MAPEAMENTO DO FOCO DA DENGUE NAS REGIOES

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MAPEAMENTO DOS FOCOS DA DENGUE NO DISTRITO FEDERAL
EM 2001 e 2002 E SUA RELAÇÃO COM O CLIMA
Elaine Cristina Oliveira 1
Ercília Torres Steinke 2
RESUMO - A dinâmica da disseminação da Dengue na região administrativa de São Sebastião,
localidade que apresentou maior número de casos em 2001 e 2002, foi facilitada pela interação de
fatores físicos com os sociais, econômicos e culturais que resultaram na degradação ambiental no
espaço urbano na cidade. O trabalho visa identificar e mapear os casos de Dengue no Distrito
Federal, procurando estabelecer relações entre as variáveis climáticas e os casos da doença.
Abstract- The dynamics of the dissemination of the disease – Dengue - in the city of São
Sebastião/DF, an area that presented greater number of cases in 2001 and 2002, was facilitated by
the interaction of various factors including the physics, socials, economics and culturals that had
resulted in the degradation of urban area in the city. The work aims to identify and to map the cases
of Dengue in the Federal District, looking for the relations between climatic variables and the cases
of the disease..
Palavras-Chave: clima, saúde.
INTRODUÇÃO
A influencia climática negativa sobre o homem pode se manifestar através de doença e
epidemias humanas. Pitton e Domingos (2004) afirmam que os parâmetros climáticos afetam a
saúde humana de forma direta e indireta. Dessa forma é fundamental compreender a influência
correlações entre os elementos do clima e os seus efeitos da saúde humana. Uma das formas de
entender essa relação é por meio do estudo das doenças tropicais que estão diretamente relacionadas
com o clima, não se esquecendo dos aspectos sócio-economicos da população e falta de prevenção
1
Mestranda do Departamento de Geografia da Universidade de Brasília (UnB). Laboratório de Climatologia Geográfica
(LCGea) do Depto. de Geografia da Universidade de Brasília (UnB). Campus Universitário Darcy Ribeiro, mód. 23
subsolo. CEP: 70000-900 – Brasília/DF, (61) 32721909; [email protected];
da saúde. A dengue, uma dessas doenças tropicais, se tornou um dos principais problemas de saúde
pública no mundo.
De acordo com Organização Mundial da Saúde – OMS, entre 50 a 100 milhões de pessoas
no mundo se infectam anualmente, com exceção da Europa. Aproximadamente 550 mil pessoas
necessitam de hospitalização e dessas 20 mil morrem em conseqüência da doença.
No Distrito Federal, as primeiras notificações de casos confirmados de dengue datam de
1984 no qual foram registrados 13 casos. A partir de 1996, o número de casos aumentou,
culminando com 6973 casos notificados durante a epidemia de 2002 (SSE/DF, 2003).
Acompanhando o cenário nacional, em 2003, foram registrados apenas 710 casos no DF,
comprovando uma redução de 89,9% no número de casos devido às ações preventivas da Secretaria
de Saúde.
Oito regiões administrativas, no Distrito Federal, apresentam larvas do mosquito da Dengue
são elas: Guará, Ceilândia, Taguatinga, Planaltina, Sobradinho, Paranoá e São Sebastião. Em
destaque, a região que mais houve foco do mosquito “Aedes aegypti” foi São Sebastião, devido às
condições sócio-economicas, densidade demográfica, histórico de ocorrência de casos de dengue
presentes nas invasões.
Esse texto traz as primeiras observações a respeito dos fatores desencadeadores da dengue
no Distrito Federal, inclusive os climáticos, utilizando como exemplo a cidade São Sebastião. O
objetivo principal foi identificar e espacializar, por meio de ferramentas de geoprocessamento, os
casos de dengue em 2001 e 2002, período de maior ocorrência da doença.
MATERIAL E MÉTODOS
A área de estudo compreende o limite político administrativo do Distrito Federal do Brasil
localizado na região geo-econômica do Centro-Oeste. Seus limites são definidos, a norte pelo
paralelo 15° 30’ e ao sul pelo paralelo 16° 03’ e, limite natural ao leste pelo rio Preto e o rio
Descoberto a oeste, abrangendo uma área aproximada de 5.814 Km² (Figura).
O relevo caracteriza-se por topografia plana a plana ondulada com cotas entre 830 e 1.000
metros, constituindo-se nos divisores de água das bacias hidrográficas da região. Existem também
unidades morfológicas com relevo suave-ondulado, representadas por colinas; e as de relevo
acidentado, encostas de perfil côncavo-convexo e perfil complexo. Grande parte dessas unidades
está recoberta por Latossolos e Cambissolos (STEINKE, 2003).
2
Laboratório de Climatologia Geográfica (LCGea) do Depto. de Geografia da Universidade de Brasília (UnB). Campus
Universitário Darcy Ribeiro, mód. 23 subsolo. CEP: 70000-900 – Brasília/DF, (61) 32721909, [email protected];
A região é drenada por cursos d’água pertencentes a três das mais importantes bacias
hidrográficas brasileiras: São Francisco, representada pelo rio Preto, Tocantins/Araguaia, pelo rio
Maranhão, e Paraná, pelos rios São Bartolomeu e Descoberto. Dadas as condições dos solos,
topografia e clima, existe grande quantidade de canais de primeira ordem e de nascentes
(SEMARH, 2000).
