Revista Contabilidade, Ciência da Gestão e Finanças V. 1, N. 1, 2013 | ISSN 2317-5001 http://ojs.fsg.br/index.php/rccgf INDICADORES FINANCEIROS DO BALANCED SCORECARD Bruna Braga Soares Faculdade da Serra Gaúcha Itacir Alves da Silva [email protected] Faculdade da Serra Gaúcha Resumo: Com o desenvolvimento das organizações e o crescimento da concorrência, é necessária a utilização de ferramentas gerenciais para que se tenha melhor aproveitamento das informações que são obtidas diariamente. O presente trabalho analisa de que modo a utilização dos indicadores financeiros, inseridos na perspectiva do Balanced Scorecard, podem auxiliar a gestão de uma empresa prestadora de serviços contábeis a aprimorar o seu desempenho econômico. Fundamenta-se a proposta a partir de Kaplan e Norton, criadores do Balanced Scorecard, uma ferramenta gerencial que propõe o equilíbrio entre quatro perspectivas de uma organização: a financeira, do cliente, dos processos internos e do aprendizado e crescimento, sendo que o foco do artigo é a perspectiva financeira e seus indicadores. Quanto a metodologia, trata-se de um estudo de caso, com método exploratório, pois é analisada uma hipótese de modo com que se obtenha maior conhecimento sobre ela. Em relação a abordagem foram utilizadas a qualitativa e quantitativa pois foram analisados documentos de forma estatística e também entrevistados especialistas e proprietário da empresa, analisando, comparando e interpretando as informações concedidas. A análise revelou que o Balanced Scorecard pode ser implantado e obter resultados tanto em grandes organizações, quanto pequenas, mas é necessário o comprometimento de todos os participantes. Utilizando somente os indicadores financeiros pode haver melhorias na gestão, porém não proporciona uma visão geral dos efeitos causados pelas ações realizadas, o que acontece com o uso do Balanced Scorecard. Palavras-chave: Balanced Scorecard. Indicadores Financeiros. Perspectiva Financeira. 1 INTRODUÇÃO A lucratividade a curto prazo é muito valorizada, o que dificulta o crescimento e o desenvolvimento dos potenciais, já que investimentos de retorno a longo prazo não são priorizados. Em organizações prestadoras de serviços contábeis a realidade é a mesma. Isso ocorre pela falta de percepção dos gestores sobre de que forma os fatores não-financeiros interferem no crescimento e sustentação do negócio. Sem ter uma visão ampla sobre todos os fatores mercadológicos que influenciam os resultados financeiros, dificulta-se a conquista de uma parcela considerável do mercado em que está inserida, sendo ultrapassada por seus concorrentes. Por isso, indaga-se 145 Revista Contabilidade, Ciência da Gestão e Finanças v. 1, n. 1, p. 145-163, 2013 quais as contribuições que os indicadores financeiros do BSC podem oferecer a uma empresa prestadora de serviços contábeis para aprimorar seu desempenho econômico frente ao mercado competitivo? Este trabalho tem como objetivo geral, analisar de que modo a perspectiva financeira utilizada no Balanced Scorecard pode auxiliar o escritório contábil no alcance de seus objetivos estratégicos. A implantação do BSC em uma empresa prestadora de serviços contábeis pode ser importante tanto para os seus gestores quanto para seus funcionários e clientes. Uma vez que é uma ferramenta que utiliza quatro bases fundamentais para o gerenciamento: financeiro; clientes; processos internos; e aprendizado e crescimento. Ou seja, é “uma ferramenta completa que traduz a visão e a estratégia da empresa num conjunto coerente de medidas de desempenho.” (KAPLAN; NORTON, 1997, p. 24). 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Balanced Scorecard O BSC foi desenvolvido por Kaplan e Norton em 1990 para auxiliar o acompanhamento do desempenho da estratégia das empresas. O termo Balanced Scorecard significa cartão de marcação balanceado, sendo então uma ferramenta estratégica que objetiva o equilíbrio entre os indicadores de desempenho. Pode-se compreender, com base em Herrero (2005), que não é mais suficiente medir somente a saúde financeira, é necessário medir a saúde estratégica a longo prazo, o que pode ser feito com essa ferramenta. A missão e a estratégia de uma organização são difundidas entre os colaboradores por meio do BSC, isso é realizado de forma que todos saibam quais são os objetivos propostos e quais as estratégias adotadas para realizá-los. Essa divulgação da missão e visão tem como objetivo a capacitação das pessoas e dos processos para que haja retenção de clientes, captação de novos segmentos de mercado com produtos e serviços inovadores, habilitação de seus funcionários para ter um atendimento de qualidade e menores custos e incentivar o feedback para que haja uma melhora contínua. Kaplan e Norton (1997) afirmam que as quatro perspectivas do BSC equilibram os objetivos de curto e longo prazo. Cada perspectiva é um setor que possui ações 146 Revista Contabilidade, Ciência da Gestão e Finanças v. 1, n. 1, p. 145-163, 2013 e estratégias necessárias para atingir seus objetivos estratégicos, são estas: financeira, cliente, processos internos e crescimento. 