Caso Clínico Previsibilidade com a utilização de cerâmicas reforçadas com zircônia em regiões estéticas Rodolfo Bruniera Anchieta Eduardo Passos Rocha Ana Paula Martini Mestre em Prótese Dentária. Doutorando em Prótese Dentária, Faculdade de Odontologia de Araçatuba-UNESP, Departamento de Materiais Odontológicos e Prótese. Professor Adjunto, Faculdade de Odontologia de Araçatuba-UNESP, Departamento de Materiais Odontológicos e Prótese. Mestranda em Prótese Dentária, Faculdade de Odontologia de Araçatuba-UNESP, Departamento de Materiais Odontológicos e Prótese. Erika Oliveira de Almeida Amilcar Chagas Freitas Junior Mestre em Prótese Dentária. Doutoranda em Prótese Dentária, Faculdade de Odontologia de Araçatuba-UNESP, Departamento de Materiais Odontológicos e Prótese. Mestre em Prótese Dentária. Doutorando em Prótese Dentária, Faculdade de Odontologia de Araçatuba-UNESP, Departamento de Materiais Odontológicos e Prótese. A previsibilidade e sucesso de tratamentos odontológicos estéticos dependem, em grande parte, do conhecimento, do correto diagnóstico e do planejamento1. Para isso, torna-se necessário o criterioso exame clínico e a utilização de ferramentas diagnósticas, como enceramento dos modelos e fotografias extra e intrabucais, partindo da previsibilidade para a possibilidade do tratamento, também conhecido como planejamento reverso, tornando palpável pelo cliente a situação final que buscamos2. Além disso, a observação das vontades e exigência dos clientes deve ser sempre levada em consideração na etapa do plano de tratamento, ajustando as possibilidades terapêuticas aos anseios do cliente. Assim, levando em consideração os fatores mencionados, em alguns casos complexos, em que a resolução estética só seria possível por meio da associação de várias técnicas e com a integração multidisciplinar, tornam-se possível a simplificação do tratamento, obtendo estética satisfatória. O objetivo do presente trabalho é mostrar um caso clínico em que foi utilizado coroas de zircônia na região anterior da maxila para recuperar a harmonia do sorriso. Caso clínico A paciente, R.S.A, 35 anos, procurou a clínica de pós-graduação em prótese dentaria da Faculdade de Odontologia de Araçatuba-UNESP com desejo de melhorar a estética do seu sorriso (figura 1). No exame clínico ficou evidente a desarmonia no conjunto dos dentes anterior superiores, sendo relacionado principalmente aos elementos 13, 12 e 22. Sob olhar criterioso, observa-se na mesial do elemento 13 a presença de uma pequena restauração de resina composta pigmentada. Entretanto, apesar de influenciar negativamente na estética, o principal fator a ser corrigido no 13 seria a anatomia, pois o mesmo se encontra girovertido (figura 2 e 3). 50 Janeiro de 2011 No elemento 12, nota-se a presença de uma coroa metalo-cerâmica desadaptada e com anatomia desfavorável, havendo a necessidade de corrigir tanto a anatomia quanto o tamanho do dente. Da mesma forma, no 22, observa-se uma restauração extensa de resina composta, já sem anatomia e com muitos problemas relacionados a adaptação marginal e a pigmentação. Entretanto, nesses dois dentes (12 e 22), um fator agravante que também se observou foi a possível presença de um substrato radicular escurecido, além da presença de delgada gengiva ceratinizada nessas regiões, evidenciando com isso um halo acinzentado na margem gengival destes dentes (figura 3). Além disso, apesar dos incisivos centrais superiores estarem hígidos, observa-se que seu formato triangular favorece a formação de “black spaces” entre eles e os incisivos laterais, sendo um fator complicador adicional para a resolução do caso. Relevância clínica Com o auxílio do enceramento diagnóstico e das fotografias, foi proposto a paciente a confecção de três coroas cerâmicas nos elementos 13, 12 e 22 e clareamento dental caseiro. O sistema cerâmico a ser utilizado seria definido na etapa dos preparos dentais. Além disso, a correção do zenith gengival nos incisivos centrais, bem como enxerto gengival na região de incisivos laterais também foram propostos. Entretanto, a paciente concordou em realizar apenas os procedimentos restauradores e o clareamento, sem aceitação pelos procedimentos cirúrgicos. Após o clareamento suave dos dentes, iniciaram-se os preparos. Após a colocação do fio afastador nos dentes a serem preparados, e com auxílio de uma guia de silicone obtida a partir do enceramento diagnóstico, determinou-se a espessura de dente a ser reduzida (figura 4). Nessa hora, confirmou-se a suspeita das raízes dos elementos 12 e 22 estarem pigmentadas (figura 5). Não se optou pelos sistemas cerâmicos tradicionalmente utilizados Caso Clínico Figura 12 a e 12 b Comparação do caso antes do tratamento e após o tratamento. para a região anterior, baseados em cerâmicas mais translúcidas e com maior fase vítrea3. Ao invés disso, um sistema cerâmico reforçado por zircônia (Lava, 3M,ESPE) foi escolhido, por permitir mascarar o substrato