Análise de imagens para avaliação da morfologia interna de sementes de espécies ornamentais RESUMO Atualmente técnicas de análise de imagens tem se destacado na área de Tecnologia de Sementes, especialmente o teste de raios X. O objetivo deste trabalho foi verificar a possibilidade da utilização da técnica de raios X para a análise da morfologia interna de sementes de espécies ornamentais. Para tanto, sementes de três lotes de Petunia hybrida, quatro lotes de Rudbeckia hirta, três lotes de Tagetes sp., três lotes de Stokesia laevis e quatro lotes de Oenothera sp foram submetidas ao teste de raios X e as imagens geradas foram utilizadas para análise da morfologia das sementes. A análise das imagens obtidas no teste de raios X permitiu a visualização da morfologia interna das sementes de todas as espécies analisadas. Foi possível identificar danos que não são passíveis de identificação a olho nu, portanto não detectáveis na maioria dos testes utilizados em análise de sementes. Foram identificadas sementes cheias e vazias, sementes com diferenças no tamanho do embrião, sementes com tecidos escurecidos provocados possivelmente pelo processo de deterioração e sementes com danos mecânicos. A análise de raios X permite a análise da morfologia interna de sementes de Petunia hybrida, Rudbeckia hirta, Tagetes sp., Stokesia laevis e Oenothera sp. Palavras-chave: raios X, embrião, danos ABSTRACT Image analysis are improving Seed Technology techniques, specially the X-ray test. The objective of this study was investigate the possibility of X-ray technique for ornamental species seed morphology analyze . For this purpose, seeds of three lots of Petunia hybrida, four lots of Rudbeckia hirta, three lots of Tagetes sp., three lots of Stokesia laevis and four lots of Oenothera sp were tested with X-ray and the images generated were used for seed morphology analysis. X-ray image analysis allowed visualization of internal morphology of seeds of all species. It was possible identify damages which can not be detected by human eye, thus are not detectable in the majority of tests used for seed testing. Was possible identified full and empty seeds, seeds with different embryo size, seeds with stained tissue possibly caused by seed deterioration process and mechanical damage. X-ray analysis allows internal morphology seeds analyze for Petunia hybrida, Rudbeckia hirta, Tagetes sp. Stokesia laevis and Oenothera sp seeds. Key words: X-ray, embryo, damage. 1 INTRODUÇÃO Atualmente técnicas de análise de imagens tem se destacado na área de Tecnologia de Sementes. Dentre estas, destaca-se o teste de raios X, o qual consiste na análise radiográfica da estrutura interna das sementes, por meio de sua exposição a uma fonte de baixa energia de raios X e um filme fotossensível. Ao atravessarem as sementes e atingirem o filme, os raios permitem a formação de uma imagem caracterizada por diferentes níveis de cinza. O princípio do teste de raios X é definido pela absorção de radiação em diferentes quantidades pelos tecidos das sementes, em função de sua estrutura, composição e densidade, além do período de exposição à radiação (ISTA, 2011). É um teste relativamente rápido e está padronizado nas Regras Internacionais para Análise de Sementes (ISTA, 2011) e sugerido nas Regras Brasileiras de Análise de Sementes (BRASIL, 2009). Embora os raios X sejam potencialmente nocivos às sementes, a baixa dose absorvida durante essa análise não causa mutações genéticas e não afeta a germinação das sementes (SIMAK e GUSTAFSSON, 1953). Após a obtenção das imagens de raios X, estas podem ser processadas por sistemas automatizados para se estudar uma série de aspectos como tamanho e formato do embrião, endosperma, densidade dos tecidos, entre outros. Esse tipo de análise é muito interessante, pois técnicas de processamento de imagens digitais propiciam uma sensibilidade maior de análise permitindo a aquisição de características que seriam humanamente impossíveis de serem observadas (CARVALHO, 2010). O teste de raios X ainda traz a vantagem de não ser um método destrutivo, possibilitando a realização de testes fisiológicos com as sementes e, desse modo, pode permitir o estabelecimento de relações de causa e efeito (CICERO e BANZATTO JUNIOR, 2003). Este teste tem sido utilizado com sucesso para muitas espécies, possibilitando a identificação de danos causados por insetos em sementes de Eugenia pleurantha (MASSETTO et al., 2007) e defeitos internos em sementes de ipê (OLIVEIRA et al., 