UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referências em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN) Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente (MDMA) SOCIOBIODIVERSIDADE E RESGATE DO SABER POPULAR DA COMUNIDADE RURAL NOVO NILO-UNIÃO/PIAUÍ-BRASIL WALDILÉIA FERREIRA DE MELO BATISTA TERESINA – PI 2014 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referências em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN) Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente (MDMA) WALDILÉIA FERREIRA DE MELO BATISTA SOCIOBIODIVERSIDADE E RESGATE DO SABER POPULAR DA COMUNIDADE RURAL NOVO NILO-UNIÃO/PIAUÍ-BRASIL Dissertação apresentada ao Programa Regional de Pós-Graduação Ambiente da em Desenvolvimento Universidade (PRODEMA/UFPI/TROPEN), Federal como e Meio do Piauí requisito à obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Área de Concentração: Desenvolvimento do Trópico Ecotonal do Nordeste. Linha de Pesquisa: Biodiversidade e Utilização Sustentável dos Recursos Naturais. Orientadora: Profa. Dra. Roseli Farias Melo de Barros TERESINA – PI 2014 FICHA CATALOGRÁFICA Universidade Federal do Piauí Biblioteca Comunitária Jornalista Carlos Castello Branco Serviço de Processamento Técnico B333s Batista, Waldiléia Ferreira de Melo. Sociobiodiversidade e resgate do saber popular da comunidade rural Novo Nilo-União/Piauí-Brasil / Waldiléia Ferreira de Melo Batista. - 2014. 148 f. : il. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) Universidade Federal do Piauí, Teresina, 2014. "Orientação: Profª. Drª. Roseli Farias Melo de Barras." 1. Etnobotânica - Piauí. 2. Recursos Vegetais. 3. Sustentabilidade. 4. Cultura Popular- Piauí. I. Título. WALDILÉIA FERREIRA DE MELO BATISTA SOCIOBIODIVERSIDADE E RESGATE DO SABER POPULAR DA COMUNIDADE RURAL NOVO NILO-UNIÃO/PIAUÍ-BRASIL Dissertação apresentada Regional de ao Programa Pós-Graduação Desenvolvimento e Universidade Meio Federal Ambiente do em da Piauí (PRODEMA/UFPI/TROPEN), como requisito à obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Área de Concentração: Desenvolvimento do Trópico Ecotonal do Nordeste. Linha de Pesquisa: Biodiversidade e Utilização Sustentável dos Recursos Naturais. Aprovado em _____ de ________ de 2014. _________________________________________________ Profa. Dra. Roseli Farias Melo de Barros Universidade Federal do Piauí (PRODEMA/UFPI/TROPEN) Orientadora __________________________________________________ Prof. Dr. Denis Barros de Carvalho Universidade Federal do Piauí (PRODEMA/UFPI/TROPEN) Membro-Interno __________________________________________________ Prof. Dr. Luciano Figueiredo Universidade Estadual do Piauí/UESPI Membro-Externo DEDICO AO MEU AMOR, PELA GRANDEZA DE SEU CORAÇÃO E NOBREZA DE SUA ALMA; E AOS FRUTOS DESSE AMOR, COM OS QUAIS APRENDI QUE DEUS NOS PERMITE AMAR ALGUÉM MAIS DO QUE A NÓS MESMOS. A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega. Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores. Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipar. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende. Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol. Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz. Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação. Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou. Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor. Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera. Primavera Cecília Meireles AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, por ser presença fundamental em minha vida, norteando os meus caminhos de maneira justa e digna. Por ser o único DEUS de toda a criação, pela imensidão de Suas obras na construção e permissão da evolução de todas as espécies e por conceder aos seres humanos um dom que transcende todos os outros: a possibilidade de conhecê-Lo. Ao Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) e à Universidade Federal do Piauí (UFPI) pela oportunidade de obtenção desse título e pela seriedade na condução de suas atribuições. À população da comunidade de Novo Nilo,União pela receptividade e atenção dispensadas e pelo carinho e presteza com que auxiliaram nas tarefas de campo e na prestação de informações por ocasião das investigações etnobotânicas, em especial ao casal João Batista e Rosário Nascimento pela delicadeza e serenidade em seu acolhimento. À minha orientadora, professora Roseli Farias Melo de Barros, cujas ações transcendem ao da sua missão, atrevo-me apenas a parafrasear Isaac Newton “Se eu vi mais longe, foi por estar de pé sobre ombros de gigantes.” É imensa minha admiração e gratidão. Aos professores do curso de Mestrado, por todos os ensinamentos e diretrizes que tanto fizeram diferença ao longo desta caminhada, em nome do Prof. Denis Barros de Carvalho. Aos professores José Luis Lopes Araújo, Luciano Figueiredo e Denis Barros de Carvalho, pela disponibilidade e atenção dispensadas em contribuírem valiosamente no exame de qualificação e defesa. Aos colegas de Curso, pela alegria e colaboração com que cada um, à sua maneira, soube acolher e conduzir os conhecimentos adquiridos para que pudéssemos atingir nossas metas, representando-os por Ana Keuly Luz, pela sua amizade e companhia tão suave e tão proxima. Aos funcionários do Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN), Maridete Alcobaça e João Batista Araújo pelo acolhimento e colaboração. À Família “ETNO” pelo companheirismo e partilha, e aos técnicos e bolsistas do Herbário Graziela Barroso (TEPB), pela colaboração prestada. À Secretaria de Educação e Cultura do Estado do Piauí (SEDUC), pela confiança depositada e pela concessão de dispensa das atividades escolares. À minha família, em especial minha mãe, Rosa Melo, que mesmo sem estudos acadêmicos, sempre me ensinou o valor da educação e a noção necessária à retidão de conduta. E aos meus irmãos pelo carinho com que sempre me afagaram e pela confiança que sempre em mim depositaram em especial à minha irmã Maria Antonia Ferreira de Melo, pela demonstração de amor pela vida, a eles acrescento e estendo meus agradecimentos ao Francisco Oliveira da Silva (Chiquim) pela dedicação e companheirismo. A meu marido, Raimundo Batista, pelo seu amor e dedicação, pela companhia e incentivo constantes, sem o qual seria, por certo, impossível essa conquista. Aos meus filhos, Igor Ramon, Letícia e Ian Gabriel, sem os quais se esvaziariam as razões pelas quais me dedico a buscar sempre novas conquistas, agradeço pela compreensão de tantos momentos de ausência, pelo carinho e amor incessantes. Aos meus sobrinhos, por somarem motivos de alegrias e bem-viver, em especial à sobrinha e afilhada Rosa Carolinne de Melo Borges, pela ajuda e companheirismo dispensados em tantos momentos. À família Batista, pelo acolhimento, incentivo e alegria constante. Aos amigos, que guardam em mim um lugar de destaque e que em diversos momentos significaram uma forte razão para eu continuar em linha reta, em especial à Kelly Polliana Santos pela bondade de coração e total disponibilidade em momentos decisivos. A vocês destaco Mário Quintana ao afirmar que “A amizade é um amor que nunca morre”. À Pastoral da Juventude da Paróquia de nossa Senhora de Fátima, em especial aos grupos DAVI e EDENN, pelos momentos de oração e por vezes a confirmação de que somente Nele devemos depositar nossa confiança. Aos diretores do Instituto Dom Barreto e da Escola Santa Helena pela compreensão, apoio e tolerância dispensados. Aos colegas de trabalho, que tantas vezes cuidaram para que não desanimássemos, em especial à Fátima Paixão e Thamilla Pitombeira pela ajuda significativa em tantas situações por demais importantes. Aos meus alunos, pelo carinho e entusiasmo com que participaram dos momentos de vitória, fortalecendo sempre a certeza da profissão escolhida. Diante de tantas pessoas a agradecer, não sinto-me confortável em destacar as dificuldades, seria irrisório. No entanto, finalizo esses agradecimentos com a certeza de que durante a caminhada é preciso ter a sensibilidade de perceber o bem e o belo, por isso destaco Cora Coralina "Eu sou aquela mulher que fez a escalada da montanha da vida removendo pedras e plantando flores". RESUMO Na comunidade Novo Nilo evidencia-se uma importância cultural de sobrevivência através do uso sustentável dos recursos naturais. Assim, propõe-se um estudo com a comunidade, visando conhecer e registrar o modo de uso e diversidade dos recursos vegetais locais e as práticas culturais e a realidade socioeconômica da comunidade. O projeto foi submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa da UFPI e foram coletados antes do início das entrevistas o aceite dos sujeitos envolvidos através da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Para seleção dos entrevistados foi utilizada a técnica da bola de neve. As turnês-guiadas foram realizadas visando obtenção das espécies citadas. A coleta do material botânico foi georeferenciada e após processamento, incorporado ao acervo do Herbário Graziela Barroso (TEPB) da Universidade Federal do Piauí. Os dados quantitativos foram definidos através dos cálculos do Valor de Uso e Fator de Consenso dos Informantes. As coletas de dados foram realizadas quinzenalmente entre os meses de março/12 e maio/13, com o auxílio de formulário padronizado a 202 pessoas, perfazendo 54,4% do universo amostral, distribuídas nas faixas etárias definidas pelo IBGE. Após estes registros os dados foram tabulados e analisadas por meio de estatística descritiva básica. As coletas referentes às práticas culturais e religiosas aconteceram por meio de observação, anotação e registro fotográfico. Catalogou-se 150 espécies, distribuídas nas seguintes categorias de uso: medicinal, alimentação humana, construção, produção de energia, forrageira, artesanal, místico-religiosa e ornamental. A categoria de uso com maior destaque em número de citações foi a medicinal, dentre estas, a espécie mais citada foi erva-cidreira (Lippia Alba (Mill.) N. E. Br.) e a espécie que apresentou maior valor de uso foi o babaçu (Attalea speciosa Mart. Ex Spreng.) com VU=3,63. As atividades econômicas distribuem-se principalmente em prática de agricultura de subsistência, a atividade de pesca e o extrativismo vegetal, com aproveitamento do babaçu (Attalea speciosa Mart. Ex Spreng.) e da carnaúba (Copernicia prunifera (Mill.) H.E. Moore). Os resultados indicam que os moradores entrevistados apresentam baixos índices educacionais, com 31% deles sem escolaridade. Apresentam alta religiosidade, onde 81% declararam o catolicismo como sua religião. Apresentam ainda, sérios problemas de assistência médica e total ausência de saneamento básico. O saber popular deve ser valorizado e evidenciado na contribuição da construção do conhecimento científico. Palavras chaves: Etnobotânica, Recursos Vegetais, Sustentabilidade, Aplicabilidade. ABSTRACT In the Novo Nilo community is evident importance of cultural survival through sustainable use of natural resources. Thus, a study of the community is proposed, seeking to learn and register cultural practices, socio-economic reality of the community, the use and diversity of local plant resources. The project was submitted to the Ethics Committee and Research UFPI and acceptance of the involved subjects were collected before the start of the interviews by signing the Informed Consent Form (ICF). For the selection of interviewees the snowball technique was used. Guided tours were conducted to obtain the species cited. Botanical sample collection was georeferenced and after processing, embedded in the collection of the Herbarium Graziela Barroso (TEPB), Federal University of Piauí. Quantitative data were defined by calculating the value and use of Informant Consensus Factor. The data collections were carried out fortnightly between the months of March/12 maio/13 and, with the aid of a standardized form to 202 people, making up 54.4% of the sample universe, distributed in the age groups defined by IBGE. After these records the data were tabulated and analyzed using basic descriptive statistics. The collections relating to cultural and religious practices occurred through observation, annotation and photographic record. 150 species have been cataloged, distributed in the following use categories: medicinal, food, construction, energy production, forage, craft, mystic-religious and ornamental. The use category most notably in the number of citations was medicinal, among these, the most cited species was lemongrass (Lippia alba (Mill.) N.E. Br) and the species with the highest value in use was the babassu (Attalea speciosa Mart . ex Spreng.) with VU = 3.63. The economic activities are distributed mainly on subsistence agriculture, fishing activity and plant extraction with use of babassu (Attalea speciosa Mart. Ex Spreng.) and carnauba (Copernicia prunifera (Mill.) H.E. Moore). The results indicate that the villagers interviewed have low educational levels, with 31% of them uneducated. They have high religiosity, where 81% self-declared Catholicism as their religion. They present serious problems of health care and total lack of sanitation yet. Popular knowledge should be valued and highlighted the contribution of the construction of scientific knowledge. Key words: Ethnobotany, Plant Resources, Sustainability, Applicability. LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURA 1: Atividades socioeconômicas desenvolvidas com extrativismo das espécies babaçu (Attalea speciosa Mart. Ex Spreng), carnaúba (Copernicia prunifera (Mill.) H. E. Moore) e tucum (Astrocaryum vulgare Mart.) na comunidade Novo Nilo, União/PI – Brasil ........................... 29 FIGURA 2: Processo de produção de uma vassoura manufaturada de (A. speciosa Mart. Ex Spreng) na comunidade Novo Nilo, União/PI ................... 30 FIGURA 3: Localização da Comunidade Novo Nilo, União, Piauí - Brasil ...... 45 ARTIGO 1 CONHECIMENTO TRADICIONAL NUMA COMUNIDADE RURAL DO NORDESTE BRASILEIRO FIGURA 1 – Localização da Comunidade Novo Nilo, União, Piauí/Brasi ....... 62 FIGURA 2 – Famílias botânicas mais representativas em número de espécies na comunidade Novo Nilo, União, Piauí ........................................ 65 FIGURA 3 – Número de espécies botânicas indicadas por categoria de uso na comunidade Novo Nilo, União, Piauí ......................................................... 76 ARTIGO 2 SOCIEDADE E CULTURA: O CASO DA COMUNIDADE RURAL NOVO NILO, UNIÃO, PIAUÍ/BRASIL FIGURA 1: – Localização da comunidade Novo Nilo, União, Piauí/Brasil ..... 102 FIGURA 2: Faixa etária dos entrevistados na comunidade Novo Nilo, União/PI ........................................................................................................ 104 FIGURA 3: Distribuição da comunidade Novo Nilo, União/Piauí por escolaridade .................................................................................................. FIGURA 4: Distribuição da população da comunidade Novo Nilo, União/Piauí 105 em relação à Religiosidade ............................................................................ 108 FIGURA 5: Distribuição da população da comunidade Novo Nilo, União/Piauí em relação à Religiosidade ............................................................................ 109 LISTA DE TABELAS Artigo 01 Tabela 1 – Lista das espécies utilizadas na Comunidade Novo Nilo,União,PI ... 66 LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES CDB Convenção sobre a Diversidade Biológica CEPRO Fundação Centro de Pesquisas Econômicas e Sociais do Piauí IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística CPRM Companhia de Pesquisas em Recursos Minerais OMS Organização Mundial da Saúde PNPB Programa Nacional de Produção e Uso de Biodísel PSF Programa Saúde da Família RESEX Reservas Extrativistas SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO. .................................................................................. 16 2 REVISÃO DE LITERATURA .. ............................................................... 20 2.1 Comunidades Rurais .. ........................................................................ 20 2.1.1 Saber popular em comunidades rurais ............................................. 22 2 .2 Atividades socioeconômicas e culturais associadas à conservação da biodiversidade............................................................................................. 23 2.2.1 Extrativismo vegetal ........................................................................... 23 2.2.1.1 Babaçu (Attalea speciosa Mart. Ex Spreng.) .................................. 24 2.2.1.2 Carnaúba (Copernicia prunifera (Mill.) H.E. Moore) ........................ 26 2.3 Etnobotânica .......................................................................................... 31 2.3.1 Etnobotânica em Comunidades Rurais. .............................................. 32 3 PERFIL HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DA COMUNIDADE DE NOVO NILO .......................................................................................................... 43 REFERÊNCIAS............................................................................................. 48 5 ARTIGOS ................................................................................................... 58 5.1 CONHECIMENTO TRADICIONAL NUMA COMUNIDADE RURAL DO NORDESTE BRASILEIRO 58 5.2 SOCIEDADE E CULTURA: O CASO DA COMUNIDADE RURAL NOVO NILO,UNIÃO, PIAUÍ/BRASIL. ................................................................... 96 6 CONCLUSÕES GERAIS ........................................................................... 122 APÊNDICES 124 ............................................................................................ APÊNDICE A – Espécies usadas em diversas categorias de uso na comunidade rural Novo Nilo, União, Piauí/Brasil ............................................ 125 APÊNDICE B – Aspectos socioeconômicos e culturais da Comunidade Novo Nilo, União/Piauí – Brasil ..................................................................... 126 APÊNDICE C – Aspectos socioeconômicas, culturais e religiosas da Comunidade Novo Nilo, União, Piauí/Brasil ................................................. 127 APÊNDICE D – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido .................... 128 APÊNDICE E – Formulário de entrevista ..................................................... 131 ANEXOS ....................................................................................................... 137 ANEXO A – Normas da Revista Brasileira de Biociências ........................... 138 ANEXO B – Normas da Revista Gaia Scientia ............................................. 145 16 1 INTRODUÇÃO A biodiversidade, segundo a Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB), elaborada na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992, significa a variabilidade de organismos vivos de todas as origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos, pelo seu material genético e os complexos ecológicos de que fazem parte; compreendendo ainda a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas. Ou seja, o conceito de biodiversidade representa a diversidade de vida existente no planeta (BARBIERI, 1998). O Brasil é um país de dimensões continentais com aproximadamente 8.500.000 km², possuindo cerca de 13% de toda a biota do planeta, segundo as estimativas mais conservadoras (BRANDON et al., 2005; LEWINSOHN e PRADO, 2005). Juntamente coma Indonésia, pode ser considerado o país mais rico do mundo em biodiversidade (MITTERMEIER et al., 2005). Para Joly (2010), a biodiversidade resulta de milhões de anos de evolução biológica e é o componente do sistema de suporte à vida de nosso planeta. Além do valor intrínseco de cada espécie, as interações entre estas e delas com o meio físico-químico, resultam em serviços ecossistêmicos imprescindíveis para manter a vida na Terra. Sendo assim, a ciência da biodiversidade é amplamente reconhecida como área prioritária de investigação científica, tanto nos países desenvolvidos, como naqueles em desenvolvimento. Apesar disso e do conhecimento de que toda essa biodiversidade vem sendo utilizada ao longo do tempo e que tem sido essencial para o desenvolvimento econômico, social e cultural das sociedades humanas no curso da história, as discussões realizadas diante dessa realidade são voltadas essencialmente para os vastos impactos negativos das ações humanas sobre essas riquezas e das alterações e desequilíbrios provocados pelas sociedades industrializadas, que são inegáveis. No entanto, em escala muito menor se tem discutido e estudado sobre o modo como as populações rurais utilizam, conservam e mantém essa biodiversidade (PRANCE, 1991). Para Hanazaki, Mazzeo e Souza (2006), as discussões sobre conservação biológica devem ir além das questões tradicionais, considerando 17 também toda a vasta quantidade de moradores de áreas rurais, visto que o conhecimento local pode agregar importantes informações para a conservação biológica, incluindo os aspectos ecológicos, econômicos, históricos e simbólicos, que são valores culturais que devem ser internalizados, além dos valores relacionados à utilização direta da biodiversidade. O saber que as comunidades tradicionais e rurais possuem sobre o meio ambiente, tem sido objeto de estudos de algumas áreas das ciências. Entre as ciencias que mais tem contribuído para o estudo desse conhecimento, está a Etnociência que estuda o comportamento das populações humanas sobre os processos biológicos, tentando descobrir o conhecimento humano acerca do mundo natural, as taxonomias e classificações populares (DIEGUES,1998). Entre as Etnociências, está a Etnobiologia, que segundo Posey (1987, p. 15), é essencialmente o estudo do conhecimento e das conceituações desenvolvidas por qualquer sociedade a respeito da Biologia. “Em outras palavras, é o estudo do papel da natureza no sistema de crenças e de adaptação do homem a determinados ambientes”. Para Toledo (1992), a Etnobiologia é um campo interdisciplinar em que se trabalha com as interações entre os seres humanos e os componentes vegetais, animais e microbiológicos do seu ambiente. Portanto, as pesquisas etnobiológicas podem conduzir à lógica que perpassa os pensamentos e atitudes desses povos. A Etnobiologiaapresenta vários campos que podem ser definidos, partindo da visão compartimentada da ciência sobre o mundo natural, tais como a Etnozoologia, Etnobotânica, Etnoecologia, Etnoentomologia, Etnofarmacologia, entre outras (POSEY, 1992). A Etnobotânica surge como uma ciência que oportuniza o entendimento do modo de vida, dos códigos e costumes que permeiam as relações entre o homem e a natureza, abordando os aspectos ecológicos como a biodiversidade, o manejo e valor da flora, fornecendo dados que contribuam para a elaboração de estratégias de desenvolvimento sustentável (ALBUQUERQUE, 2000). Posey (1990) destaca que os etnobotânicos necessitam de uma visão interdisciplinar, de forma que todos os fenômenos sejam analisados em seu conjunto e de forma sistêmica e complexa. Desse modo, estudos nessa perspectiva não podem estar ausentes nas discussões sobre meio ambiente. 18 Segundo Prance (1991), as comunidades rurais apresentam um conhecimento amplo da vegetação, do uso de plantas e do manejo, em algumas instâncias, do meio ambiente em que vivem. Porém, esse é um dos aspectos menos estudados pelos etnobotânicos. Na comunidade rural Novo Nilo evidencia-se uma importância cultural de sobrevivência através do uso dos recursos naturais. Diante disso, propõe-se um estudo com essa comunidade, buscando o conhecimento etnobotânico e culturais, além de levantar a realidade socioeconômica da comunidade como forma de preservar e valorizar a biodiversidade e a cultura tradicional da área, tentando resgatar o conhecimento popular, seus saberes e suas crenças, pois para Robbins, Harrington e Marreco, (1916 apud Clement, 1998) o mérito da Etnobotânica não está em reunir um conjunto de plantas, nomeá-las, identificá-las e agrupá-las em diferentes categorias, e sim em fornecer mais informações, penetrando mais profundamente no coração e na vida das pessoas. Este estudo investigou a seguinte problemática: Qual o conhecimento que a comunidade rural Novo Nilo/União tem sobre a flora local e como esse conhecimento está sendo repassado? Apresentando como objetivo geral analisar o conhecimento etnobotânico da comunidade rural Novo Nilo no município de União, visando conhecer e registrar o modo de uso e diversidade dos recursos vegetais locais. Os objetivos específicos foram norteados no sentido de Identificar as espécies botânicas utilizadas pela população dessa comunidade e suas devidas aplicabilidades distribuindo-as em categorias de uso; Levantar quais espécies da flora citadas pela comunidade são utilizadas na geração de renda; Apontar se e de que forma o saber popular sobre a flora local está sendo repassado por gênero e faixa etária, Levantar o perfil socioeconômico e cultural da comunidade e Observar as formas de extrativismo realizado. O presente trabalho foi estruturado em duas partes: a primeira correspondeàs informações gerais organizadas em tópicos de Introdução, Revisão de Literatura, Perfil histórico e geográfico da comunidade e Referências. A segunda parte segue-se em forma de Artigos Científicos, o primeiro a ser submetido à Revista Brasileira de Biociências, intitulado CONHECIMENTO TRADICIONAL NUMA COMUNIDADE RURAL DO NORDESTE BRASILEIRO e o segundo a ser submetido à Revista GAIA SCIENTIA com o título SOCIEDADE E CULTURA: O CASO DA 19 COMUNIDADE RURAL NOVO NILO. Ambos com organização baseada em normas específicas dessas. 