1 - EAD Unimontes

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CADERNO
DIDÁTICO III
1 período
PEDAGOGIA
Guia
Estudantdo
e
EDITO
RA
M
E
UN L H O
Univers
idade
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Abril
IDADE
Pedag
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2008
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Claros
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Claros
1º PERÍODO
LÍNGUA
PORTUGUESA
AUTORES
Érica Karine Ramos Queiroz
Doutora em Lingüística pela Universidade Estadual de Campinas Unicamp, especialista em Educação e graduada em Letras pela
Universidade Federal de Viçosa - UFV. Atualmente é coordenadora de
Pesquisa do ISEMOC-CRECIH/SOEBRAS e professora do Departamento
de Letras da Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes.
Nely Rachel Veloso Lauton
Especialista em Redação pela Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais – PUC/Minas, graduada em Língua e Literatura Francesa pela
Associação de Cultura Franco-brasileira e graduada em Letras pela
Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes.
Pollyanne Bicalho Ribeiro
Doutora em Linguística Aplicada pela Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais – PUC/Minas, mestre em Educação, Administração e
Comunicação pela Universidade São Marcos, graduada em Letras pela
Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG e graduada em Direito pelo
Centro Universitário Fumec. Atualmente é consultora da Consultoria
Técnica Educacional e professora da Universidade Estadual de Montes
Claros – Unimontes e da Faculdade da Cidade de Santa Luzia.
Sandra Ramos de Oliveira
Especialista em Linguística Aplicada ao Ensino de Português pela
Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes. Atualmente é
professora da Unimontes e professora do Instituto Superior de Educação Isemoc.
Waneuza Soares Eulálio
Especialista em Linguística Aplicada ao Ensino da Língua Materna pelas
Faculdades Unidas do Norte de Minas – Funorte, especialista em
Alfabetização pela Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes e
graduada em Letras - Português/Inglês pela Universidade Federal de
Viçosa - UFV. Atualmente é professora da Unimontes e tutora a distância
da Universidade Aberta do Brasil – UAB. É revisora da Revista Fronteiras do
Sertão do Departamento de História.
SUMÁRIO
DA DISCIPLINA
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
Unidade I: Linguagem, língua, fala e gramática . . . . . . . . . . . . . . 16
1.1 Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.2 Conceitos básicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.3 Funções da linguagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
1.4 Variações lingüísticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
1.5 Níveis de linguagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
1.6 Linguagem oral e linguagem escrita . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
1.7 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
Unidade II: Leitura. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
2.1 Caracterização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
2.2 Processos de leitura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
2.3 Fatores intervenientes no “ato de ler” . . . . . . . . . . . . . . . . 49
2.4 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
Unidade III: Texto e textualidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
3.1 O que é texto? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
3.2 Fatores de textualidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
3.3 Produção de texto. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
3.4 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
3.5 Vídeos sugeridos para debate . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
Resumo
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
Referências básicas, complementares e suplementares . . . . . . . . . 67
Atividades de Aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
APRESENTAÇÃO
Prezado acadêmico,
A disciplina “Língua Portuguesa” integra a grade curricular do 1º
período do Curso de Licenciatura em Pedagogia, com 45 horas-aula.
É sobre essa disciplina que vamos falar, inicialmente, pois é
necessário que você compreenda a importância do conteúdo a ser
estudado para tomar sua participação prazerosa e eficaz.
O Michaelis: moderno dicionário da Língua Portuguesa registra os
sinônimos “sustentáculo”, “base”, “alicerce” para o substantivo
“fundamento”. Ora, estudar, então, “Língua Portuguesa” significa rever
noções básicas de nossa língua materna, discutir e resgatar algumas
regras, conceitos e definições que a sustentam. Além disso, o
conhecimento da base de uma língua, de seu alicerce torna seu usuário
mais competente, mais criativo no trato com as palavras; mais seguro e
questionador no desempenho de suas atividades cotidianas e no convívio
com seus pares.
Compreender os fundamentos da língua – e não apenas conhecêlos – possibilita ao falante o desenvolvimento de diferentes habilidades,
como: reconhecer informações, elaborar hipóteses, inferir, relacionar
conceitos e fatos, desenvolver reflexões mais abrangentes, argumentar e
defender idéias e, principalmente, possibilita-lhe ser um autor/leitor mais
completo e consciente do uso das palavras.
Na disciplina “Língua Portuguesa”, vamos ajudá-lo a
compreender o funcionamento da Língua Portuguesa nos seguintes
aspectos:
1. leitura: caracterização, processos, modos de leitura e fatores
intervenientes no “ato de ler”;
2. concepções de língua, linguagem, fala, gramática e variedades
lingüísticas;
3. o processo de comunicação;
4. funções da linguagem;
5. texto e fatores de textualidade;
6. tipos e gêneros textuais; e
7. produção textual.
374
UAB/Unimontes
Apresentação
Nossa intenção é ressaltar que o estudo da língua/linguagem é
extremamente importante, pois é por meio da linguagem que interagimos
com os outros, informando ou sendo informados, esclarecendo ou
justificando nossas opiniões, modificando o ponto de vista de nossos
interlocutores ou sendo modificados pelo ponto de vista deles.
É pela linguagem que expressamos nossas certezas, nossas
angústias, alegrias, tristezas, nossos conhecimentos e opiniões. É a
linguagem que nos distingue e nos faz capazes de ver a vida com novos
olhares, principalmente nesta nossa época de globalização, de quebra de
tabus e preconceitos e de, sobretudo, estabelecimento de novos valores.
O avanço tecnológico deste milênio reflete uma renovada
estrutura social em que várias linguagens – verbais, não verbais – se
entrecruzam, se misturam, se completam e se modificam sem cessar.
Assim sendo, o conhecimento sobre o funcionamento da língua
não deve ser algo mecânico e passivo. Pelo contrário, deve-se cruzar esse
conhecimento com as várias possibilidades de linguagens do mundo atual:
cinema, fotografia, pintura, charges, quadrinhos, informática, música etc.,
percebendo suas intenções comunicativas, contrastes e afinidades,
desvelando os “entreditos”, as mensagens e ideologias subjacentes, enfim,
estabelecendo todas as possíveis interlocuções.
Pretendemos, pois, que você alcance os seguintes objetivos:
1. refletir sobre os fundamentos da Língua Portuguesa,
percebendo-os como processo dinâmico de interação social, isto é, como
forma de realizar ações, de agir e atuar sobre o outro por meio da
linguagem;
2. melhorar a gramática de uso, substituindo incorreções e
inadequações por normas da língua padrão;
3. elaborar textos adequados ao interlocutor e à situação
comunicativa; e
4. ser leitor crítico e reflexivo.
Neste primeiro período, nossa disciplina apresenta as seguintes
unidades
Unidade I
1.
Linguagem, língua, fala e gramática
1.1.
Conceitos básicos
1.2.
Processos comunicativos
1.3.
Funções da linguagem
1.4.
Variações Lingüísticas
1.5.
Níveis de fala
1.6.
Linguagem oral e linguagem escrita
375
Pedagogia
Caderno Didático III - 1º Período
Unidade II
1.
Leitura
1.1.
Caracterização
1.2.
Processos de leitura
1.3.
Fatores intervenientes no “ato de ler”
Unidade III
1.
Texto e Textualidade
1.1.
O que é texto
1.2.
Fatores de textualidade
1.3.
Produção de texto
Tipologia e Gêneros Textuais
B GC
GLOSSÁRIO
A
E
ATIVIDADES
F
PARA REFLETIR
DICAS
Esperamos de você uma participação ativa, engajada e proveitosa
para desenvolver suas potencialidades e realizar, com o devido mérito, seus
estudos de graduação que lhe permitirão vencer barreiras intelectuais,
profissionais e sociais.
De nossa parte, desejamos-lhe sucesso e estamos juntos neste
desafio, torcendo por você e a seu dispor.
Seja bem-vindo aos estudos da “Língua Portuguesa”.
Um abraço,
Os autores
376
1
UNIDADE 1
LINGUAGEM, LÍNGUA, FALA E GRAMÁTICA
1.1 APRESENTAÇÃO
Esta é a primeira unidade da disciplina Fundamentos da Língua
Portuguesa e esperamos que você a inicie com muita vontade de ampliar
os seus conhecimentos sobre a língua portuguesa. Então, vamos lá!
O principal objetivo aqui, é que você reflita sobre a importância da
linguagem para a comunicação humana e conheça os principais
elementos que constituem o processo comunicativo.
Ao ler o texto, temos a certeza de que você aprenderá os conceitos
fundamentais de linguagem, língua, fala e de gramática, percebendo a
relevância destes aspectos lingüísticos para que o processo comunicativo
aconteça de maneira eficiente.
Nesta unidade vamos estudar também as funções da linguagem
que nos permitirão compreender como o emissor e o receptor se
relacionam linguisticamente através de um canal que permite a
interpretação de uma mensagem.
Outro assunto de extrema relevância nesta unidade é a variação
lingüística. Há muito tempo, na escola só se atribuía à língua as
características de “certo” ou de “errado”. Hoje, porém com o
conhecimento das diversas formas de se falar, já se considera também o
diferente, ou seja, há usos da língua que são errados (aqueles que não
estão de acordo com a organização que a língua nos possibilita) mas há
também usos que, apesar de não estarem de acordo com essa
organização, são apenas diferentes, não constituem erro.
Bem, de acordo com o que propomos aqui, esta primeira unidade
abordará os conceitos básicos de Linguagem, Língua, Fala e Gramática e
terá as seguintes subunidades:
1.1 linguagem, língua, fala, gramática:conceitos básicos;
1.2 processos comunicativos;
1.3 funções da linguagem;
1.4 variação lingüística;
1.4.1 níveis de fala;
1.5 linguagem oral e linguagem escrita.
É importante que você tenha sempre à mão um bom dicionário e
que não se esqueça de que as atividades sugeridas, os glossários que
complementam o texto e os pontos de reflexão apresentados são
essenciais para que você compreenda satisfatoriamente o texto.
Mãos à obra! Vamos começar a leitura.
377
Pedagogia
Caderno Didático III - 1º Período
B GC
1.2 CONCEITOS BÁSICOS
GLOSSÁRIO
O interesse pela linguagem é antigo e remonta ao séc. IV, a.C.
quando os hindus estudaram sua língua com o objetivo de evitar que os
textos sagrados, reunidos no Veda, sofressem modificações ao serem
falados.
Atualmente, a lingüística moderna define a linguagem como
manifestação de algo mais específico: a língua. A linguagem pertence ao
domínio individual e social, porque é propriedade inata ao ser humano e é
social, porque só existe em sociedade. Sendo assim, a linguagem é
compreendida como expressão do pensamento e veículo de comunicação
social e pode referir-se à linguagem dos animais, à música, dança, pintura,
mímica etc., assinalando que cada uma dessas linguagens tem suas
especificidades de manifestação.
O lingüista Ferdinand de Saussure, considerado o pai da
lingüística moderna, separa a linguagem em Língua e Fala. A língua, para
Saussure, é “um sistema de signos” – um conjunto de unidades que se
relacionam dentro de um todo e é a parte social da linguagem, exterior ao
indivíduo; não pode ser modificada pelo falante e obedece às leis do
contrato social estabelecido pelos membros da comunidade. A fala é um
ato individual; resulta das combinações feitas pelo sujeito falante
utilizando o código da língua; expressa-se pelos atos de fonação
necessários à produção dessas combinações.
Analisando o conceito de Saussure concluímos que: a língua é
ampla, coletiva e está à disposição de todos os falantes da comunidade. A
língua obedece a padrões criados pela própria comunidade,
logo, um
falante não pode modificá-la. Ela serve a toda a comunidade e não a um
membro isolado. É a parte social da linguagem.
A fala, ao contrário, é individual, representa o uso particular que se
faz da língua. O falante tem a liberdade de buscar na língua os recursos
que ela oferece e combinar esses recursos, conforme suas necessidades e
intenções. E é por isso que a fala é individual e tem caráter dinâmico e a
língua é coletiva e tem caráter mais fixo.
A lingüística tem como objeto de estudo a linguagem verbal em
uso, ou seja, para o lingüista interessa descrever e explicar os fatos de
linguagem sem estabelecer juízo de valor do uso. A perspectiva de estudo
da gramática tradicional é contrária à do lingüista, pois a gramática tem
como finalidade ditar normas e prescrever os fatos de linguagem.
A gramática não reconhece a diferença entre fala e escrita e
considera a escrita como modelo de correção para a língua falada. A
posição da gramática é normativa ao dizer o que é a língua e como deve
ser, isto é, a gramática dita regras para o uso considerado correto da
língua.
Como falantes de uma língua, sabemos que a língua escrita não é
modelo para a língua falada, pois a diferença entre essas duas
378
A
E
F
Hindu: natural ou
habitante da Índia.
Veda: conjunto de textos
sagrados da tradição
religiosa e filosófica da
Índia.
a.C: antes de Cristo.
B GC
GLOSSÁRIO
A
E
F
Línguas naturais (Inglês,
Português, Russo, Italiano,
Chinês etc.) são sistemas
de signos lingüísticos. Os
signos lingüísticos são os
elementos de significação
(significante e significado)
nos quais se baseiam as
línguas.
Para você entender melhor
os conceitos de significante
e significado, acompanhe
esta exemplificação:
O significante é o suporte
para a idéia, é a seqüência
de sons que se combinam
nas palavras: flor, fleur,
fiori, flower, kukka (em
Português, Francês,
Italiano, Inglês e Finlandês,
respectivamente) e,
significado é a idéia, o
conteúdo.
Observe que, em todas as
línguas do exemplo, o
significado é o mesmo:
“flor”, parte da planta.
Língua Portuguesa
PARA REFLETIR
O homem é um “animal
político”. Assim afirma
Aristóteles na sua obra
Política, distinguindo o
homem (único dotado de
linguagem) dos outros
animais (que possuem voz).
Com a voz (“phone”), os
animais exprimem dor e
prazer; mas, com a palavra
(“logos”), o homem
exprime o bom e o mau, o
justo e o injusto.
UAB/Unimontes
modalidades da linguagem se deve à sua organização e ao uso social. Para
o lingüista não há uso melhor ou pior, rico ou pobre, visto que seu objetivo é
descrever e não prescrever. De acordo com a lingüística, as línguas naturais
são simplesmente diferentes e, desde que atendam às necessidades de
comunicação entre seus falantes, já estão exercendo sua função:
COMUNICAR. Os estudos sobre as línguas concluem que todas elas
possuem um sistema de comunicação estruturado, complexo e muito
desenvolvido.
Outros estudos sobre a linguagem a consideram também como
atividade, como ação que tem objetivo socialmente definido: o de
estabelecer vínculos e compromissos anteriormente inexistentes. A
linguagem é responsável pela interação entre os indivíduos, estabelecendo
pactos interindividuais e exigindo respostas em forma de reações e
comportamentos dos falantes.
Estudar, então, a língua é buscar detectar os compromissos que se
criam através da fala (ato individual) e buscar preencher as condições
exigidas por uma situação de comunicação.
Processos Comunicativos
Ser um “animal político”
significa, pois, compartilhar
valores com outros
indivíduos, o que torna
possível a vida social, cívica
e política dos homens.
Exerça sua cidadania
através, também, do uso da
linguagem.
Fonte: Folha de São Paulo – 05 de setembro de 2008. P. E 11
Figura 1: A língua se concretiza pela fala.
1.2.1 Importância da comunicação humana
Como você sabe, na sociedade em que vivemos é de fundamental
importância que saibamos comunicar de maneira clara e eficiente.
Comunicação, pensamento e a própria vida são fatores que se
complementam e até se misturam, já que estamos a todo tempo nos
comunicando, ora através da fala, ora da escrita, de um gesto, de
expressões faciais, sorrisos, da leitura de um texto, de um documento, de
revistas e jornais etc.
É preciso ter em mente que só através de uma comunicação clara,
segura e objetiva podemos nos aprofundar nos níveis de conhecimento
pessoal, tecnológico e social.
A comunicação é o centro de todas as atividades humanas. Com
certeza nada acontece sem que haja prévia comunicação. Comunicar bem
não é só transmitir ou receber bem uma informação. COMUNICACÃO é
uma troca de CONHECIMENTOS E DE ENTENDIMENTO e ninguém
entende ninguém sem considerar além das palavras, sem considerar
também as emoções, o contexto e a situação em que se tenta trocar
379
Pedagogia
Caderno Didático III - 1º Período
conhecimentos, idéias ou qualquer outra mensagem, seja ela verbal (que
utiliza palavras) ou não-verbal (que se dá através de gestos, cores, imagens
etc.).
Para comunicar-se, o homem utiliza a linguagem que é o conjunto
de símbolos significativos (léxico) somado a métodos também significativos
de combiná-los (sintaxe). Esses símbolos são diferentes de um idioma para
outro e foram escolhidos por acaso, variando de acordo com cada cultura.
O homem inventou a linguagem para exprimir seus sentimentos, suas
intenções e vontades, fazendo com que as pessoas interajam e convivam
em sociedade.
O que é comunicar?
Se você pensar um pouco, vai perceber que COMUNICAR é
estabelecer uma relação com alguma coisa ou alguém, transmitindo sinais
através de um código que pode ser convencionado (linguagem humana)
ou natural (sinais fisiológicos: dor, febre etc.).
A comunicação deve acontecer de maneira lógica, clara e
coerente, pois ela é a base das relações entre os homens que, a partir e
através dela, se tornam agentes, influenciam o meio em que vivem e
afetam as pessoas que estão à sua volta, o seu ambiente físico e a si
mesmos, produzindo reações.
Para que uma mensagem seja transmitida com sucesso, é preciso
que o falante esteja atento a fatores, como habilidade comunicativa,
atitude, nível de conhecimento do ouvinte e as posições ocupadas dentro
do sistema sócio-cultural. Assim, ele deverá produzir uma mensagem
adequada ao contexto, ao grupo social do receptor e ao momento em que
ocorre a comunicação. Para uma mensagem que chame a atenção do
receptor, o falante deverá utilizar signos que sejam do seu conhecimento e
também do conhecimento do receptor que ficará interessado na
informação.
1.2.3 O processo de Comunicação
Processo de comunicação é o fenômeno que ocorre quando o
emissor (a pessoa que fala, o codificador) emite uma mensagem
(informação ou sinal) ao receptor (a pessoa que ouve ou decodificador),
através de um canal (instrumento ou meio). O receptor interpretará a
mensagem e, a partir daí, dará a resposta que demonstrará se as
informações foram captadas (feedback), completando o processo de
comunicação.
Elementos da Comunicação
380
PARA REFLETIR
Para ampliar seus
conhecimentos sobre esse
assunto, assista ao
videodocumentário “Um
buraco branco no tempo”,
uma produção de Peter
Russel, com base em uma
obra romântica. Duração:
27 minutos. Veja sinopse
do videodocumentário no
fim deste caderno.
B GC
GLOSSÁRIO
A
E
F
Léxico: conjunto de
vocábulos que formam
uma língua (vocabulário).
Sintaxe: estudo da
combinação lógica das
palavras em uma frase.
Língua Portuguesa
UAB/Unimontes
PARA REFLETIR
MENSAGEM
Leia outros textos sobre
comunicação e reflita sobre
a importância deste
aspecto para a vida
humana.
Pense no estreito laço que
liga a comunicação à
cultura e anote suas
conclusões.
CÓDIGO
EMISSOR
RECEPTOR
CANAL
Realidade
Referente (contexto)
ATIVIDADES
Preste muita atenção aos
comerciais transmitidos
pelo rádio e pela televisão e
verifique se eles atendem
às condições apresentadas
no texto que você acabou
de ler (Chamam a atenção
do receptor? Usam uma
linguagem adequada?
Estão de acordo com o
canal onde são veiculados?
Levam em consideração o
momento e a situação em
que o receptor está
inserto?)
No processo comunicativo são utilizados os elementos presentes
no esquema anterior (código, mensagem, referente, emissor, receptor e
canal). Conheça cada um deles:
Ÿ CÓDIGO: pode ser definido como qualquer conjunto de
símbolos usados na transmissão e recepção de uma mensagem de
maneira a ter significação para alguém, como as palavras de um idioma
(língua);
Ÿ MENSAGEM: expressão de idéias (conteúdo transmitido por
um emissor) através de uma forma determinada (tratamento) pelo
emprego de um código;
Ÿ REFERENTE: é o contexto em que estão insertos o emissor e o
receptor. É também o conjunto de atitudes e reações dos sujeitos
envolvidos no processo de comunicação;
Ÿ EMISSOR ou EMITENTE: quem transmite uma idéia, emite;
quem transforma a mensagem em código (uma pessoa, uma empresa,
uma emissora de televisão, estação de rádio etc.);
Ÿ RECEPTOR, RECEBEDOR ou DESTINATÁRIO: pessoa que
recebe, decodifica a mensagem (um indivíduo ou um grupo); e
Ÿ CANAL: é o meio através do qual fazemos uma mensagem
chegar a outra pessoa, uma espécie de "veículo da mensagem", como as
ondas sonoras, na linguagem oral (fala), ou um bilhete, na linguagem
escrita, por exemplo.
É muito importante escolher o canal capaz de transmitir sua
mensagem com maior qualidade e há elementos que podem impedir a
381
Pedagogia
Caderno Didático III - 1º Período
eficiência comunicativa como:
Ÿ o RUÍDO: que é uma interferência indesejada na transmissão
DICAS
de uma mensagem (na fala pode ser um barulho e na escrita, um rabisco
ou uma letra ilegível, por exemplo);
Ÿ a AMBIGÜIDADE, refere-se à desorganização da mensagem
(período fragmentado, ordem inversa, inadequação vocabular etc.); e
Ÿ a REDUNDÂNCIA, que consiste na repetição desnecessária de
palavras ou termos.
Em síntese:
Em uma sala de aula (referente), se o professor (emissor)
expõe oralmente (canal) um assunto (mensagem), e o aluno
(receptor) ouve com atenção, ele consegue dar resposta (feedback)
ao ser questionado.
Mas, quando há barulho, por exemplo, conversa paralela
(ruído),
a
compreensão
fica
comprometida.
Ao decodificar
uma
mensagem,
você a está percebendo como um
estímulo. Ao codificar uma nova mensagem, você está dando uma
resposta ao estímulo, mostrando como ele foi percebido e interpretado por
você. A comunicação compreende, na maioria das vezes, uma ação e
uma reação, pois a ação do emissor afeta a reação do receptor e a reação
do receptor afeta a subseqüente reação do emissor, tornando o processo
circular. Às vezes, quando são utilizados dois canais simultâneos, a
qualidade da mensagem aumenta (ver e ouvir, por exemplo, é melhor do
que só ver ou só ouvir), mas se o falante não souber utilizar bem esses
canais, ele pode prejudicar o sucesso da sua comunicação. Se um
conferencista apresenta um trabalho usando um data-show, por exemplo,
e não consegue combinar sua fala com as transparências apresentadas,
ele pode tornar mais difícil a compreensão do conteúdo pelos
expectadores).
Sempre que comunicamos algo, pensamos no nosso receptor, em
quem queremos atingir com o que dizemos, assim, tanto o emissor cria
expectativas sobre o receptor quanto o receptor em relação ao emissor.
Quando duas pessoas interagem, põem-se no lugar uma da outra,
procurando perceber o mundo como a outra o percebe, tentando predizer
a resposta da outra e esse processo possibilita o ideal da comunicação que
é a interação humana.
1.3 FUNÇÕES DA LINGUAGEM
Agora que você já trabalhou os Processos Comunicativos e já
conhece as noções da Teoria da Comunicação, vamos fazer algumas
considerações sobre as Funções da Linguagem.
382
O Filme “Nell”, do Diretor
Michael Apted, é muito
interessante para você
analisar o importante papel
desempenhado pela
linguagem na comunicação
humana.
Nell é o nome da jovem
que é encontrada em uma
casa na floresta, onde vivia
com sua mãe eremita. O
médico que a encontra,
após a morte da mãe,
constata que ela se
expressa em um dialeto
próprio, evidenciando que
até aquele momento ela
não havia tido contado
com outras pessoas.
Intrigado com a descoberta
e ao mesmo tempo
encantado com a inocência
e a pureza da moça, ele
tenta ajudá-la a se integrar
na sociedade.
Assista ao filme e
tente relacioná-lo aos
conceitos estudados sobre
“Processos Comunicativos”
e “Funções da
Linguagem”.
Língua Portuguesa
UAB/Unimontes
Leia a seguinte tira humorística:
A tira exemplifica uma situação de comunicação. Numa situação
de comunicação há, pelo menos, duas pessoas interagindo por meio da
Fonte: HOJE EM DIA, 7/9/2008
DICAS
Para reforçar seu
conhecimento sobre as
funções da linguagem,
acesse:
www.portrasdasletras.
com.br
Figura 2: tira humorística
linguagem: quem fala (locutor ou emissor) e aquele com quem se fala
(interlocutor ou receptor).
Tradicionalmente, o processo de comunicação verbal está
baseado em seis elementos: o emissor, o receptor, a mensagem, o código,
o canal e o referente.
Tomando a tira como exemplo, vamos rever esses elementos:
Ÿ O emissor (locutor, remetente) é Helga, a esposa de Hagar;
Ÿ O receptor (interlocutor, destinatário) é Hagar;
PARA REFLETIR
Ÿ A mensagem é representada pelas falas de Helga; trata-se de
um alerta para que o marido se comporte bem e beba com moderação;
Ÿ O código é a língua portuguesa (linguagem verbal) usada por
Helga e Hagar.
O estudo das funções da
linguagem é muito
importante para
percebermos diferenças e
semelhanças entre os vários
tipos de mensagem.
Analisar como essas
funções se organizam nos
textos alheios, permite-nos
perceber as finalidades que
orientam a elaboração
desses textos.
Aplicando o conhecimento
de funções da linguagem
nos textos que produzimos,
poderemos planejar o que
escrevemos e fortalecer a
eficácia e a expressividade
das mensagens.
Ÿ O canal (contato) é o som produzido pelo código (língua oral);
e
Ÿ O referente (contexto) é a situação ou contexto em que Helga e
Hagar estão e é também o assunto da mensagem, isto é, o conjunto de
atitudes e reações do emissor e do receptor. Repare que o casal está em
uma reunião social e como Helga conhece bem o marido, mesmo estando
de costas para ele, ela o alerta para que “tenha modos” e não se exceda
com a bebida.
A cada um desses seis elementos corresponde uma função da
linguagem.
De acordo com a Teoria da Comunicação, toda mensagem tem
uma finalidade, uma intenção predominante que orienta sua produção. A
mensagem pode ter a finalidade de informar, persuadir, provocar humor,
emocionar etc.
A partir dessas finalidades é que classificamos a função da
linguagem predominante nos textos. Essas funções são: expressiva,
conativa, referencial, fática, metalingüística e poética.
1.3.1 Funções expressiva (ou emotiva)
383
Pedagogia
Caderno Didático III - 1º Período
A função expressiva ou emotiva está centrada no emissor
(remetente ou locutor) e expressa sua atitude, sua emoção, seu estado de
espírito em relação ao que fala.
Exemplificando
Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida a minha
face?
(Cecília Meireles)
Observe que o poema está centrado na expressão dos
sentimentos, emoções e estado de alma do “eu-lírico”. É um texto
subjetivo, pessoal. Nele aparecem pronomes de primeira pessoa: “Eu não
tinha”... “minha face”?
São comuns também na função emotiva a presença de
interjeições e pontuação marcada por exclamações e reticências.
1.3.2 Função Conativa (apelativa)
A função conativa é aquela que está centrada no destinatário.
Também chamada apelativa, essa função estimula o receptor a tomar uma
atitude, tentando persuadi-lo, tentando influenciar seu comportamento.
Observe a presença da função conativa neste folheto:
384
Língua Portuguesa
UAB/Unimontes
Figura 3: Volante distribuído a visitantes e consumidores do Montes
Claros Shopping Center
Você observou que a intenção principal é estimular o receptor a
utilizar um serviço diferenciado de lavagem de carro. Para isso, o texto da
propaganda emprega verbo no imperativo “Aguarde!”, que faz um apelo
direto ao destinatário. Além disso, a mensagem tenta sensibilizá-lo quanto
à questão do uso racional da água. Isso sinaliza que, se o receptor for uma
pessoa com consciência social, ele buscará o serviço oferecido.
1.3.3 Função referencial (denotativa)
Classificamos de referencial a função que tem por objetivo
transmitir informações. Ela é também chamada denotativa, está centrada
no contexto.
A mensagem apresenta linguagem clara, direta, procurando
traduzir a realidade objetivamente.
O anúncio a
seguir, com conteúdo
essencialmente
i n f o r m a t i v o ,
exemplifica a função
referencial.
Ao ler o
anúncio, você percebe
claramente seu
objetivo: informar aos
leitores do Jornal Hoje
em Dia o que significa e
de que se encarrega a
Associação Mineira de
Figura 4: Hoje em Dia (7-9-2008)
385
Pedagogia
Caderno Didático III - 1º Período
Rádio e Televisão, AMIRT.
A linguagem aponta para um significado único, não dando
margem à dupla interpretação.
A função referencial aparece em seus livros de estudos, livros
técnicos e científicos, bulas de remédios, manuais de instruções etc.
1.3.4. Função Fática
A função fática encontra-se centrada no contato (canal) e nela
predomina o cuidado de estabelecer ou de manter a comunicação, isto é,
manter o contato entre o emissor e o receptor.
Nas conversas telefônicas, o tradicional “alô”, os cumprimentos
habituais são maneiras de iniciar o contato com o recebedor. As frasesfeitas, os clichês de abertura de diálogos: “Olá, como vai?”, “Oi, tudo
bem?”, têm também a finalidade de estabelecer contato.
A função fática está representada por palavras, frases, ou
expressões que denotam a necessidade ou o desejo de iniciar, manter ou
cortar a comunicação.
Exemplificando:
In: ABAURRE et alli – Português. Língua e Literatura.
São Paulo: Moderna, 2003
Figura 5:
A função fática está bastante evidente nos quadrinhos. Observe o
emprego de frases-feitas: “Romeu, há quanto tempo!”, “O que tem feito?”
Essas frases não têm necessariamente um conteúdo informativo preciso,
apenas pretendem criar condições para uma interação verbal. Outras
expressões comuns à função fática também aparecem nas falas dos
quadrinhos: E aí... Hem... Ih... Isso!
Na verdade, nesse reencontro casual, os amigos nada disseram,
apenas mantiveram um contato superficial.
386
Língua Portuguesa
UAB/Unimontes
1.3.5 Função metalingüística
A função metalingüística está centrada no próprio código, isto é,
centrada na língua. O emissor usa a língua (código) para dar alguma
explicação, fazer ressalvas, apresentar uma definição, um conceito etc.
No fragmento a seguir, intitulado “Bisbilhotice”, de Luís Fernando
Veríssimo, o autor define, primeiramente, a palavra “bisbilhotar” para,
depois, introduzir o tema propriamente dito: discussão sobre o uso de
grampos em telefones de magistrados e políticos brasileiros.
Observe a função metalingüística no 1º parágrafo do artigo.
Bisbilhotice
“Bisbilhotar” vem, se não me falha o etimológico,
do italiano “bisbigliare”, que não é bisbilhotar no nosso
sentido, mas quase o seu oposto. Os sinônimos de
“bisbigliare” no meu dicionário italiano são “mormorare”,
“sussurrare”, “dire sottovoce”. Ou seja, o que se faz para
evitar a bisbilhotice dos outros. Um bisbilhoteiro brasileiro
e um “bisbigliatore” italiano, conforme o dicionário, não
teriam diálogo, um tentando desesperadamente ouvir o
que o outro murmura ou sussurra.
O que aproximaria os dois seria o fato de que é
tão difícil encontrar um italiano falando baixo quanto um
brasileiro. O sottovoce não pegou em nenhum dos dois
povos. E o que sempre agrava as crises brasileiras – como
essa dos grampos, ou da bisbilhotice banalizada e
oficializada – é que ninguém, do presidente ao gari,
passando por ministros e comentaristas, se segura na hora
de dizer bobagens. Se ao menos as dissessem sottovoce, o
dano seria menor. (...)
Veríssimo. HOJE EM DIA. 7/9/2008. P. 8 - PLURAL
Os dicionários são obras de caráter metalingüístico, neles usa-se a
língua (código lingüístico) para definir a própria língua.
1.3.6 Função poética
A função poética enfatiza a mensagem. Se, ao ler um texto, você
perceber que o objetivo da mensagem é mostrar um trabalho de
elaboração da linguagem, então, você está diante da função poética.
Anúncios publicitários (e políticos) recorrem freqüentemente à
função poética da linguagem. Neles é comum um trabalho com o signo
387
Pedagogia
Caderno Didático III - 1º Período
lingüístico (rimas, jogo de palavras, neologismos, aliterações, assonâncias)
com o objetivo de provocar algum efeito de sentido no receptor.
A função poética não abrange somente a poesia, embora, na
poesia, a função poética seja predominante e, em outras formas de
expressão lingüística, ela seja acessória.
Veja os exemplos de função poética nos textos abaixo:
Nos versos de Drummond, o trabalho com a linguagem (criação
B GC
GLOSSÁRIO
A
E
F
Aliteração: repetição da
mesma consoante no
interior de um ou mais
versos.
“O meu tempo e o teu, amada,
Transcendem qualquer medida.
Além do amor, não há nada,
Amar é o sumo da vida.
(In: ANDRADE, Carlos Drummond de. Amar se aprende
amando. São Paulo: Record, 1990)
das rimas: amada/nada; medida/vida) produz efeito melódico.
No texto de propaganda, percebe-se o jogo de palavras entre
“dourados” e “cromados” para referir-se ao material empregado no
“Quem com ferro fere, com
ferro será ferido.”
(provérbio)
Assonância: repetição da
mesma vogal no interior de
um ou mais versos.
Nos versos abaixo, há
assonância das vogais a e
o nasais.
(REVISTA VEJA, 5/12/2007. p. 120)
“E bamboleando em ronda
dançam bandos tontos e
bambos de pirilampos”.
(Versos de Guilherme de
Almeida)
Figura 6
produto anunciado (moto) e remeter à idéia de liberdade propiciada pela
moto, ícone dos anos dourados. Houve, portanto um trabalho intencional
de linguagem.
1.4 VARIAÇÕES LINGÜÍSTICAS
388
Língua Portuguesa
UAB/Unimontes
“Há uma grande diferença se fala um deus ou um herói; se
um velho amadurecido ou um jovem impetuoso na flor da
idade; se uma matrona autoritária ou uma ama delicada;
se um mercador errante ou um lavrador de pequeno campo
fértil, [...]. (Horácio, Arte Poética)
Após o estudo dos conceitos de língua, linguagem, fala,
gramática e das funções da linguagem, será mais fácil e proveitoso
trabalhar com as variações lingüísticas, pois são conteúdos intimamente
relacionados.
A língua é um valioso instrumento de ação social e seu uso,
conforme seja adequado ou não, pode facilitar ou comprometer nosso
relacionamento com as demais pessoas.
Além disso, o uso individual da língua apresenta valores que vão
além de nossa intenção de transmitir informações, idéias e pontos de vista.
A escolha que fazemos das palavras, certas expressões que
empregamos, nossas preferências por determinadas construções frasais
têm o poder de revelar, de “denunciar” quem realmente somos, quais são
nossas crenças, em que região do país nascemos, que nível social e de
estudos possuímos, qual é nossa profissão, dentre muitos outros aspectos.
Isso ocorre porque a língua é um sistema dinâmico,
extremamente flexível, que se modela com naturalidade a diversos fatores
que envolvem o falante, como religião, classe social, região geográfica,
sexo, idade e a própria evolução histórica da língua e, ainda, o grau de
formalidade/informalidade do contexto em que se dá a situação de fala ou
Marcos Bagno é professor de lingüística da
Universidade de Brasília (UnB), é um
pesquisador que se dedica a criticar a
idéia. Senso-comum, de que o brasileiro
fala e escreve mal o próprio idioma. Essa
visão atinge principalmente as camadas
pobres da sociedade, por estarem
distanciadas do padrão ensinado na
escola. O preconceito lingüístico, porém,
Figura 7: Marcos Bagno revela um outro preconceito: o social. “A
língua, a maneira de falar, é apenas uma desculpa que as outras
pessoas usam para discriminar, para excluir”, afirma Bagno.
Mineiro de Cataguases, ele é autor de vários livros que desfazem
mitos em torno do português falado e escrito no Brasil, como A
Língua de Eulália (1997), Preconceito lingüístico – o que é, como se
faz (1999), Português ou Brasileiro? (2002) e A norma oculta
(2003).
www.sergipe.com.br/balaiodenoticias/linguistica.htm
389
Pedagogia
Caderno Didático III - 1º Período
escrita.
Nosso contato diário com outros falantes em ambientes diversos –
rua, clube, escola, trabalho, restaurante etc. – confirma que não há
uniformidade no uso da língua. As pessoas se expressam de maneiras
diferentes e isso é perfeitamente natural no interior de uma mesma língua,
como é o caso da Língua Portuguesa.
Essas diferenças podem se manifestar em relação ao vocabulário,
à pronúncia, à morfologia e à sintaxe. Elas aparecem fortemente ligadas
ao falante e são justificadas por motivos culturais, sociais, históricos,
religiosos, geográficos e outros.
A essas diferenças no uso da língua dá-se o nome de Variações ou
Variantes Lingüísticas.
Antes de prosseguirmos no estudo das Variações Lingüísticas, é
bom que se esclareça que não há uma “variedade” melhor ou pior, certa ou
errada, elegante ou feia, de prestígio ou sem prestígio. Essas diferenças
lingüísticas são como um distintivo dos indivíduos e grupos sociais e, por
isso, elas são constituintes de sua identidade. Ora, eleger uma variedade
lingüística como melhor significa desprezar as outras. Ao agirmos assim,
expressamos um juízo de valor (nesse caso, inaceitável) e prejulgamos os
falantes, usando essas diferenças lingüísticas naturais como pretexto para
a discriminação social dos indivíduos.
Portanto, todas as Variações Lingüísticas são perfeitamente
adequadas à realidade do grupo social e do contexto em que surgiram,
desde que permitam a interação verbal entre os indivíduos, isto é, desde
que permitam aos indivíduos expressarem suas necessidades
comunicativas e cognitivas.
1.4.1 Tipos de variações lingüísticas
As variações lingüísticas ocorrem devido a fatores geográficos
(diatópicos), sócio-culturais (diastráticos), históricos ou de época
(diacrônicos) e contextuais (diafásicos).
1.4.1.1 Variação geográfica
A variante lingüística mais evidente no Brasil é a geográfica.
Essa variante se caracteriza, principalmente, pelo acento
lingüístico (altura, timbre, intensidade do som), isto é, pela maneira de
pronunciar as palavras. Os habitantes de cada região apresentam
“melodias” frasais diferentes, desenvolvem formas de realização
lingüística que lhes são próprias e os distinguem dos falantes de outras
regiões.
Ao conjunto de características comuns da pronúncia de cada
região denomina-se “sotaque”: sotaque mineiro, sotaque goiano, sotaque
nordestino etc. ou “dialeto” regional: dialeto mineiro, dialeto nordestino
390
Língua Portuguesa
UAB/Unimontes
etc.
DICAS
Os romances “O tempo e o
Vento (de Érico Verissimo) e
“Vidas Secas” (de
Graciliano Ramos), por
exemplo, são obras em que
você encontra vocabulário
típico da região geográfica
em que o enredo se situa.
Alguns aspectos fonéticos regionais bastante conhecidos dos
brasileiros são, por exemplo, a pronúncia do “s” chiado do carioca; a
abertura das vogais pelos nordestinos; a entoação particular dos gaúchos e
o “r” bem marcado no interior de São Paulo.
Exemplificando:
A letra da música “Cuitelinho”, composta por Paulo Vanzolini,
mostra uma variação regional, própria do espaço geográfico rural de
alguns estados brasileiros.
Nela, há também a influência da variação sócio-cultural,
percebida no emprego de: “bera” por “beira”, “navaia” por “navalha”,
“oio” por “olhos” (aspectos fonológicos) e “os oio se enche d'água por “os
olhos se enchem d'água; “As garça dá...” por “As garças dão...” (aspecto
morfológico).
Observe, ainda, que o compositor “brinca” com as rimas para
efeito melódico.
B GC
GLOSSÁRIO
E
A
F
Morfologia: Estudo do
signo lingüístico reduzido à
sua expressão mais simples
(morfema) e a combinação
entre esses morfemas
formando unidades
maiores como a palavra e o
sintagma.
Cuitelinho: Diminutivo de
cuitelo. Nome popular dos
beija-flores.
A variação geográfica ocorre também no vocabulário, em
Cuitelinho
Cheguei na bera do porto
Onde as onda se espaia.
As garça dá meia volta,
Senta na bera da praia.
E o cuitelinho não gosta
Figura 8: Cuitelinho
Que o botão de rosa caia.
Quando eu vim de minha terra,
Despedi da parentaia.
Eu entrei no Mato Grosso,
Dei em terras paraguaia.
Lá tinha revolução,
Enfrentei fortes bataia.
A tua saudade corta
Como o aço de navaia.
O coração fica aflito,
Bate uma, a outra faia.
E os oio se enche d'água
Que até a vista se atrapaia.
(In: Marcos Bagno. A língua de Eulália São Paulo: Contexto,
1997. p. 45-6.)
391
Pedagogia
Caderno Didático III - 1º Período
algumas estruturas frasais e nas designações diferentes para o mesmo
significado, que uma palavra pode adquirir de uma região para outra.
Assim é que usamos “mandioca”, “aipim” ou “macaxeira”;
“pernilongo” ou “mosquito”, dependendo de nossa região de origem.
Em Montes Claros, Minas Gerais, por exemplo, o objeto escolar
onde se guardam lápis, borracha e canetas chama-se “estojo”, no Paraná
é “penal” (de pena + al) estojo para guardar penas, lápis etc. Embora a
palavra “penal” conste do dicionário como um regionalismo de Minas
Gerais, ela não é usada entre os mineiros.
E as variações geográficas se concretizam nas expressões típicas
dos nordestinos: “OXENTE, BICHINHO (indicando admiração); VISSE?
(ouviste), CABRA MACHO DA MULESTA (indivíduo corajoso, valentão);
no “BAH, TCHÊ” dos gaúchos ou no uso freqüente do diminutivo pelos
mineiros: “COITADINHO, TADINHO” (coitado) ou mesmo na redução
desses diminutivos: “TADIN” (coitadinho), “BONZIN” (bonzinho) etc.
Exemplificando:
B GC
GLOSSÁRIO
A
E
F
Apócrifo: não autêntico,
falso, suposto
Bombacha: calças largas,
apertadas acima dos
tornozelos por meio de
botões; vestimenta típica
do gaúcho campeiro.
Pelego: Pele de carneiro
com a lã.
Abancar: tomar assento à
banca
ou à mesa.
Marca: cada um dos
passos ou
Abaixo, apresentamos-lhe um texto de Luís Fernando Veríssimo,
escritor gaúcho, como exemplo de variação geográfica.
evoluções de uma dança.
Observe o emprego de palavras e expressões peculiares aos
falantes gaúchos nos diálogos encenados pelo analista e seu paciente.
Charlar: tagarelar, falar à
toa.
Pereba: pequena ferida,
sarna.
1.4.1.2 Variação sócio-cultural
O Analista de Bagé
Certas cidades não conseguem se livrar da reputação
injusta que, por alguma razão, possuem. Algumas das pessoas
mais sensíveis e menos grossas que eu conheço vêm de Bagé,
assim como algumas das menos afetadas são de Pelotas. Mas
não adianta.
Estas histórias do psicanalista de Bagé são
provavelmente apócrifas (como diria o próprio analista de Bagé,
história apócrifa é mentira bem educada) mas, pensando bem,
ele não poderia vir de outro lugar.
Pues, diz que o divã no consultório do analista de Bagé é
forrado com um pelego. Ele recebe os pacientes de bombacha e
pé no chão.
— Buenas. Vá entrando e se abanque, índio velho.
— O senhor quer que eu deite logo no divã?
— Bom, se o amigo quiser dançar uma marca, antes,
esteja a gosto. Mas eu prefiro ver o vivente estendido e charlando
que nem china da fronteira, pra não perder tempo nem dinheiro.
— Certo, certo. Eu...
392
Língua Portuguesa
UAB/Unimontes
— Aceita um mate?
— Um quê? Ah, não. Obrigado.
— Pos desembucha.
— Antes, eu queria saber. O senhor é freudiano?
— Sou e sustento. Mais ortodoxo que reclame de xarope.
— Certo. Bem. Acho que o meu problema é com a
minha mãe
— Outro.
— Outro?
— Complexo de Édipo. Dá mais que pereba em
moleque.
— E o senhor acha...
DICAS
— Eu acho uma pôca vergonha.
— Mas...
— Vai te metê na zona e deixa a velha em paz, tchê!
O filme “Carlota Joaquina,
Princesa do Brasil”, de
Carla Camurati, (1995)
representa uma ótima
oportunidade de se verificar
as diferenças entre o modo
de falar de portugueses e
brasileiros.
PARA REFLETIR
Usou-se (pre)conceitos
para salientar que, de
acordo com a
sociolingüística, todas as
variações se correspondem,
todas são adequadas às
mais diferentes situações
sociais de que
participamos. Seja qual for
a variante usada, ela
possibilita que os membros
de uma sociedade
estabeleçam relações
comunicativas, afetivas e
humanas.
Texto extraído do livro "O gigolô das palavras", L&PM Editores –
Porto Alegre, 1982, pág. 78
As condições sociais influenciam decisivamente o modo
de falar dos indivíduos. A idade, a experiência de vida do falante, seu grau
de maturidade condicionam sua atuação lingüística.
A variação sócio-cultural corresponde, principalmente, a
diferenças que se percebem na fonologia (“muié” por “mulher”,
“lâmpida” por “lâmpada”, “frecha” por “flecha”, “isquentá” por
“esquentar”) e na morfologia (“nós vamu”, por “nós vamos, “as pessoa”
por “as pessoas”).
Exemplificando:
Nos quadrinhos, para opor, humoristicamente, “céu” e “inferno”,
o autor se vale da linguagem popular, com bastante criatividade.
As variedades faladas pelos indivíduos de classe social menos
www.portalimpacto.com.br
Figura 9: Quadrinhos
393
Pedagogia
Caderno Didático III - 1º Período
favorecida são denominadas populares, enquanto as variedades cultas
associam-se às classes de maior prestígio e servem de referência para a
norma escrita.
Existe, no Brasil, uma tendência à discriminação da variante
popular, geralmente fundamentada nos (pre)conceitos de que seus
falantes não dominam a norma padrão, usam seus próprios recursos para
se comunicarem, cometem “erros” que viciam e empobrecem a língua
Outros fatores responsáveis pelas variantes sócio-culturais são: a
idade do falante, a classe social a que pertence, a raça, a religião, a
profissão.
Variações lingüísticas referentes ao sexo também ocorrem no
Português. É mais comum às mulheres, por exemplo, o uso de diminutivos:
“comidinha”, “nenenzinho”, “belezinha” e mais freqüente que os homens
usem aumentativos: “amigão”, “Fernandão”, “partidão” (referindo-se a
uma boa partida de futebol).
Além desses exemplos, algumas palavras e expressões de nossa
língua se destinam exclusivamente ao uso pelas mulheres (“obrigada”,
“grata”, “eu mesma”, “eu própria”) e outras, apenas ao uso do sexo
masculino (“obrigado”, “grato”, “eu mesmo”, “eu próprio”).
No Brasil, a variação sócio-cultural é bastante evidente. Quanto
mais cultura o cidadão tiver, mais bem estruturadas serão suas frases, mais
rico seu vocabulário, ao contrário do falar das pessoas com pouco ou
nenhum estudo. Um enfermeiro ou um técnico em enfermagem, por
exemplo, dominam um vocabulário específico de sua área e são capazes
de sustentar um diálogo eficiente com os demais profissionais com quem
convivem. A profissão condiciona o falante ao uso de expressões típicas de
sua área de atuação.
Profissionais da área médica, por exemplo, têm gírias específicas
com as quais interagem, mesmo à vista do paciente leigo no assunto, sem
que este compreenda de que trata.
Do vocabulário específico dos profissionais se formam as gírias,
que facilitam a comunicação entre eles e os caracterizam. As gírias ligadas
a profissões ou determinados grupos sociais (estudantes, capoeiristas,
internautas) são denominadas “jargão”.
A idade é outro fator que influencia as diferenças sócio-culturais
São alguns
exemplos de jargões
médicos “Evoluir o
paciente” (fazer anotações,
descrições no prontuário);
“CT de crânio” (tomografia
computadorizada);
“Bexigoma” (repleção ou
distensão vesical.
Gírias
populares:
Advogados usam
“peticionar”; eu, sua
professora de Português,
uso “pedir” ou “solicitar”,
porque, na minha
profissão,“ não entro com
uma ação perante o juiz.
A gíria inexiste no
dicionário)
Vários fatores como a
profissão, a idade, o sexo, a
religião, dentre outros e o
convívio no meio social
determinam as escolhas e
os hábitos lingüísticos das
pessoas.
bafafá: confusão;
patavina: nada;
araque: sem valor, mentira;
arco da velha: muito
antigo;
etc.
394
PARA REFLETIR
Você se importa com a
impressão que causa nos
outros, quando usa uma
linguagem inadequada ao
contexto?
Língua Portuguesa
DICAS
UAB/Unimontes
de adolescentes e idosos. Os jovens são, comumente, mais abertos a
inovações lingüísticas advindas do avanço tecnológico, enquanto os idosos
se mostram mais reservados a isso, são mais conservadores das estruturas
e usos já internalizados.
Para aprofundar seus
conhecimentos sobre a
variação sócio-cultural,
sugerimos que você faça a
leitura do livro: A Língua de
Eulália – novela
sociolingüística, de Marcos
Bagno, editora Contexto,
São Paulo.
Todos os fatores mencionados comprovam que o uso da língua
está subordinado ao nível social e cultural das pessoas. Nossa fala é o
produto de tudo aquilo que nos fez chegar ao que somos hoje: o convívio
com nossa família, com os amigos, os livros que lemos, os filmes a que
assistimos, a religião que praticamos, nossas crenças e valores, enfim, é
nossa experiência de vida que determina nossas escolhas e essas escolhas
nos dão identidade.
O enredo leva o leitor a um
passeio prazeroso pela
Sociolingüística – ciência
ainda nova – e lhe permite
uma compreensão mais
ampla do papel das
variantes sócio-culturais.
Incluem-se, também, no âmbito das variações lingüísticas,
aquelas denominadas históricas ou de época.
1.4.1.3 Variação histórica
São variações que ocorrem por um processo natural de
desenvolvimento e enriquecimento das línguas, ocasionado pelo avanço
social, político, tecnológico, científico e cultural das sociedades.
Assim é que algumas palavras “envelhecem”, entram em desuso,
passam a figurar apenas nos dicionários, porque aquilo que elas
designavam também deixou de ser usado ou foi substituído por algo mais
eficiente. É o caso, por exemplo, da palavra “escarradeira”. Se ela já foi
utensílio de destaque na sala de visitas das famílias patriarcais
(literalmente significando “cuspideira”, “vaso em que se escarra”), hoje
essa palavra é inteiramente desconhecida das gerações mais jovens.
Motivo? Desapareceram a casa grande e a senzala, logo, o hábito de se
cuspir em vaso também desapareceu e, com ele, a palavra que o
acompanhava.
Algumas palavras e expressões, às vezes, mudam seu significado e
outras mais antigas, ainda em uso, alteram sua grafia para
acompanharem a evolução social.
Essa mesma evolução social é responsável, em contrapartida, por
um incontável número de palavras e expressões novas que invadem nosso
cotidiano, cada vez mais repleto de tecnologias.
As palavras em desuso são chamadas “arcaísmos” e as de criação
recente são denominadas “neologismos”.
Muitos escritores brasileiros desfrutam de sua liberdade de uso da
língua para criar neologismos singulares que notabilizam seu estilo e
enriquecem nossa literatura.
Guimarães Rosa se destaca nesse trabalho. Observe um
fragmento de seu estilo literário em que ele apresenta alguns neologismos.
Os textos que analisaremos a seguir ilustram a variação histórica.
395
Pedagogia
Caderno Didático III - 1º Período
“Do demo? Não gloso. Senhor pergunte aos moradores. Em
falso receio, desfalam no nome dele – dizem só: o Que-Diga.
[...] Doideira. A fantasiação. E o respeito de dar a ele assim
esses nomes de rebuço, é que é mesmo que ele forme forma,
com as presenças.”
(Do livro “Grande Sertão: Veredas”. João Guimarães Rosa. p.
26).
Observe que as palavras “collyrio” e “Brazil” figuram nos dias atuais com a
mesma acepção, mas com grafia diferente.
À época da veiculação do texto I (em 1934), ele era conhecido
como “reclame” (vindo do francês “réclame”), termo que também
“envelheceu”.
Atualmente, esse gênero textual é conhecido como: comercial,
anúncio, propaganda (texto de propaganda).
www.farmaciaviverbememcasa.com.br
Figura 10: Redame (1934) e Embalagem atual do colírio (2008)
É importante ressaltar, ainda, que o espaço rural ou urbano é
também responsável por determinadas características da língua.
A região rural, por sua localização mais afastada dos centros
urbanos, tende a manter uma certa regularidade no uso da língua e é
menos afeita a novidades lingüísticas.
A região urbana, ao contrário, tende a ser mais flexível a essas
novidades, à criação de nomes para designarem novas técnicas,
aparelhos, remédios, doenças, veículos etc. e as incorpora com maior
facilidade.
Assim sendo, pode-se concluir que os falares urbanos são mais
dinâmicos, pois refletem a velocidade das mudanças, os apelos e as
exigências das grandes cidades.
1.4.1.4 Variações contextuais
396
Língua Portuguesa
UAB/Unimontes
Como o próprio termo indica, variações contextuais são
decorrentes do contexto, ou seja, da situação de comunicação. Elas
nascem do comportamento lingüístico do indivíduo. Ora, por experiência
pessoal, sabemos que há ambientes e situações que permitem o uso de
uma linguagem bastante informal (um diálogo afetivo com uma criança),
outros que requerem um nível mais formal de linguagem (apresentar um
tema em um congresso científico).
Um falante não utiliza a mesma variante em todas suas atividades
lingüísticas.
No ambiente familiar, por exemplo, em que as pessoas não estão
preocupadas com uma comunicação dentro da norma padrão, o falante
usará uma linguagem mais descontraída; no ambiente de trabalho,
certamente utilizará uma linguagem mais técnica, específica de sua
profissão; em algum evento social de caráter cerimonioso utilizará uma
linguagem mais formal, diferentemente do que faria se estivesse assistindo
a uma partida de futebol de seu time.
Assim, o falante pode se permitir escolher a linguagem mais
adequada à situação comunicativa e, mesmo sendo extremamente
escolarizado e culto, nada o impede de usar uma gíria num bate-papo com
amigos.
Exemplificando:
O texto em quadrinhos que apresentamos para exemplificação
encena exatamente o que se acabou de afirmar no parágrafo acima.
O quadrinista Angeli simula uma situação de poder exercida
através da linguagem. O político (detentor do poder) usa uma linguagem
formal, cerimoniosa e “postiça” para coagir o depoente (pessoa mais
simples: roupas informais; frases curtas afirmativas, denotando respeito).
O humor decorre da passagem inesperada da linguagem formal
para a informal. Quando o político se sentiu ameaçado, deixou de lado a
linguagem artificial e Fonte: In: Platão e Fiorin. Lições de texto:
passou a exercer sua leitura e redação. SP: Ática. 2004
“autoridade” com uma
linguagem infor mal e
mesmo agressiva.
Isso reforça, pois, a
idéia de que a situação ou
contexto em que se dá a
comunicação condiciona o
comportamento lingüístico
do falante.
Observe:
1 . 5 N Í V E I S
LINGUAGEM
D E
Figura 11: Texto em quadrinhos
397
Pedagogia
Caderno Didático III - 1º Período
Ate aqui, insistimos no fato de que não falamos sempre do mesmo
jeito, de que podemos nos valer de diversas variantes lingüísticas, conforme
a circunstância em que se dá a comunicação.
Dessas possibilidades de uso da língua sur gem,
conseqüentemente, diferentes tipos de linguagem, cada qual com suas
especificidades.
Essas variações de uso da língua por um mesmo falante recebem
o nome de registros ou níveis de linguagem.
Estudiosos da sociolingüística consideram que são três os níveis de
linguagem: nível culto, familiar e popular.
1.5.1 Nível culto (formal)
Correspondente à linguagem cuidada, com observância às
normas da língua padrão, utilizado por falantes altamente escolarizados –
intelectuais, diplomatas, cientistas, literatos. Empregado, principalmente,
na forma escrita e em situações de maior formalidade.
O vocabulário é amplo, apurado, preciso, as construções mais
elaboradas.
Exemplificando:
O texto a seguir é parte da resposta de um profissional a alguém
que pôs em dúvida a seriedade de seu trabalho. Apesar de ser um desabafo
– desabafos geralmente são emocionais – o articulista mantém o tom da
gravidade do assunto e usa a linguagem formal cujo vocabulário é objetivo,
amplo e as estruturas frasais mais complexas.
1.5.1.1 Nível familiar (comum)
Fala quem pode
“[...] Todo o relato descrito pela senhora reclamante
pode ser verificado diretamente e com precisão na central de
regulação. Todas as ligações telefônicas e transmissões do
Samu são gravadas: podem-se verificar os horários, que tipo de
informação o solicitante passou, se houve um segundo
telefonema, que tipo de ambulância compareceu, o momento
exato de sua chegada, o que foi falado no rádio etc.
A acusação de omissão de socorro (artigo 135 do
Código Penal, 'deixar de prestar assistência...') feita pela
reclamante é séria e deveria ser oficialmente protocolada por
ela. Apesar disso, ela se contradiz ao relatar que o paciente em
questão chegou a ser atendido. A reclamante desconhece que a
ambulância enviada ao local é aquela que estiver mais próxima
e disponível. Todas as unidades básicas (USB) dispõem de
398
Língua Portuguesa
UAB/Unimontes
desfibrilador automático, equipamento essencial ao
atendimento da parada cardiorrespiratória ocorrida nesse caso.
[...]
A 'burocracia' citada por ela é extremamente simples
(basta se identificar endereço da ocorrência, situação da vítima
e seguir orientações do médico), mas deve ser explanada com o
mínimo de clareza e educação pelo solicitante, sem agressões
verbais à equipe do Samu, o que infelizmente ocorre
freqüentemente. Desconhece que todo este sistema organizado
e hierarquizado é pioneiro no Brasil. O seu modelo e os
protocolos seguidos por ele são adaptados de países como a
França e Estados Unidos. Esta estrutura possibilita que uma sala
de emergência seja montada na Savassi ou em Ribeirão das
Neves, na rua ou em domicílio, em casa ou no 10º andar, dentro
da favela ou na estrada e dentro do carro. [...]”
(Jornal Estado de Minas, 4 de setembro/2008. P. 2
Caderno Cultura. Texto fragmentado).
ATIVIDADES
Aproveite as oportunidades
de situações de fala em seu
dia-a-dia para verificar a
riqueza de contrastes que
cada situação oferece.
Faça um registro de
palavras, ou expressões,
“estranhas” a seus ouvidos,
termos regionais, gírias,
jargões profissionais e tudo
que você julgar interessante
do ponto de vista
lingüístico.
Escreva, após, um texto
empregando essas palavras
de modo bem criativo.
Representa a linguagem que foge às formalidades e aos
requintes gramaticais. Pode servir tanto à utilização oral como à escrita.
Caracteriza-se por construções gramaticais mais simples, incluindo
frases freqüentemente curtas e coordenadas, repetições. É um registro
intermediário das categorias culta e popular. Caracteriza, geralmente,
o falante medianamente escolarizado.
Exemplificando:
Por onde passam, os brasileiros deixam marcas – para
as boas e más línguas. Na Inglaterra não deve ser
diferente. Acredito até que, logo, logo, em vez do chá
das cinco, a realeza vai é entrar no ritmo do pandeiro e
do tamborim. (Estado de Minas, 5 de setembro/2008.
P. 36 – Texto fragmentado).
1.5.1.2 Nível popular
Esse registro constitui uma variante informal de menor
prestígio, se comparado ao registro familiar. Representa um ato de fala
mais descontraído, espontâneo, concreto e subjetivo. Distancia-se das
normas gramaticais, o vocabulário é restrito, aparecem redundâncias e
gírias.
Caracteriza o falante com baixo ou nenhum grau de
escolaridade.
Nessa modalidade popular, aparece também o registro vulgar
em que se empregam termos chulos e obscenos.
399
Pedagogia
Caderno Didático III - 1º Período
Exemplificando:
“Eu acho que a gente tem de colocar no poder quem ajuda
a gente. Coloco meus filhos e os vizinhos pra ajudar
também. Não tô passando fome por causa do benefício que
ele me dá”, considera ela, que também afirma nunca ter
visto rosto do ministro. (Caderno Distrito Federal, HOJE EM
DIA, p. 7, fragmento, 24 agosto 2008).
As discussões sobre as variações lingüísticas que fizemos até aqui
confirmam que diversos fatores envolvem o processo de comunicação,
condicionando as escolhas lingüísticas do falante. É essa mobilidade da
língua que permite a seu usuário realizar com eficiência seus atos de fala e
escrita.
Portanto, prezado aluno, você que inicia seus estudos das línguas e
linguagens, lembre-se de que o conhecimento das variações lingüísticas é,
também, um conhecimento cientificamente fundamentado nas relações
humanas.
Compreender, realmente, as variações lingüísticas, fato concreto
em nosso Português, possibilitará que você seja um falante mais
cuidadoso, mais humano, capaz de compreender seu semelhante e ser
compreendido, exercitando sua consciência crítica e cidadã.
Assim sendo, ao usar a língua, ajustando-a às especificidades da
situação de comunicação, você demonstrará bom-senso, maturidade
intelectual e capacidade crítica nos processos de leitura e de produção de
textos.
1.6 LINGUAGEM ORAL E LINGUAGEM ESCRITA
Nesta subunidade, vamos conversar sobre a distinção entre
linguagem oral e linguagem escrita.
Temos alguns esclarecimentos a fazer, pois, geralmente, as
pessoas não distinguem bem essas duas modalidades principais da língua
portuguesa.
Já apresentamos, no item 1.5., os níveis de linguagem e vamos
recorrer a eles, aqui, para início de conversa. As modalidades oral e escrita
do Português não apresentam as formas, os recursos expressivos ou a
gramaticalidade idênticas. Independente da utilização de um mesmo nível
de linguagem para a comunicação oral ou escrita, cada comunicação
apresentará suas especificidades, suas características peculiares.
Então, vamos lá!
Há, realmente, diferenças marcantes entre fala e escrita, pois
cada modalidade está diretamente relacionada a um contexto
sociocultural, a um propósito definido, a particularidades lingüísticas do
falante.
1.6.1 Linguagem oral
400
ATIVIDADES
Preste atenção a situações
de interlocução entre as
pessoas nos ambientes que
você freqüenta.
Você é capaz de
caracterizar um falante
desconhecido pela
linguagem que ele usa?
Habitue-se a fazer essa
análise e você verá como é
enriquecedor (e também
interessante) perceber o
outro pelo uso da língua.
Língua Portuguesa
PARA REFLETIR
Não há oposição irredutível
entre a linguagem falada e
a escrita, mas “uma
interação, que admite
graus diversos de influência
da língua falada na língua
escrita.”
(in A Língua Portuguesa e a
unidade do Brasil, de
Barbosa Lima Sobrinho,
editora José Olympio).
UAB/Unimontes
A linguagem oral é espontânea, livre e informal.
Essas características se justificam porque, na comunicação oral,
há o contato direto dos interlocutores e pode-se contar também com
recursos extralingüísticos: gestos, expressões faciais e corporais, postura
etc. Também, estando em um mesmo ambiente, os falantes podem
recorrer a objetos desse ambiente para facilitar a comunicação de suas
idéias, de informações ou emoções.
É por isso que se diz que a linguagem oral é mais criativa. Ela não
se prende inteiramente às regras gramaticais, seu vocabulário é mais
reduzido e constantemente renovado.
Exemplificando :
1.6.2 Linguagem escrita
Contraponto
Animador de auditório
Surfando em índices de aprovação sempre acima dos 70% em
Pernambuco, Lula se soltou durante a inauguração de um
campus da Universidade Federal Vale do São Francisco, ontem,
em Petrolina. O presidente criticou a “elite” que se forma “no
exterior” e vai à praia de Boa Viagem. Ao lado de uma aluna de
psicologia, perguntou:
Você tem namorado, Janaína?
Diante da negativa da moça, emendou:
ATIVIDADES
“... a língua escrita, ou
melhor, a linguagem
literária se nutre da
linguagem falada, sob
pena de se tornar língua
morta, como sucedeu com
o latim...”
(Lima Sobrinho)
O que você infere sobre a
língua falada, a partir dessa
afirmativa?
Escreva suas conclusões.
Já que você não tem namorado, eu vou lhe dar um beijo mais
carinhoso...
E, sem medo de ser feliz, tascou um beijo na bochecha da
universitária, para delírio da platéia.
FOLHA DE S. PAULO, sexta-feira, 5 de setembro de 2008. p.A4
A linguagem escrita é mais elaborada, cuidada, é presa às regras
da gramática e ao padrão considerado culto. Apresenta vocabulário
apurado e preciso.
É importante ressaltar que, na comunicação escrita, locutor e
interlocutor estão a distância, o contato ente eles é indireto. Assim, a
linguagem escrita é mais conservadora em sua constituição, é mais
refletida, exige maior esforço de elaboração por parte do falante, que deve
“cumprir”, eficientemente, suas intenções comunicativas com um
interlocutor “ausente”.
Apesar de apresentarem essas diferenciações básicas, tanto a
linguagem oral como a escrita apresenta níveis ou registros. Lembra-se de
que já estudamos os níveis ou registros de fala? Então, situações formais,
401
Pedagogia
Caderno Didático III - 1º Período
seja falando ou escrevendo, exigem maiores cuidados de pronúncia e de
escrita.
Em situações informais, a expressão lingüística se adapta também
ao grau de formalidade ou informalidade (em família, no trabalho, na
igreja, na escola) e as preocupações com a correção gramatical tornam-se
menos rigorosas.
Imagine, por exemplo, se você falaria com seus amigos durante
um churrasco na casa de um deles, do mesmo modo como falaria a
acionistas de uma empresa durante uma reunião de negócios. É claro que
não!
O mesmo ocorre com a comunicação escrita: uma mensagem
pessoal e afetiva para um amigo apresentará traços informais, subjetivos;
para o diretor de uma empresa terá, sem dúvida, uma linguagem mais
elaborada, mais neutra e objetiva.
Exemplificando:
Para que você possa analisar melhor as características entre fala
(linguagem oral) e escrita (linguagem escrita), apresentamos-lhe o
Afra Balazina
da reportagem local
O sistema de monitoramento independente do Imazon
(Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) aponta
queda na taxa de desmatamento da floresta amazônica em
2008, em comparação com o pe-ríodo anterior.
A avaliação ocorre poucos dias após o Inpe (Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais) mostrar aumento do desflorestamento
na região. .
FOLHA DE S. PAULO, sexta-feira, 5 de setembro de 2008 p.
A16
seguinte quadro comparativo:
Finalmente, é bom relembrar que só há interação quando o
falante ajusta sua linguagem ao destinatário. Nosso português é uma
língua riquíssima e oferece múltiplas possibilidades de recursos e usos.
Cabe, pois, ao falante a escolha adequada desses recursos para garantir
uma comunicação eficiente.
No entanto, mesmo que você saiba que não se pode estigmatizar
o ato de fala do indivíduo socialmente desfavorecido, nossa sociedade
valoriza o domínio da língua escrita, pois ela é fundamental para a
compreensão da informação tecnológica e científica, para a promoção do
indivíduo e para a transformação social.
402
Língua Portuguesa
UAB/Unimontes
compreensão da informação tecnológica e científica, para a
promoção do indivíduo e para a transformação social.
Quadro 1
LINGUAGEM ORAL

