TLME-2.3 —1— MÁQUINAS ELÉCTRICAS II ** 2001 / 2002 ** SE FEUP LEEC TLME-2.3 Motor Síncrono Trifásico – sincronização e arranque 1. Introdução As máquinas eléctricas síncronas têm funcionamento reversível podendo trabalhar como gerador ou como motor. Para trabalharem como motor têm de estar ligadas a uma rede eléctrica, que s alimentará em energia. A ligação de uma máquina síncrona trifásica à rede eléctrica geral obedece a um conjunto de condições de ligação (condições de sincronismo das fases): – igualdade da amplitude das tensões nos terminais de ligação; – igualdade de frequência dos dois sistemas de tensão; – igualdade de ordem de sucessão de fases. No momento da ligação à rede a máquina não funciona como gerador nem como motor. Se se aumentar a velocidade da máquina primária, aumentar-se-á a potência fornecida à máquina síncrona e esta funcionará como gerador. Se, em seguida se alterar o valor da corrente eléctrica de excitação do gerador, a máquina síncrona fornecerá (sobre-excitada), ou consumirá (sub-excitada), energia reactiva. Se se diminuir a velocidade da máquina primária, a máquina síncrona passará a funcionar como motor. Se, então, estiver sobre-excitada o motor síncrono fornecerá, à rede, energia reactiva; se a máquina síncrona estiver sub-excitada o motor consumirá energia reactiva da rede eléctrica. Quando a máquina síncrona é, apenas, utilizada como gerador (ou receptor) de energia reactiva, sendo o seu consumo (ou produção) de energia activa nulo (desprezando a energia consumida em perdas) diz-se que a máquina síncrona funciona como compensador síncrono. N. B. — 2. Este trabalho necessita de uma preparação prévia à sua execução no laboratório. Objectivos O objectivo deste trabalho de Laboratório é o domínio de uma conjunto de operações e de técnicas necessárias à condução da máquina síncrona: sincronização, paralelo com a rede eléctrica, arranque como motor. 3. Bibliografia [CCC–1] Carlos Castro Carvalho; “Máquinas Síncronas”, 1971 [B_FEUP] Manuel Vaz Guedes;“Máquinas Eléctricas Síncronas –arranque dos motores síncronos”, M. Kostenko L Piotrosvky; “Máquinas Eléctricas”, Vol. II M. G. Say; “Alternating Current Machines”, Pitman, 1976 © Manuel Vaz Guedes, 2002 FEUP 2002 TLME-2.3 —2— 4. Trabalho a Efectuar 4.1. Material Necessário – Grupo Motor de Indução – Máquina Síncrona –– Voltímetro CA — Amperímetro CA — 3 Voltímetros CA 4.2. – Rectificador — Ondulador — Osciloscópio – Frequêncimetro – Estroboscópio Montagem Geral TI Maq. Síncrona M ∆f 3 ~ 3 ~ U V W1 V W W2 A TI A Sincronização A .1. Montagem a Realizar Alimentar o motor de indução com rotor bobinado pelo estator através do ondulador. Alimentar o circuito de excitação da máquina síncrona com o rectificador. ∆f M V 3 ~ Maq. Síncrona 3 ~ U V V W f A Efectuar as montagens necessárias para utilizar os diversos métodos de condução da máquina síncrona até à sincronização com a rede eléctrica geral: efeito estroboscópico, lâmpadas de sincronização, medida das grandezas eléctricas (tensão; frequência). A a — utilizar o efeito estroboscópico para colocar o grupo de máquinas rodando à velocidade de sincronismo das fases; Ver o Apêndice LME — estroboscopia A b — experimentar as duas ligações de lâmpadas para detectar a ordem de sucessão das fases e definir o momento em que os dois sistemas de tensão estão em fase; Ver o Apêndice LME — sincronização A c — medir do valor da amplitude da força electromotriz (tensão em vazio) e da frequência da máquina síncrona e da amplitude da tensão da rede eléctrica geral. A d — definir o momento de sincronismo das fases entre a máquina síncrona e a rede eléctrica geral. © Manuel Vaz Guedes, 2002 TLME-2.3 —3— Com a aparelhagem de medida e de indicação disponível – Realizar a montagem. – Colocar o reóstato de excitação no ponto de resistência máxima. ☎ Chamar o docente para verificação ▲ Provocar o arranque do motor de indução trifásico. Colocar o grupo a rodar à velocidade de sincronismo aproveitando o efeito estroboscópico ▲ Ligar o circuito de excitação