Médio da rede estadual de educação do Rio de Janeiro em 2010. Um recurso que pode ser acessado no sítio virtual do Instituto Cravo Albin é o Fórum MPB nas Escolas, espaço virtual Usos abusos dos livros didáticos e paradidáticos 6 que tem como objetivo aumentar a interatividade entre os usuários desse material didático. De acordo com Certeau, uma das funções da história é distanciar uma geração em relação às precedentes, dessa forma permite a elaboração de um discurso das sociedades a respeito de suas próprias conformações. O material didático analisado apresenta uma clara referência à linearidade histórica composta por “‘períodos’ entre os quais se indica sempre a decisão de ser outro ou de não ser mais o que havia sido até então” (Certeau, 1982). Seguindo a proposição de Foucault em suas reflexões sobre as consequencias das classificações para a criação da história natural e das ciências humanas podemos entender que: A conservação cada vez mais completa do escrito, a instauração dos arquivos, sua classificação, a reorganização das bibliotecas, o estabelecimento de catálogos, de repertórios, de inventários representam, no fim da idade clássica, mais que uma sensibilidade nova ao tempo, ao seu passado, à espessura da história, uma forma de introduzir na linguagem já depositada e nos vestígios por ela deixados uma ordem que é do mesmo tipo da que se estabelece entre os seres vivos. E é nesse tempo classificado, nesse devir quadriculado e espacializado que os historiadores do século XIX se empenharão em escrever uma história enfim verdadeira [....] (Foucault, 1999) Para compreender como é realizada a classificação de gêneros musicais e a construção na narrativa historiográfica dessa periodização, realizaremos uma análise de um material didático que promove a transposição dessa linha geral da evolução dos gêneros musicais para o ambiente escolar. Conforme indicado nas diretrizes do projeto, o Instituto Cravo Albin busca com esse material pedagógico “inserir as definições históricas da MPB” nas escolas. O conteúdo do material didático é divido em seis seções temáticas: “A Formação da MPB”, “O Choro”, “O Samba”, “A Bossa Nova”, “Os Festivais” e a “A Música Sertaneja”. O Kit “MPB nas escolas” reúne seis cartazes, um livro intitulado “A “Formação da MPB”, o primeiro de uma série lançada para o projeto “MPB nas escolas”, e um CD. Sob coordenação pedagógica de Frederico Augusto Liberalli de Goés e Flora de Paoli Faria, professores doutores da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o projeto conta com a coordenação geral de Ricardo Cravo Albin. O CD, produzido por Raul de Araujo Marçal e Marcelo Machado, é composto por 15 faixas. O encarte apresenta os nomes dos compositores, dos intérpretes vocais, dos instrumentistas – apenas nas faixas instrumentais –, além das letras das canções. A primeira faixa é “Pelo Telefone”, de Donga e Mauro de Almeida, cantada por Martinho da Vila, depois Usos abusos dos livros didáticos e paradidáticos 7 são apresentadas as seguintes músicas: “Brejeira”, de Ernesto Nazareth, Evandro e seu regional, na interpretação de Jacob Bandolim; “Com que roupa?”, de Noel Rosa, na interpretação de Nelson Gonçalves; “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso, com Gal Costa; “Festa da Música Tupiniquim”, composição e interpretação de Gabriel o Pensador; “Carinhoso”, de Pixinguinha e João de Barro, nas vozes de Ângela Maria e Cauby Peixoto; “Brasileirinho”, de Waldir de Azevedo, na interpretação de Pepeu Gomes; “As Rosas não falam”, de Cartola, com Beth Carvalho; “Foi um rio que passou em minha vida”, composição e interpretação de Paulinho da Viola; “Tristeza do Jeca”, de Angelino de Oliveira, com Ney Matogrosso; “Sebastiana”, de Rosil Cavalcanti e Jackson do Pandeiro, com Lenine; “O Barquinho”, de Ronaldo Bôscoli e Roberto Menescal, com Maysa; ”Eu e a brisa”, composição e interpretação de Johnny Alf; “Foi Deus quem fez você”, de Luís Ramalho, na voz de Amelinha; “Planeta Água”, composição e interpretação de Guilherme Arantes. Todas as músicas selecionadas para o CD estão presentes na seção