1 Especialistas Nacionais e Internacionais debatem sobre os principais temas da Gestão do Esporte no Brasil e no Mundo II Encontro Internacional de Gestão do Esporte e do Entretenimento (EIGEE) ANAIS Realização: Programa de Mestrado Profissional em Administração – Gestão do Esporte (PMPA-GE) São Paulo 2014 I Copyright @ 2014 PMPA-GE Universidade Nove de Julho - UNINOVE Reitor: Prof. Eduardo Storópoli Pró-Reitor Administrativo: Prof. Jean Anastase Tzortzis Pró-Reitora Acadêmica: Profa. Ms. Maria Cristina Barbosa Storópoli Pró-Reitor do campus Vergueiro: Prof. Dr. Claudio Ramacciotti Programa de Mestrado Profissional em Administração – Gestão do Esporte (PMPA-GE) GENOVE Estratégia e Governança - Grupo de Estudo e Pesquisa em Gestão do Esporte, Estratégia e Governança GENOVE Marketing - Grupo de Estudo e Pesquisa em Gestão do Esporte e Marketing Avenida Francisco Matarazzo, 612 – 1º andar – Prédio C, Água Branca- São Paulo – SP (CEP: 05001-001) Tel.: 55 11 3665-9300 ou 3665-9363/9364 E-mail: [email protected] ou [email protected] http://www.uninove.br/Paginas/Mestrado/GestaoEsporteMPAGE/esportesHome.aspx Diretor: Prof. Dr. Benny Kramer Costa Linha de Pesquisa Estratégia e Governança no Esporte: Profa. Dra. Vania Maria Jorge Nassif Linha de Pesquisa Marketing Esportivo: Prof. Dr. Otávio Bandeira De Lamônica Freire II Encontro de Gestão do Esporte e Entretenimento Presidente da Comissão Organizadora: Prof. Dr. João Manuel Casquinha Malaia Santos Comissão Organizadora: Prof. Dr. Benny Kramer Costa Prof. Dr. Ary José Rocco Junior Prof. Ms. Leandro Carlos Mazzei Apoio: Programação visual e produção gráfica: CLASS Tranfer Anais do II Encontro de Gestão do Esporte e Entretenimento / Realização Programa de Mestrado Profissional em Administração – Gestão do Esporte (PMPA-GE) – São Paulo, 2014. 402 p. ; 21 x 29,7cm. ISSN: 2359-2745 1. Gestão do Esporte – Entretenimento – Pesquisa II Apresentação do II Encontro Internacional de Gestão do Esporte e do Entretenimento (EIGEE) O II Encontro Internacional de Gestão do Esporte e do Entretenimento (EIGEE), realizado nos dias 20 e 21 de novembro de 2014, é um evento científico de curta duração, de abrangência internacional promovido pelos Grupos de Pesquisa em Gestão do Esporte (GENOVE Estratégia e Governança e GENOVE Marketing), ambos ligados ao Programa de Mestrado Profissional em Administração - Gestão do Esporte (PMPA-GE). O EIGEE é um evento que se propõe a debater a temática da Gestão do Esporte e do entretenimento voltado para o público acadêmico, buscando estabelecer contato com representantes de associações continentais de gestão do esporte e professores de universidades com amplo conhecimento do tema, além de buscar convidados que sejam profissionais da gestão no esporte no Brasil e no mundo. Tal iniciativa visa a proporcionar um espaço relevante para discussão entre profissionais do mercado e pesquisadores acadêmicos, tendo como seus principais objetivos: a) Divulgar a produção científica e tecnológica na área de Gestão do Esporte, incentivando a geração de conhecimentos e as parcerias entre os setores público e privado; b) Promover e elevar a qualidade da produção científica e tecnológica nacional, através da troca de ideias entre pesquisadores brasileiros e internacionais; c) Incentivar e apoiar a participação de professores e alunos de pós-graduação e graduação em eventos relacionados com a Gestão do Esporte; d) Estimular o contato entre as áreas acadêmicas e profissionais da gestão do esporte; e) Tornar-se uma referência como local de discussão de trabalhos acadêmicos e profissionais na área de Gestão do Esporte no Brasil e no mundo. Nesta segunda edição do EIGEE, o evento contou com os apoios da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e parceria da Associação Brasileira dos Profissionais de Educação Física e Esporte (ABRAPEFE). Com convicção, temos a opinião que toda as experiências, partilha de conhecimentos e contribuição dos participantes durante o II EIGEE, deram um grande impulso para a Gestão do Esporte no Brasil. Muito obrigado e um grande abraço a todos os que participaram deste evento. ________________________________________________ Prof. Dr. João Manuel Casquinha Malaia Santos Presidente da Comissão Organizadora III Saudações da Universidade Nove de Julho de São Paulo, A Universidade Nove de Julho de São Paulo (UNINOVE) tem como missão a atividade educacional formativa, para preparar profissionais e cidadãos conscientes e capazes de desenvolver seus projetos de vida. Busca-se também formar cidadãos participativos, responsáveis, críticos e criativos, que construam o conhecimento e o apliquem no aprimoramento contínuo da sociedade e das futuras gerações. Um de seus principais compromissos é levar à comunidade o ensino superior de elevada qualidade. Por isso, a instituição investe de forma constante no aprimoramento da infraestrutura, em tecnologia e em seu corpo docente, constituído por profissionais gabaritados, em sua maioria, Mestres e Doutores experientes, que participam regularmente de congressos, simpósios e atividades de integração. Com valores como igualdade, qualidade, democracia e humanismo, a UNINOVE está voltada para a formação de profissionais competentes e preparados para um mercado de trabalho cada vez mais competitivo. Neste sentido, a organização do II Encontro Internacional de Gestão do Esporte e Entretenimento está de acordo com a missão e compromissos da UNINOVE, pois visa o estímulo de pesquisa na área da Gestão do Esporte e a disseminação de conhecimento nesta área, contribuindo assim com a melhora da qualidade das organizações esportivas e aprimoramento dos profissionais interessados. Em nome do reitor da UNINOVE, magnífico Prof. Dr. Eduardo Storópoli, e na qualidade de diretor do Programa de Mestrado Profissional em Administração - Gestão do Esporte (PMPA-GE), saúdo todos os participantes do II EIGEE, os cumprimentando pela participação, confraternização e interesse pela presença em nossa iniciativa. Cordialmente, ________________________________________________ Prof. Dr. Benny Kramer Costa Diretor do Programa de Mestrado Profissional em Administração – Gestão do Esporte da UNINOVE IV Editorial O II Encontro Internacional de Gestão do Esporte e do Entretenimento (EIGEE) é a segunda edição de um evento que se propõe a debater a temática da Gestão do Esporte. Para isso, o evento é oportuniza à pesquisadores e profissionais interessados o envio de trabalhos acadêmicos em formato de artigo e descrição de experiências em formato de relatos técnicos. Em comparação à primeira edição do evento, os artigos e relatos técnicos aumentaram significativamente, em termos de quantidade e principalmente, em termos de qualidade. Durante o II EIGEE, os autores que submeteram seus textos apresentaram diversos trabalhos, de diferentes temáticas, todas relacionados à gestão do esporte, lazer e entretenimento (Direito; Ética e Políticas Públicas; Estratégia, Governança, Liderança e Comportamento Organizacional; Estudos Organizacionais; Gestão de Comunicação, Mídia e Relações Públicas; Gestão de Pessoas, Gênero e Diversidade; História, Sociologia, Antropologia e Cultura; Legados, Gestão de Eventos e Instalações Esportivas; Turismo; Marketing e Comportamento do Consumidor; Pesquisa, Ensino e Preparação Profissional; Outros temas relacionados). Nos Anais do II EIGEE, são apresentados 25 trabalhos aprovados e que foram apresentados durante o evento. Temos a certeza de que todos os autores realizaram considerável esforço na elaboração dos mesmos e somo da opinião de que todos os autores foram contemplados com feedbacks construtivos para a melhora de suas pesquisas. Destaco ainda a massiva presença do público do II EIGEE também durante as apresentações nas sessões temáticas, o que valorizou consideravelmente o esforço dos autores e deixou a organização deste evento contente e esperançosa. O interesse dos participantes em contribuir com a pesquisa e desenvolvimento da Gestão do Esporte no Brasil demonstra que essa área de conhecimento está em pleno desenvolvimento no país. Desde já, convido aos participantes do II EIGEE, autores ou não, a sempre melhorarem suas pesquisas, principalmente em termos metodológicos, e novamente enviarem seus artigos e relatos de pesquisa para o III EIGEE, que será realizado no ano Olímpico de 2016. Um grande abraço e parabéns a todos os autores, ________________________________________________ Prof. Ms. Leandro Carlos Mazzei Editor dos Anais do II EIGEE V II Encontro de Gestão do Esporte e Entretenimento Presidente da Comissão Organizadora Prof. Dr. João Manuel Casquinha Malaia Santos - UNINOVE, SP, Brasil Comissão Organizadora Prof. Dr. Benny Kramer Costa - UNINOVE, SP, Brasil Prof. Dr. Ary José Rocco Junior - UNINOVE, SP, Brasil Prof. Ms. Leandro Carlos Mazzei - UNINOVE, SP, Brasil Comitê Organizador Prof. Dr. Edmilson de Oliveira Lima - UNINOVE, SP, Brasil Prof. Dr. Filipe Quevedo Pires de Oliveira e Silva - UNINOVE, SP, Brasil Prof. Dr. Henrique Cesar Melo Ribeiro - UNINOVE, SP, Brasil Prof. Dr. João Paulo de Lara Siqueira - UNINOVE, SP, Brasil Prof. Dr. Julio Araujo Carneiro da Cunha - UNINOVE, SP, Brasil Prof. Dr. Manuel Anibal Silva Portugal Vasconcelos Ferreira - UNINOVE, SP, Brasil Prof. Dr. Marcos Vinicius Cardoso - UNINOVE, SP, Brasil Prof. Dr. Otávio Bandeira De Lamônica Freire - UNINOVE, SP, Brasil Prof. Dr. Vania Maria Jorge Nassif - UNINOVE, SP, Brasil Equipe de apoio Vania Paula S. Cunha, Queli Sena Nascimento de Alcântara, Ana Carolina Machado Soares e todos os alunos do Programa de Mestrado Profissional em Administração – Gestão do Esporte da UNINOVE Comitê Científico Prof. Dr. Emerson Antonio Maccari - UNINOVE, SP, Brasil Prof. Dr. Claudio Miranda da Rocha - Universidade de São Paulo, SP, Brasil Prof. Dr. Vilde Gomes de Menezes - Universidade Federal de Pernambuco, PE, Brasil Prof. Dr. Flavia da Cunha Bastos - Universidade de São Paulo, SP, Brasil Prof. Dr. Wagner Junior Ladeira - Faculdade SENAC, RS, Brasil Prof. Dr. Fernando de Oliveira Santini - Universidade do Vale do Rio dos Sinos, RS, Brasil Prof. Dr. Marcos Antonio Gaspar - UNINOVE, SP, Brasil Prof. Dr. Leonardo José Mataruna dos Santos - Coventry University, Inglaterra Prof. Dr. Raoni Perrucci Toledo Machado - Universidade Federal de Lavras, MG, Brasil Prof. Dr. Marlon Dalmoro - Fundação Vale do Taquari de Educação e Desenvolvimento Social, RS, Brasil VI Normas para a publicação Diretrizes para autores: Os autores podem submeter para o II Encontro Internacional em Gestão do Esporte e do Entretenimento (II EIGEE) trabalhos em duas modalidades: artigos científicos e/ou relatos técnicos; de acordo com as seguintes áreas temáticas: Estratégia, Governança, Liderança e Comportamento Organizacional no esporte, lazer e entretenimento; Economia, Finanças e Contabilidade no esporte, lazer e entretenimento; Gestão de Pessoas, Gênero e Diversidade no esporte, lazer e entretenimento; Estudos organizacionais no esporte; História, Sociologia, Antropologia e Cultura no esporte, lazer e entretenimento; Direito Desportivo, Ética e Políticas públicas no esporte; Marketing e comportamento do consumidor no esporte, lazer e entretenimento; Gestão de Comunicação, Mídia e Relações Públicas no setor do esporte, lazer e entretenimento; Legados, gestão de eventos e de instalações esportivas, lazer e entretenimento; Turismo esportivo; Inovação e Gestão de Projetos no setor do esporte, lazer e entretenimento; Sustentabilidade, Gestão Ambiental no setor do esporte, lazer e entretenimento; Gestão da Saúde no setor do esporte, lazer e entretenimento; Pesquisa, ensino e preparação profissional na gestão do esporte, lazer e entretenimento; Outros temas relacionados ao esporte e entretenimento. Diretrizes Gerais de Redação de Artigo Científico Os artigos submetidos ao II EIGEE serão avaliados primordialmente quanto ao mérito científico. Para redação e apresentação do texto é requerida a sua adequação às normas da American Psychological Association (APA) e deve ser escrito em fonte Times New Roman tamanho 12 em espaço 1,5. O layout da página deve ser papel A4 (29,7 x 21 cm), com margens: superior (3 cm), esquerda (3 cm), inferior (2 cm) e direita (2 cm). Para a estrutura dos artigos científicos foram adotados os mesmos procedimentos do XVII Seminários em Administração (SEMEAD). O artigo deve possuir no mínimo 15 e no máximo 25 páginas e deve seguir, preferencialmente, a seguinte estrutura: Introdução, Problema de Pesquisa e Objetivo, Revisão Bibliográfica, Metodologia, Análise dos Resultados, Conclusão, Referências Bibliográficas. Diretrizes Gerais de Redação de Relato Técnico Os relatos técnicos submetidos ao II EIGEE serão avaliados primordialmente quanto ao mérito científico. Para redação e apresentação do texto é requerida a sua adequação às normas da American Psychological Association (APA) e deve ser escrito em fonte Times New Roman tamanho 12 em espaço 1,5. O layout da página deve ser papel A4 (29,7 x 21 cm), com margens: superior (3 cm), esquerda (3 cm), inferior (2 cm) e direita (2 cm). Para a estrutura dos relatos técnicos foram adotados os mesmos procedimentos do XVII Seminários em Administração (SEMEAD). O relato técnico deve possuir no mínimo 10 e no máximo 15 páginas e deve seguir, preferencialmente, a seguinte estrutura: Introdução; Contexto Investigado; Diagnóstico da Situação-Problema; Análise da Situação-Problema e Contribuição Tecnológica-Social. VII Índice 1. A co-gestão como administradora do patrocínio esportivo no Brasil: uma análise dos casos Palmeiras-Parmalat e Fluminense-Unimed-Rio............................................................................. 1 2. A fase de prospecção na conquista de parceiros no patrocínio esportivo. Um estudo multicaso. ...................................................................................................................................................... 16 3. Influência da venda de um ídolo na relação de um clube de futebol com sua principal torcida organizada .................................................................................................................................... 31 4. Comportamento do Consumidor esportivo no ambiente virtual: um estudo das ações e práticas de mercado Brasileiro, Espanhol e Português .................................................................................. 42 5. Artigos esportivos e o comportamento do consumidor na hora da compra ................................. 69 6. A Câmara Técnica de Relações de Consumo do Desporto da Fundação PROCON-SP e sua busca para a melhoria do Futebol Brasileiro .......................................................................................... 91 7. Abordagem conceitual sobre o comportamento e envolvimento do consumidor no Skateboarding brasileiro..................................................................................................................................... 104 8. Copa do mundo 2014 no brasil: um estudo das atitudes e envolvimento do espectador com o evento ......................................................................................................................................... 117 9. Um estudo sobre as Políticas Públicas no Esporte em relação a evasão dos atletas na Educação Superior ...................................................................................................................................... 132 10. Dificuldades e desafios da atuação de gestores esportivos ........................................................ 147 11. Parcerias em redes: um estudo de caso de uma organização esportiva sem fins lucrativos e uma empresa privada ......................................................................................................................... 160 12. Importância das Redes para o Desenvolvimento do Esporte: O caso do Projeto Crescer ......... 178 13. Hospitalidade e Copa do Mundo 2014: o momento de percepção da hospitalidade pelo visitante. .................................................................................................................................................... 192 VIII 14. Desenvolvimento da análise de desempenho esportivo no voleibol de alto rendimento no contexto da gestão do conhecimento. ....................................................................................................... 207 15. ABEX: A luta pela ética e respeito entre os clubes de futebol de base do Brasil ..................... 219 16. Gestão do trânsito para atividades esportivas na via – Corridas de Rua.................................... 235 17. Os Jogos Olímpicos Rio de Janeiro 2016: uma análise sobre as possibilidades de legados e impactos econômicos ................................................................................................................. 250 18. Análise do perfil de esportes do Banco do Brasil em redes sociais ........................................... 273 19. Valor da Marca e Comportamento do Consumidor de Escola de Futebol. ................................ 286 20. Gestão da informação sobre políticas públicas de esporte: incidência temática em pesquisas acadêmicas ................................................................................................................................. 307 21. “Esporte Extracurricular: O Que Influencia o Consumidor a Adotar Este Serviço?” ............... 325 22. O modelo de contribuição do ceged para a disseminação da gestão desportiva ........................ 340 23. Análise da estrutura administrativa e financeira do esporte no município de Ipiaú-BA ........... 352 24. Introdução do Tchoukball no Brasil: Estratégias de Marketing ................................................ 366 25. Identificação e ação na cocriação de valor: um estudo no projeto esportivo “etec na comunidade” .................................................................................................................................................... 379 IX A co-gestão como administradora do patrocínio esportivo no Brasil: uma análise dos casos Palmeiras-Parmalat e Fluminense-Unimed-Rio Nicolas Caballero Lois (Centro Universitário Instituto de Educação Superior de Brasília) [email protected] Resumo É consenso entre muitas empresas no Brasil que grande parte patrocínios esportivos não alcançam o retorno esperado. Entre os fatores apontados está a não possibilidade de participação destas nas decisões das entidades esportivas. Neste contexto, a técnica gerêncial co-gestão apresenta-se como uma estratégia capaz de administrar o investimento realizado. Este trabalho tem como objetivo analisar a co-gestão como administradora do patrocínio esportivo. Para isto, tomou-se como objeto de estudo as duas principais co-gestões desenvolvidas no esporte brasileiro: Empresa Alimentícia Parmalat - Sociedade Esportiva Palmeiras e Unimed-Rio - Fluminense Football Club. Analisando os processos de co-gestão, observou-se o comprometimento das partes para com os objetivos préestabelecidos. No entanto, procedimentos como seleção correta dos parceiros, definição de direitos e deveres, entre outras ações, devem acompanhar sua implantação. Por fim, apesar obterem retornos significativos, as partes devem evitar uma dependência no processo, seja dos recursos financeiros do investidor ou da imagem da entidade esportiva. Palavras-chave: Co-gestão; patrocínio; procedimentos; resultados. Abstract There is consensus among many companies in Brazil that most sports sponsorships do not reach the expected return. Among the factors mentioned the organizations are not able to participate in these decisions of sports organization. In this context, co-management is presented as a strategy to manage the investment. This study aims to analyze the co-management as manager of sports sponsorship. For this, the object of study was the two main cases of co-management developed in Brazilian sport area: Empresa Alimentícia Parmalat - Sociedade Esportiva Palmeiras e Unimed-Rio - Fluminense Football Club. Analyzing the processes of co-management, there was the commitment of stakeholders to the pre-established goals. However, procedures of correct selection of partners, the definition of rights and duties, among other actions, must to accompany its implementation. Finally, although yield Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 1 significant returns, the parties must avoid a dependency on the process, whether the financial resources of the investor or the image of the sports organization. Keywords: Co-management; sponsorship; procedures; results. Introdução É de conhecimento e consenso geral, que o esporte no Brasil, mais especificamente o futebol, obtém melhores resultados dentro do que fora de campo. Grande parte dos clubes futebolísticos brasileiros encontram-se em uma situação financeira precária, além de possuírem um histórico de endividamento significativo. Isto pode-se dever, entre outras coisas, ao cenário que domina o esporte nacional há anos (instabilidade; amadorismo; a paixão sobrepõe a razão, entre outros aspectos). Soma-se a isso, a possibilidade de um não controle por parte dos patrocinadores sobre a verba investida junto às entidades esportivas (atleta, equipe, clube, federação, confederação esportiva, entre outros), bem como a não participação dos mesmos na definição dos objetivos e tomada de decisões. Esta realidade, na maior parte das vezes, “afasta” prováveis investidores, os quais vislumbram, no esporte, uma eficiente estratégia institucional e/ou promocional para seus produtos ou serviços. Neste contexto, a técnica gerencial co-gestão esportiva apresenta-se como uma estratégia capaz de administrar o investimento realizado por parte das empresas investidoras junto às entidades esportivas, transformando os antes patrocinadores e patrocinados, em parceiros na busca por objetivos mútuos. O presente trabalho tem como objetivo analisar a técnica co-gestão como administradora do patrocínio esportivo no Brasil. Para isto, tomou-se como objeto de estudo as duas principais cogestões desenvolvidas no esporte brasileiro, mais especificamente na modalidade futebol: Empresa Alimentícia Parmalat - Sociedade Esportiva Palmeiras e Unimed-Rio - Fluminense Football Club. Assim, primeiramente verificou-se a experiência (know how) em investimento no esporte por parte das empresas co-gestoras. A seguir, investigou-se os objetivos de investimento no esporte, bem como a opção pelo desenvolvimento da técnica co-gestão esportiva. De igual forma, foram averiguados os critérios de escolha dos co-gestores, além dos procedimentos desenvolvidos durante o processo. Por fim, investigou-se o retorno obtido no processo de co-gestão, tanto pelas empresas investidoras, quanto pelas entidades esportivas. Com o despertar cada vez maior de investidores no esporte, decorrência de mega-eventos em curso, somados à potencialidade da indústria esportiva como um todo, estudar casos de sucesso em gestão esportiva torna-se fundamental para que todas as partes inseridas no segmento (investidores, Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 2 fornecedores, entidades esportivas, meios de comunicação, entre outros) minimizem seus riscos e atinjam os objetivos estabelecidos no início do processo. A co-gestão como equilíbrio de poderes nas organizações No início do século XX, com o crescente desenvolvimento industrial, as organizações iniciam a busca por novas técnicas gerenciais, visando atingir maiores índices de produção. De acordo com Caballero & Carvalho (1998), nesta época, a preocupação em relação aos recursos humanos assume proporções significativas dentro da empresa, visto a procura por um maior comprometimento dos empregados com as metas estabelecidas pela organização. Por outro lado, percebe-se o desejo dos empregados em uma participação mais efetiva nas decisões das empresas, negociando seus direitos e deveres. Neste contexto, surge a co-gestão como uma técnica capaz de atender tanto às necessidades das organizações empresariais quanto de seus empregados. A co-gestão desenvolveu-se rapidamente em quase todos os países da Europa, mas foi na República Federal da Alemanha que se percebeu um maior desenvolvimento dessa técnica gerencial. Para Niedenhoff (1991), não existe uma definição amplamente aceita do termo. Muitas vezes, é usado com sentidos diferentes, e, não raro, com traços ideológicos implícitos. De acordo com Tragtenberg (1989), a co-gestão: “É entendida oficialmente como o equilíbrio de poderes, tendo em vista o bom funcionamento da empresa” (p. 42). No sentido mais literal, co-gestão significa que o empregador apenas pode implantar medidas dentro da empresa, quando os representantes dos empregados estiverem de acordo. Na verdade, a cogestão comporta a co-decisão (as duas partes têm o mesmo direito), assim como participação, isto é, direitos de ambas as partes nos lucros, no aumento de patrimônio, entre outros aspectos. Para Caballero & Carvalho (1998), a co-gestão deve ser diferenciada da cooperação, pois esta última consiste somente em solicitar uma determinada explicação, aconselhamento ou opinião aos empregados ou seus representantes quando da implantação de medidas específicas. Segundo Niedenhoff (1991), inclui-se na co-gestão direitos escalonados como acesso a elementos informativos e documentos (como planos, por exemplo), ser ouvido, debater, se aperfeiçoar no aprendizado, fiscalizar, consultar, apresentar sugestões, bem como reclamar. Tem-se ainda direitos de aprovação, contestação e veto. Para se alcançar os resultados esperados com a co-gestão, é preciso que as partes envolvidas estejam de comum acordo com a aplicação desse processo. Essa predisposição deve dar-se tanto em Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 3 nível de empregadores quanto de empregados, além da existência de uma estrutura favorável a sua implantação. A co-gestão, apesar de ter sido criada com o objetivo básico de integrar empregadores e empregados para o alcance das metas das organizações, com o decorrer do tempo passou a ser desenvolvida em outros segmentos e com outras funções. Recentemente, um dos setores que optaram, ainda que timidamente, pela aplicação dessa técnica, foi a área esportiva. A co-gestão esportiva Uma administração eficiente é imprescindível para o sucesso de qualquer organização no mercado. No esporte, isto não difere. Segundo Rein, Kotler & Shields (2008): “[...] é preciso parar com sugestões, ideias ou razões isoladas e partir para o planejamento formal, trabalhando as marcas esportivas com visão profissional” (p. 4). A co-gestão esportiva constitui-se em uma alternativa eficiente para a administração de estratégias de patrocínio, seja pelas empresas investidoras quanto pelas entidades esportivas. Segundo Caballero & Carvalho (1998), a co-gestão esportiva é uma técnica gerencial que tem como objetivo fazer com que as ações de um determinado processo de patrocínio sejam administradas em conjunto. A importância da técnica co-gestão no esporte reside no fato de que, praticamente nenhuma decisão do processo que envolve um determinado investimento (patrocínio, apoio, fornecimento, licenciamento, entre outros) seja tomada de forma isolada, mas sim, em conjunto, obedecendo às metas pré-estabelecidas para o alcance dos objetivos propostos. Ainda de acordo com Caballero & Carvalho (1998), para a empresa investidora, a implantação da co-gestão esportiva é fundamental, visto que com ela tem-se a oportunidade de participar ativamente, e de forma integrada, do processo de decisão do patrocínio (parceria). Isto torna-se fundamental para o patrocinador obter o resultado esperado a partir do seu investimento. Neste sentido, Cardia (2004) afirma que: “[...] o marketing esportivo tem, entre suas missões, a geração de resultados para os patrocinadores” (p. 149). Para as entidades esportivas, isto é, clubes, equipes, atletas, federações e confederações, entre outros, a importância da implantação da co-gestão esportiva reside no fato de proporcionar uma maior credibilidade e confiablidade ao processo de investimento, interagindo mais proximamente aos seus parceiros, adquirindo um know-how significativo, bem como colaborando, de forma decisiva, para a conquista de seus objetivos e dos seu(s) co-gestor(es). Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 4 Cabe observar, por fim, que a escolha eficiente do tipo de administração do investimento no esporte é um pré-requisito fundamental para o sucesso de todo o processo. Metodologia O presente estudo constitui-se em uma pesquisa qualitativa, exploratória, de caráter bibliográfico, descritiva e avaliativa, a qual pretende analisar a técnica co-gestão como administradora do patrocínio esportivo no Brasil. Segundo Malhotra (2001), pesquisa qualitativa é uma: “[...] metodologia de pesquisa exploratória, baseada em pequenas amostras, que proporcionam insights e compreensão do contexto do problema” (p. 155). Samara & Barros (1997) explicam que as pesquisas qualitativas são realizadas a partir de entrevistas (individuais ou em grupo) e, com sua análise verticalizada em relação ao objeto em estudo, é possível identificar pontos comuns e distintivos existentes na amostra. Parte-se, assim, do princípio de que não existe um padrão único de pesquisa para todas as ciências e que há uma relação dinâmica entre a realidade e o sujeito. Isso significa que à medida que o pesquisador aprofunda ou alarga seus conhecimentos sobre a realidade ele se modifica, assim como modifica a própria realidade. Como metodologia preferencial, foi adotado o estudo multicaso tipo explanatório. Segundo Yin (2010), esse tipo de pesquisa é caracterizada pelo maior foco na compreensão e na comparação qualitativa dos fenômenos e proporciona maior abrangência dos resultados, não se limitando às informações de uma só organização. De acordo com Parisi (1994), em patrocínios esportivos e sua administração, ao contrário do que ocorre na maioria das áreas do conhecimento científico, a prática tem precedido a teoria. Well (1993) apud Rocha & Bastos (2011) confirma o fato: “[...] devido à natureza da gestão do esporte, a maioria dos estudos na área tem sido conduzida em “ambiente natural”, no qual um estrito controle experimental não é possível” (p. 98). É necessário, portanto, investigar, pesquisar e teorizar sobre o assunto. Neste caso, por tratar-se de uma área relativamente nova, a do patrocínio esportivo, as pesquisas (tanto práticas quanto bibliográficas) com este tema são escassas. E, se existem, trata-se dos procedimentos adotados até a concretização do patrocínio. Assim, nada melhor do que realizar uma pesquisa em campo, junto às empresas investidoras e entidades esportivas, cotejando com os parcos recursos bibliográficos, para analisar a técnica co-gestão como administradora do patrocínio Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 5 esportivo no Brasil. Parisi (1994), sobre esta questão, assim se manifesta: “[...] os ainda insuficientes conhecimentos adquiridos pela comunidade científica a respeito do tema patrocínio esportivo são uma razão básica pela opção de se buscar um aprofundamento desses conhecimentos através de uma pesquisa de campo” (p. 115). Observa-se em tal declaração que o know-how deste tipo de investimento no esporte não está inserido na comunidade científica, mas sim nas organizações que já a utilizam. Daquela época até os dias de hoje, pouca coisa mudou. Ir ao encontro deste conhecimento é imprescindível. De acordo com Mazzei & Bastos (2012): Apesar de ser uma atividade profissional existente há algum tempo, fruto de uma “industrialização” do esporte no século XX, chega a ser curioso que a atividade relacionada à gestão do esporte tenha se transformado em uma área cujo desenvolvimento científico é extremamente recente (p. 26). De acordo com Parisi (1994), no patrocínio esportivo, ao contrário do que ocorre na maioria das áreas do conhecimento científico, a prática tem precedido a teoria. Os “práticos”, isto é, os administradores das empresas investidoras e das entidades esportivas, têm contribuído para o desenvolvimento dos conhecimentos sobre o tema, tanto ou quanto mais que a comunidade científica. Payne (2006) reafirma a ideia: As experiências sugerem que patrocinadores de sucesso compartilham algumas características comuns. Em primeiro lugar, têm como objetivos claros e, para conquistá-los, desenvolvem um programa. Depois, rastreiam regularmente o progresso e não teme fazer ajustes no meio do caminho se tudo não estiver de acordo com o planejado. O patrocínio é integrado à suas metas empresariais gerais e ao modo de fazer negócios. Ele recebe apoio total, de cima para baixo, dentro da empresa (p. 117). Outro fator relevante levado em consideração na escolha da metodologia deste trabalho diz respeito às próprias características do estudo de caso. Yin (2001) reforça o posicionamento ao dizer que: [...] o estudo de casos é uma forma de fazer pesquisa social empírica ao investigar-se um fenômeno atual dentro de seu contexto de vida-real, onde as fronteiras entre o fenômeno e o contexto não são claramente definidas. É dada ênfase à completa descrição e ao entendimento do relacionamento dos fatores de cada situação, não importando os números envolvidos (p. 67). O estudo intensivo de um caso permite, também, a descoberta de relações que não seriam encontradas de outra forma, sendo as análises e inferências em estudo de casos feitas por analogia de situações. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 6 Desta forma, tomou-se, como objeto, os principais processos de co-gestão esportiva desenvolvidos no Brasil, analisando as empresas investidoras e entidades esportivas de cada caso, conforme Quadro 1. Quadro 1 - Co-gestões esportivas estudadas. Empresa investidora Entidade esportiva Empresa Alimentícia Parmalat e Sociedade Esportiva Palmeiras Unimed-Rio e Fluminense Football Club A seleção destes processos de co-gestão levou em conta os seguintes critérios: a) Iniciada em 1992, a co-gestão entre a Empresa Alimentícia Parmalat e a Sociedade Esportiva Palmeiras caracteriza-se por ser o primeiro caso deste tipo no Brasil. Encerrada no ano de 2000, seus resultados foram extremamente significativos para ambas as partes (empresa investidora e entidade esportiva). Segundo Areias (2007), a co-gestão entre a Empresa Alimentícia Parmalat e a Sociedade Esportiva Palmeiras encontra-se na biblioteca da FIFA como os 8 maiores cases de marketing esportivo da história; b) A co-gestão entre a Unimed-Rio Fluminense Football Club iniciada em 1998 e vigente até o presente momento constitui-se no contrato de parceria no futebol de maior longevidade no país. Para obtenção dos dados, foram realizadas entrevistas pessoais, através de questionário com perguntas semiestruturadas, junto aos profissionais responsáveis pelo processo de co-gestão nas empresas investidoras e entidades esportivas. A escolha destes profissionais levou em conta seus cargos ou funções, bem como as atividades desenvolvidas no decorrer do processo, isto é, captação, análise, negociação e aprovação de projetos; relação com os protagonistas esportivos; ativação do patrocínio e monitoramento do retorno sobre o investimento. De acordo com Miles & Snow (2003), pelo grupo de tomadores de decisão existente em cada organização e que exerce grande influência sobre o sistema. A relação dos profissionais entrevistados consta no Quadro 2. Quadro 2 - Profissionais entrevistados. Empresa investidora/ entrevistado Entidade esportiva/ entrevistado José Carlos Brunoro - Diretor de Esportes da Holding Empresa Alimentícia Parmalat e Antônio Carlos Corcione - Diretor Geral da Sociedade Esportiva Palmeiras Denise Liporaci - Coordenadora de Marketing Esportivo Unimed-Rio e Idel Halfen - Vice-Presidente de Marketing do Fluminense Football Club Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 7 Instrumentos da pesquisa a) Questionário com perguntas semiestruturadas aplicado junto aos responsáveis pelas co-gestões esportivas das empresas investidoras e entidades esportivas. O questionário foi validado através de pré-teste junto a responsáveis por processos de patrocínio; b) Observação não-participante; c) Dados secundários obtidos por meio de documentos já disponíveis. Análise dos dados Os dados foram analisados de forma qualitativa, tendo como base os objetivos do trabalho. A pesquisa qualitativa é uma abordagem que valoriza os aspectos qualitativos dos fenômenos, abrigando diferentes correntes cujos pressupostos são contrários à abordagem quantitativa e cujos métodos e técnicas de pesquisa são diferentes dos adotados nos modelos experimentais. Análise dos resultados Pode-se observar que as empresas participantes do processo de co-gestão no Brasil já possuíam um histórico (know how) de investimento no esporte, como consta no Quadro 3. Quadro 3 - Experiência em investimento no esporte por parte das empresas co-gestoras. Empresa investidora Histórico de investimento no esporte anterior ao processo de co-gestão Empresa Alimentícia Parmalat Patrocínios na Fórmula-1 (Brabham-Parmalat), Copa Europeia de Ski, beisebol, voleibol e futebol (Real Madri, Parma, Dínamo de Moscou, Benfica, Peñarol, Audax Italiano e Parmalat da Hungria) Unimed-Rio Investimentos em atletas de natação, Comitê Para-Olímpico Brasileiro, natação paraolímpica, Seleção Para-Olímpica de Vôlei Feminino, Maratona do Rio de Janeiro. Quanto aos objetivos de investimento no esporte, observa-se a procura por um eficiente posicionamento de sua imagem, produto e/ou serviço na mente do consumidor, como observado no Quadro 4. Quadro 4 - Objetivos de investimento no esporte. Empresa investidora Objetivos de investimento no esporte Empresa Alimentícia Parmalat. Posicionar o principal produto de empresa, isto é, o leite tipo C, com a qualidade de vida representada pelo esporte. Procura pela associação: Leite é saúde, saúde é esporte. Leite Parmalat, o leite dos campeões Unimed-Rio. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 8 O esporte representa o negócio da empresa (saúde). A empresa objetiva se posicionar como qualidade de vida, promovendo a prevenção de doenças através da pratica de atividades físicas (simbiose entre o patrocínio esportivo e a qualidade de vida) A opção pelo modelo de co-gestão por parte das empresas investidoras levou em conta a realidade que permeava e ainda permeia o esporte, no Brasil, isto é, desperdícios de recursos, amadorismo na gestão, decisões unilaterais no patrocínios, entre outros aspectos. Ver Quadro 5. Quadro 5 - Razões de escolha do modelo de co-gestão esportiva pelas empresas investidoras. Empresa investidora Escolha pelo modelo de co-gestão Empresa Alimentícia Parmalat. Possibilidade de co-decisão no processo. Administração em conjunto da verba investida. Maior controle sobre os componentes e personagens esportivos (comportamento de atletas, comissão técnica, entre outros). Possibilidade de intercâmbio de jogadores com outros clubes patrocinados e/ou parceiros da empresa. Unimed-Rio Co-decisão sobre contratação de jogadores com verba própria. Acompanhamento do destino da verba de patrocínio investida com vistas ao não desperdício de recursos (direcionamento para propriedades que gerem retorno de mídia espontânea e imagem institucional). Já no que tange as razões para o desenvolvimento de um processo de co-gestão por parte das entidades esportivas, podem ser vistas no Quadro 6. Quadro 6 - Opção do modelo de co-gestão esportiva por parte das entidades esportivas. Entidades esportivas Escolha pelo modelo de co-gestão Sociedade Esportiva Palmeiras. Aporte maior de recursos. Inserção de jogadores de alta performance na equipe. Possibilidade de transmissão de know how para aprimorar processos de gestão no clube. Fluminense Football Club Aporte significativo de recursos, com inserção de jogadores de alta performance na equipe Quanto à escolha das entidades esportivas, por parte das empresas investidoras, para compor o processo de co-gestão, observa-se a influencia de determinados fatores como relações pessoais entre diretores das empresas e dirigentes das entidades esportivas, baixa performance esportiva, entre outros aspectos. Ver Quadro 7. Quadro 7 - Critérios de escolha das entidades esportivas co-gestoras. Empresas investidoras Critérios para escolha dos co-gestores Empresa Alimentícia Parmalat. Relação estreita entre os profissionais da empresa e da Sociedade Esportiva Palmeiras. Estrutura adequada. Mentalidade aberta do clube para novas propostas (cogestão). Carência de títulos a 17 anos. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 9 Unimed-Rio Relação estreita entre os profissionais da empresa e do Fluminense Football Club. Não possuia um patrocinador principal. Clube sem rejeição de torcedores de outros times futebolísticos do estado do Rio de Janeiro como Club de Regatas do Flamengo, Clube de Regatas Vasco da Gama e Botafogo de Futebol e Regatas. Participar do ressurgimento do clube para uma fase vitoriosa (a equipe encontrava-se na Série C do Campeonato Brasileiro) No Quadro 8, observa-se os fatores de escolha das empresas investidoras por parte das entidades esportivas para o desenvolvimento de um processo de co-gestão. Quadro 8 - Critérios de escolha das empresas investidoras para co-gestoras. Entidades esportivas Critérios para escolha dos co-gestores Sociedade Esportiva Palmeiras O clube vislumbrava na Empresa Alimentícia Parmalat a oportunidade de um ingresso financeiro significativo, bem como uma base para uma gestão profissional de seus processos (intercâmbio de jogadores, transmissão de know how, entre outros aspectos) Fluminense Football Club O clube via necessidade de uma empresa forte, sólida e com credibilidade no mercado para resgatar sua autoestima. A Unimed-Rio apresentou-se com a organização empresarial com maior credibilidade no processo. A implantação das co-gestões obedeceu determinados procedimentos como diagnóstico das entidades esportivas, definição de direitos e deveres e inserção de profissionais da empresa na estrutura do clube com vistas a uma maior exploração das potencialidades do processo, como pode ser vistos no Quadro 9. Quadro 9 - Procedimentos desenvolvidos pelas empresas investidoras na co-gestão. Empresas investidoras Procedimentos desenvolvidos na co-gestão Empresa Alimentícia Parmalat. Análise/diagnóstico do clube (infra-estrutura, balanço financeiro, processos de gestão). Definição de direitos e deveres de ambas as partes. Investimento exclusivamente no Departamento de Futebol Profissional. Inserção com exclusividade do logo da empresa nos uniformes, placas no estádio e centro de treinamento. Verba de patrocínio e inserção de jogadores pagos pela empresa. Aporte financeiro quando necessário. Discussão e/ consultoria para desenvolvimento de ações (ouvir, debater, votar ou vetar ações). Inserção de profissionais da empresa na estrutura do clube. Unimed-Rio Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 10 Definição de direitos e deveres. Ocupação do espaço nos uniformes e placas. Verba de patrocínio e inserção de jogadores pagos pela empresa investidora. Inserção de profissionais da empresa na estrutura do clube (Departamento de Futebol). No que tange as entidades esportivas, o respeito à imagem do investidor está entre os procedimentos desenvolvidos, como pode ser observado no Quadro 10. Quadro 10 - Procedimentos desenvolvidos pelas entidades esportivas na co-gestão. Entidades Esportivas Procedimentos desenvolvidos na co-gestão Sociedade Esportiva Palmeiras Definição de direitos e deveres de ambas as partes. Respeito à imagem da Empresa Alimentícia Parmalat. Disponibilizar atletas para ações promocionais do investidor. Aquisição de novos jogadores com recursos próprios. Busca de novos parceiros procurando uma não dependência total da verba da co-gestão. Fluminense Football Club Definição de direitos e deveres de ambas as partes. Respeito à imagem da Unimed-Rio. Disponibilizar atletas para ações promocionais do investidor. Observa-se que a co-gestão esportiva proporcionou inúmeras vantagens para as partes envolvidas no processo. Para as empresas investidoras, retornos de ordem institucional, mídia espontânea e vendas podem ser observados. No Quadro 11 observa-se o retorno institucional, isto é, o posicionamento alcançado pelos investidores na mente do consumidor a partir do processo de cogestão. Deve-se ressaltar que este retorno não deve-se única e exclusivamente ao processo de cogestão, visto a influência de outras estratégias promocionais como publicidade, propaganda, relações publicas, entre outras desenvolvidas pela empresa. No entanto, observa-se que sua contribuição foi significativa. Quadro 11 - Retorno institucional obtido pelas empresas investidoras na co-gestão. Empresa investidora Retorno obtido a partir da co-gestão Empresa Alimentícia Parmalat O produto carro-chefe da empresa obteve um eficiente posicionamento na mente do consumidor: Leite Parmalat, o leite dos Campeões. Em pesquisa realizada entre os anos de 2006 e 2008, pela empresa Sport Track, a multinacional italiana ainda era a marca mais lembrada quando se mencionava o patrocinador da Sociedade Esportiva Palmeiras Em 2006, índeice de lembrança de 37,2%. Em 2007, 54,4% de lembrança. Por fim, em 2008 (8 anos após o fim do investimento) ocupa Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 11 novamente o primeiro lugar com 37,2% de lembrança Unimed-Rio A partir do Desenvolvimento do processo de co-gestão junto ao Fluminense Football Club, a empresa conquista o Top of mind entre todos os planos de saúde do Estado do Rio de Janeiro. Já no que tange o retorno sobre exposição junto aos meios de comunicação, observa-se que as empresas investidoras obtiveram uma significativa mídia espontânea se comparado ao investimento financeiro realizado. Ver Quadro 12. Quadro 12 - Retorno de mídia espontânea obtido pelas empresas investidoras na co-gestão. Empresa investidora Retorno de mídia espontânea na co-gestão Empresa Alimentícia Parmalat Para cada dólar investido na Sociedade Esportiva Palmeiras, a multinacional italiana obteve um retorno de quatro dólares em exposição de junto aos meios de comunicação Unimed-Rio Para cada real investido Fluminense Football Club, a empresa de saúde obteve vinte e três reais de retorno junto aos veículos formais de comunicação Apesar da impossibilidade de se relacionar diretamente as vendas em função do investimento no esporte, visto a influência de outras variáveis do marketing-mix no processo de compra como o produto certo, com o preço certo, no lugar certo, a partir do desenvolvimento da co-gestão, observase um aumento significativo do mercado, vendas e faturamento das empresas investidoras. Quadro 13 - Retorno de vendas para as empresas investidoras na co-gestão. Empresa investidora Retorno de vendas na co-gestão Empresa Alimentícia Parmalat No primeiro ano de co-gestão houve um aumento de 30% nas vendas da empresa. Em 2000, ano do término do contrato, o faturamento da empresa alcançou 1,9 bilhões de reais (em 1989 era de 34 milhões) Unimed-Rio Em 1998, ano do início da co-gestão, a empresa possuia uma cartela de 200 mil clientes no Rio de Janeiro. Em 2014, a empresa conta com mais de 900 mil clientes no Estado De igual forma, as entidades esportivas obtiveram resultados extremamente significativos a partir do desenvolvimento da co-gestão (profissionalização da gestão, know how e conquistas esportivas). Ver Quadro 14. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 12 Quadro 14 - Retorno da co-gestão para as entidades esportivas. Entidades esportivas Retorno obtido a partir da co-gestão Sociedade Esportiva Palmeiras Três campeonatos paulistas, um Torneio Rio - São Paulo, uma Copa Mercosul, uma Copa do Brasil, um Campeonato Brasileiro da Série A e uma Copa Libertadores da América Fluminense Football Club Vinte e cinco títulos conquistados, com destaque para o Campeonato Brasileiro da Série C, uma Copa do Brasil, dois Estaduais e dois Campeonatos Brasileiros da Série A Não pode-se atribuir os resultados obtidos pelas referidas entidades esportivas única e exclusivamente ao desenvolvimento da co-gestão esportiva. No entanto, sua contribuição não pode ser ignorada em todas as etapas do processo. Conclusão Analisando as co-gestões esportivas desenvolvidas pela Empresa Alimentícia Parmalat, junto à Sociedade Esportiva Palmeiras e Unimed-Rio, junto ao Fluminense Football Club, é possível afirmar que tanto as empresas investidoras, quanto os referidos clubes obtiveram resultados extremamente significativos. As empresas tornaram-se líderes de mercado em seus segmentos, posicionando seus produtos a partir dos valores do esporte. Quanto aos clubes, estes conquistaram resultados significativos em termos de gestão, além de títulos inéditos em suas histórias. No entanto, para alcançar estes resultados, determinados procedimentos foram desenvolvidos. Em primeiro lugar, observa-se a importância de um know how no que tange o patrocínio no esporte por parte das empresas, experiência esta que ajudou a definir o modelo de investimento a ser desenvolvido no Brasil (co-gestão). De igual forma, uma definição clara dos objetivos de ambas as partes, bem como escolha correta dos parceiros, apresenta-se como outro ponto de contribuição para o êxito do processo. A definição de direitos e deveres de ambas as partes, além da inserção de profissionais das empresas investidoras na estrutura das entidades esportivas, também devem ser considerados. Por outro lado, deve-se levar em conta que a técnica co-gestão pode proporcionar inúmeras limitações à autonomia das entidades esportivas. Assim, estas não devem adotar uma total dependência para com a co-gestão, sob o risco abrir mão de ingressos financeiros alternativos quando do fim do contrato junto ao investidor. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 13 Por fim, observa-se, no cenário esportivo nacional, que logo após a adoção bem sucedida da técnica co-gestão esportiva, cuja premissa é o direto de participação do investidor nas decisões a serem tomadas pelas entidades esportivas (objetivos, contratações, competições a participar, entre outros), cada vez mais as empresas que optam em desenvolver patrocínios esportivos exigem participações nas decisões de seus patrocinados, com vistas à conquista dos objetivos préestabelecidos. Referências bibliográficas Areias, J. (2007). Uma bela jogada: 20 anos de marketing esportivo. Rio de Janeiro: Outras Letras Editora. Caballero, N. & Carvalho, S. (1998) A co-gestão esportiva no futebol: o caso Juventude-Parmalat. Passo Fundo: Ediupf. Cardia, W. (2004). Marketing e patrocínio esportivo. Porto Alegre: Bookman. Malhotra, N. (2001). Pesquisa de marketing: uma orientação aplicada. 3. ed. Porto Alegre: Bookman. Mazzei, L. & Bastos, F. (org.). (2012). Gestão do esporte no Brasil: desafios e perspectivas. São Paulo: Ícone. Miles, R. & Snow, C. (2003). Organizational strategy, structure, and proces. Stanford: Leland Stanford Junior University. Niedenhoff, H. (1991). Co-gestão na República Federal da Alemanha do final do século XIX aos dias atuais; tradução de Inês Lobauer. São Paulo: Nobel,. Parisi, S. (1994). Patrocínio esportivo: avaliação do estágio atual e perspectivas de desenvolvimento no Brasil. Dissertação (Mestrado)-Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo. São Paulo. Payne, M. (2006). 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Estudo de caso: planejamento e métodos. 4. ed. Porto Alegre: Bookman. WELL, W. D. Discovery-oriented consumer research. Journal of Consumer Research. Chicago, v. 19, p. 489-504, 1993. In.: ROCHA, C. & BASTOS, F. Gestão do esporte: definindo a área. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte. São Paulo, v. 25, n. spe, dez. 2011. Disponível em: http://scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S180755092011000500010&Ing=ptnrm=iso.Acesso em: 24 mar. 2013. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 15 A fase de prospecção na conquista de parceiros no patrocínio esportivo. Um estudo multicaso. Nicolas Caballero Lois (Centro Universitário Instituto de Educação Superior de Brasília) [email protected] Resumo O patrocínio esportivo, apesar da atual importância para empresas e entidades esportivas, encontrase muito aquém de seu potencial de desenvolvimento no Brasil. Entre os motivos, observa-se a não adoção de uma postura profissional na fase de captação dos parceiros. Este trabalho tem por objetivo analisar os procedimentos adotados pelas entidades esportivas e empresas investidoras na prospecção dos componentes do patrocínio esportivo. Analisando os principais patrocínios esportivos existentes no país, observou-se a importância para com o estudo do parceiro prospectado, definição de critérios, adequação do projeto, bem como inserção da proposta no plano de comunicação e de seus prestadores de serviços. Palavras-chave: Patrocínio esportivo, Prospecção, Parceiros. Abstract Sportive sponsorship, in spite of the current importance for companies and sports entities, is far from reaching his developmental potential in Brazil. Among the reasons it can be pointed out an unprofessional attitude along the phase of conquering partners. This work aims to analyze the procedures adopted by sports entities and investor companies during the prospective phase of sports sponsorship components. When analyzing the main sports sponsorships going on in the country it was detected the importance given to the study of the prospected partner, criteria definition, adequacy of the project as well as the proposal concerning the communication plan and services providers. Keywords: Sports sponsorship, Prospecting, Partners. Introdução Atualmente, é imprescindível que entidades esportivas como confederações, federações, clubes, equipes, eventos, atletas, entre outros, busquem receitas para atingir os seus objetivos. Os recursos podem ingressar das mais variadas fontes, como bilheteria, direitos televisivos, venda de produtos, licenciamentos, negociação de atletas, etc. No entanto, estas entradas caracterizam-se como Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 16 pontuais, variando, principalmente, de acordo com a situação em que se encontra a entidade esportiva naquele determinado momento. Segundo Añó Sanz (2003), o patrocínio esportivo apresenta-se com uma forma de garantir um orçamento a médio-longo prazo, proporcionando o planejamento e continuidade dos trabalhos. Por outro lado, o patrocínio esportivo representa para as empresas uma das mais eficientes formas de promoção junto aos seus públicos-alvo. Segundo Molina (2009), o esporte oferece às empresas um rico mundo de imagens, possibilitando uma associação de suas marcas a conceitos como juventude, esforço, superação, liderança, aventura, entre outros. Todavia, apesar do potencial e interesse de ambas as partes nesta estratégia, percebe-se inúmeras barreiras para um crescimento significativo do patrocínio esportivo no Brasil. Amadorismo na gestão, interesses pessoais, inexperiência, etc, estão entre as causas apontadas. Outro ponto observado que contribui, e muito, para esta realidade, diz respeito à carência de uma postura profissional na fase de captação dos parceiros (prospects), onde muitas vezes a proposta apresentada não vai de encontro às necessidades do patrocinador e/ou patrocinado, comprometendo a concretização da parceria. O presente trabalho teve por objetivo analisar os procedimentos adotados pelas entidades esportivas e empresas investidoras no processo de prospecção dos componentes do patrocínio esportivo. Para isto, tomou-se como objeto de estudo, os principais patrocínios esportivos existentes no país quando levado em conta recursos investidos, duração do contrato, estratégias desenvolvidas, bem como resultados obtidos por ambas as partes. Assim, primeiramente foram verificados os procedimentos adotados na elaboração da proposta de patrocínio, isto é, estudo prévio dos parceiros e adequação do projeto de patrocínio às necessidades dos prospects. A seguir, investigou-se a inserção do patrocínio no plano de comunicação mercadológica das empresas investidoras. Por fim, foram verificados os critérios de escolha empresas investidoras e entidades esportivas para compor o processo de patrocínio. Tendo em vista a importância assumida atualmente pela estratégia patrocínio junto às entidades esportivas e empresas investidoras, estudar ações eficientes de captação de parceiros torna-se fundamental para a efetivação de projetos, bem como exploração de todas as potencialidades do processo. O processo de prospecção Percebe-se, principalmente quando analisados casos de sucesso em patrocínio esportivo, a importância da adoção de uma postura profissional desde o início do processo (fase de prospecção), Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 17 tanto por parte do patrocinador, quanto do patrocinado. No entanto, em grande parte das vezes, isto não ocorre. Entre as razões, o histórico amadorismo e inexperiência da indústria esportiva como um todo. Como consequência, muitas das parcerias não são concretizadas, impactando em grande perda, principalmente para as organizações esportivas. Segundo Cardia (2004): “[...] o resultado dessas tentativas frustradas de busca de patrocínio é a queixa por parte de atletas, clubes, entidades, etc., de que o mercado não colabora e não dá a devida atenção ao esporte” (p. 43). Na etapa de prospecção, isto é, busca de parceiros, apresentação e negociação da proposta, muitas vezes observa-se falhas determinantes para o não sucesso do processo. Projetos e/ou propostas apresentadas não atendem (vão de encontro) às necessidades dos prospects, como comunicação, expansão de mercado, retorno institucional ou de vendas, no caso dos investidores, ou melhor estrutura, verba necessária, conquista de títulos, aquisição de atletas, por parte de uma organização esportiva. De acordo com Ferrand, Camps & Torrigiani (2007): “[...] a experiência demonstra que as organizações esportivas acabam por ter uma ideia falsa das expectativas dos patrocinadores. Isto ocorre, especialmente, durante as reuniões com os patrocinadores” (p. 200). Na opinião de Sbrighi (2006), os patrocinados não entendem às necessidades do patrocinador para o qual está se propondo a parceria. Algo que é evidente para o primeiro, pode não parecer interessante para o segundo, visto que empresas possuem diferentes objetivos no mercado. Assim, neste momento, é imprescindível a adoção de uma atitude profissional, estratégica e mercadológica. Apesar de reconhecer a importância de todas as fases do processo de patrocínio, é no período de prospecção que incidirá, sobre a entidade esportiva, a necessidade da adoção de uma postura profissional. Isto deve-se ao fato do investidor possuir, além da proposta de patrocínio, outras estratégias concorrentes pela sua verba promocional (publicidade, venda pessoal, merchandising, etc.). Ferrand, Camps & Torrigiani (2007) concordam que “[...] a negociação com um patrocinador potencial é delicada se temos em conta que, no geral, existe um certo número de alternativas que permitem conseguir os objetivos de marketing” (p. 208). Atualmente, o número de projetos recebidos pelas empresas investidoras para um investimento promocional é significativo. Desta forma, a proposta de patrocínio esportivo deve-se apresentar como a melhor (ou uma das melhores) opção no que diz respeito ao custo-benefício. Para Añó Sanz (2003): Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 18 [...] devemos ter em conta que as grandes empresas recebem centenas de propostas de patrocínio de atividades que apenas escolherão umas poucas em função da estratégia da marca e, possivelmente, da capacidade de convencimento sobre os benefícios de patrocinar determinada atividade ( p. 179). Partindo da análise de Ferrand, Camps & Torrigiani (2007) observa-se que, na fase de prospecção, alguns procedimentos tornam-se fundamentais: estudo detalhado do cliente a quem será apresentada à proposta; projeto adaptado e dados para sustentar o processo decisório; inserção da proposta no plano de comunicação mercadológica do prospect e inserção das demais organizações envolvidas no processo. Não adotar estes procedimentos, pode caracterizar a entrega de uma proposta carente de informações básicas para uma eficiente tomada de decisão. No histórico de amadorismo que ainda impera em alguns segmentos da indústria esportiva, esta prática é extremamente comum. Assim, nada mais pertinente que se ater a determinados cuidados nesta etapa do processo. Estudo do cliente a quem será apresentada a proposta O estudo detalhado do cliente para o qual será apresentada a proposta é o primeiro passo para atingir o sucesso na etapa de prospecção. Cardia (2004) reforça a ideia: “[...] estudar e discutir uma marca, produto ou empresa é fundamental antes de fazer qualquer proposta (p. 71)”. Neste sentido, de acordo com Stotlar & Dualib (2005), deve-se averiguar quais as necessidades atuais e objetivos a longo prazo do cliente, isto é, como ele deseja ser visto pelo mercado, expectativa de vendas ou faturamento, entre outros. De acordo com Ferrand, Camps & Torrigiani (2007): O proprietário dos direitos (neste caso o mesmo gerencia o processo, sem recorrer a uma agência) deve ser capaz de analisar as previsões de possíveis patrocinadores com o propósito conceber e comercializar uma oferta que pode satisfazer melhor do que a concorrência (p. 7). Tendo em vista que as empresas entram no esporte com objetivos distintos (exposição, retorno institucional, ampliação de mercado, reconhecimento da comunidade, entre outros), o conhecimento desta variável é fundamental para formular uma proposta com ações específicas, ou até mesmo delimitar o universo para quem será, ou não, apresentado o projeto. Na opinião de Cardia (2004): “[...] o mais importante não é saber por quem procurar para cada um desses eventos, e sim, por quem não procurar” (p. 51). Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 19 Além do objetivo final, este estudo deve levar em conta outras variáveis que podem ter reflexo direto no potencial patrocinador, como o ambiente (cenários) e mercado (fornecedores, concorrentes, consumidores, linha de comunicação, entre outros aspectos). Após a coleta das informações, é necessário consolidá-las em um documento atrativo e coerente com as oportunidades levantadas. Este deve conter informações/dados que sustentem o processo decisório e prolongamento da parceria. b) Projeto adaptado e dados para sustentar o processo decisório. A etapa posterior ao estudo do prospect, bem como do ambiente e mercado onde o mesmo está inserido, diz respeito à materialização de todos os dados levantados em um projeto de patrocínio. Nos últimos anos, inúmeros autores procuraram apresentar uma metodologia adequada para a concepção e elaboração de projetos de patrocínio esportivo. Além de sugestões a respeito de partes e capítulos, o tipo de conteúdo a ser abordado em cada seção também foi proposto. Apesar de reconhecer a importância de uma organização lógica dentro de um determinado projeto, observa-se a não existência de um modelo ideal ou, até mesmo, um padrão de proposta. Sbrighi (2006) confirma a ideia: “não existe uma receita de como formatar o projeto. Cada um precisa de uma ideia própria” (p. 17). Isto deve-se ao fato das empresas possuírem objetivos diferentes e, consequentemente, esperarem propostas adequadas a sua realidade. Mullin, Hardy & Sutton (1995) apud Añó Sanz (2003) reforçam a hipótese: “[...] as motivações para patrocinar uma atividade esportiva nas empresas podem ser várias ou diferentes entre si e dependentes da situação” (p. 178). Os projetos de patrocínio devem ser o resultado da própria análise da situação do cliente e das oportunidades relacionadas para com as suas metas. Segundo Areias (2007): O conhecimento é sempre a melhor arma de um profissional de marketing que deseja apresentar um projeto a uma grande empresa. Em geral, o empresário espera uma proposta padronizada e terá uma agradável surpresa quando chegar às suas mãos uma ação de marketing personalizada, desenvolvida por alguém que estudou a fundo o seu negócio. Daí para frente, com uma competência e profissionalismo, tudo ficará mais fácil (p. 175). Por outro lado, apesar de não possuir um padrão definido, isto não significa que o projeto não seja obrigado a conter dados que possam influenciar, positivamente, a tomada de decisão por parte da empresa investidora. Segundo Sbrighi (2006): “[...] o projeto de patrocínio deve conter alguns dados essenciais para que o patrocinador entenda os principais pontos relativos à proposta” (p. 17). Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 20 Um projeto de patrocínio, na opinião de Cardia (2004): “[...] deve conter o maior número possível de informações, de forma a dar consciência ao plano e à segurança do patrocinador” (p. 76). Muito mais do que a concretização do patrocínio (assinatura do contrato), um projeto com dados fidedignos e aprofundados de mercado auxiliará o investidor a poder explorar, ao máximo, as potencialidades do processo (segmentação de suas ações, ativação de sua marca, etc.). Segundo Ferrand, Camps & Torrigiani (2007): [...] para orientar corretamente uma ação de patrocínio, convém conhecer, de forma precisa, a audiência direta e indireta de um evento, desde o ponto de vista quantitativo e qualitativo: características socio demográficas, estilo de vida, universo de consumo (p. 36). Desta forma, é imprescindível que as organizações esportivas vão de encontro a estas informações seja por conta própria, seja através de terceiros (empresas de pesquisa). Neste contexto, Moore (1998) apud Stotlar & Dualib (2005) relata que organizações ligadas ao esporte vêm notando o valor da pesquisa de mercado: A medida que o esporte amadureceu para um negócio mais sofisticado e caro, a demanda por uma pesquisa de marketing mais acurada também cresceu. Reconhecer essa mudança e adaptar-se a ela pode fazer a diferença entre uma organização crescer e prosperar ou estar destinada a morrer (p. 44). Assim, informações que possam permitir sustentar a busca por estes objetivos devem, impreterivelmente, constar no documento. Com um projeto definido por Melo Neto (2003) como tailored-made (ajustado às necessidades do patrocinador), bem como a existência de dados que sustentem ações para explorar, por completo, o processo de investimento, existe uma maior possibilidade de se alcançar uma eficiente aceitação perante o investidor em potencial. Apesar de tratar-se de uma ação com grande vantagem competitiva, o patrocínio esportivo pode gerar um resultado mais significativo se estiver integrado às outras estratégias promocionais da empresa. A própria apresentação, bem como sugestão, por parte da entidade esportiva, em prover ações em conjunto com outras variáveis comunicacionais, pode facilitar, em muito, a aceitação da proposta apresentada. c) Inserção da proposta no plano de Comunicação Integrada de Marketing (CIM). Com o aumento da concorrência no mercado, associada à crescente similaridade dos produtos e/ou serviços, as empresas voltam-se, cada vez mais, à integração de seus planejamentos comunicacionais. Assim, as organizações esportivas devem procurar inserir suas propostas de Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 21 patrocínio na Comunicação Integrada de Marketing (CIM) dos prospects, propiciando a estes uma maior exploração do processo. Porém, até um tempo atrás, não era esta a realidade que imperava na indústria esportiva. Como resultado, além da recusa da maior parte das propostas, os projetos desenvolvidos não alcançavam os resultados esperados. De acordo com Ferrand, Camps & Torrigiani (2007), as organizações esportivas: [...] preocupavam-se, acima de tudo, em vender seus produtos sem entrar ainda no marketing propriamente dito. Ao não ter analisado as expectativas de seus patrocinadores nem concebido uma estratégia que permitisse satisfazê-las, estas organizações decepcionaram, em grande parte, aos seus clientes (p. 21). Para que a proposta de patrocínio possa se inserir de uma forma eficiente na comunicação institucional e/ou promocional da empresa, Ferrand, Camps & Torrigiani (2007) e Satt apud Sbrighi (2006) sugerem que a mesma seja flexível, isto é, que possa se adaptar às necessidades e às situações do parceiro em potencial, podendo surgir desta, inclusive, novas estratégias a serem seguidas por ambas as partes (patrocinador e patrocinado). Ferrand, Camps & Torrigiani (2007) e Añó Sanz (2003) recomendam outros procedimentos para as organizações esportivas na fase de prospecção (elaboração, encaminhamento e apresentação da proposta): - Possuir o conhecimento total sobre a realidade que envolve a própria organização esportiva (pontos positivos e negativos, situação financeira, etc.); - Conhecer bem o cliente antes de negociar a parceria; - Ter claro o que é possível conseguir; - Analisar minuciosamente as necessidades e desejos do cliente em potencial; - Deter-se, em um primeiro momento, na qualidade da oferta e não nos valores do patrocínio; - Não apresentar todas as propostas no início; ir valorizando a oferta com o tempo; - Apresentar, na proposta, programas de ativação; - Negociar os valores financeiros do projeto logo após o cliente ter comprado a ideia. Independentemente da metodologia e do que se oferece, o mote mais importante em um patrocínio é o fato da organização esportiva, ao final do processo, entregar aquilo que foi prometido à empresa investidora na ocasião da apresentação da proposta. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 22 De acordo com Añó Sanz (2003), o que foi oferecido deve ser cumprido sem problemas, visto que tão importante quanto captar um parceiro, é mantê-lo no futuro. Para isto, o autor sugere delimitar, ao máximo, o projeto, oferecendo resultados dentro de variáveis totalmente controláveis. Contudo, em um processo de patrocínio, a procura por um parceiro não se dá única e exclusivamente por parte de uma entidade esportiva. Por tratar-se de um produto com grandes possibilidades de alcançar resultados significativos, cada vez mais empresas investidoras tomam iniciativas em buscar oportunidades promocionais e/ou de negócios no esporte. Seja prospectando ou recebendo propostas, torna-se necessário que as empresas investidoras estabeleçam normas e procedimentos específicos para avaliar e aprovar nesta área. Observa-se que, quando o investidor não trabalha de forma eficiente nesta etapa, pode comprometer a parceria como um todo, isto é, seus próprios objetivos e resultados, bem como do seu parceiro (organização esportiva). Até alguns anos atrás, muitos dos investimentos em patrocínio esportivo cobriam os interesses pessoais dos principais executivos das empresas. Afinidade com alguma modalidade, atleta, equipe ou até mesmo relações pessoais eram fatores predominantes para levar a cabo o processo. Além disso, a caridade e/ou patronagem imperavam no ambiente esportivo. Assim, grande parte dos investimentos eram desenvolvidos sem nenhum critério, em organizações esportivas sem identificação junto ao público-alvo ou interesse dos meios de comunicação. Com o passar dos anos, e a profissionalização das gestões, as empresas buscaram alcançar resultados cada vez mais significativos, com custos financeiros baixos. No caso específico do desenvolvimento de estratégias promocionais e, consequentemente, do patrocínio esportivo, isto não foi diferente. Neste sentido, a etapa de análise de propostas de investimento assumiu uma importância significativa dentro das empresas. Segundo Cardia (2004), é neste momento as empresas querem: [...] saber de que forma terão vantagens competitivas sobre os concorrentes, de que forma o esporte pode lhes agregar valor e de que modo poderão fazer com que essa escolha, dentre outras tantas opções de promoções que lhes são oferecidas, tragam mais vantagens por real investido (p. 72). Na verdade, as empresas investidoras já possuem uma real noção do valor a ser investido para obter um determinado retorno. Segundo Pignatti (2009): “[...] as empresas que investem hoje no marketing esportivo sabem que vão gastar determinado valor e o seu retorno, ao final, será vantajoso. Tudo é mensurado” (p. 29), Ferrand, Camps & Torrigiani (2007) afirmam que: Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 23 A fase de entusiasmo ingênuo do início dos anos 80 tornou-se obsoleta. As empresas mostram agora um enfoque cada vez reflexivo do mercado de patrocínio. Os responsáveis possuem um certo número de preços de referência na memória e são cada vez mais sensível ao preço (p. 210). De acordo com Cardia (2004), atualmente não existe mais espaço para estimativas amadoras. O patrocinador quer saber o preço que lhe estará sendo cobrado com base em uma série de fatores que lhe dirão, ao menos, o quanto ele terá de retorno com o patrocínio. Neste aspecto, algumas empresas são tão cuidadosas que conseguem tanto prever, quanto quantificar, nos mínimos detalhes, a venda de seus produtos, decidindo, assim, se o investimento vale, ou não, a pena. Segundo Heldman (2003): [...] as metodologias de seleção de projetos variam de acordo com a empresa, as pessoas da comissão de seleção, os critérios usados e o projeto [...] A maioria das organizações tem um processo oficial, ou no mínimo semioficial, para atribuir prioridades aos projetos (p. 69). Para se ter uma ideia do atual profissionalismo estabelecido na fase de prospecção, e a exigência (importância) de dados que sustentem o investimento, etc., muitas empresas já disponibilizam, em seus sites, campos para inserção de propostas, com tópicos obrigatórios de inserção de determinadas informações. Independentemente da metodologia adotada, é necessário que os investidores levem em conta uma série de cuidados na hora da prospecção. Para Melo Neto (2003): “[...] a tarefa de escolha do patrocínio não é simples, como muitos imaginam” (p. 51). Cardia (2004), neste sentido, afirma que: “[...] a decisão de patrocinar um atleta, time ou liga, para ficar apenas nesses casos, deve ser técnica e levar em considerações o objetivo a ser alcançado” (p. 159). Por fim, Stirling & Bridgewater (2010), em entrevista à revista HSM Management, destaca quatro fatores que as empresas deveriam levar em conta na hora de oficializar um contrato de patrocínio esportivo: a) Entender quais são os direitos disponíveis no mercado (os mais atraentes, em geral, já estão saturados); b) Não patrocinar algo com o qual já esteve vinculado um concorrente, devido à possibilidade de uma “confusão” de conceitos (buscar elementos distintivos e identificáveis); c) Contar com um orçamento de ativação; d) Fazer com que a estratégia de comunicação corresponda ao que a empresa patrocina. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 24 Metodologia Foi adotada como metodologia preferencial, o estudo multicaso tipo explanatório. Segundo Yin (2010), esse tipo de pesquisa é caracterizada pelo maior foco na compreensão e na comparação qualitativa dos fenômenos e proporciona uma maior abrangência dos resultados, não se limitando às informações de uma só organização. Em parcerias esportivas, ao contrário do que ocorre na maioria das áreas do conhecimento científico, a prática tem precedido a teoria. Rocha & Bastos (2011) confirmam o fato: “Devido à natureza da gestão do esporte, a maioria dos estudos na área tem sido conduzida em “ambiente natural” (p. 98). Desta forma, tomou-se, como objeto de estudo, as principais parcerias esportivas do Brasil, quando levado em conta duração do contrato, recursos investidos, bem como resultados obtidos no decorrer do processo. Como instrumento de pesquisa, empregou-se a técnica de entrevista pessoal semi-estruturada junto aos profissionais responsáveis pelas parcerias estudadas, ou como ressaltam Miles & Snow (2003), pelo grupo de tomadores de decisão existente em cada organização e que exerce grande influência sobre o sistema. As empresas investidoras, entidades esportivas e os profissionais entrevistados constam no Quadro 1. Quadro 1 - Parcerias estudadas e profissionais entrevistados Empresa investidora/ entrevistado Entidade esportiva/ entrevistado. Banco do Brasil. Entrevistado: Marcelo Nonnenmacher - Diretoria de Marketing e Confederação Brasileira de Vôlei. Entrevistado: Ary Graça Filho – Presidente Caixa Econômica Federal. Entrevistado: Simone Branco - Gerente Executiva e Confederação Brasileira de Atletismo. Martinho dos Santos – Superintendente - Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. Entrevistado: Luciana da Silva - Gerente Corporativo de Patrocínio e Cristiano Valerim - Fiscal de Contrato de Patrocínio com o Futsal e Confederação Brasileira de Futsal. Entrevistado: Aécio Vasconcelos – Presidente Infraero. Entrevistado: Cleberton da Silva - Gerente de Relações Institucionais e Confederação Brasileira de Judô. Entrevistado: Maurício dos Santos - Diretor Executivo - UniCEUB. Entrevistado: Rodrigo Costa - Diretor de Marketing e Instituto Viva Basquetebol. Entrevistado: Antônio Carvalho - Presidente Cimed Indústria de Medicamentos. Entrevistado: Marcelo Vanzelotti - Coordenador de Marketing Esportivo e Cimed Esporte Clube. Entrevistado: Renan Dal Zotto - Gerente de Esportes Hypermarcas. Entrevistado: Bruna Dias Magarotti - Coordenadora de Marketing Esportivo e Sport Club Corinthians Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 25 Paulista. Entrevistado: Alex Watanabe - Gerente de Marketing Unimed-Rio. Entrevistado: Denise Liporaci - Coordenadora de Marketing Esportivo e Fluminense Football Club. Entrevistado: Idel Halfen - Vice-Presidente de Marketing. Os dados foram analisados de forma qualitativa, tendo como base os objetivos do trabalho. Segundo Malhotra (2001), pesquisa qualitativa é uma: “Metodologia de pesquisa exploratória, baseada em pequenas amostras, que proporcionam insights e compreensão do contexto do problema” (p. 155). Análise dos dados A partir dos dados levantados, pode-se observar preocupações significativas da amostra pesquisa no que ser refere ao estudo prévio dos parceiros, adequação do projeto às necessidades dos prospects, inserção do patrocínio no plano de comunicação mercadológica, bem como critérios de escolha empresas investidoras e entidades esportivas para compor o processo de patrocínio. Estudo prévio do parceiro Observa-se que, tanto entidades esportivas, quanto empresas investidoras, possuem objetivos distintos quando do desenvolvimento de programas de patrocínio esportivo. Conhecer a realidade torna-se fundamental. Neste contexto, um estudo prévio dos parceiros assume uma importância significativa, visto a possibilidade da confecção de uma proposta adequada às necessidades dos mesmos. Renan Dal Zotto, da Cimed Esporte Clube, explica a realização de um estudo prévio da empresa Cimed Indústria de Medicamentos: “Primeiramente fizemos um estudo da empresa, um levantamento de seus objetivos, seu público-alvo, seus principais concorrentes, entre outros”. Outro ponto a considerar é que, com esta estratégia, pode-se selecionar os parceiros de forma mais adequada. Maurício Carlos dos Santos, da Confederação Brasileira de Judô, confirma: “Com o levantamento que fizemos na época (2003), percebemos que a realidade era as estatais investindo no esporte. E o judô era uma modalidade que não possuía patrocínio e a Infraero uma estatal que não investia no esporte”. Experiências já vivenciadas pelos investidores também foram levadas quanto ao estudo prévio. Antônio Carvalho, do Instituto Viva Basquetebol, recorda: “Nosso estudo foi eminentemente prático. Nós tínhamos como patrocinador anterior uma universidade chamada Universo. Assim, Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 26 sabíamos tudo o que não foi e poderia ter sido feito. Desta forma, apresentamos uma proposta adequada para o UniCEUB”. Por outro lado, observa-se que o estudo e procura por possíveis parceiros pode dar-se a partir da empresa investidora. Luciana Ramos da Silva, da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, afirma que: “Geralmente, somos nós que convidamos as entidades esportivas, dentro de uma análise, de um mapeamento completo, até por que existe todo um rigor de contratação necessário que deve ser cumprido”. Um segundo aspecto tange a adequação do projeto às necessidades dos parceiros. Adequação à necessidade dos prospects Observa-se que a decisão em participar de um patrocínio sustenta-se em dados e informações a respeito da possibilidade de desenvolvimento de estratégias para uma maior exploração do processo materializadas em um projeto. Marcelo Nonnenmacher, do Banco do Brasil, confirma a ideia: “O projeto é moldado em comum acordo entre as partes, onde ambos buscam o melhor formato para atender patrocinador e patrocinado”. O mesmo ocorre com relação à Caixa Econômica Federal e a Confederação Brasileira de Atletismo. De acordo com Simone Castelo Branco, da Caixa Econômica Federal, a Confederação Brasileira de Atletismo, no processo de prospecção: “Já apresenta uma proposta bem dentro daquilo que imaginamos”. Renan Dal Zotto, da Cimed Esporte Clube, aponta os passos para uma eficiente adequação da proposta às necessidades do parceiro: “O primeiro ponto é você jamais pedir alguma coisa que você mesmo não aceitaria. Em segundo lugar, nunca ofereça uma coisa que você não possa entregar. Por fim, deve-se mostrar o verdadeiro poder do negócio para a empresa prospectada. Eu conheço vários profissionais que ficam dia e noite elaborando projetos e enviando para toda e qualquer empresa. Isto não funciona”. Em outros casos, o projeto apresentado pode não ir de encontro às expectativas do parceiro. Cabe às partes envolvidas no processo moldar e/ou modificar as propriedades oferecidas. Luciana Ramos da Silva, dos Correios, afirma que a Confederação Brasileira de Futsal: “Geralmente traz uma proposta base, e nos incluímos questões na negociação, demandando ainda mais propriedades”. Marcelo Nonnenmacher, do Banco do Brasil, confirma a estratégia da empresa em buscar um maior aproveitamento do processo de patrocínio: “Via de regra, todos os projetos chegam aqui já formatados. No entanto, quando o banco ingressa no projeto, procura adequar aquilo que foi entregue às suas necessidades”. Esta adequação pode servir para superar os concorrentes pela verba promocional das empresas investidoras. Renan Dal Zotto, da Cimed Esporte Clube, afirma que: “Na hora que você leva para o Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 27 investidor o que as marcas andam fazendo no esporte, você deve levar um produto diferente do que eles estão desenvolvendo”. Na verdade, observa-se que a adequação às necessidades em um patrocínio ainda carece de uma maior atenção por ambas as partes inseridas no processo. Luciana Ramos da Silva, da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, reforça a ideia: “Ainda não é o ideal. Muitas informações temos que estar demandando. Eles (Confederação Brasileira de Futsal) possuem uma análise específica, própria de suas necessidades, e nos procuramos incluir algumas informações para atender às nossas necessidades”. Outro ponto a ser considerado diz respeito à inserção do patrocínio no plano de comunicação mercadológica dos investidores. Inserção do patrocínio no plano de comunicação mercadológica Dado o fato do patrocínio esportivo constituir-se em uma estratégia promocional, observa-se a procura pela inserção deste na comunicação integrada de marketing das empresas investidoras. Assim, além de uma maior exploração das potencialidades, é possível um maior suporte de estratégias como publicidade, relações públicas, merchandising, promoção de vendas, entre outras, no processo. Para isto, é imprescindível que haja um eficiente planejamento através de uma comunicação interna, além da pré-disposição para o desenvolvimento de estratégias em conjunto. Marcelo Nonnenmacher, do Banco do Brasil, afirma que: “As áreas da Diretoria de Marketing da empresa como publicidade, endomarketing, comunicação digital, entre outras, sempre atuam em conjunto. Assim, procuramos desenvolver uma comunicação integrada, e não apenas de marketing esportivo”. Outra estratégia desenvolvida para o alcance de um retorno eficiente tange a inserção dos parceiros comerciais já existentes (prestadores de serviços), tanto nas empresas investidoras, quanto nas entidades esportivas prospectadas. Entre eles, pode-se citar agências de propaganda ou de comunicação, promoção de vendas, entre outras. Renan Dal Zotto, do Cimed Esporte Clube, confirma a ideia: “Quem realiza os serviços de comunicação para o clube sempre foram as agências do grupo. Sempre tivemos um alinhamento muito próximo com eles”. Por fim, os critérios de escolha das organizações para compor o processo de patrocínio apresenta-se como uma preocupação das partes envolvidas. Critérios de escolha das organizações para compor o processo de patrocínio Percebe-se, junto à amostra pesquisada, uma preocupação quanto à correta escolha das entidades esportivas e empresas investidoras que irão compor o processo de patrocínio esportivo. Simbiose da modalidade patrocinada com a marca, produto e/ou serviço oferecido pelo investidor, Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 28 potencial de aproveitamento, custo/benefício, além de respeitabilidade de ambas partes, foram os critérios verificados. Quanto à identificação da entidade ou modalidade esportiva a ser patrocinada, Luciana Ramos da Silva, da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, afirma que: “Avaliamos a questão dos atributos do esporte e aspectos de credibilidade”. Denise Liporaci, da Unimed-Rio, confirma a ideia: “Recebemos os projetos e os analisamos. Se estes estiverem dentro do nosso DNA, dentro daquilo que desenhamos e esperamos de um patrocínio esportivo, e couber em nosso orçamento, investimos”. Outo ponto tange o custo/benefício do projeto. Simone Castelo Branco, da Caixa Econômica Federal, afirma que: “Tomamos por base a repercussão nacional com o preço de mercado, além do retorno que podemos ter”. Neste aspecto, o custo do investimento pode ser determinante para a escolha ou não da entidade esportiva. Cleberton Rodrigues da Silva, da Infraero, recorda: “Dentro daquilo que o judô estava oferecendo, e dentro da nossa possibilidade financeira e do que acreditávamos como investimento em esporte, concretizamos a parceria. O judô era um esporte importante que não possuía grandes investimentos”. Já Marcelo Nonnenmacher, do Banco do Brasil, afirma que a instituição financeira seleciona patrocínios esportivos a partir de critérios como tipo de modalidade esportiva, público-alvo, potencial de resultados (mensuração da marca, mídia), local de realização e ações de relacionamento. A respeitabilidade da entidade esportiva também é levada em consideração. De acordo com Cristiano Valerim, da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos: “Pela necessidade de ter o aval do Ministério do Esporte, a entidade deve ser uma confederação regular, adimplente e com um histórico respeitável”. Conclusão O período de prospecção é visto, tanto pelas empresas investidoras, quanto pelas entidades esportivas, como uma das principais etapas do processo de patrocínio esportivo. Desta forma, observa-se um cuidado significativo no que diz respeito à análise prévia das entidades a serem prospectadas para compor o processo, tendo em vista a existência de expectativas e objetivos distintos por parte das mesmas. De igual forma, a adoção de critérios de escolha de investimentos, adaptação às necessidades dos prospects, bem como a inserção ao já existente (ou não) plano de comunicação integrada de marketing, bem como os já prestadores de serviços das empresas investidoras constituem-se em fatores a serem considerados. Por fim, independentemente da metodologia e do oferecido, deve-se ressaltar que o mote mais importante em um patrocínio é o fato da entidade esportiva, ao final do processo, entregar aquilo que Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 29 foi prometido à empresa investidora na ocasião da apresentação da proposta, com vistas a uma parceria de longo prazo. Referências bibliográficas Añó Sanz, V. (2003). 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Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 30 Influência da venda de um ídolo na relação de um clube de futebol com sua principal torcida organizada Flávio Pajanian (UNINOVE) [email protected] João Paulo Lara de Siqueira (UNINOVE) Resumo Este relato técnico investiga a influência de decisões da diretoria de clubes de futebol em seus grupos de interesse. O contexto foi a venda de um jogador referência de um time de futebol profissional, vendido quando demonstrava identificação com a torcida. A percepção dos torcedores foi avaliada por entrevistas com 40 integrantes da maior torcida organizada do clube, escolhida por demonstrar grande envolvimento com o clube. Concluiu-se que a venda do jogador influenciou negativamente a relação da torcida com a diretoria e o time, sendo percebida pelos torcedores como prejudicial ao desempenho esportivo da equipe. Palavras-chave: Ídolo no futebol; stakeholders; tomada de decisão. Abstract This technical report investigates the influence of the managers’ decisions of soccer clubs in their interest groups. The context was the sale of a player reference of a professional football team, sold when demonstrated identification with the team fans. The perception of the fans was assessed by interviews with 40 members of the largest organized supporters club, chosen for demonstrating extensive involvement with the club. It was concluded that the sale of the player negatively influenced the relationship of the fans with the managers and the team, being perceived by the fans as detrimental to sports performance of the team. Introdução O interesse pelo esporte no mundo é alimentado em grande parte pelo surgimento e presença de ídolos. O esporte, como fenômeno de massa, sustenta o interesse de seus fãs, do público em geral e da mídia, de forma diretamente proporcional à quantidade e qualidade de atletas considerados estrelas, ídolos ou heróis (Helal, 1999). Entretanto, há situações em que, no esporte profissional, uma equipe precisa se desfazer de um ídolo - o que pode ocorrer pelas mais diversas razões, entre elas a Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 31 obtenção de equilíbrio financeiro. É razoável supor que a decisão de negociar um “craque” afete essa equipe de várias maneiras, porém, talvez não seja possível, de antemão, verificar quais seriam as consequências. A preocupação com as relações entre uma organização e os grupos que podem influenciar sua gestão ou serem influenciados por ela deu origem à Teoria dos Stakeholders, que teve início com o trabalho de Freeman (1984). A Teoria dos Stakeholders vem ganhando espaço na academia e, por seu potencial de contribuição para abordar organizações não ligadas diretamente à busca pelo lucro – como muitos clubes esportivos –, é oportuno o seu emprego na análise das estratégias das organizações ligadas ao esporte. A literatura internacional apresenta alguns estudos sobre o tema stakeholders aplicado ao esporte. Anagnostopoulus (2011) realizou a identificação dos principais stakeholders do futebol profissional grego e os classificou segundo os atributos de poder, legitimidade e urgência apresentados por Mitchel et al.(1997). Von Roenn et al. (2004) investigaram a percepção dos stakeholders sobre o comportamento antiético no esporte contemporâneo. Outros trabalhos procuraram identificar e avaliar as opiniões, percepções e influência dos stakeholders sobre assuntos ligados à gestão de organizações do esporte (Wolfe, 2000; Covell, 2004; Parent, 2008; Cooper & Weight, 2009). As pesquisas e investigações sobre o tema stakeholders vêm crescendo consideravelmente nos últimos anos (Horneaux Junior, 2010), porém, esse tema ainda é objeto de poucos estudos no campo da gestão do futebol, principalmente no contexto brasileiro, o que sugere a existência de uma lacuna na literatura científica relacionada à gestão do esporte. Neste relato é apresentada a forma como foi feita uma avaliação do impacto sobre um grupo específico de interessados, da decisão da diretoria de um clube esportivo sediado na cidade de São Paulo - que disputou a Série B do Campeonato Brasileiro no ano de 2013 - de negociar um jogador considerado referência, que, inclusive, integrava as principais campanhas de marketing do clube. Admitiu-se, por esse motivo, que reunia condições para se tornar um futuro ídolo da torcida. O contexto analisado foi o da recente decisão da diretoria executiva da Sociedade Esportiva Palmeiras de negociar os direitos federativos do atacante argentino Hernán Barcos, integrante de seu elenco de futebol profissional, com a equipe do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, e o impacto dessa decisão sobre a relação do clube com um grupo específico de stakeholders: os integrantes da mais numerosa e atuante torcida organizada da equipe. O atleta em questão era considerado a maior estrela do clube na época sendo, inclusive, o artilheiro da equipe na temporada 2012/2013. A justificativa da Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 32 negociação foi a de saldar compromissos financeiros do clube com o próprio atleta e com o clube de origem do atleta, entre outros. A Teoria dos Stakeholders forneceu o suporte teórico para o estudo. O problema a ser resolvido era como avaliar a percepção do grupo de stakeholders selecionado em relação à qualidade da decisão dos gestores do clube, na situação específica da negociação dos direitos federativos de um dos principais jogadores de seu elenco de futebol profissional. Também era importante identificar a opinião desses satkeholders sobre uma possível influência dessa negociação no desempenho técnico do time. No estudo descrito nesse relato, assumiu-se que o gerenciamento das relações do clube com os diversos grupos de interesse se constitui elemento fundamental para uma boa relação com seus stakeholders. Esse relato técnico possui contribuições teóricas e práticas. Do ponto de vista teórico, a contribuição se dá pela utilização da Teoria dos Stakeholders em um novo contexto, o da gestão esportiva – e, especificamente, o do futebol profissional no Brasil. Do ponto de vista de contribuição prática para a gestão das organizações, o conhecimento de como a decisão estratégica da venda de um jogador repercutiu junto aos membros de uma torcida organizada – ressaltando-se o convívio nem sempre harmonioso entre esses stakeholders e o clube – pode servir de norteador para a tomada de futuras decisões semelhantes e/ou a administração de sua relação com torcidas organizadas. O presente relato está estruturado da seguinte maneira: na primeira parte é apresentada uma breve introdução sobre o objeto do estudo; a segunda parte contém o referencial teórico envolvendo a teoria dos stakeholders, sob a ótica do esporte; na terceira parte há a metodologia da produção técnica; a quarta parte apresenta o contexto do projeto, incluindo a situação problema; a quinta parte mostra o tipo de intervenção adotada para a solução do problema; a sexta parte apresenta os resultados obtidos e sua análise. Finalmente, a sétima e última parte discute como as conclusões podem ser úteis a outros clubes e atletas, bem como, as limitações do trabalho e sugestões para aprofundamento do tema por meio de pesquisas futuras. Referencial teórico O conceito de stakeholder foi apresentado pelo filósofo e então professor da Universidade da Virginia R. Edward Freeman, em seu livro denominado Strategic Management: a Stakeholder Approach. O termo stakeholder foi citado pela primeira vez em 1963, em um memorando interno do Stanford Research Institute, que o definiu como “aqueles grupos sem o suporte dos quais a organização cessaria de existir” (Freeman, 1984, p. 31). Outras visões sobre esse conceito podem ser Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 33 encontradas na literatura: “quem se beneficia ou é prejudicado, cujos direitos são violados ou respeitados, por atividades corporativas” (Evan & Freeman, 1988, p. 79); aquele que “possui interesse nas atividades de uma empresa e a habilidade de influenciá-la” (Savage et al., 1991 p. 61); aquele que “produz algum tipo de risco, em consequência de ter investido alguma forma de capital, humano ou financeiro, em uma empresa, ou que está submetido a riscos em consequência das atividades de uma empresa” (Clarkson, 1994, p. 5) – entre outras. Porém, a definição de Freeman para o termo continua sendo a mais conhecida: “stakeholder é qualquer grupo ou indivíduo que pode afetar ou ser afetado pelo alcance dos propósitos de uma firma” (Freeman, 1984; p. 31). Segundo a teoria de Freeman, para que possa ter sucesso, a gestão das empresas deve levar em consideração a influência de suas decisões sobre os grupos de interesse. Nessa proposta de forma de gestão está implícita uma função-objetivo alternativa à encontrada na Teoria da Firma, originária da economia, que propõe, em termos gerais, uma gestão com foco no ganho econômico. A funçãoobjetivo está relacionada aos principais objetivos das organizações e norteia os gestores para a tomada de decisões (Siqueira, 2012). Deve-se notar que a mudança na função objetivo cria um conflito entre a abordagem da Teoria da Firma e da Teoria dos Stakeholders. Nesse aspecto, é possível que a aplicação da Teoria dos Stakeholders em organizações sem fins lucrativos, como é o caso dos clubes associativos no Brasil, seja mais adequada e apresente menos conflitos. A literatura internacional apresenta poucos estudos sobre o tema stakeholders aplicado ao esporte. Entre esses trabalhos, podem ser citados Anagnostopoulus (2011), que realizou a identificação dos principais stakeholders do futebol profissional grego e os classificou segundo os atributos de poder, legitimidade e urgência (Mitchel et al., 1997) e Heinzen et al. (2013), que na mesma perspectiva, realizaram a identificação e classificação dos stakeholders de uma organização do terceiro setor, a partir do modelo proposto por Almeida et al. (2000). Von Roenn et al. (2004) investigaram a percepção dos stakeholders sobre o comportamento antiético no esporte contemporâneo. Outros trabalhos procuraram identificar e avaliar as opiniões, percepções e influência dos stakeholders sobre assuntos ligados à gestão de organizações do esporte (Wolfe, 2000; Covell, 2004; Parent, 2008; Cooper & Weight, 2009). As pesquisas e investigações sobre stakeholders vêm crescendo consideravelmente nos últimos anos (Horneaux Junior, 2010), porém, o mesmo tema ainda é objeto de poucos estudos no campo da gestão do esporte, principalmente sobre a aplicação dessa teoria em clubes de futebol no Brasil. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 34 Método da produção técnica Este relato técnico deve ser entendido como “o produto final de um trabalho (pesquisa aplicada ou produção técnica) que descreve uma experiência nas organizações” (Biancolino et al., 2013, p. 297). A experiência pela qual passou a Sociedade Esportiva Palmeiras foi a necessidade de avaliar o impacto em uma categoria específica de stakeholder – os membros de torcidas organizadas – da venda de Hernán Barcos e verificar se essa negociação afetou o interesse dos torcedores de comparecer aos jogos. Para essa finalidade, foram realizadas 40 entrevistas com membros da mais numerosa e atuante torcida organizada do clube: a Mancha Alviverde. Havia o entendimento na direção do clube que este tipo de torcedor é o que acompanha com maior proximidade o dia-a-dia do clube e, consequentemente, as decisões da diretoria. Os dados foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas, pois de acordo com Flick (2009), este tipo de entrevista, com um roteiro mais flexível, possibilita uma interpretação mais precisa dos pontos de vista dos sujeitos da pesquisa. As respostas foram categorizadas a fim de que se pudesse analisar a percepção deste grupo de interesse sobre as decisões tomadas pelos dirigentes do clube neste caso específico. Alguns cuidados foram tomados na elaboração do instrumento de coleta de dados, como: considerar as particularidades do grupo para que se pudesse dar qualidade às respostas e direcionar as perguntas ao foco da pesquisa evitando-se abrangência desnecessária. Adicionalmente, foram analisados dados oficiais sobre presença de público pagante nos jogos da Sociedade Esportiva Palmeiras durante os Campeonatos Paulistas de 2011, 2012 e 2013, disponíveis no site da Federação Paulista de Futebol, a fim de que se pudesse verificar se houve diferenças significativas no interesse dos torcedores em comparecer aos estádios para assistir os jogos do time nos períodos com e sem a atuação do atleta em questão. Desta forma, os anos de 2011, 2012 e 2013 foram escolhidos por se tratarem das temporadas disputadas pela equipe da Sociedade Esportiva Palmeiras antes da contratação do atleta Hernán Barcos, durante sua permanência como jogador da equipe e após sua negociação, respectivamente. O roteiro das entrevistas foi elaborado pelo pesquisador levando em consideração aspectos relacionados à compreensão dos torcedores quanto ao papel do ídolo de um clube de futebol, à forma como foi conduzida e efetuada a negociação do jogador, a influência dessa negociação para o clube e para o time e, finalmente, a avaliação desses quanto à decisão da diretoria. Para a construção do roteiro de entrevistas, utilizou-se como referência o instrumento utilizado por Mainardes, Deschamps e Tontini (1999), que avaliaram a percepção dos stakeholders sobre a qualidade de uma instituição Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 35 de ensino superior, cuja coleta dos dados foi feita por meio de entrevistas pessoais com um roteiro composto por questões abertas. Tipo de intervenção e mecanismos adotados A construção do presente trabalho seguiu os procedimentos metodológicos apresentados na seção sobre o método da produção técnica. A intervenção se deu por meio de uma pesquisa de campo, na qual a opinião dos torcedores quanto à situação específica da venda do jogador em questão foi coletada por meio de entrevistas semiestruturadas, cerca de cinco meses após a negociação envolvendo os direitos federativos do jogador. As entrevistas individuais foram realizadas na sede da torcida organizada escolhida para o estudo, gravadas e posteriormente transcritas pelo próprio pesquisador. Para a tabulação dos resultados foram criadas categorias de acordo com a essência de cada pergunta, como: maior ídolo e por quê; o que deve fazer um jogador para se tornar um ídolo; se o jogador em questão tinha potencial para ídolo e por quê; o que pensa sobre a saída do jogador e a forma como saiu; impacto para o time e para o clube; e, finalmente, uma avaliação sobre a decisão da diretoria. Em seguida, as respostas foram agrupadas de acordo com a interpretação do pesquisador sobre cada tema. O relatório final foi encaminhado à diretoria executiva do clube para que possa servir de insumo para a análise de casos semelhantes que possam acontecer no futuro. Resultados e análise A análise do discurso dos torcedores possibilitou evidenciar que 36 dos 40 entrevistados apontaram o ex-goleiro Marcos como o maior ídolo do clube e, nesse aspecto outros jogadores foram citados com menor frequência, como: os ex-atacantes que foram os maiores destaques na conquista dos títulos de 1993 e 1994, Evair (n=8) e Edmundo (n=5), o ex-meio campo Ademir da Guia (n=3), e os também ex-jogadores Djalma Santos e César Sampaio (n=1, cada). Tais resultados mostram que, na opinião deste grupo específico de torcedores, nenhum jogador do atual elenco é considerado ídolo. Destacam-se no discurso dos entrevistados, em relação aos motivos pelos quais os jogadores citados são considerados ídolos, o amor, dedicação e fidelidade ao clube, identificação com a torcida e também ao clube, e ainda títulos conquistados e feitos marcantes, o que demonstra que esses torcedores por vezes não diferenciam o jogador considerado ídolo daquele com características de herói. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 36 Tal constatação contrasta com a avaliação das atitudes necessárias para que um jogador seja considerado ídolo, pois, na opinião dos entrevistados, são apontados em sua grande maioria aspectos atitudinais como: demonstrações de amor ao clube, respeito às tradições do clube, identificação com a torcida, dedicação, comprometimento, responsabilidade e caráter, esforço extra em campo e se mostrar torcedor do clube. Nesse aspecto, os feitos marcantes e a conquista de títulos ficaram em segundo plano. Quanto ao assunto principal da pesquisa, os acontecimentos envolvendo o jogador Hernán Barcos, a grande maioria (n=32) dos entrevistados, o apontaram como potencial ídolo do clube, indicando a grande identificação com a torcida, a forma como se dedicava ao time durante os jogos e os gols marcados como os principais motivos. Dentre aqueles que tiveram opinião contrária, a principal alegação foi justamente o suposto desejo de deixar o clube, sobretudo em função de aspectos financeiros. Em relação à saída do jogador, as opiniões foram divididas (21 concordaram, 17 não concordaram e outros 2 não responderam). Dentre os que concordaram, as principais razões estão relacionadas ao suposto desejo do jogador de não permanecer no clube e as questões financeiras (saldar dívidas); já para aqueles que não concordaram, o principal motivo foi a situação de destaque que o jogador rapidamente conquistou no time e junto à torcida. Porém, a grande maioria não concordou com a forma como a negociação aconteceu, principalmente pela falta de informações claras da diretoria do clube sobre o caso. Nota-se ainda a mesma razão naqueles entrevistados que se recusaram a responder sobre o assunto justamente por falta de informações. A saída do jogador teve consequências negativas para o clube na opinião de 18 entrevistados, principalmente no aspecto relacionado à perda de um jogador de referência com potencial para alavancar ganhos substanciais para o clube, principalmente em ações de marketing e em uma futura negociação. As consequências positivas foram apontadas principalmente relacionadas às questões financeiras e à vinda de novos e importantes jogadores para a composição do elenco (quatro novos jogadores foram envolvidos na negociação). Especificamente para o time, em sua grande maioria, os entrevistados apontaram consequências negativas do ponto de vista técnico, sobretudo em função da perda de um jogador de referência, tecnicamente diferenciado e bastante importante para o desempenho geral do time. Por fim, embora a boa parte dos entrevistados (n=19) tenha manifestado concordância com a decisão tomada pela diretoria do clube, a grande maioria evidenciou a falta de informações sobre a forma como foi feita a negociação e que a opinião da torcida foi negligenciada no caso, como Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 37 evidenciado pelo sujeito 7, segundo o qual “[...] foi gerido de uma maneira errada pela diretoria. Que ele (o jogador) deveria sair, eu também concordo. O jogador não quer, não quer, mas a diretoria deveria ter pensado um pouco mais no Palmeiras e na torcida”. As manifestações de não concordância (n=13) se deram principalmente em razão do aspecto apontado acima e em função da crença de se ter perdido um jogador importante para o time, conforme afirma o sujeito 34: [...] “É, teve o lado ruim, que ficou sem um grande jogador”. Outros 8 entrevistados não se manifestaram sobre o assunto. A análise da presença de público nos jogos realizados na cidade de São Paulo não apresentou diferenças significativas em função da presença ou não do jogador Barcos, o que demonstra não sensibilidade do público frequentador do estádio em relação à participação do jogador em questão nos jogos. Conclusão e limitações Os discursos desse grupo específico de torcedores permitiu identificar opiniões diversas em relação aos desdobramentos da decisão da diretoria do clube no caso específico da negociação do jogador Henán Barcos. Percebe-se que a grande maioria se mostrou insatisfeita principalmente com a forma como o negócio foi realizado, sobretudo no aspecto relacionado à escassez de informações. Em alguns casos o discurso indicou uma grande insatisfação inicial que se converteu em concordância após a avaliação dos desdobramentos do fato, o que mostra que o acesso às informações relacionadas à situação pode atenuar os efeitos de uma suposta decisão “impopular”. A adequada gestão dos stakeholders pode proporcionar vantagens competitivas às organizações (Verbeke & Tung, 2013). Sobretudo em organizações sem fins lucrativos, a aplicação da teoria dos stakeholders parece fazer mais sentido, já que a função-objetivo tradicional da Teoria da Firma tem um peso muito menor. No caso específico dos clubes de futebol, a relação com as torcidas organizadas é motivo de grande preocupação, já que suas atitudes podem causar problemas diversos, inclusive danos físicos e prejuízos financeiros. Portanto, uma adequada gestão desses grupos pode ajudar a evitar situações inconvenientes e de grandes prejuízos. Novamente vale ressaltar que a condução de negócios desse tipo de forma transparente e com a comunicação adequada aos torcedores pode ser uma forma de minimizar eventuais desgastes. Entre as limitações do presente estudo deve ser mencionado o fato de que não são possíveis generalizações, já que a investigação se limitou a um clube e também a apenas a alguns integrantes de um único tipo de torcedor: o torcedor organizado. Estudos futuros são fundamentais para a Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 38 ampliação dos resultados, principalmente abrangendo também outros grupos de torcedores, como aqueles não pertencentes a torcidas organizadas, bem como, a replicação do presente estudo para clubes que passem por situação semelhante. Referências bibliográficas Almeida, G.S., Fontes , J.R., Filho, & Martins, H. (2000). 