SECRETARIA DA SAÚDE DO ESTADO DA BAHIA Rotinas do Transplante no Estado da Bahia Diagnóstico de Morte Encefálica e Manutenção do Potencial Doador Salvador - Bahia Junho - 2007 ENTIDADES ENVOLVIDAS GOVERNADOR DA BAHIA Jaques Wagner SECRETÁRIO DA SAÚDE DO ESTADO DA BAHIA Jorge José Santos Pereira Solla SUPERINTENDENTE DE PLANEJAMENTO E DESCENTRALIZAÇÃO - SUDESC Alfredo Boa Sorte Jr. DIRETOR DE PLANEJAMENTO E AVALIAÇÃO - DIPLAN Renan Oliveira de Araújo Coordenação do Sistema Estadual de Transplante - COSET/SESAB Sociedade de Terapia Intensiva da Bahia - SOTIBA Conselho Regional de Medicina da Bahia - CREMEB Associação Baiana de Medicina - ABM Sociedade de Neurologia da Bahia - SNB Comissões Intra-Hospitalares de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante - CIHDOTTS Instituto de Saúde pela Promoção da Vida - PROVIVER COMISSÃO ORGANIZADORA Eraldo Salustiano de Moura Especialista em Cirurgia Geral Mestre em Cirurgia pela UFC Lara Torreão Pediatra, Especialista em Medicina Intensiva, Professora de Pediatria da Ufba, Conselheira do Cremeb. Pedro Antonio P. de Jesus Neurologista com Residência pela Universidade Federal de São Paulo, Título de Especialista em Neurologia pela Academia Brasileira de Neurologia, Mestre em Medicina e Saúde pela Ufba, Médico Plantonista da UTI Neurológica (URNC) do Hospital Espanhol, Professor-Assistente da Ufba. Sydney Agareno Cirurgião Especialista em Terapia Intensiva Presidente da Sotiba COLABORADORES COORDENADOR DO SISTEMA ESTADUAL DE TRANSPLANTE - COSET Eraldo Salustiano de Moura André Gusmão Cirurgião do Aparelho Digestivo, Coordenador do Samu. Hospital Aliança, Hospital Aeroporto Edson Marques Filho Maira Katarine Franco da Mota Especialista em Medicina Intensiva pela Amib, Especialista em Nefrologia SBN, Coordenador da UTI Cirúrgica do Hospital Santa Isabel, Coordenador da UTI Adulto da Maternidade de Referência José Maria de Magalhães Neto, Coordenador da Residência Médica em MI do Hospital Santa Isabel, Supervisor de Terapia Intensiva da Rede Própria Sesab, Plantonista UTI - Geral Hospital Aliança. Neurologista Infantil com Residência em Neurologia pela Unifesp, Especialista em Neurologia e Pediatria, Mestra em Medicina e Saúde pela Ufba, Titular da Sociedade Brasileira de Neurofisiologia e da Sociedade Brasileira de Sono, Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria, Diretora Médica da Clínica ANEMM, Professora das Faculdades Jorge Amado. Emídio Jorge S. Lima Maria Zenaide Dias Ribeiro Especialista em Medicina Intensiva (Amib), Especialista em Cirurgia Geral, Coordenador da UTI do HGC e da Emergência do HGESF. Especialista em Clínica Médica Residente em Nefrologia do Hospital Ana Neri Enio Garcia de Santana Paulo Amaral Nefrologista, Pós-Graduado com Residência em Clínica Geral, Plantonista da UTI, Membro da Administração. Hospital Santa Isabel Especialista em Medicina Intensiva, Cirurgião da UTI do HGRS, Membro do Proviver. Helio Santos de Queiroz Filho Paulo André Jesuíno dos Santos Pediatra, Mestre em Medicina e Saúde pela Ufba, Especialista emTerapia Intensiva Pediátrica, Especialista em Neonatologia, Coordenador da UTI Neonatal do HGRS. Hospital Santo Antônio, HGRS, Hospital Salvador. Especialista em Terapia Intensiva e Cirurgia Geral, Professor-Assistente do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Ufba e da Escola Baiana de Medicina e Saúde Pública. Hospital Santo Amaro / Ufba Jamary Oliveira Filho Sandro Cal Barral Clínico e Neurologista, Doutor em Neurologia pela USP, Coordenador do Serviço de Neurologia do Hospital Espanhol, Professor-Adjunto da Ufba, Fellow do Massachuster General Hospital Harvard School. Especialista em Cirurgia Geral, Especialista em Medicina Intensiva, Coordenador da UTI e da Cirurgia Geral do HGE. Joamar Nunes de Melo Especialista em Cirurgia Geral, Especialista em Medicina Intensiva, Coordenador da UTI II e III do HGE. João Arcanjo dos Santos Filho Cirurgião, Coordenador da CIHDOTT HGE José Mário Telles Especialista em Medicina Intensiva, Coordenador da UTI do HGRS. José Roberval Ferreira de Oliveira Nefrologista, Especialista em Terapia Intensiva. HGRS Telma Maria Rocha de Assis Neurologista, Título de Especialista pela AMB/CFM/ABN em Neurologia, Presidente da Sociedade Neurológica da Bahia (SNB), Presidente do Capítulo Regional da Academia Brasileira de Neurologia - Sessão Bahia, Membro Titular da Academia Brasileira de Neurologia. Sumário 2007 Secretaria de Saúde do Estado da Bahia Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e que não seja para a venda ou qualquer fim comercial. Tiragem: 2º edição - 2007. 4.000 exemplares FICHA CATALOGRÁFICA Bahia.Secretaria da Saúde do Estado da Bahia: proposta preliminar para debate. 1ª versão.-Salvador: Secretaria da Saúde do Estado da Bahia, 2007. 40p. CDD : 613.94 PREFÁCIO ............................................................................................................ 8 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 9 I. ASPECTOS CONCEITUAIS E DIAGNÓSTICO DE MORTE ENCEFÁLICA .. 10 I.1 Morte encefálica ............................................................................................ 10 I.2 Fisiopatologia de morte encefálica ............................................................... 10 I.3 Importância do diagnóstico de morte encefálica ........................................... 11 II. ASPECTOS LEGAIS DO TRANSPLANTE .................................................... 12 II.1 Regulamentação do diagnóstico de morte encefálica ................................. 13 II.1.1 Os exames complementares mais utilizados no Estado .......................... 16 II.2 Hora da constatação do óbito ...................................................................... 18 III. PROTOCOLO DE MORTE ENCEFÁLICA E MANUTENÇÃO DO POTENCIAL DOADOR NO ESTADO DA BAHIA ............................................... 19 III.1 Critérios para abertura de protocolo de morte encefálica .......................... 19 III.2 Parâmetros hemodinâmicos e metabólicos recomendados para abertura de protocolo de morte encefálica ......................................................... 20 III.3 Exames mínimos para o potencial doador ................................................. 21 III.4 Uso de drogas depressoras do Sistema Nervoso Central - SNC ............... 22 III.5 As medicações mais utilizadas nas emergências e UTIs ........................... 22 III.5.1 Medicamentos sem antagonista .............................................................. 22 III.5.2 Drogas com antagonistas ........................................................................ 23 III.5.3 Critérios para considerar tempo de eliminação de medicações depressoras do SNC .......................................................................................... 