LINGUAGEM ESCRITA
1. SITUAÇÃO / CONTEXTO
Locutor e interlocutor
 Locutor e interlocutor a
frente a frente
distância
ISSO POSSIBILITA :



ISSO IMPOSSIBILITA :
perceber de imediato as
reações do interlocutor
redirecionar a mensagem
a partir das reações do
interlocutor
reformulação simultânea
da mensagem, tanto pelo
locutor como pelo
interlocutor.



perceber de imediato as
reações do leitor
redirecionar a mensagem
a partir das reações do
leitor
reformulação da
mensagem, pois sua
produção foi anterior
2. CARACTERÍSTICAS
 Vocabulário espontâneo, res -  Vocabulário formal, amplo,
trito, repetições de palavras.
mais apurado.
 Emprego de gírias,
neologismos.

Emprego de termos técnicos
 Liberdade na colocação dos
pronomes (Me empreste o
lápis).

Rigor na colocação
pronominal (Empreste -me o
lápis)
 Frases incompletas, com
implícitos e subentendidos.

Frases completas, com
clareza das idéias.
 Emprego de formas contraídas
(cê, pra) e omissão de palavras
no interior das frases.

Frases construídas com rigor
gramatical, sem omissões e
ambigüidades.

Uso de orações coordenadas
e subordinadas, mais elabo radas.

Emprego maior de pronomes
relativos.

Uso de frases criativas e
expressivas.

