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Disponível em: www.univali.br/revistaturismo
GESTÃO AMBIENTAL COMO
ESTRATÉGIA DE MARKETING EM UMA
EMPRESA DE TURISMO RURAL
TOURISM MANAGEMENT AS A MARKETING STRATEGY IN A RURAL TOURISM COMPANY
LA GESTIÓN AMBIENTAL COMO ESTRATEGIA DE MARKETING EN UNA EMPRESA DE TURISMO
RURAL
Edson Roberto Scharf – FURB/PPGAD
Josiane Fernandes – FURB/PPGAD
Orlandy Orlandi - UNISUL
Data de Submissão: 08/08/2012
Data de Aprovação: 07/05/2013
Resumo
Este estudo apresenta o relato da experiência de uma organização que adota a gestão ambiental no
seu cotidiano empresarial. Especificamente, buscou-se identificar se a atuação da empresa atende às
variáveis dependentes ‘lucro corporativo’ e ‘poluição’, da plataforma conceitual de Huang e Rust (2011), e
se o conjunto destas ações é transformado em estratégia de marketing. Consiste em um estudo de caso,
sendo uma pesquisa qualitativa de cunho exploratório. A técnica de coleta de dados foi a de entrevistas
semiestruturadas com os dois proprietários fundadores da empresa. No tratamento dos dados foi utilizada
a análise da narrativa. Os resultados demonstraram que a empresa possui processos de melhoria contínua
na gestão ambiental, adotando preceitos de turismo rural. Entretanto se observou que os proprietários
não abordam esses processos como estratégia de marketing, mas como consequência operacional dos
negócios. Por último, as ações adotadas pela empresa, nas áreas ambiental e empresarial não têm sido
suficientes para confirmar que as variáveis dependentes estudadas ‘lucro corporativo’ e ‘poluição’ realçam
o lucro, mesmo com o acréscimo do nível de consumo.
Palavras-chave: Gestão ambiental. Estratégias de marketing. Turismo rural. Sustentabilidade. Turismo
sustentável.
Abstract
This study presents an account of experience of an organization that adopts environmental management
in its daily business practice. Specifically, it seeks to identify whether the company’s performance meets
the dependent variables ‘corporate profit’ and ‘pollution’ of the conceptual platform of Huang and Rust
(2011), and whether all these actions together comprise a marketing strategy. It consists of a case study,
with exploratory and qualitative research. The data collection technique was semi-structured interviews
with the two founding owners of the company, and on-site observation, carried out during fifteen field trips
carried out between 1998 and 2011. Narrative analysis was used to analyze the data. The results showed
that the company has processes of continual improvement in environmental management. However, it
was noted that the owners do not see this as a marketing strategy, but as an operational consequence
of the business. Finally, the actions adopted by the company have not been sufficient to confirm whether
the dependent variables studied - ‘corporate profit’ and ‘pollution’ – actually enhanced profit, even with
the increase in the level of consumption.
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Keywords: Environmental management. Marketing strategies. Rural tourism. Sustainability. Sustainable
tourism.
Resumen
Este estudio presenta el relato de la experiencia de una organización que adopta la gestión ambiental en
su vida cotidiana empresarial. Específicamente, se buscó identificar si la actuación de la empresa atiende a
las variables dependientes ‘ganancia corporativa’ y ‘contaminación’ de la plataforma conceptual de Huang
y Rust (2011), y si el conjunto de estas acciones es transformado en estrategia de marketing. Consiste en
un estudio de caso realizado como investigación cualitativa de cuño exploratorio. La técnica de recolección
de datos fue la de entrevistas semiestructuradas con los dos propietarios fundadores de la empresa. En el
tratamiento de los datos se utilizó el análisis de la narración. Los resultados demostraron que la empresa
posee procesos de mejora continua en la gestión ambiental, adoptando preceptos del turismo rural. Sin
embargo, se observó que los propietarios no abordan esos procesos como estrategia de marketing, sino como
consecuencia operacional de los negocios. Por último, las acciones adoptadas por la empresa en las áreas
ambiental y empresarial no han sido suficientes para confirmar que las variables dependientes estudiadas
‘ganancia corporativa’ y ‘contaminación’ realzan la ganancia, aun con el aumento del nivel de consumo.
Palabras clave: Gestión ambiental. Estrategias de marketing. Turismo rural. Sostenibilidad. Turismo
sostenible.
Introdução
O tema sustentabilidade é presença constante na mídia: programas e reportagens apresentam
desastres ecológicos, mudanças climáticas e crescentes problemas sociais devido à desestruturação
do tecido social urbano e da degradação ambiental.
O relatório Nosso Futuro Comum, criado na Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento e pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1983, conceituou desenvolvimento
sustentável como aquele “que permite satisfazer as necessidades presentes sem comprometer a
capacidade das gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidades” (WCED, 1987, p. 43).
Os estudos de Lago (1986) demonstram que, em cada década, de acordo com o contexto
vivido, a consciência ecológica foi sendo construída, partindo de incipientes concepções e chegando
a convicções sobre o poder miraculoso das tecnologias inovadoras.
Neste sentido, é objetivo deste trabalho identificar se a atuação de determinada empresa atende
às variáveis dependentes ‘lucro corporativo’ e ‘poluição’, da plataforma conceitual de Huang e Rust
(2011). Tão importante quanto esta identificação, se quis verificar se o conjunto destas ações é
transformado em estratégia de marketing.
O presente trabalho demonstra a compreensão de empresários da área rural sobre as estratégias
de marketing baseadas na sustentabilidade que vêm sendo adotadas para apoio à expansão dos
seus negócios. A estratégia de pesquisa foi qualitativa, com depoimentos dos fundadores, com
base em dados secundários e pesquisa de campo na forma de entrevistas semiestruturadas. A
verificação da abordagem da sustentabilidade a partir do critério denominado de triple bottom line
(desempenhos econômico, social e gestão ambiental), segundo diversos autores (BANSAL, 2005;
JOHNSON, 2009; CRITTENDEN et al. 2010), e, mais especificamente, a conexão do marketing com
os aspectos ambientais, faz deste um estudo de caso importante para a área.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Este capítulo apresenta algumas abordagens teóricas sobre a plataforma conceitual utilizada
no estudo, a gestão ambiental e as estratégias de marketing.
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Plataforma conceitual de Huang e Rust
Dadas as condições de crescimento empresarial global, a sustentabilidade tem sido compreendida
como uma das maneiras mais adequadas para manter o planeta a salvo da degradação generalizada.
São várias proposições e uma das mais aceitas é a que estuda o ambiente em que se vive dos
pontos de vista de três dimensões (econômica, ambiental e social), com a denominação de triple
bottom line (BANSAL, 2005; JOHNSON, 2009; CRITTENDEN et al. 2010).
Neste cenário, a plataforma conceitual de Huang e Rust (2011) mostra como os consumidores, os
negócios e o governo se relacionam a respeito da sustentabilidade e do consumo. Também aborda o
comportamento ótimo para consumidores e negócios a respeito de decisões sobre o consumo, ajuda
e caridade a países pobres e o uso de tecnologia verde. O estudo dos autores busca demonstrar
como decisões nestas áreas impactam o padrão de vida e a felicidade do consumidor, os lucros
corporativos, o nível de poluição e os conflitos globais.
A plataforma é composta de três partes integradas: a societal, a corporativa e a geopolítica.
Cada uma das partes possui preditores e variáveis dependentes. Para os autores, a teoria de
sustentabilidade e consumo que originou a plataforma pode ser vista de ambos os níveis, micro
(cada parte integrada, de forma isolada) ou macro (as partes integradas em conjunto). Cada forma
de analisar a plataforma traz resultados diferentes.
