Erro de Medicação: Relato de Experiência sobre Eventos Analisados e Melhorias Implementadas 1 2 3 4 5 Brasil, S.C. ; Filho, R. A. S. ; Gualberto, A. M. ; Guazzi, L. A. ; Lermontov, S.P. Centro de Transplante de Medula Óssea / Instituto Nacional de Câncer – RJ / Brasil 1 Especialista em Enfermagem Oncológica / INCA – Enfermeira Supervisora da Unidade dos Pacientes Internados CEMO / INCA 2 Especialista em Enfermagem Oncológica / INCA – Enfermeiro Gerente de Risco CEMO / INCA 3 Especialista em Enfermagem Oncológica / INCA – Enfermeira Coordenadora da Educação Permanente do CEMO / INCA 4 Especialista em Enfermagem do Trabalho / UFRJ – Enfermeiro Supervisor da Unidade de Pacientes Externos do CEMO / INCA 5 Mestre em Enfermagem pela EEAAC/UFF / Enfermeira Pesquisadora do NIEP do CEMO / INCA INTRODUÇÃO O relato que segue é produto da experiência de enfermeiros que trabalham em um Centro de TMO e participam da Equipe Multiprofissional de Análise de Eventos Sentinela, Eventos Adversos e Quase-Falhas. O Transplante de Células Tronco Hematopoéticas é uma modalidade terapêutica complexa, que utiliza altas doses de quimioterapia e / ou radioterapia, terapêutica imunossupressora entre outras drogas com grande potencial para ocorrência de eventos adversos importantes. A garantia da segurança do paciente é uma preocupação mundial, devido aos processos hospitalares serem considerados de alto risco para ocorrência de erros, que impõe a necessidade de um monitoramento de eventos adversos pró-ativo. Em nossa prática o monitoramento destes eventos, evidencia o erro de medicação como o mais frequente. Os erros de medicação, além de representarem um sério risco à saúde do paciente, também estão diretamente associados ao aumento de custos no serviço de saúde. Cerca de 30% dos danos durante as hospitalizações estão associados a erros na medicação. Pacientes que sofrem eventos adversos têm um aumento de 1,9 dia na permanência hospitalar, 1 além de elevar, em média, o custo do tratamento em 2 mil dólares . Já o custo anual de morbidade e mortalidade nos Estados Unidos, referente a erros na medicação foi 2 estimado em US$ 76,6 bilhões . A equipe de enfermagem constitui o elo final do processo de administração de medicamento e, geralmente, seus atos marcam a transição de um erro previsível para um erro real. Desse modo, o ônus dos erros tende a cair pesadamente sobre esse profissional. Cabe, ainda, à enfermagem a última oportunidade de interceptar o erro de medicação. OBJETIVO Nesse sentido, o objetivo deste estudo é descrever as estratégias utilizadas para prevenir erros e minimizar os danos decorrentes dos erros de medicamentos em Transplante de Células Tronco Hematopoéticas. METODOLOGIA Tipos de erros Paciente errado O presente trabalho é um estudo descritivo de relato da experiência dos autores na aplicação e avaliação do instrumento de notificação dos eventos adversos, quasefalha ou sentinela, utilizando o método de análise de causa raiz. RESULTADOS Erro de preparo Após análise dos instrumentos de notificações, os erros ocorridos foram identificados e categorizados como: erro de omissão, paciente errado, erro de dose, dose extra, erro de horário, erros de prescrição. A metodologia para análise dos erros foi a causa raiz com aplicação dos 5 porquês, afim de compreender o que ocorreu e os fatores envolvidos na ocorrência dos erros de medicações identificados. Em uma segunda etapa foram definidas as melhorias identificadas como necessárias para evitar os erros e minimizar os riscos. Quadro I - Categorização e definição dos erros de medicação - RJ 2011 Tipos de erros Paciente errado Erro de preparo Doses Extras Erros de prescrição Alergia relatada a medicamento prescrito Outros erros de medicação Definição Administração de medicamento ao paciente errado. Descrição do erro Prescrito ciclofosfamida (quimioterápico) para um paciente e administrado em outro. Doses Extras Erros de prescrição Alergia relatada a medicamento prescrito 5 Por quês? Estratégias ? Não houve dupla checagem quando se identificou o paciente. ? O paciente não foi chamado pelo nome completo. ? No momento da administração do medicamento não houve a confirmação do nome do paciente. ? Não foi feita a confirmação do rótulo da medicação com o nome do paciente. ? Não foi realizada a conferencia do nome e matrícula da prescrição do paciente. ? Falta de comunicação entre o farmacêutico e o enfermeiro; ? Foi considerada a recomendação de concentração máxima da solução, sem considerar o tempo de estabilidade da droga. ? Falta de comunicação entre a equipe assistencial sobre as alterações; ? Não havia registro no livro de discussão clínica diária a comunicação da suspensão da medicação. ? Realização de reunião com as pessoas envolvidas no evento; ? Disseminação das metas internacionais de segurança, a identificação correta do paciente. Abordando a necessidade de valorizar procedimentos básicos no processo de administração de medicação; ? No ambulatório, por exemplo, foi implantada uma pulseira de identificação do paciente que esta recebendo medicação. ? Realização de reunião com a farmácia enfatizando a rotina de preparo de acordo com o protocolo específico. ? Alteração da prescrição de forma inadequada; ? Rasura na prescrição médica; ? Desatenção ao registro da alergia relatada. ? Leitura