que apresenta os sucessos de cada gênero nos cartazes. É possível averiguar na lista de músicas que compõem o CD a tentativa de apresentar aos alunos um painel, ainda que demasiadamente panorâmico, sobre a música popular brasileira. Vale destacar as escolhas realizadas pela produção ao buscar certa polifonia de vertentes musicais, contudo dentro de parâmetros que mantenham a homogeneidade da obra. As faixas do CD que fazem referência aos textos no livro e no cartaz sobre o choro são “Brejeira”, “Carinhoso” e “Brasileirinho”. A seleção dos choros exemplifica a questão do enquadramento da memória sobre determinado “gênero” musical. Desse modo, podemos verificar como são concatenados os recursos mobilizados para “introduzir e sistematizar a história da música popular do Brasil como fonte de informação básica dos nossos alicerces culturais” entre os textos nos cartazes e nos livros, com as informações fornecidas pelo CD. Em 92 páginas, o livro “A Formação da MPB” apresenta nos seis capítulos a narrativa sobre a linha geral da história da música popular brasileira, destacando “do mais atual até as raízes”, de acordo com os responsáveis pelo projeto na apresentação. Os seis capítulos foram intitulados “No início era o cateretê, a modinha e o lundu...”, “Mulatos e mestiços na Corte a Polca, o Choro, o Maxixe... e as primeiras estrelas da MPB”, “Eu sou o rei do terreiro – o samba”, “No xamego do baião seus ancestrais e descendentes: a música regional”, “A renovação da MPB” e “Dos festivais até a MPB do século XXI – a diversidade manda bem na MPB”. Foram retiradas da canção “Canta Brasil”, composta por David Nasser e Alcir Pires Vermelho em 1941, a epígrafe que inicia o livro e a última citação. Alguns versos, como “Os Usos abusos dos livros didáticos e paradidáticos 8 negros trouxeram de longe reservas de pranto/Os brancos falaram de amores em suas canções/ E dessa mistura de vozes nasceu o teu canto...”, mostram o grau de adequação da epígrafe ao elemento que persegue a narrativa historiográfica sobre a música brasileira em toda a produção de Ricardo Cravo Albin: o mito de origem. Na seção “Olha só!”, presente em diferentes momentos do livro, são destacados aspectos importantes do período histórico que está sendo tratado no capítulo. A primeira seção “Olha só!” a ser apresentada no livro foi intitulada “A Música Popular Brasileira começa a existir”, cujo texto mostra como a música “só vira popular quando se torna manifestação espontânea”, deixando assim de ser um acessório para outras práticas sociais, como a catequese dos índios. Na “Apresentação” do livro “A Formação da MPB”, o texto inicia apresentando as possibilidades de escolher um bom show para assistir no Rio de Janeiro da segunda década do século XXI: Maria Rita, Sandra de Sá, Ratos do Porão, Gangrena, Maldita, Maria Creusa, entre outros artistas que figuram com destaque na cena musical brasileira contemporânea. Há também uma geografia dos espaços de entretenimento, onde são situados o Circo Voador, a Estudantina, bares e casas com programação de música ao vivo na Lapa e Teatro Rival. Como aponta o texto inicial, ao folhearmos as páginas do livro “A Formação da MPB” assistiremos “as músicas mais importantes, os cantores, músicos e compositores mais geniais. Os grandes criadores. As inovações. Os episódios decisivos.”, é essa seleção que reitera as escolhas realizadas por Ricardo Cravo Albin em suas obras, assim como pelo Instituto Cravo Albin ao transformar em monumento determinadas práticas artísticas desconsiderando outras atividades culturais. Nas margens de algumas páginas, consta uma seleção de verbetes que identificam algumas características dos “gêneros musicais” ou apontam informações biográficas de alguns personagens que são apresentados no decorrer da narrativa. Essas informações, na maioria das vezes, são acompanhadas de caricaturas ou de fotografias, procedimento que facilita a leitura do texto. No primeiro capítulo, constam os seguintes verbetes no glossário: Padre José Anchieta, seresta, modinha, Domingos Caldas Barbosa e senzala. No segundo: marchinha