Clipping - Departamento DST/AIDS e Hepatites Virais ÍNDICE Em debate, o fim do uso de chimpanzés em laboratório .....................................................................2 Crise e cortes nos EUA reduzem as verbas para o combate à aids ..................................................3 Conhecer para combater ...........................................................................................................................4 Um pouco menos de hipocrisia ................................................................................................................6 Encontro com Obama rende mais "tuítes" a Dilma que escândalos políticos ..................................7 Governo quer fazer testes de HIV, hepatite e sífilis em todos os índios do país .............................8 O GLOBO | CIÊNCIA AIDS | HEPATITE 17/08/2011 Em debate, o fim do uso de chimpanzés em laboratório Instituto Nacional de Saúde dos EUA analisa possibilidade de banir os macacos em pesquisas Brian Vastag Do Washington Post Eles foram cruciais para o desenvolvimento de vacinas contra as hepatites A e B. Participaram de centenas dos estudos iniciais sobre o HIV. Em 1961, dois deles foram enviados ao espaço. Mas o papel dos chimpanzés na pesquisa está numa encruzilhada. Semana passada, uma das mais importantes autoridades científicas do planeta colocou a questão em debate na reunião de um comitê do Instituto de Medicina, parte da Academia Nacional de Ciência dos EUA, criado para deliberar sobre o destino de praticamente todos os chimpanzés remanescentes na pesquisa médica no mundo. A União Europeia baniu o uso do animal no ano passado, deixando os EUA e o Gabão como os dois únicos países do mundo a conduzir pesquisas médicas com os macacos. Nos laboratórios farmacêuticos, o uso desses primatas vem diminuindo com o surgimento de alternativas mais eficazes e baratas. - Se você é um cientista, um chimpanzé é a sua última opção - afirma Harold Watson, que dirige o programa de pesquisa de chimpanzés do Instituto Nacional de Saúde (INS), que controla 734 dos cerca de mil chimpanzés usados em pesquisa médica nos EUA. "Humanidade" dos animais em debate No ano passado, o tema causou polêmica no instituto, quando foi anunciada a transferência de 200 primatas idosos de um abrigo no Novo México para um laboratório de pesquisa no Texas. Uma passeata reunindo políticos, ativistas e rostos famosos - incluindo Jane Goodall, uma das maiores especialistas em chimpanzés do mundo - acabou reverberando. Por fim, foram transferidos apenas 14 dos animais. Até o fim do ano, o Instituto de Medicina deve apresentar suas conclusões sobre a questão, que podem incluir até o fim das pesquisas com chimpanzés. De qualquer forma, o uso em pesquisa desses animais - caros, difíceis de lidar e parecidos demais com humanos - já está em franca queda de popularidade entre os cientistas. De 2007 a 2010, o número de estudos com chimpanzés na área biomédica nos EUA caiu de 53 para 32, afirmou Robert Purcell, um especialista em vírus do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, parte do INS. Apenas um dos trabalhos era sobre HIV - que, durante os anos 80 e 90 foi largamente estudado em macacos. - O uso de chimpanzés em estudos de HIV caiu drasticamente com o uso dos macacos rhesus - disse Watson, lembrando que os últimos reproduzem mais fielmente a infecção humana pelo HIV. Outra importante razão para a redução é que os laboratórios farmacêuticos estão abrindo mão dos estudos com chimpanzés. Em 2008, a GlaxoSmithKline anunciou que não usaria mais nenhum macaco. A gigante da biotecnologia Genentech também pôs fim à prática, segundo Theresa Reynolds, diretora de segurança de medicamentos do laboratório. - Com os avanços tecnológicos, os chimpanzés não são mais necessários - afirmou a especialista. A grande iniciativa internacional para o desenvolvimento de uma vacina contra a malária também não está usando chimpanzés, mas sim camundongos e macacos menores. Mas os chimpanzés são vitais no desenvolvimento de drogas e vacinas contra a HEPATITE C, segundo Purcell. Cerca de 75% dos estudos em andamento hoje com esses macacos envolvem a doença. O vírus não infecta nenhum