1 Mapeamento de Campo Elétrico de Torres de Linha de Transmissão de Alta Tensão Utilizando o Método dos Elementos Finitos R. M. R. Barros, E. G. da Costa, Membro, SBA e C. N. P. de Sá Resumo--Este trabalho apresenta um estudo sobre o comportamento do campo elétrico e sua influência nas proximidades de linhas de transmissão de alta tensão, visto que a presença de campos elétricos intensos pode produzir interações com organismos vivos de efeito danoso. O estudo foi realizado por meio de simulações computacionais baseadas no Método dos Elementos Finitos. Com os resultados foi possível determinar se os valores obtidos estão de acordo com os limites de campo elétrico impostos pelo Art. 4º da Lei nº 11.934, de 5 de maio de 2009. Alguns valores foram confrontados com uma experiência de medição de campo elétrico real, e mostraram-se bastante coerentes. O método desenvolvido pode ser utilizado como um auxílio valioso no processo de avaliação de campo elétrico em estruturas complexas. Palavras-Chave--Mapeamento de Campo Elétrico, Linhas de Transmissão, Método dos Elementos Finitos. Abstract--This paper presents a study on the deportment of electric field and its influence in close proximity to lines of high voltage transmission, given that the presence of intense electric fields can produce interactions with living organisms of harmful effects. The study was realized by computer simulations based in Finite Element Method. With the results was possible to determine if the values obtained meets the limits of electric field imposed by the Art. 4º of Law nº 11.934, of May 5 2009. Some values were confronted with an experience of real measurement of electric field, and showed very coherent. The method developed can be used as a valuable assistance in the evaluation process of electric field in complex structures. Index Terms--Mapping of Electric Field, Transmissions Lines, Finite Elements Method. I. INTRODUÇÃO C AMPO elétrico é um campo de força provocado por cargas elétricas, ou por um sistema de cargas, quando imersas num campo elétrico as cargas ficam submetidas à ação Este trabalho teve suporte financeiro do CNPq, na manutenção da bolsa dos pesquisadores. E. G. da Costa é professor do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Campina Grande (DEE/UFCG), Av. Aprígio Veloso, 882, Campina Grande - PB (autor correspondente, fone: +55 83 21011303; fax: +55 83 331014; e-mail: [email protected]). R. M. R. Barros é aluno de graduação do DEE/UFCG e pesquisador de iniciação científica do CNPq (e-mail: [email protected]). C. N. P. de Sá é engenheiro da Chesf em Fortaleza – CE (e-mail: [email protected]). de uma força elétrica [1]. Os possíveis efeitos sobre a saúde humana decorrentes da exposição a campos elétricos e magnéticos de frequência extremamente baixa (faixa compreendida entre 3 Hz e 3 kHz) têm gerado uma crescente preocupação da opinião pública nos últimos anos. Sabe-se que exposições exageradas aos campos podem ser nocivas a saúde, no entanto, os estudos ainda não são conclusivos quanto à determinação de um nível de exposição seguro nem quanto à real gravidade dos efeitos em organismos vivos [2]. No Brasil, com o objetivo de regulamentar a exposição aos campos, estabeleceu-se no Art. 4º da Lei nº 11.934, de 5 de maio de 2009, os limites recomendados pela Organização Mundial de Saúde - OMS. Na lei são consideradas as exposições ocupacional e da população em geral. A mesma estabelece limites a campos elétricos, magnéticos e eletromagnéticos gerados por sistemas que operam na faixa até 300 GHz. Na TABELA I são apresentados os limites recomendados pela OMS [3]. TABELA I NÍVEIS DE EXPOSIÇÃO MÁXIMA RECOMENDADOS PELA OMS Público em Geral População Ocupacional Campo Elétrico (kV/m) Campo Magnético (µT) 4,17 8,33 83,33 416,67 A Lei nº 11.934 atribuiu competência à Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL a tarefa de regularizar e fiscalizar o atendimento aos limites expostos relativos aos serviços de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, desde então muitas empresas estão passando, e muitas passaram num futuro próximo, por um processo de adaptação. Linhas de transmissão (LT) de energia