O papel da gramática no ensino de espanhol como língua estrangeira SHIRLEI PORTO DE SOUZA, VIVIANE BOUSADA CAETANO DA SILVA, IVANA MARA FERREIRA COSTA Escola de Administração do Exército – EsAEx Salvador – BA – Brasil [email protected]; [email protected]; [email protected]. Resumo. Este artigo percorre o caminho feito pela gramática no ensino de línguas estrangeiras, desde a Antigüidade, passando por alguns métodos, até os dias atuais. Neste percurso, busca-se constatar a possível presença de exercícios estruturais, ou seja, gramaticais, nas aulas de espanhol como parte do processo de ensino / aprendizagem de línguas estrangeiras, desde o método mais tradicional, até o método comunicativo. Para tanto, foram analisados planos de aula de língua espanhola do Ensino Médio do Colégio Militar de Salvador, com o intuito de observar o papel da gramática na aquisição do espanhol. Chega-se à conclusão que a gramática está presente nos métodos, nos planos de aula e nos exercícios que os compõe. Não há dúvidas dessa latente presença, porém, deve ser, antes de tudo, usada como uma ferramenta a mais na aquisição de língua estrangeira, não devendo, portanto, ser o centro do ensino. Palavras-chave: Gramática, língua estrangeira, ensino, aprendizagem, método. Resumen. Este artículo recorre el camino hecho por la gramática en la enseñanza de lenguas extranjeras, desde la Antigüedad, pasando por algunos métodos, hasta los días actuales. En este recorrido, se busca constatar la posible presencia de ejercicios estructurales, es decir, gramaticales, en las clases de español como parte del proceso de enseñanza / aprendizaje de lenguas extranjeras, desde el método más tradicional, hasta el método comunicativo. Para tanto, se analizan planes de clase de lengua española de la enseñanza secundaria del Colegio Militar de Salvador, con el objetivo de observar el papel de la gramática en la adquisición del español. Se concluye que la gramática está presente en los métodos, en los planes de clase y en los ejercicios que los compone. No hay dudas de esta latente presencia de los puntos gramaticales, sin embargo, antes de todo, se debe usarla como una herramienta más en la adquisición de una lengua extranjera. Por lo tanto, no debe ser el centro de la enseñanza. Palabras clave: Gramática, lengua extranjera, enseñanza, aprendizaje, método. 1 Introdução Durante muito tempo se associou a abordagem da gramática no ensino de língua estrangeira ao método tradicional, que, por sua vez, evoluiu do método gramática-tradução, ou seja, todo o trabalho de ensino de uma língua estrangeira estava focado em regras gramaticais, que por muitas vezes não se contextualizavam. Posteriormente, surgiram métodos que deixavam o ensino da gramática em segundo plano ou até mesmo a negavam, pois era considerada antiquada e não comunicativa. Atualmente, a inclusão ou não da gramática no ensino de língua estrangeira segue sendo um dos temas que mais preocupam os professores: a constatação de que a grande controvérsia sobre como ensinar idioma está centrada em torno do papel maior ou menor da gramática nas aulas. Enquanto profissionais de ensino de língua estrangeira, no caso de língua espanhola, a questão da maior ou menor presença da gramática na metodologia usada influenciava no processo ensino / aprendizado pois, às vezes a gramática era vista superficialmente podendo ter sido um pouco mais aprofundada e questionada pelos próprios alunos, ou por vezes, estes não conseguiam acompanhar a exigência gramatical imposta em certas aulas. Para tanto, este trabalho se propõe a analisar o ensino da gramática em língua estrangeira - neste caso no espanhol - não como um fim em si mesmo, mas como um meio para adquirir-se um determinado objetivo: aprender uma língua estrangeira. Para isso, o seguinte artigo vai abordar, primeiramente, a perspectiva histórica tradicional desse ensino com base em Sánchez (1997), Giovannini (1996) e Alonso (1994). Em seguida, será abordada a perspectiva atual de ensino de língua estrangeira com base em teóricos como Matte Bon (1998) e Sánchez (1997). Por último, será analisado como exemplo a metodologia de ensino de espanhol como língua estrangeira com vistas à utilização da gramática no CMS. Portanto, ao compreender a significância da gramática e seu papel nas aulas de uma língua estrangeira, como o espanhol, podese entender como se dá a influência da gramática na aquisição de uma língua estrangeira. 