carnavalesca, Chiquinha Gonzaga, Corta-jaca, Pixinguinha, Jazz, Machado de Assis, Joaquim Silva Callado, Ernesto Nazareth, Época de Ouro, Artur Azevedo. No terceiro capítulo, páginas dedicadas à história do samba, são apresentadas fotografias de Donga, Heitor dos Prazeres, Sinhô, das Tias Baianas da antiga Praça XI. Os verbetes destacados são Cartola e Pagode. Sobre a “música sertaneja”, o curto quarto capítulo é iniciado com a apresentação de Usos abusos dos livros didáticos e paradidáticos 9 dados biográficos de Catulo da Paixão Cearense, seguida de informações sobre Humberto Teixeira e termina com a definição de baião urbano. No quinto capítulo, que trata Bossa Nova e da Jovem Guarda, encontramos os seguintes verbetes no glossário: Jazz, Janis Joplin, Mundo do Espetáculo, Estúpido Cupido, paquera, brotos, coroas, Soul. As caricaturas de Roberto Carlos, Elizeth Cardoso, Cartola, Nara Leão, Geraldo Vandré, Lulu Santos e das bandas Legião Urbana e Paralamas do Sucesso mostram a ascensão do rock, iniciada nos Anos Dourados e consolidada no Rock in Rio em 1985. A inserção do rock na categoria MPB teria ocorrido, de acordo com a interpretação apresentada no livro, devido à diversidade e à mestiçagem inerentes aos processos musicais ocorridos no Brasil. O capítulo também acompanha as transformações na MPB, a qual “mudou de cor de pele, de classe social e de bairro”, passando a ganhar destaque o circuito de boates em Copacabana. O capítulo “Dos festivais até a MPB do século XXI – a diversidade manda bem na MPB”, o último do livro, apresenta como verbetes Milton Nascimento e Oswald de Andrade. A narrativa se inicia com os Festivais Internacionais da Canção, os Festivais de Música da Record e da Excelsior, sendo destacadas duas canções: “Sabiá”, de Chico Buarque e Tom Jobim e “Pra não dizer que não falei das flores”, de Geraldo Vandré. Depois desse prelúdio, é destacado o movimento da vanguarda tropicalista para em seguida ser realizado um salto até os anos 1990 com a emergência do funk, do hip-hop e do rap. Na última seção do sexto capítulo, intitulada “MPB no Século XXI”, gostaria de deter minha análise para sintetizar algumas proposições sobre o material analisado. Em primeiro lugar, ressalto que a frase de abertura da seção é “A mulatice manda e impera!”, corroborando com a hipótese anteriormente levantada acerca dos usos do mito de origem, sobretudo o “mito das três raças” formadoras da identidade social, como constância nas narrativas historiográficas produzidas por Cravo Albin. Além disso, o mito da autenticidade conjugada à originalidade permitiria que, mesmo sendo considerada uma menina “de quase 150 anos”, a Música Popular Brasileira tivesse capacidade de “aprontar novidade”. As novas combinações entre os “gêneros musicais” seriam resultado da “vocação musical dotada da maior originalidade que se tem notícia”. Por fim, vale destacar o mito da miscibilidade dos “gêneros” e, por conseguinte, da miscigenação, como marca da música popular brasileira. Devido à sua “generosa capacidade de absorção”, a MPB se apropria gêneros estrangeiros para resistir, pois “jamais se fechou em si mesma”. Os seis cartazes, assim como os seis capítulos do livro, foram divididos de acordo com as seções temáticas supracitadas. Cada cartaz apresenta a dimensão de 65 centímetros de Usos abusos dos livros didáticos e paradidáticos 10 comprimento por 45 centímetros de largura. No cartaz intitulado “A Formação da MPB”, é mencionada uma ancestralidade da MPB, a qual teria sido forjada por contribuições dos índios, com a catira, dos brancos com a modinha, a polca e a valsa, e dos negros com o lundu e a batucada. Além do mito de origem, fortemente influenciado nas estruturas narrativas baseadas na formação do Brasil a partir do contato das “três raças”, este cartaz resume o plano geral da obra, situando as principais transformações no gosto musical dos brasileiros, inclusive com a sucessão dos gêneros musicais. É destacada a criação do samba como fator que promove a MPB como espelho do Rio de Janeiro e que eleva a herança negra a um patamar de