BOLETIM CITRÍCOLA Maio no 6/1998 UNESP/FUNEP/EECB LIMA ÁCIDA ‘TAHITI’ Eduardo Sanches Stuchi e Fábio Luiz Lima Cyrillo Funep Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/nº 14884-900 - Jaboticabal - SP Tel: (16) 3209-1300 Fax: (16) 3209-1306 E-mail: [email protected] Home Page: http://www.funep.com.br Ficha catalográfica preparada pela Seção de Aquisição e Tratamento de Informação do Serviço de Biblioteca e Documentação da FCAV. Stuchi, Eduardo Sanches S929l Lima ácida “Tahiti” / Eduardo Sanches Stuchi e Fábio Luiz Lima Cyrillo. -- Jaboticabal : Funep, 1998 35p. : il. ; 21 cm 1. Lima ácida Tahiti. I. Título. CDU: 634.33 ÍNDICE 1. INTRODUÇÃO ................................................................... 1 2. VARIEDADES .................................................................... 2 3. PORTA-ENXERTOS ........................................................... 3 4. IMPLANTAÇÃO DO POMAR ............................................ 7 4.1. Preparo do terreno .................................................... 7 4.2. Sistema de plantio ..................................................... 8 4.3. Espaçamento .............................................................. 8 4.4. Preparo das covas ...................................................... 8 4.5. Plantio ........................................................................ 9 5. TRATOS CULTURAIS ...................................................... 10 6. ADUBAÇÃO .................................................................... 11 6.1. Adubação de Plantio ............................................... 13 6.2. Adubação de formação ........................................... 14 6.3. Adubação de produção ........................................... 15 6.4. Adubação foliar com micronutrientes ..................... 15 6.5. Adubação orgânica .................................................. 16 7. DOENÇAS ........................................................................ 17 7.1. Gomose de Phytophthora dos citros ...................... 17 7.1.2. Cuidados no replantio ................................... 19 7.1.3. Controle químico ........................................... 20 7.2. Podridão floral de Colletotrichum ou “estrelinha” 20 7.3. Outras doenças (CVC, Declínio, Cancro) ............... 21 LIMA ÁCIDA ‘TAHITI’ Eduardo Sanches Stuchi1 Fabio Luiz Lima Cyrillo11 1. INTRODUÇÃO O ‘Tahiti’ conhecido como limão, pertence a um grupo de citros chamado de limas ácidas. Seu nome científico é Citrus latifolia Tan., não tendo, portanto, nenhum parentesco com limão ‘Siciliano’ e outros limões verdadeiros. É conhecido como limão ‘Persa’ no México, lima ‘Bears’ na Califórnia, lima ‘Tahiti’ na Flórida (05) e como lima ácida “de fruto grueso” na Espanha (16). Difere do limão ‘Galego’ (Citrus aurantifolia) pelo seu maior tamanho e pela ausência de sementes. Estima-se a área plantada no Brasil com ‘Tahiti’ ao redor de 30.000 ha (15), havendo estimativas que a área colhida esteja próxima aos 46.000 ha (25). O Estado de São Paulo é o principal produtor, sendo responsável por 70 a 73% da safra brasileira (15; 25). Contaria em 1997 com 2,17 milhões de pés novos e 6,45 milhões de pés em produção, que produziriam, segundo estimativa do Instituto de Economia Agrícola e da Cati, 18,17 milhões de caixas de 40,8 kg (19). No ano agrícola 1996/97, a produção de limão e lima ácidas atingiu 29,74 milhões de caixas de 25,0 kg, ou 19,8 milhões de caixas de 40,8 kg. O valor desta produção foi estimado ao redor de 113 milhões de reais. Isto corresponde a 1,27% do valor de toda a atividade agropecuária do Estado de São Paulo (08), superando assim a cultura da banana (1,18%) e a uva fina para mesa (0,38%), estando muito próximo a atividade tangerina (1,29%), que engloba Poncã, Murcote, Cravo e Mexerica. 1 Engenheiros Agrônomos - EECB, doutorando e mestrando FCAV-UNESP, respectivamente. 1 2. VARIEDADES Na verdade, não existem variedades de lima ácida ‘Tahiti’, mas sim clones. Os clones mais difundidos são o IAC-5 ou ‘Peruano’ e o ‘Quebra-galho’. Na região Nordeste, os clones mais difundidos são o CNPMF-1 e o CNPMF-2 (24). Um clone obtido por microenxertia e premunizado contra tristeza na EMBRAPA-Mandioca e Fruticultura, em Cruz das Almas - BA, está sendo testado na Estação Experiemental de Citricultura de Bebedouro desde de 1989 (plantio). Nas cinco últimas safras (5º ao 9º ano), as plantas deste clone, enxertado sobre tangerina Cleópatra, produziram cerca de quatro caixas de colheita (27,2 kg) por planta. O percentual de falhas no nono ano foi de 20%. O ‘Peruano’ apresenta maior produtividade, melhor tolerância ao vírus da tristeza, ausência de fissuras na casca do tronco e ramos, e menor incidência de hipertrofia do cálice das flores (14). O ‘Quebra-galho’ é o mesmo ‘Peruano’, só que contaminado com o complexo de viróides da exocorte, daí seu menor porte e a grande variação entre árvores de um mesmo talhão. É comum se encontrar quem diga que existe um ‘Quebra-galho’ verdadeiro, muito pouco vigoroso, e um “misto”, com vigor intermediário. Estas diferenças ocorrem em função do tipo de viróide que esteja contaminando o material, o que antigamente se atribuía a raças. Também podem ser atribuídas à segregação de viróides durante o processo de propagação ou inoculação (32). Existe uma controvérsia quanto as vantagens de um ou outro clone. Alegam os que preferem o ‘Quebra-galho’ que este material apresenta maior produção na entressafra (fora de época) (22), entretanto, estudos realizados pelo IAC (13) mostraram que não há diferenças na produção de frutos, em outubro, entre o ‘Quebra-galho’ e o ‘Peruano’. Em função disto, e da maior longevidade das plantas, deve-se usar o ‘Peruano’, em grande escala, e, em pequena 2 escala, o clone microenxertado do CNPMF. Para se contornar o problema do tamanho das plantas, deve-se lançar mão de porta-enxertos. 