20 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Comunidades rurais Kayser (1990) define o espaço rural como um modo particular de utilização do espaço e de vida social que apresenta uma quantidade relativamente baixa no número de habitantes e de construções, com paisagens de cobertura predominantemente vegetal; uso econômico dominante agro-silvo-pastoril; forma de vida dos habitantes caracterizada pelo pertencimento a coletividade de tamanho limitado e por sua relação particular com o espaço e identidade e representação específica, fortemente relacionada à cultura camponesa. As comunidades rurais possuem um gigantesco conhecimento sobre a natureza e uma rica cultura que vem sendo adquirida e repassada ao longo de várias gerações. De acordo com Albuquerque e Andrade (2002), estes povos possuem um vasto conhecimento e uma maneira diferente de usá-la e manejá-la, com sistemas próprios de manejo, ou seja, utilizam os recursos que a natureza os oferece de forma sustentável já que sua sobrevivência depende diretamente dela, suprindo suas necessidades com um prejuízo ambiental mínimo. No entanto, para Souza e Sanchez (2009) muitas vezes, todas essas informações são de total desconhecimento para os cientistas e para a maioria da população urbana, sendo de grande valia para se desenvolver medidas sustentáveis a partir de tais saberes, principalmente em se tratando do caos ambiental em que se vive nos dias atuais. Por outro lado, Marques (2002) afirma que o espaço rural tem passado recentemente por um conjunto de mudanças com significativo impacto sobre suas funções e conteúdo social, o que tem levado ao surgimento de uma série de estudos e pesquisas sobre o tema em vários países do mundo. Nesse sentido, é necessário um resgate da sabedoria popular, pois para Albuquerque (1999; 2005) a acumulação de informações sobre o uso de recursos naturais por populações tradicionais, tem oferecido aos cientistas modelos de uso sustentável, baseados no argumento de que essas populações sabem usar e conservar os recursos biológicos. Desta forma, os quatro elementos-chave que configuram a sustentabilidade (economia, cultura, sociedade e meio ambiente) devem envolver o 21 saber popular, sobretudo nas comunidades rurais. Já que para Vezzani (2008), o termo rural, sob a ótica da sociedade atual, deve aglutinar os aspectos socioculturais, econômicos, demográficos e físicos, entendendo-se por rural os lugares apartados dos núcleos urbanos e centros industriais, caracterizados pela baixa densidade demográfica que conservem os entornos naturais, e que, ao mesmo tempo, mantenham vivas suas tradições sociais e culturais. Segundo Marques (2002), o projeto de desenvolvimento rural adotado ao longo de décadas no país tem como principal objetivo a expansão e consolidação do agronegócio, tendo alcançado resultados positivos, sobretudo em relação ao aumento da produtividade e à geração de divisas para o país via exportação. No entanto, o autor infere que esta opção tem implicado custos sociais e ambientais crescentes devendo se elaborar uma estratégia de desenvolvimento para o campo que priorize as oportunidades de desenvolvimento social e não se restrinja a uma perspectiva estritamente econômica e setorial. Hespanhol (2007) afirma que, para que haja o desenvolvimento do campo é fundamental que o poder público atue efetivamente na zona rural de forma que assegure o acesso dessa população aos serviços básicos, estimulando o desenvolvimento sustentável das atividades econômicas desenvolvidas nesse setor, especialmente a agropecuária, além de outras atividades que possibilitem um maior crescimento econômico e melhoria da qualidade de vida de seus habitantes, sem que isso leve a um aculturamento, e sim o resgate dos valores culturais por parte daqueles que a vivenciam. Portanto, partindo-se do exposto, percebe-se que as comunidades rurais carecem de medidas estratégicas que permitam a permanência da população em seus locais de moradia, impulsionando-os a um conjunto de atividades que gerem novas ocupações que propiciem maior nível de renda às pessoas, garantindo ainda a manutenção dos aspectos culturais, que na maioria das vezes é transmitido oralmente, de geração a geração e, portanto, pode-se perder de maneira fácil e rápida. 22 2.1.1 Saber popular em comunidades rurais O saber popular ou ciência popular são os múltiplos conhecimentos produzidos por homens e mulheres, que são obtidos a partir de observações, formulação de hipóteses e generalização e de modo solidário (CHASSOT, 2000; 2003). No entanto, Villoro (1982), concebe esse conhecimento como sabedoria e destaca que ambos constituem-se em modelos ideais e dominantes de conhecer a realidade. Toledo e Barreras-Bassols (2008) complementam afirmando que a diferença entre ambos reside no fato de que o conhecimento se adquire através da capacitação e profissionalização e a sabedoria se adquire através da experiência cotidiana, da forma de viver e de ver as coisas. Acrescentam que a sabedoria é como um testemunho que se enraíza na experiência pessoal e direta com o mundo, de maneira que a sua transmissão, ao contrário do conhecimento, que se transmite de forma simples e concreta, se concebe de forma complexa preservando a riqueza e a multiplicidade de significados, aspirando a profundidade e o detalhe que a particulariza. Resgatar o saber de um povo é procurar conhecer sua identidade, que deverá ser preservada mediante o registro de relatos, pela sua memória, pois essa, como destaca Pollak (1992,p.204), é o elemento constituinte de identidade, tanto individual como coletiva, visto que ela é também fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerência de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstrução. Para Halbwachs (2004) a memória coletiva é o processo social de reconstrução do passado vivido e experimentado por um determinado grupo, comunidade ou sociedade. Reconhecendo a importância desse passado, a Legislação Constitucional Brasileira de 1988, assim como a de vários países de formação pluriética, destaca o direito ao território tradicional, à sociobiodiversidade, ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, à biodiversidade, à diferença cultural e ao patrimônio cultural. Visto que, é através da transmissão e das trocas dos saberes e conhecimentos que as visões de mundo são construídas, instituições perpetuadas, práticas habituais estabelecidas e papéis sociais definidos. Desta maneira, o saber local e sua transmissão moldam a sociedade e a cultura, podendo gerar base importante de manejo ambiental local (RUDDLE, 2000). Para Geertz (1997), 23 entende-se por saber local aquele dotado de um corpus formado por atributos valorativos e provido de caráter sistemático de transmissão cultural. Portanto, entendendo-se cultura como um conjunto de ideias, hábitos e crenças que dá forma às ações das pessoas e à sua produção de artefatos materiais, incluindo paisagem e ambiente construído (McDOWEL, 1996, p. 161), percebe-se a importância desse resgate nas comunidades rurais, valorizando a transmissão de crenças e técnicas de uma geração para outra. Na busca desse saber é importante valorizar não apenas as técnicas, mas conhecer o patrimônio intangível, pois Nessa nova categoria estão lugares, festas, religiões, formas de medicina popular, música, dança, culinária, técnica, etc. Como sugere o próprio termo, a ênfase recai menos nos aspectos materiais e mais nos aspectos ideais e valorativos dessas formas de vida. Diferentemente das concepções tradicionais, não se propõe o tombamento dos bens listados nesse patrimônio. A proposta é no sentido de "registrar" essas práticas e representações e de fazer um acompanhamento para verificar a permanência e suas transformações (GONÇALVES, 2003, p.24). Souza (2007, p. 103) destaca que as culturas e os saberes desenvolvidos de modo tradicional pelos homens podem contribuir para a manutenção da biodiversidade dos ecossistemas, conciliando suas práticas e seu conhecimento sobre o ambiente para fins de conservação. Pelo exposto, e considerando que as comunidades detêm uma identidade própria, é de fundamental importância realizar o inventário dos seus conhecimentos, usos e práticas, visto que, estas são depositárias de parte considerável do saber sobre a diversidade atualmente conhecida e carregam em si um patrimônio cultural inigualável. 2.2 Atividades socioeconômicas e culturais associadas à conservação da biodiversidade 2.2.1 Extrativismo vegetal O extrativismo é definido por Rêgo (2006, p. 3) como “a atividade de coleta de recursos naturais para obter produtos minerais, animais ou vegetais”. 24 Caracterizando-se como a forma mais antiga das atividades humanas, como destaca Hironaka (2000) “no início dos tempos, certamente, os povos se mantiveram graças a essa prática, acompanhando o ritmo da natureza”. No entanto, tal atividade apresenta-se, muitas vezes, como opção inviável para o desenvolvimento de alguns territórios nacionais. Fato verificado em decorrência do processo histórico de degradação dos recursos naturais ocorrido em todo o mundo, sobretudo em países como o Brasil, onde se presenciou um intenso processo de destruição dos recursos naturais a partir de práticas extrativas sem manejo. Drummond (1996) salienta que a coleta de produtos vegetais configura como um dos três exemplos de clássicas atividades extrativas de baixa tecnologia, as quais sustentaram várias sociedades humanas por milhares de anos. Nesse sentido, essa técnica não pode ser analisada somente pelo seu valor econômico, mas principalmente pela importância social e ambiental que tem desempenhado ao longo da história da humanidade. Carvalho (2004) destaca que para agricultores familiares, por exemplo, cuja lógica da diversificação das estratégias produtivas e comerciais é mais vantajosa, o aproveitamento dos recursos naturais entrepõe-se como atividade complementar viável, tanto para o autoconsumo, quanto para a geração de renda. 2.2.1.1 Babaçu (Attalea speciosa Mart. Ex Spreng.) Palmeira brasileira, o babaçu, apresenta caule solitário, colunar, de 10-30 m de altura e 30-60 cm de diâmetro (LORENZI, 2004). Suas folhas podem chegar até 8 m de comprimento (SANTOS,1979). Os frutos apresentam três partes bem distintas: epicarpo (camada mais externa e bastante rija), mesocarpo (rico em amido) e endocarpo (rijo), contendo de 3 a 4 amêndoas (VIVACQUA FILHO, 1967 apud TEIXEIRA, 2002). Santos (1979) afirma que, “o babaçu é uma planta nativa do Brasil”, disseminada por quase todo o interior do país, desde o estado do Amazonas até o estado de São Paulo. No entanto, Lorenzi (2004) assegura que é no Nordeste brasileiro, sobretudo nos estados do Maranhão e Piauí, onde se localizam suas principais ocorrências. 25 No início do século XX era conhecido e valorizado apenas pelos produtores que residiam nas comunidades rurais do território brasileiro, porém, de acordo com Queiroz (2006), entre os anos de 1911 a 1916 ocorreram as primeiras exportações para a Alemanha, em função da escassez de óleos vegetais no mercado internacional, durante a Primeira Guerra Mundial. Entre as décadas de 60 e 80 constitui-se o ápice da economia baseada na extração babaçueira. De acordo com Teixeira (2003), nos estados nordestinos estabeleceram–se indústrias de extração de óleo láurico para exportação para outros Estados brasileiros, atendendo uma demanda, tanto no setor alimentício, quanto na indústria de cosméticos. No final da década de 1940, o Piauí apresentou na produção extrativa do babaçu um percentual de 19,2% da produção brasileira e, em 1947, apresentou um percentual de 42,6% da produção nordestina, como afirma Mendes (2003). E em 1977, a produção atingiu 19.284 t conforme Carvalho (2007). Porém, de acordo com Silva (2011), sua participação, no cenário nacional, vem diminuindo significativamente. Tal declínio ocorreu devido a vários fatores, sobretudo com a introdução e crescimento da produção da soja. No entanto, apesar do declínio comercial, é inegável a importância desse recurso para muitas comunidades, de maneira que os moradores das áreas rurais próximas a babaçuais desde as populações indígenas, até as populações atuais, fazem uso de todos os seus elementos: folhas para cobertura de casas, tronco para construções, fruto para fornecimento de amido, óleo e lenha (VIVACQUA FILHO, 1967 apud TEIXEIRA, 2002). Para Teixeira (2002) e Souza et al. (2009) esta palmácea foi utilizada de forma secular no território brasileiro, como uma fonte de alimentos, material para construção de casas e fonte de energia. Além dessas utilidades, merecem destaque ainda outros setores, como: industriais - na fabricação de cosméticos, obtenção de óleo comestível, margarinas, saboarias, velas, carvão, etanol, furfural, ácido acético, metanol, alcatrão, celulose, papel e álcool anidro (MIRANDA, 2001); artesanatos para confecção de esteiras, abanos, cofos (cestos), chapéus, peneiras e outros objetos (PARENTE, 2003) e na etnofarmacologia - com o uso de produtos para o tratamento da gastrite e úlcera faz parte do conhecimento popular acumulado ao longo dos séculos (ANDRADE, 1986). Silva e Parente (2001) demonstraram atividades anti-inflamatórias e Souza et al. (2010) mostra que, em estudos recentes 68% das quebradeiras de coco usam produtos derivados do babaçu para combater doenças. 26 Não obstante a todas essas potencialidades, conforme Afonso (2008) o babaçu apresenta um potencial promissor devido ainda, ao crescente uso de biodiesel no mundo inteiro. No Brasil, foi aprovado pelo governo federal em 2004, o Programa Nacional de Produção e Uso de Biodíesel (PNPB), que tem como objetivo a implementação de forma sustentável da produção de biodiesel. Aliado a isso foi aprovada também em 13 de janeiro de 2005, a lei 11.097 que estabelece a obrigatoriedade da adição de um percentual de biodiesel nos combustíveis em todo país, o que certamente aumentará a demanda por óleos vegetais. 2.2.1.2 Carnaúba (Copernicia prunifera (Mill.) H.E.Moore) A carnaúba é uma palmeira que atinge 10 a15 metros de altura e 15 a 25 cm de diâmetro (HENDERSON et al., 1995). Apresenta folhas longas pecioladas, dispostas no alto da palmeira que se abrem em limbo orbicular ou suborbicular, de cor verde-azuladas e amplas, revestidas externamente por uma cobertura cerífera (BRAGA, 2001). Conforme Carvalho (1982), as flores são extremamente pequenas, campanuladas, dispostas em espádice, paniculada, até 2 m de comprimento, protegidas por espata tubulosa, seca, membranácea. Apresenta fruto em forma de uma baga arredondada em torno de dois centímetros de comprimento, glabra, esverdeada, passando a roxo-escura ou quase preta na maturação, contendo as seguintes estruturas: epicarpo, mesocarpo (carnoso e fibroso) e endocarpo, ligeiramente fino, lignificado, formato ovóide, impermeável e de cor marrom, que envolve o albúmen branco de sabor adocicado e adstringente (BAYAMA, 1958). Kitz (1958), afirma que a semente de carnaúba apresenta dormência do tipo mecânica, e as raízes são compridas, finas, pardacento-avermelhadas por fora, acinzentadas e ligeiramente fibrosas por dentro. Para Gomes (1945) e Pinheiro (1986), a propagação da carnaubeira é feita, principalmente, em seu habitat natural por via sexuada, ou seja, através das sementes. A carnaubeira é uma espécie nativa do Brasil, encontrada especialmente no semiárido do Nordeste brasileiro. Os estados do Maranhão, Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte são seus maiores produtores. No Piauí, as principais cidades de ocorrência de carnaubais são: Campo Maior, Piripiri, Piracuruca, Picos, Pedro II e Parnaíba (IBGE, 2011). Tendo constituído seu auge na economia piauiense durante a primeira metade do século XX (QUEIROZ, 1993), foi durante a primeira guerra 27 mundial, entre 1914 e 1918, que seu preço subiu vertiginosamente, ficando conhecido nessa época como ouro verde (TAVARES, 2003), sendo o Piauí responsável por aproximadamente 53% da produção brasileira no ano de 2006. A carnaubeira além de apresentar-se com notável importância para o equilíbrio da biodiversidade na sua região de ocorrência (d`ALVA, 2004), apresentase como forte alternativa socioeconômica, pois tem papel fundamental no sustento de milhares de famílias que dependem do seu extrativismo, em função de suas variadas aplicações, tornando-se uma importante alternativa na composição da renda familiar das comunidades rurais. Em decorrência disso, recebeu variadas denominações como "árvore da vida”, designação dada pelo naturalista Humboldt, “ouro verde” (TAVARES, 2003) “árvore da providência" (BEZERRA, 2005), e “boi vegetal” (RIBEIRO, 2007). De acordo com Alves e Coelho (2006), a carnaubeira vem sendo amplamente utilizada no paisagismo das cidades nordestinas (praças e jardins) e na arborização urbana. No setor da construção civil, são utilizados o caule e as folhas. Estas últimas também aproveitadas para fins artesanais, na confecção de tarrafas, escovas, cordas, chapéus, bolsas, vassouras, redes e esteiras. Utilizada, ainda, como adubo orgânico quando adicionado ao solo para produção de mudas, melhorando a estrutura e a fertilidade do solo (ALVES; COÊLHO, 2006), na indústria de papel (CARVALHO, 1982) e de variados produtos industriais como graxas para sapatos, cera para assoalho, discos, cera polidora para móveis, pisos e carro, vernizes, filmes fotográficos, adesivos, embalagens plásticas, cápsulas de medicamentos, papel carbono, giz de cera, cola, tintas, esmaltes, batons, chipes para uso na informática, goma de mascar, doce, refrigerantes, dentre outros (RIBEIRO, 2007). Destaca-se ainda, a área da nutrição, pois os frutos são utilizados tanto na alimentação animal como humana, a área medicinal, com utilização por indígenas e caboclos tanto para a cura de feridas, tratamento de úlceras, erupções cutâneas e manifestações secundárias da sífilis, quanto no tratamento do reumatismo e artritismo (Carvalho, 1982), e em estudos realizados recentemente por Ayres et al. (2008), foi investigada a atividade antibacteriana de extratos etanólicos dessa palmácea, obtendo-se resultados promissores no controle de bactérias, incluindo espécies multidrogas resistentes. 28 De acordo com Bezerra (2005), a carnaúba tem importante valor social no cenário nordestino, pois se estima que mais de 200 mil trabalhadores rurais estejam envolvidos economicamente com a extração de cera durante o segundo semestre do ano, época na qual a ausência de chuvas inviabiliza as atividades agrícolas e as fontes de renda são mais escassas. E apenas para o Piauí, a cadeia produtiva da carnaúba gera ocupação para mais de 50 mil famílias de baixa renda (LIRA, 2004). 29 FIGURA 1: Atividades socioeconômicas desenvolvidas com extrativismo das espécies babaçu, carnaúba e tucum na comunidade Novo Nilo, União/PI - Brasil: A. Carnaubal; B. Babaçual; C. Tucum; D. Extração da fibra de carnaúba (Copernicia prunifera (Mill.) H. E. Moore); E, F, G, H e I. Produção artesanal; J. Cerca de talo e cobertura de palha de babaçu (Attalea speciosa Mart. ex Spreng); K. Cofo de palha de babaçu; L. Fruto do babaçu para extração de leite e azeite. 30 FIGURA 2: Etapas da produção de uma vassoura manufaturada de babaçu (Attalea speciosa Mart. ex Spreng) da comunidade Novo Nilo, União/PI: A. Palmeira Babçu; B, C – Extração da palhal; D, E e F - Secagem. G, H, I e J – Produção final; K e L – Vassoura pronta. 31 2.3 Etnobotânica De acordo com Sampaio e Gamarra Rojas (2002) durante toda sua história, a humanidade tem buscado nas espécies vegetais os recursos necessários à sua sobrevivência, desenvolvendo práticas e técnicas cada vez mais sofisticadas para a manipulação desses recursos. A obtenção destes métodos de uso e aproveitamento desses recursos florestais realizados por essas pessoas, e repassadas durante várias gerações, tem despertado o interesse da comunidade científica em conhecê-los. Diante disso, surge no final do século XIX, como uma combinação da Botânica com a Antropologia, a Etnobotânica, que faz, segundo Davis (1995) não apenas as interações entre populações humanas e os recursos vegetais, mas está presente em quase toda a história evolutiva do homem, defendendo que a partir dessa perspectiva, a Etnobotânica contemporânea procura agregar conhecimentos nas áreas de uso e manejo de plantas, agroflorestas e manejo das paisagens, antropologia cognitiva, domesticação de plantas, interpretações iconográficas, aspectos simbólicos de preparações psicoativas, etc. Para Albuquerque (2002), o termo foi proposto pelo norte-americano J.W. Harshberger com a publicação, em 1896, do artigo intitulado The purposes of Ethnobotany, afirmando que a Etnobotânica abrange o “estudo das plantas utilizadas pelos povos primitivos ou aborígenes”. No entanto, Prance (1987) considera que, a partir dos trabalhos de Carl Linnaeus (1745), inicia-se a história da Etnobotânica, pois em seus diários de viagem já havia dados referentes às culturas visitadas, os costumes de seus habitantes e modo de utilização de plantas. Alcorn (1995) define Etnobotânica como “o estudo das inter-relações das sociedades humanas com a natureza” demonstrando a característica interdisciplinar e integradora do tema, quando destaca as diversas áreas de estudos que abrange o mesmo, já que pode associar os aspectos culturais, econômicos e ambientais. A autora destaca ainda, que essa ciência apresenta como principais objetivos a documentação de fatos sobre a utilização e o manejo de plantas, a definição, a descrição e a investigação de processos relacionados a este uso e manejo. 32 As pesquisas etnobotânicas têm crescido consideravelmente em muitas partes do mundo, em especial na América Latina, e particularmente em países como o México, a Colômbia e o Brasil (HAMILTON et al., 2003). No entanto, os temas predominantemente abordados tratam exclusivamente de investigações sobre plantas medicinais e em menor quantidade, as demais publicações trazem contribuições teóricase metodológicas para a área e/ou abordam diversos aspectos das relações entre pessoas e plantas, incluindo investigações sobre os aspectos culturais (OLIVEIRA et al., 2009). Dentre as tendências verificadas nesses estudos estão a crescente valorização de populações locais como parceiras (BERKES et al. 1995; FOLKE, BERKES 1998; TUXILL e NABHAN 2001; HAMILTON et al. 2003; SEIXAS 2005) 2.3.1 Etnobotânica em Comunidades Rurais Posey (1987) já citava que as populações tradicionais desenvolveram, pela observação e experimentação, extenso e minucioso conhecimento dos processos naturais, porém este saber foi por muito tempo desvalorizado pelos cientistas, que negavam outras formas ou sistemas de conhecimento. A valorização do saber tradicional por parte dos etnobiólogos tem produzido alternativas para os paradigmas correntes, com efeitos benéficos para o conhecimento científicoacadêmico. Para Sachs (1994, p. 39) “a promoção do meio de vida sustentável deve se tornar parte da linha mestra da estratégia de desenvolvimento e não pode ter sucesso sem a participação das comunidades locais”. Visto que,quando o conhecimento desses atores locais não é envolvido no processo, torna-se difícil, ou impossível e mais dispendioso para os planejadores, identificar e compreender os valores ecológico, social, cultural, econômico e espiritual dos vários componentes do ambiente, dificultando os processos de tomadas de decisão (SALLENAVE, 1994). Daniels e Vencatesan (1995) destacam que quando conhecimento ecológico tradicional e conhecimento científico são usados apropriadamente e de forma complementar, esses sistemas de conhecimento fornecem uma ferramenta poderosa para manejar recursos naturais, favorecendo a realização do tão sonhado desenvolvimento sustentável, assim corrobora Bergamasco e Antuniassi (1998) ao 33 afirmar que, desconsiderar a diversidade cultural significa ignorar possibilidades múltiplas no momento de se definir novas estratégias de desenvolvimento. O conhecimento científico isoladamente, não tem respostas prontas e eficazes para os problemas do mundo. Somente através de uma ciência com consciência, tanto dos caracteres físicos e biológicos dos fenômenos humanos, quanto da sua inscrição em uma dada cultura, sociedade e história (MORIN, 1999), será possível, através da associação dos conhecimentos populares e científicos, aformação de uma sociedade mais humana. Valorizando, portanto, o conhecimento ecológico local para manutenção dos ecossistemas, promovendo discussões sobre demandas e saberes tradicionais do sistema comunitário de gestão dos recursos naturais, gerando subsídio para a proposição de políticas públicas que possam mitigar a dissonância entre a legislação e os entraves que prejudicam a reprodução social das comunidades (DIEGUES, 2000). Conforme Diegues (2000), as comunidades tradicionais (indígenas, extrativistas, camponesas, de pescadores artesanais, etc.) apresentam grande dependência dos recursos naturais. Considera, ainda, que através de sua estrutura simbólica, dos sistemas de manejo desenvolvidos ao longo do tempo e, muitas vezes, até seu isolamento, contribuem para que elas possam ser parceiras necessárias aos esforços de conservação. A Etnobotânica, portanto, estende seu campo não apenas para o estudo das populações tradicionais, mas também das sociedades industriais, no relacionamento expresso entre as populações humanas e o ambiente botânico, surgindo como um estudo interdisciplinar, uma vez que situa sua fronteira entre a Botânica e a Antropologia cultural (ALBUQUERQUE, 2002). Albuquerque e Chiappeta (2004) destacam que atualmente tem-se acrescentado o termo conhecimento tradicional às discussões sobre sustentabilidade e desenvolvimento sustentável, havendo a necessidade de se investir em pesquisas direcionadas para abordagens que integrem todas essas ideias. Paralelamente, deve-se ressaltar, no cenário científico, o papel das populações locais como de fundamental importância para o manejo dos recursos naturais. Destacando a Etnobotânica como uma ciência promissora no fortalecimento de subsídios para a análise da sustentabilidade dos recursos naturais, não só com a investigação entre a relação ser humano/planta, mas também com o levantamento e registro das estratégias e conhecimentos dos povos locais, 34 procurando usar essa informação em benefício dos mesmos como ferramenta de tomada de decisões. Portanto, para Albuquerque e Lucena (2005) o conhecimento popular sobre o uso das espécies vegetais nativas pode contribuir para a conservação de ecossistemas no que diz respeito à adoção de práticas de manejo, além de contribuir para o resgate e preservação da cultura. O conhecimento etnobotânico corrobora esta afirmativa porque reflete as interações entre as pessoas e os recursos vegetais disponíveis no ambiente, sejam em função da abundância e/ou aparência. Para Albuquerque (1999; 2005) a acumulação de informações sobre o uso de recursos naturais por populações