64 Arquivos Catarinenses de Medicina - V. 34 - Supl. nº. 2 de 2005 - S 1806-4280/05/34 - S 2/64 Arquivos Catarinenses de Medicina XVI Congresso Catarinense de Medicina RESUMO Tuberculose miliar em paciente imunocompetente – relato de caso Neves GK, Barcelos Jr AA, Trevisol PM, Burigo IP, Pinto LG Introdução: O termo tuberculose miliar foi descrito, primeiramente, devido à semelhança das lesões com sementes moídas, onde, atualmente, é relacionado com tuberculose hematogênica disseminada e progressiva. A doença pode ser dividida em três grupos: 1. Tuberculose Miliar Aguda: é mais comumente observada em indivíduos adultos e geralmente com doenças concomitantes ou condições que confundem o diagnóstico. Diversos estudos mostram a relação entre tuberculose miliar e outras condições que são facilitadores da doença como, alcoolismo, cirrose hepática, neoplasia, gravidez, doença reumatológica, imunocomprometimento e tratamento com agentes imunossupressores. Tal forma da doença pode apresenta sintomas generalizados como febre, anorexia, astenia e perda de peso, também pode apresentar sintomas que sugerem formas extrapulmonares como cefaléia, dor abdominal e dor pleurítica. Os achados físicos são comumente inespecíficos, mas uma pesquisa em busca de erupções cutâneas, massas escrotais e pesquisa de linfonodomegalias pode sugerir biópsia em tais achados. Um raio X de tórax com infiltrados bilaterais é o achado mais sugestivo para tal forma da doença. As culturas de escarro, de amostra gástrica, de urina e do LCR podem estar positivas, mas apenas amostras únicas de escarro e secreções pulmonares são positivas em um terço dos casos. Análise histológica dos tecidos confirma o diagnóstico. Hemoculturas para o M. tuberculosis podem ser positivas. A biópsia transbrônquica é a melhor maneira de se obter tecido e deve ser realizada prontamente após a suspeição do diagnóstico. A terapêutica, nesse caso deve ser iniciada o mais rapidamente possível, visto que os níveis de mortalidade decaem consideravelmente após o início do tratamento. 1. Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI - Itajaí - SC. 64 2. Tuberculose Miliar Criptíca e Tuberculose Generalizada Tardia (Hematogênica Crônica): a tuberculose orgânica crônica é, provavelmente, associada com disseminação hematogênica intermitente e não progressiva, entretanto, em alguns indivíduos alguns fatores, como idade e fatores imunitários, a disseminação sanguínea torna-se contínua e progressiva. O termo tuberculose miliar críptica descreve os pacientes mais velhos com tuberculose miliar em que o diagnóstico ficou obscuro devido aos RX de tórax estarem normais, os testes tuberculínicos permanecerem negativos e, por vezes, a presença de outras patologias em que os sintomas se confundiram ou foram atribuídos erroneamente. Geralmente esse diagnóstico é feito por autópsia. O foco responsável pela disseminação é geralmente silencioso. O quadro clínico geralmente engloba febre de origem obscura com teste tuberculínico negativo e raio X de tórax normal. 3. Tuberculose Não Reativa: a aparência histológica nessa forma rara de tuberculose hematogênica disseminada mostra necrose não específica contendo polimorfonucleares desintegrados e altas quantidade de bacilos tuberculosos. A clínica é grave com sepse e esplenomegalia. Anormalidades hematológicas severas são comuns nessa forma de apresentação da doença. Alguns pacientes com tuberculose tardia e generalizada e maioria com tuberculose não reativa, têm sérias alterações hematológicas, incluindo leucopenia, trombocitopenia, anemia, reação leucemóide, mielofibrose e policitemia. Tuberculose disseminada deve ser considerada quando há a associação de pancitopenia, febre e perda de peso ou como uma causa obscura de desordens hematológicas. Objetivo: Relatar um caso de tuberculose miliar em paciente imunocompetente. Relato do caso: A.N.B., 55 anos, negra, amaziada, cozinheira, natural e procedente de Itapema. Procura atendimento médico com queixa de “falta XVI Congresso Catarinense de Medicina de ar”. Paciente refere que há 2 meses apresentou dispnéia aos médios esforços, de início súbito. Negava ortopnéia, tosse, febre. Foi internada na cardiologia com o diagnóstico de ICC (SIC). Recebeu alta com melhora parcial do quadro. Retornou ao pronto atendimento algumas vezes neste período, sendo tratada como ICC e com melhora parcial dos sintomas. Retorna ao ambulatório com tosse seca, dispnéia aos pequenos esforços, febre, sudorese, perda ponderal de 5 Kg (60-55 kg em 2 meses), sendo internada para investigação. Nega sintomas gastrointestinais, genito-urinários e em pele. Paciente refere 3 gestações que evoluíram com parto normal. DUM há uma semana. Nega outras doenças ou internações. Na história familiar relata que o pai faleceu aos 70 anos por complicações do DM e a mãe faleceu aos 68 anos por insuficiência cardíaca. Reside em casa de alvenaria com condições adequadas de saneamento básico. Nega etilismo e tabagismo. Ao exame físico encontra-se em REG, lúcida, orientada, normocorada, hidratada, acianótica, taquipnéica (FR: 30mrpm), anictérica. Ausência de turgência jugular. PA: 130/ 90mmHg, FC: 110bpm e TAx: 37,5°C. Gânglios não palpáveis. Ausculta cardíaca com bulhas normofonéticas, ritmo cardíaco regular em 2 tempos e com sopro holossistólico em foco aórtico +++/6+. Ausculta pulmonar murmúrio vesicular presente e simétrico e presença de estertores crepitantes bibasais. Abdome sem alterações. Pulsos periféricos presentes e simétricos. Edema de MMII +/4+. Na investigação apresentou: hemograma normal, VHS: 75mm, creatinina 1,71mg/dl, uréia 82mg/dl, LDH 682U/l. Glicemia e eletrólitos normais. Gasometria com alcalose respiratória compensada. Rx de tórax com infiltrado micronodular difuso. Foi solici- Arquivos Catarinenses de Medicina - V. 34 - Supl. nº. 2 de 2005 - S 65 tado então tomografia computadoriza de tórax que evidenciou um inflitrado intersticial reticulo-nodular difuso, sem outras alterações. A pesquisa de BAAR, hemocultura e anti-HIV foram negativas. A paciente foi então submetida à biópsia pulmonar por toracotomia e o exame anatomo-patológico evidenciou um processo inflamatório crônico granulomatoso-caseoso, sugestivo de tuberculose miliar, confirmando o diagnóstico. Conclusão: A tuberculose, por apresentar quadros clínicos multivariados, em especial a forma miliar, deve sempre ser investigada em pacientes com sintomas inespecíficos, mesmo na ausência de um estado de imunodepressão evidente. Descritores: 1. Tuberculose miliar; 2. Imunocompetente. Referências Bibliográficas 1. Sharma SK, Mohan A, Pande JN, Prasad KL, Gupta AK. Clinical profile, laboratory characteristics and outcome in miliary tuberculosis. 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