DOS VALORES MORAIS TRADICIONAIS À TRANSVALORAÇÃO: A

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DOS VALORES MORAIS TRADICIONAIS À TRANSVALORAÇÃO: A
CENTRALIDADE DO CONCEITO DE VONTADE NA FILOSOFIA NIETZSCHIANA
Danilo Veras de Carvalho (Voluntário do PIBIC/CNPq), Luizir de Oliveira (Orientador, Depto
de Filosofia – UFPI)
RESUMO
Nietzsche crítica a moral tradicional de modo que seja possível fazer uma análise precisa do
conceito de Vontade de Potência. Com isso, ele procura descrever os mecanismos de controle que a
moral tradicional originou. A Vontade de Potencia funciona como método de fuga do controle moral
que a tradição aprisiona o ―caráter‖ do homem. Com isso visa promover uma autoafirmação da vida.
Palavras-chave: Nietzsche. Moral. Vontade.
INTRODUÇÃO
O filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844 -1900) é um dos filósofos mais representativos
da Filosofia Contemporânea. Publicou obras como Genealogia da moral (1887) e Assim falou
Zaratustra (1883-1885) que romperam diversos pensamentos da filosofia tradicional. A discussão que
propomos visa explicar o conceito de ―valor moral‖ na filosofia nietzschiana partindo da critica a
tradição moral. Com isso, Nietzsche descreve os mecanismos de controle moral de que a herança
moral tradicional utiliza-se a fim de ―domesticar‖ o caráter dos homens. Nietzsche ressalta a
importância da vontade como um mecanismo de resistência às limitações impostas pela tradição
moral. Além disso, procuramos apontar as propostas nietzschianas a fim de subverter esse controle
a partir de uma autoafirmação da Vida.
1.2. MATERIAL E MÉTODOS
Como essa é uma investigação teórica, o trabalho foi realizado por meio da leitura de textos
específicos, com destaque na análise crítico-reflexiva dos mesmos, baseada numa abordagem
hermenêutica que é inspirada pela proposta gadameriana. Com dessa primeira aproximação dos
textos-bases, tornou-se mais acessível o desdobramento do diálogo entre Nietzsche e seus
comentadores mais importantes. A pesquisa tem inicio com a análise da obra Genealogia da Moral na
qual Nietzsche faz a crítica da tradição moral que, segundo ele, ―domesticou‖ o caráter dos homens.
Com isso, Nietzsche afirma a necessidade de uma superação do homem de modo que saia de tal
dominação.
1.3. GENEALOGIA DA MORAL
Para Nietzsche, a sociedade contemporânea é composta de pessoas cada vez mais fechadas
em seu mundo individual, e, consequentemente, tais indivíduos perdem valores morais. Nesse
sentido, as pessoas cada vez mais perdem o sentido da vida e, quando não, acabam apoiando-se
nas explicações metafísicas oferecidas pela religião. Assim, criam-se indivíduos incapazes de
produzir ou criar.
Nietzsche apresenta dois tipos de moral. O primeiro tipo constitui o que Nietzsche classifica
como a ―moral dos senhores‖, baseada no conjunto de valores definidos por um grupo social que
detém o poder, normalmente econômico, e que acaba por se tornar o criador de um conjunto de
valores que será utilizado como régua única de medida para os comportamentos de todas as
pessoas, sejam aquelas que estão sob seu domínio, sejam seus próprio pares. Por outro lado, temos
o que Nietzsche chama de ―moral de escravo‖. Contrariamente à proposta da classe nobre, cujos
valores, por não serem capazes psicologicamente capazes de a eles se adequarem, como reforça a
proposta nietzschiana, acabam sendo descartados.
1.4. NIILISMO
Para Nietzsche, o cristianismo trouxe consigo a ideia de niilismo, ou seja, a sensação de que
nada possui sentido e de que tudo é em vão. A tradição cristã, na tentativa de negar o mundo na qual
vivemos, procurou criar a existência do além-mundo, de Deus, de vida após a morte.
Consequentemente criou-se uma ideia de conformação, de conservação na qual as pessoas
sofreriam nesse mundo, mas seriam recompensadas numa existência após a morte. Como confirma
Marton, ―se a ruina do cristianismo trouxe como consequência a sensação de que ‗nada tem sentido‘,
‗tudo em vão‘, trata-se agora de mostrar que a visão cristã não é a única interpretação de mundo – é
só mais uma‖ (MARTON, 1994, p. 14).