outro animal de laboratório. Mas o fim da pesquisa com os animais conta com nomes de peso em sua defesa, como Jane Goodall. - Do ponto de vista deles, é tortura - afirmou. - Eles estão na prisão sem terem feito nada de errado. A humanidade dos animais, ao que parece, está no centro de uma sensação de culpa coletiva quanto ao seu uso em laboratório. Uma lei em tramitação no Congresso americano quer proibir o uso de grandes primatas em "pesquisas invasivas". O filme "O planeta dos macacos: a origem" é um grande sucesso dos cinemas no mundo inteiro. - Nós não estaríamos tendo esses encontros se não houvesse uma questão ética - afirmou Frans de Waal, da Universidade de Emory, cujos estudos pioneiros com chimpanzés cativos revelaram sua empatia, semelhante à dos humanos. - Não temos esse tipo de reunião sobre ratos. VALOR ECONÔMICO -SP | INTERNACIONAL AIDS | DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSIVEIS 17/08/2011 Crise e cortes nos EUA reduzem as verbas para o combate à aids Betsy McKay Os gastos para o combate mundial à AIDS caíram significativamente em 2010, pela primeira vez desde que os EUA e outros governos começaram a fazer grandes doações, segundo um relatório. O declínio ocorre num momento de maior demanda por dinheiro para implementar novos métodos de prevenção que poderiam controlar o contágio do HIV, o vírus que causa a doença. Mais de 25 milhões de pessoas morreram de AIDS desde 1980, e hoje existem mais de 34 milhões infectadas com o HIV no mundo todo. A crise econômica mundial desacelerou as contribuições dos governos para o combate à AIDS nos últimos dois anos, mas a queda de 10% dos fundos em 2010 foi resultado, em grande parte, do critério mais rigoroso estipulado pelo Congresso dos EUA para o desembolso de recursos, segundo relatório divulgado anteontem pela Kaiser Family Foundation e pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV e AIDS. Os EUA são o maior doador mundial, respondendo por mais da metade dos fundos no ano passado. Mas Washington desembolsou pouco mais de US$ 3,7 bilhões em 2010, cerca de US$ 700 milhões a menos do que em 2009. Seis outros países, dos 15 pesquisados, também fizeram doações menores, quando calculadas em suas próprias moedas. As flutuações do câmbio também tiveram um peso, embora menos relevante, sobre a redução dos valores. Ao todo, os países doaram cerca de US$ 6,9 bilhões em 2010, uma queda de 9,7% em relação aos US$ 7,6 bilhões do ano anterior, segundo o estudo. "O impacto pode ser real. Isso é dinheiro que não foi a campo", disse Jennifer Kates, diretora de política de saúde global e HIV da Kaiser. Não está claro se o volume menor do 2010 mostra tendência de grandes cortes. Mas a redução acontece quando os cientistas enfrentam uma realidade dolorosa: os orçamentos para a AIDS estão caindo ao mesmo tempo em que novos métodos preventivos vêm sendo identificados, dando aos líderes do setor de saúde pública sua primeira chance real de controlar uma epidemia que começou há décadas - caso eles possam assegurar os recursos necessários para executar as medidas. A queda na liberação de fundos pelos EUA no ano passado "deve ser vista como um fato isolado" ligado à introdução de novos acordos, disse Jennifer Peterson, porta-voz do Plano de Emergência do Presidente dos EUA para o Alívio da AIDS, o principal veículo do governo para o financiamento de programas de combate à síndrome no exterior. Mas, no mínimo, "a era de aumentos exponenciais acabou", disse Kates, observando que a diferença em fundos globais para a AIDS entre 2008 e 2009 foi insignificante. Os financiamentos dos EUA para a luta mundial contra a doença no ano fiscal de 2011 foram cerca de US$ 28 milhões menores do que no exercício fiscal de 2010, diz ela. Com as novas normas estabelecidas pelo Congresso em 2008, os EUA precisam traçar metas de cinco anos para cada país que receberá os recursos antes de liberar o dinheiro, um processo que atrasou o desembolso de US$ 500 milhões em 2010, uma vez que 15 dos 32 países qualificados foram retirados do programa, diz Peterson. As autoridades dos EUA também ficaram com US$ 71 milhões, de uma contribuição total de US$ 1,05 bilhão para o Fundo Global de Combate à