UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DO AMAZONAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL MESTRADO EM DOENÇAS TROPICAIS E INFECCIOSAS PERFIL DE CITOCINAS EM MULHERES GRÁVIDAS COM MALÁRIA POR Plasmodium vivax, ACOMPANHADAS NA FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DO AMAZONAS JANDER TORRES DA SILVA MANAUS 2007 ii JANDER TORRES DA SILVA PERFIL DE CITOCINAS EM MULHERES GRÁVIDAS COM MALÁRIA POR Plasmodium vivax, ACOMPANHADAS NA FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DO AMAZONAS Dissertação Programa de apresentada Pós Graduação ao da Universidade do Estado do Amazonas, para obtenção do grau de Mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas. Orientadora: Profª. Drª. Maria das Graças Costa Alecrim Co-orientadora: Profª. Drª. Flor Ernestina Martinez Espinosa MANAUS 2007 iii FICHA CATALOGRÁFICA SILVA, Jander Torres Perfil de citocinas em mulheres grávidas com malária por Plasmodium vivax acompanhadas na Fundação de Medicina Tropical do Amazonas / Jander Torres da Silva – Manaus – AM: UEA; FMTAM, 2007. xiii 79 pág. Ilus. Dissertação de Mestrado em Doenças Tropicais e Infecciosas 1. Malária 2. Citocinas 3. Interleucinas 4. Grávidas 5. Imunidade I. Título iv DEDICATÓRIA Ao senhor Deus, criador de todo o universo e responsável pela nossa existência. Aos meus pais, Antonio e Raimunda, o meu mais profundo agradecimento pelos ensinamentos da vida. À minha esposa, Cacilda e aos nossos filhos Larissa, Laura e Mauricio pela compreensão nos momentos difíceis e abstinência do nosso lazer. A todos os meus amigos que me incentivaram em mais essa jornada de vitória na minha vida. v AGRADECIMENTOS • • • • • À Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA), À Universidade do Estado do Amazonas (UEA), À Fundação de Medicina Tropical do Amazonas (FMTAM), À Fundação de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas (FHEMOAM). À Fundação Muraki. Pelo apoio financeiro e institucional para a realização deste trabalho cientifico. Meus agradecimentos a todos que de maneira direta ou indireta, estiveram envolvidos na colaboração deste estudo. Minha mais profunda gratidão e compreensão a todos: o Prof. Dr. Sinésio Talhari, Diretor-Presidente da FMTAM. o Profa. Dra. Maria das Graças Costa Alecrim, Orientadora deste estudo. o Profa. Dra. Flor Ernestina Matinez Espinosa, Co-orientadora deste estudo. o Profa. Dra. Maria das Graças Vale Barbosa, Coordenadora do curso de Mestrado e Doutorado em Doenças Tropicais e Infecciosas. o Profa. Dra. Adriana Malheiro, pelo seu conhecimento e apoio técnico nas dosagens das citocinas. o A todos os professores e funcionários do curso, em especial à secretária Conceição. o A Gerência de Epidemiologia da FMTAM, em especial ao Sr. Raul e a amiga e colega de mestrado Graça Saraiva, pelas pesquisas epidemiológicas. o Aos meus colegas de mestrado pela oportunidade de convivência e troca de informações cientificas durante o tempo em estivemos na sala de aula. o Minhas colegas mestras e bioquímicas pesquisadoras da Gerência de Malária: MSc. Eva Batista, MSc. Mônica Manso, e em especial as MSc. Ana Ruth e MSc. Yionne Cheuhan, cujo apoio nas pesquisas e revisões dos dados foram fundamentais para o termino deste. o Aos colegas bioquímicos da Gerência de Diagnóstico: Geraldo Majela, Amarildo Felipe, Rogério Lobo e Sandro Morete pelo apoio na minha ausência durante o curso, em especial ao meu chefe e amigo MSc. Felipe Sardinha pelo apoio nas pesquisas. vi o Aos colegas bioquímicos da Gerência de Virologia: Bosco e Julita pela colaboração técnica. o A todos os técnicos e auxiliares da Gerência de Diagnóstico e Gerência de Malária da FMTAM, em especial as colegas Socorro Pontes, Erika Pinto, Elizabeth Vital, Andreza Cordeiro, Luciana Orêncio, Rosemary, Marli Marques, Eckner Lessa e Juarez Nery. o As acadêmicas e estagiárias do curso de farmácia-bioquímica que colaboraram na triagem das amostras: Pricila Lima, Susy Caroline, Sabrina Silva e Lisele Brasileiro. o Ao biólogo Daniel e a biomédica Tatiane da FHEMOAM pelo apoio nas técnicas de dosagens das citocinas. o As bibliotecárias da FMTAM, Sra. Melke e Sra. Artemiza pelo apoio na revisão literária. o A todas as pacientes deste estudo, que de maneira anônima, contribuíram para o aprimoramento da pesquisa e nosso conhecimento. o E a todos aqueles, funcionários ou não da FMTAM, que em algum momento nos abordaram com uma palavra de incentivo pela conclusão deste trabalho. vii LISTA DE FIGURAS Figura 1 Figura 2 Figura 3 Figura 4 Figura 5 Figura 6 Figura 7 Figura 8 Figura 9 Figura 10 Figura 11 Figura 12 Figura 13 Figura 14 Figura 15 Figura 16 Figura 17 Figura 18 Figura 19 Figura 20 Figura 21 Figura 22 Figura 23 Figura 24 Figura 25 Figura 26 Figura 27 Figura 28 Figura 29 Figura 30 Figura 31 Distribuição global da malária por endemicidade............................ Incidência parasitária anual (IPA) no Amazonas............................. Ciclo evolutivo dos plasmódios ....................................................... Maquete do Pronto Atendimento da FMTAM................................... Técnica de coloração da gota espessa ........................................... Punção digital .................................................................................. Gota espessa e estendido sangüíneo ............................................. Punção venosa ................................................................................ Lavadora e leitora de ELISA ........................................................... Esquema de diluições dos padrões (BD OptEIATM ) ................................. Equipamento PENTRA 120 para hemograma ................................ Equipamento DADE X-Pand para dosagens bioquímicas .............. Distribuição da coleta das 194 amostras no D0 e D35 ................... Episódios de malária durante a coleta das 194 amostras analisadas no D0 e D35 .................................................................. Sintomas clínicos da infecção malárica observados no D0 ............ Distribuição dos episódios de evolução da malária segundo os dias de sintomas ............................................................................. Distribuição das pacientes segundo o estado obstétrico no momento da coleta nas 194 amostras analisadas no D0 e D35 ..... Comparação dos títulos de citocinas presentes nas amostras do D0 e D35 ......................................................................................... Comparação da média dos níveis de citocinas em pacientes primoinfectadas e as com mais de uma infecção ........................... Distribuição dos níveis de citocinas nas amostras coletadas no D0 segundo a freqüência de gravidez .................................................. Correlação da densidade parasitária e a concentração de citocinas nas amostras coletadas no D0 ......................................... Correlação da evolução dos sintomas em dias e a concentração de citocinas ..................................................................................... Correlação do número de episódios anteriores de malária e a concentração de citocinas nas amostras coletadas no D0 ............. Correlação da paridade e a concentração de citocinas nas amostras coletadas no D0 ............................................................... Correlação da amenorréia distribuída em semanas de gravidez e a concentração de citocinas nas amostras coletadas no D0 .......... Correlação da hemoglobina e a concentração de citocinas nas amostras coletadas no D0 ............................................................... Correlação da glicose e a concentração de citocinas nas amostras coletadas no D0 ............................................................... Correlação da creatinina e a concentração de citocinas coletadas nas amostras do D0 ........................................................................ Correlação da bilirrubina total e a concentração de citocinas coletadas nas amostras do D0 ........................................................ Correlação entre a bilirrubina direta e a concentração de citocinas coletadas nas amostras do D0 ........................................................ Correlação da bilirrubina indireta e a concentração de citocinas coletadas nas amostras do D0 ........................................................ 2 6 8 29 31 32 32 32 33 34 34 35 36 37 38 39 39 41 44 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 viii LISTA DE TABELAS Tabela 1 Tabela 2 Tabela 3 Tabela 4 Tabela 5 Tabela 6 Tabela 7 Tabela 8 Distribuição da casuística no D0 (n=160) dos episódio de malária por P.vivax em mulheres grávidas atendidas na FMTAM ............... Distribuição dos níveis das citocinas segundo as concentrações encontradas ..................................................................................... Distribuição qualitativa de citocinas em 194 amostras analisadas no D0 (n=160) e D35 (n=34) ........................................................... Comparação da média das citocinas em 194 amostras analisadas no D0 (n=160) e D35 (n=34) ........................................................... Média das citocinas entre as 160 amostras coletadas em grávidas (n=146) e não grávidas (n=14) ........................................................ Comparação da média das citocinas entre os 160 episódios de malária em pacientes primoinfectadas (n=22) e as que relataram mais de uma infecção (n=138) ........................................................ Média das citocinas nas 160 amostras analisadas no D0 entre primíparas (n=45) e multíparas (n=115) .......................................... Resumo das correlações positivas e negativas nas 160 amostras de citocinas analisadas no D0 ........................................................ 38 40 42 42 43 43 45 58 ix LISTA DE ABREVIAÇÕES APC CEP CNK EDTA ELISA FACS FMTAM GCSA HCG ICAM-1 IL IL-1 IL-2 IL-6 IL-8 IL-10 INF-γ IPA IRN IRO LPS OMS OPAS PCR PCR QBC SNC T CD4+ T CD8+ TCLE TGB-β Th1 Th2 TNF-α TNF-α R TNF-α R Hu Célula Apresentadora de Antíngeno Comitê de Ética em Pesquisa Células Natural Killer Ácido Dietilamino Ensaio de Imunoadsorção Ligado à Enzima Separação de células ativada por fluorescência Fundação de Medicina Tropical do Amazonas Glycosaminoglycan Chondrointin Sulfate A Hormônio do crescimento Molécula de adesão intercelular tipo 1 Interleucinas Interleucina 1 Interleucina 2 Interleucina 6 Interleucina 8 Interleucina 10 Interferon gama Índice Parasitário Anual Intermediários Reativos de Nitrogênio Intermediários Reativos do Oxigênio Lipopolissacarideos Organização Mundial de Saúde Organização Pan-Americana de Saúde Proteína C Reativa Reação em Cadeia da Polimerase Quantitative Buffy Coat Sistema Nervoso Central Linfócitos T auxiliares tipo CD4+ Linfócitos T auxiliares tipo CD8+ Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Fator beta transformador do crescimento Células T auxiliares tipo 1 Células T auxiliares tipo 2 Fator de Necrose Tumoral alfa Fator de Necrose Tumoral alfa Recombinante Fator de Necrose Tumoral alfa Recombinante em Humanos x RESUMO A malária na gravidez pode ter conseqüências tanto para a mãe quanto para o feto, como predispor o aumento da anemia materna e o nascimento de crianças com baixo peso. O mecanismo pelo qual a malária exerce esses efeitos ainda é pouco conhecido, contudo a secreção de citocinas está elevada na placenta de mulheres com malária no momento do parto, quando comparados com placentas de mulheres grávidas sem malária. Na gravidez o plasmódio produz certas substâncias como a hemozoína, a qual ativa os macrófagos a liberarem citocinas. Essas citocinas parecem estar associadas com o crescimento retardado intra-uterino, mas sem comprometimento no parto. Contudo através de mecanismos imunológicos ocorre a produção de citocinas tanto pró-inflamatórias quanto antiinflamatórias. O objetivo deste estudo foi avaliar o perfil e a concentração dos níveis séricos de citocinas TNF-α, IL-6, IL8 e IL-10, em grávidas infectadas por P.vivax atendidas e acompanhadas na Fundação de Medicina Tropical do Amazonas. É um estudo descritivo, prospectivo, de série de casos com coleta de amostras sanguíneas de grávidas infectadas com malária por P.vivax, onde as amostras coletadas no dia de inicio do tratamento, chamado dia zero (D0) e no dia 35 (D35), após o inicio do tratamento, sendo este grupo de autocontrole com diagnóstico negativo para malária. As dosagens foram realizadas pelo método ELISA e os resultados correlacionados com o D0 e D35; densidade parasitaria; episódios anteriores da doença malárica e exames hematológicos e bioquímicos. No período de março a agosto/2006, foram processadas 194 amostras procedentes de 112 mulheres que apresentaram 160 episódios de malaria por P. vivax. Essas 112 mulheres tinham uma média de idade de 23,8 ± 2,7 anos e sua paridade média foi de 2,7 ± 2 gestações. Os resultados das citocinas tiveram correlação estatisticamente significativa com D0 quando comparadas com o D35, exceto o TNF-α. Também mostrou uma significância estatística com a densidade parasitária, evolução dos sintomas clínicos e os exames laboratoriais, exceto a glicose e a hemoglobina que não tiveram significância estatística. Na literatura científica, existem atualmente poucas pesquisas correlacionando a produção de citocinas em grávidas infectadas por P. vivax, especialmente na região Amazônica. No presente estudo, foi encontrado resultados de significância estatística entre os níveis de citocinas e a fisiopatogenia da malária durante a gravidez, esses resultados podem contribuir para uma melhor compreensão da imunidade e conduta clínica no tratamento de grávidas que adquirem esta infecção. Palavras chaves: malária, plasmódio, citocinas, gravidez, Amazônia. xi ABSTRACT The malaria in the pregnancy can have consequences so much for the mother as for the fetus, how to predispose the increase of the maternal anemia and the children's birth with low weight. The mechanism for which the malaria exercises those effects is still little known, however the cytokines secretion is elevated in the women's placenta with malaria in the moment of the childbirth, when compared with pregnant women's placentas without malaria. In the pregnancy the Plasmodium produces certain substances as the hemozoine, which activates the macrofage liberate cytokines. Those cytokines seem to be associated with the intra-uterine growth, but without compromising in the childbirth. However, through immunological mechanisms it happens the pro-inflammatory as anti-inflammatory production of so much cytokines. The objective of this study was to evaluate the profile and the concentration of the levels cytokines serum TNF-α, IL-6, IL8 and IL-10, in pregnant infected by P.vivax assisted and accompanied in the Foundation of Tropical Medicine of Amazon. It is a study descriptive, prospective, of series of cases with collection of pregnant sanguine samples infected with malaria by P.vivax, where the samples collected in the day of begin the treatment, called day zero (D0) and on the day 35 (D35), after begin of the treatment, being this self-control group with negative diagnostic for malaria. The dosages were accomplished by the method ELISA and the results correlated with D0 and D35; parasite density; episodes previous of the disease malárica and hematological and biochemical exams. In the period of March the agosto/2006, were processed 194 samples coming from 112 women that presented 160 malaria episodes for P. vivax. Those 112 women had an average of age of 23,8 ± 2,7 years and medium parity was of 2,7 ± 2 gestations. The results of the cytokines had correlation significant statistically with D0 when compared with D35, except TNF-α. It also showed a statisticaly significant with the parasitic density, evolution of the clinical symptoms and the exams laboratorys, except the glucose and the hemoglobin that didn't have statisticaly significant. In the scientific literature, they exist few researches currently correlating the cytokines production in pregnant infected by P.vivax, especially in the Amazonian area. In the present study, was found results of statisticaly significant between the cytokines levels and the fisiopatogenia of the malaria during the pregnancy, those results can contribute to a better understanding of the immunity and clinical conduct in the treatment of pregnant that acquire this infection. Key words: Plasmodium, malaria, cytokines, pregnancy, Amazonian. xii SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 1.1 Malária .............................................................................................................. 1.1.1 Aspectos gerais ........................................................................................... 