Medidas complementares em Ritidoplastias cervico faciais

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Experiência pessoal com uma novas associações de
agentes químicos para peelings de média profundidade
Adolfo Carlucci MD¹ , Ricardo Boggio, PhD ²
1] Membro Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica
Coordenador do Curso de Especialização em Medicina Estética do IBRAPE
Instituto Brasileiro de Pesquisa e Ensino
Professor do Curso de Especialização em Medicina Estética
2] Membro Especialista da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica
Doutor em Ciências pelo I.C.B. da USP
Professor do IBRAPE – Curso de Especialização em Medicina Estética
Diretor da Clínica Escola do IBRAPE
Endereço para correspondência:
Adolfo Carlucci
IBRAPE - Instituto Brasileiro de Pesquisa e Ensino
Av. Brig. Luís Antônio 3005 - casa 5
01401-000 - São Paulo - SP
Fone (0xx11)3887-6501 Fax: (0xx11) 3884-9949
[email protected]
RESUMO
Apesar dos recentes avanços na pesquisa e desenvolvimento de novas
tecnologias na área de fototerapia e outras irradiações físicas, o assunto
peeling químico ainda continua atual, principalmente no que tange aos efeitos
secundários por ele produzidos que, direta ou indiretamente tem interferido na
produção e multiplicação celular, no grau de retenção hídrica e normalização
da homeostase.
Para se chegar a um resultado estético satisfatório têm sido utilizados
alguns agentes químicos, às vezes com concentrações elevadas, a ponto de
causarem maior grau de lesão e desconforto ao paciente, tanto no trans como
no pós peeling: pode-se aqui mencionar o quadro doloroso, a acentuada carga
inflamatória, a ocorrência freqüente de hipercromias, assim como importante
down time com graves repercussões no âmbito social, afetivo e profissional.
Em função desses fatores, diferentes técnicas de peelings químicos têm
sido propostas e acompanhadas na literatura médica, procurando-se reduzir o
trauma químico promovido pelas altas concentrações, realizando-se a
aplicação de agentes químicos diversos em seqüências lógicas e bem
definidas, com uma única expectativa: a obtenção de resultados similares aos
obtidos em uma sessão de peelings com concentrações maiores, aumentandose o número de sessões, cada qual com menor agressão química.
Este trabalho traduz a experiência de 11 meses com a técnica proposta
por Mark Rubin em que se associam Ácido tricloro acético, Solução de Jessner
modificada, Ácido pirúvico e Tretinoína, para a realização de peelings de média
profundidade.
Evita-se o afastamento do paciente de suas atividades assim como a
ocorrência de complicações ou intercorrências importantes.
INTRODUÇÃO
Classicamente os peelings de média profundidade tem sido descritos
como métodos que utilizam, entre outros agentes, ácidos com a finalidade de
promover uma lesão na pele, que compromete todas as camadas da epiderme
e a derme papilar, inclusive. (Rubin, 1995)
Segundo Rubin, os níveis de aprofundamento dos peelings estão
diretamente relacionados aos sinais clínicos decorrentes da foto agressão, em
maior ou menor grau e denotam um comprometimento superficial ou mais
profundo, dependendo da carga de radiação solar a que o indivíduo se
submeteu.
Nos tipos de pele classificados como Nível 2, que corresponde ao nível
de ação dos peelings de média profundidade, estão presentes os sinais
característicos de fotoagressão, como: desidratação superficial, superfície
áspera e descamativa, efélides, lentigos, congestão vascular, eventualmente
teleangiectasias e rugas delicadas.
Após as devidas estimulações para a melhoria da produção celular e do
grau de retenção hídrica, assim como a normalização do plexo vascular
dérmico superficial, indica-se um método para remoção das camadas
comprometidas, acima descritas, mediante a utilização de um agente químico.