Neutralidade, objetividade.
 Maior freqüência de ora ções
curtas e orações coordena-das.
 Ausência de pronomes relati vos (onde, cujo).
 Presença de clichês, cha -vões,
frases feitas, provérbios.
 Subjetividade, emotividade
(interjeições, diminutivos,
aumentativos).
403
Pedagogia
Caderno Didático III - 1º Período
REFERÊNCIAS
ANTUNES, I. Aula de português: encontros e interação. São Paulo:
Parábola, 2004.
BENTES, A. C. & MUSSALIN, Fernanda.(orgs). Introdução à lingüística:
domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez, 2001.
FIORIN, José Luís. Teorias do discurso e ensino da leitura e da redação.
In: Gragoatá. n.1 (2. sem. 1996). Niterói: EDUFF, 1996.
PETTER, Margarida. Linguagem, língua e lingüística. In: FIORIN, José
Luiz (org). Introdução à lingüística. São Paulo: Contexto, 2005.
404
2
Língua Portuguesa
UAB/Unimontes
UNIDADE 2
LEITURA
APRESENTAÇÃO
Como já dizia Rubem Alves,
“Pelo poder da palavra ela pode agora navegar nas nuvens,
visitar as estrelas, entrar no corpo de animais, fluir com a
seiva das plantas, investigar a imaginação da matéria,
mergulhar no fundo de rios e de mares, andar por mundos
que há muito deixaram de existir, assentar-se dentro de
pirâmides e de catedrais góticas, ouvir corais gregorianos,
ver os homens trabalhando e amando, ler as canções que
escreveram, aprender das loucuras do poder, passear pelos
espaços de literatura, da arte, da filosofia, dos números,
lugares onde seu corpo nunca poderia ir sozinho... Corpo
espelho do universo! Tudo cabe dentro dele!”
Esperamos que nesta unidade, você possa compreender a
importância da leitura em nossa vida cotidiana e apreenda as maravilhas
de se inserir neste mundo tão rico. Avante!!!
Nas subunidades:
2.2 Caracterização
2.3 Processos de leitura
2.4 Fatores intervenientes no “ato de ler”,
procuramos mostrar que LER significa DECODIFICAR,
INTERPRETAR, CONHECER e, para que o processo de leitura se dê
satisfatoriamente, é necessário que o leitor interaja com o texto, buscando
retirar informações que lhe possibilitem construir seu significado através
das estratégias de leitura.
Iniciemos então essa nova jornada. Boa leitura!
LEITURA
Como já dizia Rubem Alves,
“Pelo poder da palavra ela pode agora navegar nas nuvens,
visitar as estrelas, entrar no corpo de animais, fluir com a
seiva das plantas, investigar a imaginação da matéria,
mergulhar no fundo de rios e de mares, andar por mundos
que há muito deixaram de existir, assentar-se dentro de
pirâmides e de catedrais góticas, ouvir corais gregorianos,
ver os homens trabalhando e amando, ler as canções que
escreveram, aprender das loucuras do poder, passear pelos
espaços de literatura, da arte, da filosofia, dos números,
lugares onde seu corpo nunca poderia ir sozinho... Corpo
espelho do universo! Tudo cabe dentro dele!”
Esperamos que, nesta unidade, você possa compreender a
importância da leitura em nossa vida cotidiana e apreenda as maravilhas
de se inserir neste mundo tão rico. Avante!!!
405
Pedagogia
Caderno Didático III - 1º Período
2.1 CARACTERIZAÇÃO
O ato de ler caracteriza-se pelo processo de construir significados
a partir de um texto. Esse processo se torna possível por causa da interação
entre os elementos textuais e os conhecimentos do leitor. Quanto maior
essa interação, maiores as possibilidades de sucesso na leitura.
Um texto é uma unidade básica de comunicação que possui vários
sentidos (é polissêmico), permitindo assim que cada leitor possa ter uma
interpretação de acordo com o seu conhecimento de mundo. É claro que
essa interpretação será limitada pelos aspectos formais que o compõem,
como o vocabulário, a combinação das palavras na frase e a escolha dos
tempos verbais que não permitirão que o leitor fuja dos limites do texto.
Não é qualquer sentido que pode ser dado a qualquer texto. Há um limite a
ser respeitado.
2.2 PROCESSOS DE LEITURA
Pretendemos nesta subunidade ressaltar a importância do
conhecimento prévio para o processo de leitura. Acreditamos que o
presente estudo possa contribuir para a prática educativa à medida que
visa propor questões para um melhor aperfeiçoamento da habilidade de
leitura em esferas formativas.
Todo e qualquer processo de aprendizagem envolve troca de
conhecimentos e, portanto, interação. Ocorre que ter ou não ter
conhecimento prévio.
A palavra “ler” advém do Latim “Legere” e significa ler, colher. Ler
significa colher conhecimentos, sendo que quanto mais eficiente for a
leitura do indivíduo, maior será sua capacidade de adquirir conhecimento
sobre o meio que o cerca e relacionar-se com esse meio de maneira
significativa.
Nesse sentido, o ato de ler não pode ser entendido como a ação de
juntar palavras, como um processo mecânico de decodificação. A prática
de leitura vai, além disso, trata-se da associação de idéias, da produção de
sentidos, o que, por sua vez, requer, impreterivelmente, uma dinâmica
interacional para que de fato ela ocorra.
Conforme Kleiman (2004), o conhecimento prévio é elemento
indispensável para a compreensão de todo e qualquer texto. A referida
autora menciona que tal concepção abarca três tipos de conhecimento: o
conhecimento de mundo, o conhecimento lingüístico e o conhecimento
textual.
Prossigamos, então, expondo os conceitos desses conhecimentos
e estabelecendo uma relação de cada um deles com a leitura.
O conhecimento lingüístico consiste em um aprendizado natural
da fala de uma determinada língua, como, por exemplo, a Língua
406
Língua Portuguesa
UAB/Unimontes
Portuguesa. Diz respeito ao ato de pronunciar, conhecer o vocabulário, as
regras da língua e o uso desta língua; desempenha papel no
processamento de construção de significados para o texto.
Exemplificando:
Observando o diálogo entre duas pessoas:
Bom-dia! O Senhor poderia me informar as horas por
obséquio?
O quê? O Senhor por acaso quer levar uma surra? Está
me estranhando?
No exemplo, percebemos que não houve compreensão devido ao
fato de o falante da língua não dominar o vocabulário necessário para o
completo entendimento.
Denomina-se conhecimento textual para um conjunto de noções
e conceitos sobre o texto, importantes para a sua compreensão, ou seja,
trata-se do entendimento da estrutura composicional do texto, do seu
funcionamento. Quanto mais conhecimento se tem sobre o gênero
colocado em foco maior a probabilidade de entendê-lo.
Exemplificando
Ao nos depararmos com um texto poético, por exemplo, já temos
uma postura diferente em relação à sua leitura e interpretação do que
quando lemos um texto científico.
O conhecimento de mundo também pode ser denominado
conhecimento enciclopédico, podendo ser adquirido formalmente ou
informalmente. Abrange desde o domínio mais técnico até conhecimentos
do cotidiano. Desse modo, situações do dia-a-dia, a todo momento, nos
acrescentam informações que poderão nos auxiliar no processamento da
leitura.
Os tipos de conhecimentos suscitados constituem o conhecimento
prévio sem o qual é impossível compreender textos e, conseqüentemente,
atuar como um sujeito letrado nas esferas sociais. O conhecimento prévio
pode ser entendido como modelos cognitivos e sociais do indivíduo
adquiridos nas interações sociais, sendo que tal conhecimento é ativado e
atualizado pela atividade comunicativa, abarcando, obviamente, as
práticas de leitura e escrita.
Para Smith (1989), conhecimento prévio também pode ser
entendido como informação não visual. O autor defende que ele se
encontra armazenado na mente humana, fazendo com que possamos
captar o sentido das informações visuais quando lemos. Assim, todos os
seres necessitam desse conhecimento para assimilar aquilo que lêem, para
inferirem as informações suscitadas pelo texto, enfim, para produzir
sentidos nas interações sociais.
407
Pedagogia
Caderno Didático III - 1º Período
Ao ler um texto, é necessário, portanto, inferir diversas
informações que não foram mencionadas explicitamente, mas que são
relevantes para o entendimento da mensagem.
Exemplificando:
Considere a seguinte frase: Lula foi à Espanha a negócios. Não há
necessidade de dizer de que Lula se trata, pois o leitor, provavelmente,
inferirá Lula = Presidente da República. Assim, devido a inferência o
escritor não tem que elucidar toda a informação no texto, ela favorece um
processo de economia lingüística através do qual a leitura se opera
também nas entrelinhas.
Outra operação importante para a prática de leitura é a previsão.
Trata-se das expectativas que o leitor traça ao se deparar com um texto. Na
leitura, o leitor está constantemente fazendo previsões sobre o que é
provável que apareça em um dado texto.
Como exemplo, se encontrarmos em uma propaganda a seguinte
seqüência: Marqux ux x nx sxrte e concoxxa ao Oxrocap. O leitor terá
condições de prever “Marque um x na sorte e concorra ao Ourocap”.
Baseado em nossa experiência lingüística, é possível prever a seqüência
lexical sugerida.
Tanto a operação de inferência quanto a de previsão facilitam a
compreensão textual. E tanto a inferência quanto a previsão se processam
em razão do conhecimento prévio. Desse modo, para que se forme um
leitor eficiente necessário se faz a aquisição, apropriação de
conhecimentos diversos engendrados nas esferas sociais.
Mas não se pode esquecer que a habilidade da leitura só se
adquire com a prática. Isto é: só se aprende a ler, lendo!
Outra premissa que deve ser considerada, recorrendo aos dizeres
do Ziraldo “Ler deve ser vendido como uma coisa prazerosa, em uma
finalidade específica, ler é bom como respirar, como ouvir uma canção,
como beijar a mulher amada”. (Estado de Minas – sexta-feira, 12 de
setembro de 2003).
Walty (1995, p. 25) reflete o processo de leitura a partir dos
significados em torno da palavra ler, ou seja, ler significa contar, enumerar
as letras; em seguida, significa colher e, por fim, roubar. A autora relaciona
tais significados com os níveis de leitura. O primeiro nível diz respeito à
decodificação, correspondente à alfabetização. O segundo nível diz
respeito a retirar informações do texto, à tradicional interpretação de
textos. Nesse caso, o leitor se prestaria a perceber o sentido do texto que já
estaria estabelecido. O último significado consiste em apropriar-se das
idéias do autor, ou seja, construir conhecimento à revelia do produtor do
texto. O último significado está em consonância com a perspectiva do
letramento, haja vista que o leitor se torna um co-autor corroborando para
a produção de sentido. O leitor, visto sob a última perspectiva, tem
autonomia para (re)criar significados a partir dos índices deixados na
tessitura textual.
408
B GC
GLOSSÁRIO
A
E
F
Inferência: ato ou efeito de
inferir, de deduzir ou
concluir algo pelo
raciocínio.
Língua Portuguesa
UAB/Unimontes
Ainda, consideramos que todo texto, entendido enquanto unidade
básica de comunicação, é polissêmico porque é atravessado por várias
vozes e vários sentidos. Isto quer dizer que um mesmo texto permite mais de
uma interpretação porque neste ato de ler estão envolvidos a
decodificação de símbolos gráficos e o conhecimento de mundo de cada
leitor. Cabe ressaltar aqui que a leitura não pode ser qualquer uma porque
o sistema lingüístico, ou seja, o léxico, a relação morfológica e sintática,
regula os sentidos, não permitindo que sejam quaisquer sentidos. Sendo
assim, lemos o tempo todo, de modo que o sujeito se vê sempre obrigado a
interpretar.
De acordo com o Dicionário Aurélio, ler é: 1- Passar a vista pelo
escrito ou impresso para inteirar-se do seu conteúdo. 2. Pronunciar as
palavras de um escrito ou impresso. 3. Estudar.
Como podemos observar, ler é armazenar informações,
desenvolver raciocínio, comunicar melhor, escrever melhor, compreender o
mundo, interpretar, analisar os fatos de modo crítico, etc.
Logo, a leitura é um processo através do qual se pode observar,
perceber, descobrir e refletir sobre o mundo, interagindo com o seu
semelhante através do uso funcional da linguagem. Aprender a ler é um
processo social de construção de significados. Processo esse que
possibilita:
B GC
GLOSSÁRIO
E
A
F
Prólogo: comentário feito
pelo autor a respeito do
tema discutido no livro e de
sua experiência pessoal.
Ÿ acesso
à produção cultural da humanidade e maior
compreensão do mundo;
Ÿ interação com pessoas, acontecimentos e idéias;
Ÿ desenvolvimento
do raciocínio lógico, da competência
comunicativa e da capacidade de analisar criticamente e resolver
problemas do dia a dia; e
Ÿ plena participação no mundo das letras e armazenamento de
informações.
Prefácio: escrito por
terceiros ou pelo próprio
autor, referindo-se ao tema
abordado no livro e
também sobre o autor do
livro.
Introdução: escrita pelo
autor, refere-se ao livro e
não ao tema como no
prólogo.
O ato da leitura exige do leitor conhecimento de mundo,
conhecimento textual e conhecimento lingüístico, assim, à medida que
captamos as imagens (palavras, números, sinais gráficos, etc.),
encaminhamos essas informações para o nosso cérebro que vai percebêlas, interpretá-las e organizá-las de acordo com a bagagem cultural
(conhecimentos de mundo) que possuímos. O conteúdo lido será
assimilado e as informações lidas serão relacionadas ao nosso cotidiano,
passando a fazer parte do nosso arquivo mental.
Qual a importância de ler? Ler para quê?
A interação estabelecida entre o leitor e o texto escrito é diferente
da interação que se estabelece, entre duas pessoas quando conversam
face a face, porque na conversa o falante não só pode utilizar palavras,
como também gestos, repetições, expressões faciais e corporais,
entonação da voz, etc. Já na leitura, o leitor está diante de palavras, escritas
por um autor que não está presente para complementar às informações.
Assim, é natural que o leitor forneça ao texto informações enquanto lê,
preenchendo os espaços vazios.
409
Pedagogia
Caderno Didático III - 1º Período
Quando alguém lê algo, entende mensagens diferentes porque,
para entender, o leitor utiliza-se de suas capacidades já internalizadas e o
conhecimento de mundo de cada um são diferentes.
O ato de ler ativa uma série de ações na mente do leitor, por meio
das quais ele extrai informações. Essas ações são denominadas estratégias
de leitura e são utilizadas pelo leitor sem que ele se dê conta. Há uma
relação recíproca entre usar uma estratégia de leitura e interpretar o texto,
já que se emprega uma estratégia porque se está entendendo o texto e, em
contrapartida, entende-se o texto porque se está aplicando a estratégia.
A leitura é uma capacidade cerebral complexa que vai exigir do
leitor mais do que uma simples decodificação dos sinais gráficos (escrita),
exigirá um bom conhecimento da língua. Além de ler o texto propriamente
dito, o leitor deverá estar atento às informações pré-textuais como o título
do livro, o nome do autor, as informações bibliográficas, o índice e a
introdução para ter uma primeira impressão e obter informações que
possibilitarão uma leitura mais eficiente.
Além dessas informações, o ato de ler exige a observação de
outros fatores que veremos abaixo.
2.3 FATORES INTERVENIENTES NO “ATO DE LER”
Existem alguns fatores que interferem diretamente no ato de ler e
que são determinantes do sucesso na apreensão do sentido do texto. Para
que se obtenha sucesso no processamento da leitura, é preciso que o leitor
tenha atitude, esteja em um ambiente propício e tenha a seu alcance os
objetos necessários.
A atitude requer que o leitor tenha pensamentos positivos sobre o
que vai ler, também requer que o leitor mantenha-se descansado, pois o
cansaço não permite que as informações sejam armazenadas na mente. O
ambiente deve ser adequado para que a leitura seja agradável, deve ser
silencioso, confortável e bem iluminado. O leitor deve atentar também
para a posição do corpo que deve ser adequada, deve escolher uma
cadeira confortável e retirar estímulos que dispersem a sua atenção.
Objetos necessários tais como lápis, dicionários, marca-textos, etc., devem
ser colocados ao alcance das mãos para evitar a necessidade de se levantar
e, assim, se dispersar.
O recurso de sublinhar o texto durante a primeira leitura deve ser
evitado, pois os aspectos sublinhados podem parecer mais importantes do
que o texto como um todo, portanto, é bom evitar o uso destes objetos para
que se realize uma leitura eficiente, devendo o leitor fazer chaves ou setas,
quando necessário, fragmentando menos a leitura.
410
PARA REFLETIR
Como é o seu
comportamento enquanto
leitor? Você volta no texto,
freqüentemente, para
compreender o conteúdo
lido? Lê palavra por
palavra? Lê em voz alta?
Presta atenção em tudo ao
seu redor, menos no texto?
Movimenta a cabeça?
Acompanha o texto lido
com o dedo?
Língua Portuguesa
UAB/Unimontes
2.3.1 Estratégias para leitura eficiente
ATIVIDADES
Ÿ apreensão do significado enquanto lê;
O texto abaixo está na
modalidade oral.
Transcreva-o para a
modalidade escrita da
língua, fazendo as
adequações necessárias.
CAUSO MINEIRO
Ÿ leitura em grandes partes;
Ÿ usos de fontes de informações variadas tais como:
ilustrações, sinais gráficos, etc.;
Ÿ inferências a partir do título, do subtítulo, do tipo ou gênero
textual;
Ÿ inferência do sentido das palavras desconhecidas a partir do
contexto, do seu conhecimento de mundo; e
Ÿ uso do dicionário como último recurso, porque a interrupção
da leitura prejudica a interpretação, a correlação de sentidos.
Sapassado era
sessetembro, taveu na
cuzinha tomanuma
pincumel e cuzinhanum
kidicarne cumastumate pra
fazê uma macarronada
cum galinhassada. Quascaí
de susto quanduvi um barui
vinde denduforno
paricenum tidiguerra. A
receita mandopô
midipipoca denda galinha
prassá. O forno isquentô, o
miistorô e o fiofó da
galinhispludiu! Nossinhora!
Fiquei branco quineim um
lidileite. Foi um trem
doidimais! Quascaí
dendapia! Fiquei sensabê
doncovim, noncotô,
proncovô... Ópcevê
quilocura! Grazadeus
ninguém simaxucô!
Argumentos para respostas positivas às questões de reflexão. Os
movimentos com a cabeça, o dedo, a vocalização durante a leitura são
conhecidos como vícios de linguagem e prejudicam a leitura porque geram
cansaço e isso o leitor não percebe de imediato. Ainda, pessoas que têm
dificuldade de reter informação, memorizar o assunto, que não
compreendem algumas palavras, geralmente, voltam muito na leitura e
isso geralmente acentua a falta de informações retidas, porque incrementa
a falta de memória e não explica o desconhecido que, muitas vezes, o
próprio texto explica com o avanço das informações. Então, procure ler o
conjunto de informações e não palavra por palavra.
REFERÊNCIAS
KLEIMAN, Ângela. Leitura: ensino e pesquisa. 2 a ed., São Paulo: Pontes,
1996.
________________. Oficina de leitura: teoria e prática. 5.ed. Campinas:
Pontes, 1997.
________________. Texto & leitor: aspectos cognitivos da leitura. 7.ed.
Campinas: Pontes, 2000.
(In: CRUZ, Robson Luiz
Trindade; HELLOU,
Geórgia. Língua
Portuguesa. São Paulo:
Núcleo, 2005)
411
3
Pedagogia
Caderno Didático III - 1º Período
UNIDADE 3
TEXTO E TEXTUALIDADE
APRESENTAÇÃO
Nesta terceira unidade apresentamos a você as noções de texto e
de textualidade.
Nas subunidades:
3.1 O que é texto.
3.2 Fatores de textualidade.
3.3 Produção de texto.
3.3.1 Tipologia e Gêneros Textuais,
apresentamos definições de grande relevância para o seu
conhecimento sobre texto, sobre os fatores que fazem com que um texto
seja realmente um texto, sobre a produção de textos e ainda apresentamos
um quadro comparativo com a distinção entre tipos e gêneros textuais.
TEXTO E TEXTUALIDADE
Agora que vocês já entenderam algumas questões sobre leitura
podemos conversar sobre a produção de texto. Fávero e Koch (2000: 25)
salientam a existência de duas acepções segundo as quais podemos
compreender o termo "texto". A primeira acepção.
Texto, em sentido amplo, designando toda e qualquer
manifestação da capacidade textual do ser humano (uma música, um
filme, uma escultura, um poema, etc.)
E a segunda acepção:
[..] em se tratando de linguagem verbal, temos o discurso,
atividade comunicativa de um sujeito, numa situação de comunicação
dada, englobando o conjunto de enunciados produzidos pelo locutor (ou
pelo locutor e interlocutor, no caso dos diálogos) e o evento de sua
enunciação.
É necessário considerar que essas duas acepções de texto nos
permite compreender textos em sentido amplo, como esculturas, pinturas,
músicas, desenhos e, ainda, textos em sentido estrito, textos escritos e
falados.
A partir da segunda acepção apresentada, as autoras (Fávero e
Koch) pontuam que "O discurso é manifestado, lingüisticamente, por meio
de textos (em sentido estrito). O texto consiste, então em qualquer
passagem, falada ou escrita que forma um todo significativo,
independente de sua extensão."
Então, vocês podem dizer que um texto não se define pela
quantidade de palavras empreendidas, e sim por sua textualidade, isto é, a
possibilidade de que seja entendido como "unidade significativa global".
412
Língua Portuguesa
UAB/Unimontes
Nesse sentido, uma lista de itens a serem comprados no supermercado
pode ser considerada um texto, o que já não ocorre com uma "lista de
palavras iniciadas com ch", visto que essa não advém de uma real situação
comunicativa.
A produção de um bom texto exige atenção na escolha das
palavras. É muito importante que o leitor tenha claro em mente o que se
quer escrever, no entanto, isso só é possível se o leitor se posiciona como
um leitor crítico para analisar sua obra minuciosamente. Para que o texto
seja bem redigido e transmita claramente as idéias contidas nele, é preciso
que se observem aspectos como:
Ÿ Clareza: o texto deve ser redigido em uma linguagem que
possibilite ao leitor a compreensão daquilo que está sendo exposto, assim,
deve-se utilizar uma linguagem impessoal, culta padrão.
Ÿ Concisão: o texto deve transmitir de forma objetiva, direta a
sua idéia, sem rodeios. Deve ser escrito sem a utilização de palavras
desnecessárias.
Ÿ Correção: o autor deve estar atento à norma culta da língua,
evitando desvios de linguagem em relação à grafia, utilizando apenas
palavras conhecidas.
Ÿ Elegância: o texto é escrito seguindo as qualidades acima
descritas, tornando-se mais agradável aos olhos do leitor. Quanto mais
limpo (sem rasuras), legível e claro estiver o texto, mais fácil será a sua
compreensão.
A língua, entendida como o conjunto de palavras e expressões
usadas por um povo ou nação, mantém-se viva através de seu uso pelas
pessoas envolvidas em processos interacionais. O uso, por sua vez, não se
dá através de palavras ou expressões empregadas isoladamente. Ele se
concretiza na PRODUÇÃO DE TEXTOS, na forma de textos orais ou
escritos. Apesar de não ser tarefa muito complexa para o usuário da Língua
distinguir entre um texto coerente e um conjunto de palavras ou expressões
sem sentido, conceituar, definir precisamente os limites entre "texto" e "nãotexto" não é uma ação tão simples.
3.1 O QUE É TEXTO?
PARA REFLETIR
Para aprofundar sua
compreensão sobre
Produção Textual,
perguntamos: o que é um
texto? Quais as
características que definem
um texto? Por que o ensino
da Língua Portuguesa deve
se dar através de textos?
No campo da lingüística, muito se tem discutido sobre o que se
define como texto; essa discussão traz implicações para diversas áreas
relacionadas à língua(gem), pois é através dela que nós, sujeitos sociais,
nos relacionam e, por conseguinte, produzimos sentidos porque nós
representamos o mundo através da linguagem.
A partir dessa compreensão, podemos dizer que o texto é uma
UNIDADE BÁSICA E SIGNIFICATIVA da atividade de linguagem, visto
que o TEXTO é o elemento central da INTERAÇÃO SOCIAL, da
COMUNICAÇÃO. E como o nosso principal objetivo, quer lendo ou
escrevendo, é interagirmos socialmente, somente o texto nos servirá a esse
413
Pedagogia
Caderno Didático III - 1º Período
propósito. Expressões isoladas, sons no vazio, exercícios repetitivos de
decodificação não cooperarão para o desenvolvimento da atividade de
língua(gem) demandada pelas diversas práticas sociais das quais os
sujeitos participam.
Segundo Costa Val (1991), o texto deve ser entendido "como
ocorrência lingüística falada ou escrita, de qualquer extensão, dotada de
unidade sócio-comunicativa, semântica e formal". Confrontando essa
definição com a apresentada por Koch e Fávero (2000), há um aspecto
comum que se destaca: não é a extensão que caracteriza um texto. Nesse
sentido, as palavras “Cuidado!” ou “Liberdade!” podem figurar como
textos dependendo do contexto no qual elas são usadas. No entanto,
determinadas redações escolares ou certos “textos” de cartilhas podem se
apresentar tão-somente como um apanhado de enunciados sem unidade
semântica.
Ainda, vocês precisam saber que o texto reflete e refrata marcas
peculiares à situação enunciativa na qual ele foi engendrado. Em outros
termos, o texto expressa traços do sujeito que enuncia, representações
sociais reiteradas nas esferas sociais, aspectos sócio-históricos que
atravessam a prática comunicativa, implicações temporais e espaciais do
contexto no qual se efetivou a interação verbal. E você pode concluir, então,
que o texto materializa as condições de produção e os propósitos
comunicativos traçados para a ação enunciativa.
Por fim, para que um texto de fato se configure como tal deve
possuir determinados traços elementares como, por exemplo, a intenção
comunicativa, a unidade formal e de sentido, etc. A esse conjunto de traços
que fazem com que um texto seja um texto, e não apenas uma seqüência
de frases, dá-se o nome de textualidade que discutiremos a seguir no item
1.2 Fatores de textualidade.
Ao refletir sobre produção textual, podemos nos perguntar quais
os fatores que interferem no sucesso ou não da produção textual. Podemos
responder que podem ser fatores de motivação para a escrita, problemas
dialetais, fator social, econômico, cultural, de alfabetização, intimidade
com a escrita e com a leitura etc. Ainda, observamos como a linguagem
visual é mais constante no nosso dia-a-dia e daí temos mais intimidade
com a linguagem visual do que com a escrita. Para alguns (ou muitos) de
nós, infelizmente, ver televisão e vídeo, jogar videogame, “bater papo” na
internet é mais prazeroso que ler obras literárias, revistas informativas etc.
3.2 FATORES DE TEXTUALIDADE
Após nossas discussões sobre o significado de texto e de leitura,
vamos apresentar-lhe algumas noções de “textualidade”, isto é, os
mecanismos responsáveis para que um texto faça sentido para seus
interlocutores.
Ora, só podemos considerar um texto como atividade de
comunicação, quando há sucesso na interação verbal, quando a intenção
414
PARA REFLETIR
Leia o que disse Paulo
Freire sobre o ato de ler:
“A leitura do mundo
precede a leitura da
palavra e a leitura desta
implica a continuidade da
leitura daquela”
(In: O que é leitura. Maria
Helena Martins. Brasiliense
– p. 9-10).
A afirmativa de Paulo Freire
nos ensina que precisamos
de conhecimento prévio
para o entendimento de
um texto e esse
entendimento sustenta e
reforça a aquisição de
novos conhecimentos.
E você? Concorda que
dependemos de nossa
preparação, de nosso
repertório cultural e do
conhecimento de mundo
para interagir com os
diversos textos que circulam
socialmente?
Língua Portuguesa
UAB/Unimontes
comunicativa do locutor foi plenamente compreendida pelo interlocutor.
Sendo assim, a textualidade de uma produção lingüística depende do
recebedor (seus conhecimentos prévios, sua capacidade de pressuposição
e inferência etc.) e do contexto em que se dá essa produção lingüística (o
que pode fazer sentido em uma situação pode não fazê-lo em outra e viceversa).
Observe a seguinte tira humorística:
Fonte: Língua e Literatura. Volume Único. ABAURRE, Maria Luiza et alli. Moderna. p. 73
Figura 12: Tira humorística
Para provocar humor, o locutor conta com o conhecimento prévio
do interlocutor. Veja que os quadrinhos “brincam” com uma idéia que não
aparece explicitamente neles, que não está registrada pelas palavras: a
idéia de que alguém morreu. Se houve interação entre as amigas é porque
elas possuíam conhecimento anterior sobre a pessoa falecida.
O que se pode concluir da análise desses quadrinhos?
A resposta é simples: em sua vida de leitor/ouvinte, você
encontrará textos em que nem tudo que seja importante para a
compreensão das idéias estará registrado, embora o locutor conte com seu
entendimento (conhecimento prévio) para dar sentido ao texto.
Por isso, é necessário que o leitor/ouvinte tenha determinadas
habilidades para entender aquilo que lê ou ouve. Essas habilidades, por
sua vez, abrangem alguns fatores que são responsáveis pela
“textualidade”, isto é, características que fazem um texto ter sentido para
seus interlocutores.
Essas características são: coerência, coesão, intencionalidade,
aceitabilidade, situacionalidade, informatividade e intertextualidade.
415
Pedagogia
Caderno Didático III - 1º Período
Nesta unidade, desenvolveremos apenas as noções básicas dos
fatores de textualidade, para que você se habitue, aos poucos, com o
vocabulário específico e perceba o texto como um conjunto formado pela
combinação harmoniosa desses fatores que lhe dão sentido.
COERÊNCIA: refere-se ao sentido que um texto deve apresentar,
isto é, as partes que o compõem devem-se ligar por uma continuidade de
sentido, de modo que não apresente contradições de idéias, que não seja
ilógico.
COESÃO: é o mecanismo lingüístico responsável pela unidade
formal do texto. É a coesão que estabelece a relação lógica entre uma
palavra e outra, uma frase e outra e entre os parágrafos de um texto.
INTENCIONALIDADE: é uma característica que mostra a atitude
do locutor, sua intenção comunicativa, seu objetivo ao produzir o texto.
ACEITABILIDADE: refere-se à atitude do interlocutor, suas
expectativas em relação ao texto.
SITUACIONALIDADE: é o fator responsável pela adequação do
texto a um determinado ambiente (contexto) ou situação em que ocorre a
comunicação.
INFORMATIVIDADE: liga-se ao nível de informação (previsível ou
imprevisível) contida no texto e sua capacidade ou não de satisfazer o
interlocutor.
INTERTEXTUALIDADE: ocorre quando o autor de um texto
recorre a outros textos, de forma implícita ou explícita, repete expressões,
enunciados ou trechos de outros autores. Para identificar essas “vozes”, o
autor conta com o conhecimento prévio de seu interlocutor.
A apresentação desses fatores de textualidade já deve ter dado ao
você a idéia de como eles são importantes para a composição de um texto.
E, uma vez que um texto bem estruturado está sempre
entrelaçado por esses fatores compete, agora, a você utilizar esse
conhecimento para produzir textos adequados ao interlocutor e ao
contexto.
3.3 PRODUÇÃO DE TEXTO
A humanidade não pára de evoluir. E com sua evolução, evolui
também a linguagem (tanto oral quanto a escrita) utilizada por ela.
Essa evolução é retratada pelos gêneros textuais que são usados
nos mais variados contextos lingüísticos. É muito grande o número de
gêneros textuais que existem em nossa sociedade e esse número vem
aumentando cada dia mais devido ao avanço tecnológico, às necessidades
do homem e às atividades sócio-culturais que possibilitam não só o
surgimento de novos gêneros, mas também a adaptação de alguns já
existentes e a evolução de muitos outros.
Há muito tempo se discute a diferença entre "tipos de textos" e
"gêneros textuais". Alguns teóricos classificam a dissertação, a narração e a
416
Língua Portuguesa
UAB/Unimontes
descrição como "modos de organização textual", diferenciando-os das
nomenclaturas específicas que são consideradas "gêneros textuais".
É importante que o professor conheça a diferença entre Gênero
Textual e Tipologia Textual para que possa direcionar o seu trabalho no
ensino de leitura, compreensão e produção de textos. É possível falarmos
em gêneros variados que vão do bilhete, passando pelo cartão-postal, email, charge, cartaz, anedota, poema, manual de instruções, ofício,
crônica, receita culinária, fábula e pelo telegrama até chegar ao texto
científico, ao conto, etc. Conhecer os gêneros textuais torna mais fácil a
leitura e o desenvolvimento da competência comunicativa do falante, uma
vez que a linguagem é organizada como ação humana a partir das coisas
do mundo.
3.3.1 Tipologia e gêneros textuais
TIPO DE TEXTO é uma forma de construção escrita, definida
pelas características lingüísticas que o compõem. Podemos afirmar que
geralmente os tipos de textos abrangem um número muito pequeno de
categorias conhecidas como: narração, descrição, argumentação,
injunção e exposição.
Já o GÊNERO TEXTUAL é a materialização dos tipos de textos
que encontramos em nossa sociedade. É toda forma de texto que circula
na sociedade e que tem uma função específica, se dirige a um público
específico e possui características sociocomunicativas próprias. Com o
objetivo de facilitar a compreensão de diversas teorias sobre esse assunto,
criamos para você, tomando como base os estudos de Luiz Antônio
Marcuschi (2002), o quadro ilustrativo a seguir:
Quadro 2
GÊNEROS TEXTUAIS
São os textos que encontramos no
nosso dia -a-dia, que apr esentam
características sócio -comunicativas
definidas pelo estilo do autor, pela
função a ser desempenhada pelo
próprio texto, pela composição, pelo
conteúdo e pelo c anal através do
qual é veiculado.
Bilhete
Carta
Carta eletrônica (e-mail)
Bula
Receita médica
Receita culinária
Telefonema
Telegrama
Conto
Novela
História em quadrinhos
Manual de instrução
Folha de cheque, etc.
TIPOS DE TEXTOS
Constituem uma seqüência d efinida
pela forma como são escritos.
Observa-se na sua produção
aspectos sintáticos (organização das
palavras na frase), lexicais (palavras
escolhidas pelo autor), semânticos
(relações lógicas,
sentido) e
morfológicos (tempos verbais,
conjunções, etc.)
Narração
Descrição
Injunção
Exposição
Dissertação
417
Pedagogia
Caderno Didático III - 1º Período
É preciso tomar muito cuidado também para não se confundir
texto e discurso. O TEXTO é uma unidade sociocomunicativa concreta que
se materializa em algum gênero textual e o DISCURSO é a ideologia que se
manifesta através de algum texto ou prática comunicativa. Bronckart
(1999, p. 75) chama de texto“ [...] toda a unidade de produção de
linguagem situada, acabada e auto-suficiente (do ponto de vista da ação
ou da comunicação)”. Com relação ao texto empírico o autor diz:
[...] todo o texto empírico é o produto de uma ação de
linguagem, é sua contraparte, seu correspondente verbal
ou semiótico; todo texto empírico é realizado por meio de
empréstimo de um gênero e, portanto, sempre pertence a
um gênero; entretanto todo texto empírico também
procede de uma adaptação do gênero-modelo aos valores
atribuídos pelo agente à sua situação de ação e, daí, além
de apresentar as características comuns ao gênero,
também apresenta propriedades singulares, que definem
seu estilo particular.
Por isso, a produção de cada novo texto empírico contribui
para a transformação histórica permanente das
representações sociais, referentes não só aos gêneros de
textos (intertextualidade), mas também à língua e às
relações de pertinência entre textos e situações de ação.”
(BRONCKART 1999 p.108).
Há um outro campo lingüístico da atividade humana que é
conhecido como DOMÍNIO DISCURSIVO. Segundo Marcuschi, esses
domínios não são textos nem discursos, mas possibilitam o surgimento de
discursos muito específicos, os GÊNEROS DISCURSIVOS como discurso
religioso, discurso jurídico, discurso jornalístico, etc. já que as atividades
religiosas ou jurídicas dão origem a vários gêneros não se limitando a um
em particular.
A partir dessas características específicas de um gênero textual (ou
gênero discursivo) podemos tratar de aspectos da textualidade, tais como
coerência e coesão textuais, a impessoalidade, as técnicas de
argumentação e outros aspectos. A interação autor-texto-leitor, a
pluralidade de discursos e as possibilidades de organização do universo
através da linguagem são pontos relevantes na elaboração do
conhecimento a partir de diferentes situações de interação. Por isso
devemos estar cientes do papel que a linguagem desempenha no nosso dia
a dia.
O trabalho com a leitura, compreensão e a produção escrita em
sala de aula deve ter como meta principal o desenvolvimento de
habilidades que façam com que o aluno seja capaz de usar um número
cada vez maior de recursos da língua (formais, fonológicos, sintáticos e
semânticos) para produzir efeitos de sentido de forma adequada a cada
situação de interação humana em que esteja inserto.
De maneira geral, não há uma variação muito relevante na visão
de alguns autores sobre as definições de tipos de textos e gêneros textuais.
Dessa forma, apresentamos abaixo um quadro comparativo entre as idéias
418
B GC
GLOSSÁRIO
A
E
F
Fonologia: Preocupa-se
com os sons de uma
língua, mas se
preocupando com os
aspectos interpretativos dos
sons.
Semântica: Preocupa-se
com o significado das
palavras na frase.
Língua Portuguesa
PARA REFLETIR
Enquanto o número de
gêneros textuais numa
determinada sociedade é,
em princípio, ilimitado,
ampliando-se de acordo
com a necessidade dos
falantes e com os avanços
socioculturais e
tecnológicos, o número de
modalidades discursivas é
menor e de certa forma
limitado.
UAB/Unimontes
de Marcuschi (1999) e Travaglia (2002) para o seu conhecimento:
Quadro 3Todo gênero textual tem a sua funcionalidade no dia a dia. Uma
TRAVAGLIA
abordagem MARCUSCHI
textual a partir dos gêneros está diretamente
ligada ao ensino.
Portanto, vale a pena considerar as discussões feitas por Marcuschi (1999),
 em todos os gêneros os
 fala em
conjugação
quando ele
afirma
que o trabalho
em sala
aula é uma
tipos
se realizam,
às vezes,com o gênero
tipológica
( de
dificilmente
o mesmo gênero
são seus
encontrados
tipos usos
ótima oportunidade
de se se
lidar com a língua em
mais variados
realiza
em
dois
ou
mais
puros).
cotidianos. É importante um maior conhecimento sobre o funcionamento e
tipos.
uso dos gêneros textuais para que se possa
compreender
 produzir
um textoe se
define comobem
um texto
tanto essa
no que
diz respeito às suasdecaracterísticas
estruturais
 chama
miscelânea
um tipo por uma
de
tipos
presentes
em
um
questão
de
dom
inância,
(elementos usados na elaboração do texto) como em relação às condições
gênero de
em função do tipo de
sociais de produção (como ele funciona, o papel que desempenha na
heterogeneidade
interlocução que se
sociedade).
tipológica.
pretende estabelecer e
que se estabel
ece, e não
Para compreender melhor as definições
de gênero
textual,
em função do espaço
chama de
apresentamos-lhe o quadro abaixo. Porém, antes de analisá-lo, conheça
ocupado por um tipo na
intertextualidade
os termosintergêneros
que o compõem:
constituição desse texto.
o fen ômeno

de um textoDiscursivos
ter aspecto-de
Ambientes
lugares ou instituições sociais onde se
um gênero mas ter sido
não fala de
organizam formas de produção com estratégias
de compreensão
construído em o utro (um
intertextualidade
específicas
em que
ocorrem
as atividades de
linguagemmas
(o fala
Ambiente
gênero
assume
a fu nção
intergêneros,
outro) acadêmico,
.
de político
um intercâmbio
de
Discursivode
escolar,
jurídico, religioso,
etc.).
tipos ( um tipo
ser em
Eventos Discursivos - atividades de linguagem
quepode
ocorrem
usado no lugar de outro
traz a seguinte
determinados
ambientes
discursivos através decriando
gêneros
textuais inados
formados
determ
configuração
teórica:
por modalidades
discursivas
e seqüências
efeitostextuais,
de sentidoenvolvendo
intertextualidade
intergên eros
impossíveis cominteragir
outro com
= um gênero
com a função
enunciadores
determinados
que objetivem especificamente
dado tipo.
de outro
enunciatários reais.