1.1.2 Aspectos epidemiológicos ........................................................................... 1.1.3 Malária em grávidas .................................................................................... 1.2 Transmissão ..................................................................................................... 1.3 Ciclo biológico do plasmódio humano .............................................................. 1.4 Manifestações clínicas...................................................................................... 1.5 Diagnóstico ....................................................................................................... 1.6 Fisiopatologia da malária .................................................................................. 1.7 Citocinas ........................................................................................................... 1.7.1 Propriedades gerais das citocinas ................................................................ 1.7.2 Interleucina-6 (IL-6) ...................................................................................... 1.7.3 Interleucina-8 (IL-8) – Quimiocina ................................................................ 1.7.4 Interleucina-10 (IL-10) .................................................................................. 1.7.5 Fator de Necrose Tumoral alfa (TNF-α) ....................................................... 1.8 Resposta imune na malária .............................................................................. 1.9 Resposta imune na gravidez ............................................................................ 1.10 Resposta imune na gestante com malária .................................................... 1.11 Malária na gravidez e citocinas ..................................................................... 01 01 01 01 04 04 06 08 09 10 12 13 14 15 15 16 18 19 23 25 2. OBJETIVOS ....................................................................................................... 28 2.1 Geral ................................................................................................................. 28 2.2 Específicos ....................................................................................................... 28 3. METODOLOGIA ............................................................................................... 3.1 Tipo de estudo .................................................................................................. 3.2 Local de estudo ................................................................................................ 3.3 Critérios de elegibilidade .................................................................................. 3.4 Aspecto ético .................................................................................................... 3.5 Recursos financeiros ........................................................................................ 3.6 Tamanho da amostra e controle ....................................................................... 3.7 Coleta e armazenamento de amostras ............................................................ 3.8 Densidade parasitária ....................................................................................... 3.9 Determnação de citocinas: TNFα, IL-6, IL-8, IL-10 .......................................... 3.9.1 Técnica de ELISA utilizada para determinação das citocinas ...................... 3.10 Exames hematológicos .................................................................................. 3.11 Exames bioquímicos ...................................................................................... 3.12 Análise estatística ........................................................................................... 29 29 29 30 30 30 30 31 32 32 33 34 35 35 4. RESULTADOS ................................................................................................... 4.1 Descrição da casuística .................................................................................... 4.2 Análise do perfil de citocinas TNFα, IL-6, IL-8, IL-10 no D0 e D35 .................. 4.3 Correlação da densidade parasitária e a concentração de citocinas ............... 4.4 Correlação da evolução dos sintomas em dia e concentração de citocinas .... 4.5 correlação do número de episódios anteriores de malária e a concentração de citocinas ............................................................................................................. 36 36 40 47 48 49 xiii 4.6 Correlação da paridade e a concentração das citocinas ................................ 4.7 Correlação da duração da amenorréia medida em semanas de gravidez e a concentração de citocinas ..................................................................................... 4.8 Correlação de hemoglobina e a concentração de citocinas ............................ 4.9 Correlação da glicose e a concentração de citocinas ..................................... 4.10 Correlação da creatinina e a concentração de citocinas ............................... 4.11 Correlação das bilirrubinas e a concentração de citocinas ........................... 4.12 Resumo dos resultados ................................................................................. 50 5. DISCUSSÃO ..................................................................................................... 59 6. CONCLUSÃO ................................................................................................... 67 51 52 53 54 55 58 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 68 8. ANEXOS ........................................................................................................... 75 1 1. INTRODUÇÃO 1.1 Malária 1.1.1 Aspectos gerais A malária é uma das doenças parasitárias mais antigas do mundo. Por muitos anos, acreditava-se que ela era causada pelo ar dos pântanos e brejos, daí o nome “mau ar”. Somente em 1880, o médico francês Charles Alphonse Laveran descobriu, na Argélia, o seu agente infeccioso, identificando o parasito como o coccideo Plasmodium. Em 1886, o inglês Ronald Ross relatou a fêmea do mosquito do gênero Anopheles como o vetor responsável pela transmissão da doença, descrevendo o ciclo do parasito no estômago do mosquito, dando início ás investigações que levaram ao conhecimento das espécies de protozoários esporozoários intracelulares que causam a malária humana: Plasmodium vivax (P. vivax); Plasmodium falciparum (P. falciparum); Plasmodium malariae (P. malariae) e Plasmodium ovale (P. ovale) (Garnham e Duggan, 1986). A doença continua sendo um problema de Saúde Pública, causa prejuízos sociais e econômicos nos países endêmicos e em desenvolvimento. É considerada uma doença infecciosa, não contagiosa, com manifestações clínicas de caráter agudo. Ao longo das últimas décadas, o P. vivax e P. falciparum vem modificando o seu comportamento tanto no aspecto molecular de resistência do parasito às drogas antimaláricas, quanto nos aspectos clínicos da doença (Alecrim, 1981; Alecrim, 2000). 1.1.2 Aspectos epidemiológicos Das quatro espécies de plasmódios que acometem o homem, o P. vivax é a espécie de maior distribuição geográfica nas zonas tropicais e subtropicais do globo. O P. falciparum, comparado às outras espécies, ocasiona maior morbidade e mortalidade, possuindo uma ampla distribuição mundial. No Brasil as espécies que causam a doença são predominantemente o P. vivax e respectivamente, e eventualmente o P. malarie (Brasil, 2006). P. falciparum 2 A doença malárica encontra-se amplamente disseminada nas regiões tropicais e subtropicais, especialmente nas zonas quentes e pantanosas, representando uma das mais importantes causas de morbidade na África, Ásia, América do Sul e Oceania. Atualmente a doença é endêmica em 107 países, áreas consideradas de risco para transmissão da malária, onde mais de 40% destes encontram-se na África Sub-Saariana (Figura 1). Estima-se que anualmente entre 350 a 500 milhões pessoas adquirem a doença com mais de um milhão de mortes no mundo, principalmente crianças menores de cinco anos de idade, para estes dodos os países africanos contribuem com mais de 60% dos casos (WHO, 2005). Figura 1: Distribuição global da malária por endemicidade (Fonte: WHO, 2005) A malária não é distribuída de forma homogênea em muitos países endêmicos além da fronteira do Brasil, existindo ainda áreas com pouca ou nenhuma incidência da doença. Durante o ano de 2005 o Brasil notificou aproximadamente 55% dos casos de malária em toda América do Sul, estando na região Amazônica brasileira a maior concentração. Os 45% restantes foram atribuídos aos países de fronteira como a Colômbia, Peru, Bolívia, Guianas e Venezuela (PAHO, 2005). 3 Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil possui áreas de alto, médio e baixo risco de transmissão da malária (WHO, 2006). Em 2006 foram registrados, no país, 537.594 casos, sendo 133.130 (24,8%) por P. falciparum, 395.773 (73,6%) por P. vivax e 8.471 (1,6%) por malária mista (P. falciparum e P. vivax). Na Amazônia brasileira ocorrem 99,8% do total de casos registrados no país (Brasil, 2007). Isso se justifica pelo fato da transmissão da malária ser influenciada por projetos de colonização, áreas de garimpos e ocupações desordenadas na periferia de áreas urbanas nos municípios em desenvolvimento (AMAZONAS/FMTAM, 2005). A maioria dos casos está atualmente distribuída nos Estados do Amazonas, Rondônia e Pará, que, juntos, foram responsáveis por aproximadamente 88% de todos os casos na Amazônia no ano de 2006 (Brasil, 2007). É uma região que apresenta condições ecológicas e socioeconômicas que favorecem a transmissão da malária, que se comporta como uma doença sazonal. As condições climáticas, principalmente no verão, facilitam o aumento da densidade vetorial e o desenvolvimento dos parasitos nos vetores, tendo como um dos principais facilitadores as águas das chuvas, dos rios, igarapés, lagos, áreas de garimpos e outras (Alecrim, 1981). No Amazonas foram registrados 191.606 casos de malária em 2006, sendo 144.951 por P. vivax (75,6%); 43.264 (22,6%) por P. falciparum e 3.386 (1,8%) por malária mista (P. falciparum e P. vivax). O município de Manaus contribuiu com 40.599 notificações, destes 7.415 (18,3%) por P. falciparum; 32.600 (80,4%) por P. vivax e 524 (1,3%) por malária mista (P. falciparum e P. vivax) (Brasil, 2007). Nesse mesmo período, a Fundação de Medicina Tropical do Amazonas (FMTAM), localizada na cidade de Manaus, é uma instituição estadual para pesquisa, diagnóstico e tratamento da doença, que atende, aproximadamente, 23,5% dos casos de malária em todo o município, notificou 9.546 casos, sendo 1.773 (18,6%) por P. falciparum; 7.705 (80,7%) por P. vivax e 68 (0,7%) por malária mista (P. falciparum e P. vivax) (Brasil, 2007). 4 1.1.3 Malária em grávidas A doença possui uma incidência maior entre os homens, fato que pode estar vinculado a ocupações, como caça e pesca em áreas com presença do vetor; construções de estradas e áreas de garimpos - atividades geralmente realizadas pelo sexo masculino, no entanto, ocorre uma alta incidência em mulheres e crianças que habitam áreas próximas ao habitat do vetor (Tauil, 1996). Em 2006 dos casos confirmados de malária no Brasil, 334.327 (60,8%) foram em homens e 203.267(39,2%) foram em mulheres, deste total 10.476 casos de mulheres grávidas, sendo 3.334 (31,8%) por P. falciparum; 6.916 (66,3%) por P.vivax e 226 (1,9%) por malária mista (P.falciparum e P. vivax) (Brasil, 2007). Do total de 191.606 casos registrados no Estado do Amazonas em 2006, houve 60,8% casos para homens e 39,2% para mulheres. Nas grávidas foram notificados 3.944 casos, sendo 1.111 (28,2%) por P. falciparum; 2.750 (69,7%) por P.vivax e 83 (2,1%) por malária mista (P.falciparum e P. vivax). No mesmo ano de 2006 o município de Manaus registrou 35,8% do total do Estado, sendo 63,6% casos positivos para homens e 36,4% para mulheres. Nas grávidas foram notificados 858 casos, sendo 190 (22,1%) com malária por P. falciparum; 657 (76,6%) por P. vivax e 11 (1,3%) por malária mista (P.falciparum e P. vivax). Em 2006 a FMTAM notificou 912 grávidas, destas 463 foram positivas para malária, sendo 139 (30,0%) por P. falciparum; 317 (68,4%) por P. vivax e 7 (1,6%) por malária mista (P. falciparum e P. vivax). Até o mês de Abril de 2007, a FMTAM registrou 261 grávidas destas 97 positivas para malária, sendo 20 (20,6%) por P. falciparum e 77 (79,4%) por P. vivax (Brasil, 2007). 1.2 Transmissão A transmissão natural da malária nos mamíferos ocorre por meio da picada da fêmea do mosquito infectado do gênero Anopheles da classe Insecta, ordem Díptera e família Culicidae. São hematófagas e necessitam de sangue para o desenvolvimento e amadurecimento dos seus ovos, promovendo a transmissão de diferentes espécies de plasmódios. Tem como criadouros preferenciais, águas limpas, de baixo fluxo, quentes e sombreadas, situação muito comum na Região Amazônica. No Brasil, o principal vetor da malária em humanos é o Anopheles darlingi, que tem grande importância epidemiológica pela sua abundância e ampla 5 distribuição na Região Amazônica brasileira pelo seu alto grau de antropofilia e endofagia. O Anopheles (N) aquasalis distribui-se pela faixa que vai do Amapá até o norte de São Paulo (Forattini, 2002). A influência do clima no habitat dos vetores facilita, profundamente, o desenvolvimento do parasito no seu interior, quanto maior a umidade relativa do ar, maior será a longevidade dos mosquitos. A temperatura ideal para o desenvolvimento dos plasmódios humanos situa-se entre 20 e 30ºC e as maiores densidades dos vetores encontram-se abaixo de 900m de altitude (Tauil, 1996). Como os plasmódios estão presentes na circulação sanguínea durante a infecção, a transmissão da malária, embora muito raramente, também pode ocorrer a partir de transfusões de sangue, transplante de órgãos, utilização compartilhada de seringas por usuários de drogas endovenosas e da gestante para o filho (malária congênita) antes ou durante o parto. Em algumas ocasiões, um mesmo paciente pode ser inoculado com mais de uma espécie do parasito, resultando em infecções mistas (Martins et al., 2007). As infecções mais freqüentes na Amazônia legal são pelas espécies P. vivax e P. falciparum, que representaram 1,8% dos casos diagnosticados na FMTAM em 2006 (Brasil, 2007). A Organização Mundial de Saúde classifica a endemicidade das áreas maláricas em quatro tipos distintos (MacDonald, 1956): - Área hipoendêmica, quando o percentual de esplenomegalia entre crianças de dois a nove anos (índice esplênico) é menor que 10%; - Área mesoendêmica, quando o índice esplênico situa-se entre 11 e 50%; - Área hiperêndemica, quando este índice situa-se entre 50 e 75% e é, assim, elevado também entre os adultos; - Área holoendêmica, quando o índice esplênico é maior que 75%. Atualmente, o indicador mais utilizado pela Organização Pan-americana de Saúde (OPAS) é o Índice Parasitário Anual (IPA), um indicador de incidência, que é a ocorrência de casos por 1.000 habitantes. Baixo risco são áreas onde o IPA é inferior a 10, médio risco onde o IPA está entre 11 e 49 e alto risco onde o IPA é igual ou superior a 50 (PAHO, 2005). 6 O Índice Parasitário Anual no município de Manaus em 2006 foi estimado em 24,0 e o do estado do Amazonas em 58,5 no mesmo período, mostrando tratar-se de áreas ainda com alto risco de incidência de malária (Figura 2) (Brasil, 2007). IPA POR 1.000 HABITANTES 0,1 a 9,9 (baixo risco) 10 a 49,9 (médio risco) > 49,9 (alto risco) Fonte: FMTAM/SIVEP, 2006 Figura 2: Incidência Parasitária Anual (IPA) no Amazonas em 2006. 