Historicamente, Stegman apresentou um estudo comparativo entre a
aplicação de agentes químicos, entre os quais o ácido tricloro acético a 60%
(TCA) e a dermoabrasão, descrevendo alterações histológicas em função do
grau de aprofundamento do peeling. (Stegman, 1982)
Estudos sobre a associação de agentes, mas agora combinando TCA a
35% e dióxido de carbono sólido, demonstraram que o aprofundamento era
ligeiramente maior do o observado no estudo de Stegman que utilizara TCA a
60% isoladamente.
Em virtude desta evolução, vários estudos foram conduzidos na
pesquisa de associações de agentes químicos em associação, objetivando
maior aprofundamento do método sem necessariamente utilizar concentrações
muito elevadas dos agentes.
Coleman e Futrell demonstraram histologicamente, maior profundidade
de ação do TCA a 35% quando precedido de aplicação de Ácido glicólico 70%
por 2 minutos. (Coleman, 1994)
Estes trabalhos vieram se somar a outros, no sentido de se adotar um
método que permita maior aprofundamento do agente químico, mas sem
2
necessariamente com concentração muito elevada, o que aumentaria o risco e
consequentemente o número de complicações.
Várias tentativas com sucesso têm sido descritas, adotando-se a
associação de ácidos e reduzindo-se a concentração dos agentes, o que
levaria a uma menor carga inflamatória e possibilitaria a penetração de
princípios ativos no transcurso do método.
Esses princípios ativos, em combinações específicas, permitem uma
esfoliação geradora de fenômenos fisiológicos constantes da estimulação e da
reparação tecidual, além da remoção dos planos comprometidos.
Tais princípios ativos, conhecidos como alfahidróxi ácidos, retinóides,
cetoácidos e outros, permitem a realização de programas de estimulação,
controle e manutenção da pele, simultaneamente à esfoliação pretendida.
Em resumo, o peeling ideal deveria reunir algumas características que,
em conjunto possibilitarão resultado final satisfatório igual ao de uma aplicação
isolada com alta concentração, porém realizado em várias sessões com
concentração menor, objetivando-se efeito cumulativo. (Fig.1ª e 1b)
São elas:
1. Aumentar a eficácia da esfoliação permitindo penetração mais uniforme do
agente químico;
2. Favorecer a penetração transcutânea, não criando crosta resultante de
intensa coagulação protéica;
3. Obter maior aprofundamento do TCA sem elevação proporcional de sua
concentração;
4. Reduzir a incidência de risco de má cicatrização ou de hiperpigmentação
pós-inflamatória;
5. Repetir aplicações em pequenos intervalos de tempo para a obtenção de um
aprofundamento progressivo, evitando-se afastamento do paciente de suas
atividades;
6. Produzir, de alguma maneira, efeitos secundários que vão a favor do
metabolismo local, estimulando a produção celular, realizando uma
antioxidação e proteção de membranas, aumentando a multiplicação celular e
modulando a unidade neuroimunocutânea através de estímulos fisiológicos dos
neuropeptídeos da pele. (Gaspar, 2003)
Vale, então, enumerar os agentes químicos que poderiam, em
associação com o TCA, promover tais efeitos:
ÁC. SALICÍLICO: Normalmente tem sido utilizado em associação ao
Resorcinol e Ácido láctico em uma formulação denominada Solução de
Jessner. Sua absorção em veículo alcoólico é intensa e, quando aplicado em
áreas extensas, pode provocar lesões parenquimatosas renais importantes,
pois apresenta lentidão em sua metabolização e eliminação, principalmente em
pacientes com nefropatias.
Há uma tendência mais moderna em utilizá-lo em formulação com Macrogol, o
que possibilita maior segurança ao paciente e, segundo trabalhos
3
experimentais, produz mínima reação inflamatória, desencadeia reestruturação
da epiderme e induz a nova síntese de tecido conjuntivo dérmico. (Isoda, 2001)
Reduz drasticamente a função barreira cutânea, permitindo melhor e
mais rápida penetração de princípios ativos aplicados em seqüência.
RESORCINOL: também fazendo parte da Solução de Jessner, é um
agente potencialmente alergênico, apesar de termos realizado centenas de
esfoliações com este agente sem a ocorrência de quadro alérgico. Este
aspecto é particularmente interessante pois a literatura o descreve como
causador de maior incidência de reações pápulo-eritematosas pruriginosas.