2.2 Perspectiva dos Clientes A perspectiva dos clientes no BSC auxilia a captação, fidelização, retenção e melhora a relação da organização com os clientes, conforme o seu nicho de mercado. No entendimento de Costa (2006), é necessário mapear corretamente o segmento de mercado, para poder focar as suas estratégias nas características do público-alvo. Complementam ainda Kaplan e Norton (1997): “Empresas que tentam ser tudo para todo o mundo normalmente acabam sendo nada para ninguém”. Para medir a rentabilidade da relação com os clientes, utilizam-se os seguintes indicadores: a) participação de mercado; b) retenção dos clientes; c) sua captação; d) satisfação; e) e lucratividade. A participação de mercado demonstra a abrangência dos negócios, já a captação mede a potencialidade da unidade de negócio de atrair novos consumidores. A retenção, por sua vez, é medida pelo seu relacionamento contínuo. O nível de satisfação depende do desempenho e da experiência de compra. A lucratividade analisa se determinados clientes-alvos dão retorno financeiro, isso faz com que se reflita o que modificar para tornar lucrativos os que não são. 2.3 Perspectiva dos Processos Internos No delineamento do BSC costuma-se desenvolver primeiramente os objetivos das perspectivas financeiras e dos clientes antes que a dos processos internos para que essa seja realizada para alcançar as metas das outras. Os sistemas de medição de desempenho tradicionais focam a melhoria dos processos internos já existentes. O BSC propõe não somente a identificação das necessidades atuais dos consumidores, mas também as necessidades futuras e desenvolva soluções. Neste sentido, Kaplan e Norton (2004) 147 Revista Contabilidade, Ciência da Gestão e Finanças v. 1, n. 1, p. 145-163, 2013 descrevem que o foco no cliente é importante, porém se não transformados em processos dentro da empresa para atender essas expectativas de nada adianta, pois o ponto de vista do consumidor decorre da experiência de compra. Há processos genéricos mencionados nessa perspectiva que visam criar valor para o cliente e incrementar os resultados financeiros. Para Kaplan e Norton (1997), esses processos são inovação, operações e serviço pós-venda. O processo de inovação engloba a pesquisa das necessidades das pessoas e criar produtos e serviços para atendê-las. Após essa fase, são realizadas pesquisas sobre possíveis clientes para inovar os seus produtos, aumentando o seu nicho de mercado. Além disso, melhorar o processo operacional e diminuir os custos é de grande importância, pois visa à entrega eficiente e pontual do pedido, satisfazendo o consumidor. Por fim há o terceiro processo, que é a pós-venda ou entrega do produto, oferecendo serviços que serão prestados após o recebimento deste pelo cliente, como programas de treinamento para que o equipamento comprado seja utilizado de forma mais eficiente, garantias, correções de defeitos e devolução. 2.4 Perspectiva de Aprendizado e Crescimento O objetivo da perspectiva de aprendizado e crescimento, conforme Kaplan e Norton (1997), é de oferecer estrutura para a busca dos objetivos das outras perspectivas. O investimento na capacitação de pessoal e melhoria dos processos são vistos como despesas, que prejudicam nos resultados a curto prazo, porém o BSC enfatiza a importância de investir no futuro para o crescimento financeiro da organização. A perspectiva do aprendizado e crescimento possui três categorias, são elas: a) capacitação dos funcionários, b) dos sistemas de informação, c) e procedimentos organizacionais. Atualmente os trabalhos rotineiros são realizados por computadores, e as pessoas realizam atividades que necessitam de conhecimento, por esse motivo há a necessidade de capacitar os funcionários. Para que o investimento nas pessoas tenha melhor resultado, deve-se também investir nos sistemas de informação para que os funcionários tenham dados confiáveis para realizar seus trabalhos. E por fim, para alcançar o sucesso 148 Revista Contabilidade, Ciência da Gestão e Finanças v. 1, n. 1, p. 145-163, 2013 organizacional, é preciso proporcionar ao empregado a liberdade de decidir e agir, para terem iniciativa e motivação. Para que haja uma maior produtividade e qualidade nos serviços dos funcionários, estes precisam estar satisfeitos com seu ambiente de trabalho. A partir dessa reflexão, Kaplan e Norton (1997) comentam que os clientes que são atendidos por colaboradores satisfeitos possuem uma experiência de compra muito mais agradável do que os atendidos por empregados não satisfeitos. 