DINÂMICA DO OCEANO NAS REGIÕES COSTEIRAS Sistemas Anfidrómicos e Propagação da Maré A força de Coriolis e os constrangimentos introduzidos pelas massas continentais combinam-se e impõem sistemas anfidrómicos às marés. As cristas de maré alta circulam em torno dos pontos anfidrómicos que não sofrem variação de nível. A altura da maré aumenta com a distância relativamente aos pontos anfidrómicos. Desenvolvimento de um sistema anfidrómico numa bacia no Hemisfério Norte: (a) enchente da maré; a água é desviada para a direita pela força de Coriolis, ou seja, para a margem leste; (b) vazante da maré; a água em retorno é desviada para a direita pela força de Coriolis, ou seja, para a margem oeste; (c) estabelecimento de um sistema anfidrómico; (d) a onda de maré propaga-se no sentido directo. Sistemas Anfidrómicos e Propagação da Maré Oscilação numa bacia fechada, sem rotação (Hemisfério Norte). Oscilação numa bacia fechada, com rotação (Hemisfério Norte). Sistemas Anfidrómicos e Propagação da Maré Os sistemas anfidrómicos confinados representam um tipo de onda de Kelvin em que a força restauradora (gravidade) é reforçada por forças geradas pelo empilhamento de águas contra a costa – força do gradiente de pressão. As ondas de Kelvin ocorrem tanto em zonas onde o desvio pela força de Coriolis é constrangido como em zonas onde não existe, como no Equador. Como a força de Coriolis actua cum sole, as ondas de Kelvin sobre o Equador propagam-se apenas para leste. Representação esquemática de uma onda de Kelvin: (a) perspectiva isométrica; (b) plano horizontal, com representação das linhas co-mareais, ou de igual fase da maré e das linhas de igual gama de amplitudes da maré. Sistemas Anfidrómicos e Propagação da Maré Evolução da elevação da superfície do mar (m) ao longo de um dia gerada pelo modelo de marés TPXO6. Correntes de maré A elevação e o abaixamento da maré produz também movimentos horizontais, as correntes de maré, cuja intensidade e direcção é influenciada pela geometria das bacias e pelos constrangimentos impostos pelas massas continentais. • Bacias abertas – corrente de rotação: uma partícula de água segue o percurso aproximado de uma elipse durante um ciclo de maré completo (Fig. (a)); na aproximação à linha de costa, o eixo maior da elipse torna-se mais ou menos paralelo à costa ⇒ as correntes de maré são predominantemente paralelas à costa. • Meios semi-confinados – Corrente alternada; aceleração e velocidades importantes em sentidos alternados (Fig. (b)). (a) Percurso elíptico das partículas de água numa corrente de maré durante um ciclo de maré completo. Os números referem-se a horas lunares (62 minutos) medidas a partir de um instante inicial arbitrário do ciclo. (b) Série de perfis verticais de corrente de maré, mostrando o atraso das correntes junto ao fundo do mar. Os números referem-se a horas lunares após um instante inicial arbitrário, apenas para metade do ciclo. Correntes de maré Geralmente, com a aproximação à costa as correntes de maré intensificam-se e são cada vez mais importantes para a circulação local; exemplos: • em estuários parcialmente misturados as correntes de maré são pelo menos dez vezes superiores às correntes com outra origem; • em oceano aberto as correntes de maré podem ser da ordem de 0,02 – 0,05 m/s mas há evidências fortes de correntes intermitentes, com o período da maré, diversas vezes superiores ⇒ pensa-se que estão associadas a ondas internas com o período da maré. As correntes de maré tendem a aumentar com a diminuição da profundidade. A velocidade horizontal máxima numa onda em águas pouco profundas é a u=C d e como C = gd , então g u=a d Assim, mesmo que a amplitude da onda, a, seja constante, a corrente de maré aumenta com a diminuição da profundidade mas pode haver excepções