2 A gramática através dos tempos Desde a Antigüidade, os homens sempre se interessaram por aprender outras línguas. Os escribas acádios (1000 a 1250 a.C.) preparavam em pequenas tábuas, listas e vocabulários que seriam "dicionários" para ensinar a língua suméria a seus congêneres. O sumério já era uma língua morta, porém estava reservada a ciência: o sagrado e o recôndito saber. Estas listas de palavras acabaram por se constituirem em manuais. Os egípcios dominavam várias línguas estrangeiras, pois havia a preocupação de aprender a língua dos conquistados. Usavam tabuletas dessas e também listas de palavras. O aprendizado era feito através de ditos ou frases completas. Os gregos não se diferenciavam substancialmente dos acádios ou dos egípcios. Antes de Cícero (séc. I a. C.), os romanos dominavam tanto o latim quanto o grego. Depois, o latim cobra mais importância que o grego, diminuindo a intensidade do ensino bilingüe. Aparecem manuais - denominados hermeneuta, no princípio do século III - que oferecem lista de palavras e diálogos em grego e latim, para facilitar a aquisição de uma ou outra língua. Contudo, o método de ensino não variou muito em relação ao que já se fazia em outras culturas: método essencialmente dedutivo, fundamentado na memorização de palavras e frases, além da inovada técnica de tradução direta e inversa, aplicada não somente a palavras e frases, mas também a textos. O latim segue sendo por séculos, e até mesmo depois da queda do Império Romano - no final do século V -, vigoroso e se consolida como língua básica da comunicação. Na Idade Média esta língua era veículo de cultura. É normal que ao começar um caminho, as línguas nacionais1, a partir do século IX e X seguissem o exemplo da língua latina em relação ao modelo no qual esta se assenta, ou seja, na gramática, glossários e diálogos. Tais gramáticas das línguas modernas surgem nos séculos XV, - gramática da língua castelhana, de Nebrija (1492) – e no século XVI – “Les clarcissement de la langue françoyse” de Palsgrave. Pode-se perceber que a tradição do ensino gramatical é um prolongamento do ensino formal utilizado em idiomas como o grego e o latim e demais línguas já referidas neste artigo. A conexão do latim com as elites ilustradas, assim como sua hegemonia nos âmbitos escolares e acadêmicos, faz com que seja mantido o seu já adquirido “status” de privilégio: a gramática latina se torna o seu expoente mais alto. A gramática, como estruturalização e formação de elementos que compõe uma língua, está presente desde os métodos de menor implantação ainda no século XVI, como no método da dupla tradução, em que a teoria lingüística subjacente e imperativa da época se fundamentava no uso correto da língua segundo a gramática. A princípios do século XVII surge a via media de William Bathe, em que se conjugam dois procedimentos nomeados de método regular: análise de regras gramaticais, aprendizagem e memorização de vocabulário e construção de orações aplicando regras gramaticais explícitas. O método irregular leva esse nome por ser seguido por alunos que aprendem uma língua lendo e falando, prescindindo do aprendizado da gramática e de suas regras. O teórico William Bathe se aproximou 1 Línguas consideradas modernas. daquilo que hoje se conhece como método comunicativo. No século XVIII há maior ênfase na natureza como base do pensamento do pedagogo John Locke, que propõe o ensino de línguas de maneira natural rechaçando, em princípio, por completo a gramática, porém se utiliza de processos como perguntas / respostas, além da retenção de vocabulário mediante a repetição e memorização. No início do século XIX o ensino