Experiência pessoal com uma novas associações de agentes químicos para peelings de média profundidade Adolfo Carlucci MD¹ , Ricardo Boggio, PhD ² 1] Membro Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Coordenador do Curso de Especialização em Medicina Estética do IBRAPE Instituto Brasileiro de Pesquisa e Ensino Professor do Curso de Especialização em Medicina Estética 2] Membro Especialista da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Doutor em Ciências pelo I.C.B. da USP Professor do IBRAPE – Curso de Especialização em Medicina Estética Diretor da Clínica Escola do IBRAPE Endereço para correspondência: Adolfo Carlucci IBRAPE - Instituto Brasileiro de Pesquisa e Ensino Av. Brig. Luís Antônio 3005 - casa 5 01401-000 - São Paulo - SP Fone (0xx11)3887-6501 Fax: (0xx11) 3884-9949 [email protected] RESUMO Apesar dos recentes avanços na pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias na área de fototerapia e outras irradiações físicas, o assunto peeling químico ainda continua atual, principalmente no que tange aos efeitos secundários por ele produzidos que, direta ou indiretamente tem interferido na produção e multiplicação celular, no grau de retenção hídrica e normalização da homeostase. Para se chegar a um resultado estético satisfatório têm sido utilizados alguns agentes químicos, às vezes com concentrações elevadas, a ponto de causarem maior grau de lesão e desconforto ao paciente, tanto no trans como no pós peeling: pode-se aqui mencionar o quadro doloroso, a acentuada carga inflamatória, a ocorrência freqüente de hipercromias, assim como importante down time com graves repercussões no âmbito social, afetivo e profissional. Em função desses fatores, diferentes técnicas de peelings químicos têm sido propostas e acompanhadas na literatura médica, procurando-se reduzir o trauma químico promovido pelas altas concentrações, realizando-se a aplicação de agentes químicos diversos em seqüências lógicas e bem definidas, com uma única expectativa: a obtenção de resultados similares aos obtidos em uma sessão de peelings com concentrações maiores, aumentandose o número de sessões, cada qual com menor agressão química. Este trabalho traduz a experiência de 11 meses com a técnica proposta por Mark Rubin em que se associam Ácido tricloro acético, Solução de Jessner modificada, Ácido pirúvico e Tretinoína, para a realização de peelings de média profundidade. Evita-se o afastamento do paciente de suas atividades assim como a ocorrência de complicações ou intercorrências importantes. INTRODUÇÃO Classicamente os peelings de média profundidade tem sido descritos como métodos que utilizam, entre outros agentes, ácidos com a finalidade de promover uma lesão na pele, que compromete todas as camadas da epiderme e a derme papilar, inclusive. (Rubin, 1995) Segundo Rubin, os níveis de aprofundamento dos peelings estão diretamente relacionados aos sinais clínicos decorrentes da foto agressão, em maior ou menor grau e denotam um comprometimento superficial ou mais profundo, dependendo da carga de radiação solar a que o indivíduo se submeteu. Nos tipos de pele classificados como Nível 2, que corresponde ao nível de ação dos peelings de média profundidade, estão presentes os sinais característicos de fotoagressão, como: desidratação superficial, superfície áspera e descamativa, efélides, lentigos, congestão vascular, eventualmente teleangiectasias e rugas delicadas. Após as devidas estimulações para a melhoria da produção celular e do grau de retenção hídrica, assim como a normalização do plexo vascular dérmico superficial, indica-se um método para remoção das camadas comprometidas, acima descritas, mediante a utilização de um agente químico. Historicamente, Stegman apresentou um estudo comparativo entre a aplicação de agentes químicos, entre os quais o ácido tricloro acético a 