2.5 Perspectiva Financeira A perspectiva financeira serve como objetivo para as demais, pois com o desenvolvimento das outras perspectivas chega-se ao resultado financeiro. Kaplan e Norton (2005) explicam essa perspectiva como a base para integrar as demais. O desempenho financeiro indica se a estratégia está proporcionando retorno, como o crescimento da lucratividade e incremento de valor para o acionista. Caso os indicadores financeiros não sejam os esperados deve haver problemas na definição ou execução das estratégias. Como descrito por Herrero (2005), a perspectiva financeira também possibilita analisar se o desempenho dos ativos intangíveis e as outras áreas de desempenho não-financeiro estão gerando valor. Há empresas que definem as mesmas metas financeiras para todas as unidades de negócios, porém nem sempre essa decisão é adequada. Ao iniciar o delineamento da perspectiva financeira os gestores devem analisar quais as medidas mais adequadas à sua estratégia e ao seu ciclo de vida. Isso porque existem três ciclos de vida das organizações, nesse sentido Kaplan e Norton (1997) explicam que cada um desses ciclos possui estratégias diferentes, já que seus objetivos também são diferenciados. Essas fases são as seguintes: crescimento, sustentação e colheita. A fase de crescimento é o estágio inicial, no qual os produtos e serviços têm grande potencial de crescimento, tendo que investir valores consideráveis para desenvolvê-los e aperfeiçoá-los, instalar a produção, capacitar funcionários e captar clientes. Na opinião de Kaplan e Norton (1997), nessa fase as empresas podem operar com fluxo de caixa negativo e com pouco retorno sobre o capital investido, pois há mais investimentos do que recursos financeiros gerados. O objetivo principal dessa fase é aumentar as vendas e, consequentemente, a receita, para chegar a próxima fase. 149 Revista Contabilidade, Ciência da Gestão e Finanças v. 1, n. 1, p. 145-163, 2013 No estágio de sustentação a expectativa é de que se mantenha a participação de mercado, aumentando-a gradativamente a cada ano. Os investimentos são realizados visando grandes retornos sobre o capital empregado, evitar estrangulamentos financeiros e buscar a melhoria contínua. Os objetivos nessa fase estão relacionados com a lucratividade Quando se está na maturidade há a fase da colheita, em que se deseja captar o retorno dos investimentos realizados nas fases anteriores. Se houver novos investimentos esses não serão significativos e precisarão ter rápido retorno em caixa, pois o objetivo é maximizar o fluxo de caixa e diminuir a necessidade de capital de giro. Não é mais realizado ampliação de novas capacidades, somente a manutenção de equipamentos e aprimoramento de seus funcionários. Porém durante a fase da colheita pode haver uma mudança de tecnologia, legislação ou mercado, proporcionando a volta para a fase de crescimento. Esses ciclos de vida das organizações demonstram como há diferentes objetivos financeiros entre cada uma delas. 2.6 Integração das Perspectivas do BSC O BSC deve contar a história da estratégia da unidade de negócio, deixando explícitos os objetivos de cada perspectiva e as suas relações para que sejam gerenciadas. De acordo com Oliveira et al, (2009), ele deve incentivar a vinculação dos objetivos financeiros à estratégia da empresa, servindo como foco para os objetivos das demais perspectivas, fazendo parte da relação de causa e efeito, em que a realização de um possibilite o alcance do outro. Quando trabalhado separadamente a melhoria da qualidade, satisfação dos clientes, inovação e satisfação dos funcionários, não haverá um incremento financeiro. O BSC enfatiza os resultados financeiros, como o retorno do capital empregado e valor econômico agregado. Os efeitos de todas as medidas utilizadas nas perspectivas devem estar vinculados aos objetivos financeiros. Por essa razão, as decisões tomadas separadamente por áreas podem promover um melhoramento em certa atividade por um determinado tempo, mas comprometer o futuro do negócio, pois pode deteriorar outra área com igual ou maior importância. Apesar de possuir quatro perspectivas diferenciadas, deve ser visto como um instrumento de estratégia único. O número de indicadores elencado é irrelevante, conforme análise de Kaplan e Norton (1997), sendo que as medidas são interligadas em cadeia de causa e efeito, como por exemplo, a capacitação dos funcionários e aperfeiçoamento de seus 150 Revista Contabilidade, Ciência da Gestão e Finanças v. 1, n. 1, p. 145-163, 2013 equipamentos promoverá a melhoria da qualidade dos produtos, fazendo com que os clientes fiquem mais satisfeitos e aumentando a lucratividade. 