A PRESENÇA DE QUADROS CARACTERÍSTICOS DO STRESS EM FAMILIARES QUE ACOMPANHAM PESSOAS COM CÂNCER DURANTE O TRATAMENTO Marcela Luiza Simionato (Psicologia - UNICENTRO), Ana Priscila Batista (Orientadora – DEPSI/UNICENTRO), e-mail: [email protected] Palavras-chave: Câncer; Stress; Familiares Resumo: O presente trabalho teve como objetivo realizar uma pesquisa bibliográfica sobre stress e o contexto que envolve familiares que acompanham pessoas com câncer durante o tratamento. A literatura aponta que quadros de stress podem aparecer nos familiares de pessoas com câncer, pois a pessoa com câncer e sua família passam a vivenciar situações inéditas que exigem redefinições, formas de enfrentamento, mudanças no funcionamento familiar e longos períodos de adaptações. Introdução O Câncer desestrutura tanto o contexto social quanto o familiar da pessoa com câncer e, portanto, desencadeia alterações no estado emocional, tanto da pessoa com câncer quanto de sua família, principalmente do familiar que o acompanha durante o tratamento. O câncer pode ser visualizado, pela maioria das pessoas, como uma doença fatal, provocando assim, ansiedade, choque, raiva, negação e constitui uma ameaça à autonomia da pessoa com câncer e seus familiares, gerando assim, muitos desafios a serem enfrentados pelas pessoas envolvidas no contexto familiar da pessoa com câncer (SOARES & PEREIRA, 2003). Diante disso surge a preocupação com o estado emocional e psicológico do familiar que acompanha a pessoa com câncer durante o tratamento, que diante destes desafios ficam suscetíveis ao desenvolvimento de quadros característicos de stress. Assim, surgiu o interesse em realizar uma pesquisa bibliográfica para verificar como a literatura da área relaciona essas variáveis: stress e o contexto que envolve familiares que acompanham pessoas com câncer durante o tratamento, sendo esse o objetivo do presente trabalho. Materiais e Método O presente trabalho trata-se de uma pesquisa bibliográfica na qual pretendeu-se fazer um levantamento sobre stress e o contexto que envolve familiares que acompanham pessoas com câncer durante o tratamento. Para tal, foram utilizados autores como: CARVALHO (2003), GIANINI (2004) LIPP (1996) e (2003), SARDÁ LEGAL & JABLONSKI (2004), SOARES e PEREIRA (2003) e SPERANZA e TAVARES (2007). Resultados e Discussão O resultado da pesquisa bibliográfica mostra que o câncer é uma doença que, de certa forma, desestabiliza o contexto social e familiar da pessoa com câncer. O organismo da pessoa com câncer passa por várias alterações devido aos tratamentos a que esta é submetida. Ocorre queda de cabelo, inchaço no corpo, debilidades físicas, entre outras alterações físicas, fisiológicas e psicológicas provocadas pela doença que acabam por desencadear alterações no estado emocional da pessoa com câncer, bem como de seus familiares, principalmente o familiar que o acompanha e dá suporte durante o tratamento. Este familiar geralmente é quem o acompanha durante as sessões de rádio e quimioterapia, controla seus medicamentos, acompanha-o ao médico e em caso de debilidade física o ajuda nas atividades diárias como, por exemplo, alimentação, higiene pessoal, entre outras. Essa mudança na rotina deste familiar que acompanha a pessoa com câncer durante o tratamento pode ser um fator desencadeante de stress. Lipp (1996) define o stress como uma reação do organismo, com componentes físicos e/ou psicológicos, causada pelas alterações psicofisiológicas que ocorrem quando a pessoa se confronta com uma situação, que de um modo ou de outro, a irrite, amedronte, excite ou confunda, ou mesmo que a faça imensamente feliz. Para SARDÁ, LEGAL & JABLONSKI (2004) o stress pode ser definido como uma resposta não específica do organismo diante de uma situação interpretada como ameaçadora. Essa resposta procura re-estabelecer o equilíbrio do organismo uma vez que ele tenha sido mobilizado para uma ação vigorosa de luta e fuga. O stress não é apenas uma mera reação, mas sim um processo, pois se trata de uma cadeia de reações cuja função é adaptar o organismo a uma condição ambiental que, de algum modo, exija uma tomada de decisão rápida, geralmente ligada a sobrevivência. Neste sentido o