elétrica produzem elevados campos elétricos e magnéticos. Neste contexto, é de grande importância que técnicas eficientes possam ser aplicadas na avaliação da intensidade e na distribuição de campos elétricos para que se possam estabelecer zonas seguras nas proximidades dos arranjos elétricos energizados. A avaliação tanto pode ser feita experimentalmente através de medições em campo, mais comum atualmente, ou via simulações computacionais. O objetivo deste trabalho é a aplicação de um método computacional para avaliação da distribuição do campo elétrico nas proximidades de torres de linhas de transmissão de 2 alta tensão. As simulações computacionais são baseadas no Método dos Elementos Finitos (MEF). Assim, pretende-se, a partir das simulações, avaliar a distribuição do campo elétrico nas vizinhanças das torres de LT, com o intuito de averiguar se os valores obtidos condizem com os níveis de campo elétrico recomendados por lei. O trabalho também tem como objetivo investigar os potenciais induzidos em dutos metálicos no solo e em um ser humano, como também a determinação da tensão de toque e da tensão de passo, nas vizinhanças da torre. II. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA A. Exposição a Campos Elétricos As linhas de transmissão são configurações eletro-mecânica que possibilita o transporte da energia elétrica de um ponto transmissor a um terminal receptor. Elas geram campos elétricos e magnéticos que são irradiados nas suas proximidades [4]. A presença dos campos produz interações com os organismos vivos, e eventualmente podem vir a causar efeitos adversos nos sistemas biológicos pela exposição a longo prazo. Entre os possíveis problemas apontados na bibliografia está o aparecimento de quadros de leucemia em populações de crianças que vivem próximo as linhas e em trabalhadores do setor elétrico. A literatura também cita transtornos hormonais, efeitos genéticos e celulares, entre outros [4]. As intensidades de campo diminuem em função do quadrado da distância entre a fonte geradora e ponto onde se mede o campo [1]. Por isso é importante que se conheça a configuração do campo elétrico para que se possa determinar a região segura de interação entre seres vivos e as fontes de campo. A determinação ou modelagem das configurações de campos pode ser feita através de equações diferenciais parciais cuja solução analítica é dificultada em casos complexos, como nas proximidades de uma LT. O uso de técnicas numéricas computacionais tem possibilitado a estimação da distribuição mesmo em regiões de alta complexidade. B. Método dos Elementos Finitos O Método dos Elementos Finitos é um método numérico inicialmente desenvolvido por Alexander Hrennikoff (1941) e Richard Courant (1942), e é utilizado para se obter soluções aproximadas de equações diferenciais parciais e de equações integrais em situações onde é impossível ou extremamente complicado se obter uma solução analítica exata [5]. As soluções aproximadas são obtidas pela eliminação completa das equações diferenciais, ou ainda na transformação das equações diferenciais parciais em um sistema de equações diferenciais ordinárias, ou seja, há uma subdivisão do problema em diversos problemas menores e correlatos [6], processo conhecido como discretização. Os pontos comuns entre os elementos são os nós, onde os resultados das análises devem ser computados. Na Figura 1 é possível observar as etapas da discretização de um isolador de vidro. Figura 1 - Etapas da discretização de um isolador de vidro. O MEF é indicado para a obtenção da solução de equações com um domínio de alta complexidade, e equações cuja solução se modifica de acordo com a variação do domínio, porque o método divide o problema global em diversos problemas menores ou locais. Devido à redução do custo computacional, o MEF passou a ser amplamente utilizado e tem apresentado resultados muito preciso, satisfazendo a necessidade dos problemas a que o método é aplicado [7]. C. Comsol Multiphysics® O COMSOL Multiphysic1 é um software desenvolvido para análise de problemas físicos, modelagem e simulação. Ele foi desenvolvido com base na teoria do MEF, ou seja, trabalha realizando