pigmentado, devido a opacidade do coping, e ainda conseguir bom efeito de óptico, como translucidez, nos terços médio e incisal da restauração, além de garantir boas propriedades mecânicas 4,5. Ao concluir os preparos, iniciou-se o procedimento de moldagem. Para isso, utilizou-se a técnica do duplo fio (primeiro fio #00, Ultrapack, Ultradent; e o segundo fio #0 Ultrapack, Ultradent). Um material a base de silicone por adição (Express, 3M,ESPE) em duas viscosidades foi utilizado.O material de consistência leve foi utilizado com auxílio de um dispensador e injetado logo após a remoção do segundo fio afastador (figura 6), obtendo-se um molde com excelentes características (figura 7). Em seguida, foi feita uma cópia do enceramento diagnóstico, sendo os provisórios confeccionados a partir dessa cópia e com uma resina a base de Bisacril (figura 8) (Protemp 4, 3M, ESPE). Feita a seleção de cor, os moldes, enceramento e fotografias foram enviados ao laboratório de prótese. Após a prova das coroas (figura 9) e a verificação da adaptação, foi feito a limpeza das mesmas com ácido fosfórico a 35% por um minuto. Nos dentes a profilaxia foi feita com pedra pomes e água. Sob isolamento relativo, as coroas foram cimentadas com um cimento resinoso autoadesivo (RelyX U100, 3M,ESPE)6. Concluído o caso, após 10 dias observou-se excelente integração entre as coroas e o tecido gengival. Os halos acinzentados na margem gengival dos incisivos laterais foram quase que completamente mascarados (figura 10). Entretanto, o espaço existente na papila interdental entre o 11 e 12 não foi completamente preenchido após os 10 dias, sendo necessário maior período de controle para evidenciar o completo preenchimento do espaço pela papila (figura 10). Conclusão O correto diagnóstico e planejamento do caso possibilitaram devolver a harmonia no sorriso, proporcionando satisfação e melhoria da autoestima da paciente (figuras 11 e 12). Referências 1.Anchieta R,B.; Pita, M.S.; Rocha, E.P.; Assunção, W.G.; Dos Santos, P.H. Resolução estética associando prótese sobreimplante e prótese fixa convencional na região anterior. ImplantNews. v.7, n.6, p.793798, 2010. 2.Almeida, E.O.; Pellizzer, E.P.; Goiato, M.C.; Margonar, R.; Rocha, E.P.; Freitas. J Craniofac Surg. v.21, n. , p. , 2010; (in print). 3.Kina, S.; Brugera, A. Invisível: restaurações estéticas cerâmicas. Maringá: Dental Press International, 2008. 4.Blatz, M.B.; Sadan, A.; Kern, M. Resin-ceramic bonding: a review of the literature. J Prosthet Dent. v.89, n.3, p.268-274, 2003. 5.Freitas Junior, A. C.; Rocha, E. P.; Dos Santos, P. H.; Almeida, E. O.; Anchieta, R. B. All-ceramic crowns over single implant zircon abutment. influence of young modulus on mechanics. Implant Dentistry, v. 19, n.6, p. 539-548, 2010. 6.Abo-Hamar, S,E,; Hiller, K.A.; Jung, H.; Federlin, M.; Friedl, K.H.; Schmalz G. Bond strength of a new universal self-adhesive resin luting cement to dentin and enamel. Clin Oral Invest. v.9, n.3, p.161–167, 2005. Janeiro de 2011 51 Caso Clínico Figura 1 Enceramento diagnóstico. Note que os contornos do canino foram suavizados, conferindo traços mais femininos. Nos incisivos laterais, a anatomia e o comprimento em relação aos dentes vizinhos foram melhorados. Figura 2 Figura 5 Visão intrabucal, evidenciando a desarmonia entre os dentes anteriores superiores. Visualização do espaço obtido nos preparos dentais em relação ao enceramento diagnóstico. Observe a pigmentação das raízes do 12 e 22. Figura 3 Figura 6 Observe o formato triangular dos incisivos centrais. A presença de uma coroa metalocerâmica desadaptada no 12 e de restauração com resina composta no 13 e 22. Além disso, a presença de acinzentamento da margem gengival no 12 e 22. 52 Figura 4 Visão frontal do sorriso. Observe que a linha que passa na incisal dos dentes não acompanha a curvatura do lábio inferior na região do elemento 12 e 13. Janeiro de 2011 Sequência de moldagem com a utilização da técnica do duplo fio. A remoção do segundo fio afastador deve ser realizada concomitantemente com a injeção do material leve. Caso Clínico Figura 7 Figura 9 Molde obtido. Além de um molde sem bolhas e imperfeições, a visualização da cópia do sulco gengival, comumente chamado de “sainha”, é certeza de que o molde copiou todos os detalhes do término cervical. Coroas cerâmicas a base de zircônia (Lava, 3M, ESPE) finalizadas. Figura 8 Figura 10 Os provisórios feitos a partir do enceramento permitem ao paciente uma visualização muito semelhante do que será a prótese final, possibilitando eventuais modificações no formato dos dentes. Visualização do resultado final após 10 dias da cimentação. Observe a integração entre as coroas, os dentes vizinhos e os tecidos gengivais. Figura 11 Observe que a translucidez dos incisivos laterais acompanha a translucidez dos centrais. Além disso, o paralelismo entre a linha imaginária que passa na incisal dos dentes anteriores superiores com a curvatura do lábio inferior. Janeiro de 2011 53