Transmissor LASER e Receptor Óptico Sintonizado para um Sistema SCM em 2GHz Luís M. M. Mendes1 ([email protected]), Henrique J. A. da Silva2 ([email protected]) Instituto de Telecomunicações - Pólo de Coimbra, Pinhal de Marrocos, 3030 Coimbra, Portugal Resumo Este documento descreve a construção de um Transmissor LASER (circuito dc e ac) e de um receptor óptico sintonizado para um sistema de multiplexação de sub-portadora (SCM) nos 2000MHz. Para o driver do LASER foi desenvolvido um controlador de potência óptica média emitida cuja precisão é da ordem dos 0.002% da potência óptica desejada. No receptor óptico foi utilizado um bloco de sintonia de modo a diminuir o ruído. I. INTRODUÇÃO Este trabalho insere-se no projecto ITCOM- Integração de Tecnologias em Comunicações Móveis. O projecto global é composto por dois subsistemas : • Subsistema celular formado pela Estação Móvel (EM) e duas Estações Base (EB) ligadas a um Nodo Central (NC) • Subsistema sem fios formado por duas LANs de infravermelhos. As duas Estações Base estão ligadas a um Nodo Central por uma ligação óptica bidireccional. O sinal da EM para o NC via EB e o sinal do NC para a EM via EB partilham o mesmo canal físico (fibra óptica), através da utilização de Multiplexação no Comprimento de Onda (WDM). O projecto desenvolvido insere-se no subsistema celular, e consta do desenvolvimento de um transmissor LASER e de um receptor óptico sintonizado para 1550nm numa banda de 1.91 a 2.0 GHz. Neste projecto estão presentes dois tipos de tecnologias: microondas e óptica. O transceptor óptico tem como entrada e saída um sinal eléctrico correspondendo a um conjunto de portadoras moduladas em PSK, sendo a banda do sinal de 1.91GHz a 2.0GHz. Visto o meio físico ser a fibra óptica, é necessário a existência de dois módulos transdutores: um electro-óptico (transmissor óptico) e um opto-eléctrico (receptor óptico). II. TRANSMISSOR ÓPTICO O transmissor óptico é constituído por dois circuitos distintos: o circuito ac e o circuito de controlo de potência óptica média. em todos os tipos de LASERs semicondutores devido a factores de dependência com a temperatura complexos. A variação de Ith com a temperatura pode ser aproximada pela seguinte expressão empírica: ( T − T1 ) T I th (T ) = I (T1 )e (1) onde To é uma medida da insensibilidade de temperatura relativa (valor dependente do tipo de semicondutor usado na construção do LASER) e T1 é a temperatura de referência. A variação da potência emitida com a temperatura está representada na figura seguinte: o P (mW) T I (mA) Fig 1 - Variação da característica P/I com a temperatura. Outro factor que provoca alteração da corrente de limiar é o envelhecimento do LASER. O sistema de controlo da potência média serve para controlar o ponto de funcionamento (corrente de polarização) do LASER de modo a prevenir variações da potência óptica média transmitida. Se o ponto de funcionamento do LASER não for mantido constante, as características eléctricas e ópticas variam, podendo ainda acontecer que o circuito deixe de funcionar por o LASER estar polarizado abaixo do limiar de emissão estimulada ou por avaria devida a correntes excessivas. De modo a ser possível o controlo de potência, o encapsulamento do LASER deverá conter um fotodíodo de vigilância para extracção de um sinal proporcional à potência óptica média emitida. O circuito de controlo de potência média implementado é constituído por um receptor óptico, um comparador do sinal proporcional à potência óptica emitida com um sinal de referência (que traduz a potência óptica desejada), um controlador proporcional e uma fonte de corrente controlada por tensão. O diagrama de blocos do controlo de potência está representado na figura 2. A. Controlo de potência óptica média Um factor importante a ter em conta em aplicações de díodos LASER é a dependência de temperatura da corrente de limiar Ith(T). Este parâmetro aumenta com a temperatura 1 . Investigador do Instituto de telecomunicações de Coimbra (IT-C) . Professor Auxiliar no DEE-FCTUC, responsável pela Linha de Comunicações Ópticas do IT-Coimbra 2 Fig 2 - Diagrama de blocos do controlo de potência óptica média. Como os LASERs semicondutores são componentes muito sensíveis, é imprescindível que o arranque destes seja suave. Na figura seguinte pode ver-se a tensão do LASER e a tensão à saída do receptor óptico: Na