aproximações das soluções de equações diferenciais parciais. As principais vantagens do software são sua robustez e a possibilidade de representar graficamente o objeto a ser estudado. Após o desenho do modelo, são atribuídas diretamente às regiões do mesmo as constantes e grandezas físicas, não sendo necessária a construção das equações do MEF ou a criação de algoritmos de solução. O software também permite uma visualização das soluções das mais variadas formas, entre elas, os mapas de cores e a representação da solução por linhas equipotenciais. Para obter as soluções de problemas utilizando o software, necessita-se definir a geometria da região onde o problema deve ser resolvido, indicando as características físicas de cada sub-região e as condições de contorno. III. MATERIAL E MÉTODOS A. Medições em Campo A Companhia Hidroelétrica do São Francisco - Chesf vem realizando medições de campos elétricos e magnéticos em suas instalações. As campanhas de medições fazem parte de uma ação operacional para determinar os campos elétricos e magnéticos em todas as instalações do grupo Eletrobrás, do qual a Chesf faz parte, a fim de que se possam detectar as regiões onde os campos elétricos e magnéticos superam os limites estabelecidos pela Lei nº 11.934. Nas linhas de transmissão, as medições de campo elétrico iniciam-se no centro do vão da linha, e são realizadas sucessivamente afastando-se do ponto inicial, em geral são registrados os valores a cada cinco metros e são realizadas não menos do que sete medições, até que as medições indiquem valores inferiores aos previstos pela Lei nº 11.934. É 1 COMSOL Multiphysics é marca de COMSOL AB. 3 importante também registrar os pontos onde ocorrem os valores máximos de campo elétrico. Foram utilizados dados de medições realizadas pela Chesf na comparação com os resultados das simulações. Os dados obtidos nas medições serviram de referência para validação dos resultados obtidos nas simulações. B. Construção do Modelo Gráfico O primeiro passo para realização da simulação foi a construção do modelo gráfico do arranjo a ser analisado, devido às limitadas ferramentas de modelagem 3D disponíveis na plataforma de simulação. A construção foi realizada no software AutoCAD®2, ao final da modelagem o desenho do arranjo foi importado pelo software de simulação. Mesmo com a utilização de um software de modelagem específico em alguns casos, o modelo apresentou um esforço computacional muito grande, inviabilizando a simulação por esforço computacional. Algumas simplificações na geometria a ser simulada foram realizadas, como por exemplo, a redução do refinamento para a representação das curvas do modelo. É importante ressaltar que as simplificações implementadas praticamente não alteram a distribuição do campo elétrico no modelo, e principalmente nas áreas de interesse. Assim, foram simulados três modelos distintos, inicialmente foi escolhido um modelo simples de torre de distribuição de 13,8 kV, para se avaliar os resultados de forma mais segura, posteriormente foi simulada uma torre de transmissão de alta tensão e linha trifásica de 500 kV, e finalmente uma torre de transmissão de circuito trifásico duplo de 345 kV. Na Figura 2 são apresentados os modelos gráficos construídos para as estruturas simuladas. (a) C. Atribuição das Características Físicas Após a modelagem determinou-se as grandezas e constantes físicas que caracterizam cada material que constitui o arranjo. A maioria dos valores das constantes físicas está presente na biblioteca do próprio simulador, todas as constantes utilizadas encontram-se na TABELA II. A fim de se obter os valores de tensão induzida em um ser humano foram utilizados, blocos com a permissividade da água, principal constituinte do corpo humano e resistência de 1 kΩ, usualmente associada à resistência do corpo humano. TABELA II CONSTANTES ATRIBUÍDAS AOS MATERIAIS PRESENTES NAS SIMULAÇÕES A Material εr - Permissividade Relativa σ - Condutividade Elétrica (S/m) Ar Terra Água Concreto Vidro Ferro Alumínio Aço 1,00 50,00 A 80,00 A 1,00 4,20 1,00 1,00 1,00 0,00 1,00 x 10-3 B 1,00 x 10-2 0,00 1,00 x 10-14 1,12 x 107 3,77 x 107 4,03 x 106 Retirado de [8], B