! Podemos usar como termo de comparação para os fluxos anuais de energia no planeta Terra os indicadores relativos ao consumo energético mundial. Estas estatísticas podem ser encontradas na Internet, fazendo uma busca em “World Primary Energy Consumption”. Na página encontrada o consumo energético é apresentado em ( ), uma unidade pouco usual de energia. Para referência fica a sua equivalência ao , . As grandes quantidades de energia são expressas em “quadriliões de Btu”, ou , na nomenclatura da mesma página. A sua equivalência em joule vale = = × Obtivemos assim os seguintes valores para os consumos observados em 1970 e 2001, assim como um consumo estimado para 2025 Ano 1970 2001 2025 Consumo anual ( 207 404 623 ) Consumo anual (J) 20 2.2x10 J 20 4.3x10 J 20 6.6x10 J 7.1 A energia solar incidente no topo da atmosfera Os satélites meteorológicos permitem medir o fluxo de energia solar que incide no topo da atmosfera, ΦRS , cujo valor é dado por Φ = Uma vez que esta energia é proveniente do Sol, podemos considerar que ela incide como um feixe paralelo no planeta Terra, como se mostra na figura 18. Por isso, a potência de radiação solar total incidente em todo o Globo é dada pelo produto do fluxo pela superfície de um disco com o raio da Terra (figura 18), =Φ π Usando para o raio da Terra obtemos o valor de = × 6 Durante um ano, que perfaz um total de 31.56x10 s, a energia total de radiação solar incidente no topo da atmosfera vale = × Esta energia é cerca de 4000 vezes superior ao consumo energético mundial do ano de 2001, que vimos anteriormente. Esta energia disponível livremente constitui um dos maiores mananciais energéticos ainda por explorar de forma completa pela humanidade. Se aproveitássemos apenas uma parte em 1000, todas as nossas necessidades energéticas estariam resolvidas. Tal aproveitamento é por enquanto uma miragem e as consequência do aproveitamento intensivo da energia solar na Terra estão ainda longe de serem completamente apreciadas. Quando ao seu aproveitamento no espaço, falta resolver o problema do transporte. Cap.4- 17 ! 7.2 A energia geotérmica Apenas uma pequena parte da energia solar incidente no topo da atmosfera atinge a superfície do planeta. Uma vez que, à escala geológica, a temperatura à superfície se tem mantido aproximadamente constante, isto significa que o sistema Globo deve emitir para o espaço uma quantidade equivalente de energia, por forma a se manter um equilíbrio energético. Essa energia é a energia geotérmica e tem a sua origem no interior do planeta. O interior do planeta é muito mais quente que o seu exterior e a energia escapa por condução e convecção. A elevada temperatura do planeta tem duas origens, por um lado a energia residual da formação do planeta, há cerca de 4,5 bilhões de anos atrás, e ainda a energia do decaimento radioactivo dos isótopos que compõem o interior do planeta. Sem esta segunda componente, há muito que o interior do planeta estaria frio e a Terra seria inabitável. Desconhecendo a existência da radioactividade, o reputado físico inglês Thomson no século XIX estimou para a idade da Terra um valor muito inferior ao dos Geólogos que usavam a observação no terreno dos processos geológicos. As medições realizadas à superfície da Terra permitem estimar um valor médio para o fluxo geotérmico, ΦG Φ = = O fluxo geotérmico varia muito de local para local tendo em conta o seu enquadramento geodinâmico. Para o Globo inteiro, a potência total é agora obtida multiplicando o fluxo pela superfície da Terra, =Φ π = × Esta potência é cerca de 1000 vezes inferior à potência da radiação solar incidente no topo da atmosfera. Durante um ano, a energia geotérmica total emitida pela Terra vale = = × Comparando com o consumo energético em 2001, este valor é apenas o dobro desse consumo, pelo que a energia geotérmica nunca se poderá estabelecer como fonte alternativa de energia. Seria necessário aproveitar metade da energia disponível. 