23 III.6 Exame físico para diagnóstico de morte encefálica conforme resolução 1480/97 ............................................................................................................... 24 III.7 Reabertura de protocolo .............................................................................. 29 III.8 Manutenção do potencial doador ................................................................ 29 III.8.1 Suporte cardiocirculatório ........................................................................ 30 III.8.2 Distúrbios endócrinos ............................................................................... 31 III.8.3 Distúrbios metabólicos ............................................................................. 32 III.8.4 Suporte hematológico .............................................................................. 33 III.8.5 Temperatura ............................................................................................. 33 III.8.6 Outras considerações .............................................................................. 34 III.9 Doadores de tecidos .................................................................................... 35 III.9.1 Critério para utilização de tecidos ............................................................ 35 III.9.2 Cuidados oculares .................................................................................... 36 III.9.2.1 Contra-indicações para doação de córnea ........................................... 36 III.10 Contra-indicações para doação de órgãos ............................................... 37 III.10.1 Absoluta - Condições pré-existentes do possível doador ...................... 37 III.10.2 Alterações que não excluem o doador ................................................... 38 III.11 Entrevista familiar ...................................................................................... 40 III.12 Suspender o suporte artificial que mantém a viabilidade dos órgãos ..... 41 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 42 PREFÁCIO Oportuna a iniciativa da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia, através da Coordenação do Sistema Estadual de Transplante Coset, de organizar estas Rotinas do Transplante no Estado da Bahia. Sua publicação atende à necessidade de envolvermos cada vez mais profissionais da saúde, notadamente os médicos, na identificação de possíveis doadores de órgão e tecidos, esclarecendo-os quanto às questões legais e éticas que envolvem os transplantes, com especial ênfase no conceito de morte encefálica, proporcionando-lhes conhecimento, dentre outros instrumentos, da resolução n.º 1.480/97 do conselho federal de medicina, além do que diz respeito à manutenção do potencial doador, condensando todas as técnicas utilizadas para a consecução deste método terapêutico heróico que deve ser utilizado quando todos os outros falharam. Para o CREMEB é uma satisfação ser escolhido para prefaciar esta obra vez que a preocupação com esta questão é antiga e, a partir de 2001, quando realizamos o IV Fórum de Ética e Bioética com o tema Transplante de Órgãos no Século XXI - Desfios Bioéticos, Científicos, Éticos e Sociais, temos participado dos esforços das diversas instituições envolvidas, no sentido de tirarmos a Bahia da humilhante posição que ocupa no ranking de Transplantes de Órgãos no país. INTRODUÇÃO O transplante é um tratamento efetivo para muitas doenças, sendo indicado quando todos os outros métodos terapêuticos falharam. Muitos pacientes dependem do transplante para continuarem vivos ou para melhorarem sua qualidade de vida. A Bahia apresenta um dos menores índices de transplante por milhão de habitantes, quando comparada com outros Estados do Nordeste, estando abaixo de Pernambuco1 e Ceará. Depende de todos nós mudarmos esse quadro e ajudarmos milhares de pessoas, cuja única esperança é o transplante. Este protocolo foi elaborado para subsidiar os profissionais de saúde na tomada de decisões acerca da identificação do possível doador, no diagnóstico de morte encefálica, na manutenção do potencial doador e processo de doação de órgãos e tecidos, pois profissionais da área de saúde, até mesmo os médicos, conhecem pouco sobre o processo doação/transplante de órgãos e tecidos. Para facilitar o manuseio, dividimos este manual em três partes: I. Aspectos conceituais e diagnóstico de morte encefálica; II. Aspectos legais do transplante; III. Protocolo de morte encefálica e manutenção do potencial doador no Estado da Bahia. Salvador, agosto de 2007 Cons. Jorge Cerqueira Presidente 8 9 I. ASPECTOS CONCEITUAIS E DIAGNÓSTICO DE MORTE ENCEFÁLICA I.1 Morte encefálica É a morte do cérebro e tronco encefálico e equivale à morte clínica estabelecida pelos critérios neurológicos (é a morte da pessoa). 1,2 10 demonstrou alterações microscópicas causadas pela hipóxia nas células nervosas. Inicialmente, essas alterações são vistas nos neurônios, seguidas nos astrócitos, micróglia e células endoteliais, podendo comprometer vasos, levando a infarto cerebral. O evento neuroquímico desencadeado pela hipóxia ocorre devido ao aumento da concentração extracelular de glutamato, o que leva a alteração da permeabilidade da membrana celular do neurônio, com efluxo de potássio e influxo de sódio, cálcio e outros íons, acúmulo de ácido lático e liberação de ácidos graxos livres, levando à lesão irreversível da célula nervosa. No paciente com morte encefálica há uma destruição progressiva do cérebro e tronco encefálico. 5,6 A partir do final da década de 50, com o início da ventilação mecânica e posteriormente das unidades de terapia intensiva (UTI), passamos a nos deparar com um novo tipo de paciente que não apresentava nenhuma atividade encefálica (cérebro e tronco cerebral) e que mantinha batimentos cardíacos por algumas horas ou poucos dias, modificando assim o conceito de morte. Trabalhos de Mollaret e Goulon, 1959, em Paris, introduziram o conceito de Coma Depassé ou Coma Irreversível; no ano de 1968, o relatório do Ad Hoc Committee of the Harvard Medical School to Examine the Definition of Brain Death estabeleceu os primeiros critérios para diagnóstico de morte encefálica. 3,4 I.3 Importância do diagnóstico de morte encefálica I.2 Fisiopatologia de morte encefálica • Conhecer a real situação do paciente (vivo ou morto); • Passar informações seguras para os familiares acerca do seu parente; • Evitar terapia inútil (tratar cadáver); • Reduzir custos e otimizar leitos de Terapia Intensiva; • Oferecer à família opção de ajudar outras pessoas através da doação de órgãos e tecidos. O cérebro é contido por um arcabouço ósseo que não permite sua expansão, desse modo, qualquer processo patológico que comprometa os mecanismos de compensação dos componentes intracranianos (cérebro, sangue e líquor) pode elevar a pressão intracraniana (PIC), cujo valor normal é próximo de 10mmHg. Pressões maiores que 20mmHg diminuem o fluxo sangüíneo cerebral (FSC), o que leva a hipóxia cerebral e em pressões maiores que 50mmHg praticamente não há perfusão cerebral.25 A morte encefálica geralmente é decorrente da associação de aumento da PIC, diminuição do FSC e anóxia cerebral.