AIDS, TUBERCULOSE e Malária, porque agora o governo precisa revisar as despesas operacionais do fundo, os salários da equipe e outros critérios antes de liberar os recursos, diz Peterson. Os países que receberão os recursos restantes do ano fiscal de 2010 ainda não foram selecionados. CARTA CAPITAL | SEU PAÍS AIDS | DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSIVEIS | HEPATITE 13/08/2011 Conhecer para combater O GOVERNO federal acredita que a melhor arma contra as drogas é a informação. Por conta disso, uma das ações da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), órgão recém-transferido para o Ministério da Justiça, tem sido a capacitação de professores para que tenham mais instrumentos para lidar com jovens em situação de risco. "De 2004 a 2011, realizamos quatro edições do curso. Já são 75 mil educadores treinados, em todos os municípios do Brasil", afirma Paulina Duarte, titular da Senad. "Temos trabalhado no governo com a capacitação dos atores sociais que tratam da questão, e o papel dos educadores é fundamental." A secretária falou dos planos federais durante o seminário da série "Diálogos Capitais" sobre a droga, promovido por Carta na Escola, em São Paulo na sexta-feira 5. O evento, patrocinado pela Petrobras e que teve o apoio da Fecap, contou ainda com a participação do psiquiatra Dartiu Xavier, diretor do Programa de Orientação e Assistência a Dependentes (pro ad), de Luiz Ratton, coordenador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade Federal de Pernambuco, e de Thiago Fidalgo, da Unifesp. O médico Rogério ruma, colunista de CartaCapital, mediou o debate. Segundo Paulina, o curso aos professores é aplicado a distância, com 16 videoaulas, desenvolvido juntamente com o Ministério da Educação, em parceria com a Universidade de Brasília, que inclusive fornece um certificado de extensão universitária aos participantes. "Buscamos nesse curso a capacitação e a prevenção do comportamento de risco." A secretária conta que o curso foi criado para estimular a discussão do tema entre os educadores. Por isso, cada escola tem de inscrever de cinco a dez professores. Dessa forma, os grupos promoverão debates. "Lamentavelmente, no País e na sociedade, a discussão (das drogas) é muito pouco esclarecida. Muitas vezes vemos formadores de opinião travando uma discussão geralmente baseada na experiência pessoal e no que é divulgado pela mídia, que muitas vezes não tem dados epidemiológicos. Nós precisamos mais que isso para uma discussão séria", afirmou a secretária (entrevista à pág. 41). -------------------Uma pesquisa em andamento vai traçar um perfil nacional do usuário -------------------Até 1998, o Brasil não tinha uma política estruturada sobre drogas. O trabalho era feito por um conselho normativo. Com a adesão aos princípios da 20 sessão especial da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), ainda no governo Fernando Henrique Cardoso, foi criada a Senad, então com o nome de Secretaria Nacional Antidrogas. ---------- O oxi é novidade no Sudeste, mas há muito é consumido no Nordeste ---------Segundo a secretária, foi em 2003, no início do governo Lula, que se começou a tratar um dos mais sérios problemas de saúde pública como uma questão multissetorial, descentralizada e a privilegiar a participação social e da comunidade científica. Em novembro de 2004, veio a Política Nacional sobre Drogas, com a alteração de 92% dos itens preconizados pela política anterior. Foi nesse período que a lei que criminalizava o uso de drogas com pena de prisão, com mais de 30 anos de existência, deixou de valer. Alterou-se também a política sobre o uso de álcool, com a Lei Seca, que pune os motoristas flagrados dirigindo sob efeito da substância. "No início do governo Dilma Rousseff, a presidenta entendeu que a Senad deveria ter a atuação ampliada", afirma Paulina. Foi então que a secretaria trocou o Ministério da Saúde pelo da Justiça e ganhou um caráter mais participativo. "Ela coordena as ações e articula as diferentes esferas de governo para que as políticas sejam implementadas." Não há um censo completo do número de usuários de drogas no País. Dois estudos recentes dão, porém, um grande diagnóstico