2.7 Indicadores Financeiros Os indicadores financeiros são utilizados para extrair informações das demonstrações contábeis e dos dados econômicos para auxiliar nas tomadas de decisões. Servem para medir os aspectos econômicos e financeiros avaliando as condições de uma empresa. No entendimento de Iung (2005), o indicador mais indicado para a análise da situação econômica dentro da perspectiva financeira do BSC é o Valor Econômico Agregado (EVA), Herrero (2005) concorda e acrescenta que se deve considerar a Gestão Baseada em Valor para que o BSC seja efetivo, utilizando também o Retorno sobre o Investimento Base Caixa. O uso desses métodos em conjunto faz com que o valor de mercado da empresa aumente juntamente com o valor econômico agregado dos acionistas. Ainda na opinião de Herrero (2005) a perspectiva financeira do BSC propõe também indicadores relacionados com o lucro, como a rentabilidade, retorno sobre os investimentos ou retorno sobre os ativos, porém ele salienta que o lucro não é mais um dado confiável, pois não demonstra o fluxo de caixa real, não considera o valor do dinheiro no tempo e seu poder de compra, não reflete o risco operacional e não incorpora o custo de oportunidade dos acionistas. Oliveira et al. (2009), por sua vez, entende que as empresas devem priorizar a receita e o crescimento do mercado, a lucratividade e a geração de fluxo de caixa, tendo como indicadores essenciais a receita operacional, retorno sobre o investimento ou valor econômico agregado, lucratividade, aumento/mix de receita e redução de custos. 2.7.1 Valor Econômico Agregado (EVA) O valor econômico agregado mede a criação de valor de acordo com o desempenho operacional, que é retratado nos relatórios financeiros. Demonstra a lucratividade real, após o pagamento de impostos, proporcionando mudanças na estratégia. Esse indicador demonstra se está criando ou destruindo valor. 151 Revista Contabilidade, Ciência da Gestão e Finanças v. 1, n. 1, p. 145-163, 2013 A criação de valor é a produção e venda de produtos e serviços, os quais possuem o seu valor agregado, que é a diferença do preço de venda menos o preço de compra dos insumos para a sua produção. Quando se alcança a máxima eficiência e eficácia no desenvolvimento do produto há a criação de valor, que é o lucro operacional. O valor econômico agregado abrange também o custo de oportunidade de manter uma determinada atividade, é o lucro mínimo que o acionista estipula para receber, que no seu entender justifica o investimento realizado. Ou seja, é o retorno que se espera quando aplicados recursos em ações de uma empresa, comparado ao que teria se fosse aplicado em outro investimento. A destruição de valor ocorre quando os produtos têm resultado inferior ao custo de oportunidade do investimento, pois os acionistas serão remunerados em valor menor que o custo médio de oportunidade do mercado. “O EVA é a parcela do lucro operacional que excede os gastos com a estrutura de capital (custo de capital de terceiros mais o capital próprio)” (IUNG; SILVA, 2005, p. 07). Segue a fórmula para o seu cálculo: EVA = NOPAT - (CCP% x PL) Onde: NOPAT: Resultado Operacional Líquido após os Impostos (Net Operating Profit After Taxes) CCP%: Custo do Capital Próprio PL: Patrimônio Líquido 2.7.2 Demonstração do Valor Adicionado A Demonstração do Valor Adicionado tem como objetivo, segundo Iudícibus et al. (2009), demonstrar a geração de riqueza pela empresa, e a sua distribuição entre os investidores de capital, sejam de terceiros ou próprio, entre os empregados e administradores e o governo. Salienta também que a DVA mostra o desgaste de uma riqueza criada anteriormente para a produção de outra. Azevedo (2009), com o mesmo pensamento, explica que o DVA demonstra a contribuição da empresa para a economia na qual esta inserida e o modo como esta será distribuída, e também apresenta a sua parcela de auxílio na formação do Produto Interno Bruto (PIB). “Essa demonstração apresenta o quanto a entidade agrega de 152 Revista Contabilidade, Ciência da Gestão