7.3 A energia sísmica Os sismos são sem dúvida uma das mais impressionantes manifestações do planeta vivo que é a Terra. A dimensão dos sismos é medida pela magnitude. Existem várias escalas de magnitude, que dependem da forma como são medidad, sendo uma delas a magnitude Ms, media a partir da amplitude das ondas superficiais. Gutenberg e Richter proposeram há mais de 50 anos uma relação entre a energia sísmica (de vibração) libertada por um sismo e a magnitude Ms do mesmo. Esta relação é ainda utilizada hoje em dia em sismologia, = + ! Nesta expressão a energia está expressa em . É devido a esta lei que podemos dizer que quando a magnitude de um sismo aumenta de 1 grau, a energia libertada Cap.4- 18 ! aumenta 30 vezes. A escala de energia é uma escala logarítmica. Se quisermos saber a energia libertada por um sismo, basta fazer ! = As redes de observação mundial que existem em operação desde a década de 60 permitem registar hoje em dia todos os sismos com uma magnitude superior a 5. Sabendo também que os sismos mais frequentes são os de menor magnitude, e que quando a magnitude diminui de 1 grau, o número de sismos aumenta 10 vezes, podemos estimar a energia sísmica total liberta na Terra durante um ano. Ela é aproximadamente igual à energia de um sismo com magnitude ! " Usando a expressão anterior, obtemos então para esta energia o valor de = × Esta energia é 500 vezes inferior à energia geotérmica e cerca de 200 vezes inferior ao consumo energético global no ano de 2001. O grande efeito dos sismos não se deve à energia total envolvida, mas sim ao facto de essa energia ser libertada de forma concentrada no espaço e no tempo, ao contrário da energia geotérmica. 7.4 A energia cinética das placas A Geologia encontra-se hoje dominada pelo paradigma da Tectónica de Placas, sendo difícil encontrar um domínio das Ciências da Terra onde ele não tenha influência. Vamos por isso neste parágrafo estimar o valor médio da energia cinética das placas tectónicas, usando a expressão $ = # Começamos por admitir que a velocidade média das placas vale $ % , isto é, − #= $ = × Para calcular a massa das placas, usaremos a sua expressão em função da densidade e do volume, = ρ& . Usamos para a densidade o valor médio ρ= ' $ = ' Para o cálculo do volume, vamos considerar que esta é um paralelepípedo, com a superfície do planeta Terra e uma espessura de ( . & =) π = × A massa da litosfera toma assim o valor = ρ& = × ' Substituindo agora todos os valores na expressão da energia cinética, obtemos × = $ = Este é um valor equivalente à energia contida em dois iogurtes! (ver ponto 2.8 neste capítulo). Para estimarmos a transferência de energia envolvida para manter estas placas em movimento durante um ano, vamos admitir que elas se movem contra uma força de atrito cinético, de coeficiente *$ . Nestas circunstâncias, para velocidade constante, a potência dissipada pelo atrito vale × + = +$ # = * $ ' # = A energia envolvida ao longo de um ano inteiro vale Cap.4- 19 + = × .Trata-se de um ! valor próximo da energia geotérmica, o que sugere uma forte relação entre os dois processos, a cinemática de placas e o escape de energia do interior do planeta Terra. 8. Impulso e Quantidade de Movimento A 2ª lei de Newton que foi estudada anteriormente no capítulo da Dinâmica, relacionando as causas do movimento (as forças) com os seus efeitos (uma aceleração) # ,= = aplica-se a corpos em que a massa se mantém constante. Existem no entanto diversas situações em que existe movimento mas a massa não se mantém constante: Um balão cheio de ar. Quando deixamos o ar sair, o balão movimenta-se no ar mas a sua massa não se mantém constante, o ar do interior é expulso através da pequena abertura do balão. Um foguete. Num foguete de fogo de artifício a combustão da pólvora faz mover o corpo mas como consequência a massa do foguete diminui. Um foguetão. Passa-se o mesmo que num foguete. O combustível do foguetão é queimado e ejectado pelo que a massa do foguetão vai diminuindo com o movimento. O princípio pode ser ilustrado por uma simples garrafa