ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO ESCOLAR NA REDE

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ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO ESCOLAR NA REDE PÚBLICA DE ENSINO:
ASSESSORAMENTO INSTITUCIONAL (?).
Luis Fernando A. Arruda Campos - [email protected]
Rafael G. Morcillo JR - [email protected]
Patrícia de Souza Lira - patrí[email protected]
SEDUC - Guarujá SP
INTRODUÇÃO
O que pode fazer um psicólogo escolar em seu trabalho por uma educação de
qualidade? O que caracteriza um assessoramento de um psicólogo a uma instituição de
ensino? Estas questões revelam um pouco das indagações que nos fazemos em relação a
nossa própria pratica profissional. Indagações e reflexões sobre a relação entre o que
coloca a Psicologia Escolar e a realidade de nossas intervenções, ou seja, as formas com
as quais atuamos estão de acordo com o que defende a Psicologia Escolar com seu
enfoque institucional? Falaremos neste artigo sobre a experiência de três psicólogos
escolares que atuam numa equipe de apoio psicopedagógico, da Secretaria de Educação
do Município de Guarujá/SP. Esta equipe é multidisciplinar, composta por oito
psicólogos, uma fonoaudióloga, uma psicopedagoga e duas assistentes sociais. Estes
três psicólogos estão na equipe desde Julho/2010, através de concurso público.
A EQUIPE DE APOIO PSICOPEDAGÓGICO E A SECRETARIA DE
EDUCAÇÃO
São três, as diretrizes da Secretaria de Educação do Município do Guarujá/SP:
gestão democrática, valorização do professor, e acesso e permanência com sucesso. A
equipe de apoio psicopedagógico, nesta Secretaria de Educação, tem uma história
recente. O serviço psicopedagógico foi iniciado há apenas cinco anos. Inicialmente o
atendimento era realizado em salas em uma das unidades de ensino. Eram atendidos
grupos de crianças com dificuldades de aprendizagem e com questões pertinentes a área
da fonoaudiologia. Com a construção da prática e acompanhando o movimento de
retirar a clínica das escolas, percebeu-se que aquela forma de atuação não atendia as
grandes demandas da educação do município, pois ficava restrita há alguns grupos, a
2 instituição não era alcançada. A equipe de apoio psicopedagógico encerrou os
atendimentos e iniciou o assessoramento institucional.
Atualmente, a equipe de Apoio, por meio de assessoramento técnico
multidisciplinar, tem como objetivo geral atuar institucionalmente e, de forma
relacional, entre os atores da comunidade escolar, valorizando a riqueza de seus olhares
e os diferentes saberes de cada um de seus membros. O intuito de fortalecer o Serviço
de Orientação Educacional, Orientação Pedagógica, assim como toda a equipe gestora
da escola referente ao processo ensino-aprendizagem dos alunos de nossas Unidades
Escolares, as relações estabelecidas no contexto escolar, o trabalho cooperativo entre os
profissionais da escola, entre a escola e comunidade, prevenção e reflexão dos
Educadores do Ensino Infantil e Fundamental I e II, são alguns dos objetivos
específicos.
Como metodologia para atingirmos estas propostas, buscamos oferecer a
construção de espaços de reflexão junto às equipes gestoras criando uma interface
com a família e a comunidade, realizando assessoramento a equipe gestora e
professores das Unidades Municipais de ensino, orientação de pais e responsáveis,
analisando a situação do aluno dentro dos limites da escola, da sala de aula, assim
como, no incentivo de parcerias entre as unidades educacionais e outros serviços do
município (serviços de saúde, assistência social, conselho tutelar, ONGs). Estas ações
são avaliadas de forma qualitativa (através de relatórios, termos de visitas dos técnicos
às Unidades Escolares) e quantitativa (consolidação da quantidade de alunos,
Unidades Escolares e seus atores assessorados), visando o avanço e sucesso na
aprendizagem dos alunos e a formação de dos profissionais.
O sistema municipal de ensino do Guarujá é composto por 26 Unidades
Escolares do Ensino Fundamental I e II, 19 Unidades de Educação Infantil (EMEI) e
13 Núcleos de Educação Infantil (NEIM), totalizando 58 Unidades municipais (neste
momento, estamos desconsiderando as Unidades Conveniadas existentes na cidade,
assim como as Unidades de Extensão).