sobre o consumo entre os jovens. Um levantamento sobre o uso de substâncias psicoativas entre estudantes da rede pública e particular de ensino, em 26 capitais brasileiras mais o Distrito Federal, realizado no ano passado com mais de 50 mil alunos, mostra que o álcool é a droga mais usada. O trabalho, realizado pela Senad e pelo Centro Brasileiro de Informações sobre drogas psicotrópicas, da Unifesp, mostra que 42,4% dos jovens ouvidos afirmaram ter usado álcool naquele ano. A segunda substância mais consumida foi o tabaco, com 9,6% das respostas, seguida por solventes, com 5,2%. A maconha foi usada por 3,7% dos estudantes, a cocaína, por 1,8%, enquanto o crack atingiu 0,4%. "Houve uma grande diminuição, de 49,5%, entre os estudantes em geral no consumo de drogas ilícitas, com exceção da cocaína", destaca Paulina. A comparação é com uma pesquisa realizada em 2004. A queda, diz a secretária, não traz tranquilidade. "Temos de ficar alertas para diminuir cada vez mais esse índice de consumo." O segundo levantamento foi realizado pela Senad, em parceria com a Universidade de São Paulo. Envolveu 17 mil alunos de graduação de universidades públicas e privadas, nas 27 capitais brasileiras, e mostra que apenas 11% dos universitários brasileiros nunca experimentaram drogas. Na outra ponta, 49% deles experimentaram alguma droga ilícita. E mais 47% provaram produtos de tabaco, enquanto 86% tomaram álcool. Segundo a Senad, dois alertas importantes foram disparados pela pesquisa: que 22% dos universitários estão sob o risco de desenvolver dependência de álcool e 8%, de maconha. E que 80% dos menores de 18 anos já fizeram uso de bebidas alcoólicas. Para desvendar o mundo do crack, a Senad fez um convênio com a Fiocruz e com a Universidade de Princeton e juntos vão realizar o maior estudo já feito no Pais sobre a droga. O trabalho está em andamento. A amostra tem 22 mil pessoas, inclusive na zona rural, e vai revelar o número de usuários, um mapa dos locais de uso, as chamadas cracolândias, a frequência com que as pessoas consomem e as quantidades, além de dados sobre acesso e barreiras ao tratamento, violência e criminalidade. "Todas as pessoas terão aconselhamento e atendimento médico", afirma Paulina. Além disso, passarão por exames para detecção do vírus HIV, de HEPATITE B e C, TUBERCULOSE e SÍFILIS. Para Dartiu Xavier, há três grandes grupos em que se dividem as drogas: os depressores do sistema nervoso central - em que estão substâncias como o álcool -, os perturbadores do sistema nervoso central - que englobam o LSD e a maconha - e os estimulantes do sistema nervoso central - como as anfetaminas como o ecstasy, a cocaína e seus derivados, cloridrato de cocaína e crack, além de outras substâncias como nicotina e cafeina. "O crack é um cristal de cocaína com o mesmo principio ativo que o pó, que pode ser fumado num cigarro ou num cachimbo específico." Ao ser fumado, ele é absorvido diretamente pelo sistema arterial e chega rapidamente ao cérebro. "Esse é um dos motivos pelos quais o nível de dependência é maior. Thiago Fidalgo, coordenador do setor de adultos do Proad/Unifesp, lembra que o oxi é uma das drogas estimulantes do sistema nervoso que mais tem ganho destaque da mídia como novidade. "Mas ela é nova no Sudeste, porque desde a década de 1980 é usada nas regiões Norte e Nordeste." O oxi também é derivado da pasta-base de cocaína, mas seu refino é feito com gasolina ou querosene, e não com ácido, além de conter cal. "Cria-se uma pedra amarronzada, também conhecida como rapadura do diabo." Segundo o médico, a droga tem efeito euforizante, aumenta a energia, a frequência cardíaca e a pressão arterial. Ele avisa, porém, que a concentração de cocaína no oxi é de 80%, enquanto no crack é de 40%, e na cocaína em pó é bastante variável, por conta da quantidade de substâncias acrescentadas. O tempo que a droga leva para chegar ao cérebro e a duração dos efeitos são apontados por Fidalgo como grandes fatores para seu grau de criação de dependência. A cocaína leva cerca de 15 minutos para agir, enquanto o crack leva de dois a três minutos. Já o oxi age em menos de um minuto. Os efeitos da cocaína duram de 30 a 40 minutos, os do crack, de