figura seguinte está representado o VSWR e o coeficiente de reflexão do transmissor: Tensão à saída do receptor óptico Tensão do LASER Fig 6 - VSWR e coeficiente de reflexão. Fig 3 - Arranque lento do LASER. A estabilidade foi obtida, utilizando-se um multímetro de precisão (7dígitos), através do seguinte procedimento: regulou-se a tensão de referência para 1V (Po≈1mW). Fez-se o arranque do circuito onde o valor inicial foi de 1,000100V. Depois do período de estabilização térmica dos componentes o valor passou para 0.999615±10µV permanecendo neste valor ao longo de várias horas. Como a variação da tensão à saída do receptor óptico é proporcional à variação da potência óptica, a percentagem de variação de uma grandeza é igual à da outra. Portanto a variação da potência óptica emitida é cerca de 0.002% do valor regulado. B. Circuito ac De modo a ser possível a construção e previsão correcta do funcionamento dos circuitos é necessário a modelização de todos os componentes envolvidos, pois só assim é possível fazer simulações cujos resultados se aproximam da realidade. O circuito equivalente eléctrico aproximado de um LASER é o seguinte: Como se pode ver pela figura 6 a adaptação do LASER à banda de interesse é excelente (1.91GHz a 2GHz), pois o coeficiente de reflexão é inferior a -20dB (VSWR<1.275:1). III. RECEPTOR ÓPTICO SINTONIZADO Para o receptor óptico pretende-se obter baixo ruído na banda de operação, e por isso optou-se por um receptor sintonizado. O receptor é formado por dois blocos: • Secção frontal (onde se situa a malha de sintonia); • Andar de ganho. A secção frontal é formada pelo fotodíodo, malha de sintonia e pelo MESFET. A malha de sintonia é formada por três indutâncias em T, pois é esta configuração que garante menor densidade espectral de ruído e banda plana para um sistema passa-banda. Fotodíodo Malha de sintonia MESFET Andar de ganho Circuito de estabilização do MESFET Fig 7 - Diagrama de blocos do Receptor óptico. Fig 4 - Circuito equivalente aproximado de um LASER. onde Rp, Lp e Cp são os componentes parasitas do encapsulamento e Rs é a resistência série do LASER. Os valores aproximados são: Rp=0.5Ω, Lp=2nH, Cp=0.1pF e Rs=6.25Ω. O circuito ac é formado por uma resistência em série, de modo a quase adaptar o LASER, e um conjunto de duas linhas de transmissão com um duplo stub permitindo optimizar a adaptação para a banda de 1.91GHz a 2GHz do LASER. O circuito ac está representado na figura 5. Para levar a cabo o projecto da secção frontal (malha de sintonia) teve que extrair-se o modelo equivalente eléctrico do fotodíodo e do MESFET (dado pelo fabricante). Depois dos modelos extraídos e com ajuda de um programa desenvolvido no MATLAB, extraíram-se os valores iniciais das bobines de sintonia. Através da simulação da secção frontal obtiveram-se os valores finais destas. As bobines de sintonia são implementadas por pistas microstrip. A. Secção frontal O primeiro passo para a construção da secção frontal foi a extracção do modelo do fotodetector. A curva na figura 8 mostra a variação típica da impedância de saída com a frequência. É a partir desta representação no Diagrama de Smith (obtida através de um analisador de circuitos) que se extrai o modelo do fotodetector. Fig 5 - Circuito de adaptação do LASER. Fig 8 - Coeficiente de reflexão do fotodíodo. O modelo correspondente (típico) é o representado na figura seguinte: p p D Fig 11 - Factores de estabilidade K e B1 depois do transistor ter sido estabilizado. Como se pode constatar pela observação da figura 11, tanto o factor K como o B1 satisfazem a condição (2), logo o MESFET passou a ser incondicionalmente estável. Depois de se estabilizado o transístor construi-se o circuito de sintonia. O circuito de sintonia é formado por três indutâncias em T, como mostrado na figura seguinte: Fig 9 - Modelo típico de um fotodetector. onde Rp e Lp são os componentes parasitas do encapsulamento e CD é a capacidade intrínseca do fotodíodo (junção polarizada inversamente). Os valores aproximados são: Rp=5Ω, Lp=4nH, CD=0.87pF. O segundo passo foi a estabilização do transístor (MESFET). A estabilidade do dispositivo pode ser estudada através de dois parâmetros: K e B1. A condição necessária e suficiente para um dispositivo ser incondicionalmente estável é: 2 2 2 1 − S11 − S 22 + ∆ K = >1 2 ⋅ S12 ⋅ S 21 (2) 2 2 2 B1 = 1 + S11 − S 22 − ∆ > 0 