ÁC. RETINÓICO (Tretinoína): seu uso foi proposto por Kligman e
provocou verdadeira revolução no tratamento não cirúrgico da pele
envelhecida, pois produz melhora significativa na estética e na fisiologia
cutânea.
Produz maior tensão na pele cuja textura fica mais lisa e macia; melhora
as queratoses actínicas, melhora as efélides ou outras hipercromias, estimula a
produção de colágeno aumentando o volume dérmico, mantém bom grau de
hidratação por maior deposição de glucosaminoglicanos e aumenta a
neovascularização da pele, estimulando a produção de células endoteliais.
O ácido retinóico aumenta a arborização capilar dérmica, o que pode
agravar uma teleangiectasia ou manter a face constantemente congestionada.
Evitar sua indicação em pacientes ruivos, que ruborizam com facilidade ou com
teleangiectasia facial. Bom para dermato-heliose. (Kligman, 1986)
É utilizado em baixas concentrações para aplicação domiciliar, 0.01 a
0.05% e, mesmo assim, pode provocar reações indesejáveis (dermatite
retinóide) que podem permanecer por semanas, deixando a pele vermelha,
descamativa e sensível. Após este período a dermatite atenua-se e a pele
adapta-se bem ao produto.
Mesmo assim, a mesma reação pode ocorrer após vários anos de uso.
Nas associações a outros agentes químicos, na prática diária em
consultório, as concentrações variam de 1 a 5%, devendo o produto
permanecer atuando de 4 a 6 horas, sendo removido após este tempo, com
água e sabão.
Neste caso, acelera a eliminação de queratinócitos das camadas mais
externas da epiderme, potencializando o resultado do peeling e produzindo
estímulo inflamatório para a restauração dos tecidos.
ÁCIDO GLICÓLICO E TCA: Seu uso em associação foi proposto por
Coleman e tem como objetivo, a exemplo dos demais, estabelecer
descamação mais uniforme e mais profunda. (Coleman, 1994)
O ácido glicólico pertence ao grupo dos AHAs - Alfahidróxi ácidos,
alguns derivados de frutas, porém não necessariamente extraídos das
mesmas, pois freqüentemente sintetizam-se suas moléculas em laboratório.
O ácido glicólico é utilizado como agente esfoliante, em concentrações
que vão de 30% a 70% e seu uso é esritamente médico.
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A estrutura química do ácido glicólico é formada por 2-4-5-6 tetra hidróxi3 ceto hexano na forma lactona, possuindo apenas dois carbonos em sua
cadeia.
Tem importante característica queratolítica e, devido ao pequeno
tamanho de sua molécula, tem grande penetração através dos planos
epidérmicos e intracelular.
Produz descompactação dos queratinócitos epidérmicos, sem promover
desagregação das camadas; com isto aumenta o espaço intersticial nas
camadas mais internas, possibilitando melhor aporte e fixação de moléculas de
água, tornando a pele mais hidratada e, consequentemente mais flexível,
macia e túrgida.
Sua ação não está relacionada somente com sua concentração, mas
também ao tempo de atuação: quanto maior a concentração e quanto mais
tempo permanece sem interrupção, maior seu aprofundamento.
Analogamente ao ácido ascórbico, o ácido glicólico estabiliza a reação
inflamatória com melhor funcionabilidade e aumento da formação dos linfócitos
T e B (Campos, S.) diminuindo os mediadores da reação inflamatória e
reduzindo o Super óxido O² e o Radical Hidroxila OH¯.
