XXII ENANPAD – de 27 a 30 de setembro de 1998– Foz do Iguaçú -1PR ESTRATÉGIAS GENÉRICAS NA INDÚSTRIA DE ENERGIA ELÉTRICA : PROPOSTAS PARA UM NOVO CENÁRIO INSTITUCIONAL Autores: Ary Pinto Ribeiro Filho e Walter Fernando Araújo de Moraes Resumo O setor elétrico brasileiro esta passando por profunda reestruturação, com a privatização das empresas estatais e a introdução da competição em todo o país. Utilizando as idéias de Porter (1986 e 1989) e Mintzberg (1995) sobre ambiente industrial e estratégia competitiva, e os resultados de pesquisa obtidos por Ribeiro (1997), este artigo apresenta as prováveis características da estrutura que moldam a competição entre empresas, bem como suas estratégias básicas, na indústria de energia elétrica do sistema interligado do NorteNordeste brasileiro no novo cenário, após a implementação das modificações propostas pelo Governo 1 Introdução Oriunda das discussões sobre a reforma do Estado, iniciadas na Europa no início dos anos 80, emergiu a visão de que o Estado deveria retirar-se das atividades empresariais e concentrar seus esforços e recursos nas atividades a ele inerentes, mais ligadas às questões sociais, e aos papéis de agente regulador e de condutor da política econômica. Essa política, ao ser aplicada ao setor elétrico, levou muitos países a reverem seu modelo institucional baseado em monopólios estatais. Procurou-se assim atrair a participação do capital privado, introduzir a competição na geração de energia e oferecer liberdade de compra para os consumidores, fazendo valer as leis de mercado. Tais reformas institucionais foram acompanhadas pelo desenvolvimento tecnológico, o qual promoveu a redução de custos de geração associados a usinas de menor porte (principalmente térmicas). A entrada no mercado dessas usinas, que podem ter sua montagem concluída em um menor prazo, em muito agilizou a participação de agentes econômicos privados na geração de energia elétrica (Hunt & Shuttleworth, 1996). Como reconhecido por Rudnick (1996), as características econômicas básicas da cadeia de valor da indústria de energia elétrica foram afetadas, com diferentes implicações para a geração, transmissão e distribuição. A geração é uma parte importante da cadeia, em que não existem barreiras de entrada provenientes de economias de escala significativas e, portanto, competição pode ser introduzida. Por outro lado, na transmissão, as economias de escala são vitais e tendem a produzir um monopólio natural, o qual deve ser regulado para prevenir preços elevados para o serviço de transporte de eletricidade. Também na distribuição, existem economias claras de densidade de carga suprida e, por isso, os reguladores têm atribuído concessões geográficas para companhias de distribuição. A comercialização surge como um novo componente da cadeia. Ela é uma função mercantil, na qual não existe monopólio natural, não requerendo propriedade dos ativos de distribuição, embora em muitos casos seus proprietários também a exerçam. As tendências gerais comuns nas reformas realizadas em diferentes países (Brasil, 1995) são: a abertura comercial do setor; a segregação contábil dos custos e tarifas por atividade de geração, transmissão, distribuição e comercialização; a desverticalização das atividades e uma conseqüente criação de uma entidade neutra de transmissão; maior ênfase na conceituação da energia elétrica como commodity; e a revisão do papel do estado na indústria (privatização). XXII ENANPAD – de 27 a 30 de setembro de 1998– Foz do Iguaçú -2PR Iniciando as reformas necessárias ao longo dos últimos três anos, a legislação que rege o setor elétrico brasileiro foi alvo de alterações fundamentais (Brasil, 1995), algumas das quais são ressaltadas: fim da remuneração garantida; desequalização tarifária; criação do conselho de consumidores; livre acesso à malha de transmissão; modificação das regras de concessão do serviço público de energia elétrica; inclusão do sistema ELETROBRÁS (Centrais Elétricas Brasileiras S.A.) no Programa Nacional de Desestatização - PND; fim da reserva total de mercado (criação do mercado livre); e criação da figura do produtor independente. Os diferentes graus de desenvolvimento do país influenciam, de forma direta a organização e a topologia do sistema elétrico. Assim, diferentemente do sistema interligado Sul, Sudeste, e Centro-Oeste (80% do mercado), no sistema interligado Norte-Nordeste as empresas federais se desenvolveram como monopólios regionais de geração devido ao fato de atuarem em regiões economicamente menos desenvolvidas, nas quais as concessionárias estaduais se limitaram ao papel de distribuição de energia, não realizando uma integração vertical para trás como ocorreu em São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul. Além disso, a geração do Nordeste está concentrada no rio São Francisco, enquanto que a usina de Tucuruí é o único aproveitamento do Norte nesse sistema interligado. Considerando as reformas conduzidas pelo governo federal e as diferenças estruturais entre os sistemas elétricos nacionais interligados, bem como a importância do setor para a região, Ribeiro (1997) elabora um novo cenário institucional e de mercado provável para a estrutura industrial futura do sistema interligado Norte-Nordeste e, em seguida, identifica as prováveis características estratégicas da indústria no cenário formulado. Ademais, foi possível realizar uma análise estrutural da indústria e selecionar estratégias genéricas que poderiam ser aplicadas no novo ambiente. Para essa seleção, foram consideradas algumas das principais tendências mundiais da indústria de eletricidade e identificados os fatores chaves de sucesso necessários às empresas que atuarem no novo cenário provável do sistema interligado Norte-Nordeste. 