de refrigerante, parcialmente cheia de água e com ar comprimido. A expulsão da água diminui a massa do foguetão e fá-lo mover-se. Um barco e uma metralhadora. Ao dispararmos uma metralhadora no interior de um barco, a massa do corpo vai diminuindo e o barco vai-se deslocando no sentido contrário ao dos disparos Um astronauta no espaço. No espaço, um astronauta para se deslocar não dispõe da gravidade e do atrito no chão para o ajudar. Ele socorre-se de pequenos foguetes que vai disparando no sentido contrário ao que pretende deslocar-se. Se numa nave espacial um astronauta se encontrar suspenso no ar sem nada para se agarrar, o que ele deve fazer é pegar num objecto na sua posse e atirá-lo com força numa direcção. O corpo será projectado na direcção oposta, mas a sua massa terá diminuído. Nenhuma destas situações é regida pelo enunciado da 2ª lei tal como o repetimos em cima. Elas enquadram-se num enunciado mais geral dessa lei, que até coincide com a forma original como Newton terá apresentado a sua lei. Sabendo que a massa é constante, então ela pode ser incluída dentro do sinal de derivada da 2ª lei. Obtemos assim uma nova expressão, mais geral que a anterior, e que é aplicável também aos casos em que a massa é variável # # ,= → ,= A nova grandeza que aparece nesta lei, o produto da massa pela velocidade, designa-se por quantidade de movimento, e a letra que a representa é a letra -= # Trata-se de uma grandeza vectorial, com a mesma direcção e sentido que o vector velocidade. No sistema internacional de unidades, SI, esta grandeza não tem uma Cap.4- 20 ! unidade especial, exprimindo-se em ' % . Usando o conceito de quantidade de movimento, a 2ª lei de Newton toma a forma mais geral # ,= = Se a força aplicada for nula, então o corpo tem uma quantidade de movimento constante ,= -=$ Quando a força aplicada não é nula, tem-se então para dois instantes diferentes, tA e tB que a variação da quantidade de movimento se exprime sob a forma de um integral, ,= → -=, → ∆- = , + Nesta última expressão, o integral do produto da força pelo intervalo de tempo, representa uma nova grandeza física, que designamos por impulso da força, e representamos pela letra .. . = , O impulso da força exprime-se no sistema SI de unidades por / . Devemos notar, que sendo a variação da quantidade de movimento igual ao impulso da força, ambas as grandezas devem ter unidades equivalentes. De facto, impulso e quantidade de movimento podem-se exprimir de forma indiferente pelas unidades ' % ou / . Quando uma força constante actua durante um intervalo de tempo ∆t, então o seu impulso é dado simplesmente pelo produto . = ,∆ O conceito de impulso da força é importante em situações em que a força actua durante um intervalo de tempo muito curto, como seja por exemplo, a acção de uma pancada. Neste caso, não importa saber o que se passa durante a pancada, mas relacionar esta com a alteração do estado de movimento verificada. Isto é possível de fazer através do conceito de impulso da força e quantidade de movimento . = ∆- = - 0 − - 9. Conservação da Quantidade de Movimento 9.1 Um sistema de partículas A conservação da quantidade de movimento de uma partícula é uma situação trivial, que resulta directamente do enunciado da 2ª lei de Newton. No entanto, o mesmo já não sucede para um sistema de partículas. Para ilustrar o que sucede com um sistema de partículas consideremos a situação descrita na figura 19. Podemos aqui ver um sistema formado por 4 partículas. Estas partículas ir-se-ão mover sob a acção de forças que podem ser de dois tipos: as forças interiores, que traduzem as interacções entre os componentes do Cap.4- 21 ! sistema, , as forças exteriores, que traduzem a interacção entre o sistema e o seu exterior, , 1 Se considerarmos agora a acção global de todas as forças sobre o sistema de partículas, , = , + ,1 verificamos que, pela 3ª lei de Newton, ou lei da acção e reacção, a soma das forças interiores é nula, , = Por outro lado, a quantidade de movimento é uma grandeza