1.3 Ciclo biológico do plasmódio humano A infecção malárica inicia-se quando esporozoitos infectantes são inoculados no homem pelo inseto vetor. Após cerca de 30 minutos, estas formas desaparecem da circulação sanguínea. Alguns esporozoitos são destruídos pelos macrófagos enquanto outros penetram nas células parenquimatosas do fígado, os hepatócitos, onde se multiplicam assexuadamente por um processo de divisão múltipla (esquizogonia), que resulta na formação dos esquizontes teciduais primários e posteriormente milhares de merozoitos são liberados nos capilares intra-hepáticos. Esta primeira fase do ciclo é denominada exo-eritrocítica, pré-eritrocítica ou tissular e, portanto, precede o ciclo sanguíneo do parasito (Braga, 2003) (Figura 3). O desenvolvimento nas células do fígado requer, aproximadamente, uma semana para o P. falciparum e P. vivax e, em média, duas semanas para o 7 P. malariae. Nas infecções por P. vivax, algumas destas formas exo-eritrocíticas, denominadas hipnozoitos, permanecem latentes no fígado por meses ou anos e são as responsáveis pelas recaídas tardias observadas nas infecções causadas por estas espécies. Para essas formas e para os esquizontes teciduais é que a primaquina está indicada no tratamento da malária por P. vivax (Braga, 2003). O ciclo eritrocítico inicia-se quando os merozoitos tissulares invadem os eritrócitos. Nos eritrócitos, se reproduzem por esquizogonia, formando novos merozoitos e, por ruptura das células, ao final do ciclo, caem na circulação sanguínea e reinvadem os eritrócitos reiniciando o ciclo (Figura 3). A duração desse ciclo é variável de acordo com a espécie, cerca de 48 horas para o P.vivax, P. ovale e P. falciparum e 72 horas para o P. malariae. Alguns merozoitos resultantes da esquizogonia se diferenciam para a forma sexuada, os gametócitos, que também invadem os eritrócitos. O gametócito macho é chamado de microgameta e a fêmea de macrogameta (Braga, 2003). O ciclo de vida no hospedeiro invertebrado começa pela ingestão de sangue humano pela fêmea do mosquito Anopheles contendo as formas sexuadas. No estômago do mosquito ocorre a fertilização destes gametas com a formação do zigoto, que evolui até a formação de esporozoitos, que, alcançando as glândulas salivares do mosquito, capacitam a fêmea deste invertebrado a produzir a infecção no ser humano (Figura 3) (http://.dpd.cdc.gov). 8 Fonte:http://.dpd.cdc.gov/dpdx/HTLM/Malaria.asp?body=Frames/M-R/Malaria/body_Malaria_page2.htm Alguns merozoitos resultantes da esquizogonia se diferenciam para a forma Figura 3: Cicloda evolutivo dos plasmódios. Alguns merozoitos resultantes esquizogonia se diferenciam para a forma 1.4 Manifestações clínicas As formas das manifestações clínicas dependem da espécie do plasmódio infectante e do grau de imunidade do organismo nos pacientes com malária. Geralmente as infecções causadas pelo P. vivax e P. malariae são benignas e com baixa mortalidade. As causadas pelo P. falciparum podem apresentar um quadro clínico mais grave, com inúmeras complicações, podendo levar à mortalidade, particularmente, em hospedeiros não imunes (Souza, 1997). A crise malárica tem relação com a duração do ciclo esquizogônico; com o número de plasmódios em desenvolvimento e com o período de incubação, onde as características clínicas são principalmente febres intermitentes, calafrio e cefaléia. O período de incubação da malária é de 8 a 31 dias (média de 14 dias) na infecção pelo P. vivax; de 7 a 14 dias (média de 10 dias) na infecção pelo P. falciparum e de 9 18 a 37 dias (média de 30 dias) na infecção pelo P. malariae. O exame físico mostra algum grau de desidratação com mucosas hipocoradas em graus variados. O fígado é palpável em um grande número de pacientes e o baço tende a crescer na medida em que a infecção progride e se repete principalmente nas infecções por P. falciparum (Souza, 1997). 1.5 Diagnóstico Apesar do grande avanço nas técnicas imunológicas e da biologia molecular, o diagnóstico primário e rotineiro da malária continua sendo feito pela pesquisa do parasito no sangue periférico, seja pelo método da gota espessa (GE) ou pelo esfregaço sanguíneo, em função de sua simplicidade de realização e baixo custo. Esta técnica baseia-se na visualização do parasito através da microscopia ótica, após coloração com corante vital (azul de metileno e Giemsa), permitindo a diferenciação específica dos parasitos por espécie a partir da análise da sua morfologia e pelos estágios de desenvolvimento encontrados no sangue periférico. A determinação da densidade parasitária é útil para a avaliação prognóstica, e deve ser realizada em todo paciente com malária, especialmente nos portadores de P. falciparum que requerem certo acompanhamento hospitalar e ambulatorial (FUNASA, 2001). Com o aprimoramento de novas técnicas de diagnóstico nos últimos anos, métodos rápidos, práticos e sensíveis vêm sendo desenvolvidos. O QBC® (Quantitative Buffy Coat) é uma técnica que demanda da concentração dos parasitos pela centrifugação e a coloração dos ácidos nucléicos (DNA e RNA) do parasito por um composto químico de fluorocromo chamado laranja de acridina. Estudos recentes têm mostrado que, embora mais rápido e objetivo, o QBC® ainda não se mostrou superior à gota espessa no diagnóstico parasitológico da malária (Braga, 2003). Um grande avanço na metodologia diagnóstica da malária teve início a partir de 1983, com o desenvolvimento de ensaios rápidos baseados na captura qualitativa de um antígeno de P. falciparum, a Proteína 2 Rica em Histidina (PfHRP2). Mais recentemente, foi desenvolvido outro método de diagnóstico rápido, que captura 10 antígenos de P. falciparum e P.vivax simultaneamente, utilizando anticorpos policlonais e monoclonais marcados com ouro e dirigidos contra a enzima lactato desidrogenase específica do parasito, presente no sangue total do paciente. Apesar de promissores, os estudos de campo que foram feitos até o momento, para determinar a sua efetividade no diagnóstico da malária, não são suficientes para recomendar a sua utilização no Brasil (Arcanjo, 2004). Outros métodos de excelência na área da biologia molecular é o PCR (Polimerase Chain Reaction) e a citometria de fluxo (FACS); contudo, ainda são métodos de alto custo e de pouco uso na rotina de diagnóstico (Alecrim, 2003). 1.6 Fisiopatologia da malária A doença malárica deve ser considerada como resultado de uma infecção intravascular, e fatores como ação dos parasitos nas hemácias e estimulação do sistema imune do homem, são de grande importância no aparecimento da sintomatologia. A estimulação imunológica é intensa durante a infecção e deve ser relacionada com vários eventos patogênicos. Nas formas graves, determinada geralmente pelo P. falciparum, encontra-se a sequestração ou citoaderência das hemácias nos capilares e veias, contribuindo para a doença em nível microvascular e com conseqüências para vários órgãos vitais (Alecrim e Alecrim, 2003). A gravidade da doença está na dependência de fatores relacionados a interações das células humanas e os parasitos, envolvendo determinantes genótipos do hospedeiro e resposta imune específica. Seis fatores são indicados como importantes na virulência dos plasmódios: capacidade de multiplicação; preferência por determinado estágio de vida das hemácias; potencialidade para induzir liberação de citocinas; habilidade para produzir citoaderência com formação de rosetas; antingenicidade não reconhecida pelo hospedeiro e resistência às drogas antimaláricas (Alecrim e Alecrim, 2003). A citoaderência, que é formada envolvendo hemácias, pode levar à obstrução de pequenos vasos sanguíneos, determinando doença microvascular. As citocinas podem contribuir para agravar esta situação; o TNF-α é capaz de aumentar a expressão de moléculas receptoras nas células endoteliais. Outro componente da 11 doença é uma alteração metabólica resultando no consumo de glicose e produção de lactado. Com o avanço da microscopia eletrônica foi possível caracterizar que as hemácias estavam diretamente aderidas nas células endoteliais da microvascularização através de protuberâncias chamadas knobs. Isso atuaria como mecanismo facilitador para o aparecimento da doença grave de cérebro, rins, placenta e outros órgãos. Recentemente, foi demonstrado que o glycosaminoglycan chondrointin sulfate A (CSA) pode atuar como receptor para a aderência de hemácias pavimentadas nas células endoteliais da placenta, pulmão e cérebro (Rogerson e Brown, 1997). As citocinas também são consideradas como fatores contribuintes para o desenvolvimento de malária grave. Alguns estudos têm procurado mostrar a relação entre a gravidade da infecção e os níveis circulantes de citocinas, principalmente o TNF-α e outras interleucinas, associados com glycosyl phophatidyl inositol (GPI), funcionaria como âncora na ligação covalente entre antígenos de superfície do parasito e membrana lipidíca das células do hospedeiro; também devem ser considerados na potencialidade de indução da citoaderência os ligantes ICAM-1 e VCAM-1 (Alecrim e Alecrim, 2003; Santos et al., 2003). Atualmente se discute também o papel do óxido nítrico (ON) na malária grave, devido que o ON tem na morte dos parasitos da malária através dos macrófagos, monócitos e talvez por leucócitos polimorfonucleares (Alecrim e Alecrim, 2003; Dantas, 2000). A produção de ON pode resultar de estimulação pelo TNF-α nas células endoteliais estimuladas, e seu aumento causaria alguns eventos encontrados na malária grave como: hipotensão, acidose láctica, hipoglicemia e coma. Embora ainda não seja bem claro o papel das citocinas, provavelmente, elas estão envolvidas na disfunção placentária, supressão da eritropoese, disfunção hepática, inibição da glicogênese e febre. Também são importantes mediadores para a lise de parasitos pelos leucócitos ativados, liberação de oxigênio tóxico e óxido nítrico (Mendis e Carter, 1995; Dantas, 2000; Alecrim e Alecrim, 2003). 12 1.7 Citocinas Citocinas podem ser definidas como um grupo de proteínas que não são anticorpos, secretadas por leucócitos e por células não leucocitárias que agem como mediadores intercelulares. As citocinas diferem dos hormônios clássicos no sentido de que elas são produzidas por vários tecidos ou tipos celulares e não por glândulas especializadas. Estão envolvidas na comunicação entre as células, incluindo as do sistema imune. São peptídeos ou glicopeptídeos produzidos pelas células do sistema imune adquirido (linfócitos) e pelas células do sistema inato (macrófagos, mastócitos, etc). Os eventos envolvendo os mediadores das citocinas ocorrem durante a iniciação dos estágios efetores da resposta imune e o desenvolvimento das células hematopoiéticas. Sua importância está na capacidade de influenciar algumas funções do sistema celular, ou seja, contribuem com a regulação e diferenciação do sistema imune (Abbas e Lichtman, 2005). As citocinas produzidas por macrófagos possuem vários efeitos que contribuem para a defesa do organismo. Um desses efeitos é a elevação de temperatura corporal, que é mediada principalmente pelo TNF-α, IL-1 e IL-6, pirógenos que causam febre e derivam de uma fonte endógena e não de componentes bacterianos. A febre geralmente é benéfica para o hospedeiro, pois a maioria dos agentes infecciosos cresce melhor em baixas temperaturas, e a resposta imune adaptativa é mais intensa em temperaturas elevadas (Gorczynski e Stanley, 2001; Seoh et al., 2003). Os efeitos mais importantes do TNF-α, IL-1 e IL-6 são o início da reação da resposta de fase aguda na infecção. Essa reação envolve uma alteração nas proteínas secretadas pelo fígado no plasma sanguíneo e resultam da atividade do TNF-α, IL-1 e IL-6 sobre os hepatócitos. Na resposta de fase aguda, os níveis de algumas proteínas plasmáticas diminuem, enquanto outras aumentam significativamente. A resposta de fase aguda consiste em um rápido ajustamento da composição das proteínas plasmáticas em resposta a estímulos lesivos, incluindo infecção, queimaduras, traumas e neoplasias (Gorczynski e Stanley, 2001; Seoh et al., 2003). 13 Embora a reposta de fase aguda seja caracterizada por um início rápido, poderá persistir em uma inflamação crônica. Em alguns pacientes com doença inflamatória crônica, como a artrite reumatóide, as elevações plasmáticas poderão induzir a deposição dessas proteínas no interstício dos tecidos (Brennan et al., 1998). Em geral, é aceito que a malária grave é conseqüência de alterações em muitos órgãos e tecidos, onde as citocinas estão focadas no mecanismo imunológico. Considerando que muitos fatores que envolvem o parasito podem contribuir para a severidade da doença, como por exemplo, a ativação dos macrófagos pelo Plasmodium e conseqüente produção de citocinas, principalmente as pró-inflamatórias como o TNF-α e a IL-1. Esta visão é fundamentada em experimentos murinicos, onde os extratos de toxicidade do parasito da malária foram neutralizados com a aplicação de anticorpos monoclonais em camundongos (Angulo e Fresno, 2002). 1.7.1 Propriedades gerais das citocinas Normalmente as citocinas são produzidas durante as fases de ativação da imunidade inata e específica, com a participação de múltiplos tipos celulares e na regulação da resposta inflamatória, onde produzem um efeito rápido e autolimitado; atuam sobre tipos celulares diferentes (Pleiotropismo) e podem exercer um mesmo efeito (Redundância); promovem a síntese de uma ou mais citocinas (Sinergismo); inibição da ação de outras citocinas (Antagonismo) e todas possuem ligação a receptores específicos na superfície de células-alvo (Gorczynski e Stanley, 2001). A união aos receptores ocorre na membrana celular para transmitir as “informações” necessárias. Os macrófagos são células que mais produzem citocinas, seguidos dos linfócitos T que são divididas em duas grandes categorias, com base na expressão das moléculas de superfície celular em células CD4+ e CD8+. Como regra geral os linfócitos T CD4+ consistem em células T auxiliares (Th-Helper) que atuam na resposta imunológica, principalmente na secreção de citocinas, enquanto os linfócitos T CD8+ são linfócitos T citotóxicos, podendo 14 também produzir citocinas em níveis bem menores que as células T CD4+ (Pardi, 2001). As células T CD4+ podem ser divididas em dois subgrupos denominados Th1 e Th2, baseando-se nas citocinas que produzem. As células Th1 e Th2 apresentam diferenças funcionais entre citocinas produzidas em relação aos aspectos da resposta imunológica. As células Th1 são responsáveis pela secreção de citocinas que ativam os macrófagos (IL-1, IL-12, TNF-α, INFγ) e as células T citotóxicas. Como as células Th1 ativam os macrófagos que produzem fatores pró-inflamatórios, essas citocinas produzidas são denominadas de citocinas pró-inflamatórias. As citocinas produzidas pelas células Th2 (IL-4 e IL-10) induzem o aumento da produção de anticorpos pelas células B e alterações na síntese de imunoglobulinas. (Mossman et al., 1986). 1.7.2 Interleucina-6 (IL-6) A IL-6 é uma citocina sintetizada por macrófagos, células endoteliais vasculares, fibroblastos e outras células em resposta a IL-1 e ao TNF-α. Pode ser detectada na circulação após infecção bacteriana por Gram-negativa ou por infusão de TNF-α, sua secreção está mais acentuada em resposta ao TNF-α ou a IL-1 do que aos LPS; não causa trombose vascular nem lesão tecidual, como é observada em resposta ao LPS e ao TNF-α, induz os hepatócitos a sintetizarem diversas proteínas plasmáticas, como o fibrinogênio que contribui para a resposta da fase aguda. Também serve como um fator de crescimento para as células B ativadas na seqüência de diferenciação das mesmas. Além disso, pode promover o crescimento de células somáticas híbridas. Experimentos in vitro sugerem que a IL-6 serve como um co-estimulador de células T e de timócitos, atuando ainda como co-fator com outras citocinas no crescimento precoce das células hematopoiéticas da medula óssea (Sharon, 2000). A IL-6 é uma importante citocina pró-inflamatória, sua síntese está diretamente associada com a IL-1 e o TNF-α. Como ocorre com a IL-1, a IL-6 também está associada com níveis elevados no pico febril da malária e outras doenças infecciosas de caráter agudo (Clarck e Chaudhri, 1988). Seguindo os 15 critérios da OMS, entre malária grave e malária não grave ou não complicada, estudo, realizado em crianças africanas com malária grave por P. falciparum, comprovou que a IL-6 está correlacionada a níveis séricos elevados na malária cerebral, não ocorrendo o mesmo nos casos de malária não complicada, que foram usados como grupo controle, onde os níveis séricos foram pouco elevados ou insignificantes (Lyke et al., 2004). 1.7.3 Interleucina-8 (IL-8) – Quimiocina As quimiocinas têm forma estrutural homóloga às citocinas, possuem a capacidade de estimular a motilidade (quimiocinese) e movimentos dirigidos (quimiotaxia) dos leucócitos. O maior representante dessa família é a IL-8, que é produzida por mononucleares ativados, bem como células teciduais (endotélio, fibroblastos) e por megacariócitos (produção de plaquetas ricas em IL-8). São moléculas que agem predominantemente sobre os leucócitos como mediadores da resposta inflamatória aguda, ou seja, atraem os neutrófilos do sangue ao local da infecção e da inflamação. A presença da IL-8 em concentração elevada foi encontrada em aspirado bronquial de pacientes ventilados mecanicamente, associados com uma alta incidência de pneumonia nosocomial (Abbas e Lichtman, 2005). Até o momento, poucas informações foram encontradas sobre o papel da IL-8 na patogenia da malária. Sabe-se que se trata de uma quimiocina atrativa para neutrófilos em infecções generalizadas. Pesquisa, realizada em um pequeno grupo de crianças africanas com malária por P. falciparum, comprovou que não houve uma elevação significativa dos níveis séricos de IL-8 correlacionados com a severidade na malária por esta espécie, como está comprovado, através de culturas de células que existe um aumento significativo desta interleucina em placentas infectadas de mulheres com malária, sugerindo que, nestas condições há uma relevância para o papel da IL-8 na patogenia da malária (Lyke et al., 2004). 