* Estudo anatomopatológico realizado por Graham et al, em 1978, O diagnóstico de Morte Encefálica é obrigatório, e a notificação é compulsória para a Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos - CNCDO. Para tanto, deve ser aberto protocolo para todos os pacientes com suspeita de morte encefálica, independentemente da possibilidade de doação ou não de órgãos e/ou tecidos. Todo médico deve saber fazer o diagnóstico de morte encefálica pelas seguintes razões: 11 II. ASPECTOS LEGAIS DO TRANSPLANTE A legislação brasileira é rigorosa no controle dos transplantes de órgãos e tecidos, contemplando pré-requisitos para credenciamento de hospitais e equipes, critérios para diagnósticos de morte encefálica, critérios para uso de órgãos e tecidos do doador falecido e vivo, forma de consentimento, proibição de comércio de órgãos, penalidades para infrações cometidas por profissionais e equipes, dentre outras. A primeira lei brasileira que abordou o tema foi a Lei nº 4.280, de novembro de 1963, que abordava a doação de órgãos para transplantes com autorização prévia escrita do falecido, desde que não houvesse oposição da família. A Lei nº 5.479, de agosto de 1968, revogou a lei anterior, permitindo, além da doação post mortem, a possibilidade de doação intervivos, porém não chegou a ser regulamentada. Seu princípio era o de doação consentida. Nessa época o conceito de morte encefálica ainda não existia e só era permitido remover os órgãos após parada cardiorrespiratória irreversível e EEG isoelétrico por longo período, comprometendo a sobrevida do enxerto. A Constituição Federal de 1988, no art. 199, dispõe sobre transplante, pesquisa e tratamento com partes do corpo humano e proíbe qualquer tipo de comercialização. A Lei nº 8.489, de novembro de 1992, regulamentada pelo Decreto nº 879, de julho de 1993, incorpora o conceito de morte encefálica e restringe o emprego de doadores vivos. Faz referência a critérios de distribuição de órgãos removidos e ao cadastro técnico único. Define também doação como consentida. A partir de 1992, tornase compulsória a notificação de morte encefálica às Centrais de Transplantes dos Estados ou Secretaria de Saúde. 12 A Lei nº 9.434, de 5 de fevereiro de 1997, conhecida como lei dos transplantes, trata dos aspectos de distribuição de partes do corpo humano para fins de transplante (órgãos e tecidos), sanções penais e administrativas pelo não-cumprimento das normas. Foi essa lei regulamentada pelo Decreto nº 2.268, de 30 de julho de 1997, que criou o Sistema Nacional de Transplantes (SNT), e as Centrais Estaduais de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos nos Estados (CNCDOs ), estabelecendo também a forma de distribuição dos órgãos, tecidos e partes do corpo humano para finalidades terapêuticas e transplantes, através das listas de espera regionalizadas. O capítulo II, art. 4º, dessa lei estabelecia o consentimento presumido (todo indivíduo capaz que não se manifestasse em vida contrário à doação era considerado doador). A doação presumida não foi bem aceita pela população, havendo diminuição do número de doações e busca aos centros de identificação para registrar seus documentos como não-doadores. A Lei nº 10.211, de 23 de março de 2001, alterou a Lei nº 9.434, capítulo II, art. 4º, transformando a doação no Brasil em consentida (só é possível a doação com autorização de parentes de até segundo grau e/ou cônjuges). A Portaria nº 905, de 16 de agosto de 2000, cria as comissões intra-hospitalares de transplantes, baseadas no modelo espanhol. A Portaria nº 1.262, de 15 de junho de 2006, determina a obrigatoriedade da existência e funcionamento de Comissão IntraHospitalar de Transplantes de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT) e metas para captação de órgãos e tecidos nos hospitais com mais de 80 leitos. A Lei Estadual nº 9.831, de 1º de dezembro de 2005, criou a Coordenação do Sistema Estadual de Transplantes (Coset). II.1 Regulamentação do diagnóstico de morte encefálica No Brasil, por determinação da Lei 9434, o Conselho Federal de Medicina (CFM) foi incumbido de regulamentar o diagnóstico de 13 morte encefálica, o que fez através da Resolução nº 1.480, de 8 de agosto de 1997, estabelecendo os critérios para a caracterização da parada total e irreversível das funções encefálicas: Art. 1º. A morte encefálica será caracterizada através da realização de exames clínicos e complementares durante intervalos de tempo variáveis, próprios para determinadas faixas etárias. Art. 2º. Os dados clínicos e complementares observados quando da caracterização da morte encefálica deverão ser registrados no “termo de declaração de morte encefálica”. Art. 3º. A morte encefálica deverá ser conseqüência de processo irreversível e de causa conhecida. Art. 4º. Os parâmetros clínicos a serem observados para constatação de morte encefálica são: coma aperceptivo com ausência de atividade motora supra-espinhal e apnéia. Art. 5º. Os intervalos mínimos entre as duas avaliações clínicas necessárias para a caracterização da morte encefálica serão definidos por faixa etária, conforme abaixo especificado: c) ausência de perfusão sangüínea cerebral. Art. 7º. Os exames complementares serão utilizados por faixa etária, conforme abaixo especificado: a) acima de 2 anos - um dos exames citados no Art. 6º, alíneas “a”, “b” e “c”; b) de 1 a 2 anos incompletos - um dos exames citados no Art. 6º, alíneas “a”, “b” e “c”. Quando optar-se por eletroencefalograma, serão necessários 2 exames com intervalo de 12 horas entre um e outro; c) de 2 meses a 1 ano incompleto - 2 eletroencefalogramas com intervalo de 24 horas entre um e outro; d) de 7 dias a 2 meses incompletos - 2 eletroencefalogramas com intervalo de 48 horas entre um e outro. Art. 8º. O Termo de Declaração de Morte Encefálica, devidamente preenchido e assinado, e os exames complementares utilizados para diagnóstico da morte encefálica deverão ser arquivados no próprio prontuário do paciente. a) de 7 dias a 2 meses incompletos - 48 horas; b) de 2 meses a 1 ano incompleto - 24 horas; c) de 1 ano a 2 anos incompletos - 12 horas; d) acima de 2 anos - 6 horas. Art. 6º. Os exames complementares a serem observados para constatação de morte encefálica deverão demonstrar de forma inequívoca: a) ausência de atividade elétrica cerebral ou b) ausência de atividade metabólica cerebral ou 14 Art. 9º. Constatada e documentada a morte encefálica, deverá o Diretor-Clínico da instituição hospitalar, ou quem for delegado, comunicar tal fato aos responsáveis legais do paciente, se houver, e à Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos a que estiver vinculada a unidade hospitalar onde o mesmo se encontrava internado. Há necessidade de dois exames clínicos que investiguem a presença de resposta encefálica (cérebro e tronco cerebral). As avaliações clínicas devem ser realizadas por dois médicos diferentes, uma destas avaliações deve ser efetuada por um neurologista ou neurocirurgião ou neuropediatra. Estes médicos não podem fazer parte de equipes de captação e/ou transplante. Ainda é necessária a realização de um exame complementar. 