aditiva e por isso a quantidade de movimento do sistema de partículas é dado por -= Sendo assim, a 2ª lei de Newton, , = indica-nos que apenas as forças exteriores podem alterar a quantidade de movimento total de um sistema de partículas, ou seja, num sistema de partículas podemos escrever ,1 = Quando a soma das forças exteriores for nula, então há conservação da quantidade de movimento, mesmo que existam forças interiores. Este é o teorema da conservação da quantidade de movimento: quando a resultante das forças exteriores aplicadas a um sistema de partículas for nula, então a quantidade de movimento do sistema mantém-se constante ,1 = -= - =$ ou . 1 = -= - =$ Este é o princípio que permite explicar o movimento dos corpos apresentados no início do parágrafo 8. Vejamos por exemplo o caso do astronauta. Ele está inicialmente em repouso e a sua quantidade de movimento é nula. Quando dispara um jacto numa direcção, a força envolvida é uma força interior, pois o combustível faz parte do sistema. No entanto, ao projectar uma massa de gás a alta velocidade numa dada direcção, faz esta ganhar quantidade de movimento nessa direcção. Uma vez que não há forças exteriores, a quantidade de movimento total deve-se manter nula. Isso só é possível se o corpo do astronauta for projectado na direcção oposta. A mesma interpretação se aplica ao exemplo do foguetão no espaço ou à metralhadora no interior de um barco. Cap.4- 22 ! 9.2 Choques e explosões O teorema da conservação da quantidade de movimento também se aplica a um outro conjunto de situações, que podemos designar por choques e explosões. Estas situações ocorrem habitualmente na presença do peso ou de outras forças exteriores. No entanto, a interacção é tão rápida, que podemos considerar que o impulso das forças exteriores também é nulo, isto é, ∆ ≈ . 1 ≈,1 ∆ ≈ Então, nestas situações, também podemos considerar que a quantidade de movimento do sistema de partículas se mantém constante. Resumindo, temos duas situações em que há conservação da quantidade de movimento de um sistema de partículas: ,1 = quando a resultante das forças exteriores é nula quando o tempo da interacção é tão rápido que o impulso das forças exteriores é nulo . 1 ≈ , 1 ∆ ≈ Nos choques e explosões, uma vez que se admite que as interacções são instantâneas ( ∆ ≈ ) então também se verifique que entre os instantes imediatamente antes e imediatamente depois do choque (ou explosão) a posição das partículas não sofreu alteração. Isto significa que, sendo a energia potencial função exclusiva da posição, num choque ou explosão não há variação da energia potencial. Por isso, num choque ou explosão apenas pode haver variação da energia cinética total das partículas. Vamos assim classificar os choques quanto à variação da energia cinética. Um choque é elástico quando durante o choque não há variação da energia cinética, isto é, a energia cinética mantém-se constante (e por consequência também a energia mecânica se mantém constante, pelas considerações anteriores) ∆ $= → = $ $ $ 0 Um choque diz-se inelástico quando há uma diminuição da energia cinética durante o choque ∆ $< → < $ $ $ 0 Neste caso diz-se que há dissipação de energia. Há ainda um outro tipo de choque que merece uma designação especial, trata-se do choque perfeitamente inelástico. Esta classificação aplica-se aos casos em que os corpos após o choque se movem com a mesma velocidade final, os corpos ficam ligados uns aos outros. 