e Finanças v. 1, n. 1, p. 145-163, 2013 valor aos insumos adquiridos de terceiros e que são vendidos ou consumidos durante um determinado período” (AZEVEDO, 2009, p.132). Ainda o mesmo autor estabelece que a DVA orienta os investidores que desejam informações de natureza social e de produtividade, proporcionando uma avaliação das suas atividades na sociedade. É comum confundir as informações demonstradas na DVA e na Demonstração de Resultado (DRE), porém elas têm funções diferentes, a DRE tem como objetivo mostrar a riqueza gerada pela empresa a qual pertence aos sócios, e a DVA mostra a riqueza gerada de forma mais detalhada, pertencente a sociedade, demonstrando quem gerou e para quem foi distribuída, explica Azevedo (2009). 2.7.3 Retorno sobre o Investimento Base Caixa (CFROI) A principal diferença entre o Retorno sobre o Investimento Base Caixa (CFROI) e os outros métodos já mencionados é que enquanto o EVA e o Fluxo de Caixa Livre resultam em valores monetários, esse é em percentual. O CFROI, esclarece Herrero (2005), é a taxa interna de retorno do fluxo de caixa de todas as unidades e projetos implantados no momento. Essa taxa é calculada anualmente e comparada com o custo médio ponderado de capital para verificar se há a criação de valor econômico agregado, para que isso ocorra é necessária a maximização da diferença entre os dois. Ainda o mesmo autor complementa que para o cálculo do CFROI deve determinar primeiramente a vida econômica média dos ativos; os fluxos de caixa brutos anuais dos projetos em andamento, ajustados pela inflação; o investimento bruto total e o valor de liquidação na data final da vida útil dos ativos. O seu cálculo é demonstrado no quadro abaixo: (+) Receitas base caixa (-) Custos/despesas operacionais base caixa (=) Fluxo de caixa operacional (caixa gerado pela atividade operacional) (/) Investimentos em ativos (total de recursos, base caixa, aportados pelos investidores na atividade operacional e que precisam ser remunerados pelo menos por seu custo de oportunidade) (=) CFROI (%) Quadro 1: Cálculo CFROI Fonte: Oliveira et al. (2006, p. 6) 153 Revista Contabilidade, Ciência da Gestão e Finanças v. 1, n. 1, p. 145-163, 2013 2.7.4 Retorno sobre o Investimento O Retorno sobre o investimento (ROI), como ressaltado por Hoji (2010) é considerado como a melhor medida de eficiência operacional, porém possui limitações por desconsiderar o custo do capital próprio, sendo necessário utilizá-lo junto com outros indicadores, como padrões e orçamentos. A análise do ROI “permite a ampla decomposição dos elementos que influem na determinação da taxa de rentabilidade de uma empresa e explica quais os principais fatores que levaram ao aumento ou à queda da rentabilidade” (MATARAZZO, 1998, p. 27). A fórmula para medir a taxa de ROI é a seguinte: ROI = Lucro Líquido Receita Líquida x Receita Líquida Ativo Total Há situações em que o ROI é maximizado, como o aumento das vendas e redução do capital investido, e “segundo a legislação societária brasileira os equipamentos adquiridos por meio de arrendamento mercantil não são contabilizados como ativo permanente, o que aumenta a taxa ROI” (HOJI, 2010, p. 301). 2.7.5 Retorno sobre o Patrimônio Líquido O retorno sobre o patrimônio líquido visa medir a relação entre o ganho obtido pelos sócios e o investimento realizado na organização, analisam Assaf e Araújo (2004), porém possui um problema, não segmenta desempenhos financeiros e operacionais, prejudicando a análise. Sendo assim, Matarazzo (1998) adiciona que o Retorno sobre o Patrimônio Líquido mostra o rendimento do capital próprio, podendo ser comparada com a de outros rendimentos no mercado, como por exemplo, a caderneta de poupanças. Sendo assim, há como saber se a rentabilidade compensa o investimento. A sua fórmula para cálculo é a seguinte: 154 Revista Contabilidade, Ciência da Gestão e Finanças v. 1, n. 1, p. 145-163, 2013 Retorno s/ Patrimônio Líquido = Lucro Líquido Patrimônio Líquido 2.7.6 Índices de Rentabilidade Os índices de rentabilidade proporcionam a avaliação dos lucros da organização com seu nível de vendas, de ativos ou de capital investido pelos proprietários, explica Gitman (2004), sendo estes índices importantes, pois os investidores visam à lucratividade. Os índices de rentabilidade são divididos em três categorias, a Margem Bruta, Margem Líquida e Rentabilidade do Capital Próprio, os quais estão descritos a seguir. 