Ferdinando José Gilli Zaffalon UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ – UNITAU A IMPORTÂNCIA DOS ESTUÁRIOS E MANGUEZAIS PARA A PRODUÇÃO PESQUEIRA NA REGIÃO DE PARATY, LITORAL SUL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Resumo O ecossistema de manguezal apresenta características peculiares, tais como terrenos baixos e de região estuarina com águas calmas e salobras devido à influência da maré. Considerado um dos ecossistemas mais ricos em que a fauna e flora vivem nos limites da tolerância. Com especial referência para a ictiofauna, os estuários e manguezais representam áreas de grande importância para reprodução, criação, alimentação, proteção e conseqüentemente para a reposição do estoque pesqueiro. O município de Paraty, no Estado do Rio de Janeiro, é conhecido por suas festas, belezas naturais, turismo nacional e internacional, além de ser considerada uma das regiões mais importantes para a pesca daquele estado. Com base nas estatísticas pesqueiras, cedida pela Prefeitura Municipal de Paraty, para o ano de 2009, foram capturados cerca de 375,4 toneladas de peixes, das quais 262,3 toneladas, aproximadamente 70% do total capturado, são de espécies que apresentam hábito estuarino. Os resultados verificados confirmam a importância dos estuários e manguezais para a produção pesqueira na região de Paraty. Palavras chaves: Ictiofauna estuarina, manguezal, pesca artesanal, catádromas, anádromas. Introdução O ecossistema manguezal é entendido como um ecossistema marginal muito bem definido no espaço, com limites marcados entre os níveis de maré alta e baixa, ao longo das baixas latitudes tropicais e subtropicais, margeando estuários, deltas, lagoas costeiras e salobras (VANNUCCI, 2003). Estuários de águas rasas se revelam importantes como criadouros naturais e abrigos para vários peixes de valor ecológico e econômico (PAIVA et al., 2008). Caracterizados como áreas de grande valor ecológico, zonas de berçário para inúmeras espécies de animais, utilizando para reprodução, alimentação, crescimento e proteção. Todo esse ecossistema oferece apoio às comunidades planctônicas e bentônicas (KRISTENSEN, 2008) Este trabalho tem por objetivo verificar a importância do estuário e manguezal para a atividade pesqueira na região de Paraty-RJ. Material e método Realizada consulta às principais referências bibliográficas juntamente com dados de pesca realizada no ano de 2.009, cedidos pela Prefeitura da Cidade de Paraty-RJ. 2 Município localizado na Área de Proteção Ambiental de Cairuçu (APA Cairuçu), criada em 1983, abrange uma parte insular e outra continental, desde a divisa do município de Angra dos Reis até a divisa com o Estado de São Paulo (23º02’–23º22’S e 44º30’– 44º43’W). (SEMADS, 2001). Resultados De acordo com os registros da Secretaria de Pesca do município de Paraty-RJ no ano de 2009, foram identificadas 118 espécies de peixes pertencentes a 41 famílias e 71 gêneros, todas elas de importância comercial, equivalente a 375.407 quilos de peixes no ano de 2009, dos quais, 262.332 quilos representam espécies com afinidade ao ambiente estuarino. Espécies estuarinas mais capturadas Analisando o resultado obtido faz-se necessário conhecer mais detalhadamente as espécies estuarinas, os gêneros que apresentam mais de uma espécie, estão representados como espécies de robalo e de cação. O percentual calculado é sobre o total estuarino. Micropogonias funieri 68,73 ton 26,2% Trichiurus lepturus 30,30 ton 11,5% Caranx latus 21,72 ton 8,2% Mugil curema 19,89 ton 7,5% Mugil Liza 13,83 ton 5,2% Cynoscion jamaicensis 12,63 ton 4,8% Espécies de robalo 10,30 ton 3,9% Espécies de cação 9,97 ton 3,8% Espécies estuarinas menos capturadas Os gêneros que apresentam mais de uma espécie estão representados como