Quando iniciamos nossos trabalhos nesta Equipe de Apoio psicopedagógico,
estas Unidades Escolares foram divididas para cada profissional de acordo com o
período de educação. Dentro da equipe os seis psicólogos inicialmente em atuação (pois
3 dois psicólogos logo no começo destas divisões já entraram em licença) foram divididos
em três duplas, dois psicólogos ficaram encarregados por assessorar os Núcleos de
Educação Infantil (N.E.I.M/creche), dois psicólogos as Escolas de Educação Infantil
(E.M.E.I.) e dois psicólogos cuidaram do assessoramento as Escolas de Ensino
fundamental. Além dos psicólogos a equipe contou com o apoio institucional da
psicopedagoga (que atuava na educação fundamental), de duas assistentes sociais (uma
atuando na educação infantil e outra na educação fundamental) e, por um alguns meses,
com até três fonoaudiólogas (uma na educação fundamental e duas na educação
infantil). Neste primeiro momento, todos os membros da equipe realizavam
assessoramento institucional às Unidades Escolares. Dentro deste critério de divisão
cada um dos profissionais tinha um número específico de instituições para assessorar,
desta forma, cada instituição de ensino tinha apenas um profissional de referência (ou
um psicólogo ou uma fonoaudióloga ou uma psicopedagoga). Somente o trabalho com
as assistentes sociais era realizado em duplas com os outros profissionais da equipe.
No ano de 2011, em decorrência de observarmos a necessidade de um
trabalharmos em grupo e, com vistas ao melhor aproveitamento das especificidades de
cada área de atuação desta equipe, alteramos a distribuição das Unidades Escolares para
assessoramento, "dividindo" a cidade de Guarujá em três grandes regiões. Cada região
ficou sob a responsabilidade inicial de uma dupla de psicólogos.
Os demais
participantes da equipe de Apoio (duas assistentes sociais, uma psicopedagoga e uma
fonoaudióloga) realizam as intervenções às Unidades Escolares em apoio aos
psicólogos. Dessa forma, cada instituição de ensino passou a contar com o
assessoramento das quatro especialidades profissionais da equipe (Psicologia,
Psicopedagogia, Fonoaudiologia e Assistência Social). Assim, a equipe acreditava
poder melhorar o fluxo de serviço dentro do assessoramento institucional, possibilitando
maior interação entre as diferentes práticas e saberes, proporcionando o trabalho
multidisciplinar.
O PSICOLOGO ESCOLAR: EM BUSCA DE UM TRABALHO
INSTITUCIONAL
4 A porta de entrada para realização de um trabalho de assessoramento
institucional nas Unidades de Ensino do Município por parte dos psicólogos,
fonoaudiólogos, assistentes sociais e psicopedagogos inicialmente (e ao longo do ano de
2010) ocorreu através de um contanto maior com as Orientadoras Educacionais (no
caso das creches esse contato ocorreu através das Orientadoras Pedagógicas), as quais
buscavam apresentar e relatar tanto a forma de funcionamento, organização, Projetos
Político- Pedagógicos e objetivos da escola quanto às queixas, cobranças, demandas,
conflitos entre professores, alunos, familiares, funcionários e equipe gestora presentes
em cada instituição de ensino.
Entre essas reivindicações foi possível perceber no início uma enorme
expectativa por parte das orientadoras que os profissionais exercessem uma função
clínica, no caso específico dos psicólogos, o atendimento e acompanhamento
psicoterapêutico de alunos que apresentavam problemas de aprendizagem ou
comportamentais. Apesar dos esclarecimentos por parte da equipe sobre o caráter
institucional do trabalho, assim como da impossibilidade da realização de um
acompanhamento clínico dentro da escola (devido às condições inadequadas e
problemas que esse tipo de trabalho poderia acarretar), as orientadoras manifestavam a
expectativa de acompanhamento clínico ao buscar os profissionais da equipe de
assessoramento institucional para exercer principalmente o papel de encaminhadores
dos alunos que apresentavam problemas para outros serviços do município,
principalmente os da saúde (neurologista, psiquiatra, pediatra, fonoaudiólogo, etc).
Através do encaminhamento e possível acompanhamento, diagnóstico e laudo
produzido por um especialista, a equipe da escola (professores, orientadoras, inspetores
e diretores) buscava transferir um pouco das responsabilidades dos problemas para o
aluno, buscando com isso, diminuir a angústia que sentiam frente às dificuldades
educacionais, pedagógicas, administrativas e políticas presentes na instituição.
Dificuldades que deixavam de se percebidas como problemas associados às formas de
organização das relações institucionais.