1.7.4 Interleucina-10 (IL-10) É uma citocina produzida por macrófagos ativados, por linfócitos e por células não linfociticas, como os queratinócitos. Assim como a IL-4, da IL-10 está 16 relacionada com a inibição da produção de outras citocinas (IL-1, IL-2 e TNF-α) pelos macrófagos, bem como inibir as funções acessórias dos macrófagos na ativação das células T. O efeito final dessas reações é inibir a inflamação na resposta imune inata e mediada por células T (Moore et al., 1993). Elevados níveis de IL-10 têm sido relatados em malária, como foi demonstrado por estudos realizados em crianças africanas com malária grave que apresentaram níveis elevados desta citocina e baixa produção de TNF-α, sugerindo que a IL-10 promove a inibição da resposta antigênica, deste modo a IL-10 aparece como um importante antagonista, prejudicando a resposta pró-inflamatória dos antígenos da malária (De Waal et al., 1991). Estudo realizado na Turquia, correlacionando a densidade parasitária da malária por P. vivax, pelo método da gota espessa, com os níveis de citocinas nos soros onde foram analisadas as citocinas IL-1, IL-6, IL-8 e IL-10 pelo método de ELISA, comparados com soros de pacientes saudáveis, as citocinas pró-inflamatórias como a IL-1 e IL-6, foram significativamente mais elevadas proporcionalmente em relação à densidade parasitária; níveis de IL-8 mostraram pouca significância em relação à densidade parasitária elevada, contudo houve uma correlação positiva da IL-8 em relação à idade. Altas concentrações de IL-6 e IL-10 estavam correlacionadas com febre alta, enquanto a IL-8 não demonstrou uma elevação significativa no mesmo estado clínico. Sugerindo-se, assim, que as citocinas pró-inflamatórias estão associadas à elevada parasitemia na malária por P. vivax (Yildiz et al., 2006). 1.7.5 Fator de Necrose Tumoral-alfa (TNF-α) O TNF-α é produzido por várias células, incluindo os macrofágos ativados, neutrófilos, lincocitos T e B, mastócitos, basófilos, eosinofilos, célula natural killer (NK) e algumas células tumorais. Juntamente com a IL-1, o TNF-α desempenha um papel crítico na iniciação da resposta imunológica inflamatória à infecção por bactérias, fungos, protozoários, vírus e algumas vezes por neoplasias (Sharon, 2000; Clark e Chaudhri, 1988). 17 Os efeitos do TNF-α sobre as células alvo são potencializados pela presença do INF-γ, fornecendo um bom exemplo de sinergismo das citocinas. O TNF-α pode ter um efeito benéfico, quando produzido em pequenas concentrações, ou efeito deletério, quando produzido em grandes concentrações. Os principais efeitos do TNF-α incluem: a indução da anorexia e emagrecimento em doenças crônicas; produção da necrose hemorrágica em tumores (caquexia); atuação no hipotálamo e produz febre; participação na ativação dos neutrófilos e monócitos; indução dos macrófagos a secretarem IL-1 e IL-6; estímulo à própria secreção pelos macrófagos; indução das células endoteliais a expressarem moléculas de adesão; potencialização da citotoxicidade nos macrófagos, aumentando o intermediário reativo do oxigênio e intermediário reativo de nitrogênio (IRO e IRN) (Abbas e Lichtman, 2005). Estudos em Gâmbia mostraram que as concentrações do TNF-α foram maiores em crianças com malária por P. falciparum que em crianças com outras infecções, mas não houve diferenças significativas entre malária cerebral e malária não complicada, sugerindo que a produção aumentada do TNF-α é uma resposta normal do hospedeiro durante a infecção, mas o excesso de produção pode predispor à malária cerebral ou evolução ao óbito (Kwiatkowski et al., 1993). Pesquisa realizada no Sri Lanka, na África, comprovou que na infecção aguda em pacientes primoinfectados por P. vivax, ocorre uma elevação sérica de TNF-α durante o paroxismo febril, ou seja, sintomas clínicos como episódios de febre alta acompanhada por rigorosos calafrios nas primeiras 48h, coincidindo com a ruptura no sangue periférico da fase assexuada de esquizontes, com retorno do TNF-α ao nível normal dentro de 4 a 8 horas. (Kurunaweera et al., 1998; Mendis et al., 1992). Citocinas como o TNF-α e o Interferon Gama (IFN-γ), participam da inibição da parasitemia e estimulação do aumento da fagocitose pelos macrófagos dos eritrócitos parasitados por plasmódios (Ferreira et al., 1986). Na região Amazônica comprovou-se uma associação direta entre os níveis de TNF-α e a gravidade da malária por P. falciparum. Entretanto, não houve uma correlação direta da malária 18 grave com altos níveis de TNF-α, quando correlacionados com malária cerebral ou mortalidade (Tanaka, 1993). 1.8 Resposta imune na malária A imunidade mediada por células e a imunidade mediada por anticorpos estão envolvidas diretamente na proteção contra as diferentes espécies de plasmódios. A imunidade inata é responsável pela depuração parasitária no hospedeiro. A maior parte desse processo é liberada por macrófagos e acontece no baço sob circunstância normal. O fígado, contudo, pode exercer esta função como uma via alternativa. Ambos os mecanismos das respostas inatas, celular e humoral participam da eliminação do parasito e são dependentes dos linfócitos T CD4+ , especialmente seus subgrupos Th1 e Th2 que têm funções reguladoras na resposta contra a malária, ambas sendo requeridas para o controle da infecção, mas necessitando ser adequadamente sintonizada em tempo e intensidade (Angulo e Fresno, 2002). A eliminação do parasito no sangue requer a intervenção de células da classe Th1 ou Th2 para o controle da parasitemia ou na síntese de anticorpos necessários à depuração parasitária, levando-se em consideração a constante exposição em áreas endêmicas o que pode levar a uma imunidade protetora (Reid, 1998). Outros Mecanismos inespecíficos, como intermediários reativos de nitrogênio e oxigênio (IRN e IRO), geralmente estão ligados à resposta Th1, sendo importante para o controle da infecção aguda, porém uma vez que se adquire imunidade, estes perdem importância. A malária humana é caracterizada por uma interação complexa da resposta imune do hospedeiro e estratégia de sobrevivência do parasito. Essa resposta está associada aos estágios intra-eritrocitários pelo plasmódio que é dependente da ativação diferencial de linfócitos T, especialmente o tipo T CD4+ , cuja participação na imunidade protetora contra o parasito tem sido bem estabelecida em experimentos murinos, porém pouco evidenciada na malária humana. Mais recentemente, alguns estudos (Lyke et al., 2004) têm sido conduzidos em populações humanas, abordando aspectos da regulação da resposta imune 19 protetora por linfócitos T. Esses estudos têm sido realizados, principalmente, em regiões endêmicas, onde avaliam na sua maioria, respostas de células T aos antígenos somáticos eritrocitários ou a proteínas recombinante do plasmódio (Pardi, 2001). A IL-12 e o INFγ podem neutralizar as formas esporozoitas antes de estes invadirem os hepatócitos, também impedem o seu crescimento ativando as células de Kupffer (Reid, 1998). As células citotóxicas e INFγ promovem a eliminação parasitária e a proteção mediada por linfócitos T CD8+ com a participação de citocinas e óxido nítrico durante a replicação parasitária nas células hepáticas (Good e Doolan, 1999). Depois da esquizogônica hepática a proteção contra as formas eritrocitárias é parcialmente alcançada mediante anticorpos, mas a produção de INFγ e a proliferação de células T, também estão associadas com a proteção (Plebanski e Hill, 2000). A patogênese da malária envolve vários mecanismos, os parasitos causam efeitos físicos e metabólicos que resultam em uma doença microvascular com fortes componentes intra-eritrocitários, como os intermediários reativos de nitrogênio (IRN) e a produção de citocinas (Dantas, 2000). Estudos clínicos têm demonstrado uma correlação entre a gravidade da doença e níveis circulantes de citocinas (Kwiatkowski et al., 1990). 1.9 Resposta imune na gravidez A gravidez é uma condição fisiológica na qual ocorrem várias mudanças imunoendócrinas com a finalidade de facilitar a imunossupressão e a tolerância aos antígenos paternos e fetais. Tem sido um grande desafio tentar entender quais os mecanismos envolvidos na rejeição da placenta pelo sistema imunológico materno, já que a mesma pode ser de origem embriônica, contendo material genético tanto materno como paterno que são geneticamente estranhas à mãe e, portanto, poderiam incitar as mesmas reações de intolerância imunológica observada nos tecidos fetais. Após anos de intensas pesquisas imunológicas sobre reprodução humana, ainda não se conhece perfeitamente o mecanismo de adaptação imunológica presente na gestação, que permite o sucesso do enxerto placentário na 20 gravidez humana normal, porém existe uma relativa supressão de citocinas do tipo Th1 (TNF-α e IL-6) na resposta de linfócitos, levando a uma prevalência na resposta Th2 (IL-4 e IL-10) (Pereira et al., 2005). Do ponto de vista imunológico o período gestacional é um modelo altamente complexo, com freqüente exacerbação de patologias e alterações pré-existentes. O sistema imune inato está ativo na gravidez, e, em razão da relativa supressão da imunidade adaptativa, pode assumir um importante papel na defesa imune materna (Sacks et al., 1999). Além disso, o sistema imune inato tem um papel na influência dominante sobre a reprodução. Análises dos tipos celulares que estão presentes no local da implantação do óvulo mostram que as células T e B, típicas do sistema imune adaptativo, são raras, enquanto o predomínio populacional consiste de células NK (Sacks et al, 1999; Pereira et al., 2005). Durante a gestação, como em qualquer outro processo imunoinflamatório, a unidade últero-placentária inicia e modula uma interação harmônica entre o endotélio vascular materno, as células imunocompetentes presentes localmente, os determinantes antigênicos presente na superfície do trofoblasto, ativamente regulando o processo de adesão, ativação e migração celular, via modificações na rede de citocinas locais (Pereira et al., 2005). O denominado “paradigma de Th1/Th2” parece responder a uma pergunta desafiadora: por que o feto não é rejeitado pelo sistema imune materno, apesar da presença de antígenos paternos em contato com as células imunocompetentes maternas? Na interface materno-fetal as citocinas do tipo Th2, que são secretadas não somente pelas células imunocompetentes, mas também por células da decídua e da placenta, parecem ser as responsáveis pelo sucesso na manutenção da gravidez (Zenclussen et al, 2002). Isso foi embasado na observação de que IL-4 e IL-10 foram detectados em níveis aumentados durante a gravidez normal em humanos e animais. Ao contrário, a produção excessiva de citocinas Th1 foi associada à perda gestacional, especialmente citocinas como TNF-α, IL-1, IL-2 e IFN-γ. Assim, a produção aumentada de citocinas Th2, oposta pela produção diminuída de citocinas Th1, parece ser a razão perfeita para explicar a sobrevivência do feto no útero materno. (Zenclussen et al, 2002; Pereira et al., 2005). 21 A IL-10 é uma citocina importante porque suprime a produção de citocinas pró-inflamatórias por outras células. Numerosos estudos têm documentado a produção de IL-10 na interface materno fetal. A gravidez não é dependente da produção de IL-10, o que sugere que outros imunomoduladores também podem contribuir para a sobrevivência do enxerto fetal. Também o aumento de cortisol, progesterona, estradiol e testosterona, observado durante o terceiro trimestre, estão envolvidos na polarização das citocinas Th2. Durante a gravidez, a produção de citocinas é principalmente do tipo Th2; os linfócitos periféricos liberam menos TNF-α, IL-2 e IFN-γ e mais IL-4 e IL-10, particularmente no terceiro trimestre da gestação. Existe uma complexa interação hormonal, que acarreta a supressão de IL-6 e TNF-α na resposta Th1, com aumento da resposta Th2 (Marzi et al., 1996; Pereira et al., 2005). Numerosas experiências têm demonstrado que a progesterona bloqueia o estimulador da proliferação mitogênica linfocitária, melhora o tempo de sobrevivência do feto, modula a produção de anticorpos, reduz a produção de citocinas pró-inflamatórias pelos macrófagos na resposta antigênica, e altera a secreção de citocinas dos clones das células T para favorecer a produção de IL-10. O mecanismo pelo qual a progesterona exerce ações imunomoduladoras nos tecidos reprodutivos ainda não está claro, mas envolve ações diretas e indiretas sobre as células do sistema imune materno, o qual é sobrecarregado durante todo os estágios de gestação normal (Marzi et al., 1996; Pereira et al., 2005). Na literatura há muitos trabalhos científicos que consideram a gravidez como uma ação do balanço imunológico, na qual o sistema imune da mãe permaneça totalmente para o feto e ainda mantenha a imunidade para a defesa contra microorganismos (Nadine et al., 2006). O desvio Th2 estabelecido durante a gestação normal, pode comprometer a efetiva imunidade contra o parasito que requer uma forte resposta Th1 para combater a infecção. Pelo contrario, uma curativa resposta Th1 contra tal parasito pode superar a concentração de citocinas Th2 necessárias para proteger a gestação e resultar em perda fetal (Luppi, 2003; Lea e Calder, 1997). 22 A resistência adquirida também depende dos títulos dos isotipos de anticorpos classes IgG1 e IgG3, que são anticorpos citofilicos específicos os quais são produzidos em grandes quantidades na gravidez e cuja produção é induzida principalmente por células Th2, que secreta a IL-10 e é responsável pela capacidade protetora. Estudos sugerem que para a resposta ir de Th1 a Th2 é necessário um número não interrompido de exposições como às sofridas por um adolescente ou um adulto ao longo da vida, o que explica por que o estado de premunição é particular a áreas hiperendêmicas (Smith, 1996). A gravidez normal é caracterizada por um aumento de progesterona, estrogênio e prolactina, além de vários hormônios placentários. É um estado de predomínio do estrogênio que está associado com o perfil de citocinas Th2, essencial para a tolerância materna ao feto e manutenção da gravidez. O estado gestacional resulta de uma supressão da resposta imune celular, mas também na preservação e algumas vezes do aumento da imunidade humoral. Estrogênio e progesterona têm efeitos diferentes na regulação do equilíbrio Th1/Th2. A progesterona aumenta a produção de IL-4 e IL-10 pelas células T. O estrogênio também estimula a secreção de prolactina, que é um hormônio polipeptídico secretado pela glândula pituitária anterior, que aumenta durante a gravidez e no período de lactação. Têm efeito sobre células B e células T, está envolvida na proliferação e diferenciação celular, e tem múltiplos efeitos sobre o sistema imune, comprovando que a prolactina também está envolvida na reposta imune (Pereira et al., 2005). A placenta é imunologicamente um órgão onde o balanço entre a imunidade materna e fetal deve ser mantido para o bem-estar próspero de ambos. Na malária foi descrito um modelo hipotético no qual linfócitos T de memória estariam envolvidos. Embora outros mecanismos parecem estar envolvidos, e isso sugere uma resposta imune inapropriada em nível útero-placenta, como o envolvimento dos macrófagos do tecido, os quais quando ativados sintetizam citocinas ou outros fatores imunomoduladores, resultando em uma disfunção da placenta e, posteriormente, outros efeitos sistêmicos (Moore et al., 2000). 23 1.10 Resposta imune na gestante com malária A cada gestação a placenta e a circulação útero-placenta, são tecidos formados sem desafio prévio à infecção malárica, portanto sem imunidade específica local. Quando antígenos são apresentados apropriadamente, células imunes no útero respondem à infecção; à medida que a gestação progride a resposta local torna-se mais efetiva, limitando a replicação e possibilitando a destruição parasitária. Esse mecanismo pode não ser muito competente na primeira gestação, mas se torna progressivamente mais eficiente com gestações sucessivas (McGregor, 1984). As gestantes possuem uma maior suscetibilidade para um maior número de infecções e de episódios com manifestações clínicas, quando comparadas com mulheres não grávidas com a mesma idade e da mesma região (MenendezEspinosa, 1998; Jurande, 2002). A malária age também como causa da imunossupressão com o aumento da incidência de outras infecções nas mulheres grávidas de áreas endêmicas (Brabin et al., 1985). Em revisão sobre o tema, três observações são básicas em pacientes grávidas com malária: primeira, a maior suscetibilidade à infecção; segunda, a maior vulnerabilidade à doença, levando-se em conta o tempo e o grau de exposição; por último, a influência da paridade sobre as duas anteriores, segundo o grau de endemicidade, no entanto, em locais com transmissões instáveis, a mulher por ter baixa imunidade, é suscetível à infecção em qualquer gravidez, enquanto em locais de transmissão estável, a mulher adquire imunidade e só se apresenta mais vulnerável na primeira gestação (Menendez, 1995). Em regiões endêmicas para malária, freqüentemente o P. falciparum é isolado na placenta, o qual está envolvido com a anemia severa nas mães e baixo peso para a criança. Crianças que nascem de mães com infecção por P. falciparum na placenta têm a capacidade reduzida de gerar uma resposta específica ao parasito. O achado de parasitos ativos da malária na placenta durante o parto, está associado ao aumento da freqüência de anticorpos específicos produzidos, principalmente, por células B no cordão umbilical de recém-nascidos de mães que receberam tratamento anti-malárico durante a gravidez (Engwerda e Good, 2005). 