15 O exame complementar deve avaliar: ausência de atividade elétrica cerebral (EEG); ou ausência de fluxo sangüíneo cerebral (doppler transcraniano, cintilografia cerebral, TC com xenônio, arteriografia); ou ausência de atividade metabólica cerebral (PET, extração cerebral de oxigênio). Este exame pode ser realizado após a abertura do protocolo ou após a segunda avaliação clínica. e suboccipital. Desta forma, podem ser insonadas as seguintes artérias: oftálmica, sifão carotídeo, artéria cerebral anterior, média (segmentos M1 e M2) e posterior, artéria vertebral e artéria basilar. Em pediatria, pode ser utilizado para crianças acima de 1 ano. A sensibilidade varia entre 91,3 – 100%, podendo apresentar falsos negativos nas seguintes circunstâncias: II.1.1 Os exames complementares mais utilizados no Estado • Pacientes submetidos a procedimentos descompressivos do crânio: craniotomia ampla ou válvula de derivação, por não permitir aumento da PIC suficiente para cessar o fluxo cerebral; ELETROENCEFALOGRAMA Um dos métodos mais utilizados para diagnóstico de morte encefálica, por ser de fácil utilização, constituindo-se em exame complementar que detecta atividade elétrica cerebral. São necessários no mínimo 21 canais. Apresenta, como desvantagem, interferência com outros equipamentos eletrônicos utilizados para suporte a pacientes críticos. Protocolo para utilização: Em pediatria, quando a idade for inferior a 2 anos, será necessária a realização de dois exames de EEG. Acima de 2 anos, apenas um EEG é suficiente para a confirmação do diagnóstico de ME. Segundo a resolução CFM 1480/97, o EEG é o único exame possível abaixo de 1 ano de idade. DOPPLER TRANSCRANIANO 16 Doppler transcraniano é um método não-invasivo baseado nos mesmos princípios físicos de qualquer aparelho de ultra-som. Para gerar imagens através da espessa calota craniana e obter imagens de fluxo sangüíneo cerebral, utiliza transdutores de baixa freqüência com onda pulsada, que mostra a direção e velocidade de fluxo sangüíneo cerebral em várias artérias intracranianas, identificadas a partir das suas características de fluxo. São utilizadas três janelas ósseas tipicamente: temporal, transorbitária 9,10 • Neonatos com fontanela aberta e crânio mais complacente, pelo mesmo motivo; 11,35 • Uso de balão intra-aórtico, por aumento do fluxo médio a jusante.34 Interpretação: Confirmação de morte encefálica: • Ausência de insonação dos vasos cerebrais, em pacientes previamente insonados; • Ausência de fluxo diastólico ou reverberante; • Pequenos picos sistólicos isolados. ARTERIOGRAFIA CEREBRAL Demonstra o fluxo sangüíneo cerebral após injeção de contraste nas grandes artérias cerebrais (carótidas e vertebrais), sendo obrigatório estudo dos quatro vasos.12,20 Interpretação: Confirma a morte encefálica: • Ausência de fluxo sangüíneo na entrada do cérebro dos quatro vasos em vinte segundos; • Parada circulatória no polígono de Willis; • Enchimento lento acima de quinze segundos do seio longitudinal superior cerebral. 17 CINTILOGRAFIA CEREBRAL Avalia a circulação sangüínea cerebral através de injeção de radioisótopo tecnécio 99m.12.20 Avaliação logo após a injeção do radioisótopo, com 30, 60, 120 minutos. III. PROTOCOLO DE MORTE ENCEFÁLICA E MANUTENÇÃO DO POTENCIAL DOADOR NO ESTADO DA BAHIA Interpretação: Ausência de perfusão cerebral pelo radioisótopo confirma o diagnóstico de morte encefálica. II.2 Hora da constatação do óbito A constatação do óbito se dá no momento da conclusão do protocolo, que poderá ser na hora da segunda avaliação clínica ou do exame complementar, o que for realizado por último. 12 OBS.: No atestado de óbito deve-se estar atento para o preenchimento correto: “morte encefálica” ou “parada cardiorrespiratória”. Não devem constar nos campos do atestado, pois são eventos da morte (a morte propriamente dita) e não a causa. Toda morte violenta deverá ser encaminhada ao Instituto Médico Legal (IML), Acompanhada do relatório cirúrgico de cada órgão retirado. Todo processo de doação é iniciado com a identificação do possível doador, que são pacientes graves, com lesão cerebral extensa, sem reflexo, com Glasgow 3. Estes pacientes devem ter manutenção adequada, pois apresentam alterações endócrinas, metabólicas e cardiovasculares importantes. Após a estabilização, deve ser iniciado o protocolo para diagnóstico de morte encefálica e, quando concluído o protocolo, a família deve ser consultada quanto à doação de órgãos e tecidos. Causas mais freqüentes de morte encefálica: • Pacientes traumatizados (TCE): 60%; • Acidente vascular cerebral (AVCH /AVCI): 30 a 40%; • Tumores cerebrais primários: 5%; • Anóxia cerebral (afogamentos, pós-parada cardiorrespiratória): 2 a 5%; • Intoxicação exógena (vítimas de intoxicação exógena se não for tóxica para o órgão a ser doado): 1%. III.1 Critérios para abertura de protocolo de morte encefálica • • • • 18 Coma arreativo e aperceptivo; Glasgow 3; Em ventilação mecânica; Conhecer a causa do coma, através da história clínica, exame físico e exames complementares; • Estruturas vitais do encéfalo, necessárias para manter a consciência e a vida vegetativa, devem estar com lesão 19 irreversível diagnosticada por método de imagem (TC, RNM, etc.); alguns pacientes com anoxia cerebral apresentam apenas edema cerebral;12 • Excluir uso de drogas depressoras do sistema nervoso central com níveis capazes de causar o coma e mimetizar a ME; 17,18 • Ausência de hipotermia (temperatura igual ou maior que 32.5ºC);2 17,18 • Não apresentar severos distúrbios metabólicos, ácido básico e/ou eletrolíticos capazes de levar ao coma que mimetizem a ME; III.3 Exames mínimos para o potencial doador Todo paciente com protocolo aberto para diagnóstico de morte encefálica deve ter seu sangue coletado para realizar exames hematológicos, bioquímicos; gasometria arterial; função renal; classificação sangüínea e os exames específicos para cada órgão a ser doado. 