2 Conceitos Básicos 2.1 Análise Estrutural da Indústria Indústrias diferem largamente em suas características econômicas, situações competitivas e perspectivas futuras. A velocidade das mudanças tecnológicas pode variar em larga escala. A necessidade de capital pode ser grande ou pequena. O mercado pode ser local ou mundial. Os produtos podem ser padronizados ou altamente diferenciados. As forças competitivas podem ter intensidades diferentes, além de serem concentradas em fatores diversos como preço, qualidade do serviço, ou outra variável. As condições da indústria diferem tanto que companhias líderes em indústrias não atrativas podem ter dificuldades para obter uma boa remuneração do capital empregado, enquanto que mesmo companhias fracas em indústrias atrativas podem ter boa performance (Thompson & Strickland, 1992). Os fatores a serem considerados na determinação das características econômicas de uma indústria (Porter, 1986) são os seguintes: • tamanho do mercado; • alcance da rivalidade competitiva; • taxa de crescimento do mercado e em que ponto a indústria está no seu ciclo de crescimento; • número de rivais e seus tamanhos relativos; • número de compradores e seus tamanhos relativos; XXII ENANPAD – de 27 a 30 de setembro de 1998– Foz do Iguaçú -3PR • nível e direção da integração vertical predominante; • facilidade de entrada e saída; • velocidade das mudanças tecnológicas nos processos de produção e na introdução de novos produtos; • grau de diferenciação com os produtos das firmas rivais; • existência de economias de escala na manufatura, transporte ou mercado; • importância de altas taxas de utilização da capacidade para a obtenção da eficiência e do baixo custo de produção; • importância da curva de aprendizagem e experiência para a redução do custo médio unitário; • necessidade de capital; e • a rentabilidade da indústria em relação ao padrão. Essas características afetam diretamente as estratégias competitivas. Indústrias intensivas em capital, por exemplo, perseguem uma estratégia que promove alta utilização dos ativos e gere uma maior receita por unidade de investimento, enquanto que setores intensivos em mão-de-obra buscam eficiência e produtividade no uso desse recurso. As influências governamentais podem ter um impacto importante e real sobre a mudança estrutural, principalmente em indústrias regulamentadas, como é o caso de energia elétrica, em que o governo, utilizando o seu poder regulador e a sua autoridade política, institucionaliza o próprio arcabouço regulatório no qual se dará a concorrência. As ações do governo também podem aumentar ou diminuir a probabilidade da concorrência internacional. Formas menos diretas de influência do governo sobre a estrutura da indústria ocorrem por meio da regulamentação da qualidade e da segurança do produto, dos impactos sobre o meio ambiente e de tarifas ou investimentos externos (Porter, 1986). Thompson e Strickland (1992) entendem que as mudanças tecnológicas podem alterar o cenário industrial, tornando possível a produção de novos ou melhores produtos a custos menores e a abertura de fronteiras industriais totalmente novas. A mudança tecnológica pode também alterar as necessidades de capital, o tamanho mínimo de plantas eficientes, a atratividade da integração vertical e os efeitos da curva de aprendizagem. Alterações nos custos e disponibilidades dos insumos terão impacto no custo do produto, afetando a demanda. Alterações nos custos e disponibilidades dos combustíveis podem alterar o contorno da curva de custo da indústria de energia elétrica, modificando as economias de escala ou promovendo a substituição de usinas hidroelétricas por termelétricas na expansão do sistema. O eventual surgimento de tecnologias competitivas que permitam a geração ou uma nova forma de armazenar eletricidade em quantidades adequadas aos consumidores de pequeno porte poderá ter um grande impacto sobre a estrutura da indústria. Na visão de Porter (1986), a concorrência em uma indústria tem raízes em sua estrutura econômica básica e vai bem além do comportamento dos atuais concorrentes. Sugere-se que, o grau de concorrência em uma indústria depende de cinco forças competitivas básicas: ameaças de novos entrantes; intensidade da rivalidade entre os concorrentes existentes; ameaça dos produtos substitutos; poder de negociação dos compradores; poder de negociação dos fornecedores. A gravidade da ameaça de entrada depende das barreiras existentes e da reação dos competidores já estabelecidos que o entrante pode esperar. Se as barreiras de entrada forem altas e a retaliação esperada dos competidores existentes for pesada, a ameaça de entrada será reduzida. O governo pode atuar sobre as barreiras de entrada, por meio da própria estrutura industrial, incentivando ou limitando a entrada de novos competidores. A atuação XXII ENANPAD – de 27 a 30 de setembro de 1998– Foz do Iguaçú -4PR governamental pode acontecer, por exemplo, com o uso de controles como concessões de funcionamento e acesso a matérias-primas. Thompson & Strickland (1992), consideram que a mais poderosa das cinco forças competitivas é usualmente a batalha competitiva entre as firmas rivais. A estratégia competitiva é a abordagem de uma empresa para atingir sucesso no mercado, seus movimentos ofensivos querem assegurar vantagem competitiva sobre seus rivais e seus movimentos defensivos visam proteger sua posição competitiva. Ao limitarem os preços que a indústria pode cobrar, os produtos ou serviços substitutos podem restringir seu potencial de lucro. A menos que a indústria possa melhorar a qualidade de seu produto ou diferenciá-lo de alguma forma, ela sofrerá nos seus ganhos e possivelmente no seu crescimento. O poder de negociação dos compradores é exercido visando a redução dos preços, e a melhoria da qualidade dos produtos ou serviços, tirando proveito da intensidade da rivalidade da indústria. Os fornecedores exercem o seu poder sobre a indústria, procurando elevar o preço ou reduzir a qualidade dos produtos ou serviços ofertados. Fornecedores fortes podem absorver a rentabilidade de uma indústria, particularmente quando essa não puder repassar os aumentos de custos a seus próprios preços. 