de idiomas nas escolas não era regulamentado. No final do século XVIII, com a ação democratizadora da revolução francesa, gera um decreto que põe como facultativo que nas escolas públicas se contrate um professor de línguas modernas. Já no século XIX (1829) o rei Carlos X ordena que se tomem medidas necessárias para a implantação de línguas modernas no currículo. Na Espanha o rei Carlos III potencia o ensino de idiomas nas Sociedades Econômicas de Amigos do País. De igual maneira é incluído o ensino de línguas modernas como fator de melhora da educação do povo. Na Inglaterra começaram a ser organizados exames para estudantes estrangeiros. Tais exames eram marcados pela ênfase sobre a língua escrita e gramática. Na Alemanha se fez obrigatório o ensino de idiomas no nível secundário, primeiramente o francês, depois o inglês e posteriormente o espanhol. Com o avanço regulamentar sobre o ensino de línguas estrangeiras no século XIX é imperativo que se criem métodos melhores ou antes, métodos mais eficentes para que se concretizem tais objetivos. Sendo o século XIX o de maior produção de métodos, há que se observar o papel da gramática naqueles que remontaram maior importância: o método tradicional, que como afirma Sánchez (1997 p.133) “É uma figura fantasmal que sempre existiu e sempre está presente, porém ninguém saberia desenhá-lo com precisão”. Neste método a língua é um conjunto de regras e essas regras devem ser apreendidas mediante uma reflexão, explicação e abstração, havendo uma posterior memorização de vocabulário e regras. O método direto de Berletz, que data do fim do século XIX e início do XX, pregava o ensino da gramática de forma indutiva, através da prática. A tradução está proibida, porém mantém-se a seleção de vocabulário, ainda que não fosse literário, tampouco seria coloquial. Já nos anos 40, surge o método áudiooral de Bloomfield. A necessidade de aprender um idioma em um curto espaço de tempo – idiomas como alemão e japonês, por questões relacionadas à guerra – fez com que o enfoque deste método recaísse sobre a parte oral. Portanto, rechaça-se o método gramatical e direto por sua “ineficiência” e devido ao pouco tempo para a preparação de materiais. Nos anos 30 e 60 surge o método situacional de Palmer e Horby – Inglaterra, que tinha como teoria lingüística que o idioma é um conjunto de estruturas hierarquicamente organizadas e, além disso, as regras gramaticais têm como fim ordenar os diversos elementos para produzir palavras e frases, que devem ser aprendidas com determinada finalidade. Nas décadas de 70 e 80 surgem os programs nociofuncionais, que segundo Giovannini (1996p.33) “são a aplicação de um modelo social de uso da língua”. Há uma preocupação com as necessidades dos falantes em situações cotidianas. Sobre este enfoque, os programas de língua abandonam o critério tradicional de seleção de gradação de estruturas gramaticais e começam a descrição de categorias comunicativas. Aqui a gramática se aprende pelas situações e funções de comunicação. Nos anos 90, dando prosseguimento aos programas nociofuncionais, surge o método comunicativo, no qual a gramática tem seu lugar não mais como protagonista, mas sim como meio em direção a um determinado fim. As questões gramaticais serão aquelas que desenvolvam uma função comunicaiva concreta. Isso não impede que sejam apresentadas certas regras de funcionamento gramatical, mas faz com que o professor ilustre essa explicação com os diferentes contextos de uso, ajudando na reflexão que os alunos precisam fazer das diferentes possibilidades do sistema. Ao final desse percurso histórico pelos métodos de ensino de idiomas, pode-se perceber que alguns deles consideravam e ainda consideram a gramática como parte de sua teoria, como o método tradicional, o direto e o comunicativo. Outros métodos não a consideram muito, como o áudio-oral. Porém, para que haja uma aquisição efetiva de um idioma estrangeiro, o ensino da gramática se deve fazer presente. 