A Teoria de Campo Gestalt

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A Teoria de Campo Gestalt
MARIA APPARECIDA MAMEDE‐NEVES
A Teoria de Campo Gestalt foi inicialmente desenvolvida de modo formal no início da década de 20, pelo
filósofo e psicólogo alemão Max Wertheimer em torno da idéia de um modelo organizado, uma estrutura,
expressa pela palavra alemã gestalt em contrapartida à idéia defendida pela corrente Elementarista, pela
qual o todo seria igual à soma das partes. Na verdade, essa idéia não seria nova, pois, segundo Murphy, já
estaria estabelecida entre os pré‐socráticos, que previam a primazia do princípio da ordem sobre os
elementos. Esse movimento que surge na Alemanha fecundou no bojo de um outro movimento filosófico
que muito influenciou a Psicologia ‐ o estruturalismo.
O estruturalismo em Psicologia acontece como contraponto à posição elementarista (e, em particular, o
behaviorismo) que imperava no seio das discussões acadêmicas sobre o comportamento humano. Os
behavioristas montaram toda a sua trama teórica na crença de que só era possível explicar toda e qualquer
organização complexa inter‐relacionada em termos da identificação dos elementos mais simples e suas
associações. A aprendizagem se dava pelo acúmulo de respostas simples em si mesmas, que iam‐se
associando, somando‐se, para chegarem a um complexo padrão de hábitos. Nesse sentido, toda e
qualquer aprendizagem, da mais simples a mais sofisticada, estaria sempre reduzida à formação de
hábitos (ou condicionamentos).
Por isso, aliás, é que esses autores são também chamados de
Elementaristas, Atomistas ou Conexionistas.
Em oposição a essa postura científica, surgiu, como já se apontou acima, a corrente struturalista, da qual
fazem parte várias teorias, como, por exemplo, a Teoria de Campo
Gestalt, que estamos agora estudando; a Teoria da Epistemologia Genética de Piaget e seus seguidores e a
Teoria de Vygotsky e, para muitos, também a Psicanálise.
Todas as teorias estruturalistas, inclusive a teoria gestáltica, têm como matriz de pensamento científico a
noção de que um fenômeno não pode ser explicado pelo estudo isolado de suas partes constituintes. Para
essa corrente filosófica, é fundamental evar‐se em conta a estrutura que relaciona essas partes, e,
conseqüentemente, as relações que os atributos ou aspectos das partes apresentam.
Os atributos ou aspectos das partes componentes do todo são principalmente definidos pelas relações com
o sistema (como um todo) em que estão funcionando. Nesse sentido,
é fundamental a relação entre o elemento e o contexto em que está inserido, contexto esse que lhe
conferirá uma determinada qualidade.
A idéia central é, portanto, que a estrutura organizadora do todo não se reduz (mas transcende) à coleção
ou soma das partes desse todo. Tendo como referencial básico o conceito de estrutura, a teoria gestáltica
caminhou no sentido de adotar a percepção (e, não as sensações), como a estrutura básica do ato de
aprender, entendendo perceber como conhecer para, com base nos dados recolhidos, romover‐se a
coordenação da conduta. Perceber não é, apenas, perceber objetos concretos. Percebemos, além dos
objetos concretos, objetos ideais. E, sobretudo, percebemos relações. Foram exatamente os gestaltistas
que insistiram no fato de que ercebemos também relações.
Veja este exemplo:
Ter qualidade gestáltica significa "a qualidade conferida por um modelo", ou seja, as partes componentes
do todo são definidas pelas relações que mantêm com o sistema a que pertencem. Wertheimer e seus
colegas Kofka e Köhler formularam várias leis de percepção, para eles, o ponto central de quem pretende
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entender o comportamento humano: a lei da boa forma ou fechamento; a da pregnância; a da semelhança;
a da pertinência; a do fechamento. Em particular Köhler ficou famoso pelos estudos que empreendeu com
chimpanzés, tentando testar as formulações de Thorndike sobre a aprendizagem por ensaio e erro e, na
verdade, tentando discutir também os princípios do behaviorismo.
Seus achados foram conclusivos para certa maneira de aprender – aprendizagem por nsight – que acabou
sendo um dos conceitos centrais da teoria gestáltica. Kurt Lewin, outro gestaltista, acrescentou alguns
pontos às idéias de seus colegas, procurando desenvolver uma matemática que pudesse dar conta de
dimensionar os dados empíricos já encontrados por outras teorias. Como ele próprio diz, "a Teoria de
Campo provavelmente é melhor caracterizada como um método: isto é, um método de analisar relações
causais e de criar construções científicas". Podemos, talvez, afirmar que sua construção científica, mais
que um método, seria uma tentativa de realizar uma metateoria ou uma regra metodológica, uma
perspectiva para uma tarefa científica omando o mundo dos dados. Para tal, propõe uma matemática – a
matemática hodológica – cujos conceitos básicos foram obtidos da topologia, da geometria e do conceito
de vetor da Física. Infelizmente, por ter falecido prematuramente, não teve sua teoria terminada e, na
verdade, não houve seguidores de suas idéias dentro desse campo.
O desenvolvimento da Teoria de Campo na Psicologia acarretou grandes mudanças nas matrizes de
pensamento científico vigentes até então em relação ao comportamento humano e, em particular, à
aprendizagem.