24 Em áreas de alta endemicidade, a infecção placentária do plasmódio é normalmente maior que a infecção no sangue periférico. No entanto, na infecção grave da placenta, a ausência de manifestação clínica ou infecção no sangue periférico é freqüente em primigestas que foram expostas a várias infecções anteriormente, possuindo certa imunidade, onde não há diferenças entre níveis de anticorpos da malária na placenta e no sangue periférico observadas neste estado gestacional (Menendez, 1995). A paridade aparece como um fator importante em áreas de intensa transmissão. A prevalência parasitária é maior em mulheres primigestas do que em multíparas, pois as primeiras são os grupos mais vulneráveis em áreas de malária estável. Onde a transmissão não é estável e não há imunidade, a infecção manifesta-se clinicamente de forma intensa, sem guardar relação com o número de gestações (McGregor et al., 1984). Outras complicações, como a hipoglicemia e a anemia, são independentes da imunidade prévia ou da endemicidade da área, suas causas obedecem a múltiplos fatores e estão fortemente associadas à morbidade e mortalidade materno-infantil (Nosten et al., 1999). Os efeitos mais severos da malária para o feto observados em áreas de baixa endemicidade, comparada com áreas de alta endemicidade, podem ser, em conseqüência da gravidez, associada com a resposta de células mediadoras da reposta imune, como as células T, ou a ausência de níveis adequados de anticorpos específicos na malária, produzidos por células B. Outra hipótese aceita seria a alta suscetibilidade para malária de primíparas comparadas com multíparas, que teria como resultado a aquisição da resposta humoral para malária, durante o curso da primeira gravidez, reduzindo o risco da infecção em gravidez subseqüente (Smith, 1996). Nas grávidas que residem em áreas de transmissão baixa ou sazonal de malária, comprovou-se que elas não adquirirem proteção contra a malária durante a gravidez tão rápidamente quanto em áreas onde a transmissão é intensa. Embora o risco de infecção da placenta esteja claramente reduzido após a primeira gravidez, também não há redução da infecção na gravidez seguinte. Porém mulheres que tiveram malária durante a gravidez, podem adquirir uma resposta humoral com a 25 produção de anticorpos que reconheçam antígenos de superfície na membrana dos eritrócitos que estejam infectados por plasmódios na placenta, e esta resposta aumenta conforme o número de paridades (Nadine et al., 2006). Baixos níveis de anticorpos da malária na placenta são esperados em relação ao sangue periférico para explicar a preferência do parasito por este local durante a gravidez (Rasheed et al., 1993). Todavia, não há diferenças entre os níveis de anticorpos anti-malária em primíparas e outros grupos de paridade, embora, de acordo com a hipótese de Smith (1996), a depressão da imunidade humoral em primíparas poderia ser uma explicação. Não há diferenças comprovadas de anticorpos anti-malária entre primíparas, principalmente no segundo trimestre, e mulheres não grávidas com antecedentes de malária. Em áreas endêmicas ocorrem abortos em conseqüência da malária, podendo ser sugerido que ocorra uma indução na resposta não específica, porém essa indução não ocorre somente em áreas de alta endemicidade (Mutabingwa, 1994). Mesmo quando a imunidade materna adquirida pela barreira placentária é eficaz, o risco de morte e agravantes clínicos ainda existe tanto para a mãe quanto para o feto, como, por exemplo, induzir o parto prematuramente e/ou nascimento abaixo do peso normal, bem como provocar anemia grave para a mãe, principalmente em primíparas infectadas, pois a malária na gravidez pode contribuir significativamente para promoção da malária grave e levar a hemorragia acentuada, insuficiência renal aguda (IRA), e indução de aborto (Kassam et al., 2006, Alecrim et al., 2000). 1.11 Malária na gravidez e citocinas A primeira linha da defesa contra a infecção ocorre na placenta. Linfócitos maternos e citocinas associadas estão concentrados no espaço interviloso na interfase materno-placentária determinando a evolução da infecção e facilitando ou prevenindo a transmissão ao feto. Se um microorganismo atingir o espaço interviloso encontra macrófagos placentários que sob a direção das citocinas promovem um 26 importante papel na defesa. Assim, na malária, na tuberculose e na tripanossomíase, embora os macrófagos apareçam repletos de parasitos, pode não ocorrer infecção congênita, mas caso contrário, a infecção ascendente desencadeia a produção de citocinas que podem induzir o parto e produzir um parto pré-maturo (Reid, 1998). Na gravidez, citocinas como TNF-α e IL-1, são encontradas em níveis normais durante o primeiro trimestre de desenvolvimento fetal e o nascimento, entretanto níveis de TNF-α, IL-1 e IL-8 estão elevados na placenta e estão associados como nascimento pré-maturo. IL-1 e IL-8 parecem ser responsáveis pelo amadurecimento cervical. A síntese da prostaglandina pelo hipotálamo parece potencializar os efeitos do TNF-α e IL-1, sendo que o TNF-α pode ainda causar ao concepto o retardo do desenvolvimento intra-uterino (Carbo et al., 1995). Durante a infecção por malária na gravidez, níveis elevados de interleucinas IL-1, IL-8 e TNF-α e substância como hemozoínas produzidas pelo Plasmodium e níveis baixos de IL-6 foram encontrados em placentas infectadas, quando comparadas com placentas não infectadas. Os macrófagos da placenta estimulam principalmente a produção de TNF-α e IL-8. Existe correlação entre o aumento da expressão de TNF-α e concentração de hemozoínas na placenta. Níveis elevados de TNF-α e IL-8 foram associados ao crescimento retardado intra-uterino, mas sem comprometimento no parto, sugerindo, assim que a malária na gravidez induz prejudicialmente a resposta pró-inflamatória na placenta (Moormann et al., 1999). A importância das citocinas como mediadores dos efeitos da malária na gravidez é consistente com a observação nas infecções por P. vivax, que também podem induzir o nascimento pré-maturo (Nosten et al., 1999). Na infecção por P. vivax, o TNF-α também está aumentado quando comparado com a infecção placentária por P. falciparum, indicando, assim, que os níveis de TNF-α são indiferentes entre as espécies de plasmódios, (Karunaweera et al., 1992). Citocinas pró-inflamatórias como a IL-1, IL-6 e TNF-α, têm sido relacionadas com a patologia da malária cerebral, e citocinas antiinflamatórias, como a IL-10, 27 parece ter um papel na regulação e proteção na malária. A concentração de TNF-α é elevada em pacientes com malária grave, como a malária cerebral, isso foi comprovado em experiências murinicas, contudo com o uso de anti-receptores TNF-R2 em camundongos, não houve comprometimento cerebral e elevação dos níveis de TNF-α quando comparados com camundongos normais (Mackintosh et al., 2004). Estudos realizados até o momento, têm contribuído com inúmeras e importantes informações sobre o conhecimento do mecanismo de formação, liberação e processos reacionais das citocinas em mulheres grávidas com malária, sendo a maior parte desses estudos realizados em áreas de transmissão intensa e estável por P. falciparum, especialmente na África (Brabin et al., 1985). Nas regiões onde a malária é instável, por ser sazonal esporádica ou ocasional como na Ásia e em países da América do Sul com transmissão ativa, a resposta imune ao Plasmodium é complexa e ainda pouco estudada, contudo, as citocinas próinflamatórias e antiinflamatórias liberadas durante a gravidez como o TNF-α, IL-6, IL-8 e IL-10, têm um papel fundamental em mulheres grávidas infectadas quando comparadas com mulheres não grávidas com malária, podendo prejudicar no decorrer da gravidez tanto o feto quanto a mãe (Yildez et al., 2006). Na literatura científica há poucos trabalhos correlacionando o aumento da produção de citocinas em mulheres grávidas infectadas por Plasmodium vivax. No Estado do Amazonas, a incidência de malária vivax é elevada, sendo necessárias pesquisas direcionadas, para melhor compreensão e acompanhamento dos aspectos clínicos e laboratoriais da doença neste estado fisiológico. O presente trabalho propõe descrever a concentração dos níveis séricos das citocinas TNF-α, IL-6, IL8 e IL-10, em mulheres grávidas infectadas por Plasmodium vivax atendidas e acompanhadas na FMTAM, contribuindo no entendimento da etiopatogenia da doença em gestantes. 28 2. OBJETIVO GERAL Descrever o perfil sérico das citocinas TNF-α, IL-6, IL-8 e IL-10 em mulheres grávidas com malária vivax atendidas e acompanhadas na Fundação de Medicina Tropical do Amazonas. 2.1 Objetivos específicos Comparar as concentrações das citocinas TNF-α, IL-6, IL-8 e IL-10 nas amostras das grávidas com malária coletadas no D0 (dia zero) e D35 (trigésimo quinto dia). Correlacionar os níveis séricos do TNF-α, IL-6, IL-8 e IL-10, com a densidade parasitária/ mm3. Correlacionar os níveis séricos do TNF-α, IL-6, IL-8 e IL-10, com o número de episódios de malária e o tempo de evolução dos sintomas clínicos em dias. Correlacionar os níveis séricos do TNF-α, IL-6, IL-8 e IL-10, com os parâmetros hematológicos e bioquímicos. 29 3. METODOLOGIA 3.1 Tipo de estudo Estudo descritivo, prospectivo, de série de casos, com coletas de amostras sanguíneas de grávidas, com diagnóstico parasitológico positivo para malária, para avaliar o perfil das citocinas TNF-α, IL-6, IL-8 e IL-10. 3.2 Local do estudo O estudo foi conduzido na Gerência de Malária e Gerência de Diagnóstico da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas (FMTAM), a qual está situada na cidade de Manaus, desenvolvendo atividades nas áreas de assistência à saúde, pesquisa científica e formação de recursos humanos em doenças tropicais. Atualmente está sendo considerada como Centro de Referência nacional e internacional para o tratamento de doenças tropicais (Figura 4). A FMTAM possui uma importante participação no diagnóstico e tratamento da malária sendo responsável por aproximadamente 14% das notificações de casos de malária de todo o Estado do Amazonas (FMTAM, 2006; Brasil, 2007). Fonte: FMTAM – Assessoria Técnica Figura 4: Maquete do Pronto Atendimento (PA) da FMTAM 30 3.3 Critérios de elegibilidade Foram incluídas todas as grávidas com diagnóstico parasitológico positivo para malária por P. vivax e que concordaram em assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Anexo A). 3.4 Aspecto ético Este estudo foi conduzido com pacientes grávidas voluntárias que, após entrevista individual, através do preenchimento da ficha clínica (Anexo B), entenderam os objetivos do estudo e aceitaram participar assinando o termo de consentimento livre e esclarecido dentro dos preceitos da ética em pesquisa com humanos, sem prejuízo para o seu atendimento ou seu tratamento. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da FMTAM em 03 de Junho de 2005, com registro CEP 0836-05 (Anexo C). 3.5 Recursos financeiros Este estudo fez parte do projeto: Malária e Gravidez na Região Amazônica: diagnóstico, tratamento e acompanhamento clínico-laboratorial de pacientes da FMTAM, que recebeu recursos da Fundação de Amparo a Pesquisa no Amazonas (FAPEAM/CNPq). Tal estudo abordou o quadro clinico da gestante com malária, o efeito da malária sobre o curso da gestação, a resposta terapêutica à malária durante a gestação, malária placentária, o efeito da malária sobre o feto e o recém nascido, achados ultra-sonográficos da gestante com malária, co-infecção maláriaHIV/HTLV/Hepatite-B/Sífilis/ITU e a resposta imune da gestante com malária, o qual faz parte este estudo. Também com os recursos do curso de Mestrado em Doenças Tropicais da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), através da Superintendência da Zona Franca da Manaus (SUFRAMA) e Fundação de apoio ao ensino MURAKI. . 3.6 Tamanho da amostra e controle Foi um estudo de seguimento do tipo série de casos, cujo tamanho da amostra foi estabelecido pela procura espontânea de todas as pacientes que procuraram atendimento na FMTAM no período de Março a Agosto de 2006, onde foram coletadas amostras de 251 mulheres grávidas com malária. 31 Contudo, apenas 112 grávidas acompanhadas tinham uma média de idade de 23,8 ± 2,7 anos e a média de paridade era de 2,7 ± 2 gestações, onde apresentaram 160 episódios para malária por P. vivax (algumas pacientes apresentaram mais de um episódio de malária durante o estudo), sendo estabelecido à primeira coleta como o D0 (dia zero), onde foram coletadas 160 amostras das 112 grávidas e a segunda coleta no D35 (trigésimo quinto dia), que foi considerada como grupo controle das mesmas pacientes, todavia, sem malária, sendo coletadas neste grupo 34 amostras das 112 grávidas, havendo acompanhamento parasitológico em vários retornos entre o intervalo de D0 e D35. Essas coletas seguiram o fluxograma de atendimento (Anexo D). 3.7 Coleta e armazenamento de amostras Foram coletadas amostras de sangue por punção digital (Figura 6) para o diagnóstico parasitológico da malária utilizando o método da gota espessa (Figura 7) corada pelo método de Walker (OPS/OMS, 1975) e para a determinação da densidade parasitária (Figura 5). N Secagem Coleta Azul de Metileno Giemsa Lavagem Lavagem Giemsa Secagem LEITURA DIAGNÓSTICO Realização: 20’ - 1h Figura 5: Técnica de coloração da gota espessa pelo método de Walker (Fonte: Arcanjo, 2004). 32 Também Foram realizadas coletas por punção venosa (Figura 8) 10 mL de sangue total, fracionados em três tubos, sendo 3,5 mL com anticoagulante EDTA para exames hematológicos; 3,5 mL sem anticoagulante para dosagens bioquímicas e 3,0 mL para determinação dos níveis séricos do TNF-α, IL-6, IL-8 e IL-10, após centrifugação o soro foi fracionado em alíquotas no volume de 500 µL e armazenadas a -70ºC. Figura 6: Punção digital Figura 7: Gota espessa e estendido sanguíneo Figura 8: Punção venosa (Fonte: SILVA, JT) 3.8 Densidade parasitária A determinação da densidade parasitária foi realizada nas lâminas com amostras de sangue coradas pelo método de coloração de Giemsa, contando o número de parasitos em relação a 100 células brancas (leucócitos) e a densidade convertida a parasitas/mm3 pela referência da contagem global de leucócitos de cada indivíduo. 3.9 Determinação de citocinas: TNF-α, IL-6, IL-8 e IL-10. O método de escolha para a determinação da concentração dos níveis séricos das citocinas TNF-α, IL-6, IL-8 e IL-10, foi o método de ELISA (VOLLER et al., 1976), segundo as especificações técnica dos kits que foram adquiridos comercialmente da marca BD OptEIATM , que são amplamente utilizados, possuem anticorpos monoclonais anticitocinas, com o sistema biotina-avidina, os quais são altamente sensíveis e específicos, pode ser quantitativo e ainda permite a realização de exames em grande escala. Têm a capacidade para realização de 20 placas com 96 poços cada, além se ser um método fácil de trabalhar e de baixo custo em 33 relação a outros métodos, como o PCR (KAIN et al., 1993b) e a citometria de fluxo – FACS (ÁVILA, 1994). Os procedimentos de lavagem e leitura dos testes foram realizados por equipamentos automatizados da marca ASYS® , modelo Atlantis e Expert Plus respectivamente (Figura 9). Figura 9: Lavadora e leitora de ELISA (Fonte: SILVA, JT) 3.9.1 Técnica de ELISA utilizada para determinação das citocinas A técnica de ELISA utilizada para a quantificação das citocinas foi a recomendada pelo próprio kit do fabricante – BD OptEIATM . Essa técnica consiste na utilização de anticorpos primário e secundário diluídos em tampão de ligação, cuja diluição ideal encontrada foi de 1:500 para anticorpo primário e 1:250 para anticorpo secundário. A primeira etapa da reação teve inicio com a adição do anticorpo primário em cada poço da placa e incubado em período noturno por 12 horas a 4ºC. A segunda etapa iniciou com a lavagem da placa com tampão de lavagem contendo PBS e Tween-20, e em seguida foi adicionado, a cada poço da placa, o tampão bloqueador contendo PBS e Soro Bovino Fetal (FBS), a placa foi incubada em temperatura ambiente por 1h. Em seguida cada placa foi lavada três vezes com o tampão de lavagem. A preparação da curva de calibração foi feita com tampões previamente diluídos (Figura 10) e em seguida adicionada 100µL das amostras em cada poço e incubados por 2 horas. Foi repetida a lavagem como na etapa anterior, porém, com cinco lavagens para cada placa. Após a lavagem foi adicionado em cada poço o anticorpo secundário contendo Biotina e a enzima de aceleração HPR, Todas as placas foram incubadas em ambiente escuro por 1 hora 34 em temperatura ambiente. Após esse tempo todas as placas foram lavadas novamente com sete lavagens cada e adicionado 100µL da solução substrato contendo tetrametilbenzeno (TMB) e peroxidade em cada poço, incubado em campo escuro por 30 minutos em temperatura ambiente. Após esse tempo foi adicionado 50 µL da solução de parada (2N H 2 SO 4 ) em cada poço. As leituras foram realizadas em 450nm até 30 minutos após a ação da solução de parada. 