9.3 Exemplos de aplicação Choque frontal elástico Neste caso consideramos o choque entre duas massas iguais, estando uma delas inicialmente em repouso. O choque é frontal, o que significa que no final as bolas se devem deslocar na mesma direcção e sentido que a bola incidente. Esta situação Cap.4- 23 ! encontra-se descrita na figura 20. Trata-se de um caso frequente em jogos como o bilhar ou o “curling”, um jogo que se faz com pedras cilíndricas que se deslocam escorregando numa pista de gelo. Devemos notar que as velocidades depois do choque de cada uma das partículas se identifica com uma ’ (plica). Tratando-se de um choque, há conservação da quantidade de movimento entre os instantes imediatamente antes e imediatamente depois do choque. Essa não é a situação representada na figura, onde as partículas se ilustram afastadas uma da outra, para facilitar a identificação dos vectores velocidade relevantes. Temos então =- → # = # + # Usando o eixo XX indicado na figura, esta equação vectorial traduz-se na seguinte equação escalar # = # + # Sendo o choque elástico, devemos ainda observar a conservação da energia cinética, o que se traduz na equação $ = $ - → # = # + # Conjugando as duas equações, obtemos um sistema de duas equações a duas incógnitas, as velocidades das bolas após o choque, # = # + # # = # +# → # = # + # # = # +# Substituindo a 1ª equação na segunda obtemos # + # + # # = # +# → # # = Esta equação tem 3 soluções possíveis: ambas as velocidades são nulas, não é possível fisicamente, violaria a conservação da energia cinética a velocidade final da bola 2 seria nula, # = . Esta solução também não é fisicamente possível, pois significaria que a bola 1 atravessaria a bola 2 como um fantasma sem a tocar a velocidade final da bola 2 é nula, # = . É a única solução fisicamente possível. Usando agora a conservação da quantidade de movimento para obter a velocidade final da bola 2, obtemos a solução completa do nosso problema # = # = Num choque frontal elástico entre bolas da mesma massa, estando uma delas parada, há uma transferência integral da velocidade da bola que se move para a bola parada. Esta passa a mover-se exactamente com a mesma velocidade. Cap.4- 24 ! Esta propriedade dos choques elásticos é usada num objecto decorativo que é habitualmente designado por pêndulo de Newton. Trata-se de um conjunto de esferas metálicas em contacto umas com as outras e suspensas por fios. Quando se afasta uma das bolas de forma que ela vá bater na mais próxima, o choque é comunicado em sucessão a todas as bolas, movendo-se apenas a última esfera da série, que assim inicia um novo ciclo. Bola elástica que bate no chão Trata-se de uma situação que facilmente podemos experimentar com qualquer tipo de bola, uma bola de basquete, uma bola de ténis ou uma “super-bola” de borracha. Quando deixamos cair qualquer destas bolas no chão, ela é reflectida sendo devolvida pelo choque com uma velocidade que é quase idêntica à velocidade incidente, de tal forma que a bola quase que atinge a altura inicial do lançamento. O efeito é mais evidente no caso da “super-bola”. Vejamos como é que tal situação é possível, admitindo que o choque no chão é elástico. A situação que pretendemos estudar encontra-se descrita na figura 22. Tal como anteriormente, trata-se de um choque frontal elástico e por isso devem-se aplicar dois princípios de conservação, a conservação da quantidade de movimento (choque) e a conservação da energia cinética (elástico). A diferença em relação ao caso estudado anteriormente reside no facto de neste caso a massa dos dois objectos ser diferente, sendo a massa do corpo (1) muito menor que a do corpo (2) << ! Começando pela conservação da quantidade de movimento, obtemos a seguinte equação vectorial =- → # = # + !# Usando o eixo YY indicado na figura 22, esta equação vectorial traduz-se na equação escalar − # = # − !# Como o choque é elástico há conservação da energia cinética e podemos escrever a equação Cap.4- 25 ! $ = $ → - # = # + !# Conjugando as duas equações, obtemos um sistema de duas equações a duas incógnitas, as velocidades das bolas após o choque, − # = # − !# # = # + !