2004). Possibilitou a identificação de danos mecânicos em sementes de milho doce (GOMES JUNIOR et al., 2012), soja (PINTO et al., 2009), milho (CICERO e BANZATTO JUNIOR, 2003) e arroz (MENEZES et al., 2012). Além disto, o teste de raios X permitiu a caracterização morfológica de embriões de Tecoma stans (SOCOLOSWSKY e CICERO, 2008), avaliação da morfologia interna de sementes de ipê roxo (AMARAL et al., 2011), Platypodium elegans (SOUZA et al., 2008) e aquênios de arnica (MELO et al., 2009), avaliação da estrutura e o estádio de desenvolvimento de embriões de sementes de acerola (NASSIF e CICERO, 2006) e determinação da pureza de sementes de aveia (CRAVIOTTO et al, 2002). Para espécies de plantas ornamentais, ainda são poucos os trabalhos de pesquisa que indicam procedimentos adequados para a análise de sementes. Considerando-se que estas espécies são comercializadas com alto valor agregado é fundamental o desenvolvimento de metodologias que permitam a avaliação rápida e precisa de características das sementes que estão associadas com a qualidade, como a morfologia. O objetivo deste trabalho foi verificar a possibilidade da utilização da técnica de raios X de sementes para a análise da morfologia interna de sementes de espécies ornamentais. 2 MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa foi conduzida no Laboratório do Centro de Germoplasma de Plantas Ornamentais (OPGC) da Ohio State University, em Columbus, Ohio, Estados Unidos da América. Foram utilizadas sementes de três lotes de Petunia hybrida, quatro lotes de Rudbeckia hirta, três lotes de Tagetes sp., três lotes de Stokesia laevis e quatro lotes de Oenothera sp do banco de germoplasma do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos da América (USDA). Foram utilizadas 4 repetições de 25 sementes para cada lote, as quais foram distribuídas sobre fita adesiva dupla face em lâmina plástica transparente, sendo a mesma colocada no interior de um equipamento digital de raios X, Faxitron modelo MX-20 DC-12 acoplado a um computador e submetidas à radiação por 20 segundos à 20 KV. Em seguida, as imagens geradas foram salvas no disco rígido do computador para posterior análise A análise de imagens foi realizada de forma visual, avaliando-se cada semente individualmente. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO A análise das imagens obtidas no teste de raios X permitiu a visualização da morfologia interna das sementes de todas as espécies analisadas, como pode ser observado nas Figuras 1 a 5. Na Figura 1 são ilustrados exemplos de sementes de Petunia hybrida. Observa-se diferenças na área interna das sementes ocupada pelos tecidos, sendo as áreas escuras aquelas com ausência de tecidos, o que também ocorreu para sementes de Tagetes sp (Figura 2); sementes com maiores áreas livres podem ter redução da germinação, pois possuem menor quantidade de reservas armazenadas, que são a fonte inicial de energia para o processo de germinação. Pesquisas com sementes de pimentão verificaram que o aumento das áreas sem tecido embrionário afetou negativamente a germinação (DELL’ÁQUILA, 2007; GAGLIARDI e MARCOS FILHO, 2011). Para sementes de Rudbeckia hirta, além das diferenças de área interna livre, foi possível identificar manchas escurecidas que possivelmente representam tecidos deteriorados (Figura 3), como por exemplo nas sementes 3B a 3E; possivelmente essas sementes possuem baixo potencial fisiológico, pois com o avanço do processo de deterioração reduz-se o vigor das sementes, tanto pelo consumo das reservas necessárias ao processo de germinação, como pela redução da longevidade, da capacidade de reorganização das membranas celulares e dos processos reparatórios essenciais na reativação do metabolismo rumo à germinação. Marchi (2010) trabalhando com sementes de amendoim verificou que sempre que as sementes apresentavam manchas escurecidas associadas com tecidos deteriorados houve prejuízo à germinação. Outro aspecto que a análise de raios X permitiu detectar foi a presença de danos mecânicos, como por exemplo na semente 3E, a qual apresenta uma fissura. O uso da técnica de raios X para detecção de danos mecânicos em sementes permite rapidez na obtenção das informações e além disso não destrói a semente, permitindo que a mesma seja utilizada posteriormente (BINO et al., 1993). Para sementes de mamona, Kobori et al. (2012) verificaram que sementes com defeitos no embrião e parcialmente cheias frequentemente resultaram em sementes mortas no teste de germinação. Para sementes