tradicionais, tem oferecido aos cientistas modelos de uso sustentável, baseados no argumento de que essas populações sabem usar e conservar os recursos biológicos. Sendo assim, considera que a Etnobotânica pode ajudarno entendimento de como as pessoas se relacionam com as plantas e quais os relacionamentos produzidos nos diversos sistemas culturais, auxiliando ainda, na percepção do que as plantas expressam sobre a sociedade que produziu esse conhecimento. Na última década, tanto na região Nordeste, como em nível das demais regiões brasileiras, muitos trabalhos científicos foram realizados em comunidades e merecem destaque, sobretudo pela importância que representam para a Etnobotânica. Fonseca-Kruel e Peixoto (2004) estudaram as espécies vegetais usadas na faixa terrestre da Reserva Extrativista Marinha de Arraial do Cabo/RJ, associando o conhecimento etnobotânico às tradições locais, onde catalogaram 68 espécies em 444 citações de uso. Dentre as famílias mais representativas em número de espécies destacaram-se Myrtaceae (9), Asteraceae/Cactaceae (4) e Anacardiaceae/Leguminosae (3); as demais apresentaram apenas de uma a duas espécies. Identificaram nesse trabalho as seguintes categorias de uso: alimentar, medicinal, tecnológica, lenha, construção e ornamental. De acordo com as autoras, os dados obtidos possibilitarão a formulação de estratégias de uso sustentável dos recursos naturais, considerando a percepção ambiental da população, baseado nos sistemas cognitivos desenvolvidos ao longo do convívio do homem com a natureza. Pasaet al. (2005) realizaram levantamento etnobotânico na comunidade de Conceição-Açu/MT e identificaram as unidades de paisagem: quintais, roças e 35 matas de galeria; o número total de espécies utilizadas foi de 180. Dessas, 86 espécies ocorrem nos quintais das residências, pertencentes a 43 famílias, a maioria cultivada e utilizada como alimento (48,1%) e comoremédio (44,5%). Nas roças, os principais cultivos encontrados foram: Manihot esculenta L. (100%), Carica papaya L. (76,2%), Musa paradisíaca L. (71,4%) e Saccharum officinarum L. (57,1%). Na mata de galeria destacou-se a categoria medicinal (65%). Os resultados demonstraram que a população possui vasto conhecimento das plantas e de suas propriedades de cura. Hanazaki, Sousa e Rodrigues (2006) realizaram pesquisas em comunidades rurais localizadas no entorno do Parque Estadual Carlos Botelho/SP, objetivando levantar o uso dos recursos vegetais em uma região rural próxima a uma área de conservação. Verificaram que atividades econômicas principais são o cultivo de banana, o trabalho em fazendas de gado e a extração de palmito. Mencionaram 248 etnoespécies, correspondendo a mais de 200 espécies botânicas, que foram agrupadas em quatro habitats: floresta bem preservada; floresta perturbada, em estágios sucessionais avançados; ambientes recentemente perturbados; áreas cultivadas e quintais. Destacaram nesse estudo que no habitat floresta encontrou-se maior biodiversidade e que as espécies comuns ocorrem em todos os tipos de habitats. Amaral e Guarim Neto (2007) realizaram estudo etnobotânico na comunidade Cascavel, município de Jangada/MT. Constataram que a comunidade é constituída de pequenos proprietários de terras, os quais desenvolvem como atividades econômicas, e apenas para a subsistência a pecuária e a agricultura. A vegetação predominante é Savana Arbórea Aberta (Campo Cerrado). As etnocategorias verificadas foram: medicinal, alimentícia, artesanal, madeireira, repelente, mística, ornamentação e outros. Das 111 espécies vegetais, pertencentes a 97 gêneros e 48 famílias botânicas, asmais representativa foram Asteraceae, com 11% das citações e Lamiaceae 5%. Seguidas das famílias Arecaceae, Bignoniaceae, Fabaceae, Lamiaceae, Mimosaceae, Myrtaceae e Rubiaceae, que apresentaram 4% do total das espécies citadas. Guarim Neto e Maciel (2008) desenvolveram estudos sobre os saberes locais em Juruena/MT, onde registraram a relação do ser humano com os recursos vegetais, considerando aspectos culturais, sociais e biológicos. Destacaram o uso de 14 categorias, das quais, as mais citadas foram a medicinal e a comestível. 36 Várias espécies foram citadas também para o uso artesanal, dentre elas, muitas para a fabricação de entalhes, portas, quadros e utensílios domésticos; e algumas para confecção de adornos, como colares, brincos e cintos. Na área do Núcleo Santa Virginia, Parque Estadual da Serra do Mar (bairros Puruba e Guaricanga) e nos arredores (bairro Vargem Grande)/SP, região de Mata Atlântica, Pilla e Amorozo (2009) realizaram um inventário das plantas alimentícias cultivadas e coletadas da vegetação nativa e ruderal. Foram levantadas 146 espécies botânicas, distribuídas em 43 famílias, sendo as mais representativas Solanaceae e Cucurbitaceae. Os dois grupos de bairros apresentaram uma grande similaridade de citação de plantas alimentares e cerca de 17% das plantas citadas são nativas da Mata Atlântica , havendo uma significativa riqueza de espécies e de variedades cultivadas nos quintais e nas roças. As comunidades rurais se mostraram conservadoras dos seus recursos florísticos, pois foram identificadas 96 etnovariedades para 12 espécies botânicas e a maioria delas mantida nas comunidades. Silva et al. (2004) realizaram um estudo na Comunidade Gatos, zona rural do município de São Mamede /PB, com espécies forrageiras da Caatinga, como: mata-pasto (Senna obtusifolia L.), malva-branca (Cassia uniflora Mill.), maniçoba (Manihot pseudoglaziovii Pax& K. Hoffm.) e favela (Cnidoscolus phyllacanthus (Müll. Arg.) Pax& L. Hoffm considerando a grande disponibilidade no inverno e a carência das mesmas durante o período seco, grau de palatabilidade, além do significativo valor nutricional. Visando otimizar técnicas de conservação de forragens nativas de forma sustentável e utilização desses recursos para melhoria dos sistemas produtivos. Concluíram que nessa comunidade a principal fonte de renda é a ovinocaprinocultura, seguida da agricultura familiar e o artesanato. Oliveira (2005) realizou um levantamento etnobotânico na comunidade de Riachão de Malhada de Pedra, Distrito de Malhada de Pedra, Município de Caruaru/PE e verificou que de todas as plantas reportadas, 21 espécies lenhosas, pertencentes a 12 famílias botânicas, registradas no inventário florestal, foram mencionadas por suas atribuições medicinais, destacando-se: a aroeira Myracrodruon urundeuva (Engl.) Fr. All.; o angico Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan,; o juazeiro (Ziziphus joazeiro Mart.) e a catingueira (Caesalpinia pyramidalis Tul.). Verificou ainda, que das plantas medicinais localmente disponíveis, 76% fornecem estruturas perenes (cascas, entrecascas e raízes) para uso medicinal, e 37 dos 24% restantes são obtidas estruturas não perenes (folhas, flores e frutos). Destacando que desse conjunto, a maior pressão está sobre as cascas do caule (76% das espécies), largamente usadas por estarem disponíveis por todo o ano. Freitas e Rodrigues (2006) desenvolveram no município de Madre de Deus/BA, um estudo de plantas, constatando que estas se encontram distribuído em 17 famílias e 28 espécies. As famílias mais representativas em número de espécies foram Labiatae (4), Euphorbiaceae e Myrtaceae (3). As demais apresentaram apenas uma ou duas espécies. Pelos resultados obtidos no estudo, o uso de plantas medicinais pela comunidade pesquisada pode ser considerado importante, pois reúne 28 espécies indicadas para 47 usos terapêuticos, com destaque para as folhas na utilização do preparo de 60,7% (17 espécies) dos remédios caseiros. As flores aparecem em seguida, com 14,3% (4 espécies); 10,7% (3 espécies) referemse aos frutos; 7,1% (2 espécies) correspondem à planta toda; e 3,6% (uma única espécie cada) dos remédios caseiros utilizam as raízes e cascas. Os autores chamam atenção para os riscos com o manuseio e o uso descuidado de plantas tóxicas já que inúmeras delas utilizadas na medicina popular apresentam substâncias com acentuado nível de toxicidade. Monteles e Pinheiro (2007) realizaram estudo etnobotânico no Quilombo do Sangrador, município de Presidente Juscelino/MA, identificando 121 espécies vegetais, distribuídas em 56 famílias e 101 gêneros. As famílias mais representativas, em ordem decrescente, foram: Lamiaceae, Rutaceae, Asteraceae, Leguminosae e Euphorbiaceae. Seguindo essa ordem, os hábitos herbáceo, arbóreo, arbustivo, das lianas e palmeiras foram representados. As folhas, cascas e látex foram às partes vegetais mais utilizadas nos medicamentos locais e quanto às indicações de uso das espécies, a categoria males e estados de saúde, associados ao aparelho respiratório e digestivo foram as mais citadas. Os autores consideraram nesse estudo que, a terapêutica local é consequência de um sincretismo de práticas africanas influenciadas por práticas indígenas. Albuquerque (2012) realizou um estudo em Igarassu/PE, listando 209 etnoespécies, onde 151 foram identificadas ao nível de espécie e 21 apenas para o nível de gênero. As plantas foram distribuídas em 74 famílias, e a maioria das famílias (66%) foram representados por até duas espécies. As famílias mais representadas foram Lamiaceae (10 espécies); Caesalpiniaceae e Curcubitaceae (8); e Asteraceae, Euphorbiaceae e Mimosaceae (5). O estudo mostrou alta 38 diversidade no conhecimento de plantas medicinais, com resultados significativos para as espécies previstas para cuidados básicos de saúde, concluindo que a aceitação da medicina popular e o acesso limitado aos serviços públicos de saúde na comunidade podem ser fatores que contribuem para o conhecimento de plantas medicinais em práticas médicas locais. Com relação à influência do gênero e idade sobre o conhecimento dessas espécies, o estudo mostrou que as mulheres tinham maior conhecimento quando comparadas aos homens e que os jovens informantes tinham menos conhecimento de plantas medicinais, quando comparados aos mais velhos, que podem ser atribuídos à falta de interesse na aprendizagem, que são cada vez mais influenciadas pela modernização. Esta pesquisa mostrou que estudos voltados para especialistas podem gerar informações úteis, com um nível satisfatório de confiabilidade. No entanto, estudos com o objetivo de reunir essas informações em maior detalhe deve idealmente envolver outros membros da comunidade. O Piauí apresenta atualmente um número considerável de pesquisas etnobotânicas realizadas na última década, e que também merecem grande destaque no cenário brasileiro, por apresentarem grande importância para os estudos etnobotânicos nacionais. Franco e Barros (2006) realizaram uma pesquisa no Quilombo Olho D’Água dos Pires, e verificaram que, das 33 famílias entrevistadas nessa comunidade, apenas nove membros possuem o saber do uso e propriedades das plantas para diversos fins. Identificaram 177 etnoespécies, pertencentes a 58 famílias botânicas, sendo agrupadas em 12 categorias de uso, destacando-se pelo maior número de espécies citadas, a medicinal, seguida da categoria alimentar e desdobramento em madeira. A importância dos recursos vegetais para sobrevivência biológica dos povos quilombolas, assim como o conhecimento que a comunidade detém sobre o ambiente em que vive foi destacado pelas autoras. Na Comunidade Quilombola Olho D’ Água dos Pires, em Esperantina, Franco, Barros e Araújo (2007) levantaram 86 etnoespécies da vegetação de Cerrado, e constataram que as famílias Leguminosae, Euphorbiaceae, Myrtaceae e Arecaceaeforam as mais representativas em número de espécies. Verificaram ainda, que as categorias de uso mais citadas foram as medicinal, madeireira e alimentação, e observaram que 65% das espécies estão inclusas em apenas uma categoria de uso. 39 Na Comunidade Quilombola dos Macacos, em São Miguel do Tapuio, localizada na zona rural em uma área de transição, onde predomina a caatinga, com elementos de cerrado e mata semidecídua, Vieira et al. (2008) realizaram um estudo etnobotânico com o objetivo de resgatar o conhecimento tradicional existente. Identificaram 225 etnoespécies, distribuídas em 13 categorias de uso: medicinal, madeireira, forrageira, produção de energia, limpeza-higiene, melífera, ornamental, artesanal e fibras, alucinógena, alimentícia, mágico-religiosa, tóxicas e utensílios. As categorias que mais se destacaram em número de espécies foram: medicinal (73) e forrageira (62) e verificaram que a espécie Copernicia prunifera (Mill.) H. E. Moore (carnaúba) é considerada a mais versátil, estando incluída em seis categorias de uso. Silva (2010) pesquisou as comunidades Resolvido, Pau-Arrastado e Salinas no município de Campo Maior onde evidenciou um total de 212 espécies que foram referidas, identificadas e distribuídas em 165 gêneros e 69 famílias botânicas. As famílias mais representativas em número de espécies foram: Leguminosae (16%), Apocynaceae, Euphorbiaceae e Lamiaceae (4,7%) e Poaceae (4,2%). A autora mencionou que devido as dificuldades ao acesso de informações, localização geográfica e de tráfego, a primeira comunidade apresenta muitas de suas características originais conservadas. Enquanto que nas outras comunidades os moradores têm absorvido com mais intensidade os hábitos urbanos e esse processo vem ocorrendo de forma mais acelerada, apesar de ainda manterem algumas práticas bastante disseminadas. Verificou ainda que a principal atividade econômica da comunidade Resolvido é a produção de vassouras de palha de carnaúba (Copernicia prunifera (Mill.) H. E. Moore), enquanto que, nas comunidades Pau-Arrastado e Salinas é a agricultura familiar e a pecuária, principalmente a caprinocultura. Oliveira et al. (2010), verificaram em comunidades rurais situadas em Oeiras, que as atividades desenvolvidas pelas famíliascentraram-se na agricultura de subsistênciae que das 167 espécies empregadas como fitoterápicos. Estas foram distribuídas em 143 gêneros e 59 famílias, das quais as mais representativas em número de espécies foram Leguminosae (28), seguida por Euphorbiaceae (18), Lamiaceae, Solanaceae (8), Anacardiaceae (7), Cucurbitaceae, Malvaceae, Poaceae (6), Malpighiaceae, Bignoniaceae (5), Arecaceae, Boraginaceae, Cactaceae, Combretaceae e Verbenaceae (4). Constatou ainda que a maioria das 40 espécies utilizadas como medicinais pertencem à vegetação nativa (65,86%) e que as espécies cultivadas para esse fim (32,33%) são encontradas principalmente nos quintais, nas proximidades das residências e noslocais de cultivo. Ressaltou ainda que a folha é a parte do vegetal mais utilizada na medicina caseira local, representando 31,5% dos casos, para o tratamento de todas as doenças citadas e a forma de preparo mais utilizada foi a decocção (32,2%). Os autores destacam ainda, que o estudo do emprego popular de plantas medicinais é ferramenta importante na descoberta de novos fármacos. Sousa et al. (2012), realizou um levantamento etnobotânico entre os pescadores artesanais das comunidades de Barra Grande e Morro da Mariana, localizadas na APA Delta do Parnaíba. Um total de 413 espécies, distribuídas em 156 famílias botânicas foram citados pelos informantes. Destes, 65 espécies foram exclusivamente mencionadas por informantes de Barra Grande, 74 espécies foram citadas exclusivamente por informantes do Morro da Mariana, e 274 foram mencionados em ambos as comunidades. As famílias botânicas que apresentaram maior número de espécies em Barra Grande e Morro da Mariana foram: Euphorbiaceae (13 em ambas comunidades) e Poaceae (9 e 14, respectivamente). A autora concluiu ainda, que as plantas utilizadas na alimentacão, construção, em artefato de pesca e artesanato e para fins medicinais apresentaram maior porcentagem de citações de uso, demonstrando que os pescadores conhecem e usam as espécies mais necessárias à sobrevivência e aquelas que possuem características específicas para aplicação na atividade pesqueira. Com relação à riqueza cultural e etnobotânica dos pescadores artesanais investigados, a autora destaca a importância de ressaltar que este conhecimento deve ser considerado na conservação biológica local, pela comunidade e entidades responsáveis pela gestão da área, no sentido de incentivar a prática de atividades sustentáveis, perpetuando o repertório etnobotânico e a cultura dos pescadores artesanais. Chaves e Barros (2012) realizou na zona rural do município de Cocal um levantamento da diversidade e uso de recursos medicinais obtendo como resultado a identificação de 76 espécies, distribuídas em 61 gêneros e 36 famílias. Destaca que apresentou maior número de espécies citadas foram Leguminosae com 22 (28,9%), seguidapor Euphorbiaceae com 6 (7,8%), e Solanaceae 4 (5,2%). Os gêneros Croton L. e Hymenaea L. com quatro espécies cada somaram 8 (10,5%) do total de espécies. As espécies que mais se destacaram em indicações de uso 41 medicinal no carrasco foram Ximenia americana com 14 (5,9%), Tabebuia impetiginosa com 9 (3,9%) e Anacardium occidentale com 7 (2,9%). A autora cita que as espécies que mais se destacaram em indicações de uso medicinal no carrasco foram Ximenia americana com 14 (5,9%), Tabebuia impetiginosa com 9 (3,9%) e Anacardium occidentale com 7 (2,9%). Considera ainda que estas espécies visavam curar males do sistema respiratório, seguido do sistema digestório e finalmente do sistema circulatório. Observando ainda que uso dessas plantas para fins terapêuticos passam por verdadeiros rituais culturais em que são considerados cuidados, tais como a época do ano (estação) em que deve ser colhida e qual parte deve ser utilizada. Meireles (2012) realizou uma pesquisa na comunidade da Ilha das Canárias localizada no município de Araioses/MA, realizando um levantamento florístico com 108 espécies, pertencentes a 49 famílias botânicas. Destas famílias as mais citadas foram: Euphorbiaceae, Poaceae, Anacardiaceae, Lamiaceae, Solanaceae e as espécies com maior número de citações foram Rhizophora mangle, Copernicia prunifera, Anacardium occidentale, Vernonia condensata e Cymbopogon citratus. A espécie mais citada foi o mangue-vermelho (Rhizophora mangle) e das cinco categorias de uso encontradas, mais que obtiveram maior percentual de citações foram: medicinal alimentícia e construção. O autor destacou ainda que apesar dos problemas ambientais, ainda existe uma considerável porção verde conservada e uma dinâmica transmissão do conhecimento dos mais idosos aos mais jovens, provavelmente a condição de acesso à comunidade apenas por barco, seja um fator de manutenção das características culturais verificadas. Araújo (2013) realizou um levantamento das plantas medicinais utilizadas pelos pescadores da comunidade Passarinho, RESEX Marinha do Delta do Parnaíba em Araioses/MA, obtendo como resultado a identificação de 50 espécies distribuídas em 34 famílias, destas as que apresentaram maior número de espécies foram: Lamiaceae, Myrtaceae, Leguminaceae-Caesalpinioideae, Euphorbiaceae e Apocynaceae e as espécies mais versáteis foram o mangue-vermelho (Rhizophora mangle), a ameixa (Ximenia americana) e o jatobá (Hymenaea couorbaril). Foi destacado ainda, pela autora, que é relevante se conhecer o uso das plantas medicinais dessa comunidade para a manutenção do conhecimento tradicional, para a valorização de sua identidade cultural, conservação socioambiental e das espécies. 42 Com base nesse contexto, observa-se que os estudos etnobotanicos em comunidades rurais estiveram mais direcionados para o registro: das famílias botânicas, das quais merecem destaque as famílias Lamiaceae, Leguminosae e Euphorbiaceae; das categorias de uso, sendo que as mais catalogadas foram medicinal, alimentícia, construção, e ornamental, sendo que o maior número catalogado foi na categoria medicinal; da comparação do conhecimento por gênero e faixa etária, observando-se que homens e mulheres apresentaram nível de conhecimento semelhante, pois depende da área referida, e que os idosos demonstraram possuir maior saber empírico, entre outros registros. No entanto, torna-se evidente que há a necessidade de se discutir e estudar mais e profundamente sobre o modo como essas populações rurais utilizam, conservam e mantém a biodiversidade, ou ainda, se essas populações estão satisfeitas com seu modo de vida em suas localidades, sem que necessariamente precisem viver de acordo com os padrões estabelecidos pelos grandes centros urbanos. 43 3. PERFIL HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DA COMUNIDADE DE NOVO NILO 3.1 Histórico A história da formação do município de União remonta ao início do século XIX. Configurando-se como um dos municípios mais antigos do Piauí, teve sua origem em uma fazenda de gado com a denominação de "Fazenda do Estanhado”, fundada por iniciativa de seu proprietário de nome desconhecido. Uma vez que havia o costume de se construir igrejas, de modo que houvesse a consolidação da fé no local, foi construída uma capela para o exercício espiritual de sua própria família. Com a construção da capela, formaram-se os primeiros pequenos aglomerados de casas habitadas em seus arredores, representando um rápido desenvolvimento, que decorrera também em função da fertilidade das terras da região (IBGE, 2010). Tal fato levou o então presidente da província, propor, em 1826, a criação de uma freguesia no povoado do Estanhado e sua elevação de categoria. Como a proposta foi inicialmente ignorada, o povoado do Estanhado manteve-se subordinado à vila de Campo Maior por algum tempo. Somente com a fundação de uma Paróquia sob a invocação de Nossa Senhora dos Remédios em 27 de Agosto de 1853, na administração de Luís Carlos Paiva, vice-presidente interino da província e com a expansão comercial e populacional, o povoado foi elevado à categoria de Vila pelo Decreto Nº 01, de 17/09/1853, sendo desmembrado de Campo Maior, com o nome de União. (IBGE, 2010). Para a constituição do Patrimônio, a vila recebeu doações de terras que margeavam o rio Parnaíba, cedidas pelo coronel João do Rêgo Monteiro, o Barão de Gurguéia (IBGE, 2010). A partir das doações, foram se formando às margens do referido rio, os primeiros núcleos populacionais, cuja economia estava baseada na atividade pesqueira, e posteriormente pela agricultura. Tais atividades são realizadas até os dias atuais devido à proximidade do rio Parnaíba (IBGE, 2010). A comunidade Novo Nilo recebeu essa denominação após a chegada em terras de grande fertilidade de um cidadão cujo sobrenome era Nilo, mencionando que estas caracterizariam um novo Nilo. Porém, somente com a chegada do coronel Gervásio Costa em junho de 1924 foi fundada a capela de São João Batista e inaugurada a Casa João, estabelecendo-se o movimento comercial e 44 beneficiamento de algodão numa pequena fábrica. O fato de essas terras estarem inseridas numa região de vasto palmeiral levou o empresário a implantar uma fábrica de beneficiamento de babaçu com a fabricação de óleo e sabão, aumentando consideravelmente o fluxo local e o crescimento populacional. 45 3.2. Perfil Geográfico Figura 1: Localização da Comunidade Novo Nilo, União, Piauí/Brasil. Fonte: Adaptado de IBGE (2010), através do Software ArcGIS (2.3) 46 O município de União foi criado pelo Decreto Nº 01, de 17/09/1853, e sua sede localiza-se a “04º 35' 09" S e 42º 51' 51 W e situa-se a uma distancia de 59 km de Teresina (capital do Estado), encontra-se a uma altitude de 52 m acima do nível domar (AGUIAR; GOMES, 2004). Apresenta uma população estimada de 42.654 hab.; área territorial de 1.173,441km2, densidade demográfica de 36,35 hab./km2 onde, 59,6% das pessoas residem na zona rural IBGE (2010). Limita-se, ao norte, com o município de Miguel Alves e Lagoa Alegre; ao sul com Teresina e José de Freitas; a leste com os municípios de José de Freitas e Lagoa Alegre; e a oeste com o estado do Maranhão. Com relação aos aspectos climáticos apresenta clima tropical quente com temperaturas mínimas de 21ºC e máximas de 36ºC e precipitação pluviométrica média anual de 1.200 mm nos períodos mais chuvosos do ano, que correspondem aos meses de fevereiro, março e abril. (IBGE–CEPRO, 2011). No que concerne às feições geomorfológicas da região encontra-se superfície aplainada com presença de áreas deprimidas, superfícies tabulares reelaboradas (chapadas baixas), com relevo plano, partes suavemente onduladas e altitudes variando de 150 a 300 m; superfícies onduladas, relevo movimentado, correspondendo a encostas e prolongamentos residuais de chapadas, desníveis e encostas acentuadas de vales e elevações, altitudes entre 150 a 500 m (serras, morros e colinas) e superfícies tabulares cimeiras (chapadas altas), com relevo plano, altitudes entre 400 a 500 m, com grandes mesas recortadas (IBGE, 2010). Os solos da região compreendem principalmente plintossolos álicos de textura média, fase complexo Campo Maior. Solos podzólicos vermelho-amarelos, plínticos e não plínticos. Apresenta ainda, solos arenosos essencialmente quartzosos, profundos, drenados, desprovidos de minerais primários, de baixa fertilidade. Consequentemente apresenta transições vegetais caatinga/cerrado caducifólio, floresta ciliar de carnaúba e caatinga de várzea, caatinga hiperxerófila e/ou cerrado sub-caducifólio/floresta sub-caducifólia e/ou carrasco (Projeto Sudeste do Piauí II - CPRM, 1973). Os recursos hídricos superficiais do estado do Piauí estão representados pela bacia hidrográfica do rio Parnaíba, com o qual o município de União encontrase à margem direita (AGUIAR; GOMES, 2004). A comunidade Novo Nilo, política e geograficamente faz parte do município de União localizado no estado do Piauí, situada a margem direita do rio 47 Parnaíba nas coordenadas 04º 24’ 13” S e 42º 53' 22’’ W (Figura 1), à aproximadamente 80 km da capital, tendo seus limites com os seguintes povoados circunvizinhos: ao norte, Localidade Bebedouro, ao oeste com Varginha, ao Leste com Pedrinhas e a sul com rio Parnaíba/ estado do Maranhão (IBGE,2010). Possuindo uma população aproximada de 1.458 habitantes, distribuídos em 371 famílias (IBGE,2010) que em sua maioria são lavradores e/ou pescadores que têm sua base econômica voltada para o cultivo e extração vegetal, destacando-se o babaçu (Attalea speciosa Mart. ex Spreng) e carnaúba (Copernicia prunifera (Mill.) H. E.Moore) (CEPRO, 2011). 