3,4,13,15,24 • Não estar com hipotensão arterial: 3,4,8,12,20,21,23,28,31,37 Adulto: PAS > 90mmHg ou PAM > 65mmHg; Recém-Nascidos: PAS > 60 mmHg; Lactentes: PAS > 70mmHg; Crianças maiores de 2 anos: PAS > 70+(2 x idade em anos). III.2 Parâmetros hemodinâmicos e metabólicos recomendados para abertura de protocolo de morte encefálica PAS > 90mmHg Hemodinâmicos PAM > 65mmHg Sat O2 > 90% Ventilatório Pa CO2: 20-45mmHg PaO2/ FiO2 > 100 Uréia < 300 Metabólico Sódio plasmático: 120 -160mEq/l Glicemia: 80 a 300mg/dl Hematológico Hemoglobina >que 9 Temperatura > a 32.5°C Obs.: 20 Devemos 2,3,4,8,12,15,16,20,21,22,29,30,37 sempre buscar os parâmetros da normalidade. Avaliar Exame C la s s i fi c a ç ã o S a ng üi ne a G RUP O A B O He m a to lo g i a s HE MOGRA MA , P L A QUE TA S E le tr ó li to s NA , K , C A , M G D o a d o r d e P ulmã o GA S OME TRIA A RTE RIA L , RX D E TÓRA X E ME D ID A D A C IRC UNF E RÊ NC IA TORÁ C IC A . D o a d o r d e C o ra ç ã o C P K , C K MB , E C G, C ATE TE RIS MO * * E C OC A RD IOGRA MA D o a d o r d e Ri m URÉ IA , C RE ATININA , URINA TIP O I D o a d o r d e F íg a d o A S T, A LT, GA MA GT, A L B UMINA B IL IRRUB INA S , TA P, TTPA D o a d o r d e P â nc re a s A MIL A S E , L IPA S E , GL IC E MIA Infe c ç õ e s C ULTURA S D E V E RÃ O S E R C OL HID A S NO L OC A L D E ORIGE M * O resultado pode ser obtido após a realização do transplante. ** Para pacientes maiores de 45 anos.27 Os exames sorológicos devem ser coletados após a conclusão do protocolo e consentimento da família (ANTI-HIV, HTLV 1 E 2, HBS AG, ANTI-HBC, ANTI-HBS, ANTI-HCV, CMV * CHAGAS, TOXOPLASMOSE*, LUES). Entretanto, devido a dificuldades logísticas (demora na execução do exame sorológico, distância 21 entre o hospital de origem do potencial doador e laboratório, etc.), estes exames podem ser coletados logo após a abertura do protocolo de ME. Sugerimos que a família seja consultada. III.4 Uso de drogas depressoras do Sistema Nervoso Central - SNC Os pacientes com suspeita de morte encefálica devem ser avaliados quanto ao uso de drogas depressoras do sistema nervoso central, pois estas podem comprometer esse diagnóstico, alterando reflexos e mimetizando quadro de ME. O médico deve conhecer o medicamento usado, dosagem utilizada e sua farmacocinética, idade do paciente (principalmente extremos de faixa etária) e funcionamento dos órgãos que eliminam esses fármacos, e meia vida do medicamento. III.5 As medicações mais utilizadas nas emergências e UTIs • • • • Derivados benzodiazepínicos; Barbitúricos; Opióides; Bloqueadores neuromusculares. III.5.1 Medicamentos sem antagonista Fenitoina - Em doses muito altas, pode causar inicialmente alterações das funções cerebelares e vestibulares e posteriormente depressão do sistema nervoso central. Só ocorre quando o nível sérico é superior a 60 microgramas/mL.17,18 Meia-Vida - 7 a 26 horas. 17,18 Propofol - Meia-Vida - 30 a 60 minutos. 22 Barbitúricos mais utilizados: Thiopental - Meia-Vida - 5 a 12 horas 18 Fenobarbital - Meia-Vida - 2 a 6 dias Pentobarbital - Meia-Vida - 15 a 20 horas. 17,18 III.5.2 Drogas com antagonistas Benzodiazepínicos 17: Midazolam - Meia - vida 2 horas Diazepam - Meia - vida 5 à 30 horas. 17 Antagonista - Flumazenil (Lanexat 0,5mg/5ml) na dose de 1 a 3 mg antagoniza o efeito do benzodiazepínico e esta ação se mantém por aproximadamente 1 hora. Nos benzodiazepínicos de meia vida longa faz-se a infusão contínua de 0,1 a 0.4 mg/hora em soro até a próxima avaliação.17,18 Criança - 0,01mg/kg ate 1mg. Opióides: Morfina - Meia-Vida - 1,5 a 2 horas; Fentanil - Meia-Vida - 2 a 4 horas; Meperidina - Meia-Vida - 3 a 4 horas; Antagonista - Naloxona (Narcan®) amp de 0,4 mg/mL. Dose de ataque: 0,4 a 2,0mg IV (até 10mg) lentamente. Caso o paciente não esteja em ME, a resposta deve ocorrer em 2 minutos.18,38 Manutenção: 0,4 a 0,8mg/hora. Bloqueadores neuromusculares. Succinilcolina meia-vida - 15 minutos - 1 hora III.5.3 Critérios para considerar tempo de eliminação de medicações depressoras do SNC 1 - Considerar duas meias-vidas e o menor tempo quando a droga for utilizada em doses terapêuticas e a via de eliminação do fármaco estiver preservada; 2 - Considerar quatro meias-vidas quando a droga usada em doses capazes de levar à depressão do SNC; 3 - Considerar a titulação do nível sérico do medicamento para identificarmos a possibilidade de depressão ou não do SNC; 4 - Considerar uso de antagonista quando disponível. 23 III.6 Exame físico para diagnóstico de morte encefálica conforme resolução 1480/97 As pupilas dos pacientes com morte encefálica são médio fixas (4 9mm), podendo haver discreta anisocoria. 1. Arreatividade Supra-Espinhal - Ausência Total de Atividade do Tronco Cerebral. Teste: Direcionamos estímulo luminoso em direção às pupilas e observamos as respostas contração pupilar ou se estão fixas e arreativas. Teste: Realizar pressão do leito ungueal dos 4 membros e região supraorbitária, para verificar se há resposta ao estímulo doloroso. Interpretação: Teste positivo para ME - Ausência de resposta ao estímulo luminoso, pupilas fixas. Interpretação: Teste positivo para ME - Ausência de resposta supra-espinhal nos quatro membros e região supra-orbitária. 3. Ausência do Reflexo Córneo-Palpebral (V e VII Nervos Cranianos). Observação A presença de reatividade infra-espinhal pode ocorrer em pacientes com morte encefálica e se deve à atividade reflexa da médula, como: reflexo osteotendinoso, cutâneo-abdominal, cutâneo-plantar em flexão ou extensão, cremastérico, ereção peniana, arrepio e reflexo de retirada dos membros, sinal de Lazarus, opistótono. Portanto sua presença não afasta o diagnóstico de morte encefálica. 19 Teste: Estimular a córnea, bilateralmente, com um cotonete ou gaze e observar se o paciente apresenta movimento da pálpebra. Interpretação: Teste positivo para ME - Ausência de reflexo palpebral, não ocorre contração da pálpebra. 4. Ausência de Reflexo Oculocefálico (VIII e Nervos Oculomotores). Teste: Mover a cabeça lateralmente fazendo pausa ao final do movimento para um lado e para outro lado. Podendo também ser realizado movimento de flexão e extensão da cabeça. Observando se houve movimentos oculares, testado após exclusão de lesão da coluna cervical. Fonte: N Engl J Méd Vol.344 No 16 April 19, 2001 2. Ausência de Resposta das Pupilas (II e III nervos cranianos) 24 Interpretação: Teste positivo para ME - Ausência de movimentos dos olhos (olhos fixos ou olhar de boneca). 5. Ausência de Reposta às Provas Calóricas (III, VI e VIII Nervos Cranianos). 25 Teste: Colocar a cabeceira a 30° e com auxílio de uma seringa irrigar o conduto auditivo (direito e esquerdo) com 50ml de soro fisiológico 0,9% ou com água gelada (próximo a 0°) ou aquecida (40°), tendo o cuidado de manter os olhos do paciente abertos. Esperar 5 minutos e proceder ao teste no ouvido oposto. Interpretação: Teste positivo para ME - Ausência de movimentos dos olhos (nistagmo). 