Diante desse quadro, acompanhamos as reflexões de Souza (2009):
Tratar a questão dos encaminhamentos escolares como
encaminhamentos da escola, buscando compreender como se
processa a escolarização, é ainda um importante desafio para a
5 Psicologia Escolar e Educacional. Será necessário, cada vez
mais, lutar pela importância de compreender a queixa escolar
não como mero reflexo de problemas emocionais, mas sim como
fruto das relações escolares e rever o processo diagnóstico e
seus instrumentos de avaliação, sob pena de darmos destinos
que vão constituindo um indivíduo que se distancia cada vez
mais da sua condição de ser humano e ser de direitos. Além
disso, precisaremos articular ações no plano da formação
profissional com as Clínicas-Escola para o atendimento de
queixas escolares e articular ações entre os psicólogos que
atuam na área da educação com os que se encontram na área
da saúde, ampliando a compreensão do processo de
escolarização e sua importância na constituição dos indivíduos.
Durante os assessoramentos nas unidades de ensino deparamo-nos em muitos
momentos com a procura dos professores e orientadores por um laudo para os alunos
com os quais sentiam dificuldade de trabalhar e se relacionar, direcionada por um olhar
diagnóstico baseado em um modelo de aluno ideal. Os docentes, através do diagnóstico
dado ao aluno por um especialista técnico almeja obter um alívio das angústias que
sentem pelos problemas enfrentados em sala de aula. O laudo ajuda a colocar sobre o
aluno a culpa pelo fracasso no processo de ensino aprendizagem.
Porém, como
descreve Andrezazzi: “o “laudo” tão solicitado pelos professores pouco indica sobre
formas de atenção a serem oferecidas em sala de aula para cada aluno” (1992).
Além da busca por laudos, era frequente escutar as equipes das escolas
culpabilizando as famílias pelo fracasso escolar dos alunos. “Famílias desestruturadas”,
expressão comum entre os profissionais que trabalham nas unidades de ensino público e
que ajuda a sustentar um processo de culpabilização mútua, tanto da família quanto da
própria escola. Expressão que pode ser ouvida como uma resposta reativa dos
professores, orientadores e gestores frente à sensação que esses profissionais têm de
estarem sobrecarregados e sozinhos na tarefa de educar.
6 Diante dessa situação as famílias acabam sendo convocadas pelas escolas na
maioria das vezes para ouvirem reclamações em relação aos seus filhos, cobranças em
relação a suas responsabilidades educacionais e para levarem seus filhos aos
encaminhamentos feitos aos especialistas. Como consequência as famílias acabam
evitando o contato com a escola não comparecendo a convocações das reuniões
bimestrais, nas associações de pais e mestres, nos eventos festivos e nas convocações da
equipe gestora da unidade.
Assim como ocorre na culpabilização do aluno, o excesso de queixas da escola
em relação às famílias acaba desviando sua atenção em relação às possibilidades de
trabalho em conjunto, diminuindo assim o comprometimento de ambas as partes na
elaboração de parcerias na melhora do processo educacional dos alunos. Nesse contexto
observamos o que descreve Oliveira e Marinho (2010):
A relação entre família e escola se estabeleceu, e ainda se
mantém, a partir de situações vinculadas a algum tipo de
problema e, desta forma, pouco contribui para que as duas
instituições possam construir uma parceria baseada em fatores
positivos
e
gratificantes
relacionados
ao
aprendizado,
desenvolvimento e sucesso dos alunos.
Em virtude desta marca no entrelaçamento entre a família e a
escola, as posturas relacionadas a esta relação caracterizam-se
por ser defensivas e acusativas, como se cada um buscasse se
justificar e encontrar razões para a desarmonia que caracteriza
tal relação. Diante disso, um importante desafio surge para os
pesquisadores, estudiosos e profissionais da educação: o de
modificar a relação família-escola no sentido de que ela possa
ser associada a eventos positivos e agradáveis e que,
efetivamente, contribua com os processos de socialização,
aprendizagem e desenvolvimento.
7 Dentro dessa realidade do ensino público e das expectativas referentes à
participação do psicólogo na escola buscamos promover momentos e espaços de escuta,
expressão e reflexão de forma a possibilitar uma melhor circulação e comunicação dos
diferentes discursos e significações criados no interior de cada instituição. Pois
acreditamos, como salienta Kunpfer: quando há circulação de discursos, as pessoas
podem se implicar em seu fazer, podem participar dele ativamente, podem se
responsabilizar por aquilo que fazem ou dizem. Mudam ativamente os discursos, assim
como são por eles mudadas, de modo permanente (1997).