espécies de badejo e espécies de cherne. Pregereba lobotes 1,78 ton 0,68% Espécies de Badejo 0,85 ton 0,32% Espécies de Cherne 0,69 ton 0,26% Discussão A relação de peixes capturados constava apenas nomes vulgares, não existe precisão quando um determinado nome vulgar acaba representando duas ou mais espécies. Para termos um documento de forma abrangente e registros suficientes para posterior investigação de campo, foram incluídas todas as espécies (nomes científicos) relacionadas a cada nome vulgar e que têm ocorrência na região sudeste do Brasil. A partir dos resultados obtidos, verificamos que Carvalho-Filho (1999) apontou 43 espécies com hábito estuarino, Szpilman (2000) com 32 espécies e Figueiredo & Menezes (1977, 1978, 1980, 1985) com 26 espécies. Interessante relatar que possa não ter havido, por parte dos pesquisadores, uma preocupação no sentido de apontar o aparecimento das espécies no estuário. 3 De acordo com resultados obtidos a informação só vem a corroborar com as que encontramos na bibliografia, ou seja, a inquestionável importância do estuário e manguezal para a pesca na região, cerca de 70% da ictiofauna depende desse ecossistema. 4 Conclusão Manguezal e o ambiente estuarino fazem parte de um ecossistema de muita importância para a pesca. É um ecossistema localizado entre o ambiente terrestre e marinho, marcado pelos níveis da maré. Nas adjacências o estuarino proporciona ambiente de valor inigualável para a ictiofauna, fornecendo local para alimentação, reprodução, proteção e crescimento. Embora seja uma área muito cobiçada pelas empresas imobiliárias, náuticas e turísticas, é necessário políticas de conscientização e preservação. Levantamento estatístico da pesca na região de Paraty-RJ, juntamente com levantamento bibliográfico das espécies que ocorrem no local, só veio a corroborar a importância dessa área, pois cerca de 70% das espécies ali capturadas têm em alguma fase de sua vida, afinidade com o ambiente estuarino. É imperativo um estudo mais aprofundado na região e levantamento prático nos estuários, com objetivo de ampliar o conhecimento de sua fauna, comportamento e biologia. Referência bibliográfica CARVALHO-FILHO, A. 1999. Peixes, Costa Brasileira. São Paulo, Ed. Melro Ltda, 3a ed., 320p. FIGUEIREDO, J.L. 1977. Introdução. Cações, Raias e Quimeras. São Paulo: Museu de Zoologia, MZUSP, v.1 105p. FIGUEIREDO, J.L. & MENEZES, N.A. 1978. Manual de peixes marinhos do sudeste do Brasil. São Paulo: Museu de Zoologia, MZUSP, v.2 Teleostei (1) 110p. FIGUEIREDO, J.L. & MENEZES, N.A. 1980. Manual de peixes marinhos do sudeste do Brasil. São Paulo: Museu de Zoologia, MZUSP, v.3 Teleostei (2) 90p. FIGUEIREDO, J.L. & MENEZES, N.A. 1980. Manual de peixes marinhos do sudeste do Brasil. São Paulo: Museu de Zoologia, MZUSP, v.4 Teleostei (3) 96p. FIGUEIREDO, J.L. & MENEZES, N.A. 1985. Manual de peixes marinhos do sudeste do Brasil. São Paulo: Museu de Zoologia, MZUSP, v.5 Teleostei (4) 104p. FIGUEIREDO, J.L. & MENEZES, N.A.1985. Manual de peixes marinhos do sudeste do Brasil. São Paulo: Museu de Zoologia, MZUSP, v.6 Teleostei (5) 118p. KRISTENSEN, Erik. 2.008. Mangrove crabs as ecosystem engineers; with emphasis on sediment processes. Journal of Sea Research. PAIVA, Andréa C. G. de; CHAVES, Paulo de Tarso da C.; ARAUJO, Maria E. 2.008. Estrutura e organização trófica da ictiofauna de águas rasas em um estuário tropical. Rev. Bras. Zool., Curitiba, v. 25, n. 4. SEMADS. 2001. Atlas das Unidades de Conservação do Estado do Rio de Janeiro. Editora Metalivros, São Paulo-SP, 68 p. SZPILMAN, M. Peixes Marinhos do Brasil. 2000. Rio de Janeiro, Instituto Aqualung, 288 p. VANNUCCI, Marta. 2003. Os manguezais e nós. 2ª ed. Revista e ampliada – São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 275 p.