A parte integrada ‘societal’ é composta pelas variáveis dependentes ‘padrão de vida’ e ‘felicidade’
e pelos preditores nível de consumo, ajuda e caridade, sacrifício material, reconhecimento ambiental,
reconhecimento global e materialismo.
A parte integrada ‘geopolítica’ tem a variável dependente ‘conflitos globais’ e os preditores
injustiça de consumo, injustiça sensitiva e sensitividade política.
A parte integrada ‘corporativa’, plano teórico deste estudo, é composta pelas variáveis
dependentes ‘lucro corporativo’ e ‘poluição’. Seus preditores são a eficiência da tecnologia verde, a
tecnologia verde, as margens de lucro e as taxas de poluição.
Esta parte integrada se conecta com a parte integrada ‘societal’ por meio do preditor nível de
consumo com as variáveis dependentes ‘lucro corporativo’ e ‘poluição’, ambas de forma positiva; e
da dependente variável ‘padrão de vida’ de forma negativa com a dependente variável ‘poluição’.
A variável dependente ‘lucro corporativo’, no entendimento de Huang e Rust (2011), assume
que ambos, consumidores e organizações, otimizam seus próprios interesses. As empresas
buscam maximizar os lucros, os quais são baseados nas receitas vindas dos consumidores,
menos o custo de adoção das tecnologias verdes na oferta de bens e serviços, além das reduções
de taxas e multas pagas ao governo pela poluição produzida, de variadas formas. O lucro
corporativo resulta do nível de consumo e da margem de lucro, os quais determinam a receita
total (HUANG; RUST, 2011).
A variável dependente ‘poluição’ resulta diretamente do nível de consumo, mas ela é
incrementada pela produção ineficiente e pelo consumo. Para O´Riordan (2009), a severidade dos
malefícios ao meio ambiente tem gerado um chamamento global para um novo equilíbrio entre os
benefícios econômicos e a preservação ambiental. Algumas empresas têm respondido a este chamado
pelo desenvolvimento e pelo uso de tecnologias verdes para reduzir a poluição. As denominadas
tecnologias verdes são tecnologias que são usadas para proteger ou realçar o ambiente natural pela
conservação da energia e/ou dos recursos e reduzir ou eliminar o uso de agentes tóxicos, poluição
e sujeira (OTTMAN et al. 2006). Para Farias et al. (2010), as tecnologias ambientais têm como
objetivo a conservação de materiais, a eliminação de materiais tóxicos, a redução das emissões
tóxicas durante a fabricação e a redução do impacto ambiental para a saúde humana.
Esta variável apresenta como um dos preditores as taxas de poluição que, basicamente, são
as reduções ocorridas pelas taxas referentes ao meio ambiente, tais como as taxas de emissão de
carbono e as intervenções políticas por meio de taxas para corrigir externalidades negativas, como
os problemas de poluição. As taxas de poluição podem fazer crescer a alocação de fontes pela
redução do consumo de todos os bens e pelo redirecionamento das empresas para a produção de
bens e serviços verdes (HUANG; RUST, 2011).
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Gestão ambiental, TURISMO RURAL e sustentabilidade
A adoção da gestão ambiental nas organizações ocorre pela pressão dos consumidores
conscientes, pelo endurecimento da legislação ambiental e pela possibilidade de diminuição de
custos (FARIAS et al. 2010). Para Epelbaum (2004), o conceito é parte da gestão empresarial que
identifica, avalia, monitora e busca reduzir os impactos ambientais nos limites definidos. Decorre
do conceito mais amplo de sustentabilidade.
Para Netto e Trigo (2003), quando foi lançado o conceito de ecologia por Ernest Haeckel,
em 1886, também começava um conjunto de movimentos sociais que alteraria a relação do
homem com a vida e o planeta. Naquele instante, defendem os autores, foi iniciado um processo
de reconhecimento da interdependência dos diversos atores com a natureza, surgindo daí o
interesse da iniciativa privada em agregar valor à marca por meio da vinculação da imagem
institucional às questões ambientais.
Os problemas ligados à falta de gestão ambiental local efetiva, tanto como estratégia de política
pública ou de empresas privadas, são faces da mesma moeda em nível global. Para Cronin et al.
(2011), a maioria dos países desenvolvidos, cuja base da economia forte é oriunda de investimentos
em educação e tecnologia, faz pressão sobre o meio ambiente pelo alto poder de consumo de sua
população, enquanto nos países em desenvolvimento as pessoas convivem com estratos sociais
pobres, sem acesso à educação de qualidade e aos itens básicos de sobrevivência. Neste cenário,
é mais difícil desenvolver uma consciência para a gestão ambiental.
Portanto as organizações estão cada vez mais sendo chamadas a assumir uma postura próativa diante da atual realidade e precisam se estruturar para enfrentar este novo paradigma
gerado pela sustentabilidade dos negócios. O desafio é continuar prosperando economicamente,
buscando a integridade do meio ambiente com ações de menor impacto ambiental e socialmente
mais equilibrada (BANSAL, 2005).
O denominado turismo rural é uma das atividades que estão sendo desenvolvidas em
propriedades rurais como fonte econômica de desenvolvimento. Para Teixeira (1998), a atividade
promove a revitalização de zonas menos desenvolvidas, com a melhoria da infraestrutura
rural, a expansão da oferta de empregos e a fixação do homem no campo. Complementando o
entendimento da autora, Dias (2003) traça as principais atividades do turismo rural: fazenda-hotel,
pesque-pague, pousada, restaurante típico, contemplação de paisagens, destilaria, lazer como
canoagem e passeios a cavalo, vendas diretas do produtor e artesanato. Beni (2001) sugere que
o deslocamento de pessoas ao espaço rural, com roteiros programados ou espontâneos, com ou
sem pernoite, e as instalações rurícolas configuram o turismo rural.
Como um conjunto de atividades turísticas praticadas no meio rural, o turismo rural deve
conciliar crescimento econômico e atividades agropastoris. Para Almeida et al. (2000), a
empresa precisa se comprometer com a produção agropecuária, agregar valor a bens e serviços
lá produzidos, resgatar e promover o patrimônio natural da comunidade. Já para Sharpley e
Vass (2006), o benefício principal da atividade de turismo rural é a obtenção de renda adicional
oriunda da provisão de serviços, bens e experiências, gerando maior segurança; já segundo Lai
et al. (2006), na exploração agrícola no longo prazo, quando há abordagem de planejamento
no desenvolvimento do turismo.
Neste sentido, Silva Souza (2006) defende que uma discussão sobre o turismo rural
deve envolver os custos ambientais e sociais do processo de ‘turistificação’ dos lugares. Estes
custos, segundo o autor, devem envolver não somente o crescimento econômico, mas também o
desenvolvimento em bases sustentáveis.
A Figura 1 dispõe os três pilares da sustentabilidade (triple bottom line) segundo o entendimento
de Bansal (2005), com situações diversas de acordo com as intersecções formadas entre eles.
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Figura 1 - Diagrama da sustentabilidade
Fonte: Adaptado de Bansal (2005, p. 202).
Para o autor, a sustentabilidade ocorre quando existe a intersecção dos três elementos: o
desempenho econômico (a sustentabilidade deve conduzir ao sucesso econômico, bem como ao reforço
da reputação da empresa e a capacidade de gerar lealdade das partes interessadas); o desempenho
social [o critério de equidade social implica que as empresas não devam fazer conscientemente nada
que possa prejudicar qualquer das partes interessadas, segundo Shackeroff e Campbell (2007)]. Esta
perspectiva emergiu como paradigma dominante na pesquisa de responsabilidade social, afirmam
McWilliams e Siegel (2001); e o desempenho ambiental (relacionando-se a inúmeros acontecimentos
que impactam a vida de milhares de seres humanos).