Retirado de [9], Demais retirados de COMSOL Multiphysics®. Posteriormente, foram determinadas as condições de contorno do problema para finalmente se obter a solução. Após gerada a solução, o software fornece a distribuição do campo elétrico em todo o espaço, também é possível determinar o valor em um ponto específico do espaço. Na Figura 3 pode ser observada a distribuição fornecida. (b) Figura 3 - Distribuição do campo elétrico fornecida pelo software de simulação. (c) Figura 2 - Modelo gráfico para (a) torre de distribuição de 13,8 kV, (b) torre de transmissão de 500 kV e (c) torre de transmissão de 345 kV. 2 AutoCAD é marca de AutoDesk, Inc. 4 D. Cálculo do Valor Eficaz Em sistemas de corrente alternada os valores de corrente e tensão variam no tempo descrevendo uma função senoidal [10], logo o campo elétrico oriundo destes sistemas também varia descrevendo uma função do mesmo tipo. Apesar do software de simulação ser capaz de realizar simulações com parâmetros variantes no tempo, este tipo de simulação gera um esforço computacional excessivo. Por isso, optou-se por realizar simulações com parâmetros estáticos, assim os resultados obtidos representam valores instantâneos do campo elétrico, contudo a lei refere-se a valores eficazes. O valor eficaz de um sinal senoidal pode ser calculado dividindo seu valor de pico por raiz quadrada de dois [10], infelizmente o cálculo não é tão simples neste caso, por que existem três fontes (as fases) geradoras de campo. As três fases do sistema que estão defasadas 120° entre si e, por isso, não passam pelo valor de pico ao mesmo tempo. Uma forma aproximada de calcular o valor eficaz foi encontrada realizando-se varias simulações em cadeia, variando a posição das fases de 30° em 30°, obtendo assim doze valores diferentes de campo elétrico. Os valores foram interpolados e como era esperado descrevem uma função aproximadamente senoidal, assim o valor eficaz aproximado pôde ser obtido calculando-se a média quadrática dos pontos interpolados. Determinou-se com as simulações o valor do campo elétrico máximo a 1,5 m do solo e o ponto onde o mesmo ocorre, uma vez que é a esta altura que o campo elétrico é validado pela medição na subestação de propriedade da Chesf. O ponto representa o pior caso em termos de exposição, por isso é nele onde serão determinados os demais valores. Em seguida, calculou-se o valor eficaz do campo elétrico no referido ponto, o potencial induzido em um duto metálico, constituído de aço, com raio de 10 cm, localizado 1,5 m abaixo do solo, e em um ser humano localizado no ponto de exposição máxima, finalmente determinou-se a tensão de passo no mesmo ponto, além da tensão de toque entre o duto metálico e o solo. do vão o campo elétrico era de 3,4 kV/m, e o valor máximo do campo elétrico registrado foi de 5,6 kV/m, localizado a 12,5 m do centro do vão. Na simulação, o valor eficaz do campo elétrico no centro do vão foi de 3,1 kV/m, enquanto que o valor máximo foi de 6,1 kV/m a 8 m do centro do vão. Considerando-se que este resultado foi obtido a partir de um modelo de torre semelhante, e não igual, e que não se dispunha de inúmeras informações como resistência do solo e características dos cabos, verifica-se que os resultados da simulação são aceitáveis, visto que o campo no centro do vão apresentou uma discrepância de apenas 8,82%. O resultado da simulação é apresentado no gráfico da Figura 4, o gráfico representa o valor de pico do campo elétrico, não o valor eficaz, o valor eficaz foi obtido através dos métodos descritos, é possível verificar que a cerca de 8 m do vão da linha o valor eficaz do campo é de 6,1 kV/m, ultrapassando o limite de exposição para população em geral. No entanto espera-se que em um arranjo desse tipo a população em geral não se aproxime a esta distância. Deve ser considerado, portanto, a exposição da população ocupacional, e para este caso o valor do campo elétrico está em conformidade com o estabelecido pela Lei nº 11.934. IV. RESULTADOS E DISCUSSÕES A seguir serão apresentados separadamente os resultados para cada estrutura simulada, sendo apresentado em cada caso um gráfico que representa o campo elétrico ao longo de uma