3. PORTA-ENXERTOS O limão ‘Cravo’ é o porta-enxerto utilizado na quase totalidade dos pomares do Estado de São Paulo, muito mais pela tradição do uso deste cavalo e pela falta de estudos de porta-enxertos alternativos para material sadio de ‘Tahiti’ do que por razões técnicas (12). Apesar de induzir boas produções logo nos primeiros anos e mantê-las durante a vida útil da planta, a combinação de ‘Tahiti’ sobre limão ‘Cravo’ tem vida útil curta por ser muito atacada pela gomose de Phytophthora (12), o que foi comprovado num experimento de porta-enxertos conduzido na EECB, onde aos nove anos do plantio, 100% das plantas sobre limão ‘Cravo’ estavam mortas, principalmente devido à gomose. Outros cavalos indutores de boa produtividade apresentaram no máximo 40% de plantas mortas. Entre estes porta-enxertos pode-se destacar, em ordem decrescente, o citrange ‘Morton’, o tangelo ‘Orlando’, o citrumelo ‘Swingle’ ou 4475, o Trifoliata, e o limão ‘Volcameriano’. (Tabela 1) (FIGUEIREDO et al., dados não publicados). Neste estudo, as tangerinas confirmaram seu mau desempenho como porta-enxertos para ‘Tahiti’, conforme já relatado (12). A tangerina ‘Cleópatra’, que é um porta-enxerto recomendado para ‘Tahiti’ (29), induziu uma produtividade muito inferior à dos melhores cavalos (mais de meia caixa), entretanto, quando a copa é o clone microenxertado do CNPMF, a sua produtividade é boa e o tamanho das plantas, aos 9 anos de idade, é maior (altura média de 4,5 m e diâmetro da copa de 6,1 m) com apenas 20% de plantas mortas. Possivelmente, estas diferenças existam devido aos clones, que são de origens distintas. 3 4 * medida de plantas remanescentes em 1997 ** calculado conforme descrição no item implantação do pomar *** calculado a partir do espaçamento provável. Tabela 1. Produção média de frutos (92 a 97), tamanho médio das plantas e percentagem de plantas mortas (aos nove anos-1998) de limão Tahiti IAC-5 sobre onze diferentes porta-enxertos em Bebedouro. A tolerância à seca de uma série de combinações de ‘Tahiti’ IAC-5 com diferentes porta-enxertos foi relatada (12), conforme pode ser visto na Tabela 2. Tabela 2. Resistência à seca de 11 porta-enxertos, por ordem de classificação do mais para o menos resistente, quando enxertados com limão ‘Tahiti’. Avaliações realizadas em período de seca nos anos de 1994 e 1995, em Bebedouro. _________________________________________________________________________________________________________________________ Porta-enxertos 1994 1995 Média _________________________________________________________________________________________________________________________ limão Volcameriano limoeiro ‘Cravo’ tangerina Sunki tangerina Cleópatra citrumelo Swingle laranja Caipira DAC Trifoliata EEL citrange Morton tangerina Batangas tangerina Oneco tangelo Orlando 1 2 3 6 4 8 7 5 9 10 11 1 2 3 4 6 5 9 10 7 8 11 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 _________________________________________________________________________________________________________________________ O citrumelo ‘Swingle’, além da boa produtividade e nula mortalidade de plantas, possui boa tolerância à seca, e induziu menor altura das planta e menor diâmetro da copa, o que facilita a colheita e permitiria a instalação de pomares ligeiramente mais adensados que os porta-enxertos citrange ‘Morton’ e tangelo ‘Orlando’ e com a mesma densidade do limão ‘Cravo’. O Trifoliata, entre os porta-enxertos que se destacaram, é o que permitiria maior aumento da densidade de plantio, além de ser o que induziu menor altura de plantas. 5 Para se obter maior redução do porte das plantas de ‘Tahiti’, uma das alternativas é o uso de porta-enxertos ananicantes, como o Poncirus trifoliata cv. Flying Dragon.(FD). Está em uso comercial como porta-enxerto para limões na Argentina (34). Na Martinica, este tipo de citros está sendo testado como cavalo para ‘Tahiti’. A primeira safra pode ser colhida aos dois anos do plantio, enquanto o padrão (Macrophylla) só produziu no terceiro ano, quando a produtividade foi de 12 t/ha para a combinação ‘Tahiti’/ FD, plantada com densidade de 1000 plantas/ha, contra 4,4 da combinação ‘Tahiti’ /Macrophylla, plantada na densidade usual (20). O FD está sendo testado como porta-enxerto para Tahiti num experimento da EECB, onde o plantio foi feito em novembro de 1994, com quatro espaçamentos: 4 x 1, 4 x 1,5, 4 x 2 e 4 x 2,5. As principais constatações são: produção de alguns frutos no segundo ano de plantio e boa qualidade externa dos frutos. Na Tabela 3, podem ser vistos os valores da produção acumulada de frutos por planta e por hectare no ano de 1998 (até agosto), e o tamanho médio das plantas em abril de 1998. A produtividade em toneladas por hectare alcançada é muito boa, mas deve-se ter em mente que são informações preliminares, pouco se sabe sobre a longevidade das plantas e que o FD apresenta extrema sensibilidade à seca, o que torna obrigatório o uso de irrigação para pomares comerciais. Em outros países, foram estudados muitos portaenxertos para o ‘Tahiti’. Entre os que apresentaram melhores produções de frutos de boa qualidade, na maioria dos experimentos, foram: Citrus macrophylla, laranja ‘Azeda’ e limão ‘Volcameriano’. Um segundo grupo alternou bons e maus resultados, dependendo das condições. Entre eles estiveram: citrange, citrumelo, pomelo, kalpi (Citrus excelsa), limão ‘Cravo’, limão ‘Rugoso’, shekwasha (Citrus depressa) e “sweet lime” (04). 6 Tabela 3. Produção de frutos na primeira safra (44 meses de idade) e tamanho médio das plantas de ‘Tahiti’ sobre Trifoliata Flying Dragon em abril de 1998. EECB, agosto 1998. 4. IMPLANTAÇÃO DO POMAR O plantio de mudas de boa qualidade, tanto genética como sanitária, garante o sucesso de um pomar no que se refere à sua produtividade, menor incidência de doenças, longevidade e manutenção de “stand” economicamente viável, complementado por técnicos, comentados a seguir. 