PSEUDARTROSE ATUALIZAÇÃO / UPDATE Pseudartrose Pseudarthrosis FERNANDO BALDY DOS REIS1, JOSÉ SOARES HUNGRIA NETO2, ROBINSON ESTEVES SANTOS PIRES3 RESUMO ABSTRACT Estima-se que cerca de 5% das fraturas de ossos longos evoluem para pseudartrose. Devido à sua alta incidência, é importante que o ortopedista conheça todos os aspectos da doença para corretamente direcionar o tratamento para cada tipo de paciente. Este artigo, abordagem sobre o tema, ressalta aspectos controversos como a etimologia, a etiologia e as diversas formas de tratamento da pseudartrose. It is estimated that around 5% of long bones fractures evolve to pseudarthrosis. Due to its high incidence, the orthopedic surgeon must be acquainted with all aspects from the disease, to correctly direct the treatment for each type of patient. This update article approaches the subject, highlights debatable aspects such as etymology, etiology, and the several forms of pseudarthrosis treatment. Unitermos – Pseudartrose; classificação; tratamento Key words – Pseudarthrosis; classification; treatment INTRODUÇÃO INTRODUCTION O termo pseudartrose é aplicado para designar a situação em que a fratura não mostra evidências radiográficas de progressão do processo de consolidação, indicadas por esclerose nas extremidades da fratura, presença de um hiato, calo ausente ou hipertrófico e persistência ou alargamento do traço de fratura. Trata-se de termo controverso, uma vez que sua grafia e significado não encontram uniformidade entre os autores. Empregaremos neste artigo a variante pseudartrose por ser a mais aceita atualmente. E, pelo que vimos, só não se pode escrever “pseudoartrose”. Na língua inglesa, o termo “pseu- The term “pseudarthrosis” is applied to name such situation where a fracture does not show radiographic evidence of healing process progression, as indicated by sclerosis of fracture ends, the presence of a gap, absence or hypertrophic bone callus, and persistence or widening of the fracture line. It is also a debatable term, as its own denomination does not meet any meaning uniformity among authors. The authors favor the Portuguese variant “pseudartrose” as the most accepted nowadays. Conversely, the term “pseudoartrose” is orthographically wrong in Portuguese. In English, the term “pseudarthrosis” (or pseudarthrose) 1. Professor Livre-Docente da Disciplina de Traumatologia do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Universidade Federal de São Paulo-Escola Paulista de Medicina – Unifesp-EPM. 2. Professor Adjunto da Faculdade de Ciência Médicas da Santa Casa de São Paulo; Vice-Diretor da Faculdade de Ciência Médicas da Santa Casa de São Paulo; Membro Honorário da Fundação AO. 3. Residente da Especialização (R4) da Disciplina de Traumatologia do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Universidade Federal de São Paulo-Escola Paulista de Medicina – Unifesp-EPM. 1. Professor of Traumatology, Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina – UnifespEPM. 2. Adjunct Professor, Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo; Vice-Dean, Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo; Honorary Member, AO Foundation. 3. Fourth-year Resident, Disciplina de Traumatologia do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina – Unifesp-EPM. Endereço para correspondência (Correspondence to): Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Unifesp-EPM, Rua Borges Lagoa, 783, 5o andar – Vila Clementino – 04038-002 – São Paulo, SP, Brasil. Copyright RBO2005 Rev Bras Ortop _ Vol. 40, No 3 – Março, 2005 79 F.B. REIS, J.S. HUNGRIA NO & R.E.S. PIRES darthrose” significa o desenvolvimento de uma falsa articulação, o que, em nosso idioma, chamamos de pseudartrose sinovial. “Nonunion” designa a condição na qual a fratura não apresenta consolidação e não há evidência de que possa ocorrer sem melhora das condições mecânicas e/ou biológicas. A essa situação, denominamos pseudartrose, concordando com a literatura alemã, na qual Weber também descreve “pseudarthrose”. Outro ponto controverso é sua relação com o tempo. Após quanto tempo de tratamento devemos considerar que estamos frente a uma pseudartrose? É ilógico depender do tempo para diagnosticar uma pseudartrose. Devido a essa dificuldade, e para tranqüilizar os doentes e nossa consciência, criamos o famoso retarde de consolidação – entidade imprecisa. Situase entre o tempo normal de consolidação da fratura (que depende de inúmeras variáveis – energia envolvida, lesão de partes moles, forma de tratamento, infecção, etc.) e a pseudartrose (que também não tem tempo definido para ser diagnosticada). É o mesmo que situar algo entre a estratosfera e a ionosfera... Ninguém pode definir com precisão onde termina uma e começa a outra. Nos dias atuais, é freqüente