Estudos realizados demonstraram melhora da qualidade tecidual, assim
como diminuição das lesões após 2 meses de uso de ácido glicólico. (Van
Scott, 1988)
Através de complexo ciclo intra-celular, proporciona aumento da glicina,
que é responsável por 11% da estrutura do colágeno, condicionando portanto
ao aumento da produção protéica cutânea. (Van Scott, 1989)
Quando em associação ao TCA, aplica-se inicialmente o AG 70% que
permanece por 2 minutos. Em seguida promove-se sua neutralização (diluição)
com água abundante; enxuga-se a área e depois aplica-se o TC.A de 7.5% a
15%
ÁCIDO MANDÉLICO e TCA:
O ácido mandélico da família dos AHAs, é constituído por um anel de 6
carbonos ligados à molécula anteriormente descrita, portanto, tem uma
estrutura maior que a do ácido glicólico o que o torna mais seguro quanto à
penetração
Seu diferencial está na maneira regular e segura com a qual o peeling é
realizado, promovendo uma descamação mais uniforme, embora menos
intensa, que o ácido glicólico.
Logo após o contato com a pele, o ácido mandélico perde o H+ do grupo
carboxílico, originando o íon mandelato.
O hidrogênio liberado é o responsável pelo maior distanciamento das
pontes de hidrogênio constantes das ligações entre os queratinócitos.
Quando esta reação de liberação do H+ do α-hidroxi ácidos é muito
intensa, a grande quantidade liberada poderá não somente afastar mas romper
as ligações entre os queratinócitos, ocasionando epidermólise severa.
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Uma das vantagens que o ácido mandélico apresenta é que seu
processo de liberação de H+ é gradual e mais lento, possibilitando um controle
mais efetivo e mais seguro.
A exemplo do ácido glicólico, também melhora o grau de hidratação da
epiderme (também é hidrofílico) e estimula a síntese de colágeno; por este
motivo atua em rugas finas, com bom resultado.
O curso do peeling de ácido mandélico é seguro porque, mesmo que
haja “frost puntiforme” durante o tratamento, não há risco de hipercromia
posterior.
O ácido mandélico que não é consumido para a reação de indução da
epidermólise, exerce ação despigmentante após sua penetração para o meio
intracelular, como competidor da fenilalanina no mecanismo de ação da
tirosinase, para a produção de melanina.
A grande vantagem desta etapa é a não degradação enzimática e
celular, como ocorre com outro despigmentante clássico, a hidroquinona.
Outro efeito interessante observado com o uso de peeling de ácido
mandélico é sua ação sobre o epitélio folicular, controlando a oleosidade da
pele e restaurando o tamanho do óstio.
Em termos mais simples, não se deve padronizar o procedimento de um
peeling, haja vista uma série de variáveis que podem necessitar da utilização
de vários agentes químicos concomitantemente.
Utilizado nas concentrações de 50% que corresponde a seu limite de
estabilidade.
ÁCIDO PIRÚVICO e TRETINOÍNA: O ácido pirúvico é um cetoácido com
alta penetração no meio lipofílico (pele e glândulas sebáceas).
Em contato com a pele e mediante reações sucessivas, transforma-se
em ácido láctico.
O ácido pirúvico tem ação potente como esfoliante, não devendo sua
concentração ultrapassar 50%. A exemplo dos α-hidróxi ácidos, glicólico e
mandélico, não produz efeitos tóxicos detectáveis.
Como é lipofílico, com grande capacidade de permeação celular
sebácea, exerce ação moduladora da sebogênese, reduzindo a oleosidade,
tendo boa indicação em pacientes com quadro acne ativa.
A associação com a Tretinoína 1% e Ácido pirúvico 10% é indicada para
aplicação após o TCA, mantendo-se um bom nível de esfoliação.
SOLUÇÃO DE JESSNER e ÁCIDO GLICÓLICO: a Solução de Jessner,
composta por 14g de ácido salicílico, 14g de resorcinol e 14 de ácido láctico
(USP 85%) em etanol para completar 100ml, provoca lesão epidérmica sem
formação de vesículas, acarretando separação da camada córnea, não sendo
constatada alteração alguma na derme.
Tem sido muito utilizada em quadros de acne pelo seu poder
queratolítico, desobstruindo os infundíbulos glandulares sebáceos.