4.1. Preparo do terreno Um bom plantio começa com um bom preparo de solo, incluindo a correção da acidez através da calagem. A calagem profunda propiciará melhor desenvolvimento das plantas que terão um maior volume de solo em condições de ser explorado. Como conseqüência , o pomar resistirá mais aos períodos de estiagem e será mais produtivo. A dose de calcário deverá ser calculada para elevar a saturação de bases a 70%, de acordo com a análise do solo (33). 7 4.2. Sistema de plantio Existem dois sistemas de plantio recomendados: o plantio em linhas retas e o plantio em nível, que devem ser adotados em função das características de cada área (declividade e uniformidade). 4.3. Espaçamento A escolha do espaçamento é influenciada pelo tipo de solo (fertilidade e textura), pelo porta-enxerto, pelo clima e pelos tratos que se pretende dar ao pomar. Existe uma maneira prática para se definir o espaçamento: medir o diâmetro de plantas adultas presentes na mesma região, isto é, medir a largura da projeção da copa, e calcular a média. A esta “largura” média devem ser somados 2,5 m; o resultado será o espaçamento entre as linhas de plantio. O espaçamento entre as plantas na linha será igual ao diâmetro. Por exemplo, na Tabela 3, o diâmetro médio das plantas de ‘Tahiti’ enxertado sobre citrumelo ´Swingle´ é de 6,2 m, então, para se definir o espaçamento soma-se 2,5 a 6,2 e o resultado é o espaçamento entre as linhas, 8,7 m; como o espaçamento entre as plantas na linha deve ser igual ao diâmetro, o espaçamento será de 8,7 x 6,2 m. Com isto, se consegue plantar uma maior quantidade de plantas por hectare e minimiza-se o risco de ocorrer fechamento do pomar na fase adulta, dificultando o trânsito de máquinas e a colheita. 4.4. Preparo das covas O preparo das covas deve ser feito bem antes do plantio. Por preparo da cova se entende as operações de 8 abertura e adubação. Uma boa cova deve ter as dimensões de 40 cm de “boca” por 40 cm de profundidade. O sulco de plantio também deve ter 40 cm de profundidade. As aplicações de calcário e adubos, quando recomendadas, são as etapas seguintes do preparo da cova. Os adubos e corretivos devem ser bem misturados com a terra da cova. As covas devem ser tampadas e marcadas com estacas para localização. 4.5. Plantio É uma operação muito importante, que precisa ser feita com o máximo de cuidado. Dele depende o bom pegamento e desenvolvimento das mudas. Pode ser feito em qualquer época do ano, desde que existam mudas e condições de regar, no tempo certo, todas as mudas. A melhor época para fazê-lo é a do início das chuvas, pois se consegue reduzir o número de regas. Não é recomendável que as mudas fiquem armazenadas por muito tempo. Devem ficar depositadas em lugar de fácil irrigação que não acumule água e deve-se evitar a rega em excesso. Deve ser levada para o campo a quantidade necessária para um dia de trabalho. O transporte e manuseio deve ser cuidadoso para evitar a quebra do torrão ou danos às radicelas. As covas devem ser reabertas de acordo com o tamanho do torrão, sendo a profundidade ajustada pelo tamanho do torrão. O torrão deve ficar ligeiramente exposto, isto é, a sua superfície deve ficar aproximadamente 5 cm acima do nível natural do terreno. É o que se convencionou chamar de plantio alto. Retira-se a embalagem, acerta-se a muda na profundidade recomendada, firma-se ao solo chegando terra ao torrão e apertando suavemente. Em seguida, pisoteia-se 9 sucessiva e cuidadosamente em volta do torrão. O torrão não deve ser pisoteado. O passo seguinte é puxar terra com enxada até se conseguir uma crista redonda (coroa ou bacia), distante 30 a 50 cm do tronco da muda. Uma primeira rega deve ser feita logo após a construção da bacia, usando-se entre 10 a 50 L por muda. A finalidade desta rega é eliminar eventuais bolsões de ar que dificultam o desenvolvimento das raízes, facilitar a “liga” entre a terra do torrão e a da cova, além do fornecimento de água. 5. TRATOS CULTURAIS O primeiro trato cultural a ser dispensado a um pomar em formação é a rega periódica das mudas até o início do período chuvoso e, em algumas condições, mesmo durante este. As mudas que eventualmente não peguem devem ser replantadas rapidamente (07). A retirada de brotos (esladroamento ou desbrota) do cavalo e os da copa, que surjam abaixo das pernadas, deve ser feita tão logo estes brotos surjam, assim são fáceis de retirar, não causando ferimentos. Os ferimentos que porventura ocorrerem devem ser tratados com produtos a base de cobre ou tinta plástica. Também, para que o pomar tenha um bom desenvolvimento, é necessário que as plantas não sofram com a competição das ervas daninhas. O controle do mato nas linhas pode ser feito com herbicidas pré-emergentes, geralmente diuron ou oxifluorfen, ou com enxada no primeiro ano. A partir do segundo ano também podem ser usados herbicidas de contato e translocação (geralmente, glifosato ou paraquat + diuron). A entrelinha deve ser roçada quando o mato atingir uma altura de 50 10 cm. O uso de leguminosas como cobertura verde também é uma boa opção. O uso constante de grade apresenta uma série de desvantagens: corte de raízes e radicelas, e distribuição do fungo da gomose por todo o pomar, o que causa aumento da incidência de gomose; aumento da erosão do solo; diminuição da matéria orgânica, entre outras (07). O uso de grade deve ficar restrito a uma ou duas vezes por ano, sempre no período de seca, para incorporação de calcário ou quando ocorrerem infestações de ervas de difícil controle como os capins brachiaria e colonião. A poda lateral ou de topo de árvores de ‘Tahiti’, não é empregada nas condições do Estado de São Paulo. Na Flórida, quando recebem esta poda, as árvores de ‘Tahiti’, retornam rapidamente à produção (03), talvez por isto e pela necessidade de reduzir o porte das plantas, a poda não muito severa seja uma prática comum atualmente. As árvores podadas geralmente emitem novos brotos que não são produtivos, entretanto, os ramos não podados mantém a produção (31). 