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Para isso foi dividida em quatro partes esta pesquisa; sendo a primeira uma ampliação do referencial teórico em que buscamos compreender mais sobre todas as questões a serem pesquisadas. Em uma segunda parte fizemos um estudo a partir dos websites dos clubes de futebol integrantes da amostra para uma avaliação e analise das possíveis falhas ou melhorias a serem questionadas pelos consumidores. Em seguida foi realizada a coleta dos dados a partir de questionários digitais apresentados a torcedores e/ou simpatizantes dos clubes predefinidos para a amostra e por último foi feito a análise dos dados através do programa estatístico SPSS, resultando na obtenção dos resultados através dos testes de Alpha de Crombach, Levene e Tukey. A partir das analises e resultado obtido chegou-se a uma conclusão do uso do meio virtual na busca de uma melhor percepção da satisfação dos consumidores esportivos. Palavras chave: Estratégia de Marketing, Marketing Digital, Satisfação de Consumidor Esportivo. Abstract In this study, we first sought to discover how the social network is being used by sports companies as a tool for digital marketing and what are the main characteristics of digital marketing search or narrowing of communication between the football clubs and their consumers . For it was divided into four parts this search ; the first being an extension of the theoretical framework in which we seek to understand more about all the questions to be researched ; in a second part we studied from the websites of the surveyed clubs soccer for a review and analysis of potential failures or improvements to be questioned by consumers ; then collect data from digital questionnaires presented to fans and / or supporters of the predefined sample for clubs and finally was done to analyze the data using SPSS Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 42 statistical program where results were obtained through the testing Alpha Cronbach , Levene and Tukey . From the analysis results and a conclusion was reached from the use of virtual environment in search of a better perception of the sport consumer satisfaction. Keywords: Marketing Strategy, Digital Marketing, Consumer Satisfaction Sports. Introdução Atualmente o esporte opera em uma fase em que vivencia uma nova gestão, que pode assumir as mais variadas formas de intervenção. O esporte moderno está em uma fase de desagregação do modelo corporativo tradicional que não mais se ajusta somente ao meio esportivo. Assim, o cenário esportivo, torna-se mais interdependente dos conceitos e técnicas desenvolvidos por estudiosos da administração, bem como a administração passa a se referenciar em modelos de sucesso adotados por organizações e gestores esportivos (Pereira, 2011). Para Azevêdo (2009), o que era simplesmente uma crescente adesão de praticantes e torcedores de algumas modalidades – principalmente do futebol-, tornou-se uma potencia econômica nos dias atuais. Este é o esporte que passou a ser abordado como negócio em nossa sociedade atual. Hoje vemos que o mercado está em crescente aceleração e desenvolvimento. Empresas, tanto de bens quanto de prestação de serviços, devem estar sempre conectadas com as novas exigências do mercado para estar em um nível mercadológico aceitável para assim gerar renda. Em outras palavras, as empresas precisam abandonar a percepção de segurança que haviam construído resultantes de anos de tentativa, acertos ou erro e adaptar-se ao novo, um ponto de inflexão estratégico (Kotler, 2000). Com o crescimento e busca de novas oportunidades, empresas esportivas fazem investimentos na ampliação de seu mercado. Com isso, há também um alto investimento na produção de material esportivo, nas estratégias de marketing adotadas e em serviços gerais para acompanhar a demanda do mercado. Porém, muitas dessas empresas não conseguem reconhecer que as exigências de seus consumidores podem mudar de tempos em tempos. A estratégia vitoriosa do ano passado pode se tornar a estratégia fracassada de hoje. O panorama econômico atual é moldado por duas forças poderosas: tecnologia e globalização. Hoje, o cenário tecnológico está pontilhado de novos produtos, o que dá uma maior importância para as empresas possuírem um conjunto de administradores integrados permitindo que cada um atue em seu nível e em sua área de atividades (Kotler, 2000). Algumas peculiaridades existentes no setor de serviços, associadas ao mercado esportivo cada vez mais competitivo e clientes cada vez mais exigentes, determinam um novo perfil do gestor, com a finalidade de manter a fidelidade do consumidor. Esse novo gestor deve estar atento aos sinais de Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 43 mercado, utilizando as ferramentas de marketing que mais se adapte a sua finalidade (Lima et al., 2007). O esporte de competição vem gerando novas formas de consumo esportivo, fato que pode ser explicado, em boa parte, pela competência na atuação dos agentes de marketing, que souberam estimular o consumo dos produtos esportivos fazendo com que fosse adotado por praticantes esportivos não profissionais, havendo assim um aumento no consumo desses produtos ampliando para bilhões de consumidores o que inicialmente era apenas para atletas de alto rendimento (Azevêdo, 2009). Sá & Sá (1999) em seu livro cita que Philip Kotler chama o Marketing Esportivo de ampliação do Marketing, por ser facilmente aplicado em outros domínios que não o estritamente empresarial. Kotler conceitua o marketing social e o marketing nas instituições sem fins lucrativos, porém o marketing esportivo perpassa essas definições, pois dentro de um contexto esportivo pode-se encontrar instituições sem fins lucrativos bem como empresas e prestadores de serviços. O marketing esportivo promove ações voltadas à prática e à divulgação de modalidades esportivas, dos clubes ou associações, seja pela promoção de eventos ou pelo ato de patrocinar equipes (Sousa et al., 2005). A partir destas definições, podemos perceber que o marketing esportivo vai além de um simples conceito, pois sua definição pode variar dependendo do contexto em que ele se insere. Entende-se marketing esportivo então, como um conjunto de ações e prestações, produzidas no sentido de satisfazer as necessidades, expectativas e preferências do consumidor (Sá & Sá, 1999). O aumento da concorrência no mercado e nas relações comerciais vistas na atualidade exige das empresas maior excelência tanto nas relações interpessoais, entre os funcionários da empresa, quanto nas relações entre a empresa e sua rede de consumidores. Por isso, esses locais devem possuir uma gestão compromissada, para que estes sejam fortes concorrentes para as demais empresas que possuem similaridade de serviços (Kotler & Keller, 2000). Pelo fato de os serviços serem baseados em pessoas e equipamentos, a capacidade de padronização torna-se reduzida. Portanto, com o propósito de reduzir essas variações percebidas pelos clientes, as empresas devem atentar para os processos de seleção de profissionais que se ajuste ao perfil desejado, especialmente aqueles que trabalham no contato direto com os clientes (Ramos & Grigoletto, 2012). Segundo Azevêdo (2009), o ambiente esportivo exige uma competência e qualificação dos profissionais para que alcance o sucesso, assim como ocorre em qualquer outro tipo de negocio. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 44 Atualmente o futebol ocupa um lugar destacado no cenário esportivo. O esporte é o único evento mundial que consegue mobilizar todos os continentes em um só lugar como, por exemplo, a Copa do Mundo de Futebol. Isso se dá ao fato de o esporte dar às pessoas uma identidade, criando um sentimento de cidadão de um país, ou cidade. No futebol não é diferente. Um clube consegue representar milhares de pessoas com seu escudo, bandeira e cores. Para Azevêdo & Suaiden (2002), com um sistema legal atualizado, o esporte profissional passa a ter exigências no modelo de sua administração. Antes a administração esportiva era muito mais voltada ao esporte amador, num sistema semelhante ao parlamentarista: os sócios elegiam o Conselho, que por sua vez elegia o presidente do clube. Hoje o futebol profissional deve possuir um sistema de gestão esportiva concreta, íntegro e transparente a fim de obter bons resultados dentro e fora dos gramados. Além de uma gestão satisfatória, as propostas do clube devem estar interligadas com estratégias do marketing esportivo do clube, sendo consistentes no valor e missão da instituição, promovendo, produzindo e distribuindo produtos e serviços incorporados a uma postura ética e profissional verdadeira (Campestrini et al., 2010). Um plano estratégico do marketing esportivo vem por meio de um processo decisório organizado por gestores, a fim atrair mais adeptos e consumidores do esporte (Barros & Tegani, 2008). Os clubes esportivos de futebol profissional devem então ter a sua atenção centrada no cliente, seu torcedor, que são os maiores responsáveis pelo consumo, geração de trabalho, serviços e imagem do clube (Azevêdo & Suaiden, 2002). Problema de pesquisa e objetivo Devido a um grande investimento por parte de empresas esportivas na contratação de serviços para oferecer a seus consumidores, pode-se perceber que cada vez mais os gestores buscam personalizar suas empresas na tentativa de atingir um público específico que se ajuste ao sue perfil mercadológico. As estratégias de marketing usadas por essas empresas parecem ter dado certo a nível empresarial, porém em termos de satisfação e fidelização por parte desses consumidores o sucesso dessas estratégias só poderá ser afirmado com pesquisas e estudos de campo diretamente ligados a esse público consumidor. O marketing digital tem sido cada vez mais sido um dos principais objetos de estudo de pesquisadores de diferentes áreas. Com isso há também o surgimento de novas hipóteses sobre sua Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 45 atuação no mercado. Da mesma forma, as redes sociais virtuais estão despertando um maior interesse por parte de empresas de diversos setores como também usuários, isso porque nela há uma união de informações com interação social, tudo em uma única plataforma. A partir disso, o objetivo do presente estudo é fazer uma análise do uso das estratégias de marketing digital adotada pelos gestores dos clubes de futebol e relacioná-las com a satisfação percebida pelos consumidores e usuários da plataforma online disponibilizada por essas agremiações esportivas. Portanto, este estudo parte do seguinte problema de pesquisa: “Qual a relação entre as ações estratégias de marketing digital utilizada pelos clubes de futebol e a percepção de satisfação e fidelização dos seus consumidores?” Objetivo geral Analisar se a proposta de marketing digital utilizadas pelos clubes de futebol no meio virtual satisfazem e fidelizam os consumidores destes serviços esportivos. Objetivos específicos Analisar o uso das estratégias de marketing virtual na divulgação de ações de Responsabilidade Social Coorporativa. Avaliar o modelo de estratégia de marketing digital utilizado pelos clubes de futebol Brasileiros, Portugueses e Espanhóis. Analisar quais métodos virtuais são utilizados pelos clubes para atrair novos consumidores. Identificar quais fatores interferem na percepção da satisfação de consumidores dos serviços oferecidos pelos clubes. Ponderar o que é oferecido para a permanência/fidelização do consumidor. Verificar se os serviços oferecidos pelos clubes estão condizendo com as reais necessidades dos seus consumidores. Revisão bibliográfica Para compreender as estratégias de ação do Marketing, faz-se necessário um aprofundamento teórico de conceitos e definições acerca da administração e as variáveis que regem essa aplicação. Raman (2009) afirma que nas ultimas três décadas, o mundo empresarial se transformou. Com a abertura da economia de nações em desenvolvimento, muitas empresas aprenderam a conviver com Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 46 fatores emergentes: crescimento desenfreado de mercados, intensa concorrência e ambientes mais complexos que apresentam constantes mudanças (Silva, 2011). Com o passar do tempo, os processos tiveram uma estagnação no que diz respeito a modificações, porém houve aperfeiçoamento tornando o processo rotineiro tornando possível uma economia de tempo e muitas vezes de dinheiro (Drucker, 2000). A partir disso entende-se que administração é o processo de condução racional das atividades de uma organização, o planejamento das atividades, a direção e controle de todas as atividades previstas e a divisão do trabalho dentro dessa organização, sendo ela lucrativa ou não (Chiavenato, 2004). A Era da Informação trouxe consigo não apenas grande quantidade de informação e aperfeiçoamento no campo técnico-científico, mas também, a diminuição das barreiras comerciais existentes entre os países, como observado no Mercosul e na Comunidade Europeia. A comercialização por meio do espaço virtual (Internet) faz com que as empresas tornem-se mais expostas à concorrência de mercado. Portanto, a organização de uma empresa, frente a essas mudanças sociais, deve estar em constante modificação, pois a gestão tradicional já não corresponde às exigências proclamadas por uma economia globalizada (Pereira, 2011). Hoje existem bilhões de usuários conectados à rede. Só em 2012 foram registrados mais de 2,4 bilhões de usuários, cerca de um terço da população do planeta, o que faz da internet também o mais poderoso meio de interação, pois suas características tornam a primeira mídia em massa que permite a interação entre o cliente e a empresa com baixo custo e eficiência(Limeira, 2003). As empresas, em um processo dinâmico evolutivo, devem buscar adaptar-se frente às exigências de mercado realizando constante adequação organizacional. Desenvolvem novos modelos de gestão, a fim de suprir as exigências da sociedade atual. Nesse contexto, a gestão estratégica busca estabelecer o equilíbrio entre as demandas dos ambientes interno e externo da empresa, bem como sua integração com o todo (Lobato, 2003). Na atualidade o marketing tem como uma das suas principais funções contribuir com empresas a fim de estas perceberem a importância da mudança organizacional de um modelo centrado no produto para aquele centrado no mercado e em seus clientes. Porém, foram necessários muitos anos desde os primeiros estudos até que algumas empresas começassem a experimentar essa transformação no modo de pensar “de dentro para fora” para o modo “de fora para dentro” (Kotler, 2000). Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 47 Sendo assim se torna essencial para o desempenho superior de uma organização que elas se utilizem de estratégias de marketing, pois será por meio dessas estratégias que a empresa utilizará adequadamente seus recursos, otimizando as oportunidades e amenizando os problemas (Porter, 1999). Portanto, para um bom desempenho de um serviço, a estratégia de marketing consiste na organização de uma série de atividades voltadas para a o cliente, como funcionários capacitados para assegurar o valor do consumidor, através de um composto de marketing: Produto, Preço, Distribuição e Promoção. Nessa concepção será levada em conta por parte do consumidor final a percepção do ambiente do serviço, a forma com que o serviço é executado e ofertado aos clientes, além do grau de interação com o cliente e o ambiente (Barros & Tegani, 2008). Kotler (2000) em seu livro de marketing para o século XXI prevê que as “Por maiores que tenham sido as mudanças na teoria do marketing até agora, as mudanças futuras, na teoria e na prática, serão ainda maiores. Atualmente, os estudiosos da área questionam o conceito central subjacente ao marketing, se deve ser de troca ou de relacionamentos ou redes. Muita coisa está mudando na teoria sobre marketing de serviços e marketing empresarial. Além disso, o maior impacto ainda está por vir, já que as forças da tecnologia e da globalização avançam em passo acelerado. Os computadores e a Internet causarão imensas mudanças comportamentais no processo de compra e venda”. Segundo Torres (2009), o marketing digital é o conjunto de estratégias de publicidade e marketing que serão aplicadas à Internet juntamente com a análise do novo comportamento do consumidor quando está navegando. Assim o marketing digital faz com que os consumidores tenham conhecimento de seu negócio, confiem nele, e tomem a decisão de compra a seu favor. Na atualidade os consumidores esportivos buscam serviços que maximizam a sua vivencia esportiva, logo as organizações esportivas devem atentar para oferta de pacotes de serviços completos de lazer contendo essas exigências (Kearney, 2003). Deve-se levar em conta que o comércio eletrônico não é somente o uso da tecnologia, e sim faz uso da mesma para melhorar as maneiras de realizar as atividades empresariais, de tal maneira que obtenha resultados satisfatórios. Sendo a plataforma Web um meio de comércio que oferece vantagens tanto para os usuários como para as empresas (Orra, 1997). Ainda segundo o autor, a internet permite que os clientes provem interativamente os produtos e/ou serviços, o que proporciona satisfação imediata e estimula a aquisição, além de aumentar a disponibilidade e permitir um acesso a produtos que estão difíceis de encontrar no mercado, isso devido a um eficiente canal de comunicação. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 48 Para Kotler (2000), a compra através do meio virtual apresenta três benefícios aos compradores, sendo eles, a conveniência: onde que os clientes têm acesso à loja 24 horas por dia, de qualquer lugar onde que estejam sem que tenham que se deslocar até um espaço físico; a informação: o comprador tem facilidade para encontrar dados comparativos acerca de um produto, as empresas que possuem o que ele necessita, concorrência de mercado, além da pesquisa de preço sem que ele se desloque até vários estabelecimentos para fazer um estudo comparativo; e a comodidade: onde clientes não têm contato direto com os vendedores nem mesmo são atingidos por fatores emocionais e ou de persuasão acerca de um produto, além de não necessitar esperar em uma fila. Com isso, o perfil do consumidor atual determina uma lógica de consumo na qual o uso de novas tecnologias, sobretudo da internet que está aliada ao crescimento de redes sociais, mudam os padrões de compra gerando alterações sociais, culturais e consequentemente no comportamento destes consumidores (Cachuté, 2013). A importância que se dá ao modo de agir e pensar do consumidor acerca de um determinado produto ou serviço deve ser frequentemente estudada pelos gestores de marketing de determinada empresa, pois ela é parte fundamental para o processo de compra. Kotler (2000) afirma que a área designada a estudar o comportamento do consumidor deve examinar como pessoas, grupos e organizações determinam, compram, usam e descartam serviços, produtos, ideias e até mesmo experiências a fim de satisfazer seus desejos. O consumidor esportivo é definido por Pitts et al. (2002) em três tipos de segmentos: (a) prática esportiva – que é oferecida ao consumidor como produto de participação e/ou entretenimento; (b) produtos esportivos – produtos e serviços, como equipamentos esportivos e serviços médicos, ofertados aos consumidores para a prática de esportes; e (c) promoção esportiva – produtos e serviços que são ofertados para promover o esporte, incluindo eventos, brindes e patrocínios, por exemplo. Em cada um dos segmentos o consumidor esportivo apresenta motivadores distintos, o que não ocorre na oferta de produtos e serviços prestados por outros setores. Além dos artigos esportivos, existem conectores fundamentais para atrair torcedores ao esporte. Um desses conectores pode ser o “astro” que pode ser um jogador, uma equipe, uma competição, um estádio ou outro elemento que possa atrair torcedores, ou ainda ter uma conexão estabelecida pelo “local” em que há um relacionamento entre comunidade e torcedores. Existem elementos de conexão cujos elementos são de caráter social, sendo eles “família” levando o esporte ao ambiente familiar e sendo um fator de união, “utopia” que leva o torcedor a vivenciar experiências Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 49 esportivas que representem o passado e a “moeda social” que trata o esporte como uma forma de compartilhamento de informações, incentivando a interação social (Kotler et al., 2008). Identificando o que melhor se adapte a suas necessidades, o consumidor começa então a escolher os produtos com mais critérios sendo o que for mais atrativo poderá ser o de maior satisfação. Criando assim uma opinião acerca dos produtos adquiridos, sendo elas opiniões positivas ou negativas (Karsaklian, 2004). A partir disso as empresas buscam identificar quais as necessidades e exigências de cada grupo consumidor, a fim de satisfazê-los na tentativa de fidelizar seus consumidores. Essa satisfação está ligada a sensação que o consumidor tem de contentar-se frente a sua necessidade, mesmo sendo algo de forma inconsciente (Cobra, 1997). Metodologia Para a presente pesquisa foi realizado um estudo acerca da temática em questão a fim de obter um maior embasamento teórico para respaldar os resultados obtidos através da coleta de dados. Foram utilizados questionários de sondagem através do meio virtual, sendo feito um pré-teste com uma amostra selecionada por conveniência segundo o critério pré-determinado pelo pesquisador com o intuito de analisar os serviços oferecidos pelos clubes de futebol em suas paginas web com a atração, fidelização e satisfação percebida por esses consumidores. Ainda nesse sentido, visamos descobrir como a rede social é utilizada pelo departamento de marketing dos clubes de futebol como sendo uma ferramenta de marketing digital na busca de alcançar novos usuários e fidelizar os já existentes. A pesquisa é caráter descritivo exploratório, pois a partir dela iremos observar, registrar, analisar e correlacionar fatos sem que haja manipulação e nem interferência por parte do pesquisador. Pois o referente se baseia no estudo de caso, onde a única finalidade é analisar um fenômeno nos seus aspectos e peculiaridades (Cervo & Bervian, 2004). Para se compreender o comportamento humano, Günther (2003) define três principais formas para conduzir um estudo sendo elas, observar o comportamento que ocorre de forma natural; criar situações artificiais e observa-las; perguntar às pessoas sobre o que fazer e pensam. Com isso, o autor afirma que o ponto forte da observação é o realismo frente à situação estudada, onde o experimento possibilite tanto a randomização das características dos indivíduos quanto às inferências causais. Sendo o questionário o melhor instrumento utilizado, pois pode definir um conjunto de perguntas sobre um determinado tema que não teste a habilidade do respondente, mas sim medem a sua opinião, interesses, aspectos de personalidade e informação biográfica. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 50 Com isso, a pesquisa terá uma analise de correlação entre variáveis utilizando-se de métodos estatísticos por ser um método utilizado para avaliar, estudar associações ou covariações numéricas existentes. Coleta de dados O instrumento utilizado para a coleta de dados neste estudo foi avaliado por meio de um pré – teste com um grupo reduzido de simpatizantes por clubes de futebol onde as respostas foram analisadas para identificar divergências ou características salientes como a existência ou não de incoerências e erros que consideramos relevantes para a mensuração dos dados, proporcionando então um aprimoramento do instrumento de pesquisa. O questionário utilizado foi aplicado através do meio digital, na plataforma Google Drives que permite a criação e aplicação de testes além de colher informações. Em contrapartida os critérios utilizados para a investigação nos websites dos clubes de futebol que pertenciam à população amostral da pesquisa, foi através da observação dos canais e links expostos na plataforma principal do clube. Onde as questões expostas passaram por uma análise em que pesquisador observava a presença ou não de determinadas ações a fim de identificar prováveis efeitos na aplicação dos resultados. O questionário utilizado foi composto por 32 questões subdivididas em cinco temáticas, sendo elas: Serviços que possui 08 (oito) itens, Rede Social possui 5 (cinco) itens, Compromisso possui 6 (seis) itens, Imagem possui 5 (cinco) itens e Satisfação que possui 8 (oito) itens, onde para a avaliação das questões propostas foi utilizada a escala de Likert de 5 pontos, desde 1 “discordo totalmente” a 5 “concordo totalmente”, que para Günther (2003) é a mensuração mais utilizada nas ciências sociais especialmente em levantamento de atitudes, opiniões e avaliações. Sendo ainda coletado dados sócio demográficos nas três primeiras questões do questionário - gênero, faixa etária e clube ao qual o respondente é simpatizante, sendo estas perguntas conhecidas como “filtro” sendo excluídos os respondentes que não faziam parte da amostra. Na análise dos resultados, os dados coletados foram comparados por meio de testes no programa estatístico SPSS Statistics 20, a fim de analisar uma forma simultânea das relações existentes nas analises de variáveis examinadas. Onde para Luz (2012), a vantagem de um procedimento estatístico é que permite testar modelos teóricos de variáveis que podem atuar de uma só vez com variáveis independentes e dependentes. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 51 População e amostra Para esse estudo a população utilizada são usuários do meio digital que consomem produtos e serviços dos clubes de futebol através do meio virtual, além disso foi feita uma analise das plataformas virtuais oficiais dos clubes de futebol brasileiros, espanhóis e portugueses. Por se tratar de uma pesquisa com clubes de futebol e tendo em vista um grande número de equipes presente nos três países citados, o critério escolhido para a técnica de amostragem foi à opção de amostra não probabilística devido à sua simplicidade em execução e julgamento por parte dos pesquisadores. Sendo o método utilizado a pesquisa de amostragem por conveniência, por possuir uma maior facilidade no alcance de entrevistados dispostos para responder ao questionário. Por não serem amostras aleatórias, o estudo teve seguimento. Para Malhotra (2006), essa unidade amostral é as mais acessíveis devido à facilidade de medir e cooperação dos participantes. Por ser o país com maior dimensão geográfica, foram escolhidos três clubes brasileiros sendo eles divididos pelas três capitais com o maior número de torcedores, sendo eles: Internacional de Porto Alegre representando a região sul do Brasil, o clube com o maior número de sócios torcedores ativos na região, Corinthians representando a cidade de São Paulo por ser o clube com o maior número de torcedores nesta região e o Flamengo sendo o clube com maior número de torcedores e maior popularidade no estado do Rio de Janeiro. Seguindo a mesma lógica de popularidade entre os torcedores, os clubes espanhóis escolhidos foram o Barcelona e o Real Madrid por ter uma grande representatividade a nível espanhol como também a nível mundial, já os dois clubes portugueses escolhidos foram o Benfica de Lisboa e o FC Porto da cidade do Porto, sendo esses também clubes com mais populares neste país. Análise de resultados Caracterização da amostra – website dos clubes A partir da delimitação da amostra do estudo, foi feita uma análise no website oficial de cada equipe na tentativa de encontrar fatores que possam ser relevantes para a percepção da satisfação dos usuários deste meio. Como mostra a gráfico 1 todos os 7 clubes analisados possuem uma rede social oficial com acesso direto de seu website oficial. Isso mostra que há uma preocupação por parte dos clubes a fim de obter uma relação social mais próxima de seus usuários. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 52 Gráfico 1: Análise dos Websites dos Clubes de Futebol Podemos perceber também que todos os websites analisados possuíam um link de sua loja virtual de produtos oficiais, facilitando assim a aquisição de produtos e serviços do clube de forma mais acessível ao usuário. A análise nos permitiu identificar que existem dois clubes brasileiros, Internacional e Flamengo, que não possuem em seu website a opção de mudança de idioma. Como visto anteriormente, as plataformas virtuais nos dias de hoje são utilizada por pessoas em todo o mundo onde nos faz entender ser de grande importância à opção de possuir um idioma que facilite a utilização da plataforma por parte do usuário. Outra analise que acreditamos ser relevante para o resultado do estudo é existência em todos os websites avaliados terem uma área destinada a seus torcedores, aficionados, sócios ou simpatizantes ressaltando assim o compromisso do clube com aquele que contribuem para os projetos do mesmo. Além disso, há em todos os websites analisados uma relação da diretoria e gestão atualizada do clube onde o usurário tem a informação de quem esta no comando da equipe naquela temporada. Caracterização da amostra – Consumidor Na avaliação dos questionários, foram recebidos 203 respostas ao final do período de recolha de dado, sendo 52 de língua espanhola e 151 de língua portuguesa, sendo englobado por respondentes brasileiros e portugueses.Os dados recolhidos validados para análise e estudo, foram respondidos por 79,8% do gênero masculino, 162 indivíduos, e 20,2% do sexo feminino, 41 respondentes. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 53 Ao analisar o perfil dos entrevistados, pode-se dizer que eles apresentam em maior número entre 20 e 25 anos de idades, conforme apresentado pelo Tabela 1. Frequência Absoluta Frequência Relativa Idade Até 20 anos 40 19,80% 20 - 25 anos 86 42,60% 25 - 35 anos 46 22,80% 35 - 45 anos 14 6,90% 45 - 55 anos 7 3,50% 55 - 60 anos 6 3,00% mais de 60 anos 3 1,50% Total 203 100,00% Tabela 1: Idade dos respondentes. Frequência absoluta e Frequência relativa. Como dito anteriormente, a amostra foi composta por 3 nacionalidades sendo 7 clubes elegidos como pertencentes a amostra, onde apresentou 78 respondentes portugueses (38,4%), 73 brasileiros (36,0%) e 52 espanhóis (25,6%). A Tabela 2 apresenta a distribuição dos respondentes em relação ao clube, em termos de frequência absoluta e frequência relativa. Clube Frequência Absoluta Frequência Relativa Barcelona 15 7,40% Benfica 36 17,70% Corinthians 26 12,80% FC Porto 42 20,70% Flamengo 32 15,80% Internacional 15 7,40% Real Madrid 37 18,20% Total 203 100,00% Tabela 2: Clube dos respondentes. Frequência absoluta e Frequência relativa. Para análise da percepção dos consumidores esportivos no meio virtual e com os dados finais coletados, foi estimada a fiabilidade através do coeficiente de analise de consistência interna, Alpha Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 54 de Cronbach. A Tabela 3 mostra que todas as questões obtiveram o valor mínimo aceitável para ter uma consistência interna, que para Murphy & Davidsholder (1988) a fiabilidade moderado/elevado apresenta valores de 0,8 a 0,9. Isso que dizer que o Alpha Cronbach dos itens indica que o fator fiabilidade tem consistência interna (Maroco & Garcia-Marques, 2006). Alpha de Cronbach Número de Itens Serviço ,844 8 Rede Social ,856 5 Imagem ,885 5 Compromisso ,879 6 Satisfação ,873 8 Variáveis Tabela 3: Teste de Fiabilidade – Consistência Interna As análises foram realizadas utilizando o IBM SPSS Statistics 20, sendo o nível de significância de 5%. Diante das informações obtidas através da coleta de dados, foi realizado o Levene Test com o somatório de cada bloco de questões, nos casos de valor p < 0,05 foi considerado então que as variâncias nesta questão são iguais, heterocedasticidade. Porém nos casos onde o valor p > 0,05 foi considerado não significativo sendo, portanto estas questões homogenias, podendo assim haver uma variância entre os resultados. Porém podemos perceber na tabela 2 o número de respondentes espanhóis foi menor em quantidade do que os respondentes brasileiros e portugueses, os quais obtiveram resultados com menor homogeneidade para uma determinada questão, com isso foi feita também uma analise de homogeneidade em cada bloco de questões de forma separada. Após conclusão dos testes de homogeneidade nas questões entre países por meio do Levene Test, o procedimento seguinte foi o de ponderar a magnitude destas diferenças utilizando um teste de comparações múltiplas, ANOVA. Através desta aplicação de análise de variância, one-way ANOVA, podemos analisar se os resultados obtidos com base nas hipóteses do estudo são ou não apropriadas. O teste de ANOVA - Tukey foi utilizado neste estudo, pois permite avaliar qualquer contraste mesmo sendo em pequena proporção entre duas médias de tratamento a fim de encontrar diferenças significativas, a 5% de probabilidade. A partir dos valores encontrados no teste de Tukey com o somatório das questões apresentadas, vimos que somente a questão imagem apresentava diferença significativa entre os Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 55 países (ver anexo). Por isso, achamos de forma conveniente fazer uma analise mais minuciosa de cada bloco de questões. Sendo das 9 diferenças significativas encontradas, 5 delas referentes ao bloco de questões imagem, as quais apresentam heterocedaticidade no teste de Levene. Almeida (2008) em seu estudo propõem identificar e remover os chamados zeros estruturais, visto que o procedimento de Levene pode apresentar falhas pois a presença desses zeros estruturais pode tornar o teste ineficiente para detectar desigualdade de variâncias principalmente quando o n é pequeno ou desigual. Neste estudo avaliaremos as questões citadas na Tabela 5 que apresentam um valor significante (S) inferior a 0,05 no teste de ANOVA entre pelo menos dois países, os quadros seguintes de múltiplas comparações apresentamos em por menor onde há esta diferença significativa entre os países, bem como a análise destas diferenças. Questão Descrição do item Costumo comprar produtos oficiais através 5 - Serviço da loja virtual do clube. A loja virtual de produtos oficiais oferece 6 - Serviço 1 - Imagem várias formas para realização de pagamento. É um Clube respeitado. O Clube tem uma organização de alta 2 - Imagem qualidade O Clube é exemplo de como deve ser uma 3 - Imagem 4 - Imagem Organização Esportiva É um Clube com propostas inovadoras. No âmbito de Gestão Esportiva é um Clube 5 - Imagem exemplar. No âmbito da Gestão Econômica, estou 6 -Satisfação satisfeito com meu clube. Considero a prestação de contas do clube 7 -Satisfação satisfatória e atualizada. F P 4,960 0,008 3,352 0,037 7,158 0,001 8,980 0,000 14,850 0,000 4,312 0,015 3,609 0,029 7,917 0,000 6,419 0,002 Tabela 4: ANOVA - Valor de significância. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 56 Segundo a descrição da tabela 4, trataremos de forma mais minuciosa cada item descrito para uma melhor análise e compreensão de cada uma das relações. Questões referentes à Serviço A partir dos dados da tabela 5, pode-se observar na questão 5 do bloco de Serviço, há diferença significativa entre Brasil e os outros dois países do estudo. Observa-se também que o Brasil apresenta média superior em relação aos outros dois países. Podemos dizer que os respondentes dos clubes brasileiros costumam comprar mais produtos oficiais do seu clube na plataforma virtual do que os respondentes dos clubes portugueses e espanhóis. Méd. ± DP F Portugal Brasil Espanha 2,09 P Portugal Brasil Espanha ± 1,175 2,63 Portugal ± 1,219 2,06 4,960 0,008 0,017 0,989 Brasil 0,026 ± 1,207 Espanha Tabela 5: Serviço – Consumo na plataforma virtual Ainda segundo ao bloco de questões referente aos serviços, na questão 6 também há diferença significativa entre dois países. Como vemos na tabela 6, os dois países com significância para a questão são Portugal e Brasil podemos observar que a média de Portugal é superior à média do Brasil. Com isso pode-se dizer que, segundo os torcedores dos clubes portugueses a loja virtual de produtos oficiais oferece uma maior possibilidade de pagamento aos seus consumidores em relação à opinião dos torcedores dos clubes brasileiros. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 57 Méd. ± DP F Portugal Brasil Espanha 3,36 P ± 0,805 3,75 Portugal ± 0,952 3,58 Portugal Brasil Espanha 3,352 0,037 0,029 Brasil 0,381 0,569 ± 1,016 Espanha Tabela 6: Serviço – Opções de pagamento na loja virtual Para Fonseca (2008), a satisfação é uma avaliação que o consumidor faz das características do produto ou serviço adquirido como fornecedor de necessidade de consumo, incluindo os níveis sub ou sobre preenchimento. Trata-se, portanto de uma avaliação da característica de um produto ou de um serviço indicando que com ele se atinja um determinado nível de prazer proporcionado pelo consumo. Ainda segundo a autora, a falha de ir ao encontro das necessidades ou expectativas é pressuposta como causadora de insatisfação com o produto ou serviço. Questões referentes à Imagem Ainda segundo o Tukey descrito na tabela 4, podemos observar que todas as questões referente à Imagem obtiverem diferença significativa entre pelo menos dois países em cada uma das questões. Na tabela 7 há diferença significativa entre a Espanha com os dois outros países citados. Porém na relação Portugal e Espanha o maior valor de média é dos respondentes portugueses, já na comparação entre Brasil e Espanha os valores do Brasil são os mais elevados nessa relação. Os valores de média entre Brasil e Portugal são estatisticamente iguais. Portanto podemos dizer que na relação entre clubes portugueses e espanhóis os que mais veem seu clube como sendo respeitado são os torcedores portugueses. Já na relação Brasil e Espanha os torcedores dos clubes brasileiros são os que mais acreditam ser seu clube respeitado. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 58 Méd. ± DP F Portugal Brasil Espanha 4,65 P Portugal Brasil Espanha ± 0,718 4,56 ± 0,799 4,02 0,833 0,001 Portugal 7,158 0,001 0,007 Brasil ± 1,448 Espanha Tabela 7: Imagem – Respeito do clube Em relação à imagem que o torcedor tem a respeito da organização do seu clube, podemos notar a tabela 8 que o Brasil tem diferença significativa com os outros dois países, sendo a relação Portugal e Brasil com maiores valores de médias dos clubes portugueses que acreditam que seu clube tem uma organização de alta qualidade, e na relação Brasil e Espanha os valores nos mostram que os clubes espanhóis creem que a organização de seu clube é de mais qualidade em relação a opinião dos torcedores dos clube brasileiros. Méd. ± DP F Portugal Brasil Espanha 4,37 P Portugal Brasil Espanha ± 0,899 3,68 Portugal ± 1,165 4,31 8,980 0,000 0,000 0,940 Brasil 0,004 ± 1,164 Espanha Tabela 8: Imagem – Organização de alta qualidade Já no que se diz respeito ao exemplo do clube de como dever ser uma organização esportiva, a tabela 9 mostra que na relação Portugal com Brasil vemos maiores valores de média dos clubes portugueses e na relação dos clubes brasileiros com os clubes espanhóis esse valor é mais elevado nos resultados dos clubes espanhóis. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 59 Méd. ± DP Portugal Brasil Espanha 4,26 F P ± 0,992 3,27 0,000 0,714 Portugal ± 1,304 4,10 Portugal Brasil Espanha 14,850 0,000 0,000 Brasil ± 1,192 Espanha Tabela 9: Imagem – Exemplo de organização esportiva Na tabela 10, há diferença significativa entre Portugal e Brasil. Sendo neste caso os clubes portugueses com maiores valores de média, e, portanto acreditam que seus clubes possuem mais propostas inovadoras em relação à opinião dos torcedores dos clubes brasileiros. Méd. ± DP Portugal Brasil Espanha 4,09 F P ± 0,876 3,59 Portugal ± 1,103 3,87 Portugal Brasil Espanha 4,312 0,015 0,010 0,454 Brasil 0,315 ± 1,189 Espanha Tabela 10: Imagem – Propostas Inovadoras Por se tratar de uma análise da gestão dos clubes de futebol como um dos principais objetivos do trabalho é importante, portanto conhecer a opinião dos torcedores no âmbito da gestão esportiva do seu clube. Na analise feita através dos dados obtidos entre os três países em questão, notamos na tabela 11 que há uma diferença significativa apenas entre Portugal e Brasil tendo os clubes portugueses maiores valores de média em relação aos clubes brasileiros. Com isso vemos que a visão dos torcedores portugueses é maior no que se diz ser seu clube exemplo no âmbito da gestão esportiva. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 60 Méd. ± DP F Portugal Brasil Espanha 4,00 P Portugal Brasil Espanha ± 1,128 3,45 Portugal ± 1,313 3,79 3,609 0,029 0,022 0,616 Brasil 0,306 ± 1,362 Espanha Tabela 11: Imagem – Exemplo de gestão esportiva Para Saboia & Coppini (2012), a imagem está relacionada com os benefícios gerados pelo consumo bem como a relação com a qualidade. A partir da analise dos resultados obtidos, podemos perceber que a imagem que o clube tem para o torcedor difere em alguns aspectos quando observamos três diferentes países. Isso se dá pelo fato de se tratar de culturas e hábitos diferentes refletindo assim na importância dada a cada uma das questões que são relacionadas com a qualidade percebida por esses indivíduos. Porém podemos dizer que a imagem é um fator que reflete na percepção satisfação do torcedor de uma equipe esportiva, pois cria ou reforça uma percepção do consumidor com a finalidade de construir um posicionamento frente a um produto ou serviço. Questões referentes à Satisfação Como vimos anteriormente no decorrer do estudo, a satisfação nada mais é que a percepção frente a expectativas e anseios de um consumidor. A partir disso podemos perceber com os resultados do teste, que a os fatores a nível econômico foram os que obtiveram diferenças significativas quanto à satisfação do consumidor em relação a sua equipe de futebol. Na tabela 12 vemos que há significância para a relação Portugal e Espanha como também Brasil com Espanha. Em ambas as relações os valores de média das equipes espanholas foi maior que as suas relacionadas, sendo, portanto os torcedores dos clubes espanhóis mais satisfeitos com a gestão econômica de seu clube. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 61 Méd. ± DP F Portugal Brasil Espanha 3,37 P Portugal Brasil Espanha ± 1,082 0,679 0,006 Portugal 3,21 ± 1,352 4,04 7,917 0,000 0,000 Brasil ± 1,102 Espanha Tabela 12: Satisfação – Gestão econômica No que diz respeito à prestação de contas dos clubes, houve diferença significativa entre os clubes portugueses e espanhóis, brasileiros e espanhóis. Nessas relações citadas, também observamos na tabela 13 que os valores de média de satisfação em relação a aceitação e atualização da prestação de conta foram mais elevados nos clubes espanhóis. O que nos leva a concluir que os torcedores das equipes espanholas estão satisfeitos a nível econômico com suas equipes. Méd. ± DP F P Portugal 3,35 ± 1,017 Brasil 3,13 ± 1,210 6,419 Espanha 3,85 ± 1,127 Portugal Brasil Espanha Portugal 0,002 Brasil 0,448 0,035 0,001 Espanha Tabela 13: Satisfação – Prestação de contas Conclusão Por se tratar de uma análise da gestão dos clubes de futebol como um dos principais objetivos do trabalho, é importante conhecer a opinião dos torcedores no âmbito da gestão esportiva do seu clube. Perante os resultados encontrados e as análises de dados feitas, podemos dizer que por se tratar de uma temática recente e pouco estudada, a utilização dos meios virtuais, redes sociais, apresentam falha no que tange a relação das empresas esportivas com o seus público alvo. Levando assim pouca ou nenhuma utilização deste meio como forma de explanar suas ideias ou apresentar suas críticas frente à empresa por parte do usuário, ou por haver uma escassa opção de locais onde o usuário possa fazer seu comentário no meio virtual ou ainda por não obter resposta por parte da empresa. Com isso Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 62 vemos que o meio virtual ainda é pouco utilizado e aproveitado como um agente facilitador a fim de explorar e conhecer a real necessidade dos seus consumidores, sendo essa uma ferramenta que pode auxiliar a empresa esportiva em suas melhorias como também aproximá-la de seu público consumidor. Mesmo com falha nas propostas das redes sociais, os dados obtidos nesta pesquisa mostram que mesmo havendo barreira geográfica entre os clubes estudados, os resultados nos apontam que o comportamento do consumidor esportivo virtual bem como a satisfação percepção por ele sobre sua equipe de futebol apresentam muitas semelhanças, como por exemplo, no que se diz respeito ao compromisso do torcedor perante a sua equipe. Mostrando assim que os torcedores são fieis e apoiadores de seu clube, nos levando a crer que essa fidelidade e compromisso podem ser ainda mais bem aproveitados pelos gestores se houver uma maior aproximação com o seu público. Dentre as principais funções de um gestor esportivo, deve estar a de obter uma maior parceria não somente com o “torcer” pela equipe como também incentivar o usuário em apoiar e auxiliar na produção e execução de melhores e mais atrativos produtos e serviços que se adequem as suas reais necessidades. Criando assim uma forma de atrair novos consumidores como também fidelizar os já existentes. Referências bibliograficas Akira, F., Cardoso, V., Monteiro, T. C., Souza, D., & Sueyoshi, A. (2008). Marketing Digital: um estudo exploratório novas mídias na Internet - caso da empresa TECNISA. São Paulo: FIAP. Almeida, A., Elian, S., & Nobre, J. (2008). Modificações e alternativas aos testes de Levene e de Brown e Forsythe para igualdade de variâncias e médias. 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Considerando-se vários autores, é possível afirmar que o estudo sobre comportamento do consumidor é da área da administração, ou mais especificamente, do marketing, que analisa os hábitos de consumo do comprador, seja ele de bens de consumo ou serviços, e procura, desta forma, atender às suas necessidades e seus desejos. Segundo Silva, Añaña, Alves e Borges (2012), o marketing esportivo é uma ferramenta importante utilizada pelas empresas na vinculação de sua marca institucional a uma entidade esportiva porque rejuvenesce a marca, além de proporcionar visibilidade alternativa à propaganda tradicional. Os resultados mostraram que os consumidores têm preferência por alguns atributos, tais como a marca e a durabilidade do produto, em detrimento da distribuição e comunicação. Esta pesquisa relatou também que o consumidor tem dificuldade em identificar o produto licenciado em relação ao ‘pirata’ e quando a escolha é feita com o objetivo de presentear, o produto licenciado tem uma participação maior na escolha. Não foi relevante também para os consumidores a divulgação do produto feita por atletas do clube. Palavras-chaves: Artigos esportivos; Comportamento do consumidor, Clubes de Futebol. Abstract This paper studied the consumer’s buying behavior sporting goods, especially those licensed products by the three biggest football clubs from the São Paulo city: Corinthians, Palmeiras and São Paulo. Considering many authors it is clear that consumer behavior is the study area of management, or more specifically, the marketing, which will analyze the consumption patterns of the buyer, be it for consumer goods or services, and thus demand meet your needs and desires. According to Silva, Añaña, Alves and Borges (2012) sports marketing is an important tool used by companies in linking its corporate brand to a sports organization because it rejuvenates the brand and provides an Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 69 alternative to traditional advertising visibility. The results showed that consumers have a preference for certain attributes such as brand and the durability of the product, to the detriment of distribution and communication. The survey also reported that consumers have difficulty identifying the licensee in relation to the 'pirate' product and when the choice is made for the purpose of gifting, the licensed product has a greater role in selecting. It was not important for consumers to product disclosure made by the club's athletes. Key Words: Sporting goods; Consumer behavior, Soccer Clubs. Introdução O que motiva alguém a comprar? O que faz alguém sair de casa, enfrentar trânsito, filas, ficar sujeito à violência, ou correr o risco de uma compra pela internet? O que leva alguém a consumir um artigo esportivo? Quais os atributos mais valorizados pelos consumidores? Conhecer a resposta para essas perguntas, provavelmente, permitiria aos fabricantes um maior êxito em suas campanhas publicitárias, o estabelecimento de preços mais justos aos olhos do consumidor, um serviço melhor de atendimento, venda e entrega. Para o mundo acadêmico, o conhecimento sobre as nuances do comportamento do consumidor permite um aprofundamento nas pesquisas na área de ciências sociais aplicadas, bem como a formulação de novas teorias que possam explicar os fenômenos mercadológicos existentes em cada setor, ressalta assim características comuns a todos os setores da economia bem como especificidades de cada setor. Para governos, sejam eles Municipais, Estaduais ou Federal, o conhecimento dos desejos e das necessidades dos cidadãos poderia levar ao estabelecimento de políticas públicas que busquem equilibrar o consumo, de modo que todos tenham acesso aos benefícios proporcionados pela compra e venda de qualquer produto ou serviço. Um dos mercados que tem crescido nos últimos anos é o marketing esportivo. A profissionalização dos times brasileiros de futebol, que se deu por força de lei (Lei Pelé) e também por uma reestruturação dos clubes, bem como a realização de grandes eventos esportivos, tais como a Copa do Mundo de futebol em 2014 e os Jogos Olímpicos em 2016, estimularam o mercado, geraram um grande número de ações específicas para cada torcida, bem como houve a proliferação de produtos atrelados às marcas dos times. A ESPN fatura, em média, somente no Brasil 110 milhões de reais (Kroehn, 2009). Considerando que foi inaugurada em 1982, com um investimento de 30 mil dólares, é possível dizer Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 70 que se trata de uma das empresas de comunicação que mais cresceu e trouxe rentabilidade aos seus acionistas em todo o mundo nas últimas décadas (Teixeira, 2011). A empresa brasileira Centauro, declarou em seu último ano, antes do Initial Public Offering (IPO), um faturamento próximo a dois bilhões de reais, e uma taxa de crescimento superior a quinze por cento nos últimos cinco anos (Aragão, 2011). Já a Net Shoes, maior varejista de artigos esportivos pela internet no Brasil, faturou mais de um bilhão de reais em 2012, vale salientar que o faturamento da empresa tem dobrado todos os anos nos últimos cinco anos (Dalmazo, 2013). Segundo estudo da empresa Pluri Consultoria (2012), os três maiores times da cidade de São Paulo (Corinthians, Palmeiras e São Paulo) têm um potencial de consumo em torno de 940 milhões de reais por ano. Essa renda seria o valor que os torcedores estão dispostos a gastar com seus times em produtos e serviços fornecidos por eles. Outra pesquisa, da BDO (2013), apontou que, segundo os balanços desses clubes, o faturamento dos três juntos em 2012 passou a casa de 250 milhões de reais. O comportamento de compra do consumidor de artigos esportivos, em especial aqueles licenciados pelos três maiores clubes da cidade de São Paulo, foi o objeto deste estudo, que analisou os fatores ligados ao processo de decisão de compra de produtos licenciados por clubes. Partindo-se da ideia de que o estudo do comportamento do consumidor tem como uma de suas variáveis os fatores que levam a decisão de compra, foi levantada a seguinte questão de pesquisa: Quais são os principais fatores determinantes da decisão de compra do consumidor de artigos esportivos? Neste estudo, foram considerados os torcedores dos três principais times da cidade de São Paulo: Sport Club Corinthians Paulista, Sociedade Esportiva Palmeiras e São Paulo Futebol Clube. Esses clubes foram escolhidos pelos números de conquistas esportivas, faturamento, tamanho de torcida e representatividade dentro do cenário do futebol brasileiro, mais especificamente na cidade de São Paulo. Este estudo está delineado da seguinte forma: após esta introdução, apresenta-se, na seção dois, a revisão da literatura; na seção três, os procedimentos metodológicos; na seção quatro, a análise e as discussões de resultados e na seção cinco, as considerações finais. Revisão da literatura Para compreender as variáveis de influência sobre o comportamento do consumidor é necessário conhecer a evolução do pensamento do estudo do consumidor, bem como os principais Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 71 conceitos dos autores mais reconhecidos na área. Desta forma, o referencial teórico a seguir visa definir quais conceitos foram aplicados neste trabalho. Marketing esportivo A definição de marketing estabelecida pela American Marketing Association [AMA] em 2013, afirmou que o marketing é o conjunto de atividades, instituições e processos destinados para criação, comunicação e entrega de oferta de valor para clientes, parceiros e sociedade de uma maneira geral (AMA, 2013). Neste contexto do marketing esportivo, Soares (2007) fez uma pesquisa e apresentou algumas definições sobre o tema que estão reproduzidas na Figura 1. Ano Autor(es) Definição Um novo segmento de mercado dentro da área de comunicação, uma espécie de mídia alternativa. Pode ser considerada também 1995 Mello uma estratégia promocional institucional com o intuito de promover a marca da empresa. Estratégias de promoção de eventos, torneios ou patrocínios de 2000 Bertoldo equipe e clubes esportivos. Processo de elaboração e programação das atividades de produção, 2002 Pitts e formação de preço, promoção e distribuição de um produto Stotlar esportivo para satisfazer às necessidades ou desejos de consumidores e realizar os objetivos da empresa. Qualquer bem, serviço, pessoa, lugar ou ideia, com atributos Mullim, 2004 Hardy Sutton e tangíveis e intangíveis, que satisfazem as necessidades ou os desejos dos consumidores quanto ao esporte, a ginástica ou recreação. O marketing esportivo pouco difere do marketing, atendo-se, no 2004 Cardia entanto, às questões típicas do segmento esportivo, vinculando-se às premissas básicas tais como produto, demanda, desejo, necessidades, valor, satisfação, qualidade e mercado. Figura 1 – Definições de marketing esportivo Fonte: Adaptado de Soares (2007). Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 72 Observou-se que é possível estudar as teorias referentes ao marketing esportivo com as mesmas bases utilizadas no estudo do marketing, por similaridades conceituais e semelhança no que tange à definição básica do objeto de estudo, pois segundo Fleury, Brashear-Alejandro, Cardoso e Feldmann (2014, p. 10) “[...] o marketing esportivo é a aplicação de conceitos tradicionais do marketing aplicados a produtos e serviços esportivos, bem como a comercialização de produtos não esportivos por meio de uma associação com o esporte.” Segundo Silva et al. (2012, p. 17) “[...] o marketing esportivo tem-se mostrado uma importante ferramenta para as empresas. A vinculação da marca institucional a uma entidade esportiva, que representa juventude e paixão na vida dos espectadores, rejuvenesce a marca e ainda proporciona visibilidade alternativa à propaganda tradicional”, mas é um tema ainda de pouca relevância dentro da academia brasileira (Fleury et al., 2014). Segundo Fleury et al. (2014, p. 4): “[...] a diferença entre o marketing esportivo e esforço convencional do marketing estaria no fato deste possibilitar que as empresas obtivessem retorno institucional ao mesmo tempo que bons resultados na promoção de seus produtos.” Para Fullerton e Merz (2008), mais importante que estabelecer uma definição universal é preciso diferenciar o marketing esportivo de práticas esportivas, de modo que os produtos para a prática de esportes possam ser completamente separados de produtos ligados a empresas do mundo esportivo ou até mesmo dos atletas. Comportamento do consumidor Para Kanuk e Shiffman (1997), o estudo do comportamento do consumidor é de como os indivíduos tomam decisões de gastar seus recursos disponíveis (tempo, dinheiro, esforço) em itens relacionados ao consumo. Afirmaram ainda que o comportamento do consumidor engloba o estudo do que compram, por que compram, quando compram, onde compram, com que frequência compram e com que frequência usam o que compram, corroborados por Kotler e Keller (2012) e Solomon (2002). Para Karsaklian (2008, p. 20), o objetivo do estudo do comportamento do consumidor é “[...] compreender os comportamentos de consumo adotando uma perspectiva pluridisciplinar”. O comportamento do consumidor é o conjunto de reações ou respostas dos indivíduos a determinados estímulos, que, por sua vez, decorrem de fatores pessoais, ambientais, situacionais e de marketing (Limeira, 2008). Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 73 Considerando as definições anteriores, é possível afirmar que o estudo sobre o comportamento do consumidor se enquadra na área da administração, ou mais especificamente, do marketing, que analisa os hábitos de consumo do comprador, seja ele de bens de consumo ou serviços, e procura desta forma, atender às suas necessidades e seus desejos. Processo de compra Na literatura de comportamento do consumidor, diversos autores divergem sobre o processo de compra pelo qual passa um consumidor, porém vários pontos em comum são encontrados em conceituações de diferentes autores. Para efeito de aplicação, este trabalho utilizou o modelo de Blackwell, Engel e Miniard (2008), por julgar que é um modelo importante no mundo acadêmico, pela sua replicação em artigos e pesquisas. Porém, como há muita similaridade com outros autores, também foram consideradas partes importantes de outros estudos no que diz respeito às peculiaridades de cada etapa do processo, bem como dos fatores de influência que agem sobre os consumidores. As etapas descritas por Blackwell et al. (2008) foram assim definidas: a) Reconhecimento da necessidade: É a percepção da diferença entre o estado desejado das coisas e o estado real, suficiente para estimular e ativar o processo de decisão. b) Busca de informações: Representa a ativação motivada de conhecimento armazenado na memória ou a aquisição de informação do ambiente relacionado com a satisfação potencial de necessidades. c) Avaliação pré-compra: É o modo pelo qual as alternativas de escolha são avaliadas é o foco do terceiro estágio do processo de tomada de decisão do consumidor: avaliação pré-compra. d) Decisão de compra: O consumidor tem que tomar cinco decisões a respeito do processo de compra: (i) comprar ou não; (ii) quando comprar; (iii) o que comprar (tipo de produto e marca), (iv) onde comprar (tipo de varejistas e varejista específico); e (v) como pagar. Minor e Mowen (2003) acrescentaram que nesta fase os consumidores podem escolher entre marcas de um produto específico, ou escolher entre alternativas não relacionadas. e) Consumo: representa o uso do produto adquirido pelo consumidor. Fatores de influência sobre o processo de decisão Há basicamente três tipos de variáveis que influenciam o processo de decisão (Blackwell et al., 2008): Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 74 a) Diferenças individuais: A forma como as pessoas diferem afetam os processos de compra. Os autores dividem as diferenças individuais em cinco grupos: (i) demografia, psicologia, valores e personalidade; (ii) recursos do consumidor; (iii) motivação; (iv) conhecimento e (v) atitudes. b) Influências ambientais: Os consumidores vivem em comunidade, e em adição às variáveis individuais, seus processos e seus comportamentos de tomada de decisão são influenciados por fatores ambientais, incluindo (1) cultura; (2) classe social; (3) família; (4) influências pessoais; e (5) situação. c) Processos psicológicos: Um grupo de referência é qualquer pessoa ou grupo que influencia o comportamento de um indivíduo de forma significativa. Esses grupos, que podem ter um alto ou baixo nível de influência sobre as pessoas, são classificados de acordo com o tipo de influência exercida e o papel de cada um na vida das pessoas, baseado em Witt e Bruce (1972 como citado em Blackwell et al., 2008): primários, secundários, formais, informais, associação formal, aspiracionais, dissociativos e virtuais. Para Kotler e Keller (2012), há quatro tipos de fatores de influência: culturais (cultura, subcultura e classes sociais), sociais (grupos de referência, família, papeis sociais e status), pessoais (idade e estágio do ciclo de vida, ocupação e circunstâncias econômicas, personalidade, autoimagem e estilo de vida) e psicológicos (motivação, percepção, aprendizagem e memória). Como é possível observar na descrição dos grupos, nem todos exercerão influência positiva sobre os indivíduos. Muitas vezes as pessoas possuem altos índices de rejeição em relação a determinado grupo, e esse fato deve ser observado pelas empresas, especialmente pelos times de futebol e empresas que os patrocinam, para evitar que pessoas com condutas que não sejam consideradas exemplares acabem por representar uma marca, e, consequentemente, trazer os problemas de sua imagem para a marca a qual ele representa. Preço Os consumidores processam as informações de preço ativamente, interpretando preços de acordo com o conhecimento que adquiriram em experiências de compras anteriores, na comunicação formal e nos pontos de venda (Kotler & Keller, 2012). Para Kotler e Keller (2012), o consumidor tem três percepções de preço na hora da escolha: a) Os preços de referência, que podem ser um preço ‘justo’, o padrão, o último pago, os limites máximos e mínimos de preço que os clientes estão dispostos a pagar, o do concorrente, o futuro esperado e o usual com desconto. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 75 b) A inferência preço e qualidade, pela qual o consumidor costuma atribuir mais qualidade a um produto ou serviço de maior preço. c) O preço com número quebrado, que gera um efeito psicológico no consumidor, que classifica um produto que custe R$ 299,00 na casa dos duzentos e não trezentos reais. No caso de um artigo esportivo, os consumidores tendem a acreditar que os artigos esportivos mais caros são oficiais, enquanto um produto similar com preço muito menor é um produto ‘pirata’. E quanto maior o valor do produto, mais fácil fica para o consumidor fazer essa diferenciação. O consumidor não paga por um produto ou serviço somente o equivalente ao custo do mesmo somado a margem de lucro da empresa, mas paga pela noção de valor que o produto/serviço oferece, e isso varia de acordo com os benefícios que este proporciona. Desta maneira, é necessário diferenciar os conceitos de valor para entender o tipo de preço que o consumidor busca no produto, se apenas o funcional, relacionado à utilização e funcionamento do mesmo, ou algo mais amplo, que tenha aspectos sociais e psicológicos envolvidos (Lovelock & Wirtz, 2005). Portanto, a variável escolhida para balizar esta pesquisa foi a variável preço, pela relevância atribuída na hora da escolha pelo consumidor. Valor Os clientes escolhem a oferta que entregará o maior valor percebido, que é a diferença entre a avaliação que o cliente potencial faz de todos os benefícios e custos relativos a um produto e as alternativas percebidas (Kotler & Keller, 2012). Partindo-se desta premissa, ainda segundo Kotler e Keller (2012), os consumidores realizam uma análise de valor para determinar qual oferta trará mais vantagens em relação às compras, passando por cinco etapas: a) Identificar os principais atributos e benefícios valorizados pelo cliente. b) Avaliar a importância quantitativa dos diferentes atributos e benefícios. c) Avaliar o desempenho da empresa e dos concorrentes nos diferentes valores para os clientes em relação a sua importância. d) Examinar como os clientes em um segmento específico avaliam o desempenho de uma empresa em relação a um grande concorrente específico sobre um atributo individual ou uma base de benefício. e) Monitorar os valores para o cliente ao longo do tempo. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 76 Esta pesquisa teve como objetivo principal a etapa I deste processo, que foi assim definida por Kotler e Keller (2012, p. 132): “[...] os clientes são questionados sobre os atributos, benefícios e níveis de desempenho que buscam ao escolher um produto e fornecedores. Atributos e benefícios devem ser definidos de forma ampla para abranger todos os fatores que compõem as decisões dos clientes”. Diferenciação Muitas são as maneiras de uma marca diferenciar-se de seus concorrentes. Para Kotler e Keller (2012), um produto pode ser diferente em diversos atributos: forma, características, customização, qualidade de desempenho, qualidade de conformidade, durabilidade, confiabilidade, facilidade de reparo e estilo. Churchill e Peter (2000) apresentaram uma lista semelhante e relacionaram como pontos importantes para a diferenciação, o desempenho, característica, confiabilidade, conformidade, durabilidade, serviços, estética, avaliação geral. Esta pesquisa escolheu atributos específicos e foram analisados, a partir de critérios técnicos: forma, características, customização, qualidade de desempenho e conformidade, confiabilidade, facilidade de reparo e estilo, que são muito parecidos quando feita a comparação entre produtos originais e ‘piratas’. Sendo assim, a distinção em um artigo esportivo pode vir do fator diferenciação. Além disso, há outros dois aspectos que são muito utilizados pelas equipes, então merecem uma investigação mais aprofundada. Primeiro, a variedade de produtos ofertada pelos times. Em seguida, foi destacado também o grande número de produtos que são ofertados pelos jogadores da equipe. Considerando que essa é uma prática muito comum entre as equipes, foi analisado o impacto que esta tem sobre os consumidores, para poder aferir a verdadeira importância dela junto ao consumidor para efeitos de diferenciação. Especificidades do comportamento do consumidor de produtos relacionados a times de futebol. Dentro do mercado do futebol, há algumas questões que devem ser tratadas de forma diferenciada. Desde a fidelidade à marca, que é muito maior do que em outros setores, até a situação financeira dos clubes, passando por fatores de concorrência e pela socialização das crianças, que optam por ‘torcer’ por um time quando ainda estão na infância. Muitas destas especificidades dificultam o estudo desse consumidor, uma vez que não é possível aplicar estudos de outros setores sem que se faça uma série de adaptações, e a carência de estudos específicos sobre futebol pode dificultar a tentativa de entender o consumidor com o olhar Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 77 mais tradicional de marketing. Em outras palavras, é necessário conhecer as especificidades do ramo do futebol para que se possam realizar pesquisas que possam entender esse mercado e que tem um grande potencial de consumo. a) Fidelidade: Na literatura de comportamento do consumidor, a fidelidade à marca é uma variável que deve ser tratada à parte quando o assunto é consumo de artigos de times de futebol. Diferentemente de outros mercados, o grau de fidelidade de um torcedor em relação ao seu time é muito grande. Desde o momento em que opta torcer por um time, ainda na fase infantil, durante o processo de socialização do consumidor, esse torcedor vai acompanhar o seu time e comprar produtos e serviços relacionados a ele até o final de sua vida, uma vez que é muito pequeno o número de pessoas que trocam de time com o passar do tempo. b) Concorrência: a concorrência é fundamental para a sobrevivência de um time de futebol. Por se tratar de uma competição que obrigatoriamente envolve no mínimo duas equipes, não existe situação de monopólio no mercado de futebol, e quanto maior o número de grandes rivais, mais as equipes conseguem arrecadar. c) Motivação: A motivação de compra de um artigo esportivo pode não seguir os fatores tradicionais que levam um consumidor a comprar determinado produto ou serviço. Segundo Pólus-Thiry e Rédei (2012), a motivação de compra de artigos esportivos se dá primeiramente por fatores biológicos. De acordo com as pesquisas nesta área, as preferências dos consumidores variam de acordo com valores materiais (riqueza, poder), valores tradicionais (tradição, religião, nacionalismo), valores pósmateriais (experiências de vida, liberdade, criatividade, paz mundial), e valores pessoais (amizade, verdade, amor verdadeiro, segurança da família, sinceridade). Porém, quando o assunto é esporte, é um grupo de valores que está associado à solidariedade, o ‘fair play’, que poderia ser traduzido livremente como “jogo limpo”, a responsabilidade, o espírito de equipe e a coragem. d) Situação financeira: A situação financeira apontou para um grande endividamento dos três clubes, em suas demonstrações contábeis disponibilizadas nos respectivos web sites, sendo o Corinthians o único dos três times que apontou superávit expressivo no ano de 2011 cerca de cinco milhões de reais (Corinthians, 2012). Já o São Paulo assinalou superávit de 220 mil reais (São Paulo, 2012) enquanto o Palmeiras declarou prejuízo de quase meio milhão de reais (Palmeiras, 2012). Os três times possuem mais de 350 milhões de reais em dívidas, e nenhum deles mostrou em seus balanços um valor superior a 30 milhões de reais por ano em receitas com direito de imagem e licenciamento, mesmo com o grande número de produtos licenciados. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 78 Procedimentos metodológicos A pesquisa de natureza exploratória tem como objetivo primordial a descrição de algumas características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis (Gil, 1999). O autor acrescentou que as pesquisas descritivas são aquelas que visam descobrir a existência de associações entre variáveis, pretendendo determinar a natureza dessa relação. Esta pesquisa é quantitativa, uma vez que foram medidas as respostas dos consumidores a partir de uma escala, conforme instrumento de pesquisa. Para aplicação da pesquisa, foi realizada uma survey. Foi executado um levantamento, entre os dias 11 e 26 de Julho de 2013, pela internet, em grupos de discussão sobre futebol e artigos esportivos de uma maneira geral. A escolha desse método de coleta se deu pelo fato da listagem dos produtos ter sido feita a partir das lojas virtuais das equipes. Antes da aplicação final da pesquisa, foi desenvolvido um pré-teste com uma amostra de sete pessoas, para a validação do questionário. Para Marconi e Lakatos (2008), o pré-teste serve para evidenciar possíveis falhas, ambiguidades, inconsistências ou a complexidade das questões, uma vez verificadas estas falhas, é possível reformular o questionário para que a pesquisa tenha uma maior validade no final. Como não foram encontradas dificuldades no preenchimento das respostas da pesquisa, o questionário foi aplicado em toda a amostra, e as respostas obtidas no pré-teste foram descartadas, bem como os respondentes eliminados do grupo amostral. A aplicação pela internet foi feita por conveniência, de acordo com o número de respondentes disponíveis, e os pesquisados receberam o link da pesquisa por meio de redes sociais e grupos de discussão de futebol e de compra de artigos esportivos, com liberdade para responder no momento em que julgassem mais apropriado e também de divulgar o link para outros possíveis participantes da pesquisa. Após a aplicação da pesquisa, por meio da plataforma online Google Docs, os dados foram exportados para as planilhas do Microsoft Excel 2010 e analisados pelo software SPSS. A pesquisa foi aplicada por meio de um instrumento de pesquisa estruturado, com questões fechadas, dividido em quatro blocos. O primeiro dos blocos consistiu em uma série de assertivas que buscavam caracterizar a amostra de forma demográfica e comportamental, além de certificar que os respondentes faziam parte do grupo determinado pelo escopo da amostra. O segundo bloco de assertivas tinha como principal objetivo saber se o consumidor consegue identificar um artigo esportivo licenciado, para que depois pudesse ser analisada a coerência entre o grau de conhecimento Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 79 do consumidor e as escolhas que o mesmo faz na hora da compra. O terceiro bloco objetivou saber se o consumidor tinha um comportamento diferente do comum quando a escolha pelo artigo esportivo era para presentear alguém, enquanto o quarto e último bloco indagou o consumidor a respeito dos fatores de compra propriamente dito. A partir do segundo bloco, todos os questionamentos foram divididos em cinco grupos diferentes de produtos, de acordo com a faixa de preço em que eles se encontravam, de acordo com levantamento realizado de todos os produtos disponíveis nas lojas virtuais das três equipes. Análise e discussões dos resultados Este trabalho pesquisou entre torcedores dos três principais times de futebol de São Paulo (Corinthians, Palmeiras e São Paulo), maiores de dezoito anos, que tivessem comprado algum artigo esportivo – licenciado ou não, para uso próprio ou para presente, nas lojas oficiais dos times ou não – nos últimos doze meses. Ao todo, 286 pessoas responderam à pergunta, das quais 106 tiveram suas respostas validadas para fins de análise. Dos 180 questionários descartados, os motivos que levaram a este descarte foram: 136 respondentes que não compraram nenhum artigo esportivo durante os últimos doze meses, 41 não torciam por nenhum dos três times pesquisados e três eram menores de 18 anos de idade. Considerando que o link foi disponibilizado em fóruns de discussão sobre futebol e sobre compra de camisas de futebol, entre outros artigos esportivos, o elevado número de pessoas que não compraram nenhum produto nos últimos doze meses apontou o potencial mercado não explorado pelos times de futebol. Perfil da amostra Entre os respondentes, mais da metade da amostra pesquisada (56,6%) possui entre 26 e 35 anos; a maioria é universitário, tanto os que ainda cursam a graduação quanto os que terminaram, além daqueles que já findaram a pós-graduação e quase metade (44,3%) tem a renda mensal entre dois a quatro salários mínimos (R$ 1.350,00 a R$ 2.700,00), conforme mostrado na Tabela 1. Tabela 1 – Perfil da amostra idade, escolaridade e faixa de renda Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 80 Idade (anos) 18 a 25 26 a 35 36 a 45 46 a 55 56 a 65 Total % Escolaridade 29,2 56,6 8,5 1,9 3,8 Médio completo Superior incompleto Superior completo Pós-graduação incompleta Pós-graduação completa 100 Faixa de Renda (salário mínimo) 5,7 não possui renda 19,8 1 salário 35,8 2 a 4 salários 7,5 5 a 8 salários 31,3 9 a 10 salários acima de 10 salários 100 % % 8,5 3,8 44,3 19,8 7,5 16 100 Fonte: Dados da pesquisa. Observa-se na Tabela 2, que cerca de dois terços, são compostas por pessoas do sexo masculino, o que pode ser explicado pelo futebol ser um esporte acompanhado e praticado tradicionalmente por homens no Brasil, sendo que os solteiros são a maioria entre os pesquisados (66%). A torcida do Corinthians é a maior com, aproximadamente, a metade dos respondentes (49%), seguida pelas torcidas de São Paulo e Palmeiras. Apenas três pesquisados pertencem a alguma torcida organizada, correspondendo a menos de 3% dos participantes da pesquisa. Grande parte dos entrevistados (44,3%) coleciona algum tipo de artigo esportivo, o que é condizente com o perfil dos grupos nos quais foi aplicada a pesquisa, pois a maioria dos grupos é sobre discussões a respeito de camisas de futebol, e consequentemente, é grande o número de colecionadores dentro do grupo. Tabela 2 – Perfil de amostra: gênero, estado civil, time e torcida organizada Gênero Masculino Feminino Total % Estado civil 63,2 Casado 36,8 Solteiro Divorciado 100 % Time 32,1 Corinthians 66,0 São Paulo 1,9 Palmeiras 100 % Torcida organizada 49,0 Sim 34,0 Não 17,0 100,0 % Colecionador % 2,8 Sim 97,2 Não 44,3 55,7 100 100 Fonte: Dados da pesquisa. Análise dos dados Os dados foram analisados estatisticamente no software SPSS e planilha Microsoft Excel. Confiabilidade do questionário Para medir a confiabilidade do questionário, foi avaliado, para cada grupo de produtos, o coeficiente alfa de Cronbach, conforme apresentado na Tabela 3: Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 81 Tabela 3 – Confiabilidade Grupo 1 2 3 4 5 Alfa de Cronbach 0,6311 0,6737 0,7269 0,7566 0,7499 Fonte: Dados da pesquisa. Segundo Hair, Babin, Money e Samouel (2005), coeficientes entre 0,6 e 0,7 têm confiabilidade moderada e entre 0,7 e 0,8 têm uma boa confiabilidade. Pelo resultado do teste apresentado na Tabela 3, os dados são confiáveis, principalmente para os grupos 3, 4 e 5, com coeficiente maior que 0,7. Identificação do produto Um dos blocos de perguntas dizia respeito à capacidade de o consumidor identificar o produto original. Dentro do vasto mix de produtos ofertados pelos times, foi verificado que muitos são de difícil identificação por parte dos consumidores. O próprio consumidor talvez não saiba diferenciar se aquele produto que está comprando (principalmente se a compra for feita em uma loja não oficial) é original ou não, conforme apresentado na Tabela 4. Tabela 4 – Identificação do produto Capacidade do consumidor de identificar o produto original Classificação Nunca Raramente Às vezes Quase sempre Sempre Total Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Grupo 4 Grupo 5 (%) 15,1 27,4 29,2 20,7 7,6 100 (%) 8,5 15,1 34,9 27,4 14,1 100 (%) 4,7 20,7 30,2 27,4 17,0 100 (%) 13,2 21,7 31,1 17,9 16,1 100 (%) 18,9 20,7 17,0 21,7 21,7 100 Fonte: Dados da pesquisa. De uma maneira geral, os consumidores têm muita dificuldade de identificar o produto original como tal. Apenas no Grupo 5, o número de respondentes que afirmaram conseguir identificar SEMPRE o produto original passou de 20%, e se somar os respondentes que responderam SEMPRE e QUASE SEMPRE, nenhum dos grupos chegou a 50% dos respondentes. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 82 Escolha do produto para presente Outro bloco de perguntas visava investigar se o comportamento do consumidor era diferente quando a questão da compra era um produto para presente. Para isso, perguntou-se para os respondentes qual a importância de escolher um produto original para presente e o resultado é mostrado na Tabela 5: Tabela 5 – Produto para presente Grupo 1 Classificação (%) Nunca 17,9 Raramente 15,1 Às vezes 20,8 Quase sempre 14,1 Sempre 32,1 Total 100 Produto para presente Grupo 2 Grupo 3 (%) (%) 9,4 9,4 18,9 16,0 23,6 20,8 16,0 17,0 32,1 36,8 100 100 Grupo 4 (%) 19,8 18,9 16 8,5 36,8 100 Grupo 5 (%) 18,9 19,8 11,3 13,2 36,8 100 Fonte: Dados da pesquisa. Em todos os grupos, os consumidores afirmaram que SEMPRE fazem questão de optar pelo produto original quando fazem escolha para presente em maior número que as outras opções, porém, é interessante observar que, na maioria dos grupos, a quantidade de consumidores que optaram por NUNCA e RARAMENTE, se somados, é maior do que os consumidores que optaram pelo SEMPRE. Após essa análise, foram cruzados os dados de ‘Escolha para Produto para presente’ x ‘Sempre opto pelo produto original’, para verificar se há alguma diferença significativa entre o comportamento do consumidor quando compra um presente e quando compra para uso próprio. Importância dos atributos Os respondentes apontaram, em cada grupo de produtos, qual a importância de cada atributo, indicando em uma escala de 1 a 7. Os resultados encontrados estão na Tabela 6. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 83 Tabela 6 – Importância dos atributos 1) Sempre opto por produto original (%) Escala Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Grupo 4 Grupo 5 1 11,3 11,3 8,5 9,4 9,4 2 4,7 4,7 0,9 4,7 9,4 3 4,7 5,7 4,7 6,6 2,8 4 17,0 6,6 14,2 8,5 9,4 5 9,4 10,4 14,2 9,4 7,6 6 12,3 15,1 12,3 13,2 9,4 7 40,6 46,3 45,3 48,1 51,9 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 2) É importante que o produto tenha uma grande variedade de cores, tamanhos e modelos (%) Escala Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Grupo 4 Grupo 5 1 7,6 9,4 8,5 10,4 10,4 2 8,5 3,8 1,9 7,6 5,7 3 8,5 2,8 4,7 1,9 2,8 4 20,8 23,6 26,4 20,8 22,6 5 17,0 13,2 15,1 14,2 9,4 6 9,4 17,9 14,2 10,4 11,3 7 28,3 29,3 29,3 34,9 37,7 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 3) Busco sempre o produto de maior durabilidade (%) Escala Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Grupo 4 Grupo 5 1 5,7 4,7 5,7 6,6 6,6 2 0,9 1,9 0,9 1,9 0,9 3 0,9 3,8 1,9 3,8 4,7 4 13,2 15,1 16,0 9,4 12,3 5 21,7 12,3 19,8 15,1 5,7 6 13,2 16,0 12,3 11,3 14,2 7 44,3 46,2 43,4 51,9 55,7 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 84 4) Só compro esse produto em lojas físicas (%) Escala Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Grupo 4 Grupo 5 1 21,7 21,7 20,8 22,6 20,8 2 12,3 10,4 5,7 7,6 5,7 3 8,5 12,3 13,2 9,4 7,6 4 25,5 24,5 25,5 21,7 23,6 5 3,8 7,6 15,1 11,3 9,4 6 8,5 12,3 8,5 10,4 9,4 7 19,8 11,3 11,3 17,0 23,6 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 5) Só compro esse produto em lojas virtuais (%) Escala Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Grupo 4 Grupo 5 1 29,3 29,3 29,3 31,1 38,7 2 17,9 13,2 10,4 11,3 8,5 3 10,4 10,4 11,3 12,3 13,2 4 24,5 29,3 25,5 28,3 23,6 5 8,5 6,6 10,4 6,6 5,7 6 4,7 6,6 9,4 4,7 3,8 7 4,7 4,7 3,8 5,7 6,6 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 6) Só compro esse produto na loja oficial, seja ela física ou virtual (%) Escala Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Grupo 4 Grupo 5 1 20,8 24,5 24,5 24,5 28,3 2 9,4 6,6 4,7 4,7 2,8 3 10,4 7,6 7,6 7,6 10,4 4 21,7 27,4 22,6 26,4 21,7 5 11,3 16,0 15,1 15,1 17,0 6 12,3 7,6 12,3 5,7 28,3 7 14,2 10,4 13,2 16,0 17,0 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 85 7) Só compro esse produto se o craque do meu time também utilizá-lo ou anuncia-lo (%) Escala Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Grupo 4 Grupo 5 1 65,1 65,1 64,2 65,1 67,9 2 12,3 7,6 9,4 10,4 9,4 3 4,7 7,6 6,6 5,7 1,9 4 10,4 9,4 7,6 5,7 6,6 5 5,7 6,6 6,6 2,8 5,7 6 0 2,8 3,8 6,6 0,9 7 1,9 0,9 1,9 3,8 7,6 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 Fonte: Dados da pesquisa. A primeira questão, ‘Sempre opto pelo produto original’, mostrou um comportamento bastante heterogêneo entre os diferentes grupos de produtos. Em todos os casos a maior parte das respostas foi que essa afirmação é extremamente importante (nota 7), o que leva a crer que o consumidor sempre opta pelo produto original. Na segunda questão, ‘É importante que o produto tenha uma grande variedade de cores, tamanhos e modelos’ também apontou a nota 7 como o resultado mais frequente nas respostas. Porém, o segundo nível mais apontado foi a nota 4, que está no centro da escala, o que pode levar à inferência de que a variedade é importante, mas não é extremamente importante para o consumidor em todos os grupos. A questão 3, ‘Busco sempre o produto de maior durabilidade’, também apontou que esse fator é extremamente importante para o consumidor, uma vez que a frequência de notas altas foi bastante elevada em relação às notas baixas. Já na quarta questão, ‘Só compro esses produtos em lojas físicas’, a maior parte dos consumidores respondeu que é pouco importante ou apontou nota 4, que seria o centro da escala. Isso permite inferir que o fator loja física é pouco ou nada importante para o consumidor, exceto no Grupo 5, de preço mais alto, no qual a maior parte das respostas apontou que este fator é muito importante. Isso pode ser explicado pelo medo que o consumidor tem de comprar pela internet quando o preço do produto é mais alto ou até pela dificuldade apontada anteriormente de identificar um produto original, o que leva o consumidor a querer manusear o produto e conversar com o vendedor. Na questão 5, ‘Só compro esses produtos em lojas virtuais’, a maior frequência de respostas foi nas notas mais baixas da escala. Isso significa que este fator é pouco importante para o Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 86 consumidor. Em outras palavras, ele pode comprar na loja virtual, porém, não existe um comportamento de exclusividade para este canal, independentemente da faixa de preço que o produto se encontra. A sexta questão, ‘Só compro esse produto na loja oficial do time, seja ela física ou virtual’, foi a que apresentou a maior dispersão entre as frequências de respostas. Não há um padrão definido entre os grupos, e também não existe algum nível da escala que sobressaia em relação aos outros, levando à conclusão que esse fator divide a opinião dos consumidores, que podem dar preferência ou não para a loja oficial do time. Para a sétima e última pergunta, ‘Só compro esse produto se o craque do meu time também utilizá-lo ou anunciá-lo’, foi encontrada a resposta mais clara de todas as perguntas, uma vez que em todos os grupos de produtos mais de 60% dos respondentes apontaram como pouco importante esse fator na hora da escolha. O baixo número de pessoas que apontaram como importante a presença dos jogadores na divulgação do produto coloca em dúvida a estratégia utilizada pelas equipes na hora de vender os produtos. Chung, Derdenger e Srinivasan (2013) citaram que a crença geral entre as agências de marketing é que o uso de apoio de celebridades aumenta o recall de produtos, mas não as vendas. Considerações finais O consumidor de futebol não pode ser tratado como um consumidor comum. Apesar da semelhança em muitos aspectos, foram abordadas diferenças comportamentais significativas no referencial teórico deste artigo. A pesquisa ocorreu entre pessoas jovens, de classe média, que em grande parte colecionam artigos esportivos e não fazem parte de nenhuma torcida organizada. É um consumidor, muitas vezes incoerente, que afirma não conseguir identificar um produto original, mas também diz que sempre opta pelo original, mesmo sem ter a certeza da originalidade. Quando da escolha para presente, também tem preferência por comprar produtos oficialmente licenciados em detrimento dos chamados ‘piratas’. Portanto, para responder a questão de pesquisa: Quais são os principais fatores determinantes da decisão de compra do consumidor de artigos esportivos? Dentre os fatores pesquisados, foi possível observar que os consumidores deram preferência à marca e à durabilidade, afirmaram que a praça e a variedade são importantes, porém, não muito, e Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 87 se mostraram completamente indiferentes à participação de jogadores na divulgação do produto e não tiveram uma opinião homogênea sobre a importância das lojas oficiais dos clubes. Para esse consumidor, o importante é que o produto seja original e durável, independentemente da faixa de preço em que se situa o produto. Apesar das diferenças comportamentais apontadas, constatou-se que esse comportamento talvez possa ser aplicado em outras áreas, e as técnicas de marketing utilizadas junto a esse consumidor não serão diferentes em sua essência, uma vez que apesar da fidelidade apontada no referencial teórico, essa preferência e intensidade de relação com o clube preferido, não tem se revertido em faturamento para as equipes, uma vez que a venda de produtos licenciados ainda é muito baixa. Para as equipes, será interessante investir mais na identificação dos produtos, para que o consumidor não continue a ter dificuldade em saber se aquele produto é licenciado ou não, e produzir com alta qualidade, para que o aspecto da durabilidade esteja sempre evidente e o consumidor não tenha receio de comprar por uma possível falta de qualidade, bem como rever a estratégia de comunicação utilizando a imagem de jogadores consagrados porque não tem importância junto aos consumidores aqui pesquisados. Fleury et al. (2014, p.10) alertaram que “[...] identificar o marketing como uma ferramenta para construção das estratégias de relacionamento para os clubes de futebol brasileiros torna-se indispensável para sua sobrevivência [...]”. Gaspar, Morais, Vallada e Debia (2014, p. 26) concluíram que “[...] para uma boa gestão de um clube de futebol, atualmente é imprescindível a prática da função de marketing de forma eficaz”. Uma das limitações deste estudo foi a aplicação da pesquisa pela internet, apesar de realizada com grupos que têm por objetivo principal a discussão sobre futebol, o que permitiu que houvesse desvio na busca de uma amostra mais representativa no universo de torcedores compradores de artigos esportivos. Como sugestão para futuras pesquisas, seria recomendável comparar o mercado paulista com outros mercados dentro do Brasil e, se possível, com mercados internacionais. Referências bibliográficas American Marketing Association. (2013). Definition of Marketing. 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Este relato procurou analisar uma das Ações da Câmara Técnica do Desporto do PROCON-SP na tentativa pontual de aplicar, os ditames dos Relatórios Taylor e o Final da Comissão Paz no Esporte, para assim trazer melhorias para o futebol no Brasil. À análise do caso se deu por observação participante, metodologia usada, ante os pesquisadores estarem junto aos pesquisados. Do estudo conclui-se que a busca por melhorias passa por uma melhor qualificação dos gestores que devem passar a se preocupar mais com uma melhoria no esporte em geral, em todos os aspectos, respeitando uma cooperação entre os gestores. Enquanto isso não ocorrer, por mais que tenhamos instrumentos legais para mudanças ficará cada vez mais difícil de mudanças ocorrerem. Palavras Chave: Stakeholders – Gestão – Futebol Abstract Violence in Stadiums and a lousy customer service to fans in major sporting events. Following the model performed in England in the 1980 Peace Commission in Sports kicked off the restructuring of Brazilian football. This report aims to analyze one of the Actions of the Technical Chamber of Sport of PROCON-SP in timely attempt to apply the dictates of Taylor Report and the Final Report of the Commission on Peace Sport, thereby bringing improvements for football in Brazil. To analyze the case of a participant observation methodology, the researchers are compared with the respondents concluded that the search for improvements require better training of managers who must pass to be more concerned with improving the sport in general, in all aspects, respecting cooperation between managers. While this does not occur, however we have legal instruments for change will become increasingly difficult for change to occur. Keywords: Stakeholders - Management – Football Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 91 Introdução No início dos anos 80, existiu um verdadeiro aumento de problemas relacionados ao futebol na Inglaterra. No ano de 1985 aconteceram três grandes desastres. Na Cidade de Bradford, 56 pessoas faleceram após um incêndio nas arquibancadas que eram feitas de madeira durante um jogo contra o Lincoln. Em Birmingham, um homem morreu ao despencar de um muro após uma briga generalizada de torcedores do Birmingham City com os do Leeds United. Por fim torcedores do Liverpool causaram a morte de 39 torcedores da Juventus antes da partida final da Copa dos Campeões da Europa no estádio de Heysel, na Bélgica. Seguindo o histórico de problemas em 15 de abril de 1989 a equipe do Nottingham Forest faria contra o Liverpool uma das semifinais da FA Cup no estádio Hillsborough na cidade de Sheffield. Momentos antes do início da partida, muitos torcedores da equipe de Liverpool sem ingresso para o espetáculo se reuniram próximo de uma das entradas do estádio, impelidos em adentrar no local da partida. Os responsáveis pela segurança tentaram evitar um arrombamento e optaram por abrir os portões, possibilitando assim que a multidão entrasse sem controle algum. A principal contrariedade a esta atitude é que o estádio já estava lotado. A multidão sem ingresso forçou a entrada e pressionou quem já estava no estádio. Logo, as pessoas foram literalmente esmagadas contra o alambrado. Falecerem 95 torcedores do Liverpool, ficando mais de 200 pessoas feridas. Com o acontecimento de tantos problemas, todos os clubes de futebol da Inglaterra foram punidos por cinco anos de participar das competições europeias. O Liverpool por estar envolvido na maioria dos problemas foi exceção: recebeu o dobro da pena. Na teoria essa punição violou as regras de liberdade comercial da União Europeia, todavia, nem os ingleses reclamaram. Eles perceberam que, mais importante do que brigar na Justiça era chegada a hora de resolver o grande problema da violência no futebol. Nesse sentido o governo britânico designou lorde Peter Taylor para liderar uma equipe que teve como preceito inicial “humanizar o ambiente hostil do futebol”, já imaginando que o comportamento violento era consequência direta da falta de respeito que era dispensada ao torcedor comum. As primeiras propostas apresentadas foram que todos os estádios das duas principais divisões do Futebol na Inglaterra e da principal da Escócia tivessem assentos numerados em todos seus setores até o ano de 1994. Quem não cumprisse essa determinação teria o estádio interditado por quatro anos e que os alambrados deveriam ser abolidos com a ideia de que é melhor um torcedor invadir o gramado do que dezenas morrerem esmagados em um tumulto. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 92 Nesse sentido, em 1979 surge o Football Trust, fundo criado para promover o desenvolvimento do futebol no Reino Unido. Fundado pelas casas de apostas, sempre teve sua atuação voltada na melhoria dos estádios e no combate a hooliganismo. Nesse sentido, para garantir que as mudanças fossem realizadas, o Relatório Taylor sugeriu que o governo repassasse a essa iniciativa 100 milhões de libras para a melhoria dos estádios. A verba deveria ser retirada dos impostos cobrados sobre apostas e loterias em todo o Reino Unido. Portanto, a partir do Relatório Taylor, o governo britânico teve um documento no qual basear suas ações. Um estudo que teve suas falhas e, por isso, recebeu críticas. Mas de forma pioneira, previu ações conjuntas, que envolvesse, vários agentes envolvidos com o futebol. Portanto, a segurança nos estádios foi controlada, os hooligans foram colocados para fora do futebol, houve o fim das depredações no transporte público, os estádios ficaram mais seguros e confortáveis, as verbas recebidas pela transmissão, bem como a venda de ingressos que aumentou em proporções nunca antes vistas, o aumento na venda de produtos oficiais e o Campeonato que passou a ser o mais transmitido do mundo. Fundamentação teórica Contexto e Realidade Investigada Respeitado esse histórico, era à vez do Brasil tentar algo parecido. Com medidas específicas para a realidade brasileira, mas sem confundir paliativos com soluções. Isto posto, em 2004, por decreto do Presidente da República Luís Inácio Lula da Silva, foi criada a Comissão Nacional de Prevenção da Violência para a Segurança dos Espetáculos Esportivos. Instalada por Portaria Interministerial (Esporte e Justiça) em 2004, conhecida como Comissão Paz no Esporte. O objetivo principal da Comissão pode ser resumido no estudo e entendimento de temas complexos e polêmicos visando sugerir um conjunto de medidas integradas de modo a conter a violência, ao tempo em que recupera e/ou propõem novas formas de natureza legal e administrativa para garantir as melhores condições possíveis na realização do espetáculo futebol, dentro das mais modernas técnicas para grandes eventos, assegurando, assim, condições básicas de conforto e segurança para todos, torcedores e não torcedores. O maior embasamento para o trabalho da Comissão foi o já mencionado, Relatório Taylor, trabalho que diminuiu drasticamente a violência de torcidas na Inglaterra. Todavia com uma enorme vantagem em relação aos ingleses, uma vez que não existiram tragédias da mesma magnitude em Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 93 território nacional. Nesse sentido é importante lembrar que as bases legais (sugeridas no próprio relatório Taylor) para as medidas já foram previstas no Estatuto do Torcedor em vigor desde 2003. Terminado este trabalho a Comissão Paz no esporte elaborou um relatório, o qual apresenta mudanças que precisam acontecer na organização de eventos no Brasil para melhorar os direitos dos consumidores, e elevar o país a um nível capaz de receber grandes eventos esportivos. No exterior os estudos realizados se aprofundaram nas relações entre torcedores preservando direitos e deveres de todos os Consumidores, não só do torcedor organizado, mas também do Comum que vai ao estádio apenas para acompanhar o espetáculo e ter seus direitos de consumidor preservados. Fato este que ainda não acontece no Brasil ante o grande número de reclamações dos torcedores que foram à Copa do Mundo e não tiveram o mesmo tratamento ao comparecerem a jogos de suas equipes nas mesmas praças esportivas. Assim, se na Inglaterra foi necessário mais de 15 anos para se chegar à perfeição, logo não será em uma noite que conseguiremos façanha semelhante. É chegada à hora de querer mudar e por mãos à obra. Adotou-se o modelo Inglês uma vez que o problema era muito semelhante ao que o Brasil passa. Nesse sentido, essa utilização é referendada pelo sucesso alcançado naquele país sendo que o sistema Inglês permanece em constante aperfeiçoamento. Referendando o aduzido anteriormente Klein (2006) afirma que Chile, Equador, Peru e vários países europeus e asiáticos, contrataram profissionais ingleses como consultores; a Alemanha trabalhou junto com os ingleses para programar algumas das políticas de segurança para a Copa do Mundo de 2006 e a União Europeia e a Interpol adotaram várias medidas da Inglaterra. Mas não é só, Ferkins e Shilbury (2012) nos mostram que para mudanças ocorrerem uma das primordiais necessidades é a capacitação dos diretores dos clubes, uma vez que pessoas capazes terão mais referências e melhores condições de evolução facilitando processos de melhoria inclusive das relações. Nesse sentido até hoje os ingleses continuam se destacando e Jennings (2014) nos mostra o individualismo no Futebol Profissional, onde ninguém esta preocupado com a evolução do tema. Seguindo esse histórico de mudanças, e o clamor por uma melhoria nos serviços prestados, desde fevereiro de 2.006, a Fundação PROCON-SP que foi instituída pela Lei Estadual nº 9.192 de 23 de novembro de 1.995 e regulamentada pelo Decreto Estadual nº 41.170 de 23 de setembro de 1.996, coordena os trabalhos da Câmara Técnica de Relações de Consumo do Desporto criada pela sua portaria interna nº 21 de 12 de abril de 2.005, com base nos artigos 4º, incisos III, V e VIII; 6º, inciso VII, do Código de Defesa do Consumidor, integrada por representantes de todas as entidades, públicas e privadas, direta ou indiretamente relacionadas ao evento futebol. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 94 Pensando nas partes envolvidas no Futebol e sua gestão Babiak (2007) nos mostra que o sucesso de cada organização depende na organização de seus parceiros, com colaboração, troca e comprometimento, ou seja, todos os envolvidos precisam querer para que o esporte possa ser mais organizado, como já foi conseguido em alguns aspectos nas primeiras conquistas da Câmara do Desporto. Dentre os objetivos desta Câmara estão: o cumprimento do Estatuto do Torcedor, a promoção da Paz no Esporte e o incentivo à criação de institutos eficientes no controle da segurança e na melhoria da qualidade dos produtos e serviços ofertados ao consumidor/torcedor, nos conforme o Código de Proteção e Defesa do Consumidor. Portanto, a motivação da criação da Câmara é a sensação de insegurança na sociedade especialmente relacionada à violência ao vandalismo, ligados aos eventos esportivos, especialmente o futebol, e que contribui para estatísticas recentes do Ministério do Esporte, de que aproximadamente 79% dos consumidores/torcedores que deixaram de ir ao estádio o fizeram exatamente em razão dessa insegurança. Essas estatísticas apontam, ainda, que aproximadamente 14% dos entrevistados abandonaram os estádios em razão do desconforto nas praças esportivas (Klein, 2006). É certo que essa realidade é fruto, dentre outras, de questões de ordem social e cultural, de longos anos de impunidade aos infratores da lei e da ordem, da necessidade do cumprimento e da aplicação da legislação existente ou, como defende uma parcela da sociedade, de leis mais rigorosas. Contribuem, também, para essa situação a apatia dos organizadores do evento e a falta de maior integração entre esses o poder público. Embora criada a um bom tempo, a Câmara Técnica do Desporto já rendeu seus primeiros frutos: as reuniões preparatórias de cada um dos eventos esportivos realizados na Capital, que ocorrem regularmente na sede do 2º Batalhão de Choque da PM e das quais participam representantes de cada um dos Stakeholders do evento futebol. Fato que evidencia um início de trabalho bastante promissor, uma vez que todos os envolvidos participaram de forma colaborativa para melhorar o espetáculo. A Fundação PROCON-SP e os demais integrantes da Câmara Técnica de Relações de Consumo do Desporto buscam como propósito principal a paz nos estádios, como forma de transformar o futebol brasileiro no melhor do mundo também fora de campo. Logo, atendendo os ditames da Comissão Paz no Esporte e da Câmara do Desporto Klein (2006) nos diz que se alguns aspectos estratégicos fossem atendidos o esporte melhoraria e a evolução poderia ser alcançada nos mesmos padrões europeus. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 95 Durante o transcorrer dos trabalhos da Câmara Técnica do Desporto da Fundação PROCONSP, os Representantes dos Torcedores, na expectativa de uma melhoria na qualidade dos serviços que lhes é prestado quando vão torcer pelas suas equipes no Estádio Urbano Caldeira (Vila Belmiro) em jogos contra a equipe do Santos Futebol Clube, encaminharam solicitação à Diretoria Executiva da Fundação PROCON-SP, solicitando que algo fosse feito a esse respeito. Isto posto, essa será a realidade investigada nesse relato. Procedimentos Metodológicos Definida a realidade investigada, é de suma relevância a utilização da Pesquisa-ação que é aquela adotada como um tipo de investigação participante que tem como característica peculiar o propósito de ação planejada sobre os problemas detectados. Nesse tipo de pesquisa-ação os autores envolvidos participam, junto com os pesquisadores, para chegarem interativamente a elucidar a realidade em que estão inseridos, identificando problemas coletivos, buscando e experimentando soluções em situação real. Isto posto, essa foi à metodologia adotada para o presente trabalho. Portanto autores são pessoas que dispões de capacidade de ação coletiva consciente em um determinado contexto social, organizadas tanto em grupos informais como em grupos formalmente constituídos (Martins, 2009). Tal espécie de pesquisa se enquadra apropriadamente no caso eis que esse tipo abrange particularmente a área de Administração de Pessoas e fatores relacionados com características culturais e sociais da tecnologia e da inovação técnica. Mas não é só, a pesquisa-ação não serve para ser aplicada a soluções quotidianas de pequenos problemas gerenciais ou administrativos; ao contrário, é destinada a tratar questões complexas, especialmente em situações insatisfatórias ou de crise, que têm características de diagnóstico e de consultoria. Portanto, o Diretor Executivo e coordenador da Câmara Técnica visando harmonizar as relações de consumo, promovendo ações conjuntas com vistas à educação e informação de torcedores/consumidores e fornecedores, abrangendo estes, em especial, as entidades de prática desportiva de mando de jogo e as entidades responsáveis pela organização das competições determinou que dois Técnicos de Proteção e Defesa do Consumidor, devidamente habilitados, acompanhassem o próximo jogo entre duas agremiações que ocorresse naquele estádio para que, após vivenciarem os fatos, pudessem traçar ações a serem realizadas com o escopo de melhorar a gestão consumidores x fornecedores nesse local. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 96 Tais ações poderiam ir desde seminários relativos ao Estatuto do Torcedor, CDC e leis Correlatas, a serem ministrados aos torcedores/consumidores bem como para integrantes de entidades de práticas desportivas, visando à melhoria das relações no mercado de consumo do setor. Poderiam também buscar o incentivo à criação de mecanismos eficientes de controle de qualidade e segurança dos serviços de espetáculo futebolístico, não descartando os produtos vinculados ao setor ofertados e disponibilizados aos torcedores/consumidores. Logo, poderiam, ainda, estudar, discutir e apresentar mecanismos alternativos para prevenção e solução de conflitos coletivos de consumo deste seguimento. Para Thiollent (1997) a pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletico e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo. Logo, o melhor metódo para o caso em tela eis que os Técnicos iriam acompanhar o evento para propor soluções. Ato contínuo, para início da pesquisa, foi escolhido, o jogo entre Santos e Corinthians realizado no dia 26/03/2008 às 21h45minhrs no referido estádio para que os Técnicos escolhidos acompanhassem os torcedores a título de observadores dos fatos ocorridos com o intuito de apontar erros e tentar mostrar soluções. Cumpre consignar que para a concretização dessa pesquisa-ação se faz mister a necessidade ampla e explícita de uma interação entre os pesquisadores e as pessoas implicadas na situação investigada. Tal fato presente no caso em tela uma vez que os próprios torcedores, durante os trabalhos da Câmara do Desporto, solicitaram esse acompanhamento. Mas não é só, o objetivo da investigação, é constituído pela situação social e pelos problemas de diferentes naturezas encontrados, ou seja, os problemas no futebol apontados pelos torcedores, portanto o objeto da pesquisa nada tem a ver com as pessoas. Nesse sentido o trabalho deve resolver ou ao menos esclarecer problemas da situação observada. Mas não é só, outra característica da pesquisa-ação, esteve presente durante toda a pesquisa uma vez que ocorreu um acompanhamento das decisões, das ações, e de todas as atividades intencionais dos atores da situação. No fim da pesquisa, viu-se que o presente trabalho, nos resultados apresentados, não se limitou a uma forma de ação eis que pretendeu ao menos aumentar o conhecimento do pesquisador sobre o nível de consciência das pessoas e dos grupos considerados. Cumpre-nos consignar que da interação resulta a ordem de prioridade dos problemas a serem pesquisados e das soluções a serem encaminhadas sob a forma de ação concreta. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 97 Análise da situação-problema No dia e horário combinados para a realização da pesquisa, a sede dos Gaviões da Fiel foi o local escolhido pela Polícia Militar do Estado de São Paulo, para que partisse o comboio dos torcedores organizados de todas as torcidas da Capital com destino a Santos. É dever frisar que o local foi escolhido pela Polícia, pois é ela que faz o acompanhamento dos torcedores no território sob sua jurisdição. No horário combinado os Policiais chegaram pontualmente e após uma revista nos torcedores, foram acompanhando os ônibus dos mesmos pelas ruas da Cidade de São Paulo. Esse acompanhamento se faz necessário para facilitar o deslocamento além de evitar confronto com torcedores rivais pelo caminho. Esse comboio inicial termina no início da Via Anchieta (SP-150) uma vez que, a partir daí o trecho passa a ser de jurisdição da Polícia Rodoviária Federal. Na base situada no Km 10 o comboio foi rapidamente passado para a PRF. Por volta das 20h00min horas o comboio chegou à cidade de Santos, sendo o acompanhamento dos torcedores passado aos Policiais Militares daquela cidade que possuem jurisdição sobre o território. Chegando à cidade onde se realizaria a partida, com uma relativa antecedência para o início da mesma, o comboio foi conduzido para terreno anexo ao Porto de Santos, bem próximo ao término da SP-150 para uma ampla revista e checagem dos torcedores. Uma vez no local, todos os torcedores foram obrigados a descer do veículo em que se encontravam e foram inicialmente divididos em 02 grupos (com ingressos x sem ingressos). Os torcedores que não possuíam ingressos, após nova revista, foram dispensados no local e impedidos de retornar aos veículos. Poderiam ir embora, se desejassem, ou aguardar, no local, o retorno do ônibus após o término da partida. Realizado esse primeiro pente-fino, todos os torcedores restantes foram novamente revistados e obrigados a mostrar seus ingressos para a partida. Ato contínuo foram orientados a retornar ao ônibus, respeitando-se a capacidade dos veículos, ou seja, todos deveriam permanecer sentados. Essa nova fase do procedimento terminou por volta das 21h15minhrs. Ato contínuo, os policiais, por questões de segurança aguardariam o jogo começar para liberarem que os ônibus fossem para o estádio. O jogo teve início pontualmente às 21h45min horas, momento em que o primeiro ônibus foi liberado para se dirigir ao estádio. Quando ele chegava à orientação era para que o segundo fosse liberado e assim sucessivamente até que todos os torcedores chegassem ao estádio. Sobre isso o último ônibus chegou quando faltavam 5 minutos para o término do primeiro tempo. Uma vez no interior das dependências do Estádio Urbano Caldeira, constatou-se que o espaço destinado à torcida visitante não permitia que todos assistissem ao jogo sentado, além dos lugares não Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 98 serem marcados como manda o Estatuto do Torcedor. Mas não é só, a lanchonete onde os visitantes poderiam adquirir alimentos e bebidas ficavam em uma posição muito ruim, eis que em cima da mesma ficava uma torcida do tive rival, logo quando você adquirisse algum produto, era praticamente impossível consumi-lo antes do mesmo ser atingido por dejetos de pessoas que se encontravam no anel intermediário do estádio. Outro fato relevante são os sanitários, onde segundo informações obtidas é proibido o uso do Papel Higiênico, além de serem em numero insuficiente para os torcedores que lá se encontram. Independente se torcedores do sexo masculino ou do sexo feminino. No estádio, o canal disponibilizado para os torcedores reclamarem, é a ouvidoria do clube que disponibiliza uma folha timbrada do time onde o torcedor poderá formular sua reclamação. Contudo sem efeitos práticos imediatos para a solução de seus problemas. Logo, após o término do jogo, os torcedores esperaram todos os arredores do estádio serem esvaziados e foram entrando nos ônibus que após estarem lotados, seguindo o mesmo procedimento de vinda, retornou à Capital. Propostas de inovação/intervenção/recomendação Os Técnicos de Proteção e Defesa do Consumidor que acompanharam o ocorrido, depois de deliberarem sobre o que transcorrera no jogo, pensaram diversas ações para melhoria do problema cuja análise foi requerida pelos torcedores junto à Câmara Técnica do Desporto da Fundação PROCON-SP seguindo como norte os ditames do relatório Taylor e da Comissão Paz no Esporte. A relação Clubes x Torcedores foi muito bem retratada por Freitas e Filho (2011) ao aduzir que, certamente o stakeholder torcedor é preponderante nesse sistema. Muitas vezes os interesses da instituição ou as politicas de gestão voltada para os interesses dos sócios contribuem para afastar o clube de seu torcedor. Isto porque a maioria deste grupo não pertence ao quadro societário da instituição, mas tem por costume realizar frequentemente investimentos no clube, seja como espectador nos estádios e na televisão, seja como consumidor de produtos direta ou indiretamente ligados á marca do clube. Assim, melhorar a infraestrutura, as instalações físicas e a oferta de atividades do clube em benefício dos sócios, pode representar uma diminuição de recursos disponíveis para a compra de jogadores e menor competitividade da equipe de futebol, em prejuízo do torcedor. Como se percebe no caso em tela uma vez que é muito ruim para os torcedores quando se realiza um evento nesse estádio. Todavia, os sócios são favorecidos pela comodidade, e proximidade. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 99 A primeira ação seria buscar uma forma para que os torcedores, cujo transporte fosse acompanhado pelo poder público, pudessem chegar ao espetáculo no horário uma vez que o exemplo de excelência deve sempre ser do Estado. Portanto seria necessário oficiar o comando geral da Polícia Militar para que mudasse esse procedimento, uma vez que o direito do torcedor deve ser respeitado, inclusive pelas autoridades policiais. O espaço destinado à torcida visitante é ínfimo e não permite que os torcedores possam assistir ao jogo sentado. Logo o clube mandante deve proceder a uma reforma no local para que os torcedores possam ter um mínimo de conforto no espetáculo. Os sanitários do estádio devem ser em número suficiente e com papel para que as pessoas possam utilizar e, portanto também deve ser enviado oficio ao clube mandante para resolver essa questão. No tocante à lanchonete, o clube mandante deve proceder à alteração para que a mesma possa ficar em local de fácil acesso e assim os consumidores possam ter acesso aos produtos sem risco dos mesmos serem alvos de dejetos dos adversários. Foram propostas também ações educativas com cursos a serem ministrados pelo PROCONSP a todos os torcedores e entidades de práticas desportivas, para que o mínimo previsto no Estatuto do Torcedor possa ser entregue àqueles que frequentam os Estádios de Futebol. Logo, convocou-se uma reunião com os torcedores organizados do Sport Clube Corinthians Paulista, presentes no evento, onde foram apontados todos os equívocos encontrados no evento, sendo permitido aos mesmos comentarem o corrido. Costa e Marques (2009) são claros ao nos mostrar que as diversas ações mencionadas anteriormente, se aplicadas, tendem a gerar melhor situação administrativo-financeira (e, consequentemente, esportiva) Esse resultado decorre não apenas da maior profissionalização, mas também da existência de maior divisão no poder de decisão, de informação e de controle nas agremiações esportivas. Em seguida, apresentaram-se aos torcedores as possíveis soluções, já apresentadas para o caso. Nas palavras de Shilbury e Ferkins (2011) tem-se que mais que nunca é chegado o momento de pararmos de dar pouca atenção à governança e todas as suas funções associadas, uma vez que as mudanças precisam ocorrer o mais breve possível, para uma melhoria no desporto brasileiro. Todavia, para que tais soluções pudessem ser colocadas em prática, foi informado aos torcedores organizados que eles precisariam formalizar uma reclamação contra a organização do futebol no Brasil, e o Clube mandante das partidas, cumpre ressaltar ainda que seria disponibilizado um canal especial de reclamação, onde eles não precisariam pegar filas. Neste momento, nenhum torcedor desejou seguir com o assunto e o mesmo foi encerrado alegando que se fizesse o ocorrido Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 100 seria prejudicado de outras formas, que adorariam que a mudança ocorresse, porém sem fazer o menor esforço para que isso ocorra. Ainda sobre as reclamações, lembro que a Fundação PROCON não pode agir de ofício, ou seja, para defender consumidores ela precisa ser provocada, e, portanto bastaria um torcedor provocála para que algo pudesse ser feito, e no momento, os maiores interessados no caso não querem mudar o sistema. Esse caso, por mais antigo que seja ainda está atualíssimo haja vista o fracasso Brasileiro na Copa do Mundo de 2014, nos mostrando que o sistema continua clamando por mudanças que quando chegam são prontamente descartadas por um sistema viciado que simplesmente não quer mudar. Considerações Finais Investigando as razões dos torcedores visitantes decidirem não registrar sua reclamação descobriu-se que os mesmos ficaram com medo de represálias dos próprios clubes uma vez que os clubes ao receberem reclamações se uniriam e não forneceriam ingressos mais baratos para os torcedores organizados. Pensando sobre essa atitude dos torcedores Geoff e Chadwick (2009) nos mostram ser importantíssimo fazer com que as pessoas tenham participação nos interesses comuns, para evitar o dito anteriormente em conversa com integrantes dos Gaviões da Fiel, os mesmos relataram que ir ao cinema ou teatro é completamente diferente do futebol, e enquanto isso estiver em seus pensamentos à evolução vai demorar a chegar, haja vista que o princípio da diversão é o mesmo, porém os torcedores não veem dessa forma, encaram o futebol como um local sem regras e isso num mundo moderno, não pode mais ocorrer. Refletindo sobre o assunto, é inevitável pensar em ética e sobre isso aduzem McNamee e Fleming (2007) que é claro e reconhecido que ética e equidade vai estar cada vez mais próximo e consciente no coração dos esportes no século 21, para que assuntos e problemas com o aqui relatado possam ser rapidamente concluídos e superados sempre buscando o melhor para o esporte. Portanto Shilbury e McDonald (2009) nos mostram ser de extrema relevância à responsabilidade pelo funcionamento e direções das organizações, sendo primordial e necessário que essas atitudes estejam presentes nos códigos esportivos em todos os níveis em todos os aspectos, pois todos devem estar legalmente ligados e obrigados a executar um serviço melhor. Sobre mudanças no futebol Hamil et al. (2010) nos mostraram que na Itália os problemas relacionados à violência eram bem semelhantes aos nossos e em 2005 foi determinado que o nome Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 101 do torcedor devesse ser impresso no ingresso com o intuito de diminuir à violência no futebol, além da proibição da venda de ingressos no dia do jogo, política semelhante à que foi adotada aqui nos dias de clássicos numa tentativa de melhorar. Na Itália no ano de 2005 estava bem claro a todos que os estádios não eram bons o bastante, a venda de ingressos não era adequadamente organizada, o relacionamento dos clubes com os torcedores não era devidamente aproveitado, o hooliganismo não sofre punição adequada, ou seja, problemas semelhantes aos nossos e aos ingleses. Logo Hamilet al. (2010) nos mostram que às respostas aos problemas apontados não são ferozmente enfrentados em razão do grande nível de poder que recebem os clubes de Futebol. No Brasil, Deputado Federal Eurico Miranda afirmava estar lá para representar os interesses do Vasco da Gama e não da população do Rio de Janeiro que o elegera. Portanto não é de se estranhar os torcedores do Corinthians se recusarem a registrar reclamação, pois assim como todo o sistema os mesmos só pensam em seus próprios interesses e não na evolução do esporte. Para evitar essa concentração de poder Michie e Oughton (2005) afirma que para evitar a concentração de poder nas mãos dos diretores executivos, o código combinado de governança corporativa requer que não menos que 1/3 do conselho de diretores deve ser composto de não executivos e em sua maioria eles devem ser independentes. Portanto, é chegada a hora de avançar mais na melhoria da gestão do futebol no Brasil. No relato aqui analisado os problemas foram apontados, seguindo um padrão que já havia dado certo, na Inglaterra, com algumas mudanças pontuais, todavia o sistema do Futebol Brasileiro com problemas enraizados não possibilitou que mudanças mais profundas ocorressem, uma vez que mudanças pontuais já foram feitas e tiveram um efeito muito bom. Em síntese, é chegado o momento nas palavras de Day, Gordon e Fink (2012) de entender que a Competição e a Cooperação são temas nucleares na vida das organizações. Na cooperação todos devem trabalhar juntos para o melhor do esporte, atitude esta que não é compreendida nos gestores no Brasil além da competição e que está ausente em nosso dia a dia, além da competição que faz parte do nosso dia a dia, sendo que os gestores levam essa até as últimas consequências, quando deveriam entender que todos fazem parte de um grande sistema e deveriam trabalhar para a melhoria do sistema. Por fim, vemos que a contribuição desse relato é mostrar que a mudar é preciso, as pessoas precisam pensar em coletivamente, como nunca antes se fez na história do Brasil. Uma vez que esse pensar coletivo é pertinente para o esporte. Todavia como dito anteriormente os envolvidos no esporte futebol não pensam desta forma. Tem-se que ações foram executadas, porém elas não tiveram o êxito Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 102 esperado porque o sistema não que mudanças, as pessoas tem medo de evoluir, ninguém quer dividir o bolo. 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Pesquisa-ação nas organizações. São Paulo: Atlas. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 103 Abordagem conceitual sobre o comportamento e envolvimento do consumidor no Skateboarding brasileiro Lucas Cardoso dos Reis (UNINOVE) [email protected] Ary José Rocco Júnior (UNINOVE) Resumo Este estudo tem o objetivo de identificar e descrever os tipos de consumidores do Skateboarding. Por meio do nível de envolvimento que o indivíduo tem com o skate e quanto esse nível incide em seu comportamento de consumo. Para a realização da pesquisa, foi utilizado o método de Pesquisa-Ação, que usa uma abordagem de observação, descrição e atitude participativa entre o pesquisador e os pesquisados. Possibilitando a elaboração de três tipos de consumidores do skate: Ativo, Divertido e Admirador. O estudo se limitou a observar indivíduos da cidade de São Paulo e Grande São Paulo. Os resultados do estudo almejam contribuir para os profissionais de marketing esportivo, que buscam entender e se conectar de modo eficaz com o público skatista e com os elementos da cultura Skateboarding. Palavras-chave: Comportamento do consumidor, Skateboarding, Cultura do Skatista. Abstract This study aims to identify and describe the types of consumers of Skateboarding. Through the level of involvement the individual has with this level as skateboarding and focuses on their consumption behavior. For the research, the method of Action Research, which uses an approach of observation, description and participatory approach between the researcher and the researched was used. Allowing the description of three types of consumers skateboard, the Active, Fun and admirer. The study was limited to observing individuals in São Paulo and São Paulo. The results of the study aims to contribute to the professional sports marketing, which seeks to understand and connect effectively with the skater and the elements of culture Skateboarding public. Keywords: Consumer behavior, Skateboarding, Skater culture. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 104 Introdução O comportamento do consumidor, requer o máximo de informação possível sobre o público alvo para tomadas de decisões assertivas. Para profissionais de marketing esportivo, essa tarefa é complexa e delicada. Pois, o esporte vai além dos simples traços demográficos e estilo de vida. Ele promove a conexão entre fatores internos e externos, psicológicos e sociais. Características que deve ser considerada quando lidamos com consumidores esportivos (Summers & Morgan, 2005). Neste contexto, a formulação conceitual dos consumidores esportivos,— uma categorização — torna-se uma ferramenta de extrema utilidade para profissionais de marketing esportivo. Um guia importante que exibe o comportamento do consumidor em grupos separados por produtos esportivos. Um modo de segmentação — separação — através das atitudes e frequência da ação de compra por grupos específicos (Stewart, Smith, & Nicholson, 2003). Hunt, Bristol e Bashaw (1999), desenvolveram uma abordagem conceitual do fã esportivo. Organizada em uma escala baseada no nível do envolvimento que o indivíduo possui pelo seu esporte favorito, separada por cinco níveis: (1) fã temporário, (2) local, (3) devotado, (4) fanático e (5) disfuncional. Um conceito que contribuiu para a percepção dos profissionais de marketing sobre os consumidores esportivos. Muito útil para esportes que possuem números significativos de seguidores — torcedores. O estudo desses autores, provoca outros autores à buscar o entendimento do consumo baseado em atitudes. Pimentel e Reynolds (2004) procuraram a compreensão atitudinal de fãs devotados, e o quanto eles se empenham pelo esporte favorito e ídolos. Por exemplo: se pintam o corpo, utilizam uniformes oficiais ou encaram o esporte como um rito religioso. Atitudes que os autores classificam como comprometimento normativo e comprometimento acumulativo por meio da relação afetiva com o esporte. O mercado em crescimento e a identificação da necessidade de uma abordagem conceitual para os fãs do skateboarding no Brasil, motivou a elaboração deste trabalho. Nos Estados Unidos — mercado mais maduro comparado com o brasileiro —, atualmente, existem grupos como Iconix Brand Group, detendor de marcas como, Zoo York, Rocawear e Ed Hardy. Possuindo oferta pública IPO (Oferta Pública Inicial, tradução livre) na bolsa de valores digital Nasdaq e, segundo sua assessoria de impressa, obteve faturamento de US$ 432,6 milhões (Lurper, 2012). No Brasil o skate movimentou em 2013 cerca de R$1 bilhão, e conta atualmente com aproximadamente 4 milhões de praticantes (Rezende, 2014). Fatos que mostram a força que a cultura skate tem atualmente. Sendo Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 105 hoje, frequente a utilização da imagem do skate em filmes publicitários, propagandas impressas, digitais e novelas. Indícios da expansão e da profissionalização do skate no Brasil (Brandão, 2010). A cultura do skateboarding possuiu uma identidade própria e peculiar. Músicas e vestuário que se misturam e demonstram a inserção do indivíduo a esse meio ambiente (Beal & Weidman, 1992). O que um dia foi tendência, atualmente é um mercado que movimenta a economia mundial e brasileira. Impusionado pela geração Y — constituída por pessoas nascidas entre 1982 e 2003 —, que foram impactadas com a criação de um dos eventos mais emblemático para a proliferação das modalidades radicais. Os X-Games, produzido pela ESPN (Entertainment and Sports Programming Network) desde 1995 (Bennett & Lachowetz, 2004). Dando importânica nas atitudes e comportamentos de consumo dos adeptos desse esporte. Entender como eles se conectam e se relacionam contribuindo, assim, com os profissionais de marketing que necessitam tomar decisões e elaborar ações para atingir o público alvo de forma efetiva (Rein, Kotler, & Shields, 2008). Diante dessa necessidade, este estudo objetiva propor um modelo conceitual do consumidor do Skateboarding, constituído por três tipos de consumidores fundamentados em atitudes e comportamentos dentro da cultura do Skateboarding. Baseado no nível de relação e envolvimento com a prática esportiva e os elementos que compõe a filosofia Skateboarding, como: atletas; músicas e vestuários (Machado, 2012). Possibilitando compilar traços comportamentais com intuito de transformá-los em grupos homogênios, proposto com uma modelagem que possa contribuir com os profissionais do segmento skate. Almejando assertividade e eficácia na comunicação com os fãs — adeptos — do Skateboarding no Brasil. Um estudo com foco na tipologia do consumidor esportivo (Stewart et al., 2003), dentro do consumo da cultura Skateboarding. Problema de pesquisa e objetivo Compreender atitudes e o que estimula indivíduos a tomarem decisões de compra, é um desafio para os profissionais de marketing esportivo ao redor do mundo. Mesmo havendo modelos provinientes de estudos norte americanos. Fatores culturais levam a adaptações que nem sempre são úteis ao modelo brasileiro. Daí a necessidade de compreender tipoligicamente e categorizar os consumidores/praticantes do skate no Brasil, já que não há nenhum trabalho até o momento abordando esse assunto. Entender consumidores tipologicamente, auxilia profissionais a formarem tomadas de decisões mais firmes e conscientes. Considerando a baixa produção acadêmica brasileira em relação à tipologia dos consumidores espotivos no Brasil e, principalmente, em esportes individuais, como o Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 106 skate. Este trabalho objetiva o desenvolvimento conceitual do comportamento e envolvimento dos consumidores de skate no Brasil, separados em três níves tipológicos. Revisão bibliográfica Entender como os fãs do esporte se desenvolvem e aumentam a sua relação com esse segmento, é um conhecimento que vários pesquisadores buscam. Hunt, Bristol, & Bashaw (1999), elaboraram um modelo conceitual sobre o assunto. Orientando o desenvolvimento dos fãs em alguns fatores como, a influência da infância, a conexão com um jogador ou time. Para esses autores, existe uma escala no qual os fãs transitam de acordo com o envolvimento deles com o esporte ou, geralmente, com um time. O que motiva um indivíduo comprar uma camiseta oficial do seu time favorito ou chegar a pintar o corpo para ir a um estádio. São fatores de relação e identificação com o time que provocam essas atitudes. Sobre esses aspectos, são elaborados cinco tipos de fãs: (1) temporário; (2) local; (3) devotado; (4) fanático e; (5) desfuncional. Sendo, o fã temporário o menor nível e o desfuncional, o maior. Com o objetivo é, fazer com que, os indivíduos subam o nível da escala. Entender o comportamento do consumidor esportivo é um objetivo almejado a muito tempo por seus profissionais. Comparando alguns estudos, torna-se claro que aspectos motivacionais e comportamentais são diferentes de pessoa para pessoa. Traços psicossociais, atenção limitada cultural e contexto econômico. Incidem fortemente no comportado de consumo esportivo do indivíduo, e sobre a formação da relação deles com os times e atletas. Valores e crenças que completam a formação do consumo com comprometimento, identidade e padrões de espectadores em jogos e formas de audiência (Stewart et al., 2003). Os motivos que levam uma pessoa a se conectar com o esporte são as mais variadas. Porém, os dois vínculos mais acentuados são: o astro e o local. O astro não se trata apenas da figura humana, mas pode ser um estádio no qual significa muito aos fãs. Os pricipais elementos desse vínculo são: jogador, treinador, equipe, liga ou instalação esportiva. Esses fatores podem ser representados como um astro, identificado pelos adeptos de uma modalidade esportiva. O local está baseado na regionalidade que o esporte é praticado ou onde um time ou liga está situado. Sendo a relação que uma comunidade possui com um esporte, time ou jogador. Fatores sociais, família, amigos e ambiente, compõem elementos que fortalecem essa conexão. Formando sete tipos de consumidores esportivos: (1) indiferentes; (2) curiosos; (3) gastadores; (4) colecionadores; (5) agregados; (6) Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 107 conhecedores e; (7) fanáticos. Uma escala que a menor relação inicia-se nos indiferentes (Rein, Kotler, & Shields, 2008). O envolvimento carrega fatores pessoais, como necessidades, importância, interesses e valores. Elementos de estímulos em contrapartida da diferenciação e alternativas. A fonte de informação adquirida e o conteúdo construído dentro de um ambiente. Gera envolvimento nos indivíduos. Fatores situacionais de relação formam a ocasião e desejo de aquisição. Todos esses fatores unidos conduzem a um nível no envolvimento de uma pessoa com um produto. No qual, a publicidade — pois, esporte se trata também da influência social e cultural — modera a decisão de compra, ou para o esporte, a necessidade de pertencimento (Zaichkowsky, 1986). Afinidade que direciona o envolvimento do indívíduo com o esporte. No qual, uns consomem muito e outros pouco, uns vão aos estádios e outros acompanham de casa. Fatores de envolvimento que refletem no comportamento individual. O auxílio de escalas de envolvimento procura entender quais conceitos influenciam na atitude do consumidor com algum produto. As escalas PII (Personal Involvement Inventory) e NIP (New Involvement Profile), geram quadros que elucidam aos pesquisadores qual fator tem maior ou menor força sobre o envolvimento do indivíduo a respeito de um produto (Manoel & Almeida, 2014). Aspectos externos — sociais —, aplicam sua influência a luz do comportamento de indíviduos ou grupos. Um grupo de referência, que são indivíduos que detêm a capacidade de influir sobre as decisões e atitudes de compra de um consumidor. Chegando a definir normas de conduta. Um exemplo, são jogadores profissionais de futebol, que motivam jovens ao redor do mundo a praticarem e torcerem pelos clubes que atuam. Ou, um grupo de referência pode ter o papel apenas informativo. Considerados como especialistas sobre tal assunto, possuem a capacidade de influenciar na decisão de compra e pertencimento social. A família exerce um papel crucial diante do comportamento de consumo esportivo. Ocasionando quase sempre em o filho seguir os passos e gostos dos pais. Aspectos situacionais, como arredores físicos, sociais e perspectiva temporais — datas e momentos marcantes —, fazem parte dos fatores que levam um indivíduo a pertencer a um grupo ou não. A conectarem com uma modalidade ou não. Agir comedidamente ou disfuncionalmente (Summers & Morgan, 2005). São Paulo é a cidade que possui mais praticantes de skate. O skate figura como a segunda modalidade mais praticada nas escolas municipais, perdendo apenas para o futebol. A popularidade do skate levou a prefeitura da cidade de São Paulo, a criar o Dia Municipal do Skate, comemorado no dia 3 de agosto. Uma cultura que quebrou preconceitos e ultrapassou barreiras tidas como Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 108 intransponíveis. Atualmente, é frequente se deparar com a utilização do skate, em filmes, peças publicitárias e novelas. Popularidade que está projetando o skate como uma das modalidades mais praticadas e admiradas do país (Machado, 2011). A profissionalização do skate no Brasil tem início na década de 1960. E para chegar até aqui, sofreu altos e baixos. Ganhando estabilidade somente em meados dos anos 1990. Um momento no qual o cosumo pelos produtos e pela prática alcançam uma dissemição considerável. Mídias como a revista Tribo, possui forte atuação para a proporção que o skate tem atualmente (Honorato, 2013). Tal espaço adquiriu o skate hoje. Que a necessidade de compreender cada vez mais seus fãs e como funciona o comportamento de consumo de seus adeptos se tornou essencial. Um mercado que movimentou R$ 1 bilhão em 2013 (Rezende, 2014) merece atenção dos profissionais de marketing esportivo e outras áreas. Metodologia Para a realização do estudo foi utilizado o método de Pesquisa-Ação, uma abordagem baseada em observação, descrição e atitude participativa entre o pesquisador e os pesquisados. Segundo o seu criador Kurt Lewin, a Pesquisa-Ação constitui um ciclo de análise. Fato achado, concepção, planejamento, execução e avaliação. Esta pesquisa se caracteriza por seu fator social com base empírica, no qual é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e, no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo (Martins & Theóphilo, 2009). Este método foi escolhido por se adequar com objetivo do estudo, sendo o pesquisador praticante da modalidade, o acesso ao objeto de estudo — os praticantes da modalidade skate — não houve restrições. Tornando a observação e participação em movimento aberto sem obstruções. O pesquisador faz parte da cultura do Skateboarding há mais de 15 anos. Praticante das modalidades, Street, downhill Freestyle e Banks, sendo também adepto dos elementos que compõe essa subcultura, como vestuários e estilo musical. Para a coleta de dados, utiliza-se o procedimento de Observação Participante, em que o pesquisador pode assumir uma variedade de funções e de fato participar dos eventos e situações que estão sendo observados. Executando entrevistas com questionário semi estruturado com perguntas abertas. Gerando informações, dados e evidências por entre os olhos e percepções do pesquisador. Os locais para coleta dos dados foram em pontos de prática da modalidade, 3 skate parks em Barueri, skate park CEU Butantã, Parque do Ibirapuera, Vale do Anhagabaú e skate park Bela Vista – Osasco. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 109 Para amostra, foram selecionados 100 praticantes por meio da obervação, sendo a soma de todos os locais supracitados. Levando em consideração preliminar o tempo de prática da modalidade, a idade do praticante e estilo de modalidade. O número de 100 respondentes para este método é adequado e confiável (Martins & Theóphilo, 2009), sendo conduzido por uma aboradegem dedutiva, pois os dados foram gerados de forma genérica e após sua categorização, pode-se chegar a elementos particulares, neste caso, a tipologia dos consumidores da cultura Skateboarding. Resultados O estudo leva a configuração de três perfis diferentes de consumidores. Tanto no que se refere à prática quanto à participação da cultura Skateboarding. Formando o princípio da tipologia dos consumidores esportivos do skate no Brasil. Salientando que a base de dados é proveniente da cidade de São Paulo e Grande São Paulo. Portanto, fatores regionais, podem causar pequenos desvios nos traços comportamentais do skatista, pelo simples fato de estarem inseridos em um ambiente sociocultural diferente. O resultado aponta três tipos de consumidores de Skateboarding: (1) Ativo; (2) Divertido e (3) Admirador. Segue descrição de cada consumidor identificado. O Ativo: Este tipo de consumidor pratica a modalidade almejando um dia se tornar profissional. Devido a isso, treina exaustivamente, viaja constantemente para conhecer diferentes locais para exercer a prática do skate. Além disso, participa de campeonatos, e o seu consumo tem foco no seu rendimento esportivo. Dependendo do nível social e estrutura familiar, esse indivíduo despenderá grande volume monetário investindo em sua carreira, comprando equipamentos e acessórios, ou fará sacrifícios em outros bens de consumo para investir no seu objetivo. O Divertido: Consome o skate em demasia, pratica a modalidade em seu tempo livre como se fosse um ato religioso, onde se reúne com os amigos para uma sessão — prática — de Skateboarding. Este grupo tende a ser mais velho, no qual se encontram indivíduos com potencial de profissional mas, por um ou outro motivo, não conseguiram conquistar esse feito. Porém, praticam com grande frequência a modalidade, geralmente aos finais de semana. Tornando-se um importante canal de conexão e socialização para as pessoas que se enquadram nesse tipo de consumidor. Este consumidor investe Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 110 tempo e dinheiro tanto na prática como no estilo e visual da cultura skate, compram peças, acessórios, revistas, DVDs. Acompanham os principais atletas, vão a concertos musicais da cultura skate, como shows de bandas, “Punk”, Hard Core, Hip-Hop e Reggae. O Admirador: Composto por indivíduos que em algum momento tentaram praticar a modalidade. Portanto, tiveram uma péssima experiência, por exemplo, uma forte queda, que influencia na confiança e segurança da prática. Fato comum nos esportes de ação. Neste grupo de consumidores apresenta uma concentração feminina, diferente dos outros tipos. Entretanto, mesmo sem a prática do esporte, a afixação com a cultura skate permaneceu. Este tipo de consumidor adquire os elementos em torno da cultura skate, como, revistas, shows, DVDs e, principalmente, o visual skate. Admiram os praticantes e, geralmente, estes indivíduos possuem estreitas amizades com os skatistas e frequentam os skates parks e pistas para estarem ao lado de seus amigos que desferem manobras radicais no skate. Skatistas profissionais: Revista: A Brief Glace - Edição 26 - p.55 Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 111 Tabela 1: Tipos dos consumidores de Skateboarding no Brasil; adaptado pelo autor – Hunt, Bristol, & Bashaw, 1999. Tipo de consumidor Relação com o skate Ativo Praticante de skateboarding com objetivo de alto rendimento. Se dedica na evolução das manobras de skate preparando-se para participar de campeonatos com finalidade de alcançar boas colocações. Divertido O skateboarding para este perfil é tido como religião e estilo de vida. É praticante da modalidade em seu tempo livre sem ter o objetivo de ser profissional. Geralmente já possuem profissão ou estão em processo de estudos. Admirador Este grupo não pratica a modalidade e em muitos casos tiveram uma péssima experiência quando tentaram andar de skate, (e.g. uma queda brutal). Porém a sua admiração pela cultura e skatistas permacenem. Geralmente os seus amigos praticam o esporte promovendo nível de influência. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 Relação de consumo com o skate Seu consumo tem foco no seu treinamento, por isso, gasta suas economias com compra de peças e tênis, ambos fatores que incorrem na melhora do desempenho desta prática esportiva. Sonha em se tornar profissional e ter apoio e patrocínio. Vivendo o glamour de grandes competições e ações midiáticas. Seu consumo é diversificado, tanto compra peças para ter um skate de qualidade que reflete em um desempenho melhor. Consomindo muito da cultura skate, como, vestuário, músicas, eventos, shows, vídeos, revistas e internet. O consumo desse grupo é paltado nos produtos da cultura skate como citado no grupo Divertido, vestuário, músicas, eventos, shows, vídeos, revistas e internet. Idade média Entre 15 e 25 anos Entre 20 e 40 anos Entre 15 e 40 anos 112 Discussão A cada nova geração, a indústria dos esportes ganha mais espaço e se desenvolve. Temos um miríade de opções em modalidades e acessórios esportivos. Um crescimento que foi mais acentuado após a segunda guerra mundial, e hoje é responsável por grandes volumes monetários impactando positivamente na macro economia de muitos países (Pitts & Stotlar, 2002). Conhecer quem são os consumidores esportivos é um desafio crucial para os profissionais de marketing esportivo. Mesmo contando atualmente com ferramentas tecnológicas como, CRM (Costumer Relationship Manager) e gerenciamento de grandes dados. A construção do comportamento dos consumidores esportivos é complexa. Prever o que vai satisfazer determinado público e o que é valor. Conduzindo os indivíduos investir dinheiro e tempo para o consumo do esporte (Rein et al., 2008) é uma ação delicada, mas necessária para os profissionais de marketing esportivo obterem êxito em seus planos. Esse desafio se estabelece em todos os segmentos e modalidades. Principalmente, no Brasil, onde a falta de capacitação profissional em marketing esportivo é evidente. Gerando ações fadadas ao insucesso e sem conexão com os anseios e desejos dos consumidores, pois, entender como os apaixonados por esporte se conectam, é uma base importante para criar intervenções e implementações de marketing eficazes (Summers & Morgan, 2005). Além disso, saber como eles se comportam e segmentá-los por tipos, facilita a compreensão do cenário e propõe uma perspectiva para os profissionais de marketing esportivo enxergarem claramente quem pretendem atingir e impactar (Hunt et al., 1999). Buscando melhorar a eficiência da comunicação e dos planos de marketing para o segmento do Skateboarding, este estudo visa disponibilizar um documento que possa contribuir substancialmente com os profissionais de marketing ligado ao skate no Brasil. Um mercado que hoje possui uma feira própria — a URB Trade Show — que, na primeira edição, em 2013, movimentou R$ 80 milhões. No entanto, o mercado em geral movimenta R$1 bilhão no Brasil (Rezende, 2014). Esses números expressivos, demonstram a necessidade de conhecer mais a fundo como esses consumidores pensam, agem e se comportam. Este trabalho objetiva exatamente isso, contribuir com os traços tipológicos, separados por grupos homogênios, servindo de guia para os profissionais de marketing. Do mesmo modo que outros estudos identificaram grupos de fãs esportivos em disposição de uma escala com foco de fazê-los subir a escala, aumentando, assim, o envolvimento desses indivíduos com o time (Stewart et al., 2003). No skate não é diferente, por se tratar de uma cultura específica e de ser um esporte individual, a atitude do praticante e talento com as manobras (Beal & Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 113 Weidman, 1992) podem influenciar na migração de um tipo para outro. Em movimentação de uma escala do envolvimento. Percebe-se que o skate no Brasil está em um movimento crescente, e seu processo de profissionalização é um fato natural (Honorato, 2013), portanto, para esse crescimento ser sólido e sustentável, empresas ligadas a esse ramo de atividade precisam conhecer quem são os praticantes. Serem acertivos na comunicação e pensar nas futuras gerações que hão de vir para manter o mercado do skate no Brasil. O estudo intenciona contribuir para que o mercado mantenha seu desenvolvimento. Acreditando que a identificação desses três grupos de consumidores (Ativo, Divertido e Admirador) pode ser de grande ajuda e utilidade para profissionais que já atuam no mercado do skate. Para os que estão iniciando e para os que estão planejando entrar nesse segmento radical e peculiar da cultura Skateboarding. Conclusões Este estudo teve o propósito de traçar os tipos dos consumidores esportivos de Skateboarding no Brasil — Dispostos na tabela 1. Por meio do método de Pesquisa-Ação que tem uma abordagem na observação, descrição e atitude participativa entre o pesquisador e os pesquisados. Foi possível identificar três tipos diferentes de consumidores da cultura skate: (1) Ativo, (2) Divertido e (3) Admirador. Tipologias de consumidores formadas da relação que os indivíduos têm com skate, e como essa relação, incide no comportamento de consumo desses fãs do skate. O estudo se baseou no trabalho de Hunt, Bristol e Bashaw (1999), Stewart, Smith e Nicholson (2003), que focaram em tipologias de cosumo com intuito de contribuir para os profissionais de marketing esportivo. A fim de melhorar o desempenho das ações de marketing ao público consumidor de esportes. Proporcionando segmentação refletida em comportamentos de consumo. Este estudo limitou-se a coletar dados de indivíduos residentes da cidade de São Paulo e Grade São Paulo. Devido a isso, a pesquisa aplicada pode obter resultados diferentes do apresentado neste estudo, se for executada em outras regiões do país. Provocado pela diversidade cultural. O estudo alerta sobre a importância de conhecer e segmentar o seu público em pequenos grupos homogênios, separados por tipos. Relacionado ao comportamento e envolvimento que esses indivíduos têm com o esporte, neste caso, com o Skateboarding. No esporte, é imprescindível ponderar as alterações culturais e mudanças de gerações para manter uma marca ou produto em conexão com o consumidor e, ser popular com diversas culturas ao longo dos anos. A geração Y, direcionada como o grupo dos esportes radicais, tem seu gostoso Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 114 musical próprio, se veste de uma forma peculiar e prestigia o inusitado, à adrenalina, o inebriante e o inesperado. Para uma marca impactar o comportamento de consumo dessa geração e ser percebida como uma marca “cool” para eles. Precisa pensar e agir de acordo as expectativas desse grupo (Bennett & Lachowetz, 2004), caso contrário será ignorada por essa geração. É sugerido como pesquisa futura, o aprofundamento desse estudo, utilizando outro tipo de método científico, como grupo focal, ou aplicar esse mesmo estudo em outra região do país. Que, no entanto, poderá identificar mais tipos de consumidores do Skateboarding no Brasil, ou simplesmente comprovar a confiabilidade deste estudo. Propomos também estudos sobre como as marcas podem agir para cultivar novos praticantes de skate, ou como a internet mudou o formato do consumo do skate e na forma de se conectar com os atletas e marcas. Enfim, o Skateboarding, é um campo muito vasto para estudos e necessita que mais pesquisadores percebam a importância dessa modalidade, tanto no âmbito econômico como em sua prática. Pois o skate vem ao longo de suas quatro décadas no Brasil, conquistando cada vez mais adeptos e praticantes em todas as regiões do país, sendo atualmente a sétima modalidade mais praticada pelos brasileiros (Silva, 2014). Referências bibliográficas Beal, B., & Weidman, L. (1992). Authenticity in the Skateboarding World, 337–352. Bennett, G., & Lachowetz, T. (2004). Marketing to Lifestyles : Action Sports and Generation Y. Sport MarketIng Quarterly, 13(4), 239–243. Fullerton, S., & Merz, G. R. (2008). The Four Domains of Sports Marketing : A Conceptual Framework m. Sport Marketing Quarterly, 17(2), 90–108. Honorato, T. (2013). A esportivização do skate ( 1960-1990 ): relações entre o macro e o micro. Rev. Bras. Ciênc. Esporte, 35(1), 95–112. Hunt, K. A., Bristol, T., & Bashaw, R. E. (1999). A conceptual approach to classifying sports fans. Journal of Services Marketing, 13(6), 439 – 452. Retrieved from http://www.emeraldinsight.com/journals.htm?articleid=855856 Machado, G. M. C. (2011). De “ carrinho ” pela cidade : A prática do street skate em São Paulo. USP - Universidade de São Paulo. Machado, G. M. C. (2012). Dilemas em torno da prática do street skate. Esporte E Sociedade, 7(19), 1–24. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 115 Manoel, V., & Almeida, C. De. (2014). Envolvimento do Consumidor com o Produto : comparação das escalas PII e NIP no contexto brasileiro. Revista Brasileira de Gestão de Negócios, 16(50), 75–95. doi:10.7819/rbgn.v16 Martins, G. de A., & Theóphilo, C. R. (2009). Livro Martins e Theóphilo (2a ed., pp. 53–103). São Paulo: Editora Atlas S.A. Pitts, B., & Stotlar, D. (2002). Fundamentos de Marketing Esportivo (1st ed., p. 318). Phorte editora. Rein, I., Kotler, P., & Shields, B. (2008). Marketing Esportivo: A reinveição do esporte na busca de trocedores (pp. 65 – 103). Porto Alegre: Bookman. Rezende, R. (2014). Skate movimenta R$ 1 bilhão em vendas no País e há oportunidades para pequenos empresários - notícias - Estadão PME – Pequenas e Médias Empresas. Retrieved from http://pme.estadao.com.br/noticias/noticias,skate-movimenta-r-1-bilhao-em-vendas-nopais-e-ha-oportunidades-para-pequenos-empresarios,4291,0.htm Silva, S. (2014). Os 10 Esportes Mais praticados no Brasil. Retrieved from http://esporte.esp.br/os10-esportes-mais-praticados-no-brasil/ Stewart, B., Smith, A., & Nicholson, M. (2003). Sport Consumer Typologies: A Critical Review. Sport MarketIng Quarterly, 12(4), 203 – 2016. Summers, J., & Morgan, J. M. (2005). Sports Marketing (pp. 117–132). Cengage Learning Australia. Zaichkowsky, J. L. (1986). Conceptualizing Involvement. Journal of Advertising, 15(2), 4–34. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 116 Copa do mundo 2014 no brasil: um estudo das atitudes e envolvimento do espectador com o evento José Fernando de Sousa Mielli (PPGA-FMU) Daielly Melina Nassif Mantovani (PPGA-FMU) [email protected] Resumo O objetivo deste estudo foi identificar a relação entre a atitude e o envolvimento do espectador com a Copa do Mundo 2014, realizada no Brasil. Para tanto, realizou-se um survey com uma amostra de 281 casos, na qual se observou que existe relação significante e positiva entre o envolvimento com o evento e a atitude do espectador. A análise de agrupamentos indicou a existência de três grupos distintos de espectadores do evento; o primeiro deles, definido como indiferente; pois seus membros apresentaram escores no ponto central da escala tanto para atitudes quanto para o envolvimento com a Copa. O segundo grupo foi denominado pessimista, pois apresentou escores baixos para ambos os construtos. Finalmente, o maior grupo foi dos entusiastas, que apresentaram atitude e envolvimento favorável com o evento. Os testes de significância não indicaram relação entre gênero e idade dos espectadores e atitude e envolvimento com a Copa. Isto indica que a atitude e o envolvimento com o evento não dependem do sexo ou da faixa etária do espectador, portanto ações de marketing que utilizem essas variáveis de segmentação podem não alcançar o desempenho desejado. Adicionalmente, os achados do trabalho sugerem que a Copa do Mundo dividiu a população; todavia, a maior parte dos entrevistados foi favorável ao evento. Palavras-chave: Marketing Esportivo. Atitudes em Relação à Copa. Envolvimento com a Copa. Abstract The aim of this study was to identify the relationship between spectator’s attitude and involvement FIFA World Cup 2014, held in Brazil. For this purpose, we carried out a survey with a sample of 281 cases in which it was observed a significant and positive relationship between spectator’s involvement and attitude with the event. Cluster analysis found three distinct groups of spectators. The first one was defined as indifferent, because its members had scores at the midpoint of the scale for both attitudes and involvement with the Cup. The second group was called pessimistic; it showed low scores for both constructs. Finally, the largest group was of enthusiasts who had a favorable attitude and involvement with the event. Significance tests indicated no relationship between gender Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 117 and age of viewers and attitude and involvement with the Cup. This indicates that the attitude and involvement with the event does not depend on gender or age of the viewer, hence marketing actions using these segmentation variables cannot achieve desired outcomes. Additionally, findings from the study suggest that the World Cup divided the population; however, the majority of respondents were favorable to the event. Key-words: Sports Marketing. Attitudes Toward the World Cup. World Cup Involvement Introdução Os eventos esportivos representam uma das ferramentas de comunicação de marketing mais promissoras da atualidade para as empresas e têm crescido mais que os investimentos em mídias tradicionais como propaganda e promoções de venda. São efetivos, pois conseguem atingir de forma consistente o público-alvo interessado no evento (H. Lee & Cho, 2012). O estudo de Nufer e Buhler (2010) avaliou as Copas do Mundo FIFA(Fédération Internationale de Football Association) de 1998 e de 2006 quanto a efetividade do uso de eventos esportivos como ferramenta de comunicação de marketing. Observaram que nem sempre os patrocinadores das Copas do Mundo FIFA tiveram sua imagem relacionada ao evento, ou seja, foram reconhecidos com patrocinadores e puderam usufruir de melhor imagem de marca e maiores vendas de seus produtos em função do evento. Por outro lado, observaram que as empresas que conseguiram de fato se associar com o evento, sendo ou não (ambush marketing) patrocinadora, tiveram os reconhecimento do espectador, e consequentemente maior recall de marca e melhor imagem da marca. Dessa maneira, os grandes eventos esportivos, como a Copa do Mundo, podem ser uma ferramenta poderosa de marketing, tanto para empresas patrocinadoras, como a nação que os sedia. Em 2007 definiu-se que a Copa do Mundo da FIFA, um dos maiores eventos esportivos mundiais, seria realizada no Brasil, o “país do futebol” em 2014. O país, detentor de cinco títulos mundiais foi escolhido como sede do evento e tal fato gerou expectativas positivas. Eventos esportivos de grande porte como a Copa são, com frequência, associados à construção da identidade nacional, da divulgação do país e disseminação de sua cultura por todo o mundo (Meng-Lewis, Thwaites, & Gopalakrishna Pillai, 2014). Essa perspectiva favorável, ao longo dos anos que se seguiram e mais próximo da data de realização do evento transformou-se e o evento tornou-se alvo de críticas, protestos e recebeu grande foco de atenção da imprensa nacional e internacional, não apenas por razões esportivas, mas também Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 118 pela comoção social que causou. Esse contexto ambíguo gerou muitas dúvidas sobre o sucesso do evento e seus desdobramentos para os setores de comércio, turismo e mercado financeiro no país. Os dados oficiais da FIFA sobre a Copa do Mundo 2014 no Brasil, após sua realização, relataram aumento dos índices de audiência, das emissoras que transmitiram o evento, durante a primeira rodada, destacando-se países como, Argentina, Alemanha, Bélgica, Brasil, Croácia, França, Holanda, Itália, Japão e Reino Unido. A partida entre Brasil e Croácia, por exemplo, foi a transmissão esportiva com maior audiência no Brasil e a maior audência televisiva de 2014 na Croácia (FIFA, 2014). Embora, em termos de audiência, em geral, os dados sugiram que o evento tenha sido bem sucedido, cabe à área de marketing investigar aspectos mais profundos que permitam compreender como um evento da magnitude de uma Copa do Mundo pode influenciar o espectador e consumidor desses eventos, o que abrange não apenas a compra de ingressos para os jogos, mas também o consumo de produtos dos patrocinadores e a mobilização em torno do evento. No caso da Copa no Brasil especificamente, diante do contexto peculiar em que ocorreu, tal investigação torna-se ainda mais relevante, a fim de se identificar pontos positivos percebidos sobre o evento e potenciais problemas constatados pelos espectadores. O consumidor de esportes, na visão de Doyle e Funk (2013), são heterogêneos e apresentam múltiplas atitudes e comportamentos em relação a produtos, serviços e ações relacionados ao esporte que acompanham, o que torna necessário segmentá-los. Por outro lado, para os autores, as formas de segmentação do espectador são limitadas e precisam de maior atenção por parte das organizações. Meng-Lewis, Thwaites e Pillai (2014) destacam que o consumidor de esportes e eventos esportivos torna-se um fã e, nessa posição surge o envolvimento com o esporte e/ou evento esportivo. O envolvimento diz respeito a quanto o consumidor se identifica e é motivado pelo esporte/evento e isso se manifesta por meio de seu engajamento com o objeto (Meng-Lewis et al., 2014). Por se tratar de um construto que envolve a motivação do indivíduo em relação ao objeto, o envolvimento exerce influência sobre sua atitude em relação ao objeto, nesse caso o esporte ou evento esportivo (MengLewis, Thwaites, & Gopalakrishna Pillai, 2013). Atitude pode ser definida como a resposta consistente, favorável ou desfavorável em relação ao evento, trata-se de algo estável, que representa a experiência acumulada pelo indivíduo ao longo do tempo em relação ao evento. A atitude inclui o prazer que o consumidor sente quando participa do evento, o apoio que dá a ele e o quanto crê que o evento apresenta alta qualidade (M. Lee, Sandler, & Shani, 1997). Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 119 Diante do exposto, esta pesquisa tem como objetivo analisar a relação entre as atitudes e o envolvimento do espectador com a Copa do Mundo 2014, bem como definir o nível de envolvimento e atitude desse espectador com o evento. Adicionalmente, propõe-se a segmentação do espectador com base nos contrutos envolvimento e atitude, como ferramenta de segmentação de marketing. A seguir apresenta-se a revisão da literatura, seguida pelos procedimentos metodológicos, análise dos resultados e considerações finais. Atitudes e envolvimento com eventos esportivos Kim, Trail, e Zhang (2011) destacam a relevância do marketing de relacionamento nas empresas, inclusive aquelas relacionadas ao esporte, tanto organizadoras de eventos quanto patrocinadoras e fabricantes de produtos e serviços relacionados ao esporte. Os autores comentam que entre as instituições esportivas norte-americanas o marketing de relacionamento é uma realidade, muitas delas utilizando até as redes sociais para se relacionar com os fãs, que segundo os autores, vão às partidas com assiduidade e compram com maior intensidade produtos relacionados. Entretanto, para se conhecer de forma mais ampla essa relação é interessante avaliar as atitudes do espectador e seus possíveis antecedentes e consequentes. Ajzen e Fishbein (1977) definem atitude como a forma como um indivíduo avalia o objeto em foco da atitude. O objeto da atitude é sempre um aspecto pessoal da realidade do indivíduo, como por exemplo, uma outra pessoa, um tipo de comportamento, um produto ou serviço. Além de características afetivas, a atitude também é definida por aspectos cognitivos e conativos que fazem com que o indivíduo reaja consistentemente a favor ou contra o objeto. O estudo das atitudes é relevante, pois esse construto influência o comportamento do indivíduo, por exemplo de compra de um produto, de doação a um projeto social etc. Destaca-se que, embora exerça influência sobre o comportamento, a atitude não é seu único antecessor; fatores como normas sociais, personalidade e hábitos individuais, conjuntamente com as atitudes influenciarão o comportamento tomado pelo indivíduo (Ajzen & Fishbein, 1973, 1977). No âmbito do Marketing Esportivo, objeto de estudo desse trabalho, Lee et al. (1997) destacaram a importância de se compreender as atitudes dos consumidores de esporte em relação aos eventos esportivos e a relação desse construto com patrocínio dos eventos e eventual comportamento de compra de produtos de marcas patrocinadoras. O estudo buscou desenvolver uma escala atitudinal com base em três grandes eventos: Jogos Olímpicos de Inverno de 1992, Jogos Olímpicos de Verão de 1992 e Copa do Mundo FIFA 1994. O modelo dos autores considera três dimensões para o Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 120 construto atitude, a atitude em relação ao evento, atitude em relação a comercialização do evento (atitude em relação a quantitade de comunicação de patrocinadores em torno do evento) e atitude em relação à compra de produtos de patrocinadores do evento. Os trabalhos de Meng-Lewis et al. (2013, 2014) vão além e buscam relacionar o construto atitude com outros fatores que influenciam o comportamento de compra, como o envolvimento e a animosidade. O fator envolvimento, objeto de estudo da presente pesquisa, é definido como antecedente da atitude. Doyle e Funk (2013), definem envolvimento como uma conexão psicológica, com um objeto, baseada em necessidades inerentes, valores pessoais e interesses. O envolvimento, no contexto do Marketing Esportivo, possui características peculiares; pois, o consumidor passa a assumir o papel de fã do esporte ou do evento esportivo. Nesse papel, o espectador reage de formas distintas ao patrocínio do evento ou às propagandas relacionadas ao evento, do que reagiria ao patrocínio e propaganda de um produto comum. Isto ocorre, pois o fã se envolve com tanta intensidade com o evento que cria um laço com seus patrocinadores, podendo ter atitude mais positiva e maior propensão a consumir os produtos dos patrocinadores (Meng-Lewis et al., 2013). As análises realizadas com uma amostra de espectadores chineses das Olímpiadas de 2008 realizadas em Beijing revelaram alto envolvimento do público com o evento (média=6.18 em uma escala de 1 a 7) e relação significante entre envolvimento e atitude em relação ao patrocínio do evento (p-valor=0,000). Em seu trabalho, O estudo dos mesmos autores, publicado no ano seguinte segmentou o construto atitude em relação ao patrocínio entre patrocinadores domésticos e estrangeiros e também encontrou relação significante entre o envolvimento com o evento e as atitudes (Meng-Lewis et al., 2014). Dessa forma a hipótese H1 do artigo fica assim definida: H1: o envolvimento com o evento influência de forma positiva a atitude do espector com a Copa do Mundo. Procedimentos metodológicos De acordo com seu objetivo geral, a pesquisa pode ser classificada como um estudo quantitativo e descritivo, do tipo survey (Gil, 2002). Um estudo descritivo tem como objetivo descrever as características de um fenômeno de interesse ou identificar relações entre variáveis (Sekaran & Bougie, 2013). A estratégia de pesquisa survey ou levantamento implica o uso de um Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 121 instrumento para coletar dados sobre comportamentos, intenções, atitudes etc. da população-alvo (Sekaran & Bougie, 2013). A pesquisa foi realizada entre os dias 12 de junho e 13 de julho de 2014, período de realização da Copa do Mundo 2014. A amostra não-probabilística foi composta de 281 casos. Optou-se por duas estratégias complementares para a coleta de dados: a) Questionário online divulgado por meio do perfil de Facebook dos autores e e-mail e b) Questionário impresso para preenchimento pessoal, circulado em empresas nas quais os pesquisadores tinham acesso no município de São Paulo/SP. O questionário anônimo incluiu um primeiro bloco com perguntas de perfil e um segundo bloco com assertivas referentes aos construtos atitudes e envolvimento com o evento. A escala de atitudes em relação a eventos esportivos foi adaptada do trabalho de Lee, Sandler e Shani (1997). Por sua vez, a escala de envolvimento com evento esportivo foi adaptada do trabalho de Meng-Lewis, Thwaites e Pillai (2013). Todas as assertivas desse bloco de questões foram mensuradas em escala Likert de sete pontos, em que 1 = Discordo Totalmente e 7= Concordo Totalmente. Os dados coletados foram tratados estatisticamente por meio do software SPSS versão 18.0. O Quadro 1 expõe o plano de análise de dados seguido no trabalho. Quadro 1 - Regras de avaliação da aderência dos modelos estatísticos aplicados no estudo Indicador KMO Bartlett test Comunalidade MSA Definição Análise Fatorial Medida de Adequação da Amostra, calculada para a matriz de correlação. Tem como objetivo avaliar a adequação da aplicação da AFE ao conjunto de dados (HAIR et al., 1998, p.89) Teste de significância das correlações da matriz de correlação do estudo (HAIR et al., 1998, p.88) Quantidade total de variância que uma variável original compartilha com as demais variáveis inclusas no modelo (HAIR et al., 1998, p.88) Medida de adequação calculada para cada variável. Tem como objetivo avaliar se a variável é adequada ao modelo (HAIR et al., 1998, p.89) Carga fatorial Correlação entre cada variável e cada fator (HAIR et al., 1998, p.89) Variância explicada Porcentagem de variância dos dados explicada pelos fatores extraídos pelo modelo fatorial (HAIR et al. 1998) Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 Regras de decisão KMO 0.5 Hipótese nula deve ser rejeitada Comunalidade 0.5 MSA 0.5 Carga = 0.3 (mínimo aceitável) Carga 0.5 Quanto maior melhor. 60% de variância explicada é considerado um valor satisfatório para estudos das Ciências Sociais Aplicadas 122 Indicador Definição Alfa de Cronbach Medida de confiabilidade do construto que varia de 0 a 1 (HAIR et al., 1998, p.88) Coeficiente r de Pearson Análise de Correlação Coeficiente de correlação usado para mensurar a relação entre duas variáveis métricas (HAIR et al. 1998) R-quadrado Análise de Regressão Medida da proporção da variância da variável dependente que é explicada pela variável independente (HAIR et al., 1998, p.143). Beta coefficient Coeficiente de regressão padronizado (HAIR et al., 1998, p.143). Residuals Erro de previsão nos dados da amostra (HAIR et al., 1998, p.147). Teste de Mann-Whitney Teste não-paramétrico que tem como objetivo testar se dois grupos independents podem ter vindo de populações iguais (SIEGEL; CASTELLAN, 2006). Regras de decisão Mínimo aceitável = 0.6 ou 0.7; Quanto maior melhor. Cohen (1977) define as seguintes diretrizes para se avaliar o coeficiente de correlação: - r= 0.1 fraco - r= 0.3 moderado - r= 0.5 forte Quanto maior, melhor Cohen (1977) define as seguintes regras para se avaliar o R-quadrado em ciências sociais aplicadas: - R-quadrado = 2% (efeito fraco) - R-quadrado = 13% (efeito moderado) - R-quadrado = 26% (efeito forte) Quanto maior, maior o poder explanatório da variável dependente Os resíduos devem seguir distribuição normal H0: as medias são iguais para os dois grupos ( a b ) H1: as medias são diferentes Fonte: Dos autores com base em Hair et al. (1998). Análise dos resultados Preparação dos dados Inicialmente os dados foram examinados em relação aos missing values. Como a quantidade de valores faltantes era pequena (inferior a 5% em todas as variáveis do estudo) optou-se por executar as análises estatísticas excluindo-se os missing values. Adicionalmente, a base de dados foi testada para a presença de casos atípicos por meio da distância de Mahalanobis com nível de significância de 0,01%, não sendo indentificada a presenção de casos outliers. Finalmente, as variáveis com sentido negativo tiveram seu escore invertido para que se fizessem as análises. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 123 Análise dos Componentes Principais A análise dos componentes principais foi aplicada separadamente aos conjuntos de variáveis do construto atitudes em relação à Copa do Mundo e ao construto Envolvimento com o Evento. Em ambos os casos, foram obtidos construtos unidimensionais com bom ajuste geral, como expõe o Quadro 2, o que é consistente com os resultados obtidos pelas escalas originais de Lee et al., (1997) e Meng-Lewis et al. (2013). Embora as comunalidades de duas variáveis do construto Envolvimento tenham apresentado valor baixo, as demais estatísticas do modelo apresentaram-se adequadas, de forma que essas variáveis foram mantidas no modelo. As cargas fatoriais obtidas para o construto atitude em relação ao evento foram superiores aquelas obtidas pela escala original de Lee et al., (1997), o que indica boa aderência do modelo. As dimensões foram, então obtidas pela escala somada das variáveis em cada fator, por exemplo, a dimensão atitude foi obtida pela média aritmética das quatro variáveis que a compõem. Analogamente, a dimensão envolvimento foi obtida pela média das dez variáveis que a compõem. Quadro 2. Resultados da Análise dos Componentes Principais Dimensão Variável KM O Atitude Eu gosto de 0,739 acompanhar a Copa do Mundo Eu me considero um forte torcedor da seleção brasileira na Copa A copa simboliza o espírito brasileiro de competição A copa do mundo é um exemplo de esporte de alto nível Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 p-valor Teste de Bartlet t 0,000 MSA Var. Explicad a Carga Fatoria l Comunalidad e Alfa de Cronbac h 0,74 4 66,6% 0,818 0,669 0,84 0,70 3 0,855 0,730 0,74 2 0,826 0,683 0,78 7 0,762 0,581 124 Envolviment o Considero a 0,937 copa do mundo um evento muito importante A copa do mundo é um evento chato* Acho a copa um evento muito relevante A copa do mundo é um evento estimulante A copa do mundo significa muito para mim Assistir a copa do mundo é gratificante A copa do mundo é um evento fascinante Vale a pena assistir a copa do mundo A copa do mundo é um evento envolvente A copa é um evento desnecessári o* 0,000 0,94 5 61,05% 0,788 0,622 0,93 2 0,599 0,359 0,93 2 0,684 0,468 0,94 4 0,769 0,591 0,95 2 0,818 0,669 0,94 5 0,854 0,730 0,93 4 0,887 0,787 0,92 7 0,880 0,774 0,92 5 0,872 0,761 0,93 3 0,587 0,344 0,927 Fonte: Dados do estudo Análise de Regressão De acordo com Meng-Lewis; Thwaites; Pillai (2013) a atitude do usuário em relação a um evento esportivo depende de seu nível de envolvimento com o evento. Dessa forma, realizou-se uma análise de regressão linear em que a dimensão atitude foi colocada como variável dependente e a dimensão envolvimento como variável independente. Foi obtido R-Quadrado= 70,9% e coeficiente Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 125 Beta significante (p-valor=0,000) para a variável independente Envolvimento. Os resíduos do modelo foram testados quanto a sua distribuição por meio do teste de Kolmogorov-Smirnov (p-valor=0,454), obtendo-se distribuição normal, o que indica aderência a essa suposição teórica. Dessa forma, observa-se que a hipótese H1 do estudo foi confirmada, já que o envolvimento com o evento influência de forma significante a atitude do espectador (Figura 1). Figura 1 – Modelo do Estudo Fonte: Dos autores Análise de Agrupamentos Com base nas dimensões obtidas pela análise dos componentes principais, realizou-se uma análise de agrupamentos pelo método hierárquico com método de aglomeração de Ward e distância quadrática euclideana. Foram obtidos três grupos, conforme ilustra o Quadro 3. O primeiro grupo foi definido como indiferente e representa 32% da amostra. Esses espectadores não apresentaram envolvimento elevado com a Copa do Mundo e mostraram atitude indiferente em relação ao evento. O grupo 2 foi definido como pessimista, por apresentar escores desfavoráveis tanto em relação ao envolvimento quanto na atitude em relação à Copa. Esse grupo; entretanto, é o menor grupo com 13% dos casos. Finalmente, o grupo 3 foi definido como entusiasta. Representa o maior grupo (55% dos casos) e apresenta escores favoráveis em relação ao evento. É curioso que o escore médio do envolvimento para o grupo dos entusiastas foi de 5,87, menor que o escore obtido pela escala original de Meng-Lewis et al. (2013) para os espectadores chineses das Olímpiadas de Beijing (média=6,18). Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 126 Quadro 3. Segmentos de espectadores da Copa do Mundo Agrupamento atitude envolvimento Caracterização do Segmento 1 N 69 69 O segmento dos indiferentes apresenta média Indiferente Média 3.8986 4.1043 de atitude e envolvimento em torno do ponto Desvio- .64785 .62812 central da escala Likert. Esse grupo mostra-se pouco envolvido e, portanto apresenta atitude padrão 2 CV 17% 15% indiferente em relação à Copa N 29 29 O grupo dos pessimistas apresentou escores 2.0862 2.6345 desfavoráveis para as dimensões atitude e .60606 .68727 envolvimento. Isso indica que esse grupo Pessimistas Média Desvio- possui baixo envolvimento com o evento e por padrão CV 29% 26% conseguinte apresenta atitude desfavorável Trata-se do menor grupo. 3 N 120 120 O segmento dos entusiastas representa o maior Entusiastas Média 5.9375 5.8742 grupo de espectadores e apresenta médias Desvio- .77259 .70252 favoráveis tanto para o envolvimento quanto para a atitude em relação ao evento. Esse padrão CV 13% 12% grupo mostra-se entusiasmado e percebe a Copa do Mundo como um evento importante Fonte: Dados processados O gráfico 1 a seguir expõe a formação desses agrupamentos de acordo com seus escores em atitudes e envolvimento. Observa-se um tendência positiva entre os pontos, o que é coerente com os resultados obtidos na análise de regressão. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 127 Gráfico 1 – Agrupamentos formados de acordo com os escores de atitude e envolvimento Fonte: Dados processados Observa-se, assim, que a maior parte dos respondentes da amostra mostrou favorável à Copa do Mundo, todavia, há grupos representativos de usuário com percepção indiferente ou negativa sobre o evento. Testes de significância A amostra apresentou proporções semelhantes entre homens (50,7%) e mulheres (49,3%) e idade média de 39 anos (desvio-padrão de 11 anos, coeficiente de variação = 28%, máximo= 73 anos e mínimo = 13 anos). Para verificar se houve diferença de percepção entre os gêneros, aplicou-se o teste não-paramétrico de Mann-Whitney para duas amostras independentes e observou-se que não há diferença de envolvimento e atitude em relação à Copa para os gêneros. Isto é, ambos homens e mulheres possuem envolvimento (p-valor=507) e atitude (p-valor=0,789) semelhante em relação ao evento. Para a variável idade (métrica) realizou-se uma análise de correlação de Pearson, cujos resultados são expostos na Tabela 1. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 128 Tabela 1. Correlação de Pearson entre Idade, Atitude e Envolvimento Relação r-Pearson p-valor Idade – Atitude 0,026 0,690 Idade - Envolvimento - 0,037 0,591 Fonte: Dados do estudo Observa-se que as correlações entre a idade do respondente e os construtos do estudo não são significantes, ou seja, a atitude e o envolvimento com a Copa não estão relacionados com a idade, mas sim com outras variáveis não previstas no estudo. Considerações finais A Copa do Mundo no Brasil criou grande expectativa na sociedade; porém, observou-se na amostra em estudo que as atitudes em relação ao evento não foram uma unanimidade. Embora a maioria dos respondentes da amostra tenham se mostrado entusiastas do evento, observou-se um grupo menor de pessoas pessimistas, que consideram o evento desinteressante e irrelevante e um terceiro grupo de pessoas indiferentes. A análise de regressão mostrou que o envolvimento com o evento influência de forma significante e direta a atitude do espectador; portanto, é fundamental reforçar a relevância dos eventos esportivos e envolver o espectador no processo de organização e realização do evento para que sua atitude torne-se mais favorável. As variáveis demográficas idade e gênero não se mostraram significantes na definição da atitude e envolvimento com a Copa, isto é, atitude e envolvimento não diferem para diferentes faixas etárias e entre homens e mulheres. Desta forma, as ações de marketing e comunicação do evento devem ser mais efetivas se focalizarem nos diferenciais do evento e não em segmentos específicos de espectadores. O trabalho apresenta como contribuição científica a abordagem um tema ainda pouco explorado no Brasil, o comportamento do consumidor de esporte e relaciona os construtos atitude e envolvimento com o evento, construtos consolidados da área de marketing, mas ainda pouco explorados no marketing esportivo brasileiro. Adicionalmente, destacam-se como contribuições práticas do artigo o estudo do maior evento esportivo no Brasil nos últimos anos, o que permite compreender a percepção do espectador a seu respeito. Por conseguinte, ao compreender as atitudes do espectador e sua relação com o envolvimento com o evento, torna-se possível para as organizações Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 129 esportivas e patrocinadoras criarem novas estratégias segmentadas para grupos distintos da população, já que, de acordo com os estudos de Meng-Lewis et al. (2013, 2014), o envolvimento positivo com o evento eleva atitude não apenas em relação ao próprio evento, mas também em relação aos seus patrocinadores, que por conseguinte, influenciam positivamente a intenção de compra dos produtos esportivos patrocinados e a percepção sobre a imagem da empresa. Além disso, o entendimento dessas relações pode ajudar a traçar estratégias para se converter os pessimistas e indiferentes em fãs ou entusiastas do evento. Destaca-se também a possibilidade de se utilizar os construtos tratados no estudo como ferramenta de segmentação, complementando as mais tradicionalmente utilizadas, como por exemplo as variáveis demográficas. Nesse sentido, propõe-se como estudo futuro o estudo da relação entre atitude e envolvimento com outros construtos como patrocínio de eventos e animosidade em eventos brasileiros. Adicionalmente, propõe-se a replicação do modelo apresentado neste artigo a amostras obtidas em outros eventos do futebol, como por exemplo, Copa Libertadores da América, Campeonato Brasileiro etc., em eventos de outros esportes como basquete, volei e em grandes eventos, como Fórmula 1 e as Olímpiadas 2016. Como limitação do estudo destaca-se o uso de uma amostra não-probabilística por conveniência, que não permite generalizações dos resultados para o conjunto dos cidadãos brasileiros. Ademais, os métodos de coleta de dados (questionário online divulgado via Facebook e e-mail e coleta pessoal) representam também uma limitação à medida que o questionário online exclui da amostra os indivíduos que não usam a internet e, a coleta pessoal, realizada apenas no município de São Paulo – SP, não representa o conjunto dos cidadãos de outros municípios e estados brasileiros. Referências bibliográficas Ajzen, I., & Fishbein, M. (1973). 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Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 131 Um estudo sobre as Políticas Públicas no Esporte em relação a evasão dos atletas na Educação Superior Ricardo Antonio Torrado de Carvalho (Universidade Cidade de São Paulo) [email protected] Celia Maria Haas (Universidade Cidade de São Paulo) Resumo O objetivo deste artigo é refletir sobre evasão na educação superior a partir do estudo das políticas públicas no esporte que visam apoiar o acesso e a permanência dos atletas nos cursos superiores. Para tal pesquisa, foi realizado um levantamento bibliográfico, das pesquisas já realizadas sobre evasão na educação superior e sobre escolarização de atletas. Soma-se a este levantamento, uma consulta ao banco de dados do Ministério do Esporte para identificação das leis e das políticas públicas que tratam do apoio a Educação Superior dos atletas. Como resultado desta pesquisa, constatou-se que as políticas públicas no esporte existentes atuam por meio de apoio financeiro, no que se refere às condições de acesso e permanência dos atletas na Educação Superior. Palavras-chaves: Evasão na Educação Superior; Escolarização de atletas; Políticas Públicas no Esporte. Abstract The objective of this paper is to discuss dropout in higher education from the study of public policies aimed at supporting the sport's access and retention of athletes in university courses. For this research, a literature of previous studies on dropout in higher education and on education of athletes was conducted. Added to this survey, a query to the database of the Ministry of Sport to identify the laws and public policies that address the support of Higher Education of athletes. As a result of this research, it was found that existing public policy in sport work through financial support, regarding the conditions of access and retention of athletes in Higher Education. Keywords: Evasion in Higher Education; School athletes; Public Policy in Sport. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 132 Introdução A evasão dos atletas bolsistas de uma determinada Instituição de Educação Superior motivou a elaboração deste artigo que busca estudar as políticas públicas no esporte que visam apoiar o acesso e a permanência desse grupo de alunos nos estudos. De acordo com os registros acadêmicos disponibilizados pela Instituição, constatou-se que de vinte e cinco alunos-atletas bolsistas, matriculados no curso superior de Educação Física no ano de 2012, apenas dez deram continuidade aos estudos em 2013. Portanto, 60% desses alunos-atletas bolsistas evadiram do curso superior em que estavam matriculados. É importante ressaltar que este grupo de alunos é contemplado com descontos de 100% nas mensalidades, por meio do projeto Incentivo ao Atleta oferecido pela Instituição de Ensino que os atletas estão matriculados. Diante dessa problemática justifica-se a necessidade de pesquisas que aprofundem análises e questionem o quanto as leis e as políticas públicas existentes possibilitam a permanência dos atletas na escola e na educação superior. Verifica-se que nos últimos anos têm-se debatido a questão da escolarização dos atletas no Brasil, entretanto, sem aprofundar discussões acerca da legislação esportiva vigente e das políticas publicas que possam permitir que os atletas venham a conciliar as obrigações esportivas e os compromissos escolares ou universitários. Este artigo teve como metodologia de pesquisa um levantamento bibliográfico que permitiu uma discussão teórica acerca do tema evasão escolar e políticas públicas no esporte para a permanência dos atletas na educação superior. Tal levantamento foi realizado no banco de teses da capes e no portal do Ministério dos Esportes. Encontrados no banco de teses da capes, com o descritor “evasão escolar”, 2 teses de doutorado e 5 dissertações de mestrado. Com o descritor “escolarização de atletas”, foram listados 1 tese de doutorado e 1 dissertação de mestrado. No portal do Ministério dos Esportes, foram consultadas a Lei nº. 13.748, de 8 de outubro de 2009 que determina aos clubes de futebol que assegurem matrícula em instituição de ensino aos jogadores menores de 18(dezoito) anos a eles vinculados, a Lei nº 9.615, de 24 de março de 1998 que institui normas gerais sobre desporto, a Lei 12.395, de 16 de março de 2011 que institui normas gerais sobre desporto, a lei nº 10.891, de 9 de julho de 2004, que institui a Bolsa-Atleta e cria os Programas Atleta Pódio e Cidade Esportiva; revoga a Lei 6.354, de 2 de setembro de 1976 e dá outras providências. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 133 Assim, por meio deste levantamento, busca-se refletir sobre evasão na educação superior a partir do estudo das políticas públicas no esporte que visam apoiar o acesso e a permanência dos atletas nos cursos superiores. A evasão na educação superior Como a evasão é o problema central desta pesquisa, buscou-se apresentar o tratamento dado a temática pelos pesquisadores visando conhecer as conceituações relacionadas ao assunto. Minayo (2004, p. 20) afirma que os conceitos “servem para ordenar os objetos e os processos e fixar melhor o recorte do que deve ou não ser examinado e construído”. No contexto educacional, de acordo com Gaioso (2005, p. 37) “A evasão é um fenômeno social complexo, definido como interrupção no ciclo de estudos”. Além de ser conceituada como interrupção no ciclo de estudos, a evasão escolar também é tratada como fuga ou abandono, diante do fato do aluno não efetivar a re-matrícula no período posterior ao que ingressou na Instituição de ensino. A evasão escolar compreende, em linhas gerais, o abandono da escola durante o período letivo, ou seja, o aluno se matricula, inicia suas atividades escolares, porém, em seguida deixa de freqüentar a escola, por uma ou um conjunto de razões. Neste sentido, pode-se perceber que o termo evasão impõe uma marca para caracterizar o fenômeno de fuga. No caso, específico do ensino, tem-se a evasão marcada pela não (re)matrícula, o qual o aluno não inicializa o período letivo (REINERT e GONÇALVES, 2010, p. 3). Esta fuga ou abandono pode ocorrer no curso, mas não necessariamente na educação superior, e, para elucidar esta afirmação, apresentam-se as sistematizações da Comissão Especial da Evasão (MEC, 1996), segundo as quais há distinção entre evasão de curso – saída do curso sem concluí-lo e a evasão do sistema – abandono do aluno do ensino superior. Cardoso (2008, p. 27), evidencia “a evasão aparente e a evasão real, sendo a primeira a mobilidade de um curso para outro, e a segunda, a desistência do aluno em cursar a educação superior”. Diante das duas afirmações anteriores, podemos perceber que a evasão aparente relaciona-se a fuga de um curso para outro, enquanto a evasão real refere-se ao abandono do sistema educacional. A evasão também pode ser quantificada em anual ou total conforme Silva Filho (2007, p. 44, grifo do autor) que define “dois aspectos similares, mas não idênticos: evasão anual, que verifica a Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 134 diferença entre alunos matriculados de um ano para o outro, e a evasão total, ao comparar o número de alunos matriculados com o número final de alunos concluintes do curso”. Alguns motivos são determinantes para que ocorra esta evasão, seja ela anual, total, aparente ou real. Gaioso (2005) apresenta uma ampla reflexão sobre a evasão e suas diversas causas, a partir da visão do aluno, em pesquisa realizada em uma IES no período de 2000 a 2003. Nesta obra, são apontados problemas como a falta de orientação vocacional, imaturidade do estudante, reprovações sucessivas, dificuldades financeiras, falta de perspectiva de trabalho, ausência de laços afetivos na universidade, ingresso na faculdade por imposição familiar, casamentos não planejados e nascimento de filhos. De acordo com Braga (2003, p. 22) “a evasão resulta da decisão do aluno ou de uma combinação de fatores sociais, econômicos e pessoais, quer seja a necessidade precoce de ingresso do aluno no mercado de trabalho, ou as dificuldades encontradas em razão das condições desfavoráveis de currículo escolar, professores e organização da escola”. Braga (2003) apresenta um conjunto de fatores, que acabam por contribuir na decisão do aluno em abandonar ou desistir dos seus estudos. Gisi (2006) é pontual ao citar o fator social e econômico como principal motivo da evasão. É difícil a permanência no ensino superior para os alunos de setores sociais menos favorecidos, não só pela falta de recursos para pagar as mensalidades, mas também pela falta de aquisição de “capital cultural” ao longo da trajetória de sua vida e de seus estudos, o que não se obtém de um momento para o outro. Essa desigualdade cultural é sentida desde a educação básica, quando a maioria dos alunos inicia seus estudos em desvantagem a outros, em virtude da ausência de oportunidades que tiveram em relação ao acesso a conhecimentos diversos, desde a mais tenra idade (Gisi, 2006, p. 16). As condições intelectuais citadas por Gisi (2006) são questionadas por Rodrigues (2006) que observa haver, na dificuldade financeira ou na impossibilidade material como citado abaixo, o principal motivo para permanência nos estudos. Deve-se considerar a situação financeira de grande parte daqueles que contemporaneamente tem acesso ao ensino superior, estudantes com renda de um a três salários mínimos. Esses estudantes possuem, de uma lado, o direito de acesso à educação superior e, de outro, a impossibilidade de o exercerem em tempo integral e até mesmo de cursar, a cada ano ou semestre, todas as disciplinas de uma mesma fase ou período. Sua permanência no sistema por um prazo longo deriva não da sua simples vontade ou ausência de condições intelectuais, mas sim de uma impossibilidade material: precisam viver com o pouco que ganham, sendo Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 135 o curso superior “levado” dentro das possibilidades de um orçamento extremamente limitado. Desligá-los do sistema, por decurso de prazo, não possui qualquer sentido (RODRIGUES, 2006, p. 2001). A questão financeira não influencia apenas na permanência, mas também no próprio acesso conforme Zago (2006, p. 34) onde afirma que “determinados estudos indicam que 25% dos potenciais alunos são carentes e não têm condições de ingressar no ensino superior, ainda que este seja gratuito”. Uma questão importante a ser elucidada é o fato de se minimizar freqüentemente as razões da evasão, apontando em geral a falta de recursos financeiros do aluno como a principal causa para a interrupção de seus estudos. É importante que se priorize também a compreensão das questões de ordem acadêmica, como as expectativas do aluno em relação ao curso ou à instituição que podem encorajá-lo ou desestimulá-lo a priorizar a conclusão do seu curso. Acreditava-se muito que a questão financeira era a vilã da história, mas percebemos em vários estudos que há várias outras razões. A principal delas talvez seja o desístimulo com o curso ou a falta de conhecimento prévio sobre a carreira escolhida no vestibular. Se o ensino for de qualidade e houver bons professores, no entanto, ele (o aluno) fará de tudo para continuar estudando (Gois, 2006, p. 17). Corroborando com esta afirmação, Pereira (2003, p. 24) afirma que “o estudo da evasão está associado à discussão da qualidade de ensino, destacando que esta provoca, em alguns casos, a perda definitiva do aluno”. Segundo o autor, para que haja avanço é necessária uma avaliação institucional, mas adverte que essa atividade ainda está muito associada aos campos de currículos dos cursos e do desempenho dos docentes e discentes. A qualidade do ensino também é criticada por Gisi (2006, p. 13), ao afirmar que: “A raiz do problema está na sociedade que se divide entre os que têm capital econômico, social e cultural e os que não têm. Estes, a grande maioria dos jovens, é que deveria ter a oportunidade de freqüentar as melhores escolas e a melhor educação para suprir as defasagens existentes. Verifica-se que muitas instituições privadas não possuem nem mesmo bibliotecas adequadas, o que prejudica a aprendizagem e torna necessários gastos com livros e reprodução do material bibliográfico”. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 136 Problemas estruturais também são citados por Moisés Filho (2006, p. 19) que afirma que “a evasão é indicativa de falhas no processo de ensino e ineficácia do serviço prestado, além de um aumento nos gastos financeiros, pois a mesma estrutura acadêmica que deveria atender determinado grupo inicial estaria sendo destinada a um quantitativo menor de alunos”. Outro fator que contribui para a evasão escolar, apontado por pesquisadores do campo de políticas públicas em educação, é a complexidade em conciliar as obrigações profissionais e as atividades escolares. Este fator parece nas pesquisas de Gaioso (2005) e Gisi (2006). Tais autores identificaram que o desligamento dos cursos também ocorre nas instituições públicas, de forma indireta, como por exemplo, pela incompatibilidade entre horário de estudo e trabalho. Sobre esta incompatibilidade, Cavalcante (2008, p. 105) afirma que: “As dificuldades que estudantes trabalhadores, sujeitos de sua pesquisa, enfrentaram para freqüentar uma sala de aula nos cursos superior são diversas. “Dos 100% dos estudantes pesquisados, 5,6% alegam problemas financeiros, 11,3% alegam compromissos familiares ou trabalho e 25,3% afirmam ter problemas com distância e deslocamento até a Instituição”. Observa-se nestes dados que o fator distância é de grande relevância para a presente pesquisa, sobretudo considerando que grande parte dos atletas reside, treinam e estudam em locais distintos um dos outros. Para Zago (2006, p. 233), “como um pé-de-meia1para os primeiros tempos na universidade, os jovens dão inicio a seus estudos de nível superior sem ter certeza de até quando poderão manter sua condição de universitários. Para viabilizá-la, tenta obter uma renda mediante alguma forma de trabalho em tempo completo ou parcial”. Complementa a autora: A concomitância trabalho-estudo no ensino superior não é uma realidade só dos países em desenvolvimento e não se reduz aos filhos de famílias com renda modesta. Esse dado é, no entanto, muito genérico, pois, como já foi observado, há variações entre os incluídos na categoria estudante. Em relação ao trabalho, cabe enumerar o tipo de atividade, a carga horária, a proximidade ou não com o curso, o resultado financeiro, entre outras variáveis (ZAGO, 2006, p. 234). 1 Reserva financeira popularmente conhecida como pé-de-meia. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 137 A relação trabalho-escola também é citada por Hotza (2000) que verificou que a concentração de abandono nas primeiras fases poderia ser justificada pela decepção com as expectativas positivas e com a possibilidade de exercer a carreira escolhida. Essas possibilidades de atuação profissional são importantes também porque, de acordo com Oliveira e Bittar (2010, p. 25), “muitos alunos esperam que o estudo possa melhorar suas condições de vida”. As pesquisas sobre evasão escolar têm uma importância social e acabam por contribuir para que se evitem desperdício financeiro dos programas existentes, tais como Pro Uni, Escola da Família, entre outros. A evasão na educação superior brasileira, do ponto de vista macroscópico, guarda alguma correlação, embora não muito significativa, com fatores socioeconômicos. Não é possível afirmar que a situação da evasão brasileira é pior, ou melhor, do que a média dos índices internacionais, que variam muito de país para país. Entretanto, há a necessidade de realizar estudos sistemáticos com vistas a reduzir as taxas de evasão e evitar os desperdícios, tanto do ponto de vista social quanto do financeiro (LOBO, 2007, p. 659). Após apresentar os possíveis motivos para a evasão do sistema educacional, mostra-se importante desvelar as particularidades dos atletas em relação aos seus compromissos escolares. Assim, procura-se compreender o processo de acesso e permanência escolar desse grupo de alunos. A escolarização dos atletas O termo escolarização utilizado neste texto refere-se à função da escola no processo de formação do cidadão, em seu aspecto cultural, social e acadêmico. Neste contexto, os estudos sobre escolarização de atletas apontam para dificuldades deste grupo de alunos em conciliar as obrigações esportivas exigidas pelos clubes com as responsabilidades escolares exigidas pelas Instituições de Educação. A carreira do esportista é muito específica se comparada às outras carreirasconvencionais. Sua aposentadoria em média é muito precoce, com aproximadamente trinta e cinco anos. Desde o início da carreira, o jovem atleta participa de árduos treinamentos nos clubes, realiza repetições de movimentos e submete-se a trabalhos físicos extenuantes (DAMO, 2007, p.43). Alguns clubes brasileiros mantêm unidades escolares dentro de suas dependências. Do ponto de vista prático, elimina-se o problema de locomoção. Entretanto, segundo Marques e Samulski (2009, p. 37), “um aspecto limitador da escola instalada dentro do clube é a diversificação dos círculos Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 138 sociais, pois ao freqüentarem uma escola regular, os atletas têm contato com outros jovens não envolvidos com o esporte, possibilitando novas amizades”. O fato de o esporte ter-se tornado uma atividade econômica, e não apenas entretenimento físico lúdico, também altera a maneira de a sociedade valorizar o segmento. Devido a essa valorização do esporte e mais especificamente do futebol no Brasil, muitos jovens decidem ingressar desde a mais tenra idade nas mais variadas modalidades esportivas com o fim de praticar uma atividade física, mas principalmente de se profissionalizar e alcançar a posição de destaque de seus ídolos, evidenciando que no Brasil o esporte é muitas vezes encarado como uma promessa profissional (EPIPHANIO, 2002, p. 16). Com jogadores bem pagos e de grande ascensão social, o imaginário coletivo passa a associar o atleta a um profissional de sucesso, o que estimula muitos jovens a traçar seu plano de vida como jogador e, com isso, diminuir o interesse pela escola. Segundo Damo (2005, p.23), “a busca por essa profissionalização pode começar antes mesmo dos 12 anos de idade e implica aproximadamente cinco mil horas de prática de atividades corporais específicas ao longo de 10 anos. A ilusão de uma rápida ascensão social por meio do esporte faz com que muitos abandonem a escola”. A educação no meio esportivo foi tema da 8ª BIENAL da UNE (União Nacional dos Estudantes), em 2013. O encontro discutiu o desporto universitário brasileiro e suas necessidades atuais. Segundo Vasconcelos (2013) é preciso desmistificar a cultura de que o atleta precisa optar entre treinar ou estudar, e que um maior incentivo ao ensino a distância é uma das opções para minimizar esse conflito2. Neste contexto, onde se procura ações para conciliar treinos, competições e estudos, a Universidade do Porto (Portugal) elaborou um estatuto específico para estudantes-atletas no qual reconhece que a excelência de resultados desportivos tem permitido a muitos desses estudantes representarem a Universidade do Porto em diversos campeonatos europeus e integrar a lista de atletas que representem Portugal nos jogos da Universíade3. Diretor da Associação Nacional dos Pós-Graduandos (ANPG), depoimento dado no evento “A Educação no meio esportivo” realizado pela UNE. Acessado em: 09/12/2013. Disponível em <http://www.une.org.br/2013/01/lugar-deatleta-e-na-universidade/ 2 3 Evento multidesportivo internacional, organizado para atletas universitários pela Federação Internacional do Desporto Universitário (FISU). Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 139 Dentre deveres e direitos previstos no estatuto, mencionem-se: a) direito a abono de faltas às aulas motivadas pela participação em treinos e competições representando a universidade no âmbito do desporto no ensino superior; b) direito a adiar a apresentação de trabalhos e relatórios escritos, sempre que haja coincidência com competição em que representa a universidade; c) direito a realizar, em data a combinar com o docente, os testes escritos a que não tenha podido comparecer devido à sua participação em competição, em representação da Universíade; d) dever de executar a prática desportiva de forma exemplar, na total observância das regras desportivas e éticas de cada modalidade e dentro dos princípios do fair-play; e) dever de apresentar bom aproveitamento escolar. No que se refere ao desenvolvimento esportivo por meio da própria Instituição de Educação, os Estados Unidos da América estão entre os que mais investem no esporte universitário e oferecem ao atleta de terceiro grau uma carreira atraente do ponto de vista esportivo e educacional. Importa observar que o sistema esportivo norte-americano é muito diferente do brasileiro. Os atletas norte-americanos só se profissionalizam depois de concluídos os estudos deeducação básica ou superior cabendo às escolas, não aos clubes, suprir a base do desporto. As escolas e faculdades norte-americanas têm excelentes estruturas esportivas, e os campeonatos estudantis são acompanhados e divulgados pela mídia sistematicamente, o que elimina o dilema do atleta talentoso em escolher a escola ou o clube, visto que aquela oferece condições esportivas de alta qualidade4. Dentro deste contexto, analisamos a seguir quais as políticas públicas implementadas e o que diz a legislação brasileira acerca das condições de escolarização dos atletas e permanência dos mesmos nas escolas ou universidades. 4 O esporte universitário no país é organizado em sua maioria pela National Collegiate Athletic Association, uma associação criada em 1906 com aproximadamente 1200 universidades inscritas, é a NCAA que organiza os campeonatos nacionais das mais variadas modalidades entre esportes individuais e em equipes. Atualmente vários campeonatos são exibidos na televisão, sendo os principais os de futebol americano e basquetebol, apesar da grande quantidade de renda que esses torneios geram, por lei os esportes universitários não podem ser profissionais, ou seja, os jogadores não podem receber salários nem firmar contratos com os clubes. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 140 A Legislação Esportiva Brasileira quanto à escolarização dos atletas A Lei nº 9.615, de 1998, que institui normas gerais sobre desporto e dá outras providências – a Lei Pelé – não beneficia alunos matriculados em instituições de ensino. O benefício é concedido somente a “atleta servidor público civil ou militar, da Administração Pública direta, indireta, autárquica ou fundacional, convocado para integrar representação nacional em treinamento ou competição desportiva no País ou no exterior”, conforme dispõe o art. 84, transcrito em seguida: Art. 84. Será considerado como efetivo exercício, para todos os efeitos legais, o período em que o atleta servidor público civil ou militar, da Administração Pública direta, indireta, autárquica ou fundacional, estiver convocado para integrar representação nacional em treinamento ou competição desportiva no País ou no exterior. (Redação dada pela Lei nº 9.981, de 2000). § 1º O período de convocação será definido pela entidade nacional da administração da respectiva modalidade desportiva, cabendo a esta ou aos Comitês Olímpico ou Paraolímpico Brasileiros fazer a devida comunicação e solicitar ao INDESP a competente liberação do afastamento do atleta ou dirigente. (Redação dada pela Lei nº 9.981, de 2000). § 2º O disposto neste artigo aplica-se, também, aos profissionais especializados e dirigentes, quando indispensáveis à composição da delegação. Não há, portanto no artigo 84, a previsão de abono de faltas ou exercícios domiciliares para o estudante-atleta. Entretanto, o artigo 29 da referida lei atribui às instituições esportivas formadoras a responsabilidade de garantir a matrícula do jovem na escola, ajustar o tempo de treinamento aos horários do currículo escolar e exigir sua freqüência e aproveitamento satisfatório. No artigo 85, indica-se ainda que os sistemas de ensino, em suas diferentes esferas, definirão normas específicas para verificação do rendimento e o controle de freqüência dos estudantes que integrarem representação desportiva nacional, de forma a harmonizar a atividade desportiva com os interesses relacionados ao aproveitamento e à promoção escolar (Brasil, 1998). Já no âmbito estadual, a Lei nº 13.748, de 8 de outubro de 2009 atribui, aos clubes de futebol oficiais do Estado de São Paulo a responsabilidade pela escolarização de seus atletas, conforme dispõe o art. 1, transcrito em seguida: Art.1º - Os clubes de futebol oficiais do Estado devem assegurar que estejam matriculados em instituição de ensino, pública ou particular, todos os jogadores menores de 18 (dezoito) anos com os quais possuam qualquer forma de vínculo, zelando pela sua frequência e aproveitamento escolar. Parágrafo único - Consideram-se clubes oficiais as associações devidamente registradas e reconhecidas pela Federação Paulista de Futebol. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 141 Art. 2º - O descumprimento da obrigação do artigo anterior acarretará a aplicação das penalidades de multa e de impedimento de participação em torneios e competições oficiais. § 2º - A não entrega dos comprovantes de matrícula e freqüência escolar dos jogadores menores de 18 (dezoito) anos, pelos clubes oficiais, à Federação Paulista de Futebol presumirá o descumprimento desta lei, acarretando a aplicação das penalidades. Portanto, de acordo com a leitura das leis acima citadas, podemos considerar que os clubes são responsáveis por assegurar a matricular escolar de seus atletas, bem como zelar pela freqüência e rendimento satisfatório dos mesmos. Em nível superior, percebe-se que as Instituições de Educação Superior possuem autonomia para criar regras e normas aos seus atletas bolsistas quanto ao rendimento e freqüência dos mesmos nas atividades acadêmicas. Assim, a Instituição poderá traçar ações para que o atleta bolsista concilie suas atividades esportivas e acadêmicas. Além deste apoio, há também o benefício financeiro assegurado por programas do governo federal como o Bolsa-Atleta (BRASIL, Lei 10.891, de 09 de julho de 2004). Uma das categorias apresentadas neste programa é a Estudantil, destinada aos atletas que participam de eventos nacionais estudantis, reconhecidos pelo Ministério do Esporte, e obtêm até a 3ª (terceira) colocação nas modalidades individuais ou que são selecionados entre os 24 (vinte quatro) melhores atletas das modalidades coletivas dos referidos eventos e que continuem a treinar para futuras competições nacionais. Para pleitear a concessão da bolsa-atleta estudantil, precisa o atleta estar regularmente matriculado em uma instituição de ensino pública ou privada. O valor do benefício é de R$ 300 mensais (trezentos reais) 5. Os atletas que já receberem o benefício e conquistarem medalhas nos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos serão automaticamente indicados para renovação da bolsa. Percebemos neste programa que o incentivo é financeiro, mas as exigências para obter tal benefício tendem a afastar o atleta de outros compromissos, incluindo os educacionais. Participar de eventos esportivos, ficar entre os primeiros, exige do jovem atleta uma dedicação quase exclusiva a treinamentos e jogos, que o afasta da Instituição de Ensino ou compromete totalmente seu rendimento escolar. Outra lei (BRASIL, Lei 12.395, de 16 de março de 2011) cria os Programas Atleta Pódio e Cidade Esportiva, que igualmente procuram apoiar a educação dos atletas vinculando o clube 5 Explicações sobre a categoria Estudantil do Programa Bolsa Atleta do Governo Brasileiro, acessado em 25/08/2013. Disponível em <http://www.caixa.gov.br/Voce/social/beneficios/bolsa_atleta/index.asp> Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 142 formador a prestar-lhes assistência educacional. De acordo com o inciso 1 do art. 29, será considerada formadora de atleta a entidade de prática desportiva que: a) forneça aos atletas programas de treinamento nas categorias de base e complementação educacional; b) garanta assistência educacional, psicológica, médica e odontológica, assim como alimentação, transporte e convivência familiar; c) ajuste o tempo destinado à efetiva atividade de formação do atleta, não superior a 4 (quatro) horas por dia, aos horários do currículo escolar ou de curso profissionalizante, além de propiciar-lhe a matrícula escolar, com exigência de frequência e satisfatório aproveitamento. d) garantir que o período de seleção não coincida com os horários escolares. Observamos neste programa a intencionalidade de atribuir ao clube a responsabilidade de garantir o acesso à educação, bem como acompanhar o rendimento escolar de seus atletas. Entretanto, este apoio se aplica apenas na fase escolar do atleta, uma garantia até dos 16 anos de idade, não tendo utilidade ou uso na Educação Superior. Considerações Finais Como resultado desta primeira abordagem, constatou-se que as políticas públicas no esporte existentes atuam por meio de apoio financeiro, no que se refere às condições de acesso e permanência dos atletas na Educação Superior. As mesmas também atribuem aos clubes a responsabilidade de zelar pela matrícula, freqüência e rendimento escolar, bem como concede autonomia as Instituições de Educação Superior em criar regras e normas aos seus atletas bolsistas quanto ao rendimento e freqüência dos mesmos nas atividades acadêmicas. Referências bibligráficas BITTAR, Mariluce; ALMEIDA, Carina E. Maciel de; VELOSO, Teresa Christina M. Aguiar. Ensino noturno nas políticas de educação superior: estratégia de acesso para o estudante trabalhador. In: CHAVES, Vera Lucia Jacob; SILVA JR, João dos Reis ( Orgs.). 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Altera as Leis 9.615, de 24 de março de 1998, que institui normas gerais sobre desporto, e 10.891, de 9 de julho de 2004, que institui a Bolsa-Atleta; cria os Programas Atleta Pódio e Cidade Esportiva; revoga a Lei 6.354, de 2 de setembro de 1976 e dá outras providências. Legislação Federal. sítio eletrônico internet - planalto.gov.br CAVALCANTE, Maria Ceide L. P. Políticas de educação superior: acesso e permanência de estudantes trabalhadores dos cursos noturnos. Campo Grande, 2008. 131 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Católica Dom Bosco. 2008. DAMO, Arlei Sander. Do Dom à Profissão: formação de futebolistas no Brasil e na França. São Paulo: Aderaldo e Rothschild Editora, Anpocs, 2007. EPIPHANIO, E. H. Conflitos vivenciados por atletas quanto à manutenção da prática esportiva de alto rendimento. Estudos em psicologia, 19, 15-22, 2002. GAIOSO, N. P. L. O fenômeno da evasão escolar na educação superior no Brasil. Universidade Católica de Brasília, 2005. 