“Se o grão de trigo cair na terra e morrer, produzirá muito fruto” (Cf

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5º. DOMINGO DA QUARESMA
22 de março de 2015
“Se o grão de trigo cair na
terra e morrer, produzirá
muito fruto”
(Cf. Jo 12,24)
Leituras: Jeremias 31, 31-34; Salmo 50 (51), 3-4.12-13.14-15 (R/12a); Carta aos Hebreus 5, 7-9; João 12,
20-33.
COR LITÚRGICA: ROXA
Animador: Nossa preparação para a Páscoa é iluminada pela Paixão e Morte de Jesus. Ele anuncia sua
morte violenta e explica seu significado: fonte de vida futura e de renovação. Renovação que cria amizade
e reconciliação entre as pessoas, em completa oposição ao ódio e à divisão. Que essa vida divina nasça em
nossos corações para que possamos sempre dizer “sim” ao projeto de Cristo.
1. Situando-nos
O nosso retiro de quarenta dias está chegando ao fim. Neste domingo, ouvimos a passagem do Evangelho
sobre o grão de trigo que cai na terra e morre. Morre e produz frutos infinitos. Nessa mensagem do
Evangelho de João, proclama-se a vida eterna e a produtividade iluminada do amor. Onde alguém vive por
amor, o mundo se torna uma colheita abundante; uma semente de amor, uma lavoura cheia de trigo.
Ainda mais quando este alguém é o Verbo feito carne! Quando o Deus feito homem vive e morre por
amor, todos nós brotamos como tantas espigas de trigo, douradas, saudáveis e eternas.
Deste modo, o 5º Domingo da Quaresma nos coloca nos átrios da glorificação de Jesus. Ele mostra qual o
seu caminho para a glória dos que desejam vê-lo (Cf. Jo 12, 20-33); é o caminho da cruz, o caminho da
semente lançada à terra, que não fica só, mas, morrendo, produz muito fruto. É chegada a hora de Jesus.
Trata-se de sua paixão e ressurreição, pela qual ele se lança totalmente no plano do Pai e realiza de modo
pleno sua vontade.
Jesus prometeu aos que desejam vê-lo: “Quando eu for levantado da terra, atrairei todos a mim” (Jo
12,32). Acrescenta o evangelista: “Ele falava assim para indicar de que morte iria morrer” (Jo 12, 33).
Na próxima quarta-feira, celebraremos a Anunciação do Senhor. Podemos descobrir uma relação ente esta
celebração e a Quaresma que estamos vivendo: ao entrar no mundo, Jesus faz a vontade do Pai e torna-se
Senhor na ordem da Redenção, vencendo a morte e o pecado, constituindo-se, assim, em Senhor da vida.
2. Recordando a Palavra
1
Na primeira leitura (Jr 31, 31-34), texto relevante do Primeiro Testamento que se encontra no “Livro da
Consolação de Israel” (Jr 30-31), Deus sela a reconciliação estabelecendo uma nova Aliança. A Aliança do
Sinai, que o Senhor concluiu com o povo, quando o tirou da escravidão do Egito (cf vv. 31-32), não teve
êxito. Esta exigia adesão exclusiva ao Senhor, traduzida no cumprimento integral da lei, a qual era
formulada com toda a clareza e respaldada por bênçãos e maldições.
Mas, era externa, gravada em uma pedra, com a qual as pessoas não sintonizavam. A nova Aliança
inscreverá a lei no fundo do ser e no coração, de modo que se converta no impulso ou dinamismo da
conduta; o coração estará regenerado, convertido pela marca viva da lei. “Colocarei a minha lei no seu
coração, vou gravá-la em seu coração; serei o Deus deles, e eles, o meu povo” (Jr 31,33).
Assim, se restabelecem as relações pessoais, substância autêntica da aliança. O conhecimento e
reconhecimento do Senhor se traduzem em compromisso.
Um “perdão” total, sem reservas, é o primeiro ato da reconciliação, no qual se manifesta o “amor eterno”
do Senhor. Vale notar que Jeremias 31, 31-34 é amplamente citado no Segundo Testamento (Cf. Rm 11,
27; Hb 8,8-12; 10, 16-17).