do alternador. ➚ Elevar o valor da tensão de saída até à tensão nominal da rede eléctrica. utilizar a montagem com três lâmpadas ❈● Verificar que as três lâmpadas têm o comportamento inerente à situação da montagem feita e a uma sucessão correcta das três fases — ❈● U R V W S W V T se isso não se verificar, trocar duas fases. o acender e apagar das lâmpadas deve ser lento… – U Regular a velocidade do motor de forma a que a frequência da tensão do alternador coincida com a frequência da rede ➠ Verificar que estão correctas todas as condições de sincronismo entre a máquina síncrona e a rede geral ✍ Tomar nota da informação relevante P&R ?1 Quais são as grandezas físicas cujo valor condiciona a segurança desta experiência (ou a a qualidade de serviço da instalação eléctrica) ? Qual o valor limite para essas grandezas ? ?2 Servindo-se da estrela de fasores das tensões de um sistema trifásico, explique justificando, a condição de sincronismo de fases entre um alternador síncrono e uma rede eléctrica. ?3 Apresentar um ante-projecto e uma memória descritiva de uma pequena instalação de sincronização do alternador trifásico utilizando um sincronoscópio. Apresentar um guia com as operações de colocação em paralelo do alternador com a rede com o auxílio do sincronoscópio, destinado a ser utilizado por um montador–electricista. Paralelo com a Rede Eléctrica Com a experiência adquirida na realização da parte A deste trabalho de laboratório actuar no interruptor no momento oportuno para realizar o paralelo da máquina síncrona com a rede eléctrica. ☎ Chamar o docente para acompanhamento do restante trabalho – Verificar o valor da tensão. Reverificar as condições para efectuar o paralelo ● Quando as lâmpadas se apagarem ligar o alternador à rede ✍ Tomar nota do valor da corrente eléctrica de excitação ➷ Diminuir a tensão no ondulador ▲ Desligar o ondulador ❇ AlterarGRADUAL e CUIDADOSAMENTE o valor da corrente de excitação da máquina síncrona, a funcionar como compensador síncrono. ) Utilizar o efeito estroboscópico para verificar o ângulo de carga δ. ▲ Reduzir a excitação e desligar a máquina síncrona da rede eléctrica geral. © Manuel Vaz Guedes, 2002 TLME-2.3 —4— P&R ?4 Apresente um esquema de medida a aplicar neste trabalho de laboratório B para poder verificar o fluxo da energia reactiva entre o compensador síncrono e a rede eléctrica. Justifique. Ver o Apêndice LME — Sistemas trifásicos – medida de potência ?5 Justificar como a máquina eléctrica síncrona, funcionando como compensador síncrono, integrada numa rede eléctrica pode contribuir para a regulação da tensão dessa rede. ?6 Apresentar o ante-projecto de um sistema automático de sincronização, analógico ou digital, realçando o seu princípio de funcionamento. (Sug.: consulte os fabricantes ou revendedores) Arranque do Motor Síncrono Um motor síncrono trifásico, devido às suas características específicas que resultam das suas particularidades construtivas, apresenta problemas quando tem de passar do estado de repouso ao funcionamento em velocidade de regime — durante o arranque. Ao longo do tempo e para as diversas situações de aplicação do motor síncrono têm sido utilizados vários métodos de arranque, que habitualmente são agrupados nas seguintes possibilidades: • com motor auxiliar arranque • síncrono, ou por variação de frequência • assíncrono Na realização laboratorial dos diferentes métodos de arranque apenas interessa a condução do motor síncrono à situação de sincronismo das fases com a rede eléctrica geral, não se chegando a efectuar a ligação da máquina síncrona à rede eléctrica geral. Arranque com Motor Auxiliar Será utilizado como motor auxiliar um motor de indução trifásico com rotor bobinado alimentado por um ondulador. C 1 .1. Montagem a Realizar ∆f M V 3 ~ Motor Síncrono 3 ~ U V V W f A Prestar atenção ao valor das grandezas físicas importantes. ~ Manter a anterior montagem B Com a aparelhagem de medida disponível – ☎ ➚ Realizar a montagem. Chamar o docente para verificação Elevar LENTA