48 REFERÊNCIAS AFONSO, S. R. Análise sócio-econômica da produção de não-madeireiros no cerrado brasileiro e o caso do pequi em Japonvar, MG. 2008.107 p. Dissertação de mestrado em Ciências Florestais. Brasília, 2008. AGUIAR, R. B.; GOMES, J. R.C. Projeto cadastro de fontes de abastecimento por água subterrânea, estado do Piauí. Diagnóstico do município de Gilbués. Fortaleza: CPRM - Serviço Geológico do Brasil, CDD 551.49098122 p. 1-19,. 2004. ALBUQUERQUE, U. P. A etnobotânica no Nordeste brasileiro. p. 241-249. In: T. B.CAVALCANTI & B. M. T. WALTER (orgs.). Tópicos especiais em botânica: palestrasconvidadas do 51º Congresso Nacional de Botânica. 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Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com 202 membros e turnê-guiada com 10 informantes-chave. O material botânico encontra-se incorporado no Herbário Graziela Barroso (TEPB) da Universidade Federal do Piauí. Os dados quantitativos foram levantados através Valor de Uso (VU) e Fator de Consenso dos Informantes (FCI). Identificou-se 150 espécies, distribuídas em 56 famílias e 126 gêneros. As famílias mais representativas foram Leguminosae (9,33%) e Euphorbiaceae (6,00%), sendo identificadas oito categorias de uso, das quais as obtiveram os maiores números de citações foram: medicinal (94), alimentícia (68) e ornamental (30). Attalea speciosa Mart. ex Spreng. (babaçu) foi a mais versátil, estando incluída em seis categorias de uso e apresentando VU igual 3,6, seguida por Copernicia prunifera (Mill.) H.E. Moore (carnaúba) com VU=1,96, Mangifera indica L.(manga) com 0,70, Citrus aurantium L. (laranja) com 0,58 e Lippia alba (Mill.) N. E. Br. (erva-cidreira) com 0,57. Os moradores, sobretudo as pessoas mais idosas, demonstraram conhecer e utilizar os recursos vegetais, revelando a importância desses para a sobrevivência biológica da comunidade. Palavras-chave: Etnobotânica, plantas medicinais, vegetais úteis ABSTRACT - (Traditional Knowledge in a rural community in northeastern Brazil).The Novo Nilo community (04º 24' 13" S and 42º 53' 22” W) is located on the right bank of the Parnaíba river at a distance of 80 km from the capital city of the state, Teresina. The ethnobotanical study was aimed at understanding the interrelationships of residents and existing vegetation, pointing out the useful species and traditionally used by the community. Semistructured interviews with 202 members and guided tour with 10 key informants were realized. The botanical material is embedded in the Herbário Graziela Barroso (TEPB), Universidade Federal do Piauí. Quantitative data were collected through Value in Use (VU) and the Informant Consensus Factor (ICF). We identified 150 species belonging to 56 families and 126 genera. The most representative families were Leguminosae (9.33%) and Euphorbiaceae (6.00 %), eight use categories were identified, including medical (94), food (68) and ornamental (30), had the highest numbers quotes. Attalea speciosa Mart. Ex Spreng. (babassu) was the most versatile, being included in six categories of use and presenting VU equals 3.6 , followed by Copernicia prunifera (Mill.) H.E.Moore (Carnauba) with VU = 1.96, Mangifera indica L. (manga) with 0.70, Citrus aurantium L. (orange) with 0.58 and Lippia alba (Mill.) N.E. Br. (lemongrass) with 0.57. Residents, especially older people, knew about and utilize plant resources, revealing the importance of these for the biological survival of the community. Keywords: Ethnobotany, medicinal plants, useful plants 60 INTRODUÇÃO A humanidade desde tempos remotos possui uma intensa relação com os recursos vegetais, quer seja para sua sobrevivência, manutenção do bem-estar físico, estético ou espiritual. Esta relação é objeto de estudo da ciência conhecida como Etnobotânica, que além deste papel, busca resgatar os aspectos culturais inseridos nas comunidades rurais, procurando compreender o estudo das sociedades humanas, passadas e presentes, e suas interações ecológicas, genéticas, evolutivas, simbólicas e culturais com as plantas (Alves et al. 2007). A Etnobotânica tem como o objetivo a busca de conhecimento e resgate do saber botânico tradicional, particularmente relacionado ao uso dos recursos da flora (Guarim Neto et al. 2000), obtendo assim, todo entendimento possível sobre a relação de afinidade entre o ser humano e as plantas de uma comunidade (Cotton 1996). Para Philips (1996), informações de cunho etnobotânico podem esclarecer o nível de dependência de uma comunidade em relação aos recursos vegetais locais e fornecer informações sobre as consequências de determinados tipos de exploração dos recursos. Pesquisas nesta área facilitam a determinação de práticas apropriadas ao manejo da vegetação com finalidade utilitária, pois empregam os conhecimentos tradicionais obtidos para solucionar problemas comunitários ou para fins conservacionistas (Beck & Ortiz 1997). Neste sentido, estes estudos têm crescido consideravelmente nas últimas décadas em muitas partes do mundo, em especial na América Latina, verificando-se muitos estudos desenvolvidos, sobretudo nas regiões Sudeste e Nordeste do Brasil, destacando-se as pesquisas realizadas por Amorozo et al. (2002), Begossi et al. (2002), Fonseca-Kruel & Peixoto (2004), Hanazaki et al. (2007), Coelho-Ferreira (2009), Albuquerque et al. (2010), Merétika et al. (2010) Amorozo (2012) e Albuquerque et al. (2013). No Piauí, os estudos nessa área têm crescido consideravelmente, destacando-se os trabalhos de Santos et al. (2008), Chaves & Barros (2008), Vieira et al. (2008), Aguiar & Barros (2012), Chaves & Barros (2012), Freitaset al. (2012), Sousa et al. (2012), dentre outros. 61 Albuquerque & Andrade (2002) afirmam que esses estudos indicam que as pessoas afetam a estrutura de comunidades vegetais e paisagens, a evolução de espécies individuais, a biologia de determinadas populações de plantas de interesse, não apenas sob aspectos negativos como comumente se credita à intervenção humana, mas beneficiando e promovendo os recursos manejados. Com base nessas considerações, desenvolveu-se um estudo de cunho etnobotânico e objetivou-se identificar as espécies botânicas utilizadas pela população dessa comunidade e suas devidas aplicabilidades, distribuindo-as em categorias de uso; reconhecer quais espécies da flora citadas pela comunidade são utilizadas na geração de renda e verificar a distribuição do saber popular tradicional por gênero e faixa etária. Material e Métodos Caracterização da área de estudo O município de União, localizado no estado do Piauí, situa-se à margem direita do rio Parnaíba com sede nas coordenadas 04º 35’ 09” S e 42º 51' 51’’ W, a uma distancia de 59 km da capital do estado, Teresina. Limita-se ao sul com Miguel Alves e Cabeceiras do Piauí, ao norte e leste com Lagoa Alegre e José de Freitas e a oeste com rio Parnaíba/ estado do Maranhão (IBGE 2010). Encontra-se a uma altitude de 52 metros acima do nível do mar (CEPRO 2011) e possui clima Tropical Quente com uma vegetação de transição entre Cerrado e Mata dos Cocais. Apresenta uma população estimada em 42.654 habitantes e uma área territorial de 1.173 km2 onde se encontra a comunidade rural Novo Nilo (IBGE 2010). A referida comunidade foi criada pelo coronel Gervásio Costa na década de 1920, onde instalou uma fábrica de beneficiamento de coco babaçu (Attalea speciosa Mart. ex Spreng.) com a produção de óleo e sabão. Dista aproximadamente 80 km da capital tendo seus limites com os seguintes povoados circunvizinhos: ao norte, Localidade Bebedouro, ao oeste com Varginha, ao Leste com Pedrinhas e a sul com rio Parnaíba/ estado do Maranhão, cuja sede situa-se nas coordenadas 04º 24’ 13” S e 42º 53' 22’’ W (IBGE 2010), como mostrado na Fig. 1. 62 Figura 1: Localização da Comunidade Novo Nilo, União, Piauí/Brasil. Fonte: Adaptado de IBGE (2010), através do Software ArcGIS (2.3) 63 Coleta e análise dos dados A comunidade possui uma população aproximada de 1.516 habitantes, em sua maioria, lavradores e pescadores, distribuídos em 371 famílias. Das quais se definiu o total de 54,4 % delas como universo amostral da pesquisa para os levantamentos etnobotânicos, socioeconômicos e culturais, perfazendo 202 entrevistas, seguindo o preconizado por Begossi et al. (2004) que afirma ser uma amostra representativa em comunidades com mais de 50 pessoas a proporção de 25 % a 80 %. Os dados foram coletados após submissão e aprovação do projeto de pesquisa no Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal do Piauí. As entrevistas foram realizadas mediante permissão dos entrevistados através de aceite, conhecimento e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), em duas vias, uma pertencente ao entrevistado e outra ao pesquisador, as quais foram realizadas entre os meses de julho de 2012 a julho de 2013, através de observação direta e com o auxílio de formulário padronizado com questões abertas e fechadas, através de entrevistas semiestruturadas (Bernard 1988), apresentando a seguinte estrutura: identificação, localização e dados socioeconômicos (composição familiar, idade, gênero, escolaridade, renda, habitação, saneamento, informações místico-religiosas e etnobotânicas). Adotou-se a técnica de amostragem e seleção de informantes, denominada “bola de neve” (Bailey 1994), que consiste em conversar com algumas pessoas da comunidade em seus domicílios e durante as entrevistas, estas indicaram outras pessoas a serem entrevistadas. Do total de habitantes, 30 foram indicados como conhecedores da vegetação local e suas finalidades, e destes, 10 informantes-chave, com os quais foi realizada a técnica de turnê-guiada (Bernard 1988). A coleta e herborização do material botânico foram realizadas segundo a metodologia preconizada por Mori et al. (1989), e após a herborização, todo o material foi incorporado ao acervo do Herbário Graziela Barroso (TEPB) da Universidade Federal do Piauí. As identificações das espécies foram realizadas tomando como referência a bibliografia especializada e comparações com exsicatas identificadas. O sistema adotado foi o de Cronquist (1981), com exceção da família Leguminosae que obedeceu a Judd et al. (1999). As abreviaturas dos nomes dos autores e as grafias das espécies estão de acordo com os sítios do MOBOT 64 (mobot.mobot.org/W3T/Search/vast.html) e IPNI (www.ipni.org). As indicações foram agrupadas com base nas categorias de uso propostas por Lima et al. (2000). Para calcular o Valor de Uso (VU) atribuído às espécies, utilizou-se a metodologia proposta por Phillips & Gentry (1993a e b), modificado por Rossato (1996), que atribui a essa técnica a seguinte fórmula: VU = ΣU/n, onde U = número de citações da etnoespécie por informante e n = número total de informantes. Para categoria medicinal, as informações obtidas foram agrupadas segundo a classificação das doenças da Organização Mundial da Saúde (OMS 2000) e calculado o Fator de Consenso dos Informantes (FCI) de acordo com Trotter & Logan (1986) pela fórmula FCI = nur – nt /nur – 1, onde nur é o número de citações de usos em cada categoria da OMS (2000) e nt, o número de espécies usadas. Após a realização das entrevistas, estas foram transcritas em laboratório, juntamente com os dados referentes às conversas, discussões e debates informais registrados em diário de campo, além do registro fotográfico das práticas sociais, econômicas, culturais, ambientais e grande variedade de espécies vegetais. As respostas foram tabuladas em tabelas e gráficos, e analisadas por meio de estatística descritiva básica, com o objetivo de valorizar o conhecimento tradicional local e uso sustentável dessa vegetação. RESULTADOS E DISCUSSÃO Em Novo Nilo as plantas fazem parte da rotina dos moradores para diversos fins, principalmente nas categorias Medicinal, Alimentícia, Ornamental, Construção, Forrageira, Místico-religioso, Energética, e Artesanal. A base econômica está voltada para a agricultura, com a prática de cultivos em roça e extração vegetal, principalmente do babaçu (Attalea speciosa Mart. ex Spreng) e da carnaúba (Copernicia prunifera (Mill.) H.E.Moore). Os produtos gerados da produção agrícola são direcionados para o consumo, e em alguns casos, o excedente dessa produção é comercializado. Um total de 150 espécies foram citadas, identificadas e distribuídas em 126 gêneros e 56 famílias botânicas (Tab. 1). As famílias mais representativas em número de espécies foram: Leguminosae (9,33 %), Euphorbiaceae (6,00 %), Lamiaceae (4,67 %), Arecaceae, Anacardiaceae, Apocynaceae e Rutaceae (4,00 % cada), Curcubitaceae e Convolvulaceae (3,33 %), como demonstrado na Fig. 2. Das 69 famílias botânicas, Agavaceae, Asparagaceae, Bixaceae, Bromeliaceae, 65 Caricaceae, Caryocaraceae, Cecropiaceae, Crassulaceae, Iridaceae, Lauraceae, Lecythidaceae, Melastomataceae, Melastomataceae Meliaceae, Moraceae, Musaceae, Olacaceae, Oxalidaceae, Punicaceae, Passifloraceae, Rosaceae, Phytolacaceae, Scrophulariaceae, Piperaceae, Tiliaceae e Portulacaceae, Turneraceae, foram representadas por apenas uma espécie. espécie Leguminosae 2,67% 2,00% 1,33% 0,67% Euphorbiaceae 9,33% 3,33% Lamiaceae 4,00% 6,00% 4,67% Anacardiaceae, Apocynaceae, Arecaceae, Rutaceae Cucurbitaceae, Convolvulaceae Asteraceae, Liliaceae, Malvaceae, Myrtaceae, Solanaceae, Poaceae Amaranthaceae, Araceae, Bignoniaceae, Cactaceae, Combretaceae, Zingiberace ae Acanthaceae, Annonaceae, Apiaceae, Chenopodiaceae, Davalliaceae, Malpighia ceae, Nyctaginaceae, Rubiaceae, Sapindaceae Agavaceae, Asparagaceae, Bixaceae, Bromeliaceae, Caricaceae, Caryocaracea e, Cecropiaceae, Crassulaceae, Iridaceae, Lauraceae, Lecythidaceae, Melast omatacea, Meliaceae, Moraceae, Musaceae, Olacaceae, Oxalidaceae, Passiflorac eae e outros Figura 2: Famílias botânicas mais representativas em número de espécies na Comunidade Novo Nilo, União, Piauí. (Fonte: Fonte: pesquisa direta, setembro/2013). setembro/2013 Após a análise das espécies citadas, estas foram distribuídas em oito categorias de usos: Medicinal (62 %), Alimentícia (45,33 %), Ornamental (20 %), Construção (10 %), Forrageira (6 %), Místico-religioso Místico religioso (5,33 %), Energética (4,33 %) 66 e Artesanal (2 %). As espécies mais versáteis foram: babaçu (Attalea speciosa Mart. ex Spreng) e da carnaúba (Copernicia prunifera (Mill.) que alcançaram seis e cinco categorias de usos, respectivamente. Essa multiplicidade de usos para babaçu corrobora o observado por Rufino et al. (2008) em Buíque, PE e Gonzalez-Perez et al. (2012) na Terra Indígena Las Casas, PA. Quanto à versatilidade da carnaúba, fato por demais discutido nacionalmente, vale ressaltar o destaque mencionado pelos estudos etnobotânicos realizados no Piauí que trazem esta realidade, como Amorim (2010) e Sousa (2012). Tabela 1: Lista das espécies utilizadas na Comunidade Novo Nilo, União, PI. Legenda: NV = Nome Vulgar; HAB = Hábito: erv = erva; sub = subarbusto; arb = arbusto; arv = árvore; trep = trepadeira; ST = Status: e = exótica; n = nativa. NC = número de coletor (il - identificada no local, não coletada); VU = valor de uso; Categorias de Uso = Cat.U: a = medicinal; b = alimentação humana; c = construção; d = produção energética; e = forrageira; f =artesanal; g = místico-religiosa; h = ornamental. Família/espécie Acanthaceae Justicia pectoralis Jacq. Justicia pectoralis var. stenophylla Leonard Agavaceae Sansevieria trifasciata Prain Amaranthaceae Alternanthera dentata (Moench) Scheygr. Amaranthus deflexus L. Gomphrena globosa L. Anacardiaceae Anacardium occidentale L. Mangifera indica L. Myracrodruon urundeuva M.Allemão Spondias lutea L. NV HAB ST NC VU Cat. U Anador erv n 29.795 0,03 a Trevo erv n 29.836 0,02 a,g Espada-de-são Jorge erv e 29.807 0,08 h,g Penicilina erv n 29.837 0,01 a Bredo Perpeta erv erv e e il 29.853 0,03 0,01 a,e a Caju Manga arv arv n e 29.794 29.747 0,44 0,70 a,b,e a,b Aroeira arv n 29.792 0,07 a,c Cajá arv n 29.753 0,11 a,b 67 Tab. 1: Continuação Família/espécie NV HAB ST NC VU Cat. U Siriguela arv n 29.814 0,23 a,b Umbu arv n 29.791 0,03 B Graviola Ata arb arb n e 29.855 29.753 0,02 0,35 a,b a,b Coentro Erva-doce erv erv e e 29.819 29.851 0,35 0,03 B a,b Pente-de-macaco arb n 29.790 0,01 H Cálice-de-ouro arb n Jasmim arb e Bom-dia erv n 29.801 0,06 Espirradeira arb e 29.797 0,01 Dedal-de-ouro arb n il 0,01 Pica-pau Comigo-ninguémpode erv e 29.835 0,15 H erv n il 0,33 h,g Agave erv e il 0,01 H Astrocaryum vulgare Mart. Tucum arv n il 0,07 a,b,e,f Attalea speciosa Mart. ex Spreng Cocos nucifera L. Copernicia prunifera (Mill.) H. E. Moore Babaçu arv n il 3,63 Coco-da-praia arv e il 0,40 a,b,h Carnaúba arv n il 1,96 a,b,c,e,f Anacardiaceae Spondias purpurea L. Spondias tuberosa Arr. Cam. Annonaceae Annona muricata L. Annona squamosa L. Apiaceae Coriandrum sativum L. Foeniculun vulgari mil. Apocynaceae Allamanda blanchetti A.DC. Allamanda cathartica L. Plumeria albaL. Catharanthus roseus (L.) G. Don Nerium oleander L. Thevetia peruviana (Pers.) Merr. 29.792 29.798 0,01 0,03 H H H H H Araceae Caladium bicolor Vent. Dieffenbachia picta (Lodd) Schott Syngonium podophyllum Schott. Arecaceae a,b,c,d,e,f 68 Tab. 1: Continuação Família/espécie NV HAB ST NC VU Cat. U Arecaceae Euterpe oleracea Mart. Mauritia flexuosa L. f. Açaí Buriti arv arv n n 29.828 il 0,01 0,01 B B Milindro erv e 29.782 0,03 a Girassol Alface sub erv e e 29.823 29.858 0,03 0,01 h b Pingo-de-ouro erv e 29.846 0,07 h Cravim erv e 29.802 0,01 a Caroba erv n il 0,01 a Pau-d'arcoamarelo arv n 29.788 0,01 a,c Ipezinho arb e 29.799 0,01 h Urucum arb n 29.749 0,02 a,b Abacaxi erv n il 0,02 b Mandacaru arb n 29.850 0,03 h Coroa-de-frade erv n 29.789 0,01 h Rosa-madeira arb n 28.856 0,01 h Mamão arv n 29.820 0,23 a,b Pequi arv n 29.758 0,03 a,b,c Embaúba arv n il 0,01 a,c Asparagaceae Asparagus SP Asteraceae Helianthus annuus L. Lactuca sativa L. Melampodium divaricatum DC. Tagetes erecta L. Bignoniaceae Jacaranda brasiliana Pers. Handroanthus serratifolius Tecoma stans (L.) Juss. ex Kunth Bixaceae Bixa orellana L. Bromeliaceae Ananas comosus (L.) Merr. Cactaceae Cereus jamacaru DC. Melocactus zehntneri (Britton & Rose) Luetzelb. Pereskia grandiflora Haw. Caricaceae Carica papaya L. Caryocaraceae Caryocar coriaceum Wittm. Cecropiaceae Cecropia glaziovi Snethl. 69 Tab. 1: Continuação Família/espécie Chenopodiaceae Beta vulgaris L. Chenopodium ambrosioides L. Combretaceae Combretum duarteanum Cambess. Combretum leprosum Mart. Terminalia catappa L. Convolvulaceae Ipomoea batatas(L.) Lan. Ipomoea quamoclit L. Ipomoeaasarifolia (Desr.) Roem & Schult Ipomoea SP Operculina macrocarpa (L.) Farw. Crassulaceae Bryophyllum pinnatum (Lam.) Oken Cucurbitaceae Curcubita pepo L. Citrullus vulgaris Schrad. ex Ecml. & Zeyh. Cucumis anguria L. Curcubita sativus L. Mormodica charantia L. Davalliaceae Nephrolepis biserrata Schott Nephrolepis exaltata Schott Euphorbiaceae Cnidoscolus loefgrenii Pax & K. Hoffm. Croton campestris A. St. Hil. NV HAB ST NC VU Cat. U Beterraba erv e il 0,01 a,b Mastruz sub e 29.770 0,27 a Catinga-branca arb n 29.768 0,43 c,d Mufumbo arb n 29.769 0,03 a,c,d Amêndoa arv e 29.750 0,03 b Batata-doce Primavera sub erv e e il 29.840 0,05 0,01 b h Salsa sub n 29.765 0,08 h Jitirana sub n 29.852 0,06 h Batata-de-purga sub. n il 0,02 a Folha-santa erv e 29.817 0,15 a Abóbora sub esc E 29.818 0,26 a,b Melancia sub esc e 29.825 0,28 b Maxixe Pepino Melão-de-são caetano sub esc erv e e 29.838 il 0,33 0,11 b b sub esc n 29.843 0,04 a,b,e Rabo-de-peixe erv e il 0,09 h Samambaia-demetro erv e 29.815 0,09 h Cancanção-branco sub n 29.763 0,03 a Velame sub n 29.760 0,12 a 70 Tab. 1: Continuação Família/espécie NV HAB ST NC VU Cat. U Euphorbiaceae Euphorbia milii Des. Moul. Coroa-de-cristo erv e 29.848 0,02 h Euphorbia tirucalli Forssk. Jatropha gossypiifolia L. Jatropha ribifolia (Pohl) Baill. Manihot utilissima Pohl. Manihot esculenta Crantz Phyllanthus niruri L. Cachorro-pelado Pião-roxo arb arb e n 29.860 29.759 0,01 0,24 a,h a,g Pião-branco arb n 29.761 0,04 a,g Macaxeira Mandioca Quebra-pedra sub sub erv n n n il il 29.786 0,24 0,17 0,05 b b a Pé-de-coquinho erv e 29.834 0,03 a Erva-cidreira sub e 29.784 0,57 a Alecrim sub n 29.785 0,02 a,b Vick Hortelã Manjericão erv erv sub e e e 29.782 29.783 29.806 0,13 0,22 0,19 a a a,b Malva-do-reino erv e 29.781 0,20 a Boldo erv e 29.839 0,51 a Abacate arv e il 0,03 a,b Sapucaia arv n il 0,01 b,c Mororó arv n 29.779 0,02 a Jucá arv n 29.780 0,01 a,c Flamboiant arb e 29.803 0,03 h Jatobá arv n 29.829 0,03 a,c Matapasto sub n il 0,01 a,e Fedegoso sub n 29.752 0,02 a Iridaceae Eleutherine bulbosa Urb. Lamiaceae Lippia alba (Mill.) N. E. Br. Lippia gracillis Humb.,Bonpl & Kunth. Mentha arvensis L. Mentha x villosa Huds Ocimum gratissimum L. Plechtranthus amboinicus (Lour.) Spreng. Plechtranthus barbatus Andrews Lauraceae Persea americana Mill. Lecythidaceae Lecythis pisonis Cambess. Leguminosae Caesalpinoidae Bauhinia ungulata L. Libidibia ferrea (Mart. ex Tul.) L.P.Queiroz Delonix regia (Boj. ex Hook) Raf. Hymenaea courbaril L. Senna obtusifolia (L.) H. S. Irwin & Barneby Senna occidentalis (L.) Link 71 Tab. 1: Continuação Família/espécie NV HAB ST NC VU Cat. U Leguminosae Mimosoidae Albizia niopoides (Spruce ex Benth.) Burkart. Mimosa caesalpiniifolia Benth. Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan Vachellia farnesiana (L.) Wight & Arn Angico-branco arv n 29.861 0,05 a,c,d Unha-de-gato arv n 29.830 0,53 a,c,d,e Angico-preto arv n 29.842 0,03 a,d Coronha arv n il 0,01 a Emburana arv n 29.862 0,05 a,c Leguminosae Papilionoidae Amburana cearensis (Allemão) A.C.Sm. Andira retusa Humb.,Bonpl. & Kunth Phaseolus vulgaris L. Tamarindus indica L. Angelim arv n 29.756 0,15 a,c Feijão Tamarindo erv arv e e 29.844 29.857 0,53 0,16 b a,b Liliaceae Allium cepa L. Allium sativum L. Allium schoenoprasum L. Aloe vera (L.) Burm. f. Cebola Alho Cebolinha Babosa erv erv erv erv e e e e il il 29.822 29.849 0,01 0,06 0,37 0,09 a,b a,b a,b a Murici arb n 29.755 0,04 b Acerola arb e 29.821 0,55 a,b Quiabo sub e 29.813 0,34 b Gossypium herbaceum L. Algodão arb e 29.762 0,03 a Hibiscus rosa-sinensis L. Sida glomerata Cav. Margarida Relógio arb sub e n 29.839 29.796 0,11 0,01 h a Melastomataceae Mouriri samanensis Urb. Crioli arv n 29.816 0,12 b Malpighiaceae Byrsonima crassifolia (L.) Kunth Malpighia glabra L. Malvaceae Abelmoschus esculentus Moench 72 Tab. 1: Continuação Família/espécie Meliaceae Azadirachta indica A. Juss. Moraceae Artocarpus integrifolia L. f. Musaceae Musa paradisiaca L. Myrtaceae Eucalyptus globulus Labill. Campomanesia aromatica (Aubl.) Griseb Psidium guajava L. Syzygium jambolanum (Lam.) DC. Nyctaginaceae Bougainvillea glabra Choisy Mirabilis jalapa L. Olacaceae Ximenia americana L. NV HAB Ninho arv Jaca ST NC VU Cat. U e 29.746 0,12 a,h arv e il 0,03 a,b Banana erv e 29.827 0,33 a,b Eucalipto arv e il 0,01 a,b Guabiraba arb n il 0,01 a,b Goiaba arv n 29.776 0,39 a,b Azeitona-preta arv e 29.854 0,01 a,b Buganville arb n 29.800 0,02 h Bunina sub e 29.832 0,02 h Ameixa arb n 29.775 0,21 a,b Carambola arb e 29.783 0,12 a,b Maracujá sub esc. n 29.774 0,03 a,b Tipi sub n 29.809 0,08 a Pimenta-demacaco sub n 29.804 0,03 a Capim-santo erv e il 0,26 a Arroz Cana-de-açucar Milho erv sub sub e e e 29.833 29.845 29.831 0,13 0,04 0,52 b a,b,e b,e Oxalidaceae Averrhoa carambola L. Passifloraceae Passiflora edulis Sims. Phytolacaceae Petiveria alliacea L. Piperaceae Piper tuberculatum Jacq. Poaceae Cymbopogon citratus (DC.) Staph Oryza sativa L. Saccharum officinarum L. Zea mays L. 73 Tab. 1: Continuação Família/espécie HAB ST NC Nove-horas erv n 29.841 0,01 h Romã arb e 29.805 0,06 a Roseira sub e 29.824 0,13 h Limão-galego arb e il 0,03 a,b Laranja Limão-azedo Limão-doce Tangerina Arruda arb arb arb arb erv e e e e e 29.751 29.757 29.810 Il 29.826 0,58 0,26 0,16 0,08 0,04 a,b a,b a,b b a,g Jenipapo None arv arv n e 29.772 29.748 0,01 0,22 b,d a Cedro-branco arv n 29.778 0,03 c Pitomba arv n 29.847 0,03 b Vassourinha sub n 29.787 0,41 a,g Pimentão sub e 29.811 0,13 b Capsicum chinense Jacq. Pimenta-de-cheiro sub e 29.812 0,20 b Capsicum frutescens L. Pimenta- malageta sub e 29.766 0,20 b,g Tomate sub e 29.767 0,08 b Açoita-cavalo arv n 29.777 0,04 a Chanana sub n 29.7642 0,10 a Portulacaceae Portulaca gradiflora Hook. Punicaceae Punica granatum L. Rosaceae Rosa chinensis Jacq. Rutaceae Citrus aurantifolia (Christm.) Swingle Citrus aurantium L. Citrus limonum Risso Citrus medica L. Citrus reticulata Blanco Ruta graveolens L. Rubiaceae Genipa americana L. Morinda citrifolia L. Sapindaceae Cardiospermum anomalum Cambess Talisia esculenta Radlk. Scrophulariaceae Scoparia dulcis L. Solanaceae Capsicum annuum L. Lycopersicon esculentum Mill. Tiliaceae Luehea speciosa Willd. NV VU Cat. U Turneraceae Turnera ulmifolia L. 74 Tab. 1: Continuação Família/espécie Zingiberaceae Alpinia nutans (L.) Rosc. Crocus sativus L. Zingiber officinale Roscoe NV Jardineira Açafrão Gengibre HAB ST erv erv erv e e e NC 29.808 Il il VU 0,10 0,03 0,02 Cat. U a,h a,b a,b As espécies identificadas distribuem-se nos seguintes hábitos: herbáceo (30 %), subarbustivo (19,3 %), arbustivo (20,7 %), subarbustivo escandente (3,3 %) e arbóreo (26,7 %). Do total, 48 % são nativas e 52 % são exóticas. Estas últimas são encontradas em diversos ambientes, principalmente nos quintais, que apresentam importância significativa na comunidade. Verificando-se, portanto, a predominância dessas espécies, resultado também observado por Amaral & Guarim Neto (2008) em quintais de Rosário Oeste, MT e por Carniello et al. (2010) em Mirassol D’ Oeste,MT. A superioridade da representação das espécies exóticas deve-se ao fato de que as categorias predominantes foram aquelas de plantas cultivadas em quintais, que geralmente são introduzidas. A predominância dessas espécies indica a influência das tradições europeia e africana, conforme constatado também por Pilla, Amorozo & Furlan (2006). Porém, os resultados foram discordantes dos verificados por Vieira (2008), Souza (2012), Borges & Peixoto (2009), Crepaldi & Peixoto (2010) e Lopes & Lobão (2013). Embora a significativa representatividade das plantas nativas demonstre que a população apresenta um elevado conhecimento sobre o uso de diversas plantas. Quanto à distribuição do conhecimento em relação ao gênero, verificou-se uma proporção razoavelmente equilibrada, porém as mulheres citaram 58 % das espécies e os homens 42 %. Essa diferença se dá, provavelmente porque as mulheres têm um maior domínio das espécies cultivadas próximo às residências, utilizadas principalmente como medicinais, alimentícias e ornamentais. Ceolin et al. (2010) afirmam a predominância do gênero feminino evidenciando a importância das mulheres na transmissão do conhecimento entre as gerações, dados também verificados por diversos autores (Almeida 2000, Winklerprins 2002, Rondon Neto et al. 2004, Rosa et al. 2007 e Vieira et al. 2007). Na análise quanto ao saber por faixa etária, idosos têm maior conhecimento que adultos e jovens. Isso mostra, de acordo com Zuchiwschi et al. (2010) a correlação entre uso de espécies e conhecimento; e as diferenças entre as gerações. No que concerne ao repasse do conhecimento, 90 75 % dos entrevistados afirmam ter adquirido dos pais, avós, parentes e pessoas mais velhas da comunidade. Verificou-se ainda, que este ocorre oralmente durante realização de afazeres domésticos coletivos, trocas de experiências nas conversas dos terreiros entre os vizinhos, em atividades realizadas entre grupos de trabalho e, sobretudo durante conversas cotidianas entre filhos, pais e avós no seio familiar. Amorozo (2012) aponta que, em comunidades rurais, esse conhecimento é transmitido desde muito cedo, a partir do momento em que as crianças começam a acompanhar os adultos nas tarefas cotidianas do campo, e que dessa forma vão se habituando a plantar e raramente se desfazem de tal atividade, mesmo migrando para áreas urbanas. Além da transmissão vertical, também foi observada a transmissão horizontal, que se dá principalmente entre vizinhos que trocam mudas de plantas e receitas caseiras, levando ao conhecimento e uso de novas espécies em seu repertório. Essa troca, segundo Baldauf et al. (2009) leva à incorporação de novas plantas por parte dos sujeitos envolvidos nela. Além disso, reforça laços sociais e contribui para a manutenção desse conhecimento na comunidade. Observamos na Fig. 3 que a categoria de uso que apresentou o maior número de espécies citadas foi a medicinal (94), seguida da alimentação humana (68), ornamental (30), construção (15), forrageira (9), místico-religiosa (8), produção energética (7) e artesanal (3). 