60% (TCA) e a dermoabrasão, descrevendo alterações histológicas em função do grau de aprofundamento do peeling. (Stegman, 1982) Estudos sobre a associação de agentes, mas agora combinando TCA a 35% e dióxido de carbono sólido, demonstraram que o aprofundamento era ligeiramente maior do o observado no estudo de Stegman que utilizara TCA a 60% isoladamente. Em virtude desta evolução, vários estudos foram conduzidos na pesquisa de associações de agentes químicos em associação, objetivando maior aprofundamento do método sem necessariamente utilizar concentrações muito elevadas dos agentes. Coleman e Futrell demonstraram histologicamente, maior profundidade de ação do TCA a 35% quando precedido de aplicação de Ácido glicólico 70% por 2 minutos. (Coleman, 1994) Estes trabalhos vieram se somar a outros, no sentido de se adotar um método que permita maior aprofundamento do agente químico, mas sem 2 necessariamente com concentração muito elevada, o que aumentaria o risco e consequentemente o número de complicações. Várias tentativas com sucesso têm sido descritas, adotando-se a associação de ácidos e reduzindo-se a concentração dos agentes, o que levaria a uma menor carga inflamatória e possibilitaria a penetração de princípios ativos no transcurso do método. Esses princípios ativos, em combinações específicas, permitem uma esfoliação geradora de fenômenos fisiológicos constantes da estimulação e da reparação tecidual, além da remoção dos planos comprometidos. Tais princípios ativos, conhecidos como alfahidróxi ácidos, retinóides, cetoácidos e outros, permitem a realização de programas de estimulação, controle e manutenção da pele, simultaneamente à esfoliação pretendida. Em resumo, o peeling ideal deveria reunir algumas características que, em conjunto possibilitarão resultado final satisfatório igual ao de uma aplicação isolada com alta concentração, porém realizado em várias sessões com concentração menor, objetivando-se efeito cumulativo. (Fig.1ª e 1b) São elas: 1. Aumentar a eficácia da esfoliação permitindo penetração mais uniforme do agente químico; 2. Favorecer a penetração transcutânea, não criando crosta resultante de intensa coagulação protéica; 3. Obter maior aprofundamento do TCA sem elevação proporcional de sua concentração; 4. Reduzir a incidência de risco de má cicatrização ou de hiperpigmentação pós-inflamatória; 5. Repetir aplicações em pequenos intervalos de tempo para a obtenção de um aprofundamento progressivo, evitando-se afastamento do paciente de suas atividades; 6. Produzir, de alguma maneira, efeitos secundários que vão a favor do metabolismo local, estimulando a produção celular, realizando uma antioxidação e proteção de membranas, aumentando a multiplicação celular e modulando a unidade neuroimunocutânea através de estímulos fisiológicos dos neuropeptídeos da pele. (Gaspar, 2003) Vale, então, enumerar os agentes químicos que poderiam, em associação com o TCA, promover tais efeitos: ÁC. SALICÍLICO: Normalmente tem sido utilizado em associação ao Resorcinol e Ácido láctico em uma formulação denominada Solução de Jessner. Sua absorção em veículo alcoólico é intensa e, quando aplicado em áreas extensas, pode provocar lesões parenquimatosas renais importantes, pois apresenta lentidão em sua metabolização e eliminação, principalmente em pacientes com nefropatias. Há uma tendência mais moderna em utilizá-lo em formulação com Macrogol, o que possibilita maior segurança ao paciente e, segundo trabalhos 3 experimentais, produz mínima reação inflamatória, desencadeia reestruturação da epiderme e induz a nova síntese de tecido conjuntivo dérmico. (Isoda, 2001) Reduz drasticamente a função barreira cutânea, permitindo melhor e mais rápida penetração de princípios ativos aplicados em seqüência. RESORCINOL: também fazendo parte da Solução de Jessner, é um agente potencialmente