Em termos de aliança, o Senhor é o soberano que cumpriu seus compromissos, em termos de matrimônio,
o Senhor é o marido ao qual a esposa – o povo – foi infiel.
Na verdade, já não necessitamos mediações exteriores (sacrifícios, ritos legais, tábuas de pedra), pois o
Senhor fez conosco uma aliança definitiva, gravada em nosso coração, escrita em nosso peito, pois somos
o novo povo de Deus. Esta nova Aliança nos dá a esperança e a certeza de pertencermos a uma nova
humanidade reconciliada.
O Salmo 50 (51) pede que, com sua graça, Deus crie em nós um coração puro e confirme em nosso interior
um espírito novo, contrito e simples. Ao arrepender-nos de nossa infidelidade, reconhecemos que
somente Deus é fiel. O perdão divino é a oportunidade que temos de retomar a proposta da Aliança.
A segunda leitura (Hb 5, 7-9) mostra que o caminho da salvação passa pela obediência e fidelidade:
“Embora fosse Filho aprendeu, contudo, a obediência pelo sofrimento: e, levado à perfeição, se tornou
para todos os que lhe obedecem, fonte de salvação eterna” (vv.8-9).
Em Cristo Jesus, a nova Aliança é concluída; morrendo por nós, ele se torna princípio de salvação eterna.
No exercício do seu sacerdócio, Jesus se apresenta perfeitamente humano (cf. Hb 5,1), semelhante a nós
em tudo, menos no pecado. Em sua vida terrestre, experimenta o sofrimento e dirige-se ao Pai, que era
capaz de salvá-lo da morte, com forte clamor e lágrimas. É um Deus que se aproxima do ser humano e de
cada um de nós em tudo, particularmente na experiência da dor, do sofrimento.
Este é o domingo do grão caído na terra (cf Jo 12, 20-33). Para falar de vida com “V” maiúsculo, João utiliza
no seu Evangelho a imagem do grão de trigo. Interessante! O semeador se faz semente: “Saiu o semeador
a semear” (Mt 13,3). Como os Evangelhos foram escritos após a Páscoa, esse semeador já é o Cristo
Ressuscitado, saído de Deus para semear a semente do Reino, a semente do Reino do amor. Mas, esse
semeador, o Verbo feito carne, em João, se fez semente, grão de trigo caído na terra para fecundar.
Eis a lógica do Amor: não pode fazer outra coisa senão dar a vida. Mas, para expressar-se em sua
totalidade, ele deve ir até a morte: “Se o grão de trigo que cai na terra não morrer, fica só. Mas, se morre,
produz muito fruto” (Jo 12,24). Um grão de trigo, que é colocado na terra vai transformar-se para se
converter em espiga com intocáveis grãos. Assim também acontece com aquele ou aquela que nós
amamos. Mas por quê? Simplesmente porque o Amor, para existir ou subsistir, não poder fazer sofrer e
morrer aquele ou aquela que deseja amar. Um dia ou outro, todos devemos nos ultrapassar a nós mesmos.
2
Essa é a hora do Amor que vai exatamente até o final de nós mesmos, como a mulher grávida, pois o Amor
dá a vida: “A mulher, quando vai dar à luz, fica angustiada, porque chegou a sua hora. Mas depois que a
criança nasceu, já não se lembra mais das dores, na alegria de um seu humano ter vindo ao mundo” (Jo 16,
21). Eis porque, para manifestar a totalidade do Amor, Jesus entregou a sua vida para que nós tivéssemos
Vida: “Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13).
Com o Evangelho de hoje estamos longe dos julgamentos, das condenações e das exclusões. Isso não nos
conduz a lugar nenhum, mas ao contrário, para bem longe do Deus de Jesus Cristo: “Quando eu for
levantado da terra, atrairei todos a mim” (Jo 12,32). Morrendo numa cruz por amor, Cristo salva a todos
sem exceção.
É a hora de Jesus, que coincide com a sua exaltação, e que é, antes de tudo, elevação na cruz (cf. vv 32-33).
João coloca a morte de Jesus como glorificação, mas não esconde o drama humano da sua existência, o
drama da obediência ao Pai.
Aproximando-nos da Páscoa, neste quinto domingo da Quaresma, estamos face a face com o ponto central
da nossa fé. Diante do Crucificado, cada um de nós se encontra sozinho: é o mistério da cruz que implica
solidão.