aguardar seis, oito ou mais meses para se estabelecer o diagnóstico e só então tomar uma atitude, principalmente quando está evidente, pela avaliação seqüencial das radiografias, que a consolidação não está evoluindo. Há que se tomar medidas ativas para reverter o processo. Todos somos capazes de, ao avaliar uma radiografia, ou uma seqüência de exames radiográficos, perceber, ou pelo menos suspeitar, que a consolidação não está progredindo; isso pode ser detectado precocemente na maioria dos casos. Considere-se, portanto, como pseudartrose, a situação clínica e radiográfica de possibilidade mínima (ou mesmo impossibilidade) de consolidação de uma fratura ou osteotomia, independente do tempo de evolução. É um aspecto subjetivo? É, mas na medicina, muitas decisões dependem da percepção e experiência do médico. Assim, abolimos o impreciso, desnecessário e inútil retarde de consolidação(1). A pseudartrose é, geralmente, de natureza multifocal e pode determinar um impacto negativo na qualidade de vida maior que a diálise renal ou a doença cardíaca isquêmica(2). means the development of a false joint; its Portuguese correspondent is the synovial pseudarthrosis. Nonunion means the condition where the fracture has not presented healing, and there is no evidence that it shall occur, unless there is an improvement of mechanical and/or biological conditions. We name that condition “pseudarthrosis”, in agreement with the German literature, where Weber also describes “pseudarthrose”. Another debatable issue is the time relation. After how long shall we consider that we are facing a pseudarthrosis? It is illogical to depend on time to diagnose a pseudarthrosis. Due to such difficulty, and to reassure patients and our conscience, we have created the famous delayed healing, an imprecise entity. It is situated somewhere between normal fracture healing time (which is dependent on several variables – the amount of involved energy, soft-tissue lesions, form of treatment, presence of infection, etc.), and the pseudarthrosis (which does not have a definite time for diagnosis either). It is the same as situating something between the stratosphere and the ionosphere… No one can precisely define where one starts and the other ends. Nowadays, it is frequent to await six, eight, or more months to establish the diagnosis and then to take an action, especially when sequential radiographic assessment shows that bone healing is not evolving. Active measures shall be taken to invert the process. We are all capable to realize, or at least suspect, when assessing a radiograph or a sequence of radiographic exams, that bone healing is not progressing; that can be detected early in most cases. Thus, pseudarthrosis should be considered as the clinical and radiographic situation where there is a minimum (or even absence) of fracture or osteotomy bone healing, no matter the time of evolution. Is it a subjective aspect? Yes, but in Medicine, many decisions rely on the physician’s perception and experience. Thence, we have abolished the imprecise, unnecessary, and useless delayed healing(1). Pseudarthrosis is usually of multifocal nature, and can determine a higher negative impact on the quality of life than kidney dialysis, or ischemic heart disease(2). ETIOLOGIA Instability and lack of adequate vascularity are the main factors that lead to pseudarthrosis. Infection, lack of patient cooperation, and neuropathies should also be considered on the genesis of healing absence. General factors such as malnutrition, anticoagulation drugs, antiinflammatory drugs, radiation, and burns can be A instabilidade e a falta de vascularização adequada são os principais fatores que conduzem à pseudartrose. Infecção, falta de cooperação do paciente e neuropatias também devem ser consideradas na gênese da falta de consolidação. 80 ETIOLOGY Rev Bras Ortop _ Vol. 40, No 3 – Março, 2005 PSEUDARTROSE Fatores gerais, tais como desnutrição, anticoagulantes, antiinflamatórios, irradiação e queimaduras podem ser contributivos, mas não constituem causas primárias da falta de união. Em última análise, sempre encontramos alteração da estabilidade e/ou da vascularização na gênese da pseudartrose. Instabilidade A estabilização inadequada da fratura com aparelhos externos ou osteossíntese pode permitir movimentação excessiva no foco da fratura, dificultando ou impedindo a consolidação. A presença de espaço entre as extremidades da fratura pode ocorrer devido à distração, interposição de tecidos moles, perda óssea ou má posição, que é causada pelo desvio ou cavalgamento dos fragmentos da fratura. Segundo a teoria de Perren e Cordey, o osteoblasto, para se desenvolver, necessita de estabilidade(3). Espaços interfragmentários significativos – 3 a 4mm – não podem ser