stress pode ser concebido como uma resposta necessária à manutenção da vida do organismo. O stress excessivo é capaz de produzir um grande número de conseqüências para o indivíduo em si, para sua família, e para o seu contexto social. No âmbito psicológico e emocional do ser humano, o stress produz cansaço mental, dificuldade de concentração, perda de memória imediata, apatia e indiferença emocional. A produtividade sofre quedas e a criatividade fica prejudicada. Autodúvidas começam a surgir em virtude da percepção do desempenho insatisfatório. Crises de ansiedade e humor depressivo se seguem. A libido fica reduzida e os problemas de ordem física se fazem presente. Nestas condições, a qualidade de vida sofre um dano bastante pronunciado e freqüentemente os pacientes relatam “vontade de fugir” (LIPP, 2003). Gianinni (2004) aponta para o fato de que em uma situação de stress, o organismo libera hormônios, principalmente a adrenalina, que têm ação constritora nos vasos sangüíneos, alterando o funcionamento dos glóbulos brancos que são responsáveis pela resposta imunológica do organismo. Segundo Lipp (2003), quando o stress é prolongado, ele afeta diretamente o sistema imunológico reduzindo a resistência da pessoa e tornando-a vulnerável ao desenvolvimento de infecções e doenças contagiosas. Em conseqüência da queda do sistema imunológico, doenças que permaneciam latentes podem ser desencadeadas. Os sistemas imune, neurológico e endócrino têm interações extremamente importantes para a realização das funções regulatórias do organismo e controle frente a estímulos internos e externos. A pessoa estressada lida mal com as mudanças porque sua habilidade de adaptação está envolvida inteiramente no combate ao stress. Carvalho (2003) afirma que diante do câncer, o paciente e sua família passam a vivenciar situações inéditas que exigem redefinições, formas de enfrentamento, mudanças no funcionamento familiar e longos períodos de adaptações. O câncer é uma das doenças que mais abala e envolve os familiares. A ansiedade, o choque, a raiva e a negação, constituem uma ameaça “à autonomia” da pessoa com câncer e familiares, gerando vários desafios a serem enfrentados por todos os membros da família que participam deste processo (SOARES & PEREIRA, 2003). Entretanto, a referência à saúde de uma pessoa somente pode ser feita caso existam condições de avaliar suas emoções, seu nível de stress, seu contexto de vida, a forma como ela lida com as respostas que a vida lhe impõe, se ela tem ou não motivação (motivos para ação). Não sendo exatamente uma doença, o stress é uma questão de sobrevivência em situações atípicas, nas quais o funcionamento do organismo se altera para que se possa "dar conta do recado" (SPERANZA & TAVARES, 2002). Conclusão As considerações acima permitem a observação de que os familiares de pessoas com câncer enfrentam diversas dificuldades que podem estar relacionadas a um quadro de stress. A partir dessas observações, pretende-se, em um próximo estudo, investigar empiricamente o nível de stress em um grupo de familiares que acompanham pessoas com câncer, aplicando a Lista de Sintomas de Stress – LSS. Referências CARVALHO, M. M. J. (Org.). Introdução à Psiconcologia. Campinas, SP: Editorial Livro Pleno, 2003. GIANINI, M. M. S. Câncer e Gênero: Enfrentamento da Doença. (Tese de Doutorado), Universidade Pontifícia Católica de São Paulo – PUC SP, 2004. LIPP, M. E. N. Pesquisas sobre Stress no Brasil: Saúde, Ocupações e Grupos de Risco. Campinas, Sp: Papirus, 1996. LIPP, M. E. N. (org.). Mecanismos Neuropsicofisiológicos do Stress: Teoria e Aplicações Clínicas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003. SARDÁ, J. J. Jr; LEGAL, E. J. e JABLONSKI, S. J. Jr. Estresse: Conceitos, Métodos, Medidas e Possibilidades de Intervenção. São Paulo: casa do Psicólogo, 2004. SOARES, D. C e PEREIRA A. O Processo Humanizador no Cuidado ao Paciente Oncológico em Tratamento Ambulatorial: Perspectivas e Dificuldades. In: Costenaro RGS. Cuidando em enfermagem: da teoria à prática. Santa Maria: UNIFRA, 2003. SPERANZA, M. e TAVARES, R. O Câncer e as Emoções. Publicado em: 01/09/2002 em <http://mentehumana.com.br/artigomarisa.htm> Acesso em 23/07/2007.