300µL Padrão estoque 500 pg/mL 300µL 250 pg/mL 300µL 125 pg/mL 300µL 62,5 pg/mL 300µL 31,3 pg/mL 300µL 15,6 pg/mL 7,8 pg/mL Figura 10: Esquema de diluições dos padrões (Fonte: BD OptEIATM ) 3.10 Exames hematológicos Para avaliação hematológica foram realizados os exames de hemograma completo, incluindo o valor absoluto do hematócrito, contagem global da série vermelha e série branca, índices hematimétricos e plaquetograma, em equipamento automatizado da marca ABX, modelo PENTRA 120 RETIC (Figura 11). Figura 11: Equipamento PENTRA 120, para hemograma (Fonte: SILVA, JT). 35 3.11 Exames Bioquímicos As dosagens bioquímicas seguiram o protocolo de solicitação dos exames para pacientes com malária: glicose, uréia, creatinina, bilirrubinas e transaminases, realizadas através do aparelho DADE BEHRING, modelo X-PAND (Figura 12). Figura 12: Equipamento DADE X-PAND, para dosagens bioquímicas (Fonte: SILVA, JT). 3.12 Análise estatística As informações foram armazenadas em banco de dados no programa Epi-Info versão 6.04, o qual analisou as seguintes variáveis: comparação das médias pelo teste “t” de Student; correlação pelo método de Pearson com intervalo de confiança de 95% para mediar à força de associação entre duas variáveis; níveis de significância estatística menor ou igual a 5% para rejeitar a hipótese nula (p < 0,05). 36 4. RESULTADOS 4.1 Descrição da casuística As amostras foram coletadas durante o primeiro episódio do seguimento em 107 (55,2%) dos casos, no segundo episódio em 65 (33,5%), mas houve pacientes que apresentaram vários episódios, a maior delas (0,5%) apresentou seis episódios durante o seguimento. No entanto, não foi possível realizar a coleta das amostras em todos os episódios. Como este é um estudo de seguimento e acompanhamento, para a análise, foram consideradas as amostras sangüíneas dos 160 episódios de malária no primeiro dia do diagnóstico parasitológico positivo pela gota espessa e inicio do tratamento, denominado de dia zero (D0) e como grupo controle foram coletadas 34 amostras com diagnóstico parasitológico negativo, das mesmas pacientes no trigésimo quinto dia (D35) após o inicio do tratamento. Algumas pacientes tiveram mais de um episódio de malária durante o seguimento do estudo, e entre o D0 e D35 foram realizados vários exames parasitológicos para acompanhamento da densidade parasitária (Figura 13). D35 34 (17,5%) D0 160 (82,5%) Figura 13: Distribuição da coleta das 194 amostras no D0 (n=160) e D35 (n=34). 37 A densidade parasitária média nas 194 amostras foi de 3515,9 parasitos por milímetro cúbico (DP ± 5242,6); a média dos episódios anteriores de malária foi de 1,6 (DP ± 1,4), considerando todos os episódios que a paciente apresentou ao longo da sua vida. A maioria das amostras foi coletada quando as pacientes apresentaram o primeiro episódio do seguimento: 107 (55,2%) dos casos e no segundo episódio do seguimento 65 (33,5%); as restantes 22 amostras foram coletadas em pacientes que apresentaram mais de dois episódios de malária durante o acompanhamento. Houve uma paciente que apresentou seis episódios de malária durante o seguimento (Figura 14). Não foi possível realizar a coleta das amostras em todos os episódios. 120 Coleta de amostras (n=194) 100 80 60 40 20 0 1 Episódio 2 Episódios > 3 Episódios Figura 14: Episódios de malária durante a coleta das 194 amostras analisadas no D0 (n=160) e D35 (n=34). Das 160 amostras analisadas no D0, 45 (28,1%) eram procedentes de primigestas; 38 (23,8%) eram procedentes de adolescentes; 22 (13,7%) eram primoinfectadas; 146 (91,3%) estavam grávidas no momento da coleta; 46 (28,8%) tiveram recorrência parasitária (Tabela 1). 38 Tabela 1: Descrição da casuística no D0 (n=160) dos episódios de malária por P. vivax em mulheres grávidas atendidas na FMTAM. Ocorrência Estado gestacional Gestantes na coleta Coleta pós-parto Faixa etária Adultas Adolescentes Número de gravidez Gravidez = 1 Gravidez > 1 Número de infecções Infecção = 1 Infecção > 1 Recorrência parasitária Sim Não n = 160 % 146 14 91,3 8,7 122 38 76,2 23,8 45 115 28,1 71,9 22 138 13,7 86,3 46 114 28,7 71,3 Os sinais clínicos da infecção malárica foram evidenciados em 145 (90,6%) pacientes, que relataram a tríade clássica dos sintomas clínicos da malária: febre em 118 (76,6%); calafrio em 115 (74,7%) e cefaléia em 127 (82,5%) (Figura 15). 82,5% 130 Frequência 125 76,6% 120 74,7% 115 110 105 Cefaléia Febre Calafrio Figura 15: Sintomas clínicos observados no D0 em mulheres grávidas com diagnóstico de malária por P. vivax atendidas no ambulatório especial de infecção e gestação da FMTAM durante o período de março a agosto de 2006. 39 Nos 160 episódios de malária, foi possível fazer diagnóstico com menos de 24 horas de evolução dos sintomas em 37 (26,6%) deles. Nas restantes, a evolução desses sintomas variou de dois a 21 dias, sendo a maior com 32 dias de evolução (Figura 16). 40 35 Frequência 30 25 20 15 10 5 0 0 1 2 3 4 6 5 7 8 9 10 13 14 18 21 32 Dias de evolução Figura 16: Distribuição dos episódios de evolução da malária segundo os dias de sintomas. Com relação à paridade ao momento da coleta, 178 (91,8%) amostras foram coletadas em pacientes quando ainda gestantes, mas por tratar-se de um estudo de seguimento, uma delas foi coletada no dia do parto; três nos primeiros sete dias após o parto; quatro foram coletadas entre o dia oito e 28 dias após o parto; três entre os 29 e 180 dias após o parto e cinco delas em pacientes não grávidas (Figura 17). Não grávidas 2,7 1,5 29 a 180 dias após parto 2,0 8 e 28 dias após parto < 7 dias após parto 1,5 Dia do parto 0,5 91,8% Grávidas 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 Figura 17: Distribuição das pacientes segundo o estado obstétrico no momento da coleta nas 194 amostras analisadas no D0 (n=160) e D35 (n=34). 40 4.2 Análise do perfil de citocinas TNF-α, IL-6, IL-8 e IL-10 coletadas no D0 e D35. Entre os níveis das citocinas encontradas nas 160 amostras de soro coletadas no D0 dos episódios de malária, o TNF-α foi a citocina que apresentou a menor concentração (135 pg/mL), com uma média de 2,9 pg/mL e desvio padrão de 12,7. A IL-10 foi a citocina que apresentou a maior concentração (598,3 pg/mL) com uma média de 162,2 pg/mL e desvio padrão de 187,3. O valor 0 (zero) foi atribuído como resultado negativo, ou seja, ausência de citocinas, e os valores acima de 0 (zero), foram considerados positivos (Tabela 2). Tabela 2: Distribuição dos níveis das citocinas segundo as concentrações encontradas. CITOCINAS n Min (pg/mL) Max (pg/mL) Med (pg/mL) DP TNF-α 160 0 135,0 2,9 12,7 IL-6 160 0 456,0 51,9 106,3 IL-8 160 0 299,1 40,8 54,1 IL-10 160 0 598,3 162,2 187,3 O TNF-α (A) foi a citocina com a menor concentração detectada, onde a maioria das amostras no D0 e no D35, ficaram abaixo de 40 pg/mL. A IL-6 (B) foi detectada no D0 acima de 100 pg/mL, porém com baixo nível no D35. A IL-8 (C) foi semelhante aos níveis da IL-6 (B). A IL-10 (D), foi a citocina que apresentou os maiores níveis, ficando acima de 200 pg/mL (Figura 18). 41 (A) (B) (C) (D) Figura 18: Comparação dos títulos de citocinas encontradas nas amostras do D0 (n=160) e D35 (n=34). A concentração das citocinas, comparando a coleta das amostras no D0 e D35, mostrou uma correlação positiva estatisticamente significativa para as citocinas IL-6 (p<0,01); IL-8 (p<0,05) e IL-10 (p<0,01). Contudo não mostrou correlação positiva estatisticamente significativa com o TNF-α (p>0,05). O TNF-α foi a citocina com o menor número encontrado no D0 (26/160) e D35 (7/34). A IL-8 e IL-10 apresentaram um maior número no D0 (138/160 e 147/160 respectivamente). A IL-8 também teve correlação positiva estatisticamente significativa apresentando um maior número no D35 (30/34) (Tabela 3). D0 (160) D35 (34) 42 CITOCINAS Presença (n %) Ausência (n %) Presença (n %) Ausência (n %) p* TNF-α 26 (16,2) 134 (83,8) 7 (20,6) 27 (79,4) > 0,05 IL-6 98 (61,2 62 (38,8) 7 (20,6) 27 (79,4) < 0,01 IL-8 138 (86,2) 22 (13,8) 30 (88,2) 4 (11,8) < 0,05 IL-10 147 (91,9) 13 (8,1) 16 (47,1) 18 (52,9) < 0,01 Tabela 3: Distribuição qualitativa de citocinas em 194 amostras analisadas no D0 (n=160) e D35 (n=34). * Análise estatística do teste “t” de student As amostras das citocinas coletadas no D0 e D35 mostraram uma média dos títulos com diferença estatisticamente significativa para IL-6 (p<0,01); IL-8 (p<0,05) e IL-10 (p<0,01). Contudo não houve significância estatística para o TNF-α (p>0,05), pois esta citocina apresentou uma média de 2,9 pg/mL com desvio padrão de 12,7 no D0 e 1,9 pg/mL com desvio padrão de 4,7 no D35. A IL-6 apresentou uma média de concentração de 51,9 pg/mL com desvio padrão de 12,7 no D0 e média de 12,3 pg/mL e desvio padrão de 64,0 no D35. A IL-8 e IL-10, ao contrário das demais, mostraram uma maior concentração no D35 (18,5 pg/mL e 12,5 pg/mL respectivamente (Tabela 4). Tabela 4: Comparação da média das citocinas em 194 amostras analisadas no D0 (n=160) e D35 (n=34). CITOCINAS D0 (160) D35 (34) p* TNF-α 2,9 ± 12,7 1,9 ± 4,7 > 0,05 IL-6 51,9 ± 12,7 12,3 ± 64,0 < 0,01 IL-8 2,9 ± 12,7 18,5 ± 16,6 < 0,05 IL-10 2,9 ± 12,7 12,5 ± 46,4 < 0,01 * Análise estatística do teste “t” de student Quando foram comparadas à média da concentração das citocinas no D0 de mulheres grávidas (n=146) com mulheres não grávidas (n=14), não foi encontrada diferença estatisticamente significativa (p>0,1 e p>0,5). O TNF-α foi a citocina com a menor média de concentração encontrada: 3,2 pg/mL nas grávidas e 0,3 pg/mL em não grávidas. A IL-10 foi a citocina com a maior média de concentração encontrada: 158,7 pg/mL em grávidas e 204,9 pg/mL em não grávidas. A IL-6 mostrou resultados 43 semelhantes entre grávidas e não grávidas (51,9 pg/mL e 51,0 pg/mL respectivamente). A IL-8 teve uma média mais elevada nas não grávidas (76,5 pg/mL) (Tabela 5). Tabela 5: Média das concentrações de citocinas entre as 160 amostras coletadas em grávidas (n=146) e não grávidas (n=14). CITOCINAS Grávidas (146) Não grávidas (14) p* 3,2 ± 13,3 0,3 ± 1,3 > 0,1 IL-6 51,9 ± 107,7 51,0 ± 94,6 > 0,5 IL-8 37,4 ± 49,4 76,5 ± 83,2 > 0,1 TNF-α IL-10 158,7 ± 181,9 204,9 ± 240,2 * Análise estatística do teste “t” de student > 0,1 Na análise da concentração das citocinas nas amostras coletadas no D0 das pacientes sem antecedentes de infecções maláricas prévias (primoinfectadas) (n=22), com aquelas que apresentaram pelo menos uma infecção anterior (n=138), não mostrou diferença estatisticamente significativa para as diferentes citocinas estudadas (p>0,1 e p>0,5) (Tabela 6). Tabela 6: Comparação da média de citocinas entre os 160 episódios de malária em pacientes primoinfectadas (n=22) e as que relataram mais de uma infecção (n=138). CITOCINAS Primoinfectadas (22) > 1 Infecção (138) p* 2,27 ± 6,30 3,03 ± 13,50 > 0,5 IL-6 30,64 ± 65,60 55,28 ± 111,28 > 0,5 IL-8 25,59 ± 31,20 43,27 ± 56,55 > 0,1 172,34 ± 190,63 > 0,1 TNF-α IL-10 102,46 ± 155,10 * Análise estatística do teste “t” de student 44 A média dos níveis de citocinas tanto nas pacientes sem antecedentes de infecções maláricas prévia (primoinfectadas) quanto nas que relataram pelo menos uma infecção anterior, foi variada. O TNF-α (A) mostrou baixa concentração (média de 2,65 pg/mL) em ambos os casos. A IL-6 (B) apresentou em algumas pacientes níveis muito elevados (acima de 300 pg/mL), tanto em pacientes primoinfectadas quanto nas com mais de uma infecção. A IL-8 (C) apresentou resultados semelhantes com a IL-6 (B), e a IL-10 (D) apresentou uma maior concentração em ambas as infecções, com uma média acima de 100 pg/mL (Figura 19). (A) (C) (B) (D) Figura 19: Comparação da média dos níveis de citocinas em amostras coletadas no D0 das pacientes sem antecedentes de malária (n=22), com aquelas que apresentaram pelo menos uma infecção (n=138). 45 Na média da concentração de citocinas nas amostras coletadas no D0 entre as pacientes primíparas (n=45) e as multíparas (n=115) infectadas, não foi observada significância estatística (p>0,1 e p>0,5) (Tabela 7). Tabela 7: Média das citocinas nas 160 amostras analisadas no D0 entre as primíparas (n=45) e multíparas (n=115). CITOCINAS Gravidez = 1 (45) Gravidez > 1 (115) p* 2,0 ± 5,0 3,2 ± 14,7 > 0,1 IL-6 67,2 ± 135,6 45,9 ± 92,4 > 0,5 IL-8 41,7 ± 49,0 40,5 ± 56,0 > 0,5 155,4 ± 180,0 > 0,1 TNF-α IL-10 181,3 ± 205,6 * Análise estatística do teste “t” de student Nas amostras analisadas no D0 (n=160), a média dos níveis encontrados, não apresentaram diferenças estatísticas (p>0,1 e p>0,5), quando comparadas entre as pacientes primíparas e as que relataram mais de uma gravidez. No TNF-α (A) foi encontrada baixa concentração (média de 2,6 pg/mL) em ambas as freqüências. As interleucinas IL-6 (B) e IL-8 (C), tiveram resultados aproximados, apresentando em algumas amostras concentração acima de 200 pg/mL em ambas as freqüências. Na IL-8 foi encontrado uma concentração acima de 300 pg/mL em pacientes com mais de uma gravidez. A IL-10 (D) também apresentou uma concentração acima de 200 pg/mL em ambos os casos (Figura 20). 46 (A) (B) (C) (D) Figura 20: Distribuição dos níveis de citocinas nas amostras coletadas no D0 segundo a freqüência de gravidez entre pacientes primíparas (n=45) e multíparas (n=115). 47 4.3 Correlação da densidade parasitária e a concentração de citocinas Segundo a análise estatística, foi encontrada uma correlação positiva estatisticamente significativa em relação à densidade parasitária, expressa em parasitos por milímetro cúbico (DP/mm3), com o TNF-α (A) (p<0,05); IL-6 (B) (p<0,01) e IL-10 (D) (p<0,01). Contudo não houve correlação positiva estatisticamente significativa com a IL-8 (C) (p>0,054), muito embora essa correlação talvez fosse positiva e estatisticamente significativa, se tivéssemos analisado um número maior de amostras, pois o índice de confiança ficou próximo de 95% (p>0,054). (A) (C) (B) (D) Figura 21: Correlação entre a densidade parasitária, expressa em parasitos por milímetro cúbico (DP/mm3) e a concentração de citocinas nas amostras coletadas no D0 (n=160). 48 4.4 Correlação da evolução dos sintomas em dias e a concentração de citocinas Observamos pela análise estatística que a correlação da evolução dos sintomas em dias e as concentrações das citocinas nas amostras coletadas no D0 (n=160), não mostraram significância estatística (p>0,05). (A) (B) (C) (D) Figura 22: Correlação entre os dias de evolução dos sintomas (DES) e a concentração de citocinas nas amostras coletadas do D0 (n=160). 49 4.5 Correlação do número de episódios anteriores de malária e a concentração de citocinas A análise da correlação entre o número de episódios anteriores de malária (NEAM) e as concentrações das citocinas nas amostras coletadas no D0 (n=160), mostrou que não houve correlação positiva estatisticamente significativa (p>0,05) (Figura 23). (A) (C) (B) (D) Figura 23: Correlação entre o número de episódios anteriores de malária (NEAM) e a concentração das citocinas nas amostras coletadas no D0 (n=160). 50 4.6 Correlação da paridade e a concentração de citocinas Na correlação entre o número de paridades com a concentração das citocinas, foi observado que não houve uma correlação positiva estatisticamente significativa entre ambos (p>0,05) (Figura 24). (A) (B) (C) (D) Figura 24: Correlação do número de paridade com as citocinas em amostras coletadas de mulheres grávidas no D0 (n=160). 