6. ADUBAÇÃO Dos dezessete elementos considerados essenciais na cultura do limão, apenas oito devem ser motivos de preocupação do produtor: nitrogênio, fósforo e potássio, que são fornecidos por adubações químicas via solo, em doses parceladas na época das chuvas; cálcio e magnésio, que são fornecido a planta através das calagens realizadas no pomar; e, finalmente, os micronutrientes boro, zinco e manganês, fornecidos através de adubações foliares realizadas no decorrer do ano. O programa de adubação de um pomar de ‘Tahiti’ deve estar alicerçado por análise de solo e foliar feitas 11 periodicamente. A interpretação dos resultados analíticos deve ser efetuada utilizando-se as Tabelas 4, 5 e 6, que refletem as classes de teores de macro e micronutrientes, em análises de solo e folha para citros. Tabela 4. Padrões de fertilidade para interpretação de resultados de análise de solo para citros1. Fonte: Grupo Paulista de Adubação e Calagem para Citros (1994). Manter , no mínimo, 10% de CTC com Mg++ e 40% com Ca++ 1 Tabela 5. Interpretação preliminar de resultados de análise química de solo para enxofre e micronutrientes. Fonte: Grupo Paulista de Adubação e Calagem para Citros (1994). 12 Tabela 6. Faixas para Interpretação de teores de macro e de micronutrientes nas folhas de citros, geradas na primavera, com 6 meses de idade de ramos com frutos. _______________________________________________________________________________________________________________________________ Nutrientes Baixo Adequado g/ kg Excessivo _______________________________________________________________________________________________________________________________ Nitrogênio Fósforo Potássio Cálcio Magnésio Enxofre < 23 < 1,2 < 10 < 35 < 2,5 < 2,0 Boro Cobre Ferro Manganês Zinco Molibdênio < 36 < 4,1 < 50 < 35 < 35 < 0,10 23 – 27 1,2 – 1,6 10 – 15 35 – 45 2,5 – 40 2,0 – 3,0 mg/ kg 36 – 100 4,1 – 10,0 50 – 120 35 – 50 35 – 50 0,10 – 1,00 > 30 > 2,0 > 20 > 50 > 5,0 > 5,0 > 150 > 15,0 > 200 > 100 > 100 > 2,00 _______________________________________________________________________________________________________________________________ Fonte: Grupo Paulista de Adubação e Calagem para Citros (1994). 6.1. Adubação de Plantio A adubação de plantio é feita em sulcos profundos. A recomendação oficial do GPACC (1994) sugere doses fixas de calcário dolomítico, boro e zinco, conforme recomendado na Tabela 7, enquanto que as doses de P2O5 são baseadas na análise química do fósforo no solo. O zinco e o boro podem ser fornecidos na forma de óxidos silicatados (“fritas”) ou na forma de sais (sulfato de zinco ou borax). 13 Tabela 7. Recomendação de calcário e adubo para o sulco de plantio. _______________________________________________________________________________________________________________________________ RECOMENDAÇÃO g/m sulco _______________________________________________________________________________________________________________________________ Calcário Dolomítico Zinco Boro P resina (mg/ dm3) 0–5 6 – 12 13 – 30 > 30 250 2 1 P2O5 (1) 80 60 40 20 _______________________________________________________________________________________________________________________________ Fonte: Grupo Paulista de Adubação e Calagem para Citros (1994). (1) Utilizar, de preferência, o superfosfato simples. 6.2. Adubação de formação A adubação do pomar deve ser feita de acordo com a idade da planta e em função da análise de solo, iniciando-se logo após o pegamento das mudas e estendendo-se até o quinto ano de idade. Neste período, cujas exigências são proporcionalmente maiores que no período produtivo, as doses dos nutrientes foram estabelecidas para suprir as necessidades de crescimento e formação das plantas (Tabela 8). Tabela 8. Recomendação de adubação para citros em formação por idade e em função da análise de solo. Fonte: Grupo Paulista de Adubação e Calagem para Citros (1994). 14 6.3. Adubação de produção As recomendações de adubação de produção para citros são baseadas na expectativa de produção (t/ ha), no máximo lucro, nos teores foliares de N e K, nos teores de P e K da análise de solos (07), como mostrado na Tabela 9. Tabela 9. Recomendação de adubação para lima ácida ´Tahiti´ em produção, em função da análise de solo e das folhas. Fonte: Grupo Paulista de Adubação e Calagem para Citros (1994) (1) Quando o teor de N nas folhas for superior a 30 g/kg, reduzir sua dose em 1/3 da recomendada. (2) Quando o teor de K nas folhas for superior a 19 g/kg, reduzir a adubação potássica suprimindo o K do último parcelamento. 6.4. Adubação foliar com micronutrientes As fontes mais tradicionais para a aplicação foliar com micronutrientes são na forma de sais, conforme recomendado na Tabela 10. Observa-se que no caso do uso de sais devem ser adicionados a uréia e o cloreto de potássio, que auxiliam numa absorção mais rápida e eficaz dos micronutrientes. A época mais adequada para adubação foliar é o período de vegetação das plantas. Nos pomares em formação recomenda-se 3 a 4 aplicações. Naqueles em produção, três 15 aplicações normalmente no período de setembro – março, sendo a primeira na época do florescimento, logo após a queda das pétalas, aproveitando o tratamento fitossanitário; a segunda durante o fluxo de vegetação, e a terceira cerca de 45 a 60 dias após, lembrando-se que deve ser incluído o boro apenas na primeira pulverização foliar, quando do uso do mesmo no solo. Podem ser utilizados como fontes de micronutrientes, produtos quelatizados, principalmente para zinco e manganês, os quais, desde que oriundos de um bom quelato, tem vantagens na economia da dose, bem como diminuem riscos de incompatibilidade no interior do tanque de pulverização (33). Tabela 10. Composição da solução de micronutrientes para aplicação via foliar em citros. _______________________________________________________________________________________________________________________________ FONTES Concentração Quantidade por 100 litros de água _______________________________________________________________________________________________________________________________ Sulfato de Zinco Sulfato de Manganês Ácido Bórico Uréia Cloreto de Potássio % Gramas 0,30 0,20 0,10 0,50 0,25 300 200 100 500 250 _______________________________________________________________________________________________________________________________ Fonte: Grupo Paulista de Adubação e Calagem para Citros (1994). 