# Uma vez que as massas são diferentes, este sistema não pode ser facilmente simplificado. Para o resolver vamos dividir ambas as equações pela massa da Terra M, designando o quociente entre massas pela letra α, que pelas condições do problema, deve ser muito menor que 1, α= << ! α << ! Usando este factor e cortando também o factor 2 na equação da energia cinética, obtemos o sistema de equações − α# = α# − # # = α# + α# = α # + # α# = α# + # − Substituindo agora na 2ª equação obtemos α# = α# +α # + # → # = # +α # + # α << Usando o facto de podemos nesta equação desprezar a 2ª parcela do segundo termo e escrevermos # ≈# Isto é, a velocidade final da bola é igual, em módulo, à velocidade inicial da bola, mas tem o sentido oposto, # ≈ −# Verificamos assim que o choque elástico de uma bola com a Terra devia fazer esta voltar a atingir a altura de lançamento. Se desprezarmos o atrito durante o trajecto, a diferença de alturas verificada nos casos reais traduz a perda de energia cinética durante o choque inelástico. Choque perfeitamente inelástico Trata-se de uma situação em que após o choque ambos os corpos ficam com a mesma velocidade final, deslocam-se em conjunto. Esta é, por exemplo, a situação que se verifica quando um asteróide choca com a Terra. Este caso encontra-se ilustrado na figura 23. Neste caso não há conservação de energia cinética, apenas conservação da quantidade de movimento, verificando-se ainda que # =# =# Uma vez que o corpo 2 se encontra inicialmente em repouso, podemos escrever Cap.4- 26 ! equação vectorial =- → # = +! # Usando o eixo XX indicado na figura 23, esta equação vectorial traduz-se na equação # = +! # → # =# +! 2 Vejamos por exemplo o caso de uma asteróide, de densidade ('% $ e com um raio , que embate na Terra com uma velocidade de 3 de %. A massa da Terra é aproximadamente 3× 3 '. A massa do asteróide vem dada por = ρ& = ρ π = × ' Usando a expressão obtida anteriormente, obtemos para a velocidade final do conjunto Terra+asteróide a velocidade de # =# = × − +! Trata-se de uma velocidade muitíssimo pequena! = Choque oblíquo com massas iguais Trata-se de uma situação análoga ao primeiro exemplo estudado, em que duas bolas de massas iguais chocam, estando uma delas inicialmente em repouso. Neste caso o choque não é frontal e por isso no final cada bola vai para o seu lado, como se mostra na figura 24. À semelhança das situações anteriores, a conservação da quantidade de movimento durante o choque em simultâneo com a conservação da energia cinética, por ser um choque elástico, permitem escrever o seguinte sistema de equações, em que a 1ª é uma equação vectorial e a 2ª uma equação escalar, # = # + # # = # +# → # = # + # # = # +# Cap.4- 27 ! Usando a 1ª equação e as propriedades do produto interno, podemos calcular o quadrado do módulo da velocidade # como # = # ⋅ # = # +# ⋅ # +# = # +# + # ⋅# Substituindo na equação de conservação da energia cinética obtém-se # +# + # ⋅# = # +# # ⋅# = Isto é, se nenhuma das velocidades finais for nula, então a nulidade do produto interno implica que as velocidades das bolas após o choque são perpendiculares # ⊥# → α +β = → β= β α= β Para resolver um caso concreto há que decompor cada uma das velocidades finais no sistema de eixos XY, como se indica na figura 25. A equação vectorial da conservação da quantidade de movimento transforma-se num sistema de duas equações escalares # =# α +# β =# α −# β Se considerarmos as relações trigonométricas entre os ângulos α e β, assim como a conservação de energia cinética, obtemos um sistema de 3 equações # = # +# # =# α +# α =# α −# α Este sistema tem 3 incógnitas, as velocidades #4 , #43 e o ângulo α, se soubermos a velocidade inicial # . Sucede, no entanto, que estas 3 equações não são independentes e por isso apenas duas incógnitas podem ser determinadas. Por isso, neste tipo de problemas é necessário dar o valor final de uma das 3 incógnitas, habitualmente um dos ângulos de saída, α ou β. Conservação de energia e de quantidade de movimento Neste capítulo foram enunciados dois grandes princípios de conservação da Física, a conservação de energia e a conservação da quantidade de movimento. No exemplo que iremos agora desenvolver ilustramos uma situação onde ambos os princípios se devem aplicar. Consideremos então dois pêndulos com massas diferentes mas dispostos de tal maneira que podem chocar de forma frontal, como se mostra na figura 26. Do