alergênico, apesar de termos realizado centenas de esfoliações com este agente sem a ocorrência de quadro alérgico. Este aspecto é particularmente interessante pois a literatura o descreve como causador de maior incidência de reações pápulo-eritematosas pruriginosas. ÁC. RETINÓICO (Tretinoína): seu uso foi proposto por Kligman e provocou verdadeira revolução no tratamento não cirúrgico da pele envelhecida, pois produz melhora significativa na estética e na fisiologia cutânea. Produz maior tensão na pele cuja textura fica mais lisa e macia; melhora as queratoses actínicas, melhora as efélides ou outras hipercromias, estimula a produção de colágeno aumentando o volume dérmico, mantém bom grau de hidratação por maior deposição de glucosaminoglicanos e aumenta a neovascularização da pele, estimulando a produção de células endoteliais. O ácido retinóico aumenta a arborização capilar dérmica, o que pode agravar uma teleangiectasia ou manter a face constantemente congestionada. Evitar sua indicação em pacientes ruivos, que ruborizam com facilidade ou com teleangiectasia facial. Bom para dermato-heliose. (Kligman, 1986) É utilizado em baixas concentrações para aplicação domiciliar, 0.01 a 0.05% e, mesmo assim, pode provocar reações indesejáveis (dermatite retinóide) que podem permanecer por semanas, deixando a pele vermelha, descamativa e sensível. Após este período a dermatite atenua-se e a pele adapta-se bem ao produto. Mesmo assim, a mesma reação pode ocorrer após vários anos de uso. Nas associações a outros agentes químicos, na prática diária em consultório, as concentrações variam de 1 a 5%, devendo o produto permanecer atuando de 4 a 6 horas, sendo removido após este tempo, com água e sabão. Neste caso, acelera a eliminação de queratinócitos das camadas mais externas da epiderme, potencializando o resultado do peeling e produzindo estímulo inflamatório para a restauração dos tecidos. ÁCIDO GLICÓLICO E TCA: Seu uso em associação foi proposto por Coleman e tem como objetivo, a exemplo dos demais, estabelecer descamação mais uniforme e mais profunda. (Coleman, 1994) O ácido glicólico pertence ao grupo dos AHAs - Alfahidróxi ácidos, alguns derivados de frutas, porém não necessariamente extraídos das mesmas, pois freqüentemente sintetizam-se suas moléculas em laboratório. O ácido glicólico é utilizado como agente esfoliante, em concentrações que vão de 30% a 70% e seu uso é esritamente médico. 4 A estrutura química do ácido glicólico é formada por 2-4-5-6 tetra hidróxi3 ceto hexano na forma lactona, possuindo apenas dois carbonos em sua cadeia. Tem importante característica queratolítica e, devido ao pequeno tamanho de sua molécula, tem grande penetração através dos planos epidérmicos e intracelular. Produz descompactação dos queratinócitos epidérmicos, sem promover desagregação das camadas; com isto aumenta o espaço intersticial nas camadas mais internas, possibilitando melhor aporte e fixação de moléculas de água, tornando a pele mais hidratada e, consequentemente mais flexível, macia e túrgida. Sua ação não está relacionada somente com sua concentração, mas também ao tempo de atuação: quanto maior a concentração e quanto mais tempo permanece sem interrupção, maior seu aprofundamento. Analogamente ao ácido ascórbico, o ácido glicólico estabiliza a reação inflamatória com melhor funcionabilidade e aumento da formação dos linfócitos T e B (Campos, S.) diminuindo os mediadores da reação inflamatória e reduzindo o Super óxido O² e o Radical Hidroxila OH¯. Estudos realizados demonstraram melhora da qualidade tecidual, assim como diminuição das lesões após 2 meses de uso de ácido glicólico. (Van Scott, 1988) Através de complexo ciclo intra-celular, proporciona aumento da glicina, que é responsável por 11% da estrutura do colágeno, condicionando portanto ao aumento da produção protéica