76 3 Artesanal 7 Produção de Energia 8 Mística Religiosa 9 Forrageira 15 Construção 30 Ornamental 68 Alimentícia 94 Medicinal 0 20 40 60 80 100 Figura 3: Números de espécies botânicas indicadas por categorias de uso na comunidade Novo Nilo, União/PI. Fonte: pesquisa direta, setembro/2013. Do número total de plantas identificadas, 32 foram referidas exclusivamente para categoria de uso medicinal, 33 para categoria medicinal e alimentícia, 26 exclusivamente ornamentais, sete para medicinal e construção, cinco para medicinal e mística, duas para mística e ornamental, duas para medicinal e forrageira, uma a para construção e produção energética e outra para construção e alimentícia. Somente uma planta foi citada para seis das oito categorias estudadas. Medicinal – representada por 94 espécies, distribuídas em 43 famílias botânicas e 81 gêneros, demonstrou que a utilização de plantas para fins terapêuticos constituem-se constituem se como elemento cultural bastante expressivo na comunidade rural Novo Nilo, por ser considerado mais eficiente e acessível financeiramente. As famílias mais representadas foram: Leguminosae (12 espécies), 77 Lamiaceae (7) e Euphorbiaceae (6). Considerando apenas a família Leguminosae resultado similar foi observado por Aguiar (2009) e segundo Souza (2007), o destaque para Leguminosae entre as plantas de uso medicinal pode ser explicado pelo grande número e diversidade de espécies que compõem esta família. Quanto a família Lamiaceae, Oliveira & Menini Neto (2012) e Carvalho et al. (2013) constataram dados semelhantes. As espécies medicinais levantadas nas áreas corresponderam a 62,6 % do total, corroborando com Figueiredo et al. (1993), Rossato et al. (1999), Pasa et al. (2005) Vieira et al. (2008) e Gandolfo & Hanazaki (2011) que referiram a categoria medicinal com o maior número de espécies e citações. Em Novo Nilo, tal fato justifica-se pela confiabilidade da comunidade em remédios caseiros associada à disponibilidade dessas plantas nos próprios quintais e à dificuldade de acesso à assistência médica. Simões et al. (1998) explica que o alto custo dos medicamentos industrializados, o difícil acesso da população à assistência médica, bem como a tendência ao uso de produtos de origem natural justifica o aumento da utilização de plantas medicinais. Quanto à aquisição das plantas, isso ocorre no quintal da própria casa, de vizinhos ou parentes e nas matas. Resultados semelhantes foram observados por Mosca & Loiola (2009), Oliveira et al. (2010), Marinho et al. (2011). As espécies que mais se destacaram em número de citações nessa categoria foram: erva-cidreira (Lippia alba (Mill.) N. E. Br.), o boldo (Plectranthus barbatus Andr.), o mastruz ( Chenopodium ambrosioides L.) e o capim-santo (Cymbopogon citratus Stapf.). Oliveira et al.(2010) em São Domingos do Capim, PA, verificaram que a erva-cidreira se destacou pelo elevado valor de importância relativa. Em relação aos modos de preparos informados pelos moradores, há uma grande preferência no uso na forma de chá (decocto ou infusão), que obteve 49,63 % das indicações, seguida pela garrafada (24,10 %), lambedor (10,21 %), maceração (7,30 %), banho e suco (3,65 % cada) e emplastos (1,46 %). Quanto a primazia dos chás, o mesmo foi referido por diversos autores como Mosca & Loiola (2009), RN, Oliveira et al. (2010) nas comunidades rurais de Oeiras, PI, Albertasse et al. (2010) em Vila Velha, ES e Costa & Mayworm (2011) em Extrema, MG. Isso se verifica provavelmente pela facilidade de preparo e rapidez do suposto efeito. Como partes mais utilizadas destacaram-se as folhas (50 %), pois estas estão disponíveis o ano inteiro em razão das formações vegetais da região não apresentarem 78 caducifolia. Seguidas a estas se destacaram as cascas (19,23 %), frutos (13,08 %) raízes e sementes (5,38 % cada), caules (3,84 %), e resinas (3,09 %), corroborando com os resultados obtidos por Agra et al. (2007) no Cariri, PB, De La Cruz et al. (2007) nos Andes peruanos e Pasa (2011) na comunidade Jardim, Cuiabá, MT. No que se refere ao consenso dos informantes da comunidade, quanto à potencialidade das espécies de plantas citadas, apresentou-se 13 categorias de doenças e dentre essas, houve maior concordância entre os entrevistados, para aquelas indicações relativas ao tratamento das doenças do sistema nervoso (0,93). Resultado semelhante é reportado por Silva (2010) na comunidade Pau Arrastado, zona rural de Campo Maior, PI e contrastando com o observado por Chaves e Barros (2012). Maioli-Azevedo & Fonseca-Kruel (2007), destacaram que as categorias de uso que apresentam maiores valores de consenso merecem estudos mais aprofundados das espécies e usos adotados, pois apresentam relevante importância cultural. Alimentícia – Representada por 68 espécies, destacando-se as famílias Arecaceae (6), Anacardiaceae (5) e Cucurbitaceae (5), como as mais representativas. Com relação a maior representatividade da família Arecaceae, encontrada nesta categoria, pode ser explicada devido ao fato da comunidade encontrar-se inserida numa área de grande ocorrência de plantas dessa família, numa região de babaçuais e carnaubais. As espécies feijão (Phaseolus vulgaris L.), arroz (Oryza sativa L.), milho (Zea mays L.), mandioca (Manihot esculenta Crantz), macaxeira (Manihot utilíssima Pohl.), abóbora (Cucurbita pepo L.), quiabo (Abelmoschus esculentus Moench) e melancia (Solanum palinacanthum Dunal) se destacaram como os principais cultivos agrícolas. Destaca-se como a segunda categoria mais citada com 45,3 % do total, provavelmente devido ao costume local do cultivo de espécies comestíveis nas roças e nos quintais da maioria dos moradores da comunidade, pois esta é caracterizada pela agricultura de subsistência, com revenda apenas do excedente da produção. Fato similar se verifica em outros munícipios do Estado (Oliveira et al. 2010, Aguiar & Barros 2012), no Nordeste brasileiro (Roque & Loiola 2013; Leite & Marinho 2014) outras regiões do país (Schardong & Cervi 2000, Pasa et al. 2005, Silva & Proença 2008). Essa atividade é conhecida historicamente como a atividade que tem garantido a sobrevivência das populações de comunidades rurais ao longo dos séculos. 79 A categoria apresentou uma quantidade significativa de plantas exóticas (41 espécies), com destaque para as hortaliças como coentro (Coriandrum sativum L.), cebolinha (Allium schoenoprasum L.), pimentão (Capsicum annuum L.) e pimenta-de-cheiro (Capsicum chinense Jacq.) que são cultivadas principalmente nos quintais em hortas e canteiros erguidos, estes últimos constituem-se como uma particularidade das comunidades piauienses. Fato também destacado no estudo realizado por Silva (2010) nas comunidades Resolvido, Pau-Arrastado e Salinas em Campo Maior, PI. A maioria dos moradores exerce essa atividade basicamente para consumo e, em alguns casos, para comercialização, configurando-se como uma como forma alternativa de complementar a renda. Mais da metade das espécies encontradas são frutíferas (57 %) e cultivadas nos quintais das residências. Dentre as nativas, destacam-se pela ocorrência na maioria dos quintais de Anacardium occidentale L. (caju), goiaba (Psidium guajava L.), Carica papaya L. (Mamão), Spondias purpurea L. (Siriguela), no entanto, apenas o caju foi a espécie em comum ao estudo realizado por Florentino et al. (2007) e Freitas et al. (2012). Dentre as exóticas destacam-se Mangifera indica L. (manga), Citrus aurantium L. (laranja), Malpighia glabra L. (acerola), Musa paradisiaca L. (banana) e Cocos nucifera L. (coco-da-praia). Para Carli et al. (2009) o consumo de frutas é um dos elementos que demonstram como as famílias rurais observam a passagem do tempo, privilegiando em seu cardápio cotidiano o tempo das coisas. Ornamental – foram levantadas 30 espécies, distribuídas em 18 famílias botânicas. Apocynaceae (6) foi a que apresentou o maior número de espécies, seguida de Cactaceae (3). O hábito de cultivar plantas para ornamentar os ambientes domésticos como jardins e quintais representa uma atividade muito presente, visto que é comum observamos esta prática por toda comunidade. Nesse aspecto, os dados diferem dos obtidos por Franco & Barros (2006) no Quilombo Olho D’água dos Pires, PI, que relatam ser esta uma atividade pouco desenvolvida na comunidade por elas pesquisada. Nessa categoria o status exótico foi superior (63,4 %) ao nativo (36,6 %) e geralmente as espécies são adquiridas de vizinhos, parentes e amigos. As citações totalizaram 100 % dos entrevistados entre as mulheres, provavelmente por serem estas as mantenedoras e cuidadoras dos quintais e jardins, como já mencionado por Sablayioles (2004) e Aguiar (2009). 80 Nessa categoria as espécies que mais se destacaram embelezando as residências da comunidade foram: Rosa chinensis (rosa), Nephrolepis exaltata Schott (samambaia-de-metro), Azadirachta indica A. Juss. (ninho), Hibiscus rosasinensis L. (margarida), Catharanthus roseus (L.) G. Don (boa-noite) e Dieffenbachia picta (comigo-ninguém-pode), esta última também bastante citada na categoria místico-religiosa. Construção – representada por 15 espécies, em nove famílias botânicas, destas as que se destacaram com maior número de espécies foram Arecaceae (6) seguida por Leguminosae (5). Ressalta-se para essa categoria o uso exclusivamente de espécies nativas, corroborando com Borges & Peixoto (2009), Silva (2010) e Bastos (2012), demonstrando que as populações rurais detêm um vasto conhecimento acerca de plantas utilizadas na feitura de casas, cercas e portões. As espécies que se destacaram de maneira significativa foram babaçu (Attalea speciosa Mart. ex Spreng.) e carnaúba (Copernicia prunifera (Mill.) H.E.Moore), na construção civil. A utilização dessas espécies ocorre principalmente com o uso das palhas do babaçu na cobertura de casas e o caule da carnaúba como sustentáculo para paredes e coberturas dessas construções (casas, banheiros, latadas, portões), fato verificado também por Gonzalez-Perez et al. (2012) na Terra Indígena Las Casas, PA. Copernicia prunifera foi citada para confecção de madeiramento para construção por Vieira et al. (2008), Chaves & Barros (2008) e Oliveira (2009) nas comunidades por eles estudadas no estado do Piauí. Na construção das cercas e cercadinhos de proteção de plantas, além da utilização dos talos do babaçu, verifica-se ainda a presença da espécie unha-de-gato (Mimosa caesalpinifolia Benth.). Para confeccionar e realizar reparos de canoas e instrumentos de pesca são utilizadas as espécies: Cedro-branco (Cardiospermum anomalum Cambess), Pequi (Caryocar coriaceum Wittm.), Pau-d’arco (Handroanthus serratifolius (Vahl) S.O. Grose). Resultados semelhantes foram destacados por Amorim (2010) no bairro Poty Velho em Teresina, PI e Santos (2012) em União, PI. Quanto ao uso do Pau-d’arco corrobora ainda o encontrado por Borges & Peixoto (2009) numa comunidade caiçara do litoral sul do Rio de Janeiro. Outras espécies que merecem 81 destaque nessa categoria são: angelim (Andira retusa Humb., Bonpl. & Kunth), e aroeira (Myracrodruon urundeuva Allemão). Forrageira - Nessa categoria foram levantadas nove espécies, representando 6 % do total e distribuídas em seis famílias. A família que contribui com maior número de espécies foi Arecaceae (6), seguida da família Poaceae (2), que foi destacada por Oliveira et al. (2009), Vieira (2009) e Bastos (2012) como importantes nessa categoria. Do total de espécies levantadas 55% são nativas, destacando-se mata-pasto (Senna obtusifolia L.) e Anacardium occidentale L. (caju). A espécie que apresentou maior número de citações foi o milho (Zea mays) que é utilizada na alimentação de aves, bovinos, caprinos e suínos criados por alguns moradores. A utilização dessa espécie para alimentação desses animais provavelmente esteja relacionada ao fato de que é uma das mais cultivadas na comunidade e o excedente da produção agrícola é armazenado para essa finalidade. Outra espécie que foi destacada nessa categoria foi Mimosa caesalpinifolia Benth. (unha-de-gato), também referida por Vieira (2009) no Quilombo dos Macacos em São Miguel do Tapuio, PI. Místico-religiosa -- Essa categoria foi representada por oito espécies, distribuída em seis famílias botânicas. Dentre elas, Euphorbiaceae foi a que mais se destacou em número de espécies (2), ficando as demais famílias representadas por apenas uma espécie. Foram indicadas no uso de rezas para defesa e contra quebrantos e mau-olhado as seguintes espécies: Justicia pectoralis var. stenophylla Leonard (trevo), Sansevieria trifasciata Prain (espada-de-são Jorge), Dieffenbachia picta (Lodd) Schott (comigo-ninguém-pode), Jatropha gossypiifolia L. (pião-roxo), Jatropha ribifolia (Pohl) Baill. (pião-branco), Ruta graveolens L. (arruda), Scoparia dulcis L. (vassourinha) e Capsicum frutescens L. (pimenta-malageta). Apesar do pouco número de espécies citadas, a prática de uso de plantas nesta categoria caracteriza-se como recorrente na comunidade, visto que a maioria (61,5 %) dos atores entrevistados citou algum tipo de ritual ou alguma forma de uso de plantas para cura ou defesa. Albuquerque (2005) indica que a conexão entre pessoas e plantas não se dá somente no nível médico ou terapêutico, mas também em nível mágico-religioso. As plantas que mais se destacaram na realização desses rituais foram: vassourinha. peão-roxo e comigo-ninguém-pode, corroborando com Pasa & Guarim Neto (2005) no Mato Grosso, Silva & Andrade (2005), Oliveira & Trovão 82 (2009), Almeida & Bandeira (2010) e Roque et al. (2013) na região Nordeste, demonstrando a forte influência africana em todo o país. Na comunidade residem oito rezadores que praticam esses rituais utilizando um pequeno galho da primeira planta mencionada passando sobre o corpo da pessoa acompanhado de uma reza, sendo usada principalmente para tirar quebranto e mal olhado. Fato verificado também por Oliveira & Trovão (2009) no agreste Paraibano. Somente as duas últimas plantas foram citadas para afugentar mau olhado, as quais são geralmente cultivadas em frente às casas, fato observado como prática recorrente em comunidades piauienses. Tal prática foi verificada por Sousa (2010) e Silva (2010) nas comunidades por elas pesquisadas. Produção energética – Nesta categoria foram levantadas sete espécies nativas, distribuídas em quatro famílias e seis gêneros, representando 4,6% do total de espécies pesquisadas. Destacou-se a família Leguminosae (3) com maior representatividade de espécies, porém o babaçu (Attalea speciosa Mart. ex Spreng) é a espécie mais empregada na produção de carvão que é feito principalmente da casca do coco, já que esta palmeira apresenta-se bastante acessível na comunidade. Esta produção de carvão configura-se como uma realidade muito difundida em território piauiense, como constatado também por Franco & Barros (2006) no Quilombo Olho D’agua dos Pires, PI. Outra alternativa, em menor escala, é a produção de carvão a partir das seguintes espécies: unha-de-gato (Mimosa caesalpinifolia Benth.), catinga-branca (Combretum duarteanum Cambess.) mufumbo (Combretum leprosum Mart.) e mororó (Bauhinia ungulata L.). Os biocombustíveis apresentam-se como a principal fonte de energia para um grande contingente da população do mundo, especialmente em comunidades rurais dos países em desenvolvimento. No Brasil, sobretudo na região Nordeste esta realidade é mais frequente principalmente nas áreas de Caatinga onde ocorre grande extração de lenha e carvão para a cocção de alimentos. (Abbot & Lowore 1999, LI et al. 2005). A prática da produção de carvão é comum mesmo entre os moradores que dispõem de fogão a gás. Estudos realizados por Perez-Negron & Casas (2007) no México, Ventura-Aquino et al. (2008) na África do Sul e Vieira (2010), confirmaram que a presença de fogões a gás em residências não substituem ou diminuem a importância do carvão. Em Maputo, Moçambique , Brouwer & Falcão 83 (2001) afirmam que esta combinação de duas fontes de combustível funciona como uma estratégia para reduzir a despesa das famílias, fato também verificado por Ramos & Albuquerque (2012) em Cachoeira e Barrocas, comunidades rurais localizadas no município de Soledade, PB. Esta prática, em Novo Nilo apresenta-se ainda como uma forma rentável, pois o excedente desse carvão produzido, em alguns casos, é comercializado na própria comunidade. Alguns estudos demonstram a contribuição de elementos culturais para a continuação desta prática, especialmente quando os entrevistados indicam uma preferência por alimentos cozidos em fornos a lenha (Cocks, Wiersum 2003, Ventura-Aquino et al. 2008). Artesanal - nesta categoria foram incluídas apenas três espécies, representando 2 % do total indicado, nativas e pertencentes à família Arecaceae: Attalea speciosa Mart. ex Spreng (babaçu), Copernicia prunifera (carnaúba) e Astrocaryum vulgare Mart. (tucum). No que se refere ao uso dessas espécies, a palha da carnaúba foi citada como a parte mais usada para a fabricação dos seguintes artefatos: abano, bolsa, cesta, chapéu, corda, esteira, peneira, tapete e vassoura. Enquanto o babaçu, citado apenas para a fabricação de vassouras a partir do pecíolo de suas folhas e o tucum citado para fabricação de cordas. Os produtos confeccionados a partir dessas espécies, além de muito utilizados pelas comunidades locais, são comercializados nos municípios circunvizinhos e na capital. No Piauí, Santos (2008), Aguiar (2009), Oliveira (2009), Amorim (2010), Silva et al. (2012) e Sousa (2012) entre outros, destacaram em suas pesquisas etnobotânicas a importância dessas palmeiras confirmando os diferentes estudos desenvolvidos no território brasileiro (Rufino et al. 2008, Nascimento 2009, Souza et al. 2011, Silva 2012) e em outras partes do mundo (Barfod & Balslev 1988, Moraes et al. 1995; Borchsenius & Blicher-Mathiesen 1996; Moraes 2006, 2007; GonzalezPerez et al., 2012). Valor de uso: No que concerne aos resultados referentes ao índice Valor de Uso, a espécie que apresentou maior valor foi o babaçu (Attalea speciosa Mart. ex Spreng com VU=3,6, seguida da carnaúba (Copernicia prunifera) com VU=1,96, resultado similar ao verificado por Vieira (2008) para essa última espécie, que encontrou VU= 84 1,95 na comunidade por ele estudada. No entanto, merecem destaque ainda, por apresentarem valores significativos, os resultados referentes às espécies Mangifera indica L. (VU=0,70), Citrus aurantium L. (VU=0,58), e Malpighia glabra L. (VU=0,55), consideradas importantes na categoria alimentícia. Na categoria medicinal destacou-se Lippia alba, espécie citada como calmante e como hipotensora, com VU=0,57, justificando a concordância verificada entre os entrevistados para as indicações relativas ao tratamento das doenças do sistema nervoso nos resultados referentes ao índice de consenso dos informantes da comunidade. Friedman et al. (1986) sugerem que um bom critério para justificar o uso de uma planta é verificar a concordância de uso na comunidade, ou seja, quanto maior for esta concordância, é possível que a planta citada contenha algum composto químico que valide seu uso. As atividades calmante e hipotensora foram comprovadas por Matos (1999) e referidos por Mattos et al. (2007), quando afirmam que esta espécie vem sendo utilizada em diversos programas de fitoterapia, sendo largamente utilizada no Brasil devido às propriedades calmante, espasmolítica suave, analgésica, sedativa, ansiolítica e levemente expectorante. Esses efeitos são validados quimicamente por seus constituintes ativos, dentre eles o óleo essencial que apresenta citral, mirceno, limoneno e carvona e que, cuja concentração varia conforme o clima e a forma de cultivo (Lorenzi & Matos 2002). Julião et al. (2003) destaca o linalol com efeito depressor sobre o sistema nervoso central, resultando em propriedades hipnóticas, hipotérmicas e anticonvulsivantes. O índice de Valor de Uso das espécies mostra o quão importante cada uma delas é para a comunidade estudada, apresentando-se como relevante argumento para a promoção da conservação destas em seus ambientes naturais. Espécies da flora utilizadas na geração de renda Muitas espécies apresentam potencial de uso econômico, sendo referidos pelos moradores como alternativa rentável que auxiliam nas despesas do orçamento familiar. Essas espécies estão distribuídas nas mais distintas categorias e são obtidas em diferentes locais, sendo algumas cultivadas e outras extraídas das matas mais próximas. Na categoria alimentícia destacam-se as seguintes espécies: feijão (Phaseolus vulgaris), arroz (Oryza sativa), milho (Zea mays), mandioca (Manihot esculenta), macaxeira (Manihot utilissima), abóbora (Cucurbita pepo), quiabo 85 (Abelmoschus esculentus), e melancia (Solanum palinacanthum) que são obtidas nos plantios de roçados e vazantes e vendidas, quando há excedente na produção, dentro da comunidade ou nas cidades circunvizinhas. Outras espécies como: batata-doce (Ipomoea batatas), banana (Musa paradisiaca), coentro (Coriandrum sativum), cebolinha (Allium schoenoprasum), pimentão (Capsicum annuum) e pimenta-de-cheiro (Capsicum chinense), são cultivadas em pequenas hortas ou canteiros erguidos nos quintais e vendidas geralmente para estabelecimentos comerciais. Na categoria medicinal destacam-se como espécies utilizadas na produção de garrafada: penicilina (Alternanthera dentata), bredo (Amaranthus deflexus), perpeta (Gomphrena globosa), aroeira (Myracrodruon urundeuva), chanana (Turnera ulmifolia), ameixa (Ximenia americana), açoita-cavalo (Luehea speciosa), aroba (Neptunia plena), embaúba (Cecropia glaziovi), e milindro (Asparagus sp), sendo algumas cultivadas nos quintais e outras obtidas nas matas dos arredores da comunidade. As palmeiras babaçu, carnaúba e tucum são destaque nas categorias de artesanato e construção. Sendo o babaçu utilizado ainda, na produção de azeite vegetal aproveitado para fins alimentício e medicinal, configurando-se com grande potencial econômico para a comunidade. Outra alternativa geradora de renda realizada por apenas um morador é a fabricação e reparo de canoas utilizando as seguintes espécies: unha-de-gato (Mimosa caesalpinifolia), catinga-branca (Combretum duarteanum) mufumbo (Combretum leprosum), mororó (Bauhinia ungulata), cedro-branco (Cardiospermum anomalum), pequi (Caryocar coriaceum ), e pau-d’arco (Handroanthus serratifolius), angelim (Andira retusa) e aroeira (Myracrodruon urundeuva). As espécies nativas destacaram-se de forma exclusiva nas categorias construção, artesanal e produção energética, enquanto as exóticas são usadas principalmente nas categorias medicinal e alimentícia, havendo uma vasta quantidade de espécies utilizadas para geração de renda, demonstrando que a comunidade retira da terra seu sustento. Os moradores da comunidade conhecem e usam as espécies mais necessárias à sobrevivência e as mulheres apresentam-se como membros de significativa importância na manutenção da vegetação local. A maioria das espécies é especialmente útil e o saber popular deve ser resgatado e mantido através de ações desenvolvidas pelas entidades responsáveis pela gestão da comunidade, para que não haja aculturamento. 86 AGRADECIMENTOS Aos moradores da Comunidade Novo Nilo, União/PI, pela receptividade, carinho e colaboração no fornecimento dos dados durante a realização deste estudo e aos estagiários do Herbário Graziela Barroso (TEPB) da Universidade Federal do Piauí, pelo auxílio na herborização e incorporação do material botânico. 87 REFERENCIAS ABBOT, P. & LOWORE, J. 1999. Characteristics and management potential of some indigenous firewood species from Malawi. Forest Ecology and Management. 119:111–21. AGRA, M.F., FREITAS, P.F. & BARBOSA-FILHO, J.M. 2007. 