Nos assessoramentos, procuramos promover esses diálogos entre diferentes
discursos referentes à instituição, através do contato com as orientadoras, diretoras,
professores, funcionários, alunos e suas famílias. Assumimos a posição de ouvintes das
diferentes falas e sentidos referentes às dificuldades enfrentadas, participamos do
diálogo com esses profissionais através de um olhar exterior a instituição de forma a
implicar cada um na elaboração de respostas em relação a suas próprias queixas e na
escuta das queixas e propostas trazidas pelos outros.
PROBLEMAS INSTITUCIONAIS: UM BREVE RELATO DE
UMA INTERVENÇÃO EM EQUIPE
Para contar um pouco do início de nosso trabalho como psicólogos, em uma
equipe multidisciplinar voltado para uma atuação institucional, achamos interessante
fazer um breve relato de uma intervenção realizada por esta Equipe de Apoio
Psicopedagógico, numa Unidade Escolar de Ensino Fundamental II desta Cidade.
Intervenção que resume um pouco do momento em que entramos na equipe, assim
como sintetiza algumas das experiências, percepções e problemas vivenciados no
começo de nosso trabalho na rede de ensino público do município.
Nossa ida inicialmente ocorreu por causa de uma solicitação da Secretaria de
Educação, em decorrência da baixa avaliação obtida no Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica (IDEB) desta Unidade. A equipe gestora, num primeiro momento,
tinha o interesse de que realizássemos intervenção com os alunos e professores dos 6º
anos, entretanto, ficou combinado de que conversaríamos com os familiares, alunos e
professores dos 8º anos. Foram realizados cinco encontros com cada grupo de alunos
8 (três grupos), cinco encontros com cada grupo de professores (dois grupos) e
três encontros com cada grupo de pais/responsáveis (dois grupos).
No encontro com os alunos foram desenvolvidas dinâmicas buscando trabalhar a
relação deles com o ambiente escolar e com o processo de ensino aprendizagem através
de temas como a construção do futuro profissional, indisciplina em sala de aula,
capacidade de se colocar no lugar do outro, estratégias do professor para despertar o
interesse do aluno pela aula.
Por sua vez nos encontros com os pais dos alunos, ocorreu uma baixa
participação. Porém os pais que se fizeram presentes aos encontros procuraram através
das atividades e discussões propostas se aproximar da realidade vivida por seus filhos
na escola em seu processo educacional.
Durante o andamento dos grupos com professores, encontramos algumas
dificuldades. A principal delas foi o fato de os professores permanecerem na queixa. O
trabalho neste caso foi direcionado para implicação dos docentes como corresponsáveis
das situações problemáticas presentes na escola fazendo com que olhassem para si como
possíveis agentes para as mudanças almejadas.
Os resultados destes encontros foram apresentados para os grupos de professores
e alunos, além da equipe gestora também ter sido orientada. Não foi possível apresentar
os resultados para o grupo de pais/responsáveis, devido a pouca presença durante os
encontros e, falta de datas para apresentação.
Na intervenção realizada na Unidade Escolar de Ensino Fundamental II,
trabalhamos a devolutiva através de seis eixos temáticos:

A Escola, para cada grupo;

Opiniões sobre a administração da escola;

A relação professor-aluno;

Ideias sobre o processo de aprendizagem;
9 
O papel da família na escola;

A “autoimagem” em cada grupo.
A seguir, explicitaremos brevemente as respostas para cada eixo temático, pelos
grupos de pais, alunos e professores:
Estes grupos consideraram que a falta de condições básicas da estrutura física da
Unidade Escolar ocasionam o desinteresse e desvalorização destes grupos. Pais também
relataram que são convocados à escola apenas para prestar esclarecimentos sobre a
educação de seus filhos.
Houve queixas quanto à falta de acolhimento e amparo da Administração da
Unidade Escolar por parte dos grupos de pais e professores. Quanto aos alunos, não
houve falas relativas a equipe gestora da Escola.
A relação professor-aluno foi pautada pela necessidade, por parte do professor,
de dialogar com o aluno como forma deles o reconhecerem como autoridade e, com
saberes a serem ensinados. Já, em contrapartida, quando a relação é marcada por uma
afetividade negativa, a aprendizagem perde o sentido. Por outro lado, temos os
professores que se dizem impotentes frente à tarefa de ensinar os alunos.