3 A perspectiva atual do ensino da gramática em língua estrangeira Uma língua é um instrumento de comunicação com a qual os seres humanos fazem uso para relacionar-se uns com os outros. Com ela os indivíduos se referem ao mundo ou expressam sua subjetividade. Na verdade, uma das finalidades mais importantes para a utilização de um idioma é fazer com que o ser humano quebre a sua solidão diante do mundo exterior, colaborando com os demais a fazer algo ou trocando experiências entre si. Quanto ao ensino de um idioma estrangeiro, faz aproximadamente vinte anos que se fala de enfoques comunicativos no ensino de espanhol como língua estrangeira. Com o enfoque comunicativo se passou a analisar no ensino de línguas aspectos relacionados à pragmática, ou seja, passou-se a dar uma maior atenção ao papel do enunciador, à relação entre os interlocutores e à especificidade de cada contexto comunicativo. No entanto, com relação aos materiais didáticos de ensino de espanhol se necessita ainda uma reflexão sobre o funcionamento da língua e sobre as relações entre gramática e pragmática, já que aquela descreverá as combinações possíveis e as regras; e esta faz com que o aprendiz entenda o porquê, em um determinado contexto, uma certa ordem de palavras em um enunciado pode produzir no receptor tanto uma sensação de surpresa como de irritação, por exemplo. O fim último ao que a linguagem se refere – e o que prega o método comunicativo – é justamente que haja uma facilidade entre a comunicação e a troca de informações entre os seres, não impedindo que regras do funcionamento de sistemas gramaticais sejam apresentadas, mas sempre deve-se ter em mente que se abordem os diferentes contextos de uso em variadas situações comunicativas, ajudando, desta maneira, na reflexão, mostrando a possibilidade do sistema lingüístico. Quando alguém deseja aprender um idioma, tem em mente certos objetivos e fins concretos, como o de viajar, o de comunicar-se com pessoas, o de usar no trabalho, dentre outras. E é pensando nesses objetivos que o método comunicativo tem a preocupação de introduzir uma grande variedade de textos de âmbitos, estratos sociais e situações diversas para que sejam representativos de uma comunicação concreta e real. Por esses motivos, a metodologia comunicativa, em comparação com as anteriores é mais completa e, por isso, é mais complexa. Mas, e com relação à gramática no método comunicativo? O que esta prega? Ao longo desses anos o papel da gramática no ensino / aprendizagem de línguas estrangeiras foi e continua sendo um tema que gera muita controvérsia: posta de lado por muitos e defendida por poucos. Porém, na prática, é ainda mantida em algumas salas de aula e inclusive em livros didáticos, incluindo os mais comunicativos. A pergunta mais comum com relação ao ensino da gramática em espanhol como língua estrangeira é a maneira pela qual seria esse ensino: explícito ou implícito, ou seja, dedutivo ou indutivo. Que modelo de análise seria o melhor para adotar? O que é importante ter em mente é que o processo de comunicação se dá uma vez que os interlocutores se atêm ao código de sinais e signos estabelecidos. Esse código recebe o nome genérico de gramática. Desse modo, a gramática não seria um fim em si mesma como o método tradicional pregava – mas um meio para conseguir estabelecer uma comunicação adequada. Essa conclusão vai de encontro com o que se pregou tradicionalmente durante anos: o ensino da gramática como um objetivo prioritário na sala de aula, fazendo com que o objetivo mais importante – a competência comunicativa – ficasse muitas vezes prejudicada. Tanto que, muitas vezes, os alunos que estudaram muita gramática nos cursos de espanhol como língua estrangeira ou de qualquer outro idioma, desenvolvem um filtro racional que os impedem de ter intuições sobre os usos novos ou estranhos. Segundo Matte Bon (1998 p.64) nesses casos, para que essa questão se resolva, muitas vezes se passam anos e só quando o estudante desenvolve, mediante a prática e a leitura, uma boa competência na língua estrangeira é que consegue utilizar sua intuição para