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Quando utilizada em associação, rompe a função barreira da pele
enquanto o TCA penetra mais rapida e uniformemente do que sem sua
aplicação prévia.
O mesmo ocorre quando em associação com o ácido glicólico quando
penetra com mais uniformidade e ganha maior profundidade.
Estudos histológicos mostraram que a profundidade do peeling
combinado é maior do que com TCA apenas. (Moy, 1993)
Em paciente com pele espessa, sebácea a aplicação de várias camadas
de Solução de Jessner previamente ao TCA possibilita uma descamação mais
profunda e uniforme.
Entretanto, em pacientes com pele alípica e delgada, pode não se
justificar este tipo de associação.
MÉTODO
Foi observada a resposta clínica de pacientes submetidos ao tratamento
fundamentado no princípio do efeito sinérgico entre ácidos, possibilitando maior
nível de penetração com menor concentração de cada um deles. Adotamos a
associação de Solução de Jessner modificada, TCA 7.5%, TCA 15%,
Tretinoína 1% e Ácido pirúvico 10%.
Todos os pacientes apresentavam dermatoheliose facial, com idades
variando de 50 e 70 anos, com fototipos 1 a 3, estágio de envelhecimento 3 e 4
de Glogau e que já estavam se submetendo a tratamento domiciliar orientado,
com uso de hidratantes, FPS, α-hidróxi acidos ou ácido retinóico.
A finalidade do tratamento era minimizar a profundidade das rugas,
eventualmente erradicando totalmente as lesões mais superficiais, melhorar o
turgor da pele e aumentar a espessura dermoepidérmica.
Todas as pacientes submeteram-se, em uma primeira fase, ao preparo
da pele que faz parte da fase de Estimulação do PRC – Programa de
restauração Cutânea, que consiste no uso domiciliar de eutróficos como o
Ácido retinóico 0.02 a 0.05% ou Ácido glicólico 5% ou Ácido mandélico 5% (ver
Discussão) à noite, uma suplementação tópica, também noturna, de nutritivos
e/ou clareadores, produtos de higienização e tonificação cutânea pela manhã,
seguidos de aplicação de hidratantes à base de Ácido hialurônico 5% e FPS
segundo critério e medidas e condutas em clínica. (Carlucci, 1996)
Nesta fase de preparo e estimulação, é realizada uma sessão semanal
de peeling químico superficial em associação a métodos manuais,
eletroterápicos e físicos, em consultório.
Após 6 a 15 semanas de preparo, dependendo do grau de
envelhecimento (Glogau 3 a 4) inicia-se a fase de Subtração, consistindo de
métodos que possibilitem reduzir ou eliminar as rugas e outras alterações de
superfície, como queratoses actínicas, melasmas e rugas finas.
Após a fase de estimulação que prepara a epiderme para sua auto
restauração pós peeling ablativo, etapa subseqüente, a multiplicação celular
7
estará estimulada, podendo-se indicar a fase de subtração com métodos
químicos de ablação, como é o caso do peeling de média profundidade
(Monheit, 1996) ou aplicação de toxina botulínica (Ghang, 2008)
Existindo grande contingente de rugas dinâmicas, principalmente nas
regiões médio frontais faciais e periorbitais laterais, indica-se primeiramente a
injeção de toxina botulínica, aguardando-se 20 a 40 dias após estabilização do
resultado, para o início dos peelings de média profundidade. (Salti, 2008)
O peeling clássico de TCA tem sido descrito utilizando-se a
concentração de 30 a 40% para pele envelhecida facial, o que promove grande
choque inflamatório em função da grande concentração e alto pKa do ácido.
Essa inflamação, em fototipos avançados pode resultar em respostas
hipercrômicas intensas ou, em casos de aprofundamento, em cicatrizes
hipertróficas ou queloideanas.
Por outro lado, em peles com características alipídicas, delgadas ou
muito envelhecidas, a lesão pode se estender até planos mais profundos,
resultando em cicatrizes atróficas hipocromias ou acromicas.