Modalidades Discursivas
organização
a) heterogeneidade
tipológica =- formas
 de
mostra
o seguinte:lingüísticoum gênero
com a presença
discursivas
que existem
em número limitado como o narrar, o relatar, o
de vários tipos.
a) conjugação tipológ ica = um
argumentar, o expor, o descrever, o instruir, etc.
b) afirma que os gêneros não
texto apresenta vários tipos
Textuais -mas
modos b)
de organização
que
sãoSeqüências
entidades naturais,
intercâmbio linear
de tipos
= têm
um como
artefatos
culturais
construídos
tipo
usado
no
lugar
de
outro
objetivo formar uma unidade textual coesa e coerente, capaz de expressar
historicamente pelo ser
lingüisticamente o efeito de sentido que as modalidades discursivas
humano. Um gênero, para
pretendem
instaurar
nauma
interação entre os interlocutores de uma atividade
ele, pode
não ter
determinada
propriedade
e
de linguagem.
ainda continuar sendo aquele Tipologia Textual é aquilo que
SUPORTES TEXTUAIS - espaços
físicos e materiais (livro,
gênero.
pode instaurar um modo de
caderno, jornal, revista, computador, interação,
etc.) ondeuma
estãomaneira
escritosdeos gêneros
Tipologia
Textual
é
um
termo
que
interlocução
segundo
textuais.
deve ser usado para desi gnar uma perspectivas que podem estar
PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais. Obra de referência
espécie de seqüência teoricam ente ligadas ao pr odutor do texto em
para
o
desenvolvimento
do processorelação
ensinoao
aprendizagem
definida pela natureza lingüística
objeto do dizerem sala de
de
sua
composição.
Em
geral,
os
quanto
ao
f
aula, elaborada e distribuída pelo governo federal azer/acontecer, ou
tipos textuais abrangem as
conhecer/saber, e quanto à
categorias narração,
inserção destes no tempo e/ou
argumentação, exposição,
no espaço.
descrição e injunção (Swales,
1990; Adam, 1990; Bronckart,
Cada perspectiva gerará um tipo
1999).
de texto. Assim, a primeira
perspectiva faz surgir os tipos
O termo Tipologia Textual é usado descrição, dissertação, injunção
419
Pedagogia
Caderno Didático III - 1º Período
para designar uma espécie de
seqüência teoricamente
definida pela natureza
lingüística de sua composição
(aspectos lexicais, sintáticos,
tempos verbais, relações
lógicas).
Gênero Textual é definido pelo
autor como uma noção vaga
para os textos materializados
encontrados no dia-a-dia e
que apresentam
características sóciocomunicativas definidas pelos
conteúdos, propriedades
funcionais, estilo e
composição característica.
apresenta alguns exemplos de
gêneros, mas não ressalta sua
função social: telefonema,
sermão, romance, bilhete,
aula expositiva, reunião de
condomínio, etc.
discute o conceito de Domínio
Discursivo (grandes esferas da
atividade humana em que os
textos circulam, dando origem
a discursos muito específicos:
discurso jornalístico, discurso
jurídico e discurso religioso).
não faz alusão a uma
tipologia do discurso.
e narração. A segunda
perspectiva faz com que
surja o tipo argumentativo.
A perspectiva da
antecipação faz surgir o tipo
preditivo. A do
comprometimento dá origem
a textos do mundo
comentado
(comprometimento) e do
mundo narrado (não
comprometimento)
(Weirinch, 1968). Os textos
do mundo narrado seriam
enquadrados, de maneira
geral, no tipo narração. Já os
do mundo comentado
ficariam no tipo dissertação.
o Gênero Textual se
caracteriza por exercer uma
função social específica
pressentida e vivenciada
pelos usuários. Isso equivale
dizer que, intuitivamente,
sabemos qual gênero usar
em momentos específicos de
interação, de acordo com a
função social dele.
a escrita de um texto
apresenta características que
farão com que ele
“funcione” de maneira
diferente. Assim, escrever um
e-mail para um amigo não é
o mesmo que escrever um email para uma universidade,
pedindo informações sobre
um concurso público, por
exemplo.
dá ao gênero uma função
social. Aparentemente
diferencia Tipologia Textual
de Gênero Textual a partir
dessa “qualidade” que o
gênero possui: aviso,
comunicado, edital,
informação, informe, citação
(com a função social de dar
conhecimento de algo a
alguém); petição, memorial,
420
Língua Portuguesa
UAB/Unimontes
requerimento, abaixo-assinado (com a função social
de pedir, solicitar); nota
promissória, termo de
compromisso e voto (com a
função de prometer).
fala do discurso jurídico e
religioso, quando discute o
que é para ele tipologia de
discurso. Assim, ele mostra
que as tipologias de discurso
usarão critérios ligados às
condições de produção e às
diversas formações
discursivas em que podem
estar insertos. Citando Koch
& Fávero, o autor fala que
uma tipologia de discurso
usaria critérios ligados à
referência (institucional no
caso do discurso político,
religioso, jurídico; ideológica
caso do discurso petista, de
direita, de esquerda, cristão,
etc.), a domínios de saber
(discurso médico, lingüístico,
filosófico, etc.), à interrelação entre elementos da
exterioridade (discurso
autoritário, polêmico,
lúdico).
discute a Espécie, definindoa e caracterizando-a por
aspectos formais de estrutura
e de superfície lingüística
e/ou aspectos de conteúdo.
Ele exemplifica dizendo que
existem duas pertencentes
ao tipo narrativo: a história e
a não-história. A narrativa
em prosa e narrativa em
verso. No tipo descritivo ele
mostra as Espécies objetiva x
subjetiva, estática x dinâmica
e comentadora x narradora.
Mudando para gênero, ele
apresenta a correspondência
com as Espécies carta,
telegrama, bilhete, ofício,
etc. No gênero romance, ele
mostra as Espécies romance
histórico, regionalista,
421
Pedagogia
Caderno Didático III - 1º Período
fantástico, de ficção científica,
policial, erótico, etc.
Semelhante opinião entre os dois autores é notada quando falam
que texto e discurso não devem ser encarados como iguais. Marcuschi
considera o texto como uma entidade concreta realizada
materialmente e corporificada em algum Gênero Textual. Discurso
para ele é aquilo que um texto produz ao se manifestar em alguma
instância discursiva. O discurso se realiza nos textos.
Travaglia considera o discurso como a própria atividade
comunicativa, a própria atividade produtora de sentidos para a
interação comunicativa, regulada por uma exterioridade sóciohistórica-ideoló-gica. Texto é o resultado dessa atividade comunicativa.
O texto, para ele, é visto como uma unidade lingüística concreta que é
tomada pelos usuários da língua em uma situação de interação
comunicativa específica, como uma unidade de sentido e como
preenchendo uma função comunicativa reconhecível e reconhecida,
independentemente de sua extensão.
Travaglia afirma que distingue texto de discurso levando em conta
que sua preocupação é com a tipologia de textos, e não de discursos.
Já Marcuschi afirma que a definição que traz de texto e discurso é
muito mais operacional do que formal.
Por fim, podemos afirmar que muitos estudiosos da Lingüística
Aplicada vêem o gênero como ponto de partida para quaisquer atividades
relacionadas às práticas de escrita e leitura, isso porque, conforme
Marcuschi (2000:25), “gêneros são formas verbais de ação social
relativamente estáveis realizadas em textos situados em comunidades de
práticas sociais e em domínios discursivos específicos”. Desse modo, toda e
qualquer prática comunicativa se calça em um ou outro gênero.
Então, o gênero pode ser entendido como um fenômeno social à
medida que cumpre a função de ordenar e estabilizar as práticas
comunicativas. Daí pensar que sua natureza é ambivalente visto que deve,
ao mesmo tempo, ser parâmetro e, portanto, relativamente estável, mas
ser também maleáveis, dinâmicos e plásticos com o propósito de se
adequarem ao evento enunciativo. Nesse quadro, Marcuschi (2000:22)
422
Língua Portuguesa
UAB/Unimontes
defende que os gêneros são “ações sócio-discursivas para agir sobre o
mundo e dizer o mundo, constituindo-o de algum modo”.
A partir do conteúdo discutido nesta subunidade,
compreendemos que estudar a língua através do gênero, ou seja,
objetivando os aspectos lingüísticos, textuais e discursivos levando em
consideração o gênero utilizado, é lidar com a língua de maneira
autêntica, fidedigna ao seu funcionamento, ao seu uso nas interações
sociais.
Quadro 4
GÊNERO
TEXTUAL
MODALIDADE
DISCURSIVA
SUPORTE DO
TEXTO
AMBIENTE
DISCURSIVO
(INSTITUIÇÃO)
INTERAÇÃO
VERBAL
ENUNCIADORES
BULA
Expor/Instruir
Folheto, folder
Indústria
farmacêutica
Indústria Consumidor
CRÔNICA
Expor /
Argumentar
Coluna de
jornal/revista
Mídia impressa
jornal/revista
Escritor - leitor de
jornal/ revista
ROMANCE ,
CONTO,
NOVELA
Narrar
Livro
Indústria literária
Escritor-leitor
RECEITA
CULINÁRIA
Instruir
Livro, folheto,
rádio, televisão
Indústria de
alimentos, livro,
mídia impressa,
jornal, revista,
televisão
Escritor,
apresentador –
ouvintes, leitores,
telespectadores
423
Pedagogia
Caderno Didático III - 1º Período
REFERÊNCIAS
BRONCKART, Jean Paul. Atividades de linguagem, textos e discursos. Por
um interacionismo sócio-discursivo. São Paulo: Editora da PUC/SP, 1999.
COSTA VAL, Maria da Graça. Redação e Textualidade. São Paulo: Martins
Fontes, 1999.
FÁVERO, L. L. & KOCH, I. V. Lingüística Textual: introdução. São Paulo:
Cortez, 1983.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: definição e
funcionalidade. In: DIONÍSIO, Ângela Paiva, MACHADO, Anna Rachel,
BEZERRA, Maria Auxiliadora (org.). Gêneros textuais e ensino. Rio de
Janeiro: Editora Lucerna, 2002.
424
Língua Portuguesa
UAB/Unimontes
VÍDEOS SUGERIDOS PARA DEBATE
NELL
Título Original: Nell
País/Ano: EUA - 1994
Direção: Michael Apted
Elenco: Jodie Foster, Liam Neeson, Natasha
Richardson, Richard Libertini, Nick Searcy, Robin
Mullins, Jeremy Davies, O'Neal Compton
Duração: 115 min.
Categoria: Drama
Distribuidora VHS: Abril
Figura 13
SINOPSE
Uma jovem (Jodie Foster) é encontrada numa casa abandonada no meio
de uma floresta, onde vivia com sua mãe eremita, morta há um bom
tempo. Inicialmente tida como louca, ela é observada por um médico
(Liam Neeson), que constata que a garota se expressa através de um
dialeto próprio. À medida que estuda o estranho comportamento de sua
paciente, ele chega a conclusão de que até aquele momento ela não havia
tido contado com outras pessoas. Intrigado e fascinado pela inocência da
jovem, ele decide tentar ajudá-la a se integrar na sociedade. A atuação de
Foster lhe rendeu uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz.
O Buraco Branco no Tempo
Palavras-chave: Meio Ambiente
Produção: Peter Russell
Duração: 27 minutos
SINOPSE
O autor tece sua combinação característica de física,
psicologia e filosofia para desenhar um novo quadro
da humanidade e dos tempos que estamos
Figura 14
atravessando. No filme ele explora os padrões
evolucionários que estão detrás de nosso desenvolvimento em contínua
aceleração e pergunta: “por que é que uma espécie que é de tantas formas
muito inteligente pode também se comportar de maneira que são
aparentemente tão insanas?” Utilizando centenas de imagens que cobrem
a extensão da criação, esta bela e comovente produção audiovisual mostra
que a crise global que agora enfrentamos é, na sua raiz, uma crise de
consciência. A próxima grande fronteira não é, na sua raiz, uma crise de
consciência. A próxima grande fronteira não é o espaço exterior, senão o
espaço interior. Nós poderíamos, ele conclui, estar no umbral de um
momento para o qual a vida tem sido construída ao longo de bilhões de
anos - um clímax evolucionário muito mais profundo do que a maioria de
nós seque ousou imaginar.
425
RESUMO
1 - A linguagem é o maior veículo de comunicação social que homem
possui, pois é através da linguagem que ele pode expressar seus
pensamentos.
2 - O lingüista Ferdinand de Saussure é considerado o pai da lingüística
moderna ao ter suas idéias publicadas na obra póstuma intitulada Curso
de Lingüística Geral. Ele separa a linguagem em: Língua e Fala.
3 - A língua, para Saussure, é “um sistema de signos”. É ampla, coletiva e
obedece a padrões criados pela própria comunidade. É a parte social da
linguagem.
4 - A fala é individual e tem caráter dinâmico, sendo expressa pelos atos de
fonação.
5 - A gramática (normativa) dita as regras que devem ser seguidas por
uma comunidade lingüística no exercício da comunicação.
6 - Comunicação é a transmissão de sinais lógicos, claros e coerentes,
através de um código que pode ser convencionado ou natural.
7 - Numa situação de comunicação há, no mínimpo, duas pessoas
interagindo por meio da linguagem: o locutor ou emissor e o interlocutor
ou receptor.
8 - O processo de comunicação verbal baseia-se em seis ele-mentos: o
emissor, o receptor, a mensagem, o código, o canal e o referente.
9 De acordo com a Teoria da Comunicação, toda mensagem tem uma
finalidade, uma intenção predominante que orienta sua produção. A
mensagem pode ter a finalidade de informar, persuadir, provocar humor,
emocionar etc.
10 - É a finalidade da mensagem que determina a função lingüística
predominante em um texto. Essas funções são: expressiva ou emotiva
(centrada no emissor, revela sentimentos. Uso de pronomes de 1.ª pessoa
e verbos em 1.ª pessoa), conativa ou apelativa (centrada no receptor ou
recebedor, acionando-o diretamente com o objetivo de estimulá-lo a tomar
uma atitude. Uso de vocativos e verbos no modo imperativo.), referencial
ou denotativa (centrada no contexto. Uso de linguagem mais direta,
objetiva, com sentido único), fática (centrada no canal. Mostra o interesse
do emissor de estabelecer, manter ou encerrar o contato. As frases são
entremeadas de expressões consideradas clichês: olá!, Oi! Como vai? Até
logo! Tchau!), metalingüística (centrada no código lingüístico, isto é, a
língua é utilizada para dar alguma informação, apresentar um conceito,
fazer ressalvas, etc.) e poética (centrada na mensagem. Há um trabalho
intencional com a palavra, buscando efeitos criativos, inesperados,
musicais.)
426
11 - Há fatores que interferem no uso da linguagem como a região, a
cultura, a situação de comunicação e a histórica de um povo,
possibilitando a variação lingüística.
12 - As variações lingüísticas podem ser classificadas como:
Ÿ REGIONAIS: diferenças ligadas à pronúncia e vocabulário
próprios de uma região. Inclui os falares rurais (mais conservadores) e
urbanos (mais dinâmicos).
Ÿ SÓCIO-CULTURAIS:
variações determinadas por vários
fatores, como: idade, nível de escolaridade, profissão, sexo, classe social,
raça, religião.
Ÿ CONTEXTUAIS: variações ligadas ao falante por influência do
assunto (o quanto o falante sabe sobre o assunto determina,
conseqüentemente, sua facilidade ou dificuldade de expressão); da
situação de interlocução (se o contexto é formal ou informal) e o grau de
intimidade/formalidade entre os falantes. Destacam-se os registros: formal
(nível culto, com utilização da língua - padrão/escrita) e informal ou
coloquial (nível familiar comum e nível popular) gírias, termos chulos.
Ÿ HISTÓRICAS: também chamadas variações de época. São
decorrentes de mudanças e avanços sociais, através dos tempos:
arcaísmos (termos e construções em desuso), neologismos (criação de
termos novos).
13 - Não há variação melhor ou pior que outra. Todas se equivalem, pois
cumprem a intenção comunicativa do falante. Falar “diferente” não é falar
“erradamente”. É necessário, porém, prestar atenção ao contexto, à
situação de comunicação para empregar o registro adequado. A
sociedade atual tende a prestigiar o nível culto da língua.
14 - Cada situação de comunicação apresenta suas características
específicas. Se nos expressamos através da linguagem oral, utilizaremos
uma linguagem mais livre, espontânea e informal e se nos expressamos
através da linguagem escrita, nos preocuparemos em utilizar uma
linguagem mais elaborada, com vocabulário apurado e preciso; uma
linguagem presa às regras gramaticais e ao padrão culto da língua.
15 - A leitura é um instrumento necessário para a realização de novas
aprendizagens porque proporciona a ampliação de horizontes e uma visão
crítica da sociedade em que vivemos.
16 - O texto pode ser definido como uma unidade básica e significativa. É o
elemento central da comunicação da interação social.
17 - Fatores de textualidade são os mecanismos responsáveis para que um
texto faça sentido para seus interlocutores, como a coesão, a coerência, a
intencionalidade, a aceitabilidade, a intertextualidade.
427
REFERÊNCIAS
BÁSICA
ANTUNES, I. Aula de português: encontros e interação. São Paulo:
Parábola, 2004.
BENTES, A. C. & MUSSALIN, Fernanda.(orgs). Introdução à lingüística:
domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez, 2001.
BRONCKART, Jean Paul. , Atividades de linguagem textos e discursos. Por
um interacionismo sócio-discursivo. São Paulo: Editora da PUC/SP, 1999.
COSTA VAL, Maria da Graça. Redação e Textualidade. São Paulo: Martins
Fontes, 1999.
FÁVERO, L. L. & KOCH, I. V. Lingüística Textual: introdução. São Paulo:
Cortez, 1983.
FIORIN, José Luís. Teorias do discurso e ensino da leitura e da redação.
In: Gragoatá. n.1 (2. sem. 1996). Niterói: EDUFF, 1996.
KLEIMAN, Ângela. Leitura: ensino e pesquisa. 2 a ed., São Paulo: Pontes,
1996.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade.
In: DIONÍSIO, Ângela Paiva, MACHADO, Anna Rachel, BEZERRA, Maria
Auxiliadora (org.). Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Editora
Lucerna, 2002.
________________. Oficina de leitura: teoria e prática. 5.ed. Campinas:
Pontes, 1997.
PETTER, Margarida. Linguagem, língua e lingüística. In: FIORIN, José Luiz
(org). Introdução à lingüística. São Paulo: Contexto, 2005.
________________. Texto & leitor: aspectos cognitivos da leitura. 7.ed.
Campinas: Pontes, 2000.
COMPLEMENTAR
BAGNO, Marcos. A Língua de Eulália. São Paulo: Contexto, 1997.
CURY, Maria Zilda Ferreira et al. Tipos de textos, modos de leitura. Belo
Horizonte, Formato, 2001.
_______________. Discursos e leitura. 2.ed. São Paulo: Cortez; Campinas:
Unicamp, 1987.
428
Língua Portuguesa
UAB/Unimontes
GERALDI, João Wanderley (org.) O texto na sala de aula. São Paulo: Ática,
1999.
KOCH, Ingedore G. Villaça. Desvendando os segredos do texto. São
Paulo: Cortez, 2002.
NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática na escola. São Paulo:
Contexto, 2001.
ORLANDI, Eni P. Discurso e texto: formulação e circulação de sentidos.
Campinas: Pontes, 2001.
PAULINO, Graça et al. Tipos de textos, modos de leitura. Belo Horizonte:
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RATHS, E. Louis. Ensinar a pensar. 2.ed. São Paulo: EPU, 1977.
TRAVAGLIA, L. C. Um estudo textual-discursivo do verbo no português.
Campinas, Tese de Doutorado / IEL / UNICAMP, 1991.
SUPLEMENTAR
ALVES, Rubem. A alegria de ensinar. 3.ed. Campinas: Papirus, 2000.
_____________ A norma oculta: língua e poder na sociedade brasileira.
São Paulo: Parábola editorial, 2003.
BAKHTIN, Mikhail M. Estética da criação verbal. Martins Fontes: São
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COSTA VAL, Maria da Graça. Texto, Textualidade e Textualização.
Pedagogia cidadã. In: Cadernos de língua Portuguesa. São Paulo: UNESP,
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FÁVERO, L. L. & KOCH, I. V. Lingüística Textual: o que é e como se faz.
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FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. 11.ed. São Paulo: Cortez,
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KOCH, Ingedore G. Villaça e TRAVAGLIA,L.C. Texto e coerência. São
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_____________ Português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa. São
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_____________ Preconceito Lingüístico. O que é. Como se faz. São Paulo:
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SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. 6.ed. Porto Alegre: Artmed, 1998.
429
ATIVIDADES DE
APRENDIZAGEM
- AA
QUESTÃO 01
Analise o seguinte texto de Millôr:
Figura 15:
Da leitura global do texto, podem-se inferir as seguintes características,
EXCETO:
A) ( )
A realidade retratada limita-se à cidade do Rio de Janeiro.
B) ( ) A linguagem não-verbal fortalece a denúncia apresentada pela
linguagem verbal.
C) ( ) A referência ao Rio de Janeiro se dá pela alusão a uma conhecida
música popular.
D) ( ) O emissor “brinca” com a definição de cidadão, deixando claro
um trabalho intencional com a mensagem.
QUESTÃO 02
430
Língua Portuguesa
UAB/Unimontes
Considere as definições sobre gêneros textuais e assinale a INCORRETA.
A)( ) A receita culinária é uma comunicação breve que se estabelece
entre emissor e receptor, caracterizada pelo emprego do nível popular.
B)( ) A narrativa refere-se ao relato de uma história em que atuam
personagens em um espaço e tempo determinados.
C)( ) O manual é um texto instrucional cuja finalidade é orientar sobre o
funcionamento de um aparelho, regras de um jogo etc.
D)( ) O bilhete caracteriza-se pela linguagem informal com a qual se
transmite uma mensagem simples e objetiva a amigos, familiares etc.
QUESTÃO 03
Leia o seguinte texto com atenção e marque, após, sua resposta.
No texto, a característica que NÃO pode ser comprovada é:
O mundo gera 50 milhões de toneladas de
resíduos eletrônicos por ano.
É um questão ambiental que merece total
atenção da sociedade. Por isso, a Vivo lançou
ainda em 2006 um pioneiro programa de
Reciclagem de celulares, baterias e acessórios
sem utilidade.Mais de 500 mil itens já foram
coletados. O objetivo agora é maior. O
programa foi ampliado para todas as lojas e
revendedores Vivo. São mais de 3.400 pontos
de coleta para você reciclar. Recicle. Você faz
bem ao planeta e ainda gera recursos para
projetos socioambientais. Acesse
www.vivo.com.br/recicleseucelular.
A)( ) A função predominante é a expressiva, exemplificada pelo uso de
pronome e formas verbais de 1ª pessoa.
B)( ) Trata-se de um texto publicitário que se serve do tema ambiental
para promover seu produto.
C)( ) A mensagem tem o propósito de estimular o leitor a participar do
programa anunciado.
D)( )
Emprego das funções referencial e conativa da linguagem.
QUESTÃO 04
Observe as falas dos quadrinhos.
A respeito das falas, assinale a alternativa INCORRETA.
A)( ) Atestam a dificuldade de
expressão lingüística dos falantes.
Fonte: HOJE EM DIA – 07/09/2008
B)( ) O r egistr o de linguagem
utilizado é informal.
C)( ) Estão adequadas ao contexto
em que ocorrem.
D)( ) Denotam familiaridade entre os
falantes.
QUESTÃO 05
Discutimos que, quanto maior a
Figura 16: Quadrinhos
431
Pedagogia
Caderno Didático III - 1º Período
interação entre os elementos textuais e o conhecimento do leitor, maior a
possibilidade de compreensão e interpretação de um texto. Com base
nessa afirmativa, leia os trechos de uma música e assinale (V) para as
alternativas verdadeiras e (F) para as falsas:
A) ( ) Alguns leitores podem apresentar falha na compreensão do
texto, pois o seu conhecimento lingüístico pode não ser suficiente.
Soy loco por ti, América
(Gilberto Gil/Capinan)
Soy loco por ti, América
Yo voy traer una mujer
playera
El nombre del hombre
muerto
Que su nombre sea Marti
Ya no se puede decirlo, quién
sabe?
Que su nombre sea Marti
Antes que o dia arrebente
Soy loco por ti de amores
Antes que o dia arrebente
Tenga como colores la
espuma blanca
El nombre del hombre
muerto
de Latinoamérica
Y el cielo como bandera
Antes que a definitiva noite
se espalhe
Y el cielo como bandera
em Latino América
Soy loco por ti, América
El nome del hombre es
pueblo
Soy loco por ti de amores
(...)
El nome del hombre es
pueblo
(...)
B) ( ) O conhecimento lingüístico de um falante apenas da Língua
Portuguesa é suficiente para a compreensão do texto.
C) ( ) O conhecimento lingüístico é um componente básico do
conhecimento prévio , mas o leitor, apresentando o
conhecimento de mundo, poderá compreender o texto.
D) ( ) Apenas o falante nativo da Língua Espanhola conseguirá
compreender o texto.
QUESTÃO 06
A leitura é um processo através do qual se pode observar, perceber,
descobrir e refletir sobre o mundo. Podemos ler textos verbais e também
432
Língua Portuguesa
UAB/Unimontes
não-verbais.
Leia a charge abaixo e, de acordo com as nossas discussões, marque
somente a alternativa incorreta.
A) ( ) Podemos afirmar que quem não possui um conhecimento de mundo
sobre os símbolos apresentados, não compreenderá a crítica abordada na
charge.
Fonte: Laerte, Folha de São Paulo
Figura 17
B) (
) Ler é um processo social de construção de significados e só
conseguiremos compreender a crítica apresentada na charge através
dessa construção dos significados de cada figura feminina apresentada.
C) ( ) Para que ocorra uma leitura eficiente, é necessário apenas a simples
decodificação dos sinais gráficos. Na charge, basta apenas decodificar os
símbolos apresentados para interpretar a crítica abordada.
D) ( ) O chargista critica o fato da Justiça e da Verdade receberem
patrocínio e só a Sabedoria estar a procura de patrocínio.
Leia o texto abaixo e responda às questões 7, 8 e 9:
QUESTÃO 07: A interpretação INCORRETA sobre as características
psicológicas da moça é:
433
Pedagogia
Caderno Didático III - 1º Período
A)( )
Demonstra ser otimista frente às adversidades da vida.
B)( )
Possui uma baixa auto-estima.
C)( )
É supersticiosa.
D)( ) Acredita que todas as suas conquistas são mais árduas do que as
das outras pessoas.
QUESTÃO 08: Faça uma análise lingüística do texto e assinale a questão
em que se faz o uso específico da língua falada:
A)( ) Encontrou-o pela primeira vez quando foi coroada princesa no
baile...
B)( )
Antes não desse, diria depois à rainha...
C)( )
... acho que vou amar ele para sempre.
D) ( ) Ao que ela respondeu...
QUESTÃO 09
Faça uma releitura do texto e formule algumas hipóteses para o
desinteresse repentino do pretendente.
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
QUESTÃO 10
“Diego Hipólyto era um dos favoritos à medalha de ouro e assombrou os
brasileiros ao cair.”
Esse trecho continuará com o mesmo sentido se substituirmos o e por:
A)( )
porque
B)( )
embora
C)( )
no entanto
D)( )
por isso
QUESTÃO 11
Observe o anúncio e faça o que se pede:
O anúncio pertence a qual tipologia textual?
434
Língua Portuguesa
UAB/Unimontes
A)( )
Publicitário
B)( )
Literário
C)( )
Instrucional
Fonte: Atrevida, ano II, nº 8
Figura 18
D)( )
Enumerativo
Leia o texto abaixo:
QUESTÃO 12
O texto que você leu é uma notícia. Marque apenas a opção em que
Faltam também boas condições de trabalho
Brasília. O Ministério da Educação (MEC) considera o piso
salarial nacional dos professores – R$ 950 mensais, a partir de
2010 – um passo importante para tornar o magistério mais
atraente. Sancionada em julho pelo presidente Lula, a lei do
piso vem sendo contestada por governantes e prefeitos. Eles
negociam com o governo o fim da exigência de que um terço
das horas de trabalho seja reservado para atividades
extraclasse, como preparação de aulas e a correção de provas.
Para a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior (Capes), órgão do MEC encarregado de
melhorar a formação dos professores brasileiros, é preciso
valorizar o magistério. Isso significa pagar melhores salários e
garantir boas condições de trabalho, segundo a coordenadorageral de Programas de Apoio à Formação e Capacitação dos
435
Pedagogia
Caderno Didático III - 1º Período
Docentes da Educação Básica, Helena de Freitas.
Ela destaca a importância do tempo reservado às
atividades extraclasses. “Junto com o piso, temos que olhar para
a condição do trabalho docente na escola pública, ou seja,
fortalecer a política de concentração do professor em uma
escola, com jornada integral e dedicação exclusiva a uma
escola, com tempo para o estudo, para planejamento e
avaliação de seu trabalho.
O tempo. Ano 12. Nº 4270 – Domingo, 24/8/2008
aparecem apenas as características desse tipo de texto.
A)( ) Traz informações. O texto deve ser claro, objetivo, impessoal e
fazer o uso da norma padrão da língua.
B)( ) Tem como objetivo veicular informações científicas. Apresenta
linguagem com terminologia científica de alguma área de conhecimento.
C)( )
Ensina a fazer, traz instruções bem definidas.
D)( ) Tem o objetivo de expressarmos-nos pessoalmente, para nos
distrair, desenvolver a sensibilidade, partilhar emoções.
QUESTÃO 13
Leia o texto instrucional abaixo e responda às questões propostas:
Marque somente a alternativa incorreta. Em relação ao texto instrucional
podemos afirmar:
RECEITA DE BOLO DE CHOCOLATE MOLHADINHO
Ingredientes
2 xícaras de farinha de trigo
2 xícaras de açúcar
1 xícara de leite
6 colheres de sopa cheias de chocolate em pó
1 colher de sopa de fermento em pó
6 ovos
76
Modo de Preparar
1)
Bata as claras em neve, acrescente as gemas e bata
novamente, coloque o açúcar e bata outra vez.
2)
Coloque a farinha, o chocolate em pó, o fermento, o
leite e bata novamente.
3)
Untar um tabuleiro e colocar para assar por
aproximadamente 40 minutos em forno médio.
436
Língua Portuguesa
UAB/Unimontes
4)
Enquanto o bolo assa faça a cobertura com 2
colheres de chocolate em pó, 1 colher de margarina, meio
copo de leite e leve ao fogo até começar a ferver.
76
5)
Jogue quente sobre o bolo já assado.
É só saborear!
A)( )
Tem por objetivo expor, divulgar informações.
B)( )
É um tipo de texto informativo.
C)( ) Fornece-nos instruções, com o uso de uma linguagem clara e
objetiva.
D)( )
Apresenta frases exclamativas e faz uso do vocativo.
QUESTÃO 14
Observe o seguinte anúncio publicitário:
A única função da linguagem que NÃO está presente no anúncio é:
Figura 19
A) ( ) Expressiva.
B) ( ) Referencial.
C) ( ) Conativa.
D) ( ) Poética.
QUESTÃO 15
Observe a charge abaixo. A charge é um gênero textual que pode ter
437
Pedagogia
Caderno Didático III - 1º Período
apenas imagens ou imagens e palavras. Geralmente seu objetivo é a crítica
através do humor, principalmente a crítica social ou política.
O autor da charge faz uma comparação entre uma modalidade esportiva e
a corrupção de políticos. Explique em que se baseia o humor da charge.
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
438
1º PERÍODO
SOCIOLOGIA
GERAL
AUTORES
Daniel Coelho de Oliveira
Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro. Atualmente é professor do Departamento de Política e Ciências
Sociais da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes.
Lúcio Flavio Ferreira Costa
Especialista em Sociologia pela Pontíficia Universidade Católica de Minas
Gerais - PUCMinas. Atualmente é professor do Departamento de Política e
Ciências Sociais da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes.
Maria Ângela Figueiredo Braga
Doutoranda em Sociologia e Política pela Universidade Federal de Minas
Gerais - UFMG. Atualmente é professora do Departamento de Política e
Ciências Sociais da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes.
Maria da Luz Alves Ferreira
Doutora em Sociologia e Política pela Universidade Federal de Minas
Gerais - UFMG. Atualmente é professora do Departamento de Política e
Ciências Sociais da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes.
Maria Railma Alves
Mestre em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG.
Atualmente é professora do Departamento de Política e Ciências Sociais da
Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes.
Rômulo Soares Barbosa
Doutora em Ciências Sociais pela Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro. Atualmente é professora do Departamento de Política e Ciências
Sociais da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes.
SUMÁRIO
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
Unidade I: O surgimento e a consolidação da sociologia . . . . . . . . 87
1.1 Sociologia: aspecto conceitual. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
1.2 O contexto do surgimento da Sociologia. . . . . . . . . . . . . . . 88
1.3 A Sociologia como Ciência. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
1.4 O Positivismo como uma primeira Sociologia . . . . . . . . . . . 91
1.5 Os autores clássicos da Sociologia e a diversidade na
explicação da vida social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
1.6 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
1.7 Vídeos sugeridos para debate. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
Unidade II: A sociologia de Karl Marx . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
2.1 O contexto geral da obra de Karl Marx. . . . . . . . . . . . . . . . 98
2.2 Papel do cientista, objeto e método de análise . . . . . . . . . . 98
2.3 A Teoria dos modos de produção social . . . . . . . . . . . . . . 102
2.4 A divisão social do trabalho e classes sociais. . . . . . . . . . . 106
2.5 A análise da sociedade capitalista . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113
2.6 Luta de classes, mercadoria e mais-valia . . . . . . . . . . . . . 113
2.7 Conceitos de alienação e ideologia . . . . . . . . . . . . . . . . . 114
2.8 Atualidades do marxismo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117
2.9 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117
2.10 Vídeos sugeridos para debate. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118
Unidade III: A sociologia de Émile Durkheim . . . . . . . . . . . . . . . . 119
3.1 Vida e obra do autor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119
3.2 Diálogo com o positivismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
3.3 Instituições Sociais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123
3.4 Patologia Social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124
3.5 Fatos Sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124
3.6 Mudança Social. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126
3.7 Socialização e Educação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128
3.8 Divisão do Trabalho Social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129
3.9 Tipos de Solidariedade Social. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131
3.10 Considerações sobre o método: a objetividade dos
fatos sociais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132
3.11 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134
3.12 Vídeos sugeridos para debate. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135
Unidade IV: A sociologia de Max Weber . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 136
4.1 Biografia de Max Weber . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137
4.2 Contexto histórico do pensamento weberiano . . . . . . . . . . 138
4.3 Indivíduo e sociedade na perspectiva weberiana . . . . . . . 140
4.4 Especificidade das Pedagogia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 142
4.5 Subjetividade e objetividade do conhecimento . . . . . . . . . 143
4.6 O que é tipo ideal? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 144
4.7 Tipos puros de ação social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 146
4.8 As relações sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147
4.9 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149
4.10 Vídeos sugeridos para debate. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151
Referências básica, complementar e suplementar . . . . . . . . . . . . 159
Atividades de Aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163
APRESENTAÇÃO
Vamos lá! Esta é a disciplina intitulada Sociologia Geral.
Em nossa disciplina vamos falar muito das atividades que os
homens realizam bem como das relações sociais. Os homens agem uns
com os outros. Por meio da convivência, estabelecem relações sociais. Já
reparou? Dia e noite estamos produzindo e interagindo com algum
objetivo social, político, econômico e cultural. Dessa imensa produção da
vida social resultam as relações sociais, produto das interações dos
homens, de suas comunidades, de conhecidos ou desconhecidos, de
familiares ou colegas de trabalho, de membros de religiões, enfim, homens
que próximos ou distantes estão fazendo a história social.
Discutindo a ementa da disciplina percebemos que são esses
temas que a Sociologia Geral trata, pois propõe estudar os fatos históricos
que contextualizam o surgimento da Sociologia e os principais aspectos da
metodologia e teoria social de Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx.
São apresentadas as formas e posturas dos clássicos quanto à análise da
realidade social e os pressupostos teóricos e metodológicos para
observação e análise da realidade pelas ciências sociais. E, ainda, o estudo
do homem e o universo sócio-cultural, analisando as inter-relações entre os
diversos fenômenos sociais.
A disciplina Sociologia Geral objetiva, primordialmente,
desenvolver um “olhar sociológico”, que possibilite a compreensão da
complexidade do contexto social no qual se inserem os indivíduos e as
organizações sociais. Nesta disciplina buscamos apresentar a Sociologia
como parte das Pedagogia, enfocando o contexto histórico do seu
surgimento, com seus principais autores que, inicialmente, propuseram
seu objeto de estudo e métodos de análise.
Com os autores clássicos, Émile Durkheim, Max Weber e Karl
Marx, buscaremos os fundamentos teóricos para análise da vida social. As
informações abordadas serão fundamentais na discussão dos principais
conceitos elaborados pela Sociologia, tais como: estrutura social,
organização social, instituição social, grupos sociais, socialização, classes
sociais e estratificação. É desejável que você discuta os conceitos básicos
de Sociologia Geral, conheça as principais escolas/teorias e sua
localização na história.
É indiscutível que o conhecimento científico estimula a atitude
crítica e, por isso mesmo, em boa medida, contribui para o exercício da
cidadania nas sociedades contemporâneas. Ao proceder assim, a
444
Sociologia Geral
UAB/Unimontes
Sociologia oferece à sociedade: políticos, organizações civis, movimentos
sociais, minorias, enfim, aos atores sociais elementos para melhor
compreensão crítica da sua realidade histórica.
A disciplina tem como objetivos:
Ÿ Discutir os pressupostos conceituais sobre a análise da vida
social e compreender as estratégias adotadas pelos sociólogos para a
construção de explicações e interpretações sobre os fenômenos sociais;
Ÿ Distinguir as concepções teóricas de realidades sociais,
contrapondo e desenvolvendo uma nova visão científica, de natureza
sociológica, das práticas da vida cotidiana;
Ÿ Compreender
as distinções conceituais e as atitudes
necessárias ao conhecimento mais objetivo da realidade social;
Ÿ Distinguir as diferenças teórico-práticas entre os problemas
sociais e o que os sociólogos chamam de problema sociológico.
Significativamente, você vai perceber que a Sociologia é muito
importante para a investigação do processo educacional nas sociedades
modernas. É importante explicitar, nesta disciplina, que o conhecimento
sociológico habilita o educador a compreender a sociedade, seus grupos e
instituições sociais.
Assim, você, acadêmico de Pedagogia, deverá ter em mente que a
disciplina é muito importante para sua formação humanística/
artística/científica e para maior compreensão da organização social e do
processo educativo.
A disciplina Sociologia Geral, para este curso, procura fortalecer a
discussão sobre o objeto e o método dos três teóricos clássicos, Marx,
Durkheim e Weber, com o objetivo de delinear pontos importantes de suas
abordagens, diferenças analíticas, estabelecendo possíveis comparações,
no que diz respeito às temáticas trabalhadas pelos autores. As discussões
realizadas pelos autores são de fundamental importância para a
compreensão das demais teorias, principalemente sobre questões
pedagógicas.
Esta disciplina tem quatro unidades, e cada unidade está dividida
em tópicos ou subunidades.
UNIDADE 1 – O surgimento e a consolidação da Sociologia
UNIDADE 2 – A Sociologia de Karl Marx
UNIDADE 3 – A Sociologia de Émile Durkheim
UNIDADE 4 – A Sociologia de Max Weber
O texto está estruturado a partir do desenvolvimento das unidades
e subunidades. Você deverá perceber que as questões para discussão e
reflexão são muito importantes, e acompanham o texto, bem como as
sugestões para transitar do ambiente de aprendizagem ao fórum, para
acessar bibliotecas virtuais na web, etc. As sugestões e dicas estão
445
Caderno DidáticoI I - 1º Período
Pedagogia
localizadas junto ao texto.
A leitura dos textos complementares indicados também é
importante, pois indicam os possíveis desenvolvimentos e ampliações para
o estudo e a discussão. São recursos que podem ser explorados de maneira
eficaz por você, pois buscam promover atividades de observação e de
investigação que permitem desenvolver habilidades próprias da análise
sociológica e exercitar a leitura e a interpretação de fenômenos sociais e
culturais.
Ao planejar esta disciplina consideramos que essas questões e
sugestões seriam fundamentais, de forma a familiarizar o acadêmico,
gradativamente, com a visão e procedimentos próprios da disciplina.
Agora é com você. Explore tudo, abra espaços para a interação
com os colegas, para o questionamento, para a leitura crítica do texto, bem
como para atividades e leituras complementares.
Bom estudo !
446
1
UNIDADE 1
O SURGIMENTO E A CONSOLIDAÇÃO DA SOCIOLOGIA
Esta é a primeira unidade da disciplina Sociologia Geral. Mãos à
obra. O objetivo central é que você possa conhecer e discutir o contexto do
surgimento da Sociologia e quais fatores contribuíram para o seu
aparecimento.
Certamente, ao ler o texto, você perceberá que tratava-se de um
projeto que visava substituir a análise dos fenômenos sociais, a partir do
senso comum pelo conhecimento científico. Objetiva-se que o acadêmico
possa distinguir as concepções rotineiras de realidades sociais, de senso
comum, e desenvolver uma nova visão científica, de natureza sociológica,
das práticas da vida cotidiana.
Após esta etapa, o texto apresenta uma breve apresentação dos
fundadores da Sociologia, de forma que você conheça um pouco da vida e
obra desses autores.
Considerando nossa proposta de trabalho, esta primeira unidade
abordará O SURGIMENTO E A CONSOLIDAÇÃO DA SOCIOLOGIA foi
organizada com as seguintes sub-unidades:
1.1 Sociologia: aspecto conceitual.
1.2 O contexto do surgimento da Sociologia.
1.3 A Sociologia como Ciência.
1.4 O Positivismo como uma primeira Sociologia
1.5 Os autores clássicos da Sociologia e a diversidade na
explicação da vida social
Também integradas ao corpo do texto serão encontradas
indicações para estimular o estudo e a apreensão dos temas, bem como
aprofundar ou complementar os conhecimentos adquiridos. As indicações
estão assim organizadas: para refletir, dicas de estudo, espaço de cinema e
glossário.
A utilização de imagens e fotos elucidará as apresentações do
temas – recursos importantes às análises científicas.
1.1 SOCIOLOGIA: ASPECTO CONCEITUAL
A Sociologia é uma ciência que estuda o comportamento humano
e os processos de interação social que interligam o indivíduo em
associações, grupos e instituições sociais. Enquanto o indivíduo na sua
singularidade é estudado pela Psicologia, a Sociologia estuda os
fenômenos que ocorrem quando vários indivíduos se encontram em
grupos de tamanhos diversos e interagem no seu interior.
Os resultados da pesquisa sociológica não são de interesse
apenas de sociólogos. Cobrindo todas as áreas do convívio humano –
desde as relações na família até a organização das grandes empresas, o
comportamento político na sociedade até o comportamento religioso –, a
Sociologia pode vir a interessar, em diferentes graus de intensidade, a
administradores, políticos, empresários, juristas, professores em geral,
448
Sociologia Geral
UAB/Unimontes
publicitários, jornalistas, planejadores, sacerdotes, mas também ao
homem comum. Um dos maiores interessados na produção e
sistematização do conhecimento sociológico é o Estado; no Brasil, ele é o
principal financiador de pesquisas desta disciplina científica.
1.2 O CONTEXTO DO SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA
Para entendermos os fatores que proporcionaram o surgimento e
a consolidação das Pedagogia e da Sociologia, precisamos entender as
transformações econômicas, políticas e culturais verificadas no século
XVIII.
A revolução industrial e a revolução francesa patrocinam a
instalação definitiva da sociedade capitalista. Somente por volta de 1830,
um século depois, surgiria a palavra Sociologia, fruto dos acontecimentos
das duas revoluções citadas. Na revolução industrial ocorre a introdução
da máquina a vapor e os aperfeiçoamentos dos métodos produtivos,
determinando o triunfo das indústrias capitalistas. A concentração de
capitais pela burguesia, que assume o controle de máquinas, terras e
ferramentas, enfim dos meios de produção, proporciona também a
transformação de massas humanas em trabalhadores assalariados.
DICAS
Fonte: http://www.eja.org.br/userfiles/
tecnologia_e_trabalho/texto10_imagem1.jpg
Cada passo do desenvolvimento da
Fonte: http://www.miriamsalles.info/cndvirtual2004/revindus/EX1182.jpg
Para saber mais sobre as
Revoluções Francesa e
Industrial, acesse o site
www.mundosites.net/histori
ageral
Setor de
produção de tear
de fábrica de rede
São Bento, PB.
Figura 1
Figura 2: Mulheres e crianças trabalhando em tecelagens inglesas.
sociedade capitalista impulsionava a desintegração e o solapamento de
instituições e costumes reinantes do antigo regime feudal, para constituirse em novas formas de organização social. As máquinas não somente
destruíram os pequenos artesãos, mas também os obrigavam a forte
disciplina, nova conduta no trabalho e novas relações de trabalho, até
então desconhecidas.
Em 80 anos (entre 1780 e 1860), a Inglaterra conseguiu mudar
radicalmente sua face. Pequenas cidades passaram a grandes cidades
produtoras e exportadoras. Essas bruscas transformações implicariam em
nova organização social, ocorridas graças à transformação da atividade
artesanal em manufatureira, e logo depois em fabril. Outra mudança
449
Caderno DidáticoI I - 1º Período
Pedagogia
importante ocorreu quando da emigração do campo para a cidade, onde
mulheres e crianças foram introduzidas no mercado de trabalho, em
jornadas de trabalho desumanas, recebendo salários de subsistência.
Esses sujeitos constituíam mais da metade da força de trabalho industrial.
Essas cidades se transformaram num verdadeiro caos, uma vez que sem
condições para suportar um vertiginoso crescimento, deram lugar a toda
sorte de problemas sociais, tais como surtos e epidemias de tifo e cólera,
vícios, prostituição, criminalidade, infanticídio que dizimaram parte das
suas populações.
O fenômeno da revolução industrial determinou o aparecimento
do proletariado e o papel hiistórico que ele desempenharia na sociedade
capitalista. Seus efeitos catastróficos para a classe trabalhadora geraram
sentimentos de revolta, externalizados com a destruição de máquinas,
sabotagens, explosão de oficinas, roubos e outros crimes, que deram lugar
à criação de associações livres e sindicatos que permitiram o diálogo de
classes organizadas, cientes de seus interesses com os proprietários dos
instrumentos de trabalho.
O pensamento filosófico do século XVII (Iluminismo) contribuiu
para popularizar os avanços do pensamento científico. “A teologia deixaria
de ser a forma norteadora do pensamento. A autoridade em que se
apoiava um dos alicerces da teologia cederia lugar a uma dúvida metódica
que possibilitasse um conhecimento objetivo da realidade” (Francis Bacon,
1561-1626). O novo método de conhecimento (observação e
experimentação) ampliaria infinitamente o poder do homem e deveria ser
estendido e aplicado ao estudo da sociedade. O visível progresso das
formas de pensar, fruto das novas maneiras de pensar e de viver
contribuiria para afastar interpretações fundadas em superstições e
crenças infundadas, abrindo espaço para a constituição de um saber
científico sobre os fenômenos histórico-sociais.
A burguesia, ao tomar o poder da antiga nobreza feudal, criou um
Estado que assegurava sua autonomia diante da Igreja, além de incentivar
e proteger a empresa capitalista. Aconteceu, aí, uma liquidação do regime
antigo. O Estado confiscou propriedades da Igreja, suprimiu os votos
monásticos e responsabilizou o Estado pela educação. Acabou com
antigos privilégios de classe amparou e incentivou o empresário.
A França, no início do século XIX, ia se tornando uma sociedade
industrial. Mas o desenvolvimento acarretado por essa industrialização
causava aos operários franceses miséria e desemprego. Com a
industrialização francesa, conduzida pelo empresariado capitalista,
repetem-se determinadas situações sociais vividas pela Inglaterra. A partir
da terceira década do século XIX, intensificaram-se na sociedade francesa
as crises econômicas e as lutas de classes. A contestação da ordem
capitalista feita pela classe trabalhadora passa a ser reprimida, com
violência, pelos empresários.
No meio de toda essa confusão, pensadores imaginaram ser
450
PARA REFLETIR
Para compreender
melhor este contexto,
sugerimos que você assista
ao filme Danton, que retrata
a Revolução Francesa.
Confira a sinopse no final
desta unidade.
Sociologia Geral
UAB/Unimontes
necessário fundar uma nova ciência – a Sociologia - que permitisse
reorganizar essa sociedade. O surgimento da Sociologia significou o
apare-cimento da preocupação do homem com o seu mundo e a sua vida
em grupo. Desencadeou-se, então, a preocupação com as regras que
organizavam a vida social. Regras que pudessem ser observadas, medidas
e comprovadas, capazes de dar ao homem explicações plausíveis, num
mundo onde passou a imperar o racionalismo. Regras, enfim, que
tornassem possível prever e controlar os fenômenos sociais.
Portanto, o aparecimento da Sociologia significou que as questões
concernentes às relações entre homens deixariam de ser apenas matéria
religiosa e do senso comum: passaram a interessar, também, aos
cientistas.
1.3 A SOCIOLOGIA COMO CIÊNCIA
DICAS
O filme Germinal retrata as
condições de vida da classe
trabalhadora no séculoXIX.
Assista-o e faça correlações
com a matéria estudada.
PARA REFLETIR
O Movimento Ludista
(século XIX) consistiu na
invasão de fábricas e
destruição das máquinas;
significou um protesto com
relação à maquina em
substituição à mão-de-obra
operária.
A Sociologia somente começou a se consolidar enquanto ciência
inspirando-se em rigorosos procedimentos de pesquisa, a partir das
reflexões de Emile Durkheim (1864-1920). Só então, ela adquire forma e
vem sendo aperfeiçoada até hoje.
Como ciência, a Sociologia tem de obedecer aos mesmos
princípios gerais válidos para todos os ramos do conhecimento científico,
perseguindo um corpo de idéias logicamente estruturadas entre si. A
Sociologia, portanto, pretende explicar o que acontece na sociedade,
como um tipo de conhecimento garantido pela observação sistemática dos
fatos, podendo transformar-se em instrumento de intervenção social.
A Sociologia é, como toda ciência, predominantemente indutiva,
isto é, parte da obser vação
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Luddite.jpg
sistemática de casos particulares
para chegar à formulação de
generalizações sobre a vida social.
Essa observação sistemática dos
fatos é o cerne da teoria científica, é
ela que em última estância confirma
ou nega a qualidade cientifica de
qualquer explicação da realidade.
Um fator que edifica a
Sociologia como ciência é a sua
neutralidade valorativa, portanto a
Sociologia não veio para julgar o que
é bom ou mau na sociedade, não é
normativa, não dita normas para a
sociedade.
A Sociologia estuda os
Figura 3: Desenho publicado em 1812 mostrando
trabalhadores comandados pelo lendário general
valores e as normas que existem, de
Ned Ludd destruindo uma tecelagem
fato, na sociedade e tenta identificar as relações entre as esferas sociais e
outras manifestações da vida social. Ela procura fazer isso sem julgar a
451
Caderno Didático III - 1º Período
Pedagogia
sociedade nem os homens e seus atos. O campo da Sociologia não é dizer
como a sociedade deve ser, mas constatar e explicar como ela é.
Sendo assim, enquanto sociólogo, e só enquanto tal, esse
profissional deve fazer todo esforço que lhe for possível para que os seus
valores morais não interfiram preconceituosamente na sua percepção e
interpretação da sociedade.
Como foi discutido, anteriormente, a Sociologia estuda
manifestações da vida social, porém a atividade do sociólogo não
compreende apenas formulações de hipóteses, observação, inferência de
generalizações e elaboração de teorias, pois a realidade que está a nossa
volta é complexa. Portanto, para estudar fenômenos é preciso, antes de
tudo, classificá-los. Sem a percepção das partes não é possível entender a
complexa teia de relações sociais que dá unidade a uma grande
coletividade humana. Entretanto, a realidade é muito complexa para ser
explicada em sua totalidade e a Sociologia não pretende explicar tudo o
que acontece na sociedade. Todo conhecimento é seletivo, sendo senso
comum ou científico, isto é, limitado a aspectos escolhidos.
A Sociologia, portanto, não se ocupa de todas as regularidades
observáveis na sociedade humana, mas apenas daquelas que têm origem
nas relações sociais.
1.4 O POSITIVISMO COMO UMA PRIMEIRA SOCIOLOGIA
O séc. XVIII torna-se conhecido como o século das Luzes, quando
se difunde o iluminismo – caracterizado como “uma filosofia militante de
critica à tradição cultural e institucional, seu programa é a difusão do uso
da razão para dirigir o progresso da vida em todos os aspectos.” Visava
também “estimular a luta da razão contra a autoridade, isto é, a luta da 'luz'
contra as 'trevas'.'' (BINETTI, 1995, p. 605).
Além dos iluministas, surgiram outros pensadores designados
como socialistas utópicos ou positivistas. Saint-Simon (1760-1825) é um
deles. Esse pensador acreditava que “a base da sociedade é a produção
material, a divisão do trabalho e a propriedade.” Defende a criação de
uma ciência do homem ou seja “uma ciência social 'positiva' [que] revelaria
a leis do desenvolvimento da história, permitindo uma organização
racional da sociedade”. Quanto à ciência que seria construída nomeoua de Fisiologia Social, pois ela deveria ocupar a “ação humana,
transformadora do meio, e adotar o método positivo das ciências físicas”.
(QUINTANEIRO; BARBOSA; OLIVEIRA, 2002, p.18).
Herdeiro intelectual de Saint-Simon, do qual tornou-se seu
secretário, surge Auguste Comte (1798-1857) que será chamado de “pai”
da Sociologia.
Para dar conta de entender a importância de Auguste Comte para
as ciências sociais é necessário remeter aos seus questionamentos “O que
é ordem social? Como ela se constitui? Como ela se mantém? Como ela se
452
Sociologia Geral
UAB/Unimontes
transforma?” (FERNANDES, 2004, p.12).
Essas questões demandavam uma resposta científica, e por isto a
importância de Comte, que estruturará sua filosofia baseada na “idéia de
que a sociedade só pode ser convenientemente reorganizada através de
uma completa reforma intelectual do homem”. (GIANNOTTI; LEMOS,
1988, p. IX).
Para tanto, Comte dedicou-se a três temas básicos para reflexão,
sendo: a) a filosofia da história, também chamada de filosofia positiva ou
pensamento positivo; b) classificação das ciências e c) Sociologia –
incorporada mais tarde como religião positivista ou catecismo positivista.
O primeiro tema da filosofia de Comte pode ser resumido na Lei
dos Três Estados: o Teológico, o Metafísico, o Científico/Positivo.
(...) a passagem necessária de todas as nossas
especulações por três estados sucessivos; primeiro, o
teológico; em que dominam francamente as ficções
espontâneas, desprovidas de qualquer prova; depois, o
estado metafísico, caracterizado sobretudo pela
preponderância habitual das abstrações personificadas ou
entidades; por fim, o estado positivo, sempre fundado
numa exata apreciação da realidade exterior, habitual das
personificadas ou entidades; por fim, o estado positivo,
sempre fundado numa exata apreciação
da realidade
exterior. (COMTE, 1988, p. 59)
B GC
PARA REFLETIR
E
GLOSSÁRIO
A
Positivismo: movimento
que busca o valor das
ciências contra as posições
de senso comum e
filosóficas, ressaltando a
experiência e a
investigação científica
como um único critério da
verdade (FGV, 1986, p.
938)
F
Considerando que os três estados excluem-se mutuamente, é
importante observar que no estado teológico, nota-se características em
que o espírito humano guiará suas investigações “para a natureza íntima
dos seres, as causas primeiras e finais de todos os efeitos que o tocam” ou
seja os conhecimentos absolutos.
No estado teológico a apresentação dos fenômenos se da a partir
da produção da ação direta e contínua de “agentes sobrenaturais mais ou
menos numerosos” cuja intervenção arbitrária explica todas as anomalias
aparentes do universo”.
Guarda-se no estado metafísico, a modificação do primeiro
estado, em que “os agentes sobrenaturais são substituídos por forças
abstratas, (...) e concebidas como capazes de engendrar por elas próprias
todos os fenômenos observados”. (COMTE, 1988, p. 4)
E finalmente no estado positivo, o espírito humano adotará outra
atitude, graças ao reconhecimento da “impossibilidade de obter noções
absolutas”, o que indicará por parte do mesmo um comportamento em
que “renuncia a procurar a origem e o destino do universo, a conhecer as
causa íntimas dos fenômenos, para preocupar-se unicamente em
descobrir, fracas ao uso bem combinado do raciocínio e da observação.”
(COMTE, 1988, p. 4).
Em síntese Comte diz que os estados ou ordens são sucessivas,
onde o teológico será substituído pelo metafísico e este será substituido
pelo científico ou positivo. A vida social será explicada pela ciência,
triunfando sobre todas as outras formas de pensamento.
453
Caderno Didático III - 1º Período
Pedagogia
O quadro a seguir sintetiza os três estados propostos por Comte.
Quadro 1
Ordens
Características do modo de
Exemplos práticos
pensamento
TEOLÓGICA
Predomina a imaginação ; as A evolução da ordem
explicações são impostas pelos teológica:
dogmas religiosos, ficções e

Fetichismo
mitos.
Politeísmo em
O segundo
tema é a classificação das ciências,apresentadas
A
compreensão
do
mundo
se