cutânea. (Van Scott, 1989) Quando em associação ao TCA, aplica-se inicialmente o AG 70% que permanece por 2 minutos. Em seguida promove-se sua neutralização (diluição) com água abundante; enxuga-se a área e depois aplica-se o TC.A de 7.5% a 15% ÁCIDO MANDÉLICO e TCA: O ácido mandélico da família dos AHAs, é constituído por um anel de 6 carbonos ligados à molécula anteriormente descrita, portanto, tem uma estrutura maior que a do ácido glicólico o que o torna mais seguro quanto à penetração Seu diferencial está na maneira regular e segura com a qual o peeling é realizado, promovendo uma descamação mais uniforme, embora menos intensa, que o ácido glicólico. Logo após o contato com a pele, o ácido mandélico perde o H+ do grupo carboxílico, originando o íon mandelato. O hidrogênio liberado é o responsável pelo maior distanciamento das pontes de hidrogênio constantes das ligações entre os queratinócitos. Quando esta reação de liberação do H+ do α-hidroxi ácidos é muito intensa, a grande quantidade liberada poderá não somente afastar mas romper as ligações entre os queratinócitos, ocasionando epidermólise severa. 5 Uma das vantagens que o ácido mandélico apresenta é que seu processo de liberação de H+ é gradual e mais lento, possibilitando um controle mais efetivo e mais seguro. A exemplo do ácido glicólico, também melhora o grau de hidratação da epiderme (também é hidrofílico) e estimula a síntese de colágeno; por este motivo atua em rugas finas, com bom resultado. O curso do peeling de ácido mandélico é seguro porque, mesmo que haja “frost puntiforme” durante o tratamento, não há risco de hipercromia posterior. O ácido mandélico que não é consumido para a reação de indução da epidermólise, exerce ação despigmentante após sua penetração para o meio intracelular, como competidor da fenilalanina no mecanismo de ação da tirosinase, para a produção de melanina. A grande vantagem desta etapa é a não degradação enzimática e celular, como ocorre com outro despigmentante clássico, a hidroquinona. Outro efeito interessante observado com o uso de peeling de ácido mandélico é sua ação sobre o epitélio folicular, controlando a oleosidade da pele e restaurando o tamanho do óstio. Em termos mais simples, não se deve padronizar o procedimento de um peeling, haja vista uma série de variáveis que podem necessitar da utilização de vários agentes químicos concomitantemente. Utilizado nas concentrações de 50% que corresponde a seu limite de estabilidade. ÁCIDO PIRÚVICO e TRETINOÍNA: O ácido pirúvico é um cetoácido com alta penetração no meio lipofílico (pele e glândulas sebáceas). Em contato com a pele e mediante reações sucessivas, transforma-se em ácido láctico. O ácido pirúvico tem ação potente como esfoliante, não devendo sua concentração ultrapassar 50%. A exemplo dos α-hidróxi ácidos, glicólico e mandélico, não produz efeitos tóxicos detectáveis. Como é lipofílico, com grande capacidade de permeação celular sebácea, exerce ação moduladora da sebogênese, reduzindo a oleosidade, tendo boa indicação em pacientes com quadro acne ativa. A associação com a Tretinoína 1% e Ácido pirúvico 10% é indicada para aplicação após o TCA, mantendo-se um bom nível de esfoliação. SOLUÇÃO DE JESSNER e ÁCIDO GLICÓLICO: a Solução de Jessner, composta por 14g de ácido salicílico, 14g de resorcinol e 14 de ácido láctico (USP 85%) em etanol para completar 100ml, provoca lesão epidérmica sem formação de vesículas, acarretando separação da camada córnea, não sendo constatada alteração alguma na derme. Tem sido muito utilizada em quadros de acne pelo seu poder queratolítico, desobstruindo os infundíbulos glandulares sebáceos. 