inferir o que não sabe. A língua estrangeira numa sala de aula deve ser um instrumento de comunicação e não de análise. Por isso, pode-se dizer que as descrições tradicionais são, freqüentemente, simples descrições superficiais de fenômenos. Se o professor de espanhol ou de qualquer língua estrangeira aspira a que seus alunos ganhem automatismo, para que este, por sua conta, possa ir aprendendo não só a partir do que lê ou do que escuta, mas também das suas próprias produções e de seus erros, e possa aperfeiçoar, desta maneira, sua percepção e sua expressão da língua sem ter que depender toda vida de um professor ou de um curso, têm que ser trabalhadas todas as competências lingüísticas e não só a parte gramatical. Segundo Sánchez (1997 p.202), a competência comunicativa é o resultado da conjunção de várias competências: a gramatical, a sociolingüística, a discursiva e a estratégica; não sendo suficiente limitar-se somente à competência gramatical, nem à competência lingüística. Portanto, chega-se à conclusão que uma gramática que pretenda dar conta do funcionamento real do espanhol como ferramenta de comunicação e que permita ao estudante chegar a dominar os usos reais da língua em contextos naturais – e não só como objeto para fazer diferentes exercícios estruturais – tem que estudar os seus diferentes usos nos contextos naturais de uma maneira mais rigorosa. Não obstante, não existe um acordo sobre o papel do ensino da gramática em língua estrangeira ligado diretamente ao debate sobre aquisição e aprendizagem, e como a gramática pode influir positiva ou negativamente. Dentro de uma metodologia comunicativa – perspectiva atual de ensino-, a gramática deve ser considerada, levandose em conta, a função que este componente tem na realidade da comunicação diária, pois é um meio com que se faz possível a transmissão de uma informação entre os falantes de certa comunidade lingüística. Portanto, não é correto pensar em eliminar a gramática de uma aula comunicativa, afinal, sem um mínimo de conhecimento gramatical não se consegue falar nada. Tampouco, seria correto fazer com que ela fosse a protagonista da sala de aula, pois, só com gramática e exercícios estruturais não se desenvolve o automatismo lingüístico do aluno. Portanto, deve-se ter em mente que, o ensino da gramática deve ser um meio para atingir-se um determinado fim e por isso, as questões gramaticais mencionadas em uma aula devem ser aquelas que são necessárias para desenvolver-se uma função comunicativa concreta. Por exemplo: para indicar uma ação futura em espanhol, podese usar o “futuro simple” ou a perífrase “ir + a + infinitivo”; nesse contexto seria uma grande oportunidade para o professor pontuar sobre a formação do futuro e da perífrase, exemplificando sempre com elementos da situação comunicativa. Uma boa alternativa para se explicar pontos gramaticais em sala de aula, segundo vários teóricos, é pela abordagem indutiva, ou seja, os alunos vêem certa estrutura gramatical dentro de um contexto e o professor faz com que os alunos captem dito conceito por meio de exemplos e logo se dá a explicação gramatical essencial. Segundo González (1998 p.81), a aproximação indutiva à gramática oferece, frente a dedutiva2 várias vantagens como: faz com que os alunos aprendam a aprender, pois estes têm que construir e verificar as hipóteses das regras em questão; a gramática é interpretada não só pelo professor como também pelos alunos, evitando dogmatismo e idealização excessiva; por fim, favorece a retenção dessas regras pelos discentes a longo prazo, já que seu esforço para a compreensão da gramática e a busca de uma solução se vêem deste modo compensados. É evidente que, dependendo do nível em que os aprendizes estejam, o professor deve facilitar a formulação das regras gramaticais ou tendências por seus alunos com certas atividades como: completar lacunas, perguntas de verdadeiro ou falso, perguntas de múltipla escolha, dentre outros. Com a aproximação indutiva, o aluno alcança certa autonomia, pois é capaz de