2.2 Estratégias competitivas genéricas Porter (1996), considera que as estratégias genéricas permanecem úteis para caracterizar categorias estratégicas no nível mais amplo, pois introduzem a necessidade de escolha entre as contradições inerentes a diferentes estratégias. Porter (1989) argui que a base para um desempenho acima da média em uma indústria é a vantagem competitiva sustentável. Os dois tipos básicos de vantagem competitiva, baixo custo e diferenciação, são obtidos por meio da habilidade de lidar melhor com as cinco forças que dirigem a concorrência do que seus competidores e dão origem a três estratégias genéricas: liderança no custo, diferenciação e enfoque. Essa última divide-se em enfoque no custo e enfoque na diferenciação. A estratégia de liderança no custo requer a busca constante de economias de escala, controle rigoroso de despesas, incluindo áreas como pesquisa e desenvolvimento, vendas, serviços, propaganda e acesso privilegiado a matérias-primas. A diferenciação implica a criação de um produto ou serviço que é percebido pelos consumidores como único, de maneira que eles estão dispostos a pagar um adicional de preço para obtê-lo. Enquanto não for incompatível com a diferenciação, uma empresa deve buscar todas as reduções de custo possíveis e vice-versa. A partir desse ponto, ela deve escolher qual será sua vantagem competitiva e solucionar os compromissos entre essas duas opções. A última das estratégias genéricas de Porter (1989), o enfoque, está baseada na seleção de um segmento ou um grupo de segmentos na indústria e na definição de uma estratégia para atendê-lo. No enfoque de custo, a empresa procura uma vantagem de custo no seu segmento alvo, enquanto no enfoque de diferenciação ela busca se diferenciar para o atendimento aos seus consumidores selecionados. A estratégia de enfoque torna-se não sustentável em situações tais como: a demanda ou a estrutura do segmento alvo desaparecem, os concorrentes com alvos amplos dominam o segmento, ou novos enfocadores subsegmentam a indústria. Na visão de Mintzberg (1995) a liderança nos custos é uma forma de diferenciação. Desta maneira, ele identifica dois tipos básicos de estratégias genéricas: diferenciação e XXII ENANPAD – de 27 a 30 de setembro de 1998– Foz do Iguaçú -5PR escopo. São identificadas seis tipos de estratégias de diferenciação: preço, imagem, suporte, qualidade, design e não diferenciação. Em relação a estratégias de escopo, são identificadas quatro: não segmentação, segmentação, nicho e customização. A diferenciação por preço é baseada no princípio de que, sendo o produto (ou serviço) semelhante, pelo menos uma parte dos consumidores optará pelo produto de menor preço. Essa estratégia pode ser usada por um produto padrão. A diferenciação por imagem simula uma diferenciação que não existe de maneira significativa. A diferenciação por suporte é mais substancial do que a anterior, embora não atue sobre o produto propriamente dito e sim o diferencie por meio de alguma coisa que lhe dá uma base de suporte. Levitt (1980) apud Mintzberg (1995) considera que não existe uma commodity pura. No seu ponto de vista, por mais que o design seja semelhante, sempre é possível encontrar uma outra forma de diferenciação, especialmente por meio do suporte. A estratégia de diferenciação pela qualidade procura fazer o produto melhor, embora não fundamentalmente diferente. O produto pode ter maior confiabilidade, maior durabilidade ou performance superior. Finalmente, a estratégia de diferenciação por design procura oferecer alguma coisa realmente diferente, que tenha características únicas. A estratégia de escopo por segmentação seleciona um segmento do mercado em que a empresa procura atuar. Por exemplo, uma loja de roupas pode optar por atender o mercado de roupas populares e outra o de roupas finas. A estratégia de nicho procura atuar em um segmento único ou em uma determinada região. Por fim, a customização considera que cada consumidor é um segmento único. 3 Metodologia A pesquisa apresentada nesse trabalho é de natureza qualitativa. Como proposto por Godoy (1995, p. 63), na busca de novas informações ou relações e para verificação e ampliação do conhecimento existente sobre o assunto, as pesquisas qualitativas: “partem de questões ou focos de interesse amplos, que vão se tornando mais diretos e específicos no transcorrer da investigação.” A pesquisa, enfoca o sistema interligado do Norte-Nordeste do Brasil em um novo cenário institucional, tem características de pesquisa exploratória projetiva, no sentido de formular um cenário normativo da estrutura industrial, e, em seguida; aplicar o modelo de Porter, modificado para destacar o papel do governo em um setor regulamentado e as estratégias genéricas; com o objetivo de identificar as prováveis estratégias básicas da indústria de energia elétrica, no novo cenário. Considerando que o objetivo do artigo é identificar as estratégicas básicas da indústria de energia elétrica do Brasil após as reformas em curso, foi pesquisada a teoria da estratégia competitiva. As principais referencias foram: a revista Harvard Bussiness Review e os livros elaborados por Porter (1986; 1989), Mintzberg, Quinn e Voyer (1995); Thompson & Strickland (1992). 