preenchidos por tecido ósseo neoformado. Se uma placa com parafusos mantém um espaço de aproximadamente 3 a 4mm entre os fragmentos ósseos, o osteoblasto é incapaz de se desenvolver, cedendo lugar a condroblastos e fibroblastos, os quais são capazes de tolerar melhor o alto esforço e produzir tecido fibrocartilaginoso que, preenchendo o espaço, melhora a condição de estabilidade. Em contraposição, em um grande intervalo causado, por exemplo, pela perda de osso diafisário, o esforço é demasiadamente baixo para estimular os osteoblastos. Dessa forma, os fibroblastos preencherão o espaço quando as células mais especializadas não puderem multiplicar-se. Os osteoblastos exigem estabilidade perfeita, para que os capilares de revascularização possam cruzar as linhas de fratura e facilitar a transformação de células pluripotentes em osteoblastos(4,5,6,7). Isso possibilita que a remodelação haversiana primária sem calo periosteal ocorra. A fixação com compressão interfragmentária elimina espaços macroscópicos pela redução anatômica e compressão dos fragmentos da fratura; ela também elimina o movimento, permitindo a proliferação osteoblástica e a consolidação. Quando há movimento no foco da fratura, mas com bom suprimento sanguíneo, será formado tecido cartilaginoso que persistirá enquanto houver movimento. Se a estabilidade for alcançada naturalmente ou for produzida por fixação externa ou interna apropriada, a calcificação da cartilagem será iniciada, o que, subseqüentemente, possibilitará a substituição da cartilagem por osso, como no processo de ossificação endocondral(8,9). Rev Bras Ortop _ Vol. 40, No 3 – Março, 2005 contributive, but are not primary causes of absence of bone healing. As a matter of fact, there are always stability and/or vascularity changes on the etiology of pseudarthrosis. Instability Inadequate fracture stability using external or internal fixation may yield excessive fracture site motion, thus making difficult or precluding bone healing. The presence of a gap between fracture ends may occur due to distraction, soft tissue interposition, bone loss or illpositioning, which is caused by fracture end deviation or compression. According to Perren and Cordey’s theory, osteoblasts need stability to develop(3). Significant 3- to 4-mm interfragmentary gaps cannot be filled by newly formed bone tissue. If plating and screw insertion keeps an approximately 3- to 4mm gap between fractured ends, the osteoblast is unable to develop, leaving room to chondroblasts and fibroblasts, which are more capable to better tolerate higher stresses, and to produce a fibrocartilaginous tissue that fills the gap and enhances stability conditions. Conversely, within a large gap left – for instance – by the diaphyseal bone loss, the effort would be too low to trigger osteoblast stimulation. Thence, fibroblasts will fill the gap when more specialized cells would not multiply. Osteoblasts demand perfect stability, so that revascularization capillaries can cross fracture line and facilitate multipotential cells transformation into osteoblasts(4,5,6,7). That yields primary haversian remodeling without the appearance of periosteal callus. Interfragmentary compression fixation eliminates macroscopic gaps upon anatomical reduction and fracture fragment compression; it also eliminates motion, facilitating osteoblast proliferation, and bone healing. When there is motion at the fracture site, albeit with good blood supply, cartilaginous tissue will be formed, persisting while there is still motion. If stability is naturally achieved or produced by either appropriate external or internal fixation, cartilage calcification will be initiated, which subsequently will enable the substitution of cartilage by bone, such as in the endochondral ossification process(8,9). If motion persists at such amplitude that cannot allow calcification, fibrocartilage space will remain, and a hypertrophic pseudarthrosis will establish. 81 F.B. REIS, J.S. HUNGRIA NO & R.E.S. PIRES Se o movimento persistir com uma amplitude na qual a calcificação não pode ocorrer, então o espaço fibrocartilaginoso persistirá e uma pseudartrose hipertrófica se estabelece. Vascularização inadequada Quanto maior a energia do trauma, maiores serão os danos ósseos e de partes moles que perturbarão a vascularização local. Fraturas expostas são, geralmente, fruto de trauma de alta energia e lesam a vascularização do foco fraturário. Outra causa importante de comprometimento da vascularização é a redução aberta com descolamento excessivo do periósteo e lesão do suprimento sanguíneo do osso e tecidos moles durante a manipulação e inserção do implante. Infecção A infecção por si própria não causa falta de união. No entanto, ela predispõe a esta, ao criar os mesmos