desenvolver a capacidade de saber aprender, além de adquirir os conhecimentos e destrezas implícitos nesta capacidade. No entanto, nenhum desses conhecimentos e 2 O professor ou o livro texto dão uma regra gramatical e só depois se aplica com uma série de atividades ou exercícios. destrezas, muito menos essa autonomia, nascem com as pessoas, mas devem ser aprendidos. É nesse ponto que o papel do professor é fundamental e este deve ter plena consciência disso, pois é onde entra o jogo da incorporação de um objetivo específico e integrado no processo de ensino / aprendizado: o objetivo de ensinar os alunos a aprender a aprender uma língua e a não fazer com que eles se tornem dependentes exclusivamente de um professor ou de um curso de idiomas. Essa capacidade e autonomia de saber aprender gera no aluno a oportunidade de que em qualquer ocasião ou ambiente se tenha a chance de aprimorar-se cada vez mais no idioma estrangeiro, não ficando esta tarefa restrita à sala de aula, ou seja, ao fornecer ao aluno ferramentas para que seja capaz de aprender a aprender, esse indivíduo é capaz de ir aperfeiçoando-se cada vez mais no idioma estrangeiro. O que é importante ressaltar é que na metodologia comunicativa, diferentemente das outras metodologias, não se proíbe o ensino da gramática. Como já foi mencionado antes, certos pontos gramaticais são importantes, inclusive, para um bom desenvolvimento da fluência do estudante de uma língua estrangeira. Porém, o que o professor deve ter em mente é que se deve limitar a quantidade de informação que se apresenta para os alunos. Nem tudo o que o professor sabe sobre o funcionamento da língua se deve apresentar em sala de aula. Por fim, os aspectos mais importantes do papel da gramática no ensino de língua estrangeira atualmente é que, primeiro, a aprendizagem da gramática conscientemente favorece a sua aquisição e retenção; segundo, o enfoque indutivo à compreensão da gramática é vantajosa em termos de retenção a longo prazo e para a ativação de estratégias de aprendizagem; por último, esse enfoque pode concretizarse bem em forma de atividade de conscientização gramatical. 4 O ensino da gramática no Colégio Militar de Salvador – CMS Para fins de análise do papel da gramática no ensino de uma língua estrangeira, foram tomados como exemplo as aulas de espanhol no Colégio Militar de Salvador – CMS nos anos de 2003/2004. Nesse colégio, os alunos têm aula de língua espanhola nos 1º, 2º e 3º anos do Ensino Médio. A análise dessas aulas foi feita a partir de amostras de planos de aula, em anexo, (anexos 01 e 02) destinadas às séries mencionadas e de exercícios que foram distribuídos em sala para que os alunos pudessem acompanhar o conteúdo ministrado em classe. Na análise de um plano de aula destinado à 3ª série do Ensino Médio no Colégio Militar de Salvador – CMS (anexo 01), constatou-se que o conteúdo abordado era acentuação gráfica. Os objetivos eram de conhecer a regra de acentuação gráfica do espanhol e classificar as palavras quanto à essa regra. A introdução da aula seria feita por meio da audição de uma canção “corazón partío” (Alejandro Sanz). As atividades foram pautadas em identificar na canção as palavras acentuadas, classificá-las quanto à acentuação gráfica e fazer um estudo de vocabulário. Numa segunda etapa seriam realizados os exercícios do livro didático adotado (Módulos – FTD) sobre o referido assunto da aula em questão. Como tarefas complementares, recomendou-se, no plano de aula, o caderno de exercícios. Com base nos dados obtidos neste primeiro plano de aula analisado, percebese que a aula ministrada baseia-se principalmente em atividades estruturais de fixação gramatical. Porém, vale lembrar que, o objetivo maior do ensino de língua estrangeira no 3º ano do Ensino Médio, é antes uma visão instrumental da língua, com trabalhos baseados em textos, pois pretende- se fazer com que os alunos alcancem bons resultados nos exames de ingresso às universidades, exames estes que privilegiam a gramática como instrumento de medida do conhecimento