Sobre a ideia de processo de aprendizagem, os professores relataram possuir
dificuldades em ensinar alunos com "situações sociais difíceis". Os pais informaram não
saber como fazer parte deste processo, considerando importante apoiar o aluno na
escola. Os alunos relataram a necessidade de manter um vínculo positivo com os
professores de forma a terem uma aprendizagem mais significativa na escola.
Os três grupos consideraram importante à presença da família no processo de
aprendizagem destes jovens, tendo estes, relatado que não devem ser apenas cobrados,
mas, incentivados também. Já os pais novamente relataram não saber agir frente esta
situação e, sem apoio da escola (falta de escuta).
Em relação à "autoimagem" de cada grupo, os adolescentes têm dificuldade em
sentir-se como protagonistas do próprio processo de aprendizagem, enquanto pais
culpam-se pela "incapacidade em lidar/administrar a situação escolar dos filhos e, os
professores, apresentaram dificuldade em valorizar as ações que revelam novas
possibilidades de trabalho e de reconhecer os limites dados pela própria função de
professor.
10 Apesar do trabalho com grupos de professores, alunos e pais nas unidades ter
promovido a escuta mútua entre os discursos e significações uns dos outros no que se
refere ao funcionamento escolar, o trabalho realizado ajudou muito pouco a instituição a
diminuir seus problemas e conflitos internos.
Entre alguns dos fatores que consideramos colaborar para essa situação
apontamos o fato de termos atuado junto a um grupo que foi delimitado por uma
demanda da secretaria de educação (os alunos 8ºanos, os quais seriam avaliados pelo
IDEB) e não o grupo com o qual a escola gostaria que trabalhássemos (os 6º anos que
segundo parte da equipe gestora da unidade concentrava os alunos mais indisciplinados
e os professores mais tradicionais em suas práticas pedagógicas). Além disso, seria
preciso um trabalho mais prolongado na unidade que envolvesse uma maior
mobilização das famílias e participação da equipe gestora, o que foi inviável devido à
necessidade da equipe de conciliar esta intervenção com o assessoramento a outras
unidades de ensino do município.
Essa intervenção ocorreu a partir de uma convocação de emergência da
Secretaria de Educação (frente aos baixos índices no IDEB apresentados pela unidade
escolar) e se caracteriza como uma ação em grupo que raramente se realiza na nossa
prática diária. Mesmo assim, ela revela muita das dificuldades e da realidade encontrada
durante os assessoramentos individuais realizados cotidianamente pelos psicólogos as
instituições de ensino do município (marcada por solicitações e mudanças
imprevisíveis, tanto nas Unidades de Ensino quanto na Secretaria de Educação).
ORGANIZANDO O CAMPO DE ATUAÇÃO DO PSICOLOGO ESCOLAR
Para mostrar como ocorre a organização de nossos assessoramentos atualmente,
buscaremos descrever resumidamente os eixos de intervenção nas creches (N.E.I.M.s),
escolas de educação infantil (E.M.E.I.s), Ensino Fundamental I e II.
CRECHES
No trabalho com as creches buscamos trabalhar as relações entre equipe gestora,
Pajens, Auxiliares no Desenvolvimento Infantil (ADIs) e famílias dos alunos de forma a
11 promover o cuidado e o acompanhamento inicial do processo educacional dessas
crianças.
Atualmente devido o tempo e demanda das unidades, a atenção as creches está
mais focada na formação das Pajens. A equipe vem elaborando mensalmente através de
palestras com temas como: a importância do brincar, as possibilidades de intercâmbio
com a família e colocação de limites a partir do processo educacional.
EDUCAÇÃO INFANTIL
No assessoramento institucional a educação infantil, buscamos participar dos
HTPCs das unidades de forma a compreender melhor as dificuldades pedagógicas,
educacionais, modos de funcionamento e relacionamento trazidos pelos professores em
cada unidade. A partir dessa escuta, quando necessário e possível buscamos elaborar
reuniões com professores e/ou pais que permitam discutir e trabalhar as situações que
dificultam o processo educacional e o bom funcionamento institucional.