6 Quando utilizada em associação, rompe a função barreira da pele enquanto o TCA penetra mais rapida e uniformemente do que sem sua aplicação prévia. O mesmo ocorre quando em associação com o ácido glicólico quando penetra com mais uniformidade e ganha maior profundidade. Estudos histológicos mostraram que a profundidade do peeling combinado é maior do que com TCA apenas. (Moy, 1993) Em paciente com pele espessa, sebácea a aplicação de várias camadas de Solução de Jessner previamente ao TCA possibilita uma descamação mais profunda e uniforme. Entretanto, em pacientes com pele alípica e delgada, pode não se justificar este tipo de associação. MÉTODO Foi observada a resposta clínica de pacientes submetidos ao tratamento fundamentado no princípio do efeito sinérgico entre ácidos, possibilitando maior nível de penetração com menor concentração de cada um deles. Adotamos a associação de Solução de Jessner modificada, TCA 7.5%, TCA 15%, Tretinoína 1% e Ácido pirúvico 10%. Todos os pacientes apresentavam dermatoheliose facial, com idades variando de 50 e 70 anos, com fototipos 1 a 3, estágio de envelhecimento 3 e 4 de Glogau e que já estavam se submetendo a tratamento domiciliar orientado, com uso de hidratantes, FPS, α-hidróxi acidos ou ácido retinóico. A finalidade do tratamento era minimizar a profundidade das rugas, eventualmente erradicando totalmente as lesões mais superficiais, melhorar o turgor da pele e aumentar a espessura dermoepidérmica. Todas as pacientes submeteram-se, em uma primeira fase, ao preparo da pele que faz parte da fase de Estimulação do PRC – Programa de restauração Cutânea, que consiste no uso domiciliar de eutróficos como o Ácido retinóico 0.02 a 0.05% ou Ácido glicólico 5% ou Ácido mandélico 5% (ver Discussão) à noite, uma suplementação tópica, também noturna, de nutritivos e/ou clareadores, produtos de higienização e tonificação cutânea pela manhã, seguidos de aplicação de hidratantes à base de Ácido hialurônico 5% e FPS segundo critério e medidas e condutas em clínica. (Carlucci, 1996) Nesta fase de preparo e estimulação, é realizada uma sessão semanal de peeling químico superficial em associação a métodos manuais, eletroterápicos e físicos, em consultório. Após 6 a 15 semanas de preparo, dependendo do grau de envelhecimento (Glogau 3 a 4) inicia-se a fase de Subtração, consistindo de métodos que possibilitem reduzir ou eliminar as rugas e outras alterações de superfície, como queratoses actínicas, melasmas e rugas finas. Após a fase de estimulação que prepara a epiderme para sua auto restauração pós peeling ablativo, etapa subseqüente, a multiplicação celular 7 estará estimulada, podendo-se indicar a fase de subtração com métodos químicos de ablação, como é o caso do peeling de média profundidade (Monheit, 1996) ou aplicação de toxina botulínica (Ghang, 2008) Existindo grande contingente de rugas dinâmicas, principalmente nas regiões médio frontais faciais e periorbitais laterais, indica-se primeiramente a injeção de toxina botulínica, aguardando-se 20 a 40 dias após estabilização do resultado, para o início dos peelings de média profundidade. (Salti, 2008) O peeling clássico de TCA tem sido descrito utilizando-se a concentração de 30 a 40% para pele envelhecida facial, o que promove grande choque inflamatório em função da grande concentração e alto pKa do ácido. Essa inflamação, em fototipos avançados pode resultar em respostas hipercrômicas intensas ou, em casos de aprofundamento, em cicatrizes hipertróficas ou queloideanas. Por outro lado, em peles com características alipídicas, delgadas ou muito envelhecidas, a lesão pode se estender até planos mais profundos, resultando em cicatrizes atróficas hipocromias ou acromicas. Tudo isto pode ocorrer pela dificuldade no controle do ácido e pela ausência de previsibilidade de sua ação, haja vista seu alto pKa e baixo pH (este, geralmente em torno de 0.7). No sentido de se transformar a técnica em conduta segura, proporcionando serenidade tanto para o médico quanto ao paciente, propõe-se o conceito de se realizar