No contexto de turismo rural, a garantia da sustentabilidade necessita de condições específicas
sejam cumpridas, segundo Dias (2003), tais como: a participação da sociedade local na atividade;
a limitação das capacidades de carga dos atrativos naturais e socioculturais; e a atuação sobre as
infraestruturas e equipamentos, a fim de preservar os recursos contra possíveis agressões.
Assim, o turismo rural pode ampliar a sua denominação e passar a ser chamado de turismo rural
sustentável, segundo Swarbrooke (2000), quando permitir a compreensão sobre os impactos que
causará nos ambientes natural, cultural e humano, tais como estimular a distribuição de benefícios e
custos localmente; estimular indústrias domésticas (hotéis, restaurantes, artesanatos); diversificar
a economia das áreas rurais; encorajar o uso produtivo de terras inutilizadas pela agricultura; e
intensificar a autoestima das comunidades locais.
Estratégia de marketing
A competitividade global é o cenário no qual as organizações estão inseridas e que precede ao
conjunto de atitudes empresariais rumo ao desenvolvimento de estratégias de marketing. Como elo
entre a organização e seus vários mercados, o processo de marketing possui papel fundamental na
construção do sucesso da empresa. E esta construção tende a se utilizar da estratégia de marketing
para lograr êxito. Para Chen et al. (2013), as estratégias de marketing é que possibilitam um
crescimento adequado e duradouro para a marca de qualquer empreendimento em qualquer setor,
inclusive no turismo rural.
Conceitualmente, estratégia de marketing é o desenvolvimento de atividades a fim de construir e
manter vantagens competitivas sustentáveis (DAY, 1992). Ela só acontece com a interação contínua
com o mercado, por meio dos vários stakeholders. Para a obtenção dessas vantagens, a organização
busca realizar atividades específicas relacionadas ao seu negócio, que as projetem para a entrega
de valor superior ao consumidor, quando comparada esta oferta a dos concorrentes (WEBSTER,
1992). Para o autor, o uso da estratégia é importante porque o valor ofertado ao mercado não
está somente no bem ou no serviço, mas também no processo e no capital humano envolvidos.
Neste sentido, as competências essenciais da organização são elementos principais na construção
da estratégia de marketing (PIERCY, 1998) e devem ocorrer a partir de um processo contínuo de
feedback (VARADARAJAN; JAYACHANDRAN, 1999).
Uma estratégia de marketing é constituída das dimensões funcional (desenvolvimento da
lealdade do consumidor por meio de atributos como marca, serviço, logística, desempenho e
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outros) e filosófica (desempenho organizacional no longo prazo, por meio da cultura corporativa).
O sucesso sinérgico de ambas depende fundamentalmente de a empresa ser orientada para o
mercado (WEITZ; WENSLEY, 1992).
Na composição de uma estratégia de marketing, existem duas fases: a formulação e a
implementação. A primeira diz respeito ao momento de criação da estratégia, envolvendo a
identificação dos pontos fortes, fracos, ameaças e oportunidades e, a partir deste quadro, a definição
de opções e de alternativas estratégicas que se adequem aos objetivos corporativos e ao cenário
de atuação da organização (MENON et al. 1999). A implementação se refere à própria realização da
estratégia, como sugere o nome. Com o uso dos recursos internos e da estrutura organizacional,
ocorre a prática da estratégia com a comunicação entre os envolvidos, a gerência do compromisso
dos talentos humanos e a busca de líderes para o processo (NOBLE; MOKWA, 1999). Embora
constituída pelas duas fases separadamente, diversos autores (VARADARAJAN; JAYACHANDRAN,
1999; MINTZBERG; QUINN, 2001) defendem que é necessária ampla relação entre elas.
A sustentabilidade é aceita como uma das principais ações de sucesso das estratégias de longo prazo
no negócio de uma organização (PORTER; KRAMER, 2006; KUOSMANEN; KUOSMANEN, 2009). Para
Belk et al. (1996), há pouca inserção dos conceitos de sustentabilidade na gestão do marketing como
corrente principal, tanto na teoria quanto na prática. No entanto uma orientação para o mercado que
conjugue uma vantagem competitiva obtida por uma estratégia de marketing e pela sustentabilidade
é um recurso importante para a empresa (CRITTENDEN et al. 2010; CHEN et al. 2013).
As denominadas estratégias de marketing verde, quando avaliadas a partir do triple bottom line,
têm como resultado mais importante a identificação do impacto positivo no ambiente pelos vários
stakeholders (CRONIN et al. 2011). Para o autor, os benefícios obtidos para as pessoas e o planeta
por meio das estratégias de marketing verde são evidentes; entretanto, se os lucros corporativos não
estão presentes no mesmo nível, as organizações podem optar por não se envolver no esforço (BAKER;
SINKULA, 2005; KASSINIS; VAFEAS, 2006; MARKLEY; DAVIS, 2007; HUANG; RUST, 2011).
MÉTODO
As pesquisas são geralmente classificadas em duas grandes categorias: não conclusivas e
conclusivas (MALHOTRA et al. 2005). Dentre as não conclusivas encontra-se o tipo exploratório,
utilizado neste trabalho. O propósito dos estudos exploratórios é desenvolver hipóteses e proposições
para sustentar futuras pesquisas (PERIN et al. 2000).
Caracterizado como uma pesquisa qualitativa, de cunho exploratório, este trabalho objetiva
identificar as ações de uma organização na busca da competitividade empresarial a partir do conceito
de sustentabilidade como estratégia de marketing. O entendimento dos dois socioproprietários do
empreendimento foi a base do trabalho. É o uso da sustentabilidade ao longo do tempo a perspectiva
de estudo. Para tal, adotou-se um levantamento no formato de estudo longitudinal, incluindo o
período de 1998 a 2011.
O método adotado foi o do estudo de caso, por se tratar de uma situação específica de investigação
(EISENHARDT, 1989). A utilização de um único caso é apropriada em algumas circunstâncias, como
quando se quer determinar se as proposições de uma teoria são corretas; quando o caso sob estudo
é raro ou extremo; ou quando o caso permite o acesso a informações não facilmente disponíveis
(MILES; HUBERMAN, 1994).
Para os autores (1994), um caso é uma unidade de análise, podendo ser um indivíduo, o papel
desempenhado por este indivíduo ou por uma organização, um pequeno grupo, uma comunidade ou
até mesmo uma nação. Entretanto casos também podem ser definidos temporariamente (eventos
que ocorreram num dado período) ou espacialmente (o estudo de um fenômeno que ocorre num
dado local). Portanto um caso pode ser um fenômeno simples ou complexo no ambiente acadêmico
(MILES; HUBERMAN, 1994; FACHIN, 2001; YIN, 2005).
O trabalho foi pautado na investigação da realidade de um empreendimento de serviço de café
colonial em ambiente rural, em que se buscou interagir com os sócios mandatários no intuito de
construir conhecimento sobre o problema. Desta forma, o trabalho se apresenta como um estudo
de caso em determinada empresa, permitindo uma investigação que preserva as particularidades
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da organização em funcionamento (YIN, 1993). A necessidade de interagir com os gestores da
organização de forma acentuada motivou a escolha do estudo de caso como estratégia de pesquisa
para atender aos objetivos propostos.