Dada uma situação concreta, o ato de perceber absorve não só as unidades concretas que
as compõem, mas também, e em condições prioritárias, as relações que, entre elas, se estabelecem. Para
os gestaltistas, se o homem não tivesse a capacidade de analisar um fenômeno, só perceberia estruturas,
ou seja, as Gestalten, nas quais estariam sempre presentes as relações. Estabelecer relações é um
fenômeno que era considerado acessível somente aos processos de pensamento. Devemos, pois, à
corrente gestaltista, a redução das diferenças entre o ato de perceber e o de pensar; para eles, o
pensamento se distinguira da percepção apenas pela sua maior flexibilidade, ou seja, as estruturas
mentais seriam mais reversíveis do que as estruturas perceptuais.
Para os gestaltistas, a percepção tem também uma função defensiva que protege a estrutura psíquica
contra eventuais estímulos que venham a ser significados como ameaçadores ao sujeito. A percepção é,
assim, o seu guardião atento, que vai lutar pela sua integridade e nunca ficar a serviço de sua destruição.
Essa foi também uma grande preocupação da Psicanálise, inclusive anterior às formulações dos
gestaltistas.
A importância da percepção para a teoria gestáltica pode ser resumida na seguinte áxima que é comum se
ouvir de seus seguidores: o comportamento humano é o resultado de como ele percebe o mundo e como
se percebe no mundo.
Outro ponto importante da Teoria de Campo Gestalt, principalmente desenvolvida por K.Lewin, foi a
preocupação com a importância da motivação no ato de aprender, conferindo, portanto, às intenções
(vontades) uma função estrutural na aprendizagem e ver o interesse como a relação entre o espaço do
campo psicológico, em que está a vontade, e o campo psicológico, em que se acham representadas as
possibilidades do que satisfaz à vontade. Atenção: O interesse é a resultante da relação entre a
necessidade e a meta escolhida em tantas outras possibilidades!!
Entretanto, é muito importante lembrar que essa posição é também o “carro‐chefe" da teoria
psicanalítica e se constituiu numa das grandes contribuições dessa escola ao campo das Teorias do
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Conhecimento. Como se pode verificar, há uma grande aproximação entre a escola gestáltica e a
psicanálise, no que se refere a esse tópico.
Por outro lado, Lewin se preocupou em estudar também os constituintes históricos do sujeito que
continuavam determinantes do seu comportamento, conferindo‐lhes, assim, um caráter de concretude e
atualidade, apesar de cronologicamente passados. Esse é um
ponto altamente interessante e que nos faz refletir sobre a contemporaneidade de certas
aprendizagens, que não perdem o seu vigor, apesar da passagem dos anos e sobre os “esquecimentos
motivados” ou “desatenções seletivas“, que não se inscrevem na ordem
do esperado.
Novamente, estamos diante de algumas questões que muito preocuparam os teóricos de
Psicologia e, em particular, a corrente gestaltista e a psicanálise, e que agora ganham muita força quando
se tenta compreender o porquê do fracasso escolar de muitos de nossos alunos que "tinham tudo para
aprender bem"…
Vale aqui incentivar também a reflexão sobre o impacto que as contribuições da Teoria
de Campo Gestalt acarretaram para o fazer pedagógico, tanto em relação à importância
da percepção como processo básico para a aprendizagem, quanto da importância da
motivação para aprender.
Finalmente, é importante que nos detenhamos na re‐significação que a Teoria de Campo apresentou de
dois conceitos fundamentais na Escola Behaviorista: o condicionamentopor ensaio‐erro e o hábito.
a. A aprendizagem por ensaio‐erro é um conceito inicialmente proposto por Thorndike e sua
importância foi enfatizada por todas as teorias behavioristas. Definida pelos teóricos de Campo não mais
como uma repetição às cegas, ela foi vista por eles como experimentações significativas que vão
progressivamente alicerçando a construção e a reconstrução do campo cognitivo do sujeito.
Aliás, a escola gestaltista faz o estudioso em Psicologia levar em conta qualidades de pensamento que
representam muito mais do que meros registros de elementos físicos sentidos e que constitui a realidade
psíquica, nem sempre, portanto, correspondente à realidade física. Essa “realidade virtual” vai dar ensejo
a que se defina espaço (ou campo) psíquico como um espaço de representações, reais ou não no ponto de
vista físico, mas certamente reais no ponto de vista psicológico.
b. O conceito de hábito tem, na Teoria de Campo Gestalt, uma definição especial. Não é
uma seqüência fixa de atos, como afirmam os behavioristas, mas sim uma ação eficiente, fluida, que se dá
quando o sujeito opera com os insights que já possui.
O hábito é uma espécie de “piloto automático” que parece simples, mas que é o resultado de toda uma
estruturação anterior. Quando um acontecimento tem significado para uma pessoa, quando sua posição e
direção psicológica são determinadas, se conhece quais as ações que levam a quais resultados. Isto é a
base do “hábito”.
Como vemos, não há por que deixar de lado os dados empíricos que representam avanços científicos e
que nos são dados pelas teorias. Nesse caso específico, o hábito é um fato inconteste; apenas a explicação
para ele é que encontra um avanço nas considerações dos gestaltistas. Eles trouxeram à tona a relação
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entre hábito e comportamento objetivado e o fato de o hábito capacitar uma pessoa a comportar‐se
inteligentemente aparentemente sem pensar!
Com essas considerações, damos por finda nossas incursões na trama da Teoria deCampo, dentro desse
pequeno artigo, cuja finalidade foi, apenas, introduzir algumas
noções‐chave desse importante movimento dentro da Psicologia.
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