4 Cenário provável para o sistema elétrico interligado do Norte-Nordeste do Brasil A indústria de energia elétrica na região que vai do leste do Pará até a Bahia, que constitui o sistema interligado do Norte-Nordeste do Brasil, é composta por duas grandes geradoras federais, a CHESF e a ELETRONORTE, e por treze empresas distribuidoras. As distribuidoras dos estados da Bahia (COELBA), Rio Grande do Norte (COSERN) Sergipe (ENERGIPE), e Ceará (COELCE), foram recentemente privatizadas (as três primeiras em 1997 e a última em 1998). COELBA e COSERN foram adquiridas por um consórcio liderado XXII ENANPAD – de 27 a 30 de setembro de 1998– Foz do Iguaçú -6PR pelo grupo espanhol IBERDROLA, a COELCE foi comprada pelo grupo espanhol ENDESA, enquanto que a ENERGIPE passou a fazer parte do grupo nacional Cataguazes Leolpoldina. As empresas geradoras, além de suprirem a quase totalidade da energia requerida pelas distribuidoras, fornecem eletricidade diretamente a grandes consumidores industriais na tensão de 230 KV. A CHESF é responsável pelo atendimento aos estados do Nordeste, exceto o Maranhão, e a ELETRONORTE atende a região Norte, além de Tocantins, Maranhão e Mato Grosso. Em grande parte da área de atuação da ELETRONORTE, os sistemas de fornecimento de eletricidade são isolados, devido às distâncias envolvidas e ao pequeno porte da carga. O mercado da ELETRONORTE no sistema interligado é composto pelos estados do Maranhão, Tocantins e pela região tocantínea do Pará (ELETROBRÁS, 1994). As leis 8987/95 e 9074/95 ao estabelecerem, entre outros aspectos, o livre acesso à transmissão e à distribuição, a competição na geração e na comercialização, a desverticalização da indústria e a liberdade de escolha dos grandes consumidores, definiram o arcabouço básico da estrutura industrial. Neste contexto, a Coopers & Lybrand (1997) propôs e, o governo está implementando (MME, 1998), a estrutura apresentada na figura 4.1 para a geração do sistema interligado do Norte-Nordeste do Brasil. FIGURA 4.1 ESTRUTURA DA GERAÇÃO NO SISTEMA INTERLIGADO NORTE-NORDESTE CHESF1 ELETRONORTE CHESF2 ENTRANTES POTENCIAIS MERCADO ATACADISTA DE ELETRICIDADE CONTRATOS COM GERADORES CONTRATOS COM GERADORES DISTRIBUIDORAS E VAREJISTAS INDEPENDENTES GRANDES CONSUMIDORES CONSUMIDORES CATIVOS E OS LIVRES DE MENOR PORTE Fonte: adaptado de Coopers & Lybrand (1997) Na estrutura proposta, as usinas da CHESF são divididas em dois blocos: CHESF1 (Complexo Paulo Afonso (4.424 MW), Itaparica (1.500 MW), Funil (30 MW), Pedra (23 MW) e as térmicas de Bongi (142,5 MW) e Camaçari (290 MW)); e CHESF2 (Sobradinho (1.050 MW), Xingó (3.000 MW) e Boa Esperança (235 MW)). A única usina da ELETRONORTE no sistema interligado Norte-Nordeste, Tucuruí I (4.425 MW), é a base para o estabelecimento de uma nova empresa. XXII ENANPAD – de 27 a 30 de setembro de 1998– Foz do Iguaçú -7PR Nesse contexto a filosofia do cenário normativo proposto por Ribeiro (1997) , com o objetivo de antever o futuro dessa indústria, é a implantação de uma estrutura industrial para o sistema interligado do Norte-Nordeste do Brasil no qual a geração e a comercialização sejam competitivas, enquanto que a transmissão e a distribuição, monopólios naturais no atual nível de desenvolvimento tecnológico, permanecem regulamentadas de maneira a facilitar a competição nos demais segmentos. O cenário pressupõe que o governo estabelece a desverticalização e consegue lançar as bases de uma estrutura industrial competitiva na indústria de eletricidade do sistema interligado do Norte-Nordeste do Brasil. Na cena inicial previstas para o ano de 1999 o mercado livre corresponderia a cerca de um terço do consumo total de eletricidade, existiria excesso de oferta nos três primeiros anos, existiriam três empresas de geração equilibradas (duas resultantes da divisão da geração da CHESF e uma formada a partir da usina de Tucuruí atualmente pertencente a ELETRONORTE), e 90 % da energia ofertada pelo sistema estaria comprometida através de contratos iniciais. Com o objetivo de realizar uma análise da estrutura industrial operando livre dos efeitos das regras de transição, foram adotadas cenas finais, as quais, consideram que toda a energia gerada é negociada segundo as leis do mercado. Os contratos iniciais que vinculam a oferta no período posterior a reestruturação e privatização associada, findo os quais do ponto de vista da oferta todo o mercado seria competitivo, durarão até dezembro de 2005 (MME, 1998). A cena final básica procura caracterizar um ambiente no qual a existência de quatro concorrentes equilibrados levaria a uma maior intensidade da rivalidade da indústria. Uma alternativa ou variante da cena final, por sua vez, considera que, embora o governo seja parcialmente bem sucedido em evitar a reintegração vertical da indústria e também a fusão das principais empresas sucessoras, a dinâmica do mercado levaria à concentração da expansão na maior destas empresas a qual dominaria 56% do mercado em 2006. Foi descartada a completa integração horizontal (100%), bem como a reintegração vertical, pois essas hipóteses são incompatíveis com a filosofia do cenário normativo construído. Nas duas cenas finais o mercado livre corresponderia a 50% do consumo de eletricidade; existiria equilíbrio entre a oferta e a demanda, e toda a energia produzida seria ofertada no mercado competitivo. 