A empresa estudada tem a denominação comercial de Fluss Haus e situa-se na região denominada
de Associação dos Municípios da Região de Laguna (Amurel). O empreendimento estudado possui forte
expressão empresarial e social na região. São 54 funcionários fixos, basicamente com o nível de 2º
grau, chegando a 90 funcionários nos finais de semana. Iniciada em 1996, a empresa produz bolachas
decoradas artesanalmente para classes de renda média e alta, administra um negócio do tipo ‘café
colonial’ e atividades agropecuárias como fornecedoras de insumos. Seu horário de atendimento é das
8 às 20 horas, com café da manhã, almoço e café da tarde no sistema all inclusive. O ambiente do
restaurante é típico alemão e externamente existem diversos jardins, riachos, espaços de confinamento
de animais para exposição e pequeno armazém de produtos desenvolvidos pela própria empresa, tais
como doces, bolos, bolachas e demais bens do segmento de candies. Os socioproprietários, casados,
respondentes da pesquisa, possuem formação no segundo grau, ele com idade de 47 anos e ela com
44 anos, e foram os fundadores da empresa. Atualmente, ambos frequentam o curso de Administração
na Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL), campus Tubarão, em Santa Catarina.
A lógica de pesquisa utilizada foi a indutiva, já que parte de diferentes raciocínios e entendimentos
dos proprietários da organização para se obter conclusões gerais sobre a adoção da sustentabilidade
como estratégia de marketing (ENSSLIN et al. 2000).
A mecânica da pesquisa se constituiu de duas etapas. Primeiramente, foram realizadas quinze
viagens de estudo por professores e alunos universitários entre 1998 e 2011, com o fito de
observação do espaço estudado e da coleta de depoimentos. Este conjunto de ações foi finalizado
com a realização de duas entrevistas semiestruturadas com os socioproprietários do empreendimento
Fluss Haus para confirmação da adoção da sustentabilidade como estratégia de marketing, a partir
do entendimento de Huang e Rust (2011). Na segunda etapa, dados primários obtidos por meio de
duas entrevistas formaram a coleta de dados.
A primeira entrevista foi composta de onze questões abertas desenvolvidas para averiguar
a adoção do conceito de sustentabilidade, segundo estudos de Bansal (2005). Esta etapa foi
conduzida durante o horário de expediente comercial, no ambiente de trabalho dos respondentes e
consumiu aproximadamente 70 minutos. Por autorização dos participantes, a entrevista foi gravada
e posteriormente verbalizada.
A segunda entrevista foi composta de nove questões abertas desenvolvidas com a intenção de
identificar especificamente as ações estratégicas e operacionais de marketing adotadas pela organização.
Dentre os aspectos tratados, estavam a divulgação comercial por meio da propaganda, word of
mouth, sítio na Internet e outras ferramentas, conjuntamente com os conceitos de sustentabilidade
anteriormente citados. Esta etapa também foi conduzida durante o horário de expediente comercial,
no ambiente de trabalho dos respondentes, e consumiu aproximadamente 120 minutos. A entrevista
foi gravada e posteriormente verbalizada, por autorização dos participantes.
Como marco teórico, utilizou-se primeiramente dos estudos de Bansal (2005), para quem as
organizações estão sendo conclamadas a assumir uma postura pró-ativa diante da nova realidade
mundial que se apresenta. No entendimento do autor, o desafio maior é continuar prosperando
economicamente, mantendo a integridade do meio ambiente com ações de menor impacto ambiental
e atuação socialmente mais equilibrada. Na fase conclusiva do estudo, foram utilizados os estudos
de Huang e Rust (2011) para nortear conceitualmente o conjunto de aquisição de informações e
posterior avaliação. Para os autores, há implicações das três dimensões da sustentabilidade no
consumo dos países considerados ricos. A plataforma conceitual do seu modelo sugere que existem
três partes integradoras e suas variáveis dependentes: a corporativa (lucro e poluição), a de consumo
ou societal (padrão de vida e felicidade), e a geopolítica (conflitos globais). Este estudo adotou a
parte integradora denominada ‘corporativa’ como diretriz para as análises.
Caracterização da organização
A Fluss Haus iniciou suas atividades em 1996, com apenas três pessoas, fabricando bolachas
decoradas artesanalmente pela própria família para o Natal e demais datas festivas e distribuídas
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pela comunidade. Com o aumento da procura pelo produto, a empresa resolveu investir em alguns
pontos para alavancar sua produção e tentar abastecer todo o município. Atualmente, a empresa
está estruturada em quatro áreas: fábrica de bolachas; café colonial; loja para venda de produtos
próprios e da região; e área agropecuária (vide sítio flusshaus.com.br).
O nome comercial de Fluss Haus significa “casa do rio” em alemão, devido ao fato do pai do
fundador ter desviado parte do rio que passa entre a casa principal e a construção da cozinha e
a fábrica de bolachas para os seus serviços na marcenaria. Hoje é uma atração turística, com as
águas cristalinas e peixes, parecendo um aquário natural.
Situada na localidade de Vargem do Cedro no município de São Martinho, pertencente à Associação
dos Municípios da Região de Laguna (AMUREL), a empresa Fluss Haus está sediada em região que
destaca a importância dos imigrantes alemães, responsáveis pelo início do desenvolvimento econômico
da cidade. O município de São Martinho é considerado pelo Vaticano a Capital Mundial das Vocações
Sacerdotais, pelo grande número de padres que gerou (JOCHEM, 2003; BUSS, 2008; RICKEN, 2008).
Também já foi tema de estudo de Elesbão e Almeida (2001), que contaram a experiência do turismo
rural na cidade como fator econômico importante. O último censo realizado na região aponta o
declínio e o envelhecimento da população. A região conseguiu transformar o cenário socioeconômico
desfavorável em um círculo virtuoso de riqueza, refletido no avanço significativo do PIB local e na
melhoria da qualidade de vida por meio de iniciativas empreendedoras.
Sua expansão se deu em três etapas: a) empresa é registrada legalmente em 1999, com venda
das bolachas em lojinha anexada à fábrica, vendas itinerantes feita pelo proprietário em automóvel
próprio, ampliação da fábrica, contratação de funcionários, vendas exclusivas para Natal de Gramado
– RS e cuidados com os jardins; b) inauguração de café colonial para 40 e depois para 90 pessoas,
nova ampliação da fábrica e da loja, nova reforma dos jardins, capacitações dos funcionários,
benefícios concedidos, contratação de consultoria, investimento em área agropecuária: laranjas,
galinhas, porcos e outras frutas; c) expansão do ambiente do café para 210 pessoas, novo jardim,
visita à Europa e consolidação do negócio.
Toda a família trabalha na empresa: marido e esposa são os fundadores, sendo o marido responsável
pela gestão estratégica dos negócios e a esposa responsável pela produção das bolachas na fábrica e
na coordenação geral da cozinha do café colonial; a filha responde pelo setor financeiro.
RESULTADOS
A partir dos depoimentos dos dois fundadores em quinze viagens de estudo entre 1998 e 2011,
inicialmente foram identificadas as três dimensões que indicam a adoção da sustentabilidade como
estratégia de marketing (BANSAL, 2005; JOHNSON, 2009; CRITTENDEN et al. 2010). A seguir, para
atendimento aos objetivos gerais deste estudo de caso, serão tratados os aspectos relacionados
às questões ambientais e às de estratégias de marketing, com a observação da parte integradora
‘Corporativa’ e suas variáveis dependentes ‘lucros corporativos’ e ‘poluição’, que compõe a plataforma
conceitual proposta por Huang e Rust (2011).