Monoteísmo
ordem crescente de importância, por Comte: astronomia, física,
química,
dá através das idéias de deuses
biologia e Sociologia. Esta última é a mais importante e mais complexa das
e espíritos.
ciências,
pois é responsável
educação moral
da esfera
humanidade,
METAFÍSICA
Predomina pela
a argumentação
. Na
política pela
OU
Ocorre
a críticaComte
filosófica,
corresponderia
a uma
reforma
intelectual
do homem.
lembra ainda
que “é unicamente
FILOSÓFICA
na construção
de uma
substituição
reis o
pela
observação eficaz
aprofundada
desses
fatos que
se pode dos
atingir
ordem a partir da crítica aos
pelos juristas.
conhecimento das Leis Lógicas”. (COMTE, 1988, p.10).
dogmas religiosos e aos mitos,
Podemosconseqüentemente
destacar a Sociologia
comoà o terceiro tema trabalhado
levando
dissolução doateológico.
por Comte, que argumentava
urgência e a importância da constituição
da física social da Discute-se:
seguinte forma:
 Natureza íntima das
já agora que o espírito humano fundou a física celeste, a
coisas.
física terrestre, quer mecânica, quer química; a física
 Origem e destino.
orgânica, seja vegetal, seja animal, resta-lhe, para terminar
 Abstrato no lugar do
o sistema das ciências de observação, fundar a física
concreto.
social.” (COMTE, 1988, p. 9).
CIENTÍFICA
Predomina a Observação.
A sociedade busca
O
pensador
não
só
a importância,
mas também
para a
OU
A realidadeassinala
é cientificamente
respostas
científicas
evidência
ciência social
é aentão
mais importante
detodos
todas,ossobretudo
POSITIVAde que a
concebida.
Ocorre
a
para
investigação
do
real,
do
ce
rto,
fenômenos.
porque fornece o único elo, ao mesmo tempo lógico e cientifico que, de
indubitável,
do determinado
ciência, a indústria,
agora em diante,do
comporta
o conjunto
de nossasAcontemplações
reais.
e do útil para a sociedade.
a urbanização e o
(idem, p. 43).
A previsibilidade científica
Estado representam o
Ao analisar
os com
tiposo de
movimentos vitais
daelevado
sociedade,
dois
ocorre
desenvolvimento
mais
espírito
dasópticas
técnicas.
evolutivoadaestática e a
aspectos ou “duas
fundamentais” se destacam:
sociedade.
dinâmica.
Previsibilidade: ver
A estática corresponde à ordem moral vigente
na sociedade,
ea
(observar)
para
prever.industrialização,
dinâmica do progresso, representado pela urbanização,
etc. Ambos se complementam, mas é importante destacar que ORDEM e
PROGRESSO são fundamentais se o primeiro regular o segundo; caso
contrário teremos crises sociais e uma sociedade “doente”, debilitada de
regras e valores morais capazes de garantir a coesão social. Com essa
idéia, Comte propõe estudar as instituições sociais responsáveis pela
ordem e pelo progresso, a estática e a dinâmica social, influenciando toda
uma geração de intelectuais nos séculos XIX e XX.
Comte preocupou-se também com a educação, propôs a
“reforma geral da educação” – chamando atenção para “a necessidade de
substituir nossa educação européia, ainda essencialmente teológica,
metafísica e literária, por uma educação positiva, conforme ao espírito de
nossa época e adaptada às necessidades da civilização moderna.”
454
Sociologia Geral
UAB/Unimontes
(COMTE, 1988, p.15).
No Brasil a influência do positivismo ocorreu a partir da relação
exercida da doutrina sobre o conhecimento e sobre a natureza do
pensamento cientifico; influenciou também outras tendências políticas,
além das políticas públicas e até a bandeira nacional com o lema ordem e
progresso.
Na verdade, o método positivista encontrou, em certa medida,
condições culturais favoráveis para seu desenvolvimento não apenas na
Europa, mas também em países de menor tradição cultural e carentes de
ideologia para seus anseios de desenvolvimento, como ocorreu na
América do Sul e sobretudo no Brasil. (GIANNOTTI e LEMOS, 1988, p.
XIV) .
1.5 OS AUTORES CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA E A DIVERSIDADE NA
EXPLICAÇÃO DA VIDA SOCIAL
A Sociologia não é uma ciência de apenas uma orientação
teórico-metodológica dominante. Ela traz diferentes estudos e diferentes
caminhos para a explicação da realidade social. Assim, pode-se
claramente observar que a Sociologia tem ao menos três linhas mestras
explicativas, fundadas pelos seus autores clássicos.
DICAS
Weber propôs a Sociologia
compreensiva. Para ele, as
ciências humanas precisam
compreender processos da
experiência humana que
são vivos, mutáveis, que
precisam ser interpretados
para que se extraia deles o
seu sentido. Ai se
fundamenta a análise
sociológica (FGV, 1986, p.
1150).
A primeira delas é corrente de explicação sociológica é dialética e
crítica, iniciada por Karl Marx que mesmo não sendo um sociólogo, deu
início a uma profícua linha de explicação sociológica. Também é possível
encontrar a influência de Marx em várias outras áreas, tais como: filosofia e
história, já que o conhecimento humano, em sua época, não estava
fragmentado em diversas especialidades da forma como se encontra hoje.
Teve participação como intelectual e como revolucionário no movimento
operário. Juntos (Marx e o movimento operário) influenciaram outros
movimentos durante o período em que o autor viveu. Atualmente é
bastante difícil analisar a sociedade humana sem se referenciar, em maior
ou menor grau, à produção de Karl Marx, mesmo que a pessoa não seja
simpática à ideologia construída em torno do pensamento intelectual dele,
principalmente em relação aos seus conceitos econômicos.
A segunda corrente é a Positivista-Funcionalista, tendo como
fundador Auguste Comte; seu principal expoente clássico é Émile
Durkheim.
Émile Durkheim (15 de abril de 1858 – 15 de novembro de 1917)
é considerado um dos pais da Sociologia moderna. Foi o fundador da
escola francesa de Sociologia. Combinava a pesquisa empírica com a
teoria sociológica. É reconhecido como um dos melhores teóricos do
conceito de coesão social. A Sociologia fortaleceu-se graças a Durkheim e
seus seguidores.
A terceira corrente sociológica tem seu maior expoente em Max
Weber (ou Maximillian Carl Emil Weber – 21 de Abril de 1864 – 14 de Junho
455
Caderno Didático III - 1º Período
Pedagogia
de 1920). Além de jurista, era economista. Desenvolveu estudos de direito,
Filosofia, História e Sociologia, constantemente interrompidos por uma
doença renal que o acompanhou por toda a vida. Sua maior influência nos
ramos da Sociologia foi o estudo das religiões, estabelecendo relações
entre formações politicas e crenças religiosas.
Essas três matrizes explicativas, originadas per esses três principais
autores clássicos, originaram quase todos os posteriores desenvolvimentos
da Sociologia, levando à sua consolidação como disciplina acadêmica já
no início do século XX.
DICAS
Sociologia dialética e
crítica: Marx utilizou o
método dialético para
explicar as mudanças
importantes ocorridas na
história da humanidade
através dos tempos. Para
ele, o movimento da
história possui uma base
material, econômica e
obedece a um movimento
da história possui uma base
material, econômica e
obedece a um movimento
dialético. E conforme muda
esta relação, mudam-se as
leis, a cultura, a literatura,
a educação e as artes.
(FGV, 1986, p.723).
B GC
GLOSSÁRIO
A
E
F
Funcionalismo: corrente
teórica que tem seu
alicerce no método de
investigação funcionalista
que busca a explicação das
instituições sociais e
culturais em termos da sua
função social, contribuição
que estas têm para a
manutenção da estrutura
social. (FGV, 1986, p. 500)
REFERÊNCIAS
BINETI, Saffo Testoni. Iluminismo. In: BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI,
Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política –Vol. 1. Tradução:
Ferreira, João (coord.).8. ed. Brasília: Editora UNB,1995. p. 605-611
COMTE, Auguste. Curso de Filosofia Positiva: Discurso Sobre o Conjunto
do Positivismo; Catecismo Positivista. Tradução: GIANNOTTI, José Arthur;
LEMOS, Miguel. São Paulo: Nova Cultural, 1988. (Os Pensadores), p. 4361.
456
Sociologia Geral
UAB/Unimontes
FERNANDES, Florestan. A Herança Intelectual da Sociologia. In:
Sociologia e Sociedade: Leituras de Introdução à Sociologia. 3. ed. Rio de
Janeiro: LTC Editora, 2004. P. 09 -17
GIANNOTTI, José Arthur; LEMOS, Miguel. Introdução In: COMTE,
Auguste. Curso de Filosofia Positiva: Discurso Sobre o Conjunto do
Positivismo; Catecismo Positivista. Tradução: GIANNOTTI, José Arthur;
LEMOS, Miguel. São Paulo: Nova Cultural, 1988. (Os Pensadores), p. 4361.
MARTINS, Carlos Benedito. O que é Sociologia. 38. ed. São Paulo:
Brasiliense, 1994. (Coleção Primeiros Passos, 57), p. 08-98.
QUINTANEIRO, Tânia; BARBOSA, Maria Lígia de Oliveira; OLIVEIRA,
Márcia Gardênia de. Um toque de clássicos – Marx, Durkheim e Weber. 2.
ed. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2002. (Coleção Aprender), p. 09-26.
VÍDEOS SUGERIDOS PARA DEBATE
Danton
O processo da revolução – é um filme produzido pela França, Polônia e
Alemanha Ocidental em 1982. Direção: Andrzej Wajda. Elenco: Gérard
Depardieu, Wojciech Pszniak. 131 min. Pole Vídeo. Gênero drama
histórico. Após a Revolução Francesa, a França vive uma nova onda de
terror. Danton, um dos líderes da revolução, enfrenta o governo na
tentativa de mudar a situação. Confiando no apoio popular, ele entra em
choque com Robespierre, seu antigo aliado, mas acaba sendo levado a
julgamento.
Germinal
1993. França/Bélgica/Itália.. Direção de Claude Berri. 170 min. A cena
tem lugar no norte da França enquanto uma greve provocada pela redução
dos sálarios. Além dos aspectos técnicos das extrações minerais e as
condições de vida dos trabalhadores ineiros, Zola, autor do livro que deu
origem ao filme, também descreve as condições de vida e o principio das
organizações política e sindical da classe operária.
457
2
UNIDADE 2
A SOCIOLOGIA DE KARL MARX
Caros acadêmicos, na primeira
unidade vocês foram apresentados ao
surgimento da Sociologia, com destaque
para as condições históricas e as condições
intelectuais que possibilitaram o surgimento
da ciência da sociedade, bem como os
principais autores das primeiras escolas do
pensamento sociológico como: Auguste
Comte, Saint-Simon, Owen, entre outros.
Desses, somente August Comte foi
apresentado.
Nesta unidade vamos introduzi-lo
ao pensamento de Karl Marx, um autor
muito importante dentro das matrizes da
Sociologia clássica, juntamente com Emile
Durkheim e Max Weber.
Fonte: http://blog.cancaonova.com/fatima
hoje/files/2007/12/karl-marx.jpg
Figura 4: Karl Marx.
A Sociologia de Marx é, com certeza, uma das grandes
contribuições para a compreensão da evolução das sociedades, desde as
comunidades primitivas até o comunismo. Embora o objetivo do autor
tenha sido fazer uma critica radical à sociedade capitalista, destacando
seus antagonismos e contradições, ele nos presenteia com uma belíssima
análise sociológica, mostrando como a sociedade se desenvolveu desde o
seu início, as comunidades primitivas, passando pelo escravismo, pelo
feudalismo, pelo capitalismo, pelo socialismo e finalmente pelo
comunismo que, na visão do autor, era o maior grau de evolução da
sociedade humana.
Para facilitar a compreensão de vocês em relação ao autor, a
unidade será dividida da seguinte maneira:
2.1 O contexto geral da obra de Karl Marx
2.2 Papel do cientista, objeto e método de análise
a) Dialética
2.3 A Teoria dos modos de produção social
2.4 A divisão social do trabalho e classes sociais
2.5 A análise da sociedade capitalista
2.6 Luta de classes, mercadoria e mais-valia
2.7 Conceitos de alienação e ideologia
2.8 Atualidades do marxismo
458
Sociologia Geral
UAB/Unimontes
2.1 O CONTEXTO GERAL DA OBRA DE KARL MARX
Karl Marx, juntamente com Friedrich Engels (1820-1895),
compõe a escola crítica que, como o próprio nome evidencia, ocupou-se de
criticar radicalmente a sociedade capitalista, denunciando seus
antagonismos e exploração de classes, na medida em que a classe dona
dos meios de produção, historicamente expropriava a classe que não era
dona dos meios de produção. Ao mesmo tempo, propunha como única
possibilidade de realização para a sociedade humana a instauração de
uma sociedade em que não houvesse nem classes e tampouco a
exploração de uma classe sobre outra.
Marx teve parte de sua formação intelectual na Alemanha, onde
ingressou e concluiu seus estudos em Direito nas Universidades de Bonn e
Berlim. Em 1841 defendeu sua tese de doutorado com apenas 23 anos de
idade, na área de filosofia, com a tese As diferenças da filosofia da
natureza em Demócrito e Epicuro, cuja temática versava sobre o
materialismo na antigüidade grega. (COSTA, 1997).
Paralelamente à produção intelectual, ele dedicou-se ao
jornalismo; foi editor chefe de um jornal chamado a Gazeta Renana. Ao
deixar esse cargo, intensificou seus estudos bem como a sua militância
política e intelectual no eixo Paris-Bruxelas-Londres, cenários de grande
parte da sua produção científica onde, juntamente com Engels, construiu
uma obra monumental que objetivava analisar, criticar e lutar para a
transformação radical da sociedade capitalista. Vale ressaltar que Engels
quando estudante, adere a idéias de esquerda, o que o leva a aproximar-se
de Marx. Engels foi um grande colaborador da obra de Marx, escrevendo
com ele vários textos importantes, mas também publicando vários textos
sozinho.
O quadro sóciopolítico em que o referido autor viveu, tanto em sua
juventude na Alemanha, quanto na sua passagem pelas capitais Paris,
Bruxelas e Londres foi marcado por elementos importantes: 1) no âmbito
político, o processo tardio de unificação liberal-burguesa vivido pela
Alemanha a partir de 1830; 2) na esfera intelectual, a tradição filosófica
alemã vinda de autores como Kant e Hegel, fomentadores de uma atitude
antipositivista, expressas nas diferentes análises de Marx. A influência
hegeliana na formação intelectual Marx impactou profundamente a
estruturação do seu pensamento, assim como sua experiência de vida na
França e na Inglaterra, países em que a industrialização estava em estágios
mais avançados do que na Alemanha. (ARON, 2005).
2.2 PAPEL DO CIENTISTA, OBJETO E MÉTODO DE ANÁLISE
Marx analisa a história das sociedades em diversas etapas
dedesenvolvimento, e em especial a sociedade capitalista. Ele aborda o
desenvolvimento histórico a partir de dois aspectos teórico-metodológicos:
459
Caderno Didático III - 1º Período
Pedagogia
a) o materialismo histórico; e a b) dialética. A dialética é a base filosófica do
arcabouço teórico marxista. Através da dialética busca-se explicações
coerentes, lógicas e racionais para os fenômenos da natureza, da
sociedade e do pensamento representando uma explicação teórica
avançada. Karl Marx, ao adotar como método de análise o materialismo
histórico, propôs um instrumento eficaz para a leitura e caracterização da
vida em sociedade e ainda, da prática social dos homens em todos os
períodos históricos, das comunas primitivas até o capitalismo. O modo de
pensar dialeticamente de Marx na verdade se transformou em uma crítica
à dialética dos jovens hegelianos e de L. Feuerbach. Marx criticou estes
últimos porque buscaram demonstrar a História como resultado das
ideologias e também a presença de heróis. Já Marx enfatizou explicações
sobre as formações sócio-econômicas e as relações de rodução como os
fundamentos verdadeiros das sociedades. E por isto o nome materialismo
histórico.
Para ele existiam leis universais que regiam o desenvolvimento da
história:
As premissas de que partimos não são bases arbitrárias,
dogmas; são bases reais que só podemos abstrair na
imaginação. São os indivíduos reais, sua ação e suas
condições materiais de existência, tanto as que eles já
encontraram prontas, como aquelas engendradas de sua
própria ação. Estas bases são, pois verificáveis por via
puramente empírica. A primeira condição de toda a história
humana é, naturalmente, a existência de seres humanos
vivos. A primeira situação a constatar é, portanto, a
constituição corporal desses indivíduos e as relações que
ela gera entre eles e o restante da natureza. Não podemos,
naturalmente, fazer aqui um estudo mais profundo da
própria constituição física do homem, nem das condições
naturais que já vem prontas, condições geológicas,
orográficas, hidrográficas, climáticas e outras. Toda a
historiografia deve partir dessas bases naturais e de sua
transformação pela ação dos homens, no curso da história.
(MARX e ENGELS, 1992, p. 12-13).
Para elaborar a teoria do Materialismo Histórico, Marx refletiu
três fontes e recebeu influências que atuaram no desenvolvimento do seu
pensamento:
Ÿ A filosofia idealista clássica alemã de Kant, Schelling, Fichte e
de Hegel: após a leitura critica do idealismo de Hegel, Marx começou a
assimilar uma aplicação própria do método dialético.
Ÿ O socialismo utópico francês e Inglês: Marx fez uma crítica aos
seus principais representantes: Saint-Simon, Fourier, Proudhon e Owen
na Inglaterra. Na perspectiva dele eram socialistas utópicos, mas
aproveitou suas bases para elaboração da sua teoria do socialismo
científico;
Ÿ A economia política clássica inglesa: da leitura da obra de
Adam Smith, Marx elaborou a economia política burguesa fundada no
pensamento econômico liberal. (ARON, 2005).
460
DICAS
Sugerimos como de
aprofundamento a leitura
do livro A Ideologia Alemã,
que representa a base do
materialismo histórico, e ali
Marx e Engels fazem as
suas críticas aos outros
pensadores idealistas
alemães.
Sociologia Geral
UAB/Unimontes
De acordo com essa perspectiva, “aplicada aos fenômenos
historicamente produzidos, a ótica dialética cuida de apontar as
contradições constitutivas da vida social que resulta de uma determinada
ordem”. (QUINTANEIRO; BARBOSA; OLIVEIRA, 2002, p. 65). Portanto,
Marx era contrário a Hegel, que pressupunha que o pensamento era a
“forma fenomenética da idéia”, defendendo o argumento de que “o
pensamento era reflexo do movimento real, transplantado para o cérebro
do homem”. (idem, p. 65). Em sua essência o capitalismo representa um
sistema que mercantiliza as relações, as pessoas e também as coisas. Ele
identificou no proletariado o sujeito capaz de realizar a grande mudança,
ou seja, superar essa forma de sociedade. Neste contexto, o centro do
pensamento de Karl Marx era a interpretação do regime capitalista
enquanto contraditório, isto é, dominado pela luta de classes motor da
história, sendo a luta de classes o objeto de análise do autor, que vincula a
crítica da sociedade à ação política.
Marx sustentava o argumento de que toda a história da sociedade
humana era a história da luta de classes. Portanto, escravos e senhores,
servos e senhores feudais, proletariado e burguesia estariam em luta
constante, na medida em que historicamente a classe dominante –
senhores de escravos, senhores feudais e burguesia – entravam em luta
com a classe dominada para continuar com o seu domínio de classe. De
acordo com os autores,
os pensamentos da classe dominante são também, em
todas as épocas, os pensamentos dominantes; em outras
palavras, a classe que é o poder material dominante numa
determinada sociedade é também o poder espiritual
dominante. A classe que dispõe dos meios de produção
material dispõe também dos meios da produção
intelectual, de tal modo que o pensamento daqueles aos
quais são negados os meios de produção intelectual está
submetido também à classe dominante. Os pensamentos
dominantes nada mais são do que a expressão ideal das
relações materiais dominantes; eles são essas relações
materiais dominantes consideradas sob a forma de idéias,
portanto a expressão das relações que fazem de uma classe
a classe dominante; em outras palavras, são as idéias de
sua dominação. (MARX e ENGELS, 1992, p. 47).
Para Karl Marx a análise social do materialismo histórico
considera que as relações materiais que os indivíduos estabelecem, o
modo como produzem seus meios de vida formam a base de todas as suas
outras relações sociais. Neste contexto, em todas as formações – política,
econômica e social –, a posição dos indivíduos em relação à propriedade
ou não dos meios de produção seria determinante de todas as demais
relações sociais.
Na visão do autor, o conhecimento e a ciência deviam assumir um
papel político absolutamente crítico em relação ao capitalismo, devendo
ser instrumento de compreensão e de transformação radical da sociedade.
Portanto, os estudos não deviam concentrar-se na descrição, mas a análise
461
Caderno Didático III - 1º Período
Pedagogia
de como a sociedade é produzida, reproduzida ao longo da história e como
os homens, ao longo de sua existência, vão sendo mercantilizados, e o
capitalismo torna-se transparente; é desvendado por suas análises.
Partindo desse pressuposto, o pensador defendia o argumento de
Fonte: http://www.marxists.org/archive/marx/photo/art/marx-to-communist-league.jpg
Figura 5: Marx discursando na primeira internacional.
que o papel do cientista social seria o de participar ativamente dos atos de
transformação da sociedade capitalista, através do desempenho de uma
função política revolucionária, posicionando-se ao lado das lutas do
proletariado, sendo um observador participante e militante.
a) Dialética
Marx trabalha em suas obras com o método dialético e o
materialismo histórico. A dialética significava para os filósofos gregos
antigos a arte de discutir ou a argumentação dialogada, e para Marx é
pensar o movimento. Para Marx, pensar as mudanças naturais e sociais a
partir da dialética é o mesmo que acreditar que no universo tudo é
movimento e transformação.
Para entendermos a dialética em Marx e Engels é preciso buscar a
discussão em Hegel. Para este autor alemão a dialética aborda o
movimento do espirito, e se realiza segundo um conjunto de três elementos
inter-relacionados:
Ÿ A tese é a idéia inicial ou a afirmação de uma idéia;
Ÿ A antítese, a negação da tese (afirmação de uma idéia oposta,
mas relacionada à tese)
Ÿ E a síntese, a negação da antítese, ou negação da negação. A
síntese decorre da resolução desta contradição numa nova idéia que
englobe elementos das duas anteriores. Isso significa que a tese é a uma
nova unidade que pode ser negada, e no processo de negação torna-se
antítese, resultando em mudanças que se tornarão uma síntese, ou uma
nova tese.
Esses são os elementos principais do sistema idealista hegeliano.
Karl Marx, juntamente com Friedrich Engels, serão os fundadores do
462
PARA REFLETIR
Nos primeiros anos da
década de 1860,
acontecimentos
espetaculares ocorridos no
cenário internacional
fizeram com que lideranças
sindicais e ativistas
socialistas começassem a
pensar em fundar uma
organização que reunisse
os sentimentos universais
em favor da luta dos
trabalhadores e das nações
oprimidas. O resultado
disso foi a criação da
Primeira Associação
Internacional dos
Trabalhadores em Londres,
no ano de 1864.
Sociologia Geral
UAB/Unimontes
materialismo dialético, o qual inverterá o sistema idealista hegeliano,
postulando que não é o pensamento que determina as condições materiais, mas
as condições materiais que determinam o pensamento.
Aqui não partimos daquilo que os homens dizem, imaginam,
crêem, nem muito menos de que são nas palavras, pensamento,
imaginação e representação de outrem, para atingir finalmente os
homens em carne e osso. Não, aqui partimos dos homens
tomados em sua atividade real, segundo o seu processo real de
vida, representando também o desenvolvimento dos reflexos e dos
ecos ideológicos desse processo vital. (MARX e ENGELS, 1992, p.
51).
Para Marx e Engels, a dialética é a ciência das leis gerais do movimento
tanto do mundo exterior quanto do pensamento humano. A grande idéia
fundamental é que o mundo não deve ser considerado como um conjunto de
coisas acabadas, mas como um conjunto de processos em que as coisas,
aparentemente estáveis, bem como seus reflexos mentais no nosso cérebro, os
conceitos, passam por uma série ininterrupta de transformações.
Aplicando esse princípio ao processo de produção da vida social e ao
processo histórico, esses autores concluem que o homem, a partir do trabalho,
realiza a produção das suas necessidades, e ao mesmo tempo cria a sociedade.
Portanto, as transformações que o homem realiza (tanto materiais quanto de
idéias) são partes de um processo dialético. De acordo com essa concepção,
não são as idéias ou os valores que os seres humanos guardam que são as
principais fontes da mudança social. Em vez disso, a mudança social é
estimulada primeiramente por influências econômicas. (GIDDENS, 2005, p. 32)
Portanto, os processos naturais e sociais não são coisas perfeitas e
acabadas, estão em constante movimento, transformação, desenvolvimento e
renovação e não em estagnação e imutabilidade. Logo, o mundo não pode ser
Quadro 2
entendido como um conjunto de coisas pré-fabricadas, mas como um complexo
Te se
Síntesede análise e crítica
de processos.
Karl Marx fazAntítese
da dialética um instrumento
Sociedade
feudal
Transformações:
Sociedade
Capitalista
social, com a finalidade não de interpretar o mundo, mas
de transformá-lo.
negação
das