O Cristo crucificado e ressuscitado, o Cristo da Páscoa, realizou plenamente a Aliança nova anunciada pelo
profeta Jeremias (primeira leitura de hoje). A Aliança nova, inscrita nos corações, torna-nos capazes de
amar, e nos convida a libertar outras pessoas de tudo o que as impede de amar.
3. Atualizando a Palavra
Quando São Bento diz que toda a vida do monge deve ser uma Quaresma (Cf. Regra Beneditina 49,1) não
está falando antes de tudo de penitência. Ele está falando da Páscoa deste mundo, está insistindo que
vivamos toda a nossa existência cristã iluminada pelos raios da ressurreição. A liturgia da Palavra de hoje,
cujo eixo é a imagem do grão de trigo que cai na terra e produz fruto, antecipa o sentido da Páscoa de
Jesus e também da nossa.
Os gregos quiseram ver Jesus. Encontraram Filipe e André que os conduziram a ele. Tendo visto Jesus e
acreditado nele, Filipe e André guiam outras pessoas para verem e conhecerem Jesus. É a vocação de
todos os que queiram seguir a Cristo. Tendo visto Jesus e feito a experiência de Deus em nossa vida, “vinde e vede” (Jo 1, 39) – tendo aceitado transformar-nos em semente lançada a terra, somos chamados
a conduzir outras pessoas a Jesus, para o verem, para o seguirem, para viverem a sua vida.
A Quaresma é tempo oportuno para nos perguntarmos: como cultivamos a graça e ao mesmo tempo o
desafio do nosso discipulado de Jesus? Queremos ver Jesus de verdade? Temos os olhos fixos nele?
Renovamos aquela aliança de amor com Cristo (lei gravada em nosso coração), iniciado no Batismo?
Em Hebreus, vemos a semelhança de Jesus com cada um de nós: ele viveu o dia a dia do sofrimento
humano. Ele experimentou a nossa condição humana, conheceu nossas fraquezas. Não é um sacerdote
separado das pessoas pelas quais intercede e oferece sacrifícios. Não é um Deus distante, mas bem
próximo.
A sua obediência foi sendo construída, conquistada, aprendida pelo sofrimento. E só quando consumado,
perfeito, chegou a ser causa de salvação eterna para todos os que lhe obedecem. Jesus é o Messias, Servo
humilde: ele assume as dores e esperanças de seu povo na contramão do poder dos reis deste mundo. Que
sentido tem o sacerdócio para nós? Recorremos à oração quando não entendemos a vontade de Deus em
nossa vida, como o fez Jesus?
3
O caminho de Jesus é o caminho da cruz que se faz luz, pois é caminho de vida. Ficamos parados ou
bloqueados na Sexta-feira Santa? O que esperamos para fazer com que se levante o Sol da Páscoa em
nossa vida? Ele é um ponto de referência em nossa noite?
Seguir a cruz como coluna luminosa em meio ao deserto não significa contentar-nos com o sofrimento e a
morte, mas é seguimento do Cristo vivo. O mais importante não é despender o tempo impondo-nos
sacrifícios, privações e mortificações, mas seguir o mesmo itinerário de vida de Jesus. Este Amor que morre
por amor a nós, crucificado, já se transformou em luz que atravessa as trevas das nossas provas?
Como relacionar a liturgia da Palavra de hoje com a CF 2015? A Igreja deve ser atuante, participativa,
consoladora, misericordiosa, samaritana e por isso não pode ficar voltada para si mesma. A Igreja precisa
“sair”, como tem dito reiteradas vezes o Papa Francisco. Ser servidora como Jesus, que aceitando ser grão
de trigo caído na terra, dá-nos a vida. O diálogo e a recíproca colaboração entre a Igreja e a sociedade é a
concretização do “eu vim para servir” (cf. Mc 10,45) de Jesus, que deve ser também o nosso.
4. Ligando a Palavra com ação litúrgica
Cristo está sempre presente na Igreja, especialmente nas ações litúrgicas. Está presente em especial nas
espécies eucarísticas. Está presente em sua Palavra, pois é ele quem fala quando se lê a Escritura na Igreja.