Tudo isto pode ocorrer pela dificuldade no controle do ácido e pela
ausência de previsibilidade de sua ação, haja vista seu alto pKa e baixo pH
(este, geralmente em torno de 0.7).
No sentido de se transformar a técnica em conduta segura,
proporcionando serenidade tanto para o médico quanto ao paciente, propõe-se
o conceito de se realizar o peeling com TCA sem tornar o médico refém do
agente químico e sim, promovendo seu aprofundamento de forma progressiva
e controlada: sua concentração seria reduzida e, em contrapartida, outros
agentes químicos seriam também utilizados para possibilitar maior penetração
sem a ocorrência de maior inflamação.
Rubin descreve a associação da Solução de Jessner, por ele
modificada, em que se afasta a possibilidade de reações alérgicas pela
exclusão do Resorcinol (Dermatite química) e elevação das concentrações do
ácido salicílico e do ácido láctico de 14 para 17%, ainda dentro dos limites de
segurança.
Para se manter a acidez da solução, inclui-se o Ácido cítrico 8% que, a
exemplo de outros que virão a seguir, desempenha importante função
metabólica.
A solução de Jessner modificada, como de costume é aplicada com
gase, em várias passadas, intervaladas por 5 a 10 minutos até obtenção do
frost característico (geralmente 3 a 5).
Esta manobra possibilita a quebra da barreira cutânea da camada
córnea o que faculta maior penetração do TCA que será aplicado na
seqüência.
Inicia-se a aplicação da primeira camada com a concentração de 7.5%,
com pouco incômodo para o paciente, quando então o ácido cumpre sua ação
cáustica. Nova camada a 7.5% deve ser aplicada e aguarda-se 5 a 10 minutos
para se prosseguir com o peeling.
8
Um leve frost é observado, translúcido, denominado “véu de noiva”. (Fig.
2)
O próximo passo, caracterizado ainda pelo efeito cáustico do peeling, se
dá através da aplicação da primeira camada de TCA 15%, ocasião em que se
acentua o frost, podendo ser complementado com uma segunda camada de
TCA 15%, dependendo da resistência da pele à penetração do ácido, ou seja,
dependendo da intensidade do frost desejado e obtido. (Rubin, 2007)
Finalmente, para se aumentar a velocidade de eliminação da necrose
celular e, ao mesmo tempo implementar o efeito metabólico nos tecidos, Rubin
propõe a associação de Tretinoína 0.4% que deverá permanecer em contato
com a pele de 4 a 6 horas.
Em nossa experiência, obtivemos melhor esfoliação utilizando a
Tretinoína 1% e esta, para melhor nível de aprofundamento, em associação
com ácido pirúvico 10%, por suas características lipofílicas, agilizaria sua
penetração. Para isto, deverá permanecer em contato com a pele por 4 horas.
A remoção será feita em domicílio pelo paciente, lavando-se a face com
água e sabonete.
Em seguida o paciente aplica produto pós-peeling com Lipex canola 2%,
reaplicando-o de 2 a 3 vezes ao dia, nos dois dias subseqüentes ao peeling.
Neste período o paciente não utiliza seus produtos de uso diário, dada a
possibilidade da presença de emulsificantes que poderiam aumentar a lesão
celular.
Evidente que somente com esta sessão, não se consegue atingir a
camada papilar da derme pois, como já se estabeleceu, o grau de lesão assim
como a carga inflamatória, devem ser menores que os observados em
somente uma sessão de TCA a 35%.
Porém, enquanto a epiderme se restaura, intervimos novamente em
curto espaço de tempo (8 a 12 dias) com a mesma conduta e após mesmo
período, nova intervenção, num total de 3 a 4 sessões.
Com isto, logramos atingir o plano desejado com várias sessões
utilizando concentrações menores e, consequentemente, menor choque
inflamatório e reações menos intensas e riscos inerentes ao procedimento
também menores.
DISCUSSÃO
Muitos peelings químicos têm sido apresentados e discutidos nos
últimos anos buscando, sempre que possível, o melhor resultado estético e
melhora funcional da pele, pequeno período de reclusão do paciente, mínimo
quadro doloroso, baixo custo, baixo índice de complicações e serenidade do
médico no seu em transcurso e no pós tratamento.
