1. AS EQUAÇÕES DE MAXWELL E OS EFEITOS DO MAGNETISMO 1.1 AS EQUAÇÕES DE MAXWELL A descrição física de qualquer campo eletromagnético pode ser apresentada em termos de cinco campos vetoriais: dois magnéticos e três elétricos. NATUREZA SÍMBOLO magnético B magnético H elétrico E elétrico D elétrico J NOME densidade de fluxo magnético intensidade de campo magnético intensidade de campo elétrico densidade de fluxo elétrico densidade de corrente UNIDADE T A/m V/m C/m2 A/m2 Esses campos vetoriais satisfazem às equações de Maxwell, D H J t .B 0 B E t .D Existe um matemáticas, segundo as conjunto relações de de relações passagem, que descrevem cada meio material na região de interesse em termos de sua permeabilidade , sua permissividade , e sua condutividade . B H H D E J E Essas equações diferenciais parciais somente podem ser resolvidas caso um número suficiente de condições de fronteira sejam especificadas. Existem fenômenos físicos na interface de meios diferentes, conhecidos como condições de interface, e que são empregadas para se derivar aproximações para as condições de fronteira. Na interface de duas regiões 1 e 2, essas condições são n ( E1 E2 ) 0, n ( H1 H 2 ) J s , n ( D1 D2 ) s , n ( B1 B2 ) 0. n é o vetor unitário normal à interface e dirigido da região 2 para a região 1; s é a densidade superficial de carga elétrica; Js representa a densidade superficial de corrente elétrica. Como as equações de Maxwell, as condições de interface podem ser analisadas aos pares. Duas condições representam a continuidade da componente normal dos vetores; as outras duas representam a continuidade da componente tangencial. Duas delas relacionam campos vetoriais; duas relacionam densidades de fluxo. Duas formam um par de grandezas elétricas, as outras duas formam um par de grandezas magnéticas. Duas são homogêneas, indicando que não existem polos magnéticos individuais nem correntes magnéticas. Duas delas são não homogêneas e fazem-nos lembrar que cargas elétricas e seu movimento são as bases do campo eletromagnético. As equações de Maxwell e as leis da física D H J t .B 0 Lei da conservação do fluxo magnético B E t .D Lei de Ampère Lei de Faraday O fluxo elétrico não é conservativo 1.2 EFEITOS DO MAGNETISMO O campo magnético H tem a propriedade de atuar tanto em condutores de correntes quanto em estruturas de ferromagnéticas sem que haja contato físico entre as partes. Os efeitos são usualmente descritos em termos de sua densidade de fluxo B que é uma grandeza mais fácil de medir experimentalmente. 1.3 CONDUTOR IMERSO EM UM CAMPO MAGNÉTICO B se distribui uniformemente na direção vertical O condutor retilíneo de perpendicular ao campo B comprimento “l” é Principais Efeitos: Se o condutor se move com velocidade u perpendicularmente ao plano onde estão o campo B e o condutor, será gerada uma tensão e no condutor, dada por: e Blu. (1) Se o condutor conduz uma corrente i, surgirá uma força f que atua no condutor. A direção dessa força é perpendicular ao condutor e ao campo B. Sua magnitude é dada por f Bli (2) Com a direção da corrente i mostrada na Fig.1, a direção de f é a mesma da velocidade u. Aplicações desses efeitos: o Transdutores de bobina móvel fazem uso desses efeitos de maneira direta; o Motores e geradores também têm seu funcionamento baseado nesses efeitos, embora a maior parte da força atue nas estruturas ferromagnéticas, em vez dos condutores. Figura: motor cc; condutores alojados nas ranhuras Figura: motor cc; distribuição do fluxo magnético 1.4 A equação de Lorentz As equações e Blu. (1) f Bli (2) e são obtidas a partir de uma importante equação do eletromagnetismo: a equação de Lorentz para a força f que atua em uma carga móvel q: f q( E u B) (3) q: carga em coulomb; E: intensidade do campo elétrico; u: velocidade de deslocamento da carga; B: densidade de fluxo magnético. A força na carga possui uma componente elétrica f e qE (4) e uma componente magnética f m qu B (5) A direção da componente magnética fm é dada pela regra da mão direita do produto vetorial. A força fm é, pois, perpendicular ao plano que contém u e B. o Ambas as forças são empregadas na deflexão do feixe de elétrons de um tubo de raios catódicos [1]. o Em osciloscópios, a deflexão é eletrostática e explora a força elétrica fe. o Em monitores de vídeo e aparelhos de TV a deflexão é magnética e explora a força magnética fm. Força em um condutor Uma corrente elétrica fluindo em um fio condutor representa cargas em movimento. Portanto, as cargas sofrem a ação de uma força uB quando o fio está imerso em um campo magnético B. Figura 2: Condutor sob a ação de um campo B Se dq é a carga no cilindro elementar de comprimento dl, e u é a velocidade de deslocamento da carga, a força que atua no elemento de corrente é df dq(u B) (6) A carga percorre uma distância dl em um tempo dt, e a