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[email protected] 98 Resumo O conhecimento do perfil socioeconômico, cultural e religioso das comunidades rurais é significativo para o desenvolvimento de políticas públicas que garantam a qualidade de vida e manutenção das tradições locais destas. Nesse artigo objetivouse conhecer a realidade socioeconômica, as práticas culturais e religiosas da comunidade rural Novo Nilo (União/PI), situada à margem direita do rio Parnaíba. Com população aproximada de 1.458 habitantes, distribuídos em 371 famílias. A metodologia deu-se em etapas de observação direta, registro fotográfico e aplicação de formulários semiestruturados a 202 pessoas, distribuídas nas faixas etárias definidas pelo IBGE, perfazendo 54,4% do universo amostral. Os resultados indicam que 31% dos moradores não apresentam escolaridade, 67% praticam agricultura de subsistência e 81% recebem benefícios do governo federal. Apresenta sérios problemas de saúde e total ausência de saneamento básico. A população participa ativamente dos eventos culturais e quanto à religiosidade, 81% declararam-se católicos, com a presença de rezadores. Abstract Knowledge of the socioeconomic, cultural and religious profile of rural communities is significant for the development of public policies that guarantee the quality of life and preservation of local traditions. This paper aimed to know socioeconomic reality, cultural and religious practices of the rural community Novo Nilo (União/PI), situated on the right bank of the river Parnaíba. This has an approximate population of 1,458 inhabitants distributed in 371 families. The methodology was performed in steps of direct observation, photographic documentation and implementation of semistructured forms to 202 people, distributed in the age groups defined by IBGE, totaling 54.4% of the universe sample. The results indicate that 31% of villagers have no schooling, 67% practice subsistence agriculture and 81% receive benefits from the federal government. They presents serious health problems and total absence of basic sanitation. The population actively participates in cultural events and about religiosity, 81 % declared themselves Catholics, with the presence of chanters. 99 Introdução Ao longo da história, o ser humano vem acumulando informações sobre o ambiente em que vive, procurando desenvolver variadas técnicas de uso e manejo dos recursos naturais, principalmente dos recursos vegetais, com o objetivo de garantir melhores formas de sobrevivência, através de uma relação direta com a natureza. Esta relação é objeto de estudo da ciência conhecida como Etnobotânica, que além deste papel, procura o resgate e valorização do saber popular, buscando intensificar sua disseminação entre os membros de diversas comunidades (Santos et al. 2008). Os aspectos culturais configuram-se como objeto de estudo de vários autores como Da Matta (1997), Amaral (1998), Figueiredo (1999), Guarinello (2001), Barros (2002), Perez (2002), Haesbaert (2007), França (2008), Carvalho (2010), Souza e Costa (2011), que levantam questões que se referem ao caráter ritual, religioso, político, formador de identidades, cultural e formador de grupos sociais procurando registrar as diferentes manifestações da cultura popular. No entanto, é também papel da Etnobotânica trazer contribuições para a área, que abordem não apenas os diversos aspectos das relações entre pessoas e plantas, mas incluindo investigações sobre conhecimento, significado cultural, origem e fluxo do conhecimento, etnotaxonomia e perda de conhecimento (Albuquerque et al .2005a,b; Albuquerque e Lucena 2005, Hanazaki et al. 2006, Rodrigues 2006, Silva e Andrade 2006, Lucena et al. 2007) . No Piauí, vários estudos etnobotânicos vêm destacando também essas manifestações, como Oliveira et al. (2011), Amorim, Silva e Barros (2012), Gondim, Vieira, e Barros (2012), Silva, Barros e Araújo (2012), Franco e Barros (2012), Aguiar e Barros (2012), Chaves e Barros (2012), Freitas et al. (2012), Sousa et al. (2012), Vieira e Barros (2013), dentre outros. O estudo do conhecimento local pode ajudar a entender como funcionam esses mecanismos de manejo (Berkes et al. 2000), porém, tão importante quanto observar esses modelos nos aspectos botânicos e ecológicos, é também fazer o resgate dos significativos valores culturais, comentado por Sachs (1997), quando afirma que não se pode falar de biodiversidade separando-a da diversidade cultural. Norgaard e Sikor (2002) mencionam que, no meio rural, especialmente nos países de terceiro mundo, o ambiente e a cultura apresentam-se interligados a outros processos, que condicionam o desenvolvimento local, tais como: 100 conhecimento, valores, organização social, ambiente e tecnologias. Afirmam, ainda, que a sobrevivência dessas e nessas comunidades depende de políticas públicas adequadas. Para Amorozo e Gély (1988) e Benz et al. (2000), as rápidas mudanças sociais e os processos de aculturação econômica e cultural afetam fortemente o conhecimento local sobre o uso de recursos naturais. O conhecimento do perfil socioeconômico dos moradores das comunidades rurais, bem como de sua cultura e práticas religiosas, são de grande relevância visto que, como observado por Boada (1991,p.88), as festas religiosas, por exemplo, merecem destaque por representarem mudança no espaço e no tempo das comunidades, podendo o espaço ser humanizado, ou seja, transformado num lugar diferenciado do restante, basta que para tanto ali sejam realizados ritos que dêem conta de tal tarefa, o que pode ser realizado através das festas religiosas. Porém, estes itens são pouco explorados nas pesquisas de cunho científico, entretanto, tais estudos são de extrema relevância, visto que, o resgate e a valorização desse conhecimento, aliados ao levantamento das problemáticas podem constituir-se de instrumentos úteis no planejamento de políticas que visem à melhoria da qualidade de vida dessas populações. Diante disso, objetivou-se realizar um levantamento do perfil dos moradores da comunidade Novo Nilo, estabelecida na zona rural do município de União - PI. Objetivou-se ainda, verificar a realidade socioeconômica da comunidade, bem como suas práticas culturais e religiosas. 101 Material e Métodos Caracterização da área de estudo União, localizado no estado do Piauí, é um dos municípios mais antigos e está situado a margem direita do rio Parnaíba, com sede nas coordenadas 04º 35’ 09” S e 42º 51' 51’’ W, a uma distancia de 59 km de Teresina, capital do Estado. Limita-se ao norte, com Miguel Alves e Cabeceiras do Piauí, ao sul com Teresina, ao Leste com Lagoa Alegre e José de Freitas e a oeste com rio Parnaíba/ estado do Maranhão (IBGE 2010). Encontra-se a uma altitude de 52 m acima do nível do mar (CEPRO 2011) e possui clima Tropical Quente e uma vegetação de transição entre Cerrado e Mata dos Cocais. Apresenta uma população estimada em 42.654 habitantes e uma área territorial de 1.173 km2 onde se encontra a comunidade rural Novo Nilo (IBGE 2010). A comunidade Novo Nilo, foi criada pelo coronel Gervásio Costa na década de 1920, onde instalou uma fábrica de beneficiamento de coco babaçu (Attalea speciosa Mart. ex Spreng.) para a produção de óleo e sabão. Dista aproximadamente 80 km da capital, tendo seus limites com os seguintes povoados: ao norte, Localidade Bebedouro, ao oeste com Varginha, ao leste com Pedrinhas e ao sul com rio Parnaíba/Estado do Maranhão (IBGE 2010). 102 Figura 1: Localização da Comunidade Novo Nilo, União/PI. Fonte: Modificado do Google/Maps (2013). A base econômica da comunidade está voltada para a extração vegetal, principalmente da carnaúba (Copernicia prunifera (Mill.) H.E.Moore) e do babaçu (Attalea speciosa Mart. ex Spreng) (IBGE 2010) e agricultura de subsistência, com a prática de cultivos em roça. 103 Coleta e análise dos dados Novo Nilo possui uma população aproximada de 1.516 habitantes, distribuída em 371 famílias, que inspiraram uma pesquisa com uma abordagem etnográfica. Das quais se definiu o total de 54,4% delas como universo amostral da pesquisa para os levantamentos socioeconômico e cultural, perfazendo 202 entrevistas, seguindo o preconizado por Barbeta (2006). Para definição dos entrevistados, foi aplicada a técnica “bola de neve” (Bailey 1994). Os dados etnobotânicos e socioeconômicos foram coletados após submissão e aprovação do projeto de pesquisa no Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal do Piauí. As entrevistas foram realizadas mediante permissão dos entrevistados através de aceite, conhecimento e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), em duas vias, uma pertencente ao entrevistado e outra ao pesquisador, as quais foram realizadas entre os meses de julho de 2012 a julho de 2013, através de observação direta e com o auxílio de formulário padronizado com questões abertas e fechadas, através de entrevistas semiestruturadas (Bernard 1988), apresentando a seguinte estrutura: identificação, localização e dados socioeconômicos (composição familiar, idade, gênero, escolaridade, renda, habitação, saneamento, e informações místico-religiosas). Este modelo de formulário, segundo Ditt (2002) oportunizam aos entrevistados fazerem depoimentos e ao mesmo tempo a atribuição de valores, por parte do pesquisador, às respostas obtidas. Logo após foram transcritas em laboratório, juntamente com os dados referentes às conversas, discussões e debates informais registradas em diário de campo, além do registro fotográfico das práticas socioculturais. As respostas foram tabuladas em tabelas e gráficos, e analisadas por meio de estatística descritiva básica. Resultados A comunidade é constituída por 371 famílias, na sua maioria constituída pelo pai, mãe, filhos e em alguns casos, agregados (genros/noras e netos), das quais 202 indivíduos foram entrevistados, com idade entre 18 e 96 anos de idade. Destes indivíduos 73,8 % são do gênero feminino e 26,2 % do masculino. 104 As faixas etárias estudadas (Figura 2) foram: jovens 9,0 % (entre 18 e 24), adultos 62,6 % (entre 25 e 59) e idosos 28,4 % (a partir dos 60), de acordo com a divisão adotada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE 2010). 62,6% 70,0% 60,0% 50,0% 40,0% 28,4% 30,0% 20,0% 9,0% 10,0% 0,0% De 18-24 18 anos De 25-59 anos 60 ou mais anos Figura 2: Faixa etária dos entrevistados na comunidade Novo Nilo, União/PI: 18-24 (JOVENS) 25-59 (ADULTOS) > 60 (IDOSOS) Fonte: Pesquisa direta, julho/2013 Em relação ao estado civil, a população está distribuída da seguinte maneira: 77 % são casados, 3 % apresentam união estável, 9,4 % são solteiros, 1,5 % são divorciados e 8,4 % são viúvos. Nas residências dos entrevistados, constataconstata se que em 81,2 % há uma quantidade de moradores menor ou igual a cinco e em 18,8 % delas há um número maior que cinco. Quanto à escolaridade dos indivíduos entrevistados entrevistados (Figura 3) a pesquisa aponta um índice de 47,5 % com ensino fundamental incompleto, 31,7 % sem escolaridade, 9,4 % com ensino fundamental completo, 5 % com ensino médio completo e apenas 1 % com ensino superior. A comunidade apresenta uma creche municipal, uma escola municipal de Ensino Fundamental e uma escola estadual de Ensino Fundamental e Ensino Médio. 105 47,5% 50,0% 45,0% 40,0% 35,0% 30,0% 25,0% 20,0% 15,0% 10,0% 5,0% 0,0% 31,7% 9,4% 5,0% EFC Figura 3: EFI EMC Distribuição 5,0% EMI da 1,0% 0,5% ESC ESI comunidade SE Novo Nilo Nilo-União/PI, por escolaridade: EFC: ENS. FUND. COMPLETO/ EFI: ENS. FUND. INCOMPLETO/ EMC: ENS. M. COMPLETO/ EMI: ENS. M. INCOMPLETO/ ESC: ENS.SUPERIOR INCOMPLETO e SE: SEM ESCOLARIDADE. (Fonte: Fonte: Pesquisa direta, julho/2013) julho/2013 A comunidade possui um Posto de Saúde, no qual há prestação de serviços básicos à população através do Programa de Saúde da d Família (PSF), porém atendimento médico ocorre de segunda a sexta-feira sexta feira apenas no período da manhã, tendo um técnico de enfermagem permanente, mas não há atendimento à noite. Quando se faz necessário, o paciente é encaminhado até a sede do município de União. nião. Há também um acompanhamento regular e cinco agentes de saúde locais junto às famílias em seus domicílios, que têm seus dados atualizados através de um cadastro da situação de saúde de cada pessoa. A via de acesso à comunidade é feita através da rodovia rodovia asfaltada PI-112 PI que interliga os municípios de União e Miguel Alves. Os principais meios de transporte são ônibus e transporte alternativo (vans) que fazem as linhas Teresina/União /Miguel Alves, diariamente, em vários horários do dia. A comunidade dispõe dispõe de energia elétrica e devido a grande distância das cidades vizinhas, não há sinal de rede de telefonia celular captado por operadoras, apenas por celular rural (via antena), porém o acesso a este serviço é privilégio de apenas 30 % dos moradores. Cerca rca de 80 % das ruas da comunidade não possui calçamento, há uma quadra de esportes e uma praça, onde se encontra uma televisão de uso comunitário, a fábrica GECOSA, e a igreja. 106 Quanto à posse da moradia, todos residem em casas construídas em terrenos cedidos pela empresa de beneficiamento de babaçu, a GECOSA, proprietária das terras. No que se refere à estrutura das residências, 27,2 % têm suas casas cobertas de palhas e 72,8 % de telha; 39,6 % possuem paredes de taipa, 57,4 % de tijolos,1,5 % de adobe e 1,5 % de palha. O piso é formado por cimento (72,3 %), cerâmica (9,9 %), chão batido (13,4 %) e 4,4 % apresentam apenas um ou dois cômodos (geralmente sala) da casa revestidos de cerâmica. Os resultados obtidos em relação ao destino do lixo mostram que na comunidade não há coleta deste e apontam que 96 % das famílias entrevistadas realizam a queima, 2,5 % deixam a céu aberto despejado nas imediações da casa e apenas 2 % enterram seu lixo não biodegradável. A comunidade não possui água tratada, sendo o abastecimento realizado através de encanamentos hidráulicos com captação direta do rio, chegando às residências sem prévio tratamento. A purificação desta é feita, em sua maioria (51 %), através do uso de hipoclorito de sódio (cloro), juntamente com o processo da filtragem; 19,8 % apenas utilizam o cloro; 17,8 % apenas usam a filtragem; 5 % não utilizam nenhuma técnica de tratamento e 6,4 % disseram que utilizam a fervura para tal procedimento. O destino das águas residuais é realizado através do despejo a céu aberto diretamente no solo e quanto ao destino das excretas humanas, 17 % utilizam a fossa séptica, 38 % depositam em fossa negra e 45 % fazem suas necessidades a céu aberto. A atividade básica da maioria das famílias (67 %) é a agricultura de subsistência com a prática de cultivos em roças em vazantes às margens do rio Parnaíba, em terrenos afastados do centro da comunidade e nos quintais. Cultivam principalmente os seguintes cultivares: feijão (Phaseolus vulgaris L.), arroz (Oryza sativa L.), milho (Zea mays L.), mandioca (Manihot esculenta Crantz), abóbora (Cucurbita pepoL.), quiabo (Abelmoschus esculentus Moench) e melancia (Solanum palinacanthum Dunal). Como atividades básicas também, destaca-se a pesca (6,5%), onde os pescadores são associados na colônia Z-18 de União; a criação extensiva de pequenos animais, principalmente galinhas, suínos e caprinos; e atividades remuneradas como funcionários da fábrica GECOSA (70) e como funcionários públicos (40), vinculados à Prefeitura Municipal de União. Os moradores mais jovens geralmente desenvolvem atividades profissionais nas 107 cidades vizinhas, sendo bastante comum ainda, a prática do deslocamento destes para os grandes centros. Outras atividades bastante praticadas pelos moradores são: a extração da palha de carnaúba (C. prunifera) para produção de vassouras e outros artesanatos, bem como a extração de coco-babaçu (Attalea speciosa Mart. ex Spreng) para retirada da amêndoa da qual há a produção do azeite e para a venda à GECOSA; extração da palha utilizada na construção de estruturas de moradia (de telhados, paredes, mourões, ranchos, barracas e banheiros) e em menor quantidade para produção de vassouras; fazem ainda, o recolhimento da casca para a produção de carvão. Em relação à renda mensal, 53 % perfazem menos de dois salários mínimos, 33,6 % menos de um salário e 13,4 % um pouco mais que dois. A grande maioria destas famílias (81,3 %) completa o sustento com rendas provenientes de benefícios do Governo Federal, onde 49,7 % destas recebem bolsa família e 41,6 % aposentadoria. Na comunidade verificou-se ainda, que há uma significativa produção artesanal de artigos para consumo próprio ou venda, pois se registrou que mais 30 % das famílias entrevistadas, realizam algum tipo de trabalho artesanal, difundido entre as seguintes categorias: produção de vassouras, utensílios domésticos de palha de carnaúba e babaçu, remédios caseiros, artefatos de pesca e crochê. Há uma pessoa que fabrica e concerta canoas. A comunidade participa ativamente das atividades culturais e religiosas realizadas durante o ano. Destacam-se os festejos de São João, realizados entre os dias 14 a 24 de junho, com apresentações culturais como danças, quadrilhas e fogueiras, sendo estas organizadas pelas escolas da comunidade. Outros festejos que acontecem são os do Menino Jesus, realizado de 15 a 25 de dezembro; o de São Francisco, realizado de 24 de setembro a quatro de outubro e o de Santa Luzia, acontecendo entre os dias 3 a 13 de dezembro. Os dois primeiros acontecem na igreja do centro da comunidade e os dois últimos em outras pequenas capelas construídas por alguns moradores. A programação religiosa acontece durante todos os dias e incluem novenas, procissões e missas. Apenas estas últimas são celebradas pelo padre de União, na ocasião são realizados os batizados e casamentos. Há também entre os moradores o hábito de receber nas residências, a 108 imagem de Nossa Senhora (Mãe-Rainha), (Mãe acompanhada da celebração de novena pelas senhoras mais idosas da comunidade. No levantamento realizado observou-se observou se um elevado número de católicos (86,1 %), seguidos de protestantes (12,4 %), espíritas (1%) e deístas (0,5 %) (Figura 3). Figura gura 4: Distribuição da população da comunidade Novo Nilo-União/Pi Nilo em relação à Religiosidade. Fonte: pesquisa direta, julho/2013. As crendices e superstições também estão presentes na comunidade. Dentre as famílias entrevistadas, 61,5 % afirmam que conhece algum tipo de ritual ou algum tipo de uso de plantas para cura ou defesa, como verificado na Figura 5. Esses rituais são realizados por oito rezadores que utilizam um pequeno galho da planta que é passado sobre o corpo corpo da pessoa acompanhado de uma reza, sendo utilizadas principalmente para tirar quebranto e mal olhado. As plantas utilizadas nesses rituais são: vassourinha (Scoparia ( dulcis L.) peão-roxo peão (Jatropha gossypiifolia L.) e comigo-ninguém-pode comigo (Dieffenbachia a picta (Lodd) Schott). Somente as duas últimas plantas são mencionadas para mau olhado, as quais são plantadas normalmente em frente à casa. 109 61,50% 38,50% Sim Não Figura 5: Distribuição da população da comunidade Novo Nilo, União/PI em relação ao conhecimento conhecim de plantas místico-religiosa. Fonte: pesquisa direta, julho/2013. Discussão Em Novo Nilo observa-se observa se uma realidade bastante comum à verificada nas comunidades rurais do Nordeste do Brasil, onde os resultados nos mostram essa concordância. A desproporção verificada quanto ao número de homens e mulheres se dá provavelmente em função das mulheres serem as que passam mais tempo em casa com os filhos, o que reafirma o papel da mulher como mantenedora da casa e portadora de conhecimentos tradicionais, tradicionais, característico da cultura rural. Dados também verificados por Souza e Silva (2012) em Juazeiro, Bahia. Em trabalhos realizados por outros autores, as mulheres também corresponderam à maior parcela das entrevistas respondidas (Amorozo 2002, Florentino Flo et al. al 2007, Moura e Andrade 2007, Silva e Proença 2008, Cunha e Bortolotto 2011, Carvalho et al. 2013). Quanto ao estado civil à maioria (79,2 %) dos entrevistados é casada ou apresenta união estável. Para Freitas et al (2012) a condição casada poderá estar relacionada com maior conhecimento sobre as plantas, pois geralmente a existência dos filhos implica na busca de soluções práticas e imediatas para o tratamento de doenças. Em relação à faixa etária mais da metade dos informantes (62,6%) é de adultos, corroborando com o verificado por estudos conduzidos no Piauí Franco e 110 Barros (2006) no Quilombo Olho D’agua dos Pires e Chaves e Barros (2012) na zona rural de Cocal. Constatou-se que a comunidade é caracterizada por indivíduos que não tiveram acesso permanente à educação escolar, com índices de escolaridade bastante reduzidos, com 31,7 % sem escolaridade. Isso provavelmente em decorrência da existência de apenas duas escolas e uma creche na comunidade. Outro fator que ameaça a permanência desses indivíduos no âmbito escolar é a emigração do meio rural para as zonas urbanas. Situação semelhante também verificada Aguiar e Barros (2012) e Freitas et al. (2012), cuja maioria dos entrevistados possuía apenas o ensino fundamental incompleto, determinando a baixa renda nas comunidades rurais, configurando uma realidade lamentável no estado do Piauí e no país, visto que, os levantamentos de Guarim Neto (2008), Carniello et al.(2010) e Oliveira e Menini Neto (2012), corroboram com esses resultados. Para Cardoso (2005) a falta de qualificação, em função da baixa escolaridade, impossibilita a obtenção de empregos com melhores remunerações. Quanto à saúde, há necessidade de melhorias, pois apesar de possuir um posto com atendimento médico, este é precário, acontecendo de segunda a sextafeira apenas num único turno do dia, fato também citado por Pilla et al. (2006) no distrito de Martim Francisco, interior Paulista. Apesar de a comunidade ser contemplada com o Programa Saúde da Família, nos casos em que há necessidade de procedimentos mais sérios, ocorre o encaminhamento para a sede do município de União ou para a capital do Estado. Outro fato frequentemente observado é a utilização da medicina popular, onde muitos dos moradores substituem produtos alopáticos por receitas naturais. Isso se dá provavelmente pelo fato de que as plantas constituem a principal fonte de matéria-prima para a produção de medicamentos caseiros para a população. Resultados semelhantes foram obtidos por diferentes autores na região nordestina (Rodrigues e Guedes 2006, Oliveira et al. 2010, Silva e Freire 2010, Chaves e Barros 2012, Carvalho et al. 2013). No que diz respeito à moradia, a população dessa comunidade apresenta uma característica peculiar, pois constroem suas residências sem a posse do terreno em que estão alocadas, visto que a comunidade cresceu no entorno da fábrica GECOSA de propriedade particular. Apesar dessa situação, verificam-se construções com 72,8 % com cobertura de telha e 27,2 % são cobertas por palha, mais da metade (57,4 %) é construída de tijolo e 39,6 % de taipa. Dados 111 semelhantes foram encontrados por Dias, Rosa e Damasceno (2007) nas comunidades Diogo Lopes e Sertãozinho, Rio Grande do Norte, onde descreveram que 43,75 % das casas são feitas de taipa e 56,25 % de alvenaria. Porém, estes dados diferem dos encontrados por Silva (2011), quando pesquisou 13 comunidades na zona rural de Miguel Alves, Piauí, constatando que as residências das mulheres quebradeiras de coco destas localidades eram em sua maioria (65,30 %) coberta de palha e que 77,30 % destas casas apresentam paredes de taipa. Essa diferença provavelmente se deve ao início de um processo de urbanização na comunidade de Novo Nilo. Observa-se ainda, na referida comunidade, que 72,3 % das residências apresentam piso de cimento, 9,9 % de cerâmica e 13,4 % de chão batido, dados encontrados também na comunidade Barra Grande (APA do Delta do Parnaíba) por Freitas et al. (2012), quando verificou que 79 % das casas apresentam piso de cimento, 13 % de cerâmica e 8 % de chão batido. Na comunidade, o saneamento básico é precário, uma vez que não há coleta de lixo, não há tratamento de água e não há rede de esgotamento sanitário. A destinação do lixo, quase na sua totalidade, é a céu aberto, não havendo coleta deste. Situação semelhante foi analisada por Chaves e Barros (2012) e por Araújo (2013) na comunidade Passarinho, Araioses, Maranhão, onde também há necessidade de melhorias nas condições sanitárias. Estas melhorias são destacadas por Nishida et al. (2008) como sendo de fundamental importância para o progresso da qualidade ambiental. A principal atividade econômica da comunidade consiste na agricultura de subsistência, com a prática de cultivos em roças. Situação semelhante foi verificada por Canales et al. (2005) em San Rafael Coxcatlán - México e em várias regiões do Brasil, destacada por Pasa et al. (2005) em comunidades rurais de Conceição-Açu, Mato Grosso; por Pinto (2006) em comunidades rurais de mata atlântica, Bahia, Carvalho et al. (2013) em Comunidade da Várzea e Garanhuns, Pernambuco e por Valadão et al. (2006) em assentamentos rurais, São Paulo, quando destacam que as atividades agrícolas praticadas pelos moradores rurais, são fundamentais para a sobrevivência das comunidades locais. Das famílias entrevistadas, mais da metade possui uma renda salarial baixa, fato comum nas comunidades rurais brasileiras devido aos precários níveis de escolaridade. Fato verificado por Pasa (2011) na comunidade Bom Jardim, em Cuiabá, Mato Grosso e por Aguiar (2012), que observou que na zona rural de 112 Demerval Lobão, Piauí a renda mensal não ultrapassava um salário mínimo. Contudo, nos trabalhos citados os moradores complementam sua renda com a agricultura familiar. Dessas famílias, 81 % contam com algum benefício fornecido pelo governo federal, configurando-se uma realidade nas comunidades rurais brasileiras e registrada por praticamente todas as pesquisas etnobotânicas realizadas no Piauí (Chaves 2005, Franco 2005, Vieira 2008, Silva 2010, Sousa 2010, Meireles, 2012, Santos 2013, Araújo 2013). Outras atividades de grande importância na economia da população é a pesca, visto que a comunidade encontrase às margens do rio Parnaíba, e a produção artesanal, sobretudo no que concerne aos produtos confeccionados a partir do extrativismo da carnaúba (C. prunifera) e do babaçu (A. speciosa Mart. ex Spreng). Esta última, relacionada ao fato de que a comunidade encontra-se em meio a um palmeiral. Resultados também encontrados por Silva (2010) nas comunidades Resolvido, Pau-Arrastado e Salinas em Campo Maior, Piauí. O uso do babaçu para produção artesanal é uma realidade em várias partes do Brasil (Rufino et al. 2008, Nascimento 2009, Souza et al. 2011, Silva 2012) e em outras partes do mundo (Barfod e Balslev 1988, Moraes et al. 1995; Borchsenius e Blicher-Mathiesen 1996, Moraes 2006-2007, Gonzalez-Perez et al. 2012). Pode-se afirmar, portanto, que em relação ao aspecto econômico da comunidade, ocorre uma combinação das atividades relacionadas à agricultura familiar, pesca, produção artesanal, alguns empregos públicos e da empresa Gecosa. Tais atividades foram citadas como fatores econômicos que mantém parte do sustento das famílias entrevistadas. No que concerne aos aspectos culturais os moradores de Novo Nilo apresentam-se com uma diversidade bastante evidenciada e repassada de pais para filhos, no curso das gerações, sendo manifestada através da participação ativa nos eventos comemorativos, como festas, campeonatos esportivos, reizados, são gonçalos, leilões, festas juninas, entre outros. Os aspectos religiosos são particularmente intensos, com diversas manifestações e em vários credos. Como afirma Tuan (1980): “a religiãoestá presente na vida do ser humano em vários graus eem todas asculturas e isso éum traçouniversal.” Vale ressaltar, ainda, o destacado por Castilho e Le Bourlegat (2006) “a experiência religiosa contribui para a vida social e comportamentos coletivos”. 