Viver neste mundo representa apenas uma passagem que lhes permite ―fortalecer‖ o ânimo,
suportar todos os golpes da vida aceitando-os humildemente uma atitude que lhes possibilitará
alcançar uma vida melhor e perfeita no além, no ―mundo perfeito‖. Artur Schopenhauer apresenta
uma visão de niilismo derivado de um ideal metafísico: ―(...) Um pessimismo ‗além do bem e do mal‘,
aqui recebe palavra e fórmula aquela ‗perversidade do modo de pensar‘ contra a qual Schopenhauer
não se cansa de arremessar de antemão as suas mais furiosas maldições e relâmpagos (...).‖
(NIETZSCHE, 1992, p. 19).
1.5. VONTADE DE POTENCIA
Se o mundo não é criação de um ser divino, e o homem não nasceu à imagem de Deus, a
relação entre eles deve mudar. Nesse sentido, homem e mundo não são mais opostos, encontram-se
agora em harmonia. O homem passa a ter aqui a oportunidade de entender a natureza do mundo, de
conhecer seu curso. A tradição judaico-cristã defende o princípio de conservação, ou seja, o homem
conserva seu estado de vida. Isso representa uma atitude de fraqueza no que diz respeito à vida.
Nietzsche defende a superação do princípio de conservação por meio do princípio de superação, pois
só assim é possível uma intensificação das forças de modo que sempre se busque ir além como meio
de manifestação. ―Por caminhos secretos desliza o mais fraco até à fortaleza, e até mesmo ao
coração do mais poderoso, para roubar o poder. E a própria vida me confiou este segredo: ‗Olha —
disse — eu sou o que deve ser superior a si mesmo‘.‖ (NIETZSCHE, 2003, p, 96-97)
Essa superação deve ser constante, mesmo a vida sendo uma repetição de acontecimentos,
o eterno retorno. Essa repetição não possui um objetivo e jamais deve levar ao conformismo, mais
sim precisa servir de impulso para se alcançar o além-homem. Nietzsche defende o dinamismo da
força no sentido de que ela nunca vai se efetivar. Se a soma das forças é constante e visa sempre a
um ―querer ser mais forte‖, a força jamais conseguirá chegar a um fim. Assim, se o mundo possuísse
um fim, já o teria atingido. Se existisse uma finalidade, já teria alcançado.
2. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nietzsche procura fazer uma crítica à tradição moral ocidental destacando o conceito de
―vontade de poder‖ como possibilidade de o homem libertar-se de toda a submissão criada pela
tradição judaico-cristã. O homem para de ser um mero ser que vive no mundo, apenas esperando
uma vida melhor no mundo metafísico, do ―além-vida‖. Torna-se um ser que participa, que muda, que
procura se superar na vida. Para Nietzsche, não há espaço para nenhuma filosofia a priori. Tudo que
existe no mundo não é a conclusão da adaptação de um modelo de mundo perfeito, mas sim
resultado das relações de forças diferentes. Na associação de forças opostas existe uma vontade e,
nesse sentido, Nietzsche afirma que o mundo é vontade de potência.
Em Nietzsche, Vontade de Potência é aquilo que dá sentido e cria valores. Ela cresce e
ultrapassa a si mesma. Ela não busca, ela dá; não procura, cria. O homem moderno precisa utilizar
sua Vontade de Potência para poder voltar a criar valores. Ao contrário do pensamento de Darwin,
que afirmava que o aperfeiçoamento progressivo das espécies visava à conservação, para Nietzsche,
a natureza faz de tudo para não se conservar, mas sim se expandir.
3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MARTON, SCARLETT. O Eterno Retorno do mesmo: tese cosmológica ou imperativo ético. In.:
TÜRCKE, Christoph. – Porto Alegre: Ed. Da Universidade/ UFGS, Goethe-Institut/ICBA, 1994.
NIETZSCHE, Friedrich. A gaia ciência. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São
Paulo: Cia das Letras, 2001.
______________. Além do bem e do mal ou prelúdio de uma filosofia do futuro. Tradução de Márcio
Pugliesi: Hemus, 2001.
______________. Assim falou Zaratustra. Tradução Alex Marins. São Paulo: Martins Claret, 2003.
______________. Crepúsculo dos Ídolos – ou como filosofar com o Martelo. Tradução de Marco
Antonio Casa Nova. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2000.
______________. Genealogia da Moral: uma polêmica. Tradução de Paulo Cezar de Souza. – São
Paulo: Companhia das Letras, 1998.
______________. O Nascimento da Tragédia, ou Helenismo e pessimismo. Tradução de J.
Guinsburg. – São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
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