velocidade é dada por dl u dt (7) A corrente é a taxa de variação da carga no tempo, e é expressa como dq i dq idt. (8) dt Substituindo as expressões de u e dq na equação (6), df idl B (9) A força em um condutor de comprimento l é obtida por integração da equação (9). Se o campo é uniforme e perpendicular ao condutor, a magnitude da força é dada pela equação (2) e a direção pela equação (9). Tensão induzida em um condutor Considere o condutor mostrado na Fig. 3. Figura 3: Mecanismo de separação de cargas Sobre as cargas livres do condutor atua uma força quXB e essas cargas começam a se mover. As cargas negativas – os elétrons livres - se movem em uma dada direção, deixando para trás um acúmulo de carga positiva. Essa separação de carga produz um campo elétrico E dentro do condutor. A força de magnitude qE atua em cada carga q e o movimento de cargas continua até que seja atingido o equilíbrio. A relação entre os campos B e E é: E u B (10) e a distribuição das grandezas é mostrada na Fig. 3. Figura 3: Mecanismo de separação de cargas Se a densidade de fluxo B é uniforme e perpendicular ao condutor, a tensão entre os terminais do condutor é dada por e E.dl uBdl uB dl Blu (11) 1.5 Força magnética na interface ferro-ar O campo magnético exerce força em objetos feitos de ferro ou aço. Observe o eletroímã que aparece na Fig. 4. Figura 4: eletroímã; núcleo em U O núcleo é de aço e tem a forma de “U”; O campo magnético H é criado pelas bobinas 1 e 2; O campo magnético H atrai um objeto de aço conhecido como armadura móvel; Existe um espaço de ar entre as faces polares e a armadura; é conhecido como “entreferro”. O campo H é mais intenso nos entreferros e produz uma força de atração, de grande intensidade, que varia com H2. Na Fig. 5 aparece o resultado da análise feita em um programa de elementos finitos de distribuição gratuita, conhecido como “MagNet” (www.infolytica.com). Na figura aparece a distribuição do fluxo magnético. Figura 5: mapeamento do fluxo magnético Na ilustração, representação as visual linhas da fornecem densidade de uma fluxo magnético B, que é de fato invisível. A direção das linhas indica a direção do campo B; O espaçamento entre as linhas indica a densidade: quanto mais próximas as linhas, maior é a densidade do campo B. Questão: Será que as linhas mais próximas também indicam uma maior intensidade do campo H Em cada entreferro, o fluxo é quase uniforme e perpendicular à superfície da armadura de aço. Figura 6: Campo B no entreferro Quando o campo B é uniforme e perpendicular à superfície do ferro, a força de atração por unidade de área é fm 1 B [N / m2 ] A 2 0 (12) fm: força magnética A: área perpendicular a B; 0=4x10-7H/m é a permeabilidade magnética do ar; Aplicação: Informações: Bg: a densidade de fluxo no entreferro; Ap: área de um polo, perpendicular ao fluxo A força de atração que um polo exerce sobre a armadura móvel é f polo Ag 1 Bg [ N / m2 ] 2 0 (13) A força total na armadura é, pois, f total 2 f polo Bg 2 A [N ] 0 p (14) Comentários: As forças magnéticas podem ser muito grandes. Considere um eletroímã com um campo B de 1,0 tesla no entreferro. A pressão magnética que o mesmo exerce é pressão f polo Ap 1,02 2(4x10 7 ) 400000 [ N / m 2 ] (14) Essa pressão é algo em torno de quatro vezes a pressão atmosférica normal. Espraiamento e dispersão do campo B Espraiamento: É o fenômeno do espalhamento do fluxo magnético no espaço de ar entre cada polo e a armadura; matematicamente tem-se Bentreferro B polo Dispersão Uma parte do fluxo segue um atalho entre os polos; deixa de passar pelos entreferros e armadura. Aplicações dos eletroímãs Suspensões magnéticas Relés eletromecânicos Quando controlados eletronicamente, são usados para eliminar o contato mecânico entre partes móveis; Na Fig. 6 observa-se uma ilustração do Sistema Transrápido Alemão onde as suspensões magnéticas são empregadas ao invés de rodas. Fig. 6: Transporte com suspensão magnética 1.6 Ímãs Permanentes A ilustração da Fig. 8 observa-se um ímã permanente que atrai uma armadura retangular de aço. O mapeamento das equipotenciais aparece na Fig. 9. Enquanto no eletroímã da Fig. 3 as correntes dos 2 enrolamentos são as fontes de campo, no acionador da Fig. 8 a fonte é um ímã de formato retangular. Fig. 8: Acionador; a fonte de campo é um ímã Fig. 9: Mapeamento do fluxo magnético Em muitas aplicações os ímãs incorporam culatras de aço que melhoram seu desempenho consideravelmente. Ímãs permanentes x Eletroímãs As vantagens relativas de cada um dispositivos são resumidas no quadro abaixo: desses Eletroímãs Ímãs Permanentes Requer uma fonte de corrente Não requer uma fonte Produz de calor no enrolamento Não há produção de calor Campo controlável Campo é fixo(*) Pode ser desligado Não pode ser desligado(*) (*) O campo só pode variar caso se altere a configuração mecânica.