da língua estrangeira abordada. Um outro ponto que não se pode ignorar é, justamente, a presença da canção como uma forma de “suavizar” o estruturalismo da aula em questão, ou antes, aproximar, ainda que de uma maneira superficial, de uma abordagem comunicativa. Já na análise de um dos planos de aula destinado à 2ª série de Ensino Médio do CMS (anexo 02), observa-se que há uma abordagem predominantemente comunicativa, já que os exercícios gramaticais são aplicados de uma maneira lúdica. Ao analisar o plano de aula da série em questão, constata-se que o conteúdo sobre verbos irregulares no presente do indicativo foi abordado de maneira comunicativa, ou seja, foi utilizada uma mescla de atividades. Primeiramente, foi aplicado um jogo em que se colocava uma canção em espanhol de fundo e se fazia com que os alunos dispostos em círculo fossem passando uma bola. No momento em que o professor desligasse a música, o aluno que permanecesse com a bola na mão, responderia a uma pergunta sobre o conteúdo ministrado em aula, feita pelo professor. Outras atividades que concorreram nessa aula foram a expressão oral e a compreensão auditiva, além de explicações gramaticais sobre os verbos irregulares e exercícios no livro didático adotado (Expansión – FTD). Fica clara a intenção de que esta aula era mais do que uma aula expositiva “tradicional” . Trata-se de uma aula em que a gramática, apesar de não deixar de ser ensinada, o assunto foi visto de uma maneira mais próxima ao cotidiano do aluno. Diferentemente do 3º ano, em que o objetivo principal está focado no vestibular, no 2º ano, a finalidade está no desenvolvimento da competência lingüística do aluno, para que este internalize vocabulário e certos conteúdos gramaticais, para adquirir fluência e conhecimento necessários para um bom desenvolvimento da língua na série seguinte. Com isso, a partir dessa pequena amostra de planos de aula, pode-se observar que a gramática se faz presente em várias abordagens metodolódgicas, com uma maior ou menor intensidade, dependendo sempre do objetivo a ser alcançado ou pelo aluno, ou pela instituição de ensino. 5 Considerações finais Com olhos mais à frente, em tempos mais modernos, vê-se que a gramática sempre esteve inserida nos diversos métodos de ensino, desde os mais antigos até os mais recentes. A questão de como se deve ensinála nas aulas de aquisição de língua estrangeira, reporta-se como preocupação tanto a tempos mais distantes, como também a tempos que estão por vir. Oriunda de um sistema de ensino formado, na antigüidade, a gramática subjacia nas tabuletas dos acádios, nas listas de vocábulos dos egípcios e gregos, na técnica de inversão dos romanos e fez-se presente em cada um dos métodos criados até os dias atuais, numa perspectiva formal ou menos formal. Além disso, a gramática está presente nos livros didáticos, nos questionamentos do professor e na indagação do aluno. O importante é equilibrá-la de maneira que ela não seja única no processo de ensino / aprendizado de línguas estrangeiras, mas que este não se dê sem sua presença. Hoje, o uso da gramática no ensino de línguas estrangeiras deixou de ser o trilho para ser a trilha por onde passam muitos outros componentes que fazem do aprendizado cada vez mais completo, cada vez mais um saber. A gramática que pretenda dar conta do funcionamento real da língua espanhola concebida como ferramenta de comunicação e que permita ao estudante chegar a dominar os usos reais em contextos naturais – e não só como objeto para fazer exercícios estruturais – tem que estudar os diferentes usos lingüísticos em contextos naturais. Por isso, é importante que o professor se faça a pergunta de como se deve ensinar a gramática à luz das novas tendências metodológicas e como se deve estimular a autonomia da aprendizagem no discente. A conclusão a que se chega é que a aproximação indutiva à gramática é muito beneficiosa com relação à retenção a longo prazo de regras pelos alunos, já que seu esforço para o entendimento gramatical e a busca de uma solução se