5 Análise prospectiva do cenário futuro 5.1 Forças que dirigem a concorrência na indústria A Figura 5.1 apresenta o modelo de Porter, modificado para destacar o papel do governo aplicado à Indústria de Energia Elétrica no sistema interligado do Norte-Nordeste Brasileiro. A maioria das barreiras de entrada não são significativas no segmento de comercialização, pois ela não requer a propriedade de ativos, dependendo basicamente de habilidades de marketing e de negociação. A existência de economias de escala significativas, como barreira de entrada no segmento de geração, restringe-se basicamente à necessidade de capital. Ela, provavelmente, deverá moderar a intensidade da rivalidade da indústria, pela ameaça representada para a recuperação dos investimentos por uma eventual existência de um expressivo excesso de capacidade. XXII ENANPAD – de 27 a 30 de setembro de 1998– Foz do Iguaçú - PR Figura 5.1 Modelo de Porter, destacando o papel do governo, aplicado à indústria de energia elétrica do sistema interligado do Norte-Nordeste brasileiro Cenário normativo de competição na geração e na comercialização ENTRANTES POTENCIAIS • empresas de energia nacionais e estrangeiras, grandes consumidores de eletricidade • auto-produtores, produtores independentes, investidores institucionais • empreiteiras de grandes obras e varejistas independentes Ameaça de novos entrantes no r ve go FORNECEDORES • construção civil pesada • montagem eletro-mecânica • equip. eletro-mecânicos • bens primários • engenharia consultiva • cabos • combustíveis CONCORRENTES NA INDÚSTRIA Poder de barganha fornecedores go ve rn o • Segmento de Geração (1 ) • Segmento de Comercialização (2) Ameaça prod. subst. PRODUTOS SUBSTITUTOS go ve rn o COMPRADORES • Do segmento de geração: distribuidoras, consumidores livres e varejistas independentes Poder de • Do segmento de barganha comercialização: compradores consumidores livres no e consumidores cativos das r ve distribuidoras o g • combustíveis na obtenção de calor • fontes alternativas de energia • conservação de energia (1) Cena inicial: CHESF1 (27.244 GWH), CHESF2 (25.053 GWH) e ELNORTE (22.583 GWH) Cena final básica: CHESF1 (28.972 GWH), CHESF2 (28.972 GWH), ELNORTE (28.972 GWH) e NOVAGEN (28.972 GWH) Cena final alternativa: CHESF1 (60.252 GWH), CHESF2 (25.053 GWH) e ELNORTE (22.583 GWH) As empresas da geração competem para vender eletricidade para as distribuidoras, varejistas independentes e consumidores livres. (2) Os Consumidores Cativos são atendidos obrigatoriamente pelas concessionárias de distribuição da área onde estão localizados. Os consumidores livres são disputados pelas unidades de comercialização das distribuidoras, pelas geradoras e pelos varejistas independentes. Dentro da indústria as distribuidoras e os varejistas independentes exercem um importante poder de barganha em relação aos competidores de geração. 8 XXII ENANPAD – de 27 a 30 de setembro de 1998– Foz do Iguaçú -9PR O governo pode se constituir em uma elevada barreira de entrada de concorrentes na indústria, por meio de uma regulamentação mal feita ou aplicada erradamente. A correta e eficiente estruturação da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) é fundamental para o funcionamento de um mercado competitivo no Brasil. Possíveis problemas causados pelo governo, tais como: controle do processo de licitação das concessões mal conduzido, falha no estabelecimento do livre acesso ao transporte, fracasso na desverticalização ou nível de integração horizontal equivocado, dentre muitos outros aspectos, podem fazer com que a indústria torne-se não atrativa para os entrantes potenciais. Existem evidências de que o equilíbrio ou desequilíbrio entre a oferta e a demanda podem exercer um papel fundamental na intensidade da rivalidade na indústria. Há claras indicações de que a demanda não crescerá lentamente, o que atuará no sentido de diminuir a pressão competitiva que poderia existir em um mercado estagnado. Pode-se afirmar que, na geração, a necessidade de amortizar custos fixos elevados é um fator que poderá aumentar a rivalidade entre os concorrentes existentes. Na comercialização, a competição provavelmente será função da disputa pelos consumidores livres e do poder de barganha de seus participantes em relação às empresas de geração. O papel do governo é estabelecer regras claras para a operação e expansão de um sistema predominantemente hidráulico, promover a competição na geração e na comercialização, regulamentar as regras de reajuste e de revisão tarifária, definir padrões de qualidade e punições para empresas que não os cumpram e impedir o estabelecimento de empresas com poder suficiente para controlar o mercado. A pesquisa destaca como sendo importante que o governo, além de estimular a competição na geração e comercialização, controle as atividades monopolistas de transmissão e distribuição, no sentido de evitar que a falta de um livre acesso em bases justas diminua a intensidade da rivalidade nos segmentos em que ela pode ser possível. O estudo indica que, no Norte-Nordeste, inicialmente existirão poucas companhias de geração com participação elevada no mercado, o que provavelmente limitará a competição. Para ampliá-la, pode ser conveniente ao governo adotar uma postura diferenciada no sistema interligado Norte-Nordeste, favorecendo novos entrantes na geração, utilizando por exemplo, a redução das tarifas de transporte ou a limitação da parcela de mercado das empresas existentes. Os produtos substitutos não representam uma ameaça significativa à indústria, pois a importância da eletricidade no balanço energético está crescendo tanto no nível mundial, quanto nos níveis nacional e regional. Uma variável fundamental no poder de barganha dos compradores, na cena inicial, são os contratos realizados durante o processo de privatização com o objetivo de tornar a transição suave. Existem evidências de que empresas de distribuição que paguem um preço elevado pela geração possivelmente perderão fatia de mercado para o negócio de vendas diretas das geradoras, ou mesmo para outras distribuidoras e varejistas independentes que consigam comprar eletricidade em melhores condições. Deve ser enfatizado que, quanto maior a parcela do mercado com liberdade de escolha, provavelmente maior será a rivalidade na indústria. A ameaça de integração para trás é concreta, principalmente nos casos onde a eletricidade é um insumo importante para o comprador, representando grande