113 Porém, essas manifestações estão mais presentes, sobretudo nos festejos promovidos pela igreja católica, com novenas e procissões. Essa característica se dá provavelmente pelo vínculo com a cidade de União, onde Santos (2013) observou essa mesma intensa participação. Fato também observado por Freitas et al. (2012), na comunidade Sítio Cruz, Rio Grande do Norte, quando afirmam que no Brasil, mesmo que tenham outras religiões é comum as pessoas se declararem católicas. Outra prática bastante difundida na comunidade é o fato dos moradores recorrerem com muita frequência aos rezadores, que na maioria (76 %) se classificam como católicos, segundo Araújo et al. (2009), grande parte dos antigos “mateiros” detentores do conhecimento das plantas no Brasil eram adeptos desta religião. Estes rezadores atendem utilizando plantas em rituais, principalmente para espantar mau-olhado ou quebrantes em crianças, concordando com Marti (1989) que relata que as orações são comuns no uso de remédios à base de plantas. Agelet e Valles (2001) realizando estudos sobre etnobotânica farmacêutica na região de Pallars, Pirinéus, Catalunha, Península Ibérica, afirmam que provavelmente em todas as culturas rurais o uso de plantas medicinais é ritualizado e associado a diferentes tipos de crenças ou práticas mágico-religiosas. No Brasil, situações semelhantes foram verificadas por Damasceno (2009) na comunidade rural de Martinésia, Minas Gerais, onde alguns entrevistados foram identificados nas categorias de benzedor, curandeiro e raizeiro, todos praticantes da medicina popular. A figura histórica do curandeiro, conhecido popularmente por raizeiro, tem resistido ao tempo e às inovações da medicina científica, perdurando até os dias atuais e sendo muito procurado pela população para aquisição de ervas medicinais, partes destas ou produtos já confeccionados e direcionados ao tratamento de problemas de saúde (França 2008). No Piauí, dado semelhante foi relatado por Vieira e Barros (2010) na comunidade quilombola dos Macacos, por Sousa (2010) nas comunidades pesqueiras da APA do Delta e observada no trabalho de Amorim (2010) na comunidade do Poti Velho. Além desses rituais, tais rezadores produzem garrafadas, feitas com um número considerável de plantas, como observados por Santos (2013) na colônia de pescadores de União, Piauí. 114 Conclusão Considerando o levantamento dos dados acima citados, pode-se perceber que Novo Nilo apresenta-se como muitas das comunidades rurais do país, com vastos problemas sociais, retratados principalmente no que concerne às questões de saúde pública, com total ausência de saneamento básico, e, sobretudo em relação às questões educacionais. É perceptível a preocupação dos moradores em manter as práticas culturais, como as atividades religiosas, profissionais e ao saber popular sobre as plantas e seus respectivos usos, seja como fontes de alimentos, rituais ou com propriedades medicinais. Contudo, alguns elementos se modificam de forma que não podem ser controlados pelos atores locais, pois com a influência dos meios de comunicação e com o processo gradual de urbanização ocorrem algumas alteracões oriundas dessas práticas. A análise dos dados socioeconômicos e da relação da comunidade com a natureza nos conduz ao entendimento de que a contribuição que as populações rurais têm a oferecer à sociedade e às ciências é significativa, todavia, é necessário que estas sejam protegidas e assistidas com políticas públicas que possam mitigar suas necessidades básicas e valorizar seus conhecimentos e hábitos, incentivandoas a aprimorar suas atividades econômicas, garantindo-lhes o direito de permanecer em seu local mantendo suas características de origem de forma digna. Agradecimentos Aos moradores da Comunidade Novo Nilo, União/PI, pela receptividade, carinho e colaboração no fornecimento dos dados durante a realização deste estudo e aos estagiários do Herbário Graziela Barroso (TEPB) da Universidade Federal do Piauí, pelo auxílio na herborização e incorporação do material botânico. 115 Referências bibliográficas A. AGELET&J. VALLE`S. 2001. Studies on pharmaceutical ethnobotany in the region of Pallars (Pyrenees, Catalonia, Iberian Peninsula).Part I. General results and new or very rare medicinal plants Journal of Ethnopharmacology77p.57–70, 2001. AGUIAR, L.C.G.G. &BARROS, R.F.M.2012. Plantas medicinais cultivadas em quintais de comunidades rurais no domínio do cerrado piauiense (Município de Demerval Lobão, Piauí, Brasil). Revista Brasileira de Plantas Medicinais, v. 14, n.3,p.419-434. ALBUQUERQUE, U.P.& LUCENA, R.F.P. 2005. Can apparency affect the use of plants by local people in tropical forests? Interciencia 30: 506-511. 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Com relação aos dados etnobotânicos, registrou-se 150 espécies, identificadas e classificadas em 126 gêneros e 56 famílias botânicas, as quais foram distribuídas em oito categorias de usos: Medicinal, Alimentícia, Ornamental, Construção, Forrageira, Místico-religiosa, Energética e Artesanal. Em relação às observações etnobotânicas aqui apresentadas, analisamos que o conhecimento e uso das espécies nessa comunidade rural é bem estabelecida, principalmente no que concerne a utilização das espécies para subsistência e comercial, visto que, foi verificado e registrado que a agricultura em roças e quintais constitue-se como atividade básica e que há uma vasta utilização de espécies para geração de renda. Nesse sentido, conclui-se que muitas espécies apresentam potencial de uso econômico, quer seja através do cultivo ou extrativismo, sendo utilizadas pelos moradores como alternativa rentável. As espécies que mais se destacaram na atividade extrativista foram o babaçu e a carnaúba. No entanto, o processo artesanal de produção de diferentes artefatos não é estimulado pelo poder público, devido à completa ausência de um projeto político voltado para o desenvolvimento sustentável. Entretanto, no que concerne ao repasse do saber popular verificou-se que a transmissão se dá através da oralidade e que este encontra-se com as pessoas mais idosas, sobretudo com as mulheres. Verificou-se que ocorre um distanciamento das gerações mais novas das tradições locais, sejam por meio do acesso as novas oportunidades ou mesmo por inflências midiáticas. Os dados socioeconômicos apontam graves problemas sociais, sobretudo com relação às deficiências dos serviços de saúde, total ausência de saneamento básico e aos baixos índices de escolaridade. No entanto, verificou-se uma vasta riqueza cultural, mística e religiosa, com o registro do desenvolvimento de atividades 123 festivas e ritualísticas que devem ser valorizadas e mantidas, garantindo que estes aspectos sejam vivenciados também pelas futuras gerações. Nesse sentido, espera-se que esses resultados possam contribuir fornecendo subsídios para a implementação de políticas públicas que possam incentivar atividades sustentáveis para a conservação dos recursos naturais, culturais e religiosos da referida comunidade. 124 APÊNDICES 125 APÊNDICE A: Espécies usadas em diversas categorias de uso na comunidade rural Novo Nilo, União, Piauí – Brasil: 1. Lippia alba (Mill.) N. E. Br. (erva-cidreira); 2. Anacardium occidentale L. (caju) 3. Punica granatum L. (romã); 4. Punica granatum L. (romã); 5. Ipomoea quamoclit L.(primavera); 6. Averrhoa carambola (carambola); 7. Catharanthus roseus (L.) G. Don (bomdia); 8. Musa paradisiaca L.(banana) 9. Allamanda cathartica L. (sininho). 126 APÊNDICE B: Aspectos socioeconômicos e culturais da Comunidade Novo Nilo-União Piauí – Brasil: Cultivo em quintais das seguintes categorias: Alimentícias (1,2,4,5,6,9 e 10), Medicinais (1 e 8), Ornamentais (3 e 11) e Criação de animais domésticos: (12). 127 APÊNDICE C: Aspectos socioeconômicas, culturais e religiosas da Comunidade Novo - União Piauí – Brasil:1. Produção artesanal; 2. Fábrica GECOSA; 3. Escola Mucipal Gervásio Costa; 4 e 5: Visão geral da Comunidade Novo Nilo; 6: Escola Mucipal José Costa; 7 e 8: Festejo de São Francisco (novena e procissão). 9: Igreja de de São João Batista 128 APÊNDICE D – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN) Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PGDMA) Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) Subprograma PRODEMA/UFPI/TROPEN Curso de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente Título do projeto: ETNOBOTÂNICAE RESGATE DO SABER POPULAR DA COMUNIDADE RURAL NOVO NILO-UNIÃO-PIAUÍ/BRASIL Pesquisador responsável: Drª Roseli Farias Melo de Barros Instituição/Departamento: Centro de Ciências da Natureza/ Departamento de Biologia Telefone para contato: (86) 3215-5509/ 3215-5566 Pesquisadores participantes: Waldiléia Ferreira de Melo Batista Telefones para contato (inclusive a cobrar): (86) 3233-3823/9993-9590 Local da coleta dos dados: Comunidade rural Novo Nilo- União/PI Descrição da pesquisa: Levantamento de dados Etnobotânicos e resgate da sabedoria popular. Você está sendo convidado a participar voluntariamente de um projeto de pesquisa intitulado “Estrutura populacional e aspectos etnobotânicos da palmeira babaçu (Orbignia phalerata Mart.) como subsídios para estratégias de extrativismo e sustentabilidade, no norte do Piauí. Leia atentamente o que se segue e quaisquer dúvidas pergunte ao responsável pela pesquisa. O projeto será desenvolvido pela aluna Waldiléia Ferreira de Melo Batista e dirigido pela professora Roseli Farias Melo de Barros. Logo após ser esclarecido(a) sobre as seguintes informações, no caso de aceitar fazer parte da pesquisa, é necessária a sua assinatura ao final deste documento, que está em duas vias. Uma delas é sua, a outra é do pesquisador responsável. Caso você não participe não será penalizado(a) de forma alguma. 129 Prezado (a) Senhor (a): Vale dizer que sua participação não é obrigatória, ela é livre e voluntária. A qualquer momento você pode desistir de participar e retirar seu consentimento. Sua negação não trará nenhum prejuízo em relação ao trabalho que será desenvolvido. O estudo tem por objetivo contribuir para um melhor uso do babaçu, através de um manejo adequado, como também um melhor entendimento do modo de vida dessas populações como forma de preservar e valorizar a cultura local e sua importância ao longo da cadeia produtiva de exploração do côco babaçu. Os resultados da pesquisa serão apresentados em congressos e em periódicos da área. As informações obtidas através dessa pesquisa serão confidenciais e asseguramos o sigilo sobre sua participação. Sua participação será através de resposta a um formulário informando seu conhecimento sobre a espécie babaçu, seu trabalho, seus estudos, sua fonte de renda e sua propriedade. Em caso de dúvidas poderá entrar em contato a qualquer momento com os envolvidos na pesquisa. A principal investigadora é Roseli Farias Melo de Barros que pode ser encontrada no endereço Av. Universitária, 1310. B. Ininga TROPEN / UFPI pelos telefones: (86) 32155509/ 3215-5566 ou 9426-7406. Caso tenha alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa, entre em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Piauí. Informamos que se você concordar em participar do estudo, seu nome e identidade não será divulgado. A não ser quando requerido por lei ou por sua solicitação, somente o pesquisador, a equipe do estudo, Comitê de Ética independente e inspetores de agências regulamentadoras do governo (quando necessário) terão acesso a suas informações para verificar as informações do estudo. A sua participação na pesquisa se inicia com a aceitação da entrevista e se encerra com a mesma. Você tem o direito de retirar o consentimento a qualquer tempo. Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e Esclarecido deste sujeito de pesquisa ou representante legal para a participação da pesquisa. O seu aceite se dará mediante a assinatura neste documento. Eu _______________________________________________, RG nº ______________e CPF nº__________________, declaro estar ciente sobre os objetivos do projeto e entendi a explicação. Por isso, concordo em participar do projeto, voluntariamente sem ganhar nada e que posso desistir quando quiser. Estou recebendo uma cópia deste documento, assinada, que vou guardar. Impressão do dedo polegar (Caso não saiba assinar) 130 União, ____/____/____ ___________________________________ (Assinatura do participante) _____________________________________ (Assinatura do responsável projeto) Se você tiver alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa, entre em contato: Comitê de Ética em Pesquisa – UFPI – Campus Universitário Ministro Petrônio Portela – Bairro Ininga Centro de Convivência L09 e 10 – CEP: 64.049-550 - Teresina –PI. Tel:. (86) 3215- 5737 – email: [email protected] web: www.ufpi.br/cep 131 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ-UFPI PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO NÚCLEO DE REFERENCIA EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS DO TRÓPICO ECOTONAL DO NORDESTE (TROPEN) PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE (PRODEMA) MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE - (MDMA) TURMA: 2012-2014 APÊNDICE E ROTEIRO DE ENTREVISTA I. IDENTIFICAÇÃO COMUNIDADE: Quanto tempo mora na comunidade? Entrevista Nº Data da Entrevista: Etnia: Nome do Entrevistado: Apelido Idade: Estado Civil: Quantidade de filhos: Escolaridade: ( ) Solteiro ( ) Casado ( ) Divorciado ( ) União estável ( ) NE ( ) EF ( ) EM ( ) ESI ( ) ESC ( ) PG Endereço: II. DADOS SÓCIO-ECONÔMICOS PROFISSIONAL Profissão: Renda mensal (R$): Atividade secundária: Renda secundária (R$): Recebe benefícios do governo? Renda total da família: Qual? Quanto? (R$) Qual? Quanto? (R$) Participa de alguma associação ou cooperativa? Recolhe INSS? Satisfeito em viver na comunidade? ( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não Qual? Quanto? (R$) ( ) Sim ( ) Não Porquê? ( ) Sim ( ) Não Porque? Qual é a importância da plantas para você? Você se preocupa com o Meio Ambiente? ( ) Viúvo ( ) Sim ( ) Não 132 SANEAMENTO Destino do lixo: ( ) Enterra ( ) Deixa a céu aberto ( ) Coleta Pública ( ) Queima Abastecimento de água: ( ) Encanada Purificação da água ( ) Fervida ( ) Filtrada ( ) Filtrada e fervida ( ) Nenhuma ( ) Outras: Águas servidas ( ) Céu aberto ( ) Diretamente no solo Tem cisterna? ( ) Sim ( ) Não Energia elétrica: ( ) Poço ( ) Rio ( ) Olho d`’agua ( ) Fossa ( ) Horta ( ) Outros: Destino das excretas humanas: ( ) Sim ( ) Não ( ) Outros ( ) Céu aberto ( ) Fossa séptica ( ) Fossa negra MORADIA A casa é: ( ) Própria ( ) Alugada Cobertura da casa: ( ) Telha Paredes: Piso: ( ) Palha ( ) Taipa ( ) Barro ( ) Doada ( ) Herdada ( ) Outros: ( ) Outros: ( ) Tijolo ( ) Cimento ( ) Madeira ( ) Cerâmica ( ) Outros: ( ) Outros: TIPOLOGIA DO QUINTAL Qual o tamanho do quintal? Quem cuida do quintal? Quais as espécies que considera mais importante? Faz uso de todas as espécies? Como conseguiu as espécies que se encontram em seu quintal? Como ou com quem aprendeu a utilidade cada planta? Você repassa o conhecimento sobre as plantas para outras pessoas? ( ) Sim ( ) Não Para quem? Comercializa as espécies que estão em seu quintal? ( ) Sim ( ) Não Quais? Uso Principal: Outros usos: Disposição das plantas: ( ) herbáceas ( ) Arbustivas Separa plantas por uso? ( ) Sim ( ) Não Criação de animais para consumo? ( ) Sim ( ) Não ( ) Arbóreas Qual (is)? ( ) Misturada ( ) Outros 133 O Quintal é organizado? ( ) Sim ( ) Não PLANTAÇÃO DE CULTURA PERMANENTE Tipo: Área de cultivo: Técnica de cultivo: Destino da produção: TEMPORÁRIO Tipo: Ο Consumo Ο Venda Área de cultivo: Técnica de cultivo: Destino da produção: III. Ο Consumo Ο Venda DADOS CULTURAIS ARTESANATO Há produção artesanal? ( ) Sim ( ) Não Qual matéria prima? Origem da matéria-prima? RELIGIÃO Qual a sua religião? ( ) Católico ( ) Protestante Participa com frequência das atividades religiosas em sua comunidade? ( ) Sim ( ) Não Utiliza planta ou animal nos rituais? ( ) Culto Afro ( ) Ateu ( ) Outros ( ) Sim ( ) Não Qual(is)? FESTAS/FESTEJOS ( ) Sim ( ) Não Quem? Data: Qual(is)? Padroeiro (a)? 134 Comidas típicas locais? Tiram alguma renda nos festejos? ( ) Sim ( ) Não Qual (is)? ( ) Sim ( ) Não LENDAS Função Reza REZAS DADOS ETNOBOTÂNICOS: MEDICINAL Nome científico: 1.......... ....................2...................................3................................ Nome popular: 1...............................2....................................3................................. Indicações:1...............................2...................................3.................................. Hábito: [ ]erva[ ]subarbusto[ ]arbusto[ ]arbóreo[ ]liana[ ]outro 135 Parte usada: [ ]raiz [ ]folha[ ]casca/entrecasca [ ]caule [ ]flor [ ]fruto [ ]inteiro[ ]látex Estado para uso: [ ]seca [ ]verde [ ]seca e verde. Tipo de manipulação: [ ]maceração [ ]lambedor [ ]infusão [ ]decocção [ ]tintura [ ]suco [ ]salada[ ]pulverização [ ]garrafada [ ] chá [ ] óleo Modo de usar: Quantidade:1..............................2...................................3................................ N° de vezes:1...............................2..................................3................................ Quanto tempo: 1...........................2.................................3............................... Administração: [ ]uso tópico [ ]via oral [ ]inalação[ ]uso retal [ ]escalda-pé Contra-indicação: [ ]homem [ ]mulher [ ]adulto [ ]idoso[ ]gestante[ ]lactante [ ]alimentação [ ]medicamentos [ ]outro Há cultivo da planta para esse fim: [ ]Sim [ ]Não Há comercialização da planta em média ou grande escala: [ ]Sim [ ]Não ALIMENTÍCIA Nome científico: 1................................2....................................3................................ Nome popular: 1................................2.....................................3................................. Hábito: [ ]erva[ ]subarbusto[ ]arbusto[ ]arbóreo[ ]liana[ ]outro Parte usada: [ ]raiz [ ]folha[ ]casca/entrecasca [ ]caule[ ]flor [ ]fruto [ ]inteiro Modo de consumo:...................................................................................................................... Há cultivo da planta para esse fim: [ ]Sim [ ]Não da planta em média ou grande escala: [ ]Sim [ ]Não MADEIREIRO Nome científico:1................................2....................................3................................ Nome popular: 1................................2.....................................3................................. Hábito: [ ]erva[ ]subarbusto[ ]arbusto[ ]arbóreo[ ]liana[ ]outro Utilização:................................................................................................................... Há cultivo da planta para esse fim: [ ]Sim [ ]Não Há comercialização da planta em média ou grande escala: [ ]Sim [ ]Não CONSTRUÇÃO Nome científico:1................................2....................................3................................ Nome popular: 1................................2.....................................3................................. Hábito: [ ]erva[ ]subarbusto[ ]arbusto[ ]arbóreo[ ]liana[ ]outro Utilização:................................................................................................................... Parte usada: [ ]raiz [ ]folha[ ]casca/entrecasca [ ]caule[ ]flor [ ]fruto [ ]inteiro[ ]látex Há cultivo da planta para esse fim: [ ]Sim [ ]Não Há comercialização da planta em média ou grande escala: [ ]Sim [ ]Não PRODUÇÃO DE ENERGIA Nome científico: 1................................2....................................3................................ Nome popular: 1...............................2....................................3................................. Hábito: [ ]erva[ ]subarbusto[ ]arbusto[ ]arbóreo[ ]liana[ ]outro Parte usada: [ ]caule [ ]fruto[ ]raiz[ ]outro Utilização: [ ]carvão [ ]lenha Há cultivo da planta para esse fim: [ ]Sim [ ]Não Há comercialização da planta em média ou grande escala: [ ]Sim [ ]Não 136 MANUFATUREIRA Nome científico: 1................................2....................................3................................ Nome popular: 1...............................2....................................3................................. Hábito: [ ]erva[ ]subarbusto[ ]arbusto[ ]arbóreo[ ]liana[ ]outro Parte usada: [ ]caule [ ]fruto[ ]galhos da planta[ ]flores[ ] raiz [ ]folha[ ]outro Material produzido:1.......................................2....................................3................................... Há cultivo da planta para esse fim: [ ]Sim [ ]Não Há comercialização da planta em média ou grande escala: [ ] Sim [ ]Não MELÍFERA Nome científico: 1................................2....................................3................................ Nome popular: 1................................2.....................................3................................. Hábito: [ ]erva[ ]subarbusto[ ]arbusto[ ]arbóreo[ ]liana[ ]outro [ ]Néctar[ ]pólen [ ]ambos Há cultivo da planta para esse fim: [ ]Sim [ ]Não Há comercialização da planta em média ou grande escala: [ ]Sim [ ]Não ALIMENTAÇÃO ANIMAL Nome científico: 1................................2....................................3................................ Nome popular:1...............................2....................................3................................. Animal:1...............................2....................................3................................. Hábito: [ ]erva[ ]subarbusto[ ]arbusto[ ]arbóreo[ ]liana[ ]outro Parte usada: [ ]raiz [ ]folha[ ]casca/entrecasca [ ]caule[ ]flor [ ]fruto [ ]inteiro[ ]látex Estado para uso: [ ]seca [ ]verde [ ]seca ou verde. Formas de uso:............................................................................................................................ Aplicabilidade:............................................................................................................. ............... Acesso à planta pelo animal: [ ]no pasto [ ]é colhida, armazenada e depois servida. Há cultivo da planta para esse fim: [ ]Sim [ ]Não Há comercialização da planta em média ou grande escala: [ ]Sim [ ]Não MÍSTICO RELIGIOSO Nome científico: 1................................2....................................3................................ Nome popular: 1...............................2....................................3................................. Hábito: [ ]erva[ ]subarbusto[ ]arbusto[ ]arbóreo[ ]liana[ ]outro Parte usada: [ ]madeira [ ]fruto[ ]galhos da planta [ ]outro Utilização: ................................................................................................................................... ORNAMENTAL Nome científico: 1................................2....................................3................................ Nome popular: 1...............................2....................................3................................. Hábito: [ ]erva[ ]subarbusto[ ]arbusto[ ]arbóreo[ ]liana[ ]outro Parte usada: [ ]flores[ ]fruto[ ]galhos da planta [ ]raiz [ ]folha[ ]caule [ ]outro Utilização: ................................................................................................................................... 