fatores que causam pseudartrose em fraturas não infectadas (por exemplo, seqüestro formado pela morte de osso cortical, criação de espaços pela osteólise e movimentação pelo afrouxamento dos implantes). Haverá consolidação se o osso seqüestrado permanecer absolutamente estável enquanto durar o processo de revascularização cortical. Neuropatias Diabetes melito, hanseníase, siringomielia, disrafismo espinhal, paraplegia e alcoolismo crônico podem afetar a propriocepção protetora, limitando a capacidade do paciente de controlar a carga, o que pode comprometer a consolidação da fratura, pela instabilidade surgida. Falta de cooperação do paciente O perfil psicológico do paciente é fator importante na decisão sobre as diversas linhas de tratamento das fraturas. O paciente e o médico devem trabalhar juntos para garantir o resultado. Dieta inapropriada, tabagismo(10), graduação da carga e problemas comportamentais devem ser abordados antecipadamente. CLASSIFICAÇÃO DAS PSEUDARTROSES 1) Pseudartroses bem vascularizadas O desenvolvimento da pseudartrose hipertrófica ocorre devido à falta de estabilidade mecânica adequada. A instabilidade leva a descolamentos locais do periósteo, provocando neoformação óssea adicional. 82 Inadequate vascularization Increasing the trauma energy increases bone and soft tissue damage, which will disturb local vascularity. Open fractures are usually the result of high-energy trauma, and damage vascularity at the fracture site. Another important cause of vascularity compromising is the open reduction with excessive periosteal stripping, and the lesion of bone and soft tissue blood supply during surgical handling and implant insertion. Infection Infection by itself does not cause nonunion. However, it predisposes to nonunion, when creating the very same factors that cause pseudarthrosis in non-infected fractures (for example, a sequestrum formed by death of cortical bone, the creation of dead spaces by osteolysis, and motion due to implant loosening). There will be healing if bone sequestrum remains absolutely stable while cortical revascularization process lasts. Neuropathies Diabetes mellitus, leprosy, syringomyelia, spinal dysraphism, paraplegia, and chronic alcoholism may affect protective proprioception, limiting the patient’s ability to control weight bearing, which may compromise fracture healing due to the instability created. Lack of patient’s cooperation Patient’s psychological profile is an important factor on deciding about which line of fracture treatment to follow. The patient and the physician must work together to ensure the outcome. Inappropriate diet, smoking(10), load bearing grade, and behavioral problems should be anticipated. CLASSIFICATION OF PSEUDOARTHROSES 1) Highly vascularized pseudarthroses The development of hypertrophic pseudarthrosis is due to lack of adequate mechanical stability. Instability leads to local periosteal detachments, producing additional new bone formation. Radiographically, one can observe images with elephant’s foot or horse’s foot appearance. 2) Poorly vascularized pseudarthroses They occur due to adjacent fracture bone fragment devascularization, either due to high trauma energy, or due to Rev Bras Ortop _ Vol. 40, No 3 – Março, 2005 PSEUDARTROSE Radiograficamente, pode-se observar imagens com a aparência de “pata de elefante” ou “casco de cavalo”. 2) Pseudartroses malvascularizadas Ocorrem devido à desvascularização dos fragmentos ósseos adjacentes ao local da fratura, seja devido à alta energia do trauma ou à cirurgia. Fragmentos ósseos desvitalizados podem consolidar-se com elementos ósseos vitais; porém, nunca consolidarão com outro segmento também sem vida. 3) Pseudartrose sinovial Uma falsa articulação, composta por tecido fibrocartilaginoso que produz líquido sinovial pode resultar da persistência prolongada de movimento no local da fratura, se bem vascularizada. Geralmente, são vitais e ocorrem mais freqüentemente no úmero, no fêmur e na tíbia. Além de ser uma cavidade sinovial, elas geralmente têm deformidade rotacional e/ou axial. TRATAMENTO DAS PSEUDARTROSES Medidas extremas como artrodese, artroplastia ou amputação devem ser evitadas, pois muitas técnicas ou combinação das mesmas podem atender às exigências biomecânicas para a consolidação das pseudartroses. O segredo do sucesso é não focalizar o tratamento apenas na radiografia, mas sim no paciente(11). De acordo com o tipo de pseudartrose e perfil do paciente, vários métodos podem ser utilizados no tratamento, como a descorticação ou escamação osteoperiostal, o auto-enxerto esponjoso, a adição de BMP (proteína morfogenética óssea), o concentrado de células-tronco da medula óssea e de fatores de crescimento plaquetário, a distração do calo ósseo com fixadores