51 4.7 Correlação da duração da amenorréia medida em semanas e a concentração de citocinas Na avaliação da correlação da duração da amenorréia, a qual foi estimada numericamente em semanas de gravidez com as citocinas, não mostrou correlação positiva estatisticamente significativa (p>0,05). Contudo houve uma correlação negativa estatisticamente significativa com IL-10 (D) (p<0,01). A análise mostra que quanto maior duração da amenorréia, menor será a produção da IL-10 (D) (Figura 25). (A) (B) (C) (D) Figura 25: Correlação da amenorréia, distribuída numericamente em semanas de gravidez com a concentração de citocinas nas amostras coletadas no D0 (n=160). 52 4.8 Correlação da hemoglobina e a concentração de citocinas A concentração da hemoglobina, expressa em g/dL, quando correlacionada com a concentração das citocinas, não mostrou correlação positiva estatisticamente significativa (p>0,05) (Figura 26). (A) (B) (C) (D) Figura 26: Correlação da hemoglobina, expressa em g/dL, e a concentração de citocinas nas amostras coletadas no D0 (n=160). 53 4.9 Correlação da glicose e a concentração de citocinas Na análise estatística da correlação entre a dosagem de glicose, expressa em mg/dL, e a concentração de citocinas, não mostrou correlação positiva estatisticamente significativa (p>0,05). (A) (B) (C) (D) Figura 27: Correlação da glicose, expressa em mg/dL, e a concentração de citocinas nas amostras coletadas no D0 (n=160). 54 4.10 Correlação da creatinina e a concentração de citocinas Quando analisado a correlação entre a dosagem da creatinina, expressa em mg/dL, e a concentração de citocinas, foi evidenciada uma correlação positiva estatisticamente significativa com IL-6 (B) (p<0,01), IL-8 (C) (p<0,05) e IL-10 (D) (p<0,05). Contudo não houve correlação significativa com TNF-α (A) (p>0,05). Todavia, essa correlação talvez fosse positiva e estatisticamente significativa, se fosse detectado um número maior TNF-α nas amostras analisadas, pois seus níveis foram pouco encontrados em ambos os momentos da coleta (Figura 27). (A) (B) (C) (D) Figura 28: Correlação da creatinina, expressa em mg/dL e a concentração de citocinas nas amostras coletadas no D0 (n=160). 55 4.11 Correlação das bilirrubinas e a concentração de citocinas Em relação à correlação entre dosagem da bilirrubina total e suas frações (direta e indireta) expressas em mg/dL, com a concentração de citocinas, ficou comprovada algumas divergências estatisticamente significativas entre esses metabólitos. A correlação entre a dosagem da bilirrubina total e a concentração de citocinas, mostrou que tem correlação positiva e estatisticamente significativa com a IL-6 (B) (p<0,05), IL-8 (C) (p<0,05) e IL-10 (D) (p<0,05). Porém não apresentou correlação positiva estatisticamente significativa com TNF-α (A) (p>0,05) (Figura 29). (A) (B) (C) (D) Figura 29: Correlação entre a dosagem da bilirrubina total, expressa em mg/dL e a concentração de citocinas nas amostras coletadas no D0 (n=160). 56 Na correlação entre a dosagem da bilirrubina direta, expressa em mg/dl, e a concentração de citocinas, ficou comprovado uma correlação positiva estatisticamente significativa com a IL-6 (B) (p<0,05), IL-8 (C) (p<0,05) e IL-10 (D) (p<0,05). Mas não apresentou correlação positiva estatisticamente significativa com o TNF-α (A) (p>0,05) (Figura 30). (A) (B) (C) (D) Figura 30: Correlação entre a dosagem da bilirrubina direta, expressa em mg/dL e a concentração de citocinas nas amostras coletadas no D0 (n=160). 57 Na análise da correlação entre a dosagem da bilirrubina indireta e a concentração de citocinas, foi demonstrado uma correlação positiva estatisticamente significativa com a IL-6 (B) (p<0,05), IL-8 (C) (p<0,05) e IL-10 (D) (p<0,05). Todavia, não mostrou correlação significativa com TNF-α (D) (p>0,05) (Figura 31). (A) (B) (C) (D) Figura 31: Correlação entre a dosagem da bilirrubina indireta, expressa em mg/dL, e concentração de citocinas nas amostras coletadas no D0 (n=160). 58 4.12 Resumo dos resultados Diante dos resultados encontrados em relação aos objetivos do trabalho, e a correlação com os parâmetros da densidade parasitária; dias de evolução dos sintomas clínicos da malária vivax; histórico de episódios anteriores de infecções; paridade; amenorréia; exames hematológicos (hemoglobina) e bioquímicos (glicose, creatinina e bilirrubinas), a tabela 8 demonstra todas as correlações positivas e negativas estatisticamente significativas em relação às citocinas estudadas. Todas as citocinas estudadas tiveram uma correlação positiva estatisticamente significativa com a densidade parasitária. Todavia, não houve correlação positiva e estatisticamente significativa com os dias de evolução dos sintomas, episódios anteriores de malária e a paridade. A amenorréia, distribuída em semanas de gravidez, apresentou correlação positiva estatisticamente significativa com a IL-10. Nenhuma das citocinas analisadas apresentou correlação positiva e estatisticamente significativa com a hemoglobina e a glicose. As citocinas IL-6, IL-8 e IL-10 apresentaram correlações positivas e estatisticamente significativas com a creatinina e a bilirrubina total e frações (direta e indireta). O TNF-α foi a única citocina que não apresentou correlação positiva com as variáveis analisadas, com exceção da densidade parasitária, onde esta correlação foi positiva e estatisticamente significativa (Tabela 8). Tabela 8: Resumo das correlações positivas e negativas nas 160 amostras de citocinas analisadas no D0. Correlações TNF-α IL-6 IL-8 IL-10 Densidade Parasitária sim sim sim Sim Dias evolução sintomas não não não não Episódios anteriores não não não não Paridade não não não não Amenorréia não não não Sim Hemoglobina não não não não Glicose não não não não Creatinina não sim sim Sim Bilirrubina total não sim sim Sim Bilirrubina direta não sim sim Sim Bilirrubina indireta não sim sim Sim 59 5. DISCUSSÃO Na gravidez o sistema imunológico da mulher se encontra alterado, mas controlado para o desenvolvimento do concepto, no entanto a situação se modifica quando a grávida adquire malária neste período, pois o organismo enfrenta um combate duplo, onde por um lado tenta proteger a ambos e por outro tenta combater a agressão promovida pelo parasito (Núñes-González et al., 2001; Jurande et al., 2003). Nos resultados encontrados, os níveis de TNF-α apresentaram baixa concentração em um número pequeno de pacientes. Resultados semelhantes também foram encontrados em pacientes com mais de um episódio de malária e em relação às demais citocinas estudadas. O TNF-α é uma citocina pró-inflamatória produzida, principalmente, durante a fase aguda da infecção e sua secreção é induzida pela estimulação dos macrófagos, provavelmente sua baixa concentração esteja relacionada com o grau de imunidade em mulheres com mais de um episódio de malária. Como esse estudo foi com pacientes com malária não grave, foi constatada uma baixa concentração desta citocina, pois a literatura relata que os níveis elevados do TNF-α estão mais presentes em malária grave e malária cerebral (Tanaka, 1993; Lyke et al., 2004). Os resultados corroboram aos encontrados por Tanaka (1993) que avaliou o perfil do TNF-α em indivíduos com malária grave na Amazônia, onde encontrou correlação entre a parasitemia e níveis de TNF-α. Embora que, a dispersão dos valores do TNF-α em relação às outras citocinas estudadas, deva estar atribuída ao momento da coleta do sangue. Mendis et al., (1990) demonstraram que os níveis de TNF-α aumentaram transitoriamente após o paroxismo produzido, principalmente, pela liberação de merozoítos dos esquizontes maduros, diminuindo, quatro horas após, o início do paroxismo. Na análise dos resultados foi encontrado um elevado percentual (83,8% no D0 e 79,4% no D35) de pacientes com níveis indetectáveis de TNF-α, possivelmente devido à coleta ter sido realizada muito tempo após o paroxismo. Contudo, são necessários estudos futuros para melhor compreender a associação desta citocina em gestantes com malária por P. vivax. 60 Não foi encontrada uma correlação positiva e estatisticamente significativa entre a freqüência do número de gravidez e as citocinas estudadas. A maior parte das amostras analisadas no D0 foi de pacientes que relataram acima de uma gravidez (71,9%). Contudo, estudos semelhantes demonstraram que o TNF-α é considerado uma das principais citocinas participantes da gestação e patologias relacionadas; sua concentração em grávidas mostra variações que dependem da idade gestacional (Núñes-González et al., 2001). Também a malária, em mulheres primigestas, parece causar alterações significativas na síntese de citocinas na placenta, com associação de níveis séricos elevados de TNF-α em infecção por P. vivax quando comparado com P. falciparum (Moormann, 1999). Nossos resultados são divergentes dessa informação, pois não encontramos níveis elevados de TNF-α em grávidas primigestas com malária vivax. Os níveis de TNF-α não apresentaram uma correlação estatisticamente significativa com os níveis da IL-6 e as demais citocinas. Esses dados são divergentes aos achados por outros estudos (Yildiz et al., 2006), onde estas duas citocinas apresentaram concentrações elevadas em pacientes com alta densidade parasitária na malária por P. vivax, porém, em pacientes não grávidas. Ambas são citocinas com propriedades pró-inflamatórias semelhantes e possuindo sinergismo entre si, o que sugere que ambas estejam presentes na fase aguda da infecção. Embora, nos resultados encontrados, os níveis de TNF-α tenham sido bem abaixo do esperado, a IL-6 apresentou uma elevação maior na maioria das pacientes no D0 (média de 51,9 pg/mL), e também ainda estava presente em amostras das mesmas pacientes no D35 (média de 12,3 pg/mL), enquanto que o TNF-α manteve-se em baixa concentração em ambos os momentos da coleta (média de 2,9 pg/mL e 1,9 pg/mL no D0 e D35, respectivamente). A IL-6 apresentou uma correlação positiva e estatisticamente significativa com a IL-10, cujos resultados de ambas foram muito próximos, principalmente, no D35 (média de 12,3 pg/mL para IL-6 e 12,5 pg/mL para IL-10). Sugerindo que durante o estudo ocorreu um antagonismo, pois a IL-10 é uma citocina supressora da resposta imune, que possui propriedade antagônica a IL-6, ou seja, inibição da ativação dos macrófagos, que é uma das principais células de síntese desta citocina (Day et al., 1999). Os efeitos mediadores das citocinas na malária foram, inicialmente, 61 demonstrados na malária grave e malária cerebral, onde a oscilação da febre no paroxismo se mostrou equiparado com os níveis de TNF-α (Shaffer et al., 1991; Mendis e Carter, 1995). A resposta pró-inflamatória na malária por P. vivax, parece ter uma maior importância durante o período de aumento da parasitemia, o que leva a um processo sistêmico na ativação e secreção de várias citocinas, principalmente a IL-6, as quais parecem ter um papel importante na resposta imune (Yildiz et al., 2006). Nas grávidas, possivelmente, ocorre o mesmo processo, pois foi encontrada correlação positiva e estatisticamente significativa entre a densidade parasitária e os níveis elevados de TNF-α, IL-6 e IL-10. Contudo, não foi encontrada uma correlação com os níveis de IL-8. Estes dados corroboram aos dados encontrados por Yildiz et al. (2006), onde também não foi encontrada significância estatística em pacientes com malária por P. vivax em regiões endêmicas na Turquia, sugerindo que a IL-8 esteja mais relacionada com a malária grave cerebral, como relatam outros estudos (Lyke et al., 2004). Esse estudo foi realizado em mulheres grávidas com malária não grave, onde foi encontrado níveis mais elevados de IL-6 no D0 (média de 51,9 pg/mL), quando comparada com a IL-8 (média de 2,9 pg/mL). Também não foi encontrada uma correlação da IL-8 e o número de parasitos. Embora, a IL-8 tenha apresentado baixos níveis no D0 (média de 2,9 pg/mL), apresentou uma concentração mais elevada no D35 (média de 18,5 pg/mL) em comparação com a IL-6 (média de 12,3 pg/mL) no mesmo momento da coleta. Outros estudos mostram que a IL-6 e IL-8 estão relacionadas com a malária grave (Day et al., 1999). Sabe-se que a IL-8 possui propriedade quimiocinética e é uma quimiocina que estimula a migração de neutrófilos (Day et al., 1999), estando relacionada com muitas doenças infecciosas, inclusive com a malária. Pouco se sabe sobre o papel da IL-8 na patogênese da malária, contudo, reações in vitro, têm comprovado que a síntese de lipopolissacarideos e IL-10 são fortes inibidores na produção de IL-8 (Marie et al., 2000). 62 Este estudo demonstrou correlação positiva e estatisticamente significativa da IL-8 com a IL-10, onde a média dos níveis da IL-10 foi elevada (média de 158,7 pg/mL no D0 e 204,9 pg/mL no D35) quando comparada com a média da IL-8 (média de 37,4 pg/mL no D0 e 76,6 pg/mL no D35). A produção da IL-10 parece ser natural em grávidas e pode estar com concentrações aumentadas, quando estas adquirem malária. Contudo, é sugestivo que a IL-8 pode ter sua produção inibida, pela síntese de IL-10, a qual parece ser produzida em grande quantidade em mulheres grávidas com malária não grave, como de fato ocorreu no presente estudo. Estudos realizados por Alecrim et al., (2000), na Amazônia, comprovam que ocorre uma diferença significativa entre os sintomas da malária na gestante e os observados na não gestante, onde geralmente a parasitemia da malária é mais intensa nas grávidas do que entre as não grávidas. Entretanto, o grau de parasitemia é diferente durante todo o período gestacional, sendo observado aumento durante as primeiras semanas e uma redução mais próxima do parto (Martinez-Espinosa, 1998). Embora, estudos futuros sejam necessários para melhor compreender este mecanismo de associação entre a parasitemia e as citocinas nas grávidas com malária, os resultados mostraram que tanto as citocinas pró e antiinflamatórias estão diretamente associadas à parasitemia também em grávidas com malária por P. vivax. Não foi evidenciada uma correlação positiva entre as concentrações de citocinas, o número de episódios anteriores de malária e os dias de evolução dos sintomas, o que sugere que os níveis elevados de citocinas tanto pró-inflamatórias (IL-6) quanto antiinflamatórias (IL-10) estejam predominantemente mais elevados na fase aguda da infecção. Embora, tenham sido encontrados em algumas grávidas, níveis elevados de citocinas, principalmente a IL-10, no D35, o que demonstra que a IL-10 parece ser produzida naturalmente durante a gravidez (Jurande, 2003). As formas graves da doença são mais freqüentes em indivíduos não expostos à infecção e primoinfectados provenientes de áreas com pouca ou nenhuma transmissibilidade (Baird, 1995), e também, estão associados à virulência da cepa do parasito (Gupta et at., 1994). 