instituições feudais
2.3 A TEORIA DOS MODOSDE PRODUÇÃO SOCIAL
Marx aplicou a dialética na análise histórica, criando o materialismo
histórico, ou uma teoria para explicar as sociedades.
O materialismo histórico deve ser entendido como recurso
metodológico para compreensão da história da humanidade, do seu
desenvolvimento, de determinadas sociedades (formações sociais) em
determinadas épocas históricas.
As referências obrigatórias para se compreender como Marx trata do
problema da evolução da sociedade são os livros Contribuição a Critica da
Economia Política (1977), e A ideologia Alemã (1992). Essas obras são
trabalhos preliminares de O Capital, e constituem-se nas mais sistemáticas
tentativas de enfrentar o problema da evolução social da sociedade humana.
Ambos são bastante citados por inúmeros cientistas sociais por apresentarem as
463
Caderno Didático III - 1º Período
Pedagogia
idéias centrais do que Marx denominou o “fio condutor” da análise do
desenvolvimento histórico.
A minha investigação desembocava no resultado de que
tanto as relações jurídicas como as formas de Estado não
podem ser compreendidas por si mesmas nem pela
chamada evolução geral do espírito humano, mas se
baseiam, pelo contrário, nas condições materiais de vida
(...)
O resultado geral a que cheguei e que, uma vez obtido,
serviu de fio condutor aos meus estudos pode resumir-se
assim: na produção social da sua vida, os homens
contraem determinadas relações necessárias e
independentes da sua vontade, relações de produção que
correspondem a uma determinada fase de
desenvolvimento das suas forças produtivas materiais. O
conjunto dessas relações de produção forma a estrutura
econômica da sociedade, a base real sobre a qual se
levanta a superestrutura jurídica e política e à qual
correspondem determinadas formas de consciência social.
O modo de produção da vida material condiciona o
processo da vida social, política e espiritual em geral. Não é
a consciência do homem que determina o seu ser, mas,
pelo contrário, o seu ser social é que determina a sua
consciência. (MARX, 1977, p. 301).
As forças produtivas materiais da sociedade e as relações de
produção formam uma unidade. Essa unidade romperá quando as forças
produtivas se desenvolverem e exigirem novas relações sociais de
produção. Assim, uma época de revolução social surgirá.
É preciso distinguir sempre entre as mudanças materiais
ocorridas nas condições econômicas de produção (...) e as
formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou
filosóficas, numa palavra, as formas ideológicas em que os
homens adquirem consciência desse conflito e lutam para
resolvê-lo. (MARX, 1977, p. 302).
Não se pode julgar um indivíduo pelo que ele pensa de si mesmo.
Não se pode julgar épocas históricas pela sua consciência. Deve-se
explicar esta consciência pelas contradições da vida material, pelo conflito
existente entre as forças produtivas sociais e as relações de produção. Uma
organização social nunca desaparece antes que se desenvolvam todas as
forças produtivas que ela é capaz de conter. Relações sociais de produção
novas não surgirão antes que as condições materiais de existência destas
relações se produzam e estejam desenvolvidas no seio da velha sociedade.
(MARX, 1977, p. 302).
Os modos de produção asiático, antigo, feudal e burguês
moderno podem ser classificados como épocas progressivas da formação
econômica da sociedade. Envolvem forças produtivas e, por conseguinte,
relações sociais de produção correspondentes a cada uma das épocas
históricas.
As relações de produção burguesas são a última forma
contraditória do processo de produção social – contradição não individual
– que nasce das condições de existência social dos indivíduos. No seio da
464
Sociologia Geral
PARA REFLETIR
Do comunismo primivito ao
comunismo.
Segundo Marx, a história
da sociedade humana
segue uma evolução
balizada por cinco etapas
importantes: a comunidade
primitiva (não existe ainda
a propriedade privada), o
regime escravista (surge a
dominação do homem
sobre o homem), o regime
feudal (o mais importante é
a propriedade de terras e
começam a ganhar vigor as
forças produtivas), o
capitalismo (propriedade
privada dos meios de
produção), o socialismo
(socialização dos meios de
produção) e, afinal, o
comunismo) Fonte:
LALLEMENT, 2003, p.119.
UAB/Unimontes
sociedade burguesa, as forças produtivas (antagônicas) se desenvolvem e
criam ao mesmo tempo as condições materiais para solução deste
antagonismo (MARX, 1977, p. 302).
Marx e Engels iniciam a primeira parte do manifesto comunista
com a seguinte frase: “A história de todas as sociedades que existiram até
os nossos dias é a história da luta de classes." (1987). Ainda que Marx
concentrasse grande parte de sua atenção no capitalismo e na sociedade
moderna, ele também examinou como as sociedades haviam se
desenvolvido ao longo do curso da história. De acordo com Marx, os
sistemas sociais fazem a transição de um modo de produção a outro –
algumas vezes gradualmente e algumas vezes através da revolução –
como resultado de contradições em suas economias. Os conflitos de
classes proporcionam a motivação para o desenvolvimento histórico – eles
são o "motor da história".
Na produção social de sua existência, os homens
estabelecem relações determinadas necessárias,
independentes da sua vontade, relações de produção que
correspondem a um determinado grau de desenvolvimento
das forças
produtivas materiais. O conjunto
destas relações de produção constitui a estrutura
econômica da sociedade, a base concreta sobre a qual se
eleva uma superestrutura jurídica e política e à qual
correspondem determinadas formas de consciência social.
(MARX, 1983, p. 24).
O mundo concreto para Marx é a contradição, uma unidade de
múltiplas determinações. Para se compreender a sociedade faz-se
necessário
Quadro 3 entender as estruturas que determinam a ação humana. Como
as formas de produção variam,
Modosasderelações
produçãosociais também se alteram,
configurando sociedades num estágio histórico determinado: sociedade
Primitivo Antigo Escravista Feudal Capitalista Socialista Comunista
antiga, sociedade feudal, sociedade burguesa... A cada uma delas
corresponde um estágio particular de desenvolvimento na história da
humanidade.
A preocupação do autor é estabelecer o mecanismo geral de
todas as transformações sociais, bem como da formação de relações
sociais de produção que correspondem a um estágio definido do
desenvolvimento das forças produtivas materiais, o desenvolvimento
periódico de conflito entre as forças produtivas e as relações de produção,
as épocas de revolução social em que as relações de produção se ajustam
novamente ao nível das forças produtivas.
Karl Marx analisa o homem enquanto um animal social, que cria
e recria sua existência servindo-se da natureza e transformando-a pelo
trabalho. Ao transformar a matéria-prima em produtos manufaturados
e/ou industrializados, o homem desenvolve a cooperação e uma divisão
social do trabalho; esta, aliada ao excedente, possibilita a troca.
Inicialmente, tanto a produção quanto a troca tem apenas a finalidade de
uso, ou seja, a manutenção do produtor e de sua comunidade.
465
Caderno Didático III - 1º Período
Pedagogia
O autor se ocupa das relações que os homens estabelecem entre
si, resultante da especialização do trabalho (troca). Essas relações se
SUPERtornam cada vez mais sofisticadas,
até que a invenção do dinheiro, a
ESTRUTURA
produção de mercadorias e a troca
Todas permitam
as formas a acumulação de capital.
Ele destaca ainda quede
a consciência
dupla relação de trabalho-propriedade é
social: Estado, leis,
progressivamente rompida najustiça,
medida
idéiasem
e que o homem afasta de sua
costumes.
relação primitiva com a natureza; tal relação assume a forma de uma
progressiva separação entre o capital e o trabalho livre e as condições
INFRA-ESTRUTURA
objetivas de sua realização/separação
entre
os meios e os objetos de
Relações Sociais de Produção
+ Forças
Produtivas
trabalho, conseqüentemente,
a separação entre o trabalhador e a terra
(Meios de Produção + Força de Trabalho
como seu laboratório natural de trabalho.
Essa separação se completa no capitalismo quando o
trabalhador é reduzido a simples força de trabalho. Inversamente, a
propriedade se reduz ao controle dos meios de produção inteiramente
divorciados do trabalho, culminando na separação total entre o uso e a
troca.
Para Marx, o desenvolvimento econômico não pode ser visto
simplesmente como um crescimento econômico e muito menos
decompor-se numa variedade de fatores isolados (produtividade ou taxa
de acumulação de capital), pois, segundo ele, as relações sociais de
produção e as forças produtivas materiais não podem ser separadas. O
exemplo que o autor dá é o estado de vários modos de produção précapitalista. Entende que é errado conceber o materialismo histórico como
uma interpretação econômica ou sociológica da história.
Em Marx é o conjunto das relações de produção, constituído pela
estrutura econômica da sociedade, que representa a base concreta, a
infraestrutura sobre a qual se constitui a superestrutura jurídica e política,
que correspondem às formas de consciência social determinada. Para o
autor, o modo de produção da vida material dos homens condiciona em
geral todo o processo de vida social, política e intelectual.
O Materialismo histórico nos permite, pela primeira vez, estudar
com precisão, as condições sociais da vida das massas e as modificações
destAs condições. Na sua visão, o marxismo abriu caminho para o estudo
global e universal do processo de gênese do desenvolvimento e de declínio
das formações econômicas e sociais. O exame do conjunto das tendências
contraditórias, reduzindo-as às condições de existência e de produção
claramente determinadas, das diversas classes da sociedade, e assim
afastando o subjetivismo ao considerar que somos nós os “artífices da
história”. (LÊNIN, 1980)
2.4 DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO E CLASSES SOCIAIS
Na concepção de Marx, se o trabalho é condição de existência
humana, a divisão do trabalho significou o surgimento da sociedade.
Condicionado por suas necessidades, o homem desenvolveu
466
Sociologia Geral
UAB/Unimontes
determinadas atividades produtivas das quais emergiram relações sociais
convergentes com os estágios históricos de desenvolvimento das forças
produtivas e da divisão do trabalho. A mesma correspondência define
todas as formas de idéias, de consciência, e de representações da vida
social.
Para Marx, o grau de desenvolvimento de uma sociedade somente
pode ser percebido a partir do reconhecimento do grau de
desenvolvimento atingido pelas forças produtivas, pela divisão do trabalho
e pelas relações sociais moldadas em cada sociedade. Os homens são
condicionados pelo desenvolvimento do modo de produção da vida
material; conseqüentemente a formação das classes sociais em cada
período histórico depende das relações sociais de produção. As relações
sociais se desenvolvem na medida em que os homens procuram satisfazer
suas necessidades materiais.
Portanto, os homens são produtos das circunstâncias, pois criam e
alteram suas bases de existência social, quando a ação humana pode
alterar o conjunto das relações sociais.
Nesse sentido, toda a história da humanidade deve partir da
análise dos processos em que o homem transforma a natureza e ao mesmo
tempo transforma a si mesmo. Não se trata apenas da existência física,
mas da reprodução das suas condições de existência.
Para Marx, o grau de desenvolvimento de uma sociedade somente
pode ser percebido a partir do reconhecimento do grau de
desenvolvimento atingido pelas forças produtivas, pela divisão do trabalho
e pelas relações internas e externas que moldam suas estruturas. Os
homens são condicionados pelo desenvolvimento determinado de suas
forças produtivas materiais e pelas relações a elas correspondentes em
todas as suas formas. A cada novo estágio de divisão do trabalho “alteramse as relações dos indivíduos entre si, no tocante às coisas, instrumentos e
produtos de trabalho” (MARX e ENGELS, 1992, p. 47).
A divisão social do trabalho existe em todos os tipos de sociedade e
tem origem nas diferenças da fisiologia humana, diferenças estas que são
usadas para favorecer determinados fins, dependendo das relações sociais
predominantes na sociedade concreta. Isto é o reconhecimento de que
diferentes grupos sociais têm especificidades quanto a suas formas de
garantir a sobrevivência. O que implica em diferentes tipos de relações
sociais estabelecidas em diferentes ambientes de produção das
necessidades humanas. Neste sentido Marx estabelece as formas pelas
quais a humanidade impulsionou a especialização da produção e portanto
a divisão do trabalho.
Em A Ideologia Alemã (1992), Marx identificou as etapas da
divisão social do trabalho, correspondendo às distintas formas de
propriedade: os estágios do desenvolvimento da divisão do trabalho têm
seus respectivos correspondentes com as formas de propriedade. A
primeira delas é a propriedade da tribo, e a divisão do trabalho
467
Caderno Didático III - 1º Período
Pedagogia
corresponde à extensão da divisão natural do trabalho. Na comunidade
tribal, a divisão do trabalho se baseia primeiramente na diferença dos
sexos, para em seguida tomar por base as diferenças das forças físicas
entre os indivíduos de ambos os sexos.
Esse tipo de propriedade era caracterizado por: estágio não
desenvolvido da produção; as pessoas se alimentavam através da caça, da
pesca e da criação de animais. A estrutura social baseia-se no
desenvolvimento e na modificação do grupo de parentesco e na divisão
interna do trabalho. Nesse modo de produção social, tudo que era
produzido era de uso coletivo e as trocas entre as tribos e/ou bandos eram
eqüitativas, ou seja, o que definia o valor de um produto era a necessidade
de alguma pessoa.
Com o avanço da sociedade e conseqüente aperfeiçoamento da
produção, as pessoas começaram a produzir mais do que o necessário
para sobreviver. A partir desse momento, as tribos e/ou bandos começaram
a guerrear entre si para dominar o excedente da produção e os grupos
vencedores transformavam os grupos vencidos em escravos. Em
decorrência, surgem as classes sociais e a propriedade privada dos meios
de produção. Essa nova realidade culmina com o surgimento da
escravidão, que tem origem no aumento da população, incremento de
relações externas, representadas pela guerra e pelo escambo. Ocorre
também a separação do trabalho industrial e comercial do trabalho
agrícola, bem como a distinção e a oposição entre a cidade e o campo.
A segunda forma de propriedade é a propriedade antiga, comunal
e propriedade do Estado, resultado da associação de tribos em uma
cidade, por contrato e por conquista.
A divisão do trabalho já demonstra a separação entre cidade e
campo, o desenvolvimento da propriedade privada e das relações de classe
entre cidadãos, guerreiros, coletores de impostos, o clero, os escravos, os
trabalhadores livres, etc. Nota-se que do princípio do desenvolvimento da
propriedade privada surge, pela primeira vez, as relações que
reencontraremos na propriedade privada moderna.
Fonte: http://www.eb23-cmdt-conceicao-silva.rcts.pt/sev/hgp/3.recolectores.jpg
Figura 6: Nas comunidades primitivas, as pessoas
viviam em bandos e tudo que era caçado ou
coletado era apropriado por toda a comunidade.
468
Sociologia Geral
DICAS
Esta segunda forma de
propriedade tem sua
origem na formação das
cidades pela união, por
acordo ou conquistas de
grupos tribais. Continua a
existência da escravidão. A
divisão social do trabalho já
é bastante complexa entre
a indústria e comércio
exterior; entre homens
livres e escravos. A
sociedade romana, durante
o império romano,
representa o último estágio
de desenvolvimento nessa
fase de evolução.
UAB/Unimontes
Assim, a divisão do trabalho desenvolve-se, não mais como na
primeira divisão sexual e depois natural, em virtude das disposições
naturais. Para Marx, a divisão do trabalho só se torna efetivamente divisão
social do trabalho a partir do momento em que se opera uma divisão entre
trabalho material e intelectual.
A distribuição de tarefas entre os indivíduos ou grupos é produto
da sociedade e expressa as condições históricas e sociais de acordo com a
posição que cada um deles ocupa na estrutura social e nas relações de
propriedade. “Igualmente, a divisão do trabalho e propriedade privada são
expressões idênticas: enuncia-se, na primeira, em relação à atividade,
aquilo que se anuncia e, na segunda, em relação ao produto da atividade.”
(MARX e ENGELS, 1992, 57).
A terceira forma é a propriedade feudal ou por ordens. É
caracterizada pelo trabalho servil, repousada sobre a classe dos
camponeses avassalados, cuja estrutura da propriedade da terra
reproduziu as estruturas sociais e de dominação da nobreza sobre os
servos. As relações entre as classes no feudalismo reproduzem essa
estrutura, acrescentando ainda o clero.
Nos últimos séculos da vigência da sociedade feudal na Europa
ocorre o surgimento das cidades, dos burgos, as oficinas com a
“organização feudal das profissões”, reproduzindo quase que nas mesmas
condições aquelas desigualdades existentes no campo. Com a revolução
comercial, o surgimento das manufaturas, a divisão entre o comércio e a
indústria acontece na medida em que as cidades proporcionam o
desenvolvimento das relações de troca e intercâmbio entre elas. (MARX e
ENGELS, 1992, 47-48).
Na Propriedade feudal ou por estamentos, o ponto de partida da
organização social era a
Fonte: http://www.rosanevolpatto.trd.br/incas.gif
área rural e não a
cidade. Nesse cenário,
havia os senhores
feudais e suas
propriedades de um
lado, de outro, havia os
servos, que constituíam
a classe explorada.
Nesse modo de
produção social há o
surgimento de uma
divisão de trabalho
paralela nas cidades,
cuja forma básica de
propriedade era o
trabalho privado dos
indivíduos, as guildas Figura 7: A divisão do trabalho na sociedade Inca.
469
Caderno Didático III - 1º Período
Pedagogia
Fonte: http://www.rosanevolpatto.trd.br/incas.gif
Figura 8: Sociedade Inca.
dos mestres e artesãos. Caracteriza-se ainda pelo surgimento do comércio.
A divisão do trabalho era pouco desenvolvida no feudalismo, mas
expressava-se principalmente na rígida separação dos vários “estamentos”
(príncipes, nobres, clero e camponeses) na área rural, (mestres, oficiais,
aprendizes e, eventualmente, a plebe de jornaleiros), nas cidades. Esse
sistema baseava-se na grande extensão territorial e exigia unidades
políticas relativamente grandes, no interesse da nobreza proprietária de
terras e das cidades; as monarquias feudais, satisfazendo esta exigência,
tornaram-se, assim, universais.
Marx destaca um elemento importante nesse período de transição
do feudalismo para o capitalismo, pois diz respeito à propriedade privada
do trabalho, em que o produtor detém o controle sobre o processo de
produção das ferramentas e sobre o produto. Com o assalariamento, nas
oficinas e na indústria, o trabalho passa a ser propriedade social; o
produtor vende sua força de trabalho para o capitalista. Assim, o trabalho
torna-se abstrato, fonte de criação de valor. Por fim, o trabalho abstrato é
dirigido para a produção de mercadorias, tornando-se trabalho alienado.
A quarta forma de propriedade é a propriedade capitalista,
quando a divisão do trabalho corresponde à divisão entre proprietários e
não-proprietários dos meios de produção (ou do capital). As duas
principais classes sociais que se formam são burguesia e proletariado. A
primeira é detentora do capital, a segunda é proprietária da força de
trabalho que é vendida como mercadoria no sistema capitalista.
Esse modelo dicotômico não é suficiente para posicionar todos os
indivíduos de uma sociedade capitalista, pois cada vez mais seu
desenvolvimento levou a grandes modificações econômicas e políticas em
inúmeras sociedades, ocasionando sub-divisões no interior das classes
sociais, principalmente nas “classes médias”.
Se analisarmos um trecho do livro O Capital, de Marx, podemos
verificar estas questões:
É sempre na relação direta dos proprietários das condições
de produção com os produtores diretos – relação da qual
cada forma sempre corresponde, naturalmente, a
determinada fase do desenvolvimento dos métodos de
trabalho, e portanto a sua força produtiva social – que
encontramos o segredo mais íntimo, o fundamento oculto
de toda a estrutura social e, por conseguinte, da forma
política das relações de soberania e de dependência, em
suma, de cada forma específica de Estado. Isso não impede
470
Sociologia Geral
UAB/Unimontes
que a mesma base econômica – a mesma quanto às
condições principais – possa, devido a inúmeras
circunstâncias empíricas distintas, condições naturais,
relações raciais, influências históricas externas etc., exibir
infinitas variações e graduações em sua manifestação, que
só podem ser entendidas mediante análise dessas
circunstâncias empiricamente dadas. (MARX, 1999, p.
251-252).
Num primeiro momento percebemos a definição que Marx faz das
ATIVIDADES
Faça uma análise do
quadro destacando como
se davam as relações de
poder no feudalismo e
como era a divisão social
do trabalho.
Fonte: VICENTINO; DORIGO. 2005.
Figura 9
relações entre proprietários e não-proprietários dos meios de produção
como deter minantes da for mação da estr utura social (e
conseqüentemente das classes sociais). Mas ele aponta também que é
possível encontrar complexidades em diferentes lugares e contextos, logo
relações econômicas e políticas complexas podem gerar novas classes e
frações de classes sociais em diferentes sociedades capitalistas.
Este sempre foi e ainda é um importante ponto de debate para o
marxismo: a configuração das classes sociais em diferentes sociedades,
em diferentes contextos políticos, sociais, culturais e econômicos.
A persistência da divisão do trabalho típica do capitalismo
acontece por causa do domínio do capital sobre os produtores diretos. A
divisão do trabalho é imposta aos indivíduos pela sociedade que eles
mesmos criaram, pois no momento em que o trabalho é repartido cada um
tem uma esfera de atividade exclusiva e determinada, que lhe é imposta e
que não pode sair, devido às suas condições sociais de subsistência.
Por outro lado, sua abolição somente ocorrerá com a abolição de
todas as formas de propriedade privada.
Uma vez abolida a base, a propriedade privada, e
instaurada a regulamentação comunista da produção, que
abole no homem o sentimento de estar diante de seu
próprio produto como diante de uma coisa estranha, a
força da relação da oferta e da procura é reduzida a zero e
os homens retomam o seu poder, o intercâmbio, a
produção, a sua modalidade de comportamento uns face
aos outros. (MARX e ENGELS, 1992, p. 60).
Marx analisou todas as formas de propriedade como formas
analíticas da evolução cronológica e na quarta com o surgimento do
proletariado, diz que a exploração não mais ocorre na forma grosseira da
apropriação de homens (como escravos ou servos), mas na apropriação do
471
Caderno Didático III - 1º Período
Pedagogia
trabalho. Para o Capital, o trabalhador não é uma condição de produção,
só o trabalho o é. Se este puder ser executado por máquinas, ou pela água
ou ar, tudo bem. O capital se apropria não do trabalhador, mas de seu
trabalho, e não diretamente, mas por meio de troca.
Na perspectiva de Marx, a sociedade burguesa, emergindo do
feudalismo, constitui a quarta forma de propriedade. A afirmativa de que
as formações asiática, antiga, feudal e burguesa representavam etapas de
progresso não implica, portanto, qualquer visão unilinear e simplista da
história, nem resulta na opinião primária de que toda a história é
progresso. Ele apenas reconhece que cada um desses sistemas cada vez
mais se afasta, em aspectos cruciais, da situação primitiva do homem.
O referido autor utilizou 03 fenômenos para explicar o
desenvolvimento do capitalismo a partir do feudalismo: 1) uma estrutura
social agrária que possibilite a libertação dos camponeses, num certo
momento; 2) o desenvolvimento dos ofícios urbanos geradores da
produção de mercadorias especializadas, independentes, não agrícola; 3)
a acumulação de riqueza monetária derivada do comércio e da usura.
Em síntese, Marx destacou a progressão de estágios históricos,
que começou com primitivas sociedades comunais de caçadores e
coletores e passou através de antigos sistemas escravistas e sistemas
feudais baseados na divisão entre proprietários de terra e servos. O
aparecimento de mercadores e artesãos marcou o início de uma classe
comercial ou capitalista que veio para substituir a nobreza proprietária de
terras. Em concordância com essa concepção de história, Marx
argumentou que, da mesma forma que os capitalistas tinham se unido
para depor a ordem feudal, os capitalistas também seriam suplantados e
uma nova ordem seria instalada, o socialismo.
Para Marx e Engels, a classe operária, engajada em sua luta
contra a burguesia, era a força política que realizaria a destruição do
capitalismo e uma transição para o socialismo. Pertencer a uma classe,
porém, depende de conhecer sua própria condição e posição dentro do
processo de produção, ampliando para uma identidade de interesses e daí
Fonte: http://br.geocities.com/a_capitalismo_2.jpg
Figura 10: A partir da Revolução Industrial ocorre
profundas mudanças nos cenários urbanos.
472
Sociologia Geral
UAB/Unimontes
para a luta política, em partidos, sindicatos e movimentos sociais. Vejamos
como essa discussão foi apresentada por Marx:
Na medida em que milhões de famílias camponesas vivem
em condições econômicas que as separam umas das outras
e opõem o seu modo de vida, os seus interesses e sua
cultura aos das outras classes da sociedade, estes milhões
constituem uma classe. Mas na medida em que existe entre
os pequenos camponeses apenas uma ligação local e em
que a similitude de seus interesses não cria entre eles
comunidade alguma, ligação nacional alguma, nem
organização política, nessa medida não constituem uma
classe. (MARX, 1977, p. 277).
Uma classe só pode agir com êxito se adquirir consciência de si
mesma da maneira prevista pela definição de transformar-se de classe em
si para classe para si e se, ao contrário, isso não se realizar, sua ação
política fracassará.
Finalmente, pudemos perceber que a discussão de Marx sobre as
classes sociais não é, pois, coisa ou idéia abstrata; as classes sociais se
constroem, se fazem no cotidiano das experiências históricas, que
acontecem nas atividades sociais, econômicas, políticas e culturais.
Quando Marx fala, por exemplo, de “proletariado” e “burguesia”, esses
termos têm para ele um sentido especifico e concreto conferido pela
relação estrutural dessas duas classes dentro da sociedade capitalista.
2.5 A ANÁLISE DA SOCIEDADE CAPITALISTA
Para Marx o ponto central na análise da sociedade moderna é a
contradição. O conflito entre o proletariado e os capitalistas é o fato mais
importante da sociedade moderna, o que revela a natureza essencial dessa
sociedade, ao mesmo tempo em que permite prever o desenvolvimento
histórico. Ele argumenta que é impossível separar o sociólogo do homem
de ação, já que demonstrar o caráter antagônico do capitalismo leva
irresistivelmente a anunciar a autodestruição do capitalismo e ao mesmo
tempo incitar os homens a contribuir de alguma forma para a realização do
destino já traçado (QUINTANEIRO; BARBOSA; GARDÊNIA, 2002).
Por que a crítica ao capitalismo? De acordo com Marx, o
capitalismo é inerentemente um sistema desigual, no qual as relações de
classe são caracterizadas pelo conflito/antagonismo. Ainda que os
detentores do capital e os trabalhadores sejam dependentes um do outro –
os capitalistas precisam de mão-de-obra e os trabalhadores precisam de
salários –, a dependência é altamente desequilibrada.
2.6 LUTA DE CLASSES, MERCADORIA E MAIS-VALIA
A relação entre classes é de exploração, uma vez que os
trabalhadores têm pouco ou nenhum controle sobre seu trabalho (são
473
Caderno Didático III - 1º Período
Pedagogia
alienados, separados), e os empregadores são capazes de gerar lucro ao se
apropriarem do produto do trabalho dos operários. Isto é, o lucro
capitalista é a mais-valia produzida pelo operário.
Mas como se produz a mais-valia? Marx dá o seguinte exemplo: o
trabalhador é contratado por 10 moedas para trabalhar em uma jornada
de trabalho de 8 horas dia, mas ele produz mercadorias relativas a 20
moedas diariamente, gerando um excedente de trabalho diário de 10
moedas, que é a mais-valia. Quando somados milhares de trabalhadores
temos uma imensa quantidade de mais-valia acumulada, gerando a
profunda desigualdade econômica e social na sociedade capitalista.
A força de trabalho é a mercadoria que possui a propriedade única
de ser capaz de criar valor, ingrediente essencial para a produção
capitalista e criação do lucro.
O caráter contraditório do capitalismo se manifesta no fato de que
o crescimento dos meios de produção, em vez de se traduzirem pela
elevação do nível de vida dos trabalhadores, leva a um duplo processo de
proletarização e pauperização. Marx vê o capitalismo como uma
sociedade na qual a burguesia e o proletariado são classes sociais
revolucionárias e antagônicas. A burguesia foi uma classe revolucionária
porque fez a revolução que instaurou o capitalismo. O proletariado é
revolucionário porque lutará para a destruição do regime capitalista.
Para ele, toda a história humana, não só a do capitalismo, é a
história da luta de classes. O capitalismo define a classe em si a partir do
critério objetivo, ou seja, a posição que ocupa na produção e classe para si
a partir do critério subjetivo, que envolve identidade e/ou pertencimento a
uma determinada classe, assim é uma classe política, na medida em que é
conceituada como grupo de pessoas que se organizam politicamente para
defender seus interesses (QUINTANEIRO; BARBOSA; GARDÊNIA, 2002).
Na perspectiva marxista a burguesia para afirmar-se como
capitalista, precisa não só apropriar-se do produto do trabalho excedente
(não pago/mais-valia), mas também reconhecer o produtor do trabalho
excedente, a mais-valia, que aparece na sua consciência como lucro. Da
mesma forma o proletário, para afirmar-se como tal, precisa não só de
afirmar-se como produtor de mercadoria ou vendedor da força de
trabalho, mas também reconhecer o proprietário dos meios de produção
que se apropria do produto do trabalho não pago. Essas questões
constituem-se em relações básicas de dependência, alienação e
antagonismo, que fundam a existência e a consciência do proletariado e
do capitalista (QUINTANEIRO; BARBOSA; GARDÊNIA, 2002).
Marx acreditava que o conflito de classes, em função dos recursos
econômicos, tornar-se-ia mais agudo com o passar do tempo, e com isso a
inevitável revolução dos trabalhadores, que poderia acabar com o sistema
capitalista, capaz de introduzir uma nova sociedade na qual não haveria
classes – nem divisões entre ricos e pobres.
A sociedade não seria mais dividida entre uma pequena classe,
474
B GC
GLOSSÁRIO
A
E
F
Mais-valia: era definida por
Marx com a diferença entre
o valor necessário à
sobrevivência do
trabalhador e o excedente
que produz e que é
acumulado pelo capitalista.
É a diferença entre o valor
que ele produz e o valor da
sua força de trabalho.
PARA REFLETIR
Para Marx a força de
trabalho humana era uma
mercadoria como qualquer
outra, a única
especificidade é que esta
produz valor.
Sociologia Geral
UAB/Unimontes
que monopoliza o poder econômico e político e uma grande massa de
pessoas que pouco se beneficia da riqueza que seu trabalho cria. O novo
sistema econômico se encontraria sob a propriedade estatal e uma
sociedade mais humana e democrática do que esta que conhecemos no
presente seria estabelecida. Marx acreditava que, na sociedade do futuro,
a produção seria mais avançada e eficiente do que a produção sob o
capitalismo.
2.7 CONCEITOS DE ALIENAÇÃO E IDEOLOGIA
Alienação para Marx é a ação pela qual (ou estado no qual) um
indivíduo ou grupo social se tornam alheios, estranhos, separados, enfim
alienados aos resultados ou produtos de sua própria atividade produtiva.
Alienação para Marx, nasce da forma como a força de trabalho é utilizada
no sistema de produção capitalista, pois é uma mercadoria, cuja existência
está orientada para a posse privada e para o mercado. Submete-se o
trabalhador às relações capitalistas de produção, onde a intensidade do
trabalho, a criação e o destino das mercadorias se tornam coisa, levando a
alienação ao não reconhecimento do mundo real e das reais possibilidades
humanas.
O núcleo explicativo desse processo é a categoria de mais-valia,
pois revela uma relação determinada de alienação e antagonismo, na qual
se encadeiam e opõem operário e capitalista. O trabalhador troca com o
capital o seu próprio trabalho, aliena-o. O preço que recebe é o valor dessa
alienação.
A Alienação é sempre alienação de si próprio, sendo não apenas
um conceito, mas também um apelo à modificação revolucionária do
mundo (desalienação). Dessa forma, Marx questiona a possibilidade do
conhecimento do mundo real. Nesse sentido, podemos associar o conceito
de alienação ao de ideologia.
As idéias de toda ordem derivam do substrato material da história,
e no capitalismo não é diferente. Para Marx, o desenvolvimento das idéias
era subordinado, dependente, e estava sistematizado na ideologia –
compêndio das ilusões através das quais os homens pensavam sua própria
realidade de maneira enviesada, deformada, fantasmagórica. A ideologia
para Marx é a consciência falsa, equivocada, da realidade, não deliberada,
mas necessária ao pensamento de determinada classe social, a burguesia,
sob determinadas condições de sua posição e funções em relação às
demais classes.
Toda produção de idéias, representações e formas de consciência
social resulta das relações sociais de produção capitalistas. A permanência
da alienação e sua legitimação através da ideologia garantem a
reprodução do modo capitalista de produção.
O processo de produção capitalista, considerado como um
todo articulado ou como processo de reprodução, produz
475
Caderno Didático III - 1º Período
Pedagogia
por conseguinte não apenas a mercadoria, não apenas a
mais-valia, mas produz e reproduz a própria relação
capital, de um lado o capitalista, do outro o trabalhador
assalariado. (MARX, 1977, p.161).
Fonte: http://bp3.blogger.com/_U9c-kWSRqX4/R7IcPBUDh6I/AAAAAAAABzw
/nkT4rOY4Q2A/s1600-h/trabalhador-engrenagens-~-IND022.jpg
Figura 11: Em Marx a alienação ocorre no processo
de produção, pois a força de trabalho torna-se uma
mercadoria, mais uma peça da engrenagem da
maquinaria.
As idéias e representações são produções concretas de homens
concretos, não dissociados da vida real, não existindo, portanto,
autonomia da ordem moral, da política, da religião, e das leis, de uma
sociedade qualquer. Os homens não agem sobre bases que não sejam os
limites colocados pelo processo de desenvolvimento de suas forças
Fonte: http://saladeaula.terapad.com/resources/2771/assets/images
produtivas e pelo processo
/ /alienação.jpg
vital de suas vidas.
Mas Marx pensou o
fim da alienação, quando o
homem deveria ultrapassar
todos os obstáculos da
sociedade, enquanto ser
concreto, e romper todos os
obstáculos para o
desenvolvimento do seu ser.
O proletariado, uma classe
desprovida de direitos e de
bens, seria capaz de
subverter a estrutura da
sociedade moder na, e
buscar a supressão de
qualquer tipo de alienação
através da revolução
proletária e socialista.
Figura 12: O homem alienado na sociedade
capitalista não se reconhece no processo
produtivo, na produção de mercadorias e
de capital, como algo real.
476
Sociologia Geral
DICAS
Assista ao filme Tempos
Modernos, dirigido por
Charles Chaplin, e discuta
com os colegas a inserção
do trabalhador no mundo
do trabalho na atualidade.
(Ver sinopse ao final desta
Unidade)
UAB/Unimontes
É preciso que a massa da humanidade que se encontra privada de
propriedade e se ache em contradição com um mundo da riqueza e da
cultura existente, faça a revolução contra o poder estabelecido.
Uma vez abolida a base, a propriedade privada, e
instaurada a regulamentação comunista da produção, que
abole no homem o sentimento de estar diante de seu
próprio produto como diante de uma coisa estranha, a
força da relação da oferta e da procura é reduzida a zero e
os homens retomam o seu poder, o intercâmbio, a
produção, a sua modalidade de comportamento uns face
aos outros. (MARX e ENGELS, 1992, p. 60).
Os homens estão determinados em toda produção de idéias, das
representações e da consciência à produção da vida material. “Os homens
são condicionados pelo desenvolvimento determinado de suas forças
produtivas e das relações a elas correspondentes, incluindo-se as mais
amplas formas que estas possam tomar. A consciência jamais pode ser
outra coisa que o Ser consciente e o Ser consciente é o seu processo real da
vida”. (MARX; ENGELS, 1992, p. 50).
2.8 ATUALIDADES DO MARXISMO
O trabalho de Marx teve um efeito de longo alcance no mundo do
século XX. Até recentemente, mais de um terço da população mundial
vivia em sociedades socialistas importantes no mundo como a União Soviética e os vários países da Europa Oriental, cujos governos afirmavam
tinham inspiração das idéias de Marx.
A análise da sociedade capitalista empreendida por Marx e Engels
levou a observação empírica dos fenômenos econômicos, dirigidos
principalmente para o entendimento do conjunto das relações sociais de
produção, para daí estabelecer o elo entre as estruturas sociais, políticas e
ideológicas da sociedade capitalista.
A perspectiva teórica marxista encontrou ao longo da história
inúmeros adeptos, como também fundamentou os partidos marxistas
entre os operários, além de possibilitar aos intelectuais realizarem uma
crítica da realidade e também influenciar suas atividades cientificas de um
modo geral e, especificamente, a área das ciências humanas.
Sua contribuição teórica ultrapassa a dimensão apenas da
ciência, constituindo uma verdadeira ética humanista, que conclama a
justiça e a igualdade dos homens. O autor consegue com sua obra
estabelecer relações profundas entre a realidade e a filosofia, a realidade e
a ciência.
Ao se adotar a proposta teórica marxista, deve-se então abarcar
além da simples aceitação do ideário comunista de uma sociedade sem
classe e sem propriedade privada, a necessidade de seguir seus
pressupostos teóricos, exercendo a crítica veemente do momento histórico
em que se vive e buscar por meio dessa crítica uma posição ideológica e
política coerente.
477
Caderno Didático III - 1º Período
Pedagogia
REFERÊNCIAS
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COSTA, Cristina. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. São
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de Pedagogia, n° 02, ano 02, dez./96, p. 15-24.
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Sociologia Geral
UAB/Unimontes
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Edgard Malagodi. São Paulo: Nova Cultural, 1999. (Coleção Os
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MARX, Karl; ENGELS, F. A ideologia Alemã. São Paulo: Martins Fontes,
1992.
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Progresso, 1987. (várias outras edições).
QUINTANEIRO, Tânia; BARBOSA, Maria Lígia de Oliveira; OLIVEIRA,
Márcia Gardênia de. Um toque de clássicos – Marx, Durkheim e Weber.
Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2002. (Coleção Aprender)
VICENTINO, C.; DORIGO, G. História. São Paulo: Scipione, 2005
VÍDEOS SUGERIDOS PARA DEBATE
GERMINAL.
A cena tem lugar no norte da França, enquanto ocorre uma greve
provocada pela redução dos salários. Além dos aspectos técnicos, da
extração mineral e as condições de vida dos trabalhadores mineiros, Zola
também descreve as condições de vida e o princípio das organizações
política e sindical da classe operária.
TEMPOS MODERNOS
O filme conta a história de um operário e uma jovem. O operário é
empregado em uma grande fábrica e desempenha um trabalho repetitivo
de apertar parafusos. De tanto realizar essa tarefa, o operário tem
problemas de stress e estafa.
479
3
UNIDADE 3
A SOCIOLOGIA DE ÉMILE DURKHEIM
A unidade III desse caderno aborda a contribuição teórica de
Émile Durkheim para a formação da Sociologia clássica. Como um dos
fundadores da Sociologia, apresentaremos e discutiremos as principais
noções, conceitos e análises desenvolvidas por Durkheim.
Terá destaque o contexto de produção intelectual do autor, bem
como seu campo de diálogo e suas heranças teórico-metodológicas.
Trataremos do objeto da Sociologia de Durkheim, buscando compreender
como sua construção se associa com a consolidação da Sociologia como
ciência. Isto é, seu despojar-se da filosofia, o diálogo com o organicismo e o
positivismo, e a afirmação como campo científico.
Para entendermos a abordagem sociológica de Durkheim,
discutiremos o conceito de Fatos Sociais. Também sua proposição
metodológica central, de tratar os Fatos Sociais como Coisa. No entremeio
objeto e método, apresentaremos alguns conceitos e noções desenvolvidas
pelo autor, que são fundamentais para a compreensão do campo analítico
construído por ele.
Esta unidade está dividida da seguinte forma:
3.1 Vida e obra do autor
3.2 Diálogo com o positivismo
3.3 Instituições Sociais
3.4 Patologia Social
3.5 Fatos Sociais
3.6 Mudança Social
3.7 Socialização e Educação
3.8 Divisão do Trabalho Social
3.9 Tipos de Solidariedade Social
3.10 Considerações sobre o método: a objetividade dos fatos
sociais
3.1 VIDA E OBRA DO AUTOR
Nascido na Alsácia, região leste da
França, Émile Durkheim (1858-1917) foi
um dos fundadores do pensamento
sociológico clássico. Influenciado pelo
pensamento social positivista, desenvolvido
por Auguste Comte (1798-1857).
Principais obras: Da Divisão do Trabalho
Social; As Regras do Método Sociológico;
As Formas Elementares de Vida Religiosa;
480
Fonte: http://www.duplipensar.net/ images/
literatura/ durkheim1.jpg
Figura 13: Émile Durkheim
Sociologia Geral
UAB/Unimontes
Educação e Sociedade; Sociologia e Filosofia; Lições de Sociologia.
Quadro 4Renato Ortiz (1989) afirma que os cursos oferecidos por
Durkheim,
durante
o período
em que lecionou em Bordeaux, serviram
1858
Nasce
David
Émile Durkheim
1879 ensaios
a
Cursa
a École
Normale a
Supérieur
como
que
permitiram
ele desenvolver suas idéias. Haveria,
1882
assim,
“lógicaPedagogia
seqüencial
nas primeiras
publicações”:
1887 uma
a
Leciona
e Ciência
Social em
Boudeaux
Divisão
do Trabalho Social (1893) estabelece o objeto da
Publica artigos naARevue
Philosophique
Publica ElementosSociologia
de Sociologia
As Regras do Método Sociológico (1895) lança
Publica Da Divisãoasdo
Trabalho
bases
de umaSocial
metodologia específica da nova ciência; O
Publica As RegrasSuicídio
do Método
Sociológico
(1895)
aplica o método a um terreno considerado
Publica A Proibição
Incesto
e pertencente
suas Origens
atédo
então
como
à psicologia. Quando L'Année
Edita a revista L’ Année Sociologique
Sociologique é criada, em 1898, o pensamento
1897
Publica O Suicídio
durkheimiano
encontra-se definido; trata-se agora de
1898
Publica O Individualismo
e os Intelectuais
consolidar
e
expandir
um conhecimento através de uma
1900 a
Leciona na Sorbonne
equipe de pesquisadores especializados no estudo de
1912
1902
Publica, em parceria
com Marcel
Mauss,
Algumas
Formas
diferentes
ramos da
sociedade.
(ORTIZ,
1989, Primitivas
p. 06).
de Classificação
Deve-se a Durkheim a institucionalização da Sociologia como
1906
Publica A Determinação do Fato Moral
disciplina
acadêmica,
com
definiçãona
rigorosa
de teoria e de método. Para
1910
Cria a cátedra
de Sociologia
Sorbonne
1912
Publica
As
Formas
Elementares
de
Vida
Religiosa
ele,
1917
Morre David Émile Durkheim
a Sociedade é a finalidade eminente de toda atividade
moral. De onde resulta: a) ao mesmo tempo em que
ultrapassa as consciências individuais, lhes é imanente; b)
tem todas as características de uma individualidade moral
que impõe respeito. A Sociedade é um fim transcendente
para as consciências individuais.
1902
1889
1893
1895
1896
A civilização resulta da cooperação dos homens associados
durante sucessivas gerações; é, pois, uma obra
essencialmente social. É a sociedade quem a faz, quem
cuida dela e quem a transmite aos indivíduos. (DURKHEIM,
1994, p. 82-83).
De acordo com essa perspectiva, seria possível compreender as
sociedades, a partir da identificação e análise de suas leis gerais de funcionamento.
“O social é, portanto, passível de uma leitura que possa dele retirar determinadas
regularidades (leis) a serem estudadas por uma ciência particular.” (ORTIZ, 1989,
p. 10).
3.2 DIÁLOGO COM O POSITIVISMO
Os positivistas reconheciam que a natureza dos processos
do mundo físico e do mundo social era diferente em sua essência.
Entretanto, assim como a física estabeleceu as leis da mecânica, a ciência
social deveria estabelecer as leis de funcionamento do mundo social.
Dessa maneira, Auguste Comte construiu um pensamento fundado na
noção de Física Social. Esta noção se constituirá como um embrião da
Sociologia funcional-positivista de Durkheim.
Além disso, a sociedade moderna era vista pelo positivismo como
uma espécie de organismo, constituído por partes que cumprem funções
específicas que, integradas mutuamente, asseguravam o funcionamento
harmônico do corpo social.
Herdando de Comte a idéia de que as sociedades modernas
funcionam a partir de determinadas regras que orientam o modo de
481
Caderno Didático III - 1º Período
Pedagogia
pensar, agir e sentir dos indivíduos que as compõem é que Durkheim
iniciará seus estudos sociológicos. Deriva dessa perspectiva, o conceito de
Fato Social, que Durkheim desenvolverá. (Veremos isso adiante, em item
especifico).
Da ordem ou harmonia se garantiria a saúde do corpo social, e
com isso, o seu progresso. Então, caberia a todos o cuidado com o bom
funcionamento das partes que compõem a sociedade, em outras palavras,
as instituições sociais.
A Sociologia deveria se consolidar como ciência e, com rigor
teórico-metodológico, fornecer as informações, realizar os estudos sobre a
maneira como as sociedades funcionam. (Confira no Glossário da I
Unidade o termo Funcionalismo). Assim, ela daria respostas às questões,
tais como: quais são os organismos sociais em diferentes tipos de
sociedades, como se interagem, como produzem e imprimem as maneiras
de pensar e agir dos indivíduos?
Nesse sentido, a família, a escola, a religião/igreja teriam funções
fundamentais para garantir a socialização e a integração dos indivíduos na
vida em sociedade. Os estudos sobre religião se encontram na obra As
Formas Elementares de Vida Religiosa, publicada em 1912. Nessa
abordagem, Durkheim procura situar a questão das religiões primitivas,
como elemento analítico de sua Sociologia do conhecimento humano.
Não obstante, de maneira geral, Durkheim construirá uma
abordagem teórica e metodológica que tem como foco a perspectiva de
que as sociedades modernas e/ou não modernas, isto é, tanto a Europa
industrial quanto sociedades indígenas das Américas se estruturam, a
partir do ordenamento funcional entre instituições. Os indivíduos que
participam dessas sociedades, ao longo do seu ciclo de vida, têm suas
práticas, pensamentos e sentimentos moldados coercitivamente pelas
instituições. O conceito de Fato Social, que estudaremos detalhadamente
nessa unidade, permitirá entendermos essa proposta analítica de Émile
Durkheim.
Todos os pensadores fundamentais da Sociologia clássica tiveram
como preocupação central a análise e entendimento das transformações
que ocorriam na Europa dos séculos XVIII e XIX. Ou seja, a
industrialização como eixo do processo produtivo e a as cidades
consolidadas como espaço de organização da vida social.
Esse cenário que se torna visível a todos, principalmente a partir da
segunda metade do século XIX, e suas conseqüências, em termos de rearranjos econômicos, sociais e culturais, esteve na base da análise
sociológica de Émile Durkheim.
Como já vimos anteriormente, influenciado pela perspectiva
positivista, Durkheim procurará entender a complexidade da Europa
moderna, propondo uma Sociologia que concentra os esforços analíticos
na tentativa de responder questões relativas às regras de funcionamento
das sociedades.
482
B GC
GLOSSÁRIO
A
E
F
Organicismo: em
Sociologia, quer dizer que
existe uma doutrina que
assimila a sociedade aos
seres vivos e tende a aplicar
aos fatos sociais as leis e
teorias biológicas.
Sociologia Geral
UAB/Unimontes
Nesse sentido, é importante perguntar o que é uma sociedade?
Durkheim afirmou que a sociedade deve ser compreendida como um
corpo social. Para a Biologia, o corpo humano é produto de uma complexa
relação entre órgãos e tecidos, que cumprem funções específicas e
mutuamente dependentes. Não adianta o coração cumprir bem sua
função de bombeamento do sangue, se o pulmão estiver comprometido,
doente. Certamente, o corpo como um todo padecerá.
Tomando de empréstimo esse raciocínio e também a noção
positivista de que as sociedades são regidas por determinadas lógicas que
podem ser compreendidas pelo pensador social, Durkheim desenvolverá a
idéia herdada de corpo social.
Mas de que maneira?
O corpo social é composto por um conjunto de órgãos ou
organismos sociais. Durkheim herda essa noção do organicismo. Para ele,
as instituições sociais seriam esses organismos, que teriam funções
específicas. Portanto, ao sociólogo caberia a missão de identificar as
instituições sociais presentes em variadas sociedades e, principalmente,
quais as suas funções. Isto é, qual a razão de sua existência? Qual a sua
serventia? Quais as suas atribuições?
3.3 INSTITUIÇÕES SOCIAIS
De onde vêm as instituições? Como elas emergem? As instituições
sociais não são naturais. Elas não são criações divinas. Ao contrário, as
instituições são criações da vida em sociedade ao longo da história
humana.
As instituições sociais expressam as representações de que as
sociedades têm e constroem sobre si mesmas, sobre seus membros, e
sobre as coisas com as quais se estabelecem relações. Durkheim
desenvolveu o conceito de Representação Social, que estudaremos mais
adiante, para dar conta dessa análise.
PARA REFLETIR
As formas de agir, de
pensar e de sentir são fatos
sociais para Durkheim.
Têm uma vida própria, são
coercitivos e por isto se
impõem a todos, de
geração em geração os
costumes são repassados.
Nesse sentido, as
instituições sociais, ao serem
guardiãs das representações
sociais, cumprem a função de
organizar as práticas, pensamentos
e sentidos da vida dos indivíduos em
sociedade.
Quando se fala em
instituições sociais, Durkheim está
se referindo às estruturas sociais
que têm dimensão material e
também simbólica. A família, a
escola, o governo, a polícia são
alguns exemplos de instituições
Fonte: http://www.institutover.org.br/imagens/pessoas.jpg
Figura 14: Os grupos sociais são
organizações da vida social e coletiva.
483
Caderno Didático III - 1º Período
Pedagogia
sociais.
Sociedades não modernas, como as indígenas, por exemplo, são
também compostas por instituições sociais. Assim, cabe ao sociólogo,
identificá-las, caracterizá-las e entender suas atribuições para o
funcionamento do corpo social.
Em suma, as instituições sociais podem ser entendidas como um
conjunto de regras e procedimentos socialmente definidos e aceitos pela
sociedade. Assim, as instituições sociais objetivam manter a organização
do corpo social.
Ao estudar as instituições sociais, sua configuração e funções,
Durkheim desenvolverá a noção de Morfologia Social. Ao identificá-la, o
sociólogo poderia empreender uma de suas principais tarefas, a
comparação entre as diversas sociedades.
Influenciado pela leitura positivista que classificava as sociedades
de acordo com a complexidade das formas de organização do corpo
social, Durkheim considerava que todas as sociedades teriam sido
derivadas da Horda. A horda seria “a forma social mais simples,
igualitária, reduzida a um único segmento em que os indivíduos se
assemelhavam aos átomos, isto é, se apresentavam justapostos e iguais.”
(COSTA, 2005, p. 87).
3.4 PATOLOGIA SOCIAL
As instituições sociais cumprem as funções que lhe são atribuídas
por intermédio do consenso social ao longo da história de cada sociedade.
Quando assim se encontram as dinâmicas institucionais, estamos diante
Figura 15: Exemplo simplificado de Morfologia Social
484
Sociologia Geral
UAB/Unimontes
de um corpo social saudável. O contrário, seria considerado patologia
social.
O estado patológico se refere a situações “fora dos limites
permitidos pela ordem social e pela moral vigente.” (COSTA, 2005, p. 86).
Os limites do permitido são construções sociais. As instituições sociais são,
em última instância, as responsáveis pela ordem, e por conseqüência da
saúde do corpo social.
Como já conhecemos a visão geral que Durkheim tinha da
importância da Sociologia para o estudo das sociedades, da sua herança
positivista, vamos, adiante, analisar o conceito de Fato Social. Tal conceito
está no cerne do pensamento de Durkheim. Com ele, será possível definir,
claramente, o objeto de estudo da Sociologia durkheimiana. É na obra
intitulada As Regras do Método Sociológico, de 1895, que Durkheim
tratará, rigorosamente, de seu campo de estudo e da reflexão sobre o
como fazer, isto é, dos procedimentos metodológicos para a pesquisa em
Sociologia, ou de como tratar os fatos sociais.
3.5 FATOS SOCIAIS
Os Fatos Sociais constituem o objeto da Sociologia de Durkheim.
O primeiro capítulo de As Regras do Método Sociológico é denominado
por ele de “O que é um fato social?”. Ele o definirá da seguinte forma:
É fato social toda maneira de fazer, fixada ou não, suscetível
de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou
ainda, toda maneira de fazer que é geral na extensão de
uma sociedade dada e, ao mesmo tempo, possui uma
existência própria, independente de suas manifestações
individuais. (DURKHEIM, 1995, p. 13).
Com essa definição, Durkheim estabelecia o que deveria ser o foco
da análise sociológica, procurando diferenciá-la das ciências da natureza,
bem como da psicologia e da filosofia.
Os fatos sociais são maneiras de pensar, agir e sentir que possuem
o atributo de generalidade, exterioridade e coercitividade sobre os
indivíduos em determinada sociedade.
Assim, ficava claro que as ações dos indivíduos são orientadas ou
constrangidas por estruturas sociais, que ao nascer herdamos,
independentemente de nossas vontades. É essa característica que faz com
que os fatos sociais sejam exteriores aos indivíduos. Em outras palavras,
eles pré-existem. São construções coletivas, que agem sobre os indivíduos.
O caráter de coerção significa que os fatos sociais se impõem aos
indivíduos, conformam suas ações e pensamentos. Para Costa, “a força
coercitiva dos fatos sociais se torna evidente pelas 'sanções legais' ou
'espontâneas' a que o indivíduo está sujeito quando tenta rebelar-se contra
ela.” (COSTA, 2005, p. 81).
Os fatos sociais são formados pelas representações sociais. Isto é,
485
Caderno Didático III - 1º Período
Pedagogia
pelas maneiras de “como a sociedade vê a si mesma e ao mundo que a
rodeia”. (QUINTANEIRO; BARBOSA; OLIVEIRA, 2002, p. 18). Essas
“formas de atuar e de pensar não são obra do indivíduo [...] emanam de
um poder moral que o sobrepuja [...]” (DURKHEIM, 1994, p. 42).
Com essa definição do objeto de análise, Durkheim constrói o
campo de investigação científica da Sociologia, separando-o claramente
das abordagens filosófica e psicológica. Ortiz (1989) definiu Durkheim
como o arquiteto fundador da Sociologia.
Os indivíduos não são portadores de uma ação que, em si mesma,
encontra as razões do agir, do pensar e do sentir. Durkheim sugere uma
abordagem sociológica que assuma o pressuposto de que a fonte
explicativa da sociedade se encontra em estruturas coletivas, que
conformam a vida individual. Os fatos sociais superam os “espíritos
individuais, exatamente do mesmo modo como o todo supera as partes”.
(DURKHEIM, 1994, p. 43).
Ortiz (1989) afirmou que em O Suicídio, de 1897, Durkheim
aplicou com rigor seu método, num campo analítico até então tido como
da Psicologia.
Nessa obra, ele demonstrou que uma atividade humana que seria,
aparentemente, feito puro da consciência individual, isto é uma decisão
eminentemente individual, é, na verdade, produto social. Em outras
palavras, as causas do suicídio “são de natureza sociológica e não
individual”.
Durkheim procurou elaborar uma tipologia dos suicídios. Os
suicídios egoísta, altruísta e anômico. O primeiro tipo estaria associado à
desagregação social, à fragilização de vínculos morais, familiares, que
levariam o indivíduo aos estados de melancolia, desamparo, depressão. O
segundo teria por base a idéia de dever cumprido. O terceiro derivaria de
um estado de ausência de regras e normas. Em todos os casos, ato suicida
seria conseqüência do ordenamento social. Portanto, objeto de análise da
Sociologia.
3.6 MUDANÇA SOCIAL
Os fatos sociais são maneiras de pensar, agir e sentir, que
extrapolam as consciências individuais, constituindo uma consciência
coletiva, que exerce sobre aquelas uma coerção exterior.
A exposição feita sobre os Fatos Sociais pode levar você, leitor, à
impressão de que os indivíduos se encontram impotentes diante da força
conformadora destes. No entanto, as regras, costumes, normas, leis, etc.
mudam; as sociedades também mudam. O que somos hoje é bastante
diferente do que éramos no século XIX, ou mesmo na primeira metade do
século XX, ou talvez vinte anos atrás.
As instituições sociais, erigidas para tornar fato aquilo que as
sociedades compreendem e definem, ao longo da história, como o seu
486
Sociologia Geral
UAB/Unimontes
ordenamento comportamental (agir, pensar, sentir) são submetidas,
cotidianamente, aos tensionamentos advindos da relação entre os
“espíritos” dos indivíduos e as representações sociais.
Durkheim reconhece o comportamento inovador, a gênese das
instituições sociais. Porém, “essa ação transformadora é tanto mais difícil
quanto maior o peso ou a centralidade que a regra, a crença ou a prática
social que se quer modificar possuem na sociedade.” (QUINTANEIRO;
BARBOSA; OLIVEIRA, 2002, p. 21).
A Sociologia de Durkheim foi bastante criticada por ser uma
abordagem que privilegia o comportamento funcional das instituições
sociais e a relação entre esse e as possibilidades de coesão e harmonia
social. Ou ainda, os riscos que transformações nas regras, normas e leis
que regem a vida em sociedade podem causar para a saúde social.
Porém, como vimos, embora a ênfase na mudança social não seja
o motor analítico de Durkheim, e os conflitos expressassem patologias
sociais, não é possível dizer que sua abordagem não forneça elementos
para pensar como as sociedades se transformam.
Não devemos esquecer que a segunda metade do século XIX e as
duas primeiras décadas do século XX foram momentos de intensas
transformações na Europa. As Regras do Método Sociológico, obra
seminal do pensamento de Durkheim foi escrita em 1895, quando já se
vivenciava intensamente na Inglaterra e, também na França, a
consolidação de grandes centros urbanos e industriais. Mais ainda,
ocorreria entre 1914 e 1918 a primeira grande Guerra Mundial. E em 1917
a insurreição comunista na Rússia.
Imerso num ambiente de grandes conflitos e de mudanças
estruturais com vistas à consolidação do capitalismo industrial na Europa,
Durkheim viverá a perturbação analítica de responder à indagação: o que
rege a organização das sociedades? Quais as lógicas e dinâmicas de seu
funcionamento? O que faz com que se tenha coesão social e processo
harmônicos? O que leva à patologia e à desagregação social ou à anomia?
Ou qual é a ordem régia da mudança com coesão social?
Vejamos que não são questionamentos simples. São, antes,
inquietações profundas para um pensador como Durkheim.
Para os nossos propósitos atuais, podemos conceber coesão social
como o laço que permite aos indivíduos se interconectarem e formarem
um grupo social ou uma sociedade. Por anomia, podemos compreender
um estado de desagregação social, de tal intensidade, que reinaria a falta
ou inexistência de normas e regras condutoras da vida em sociedade.
O processo anômico se verificaria em três situações: a) crises
industriais e comerciais; b) conflito entre capital e trabalho, desarmonia
entre patrões e empregados; c) especialização extrema no interior da
ciência. (QUINTANEIRO; BARBOSA; OLIVEIRA, 2002).
Mas retomemos então a indagação feita anteriormente. Como
Durkheim entende a mudança social?
487
Caderno Didático III - 1º Período
Pedagogia
As condutas individuais são conformadas pelas maneiras de
pensar, agir e sentir que são suscetíveis de exercer coerção exterior; em
outras palavras a ação individual é constrangida pelos Fatos Sociais, a
mudança social reside na transformação destes. Se as instituições sociais
regem a vida em sociedade, é também aí o foco da perspectiva de análise
da mudança.
Os Fatos Sociais que se expressam nas regras, normas, leis,
acordos tácitos, tradições, costumes, ritos, expectativas de
comportamento, etc. estão profundamente arraigados à prática
institucional. A família, a escola, as leis/códigos do direito, o estado, dentre
outras instituições, portam e são os guardiões das regras de
funcionamento da vida social.
Portanto, a mudança social só se efetiva a partir de mudanças nos
fatos sociais, nas instituições sociais. É, então, produto da relação entre os
indivíduos e as instituições sociais. De um lado, deriva do tensionamento,
da coerção exercida pelos fatos sociais, por intermédio das instituições
sociais e, de outro, dos “espíritos” ou consciências individuais. São
mudanças que, para se consolidarem como tal, demandam tempo na
história.
Essa abordagem de Durkheim faz com que observemos nele
muito mais um teórico do funcionamento social, no sentido da coesão
social, do que propriamente um teórico da mudança social. Vem,
principalmente, dessa perspectiva, a crítica de que Durkheim é um
pensador conservador.
Como Durkheim analisaria as transformações decorrentes das
insurreições revolucionárias? O êxito de mudanças profundas ou radicais
na estrutura das relações sociais estaria ancorado à capacidade de tais
processos de imprimirem alterações nas maneiras de pensar, agir e sentir
que exercem coerção sobre os indivíduos. Isto é, transformações no
conteúdo funcional das instituições sociais.
Dessa maneira, Durkheim acreditava que as revoluções eram
muito mais suscetíveis de produzir patologias sociais e anomia; a
desagregação social.
Durkheim via no socialismo “apenas indicadores de um mal-estar
social expresso em símbolos”. Ele rejeitava “as soluções para os problemas
sociais propostas pelos grupos que se qualificavam socialistas”.
(QUINTANEIRO; BARBOSA; OLIVEIRA, 2002, p. 45). Para ele, essa
abordagem concentrava nos aspectos econômicos da vida, inobservando
sua dimensão moral.
A mudança social estaria associada à noção de progresso. As
sociedades evoluem, progridem e se complexificam. Não havia dúvida
para Durkheim de que a Europa industrial da segunda metade do século
XIX era profundamente distinta da Europa medieval. As relações
mercantis, os processo produtivos, o campo normativo do direito, o Estado
foram drasticamente mudados. Todavia, foram processos que levaram
488
B GC
GLOSSÁRIO
A
E
F
Anomia: etimologicamente
tem origem grega
a+nomos, (a =
ausência + nomos = lei,
norma).
Sociologia Geral
UAB/Unimontes
séculos para se consolidarem nas instituições sociais.
O ordenamento funcional “saudável”, ou seja, não patológico da
sociedade garantiria a coesão social, condição indispensável para o
progresso. A socialização dos indivíduos, realizada principalmente pelas
instituições família e escola é parte essencial desse processo.
E o que significa socialização?
3.7 SOCIALIZAÇÃO E EDUCAÇÃO
Já vimos que, quando nascemos herdamos todo um complexo
institucional, de representações sociais. Somos iniciados pela família e
depois pela escola ao processo educacional. O que é educar?
Durkheim escreve importantes textos sobre essa questão, reunidos
e publicados no Brasil sob o título de Educação e Sociologia, em 1955.
Para ele, a educação é
a ação exercida, pelas gerações adultas, sobre aquelas não
ainda amadurecidas para a vida social. Tem por objeto
suscitar e desenvolver, na criança, certo número de estados
físicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade
política no seu conjunto, e pelo meio especial a que a
criança particularmente se destina. A educação é a
socialização da criança. (DURKHEIM, 1955, p. 06).
Pois bem! Devemos perguntar qual a relação entre educação e o
objeto de estudo ou a abordagem de Durkheim? Afinal é disso que estamos
tratando nessa parte da Unidade III, deste Caderno.
Se educar é socializar, e se socializar significa inculcar nos
indivíduos aquilo que se espera, pela sociedade em geral e pelo seu meio
de convívio mais direto, em termos de comportamento físico, intelectual e
moral, Durkheim está propondo uma dimensão do processo social
fundamental para a análise sociológica da vida em sociedade. Mais ainda,
um elemento interpretativo essencial para o entendimento do
funcionamento das relações sociais.
Ah! Então uma Sociologia da socialização ou da educação é parte
fundante do pensamento de Durkheim? Exatamente! Durante os
primeiros anos de sua vida acadêmica, Durkheim lecionou a cadeira de
Ciência da Educação na Sorbonne. E lá ele dizia com muita clareza “a
educação é um fenômeno eminentemente social”.
Não se trata, aqui, de adentrarmos na Sociologia da educação de
Durkheim. Isso vocês estudarão em disciplina específica durante a
Licenciatura em Pedagogia.
Interessa-nos compreender que a análise do processo de
socialização dos indivíduos é que permitiu a Durkheim, dentre outras
coisas, estabelecer interconexões interpretativas entre os conceitos de
Representações Sociais, Instituições Sociais e Consciência Individual.
Embora o funcionamento das sociedades seja capturado por meio
da análise de suas instituições sociais, de sua morfologia e fisiologia,
489
Caderno Didático III - 1º Período
Pedagogia
Durkheim reconhece que a sociedade é também composta por indivíduos
em processo de socialização. Daí que a eficácia simbólica das instituições
socializadoras, especialmente a família e a escola e a religião são objetos
importantes de sua análise.
Outra abordagem conceitual do pensamento sociológico de
Durkheim, que tem relação direta com a questão educacional, é a Divisão
do Trabalho Social.
3.8 DIVISÃO DO TRABALHO SOCIAL
Por ora, é necessário apresentarmos essa perspectiva conceitual,
dentro do quadro mais amplo do objeto sociológico de Durkheim.
Antes, é preciso indagar sobre o que é trabalho? Todos os
pensadores da Sociologia clássica, Karl Marx, Max Weber e Émile
Durkheim tiveram a temática do trabalho e da divisão deste nas sociedades
modernas e não modernas como preocupação central. Não poderia ser
diferente, pois se organizava de maneira sólida na Europa do século XIX
uma sociedade centrada no trabalho fabril.
De maneira geral, a noção de trabalho para a Sociologia está
relacionada ao processo de transformação da natureza para gerar
produtos capazes de satisfazer as necessidades dos grupos sociais.
Necessidades essas distintas, de acordo com o tempo e com o espaço. Isto
é, cada sociedade ou grupos sociais em determinados momentos de sua
história definem duas necessidades. Portanto, as necessidades são
construções sociais.
Assim, também os produtos gerados para a satisfação das
necessidades, bem como a maneira de produzi-los são igualmente
construções sociais. Ou seja, derivam da forma como as sociedades ou
grupos se organizam para realizar trabalho.
Organizar-se coletivamente para realizar trabalho significa dividirse individualmente e/ou em estratos sociais para o seu cumprimento.
Então, todas as sociedades, todos os grupos humanos, em todos
os momentos de suas histórias, a partir da Horda se dividiram para realizar
trabalho.
O conceito de Divisão do Trabalho Social refere-se ao processo de
atribuição de funções produtivas entre os membros que compõem
determinada sociedade.
Mas como se dá essa divisão? É espontânea? É definida por
alguém? Qual a sua força motriz?
Responder a essas questões é parte da construção da episteme
durkheimiana. Em outras palavras, do campo de conhecimento de
Durkheim.
Certamente, uma sociedade indígena ou tribal, que Durkheim
denominou de não modernas, têm formas distintas das sociedades ditas
490
Sociologia Geral
UAB/Unimontes
modernas, para dividir o trabalho social, principalmente da Europa
industrial.
Uma das questões fundamentais para Durkheim era a morfologia
social, como um instrumento rico para o exercício da comparação que, por
sua vez, era uma das tarefas analíticas da ciência sociológica. Nessa
perspectiva, o conceito de Divisão do Trabalho Social cumpriria essa
função.
Voltemos, então, à relação entre educação/socialização e Divisão
do Trabalho Social. Isto é, das tarefas produtivas que a sociedade deve
cumprir para gerar a satisfação de suas necessidades.
Veja o que Durkheim nos diz nos seus escritos sobre educação, em
relação à socialização e ao trabalho:
O homem médio é eminentemente plástico; pode ser
utilizado, com igual proveito, em funções muito diversas.
Se, pois, o homem se especializa, e se se especializa sob tal
forma ao invés de tal outra, não é por motivos que lhe sejam
internos; ele não é, nesse ponto, levado pelas necessidades
de sua natureza. É a sociedade que, para poder manter-se,
tem necessidade de dividir o trabalho, entre seus membros,
e de dividi-los de certo e determinado modo. Eis por que já
prepara, por suas próprias mãos, por meio da educação, os
trabalhadores especiais de que necessita. É, pois, por ela e
para ela que a educação se diversifica. (DURKHEIM, 1955,
p. 63).
Portanto, o processo de socialização é também a geração de
membros de uma sociedade capazes na execução de tarefas específicas.
Isto é, a educação disciplina e organiza as forças necessárias para a
produção de trabalho e a satisfação das necessidades sociais. A Divisão do
Trabalho Social é, então, um conceito chave para Durkheim.
Certamente, a Divisão do Trabalho Social – DTS – ocorre de forma
distinta, de acordo com as características de cada sociedade, das mais
simples às mais complexas. De acordo com Durkheim a divisão de tarefas
na sociedade implica em fonte de criação de tipos específicos de