6. Ausência de Reflexo de Tosse (IX e X Nervos Cranianos). Teste: Estimular a traquéia com uma sonda introduzida por dentro do tubo traqueal até a traquéia ou brônquios e estimular a orofaringe com uma espátula. Não devemos mobilizar o tubo traqueal para evitar complicações, como extubação e lesão de traquéia, etc. Observar se existe alguma resposta ao estímulo. Interpretação: Teste positivo para ME - Ausência de movimentos respiratórios e/ ou tosse. Exame físico e pares cranianos envolvidos no diagnóstico de morte encefálica: 7. Teste da Apnéia. Deve ser o último teste a ser realizado e tem como objetivo avaliar integridade da região pontobulbar. É o exame mais importante, pois a hipercapnia é o maior estímulo ao centro respiratório. Cuidados para diminuir os riscos durante o exame: Vale reforçar que quanto mais precoce for iniciado o protocolo, mais facilmente encontraremos as melhores condições para que o teste se realize sem intercorrências. Devemos buscar parâmetros normais hemodinâmicos, metabólicos e temperatura. Os pacientes deverão estar monitorizados com oxímetro de pulso, monitorização cardíaca e pressão arterial.4,20 • Pré-Oxigenação com O2 a 100% por 10 minutos até PO2 arterial > 200 mmHg; • PAS > 90mmHg; • PAM > 65mmHg; • PaCO2: 35-45mmHg; • Sat O2 > 90%; • Hemoglobina > que 8,0; • Temperatura > a 35°C; 4,20 • Estabilidade do ritmo cardíaco ao monitor (ausência de bradiarritmia ou taquiarritmia); • Balanço hídrico positivo nas últimas 6 horas; • pH arterial normal ou pouco alterado. Teste: 1. Oxigenar o paciente com O2 a 100% por 10 minutos e, após este período, colher uma gasometria; 2. Desconectar o ventilador, colocar um cateter com oxigênio 6 a 8 litros/minuto no tubo traqueal e observar: movimentos respiratórios e/ou outros movimentos por 8 a 10 minutos; 3. Manter o paciente monitorizado com oxímetro de pulso, eletrocardiograma e pressão arterial. 26 Fonte: N Engl J Méd Vol.344 No 16 April 19, 2001 27 Interromper o exame: • O paciente apresentar movimentos respiratórios ou movimentos supra-espinhais, paciente está vivo; • Sinais de instabilidade como: queda de pressão arterial menor que 90mmHg, hipóxia em que saturação de oxigênio seja menor que 90% ou arritmia cardíaca. Conduta: Neste caso devemos reconectar o ventilador ao paciente e tratar conforme protocolo do Advanced Cardiovascular Life Suporte (ACLS) 26, estabilizar o paciente e reiniciar o teste. N Engl J Méd Vol.344 No 16 April 19, 2001 INTERPRETAÇÃO DO TESTE DE APNÉIA: Positivo 1. PCO2 maior que 55mmHg; 2. Aumento da PCO2 em 20mmHg comparada com a gasometria inicial. 4,20 Negativo 1. Movimentos respiratórios; 2. Resultados de PCO2 na gasometria inferior aos resultados anteriores. Inconclusivos 1. Instabilidade hemodinâmica durante exame; 2. Hipóxia (queda da SaO2 < 90%); 3. Arritmias. 28 III.7 Reabertura de protocolo O intervalo para reabertura do protocolo vai depender do motivo que interrompeu o protocolo: • Instabilidade durante o exame, reabrir o protocolo assim que houver estabilização do paciente; • Presença de reflexo, reavaliar após 6 a 12 horas; • Não é necessário a reabertura do protocolo quando apenas o exame complementar (doppler, cintilografia, EEG, etc.) apresentar fluxo sangüíneo cerebral ou atividade elétrica cerebral. Recomendamos que o mesmo tipo de exame deve ser repetido. • O intervalo para repetir o exame complementar, quando necessário para pacientes acima de 2 anos, é de 6 a 12 horas a depender do estado do paciente; • Abertura e fechamento do protocolo dos pacientes acima de 2 anos de idade deve ser inferior 10 horas. III.8 Manutenção do potencial doador 4,12,20 A morte encefálica desencadeia alterações endócrinas, metabólicas e hemodinâmicas, que levam a falência progressiva de órgãos e tecidos e exigem dos profissionais de saúde 29 conhecimento da fisiopatologia da ME e a manutenção do potencial doador de órgãos e tecidos. A ME deve ser entendida como fundamental no programa de saúde da população. com Dopamina até a dose de 10µg/kg/min, quando deve ser associado outro vasopressor, preferencialmente Noradrenalina (considerar Vasopressina). 3,4,8,12,20,21,23,28,31,37 Esses pacientes estão nas unidades de emergência, unidades de terapia intensiva, sala de recuperação pós-anestésica. É de responsabilidade dos plantonistas dessas unidades o diagnóstico da morte encefálica, estabilidade hemodinâmica, adequada ventilação e controle metabólico, cujo objetivo é manter a apropriada perfusão dos órgãos e tecidos, o que conseqüentemente minimiza as complicações pós-transplantes. Hipertensão: Pode ocorrer nas primeiras horas da morte encefálica decorrente do aumento da pressão intracraniana e isquemia cerebral e das descargas de catecolaminas. 12,14, 16 21 III.8.1 Suporte cardiocirculatório Hipotensão: É freqüente no paciente em morte encefálica, tendo como causas relacionadas à desidratação, hipovolemia (hemorrágico, má reposição hídrica, poliúria), diurese osmótica (manitol, hiperglicemia), diabetes insipidus, lesão do centro vasomotor, hipotermia e depressão da função miocárdica. 16 Tratamento - A maioria desses pacientes responde à infusão de líqüidos com solução de cristalóides, principalmente soluções isotônicas, como Ringer Lactato ou solução cloreto de sódio 0,9%. E quando o paciente estiver com hipernatremia, utilizar associado ou isoladamente soluções hipotônicas, como NaCl 0,2% ou 0,45% e, eventualmente, solução glicosada 5% e/ou água livre por sonda. Evitar o uso de amidos devido ao risco de lesão tubular renal. Controlar a PVC (8 a 12cmH2O), sendo necessário nos casos de instabilidade hemodinâmica persistente ou baixo débito cardíaco (fração de ejeção < 45%) utilizar métodos de monitorização hemodinâmica mais invasivos, como o cateter de Swan-Ganz. Considerar realizar ecocardiograma para definir fração de ejeção e alterações estruturais do coração. 30 O uso de drogas vasoativas deve ser administrado quando o paciente não responde à reposição de volume, devendo-se iniciar Tratamento - É baseado no uso de nitropussiato de sódio. Arritmias: Com a morte encefálica, ocorrem várias alterações eletrocardiográficas, como alteração no ST, T, graus variados de bloqueio AV e bradiarritmia. A bradicardia é decorrente da ausência do estímulo simpático ao coração e, caracteristicamente, o paciente não responde à atropina. As anomalias de condução geralmente são secundárias a distúrbios eletrolíticos, hipoglicemia, acidose metabólica, hipovolemia, hipotermia, hipoxemia e isquemia miocárdica. 16,28 Tratamento - Na presença de bradicardia que não responde à administração de Dopamina, Noradrenalina, Adrenalina ou Vasopressina, está indicado um marcapasso transtorácico externo. 16,32 Parada Cardíaca: Iniciar a reanimação do coração e, se a família já autorizou a doação, entrar em contato com a equipe de captação. Em caso de irreversibilidade, consultar a família sobre a doação de tecidos (córnea). 