63 Apesar da maioria das pacientes estudadas terem relatado mais de uma infecção malárica (86,2%), os resultados não evidenciaram uma associação dos episódios anteriores de malária com as citocinas estudadas, sugerindo que a produção dessas citocinas seja autolimitada, ou seja, param de ser produzidas com a cura da infecção. Alguns autores consideram que o risco de desenvolver malária grave ou complicada é três vezes maior entre as grávidas (Luxemburger et al., 1997), especialmente as primigestas (Martinez-Espinosa, 1998) e/ou aquelas procedentes de áreas hiperêndemicas ou de transmissão instável (Jurande, 2003). Neste último caso, quando as grávidas não têm uma imunidade prévia, também estão mais suscetíveis a desenvolver a forma grave da doença (MartinezEspinosa,1998; Jurande, 2003). Não foi observada correlação positiva entre anemia e a concentração das citocinas, apesar da baixa concentração de hemoglobina sanguínea nas grávidas, presente no momento da coleta no D0. A anemia é uma complicação freqüente associada à própria fisiologia da gravidez, ao estado nutricional como na anemia ferropriva, infecção por helmintos e protozoários, déficit de ferro, folatos, hemoglobinopatias, como anomalias na hemoglobina S na anemia falciforme e infecções patológicas como a malária e HIV (Fleming, 1989; Martinez-Espinosa, 1998). Este é um dos problemas obstétricos mais comuns com conseqüências graves tanto para a mãe quanto para o concepto (Mutabingwa et al., 1993). A gravidez associada à malária pode ser um importante fator de risco para outras infecções primárias e secundárias, como potencializar o efeito da anemia (Brabin, 1985). No entanto, este estudo não demonstrou uma correlação positiva da baixa concentração da hemoglobina com as concentrações séricas de TNF-α, IL-6, IL-8 e IL-10. Não houve correlação estatisticamente significativa da anemia (avaliada através da hemoglobina) com as citocinas, no entanto, existem relatos na literatura comprovando que os níveis elevados de TNF-α têm correlação positiva em indivíduos com malária e anemia grave, uma vez que tal citocina apresenta propriedade inibidora da eritropoese (Freitas, 2004). Nos dados encontrados não há correlação de níveis elevados do TNF-α em pacientes anêmicas. Esses resultados não corroboram com os estudos de Freitas (2004), onde foi demonstrado que 64 concentrações elevadas do TNF-α poderiam estar refletindo o efeito antiparasitário dessa citocina, ou seja, poderia agir no controle da infecção e, consequentemente, na gravidade da anemia. Este estudo demonstrou resultados com correlação positiva e estatisticamente significativa do TNF-α com a densidade parasitária. Foram encontrados altos níveis de IL-10 (média de 162,2 pg/mL) e baixos níveis de TNF-α (média de 2,9 pg/mL). Porém, não houve correlação estatisticamente significativa de ambas com o grau de anemia das grávidas com malária, sugerindo que ocorreu uma inibição da produção do TNF-α pela excessiva concentração da IL-10 presente nas amostras analisadas. Estudo realizado por Freitas (2004), em localidades do Estado do Pará, relatou que altos níveis de IL-10, encontrados em pacientes anêmicos com infecção malárica, podem indicar um efeito potencializador da resposta de anticorpos contra o parasito, que se traduziria em uma maior retirada de eritrócitos da circulação. Outra interpretação residiria no efeito antiinflamatório da IL-10, cujo aumento nas pacientes anêmicas refletiria a necessidade e tentativa de controle na produção excessiva de TNF-α, que levaria ao desenvolvimento de formas graves de anemia. Nos exames bioquímicos das gestantes com malária não ficou evidente a correlação entre glicemia e citocinas, entretanto mulheres grávidas são naturalmente mais susceptíveis a desenvolver hipoglicemia devido ao aumento das células beta do pâncreas, e isto é agravado, principalmente, nas infecções por P.falciparum, provavelmente pelo estímulo da produção de insulina. Outros fatores importantes seriam explicados pela redução nutricional na ingestão alimentar, maior consumo de glicose pelos parasitos circulantes no sangue periférico, além do efeito hipoglicêmico das citocinas de fase aguda, principalmente o TNF-α, e também o maior consumo de glicose durante os episódios de paroxismo febris, onde estes efeitos podem contribuir com a hipoglicemia no decorrer da gravidez (Martinez-Espinosa, 1998; Jurande, 2003, Santos et al., 2003). Embora não tenha sido encontrada a correlação entre a hipoglicemia e o TNF-α neste estudo, a IL-10 apresentou níveis elevados (média de 162,2 pg/mL), pois esta citocina possui, entre suas propriedades, a função regulatória e inibitória sobre a produção do TNF-α, que foi encontrado em menor concentração (média 65 de 2,9 pg/mL) nas pacientes estudadas. Os efeitos conseqüentes da hipoglicemia são mais freqüentes e complicados em mulheres grávidas com infecções graves e primoinfectadas, ou seja, com pouca ou nenhuma imunidade. Em mulheres com malária e com alguma imunidade, a glicose no sangue é mais difícil de ser avaliada, pois neste caso as grávidas são frequentemente assintomáticas (Jurande, 2003). Porém, a hipoglicemia materna pode ser responsável pela redução de peso do concepto em associação com a parasitemia no sangue periférico sem infecção placentária, mas com anemia materna acentuada (Martinez-Espinosa, 1998; Jurande, 2003). Nos casos mais graves de malária, as sequestrinas, presentes na superfície das hemácias parasitadas por plasmódios, promovem a sua aderência em células endoteliais através da molécula de adesão intercelular 1 (ICAM-1), receptor de trombospondina, integrinas e glicoforina CD46 (Nakazawa et al., 1998; Turner et al., 1998). Este fenômeno pode ser ativado por citocinas, por exemplo, o TNF-α, na pele e outros sítios como o sistema nervoso central (SNC) e trato gastrintestinal (Santos et al., 2003). Este fato poderia explicar a hipoglicemia, diarréia e alteração de consciência em alguns casos (Santos et al., 2003). Em geral, os acessos maláricos são acompanhados de intensa debilidade física, associada a náusea, febre, calafrios e vômitos (OMS, 2000). As alterações hematológicas mais freqüentes são a trobocitopenia, quase sempre acompanhadas de leucocitose, com baixa concentração de hematócrito, e hemoglobina. Nas alterações bioquímicas são observadas elevações na uréia, creatinina, bilirrubinas e transaminases (AST/ALT). O aumento da uréia e creatinina são indicativos laboratoriais de evolução da malária grave por insuficiência renal aguda (IRA), onde a creatinina sérica é > 3,0 mg/dL; uréia > 60 mg/dl; bilirrubinas e transaminases estão aumentadas três vezes em relação ao valor normal (OMS, 2000; FUNASA, 2001). Nos achados laboratoriais, foram encontradas diferenças estatisticamente significativa em relação ao aumento da creatinina e bilirrubinas com as citocinas (exceto com o TNF-α, p>0,05). Os indicadores laboratoriais da evolução clínica na 66 gravidade da malária parecem não ter diferenças clínicas nas grávidas com malária quando comparados com não grávidas com a mesma infecção. Estudos anteriores com malaria grave (Day et al., 1999) relatam uma associação da insuficiência renal com níveis elevados de TNF-α, mas pouco ou não elevados com relação a IL-6 ou IL-10, apesar da creatinina plasmática ter sido encontrada fracamente correlacionada com a IL-10. Esses dados são divergentes dos achados neste estudo, pois foi encontrada correlação estatisticamente positiva da creatinina com a IL-6, IL-8 e IL-10. Talvez pelo fato do TNF-α ter apresentado baixa concentração (média de 2,9 pg/mL) em relação as demais citocinas, não foi possível fazer a correlação de Pearson. Outra hipótese seria o fato de altos níveis de TNF-α ser encontrado, geralmente, na malária grave. Como a concentração de creatinina e bilirrubinas foram correlacionadas positivamente com os níveis elevados das citocinas IL-6, IL-8 e IL-10. Assim, podemos sugerir que essas citocinas sejam secretadas proporcionalmente na fase aguda da doença, pois ocorre um declínio e normalização tanto dos exames bioquímicos quanto das citocinas após o início do tratamento, estando diretamente relacionadas à função renal e hepática nas grávidas. 67 6. CONCLUSÃO 6.1 O presente estudo mostrou concentrações elevadas das citocinas IL-6, IL-8 e IL-10 no D0 e baixos níveis no D35, quando as amostras foram comparadas em ambos os momentos da coleta. . 6.2 A IL-10 se manteve com níveis elevados após o tratamento e após o D35 algumas pacientes. 6.3 Em relação às demais citocinas, o TNF-α se manteve proporcionalmente com baixa concentração tanto do D0 quanto no D35. 6.4 A freqüência da concentração das citocinas estudadas comprovou ser proporcional em relação à densidade parasitária. 6.5 Essa pesquisa mostrou que não há uma associação entre a concentração das citocinas estudadas com o número de episódios anteriores de malária e o tempo de evolução dos sintomas clínicos em dias nas grávidas com infecção por P. vivax. 6.6 Nos resultados do estudo, houve a ausência da correlação da hemoglobina e glicose com as concentrações das citocinas analisadas. Todavia, mostram que os níveis da IL-6, IL-8 e IL-10 são proporcionalmente elevados quando correlacionados com a creatinina e as bilirrubinas. 6.7 Os resultados comprovaram que o TNF-α foi a única citocina que não teve correlação positiva com os parâmetros dos exames hematológicos e bioquímicos. 68 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Abbas AK e Lichtman AH. Citocinas. Imunologia Celular e Molecular. 5. ed. Rio de Janeiro: Revinter, 2005. 12: 256-284. Alecrim MGC e ALECRIM WD. Malária. In: Cimerman S, Cimerman B. Medicina Tropical. São Paulo: Atheneu; 2003; 7: 105-118. Alecrim MGC, Alecrim WD, Albuquerque BC, Alexandre MAA, Filho FSS, Lacerda MVG. In: Manual de Rotinas da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas (FMT/IMT-AM), 2003: 151-53. Alecrim MGC. Estudo clínico, resistência e polimorfismo na malária pelo P. vivax, em Manaus-AM. [Tese]. Brasília: Universidade de Brasília; 2000. Alecrim WD, Espinosa FE, Alecrim MG. Plasmodium falciparum infection in the pregnant patient. 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Me foi informado também que minha participação consiste em responder algumas perguntas e que algumas amostras de sangue poderão ser tiradas da minha veia, do meu dedo ou do sangue do cordão do meu bebê recém-nascido, e que alguns pedacinhos da placenta serão guardados para estudos posteriores. Sei que posso me negar a fazer parte do estudo a qualquer momento que eu desejar e que em tal caso não sofrerei eu nem minha família nenhum tipo de castigo por isto, também não deixarei de ter atendimento médico e terei direito a tratamento se eu chegar a ter malária. Em caso de malária só receberei a medicação que o Ministério da Saúde recomenda para minha idade e minha condição. Minha participação na pesquisa não representara para mim nenhum risco e também não terei nenhum pagamento em dinheiro nem em outra espécie. Sei que em caso de dúvida posso procurar informação e/ou ajuda a qualquer momento na pessoa do Dr. Jander Torres ([email protected]) e da Dra. Flor Martínez ([email protected]) responsável pelo estudo, na Gerência de Malária da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas (FMTAM) ou em caso de Urgência nos telefones: 9116-8241, 9126-4657, 9902-1158 e 3228-5748. __________________________________________________ Data ___/___/___ Assinatura do Sujeito da Pesquisa ou do Responsável (No caso de menores de idade) 76 ANEXO – B FICHA DE DADOS CLÍNICOS Perfil de citocinas em mulheres Grávidas por P. vivax atendidas e acompanhadas na FMTAM. No. Projeto: ___________ No. Prontuário: ___________ Data ingresso: __/__/____ Identificação Nome:___________________________________ Data nasc.:__/__/____ Idade: _________ Local de nascimento: _________________________Estado: _________ Local de residência: __________________________Estado: _________ Endereço em Manaus: _______________________________________________________ Bairro:_____________________ cep:_______________celular: __________________ Ponto de referência: ____________________________telefone: _______________ Estado civil: união estável ( ) tempo:___________ solteira ( ) divorciada ( ) viúva ( ) No de anos completos na escola: ____________________ Profissão: _____________________________ ocupação: __________________________ Antecedentes médicos Doença crônica de base: s ( ) n ( ) quais? _____________________________________ Doença familiar: s ( ) n ( ) quais? ______________________________________________ Faz uso de álcool? Nunca ( ); no passado ( ); atualmente ( ) diário ( ) sem ( ) mensal ( ) ocasional ( ) duração ______ abstinência: ____ quantidade: ____ tipo:______________ Fumante? Nunca ( ); no passado ( ); atualmente ( ) diário ( ) semanal ( ) mensal ( ) ocasional ( ) duração________ abstinência: _____ quantidade: ________ tipo:__________ Faz uso de medicamentos? N ( ) s ( ) para que _______________ Faz uso de drogas ilícitas? Nunca ( ); no passado ( ); atualmente ( ) diário ( ) semanal ( ) mensal ( ) ocasional ( ) duração________ abstinência: ________ quantidade: _________ tipo: ________ Antecedentes Ginecológicos Menarca: ____________ ciclos: ____dias por ____dias. Gestações: _____ Partos ______ Abortos _________ Vivos______ Data do primeiro parto: __/__/____ filhos nasceram vivos: _______ filhos nasceram mortos: ______ filhos que morreram depois de nascer ____________ DUM (normal em tempo e duração): __/__/____ Está grávida? S ( ) N ( ) NS ( Amenorreia:_______ DPP: __/__/____ faz CPN? S ( ) N ( ) no cons.: _____ Vida sexual ativa? S ( ) N ( ) método anticoncepcional? S ( ) N ( ) Qual? __________________ tempo de uso:________________ ) Antecedentes de malária anterior No. de episódios anteriores de malária:0( ) 1 ( ) 2( ) 3( ) 4( ) >4 ( ) 1ª. vez Data: __/__/____ Espécie: _____ Idade:____ grávida? S( ) N( ) Internada: S( ) N( ) Outro Data: __/__/____ Espécie: _____ Idade:____ grávida? S( ) N( ) Internada: S( ) N( ) Outro Data: __/__/____ Espécie: _____ Idade:____ grávida? S( ) N( ) Internada: S( ) N( ) Outro Data: __/__/____ Espécie: _____ Idade:____ grávida? S( ) N( ) Internada: S( ) N( ) Último. Data: __/__/____ Espécie: _____ Idade:____ grávida? S( ) N( ) Internada: S( ) N( ) 77 ANEXO - C ANEXO – D 78 ORGANOGRAMA DE ATENDIMENTO Mulher Grávida 10-49 anos GE (+) P.vivax Consulta de 1ª. Vez com a equipe M&G Sim Assinar TCLE Encaminhar ao Amb. Malária Inclusão Projeto Citocinas Coleta de Sangue D0 GE(+) Não D35 GE(+) GE(-) HEMATOLOGIA BIOQUÍMICA CITOCINAS CITOCINAS (Grupo Controle) ANEXO-E IDADE G AMENOR NEAG DPML Hb Glicose Creatinina Bil Total Bil Idta DES TNF IL6 IL8 IL10 79 TABELA DE CORRELAÇÕES Pearson Correlation Sig. (2-tailed) N Pearson Correlation Sig. (2-tailed) N Pearson Correlation Sig. (2-tailed) N Pearson Correlation Sig. (2-tailed) N Pearson Correlation Sig. (2-tailed) N Pearson Correlation Sig. (2-tailed) N Pearson Correlation Sig. (2-tailed) N Pearson Correlation Sig. (2-tailed) N Pearson Correlation Sig. (2-tailed) N Pearson Correlation Sig. (2-tailed) N Pearson Correlation Sig. (2-tailed) N Pearson Correlation Sig. (2-tailed) N Pearson Correlation Sig. (2-tailed) N Pearson Correlation Sig. (2-tailed) N Pearson Correlation Sig. (2-tailed) N IDADE 1 . 160 ,577(**) 0 160 0,064 0,445 147 -0,015 0,849 155 -0,079 0,318 160 0,032 0,712 139 -0,155 0,09 121 0,115 0,231 111 -0,06 0,455 156 -0,166 0,07 120 0,011 0,897 139 ,198(*) 0,012 160 -0,118 0,138 160 -0,052 0,515 160 -0,098 0,216 160 G ,577(**) 0 160 1 . 160 0,144 0,082 147 -0,106 0,188 155 -0,091 0,254 160 -0,129 0,131 139 -,201(*) 0,027 121 ,200(*) 0,035 111 -0,107 0,185 156 -0,08 0,385 120 0,038 0,655 139 -0,027 0,735 160 -0,03 0,709 160 -0,094 0,235 160 -0,081 0,308 160 AMENOR 0,064 0,445 147 0,144 0,082 147 1 . 147 ,307(**) 0 143 0,09 0,277 147 -0,171 0,052 130 -0,111 0,242 113 -0,003 0,978 104 0,016 0,853 143 -0,063 0,511 112 -0,006 0,95 128 0,107 0,196 147 -0,133 0,108 147 -0,059 0,478 147 -,246(**) 0,003 147 NEAM -0,015 0,849 155 -0,106 0,188 155 ,307(**) 0 143 1 . 155 -0,026 0,751 155 0,095 0,276 135 -0,04 0,669 118 -0,026 0,793 108 -0,107 0,19 151 -,193(*) 0,037 117 -0,035 0,692 134 -0,039 0,632 155 -0,09 0,267 155 -0,045 0,578 155 -0,112 0,163 155 ** Correlation is significant at the 0.01 level (2-tailed) * Correlation is significant at the 0.05 level (2-tailed) DP/mm3 -0,079 0,318 160 -0,091 0,254 160 0,09 0,277 147 -0,026 0,751 155 1 . 160 -,199(*) 0,019 139 -0,007 0,935 121 -0,033 0,735 111 ,160(*) 0,047 156 ,241(**) 0,008 120 -0,015 0,862 139 ,156(*) 0,049 160 ,290(**) 0 160 0,153 0,054 160 ,274(**) 0 160 Hb 0,032 0,712 139 -0,129 0,131 139 -0,171 0,052 130 0,095 0,276 135 -,199(*) 0,019 139 1 . 139 ,290(**) 0,001 120 -0,09 0,351 110 0,022 0,802 136 -0,036 0,696 118 -0,125 0,172 121 -0,046 0,587 139 -0,146 0,087 139 0,021 0,804 139 -0,124 0,145 139 Glic. -0,155 0,09 121 -,201(*) 0,027 121 -0,111 0,242 113 -0,04 0,669 118 -0,007 0,935 121 ,290(**) 0,001 120 1 . 121 -0,042 0,662 111 ,230(*) 0,011 120 ,299(**) 0,001 114 -0,102 0,301 105 0,006 0,95 121 -0,028 0,761 121 0,158 0,084 121 0,129 0,158 121 Crea. 0,115 0,231 111 ,200(*) 0,035 111 -0,003 0,978 104 -0,026 0,793 108 -0,033 0,735 111 -0,09 0,351 110 -0,042 0,662 111 1 . 111 ,291(**) 0,002 110 ,222(*) 0,023 105 0,025 0,811 95 -0,108 0,26 111 ,356(**) 0 111 ,206(*) 0,03 111 ,311(**) 0,001 111 Bil Total -0,06 0,455 156 -0,107 0,185 156 0,016 0,853 143 -0,107 0,19 151 ,160(*) 0,047 156 0,022 0,802 136 ,230(*) 0,011 120 ,291(**) 0,002 110 1 . 156 ,764(**) 0 116 0,025 0,773 135 -0,079 0,327 156 ,186(*) 0,02 156 ,218(**) 0,006 156 ,245(**) 0,002 156 Bil Idta -0,166 0,07 120 -0,08 0,385 120 -0,063 0,511 112 -,193(*) 0,037 117 ,241(**) 0,008 120 -0,036 0,696 118 ,299(**) 0,001 114 ,222(*) 0,023 105 ,764(**) 0 116 1 . 120 0,011 0,908 105 -0,137 0,134 120 ,356(**) 0 120 ,331(**) 0 120 ,460(**) 0 120 DES 0,011 0,897 139 0,038 0,655 139 -0,006 0,95 128 -0,035 0,692 134 -0,015 0,862 139 -0,125 0,172 121 -0,102 0,301 105 0,025 0,811 95 0,025 0,773 135 0,011 0,908 105 1 . 139 0,02 0,816 139 -0,022 0,797 139 0,076 0,376 139 0,023 0,787 139 TNF ,198(*) 0,012 160 -0,027 0,735 160 0,107 0,196 147 -0,039 0,632 155 ,156(*) 0,049 160 -0,046 0,587 139 0,006 0,95 121 -0,108 0,26 111 -0,079 0,327 156 -0,137 0,134 120 0,02 0,816 139 1 . 160 -0,028 0,724 160 -0,05 0,528 160 -0,011 0,887 160 IL6 -0,118 0,138 160 -0,03 0,709 160 -0,133 0,108 147 -0,09 0,267 155 ,290(**) 0 160 -0,146 0,087 139 -0,028 0,761 121 ,356(**) 0 111 ,186(*) 0,02 156 ,356(**) 0 120 -0,022 0,797 139 -0,028 0,724 160 1 . 160 ,474(**) 0 160 ,696(**) 0 160 IL8 -0,052 0,515 160 -0,094 0,235 160 -0,059 0,478 147 -0,045 0,578 155 0,153 0,054 160 0,021 0,804 139 0,158 0,084 121 ,206(*) 0,03 111 ,218(**) 0,006 156 ,331(**) 0 120 0,076 0,376 139 -0,05 0,528 160 ,474(**) 0 160 1 . 160 ,387(**) 0 160 IL10 -0,098 0,216 160 -0,081 0,308 160 -,246(**) 0,003 147 -0,112 0,163 155 ,274(**) 0 160 -0,124 0,145 139 0,129 0,158 121 ,311(**) 0,001 111 ,245(**) 0,002 156 ,460(**) 0 120 0,023 0,787 139 -0,011 0,887 160 ,696(**) 0 160 ,387(**) 0 160 1 . 160