externos, o enxerto ósseo vascularizado nas perdas ósseas, os materiais de estabilização interna, os estabilizadores externos (fixadores externos ou órteses), além do ultrasom, ondas de choque e campos eletromagnéticos. A estabilização do foco da fratura, seja com placa de compressão ou haste intramedular fresada e bloqueada, é o método mais eficaz para se tratar a pseudartrose hipertrófica. E permite a calcificação da cartilagem fibrosa, que será penetrada por novos vasos, formando a ponte óssea e remodelação do local da pseudartrose(12). Enxertia óssea não é habitualmente necessária. A ressecção do foco da pseudartrose hipertrófica e a abertura do canal medular são consideradas erros, já que se remove tecido ósseo vivo que está pronto para promover a consolidação. Rev Bras Ortop _ Vol. 40, No 3 – Março, 2005 surgery. Devitalized bone fragments may heal with vital bone elements; however, they will never heal with another unviable segment. 3) Synovial pseudarthrosis A false joint, made of fibrocartilaginous tissue producing synovial fluid, may result from prolonged motion persistence at the highly vascularized fracture site. They are usually viable, and most often occur at the humerus, at the femur, and the tibia. Besides a synovial cavity, they usually present rotational and/or axial deformity. TREATMENT OF PSEUDOARTHROSES Extreme measures such as arthrodesis, arthroplasty, or amputation should be avoided, as many techniques or combination of techniques may answer to biomechanical demands for pseudarthrosis healing. The secret of success is not to focus treatment only on Xrays, but on the patient(11). According to the pseudarthrosis type and patient’s profile, several methods can be employed for the treatment: decortication or osteoperiosteal scaling; cancellous autograft; addition of BMP (bone morphogenetic protein); bone marrow stem cells and platelet growth factor concentrate; bone callus distraction with external fixators; vascularized bone grafting for bone losses; internal stabilization materials; external stabilizers (external fixators or orthoses); besides ultrasound, shock waves, and electromagnetic fields. Fracture site stabilization, either with compression plate or reamed, blocked intramedullary nail, is the most effective method to treat hypertrophic pseudarthrosis. It also permits fibrous cartilage calcification, which will be penetrated by newly formed blood vessels, forming the bone bridge and remodeling pseudarthrosis site(12). Bone grafting is not usually necessary. The resection of hypertrophic pseudarthrosis site and medullary canal opening are considered mistakes, removing live bone tissue that is ready to promote healing. Plaster cast immobilization, as combined with extracorporeal shock waves or ultrasound, can be useful. The preference nowadays, however, consists in the operative method that stabilizes the pseudarthrosis site, besides correcting deviations and yielding functional rehabilitation. The treatment of atrophic pseudarthrosis requires the addition of induction agents and bone healing conductors – that is – a biological stimulus, besides stabilization. 83 F.B. REIS, J.S. HUNGRIA NO & R.E.S. PIRES Imobilização com gesso, combinada com ondas de choque extracorpóreas ou ultra-som também podem ser úteis. A preferência atual, entretanto, consiste no método operatório que estabiliza o foco da pseudartrose, além de corrigir desvios e permitir a reabilitação funcional. O tratamento da pseudartrose atrófica requer, além da estabilização, a adição de agentes indutores e condutores da consolidação, isto é, estímulo biológico. Descorticação Utilizada para aumentar a resposta biológica, criando um leito vascularizado. Trata-se de técnica com aplicação diafisária, pois, quando feita na área metafisária, pode levar à restrição da função articular. Deve ser realizada de forma circunferencial ao redor da diáfise, para permitir a correção das deformidades axial e rotacional, sem promover a desvascularização local. Auto-enxerto esponjoso Biologicamente, é superior ao aloenxerto e aos substitutos ósseos disponíveis atualmente, uma vez que tem as vantagens de ser osteogênico (fonte de células viáveis), osteoindutor (recrutamento de células mesenquimais locais) e osteocondutor (andaime para crescimento de osso neoformado)(13). As áreas doadoras mais utilizadas são a crista ilíaca posterior (maior fonte), a anterior, o grande trocanter, o fêmur distal e a tíbia proximal. Como desvantagens do auto-enxerto esponjoso estão as morbidades relacionadas com a sua coleta, como dor e perda sanguínea. BMP, concentrado de células-tronco da medula óssea e fatores de crescimento plaquetário A proteína morfogenética óssea tem sido bastante estudada e sua aplicação tem crescido no tratamento das pseudartroses difíceis, com perdas de segmentos ósseos. Estudos com animais demonstraram que a combinação de BMP e medula óssea contendo células do estroma têm melhores resultados. A combinação de concentrado de células-tronco da medula óssea e concentrado de plaquetas tem sido estudada, com resultados preliminares animadores. Evidentemente, esses procedimentos acima são sempre associados à estabilização adequada com algum elemento de osteossíntese. 