impacto sobre seus custos ou sobre a qualidade de seus produtos. O volume relativo das compras poderá ser uma variável importante e, consequentemente, os grandes compradores deverão ser bastante disputados pela indústria de eletricidade. Devido às diferenças entre o porte das concessionárias de distribuição que atuam no Norte-Nordeste, é possível que as menores venham a participar do mercado de energia em condições desvantajosas. Para contornar essa XXII ENANPAD – de 27 a 30 de setembro de 1998– Foz do Iguaçú10 - PR situação, poderá ser criada uma associação das distribuidoras para a compra de energia, ou poderão ocorrer fusões e incorporações das pequenas distribuidoras pelas maiores. A privatização das empresas e a abertura da economia às importações de bens e serviços tendem a enfraquecer o poder de negociação dos fornecedores, devido a fatores como: as empresas não precisarão se submeter mais a lei No. 8666, de junho de 1993, que regula as aquisições do setor público; concorrentes internacionais poderão disputar os fornecimentos de bens e serviços; e, pressionadas pela competição na geração e comercialização, as empresas do setor elétrico utilizarão ao máximo seu poder de negociação como consumidor de grande porte, principalmente nas situações em que elas estiverem submetidas a uma maior intensidade da rivalidade. Contrabalançando essa tendência, o poder de barganha dos fornecedores poderá ser beneficiado por fatores como desconcentração da geração, limitação das integrações vertical e horizontal dentro da indústria e ameaça de integração vertical dos fornecedores. 5.2 Estratégias genéricas Para a maioria das fontes consultadas, a estratégia genérica básica provavelmente deverá ser a de menor custo. A própria lógica da reestruturação e privatização associada no nível mundial, pressupõe que a competição levará a uma maior eficiência e à redução dos custos de produção, o que se traduziria em preços menores para os consumidores. Moorhouse (1997) considera que os geradores competem na base do preço na venda de eletricidade para grandes consumidores industriais, distribuidoras e varejistas independentes. Reforçando esse ponto de vista, Kupics (1995) e Perspectives (1996) acreditam que a eletricidade é uma commodity e, consequentemente, a competição é baseada no preço. Adicionalmente, existem dificuldades de ordem técnica para uma estratégia de diferenciação ampla, pois um gerador não poderia garantir a qualidade de uma maneira integral no mercado amplo, dado que a qualidade da energia no consumidor depende do transporte até ele, efetuado pelas empresas de transmissão e distribuição que exercem uma atividade regulamentada. Por isso, muito provavelmente, um padrão mínimo de qualidade (Gomes, 1997) deverá ser definido pelo regulador para garantir o oferecimento ao mercado de um produto adequado à maioria das aplicações. Por outro lado, a existência de geradoras, distribuidoras, varejistas independentes, consumidores e regiões com características e necessidades diferenciadas abrirá espaço para estratégias de enfoque. Em algumas empresas consumidoras, a qualidade da energia produzida interfere no processo produtivo, podendo comprometer a qualidade de seu produto ou até mesmo causar perdas totais da produção. Podem ser citados indústrias atuando em setores com controle de produção computadorizados, como as do ramo têxtil e de papel, nos quais uma pequena variação transitória da frequência ou da tensão pode causar graves transtornos ao processo produtivo. Um enfoque de segmentação que permita a diferenciação por qualidade entre as supridoras, visando o atendimento a esses consumidores, poderá se realizar por meio do oferecimento de um padrão superior ao mínimo legal. Tecnicamente, essa diferenciação poderá ser conseguida por intermédio da instalação de filtros de harmônicos ou de equipamentos para regulação de tensão. Um outro ponto de vista é apresentado por Henriques (1994). Ele considera que as empresas do segmento de comercialização poderão se diferenciar por suporte a partir do oferecimento de uma gama de serviços para segmentos de clientes que sejam sensíveis a essa estratégia. Exemplos de serviços que podem ser oferecidos são os seguintes: serviços nas instalações internas dos clientes, executando novas ligações ou inspecionando as existentes; XXII ENANPAD – de 27 a 30 de setembro de 1998– Foz do Iguaçú11 - PR atendimentos 24 horas; contratos de risco para conservação ou gestão de energia para o cliente; e possibilidades de negociação de tarifas e formas de pagamento. O varejista independente deverá ter sua atuação restrita aos consumidores livres. Dentro desse segmento ele poderá, por exemplo, especializar-se em uma determinada faixa de consumidores, que demande uma maior ou menor qualidade de energia. As estratégias de nicho poderão ser utilizadas por produtores independentes de energia, interessados em atuar vendendo eletricidade e vapor de processo de uma forma vantajosa para clientes que utilizem esses dois insumos. Para isso, poderiam ser utilizados processos de cogeração utilizando ciclos térmicos de alta eficiência. Esse mesmo processo produtivo poderia ser utilizado em estratégias de customização nas quais, por exemplo, produtores independentes instalariam uma planta térmica anexa às instalações do cliente, produzindo eletricidade e vapor da maneira por ele desejada. Geradoras, distribuidoras e varejistas independentes também poderiam customizar os tipos de contrato, incluindo preço, qualidade, prazo de pagamento e outros aspectos no que se refere aos seus grandes clientes. Um enfoque de nicho por região poderia ser conseguido por empresas que, embora não fossem capazes de oferecer a melhor qualidade ou preço em todo sistema interligado, o seriam em uma determinada área geográfica. Utilizando essa