2.7.6.1 Margem Bruta A Margem Bruta, afirma Hoji (2010), indica a quantia de Lucro Bruto que a empresa arrecada para cada R$ 1,00 de Receita líquida. A margem bruta “mede a porcentagem de cada unidade de vendas que resta após o pagamento do custo dos produtos vendidos” (GITMAN, 2004, p. 52). O cálculo é realizado pela fórmula: Margem Bruta = Lucro Bruto Receita Operacional Líquida 2.7.6.2.Margem Líquida A Margem Líquida, estabelece Hoji (2010), indica qual o Lucro líquido em relação à Receita operacional líquida, ou seja, o índice mostra quanto sobra das vendas líquidas da empresa após descontar os custos e despesas. Sua fórmula de cálculo é a seguinte: Margem Líquida = Lucro Líquido Receita Operacional Líquida 155 Revista Contabilidade, Ciência da Gestão e Finanças v. 1, n. 1, p. 145-163, 2013 2.7.6.3 Rentabilidade do Capital Próprio A Rentabilidade do Capital Próprio, descreve Hoji (2010), demonstra o rendimento do capital empregado pelos proprietários na empresa. Reis (2003) acrescenta que o custo do capital de terceiros é superior ao do capital próprio, pois nele estão inclusas as despesas financeiras. Por esse motivo a rentabilidade do capital próprio não é igual ao do capital de terceiros, já que as despesas financeiras não afetam o cálculo do primeiro. Esse índice é calculado pela fórmula: Lucro Líquido Rentabilidade do = Saldo Médio do Patrimônio Líquido Capital Próprio 2.7.7 Índices de Liquidez Para Gitman (2004), a liquidez é a capacidade da empresa em cumprir suas obrigações de curto prazo, a facilidade de pagar as suas contas, ressalta também que esses índices demonstram se há problemas de fluxo de caixa. “Os indicadores de liquidez evidenciam a situação financeira de uma empresa frente a seus diversos compromissos financeiros” (ASSAF, 2007, p. 189). Os índices de liquidez se dividem em Liquidez Corrente, Liquidez Seca e Liquidez Geral, as quais serão descritas a seguir. 2.7.7.1 Liquidez Corrente Em geral, como explicado por Hoji (2010), os índices de liquidez mostram a situação financeira da empresa. Os valores com vencimentos diferentes, podem ser comparados com iguais condições, devido a sua tradução a valor presente. Quanto maior forem esses índices, melhor para a empresa, pois representa que a empresa possui condições de satisfazer seus compromissos com terceiros. O índice de Liquidez Corrente demonstra quanto a empresa possui em “ativo circulante para cada R$ 1,00 de dívida a curto prazo” (ASSAF, 2007, p. 190). Para o seu calcula é usada a seguinte fórmula: 156 Revista Contabilidade, Ciência da Gestão e Finanças v. 1, n. 1, p. 145-163, 2013 Liquidez = Corrente Ativo Circulante Passivo Circulante 2.7.7.2 Liquidez Seca Assaf (2007) descreve que o objetivo do índice de Liquidez Seca é demonstrar a capacidade de pagamento da empresa a curto prazo, utilizando as contas do disponível e valores a receber. Ou seja, mostra a porcentagem de dívidas a curto prazo que podem ser liquidadas empregando ativos de maior liquidez do circulante. A fórmula utilizada para o seu cálculo é a seguinte: Liquidez Seca = Ativo Circulante - Estoque Passivo Circulante Reis (2003) adverte que o índice de Liquidez Seca é importante quando não há informações para calcular a rotação de estoque, ou é difícil converte-los em valor de moeda, também quando a rotatividade do estoque é lenta ou as vendas são sazonais, ou seja, em determinados períodos do ano. Sendo esse índice dispensável caso a rotação do estoque seja rápida, podendo analisar a situação a curto prazo por meio do índice de liquidez corrente. 2.7.7.3 Liquidez Geral O índice de Liquidez Geral compara as dividas de curto e longo prazo com os valores disponíveis e realizáveis em qualquer prazo, na opinião de Reis (2003). “A liquidez geral é utilizada também como uma medida de segurança financeira da empresa a longo prazo, revelando sua capacidade de saldar todos seus compromissos” (ASSAF, 2007, p. 191). Sua fórmula está descrita a seguir: Liquidez Geral = Ativo Circulante + Realizável a Longo Prazo Passivo Circulante + Exigível a Longo Prazo 157 Revista Contabilidade, Ciência da Gestão e Finanças v. 1, n. 1, p. 145-163, 2013 3 METODOLOGIA Considerando que o objetivo deste trabalho é analisar de que forma a perspectiva financeira do BSC pode auxiliar na gerencia de uma empresa prestadora de serviços contábeis, ela se classifica como exploratória, pois “têm como objetivo principal o aprimoramento de idéias” (GIL, 2002 p. 41). Desse modo, foram exploradas as suas quatro perspectivas para entender como é a relação entre elas, e analisar os indicadores financeiros que possam auxiliar no controle das finanças do escritório contábil. Sendo que os instrumentos para coleta de dados foram por meio de entrevista, observação participativa e