84 Decortication It is employed to increase biological response, thus creating a vascularized bed. That is a diaphyseal application technique; when applied to the metaphyseal area, such technique may lead to articular functional restriction. It should be circumferentially performed around the diaphysis, so that axial and rotational deformities are corrected, with no local devascularization. Cancellous autograft It is biologically better than allograft and bone substitutes nowadays available, for its osteogenic (source of viable cells), osteoinductive (recruiting of local mesenchymal cells), and osteoconductive (scaffold for newly formed bone growth) capabilities(13). Most commonly donor areas include posterior iliac crest (the greatest source); the anterior iliac crest; the greater trochanter; the distal femur; and proximal tibia. Disadvantages of cancellous autograft include morbidities related to its collection, such as pain and blood loss. BMP, bone marrow stem cells concentrate, and plate- let growth factors Bone morphogenetic protein has been extensively studied, and its application has increased for the treatment of difficult pseudarthroses, such as those with loss of bone segments. Animal studies have showed that the combination of BMP and bone marrow containing stromal cells yields better results. The combination of bone marrow stem cells and platelet concentrate has been studied, with encouraging preliminary results. It is evident that those above mentioned procedures are always associated to adequate stabilization with some element of osteosynthesis. Bone callus distraction This method can be employed in cases of segmental bone loss in excess of 6 cm. It may be painful, and is not exempt of complications; furthermore, it requires a mutual commitment between the patient and the physician. Its advantage is the fact that soft tissues undergo distraction along with bone callus, thus minimizing the need of additional soft tissue reconstruction(14). After sclerotic bone resection, metaphyseal region corticotomy is performed. Rev Bras Ortop _ Vol. 40, No 3 – Março, 2005 PSEUDARTROSE Distração do calo ósseo Este método pode ser utilizado em casos de perda óssea segmentar maior que 6cm. Pode ser doloroso e não é isento de complicações; requer, portanto, um compromisso mútuo entre paciente e médico. Tem como vantagem o fato de que as partes moles sofrem distração juntamente com o calo ósseo, minimizando a necessidade de reconstrução adicional de partes moles(14). Após a ressecção do tecido ósseo esclerótico, faz-se corticotomia na região metafisária. Em casos assépticos ou com infecção de baixo grau, a corticotomia é feita ao mesmo tempo da ressecção óssea inicial. Em se tratando de pseudartrose francamente infectada, a corticotomia é realizada uma semana após o desbridamento. Cerca de 10 dias após a corticotomia, é iniciada a distração do calo neoformado com velocidade de 1mm por dia, dividida em quatro vezes igualmente distribuídas. Geralmente, a carga parcial é permitida de imediato. Porém, carga total só é conseguida cerca de quatro a seis meses após o fechamento da falha óssea. O uso da haste intramedular associada à fixação externa, para distração do calo, pode reduzir o período de utilização do fixador, mas deve ser evitada em casos de infecção prévia ou em atividade. Enxerto ósseo vascularizado livre Utilizado para o tratamento de falhas ósseas maiores que 6cm. Como áreas doadoras, prefere-se a utilização da fíbula e da crista ilíaca. São mais adequados para o úmero e o antebraço devido ao seu diâmetro limitado, o que torna seu uso restrito no fêmur. Na tíbia, deve-se considerar a enxertia dupla. Particularmente no escafóide, o enxerto ósseo vascularizado encontra grande aplicabilidade nos casos sem encurtamento significativo e sem artrose avançada. Dentre os mais utilizados atualmente, tem-se o de Zaidemberg, com um ramo retrógrado da a. radial, que irriga a face dorsorradial do rádio distal, e o de Mathoulin, cujo enxerto radial está pediculado na a. cárpica palmar(15,16). Estabilização interna Trata-se de método essencial para permitir a transformação do tecido fibrocartilaginoso em ósseo. 