o peeling com TCA sem tornar o médico refém do agente químico e sim, promovendo seu aprofundamento de forma progressiva e controlada: sua concentração seria reduzida e, em contrapartida, outros agentes químicos seriam também utilizados para possibilitar maior penetração sem a ocorrência de maior inflamação. Rubin descreve a associação da Solução de Jessner, por ele modificada, em que se afasta a possibilidade de reações alérgicas pela exclusão do Resorcinol (Dermatite química) e elevação das concentrações do ácido salicílico e do ácido láctico de 14 para 17%, ainda dentro dos limites de segurança. Para se manter a acidez da solução, inclui-se o Ácido cítrico 8% que, a exemplo de outros que virão a seguir, desempenha importante função metabólica. A solução de Jessner modificada, como de costume é aplicada com gase, em várias passadas, intervaladas por 5 a 10 minutos até obtenção do frost característico (geralmente 3 a 5). Esta manobra possibilita a quebra da barreira cutânea da camada córnea o que faculta maior penetração do TCA que será aplicado na seqüência. Inicia-se a aplicação da primeira camada com a concentração de 7.5%, com pouco incômodo para o paciente, quando então o ácido cumpre sua ação cáustica. Nova camada a 7.5% deve ser aplicada e aguarda-se 5 a 10 minutos para se prosseguir com o peeling. 8 Um leve frost é observado, translúcido, denominado “véu de noiva”. (Fig. 2) O próximo passo, caracterizado ainda pelo efeito cáustico do peeling, se dá através da aplicação da primeira camada de TCA 15%, ocasião em que se acentua o frost, podendo ser complementado com uma segunda camada de TCA 15%, dependendo da resistência da pele à penetração do ácido, ou seja, dependendo da intensidade do frost desejado e obtido. (Rubin, 2007) Finalmente, para se aumentar a velocidade de eliminação da necrose celular e, ao mesmo tempo implementar o efeito metabólico nos tecidos, Rubin propõe a associação de Tretinoína 0.4% que deverá permanecer em contato com a pele de 4 a 6 horas. Em nossa experiência, obtivemos melhor esfoliação utilizando a Tretinoína 1% e esta, para melhor nível de aprofundamento, em associação com ácido pirúvico 10%, por suas características lipofílicas, agilizaria sua penetração. Para isto, deverá permanecer em contato com a pele por 4 horas. A remoção será feita em domicílio pelo paciente, lavando-se a face com água e sabonete. Em seguida o paciente aplica produto pós-peeling com Lipex canola 2%, reaplicando-o de 2 a 3 vezes ao dia, nos dois dias subseqüentes ao peeling. Neste período o paciente não utiliza seus produtos de uso diário, dada a possibilidade da presença de emulsificantes que poderiam aumentar a lesão celular. Evidente que somente com esta sessão, não se consegue atingir a camada papilar da derme pois, como já se estabeleceu, o grau de lesão assim como a carga inflamatória, devem ser menores que os observados em somente uma sessão de TCA a 35%. Porém, enquanto a epiderme se restaura, intervimos novamente em curto espaço de tempo (8 a 12 dias) com a mesma conduta e após mesmo período, nova intervenção, num total de 3 a 4 sessões. Com isto, logramos atingir o plano desejado com várias sessões utilizando concentrações menores e, consequentemente, menor choque inflamatório e reações menos intensas e riscos inerentes ao procedimento também menores. DISCUSSÃO Muitos peelings químicos têm sido apresentados e discutidos nos últimos anos buscando, sempre que possível, o melhor resultado estético e melhora funcional da pele, pequeno período de reclusão do paciente, mínimo quadro doloroso, baixo custo, baixo índice de complicações e serenidade do médico no seu em transcurso e no pós tratamento. Quando se reduz a concentração, a penetração é prejudicada; quando é elevada, aumenta-se a taxa de complicações; por outro lado, quando se utilizam concentrações altas, a