análise documental, e que o estudo foi realizado a partir de uma necessidade do Escritório Contábil Soares, o método utilizado foi estudo de caso. Para Triviños (1987) ele objetiva a profunda análise de certa realidade por meio da sua natureza e abrangência. Quanto à abordagem, existem a qualitativa e a quantitativa, sendo que neste trabalho ambas foram utilizadas. Beuren (2009) explica que na pesquisa qualitativa há análises mais profundas sobre o assunto estudado. O mesmo é observado por Triviños (1987), o qual descreve que esse tipo de pesquisa não é tão rígida como a quantitativa, pois a coleta de dados não são divisões estanques, “as informações que se recolhem, geralmente, são interpretadas e por isto pode originar a exigência de novas buscas de dados” (TRIVIÑOS, 1987, p. 131). A pesquisa também se caracteriza como quantitativa, uma vez que se avalia o resultado de variáveis específicas. Descreve-se essa abordagem como “emprego de instrumentos estatísticos, tanto na coleta quanto no tratamento dos dados” (BEUREN, 2009, p. 92). Porém, a busca do conhecimento sobre a realidade dos fenômenos não é profunda, pois somente quer saber o comportamento geral da situação. Para a realização da pesquisa, houve o envolvimento da área financeira do Escritório Contábil Soares Ltda, e foi analisada a forma como a perspectiva financeira poderia auxiliar a sua gerência. Como Roesch (1999) explica, o estudo pode englobar toda uma empresa, ou somente uma área quando há propostas de aprimoramento, nessa pesquisa a população-alvo foi um determinado setor. Desta forma, foram entrevistados o diretor da empresa e dois especialistas no assunto pesquisado para comparar a percepção da gerência com o que é proposto pelo perito. Esse estudo possui o intuito de auxiliar a direção para que obtenha informações suficientes para as tomadas de decisões. 158 Revista Contabilidade, Ciência da Gestão e Finanças v. 1, n. 1, p. 145-163, 2013 4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS As entrevistas realizadas tiveram como objetivo comparar o entendimento sobre o BSC e seus indicadores financeiros por pessoas que os utilizam constantemente, com a percepção de quem possa fazer uso dessa ferramenta para melhorar a gestão financeira da sua empresa. Foi realizada também uma análise documental, com os seguintes materiais disponibilizados pelo escritório: faturamento dos últimos três anos, análise de novos clientes e desistentes; impacto da rotatividade desses clientes na receita; balanço patrimonial e DRE dos últimos dois anos. Foi realizada uma análise sobre a relação de quantidade de clientes do escritório contábil de acordo com os honorários pagos nos anos de 2007, 2008 e 2009, obtevese os seguintes dados: Honorários R$150,00 a R$350,00 R$350,00 a R$550,00 R$550,00 a R$750,00 R$750,00 a R$950,00 Acima de R$950,00 2007 81,0% 2,4% 2,4% 0,0% 14,3% Percentual de clientes 2008 77,1% 2,1% 0,0% 4,2% 16,7% 2009 67,3% 11,5% 0,0% 1,9% 19,2% Clientes Relação entre valor de honorários e quantidade de clientes 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Acima de R$950,00 R$750,00 a R$950,00 R$550,00 a R$750,00 R$350,00 a R$550,00 R$150,00 a R$350,00 2007 2008 2009 Ano Analisando os gráficos acima, se percebe que a maioria dos clientes do escritório contábil paga o menor valor de honorário, por serem de pequeno porte, porém a cada ano está diminuindo a quantidade desses clientes. Os que pagam os maiores valores de honorários representam uma menor porcentagem diante da quantidade total de clientes, mas 159 Revista Contabilidade, Ciência da Gestão e Finanças v. 1, n. 1, p. 145-163, 2013 estão aumentando a cada ano, o que demonstra que o escritório está modificando o seu modo de trabalho, focando nas empresas com maior porte, que demandam mais dedicação, proporcionando um retorno financeiro maior. Foi analisada a representatividade dos clientes no faturamento do escritório de acordo com os seus honorários, a seguir estão os dados dos mais representativos. ANO 2007 2008 2009 GRUPO 1 Clientes c/ honorário de R$ 1000,00 a R$ 2200,00 6 8 10 GRUPO 2 Clientes c/ honorário de R$180,00 a R$280,00 30 36 32 Participação no faturamento Participação no faturamento 70,00% 60,00% 50,00% 40,00% GRUPO 1 30,00% GRUPO 2 20,00% 10,00% 0,00% 2007 2008 2009 ANO Há mais clientes no grupo 2, porém os do grupo 1 representam mais sobre o faturamento do escritório. Como em 2009 que havia 10 clientes no grupo 1, e 32 clientes no grupo 2, sendo que os do primeiro grupo representaram no faturamento quase o dobro que o outro. Também foram coletados os dados sobre quantos