6.5. Adubação orgânica A adubação orgânica traz inúmeros benefícios em propriedades químicas, físicas e biológicas do solo. Além de fornecer nutrientes, principalmente nitrogênio, proporciona a quelatização de micronutrientes evitando que os mesmos sejam precipitados e consequentemente tornando-se 16 insolúveis. Esta prática também melhora as propriedades físicas do solo, melhorando retenção de umidade e a aeração. Tabela 10. Composição da solução de micronutrientes para aplicação via foliar em citros. ___________________________________________________________________________________ Fase de desenvolvimento da cultura Esterco de cural Esterco de galinha Torta de mamona ___________________________________________________________________________________ Kg/planta COVA FORMULAÇÃO PRODUÇÃO 10-15 10-15 25-30 2-5 4-6 10-12 1-1,5 2-3 5-6 ___________________________________________________________________________________ Fonte: Vitti e Cabrita (1998). 7. DOENÇAS 7.1. Gomose de Phytophthora dos citros A gomose é uma doença presente em todas as regiões produtoras de citros do mundo. Várias espécies de fungos do gênero podem causá-la. No Brasil, Phytophthora parasitica e Phytophthora citrophthora são as espécies mais encontradas nas regiões produtoras. No Estado de São Paulo, Phytophthora parasitica é a principal espécie responsável pela doença em viveiros e pomares comerciais. Sua ocorrência é muito elevada em plantios novos devido, principalmente, à utilização de mudas contaminadas na implantação de pomares (11). Portanto, a primeira e fundamental medida de controle deve ser o uso de mudas sadias (67). 17 7.1.1. Manejo ou controle integrado da gomose O manejo ou controle da gomose deve ser feito de maneira integrada, o que quer dizer que devem ser adotadas uma série de medidas de controle que, empregadas ao mesmo tempo ou em seqüência, conseguem manter a doença num nível tolerável. Estas medidas, ligeiramente modificadas (11), são: 1) 2) 3) 4) 5) 6) 7) 8) 9) 18 evitar solos rasos, pesados e com problemas sérios de drenagem; no caso de renovação de pomares velhos e/ou muito afetados por gomose, proceder uma boa limpeza da área, com enleiramento e queima dos resto do pomar anterior, e plantar culturas anuais por pelo menos dois anos; adotar as práticas de conservação do solo; preparar bem o solo, com a incorporação a pelo menos 20 cm dos corretivos (calcário) e adubos (químicos e orgânicos); fazer adubação orgânica com estercos bem curtidos; nos pomares adultos não incorporar a matéria orgânica com equipamentos pesados, e sim distribuí-la pela superfície; uso de porta-enxertos resistentes ou tolerantes, como o citrumelo ´Swingle´ e o Trifoliata; uso de mudas de boa qualidade e sadias, com altura de enxertia entre 20 e 30 cm; plantar alto, isto é, o cavalo não deve ficar enterrado, uma vez que o ‘Tahiti’ é mais sensível à gomose devendo, portanto, ficar o mais longe possível do solo; evitar ferimentos causados por pragas (larvas de Naupactus e de Pantomorus , cupins e cochonilhas de raiz e do tronco), implementos agrícolas (grades e enxadas, principalmente) e agroquímicos (fertilizantes nitrogenados, principalmente) que serviriam como “porta de entrada”; 10) fazer, durante os meses frios e secos do ano, os seguintes tratamentos: a) descalçamento de plantas muito enterradas ou com acúmulo de terra e detritos junto ao tronco; b) poda de ramos doentes (30 cm abaixo das lesões), secos, improdutivos ou mal posicionados; c) pincelamento dos cortes com tinta plástica (esmalte sintético ou tinta a óleo) ou com calda preparada com produto à base de cobre; d) pulverização do tronco e das raízes principais descalçadas, e da superfície do solo com produtos cúpricos em concentração elevada. 11) aplicação de fungicidas sistêmicos. 7.1.2. Cuidados no replantio É comum, em pomares recém-formados e nos pomares novos, o aparecimento de plantas com sintomas da doença. Normalmente, nestas situações os danos causados são muito grandes (mais da metade do tronco afetado e poucas radicelas) e mesmo tratadas com fungicidas sistêmicos, as plantas jovens nunca atingirão todo seu potencial. Estas plantas devem ser substituídas. Nos pomares adultos só devem ser tratadas as plantas nas quais os sintomas só se manifestaram numa parte da copa e as plantas muito afetadas devem ser arrancadas e queimadas. Como o fungo consegue sobreviver no solo por longos períodos, o solo deverá ser tratado antes do replantio. O tratamento mais barato consiste na retirada e distribuição do solo da cova na superfície, ao redor da cova, para que fique exposto ao sol por pelo menos 3 meses. Após isto, as novas covas devem ser preparadas com a utilização de esterco bem curtido. O uso de esterco bem curtido favorecerá a vida de outros microrganismos que dificultam o desenvolvimento da gomose. O replantio deve ser feito 2 meses após o preparo das covas, sempre utilizando mudas livres de doenças, enxertadas sobre cavalos tolerantes. 19 As mudas recém-plantadas devem ser protegidas com fungicidas sistêmicos aplicados a cada 60 dias, até o seu pegamento completo. 7.1.3. Controle químico As lesões em troncos e ramos podem ser controladas eficazmente com pulverizações foliares e pincelamentos de tronco com fosetyl-Al, sendo dispensável a eliminação de tecidos lesionados (tratamento cirúrgico). No controle de podridões de raízes e radicelas, tanto o metalaxyl como o fosetyl-Al são eficientes. O metalaxyl é recomendado para aplicação via solo, enquanto o fosetyl-Al para aplicação foliar. Estes dois produtos, em pomares adultos, só devem ser usados no período chuvoso, quando as condições são mais favoráveis ao fungo. Mas, em pomares irrigados, as aplicações devem ser aumentadas, acompanhando os surtos de vegetação das plantas (11). 