O Distrito Federal situa-se na região do Cerrado e apresenta diferentes tipos de vegetação,
tais como: Cerradão, Cerrado Típico, Campo Cerrado, Campo Sujo e Campo Limpo. Matas
Ciliares, Veredas e Campos Rupestres completam o quadro (SEMARH, 2000).
Os sistemas de circulação atmosférica que atuam no Centro-Oeste, associados à posição
geográfica do Distrito Federal, permitem observar na região em dois períodos marcantes, um seco e
outro úmido. Segundo STEINKE (2004), de maneira geral pode-se dizer que o período
compreendido entre os meses de maio a setembro (seco) possui as seguintes características: intensa
insolação, pouca nebulosidade, forte evaporação, baixos teores de umidade no ar, pluviosidade
reduzida e grande amplitude térmica (máximas elevadas e mínimas reduzidas). O inverso se dá no
semestre outubro a abril (úmido): a insolação se reduz, a nebulosidade aumenta, diminui a
evaporação, os teores de umidade do ar aumentam, a pluviosidade se intensifica e a amplitude
térmica moderadamente reduz-se, pois as máximas mantêm-se e as mínimas elevam-se.
A cidade de São Sebastião está localizada no quadrante sudoeste do território do Distrito
Federal, o clima predominante na região é o tropical com estação seca, caracterizado pelas chuvas
no verão (interrompidas pelos veranicos, isto é, períodos de seca) e pela seca acentuada no inverno,
havendo assim uma sazonalidade bastante destacada. Em virtude desse fato, o estudo geográfico das
localidades torna-se de importância devido a necessidade de se analisar as condições ambientais que
faz ocorrer um índice elevado, em comparação as demais regiões administrativas (RAs).
A população de São Sebastião mediante seu habitat natural, que se traduz num fator que
interfere diretamente sobre a transmissão e contágio da Dengue entre as pessoas. Hábitos como o de
guardar vasilhames, pneus, vasos e demais recipientes em casa para posterior aproveitamento tem
contribuído bastante para que a doença se desenvolva e progrida cada vez mais, pois são nestes
locais que o mosquito da Dengue se desenvolve, posteriormente adquire a doença e transmite para o
homem, o qual dentro da sua própria casa está muito vulnerável a ser afetado pela Dengue.
O levantamento do número de casos de dengue registrados e confirmados no Distrito
Federal, no período de 2001 e 2002, foi fornecido pela Secretaria de Saúde do DF - SES/DF por
meio das Diretorias de Vigilância Ambiental e Epidemiológica e do Laboratório Central – Lacen.
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS PRELIMINARES
O presente trabalho é uma parte da qual está sendo desenvolvido a dissertação de mestrado
no departamento de Geografia da Universidade de Brasília e este, mostrará a análise dos índices de
casos de Dengue registrado no Distrito Federal e a chuva anual que está sendo avaliado a relação
do clima no DF com as doenças, um caso específico, a Dengue. No final do ano de 2001 e início de
2002, ocorreu no Distrito Federal o maior surto de Dengue de sua história. O gráfico 1 a seguir,
mostra a evolução da doença num período de seis anos. Pode-se verificar que houve um aumento
bastante considerável de Dengue no Distrito Federal, em 1997 foram notificados 722 casos com 05
casos autóctones confirmados clinicamente. Já em 2002 foram notificados 6.698 casos com 1.463
casos autóctones confirmados.
No gráfico 2, podemos verificar o total de chuva durante cada ano seguinte entre 1997 a
2003. Sendo que em 1997, houve o maior índice pluviométrico durante esse período de sete anos,
ao qual houve o menor número de casos autóctones confirmados. Vários fatores influenciam no
surto da Dengue, tais como: umidade, temperatura, infra-estrutura do local, chuva etc.
A Geografia como um todo fornece elementos essenciais para a prevenção e o controle das
endemias, pois o conhecimento dos meios de dispersão das diferentes espécies envolvidas nas
cadeias enzóoticas e epidêmicas, bem côo a natureza de suas inter-relações e a dinâmica que
envolvem os seres humanos são grande importância para uma avaliação adequada de problemas de
ordem sanitária, ambiental e social como um todo. A identificação das barreiras naturais e das áreas
de distribuição geográfica e ecológica permitem-nos delimitar as áreas endêmicas com precisão,
permitindo que se faça o monitoramento das endemias por meio dos focos encontrados, bióticos e
possíveis vetores, possibilitando o controle e erradicação de doenças.