solidariedade social. Isto é, se por um lado os membros de uma sociedade
se dividem para realizar trabalho, por outro há laços sociais criados que
permitem sua interdependência, tornando-os unidos como um grupo
social.
A solidariedade é algo que permite estarmos divididos, sermos
indivíduos, e ao mesmo tempo, sermos um grupo social, um corpo social,
uma sociedade. A solidariedade interconecta os membros de uma
sociedade.
Durkheim define, então, dois tipos de solidariedade social: a
solidariedade mecânica e a solidariedade orgânica.
3.9 TIPOS DE SOLIDARIEDADE SOCIAL
Ao indagar sobre o porquê e o como os grupos humanos não se
491
Caderno Didático III - 1º Período
Pedagogia
desintegram facilmente, ao contrário, lutam contra os riscos ou ameaças
de desintegração, Durkheim desenvolverá o conceito de Solidariedade
Social. Ela é o laço que une o indivíduo à sociedade.
Coerente com a abordagem comparativa, que estabeleceu a
Horda, como o organismo social menos complexo, do qual derivaria
progressivamente todas as sociedades complexas, Durkheim definirá dois
tipos de solidariedade social.
Solidariedade Mecânica: típica de sociedades menos complexas.
Seria uma solidariedade presente na Horda e em sociedades simples, ditas
por ele “primitivas”. A integração indivíduo-sociedade se daria pelo
sistema de crenças, sentimentos comuns, tradição, etc.
Solidariedade Orgânica: típica de sociedades complexas; é
derivada do processo de Divisão do Trabalho Social. A divisão do trabalho
impõe a especialização de funções aos indivíduos. Essa individualização
leva a uma aparente atomização dos membros que compõem o grupo
social. Ao contrário, a especialização do trabalho leva à interdependência
funcional. Quanto mais cada um tem uma função específica, mais
dependente do outro estaremos para gerar os produtos necessários à
satisfação de nossas necessidades.
A industrialização dos processos produtivos, a urbanização e a
consolidação da vida nas cidades fazem com que Durkheim compreenda a
existência de um movimento geral em direção à coesão social baseada na
Solidariedade Orgânica: o progresso.
3.10 CONSIDERAÇÕES SOBRE O MÉTODO: A OBJETIVIDADE DOS
FATOS SOCIAIS
Por método, de maneira geral, podemos compreender como a
maneira ou o modo de produzir o conhecimento relativo à determinada
ciência. São os caminhos, passos a serem dados, procedimentos a serem
realizados, bem como a reflexão constante sobre sua razão de ser, sua
potencialidade. Método está associado à noção de epistemologia. Em
outras palavras, no como agir e no pensar sobre o como fazer.
Durkheim define o método de sua Sociologia, de maneira muito
clara, no segundo capítulo de As Regras do Método Sociológico, intitulado
Regras Relativas à Observação dos Fatos Sociais. Logo no início ele diz: “A
primeira regra e a mais fundamental é considerar os fatos sociais como
coisas.” (DURKHEIM, 1995, p. 15). É fundamentalmente disso que
trataremos neste item.
Durkheim apresenta sua concepção de como tratar os fatos
sociais, da seguinte maneira:
O homem não pode viver em meio às coisas sem formar a
respeito delas idéias, de acordo com as quais regula sua
conduta. Acontece que, como essas noções estão mais
próximas de nós e mais ao nosso alcance do que as
realidades a que correspondem, tendemos naturalmente a
492
Sociologia Geral
UAB/Unimontes
substituir estas últimas por elas e a fazes delas a matéria
mesma de nossas especulações. Em vez de observar as
coisas, de descrevê-las, de compará-las, contentamo-nos
então em tomar consciência de nossas idéias, em analisálas, em combiná-las. Em vez de uma ciência de realidades,
não fazemos mais do que uma análise ideológica.
(DURKHEIM, 1995, p. 16).
De acordo com Ortiz (1989) a Sociologia como ciência positiva,
feita por Durkheim, teve por imperativo a definição rigorosa do objeto e do
método.
Ao propor que os fatos sociais se apresentam como "coisas"
para a observação, ele inverte a perspectiva anterior que
tomava como premissa o que eles "deveriam ser". Fundar
uma ciência "positiva" implicava partir da realidade, "afastar
as pré-noções", o que impunha uma abordagem indutiva
que a diferenciava do discurso filosófico. (ORTIZ, 1989, p.
09).
Tratar os fatos sociais como coisa significa a tarefa metodológica
do sociólogo de estranhamento daquilo que lhe é familiar. Quando
utilizamos, cotidianamente, a palavra Coisa para identificarmos algum
objeto, o fazemos para dar significado a algo que não conseguimos a priori
estabelecer seus atributos.
Quando possuímos, antecipadamente, o significado de
determinado objeto, ou como prefere Durkheim, a idéia prévia sobre o
real, assim indagamos e respondemos: O que é isto? Isto é um quadro
negro; Isto é uma mesa, Isto é uma escola; Isto é um livro.
Ao contrário, quando não possuímos em mente os atributos ou
características definidoras do objeto em questão, podemos dizer que se
trata de uma Coisa.
Portanto, para Durkheim, a postura metodológica fundamental
do sociólogo, é coisificar seu objeto de análise. Isto é, despojar-se das
idéias, previamente estabelecidas em sua mente, acerca daquilo que é o
seu objeto, os Fatos Sociais.
Nas palavras de Durkheim:
É preciso portanto considerar os fenômenos sociais em si
mesmos, separados dos sujeitos conscientes que os
concebem; é preciso estudá-los de fora, como coisas
exteriores, pois é nessa qualidade que eles se apresentam a
nós. (DURKHEIM, 1995, p. 28).
Lendo agora essa proposição metodológica de
Durkheim, e estudando a disciplina de Iniciação Científica, vocês devem
estar se indagando: mas qual a relação entre tratar os fatos sociais como
coisa e o pressuposto positivista de neutralidade da ciência?
Durkheim não está advogando uma neutralidade do sociólogo. O
que ele diz é que os fatos sociais possuem uma objetividade que deve ser
atingida pela ciência sociológica.
Concordando com que disse Ortiz (1989), estabelecer uma
ciência positiva, tendo por base “afastar-se das pré-noções”, significava
493
Caderno Didático III - 1º Período
Pedagogia
delimitar o campo científico da Sociologia, separando-o, definitivamente,
do campo filosófico.
Para Ortiz (1989), embora Durkheim fosse herdeiro e admirador
de Comte e Spencer, nem mesmo esses autores foram poupados da crítica.
Durkheim os classificou como Filósofos. Isso significava associar suas
análises ao campo investigativo com o qual Durkheim travava o embate.
Foi em vão que Comte e Spencer proclamaram que os fatos
sociais são fatos da natureza, que as ciências sociais são
ciências da natureza. Quando, saindo dessas
generalidades, eles aplicaram seus princípios, retornaram à
concepção e ao método antigo. Para Comte, a evolução
social consiste na realização da idéia de humanidade; Para
Spencer, a sociedade nada mais é do que a realização da
idéia de cooperação. (DURKHEIM, 1975, p. 95, apud
ORTIZ, 1995, p. 10).
O que Durkheim está defendendo é o imperativo da objetividade
dos Fatos Sociais, diante das noções prévias que temos em mente sobre
eles. A citação seguinte é indubitável, nesse sentido:
O que nos é dado não é a idéia que os homens fazem do
valor, pois ela é a inacessível; são os valores que se trocam
realmente no curso das relações econômicas. Não é esta
ou aquela concepção da idéia moral; é o conjunto das
regras que determinam efetivamente a conduta. Não é a
idéia do útil ou da riqueza; é toda a particularidade da
organização econômica. (DURKHEIM, 1995, p. 28).
Embora, contemporaneamente, seja inegável que as idéias préexistentes sejam elas de ordem moral, religiosa, estética, ideológica, etc,
fazem parte do crivo analítico de qualquer sociólogo, é preciso localizar as
proposições de Durkheim no seu tempo e no campo de debate entre a
Sociologia e a Filosofia do século XIX.
A noção de objetivação desenvolvida por Demo (1995), que
analisa as inter-relações cognitivas entre ciência, senso comum e
ideologia, de alguma maneira, herda as preocupações de Durkheim ao
construir sua perspectiva metodológica.
Certamente, Demo (1995) não está afirmando uma objetividade
ontológica do campo de análise das Pedagogia. O que ele está
apresentando é o conceito de Objetivação como um dos critérios de
cientificidade. Isto é, como um atributo necessário à análise científica, para
que esta seja valorada como tal.
Em outras palavras, deve haver uma busca, nunca plenamente
realizável, de objetividade analítica. Significa, portanto, uma vigilância
constante sobre os níveis de senso comum e de ideologia presentes nos
estudos científicos.
Como já disse Durkheim, não há como vivermos em meio às
coisas, sem formularmos idéias sobre elas.
494
Sociologia Geral
UAB/Unimontes
REFERÊNCIAS
COSTA, Cristina. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. 2. ed.
São Paulo: Editora Moderna, 2005.
DEMO, Pedro. Metodologia Científica em Pedagogia. São Paulo: Altas,
1995.
DURKHEIM, Émile. As Regras do Método Sociológico. São Paulo: Martins
Fontes, 1995.
DURKHEIM, Émile. Educação e Sociologia. São Paulo: Melhoramentos,
1955.
DURKHEIM, Émile. Sociologia e Filosofia. São Paulo: Ícone Editora, 1994.
ORTIZ, Renato. Durkheim: arquiteto e herói fundador. Revista Brasileira
de Pedagogia – ANPOCS, 4 (11), p. 5-22, outubro de 1989.
QUINTANEIRO, Tânia; BARBOSA, Maria Lígia de Oliveira; OLIVEIRA,
Márcia Gardênia de. Um toque de clássicos – Marx, Durkheim e Weber.
Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2002. (Coleção Aprender)
495
Caderno Didático III - 1º Período
Pedagogia
VÍDEOS SUGERIDOS PARA DEBATE
ENCONTRANDO FORRESTER
O diretor Gus Van Sant (Gênio Indomável) conta a história do
relacionamento entre um escritor e um garoto que adora basquete.
Com Sean Connery e Anna Paquin. Jamal Wallace (Robert Brown) é um
jovem adolescente que ganha uma bolsa de estudos em uma escola de
elite de Manhattan, devido ao seu desempenho nos testes de seu antigo
colégio no Bronx e também por jogar basquete muito bem. Após uma
aposta com seus amigos, ele conhece William Forrester (Sean Connery),
um talentoso e recluso escritor, com quem desenvolve uma profunda
amizade. Percebendo talento para a escrita em Jamal, Forrester procura
incentivá-lo para seguir esse caminho, mas termina recebendo de Jamal
algumas boas lições de vida.
O SEGREDO
Ao longo da existência da humanidade, um grande segredo foi
protegido a ferro e fogo. Homens e mulheres extraordinários o
descobriram e não só alcançaram feitos incríveis, mas também
mudaram o curso de nossa história. Platão, Da Vinci, Galileu, Thomas
Edison, Beethoven, Napoleão, Abraham Lincoln e Einstein foram alguns
dos grandes homens que controlavam a força desse mistério. E agora,
após milhares de anos, o Segredo será revelado para todo o mundo!
Pela primeira vez na História, importantes cientistas, autores e filósofos
vão revelar o segredo que transformou profundamente a vida daqueles
que o viveram.
496
4
UNIDADE 4
A SOCIOLOGIA DE MAX WEBER
Caros acadêmicos, até o momento já foi apresentado para vocês o
contexto de formação da Sociologia enquanto disciplina, além do
referencial teórico de dois importantes autores: Émile Durkheim e Karl
Marx. Na atual unidade abordaremos a teoria de outro ilustre pensador, o
sociólogo alemão Max Weber.
Cada um de vocês deve estar se perguntando, o que este novo
teórico pode ajudar em sua formação acadêmica e pessoal? A teoria
weberiana pode contribuir na formação de vocês em muitos aspectos.
Primeiro por se tratar de um intelectual que nos ensinou que é necessário
lidar diretamente com os problemas que estão à nossa volta. Sua
motivação de pesquisar estava ligada a uma tentativa de compreender
situações vivenciadas em seu país. O fato de procurar respostas para os
problemas de sua realidade não tirou de Weber o rigor nas suas
investigações científicas. Como poucos intelectuais, ele conseguiu separar
o cientista e o político que havia dentro dele.
A posição weberiana nos interessa, sobretudo, porque ela se
diferencia dos dois primeiros clássicos da Sociologia apresentados nesta
disciplina. Sua abordagem distancia-se de análises centradas em
estruturas sociais; difere também do entendimento dialético da história.
Weber se preocupa com o comportamento da ação humana. Não
qualquer ação, mas uma ação que possui sentido; somente aquelas ações
que tem o outro como referência. Através da teoria weberiana é possível
entender ações cotidianas, presentes no seu ambiente familiar, na
associação de bairro, ações do Estado, ou até mesmo um relacionamento
amoroso que você vive no momento.
A teoria weberiana nos permite verificar que as ações racionais,
emotivas ou tradicionais podem ser compreendidas muito além do aspecto
psicológicos. No nosso cotidiano, podemos observar que quando
compartilhamos nossas ações, com várias pessoas estamos produzindo
relações sociais. Certamente, a própria produção deste caderno significa
compartilhar informações; há diversos personagens envolvidos neste
projeto: eu que escrevo, o revisor que propõe alterações, e vocês que
estarão lendo o material e compartilhando com cada um de nós a
inconfundível sensação de descobrirumooutro universo de conhecimentos.
Para melhor apresentarmos as idéias do autor, a unidade será
dividida nos seguintes tópicos:
4.1 Biografia de Max Weber
4.2 Contexto histórico do pensamento weberiano
4.3 Indivíduo e sociedade na perspectiva weberiana
4.4 Especificidade das Pedagogia
4.5 Subjetividade e objetividade do conhecimento
497
Caderno Didático III - 1º Período
Pedagogia
4.6 O que é tipo ideal?
4.7 Tipos puros de ação social
DICAS
4.8 As relações sociais
4.1 BIOGRAFIA DE MAX WEBER
Fonte: http://hangingodes.files.wordpress.
com/2007/12/weber.jpg
Max Weber nasceu no dia 21 de
Abril de 1864, na cidade de Erfurt, na
Alemanha. A influência da mãe, mulher
culta e liberal, de fé protestante, e do pai
jurista e político, permitiu ao jovem Weber
crescer em um espaço que o transmitiu o
rigor da formação protestante e o gosto pelo
debate político. Em 1869, sua família
muda-se para Berlim. A casa paterna era
freqüentada por personalidades
acadêmicas e políticas, a convivência em
Figura 22: Max Weber
um ambiente erudito e intelectual também
contribuiu decisivamente para sua formação
Em 1882, Weber se inscreveu no curso de Direito da Universidade
de Heidelberg, período em que estudou outras disciplinas, como Filosofia,
História e Economia. Somente no final da sua carreira ocorreu uma
dedicação explícita à Sociologia, ainda que em seus primeiros trabalhos já
apresentassem aspectos sociológicos. Seu doutoramento ocorreu em
1889, com uma tese sobre as companhias comerciais da Idade Média. No
ano seguinte, volta para Berlim e atua como advogado. Nesse período
também escreve um tratado de análise sociológica e econômica do
Império Romano, intitulado “História das Instituições Agrárias”.
Além de se dedicar à vida acadêmica, Weber participou
ativamente da vida política alemã. Auxiliou na elaboração da Constituição
da República de Weimar, em 1919. No mesmo ano, integrou o corpo de
delegados que representaram a Alemanha durante o Tratado de Versalhes.
Um intelectual que embora não tenha ocupado nenhum cargo político,
esteve presente em todos os debates políticos do seu tempo.
No outono de 1894, assume a cadeira de Economia da
Universidade de Friburgo, onde trabalhou intensamente por dois anos, até
se transferir para Universidade de Heidelberg. De volta à sua antiga casa,
Weber tornou-se colega de seus ex-professores. Em 1898 começa a
apresentar sintomas de esgotamento psíquico, crise que o afastou das
atividades acadêmicas por praticamente cinco anos. Em 1903, recebe em
Heidelberg o título de professor honorário, fato que o permitiu organizar
livremente sua vida acadêmica. Weber sofrerá depressões agudas durante
toda sua vida, mas conseguirá realizar em três períodos de quatro anos
cada: 1903 a 1906, de 1911 a 1913, de 1916 a 1919 uma extraordinária
produção intelectual.
498
Para aprofundar seu
conhecimento sobre a
história alemã, o site
www.dw-world.de, da
emissora internacional
alemã Deutsche Welle
(DW) possui uma ampla
oferta de informações
atualizadas em 30
diferentes idiomas.
PARA REFLETIR
Em 1919 as potências
européias assinaram o
Tratado de Versalhes, que
encerrou oficialmente a
Primeira Guerra Mundial. O
Tratado impôs à Alemanha
a perda de uma parte de
seu território para nações
vizinhas, todas as suas
colônias, reconheceu a
independência da Áustria,
além de ser obrigada a
restringir o tamanho do
seu exército. A pintura de
Wiliam Orpen representa a
assinatura do Tratado.
Sociologia Geral
UAB/Unimontes
Weber casa-se em 1893, com Marianne Schnitger, uma
intelectual que participou ativamente do movimento feminista da época.
Após morte sua morte, em 14 de Julho de 1920, ela organizou e publicou
vários textos deixados pelo esposo e escreveu uma rica biografia de sua
vida.
4.2 CONTEXTO HISTÓRICO DO PENSAMENTO WEBERIANO
Logo de início, vocês já devem ter percebido que para entender o
surgimento de uma nova disciplina, ou o pensamento de um autor, é
necessário estudar os acontecimentos históricos, econômicos e
socioculturais vivenciados durante o período de seu surgimento. No caso
da obra de Max Weber não é diferente; sua postura crítica em relação à
realidade sempre o levou a escrever contra alguém ou contra algum
acontecimento do seu tempo.
Na segunda metade do século XIX, países como a Inglaterra e a
França já tinham realizado a unificação política e estavam em um estágio
bem avançado no processo de industrialização. A região hoje pertencente
à Alemanha era composta por várias cidades, reinos e ducados
independentes. Portanto, o país estava fragmentado politicamente e não
possuía um desenvolvimento industrial semelhante aos ingleses e
franceses.
Weber vivenciou em sua infância a unificação política alemã e o
início do capitalismo industrial, sob a liderança de Otto von Bismarck,
união que ocorreu graças ao apoio que os Junkers deram ao chanceler
alemão. Os Junkers eram grandes proprietários de terra, da Prússia, estado
mais importante do reino germânico.
Porém, para o autor, a Alemanha pós-Bismarck não possuía
nenhuma liderança política que pudesse transformá-la em uma grande
nação. Os Junkers, tradicionais proprietários de terras e a classe
trabalhadora eram incapazes de liderar tal processo. Na opinião de Weber,
a burguesia deveria assumir a liderança das transformações econômicas já
iniciadas na Alemanha, a fim de assegurar o fortalecimento do EstadoAlemão, em relação a outras potências européias.
No final do século XIX, Weber defende abertamente os interesses
imperialistas da Alemanha. Naquele momento histórico, o autor observou
que o poder econômico e a direção política de uma nação nem sempre
coincidem. Na Alemanha, os prussianos, grandes proprietários de terra,
conduziam o processo político e a burguesia alemã detinha o poder
econômico. Na perspectiva de Weber, era perigoso permanecer em uma
posição intermediária, entre o agrarismo Junker e o industrialismo
ocidental. É importante ressaltar que, embora acreditasse que o
capitalismo industrial fosse uma premissa para alcançar o poderio
nacional, defendia com veemência a democracia e a liberdade individual.
A situação política e econômica russa também chamou a atenção
499
Caderno Didático III - 1º Período
Pedagogia
de Weber. Em 1905, após retornar de uma longa viajem aos Estados
Unidos, se deparou com os acontecimentos da primeira revolução russa.
Aprendeu russo, para acompanhar diariamente as notícias daquele país,
além de manter contato permanente com intelectuais russos. Seus estudos
tiveram como fruto dois ensaios sobre a situação vivenciada pela Rússia.
Ao final da sua vida, em 1918, Weber pronuncia uma conferência em
Viena a respeito do socialismo, onde faz duras críticas ao regime
bolchevique.
Em 1914, eclode na Europa a Primeira Guerra Mundial. Na
opinião de Weber, a Guerra era fruto de rivalidades políticas e econômicas
entre várias nações européias. A posição nacionalista faz com que Weber
inicialmente acolha com entusiasmo o início do conflito. Porém, no seu
decorrer, critica duramente as posições adotadas pelo governo alemão,
razão que o fazer mudar de posicionamento e defender um entendimento
diplomático para o fim da Guerra.
Síntese Histórica
4.3
INDIVÍDUO
E SOCIEDADE NA PERSPECTIVA WEBERIANA
Quadro
5
Datas
Dados Biográficos e Obras
1864 Vocês
Nasce
Max
Weber em Erfurt
viram
anteriormente
que(Turíngia)
a Sociologia, para Durkheim, é
1882
Início
dos
estudos
em
Heidelberg:
Direito,
Economiadas
uma ciência responsável por estudar a gênese
e oHistória,
funcionamento
e Teologia.
instituições
sociais.
Seu objeto empírico, o fato social, é externo aos
1883
Interrompe os estudos: serviço militar
indivíduos
a todos ou
à maioria
dos membros da sociedade. A
1884 e coercitivos
Reinicia os estudos:
Berlim
e Göttingem
1890
a investigação
sobre
situação
campesinato
da
partir
da suaInicia
teoria,
é possível dizer
quea todos
nósdosomos
influenciados
por
Prússia
Oriental
uma consciência coletiva, imperativa sobre as vontades individuais. Já
1889
Doutor em Direito com a tese sobre a história das empresas
para Marx comerciais
a históriamedievais
da humanidade e vista como um confronto
materialista,
fundamentado
no antagonismo
de classes de interesses
1894
Professor de Economia
Política em Fribourg
1896
Catedrático
Heidelbergo detentor dos meios de produção
diferentes.
No
sistema em
capitalista,
1904domínio
Escreve
parte de
Apossuidor
ética protestante
o espírito
do
exerce
sobrea o1ªproletariado,
de umaeúnica
propriedade,
capitalismo
sua1905
força deEscreve
trabalho.
Há, portanto
relações conflituosas entre classes
a 2ª parte de
A ética protestante e o espírito do
sociais distintas.
Em suma, sua teoria preocupa-se com as estruturas
capitalismo
1908e comFunda
a Associação Alemã
de dos
Sociologia
sociais
o desenvolvimento
histórico
processos produtivos.
1909
Começa a escrever Economia e Sociedade
A perspectiva weberiana de observar o mundo se fundamenta na
1913
Escreve um ensaio sobre algumas categorias da Sociologia
centralidadecompreensiva
do indivíduo, ou seja, em atores sociais capazes de conduzir
suas
próprias ações. Na sua interpretação as regras sociais não pairam
1914
1919
Realiza mas
conferências
sobre: O aofício
vocação
eo
sobre
os indivíduos,
são constituídas
partirdadas
ações científica
de um conjunto
ofício e a vocação do político
de agentes sociais. Em carta a um amigo economista, ele reforça seu
1920
Weber morre em Munique
posicionamento
em relação
aos objetivos
de sua análise:
1922
Publicado
Economia
e Sociedade
(...)
se
agora
sou
sociólogo
1923
Publicado História Geral da Economiaentão é essencialmente para pôr
fimp.nesse
Fonte: Quadro adaptado de Castro e Diasum
(2001,
98-02).negócio de trabalhar com conceitos coletivos.
500
DICAS
Sugestão de filme:
Doutor Jivago
O filme é baseado no
romance de Boris
Pasternak, de mesmo
nome. Apresenta bons
elementos para entender a
revolução bolvhevique. (Ver
sinopse no final desta
unidade).
Sociologia Geral
UAB/Unimontes
Em outras palavras: também a Sociologia somente pode ser
implementada tomando-se como ponto de partida a ação
do indivíduo. (COHN, 2006, p. 25-26).
Ao dizer que o ponto de partida da Sociologia é a ação dos
indivíduos, Weber não nega que a Sociologia deve se preocupar com os
fenômenos coletivos. Estado, família, igreja, são entidades coletivas, nas
quais os indivíduos executam várias ações. Considerar os indivíduos como
unidades autônomas não significa dizer que as representações possam
influenciar a conduta social de cada ator.
Em alguns momentos das suas analises teóricas, Weber toma
emprestado do Marxismo conceitos, como “infra-estrurtura” e
“superestrutura”. Cohn (2006) salienta que o uso desses conceitos não
significa adoção do referencial marxista, sua pretensão é somente a de
realçar a importância dos fatores econômicos. Ou seja, de se posicionar a
favor da visão materialista, em contraponto a interpretações idealistas
bastante comuns na época. Por outro lado, se distancia do materialismo
histórico, quando se recusa a acreditar que os processos históricos
possuem um curso objetivo e determinado.
Para perceber a ação humana, além dos aspectos exteriores,
Weber recomenda a utilização do “método compreensivo”, através do qual
é possível entender alguns elementos da vida que nos rodeia. Na sua visão,
a Sociologia interpreta e compreende as ações sociais e, acima de tudo,
explica suas causas, curso e conseqüências.
A Sociologia interpretativa considera o indivíduo
[Einzelindividuum] e seu ato como a unidade básica, como
seu “átomo” – se nos permitirem pelo menos uma vez a
comparação discutível. Nesta abordagem, o indivíduo é
também o limite superior e o único portador de conduta
significativa (...). Em geral, para a Sociologia, conceitos
como 'Estado', 'associação', 'feudalismo' e outros
semelhantes designam certas categorias de interação
humana. Daí ser tarefa da Sociologia reduzir esses
conceitos à ação 'compreensível', isto é, sem exceção aos
atos dos indivíduos participantes. (WEBER, 1982, p. 74).
A perspectiva sociológica compreensiva é uma possibilidade
interpretativa entre inúmeras outras possíveis dentro da Sociologia. Vocês
vão verificar que nesta vertente teórica parte-se do indivíduo para entender
a realidade social. Tal concepção acredita que a unidade de análise para
compreender a sociedade é a ação dos indivíduos, suas interações com o
meio.
Vocês devem ter observado que há uma aparente proximidade
entre a Sociologia weberiana e a Psicologia. Contudo, o interesse do
sociólogo passa diretamente pela análise interpretativa da ação social e
não pela psicologia do indivíduo. Segundo Giddens (1990), provavelmente
a Sociologia tenha mais a contribuir para a Psicologia do que o contrário, já
que a conduta humana é condicionada por fatores socioculturais.
Weber nos apresenta duas possibilidades de apreensão
interpretativa da ação social, cada um dos tipos podem ser subdivididos
501
Caderno Didático III - 1º Período
Pedagogia
entre racional ou emotivo.
Compreensão Direta – O entendimento do significado da ação
ocorre através da observação direta. Um exemplo é a compreensão do
significado da soma 2 + 2 = 4, todos nós sabemos de imediato o
significado desta ação. Trata-se de uma compreensão racional direta. Já
uma compreensão direta emocional, pode ser notada quando nos
deparamos, por exemplo, com uma pessoa que se encontra extremamente
melancólica, que transparece em sua face e no seu comportamento seu
estado emocional.
Compreensão Explicativa – Diferente da primeira, nesta categoria,
procura-se entender os motivos que geraram a situação, interligando a
atividade observada e o significado para seu agente. Em sua forma
racional, presume-se que o agente vai utilizar alguns meios para atingir
determinados fins. Ao se observar um agricultor desmatando uma floresta
com um trator, pode-se presumir que ele irá realizar uma atividade agrícola
naquela área. Há também condutas irracionais ou emocionais. Como é o
caso de uma pessoa que se encontra chorando, pode-se acreditar que ela
tenha passado por uma grande decepção.
Deve-se levar em consideração que indivíduos podem executar
ações semelhantes, levados por motivos diferentes. Desmatar uma área,
por exemplo, não precisa, necessariamente, estar ligado à realização da
atividade agrícola naquele espaço. Também há possibilidade de ocorrer
motivações semelhantes, sem que formas concretas de comportamentos
sejam iguais. Passar por uma grande decepção não leva todas as pessoas
ao choro. Ou seja, Weber não procura negar as complexidade do caráter
motivacional da ação humana. Para ele, a Sociologia tem o papel de saber
lidar com a subjetividade no nível empírico.
4.4 ESPECIFICIDADE DAS CIÊNCIAS SOCIAIS
O auto-esclarecimento e a produção de conhecimento são os
principais motivos que norteiam a idéia de ciência weberiana. Cohn (2006)
destaca que o propósito das ciências não é de propor fins para ação
prática, ela não deve ensinar aquilo que se “deve”, mas o que se “pode”
fazer.
Mas, em toda ciência há pressuposições; através das descobertas
elas são sempre ultrapassadas e superadas.
Como vocês viram Weber sempre esteve preocupado com as
questões do seu tempo; ele percebeu que nas Universidades alemãs havia
ideologias estranhas à educação. O espírito crítico e a liberdade de
pensamento estavam sendo ameaçados pela crescente política nacional
socialista. Muitos professores estavam utilizando a cátedra como um
palanque para discursos de inspiração fascista, na visão de Weber, postura
prejudicial não só à prática da educação, mas também ao futuro da
Alemanha. (BERLINCK, 2001).
502
Sociologia Geral
DICAS
Para saber mais sobre a
política nacional socialista
alemã. Ler o artigo de
Herbet Marcuse no jornal
eletrônico Le Monde
Diplomatique “O que é o
nacional-socialismo?”.
Disponível em:
www.diplo.uol.com.br/2000
-10,a1885.
UAB/Unimontes
Weber faz uma importante diferenciação entre os objetivos da
ciência e da política, em seu trabalho denominado a Ciência como
vocação.
Conforme Berlinck (2001), há uma clara pretensão do autor em
demonstrar que a prática científica permite o desenvolvimento de
tecnologias para “controlar a vida”, o “desenvolvimento de métodos de
pensamento”. Através da ciência, também é possível dizer que ela mesma
permite indicar meios para atingir metas determinadas. Ou seja, a ciência
contribui de forma prática para o desenvolvimento da racionalidade.
Toda 'realização' científica suscita novas “perguntas': pede
para ser 'ultrapassada' e superada. Quem desejar servir à
ciência tem de resignar-se a tal fato. As obras científicas
podem durar, sem dúvida, com 'satisfações', devido a sua
qualidade artística, ou podem continuar importantes como
meio de preparo. Não obstante, serão ultrapassadas
cientificamente – repetimos – pois é esse o seu destino
comum e, mais ainda nosso objetivo comum. Não
podemos trabalhar sem a esperança de que outros
avançarão mais do que nós. Por que alguém se dedica a
alguma coisa que na realidade jamais chega, e jamais pode
chegar, ao fim? (WEBER, 1982, p. 164.).
Enquanto cientista, devemos levar em consideração que todo
conhecimento sempre é parcial e suscetível de questionamentos. É
previsível que nossa compreensão da realidade seja provisória e nos leve a
realizar novas 'perguntas'. Ou seja, ninguém produz conhecimento
definitivo e absoluto. Segundo Cohn (2006), a definição da postura do
ideal do cientista é um dos objetivos de Weber de seus escritos sobre a
vocação cientifica. Seus atos devem objetivar reconstruir fatos
considerados significativos e analisá-los conforme o método científico.
4.5 SUBJETIVIDADE E OBJETIVIDADE DO CONHECIMENTO
Como vocês perceberam, a Sociologia weberiana se interessa pela
compreensão dos fenômenos sociais. Mas o que significa “compreender”
em uma pesquisa sociológica? Para responder esta questão, deve-se
destacar inicialmente que toda atividade humana possui um caráter
subjetivo; diferente das ciências naturais e exatas, as ciências sociais não
podem ignorar o aspecto subjetivo de seu objeto.
O autor nos aponta que é impossível estabelecer um
conhecimento cientifico, absoluto, neutro e livre de pressupostos. Entendese, assim, que o pesquisador não pode atingir uma visão global e isenta da
realidade. A escolha de um determinado tema de pesquisa, por si só,
aponta que dentro de um universo de inúmeras possibilidades, aquele
problema é relevante. Mesmo assim, é possível selecionar os objetos de
pesquisa, segundo critérios objetivos.
Weber entende que a objetividade das ciências sociais ocorre
quando os valores pessoais são incorporados conscientemente à pesquisa,
503
Caderno Didático III - 1º Período
Pedagogia
e controlado através de rigorosos procedimentos metodológicos. Por isso, a
objetividade do conhecimento científico é garantida quando há a
separação entre: “juízo de fato” e “juízo de valor”. Mas, como é possível
diferenciar os dois tipos de julgamento? Se eu digo: “A Universidade
Estadual de Montes Claros (UNIMONTES) é uma universidade do Estado
de Minas Gerais” estou fazendo uma constatação, realizando um
julgamento de fato. Se no momento posterior eu qualifico minha
afirmação: “A UNIMONTES é a melhor universidade de Minas Gerais,
estou fazendo um julgamento de valor. Segundo Weber, o juízo de valor
deve ser excluído do campo da ciência.
Vemos que a atitude do cientista é essencial para se atingir a
objetividade. Seu compromisso deve ter sempre como referência,
proposições baseadas em fatos, isso não quer dizer que o cientista é
indiferente ao mundo. QUINTANEIRO; BARBOSA; OLIVEIRA (2002) vêm
nos lembrar que a incorporação dos valores à pesquisa e o seu controle
através de procedimentos rigorosos de análise permite atribuir valor aos
aspectos da realidade, e ordenar racionalmente a realidade empírica.
Nem toda ação ou conduta social possui um significado objetivo.
Atividades religiosas vivenciada por um grupo social, por exemplo, podem
possuir significado subjetivo. Contudo, é possível através de métodos
científicos obter uma compreensão racional do significado da ação entre o
indivíduo e o outro indivíduo ou entre o indivíduo e o grupo. Se o sociólogo,
em sua analise cientifica, pretende ultrapassar a uma mera descrição da
realidade, Weber sugere a utilização de instrumentos metodológicos
denominados tipos ideais.
4.6 O QUE É TIPO IDEAL?
Todos nós idealizamos algo em nossas vidas. Quando criança,
alguns sonham em ser um super craque de futebol. Já muitas meninas
sonham em casar com um homem perfeito. Na vida profissional,
sonhamos com um emprego que atenda a todos nossos anseios. Cada um
de nossos sonhos possui aspectos excepcionais, características dificilmente
encontradas em uma pessoa, ou em um emprego. Ou seja, há em comum
nos sonhos citados que todos eles possuem características que dificilmente
são encontradas na realidade, ou seja, grande parte deles são utopias.
Em muitas situações utilizamos as construções imaginárias de um
super craque de futebol, do homem perfeito, ou emprego ideal para
analisar a realidade empírica. Por exemplo, com o ideal de emprego
perfeito, posso analisar o meu emprego atual. Através da construção
imaginária de um homem perfeito, é possível compreender os demais.
Podemos dizer que diariamente construímos inúmeras tipologias ideais.
Todas as exemplificações acima nos ajudam a entender um importante
recurso metodológico proposto por Weber.
Para analisar a complexidade das relações sociais, Weber propõe
504
Sociologia Geral
PARA REFLETIR
Sugestão de filme:
Macunaíma. O
personagem Macunaíma,
de Mário de Andrade,
interpretado no cinema por
Grande Otelo pode ser
considerada a
representação típica do
malandro brasileiro. (Ver
sinopse no final desta
unidade).
UAB/Unimontes
a criação de um instrumento metodológico: tipo ideal. Não devemos
entender tipo ideal, como a descrição de certa realidade. Nem tão pouco é
uma hipótese, mas algo que contribui para a elucidação desta. Tipo ideal
não deve ser considerado algo desejável. Podemos criar um tipo ideal de
político corrupto, ou mesmo de um assassino. Trata-se de um instrumento
que possui uma clara definição conceitual e nunca existirá na realidade
concreta; seu papel é selecionar explicitamente a dimensão do objeto que
será analisado e apresentar essa dimensão da forma mais pura possível.
É importante destacar que existe uma diferença entre tipo ideal e
demais conceitos descritivos. Os conceitos são utilizados para descrever e
sintetizar as características comuns de fenômenos empíricos. Por outro
lado, tipo ideal demarca unilateralmente certas características ou pontos
de vista. Por meio da combinação de determinados elementos e da
abstração, todo fenômeno descritivo pode ser transformado em um tipo
ideal. Segundo Giddens (1990), a passagem dos conceitos descritivos para
tipos ideais, ocorre quando passamos da classificação descritiva dos
fenômenos para análise explicativa ou teórica desses mesmos fenômenos.
Conforme QUINTANEIRO; BARBOSA; OLIVEIRA (2002), a
construção tipológica ideal weberiana só pode existir como utopia, na
forma de um modelo simplificado da realidade, onde alguns traços
avaliados como relevantes são colocados em evidência para determinar
relações de causalidade entre os fenômenos. Com esse instrumento o
cientista social pode construir um modelo de interpretação e de
investigação, que o guiará nos infinitos caminhos da realidade social.
Podemos analisar a realidade a nossa volta a partir da
construção de vários tipos ideais. Por exemplo, poderíamos criar um tipo
ideal de Estado, de educação superior, de Igreja, de conduta profissional,
até mesmo de professor ou aluno ideal. Na obra de Weber, encontraremos
vários exemplos de aplicação dos tipos ideais. Um deles é a tipologia de
dominação, que será aprofundada nas unidades subseqüentes do curso,
mas sua apresentação neste momento se faz necessária para exemplificar
a utilização dos tipos ideais.
Partindo da idéia de que os tipos puros de dominação são
“ferramentas” importantes para analisar meios de dominação estatais, o
autor construiu três tipologias que permitem analisar o presente e passado
do desenvolvimento dos sistemas políticos. Os três tipos são: o domínio de
caráter racional, o domínio tradicional, vinculado às tradições e aos
costumes, e o carismático, que remete ao valor pessoal.
O domínio legal fundamenta-se na validade dos regulamentos
estabelecidos, e na legitimidade do chefe amparado pela lei. A obediência
não é a uma pessoa, mas a regra, os funcionários são de formação
profissional, trabalham sobre o regime contratual, com pagamento fisco, a
ascensão profissional acontece conforme as regras estabelecidas.
O segundo tipo é a dominação tradicional, cujo tipo mais puro é o
domínio patriarcal; sua associação é do tipo comunitária. A autoridade
505
Caderno Didático III - 1º Período
Pedagogia
que ocupa o lugar superior é referendada ou santificada pelos “súditos” a
partir da tradição ou do costume. Estes não estão submetidos a regras
impessoais com na dominação legal, mas à fidelidade da tradição.
A carismática é um tipo peculiar de dominação, na qual existe
certa entrega dos dominados à pessoa do chefe, devido aos seus dotes
sobrenaturais, como o heroísmo e o poder intelectual. Seu tipo mais puro é
a dominação do profeta ou do grande demagogo, a associação dominante
é de caráter comunitário. Assim como na dominação carismática não
existe o conceito racional de competência para nortear a escolha do
quadro administrativo, nem o estamental de “privilégio”, escolh-se
segundo o carisma e a vocação pessoal.
Ao criar uma tipologia ideal de dominação, Weber consegue
importante arcabouço teórico para analisar o Estado Alemão, que mesmo
inserido num processo de racionalização administrativa, de burocratização
crescente, não consegue desvincular da esfera do domínio tradicional,
representados na figura dos Junkers. Após a unificação a Alemanha, morre
Bismack, o principal líder. Weber provavelmente questionava se existiria
uma minoria capaz de levar o processo de construção da nação alemã à
frente, de onde surgiria essa figura; dos trabalhadores, da oligarquia
tradicional ou da burguesia ascendente.
4.7 TIPOS PUROS DE AÇÃO SOCIAL
Como vocês viram, a ação social é central na Sociologia
weberiana, isso não quer dizer que a Sociologia se limita a ela; a ação
social nada mais é do que seu elemento constitutivo. Também é importante
lembrar que nem toda ação é objeto de análise da Sociologia. Weber
(1999) ressalta que a conduta religiosa contemplativa, por exemplo, não
se caracteriza como ação social, por que não está orientada pela ação do
outro, ou seja, ação sem o caráter “social”.
A ação social (incluindo tolerância ou omissão) orienta-se
pelas ações dos outros, as quais podem ser ações passadas,
presentes ou esperadas como sendo futuras (por exemplo:
vingança por ataques futuros). Os 'outros' podem ser
indivíduos e conhecidos ou até uma pluralidade de
indivíduos indeterminados e inteiramente desconhecidos (o
dinheiro, por exemplo, significa um bem de troca que o
agente admite no comércio porque a sua ação está
orientada pela expectativa de que muitos outros, embora
indeterminados e desconhecidos, estejam dispostos
também a aceitá-lo, por sua vez, numa troca futura).
(WEBER, 2001, p. 415).
Podemos entender que tudo que se encontra fora do plano
analítico da ação social não pertence mais ao campo das Ciências Socais,
mas filosófico. Segundo Nogueira (1999), o fenômeno na disciplina,
reconhecido como efetivamente real são as ações sociais. Weber acredita
506
Sociologia Geral
UAB/Unimontes
que os problemas da Sociologia só devem ser tratados como tal, se
puderem ser traduzidos no plano da análise concreta das ações sociais.
Não foi seu objetivo construir uma teoria abstrata entre sujeitos e
estruturas, ou determinar características subjetivas entre agentes e
situações.
Weber diz que toda ação social pode ser compreendida em quatro
categorias: 1) Racional em relação a fins; 2) Racional com relação a
valores 3) Afetiva; 4) Tradicional. São classificações que se aproximam da
ação real, tipos ideais puros, construídos para auxiliar a pesquisa
sociológica.
Agir racionalmente com relação a fins, significa dizer que o agente
disporá de todos os meios necessários para atingir um fim préestabelecido. Nesse caso, o agente calcula racionalmente quais os
resultados prováveis de suas atitudes, mas sua ação individual tem como
referência os sujeitos externos e objetos do mundo exterior. Um agente
econômico é um exemplo clássico de um comportamento relacionado a
fins; ao investir no mercado financeiro, seu objetivo último, é o lucro. Para
alcançá-lo traça estratégias, que são a todo tempo recalculadas, a partir da
atitude dos outros agentes que fazem parte do mercado. As atitudes deste
agente não são condicionadas pela tradição, tão pouco por atitudes
afetivas.
Atitude com relação a valores é também um tipo de ação racional,
porque previamente o agente estipula objetivos coerentes. O agente
orienta suas atitudes segundo um ideal dominante, possui um
comportamento fiel às suas convicções. Um indivíduo que acredita em
uma crença religiosa pode seguir vários “mandamentos” como um ideal
de vida, por exemplo: sendo honesto e não roubando, vivendo a castidade
antes do casamento, não trabalhando no domingo, entre inúmeras outras
condutas possíveis. Em suma, a relação racional em relação a valores
possui como aspecto central a obediência a valores imperativos, que em
certas situações podem ser considerados irracionais, pois almejam mais o
caráter absoluto da própria ação, do que as conseqüências racionais. Ou
seja, a importância não se encontra nos “fins”, mas na própria conduta.
Ação afetiva compreende um conjunto de atitudes determinadas
pela emoção. Assim como a ação racional em relação a valores, não há
aqui uma busca por “resultados”. São exemplos de ações afetivas: a paixão
por um time de futebol, o desejo e o carinho quando começa um
relacionamento amoroso, ou a mágoa e o desespero no seu final. Portanto,
atitudes dessa natureza estão ligadas a um universo de atitudes
sentimentais, e não podem ser consideras racionais.
Os hábitos e costumes condicionam a ação do tipo tradicional.
São modos de condutas que obedecem a estímulos habituais. A tradição
de escolher padrinhos para o casamento, ou para batizar o filho, pode ser
definida como uma atitude tradicional. Quase todas as nossas atitudes
cotidianas podem ser consideradas tradicionais. O ideal simbólico que
507
Caderno Didático III - 1º Período
Pedagogia
conduz essa ação segue uma conduta racional.
Através da tipologia de ação social, criada por Weber, podemos
analisar inúmeras práticas e condutas presentes em nossa sociedade.
Certa atitude do nosso presidente da república pode ser analisada a partir
de um tipo ideal de ação weberiano. Mas, não são raros os casos em que se
faz necessário combinar elementos de vários tipos de ação para entender a
realidade empírica.
4.8 AS RELAÇÕES SOCIAIS
Relação Social pode ser definida como uma combinação de várias
ações sociais. Reciprocamente, os agentes compartilham suas condutas
sociais e produzem conteúdos significativos. Amizade, troca no mercado,
amor sexual, conflito são citados por Weber (1991) como conteúdos de
reciprocidade.
Quando um ou mais indivíduos orientam suas condutas, de
acordo com a expectativa de ação do outro ou de outros, nos deparamos
com uma forma de relação social. Um choque entre dois ciclistas, por
exemplo, é considerado um simples fenômeno natural. Porém, a tentativa
de se desviarem antes da batida, ou a briga e manifestações que podem
ocorrer após o choque, pode ser considerada uma relação social. É
importante lembrar que o conceito de relações sociais não pode ser
entendido como sinônimo de “solidariedade”, ao contrário, se refere à
relação entre indivíduos.
O que é importante identificar nas relações sociais, segundo
QUINTANEIRO; BARBOSA; OLIVEIRA (2002), são as expectativas
recíprocas de seu significado.
Um indivíduo pode ser considerado: amigo, parente, assassino,
vítima, desde que outro ou outros compartilhem com ele esse significado.
Weber vem nos dizer que instituições como o Estado, a Igreja, o
Matrimônio só existem sociologicamente, porque há ações sociais entre os
participantes que são carregadas de sentido. Weber realiza uma leitura
inovadora de instituições de “personalidade coletiva” da seguinte forma:
Para a Sociologia, a realidade Estado não se compõe
exclusiva ou justamente de seus elementos juridicamente
relevantes. E, em todo, não existe para ela uma
personalidade coletiva 'em ação'. Quando fala do 'Estado',
da 'nação', ou das 'sociedades por ações' da 'familia', da
'corporação militar' ou de outras 'formações' semelhantes,
refere-se meramente a determinado curso da ação social
de indivíduos. (WEBER,1991, p. 09).
Agrupamentos coletivos como, torcidas de futebol, associações,
grupos religiosos possuem interesses que motivam racionalmente o grupo
seja em relação a valores. Numa empresa capitalista os interesses são
racionais em relação a fins. Além dos interesses racionais, há “conteúdos
comunitários”, ou seja, sentimentos de pertencimento a comunidade.
508
Sociologia Geral
UAB/Unimontes
Nesses grupos, as condutas podem ser regulares, seja porque as atitudes
individuais se repetem, ou porque muitos as fazem, dando sentido
semelhante às suas condutas. Há, porém, no processo de racionalização
da conduta, a possibilidade de o agente, dentro do grupo, tomar
consciência de sua submissão e não aceitar a regularidade que o costume
impõe à sua conduta. (QUINTANEIRO; BARBOSA; OLIVEIRA, 2002).
Weber (1991) destaca que toda relação social possui um
conteúdo significativo, que pode variar ao longo do tempo. Por exemplo,
quando dois partidos políticos pactuam um acordo de cooperação, não
significa que posteriormente não haja conflito de interesses. A “nova”
relação entre ambos criou “um novo conteúdo significativo”. Nesse caso, a
relação social passou de cooperação para conflito. Os conteúdos
significativos também podem ser pactuados. Quando dois partidos
assinam um documento de cooperação, observa-se que há por parte de
ambos uma promessa de conduta futura, que será durante todo tempo
avaliada tendo com referência o comportamento do outro.
Como todos vocês devem ter notado, Max Weber produziu uma
teoria essencial para a formação da Sociologia enquanto disciplina
científica. Aqui foram apresentados aspectos introdutórios de sua obra.
Espero que este primeiro momento seja um convite para o contato direto
com sua obra. Após o resumo dos principais pontos da unidade,
apresentaremos uma bibliografia básica e outra complementar, que
auxiliará na compreensão das formulações teóricas do autor.
509
Caderno Didático III - 1º Período
Pedagogia
REFERÊNCIAS
CASTRO, Ana Maria de; DIAS, Edmundo Fernandes (org.). Introdução ao
pensamento sociológico. São Paulo: Centauro Editora, 2001.
COHN, G. Max Weber. 5. ed. São Paulo: Ática, 2006. p. 7-34. (Coleção
Grandes Cientistas Sociais)
GERTH, H. H.; WRIGHT MILLS, C. (org.). Ensaios de Sociologia. Trad. W.
Dutra. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1971. p. 15-94.
GIDDENS, Anthony. Política, Sociologia e Teoria Social: encontros com o
pensamento social clássico e contemporâneo. São Paulo: Editora UNESP,
1998.
______. Capitalismo e Moderna Teoria Social. Lisboa: Editora Presença,
1990.
NOGUEIRA, Claudio Marques. Considerações Sobre a Sociologia de Max
Weber. Caderno de Filosofia e Ciências Humanas – Unicentro Newton
Paiva, Ano VIII, nº 13, Belo Horizonte, outubro de 1999.
QUINTANEIRO, Tânia; BARBOSA, Maria Lígia de Oliveira; OLIVEIRA,
Márcia Gardênia de. Um toque de clássicos – Marx, Durkheim e Weber.
Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2002. (Coleção Aprender)
WEBER, Max. Economia e Sociedade. Brasília: Editora UnB, 1991. Vol. 1.
______. Ensaios de Sociologia. Rio de Janeiro: LTC Editora, 1982.
______. Metodologia das Pedagogia. São Paulo: Cortez; Campinas:
Editora da UNICAMP, 2001.
VÍDEOS SUGERIDOS PARA DEBATE
MACUNAÍMA
1976, Brasil. Macunaíma, uma adaptação da rapsódia de Mário
de Andrade, é a história de um anti-herói, ou "um herói sem nenhum
caráter", nascido no fundo da mata virgem. De preto vira branco, troca a
mata pela cidade, onde vive incrívieis aventuras, sempre acompanhado de
seus irmãos. Na cidade, segue um caminho zombeteiro, conhecendo e
amando a guerrilheira Ci e enfrentando o vilão milionário, Venceslau Pietro
Petrarca, para reconquistar o amuleto que herdara de Ci, o muirakitã.
Vitorioso, Macuinaíma retorna à floresta carregado de eletrodomésticos
inúteis, troféus da civilização.
DR. JIVAGO
1965, EUA. O filme se desenvolve a partir dos relatos da vida de
Yuri Zhivago (Omar Sharif), médico e poeta. Está temporalmente
ambientado nos anos que antecederam, durante e depois da Revolução
510
Sociologia Geral
UAB/Unimontes
Russa. Yuri fica órfão ainda criança e vai para Moscou, onde é criado. Já
adulto, se casa com a aristocrática Tonya (Geraldine Chaplin), mas tem um
envolvimento com Lara (Julie Christie), uma enfermeira que se torna a
grande paixão da sua vida. Lara, antes da revolução, tinha sido estuprada
por Victor Komarovsky (Rod Steiger), um político sem escrúpulos que já
tinha se envolvido com a mãe dela. Lara se casou com Pasha Strelnikoff
(Tom Courtenay), que se torna um vingativo revolucionário. A história é
narrada em flashback por Yevgraf de Zhivago (Alec Guiness), o meioirmão de Yuri, que procura a sua sobrinha, possivelmente filha de Jivago
com Lara. Enquanto Strelnikoff representa o "mal", Yevgraf representa o
"bom" elemento da Revolução Bolchevique.
NÁUFRAGO
2000, EUA. Chuck Noland (Tom Hanks) é um inspetor da Federal
Express (FedEx), multinacional encarregada de enviar cargas e
correspondências, que tem por função checar vários escritórios da
empresa pelo planeta. Porém, em uma de suas costumeiras viagens,
ocorre um acidente que o deixa preso em uma ilha completamente deserta
por 4 anos. Com sua noiva (Helen Hunt) e seus amigos imaginando que ele
morrera no acidente, Chuck precisa lutar para sobreviver, tanto fisicamente
quanto emocionalmente, a fim de que um dia consiga retornar à
civilização.
511
RESUMO
1.
A Sociologia é uma ciência que estuda o comportamento humano
e os processos de interação social que interligam o indivíduo em
associações, grupos e instituições sociais.
2.
Os fatores que proporcionaram o surgimento e a consolidação
das Pedagogia e da Sociologia são resultado de processos e de
transformações econômicas, políticas e culturais verificadas no século
3.
que
XVIII. Exemplo das revoluções industrial e da revolução francesa,
4.
patrocinaram a instalação definitiva da sociedade capitalista.
5.
Pequenas cidades passaram a grandes cidades produtoras e
exportadoras. Essas bruscas transformações implicariam em nova
organização social, ocorrida graças à transformação da atividade
artesanal em manufatureira, e logo depois em fabril.
6.
A revolução industrial determinou o aparecimento de novas
classes sociais: o proletariado e a burguesia.
7.
No século XIX, pensadores imaginaram ser necessário fundar
uma nova ciência – a Sociologia – que permitisse reorganizar a sociedade,
que tornasse possível prever e controlar os fenômenos sociais.
8.
A Sociologia pretende explicar o que acontece na sociedade,
como um tipo de conhecimento garantido pela observação sistemática dos
fatos, podendo transformar-se em instrumento de intervenção social.
9.
O campo da Sociologia não é dizer como a sociedade deve ser,
mas constatar e explicar como ela é.
10.
Comte, pensador positivista do início do século XIX, diz que os
estados ou ordens são sucessivas, onde o teológico será substituído pelo
metafísico e este será substituido pelo científico ou positivo. A vida social
será explicada pela ciência, triunfando sobre todas as outras formas de
pensamento.
11.
Comte classificou assim, em ordem crescente de importância, as
ciências: astronomia, física, química, biologia e Sociologia. Esta última é a
mais importante e mais complexa das ciências, pois é responsável pela
educação moral da humanidade, pela reforma intelectual do homem.
12.
A Sociologia não é uma ciência de apenas uma orientação
teórico-metodológica dominante. Ela traz diferentes estudos e diferentes
caminhos para a explicação da realidade social.
13.
A Sociologia tem ao menos três linhas mestras explicativas,
fundadas pelos seus autores clássicos, das quais podem se citar: a primeira
512
Sociologia Geral
UAB/Unimontes
Positivista-Funcionalista, que tem como fundador Auguste Comte; seu
principal expoente clássico é Émile Durkheim. A segunda é a Sociologia
compreensiva iniciada por Max Weber. A terceira, corrente de explicação
sociológica é dialética e crítica, iniciada por Karl Marx.
14.
Karl Marx (1818-1883) juntamente com Friedrich Engels (18201995), compõe a escola crítica que, como o próprio nome evidencia,
ocupou-se de criticar radicalmente a sociedade capitalista,
15.
Para elaborar a teoria do Materialismo Histórico, Marx refletiu
três fontes e recebeu influências que atuaram no desenvolvimento do seu
pensamento: A filosofia idealista clássica alemã com o método dialético; O
socialismo utópico francês e Inglês, que aproveitou suas bases para
elaboração da sua teoria do socialismo científico; e a economia política
clássica inglesa para uma nova leitura da economia política burguesa
fundada no pensamento econômico liberal.
16.
Na visão de Marx, o conhecimento e a ciência deviam assumir um
papel político absolutamente crítico em relação ao capitalismo, devendo
ser instrumento de compreensão e de transformação radical da sociedade.
17.
Partindo desse pressuposto, o pensador defendia o argumento de
que o papel do cientista social seria o de participar ativamente dos atos de
transformação da sociedade capitalista, através do desempenho de uma
função política revolucionária, posicionando-se ao lado das lutas do
proletariado, sendo um observador participante e militante.
18.
Para Marx e Engels, a dialética é a ciência das leis gerais do
movimento tanto do mundo exterior quanto do pensamento humano. A
grande idéia fundamental é que o mundo não deve ser considerado como
um conjunto de coisas acabadas, mas como um conjunto de processos em
que as coisas, aparentemente estáveis, bem como seus reflexos mentais no
nosso cérebro, os conceitos, passam por uma série ininterrupta de
transformações.
19.
Marx aplicou a dialética na análise histórica, criando o
materialismo histórico, ou uma teoria para explicar as sociedades.
20.
Para Marx é preciso distinguir sempre entre as mudanças
materiais ocorridas nas condições econômicas de produção e as formas
jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou filosóficas, numa palavra, as
formas ideológicas em que os homens adquirem consciência desse conflito
e lutam para resolvê-lo.
21.
Não se pode julgar um indivíduo pelo que ele pensa de si mesmo.
Não se pode julgar épocas históricas pela sua consciência. Deve-se
explicar esta consciência pelas contradições da vida material, pelo conflito
existente entre as forças produtivas sociais e as relações de produção.
22.
Em Marx é o conjunto das relações de produção, constituído pela
estrutura econômica da sociedade, que representa a base concreta, a
infraestrutura sobre a qual se constitui a superestrutura jurídica e política,
que correspondem às formas de consciência social determinada. Para o
autor, o modo de produção da vida material dos homens condiciona em
513
Caderno Didático III - 1º Período
Pedagogia
geral todo o processo de vida social, política e intelectual.
23.
Os homens são produtos das circunstâncias, pois criam e alteram
suas bases de existência social, quando a ação humana pode alterar o
conjunto das relações sociais.
24.
A distribuição de tarefas entre os indivíduos ou grupos é produto
da sociedade e expressa as condições históricas e sociais de acordo com a
posição que cada um deles ocupa na estrutura social e nas relações de
propriedade.
25.
A forma de propriedade capitalista, ocorre quando a divisão do
trabalho corresponde à divisão entre proprietários e não-proprietários dos
meios de produção (ou do capital). As duas principais classes sociais que se
formam são burguesia e proletariado. A primeira é detentora do capital, a
segunda é proprietária da força de trabalho que é vendida como
mercadoria no sistema capitalista.
26.
A persistência da divisão do trabalho típica do capitalismo
acontece por causa do domínio do capital sobre os produtores diretos.
27.
Para Marx e Engels, a classe operária, engajada em sua luta
contra a burguesia, era a força política que realizaria a destruição do
capitalismo e uma transição para o socialismo.
28.
Uma classe só pode agir com êxito se adquirir consciência de si
mesma da maneira prevista pela definição de transformar-se de classe em
si para classe para si e se, ao contrário, isso não se realizar, sua ação
política fracassará.
29.
A força de trabalho é a mercadoria que possui a propriedade única
de ser capaz de criar valor, ingrediente essencial para a produção
capitalista e criação do lucro.
30.
Na perspectiva marxista a burguesia para afirmar-se como
capitalista, precisa não só apropriar-se do produto do trabalho excedente
(não pago/mais-valia), mas também reconhecer o produtor do trabalho
excedente, a mais-valia, que aparece na sua consciência como lucro.
31.
Alienação para Marx é a ação pela qual (ou estado no qual) um
indivíduo ou grupo social se tornam alheios, estranhos, separados, enfim
alienados aos resultados ou produtos de sua própria atividade produtiva.
Alienação para Marx, nasce da forma como a força de trabalho é utilizada
no sistema de produção capitalista, pois é uma mercadoria,
32.
A ideologia para Marx é a consciência falsa, equivocada, da
realidade, não deliberada,
mas necessária ao pensamento de
determinada classe social, a burguesia, sob determinadas condições de
sua posição e funções em relação às demais classes.
33.
Sua contribuição teórica ultrapassa a dimensão apenas da
ciência, constituindo uma verdadeira ética humanista, que conclama a
justiça e a igualdade dos homens.
34.
Deve-se a Durkheim a institucionalização da Sociologia como
disciplina acadêmica, com definição rigorosa de teoria e de método.
514
Sociologia Geral
UAB/Unimontes
35.
Herdando de Comte e do positivismo a idéia de que as sociedades
modernas funcionam a partir de determinadas regras que orientam o
modo de pensar, agir e sentir dos indivíduos que as compõem é que
Durkheim iniciará seus estudos sociológicos. Deriva dessa perspectiva, o
conceito de Fato Social, que Durkheim desenvolverá.
36.
O bom funcionamento das partes que compõem a sociedade, em
outras palavras, as instituições sociais, garantem a ordem ou harmonia
social garantindo a saúde do corpo social, e com isso, o seu progresso.
37.
Durkheim afirmou que a sociedade deve ser compreendida como
um corpo social.
38.
O corpo social é composto por um conjunto de órgãos ou
organismos sociais. Durkheim herda essa noção do organicismo. Para ele,
as instituições sociais seriam esses organismos, que teriam funções
específicas. Portanto, ao sociólogo caberia a missão de identificar as
instituições sociais presentes em variadas sociedades e, principalmente,
quais as suas funções.
39.
As instituições sociais não são naturais. Elas não são criações
divinas. Ao contrário, as instituições são criações da vida em sociedade ao
longo da história humana.
40.
As instituições sociais podem ser entendidas como um conjunto de
regras e procedimentos socialmente definidos e aceitos pela sociedade.
41.
As instituições sociais cumprem as funções que lhe são atribuídas
por intermédio do consenso social ao longo da história de cada sociedade.
42.
Em Durkheim é fato social toda maneira de fazer, fixada ou não,
suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou ainda,
toda maneira de fazer que é geral na extensão de uma sociedade dada e,
ao mesmo tempo, possui uma existência própria, independente de suas
manifestações individuais.
43.
Os fatos sociais são formados pelas representações sociais. Isto é,
pelas maneiras de como a sociedade vê a si mesma e ao mundo que a
rodeia.
44.
Os fatos sociais que se expressam nas regras, normas, leis,
acordos tácitos, tradições, costumes, ritos, expectativas de
comportamento, etc. estão profundamente arraigados à prática
institucional. A família, a escola, as leis/códigos do direito, o estado, dentre
outras instituições, portam e são os guardiões das regras de
funcionamento da vida social.
45.
Para Durkheim A mudança social estaria associada à noção de
progresso. As sociedades evoluem, progridem e se complexificam.
46.
O ordenamento funcional “saudável”, ou seja, não patológico da
sociedade garantiria a coesão social, condição indispensável para o
progresso. A socialização dos indivíduos, realizada principalmente pelas
instituições família e escola é parte essencial desse processo.
47.
O conceito de Divisão do Trabalho Social refere-se ao processo de
515
Caderno Didático III - 1º Período
Pedagogia
atribuição de funções produtivas entre os membros que compõem
determinada sociedade. Isto é, das tarefas produtivas que a sociedade
deve cumprir para gerar a satisfação de suas necessidades temos a
importante relação entre educação e socialização na e para a divisão do
trabalho social normal.
48.
O processo de socialização é também a geração de membros de
uma sociedade capazes na execução de tarefas específicas. Isto é, a
educação disciplina e organiza as forças necessárias para a produção de
trabalho e a satisfação das necessidades sociais. A Divisão do Trabalho
Social é, então, um conceito chave para Durkheim.
49.
Se por um lado os membros de uma sociedade se dividem para
realizar trabalho, por outro há laços sociais criados que permitem sua
interdependência, tornando-os unidos como um grupo social, isto é a
solidariedade social.
50.
Durkheim definirá dois tipos de solidariedade social: a mecânica e
a orgânica.
51.
Solidariedade Mecânica: típica de sociedades menos complexas.
Seria uma solidariedade presente na Horda e em sociedades simples, ditas
por ele “primitivas”. A integração indivíduo-sociedade se daria pelo sistema
de crenças, sentimentos comuns, tradição, etc.
52.
Solidariedade Orgânica: típica de sociedades complexas; é
derivada do processo de Divisão do Trabalho Social. A divisão do trabalho
impõe a especialização de funções aos indivíduos. Essa individualização
leva a uma aparente atomização dos membros que compõem o grupo
social. Ao contrário, a especialização do trabalho leva à interdependência
funcional. Quanto mais cada um tem uma função específica, mais
dependente do outro estaremos para gerar os produtos necessários à
satisfação de nossas necessidades.
53.
Por método, de maneira geral, podemos compreender como a
maneira ou o modo de produzir o conhecimento relativo à determinada
ciência.
54.
Nas regras do método sociológico Durkheim propõe tratar os fatos
sociais como coisa. Isto significa que a tarefa metodológica do sociólogo é
de estranhamento daquilo que lhe é familiar. Quando utilizamos,
cotidianamente, a palavra Coisa para identificarmos algum objeto, o
fazemos para dar significado a algo que não conseguimos a priori
estabelecer seus atributos.
55.
Durkheim diz é que os fatos sociais possuem uma objetividade que
deve ser atingida pela ciência sociológica.
56.
Vimos que o ambiente familiar foi decisivo para a formação
intelectual do jovem Weber; a ética protestante da mãe, e o ativismo
político do pai foram essenciais na condução da teoria weberiana, ao longo
da sua vida. Soma-se a isso o contato de Weber com ilustres intelectuais
que freqüentavam sua casa.
57.
A perspectiva weberiana de observar o mundo se fundamenta na
516
Sociologia Geral
UAB/Unimontes
centralidade do indivíduo, ou seja, em atores sociais capazes de conduzir
suas próprias ações. Na sua interpretação as regras sociais não pairam
sobre os indivíduos, mas são constituídas a partir das ações de um conjunto
de agentes sociais.
58.
Ao dizer que o ponto de partida da Sociologia é a ação dos
indivíduos, Weber não nega que a Sociologia deve se preocupar com os
fenômenos coletivos.
59.
Weber recomenda a utilização do “método compreensivo”,
através do qual é possível entender alguns elementos da vida que nos
rodeia. Na sua visão, a Sociologia interpreta e compreende as ações
sociais e, acima de tudo, explica suas causas, curso e conseqüências.
60.
Há uma clara pretensão de Weber em demonstrar que a prática
científica permite o desenvolvimento de tecnologias para “controlar a
vida”, o “desenvolvimento de métodos de pensamento”. Através da
ciência, também é possível dizer que ela mesma permite indicar meios para
atingir metas determinadas. Ou seja, a ciência contribui de forma prática
para o desenvolvimento da racionalidade.
61.
Weber entende que a objetividade das ciências sociais ocorre
quando os valores pessoais são incorporados conscientemente à pesquisa,
e controlado através de rigorosos procedimentos metodológicos.
62.
Para analisar a complexidade das relações sociais, Weber propõe
a criação de um instrumento metodológico: tipo ideal. Trata-se de um
instrumento que possui uma clara definição conceitual e nunca existirá na
realidade concreta; seu papel é selecionar explicitamente a dimensão do
objeto que será analisado e apresentar essa dimensão da forma mais pura
possível. Com esse instrumento o cientista social pode construir um modelo
de interpretação e de investigação, que o guiará nos infinitos caminhos da
realidade social. Podemos analisar a realidade a nossa volta a partir da
construção de vários tipos ideais.
63.
A ação social é central na Sociologia weberiana. Ele define: A
ação social (incluindo tolerância ou omissão) orienta-se pelas ações dos
outros, as quais podem ser ações passadas, presentes ou esperadas como
sendo futuras. Os 'outros' podem ser indivíduos e conhecidos ou até uma
pluralidade de indivíduos indeterminados e inteiramente desconhecidos.
64.
Weber diz que toda ação social pode ser compreendida em quatro
categorias: 1) Racional em relação a fins; 2) Racional com relação a
valores 3) Afetiva; 4) Tradicional. São classificações que se aproximam da
ação real, tipos ideais puros, construídos para auxiliar a pesquisa
sociológica.
65.
Agir racionalmente com relação a fins, significa dizer que o agente
disporá de todos os meios necessários para atingir um fim préestabelecido.
66.
Atitude com relação a valores é também um tipo de ação racional,
porque previamente o agente estipula objetivos coerentes. O agente
orienta suas atitudes segundo um ideal dominante, possui um
517
Caderno Didático III - 1º Período
Pedagogia
comportamento fiel às suas convicções.
67.
Ação afetiva compreende um conjunto de atitudes determinadas
pela emoção.
68.
Os hábitos e costumes condicionam a ação do tipo tradicional.
São modos de condutas que obedecem a estímulos habituais.
69.
Relação Social pode ser definida como uma combinação de várias
ações sociais. Reciprocamente, os agentes compartilham suas condutas
sociais e produzem conteúdos significativos.
70.
Weber destaca que toda relação social possui um conteúdo
significativo, que pode variar ao longo do tempo. Os conteúdos
significativos também podem ser pactuados.
518
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Sociologia Geral
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521
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522
ATIVIDADES DE
APRENDIZAGEM
- AA
1) Disserte sobre os a lei dos três estados de Comte e a evolução do
conhecimento humano.
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
2) Explique o conceito de Fatos Sociais e o que significa tratá-lo como coisa
segundo o pensamento durkeimiano.
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
3) Durkheim trabalhou sobre a questão da Divisão do Trabalho Social.
Discuta a relação entre Divisão do Trabalho Social e Solidariedade,
explicando as diferenças entre os dois tipos de solidariedade social.
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
4) Qual a relação entre os conceitos de ideologia e de alienação em Marx?
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
5) Cientistas das Universidades alemãs de Regensburg e Rostock
realizaram um estudo sobre as características faciais que seduzem homens
e mulheres. Ou seja, o “tipo ideal” de rosto feminino e masculino definido
na pesquisa possui as seguintes características.
524
Sociologia Geral
UAB/Unimontes
AOpartir
do considerado
exemplo desexy
tipotem:
ideal deA mulher
rosto masculino
e feminino
homem
considerada
sexy
tem:
 pele morena;
desenvolvido
pelos cientistas alemães, e da
leitura dos textos da unidade,
 pele bronzeada;
 cabeça
estreita;
descreva
qual a
utilidade da ferramenta metodológica
weberiana, “tipo
 cabeça estreita;
 lábios cheios (não grossos) e
ideal”?
simétricos (o inferior igual ao
 pouca gordura nas
______________________________________________________________
superior);
bochechas;
 sobrancelhas escuras e
 lábios grossos
______________________________________________________________
espessas;
sobrancelhas escuras e
______________________________________________________________
finas;
 cílios fartos e escuros;
______________________________________________________________
 cílios longos e fartos;
 a metade superior do rosto
maior que a inferior;
 maçãs do rosto
salientes; e suas principais
maçãs
altas
(mais
6) A partir
da do
suarosto
leitura
sobre
a sociologia weberiana
perto
dos
olhos);