Cap.4- 28 ! sistema conhecemos as massas dos pêndulos, e !, assim como a altura de lançamento do pêndulo mais pequeno, . O pêndulo cai ganhando velocidade e vai bater no pêndulo maior. O choque que se dá é frontal e elástico. Como consequência ambos os pêndulos ganham uma velocidade o que lhes vai permitir atingir no seu movimento as alturas máximas de 4e 54, respectivamente para o pêndulo pequeno e pêndulo grande. O objectivo deste problema consiste em determinar o valor das alturas finais de cada um dos pêndulos em função dos dados do problema. Para resolver esta questão, temos de decompor o movimento global numa sequência de movimentos que sejam tratáveis pelas leis da Física conhecidas. 1º movimento, a queda do pêndulo pequeno. Na ausência de atrito, este movimento processa-se com conservação da energia mecânica pois as únicas forças a actuar são o peso, uma força conservativa, e a tensão no fio, que não realiza trabalho. Sabemos então que a energia mecânica no ponto mais alto da trajectória, com velocidade nula, deve ser igual à energia mecânica no seu ponto mais baixo. Tomando o ponto mais baixo do centro do pêndulo como referência para a energia potencial gravítica do peso, podemos escrever ' = → # #= ' Nesta equação # representa a velocidade do pêndulo pequeno imediatamente antes de este embater no pêndulo grande. 2º movimento, choque frontal elástico entre os pêndulos. A figura 27 ilustra a disposição das velocidades para esta situação. A conservação da quantidade de movimento durante o choque permite escrever a equação vectorial # = # + !& Usando o eixo XX indicado na figura, esta equação vectorial traduz-se na equação escalar # = − # + !& Sendo o choque elástico, há que observar a conservação da energia cinética $ = $ - → # = # + !& Conjugando as duas equações, obtemos um sistema de duas equações a duas incógnitas, as velocidades das bolas após o choque, # = − # + !& # = −# +α& → # = # + !& # = # +α& Neste caso dividimos ambas as equações pela massa do pêndulo mais pequeno, Cap.4- 29 , ! e designámos o quociente das massas pela razão α = ! . Para resolver o sistema vamos usar o método da substituição. Pegando na 1ª equação podemos escrever # = − # + α& → # = # + α & − α#& Substituindo agora na 2ª equação temos, após simplificação, # = # + α & − α#& +α& → α#& = α & +α& → # =& α + Obtemos então finalmente a solução para a velocidade após o choque do pêndulo maior & =# +α Usando agora a 1ª equação do sistema, obtemos também a velocidade final do pêndulo pequeno α− # = − # + α& → # =# +α 3º movimento, a subida do pêndulo maior. Tal como o primeiro movimento, esta subida processa-se, na ausência de atrito, com conservação da energia mecânica, pelas mesmas razões que foram apontadas anteriormente. Usando de novo como referência o ponto mais baixo do centro do pêndulo, podemos escrever para a conservação de energia mecânica a expressão que resulta de se igualar as energias dos pontos mais baixo e mais alto da trajectória (onde a velocidade é nula) & !& = !'5 → 5= ' Usando as expressões já determinadas anteriormente, podemos escrever # 5= = ' +α +α 4º movimento, a subida do pêndulo pequeno. Tal como anteriormente, esta subida processa-se, na ausência de atrito, com conservação da energia mecânica. Usando como referência o ponto mais baixo do centro do pêndulo, podemos escrever para a conservação de energia mecânica a expressão que resulta de se igualar as energias dos pontos mais baixo e mais alto da trajectória (onde a velocidade é nula) # # = ' → = ' Usando as expressões já determinadas anteriormente, podemos escrever # α− α− = = ' +α +α Para exemplificar os resultados possíveis deste problema, vejamos o que sucede para 3 razões diferentes entre as massas, de 10, 100 e 100 vezes. Os resultados estão apresentados na tabela seguinte. Cap.4- 30 ! α 10 100 1000 h’ 0.67h 0.96h 0.996h H’ 0.033h 0.00039h -6 4.0x10 h Para uma grande diferença entre as massas, o pêndulo pequeno praticamente atinge a altura de lançamento inicial. Cap.4- 31