Cristo está presente na oração e no canto da comunidade reunida, pois prometeu “estar no meio de dois
ou três que se reunissem em seu nome” (Cf. Mt 18,20). (Cf. Sacrosanctum Concilium, n.7).
Portanto, podemos sempre ver e encontrar Jesus nas celebrações litúrgicas. Na Palavra, que é ele mesmo,
entramos em contato com a sua sabedoria, que nos comunica vida. Na Eucaristia, nos alimentamos do Pão
da Vida, nos unimos intimamente a Cristo, recebemos a força para a caminhada e renovamos a Aliança que
ele nos oferece no seu sangue.
Que a comunhão no sacrifício de Jesus nos faça aceitar por amor as dificuldades, os sofrimentos, a cruz da
nossa via, como passageiros (=páscoa) necessária para a salvação e a alegria perfeita.
Assim como Jesus, grão germinando na terra pela força do Espírito, já não morre, já não tem poder sobre
ele, também nós, que morremos com ele, brotamos como espigas de trigo para uma vida que não tem fim.
Jesus, cuja memória celebramos na Palavra e na Eucaristia, é o Deus que venceu a morte e fez brilhar a
vida para sempre. Mesmo que o cenário social, político e econômico em que vivemos seja conflituoso,
ainda que haja violência, mortes prematuras, injustiças contra os pobres, desigualdades sociais, doenças,
nós temos a certeza de que da morte surge a vida, que do grão de trigo caído na terra surge vida nova e
ressurreição.
O pão e o vinho da Eucaristia remetem à última ceia. Num gesto profético, anunciando a sua morte, Jesus
partiu o pão e deu um pedaço a cada um de seus discípulos, significando que, comendo este pão, eles se
tornariam companheiros e cúmplices na entrega da vida em favor do Reino. Eis o nosso compromisso com
a causa do Reino, a causa de Jesus, nesta celebração já tão próxima da festa da Páscoa.
Oração dos fiéis:
Presidente: Viver a Quaresma é ir ao encontro do próximo, abandonando a acomodação. É buscá-lo onde
ele está, sem temer as consequências, inclusive aquilo que podem pensar ou dizer de nós. É sair para que o
encontro aconteça, pra que ambos se abram à conversão e à renovação de vida. Peçamos ao Pai esta
graça.
(Repartir a oração entre homens e mulheres)
Oração da CF 2015
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1. Ó Pai, alegria e esperança de vosso povo, vós conduzis a Igreja, servidora da vida, nos caminhos da
história.
2. A exemplo de Jesus Cristo e ouvindo sua palavra que chama à conversão, seja vossa Igreja testemunha
viva de fraternidade e de liberdade, de justiça e de paz.
1. Enviai o vosso Espírito da Verdade para que a sociedade se abra à aurora de um mundo justo e solidário,
sinal do Reino que há de vir.
2. Por Cristo Senhor Nosso
Todos: Amém.
III. LITURGIA EUCARÍSTICA
ORAÇÃO SOBRE AS OFERENDAS:
Presidente: Deus todo-poderoso, concedei a vossos filhos e filhas que, formados pelos ensinamentos da fé
cristã, sejam purificados por este sacrifício. Por Cristo, nosso Senhor.
Todos: Amém.
ORAÇÃO APÓS A COMUNHÃO:
Presidente: Concedei, ó Deus todo-poderoso, que sejamos sempre contados entre os membros de Cristo
cujo Corpo e Sangue comungamos. Por Cristo, nosso Senhor. Todos: Amém.
BÊNÇÃO E DESPEDIDA:
Presidente: O Senhor esteja convosco.
Todos: Ele está no meio de nós.
Presidente: Que a graça de Deus esteja sobre vocês, para dar muitos frutos na vida e os sustentem na luta
contra o mal, para poderem, com Cristo, celebrar a vitória da Páscoa.
Todos: Amém.
Presidente: O Senhor Jesus Cristo, modelo de oração e de vida, os guie nesta caminhada quaresmal a uma
verdadeira conversão.
Todos: Amém.
Presidente: O Espírito de sabedoria e fortaleza os sustente na luta contra o mal para poderem com Cristo
celebrar a vitória da Páscoa. Todos: Amém.
Presidente: (Dá a bênção).
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