vêem deste modo compensados, além de haver uma ativação das estratégias de aprendizagem, pois faz com que os alunos aprendam a aprender e a retenção dos termos gramaticais não seja algo que se vai dar hoje e se vai esquecer logo, pelo fato de o discente esforçar-se em buscar uma solução para compreender a gramática. Portanto, com este artigo, espera-se que tenha ficado claro que o ensino gramatical não é o centro para a aprendizagem de uma língua estrangeira, porém há que se prestar atenção naquilo que serve de ponte, pois fazendo uma analogia com a construção de uma casa: assim como para adquirir a arte de construi-la de uma maneira satisfatória, não basta dispor de muitas pedras bem talhadas, é preciso ver o edifício inteiro para saber como dispor essas pedras, ou seja, a gramática vai ser uma ferramenta para se adquir uma língua estrangeira, mas não deve ser o foco princiapal desse ensino. Referências ALONSO, Encina. Cómo ser profesor/a y querer seguir siéndolo. Madrid: Edelsa, 1994. CORONADO, Mª Luiza. Últimas aportaciones a la enseñanza de la gramática: aproximación inductiva, actividades de concienciación gramatical y tareas formales. In: Carabela 43: monográfico – la enseñanza de la gramática en el aula de E/LE. Madrid: SGEL, 1998. FERNÁNDEZ, Mª Carmen. El tratamiento de la gamática en diferentes metodologías de enseñanza del español como lengua extranjera. In: Carabela 43: monográfico – la enseñanza de la gramática en el aula de E/LE. Madrid: SGEL, 1998. GIOVANNINI, Arno. Profesor en acción 2. Madrid: Edelsa, 1996. MATTE BON, Francisco. Gramática, pragmática y enseñanza comunicativa del español como lengua extranjera. In: Carabela 43: monográfico – la enseñanza de la gramática en el aula de E/LE. Madrid: SGEL, 1998. SÁNCHEZ, Aquilino. Los métodos en la enseñanza de idiomas. Madrid: SGEL, 1997. Anexo 01 - Plano de aula do 3º ano do ensino médio PLAN DE CLASE Lección: 2/3 Contenido: Acentuación ortográfica Fecha: 26/03/04 Objetivo(s): Conhecer a regra de acentuação gráfica do espanhol. Classificar as palavras quanto à regra de acentuação espanhola Introducción: Audição da música "Corazón Partío" de Alejandro Sanz Tiempo Probable: 15` Material: Letra da música fotocopiada Actividad: Em dupla Actividades: Tiempo Probable: 15` Escutar a música identificando as palavras acentuadas; Estudo do vocabulário, tema e interpretação; Expor no quadro exemplos de palavras acentuadas e a regra que corresponde; Fazer exercícios do Módulo, p.114 a 116; Voltar à letra da música e classificar as palavras quanto à acentuação ortográfica; Corrigir os exercícios do Módulo - p.114 a 116 e 155; Rever exercícios anteriores - p.109 a 114. Evaluación: Exercícios do Módulo Material: Módulo (livro) Actividad en grupo: Individual Tareas para el hogar: Atividades complementárias - caderno de exercícios Anexo 02 - Plano de aula do 2º ano do ensino médio PLAN DE CLASE Lección: 4 Fecha: 30/05/03 Contenidos: Los verbos gustar, parecer, preferir y querer en el presente de indicativo; Los fonemas: d y t Objetivo(s): Emplear los tiempos verbales; Diferenciar el sonido de las letras d y t Introducción: Precalentamiento Tiempo Probable: 10` Juego: La profesora pone una canción en el equipo de sonido, les entrega a los alumnos una pelota y se queda delante de la pizarra. Ella no les mira a los alumnos. En un determinado momento, ellas va a parar la canción y quien se queda con la pelota en las manos contestara a una pregunta del profesor. Material: CD, equipo de sonido Actividad: individual Actividades: Tiempo Probable: 65` Explicación de los verbos gustar, parecer, preferir y querer a través de preguntas a los alumnos y con explicación en la pizarra; Expresión oral: la pronunciación de las letras d y t; Ejercicio del libro - pp. 75, 76, 80, 81; Comprensión auditiva: libro página 82. Evaluación: Exercícios do Módulo Material: Módulo (livro) Actividad en grupo: Individual Evaluación: Actividad fotocopiada. Tiempo probable: 15' Expresión escrita y oral Tareas para el hogar: Ejercicios del libro páginas 84 y 85