nariz
influências, analise e assinale as opções e marque
(V)fino;
para verdadeiro e (F)
 mandíbula e queixo
 ausência de olheiras; e
para falso.
proeminentes;
 pálpebras estreitas.
 pálpebras estreitas;
de num
rugasambiente
entre o familiar laico, e seu distanciamento dos
( ) O ausência
crescimento
nariz
e
a
boca,
conhecidas
debates políticos de sua época, permitiu dedicação exclusiva de Max
como bigode; e
Weber a produção acadêmica.
 chinês .
Veja , 21/01/04.
(Fonte:
) ARevista
sociologia
weberiana é considerada compreensiva, pois através dela
é possível explicar todas as dimensões dos fenômenos sociais.
( ) A objetividade nas ciências sociais só é possível, quando o pesquisador
abandona seus próprios valores e ideais, e adota critérios científicos
rigorosos.
( ) Para Weber a realidade social é multidimensional, o pesquisador
precisa criar instrumentos metodológicos ideais, para compreender as
peculiaridades dos fenômenos sociais.
7) Sobre o significado do conceito de Relação Social na teoria weberiana,
analise e assinale as opções e marque (V) para verdadeiro e (F) para falso.
( ) É a relação existente dentro das entidades coletivas, e exercem forte
coerção sobre os indivíduos.
(
) Envolve a percepção de significado entre vários agentes, ou seja, a
probabilidade de se compartilhar condutas sociais com o mesmo sentido.
(
) A Relação Social é produzida, unicamente a partir contradição de
duas classes sociais em luta.
(
) Relação Social se caracteriza por sua natureza transitória ou
duradoura, dependendo do contexto onde ocorre.
(
) O consentimento mútuo é um aspecto determinante para que exista
a Relação Social.
8) A perspectiva metodológica da sociologia em Karl Marx é considerada
como crítica, sendo correto afirmar que utiliza as seguintes categorias de
análise:
525
Caderno Didático III - 1º Período
Pedagogia
(
) Método compreensivo, ação social e ciência parcialmente neutra.
(
) Dialética, materialismo histórico, contradição.
(
) Método comparativo, fato social e ciência neutra.
(
) Juízos de valor, neutralidade axiológica e ciência neutra.
9) Faça a correspondência o modo de produção e os tipos de propriedade e
divisão social do trabalho:
10)
Sobre os conceitos de alienação e ideologia em Marx, analise e
assinale as opções e marque (V) para verdadeiro e (F) para falso.
(
) Alienação para Marx é a ação pela qual (ou estado no qual) um
indivíduo ou grupo social se tornam alheios, estranhos, separados, enfim
alienados aos resultados ou produtos de sua própria atividade produtiva.
(
) A ideologia para Marx é a consciência da realidade, deliberada e
necessária, correspondendo ao pensamento de cada uma das classes
sociais.
(
) A Alienação é sempre alienação de si próprio, sendo não apenas um
conceito, mas também um apelo à modificação revolucionária do mundo
(desalienação).
(
) O proletariado, uma classe desprovida de direitos e de bens, mas
imbuída de uma ideologia socialista, é capaz de subverter a estrutura da
sociedade moderna, e buscar a supressão de qualquer tipo de alienação
através da revolução proletária e socialista.
1 - Modo de produção
primitivo
( ) Propriedade privada e a divisão do
trabalho corresponde à divisão entre
campo e cidade e entre homens livres
e cativos.
2 - Modo de produção
capitalista
( ) Propriedade por ordens e a divisão do
trabalho corresponde à servidão no
campo e artesão nas cidades.
3 - Modo de produção
Feudal
( ) Propriedade privada e a divisão do
trabalho corresponde à divisão entre
proprietários e não-proprietários dos
meios de produção.
4 - Modo de produção
escravista
( ) Propriedade comunal e a divisão do
trabalho corresponde à extensão da
divisão natural do trabalho.
526
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