três a dez minutos, e os do oxi, cinco minutos. "O oxi gera uma compulsão brutal para o usuário consumir de novo. Por isso, o grau de dependência é maior." O uso de drogas não é um fenômeno novo da sociedade moderna. Elas fazem parte dos costumes desde o início das civilizações. Xavier lembra que há registros datados de 3 mil anos antes de Cristo de uso de cocaína na região Andina. Na China, descobriu-se o consumo de alucinógenos em 2500 antes de Cristo. Ele conta que, na Idade Média, em um local hoje ocupado pela Alemanha, as pessoas que consumiam uma bebida alucinógena eram perseguidas e açoitadas em praça pública. "Essa bebida era o café, hoje consumido no mundo todo." CARTA CAPITAL | NOSSO MUNDO AIDS | HEPATITE 13/08/2011 Um pouco menos de hipocrisia O USO DE DROGA ilícita é como a moda: vem e passa. Em1989, comecei um trabalho voluntário em presídios, que dura até hoje. No Carandiru, naquela época, a moda era injetar cocaína na veia. Os presos vinham pele e osso, com os olhos ictéricos e os braços marcados pelas agulhas e os abscessos causados por elas. Naquele ano, colhemos amostras de sangue dos 1.492 detentos registrados no programa de visitas íntimas: 17,3% dos homens eram HIV-positivos e 60% estavam infectados pelo vírus da HEPATITE C. A partir desses dados começamos um trabalho de prevenção que constava de palestras e vídeos educativos. Lembro que o diretor-geral tentou me convencer da inutilidade da iniciativa: "O senhor está sendo ingênuo. Quem injeta cocaína na veia é irrecuperável, não tem mais nada a perder". Estava errado, o resultado foi surpreendente: em1992, a cocaína injetável foi varrida do mapa, fenômeno que se espalhou pelos outros presídios e pelos becos da periferia de São Paulo. A moda do baque na veia tinha chegado ao fim. Não havia motivo para comemoração, no entanto: naquele ano, o crack invadiu o Carandiru. Para entender o que se passo ué preciso conhecer um pouco da farmacologia da cocaína. Quando inalada sob a forma de pó, a cocaína é absorvida através da mucosa nasal, penetra os vasos sanguíneos superficiais, cai na circulação e atinge o cérebro. O processo é relativamente lento, a euforia aumenta gradativamente, atinge o pico e diminui até desaparecer. Injetada na veia, vai direto para o coração, depois para os pulmões, e volta para o coração, de onde será bombeada para o cérebro. O efeito é muito mais rápido e passageiro. A sensação é de um baque de prazer, daí o nome "baque na veia", experiência muito mais intensa que a obtida por inalação. Fumada na forma de crack, a droga chega ao cérebro mais depressa do que ao ser injetada na veia, porque não perde tempo na circulação venosa, cai direto no pulmão. Do cachimbo ao cérebro, leva de seis a dez segundos. O efeito é semelhante ao baque da injeção intravenosa, porém, ainda mais rápido e fugaz. O crack substituiu o baque e se disseminou pela cadeia feito água morro abaixo. Quando um preso negava ser usuário, eu partia do princípio de que mentia. Devo ter cometido pouquíssimas injustiças. Na segunda metade dos anos 1990, uma das facções que dominavam os presídios se sobrepôs às demais. Seus líderes rapidamente perceberam que os craqueiros criavam obstáculos para a ordem econômica que pretendiam implantar. A solução foi proibir o crack. A lei é clara: fumou na cadeia, apanha de pau; vendeu, morre. ------------ Não podemos interná-los contra a vontade, mas podemos prendê-los quando roubam o primeiro celular ------------Ao chegar, o egresso da cracolândia dorme dois ou três dias consecutivos; só acorda para as refeições Depois desse período, passa alguns dias um pouco agitado, mas aprende a viver sem crack. A cocaína não é tão aditiva como muitos pensam, se o usuário não tiver acesso a ela ou aos locais onde a consumia ou até entrar em contato com companheiros sob o efeito dela, nada acontece. Ao contrário, a simples visão da droga faz disparar o coração, provoca cólicas intestinais, náuseas e desespero. Quebrar essa sequência perversa de eventos neuroquímicos não é tão difícil: basta manter o usuário longe do crack. Vale a pena chegar perto de uma cracolândia para entender como é primária a ideia de que o craqueiro pode decidir em sã