7.2. Podridão floral de Colletotrichum ou “estrelinha” O ´Tahiti´ é uma das variedades cítricas mais sujeitas à queda prematura dos frutos jovens, causada pelo fungo Colletotrichum gloeosporioides. Alta umidade e temperaturas amenas na época da florada são as condições ideais para o estabelecimento da doença, notando-se no início um necrosamento dos botões florais e, posteriormente, as pétalas apresentam manchas róseas sobre sua superfície. Após a queda ou secamento das pétalas verifica-se o amarelecimento dos frutinhos com posterior queda. O cálice da flor fica retido por, aproximadamente, um ano na planta, dando o aspecto de “estrelinhas”, o que originou o nome popular da doença. O tratamento é bastante oneroso, sendo recomendada a aplicação de benomyl (100 g/ 100 L) em três aplicações com intervalos de 15 em 15 dias. 20 7.3. Outras doenças (CVC, Declínio, Cancro) A bactéria causadora da CVC, Xylella fastidiosa, não foi detectada em plantas de ‘Tahiti’ cultivadas no campo em área muito afetada pela doença (LARANJEIRA et al., 1998). O ‘Tahiti’ quando enxertado em limão Cravo, é suscetível ao declínio, o que também ocorre quando o cavalo é o Trifoliata e o Volcameriano. O limão ‘Tahiti’ e considerado altamente resistente ao Cancro Cítrico. 8. PRAGAS 8.1. Ortézia (Orthezia praelonga) A Ortézia é a principal cochonilha que ataca a cultura do ‘Tahiti’. Sua importância tem crescido consideravelmente nos últimos anos, pois seu controle é difícil, tem que ser realizado sistematicamente, resultando em aumento considerável nos custos de produção. A Ortézia é um coccideo provido de placa ou lâmina cerea; tanto as fêmeas adultas como as ninfas podem moverse sobre a planta. Segundo (15), esta cochonilha, além de um excelente sugador, ao alimentar-se injeta toxinas que contribuem para o enfraquecimento da planta. Além disto, durante este processo, a exsudação eliminada pelo inseto desenvolve a fumagina, que impede a realização plena da fotossíntese pelas plantas. A época de maior incidência desta praga é no período mais seco do ano, pois sua disseminação ocorre, principalmente, pelo vento. O controle deve ser efetuado com a aplicação alternada de inseticidas sistêmicos, granulados aplicados no solo e pulverizados via foliar. O 21 recomendado seria a intercalação do aldicarb (130 g/ planta), aplicado ao redor da copa, a uma profundidade de 5 a 7 centímetros, em sulcos ou em pontos de ambos os lados da planta, e do acephate, na dosagem de 50 gramas/ 100 litros de água, repetindo-se a pulverização depois de 15 dias. 8.2. Escama farinha (Pinnaspsis aspidistrae) São cochonilhas cujas carapaças (escamas) aparentam pequenos pontos, assemelhando-se à farinha de trigo. Desenvolvem-se ,principalmente, no tronco e nos ramos das plantas. A sucção intensa da seiva causada pelo inseto, além do enfraquecimento da planta, causa rachadura na casca e ramos do tronco, facilitando a entrada de fungos, como Phytophthora, causador da gomose. Seu controle deve ser feito com pulverização com jato dirigido sobre a cochonilha com produtos como methidethion (125 mL/ 100 litros), ethion (150 L/ 100 litros) ou dimethoate (190 mL/ 100 litros), adicionados a 0,5% de óleo vegetal ou mineral, apresentam um controle bastante eficiente sobre a praga. 8.3. Ácaro branco (Polyphagotarsonemus latus) É o principal ácaro que ataca a cultura do ‘Tahiti’, sendo que seu potencial de dano aumentou muito na última década. Seu ataque na planta cítrica se concentra, principalmente, em folhas novas, ponteiros de brotações e frutos novos, cujos sintomas nos frutos é a perda de cor e posterior manifestação opaca como um prateamento na superfície do fruto, depreciando-o para o mercado interno. A infestação com 8 a 32 ácaros por fruto começam a mostrar os danos 4 a 6 dias depois da presença do ácaro e apresentam danos severos (30 – 65%) na epiderme dos frutos 22 12 dias após o início da infestação. Além de depreciação econômica para o consumo “in natura”, as injúrias nos frutos reduzem o peso dos mesmos (15). Seu controle deve ser efetuado com utilização de produtos a base de enxofre pó molhável (350 g/ 100 litros), abamectin (30 mL/ 100 L), adicionados a 0,5% de óleo vegetal ou pyridaphenthion (100 – 175 mL/ 100 L). 8.4. Ácaro da falsa ferrugem (Phyllocoptruta oleivora) O ácaro da falsa ferrugem infesta folhas, ramos e frutos. Nestes últimos, o seu ataque causa danos às células epidérmicas, que adquirem coloração prateada e aspecto áspero, causando depreciação do produto para comercialização “in natura”. Além do dano no aspecto, os frutos atacados pelos ácaros apresentam, em geral, tamanho, peso e percentagem de suco reduzidos. Seu controle é efetuado, principalmente, com produtos a base de enxofre pó molhável (350 g/ 100 L) e bromopropylate (40 mL/ 100 L) ou pyridaphenthion (100 – 175 mL/ 100 L). 8.5. Larva minadora dos citros (Phyllocnistis citrella) O adulto é uma mariposa (2 mm) de coloração brancoprateada, com manchas e pontuações marrom no par de asas anteriores; as larvas são pequenas ( 2mm), de cor verde- amarela brilhante. A incidência desta praga geralmente ocorre em mudas novas, devido a sua intensa vegetação, que devido ao seu hábito alimentar, nota-se uma destruição do limbo foliar em forma de “mina”, diminuição da capacidade fotossintética da planta, brotações em mudas e até queda de folhas novas, quando estão presentes de 4 a 8 larvas por folha. 23 Seu controle deve ser efetuado na constatação de 30 a 40% dos brotos na presença de uma ou mais larvas vivas (nível de ação) com abamectin (30 mL/ 100 L), adicionados a 0,5% de óleo vegetal ou lufenuron (75 mL/ 100 L). 9. COLHEITA Os frutos de ‘Tahiti’ atingem seu ponto de colheita ideal quando apresentam, pelo menos, 47 mm de diâmetro e casca rugosa, de cor verde escura. Alguns cuidados devem ser tomados durante a realização da colheita: a) não colher frutos molhados ou orvalhados, b) não expor os frutos colhidos ao sol, c) evitar ou diminuir todos os procedimentos que causam machucados nos frutos, como, por exemplo, derrubar o fruto direto no solo e uso de ganchos (15). 