reta na direção perpendicular a direção dos cabos, a uma altura de 1,5 m do solo no ponto de exposição máxima, conforme pode ser visto nas Figura 4, Figura 5 e Figura 6. Também estão apresentados em forma de tabela, os resultados dos outros parâmetros obtidos na simulação. A. Torre de Transmissão de 500 kV A validação do método foi feita comparando-se os resultados com medições feitas em campo com os resultados das simulações. Para tanto, utilizou-se os resultados de medições realizadas pela Chesf. As medições foram realizadas em uma torre de 500 kV, cujo modelo semelhante foi usado nas simulações. Os resultados da medição em campo indicam que no centro Figura 4 - Campo elétrico na torre de transmissão de 500 kV a 1,5 m do solo, na direção perpendicular a dos cabos no ponto de exposição máxima. Na TABELA III são apresentados os resultados dos outros parâmetros obtidos na simulação, os mesmos constituem valores admissíveis e próximos aos valores típicos mostrandose qualitativamente corretos. TABELA III RESULTADOS DA SIMULAÇÃO PARA TORRE DE TRANSMISSÃO DE 500 KV Resultados Valor Unidade Valor Máximo do Campo Elétrico 8,7 kV/m Valor Eficaz do Campo Elétrico 6,1 kV/m Potencial Induzido no Duto Metálico 49,0 V Potencial Induzido num Ser Humano 495,0 V Tensão de Passo 10,0 V Tensão de Toque 114,0 V 5 B. Torre de Distribuição de 13,8 kV A análise do gráfico na Figura 5 mostra que, como era esperado, para uma estrutura de distribuição, o campo elétrico obtido é muito inferior ao limite previsto pela Lei nº 11.934. O valor máximo registrado foi de 88 V/m ou 0,088 kV/m e ocorre a cerca de 3 m de distância do centro do vão da linha. Figura 6 - Campo elétrico na torre de transmissão de 345 kV a 1,5 m do solo, na direção perpendicular a dos cabos no ponto de exposição máxima. Figura 5 - Campo elétrico na torre de distribuição de 13,8 kV a 1,5 m do solo, na direção perpendicular a dos cabos no ponto de exposição máxima. TABELA IV RESULTADOS DA SIMULAÇÃO PARA TORRE DE DISTRIBUIÇÃO DE 13,8 KV Resultados Valor Unidade Valor Máximo do Campo Elétrico 0,088 kV/m Valor Eficaz do Campo Elétrico 0,062 kV/m Potencial Induzido no Duto Metálico 3,0 V Potencial Induzido num Ser Humano 10,0 V Tensão de Passo 4,0 V Tensão de Toque 13,0 V Todos os resultados apresentados na Tabela IV são compatíveis com os valores típicos em medições com arranjos e tensões em nível da distribuição. C. Torre de Transmissão de Circuito Duplo de 345 kV Vale registrar que a Chesf não possui linhas de transmissão de 345 kV, no entanto, a simulação foi feita para mostrar as potencialidades da metodologia. A análise do gráfico na Figura 6 mostra que o valor máximo do campo elétrico ocorre sob o vão da linha a 15,0 m de distância da torre e seu valor é 4,7 kV/m, para este caso o valor eficaz do campo elétrico calculado foi de 3,4 kV/m, mais uma vez verificou-se que o arranjo encontra-se em conformidade com o estabelecido pela Lei nº 11.934. Observa-se na Tabela V que os valores de potencial induzido são muito elevados em relação aos demais casos simulados, isso se deve a alguns fatores como, a distribuição dos cabos na torre, o nível de tensão e ao fato de tratar-se de uma torre de circuito duplo, representando assim duas fontes distintas de campo elétrico. TABELA V RESULTADOS DA SIMULAÇÃO PARA TORRE DE TRANSMISSÃO DE 345 KV Resultados Valor Unidade Valor Máximo do Campo Elétrico 4,7 kV/m Valor Eficaz do Campo Elétrico 3,4 kV/m Potencial Induzido no Duto Metálico 775,0 V Potencial Induzido num Ser Humano 2192,0 V Tensão de Passo 22,0 V Tensão de Toque 183,1 V V. CONCLUSÃO A validação da metodologia foi realizada utilizando-se de medições de campo elétrico in loco para uma linha de transmissão de 500 kV e as comparando com os resultados das simulações. Os resultados demonstraram que para as estruturas simuladas os valores de campo elétrico estão de acordo com as exigências na Lei nº 11.934, de fato as campanhas de medições da Chesf mostram que apenas algumas linhas que operam em faixas próximas a 500 kV têm apresentado discordância com a referida lei. Os valores obtidos nas simulações mostram-se bastante coerentes, principalmente quando confrontados com a experiência de uma medição de campo elétrico. Os resultados evidenciam que o método de simulação desenvolvido neste trabalho pode ser utilizado como um auxílio valioso no processo de avaliação do campo elétrico de estruturas complexas. No momento, a utilização de um software é bastante oportuna, pois medições in loco são onerosas, sua estimação dependem da construção das linhas. Simulações podem ser feitas para orientar as concessionárias na estimação do campo elétrico para as linhas a serem construídas, do potencial induzido no duto metálico, no potencial induzido num ser humano, na tensão de passo e tensão de toque. 