onde ∆ = S11 ⋅ S 22 − S12 ⋅ S 21 . Fig 12 - Circuito de sintonia. Através de um programa desenvolvido no MATLAB conseguem-se extrair os primeiros valores das indutâncias L1≈L2≈L3≈4nH. Como a indutância do fotodíodo anda perto desse valor o circuito a implementar será constituído por apenas L2 e L3. As indutâncias serão implementadas através de pistas microstrip. O circuito da secção frontal é o seguinte: O transístor usado é o ATF10136 da Avantek. Este é potencialmente instável pois, embora, o factor B1 seja sempre superior a zero, o factor K é inferior à unidade numa vasta gama de frequências (inclusive na banda de interesse). O processo de estabilização escolhido recaiu no método de carregamento paralelo resistivo. Através do carregamento paralelo da gate e do dreno consegue-se estabilizar o MESFET, tendo, no entanto, atenção que a resistência da gate não pode ser pequena por causa do ruído introduzido. O circuito de estabilização do MESFET é o seguinte: Fig 13 - Circuito da secção frontal. onde se pode ver que o bloco de sintonia é implementado em pista microstrip. A simulação da secção frontal foi feita no software Serenade Shematic 3.10 e Microwave Harmonica 6.6L da Compact. A resposta em frequência da secção frontal está representado na figura seguinte: Fig 10 - Circuito do MESFET estabilizado. Os factores de estabilidade K e B1 depois de estabilizado o transístor estão representados na figura seguinte: C. Receptor óptico global O circuito do receptor óptico é formado pela cascata dos circuitos das Fig 13 e Fig 15. Depois de se colocarem em cascata a secção frontal e o bloco amplificador é necessário fazer uma optimização da sintonia. O processo utilizado foi o de tentativa e erro. Depois de duas ou três iterações consegue-se obter uma função de transferência plana 0.09dB como mostrado na figura 17. Fig 14 - Resposta em frequência da secção frontal. Pela observação da resposta em frequência podem-se ver dois picos. Estes correspondem às frequências de ressonância introduzidas pelo bloco de sintonia. Estas zonas correspondem às zonas de ruído mínimo. Como o ganho global necessário é cerca de 65dB tem de se colocar em cascata um andar de ganho. B. Andar de ganho O andar de ganho é realizado com MMIC da MiniCircuits. O integrado é o RAM-6. Como o RAM-6 apenas tem 11dB de ganho e como a secção frontal tem cerca de 47dB tem de se utilizar dois andares para o ganho do receptor ser próximo de 65dB. Na figura seguinte está representado o circuito amplificador onde se podem ver distintamente os dois andares de ganho: Fig 17 - Resposta em frequência e coeficiente de reflexão do receptor óptico. Os resultados das simulações são excelentes pois, como se pode ver pelo gráfico, o ganho é de 68.34dB com uma variação de 0.09dB e o coeficiente de reflexão é inferior a -18.50dB. IV. RESULTADOS E CONCLUSÕES Neste momento o transmissor e o receptor encontram-se completamente simulados, e está-se a construir as placas dos dois protótipos. O controlo de potência está já completamente operacional, tendo sido exaustivamente testado. A estabilidade conseguida é cerca de 0.002% do valor regulado. Fig 15 - Circuito do bloco amplificador. Este amplificador é caracterizado pêlos parâmetros S que estão representados na figura abaixo: V. REFERÊNCIAS [1] G. Jacobsen et al., “Tuned Front-end Design for Heterodyne Optical Receivers”, Journal of Lightwave Technology, vol.7, nº 1, pp 105-114, Janeiro 1989. [2] Kamal E. Alameh and Robert A. Minasian, “Tuned Optical Receivers for Microwave Subcarrier Multiplexed Lightwave Systems”, IEEE Transactions on Microwave Theory and Techniques, vol. 38, nº 5, pp 546-551, Março 1990. [3] Y. T. Chieng and R. A. Minasian, “Ultralow-Noise PINHEMT Optical Front End With Spice Noise Modelling”, Electronic Letters, vol. 28, nº 12, pp 1147-1149, 4 de Junho de 1992. Fig 16 - MS11, MS12, MS21 e MS22 do andar de ganho. Na banda de operação (1.91GHz a 2GHz) os parâmetros MS22 (menor que -22.3dB) MS12 (menor que -28.6dB) MS21 (varia entre 21,5dB e 22.13dB) são bastante bons e o MS11 (menor que -11.77dB) é satisfatório. [4] Alain Cappy, “Noise Modeling and Measurement Techniques”, IEEE Transactions on Microwave Theory and Techniques, vol. 36, nº 1, pp 1-8, janeiro 1988. [5] Guillermo Gonzalez, “Microwave Transistor Amplifiers Analasis and Design”, Prentice-Hall,INC., Englewood Cliffs, N.J. 07632.