137 ANEXOS 138 ANEXO A – NORMAS DA REVISTA BRASILEIRA DE BIOCIÊNCIAS Sumário do Processo de Submissão Manuscritos deverão ser submetidos por um dos autores, em português, inglês ou espanhol. Para facilitar a rápida publicação e minimizar os custos administrativos, a Revista Brasileira de Biociências aceitará somente submissões on-line. Não envie documentos impressos pelo correio. O processo é compatível com os navegadores Internet Explorer versão 3.0 ou superior, Netscape Navigator e Mozilla Firefox. Outros navegadores não foram testados. O autor da submissão será o responsável pelo manuscritono envio eletrônico e em todo o acompanhamento doprocesso de avaliação. Figuras e tabelas deverão ser organizadas em arquivos submetidos separadamente, como documentos suplementares. Documentos suplementaresde qualquer outro tipo, como filmes, animações, ou arquivos de dados originais, podem ser submetidos como parte da publicação. Se você estiver usando o sistema de submissão on-line pela primeira vez, vá para a página de Cadastro e registre se, criando um ‘login’ e ‘senha’. Se você está realmente registrado, mas esqueceu seus dados e não tem como acessar o sistema, clique em ‘Esqueceu sua senha’.Você verá que o processo de submissão on-line é fácile auto-explicativo. São apenas 5 (cinco) passos. Se você tiver problemas de acesso ao sistema, cadastro ou envio de trabalhos, por favor, entre em contato como nosso Suporte Técnico. Custos de publicação Os autores não terão nenhuma despesa para a publicação dos seus trabalhos. Figuras e gráficos coloridos também são livres de despesas (ver adiante). Seguindo a política do Open Access do Public Knowledge Project, assim que publicados, os autores receberão a URL que dará acesso ao arquivo em formato Adobe® PDF (Portable Document Format). Os autores não receberão cópias impressas do seu manuscrito publicado. Publicação e processo deavaliação Durante o processo de submissão, será solicitado queos autores enviem uma carta de submissão, explicando o porquê de publicar na Revista, a importância do seu trabalho para o contexto de sua área e a relevância científica do mesmo. Os manuscritos serão enviados para avaliadores, a menos que não se enquadrem no escopo da Revista. Antes de serem submetidos para consultores especializados, os trabalhos são avaliados pelo Editor-Chefe, o qual decide se o trabalho recebido é de suficiente relevância para a Revista Brasileira de Biociências. Os trabalhos serão sempre avaliados por dois especialistas que terão atarefa de fornecer um parecer, tão logo quanto possível.Um terceiro avaliador poderá ser consultado caso seja necessário. Os avaliadores não serão obrigados a assinar os seus relatórios de avaliação. Uma “Carta de submissão”, explicando o motivo de publicar em nossa Revista, a importância do seu trabalho para o contexto de sua área e a relevância científica do mesmo, deverá ser digitada no campo “Comentáriosao Editor”, durante o processo de submissão eletrônica. Caso os autores decidam enviar uma versão assinada (em formato DOC ou PDF, por exemplo), a Carta de submissão pode ser enviada na forma de documento suplementar, 139 separadamente. Os autores deverão fornecer informações de contato detalhado (e-mail) de pelo menos quatro potenciais revisores para o seu trabalho. Estas informações deverão ser digitadas, também, no campo “Comentários ao Editor”, durante a submissão, logo após a “Cartade submissão”. Os potenciais revisores deverão ser especialistas na área de concentração do trabalho enviado. Qualquer um dos revisores sugeridos não deverá ter publicado qualquer trabalho com os autores nos últimos cinco (5) anos, nem ser membro da mesma Instituição. Revisores sugeridos serão considerados revisores em potencial de acordo com a análise e recomendação dos Editores. Desde que um manuscrito é avaliado, aceito, revisado e editorado, ele é imediatamente publicado na edição corrente da Revista Brasileira de Biociências, em formato PDF. Todos os autores têm a capacidade de acompanhar o progresso de submissão do seu trabalho no sistema a qualquer tempo, desde que esteja logado no sistema da revista. Preparando os arquivos Os textos deverão ser formatados em uma coluna, usando a fonte Times New Roman, tamanho 12, com espaçamento duplo e todas as margens com uma polegada (2,54 cm), em formato de papel A4. Todas as páginas devem ser numeradas sequencialmente. Não numere as linhas. O manuscrito deverá estar em formato Microsoft® Word DOC (versão 2 ou superior). Arquivos em formato RTF também serão aceitos. Não submeta arquivos em formato Adobe® PDF. O arquivo que contém o texto principal do manuscrito não deverá incluir qualquer tipo de figura ou tabela. Estas deverão ser submetidas como documentos suplementares, separadamente. Ao submeter um manuscrito, o autor responsável pela submissão deverá optar por uma das seguintes seções: ‘Artigo completo’, ‘Revisão’ ou ‘Nota científica’. Todos os trabalhos submetidos no envio on-line deverão subdividos nas seguintes seções: 1. Documento Principal: Primeira página. Deverá conter as seguintes informações: a) Título do trabalho, conciso e informativo, com a primeira letra em maiúsculo, sem abreviações. b) Nome completo e por extenso do(s) autor(es), com iniciais em maiúsculo. c) Título abreviado do trabalho, com até 75 caracteres (incluindo espaços). d) afiliações e endereço completo de todos os autores (instituição financiadora (auxílio ou bolsas), deverá constar nos Agradecimentos). e) Autor para contato e respectivo e-mail (apenas o autor para contato deverá fornecer um email). Segunda página. Deverá conter as seguintes informações: a) Resumo: incluir o título do trabalho em português, quando o trabalho for escrito em inglês. b) Abstract: incluir o título do trabalho em inglês, quando o texto for em português.Tanto Resumo como Abstract deverão conter, no máximo, 250 (duzentos e cinqüenta) palavras, estruturados em apresentação, contendo o contexto e proposta do estudo, resultados e conclusões (por favor, omita os títulos). 140 c) Palavras-chave e key words para indexação: no máximo cinco, não devendo incluir palavras do título. Páginas subsequentes. ‘Artigos completos’ e ‘Notas científicas’ deverão estar estruturados em Introdução, Material e Métodos, Resultados, Discussão (Resultados e Discussão podendo ser reunidos), Agradecimentose Referências, seguidos de uma lista completa daslegendas das figuras e tabelas (se forem submetidas como documentos suplementares). 2. Documentos Suplementares: Figuras e tabelas. Todas as imagens (ilustrações, fotografias, fotomicrografias, eletromicrografias egráficos) são consideradas ‘figuras’. Figuras e tabelas devem ser fornecidos como arquivos separados (documentos suplementares), nunca incluídos no texto do documento principal. Figuras coloridas serãopermitidas e os editores estimulam que os autores assim o façam. Não haverá cobrança de custos adicionais parafiguras a cores, já que a impressão das mesmas (quando houver) será sempre feita em preto e branco. A Revista Brasileira de Biociências não aceitará figuras submetidas no formato GIF ou comprimidas em arquivos do tipo RAR ou ZIP. Se as figuras no formato TIFF são um obstáculo para os autores, por seu tamanho muito elevado, os autores podem convertê-las para o formato JPEG, antes da sua submissão, resultando em uma significativa redução no tamanho. Entretanto, não se esqueça que a compressão no formato JPEG pode causar prejuízos na qualidade das imagens. Assim, é recomendado que os arquivos JPEG sejam salvos nas qualidades ‘Alta’ (High) ou ‘Máxima’ (Maximum). Não forneça imagens em arquivos Microsoft®PowerPoint (geralmente geradas com baixa resolução), nem embebidas em arquivos do MicrosoftWord (DOC). Arquivos contendo imagens em formato Adobe® PDF também não serão aceitas. A submissão será arquivada se conter figuras em arquivos DOC, PDF ou PPT. Cada figura deverá ser editada para minimizar as áreas de espaços em branco, optimizando o tamanho final da ilustração. Se a figura consiste de diversas partes separadas, é importante que uma simples figura seja submetida, contendo todas as partes da figura. Escalas das figuras deverão ser fornecidas com os valores apropriados e devem fazer parte da própria figura (inseridas com o uso de um editor de imagens, como oAdobe® Photoshop, por exemplo), sendo posicionadas no canto inferior esquerdo de cada figura. Ilustrações em preto e branco deverão ser fornecidas com aproximadamente 300 dpi de resolução, em formato TIFF ou JPG. Para fotografias (em preto e branco ou coloridas), fotomicrografias ou eletromicrografias, forneça imagens em TIFF ou JPG, com pelo menos, 300 dpi. ATENÇÃO! Como na editoração final dos manuscritos o tamanho útil destinado a uma figura de largura de página (duas colunas) é de 170 mm, para uma resolução de 300 dpi, a largura mínima das figuras deve ser 2000 pixels. Para figuras de uma coluna (82 mm de largura), a largura mínima das figuras (para 300 dpi), deve ser pelo menos 1000 pixels. Submissões de figuras fora destas características (larguras mínimas em pixels) serão imediatamente arquivadas. As imagens que não contêm cor devem ser salvas como ‘grayscale’, sem qualquer tipo de camada (‘layer’), como as geradas no Adobe® Photoshop, por exemplo (estes arquivos ocupam até 10 vezes mais espaço que osarquivos TIFF e JPG). Os tipos de fontes nos textos das figuras deverão ser Arial ou Helvetica. Textos deverão ser legíveis. Abreviaturas nas figuras (sempre em minúsculas) devem ser citadas nas legendas e fazer parte da própria figura, inseridas com o uso de um editor de imagens 141 (Adobe®Photoshop, por exemplo). Não use abreviaturas, escalas ou sinais (setas, asteriscos), sobre as figuras, como “caixas de texto” do Microsoft® Word. Recomenda-se a criação de uma única estampa, contendo várias figuras reunidas, numa largura máximade 170 milímetros (duas colunas) e altura máxima de 257 mm (página inteira). A letra indicadora de cada figura deve estar posicionada no canto inferior direito. Inclua “A” e “B” (sempre em maiúsculas, não “a”, “b”) para distingui-las colocando, na legenda, Fig. 1A, Fig. 1B, e assim por diante. Não envie figuras com legendas inseridas na base das mesmas. As legendas das figuras deverão ser enviadas no final do documento principal, imediatamente após as Referências. Não use bordas de qualquer tipo ao redor das figuras. Se houver composição de figuras (Figs 1A, 1B, etc.), use cerca de 1 mm (12 pixels para uma figura com largurade 2000 pixels) de espaço em branco entre cada figura. É responsabilidade dos autores obter a permissão para reproduzir figuras ou tabelas que tenham sido previamente publicadas. Para cada figura, deverão ser fornecidas as seguintes informações: número da figura (em ordem numérica, usando algarismos arábicos (Figura 1, por exemplo; não abrevie) e a legenda detalhada, com até 300 caracteres (incluindo espaços). Cada tabela deverá ser numerada sequencialmente, com números arábicos (Tabela 1, 2, 3, etc; não abrevie). O título das tabelas deverá estar acima das mesmas. Tabelas deverão ser formatadas usando as ferramentas decriação de tabelas (‘Tabela’) do Microsoft® Word. Colunas e linhas da tabela devem ser visíveis, optando-se por usar linhas pretas que serão removidas no processo de edição final. Não utilize padrões, tons de cinza, nem qualquer tipo de cor nas tabelas. Dados mais extensos podem ser enviados como arquivos suplementares, mas que não estarão disponíveis no próprio artigo, mas como links para consulta pelo público. NORMAS GERAIS Os nomes científicos, incluindo os gêneros e categorias infragenéricas, deverão estar em itálico. As siglas eabreviaturas, quando utilizadas pela primeira vez, deverão ser precedidas do seu significado por extenso. Ex.: Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Escrever os números até dez por extenso, a menos que sejam seguidos de unidade de medida, ou indiquem numeração de figuras e tabelas. Utilize um espaço para separar as unidades de medidas dos valores (10m, por exemplo). A unidade de temperatura em graus Celsius deve ser escrito com um espaçamento entre o valor numérico (23 oC, por exemplo). A posição preferencial de cada figura ou tabela não deverá ser indicada no texto. Isso ficará a critério do editor, durante a editoração. Sempre verifique que as figuras e tabelas estejam citadas no texto. No texto, use abreviaturas (Fig. 1 e Tab. 1, por exemplo). Evitar notas de rodapé. Se necessárias, utilizar numeração arábica em sequência. As citações de autores no texto deverá seguir os seguintes exemplos: Baptista (1977), Souza & Barcelos(1990), Porto et al. (1979) e (Smith 1990, Santos et al 995). Citar o(s) autor(es) das espécies só a primeira vezem que as mesmas forem referidas no texto. Citações de resumos de simpósios, encontros ou congressos deverão ser evitadas. Use-as somente se for absolutamente necessário. Comunicações pessoais não deverão ser incluídas na lista de Referências, mas poderão ser citadas no texto. A obtenção da permissão para citar comunicações pessoais e dados não publicados é de exclusiva responsabilidade dos autores. Abreviatura de periódicos científicos deverá seguir o Index Medicus/MEDLINE. Citações, nas Referências, deverão conter todos os nomes dos autores (não use et al.) As referências deverão seguir rigorosamente os seguintes exemplos: Artigos publicados em periódicos: 142 BONGERS, F., POPMA, J., MEAVE, J. & CARABIAS,J. 1988. Structure and floristic composition of the lowlandrain forest of Los Tuxtlas, Mexico. Vegetatio, 74: 55-80. QUADRA, A. A. & AMÂNCIO, A. A. 1978. A formaçãode recursos humanos para a saúde. Ciência e Cultura,30(12): 1422-1426.ZANIN, A., MUJICA-SALLES, J. & LONGHIWAGNER,H. M. 1992. Gramineae: Tribo Stipeae. Bol.Inst. Biocienc. 51: 1-174. (Flora Ilustrada do Rio Grandedo Sul, 22). Livros publicado por editoras: CLEMENT, S. & SHELFORD, V. E. 1960. Bio-ecology:an introduction. 2nd ed. New York: J. Willey. 425 p.LOWE-MCCONNEL, R.H. 1987. Ecological studiesin tropical fish communities. Cambridge: Cambridge University Press. 382 p. Capítulos de livro: CEULEMANS, R. & SAUGIER, B. 1993. Photosynthesis.In: RAGHAVENDRA, A. S. (Ed.). Physiology of Trees.New York: John Wiley & Sons. p. 21-50.NAKATANI, K., BAUMGARTNER, G. & CAVICCHIOLI, M. 1997. Ecologia de ovos e larvasde peixes. In: VAZZOLER, A. E. A. M., AGOSTINHO A. A. & HAHN, N. S. (Eds.). A planície de inundação do alto rio Paraná: aspectos físicos, biológicos e socioeconômicos. Maringá: EDUEM. p. 281-306. Anais de encontros, congressos, etc.: CARNEIRO, F. G. 1997. Numerais em esfero-cristais. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRAPARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA, 49., 1997, Belo Horizonte. Anais... Belo Horizonte: Ed. da UFMG. 1CD-ROM. SANTOS, R. P. & MARIATH, J. E. A. 2000. Embriologiade Ilex paraguariensis A. St. Hil.: estudo da antera e grão de pólen e sua aplicação no melhoramento. In: WINGE, H. (Org.). CONGRESSO SUL-AMERICANO DA ERVA-MATE, 2., 2000, Encantado, RS e REUNIÃO TÉCNICA DA ERVA-MATE, 3., 2000, Encantado, RS.Anais... Porto Alegre: UFRGS/FEPAGRO. p. 140-142. Dissertações de mestrado, doutorado. DILLENBURG, L. R. 1986. Estudo fitossociológicodo estrato arbóreo da mata arenosa de restinga em Emboaba, RS. 106 f. Dissertação (Mestrado em Botânica) – Instituto de Biociências. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1986. Links de páginas disponíveis na Internet: POLÍTICA. 1998. In: DICIONÁRIO da língua portuguesa. Lisboa: Priberam Informática. Disponívelem:<http://www.priberam.pt/Dicionarios/dlp.htm>.Acesso em: 8 mar. 1999.THE INTERNATIONAL PLANT NAMES INDEX. 2012. Disponível em:<http://www.ipni.org>. Acessoem: 26 ago. 2012. Para documentos com DOI® (Digital Object Identifier) conhecido, seguir o exemplo abaixo (não usar “Disponível em:<....>Acesso em:....”): 143 SANTOS, R.P., MARIATH, J.E.A. & HESSE, M. 2003.Pollenkit formation in Ilex paraguariensis A.St.Hil.(Aquifoliaceae). Plant Syst. Evol., 237: 185198.http://dx.doi.org/10.1007/s00606-002-0257-2 Em trabalhos de taxonomia vegetal e florística, as seguintes normas específicas deverão ser observadas: 1. Chaves de identificação: dicotômicas, indentadas, utilizando alternativas 1-1’. Os táxons devem ser numerados em ordem alfabética, dentro de sua categoria taxonômica e na ordem em que aparecerão no texto. 2. As descrições devem ser sucintas e uniformes. 3. Autores de nomes científicos devem ser citados deforma abreviada, de acordo com Brummit & Powell(1992). 4. Citações e abreviaturas das Opus Princeps devemseguir Stafleu et al. (1976-1988). No caso de periódicos, seguir Bridson & Smith (1991). Como alternativa, seguiro International Plant Names Index (IPNI - http://www.ipni.org/index.html), onde as citações seguem as obras mencionadas acima. 5. Índice de nomes científicos citados no manuscrito: no caso de monografias, o índice deve relacionar, em ordem alfabética, os táxons abaixo do nível de gênero, sem os autores, colocando em negrito a página onde inicia a descrição do táxon. Os nomes válidos devem ser citado sem letra normal e os sinônimos em itálico. 6. Incluir a lista de exsicatas apresentadas no manuscrito: Schultz, A . : 12 (2.8-ICN), 25 (2.9BLA, ICN)12 e 25=números do coletor.2.8=2 número do gênero e 8 número da espécie, notrabalho.ICN=sigla do herbário onde está depositado o espécime citado. Caso o trabalho trate apenas de um gênero: Schultz, A . : 110 (3-ICN)3=número da espécie. No caso de dois ou mais coletores, citar apenas o primeiro. Se o coletor não tiver número de coleta: Barreto, I. L .: BLA 1325 (número do gênero e espécie,ou só o número da espécie). 7. Material examinado: deverá ser citado apenas material selecionado, um exemplar por município. Se a relaçãode material selecionado for muito extensa (ou se o autor não julgar necessário), citar todos os municípios. De modo a demonstrar a distribuição geográfica do táxon e não ultrapassar o número de páginas previstas, deverão ser citados apenas um ou poucos exemplares por região fisiográfica (Fortes 1959). Quando forem dois coletores usar o &. Mais de dois coletores, citar o primeiro e usar o et al. Países, estados,municípios e localidades devem ser citados em ordem alfabética. Exemplos: BRASIL. RIO GRANDE DO SUL: Torres, 23 maio1975, L.R. Dillenburg 17 (ICN); Tupanciretã, 8 jul. 1977, L.R.M. Baptista et al. 911(ICN); Uruguaiana, 25 mar. 1978; M.L. Porto s.n. (ICN 2530); Vacaria, 1 abr. 1975, B. Irgang & P. Oliveira 45 (BLA, ICN). Flora Ilustrada do Rio Grande do Sul: 1. Lupinus albescens Hook. & Arn., Bot. Misc. 3 : 201.1833 (Fig. 1). Sinonímia (citar o basiônimo, quando for o caso. Citar outros sinônimos somente quando for estritamente necessário para o conhecimento do táxon na área estudada). Descrição: baseada em material do Rio Grande do Sul, em dois parágrafos, vegetativo e reprodutivo. 144 Distribuição geográfica: geral e no Rio Grande do Sul, esta última utilizando as regiões fisiográficas de Fortes(1959). Não devem ser utilizados mapas com pontos de coleta no Rio Grande do Sul. Habitat: Observações: Material selecionado: citar somente material do Rio Grande do Sul. Se necessário, por deficiência deste material, citar “material adicional examinado” de outras regiões. 145 ANEXO B -- NORMAS PARA A REVISTA GAIA SCIENTIA Diretrizes para Autores TIPOS DE TRABALHOS Revisões. Revisões são publicadas somente a convite. Entretanto, uma revisão pode ser submetida na forma de breve carta ao Editor a qualquer tempo. A carta deve informar os tópicos e autores da revisão proposta e declarar a razão do interesse particular do assunto para a área. Artigos. Sempre que possível, os artigos devem ser subdivididos nas seguintes partes: 1. Página de rosto; 2. Abstract (escrito em página separada, 200 palavras ou menos, sem abreviações); 3. Introdução; 4. Materiais e Métodos; 5. Resultados; 6. Discussão; 7. Agradecimentos quando necessário; 8. Resumo e palavras-chave (em português - os autores estrangeiros receberão assistência); 9. Referências. Em certos casos pode ser aconselhável omitir a parte (4) e reunir as partes (5) e (6). Onde se aplicar, a parte de Materiais e Métodos deve indicar o Comitê de Ética que avaliou os procedimentos para estudos em humanos ou as normas seguidas para a manutenção e os tratamentos experimentais em animais. Breves comunicações ou Resenhas Breves comunicações devem ser enviadas em espaço duplo. Depois da aprovação não serão permitidas alterações no artigo, a fim de que somente correções de erros tipográficos sejam feitos nas provas. Os autores devem enviar seus artigos somente em versão eletrônica. Preparação de originais PREPARO DOS ARTIGOS Os artigos devem ser preparados em espaço simples, fonte Times New Roman, tamanho 11. Depois de aceitos nenhuma modificação será realizada, para que nas provas haja somente correção de erros tipográficos. Tamanho dos artigos. Embora os artigos possam ter o tamanho necessário para a apresentação concisa e discussão dos dados, artigos sucintos e cuidadosamente preparados têm preferência tanto em termos de impacto quando na sua facilidade de leitura. Tabelas e ilustrações. Somente ilustrações de alta qualidade serão aceitas. Todas as ilustrações serão consideradas como figuras, inclusive desenhos, gráficos, 146 mapas, fotografias e tabelas com mais de 12 colunas ou mais de 24 linhas. A localização provável das figuras no artigo deve ser indicada. Figuras digitalizadas. As figuras devem ser enviadas de acordo com as seguintes especificações: 1. Desenhos e ilustrações devem ser em formato .PS/.EPS ou .CDR (Postscript ou Corel Draw) e nunca inseridas no texto; 2. Imagens ou figuras em meio tom devem ser no formato .TIF e nunca inseridas no texto; 3. Cada figura deve ser enviada em arquivo separado; 4. Em princípio, as figuras devem ser submetidas no tamanho em que devem aparecer na revista, i.e., largura de 8 cm (uma coluna) ou 12,6 cm (duas colunas) e com altura máxima para cada figura menor ou igual a 22 cm. As legendas das figuras devem ser enviadas em espaço duplo e em folha separada. Cada dimensão linear das menores letras e símbolos não deve ser menor que 2 mm depois da redução. Somente figuras em preto e branco serão aceitas. 5. Artigos de Matemática, Física ou Química podem ser digitados em Tex, AMS-Tex ou Latex; 6. Artigos sem fórmulas matemáticas podem ser enviados em .RTF ou em WORD para Windows. Página de rosto. A página de rosto deve conter os seguintes itens: 1. Título do artigo (o título deve ser curto, específico e informativo); 2. Nome (s) completo (s) do (s) autor (es); 3. Endereço profissional de cada autor; 4. Palavras-chave (4 a 6 palavras, em ordem alfabética); 5. Título abreviado (até 50 letras); 6. Seção da Academia na qual se enquadra o artigo; 7. Indicação do nome, endereço, números de fax, telefone e endereço eletrônico do autor a quem deve ser endereçada toda correspondência e prova do artigo. Agradecimentos (opcional). Devem ser inseridos no final do texto. Agradecimentos pessoais devem preceder os agradecimentos a instituições ou agências. Notas de rodapé devem ser evitadas; quando necessário, devem ser numeradas. Agradecimentos a auxílios ou bolsas, assim como agradecimentos à colaboração de colegas, bem como menção à origem de um artigo (e.g. teses) devem ser indicados nesta seção. Abreviaturas. As abreviaturas devem ser definidas em sua primeira ocorrência no texto, exceto no caso de abreviaturas padrão e oficial. Unidades e seus símbolos devem estar de acordo com os aprovados pela ABNT ou pelo Bureau International des Poids et Mesures (SI). Referências. Os autores são responsáveis pela exatidão das referências. Artigos publicados e aceitos para publicação (no prelo) podem ser incluídos. Comunicações pessoais devem ser autorizadas por escrito pelas pessoas envolvidas. Referências a teses, abstracts de reuniões, simpósios (não publicados em revistas indexadas) e artigos em preparo ou submetidos mas ainda não aceitos, podem ser citados no texto como (Smith et al. unpublished data) e não devem ser incluídos na lista de referências. As referências devem ser citadas no texto como, por exemplo, (Smith 2004), (Smith and Wesson 2005) ou, para três ou mais autores, (Smith et al. 2006). Dois ou mais artigos do mesmo autor no mesmo ano devem ser distinguidos por letras, e.g. (Smith 2004a), (Smith 2004b) etc. Artigos com três ou mais autores com o mesmo primeiro autor e ano de publicação também devem ser distinguidos por letras. 147 As referências devem ser listadas em ordem alfabética do primeiro autor sempre na ordem do sobrenome XY no qual X e Y são as iniciais. Se houver mais de 10 autores, use o primeiro seguido de et al. As referências devem ter o nome do artigo. Os nomes das revistas devem ser abreviados. Para as abreviações corretas, consultar a listagem de base de dados na qual a revista é indexada ou consulte a World List of Scientific Periodicals. A abreviatura para os Anais da Academia Brasileira de Ciências é An Acad Bras Cienc. Os seguintes exemplos são considerados como guia geral para as referências. Artigos GARCÍA-MORENO J, CLAY R AND RÍOS-MUÑOZ CA. 2007. The importance of birds for conservation in the Neotropical region. Journal of Ornithology 148(2): 321326. PINTO ID AND SANGUINETTI YT. 1984. Mesozoic Ostracode Genus Theriosynoecum Branson, 1936 and validity of related Genera. Anais Academia Brasileira Ciencias 56: 207-215. POSEY DA. 1983. O conhecimento entomológico Kayapó: etnometodologia e sistema cultural Anuário Antropológico, 81: 109-121. Livros e Capítulos de Livros DAVIES M. 1947. An outline of the development of Science, Athinker's Library, n. 120. London: Watts, 214 p. PREHN RT. 1964. Role of immunity in biology of cancer. In: NATIONAL CANCER CONFERENCE, 5, Philadelphia Proceedings., Philadelphia: J.B. Lippincott, p. 97104. UYTENBOGAARDT W AND BURKE EAJ. 1971. Tables for microscopic identification of minerals, 2nd ed., Amsterdam: Elsevier, 430 p. WOODY RW. 1974. Studies of theoretical circular dichroism of Polipeptides: contributions of B-turns. In: BLOUTS ER ET AL. (Eds), Peptides, polypeptides and proteins, New York: J Wiley & Sons, New York, USA, p. 338-350. Outras Publicações INTERNATIONAL KIMBERLITE CONFERENCE, 5, 1991. Araxá, Brazil. Proceedings ... Rio de Janeiro: CPRM, 1994, 495 p. SIATYCKI J. 1985. Dynamics of Classical Fields. University of Calgary, Department of Mathematics and Statistics, 55 p. Preprint n. 600. 148 Condições para submissão Como parte do processo de submissão, os autores são obrigados a verificar a conformidade da submissão em relação a todos os itens listados a seguir. As submissões que não estiverem de acordo com as normas serão devolvidas aos autores. 1. Os manuscritos devem ser apresentados na seguinte seqüência: página de rosto, resumos em português e inglês, palavras chaves e key words, texto, tabelas, agradecimentos, referências bibliográficas. 2. A contribuição é original e inédita, e não está sendo avaliada para publicação por outra revista; caso contrário, justificar em "Comentários ao Editor". 3. Os arquivos para submissão não podem ultrapassar 2 MB. 4. Todos os endereços de páginas na Internet (URLs), incluídas no texto (Ex.: http://www.ibict.br) estão ativos e prontos para clicar. 5. O texto segue os padrões de estilo e requisitos bibliográficos descritos em Diretrizes para Autores, na seção Sobre a Revista. 6. A identificação de autoria deste trabalho foi removida do arquivo e da opção Propriedades no Word, garantindo desta forma o critério de sigilo da revista, caso submetido para avaliação por pares (ex.: artigos), conforme instruções disponíveis em Assegurando a Avaliação por Pares Cega. Política de Privacidade Os manuscritos publicados são de propriedade da Revista GAIA SCIENTIA, vedada tanto a reprodução, mesmo que parcial em outros periódicos, como a tradução para outro idioma sem a autorização por escrito do Conselho Editorial. Desta forma, todos os trabalhos, quando submetidos à publicação, deverão ser acompanhados de Documento de Transferência de Direitos Autorais, contendo assinatura de cada um dos autores. Revista Gaia Scientia - ISSN 1981-1268