12 III.8.2 Distúrbios endócrinos Neuro-Hipófise (ADH): Diabetes Insipidus (DI); 22 Adeno-Hipófise: TSH (T3 e T4) Hipotireoidismo; ACTH (Cortisol) Hipoadrenalismo; GH (Insulina) Hiperglicemia. 15,22 Tratamento: Considerar reposição hormonal: T4, Vasopressina e Metilpredinisona (15mg/kg/24h); ajustar doses para pediatria. 3,13,23,32,33 31 III.8.3 Distúrbios metabólicos Suporte Hidroeletrolítico: Evitar ou corrigir distúrbios eletrolíticos que agravam as arritmias e as alterações hemodinâmicas. 15, 16 Hipocalemia: Pode ser decorrente da perda exagerada pela DI, reposição inadequada de potássio. Tratamento - Corrigir com infusão de 20-30mEq/h em adulto e em pediatria: 0,3 a 0,5mEq/hora em 3 a 6 horas em concentração menor que 80mEq/l se o potássio estiver menor que 2,5mEq/l.24 Hipercalemia: Pode ser secundária a administração excessiva, hemólise, destruição tissular ou falência renal. Tratamento - Corrigir para evitar distúrbios cardíacos. O potássio não apresenta interferências para abertura de protocolo de ME. Em pediatria: calcular déficit de água livre ou utilizar a fórmula de Adrogue e Madias. 25 Devemos buscar a correção, pois os órgãos dos doadores com hipernatremia apresentam maior índice de complicações quando transplantados. Suporte Renal: Manter diurese em 1 a 2ml/kg/h para adulto e acima de 2ml/kg/h para crianças. Quando houver poliúria (diurese > 4ml/ kg/h), a reposição volêmica deve ser vigorosa e, nos casos refratários, pode-se usar DDAVP (Desmopressina) 0,05 a 0,2ml (SC, IV ou IN) 12/12 horas ajustando a dose de acordo com a resposta ou Vasopressina 1 unit em bolus + 0,5unit/h. 13, 15,16,32 Na presença de oligúria com pressão arterial e PVC normais, pode ser usado Furosemida 20-60mg IV ou Manitol a 20% na dose de 0,25-0,50g/kg. 3,12,33 Hiponatremia: Complicação menos freqüente nos pacientes com morte encefálica. Pode ser secundária a administração exclusiva de solução glicosada ou perdas renais. Repor sódio com soluções hipertônicas. É menos freqüente. 12 Pode ser secundária a administração exclusiva de solução glicosada ou perdas renais. Tratamento - Repor sódio com soluções fisiológicas. Hipernatremia: Mais de 80% dos pacientes com morte encefálica desenvolvem hipernatremia secundária ao processo da própria morte encefálica e não como a causa do coma. Pode ser decorrente da administração exclusiva de solução fisiológica e principalmente secreção inapropriada do hormônio antidiurético ADH (diabetes insipidus). 15,16,25 32 Tratamento - Utilizar solução glicosada a 5%, NaCl 0,45% ou 0,2%, água livre por sonda gástrica 100 a 200ml/h. Alterações da glicose: os pacientes com ME tendem a fazer hiperglicemia; deve ser corrigida com insulina. Nos casos de hipoglicemia, deve ser administração de glicose. A glicemia deve ser mantida entre 100 a 200mg/dL. 32 III.8.4 Suporte hematológico Distúrbios da Coagulação: Podem ser decorrentes de perda sangüínea, transfusão de sangue estocado, hipotermia e fibrinólise. Na presença de distúrbios da coagulação utilizar plasma fresco e se necessário concentrado de plaquetas. Anemia: Comum nos pacientes politraumatizados. Manter hematócrito acima de 30%. III.8.5 Temperatura Hipotermia: É freqüente nos pacientes com morte encefálica e é conseqüência de infusão de soluções em temperatura ambiente, ar-condicionado nas UTIs e emergências, perda da 33 termorregulação hipotalâmica (hipotálamo anterior), choque, imobilidade, distúrbios endócrinos (insuficiência adrenal, disfunção da hipófise, etc.), levando a distúrbios sistêmicos graves. 2,3,4,12,20 A hipotermia pode ser dividida em: leve: 35 a 32°C; moderada: 31,9 a 28°C; grave: <28°C (interferem no EEG e reflexos). Todo possível doador com temperatura inferior a 36°C deve ser aquecido com: cobertores, colchão térmico, soluções aquecidas a 39°C, aquecimento do ar inspirado no ventilador. Nos casos mais graves podemos realizar aquecimento ativo com irrigação peritoneal, torácica com líqüidos aquecidos. 3 O local da tomada da temperatura deve ser, sempre que possível, central, como: esofágica, retal. Quando não for possível, podemos medir a temperatura axilar. A temperatura de referência para abertura de protocolo deve ser maior ou igual a 32.5°C. 2 Hipertermia: Pouco freqüente no paciente em ME, sendo mais comumente relacionada à infecção, não impedindo a abertura do protocolo nem a realização de exames complementares. 12 III.8.6 Outras considerações Alterações Respiratórias: O edema agudo de pulmão é uma alteração que pode ser decorrente de hiperhidratação ou ter origem neurogênica. 34 1 - Suporte Ventilatório Ventilação Mecânica (VM): Manter adequada ventilação alveolar com PaO2 maior ou igual a 80mmHg e SaO2 maior ou igual a 95% e PaCO2 entre 35-45mmHg (exceções dos pacientes com DPOC), pH 7.35 a 7.45. Para o recém-nascido, manter: PaO2 entre 5070mmHg, Sat: 92 - 93% e PaCO2: 45-55mmHg. Em crianças: pressão maior que 60mmHg, Sat: maior que 90% e pCO2 entre 35 e 45mmHg. 3,26 Parâmetros: • Proteger o pulmão - evitar barotrauma e volutrauma; • Modo PCV. Pode-se optar por VCV desde que com adequado controle sobre o volume corrente e pressões; • VT: 8 a 10ml/kg - ajustar de acordo com PaCO2; • FR: 10 a 20irpm; • Taxa de fluxo: conforme relação I: E (preferir taxa > 40l/min); • Onda de fluxo: preferir desacelerada; • FIO2: menor ou igual a 60%; • PEEP: > 5cm H2O 12, 16. III.9 Doadores de tecidos Contra-indicações para doação de tecidos: • Microbiológicas: Sepse, Fungemias; • Sorológicas: HIV/HTLV I e II / Hepatites B e C; • Lupus, artrite reumatóide e esclerodermia; • Uso de drogas ilícitas endovenosas. III.9.1 Critério para utilização de tecidos C R ITÉR IO PAR A U TILIZAÇ ÃO D E TEC ID OS Ossos Pele Valva cardíaca Idade 15 a 70 12 a 60 0 a 60 P e so avali ação >50kg >2kg recusa recusa recusa Transfusões de sangue ou hemoderi vados nos últi mos 12 meses C oração parado Trauma externo Infecção si stêmi ca ati va D oenças prévi as Presença ou hi stóri a de D ST (doenças sexualmente transmi ssívei s até 12 horas a 21º C ; até 24h a 4º C e 6h em temperatura ambi ente avali ação avali ação não se apli ca recusa recusa recusa avali ação avali ação avali ação recusa recusa recusa 35 III.9.2 Cuidados oculares • Manter fechados os olhos do possível doador; • Realizar higiene facial, principalmente na região periorbitária, inclusive limpeza dos cílios; • Aplicar, sobre a superfície ocular desses pacientes, pomada lubrificante com antibiótico (Epitezan, Regencel ou Regenom), 3 vezes dia. Cuidados Oftalmológicos em Doadores de Olhos Pós-Parada Cardíaca: • Manter o corpo do doador em ambiente refrigerado sempre que possível; • Realizar higiene facial, principalmente na região periorbitária, inclusive limpeza dos cílios; • Aplicar em cada olho 1 gota de colírio de Iodo Povidona 5% ou continuar com a pomada acima descrita; • Oclusão