incompleta da prescrição médica, pela equipe assistencial e farmacêutica. Conseqüência do erro Não houve repercussão para o paciente, pois o erro foi detectado com apenas 5 minutos de infusão, o que representou uma dose insuficiente para gerar danos ao paciente. Outros erros de medicação ? Falta de atenção quanto ao protocolo terapêutico; ? Disseminação interna precária dos protocolos terapêuticos; ? Não foi preenchido o cabeçalho da prescrição informatizada, onde consta a informação dos medicamentos específicos dos protocolos, com as datas nas quais os mesmos deverão ser prescritos; ? Estabelecer uma comunicação efetiva entre o médico e o enfermeiro para alteração da prescrição; ? Estabelecer uma comunicação efetiva entre os enfermeiros, para o aprazamento e impressão da alteração imediatamente. ? Realizada reunião com a equipe assistencial ressaltando a questão do registro correto sem rasuras na documentação médica. ? Reunião com a equipe assistencial e discussão da importância da leitura integral da prescrição médica e não somente dos itens prescritos; ? Discussão sobre a necessidade de implementação da identificação própria para paciente portador de alergia. ? Disseminação interna dos protocolos; ? Reunião com a equipe assistencial, farmacêuticos e técnicos da informática para análise da ocorrência e viabilidade de colocação de “alerta” da data da prescrição do MTX na prescrição eletrônica; ? Implementado o “sinal de alerta” na prescrição informatizada. Medicamento erradamente formulado ou manipulado antes da administração (reconstituição ou diluição incorreta, associação de medicamentos física ou quimicamente incompatíveis); armazenamento inadequado do medicamento; falha da técnica de assepsia; identificação incorreta do fármaco; escolha inapropriada dos acessórios de infusão. O medicamento (quimioterápico) foi diluído fora do padrão estabelecido no protocolo terapêutico. Sendo necessário aumentar o tempo de infusão da medicação, comprometendo a estabilidade da droga com perda de sua ação terapêutica. Não houve repercussão para o paciente, pois o erro foi detectado em tempo, solicitado novo preparo da droga, sendo administrado apenas com atraso do horário. Administração de uma dose a mais além da que foi prescrita ou de algum medicamento que foi suspenso. Seleção incorreta do medicamento, dose, apresentação, via de administração, velocidade de infusão, instruções de uso inadequadas feitas pelo médico, não registro de uma prescrição verbal, prescrição ilegível e rasuras na prescrição. Prescrição onde esteja prescrito um medicamento ao qual o paciente tenha alergia. Administrado no paciente medicamento já suspenso. Houve repercussão para o paciente, apresentando aumento do nível sérico da creatinina. Prescrição rasurada pelo médico, provocando erro na leitura da prescrição e conseqüente erro no aprazamento e administração do medicamento. Não houve repercussão para o paciente, pois o erro foi detectado, sendo realizada modificação no protocolo original. Palavras Chaves: erros de medicação; segurança do paciente; causa raiz. Quaisquer outros erros não enquadrados nas classificações anteriormente descritas O medicamento não foi prescrito, portanto não houve dispensação do mesmo pela farmácia não sendo administrado no horário pré-estabelecido Houve repercussão para o paciente, apresentando reação adversa importante com quadro clínico de hipersensibilidade ao medicamento. Não houve repercussão para o paciente, pois o erro foi detectado a tempo, sendo administrado apenas com atraso no horário. BERWICK, D. M.; LEAPE. L. L. Reducing errors in medicine. BMJ, v. 319, p. 136 – 137, 1999. BERWICK, D. M. et al. Melhorando a qualidade dos serviços médicos, hospitalares e da saúde. Trad. de José Carlos Barbosa dos Santos. São Paulo: Makron Books, 1994. ANDERSON, J. G. et al. Evaluating the capability of information technology to prevent adverse drug events: a computer simulation approach. J. Am. Med. Inform Assoc., v. 9, n. 5, p. 479-490, 2002. TEIXEIRA, T. C. A.; CASSIANI, S. H. D. B.; Análise de causa raiz: avaliação de erros de medicação em um hospital universitário. Revista da Escola de Enfermagem USP 2010; 44(1):139-46. BELELA, A. S. C.; PETERLINI, M. A. S; PEDREIRA, M. L. G.; Revelação da ocorrência de erro de medicação em unidade de cuidados intensivos pediátricos. Revista Brasileira de Terapia Intensiva. 2010; 22(3): 257-263. SILVA, A. M. S.; Erros de medicação médica de pacientes hospitalizados. Einstein. 2009; 7(3 pt 1): 2904. Prescrição de medicamento ao qual o paciente tinha alergia relatada. CONSIDERAÇÕES Não sendo diferente de outras realidades o erro de medicação tem sido comum. A otimização do Sistema de monitoramento dos eventos adversos é uma estratégia necessária para contribuir na transformação da cultura de omissão dos erros de medicação, reduzindo o problema da subnotificação do evento. Entendemos que a ferramenta estudo causa raiz é facilitadora para garantir a manutenção dos processos de melhorias por envolver um grupo de profissionais e assim aumentar a responsabilidade e credibilidade da ação, o que reduz possibilidade de reincidência do erro. BIBLIOGRAFIA Projeto Gráfico: Serviço de Edição e Informação Técnico-Científica / CEDC / INCA Quadro II - Análise dos 5 Por Quês para chegar a causa raiz