clientes foram captados em cada um dos três anos, e quantos se desligaram do escritório contábil, seja por troca de prestadora de serviços contábeis ou fechamento de empresa. Obtiveram-se os seguintes dados: ANO 2007 2008 2009 CAPTAÇÃO DE CLIENTES 4 7 5 REPRESENTATIVIDADE NO DESISTÊNCIA FATURAMENTO DE CLIENTES 17,24% 10 8,08% 1 5,42% 4 REPRESENTATIVIDADE NO FATURAMENTO 4,50% 0,81% 3,12% SALDO 12,74% 7,27% 2,30% 160 Revista Contabilidade, Ciência da Gestão e Finanças v. 1, n. 1, p. 145-163, 2013 Notou-se que em todos os anos a saída de clientes teve um impacto no faturamento menor que o incremento financeiro obtido pela captação de clientes. Porém, esse ganho na receita veio diminuindo a cada ano, sendo que em 2007 o acréscimo no faturamento foi de 12,74%, já descontando as desistências, em 2008 o ganho foi de 7,27% e em 2009 foi de 2,30%. Uma possível razão para isso ter ocorrido é que em 2007 o escritório conseguia realizar um bom trabalho com todos os clientes e ainda tinha condições de atender novos. Nos anos seguintes, a captação de clientes não era mais o foco, e sim manter os que o escritório já possuía, dedicando mais tempo a eles. Nas entrevistas com os especialistas referente a implantação do BSC, foi observado que esse facilita a elaboração de metas, objetivos e ações a serem tomadas através de indicadores, visando ao crescimento da empresa. Porém para a implantação, a empresa necessita conhecer a sua relação com o mercado, com os funcionários, a interação de setores internos para saber os seus pontos críticos e estabelecer a sua estratégia de forma sustentável. A implantação dessa ferramenta de gestão em um escritório de contabilidade é útil e viável, pois o mesmo auxilia no alinhamento das relações da empresa com seus colaboradores, clientes e a sociedade, o que normalmente é deficitário em pequenas empresas, e a implantação do BSC deve ser adaptado ao tamanho da organização e de acordo com suas necessidades. O investimento para a implantação dessa ferramenta estratégica é compatível com o retorno esperado, porém a longo prazo. Por essa razão e por ter que melhorar a estrutura organizacional do escritório, demandando tempo com treinamentos, o gestor não possui interesse no momento em implantá-lo, porém não descarta a possibilidade de futuramente implantar no escritório ou como um serviço prestado aos clientes. 5 CONCLUSÃO O objetivo geral desse artigo foi analisar de que modo a perspectiva financeira do Balanced Scorecard poderia auxiliar o escritório contábil no alcance de seus objetivos estratégicos. Utilizando somente os indicadores financeiros, o escritório pode alcançar as suas metas, porém não de modo eficaz, pois não consideram todos os fatores que podem influenciar nas finanças da empresa. O Balanced Scorecard é uma ferramenta estratégica que engloba quatro perspectivas: financeira, dos clientes, dos processos internos e do aprendizado 161 Revista Contabilidade, Ciência da Gestão e Finanças v. 1, n. 1, p. 145-163, 2013 e crescimento. Cada perspectiva possui seus objetivos específicos e ações para alcançá-los, produzindo uma cadeia de causa e efeito, em que o aprimoramento de uma produz o incremento de outra, chegando por fim na meta principal da empresa, como no caso do escritório é o retorno financeiro. Obteve-se, com a análise de dados, o resultado de que é possível implantar o Balanced Scorecard em uma empresa prestadora de serviços contábeis de pequeno porte, pois essa ferramenta se adapta ao tamanho da organização e as suas necessidades. Entre os indicadores financeiros encontrados na literatura foram escolhidos os que se adequavam ao objetivo do escritório, que era de aumentar sua lucratividade em 5%, sendo o Valor Econômico Adicionado, os de Rentabilidade e o Retorno do Investimento. Utilizando esses indicadores foi possível montar um plano estratégico para o escritório conseguir alcançar a sua meta. 6 REFERÊNCIAS ARAÚJO, Adriana Maria Procópio de; ASSAF NETO, Alexandre. Finanças Empresariais e a Contabilidade. Periódico FACEF. Disponível em: <http://www.facef.br/facefpesquisa/2004/nr3/1_ARAUJO_ASSAF_NETO.pdf> Acesso em: 23 ago. 2010. AZEVEDO, Osmar Reis. DFC e DVA: demonstração do fluxo de caixa e do valor adicionado. 2. ed. São Paulo: IOB, 2009. BEUREN, Ilse Maria (Org.). Como Elaborar Trabalhos Monográficos em Contabilidade: teoria e prática. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2009. COSTA, Ana Paula Paulino da. Balanced Scorecard: Conceitos e Guia de Implementação. 1. ed. São Paulo: Atlas, 2006. GIL, Antonio Carlos. 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