em regiões de topografia do fundo complexa. Correntes de maré Correntes de maré mais intensas do que o normal ocorrem em áreas em que o período natural da bacia está próximo do período da maré, de tal forma que a força geradora da maré dá origem a uma onda estacionária com o período da maré, maré de co-oscilação ⇒ exemplo: Fundy Bay (costa leste do Canadá). Movimento da onda numa maré de co-oscilação. O oceano força uma corrente de maré na ligação com o mar marginal (ou interior) ou baía onde a altura da maré não excede valores típicos para condições oceânicas. A altura da maré aumenta com a distância ao oceano aberto. Corrente da maré Estofa da maré - curto período em que a maré atinge um extremo e inverte o seu sentido; neste período não ocorre qualquer alteração do nível da superfície da água e a intensidade da corrente da maré atinge o valor zero ⇒ estofa de enchente e estofa de vazante. Variação temporal da altura da maré e das correspondentes correntes de maré, com indicação das estofas de maré. HSW - estofa de enchente LSW - estofa de vazantente MARÉS EM ESTUÁRIOS Um macaréu forma-se quando a maré atinge a foz de um rio; É uma onda forçada que rebenta. Macaréu (bore) em River Dee, Chester, England Macaréu em Qiantang River, Hangzhou, China Ondas de tempestade Baixas pressões atmosféricas causam elevação do nível do mar e altas pressões deprimem o nível do mar. O vento intenso pode refrear ou reforçar uma maré alta. As ondas de tempestade (storm surges) são sobreelevações do nível do mar causadas por grandes variações da pressão atmosférica associadas a ventos intensos. Quando estes factores se conjugam numa situação de maré alta originam ondas de tempestade positivas, que frequentemente provocam inundações catastróficas. Podem-se combinar quatro efeitos em diversas proporções para criar ondas de tempestade: • tensão do vento; • preia-mar, especialmente em situação de marés vivas; • efeito do barómetro invertido; • ressonância. Ondas de tempestade (a) Onda de tempestade durante a passagem do furacão Katrina (29 de Agosto de 2005);; (b) Efeito da onda de 9 metros em Biloxi, Mississippi; (c) simulação numérica da altura da onda de tempestade ao longo da costa dos Estados Unidos do Golfo do México. Tsunamis Um Tsunami é uma onda ou um conjunto de ondas superficiais gravíticas geradas por deslocamentos de água muito grandes e súbitos. Tsunami é uma palavra japonesa que significa onda de porto. porto Três fases de um tsunami: - geração; - propagação; - inundação. Tsunamis Os Tsunamis podem ser criados por • terramotos, • deslizamentos de terras, • impactos de meteoritos, • erupções vulcânicas, etc. Tsunamis Tsunamis Um tsunami é uma onda longa ou onda de águas pouco profundas que se move a uma velocidade c = gd , que depende da profundidade total do oceano d. Tal como a ondulação, os tsunamis propagam-se a grandes distâncias com quase toda a sua energia inicial. Em oceano aberto os tsunamis têm alturas de poucos metros a centímetros, o seu comprimento de onda, L, é da ordem dos 700 km e como c = gd = L T = ω k têm períodos da ordem de 1 hora em profundidades de 5 km. Tsunamis Em zonas costeiras a velocidade dos tsunamis diminui e a sua altura aumenta; começa a perder energia por reflexão e por dissipação por atrito mas que não é suficiente para impedir que invada as praias e zonas costeiras como uma onda em rebentação lenta (surging breaker) ou uma onda de maré ⇒ podem ser extremamente destrutivos pois inundam extensas regiões costeiras em períodos muito curtos. Devido à propagação radial a partir do foco de geração, que faz diminuir a energia por unidade de comprimento com o aumento da distância, os tsunamis são mais destrutivos em zonas costeiras mais próximas da origem. 1 3 4 2 Sequência de aproximação de um tsunami