GRAFICO 1 – Série histórica dos casos de Dengue no Distrito Federal – 1997/2002
8000
7000
6000
5000
4000
3000
2000
1000
0
6698
nº autóctones
3050
2103
722
5
83
1997 1998
1463
679 578
613
38
28
1999 2000 2001 2002
nº notificados
FONTE: Secretaria de Saúde do Distrito Federal - 2003
GRÁFICO 2 – Índice pluviométrico anual da estação do INMET – 1997/2003
1600
1418 1374
1377
1389
1400
1285
1242
1094
1200
1000
800
600
400
200
0
1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
Chuva
FONTE: INMET
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O clima atua basicamente de duas formas na saúde humana: de maneira contínua,
influenciando os fenômenos biológicos, e de forma episódica, por meio dos eventos climáticos
extremos. No primeiro caso, fatores como temperatura, umidade relativa e chuva afetam a
capacidade de reprodução em sobrevivência de agentes patogênicos no meio ambiente e,
principalmente, dos vetores dos agentes infecciosos, tais como: os mosquitos envolvidos na
transmissão da malária, da dengue etc.
Os eventos extremos podem causar, de forma direta, epidemias de doenças infecciosas
conforme verifica-se em várias aglomerações urbanas brasileiras, durante as chuvas de verão.
Contudo, avaliar os impactos do clima na saúde de uma população deve levar em conta os fatores
de vulnerabilidade social que afetam esta população.
O conceito de vulnerabilidade social de uma população tem sido utilizado para
caracterização de grupos sociais que são mais afetados por estress de natureza ambiental, inclusive
aqueles ligados ao clima. BLAIKIE et al. (1994) definiram vulnerabilidade como as características
de uma pessoa ou um grupo em termos de sua capacidade de antecipar, lidar com, resistir e
recuperar-se dos impactos negativos dos desastres.
O estudo da vulnerabilidade social das populações sujeitas aos efeitos dos impactos
climáticos na sua integridade física e bem estar é de fundamental importância para a orientação de
ações preventivas. O modelo conceitual de vulnerabilidade social de uma população aos impactos
do clima na saúde proposto por CONFALONIERI (2003), baseia-se nos clássicos modelos de
exposição/respostas. Nele são considerados os eventos de saúde como parte de conjunto de
respostas dadas pela sociedade aos fenômenos do clima. Uma associação de fatores individuais e
coletivos, estruturais e funcionais, forma o grupo dos determinantes imediatos. Como determinantes
primários, estão os fatores representados pela renda, cultura, educação e poder público que são
passiveis de modificação por meio de políticas publicas de longo prazo. Por outro lado os
determinante imediatos podem sofrer modificações a médio e curto prazo para proteção da
população, por meio da redução da exposição ou da melhora da capacidade de resposta.
Esse modelo será aplicado no Distrito Federal por regiões administrativas onde os impactos
na saúde serão representados pelo surto epidêmico de dengue em 2002. Essa situação decorreu das
formas precárias de ocupação urbana e da precariedade da infra estrutura de saneamento (drenagem,
coleta de lixo etc.)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BLAIKIE, P. et al. At risk. Natural hazards, peoples vulnerability and disasters London: Routledge,
1994. 284 p.
CONFALONIERI, U.E.C. Variabilidade climática, vulnerabilidade social e saúde no Brasil.. São
Paulo, 2003. Fundação Oswaldo Cruz.
CONFALONIERI. U. E. C. MEDEIROS, L. M. Impactos na morbi-mortalidade das tempestades e
inundações no município do Rio de Janeiro, 1999. Manuscrito.
CONFALONIERI, U. E. C. BRACK, J. C. Variabilidade pluviométrica e incidência de peste
bubônica nos estados da Bahia e Ceará, 1937 – 1996. Anais XXXVII CONGRESSO SOC.
BRASIL. MED. TROP., 37., [20-]. p. 405
PITTON, S. E. C; DOMINGOS, A. E. Tempo e Doenças: efeitos dos parâmetros climáticos nas
Crises Hipertensivas nos Moradores de Santa Gertudres-SP, Revista Estudos Geográficos, 2(1).,
Rio Claro: IGCE/UNESP 2004. p.75-86. Disponível em
http://www.rc.unesp.br/igce/grad/geografia/revista.htm. Acesso em 02de maio de 2006
SEMARH. Mapa Ambiental do Distrito Federal. Brasília: SEMARH, 2000. Escala: 1:100.000. CD-ROM.
STEINKE, V. A. Uso integrado de dados digitais morfométricos (altimetria e sistema de drenagem)
na definição de unidades geomorfológicas no Distrito Federal. Brasília, 2003. 101 f. Dissertação
(Mestrado em Geologia) Instituto de Geociências, Universidade de Brasília.
STEINKE. E. T. Considerações sobre variabilidade e mudança climática no Distrito Federal,
suas repercussões nos recursos hídricos e informação ao grande público. Brasília, 2004, 196 p.
Tese (Doutorado em Ecologia). Instituto de Ciências Biológicas, departamento de Ecologia,
Universidade de Brasília.
SANTOS. J. P. Espaço e doença: Análise geográfica do surto de Dengue em São Sebastião ,
2001/2002. Brasília, 2003, 89 p. Monografia (Prática e Pesquisa de campo II). Departamento de
Geografia, Universidade de Brasília.
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