notoriedade no plano cultural. No mesmo cartaz, vemos uma série de informações que sintetizam a narrativa geral, como a chegada da era do rádio e o surgimento de estrelas da música nacional. Nesse ponto, há uma afirmativa que incide sobre o caráter nacional da música brasileira: a capacidade de misturar, abrasileirar ritmos estrangeiros. O final da década de 1950, ainda neste cartaz, é apresentado como marco devido à substituição do Baião e do Samba Canção pela Bossa Nova no gosto popular. Há uma breve menção sobre os festivais e o novo meio de divulgação e circulação de bens simbólicos no mercado fonográfico: a televisão. O cartaz “O Choro” situa o contexto histórico e social de seu surgimento no rio de Janeiro da segunda metade do século XIX. Joaquim Callado, Chiquinha Gonzaga, Anacleto Medeiros e Ernesto Nazareth são apresentados como pioneiros do choro, sendo destacados outros importantes chorões, com Jacob Bandolim e Waldir Azevedo. A última informação deste cartaz é o arrolamento de alguns sucessos do gênero, como “Carinhoso” e “Brasileirinho”, ambas as composições foram incluídas no CD presente no Kit. Seguindo o mesmo modelo acima citado, os cartazes “O Samba”, “A Bossa Nova”, “Os Festivais” e “A Música Sertaneja” apresentam seleções de principais autores e os sucessos de cada “gênero”. Nesse conjunto de informações, o samba é definido como o gênero mais popular da música brasileira, seu mito de origem remonta às casas das Tias Baianas, dentre as quais, Tia Ciata. Na listagem dos autores principais, diferentes gerações de sambistas são elevadas à condição de representantes da autêntica música brasileira. O agrupamento de personagens situados em momentos históricos distintos permite que Noel Rosa seja citado ao lado Paulinho da viola e Dona Ivone Lara. É possível notar que no jogo de continuidades e descontinuidades, os autores do projeto MPB nas Escolas, em determinada perspectiva historiográfica, aproximam autores que circularam em redes sociais e atuaram no meio artístico em períodos diferentes. Usos abusos dos livros didáticos e paradidáticos 11 No início do cartaz sobre a Bossa Nova podemos perceber certa constância em relação ao modelo de narrativa encontrado em outros elementos desse material didático. No trecho que afirma que a Bossa Nova “criada no Rio de Janeiro no final de década de 1950, é considerada até hoje uma das grandes riquezas do Brasil”, vemos novamente o protagonismo desta cidade como cenário das transformações musicais ocorridas na música brasileira e a relevância de determinada manifestação artística estar vinculada com a identidade nacional, ou melhor, com a imagem positiva sobre o Brasil transmitida por determinado “gênero” no cenário internacional. Diferentemente dos cartazes que foram tratados anteriormente neste trabalho, a apresentação da Bossa Nova segue em uma direção que permite maior contextualização histórica, citando a criação de um “estilo de vida singular” o qual estava em consonância com os impulsos de Juscelino Kubistchek em prol da modernização. A era dos festivais, período compreendido entre 1965 e 1972, é definida como fase de transformação artística impulsionada pela geração universitária. Entre os sucessos destacadas no cartaz “Os Festivais” podemos citar “Sabiá”, “Alegria, Alegria”, “Pra Não Dizer que Não Falei das Flores” e “Planeta Água”, esta canção foi inserida no CD. Apesar de não apontar que o contexto social e político desta produção cultural estava fortemente impactado pelo regime militar brasileiro, o cartaz informa sobre a “agitação cultural dos anos 60”, a qual transformou os palcos em espaços de “lirismo, combate, emoção e protesto”. No cartaz “A Música Sertaneja”, verificamos um descompasso entre a chamada música folclórica e o sertanejo pop, vertente de intensa veiculação nos meios de comunicação de massa. Apesar de mencionar a popularização “através do rádio e da televisão”, são citadas como danças e tradições folclóricas que expressam a diversidade cultural brasileira a Folia de Reis, a Capoeira e o Jongo. Podemos verificar que nesse jogo de classificações