Sustentabilidade
Ao serem questionados sobre o seu entendimento de sustentabilidade, foi relatado que
“eu acho que é uma questão de ter, por exemplo, um empreendimento seguro, uma coisa que
você possa trabalhar em cima, duma (sic) coisa que te alimente, numa coisa forte na empresa
[...] sustentabilidade, eu entendo, vamos supor, eu acredito que seje (sic) como no interior,
sustentabilidade no interior, uma renda que faça com que você fique aqui no interior e viva bem com
qualidade de vida, pra não procurar, pra não acontecer o êxodo rural”. Ações desenvolvidas visando
ao turismo sustentável devem ser levadas adiante de tal maneira que as especificidades locais e a
comunidade sejam amplamente consideradas, segundo Rezende e Rezende (2005).
Evidencia-se o foco no desempenho econômico, além da preocupação com a questão social,
já que a população do município encolheu em quase 50% em aproximadamente vinte anos devido
à migração para centros urbanos com condições menos precárias. O desempenho econômico tem
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sido o mais relevante para as organizações pelos óbvios motivos relacionados ao fluxo de caixa,
rentabilidade e lucro. Especialmente em momentos de incerteza econômica ou no início das operações,
fica mais evidente esta dimensão em relação às outras duas (BANSAL, 2005).
Quando questionados sobre as ações de sustentabilidade adotadas pela organização,
especificamente em relação à gestão ambiental, foram descritas as atividades de reflorestamento:
[...] o que era só pastagem, comecei a reflorestar tudo [...] este ano conseguimos comprar mais
um terreno, reflorestei dezessete hectares [...] hortas de verduras e plantações de frutas, todas
sem agrotóxico; sobras de comida como alimentação para porcos e galinhas; animais em espaços
adequados [...] ficam nessas chácaras que estão arborizadas [...] e, quando possível, livres, como
é o caso das galinhas; perfuração de poço próprio para utilização de água encanada em quantidade
menor; proteção da beira do rio, com a plantação de diversos tipos de madeira nativa [...] para ter
futuramente um modelo que mais gente possa vir a copiar [...] separação de resíduos recicláveis e
orgânicos; e reuniões internas com funcionários sobre conscientização dos aspectos ambientais.
São ações feitas basicamente com conhecimento adquirido da observação do que ocorre na
Europa, em suas experiências internacionais: [...] pelo que vi na viagem que a gente fez pela Europa
também [...], sem uma metodologia específica para as ações de sustentabilidade. Mesmo que não
seja na área específica da gestão ambiental, porém, é importante salientar a preocupação da empresa
com a formação dos funcionários: [...] tem oito funcionários que fazem o curso técnico de Turismo
e Hotelaria na universidade Unisul [...]. À parte a viagem, é entendimento dos proprietários que
seu conhecimento a respeito das questões ambientais vem, em sua maioria, pela preocupação no
atendimento aos turistas: [...] é pelo próprio fato de tá (sic) trabalhando num ramo que se chama
turismo [...]. Para Ruschmann (2000), o turismo sustentável deve compreender que se a indústria
destrói para produzir, o turismo preserva para produzir e que esta é uma mudança na forma de
pensar, é um novo conceito empresarial. Para Rezende e Rezende (2005), somente se alcançará o
turismo sustentável pleno por meio de um planejamento que respeite a capacidade de carga e se
encontre dentro dos limites aceitáveis de exploração da terra.
Estratégias de marketing
Quando perguntados sobre seu entendimento a respeito de estratégia mercadológica, ambos
se posicionaram positivamente a respeito da marca. É um trabalho que é feito por meio do nome,
da venda do teu produto, que se torne conhecido [...] não é o nosso caso, praticamente, porque o
marketing nosso quem faz é próprio produto, enquanto em outras empresas, às vezes, eles contratam
pessoas especializadas pra fazer esse trabalho [...], a gente não tá (sic), [...] trabalhando muito
forte em cima disso, [...] produto ele mesmo já tá (sic) fazendo esse trabalho de boca a boca, do
trabalho [...]. Ainda, marketing é divulgar o produto, [...] e mostrar isso pra outras pessoas, com
intenção de vendas [...]. Os entrevistados perceberam a pergunta como ligada à divulgação dos
seus produtos, ficando evidente que desconhecem o conceito de estratégia de marketing.
As diferenças básicas entre ações de marketing e estratégias de marketing são de desconhecimento
popular, ainda que aquelas sejam individualizadas ou eventuais. Mesmo as que são comemorativas,
por exemplo, nada têm de estratégico, sendo antes ações de aproveitamento de uma oportunidade
no calendário. Para Day (1992), estratégia se diferencia da ação pelo esforço planejado para atingir
e manter uma vantagem competitiva no ambiente em que atuam.
Quando se quis saber sobre ações de marketing que são divulgadas ou que, de alguma forma,
chegam ao conhecimento do público, descreveram a reação do consumidor quanto ao seu consumo
de carne animal. Argumentam que o fato de serem criados livres traz um sabor diferente (para
melhor) à carne: [...] logo já sabe que é um produto de preservação, natural, criado em casa, tem
outro sabor. E que a experiência com a iguaria faz com que eles se sintam à vontade para comentar
com outras pessoas: [...] a gente percebe nitidamente que as pessoas realmente comentam.
Outras ações que, no entender dos proprietários, são comentadas entre os consumidores e destes
para pessoas da comunidade se referem ao lixo e ao reflorestamento. Quanto à primeira, a Fluss
Haus tem feito um trabalho de conscientização junto à comunidade mais próxima da empresa para
que o lixo seja jogado no lixo. Também tem se esforçado para multiplicar a atividade de separação
do lixo caseiro, como medida de facilitação e endereçamento adequados para o descarte. Quanto
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ao reflorestamento, os empreendedores entendem que na sua região ainda há [...] um ou outro
que faz uma derrubadinha [...] mas caiu uns noventa por cento [...]. Com o trabalho de vários
stakeholders, em conjunto ou isoladamente, a consciência sobre a importância das matas tem
aumentado e já é possível observar resultados concretos: [...] em vez (sic) das pessoas desmatar,
tão enchendo as pastagens de reflorestamento [...].
O questionamento seguinte se deu sobre os motivos da não divulgação proposital das
ações de marketing adotadas pela empresa. O fato ocorre não somente porque tem custo, mas
principalmente porque haveria a necessidade de tempo para discussão e organização das ideias
em torno daquilo que deve ser divulgado. Este planejamento levaria à estratégia de marketing,
algo ainda incipiente na empresa, talvez até inexistente. De acordo com um dos proprietários,
[...] você vai ter que realmente (grifo nosso) fazer propaganda dizendo que isso é um produto que
não vai agrotóxico [...]. Muitas empresas decidem por não fazer esforços dirigidos e planejados de
comunicação, porque podem não ter definidas claramente as linhas estratégicas de comunicação e
por entender ser um investimento muito além das possibilidades da organização em dado momento
(SHAFFER; ZETTELMEYER, 2009).
Em relação às ações de divulgação já realizadas e cujo tema central tenha sido a dimensão
ambiental, ficou evidenciado que o grande esforço de divulgação da empresa ainda é o word-ofmouth. Ocorrido sem planejamento e sem esforço direto dos empreendedores, a ação de boca a
boca tem em sua natureza a credibilidade (LITVIN, 2008; BROWN et al. 2005). Por absoluta falta
de dinheiro para investimento em ações mais convencionais, os proprietários sempre terminavam
um atendimento pedindo ao consumidor que, se houvesse gostado, que indicasse a casa para
alguém. Embora hoje já não seja mais possível, pela quantidade de clientes, ainda é prática este
tipo de divulgação. No entender dos empreendedores, [...] os conhecidos que vinham, e gostavam,
e acabavam sempre trazendo um amigo, um parente [...]. Em determinado momento, houve um
fato isolado que mudou a imagem do empreendimento, daqueles que sozinhos conseguem modificar
a situação até então vigente: as visitas técnicas de professores universitários.