1. Compressão interfragmentária com placa e parafusos – É o princípio mais utilizado para a estabilização da pseudartrose. Rev Bras Ortop _ Vol. 40, No 3 – Março, 2005 In aseptic or low-grade infection cases, corticotomy is performed at the same time of initial bone resection. In case of overtly infected pseudarthrosis, corticotomy is performed one week after debridement. Around ten days after corticotomy, distraction of newly formed bone callus is started at 1mm per day rate, divided into four equally distributed times. Partial weight bearing is usually allowed at once. However, total weight bearing is achieved from four to six months after bone gap closure. The use of intramedullary nail associated to external fixation for callus distraction may reduce the period of fixator use, but should be avoided in cases of previous or active infection. Free vascularized bone graft It is employed for the treatment of bone gaps in excess of 6 cm. Preferable donor sites include fibula and iliac crest. Due to its limited diameter, they are more adequate for humerus and forearm; their use for the femur is limited. Double grafting should be considered in tibia. Particularly for the wrist scaphoid, vascularized bone graft is highly applicable in cases without significant shortening or advanced arthrosis. The Zaidemberg technique, using a retrograde branch of the radial artery that irrigates the dorsoradial aspect of the distal radius, and the Mathoulin technique, whose radial graft is pediculated from the volar carpal artery, are among those most commonly employed procedures nowadays(15,16). Internal stabilization It is an essential method to allow transformation of fibrocartilaginous tissue into bone tissue. 1. Interfragmentary compression with plate and screws – It is the most commonly employed principle for pseudarthrosis stabilization. Plates must be positioned at the tension side, which corresponds to bone convexity. The AO compressor should be employed for an increased interfragmentary compression. In cases of medial cortex bone gap, especially in the femur, the wave plate(17) can be employed, while tricortical bone graft is interposed between the plate and the lateral cortex. 2. Intramedullary nailing – The upper limbs have not showed those highly favorable results as seen in lower limbs. 85 F.B. REIS, J.S. HUNGRIA NO & R.E.S. PIRES As placas devem ser posicionadas no lado da tensão, que corresponde à convexidade óssea. Para maior compressão interfragmentar, deve ser utilizado o compressor AO. Nos casos de falha óssea da cortical medial, principalmente no fêmur, a placa em onda(17) pode ser utilizada, interpondo-se enxerto ósseo tricortical entre a placa e a cortical lateral. 2. Encavilhamento intramedular – Nos membros superiores, não se tem observado resultados tão favoráveis quanto nos membros inferiores. A fresagem do local da pseudartrose confere firmeza à osteossíntese e a estabilidade rotacional é obtida através do bloqueio da haste, quando necessária. A compressão axial é conferida pela carga e permitida pelo bloqueio dinâmico. O tecido ósseo oriundo da fresagem do canal medular funciona como enxerto. Métodos externos Advogada por Sarmiento, a órtese funcional com sustentação de peso pode ser utilizada nas pseudartroses tibiais(18). A osteotomia da fíbula está indicada quando a fíbula estiver consolidada, causando desvio em varo da tíbia ou impedindo a pistonagem óssea, necessária para a consolidação. Os fixadores externos podem ser utilizados também em casos em que não houve perda óssea significativa, pois permitem a compressão do foco da pseudartrose, promovendo a consolidação óssea. Ultra-som A utilização do ultra-som pulsátil de baixa intensidade tem possibilitado a aceleração da consolidação em fraturas agudas(19). Nolte et al demonstraram que o ultra-som também pode ser usado em casos de pseudartrose(20). Seu mecanismo de ação parece estar relacionado com um efeito físico térmico no local da pseudartrose. Tem como limitação o fato de poder ser utilizado apenas em casos com pouca deformidade ou encurtamento. O uso de ondas de choque extracorpóreas para o tratamento de pseudartroses bem vascularizadas, com pouca mobilidade e com pele em más condições para abordagem cirúrgica, é uma alternativa a ser considerada, podendo oferecer resultados satisfatórios. 