necrose cutânea é maior e a formação da 9 crosta ou escara impede a penetração de princípios ativos eutróficos (“Fisiológicos”, como diz Rubin). Em fototipos altos (Fitzpatrick 4 e 5), a reincidência de hipercromias, ou aparecimento de novas, tem ocorrido com certa freqüência. O intenso trauma químico desencadeia grande resposta inflamatória, responsável pela produção melânica, ocorrência comum nestes casos. Com esta metodologia, consegue-se alcançar os objetivos desejados: - Apesar do tratamento se prolongar por um período maior e requerer maior número de sessões, logra-se uma profundidade de atuação do TCA similar ao do até então praticado, que utiliza concentrações de 30% em uma sessão. - Afasta-se o risco de aprofundamento, ao serem utilizadas concentrações progressivas o que faculta ao médico o controle de ação do TCA. No caso contrário, quando a concentração mal calculada produz aprofundamento maior, não há como retornar ao estágio inicial. - Importante ressaltar a característica cáustica do TCA (Rubin) que pode ser útil em se promovendo associações com ácidos fisiológicos (Rubin), transformando o peeling com TCA em menos cáustico e mais eutrófico. - Muito importante destacar o baixo nível de inflamação provocada pelas baixas concentrações que, em associação produzem efeito semelhante aos das altas concentrações, minimizando as complicações. CONCLUSÃO Com as mega-tendências e a evolução dos costumes, com a impossibilidade de afastamento das atividades sócio-profissionais e da prática de hábitos com constante exposição solar, os pacientes candidatos a peelings tem solicitado tratamentos menos agressivos, mais fisiológicos e, certamente, com menor índice de complicações. Comparando-se historicamente o uso do fenol, óleo de Cróton, CO sólido, ou do próprio TCA e, após revisão na literatura atual, já se nota uma atual tendência em se minimizar a carga inflamatória dos tratamentos estéticos, com a adoção de novos ácidos estimulantes que, em associação ao TCA, conferem ao tratamento um enfoque mais fisiológico que, apesar de provocar lesão fornecem acréscimo metabólico, agilizando a recuperação dos pacientes e melhorando as funções como multiplicação e produção celular, modulando a unidade cutânea de competência imunológica e estimulando a reparação tecidual. Sem dúvida a aplicação de esfoliantes que precedem o TCA, e a finalização com eutróficos associados a ácidos, confere uma conotação mais realista, fisiológica e segura nos tratamentos estéticos atuais. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 10 Carlucci AR. Programa de Restauração da face – Microcorrentes. Atualização em Cirurgia Plástica da Soc Bras Cir Plast, Robe Ed, 1996.Cap 96:617-623 Chang SP et al. The wrinkles soothing effect on the middle and lower face by intradermal injection of botulinum toxi type A. Intern J Dermatol 2008, 47, 12871294 Coleman WP, Futrell IM. The glycolic acid-trichloroacetic acid peel. J Dermatol Surg Oncol 1994; 20: 76-80. Deprez P. Easy Peel et TPR, La rajeunissement cutané n’est plus un mythe. J. Méd et Chir Derm Vol.XXV, 99, septembre 1998, 171-179 Deprez P. Easy Peel y los tratamientos rejuvenecedores progresivos. Dermatol Cosmet VIII: 17-29.1998. Gaspar PK. Neuropeptides in the skin. An Bras Dermatol, Rio de Janeiro, 78(4):483-498, jul-ago.2003. 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A crosta funciona como barreira, impedindo a penetração de produtos de tratamento, como anti-oxidantes, hidratantes, eutróficos. Fig. 2 – Aplicando-se previamente Solução de Jessner modificada em 3 camadas, seguidas de TCAS 7.5% em 2 camadas e TCA 15%, obtém-se o frost translúcido (“Véu de noiva”). Não se evidenciará lesão crostosa aderente o que possibilitará a continuidade das atividades sócio-profissionais. A sessão deverá ser repetida dentro de 8 a 10 dias aproximadamente. 12 13