com os “gêneros” e os períodos históricos da música popular brasileira algumas peças não se encaixam, como a aproximação entre as duplas “de grande aceitação” Chitãozinho & Xororó e Zezé di Camargo & Luciano com Jackson do Pandeiro e Patativa do Assaré. São apontados como sucessos do gênero “Luar do Sertão”, “Asa Branca”, “Assum Preto”, “É o amor”, “Menino da porteira”, “A Chimarrita”, “Tristeza do Jeca”. Para finalizar a análise sobre os cartazes, considero necessário identificar as imagens inseridas na margem dos textos explicativos. Em “A Formação da MPB” encontramos a imagem de um gramofone, em “O Choro”, um bandolim, em “O Samba”, um pandeiro, em “A Bossa Nova”, um violão, em “Os Festivais”, uma guitarra elétrica, e em “Música Sertaneja”, uma sanfona. Cada instrumento sintetiza uma noção a respeito de um conjunto de ideias que são condensadas em uma classificação de gênero musical. Tal enquadramento é Usos abusos dos livros didáticos e paradidáticos 12 necessário devido à proposta didática, mas também revela a complexidade de tratar da música como objeto de análise no ensino básico. O desafio de contar a história da música popular brasileira nas salas de aula continua em aberto, à espera de um caminho que permita a compreensão da diversidade de formas de contar os fatos e de representá-los em uma narrativa. Para Ortiz (1994), a atuação dos mediadores da construção simbólica privilegia certas manifestações em detrimento de outras. Um elemento comum a essas interpretações sobre a história da música popular brasileira é a necessidade de preservação, esforço necessário para a continuidade da tradição. Essa questão central na escrita da história do autor tratado nesse trabalho é resultado do posicionamento engajado no que se refere à defesa da música popular brasileira. Conforme é apontado na “Apresentação” do livro “A Formação da MPB”, “esse ritmo pulsa em todos esses tempos, sem prazo de validade, num movimento permanente de criação e redescoberta, [...], desde sempre e para sempre, Música Popular Brasileira”. O material didático multimídia Kit “MPB nas escolas” escolhido para esta análise, permite compreendermos a transposição de uma narrativa hegemônica na historiografia da música brasileira para dentro das salas de aula. Este trabalho, portanto, apresenta um estudo de caso que aborda a produção e a reprodução de uma linha narrativa histórica sobre a cultura musical do Brasil que abarca diferentes gêneros, artistas e canções. Esse fio da meada que une diferentes teias constitutivas da memória e da história da música popular brasileira apresenta uma historicidade, não foi possível debater seu processo de construção debater neste espaço, contudo os apontamentos sobre a relevância dos intelectuais interessados na preservação de determinados fatos da história da MPB podem sugerir caminhos de investigação sobre as classificações de “gêneros musicais” dentro e fora das salas de aula. III – O tremolo e as narrativas sobre a música popular brasileira Bourdieu e Passeron apontam que a ação pedagógica é objetivamente uma violência simbólica, isto é, uma relação de poder que chega a impor significações como legítimas. O Kit “MPB nas Escolas” pode ser compreendido a partir de uma perspectiva que define a autoridade pedagógica como instância das concorrências pelo monopólio da legitimidade cultural. O símbolo da notação musical tremolo indica rápida repetição de uma nota. O sentido atribuído a esse símbolo no título dessa seção sugere que a transposição didática, a partir da naturalização do conteúdo da história da música popular brasileira, é uma forma de transmissão de aspectos da historiografia da música popular brasileira para o ensino básico. Usos abusos dos livros didáticos e paradidáticos 13 Ainda que haja uma grande polifonia de interpretações sobre as origens e a formação da música popular brasileira, deve-se reconhecer que determinadas abordagens são predominantes, tecem a partir de uma linha geral diferentes segmentos da música popular brasileira, mantendo-a sob determinada constância de características naturalizadas – miscigenação, autenticidade e originalidade – e trazendo para primeiro plano alguns personagens, transformados em protagonistas ao lado do “gênero musical” nos quais são inseridos em termos classificatórios – o chorão, o sambista, a juventude universitária dos festivais. Dessa forma, tendo em vista que ação pedagógica se exerce numa relação de comunicação, devemos compreendê-la inserida em um sistema de relações de força ou de sentido entre os agentes na instituição escolar. A ação pedagógica impõe e inculca certas significações, convencionadas pela seleção e a exclusão de determinados elementos do sistema simbólico (Bourdieu e Passeron, 1975). Ainda que não tenha sido possível analisar neste espaço a utilização na sala de aula do material didático tratado no trabalho, focamos na construção de narrativas historiográficas consonantes a determinadas interpretações hegemônicas sobre a constituição do campo da música popular brasileira. Verificamos no caso analisado que a transposição didática consistiu na transformação de um saber com a finalidade de torná-lo adequado ao ensino. Os livros de Cravo Albin, que canonizam uma série de artistas e selecionam algumas canções e alguns gêneros para contar a “História da Música Popular Brasileira”, poderiam ser cotejados com esse material didático produzido pelo Instituto Cravo Albin. O distanciamento entre diferentes saberes, com naturezas e funções sociais distintas, tendo em vista que estão voltados para públicos específicos, é a mais importante evidência na utilização do conceito “transposição didática” (Gabriel, 2001). Há uma busca pela compatibilidade entre o fluxo do saber produzido no âmbito mais amplo da história da música popular brasileira e o saber escolar. A transposição, de acordo com Chevallard, pode ser compreendida como transformação do saber acadêmico em objeto de ensino de uma disciplina específica. A reprodução de uma narrativa historiográfica em um material didático representa mais do que um sistema de transmissão de informações utilizadas em um processo de aprendizado ou formação (Richaudeau, 1979), pois consolida uma versão a respeito das transformações ocorridas no campo musical brasileiro durante o século XX. Um dos resultados dessa construção é a seleção de alguns músicos definidos como protagonistas da história da MPB em detrimento de outros artistas. Foucault identificou que “as coisas [...] são ‘deitadas’, ‘colocadas’, ‘dispostas’ em lugares”, sendo necessário realizar uma análise dos Usos abusos dos livros didáticos e paradidáticos 14 processos que levaram ao resultado das classificações. Também podemos compreender que “todo o limite não é mais talvez que um corte arbitrário num conjunto indefinidamente móvel” (Foucault, 1999). Nesse sentido, podemos compreender os mecanismos de classificação utilizados por Ricardo Cravo Albin para personagens, “gêneros” e fatos históricos dentro de uma narrativa que abarca uma grande continuidade diacrônica sobre a música popular brasileira. Dessa forma, mais do que abordar as múltiplas possibilidades de escrita da história da música popular brasileira, este trabalho tentou verificar, a partir da análise do Kit “MPB nas escolas”, como foi realizada a transposição didática de uma narrativa hegemônica na historiografia da música popular brasileira para dentro dos muros das salas de aula. Referências bibliográficas ALBIN, Ricardo Cravo. O livro de ouro da MPB. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003. BOURDIEU, Pierre. Campo intelectual e projeto criador. In: Pouillon et all. Problemas do estruturalismo, 1968. _____________. As regras da arte. Tradução Maria Lucia Machado. Rio de Janeiro: Companhia da Letras, 1996. BOURDIEU, Pierre; PASSERON, Jean Claude. A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino. Tradução de Reynaldo Bairão. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1975. CERTEAU, Michel de. A Escrita da história. Tradução Maria de Lourdes Menezes. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982. CHEVALLARD, Yves. 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