86 Pseudarthrosis site reaming yields osteosynthesis rigidity; rotational stability is obtained by nail blockage, whenever necessary. Axial compression is given by weight bearing, being allowed due to dynamic blockage. Bone tissue originated from medullary canal reaming functions as graft. External methods As advocated by Sarmiento, the weight bearing functional orthosis may be employed for tibial pseudarthroses(18). Fibular osteotomy is indicated when there is fibular bone healing, causing tibial varus deviation or avoiding bone pistoning, which is needed for bone healing. External fixators may also be employed in cases with no significant bone loss, as they allow pseudarthrosis site compression, promoting bone healing. Ultrasound The use of low-intensity, pulsed ultrasound has yielded acceleration of bone healing in acute fractures(19). Nolte et al demonstrated that ultrasound can also be employed in cases of pseudarthroses(20). Its mechanism of action seems to be related to a physical thermal effect at the pseudarthrosis site. Its limitation includes the use only for cases with little deformity or shortening. The use of extracorporeal shock waves for the treatment of highly vascularized, little mobility pseudarthroses having poor skin conditions for a surgical approach is an alternative to be considered, as it may offer satisfactory results. CONCLUSION The idea that pseudarthrosis is the termination of organism biological capability to cure the injury is not correct. Pseudarthrosis should be seen and understood as a halting of the natural bone healing process due to one or both following causes: instability above the organism natural capability to overwhelm and achieve bone healing, and/or bone with insufficient vascularity to produce bone tissue. The organism does not loose the capability of healing upon aging or senile osteoporosis. Nature is much more capable than we suppose. It is easy to observe normally healing fracture in aging patients. Adequate stabilization of frail bone – mainly surgical – is more difficult; and insufficient stabilization impairs bone healing. Examples are daily abundant in our clinics. Which is the mean healing time for correctly stabilized trochanteric fractures, for instance? Rev Bras Ortop _ Vol. 40, No 3 – Março, 2005 PSEUDARTROSE CONCLUSÃO A idéia de que a pseudartrose é o esgotamento da capacidade biológica do organismo para curar a lesão não é correta. A pseudartrose deve ser vista e entendida como uma parada do processo natural de consolidação devido a uma ou ambas as causas: instabilidade maior que a capacidade natural do organismo de superá-la para alcançar a consolidação e/ou osso com vascularização insuficiente para a produção de tecido ósseo. O organismo não perde a capacidade de consolidar com a idade ou com a osteoporose senil. A natureza é muito mais capaz do que supomos. É fácil observar fraturas consolidando normalmente em pacientes idosos. O que acontece é que a estabilização adequada, principalmente cirúrgica, de ossos debilitados é mais difícil e a estabilização insuficiente é o que prejudica a consolidação. Os exemplos são vistos diariamente em nossos ambulatórios. Qual é o tempo médio de consolidação das fraturas transtrocantéricas corretamente estabilizadas, por exemplo? Ou das fraturas de Colles tratadas com gesso, ou mesmo não tratadas? A maioria delas consolida normalmente nos pacientes idosos. As pseudartroses tratadas corretamente também consolidam em prazos semelhantes aos de uma fratura com características similares. O emprego de técnicas cirúrgicas adequadas para cada tipo de pseudartrose e para o perfil psicossocial do paciente leva ao sucesso em cerca de 90% dos casos. Quando bem sucedido, é um dos procedimentos mais gratificantes para o cirurgião, pois exige planejamento adequado e abordagem sistemática. É importante frisar que nenhuma técnica ou implante é ideal para todas as situações, nem para todos os cirurgiões. Or for Colles’ fractures treated by casting, or even left untreated? Most of them heal normally in elderly patients. Adequately treated pseudarthroses also heal at similar time lengths to a fracture with similar features. The employment of adequate surgical techniques for each type of pseudarthrosis and patient’s psychosocial profile leads to success in around 90% of cases. If successful, it is one of the most gratifying procedures for the surgeon, as it demands adequate planning and systematic approach. It is important to emphasize that neither technique nor implant is ideal for all situations or for all surgeons. REFERÊNCIAS / REFERENCES 1. Reis F.B., Faloppa F., Zumiotti A.W., et al: Tratamento das pseudartroses da diáfise dos ossos do antebraço com osteossíntese com placas de compressão e enxertia óssea autóloga. Rev Bras Ortop 38: 676-691, 2003. 2. Rosen H.: “Treatment of nonunion”. In: Operative orthopedics. Philadelphia, Lippincott-Raven, p. 489-509, 1988. 3. Perren S.M.: “The concepts of interfragmentary strains”. In: Current concepts of internal fixation of fractures. New York, Springer, 1980. 4. Müller M.E.: Treatment of nonunion by compression. Clin Orthop 43: 83, 1965. 5. Müller M.E., Allgöwer M., Shneider R.: Manual of internal fixation of fractures. New York, Springer, 1990. 6. Rosen H.: “Fracture healing and pseudarthrosis”. 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