e GRADUALMENTE a tensão e a frequência do ondulador para provocar o arranque do motor de indução trifásico ✍ Tomar nota dos valores e de todos os pormenores importantes Note que o motor auxiliar pode conduzir o motor síncrono a uma velocidade ligeiramente inferior © Manuel Vaz Guedes, 2002 TLME-2.3 —5— à do sincronismo, ou pode conduzir o motor síncrono a uma velocidade ligeiramente superior à do sincronismo. Assim: C 1 . a — velocidade ligeiramente inferior à do sincronismo (hiposincronismo) ▲ a essa velocidade liga-se o enrolamento estatórico do motor síncrono à rede eléctrica geral, e só depois se promove a excitação do motor síncrono (o que se traduz por uma sobrintensidade de corrente que se atenuará em dois ou três ciclos). C 1 . b — velocidade ligeiramente superior à do sincronismo (hipersincronismo) ▲ a essa velocidade desliga-se o motor auxiliar da rede; espera-se que velocidade decaia até à velocidade de sincronismo; liga-se o enrolamento estatórico do motor síncrono à rede eléctrica geral, e só depois se promove a excitação do motor síncrono. Diminuir a tensão no ondulador ➷ ▲ Desligar a alimentação do circuito P&R ?7 Qual o parâmetro construtivo do motor de indução trifásico que condiciona a existência de uma situação de velocidade ligeiramente inferior à velocidade de sincronismo ou ligeiramente superior à velocidade de sincronismo? ?8 Depois do arranque, o motor auxiliar fica ligado mecanicamente à máquina síncrona. Quais as considerações, omissas neste texto, que se podem fazer sobre as soluções a adoptar para esse problema ? Justifique. ?9 Para utilizar uma máquina eléctrica (motor síncrono) necessita de ter uma outra máquina eléctrica (motor auxiliar). Apresente uma análise, baseada em critérios económicos, sobre a aplicabilidade do método de arranque do motor síncrono com motor auxiliar. Arranque Síncrono ou por Variação de Frequência O motor síncrono será alimentado por um ondulador, variando-se a amplitude e a frequência da tensão de alimentação. C 2 .1. Montagem a Realizar U ∆f Motor Síncrono V V 3 W ~ M 3 ~ A Prestar atenção ao valor das grandezas físicas importantes, {quais ?}. ~ Alterar a anterior montagem C . 1 Com a aparelhagem de medida disponível – Realizar a montagem. ☎ Chamar o docente para verificação ➚ promover a excitação do motor síncrono ➚ Elevar LENTA e GRADUALMENTE a tensão e a frequência do ondulador para provocar o arranque do motor síncrono trifásico o © Manuel Vaz Guedes, 2002 iniciar o trabalho com uma frequência de 1% da frequência nominal TLME-2.3 ✍ —6— o actuando na excitação da máquina síncrona, evitar que o fluxo magnético e a tensão tomem valores inadmissíveis o evitar que o motor perca o sincronismo durante operação de elevação da frequência Tomar nota dos valores e de todos os pormenores importantes Note que o motor síncrono roda em sincronismo com a frequência da corrente alternada de alimentação fornecida pelo ondulador. • Quando a frequência nominal é atingida, actua-se na excitação do motor síncrono e eleva-se a tensão estatórica até ao valor nominal, efectuando-se depois a manobra de confirmação da sincronização e de estabelecimento do paralelo com a rede eléctrica geral. O arranque síncrono ou por variação de frequência é muito suave e não implica a ocorrência de sobrintensidades. ▲ A maior dificuldade com este tipo de arranque, consiste no necessidade de o motor síncrono desenvolver nos primeiros momentos do arranque (0+) um binário (de relutância) suficiente para iniciar o movimento de rotação do motor e da carga mecânica ligada (bomba hidráulica). P&R ?10 Justifique que o arranque síncrono, tal como foi realizado no Laboratório, podia ser realizado utilizando como gerador na alimentação outra máquina síncrona. Relacione a potência desse alternador com a potência do motor a arrancar (razão das potências). ?11 Justifique a seguinte frase: “Como o motor síncrono, ainda parado, já está excitado, surge um binário electromecânico que é de aceleração durante um semi-período e de frenagem no