Por necessidade de uma situação real para estudo de caso na área de sustentabilidade, alguns
professores de uma universidade do sul do estado de Santa Catarina encontraram a Fluss Haus.
Entenderam que seria um modelo ideal para explicar vários pontos que se pretendia ensinar em
sala de aula. Começaram a fazer deslocamentos da universidade para a empresa, distante 90
quilômetros uma da outra, alugando ônibus e lotando o local de pessoas com nível sociocultural
bastante mais elevado do que aquele que até então frequentava a casa. A partir deste momento,
com os alunos virando verdadeiros multiplicadores da experiência que tiveram, outro público, mais
seleto, começou a frequentar o local. E, por sua vez, também agiam como multiplicadores do que
viam. Segundo Brown et al. (2005), o word-of-mouth é uma ferramenta de resultado efetivo porque
independe do ambiente para ser utilizada.
Quando questionado sobre as ações que estão sendo feitas neste momento, de forma mais
convencional, o seu discurso inicialmente pairou sobre o aspecto da qualidade dos bens produzidos
e dos serviços ofertados. Nas palavras de um dos fundadores, [...] não pelo movimento que você
vai fazer uma coisa por cima. Não. Cada vez melhor o produto, cada vez atender melhor [...] por
isso, nós temos movimento [...]. De acordo com Webster (1992), é comum empreendedores que
ainda não se engajaram nas atividades de marketing considerarem importante somente o que se
relaciona com a produção. No entanto as condições competitivas do mercado se alteraram nos
últimos períodos, tornando o crescimento no mercado mais duro. Dentre outros fatores, a inclusão
da Internet fez com que muitas pessoas, antes excluídas das novidades e dos lançamentos de
negócios, agora estejam em pé de igualdade com todos os demais. O preço, muitas vezes, tem o
mesmo efeito de inclusão (ADJEI et al. 2010; KALRA; SOBERMAN, 2010; NEILL, 2010).
Ao se voltar novamente à pergunta, foram identificados dois esforços de divulgação
convencionais, um fôlder e o sítio na Internet. Especificamente o esforço na Internet é de
fundamental importância para a obtenção de sucesso e reconhecimento do lugar, segundo Mauri
e Minazzi (2013). Além disto, citaram que algumas agências de turismo menores trazem ônibus
lotados com pessoas interessados em conhecer o ambiente. Enfatizam, porém, que este esforço não
tem influência direta da Fluss Haus. Esforços indiretos, como os de relações públicas ou assessoria
de imprensa, no entendimento de Craciun e Corrigan (2010), podem ser importantes auxiliares
para sustentar as mensagens veiculadas em peças publicitárias centrais da campanha. No entanto
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ficou aparente a condição de não divulgação dos aspectos relacionados ao meio ambiente nas peças
publicitárias. No entendimento dos respondentes, o motivo é a autonomia dada pela empresa aos
criadores das ações, [...] ele fez tudo do jeito dele e não apareceu nada [...]. Apesar da busca
de outras ações importantes para o empreendimento, ambos os empreendedores voltaram-se
para o word-of-mouth como sendo a principal ação para geração de resultados positivos, como o
incremento da quantidade de clientes.
Ao serem questionados sobre o impedimento em divulgar as ações de gestão ambiental para o
público consumidor, o discurso se voltou para a falta de tempo devido às atividades produtivas. Em
vez da ampliação do conhecimento popular sobre as ações voltadas ao meio ambiente, por meio
de esforços de divulgação, a preocupação maior é com a administração interna dos aspectos de
produção (manufatura e atendimento). Em seguida, dada a resposta, perguntou-se se este fator é
devido ao despreparo ou à falta de conhecimento, ao que um dos fundadores foi enfático, dizendo
que a equipe toda se preocupa basicamente em fazer bem-feito o que tem que fazer, e que [...] têm
pessoas que montam uma empresa e se preocupam mais em vender do que oferecer [...], situação
que não ocorre na Fluss Haus. Quando provocados sobre qual decisão tomariam entre comprar uma
máquina ou fazer uma divulgação adequada, rapidamente afirmaram que são situações diferentes
da maioria das empresas, pois hoje estão preocupados em entregar o serviço, não em estocar e
tentar vender. Logo, a ocupação da Administração é em ter processos e maquinários mais eficientes
para atender à demanda, sempre crescente.
Quando questionados sobre a fonte de conhecimento a respeito da gestão ambiental e sua
aplicação, ambos os fundadores comentaram que a maior quantidade de informações sobre o tema
vem dos turistas. São eles, segundo os respondentes, que acabam avaliando os serviços prestados
e, principalmente, as ações ambientais tomadas, dizendo o que é certo e o que é errado. Em relação
ao desmatamento, por exemplo, em variadas situações as pessoas comentaram com a equipe sobre
alguns aspectos que poderiam ser aperfeiçoados de acordo com aquilo que conhecem das suas
viagens ou leituras. Para um dos fundadores [...] o turista que vem aqui e veja (sic) alguma coisa
errada de desmatamento, te dá um puxão de orelha [...]. No entanto, para se obter uma gerência
ambiental em toda a organização, é preciso planejamento, não apenas conhecimento eventual. Para
Tachizawa (2002), a gestão ambiental deve levar em consideração as variáveis ambientais e as
definições dos stakeholders, e que isto é obtido com o planejamento estratégico, especificamente
o delineamento dos objetivos e das estratégias da empresa.
Uma das partes conceituais da plataforma de Huang e Rust (2011) é a dos lucros corporativos.
Neste sentido, verificou-se o critério a partir de pergunta sobre a adoção de procedimentos de
análise do desempenho econômico na empresa. Relataram que [...] a gente pegou um consultor
do SEBRAE, aonde (sic) que ele fez umas planilhas, uns trabalhos pra administração da empresa
pra ter controle de produção, controle de trabalho [...], a maioria dos pagamentos [...] é à vista,
e outros a gente trabalha com boletos [...]. De acordo com um dos respondentes, com a planilha
[...] a gente tem um controle, não digo total, mas eu acredito uns 80 a 90%; [...] um produto
quando vai ser lançado no mercado é feito uma estrutura de preço, onde tenha a margem de lucro,
a margem de reinvestimento, a margem dos custos fixos [...].
Enfatizaram o cuidado no uso dos recursos financeiros, explanando que [...] até hoje nós
trabalhamos com os recursos próprios. E tanto que a gente não tinha caixas separados da empresa
com o salário nosso [...] e nós até tamos (sic) fazendo um investimento agora na empresa,
uma construção bem grande e ampliando a fábrica e os depósitos, [...] a gente pegou agora um
financiamento do banco [...].
Variáveis dependentes da parte integrada corporativa, de Huang e Rust
Considerando os dois aspectos adotados por Huang Rust (2011) na plataforma conceitual
proposta, especificamente nas variáveis dependentes ‘lucro corporativo’ e ‘poluição’, da parte
integrada ‘corporativa’, obteve-se resultado distante da proposição dos autores.