10. PRODUÇÃO FORA DE ÉPOCA O ‘Tahiti’ apresenta uma forte concentração da oferta no primeiro semestre, quando os preços caem. Já no segundo semestre do ano, os preços se recuperam de uma maneira às vezes brusca. Seria interessante e muito lucrativo o deslocamento da produção de frutos para este período, mas devido às nossas condições climáticas, é praticamente impossível se alterar a época de produção. O que é possível é aumentar a produção na entressafra. Antes de se entrar nos aspectos práticos, é importante observar alguns pontos da fisiologia do florescimento e frutificação do ‘Tahiti’. A época e a intensidade do florescimento dos citros são reguladas por fatores ambientais como a temperatura e as chuvas. A indução floral das gemas começa com a interrupção do crescimento vegetativo durante o “repouso” 24 do inverno. O crescimento dos ramos é paralisado e o das raízes reduzido, mesmo que as temperaturas não sejam inferiores a 12,5°C. É durante este período que as gemas adquirem a capacidade de florescer (06) . O estresse por frio ou por déficit hídrico é o principal fator de indução. Em condições de campo, períodos de seca maiores do que 30 dias são necessários para induzir um número significativo de gemas e o conseqüente florescimento. A intensidade desta indução é proporcional à severidade e duração do estresse (30). Na Itália, a técnica de produção de limões verdadeiros no verão, chamados “ verdelli”, é uma técnica conhecida desde o século passado, quando foi relatada por Alfonso (1875), citado por (26). É chamada de “ secca” ou “ forzatura” e consiste na suspensão da irrigação no início do verão por um período variável em função do tipo de solo e das condições climáticas. Em média, este período é de 40 dias (01). Após este período, retoma-se a rega pouco a pouco, com volumes crescentes e aduba-se com fertilizantes nitrogenados nítricos ou amoniacais ou mistos, em doses abundantes de acordo com a idade da árvore (26). O segredo desta técnica é o controle do período de estresse hídrico. O ponto de murcha das folhas deve ser controlado (10) e, segundo Torrisi (1952) citado por (26), o ótimo de perda de água está ao redor de 50% da umidade inicial das folhas, uma vez que, quando o estresse é excessivo, causa muita desfolha e floração limitada. Por outro lado, se é insuficiente, só se consegue brotos vegetativos e poucas flores (26). A ocorrência de chuvas durante o período de “secca” interrompe o processo (10). Este processo pode vir a ser interessante em regiões semi-áridas do Brasil, mas para São Paulo, outras alternativas devem ser consideradas. No Estado de São Paulo, onde predominam os verões úmidos e com período de inverno seco, com temperaturas e precipitações pluviais reduzidas, ocorre um equilíbrio hídrico 25 favorável para o ciclo fenológico das plantas cítricas pois as condições térmicas e hídricas de junho a agosto condicionam o repouso, e a retomada das chuvas a partir de setembro é suficiente para o florescimento e o desenvolvimento dos frutos, sendo dispensável o uso de rega (24). Portanto, o esquema da “ forzatura” só se aplicaria a regiões áridas ou semi-áridas (29). Considerando-se que o ciclo de frutificação (da flor ao fruto) do ´Tahiti´ é de cerca de 6 meses, seria necessário aumentar os florescimentos menos importantes que ocorrem de março a maio, época que normalmente não ocorrem déficits hídricos acentuados (24), não se aplicando portanto, a técnica de “ forzatura”. O uso de Ethephon e óleo mineral para a derrubada de frutinhos da safra normal e obtenção de frutos temporão foi estudado (02). Os tratamentos com ethephon (500 ppm), ethephon (250 ppm + uréia 1%) e ethephon (250 ppm + óleo mineral 2%) promoveram maior queda de frutinhos na florada normal e permitiram mais produção de frutos temporões. Entretanto, ocorreram acentuada queda de folhas e lesões em ramos novos, com seca dos mesmos, o que também foi relatado por outros pesquisadores (21; 27 e 28). Talvez esta seja a razão da não aplicação comercial desta técnica. Na Bahia (21), em pomar de três anos de idade, conseguiu-se maior produção de frutos temporões através da derriça manual de flores e frutos do que com o uso de reguladores vegetais (ethephon e ANA) em diferentes doses. Os tratamentos foram aplicados em outubro. Na entresafra, outubro do ano seguinte, as plantas que sofreram derriça produziram em média 89,90 caixas/ ha, enquanto a testemunha não tratada só produziu 12,00 caixas/ ha e o tratamento com ethephon (250 ppm + uréia 1%) produziu 41,67 caixas/ ha. 26 Outra alternativa seria a aplicação de ácido giberélico para inibir o florescimento. Estudos realizados nos EUA apontaram que a aplicação deste regulador reduziu em muito o percentual de brotos com flores, sendo que esta redução foi maior quando a aplicação foi feita no final do período de déficit hídrico (31). 11. COMERCIALIZAÇÃO Basicamente, todo o ‘Tahiti’ fornecido no CEASA/SP, durante o ano, é proveniente de cinco regiões. O Estado de São Paulo é o grande produtor brasileiro de ‘Tahiti’, (cerca de 73% da safra brasileira), e quatro mesoregiões são responsáveis por este abastecimento; a principal região produtora de ‘Tahiti’ é a região SP 36, denominada Serra de Jaboticabal, que engloba os municípios paulistas de Bebedouro, Cândido Rodrigues, Fernando Prestes, Guariba, Jaboticabal, Monte Alto, Monte Azul Paulista, Pirangi, Pitangueiras, Santa Ernestina, Taiaçú, Taíuva, Taquaritinga, Terra Roxa, Viradouro e Vista Alegre do Alto, seguida da região SP 35, que é a região da Média Araraquarense, que fazem parte os seguintes municípios: Ariranha, Cajobi, Catanduva, Catiguá, Irapuã, Itajobi, Novo Horizonte, Palmares Paulista, Paraíso, Pindorama, Sales, Santa Adélia, Severínia, Tabapuã e Urupês. Estas regiões respondem por mais de 70% da