semi-período seguinte. Para que a velocidade da máquina possa aumentar, da situação de parada até à de velocidade nominal, a energia cinética necessária à roda polar deve ser transmitida à máquina durante o semi-período acelerador”. Arranque Assíncrono O motor síncrono de pólos salientes irá funcionar como um motor de indução (aproveitamento do binário assíncrono) servindo os elementos do rotor — enrolamentos indutor, enrolamento amortecedor, peças ferromagnéticas maciças ou enrolamento específico — como circuito secundário rotórico. Apenas o circuito indutor serve de circuito secundário no motor síncrono utilizado no Laboratório CUIDADO !… C 3 .1. Montagem a Realizar U ∆f V V Motor Síncrono 3 W M 3 ~ resistência elevada ~ eléctrica Prestar atenção ao valor das grandezas físicas importantes, {quais ?}. ~ Alterar a anterior montagem C . 2 Com a aparelhagem de medida disponível – Realizar a montagem. ☎ Chamar o docente para verificação ➚ © Manuel Vaz Guedes, 2002 curto-circuitar os terminais de entrada do circuito indutor do motor TLME-2.3 —7— síncrono com uma resistência eléctrica elevada ➚ Elevar LENTA e GRADUALMENTE a tensão e a frequência do ondulador para provocar o arranque do motor síncrono trifásico como motor de indução o ✍ iniciar o trabalho com uma frequência de 1% da frequência nominal Tomar nota dos valores e de todos os pormenores importantes Note que o motor síncrono tende (pequeno deslizamento) a rodar à velocidade de sincronismo associada a cada valor da frequência variável da corrente alternada de alimentação. • Quando a velocidade nominal é atingida, altera-se o circuito eléctrico indutor do motor síncrono retirando a resistência eléctrica e ligando-o à alimentação, depois eleva-se a tensão até ao valor nominal, efectuando-se depois a manobra de confirmação da sincronização e de estabelecimento do paralelo com a rede eléctrica geral. P&R ?12 Justifique que no arranque assíncrono podia suceder que, estando uma carga mecânica de valor elevado ligada ao motor, o arranque só ocorreria até um deslizamento s = 0,07 e a partir desse ponto a velocidade não aumentaria mais, acabando o grupo por não atingir a velocidade de sincronismo. ?13 Considerando a impedância nominal do motor síncrono Zn Un , e as diversas 3 ⋅ In reactâncias reduzidas a essa base, justificar a solução de colocação de uma bobina (com reactância reduzida xB), em série com a rede eléctrica de alimentação (com reactância reduzida xr), atendendo a que a máquina eléctrica tem uma reactância reduzida de arranque xa. U r I x r = ~ x B Quando realmente se utiliza uma bobina de arranque, terminado o arranque, o que se deve fazer à bobina ? Justifique. (Note que em lugar de uma bobina de arranque real, a reactância xB pode representar a reactância dos condutores de ligação e do transformador de alimentação do motor síncrono) — TLME-2. 3 — Resenha Histórica O aproveitamento hidroeléctrico do Alto Rabagão (concelho de Montalegre; região do Barroso) foi o primeiro aproveitamento português construído com o objectivo principal de regularização interanual, armazenando da água nos anos de abundância para aproveitá-la na produção de energia eléctrica nos anos de seca. Projectado em 1958, entrando em serviço em 1964, foi dotado com dois grupos ternários máquina síncrona–turbina–bomba de eixo vertical, com sentido único de rotação, destinados a elevar água para a albufeira a montante (10 km x 2 km; 1ooo milhões de kWh) a partir da albufeira da barragem da Venda Nova imediatamente a jusante do ponto de restituição. Nos grupos ternários de máquinas hidroeléctricas, as bombas são rapidamente acopláveis aos veios dos grupos, por intermédio de sistemas de embraiagem. As características de cada máquina são: ALTERNADOR/MOTOR — 45 MVA; 10 kV; 50 Hz; 428 rot/min potência absorvida na bombagem = 63 MW TURBINA — 50 ooo CV; 428 rot/min; 49 m3/s [170 m de queda útil] BOMBA — 43ooo CV; 428 rot/min; 37 m3/s [140 m de elevação] TRANSFORMADOR TRIFÁSICO — 45 MVA; 10/165 kV – MVG – © Manuel Vaz Guedes, 2002