Quando questionados sobre os lucros corporativos, os fundadores afirmaram que o lucro médio
real é de 12%. Este índice foi extraído de planilhas de que dispõe a empresa para demonstrar
os resultados econômicos de contas a pagar e a receber até o fluxo de caixa. O instrumento foi
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desenvolvido por um consultor do SEBRAE e, no entendimento dos empresários, ainda consegue
atender às necessidades de controle e de projeção para a empresa. Embora a intenção seja
desenvolver um sistema contábil e econômico próprio, por meio da computação, seu parceiro na
área não entregou o sistema por entendê-lo muito complexo.
Por meio das planilhas lançadas a mão, os respondentes entendem que o negócio é próspero, mas
para a sua realidade. Se fossem necessários investimentos vultosos, como em propaganda, por exemplo,
ou em uma nova planta fabril, prontamente as dificuldades se apresentariam. Como o negócio é de
pequeno porte e com um conceito a desenvolver, as dificuldades para grandes saltos são inúmeras.
Citam o exemplo de um empréstimo que tomaram para a compra de um novo forno. Embora
tivessem o dinheiro para comprá-lo à vista, entenderam ser mais seguro financiar a compra e guardar
o montante para investimentos de oportunidade ou segurança do negócio. Os fundadores citaram que
[...] tínhamos todo esse valor para reinvestir, mas nós conversando com o pessoal do banco, vendo
(sic) os juros e tudo, nós vimos que compensava pegar aquele valor que nós poderíamos pagar em
até sete anos, descontando todo mês na conta, ao invés de trabalhar com o nosso particular [...].
Esta forma de ação é relativamente comum entre pequenos poupadores e se repete em empresas
menores: mantém uma reserva de dinheiro, embora fiquem devendo um montante maior do que
possuem ao banco. É uma falsa segurança, de teor psicológico. Dizem os proprietários que [...]
pelo fato de deixar guardado, qualquer coisa (sic) aparece um negócio melhor, alguma coisa que
você precisa na hora [...] sempre fomos muito pé no chão [...].
Neste sentido, embora o nível de consumo esteja se elevando com a capacidade de produção e
entrega se tornando praticamente iguais e, portanto, não permitindo alto crescimento no número
de clientes, não está aumentando na mesma proporção o lucro. E isto pode conter o avanço dos
empreendedores rumo a uma empresa maior. A própria natureza do negócio pode dificultar o
crescimento, pois por adotar o tema rural, necessita de terras disponíveis e de rápido manejo quanto
à construção civil para que seja lucrativa. Ao mesmo tempo, os investimentos são altos porque
somente parte do que é comprado pode ser construído dadas as questões ambientais envolvidas.
Assim, embora haja crescimento em função do nível de consumo, especialmente doces e bolachas
para levar para casa, o lucro pode ser limitado.
Mesmo a conhecida prática de vender mais ao mesmo cliente, em vez de obter mais clientes
vendendo pouco a cada um (STEWARD et al. 2010), não é possível, pois a produção não permite.
Desta maneira, o nível de poluição aumenta sem ter, como contrapartida, níveis maiores de lucro.
Quanto à poluição, que é diretamente conectada ao alcance do lucro corporativo no desenho
esquemático dos autores, existe um esforço consciente sendo feito, baseado na iniciativa dos
empreendedores e naquilo que observaram nas suas viagens ao exterior. Citando constantemente a
comunidade como um fator relevante, dizem os fundadores da Fluss Haus que seu esforço ultrapassa
a organização, com ações junto à sociedade. Dentre elas, citaram que [...] temos uma preocupação
grande [...] nossa comunidade hoje é uma das únicas ainda que se pode dizer que se tem (sic)
água limpa e cuidada [...]. Defendem que isto ocorre porque [...] não temos o problema de ser um
local rural com granjas, aonde (sic) se coloca os dejetos nos rios, aonde poluem, já estragam tudo
[...], ao mesmo tempo em que um espaço de discussão e aprofundamento está ocorrendo com
a comunidade [...] tá sendo criado (sic) uma conscientização das escolas e mesmo o povo com o
turismo [...]. Para os respondentes, as iniciativas de jogar lixo no lixo, de preservação, de evitar
o desmatamento e outras, estão sendo divulgadas para as crianças, o que facilita a visualização
de um futuro melhor em relação a estes fatos. Os fundadores compreendem que a empresa, vista
como integrante de um esforço maior quanto à sustentabilidade, é parte importante do processo:
[...] o que depender da gente [...] estamos firmes para defender hoje a parte do meio ambiente,
a preservação [...]. No entanto, em estudo de Valadão e Siena (2010), realizado em escola que
prioriza o ensino de conceitos de sustentabilidade, a proposta de desenvolvimento rural sustentável
que equilibrasse variadas concepções do tema não é exercida satisfatoriamente pelos egressos ou
pela sua família, estando, de acordo com os autores, alicerçada no ‘ser’ e não no ‘fazer’.
A maneira de ver o futuro dos aspectos relacionados ao lixo demonstra uma capacidade inovadora
própria de empreendedores dedicados ao negócio. Refletem isto quando comentam que [...] já
comentei com a esposa [...] não vejo grande futuro em comprar terrenos para reflorestar porque
mesmo o reflorestamento futuramente vai ser barrado e não vai ser mais possível derrubar [...].
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Eles entendem que a conscientização é o caminho mais apropriado, e afirmam que [...] tem que se
criar consciência do turismo rural, aonde (sic) que as pessoas façam o turismo sem poluição, sem
desmatamento e sem estragar a natureza [...].
Mais especificamente, os esforços organizacionais em relação ao lixo passam por ações dirigidas,
tais como as fossas sanitárias, na visão dos empreendedores [...] temos três fossas, aliás, duas
fossas grandes sanitárias [...] as sobras a gente até tem dois [canais fossais] que saem pro rio, mas
a gente pode ver que a água é bem limpa [...]. Também os lixos orgânico e inorgânico possuem
estrutura adequada, segundo os respondentes [...] a prefeitura recolhe todas as terças-feiras o lixo
especial, que é colocado dentro [...] e os descartáveis [...] e o lixo orgânico a gente recolhe todo
dia de manhã e leva lá na chácara para virar adubo [...].
Com o aumento do nível de consumo e o consequente aumento da área útil para as pessoas
interagirem, tais como pomares e jardins, a natureza tende a ser sacrificada. No caso da empresa
estudada, o entendimento dos proprietários não é este. Assumindo posições até radicais em relação
a isto, dizem [...] ali no BierGarten [espaço em que são servidas cervejas artesanais em meio à
natureza] havia coqueiros e árvores que atrapalhavam. Mas desviamos tudo [...] tudo sai, a árvore fica
[...]. Atribuem esta radicalidade nas ações à formação consciente que possuem, obtida nas viagens à
Europa [...] a gente veio com essa consciência lá da Alemanha. Lá tudo sai, mas a árvore fica [...].
A partir dessa busca pelo conhecimento relativo às questões ambientais, tomaram decisões
importantes no ganho ambiental. Dentre eles, o não uso de agrotóxicos. Dizem os respondentes
que [...] a gente já usou pra eliminar o mato. Mas hoje, já fazem um bom tempo (sic), agora não
deixo mais [...] é roçado, já tem máquina, colocamos mais um funcionário na roça para eliminar
[o mato] e evitar o veneno [...]. Neste sentido, a tecnologia ambiental é conceito capital para o
entendimento das ações adotadas pela organização. Para Lenzi (2006), as tecnologias ambientais são
divididas em três grupos: a) tecnologias limpas (uso de tecnologia que não polui o meio ambiente);
b) tecnologias mais limpas (tem como escopo a proteção do meio ambiente, impedindo o desperdício
de recursos e a degradação ambiental); c) tecnologias end-of-pipe (empregadas para o tratamento
e para a minimização de resíduos, efluentes e emissões).