estratégia, uma planta geradora hidroelétrica ou mesmo térmica poderia ofertar eletricidade em uma dada região ao menor custo, embora não fosse a planta mais econômica do sistema, devido ao fato de que somados os custos de transporte, nenhum outro produtor poderia oferecer menores preços naquela área. 5.2.1 Características estratégicas fundamentais da indústria Uma mudança fundamental provocada pela reestruturação e privatização associada na indústria brasileira de eletricidade será a da ótica do negócio que deixará de ser predominantemente sócio-política e passará a ser empresarial. As estratégias que buscavam o atendimento do mercado a qualquer custo, movidas principalmente por considerações sociais e políticas, já não fazem mais sentido em um cenário competitivo. As preocupações básicas apresentadas por Ribeiro (1997, p. 152) para o novo ambiente são as seguintes: rentabilidade que deve ser maior do que o custo de capital compensando o risco do negócio; conhecimento profundo dos custos que permitirão a busca da eficiência e o estabelecimento de preços que considerem também o valor agregado pelo insumo ao cliente; busca de inovações tecnológicas e de gestão para melhorar a eficiência das empresas; e foco no cliente, implementando a área de marketing e melhorando a capacidade de negociação e o atendimento ao consumidor. Os fatores chaves de sucesso deverão variar em função do segmento competitivo (geração ou comercialização) em que a empresa atua. As distribuidoras que pretenderem obter sucesso no novo mercado competitivo deverão controlar os seus custos e desenvolver competência em marketing, segmentando seu mercado entre clientes livres, em particular aqueles para os quais a qualidade da eletricidade é importante no seu processo produtivo, e clientes cativos. Outra tendência estratégica importante é o consumidor eletrointensivo passar a atuar como autoprodutor, complementando suas necessidades com contratos de médio e longo prazos com as geradoras para parte do seu consumo, e efetuar compras no mercado spot nos períodos nos quais os excedentes no sistema levem a preços baixos. Eles poderão até realizar vendas da sua autoprodução ou da energia relativa aos seus contratos em períodos em que o mercado atacadista operar com preços elevados em função da escassez energética, tornando para eles mais vantajoso vender eletricidade do que fabricar os seus produtos. No sul do Brasil, empresas eletrointensivas participam de consórcios para a construção dos XXII ENANPAD – de 27 a 30 de setembro de 1998– Foz do Iguaçú12 - PR aproveitamentos hidroelétricos de Itá e Machadinho. No norte, a ALUMAR (maior consumidor de eletricidade do Brasil) já tentou articular consórcios para a construção das hidroelétricas de Serra Quebrada e Tucuruí II, ambas no Rio Tocantins. Para manter os consumidores industriais livres, não eletrointensivos, para os quais a eletricidade representa de 3 a 5% dos seus custos as distribuidoras devem procurar se destacar na qualidade da eletricidade ofertada e do atendimento. Para os demais consumidores, as distribuidoras deverão procurar oferecer serviços de valor agregado que permitam a obtenção da rentabilidade desejada pelos seus acionistas. Como exemplo desses serviços, podem ser destacados: TV a cabo, transmissão de dados, internet e serviços nas instalações internas do cliente. Adicionalmente, as distribuidoras deveriam adotar as seguintes ações: negociar tarifas em função da qualidade da eletricidade e formas de pagamento, realizar contratos de risco para a conservação e gestão de energia, combater as perdas técnicas e furtos de eletricidade (que vêm sendo uma das principais preocupações das empresas recentemente privatizadas), e procurar participar de consórcios de geração de eletricidade para não ficarem totalmente dependentes das empresas geradoras. Os varejistas independentes atuarão no sentido de realizar negócios com consumidores livres. As suas principais habilidade deverão ser a capacidade de negociação e o conhecimento do mercado. Na geração, a busca da produção de eletricidade de baixo custo (estratégia genérica básica) passa por um acompanhamento permanente dos avanços tecnológicos e de acesso aos fornecedores adequados de combustíveis e da construção, montagem e equipamentos das centrais hidroelétricas e térmicas. A empresa de geração não necessitará provavelmente ser especialista no desenvolvimento de tecnologias, o que é função dos fornecedores de equipamentos e dos construtores das usinas, mas precisará conhecê-las de maneira a poder selecionar as melhores opções. Outros fatores de sucesso importantes na indústria de geração são: busca por uma utilização elevada dos seus ativos fixos (muito importante em uma indústria capital intensiva); habilidade de responder rapidamente às mudanças nas condições do mercado, que esta passando de monopolista para competitivo; marketing e acesso ao mercado financeiro em condições favoráveis para financiar seus empreendimentos de investimento; e prazos de maturação elevados. Ribeiro (1997) considera o marketing como o fator de sucesso mais importante, principalmente em um mercado competitivo em fase de implantação, no qual até então as empresas envolvidas sempre trataram seus consumidores como usuários que não tinham escolha e privilegiaram a parte técnica. Segundo o MME (1996), com a abertura do setor elétrico para os investimentos privados, custos crescentes dos aproveitamentos hidroelétricos remanescentes e inovações tecnológicas no uso de recursos energéticos alternativos, a indústria de eletricidade do Brasil possui as seguintes tendências: maior impulso na geração térmica, que é mais adequada ao risco privado e de construção mais rápida; ampliação do intercâmbio internacional de energia; e implantação de políticas voltadas para a conservação de energia que trazem benefícios para a indústria e a comunidade em geral. 