ENSINO FUNDAMENTAL I
Além do assessoramento a equipe gestora, pais, professores e alunos, através da
criação de momentos e espaços para reflexão, escuta e orientação individual ou em
grupo (participando de reuniões como HTPC, formação de reuniões com pais,
professores, alunos), estamos envolvidos na identificação e triagem de alunos para
participar do Projeto Espaço Aprendizagem que envolve a capacitação de professores
para trabalhar de forma lúdica o processo de alfabetização de crianças com dificuldade
de aprendizagem na sala regular. Este projeto conta atualmente com o uma equipe de
seis psicopedagogas que trabalham em parceria com os psicólogos em seus
assessoramentos institucionais a algumas das unidades de ensino fundamental I. Apesar
de serem equipes com funções diferenciadas ambas apresentam uma mesma chefia e
respondem pela Equipe de Apoio Psicopedagógico.
ENSINO FUNDAMENTAL II E EJA (EDUCAÇÃO DE JOVENS ADULTOS)
12 Buscamos assessorar a equipe gestora, professores, alunos através da elaboração
de momentos e espaços para reflexão, escuta e orientação individual ou em grupo
(participação em reuniões de pais, no HTPC das unidades, grupo de trabalho com os
alunos). Nossa atuação junto ao EJA, porém ainda tem sido muito pequena devido ao
pouco tempo na agenda para e realizar todos os serviços em que estamos envolvidos.
CONCLUSÃO
Os modos de atuação descritos revelam resumidamente as formas como estamos
tentando organizar nosso trabalho. Essas mudanças revelam uma busca em se adaptar
as falhas e problemas presentes na dinâmica dos serviços públicos (no qual é comum
surgirem entraves burocráticos e disputas políticas prejudiciais ao planejamento e
continuidade de um modelo de trabalho). Como exemplo de algumas mudanças feitas
pela equipe ao longo de seu trabalho podemos relatar a mudança de enfoque ocorrida no
assessoramento ao ensino fundamental. Em um primeiro momento ocorreu uma maior
parceria com as orientadoras educacionais buscando intervenções que aumentassem as
implicações da equipe da escola nos problemas institucionais, diminuindo as queixas
direcionadas as famílias e a busca por laudos com o encaminhamento excessivo de
alunos para os serviços de saúde. Agora procuramos maior proximidade com os
envolvidos diretamente nos processos pedagógicos das unidades (Orientadoras
Pedagógicas e professores), pois percebemos a necessidade de envolver esses
profissionais na produção de novos sentidos e significados para suas praticas,
mantendo-os firmes no combate ao fracasso escolar e na luta por melhores condições na
educação pública do município. Como afirma Galdine e Aguiar (2003):
É importante reafirmar que a potencialização do professor para
ação planejada e crítica é algo que, sem dúvida, deve
atravessar todos os momentos do trabalho. A problematização
coletiva das questões escolares/educacionais, o questionamento
daquilo que parece familiar, o rompimento com o império da
13 mesmice, do instituído devem estar impregnados em todas as
atividades propostas, não permitindo a preponderância do
lamento, da desarticulação, do desanimo que conserva, mas de
modo a potencializar práticas e valores geradores de
superação.
Os desafios que encontramos em nosso trabalho têm produzido em nós vários
questionamentos quanto à realidade educacional, quanto as nossas formas de atuação
institucional
e
a
necessidade
atuação como psicólogos escolares.
de
estarmos
sempre
repensando
nossa
14 BIBLIOGRAFIA
ANDREAZZI, L. C. (1992) "Uma história do olhar e do fazer do psicólogo na escola".
IN: Psicologia e Saúde: Repensando Práticas. (p. 65-84) São Paulo: HUCITEC
GALDINE, V.; AGUIAR, W. M. J. (2003) Intervenção Junto a Professores da Rede
Pública: Potencializando a Produção de Novos Sentidos. In: MEIRA, M. E. M. (org.).
Psicologia escolar: práticas críticas. (p. 87-104), São Paulo: Casa do Psicólogo
KUPFER, M.C.M. (1997) O que toca à/a Psicologia Escolar. In: MACHADO, A.M. e
M.P.R. Souza(Orgs) Psicologia Escolar: Em Busca de Novos Rumos SP, Casa dos
Psicólogos.
OLIVEIRA, C. B. E. Marinho-Araújo, C. M. (2010) A relação família-escola:
intersecções e desafios In: Estudos de Psicologia. (vol.27, no.1, p.99-108.) Campinas;
PUC -Campinas
SAYÃO, Y. (2007) Seriam eles indomáveis protagonistas? In: Cadernos Cenpec /
Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária. Nº. 4. São
Paulo: CENPEC;
SOUZA, M. P. R. (2009). Psicologia Escolar e Educacional em Busca de Novas
Perspectivas In: Psicologia Escolar e. Educacional (Impr.),( vol.13, no.1, pp179-182)
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