de cada olho com esparadrapo. A doação dos olhos pode ser efetivada até 6 horas depois do óbito, porém deve ser preferencialmente comunicada à Central de Órgãos ou ao Banco de Olhos até 6 horas de diagnosticada a morte. Obs.: Não tem idade limite para doação de tecido ocular humano. III.9.2.1 Contra-indicações para doação de córnea De acordo com RDC 347/2003 da ANVISA, não podem ser disponibilizados, para transplante ou enxerto, tecidos retirados de doadores, cuja causa da morte tenha sido: 36 a) Morte de causa desconhecida; b) Hepatite viral aguda; c) Septicemia; d) Raiva; e) Aids; f) Doença de Creutzfeldt-Jakob; g) Panecefalite subaguda esclerosante; h) Rubéola congênita; i) Linfomas ativos disseminados; j) Leucemia; l) Síndrome de Reye; m) Encefalite viral ativa ou encefalite de origem desconhecida ou encefalopatia progressiva; n) Leucoencefalopatia multifocal progressiva; o) Doença neurológica de diagnóstico indeterminado; p) Endocardite (bactéria fúngica) ativa. Doadores com doenças intrínsecas do olho: a) Retinoblastoma; b) Tumores malignos do segmento anterior ocular ou adenocarcinoma no olho (de origem primária ou metastática); c) Inflamação ativa: ocular ou intra-ocular (conjuntivite, ceratite, esclerite, irite, uveíte, vitreíte, coroidite, retinite); d) Desordens congênitas ou adquiridas (cicatriz central na córnea, ceratocone, ceratoglobo); e) Receptores de hormônio do crescimento derivado da pituitária humana (durante os anos de 1963-1985); f) Doadores com testes sorológicos reagentes para algum dos seguintes marcadores: HBs Ag, Anti-HBc, Anti-HCV, e Anti-HIV-1 e 2. III.10 Contra-indicações para doação de órgãos III.10.1 Absoluta - Condições pré-existentes do possível doador 1 - Tumores malignos, exceto carcinomas basocelulares de pele, carcinoma in situ do colo uterino e alguns tumores primitivos do SNC.27; 2 - Sorologia positiva p/ HIV ou HTLV I e II; 37 3 - Sepse: • Ativa e não-controlada bacteriana; • Choque séptico; • Falência de múltiplos órgãos; • Microorganismo multirresistente. 4 - Infecções sistêmicas virais ou fúngicas; 5 - Tuberculose ativa. Em relação aos tumores malignos, deve-se ter atenção com as metástases de tumores germinativos que podem se manifestar com sangramento intracerebral, simulando hemorragia espontânea. A pesquisa de gonadotrofina coriônica é de grande auxílio. A anatomia patológica de um tumor faz-se sempre necessária antes do implante de órgãos. 13, 15,16,32 Tumores do Sistema Nervoso Central Que Excluem o Doador: • Astrocitoma anaplásico (grau III); • Glioblastoma multiforme; • Meduloblastoma; • Olingodendroglioma anaplásico (Schmidt C e D); • Ependioma maligno; • Pineoblastoma; • Meningeoma anaplásico e maligno; • Sarcoma intracranial; • Tumor de células germinais (exceto teratoma bem diferenciado); • Cordoma; • Linfoma cerebral primário; • Astrocitoma de baixo grau (grau II). III.10.2 Alterações que não excluem o doador Tumores do Sistema Nervoso Central: 38 • Meningioma benigno; • Adenoma de hipófise; • Schwanoma de acústico; 27 • Craniofaringeoma; • Astrocitoma pleiocítico (grau I); • Cisto epidermoide; • Cisto colóide do III ventrículo; • Papiloma de plexo coróide; • Hemangioblastoma; • Tumor de células ganglionais; • Pineocitomas; • Oligodendrogrioma de baixo grau (Schmidt A e B); • Ependimoma; • Teratoma bem diferenciado. Tumores Que o Doador Pode Ser Considerado: • Astrocitoma de baixo grau; • Gliomatose cerebri. Os marcadores virais da hepatite B e C (VHB e VHC) são admissíveis em doadores de órgãos para aqueles receptores que forem portadores dos mesmos marcadores, mas a doação de tecidos está excluída nesses casos.12 Não contra-indica o transplante presença de soropositividade para: • Citomegalovirus humano; • Vírus de Epstein - Barr; • Treponema pallidum; • Toxoplasma gondii; • Trypanossomna cruzi; • Echinococcus granulosus; • Microbactéria ; • Outras infestações parasitárias. Sepse: manifestações sistêmicas de infecção podem constituir contra-indicação temporária. 1) Bacteremia com estabilidade hemodinâmica e sem disfunção multiorgânica em tratamento com antimicrobianos e com boa 39 resposta clínica. O receptor deverá continuar o tratamento durante o tempo adequado ao sítio da infecção e ao agente identificado; 2) Meningite bacteriana, desde que haja identificação do agente etiológico e seu tratamento adequado; não haja foco extrameninge e a função dos órgãos a serem transplantados esteja preservada. III.11 Entrevista familiar A família deve ser informada da suspeita de morte encefálica e abertura do protocolo, garantindo o acolhimento e informações durante todo o desenvolvimento até a conclusão do protocolo, facultando à família indicar um médico de sua confiança para acompanhar todo o processo. Confirmado o diagnóstico de morte encefálica, o médico-assistente comunicará o falecimento à família e a CHIDOTT deverá entrevistar os parentes oferecendo a opção da doação de órgãos e tecidos para transplante. A família deverá ser respeitada frente às suas singularidades e valores. III.12 Suspender o suporte artificial que mantém a viabilidade dos órgãos Depois de constatado o óbito, a família deverá ser informada do falecimento e, caso não haja doação, o médico poderá suspender as medidas de suporte, bem como desconectar o ventilador, no entanto, deverá ter cuidado para não ser visto como motivo de dor maior para os familiares, agindo assim com sensibilidade frente ao sofrimento enfrentado pela família. A família tem o direito de ouvir uma segunda opinião, bem como solicitar que o médico de confiança da família acompanhe todo o processo.7 A entrevista da família só deverá acontecer após o fechamento do protocolo de morte encefálica, lembrando que é direito dos familiares em optar ou não pela doação de órgãos. O profissional que realizará a entrevista deve ter conhecimento da história clínica do falecido, identificar liderança entre os parentes, grau de parentesco, controle emocional, capacidade de compreensão, ter tempo disponível para dirimir dúvidas e ter sempre comportamento acolhedor, independentemente da posição dos familiares, deixando-os à vontade para pensar e conversar entre si. Caso haja negativa familiar, reavaliar uma segunda entrevista. Após a doação, acompanhar todo o processo até a liberação do doador para a família. 40 Caso os familiares manifestem o desejo pela doação de órgãos antes do fechamento do protocolo de morte encefálica, orientar quanto às normas e rotinas do processo, realizando o acompanhamento sistemático. 12 41 REFERÊNCIAS 1. Saúde. Dúvidas mais freqüentes sobre transplantes. Ministério da Saúde.www.saude.gov.br/transplantes/duvidas.htm 2003. 2. Silva, SP. Morte Encefálica. Processo - Consulta CFM nº 2.231/ 2002. 3. Braunfeld, MY, Cadaveric Donors. 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