consciência o melhor caminho para a sua vida. Com o crack ao alcance da mão, ele é um farrapo automatizado que não tem outro desejo senão conseguir a próxima pedra para o cachimbo. Veja a hipocrisia:não podemos interná-lo contra a vontade, mas podemos mandá-lo para a cadeia assim que roubar o primeiro celular. Não seria mais lógico construir clínicas pelo País inteiro com pessoal treinado para lidar com os dependentes? Não sairia mais em conta do que arcar com os custos materiais e sociais da epidemia? É claro que não sou ingênuo a ponto de imaginar que ao sair desses centros de recuperação o ex-usuário se transformaria em cidadão exemplar. Mas ao menos haveria uma chance. Se continuasse na sarjeta, que oportunidade teria? E se, ao ter alta da clínica, recebesse acompanhamento ambulatorial, apoio psicológico e oferta de um trabalho decente desde que se mantivesse de cara limpa documentada por exames periódicos rigorosos, não aumentaria a probabilidade de ficar curado? Países como a Suíça, que permitiam o uso livre de drogas em espaços públicos, abandonaram a prática ao perceber que a mortalidade aumenta. Nós convivemos com as cracolândias sem poder internar seus habitantes para tratá-los, mas exigimos que a polícia os prenda quando se comportam mal. Existe estratégia mais estúpida? Na penitenciária feminina, onde eu trabalho hoje, atendo muitas ex-usuárias de crack. Quando lhes pergunto se são a favor da internação compulsória dos dependentes da cracolândia, todas respondem que sim. Nunca encontrei uma que sugerisse o contrário. ÉPOCA NEGÓCIOS | NOTÍCIAS LGBT 15/08/2011 Encontro com Obama rende mais "tuítes" a Dilma que escândalos políticos 15/08/2011 Passada a superexposição da posse, os dois picos de citações do nome de Dilma Rousseff no Twitter, em 16 e 19 de março, correspondem à entrevista que a presidente deu a Hebe Camargo e, logo em seguida, ao encontro com o presidente norteamericano, Barack Obama, durante sua visita ao Brasil. Não por coincidência, foi nessa época que Dilma alcançou seu mais alto porcentual de aprovação popular. Chegou a 56% de "ótimo" + "bom" na pesquisa Ibope/CNI concluída em 23 de março. Nem antes nem depois a presidente teve taxas de popularidade superiores a 50%. Lula não chegou a esse patamar de aprovação com três meses de governo (ele superaria essa marca bem mais à frente no mandato). Foi o melhor momento de Dilma no Twitter e nas pesquisas de avaliação. Daí em diante, a lua-de-mel com o poder acabou e os problemas começaram a a se misturar à agenda positiva. Em abril, a presidente teve três pequenos picos de citações no Twitter. Os motivos foram diferentes: o encontro com o pop star Bono, do U2; a visita à China; e um movimento na internet contra a construção da usina de Belo Monte que tentava influenciar a decisão presidencial. O terceiro maior pico de citações ocorreu em 26 de maio. Foi provocado por duas polêmicas, nenhuma delas boa para Dilma: sua defesa do ainda ministro Antonio Palocci (Casa Civil), cujo patrimônio foi multiplicado dando consultorias a empresas quando era deputado; e a reação da bancada evangélica ao chamado KIT ANTI-HOMOFOBIA que o Ministério da Educação pretendia distribuir a escolas. A presidente recuou em ambos os casos. Em 8 de maio, quando Palocci caiu e foi substituído por Gleisi Hoffmann na Casa Civil, Dilma voltou a ser muito citada no Twitter, nem sempre de maneira positiva, mas tampouco apenas de modo negativo. A situação se repetiu, mas com menor intensidade, em 5 de agosto, nas esteira da queda de outro ministro, agora o dos Transportes, Alfredo Nascimento, por denúncias de corrupção generalizada na pasta. G1 | AIDS | CAMISINHA | DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSIVEIS | CONTRACEPTIVOS 17/08/2011 Governo quer fazer testes de HIV, hepatite e sífilis em todos os índios do país Governo quer fazer testes de HIV, hepatite e SÍFILIS em todos os índios do país Ação pretende examinar todos os índios brasileiros com mais de dez anos até o fim de 2012. Da BBC imprimir O governo lança neste mês um programa destinado a realizar testes rápidos de HIV, SÍFILIS e hepatites B e C em todas as aldeias indígenas do Brasil. A ação pretende examinar, até o