Quando se reduz a concentração, a penetração é prejudicada; quando é
elevada, aumenta-se a taxa de complicações; por outro lado, quando se
utilizam concentrações altas, a necrose cutânea é maior e a formação da
9
crosta ou escara impede a penetração de princípios ativos eutróficos
(“Fisiológicos”, como diz Rubin).
Em fototipos altos (Fitzpatrick 4 e 5), a reincidência de hipercromias, ou
aparecimento de novas, tem ocorrido com certa freqüência. O intenso trauma
químico desencadeia grande resposta inflamatória, responsável pela produção
melânica, ocorrência comum nestes casos.
Com esta metodologia, consegue-se alcançar os objetivos desejados:
- Apesar do tratamento se prolongar por um período maior e requerer
maior número de sessões, logra-se uma profundidade de atuação do TCA
similar ao do até então praticado, que utiliza concentrações de 30% em uma
sessão.
- Afasta-se o risco de aprofundamento, ao serem utilizadas
concentrações progressivas o que faculta ao médico o controle de ação do
TCA. No caso contrário, quando a concentração mal calculada produz
aprofundamento maior, não há como retornar ao estágio inicial.
- Importante ressaltar a característica cáustica do TCA (Rubin) que pode
ser útil em se promovendo associações com ácidos fisiológicos (Rubin),
transformando o peeling com TCA em menos cáustico e mais eutrófico.
- Muito importante destacar o baixo nível de inflamação provocada pelas
baixas concentrações que, em associação produzem efeito semelhante aos
das altas concentrações, minimizando as complicações.
CONCLUSÃO
Com as mega-tendências e a evolução dos costumes, com a
impossibilidade de afastamento das atividades sócio-profissionais e da prática
de hábitos com constante exposição solar, os pacientes candidatos a peelings
tem solicitado tratamentos menos agressivos, mais fisiológicos e, certamente,
com menor índice de complicações.
Comparando-se historicamente o uso do fenol, óleo de Cróton, CO
sólido, ou do próprio TCA e, após revisão na literatura atual, já se nota uma
atual tendência em se minimizar a carga inflamatória dos tratamentos estéticos,
com a adoção de novos ácidos estimulantes que, em associação ao TCA,
conferem ao tratamento um enfoque mais fisiológico que, apesar de provocar
lesão fornecem acréscimo metabólico, agilizando a recuperação dos pacientes
e melhorando as funções como multiplicação e produção celular, modulando a
unidade cutânea de competência imunológica e estimulando a reparação
tecidual.
Sem dúvida a aplicação de esfoliantes que precedem o TCA, e a
finalização com eutróficos associados a ácidos, confere uma conotação mais
realista, fisiológica e segura nos tratamentos estéticos atuais.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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11
Fig. 1a – Frost obtido pela aplicação
de TCA 30% em uma sessão isolada.
O quadro inflamatório é maior, o que
poderá provocar resposta exacerbada
com pigmentações, principalmente em
fototipos altos. Cerca de 48 horas após
a instalação do frost forma-se uma
crosta resultante da coagulação
protéica.
Fig. 1b – Como o frost foi decorrente
de aprofundamento do TCA até derme
papilar, dentro de 48 horas forma-se
uma lesão crostosa que deverá
permanecer aderida de 7 a 10 dias. A
crosta funciona como barreira,
impedindo a penetração de produtos
de tratamento, como anti-oxidantes,
hidratantes, eutróficos.
Fig. 2 – Aplicando-se previamente
Solução de Jessner modificada em 3
camadas, seguidas de TCAS 7.5% em
2 camadas e TCA 15%, obtém-se o
frost translúcido (“Véu de noiva”). Não
se evidenciará lesão crostosa aderente
o que possibilitará a continuidade das
atividades sócio-profissionais. A
sessão deverá ser repetida dentro de 8
a 10 dias aproximadamente.
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