6 Conclusões A utilização do modelo de Porter destacando o papel do governo, bem como as estratégias genéricas fornecem importantes resultados sobre as características estratégicas básicas da indústria de energia elétrica no novo cenário institucional e permitem antever como poderão ser as estratégias aplicáveis pelas empresas de geração e comercialização de energia XXII ENANPAD – de 27 a 30 de setembro de 1998– Foz do Iguaçú13 - PR elétrica na nova estrutura industrial. Esse conhecimento será um importante insumo para a elaboração de estratégias competitivas específicas que tenham boas possibilidades de sucesso. Pode-se afirmar que os contratos iniciais, a serem efetivados durante a privatização, limitarão a competição na geração e na comercialização, bem como a liberdade de escolha dos consumidores durante a sua vigência e, em contrapartida, tornarão a transição mais suave. Deve ser destacado que, como, no sistema interligado Norte-Nordeste, a geração e a transmissão são, em quase sua totalidade, de propriedade federal, a implantação da nova estrutura depende apenas de decisão política de Brasília, o que facilita o processo. A análise revela que o livre acesso de terceiros ao transporte de eletricidade, bem como a liberdade de escolha do comprador de eletricidade são as características mais importantes do ponto de vista do funcionamento de uma estrutura industrial que permita uma real competição na geração e na comercialização. A estratégia genérica básica provavelmente deverá ser baseada no preço, porque, de uma maneira geral, a eletricidade é uma commodity. Entretanto, a existência de geradores, distribuidoras, varejistas independentes, consumidores e regiões com características e necessidades diferenciadas, sinaliza a possibilidade de utilização de estratégias genéricas de enfoque, como as apregoadas por Mintzberg (1995). Identificam-se estratégias de segmentação, tais como qualidade da eletricidade, tamanho dos consumidores e oferta de serviços de suporte. Também é possível a utilização de estratégias de nicho como: atender consumidores de eletricidade e vapor, menor preço ou melhor qualidade em uma determinada região geográfica; e mesmo, de customização, utilizando, por exemplo, a instalação de uma planta térmica anexa às instalações do cliente, produzindo eletricidade e vapor de acordo com suas necessidades, ou de um tratamento personalizado para grandes clientes no estabelecimento de contratos incluindo preço, qualidade, prazo de pagamento entre outros aspectos. Deve ser destacado que uma das mudanças fundamentais provocadas pela reestruturação e privatização associada na indústria brasileira de eletricidade será a da ótica do negócio, que deixará de ser predominantemente política e passará a ser empresarial. As preocupações básicas passarão a ser: rentabilidade; conhecimento dos custos; busca de inovações tecnológicas e de gestão para melhorar a eficiência das empresas; e foco no cliente. Existem evidências de que os fatores chaves de sucesso deverão variar em função do segmento competitivo em que a empresa atua. As distribuidoras que pretenderem obter sucesso no novo ambiente deverão controlar os seus custos e desenvolver competência em marketing, segmentando seu mercado entre clientes livres e cativos. Os principais fatores chaves de sucesso dos varejistas independentes de eletricidade provavelmente serão a capacidade de negociação e o conhecimento do mercado. A análise mostra que as empresas de geração devem: buscar a produção de eletricidade de baixo custo (estratégia genérica básica); procurar uma utilização elevada dos seus ativos fixos (muito importante em uma indústria capital intensiva); desenvolver o marketing; e obter acesso ao mercado financeiro em condições favoráveis para financiar seus empreendimentos de investimento e prazos de maturação elevados. A análise sugere que o consumidor eletrointensivo, na sua maioria, provavelmente passará a atuar como autoprodutor, complementando suas necessidades com contratos de médio e longo prazos para parte do seu consumo e efetuando compras no mercado spot nos períodos em que os excedentes no sistema resultarem em preços baixos. Eles poderão até realizar vendas da sua produção ou da energia relativa aos seus contratos nos períodos nos quais o mercado atacadista operar com preços elevados em função da escassez energética, tornando mais vantajoso vender eletricidade do que fabricar os seus produtos. Finalmente é importante destacar que o governo deve ficar atento para que seja implantado um modelo realmente competitivo que funcione trazendo vantagens para a XXII ENANPAD – de 27 a 30 de setembro de 1998– Foz do Iguaçú14 - PR sociedade. Torna-se necessária atenção particular, para que as incertezas da transição não levem a baixos níveis de investimento que venham a resultar em racionamentos futuros, os quais certamente teriam graves conseqüências para a economia e qualidade de vida do país. Referências Bibliográficas BRASIL, Governo Federal. Comissão Interministerial de Desestatização do Sistema ELETROBRÁS - Resumo Gerencial. Brasília,1995. COOPERS & LYBRAND. Industry Structure. Working Paper A2. SEN /Eletrobrás. Brasília, 1997. ELETROBRÁS - Centrais Elétricas Brasileiras. Relatório Executivo Síntese. In: Plano Nacional de Energia Elétrica 1993-2015. Plano 2015. Rio de Janeiro,v.1, 1994. GODOY, Arilda Schmidt. Introdução à Pesquisa Qualitativa e suas Possibilidades. Revista de Administração de Empresas. São Paulo, v. 35, n. 2, mar./abr. 1995. p.57-63. GOMES, Ana Amélia de Conti. Como será o novo padrão de concorrência do setor elétrico brasileiro. Eletricidade Moderna. São Paulo, ano 25, n.275, fev. 1997. p.136-145. 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