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Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 146 Dificuldades e desafios da atuação de gestores esportivos Alfredo Ribeiro Cárdenas (Universidade do Estado de Santa Catarina) [email protected] Simone Ghisi Feuerschütte (Universidade do Estado de Santa Catarina) Paula da Rosa Wernke (Universidade do Estado de Santa Catarina) Ricardo de Almeida Pimenta (Universidade do Estado de Santa Catarina) Resumo Este estudo teve como objetivo identificar dificuldades e desafios da atuação profissional de gestores esportivos. Foram realizadas entrevistas com dez gestores de variadas organizações esportivas, da região da grande Florianópolis, sul do Brasil. Os resultados demonstram que: a ausência de experiência; a falta de determinados conhecimentos; o acúmulo de funções; o relacionamento com pessoas; e a captação de recursos (humanos e financeiros) para a organização são alguns dos principais desafios/dificuldades da atuação dos gestores esportivos investigados. Conclui-se que a compreensão sobre esses e outros aspectos da atuação de gestores esportivos pode contribuir para um melhor entendimento das necessidades desses profissionais e, colaborar para a clamada melhoria da formação e qualificação de gestores do esporte no contexto brasileiro Palavras-chave: Gestão do Esporte; Gestores Esportivos; Atuação de Gestores. Abstract This study aimed to identify difficulties and challenges of professional action of sport managers. Interviews with ten managers of various sports organizations, from Florianopolis, south of Brazil, were made. The results show that: the absence of experience; the lack of specific knowledge; accumulation functions; relationships with people; and the capture of resources (human and financial) to the organization are some of the main challenges / difficulties of the action of sport managers investigated. It is concluded that an understanding of these and other aspects of the action of sport managers can contribute to a better understanding of the needs of these professionals and contribute Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 147 to the necessary improvement of the training and qualification of sport managers in the Brazilian context. Keywords: Sport management; Sports managers; Practice Managers. Introdução Atualmente, a gestão do esporte tem sido foco de crescente interesse, tanto da comunidade acadêmica como da sociedade em geral, devido a fatores diversos como, por exemplo, a realização dos megaeventos que o Brasil sedia nesta década. Não obstante a esse panorama – e embora se observe evolução da área, principalmente no âmbito das pesquisas e estudos desenvolvidos sobre o contexto brasileiro –, observa-se, ainda, um espaço em potencial para a produção de conhecimento aplicado ao campo da gestão esporte no país e igualmente para a evolução da área de atuação/intervenção profissional. A gestão do esporte, como área de intervenção profissional – onde atuam os gestores esportivos – acontece dentro de organizações/estruturas administrativas, cujo fim está relacionado ao desenvolvimento de serviços voltados às atividades físicas, esportivas e de lazer (Bastos, 2003; Vieira & Stucchi, 2007). No entanto, em se tratando da condução administrativa dessas organizações – em termos da gestão realizada – estudiosos e especialistas da área convergem na opinião de que, muitas vezes, essa administração é exercida de forma amadora, não profissional, intuitiva e ineficiente, em grande parte das organizações brasileiras (Capinussú, 2002; Azevêdo; Barros & Suaiden, 2004; Bastos et al., 2006; Maciel, 2009; Maroni; Mendes & Bastos, 2010, Bastos & Mazzei, 2012). Deste modo, questiona-se sobre a efetividade da atuação de gestores esportivos e, consequentemente, sobre o impacto da gestão no desenvolvimento esportivo alcançado pelas instituições. Destaque tem sido dado à necessidade de profissionalização da gestão do esporte no país (Capinussú, 2002; Bastos, 2003; Costa & Marinho 2005; Valente & Serafim, 2006; Vieira & Stucchi, 2007; Azevedo, 2009; Ferraz et al., 2010; Bastos & Mazzei, 2012), existindo um esforço em demonstrar a necessidade de aprimoramento da qualificação dos atuais gestores do esporte, e, concomitantemente, dos próprios processos de formação dos futuros profissionais que atuarão neste campo. Em se tratando da intervenção profissional, pesquisas têm sido desenvolvidas e publicações têm buscado evidenciar especificidades dos diferentes segmentos/setores esportivos (Mazzei & Bastos, 2012), Entretanto, devido à diversidade de contextos esportivos existentes, de objetos de Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 148 estudo passiveis de investigação, e considerando, ainda, as particularidades das distintas regiões do país, é cabível considerar a necessidade de desenvolver estudos em maior volume e profundidade. Diante deste cenário, uma compreensão aprofundada das diversas realidades de intervenção e dos diferentes aspectos relacionados à atuação de gestores esportivos brasileiros – entre esses aspectos, as dificuldades enfrentadas no cotidiano e os desafios da atuação profissional – podem contribuir para uma melhor compreensão das necessidades profissionais e de preparação destes indivíduos. Ao mesmo tempo pode colaborar para a clamada melhoria da formação e qualificação de gestores esportivos brasileiros. Então, alinhado aos entendimentos e argumentos concatenados até aqui, e considerando que a atuação profissional é um objeto de estudo passível de ser investigado sob a luz de distintas perspectivas, este artigo teve como objetivo identificar dificuldades e desafios da atuação profissional de gestores esportivos. Frente ao objetivo proposto, o artigo está estruturado, além desta introdução, da seguinte forma: a segunda seção apresenta a fundamentação teórica que dá suporte à construção da investigação; a terceira seção expõe os procedimentos metodológicos empregados na pesquisa empírica; a seção quatro apresenta os resultados da pesquisa e; por fim são apresentadas as considerações finais sobre o estudo realizado e as referências utilizadas. Fundamentação teórica Gestão do esporte A gestão do esporte é compreendida como uma área profissional na qual atuam os gestores esportivos. Apesar de estar recebendo maior atenção acadêmica e social nos últimos tempos, existe ainda, conforme alegam Rocha e Bastos (2011), grande desentendimento sobre vários aspectos e conceituações fundamentais da área. Na literatura acadêmica, entendimentos distintos sobre o tema começam a partir das terminologias utilizadas para referenciar a área. Gestão esportiva, gestão desportiva, administração desportiva, gestão de organizações/entidades/instituições esportivas, são termos comumente utilizados nas publicações científicas. Para Bastos e Mazzei (2012) gestão do esporte é vista como a terminologia mais apropriada e atual para referir-se ao tema. Internacionalmente, sport management e sport administration são as expressões comumente utilizadas. A despeito da diversidade conceitual apontada sobre a gestão do esporte, há convergência entre os estudiosos quanto à confluência entre os princípios e fundamentos da Administração à Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 149 realidade dos esportes e das organizações esportivas. Sob este prisma, Rocha e Bastos (2011. p.94) afirmam que a gestão do esporte pode ser entendida, basicamente, como a “aplicação dos princípios de gestão a organizações esportivas”. Além desta conexão entre os princípios da Administração e o contexto esportivo, a gestão do esporte conflui outros saberes como os da Sociologia, da Psicologia e do Direito, fazendo com que seja compreendida como um campo de conhecimento e de intervenção multidisciplinar (PIRES; SARMENTO, 2001; BASTOS, 2003; FERRAZ, et al., 2010; BASTOS; MAZZEI, 2012). No contexto brasileiro, diferentemente de outros países, o enquadramento conceitual da área não está ainda bem estabelecido, existindo divergência entre estudiosos que consideram a gestão do esporte como um campo dependente de outras áreas, e autores que a compreendem como uma área de estudos independente, que possuiria literatura, teorias e práticas próprias. Em países da Europa, da Ásia e nos EUA a gestão esportiva é considerada uma área de formação específica, inclusive com cursos de graduação e pós-graduação stricto sensu desenvolvidos exclusivamente para a formação de profissionais que desejam atuar na gestão do esporte (BASTOS; MAZZEI, 2012). Em termos de intervenção profissional, a gestão de organizações esportivas ocorre desde a criação das primeiras entidades de prática e organização do esporte no Brasil – clubes, associações, federações, confederações. Todavia, a gestão dessas organizações tem sido considerada por estudiosos e especialistas da área como amadora e ineficiente (AZEVÊDO; BARROS; SUAIDEN, 2004; AZEVÊDO; BARROS, 2004; BASTOS et al, 2006; MACIEL, 2009; MARONI; MENDES; BASTOS, 2010). Tal avaliação pode estar relacionada, dentre outros fatores, à qualificação dos gestores e, ao mesmo tempo, à sua formação (ou a falta dela) para atuar no âmbito da gestão do esporte (CAPINUSSÚ, 2002; BASTOS, 2003; COSTA; MARINHO 2005; VALENTE; SERAFIM, 2006; VIEIRA; STUCCHI, 2007; AZEVEDO, 2009; FERRAZ et al, 2010). A atuação do gestor esportivo O profissional que desempenha funções como gestor esportivo ou gestor do esporte atua, basicamente, em organizações/estruturas administrativas que promovam ou ofereçam serviços voltados à atividade física, esportiva, recreativa, de lazer e tenha como objetivo o desenvolvimento e a manutenção das mesmas (BASTOS, 2003; VIEIRA; STUCCHI, 2007). Algumas possibilidades de atuação desse profissional são os clubes, academias de ginástica, ligas, federações, confederações, instituições de administração pública e empresas privadas, com ou sem fins lucrativos. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 150 Dentro de tais instituições os profissionais podem assumir diferentes cargos, como de diretores, gerentes, gestores de eventos, de produto e de recursos humanos, da área de marketing, consultores e até investigadores (Pires & Sarmento, 2001; Vieira & Stucchi,2007; Ferraz et. al. 2010; Rocha & Bastos, 2011). Considera-se gestor esportivo o indivíduo que desenvolve atividades administrativas em organizações esportivas, independentemente, segundo Bastos e Mazzei (2012), se está situado hierarquicamente no vértice estratégico (presidência) ou no nível intermediário da estrutura organizacional (gerência, supervisão, direção, etc.). Para Hatzidakis (2012) também não importa se o indivíduo é remunerado ou não pela atividade que desenvolve. O gestor esportivo é, portanto, aquele que administra/gere organizações esportivas. Pesquisas sobre o perfil do gestor esportivo brasileiro têm encontrado profissionais com variadas formações. Embora existam profissionais com variadas formações – e alguns sem formação superior alguma –, os estudos apontam uma predominância de gestores formados nas áreas da Educação Física/Esportes (predominantemente) e na Administração (Azevêdo & Barros, 2004; Sarmento, 2005; Bastos et. al., 2006; Maciel, 2009; Maroni; Mendes & Bastos, 2010). Conforme pesquisa de Cárdenas (2013), a atuação de gestores esportivos está, habitualmente, fundamentada em dez principais atividades e responsabilidades, quais sejam: (1) uma responsabilidade geral pela organização esportiva e atividades relacionadas à mesma; (2) manutenção e melhoria dos processos organizacionais e da estrutura física que a organização dispõe; (3) planejamento organizacional; (4) gestão financeira; (5) captação de recursos; (6) gestão de marketing; (7) relacionamento com o público-alvo e outros stakeholders da organização; (8) lidar com pessoas, gerir pessoas; (9) avaliar, corrigir e solucionar problemas e; (10) organização de eventos esportivos. Ao que pode ser observado, a atuação do gestor esportivo está associada a uma variedade de aspectos, especialmente em relação às características e demandas do contexto esportivo no qual está inserido, além da posição hierárquica que ocupa dentro da organização esportiva. Muitas vezes a atuação de gestores esportivos pode ser semelhante a do administrador de empresas não-esportivas – no desenvolvendo atividades nas áreas financeira, de recursos humanos, marketing, planejamento estratégico, por exemplo –; outras vezes, conforme a especificidade do contexto esportivo, o gestor pode atuar no desenvolvimento de atividades como gestão de eventos e competições esportivas, instalações e programas para a prática de esportes e captação de patrocínios (Horch & Schutte, 2003; Bastos & Mazzei, 2012). Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 151 Procedimentos metodológicos O estudo é caracterizado como descritivo de abordagem qualitativa (Creswell, 2010; Richardson et al., 2007; Gil, 2008), o qual buscou identificar dificuldades e desafios da atuação profissional de gestores esportivos. Para tanto, utilizou-se como estratégia de pesquisa a realização de entrevistas em profundidade, com gestores esportivos – dos níveis estratégico e tático – de variados contextos esportivos (clube, federação, academia...). Considerando-se a importância de contemplar diferentes realidades da gestão do esporte, estabeleceu-se que 10 indivíduos – adiante descritos – integrariam o grupo de sujeitos da investigação. Utilizando-se, ainda, de critérios como acessibilidade aos sujeitos e conveniência do pesquisador, delimitou-se que a investigação seria realizada com indivíduos atuantes em organizações esportivas da região da grande Florianópolis, Santa Catarina, Sul do Brasil. Após contatos, por e-mails, entre os pesquisadores e os sujeitos selecionados, as entrevistas foram agendadas e realizadas em locais escolhidos pelos entrevistados e convenientes as suas agendas de compromissos. As entrevistas foram realizadas por um dos autores deste estudo – que possuía experiência na condução de investigações científicas. Utilizou-se de um roteiro semiestruturado de perguntas composto por aproximadamente sete indagações, as quais buscaram captar, fundamentalmente, as principais dificuldades, desafios, pontos críticos enfrentados na gestão das organizações esportivas. As entrevistas tiveram duração média de trinta minutos. Com o consentimento dos entrevistados foram gravadas em áudio e, posteriormente, transcritas. O resultado das transcrições foi submetido à análise de conteúdo, segundo as recomendações de Bardin (2004), nomeadamente a organização da análise, a codificação e a categorização. Apresentação dos resultados Os resultados do estudo estão apresentados em duas partes principais: a primeira faz uma breve caracterização dos gestores esportivos entrevistados e das organizações em que atuam; em seguida são apresentadas as dificuldades e desafios da atuação dos gestores esportivos investigados. Caracterização dos gestores e das organizações em que atuam Na intenção de melhor compreender sobre as dificuldades e desafios da atuação dos sujeitos entrevistados, julgou-se necessário identificar acerca de características dos próprios respondentes e do contexto organizacional que desempenham suas funções. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 152 Neste sentido, buscou-se identificar no início das entrevistas características como idade, formação acadêmica e cargo ocupado na organização esportiva, as quais são sinteticamente apresentadas no Quadro 1. Conforme previsto nos termos de consentimento assinados pelo pesquisador e por cada participante da pesquisa no momento das entrevistas, e para que os dados particulares de cada indivíduo e, também, das organizações envolvidas na investigação não sejam divulgados, os gestores esportivos estão identificados doravante no estudo como: GE1 (gestor esportivo um), GE2, GE3, GE4, GE5, GE6, GE7, GE8, GE9 e GE10; Quadro 1 – Características dos gestores esportivos e dos contextos organizacionais Gestor Idade (GE1) (GE2) (GE3) (GE4) (GE6) (GE5) 47 32 63 32 27 53 (GE7) 27 (GE8) 31 (GE9) 44 (GE10) 57 Organização Esportiva Cargo Federação Esportiva 1 Gerente Federação Esportiva 2 Gerente Federação Esportiva 3 Presidente Departamento de esportes Promotor ONG Presidente Clube de futebol Gestor Pleno Empresa de gestão e marketing Diretor Executivo esportivo Academia Proprietária Órgão Público de fomento ao Presidente esporte Órgão Público de fomento ao Analista técnico esporte Fonte: elaborado pelos próprios autores. Formação Acadêmica Educação Física Educação Física Educação Física Educação Física Educação Física Superior incompleto Administração Administração Direito Educação Física Embora as características, apresentadas no Quadro 1, não sejam, especificamente, o objeto principal desta investigação, contribuem para uma melhor compreensão e contextualização da atuação profissional dos gestores investigados. Dificuldades e desafios da atuação dos gestores esportivos As informações obtidas por meio da realização das entrevistas com os gestores esportivos demonstraram a existência de diferentes dificuldades relacionadas à atuação dos mesmos. Não obstante, cabe ser mencionado que certas dificuldades relatadas por alguns entrevistados não necessariamente são entendidas da mesma forma por outros gestores, provavelmente devido às diferenças de formação, experiência na função e a própria percepção dos mesmos quanto ao cotidiano Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 153 de atuação profissional. Deste modo, destaca-se que não foi intenção deste estudo apontar as dificuldades específicas de cada indivíduo – ou de cada contexto organizacional –, mas proporcionar, um entendimento geral sobre as principais dificuldades enfrentadas pelos gestores esportivos envolvidos no estudo. Ainda em tempo, é importante destacar que o próprio significado de dificuldade empregado neste estudo (e durante as entrevistas) teve uma conotação mais abrangente, abarcando também problemas ou situações críticas enfrentadas, bem como os desafios da atuação dos gestores esportivos. Inicialmente, identificou-se que grande parte das dificuldades pautadas pelos gestores entrevistados estava diretamente relacionada à ausência de uma experiência em determinada questão, e/ou à deficiência ou falta de determinado conhecimento necessário à sua atuação profissional. A falta de experiência em determinadas questões foi relatada como um ponto dificultador da atuação de certos entrevistados como pode ser observado no discurso, abaixo, que ilustra a falta de experiência da gestora em lidar com colaboradores da organização. No começo eu apanhei muito, principalmente, no relacionamento com os funcionários, porque eu era muito nova e imatura. Não tinha experiência nenhuma. Então, tu acaba querendo ser amiga de todo mundo, e não é por aí. [...] Tive que aprender até onde eu posso ir, até onde dá pra ser legal, daí onde tem que parar e mudar a postura e agir de outra maneira. Hoje eu já consigo trabalhar melhor isso (GE8). A falta de determinados conhecimentos – relevantes à atuação profissional no campo da gestão esportiva – foi igualmente apontada como um ponto dificultador da atuação dos entrevistados. Neste sentido, a ausência de determinados saberes ou mesmo de uma formação acadêmica que pudesse colaborar diretamente para gestão de organizações esportivas foi apontada como uma dificuldade. Sobre a falta de conhecimentos e, ainda, sobre como lidar com essa necessidade, um gestor declarou: Eu senti muita falta no início, porque minha formação foi todinha, sempre, na prática e benchmarking. [...]. Só que num determinado momento eu senti falta de uma parte acadêmica. Senti muita falta. Do lado teórico. [...] Eu tive que fazer vários cursos pra aprender. Fiz vários cursos pra buscar isso que me faltava. [...] Sempre que eu podia estava falando com profissionais, tava perguntando, aprendendo com quem sabia (GE6). Não obstante, para lidar com a ausência de determinados conhecimentos ou com a dificuldade de dominar a ampla gama de saberes necessários à gestão de uma organização esportiva, os Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 154 entrevistados indicam a possibilidade de o gestor ser assessorado por outros profissionais especialistas nas diferentes áreas do conhecimento necessárias à gestão de uma organização esportiva. Saber tudo?! [o gestor falava sobre os diversos conhecimentos, ou áreas do conhecimento, relacionados à gestão de uma organização esportiva] [...] Acho que tem que ter os princípios básicos de tudo. Ter uma visão sistêmica do todo e ser bom em duas ou três áreas. Tem que trazer pessoas boas pra compartilhar. Eu acredito muito no trabalho em equipe (GE6). Para lidar com a falta do conhecimento técnico, específico de determinada área, um dos gestores afirma: Se eu não tenho a parte técnica [referindo-se ao conhecimento específico da área da Educação Física, pois a organização esportiva, no caso, é a academia] e eu não tenho interesse em estar buscando, eu tenho que me cercar de uma equipe de pessoas que tenham o conhecimento e que me ajudem nesse sentido. Porque em várias situações, principalmente, quando a gente vai fazer investimentos em aparelhagem, ou quando a gente vai, sei lá, mudar as modalidades, diversificar, a gente precisa de ajuda. Isso tudo é decidido com outras pessoas. Então, o conhecimento na área é essencial para gerir o negócio. Ou ter o conhecimento, ou estar cercado de pessoas que te auxiliem, né? Montar uma equipe que contribua nesse sentido (GE8). Porém, ao contrário da possibilidade de o gestor cercar-se de profissionais/especialistas nas diversas áreas, outro ponto identificado como dificultador da atuação de determinados gestores foi justamente o excesso de atividades e responsabilidades ou acúmulo de funções dentro de uma organização esportiva. Em algumas organizações, por uma restrição de recursos financeiros, os gestores relataram que, muitas vezes, acabam acumulando outras funções, outras atividades/responsabilidades, o que os impede de desempenhar com mais plenitude as funções administrativas da organização. Antes era tudo em cima de um cargo só. [...] A gente fazia tudo, do planejamento à operação. E não era pra fazer tudo. Era pra gente ta gerindo, tomando decisão, pensando no negócio. Hoje nós conseguimos dividir um pouco mais, e aí eu consigo fazer muitas coisas que fazem com que a federação consiga crescer um pouco mais (G1). Hoje, infelizmente, nos não temos um quadro de pessoal pra cada um cuidar de uma coisa, porque o orçamento que nós temos pra trabalhar é pequeno. Aí, pela falta de pessoas, você acaba indo pra operação também, não fica só no estratégico (GE6). Além das dificuldades expostas – e implícito a alguns discursos já apresentados – a questão do relacionamento e/ou o trato com pessoas – internas e externas – da organização foi apontado como um dos grandes desafios da atuação de gestores esportivos, sobretudo na percepção dos mais jovens ou com menos experiência na função – independentemente da formação – conforme pode-se observar no seguinte depoimento: Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 155 Pra mim, a parte mais difícil sempre foi o relacionamento com o funcionário, com o cliente, é o lidar com pessoas. Cada um é de um jeito e, às vezes, tu não sabe com agir. [...] Sem as pessoas, sem tua equipe, claro, tu não vai a lugar nenhum. Lidar com as pessoas é importante, mas complicado (GE8). Lidar com pessoas é um grande desafio e eu dependo muito das pessoas ao redor de mim pra poder realizar as atividades da organização, por que sozinho não adianta. [...] Se você vai manejar sua empresa, você vai estar manejando pessoas. Acho que isso faz muita diferença na sua gestão da empresa. A forma que você consegue lidar com as pessoas. Entender como você vai incentivar as suas peças [as pessoas] a utilizar os mecanismos que você deu pra eles, pra entregar pra você, de volta, os resultados que você ta procurando. Esse incentivo é muito importante, e cada pessoa é diferente, tem sua atitude e postura. Tem que saber lidar, lidar com pessoas (GE7). Permeando o mesmo sentido, alguns gestores afirmaram encontrar dificuldades em localizar pessoas qualificadas/capacitadas para o trabalho na gestão das organizações esportivas. Relataram ser difícil encontrar pessoas com qualificação para o trabalho e também, algumas vezes, de fazer com que as pessoas que trabalham na organização correspondam às demandas que lhes são exigidas. [...] a gente encontra muita gente despreparada pra trabalhar com a gente. A qualificação profissional nessa área [da gestão do esporte] é muito complicada. ¬ [...] as pessoas não têm muita noção do que tem que fazer. Não sei se a falha é na hora de orientar, se não tem uma orientação adequada pra essas pessoas, ou se é em encontrar essas pessoas bem qualificadas. Pode ser as duas coisas, mas eu acredito que seja mais a falta de qualificação das pessoas mesmo, da formação delas. [...] por não ter passado por aquilo ali em algum momento da graduação mesmo, até mesmo numa experiência de estágio, de não ter atuado nas diversas áreas, ter ficado restrito. (GE4) Alguns gestores relataram, ainda, encontrar dificuldades relacionadas à captação de recursos que poderiam subsidiar financeiramente as atividades das organizações em que atuam. Mencionaram dificuldades em acessar os recursos de fundos públicos e também de convencer investidores da iniciativa privada a aplicar recursos em projetos e organizações esportivas. Por fim, a necessidade de contornar situações adversas, “apagar incêndios”, “emergências” são outras questões pontuais alegadas como pequenos desafios do cotidiano de gestores esportivos, relacionados às especificidades de cada situação e contexto organizacional. O Quadro 2 apresenta uma síntese dos principais resultados encontrados pelo presente estudo. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 156 Quadro 2 – Síntese dos resultados do estudo Dificuldades e desafios da atuação profissional de gestores esportivos - Ausência de experiência em determinada questão; - Falta de determinado conhecimento; - Acúmulo de funções; - Relacionamento e o trato com pessoas; - Dificuldades em localizar pessoas qualificadas/capacitadas para trabalhar na organização; - Captação de recursos para a organização. Fonte: elaborado pelos próprios autores. Considerações finais Frente aos elementos e argumentos encadeados ao longo do estudo, e reportando-se ao objetivo da pesquisa – o qual pretendeu identificar dificuldades e desafios da atuação profissional de gestores esportivos – é possível se chegar algumas considerações e conclusões. Inicialmente, observou-se que grande parte das principais dificuldades enfrentadas pelos gestores esportivos está relacionada à ausência de experiência em determinadas questões e/ou a falta de determinado conhecimento relevante à atuação profissional no âmbito da gestão de uma organização esportiva. O acúmulo de funções por parte dos gestores, em muitas organizações, faz com que a atuação desses gestores seja dificultada. Igualmente, o relacionamento e o trato com as diversas pessoas – internas e externas – envolvidas com a organização são vistos como grandes desafios da atuação de gestores do esporte nos contexto pesquisados. Por fim, a captação de recursos para a organização (sejam eles humanos ou financeiros) é também apontado como uma das dificuldades encontradas no âmbito da gestão de organizações esportivas. O entendimento sobre os diversos desafios e dificuldades da atuação dos sujeitos entrevistados, possibilita um entendimento mais aprofundado sobre a atuação de gestores esportivos e, por conseguinte, sobre algumas de suas necessidades, dificuldades e desafios frente à gestão de organizações esportivas. Por fim, acreditando que outros aspectos podem estar associados à atuação de gestores em outros contextos esportivos e que particularidades podem ser encontradas em investigações realizadas em outras regiões, sugere-se que investigações semelhantes a esta sejam empreendidas em outras, variadas organizações esportivas, e de outras regiões. As conclusões de tais estudos podem contribuir para reforçar os achados do presente estudo, acrescentar elementos ou mesmo negar as conclusões aqui apresentadas. Uma profunda compreensão Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 157 sobre a atuação profissional de gestores esportivos – e sobre os diversos aspectos dessa atuação – poderá contribuir para o aprimoramento, tanto da qualificação, como da formação de futuros gestores no país e, consequentemente, para o aprimoramento da área gestão do esporte, como um todo, no contexto brasileiro. Referências bibliográficas AZEVEDO, P. H. (2009). O esporte como negócio: Uma visão sobre a gestão do esporte nos dias atuais. Revista Estudos, Goiânia, 36 (9/10), 929-939. AZEVÊDO, P. H.; BARROS, J.F. (2004). A necessidade de administração profissional do esporte brasileiro e o perfil do gestor público, em nível federal, que atuou de 1995 a 2002. Lecturas, Educación Física y Deportes, Revista Digital, Buenos Aires, 10 (74). AZEVÊDO, P.H.; BARROS, J.S.; SUAIDEN, S. (2004). 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Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 159 Parcerias em redes: um estudo de caso de uma organização esportiva sem fins lucrativos e uma empresa privada Alexandre Conttato Colagrai (UNINOVE) [email protected] Denis Pereira dos Santos (UNINOVE) João Paulo Lara de Siqueira (UNINOVE) Resumo O presente trabalho tem por objetivo investigar os motivos que levaram uma associação sem fins lucrativos voltada ao desenvolvimento do esporte de forma geral a realizar uma parceria com uma entidade privada, criando uma rede de relação entre essas organizações para desenvolver um projeto especifico, entre os vários que essa organização possui na área de esporte educacional, esporte de formação e esporte de participação para crianças e adolescentes de escolas públicas em uma cidade no interior de São Paulo, bem como descobrir quais são os motivos da empresa privada para desejar essa relação com a associação esportiva sem fins lucrativos. Utilizando como referencial teórico as teorias sobre redes e os conceitos de responsabilidade social como fator determinante para ações na sociedade atual, desenvolveu-se uma pesquisa qualitativa por meio de um estudo de caso envolvendo essas duas organizações, esperando assim contribuir com a melhoria da gestão do esporte no Brasil e contribuir para a utilização dessas teorias na área do esporte. Palavras chaves: Redes, Parcerias no Esporte, Responsabilidade Social Abstract This study aims to investigate why a non-development oriented sport-profit generally formed a partnership with a private entity, creating a network of relationships among these organizations to develop a specific project, among many that this organization features in the area of education, sport training and sport participation for children and adolescents from public schools in a city in São Paulo, as well as find out what are the reasons for the private company to want that relationship with the non-profit sports association profit. Using as theoretical theories about networks and the concepts of social responsibility as a determining factor actions in today's society, we developed a qualitative research through a case study involving these two organizations, thus hoping to contribute to Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 160 improving the management of sport in Brazil and contribute to the use of these theories in the field of sports. Keywords: Networking, Partnerships in Sport, Social Responsibility Introdução A formação de parcerias entre organizações é um fator importante, principalmente na era da informação (Granovetter (1985). Esta situação se torna mais imprescindível no setor esportivo, onde as entidades esportivas vivem em um ambiente extremamente inconstante e os financiamentos para suas atividades são incertos, sofrendo tanto com relação às alterações do ambiente como com as políticas às quais estão submetidas. A Teoria de redes, na área de ciências sociais, surge para buscar explicar e orientar o comportamento das pessoas e organizações com relação ao ambiente social no qual estão inseridos, pois esse ambiente influencia a tomada de decisão desses atores, constituindo um instrumento de analise interna e externa, capaz de auxiliar no seu desenvolvimento, (Granovetter, 1973). As teorias sobre redes buscam verificar e analisar as relações entre esses atores. Dessa forma, se torna importante um estudo que apresente a importância da formação de redes de parcerias para o desenvolvimento do esporte, principalmente do esporte de formação, do esporte educacional e do esporte de base, os quais sofrem com a falta de recursos por serem menos prioritários em termos políticos do que o esporte de alto rendimento, embora diversas leis, como é o caso da Lei Federal 8069/1990, pregarem o contrário. Problema de pesquisa e objetivos Sendo assim, este estudo objetiva responder à seguinte questão: quais são os motivos que levam as organizações a realizarem parcerias em torno do esporte? Nesse sentido, pretende-se identificar os motivos que levam entidades privadas a realizar parcerias com entidades esportivas, bem como as razões para entidades esportivas realizarem parcerias com entidades privadas. Na literatura existem poucos estudos sobre os motivos que levam organizações sem fins lucrativos, principalmente na área do esporte, a trabalharem em redes de parceria, pois segundo Babiak (2007) existem muitos estudos sobre os motivos que levam organizações com fins lucrativos a formarem parcerias, mas muito pouco sobre os motivos das organizações sem fins lucrativos fazerem o mesmo. Esta carência de estudos se mostra ainda mais escassa no esporte, o que mostra a relevância deste estudo, que tem potencial para contribuir com as teorias de redes e para a área do esporte. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 161 Conhecer os motivos que levam diversos tipos de entidades a formarem redes de parceria, principalmente em torno do esporte, pode ser um fator importante para que, no futuro, novas e melhores estratégias de aproximação entre os organizações possam ser articuladas para, inclusive, viabilizar uma captação mais eficiente de recursos, pois os fatores que mais inviabilizam as atividades esportivas estão a falta recursos e de atenção. Para atingir esse objetivo foi feita uma pesquisa qualitativa, utilizando-se da estrutura conceitual de Oliver (1990) como base para responder quais os motivos que uma associação esportiva sem fins lucrativos e uma empresa do setor privado possuem para se ligarem criando uma relação de parceria. Foi estudada a ligação entre uma entidade esportiva sem fins lucrativos, com foco no esporte de participação, no esporte educacional e de formação, na modalidade de Handebol, que atua com crianças e adolescentes de escolas públicas da cidade de Rio Claro – SP. Foram obtidas informações por meio de análise de documentos e entrevistas com os responsáveis de cada uma destas duas entidades. Este artigo apresenta no item dois um referencial teórico que serviu de base para os questionamentos sobre o tema, e o desenvolvimento dos conceitos de redes; da responsabilidade social das empresas, que é apresentada ao público por meio de estratégias de marketing social da empresa, e sobre a formação de parcerias e suas estratégias de implantação. Em seguida, no item três, o estudo apresenta o desenvolvimento metodológico, seguido para o item quatro, da análise dos resultados, finalizando o estudo com a conclusão no item cinco. Referencial Teórico Redes As relações que ocorrem através de redes sociais entre diversas entidades são importantes, muitas vezes mais importantes do que apenas a existência de métodos administrativos (Granovetter, 1985). As sociedades ao longo de sua evolução, desenvolveram acordos implícitos de respeito pelo próximo, acordos essenciais para a sobrevivência da sociedade ou pelo menos que contribuem em grande parte para a eficiência de seu funcionamento (Arrow, 1974). Granovetter (1973) mostra que as relações entre os atores de uma rede afetam seus comportamentos. Para este mesmo autor, atores são pessoas, entidades, coisas diversas. Dessa forma tudo está em rede (Castells, 2000), e para se observar as redes, deve-se olhar para a ligação entre as coisas, entre os atores da rede e o modo como ocorrem as relações entre eles. A importância das redes existe, pois os atores não se comportam e nem tomam decisões como átomos Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 162 fora de um contexto social, como mostra Granovetter (1985), e ele ainda salienta que esses autores não adotam um roteiro de ações antecipadamente, para papeis que eles porventura ocupem, e sendo assim, suas tentativas de realizar ações com propósitos diversos estão imersas em sistemas concretos e contínuos de relações sociais. Assim, uma rede vai se construindo, se transformando e vivendo em movimento, mas para isso todos os membros dessa rede devem compartilhar os mesmos objetivos como condição necessária para que essa construção ocorra, sendo o fator vontade o alicerce o seu alicerce, pois a rede funciona devido à cooperação entre atores diferentes (Castells, 2000). Com isso sabe-se que a maior parte do comportamento dos atores está profundamente imersa em redes de relações interpessoais (Granovetter, 1985). A teoria das redes, quanto aplicada no contexto organizacional, aborda as interações entre um grupo de organizações colaboradoras que reconhecem que os seus objetivos não podem ser alcançados de forma independente (Babiak, 2007). Nelson (1984) afirma que as redes sociais são conjuntos de contatos que ligam vários atores, onde suas ligações podem ser de diferentes tipos, apresentar conteúdos distintos, bem como diversas propriedades estruturais. A rede é uma forma de colaboração que reúne uma gama completa de partes interessadas para oferecer respostas globais mais integradas (Babiak, 2007). As redes e suas estruturas, oferecem formas inovadoras para lidar com problemas complexos, os quais desafiam as formas tradicionais de soluções, pois apresentam diversos desafios (Keast, Mandell, Brown & Woolcock, 2004). Dessa forma, as estruturas de redes sociais diferem das estruturas organizacionais tradicionais porque não há ninguém no comando, e assim os modelos típicos de poder e autoridade habituais, não funcionam nessas estruturas (Winkler, 2006). Granovetter (1973) sustenta que as relações sociais entre as empresas são mais importantes do que a autoridade existente no interior destas, para manter a ordem da vida econômica. Redes são canais de transferência de recursos, sejam materiais ou imateriais, capazes de auxiliar os seus membros a sobreviverem e se desenvolverem (Wasserman & Faust, 1999). Tais característica são importantes para uma associação esportiva sendo que esta é uma entidade do terceiro setor, e de acordo com Castells (2000), as redes têm aparecido como um modo de organização orgânica das instituições novas da sociedade, como, por exemplo, as entidades do terceiro setor. Fica claro que para iniciativas de fomento ao desenvolvimento humano social sustentável, o fato de trabalhar em redes é uma ação necessária e decisiva (Castells, 2000). Com base nisso, o Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 163 esporte como ferramenta para desenvolvimento humano, se encaixa perfeitamente a essas características de redes definida por Castells. Responsabilidade Social A responsabilidade social pode ser vista como a obrigação ou a intenção de uma empresa de ser ética e responsável para com a sociedade em geral (Pharr & Lough, 2012). Dessa forma fica evidente a ligação direta entre responsabilidade social e marketing social, pois as empresas utilizam essa estratégia de marketing como forma de aplicarem a reponsabilidade social, demonstrando suas ações (Roy & Graeff, 2003). Muitos autores argumentam que as ações sociais utilizadas pelas empresas para demonstrar sua responsabilidade social, servem para conseguir diferenciação e vantagem competitiva, devido aos mercados altamente competitivos nos quais as empresas estão inseridas, e dessa forma, Smith e Alcorn (1991) explicam que o marketing social combina os elementos do marketing tradicional com conceitos de responsabilidade social, pois a sua estratégia busca a satisfação das pessoas que tem interesse na empresa e a produção de melhores produtos, obtendo maior lucratividade, melhorando a sua participação no mercado e o desenvolvimento do senso de responsabilidade social da empresa, reforçando a imagem de sua marca. Massó (1998) postula que a utilização do marketing social pelas empresas, tem o intuito de conquistar o compromisso dos consumidores ligado a um determinado comportamento social, favorecendo simultaneamente a imagem da empresa e sua posição no mercado, e portanto as empresas utilizam-se da ferramenta denominada marketing social para apresentarem as formas como realizam a sua responsabilidade social. Segundo Saiz (2005), o marketing social passou a ser utilizado pelas empresas quando elas perceberam que se planejassem e desenvolvessem melhor as atividades sociais, que normalmente eram realizadas de maneira esporádica e dispersa, estas atividades poderiam se tornar um componente poderoso da estratégia geral de marketing da empresa. Para a empresa, o que vai determinar se o programa de apoio a uma causa está obtendo resultados ou não, é o aumento das vendas e do impacto positivo da imagem de sua marca perante os consumidores. Sendo assim, para a empresa a utilização do marketing social está muito mais ligado aos resultados do que à mera filantropia (Ptacek & Salazar, 1997). Lough e Pharr (2010) avaliaram as campanhas de marketing comerciais e sociais da Nike, e mostraram que ambas, mas em especial as campanhas de marketing social, podem ser um meio dessa empresa atingir diretamente seu objetivo no mercado esportivo, ou seja, o fortalecimento de sua marca. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 164 Para se conhecer os fundamentos do marketing social desenvolvido pelas empresas, é preciso entender os motivos dos atores sociais envolvidos, ou seja, as organizações sem fins lucrativos procuram por recursos para desenvolverem suas atividades e as empresas buscam aumentar suas vendas e reforçar sua imagem de responsabilidade social perante seus consumidores, e estes desejam ver as empresas praticando a responsabilidade social, oferecendo também serviços e produtos com qualidade por um preço justo (Ptacek & Salazar, 1997). A competição existente no mundo corporativo faz com que a empresa busque ferramentas diversas para sobreviver, e uma delas é obter o conhecimento sobre o comportamento dos consumidores, pois sabe-se que consumidores analisam diversos produtos e empresas, e criam uma hierarquia destes, e esta é utilizada no momento que estes em que estes consumidores tomam a decisão de adquirirem os produtos dessa empresa (McKenna, 1999). Portanto, as ações sociais da empresa apresentadas a esse consumidor através do marketing social, orientadas pelo desejo de demonstrar a responsabilidade social da empresa, podem constituir o elemento chave que consolidam uma posição de relevância na mente do consumidor (Higuchi & Vieira, 2012). Dessa forma, o conceito de marca é utilizado, pois a empresa deixa sua marca registrada na mente do consumidor, que vai associar a empresa a uma boa causa (Munoz & Kumar, 2004). Sabe-se assim que a marca é a identidade do produto ou do serviço, e que esse fator cria diferenciação entre os concorrentes (Kotler, 2000). A marca agrega a si valores funcionais e emocionais, e envolve os produtos ou serviços da empresa em valores emocionais como, responsabilidade social, caridade, trabalho com crianças e idosos, respeito ao ambiente entre outros, complementariam de forma ótima os processos eficientes de produção que garantem a capacidade funcional da marca e a sustentação de vantagem competitiva perante outras empresas do mercado (Chernatony, 2005). Portanto as comunicações entre empresa, causa e entidade beneficiada, precisam ser planejadas de modo a minimizar possíveis atribuições negativas ou desfavoráveis na percepção do consumidor, e não trazer a impressão de que a organização está explorando a causa em lugar de auxilia-la. Para isso, uma sugestão oferecida por Hoeffler e Keller (2002), consiste em primeiramente direcionar os investimentos para a causa ou a organização com a qual está se associando, e em seguida, promover a ligação entre a empresa e a causa, sendo que a divulgação dessa ligação deve partir da própria empresa ou da organização filantrópica. Juntando se à busca de se aumentar as vendas, como já citado anteriormente por Ptacek e Salazar (1997), as empresas também buscam reforçar sua imagem de responsabilidade social perante seus consumidores. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 165 O esporte é um veículo através do qual as empresas e as organizações praticarem a sua responsabilidade social, atendo-se aos aspectos únicos do esporte que o tornam adequado para atingir tal responsabilidade, que incluem: mídia de massa e poder de comunicação, o apelo à juventude, os impactos positivos para a saúde, a interação social, a consciência de sustentabilidade, a compreensão, a integração cultural, e o benefício da gratificação imediata (Smith & Westerbeek, 2007). Engajar-se em relações de rede com outros atores, outros parceiros, permite a uma organização melhorar a sua reputação, sua imagem ou seu prestígio, e impressionar outros membros em sua rede, tais como agências de concessão de recursos, as partes interessadas externas à organização, principalmente organizações do setor privado, impressionando principalmente o público em geral (Babiak, 2007; Oliver, 1990). A oportunidade de melhorar a reputação da organização é outra pressão institucional que motiva os responsáveis por essa, a formar parcerias em rede (Babiak, 2007). Relações de Parceria em Redes As redes de parecerias são forma de relacionamento encontradas pelas organizações para melhor se estruturarem mutuamente, pois diversos fatores influenciam tais organizações em suas atividades diárias (Clegg & Hardy, 1999), e essas redes ampliam as possibilidades de ação desenvolvida através da colaboração, coordenacação e cooperação entre essas organizações (Doz & Hamel, 1998, Coulson, 2005, Das & Teng, 2002, Hennart & Zeng, 2005), fazendo com que a rede se torne o principal ativo dessas organizações como afirma Granovetter (1985). Seguindo esse pensamento como mostra Babiak (2003, 2007), muitas organizações sem fins lucrativos estão buscando desenvolver esse tipo de relação de parceria, de diversas formas, e segundo Roussin Isett e Provan (2005), essa relação está ocorrendo com parceiros não convencionais. Portanto, a busca pelo estabelecimento de relações em redes tem aumentado, e elas são utilizadas pelas organizações por diversos motivos (Kanter, 1994), como forma de antecipar mudanças no ambiente no qual essa organização está inserida compartilhando tantos os pontos positivos quantos os negativos disponíveis internamente nessas organizações (Peng & Kellogg, 2003). Kanter (1994) mostra que a agregar valores sobre a oportunidade e reduzir a incerteza sobre o ambiente, são fatores determinantes para que as organizações decidam se relacionar em rede (Kanter, 1994). As organizações esportivas sem fins lucrativos e as de base governamental encontram muitos desafios em sua área de atuação e no desenvolvimento de suas atribuições (Thibault & Harvey, 1997). Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 166 Esses desafios incluem segundo Mills (1998) as restrições no orçamento, as pressões por maior responsabilidade com um exame mais minucioso sobre a gestão. Para este mesmo autor, as parcerias precisam ser fortes entre setores público e privado (Mills, 1998). Alguns acadêmicos da área esportiva (Babiak, 2007, Thibault & Harvey, 1997), sugerem que mudanças no financiamento do governo levaram à necessidade das organizações esportivas definirem e formalizarem as relações com parceiros como o governo, o setor privado e corporativo, e outras organizações do setor sem fins. Para que uma organização consiga um fluxo contínuo de recursos para a sua sobrevivência, ela precisa estar em conformidade com o ambiente da rede e mostrar que está agindo em direção a um objetivo que seja valorizado coletivamente pelos membros dessa rede (Slack & Hinings, 1992). Assim, a parceria em redes é uma estratégias que as organizações sem fins lucrativos utilizam para lidar com a incerteza e os recursos limitados (Babiak, 2007), e com isso a interdependência aparece como um ingrediente essencial dessa parceria (Kouwenhoven,1993), o que corrobora com o que Babiak (2007) encontrou em seus estudos sobre os centros esportivos canadense para os atletas olímpico, onde o grau de interdependência entre as organizações analisadas por esse autor mostrava um ambiente crítico o que facilitou a formação das relações em rede. Assim, a presença do fator interdependência entre as organizações, mostra que a formação das redes muitas vezes não é função de um fator apenas, e sim de vários (Eisenhardt & Schoonhoven, 1996). Portanto uma visão ampla, com diversas vertentes sobre a formação das relações em rede entre as organizações se faz necessária, devido a uma lógica de necessidade e oportunidade (Eisenhardt & Schoonhoen, 1996). Porém, é possível segundo Gulati e Gargiulo (1999), conhecer os motivos que levaram uma organização a entrar em rede, mas ainda é difícil para as organizações conhecerem quem são seus melhores parceiros. Os motivos que levam uma organização a se associar com outra, foi estudada por Oliver (1990) que desenvolveu uma estrutura, o qual apresenta um conceitos baseado em seis fatores determinantes que são: a assimetria, reciprocidade, necessidade, legitimidade, eficiência, estabilidade. Para Oliver (1990) a determinante assimetria, mostra o desejo que uma organização possui de exercer poder sobre os recursos da outra organização parceira; já a reciprocidade, representa o desejo de ambas as organizações possuem de seguir em direção a objetivos comuns. Este mesmo autor mostra que o determinante necessidade está ligado a exigências legais e também na obtenção de recursos necessários para a manutenção das atividades das organizações; e a legitimidade que o ambiente onde essas organizações estão inseridas exercem pressão prestem contas sobre suas Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 167 atividades, a destinação de seus recursos e receitas. O determinante eficiência segundo o autor, é desenvolvido através da tentativa de uma organização melhorar a administração interna de suas atividades, para obter melhores resultados; e o último determinante de Oliver (1990) é a estabilidade, no qual ele mostra que as entidades envolvidas em redes criam uma alternativa para se sustentarem sem muita alternância como ocorre em um ambiente incerto, fato este que serve para fornecer previsibilidade e confiança entre as organizações, pois essa incerteza é gerada pela escassez de recursos. Metodologia O objetivo deste estudo é compreender os motivos que levam uma entidade privada a realizar parceria com uma associação esportiva sem fins lucrativos, apoiando um projeto desenvolvido por esta na área de esporte educacional, do esporte de formação e do esporte de participação, e também verificar o motivo que levou essa associação a procurar parceria com a entidade privada. Para este estudo, a organização sem fins lucrativos ABD (Associação Desportiva Beneficente Crescer no Esporte), e em especial o Projeto Crescer Handebol Rio desenvolvido por essa associação, foi selecionado para a análise das relações em redes de parcerias, pois essa associação desenvolve diversas atividades esportivas em diversas modalidade, desde o esporte educacional até o esporte de alto rendimento. Portanto o Projeto Crescer Handebol, que é desenvolvido para crianças das escolas públicas da periferia da cidade de Rio Claro, foi escolhido como objeto dessa pesquisa qualitativa, pois de acordo com Martins (2006) é uma forma de pesquisa que não se preocupa tanto com mensurações e sim com descrição, compreensão e interpretação de fatos e fenômenos, sendo o método que mais se aproxima da nossa realidade de estudos e da nossa intenção de responder à pergunta de pesquisa, porém possuindo limitações para a generalização dos resultados. Dentro desse método, utilizaremos o estudo de caso, que segundo (Yin, 2010) é uma ferramenta importante e útil para coleta de dados qualitativos, principalmente para a triangulação de dados obtidos através de entrevista semi- estruturada, análise de documento e observação participante, que são as ferramentas utilizadas pelos autores nesse estudo. Esta associação realiza uma série de parcerias com organizações dos setores público, outras entidades sem fins lucrativos e com empresas privadas. Como tal, os parceiros desta associação variam entre instituições de ensino, o governo municipal, o governo estadual, outras organizações desportivas locais relevantes e o setor empresarial privado, mas o foco aqui é a parceria com uma empresa privada, e um estudo de caso será desenvolvido sobre essas duas organizações. A pesquisa foi feita, então, com a Associação Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 168 Desportiva Beneficente Crescer no Esporte, que será denominada nesse estudo de – ADB Crescer no Esporte - e uma empresa do setor privado, denominada nesse estudo de empresa T. A colaboração entre ambas as entidades, fornece uma rica oportunidade para explorar as razões pelas quais elas entendem o trabalho em rede como uma das melhores estratégias para alcançar os objetivos organizacionais de ambas. Essas entidades foram escolhidas pelo fato de ambas estarem instaladas no município de Rio Claro- SP, onde também reside um dos pesquisadores deste estudo, o qual tem livre acesso a essas duas entidades, o que facilitou a obtenção de dados fidedignos, e também por ambas as entidades possuírem uma variedade de atividades, sendo que este estudo utilizou como foco um projeto esportivo especifico desenvolvido pela ADB Crescer no Esporte, denominado Projeto Crescer Handebol Rio Claro. O Projeto Crescer Handebol na cidade de Rio Claro teve início em 2005, mas em 2009 suas atividades começaram a ser administrada de forma diferente, passando a utilizar quadras de escolas públicas tanto municipal como estadual, bem como os espaços da Secretaria de Esportes da cidade, nas quais começou atendendo poucas crianças em poucos núcleos, com poucas turmas, e no ano de 2014 atingiu um atendimento a 250 crianças de 07 a 17 anos, passando de oito turmas em seis polos em 2011, início da parceria entre ADB Crescer no Esporte e empresa T, para 15 turmas em oito polos em 2014. Os recursos destinados pela empresa T, são diretamente repassados em forma de material esportivo diversos como bolas, cones, uniformes de forma geral e outros que são calculados de acordo com o número de alunos, o número de polos atendidos e o número de turmas existentes, pois estes materiais são pertinentes à realização das aulas. A ADB Crescer no Esporte trabalha com parceria da Secretaria Municipal de Esporte que fornece alguns professores para se somarem aos professores contratados pela ADB Crescer no Esporte, e fornece também os espaços nas quadras para a realização das aulas. Secretaria de Educação de Rio Claro e do Estado de São Paulo também trabalham em parceria com a ADB Crescer no Esporte, pois cedem espaços nas quadras das escolas para a realização das aulas através de um plano de atividades enviado pela ADB Crescer no Esporte juntamente com uma solicitação dos espaços. Foi utilizado a estrutura conceitual de Oliver (1990), para se estudar as relações existentes entre essas duas organizações, verificando qual o motivo entre esses dois atores para realizarem parceria. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 169 Participantes do Estudo Participaram do estudo a responsável da empresa T, que negocia patrocínio, apoio, destinação de verba da empresa para atividades diversas através do instituto próprio da empresa; e com o responsável da ADB Crescer no Esporte, no caso o seu presidente, para compreender os motivos que levaram uma entidade sem fins lucrativos e uma empresa privada a realizarem parceria. Coleta de Dados A pesquisa concentrou-se principalmente no período entre 2012 a 2014 onde o Projeto Crescer Handebol já está mais ambientado com a ADB Crescer no Esporte, e inicia a parceria com a empresa T para melhorar as condições do desenvolvimento deste projeto, pois até o momento o único material disponível era o que a escola e as quadras da Secretaria de Esportes de Rio Claro possuíam, com recursos materiais escassos e velhos. Os documentos utilizados para a coleta de dados foram os que auxiliam na organização das entidades como seu estatuto, a missão, visão e valores de ambos os atores, os ofícios da associação encaminhados para a empresa, somando-se a comunicação via Internet, como e-mail, divulgação de notas e imagens da parceria no blog da associação e no site da empresa, os relatórios das aulas do projeto como folhas de frequência dos alunos, o registro das aulas. No total, mais de 40 documentos foram recolhidos e revistos para obter uma melhor compreensão dos valores e expectativas das organizações sobre as relações de parceria em rede, principalmente os e-mails trocados entre as entidades, verificando como cada uma das entidades se destina a utilizar as parcerias para atingir os seus objetivos, e quais a necessidades e informações trocadas entre ambas. Os documentos foram usados como um meio para fornecer a informação de fundo, fundamentar conclusões e fatos, ilustrar conceitos e complementar as informações obtida a partir de outras fontes de dados como a entrevista por exemplo. A terceira abordagem da coleta de dados, as entrevistas semi-estruturadas, foi realizada na sede da ADB Crescer no Esporte com seu presidente e na sede da empresa T com sua representante. Cada entrevista durou aproximadamente 40 minutos, onde o entrevistado respondeu a perguntas referentes à lógica por trás da criação da parceria, apresentando o início dos contatos entre as entidades e respondendo às questões: “Quais foram as razões que você escolheu para formar uma parceria com organização parceira?” a entrevista seguiu com mais de uma sondagem, como aspectos mais específicos da sua resposta, como “Que tipos de recursos ou retorno você adquiriu através desta parceria?”. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 170 Análise dos Resultados A análise dos resultados seguiu o raciocínio tanto dedutivo quanto indutivo. Inicialmente, uma série de temas originou-se a partir de uma revisão da literatura sobre a importância das redes sociais (Granovetter 1973, 1985, Castells, 2000), sobre estudos referentes à criação de parcerias (Babiak, 2007) e o motivo das empresas procurarem projetos sociais (Oliver, 1990), como uma forma de apresentar sua responsabilidade social (Pharr & Lough, 2012, Ptacek & Salazar, 1997), e assim com base nesses conhecimentos surgiu a intenção de se realizar pesquisa nessas duas organizações. Isto proporcionou perguntas iniciais, conceitos e entendimentos. O responsável pela associação esportiva sem fins lucrativos ADB Crescer no Esporte, foi o primeiro a ser procurado e entrevista, apresentando dados, em especial e-mails, que comprovaram que ele foi o responsável inicial a procurar a formação de parceria com a empresa T, sendo ele quem tomou essa iniciativa, pois a situação do Projeto Crescer Handebol Rio Claro era crítica comprovando os estudos de (Clegg & Hardy, 1999; Doz & Hamel, 1998, Babiak, 2003, 2007) que mostram que os desafios econômicos, as expectativas sociais de evolução fazem com que entidades sem fins lucrativas busquem parcerias, devido a dificuldades principalmente na aquisição de material esportivo para a continuidade de suas atividades. Portanto, o presidente da associação buscou entrar em contato com a empresa T, a qual possui um instituto próprio para destinação de verbas para ações sociais, como fica comprovado pelos estudos de Pharr e Lough (2012), Roy e Graeff (2003) de que empresas buscam desenvolver sua responsabilidade social. Com relação a pergunta “Quais foram as razões que você escolheu para formar uma parceria com a empresa T?” o presidente da associação informou que o motivo foi a necessidade e a eficiência, o que corrobora com os conceitos de Oliver (1990). Com relação à necessidade, ela é uma determinante para esse parceiro buscar parceria em redes, pois a ADB Crescer no Esporte não possuía recursos, principalmente recursos materiais, para dar continuidade ao projeto. Já a determinante eficiência surge, pois segundo o representante esse presidente, a associação precisava melhorar o gerenciamento de diversos fatores em suas atividades, auxiliando assim o aprimoramento do projeto, o que também confirma os estudos de Oliver (1990). Seguindo para a segunda pergunta sobre “Que tipos de recursos ou retorno você adquiriu através desta parceria?” o presidente informou que foram recursos materiais, os quais são utilizados para que as crianças possam realizar as aulas com um mínimo de condições, ou seja, materiais esportivos e de vestimentas. A análise dos documentos auxiliaram na triangulação dos dados, comprovando o que o presidente informou na entrevista, principalmente os documentos eletrônicos como e-mails e Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 171 orçamentos, que foi o presidente quem inicialmente procurou a empresa, e apresentou todas as atividades esportivas realizadas por ela, e em especial as atividades de cunho social como é o caso do Projeto Crescer Handebol, que a associação esportiva necessitava de recursos como materiais esportivos para o desenvolvimento de suas atividades. Já com relação ao representante da empresa T, este informou que quando visualizou a documentação do projeto enviada pelo presidente da ADB Crescer no Esporte, se interessou pois esta empresa possui um instituto que apoia diversos projetos sociais de diversas áreas e o Projeto Crescer Handebol Rio Claro se enquadra nas especificações que o instituto da empresa se interessa para apoiar um projeto, reafirmando novamente os estudos de Pharr e Lough (2012), Roy e Graeff (2003) e ainda de Ptacek e Salazar (1997) mostrando que as empresas também buscam sua imagem de responsabilidade social . Portanto com relação a pergunta “Quais foram as razões que você escolheu para formar uma parceria com organização esportiva sem fins lucrativos ADB Crescer no Esporte, em específico para o Projeto Crescer Handebol Rio Claro?” este representante respondeu que o motivo era a legitimidade, o que é confirmado pelos conceitos de Oliver (1990), pois esse fator dava a empresa uma credibilidade, onde sua responsabilidade social está sendo aplicada, dando retorno a um projeto desenvolvido na mesma cidade onde a empresa atua, pois mesmo sendo uma empresa de nível internacional a empresa T só apoia projetos para desenvolver e aplicar a sua responsabilidade social nas cidades onde possui uma cede, ou seja, Joenvile no estado de Santa Catarina e Rio Claro no estado de São Paulo, ambas no Brasil, confirmando o que o referencial teórico já apresentou nesse estudo (Pharr & Lough, 2012, Roy & Graeff, 2003, Ptacek & Salazar, 1997, Babiak, 2003, 2007). Assim como Babiak (2007) comprova nos seus estudos com o centros esportivos canadenses, a legitimidade é um fator que as empresas privadas procuram para formarem parcerias com entidades esportivas, pois estas empresas buscam ser vistas como bons cidadãos corporativos em suas comunidades, devido ao fato delas sofrerem pressões de diversos stakeholders como funcionários, grupos da comunidade, governos, entre outros, para dedicar recursos para causas socialmente responsáveis, de qualidade e legitimas. Com relação à segunda pergunta sobre “Que tipos de recursos ou retorno você adquiriu através desta parceria?” o representante da T informou que ele obteve um retorno não mensurável, não foram recursos de valor financeiro, e sim valores ligado a missão da empresa, o que agrega importante valor à marca da empresa, à imagem da empresa, pois foi feito uma divulgação do apoio da empresa ao Projeto Crescer Handebol Rio Claro da ADB Crescer no Esporte dentro da empresa na cidade de Rio Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 172 Claro, levando aos funcionários, através do desenvolvimento de um marketing social, o trabalho de responsabilidade social desenvolvido pela empresa. Esse trabalho de marketing social feito pela empresa, fornece visibilidade às ações da empresa através de seu instituto. Alguns autores têm defendido que as organizações do setor privado estão cada vez mais relutantes em entrar em acordos de patrocínio ou parceria com as organizações esportivas sem uma melhor compreensão de como o empreendimento vai proporcionar-lhes uma vantagem competitiva sustentável (Coulson, 2005; Das & Teng, 2002; Doz & Hamel, 1998). Mas fica claro nessa entrevista que as ações da empresa com relação ao proeto social, corroboram com os estudos de (Pharr & Lough, 2012, Roy & Graeff, 2003) mas nesse ponto em especifico, os estudos de (Saiz,2005, Smith & Alcorn, 1991, Massó, 1998), e também os estudos de Hoeffler e Keller (2002), mostrando que a empresa T, primeiro direcionou investimentos para o projeto social, e depois, promoveu a ligação entre a empresa e a causa, onde a divulgação dessa ligação partiu da própria empresa. Porém Babiak (2007) mostra que esse tipo de formação de parceria, como ocorre com o esporte no Canadá, faz parte da estratégia de marketing da empresa, fator esse que se apresentou nesse estudo com a empresa T. Na análise de documentos estes fatores informações apresentadas pelo representante da empresa se comprovam, pois documentos eletrônicos sobre a negociação da parceria, e cartas, bem solicitação da empresa, para que antes da imagens desta ser vinculada a qualquer situação no projeto, a marca da empresa, assim como seus logotipos tanto da empresa como de seu instituto, deveriam ser enviadas para o departamento de marketing da empresa, que fica na cidade de Joenvile - SC para aprovação, para só depois a associação esportiva poder vincular a imagem desta nas atividades e materiais do projeto. Imagens como fotos em jornal e matérias de TV, devem ser previamente autorizadas e seguir os moldes determinados pelo departamento de marketing da empresa. Conclusão O desenvolvimento de parcerias, formando redes entre organizações se mostra um recurso possível para a sustentabilidade destas, principalmente quando essa rede social ocorre para o desenvolvimento do esporte, e mais ainda quando se fala em esporte de base, esporte educacional, que apesar de estar previsto em lei, o incentivo a essa pratica ainda é feito de forma muito modesta, oferecendo-se pouca estrutura para o seu desenvolvimento. Fica claro que cada ator tem seu próprio motivo para se unir a outro em rede, e o entendimento destes motivos podem favorecer a melhores estratégias, melhores linguagens e melhores abordagem Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 173 deste parceiros por parte dos gestores esportivos, para que mais redes de desenvolvimento do esporte ocorram, e que ocorram de forma mais eficiente oferecendo melhores resultados para todos os parceiros. Porém muito ainda deve ser pesquisado e desenvolvido pois essa área é relativamente nova no esporte, sendo assim Thibalt e Harvey (1997) sugerem que um dos desafios que as organizações esportivas sem fins lucrativos enfrentam é a falta de conhecimento sobre a formalização de processos estratégicos associados à criação e à gestão das redes entre as organizações envolvidas. Portanto, o esporte precisa de parceiros, e o melhor conhecimento do perfil da motivação de cada possível parceiro, favorecerá o gestor do esporte a uma melhor abordagem a esses parceiro para obtenção de forma mais rápida, clara e eficiente de recursos, bem como saber o retorno que deverá ser ofertado a esse parceiro. Isso já ocorre muito no setor das empresas como salienta Babiak (2007), e pode ser transferido para o setor da entidade sem fins lucrativos e em especial do esporte. Dessa forma é possível se construir um ambiente do ganha-ganha, onde ambas as partes possam atingir seus objetivos. Ficou claro que as relações locais favorecem ainda mais a formação de redes, onde a empresa T apoia projeto diversos, mas apenas onde sua empresa possui cede, para que assim crie uma identificação ainda maior com a comunidade onde está inserida, criando valor a sua marca como mostra Hoeffler e Keller (2002). Portanto, com base nas informações levantadas nesse estudo, o gestor do Projeto Crescer Handebol Rio Claro, e outros gestores de atividades semelhantes, podem entender os motivos do interesse em se formar parcerias, e com isso procedam de forma mais convincente para buscar e manter parcerias, pois sem uma parceria como essa o Projeto Crescer Handebol não poderia ocorrer. Referências bibliográficas Arow, K. (1974) The Limits of Organization. New York: Norton. Babiak, K. (2003) Examining Partnerships in Amateur Sport: The case of a canadian national sport centre. Unpublished Doctoral Dissertation, University of British Columbia, Vancouver, 2003. Babiak, K. 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Alguns autores focam seus estudos como os governos que tem desenvolvido parcerias público-privadas (COULSON, 2005; GRIMSEY; LEWIS, 2004), ao passo que as organizações com fins lucrativos estão criando alianças estratégicas e articulando empreendimentos (DAS; TENG, 2002) Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 177 Importância das Redes para o Desenvolvimento do Esporte: O caso do Projeto Crescer Alexandre Conttato Colagrai (UNINOVE) [email protected] Denis Pereira dos Santos (UNINOVE) João Paulo Lara de Siqueira (UNINOVE) Resumo Inconstância nos investimentos no esporte e interesses políticos com relação ao esporte que mudam a todo o momento – principalmente em relação ao esporte de base, de formação, e esporte educacional na cidade de Rio Claro, vinham comprometendo a sustentabilidade do projeto Crescer Handebol, o que consequentemente afetava a eficiência e a qualidade do atendimento à crianças e adolescentes desse projeto. Este relato fez uma análise do projeto e mostrou a elaboração de um plano de ação a partir da teoria de redes para que o trabalho esportivo oferecido às crianças e adolescentes, principalmente em modalidades sem muita expressão na região, se mantenham sustentáveis ao longo dos anos. A análise observou que a busca de filiação do Projeto Crescer Handebol Rio Claro a uma associação esportiva sem fins lucrativos, e a partir desta, a realização de parcerias diversas, gerou uma melhora nas condições de trabalho e no desenvolvimento geral do projeto. Palavras Chaves: Redes, Esporte, Gestão de Projetos Sociais Esportivo Abstract Variability in investment in sport and political interests with respect to the sport that change all the time - especially in relation to the base sport, training, and educational sport in the city of Rio Claro, came compromising the sustainability of the project Grow Handball, which consequently affected the efficiency and quality of care to children and adolescents of this project. This report has analyzed the project and showed the development of an action plan from the network theory to study the sports offered to children and adolescents, especially in modes without much expression in the region remain sustainable over the years. The analysis noted that the quest for membership of the Project Grow Handball Rio Claro to a nonprofit sports association, and from this, the realization of many partnerships, generated an improvement in working conditions and overall project development. Keyword: Networks, Sport, Social Project Management Sports Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 178 Introdução Este relato apresenta o desenvolvimento do Projeto Crescer Handebol desenvolvido por professores de Educação Física na cidade de Rio Claro, projeto este que tem como objetivo o desenvolvimento do esporte de formação, de base, e o esporte educacional. É apresentada a evolução deste projeto do ano de 2005 a 2014, mostrando a mudança na forma de gerir o projeto, principalmente no momento em que ocorreu uma alteração no regulamento dos Jogos Regionais e Jogos Abertos do Interior do Estado de São Paulo, especificamente, no ano de 2011, que determinou que só existiriam equipes adultas nessa competição, mudando a política esportiva na cidade, e passando assim a investir em equipes adultas competitivas, o que interferiu ainda mais na obtenção de recursos por parte da Secretaria Municipal de Esportes de Rio Claro para o projeto, fazendo com que este procurasse novas soluções para os problema já conhecidos de falta de recursos e de estrutura. Dessa forma, o problema apresentado nesse relato é a dificuldade que o Projeto Crescer Handebol da cidade de Rio Claro possuía em manter suas atividades de desenvolvimento do esporte de formação, educacional, e de base para crianças de 07 a 17 anos, pois a cada ano existia uma inconstância nos recursos repassados para o desenvolvimento de um trabalho de qualidade nesse setor. Este problema do direcionamento dos recursos levou as pessoas envolvidas na gestão do projeto a vinculá-lo a uma associação sem fins lucrativos, para que através desta, fossem realizadas parcerias em redes com diversos atores diferentes, criando relacionamentos eficientes para captação de recursos. Dessa forma este relato busca fazer uma investigação com base na teoria de redes, a fim de diagnosticar a importância das redes sociais para o desenvolvimento de uma organização esportiva, e verificar como a formação de parcerias entre atores dessa rede pode favorecer a manutenção do projeto, propondo recomendações aos gestores esportivos para a formação de parcerias, desenvolvendo redes inter- organizacionais e vinculando seus projetos a entidades esportivas sem fins lucrativos. Este relato se baseou em conceitos da literatura de redes (Granovetter, 1985, Castells, 2000, Babiak, 2007 e 2003), bem como buscou verificar os motivos que levam as instituições a se ligarem em rede. O relato técnico portanto apresenta a base teórica utilizada para embasar as ações do Projeto Crescer Handebol Rio Claro, mostrando a importância dos esportes se fortalecerem através de associações esportivas, criando parcerias diversas e não dependerem apenas de um único parceiro, que no caso do Projeto Crescer Handebol Rio Claro era o poder público representado aqui pela Secretaria Municipal de Esportes desta cidade. Isso mostra a relevância desse trabalho, que apresenta Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 179 a necessidade de se desenvolver redes de relacionamento para um melhor desenvolvimento do esporte, apresentando possíveis soluções para a sustentabilidade deste, pois dificuldades financeiras e variações quanto a forma de se ver o esporte, ocorrem no esporte de forma geral em todas as modalidades e em todo o território nacional. Contexto investigado O relato é desenvolvido analisando um projeto esportivo denominado de Projeto Crescer Handebol na cidade de Rio Claro, porém o problema relatado aqui também pode ser encontrado em diversas áreas do esporte, em diversas cidades e associações. O desenvolvimento da modalidade de Handebol se iniciou em Rio Claro no ano de 2005, quando a administração municipal dessa cidade, no governo empossado para o mandato de 2005 a 2008, se propôs a, por meio de sua Secretaria Municipal de Esportes, realizar os Jogos Regionais da Secretaria de Esportes, Lazer e Juventude do Estado de São Paulo nessa mesma cidade de Rio Claro no ano de 2008. Para tanto, iniciaram-se os trabalhos para o desenvolvimento de algumas modalidades inexistente até então, o que era o caso do Handebol. O trabalho se iniciou com um professor da Secretaria Municipal de Esportes, em uma quadra da Unesp – Universidade Estadual Paulista – com uma turma de 20 alunos realizando aulas duas vezes por semana e com duração de uma hora e trinta minutos, atendendo alunos de 13 a 16 anos. Pretendia-se disputar a categoria sub 21 (categoria extinta em 2011) nos Jogos Regionais realizados nessa cidade. O desenvolvimento da modalidade aconteceu, e a cada ano o número de alunos atendidos cresceu. Em 2008, a Secretaria Municipal de Esportes de Rio Claro já possuía duas turmas de iniciação e uma turma de treinamento. Formou-se assim uma equipe masculina e uma feminina para competirem nos Jogos Regionais de 2008, com alunos desenvolvidos na escola de formação da modalidade juntando-se à alunos da Unesp. Rio Claro ficou em terceiro lugar na categoria feminina e em quinto lugar no masculino, o que representou um resultado satisfatório para uma cidade que não possuía tradição na modalidade. No ano de 2009, já com uma nova administração, o professor da modalidade, juntamente com estagiários da Unesp, criaram novos modelos e formas de trabalhar o handebol para ampliar o seu desenvolvimento, e criando assim um projeto mais amplo, com nome próprio denominado Projeto Crescer Handebol Rio Claro, com o objetivo estimular o crescimento do Handebol na cidade e das crianças crescerem dentro desse esporte. Desenvolveu-se também uma logomarca para o projeto e padronizaram-se métodos para a divulgação das aulas nas escolas, na imprensa, criando canais de Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 180 divulgação nas mídias digitais, como blogs e redes sociais. O projeto passou a padronizar documentos, fichas, bilhetes, cadastros de alunos, cartazes, bem como as atividades a serem trabalhadas nas aulas. Com isso, o projeto cresceu, partindo de três turmas em três polos diferentes em 2008 para oito turmas em quatro polos, em quadras distintas no ano de 2010, conseguindo que mais um professor passasse a trabalhar na modalidade, pois o projeto iniciava trabalhos nas quadras de escolas públicas, atendendo mais alunos. Diagnóstico da situação-problema Devido a políticas incertas de investimentos na área esportiva de forma geral, onde na maioria das vezes esses investimentos ocorrem em equipes adultas de alto rendimentos, tal fato vem ocorrendo na cidade de Rio Claro, concentrando verbas em algumas modalidades para participarem de diversas competições, em especial Jogos Abertos e Jogos Regionais, principalmente porque a partir de 2011 não existe mais as categorias de base sub 21 nessas competições, os pesquisadores perceberam a relevância de um estudo como este. Com o foco apenas na categoria adulta, sentiu-se aumentar a dificuldade para o desenvolvimento do Projeto Crescer Handebol Rio Claro, que já enfrentava problemas para aquisição de materiais para as aulas, como bolas e outros materiais esportivos, e também para a obtenção de transporte para competições e participação em festivais e eventos ligados ao handebol de base. Dessa forma percebeu-se que o trabalho de formação, de base, ficava muito vulnerável e distante das prioridades políticas, que privilegiam o esporte de alto rendimento. Portanto, em 2012, devido a essa sequência de anos sem recursos e estrutura para trabalhar, os professores envolvidos no projeto elaboram novas soluções para esses problemas, pois o investimento no esporte é inconstante e depende de interesses políticos do momento. Buscou-se, então, inserir o projeto, que até então era desenvolvido apenas por dois professores da Secretaria Municipal de Esportes, em uma associação esportiva sem fins lucrativos, para buscar novas parcerias e criar uma rede de relacionamentos capaz de sustentá-lo. Era consenso entre os professores, funcionários e os integrantes do Projeto Crescer Handebol Rio Claro, a necessidade de sua reestruturação, ou seja, de estabelecer novas parcerias, criar uma rede que fosse fonte de sustentabilidade para o seu desenvolvimento, pois a Secretaria Municipal de Esporte era limitada para manter um projeto desse porte, com qualidade. Isso ocorre porque a Secretaria não tem condições de manter todas as modalidades devido a suas restrições de orçamento Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 181 e transporte, e aos investimentos em competição de alto nível em algumas modalidades como basquete e voleibol, que a cidade mantem disputando competições de nível nacional com custos altos, e o foco em Jogos Regionais e Jogos Abertos com equipes adultas. Dessa forma, o trabalho de base e de formação fica restrito e com pouca estrutura. Essa realidade de incertezas para a manutenção e continuidade do projeto, a dificuldade de se obter materiais para a realização das aulas, a dificuldade de estrutura nos espaços onde ocorrem as aulas, fez com que em 2012 professores, professores voluntários, estagiários, e ex- alunos do projeto tomassem a iniciativa de buscar uma parceria com uma associação esportiva sem fins lucrativos, para que tal associação inserisse o Projeto Crescer Handebol Rio Claro em seu leque de atividades, auxiliando assim o projeto a se desenvolver, pois esta associação buscaria parceiros interessados em financiar, apoiar e sustentar tal projeto, para que com isso conseguíssemos contratar mais professores e ampliar o atendimento, bem como obter mais materiais diversos para serem utilizados nas aulas. Imaginava-se que por meio de uma associação, seria possível desenvolver redes de contatos, redes de ação, ou redes sociais que possibilitassem a realização de parcerias com organizações privadas e públicas, relacionando-se assim com diversos atores, parceiros, criando uma rede densa e coesa entre os atores envolvidos, para que, caso houvesse uma dificuldade com um parceiro, o trabalho não acabaria ou ficaria totalmente defasado, pois existiriam outras ligações, outros parceiros que poderiam substitui-lo. Referencial teórico Embora seja difícil determinar exatamente quando foi o início dos estudos sobre redes, podese dizer que a partir dos trabalhos de Mark Granovetter, primeiramente em 1973 e, com maior ênfase, em 1985, que essas teorias começaram a ganhar notoriedade. Segundo essas ideias, as relações sociais são extremamente importantes para o desenvolvimento de qualquer organização. Essas relações sociais são mais importantes do que apenas métodos administrativos (Granovetter, 1985). Também Castells (2000) seguiu afirmando que tudo está em rede. Este autor afirma ainda que para se observar as redes, devemos olhar para a ligação entre as coisas e o modo como essa relação ocorre. Dessa forma para este mesmo autor, rede é um conjunto de nós interconectados, e o nó é o ponto no qual se encontram diversas relações. Assim, uma rede vai se construindo, e todos os membros dela devem compartilhar os mesmos objetivos como condição para que essa construção ocorra, sendo a vontade, o alicerce desta, que funcionará através da cooperação entre parceiros diferentes (Castells, 2000). Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 182 Tais característica são importantes para uma associação esportiva sendo que esta é uma entidade do terceiro setor, e como afirma Castells (2000), as redes têm surgido como um modo de organização das novas instituições da sociedade, que são as organizações do Terceiro Setor. Fica claro que para iniciativas de fomento ao desenvolvimento humano social sustentável, trabalhar em redes é uma ação necessária e decisiva (Castells, 2000), e com base nisso, o esporte como ferramenta para o desenvolvimento humano, se encaixa perfeitamente a essas características de redes definida por este autor. Isso fica mais evidente pois sabe-se que redes são velhas formas de organização social, mas com a era da informação essas relações estão mais evidentes e necessárias, dessa forma o desenvolvimento do esporte não poderia ser diferente, e no caso do Projeto Crescer Handebol Rio Claro que só tinha como único parceiro, a Secretaria Municipal de Esportes, foi necessário ampliar sua rede de relações e dependência. Dessa forma as redes sociais seriam utilizadas pela associação para o desenvolvimento do Projeto Crescer Handebol Rio Claro, pois sabe-se que devido a fatores ambientais como globalização, desenvolvimento de tecnologias, desafios econômicos, mudanças políticas, as organizações tem agido em colaboração mutua entre si, realizando parcerias (Clegg & Hardy, 1999, Doz & Hamel, 1998). A captação de recursos é importante para as associações esportivas através de redes de relacionamento, e isso é possível pois empresas precisam demonstrar sua responsabilidade social, com a intenção de ser ética e responsável, não só para as partes interessadas, mas também para a sociedade em geral, e dessa forma a empresa busca criar parcerias com instituições e organizações, para desenvolver tal responsabilidade social (Pharr & Lough, 2012). Essas relações entre parceiros em uma rede podem tomar muitas formas, como por exemplo, as cooperativas ou os patrocínios, pois mudanças no financiamento do governo levaram à necessidade das organizações esportivas definirem e formalizarem relações com parceiros do sistema que podem ser o governo, o setor sem fins lucrativos, o setor privado ou corporativo (Babiak, 2003). Dessa forma, muitos motivos para a formação de parcerias em redes têm sido identificados na literatura, como por exemplo, a redução de riscos (Isaacs, 2004), e assim, as parcerias tornaram-se cada vez mais importantes para as organizações esportivas (Babiak, 2007). Os governos podem ser um forte motivador na criação de parcerias para compartilhar custos de entrega de serviços que o próprio governo deveria realizar (Babiak, 2007). Dessa forma, a associação esportiva estudada realiza a função de desenvolver o esporte de formação que seria obrigação do governo, e ele incentiva essa entidade do terceiro setor a desenvolver tal trabalho, o que Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 183 explica o motivo da Secretaria Municipal de Esportes de Rio Claro ser o maior parceiro da associação no desenvolvimento do Projeto Crescer Handebol. A importância de se engajar em uma relação inter- organizacional é que isso permitiria a uma organização melhorar a sua reputação, sua imagem ou seu prestígio, e impressionar outros membros em sua rede, tais como agências de concessão de recursos, ou partes interessadas externas, ou, ainda, o público em geral (Babiak, 2007). Dessa forma os professores responsáveis pelo Projeto Crescer Handebol Rio Claro procuraram uma associação para que o projeto fizesse parte desta, o que para a associação foi interessante, pois o projeto já possuía um histórico de atividades, o que agregava valor à associação. A realização de parcerias é vista como uma estratégia utilizada pelas organizações para enfrentarem e absorverem as incertezas do ambiente, principalmente do ambiente esportivo, a fim de alcançar um padrão ordenado e seguro de fluxos de recursos (Babiak, 2007), e isso mostra o aumento de parcerias realizadas no esporte, principalmente devido à recursos limitados como mostram os estudos desse autor. Nelson (1984) afirma que, as redes sociais são conjuntos de contatos que ligam vários atores, e esses contatos podem ser de diferentes tipos, apresentar conteúdos distintos, bem como diversas propriedades estruturais. Isso comprova a diversidade de contatos e tipos de parceria realizada pela associação estudada. Fica claro que os comportamentos e as instituições analisadas que se ligam à associação em estudo, são tão impulsionados pelas contínuas relações sociais, que interpretar qualquer uma das instituições citadas que se relacionam com a associação de forma independente, desconsiderando suas diversas relações, seria um erro, pois Granovetter (1985) mostra evidências do quanto qualquer relação se mistura com as relações sociais. Esse autor afirma que existe um desprezo pela relação social, mas que isso não deveria ocorrer, pois ela é muito importante, visto que as pequenas empresas em um contexto de mercado podem persistir e sobreviver em virtude de uma densa rede de relações sociais, que se sobressaem sobre as relações comerciais que conectam essas empresas. Isto se compara com a relação das entidades privadas e públicas que se relacionam com a associação desportiva em estudo. Os governos também estão adotando as parcerias público-privadas, ao passo que as organizações com fins lucrativos estão criando alianças estratégicas e articulando empreendimentos com organizações sem fins lucrativos, como é o caso deste estudo, estabelecendo relações de colaboração com parceiros não tradicionais (Babiak, 2007). Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 184 Mesmo melhorando as condições do Projeto Crescer Handebol Rio Claro, o desenvolvimento das relações entre diversas organizações trabalhando em rede é um fator relativamente novo como estratégia organizacional para o esporte, e um dos desafios que as organizações desportivas sem fins lucrativos, enfrentam é a falta de conhecimento sobre a formalização e os processos estratégicos associados à criação e a gestão dessas relações (Babiak, 2007). Isso mostra a relevância deste estudo para servir como mais um instrumento para o aprimoramento desse conhecimento. Às vezes, quando a parceria é ampla (incluindo público, privado e parceiros corporativos), há uma percepção de que aqueles que têm poder econômico ou político são os tomadores de decisão chave (Isaacs, 2004). No caso do Projeto Crescer Handebol Rio Claro, a Secretaria ainda é quem mais detém esse poder, por ser o maior parceiro. Método da produção técnica Foram confrontados dados relativos ao funcionamento do projeto, como as informações referentes aos equipamentos esportivos, materiais adquiridos para aulas fornecidos antes do vínculo do projeto à associação e depois do vínculo, e da ligação em redes por parte da associação. Também foram verificados os recursos humanos antes e depois da ligação da associação nas redes, bem como os processos de funcionamento operacional das atividades do projeto, que serviram como fonte de informação para avaliar a qualidade do funcionamento do projeto. Foi feita uma análise documental, com levantamentos de folhas de cadastros de alunos, folhas de chamadas, verificando os alunos e suas presenças em aulas, análise dos locais de aula existentes antes e depois da parceria, análise de documentos eletrônicos trocados entre as pessoas responsáveis pelo projeto, as pessoas responsáveis pela associação, e da associação com futuros parceiros que apoiassem o projeto em estudo. Verificouse também as mídias sociais do projeto, da associação, e os projetos protocolados com o nome do projeto e da associação na Lei de Incentivo da prefeitura de Rio Claro do Estado de São Paulo. Como um dos pesquisadores é envolvido profissionalmente com o projeto desde seu início, pode-se dizer que houve observação participante. Análise da situação-problema Analisando a situação do projeto e das políticas públicas, chegou-se à conclusão que seria interessante vincular o projeto a uma associação sem fins lucrativos e criar uma rede de relacionamentos, cujos relacionamentos entre os diversos atores serão descritos a seguir, apresentando-se a quantidade de relações e o nível dos vínculos criados entre os atores, bem como a Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 185 importância de cada relação nessa rede social, pois segundo a teoria de redes os atores não se comportam nem tomam decisões como átomos, como seres sozinhos e isolados fora de um contexto social (Granovetter, 1985). Dessa forma, a rede da associação esportiva a qual o Projeto Crescer Handebol Rio Claro se ligou é uma associação sem fins lucrativos que desenvolve o esporte de forma geral. Essa instituição está inserida em redes com muitos parceiros para se manter ativa e melhorar a qualidade de um trabalho de formação que já ocorria desde 2005. Os atores dessa rede além da associação são: 1Secretaria Municipal de Esportes de Rio Claro – entidade pública (este ator é responsável pelo pagamento de dois professores entre os 3 existentes que desenvolvem o trabalho e por fornecer transporte das crianças para as competições, disponibilizando também espaços públicos para a realização de aulas), 2- Centro Social Urbano Mítico Nevoeiro – entidade pública/privada (este ator é um clube que disponibiliza espaço em suas quadras para a realização das aulas do projeto), 3- Centro Social Urbano João Rehder Neto – entidade pública/privada (este ator é um clube que disponibiliza espaço em suas quadras para a realização das aulas do projeto e de jogos aos finais de semana), 4Sesi – entidade privada (este ator disponibiliza espaço na quadra para a realização das aulas do projeto, disponibilizando também transporte para competições e passeios externos). 5- Tigre S/A entidade privada – (este ator é uma empresa que fornece material esportivo como bolas, uniformes, coletes, entre outros), 6- Monely Esportes – entidade privada (este ator fornece bolas), 7- Saúde Stock – entidade privada (este ator fornece material de saúde), 8- Universidade Unesp – entidade pública (este ator fornece estagiários para auxiliarem nas aulas semanais, bem como conhecimento compartilhado pelos alunos e professores), 9- Faculdade Asser – entidade privada (este ator fornece fisioterapia para os atletas e também bolsa de estudos para membros da equipe adulta, que têm obrigação de auxiliar nos trabalhos com o Projeto Crescer Handebol). Essa entidade também envia estagiários para auxiliar nos eventos do handebol nos finais de semana, como festivais e competições, 10- Faculdade Claretianas, - entidade privada (este ator fornece estagiários para auxiliar nos eventos do handebol aos finais de semana como festivais e competições, bem como conhecimento compartilhado), 11- Liga de Handebol do Estado de São Paulo – entidade privada (este ator proporciona as competições da modalidade no âmbito regional), 12- Outras associações locais de Rio Claro como ACDB e ABEC – entidades sem fins lucrativos (estes autores fornecem conhecimento e auxilio no trabalho de desenvolvimento da estrutura das associações na cidade, para que possam melhorar e desenvolver o esporte), 13- Outras associações que disputam a Liga de Handebol do Estado de São Paulo como CPH, AD 15 de Piracicaba, ASJ entre outros (estes atores fornecem Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 186 conhecimento e regulamentação para a participação da liga, pois todos tem um interesse em comum no desenvolvimento da modalidade). A Secretaria Municipal de Esportes é o maior, mais ativo e mais acionado ator na rede de relacionamento da associação, pois ambas mantém um denso e coeso relacionamento direto, sendo o ator Secretaria Municipal de Esportes o que tem maior investimento nesse trabalho desenvolvido pela associação, que anteriormente era apenas desenvolvido pela própria Secretaria. O interesse da associação com a Secretaria de Esportes é porque ela mantém a maior parte do investimento financeiro recebido pela associação para desenvolver seus trabalhos, financiando o pagamento de dois professores, e fornecendo alguns transporte para as crianças participarem de jogos e competições fora da cidade, sendo assim seu maior parceiro. Em contrapartida o interesse da Secretaria Municipal de Esportes em manter o relacionamento com a associação no desenvolvimento do projeto é porque ela desenvolve um trabalho de atendimento à população, com trabalho de base e de formação através do esporte que a Secretaria não desenvolveria sozinha, e para ela isso é necessário, visto que ela é um órgão público e precisa atender a população, bem como ter representatividade na modalidade de Handebol em competições oficiais do Estado. Sendo assim a Secretaria também disponibiliza espaços em quadras municipais para a associação desenvolver suas atividades. Os dois Centro Sociais Urbanos, tanto o Mítico Nevoeiro quanto o João Rehder Neto, são atores importantes na rede, pois disponibilizam espaços em suas quadras para que a associação desenvolva seus trabalhos com as crianças e adolescentes, e também as competições aos finais de semana. Estes centros também estão ligados em rede com a Secretaria Municipal de Esportes, pois ela fornece um funcionário para manutenção e realiza o pagamento da conta de água e luz do local, por isso é uma parceria pública/privada como citado anteriormente, sendo que esses clubes foram fundados em mutua parceria com o setor público para que eles desenvolvessem esportes. A ligação em rede com o Sesi ocorre porque o Sesi necessita desenvolver atividade em seu espaço com crianças devido a um programa que possui para atender as empresas, assim ele precisa atingir metas de atendimento, e a associação possui professores e contato com as crianças. Portanto o Sesi fornece espaço e transporte para que as crianças compareçam em competições de base e a associação capta crianças levando-as até o Sesi desenvolvendo as atividades com elas no interior deste. O Sesi também está ligado em parceria direta com outros dois atores dessa rede, que são a Secretaria Municipal de Esportes, a qual possui outros professores de judô atuando em espaços do Sesi, e a empresa Tigre S/A, pois esta empresa pertence ao quadro das indústrias que contribuem com a manutenção do Sesi o qual deve dar retorno a essa empresa em nível de atendimento. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 187 Um outro membro parceiro da associação na rede é a empresa Tigre S/A, pois a associação precisa de material esportivo diverso para desenvolver suas atividades e a Tigre S/A precisa desenvolver atividades sociais, de responsabilidade social, para agregar valor à sua marca, desenvolvendo um comportamentos ético. Portanto esta empresa cede material esportivo para a associação desenvolver trabalhos com as crianças. A Tigre S/A também está ligada em rede como parceira do Sesi, pois como empresa, repassa verba para a manutenção do Sesi, o qual retorna a esta empresa a prestação de serviços em atendimentos diversos. A Monely Esportes e a Saúde Stock são empresas privadas que fornecem material esportivo e de saúde à associação e obtém o retorno de ter sua imagem vinculada às crianças e a um trabalho social, fazendo propaganda e apresentando responsabilidade social. A Monely Esporte também está ligada em rede à Secretaria Municipal de Esporte e à Tigre S/A, pois fornece material esportivo também para estes outros dois atores da rede. A ligação em rede entre a associação e os três atores educacionais que são a universidade Unesp e as faculdades – Asser e Claretianas, estão no nível de fornecimento de estagiários e troca de conhecimento, porém a relação da associação com a Faculdade Asser é mais densa e coesa por esta entidade fornecer bolsa de estudos e tratamento de fisioterapia às pessoas e atletas vinculadas à associação e ao projeto do handebol. Esta ligação é importante com as instituições de ensino porque a associação precisa de pessoas para auxiliarem nas suas atividades práticas e atualização de conhecimentos, e as instituições precisam de espaços de qualidade para que seus alunos cumpram suas atividades de estágio e desenvolvam os conhecimentos aprendidos em aula. A Faculdade Asser também está ligada em rede com a Secretaria Municipal de Esportes por fornecer bolsa a outros atletas de outras modalidades pertencentes a esta secretaria. A associação esportiva do Projeto Crescer Handebol Rio Claro e a Liga de Handebol do Estado de São Paulo são atores que estão diretamente ligados em rede porque a associação desenvolve e disponibiliza pessoas para jogarem Handebol e a Liga desenvolve as competições para que essas pessoas joguem. A Liga de Handebol está ligada em rede com outras associações que desenvolvem o Handebol no Estado de São Paulo e disputam suas competições como por exemplo o CPH, AD 15 de Piracicaba, ASJ entre outros já citados anteriormente. Da mesma forma existe uma ligação com outras associações esportivas que disputam a Liga de Handebol, pois ambas tem interesse em comum no que tange à organização, às regras, os regulamentos e o desenvolvimento das competições promovidas pela liga. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 188 A ACDB e a ABEC são associações esportivas sem fins lucrativos da cidade de Rio Claro, e são atores que estão ligadas em rede com a associação em estudo, a qual está associado o projeto do Handebol, por vivenciarem as mesmas dificuldades para a realização de suas atividades, portanto estas associações se auxiliam mutuamente no desenvolvimento de suas atividades e nas relações de negociação e regulamentação das atividades juntamente com a Prefeitura e a Secretaria Municipal de Esportes. A Secretaria Municipal de Esportes também está ligada em rede com estas duas associações pois precisa delas para desenvolver outras modalidades esportivas como ciclismo, basquete e vôlei. A ligação mais forte nessa ampla rede retratada anteriormente está entre a associação esportiva estudada e a Secretaria Municipal de Esportes, e ambas se relacionam com vários atores em comum e tem um vínculo de dependência muito grande entre si. A segunda relação mais forte de interdependência ocorre entre a associação e o ator denominado Tigre S/A, que fornece todo o material para o desenvolvimento das atividades da associação, recebendo deste o retorno na divulgação da imagem da empresa desenvolvendo um trabalho de responsabilidade social, porém a associação depende muito mais da Tigre S/A do que esta empresa depende da associação. Na sequência a terceira relação mais forte na rede é a da associação e a Faculdade Asser, que fornece apoio em diversas áreas para o desenvolvimento das atividades da associação. Contudo não se pode desconsiderar a forte ligação na rede existente entre a associação e a Liga de Handebol, onde uma depende diretamente da outra para o fortalecimento de seu histórico de atividades. Dessa forma os atores centrais são a associação a qual está vinculado o Projeto Crescer Handebol e a Secretaria Municipal de Esportes, por se relacionarem entre si de forma coesa e densa, e também se relacionarem com os outros atores comuns a ambas. Tais relações são importantes pois se uma relação entre algum ator se romper, o projeto não deixa de se desenvolver totalmente, podendo diminuir sua intensidade de ações. Talvez ele continue com menos estrutura por um período, até se formarem novas parcerias que deem suporte, mas ele não corre o risco de deixar de existir. Mesmo se a parceria mais forte se romper, com a Secretaria Municipal de Esportes que mantém dois professores, o projeto continua com um professor mantido pela associação através de recursos captados por esta. Dessa forma, vinculando o Projeto Crescer Handebol Rio Claro à associação já em 2012 foram realizadas parcerias com empresas privadas como a Tigre S/A, a faculdade Asser, a Monely Esportes que nos forneceram materiais esportivos, nos forneceram estagiários para trabalhar nos pólos com as crianças juntamente com o professor, e conseguimos a contratação de mais um professor. Portanto em 2013 e 2014 conseguimos principalmente materiais esportivos como bolas, coletes, uniformes Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 189 para as crianças e passamos a desenvolver o projeto com 3 professores, surgindo novos parceiros em 2014 como a Saude Stock e Sesi. Com isso atualmente o Projeto Crescer Handebol Rio Claro possui 15 turmas em 8 pólos diferentes para alunos de 07 a 17 anos, totalizando um atendimento em média de 250 alunos, diferente do seu inicio em 2005 onde existia apenas uma turma. Portanto quanto mais parcerias a associação possuir melhores recursos ela poderá obter, e mais provavelmente ela poderá se sustentar quando mudanças ocorrerem, pois o ambiente político e econômico é instável para todas as áreas e em especial para o esporte, que serve como um instrumento político muito sensível. Quanto mais centralizada a associação estiver nessa rede, melhor será seu desenvolvimento pois ela terá relações mais coesas e dependentes dela, relações que devem passar por ela a todo momento (Granovetter, 1985, Castells, 2000, Babiak, 2007). Contribuição tecnológica - social A contribuição desse relato é mostrar que a teoria de redes é pertinente para o esporte, e que a criação de redes de parceria para o Projeto Crescer Handebol Rio Claro a partir do momento que os professores desse projeto o vincularam a uma associação esportiva sem fins lucrativos, para não mais depender apenas da Secretaria Municipal de Esportes, auxiliou no melhor desenvolvimento desse projeto esportivo, melhorando suas condições materiais, que passou a receber cerca de 200 bolas por ano, 250 camisetas e 250 shorts, 40 coletes entre outros materiais diversos, bem como conseguiu arrecadar material para cuidados com a saúde, e um professor que recebe verba de um fundo de apoio ao esporte pela associação para auxiliar no desenvolvimento do projeto. Por meio da associação conseguiu-se parcerias com faculdades, obtendo a possibilidade de oferecer estágio e receber bolsas de estudos às pessoas envolvidas no projeto. Portanto a formação de redes se mostra importante para o esporte, já que este vive em uma ambiente de muita inconstância, e com isso pretende-se em 2014 e 2015 manter essa rede a qual a associação se envolveu para manter a aquisição dos materiais, dos professores, bem como realizar novas parcerias para a ampliação do projeto. Assim, através da associação, busca-se registros em órgão do governo, permitindo captar recursos diversos como por exemplo verba para trabalhar com crianças que estejam vinculadas ao conselho da criança e do adolescente, verbas para trabalhar com leis de incentivo estadual, municipal e federal, verbas de imposto, vendas de produtos ligados ao projeto, realização de eventos beneficentes, ações estas para auxiliar na captação de recursos para manutenção e melhoria do projeto. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 190 Referência bibliográfica Babiak, K. (2003) Examining Partnerships in Amateur Sport: The case of a canadian national sport centre. Unpublished Doctoral Dissertation. University of British Columbia.Vancouver. Babiak, K. (2007) Determinants of Interorganizational Relationships: The case of a canadian nonprofit sport organization. Journal of Sport Management, 21 p. 338-376. Castells, M. (2000) Materials for an Exploratory Theory of the Network Society. British Journal of Sociology, 51 (1) p. 5–24. Clegg, S. R. & Hardy, C. (1999) Studying Organization. Theory and method. London: Sage, 1999. Doz, Y. & Hamel, G. (1998) Alliance Advantage. Boston, MA: Harvard Business School Press, 1998. Granovetter, M. (1985) Economic Action and Social Structure: The problem of embeddedness. American Journaul of Sociology, 91, (3) p. 481-510. Isaacs, H. L. (2004) The Allure of Partnerships: Beyond the rhetoric. Social and Economic Studies, 53 (4) p. 125-134. Nelson, R. (1984) O Uso da Análise de Redes Sociais no Estudo das Estruturas Organizacionais. Revista de Administração de Empresas (RAE). Rio de Janeiro, 24 (4) p.150-157. Pharr, J. R. & Lough, N. L. (2012) Differentiation of Social Marketing and Cause- Related Marketing in US Professional Sport. Sport Marketing Quartely, 21( 2) p. 91 – 103. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 191 Hospitalidade e Copa do Mundo 2014: o momento de percepção da hospitalidade pelo visitante. Daniella Aparecida Tolão Mendes (Universidade Anhembi Morumbi) [email protected] Elizabeth Kyoko Wada (Universidade Anhembi Morumbi) Ricardo de Gil Torres (Universidade Anhembi Morumbi) Resumo Eventos esportivos representam oportunidades de promoção de um país, a fim de garantir captação futura de investimentos e visitantes; a Copa do Mundo 2014 constituiu para o Brasil um desses momentos de planejamento e integração das iniciativas pública, privada e terceiro setor, lidando com o senso comum de país com beleza natural e povo acolhedor. O acolhimento, relacionado ao tema hospitalidade, pode ser analisado a partir do conceito de Gotman (2001) como a inserção do outro a uma comunidade existente, esperando-se que a mesma exerça o papel de anfitriã e não de serviçal (GOTMAN, 2009). Dessa forma, o construto hospitalidade pode ser considerado um fator de competitividade para destinos que visam atrair visitantes. Nesse contexto, objetivou-se compreender as manifestações (organizadas ou não) das relações de hospitalidade entre anfitrião e visitantes. Durante os 30 dias de realização da Copa do Mundo de Futebol 2014, foram coletas 3081 matérias publicadas nas homepages dos portais G1 (g1.globo.com) e UOL (www.uol.com.br) que continham as palavras-chave definidas pelas autoras. As matérias foram dividas em quatro grupos de análise para que fossem testadas as hipóteses: (H1) As relações de hospitalidade foram melhor percebidas em contatos não organizados e planejados entre anfitrião e visitante; (H2) As relações de hospitalidade entre anfitrião e visitante foram melhor percebidas em um contexto de convívio planejado e organizado pelas autoridades; (H3) Há manifestação dos visitantes em querer retornar ao Brasil após essa visita. O estudo confirmou as hipóteses H1 e H3 e parcialmente a hipótese H2. Palavras-chave: hospitalidade, competitividade, Copa do Mundo. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 192 Introdução A Federação Internacional de Futebol (FIFA) é uma associação fundada em 1904 com o objetivo de melhorar continuamente o futebol. É composta por uma série de federações nacionais e é a organizadora oficial da Copa do Mundo de Futebol. Até o momento, aconteceram 20 eventos da Copa do Mundo (FIFA, 2014). No dia 30 de outubro de 2007, em um processo de eleição organizado pela mesma federação (FIFA, 2014), o Brasil foi eleito novamente o país que sediaria a Copa do Mundo FIFA de 2014. Sendo esse um evento esportivo de grandes proporções, exigiu do destino escolhido, planejamento e investimentos para desenvolver a estrutura que sediaria as partidas de futebol de seleções internacionais e receberia também visitantes provenientes de todas as partes do mundo, com diferentes culturas. O último campeonato dessa natureza realizado no Brasil ocorreu em 1950, com 16 seleções em 6 cidades; em 2014, foram 32 seleções, em 12 cidades, de Norte a Sul do país. A Copa das Confederações 2013 realizou-se no Brasil, com 8 equipes, em 6 cidades, como um preparativo e como teste para o campeonato mundial de 2014. Tal teste revelou outra faceta do povo brasileiro que viveu o governo militar de 1964 a 1985: a vontade de manifestar publicamente as insatisfações em relação a questões sócio-político-culturais. A Sesge (Secretaria Extraordinária de Segurança de Grandes Eventos) divulgou que 864 mil pessoas participaram de protestos entre 15 e 30 de junho de 2013. Durante os meses de maio e o início de junho de 2014, as manifestações voltaram às ruas, seja pelo questionamento dos gastos relativos à preparação de infraestrutura para a Copa, seja por reivindicações por melhoria em setores essenciais como Saúde, Educação e Segurança ou pela melhoria de salários de diversas categorias – professores, metroviários, agentes de trânsito, entre outros. Diferentemente das Copas anteriores, a população pareceu relutar em “abraçar” o megaevento, mesmo em um país identificado como amante do futebol. Tais acontecimentos causaram certa preocupação em relação ao acolhimento desses visitantes, fossem eles turistas ou delegações, uma vez que o ato de acolher, relacionado à hospitalidade do destino é considerado um fator de relevância para sua promoção e conquista de futuros investimentos e visitantes. O relatório The Travel & Tourism Competitiveness Report 2013, publicado pelo World Economic Forum, cujo objetivo é fornecer uma plataforma de diálogo multilateral para garantir o desenvolvimento do setor de Viagens e Turismo de forma sustentável e contribuir efetivamente para Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 193 o desenvolvimento econômico internacional, retoma pelo sétimo ano consecutivo os catorze pilares de avaliação de competitividade em Viagens e Turismo. Esses pilares envolvem setenta e cinco indicadores, analisados em 140 países. O 12º pilar – afinidade para viagens e turismo – relacionado à questão da hospitalidade, trata de quatro indicadores, sendo eles: (12.01) abertura para o turismo, % do PIB; (12.02) atitude da população para visitantes estrangeiros; (12.03) recomendação de extensão de viagens de negócios; (12.04) grau de orientação ao cliente. Nos meses de junho e julho de 2014, as autoras deste artigo, desenvolveram uma pesquisa que resultou em um estudo apresentado no VIII Congresso Societur em Santigo do Chile. Tal artigo tinha como objetivo compreender as relações de hospitalidade e hostilidade durante os 30 dias de realização da Copa do Mundo de Futebol 2014, no Brasil por meio da coleta de matérias publicadas na homepage de portais como G1 (g1.globo.com) e UOL (www.uol.com.br). As hipóteses desse estudo anterior estavam relacionadas a abertura da comunidade para o turismo, ao acolhimento dos visitantes pela população, ao desejo de retorno dos visitantes e a orientação da população para esse acolhimento. Tal estudo e o material levantado proporcionaram às autoras o levantamento de novas hipóteses, dando continuidade ao estudo sobre a hospitalidade como fator de competitividade e grandes eventos esportivos. Problema da Pesquisa e Objetivo De acordo com a introdução apresentada acima, para esse próximo estudo, criou-se a seguinte problemática: A hospitalidade é considerada um fator de competitividade para destinos que sediam grandes eventos? O objetivo principal dessa pesquisa é compreender as manifestações (organizadas ou não) das relações de hospitalidade entre anfitrião e visitantes. Os objetivos específicos são compreender se as relações de hospitalidade são melhor percebidas em um convívio organizado ou não por autoridades oficiais e verificar o desejo do visitante em retornar ao Brasil. Revisão Bibliográfica Para melhor desenvolvimento da atividade turística, de forma a entender as necessidades de uma dada demanda e definir uma oferta mais eficiente de serviço, aplicou-se o conceito de Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 194 segmentação a essa atividade. Dessa forma, o turismo pode ser tratado de forma segmentada, tendo por vezes a motivação como critério adotado, sendo uma delas o Turismo de Esportes. De acordo com o Ministério do Turismo, o Turismo de Esportes “compreende as atividades turísticas decorrentes da prática, envolvimento ou observação de modalidades esportivas” (MTUR, 2006). Tal motivação foi responsável pelo deslocamento de fluxos de turistas desde o período da Grécia antiga, com a criação dos Jogos Olímpicos. Porém, foi a partir do século XX que os deslocamentos por razões esportivas, envolvendo por vezes eventos esportivos, passaram a ser tratados como atividade turística. Atualmente, o alcance e proporções que esses eventos esportivos tomaram, permitiu ao mercado desenvolver-se economicamente nesse setor. Desenvolvimento esse que, relacionado a atividade de turismo, contempla empresas organizadoras de eventos, patrocínios provenientes de empresas privadas, oferta de serviços ligados a hospitalidade como hospedagem, alimentos e bebidas, meios de transportes e a promoção do próprio destino em si. Nas décadas de 1970 e 1980, alguns lugares passaram para uma etapa de planejamento estratégico de mercado que trocaram a meta única de atuação pelas metas múltiplas e vários gruposalvo nos esforços de planejamento. A essas metas múltiplas podem-se atribuir, entre outras, o turismo, promoção e criação de novos negócios. (KOTLER et. al, 2006). Ainda como apresentado em Kotler et al. (2006), o turismo interfronteiras e os eventos esportivos estão em franca expansão servindo como oportunidade de promoção de destinos e fortalecimento de elos entre países anfitriões. Esse contexto pode gerar uma situação de rivalidade que disputam por sediar esses eventos e em atrair visitantes. Muitos quesitos fazem parte da gama de atrações de um destino que de certa forma resulta em um grau maior ou menor grau de competitividade. O Fórum Econômico Mundial (World Economic Forum), produz e divulga um relatório com indicadores que avaliam a competitividade dos destinos em Viagens e Turismo. Ele se chama The Travel & Tourism Competitiveness Report e a edição de 2013, última divulgada, retoma o método de avaliação que considera catorze pilares enquanto temas de análise, sendo eles: 1. Medidas de Política e Regulamentação 2. Sustentabilidade Ambiental 3. Segurança 4. Saúde e Higiene Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 195 5. Prioridade ao setor de Viagens e Turismo 6. Infraestrutura do Transporte Aéreo 7. Infraestrutura do Transporte Terrestre 8. Infraestrutura turística 9. Infraestrutura da Tecnologia da Informação e Comunicação 10. Competitividade de Preços no Setor de Viagens e Turismo 11. Recursos Humanos 12. Afinidade para Viagens e Turismo 13. Recursos Naturais 14. Recursos Culturais Cada um desses pilares trata de alguns subitens, totalizando assim setenta e cinco indicadores de avaliação que, transferidos para uma fórmula de calculo, resultará no índice de competitividade de cada um dos destinos envolvidos. Interessante notar que muitos dos temas abordados nesses pilares, de certa forma, são considerados nos planos de destinos que se programam para sediar grandes eventos esportivos. O estudo em questão irá considerar o tema hospitalidade para compreender as relações entre anfitrião e visitante, cuja sua representação no The Travel & Tourism Competitiveness Report 2013 se dá por meio do 12º Pilar - afinidade para Viagens e Turismo. Para Kotler (2006), um destino ou um lugar, apesar de ter um boa infraestrutura voltada ao turismo e diversos atrativos, pode “ainda assim, não ser bem-sucedido em razão da maneira como os visitantes percebem seu povo. A hospitalidade dos moradores pode afetar a atratividade de um lugar de várias maneiras” (KOTLER et al, 2006, p.176-177). A hospitalidade, para Brotherton e Wood (2004, p. 202) é entendida como uma troca humana contemporânea, assumida e idealizada de forma voluntária, a fim de acentuar o bem-estar mútuo entre as partes, pela oferta de acomodação e/ou alimentos e/ou bebidas. Em um entendimento mais amplo sobre o tema, Lashley (2004) sugere que a hospitalidade é em primeiro lugar “o relacionamento construído entre anfitrião e hóspede” (LASHLEY, 2004, p. 21), e para que seja eficaz, o hóspede precisa sentir que o anfitrião está “sendo hospitaleiro por sentimentos de generosidade, pelo desejo de agradar e por ver a ele, hóspede, enquanto indivíduo” (LASHLEY, 2004, p. 21). O mesmo autor analisa ainda as atividades relacionadas à hospitalidade, em três diferentes domínios, sendo eles: social, privado e comercial. De forma simplificada, cada um desses domínios Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 196 aparece como uma expressão da oferta da hospitalidade, sendo: social – as atividades onde a hospitalidade ocorre junto com impactos de forças sociais; privado – a hospitalidade associada à oferta no lar; e comercial – a hospitalidade enquanto atividade econômica. O momento em que é possível realizar a gestão dos relacionamentos de hospitalidade entre os indivíduos – sejam eles imigrantes, visitantes ou turistas – é o ponto de intersecção entre esses três domínios sobrepostos, como mostra a figura abaixo. Figura 1: Atividades relacionadas com a hospitalidade. Fonte: Lashley e Morrison, 2000, p. 4 Para Gotman (2009), a conversão do turista em convidado é uma problemática tratada como sendo uma “troca livremente consentida, mas socialmente determinada, de uma regra social codificada e socialmente sancionada” (GOTMAN, 2009, p. 18). Ou seja, o turista torna-se um convidado da comunidade que visita, no exato momento em que a troca que ocorre entre anfitrião e hóspede, acontece de forma não forçada. Dessa forma, é necessário que a comunidade anfitriã detenha as regras e o controle da situação, além de ter a iniciativa e a capacidade “de oferecer a hospitalidade, e não de serem simples serviçais” (GOTMAN, 2009, p. 18). Em consequência, o hóspede passará a ter a obrigação de respeitar a comunidade anfitriã, mantendo-se no lugar que a mesma lhe destinou. Ainda nesse contexto, Gotman (2009) observa que práticas reformadoras no turismo, que visam transformar a atividade de uma relação de exploração em uma relação de hospitalidade Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 197 controlada, podem trazer impactos positivos para essa atividade econômica, além de lhe conferir maior grau de competitividade para a comunidade que assim o faz. A competição, para Porter (2008), é considerada uma das mais poderosas forças da sociedade para realizar melhoras em muitos campos da atividade humana. Sendo assim, toda organização necessita de uma estratégia para entregar melhor valor a seus clientes. Para Prahalad (2004), aquela que apresentar melhores resultados na forma como atua dentro de suas dimensões, em relação a seus concorrentes, apresentará melhor vantagem competitiva. Esse mesmo conceito, apesar de tratar de organizações, pode por sua vez ser aplicado aos destinos, ou lugares como diz Kotler (2006), a fim de atuarem de forma competitiva na aquisição futura de visitantes, por meio das relações de hospitalidade criadas entre visitantes e anfitrião. Para Bonfim (2013), “a conquista de eventos distintos e alguns focados nos esportes com jogos e torneiros em território nacional vêm consolidar um segmento até então pouco explorado, que é o turismo esportivo”. A Copa do Mundo de Futebol retornou ao Brasil, 64 anos depois. Retornou a ocasião de se mostrar um bom anfitrião, inicialmente para esse evento esportivo mundial, mas com a oportunidade de promover uma imagem positiva enquanto destino de comunidade hospitaleira para ser visitada futuramente, inclusive com motivações turísticas diferentes. Sendo assim, a Copa do Mundo 2014 apresenta-se como “um importante vetor de atratividade capaz de atrair milhares de visitantes e mostrar o país e suas características para o mundo” (OCKE, 2013). Um estudo encomendado pela Embratur ao Instituto Methodus de pesquisa e inteligência pública, realizou uma pesquisa sobre a percepção dos estrangeiros sobre o Brasil durante a Copa das Confederações 2013. O objetivo de tal pesquisa foi oferecer subsídios para análise e planejamento das ações de comunicação da Embratur, para públicos estratégicos do Brasil no exterior. Buscou-se também detectar a imagem que o Brasil conseguiu transmitir enquanto realizador da Copa das Confederações, indicar as melhores estratégias para promover os destinos brasileiros durante a Copa do Mundo FIFA 2014 e medir a avaliação do turista em relação à infraestrutura a qual tiveram acesso, seja ela apenas turísticas ou parte do cotidiano das cidades-sede. Apesar da amostra não ter sido muito ampla (453 entrevistados entre jornalistas, membros de delegações e em sua maioria, torcedores estrangeiros), foi possível cumprir com os objetivos propostos. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 198 Com base nessa pesquisa e experiência vivida pelos visitantes estrangeiros entrevistados, verificou-se que 65,6% visitaram o Brasil pela primeira vez em ocasião da Copa das Confederações 2013. Dos torcedores entrevistados, 76,6% vieram ao Brasil exclusivamente para a Copa das Confederações. E a parcela que tinha outros objetivos em sua viagem, além desse evento, possuíam motivações como lazer (63,4%) e negócios (19,4%), fazendo parte dessa mesma estadia, visitas às cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Recife. 49% dos torcedores vieram acompanhados de amigos e 42,5% não utilizaram serviço de agências de viagem. Grande parte dos entrevistados (88,1%) buscou informações sobre o Brasil na internet e quase essa mesma parcela, julgou suficiente as informações que encontraram em diferentes fontes. Esses torcedores permaneceram no Brasil cerca de 14,7 dias, o hotel foi a principal opção de hospedagem (73,4%) e visitas a bairros ou regiões atrativas da cidade foram as atividades de turismo realizadas por 52,5% dos torcedores. Algumas das avaliações feitas pelos entrevistados, ainda em ocasião da Copa das Confederações 2013, sobre a infraestrutura do Brasil, foram: 6,4 para o transporte público; 6,6 para a limpeza pública; 6,8 para a sinalização da cidade e a mobilidade urbana. Itens de melhor avaliação foram os aeroportos e serviços de taxi, e os de pior avaliação, menus e materiais turísticos em outros idiomas. Antes de chegarem ao Brasil, a maior parte dos entrevistados tinha como principais itens que compunham a imagem do Brasil, na seguinte ordem de importância: pessoas alegres/acolhedoras, país com paisagens muito bonitas e boa imagem. Após a experiência vivida, os itens que compõem agora a imagem do Brasil, para a maioria dos entrevistados, na respectiva ordem de importância, são: país maravilhoso, pessoas acolhedoras/amigáveis e país com paisagens bonitas. Declararam-se satisfeitos com a estadia no Brasil 81,2%, 97,1% recomendaria o Brasil para amigos e familiares e 71,9% pretende retornar ao Brasil. Com base nos conceitos acima apresentados, no resultado da imagem do Brasil para o estrangeiro na pesquisa acima citada e no banco de dados criado em ocasião do VIII Congresso Societur em Santigo do Chile em 2014, este artigo propõe agora compreender as manifestações (organizadas ou não) das relações de hospitalidade entre anfitrião e visitantes durante os 30 dias de realização da Copa do Mundo de Futebol 2014, no Brasil. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 199 Metodologia Com o objetivo de compreender as relações de hospitalidade entre o anfitrião e visitante durante a Copa do Mundo de 2014, realizou-se uma pesquisa qualitativa de caráter exploratório, com levantamento de matérias de dois grandes portais brasileiros: UOL (www.uol.com.br) e G1 (g1.globo.com). A coleta foi realizada durante a ocorrência da Copa do Mundo 2014, ou seja, entre os dias 12 de junho e 13 de julho de 2014. O procedimento de coleta respeitou os seguintes critérios: durante cada um dos dias desse período, ambos os portais eram acessados por duas vezes ao dia, coletando apenas da homepage matérias que possuíam em seu título ou corpo do texto, palavras-chave definidas pelas autoras como Copa ou Copas, Fifa, Seleção ou Seleções. Uma planilha com cerca de 3081 matérias foram coletadas e divididas em quatro grupos de estudo, sendo eles: (G1) Fatos e análise de futebol e partidas da Copa - 822; (G2) Manifestações e expressão dos visitantes - 170; (G3) Comunidade local enquanto anfitriã - 499; (G4) Miscelânea – eventos, festividades, curiosidades - 1590. Ao grupo G1, foram atribuídas as matérias referentes ao futebol e partidas que ocorreram durante a Copa do Mundo 2014, bem como coletivas realizadas com jogadores e técnicos, placares dos jogos e comentários sobre eles, cobertura dos treinos das seleções que puderam ser assistidos pela imprensa e todas as discussões técnicas e estratégicas provenientes de profissionais dessa área de esporte realizadas antes e após as partidas da Copa. No grupo G4 estão alocadas as matérias que tratam de assuntos diversos como celebridades que vieram ao Brasil para assistir a esse evento, festas programadas ligadas direta ou indiretamente a Copa do Mundo 2014, previsão do tempo para os dias de jogos, entre outros assuntos como curiosidades sobre maquiagem, cardápios temáticos, e ainda manifestações de brasileiros como greves por campanhas salariais e outras questões relacionadas à economia e à política, como a reeleição da atual presidente do Brasil. Ao grupo G2 foram destinadas as matérias que se referem aos visitantes do Brasil – turistas estrangeiros, turistas brasileiros, seleções e delegações. Elas retratam e expressam a voz ou atitudes dos visitantes em relação ao seu anfitrião: o Brasil e o povo brasileiro. Para o último grupo, G3, foram destinadas as matérias que representam as impressões da comunidade anfitriã – o povo brasileiro – em relação aos seus visitantes e ao próprio evento mundial. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 200 Com base no objetivo dessa pesquisa, os grupos G2 e G3, relacionados diretamente a questão da hospitalidade, foram os grupos que tiveram maior profundidade de análise. Os resultados e a análise realizada serão apresentados na seção a seguir. Análise de Resultados Após o período de coleta de dados, seguido pela classificação das matérias de acordo com os quatro grupos criados e já mencionados na metodologia, foi possível realizar uma análise dos resultados, com maior nível de profundidade nos grupos G2 e G3, a fim de compreender as manifestações (organizadas ou não) de relações de hospitalidade entre visitantes e anfitrião. Esse artigo busca compreender se as relações de hospitalidade foram melhor percebidas onde espaços ou eventos foram oficialmente planejados, criados e organizados por órgãos como a FIFA e setor público ou se na realidade, foram melhor percebidas em manifestações e encontros espontâneos. Na análise dos grupos G1 e G2, foi observado e analisado de forma qualitativa, maior ocorrência das manifestações de hospitalidade e as características de povo acolhedor em situações e encontros improvisados. Como referencia à situação organizada para o evento da Copa do Mundo 2014, tem-se as Fan Fest que aconteceram em todas as cidades-sede dessa Copa com apresentações de artistas, transmissão de jogos em telões, sendo esse considerado um evento oficial da FIFA. As matérias, em menor quantidade que mencionaram as Fan Fest, tratavam mais sobre a programação das atividades do que as interações e relações de hospitalidade entre estrangeiros e brasileiros. Uma delas mencionou as Fan Fest como ponto de interação entre moradores e visitantes, com direito a fotos tiradas ao lado dos gringos, com segurança realizada por homens da Polícia Militar tendo inclusive, sua área delimitada por grades. Alguns desses espaços transformaram locais que no cotidiano do morador possui características diferentes, como foi o caso do Vale do Anhangabaú em São Paulo. Visitantes estrangeiros entrevistados nesse ambiente, também mencionaram a hospitalidade dos brasileiros: "O povo daqui é muito gente boa. Os brasileiros nos recebem muito bem. Acredito que todos vão deixar o Brasil com uma boa impressão", disse a turista russa entrevistada (MESQUITA e MAMBRINI, 25 jun, 2014). Porém, outras regiões da cidade de São Paulo, que não faziam parte desse circuito de eventos da FIFA, despontaram com um talento natural para receber a concentração de turistas. Nesse caso, ao invés de uma divulgação realizada em programação oficial, o marketing utilizado foi o boca-a-boca: Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 201 “A Avenida Paulista, a Augusta, a região da Vila Madalena na zona oeste de São Paulo, ficaram repletas de gente de todos os países confraternizando ao som de vuvuzelas e caxirolas” (MENDONÇA, 13 jun, 2014). Apesar das Fan Fests serem mostradas nas matérias como “a Fan Fest do centro de São Paulo, temida por brasileiros, é um ponto de pura paz para os turistas estrangeiros”, para os paulistanos, a Vila Madalena por exemplo, se tornou a preferida: “Além do agito, melhor aqui do que na Fan Fest porque aqui não tenho medo" (MESQUITA e MAMBRINI, 25 jun, 2014). Em Manaus observou-se a mesma situação. Apesar das autoridades terem selecionado como ponto de encontro oficial, um local a 13Km do Largo São Sebastião, foi esse mesmo Largo, o escolhido pelos visitantes como ponto de encontro. O movimento foi tamanho que as autoridades fizeram desse um local mais organizado fechando algumas áreas para evitar a circulação de carros. Os moradores se juntavam aos visitantes estrangeiros, para comemorar, assim que os compromissos diários terminavam. E tamanha era a ansiedade de interagir com os visitantes, que a criatividade do povo brasileiro encontrou uma forma de driblar a barreira do idioma: acessar o Google Tradutor a partir do celular. Alguns desentendimentos, ainda que menor quantidade, aconteceram entre torcedores. Tanto nos locais de encontro organizados, como naqueles improvisados por turistas ou visitantes. Na Fan Fest de Copacabana, durante a partida de classificação das quartas de finais, uma briga ocorreu entre torcedores colombianos e uruguaios. Assim como ocorreram também desentendimentos entre brasileiros e argentinos na Fan Fest de São Paulo e um episódio de torcedor brasileiro ferido no bairro paulistano da Vila Madalena. Mas tais episódios não inverteram a imagem de povo acolhedor que os visitantes da Copa das Confederações 2013 saíram no Brasil ou mesmo dos torcedores que vieram para a Copa do Mundo. Entrevista realizada com torcedores argentinos que vieram para a semifinal a São Paulo, mostrou que estes esperavam mais hostilidade por parte dos brasileiros, alegando ainda que "É claro que eles querem que a gente perca, mas nos receberam muito bem. Se fosse o contrário, e os brasileiros chegassem em Buenos Aires depois de uma derrota da Argentina, acho que os argentinos não seriam tão bonzinhos" (MANTOVANI, 9 jul, 2014). Muitas matérias pertencentes ao G2 e G3 retrataram manifestações de hospitalidade entre visitante e brasileiros em experiências vividas fora das estruturas organizadas como: paulistano que ajudou uma família de croatas a chegar até o restaurante que procuravam, sendo necessário para isso, caminhar junto a eles por três quilômetros; depoimentos de estrangeiros sobre o acolhimento dos Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 202 brasileiros durante entrevistas realizadas na Vila Madalena nem sperada visita dos turistas à Quermesse do Calvário, no bairro de Pinheiros da cidade de São Paulo. A festa não fazia parte da programação da Fifa e ainda assim recebeu visitantes estrangeiros que aproveitaram para experimentar as comidas típicas dessa festa e a maioria elegeu o pastel de carne como preferido. A comunidade que os recebeu, demonstrou não ter encontrado dificuldades para se comunicar “[...] você mostra, manda experimentar, faz o gesto e eles vão comer [...]” (TV UOL, 30 jun, 2014). Duas matérias publicadas no Portal G1 (www.g1.com.br), nos dias 3 e 7 de julho de 2014 (ORTEGA, 03 jul, 2014), demonstram que apesar dos turistas estrangeiros terem ciência dos problemas sociais do Brasil, muitos elogios foram feitos pelos mesmos em relação à forma como foram recebidos pelo povo brasileiro em sua maioria, deixando ainda registrado, por parte de alguns entrevistados nessas matérias, o desejo em retornar ao Brasil. Até mesmo a imprensa internacional, público que manifesta suas percepções de forma mais crítica, avaliou a Copa de forma positiva, com destaque para o povo brasileiro. Em uma matéria do portal UOL (www.uol.com.br), o jornalista que a escreveu, disse ter tido contato com outros jornalistas internacionais e percebeu que a Copa não foi tão deprimente quanto se esperava quando, após a avaliação positiva de dois jornalistas indianos, os mesmos perguntaram porque as pessoas aqui eram sempre tão acolhedoras, simpáticas e sorridentes. Conclusão A Copa do Mundo de Futebol 2014, foi um evento que gerou muitas expectativas para os envolvidos: setor público brasileiro, FIFA, imprensa nacional e internacional, povo brasileiros e turistas nacionais e estrangeiros. As expectativas giravam em torno da infraestrutura das cidades-sede, estrutura voltada para o evento e mesmo a forma que o povo brasileiro desempenharia seu papel de anfitrião, uma vez que em ocasião da Copa das Confederações de 2013 e dias antes da Copa do Mundo 2014, foram marcados por manifestações dos brasileiros em prol de seus descontentamentos sociais. Alguns estrangeiros que visitaram o país chegaram com uma postura de cautela, mas muitos outros com a imagem de que o brasileiro é um povo festeiro e acolhedor, como também demostrou a pesquisa feita sobre a imagem (antes e depois) do Brasil para os entrevistados (torcedores, jornalistas e delegação) após a Copa das Confederações 2013. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 203 Felizmente, como um dos jornalistas comentou em uma das matérias coletadas, a Copa foi menos desagradável do que se esperava. Ao contrário, muito graças ao “jeito” do povo brasileiro, transformou-se em um evento de saldo positivo. A própria imprensa internacional que antes possuía uma postura de incerteza sobre o destino que sediaria a Copa, finalizou suas publicações parabenizando a hospitalidade do povo brasileiro. Ainda que em menor quantidade, alguns contratempos aconteceram, e muitas de nossas deficiências estruturais e sociais não deixaram de ser notadas por nossos visitantes. Mas isso não afetou a imagem positiva com a qual muitos chegaram ao Brasil, e mais ainda saíram com boas recordações. Encontros entre estrangeiros e brasileiros aconteceram tanto em locais criados e estabelecidos pela FIFA, como aqueles que despontaram imprevisivelmente como points de acolhimento. E em muitas das entrevistas realizadas, a hospitalidade do povo brasileiro foi o tema mais citado. Importante notar que a hospitalidade do anfitrião foi o ponto de destaque que por vezes fez passar despercebido ou menos evidente algumas deficiências do destino receptor. E foi a principal responsável, dentro do banco de dados criado para essa pesquisa, pela positiva promoção do Brasil enquanto destino, para o mundo. Nesse contexto é possível retomar a hospitalidade do povo como fator de promoção de um destino, tornando-o mais competitivo em relação a outros e também demostrar seu propósito por fazer parte de um dos pilares de avaliação do relatório The Travel & Tourism Competitiveness Report. Com base nas 3081 matérias coletadas que formaram o banco de dados dessa pesquisa, foi possível observar e compreender as manifestações de hospitalidade entre visitantes e anfitrião. Da mesma forma, foi possível testar as hipóteses elaboradas para esse artigo onde observou-se que, em uma análise qualitativa realizada, as relações de hospitalidade foram melhor percebidas nas manifestações não organizadas e planejadas, ou seja, em locais que não aqueles delimitados pela FIFA e setor público enquanto pontos oficiais de encontro de torcedores e moradores. Não que relações de hospitalidade não tenham ocorrido dentro das Fan Fest, mas as manifestações de hospitalidade, retratadas em forma de entrevistas, foram melhor e mais frequentemente evidenciadas em pontos das cidades-sede que surgiram de forma espontânea. Pode-se também constatar, entre aqueles entrevistados, o desejo de retornarem ao Brasil, não apenas motivados pelo turismo de esportes, mas por outras motivações turísticas. Sendo assim, confirmou-se as hipóteses H1 e H3 e confirmou-se parcialmente a H2. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 204 Por se tratar de um estudo exploratório, com coleta de dados de apenas dois portais de notícias do Brasil, apesar da séria reputação da qual gozam, há limitações para generalizar as evidências ora apresentadas. O método se mostrou eficiente e poderá ser replicado em outros momentos relevantes, como as Olimpíadas em 2016, ou ainda ser ampliado a outros portais e redes sociais, a fim de compreender por meio da opinião pública, as relações de hospitalidade entre visitantes e comunidade anfitriã. Referências Bibliográficas BLANKE, J; CHIESA, T (2013). The Travel & Tourism Competitiveness Report 2013 Reducing Barriers to Economic Growth and Job Creation. World Economic Forum. BONFIM, I. O.B (2013). Uma análise da Copa das Confederações de Futebol da FIFA 2013 sob a luz da Teoria dos Campos de Pierre Bourdieu. 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A teoria da gestão do conhecimento é uma ferramenta capaz de ampliar o olhar em relação aos dados, informações e conhecimentos que o voleibol promove. O objetivo deste trabalho foi relacionar a análise de desempenho tático esportivo no voleibol balizado pela Gestão do Conhecimento. A metodologia do estudo descritivo caracteriza-se por modelo qualitativo, a estrutura do estudo tem por finalidade elucidar as relações da análise do desempenho tático esportivo no voleibol com a gestão do conhecimento. Palavras-chave: Voleibol; Análise de Jogo; Gestão do Conhecimento. Abstract Volleyball makes use of information guided by statistical principles, which are used for decision making before, during and after games. In this sense, knowledge management can help to optimize, expand and uncover knowledge still unclear for the actions taken in volleyball. The theory of knowledge management is a tool to broaden perspectives in relation to data, information and knowledge that promotes volleyball. The objective is to analyze meanings, deviations, imbalances and impact of the knowledge produced in statistical Volleyball teams, high yield through the use of software supported in Knowledge Management. The study methodology is characterized by nature qualitativa, the structure of the study aims to elucidate different perceptions between performance analysis and knowledge management. Key-words: Volleyball, Performance analysis and Knowledge Management Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 207 Introdução A evolução tecnológica aliada a grande competitividade do esporte de rendimento, tornou a análise de jogo ainda mais importante. Muitas equipes profissionais e amadoras utilizam programas estatísticos simples ou complexos para uma melhor compreensão do jogo. Segundo Garganta (2001), os primeiros estudos sobre análise de jogo foram na modalidade basquetebol e ocorreram na década de 1930, devido a grande evolução tecnológica e a necessidade de resultados positivos no esporte. A análise do jogo evoluiu e hoje serve de parâmetros para treinos e jogos. A análise de jogo consiste na observação da tática e demais eventos presentes no jogo, registro e interpretação dos dados acumulados. No voleibol a análise de jogo ganha uma importância ainda maior, isso porque a modalidade apresenta ações de jogo relativamente estáveis e cíclicas, fazendo com que o estudo dos diversos fundamentos seja determinante nos resultados de uma equipe. Com o desenvolvimento da tecnologia, muitas equipes no mundo usufruem de softwares bastante desenvolvidos, capazes de acumular e cruzar diversas informações imprescindíveis para o jogo de voleibol. Para manusear esses softwares, mais importante que entender de computação e estatística, o operador deve ter total conhecimento da modalidade, pois além de coletar, é necessário que ele saiba interpretar os dados para utilizar as informações de forma bem precisa para que sejam utilizadas nos jogos e treinos (MATIAS; GRECO, 2009; MARCELINO et al., 2010). Em estudo realizado com os técnicos das equipes masculinas participantes do campeonato nacional de voleibol Superliga 2011/2012, foi constatado que todos os técnicos utilizam de alguma ferramenta estatística para montar as estratégias de jogo, 92% dos técnicos disseram utilizar os dados para estudarem a sua própria equipe e o adversário, os técnicos presentes nesse estudo consideram a estatística um fator determinante para vencer uma partida (BARSI, 2012). Deste modo, é necessário que se tenha um bom gerenciamento de todos os dados coletados e ocorra grande interação entre os profissionais da equipe envolvidos. Segundo Toledo e DaCosta (2009): “A gestão do conhecimento pode ser definida como a criação de um contexto organizacional favorável ao uso e compartilhamento de informações de modo a reunir e integrar pessoas e/ou organizações que compartilham dados e saberes, construído conhecimento por meio de suas interações ou desenvolvimento individual e grupal”. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 208 Para Botelho (2007) a gestão de conhecimento é composta basicamente por dois tipos de conhecimento: o conhecimento explícito e o conhecimento tácito. O conhecimento explícito é caracterizado por ações formais, possui regras, especificações e uma lógica. O tácito é um conhecimento pessoal, aquele em que uma pessoa adquire após grande experiência e vivencia em determinadas situações, ele é um conhecimento implícito e difícil de ser repassado. Pensando no voleibol, podemos comparar os conhecimentos gerados pelos softwares com o conhecimento explícito e o conhecimento, insights e intuições dos técnicos com o conhecimento tácito. Ambos os conhecimentos devem ser trabalhados de forma conjunta em uma organização, desta forma a equipe poderá obter melhores resultados. Por meio de redes sociais internas ou externas a Gestão do Conhecimento (GC) manifesta-se pelo seu direcionamento múltiplo. A interação de cada membro e cada unidade pode-se comunicar entre si fazendo com que o conhecimento circule entre instituições e/ou grupos e gere aprendizado podendo ser reutilizado pelos os mesmos concentrando seus esforços na capacidade organizacional, no conhecimento já existente e no desenvolvimento científico e tecnológico, sobretudo com base em computadores e seus meta-sistemas. Uma grande inovação na GC é que pode incorporar o conhecimento tácito que nem sempre é obtido por meio de iniciação científica. Esta forma de reconhecimento passou a ser aceita no meio de empresas onde resultados eficientes foram considerados mesmo sem ter explicações teóricas (DA COSTA, 2009). Segundo Melo (2003) seja qual for o meio escolhido pelo gestor a gestão do conhecimento apresenta como objetivo democratizar o acesso aos conhecimentos obtidos organizando, classificando e criando dispositivos para sua disseminação. Sendo assim colocase a serviço da GC a tecnologia world-wide que permite atualizações constantes de informações, pesquisas e análise de dados de forma real e virtual. Este relato apresenta uma revisão conceitual da análise de desempenho tático no contexto da gestão do conhecimento como base teórica para sustentar um modelo conceitual no plano científico. O objetivo deste trabalho foi relacionar a análise de desempenho tático esportivo no voleibol balizado pela Gestão do Conhecimento, retratando as ações iniciais na equipe de Volei da UFJF, participante na Superliga Masculina de Volei. Contexto Investigado A cada ano que passa a estatística no voleibol vêm ganhando mais notoriedade, as grandes equipes do voleibol mundial utilizam essa ferramenta não só para analisar os resultados Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 209 de uma partida, mas também, para montagem de uma equipe, planejamento de treinos táticos/ técnicos e estudo de equipes adversárias (BARSI, 2012; MATIAS e GRECO, 2009). De acordo com Valente e Mesquita (2013), estatística estuda os métodos para coletar, organizar, apresentar e analisar os dados, desta forma fornece subsídios para tomadas de decisões. Segundo Matias e Greco (2009), para ser um estatístico no voleibol não é preciso ter formação em estatística nem ter um grande conhecimento na área de computação, o mais importante é ter um grande conhecimento do voleibol. Existem estudos que apontam que na década de 1930 os americanos começaram a utilizar desse artifício para auxiliar as equipes de basquetebol. Garganta (2001) estabeleceu em seu estudo uma ordem cronológica de como era feita a analise de jogo: “papel e lápis” (1968); Combinação de anotação manual com relato oral (1976); Computador para registro, armazenamento e tratamento dos dados (1988); Utilização do computador para registro dos dados em simultaneamente com a observação (1989). Nos dias de hoje, em virtude da grande evolução tecnológica são utilizados alguns softwares desenvolvidos especialmente para o voleibol, são programas que proporcionam uma visão ampla de sua equipe e de seus adversários, a coleta de dados é feita em simultâneo ou posteriormente ao jogo com o vídeo da partida. Para operar um software é de suma importância para o estatístico alguns equipamentos, computadores com ótimas especificações, câmera filmadora com boa resolução, um bom roteador, impressora, rádios para comunicação, webcam, tripé e pen drive. Além de toda essa estrutura, é necessário ter um profissional capacitado para operar o software, infelizmente no Brasil, há uma escassez de cursos para capacitar os profissionais a manipular esses programas, desta forma, é necessário que as pessoas interessadas em aprender procurem profissionais competentes e dispostos a repassar este conhecimento. (BARSI, 2012; MATIAS e GRECO, 2009, HIRUTSU, et al., 2010) Pelo fato de um software ter um custo elevado, muitos técnicos ainda utilizam o bom e velho “papel e lápis”, o que não deixa de ser objetivo e muito eficaz, através dele o profissional pode fazer todas as análises, porém a acuidade pode ser prejudicada pela capacidade limitada do ser humano, já que a máquina consegue multiplicar e ampliar de maneira significativa as observações humanas (GARGANTA, 2001). Com o conhecimento da computação, é possível desenvolver planilhas simples ou mais complexas, desta forma podemos acumular uma quantidade de dados significativa para fazermos análises qualitativas e quantitativas da equipe. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 210 As três principais análises no voleibol são: Análise de direções, Análise de Fundamentos e Análise tática (BARSI,2012; MATIAS e GRECO, 2009; HIRUTSU, et al., 2010; AFONSO, et al., 2012; JAGER, WOLFGANG, SCHOLLHORN, 2012) Análise de direções possui como objetivo identificar a maior incidência de ataque ou saque em uma determinada direção, dessa forma é possível estruturar uma tática de bloqueio, defesa ou recepção para neutralizar um jogador. Para realizarmos uma análise fidedigna é importantíssimo dividir a quadra de voleibol em nove quadrantes, dessa forma é possível diferenciar um ataque na longa diagonal de um ataque na pequena diagonal ou então diferenciar um saque longo de um saque “caixinha” que termina no meio da quadra. Análise de fundamentos consiste em qualificar e quantificar os fundamentos do voleibol: saque, recepção, levantamento, ataque, bloqueio e defesa. Com esta análise é possível saber se um jogador está desempenhando bem determinado fundamento. Para termos uma análise mais completa do ataque é importante que ocorra o desmembramento do fundamento em, primeiro ataque e ataque de transição. Basicamente são utilizadas cinco qualidades para analisarmos os fundamentos de ataque, recepção e saque, A= Muito bom; B= Bom; C= Ruim; D= Muito ruim; E= Erro. Para análise do bloqueio utilizamos quatro qualidades, Bloqueio ponto; Bloqueio positivo; Bloqueio negativo; Erro de Bloqueio. Na defesa podemos utilizar duas qualidades, Defesa positiva; Defesa negativa. O levantamento realizado pelo levantador exige uma análise mais aprofundada e ela é feita na análise tática. Análise tática é a mais complexa, tem como objetivo identificar a tática utilizada por uma equipe, ela tem o levantador como o principal jogador a ser estudado, ele é responsável pela construção do jogo, grande parte das bolas passam por suas mãos. Nesta análise é necessário um grande acumulado de dados, exige certa experiência dos treinadores para enxergar e descobrir pontos falhos no adversário e na própria equipe, para poder estabelecer a tática do jogo (opções de bloqueio, saque, ataque, recepção e defesa). Vários fatores são levados em consideração, devemos analisar todas as posições (1,6,5,4,3,2) de forma individualizada e de forma conjunta, alguns fatores a serem observados são as chamadas utilizadas (metro, cabeça, esquerda, costas ou china) e a posição que vem a recepção, com essas variáveis, observar a distribuição do levantador. Lembrando que cada levantador possui suas características individuais, por esse motivo a importância em estudar o primeiro e o segundo levantador da equipe. Com todas as análises completas podemos desenvolver um plano de jogo mais eficiente e eficaz, pois teremos um material fidedigno para passar aos atletas e desta maneira eles poderão desempenhar melhor suas funções. Apesar de contar com todos os dados de sua equipe e do Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 211 adversário, temos que ressaltar que durante o jogo muita coisa pode sair diferente do estudado anteriormente, desta forma o estatístico ganha ainda mais importância, durante o jogo é este profissional que estará coletando os dados e passando para os demais membros da comissão técnica da equipe de forma simultânea. Além da situação do jogo, é possível usufruir dos dados nos treinamentos e na montagem das equipes, como já mencionado no início do capítulo. Os dados coletados podem mostrar problemas individuais e coletivos da equipe, com isso os treinadores podem intensificar o treinamento dos fundamentos que estão rendendo abaixo do esperado. Em relação à montagem de uma equipe, é possível utilizar os dados de temporadas anteriores para buscar atletas com bons números, que vão suprir as necessidades da equipe em uma temporada futura. Segundo Matias e Greco (2009) e Esteves (2009), análise de desempenho tático é uma ferramenta fundamental para o bom andamento de uma equipe de voleibol, pois a modalidade é cíclica, ou seja, não existem muitas variações no jogo, as situações se repetem constantemente, fazendo com que a estatística ganhe um papel decisivo não só em uma partida, mais sim em toda uma temporada. No sentido de conferir contextualização às ações de jogo, a terminologia específica do Voleibol elege o termo procedimento de jogo, atribuindo às ações um significado temporal e espacial na lógica do acontecimento do jogo (MORAES apud MOUTINHO, 2000). De maneira que, existe o saque, a recepção, o levantamento, o ataque, o bloqueio e a defesa, que se materializam em diferentes partes do jogo (MORAES, 2009). O jogo de voleibol de alto rendimento competitivo é observado por dinâmicas altamente elaboradas. A funcionalidade no voleibol é regida por compartimentos de jogo que são designados e complexos. Estes complexos determinam entre outros aspectos, a maior ou menor estabilidade das condições de organização das ações (MORAES apud BEAL,1989; KLESCHOV ET AL, 1980; MONGE, 2001, 2003; MOUTINHO,2000; PALAO & URENA, 2002, ESTEVES, 2009). O Complexo I é o compartimento do jogo no qual se pretende neutralizar o saque adversário, pela ação de recepção, e organizar o ataque de modo a ganhar o ponto e, por consequência, assumir a posse do saque. Este compartimento apresenta condições iniciais mais estáveis, conferindo-lhe maior previsibilidade às ações, por se iniciar através da recepção proveniente do saque adversário, o qual é realizado em condições de baixa interferência contextual. Já o Complexo II, é o compartimento que a equipe realiza para neutralizar o ataque adversário e, por consequência, contra-atacar, agregando os procedimentos de saque, bloqueio, Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 212 defesa, levantamento e ataque. Ao contrário do Complexo I, as condições iniciais do Complexo II são mais instáveis, devido a se iniciar, após o saque, pela ação de bloqueio em resposta ao ataque realizado pelo adversário, o qual se efetiva em condições de elevada interferência contextual ditada pela interação entre atacante e bloqueador (MORAES apud MESQUITA, 2005). De acordo com Barsi (2012), cada vez mais se procura, a partir da análise do comportamento tático do adversário e pautado no lastro de informações contidas em base de dados preliminarmente constituída estabelecer modelos de jogo capaz de vencer as ações táticas do adversário, ou mesmo prevê-las para estabelecer ações condizentes para anular ou mesmo reduzir as chances de sucesso adversário. Diagnóstico da Situação-Problema A partir do contexto esportivo e a inserção de um modelo teórico-prático, tal relato se caracteriza por um perfil qualitativo, cuja estrutura tem por finalidade elucidar diferentes percepções a luz das particularidades da análise de desempenho esportivo e sua desenvoltura tecnológica. Conforme aponta Takeuchi e Nonaka (2008), o conhecimento contém uma importante dimensão cognitiva na qual estão contidas crenças, percepções, ideais, valores, emoções e modelos mentais. A metodologia utilizada envolveu diferentes momentos, já que foi usado como base a análise da literatura existente e compreensão dos conceitos, a construção do referencial teórico para constituir a a construção do modelo teórico-prático em questão. A partir do momento que houve o norte pelo referencial teórico, foi determinada a abordagem metodológica qualitativa por se tratar de um tema ainda pouco explorado no campo esportivo, a convergência da análise da literatura alinhada aos referenciais da gestão do conhecimento. Dessa forma, o esforço foi direcionado para a construção teórica de uma base que fundamentasse a conjugação da análise de desempenho esportivo ao modelo conceitual de gestão do conhecimento científico. Com aporte na literatura pode-se relacionar o desenvolvimento da prática da análise do desempenho tático esportivo balizado por conceitos, gerando um caráter de maior cientificidade das ações e consequentemente melhor eficiência na análise e compreensão dos dados. A gestão do conhecimento revela o paradoxo das contradições e dilemas que a criação do conhecimento é capaz de promover. O conhecimento é formado por dois componentes dicotômicos e opostos, o conhecimento tácito e o conhecimento explícito. O conhecimento explícito pode ser rapidamente disseminado e divulgado aos indivíduos de maneira formal e Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 213 sistemática. O conhecimento tácito está profundamente enraizado nas ações e na experiência corporal do indivíduo, nos valores, crenças e emoções que incorpora (Nonaka: Takeuchi, 2008). Assim, a gestão do conhecimento permite criar uma ambiência capaz de induzir uma modificação cultural e tecnológica, favorável à criação, compartilhamento, organização e aplicação de conhecimento para o pleno alcance de sua missão e de seus objetivos estratégicos (Lessa et al., 2004; Orlikowski: Robey, 1991). Sendo a interface, o motor das operações, os dados, as informações potencializam o conhecimento tácito, em conhecimento explícito, sendo o conhecimento tácito, o resultado de experiências vividas pelo indivíduo, como elemento observador de seu mundo em diversos cenários, a partir das interações humanas em rede e sua evolução em sistemas, já o conhecimento explícito entende-se como toda a carga de informação digerida e analisada por um indivíduo, que por meio de técnicas estruturadas, permite a sua disseminação (Takeuchi: Nonaka, 2008; Saccol: Reinhard, 2006; Souza: Caulliaux, 2002). No esporte, especificamente no voleibol, há um aumento acentuado da prática esportiva, assim como, produtos e serviços ligados a essa cultura. Tal perspectiva desencadeia uma crescente qualificação e especialização profissional, o que corrobora com o perfil das organizações do século XXI (Senge, 2004). No caso do esporte, mais particularmente no Voleibol, a incorporação da gestão do conhecimento emerge em virtude da capacidade de retratar a própria natureza da organização (no caso, jogo esportivo) na qual contribui para o aumento do volume de dados e informações tratados, pois ela responde formalmente a múltiplos stakeholders (Técnicos, Empresários, Diretores, Executivos, Agentes, Colaboradores, entre outros), requerendo um controle apurado de todas as suas decisões e operações (Lessa et al., 2004; Silva, 2005; Terra, 2009). A Gestão do Conhecimento concebe-se em três aspectos base: foco no fator humano (capital intelectual), a transformação da gestão de paradoxos em uma gestão do conhecimento, ou seja, conhecimento explícito é aquele que incentiva e cria mecanismos que ajuda aos envolvidos (capital humano) o compartilhamento de seus conhecimentos. Ao contextualizar o jogo de voleibol com a gestão do conhecimento, percebe-se um cabedal de oportunidades na captação e percepção que vai além da importância na disseminação de conhecimento explícito (Intangível) (Terra, 2009; Botelho: Monteiro & Valls, 2007). A importância da gestão do conhecimento na área esportiva tem um caráter embrionário como estratégia para gestão do esporte e evolução da modalidade Voleibol, pois seu desenvolvimento vem ganhando espaço para a criação de centros/ redes/ sistema em âmbito nacional (Botelho: Monteiro & Valls, 2007). Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 214 Além deste avanço no setor da gestão esportiva a gestão do conhecimento tem a função de reconhecer e desenvolver mecanismos que privilegiam a transformação do conhecimento tácito em explícito, permitindo fazer fluir a espiral do conhecimento, característico desta disciplina (Nonaka: Takeushi, 2008; Botelho: Monteiro & Valls, 2007, Terra, 2010). A gestão do conhecimento guarda o potencial de tornar as organizações realmente vivas (De Geus, 1998), capazes de perdurarem no tempo e se renovarem para sobreviver a diferentes ambientes ‘ecológicos’. Só terá sucesso, entretanto, se integrar suas abordagens ‘humanísticas’ e ‘tecnológica’ (Cardoso, Cameira & Proença, 2001). Assim, o século XXI apresenta um mundo “novo” do esporte, tendo em vista suas novas formas de ação e conduta. As tecnologias da informação estão presentes no mundo esportivo e na nova referência do pensar da geração contemporânea. Para isto, as relações que o esporte deve aportar, estão inerentes a gestão do conhecimento, conforme Figura 1, pois em sua estrutura exalta as relações do pensar e o esporte em toda amplitude de dados e informações, constituindo seu desenvolvimento característico do século XXI, aliados as ferramentas que a tecnologia permite usufruir, o que estrutura todo um potencial de otimização e amplificação das capacidades humanas, sendo assim, a gestão do conhecimento apresenta uma condição privilegiada para análise de desempenho tático esportivo, pois sua base teórica sustenta um modelo conceitual no plano científico. Figura 1 – estrutura de relação para o esporte de rendimento Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 215 Análise da Situação-Problema e Contribuição Tecnológica-Social Ao verificar a relação da análise do desempenho tático esportivo com sua base científica, através do arcabouço conceitual da Gestão do Conhecimento, permite descortinar cenários que até então estavam mascarados pela ineficiência da análise dos dados esportivos. As ações realizadas mostraram que a gestão do conhecimento apresenta um repertório variado de conhecimento tácito, mas ainda não conseguiu transformar este benefício em conhecimento explícito e em conseqüência gerar conhecimento novo, conforme a gestão do conhecimento preconiza. Então, ao analisar o conhecimento gerado pela análise do desempenho tático esportivo, através do uso de software apoiado na Gestão do Conhecimento, imprimiu uma condição clara de capacitar as informações distribuídas sobre o tema para que se possa compreender as condutas e comportamentos gerados até então. Para a disciplina Gestão do Conhecimento dos dados, as informações se concentram de forma que possa transitar numa espiral de conhecimento capaz de gerar novos conhecimentos. O software permite uma análise dentro de um mapa geográfico no qual dá condições para a preparação e análises de dados, identificação e categorização adequada de seus conteúdos, busca pela produção de conhecimentos e identificação de relações o que permite avançar na compreensão na cientificidade da análise de desempenho tático esportivo. O referido relato, pode-se perceber que a trajetória do esporte, particularmente o Voleibol estão sem capacidade de inovar de criar novas situações, pois a análise de desempenho tático esportivo (estatísitica), ainda está num patamar puramente prático e com pouco embasamento teórico científico, mas por outro lado, com a conjugação da análise de desempenho balizada pela Gestão do Conhecimento tem um cenário amplo e ainda pouco explorado, o que irá permitir a evolução da prática da análise de desempenho tático no cenário esportivo e acadêmico. Referências bibliográficas AFONSO, J; ESTEVES, F; ARÁUJO, R; THOMAS, L; MESQUITA, I; Tactical determinants of setting zone in elite men´s volleyball. Journal of Sports Science and Medicine (2012), 11, 64-70. BARSI, A. A; Um estudo sobre a estatística aplicada ao voleibol de alto nível. Limeira, SP: [s.n], 2012. 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Instituto Superior de Agronomia, Universidade Técnica de Lisboa, 2013. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 218 ABEX: A luta pela ética e respeito entre os clubes de futebol de base do Brasil Marcius Koehler (UNINOVE) [email protected] Fernando A. Fleury (UNINOVE) Edmilson de Oliveira Lima (UNINOVE) Resumo Este relato técnico apresenta a iniciativa do Coordenador das Seleções de Base da Confederação Brasileira de Futebol – CBF, que organizou o I Simpósio de Gestores de Futebol de Base em fevereiro de 2012, com o objetivo de discutir os problemas enfrentados nas categorias de base, bem como, de propor ações de melhorias a CBF. Portanto, o presente estudo relatou todas as ações e movimentos gerados até junho de 2013, principalmente a conquista do acordo de ética contra o assédio e roubo de atletas. As informações para realização desta pesquisa foram extraídas através da presença em alguns encontros, do acesso às atas e de e-mails compartilhados durante este período pelos gestores. Palavra-chave: Clubes de Futebol de Base. Ética no Esporte. Legislação Esportiva. Abstract This technical report presents the initiative's coordinator of Selections of Base of the Brazilian Football Confederation - CBF, which I organized the Symposium Managers Football Base in February 2012, aiming to discuss the problems faced in the youth as well like, proposing actions to improve the CBF. Therefore, the present study reported all actions and movements generated to June 2013, mainly the great achievement of the ethics agreement against harassment and theft of athletes. Information for conducting this research were extracted by the presence in some meetings, access to the minutes and during this period shared by the group of managers emails. Keyword: Football clubs Base. Ethics in Sport. Sports law. Introdução Este relato técnico apresentará a iniciativa do Coordenador das Seleções de Base da Confederação Brasileira de Futebol – CBF, Ney Franco que organizou o I Simpósio de Gestores de Futebol de Base, convidando os 20 gestores das Equipes de Base do Campeonato Brasileiro de Futebol da Séria A e os 20 gestores de Base da Série B de 2012, com o objetivo de discutir Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 219 os problemas enfrentados nas categorias de base, bem como, de propor ações de melhorias a CBF. O Simpósio foi realizado na Granja Comary no dia 25 de abril de 2012, com presença maciça dos gestores, na qual destacamos a presença do Coordenador das Categorias de Base do São Paulo o Sr. Renê Simões e o Técnico da Seleção Principal do Brasil o Sr. Mano Menezes. No primeiro momento foram levantados todos os problemas encontrados nas categorias de base, no segundo momento os presentes foram divididos em grupos para desenvolverem ações em cima dos problemas citados. O terceiro e último momento foi destinado ao desenvolvimento da ata do encontro com diversas propostas que seriam encaminhadas a CBF. Outro fato importante foi a constituição da comissão dos gestores eleita pelos presentes, com incumbência de representar todos os gestores de clube de futebol brasileiro junto a CBF. Portanto, iremos relatar todas as ações realizadas por está comissão de fevereiro de 2012 a junho de 2013, principalmente a conquista do acordo de ética contra o assédio e “roubo” de atletas. As informações para realização desta pesquisa foram extraídas através da presença em alguns encontros, do acesso às atas e de e-mails compartilhados durante este período pelo grupo de gestores. Contextualização Uns dos maiores conflitos entre clubes, empresários e pais de atletas é o assédio e o “roubo” do atleta da entidade que o formou. Este tema é relevante, pois, embora a Constituição de 1981 proíba o trabalho para menores de 16 (dezesseis) anos e permita a aprendizagem apenas a partir dos 14 (quatorze) anos, encontramos no histórico de formação de atletas, a existência de inúmeras experiências positivas e outras negativas de crianças e adolescentes que iniciaram precocemente a prática de atividades esportivas. Este fato é potencializado por existir uma política pública de fomento à formação desportiva de jovens, por meio da qual os particulares são estimulados pelo Estado, inclusive por meio de incentivos fiscais, a propiciar a atletas adolescentes estrutura física e pessoal adequadas para a prática permanente e competitiva. Ocorre nos dispositivos legais, má interpretação do Judiciário e de outros órgãos fiscalizadores, que torna importante neste momento conceitualizar tudo que configura uma modalidade de aprendizagem proibida no esporte, na qual envolvam menores de 14 (quatorze) anos, das demais hipóteses autorizadas e estimuladas da prática esportiva por crianças e adolescentes, sem caracterizar emprego ou aprendizagem profissional. Para isso analisam-se os artigos da legislação brasileira que dispõem sobre esporte, em suas diversas modalidades, bem como os fundamentos que pautam a exigência da proteção integral da criança. Também foram Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 220 apontadas algumas regras vigentes na legislação brasileira que protegem jovens esportistas em formação ou já profissionalizados na adolescência. Do direito à prática desportiva A prática do desporto foi elevada ao patamar de garantia individual, atribui ao Estado o dever de fomentar atividades desportivas formais e não formais, sempre priorizando o desporto educacional e as manifestações desportivas de criação nacional (Art. 217 da CF/88). Além disso, as Nações Unidas (1948), Earth Summit (1992) e a Unesco (1978) reconhecem a prática desportiva e a educação física como direito humano fundamental. Para Álvaro Melo Filho (1995) a Constituição criou as diretrizes para que as atividades desportivas passassem a se desenvolver dentro do contexto de responsabilidade social. Tempos depois foi promulgada a Lei nº 8.672/93, que diferenciou desporto formal e não formal e estabeleceu como princípios do esporte brasileiro a democratização, mediante a garantia ao acesso, e a liberdade da prática desportiva, conforme a capacidade e interesse de cada cidadão. Mais tarde foi promulgada a Lei nº 9.615/98, que garantiu a proteção plena para atletas jovens, preservando, assim, os direitos fundamentais das crianças e adolescentes (Constituição Federal, 1988), trazendo alguns dispositivos de garantias aos clubes sociais, entidades filantrópicas ou sociedades empresárias que investirem em centros de prática e formação esportiva (base). Através destes, foi instituída a figura do contrato de estágio com atleta semiprofissional (Art. 36, Lei Pelé, 1998). Em julho de 2000, a Lei nº 9.981/00 alterou muitos artigos da Lei Pelé, mas com pouca mudança significativa em relação a disciplina da formação desportiva. O mais relevante foi acrescido no § 2º ao art. 29, que passou a considerar formadora somente as entidades de prática que comprovassem estar com o atleta em formação há, pelo menos, 2 (dois) anos. Três anos mais tarde, a Lei Pelé foi alterada profundamente pela Lei nº 10.672/03, na qual criou a figura da aprendizagem desportiva, exigindo que as entidades formadoras oferecessem garantias aos atletas em formação, como assistência médica e odontológica, alojamento, alimentação e acesso à escola. Portanto, estas obrigações exigiram das entidades investimentos em estruturas física e pessoal especializado em formação de atletas visando à proteção integral do adolescente. Em 2011 foi promulgada a Lei nº 12.395/2011, que modificou importantes dispositivos do art. 29 da Lei nº 9.615/98 criando novas garantias indenizatórias para as entidades esportivas que investirem na formação de adolescentes. Também aumentou as exigências de proteção aos atletas adolescentes. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 221 Da proteção integral ao atleta A atual redação da Lei nº 9.615/98 permite que qualquer adolescente, a partir dos 14 (quatorze) anos de idade seja submetido a um programa de formação desportiva sem vínculo de emprego, sob o regime de aprendizagem técnico desportivo (Lei nº 10.672/03). Para formalizar está determinação foi criado um contrato de formação desportiva (LEI Nº 12.395/2011). Esta determinação de afastar o vínculo de emprego da aprendizagem desportiva foi uma forma de incentivar a criação dos programas de formação, a qual se soma a possibilidade do contrato de formação do atleta aprendiz apresentar duração superior ao limite geral de dois (dois) anos (Art. 28, § 3º, da CLT) e se encerrar apenas quando o atleta completar 20 (vinte) anos de idade (Art. 428 da CLT) (Silva, 2009, Nascimento, 2005). A legislação desportiva obriga também que a entidade formadora de jovens atletas seja certificada pelas entidades nacionais de administração do desporto de cada modalidade esportiva, como garantia de que os requisitos legais estão sendo rigorosamente observados. A certificação em entidades privadas também está sujeita a fiscalização pelos órgãos públicos competentes, especialmente pelos auditores e procuradores, observadas as respectivas competências (Art. 29, § 3º, da Lei nº 9.615/98). O adolescente aprendiz ao completar 16 (dezesseis) anos de idade, pode assinar o primeiro contrato de trabalho como atleta profissional, não se enquadrando mais nas exigências do art. 29 da Lei Pelé. A partir da profissionalização, o atleta adolescente com idade entre 16 (dezesseis) e 18 (dezoito) estará coberto pelas mesmas restrições de trabalho noturno, insalubre e perigoso que cabe aos demais trabalhadores adolescentes (Art. 7, XXXIII e 227, § 3º, I, da CF/88). Método da Produção Técnica Verifica-se nesta pesquisa um caráter exploratório sobre os assuntos que permeiam as relações entre clubes formadores e atletas da divisão de base buscando compreendê-los de forma a propiciar o surgimento de novas ideias ou hipóteses, estabelecendo analogias e comparações com o referencial teórico. Desta forma este trabalho foi desenvolvido em duas etapas distintas. Primeiramente um levantamento bibliográfico visando entender a relação entre entre os clubes formadores, atletas e todos os stakeholders envolvidos neste processo. Posteriormente realizou-se levantamento de material dos encontros dos Gestores de Futebol de Base e entrevistas realizadas por e-mail entre os Gestores. Assim, adotou-se para esta pesquisa a análise documental. Foram utilizados documentos e dados levantados pelos autores com base nas entrevistas. Segundo Vergara (2010), a investigação documental pode utilizar-se de fontes primárias como registros, documentos, Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 222 relatórios, formulários, e demais evidências, que demonstrarão os resultados obtidos até então. Combinada com uma pesquisa bibliográfica que utiliza fontes secundárias e necessárias para qualquer pesquisa científica (MARTINS E THEOFILO, 2009) o objeto deste estudo foi analisar os problemas enfrentados por todos os participantes com relação as categorias de base dos clubes brasileiros de futebol. Situação-Problema Histórico A CBF, organizou em março de 2012, o I Seminário Nacional de Categorias de Base, realizado no Centro de Treinamento da Granja Comary, localizado na Cidade de TeresópolisRJ, na qual participaram representantes legais de 19 (dezenove) clubes da Série A e 18 (dezoito) clubes da Série B do Campeonato Brasileiro de 2012. Na ocasião foi escolhido cinco representantes, dois suplentes e um representante da CBF para integrar comissão que intermediaria junto aos órgãos da CBF e Federações os ajustes e propostas estabelecidas pelos clubes, são eles: Representantes dos Clubes - André Figueiredo (Clube Atlético Mineiro), Carlos Brasil (Clube de Regatas do Flamengo), Marco Antonio Biasotto (Gêmio Foot-Ball Porto Alegrense), Roger Galvão (Cruzeiro Esporte Clube), Renê Simões (São Paulo Futebol Clube); Suplentes dos Clubes - João Paulo Ferreira Sampaio (Esporte Clube Vitória), Newton Mota Nunes dos Santos (Esporte Clube Bahia); Representante da CBF - Bruno Costa. Meses mais tarde, está comissão definiu que ao invés de formar uma nova entidade, seria incorporada pela Associação Brasileira de Executivos do Futebol – ABEX, fortalecendo o movimento dos gestores de base do futebol brasileiro. A ABEX foi idealizada em maio de 2011 na tentativa de levantar uma bandeira em prol da profissionalização do futebol brasileiro fora das quatro linhas. O Sr. Ocimar Bolicenho reuniu alguns profissionais na tentativa de idealizarem algo que pudesse contribuir com o futebol brasileiro e decidiram promover um encontro para discutir o assunto. Com o esforço de todos conseguiram reunir no dia 20 de Julho de 2011, na cidade do Rio de Janeiro, 38 (trinta e oito) profissionais que atuavam na área. O evento contou com a palestra do ex-presidente do Sport Club Internacional, Sr. Fernando Carvalho, com o tema “A Visão do dirigente sobre a importância do executivo de futebol na estrutura dos clubes brasileiros”. Na ocasião já debateram questões éticas sobre a conduta dos profissionais do futebol brasileiro. Outros encontros se sucederam e em Atibaia/SP no dia 22 de Novembro de 2011 foi fundada a Associação Brasileira dos Executivos de Futebol. A partir daí foram realizados vários Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 223 encontros sempre com o formato de Palestra e discussão do Plenário sobre assuntos que envolvem o cotidiano do futebol profissional. Caracterização da situação problema: A brecha na Lei que estimulou a transferência de jogadores menores de 16 (dezesseis) anos por clubes, empresários e ou responsáveis, sem beneficiar os clubes formadores, gerou anos de atos imorais e antiéticos, como por exemplo, o citado por Márcio Martins no dia 18 de Janeiro de 2011 na galaticosonline.com, que menciona sobre “roubos” de jogadores da divisão de base do Vitória. A reportagem já citava a necessidade emergencial de mudança na Lei Pelé, para que o clube formador ficasse mais protegido, e finalizam dizendo que “futebol, ética e capitalismo nem sempre caminham na mesma direção, com os limites do primeiro valor alargados em maior ou menor medida pela força do segundo”. Tipo de Intervenção e Mecanismos Adotados. Legislação de Proteção: O substitutivo ao PL 5186/05, estabelece que o clube formador deverá especificar, no contrato com o atleta, todas as despesas vinculadas à sua formação. A indenização será limitada a 200 vezes os gastos comprovados. Se o atleta assinar o primeiro contrato com o clube formador, o direito da primeira renovação deverá ser exercido com a intermediação da federação regional, que deverá ter conhecimento da proposta e da resposta do atleta. Quando outro clube apresentar proposta mais vantajosa, a entidade formadora poderá propor ao jovem as mesmas condições e, se ele não aceitar, poderá exigir do clube contratante a indenização de 200 vezes o salário mensal pactuado. Segundo a Lei Pelé, artigo 29-A, considera-se o período de formação do atleta com idade entre 14 e 20 anos. A partilha dos 5% é feita da seguinte forma: 1% para cada ano de formação dos 14 aos 17 anos de idade; 0,5% para cada ano de formação dos 18 aos 19 anos. Assim, é possível que um atleta tenha vários clubes formadores. O direito ao recebimento da indenização pela formação pode ser realizado mediante acordo diretamente com os clubes que transacionaram os direitos do atleta, ou, em caso de inadimplência, pleitear junto à CBF. Descrição detalhada das atividades desenvolvidas na organização: Com a lentidão da aplicabilidade da lei no país, as dificuldades de interpretações pelos pequenos clubes formadores, bem como de se adequarem a ela, geraram uma preocupação no responsável pelas seleções de base da CBF, que idealizou um encontro com os gestores de clube Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 224 da série A e B para discutir estes e demais problemas encontrados nas categorias de base do país. O I Seminário Nacional de Categoria de Base gerou ampla discussão que resultou em um documento com sugestões a serem apresentadas a CBF. As principais sugestões relacionadas ao tema relatado foram de organizar um encontro entre as federações para esclarecimentos dos procedimentos de certificação, criação de um código de ética e condutas e o desenvolvimento de um mecanismo de proteção aos clubes quanto ao assédio de outros clubes. Estiveram presentes os gestores do Santos, América MG, Fluminense, Ceará, América RN, ABC, Cruzeiro, Boa Esporte, Goiás, Joinville, Bahia, CRB, Sport Recife, Náutico, Criciúma, Atlético PR, Ponte Preta, Atlético MG, Vitória, Figueirense, Avaí, Internacional, Grêmio, São Caetano, Portuguesa, Guarani, Guaratinguetá, Corinthians, Coritiba, Palmeiras, Grêmio Barueri, Bragantino, São Paulo, Flamengo, Botafogo, Vasco e Paraná Clube. O II Encontro foi realizado no dia 17 de agosto de 2012, no C. T. do Cruzeiro, já sem a presença do Prof. Ney Franco no comando das seleções de base da CBF, mas, contando com a presença dos Treinadores das seleções de Base, Sr. Emerson Avila e Sr. Marquinhos Santos. No dia foi acordado o representante do Grêmio como responsável em estruturar o Código de Conduta e definido que as sugestões fossem enviadas por e-mail. A reunião foi composta pelos seguintes clubes: Internacional-RS, Vitória-BA, Paysandu-PA, Vasco da Gama-RJ, Fluminense-RJ, Flamengo-RJ, Vasco da Gama-RJ, Ceará-CE, Santos-SP, Santos-SP, Portuguesa-SP, Coritiba-PR, Criciúma-SC, América-MG, Ponte Preta-SP, Cruzeiro-MG, Botafogo-RJ, Botafogo-RJ, Volta Redonda-RJ, Ponte Preta-SP, Ponte Preta-SP, Palmeiras-SP, Guarani-SP, Figueirense-SC, Corinthians-SP, Goiás-GO, Goiás-GO, Ubaense-MG, Bahia-BA, Grêmio-RS, CBF, Atlético-MG, São Paulo-SP, São Paulo-SP e Grêmio-RS. O III Encontro, foi realizado no dia 06 novembro de 2012, no Hotel Bourbon em São Paulo, onde o Prof. Renê Simões falou da “importância do movimento em prol da ética sem negociação de princípios”. Em relação a fiscalização e assédio, ficou definido que o documento norteador será o contrato de formação e a chancela de clube formador. Já que a exigência da CBF deve ser cumprida e quem não estiver dentro dos pré-requisitos não poderá reclamar caso venha ter algum tipo de ação deste órgão. Em seguida o Prof. Renê falou sobre uma carta recebida do Presidente do CAP – Dr. Mario C. Petraglia, manifestando-se sob o caso “Mosquito” e a demissão do funcionário que defendeu o movimento. Foi solicitado que o representante do Vasco falasse sobre o caso Mosquito do ponto de vista do seu Clube. Ele alegou que o garoto foi tirado por um empresário, registrado no Macaé e repassado ao Clube Atlético/PR. Informou que ligaram para o representante do CAP, expuseram o problema “Mosquito” e definiram que tentariam colocar os dois presidentes Sr. Petraglia e Sr. Dinamite Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 225 para equacionar a questão. Definiram por unanimidade que ninguém entraria nas competições onde estariam o Macaé e CAP até que se resolvesse a pendência. O representante do Coritiba defendeu o ex-funcionário do Atlético dizendo que ele tentou agir dentro da ética e comunicou ainda que o Atlético/PR continuava assediando atletas de outros clubes. O Sr. Biasotto encaminhou por e-mail a todos os gestores, um piloto do código de ética e conduta, para ser debatido e formatado e elegeram Bruno Costa como Ouvidor em relação à transferência e assedio de Atletas. Tiveram presentes os seguintes clubes: Vitória-BA, Vasco da Gama-RJ, Flamengo-RJ, Portuguesa-SP, Coritiba-PR, América-MG, América MG, Ponte Preta-SP, Botafogo-RJ, Palmeiras-SP, Bahia-BA, Grêmio-RS, São Paulo-SP, Audax, Artsul e Sport Recife. No dia 21 de novembro de 2012, o Vaco na pessoa de seu diretor executivo da base, comunicou esclarecimentos em virtude da nota pública veiculada pelo Atlético/PR, sobre a situação do atleta Thiago R. da Silva “Mosquito”. (http://www.atléticoparanaense.com/site/noticias/detalhe/28814/nota-de-esclarecimentocasomosquito http://www.vasco.com.br/site/index.php/noticia/conteudo/3859/#.vfpdclvtviu). No dia 23 de novembro de 2012, os representantes do Flamengo, comunicaram aos gestores de base que em virtude do compromisso ético firmado entre eles e pelo fato de Vasco/RJ e Atletico/PR não terem ainda entrado em acordo, que o Clube estaria oficialmente desistindo de participar do Campeonato Brasileiro sub17. No mesmo dia o Sr. Luciano da Federação Gaúcha, através da Comissão Organizadora – Edição 2012 comunicou a substituição do Atlético/PR por clube a ser designado pelo Presidente. Em decorrência da decisão tomada pela Federação Gaúcha, o Flamengo comunicou sua permanência na competição. Em seguida houve pelos e-mails dos gestores de base uma parabenização, principalmente a Federação Gaúcha e a todos os envolvidos diretamente no caso "Mosquito", pela manutenção do acordo ético entre os clubes. Marcelo Damato publicou no Lance! (3/1/13) o título “Pacto de clubes barra da Copa SP revelação -roubada-”. Menciona que a novidade desta edição da Copa era o pacto entre os clubes de ética contra o tradicional “rouba-rouba” de jogadores abaixo de 16 anos. Em dezembro o clube foi desconvidado de duas competições nacionais, a Copa Avaí, de caráter amador, e o Brasileiro Sub-17. Na Copinha, o Atlético-PR aceitou deixar Mosquito em casa. Com o fortalecimento do movimento e com a comunicação entre os gestores facilitada, iniciou-se uma verdadeira troca de e-mails comunicando diversos casos de assédio e “roubo”, que inibiram várias transferências mediadas por empresários. No dia 10 de janeiro de 2013, na sede da Portuguesa/SP foi realizado o IV Encontro. Na ocasião o representante do Vasco, Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 226 argumentou que o Atlético/PR em momento algum procurou o clube para algum tipo de acordo, relacionado ao atleta “Mosquito”. O representante do Fluminense ratificou que só aceitaria participar de uma competição, se todos os participantes estivessem cumprindo o acordo de ética. Em fevereiro após a Copa SP 2013, percebeu-se um aumento no assédio de "agentes" aos atletas participantes, que gerou um alerta novamente entre os gestores sobre casos de oferecimento ilícito dos atletas. Em 19 de fevereiro de 2013, o representante de base do Internacional, solicitou informações sobre a situação do Atlético/PR e do Macaé na competição da Copa/RJ, pois não estava vendo nenhuma movimentação de veto, ao contrário do que aconteceu com a federação gaúcha. A comissão respondeu que estiveram na Federação/RJ, na qual a Federação solicitou uma carta dos clubes requisitando a saída do Atletico/PR e do Macaé da competição. Apenas o Atlético/MG encaminhou o e-mail, posteriormente o Vasco, maior prejudicado, o fez. Os gestores ficaram em constante contato com o Vasco na tentativa de manter a posição das equipes, até o comunicado via René Simões, que o acordo entre Atlético/PR e Vasco estava próximo. A FFERJ entendendo da mesma forma convidou os clubes envolvidos. A comissão solicitou que os clubes prejudicados necessitam se manifestar para que possam tomar frente na situação e tentar ajudar. Como no caso do Vasco que não se manifestou em nenhum momento, após a confirmação da tabela da Copa Rio, com a participação do Atletico/PR e/ou Macaé. A comissão novamente solicitou para que o Vasco se manifestasse e repassasse como estava o caso “Mosquito”, para tomadas de decisões, como aconteceu no brasileiro, situação que já não aconteceu na copa SP com a participação do Atlético/PR. Alguns gestores manifestaram-se, pois entendiam que deveria ser mantida a postura pela ética e pelos princípios da moralização, pois foi muito difícil esta caminhada e deveríamos mantê-la a todo custo. No dia 20 de fevereiro de 2012, os empresários do “Mosquiro” e o Vasco/RJ, concluíram a negociação, fortalecendo a união dos clubes. Renê Simões esclareceu que o caso “Mosquito” depois de analisado pelo novo departamento jurídico do Vasco, chegaram a conclusão que o caso não era jurídico era ético-moral. Agradeceu o esforço dos gestores em manter viva a chama da ética. Informou que recém contratou um jogador da base Ceará, mas que antes entrou em contato com o representante do clube para obter sinal verde. Em seguida comentou sobre o jogador “Foguete”, que foi retirado da concentração do Vasco e levado para o São Paulo. Disse que legalmente não havia nada de errado, pois o clube estava com os salários atrasados, mas, moralmente sim. Completou dizendo “aliciar jogador nesta idade é falta de ética, moral e vergonha na cara” e solicitou a ajuda de todos. Neste instante surgiram ligações como a do representante do Grêmio Prudente, revelando que o mesmo São Paulo, tinha levado um dos Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 227 seus jogadores, sendo que este jogador já estava negociado com o Coritiba. O representante do Vasco ao não conseguir contato com o São Paulo informou que o clube estaria fora de qualquer competição da base em que o São Paulo estivesse presente. O representante do Coritiba/PR informou que já havia negociado com o Grêmio Prudente, atleta e familiares, e que a apresentação do jovem no Coritiba estava marcada para o dia 18/02. O atleta foi aliciado logo após a Copa Votorantim, quando foi observado pelo São Paulo jogando pelo Coritiba, e assim continuou o assédio até a divulgação do caso na imprensa. O representante cobrou explicações e uma postura condizente dos gestores do São Paulo em relação ao que todos debateram, concordaram, assinaram e se comprometeram a pregar, mesmo sabendo que quem assinou a ata no I Seminário pelo São Paulo foi o prof. René Simões. No dia 23 de fevereiro de 2013, a diretoria do Grêmio Prudente, afirmou através de ofício a todos os gestores de clubes de base que em nenhum momento o São Paulo contatou o Clube. Solicitaram apoio aos colegas da ABEX e prometeram buscar medidas disciplinares e judiciais cabíveis para proteger os direitos do clube. Por fim, declaram que sempre lutarão contra maus profissionais que corrompam e depreciem o Futebol Brasileiro. O Gerente da base do Santos, baseado nos últimos relatos, falou da necessidade de decisão em relação ao Future Cup 2013. Informou que aceitou participar da competição, que segundo ofício do organizador, contará também com Flamengo, Cruzeiro e São Paulo. Indagou sobre a situação do “Foguete” que não achava menos grave que a do Mosquito, além do atleta do Prudente. Disse que aguardaria a reunião do Rio para definir sua participação. O Sr. Renê Simões, passou a todos uma entrevista publicada pelo globoesporte.com (21/02/13), colocando em cheque a postura de Santos e Fluminense. Em sua opinião os dois clubes deveriam se manifestar pois acreditava na parceria destes com o grupo de gestores. A matéria anuncia que o São Paulo estava contratando o lateral direito “Foguete” de 17 anos, exjuvenil do Vasco. Segundo o site oficial do clube paulista, o atleta estava há 40 dias sem vínculo com qualquer clube, e deixou a equipe do Rio por atraso de salários e outras obrigações. Wellington C. Costa, conhecido como “Foguete”, disse ter recebido propostas de Santos, Fluminense e Atlético-PR, mas afirma que a escolha pelo Tricolor paulista se deu em razão da amizade e das boas referências recebidas de companheiros das seleções de base que defendem o time. Quem definiu a contratação do atleta foi o diretor de futebol Adalberto Baptista que na ocasião acumulava função no futebol profissional e das categorias menores. No dia 27 de fevereiro de 2013, o Gerente de base do Fluminense, respondeu ao Sr. Renê, informando que a assessoria de imprensa do Fluminense já tinham entrado em contato com o veículo que deu a notícia infundada. Garantiu que nunca fizeram proposta ao “Foguete” Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 228 e que estavam fiéis ao acordo. No mesmo dia, o Gerente de Base do Santos, agradeceu o Sr. Renê pela oportunidade, pois não havia visto a matéria. Esclareceu que o “Foguete” e também o Bahiano do Vasco já tinham sido oferecidos anteriormente antes do acordo de ética e não fizeram proposta, acreditava que eram boatos para tirar o foco do SPFC. Renê Simões retornou dizendo que nunca teve dúvidas de que a matéria acima descrita não expressava a verdade, pois o Fluminense e o Santos sempre estiveram fortes no movimento. Na ocasião, René ligou para o Gallo, informando-o de todos os passos e da forma como Ney Franco, Marquinhos Santos e Emerson Àvila se posicionaram em relação ao “Mosquito” e ao movimento. Infelizmente recebeu a resposta que teria que falar com o presidente da CBF, pois acreditava que os melhores de cada posição teriam que ser convocados. Simões propôs ao grupo soltar uma nota conjunta informando a CBF de que os gestores de base não aceitavam que jogadores em litígio legal ou moral sejam convocados. O representante do Internacional comentou que iria tentar falar novamente com o Galo e ratificou a importância do próximo encontro abordar novamente a questão do aliciamento, em virtude das mudanças nos comandos dos clubes. No dia 6 de março de 2012, o Diretor Executivo do Novo Humburgo, afirmou que todos devem buscar junto à CBF o Certificado de Clube Formador, para dificultar cada vez mais a ação dos “picaretas” de plantão. O V Encontro, realizado na sede do Botafogo/RJ no dia 12 de março de 2013, foi marcada pela divulgação de novos assédios acontecidos em São Paulo e pelo reconhecimento das ações realizadas pela ABEX Profissional e Base. Na ocasião o representante da Federação Gaúcha falou sobre os acontecimentos no campeonato brasileiro sub 17 e ratificou a parceria com os clubes. Orientou para que a comissão comunicasse antecipadamente às federações quando houvesse algum aliciamento, para dar tempo de analisar e alterar a tabela e a logística da competição. O representante do Internacional foi incisivo para que os clubes cumpram com as responsabilidades de clube formador, para não perder o direito a permanecer com o atleta. Os representantes do Vitória e do Fluminense frisaram quando se usa a ética e quando vale o contrato de formação. René Simões agora no Vasco desabafou dizendo que estava muito chateado com o SPFC devido o assédio com seus atletas e dos demais clubes e que em sua passagem no SPFC não admitia em hipótese alguma esse tipo de atitude. Não concorda com a divisão do que é ético e do que é contrato de formação. Entende que com ou sem contrato todos deveriam respeitar os clubes (principalmente aqueles clubes que passam por dificuldades financeiras). Citou o fato de ter alguns atletas profissionais no próprio Vasco que estão com salários em atraso e nem por isso seus procuradores ou agentes o tiraram de lá. Os gestores Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 229 finalizaram o encontro acordando que quando o “Aliciador” anteriormente comprovado for convidado para uma competição, os demais clubes não participariam e que os presidentes dos clubes enviassem um documento padrão para à ABEX, para a mesma negociar com as federações às devidas providências. Estiveram presentes no encontro os clubes Flamengo, Ouvidor da CBF, Vasco, Atlético Mineiro e Vitória. No dia 21 de abril de 2013, quando todos os clubes souberam que a organização da Copa Internacional 2 de julho enviou o convite também ao São Paulo, iniciou um efeito cascata de desistência iniciada pelo Atlético/MG, Cruzeiro e Vasco. O Coritiba e o Góias, apesar de não convidados, reforçaram o posicionamento decidido em reunião com relação à não participação da equipe em competições onde o São Paulo estivesse presente. René mencionou que a ABEX já deveria pensar nas ações referentes à Taça BH e Copa SP. O representante do Coritiba rebateu que antes seria mais importante se preocupar com a Copa do Brasil Sub 17 e 20. Na sequência foi o clube Audax, Figueirense e Fluminense apoiar as medidas tomadas. No dia 24 de abril de 2013, Marcus Alves publicou no espn.com.br “o boicote ao São Paulo por aliciamento de jogadores nas categorias de base”. Menciona que o primeiro a se manifestar contra o time paulista foi o Vasco. Em seguida, surgiram também Grêmio Prudente, Ponte Preta e Coritiba. Depois, Corinthians, Grêmio Osasco e Cruzeiro. E agora o Goiás apresenta queixa de assédio. Cita que o São Paulo é a segunda equipe do País a ser punida pelo rompimento do pacto, que antes disso, o Atlético-PR feriu o acordo ao contratar o atacante “Mosquito”, ex-Vasco. Finaliza a reportagem que foi dada a oportunidade ao São Paulo de se defender das acusações, mas até o momento não se pronunciou. No mesmo dia foi publicado na redebahia.com.br, por Hailton Andrade que a dupla Ba-Vi e outros clubes se juntam para boicote ao São Paulo na Copa 2 de julho por conta de quebra de acordo. No dia 26 de abril de 2013, Renata Mendonça publicou na espn.com.br que o gerente da base do Atlético/MG e integrante da comissão de base reforçou as acusações feitas ao Tricolor, principalmente ao diretor de futebol do São Paulo, Adalberto Batista, que minimizou o protesto dos clubes e garantiu que o time paulista age de acordo com a lei e finaliza que não reconhece a associação de gestores. O dirigente do AtléticoMG, fez questão de responder o diretor são-paulino reforçando as acusações ao São Paulo sobre o ‘roubo’ de jogadores nas categorias de base, dizendo “O São Paulo, com a estrutura que tem, precisar assediar jogador, atesta a incompetência do processo de formação de jogadores do clube” e finaliza citando que Ney Franco, atual técnico são-paulino e antigo coordenador das categorias de base da seleção brasileira, foi o mentor do I seminário dos gestores. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 230 No dia 30 de abril de 2013, o Sr. Carlos Brasil comunicou aos gestores seu desligamento do Flamengo em virtude de não concordar com a diretoria do Flamengo em pedir desculpas ao São Paulo, após declaração dada na imprensa, sobre o boicote ao time paulista. Diante da saída de Brazil, o Sr. Sidnei do Botafogo, solicitou aos colegas Biasotto e o Noval do Flamengo, qual era a posição oficial do Flamengo em relação ao acordo dos clubes ao boicote ao São Paulo. Biasotto e Noval responderam imediatamente em conjunto, dizendo que continuam no movimento de luta e jamais se omitirão de nenhuma situação. Comunicaram que enviaram no dia 25 de abril um e-mail ao executivo de futebol do Flamengo sob parecer sobre o caso SPFC (Copa BH) e obtiveram a seguinte resposta: “O Clube de Regatas do Flamengo irá disputar a Copa BH, é uma decisão da Vice Presidência de Futebol”. Finalizaram dizendo que a gestão anterior do Flamengo, sabia de todo o processo e não se opunha aos direcionamentos dos gestores e que a nova Gestão pensa de forma diferente e entende que estes assuntos devem ser debatidos no alto escalão, ou seja, entre presidentes e vices. Sidnei Loureiro, respondeu dizendo que entendia o posicionamento do alto escalão do Flamengo, mas, que iria procurar os companheiros para comunica-los que o Flamengo estava rompendo o acordo e que fosse aplicado ao Flamengo o mesmo boicote que está sendo feito ao São Paulo. No mesmo dia, o diretor Executivo do Vasco, enviou e-mail ao Presidente da Federação/MG, organizadora da Taça BH dizendo que o clube só irá participar de sua competição caso obtenha a garantia de que o São Paulo não estará entre os clubes participantes. René Simões em entrevista com a espn.com.br, no mês de maio, disse que durante seus nove meses a frente das categorias de Base do São Paulo passou por algumas brigas internas para impedir que o aliciamento continuasse acontecendo quando ele estava lá. No dia 11 de junho de 2013 na Ponte Preta/SP foi realizado o VI Encontro. Decidiram que os Clubes prejudicados deviriam encaminhar oficio a ABEX, relatando os casos, para providências. Acordaram o prazo até 31 de dezembro de 2013, para que os Clubes possam ter o Certificado de Formação, e que até esse prazo, o acordo de Ética passa a valer até os 16 anos, onde será observado o aliciamento abaixo desta idade. Em 2014, o acordo de ética passa a valer até 14 anos, e será observado o aliciamento abaixo desta idade e que cada representante encaminha-se a ata a sua diretoria para ciência e aval. O representante do Vitória, no dia 16 de maio de 2013, informou que a SUDESB responsável pela Copa 2 de julho, não desconvidou o São Paulo e finalizou dizendo que o Vitória e o Bahia não participariam da competição, juntamente com os clubes Corinthias, Santos, Palmeiras, Audax, Vasco, Grêmio, Cruzeiro, Naútico, e outros. Thiago Souza no dia 16 de maio, no Galáticos Online, confirmou a realização da Copa 2 de Julho de 2013, porém sem Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 231 a presença de clubes da série A e outros que são contra a participação do São Paulo. Devido ao boicote realizado contra o Tricolor paulista, a organização optou em manter o clube e confirmou a participação da seleção brasileira, um clube da Bolívia, outro do Paraguai e alguns times do Nordeste. Resultados Obtidos e Análise Verificamos no relato a convocação de um seminário para discutir problemas relacionados as categorias de base, que virou um movimento que se espalhou rapidamente pelo Brasil na busca da moralização do futebol brasileiro, principalmente relacionado as transferências de jogadores entre os clubes de base. Portanto, identificamos que o movimento atingiu os objetivos de moralizar, doutrinar princípios éticos e diminuir a incidência de roubos de atletas, mesmo perdendo algumas batalhas. Consolidaram um movimento que prima por ações éticas e morais em todas as relações entre clubes, enfrentando batalhas enormes contra a indústria tradicional do futebol, colocando até mesmo seus cargos em jogo. A contribuição mais relevante neste relato é a briga clara entre o bem e o mal, sendo o bem responsável em proteger o clube formador do ataque do mal, evidenciado por ação inescrupulosa de alguns clubes. Percebemos que dirigentes e empresários estão mais receosos em realizar o assédio, em virtude da rápida comunicação entre gestores, e a forte rejeição deste grupo a pessoas que agem aliciando atletas, até os pais estão evitando para não serem prejudicados nestas transações. Conclusão Em virtude da legislação brasileira não prever especificamente condições na transferência de atletas menores de 16 anos, alguns clubes e intermediários aproveitam-se desta lacuna deixada pelo legislador para simplesmente interromper o processo de formação de jogadores, levando-os a outras agremiações sem autorização da equipe onde até então vinham treinando e sendo formados. Tudo sem oferecer qualquer contraprestação aos investimentos na formação dos mencionados atletas e às prováveis perdas e danos decorrentes destas transferências não autorizadas e unilaterais. Apresentamos a formação de um movimento de futebol de base, na qual seus integrantes reprovam este tipo de procedimento adotado com má-fé por alguns clubes e pessoas atuantes no meio desportivo, procedimento este que causa enorme prejuízo financeiro, desportivo e institucional às agremiações que trabalham de forma séria na formação de cidadãos. Mostramos que as alterações na Lei Federal n.º 9.615/1998 que fala sobre as garantias a que fazem jus os Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 232 clubes formadores de atletas ficam restritas quase que exclusivamente às agremiações que tenham contrato de trabalho firmado com os atletas ou que tenham no mínimo um “contrato de formação” firmado com os mesmos e que sejam contemplados com o “Certificado de Clube Formador” emitido pela Confederação Brasileira de Futebol. Vale relatar que tivemos dificuldades de obtenção de informações quando ocorreu mudança no procedimento de comunicação do grupo. Como as informações anteriores a este procedimento vazaram para a imprensa, poucos profissionais se arriscavam no debate mais acerrado. Referências bibliográficas Libardi, Roberto. Os clubes do Brasil. Disponível em: http://www.rlsolucoes.com.br/rlv01/06_artigos_novidades/artigo_clubes_brasil.asp. Melo Filho, A. (1995). O desporto na ordem jurídico-constitucional brasileira. São Paulo: Malheiros. Nascimento, Amauri Mascaro (2005). Direito do trabalho. 20. ed. São Paulo: Saraiva. Piolla, Gilmar. Pela obrigatoriedade da educação física no currículo escolar. Disponível em: <http://www2.uol.com.br/aprendiz/n_colunas/g_piolla/id141100.htm>. Silva, Homero Batista Mateus (2009). Curso de direito do trabalho aplicado – Livro das profissões regulamentadas. Rio de Janeiro: Elsevier. Melo Filho, A. (2012). Nova Lei Pelé – Avanços e Impactos. 1. Ed. São Paulo: Maquinária. Constituição da República Federativa do Brasil de 1998. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Leu nº 8.672, de 6 de julho de 1993. Disponível em: 1996. Disponível em: 1998. Disponível em: de 2000. Disponível em: de 2003. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8672.htm >. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Lei nº 9.615, de 24 de março de <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9615consol.htm>. Lei no 9.981, de 14 de julho <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9981.htm>. Lei no 10.672, de 15 de maio <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.672.htm>. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 233 Lei nº 12.395, de 16 de março de 2011. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12395.htm>. Decreto-Lei n.º 5.452, de 1º de maio de 1943. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm>. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 234 Gestão do trânsito para atividades esportivas na via – Corridas de Rua Fernanda Bragança Albanese Hayek (Companhia de Engenharia de Tráfego) [email protected] Rodrigo Carmo Molina (Companhia de Engenharia de Tráfego) Resumo O crescente aumento de atividades esportivas programadas, com concentração pública e ocupação da via em São Paulo, representada por maratonas, corridas e caminhadas tem apresentado ao órgão publico de gestor do trânsito um grande desafio em administrar estes incidentes programados visando minimizar o impacto dos mesmos no sistema viário principal e no entorno. A Companhia de Engenharia de Tráfego – CET é responsável pelo planejamento e operação de Eventos programados em vias pública, dentre estes, as atividades esportivas.Este trabalho apresenta o processo de planejamento e operação de Eventos programados em vias pública, dentre estes, as atividades esportivas e sugere a estruturação de um “Indicador de Desempenho Operacional em Eventos Esportivos” como instrumento de aprimoramento deste processo. O aumento crescente das necessidades e exigências dos clientes (sociedade) exige que o poder público se mantenha com elevada capacidade de adaptação e alto índice de eficiência e um indicador desta ordem contribuirá para a melhoria da satisfação dos stakeholders (organizadores, participantes do evento e demais usuários da vias afetados direta ou indiretamente). Palavras chave: gestão, processos e corridas Abstract The increasing number of scheduled sports activities, with concentration and occupation of public streets in the city of São Paulo, represented by marathons, runnings and walks has presented to the public agency traffic manager a major challenge in managing programmed these incidents to minimize their impact on the main streets system and the surroundings. The Company of Traffic Engineering - CET is responsible for planning and operation of events programmed in, among these, the public sports activities. This paper presents the process of planning and operation of events scheduled on public streets, among these, the sports activities Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 235 and suggests the structure of an "Indicator Operating Performance in Sports Events" as an instrument for improving this process. The increasing needs and demands of customers (society) requires the public to be able to hold with high adaptability and high efficiency ratio and an indicator of this order will help to improve the satisfaction of stakeholders (organizers, event participants and others users of the street system directly or indirectly affected). Keywords: management, processes, running Introdução O aumento observado em promoções destas modalidades esportivas, caracteriza-se por uma busca pela melhoria na qualidade de vida, integração social, promocional, responsabilidade social, quando proporciona doações, além de para alguns apresentar-se como aspecto profissional. Além do aumento do cronograma desportivo desta modalidade, o expressivo aumento do número de participante impacta diretamente na logística do evento, compreendendo a mobilização das equipes de apoio, equipes de treinadores e no acesso dos participantes ao local do evento. A redução da mobilidade urbana, anteriormente privilégio apenas de dias úteis (segunda a sexta-feira), tem se estendido a sábados e domingos, naturalmente, com menor expressão, porém concentrada em locais de interesse de lazer e social, como nas imediações de parques, centros de lazer e clubes particulares. A incidência de eventos esportivos em vias principais da cidade, como Marginais Pinheiros e Tietê, Av. Rubem Berta e Moreira Guimarães, Av. Pedro Álvares Cabral, Av. Roberto Marinho, Av. Olavo Fontoura, etc., associada aos deslocamentos regionais decorrentes de interesse de outros munícipes em deslocamento a polos de lazer, reforça a necessidade de gestão eficaz do trânsito para garantia da mobilidade e segurança de todos os usuários da via. Justificativa A gestão do trânsito no local do evento torna-se de grande complexidade face a busca por proporcionar facilidade e agilidade na chegada e saída dos participantes, bem como para minimizar transtornos aos moradores e usuários do local e entorno que não tem envolvimento direto com o evento. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 236 Objetivo do trabalho Este trabalho tem como objetivo apresentar o panorama de Eventos Programados do tipo Concentrações Públicas especificamente Eventos Esportivos, Corridas de Rua, e o planejmaento e operação destes na cidade de São Paulo e recomendar a estruturação de um indicador estratégico de desempenho operacional que representem a eficácia operacional em eventos programados do tipo esportivos com ocupação viária. Revisão Bibliográfica Eventos “Concentrações Públicas” – Eventos Esportivos Pela Lei no 14.072 de 18 de outubro de 2005, os incidentes programados citados denominam-se “Eventos” e os considera como toda e qualquer atividade que interfira nas condições de normalidade das vias do município, pertubando ou interrompendo a livre circulação de pedestres e ou veículos, ou que coloquem em risco a segurança das pessoas e bens. Segundo Decreto 46.942-06 de 30 de janeiro de 2006, os eventos são classificados em: Concentrações Públicas, Obras e Serviços, Transportes Especiais e Ocorrências Especiais. Concentrações Públicas são considerados eventos que envolvem aglomerações de pessoas, como passeatas, corridas de pedestrianismos, shows musicais, partidas de futebol e outros. Eventos esportivos, como maratonas, caminhadas em vias públicas, inclue-se na categoria Concentrações Públicas. Corridas de rua Segundo Bastos, Pedro e Palhares (2009) a corrida de rua de rua pode ser considerada um setor de atividade que envolve profissionais de educação física, assessorias esportivas, agências de marketing esportivo, entre outros. Podemos incluir o orgão público como um setor importante na realização destes eventos. As corridas de rua tiveram origem no final dos anos sessenta nos Estados Unidos, onde o treinador Willian Bowerman lançou um livro sobre orientações de programa de corredores, sendo um de seus atletas treinados, o fundador da empresa Nike, a qual estimula corrida de rua associando o esporte ao estilo de vida saudável. Conceitua-se corrida de rua, segundo Salgadome Chacon-Mikhail (2006) apud Campos, Moraes e Lima (2014) como provas de corrida disputadas nas ruas, avenidas ou estradas em distâncias que podem variar de 5 a 100 quilometros. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 237 A corrida de rua apresenta-se como uma prática esportiva acessível para grande parte da população uma vez que nem todos dispõe de profissionais para orientação, não sendo condição básica para a prática do esporte, e acima de tudo, proporciona bem estar e melhora a qualidade de vida. Os autores Massarella e Winsterstein (2009) relatam que praticantes de corridas apresentam sentimento de prazer, alegria e felicidade, fazendo deste hábito autossutentado pelo seu interesse, estímulo e satisfação em continuidade da prática esportiva. Segundo a Associação Internacional de Maratonas e Corridas de Rua, sediada em Londres (AIM 2004), as maratonas e demais corridas de rua, tem crescido mais como um comportamento participativo, do que como esporte competitivo,tendo basicamente três tipos de pessoas que buscam resultados nas corridas: as que correm e procuram seu próprio tempo e posição, procurando superar-se, as que conferem o resultado para comparar-se a amigos e os organizadores das provas que veêm os resultados como dados estatísticos e de investimentos. Também é bastante frequente no mundo e no Brasil corridas humanitárias, que são promovidas para angariar fundos para uma determinada causa,como a conhecida Corrida da GRAAC, Corrida do Cancer de Mama, entre outros. A Corpore (2005) apud Salgado J.V.V (2005), uma das maiores organizadoras de corridas, acredita que o crescimento no setor de corridas advem da busca pela qualidade de vida, do convívio com outros participantes que se contagiam pelos resultados e medalhas recebidas e passam a representar conquistas na vida pessoal, profissional e esportiva. Processo de Autorização e Acompanhamento de Eventos na Cidade de São Paulo Por meio da legislação citada, a Companhia de Engenharia de Tráfego – CET foi autorizada a cobrar pelos custos operacionais de serviços prestados em eventos, relativos à operação do sistema viário. Estruturou-se internamente um processo de planejamento e atendimento e cobrança aos Eventos esportivos, entre outros, compreendendo as seguintes etapas: Recebimento e cadastramento da solicitação para emissão de autorização do evento na via pública. Análise Técnica de viabilidade de autorização do evento. Elaboração do Plano de Operação, envolvendo planejamento de bloqueio e desvios e dimensionamento da equipe operacional de atendimento no evento. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 238 Cobrança dos custos para operacionalizar o local do evento conforme Plano de Operação. Operação viária no dia do evento Processo contábil Para o processo de cobrança e formação dos custos operacionais e do preço do serviço prestado em eventos foi desenvolvida metodologia com base em diversas variáveis que intervém no cálculo do custo da atividade planejamento e operacão do evento, tais como: características do evento, do local, porte do evento, impacto no local e entorno, apoio operacional para estacionamento, isolamento da área e distribuição de materiais, alteração na circulação do sistema viário local, acompanhamento e ordenação do tráfego e normalização do trânsito no local. Os sistemas de comunicação do eventos, por meio de faixas de vinil, informações na mídia, redes sociais, sites dos organizadores e do órgão de trânsito (CET) são fundamentais para a disseminação da informação do evento, local, interdições e possíveis desvios, estacionamentos, contribuindo para melhorar a logística dos participantes e dos demais usuários da via que não participam diretamente do evento porém são afetados pelo mesmo. A CET divulga semanalmente a relação dos eventos da Cidade por meio do seu site e via telefone do trânsito 1188, além de uso dos Painéis de Mensagens Variáveis – PMVs para eventos mais significativos envolvendo vias estruturais da cidade. A logística de comunicação é fundamental para todos os atores envolvidos diretamente ou indiretamente no evento considerando usuários das proximidades do eventos, bem como usuários que estejam de passagem pela capital e sofrem influência dos reflexos das interdições realizadas. A localização do evento, em vias expressas, semi-expressas e arteriais, principalmente observado em eventos esportivos que envolvem grandes extensões (42km, 25km, 10km) e grande número de participantes, é determinante o planejamento da operação do evento, podendo ser fator fundamental para impacto no tráfego considerando que são vias importantes de ligação de regiões da cidade, carregam quantidades significativas de veículos, que serão desviados por vias lindeiras e distribuídos nos bairros do entorno. Por tratar-se de corridas de pedestres em vias públicas o bloqueio completo das vias, evitando o tráfego de veículos e o acesso ao público durante a realização é fundamental para garantir a segurança dos participantes. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 239 Indicadores de Desempenho Tadachi e Flores (2005) citam que indicadores são formas de representação quantificáveis das características de produtos e processos. Devendo ser utilizado pelas organizações para controlar e melhorar a qualidade de produtos e processos ao longo do tempo. Indicadores de qualidade diferem de indicadores de desempenho por estarem associados à qualidade do produto ou serviço enquanto o segundo está associado à qualidade do processo. Indicadores são parâmetros que indicar a variação do valor análisado em relação ao valor esperado, sugerindo a indicação de algum problema. Para a administração pública os indicadores tem um papel importante por proporcionarem transparência na gestão e promover o controle das ações do Estado pela sociedade (Zucatto, L.C, 2009). Indicadores de desempenho mostram-se como métodos de sucesso para auxiliar a gestão estratégica, melhorar a eficiência, a gestão dos recursos e aumentar a satisfação dos usuários no setor público. Evolução de Corridas Oficias de rua e número de participantes em São Paulo Segundo a Federação Paulista de Atletismo (2013) os corredores de rua cresceram em 12% em São Paulo em 2012 comparado com 2011. Considerar uma das modalidades que mais crescem no Brasil. No ano 2012 ocorreram 311 corridas oficiais no Estado de São Paulo, com 533 miol corredores. Destes 67,94% foram homens e 32,06% mulheres. A tabela abaixo apresenta a evolução das corridas oficiais de rua no Estado de São Paulo, número de participantes e a taxa de crescimento. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 240 Corridas Oficiais Participantes em Corridas Oficiais Taxa de Crescimento anual de Corridas(%) Taxa de Crescimento anual Participantes(%) Ano 2005 168 209.501 - - Ano 2006 182 233.557 8,33% 11,48% Ano 2007 195 283.960 7,14% 21,58% Ano 2008 217 372.352 8,21% 31,13% Ano 2009 240 401.465 10,60% 7,82% Ano 2010 287 416.210 19,58% 3,67% Ano 2011 298 464.057 3,83% 11,50% Ano 2012 311 533.629 4,36% 14,99% Anos Tabela 1: Corridas oficiais realizadas no Estado de SP, com respectivos participantes e variações anuais. Fonte: Federação Paulista de Atletismo (FPA – 2013) Pode-se observar crescimento nos ultimos 8 anos de 85,12% na quantidade de corridas oficias de rua no Estado de São Paulo e 154,7% no número de participantes superando meio milhão em todas as corridas. As considerações apresentadas anteriormente, citando as facilidades para a prática da corrida, o bem estar gerado e percebido são confirmados pelos números observados, crescentes dos participantes em corridas no Estado de São Paulo. Campos, Moraes e Lima (2014) também apresentam que todos os envolvidos na rede de relação empreendedora de corridas de ruas na cidade de São Paulo obtem ganhos tangíveis e intangíveis com este tipo de empreendimento e apresentam uma frequencia anual constante de determinadas provas e portanto apresentam-se em franca expansão em São Paulo e no mundo. Dados de Concentrações Públicas – Eventos Esportivos - Autorizados pela CET Segundo a CET (2013) no ano 2013 foram atendidos 51.970 eventos, dentre os quais, 40.920 Obras, 169 transportes especiais e 10.881 classificados como concentrações públicas ou ocorrências especiais conforme distribuição apresentada no gráfico abaixo. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 241 20,94% obras ou servicos transportes especiais concentracoes públicas ou ocorrencias especiais 0,31% 78,75% Gráfico 1: Distribuição dos Eventos em vias públicas autorizados no ano 2013. Fonte: CET (2013) Concentrações públicas correspondem a 20,94% dos eventos autorizados, pela CET, para a cidade de São Paulo, totalizando 10.881 ocorrência programadas deste tipo no ano 2013, equivalendo a média mensal de 906 ocorrências. Dentro deste universo encontram-se as Corridas de Rua no total de 131 no ano 2013. A tabela abaixo apresenta a quantidade de Autorizações de Concentrações Públicas do tipo Corrida de rua. Autorizações de Concentrações Públicas – Tipo Corridas de Rua – cidade SP Variação em relação ao ano anterior (%) Média Mensal (Corridas de rua autorizadas) Ano 2009 81 - 6,8 Ano 2010 104 28,4% 8,7 Ano 2011 113 8,7% 9,4 Ano 2012 124 9,7% 10,3 Ano 2013 131 5,7% 10,9 Anos Tabela 2: Autorizações emitidas para Corridas oficiais realizadas na cidade de SP, com variações anuais. Elaborada a partir de dados da CET (2013) Observa-se um aumento crescente no número de eventos do tipo Corrida de Rua autorizados pelo poder público ao longo dos anos 2009 a 2014 e aumento de 61,73% entre o ano 2014 e ano 2009. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 242 O maior aumento (28,4%) foi observado no Ano 2010, corroborado pelo aumento de corridas no Estado de São Paulo conforme tabela 1 (19,6%) , sendo uma aumento na cidade de São Paulo, bem superior ao observado no Estado de São Paulo. A partir do Ano 2011 os aumentos no número de Corridas de Rua são menores do que observado entre os anos de 2009 e 2010. Quando avalia-se a média mensal, verifica-se a incidência de quase 11 eventos por mês. Considerando que há de quatro a cinco finais de semana, temos de dois a três eventos por final de semana. A coincidência em ocorrência de eventos na cidade, no mesmo dia, em locais diferentes, torna-se uma frequente indica a necessidade de um planejamento mais abrangente, de forma a expandir a análise para impacto entre regiões da cidade e sugere uma avaliação de impacto na cidade nestas condições. Sabendo-se que Corridas de Rua ocorrem apenas aos domingos, excepcionalmente em feriados, confirma-se a simultaneidade de eventos no mesmo final de semana o que acarreta sobrecarga nas escalas operacionais para atendimento aos eventos e provocando impacto no trânsito de diversas regiões da cidade. A CET não realiza registro do número de participantes nas Corridas de Rua na cidade de São Paulo. Na tabela abaixo pode-se observar a distribuição de eventos Corridas de Rua autorizados por mês na cidade de São Paulo e uma média mensal. Meses Ano 2009 Ano 2010 jan 3 fev 1 mar 5 abr 4 Ano 2011 Ano 2012 Ano 2013 Ano 2014 Média 5 2 2 1 2,8 2 1 2 6 2,4 5 5 7 7 2 5,2 2 7 7 12 10 7 7,5 mai 8 12 7 12 9 12 10,0 jun 7 8 11 10 10 5 8,5 jul 9 14 16 13 14 6 12,0 ago 11 16 12 15 14 16 14,0 set 9 12 13 16 18 18 14,3 out 11 7 10 10 16 10,8 nov 7 10 11 13 13 10,8 dez 8 9 14 13 16 12,0 Total 81 104 113 124 131 73 Tabela 3: Autorizações emitidas para Corridas oficiais realizadas na cidade de SP, com variações anuais. Elaborada a partir de dados da CET (Set-14) Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 243 Pode-se constatar a concentração de organizações de Corridas de rua em poucas instituições, verifica-se que 68,7% das autorizações foram emitidas a 11 organizações. O histograma abaixo apresenta a frequencia de organizadores x Corridas de rua realizadas entre os Anos de 2009 a Set-14. Quant. de organizadores 60 120,0% 54 50 90,0% 40 94,0% 97,0% 98,0% 99,0% 100,0% 100,0% 80,0% 36 30 60,0% 54,0% 20 40,0% 10 4 1 3 20,0% 1 1 63 More 0 0,0% 1 10 26 38 51 Corridas de rua (Ano 2009 a Set-14) Gráfico 2: Frequencia de organizadores por corridas de rua autorizados no período de 2009 a Set-14 Elaborado a partir de dados da CET (Set-14) Diversas corridas são compostas por séries de etapas, geralmente realizados no mesmo local, com o mesmo percurso e mesma empresa organizadora. Outras corridas mantém a mesma frequencia porém com uma progressão nas extensões das provas, a exemplo do Circuito Athenas. Nome das Corridas de Rua Corridas de rua (Anos 2009 a Set-14) Circuito Popular de Corrida de Rua da Cidade SP 50 Circuito das Estações 22 Circuito de Corrida de Rua 15 Circuito Athenas - São Paulo 11 Corrida de Pedestrianismo 10 Corrida Automobilistica 9 Circuito Vênus - Corrida P/ Mulheres 9 Trofeu Brasil De Triathlon- Etapa São Paulo 8 Circuito Serie Delta 7 Maratona Internacional de São Paulo 7 Corrida do Klabin 7 Corrida e Caminhada Contra o Câncer de Mama 7 Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 244 Serie Delta 6 Nome das Corridas de Rua Corridas de rua (continuação) (Anos 2009 a Set-14) Circuito Sesc de Corrida De Rua 6 Corrida Centro Histórico 5 Corrida Internacional de São Silvestre 5 Corrida Santos Dumont 5 Corrida Corpore Bombeiros 5 Corrida e Caminhada 5 Meia Maratona Sesc de Revezamento 4 Circuito Sol 4 Corrida e Caminhada GRAAC 4 Track & Field Run Series 4 Corrida Trofeu Zumbi dos Palmares 4 Corrida Infantil 4 Night Run - São Paulo 4 Circuito Lótus São Paulo 4 Corrida Oral B - Prevenção Do Cancer Bucal 4 Volta da Penha - Corrida De Pedestres 4 Corrida Monte Líbano 4 Tabela 5: Corridas oficiais realizadas na cidade de SP, com respectivos quantitativos do período. Elaborada a partir de dados da CET (Set-14) Na tabela acima pode-se observar as corridas que apresentaram pelo menos uma corrida por ano demonstrando a continuidade dos circuitos. Alguns circuito apresentam com diversas corridas anuais, a exemplo do Circuito Popular de Corrida de Rua da Cidade SP (50 no período), Circuito das Estações (22), Circuito de Corrida de Rua (15) e Circuito Athenas - São Paulo (11), Esta frequencia de circuito ao longo dos anos sugere uma fidelização dos participantes por estas provas. As provas concentram-se em algumas vias estratégicas, geralmente vias expressas, semi expressas e arteriais. Abaixo são apresentadas as vias com realização de Corridas de Ruas acima de 4 corridas no período, pelo menos um por ano. Cabe observar que as doze vias com maior número de corridas (acima de 10 corridas no periodo) são vias com as categorias de vias expressas, semi expressas e arteriais. A sua preferência se dá em razão da largura da via, extensão contínua o que propicia maiores percursos. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 245 Principais Vias do percurso das Corridas Corridas de rua (Anos 2009 a Set-14) Pc Charles Miller 52 Av Lineu de Paula Machado 33 Av Pedro Alvares Cabral 31 Av Afranio Peixoto 29 Av Sen Teotonio Vilela 24 Av Escola Politecnica 21 Av Nazare 17 Av das Nacoes Unidas 16 Av Moreira Guimaraes 16 Av Arruda Botelho 14 Av Jorn Roberto Marinho 11 Av Santos Dumont 10 Marginal Pinheiros C/I 9 Av Otto Baumgart 9 Av Escola Politecnica 8 Av Prof Mello Moraes 8 Av Olavo Fontoura 8 Av Forte do Leme 7 R dos Patriotas 7 Pq Anhangabau 7 R Libero Badaro 7 Av Paulista 7 Av Inajar de Souza 7 Av Aricanduva 7 Av Pacaembu 6 Av Miguel Estefano 6 Estrada da Riviera 6 Av Pref Fabio Prado 6 Av Luis Stamatis 6 Av Nadir Dias de Figueiredo 5 Av Jose Pinheiro Borges 5 R Eleonora Cintra 5 R Amador Bueno 4 Av Jacinto Menezes Palhares 4 R Do Mar Paulista 4 Av Paes de Barros 4 Tabela 6: Principais vias com Corridas oficiais realizadas na cidade de SP, com respectivos quantitativos do período. Elaborada a partir de dados da CET (Set-14) Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 246 Principais Vias do percurso das Corridas Corridas de rua (Anos 2009 a Set-14) Pte Octavio Frias de Oliveira 4 Lg do Infante 4 R Rui Gomes de Almeida 4 Av Alcantara Machado 4 Pc Monumento 4 Av República do Libano 4 Tabela 6: Principais vias com Corridas oficiais realizadas na cidade de SP, com respectivos quantitativos do período. (continuação) Elaborada a partir de dados da CET (Set-14) Análise dos dados Confirma-se o crescente aumento de Corridas de ruas no Estado de São Paulo e na cidade de São Paulo. Este aumento podemos afirmar ser decorrente do interesse social em obter maior qualidade de vida, opção por um esporte que pode ser entendido como autônomo e de baixo custo. O crescimento desta modalidade esportiva favorece negócio de empresas organizadoras, promove patrocinadores e em algumas situações apresenta-se como caráter de voluntariado social. Torna-se cada vez mais frequente circuito contínuo, formado por diversas corridas ao ano, do mesmo circuito e consequentemente, mesmo organizador, gerando um estímulo à fidelização. As diferenças de extensões para a mesma corrida; caminhada proporciona maior abrangência de público, considerando interesses, preparos diversos e diferentes faixas etárias. No mesmo evento observa-se caminhadas e corridas de 5km, 10km, 21km. As corridas concentram-se principalmente em vias importantes e estruturais para a cidade de São Paulo e em alguns meses apresentam-se simultaneas no mesmo dia, reforçando portanto a extrema importância na criteriosidade da avaliação do planejamento do evento. A concentração de corridas no mesmo organizador favorece a facilidade por parte do interessado no evento, bem como aprimora a logística de operação dada a experiência da organizadora. Corridas temáticas, como Star Wars, Disney, etc. estimulam a participação de diversas faixas etárias. A sazonalidade observada propicia melhor planejamento do órgão de trânsito para atendimento às demandas, bem como avaliação de recursos humanos para acompanhamento. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 247 Conclusão Os dados de evolução das corridas no Estado de São Paulo, os benefícios percebidos pelos praticantes das corridas de rua, os ganhos tangíveis e intangíveis das empresas organizadoras dos eventos são indicativos de confirmação da expectativa de continuidade e crescimento desta modalidade esportivas, corrida de rua, e consequente necessidade de aprimoramento do processo de planejamento e operação de Eventos Programados na via. Como melhoria deste processo evidencia-se a oportunidade em desenvolver um indicador estratégico de desempenho operacional que representem a eficácia operacional em eventos programados do tipo esportivos. O indicador estratégico de desempenho operacional para eventos programados do tipo Concentrações Públicas – eventos esportivos poderia considerar variáveis poderadas como porte do evento (quantidade de participantes), tempo de duração da interdição, tempo para retorno às condições normais de tráfego no entorno, utilização de dispositivos de comunicação (PMV, Redes Sociais, Whats app e outros), pesquisa de satisfação dos participantes no que se refere à acessibilidade e segurança viária e pesquisa de satisfação dos moradores e usuários da via (não participantes diretamente do evento). O estabelecimento e monitoramento sistemático do “Indicador estratégico de desempenho operacional para eventos programados” poderá contribuir para aprimoramento do processo de planejamento de eventos desta categoria bem como para a revisão de parâmetros técnicos e orçamentários deste processo e estabelecimento de uma Política Municipal de uso da via pública para Eventos Programados visando a otimização do espaço urbano de forma sustentável para todos os agentes da sociedade. Referências Bibliográficas AIMS. Associação Internacional de Maratonas e Corridas de Rua. http://aimsworldrunning.org/ BASTOS, F. C.; PEDRO, M. A. D.; PALHARES, J. M. Corrida de rua: Análise da produção científica em universidades paulistas. Revista Mineira de Educação Física, v. 17, n. 2, p 7686, 2009. CAMPOS, M. T, MORAES, M.B., LIMA, E. Rede de Relação e Empreendedorismo da Realização de Corridas de Rua. VIII Encontro de Estudos em Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas (EGEPE), Mar 2014. CET – Companhia de Engenharia de Tráfego – SP. Relação de eventos autorizados do tipo Concentrações Públicas - Corridas de rua no período de 2009 a setembro de 2014. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 248 FEDERAÇÃO PAULISTA DE ATLETISMO. Corrida de rua cresce 15% em São Paulo. Disponível em: <http://o2porminuto.com.br/materia/confira/conteudo/corrida- de-rua-cresce15-em-sao-paulo-7589> Acesso em: 25 Ago. 2013. NÉSPOLI, L.C.M., AGUIAR, A.L.T. Cobrança de Eventos – Legislação, Razões e Critérios – Boletim Técnico 43. Companhia de Engenharia de Tráfego – CET. SP, 2008. SALGADO, J.V.V.; CHACON-MIKAHIL, M.P.T. Corrida de rua: análise do crescimento do número de provas e de praticantes. Revista Conexões, v.4, n.1, p. 100- 09, 2006. SALGADO, J.V.V. Análise quantitativa da evolução das Corridas de Rua e das características dos praticantes desta modalidade. Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Estadual de Campinas, 2005. TADACHI, N.T.; FLORES, M.C.X. Indicadores da qualidade e do desempenho: como estabelecer metas e medir resultados. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2005. ZUCATTO, L.C. et. al. Proposição de Indicadores de Desempenho na gestão pública. ConTexto, Porto Alegre, v.9, n.16, 2º semestre 2009. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 249 Os Jogos Olímpicos Rio de Janeiro 2016: uma análise sobre as possibilidades de legados e impactos econômicos Marcelo Paciello da Silveira (UNINOVE) [email protected] Yuri Spakov (UNINOVE) Marcos Vinicius Cardoso (UNINOVE) Ary José Rocco Júnior (UNINOVE) Resumo O presente artigo visa efetuar uma análise sobre as possibilidades de legados e impactos econômicos na cidade do Rio Janeiro com a realização dos Jogos Olímpicos em 2016 desde o ano pré Jogos Olímpicos até o ano posterior aos Jogos. Utilizando a literatura de legados e impactos econômicos em megaeventos esportivos, aplicou-se uma análise qualitativa avaliando os dados econômicos nas últimas cidades-sede dos Jogos Olímpicos em termos de PIB, receitas com turismo e empregos gerados, comparando-os com os estudos sobre as perspectivas de impacto econômico na cidade do Rio de Janeiro no período anterior e posterior aos Jogos, visando especular sobre os possíveis legados e impactos econômicos para a cidade-sede. Os resultados mostram que existem boas possibilidades de um impacto econômico positivo no período pré Jogos até o ano posterior aos Jogos, mas existe uma grande dúvida sobre legados e impactos econômicos em um período mais longo, conforme encontrado na literatura. Palavras Chave: Megaevento, Legado, Jogos Olímpicos Abstract This paper aims to carry out an analysis of the possibilities of legacy and economic impact in the city of Rio de Janeiro with the Olympic Games of 2016 during period before until after the Games. Using the theory of legacy and economic impacts in mega sports events, was applied a qualitative study evaluating the economic data in the past host cities of the Olympic Games in terms of GDP, with tourism revenues and jobs generated and comparing them with the studies on prospects of economic impact in the city of Rio de Janeiro before and after the Games period, aiming to speculate on the possible of economic impacts and legacies to the host city. The results show that there are good possibilities for a positive economic impact in the pre Games until the later years of the games, but there is great doubt about legacies and economic impacts over a longer period, as found in the literature. Keywords: Mega-event, Legacy, Olympic Games Introdução Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 250 Em 2016 o Rio de Janeiro sediará os próximos Jogos Olímpicos, a mesma cidade que em 2007 sediou um megaevento esportivo com características parecidas, os jogos PanAmericanos. Para sediar eventos grandiosos os governos dos países anfitriões buscam grandes investimentos para adequar as cidades para receber um grande número de turistas, atletas, autoridades, profissionais de imprensa entre outros. Eventos dessa magnitude podem refletir em legados deixados para as cidades-sede e consequentemente para o país anfitrião. O Comitê Olímpico Internacional (COI) prega que, para tirar o máximo proveito das oportunidades que os Jogos podem proporcionar, a cidadesede deve ter visão clara dos benefícios que os as modificações efetuadas na cidade podem gerar para os seus cidadãos. Os jogos podem deixar uma série de legados dentro de uma cidadesede, abrangendo não só o esporte, mas também ganhos sociais, econômicos, urbanos e ambientais. Alguns benefícios podem ser experimentados bem antes da cerimônia de abertura, outros não podem ser vistos até anos após os Jogos terminaram (COI, 2013). Segundo o caderno de legados do COI (2013), um dos impactos econômicos mais significativos do preparo dos Jogos Olímpico é o aumento do nível de atividade econômica e de produção, ou seja, o aumento do PIB (Produto Interno Bruto), na qual as cidades-sedes têm testemunhado. Várias projeções foram efetuadas pela Fundação Instituto de Pesquisa (FIPE) e pelo Dossiê de Candidatura do Rio de Janeiro para sede dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos 2016 sobre legados e impactos econômicos dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro de 2016. Baseado nessas projeções, quanto um evento desse porte pode efetivamente gerar de legados e impactos econômicos no ano anterior, posterior e no ano em que os Jogos serão realizados na cidade-sede e para o país? Existe na literatura dados que confirmem os benefícios e/ou prejuízos de uma cidade ser sede de um megaevento esportivo? Quanto das expectativas geradas antes da realização dos Jogos serão efetivamente concretizadas no período pós Jogos? O foco do presente estudo é especular sobre os possíveis legados e impactos econômicos que os Jogos Olímpicos trarão para a cidade do Rio de Janeiro, pois, segundo Baade & Matheson (2003) poucos estudos são realizados após a realização dos Jogos e os estudos já efetuados demonstram que teriam poucos benefícios para as cidades que já sediaram esses eventos. As cidades candidatas, no entanto, podem muito bem avaliar a utilidade da economia gerada após o evento. Essas cidades devem fazer uma avaliação desapaixonada dos benefícios econômicos para auxiliá-los na formulação de uma candidatura (Baade & Matheson, 2003). Revisão Bibliográfica Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 251 Definição de um Megaevento Esportivo Os megaeventos esportivos não possuem uma definição universal, mas podemos entendê-los como grandes modificações temporárias e permanentes de tamanho e amplitude consideráveis (Cardoso, Fleury, & Malaia, 2013), com uma duração de tempo definida, nas quais sofrem modificações nas infraestruturas de locomoção, turismo, segurança, saúde, imagem da cidade, presença da mídia, entre outros (Bovy, 2009) e que sejam descontínuos, fora do comum, internacionais, grandes em sua composição e com potencial de impacto em diferentes setores da sociedade (Tavares,2011;Cardoso et al., 2013). As estruturas dos megaeventos modificam a cidades-sede e sua imagem, interferindo no cotidiano de quem permanece ou está de passagem. Sendo assim, os megaeventos contam principalmente com atividades relacionadas a esportes que ocorrem em instalações, como arenas e ginásios e/ou naturais para realização das práticas desportivas (Alles, 2014). Isso mostra a complexidade dos megaeventos, uma vez que não apenas atividades relacionadas ao esporte fazem parte desse processo, apesar da sua importância para a realização, mas uma série de fatores para a construção do megaevento. Portanto, os megaeventos esportivos vão além das instalações desportivas, isso porque dentro do período de realização dos eventos a cidade-sede é invadida por milhões de espectadores, atletas e patrocinadores corporativos (Billings & Holladay, 2012), ou seja, a cidade deve apresentar uma infraestrutura que possa receber todos os envolvidos e interessados nos megaeventos. Logo, podemos observar os megaeventos como uma atividade que pode ser vista também pelos impactos sociais, econômicos e políticos às cidades anfitriãs (Broudehoux, 2007), isso porque um dos argumentos para sediar um megaevento esportivo são baseados normalmente em benefícios esportivos, econômicos e sociais (Cardoso et al., 2013). Deste modo, Os Jogos Olímpicos podem ser considerados megaeventos esportivos, capaz de estar entre os maiores do mundo, já que atrai a atenção do mundo para o país e cidade-sede, pois, além dos eventos esportivos, também conta com eventos culturais paralelos para mostrar a cultura e as realizações do país (Heslop, Nadeau, & O’Reilly, 2010) aumentando ainda mais a complexidade de realizar eventos grandiosos. Megaeventos Esportivos no Brasil Muitas expectativas estão sendo criadas referentes a realização dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016, ainda mais por ser a primeira cidade sede dos Jogos Olímpicos na América do Sul e também por ser em um país em desenvolvimento. Quando o Brasil foi escolhido para Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 252 ser sede dos dois maiores megaeventos esportivos mundiais a Copa do Mundo de Futebol e os Jogos Olímpicos, o país parecia pronto para sacudir a economia mundial, se transformando em um relevante player global, mas atualmente esta confiança está sendo colocada em dúvida (Onis, 2014). Para chegar a ser sede dos dois mais importantes megaeventos esportivos do mundo, o Brasil se preparou ao candidatar-se como sede de megaeventos esportivos e também sendo anfitrião de megaeventos esportivos com menor complexidade. Em 2002 o Brasil foi sede dos Jogos Sul-Americanos, uma competição que contou com 14 nações. Essa caminhada continuou e a cidade do Rio de Janeiro foi sede dos Jogos Pan-Americanos realizados em2007 e dos Jogos Mundiais Militares realizados em 2011 (Tavares, 2011). O Brasil ainda foi anfitrião da Copa das Confederações de futebol da FIFA em 2013 e da Copa do Mundo de futebol da FIFA em 2014, um dos megaeventos esportivos mais extraordinários do mundo, culminado em 2016 com a cidade do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos. Legados em um Megaevento Esportivo O termo legado tornou-se recorrente nas discussões acadêmicas e não acadêmicas dos megaeventos esportivos. Uma das razões é a recente ênfase dada pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) para os Jogos Olímpicos visando deixar um legado positivo para as cidades-sede (Reis, Sousa-Mast, & Gurgel, 2013). Referente ao histórico do conceito de legado, Leopkey (2009) descobriu que o conceito foi mencionado pela primeira vez na candidatura de Melbourne para os Jogos Olímpicos de 1956, onde o prefeito James S. Disney afirmou que Melbourne estava pronto para "estabelecer como um legado da XVI Olimpíada, um Centro Atlético que iria demonstrar os ideais do esporte amador”. O conceito de legado foi usado para justificar a organização do evento, e tornou-se mais proeminente na década de 1980 (Kaplanidou & Karadakis, 2010). Nos Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996 os organizadores sentiram que era de sua responsabilidade identificar e mostrar o que os Jogos Olímpicos deixariam para a cidade-sede. As candidaturas de Sidney 2000 e Atenas em 2004 também enfatizaram os possíveis legados pós realização dos Jogos e em 2003 o COI alterou sua carta incluindo a décima quarta missão: “promover um legado positivo dos Jogos Olímpicos para a cidades e países sedes” (Chappelet, 2008). Este significativo aditivo na Carta Olímpica levou todas as cidades candidatas subsequentes a considerar não apenas o impacto dos Jogos em suas comunidades, mas também a melhor forma de alavancar oportunidades positivas de desenvolvimento de longo prazo em áreas além da infraestrutura (Reis et al., 2013). Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 253 Muito tem sido escrito sobre os legados de megaeventos esportivos, mas uma definição clara de legado não está formada (Preuss, 2007b, Cornelissen et al, 2011), complicando a medição de um legado em um megaevento (Horne&Manzenreiter, 2006). O resultado é que os países tentam sediar megaeventos sem entender a complexidade do legado e sem reconhecer que nem todos os legados são positivos e nem podem sempre ser totalmente planejados (Preuss, 2007b; Billings & Holladay, 2012; Baade & Matherson 2003). Uma definição de legado de acordo com Preuss (2007b) é tudo o que é planejado e não planejado, positivo e negativo, estruturas tangíveis e intangíveis criadas para o evento e pelo evento esportivo e que ficarão além do período do próprio evento. Outros autores como Chappelet e Junod (2006), definem legado esportivo como os efeitos materiais e não-materiais produzidos direta ou indiretamente pelo evento esportivo, programadas ou não, transformando a região positiva ou negativa de forma duradoura objetiva e subjetivamente. Para Hiller (2006) legado esportivo é um fenômeno multidimensional, que desempenha um papel importante em todas as fases relacionadas com a gestão dos Jogos Olímpicos, desde a licitação e preparação para o evento até a realização do evento e também ter um plano para a fase pós-evento. O historiador Richard Cashman (2003) faz uma distinção entre legado material (hard) e não material (soft), sendo o legado material mais fácil de mensurar, como as instalações esportivas, e o não material algo mais difícil de mensurar como o desenvolvimento sócio cultural. Poynter (2006) menciona os efeitos diretos e indiretos em um megaevento esportivo. Os efeitos diretos são instalações esportivas e infraestruturas que foram construídas especificamente para o megaevento. Os efeitos indiretos são instalações e infraestrutura que seriam construídos mesmo que o evento não tivesse ocorrido, mas o megaevento serviu para acelerar estes desenvolvimentos. Os efeitos indiretos incluem também os intangíveis, como a valorização da cidade ou a imagem do país, a governança local mais eficiente ou melhorias do bem-estar da comunidade. Sediar um megaevento esportivo tem consequências intencionais e não intencionais, como Chappelet e Junod (2006) apontam, embora muitos entendam o termo legado como tendo apenas conotações positivas, o termo também pode ter conotações negativas (Leopkey, 2009; Cashman, 2006). Conforme mencionado por Cashmann (2003) "legado é uma palavra indescritível, problemática e até mesmo perigosa". A criação e o gerenciamento de um plano de legado para a cidade sede é importante porque permite aos stakeholders implementarem e avaliarem os programas legados criados Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 254 pelas cidades-sede de megaeventos esportivos como os Jogos Olímpicos (Kaplanidou & Karadakis, 2010). Até o momento grande parte das pesquisas sobre legados em megaevento tem sido focada nos impactos econômicos e de infraestrutura, negligenciando os legados sociais, políticos e ambientais. Cada vez mais, no entanto, um espectro mais amplo de impactos (incluindo o social, ambiental e política impactos) está sendo integrada a avaliação destes eventos (Cornelissen, Bob, & Swart, 2011). Nos últimos anos a necessidade de se usar megaeventos para conduzir os planos de desenvolvimento de longo prazo de uma cidade tem popularizado o conceito de legados do evento como um aspecto do planejamento de eventos (Weed & Bull, 2010), mas outra, mais crítica, surgiu recentemente e que se concentra especificamente nas consequências socioculturais e políticos de longo prazo da cidade sede de um megaevento. Muitos autores mencionam várias tipologias de legados. Chappelet e Junod (2006) definiram cinco tipos de legados de acordo com seus impactos: esportivo, urbano, infraestrutura, econômico, social. Cashaman (2003) define seis tipos de legado: econômico, construir um ambiente da prática da atividade física, informação e educação, vida pública, política e cultural, esportivo, símbolo, memória e história. Além dos legados acima mencionados Cornelissen et al (2011) e Cashaman (2003) citam o ambiental como igualmente importantes como consequências do evento. Devido a uma série de definições de tipos de legado, Leopkey (2009) fez uma compilação das várias tipologias conforme a tabela 1: Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 255 TABELA 1 Tipologias: Legados do Evento, Leopkey (2009) Nos últimos anos o discurso sobre a maximização dos legados positivos de eventos positivos abriu margem para uma abordagem mais integrativa, que tenta incorporar todos os componentes dos megaeventos em avaliações de seus impactos. A figura 1 abaixo, efetuada por Cornelissen et al (2011) serve para ilustrar os possíveis legados positivos e negativos em megaeventos esportivos. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 256 FIGURA 1: Legados em megaevento esportivo, Cornelissen et al (2011) É importante ressaltar que os legados devem ser sustentados por um período significativo após o evento e terem efeitos de longa duração. Devem ser avaliados por pelo menos 20 anos após a realização do evento (Cornelissen et al., 2011, Preuss 2007b), tanto que o COI (Comitê Olímpico Internacional) criou o fundo para o legado visando o alcance de longo prazo dos Jogos Olímpicos (Preuss, 2007b). Para Kang e Perdue (1994) o período do ano anterior, o ano da realização do evento e o ano posterior é uma forma de se medir o legado. O período pós-olímpico é talvez o mais ignorado em todo o ciclo olímpico, pois o foco principal do período são os Jogos Olímpicos. O que ocorre depois tem baixa prioridade devido a vários fatores como a dissolução do Comitê Organizador, os políticos são substituídos ou mudam o foco para outras prioridades e até mesmo a mídia pode perder o interesse no período posterior aos Jogos. Diversas questões podem ser identificadas que ressaltam o impacto a longo prazo dos Jogos Olímpicos (Hiller, 2006). As cidades que se transformam em sedes de megaeventos esportivos são percebidas de forma diferente, devido às várias características peculiares de uma cidade-sede, como também gerar oportunidades de crescimento futuro (Billings & Holladay, 2012). As cidades que se Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 257 transformam em anfitriãs de megaeventos esportivos buscam uma revitalização da imagem da cidade como estratégia para atrair novos turistas (Wilson, 2014). Um dos maiores objetivos de Pequim ao se candidatar para ser a sede dos Jogos Olímpicos de 2008, além dos impactos econômicos, era mostrar ao mundo a nova China, suas riquezas e pujança econômica, mostrando ao mundo seu poder, tanto que foi uma das sedes com maior investimento para efetuar os Jogos Olímpicos da história, US$ 50 bilhões (Preuss, 2007a). Pequim tinha como objetivo mudar a conotação dos produtos “Made in China”, para um evento perfeitamente organizado, visando passar uma imagem de Jogos Olímpicos “High Tech”. Além dos impactos econômico e turístico, um dos maiores objetivos dos organizadores foi focar no longo prazo, visando atrair para a cidade de Pequim vários eventos turísticos e de negócios de nível mundial, como novos negócios, grandes feiras, congressos, turistas e demais eventos (Preuss, 2007a). Os Jogos Olímpicos de 2012 entre outros aspectos deixaram para Londres um legado de transformação mais precisamente em Stratford, um ponto excluído da cidade, em um antigo parque industrial (Meirelles, 2014; COI 2013), essa região contou com um investimento de aproximadamente $ 250 milhões de libras esterlinas para obras com infraestrutura. De acordo com Preuss (2007b), medir o alcance e o impacto de um legado é uma tarefa difícil, pois megaeventos são únicos, complexos e ocorrem em um ambiente particular, o que torna difícil para utilizar estudos para identificar e mensurar os legados para eventos futuros. Em 2000, o COI começou o projeto dos Impactos Globais dos Jogos Olímpicos (OGGI) que é responsável por avaliar os impactos gerais dos Jogos Olímpicos em suas cidades-sede, o meio ambiente, e os cidadãos. Há um novo OGGI criado para cada Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos. O projeto fornece uma oportunidade para avaliar Impactos Olímpicos e legados durante um período de 11 anos; no entanto, o projeto OGGI dissolve dois anos após o evento ocorre. A fim de identificar se os legados têm um efeito duradouro sobre o a cidadesede, um estudo precisa ser realizado de 15 a 20 anos após o evento ocorreu (Gratton & Preuss, 2008). Impacto Econômico em um Megaevento Esportivo Estudos de impacto econômico existem principalmente para auxiliar os tomadores de decisão na avaliação da eficácia do projeto. Uma vez que as informações são obtidas sobre os benefícios e os custos, os projetos podem ser descartados ou levados adiante exclusivamente Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 258 por razões econômicas racionais, principalmente avaliando as perspectivas antes e depois da realização do evento (Baade & Matheson, 2003). Os impactos econômicos em megaeventos esportivos são geralmente considerados como o aspecto mais importante e geralmente constituem a principal razão pela qual os governos decidem se candidatar para sediar um evento. Efeitos econômicos diretos potenciais são a geração de receita provenientes de investidores nacionais e estrangeiros, principalmente através do desenvolvimento da infraestrutura do evento, nova renda derivada de espectadores e participantes e a criação de emprego em curto prazo, por meio do desenvolvimento de estádios e outras instalações (Cornelissen et al., 2011). Os mesmos autores mencionam que os efeitos indiretos potenciais são o aumento da base fiscal dos governos e a manutenção de longo prazo dos novos empregos. Também podem estimular o crescimento de outros setores, em especial o consumo de lazer, turismo e construção, mas apesar destes potenciais, muitos estudos pós-evento mostraram impactos inconclusivos ou insignificantes. Por outro lado Baade e Matherson (2003) argumentam que o segmento esportivo é um segmento em que as estimativas de impacto na economia é contestado frequentemente. Alguns percebem que os atletas e promotores do evento são os maiores beneficiados financeiramente, enquanto os custos são suportados por um grande número de cidadãos, alguns dos quais não têm qualquer interesse no esporte. Alguns trabalhos têm estimado impactos econômicos ou a previsão de impactos futuros quando uma cidade planeja sediar os Jogos (French & Disher, 1997).O foco dos estudos visa principalmente examinar os benefícios potenciais, como as recém instalações construídas, o aumento da reputação internacional, a revitalização urbana e o aumento do turismo (Wilson, 2014). A abordagem mais comum para estimar os impactos dos Jogos Olímpicos são estudos de impacto econômico. Estes estudos representam apenas os impactos de curto prazo, mas não os impactos nos anos seguintes dos Jogos Olímpicos (Billings & Holladay, 2012; Granton & Preuss 2008). Devido à natureza volátil do mercado, a realização de megaeventos esportivos é utilizada para promover o potencial turístico e estimular o crescimento econômico local (Wilson, 2014). Esse possível aumento de turistas durante o período de realização dos Jogos pode ser um potencial para alavancar mais turistas nos anos posteriores ao evento (Chalip, 2014). Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 259 Chappelet e Junod (2006) mencionam que o impacto econômico em megaeventos esportivos frequentemente é associado com o aumento do número de turistas na cidade-sede. Embora seja difícil determinar o impacto do turismo em longo prazo, o legado turístico deve ser avaliado através da medição do número de turistas durante um período mais longo. Os mesmos autores mencionam que o legado econômico também inclui o ajuste por não-turismo orientado às empresas que foram atraídas para a região devido ao seu dinamismo aproveitando as oportunidades de investimento. Outros indicadores desse legado são as mudanças no número de postos de trabalho criados permanentemente e da taxa de desemprego da região da cidadesede. Sanahuja (2002) analisou os benefícios para Barcelona em 2002, 10 anos após a realização dos jogos, mostrando um aumento de cerca de 100% capacidade hoteleira, o número de turistas, e número de estadias em 2001 em comparação aos anos pré-jogos. A ocupação média dos hotéis tinha aumentado de 71% para 84%. Em 1990, 51% de turistas que iam para Barcelona eram espanhóis, 32% do resto da Europa e 17% dos demais continentes. Após 10 anos o número de turistas espanhóis passou para 31% do total de turistas, do resto da Europa subiu de 32% para 40% e dos demais continentes 17% a 29%. Um outro fator de peso importante na medição do impacto econômico é a geração de emprego. Hotchkiss, Moore, e Zobay (2003) encontraram um aumento de 17% na geração de emprego em regiões metropolitanas que fazem parte da cidade-sede dos Jogos Olímpicos em relação aos municípios semelhantes que não sediaram um evento nos quatro anos seguintes aos Jogos Olímpicos de 1996. Para os Jogos Olímpicos de Los Angeles 1984 e de Atlanta de 1996 Baade e Matherson (2003) encontraram impactos insignificantes sobre a geração de emprego nas respectivas regiões metropolitanas. Lybbert e Thilmany (2000) estimaram o impacto no nível de emprego em quatro cidades americanas que sediaram os Jogos Olímpicos. Estes impactos positivos foram maiores para os Jogos Olímpicosde Verão em relação aos Jogos Olímpicos de Inverno. Os Jogos de Londres 2012 geraram para a economia britânica aproximadamente GBP 1,6 bilhões (COI, 2013 ; London, 2013). Além disso, os Jogos Olímpicos de Londres geraram um impacto econômico na cidade, gerando muitos empregos, pois 98% das empresas que construíram o parque olímpico eram nacionais, alavancando o mercado interno. Cerca de dois terços dessas empresas são pequenas ou médias, sendo assim, vemos uma distribuição melhor da renda (COI, 2013). Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 260 Existe um crescente número de artigos acadêmicos (Crompton, 1995;Matheson, 2006; Preuss 2007b; Cashmann, 2006) que reflete um alto grau de ceticismo sobre os benefícios econômicos projetado para os megaeventos esportivos. Allmers & Maenning (2010) fizeram uma análise da economia pós Copa do Mundo na França em 1998 e na Alemanha em 2006. Eles argumentam que, com base em indicadores macroeconômicos, as descobertas sobre estes eventos estão em linha com a pesquisa empírica sobre grandes eventos esportivos e estádios esportivos, que raramente são identificados benefícios econômicos significativos. Outros fatores, como o efeito da novidade dos novos estádios e os efeitos intangíveis, tais como a imagem do país e de bem-estar são de maior importância. A análise de dados de visitantes para a França durante 1998 mostra um declínio no número de estrangeiros hospedados. Conclui-se que os efeitos para o setor do turismo, que geralmente é esperado para ser um dos principais segmentos beneficiados pelos megaeventos são insignificantes. O aumento esperado nas vendas no varejo e emprego parecem ser pelo menos no curto prazo, menor do que o inicialmente suposto. Segundo Preuss (2007b) os megaeventos são medidos por todos os segmentos que são possíveis de serem medidos economicamente, como o número de turistas, geração de empregos, desenvolvimento urbano, além dos impactos sociais e ambientais, porém o mesmo autor menciona que os megaeventos esportivos criam um efeito de redução do consumo interno privado, que ocorre devido a um aumento da demanda com base na realização do evento, mas afastando os demais turistas e moradores locais (Preuss, 2011). Houveram casos como o da Coréia do Sul, que foi uma das sedes da Copa do Mundo de 2002, em que o mercado de turismo encolheu no ano do evento (Lee & Taylor, 2005). Estes aspectos negativos de potenciais legados dos eventos são raramente considerados ou sequer mencionados nos processos de licitação (Cornelissen et al., 2011). Impactos negativos no turismo muitas vezes podem dissuadir o turista não esportivo de visitar a cidade-sede durante o evento (Barclay, 2009). Os efeitos deste tipo de afastamento já haviam sido observados em uma série de Jogos Olímpicos. Durante os Jogos de Los Angeles 1984, apesar dos hotéis locais estarem quase totalmente ocupado, os resorts da Disney, Universal Studios e os Six Flags Magic Mountain, tiveram redução do número de hóspedes no mesmo período (Haynes, 2001). Nos Jogos Olímpicos de Sydney 2000 também houve alta taxa de ocupação nos hotéis em Sydney e Adelaide, mas os hotéis em outros lugares na Austrália tiveram reduções de hóspedes (Haynes, 2001). Antes do início dos Jogos de Londres 2012 essas tendências foram Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 261 destacadas pela mídia britânica como um problema para atrações turísticas e hotéis no centro de Londres. Apenas algumas semanas antes do evento, um terço dos quartos de hotel em Londres não haviam sido reservados (Wilson, 2014). A ameaça do terrorismo é um fator adicional no processo de tomada de decisão para os turistas, podendo também afastar o número de turistas do evento. Segurança e estratégias antiterroristas são considerações importantes ao selecionar uma cidade de um grande evento (Kim & Chalip, 2004; Taylor & Toohey, 2006). Além disso a poluição e as preocupações ambientais, incluindo o risco de doenças, são cada vez mais relevantes para os turistas que decidem participar de um evento (Wilson, 2014). Os estudos dos impactos econômicos nos anos posteriores aos Jogos Olímpicos são limitados. Outra limitação é referente à cidade que se candidata a sediar os Jogos Olímpicos é fundamentalmente diferente das outras cidades-sede. Essas duas situações acabam limitando a criação de um modelo generalizado os para se calcular os impactos de curto e longo prazo para outras cidades que queiram organizar os Jogos Olímpicos (Billings & Holladay, 2012). Metodologia De acordo com Mangan (2008), analisar o legado de um megaevento esportivo não significa que nenhuma análise possa ser feita no período anterior ao evento. Em avaliações prévias é possível observar possíveis ações de sucesso, mas também podem aparecer erros devido à falta de evidências. Avaliações preliminares podem levantar preocupações construtivas, alertar o público para observar as obrigações assumidas e estimular ações oficiais. Baseado no quadro de legados (Figura 1) proposto por Cornelissen et al (2011), foi definido avaliar alguns itens dentro dos legados econômicos como PIB, geração de empregos e receitas com turismo.O período do ano anterior, o ano da realização do evento e o ano posterior foi baseado em Kang e Perdue (1994). A análise foi efetuada a partir da coleta de dados dos países e as cidades-sede dos dois últimos Jogos Olímpicos, China (Pequim 2008) e Inglaterra (Londres 2012), e comparado com os impactos econômicos dos Jogos Pan-Americanos efetuados no Rio de Janeiro em 2007 e as projeções do estudo da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) sobre os Jogos Olímpicos de 2016 seguindo a teoria proposta por Flick (2007) e Gibbs (2009). Com os dados coletados foi efetuado possíveis projeções sobre os legados e impactos na cidade do Rio de Janeiro com a realização dos Jogos Olímpicos de 2016. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 262 Conforme Preuss (2011) este estudo possui limitações devido à falta de dados para avaliar quanto o faturamento com turismo específicos das cidades de Pequim 2008 e Londres 2012. Análise dos Dados O estudo será iniciado com os Jogos Olímpicos de Pequim 2008. Conforme demonstrado na tabela 2, pode-se notar que a variação do PIB da China não teve impactos significativos devido aos Jogos Olímpicos e, muito pelo contrário, houve uma queda do PIB, provavelmente devido à crise econômica mundial que ocorreu em 2008 e que impactou significativamente não só a China como os principais países do mundo. Ao mesmo tempo, no mesmo período, o PIB da cidade de Pequim teve um impacto positivo no ano seguinte aos Jogos Olímpicos de Verão, com crescimento de 1 ponto percentual sobre 2008. Tabela 2 Evolução do PIB – China e Pequim, Jones Lang Lasalle (2013) PIB 2007 2008 2009 China 14.2% 9.6% 9.2% Pequim 12.5% 9.0% 10.0% Pode-se observar que, de acordo com Preuss (2011), a queda no PIB de Pequim justamente no ano da realização dos Jogos Olímpicos, pode estar relacionado com uma possível saída de parte dos moradores de Pequim e do afastamento de turistas sem interesse em frequentar um megaevento, fato esse observado em outros eventos desta magnitude (Barclay, 2009; Haynes, 2001; Wilson, 2014). Utilizando o mesmo conceito de impacto de curto prazo de Kang e Perdue (1994), podemos observar na tabela 3 que o valor gerado pela indústria do turismo na China no período de 2007, 2008 e 2009 teve uma variação positiva principalmente no ano da realização dos Jogos Olímpicos de 2008. Nessa tabela existe uma limitação devido à falta de dados de Pequim, mas é possível observar um impacto direto no ano da realização dos jogos e uma posterior queda no ano seguinte. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 263 Tabela 3 Receitas geradas pela indústria do turismo na China (Word Bank) Turismo US$ milhões 2007 2008 2009 China 41.1 44.1 42.6 A queda do movimento com turismo no ano posterior ao evento pode se encaixar nos questionamentos de vários autores sobre o ceticismo referente aos impactos econômicos nos anos posteriores a realização de um megaevento esportivo (Crompton, 1995;Matheson, 2006; Preuss 2007b; Cashmann, 2006). Ao observarmos os dados os Jogos Olímpicos de Londres de 2012 na tabela 4, o PIB da Grã Bretanha no período de 2011 a 2013 teve forte queda, provavelmente devido à crise financeira europeia, mas em contra partida o PIB londrino teve crescimento no mesmo período, mostrando que este crescimento pode ter tido influência direta com os Jogos Olímpicos de 2012. Tabela 4 Evolução do PIB – Grã Bretanha, Londres (World Bank / CIA) PIB 2011 2012 2013 Grã Bretanha 1.1% 0.3% 1.8% Londres 0.8% 1.1% 1.1% Os dados acima estão alinhados como os relatórios pós-evento do COI (2013) e London (2013), demonstrando o aumento de receitas no ano da realização dos Jogos Olímpicos, mantendo o mesmo índice no ano seguinte à realização do evento. Referente ao impacto turístico na Grã Bretanha e em Londres, podemos observar na tabela 5 que o impacto na Grã Bretanha não teve o impacto positivo como percebido em Pequim 2008. Este fato pode ser devido à indústria do turismo em Londres ser um dos maiores do mundo mas também, conforme Preuss (2011), pode ser consequência do afastamento tanto de parte dos moradores de Londres e região bem como dos turistas sem interesse em megaevento. O valor de 2013 ainda não está consolidado. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 264 Tabela 5 Receitas geradas pela indústria do turismo na Grã Bretanha (World Bank) Turismo US$ milhões 2011 2012 Grã Bretanha 45.9 45.6 Conforme a revisão de literatura, podemos considerar que os Jogos Pan-Americanos de 2007 serviram como um ensaio para a candidatura do Rio de Janeiro para cidade-sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Também considerando como uma prévia dos Jogos, seguem alguns dados referente ao impacto econômico do evento baseados no estudo Impacto Sócio Econômicos dos Jogos Pan-Americanos (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas – FIPE): Os valores apresentados para impacto sobre emprego de acordo com o EHA (Equivalente-Homem-Ano) não significam que novos empregos foram gerados; Os setores com maior participação nos impactos são: construção civil (13.8%), administração pública (13.4%), comércio (6.6%), aluguelde imóveis (5.8%), agropecuária (5.5%), refino do petróleo (5.1%), serviços prestados àsfamílias (4.5%) e serviços prestados às empresas (4.2%); Os turistas de outros estados (R$ 110 milhões) foram os que mais geraram receitas para a cidade do Rio de Janeiro Os turistas estrangeiros geraram R$ 24 milhões em receitas. Referente às projeções para 2016, o Estudo de Impactos Socioeconômicos Potenciais da Realização dos Jogos Olímpicos na cidade do Rio de Janeiro 2016, em termos de impacto econômico e turístico são: Investimentos e custeio não operacionais de US$ 11.6 bilhões (ano base 2008); Custeio Operacional de US$ 2,8 bilhões (ano base 2008); Número de turistas estimado em 1 milhão/dia. Valor baseado no perfil do turismo durante os Jogos Pan-Americanos de 2007 e no Grande Prêmio de Fórmula 1 em São Paulo e nos estudos da Embratur/Fipe sobre turismo doméstico no Brasil. Com enfoque na produtividade marginal dos investimentos, em termos agregados o estudo estima um potencial impacto econômico sobre o crescimento metropolitano, estadual e nacional, considerando os sub períodos de 2009-2016 e 2017-2027 de acordo com a figura 2. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 265 FIGURA 2 Impacto do PIB na Cidade do Rio de Janeiro – FIPE (2009). De acordo com o estudo, as projeções do gráfico acima o estudo pode utilizar os resultados das simulações para projetar o fluxo marginal de riquezas na economia. Os resultados demonstram que a produtividade marginal dos Jogos Olímpicos pode ser exuberante ao longo prazo. Com o amadurecimento do projeto, os ganhos de produtividade aumentam, pois há uma complementaridade entre os investimentos nos Jogos e a atração de investimentos privado no longo prazo via aumento da produtividade dos fatores regionais. Sob esse ponto de vista é possível prever que: Haverá uma injeção de US$ 12 bilhões na realização dos Jogos (valor presente 2008); A iniciativa privada injetaria US$ 39,1 bilhões nas cadeias produtivas associadas aos Jogos; O impacto na economia brasileira seria de US$ 51,1 bilhões (valor presente 2008); Para cada USD 1,00 investido, outros USD 3,26 adicionais seriam gerados até 2027 (USD 1,05 até 2016) Este conjunto de gastos, se realizados, gerariam, até 2027, uma arrecadação tributária adicional municipal (ISS) de USD 269,8 milhões, estadual (ICMS) de USD 582,9 milhões (USD 261,4 dos quais no Estado do Rio de Janeiro), e federal (IR, IPI, IOF, COFINS, CSLL, PIS PASEP, II, CIDE e outros tributos) de USD 4.823,0 milhões; Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 266 Esta arrecadação adicional corresponde a 40,0% dos gastos públicos previstos com os Jogos, que incluem os investimentos em infraestrutura e 25% das despesas operacionais; Em termos de absorção de mão-de-obra, os investimentos totais realizados gerariam impacto de 120.833 EHA (média anual durante o período dos Jogos, com picos em 2013 e 2016), ou o equivalente ao trabalho de 120.833 profissionais adicionais por um ano; O impacto no período pós Jogos (2017-2027) apresentaria uma média anual de 130.970 EHA, com absorção crescente ao longo do período; Os setores mais influenciados pelos Jogos, em termos nacionais, são os de construção (10,5%), serviços imobiliários e aluguel (6,3%), serviços prestados às empresas (5,7%), petróleo e gás (5,1%), serviços de informação (5,0%), e transporte, armazenagem e correio (4,8%). Os números acima demonstrados podem levar a conclusão de que os Jogos Olímpicos terão um impacto econômico positivo mas, segundo Baade e Matherson (2003), o segredo para gerar credibilidade nas estimativas de impacto econômico usando a ótica da despesa é estimar os gastos diretos com precisão e essas avaliações são muito difíceis de se efetuar. Considerações Finais Após a avaliação dos dados e pelo levantamento efetuado por vários autores, é possível concluir que não há um consenso sobre os reais legados e impactos econômicos nas cidadessede dos Jogos Olímpicos. Conforme Baade e Matherson (2003) as estimativas de impacto econômico obtido no período pós Jogos são questionáveis. O que era verdade para uma cidadesede não se aplica para as demais. É necessário assegurar que a infraestrutura dos Jogos Olímpicos seja compatível com a economia da cidade. Se a infraestrutura para os Jogos carecer de sinergia com as características e recursos disponíveis, os ganhos de emprego tendem a ser de curta duração (Baade & Matheson, 2003), algo que pode ser percebido na geração de emprego nos Jogos Pan-Americanos de 2007. Referente às instalações, além da possibilidade de não haver manutenção dos empregos criados, corre-se o risco de vários espaços e instalações esportivas virarem elefantes brancos devido à falta de um projeto de médio ou longo prazo para os devidos espações. Matheson e Baade (2005) observam que o impacto global dos investimentos em megaeventos sobre as economias nacionais é amplificado e o custo de oportunidade relativo tende a ser muito maior para os países em desenvolvimento, argumentando que, como o esporte e o entretenimento são bens de luxo, é provável que a demanda por infraestruturas esportivas seja Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 267 menor em países em desenvolvimento logo após o encerramento dos Jogos Olímpicos ou Copa do Mundo. Conforme Kang e Pardue (1994) esse estudo delimitou o período de análise entre o ano anterior até o ano posterior dos Jogos Olímpicos. Avaliando os dois últimos Jogos Olímpicos é possível observar que o PIB de Pequim teve um decréscimo no ano dos Jogos e um acréscimo no ano seguinte. Já nos Jogos Olímpicos de Londres, houve um aumento do PIB no ano dos Jogos, mantendo o mesmo PIB no ano posterior. Podemos esperar que, caso o mesmo cenário se repita para o Rio de Janeiro em 2016, o PIB da cidade deve ter um incremento no ano dos Jogos, bem como no mínimo se manter para o ano de 2017. No entanto, como o ano de 2015 é um ano pós Copa do Mundo de Futebol da FIFA, além de ser um ano de possíveis ajustes na economia do país devido a eleição presidencial ocorrida em 2014, pode ser que a base de comparação para 2016 e anos subsequentes possa partir de um PIB baixo, o que deve ser levado em consideração nas avaliações. Além disso, de acordo com Preuss (2011), é importante ressaltar os riscos de saída de moradores da cidade, que também podem impactar negativamente no PIB. Referente às receitas com turismo, conforme citado na análise dos dados, não foi possível encontrar os números referentes às cidades de Pequim e Londres, consequentemente, foi usado como base os dados da China e da Grã Bretanha. Os dados da China mostram um aumento de 7% no ano dos Jogos, tendo um decréscimo no ano seguinte, mas ainda assim acima dos números pré Jogos. Já para a Grã Bretanha, as receitas praticamente se mantiveram estáveis. Para o Rio de Janeiro 2016, as perspectivas são de no mínimo manter o faturamento com turismo, mas a tendência é de um incremento, conforme os dados apresentados. Referente à geração de empregos, os dados do estudo da FIPE indicam um incremente nos anos pré e pós Jogos, mas o impacto desta geração de empregos sobre a população total do Rio de Janeiro é de cerca de 2%, considerando o período anterior e posterior. Como conclusão final do trabalho, fica uma interrogação referente à expectativa geral de todos os stakeholders sobre os benefícios reais que ficarão como legados econômicos para a cidade, a região e para o país. O estudo possui limitações referente aos dados primários sobre o faturamento com turismo nas cidades de Pequim e Londres, bem como dados mais recentes da Grã Bretanha. Como sugestão para futuros estudos, devem ser efetuadas mais pesquisas sobre os legados econômicos de longo prazo nas cidades-sede bem como os demais legados mencionados na literatura. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 268 Referências bibliográficas Alles, M. T. F. (2014). El impacto turístico de los eventos deportivos: Un estudio de caso. Cuadernos de Turismo, 33, 59–76. Allmers, S., & Maenning, W. (2010). South Africa 2010: Economic scope and limits. Hamburg Contemporary Economic Discussions, 21, 1–33. Baade, R., & Matheson, V. (2003). Bidding for the Olympics: fool’s gold? In Transatlantic Sport (p. 40). Barclay, J. (2009). Predicting the costs and benefits of mega-sporting events: Misjudgement of Olympic proportions? Institute of Economic Affairs, 62–66. Billings, S. B., & Holladay, J. S. 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Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 272 Análise do perfil de esportes do Banco do Brasil em redes sociais Daniel Pereira Scombati (UNINOVE) [email protected] Marcos Vinícius Cardoso (UNINOVE) Resumo O presente estudo de caso visa analisar os perfis em redes sociais voltados para o esporte em que o Banco do Brasil S/A atua, buscando entender o seu real sentido, seu público e a forma com que se utiliza do mesmo e assim também busca encontrar formas de melhoria na comunicação e de relacionamento com o seu público alvo. A pesquisa foi feita por meio de análise dos perfis de esportes da instituição em redes sociais, focando em duas específicas: Twitter e Facebook. Utilizando além da pesquisa e da observação não participante, um levantamento bibliográfico para que se possa entender a importância das redes sociais atualmente e a relação da empresa com os esportes. Palavra-chave: Redes Sociais, Twitter, Marketing, Banco do Brasil, Patrocínio, Inovação, Comunicação, Facebook Introdução Há alguns anos, o comportamento do consumidor mudou de forma radical, em grande parte devido ao avanço da internet e dos meios de comunicação em tempo real. O marketing de outrora teve que se adaptar para conseguir alcançar os resultados dentro desta multidão de fragmentos que se tornou o mercado, cheio de nichos específicos onde clientes com interesses comuns criam comunidades virtuais e compartilham opiniões e resultados sobre a temática que mais lhe agrada. (POSSAMAI, 2007). Com a evolução da tecnologia e, devido a isto, a queda de barreiras físicas para busca e entendimento do público alvo, as empresas e instituições têm liberdade e uma precisão muito maior para atingir o mesmo, utilizando as redes sociais como uma ferramenta de marketing focado no consumidor, onde busca identificar os desejos e necessidades dos mesmos, e assim, atendendo-os de uma forma adequada para que alcance os objetivos da empresa ou instituição (KOTLER; KELLER, 2005). Dentro deste panorama, diversas empresas tendem a buscar novas formas de se comunicar com o consumidor e, assim, a utilização de formas mais atuais e mais próximas se tornam necessárias. A utilização de redes sociais é um caminho que se torna um diferencial, visto que se mostra uma opção relativamente barata em relação à mídia tradicional e que pode chamar mais a atenção do público alvo da campanha, produto ou serviço, visto que os consumidores hoje são alvo Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 273 de inúmeras promoções e não absorvem todas as mensagens que as empresas enviam (URDAN; URDAN, 2006). O Banco do Brasil S/A não é uma exceção e utiliza das mesmas redes sociais para focar em uma comunicação direta com seus clientes. A instituição bicentenária possui dois perfis específicos em redes sociais para se comunicar com o cliente e fã de esportes. Os perfis são conhecidos como BB nos Esportes. A partir disto, analisaremos de forma técnica, estes perfis utilizados pela instituição Banco do Brasil S/A em duas redes sociais distintas, Twitter e Facebook, buscaremos entender se a mesma consegue efetivamente se comunicar com o consumidor fã de esporte, agregando valor a marca e ao esporte. Mídias sociais Com a evolução tecnológica e o excesso de publicidade recebida, Kotler e Armstrong (2007) afirmam que a propaganda está atingindo altos níveis de saturação e a fragmentação da mídia está prejudicando o lançamento de novos produtos e o mercado está cada vez menor, estando mais segmentado do que outrora. Sendo assim, é necessário que uma marca esteja presente não somente em um meio de comunicação, como televisão ou em um jornal impresso, mas em diversos veículos de comunicação para que o consumidor seja atingido e para que haja uma boa cobertura. Neste contexto podemos observar que a comunicação vem passando por mudanças e a contemporaneidade da mesma acaba transformando a forma de se comunicar, de se entender e se fazer entender. O atual momento pode ser caracterizado pela chamada cibercultura, que se se iniciou em 1991, com a criação da web e se consolidou com a informática de massa e a popularização da internet (LEMOS, 2003). Nesse ambiente, surge as mídias sociais e estas tornaram-se sinônimo de tecnologia da informação e comunicação. A sua utilização transcorreu e interligou áreas, destruindo fronteiras e a sua apropriação mais intensa aconteceu no campo da comunicação, mas não de maneira exclusiva, com o uso de termos como rede social digital, mídia social, mídia digital, entre outros, para expressar o fenômeno em questão (VERMELHO, 2014). Com as novas tecnologias, há a criação de meios de comunicação mais interativos, onde usuários podem interagir não somente com outros usuários, mas também com empresas e instituições, com uma flexibilidade de tempo e de local, liberando assim os indivíduos das limitações de espaço e tempo. Atualmente, com apenas um clique em um site ou em um perfil em rede social, qualquer pessoa pode ter acesso uma informação específica e manter contato com outros usuários que não estão localmente próximas, podendo estar até em outro país ou Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 274 continente, mas que possuem o interesse em comum sobre determinado tema (VERMELHO, 2014). Sissors e Bumba (2001), definem que as formas de mídias tradicionais como televisão, jornais, revistas e rádio não possuem a mesma eficácia em promover vendas como já fizeram em um passado recente. Isso se deve ao fato de que mercados estão em constante mudança e as formas de mídia precisam se adaptar para que consiga alcançar de maneira mais assertiva os melhores clientes e os clientes potenciais de determinado produto ou serviço. Já Lima Junior(2005) define as mídias sociais como: Um formato estruturado por intermédio de máquinas computacionais interligadas via redes telemáticas que permite a criação, compartilhamento, comentário, avaliação, classificação, recomendação e disseminação de conteúdos digitais de relevância social de forma descentralizada, colaborativa e autônoma tecnologicamente. Possui como principal característica a participação ativa (síncrona e/ou assíncrona) da comunidade de usuários na integração de informações visando à formação de uma esfera pública interconectada (LIMA JUNIOR,2005). Ainda de acordo com Sissors e Bumba (2001), podemos considerar que as mídias alternativas contêm, em sua maioria, formas inovadoras de se transmitir mensagens ao seu público alvo. As mídias sociais podem ser sites na internet que foram concebidos de maneira que permitem a chamada criação colaborativa, onde há a interação social e também existe o compartilhamento de conteúdo em diversos formatos (TELLES, 2010). As mídias sociais, que também podem aparecer com o termo de Web 2.0, se tornaram rapidamente populares ao potencializar a capacidade de interação em espaços especializados de amplo e fácil acesso(DUARTE, 2013). Dentre os diversos formatos, podemos destacar: blogs, sites de compartilhamentos de vídeos, compartilhamento de imagens, fóruns de discussão, entre outros. Mídias sociais é a base para as conhecidas redes sociais. De acordo com Recuero(2006) “uma rede social é definida como um conjunto de dois elementos: atores (pessoas, instituições ou grupos; os nós na rede) e suas conexões (interações ou laços sociais)”. Ou seja, são formatos de mídias sociais focadas em reunir pessoas com interesses em comum, que podem compartilhar através de perfis, vídeos, fotos, comentários, textos e com isso interagir com outras pessoas (ASSIS; TOLEDO; PISCOPO; ROSA; 2014). Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 275 E o conteúdo produzido pelos usuários pode ser hospedado em redes sociais populares entre os diversos usuários, as mais conhecidas são: Facebook, Twitter, YouTube e Wikipedia e blogs (GREYSEN; KIND; CHRETIEN, 2010). Kotler (2010) afirma que devido ao baixo custo das mídias sociais, sua grande abrangência, a qualidade de poder compartilhar praticamente em tempo real acontecimentos e notícias, além de o fato de poderem ser menos tendenciosas em relação as mídias tradicionais, será delas o futuro das comunicações em marketing. E o BB atua em algumas redes sociais de forma ativa, visando a comunicação direta com os clientes e possíveis clientes. Neste relato, estaremos estudando em especial Twitter e Facebook do BB na área de esportes. Porém, inicialmente iremos conceituar as redes sociais. Redes sociais Com o advento das mídias sociais, surgem as conhecidas redes sociais. Também conhecidas pela nomenclatura de sites de relacionamentos, as redes sociais podem ser consideradas uma categoria dentro das mídias sociais, cujo principal objetivo é que pessoas se reúnam através de perfis que possuem com fotos pessoais, textos, vídeos e dentro deste contexto possam expor opiniões, interagindo com outras pessoas (ASSIS; TOLEDO; PISCOPO; ROSA; 2014). Essa interação se faz através de sites de relacionamentos ou aplicativos criados especificadamente para este fim, visando permitir aos usuários, a construção de perfis públicos, onde possam pesquisar listas de outros usuários ou empresas com quem querem compartilhar uma relação virtual (BOYD; ELLISON, 2007), e assim construir uma relação interpessoal onde o mediador será a rede social e que se buscará, em vias de fato, a comunicação e a interação entre dois usuários(FREITAS, 2010). Becker, Naaman e Gravano (2009) conceituam redes sociais como sistemas populares de distribuição de notícias e outros conteúdos de interesse pessoal. As redes sociais vêm sendo utilizadas de diversas formas, mas usualmente é usada como uma ferramenta online para o compartilhamento de conteúdo, observações, opiniões, experiências reais, expectativas e perspectivas, em mensagens que podem utilizar texto, imagens, áudio, vídeo ou a junção de mais de uma forma(THEVENO, 2007). Já Ferreira(2011) define “rede social de informação como uma rede social, ou seja, um conjunto de pessoas, com algum padrão de contatos ou interações, entre as quais se estabelecem diversos tipos de relações e, por meio delas, circulam diversos fluxos de informação”. Com a utilização de forma social da internet, a possibilidade de criação de relações entre pessoas, que foram viabilizadas especialmente pelas redes sociais, como por exemplo, Twitter Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 276 e Facebook auxiliaram na alteração de hábitos de consumos, mesmo que cada plataforma utilize de um principio de interação diferente. Por exemplo, o Facebook foi concebido de forma com que haja interação entre os atores da rede, sejam amigos, empresas ou instituições. Já no Twitter, as relações tendem a não ser efetivamente pessoais, ou seja, a relação se dá por conta de seguido e seguidor, o que faz com que o usuário só siga o que realmente lhe interessa. E o diferencial entre as duas, é que enquanto no Twitter a grande maioria dos conteúdos são públicos e, sendo assim, visíveis a quaisquer usuários, seguidores ou não, já no Facebook há possibilidade de privar outros usuários de acompanhar publicações (ORTIZ, 2013). Outra característica peculiar do Facebook que a torna interessante são os grupos que reunem usuários com interesses comuns e atualmente já faz com que empresas monitorem para que utilizem das informações para aprimorar ou criar novos produtos e serviços (MEADOWS-KLUE, 2008). Segundo Pegoraro e Jinnah(2012), o Facebook é interessante e melhor utilizado quando se há o interesse em estabelecer a marca perante seus consumidores, enquanto o Twitter já tem um caráter que facilita e há uma efetividade bem maior no que se diz respeito a promoção da relação entre o fã e seu ídolo ou marca, pois com o Twitter há a vantagem de imediação, intimidade e interatividade. A ascensão das redes sociais dentro do contexto empresarial é evidente e mostra que está cada vez mais consolidado. No segmento esportivo não é diferente e já se mostra cada vez mais usual. As redes sociais acabam por preencher lacunas e aproximam os fãs dos ídolos ou clubes, como já foi dito, além de fazer com que as empresas patrocinadoras informem suas ações na área de esportes, o que em conjunto com um planejamento de marketing, visa alcançar o posicionamento adequado junto ao seu público alvo. Essa aproximação mudou a forma com que o clube, atleta ou empresa se comunica com os fãs de esportes e também alterou completamente a forma com que o esporte é comercializado, não só para clubes e atletas, mas para empresas parceiras. Atualmente, é muito raro que uma equipe ou organização não utilize pelo menos duas redes sociais para interagir e criar laços com os fãs (PEGORARO; JINNAH, 2012). Dentro deste contexto, o BB atua de forma diária em dois perfis em duas redes sociais distintas, o Twitter e o Facebook, onde além de notícias sobre os esportes patrocinados, informa os usuários com dicas sobre saúde, bem estar e prática esportiva. Metodologia utilizada Para o presente trabalho, utilizamos do método de estudo de caso para entender como as redes sociais podem servir como um efetivo meio de comunicação com o cliente esportivo. O estudo de caso não se utiliza de uma amostragem para realizar o estudo, mas sim um objeto Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 277 específico(YIN,2005). Com isto, analisamos de modo descritivo e posteriormente de modo explicativo, visando entender os motivos causadores do objeto do estudo. Utilizamos também de duas frentes metodológicas. A primeira se baseia na Análise de Redes Sociais, conhecida também como ARS de Matheus e Silva(2006). Esta abordagem busca estudar não somente as interações, como também os chamados atores, ou seja, os personagens que fazem parte das redes sociais. Esses atores podem ser tanto empresas quanto pessoas e podem ser analisadas individualmente ou com suas ações em rede, de forma coletiva (MATHEUS; SILVA, 2006). Esse método é utilizado em redes sociais reais, por isso o adaptamos as redes sociais virtuais e devido a isto, o presente estudo de caso é de caráter exploratório e de observação. Neste ponto fizemos a análise descritiva e explicativa. Além do método do ARS, onde a análise foi feita através da observação não participante, utilizamos o método de estudo de caso baseado em Yin(2005), onde define o estudo de caso como único e afirma que a observação não participante é um método onde o pesquisador atua de maneira passiva nos eventos ou casos estudados. Foi utilizado todo um cuidado em não atuar de maneira parcial e buscando sempre manter uma harmonia, entre pesquisa e pesquisador. O estudo único baseia-se em uma narrativa simples, onde informações da narrativa podem ser realçadas, seja através de tabelas, gráficos ou recortes de frases. No caso deste estudo, utilizamos de recortes de postagens utilizadas pelos objetos de pesquisa. Yin(2005) ressalta também a utilização de algumas técnicas para a pesquisa, entre elas a construção da explanação, o qual foi utilizado no presente estudo. A construção da explanação é uma forma de se analisar os dados estudados e construir uma explanação sobre eles, porém não alcança a conclusão, sendo que o objetivo final é desenvolver ideias para um novo estudo, a partir deste. A observação foi feita nas redes sociais utilizadas para divulgação do esporte pelo BB, observando o período do primeiro semestre de 2014, ou seja, de 01 de janeiro a 30 de junho. Estudo de caso: Redes sociais – BB nos Esportes A instituição Banco do Brasil S/A O Banco do Brasil S/A(a partir de agora será chamado de BB) foi fundado em 12 de outubro de 1808, pelo então príncipe regente Dom João. Nove anos depois há a primeira oferta pública de ações do mercado de capitais brasileiro. Neste período, o BB era responsável pela emissão do papel moeda, o que aconteceu até 1866. Após esse período, passou esta responsabilidade ao Tesouro Nacional. A instituição seguiu crescendo e chega ao século XX com uma das maiores do país, muda sua sede para Brasília e nos anos 90 se torna o primeiro banco do Brasil a obter o certificado ISO Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 278 9002 em análise de crédito. Já no século XXI, se torna líder na quantidade de usuários da plataforma internet banking e se tornou o primeiro a personalizar o autoatendimento. Em 2010, se torna a maior instituição bancária da América Latina. O BB é considerado o grande financiador do agronegócio brasileiro e financia boa parte das exportações de empresas brasileiras. No ano de 2012, o BB lucrou R$ 12,2 bilhões, uma marca recorde até então no mercado financeiro brasileiro, além de ser o primeiro banco brasileiro a atingir a marca de R$ 1 trilhão em ativos e alcançar mais de 1,5 milhões de novos correntistas neste mesmo ano (RELATÓRIO ANUAL BB 2012). Banco do Brasil e os esportes Em sua história, o BB sempre buscou inovar e alargar fronteiras. Dentro desta visão de vanguarda da instituição, a partir dos anos 90 inicia sua história em ser um grande parceiro do esporte brasileiro. No ano de 1991, iniciou uma das mais vitoriosas parcerias entre uma instituição e uma equipe esportiva, quando abraçou o vôlei brasileiro. Em 1992 ao patrocinar a seleção brasileira de vôlei de quadra, conseguiu junto com a seleção masculina a medalha de ouro nos jogos olímpicos de Barcelona, esta que foi a primeira medalha de esportes coletivos conquistada pelo Brasil. Em 23 anos de patrocínio com o vôlei de quadra, as seleções, tanto masculina quanto feminina, estão figurando sempre entre as melhores do mundo, buscando títulos e sendo protagonista das competições onde participam. Com o time feminino, conquistou o bicampeonato olímpico (2008 e 2012) e o eneacampeonato do Grand Prix. Já com o masculino, conquistou o bicampeonato olímpico (1992 e 2004), nove vezes a Liga Mundial e três campeonatos mundiais. Com o sucesso do patrocínio do vôlei de quadra, o BB expandiu o patrocínio para o vôlei de areia, onde conquistou duas medalhas de ouro, seis de prata e três de bronze. Além disto, no total soma mais de 150 títulos com as duplas patrocinadas, o que demonstra o sucesso absoluto da parceira. Junto com o patrocínio do vôlei em geral, há um projeto social chamado “Viva Vôlei”, onde atende mais de 1200 crianças carentes e alunos de escolas públicas espalhadas em dez cidades do Brasil, ensinando a prática do vôlei de forma lúdica e assistencial. No ano de 2000, a instituição ampliou o seu leque de atuação no esporte, patrocinando o tenista brasileiro Gustavo Kuerten, onde no mesmo ano se sagrou bicampeão de Roland Garros e no ano seguinte tricampeão, chegando ao top da lista da ATP. Atualmente, a parceria com o campeão segue, mas em forma de apoio ao Instituto Gustavo Kuerten, que assiste crianças carentes de várias Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 279 regiões do país. Fora isso, ainda aposta em três tenistas atualmente, os atletas Tiago Fernandes, Thiago Monteiro e Bia Haddad Maia. Em 2002, o Banco iniciou o patrocínio a uma nova modalidade, o iatismo. Roberto Scheidt foi escolhido, pelo seu perfil vencedor e por ser um dos atletas mais vitoriosos de toda a história do esporte, além de ser o maior medalhista brasileiro. Ainda nos esportes com vela, em 2013 assinou contrato de patrocínio com o atleta Bruno Prada visando a medalha olímpica nos jogos de 2016. Outro patrocínio de sucesso do BB na área de esportes é o caso do futsal. Com a parceria que vem desde 2006, o futsal conquistou sete títulos da Copa do Mundo de Futsal e sete títulos do Grand Prix de Futsal. Em 2013, o BB inicia, por meio da Lei de Incentivo ao Esporte, seu primeiro contrato nesses moldes e após diversos estudos, a instituição escolhe o handebol como esporte para se investir. Um dos motivos foi de que o mesmo está no Plano Brasil Medalhas 2016, junto ao Governo Federal. E em dezembro do mesmo ano a seleção feminina pela primeira vez da história conquistou o título mundial e se tornou o segundo país não europeu a ganhar o torneio. Além de toda esta história de sucesso em parcerias com o esporte, o BB mantém um projeto social com ex-atletas consagrados chamado Projeto Embaixadores do Esporte, onde os atletas participam de projetos sociais e eventos com clientes. BB nos esportes O setor que cuida das redes sociais do Banco do Brasil é o departamento de marketing. E o setor específico para as redes sociais na área de esportes, é a gerência de marketing esportivo. O BB possui diversos perfis em redes sociais, sempre visando divulgar informações sobre a empresa, ações que a mesma promove, solução de dúvidas e problemas. O intuito segundo a instituição é fortalecer o relacionamento com o cliente e assim entender melhor seus anseios, desejos, problemas e buscar soluções. Dentro os diversos perfis que a empresa possui, há um exclusivo para o segmento de esportes, o chamado BB nos Esportes. O perfil atua em duas redes sociais distintas, o Facebook e o Twitter. Segundo a própria descrição do perfil, é um espaço para a interação com todos os fãs dos esportes patrocinados pelo BB. Nestes perfis podemos observar postagens relacionadas aos esportes patrocinados pelo BB, assim como os atletas, equipes e também informações sobre bem estar, como por exemplo, o post de 15 de julho de 2014 que fala a respeito da postura ao se utilizar um notebook sentado em um sofá, utilizando não só de palavras, mas do uso de imagens onde se mostra a maneira correta. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 280 A grande maioria das postagens é realmente sobre os esportes patrocinados pela instituição, com destaque para o vôlei, tanto de areia quanto de quadra. Mas observam-se muitas postagens sobre a Fórmula 1 em finais de semana que possuem o evento, pois a instituição patrocina atualmente a equipe Williams. Em análise dos posts, eles são de caráter mais informal, onde buscam alcançar a linguagem os usuários de redes sociais, ou seja, utilizando até dos chamados emoticons, que são caracteres que definem tipos de expressões sem necessidade de utilizar de palavras, como podemos observar no post sobre a seleção brasileira de handebol dia 28 de junho: “Só dá Brasil contra o Chile hoje! Na semi-final do Panamericano de Handebol, os brasileiros também fizeram bonito! Com a vitória por 36 a 28, nossos guerreiros disputam o ouro, amanhã (domingo), às 20h! \õ/\õ/\õ/ “. Pode se observar a busca real pela informalidade e pela linguagem mais jovem, menos coloquial. Segundo dados do Facebook, a página que é seguida atualmente por cerca de 29 mil usuários, possui em sua grande maioria, pessoas na faixa etária de 18 a 34 anos, além de ter uma média de 50 novas curtidas semanalmente. As curtidas são os usuários que ao ver a página, clicam em um botão específico curtir e começam a segui-la e assim ter em sua linha do tempo as publicações da mesma (FACEBOOK, 2014). Ainda no Facebook, podemos observar que os posts não possuem muitos comentários dos seguidores, são raros os que possuem uma ou duas. Já a opção de curtida do post é mais comum, porém não há muitas em relação com outras páginas de instituições parecidas. O post do mês de julho com maior número de curtidas, que são formas de mostrar que o conteúdo foi bem aceito peo público que o segue, foi a respeito da medalha de prata da dupla Alison e Bruno Schmidt, onde a mesma foi medalha de prata no Grand Slam de Gstaad na Suiça e alcançou 56 curtidas no dia 13 de julho. Já no Twitter, o perfil @BBnosEsportes conta com cerca de 7.800 seguidores e já possui mais de 8400 postagens. Assim como no Facebook, as postagens tem um caráter voltado ao esporte, com notícias sobre as equipes, atletas e esportes que a instituição patrocina. Um dos diferenciais do Twitter em relação as postagens do Facebook é o fato de publicarem em tempo real lances de jogos, como no caso de alguns jogos da seleção masculina brasileira de vôlei onde o perfil acompanhava set a set e publicava em seu perfil os lances, como estava o jogo e frases de incentivo, como podemos observar neste exemplo: “Começa o 3º set da #LigaMundial! Vamos fechar com 3 a 0, #Brasil? A gente não tá se aguentando de vontade de gritar #RumoaoDeca! ”. Como podemos observar, as postagens seguem a mesma linha das postadas via Facebook, com caráter mais informal, com a utilização de emotions e também utiliza de hashtags, que são compostos por palavras antecedidas do sinal cerquilha “#”, o que faz com que sejam utilizadas como mecanismos de buscas. Um fato interessante que é comum Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 281 das duas redes é o fato de se o usuário utilizar a hashtag #TorcidaBrasil, a instituição compartilharia as imagens e comentários em um aplicativo dentro da página no Facebook. O interessante é que teve uma boa adesão dos usuários neste quesito e levantou diversos comentários, como no exemplo a seguir da usuária @caraol_0 no dia 9 de julho a respeito da seleção masculina de vôlei: “@BBnosEsportes valeu a torcida!!! #TorcidaBrasil #BRA ♥”. No geral, as duas redes são bem estruturadas e bem abastecidas pela empresa, porém ainda há pouco acesso de clientes e fãs e também poucos usuários que conhecem a mesma. Indicamos que poderia ser feito um trabalho melhor no sentido de aumentar o número de visitantes nos perfis. Um dos casos observados que possam servir de exemplo para a instituição agregar mais valor as suas redes sociais é o Dana White, que é o diretor da maior organização de artes marciais mistas. Segundo Pegoraro e Jinnah(2012), a organização de luta livre Ultimate Fighting Championship, também conhecida por UFC já faz uso das redes sociais através do YouTube, Facebook e principalmente do perfil do Twitter de seu proprietário, Dana White, onde o mesmo promove os eventos, anuncia promoções e traz o consumidor para imergir no mundo das artes marciais mistas. Com isto, ele aproxima o público que é admirador do esporte e inclusive com o público que não é fã, mas acaba se encantando com o envolvimento dele junto ao público, respondendo questões, interagindo e inclusive buscando o feedback sobre o evento do dia, o que acaba levando os fãs e entusiastas a se tornarem protagonistas junto com o próprio Dana White. Apesar da enorme interação com fãs e entusiastas, as redes sociais do UFC não visam vender produtos de forma direta, utilizam basicamente para que se fortaleça a marca através desta interação assim como os perfis do BB. Com base nisto, podemos sugerir uma maior interação e utilização dos atletas e de representante de equipes como promotores dos perfis, pois assim passaria um valor maior ao público e com isso chamaria a atenção, inclusive de meios de comunicação. Entrevistas, fotos, participação direta em publicações, tudo isto agrega valor ao perfil (PEGORARO; JINNAH, 2012). Outro ponto que pode ser observado e que Dana White o faz com destreza é o fato de ele utilizar da rede para promover os eventos e distribuir brindes. A instituição poderia utilizar disto como uma forma de atrair mais público aos perfis e agregar mais valor as mesmas. A sugestão seria de produtos não bancários e relacionados ao esporte, como peças oficiais dos clubes e equipes patrocinados, uma tarde de autógrafos exclusiva para seguidores dos perfis de determinado atleta e assim conseguir gerar o buzz necessário para melhorar a visibilidade das redes e o número de seguidores. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 282 Outra importante observação feita foi no sentido de ter pouca interação entre os usuários e os conteúdos. São poucos os posts feitos que acarretem em respostas dos usuários, nem respostas no sentido de apoio ao atleta ou a modalidade. O que pode ser feito é que assim como sugerido acima, é a utilização de personalidades patrocinadas pelo BB para que eles utilizem de suas redes próprias para comentar e dar opinião em posts do BBnosEsportes a respeito da modalidade o qual pratica ou praticava. Com essas medidas, entendemos que pode vir somar e melhorar muito a visibilidade dos perfis e realmente alcançar uma melhor imagem da instituição junto ao público alvo que a mesma almeja. A ação com hashtag #TorcidaBrasil poderia ser estendida para novas formas de atuação e interação. Alguns clubes brasileiros de futebol já aproveitaram desta onda de relacionamento com os fãs através das redes sociais, como é o caso do São Paulo Futebol Clube, que possui perfis em diversas redes sociais, onde informam os fãs sobre o dia a dia do clube, promoções e busca aproximar e afinar a relação entre os dois. Uma ação interessante que foi utilizada e que pode ser usado como benchmarking foi a promoção do novo site do clube. Para se divulgar o novo site do clube, foi pedido que os seguidores conseguissem o número de 123 mil citações da frase #novositesoberano para que o mesmo fosse colocado no ar. A expectativa era de chegar a esse número em um dia e meio, mas o mesmo foi alcançado em 8 horas. Ações como essa ajudam a promoção da marca e do esporte em si, também poderia ser utilizado de forma adaptada para agregar valor a instituição (ASSIS; TOLEDO; PISCOPO; ROSA; 2014). Considerações finais Com base em pesquisa e nas tendências de mercado, a instituição BB trabalha muito bem com suas redes sociais, porém há espaço para melhoras, como foi relatado acima. A baixa quantidade de seguidores tanto no Facebook quanto no Twitter é algo que deve se atentar para que se melhore. Já o conteúdo é muito bem produzido, sempre visando alcançar o seu público alvo, com a linguagem que os mesmos utilizam, ou seja, a linguagem informal da internet, onde se faz uso de hashtags, emotions e com imagens. A utilização de redes sociais para tentar alcançar o seu público cada vez mais conectado é um caminho sem volta e a instituição entendeu bem isto. E não só o fez como conseguiu separar os diversos perfis e administra-os de forma eficiente. A forma com que atua no segmento de esportes é extremamente interessante, visto que consegue passar informações em tempo real, como no caso do Twitter. Com as melhoras sugeridas, os dois perfis nas redes sociais Facebook e Twitter tendem a agregar mais valor e aumentar o número de seguidores e com o tempo, como é o objetivo da empresa, buscar aumentar sua base de clientes e sempre estar visando o Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 283 rejuvenescimento da marca. Uma das limitações da pesquisa foi o fato de não haver casos de instituições financeiras que atuam no Brasil e que utilizam das mesmas redes sociais para os mesmos fins a título de comparação. Sugerimos para futuros estudos a busca mais aprofundada sobre casos de sucesso em instituições fora do Brasil para que se consiga comparar mais efetivamente a atuação em redes sociais, desde que respeitado as devidas diferenças culturais. Referêcias bibliográficas ASSIS, E. E., TOLEDO, L., de MORAES ROSA, C., & PISCOPO, M. R. (2014). AS MÍDIAS SOCIAIS SOB A PERSPECTIVA DO MARKETING ESPORTIVO: O CASO SÃO PAULO FUTEBOL CLUBE. Pensamento & Realidade. Revista do Programa de Estudos PósGraduados em Administração-FEA. ISSN 2237-4418, 29(1), 3. BBNOSESPORTES. Disponível em: www.facebook.com/bbnosesportes. Acessado em 14/07/2014. BBNOSESPORTES. Disponível em: www.twitter.com/bbnosesportes. Acessado em 14/07/2014. BECKER H.; NAAMAN M.; GRAVANO L. Event identification in social media. In: INTERNATIONAL WORKSHOP ON THE WEB AND DATABASES, 12., 2009, Providence. Proceedings of... Providence, 2009. BOYD, D.M.; ELLISON, N.B. Social network sites: definition, history, and scholarship. 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Como referencial teórico foi apresentado o conceito de valor da marca e o de comportamento do consumidor, em especial no esporte. A metodologia foi à qualitativa exploratória, sendo realizadas entrevistas em profundidade para coleta dos dados. Os resultados mostram que o valor da marca pode influenciar no comportamento do consumidor das escolas de futebol, bem como pode se utilizar o valor da marca como importante ferramenta na aquisição e retenção dos consumidores das escolas de futebol. Palavras-chave: gestão de esportes, consumidores no esporte, escolas de futebol. Abstract Schools of football clubs are gradually establishing itself as the sports business market and in this scenario the brand value arises as a tool that can influence the behavior of consumers of this business. The aim of this study is to understand how the brand value influences on consumer behavior. As theoretical concept of brand value and consumer behavior, especially in the sport was presented. The methodology was exploratory qualitative, in-depth interviews are conducted for data collection. The results show that the value of the brand can influence consumer behavior of the football schools and can use the value of the brand as an important tool in acquiring and retaining consumers of the football schools. Keywords: sports management, consumers in sport, football schools. Introdução As escolas de clubes de futebol em formato de franquias de clubes de futebol renomados se estabeleceram como negócios consolidados nos últimos anos. Juntando os quatro grandes clubes do Estado de São Paulo o número passa de 210 franquias, das quais 110 são do Sport Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 286 Club Corinthians Paulista. As franquias podem significar a entrada de receitas pontuais, por meio da taxa que o clube cobra dos proprietários das franquias sobre a quantia de alunos matriculados. Isto possibilita aos clubes o estabelecimento de mais uma unidade de negócios e a maximização da revelação de jogadores. Além disso, as franquias podem ser entendidas como mais um canal de exposição da marca do clube, que por sua vez, podem utilizar a marca como estratégia de ações de marketing para atrair e manter mais consumidores. Em se tratando das ações de marketing, os clubes de futebol também estão bem atentos a utilizar essa ferramenta, pois estão, cada vez mais, lançando produtos, bens e serviços diferenciados para atender seus potenciais consumidores. Essa nova visão dos clubes em relação ao mercado está intimamente atrelada ao potencial de utilização dos componentes que estão agregados ao clube, tais como história, cultura organizacional, símbolos, títulos e entre outros. Esses componentes, se bem utilizados, podem fortalecer e criar valor a marca do clube. Ao utilizar o valor da marca como ferramenta, as escolas podem desenvolver algumas ações que influenciem no comportamento de seus consumidores, principalmente na atração e manutenção destes consumidores. Para entender, portanto, o poder que o valor da marca pode ter neste modelo de negócios, que são as escolinhas de futebol em formato de franquias, é que se configura o seguinte problema de pesquisa: O valor da marca influencia no comportamento dos consumidores de escolas de futebol? Concomitante ao problema de pesquisa, o objetivo do estudo é o de entender se o valor da marca influencia no comportamento dos consumidores de escolas de futebol. Os consumidores deste tipo de negócio são os alunos e seus pais. Assim como qualquer consumidor, os pais e filhos buscam a obtenção de vantagens por meio do consumo do serviço, tais como: iniciação esportiva, participação em processos seletivos para a seleção de jogadores para as categorias de base do clube (as chamadas “peneiras”), visitas ao centro de treinamentos do time profissional, participação em campeonatos externos e internos, visitas monitoradas ao clube, clínicas de futebol em outras cidades e a possibilidade de, eventualmente, alguns poucos previamente selecionados entrarem em campo com os atletas da equipe profissional. Entretanto, no caso dos consumidores das escolas de futebol franqueadas a busca por meio desse serviço é motivada, principalmente, pela oportunidade de os filhos se tornarem jogadores de futebol (Bach & Lovisolo, 2010). Como referencial teórico para este estudo é utilizado os conceitos de marca, valor da marca e comportamento do consumidor. Sobre as marcas, este estudo se baseou na definição de Aacker (2001), pela necessidade de entender o que é marca antes de discutir os atributos que compõem o valor da marca. Ainda sobre marcas, é apresentada a importância das marcas no Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 287 esporte sob a ótica de Gladder e Funk (2002) e Rein, Kotler e Shields (2008), pois as marcas tem potencial de mudar a maneira como o esporte está sendo gerido, além de servirem como ferramenta importante na atração e manutenção dos consumidores. O valor da marca é apresentado com base nos estudos de Aacker (1998) e Keller (2006). Aacker (1998) propõe que o valor da marca é composto de quatro dimensões, que são: Notoriedade a marca, Associações à marca, Qualidade percebida e Lealdade a marca e tendo em vista essa composição do valor da marca é discutido como que as quatro dimensões influenciam no comportamento do consumidor. Já Keller (2006) contribui para o entendimento do valor da marca baseado no consumidor. Realiza-se ainda, uma breve revisão da literatura sobre o valor da marca baseado no consumidor e nas áreas de serviço, franquias e no esporte, além do posicionamento da marca Corinthians no mercado do futebol brasileiro atual. Para entender o comportamento do consumidor é utilizada a definição sobre o termo “comportamento do consumidor” de Sheth, Mittal e Newman (2001), pois se mostra de acordo com o processo de tomada de decisão do consumidor que é apresentado segundo os estudos de Morgan e Summers (2008). Esse processo é separado em cinco fases que o consumidor está sujeito a passar antes, durante e após o consumo. Este processo auxilia no entendimento do comportamento do consumidor. Para identificar a influência do valor da marca no comportamento do consumidor adotase o método qualitativo exploratório com entrevistas em profundidade com os responsáveis dos alunos da franquia do Sport Club Corinthians Paulista de Guaianazes, na Zona Leste de São Paulo-SP. O método qualitativo exploratório se caracteriza pela descrição, compreensão e interpretação da realidade de um contexto que não apresenta evidências claras, por isso adotouse esse método neste estudo. Além disso, a escolha pela marca Corinthians se justifica por se tratar da marca mais valiosa do mercado do futebol brasileiro, bem como por se tratar de um clube que tem tratado o processo de profissionalização da gestão com significativa seriedade (BDO, 2013; Berton, Bazanini & Donaire, 2013). A partir dos resultados é feita análise de conteúdo, conforme proposto por Bardin (1977). Os resultados apresentados neste estudo possibilitam o entendimento do valor da marca de um clube numa franquia como ferramenta importante na aquisição e retenção de consumidores. Entender a influencia do valor da marca de um clube sobre o comportamento do consumidor de escolas de futebol pode contribuir ainda para que empresários do ramo se decidam em investir ou em adquirir uma franquia ou continuar sem vínculo com um clube de futebol. O estudo ainda traz luz a um tema, que até então, foi pouco discutido e explorado na literatura de gestão de esportes. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 288 O presente estudo está estruturado da seguinte maneira: a primeira parte apresenta uma breve introdução sobre o objeto do estudo; a segunda parte apresenta o referencial teórico envolvendo as marcas, marcas nos esporte, o valor das marcas e da marca Corinthians no mercado do futebol brasileiro. Ainda no referencial teórico, será apresentado o conceito de comportamento do consumidor, processo de tomada de decisão do consumidor e comportamento do consumidor no esporte; a terceira parte apresenta a metodologia do estudo; a quinta parte apresenta os resultados e discussões; a sexta parte apresenta as considerações finais com as limitações do estudo e sugestões para aprofundamento do tema por meio de pesquisas futuras. Referencial teórico Buscando melhor entendimento sobre o objeto deste estudo, neste tópico são apresentados esclarecimentos e definições que englobem e deem conta de explicar sobre a marca, valor da marca e comportamento do consumidor. Marcas As marcas existem para distinguir produtos, bens e serviços de organizações, como enfatiza a AMA- American Marketing Association (2013), que a define como sendo “um nome, termo, sinal, símbolo ou desenho, ou uma combinação dos mesmos, que pretende identificar os bens e serviços de um vendedor ou grupo de vendedores e diferenciá-los daqueles dos concorrentes”. Esta definição possibilita verificar a importância das marcas para as organizações, pois por meio delas se tem mais uma ferramenta para que uma empresa se diferencie da outra, porém o conceito de marcas vai além do que diferenciar e identificar produtos, serviços e bens. Aacker (2001, pág. 07) complementa ao afirmar que “uma marca sinaliza ao consumidor a origem do produto e protege, tanto o consumidor quanto o fabricante, dos concorrentes que oferecem produtos que pareçam idênticos”. Aacker (2001) se mostra atento também com o consumidor que, por meio do consumo da marca pode se sentir seguro de que está realmente adquirindo os produtos, bens e serviços de determinada organização ou grupo de organizações. A qualidade que está vinculada ao que a organização produz para vender no mercado tem na marca uma espécie de comprovação, ou seja, a marca carrega identificação, diferenciação e também a sinalização da garantia de que o consumidor não será lesado ou consumirá algo que ele não quer. Entendendo essa importância que a marca têm nos negócios é que as organizações têm dado maior atenção ao tratar e trabalhar suas marcas. Aires (2011, pág 01) afirma que “as Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 289 empresas para identificarem as marcas a seus produtos ou serviços investem durante anos em qualidade e propaganda, tornando-se muitas vezes conhecidas não por aquilo que vendem, mais pelo alcance de sua marca junto ao consumidor”. Na análise de Aires (2011) a marca é atributo intangível. Se bem trabalhada, tem a potencialidade de alavancar os negócios de uma organização ou grupo de organizações e pode ajudar a fidelizar o consumo. Além de alavancar os negócios, a marca se mostra capaz de definir os direcionamentos, internos e externos, de uma organização. A marca é tão definidora da maneira como é vista a organização que, pode moldar e direcionar praticamente tudo o que se faz em uma organização e, sobretudo, como se realiza os processos (Bedbury & Fenichell, 2002). Isso mostra que a marca pode ser considerada um ativo valioso e possibilita que a empresa use-a para direcionar seus processos, bem como as suas ações de marketing, visando potencializar o consumo de seus bens, produtos e/ou serviços. Marcas no Esporte A indústria do esporte teve a necessidade de perceber o esporte como marca a ser gerenciada (Gladder & Funk, 2002). O reconhecimento dessa necessidade se deu pela mudança de paradigma que ocorreu na forma de se promover o esporte (Rein, Kotler & Shields, 2008). Tradicionalmente a principal forma de atração e ligação com os torcedores no esporte foram os resultados nos jogos, ou seja, quanto melhor o desempenho esportivo de uma equipe mais atraídos e ligados estariam os torcedores, que nesse mercado podem ser entendidos como os potenciais consumidores (Gray & Wert Gray, 2012). Entretanto, os gestores esportivos foram percebendo que depender do desempenho de suas equipes poderia ser perigoso para os negócios na indústria do esporte, haja vista que o desempenho de uma equipe pode oscilar, impossibilitando qualquer tipo de previsão sobre os resultados conquistados nos jogos (Rein, Kotler & Shields, 2008). Portanto, qual seria a estratégia mais adequada para atrair e manter os consumidores no esporte? A resposta está em entender o esporte como produto e, principalmente, como marca (Gray & Wert Gray, 2012; Rein, Kotler & Shields, 2008). A conexão ideal com os consumidores esportivos deve priorizar garantir a fidelidade por o máximo de tempo possível e que impossibilite que os, inevitáveis, fracassos esportivos interrompam essa conexão, portanto, a indústria do esporte deve passar a ver seus produtos como marcas que sejam efetivas e ágeis no mercado (Rein, Kotler & Shields, 2008). Esta nova visão dos gestores esportivos em relação a trabalharem o esporte como marca vai ao encontro das expectativas dos consumidores das marcas que consomem. Os Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 290 consumidores procuram marcas que lhes proporcionem experiências únicas e memoráveis. Os consumidores não estão apenas interessados em comprar produtos para os benefícios funcionais, mas cada vez mais fazem suas escolhas com base em aspectos vivenciais das ofertas (Zarantonelo & Schimitt, 2010). Entendendo o potencial de alcance de sua marca, junto ao seu consumidor, foi que a marca do Corinthians passou por um processo de reposicionamento no mercado do futebol brasileiro. Os gestores perceberam que o Corinthians, como marca, poderia proporcionar aos seus consumidores experiências únicas e memoráveis. Este processo, de pensar o Corinthians como marca, ocorreu na gestão de Andrés Sanchez de 2007 a 2011 e se baseou na imagem e na identidade que seus consumidores carregavam do clube. Esta estratégia levou a marca a se destacar perante a concorrência neste mercado (Berton, Bazanini & Donaire, 2013). Valor da marca Mostra-se adequado entender o valor que a marca proporciona à organização. O conceito de valor da marca reforça a importância dos papéis da marca nas estratégias de marketing (Keller, 2006). Para a organização, o valor da marca pode significar maiores vendas, margens mais altas, proteção legal, melhor fidelidade e sinal de qualidade (Balaji, 2011). Para Kotler e Keller (2006, p. 149), o valor da marca é a “avaliação subjetiva e intangível que o cliente faz da marca, acima e além do valor percebido objetivamente”. Aaker (1998) mostra as dimensões conceituais do valor da marca, que são: a notoriedade da marca, qualidade percebida, associações da marca e a lealdade à marca. Cada uma destas dimensões contribui para a composição do valor da marca e representam a percepção e as reações que os consumidores têm em relação à marca. As quatro dimensões do valor da marca de Aacker são explicadas na Tabela 1. O valor da marca, sob a perspectiva do consumidor, pode ser compreendido por meio do modelo customer-based brand equity (CBBE) de Keller (2006). A ideia central do modelo é que a força de uma marca está no que os consumidores aprenderam, sentiram, viram e ouviram sobre a marca, por meio dos resultados e de suas experiências com a marca ao longo do tempo (Keller, 2006). Real (2010, p. 04) aponta que “o valor da marca decorre da sua capacidade de se tornar algo com significado e único junto dos consumidores”. Quanto mais o valor da marca for considerado forte e positivo, mais as marcas podem se transformar em recursos intangíveis valiosos (Aacker, 1998). Isso permite que as empresas construam e protejam sua cota de mercado, aumentem seus investimentos em comunicação com os clientes e lancem produtos novos com mais facilidade (Aacker, 1998). Nota-se que o valor Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 291 da marca depende, essencialmente, do que o consumidor percebe, pensa e como age em relação à marca. Portanto, a conscientização da marca, postura do cliente com relação à marca e percepção do cliente quanto à ética da marca são componentes importantes do valor da marca (Kotler & Keller, 2006). Ao realizarem uma revisão da literatura sobre o valor da marca baseado no consumidor, Christodoulides e Chernatony (2010) perceberam que a literatura sobre o tema, embora seja substancial, é fragmentada e inconclusiva. Os autores ainda mostraram que a falta de uma definição consensual sobre o valor da marca, possibilitou a existência de várias metodologias para entender o construto. Oliveira e Luce (2011) também mostram esta falta de consenso, fragmentação e inconclusividade sobre o tema na literatura acadêmica brasileira. Neste trabalho, procura-se observar as escolinhas de futebol franqueadas do Corinthians e para as empresas franqueadas a literatura mostra que o valor da marca oferece aos franqueados uma série de benefícios. Leslie e Mcneil (2010) destacam que a chave para manter o compromisso contínuo dos franqueados tende a estar centralizado na gestão e no valor relativo da marca. Indiretamente, o valor da marca em franquias influencia os consumidores, funcionários e parceiros a darem respostas positivas sobre a franquia (Ghantous & Jaolis, 2013). Tabela 1- Dimensões do valor da marca baseado em Aacker (1998). Dimensão Notoriedade da marca Associações à marca Qualidade percebida Lealdade marca à Definição Capacidade do consumidor em identificar a marca em diferentes condições. Tudo que o consumidor vincula a marca. Imagens, atributos do produto, situações, associações organizacionais, personalidade de marca e símbolos. Percepção de qualidade que o consumidor tem em relação à marca. Interfere diretamente, em diversos contextos, na escolha, na preferência e na lucratividade. Nível de ligação do consumidor com a marca. Observações Quando as pessoas ouvem falar de uma marca, elas entendem se tratar de algo confiável, que é bem aceito. Definem a forma como o consumidor entende e guarda na memória a marca, representando consequentemente o significado da marca para o consumidor. Interfere diretamente, em diversos contextos, tais como: escolha, preferência e, principalmente, na lucratividade. Constitui-se na probabilidade de um consumidor mudar ou não para outra marca. É a essência do valor para qualquer marca, pois o valor da marca se sustenta no consumidor, e se vincula, fundamentalmente, ao tamanho da base dos consumidores que são leais a marca. Fonte: Elaborado pelo autor. No segmento de serviços, área das escolas de futebol, o valor da marca pode ser entendido como principal ferramenta impulsionadora ao sucesso de uma empresa, pois, por Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 292 meio dela, se torna possível o aumento a confiança no serviço prestado. A diferença é que no mercado de serviços a empresa é a principal marca, enquanto no mercado de bens é o produto (Berry, 2000). Entretanto, neste tipo de segmento, os pesquisadores destacam que, para o consumidor, a qualidade do serviço tem grande importância na percepção do valor da marca (Balaji, 2011; Gabott & Hogg, 1994; Ming et al, 2012). No esporte, existem poucos estudos que tratam do valor da marca. Gladden e Funk (2002) trabalham o valor da marca separando em 16 potenciais dimensões, que os consumidores se baseiam e que estão associadas às marcas dos times esportivos. Os autores separam estas dimensões em três categorias, que são: atributos (sucesso, treinador, jogadores estrelas, gestão, estádio, logomarca, entrega do produto e tradição), benefícios (identificação, nostalgia, orgulho no estádio da equipe, escapar da rotina e aceitação do grupo de iguais) e atitudes (importância, conhecimento e afeto). Esta separação contribui para identificar estas dimensões na composição do valor da marca de equipes esportivas. Holt e Sanchis (2007) defendem que o valor da marca de uma entidade esportiva ocorre do acumulo de imagens, símbolos, logotipos e ícones que vão sendo construídos ao longo da história da instituição. Por outro lado, Ross e Russel (2008) propõem um modelo empírico de mensuração do valor da marca baseado no espectador do Basquetebol, utilizando como suporte as associações da marca e a notoriedade da marca. Eles alegam que esses elementos são essenciais no momento em que o consumidor avalia e escolhe ser espectador do esporte. Entretanto, o modelo proposto pelos autores ainda necessita de validação em outras áreas do esporte, bem como necessita considerar qualquer tipo de consumidor, seja ele leal ou inconstante. Em se tratando do mercado do esporte brasileiro, o valor da marca tem se estabelecido e aumentado a sua importância, principalmente para os clubes de futebol, que por sua vez devem perceber essa evolução e transformar essa força em estratégia para atração de novos consumidores. Sobre isso, Malagrino (2011, p. 121) alerta que “a consolidação da força da marca será cada vez mais necessária para manter os atuais e atrair os novos consumidores/torcedores”. Nesse cenário as escolas de futebol franqueadas de clubes podem se aproveitar dessa força para manter e atrair mais consumidores por meio do valor da marca. Para estimar o valor financeiro da marca dos clubes brasileiros, a BDO (Binder Dijker Otte), empresa de consultoria e auditoria em diversos setores da economia mundial, lança anualmente um estudo que mensura o valor da marca dos maiores clubes do futebol brasileiro por meio de seu escritório no Brasil. Em 2013, o estudo apontou que o valor das 23 maiores marcas permanece em constante evolução desde 2009, aumentando o valor consolidado em Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 293 69% nesse período. O clube que mais evoluiu nesse período foi o Sport Club Corinthians Paulista, passando da segunda colocação em 2009 para o primeiro lugar nos quatro anos seguintes. Em 2009, o valor da marca do clube foi avaliado em R$ 562,6 milhões, evoluindo para R$ 1.108,8 bilhões em 2013. Esses números mostram que o clube tem uma marca valiosa no mercado e em constante evolução. A valorização da marca do Corinthians nesse período tem como principal fator a mudança de paradigma na gestão. Ao assumir a presidência do clube em 2007, Andrés Sanchez passou a entender a necessidade da gestão profissional como fundamental para o processo de valorização da marca. A valorização da marca do clube ocorreu pela identidade positiva do clube, pela segmentação do mercado que o clube realiza ao lançar produtos específicos para todas as classes sociais e pela nova visão que o clube passa a ter do torcedor como consumidor que, consequentemente, passa a se comprometer com o clube (Berton, Bazanini & Donaire, 2013). Os dados apresentados pela BDO mostram o alto valor que a marca do Corinthians demonstrou ter no mercado do futebol brasileiro. Estes dados e a valorização da marca, devido a mudança de paradigma na gestão do clube, levantam o interesse de análise do sucesso das escolas de futebol franqueadas deste clube que, podem utilizar deste alto valor simbólico e financeiro para influenciar o comportamento de seu consumidor. Comportamento do Consumidor e Processo de Tomada de Decisão do Consumidor Ao definirem marketing, Kotler e Keller (2006, p. 04) afirmam que “o marketing envolve a identificação e satisfação das necessidades humanas e sociais”. Portanto, se torna importante entender essas necessidades, a fim de satisfazê-las. Entretanto, estas necessidades só podem ser satisfeitas na medida em que se compreendem os consumidores que utilizarão os serviços, bens ou produtos, que estão sendo oferecidos, tentando mostrar que estes são melhores que os do concorrente (Solomon, 2008, p. 29). Podemos seguir, portanto, para entender o comportamento do consumidor. De acordo com Sheth, Mittal e Newman (2001, p. 29), o comportamento do consumidor são as “atividades físicas e mentais realizadas por clientes de bens de consumo e industriais que resultam em decisões e ações, como comprar e utilizar produtos e serviços, bem como pagar por eles”. Porém, o consumidor passa por um processo antes de tornar suas atividades físicas e mentais em compra. Este processo será apresentado a seguir e servirá como base para entender como o valor da marca influencia o comportamento do consumidor em escolas de futebol em cada fase do processo. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 294 Antes de oferecer qualquer produto ou serviço ao consumidor, mostra-se ser mais adequado entender como pensa o consumidor. Corroborando, Pitts e Stotlar (2002, p.94), afirmam que “o profissional de marketing esportivo precisa conhecer e entender os consumidores e potenciais consumidores de seus produtos”. Para isso, entender o processo de tomada de decisão do consumidor mostra ser essencial, bem como os fatores que influenciam nesse processo de tomada de decisão. Morgan e Summers (2008) apresentam este processo de tomada de decisão e o separam em cinco fases, que são: 1) a identificação da necessidade/problema de consumo, 2) a busca por informações sobre o produto ou serviço, 3) a avaliação das alternativas, 4) a decisão pela compra e o 5) processo pós compra. Mesmo aparecendo como fases, durante esse processo o consumidor retrocede ou se adianta, até que se sinta confiante com as informações que possuem para tomar uma decisão final. Mesmo após a decisão ser tomada, o consumidor tende a refletir sobre os resultados, ou seja, se estão satisfeitos ou não. De posse dessas informações o consumidor as usa em decisões futuras para que o ajude a escolher melhor. O profissional de marketing que deseja construir uma estratégia de sucesso e que alcance os objetivos propostos deve encarar o processo de tomada de decisão do consumidor como algo fundamental (Morgan e Summers, 2008). Além disso, para que as estratégias de marketing sejam bem sucedidas deve-se levar em consideração “como” pensam os consumidores dentro desse processo. Para entender o consumidor dentro desse processo de tomada de decisão e na relação deste com as marcas, os profissionais de marketing devem estar atentos a entender “como” pensam os consumidores ao contrário do “que” pensam, pois descobrir o “que” os consumidores realmente pensam é impossível e contraditório (Barnham, 2012). Podemos entender, portanto, que entender esse processo de tomada de decisão e como pensam os consumidores é fundamental, antes de utilizar o valor da marca como ferramenta capaz de influenciar o comportamento do consumidor nesse processo. Ainda nesta busca em entender o comportamento dos consumidores, se torna importante realçar que existem alguns fatores que são indicados como influenciadores no processo de tomada de decisão dos consumidores (Blackwell, Miniard & Engel, 2005; Solomon, 2008; Kotler & KEeller, 2006; Medeiros & Cruz, 2006; Morgan & Summers, 2008). De maneira sintética, Kotler e Keller (2006) separam esses fatores que englobam todas as considerações feitas pelos autores citados acima acerca do tema. Para eles, os fatores que influenciam o consumidor no processo de tomada de decisão podem ser separados em quatro grupos, que são: fatores culturais, fatores sociais, fatores pessoais e fatores psicológicos. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 295 Comportamento do Consumidor Esportivo Sobre o comportamento do consumidor esportivo, Morgan e Summers (2008, p. 98) indicam ser semelhante ao comportamento do consumidor de qualquer outro segmento e que o entendimento do processo de tomada de decisão deste consumidor também é fundamental para os profissionais de marketing esportivo. Sobre isso, os autores afirmam que “o entendimento desse processo é um bloco de construção fundamental no desenvolvimento de qualquer estratégia de marketing bem-sucedida, e isso não é diferente no contexto esportivo”. Entretanto, é possível perceber que existem diferenças significativas entre o consumidor do esporte e o consumidor de outros segmentos. O comportamento do consumidor esportivo, além de carregado de fortes símbolos culturais, difere em alguns pontos do comportamento do consumidor de outros mercados. O consumidor do esporte carrega altos índices de lealdade à marca e este comportamento está altamente vinculado aos aspectos emocionais que esse consumidor tem em relação ao time que torce (Doyle et al, 2013). Entender o comportamento do consumidor esportivo pode ser uma tarefa bem complexa. Sobre isso, Morgan e Summers (2008, p. 131) afirmam que “os consumidores esportivos podem ser pesquisados, segmentados, perfilados e definidos como alvo, mas a essência do que querem pode ser um mistério. Isso ocorre porque o que desejam é a imprevisibilidade!”. Essa imprevisibilidade, obviamente, dificulta a tarefa de ser traçar um perfil para o consumidor esportivo, bem como entender “como” eles pensam em relação ao consumo do esporte. Metodologia O objetivo proposto neste estudo é o de entender se o valor da marca influencia no comportamento do consumidor de escola de futebol. Dessa maneira, fica definido para esta pesquisa adotar o método qualitativo exploratório. De acordo com Martins e Theóphilo (2009, pág. 61), a pesquisa qualitativa é “caracterizada pela descrição, compreensão e interpretação dos dados”. Já a pesquisa exploratória é entendida como a etapa inicial na estrutura geral de concepção da pesquisa. (Malhotra, 2012). A escolha por esse tipo de pesquisa, em moldes qualitativos exploratórios, se confirma, especialmente pelo fato do contexto não apresentar evidências claras. Sobre o uso de pesquisa qualitativa em marketing, Vieira (2013, p.18) afirma que “ela faz parte de um conjunto de outras questões relativas a marketing enquanto área de Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 296 conhecimento, para as quais ainda não se encontrou respostas definitivas ou que continuam em permanente tensão acadêmico-científica”. O autor ainda defende o uso deste tipo de pesquisa no Brasil amparado no fato de os mais importantes periódicos internacionais da área publicar com regularidade estudos que resultaram do uso da pesquisa qualitativa em marketing. O uso da pesquisa qualitativa também se mostra adequada, por entender que a possibilidade de consolidação e o reconhecimento da área de marketing no Brasil passam também pela pluralidade de métodos utilizados nos estudos. Certamente a área não evoluirá amparada em protocolos de pesquisas ou temas que são exaustivamente replicados, pois não parece haver pluralidade nisso e também se questiona a existência de relevância, mesmo entendendo que possa haver certo rigor (Vieira, 2013; Sauerbronn, 2013). Para coletar os dados optou-se por realizar entrevistas em profundidade com 11 perguntas semiestruturadas do tipo abertas, com base no referencial teórico em que se procura entender, essencialmente, se o valor da marca influenciou na decisão em matricular o aluno na escola de futebol franqueada e se o valor da marca influencia na continuidade do aluno na escola. A entrevista em profundidade é um recurso metodológico que busca recolher respostas a partir da experiência subjetiva dos entrevistados, que são selecionados por deterem as informações desejadas para a construção de conhecimento (Barros & Duarte, 2005). Sobre a escolha da classificação das perguntas serem do tipo aberta, se deu por considerar que sua flexibilidade favorece uma expressão mais autêntica dos entrevistados, proporcionando que a colheita de informações seja a mais próxima possível da realidade e possibilitando, portanto, investigações mais profundas e precisas (Lakatos & Marconi, 2005). A técnica de entrevistas com perguntas abertas atende as finalidades de estudos exploratórios, pois permite ao entrevistador introduzir o tema e o entrevistado tem liberdade para discorrer sobre o tema sugerido. A entrevista aberta se utiliza quando o entrevistador anseia obter o máximo de informações possíveis sobre o tema pesquisado, segundo a visão do entrevistado, bem como para obter um maior detalhamento do assunto em questão (Boni & Quaresma, 2005). Optou-se por escolher para serem entrevistados os responsáveis pagantes de mensalidades dos alunos. Essa opção se deve ao entendimento de que esse público se caracteriza como sendo o consumidor deste tipo de negócio. Além disso, para entender a influência do valor da marca nesse público optou-se por escolher os responsáveis que acompanhassem as aulas e os jogos, pois se entendeu que esse público que acompanha com proximidade o fenômeno pode explicar melhor suas experiências com o consumo do serviço da escola. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 297 Tendo em vista que esse estudo busca entender como o valor da marca influencia o comportamento do consumidor é que se mostra necessário entender, portanto, elementos subjetivos que levam ou levaram os entrevistados a consumirem os serviços da escola de futebol, bem como se, para eles, o valor da marca Corinthians é a principal influencia em seu comportamento de consumo. Sobre isso, Boni e Quaresma (2005, p. 05) afirmam que “os dados subjetivos só poderão ser obtidos através da entrevista, pois que, eles se relacionam com os valores, às atitudes e às opiniões dos sujeitos entrevistados”. Procurando compreender melhor, principalmente, a subjetividade de cada entrevistado, optou-se por separá-los em dois grupos, que foram denominados de “Corintianos” e “Não Corintianos”. Essa separação foi estabelecida, pois, inicialmente, se entendeu que a percepção que o valor da marca do Corinthians tem para um consumidor torcedor do Corinthians pode diferir da percepção de um Não Corintiano. Foram realizadas cinco entrevistas com os responsáveis Corintianos e cinco entrevistas com os responsáveis Não Corintianos, totalizando dez entrevistas em profundidade. As entrevistas ocorreram em dias de jogos e/ou aulas nas dependências da escola, em ambiente separado do local das aulas e foram gravadas com autorização verbal dos entrevistados. Todos os entrevistados demonstraram disposição e interesse pelo estudo, respondendo a todas as questões atentamente. Procurando captar o máximo de informações, procurou-se deixar os entrevistados livres para falar abertamente sobre o que estava sendo questionado. Para tratar os dados extraídos nas entrevistas utilizou-se a técnica de análise de conteúdo, visando facilitar o entendimento das respostas. (Bardin, 1977). Nesta técnica, os discursos são analisados e parte-se do pressuposto que por trás do sentido subjetivo e simbólico de cada discurso é possível extrair um novo sentido que pode ser revelado. Resultados e análise dos dados Visando preservar a identidade dos entrevistados utiliza-se, para identificar os trechos das entrevistas, a seguinte classificação: C1, C2, C3, C4 e C5, para o Grupo de Corintianos e para o Grupo de Não- Corintianos NC1, NC2, NC3, NC4 e NC5. Já na Tabela 2 são apresentados os resultados das entrevistas. Os resultados se referem às seguintes informações: os motivos que levaram os consumidores a procurarem a escola de futebol do Corinthians; as informações que os entrevistados receberam sobre a escola; a percepção do valor da marca baseado no consumidor; a diferença da escola do Corinthians em relação a de outros clubes; a influência do valor da marca na decisão de matricular o filho; a influência do valor da marca na Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 298 continuidade do consumo; a intenção de continuar sendo cliente, caso a escola mude de clube e; a intenção de continuidade, caso outra escola de outro clube oferecesse condições melhores para matricular o filho. Destacam-se nos resultados da tabela, os dados sobre a influência do valor da marca na escolha pela escola de futebol do Corinthians, bem como a influência do valor da marca na continuidade do consumo, que são os aspectos centrais para entender se o valor da marca influência no comportamento do consumidor. Nas entrevistas do grupo de Corintianos se evidenciou que o valor da marca influenciou na escolha pela escola de futebol do clube por meio da notoriedade da marca, das associações à marca e da qualidade percebida. Da mesma forma ocorreu com grupo de Não Corintianos, exceto na qualidade percebida. Sobre isso, NC2 afirmou que ”reconhecesse que o Corinthians tem a marca grande, a marca enorme, mundial né?! Então não tem como deixarmos de matricular um filho nosso numa escola do Corinthians porque não somos Corinthians”. Como apontado por Malagrino (2011), este relato de NC2 mostra que a força da marca auxilia na manutenção e na atração dos consumidores na escola de futebol. Estes resultados mostram que para ambos os grupos o valor da marca do Corinthians influencia na escolha pela escola por meio, principalmente da notoriedade da marca, pois quando as pessoas ouvem falar de uma marca, elas entendem se tratar de algo confiável, que é bem aceito (Aacker, 1998). Destacam-se na análise das entrevistas, de todos os entrevistados, a afirmação de que o valor da marca influencia na decisão de continuar sendo cliente da escola de futebol do Corinthians em ambos os grupos. Entretanto, em contraste a este resultado poucos entrevistados indicaram ter a intenção de deixar a escola, caso esta mudasse para a marca de outro clube qualquer. Sobre isso, C4 se posiciona dizendo “eu apostei nessa escola aqui. Os professores trabalham bem, sou bem atendido aqui e essa é a opinião do meu filho também. [...] Independente de ser Corinthians ou não. Mesmo trocando a marca, eu confio neles aqui”. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 299 Tabela 2- Grupos/Questões. Questões Motivos Percepção do valor da marca Valor marca decisão da na Valor da marca na continuidade Mudança marca escola Corintianos Desejo dos filhos e sonho de ver os filhos se tornar jogador Muito valiosa Notoriedade da marca, associações a marca e qualidade percebida. Percepção que influencia 3 entrevistados não mudariam pela qualidade do serviço prestado e 2 mudariam em lealdade a marca. Mudariam de escola Não Corintianos Desejo dos filhos e sonho de ver os filhos se tornar jogador. Muito valiosa Notoriedade da marca e associações a marca. Percepção que influencia 4 entrevistados não mudariam pela qualidade do serviço prestado e 1 mudaria em lealdade a marca. Mudariam de escola Grupos da da Condições melhores em outras escolas Fonte: Elaborado pelo autor. Isto mostra que o valor da marca do Corinthians não é o principal motivo que influencia na decisão de continuar sendo consumidor da escola, mas entende-se que a influência, nesse caso e a partir da análise das entrevistas, se baseia no fato de a escola ser de um clube grande, ou seja, qualquer outra marca de um grande clube serviria para que o consumidor continuasse consumindo o serviço da escola. Dos cinco entrevistados do grupo de Corintianos, três relataram que continuariam consumindo os serviços da escola, caso mude para a marca de qualquer outro clube, por confiarem na qualidade do serviço e os outros dois fizeram entender que mudariam de escola em lealdade a marca. Em concomitância a estes resultados, em ambos os grupos, nenhum entrevistado se dispôs a continuar sendo cliente da escola se outra escola de outro clube lhe oferecessem condições melhores para mudar. Ao falar sobre a possibilidade de continuar sendo cliente da escola se outra escola de outro clube lhe oferecessem condições melhores para mudar, C5 diz que Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 300 “se eu conseguisse um outro lugar que fosse bem melhor pra ele, eu aceitaria. Porque eu não coloquei ele aqui só pra brincar. Porque ele tinha vontade de vir e [...] ser jogador de futebol [...] se acontecesse de uma outra escola me oferecer uma situação melhor pra ele, tipo avançar mais pra frente e seguir a carreira de jogador de futebol, com certeza eu aceitaria”. De certo, que tanto no grupo de Corintianos como no grupo de Não Corintianos alguns entrevistados permaneceram em dúvidas alegando que até mudariam para outra escola de outro clube qualquer, mas não acreditam que existam condições melhores em outra escola ou só mudariam se encontrassem melhores condições para que seus filhos se tornassem jogadores de futebol, dispusessem de estrutura melhor e pensariam na possibilidade, mas considerariam a opinião do filho na tomada de decisão. Mesmo assim, nenhum dos entrevistados afirmou que ficaria na escola, caso fossem lhes oferecido melhores condições em outra escola. Diante deste resultado e no caso deste contexto abordado neste estudo, o alto índice de lealdade a marca do torcedor/consumidor, conforme apontado por Doyle et al (2013) não se comprova. Estes resultados mostram que, para ambos os grupos, o valor da marca é importante na decisão em continuar sendo cliente da escola de futebol do Corinthians, mas não é o fator determinante nessa escolha. Um fator que aparece com força é a manutenção na escola de futebol amparado pela vontade dos pais e dos filhos de ver o sonho de se tornar jogador profissional de futebol ser realizado, conforme nos indica Bach e Lovisolo (2010) e conforme visto no depoimento de C5 acima. Tendo em vista, as cinco fases do processo de tomada de decisão propostos por Morgan e Summers (2008) foi possível avaliar que em todas as fases os entrevistados sofreram influências significativas, exceto na fase 2 referente a busca por informações. Entretanto, nem todas as influências partiram do valor da marca. Na primeira fase, ao identificarem uma necessidade/problema de consumo o valor da marca influencia por meio da notoriedade da marca que possibilita ao consumidor confiar e aceitar bem a marca, mas o motivo maior que levaram os entrevistados a matricular seus filhos em ambos os grupos foi o desejo dos filhos pela prática do esporte e o sonho de se tornar jogador profissional e estes motivos foram reforçados pela preocupação em ocupar o tempo livre do filho e o estímulo à atividade física que a matrícula na escola proporcionaria. Na segunda fase, que se trata da busca de informações, o valor da marca pouco pode influir se não houver ações de marketing que usem desse construto, a fim de atrair e manter os consumidores, conforme ficou constatado. A única forma de informações que chegaram aos consumidores, e que foi efetiva, foi à indicação positiva de terceiros sobre a qualidade do Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 301 serviço prestado pela escola. NC5 relata que “eu tinha uma amiga e o sobrinho dela era aluno da escola. Ela que me indicou e eu gostei da escola [...] Até procurei outras escolas, por telefone, mas nenhuma próxima da minha casa, nenhuma legal”. Na terceira fase, que se trata da avaliação das alternativas, em relação a influencia do valor da marca, a notoriedade a marca e a qualidade percebida aparecem como influências significativas na diferença em relação a outros clubes. Entretanto, a alegação dos entrevistados, principalmente do grupo de Não Corintianos, sobre a falta de parâmetros impossibilitou verificar com maior clareza outros aspectos relativos à influência do valor da marca. Na quarta fase, que se trata da decisão pelo consumo, a notoriedade da marca aparece novamente como principal dimensão do valor da marca que influencia na decisão pelo consumo do serviço da escola. Sobre isso, C3 afirma que “O fato do time ser grande, o nome, a expressão e todo mundo quer jogar no Corinthians né?!”. Outra dimensão importante que foi mostrada como influencia na decisão pelo consumo é relativa às associações a marca e com menor proporção aparece à qualidade percebida, mesmo assim somente no grupo de Corintianos e em um caso apenas. Em nenhum dos dois grupos a lealdade à marca aparece como fator importante na influencia da decisão de consumo. Este resultado chama atenção, pois a lealdade à marca é entendida como sendo a essência do valor para qualquer marca, pois o valor da marca se sustenta no consumidor, e se vincula, fundamentalmente, ao tamanho da base dos consumidores que são leais a marca (Aacker, 1998). Já a quinta fase, que se trata do processo pós-compra, se observou relativizando com a continuidade ou não do consumidor em consumir o serviço da escola. Nesta análise o valor da marca aparece por meio da lealdade à marca, mas apenas em 3 dos 10 entrevistados se pode observar esse comportamento, sendo 2 destes Corintianos. Os outros 7 entrevistados confiam mais na qualidade do serviço prestado do que no valor da marca. Em serviços, a qualidade percebida pelo consumidor é tão fundamental quanto o próprio serviço (Balaji, 2011; Gabott & Hogg, 1994; Ming et al, 2012). Entretanto, em serviços, a qualidade pode ser uma variável componente do valor da marca, ao invés de um aspecto separado. Neste tipo de mercado, a qualidade do serviço tem grande importância na percepção do valor da marca (Balaji, 2011; Ming et al, 2012). Considerações finais A análise das entrevistas dos dois grupos possibilitou entender que o valor da marca influencia no comportamento do consumidor de maneira significativa, mas não é o principal, nem o maior influenciador na tomada de decisão do consumidor. Sobre como o valor da marca Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 302 influencia no comportamento do consumidor se entendeu que por meio de todas as fases do processo de tomada de decisão do consumidor, porém em menor grau de significância do que os outros aspectos que estão relacionados ao consumo do serviço da escola de futebol. Importante destacar que na fase 2 (busca por informações) não foi possível evidenciar com maior clareza se o valor da marca influenciava ou não, pois as informações que os entrevistados receberam, em maior parte, vieram da indicação positiva de terceiros sobre a qualidade do serviço não estando relacionado diretamente com o valor da marca. Pode se destacar que a notoriedade da marca é a principal dimensão capaz de influenciar a decisão do consumidor pela utilização do serviço da escola de futebol. Fica evidente também que a lealdade à marca é a essência para manter os consumidores, efetivamente, consumindo, por isso para as escolas devem focar as suas ações de marketing voltadas a criar a lealdade a marca em seus consumidores. Um dos aspectos que se destacou em relação aos outros foi à qualidade do serviço. O fato de a qualidade do serviço ter surgido com maior grau de significância em detrimento do valor da marca pode ter ocorrido pelo fato de se ter analisado apenas o valor marca sem conexão com a qualidade do serviço. Os resultados apresentados neste estudo possibilitam o entendimento do valor da marca de um clube numa escola franqueada como ferramenta importante na aquisição e retenção de consumidores nas escolas. Entender o valor da marca de um clube sobre o comportamento do consumidor de escolas de futebol pode contribuir ainda para que empresários do ramo se decidam em investir ou em adquirir uma franquia ou continuar sem vínculo com um clube de futebol. Como limitação deste estudo pode-se indicar a análise de apenas uma escola entre as 110 unidades que são franqueadas do Corinthians, bem como a não generalização para outros clubes, principalmente por se tratar da marca mais valiosa do mercado e de considerável tradição. Outra limitação é a escolha de um grupo heterogêneo de entrevistados. Outros estudos podem focar em escolher grupos mais homogêneos podendo aprofundar mais ainda a percepção destes sujeitos em relação a influência do valor da marca no comportamento de consumo. Sugere-se para estudos futuros que se analisem a qualidade do serviço como componente ou mediador da construção do valor da marca baseado no consumidor. Sugere-se também que se analisem quais outros fatores influenciam no comportamento do consumidor de escolas de futebol, tais como: preço, praça, promoção, desejo de se tornar jogador de futebol profissional e outros serviços agregados ao ensino do futebol. 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Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 306 Gestão da informação sobre políticas públicas de esporte: incidência temática em pesquisas acadêmicas Tiago Dias Provenzano (Unesp - Rio Claro) [email protected] Gisele Maria Schwartz (Unesp - Rio Claro) Nara Heloisa Rodrigues (Unesp - Rio Claro) Giselle Helena Tavares (Unesp - Rio Claro) Resumo O presente estudo, de natureza qualitativa, é centrado na gestão da informação sobre Políticas Públicas de Esporte e tem como objetivo investigar a incidência da temática referente a Políticas Públicas de Esporte em pesquisas acadêmicas. Para tanto, o estudo constou de pesquisa bibliográfica a respeito do tema, bem como de pesquisa exploratória desenvolvida no Portal de Periódicos CAPES, no qual os estudos foram analisados com base na Técnica de Análise de Conteúdo Temático, agrupados em três eixos temáticos: 1- Impacto Científico, 2- Abordagens metodológicas e 3- Temáticas abordadas. Os resultados do Eixo 1 mostram que os artigos analisados foram publicados predominantemente em 3 periódicos com qualis A2 e B1 na área 21- Educação Física. Quanto ao Eixo 2, todos os artigos apresentaram natureza qualitativa, sendo utilizado o método descritivo de análise. Os artigos utilizaram, sobretudo, pesquisas bibliográfica, documental e de campo, sendo a entrevista o instrumento mais utilizado. No Eixo 3, as temáticas mais abordadas foram as referentes à avaliação de políticas públicas e de programas de esporte e lazer e discussões teóricas envolvendo a temática. Outros temas abordados com menor incidência foram: atuação profissional em políticas públicas e participação da sociedade na implementação de programas esportivos. Os resultados evidenciaram, com base no reduzido número de estudos acadêmicos encontrados, pouca atenção para esta relevante temática, e a necessidade de novos enfoques no sentido de se compreender como ocorre a gestão de informações sobre políticas públicas direcionadas ao esporte. Palavras-chave: gestão, esporte, políticas públicas Abstract This qualitative study focuses on information management in academic research regarding Public Policies for Sport. The objective was investigating the theme`s incidence on academic research. The study consisted of literature review on the subject, as well as of exploratory Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 307 research, which was developed at CAPES Journals Portal, where the studies were analyzed based on Thematic Content Analysis Technique and pooled by 3 thematic axes: 1- Scientific Impact, 2- Methodological Approach and 3- Studies’ Themes. The results of the 1st axe indicate that the articles were published predominantly on 3 journals, with QUALIS A2 and B1 at field 21- Physical Education. The 2nd axe’s results show that all articles were of a qualitative nature with descriptive analysis methods. The articles used primarily field, documental and bibliographic research. The most common instrument was interviews. Regarding the 3 rd axe, the most common themes were evaluation of public policies and sport and leisure programs, and theoretical discussions regarding the Public Policies for Sport. Professional actuation on public politics and the society participation on the implementation of sport programs were also themes observed, but with less incidence. The small number of research found shows that little attention is given to this relevant field. There is also the need for new research focuses, in order to understand how the information management for public policies for sport happens. Keywords: public policy, sports, information management Introdução A formulação de novas e eficientes políticas públicas tem gerado a necessidade de revigorar o campo da gestão da informação. Utilizar a tecnologia de informação como um elemento de suporte no campo das políticas públicas parece ser uma tendência mundial atual. Este processo envolve, sobretudo, novos direcionamentos, metodologias e estratégias capazes de aprimorar e agilizar os processos de comunicação, embasando reflexões e debates entre os representantes governamentais e os próprios cidadãos. Todo o conhecimento produzido academicamente nem sempre é devidamente aproveitado pelos governantes, quando da formulação de políticas públicas no campo do esporte. Com esta limitação, alguns aspectos que já poderiam ser superados, ainda perduram. Entre eles, podem-se notar aqueles envolvendo a centralização dos processos decisórios e a falta de democratização do conhecimento, em que o cidadão nem sempre se percebe como protagonista de sua própria sociedade. Sendo assim, torna-se premente tomar em consideração as vantagens promovidas pela gestão da informação sobre o que é produzido academicamente a respeito da temática Políticas Públicas de Esporte, no sentido de se conhecer o estado da arte desta temática, além de se poder ter um panorama mais concreto sobre a área em questão. Com base nesta perspectiva, poderão surgir possíveis encaminhamentos para a democratização do conhecimento e fomentar novos direcionamentos neste âmbito da gestão e de políticas públicas do esporte. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 308 Revisão de literatura O processo de elaboração de políticas públicas está centrado em uma gama de aspectos, que, conforme salientam Starepravo, Souza e Marchi Junior (2011, p. 233), são desenvolvidos “[...] num espaço social específico, que comporta disputas, relações, alianças, decisões estratégicas e também não planejadas”. Para esses autores, as políticas públicas representam apenas a ponta de um iceberg, o qual se mostra muito mais profundo, haja vista que contempla inúmeros campos de força. Ainda de acordo com esses autores, a compreensão sobre as nuances que circundam a formulação de políticas públicas é complexa e, não raro, limitada. Além disso, deve ser evidenciado que a situação que se vive no país atualmente é a de constantes alterações sazonais ocorridas nos processos de expansão das políticas de esporte, que, por sua vez, reiteram essa complexidade. Esta situação ocupa quadro de destaque no cenário gestor brasileiro, devido aos mega eventos esportivos que aconteceram nos últimos anos e ainda vão ocorrer nos próximos, como a Copa do Mundo, os Jogos Olímpicos, além de eventos de modalidades esportivas específicas de nível internacional. Diante deste fato, Bueno (2008) afirma que grande parte da população brasileira, que passa, então, a voltar atenção a estes eventos, passa a despertar maior interesse à necessidade, à importância e aos direitos como cidadãos, de serem incluídos em diferentes práticas esportivas. Assim como existe o interesse atual do país e da população pelo esporte, as publicações em âmbito acadêmico referentes às políticas públicas direcionadas ao esporte se intensificaram nos últimos anos. Segundo Amaral, Ribeiro e Silva (2014), o crescimento da produção científica especializada em políticas públicas voltadas ao esporte foi, possivelmente, influenciado pelo início da concretização do direito à prática esportiva e ao lazer, já presentes na Constituição de 1988, bem como a aproximação de pesquisadores da área com o setor público. As autoras supracitadas ainda destacam que a criação do Ministério do Esporte, em 2003 e, consequentemente, a elaboração de diversas ações e projetos que apoiavam o desenvolvimento de pesquisas acerca do desenvolvimento do esporte e do lazer, puderam impulsionar o incentivo a esta área de pesquisa. Especificamente sobre este assunto, a criação das Redes CENESP e CEDES pode representar incentivos quantitativos e qualitativos para o desenvolvimento deste campo de pesquisa, apesar de terem perspectivas diferentes dentro do campo do esporte. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 309 A Rede CENESP foi criada em 1998, com o objetivo de financiar pesquisas na área do esporte e aperfeiçoamento de atletas, em parceria com IES – Instituições de Ensino Superior públicas e privadas em todo país, nas quais, a partir destes financiamentos, foram criados os Centros de Excelência Esportiva. Estes financiamentos visavam o desenvolvimento, aplicação e transferência de métodos e tecnologias inseridas na capacitação de recursos humanos e avaliação de atletas nas diferentes manifestações esportivas, no sentido de contribuir com as políticas esportivas no país (Brasil, 2014a). Já a Rede CEDES - Centros de Desenvolvimento do Esporte Recreativo e do Lazer foi criada, em 2003, com o intuito de financiar pesquisas relacionadas com o campo do esporte recreativo e lazer, buscando, por intermédio deste financiamento de pesquisas, fomentar a elaboração de Políticas Públicas na área, a partir da aproximação entre os subcampos políticos e acadêmicos (Brasil, 2014b). A Rede CEDES passou por diferentes momentos, sendo inicialmente caracterizada pelo apoio a Núcleos e Grupos de pesquisas que desenvolviam estudos relacionados ao esporte recreativo a ao lazer, e, posteriormente, por financiamento de pesquisas via edital público, realizado pelo próprio Ministério do Esporte. Atualmente, a Rede CEDES se configura pela colaboração do Ministério do Esporte e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), na chamada ME/CNPq n.091/2013, na qual três linhas de pesquisa foram apoiadas pela Rede CEDES. Estas ações realizadas pelo Ministério do Esporte sinalizam um importante espaço das pesquisas acadêmicas no campo das organizações públicas. Esta condição se deve à necessidade de se socializar as práticas realizadas na gestão pública. Os diálogos entre o governo e a Universidade vêm sendo entendidos como uma possibilidade para a maior democratização do conhecimento, bem como um avanço na conscientização da população, a partir do acesso à informação e ao conhecimento. Sendo assim, todas as iniciativas que favoreçam novos desdobramentos e reflexões para incrementar esse campo de tensões podem representar avanços importantes. Uma das perspectivas para ampliar as possibilidades de avanços no campo das políticas públicas é a utilização da gestão da informação. Segundo Schwartz et al. (2014) a gestão da informação no âmbito das políticas públicas pode tornar-se um eficiente diferencial dialético. Estes autores explicam que uma eficiente gestão pode contribuir para o aprimoramento dos estudos neste campo de pesquisa e, ainda, subsidiar a elaboração de novos estudos ao investigar os principais procedimentos metodológicos utilizados e o referencial teórico, bem como subsidiar os principais objetivos a Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 310 serem atingidos. Estas ações podem ter repercussões representativas na formulação de novas ações em Políticas Públicas. Um dos grandes desafios a serem vencidos neste sentido é de que forma os estudos e investigações sobre políticas públicas podem, efetivamente, contribuir na prática para a elaboração de novas ações. Sendo assim, torna-se relevante a realização deste estudo, no sentido de compilar as informações dos estudos publicados sobre políticas públicas de esporte nos últimos anos, buscando traçar relações e apontamentos que sinalizem, ou não, uma aproximação do campo teórico com o campo prático, no intuito de contribuir para ampliar as reflexões e os desdobramentos relativos à temática em apreço. Objetivo Este estudo teve como objetivo investigar a incidência da temática referente a Políticas Públicas de Esporte em pesquisas acadêmicas disponíveis no banco de dados do Portal de Periódicos CAPES/MEC. Método Este estudo utilizou o método qualitativo, por entender que esta perspectiva favorece a compreensão do universo pesquisado (Richardson et al., 2008). As pesquisas realizadas com este método permitem uma compreensão mais detalhada de aspectos situacionais e características de um fenômeno (Richardson et al., 2008). O estudo constou de pesquisa bibliográfica a respeito do tema, bem como de pesquisa exploratória. Para a pesquisa bibliográfica foram levadas em consideração as fontes referenciais que abordavam as temáticas Gestão da Informação e Políticas Púbicas de Esporte, entre livros e artigos publicados na íntegra. A pesquisa exploratória foi desenvolvida no Portal de Periódicos CAPES, durante o mês de outubro de 2014, sem limitar um período para a publicação das pesquisas. Como critério de inclusão, foram estabelecidos para seleção apenas artigos na íntegra em português. Para a realização da coleta de dados online, foi selecionada a opção de busca “Busca Avançada”, na qual foram utilizados os termos de busca "políticas públicas" e "esporte". Para o primeiro termo, foi escolhido, dentre as opções fornecidas no site, o filtro "no assunto" e "é (exato)", visto que a palavra composta (políticas públicas) gerava os resultados pretendidos apenas com a escolha desta opção. Para o segundo termo (esporte), optou-se pela utilização dos filtros "qualquer" e "contém". Deste modo, como critérios de inclusão amostral, foram selecionados apenas os artigos e os trabalhos que faziam referência às temáticas pretendidas. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 311 A busca no Portal gerou um resultado de 22 trabalhos. Todavia, um artigo foi retirado da amostra, visto que o mesmo era referente a um resumo expandido e, portanto, não se enquadrava nos critérios de inclusão, por não ser artigo completo. Sendo assim, a mostra final foi composta por 21 artigos completos. Os dados coletados foram agrupados em indicadores e analisados com base na Técnica de Análise de Conteúdo Temático, assim como propõe Bardin (2010), visando compreender as tendências das temáticas abarcadas neste estudo. Esta técnica enfatiza os aspectos mais importantes da pesquisa e prevê o cumprimento das etapas de préanálise, análise do material e tratamento do resultado, no qual são estabelecidos para isso, eixos temáticos norteadores. Resultados e discussão Após a coleta no Portal, foi encontrado um total de 21 artigos completos, que atenderam aos critérios de inclusão deste estudo. Deste modo, os dados coletados foram categorizados em 3 eixos temáticos: 1) Impacto Científico; 2) Temáticas Abordadas; 3) Abordagens Metodológicas. Essa categorização foi estabelecida a posteriori, como propõe Bardin (2010), a partir da recorrência dos dados. EIXO 1 - Impacto Científico No eixo sobre Impacto científico foram analisados revistas e estrato de periódicos mais incidentes, a partir da busca realizada. Os dados descritos neste eixo estão representados na Tabela 1 a seguir: Tabela 1. Representação do impacto científico dos artigos analisados. AUTOR ANO DE PUBLICAÇÃO INSTITUIÇÃO DO PRIMEIRO AUTOR Universidade Estácio de Sá 1 Vianna, J.A., & Lovisolo, H.R. 2011 2 Starepravo, F.A., Souza, J., & Marchi Jr, W. Melo, M.P. 2012 Universidade Estadual de Maringá 2005 UNIABEU Areias, K.T.V., & Borges, C.N.F. Werle, V., & Saraiva, M.C.O. Starepravo, F.A., Reis, L.J.A., 2011 Universidade Federal do Espírito Santo Universidade Federal de Santa Catarina Universidade Estadual de Maringá 3 4 5 6 2013 2014 Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 REVISTA/ PERIÓDICO Rev. bras. Educ. Fís. Esporte ESTRATO QUALISCAPES B1 Rev. bras. Educ. Fís. Esporte B1 Movimento A2 Rev. Bras. Ciênc. Esporte B1 Movimento A2 Movimento A2 312 7 8 9 10 11 12 13 14 15 Cavichiolli, F.R, & Marchi Jr, W. Righi. M., Marin, E.C., & Souza, M.S. Tavares, G.H., & Schwartz, G.M. Menezes, V.G., Oliveira, A.M., & Souza, E.F. Mascarenhas, F. Borges, C.N.F., & Tonini, G.T. Costa, J.M., Mascarenhas, F., & Wiggers, I.D. Almeida, N.T., & Silva, D.A.M. Mendes, A.D., & Azevêdo, P.H. 2012 Universidade Federal de Santa Maria Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" – UNESP Universidade Federal de Pernambuco Universidade de Brasília Universidade Federal do Espírito Santo Universidade Federal de Goiás Rev. Bras. Ciênc. Esporte B1 Movimento A2 Rev. bras. Educ. Fís. Esporte B1 Movimento A2 Rev. Bras. Ciênc. Esporte B1 Motriz A2 2012 Faculdade de Americana – FAM Motriz A2 2010 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília Universidade Estadual de Maringá Rev. Bras. Ciênc. Esporte B1 Rev. Bras. Ciênc. Esporte B1 Movimento A2 Ciência & Saúde Coletiva B1 Cadernos EBAPE. BR n/a* Motriz A2 PODIUM: Sport, Leisure and Tourism Review B4 Movimento A2 2013 2012 2012 2012 2011 Starepravo, F.A., Souza, J., & Marchi Jr, W. Starepravo, F.A., Souza, J., & Marchi Jr, W. 2013 2011 Universidade Estadual de Maringá 17 Ferreira, M., & Najar, A.L. 2005 18 Alcântara, B.C.S. 2007 19 Werle, V. 2010 20 Tavares, G.H., Schwartz, G.M., Figueiredo, J.P., & Palhares, M.F.S. Gawryszewski, B. 2012 Universidade Estadual do Rio de Janeiro Universidade Federal de Pernambuco Universidade Federal de Santa Catarina Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" – UNESP 16 21 2006 Universidade Federal do Rio de Janeiro * Períodico não possui classificação no sistema Qualis-Capes. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 313 Os artigos encontrados foram publicados principalmente nos seguintes periódicos: Revista Movimento, com 7 artigos, seguidos da Revista Brasileira de Ciências do Esporte com 5 artigos e Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, com 3 artigos publicados. Estas revistas possuem qualis A2, B1 e B1, respectivamente. Este resultado corrobora os dados apresentados por Amaral e Pereira (2009), cujo estudo apresentou maior incidência de publicações sobre políticas públicas nas revistas Movimento, Revista Brasileira de Ciências do Esporte e Motrivivência. Apesar desta temática ser bastante aceita no periódico Motrivivência, não foi possível localizar, por meio da ferramenta de busca utilizada para este artigo, os trabalhos publicados nesta revista. Possivelmente, este dado pode ser justificado por uma limitação da plataforma de busca de informações utilizada, ou do período da busca realizada em ambos os estudos. O estudo realizado por Tavares (2013) apresenta uma listagem de revistas que conta com o apoio financeiro da Rede CEDES. Entre elas, a Revista Movimento e Revista Brasileira de Ciências do Esporte, A partir dos resultados deste estudo, é possível afirmar que o apoio dado a estas revistas pode ser um fator incentivador para que as mesmas atendam a esta demanda temática crescente nos últimos anos dentro do campo de estudos da Educação Física e do Esporte. Outro aspecto destacado foi o fato de a primeira ocorrência da temática ter se dado no ano de 2005. Este dado pode ser justificado pela recente história dos estudos sobre Políticas Públicas no Brasil, e, além disso, pela inclusão de artigos que somente estivessem disponíveis online. Esta é uma limitação que deve ser considerada, pois a maioria dos periódicos que publicam esta temática foi inserida em bases de dados online apenas nos últimos dez anos. De acordo com o estudo publicado por Amaral, Ribeiro e Silva (2014), é recente a produção de conhecimento na área de Políticas Públicas de esporte, que teve como marco temporal a publicação do livro “Política de Esporte no Brasil”, em 1986, por Eduardo Dias Manhães. Para estes autores, esta publicação pode ter sido impulsionadora para a realização de outras pesquisas nesta área de estudo. Em termos de contextualização mundial, os estudos sobre Políticas Públicas se iniciaram a partir da década de 50 nos Estados Unidos e da década de 70 na Europa (Frey, 2000). EIXO 2 - Abordagens metodológicas Os resultados encontrados no Eixo 2 foram esboçados de acordo com a caracterização da pesquisa proposta por Gil (2008) e estão descritos na Tabela 2 a seguir. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 314 Tabela 2. Caracterização da pesquisa abordada nos artigos amostrais. CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA CATEGORIA INCIDÊNCIAS Abordagem Qualitativa 21 Objetivos Descritivo Exploratório Procedimentos Instrumento 18 9 Pesquisa Bibliográfica 11 Estudo de Campo 10 Pesquisa Documental 10 Entrevista 9 Observação 1 Diário de Campo 1 Todos os estudos analisados apresentavam abordagem qualitativa. Sobre estes aspectos, Richardson et al., (2008) evidencia que a opção da utilização deste método é adequada quando se pretende compreender a essência de um fenômeno social, como é o caso dos estudos selecionados que se propuseram a analisar políticas públicas em diferentes contextos, incluindo o segmento acadêmico, a comunidade, os gestores e a compreensão de modo geral deste evento. Os artigos selecionados também apresentaram estudos majoritariamente descritivos e pesquisas exploratórias. Sendo que, em 5 deles, foram utilizados ambos os tipos (descritivo e exploratório). Frey (2000), em estudo realizado sobre um debate conceitual e reflexões referentes à prática da análise de Políticas Públicas no Brasil, constatou que a maioria dos estudos relacionados a esta temática era do tipo descritivo. Estes resultados corroboram os dados apresentados no presente estudo, em que 18 artigos foram caracterizados como descritivos. Os procedimentos utilizados nos estudos pesquisados apontaram três diferentes enfoques: a pesquisa bibliográfica, o estudo de campo e a pesquisa documental. Dentre os artigos que desenvolveram pesquisa de campo, foi evidenciada a utilização da entrevista como instrumento de coleta e, em apenas 2 artigos, os autores optaram pela observação e diário de campo. No estudo de Werle (2002), o autor ao realiza uma análise da atuação e tomada de decisões de funcionários técnico-administrativos em Políticas Públicas de Esporte e Lazer de uma cidade do Rio Grande do Sul. Para isso os autores realizaram uma análise de documentos Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 315 da Secretaria de Esporte e Lazer do município, além da entrevistas semi-estruturadas, e também o diário de campo. Diferentemente Costa, Mascarenhas e Wiggers (2011) se proporem a analisar e documentar as ações do Programa Escola Aberta em uma escola publica do Distrito Federal e, para isso, utilizam-se de análise documental juntamente com observação de campo, que segundo os autores garantiu uma visão mais realista das atividades desenvolvidas dentro do programa. A utilização da pesquisa documental se deve ao fato de que em grande parte dos artigos analisados, os respectivos autores se propuseram a analisar projetos específicos que, geralmente, quando financiados pelo Ministério do Esporte necessitam de relatórios parciais e finais, justificando a análise documental de tais arquivos, quanto à funcionalidade, efetividade e resultados destes projetos. O mesmo pode ser dito pela utilização de entrevistas em pesquisa de campo, principal instrumento aplicado nos artigos analisados. Entrevistas estas realizadas com responsáveis ou gestores de determinadas cidades ou projetos/eventos. EIXO 3 - Temáticas abordadas No eixo 3 - temáticas abordadas, notaram-se 4 temas incidentes, como demonstrado na Tabela 3 a seguir: Tabela 3. Temáticas abordadas nos artigos e incidência nos artigos. TEMÁTICAS ABORDADAS NOS ARTIGOS Avaliação de políticas e Programas de esporte e lazer NÚMERO DE INCIDÊNCIAS 9 Politicas públicas e perspectivas teóricas 7 Políticas públicas e atuação profissional 4 Participação cidadã no processo de efetivação de políticas públicas de esporte 1 Pode-se perceber que a avaliação de políticas públicas e programas de esporte e lazer é um tema de grande incidência dentre os estudos produzidos e pesquisados. Isto pode ser justificado pelo interesse crescente de participação dos estudiosos dos centros de pesquisas no país nas decisões acerca das ações em políticas públicas. Frey (2000) afirma que as pesquisas realizadas sobre Políticas Públicas têm como predominância a análise de estruturas e instituições e análises de políticas setoriais específicas. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 316 Este dado não corresponde aos resultados encontrados no estudo realizado por Tavares e Schwartz (2013), ao avaliar o foco das análises das produções científicas oriundas dos financiamentos da Rede CEDES. Neste estudo, foi encontrada uma baixa incidência de pesquisas que abordavam a avaliação de políticas específicas e um maior número de estudos que buscavam compreender o Sistema público que sustenta as questões do esporte e do lazer. Diferentemente, no presente estudo, o maior número de artigos pautou-se na avaliação de programas e projetos, como, por exemplo, o PELC, Rede CEDES, entre outros. Com relação às temáticas, Santos, Batista e Araújo (2007) também desenvolveram estudo a este respeito. Ao analisarem os estudos publicados no GTT de Políticas Públicas do CBCE, esses autores mostraram, do mesmo modo que no presente estudo, uma recorrência de estudos que analisam e avaliam programas e projetos de educação física, esporte e lazer; relatos de experiência de programas e projetos em educação física, esporte e lazer; estudos sobre concepções e/ou teorias que embasam o campo da política pública para educação física, esporte e lazer. A criticidade é direta e proporcionalmente relacionada à percepção dos entraves existentes nos processos de ação política, assim como no interesse dos pesquisadores de apontarem novas reflexões para potencialização das perspectivas de superação de desafios. Para Souza (2006), todas as ações desenvolvidas no campo das políticas pelo governo são passíveis de serem formuladas com apoio do pressuposto analítico e do olhar científico, sobretudo em democracias mais estáveis. Sendo assim, isto justifica, também, o interesse dos pesquisadores sobre esta temática envolvendo a análise de políticas públicas de esporte, conforme apontado nos dados deste estudo. Essas iniciativas de amplificar a participação de estudiosos no campo das políticas públicas são revigoradas pelo conhecimento produzido, que se faz cada vez mais presente, a exemplo da crescente participação de pesquisadores nos editais de apoio a pesquisas, promovidos pela Rede CEDES, do Ministério do Esporte (Schwartz et al., 2014). Outro ponto de interesse notado nos artigos pesquisados foi referente às perspectivas teóricas envolvendo as políticas públicas. Por ser um tema bastante complexo, tanto na questão epistêmica, quanto nas ações propriamente ditas, o próprio termo política pública de esporte recebe conotação ampliada, haja vista que este deriva de prismas diferenciados, despertando, inclusive, o interesse dos pesquisadores, conforme o dado deste estudo salientou. Há tempos que os pesquisadores procuram compreender a amplitude do termo e das perspectivas teóricas envolvendo as políticas públicas de esporte. No que concerne ao termo em si, para Peters (1986), as políticas se referem a um conjunto de intervenções governamentais Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 317 capazes de provocar determinados efeitos previamente planejados. O autor também ressalta que uma somatória de todas as atividades governamentais que influenciam a qualidade de vida dos cidadãos também pode ser encarada como política pública. Muitas dessas e de outras definições sobre Políticas Públicas, entretanto, deixam de considerar a essência da Política, que está voltada ao embate em torno das ideias e interesses e de cooperação com as instituições e pesquisadores e outros grupos sociais (Souza, 2003). Isto impacta sensivelmente a qualidade das formulações de mudanças de ações, haja vista que perde parte de sua essência e inibe avanços teóricos e empíricos. Sendo assim, de nada adianta ter-se um corpo de conhecimento sendo produzido, se este não puder ser levado em consideração pelos órgãos governamentais, no sentido de dar um salto qualitativo em suas ações. Para tanto, um dos desafios mais intensos a serem vencidos é o da gestão da informação e de como esse conhecimento pode ser efetivamente aproveitado para qualificar as políticas públicas e imprimir avanços no campo do esporte. Outro aspecto importante, elencado como temática nos estudos pesquisados, foi o referente à atuação do profissional no campo do esporte e sua relação com as políticas públicas. O campo de formação em gestão do esporte e políticas públicas de esporte é relativamente recente no Brasil. Conforme evidencia Bastos (2003), no Brasil, uma das iniciativas neste sentido, marcada pela demanda de mercado neste campo, foi a realização de um curso de especialização em Administração Esportiva, na USP, no ano de 1978. Conforme a autora, a partir deste momento, houve um crescimento na oferta de cursos e disciplinas que evocavam a formação na área de administração e gestão no esporte. Conquanto já existam iniciativas de organização e oferecimento de cursos de formação, não há, ainda, uma análise sobre o impacto desses cursos, bem como uma avaliação da qualidade das informações produzidas. Estes representam alguns dos desafios a serem superados para suprir possíveis falhas no preparo de gestores no esporte (Soucie, 1994) e, consequentemente, para dar maior credibilidade ao campo de estudos e ao próprio profissional atuante neste setor. Outro aspecto destacado nos resultados foram os estudos envolvendo a participação cidadã no processo de efetivação de políticas públicas de esporte. As possibilidades e tendências de participação social neste âmbito parecem ser ainda restritas. Conforme Gohn (2004), o protagonismo social nesta esfera não substitui o poder do Estado, mas revigora novas tendências para se amplificarem as possibilidades de imprimir mais qualidade ao setor. Essa autora salienta que os hábitos que circundam o protagonismo social derivam de valores como reciprocidade e espírito colaborativo. Entretanto, há que se levar em Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 318 consideração, inclusive, os entraves que partem de ranços ainda estabelecidos nas políticas, no sentido de desfavorecer e negligenciar a participação cidadã. Certamente, esses entraves começam a ser discutidos pelos pesquisadores, com o intuito de imprimir novas reflexões, almejando avanços na área. Novos empoderamentos devem entrar em foco, estimulando redes associativas, assim como novos perfis de gestores. Entretanto, deve-se ter em mente que, para que a política pública efetivamente absorva o protagonismo social, torna-se necessário que estas não sejam baseadas em ditames apenas compensatórios. Mas, sobretudo, devem atuar em defesa da cidadania, como imperativo prioritário. Todas essas temáticas elencadas nos estudos advindos desta pesquisa reiteram o interesse dos acadêmicos em se tornarem atores sociais e contribuírem para dinamizar as ações em políticas públicas e na gestão no esporte. Para que se efetive esta participação são necessários avanços nos modelos de política e gestão do esporte, no sentido de viabilizar a gestão das informações produzidas em âmbito acadêmico, assim como a disseminação das ideias geradas no interior dos centros de pesquisa, almejando embasar e redimensionar as ações já existentes. Conclusões Uma das características da sociedade da informação na qual se vive atualmente é a de co-responsabilidade na geração e disseminação de conhecimentos em todos os setores da vida humana. Esse compromisso mútuo denota a participação de todos os atores sociais, no sentido de subsidiar a emergência de novas tomadas de decisão (Silva Ferreira, 2003). No campo da gestão no esporte, a valorização da contribuição das pesquisas e estudos realizados sobre a temática pode auxiliar a imprimir maior credibilidade para a área, bem como possibilitar novos avanços. A informação, no âmbito das políticas públicas e da gestão do esporte, pode promover maior condição de credibilidade, assim como de redução de incertezas, revigorando a eficácia das ações políticas. Entretanto, é preciso vencer certa descrença ainda existente no âmbito das políticas públicas, acerca da importância desse viés da informação para a melhoria das ações. Outro ponto também nevrálgico neste contexto é a própria descrença do setor do Estado para com a produção acadêmica. As informações produzidas por pesquisadores acerca de análises de políticas públicas poderiam favorecer novas investidas para solucionar os desafios que permeiam esta área. Além disto, torna-se premente que o Estado promova apoio financeiro Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 319 para o desenvolvimento desses estudos. Estas iniciativas poderiam reverter em processos mais eficientes, capazes de aprimorar a qualidade de vida dos cidadãos. Torna-se premente que o Estado encare a informação como uma estratégia de gestão, conforme evidenciou Silva Ferreira (2003), capaz de incrementar o desenvolvimento das políticas. Somar esforços entre os atores sociais, no sentido de qualificar as políticas públicas, requer novo olhar e consideração para as críticas e sugestões advindas, inclusive, de estudos acadêmicos produzidos com base nas análises dessas políticas. Este seria um modo coerente de promover avanços em ambos os polos, nas instituições e no próprio Estado. Sendo assim, há necessidade de um comprometimento do Estado em relação à superação de entraves, para que se tenha mais qualidade nas ações e nas propostas em políticas públicas de esporte. A gestão da informação permite a contextualização e processamento de dados, imprimindo avanço nas estratégias para se atingir o máximo proveito em determinada tarefa, socializando o saber. Para tanto, a valorização das ferramentas de gestão da informação são também, decisivas, ampliando as possibilidades de imprimir desenvolvimentos sociais importantes (Ruiz, Pérez, Hernández, Mir , & Piñero, 2005) e ampliando o aprofundamento das reflexões produzidas neste campo do conhecimento. Para a realização de pesquisas semelhantes a esta, evidenciam-se, porém, algumas limitações. Uma destas limitações é a inconsistência da base de dados do Portal de Periódicos Capes, haja vista que outros portais de pesquisa podem apresentar resultados discrepantes em relação a estes ali produzidos. A gestão da informação sobre essa produção acadêmica parece não ser ainda eficiente, limitando novas pesquisas, sendo relevante que esse processo seja revisto e atualizado, com o intuito de subsidiar os pesquisadores. Outra limitação do portal foi que, apesar de ter sido escolhida a opção de filtro “artigos”, a busca gerou como resultado um resumo expandido, o qual acabou excluído do quadro amostral da atual pesquisa. Sugerem-se novos estudos que possam subsidiar a compreensão efetiva do modo como vem sendo organizadas as informações acerca da proposta do esporte em âmbito local, regional e federal, bem como a ampliação de enfoque sobre gestão e políticas públicas de esporte, no sentido de implementar a compreensão sobre o estado da arte dessas importantes temáticas. Referências bibliográficas Amaral, S. C. F., Ribeiro, O. C. F., & Silva, D. S. (2014). Produção científico-acadêmica em políticas públicas de esporte e lazer no brasil. Motrivivência, 26(42), 27-40. doi: 10.5007/2175-8042.2014v26n42p27 Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 320 Amaral, S. C. F., & Pereira, A. P. C. (2009). Reflexões sobre a produção em políticas públicas de educação física, esporte e lazer. 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Utilizou-se de entrevistas semiestruturadas que posteriormente tiveram seus conteúdos analisados e categorizados. Os resultados obtidos demonstram que os fatores que mais influenciam na decisão dos pais em matricular seus filhos no esporte extracurricular estão relacionados com o bem estar, confiança na instituição e conveniência. Do contrário, os principais fatores que levam ao abandono das práticas são os preços, excesso de tarefas feitas pelos alunos, horários não convenientes e enfermidades. Palavras-chave: Esporte Extracurricular; Serviços Educacionais; Processo decisório. Abstract One of the bundled services offered by private educational institutions is the extracurricular sport. However, for the continuity of this service, it is necessary to identify the factors that lead consumers to join and stay in extracurricular sports. When private institutions of elementary education invest in this type of service, it can add value to the organization and also enable competitive advantage in the educational market. This market has been growing a lot lately. The purpose of this article was to identify the main factors that influence the consumption of extracurricular sport as a service from the point of view of parents and guardians. We used semi-structured interviews that later had their contents analyzed and categorized. The results show that the factors that most influence the decision of parents to enroll their children in extracurricular sports are related to well-being, confidence in the institution and convenience. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 325 Otherwise, the main factors that lead to the abandonment of practices are prices, excess work done by students, not convenient schedules and illnesses. Keywords: Extracurricular Sport; Educational Services; Decision making. Introdução A educação brasileira passou por grandes transformações nas últimas décadas, sendo que uma das principais consequências foi a ampliação significativa do número de pessoas que têm acesso à educação de nível básico. Além da maior oferta do setor público, houve um grande aumento de escolas privadas no Brasil, como evidenciado por Schwartzman (1993). No passado uma parte significativa do ensino privado era proporcionada por instituições de cunho religioso, que sempre buscaram ser reconhecidas como de natureza comunitária. Hoje, a expansão de instituições educacionais privadas se deve dentre outros motivos às conjunturas econômicas do país nos últimos 20 anos, onde o setor educacional passou a ser um segmento de oportunidades empresariais, já que consumidores da nova classe “C”, além dos das classes “A” e “B”, buscam uma educação diferenciada para os seus filhos. O ensino educacional privado é considerado um serviço. Serviços existem a partir de uma demanda existente em uma sociedade de consumo e são considerados atividades que envolvem a interação entre consumidores e empresas (Grönroos, 2009). Devido ao crescimento das instituições educacionais privadas, tornou-se necessário obter vantagem competitiva nesse mercado. Assim, além da oferta do serviço educacional, muitas escolas particulares oferecem uma série de serviços agregados. A prática do esporte extracurricular é uma das ações que grande maioria de escolas privadas realiza, com o objetivo de oferecer aos seus consumidores um serviço agregado. Sob outro ponto de vista, o esporte em horários opcionais pode gerar uma receita extra para a instituição e diferenciá-las das demais por ofertar um atrativo, podendo render para a instituição educacional diferentes estigmas positivos de sua marca (Rein, Kotler, & Shields, 2008). De acordo com Veloso et al (2010), o esporte proporciona ao indivíduo valores positivos que provavelmente permanecerão por toda sua vida. Por essas razões, a prática esportiva extracurricular talvez seja um dos serviços agregados mais comuns e oferecidos pelas escolas particulares de educação básica no Brasil. Entretanto, pouco se sabe sobre o processo decisório para a adesão neste serviço, assim como não há um número considerável de pesquisas e informações sobre os motivos que levam aos consumidores se inscreverem no esporte extracurricular. Assim, Quais fatores determinantes levam ao consumo do esporte extracurricular, considerado como serviço oferecido pela instituição de ensino privado? Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 326 Desta forma, o objetivo deste trabalho foi identificar quais são os principais fatores que influenciam no consumo e também o abandono do esporte extracurricular enquanto serviço. Este estudo se enquadrou metodologicamente como exploratório (Malhotra, 2011). Através da opinião dos pais, analisaram-se os principais motivos por terem matriculado seus filhos nestas atividades. Para isso, foi utilizado como método a Análise de Conteúdo de entrevistas semiestruturadas. Os resultados evidenciaram um conjunto de motivos que influenciam na decisão dos pais em matricular seus filhos no esporte extracurricular, que foram agrupados em três categorias. Já com relação ao abandono, quatro categorias foram estabelecidas. A partir dos resultados, apresenta-se um modelo de relacionamento entre consumidor e o esporte extracurricular, como poderá ser visto no decorre do texto a seguir. Problema de pesquisa e objetivo O problema de pesquisa parte do fato de que o processo decisório pelo consumo de serviços educacionais como o esporte extracurricular pode ter inúmeros fatores influenciadores, porém as necessidades pessoais podem ser comuns e devem ser analisadas e valorizadas pela instituição que o oferece. Assim, “Quais fatores determinantes levam os pais a decidirem pelo consumo do esporte extracurricular, considerado como serviço oferecido pela instituição de ensino onde os filhos já estudam?” Desta forma, o objetivo deste trabalho foi identificar quais são os principais fatores que influenciam no consumo do esporte extracurricular enquanto serviço. Revisão bibliográfica Serviços e Processo Decisório Os serviços são atividades de natureza intangível que ocorrem das inter-relações entre o consumidor e fornecedores de serviços, visando a solução de um ou mais problemas oriundos de necessidades existentes na vida dos consumidores (Grönroos, 2009). Lovelock e Wright (2001, p. 5) ainda destacam que “Serviço é um ato ou desempenho oferecido por uma parte à outra. Embora o processo possa estar ligado a um produto físico, o desempenho é essencialmente intangível e normalmente não resulta em propriedade de nenhum dos fatores de produção”. Empresas dos mais variados tamanhos e segmentos são submetidas diariamente ao dinamismo do mercado, sendo que um dos fatores do ambiente é a presença de concorrentes. Este contexto acaba por forçar os gestores a planejarem estratégias e tomarem decisões com o objetivo de atender as necessidades de seus consumidores cada vez mais exigentes (Junior et Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 327 al, 2013). Uma das estratégias utilizadas é oferecer mais ou com melhor qualidade uma gama de serviços (Tureta, Rosa, & Oliveira, 2007). De acordo com Becker e Nagel (2013), o serviço que é oferecido por uma empresa deve ser mais do que simplesmente voltado aos seus consumidores, deve buscar aprender com os consumidores, adaptando-se às suas necessidades. Desta forma, o valor do serviço é definido juntamente com o consumidor, criado com a inter-relação entre cliente e empresa, gerando confiança entre consumidores e no caso, a instituição de ensino. Romero e Molina (2009) acreditam que desta inter-relação será criada uma confiança entre consumidor e o fornecedor do serviço entregue, o que é sem dúvida importante, pois isso será determinante no processo decisório de compra e na recompra constante do serviço que uma empresa oferece. Segundo, Morgan e Summers (2008), o processo de tomada de decisão se inicia com um desconforto que leva o indivíduo a solucionar um problema. Ou seja, o indivíduo identifica uma necessidade e depois busca informações a respeito de como solucionar a mesma. Com informações, oriundas de diversas fontes e principalmente da opinião de quem já consumiu o determinado serviço, o possível novo cliente decidirá pela adesão, ou não. O tempo, o custo e a busca de informações por parte deste consumidor determinam o seu grau de envolvimento com o serviço o que também interfere no tipo de decisão a ser tomada no momento da compra. A tomada de decisão é denominada rotineira quando o grau de envolvimento do consumidor for baixo, ou seja, seu tempo despendido para a decisão é curto, o custo é baixo e a busca por informações é apenas interna (aquelas que já são de seu conhecimento). Isto ocorre também quando se tem apenas uma alternativa ou esta já está interiorizada pelo consumidor. Quando o envolvimento e o custo são mais altos, o tempo mais longo e a busca de informações além de internas advêm de fatores externos, chamamos a tomada de decisão de complexa. Entre esses dois extremos tem a tomada de decisão limitada (figura 1). Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 328 Rotineira Envolvimento Baixo Limitada Baixo a moderado Complexa Alto Tempo Curto Curto a moderado Longo Custo Baixo Baixo a moderado Alto Busca por informações: Apenas interna Número de alternativas: Uma Em grande parte, interna Poucas Interna e externa Várias Figura 1 - O envolvimento de decisões de compra do consumidor Fonte: Morgan & Summers (2008, p. 101). Além do grau de envolvimento do consumidor, outros fatores influenciam a tomada de decisão. Entre eles têm-se as recompensas internas, externas, o sucesso, o fracasso, é a chamada pirâmide de Maslow. Na base deste modelo têm-se as necessidades fisiológicas básicas dos consumidores. Estas envolvem um baixo grau de envolvimento, pois são essenciais para a sobrevivência do ser humano. Em seguida temos as necessidades de segurança. Caminhando para o topo aparecem as necessidades sociais, a autoestima e auto realização. A partir das necessidades sociais é que podemos inserir o consumidor do esporte extracurricular. O consumidor precisa ultrapassar a barreira das necessidades básicas para então consumir o esporte, são os chamados serviços hedônicos (que não são primordiais a vida do indivíduo). Observando esses modelos, perceber–se que é preciso conhecer as constantes mudanças do comportamento dos consumidores. Esporte Extracurricular O ensino educacional privado é considerado um serviço e com crescimento das instituições educacionais privadas, muitas escolas particulares oferecem uma série de serviços agregados. A prática do esporte extracurricular é dos serviços agregados oferecidos pela grande maioria das escolas privadas, apesar de não existir dados concretos sobre esta informação. Por outro lado, é coerente que as escolas ofereçam inúmeros serviços agregados, relacionados com o serviço principal que é o educacional, com o objetivo de conquistarem seus consumidores e também gerar receita extra com a oferta destes serviços extras. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 329 O esporte em idade escolar está relacionado com diversos aspectos do desenvolvimento do indivíduo: social, cognitivo, físico e psicológico (Fischer et al, 2009). De acordo com Veloso et al (2010), o esporte proporciona ao indivíduo valores que provavelmente permanecerão por toda sua vida, sugerindo que o esporte proporciona interações sociais positivas, melhora acadêmica, confiança, estabilidade emocional, efeito positivo sobre a cognição, além da melhora do funcionamento físico geral. Por essas razões, pode ser confirmado que a prática esportiva extracurricular seja um dos serviços agregados mais comuns e oferecidos pelas escolas particulares de educação básica no Brasil. O esporte extracurricular é uma atividade que nem sempre visa a competição, sendo oferecido fora do horário da grade escolar regular e é um serviço opcional. É comum que as escolas ofereçam este serviço com a justificativa de ser um complemento educacional, uma ocupação produtiva de crianças em espaço escolar. Entretanto, é um serviço que possui custos de operacionalização, que consequentemente são repassados para os consumidores através de adicionais na mensalidade escolar (Matias, 2009). Segundo Robertson e Mutrie (1989) e Saba (2001) o grande desafio que se impõe para o esporte, no caso extracurricular, é a adesão, ou seja, seu início e consequente a prática regular (ou não desistência) pelo seu praticante. Desta forma, passa a ser essencial compreender quais são as motivações, quais são as necessidades e particularidades individuais que levam as pessoas a começarem práticas esportivas extracurriculares. Já foi evidenciado a existência de facilitadores e limitadores para a adesão de atividades esportivas. No caso de crianças e adolescentes em idade escolar, as ações adultas, principalmente dos pais, influenciam tanto no início, quanto na continuidade das práticas esportivas. Podem até mesmo determinar a modalidade esportiva a ser praticada, assim como o seu abandono (Kaneta & Lee, 2011). Além dos pais, a prática esportiva infantil também apresenta outros motivadores externos, como o professor, os colegas e outros fatores relacionados com vínculos sociais significantes e que consequentemente influenciarão na continuidade da prática esportiva ou o abandono da mesma (Kaneta & Lee, 2011). O professor é o intermediário na passagem do produto final, por isso tem um papel fundamental na avaliação positiva ou negativa do serviço (Roza, 2012). A percepção da qualidade em relação ao serviço que está sendo fornecido contribui como fator determinante para a permanência no esporte extracurricular. De acordo com a literatura do marketing de serviços, qualidade percebida é uma avaliação objetiva do serviço experimentado, mas que também conta com o julgamento subjetivo do serviço consumido (Grönroos, 2009). O cliente julga a qualidade do serviço obtido Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 330 comparando com suas expectativas anteriores ao consumo e com a sua percepção de qualidade pós-consumo (Téboul, 2002). Para se medir a qualidade do serviço encontra-se uma grande dificuldade que é exatamente esta subjetividade. No setor educacional que processa informações e conhecimento os atributos intangíveis são mais relevantes que os tangíveis também apreciados pelos pais de alunos (Tureta, 2007). A qualidade dos serviços é abstrata e dificilmente mensurada em razão de suas características: intangibilidade, heterogeneidade e inseparabilidade. A intangibilidade torna mais difícil a padronização e mensuração do serviço antes do mesmo ser consumido ou utilizado. A heterogeneidade diz respeito à instabilidade da performance e a inseparabilidade é o envolvimento do cliente com o fornecedor (Tureta, 2007). Desta maneira observa-se que dificilmente avalia-se com precisão a percepção por parte da qualidade em serviços por parte dos clientes. Realmente, no setor educacional, devido ao crescimento das instituições particulares, tornou-se importante adotar estratégias relacionadas à qualidade dos serviços e entender melhor o porquê dos consumidores buscarem a adesão de determinada atividade ofertada. Metodologia Trata-se de um estudo exploratório, segundo as afirmações de Malhotra (2006). O principal objetivo da pesquisa exploratória é proporcionar uma melhor compreensão de um problema enfrentado, que até então não foi abordado de fato pela comunidade acadêmica. Dadas essas características as constatações da pesquisa exploratória, deve ser considerado que seus resultados não são definitivos, mas servirão como base para pesquisas posteriores ou outros tipos de aprofundamentos. Para Creswell e Clark (2011) pesquisas exploratórias permitem a inclusão de métodos do qual procuram determinar as opiniões de uma população específica utilizando geralmente a aplicação de instrumentos metodológicos qualitativos. No caso do presente estudo utilizou-se de entrevistas com roteiro semiestruturado e posterior análise através do método de Análise de Conteúdo. As entrevistas foram realizadas com 60 pais que possuem os filhos matriculados em uma escola privada e participam das atividades de esporte extracurricular. Por se tratar de crianças e jovens, a escolha dos pais deve-se porque esses exercem grande influência na escolha e na participação continua dos filhos em práticas esportivas (Kaneta & Lee, 2011; Teixeira, Azevedo, & Rabelo, 2011). Os alunos certamente opinam, mas os pais terão a decisão final sobre a manutenção ou não da participação no esporte extracurricular praticado pelos filhos. Outro ponto que deve ser considerado é a dificuldade de entendimento do instrumento por parte Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 331 das crianças e jovens. Além de que as crianças muitas vezes não possuem uma percepção sobre o consumo de serviços. A escola localizada na Zona Sul da cidade de São Paulo possui instalações privilegiadas, como um campo de futebol society, quatro quadras externas e duas poliesportivas cobertas, além de salas polivalentes para a prática de diversas modalidades. Ainda conta com uma pista de atletismo de 250 metros. São oferecidas a prática de esportes como Judô, Ginástica Artística, Futebol de Salão, Futebol de Campo, Handebol, Dança, Atletismo, Voleibol e Basquete. Para que a amostra fosse representativa, identificaram-se junto aos gestores dos esportes extracurriculares, aspectos que melhor representaria o consumidor como pais que possuem filhos regularmente matriculados em algumas destas atividades citadas a mais de um ano. O instrumento utilizado foi entrevista semiestruturada, construído para cumprir o objetivo deste estudo, no caso, compreender o que levam os pais à matricular os filhos nos esportes extracurriculares. O roteiro foi dividido em três temáticas: Perfil do entrevistado; Motivadores relacionados com o início e continuidade no serviço; Verificação dos fatores relacionados com a interrupção da prática. A coleta de dados foi realizada individualmente com os integrantes da amostra durante eventos esportivos internos da instituição escolar. As entrevistas que duraram cerca de 30 minutos, foram gravadas e realizadas por cinco pesquisadores, sendo um deles o principal/ chefe e outros quatro assistentes. Foram transcritas pelos mesmos pesquisadores e posteriormente categorizadas e analisadas. Como já citado, para análise dos dados foi utilizada a Análise de Conteúdo. Através de procedimentos sistemáticos, a Análise de Conteúdo visa a descrição do conteúdo das mensagens e obtenção de indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos à determinado tema (Li, Pitts, & Quarterman, 2008). Devido a sua natureza discreta, a Análise de Conteúdo se apresenta como um método vantajoso, pois possibilita a mensuração de resultados e informações que não seriam produzidos ou encontrados através de outros métodos tradicionais de pesquisa e se apresentam como uma fase inicial para a construção ou aplicação de questionários quantitativos (Creswell & Clark, 2011). O procedimento básico da Análise de Conteúdo refere-se à definição de categorias pertinentes aos propósitos da pesquisa. Categorias são classes as quais reúnem um grupo de elementos sob um título genérico, agrupamento esse efetuado em razão dos caracteres comuns destes elementos, ou seja, categorizar implica isolar elementos para em seguida agrupá-los (Bardin, 2011). Três grades podem ser escolhidas pelo pesquisador para a definição das categorias: aberta, fechada ou mista. Na primeira, as categorias são definidas durante o Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 332 andamento da pesquisa. Na segunda, uma grade fechada é determinada pelo pesquisador que recorre à literatura pertinente ao tema da pesquisa para formular as categorias. A terceira grade incorpora características das duas anteriores. Para este estudo foram utilizadas categorias abertas, ou seja, a definição de categorias aconteceu a medida que as análises foram realizadas. Análise dos resultados Quanto ao perfil dos entrevistados, os respondentes eram pais, na sua maioria entre 35 e 47 anos, com nível superior, com um ou dois filhos em idades entre 10 e 15 anos, cursando as mais diversas modalidades esportivas (Tabela 1). Amostra Idade 60 35 - 47 Gênero Escolaridade 67 % Masculino 100% nível 33 % Feminino superior Idade dos Tipo de Filhos Esporte 70 % Coletivo 10 - 15 30 % Individual Tabela 1: perfil dos respondentes. Fonte: desenvolvido pelos autores. Na análise de conteúdo, foi desenvolvida uma lista de atributos relacionando-os com a frequência de suas citações por parte dos entrevistados. Os atributos que não apareceram em pelo menos 5 discursos foram eliminados da lista. Através desta criou-se 3 principais Categorias de atributos que justificam o consumo e a continuidade do serviço de esporte extracurricular. (Tabela 2) Categorias Unidades de Registro Frequência das Porcentagem Unidades (%) 246 46,59% 175 33,14% 107 20,27% 528 100,00% Atividade prazerosa e/ou lúdica, Saúde, Benefícios Aperfeiçoamento Motor, Integração Social, Disciplina, Superação Pessoal. Confiança Qualidade do Curso, Confiança no Curso, Qualidade Geral do Serviço, Profissionais na Instituição Qualificados, Confiança nos Profissionais. Horários, Esporte dentro da instituição Conveniência escolar, facilidade de locomoção, comodidade. Total Tabela 2: categorização dos atributos e frequências de citação. Fonte: elaborado pelos autores Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 333 As respostas agrupadas na categoria “Benefícios”, relacionadas como o bem estar estão condizentes com as afirmações de Fischer et al (2009) e Veloso et al (2010), que colocam o esporte em idade escolar como uma atividade ligada à complementação dos aspectos sociais, cognitivos e psicológicos do desenvolvimento do indivíduo. Outra explicação latente que foi enfatizada pelos respondentes se refere à integração da criança com outros alunos e, portanto é tido como um momento de socialização os praticantes. S1: “Aula extra vem como mais uma oportunidade de praticar esporte. Meu filho tem um horário letivo muito extenso e acho que o esporte vem a ser um momento que compensa isso, que relaxa”. S41: “Acredito que é fundamental para o desenvolvimento praticar algum tipo de esporte, por prazer”. Um segundo ponto na opinião dos pais é relacionado ao esporte oferecido dentro da instituição de ensino em que matricularam seus filhos e na qual confiam entregando a educação dos mesmos, categoria “Confiança na Instituição”. De acordo com Grönroos (2009), o julgamento do serviço consumido é altamente subjetivo e devido aos seus atributos intangíveis se sobreporem aos tangíveis. Entre outras palavras, os pais apreciam o serviço e o avaliam através da confiança da instituição que o oferece. Segundo Romero e Molina (2009) a confiança do consumidor no serviço é importante para que ele se mantenha. Desta forma ao analisar o conteúdo dos respondentes percebe-se que o aluno só tem continuidade nas atividades porque existe esta confiança por parte dos pais neste serviço oferecido por uma instituição de ensino. O fato das atividades serem no interior da escola, que é um espaço da rotina familiar e há presença de profissionais (professores) qualificados, favorece a confiança e consequentemente a não desistência das atividades pelos seus filhos. S3: ”Gosto muito da didática do professor que já tem contato anterior com meu filho”. S14: ”Não encontro este curso com estas características em qualquer lugar”. S53: ”Gosto da metodologia dos professores e da infraestrutura oferecida pela escola”. Por outro lado, não só os benefícios do esporte e a confiança na instituição foram atributos identificados. O fato do serviço ser oferecido em um local onde as crianças já se encontram, favorece no processo decisório de compra do serviço. A cidade de São Paulo apresenta inúmeros problemas de uma grande metrópole e faz com que os pais procurem serviços para seus filhos sem que os mesmos necessitem se locomover pelo tráfego da cidade e ao mesmo tempo estejam seguros. De acordo com o quadro percebe-se que as explicações elaboradas pelos pais entrevistados giram em torno dos eixos benefícios que as atividades Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 334 esportivas podem gerar, credibilidade na instituição que oferece o serviço e logística familiar, como evidenciado pela categoria “Conveniência”. Exemplos de respostas dos pais: S25: “Eu decidi por haver uma facilidade de logística”. S42: “Economiza tempo e atualmente é mais seguro movimentar-se menos por São Paulo”. O processo de tomada de decisão inicia com a necessidade do indivíduo em solucionar algo (Morgan e Summers, 2008), Quando decide aderir à um serviço, ele busca informações ao seu respeito, avaliando suas alternativas. De acordo com os respondentes, ao analisar o envolvimento do consumidor para com o serviço do esporte extracurricular, o processo decisório dos pais tem um envolvimento baixo, em curto tempo e com custo baixo. Assim tratase de um envolvimento rotineiro (Morgan e Summers, 2008), Os responsáveis pelos alunos do esporte extracurricular conseguem obter informações no mesmo local em que os filhos estudam, não precisam se deslocar, o que facilita em termos de tempo e custo e por já terem confiado anteriormente na instituição, as informações de satisfação já estão interiorizadas. Todo este processo facilita adesão e compra deste tipo de serviço. Assim, o consumo do esporte extracurricular existe por uma facilidade de locomoção, logística e também pela confiança nos profissionais da instituição. Já para a continuidade, as entrevistas demonstram que, além da confiança, é necessário que a qualidade do serviço consumido seja positiva. Em contrapartida, muitos entrevistados apresentaram relatos de alguns atributos que levariam o abandono da prática esportiva extracurricular, como demonstrado nas categorias: “Preço”, “Excesso de tarefas” (por parte dos alunos), “Horários não convenientes” e “Enfermidades” (Tabela 3). Exemplos de respostas dos pais: S7: “Dificuldades em administrar o excesso de tarefas escolares, muitas tarefas para realizar em casa interferem com relação a prática mais acentuada dos esportes, competições, etc.”. S13: “Enfermidades e lesões fariam com que ele parasse. Isso e somente isso”. S26: “Só cancelaria o curso extra, somente em caso de doença ou dificuldade em pagar os valores determinados pela escola. Ou ainda caso os horários fossem ruins para minha rotina.”. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 335 Categorias Unidades de Registro Frequência das Porcentagem Unidades (%) 111 33,03% 92 27, 38% 82 24,40% 51 15,17 % 336 100,00% Custo x benefício, valores que ultrapassam Preço possibilidades, acúmulo de custos por parte dos pais. Excesso de Psicólogas, psicopedagogas, recuperação, aulas particulares, aulas de línguas tarefas (alunos) estrangeiras. Escolha da modalidade não condiz com Horários não horário disponível, muitos cursos ocorrem em horários coincidentes, aulas muito convenientes tarde, a criança tem que esperar algum tempo para o início do curso. Doenças que impedem a frequência do Enfermidades curso por um longo período de tempo como lesões, fraturas, bronquites, asma, etc. Total Tabela 3: causas de Abandono. Fonte: elaborado pelos autores Com base nos resultados, foi possível identificar atributos que exercem papel importante nos relacionamentos existentes entre os consumidores dos esportes extracurriculares e a instituição de ensino. Criou-se uma estrutura conceitual preliminar para se compreender o relacionamento entre consumidores e a instituições de ensino (Figura 2). Conveniência Benefícios Confiança Consumo e Continuidade Figura 2 – Estrutura conceitual do relacionamento em instituições adaptado pelos autores. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 336 Conclusão Do ponto de vista teórico, foi possível identificar alguns fatores que exercem papel determinante no consumo dos esportes extracurriculares oferecido por uma instituição de ensino básico da cidade de São Paulo. Foi possível identificar que os fatores que influenciam o início e também colaboram para a continuidade de consumo deste serviço em questão são: atividade prazerosa, saúde, integração social, aperfeiçoamento motor, confiança nos professores e na instituição, horários, facilidade de locomoção, comodidade, confiança na instituição de ensino entre outros. Com destaque para algumas falas relacionadas aos horários e locais da prática revelam que o serviço atende a demanda dos pais em terem seus filhos no âmbito escolar por mais tempo, proporcionando tranquilidade e conforto, uma vez que, às vezes, coincidem com a carga horária de trabalho dos mesmos. Os resultados também mostram que possíveis fatores que levam o encerramento do consumo do serviço são os preços (custo benefício), excesso de atividade realizadas pelos alunos, a pouca diversidade de horários, carga horária pequena correlacionada ao custo e possíveis enfermidades que impeçam a prática esportiva regular. Como limitação do trabalho, pode-se destacar o fato de apenas terem sido entrevistados pais de uma única instituição de ensino. Para futuras pesquisas, sugere-se análises que busquem a identificação dos motivadores em alunos e em consumidores, de ambos os grupos, de outras escolas. A impressão dos consumidores pode servir como indicador para direcionar ou melhorar a gestão do esporte extracurricular enquanto serviço oferecido por instituições de ensino. Como contribuição, este artigo, orienta as instituições de ensino básico do setor privado à identificar os fatores que influenciam no consumo do serviço esporte extracurricular, o que irá auxiliar na formulação ou manutenção do serviço já oferecido. Com o crescimento do número de instituições educacionais privadas e com a finalidade de se obter vantagem competitiva no mercado, o atual estudo contribui para se analisar a adoção de estratégias relacionadas à oferta de serviços agregados. Oferecer serviços diferenciados, de qualidade e credibilidade tornam as instituições de ensino particular mais competitivas e lucrativas, atraindo mais consumidores. Portanto devem, cada vez mais, explorar e gerenciar cuidadosamente suas ações para reter e atrair clientes, atentas ao processo decisório dos mesmos. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 337 Referências bibliográficas Bardin, L. (2011). Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70. Becker, L. C. B. & Nagel, M. B. (2013). A relação entre elementos da cocriação (DART) e confiança no contexto de serviços. RAIMED- revista de Administração IMED, 3 (1),1-18. Creswell, J. W., & Clark, V. L. P. (2011). Designing and conducting mixed methods research (2nd ed.). Los Angeles: SAGE Publications. Fischer, F.; Machado, A.A.; Silveira, M. A. C. & Verzani, R. H.(2009). Estados emocionais e educação física escolar: considerações iniciais à luz de uma psicologia bioecológica. Coleção Pesquisa em Educação Física. 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Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 339 O modelo de contribuição do ceged para a disseminação da gestão desportiva Christian Pinheiro da Costa (Universidade Federal do Pará) [email protected] Resumo O mercado esportivo passa por enormes transformações, porém se ressente de mais profissionalismo e recursos humanos especializados. Semanalmente, o CEGED elabora dois boletins informativos, ferramentas digitais para disseminação de informações sobre Gestão Desportiva: (i) o “Clipping de Notícias” e (ii) o “Clipping da Internet”. O primeiro é uma seleção semanal de informações publicadas em blogs, colunas especializadas e sites específicos sobre o tema, mas sem repercussão nos canais mais convencionais de mídia. Elas ficam destacadas em uma seção na homepage do site do CEGED, com o título original da mensagem e um link para a página virtual de origem. O segundo tem o formato de uma newsletter, cujo conteúdo são oito destaques selecionados do “Clipping de Notícias” da semana, com imagens e links para as páginas de origem do material. A distribuição do “Clipping da Internet” é feita por mala direta de correio eletrônico, enviada para aproximadamente 600 participantes incluindo jornalistas esportivos, empresários com tradição de investimento em patrocínio esportivo, professores e estudantes, dirigentes de clubes e federações e outros. De fevereiro a novembro de 2014, o “Clipping de Notícias” destacou mais de 2.700 notas, publicadas em 54 blogs, colunas especializadas e sites específicos. Através do “Clipping da Internet” foram enviados 296 links, em 37 edições realçando temas relacionados com a Gestão Desportiva. Isto gerou aproximadamente 25.000 visitas ao site do CEGED, um dos mais acessados no Google na busca utilizando o comando “Gestão Desportiva” e desconsiderando endereços eletrônicos de cunho comercial. Palavras-chave: Esporte / Formação / Desenvolvimento Abstract The sports market is going through huge changes, but resents more professional and skilled human resources. Weekly, the CEGED produces two newsletters, digital tools for disseminating information about Sports Management: (i) "News Clipping" and (ii) the "Web Clipping". The first is a weekly selection of information posted on blogs, expert columns and specific sites on the subject, but without effect in more conventional media channels. They are Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 340 highlighted in a section on the homepage of the site CEGED, with the original title of the message and a link to the virtual page. The second takes the form of a newsletter, the content of which eight are selected highlights from the "News Clipping" of the week, with pictures and links to pages. The distribution of the "Web Clipping" is made by direct mail e-mail, sent to approximately 600 participants including sports journalists, business people with a tradition of investment in sports, teachers and students, leaders of clubs and federations and other sponsorship. From February to November 2014, the "News Clipping" stressed over 2,700 notes, published on 54 blogs, expert columns and specific sites. Through the "Web Clipping" were sent 296 links in 37 editions highlighting issues related to Sport Management. This generated approximately 25,000 visits to the site CEGED, one of the most accessed in Google search using "Sports Management" and disregarding command electronic addresses of commercial nature. Keywords: Sport / Training / Development Introdução O mercado esportivo passa por enormes transformações, com o surgimento de novos segmentos comerciais e atividades profissionais inéditas, acompanhadas de formas diversificadas de financiamento, caracterizando uma autêntica revolução em termos da organização institucional de um setor econômico em constante crescimento nas últimas décadas, e requer o mesmo tratamento de qualquer outro setor econômico. Porém, este mercado ainda se ressente da falta de um mínimo de organização e mais planejamento, como consequência direta do baixo nível de profissionalismo que predomina nas entidades desportivas, associado com a falta de recursos humanos especializados. “Sob uma perspectiva prática, a gestão esportiva tem existido por muitos séculos, desde os gregos, quando Herodes, Rei da Judéia, foi presidente honorário dos Jogos, que atraíam multidões para ver os combates entre os gladiadores ou animais, quando uma cerimônia maravilhosa abria as competições, seguidos de disputas atléticas que serviam de entretenimento para milhares de pessoas”. (Zouain & Pimenta, 2006) Um negócio milionário, capaz de seduzir investidores dos mais diversos perfis, com múltiplas possibilidades de geração de empregos diretos e indiretos, mas que, quase sempre, é dirigido por amadores, com pouca disponibilidade de tempo, mal preparados, não remunerados (pelo menos oficialmente), que, mesmo com uma grande boa vontade, não poderiam ser os responsáveis por um negócio de tal envergadura. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 341 O questionamento sobre a qualificação e profissionalismo é amplamente debatido na comunidade acadêmica ligada à Gestão Desportiva. Em termos funcionais, Sarmento, Pinto & Oliveira (2006) consideram não haver grandes diferenças, sendo a designação de “Gestor Desportivo” apenas a evidência de uma formação acadêmica específica e um vínculo laboral estável com remuneração financeira. Para eles no modelo tradicional do desporto associativo, com grande dependência de voluntários e eternas dificuldades financeiras, “o lugar de Gestor Desportivo tem sido ocupado pelos dirigentes benévolos, o que coloca uma dúvida difícil de superar: são os dirigentes desportivos gestores desportivos? Em que se diferenciam uns dos outros?” Para Zouain & Pimenta (2006), “as organizações precisam de gestores que estejam preparados a ajudar seus proprietários e/ou dirigentes e sua equipe principal a formular e alcançar suas metas e objetivos”. Isto, estaria além da capacidade de quem, no passado, atuava até com relativo sucesso e por isso se auto-intitulam “conhecedores do negócio”. “Esquecem-se, no entanto, que os fatos ocorreram num ambiente com menos demanda que o atual. O conhecimento empírico não deixa de ser importante para a consolidação de uma fundamentação teórica, mas há que se aliar às modernas técnicas de gerenciamento ao conhecimento do ambiente esportivo e as histórias de sucesso no segmento, bem como desenvolver a partir daí as técnicas específicas para o setor”. (Zouain & Pimenta, 2006), Conforme Pugliese Junior (2010), não há mais espaço para o gestor sem formação, conhecimento técnico e científico sobre a área que administra e afins. Antigamente, o dirigente esportivo administrava o esporte através do poder político e econômico, como uma forma de estarem próximos da modalidade que os divertia nas horas da lazer. “Ainda atualmente, a grande maioria dos diretores das entidades de administração (federações) e de prática (clubes) atua de forma amadora, são eleitos pelo poder político que lhes é conferido pelos demais associados, para gerir e representar a mesma por um determinado período. Não lhes são exigidos o conhecimento científico do esporte, nem conferida qualquer remuneração pela atividade exercida” (Pugliese Junior, 2010, pg 2). Mas para levar adiante a discussão sobre gestores desportivos é necessário estabelecer alguns parâmetros em relação a Gestão Desportiva, enquanto área de atuação profissional, afinal, mesmo nas Ciências do Desporto há apolêmica quanto à necessidade de uma formação Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 342 específica para atuação no contexto da gestão das organizações desportivas ou mesmo o estabelecimento de prerrogativas de trabalho entre os licenciados em ensino ou em gestão. A profissionalização da Gestão Desportiva é um tema constante na pauta de eventos e debates científicos, sendo que para Azevedo (2002), “requer uma abordagem aprofundada, principalmente quando se observa a consequência desastrosa que as gestões amadoristas têm imposto aos grandes clubes brasileiros”. Para ele, da mesma forma que no futebol e no desporto em geral, a profissionalização da gestão pública do desporto brasileiro é fundamental para a promoção de seu exercício enquanto um direito constitucional e ação social relevante. Na atual realidade, é inquestionável que gestores desportivos devem ter uma formação diversificada, capaz de abranger as atribuições rotineiras de todo administrador (eficácia organizacional, gestão de recursos humanos, controle financeiro, liderança, etc.) bem como habilidades específicas para ações de marketing, bom relacionamento com a imprensa, com fornecedores, torcedores e demais dirigentes. “Quando o esporte, a certa altura século XX, deixou de ser visto como mais um instrumento educativo de agregação, convivência civilizada e entretenimento para ser tratado como fenômeno cultural de massas, foi preciso estruturar bases organizacionais, constituir equipes multidisciplinares e adotar conceitos administrativos que levassem a formação de talentos e a impulsionar e sustentar um negócio lucrativo e atraente a um só tempo, sem prejuízo a seu potencial como formador de caráter” (SESI Serviço Social da Indústria - São Paulo, 2013, p. 11) Contexto investigado A partir da década de 1980, foram criadas organizações nacionais e internacionais, de natureza científico e profissional, que representam uma forma importante de desenvolvimento para a Gestão do Desporto, constituídas por acadêmicos, profissionais e estudantes vinculados à instituições de diferentes áreas do conhecimento, que estabelecem um relacionamento mutuamente benéfico e pela atuação delas em dimensão continental citamos as seguintes: Aliança Intercontinental de Gestão Desportiva - AIGD: http://www.aigd.info/home Asociacion Latinoamericana de Gerencia Deportiva – ALGEDE http://algede.com/homees.html European Association for Sport Management – EASM: Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 343 http://www.easm.net North América Society for Sport Management – NASSM: http://www.nassm.com/ Sport Management Association of Australia and New Zealand – SMAANZ: http://www.smaanz.org/ Em comum, elas objetivam atender questões relacionadas com o desenvolvimento da Gestão Desportiva, motivadas por interesses de promoção do reconhecimento da figura do gestor desportivo, adotando diferentes e criativas formas de estratégias de disseminação do conhecimento produzido pelos seus membros, entre as quais os canais virtuais assumem importância preponderante nas contribuições intelectuais e troca de experiências profissionais. Um dos principais modelos adotados por estas entidades para promover a disseminação de informações são as publicações periódicas de jornais e revistas eletrônicas, entre elas destacamos a Revista Intercontinental de Gestão Desportiva (RIGD), publicada semestralmente pela AIGD, que focaliza a Gestão Desportiva, relacionando-a com os desafios provocados pelo protagonismo do avanço científico-tecnológico mundial e devido sua dimensão intercontinental “busca promover um maior intercâmbio entre pesquisadores de diferentes contextos culturais e nacionais, contribuindo e enriquecendo o conhecimento na área de gestão desportiva, com ênfase especial na transformação de conhecimentos tácitos em conhecimentos explícitos, para o desenvolvimento do desporto”. A RIGD publica artigos originais, artigos de revisão, relatórios técnicos, estudos de caso, relatórios de conferências, relatórios de gestão, resenhas de livros, notas, comentários e notícias. De um modo geral, este modelo e objetivos institucionais são os fatores essenciais para a existência de várias outras publicações semelhantes, como: Journal of Sport Management (NASSM): http://www.nassm.com/InfoAbout/JSM; European Sport Management Quarterly (EASM): http://www.tandfonline.com/toc/resm20/current#.VFdQm_nF8lI; Sport Management Review (SMAANZ): http://www.journals.elsevier.com/sport-management-review/. Além destas publicações de entidades que reúnem gestores desportivos, existem outras inúmeras contribuições internacionais relacionadas ao tema de gestão e negócios do mercado esportivo, como: International Journal of Sport Finance: Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 344 https://ijsf.wordpress.com/ International Journal of Sport Management and Marketing; http://www.inderscience.com/jhome.php?jcode=IJSMM International Journal of Sports Marketing and Sponsorship; http://www.imrpublications.com/journal-landing.aspx?volno=L&no=L International Journal of Sport Communication http://journals.humankinetics.com/ijsc; Journal of Sports Economics http://jse.sagepub.com/ Sport Marketing Quarterly http://idrottsforum.org/sport-marketing-quarterly No Brasil, encontramos algumas iniciativas semelhantes, como: Podium Sport, Leisure and Tourism Rewiew: http://www.podiumreview.org.br/ojs/index.php/rgesporte; Escritório do Esporte: http://escritoriodoesporte.com.br/. Estas publicações, que adotam formatos acadêmicos para seus textos, e exibem um volume considerável de informações técnicas, também são importantes para profissionais de outras áreas de convergência do desporto, como administradores, economistas, advogados e jornalistas, além de estudantes universitários, contribuindo para afastar o paternalismo e minimizar as dificuldades decorrentes do amadorismo no meio administrativo do desporto. Além disto, no árduo trabalho pela disseminação de informações sobre a Gestão Desportiva, que poucas vezes consegue ser uma pauta atrativa para os canais convencionais de mídia, no Brasil, encontramos páginas eletrônicas especializadas (Sites, Blogs, Colunas, etc.), que abordam também temas relacionados com a Gestão Desportiva, tais como: Dinheiro em Jogo http://globoesporte.globo.com/blogs/especial-blog/dinheiro-emjogo/1.html FutGestão http://www.futgestao.com.br/?m=0 Bola no Gol Gestão Esportiva http://fabiopsousa.blogspot.com.br/ Máquina do Esporte Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 345 http://maquinadoesporte.uol.com.br/ Mkt Esportivo http://www.mktesportivo.com/ A&dNews http://www.adnews.com.br/marketing-esportivo Jogada do Marketing http://www.jogadadomarketing.com.br/ Futebol Business http://futebolbusiness.com.br/editorial/ Olhar Crônico Esportivo http://globoesporte.globo.com/blogs/especial-blog/olhar-cronicoesportivo/1.html Globo Esporte http://globoesporte.globo.com/ Esporte Essencial http://www.esporteessencial.com.br/ O Globo - Esportes http://oglobo.globo.com/esportes/ ESPN http://espn.uol.com.br/ MSN Esportes http://esportes.br.msn.com/ RevistaVeja http://veja.abril.com.br/esporte/ Exame – Tópicos http://exame.abril.com.br/topicos/esportes Novas Arenas http://exame.abril.com.br/rede-de-blogs/novas-arenas/ Esporte Executivo http://exame.abril.com.br/rede-de-blogs/esporte-executivo/ Blog do José Cruz http://josecruz.blogosfera.uol.com.br Blog do Rodrigo Matos http://rodrigomattos.blogosfera.uol.com.br/ Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 346 Blog do Erich Beting http://negociosdoesporte.blogosfera.uol.com.br/ . Em termos de Gestão Desportiva, na época da revolução das Mídias Sociais é importante perceber o impacto provocado por suas variadas formas de manifestação, afinal, ferramentas digitais como o Twitter, Facebook, Google+, You Tube, Flickr, Instagram e outros podem ser aliados, mas também ferrenhos adversários. “Pesquisas demonstram que os fãs do Esporte que participam das Mídias Sociais são apaixonados e engajados acima da média. Observa-se, também, que as Mídias Sociais são utilizadas com frequência, antes, durante e, principalmente, após os eventos. Por meio delas, atletas e entidades esportivas podem cultivar sua reputação e influência melhorando sua imagem e atraindo patrocinadores” (Siqueira, 2014, pp. 91 - 92) No Pará, o Centro de Estudos em Gestão Desportiva (CEGED), uma sub-unidade de pesquisa e de extensão da Faculdade de Educação Física (FEF), do Instituto de Ciências da Educação (ICED), da Universidade Federal do Pará (UFPA) contribui na formação e aperfeiçoamento de gestores desportivos, procurando melhorar a qualidade de mercado esportivo regional. O site do CEGED (www.gestaodesportiva.com.br) apresenta várias seções, reunindo tópicos específicos da área, como um Banco de Teses, Dissertações e Artigos, uma listagem de Livros Recomendados e de Vídeos (Acadêmicos e Comerciais), porém, neste trabalho, fazemos o detalhamento de duas ferramentas digitais utilizadas na disseminação de informações: o “Clipping de Notícias” e o “Clipping da Internet”. A palavra “clipping” vem do inglês "cortar", representando o ato de coletar notícias interessantes em diversas publicações e reunir tudo em um documento final. Esta é uma técnica popular utilizada por jornalistas em assessorias de imprensa, que consiste na prática de pesquisar e agrupar notícias sobre determinado tema e assunto de interesse particular. Na prática, existem três tipos básicos de clipagem: a impressa, a digital e o clipping na web, realizado por programas de busca automática de notícias sobre determinado tema e enviadas por e-mail. A forma online de clipagem está muito difundida devido a popularização da internet e até existem empresas especializadas no formato digital. O clipping pode ser adotado como prática regular para obter informações segmentadas por usuários dos mais diversos perfis, como executivos, profissionais liberais, atletas, Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 347 desportistas, artistas ou qualquer pessoa, mas deve apresentar objetivos bem definidos e alinhados com o interesse de quem vai receber as informações.. Diagnóstico da situação Academicamente, a Gestão Desportiva não é um tema muito abordado no Pará, não havendo publicações específicas, nem mesmo que abordem o tema eventualmente, pois somente há pouco tempo o assunto começou a despertar o interesse do meio universitário, através do registro, análise e transmissão de conhecimentos adquiridos em práticas locais. Por isto, optamos por uma pesquisa exploratória, adotando o método do estudo de caso, uma estratégia muito utilizada para recolhimento de dados envolvendo fontes de informação ricas em determinado contexto. “A característica que melhor identifica e distingue esta abordagem metodológica é o fato de se tratar de um plano de investigação que envolve o estudo intensivo e detalhado de uma entidade bem definida: o “caso”. E o que pode ser um caso? Quase tudo pode ser um “caso”: um indivíduo um personagem, um pequeno grupo, uma organização, uma comunidade ou mesmo uma nação”. (Coutinho & Chaves, 2002, p. 223) O procedimento técnico de estudo de caso apresenta vantagens e limitações, porém a condição de Coordenador do CEGED me proporcionou a oportunidade de acumular informações detalhadas sobre o objeto de estudo, o que pareceu vantajoso para a concretização dos objetivos definidos preliminarmente. Apesar do reconhecimento das limitações para generalizar os resultados alcançados, algumas circunstâncias justificaram a opção, entre elas a impossibilidade de realização de um estudo comparativo, a simplicidade da coleta e análise de dados, associada a possibilidade de migrarmos para novos interesses não previstos. “O estudo de caso é uma forma de pesquisa social empírica, ao investigar-se um fenômeno atual dentro do seu contexto de vida-real, onde as fronteiras entre o fenômeno e o contexto não são claramente definidas. É dada ênfase a completa descrição e ao entendimento do relacionamento dos fatores de cada situação, não importando os números envolvidos”. (Campomar, 1991, p. 96). O trabalho consta de uma avaliação quantitativa sobre a produção semanal dos boletins informativos produzidos pelo CEGED (o “Clippng de Notícias” e o “Clippng da Internet”), precedida por uma revisão de literatura. Em seguida, um aprofundamento de informações sobre o foco do estudo, recorrendo ao levantamento da produção, além de documentos e arquivos Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 348 pessoais, pois dispomos de um amplo e diversificado acervo sobre o tema, apesar das incertezas preliminares quanto a possibilidade de condução do trabalho com uma visão externa e ter isenção para publicação de todos os resultados. Na prática, isto não foi um problema, em função da consciência do objetivo pela busca contínua de aperfeiçoamento dos formatos de incentivo e contribuição para o esporte paraense. Para reforçar a confiança nas possibilidades de sucesso, Cohen & Franco (1998) enfatizam que é possível distinguir vários tipos de avaliação, considerando o agente que a realiza, e que podem ser diferenciadas segundo a participação ou não do pesquisador na equipe executora do projeto. “Em relação a avaliação interna aduz-se como aspecto positivo que, em primeiro lugar, elimina as fricções próprias da avaliação externa. Aqueles que vão ser avaliados por uma pessoa estranha se colocam na posição defensiva, proporcionam informação parcial e tem reações que tornam a relação traumática e contribuem pouco ao conhecimento substantivo e ao melhoramento dos procedimentos de execução de projetos”. (Cohen & Franco, 1998, p. 111) Análise de resultados e contribuições No CEGED, o “Clipping de Notícias” é uma seleção semanal de informações sobre Gestão Desportiva publicadas nos blogs, colunas especializadas e sites específicos citados anteriormente, mas sem repercussão nos canais mais convencionais de mídia. A partir da seleção, elas ficam listadas em uma ampla seção na homepage, com o título original da nota, associada com o link para a página virtual de origem. Enquanto que o “Clipping da Internet” tem o formato de uma newsletter, constituída por oito das mais relevantes matérias inseridas no “Clipping de Notícias” da semana, com imagens e links para a página de origem do material. A distribuição do “Clipping da Internet” é feita por mala direta de correio eletrônico, enviada para aproximadamente 600 participantes, incluindo jornalistas esportivos, empresários com tradição de investimento em patrocínio esportivo, professores e estudantes de áreas de convergência da Gestão Desportiva, dirigentes de clubes e federações e outros. A estrutura para a elaboração dos clippings é mínima, requerendo apenas um computador de configuração básica, com acesso a internet, durante 60 minutos por dia, e um estagiário com domínio das ferramentas elementares de informática, devidamente treinado e familiarizado com a listagem de endereços eletrônicos a serem pesquisados. O trabalho das clipagens iniciou em fevereiro de 2014 e foi pesquisado até novembro, período em que o “Clipping de Notícias” destacou mais de 2.700 notas publicadas em 54 blogs, Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 349 colunas especializadas e sites específicos, enquanto que através de 37 edições do “Clipping da Internet” foram enviadas 296 notas realçando temas como marketing, patrocínio, promoções, eventos e a própria Gestão Desportiva. No mesmo período (08 meses), este volume de informações gerou aproximadamente 25.000 visitas ao site do CEGED, o colocando como um dos mais acessados no Google, quando efetuamos a busca utilizando o comando “Gestão Desportiva”, e desconsiderando aqueles endereços eletrônicos de cunho comercial. Isto representou incremento significativo, considerando que, desde 2009, quando entrou no ar o site do CEGED, até o início da clipagem (58 meses), ele teve menos de 15.000 acessos. Conclusão O ritmo de mudanças na sociedade contemporânea é tão intenso que obriga os profissionais especializados a “reaprenderem” seus ofícios, ou seja, estarem se qualificando constantemente para acompanhar o processo produtivo e social em curso. No Pará, a área acadêmica pouco contribuiu na produção de conhecimentos em Gestão Desportiva, agravando a necessidade de formação de mais profissionais qualificados e caracterizando total descompasso entre demanda e oferta. Os boletins informativos do CEGED, publicados e transmitidos semanalmente, representam uma iniciativa importante na disseminação de informações sobre Gestão Desportiva, que poderão incentivar pessoas a buscarem novas informações relacionadas ao tema, mas ainda falta muito para atingirmos um patamar capaz de suprir as deficiências regionais. A maior dificuldade observada na produção dos Clippings é a manutenção da periodicidade das publicações, considerando as limitações e dificuldades próprias de um trabalho acadêmico. Apesar disto, a iniciativa contribui para chamar atenção para a importância da Gestão Desportiva, através da apresentação de experiências e ações realizadas em outros centros esportivos mais desenvolvidos, pois quase sempre elas pouca atenção da imprensa esportiva local, através das mídias convencionais, gerando uma visibilidade quase insignificante. Referências bibliográficas Azevedo, P. H. (2002). A administração de clubes de futebol profissional do Distrito Federal em face a nova legislação esportiva brasileira. Brasília: Dissertação de Mestrado apresentada à Universidade de Brasília. Campomar, M. C. (1991). Do uso de estudo de caso em pesquisas para dissertações e teses em administração. Revista da Administração, 26(3), 93-97. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 350 Cohen, E., & Franco, R. (1998). Avaliação de projetos sociais (2ª ed.). Petropólis, RJ: Vozes. Costa, C. P. (2010). Estudos sobre modelos de desenvolvimento de Federações Desportivas no Estado do Pará - Brasil. Porto, Portugal: Universidade do Porto. Coutinho, C. P., & Chaves, J. (2002). O estudo de caso na investigação em Tecnologia Educativa em Portugal. Revista Portuguesa de Educação, 221-243. Pugliese Junior, R. J. (2010). A profissionalização da gestão esportiva. Fonte: Tribunal de Justiça Desportiva de Santa Catarina: http://www.tjd.sc.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=97&Itemid= 146 Sarmento, J. P., Pinto, A., & Oliveira, A. (2006). O perfil organizacional e funcional do gestor desportivo em Portugal. Revista Portuguesa de Gestão do Desporto, 58 - 63. SESI Serviço Social da Indústria - São Paulo. (2013). Gestão Esportiva. São Paulo: SESI SP. Siqueira, M. A. (2014). Marketing Esportivo: uma visão estratégica e atual. São paulo : Saraiva. Zouain, D. M., & Pimenta, R. (2006). O perfil do gestor das organizações esportivas brasileiras. Fonte: Portal da Educação Física: http://www.educacaofisica.com.br/biblioteca_mostra.asp?id=569. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 351 Análise da estrutura administrativa e financeira do esporte no município de Ipiaú-BA Mario Lucas Alves dos Santos (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia) Ana Marcela Santos Do Couto (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia) Temístocles Damasceno Silva (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia) [email protected] Resumo A presente pesquisa teve como objetivo analisar a estrutura administrativa e financeira do município de Ipiaú/BA, referente ao período de 2009 a 2013. Logo, enquanto procedimento metodológico, este estudo caracterizou-se como exploratório, de cunho qualitativo. Em relação aos instrumentos de coleta de dados, utilizou-se a pesquisa documental, haja vista que tal ação pode constituir um valioso método de coleta de informações, uma vez que foi obtido documentos de diversas fontes, permitindo assim um cruzamento de informações, a fim de elucidar o objeto de investigação. Desta forma, os resultados apontaram que a estrutura administrativa e financeira do município em questão foram alicerçadas numa política governamental de natureza emergencial, visando suprir apenas as demandas momentâneas. Entretanto, torna-se salutar, a implementação de novos estudos que possam aprofundar o olhar sobre a temática abordada. Palavras-chave: Gestão. Ordenamento Legal. Esporte. Abstract This research aimed to examine the administrative and financial structure of the municipality of Ipiaú / BA, for the period from 2009 to 2013. Soon, as a methodological procedure, this study was characterized as exploratory, a qualitative one. For instruments of data collection, we used the documentary research, given that such an action can be a valuable method of gathering information since it was obtained from various sources documents, thus allowing crossreference information in order to elucidate the subject of investigation. Thus, the results indicated that administrative and financial structure of the municipality in question were based on a government policy of emergency nature, in order to meet demands only momentary. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 352 However, it becomes healthy, the implementation of new studies that may deepen the look of the theme. Keywords: Management. Legal System. Sport. Introdução As investigações cientificas acerca das políticas públicas de esporte no Brasil ganharam maior intensidade com a abertura política no país, após o fim da ditadura militar, através da instauração do processo de redemocratização. Sendo assim, evidencia-se que as disputas travadas no campo esportivo foram de suma importância para a criação do Ministério do Esporte, enquanto processo de ressignificação da estrutura administrativa e financeira do esporte no país. Todavia, o conhecimento e debate acerca do ordenamento legal e da estrutura administrativa e financeira dos municípios brasileiros, ainda se apresentam de forma limitada. Neste contexto, Starepravo e Mezzadri (2007) a produção de conhecimento na área ainda é discreta e voltada quase que exclusivamente aos relatos de experiências, necessitando assim, de pesquisas que aprofundem o diálogo com as teorias. Sendo assim, Silva e Abreu (2013, p. 169) sinalizam que a superação de tal processo: “constitui um alicerce de fundamental importância no processo de ressignificação das ações implementadas em todo o país, bem como se torna ferramenta auxiliar do processo de consolidação da gestão participativa”. Desta maneira, torna-se necessária uma reflexão sobre as políticas públicas do esporte implementadas nos diversos municípios brasileiros, em especial sobre as estruturas administrativas e financeiras destinadas a tal setor, levando em consideração que a falta de uma formação continuada e significativa, no que diz respeito ao processo educacional da população brasileira, faz com que os indivíduos inseridos neste contexto, não tenham a maturidade em reconhecer o esporte e o lazer enquanto direitos sociais. Frente a esse aspecto apontado, esperase que o presente estudo possa colaborar com este processo e ao mesmo tempo possibilitar a ampliação do conhecimento acerca da temática abordada. Problema de pesquisa e objetivo O esporte tornou-se um assunto importante e bastante discutido no Brasil, em decorrência de diversos fatores, entre eles: os megaeventos sediados em território brasileiro, como a Copa de Mundo e as Olimpíadas. Porém, no país, os estudos sobre esta temática se apresentam de maneira secundária. Desta forma, acredita-se que a investigação sobre o fenômeno em questão, pressupõe ações que ofereçam elementos para a compreensão dos Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 353 diversos componentes inseridos no processo de implementação das políticas públicas que envolvem o setor esportivo. Neste contexto, a presente pesquisa teve como intuito analisar a estrutura administrativa e financeira destinada ao esporte no município de Ipiaú-BA. Breve reflexão sobre politicas públicas de esporte no brasil Para a elucidação do objeto de estudo, torna-se fundamental uma visita, aos conceitos que permeiam o esporte bem como uma breve analise histórica das políticas públicas de esporte no Brasil, partindo do pressuposto que são estes conhecimentos que norteiam a atual forma de gestão pública nessa área. Neste sentido, o esporte é considerado um fenômeno sociocultural de grande inserção na sociedade, sendo compreendido atualmente como um direito social, alcançado através de muitos embates e transformações sociais. Logo, muitos são os embates teóricos que circundam o que hoje denomina-se esporte, sendo necessário então percorrer as vertentes históricas no intuito de compreender o que os diversos autores que discutem e pesquisam essa temática vem produzindo ao longo dos anos. Nesta lógica, a dissociação entre esporte tradicional e moderno, segundo Martins e Altmann (2007) se dá através de uma contínua automatização do campo esportivo frente aos demais campos sociais. Evidenciando-se esta ruptura com a consolidação de tempo e espaços específicos, próprios às práticas esportivas, contrapondo jogos tradicionais que improvisavam espaços e tempo retirados de suas ocupações cotidianas. Assim, os autores defendem que há a formação de novas modalidades esportivas, apontado que os esportes antigos são remodelados, ou seja, recebe novas incorporações frutos de mudanças sociais. Neste sentido o esporte se constitui como uma ação que se insere na natureza humana, que se desenvolve em decorrências das relações formadas em cada contexto histórico do homem. Estes diversos movimentos, conforme Tubino (1999) culminaram com um primeiro documento, o Manifesto do Desporto que reconhece outra forma de manifestação esportiva para além do esporte rendimento. Sendo assim. todas estas ações contribuíram no sentido de popularizar a prática esportiva, possibilitando a inserção de pessoas oriundas de diversas camadas sociais, além, de integrar pessoas que não detinham uma cultura corporal amplaida acerca da prática desportiva. Para o entendimento acerca da política nacional de esporte vigente no pais se faz necessária uma breve reflexão sobre a estruturação dos setores administrativos e financeiros relacionado ao setor esportivo brasileiro, . Logo, ao analisar o histórico das políticas públicas de esporte no Brasil pode perceber que, tal fenômeno constantemente sofreu uma relação de Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 354 controle e intervenção por parte do Estado, sendo que, este setor sempre priorizou o apoio ao esporte de rendimento. Segundo Veronez (2009), apud Silveira et al (2011) observa-se que na década de 30, este controle no campo esportivo deu-se através de uma gestão centralizadora, burocrática, autoritária, corporativa e clientelista. Tal gestão procurou moldar o comportamento da juventude para o trabalho através da criação de ídolos esportivos, os quais representavam o país em diversas competições, aumentando assim a auto-estima da população e reafirmando o sentimento ufanista deste povo. Nesta perspectiva, nas décadas de 50 e 60, conforme Mezzadri (2011) o estado tinha o monopólio e controle das ações voltadas ao esporte, fomentando assim, o aumento da inserção deste fenômeno na sociedade, em especial nos espaços escolares. Logo, todas as ações relacionadas ao planejamento, execução e avaliação eram atribuições dos agentes pertencentes ao estado, se configurando um cenário altamente parcial e anti-democrático. Neste momento, observou-se grandes investimentos acerca da implementação de espaços esportivos bem como o financiamento de campeonatos e torneios escolares, objetivando assim, a obtenção de vantagens nos pleitos eleitorais. Em consoante a esta etapa, no período da ditadura militar da década de 60 a 80, foi intensificado o processo de esportivização da escola, sendo que, a educação física foi utilizada enquanto aparelho ideológico do estado, no intuito de fomentar as práticas esportivas. Nesta perspectiva, Bueno (2008) aponta que tal processo se materializa na: “portaria 148 do MEC ao endossar a aproximação do conceito de Educação Física com o de esporte, ao reconhecer as contribuições das atividades físico-desportivas e ao admitir as competições esportivas como substitutas das sessões de Educação Física”. Paralelo ao período militar no Brasil surgiu na Europa o movimento de cunho ideológico denominado Esporte Para Todos que culmina com a Carta Internacional de Educação Física e do Esporte. Tal movimento afirmava que todos tinham direito a praticar um esporte, objetivando assim, melhorar sua aptidão física e consequentemente a saúde. No Brasil, o efeito desse movimento deu-se no sentido de formular meios para aprimorar a aptidão física da população, porém sem perder de vista, o controle das ações vinculadas ao esporte. Em contrapartida, na década de 80, o processo de abertura política e a democracia ganha força. Logo, os militares saem de cena deixando que novos ventos soprem, trazendo consigo esperanças de melhores dias para as políticas de esportes. Desta maneira, mudanças ocorreram frente aos embates de diversos grupos reprimidos, pelo antigo regime. Sendo assim, conforme Mezzadri (2011) no campo esportivo, entidades esportivas buscaram autonomia através de: Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 355 disputa do amadorismo frente ao profissionalismo e aumento dos recursos para o esporte rendimento frente à demanda social. Apesar da nova conjuntura, a estrutura administrativa destinada ao esporte se apresentou como fruto do antigo regime, o qual se mostrou incapaz de produzir políticas de esporte que atendesse as novas demandas sociais. Nesta lógica, Bueno (2008) afirma que: “Mostrava-se necessário reformular estruturas, modos de atuação e a articulação do setor esportivo com a sociedade, o que não era mais possível de ser feito apenas dentro da esfera do Executivo, como nos períodos anteriores”. Como medida frente às detectadas deficiências, foi criada a Comissão de Reformulação do Esporte, que tinha como meta democratizar a prática esportiva, fomentando as diversas dimensões esportivas, em detrimento ao esporte rendimento. Logo, observou-se esta afirmação no discurso de Marcos Maciel, o então Ministro da Educação: A nossa organização esportiva vigente reflete princípios corporativos e de inspiração coletivista, que hierarquizam as atividades esportivas, subordinando-as ao esporte de alto nível, exclusivamente voltado para as medalhas e para os bem dotados. Seus mecanismos formais impedem o desenvolvimento livre do desporto, dos esportistas e de suas organizações básicas, todos a clamar por legislação mais liberal. (Brasil, 1985B). Neste contexto, em 1988, começa a vigorar uma nova Constituição Brasileira que é acompanhada de importantes avanços, entre eles, a garantia do esporte e do lazer enquanto direito social, exalando assim, novas perspectivas para tais setores. Contrapondo as expectativas, Veronez (2005 apud, Silveira et al 2011, p.120) aponta que: “não foi construída uma nova cidadania esportiva no Brasil, como alguns chegaram ingenuamente a acreditar logo após a promulgação da assim denominada constituição cidadã de 1988”. Ao mesmo tempo, Silveira et al (2011,p.121) afirma que “após a promulgação da Constituição de 1988 a discrepância não foi corrigida, ao contrário, aumentou a diferença nos recursos financeiros direcionados ao esporte de rendimento em relação ao esporte social”. Do ponto de vista administrativo, na década de 90, o governo federal criou a Secretaria dos Desportos da Presidência da República (SEDES/PR), o que para Starepravo (2011, p. 215) representou: “um marco importante na separação entre a educação física e o esporte, que vinham sendo tratados como sinônimos ou equivalentes desde a década de 1970 no Brasil”. Além disso, aprovou-se a lei nº 8.672, conhecida como Lei Zico, que classificou o esporte quanto sua manifestação em: Desporto Educacional; Desporto Rendimento; Desporto Participação. Logo, esta lei proferiu uma série de mudanças na estrutura organizacional do Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 356 Estado, como por exemplo a extinção do Conselho Nacional de Desporte que conforme Bueno (2008, p 192) “se transformou em órgão consultivo/normativo e não mais deliberativo/executivo embora ainda pudesse priorizar gastos e orientar a política nacional para o esporte”. Todavia, a sinalização das diretrizes acerca do fomento ao esporte educacional não foi suficiente para a materialização do mesmo, haja vista que naquele período grande parte da plenária envolvida nas deliberações esportivas eram agentes representantes das entidades esportivas profissionais. Neste intervalo de tempo, eis que surge o Instituto Nacional de Desenvolvimento do Desporto (INDESP), tendo como principais prerrogativas: I - implementar as decisões relativas à política e aos programas de desenvolvimento do desporto, estabelecidos por seu Conselho Deliberativo; II - realizar estudos, planejar, coordenar e supervisionar o desenvolvimento do desporto; III - captar recursos financeiros para o financiamento de programas e projetos na área do desporto; IV – zelar pelo cumprimento da legislação desportiva; V - prestar cooperação técnica e assistência financeira supletiva a outros órgãos da Administração Pública Federal, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios; VI - manter intercâmbio com organismos públicos e privados, nacionais, internacionais e governos estrangeiros; VII articular-se com os demais segmentos da Administração Pública Federal, tendo em vista a execução de ações integradas na área do esporte, observadas as diretrizes da política nacional do desporto. Parágrafo único. O INDESP prestará, ainda, apoio técnico e administrativo ao Ministro de Estado Extraordinário dos Esportes. (Brasil, 1995B). Segundo Bueno (2008), o INDESP teria poder executivo e autonomia, tendo como umas das primeiras medidas o fomento de Centros de Excelência Esportiva (CENESP) em universidades que se destacavam na área de pesquisa esportiva de alto rendimento. Nesta perspectiva, no ano de 1998, após muitos embates entre parlamentares e agentes vinculados ao esporte, foi aprovada a Lei nº 9.615, denominada Lei Pelé, que surgiu com o objetivo de substituir a Lei Zico. Logo, Bueno (2008) revela que: [...] em que pese os avanços até aquele momento, as duas legislações concentraram-se basicamente nos problemas do futebol, tratando marginalmente as demais modalidades, em nada modernizando a estrutura do esporte educacional e tratando de forma ainda mais distante o desenvolvimento do esporte de participação (BUENO, 2008, p. 208). Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 357 Com a implantação do Ministério do Esporte no ano de 2003, iniciou-se uma disputa quanto à organização administrativa de tal setor, prevalecendo ao fim a criação da Secretaria Executiva; a Secretaria Nacional de Esporte de Alto Rendimento (SNEAR); a Secretaria Nacional de Desenvolvimento do Esporte Recreativo e do Lazer (SNDEL); a Consultoria Jurídica; o Gabinete do Ministro; além de um órgão consultivo, o Conselho Nacional de Esporte (STAREPRAVO, 2011, p.238). Assim, cada secretaria teria a função de fomentar o esporte, conforme sua atribuição. Neste cenário, constata-se que o Ministério do Esporte realizou várias modificações, destacando-se a tentativa de estruturação dos clubes, induzindo mais transparência por parte dos dirigentes bem como a implementação do estatuto do torcedor, Bolsa-atleta e Time-mania. Nesta lógica, no ano de 2004, a referida instituição realizou a 1ª Conferência Nacional de Esporte, no intuito de: “formular e implementar políticas públicas inclusivas e de afirmação do esporte e do lazer como direitos sociais dos cidadãos, colaborando para o desenvolvimento nacional e humano” (ME, 2004). Logo, tal evento contou com a participação de diferentes agentes envolvidos com o esporte (atletas, esportistas, professores etc Sendo assim, ao término da atividade foram aprovadas as diretrizes para elaboração da Política Nacional do Esporte. A tentativa de inserção da participação popular no processo de construção das políticas públicas de esporte e lazer do país, continuou com a realização da segunda conferência, vislumbrando a construção do Sistema Nacional de Esporte e Lazer (BRASIL, 2006). Todavia, no ano de 2010, aconteceu a 3ª Conferência do referido setor, a qual recebeu diversas criticas por parte da comunidade esportiva bem como dos pesquisadores da área, haja vista que aparentemente o foco do debate foi direcionado ao processo de materialização dos megaeventos esportivos a ocorrer no Brasil, em detrimento da continuidade da discussão sobre a implementação do Sistema Nacional de Esporte e Lazer. Desta forma, Azevedo e Suassuna (2007) afirmam que, as políticas públicas brasileiras são autoritárias, ou seja, são verticalizadas e elaboradas de forma setoriais, não havendo o estabelecimento de diálogo entre órgãos governamentais de forma horizontal. Metodologia Em relação ao procedimento metodológico, trata-se de pesquisa exploratória, de abordagem qualitativa. Logo, Mendonça (2009, p.13) afirma que a: “pesquisa exploratória visa criar maior familiaridade em relação a um fato/fenômeno/processo, investigando o estágio em que se encontram as informações já disponíveis a respeito do assunto”. Em consoante, Michel (2009) aponta que a pesquisa qualitativa permite à elucidação de aspectos não mensuráveis que Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 358 compõe o campo esportivo, além de possibilitar a avaliação da dinâmica de relações sociais que circundam o objeto de estudo. No que diz respeito ao instrumento de coleta de dados utilizou-se a análise documental que segundo Santos (2000) é realizada em fontes como documentos informativos arquivados em repartições públicas, projetos de lei, pareceres etc. Neste sentido, Ludke e André (1986) apontam a análise documental como uma técnica importante na pesquisa qualitativa, seja complementando informações obtidas de outras técnicas, seja desvelando aspectos novos de um tema ou um problema. Em relação à análise de dados, investigou-se a lei orgânica do município, o plano plurianual, as leis ordinárias e complementares relacionadas ao tema bem como as diretrizes e leis orçamentárias do período abordado. Por fim, enquanto categorias de análise do presente estudo elencou-se a analise da estrutura administrativa e financeira do município investigado. Análises dos resultados O município de Ipiaú-BA teve sua organização e estrutura vigente estabelecida na Lei Nº, 1.813 de 02 de Fevereiro 2005 que caracteriza a administração municipal em Administração Direta e constitui os serviços integrados na estrutura das Secretarias Municipais e órgãos diretamente vinculadas a Prefeitura. No que diz respeito à administração indireta, a mesma é composta das seguintes entidades, dotadas de personalidade jurídica própria: autarquias, fundações, empresas públicas e sociedade de economia mista. Vale ressaltar que as entidades que compõem a administração Indireta vinculam-se à secretaria conforme área de competência. Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2010, p. 66) “o tipo de órgão gestor do esporte no município é um indicador da relevância assumida pela atividade na administração municipal, uma vez que informa sobre a estrutura organizacional existente para o encaminhamento das políticas públicas de esporte”. Logo, constatou-se que no município investigado tal ação apresenta-se de forma limitada, tendo em vista que a referida secretaria atribuiu como finalidade em sua matriz conceitual o objetivo de formular e executar as políticas públicas para as áreas de geração de emprego e Assistência Social. Sendo assim, analisou-se que apesar da nomenclatura destinada à secretaria, a mesma direciona o fenômeno esporte a um plano secundário na promoção das ações, transformando-o em área de competência, fato este materializado nos itens do artigo 39, da referida lei, direcionando assim, tornando o fenômeno esportivo algo secundário no referido município. Em relação aos recursos humanos destinados ao desporto, evidenciou-se a existência de apenas um profissional vinculado a esta pasta. Tal cargo denomina-se “Diretor do departamento Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 359 de desporto”, sendo este, responsável por todas as ações direcionadas ao esporte no município. Para Galindo (2005, p.01) “A gestão pública (entendida como gestão política por essência), necessita ser profissional e subsidiada pelos conhecimentos técnicos científicos de sua esfera de atuação”. Logo, aliado a este pensamento e com a convicção em Bourdieu (1983), o qual afirma que a formação inicial e permanente são elementos cruciais para a qualificação das ações destinadas ao esporte, constata-se que, a ausência de uma gama de profissionais com formação na área do desporto se apresenta como um dos elementos limitantes das ações direcionadas a tal fenômeno. Consoante a este fator, percebeu-se, no período investigado, a intenção da ampliação do número de profissionais destinados a esta pasta, através da realização de um concurso para a contratação de dois professores de Educação Física para a Secretaria Municipal de Ação Social. Sendo assim, verificou-se as atribuições destinadas a estes profissionais no exercício de suas respectivas funções, e foi possível perceber a sobrecarga de funções para o profissional de Educação Física. Logo, verificou-se a contradição referente às atribuições que é dada ao cargo em relação a sua valorização financeira. Ao analisar as finalidades da instituição, no que diz respeito ao esporte, constatou que tal entidade priorizou o esporte-participação. Nesta perspectiva, verificou-se a influência conceitual de Tubino (2010) que classifica o esporte em: “esporte-educação”, “esporte-lazer” e “esporte-desempenho”. É possível perceber também que no planejamento referente às competências do desporto, existe a intenção de promover programas que interessem a população. Em contrapartida, no que diz respeito ao controle social da secretaria investigada, constatou-se dois instrumentos: o conselho municipal de assistência social e o conselho municipal dos direitos da criança e do adolescente. Nesta perspectiva, Siraque (2006, p.116) afirma que ”O controle social da função administrativa do Estado, tem, assim, a finalidade de submeter os agentes que exercem função administrativa junto aos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário ao controle da sociedade”. Ao mesmo tempo, Araújo et al. (2006), revela que “No Brasil, nota-se que vem ocorrendo uma ligação cada vez mais intensa entre o controle governamental e o controle social. Afinal, para que uma sociedade seja realmente democrática, é preciso que haja uma interação e um equilíbrio entre esse dois controles”. Alicerçado neste pensamento, confirma-se que no município de Ipiaú não existe um instrumento vinculado ao controle social no tocante ao fenômeno esportivo. Tal fator, segundo Amaral (2009), colabora diretamente para a implementação de políticas de caráter antipopular, haja vista que não convalida a participação da população na elaboração e fiscalização das ações destinadas ao esporte. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 360 Ademais, ao analisar a Lei Orgânica e o Plano Diretor Participativo do município em questão, constatou-se que tais documentos não estão alinhados com a política nacional do esporte. Ao mesmo tempo, nota-se que na prática, as ações destinadas ao esporte não tem alcançado os desejos expressos, deixando o campo esportivo ainda em um plano muito distante do ideal. Em relação à estrutura financeira do município investigado, identificou-se que R$ 2.391.000,00 (Dois milhões trezentos e noventa e um mil reais), foram destinados para Assistência Social do Município, tendo durante o exercício orçamentário uma complementação de verba no valor de R$ 1.452.755,00, totalizando assim, um valor referente a R$ 3.843.755,00, no período investigado. Além disso, evidenciou-se que apenas R$ 362.000,00 (Trezentos e sessenta e dois mil reais) foram destinados ao referido fenômeno, sendo que, foram gastos R$ 178.000,00 (Cento e setenta e oito mil reais), restando assim, R$ 184.000,00 (Cento e oitenta e quatro mil reais). Logo, constatou-se que o valor destinado ao esporte se apresentou de maneira insignificante perante as demandas sociais vigentes. Neste contexto, segundo Mezzadri (2011) tal ação enquadra-se na dimensão caracterizada por um processo político de caráter conflituoso, em relação aos conteúdos e às decisões de distribuição. Sendo assim, através do entendimento a respeito da estrutura do campo político é perceptível a existência de uma limitação no entendimento da importância do fomento do esporte no município, haja vista que o recurso destinado ao fenômeno é insuficiente ao ser comparado com o recurso destinado a referida secretaria. Ademais, neste cenário financeiro, R$ 36.000,00 (Trinta e seis mil reais) foram destinados ao Campeonato Intermunicipal, R$ 110.000,00 (Cento e dez mil reais) para implantação e modernização da infra-estrutura e R$ 252.000,00 (Duzentos e cinqüenta e dois mil reais) para construção de quadra poliesportiva. Desta maneira, se faz notável um maior investimento ações relacionadas a materialização do esporte de rendimento, o que segundo Bracht (2013), caracteriza-se como a valorização do esporte moderno. Consoante a esta ação, ao analisar o Plano Plurianual referente ao período de 2010 a 2013, verificou-se enquanto macro objetivo o fortalecimento da democracia e a garantia dos benefícios para a população bem como a distribuição de recursos e meios a fim de financiar a execução da política Municipal de assistência social, através do apoio de serviços, programas e projetos. Logo, ao comparar tal documento com os relatórios de execução orçamentária constatou-se uma aproximação com alguns itens inseridos no plano diretor, tais como: qualificação e modernização da educação através de construção de quadra poliesportiva; Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 361 promoção de atividades e eventos culturais esportivos e de lazer; modernização de infraestrutura para esporte recreativo e de lazer, apoio a Liga Desportiva Recreativa na participação no Campeonato Intermunicipal, Municipal e na Copa Bahia. Em relação à transferência de recursos públicos para entidades de utilidade pública, constatou-se um repasse de verba para a Associação Desportiva e Ecológica Rio das Contas no valor de R$ 111.346,00. Logo, percebeu-se que a ausência de instituições vinculadas ao controle social do desporto no município permitiram ao gestor público, intervir nas ações financeiras sem passar por um planejamento e fiscalização de tais ações. Sendo assim, conforme Mezzadri (2000) tal ação aproxima-se de uma política de governo, de natureza emergencial e de abrangência focalizada, haja vista que, estas atividades se apresentam apenas para sanar necessidades momentâneas e designadas para apenas um grupo específico da população, limitando assim a participação popular no processo de planejamento e avaliação da execução orçamentária destinada ao esporte no referido município. No entanto, o que verdadeiramente ocorre é que em nenhum momento do período pesquisado, o órgão responsável pelo esporte no referido município conseguiu obter uma verdadeira autonomia administrativa e financeira, estando sempre vinculado as outras demandas. Conclusão Ao analisar a estrutura administrativa destinada ao esporte no município de Ipiaú/BA constatou-se a ausência de uma política pública significativa. Sendo assim, enquanto política pública, a estrutura administrativa e financeira destinada ao esporte do município em questão foram alicerçadas numa política governamental de natureza emergencial, visando suprir apenas as demandas momentâneas. Quanto à análise da estrutura financeira do município, concluiu-se que os recursos financeiros direcionados a entidade esportiva responsável pelo fomento de ações esportivas limitou-se a construção de quadras poliesportivas, implantação e modernização da infraestrutura e apoio a eventos pontuais. Logo, verificou-se que essas ações não atenderam a demanda populacional existente e nem minimizaram as barreiras sociais vigentes, no que diz respeito ao setor esportivo. Em relação à participação popular, ao analisar por completo as leis utilizadas na pesquisa, não se evidencia a citação de criação de um conselho municipal de esporte, o que seria um importante canal de diálogo, que garantiria a participação popular na elaboração das ações de esporte no município, configurando assim, a manutenção de uma política autoritária e verticalizada, onde as ações são pensadas, executadas e avaliadas pelos Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 362 agentes do executivo municipal. Neste sentido, é necessário avançar, sendo necessária uma maior democratização na elaboração das políticas de esporte que é um fenômeno sociocultural que se insere profundamente na sociedade atual. Desta maneira, tais estruturas se aproximaram de um modelo de gestão antipopular, pois não houve a participação da comunidade no planejamento e avaliações das atividades propostas por estes setores, fato caracterizado pela ausência do conselho referente ao fenômeno abordado. Por fim, se faz necessário que o poder público do município, através da Secretaria Municipal de Ação Social e Desporto traga à tona uma nova discussão acerca das políticas do fenômeno em questão, com a finalidade de ressignificar tais ações, a partir de uma gestão participativa. Entretanto, torna-se salutar, a implementação de novos estudos que possam aprofundar o olhar sobre a temática abordada. Referências bibliográficas Amaral, S. C. F. (2009). Lazer e políticas públicas – um olhar sobre a periferia. São Gonçalo/RJ: Instituto Usina Social. Araújo, F. da S. et al. (2006) Ações de Controle Social: uma análise da efetividade dos Conselhos Municipais à luz das constatações de fiscalização da Controladoria Geral da União (CGU), resultantes por meio do Programa de Sorteios dos Municípios na região nordeste do Brasil, no período de 2003 a 2005. REAd, ed.54, v.12, n.6. Bracht, V. (2003) Sociologia Critica do Esporte, 2ed. Revisada; 136 p, Ijuí, RS,Universidade Estadual de Ijuí. Brasil. 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Estudos brasileiros sobre o esporte: ênfase no esporte-educação (163p.). Maringá/PR: EDUEM. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 365 Introdução do Tchoukball no Brasil: Estratégias de Marketing Dirceu Costa Junior (UNINOVE) [email protected] João Manuel Casquinha Malaia Santos (UNINOVE) Resumo A grande Indústria do Esporte no Brasil vem crescendo em grande ritmo. Esse rápido desenvolvimento cria um mercado cada vez mais concorrido, portanto, exigindo um melhor gerenciamento das estratégias para as empresas poderem se destacar. Um dos fatores que auxiliam nesse crescimento é o surgimento de novas e diferentes atividades esportivas como é o caso do Tchoukball. Esse esporte suíço, disputado por equipes mistas, desde os anos 70, ainda é pouco conhecido e praticado no Brasil. O responsável por essa modalidade esportiva no Brasil é a Associação Brasileira de Tchoukball (ABTB). Esse novo esporte, como todo produto, possui um ciclo de existência com seus diferentes estágios e nessa fase de introdução ao mercado brasileiro, existem estratégias mais apropriadas para seu sucesso como novo entrante. Neste ponto é que surgiu o questionamento sobre quais as estratégias foram utilizadas pela ABTB para introdução do Tchoukball no Brasil e se elas foram adequadas de acordo com seu estágio no ciclo de vida do produto. Na tentativa de elucidar esse questionamento, foi realizada uma entrevista semiestruturada com o presidente da ABTB e as informações confrontadas com a teoria. Essa análise mostrou que a Associação já definiu a segmentação promissora de escolares, possui características para um forte posicionamento e executa estratégias de divulgação eficiente e com baixo custo. Palavras-chave: Estratégias de Marketing, Marketing Esportivo, Novas Modalidades. Abstract The great Industry of Sport in Brazil is growing at great pace. This rapid development creates an increasingly competitive market, thus requiring better management strategies for businesses to stand out. One of the factors that assist in this growth is the appearance of new and different sports activities such as the Tchoukball. This Swiss sport, played by mixed teams, since the 70s, is still little known and practiced in Brazil. The responsible for this sport in Brazil is the Brazilian Association of Tchoukball (ABTB). This new sport, as every product has a life cycle with its different stages and this phase to introduce the Brazilian market, there are more appropriate strategies for your success as a new entrant. This point is that the question emerged about what strategies were used by ABTB for introduction of Tchoukball in Brazil and if these Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 366 were appropriate according to their stage in the product life cycle. In an attempt to elucidate this question, one semi-structured interview with the president of ABTB and information confronted with theory was performed. This analysis showed that the association has already identified promising targeting school possesses characteristics for a strong positioning and executes strategies for efficient spreading and low cost. Keywords: Marketing Strategies, Sports Marketing, New Modalities. Introdução O impetuoso crescimento da Indústria do Esporte pode ser percebido em países como Estados Unidos (Milano & Chelladurai, 2011; Pitts & Stotlar, 2002), China (Gao, 2012), Austrália (Kellett & Russel, 2009) e Taiwan (Lu, 2013). No Brasil também não é diferente, ainda mais agora, impulsionado pelos Mega Eventos Esportivos que estão acontecendo: a Copa do Mundo de Futebol em 2014 e os Jogos Olímpicos em 2016. (Koss, Aho & Agrawall, 2011). Essa dimensão sugere que quanto maior for o tamanho dessa indústria, maior a concorrência. Nesse mercado esportivo cada vez mais disputado, é necessário se sobressair diante dos demais concorrentes. Esse destaque se dá através do processo de gerenciamento das estratégias. Existem diversos fatores que justificam esse crescimento e desenvolvimento apresentado pela indústria esportiva; dentre eles destacam-se o aumento do tempo de lazer, o aumento da exposição à mídia de massa e, entre outros, o aumento no número de novas e diferentes atividades esportivas (Pitts & Stotlar, 2002), como é o caso do Tchoukball. O Tchoukball é um esporte ainda pouco conhecido e praticado no país, que encontra na Associação Brasileira de Tchoukball - ABTB - a maior responsável por sua implantação e divulgação no Brasil. É um esporte disputado por equipes mistas, que foi criado na Suíça, na década de 70, pelo biólogo Dr. Hermann Brandt. A introdução de um novo produto em um mercado possui características peculiares que são determinantes para o sucesso desse processo. Utilizar as estratégias mais plausíveis é essencial para alcançar as metas pré-estabelecidas pela entidade esportiva. Portanto, o objetivo desse estudo é identificar e analisar as estratégias usadas pela ABTB para introduzir o esporte no Brasil a luz de estratégias de introdução no mercado e Ciclo de Vida do Produto. Para alcançar esse objetivo, foi realizada uma entrevista semiestruturada com o presidente da ABTB e, a partir das informações coletadas sobre as metas e estratégias da instituição, os dados foram debatidos com a teoria previamente coletada. Os resultados apresentados mostram que a Associação já definiu uma segmentação promissora, formada pelos escolares, embora ainda não tenha delimitado seu mercado-alvo; Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 367 possui características que possibilitam um forte posicionamento; realiza organização burocrática interna; e executa estratégias de divulgação eficiente e com baixo custo. O trabalho inicia com uma breve revisão da literatura, que versa sobre os temas “Estratégias de Marketing” e “Tchoukball”, norteadores deste estudo; logo após é apresentada a metodologia empregada nesta pesquisa, seguida pela apresentação e discussão dos dados obtidos na entrevista; ao final são realizadas as considerações finais e sugestões para outros estudos. Problema de Pesquisa e Objetivo A questão responsável por conduzir e orientar essa pesquisa foi: “Quais foram as estratégias da ABTB para introdução do tchoukball no mercado esportivo brasileiro?” , que apontou para o objetivo principal deste estudo: Reconhecer e analisar as estratégias utilizadas pela ABTB para introduzir o tchoukball no Brasil. Revisão bibliográfica Entendeu-se necessário apresentar de forma sucinta e objetiva alguns conceitos sobre estratégias de marketing, com ênfase no ciclo de vida do produto e algumas particularidades a respeito do esporte tchoukball, que foram norteadores dos direcionamentos dessa pesquisa, desde a escolha do método até a análise dos dados. Esporte como produto As pessoas buscam satisfazer suas necessidades e seus desejos através das funções e dos benefícios propiciados no consumo de bens e de serviços. Muitas vezes essa satisfação se dá através de um produto. Quando esse consumo tem alguma relação com o esporte, esse artigo é um produto esportivo. (Pitts & Stotlar, 2002). A indústria formada por esses produtos esportivos está em constante crescimento (Milano & Chelladurai, 2011; Pitts & Stotlar, 2002) e, portanto, é importante que ela seja segmentada visando elaborar estratégias competitivas (Porter, 2004). Como em todo mercado surgem novos produtos, no mercado esportivo não é diferente; como pode ser percebido com a entrada do badminton no Brasil (Hreczuck, 2011) e os processos já mais adiantados como o vôlei de praia (Costa, 2005) e o rugby (Marques & Cafeo, 2012). Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 368 Tchoukball, um esporte pouco conhecido no Brasil. A Federação Internacional de Tchoukball recebeu uma carta da ONU - Organização das Nações Unidas (2001), reconhecendo o esporte como veículo de mensagem da paz universal, comprovando a sua principal característica. O jogo combina fundamentos de outros esportes como Pelota Basca, Voleibol e Handebol. (Giglio, 2011); possivelmente por isso foi classificado como “Esportes Derivados de Outros Esportes” no Dicionário Enciclopédico do Esporte (Tubino, Garrido & Tubino, 2007). Duas características que diferem o jogo são: o par de quadros de remissão, ao fundo da quadra, onde a bola deve ser arremessada para pontuar e a ausência de contato físico entre os participantes. (Giglio, 2011). Essa falta de contato físico impede a violência e agressão no jogo (Rodriguez, 2009). Figura 1 – Quadro de Remissão do Tchoukball Fonte: http://www.tchoukball.esp.br O “espírito do jogo” é apresentado por três formas: (1) espírito de equipe e valorização do outro; (2) atitudes perante seu adversário, disputando juntos, sem hostilidades; e, (3) busca pelo jogo dedicado e bonito. (Pennewell & Lin, 1997). O jogo é disputado por duas equipes, que podem realizar três passes aéreos cada, três passadas (sem quicar a bola) e arremessar em qualquer um dos quadros. Ocasionam ponto contra quando, após o arremesso, não acertam o quadro, ou a bola volta no arremessador, ou a bola cai fora da quadra ou cai na área proibida (semicírculo de três metros de raio à frente dos quadros de remissão). O jogador faz falta quando: dá mais de três passos, dá mais de três passes, deixa a bola tocar o solo, atrapalha o deslocamento ou passe do adversário e quando a bola toca em um jogador após a finalização de seu time. (Giglio, 2011) Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 369 Importantes características são atribuídas ao esporte como: trabalho em equipe, inclusão, respeito, não violência, jogadas sem medo de bloqueio, aceitação de diferentes níveis e cuidado para não afetar negativamente o jogo do adversário. (Eberly, Yohn & Girardin, 2005). Estratégias em marketing Estratégia de Marketing pode ser entendida como a realização de atividades e decisões tomadas com a finalidade de estabelecer e manter uma vantagem competitiva. (Day, 1992). Essas ações visam maximizar os recursos permitindo geração de lucro (Cobra, 2009). Elas são baseadas no mercado-alvo, na segmentação e no posicionamento. (Kotler & Keller, 2007). É selecionado o segmento de mercado que irá atuar e os clientes que o mercado-alvo abrangerá; posteriormente é realizado o posicionamento do seu produto. A segmentação pode ser geográfica (região, porte da cidade, densidade, área), demográfica (idade, tamanho da família, ciclo de vida da família, sexo, renda, ocupação, grau de instrução, religião, raça, geração, nacionalidade, classe social), psicográfica (estilo de vida, personalidade) e comportamental (ocasiões, benefícios, status do usuário, índice de utilização, status de fidelidade, estágio de prontidão e atitude em relação ao produto). (Kotler & Keller, 2007). Uma categorização realizada especificamente para a Indústria do esporte segmenta o mercado de acordo com o produto e o tipo de consumidor; apresenta-se da seguinte forma: segmento de prática esportiva (produtos oferecidos como participação ou entretenimento), segmento da produção esportiva (engloba os produtos usados na prática esportiva e sua melhora) e segmentação da promoção esportiva (Produtos usados na promoção do esporte). (Pitts, Fielding & Miller, 1994). Outra segmentação que pode ser utilizada no esporte é a fragmentação realizada na lei federal nº 9.615, em março de 1998, também conhecida como a Lei Pelé, cujo artigo 3º desdobra o esporte em suas formas de manifestações: educacional, de participação e de rendimento. Lei 9.615 (1998). Após a definição dos segmentos de mercado em potencial, devem-se definir quais clientes será o foco da empresa, qual será seu mercado-alvo específico dentro de cada segmento. Selecionados os mercados-alvo em seus segmentos, realiza-se o posicionamento, que nada mais é que criar na mente do cliente potencial a desejada imagem do produto e da empresa. (Kotler & Keller, 2007). Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 370 Ao elaborar uma estratégia de marketing para um produto devem-se observar vários fatores como: as características estratégicas da empresa e do ambiente de inserção, além do estágio em que se encontra no Ciclo de Vida do Produto (Ferrel, Hartline & Lucas, 2000). Ciclo de vida do Produto A teoria econômica do Ciclo de Vida do Produto (CVP) foi desenvolvida observando o padrão do comércio internacional (Vernon, 1966) e hoje é muito difundida ente os profissionais do marketing (Contursi, 2000). Esse conceito de “ciclo” pressupõe que todo produto ou serviço tem um “tempo de existência”; que pode ter sua duração aumentada ou diminuída sob a influência da natureza do produto ou do mercado. (Mcdonald, 2004). O Ciclo da Vida do Produto forma uma curva gráfica que geralmente é dividida em quatro fases específicas iniciando pela introdução, seguida pelo crescimento e na sequencia a fase da maturidade, terminando com a fase do declínio. (Kotler & Keller, 2007). Alguns autores dividem o CVP em cinco estágios, acrescentando o estágio de “saturação”, logo após o de maturidade (Mcdonald, 2004), ou adicionando o estágio de “desenvolvimento” do produto, antes da fase de introdução (Ferrel et. al., 2000; Morgan & Summers, 2008). Figura 3 – Ciclo de vida de vendas e lucro. Fonte: (Kotler & Keller, 2007) Os padrões mais comuns de CVP são: padrão de crescimento-queda-maturidade – quando as vendas sobem rápido, caem e depois se estabilizam; padrão de ciclo-novo ciclo – quando as vendas começam à declinar há uma nova promoção do produto gerando um novo ciclo; e, o padrão escalonado – sequência de ciclos gerados por novos usuários ou novas aplicações. (Kotler & Keller, 2007). Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 371 Existem ainda outras categorias de CVP: o estilo que entra e sai de moda diversas vezes; a moda que é um estilo usualmente aceito em determinadas áreas; e o modismo que se refere à um ciclo curto que chega rápido ao ápice e declina com a mesma velocidade. O estágio de introdução é caracterizado por baixas vendas, sem lucro e muitas despesas; o estágio do crescimento é marcado pela aceitação no mercado e melhoria nos lucros; já na maturidade inicia uma estabilidade das vendas e do lucro e aumento na concorrência; durante o estágio do declínio, há queda nas vendas e o lucro cessa. (Kotler & Keller, 2007). Essas fases se confundem, pois mudam rapidamente de uma pra outra, podem conter características de mais de um estágio e ainda podem avançar ou retroceder no ciclo. (Contursi, 2000). Cada uma dessas etapas possui um desafio estratégico (Cobra, 2009) e cada fase exige respostas gerenciais diferentes (Mcdonald, 2004). As principais estratégias de crescimento são: integração vertical – aquisição de outras organizações no mesmo canal de distribuição; a integração horizontal – aquisição de empresas concorrentes no mesmo ramo de negócios, diversificação – aquisição de empresas em outras linhas de negócios ou outras indústrias; fusões – união de duas empresas formando uma nova empresa; e “joins ventures” – empresas trabalhando juntas em grandes projetos. (Certo, Peter & Steffen, 1993). Os diferentes estágios apresentados no ciclo de vida do produto esportivo mostram a necessidade dos profissionais do marketing esportivo conseguirem reconhecer a posição do produto no curso do ciclo e utilizarem as estratégias mais adequadas para o momento no qual o produto se encontra. (Morgan & Summers, 2008). Na fase de introdução no mercado, os esportes desconhecidos em determinada sociedade sofrem influência da cultura esportiva do local, como no caso do Brasil que possui no futebol seu esporte mais popular, mas que enfrenta resistência de outros esportes, ou por desinformação ou falta de interesse comercial e consequentemente da mídia. (Hreczuck, 2011). Quando um novo produto esportivo chega a uma nova localidade, é importante despender a atenção necessária para as estratégias a serem utilizadas, como é o caso da entrada e desenvolvimento do Tchoukball no Brasil. Estratégias de introdução no mercado Todos os estágios do ciclo são importantes, mas uma promoção e distribuição bem feitas na introdução são essenciais para os consumidores tomarem consciência sobre o novo produto e as informações pertinentes como, por exemplo, o local de compra. (Ferrel et. al., 2000). Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 372 Esse período tem como característica a ênfase em divulgação e propaganda (Cobra, 2009; Dias, 2006) na tentativa de criar mercado e ser reconhecido por consumidores; marcado ainda pelos altos custos (investimentos em pesquisas, propaganda e promoção) (Dias, 2006; Contursi, 2000; Mcdonald, 2004); momento também de promover experiências do produto pelo cliente (Ferrel et. al., 2000). Nessa fase introdutória existem quatro tipos de estratégias: a estratégia de penetração de mercado – vender produtos atuais em mercados existentes; a estratégia de desenvolvimento de mercado – novos mercados para produtos já existentes; a estratégia de desenvolvimento de produto – novos produtos em mercados já existentes e em novos mercados; e, a estratégia de diversificação – novos produtos para novos mercados. (Cobra, 2009). Durante o estágio de introdução pode-se ter quatro estratégias: o desnatamento rápido – produto vai ao mercado com preço mais alto do que o objetivo final visando recuperar rapidamente os investimentos realizados; desnatamento lento – produto com preço alto e sem muitos investimentos futuros em propaganda (consumidor já conhece produtos semelhantes); a penetração rápida – concorrência alta com mercado grande e sensível ao preço, visa crescer rápido a produção para diminuir custos, e, penetração lenta – mercado de grande volume e extremamente sensível ao preço. O produto deve apresentar um baixo preço de forma a inibir os concorrentes, já que as margens não serão muito atrativas. (Irigaray, 2006). Nesse estágio introdutório, o responsável pela estratégia de marketing pode optar por duas estratégias principais: a estratégia de penetração – mais indicada para o segmento de massa ou grandes segmentos do mercado (ideal para grandes empresas com fortes recursos e disponibilidade de grandes investimentos no composto de marketing); ou, a estratégia de nicho – com segmento estritamente definido (indicado para empresas com poucos recursos). (Shaw, 2012). Nessa estratégia de nicho, com necessidades específicas e exclusivas, devem-se conhecer as necessidades dos consumidores para tornar lucrativo esse pequeno segmento. (Ferrel et. al., 2000). Metodologia Devido às características do problema, foi realizada uma pesquisa com abordagem qualitativa, pela necessidade de obter elementos das experiências dos participantes da pesquisa e haver poucos estudos específicos sobre o tema investigado (Martins & Theóphilo, 2009) e de natureza aplicada, objetivando um conhecimento prático (Gerhardt & Silveira, 2009). Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 373 Primeiro foi realizado um breve levantamento bibliográfico, buscando os trabalhos que já estudaram o tema anteriormente (Fonseca, 2002) e logo após foi realizado um estudo de campo com a finalidade de adquirir os dados no próprio ambiente estudado. (Gil, 2002). Foi realizada uma entrevista semiestruturada com o presidente da ABTB, que foi o responsável por decidir quais estratégias seriam utilizadas para implantar o tchoukball no território nacional. A escolha pela utilização deste instrumento foi devido à liberdade que ele nos proporcionaria (Martins & Theóphilo, 2009) ao permitir a realização de alguns direcionamentos necessários durante a entrevista. (Boni & Quaresma, 2005). Após a entrevista os dados foram tratados através da técnica de análise de discurso, possibilitando aproveitar as informações que não estavam explícitas no discurso. (Martins & Theóphilo, 2009). Análise de resultados A Introdução do Tchoukball no Brasil O segmento de mercado definido pela ABTB são as instituições de ensino, visando construir uma base sólida e de acordo com o presidente “fortalecer o esporte no futuro”. Ele adequa-se no segmento das práticas esportivas (Pitts & Stotlar, 2002) ou no esporte educacional. (Lei n.º 9.615, 1998). Na tentativa de ser mais incisivo, seria interessante especificar ainda mais o segmento escolar (particular ou público, séries, região, etc...) a fim de delimitar um mercado-alvo específico para melhor direcionar as estratégias de marketing. (Kotler & Keller, 2007). A estratégia de introdução no mercado através de unidades de ensino é facilitada pelos fatores sociais, psicológicos e motores agregados ao esporte. O slogan “Esporte da Paz” também é visto com bons olhos nas escolas, aumentando a aceitação do tchoukball nas comunidades escolares. Esses atributos permitem posicionar uma imagem do produto para os clientes que maximiza a vantagem potencial da empresa esportiva. (Kotler & Keller, 2007). Os esforços em levar o tchoukball para a prática escolar corroboram com a literatura apresentada, pois além do foco na divulgação sugerido por Cobra (2009) e Dias (2006), ainda maximiza recursos em um período de custos altos (Dias, 2006; Contursi, 2000; Mcdonald, 2004) e consegue promover a experimentação do produto (Ferrel et. al., 2000). Com relação às estratégias utilizadas, a ABTB optou pela estratégia de desenvolvimento de mercado, pois o produto já existe em outros locais e a organização está empenhada em criar um novo mercado ainda inexistente no Brasil. (Cobra, 2009). A estratégia de introdução ao mercado utilizada também pode ser definida como penetração rápida, sofrendo com a alta Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 374 concorrência do mercado de outros esportes, tentando desenvolver-se rapidamente para diminuir custos e conquistar o mercado. (Irigaray, 2006). Nesse primeiro momento, a associação realiza uma organização burocrática, com o desenvolvimento e oficialização de documentos que objetivam a participação de todos, embora blindem possíveis tentativas futuras de alterações para favorecimento de beneficio próprio, como ocorrido com outras entidades esportivas. Esse aporte burocrático visa às leis de incentivo para financiar a participação em eventos internacionais e recebimento de outras delegações, a organização e participação de eventos e cursos nacionais e internacionais, além da capacitação dos gestores da ABTB com cursos de gestão esportiva e outros. Com relação à divulgação do esporte, a Associação utiliza ferramentas de baixo investimento como websites e sites de relacionamentos. Também organiza competições subsidiadas por pequenos patrocínios e taxas de inscrição de jogadores. Outra estratégia de divulgação do esporte é através de cursos que são ministrados esporadicamente em faculdades, prefeituras e unidades do SESC (Serviço Social do Comércio). A associação também possui algumas estratégias em longo prazo: está começando à filiar e cadastrar jogadores de diversos locais e no futuro planeja criar competições para absorver esses “atletas” que estarão saindo das escolas. Conclusão A introdução de um novo esporte numa sociedade não é algo tão simples, mas que pode ser facilitado pelo uso de algumas ferramentas de marketing. Como por exemplo realizar a análise interna (da entidade esportiva), assim como a análise externa (do ambiente onde se pretende inserir a nova modalidade) para se conhecer “onde está” e poder definir pra “onde quer ir”. A ABTB está utilizando satisfatoriamente as ferramentas administrativas visando prolongar o tempo de existência do produto esportivo. O prosseguimento se dará com a continuidade nas ações estratégicas de introdução ao mercado e permanecer atento com relação ao mercado para iniciar no tempo certo as estratégias de crescimento, que corretamente ainda não foram aplicadas. O tchoukball é um esporte detentor de características que facilitam sua introdução no ambiente escolar, diminuindo a barreira de entrada nesse mercado que possui baixo custo e eficiente divulgação. Essa pesquisa não almejou analisar as estratégias sob a perspectiva dos 4 P’s do marketing (produto, preço, praça e promoção) deixando essas possibilidade como sugestão para futuras pesquisas. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 375 Referências bibliográficas Boni, V., & Quaresma, S. J. (2005). Aprendendo a entrevistar: como fazer entrevistas em Ciências Sociais. Revista Eletrônica dos Pós-Graduandos em Sociologia Política da UFSC, 2(1), 3. Carta da Organização das Nações Unidas à Federação Internacional de Tchoukball. (2001). 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Por meio de pesquisa exploratória foi verificado os elementos básicos sob as seguintes perspectivas: Identificação de ações cocriativas em atividades organizacionais pontuais e a identificação de ações cocritativas em atividades organizacionais gerais. Espera-se trazer contribuições para a gestão esportiva por meio da identificação dos elementos básicos da Cocriação de Valor (DART), afim de analisar a dinâmica de ações cocriativas. Palavras-chave: Cocriação de valor. Esporte. Projeto Esportivo. Abstract The present study consists of a case study in a sports social project implemented in a Sao Paulo technical school, based on Dialogue, access, risk assessment and transparency ( DART) the basic elements of value co-creation proposed by Prahalad and Ramaswamy (2004 ) , which was assessed with the professionals of the physical education activities contracted by the project , through participant observation . Through exploratory research was the basic elements found in the following perspectives: Identifying the cocreation in specific organizational activities and identifying the same actions in general organizational context. Therefore concludes that the value coation contributes to sport management by identifying the basic elements of Co-creation of value ( DART ) in order to analyze the dynamics of actions. Keywords: Value Co-creation. Sport. Sport Project. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 379 Introdução O financiamento das atividades desportivas do país é produto das políticas públicas tendo como resultado esperado o desenvolvimento do esporte nacional.De acordo com o previsto na Lei nº 11.438, de 29 de dezembro de 2006, o Departamento de Incentivo e Fomento ao Esporte, tem o objetivo de acompanhar, monitorar e estimular confederações, federações e outras entidades esportivas no fomento do desporto e paradesporto nacional. Em números, no ano de 2012, cerca de 947.911 foram os beneficiários diretos dos projetos captados pela Lei de Incentivo ao Esporte (Brasília, 2012) Em 2013, foram investidos 229,2 milhões de reais no esporte e um total de R$ 482.455.008,51 captados para a execução dos mesmos - 83% somente no Sudeste brasileiro (Brasília, 2013). Estar socialmente engajada oferece às instituições uma vantagem competitiva em relação a aquelas não inseridas (Lovelock & Young, 1979) e, tornar os clientes parte integrante desde o processo pode resultar em uma qualidade superior no produto/serviço final, que conforme os autores, é denominado cocriação de valor (Bendapudi & Leoni, 2003; Prahalad & Ramaswamy, 2004; Vargo & Lush, 2006; Zhang & Chen, 2008; Vargo, Maglio & Akaka, 2008; Grönroos 2009, Ramaswamy & Gouillart 2010; Moraes & Costa, 2013). O modelo seminal proposto por Prahalad & Ramaswamy (2004) sugere Elementos Básicos para a inserção da cocriação de valor. Para os autores, o Dialogo, o Acesso, a Avaliação de Risco e a Transparência são a base para que a cocriação de valor seja efetiva nos ambientes organizacionais. Na literatura pesquisada, não foi encontrado a aplicação e o reconhecimento dos elementos básicos da cocriação de valor em projetos sócio-educacionais, tão pouco no ambiente esportivo. Perante isso, esta será uma análise relevante que permitirá espargiras práticas cocriativas do ambiente empresarial. Espera-se ao final do estudo contribuir para a expansão do conhecimento acerca da cocriação de valor, principalmente, no que tange a gestão esportiva no Brasil. Problema de pesquisa e objetivo A pergunta de pesquisa que norteia o estudo é expressa da seguinte maneira: Quais são os elementos de cocriação de valor e como estes agem em um projeto que envolve a comunidade, em uma escola técnica? Diante da situação-problema a ser analisada, o objetivo geral consiste em verificar os elementos de cocriação de valor a partir do Modelo DART, e analisar como estes agem em um projeto que envolve uma comunidade, em uma escola técnica. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 380 Especificamente o estudo buscou analisar a forma de inserção dos professores, a luz das práticas de cocriação de valor por meio do modelo DART, proposto por Prahalad e Ramaswamy (2004) na elaboração e execução do projeto “ETEC na Comunidade”, com intenção de responder a pergunta de pesquisa norteadora do estudo. Revisão bibliográfica A cocriação de valor A identificação de que um novo ambiente de negócios vem ganhando força entre estudiosos e gestores de todos os ramos empresariais. O valor do cliente é um tópico crescente de interesse acadêmico, profissional e nos mais variados setores; passando por áreas como Turismo, Biomedicina, Biotecnologia entre outros (Landroguez, Castro & Gabriel, 2013). Embora se apresente em estágio embrionário na academia, a cocriação de valor é um assunto que vem ganhando notoriedade no âmbito dos negócios (Zhang & Chen, 2008; Becker & Nagel, 2013) e galgando um lugar de destaque dentre os modelos estratégicos de negócios tradicionais com foco nos produtos e preços (Zhang & Chen, 2008; Vargo, Maglio & Akaka, 2008). Diante dos novos pressupostos de negócios, observa-se a exigência de uma análise interdisciplinar do fenômeno, fortalecendo, portanto, a nova maneira de olhar a organização, por meio da interação entre experiências, conhecimentos e resultando em um ambiente de satisfação, lealdade e em um nível de confiança superior entre consumidor e organização (Prahalad & Ramaswamy, 2003; Prahalad & Ramaswamy, 2004; Moraes & Costa, 2013). Contudo, a inserção das práticas cocriativas e a participação do cliente ainda é uma lacuna nos estudos acerca do tema (Payne, Storbacka & Frow, 2008). Baseado na visão da lógica de serviço dominante, a inserção do cliente é explicada não somente pela oferta de produtos e serviços. Ela visa suprir as expectativas e necessidades assim como desfrutar da possibilidade de compartilhar as experiências adquiridas e dos talentos, que resultam na qualidade da integração, na reciprocidade gerada e nos resultados do processo para a contribuição na oferta final (Bendapudi & Leoni, 2003; Prahalad & Ramaswamy, 2004; Vargo&Lush, 2006; Zhang & Chen, 2008; Vargo, Maglio & Akaka, 2008; Grönroos 2009, Ramaswamy & Gouillart 2010; Moraes & Costa, 2013). Organizações que desenvolvem capacidade de se tornar socialmente incorporadas, podem criar maior impacto social em um determinado contexto em relação as que não desenvolveram essa capacidade (Lovelock & Young, 1979; Sánchez, Ricart &Rodríguez, 2006). Contudo, a inserção das práticas cocriativas e a participação do cliente ainda é uma lacuna nos estudos acerca do tema (Payne, Storbacka & Frow, 2008). Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 381 Prahalad e Ramaswamy (2004) definem o processo de cocriação de valor como a combinação de elementos básicos para que empresas melhor engajem seus colaboradores. Os autores definem os Elementos Básicos da cocriação de valor como: Diálogo, o Acesso, o Controle de Riscos e a Transparência (DART). O Modelo DART consiste: - Diálogo: Refere-se a interatividade, envolvimento profundo e propensão a agir por parte da empresa e dos seus beneficiários. Promove compreensão empática, reconhecimento do contexto emocional, social e cultural de cada experiência, estabelece e sustenta uma comunidade fiel a partir do foco em assuntos de interesse mutuo e por meio de um fórum propício ao diálogo, com regras explicitas de envolvimento para interações ordeiras e produtivas; - Acesso: O acesso dentro de uma organização cocriativa é o extravasamento de oportunidade que passam da simples vivencia com o produto e/ou serviço final e começa à ser um canal aberto com informações e ferramentas para modificar a experiência final. Não está necessariamente ligada do consumo do produto/serviço, mas sim a experiência desejável; - Controle de Riscos: Trata-se de um debate amplo, intenso e aberto acerca dos trade-offs entre riscos e benefícios. Resultam na redução do risco referente à possibilidade de dano e insatisfação por parte do consumidor assim como a incerteza de investimentos de capital; - Transparência: É a redução na assimetria de informações por intermédio da combinação dos elementos básicos da DART; com isso, há um novo patamar de confiança entre beneficiário e empresa gerado pelo acesso a informações, ao diálogo e ao controle de suas experiências. O modelo proposto por Prahalad & Ramaswany (2004) indica a importância da bilateralidade onde o cliente passa a desempenhar papel ativo e determinante e enfatiza a possibilidade do diálogo aberto com a organização. Desta maneira, ocorre a dinâmica de cocriar o valor. No entanto, os autores mencionam que a adoção deste processo só é possível por parte das organizações que desafiem os papéis tradicionais. Um dos benefícios de se envolver com as partes interessadas da firma (Freeman, 1984), é o entendimento do ambiente; ser sensível aos desafios e oportunidades que ocorrem nele. Projetos esportivos educacionais Segundo Murray (1990) um programa esportivo voltado para o bem-estar social tem como objetivo estimular os indivíduos na busca por satisfação na família, na comunidade e na profissão por meio da prática de atividades planejadas que reduzam a função das agências governamentais no cotidiano dos cidadãos; também tem como objetivos promover a autodeterminação, a autossuficiência, e a convivência respeitosa entre os seus interessados. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 382 De acordo com o inciso II da Constituição Federal de 1988 em seu Art. 217, “é dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não-formais, como direito de cada um, observados: II - a destinação de recursos públicos para a promoção prioritária do desporto educacional [...]” E prevê ainda, “§ 3º - O Poder Público incentivará o lazer, como forma de promoção social.” Com a aprovação da Lei 11.438, de 29 de Dezembro de 2006 -Lei de Incentivo ao Desporto - houve uma mudança no cenário esportivo nacional. A partir do ano-calendário de 2007, pessoas físicas e jurídicas obtiveram possibilidade de dedução na Declaração de Ajuste Anual e Declaração Anual de Imposto de Renda a fim de fomentar a prática desportiva no Brasil por meio de projetos esportivos aprovados pelo Ministério do Esporte (Redação dada pela Lei nº 11.472, 2007). Em 2010, como mais uma alternativa de investimentos, é instaurado pelo decreto 55.636 de 26 de Março de 2010a regulamentação do artigo 16 de Lei 13.918, de 22 de dezembro de 2009, a Lei Estadual de Incentivo ao Esporte de São Paulo onde, “os recursos serão destinados a projetos desportivos que contemplem atividades sócio-desportivas educacionais, ao desporto e paradesporto”. Com isso, o subsidio ao esporte cresceu e, consequentemente, cada vez mais projetos esportivos começaram a desenvolver atividades para o desporto educacional e de alto rendimento. Desde o início da vigência da Lei à julho de 2013, foram aprovados “1.906 projetos de captação. Em 2009, 172 entidades propuseram projetos de captação, enquanto em 2007 foram apenas 12. Em 2011, o número de entidades buscando captação de recursos para projetos saltou para 349.” (Revista Consultor Jurídico, 2013). Assim sendo, é possível afirmar que a presença do esporte no conjunto das ações do Estado demonstra que o fenômeno esportivo ao longo do tempo de sua história adquiriu relevância e visibilidade pública (Linhales, 2001). O Esporte, além de proporcionar benefícios à saúde humana já comprovados na ciência, destaca-se também como importante ferramenta de desenvolvimento cognitivo, afetivo e motor (Galahue & Ozmun, 2002). O esporte é um mecanismo biopsicossocial que serve como agente transformador da capacidade humana, alcançando lugares e espaços onde o Estado não consegue abranger e promovendo impacto educacional, intelectual, social e cultural por meio da capacidade desenvolver a cidadania, agregar valor e promover a ascensão social ao possibilitar acesso a lugares, assim como, por meio da geração de emprego (Melo Neto & Froes, 1999). Em termos de atuação e intervenção profissional, as organizações públicas ou privadas, com ou sem fins lucrativos, de prática ou administração esportiva se configuram como campos Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 383 de atuação para os profissionais da atividade física e gestores esportivos que, utilizam-se dos princípios de gestão para alcançar objetivos em organizações esportivas (Rocha & Bastos, 2011). Metodologia O estudo consiste em uma pesquisa de natureza qualitativa de fontes primárias. O modelo foi escolhido por possibilitar melhor entendimento e descrição acerca dos eventos (Eisenhardt, 1989) e coleta de dados pertinentes com o objetivo do estudo. Também podemos classifica-la como uma pesquisa exploratória, visto que, ainda há pouca compreensão do fenômeno estudado, principalmente, no âmbito esportivo (Yin, 2010) Afim de elucidar as questões metodológicas organizacionais, a pesquisa foi realizada com levantamento bibliográfico e observação participante com base no tópico guia e com amostragem por conveniência. Observação participante, segundo Gil (1999), é um método de verificação empírica em estudos de caráter científicos. Esta teve como contexto investigado o projeto ETEC na Comunidade; submetido à Secretaria de Esportes, Lazer e Juventude (SELJ) pela Associação Brasileira Profissionais de Educação Física e Esporte (ABRAPEFE) para a realização de atividades sócio educacionais por meio do esporte junto aos moradores da comunidade do Parque Novo Mundo, na Zona Leste de São Paulo, situada ao lado da ETEC de Esportes Curt Walter Otto Baumgart, onde são realizadas as atividades. Para o levantamento bibliográfico foi utilizada a base de dados Proquest com as palavras-chave cocriação e cocriation. Posteriormente, por meio da pesquisa de observação participante realizada ao longo da instauração do projeto. Deu-se início com a elaboração cronológica de atividades organizacionais, a pontuação de eventos e avaliação das práticas de cocriação de valor segundo a DART a fim de elaborar um diagnóstico e levantar propostas de ações para fortalecimento de tais práticas dentro da organização. Análise e discussão dos resultados No período analisar o, o projeto ETEC na Comunidade contou com o desenvolvimento de seis modalidades esportivas para crianças e adolescentes (6 a 17 anos), três vezes por semana, em dois períodos: manhã e tarde. O método segue um sistema de rodizio que possibilita aos alunos vivenciar todas as modalidades esportivas e desenvolver diferentes habilidades motoras ao longo do projeto; para isso, as turmas são divididas de acordo com o nível de desenvolvimento e aquisição motora proposto por Galahue e Ozmun (2002). Além da vivencia das diferentes modalidades de uma forma lúdica, os alunos também têm a possibilidade de Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 384 escolher uma das seis modalidades para especialização e, assim, desenvolver as habilidades e capacidades especificas do esporte. Ao todo, são mais de 950 (novecentos e cinquenta) alunos matriculados e divididos nos três períodos de aulas e, para atender de forma satisfatória a crescente demanda, hoje, o projeto possui uma equipe de trabalho composta por 8 (oito) professores, 2 (dois) auxiliares administrativos, 1 (um) coordenador, 1 (um) auxiliar de supervisão e 1 (um) supervisor geral. Para adultos (maiores de 18 anos), o projeto oferece atividades em três períodos, três vezes por semana, sendo: Ginástica ao ar livre e corrida/caminhada para o período da manhã e tarde e, futsal, vôlei, futebol de campo, corrida e caminha, ginástica ao ar livre oferecidas para o período noturno. Manhã 2ª, 4ª e 6ª feira Tarde Noite 3ª, 5ª e 6ª feira Esportes de Quadra Futebol de Campo Judô Tênis Esportes Futebol Atletismo de de Quadra Campo Vôlei* Futsal* Futebol de Campo Rugby Corrida e Caminhada * Ginástica ao Ar Livre* Ginást ica ao Ar Livre* - Judô Tênis Rugby Corrida e Caminhada * Ginástica ao Ar Livre* Corrida e Caminhada * - - Figura1: Quadro de atividades desenvolvidas *Atividades desenvolvidas para o público adulto Para iniciar a análise da situação-problema apresentada e a identificação das práticas cocriativas, se fez necessária explanação acerca da participação dos professores na implementação e execução do projeto ETEC na Comunidade sob dois espectros distintos, são eles: I. Identificação de ações cocriativas em atividades organizacionais pontuais Para esta análise foi realizada a organização cronológica de atividades e marcos importantes, ocorridos desde a instauração do projeto até as fases executadas durante o período de execução das mesmas (Anexo 1). As ações selecionadas representam importantes passos no processo de consolidação, de manutenção e crescimento do projeto.Feito isso, cada ponto do quadro foi analisado a luz dos elementos da DART, levando em consideração a participação dos professores em cada um desses pontos levantados, com atribuição de diferentes graus de relevância diante da inserção dos professores. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 385 Avaliação dos Elementos Básicos da Cocriação de Valor - DART (Prahalad & Ramasway, 2004) Diálogo Acesso Avaliação de Risco Transparência Instauração Participação parcial Não houve Não houve Não houve Definção e contratação Participação parcial Participação parcial Não houve Não houve Matrícula e compra de materiais Participação parcial Participação parcial Não houve Participação parcial Definição de turmas e início das aulas Participação parcial Participação parcial Não houve Não houve Atividade 1: Páscoa Houve participação Houve participação Houve participação Houve participação Atividade 2: Dia das Mães Não houve Não houve Não houve Não houve Atividade 3: Esportes radicais Não houve Não houve Não houve Não houve Eventos aos finais de semana Participação parcial Participação parcial Participação parcial Participação parcial Festa junina - Adultos Houve participação Participação parcial Houve participação Participação parcial Figura 2: Análise dos elementos da DART em relação a participação dos professores do projeto ETEC na Comunidade em cada uma das ações. Para a atribuição “Não houve”, foi considerado que os professores não tiveram participação nas ações ou no processo de tomada de decisões. “Houve participação” diz respeito a participação efetiva dos professores ou parte deles no processo de tomada de decisões e execução das ações. A “Participação parcial” aponta um envolvimento dos professores que, por falta de engajamento dos mesmos ou por parte da gestão do projeto, não foi contemplada em sua totalidade. E, analisando cada ponto levantado, verificamos que, de um modo geral, a participação dos professores não foi engajada na totalidade das ações pontuadas como relevantes para a instauração e execução do projeto ETEC na Comunidade. Muitos são os fatores que influenciam a participação de atores nas tomadas de decisão e na execução das ações e, de acordo com o ambiente analisado, a participação dos professores foi influenciada diretamente pela falta de intervenções cocriativas por parte da gestão, assim como pela falta de incentivo a estas práticas. Pode-se verificar que a participação dos profissionais da atividade física ocorreu em momentos específicos e que envolveram atividades efetivas com os alunos, ou seja, aquelas em que tiveram influência direta no andamento das aulas apresentaram maior participação dos professores e a cocriação de valor foi bastante incentivada. Como participante no processo de instauração e desenvolvimento do projeto, verifiquei que a atuação dos professores nestes momentos deu-se por uma necessidade de feedback de um referencial para que as atividades elaboradas produzissem interatividade e experiências satisfatórias aos alunos, visto que, o acompanhamento continuo da turma por parte dos professores agregou informações relevantes sobre as preferências e necessidades do grupo. Contudo, foi notada a disparidade entre a participação no processo de cocriação de valor nas atividades entre os professores dos diferentes períodos.Neste projeto, grande parte dos Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 386 professores do período da manhã ministram em ambos períodos e, consequentemente, as atividades idealizadas para os alunos de um período acabaram reproduzindo-se no período da tarde, mesmo com uma gestão diferente nos períodos durante a observação. Em referência a esta constatação, posso induzir que, ao delimitar as ações anteriormente, os professores que já fizeram parte do processo de cocriação anteriormente acabam assumindo um papel protagonista e simplificando, inconscientemente, o processo de cocriação dos demais profissionais. No período de Instauração o principal elemento da DART notado no projeto foi o Dialogo. Nele, os professores passaram a ter conhecimento dos desafios iniciais para a implementação das atividades, puderam compartilhar experiências e vivencias anteriores, todavia, não tiveram acesso aos planejamentos, não participaram dos trade offs e não tinham conhecimento dos procedimentos adotados; já a partir das Definições iniciais e Contratações, alguns professores passaram a ter Acesso aos planejamentos e agregaram conhecimento de projetos anteriores, contribuindo diretamente para a contratação de outros profissionais mas, a partir da Matrícula e Compra de materiais, puderam expor as necessidades referentes aos materiais básicos necessários para o início das aulas de acordo com as necessidades de cada modalidade e com transparência acerca das definições do projeto aprovado junto a SELJ que limitavam a aquisição de alguns itens. Posteriormente, com o processo de Definições de turmas e início das aulas, o processo de cocriação foi reduzido ao Diálogo e ao Acesso parcial. Nesta fase os professores puderam expor suas opiniões e possuíam conhecimento quanto ao número de alunos inscritos, aderência da comunidade e contato com alguns alunos, entretanto, as decisões referentes à identificação das turmas, tipo de divisão dos alunos menores de 18 (dezoito) anos e data de início das aulas foram tomadas pela gestão do projeto. Com o início das aulas e das atividades pontuais desenvolvidas com os alunos menores de 18 (dezoito) anos, o cenário de cocriação tornou-se diferenciado. Principalmente na Atividade 1, que referia-se a uma gincana de páscoa, os professores do período da manhã desfrutaram de todo processo de cocriação e execução da atividade. Esta foi uma experiência muito agradável e, em comparação as atividades posteriores, foi a que mais estava adequada com a expectativa dos alunos. As Atividades 2 e 3 não proporcionaram o processo de cocriação tão estabelecido quanto na Atividade 1; nelas, os professores contribuíram na execução mas não influenciaram na escolha das atividades nem no desenvolvimento da mesma. Houve uma clara diferença na aderência dos alunos a atividade proposta principalmente no período da tarde. Já na Festa Junina realizada para os alunos maiores de 18 (dezoito) anos a inserção dos professores da manhã na cocriação foi plena. Os professores responsáveis por estes alunos Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 387 foram responsáveis por todo o processo e execução da festa, agregando a eles autonomia e confiança para tomada de decisões futuras. Em alguns finais de semana o projeto ETEC na Comunidade é responsável pela operação de aulas, oficinas e atrações distintas dentro da ETEC de Esportes e, com isso, a participação dos professores na cocriação das ações foi reestabelecida. Embora tenha ocorrido uma atuação parcial, os professores detinham um canal de diálogo aberto para a proposta de atividades, acesso as necessidades e limitações, ciência dos riscos e benefícios que a escolha de uma ação traria e transparência nestes processos; mas, a definição do item como parcial deu-se devido ao fato deste processo estar em implementação, uma vez que no início do projeto não ocorria de acordo com os elementos básicos DART. II. Identificação de ações cocriativa em atividades organizacionais gerais Em uma análise geral do projeto, sem levar em consideração os eventos pontuados anteriormente, os professores da ETEC na Comunidades apropriaram-se das ações cocriativas de forma intuitiva e de acordo com a aquisição de confiança profissional dentro do ambiente em que estavam inseridos. Esta foi uma mudança clara e bem recebida por parte da organização, uma vez que, passou a aderir e inserir ações propostas por parte dos professores como a disponibilização de aulas de modalidades especificas. Esta mudança fortalece o ambiente organizacional e promove a confiança, lealdade e a satisfação entre empresa e beneficiários ao passo que se faz notório o reconhecimento e a valorização do profissional, do seu conhecimento e das suas opiniões. Engajar os beneficiários promove capacidades que extravasam o ambiente e as fronteiras empresariais e geram benefícios ao aproveitar o engajamento das partes para proporcionar lucro e/ou redução de custos nos processos e a promoção de redes (Prahalad & Ramaswamy, 2004; Darmody, 2009; Becker & Nagel,2013). Ao separar a participação dos professores em dois tipos de olhar, ficou clara a diferença na promoção de um ambiente cocriativo dentro do projeto ETEC na Comunidade e permitiu a identificação das fraquezas e ameaças enfrentadas, assim como, forças e oportunidades diferente e que podem ser exploradas para o aumento da qualidade e eficiência da oferta de serviço (Shintani & Costa, 2013). Ações pontuais e com interferência direta nas aulas promovem inserção superior dos professores em relação ao cotidiano do projeto. Como a teoria da cocriação de valor é recente tanto no ambiente empresarial como no ambiente acadêmico, introduzir tais ações torna-se um desafio e, até mesmo, uma estratégia de gestão intuitiva e sem fundamentação teórica, seja pela falta de conhecimento ou pela escassez de literatura. Portanto, Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 388 a cocriação de valor torna-se também um desafio de gestão no aproveitamento de oportunidades e na inserção dos beneficiários (Ramaswamy & Gouillart, 2011). Uma vez identificada a necessidade de implementação dos elementos básicos da cocriação de valor, propomos ações que contribuirão para que professores e, consequentemente, demais funcionários do projeto ETEC na Comunidade passem a ser peças complementares no desenvolvimento de ações e planejamento. São eles:Alinhar dentro da organização o que são práticas de cocriação de valor e os benefícios atrelados a ela; criar um sistema de avaliação e comunicação em que os professores possam Dialogar sobre os Fatores de Riscos em atividades e na gestão de todo o projeto; sistematizar reuniões e avaliação pessoal e do grupo a fim de incentivar o diálogo transparente e não opressor e fornecer um canal de comunicação para que ideias sejam colocadas para discussão e desenvolvimento. Conclusão O presente estudo teve como objetivo verificar os elementos e ações de cocriação de valor no projeto esportivo educacional “ETEC na Comunidade”, a luz do modelo DART de Prahalad e Ramaswamy (2004).Buscou analisar a forma de inserção dos professores, a luz das práticas de cocriação de valor com intenção de responder a pergunta de pesquisa norteadora do estudo bem como identificar a inserção destes profissionais de modo a se verificar as práticas de cocriação de valor na elaboração e execução do projeto. Foi identificado no projeto “ETEC na Comunidade” a utilização de todos os elementos básicos da cocriação de valor proposto por Prahalad & Ramaswamy (2004), contudo, a aplicação dos elementos diálogo, acesso, avaliação de risco e transparência foi identificada em diferentes graus de intensidade quando analisados os eventos específicos bem como nas atividades organizacionais gerais. O elemento dialogo foi identificado com maior ocorrência dentro dos eventos pontuais dentro do projeto. Já o elemento avaliação de risco, quando avaliados os eventos pontuais, obteve menor expressividade. Entende-se que, mesmo com o diálogo entre professores e gestão organizacional, a participação dos profissionais da atividade física não é explorada em sua totalidade. Prahalad e Ramaswamy (2004c) apontam que a transparência é elemento fundamental na cocriação de valor uma vez que pode minimizar os riscos e prejuízos. Elementos básicos da cocriação de valor não foram identificados com tanta expressividade nas atividades organizacionais gerais. O elemento diálogo, assim como nas ações pontuais, foi desenvolvido no projeto com maior amplitude. Conquanto, os demais elementos não foram verificados no período de análise.Deste modo, podemos concluir que a Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 389 cocriação de valor ocorre de forma parcial dentro da organização uma vez que não incorpora todos os elementos básicos da cocriação de valor. O campo de conhecimento da cocriação de valor ainda é pouco difundido no meio acadêmico e empresarial. Há na literatura um conhecimento limitado acerca do processo de implementação e manutenção de ações que valorizem a inserção dos clientes, funcionários e beneficiários em nas práticas perpétuas e que valorizem a experiência e o conhecimento dos mesmos. Os benefícios consequentes do engajamento de clientes é relatado por inúmeros estudos no setor empresarial (Prahalad & Ramaswamy, 2004a; Prahalad & Ramaswamy, 2004b; Prahalad & Ramaswamy, 2004c; Becker&Nagel, 2013; Prahalad & Ramaswamy, 2013;Shintani & Costa, 2013) contudo, nenhum trabalho foi encontrado em que os elementos DART sejam investigados em programas sócio educacionais; tão pouco, no ambiente esportivo. Portanto, o presente estudo é um passo inicial na investigação acerca da cocriação de valor fora do ambiente empresarial formal, abrindo portas para um novo olhar aos projetos sócios educacionais esportivos e instigando a investigação acadêmica neste setor. O esporte e suas inúmeras modalidades agregam diferentes valores que contribuem para a formação biopsicossocial do ser humano (Gallahue& Donnelly, 2008). A valorização do profissional da atividade física se faz necessária uma vez que pode extravasar o ambiente das quadras e coagregar valor no âmbito da gestão esportiva. Por conseguinte, o estudo também é inédito na investigação dos elementos cocriativos dentro do ambiente esportivo. Uma vez que, as práticas de gestão esportiva, principalmente no que tange a gestão do desporto no Brasil, baseiam-se em modelos antiquados e muitas vezes amadores, acabam por prejudicar a imagem do esporte e não promovem o crescimento, o fortalecimento e a manutenção das modalidades e dos produtos esportivos. Para o ambiente estudado, após a implantação dos Elementos DART, sugerimos um futuro estudo de caso sob a implementação de tais práticas dentro do setor não empresarial, a forma como ocorreu, as experiências e sucesso ou insucesso atreladas a ela; e, como indicador de melhoria para o presente estudo, proponho a investigação de uma escala adequada para mensurar os Elementos de Cocriação de Valor propostos por Prahalad & Ramaswamy (2004). Com ela, a avaliação e análise dos elementos ocorreria de forma fidedigna podendo até permear /tanto entre estudos qualitativos quanto estudos quantitativos. Anais do II EIGEE – São Paulo/SP, Brasil 20 e 21/11/2014 390 Referencias bibliográficas BECKER, L.C.B.; NAGEL, M.B. (2013) A Relação entre os elementos da cocriação (DART) e confiança no contexto de serviços.RAIMED - Revista de Administração IMED, 3(1), p. 118. COSTA, R.M.; MELO, P.L DE R;CARDOSO, M.V.; FERREIRA, C.E.C. (2012). Ambiente interno para inovação em uma empresa de e-commerce.Revista de Administração e Inovação, São Paulo, v. 9, n. 2, p.05-30, abril/jun. DARMODY, A. (2009). Value Co-Creation and New Marketing. Technology Innovation Management Review, Ottawa, Canada, Nov 2009. Disponível em: <http://timreview.ca/article/302/>. Acesso em: 15 junho de 2014. EISENHARDT, K. M. (1989). Building theories from case study research. The Academy of Management Review, 14(4), 532-550. FREEMAN, E.R. (1984). Strategic Management. 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