fim de 2012, todos os índios brasileiros com mais de dez anos - idade média para o início da vida sexual no grupo - e encaminhar para o tratamento os que obtiverem resultados positivos. Segundo o secretário especial de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, Antônio Alves de Souza, resultados de um projeto piloto do programa, aplicado em 46 mil indígenas do Amazonas e de Roraima, indicaram níveis "reocupantes" de HIV e SÍFILIS. A prevalência de SÍFILIS na população indígena avaliada foi de 1,43%, inferior à média do resto do país (2,1%), ao passo que a de HIV foi de 0,1%, ante 0,6% da média nacional. Para Souza, ainda que inferiores aos índices nacionais, ambos os dados exigem atenção por demonstrar que há transmissão dos vírus mesmo em populações isoladas, o que indica que seus integrantes mantêm contato com pessoas contagiadas fora das aldeias. "Qualquer índio que obtenha resultado positivo numa aldeia é motivo de preocupação", disse o secretário à BBC Brasil. Em gestantes indígenas, a prevalência de SÍFILIS foi de 1,03%, mais baixa que as taxas encontradas em gestantes nos centros urbanos (1,6%). O índice de HIV em indígenas gestantes foi de 0,08%. Segundo o IBGE (Instituto de Geografia Estatística), há cerca de 650 mil indígenas em aldeias no Brasil. Resultados rápidos De acordo com Souza, os kits para o teste garantem, com poucas gotas de sangue, a obtenção dos resultados em até 30 minutos e podem ser transportados mesmo em condições de calor e umidade, fator essencial para que sejam levados às aldeias mais remotas. Antes, os indígenas precisavam ser removidos para as áreas urbanas para a coleta de sangue e posterior análise dos resultados, o que podia levar até 15 dias. Os testes começam a ser aplicados em aldeias de Minas Gerais, do Espírito Santo e do Mato Grosso nos dias 27 e 28 de agosto; nos meses seguintes, devem chegar aos demais estados. Souza explica que os aplicadores estão sendo treinados por cerca de 70 técnicos que participaram de um seminário em Brasília no mês passado. Em caso de resultados positivos para SÍFILIS, a equipe dará início imediato ao tratamento; já nos casos de HIV e hepatite, os indígenas serão convidados a realizar testes de confirmação no município mais próximo. Comprovada a doença, serão tratados em unidades do SUS (Sistema Único de Saúde). Para Souza, ao promover o encaminhamento à cidade somente dos indígenas diagnosticados, o programa garantirá a economia de recursos. Ele afirma ainda que uma das premissas do programa é garantir que os resultados dos exames fiquem sob sigilo, para evitar a discriminação dos infectados. Segundo Souza, o programa também visa informar os indígenas sobre como as doenças se transmitem e os modos de prevenção. Para isso, explica que os agentes terão de levar em conta as características culturais locais. "Sabemos que há culturas indígenas que não aceitam o uso de PRESERVATIVOS", afirma. "Teremos que trabalhar para que, se não usarem na aldeia, ao menos usem quando se deslocarem à área urbana, em caso de contato com pessoas de fora". Ele diz que, em certos grupos, as mulheres costumam ser mais resistentes ao uso da CAMISINHA, questão que também deve ser abordada nas campanhas educativas. Tratamento de HIV A médica e idealizadora do programa, Adele Benzaken, da Fundação Alfredo da Matta, diz que, no projeto piloto, quase 100% do público-alvo concordou em fazer o teste. Ela afirma ainda que a acolhida aos tratamentos indicados para SÍFILIS tem sido igualmente positiva. "A população indígena gosta de ser testada e acredita muito no tratamento injetável", disse ela à BBC Brasil. O problema maior, segundo Benzaken, é convencê-los a se tratar em caso de HIV, pois diz que os indígenas costumam resistir à ideia de que devem passar o resto da vida ingerindo medicamentos para combater uma doença que, em muitos casos, demora a provocar sintomas. Outra complicação é removê-lo para o município mais próximo. "Já vi indígena se negar porque quer fazer o tratamento com o pajé, e aí você não pode fazer nada", afirma. A transferência para a cidade, segundo a médica, torna-se ainda mais improvável quando esses indígenas já tiveram decepções com o sistema de saúde.