6 VI. AGRADECIMENTO Os autores agradecem a Chesf e a P. B. Vilar pela contribuição no desenvolvimento deste trabalho e ao CNPq pela manutenção das bolsas (PIBIC e produtividade em pesquisa) dos pesquisadores da UFCG. VII. REFERÊNCIAS [1] A. P. Tipler and G. Mosca, Física para Cientistas e Engenheiros: Eletricidade e Magnetismo, Ótica, vol. II. Rio de Janeiro: LTC, 2006. [2] T. D. Monteiro. (2008, Abr.). Linhas de Transmissão de Energia Elétrica de Alta Tensão e os Efeitos dos Campos Eletromagnéticos – CEM – na Saúde. [Online]. Disponível em: http://knol.google.com/k/telma-monteiro/linhas-de-transmissão-deenergia/3ojughtnczptc/2. [3] Resolução Normativa nº 398, Resolução ANEEL, Mar. 2010. [4] R. F. Moreno and L. C. Moreno, "Possíveis efeitos na Saúde Humana Decorrentes da Exposição a Campos Eletromagnéticos de Baixa Frequência," in XVI Seminário Nacional de Produção e Transmissão de Energia Elétrica, Campinas, Brasil, Outubro 2001. [5] D. H. Norrie and G. Vries, An Introduction to Finite Element Analysis. Waltham: Massachusetts Academic Press, 1978. [6] M. Morie, The Finite Element Method and Its Applications. London: Macmillan Publishing Company, 1983. [7] P. J. Waterman, "Meshing: The critical bridge," Desktop Engineering Magazine, 2008. [8] E. T. Tuma, "Proposta de um novo modelo para análise dos comportamentos transitórios e estacionários de sistemas de aterramento, usando-se o Método FDTD," M. Sc. dissertação, Dept. Eng. Elétrica, Univ. Federal do Pará, Belém, 2008. [9] C. V. A. Cavalcanti, "Uma rotina computacional para estratificação: Desenvolvimento e aplicação a solos do nordeste," M. Sc. dissertação, Dept. Eng. Agrícola, Univ. Federal da Paraíba, Campina Grande, 1991. [10] S. S. Haykin, Sinais e Sistemas. Porto Alegre: Bookman Company, 2000. VIII. BIOGRAFIAS Rafael Mendonça Rocha Barros nasceu em abril de 1992 em Palmeira dos Índios, Alagoas, Brasil. Obteve o título de Técnico em Eletrotécnica em 2009, pelo Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia de Alagoas (IFAL). Atualmente é graduando do curso de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), onde é bolsista de iniciação científica PIBIC/CNPq. Suas áreas de interesse incluem: Mapeamento de Campos Elétricos, Método dos Elementos Finitos, Sistemas de Isolamento e Simulações Computacionais de Campos Eletromagnéticos. Edson Guedes da Costa nasceu em 1954 em Ribeirão, Pernambuco, Brasil, e deu início a sua carreira acadêmica em Areia, Paraíba, Brasil. Obteve os títulos de bacharel, mestre e doutor em Engenharia Elétrica, respectivamente em 1978, 1981 e 1999 (Universidade Federal da Paraíba). Desde 1978 trabalha como professor na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Paraíba, Brasil. Seus interesses profissionais incluem equipamentos de alta tensão, mapeamento de campo elétrico, descargas parciais, método dos elementos finitos, páraraios e sistemas de isolamento. O Dr. Guedes também é membro do CIGRÈ, ABENGE e SBA. Clarence Ney Pires de Sá nasceu em novembro de 1961 em Sousa, Paraíba, Brasil. Obteve o título de Engenheiro Eletricista em 1983 pela Universidade Federal de Pernambuco. Concluiu MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas em 2002. Desde 1985 trabalha como engenheiro na Companhia Hidroelétrica do São Francisco – CHESF. Atualmente atua na operação de instalações de alta tensão em Fortaleza, Ceará, Brasil. Seus interesses profissionais incluem equipamentos de alta tensão, mapeamento de campos elétricos, operação de instalações de alta tensão e operação de sistemas elétricos.