Nas ações tomadas pela organização Fluss Haus, caso estudado, separadas nas duas
variáveis independentes ‘lucro corporativo’ e ‘poluição’, objetos deste estudo, se identificam
acordos e diferenças. No seu conjunto, conforme o Quadro 1, demonstram mais uma distância
da plataforma conceitual de Huang e Rust (2011) do que uma proximidade dos conceitos
defendidos pelos autores.
Quadro 1 - Identificação das ações tomadas pela Fluss Haus em relação às variáveis independentes de
Huang e Rust (2011)
Lucro corporativo
Valor
Poluição
Valor
Observação das especificidades local
e da comunidade
(-)
Reflorestamento
(-)
Perfuração de poços artesianos
(-)
Hortas de verduras sem agrotóxico
(-)
Reuniões para conscientização de
aspectos ambientais
+
Proteção das beiras do rio
(-)
Experiência internacional
+
Experiência internacional
+
Formação dos funcionários
+/(-)
Separação dos resíduos
(-)
Uso intensivo de word of mouth
(-)
Plantação de madeira nativa
+
Uso de fôlder e sítio na Internet
(-)
Projetos de conscientização na comunidade
+
Uso de planilhas de controle financeiro
+
Construção de fossas sanitárias industriais
(-)
Contratação de assessoria financeira
(-)
Fonte: desenvolvido pelos autores
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Os valores envolvidos para o desenvolvimento e os resultados limitadores das ações ‘observação
das especificidades local e da comunidade’, ‘perfuração de poços artesianos’, ‘formação de
funcionários’, ‘uso intensivo do word of mouth’, ‘uso de fôlder e sítio da internet’, e ‘contratação
de assessoria financeira’ em conjunto com os valores e os resultados limitadores das ações da
variável independente ‘poluição’ (‘reflorestamento’, ‘hortas de verduras sem agrotóxico’, ‘proteção
das beiras do rio’, ‘separação dos resíduos’, e ‘construção de fossas sanitárias industriais’), ainda
que sejam adequadas a uma empresa ambientalmente correta, trazem altos custos. Dependendo
do volume da operação e da sua (in)capacidade de expansão, podem ser nocivos ao negócio,
tanto no curto quanto no médio prazo, espaços de tempo em que as empresas apresentam grande
quantidade de falência, tradicionalmente.
Em uma avaliação mais criteriosa, observa-se que várias das ações possuem dupla interpretação.
Para não se estender na explicação, os autores buscam a primeira ação citada (‘observação das
especificidades local e da comunidade’). Tal cuidado certamente permitirá à comunidade ter suas
expectativas supridas, no entanto isto custará mais caro do que tomar ações padronizadas, além
de não permitir rápida expansão devido à customização. Logo, tem valor negativo na plataforma
conceitual de Huang e Rust, base teórica deste estudo.
Finalizando, percebe-se que os fundadores têm preocupação com a poluição e que esta,
diretamente ligada ao lucro corporativo na proposição da plataforma conceitual de Huang e Rust
(2011), pode não influenciar diretamente no seu crescimento. Basicamente, isto pode ocorrer
pela variável dependente denominada ‘tecnologia verde’ que, dentre outros elementos, é formada
por investimentos em máquinas não poluidoras, a não utilização de bens considerados maléficos
à natureza (agrotóxicos) e ao uso de trabalho braçal em determinadas funções. São altos valores
que dependem, normalmente, de maior produção para gerar lucro.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo utilizou excertos dos depoimentos dos fundadores da empresa pesquisada, além de
informações colhidas in loco, por meio de observação ao longo de mais de uma década.
Os proprietários abordam o conceito de gestão ambiental não como estratégia deliberada de
marketing, e sim como tema implícito e natural do negócio, sendo incorporada gradativamente às
suas atividades. Assim, os aspectos de sustentabilidade denominados triple bottom line (BANSAL,
2005; JOHNSON, 2009; CRITTENDEN et al. 2010), a saber as dimensões ambiental, econômica
e social, são atendidos pela organização estudada, mas pela sua incipiência ainda não é possível
afirmar que eles se prestam diretamente às ações mercadológicas denominadas de estratégias de
marketing. Ou seja, é mister que os empreendimentos de turismo rural se utilizem de estratégias
de marketing que, segundo Chen et al. (2013), são prioritárias para o crescimento organizacional
rural quando associadas a outras condições. Dentre essas, há a necessidade, segundo Liu (2006),
de envolvimento e integração da população local como componentes principais do esforço de
planejamento do turismo rural. Neste sentido, a observação das condições ideais para o lançamento
de estratégias de marketing e do crescimento do empreendimento é fundamental. Dentre essas
condições, Muhi e Javanovic (2012) relacionam a manutenção da população no lugar, a criação de
emprego, e as contribuições para o progresso socioeconômico em toda a região.
O nível de profissionalização na gestão do empreendimento é recente, com os seus maiores
esforços na busca da qualidade dos bens e dos serviços e na entrega destes produtos sem
atrasos. A estrutura organizacional diretiva é composta pelos dois socioproprietários e mais quatro
coordenadores de setor.
Os questionamentos se deram diretamente aos dois fundadores da empresa Fluss Haus para
atendimento do objetivo do estudo, resumidamente a observação das variáveis dependentes
‘lucro corporativo’ e ‘poluição’, ambas pertencentes à parte integradora ‘corporativa’ da plataforma
conceitual que serviu de base para o trabalho (HUANG; RUST, 2011).
Quanto ao lucro corporativo, apesar do acréscimo do nível de consumo, não fica evidenciado o
seu aumento nas mesmas proporções.
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O percentual de lucratividade se manteve no mesmo patamar anterior e, embora o faturamento
tenha crescido, cresceram ainda mais as despesas referentes à manutenção dos aspectos ambientais,
tais como manutenção dos roçados, da alimentação dos animais ou do zelo dos espaços com água.
Na proposição dos autores, conforme cresce o nível de consumo, cresce o lucro corporativo.
No entanto, na mesma proposta, o desenho esquemático apresenta a diminuição do lucro,
havendo a inserção dos fatores preditores que denominam de ‘taxas de poluição’ e de ‘tecnologia
verde’, pertencentes à variável independente ‘poluição’. Ambos, na visão dos autores, podem reduzir
o consumo ou o lucro mediante ações como impostos elevados, restrições de venda ao segmento,
investimentos em tecnologia verde ou políticas intervencionistas. Neste sentido, a proposição dos
autores não se confirma neste estudo de caso.
À luz dos resultados obtidos, as estratégias de marketing devem ser desenvolvidas observando
o desenvolvimento da atividade turística ao mesmo tempo em que se dá atenção ao meio rural
e aos impactos ambientais possíveis, com a conscientização dos proprietários rurais, dos turistas
e da comunidade do entorno. Conforme Chen et al. (2013), é com a definição de estratégias de
marketing que as organizações, de qualquer setor, logram sucesso no longo prazo e conseguem
deixar um rastro de reconhecimento para a marca do empreendimento.
É possível antever um avanço substancial das organizações que dominam aspectos relativos
ao meio ambiente e deles se utilizam para desenvolver estratégias de marketing, como defendem
Bansal (2005), Crittenden et al. (2010) e Chen et al. (2013). Porém empresas menores, em que
as denominadas ‘taxas de poluição’ ainda são parte ampliada do seu faturamento e, muitas vezes,
representam barreiras difíceis de serem transpostas, física e fiscalmente (HUANG e RUST; 2011),
podem passar por momentos delicados na expansão dos seus negócios, dependentes que são de
fatores pouco controláveis pela administração do empreendimento.
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