oferta da fruta no CEASA/SP, em todos os meses no decorrer dos anos. Com menor expressão na oferta do produto, é citada a mesoregião SP 25 denominada, Alta Araraquarense de Fernandópolis, composta pelos municípios de Aparecida D’Oeste, Dolcinópolis, Estrela D’Oeste, Guarani D’Oeste, Indiaporã, Jales, Macedônia, Marinópolis, Meridiano, Mira Estrela, Palmeira D’Oeste, Paranapuã, Pedranópolis, Populina, 27 Rubinéia, Santa Albertina, Santa Clara D’Oeste, Santa Fé do Sul, Santana da Ponte Pensa, Santa Rita D’Oeste, São Francisco, São João das Duas Pontes, Três Fronteiras, Turmalina e Urânia, respondendo por cerca de 10% da oferta do produto nos meses de novembro a janeiro e, aproximadamente, 7% nos meses restantes. A mesoregião SP 43, que é a região da Depressão Periférica Setentrional, já tem uma participação significativamente menor na oferta do ‘Tahiti’. Sua participação se limita a ofertar o produto nos meses de fevereiro a julho com uma representatividade variando de 0,81 a 3,24% da oferta do ‘Tahiti’ no CEASA/SP. Esta região é composta pelos municípios de Aguaí, Casa Branca, Leme, Mogi-Mirim, Pirassununga, Porto Ferreira, Santa Cruz da Conceição, Santa Cruz das Palmeiras e Tambaú. A partir do mês de junho, os municípios do sul da Bahia, pertencentes à mesoregião BA 56, tem uma participação importante no abastecimento do ‘Tahiti’, ofertando uma quantidade considerável no produto no CEASA/SP, nos meses de agosto a novembro, aonde o preço do produto é mais alto. Podemos observar na Tabela 11 que, com exceção do município de Itápolis, que pertence à mesoregião SP 42, denominada Araraquara, todos os municípios que são grandes produtores de limão pertencem à região SP 36 ou SP 35, concentrando toda a produção paulista nestas duas regiões. Outro destaque é o município de Itajobi, que é o grande produtor brasileiro de limão, distribuídos em mais de 600 pomares em uma área acima de 4.000 hectares. A Regional Agrícola de Catanduva e a Regional Agrícola de Jaboticabal, às quais pertencem os municípios citados abaixo, correspondem por mais de 90% da produção paulista de limão, tendo mais de 3800 produtores cadastrados (1995/96), englobando uma área de 20.000 hectares da cultura. 28 Tabela 11. Principais municípios produtores de limão no Estado de São Paulo. ___________________________________________________________________________________________________________________________ Município Nº de produtores Área (ha) Região ___________________________________________________________________________________________________________________________ Itajobi Taquaritinga Fernando Prestes Urupês Monte Alto Novo Horizonte Cândido Rodrigues Santa Adélia Itápolis Catanduva Vista Alegre do Alto Irapuã 636 382 346 366 246 285 141 161 218 102 75 122 4.158,30 1.903,00 1.771,30 1.587,60 1.171,20 1,014,30 1.010,40 837,30 740,70 486,80 434,00 388,70 SP 35 SP 36 SP 36 SP 35 SP 36 SP 35 SP 36 SP 35 SP 42 SP 35 SP 36 SP 35 ___________________________________________________________________________________________________________________________ Fonte: CATI (1997). Esta distribuição de oferta do produto é melhor ilustrada no gráfico 1, mostrando a oferta do ‘Tahiti’ no CEASA/SP, no decorrer do ano, no período de 1994 a 1997. SP36 SP35 SP25 BA56 SP43 40,00 35,00 % de oferta 30,00 25,00 20,00 15,00 10,00 5,00 jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez Gráfico 1. Oferta (%) do ‘Tahiti’ no CEASA/SP, das 5 principais mesoregiões produtoras (94-97) 29 Avaliando-se a estacionalidade para preços, encontraram-se os maiores índices nos meses de setembro, outubro e novembro, quando existe uma pequena queda desta fruta no mercado, mas a tendência dos preços é sempre crescente no decorrer do ano. Esta flutuação de preços é claramente percebida no Gráfico 2, mostrando a média dos últimos 4 anos da sazonalidade de preços da fruta ocorrida no CEASA/SP. Os preços foram convertidos para Reais de dezembro de 1995, usando o deflator IGP-DI. Avaliando-se a sazonalidade para limão, considerandose preços e quantidades, verificou-se que no primeiro semestre as médias para preços foram mais baixas e, para quantidades, mais altas, ocorrendo o inverso no segundo semestre. Sazonalidade de preços R$ (12/95) - cx 25,00 kg 45,00 40,00 35,00 30,00 25,00 20,00 15,00 10,00 5,00 jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez Gráfico 2. Sazonalidade de preços para ‘Tahiti’ no CEASA/SP (1994-1997). 12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS (1) 30 AMARAL, J.D. Técnicas especiais da cultura dos citrinos. In: Os Citrinos. 4ªed. Porto: Clássica Editora, 1994. cap.VII, p.423-34. (2) CAETANO, A.A.; DE FIGUEIREDO, J.O.; FRANCO, J.F. Uso de Ethephon e óleo mineral para alterar a época de produção do ‘Tahiti’. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, Recife. Anais... Recife, Sociedade Brasileira de Fruticultura, 1981, v.2. p.723-731. (3) CAMPBELL, C.W. Ten new ‘Tahiti’ lime selections. Florida State Horticultural Society. p.455-9, 1975. (4) CAMPBELL, C.W. 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Portaenxerto que mais confere vigor às plantas, em diâmetro superior a 7,0 metros, aos 9 anos. Foto 3. Lima Ácida ‘Tahiti’ sobre limão Volkameriano. Planta com altura superior a 4,2 metros, aos 9 anos. Foto 4. Lima Ácida ‘Tahiti’ sobre Flying Dragon. Confere as plantas caráter ananicante. Planta com 5 anos de idade, e altura inferior a 2 metros. Foto 5. Lima Ácida ‘Tahiti’ sobre citrumelo Swingle. Plantas muito produtivas com baixíssimo índice de mortalidade no campo, aos 9 anos de idade. Foto 6. Lima Ácida ‘Tahiti’ sobre Poncirus trifoliata EECB. Plantas vigorosas, mas de média produtividade. Foto 7. Lima Ácida ‘Tahiti’ sobre tangelo Orlando. Plantas muito vigorosas, muito produtivas, mas com alto índice de mortalidade no campo. Foto 8. Lima Ácida ‘Tahiti’ sobre tangerina Cleópatra. Plantas de porte médio, baixa produtividade, mas com baixíssimo índice de mortalidade no campo aos 9 anos de idade.