de arroz, Menezes et al. (2012) verificaram que mesmo fissuras não severas afetaram a germinação das sementes, resultando em plântulas anormais ou normais fracas; os mesmos autores ressaltam que provavelmente houve redução ou interrupção da translocação de nutrientes para o embrião. Para Stokesia laevis foi possível verificar diferenças no tamanho do embrião de sementes do mesmo lote, presença de sementes vazias e com manchas escurecidas. Na Figura 4A é apresentado um exemplo de semente bem formada e sem danos, que possivelmente terá maior potencial fisiológico comparada a outras sementes com danos, como por exemplo as sementes 4B e 4D, as quais possuem manchas indicativas de deterioração dos tecidos; foi possível identificar também sementes vazias na amostra, como aquela ilustrada no exemplo da Figura 4E. O uso da análise de raios X pode permitir a rápida identificação de sementes com defeitos e propiciar a posterior separação e eliminação destas sementes, o que pode contribuir para a agilidade e eficiência do processo de beneficiamento de sementes, possibilitando refinamento da qualidade dos lotes. Para sementes de Oenothera sp também foi possível observar diferenças de tamanho do embrião, presença de danos mecânicos e tecidos deteriorados. Nas sementes 5C, 5E, 5F e 5H foram identificadas fissuras, que podem ser caracterizadas como dano mecânico, as quais podem prejudicar a germinação, como ocorreu em outras pesquisas com sementes milho doce (GOMES JUNIOR et al., 2012), soja (PINTO et al., 2009), milho (CICERO e BANZATTO JUNIOR, 2003) e arroz (MENEZES et al., 2012). Em relação ao tamanho do embrião de sementes de Oenothera sp observouse diferenças entre sementes de um mesmo lote; um exemplo são as sementes 5A e 5D. Embriões menores possivelmente possuem menor capacidade de desenvolvimento, pois apresentam menor quantidade de reservas para os processos iniciais de germinação. Outra característica observada em sementes de Oenothera sp foi presença de manchas escurecidas, como exemplo na Figura 5B, possivelmente em decorrência de deterioração. Considerando-se os resultados obtidos nesta pesquisa para todas as espécies avaliadas, é possível inferir que a análise das imagens de raios X permitiu a análise da morfologia interna das sementes, a identificação de danos, os quais não são passíveis de identificação à olho nu, portanto não detectáveis na maioria dos testes utilizados em análise de sementes, constituindo-se em técnica importante. A rápida avaliação da morfologia da semente por meio da técnica de raios X pode contribuir para estudos de caracterização de espécies ainda não estudadas, pode auxiliar no beneficiamento de Sementes, permitindo que se faça descarte de sementes indesejáveis, com danos, antes do processamento; além disso, este tipo de análise possibilita avaliar o efeito de tratamentos como o condicionamento fisiológico, que alteram a morfologia das sementes, avaliação da embebição em sementes, relacionando a absorção de água com o aumento do volume das sementes, estudo da densidade dos tecidos das sementes e sua influência no potencial fisiológico, entre outros. Empresas produtoras de sementes na Europa já utilizam o teste de raios X, que futuramente poderá tornar-se realidade no Brasil, considerando que o setor de sementes cresce a cada ano e o nível de exigência dos produtores e consumidores também. 4 CONCLUSÃO A análise de raios X permite a análise da morfologia interna de sementes de Petunia hybrida, Rudbeckia hirta, Tagetes sp., Stokesia laevis, Coreopsis tinct e Oenothera sp. 5 REFERÊNCIAS AMARAL, J.B.; MARTINS, L. FORTI, V.A.; et al. Teste de raios X para avaliação do potencial fisiológico de sementes de ipê roxo. Revista Brasileira de Sementes, v. 33, n. 4, p. 601 - 607, 2011. BINO, R.J.; AARTSE, J.W.; VAN DER BURG, W.J.. Non destructive X-ray of Arabidopsis embryo mutants. Seed Science Research, v.3, p. 167- 170, 1993. Brasil. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, 2009. Regras Brasileiras para análise de sementes. Brasília, SDA/Mapa/ACS. 399 p. CARVALHO, M.L.M. 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Sementes de Stokesia laevis; semente bem formada e sem danos (A), sementes com manchas escurecidas indicando tecidos deteriorados indicados pela seta em vermelho (B e D) e semente vazia (E). Figura 5. Sementes de Oenothera sp, com embrião de tamanho reduzido (A), tecidos escurecidos pela deterioração (B e G), fissuras e danos mecânicos (C, E, F e H) e semente bem formada sem danos (D).