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SOCIOLOGIA
Vestibular UFU 2ª Fase 17 de Janeiro de 2011
PRIMEIRA QUESTÃO
Esta enorme centralização, este amontoado de 2,5 milhões de seres humanos num único sítio, centuplicou o poder
destes 2,5 milhões de homens.Ela elevou Londres às alturas de capital comercial do mundo, criou docas gigantescas e
reuniu milhares de barcos, que cobrem continuamente a Tâmisa.[...]
Depois de pisarmos, por uns quatro dias, as pedras das ruas principais, depois de passar a custo pela multidão, entre as
filas intermináveis de veículos e carroças, depois de visitar os “bairros de má fama” desta metrópole-só então
começamos a notar que esses londrinos tiveram de sacrificar a melhor parte da sua condição de homens para realizar
todos os milagres da civilização de que é pródiga a cidade, só então começamos a notar que mil forças neles latentes
permanecem inativas e foram asfixiadas para que só algumas pudessem desenvolver se mais e multiplicar-se mediante
a união com as outras.
ENGELS, F.A situação da classe trabalhadora na Inglaterra.São Paulo:Boitempo, 2008, p.67-68
A) Explique a relação existente entre o crescimento das cidades industriais e a emergência de conflitos de classe.
B) Quais foram as principais formas de luta e as principais reivindicações do movimento operário no século XIX?
Resolução:
A)
Podemos perceber a sociologia como um produto recente do pensamento moderno. Desde o século XIX, foi
reconhecida como um campo do conhecimento explorável pelo método e pelo rigor científico, contrapondo e negando
explicações míticas e religiosas sobre a sociedade. Ao longo de sua consolidação, construiu um vocabulário próprio,
com conceitos específicos para designar diferentes aspectos da vida social.
Somam-se a isso as graves consequências sociais geradas pela industrialização inglesa. Já no início do século XIX,
não era mais possível reconhecer a Inglaterra de outrora. Cada vez mais, aumentavam o número de cidades, que, cada
dia maiores, concentravam – sem a menor infraestrutura – uma multidão cada vez maior de almas: Manchester, que no
início do século XIX tinha setenta mil habitantes, cinquenta anos depois, amontoava trezentas mil pessoas; Londres
atingiu em 1.800 seu primeiro milhão de habitantes. As cidades afirmavam-se como locus dessas transformações e
revestiam-se de cada vez maior importância. Essa urbanização descontrolada aumentava os índices de miséria,
criminalidade, epidemias, violência, prostituição, etc. e aprofundava ainda mais a miséria que já imperava no campo.
Dentro das fábricas, a situação era ainda pior. A introdução da máquina na produção, além de completar a acumulação
de capitais (concentrando definitivamente os meios de produção nas mãos burguesas), destruiu o artesão independente
e submeteu-o a rígida hierarquia e disciplina no trabalho – pautada em uma intensa divisão social do trabalho. Tudo isso
veio determinar a completa perda do conhecimento técnico e do controle da produção por parte dos operários. Como se
não bastasse, as condições de trabalho eram as piores possíveis: não existiam quaisquer cuidados com a segurança e a
proteção da vida dos operários, o que fazia com que o número de acidentes e vítimas aumentasse a cada dia. Também
não existia indenização ou pagamento de dias parados para as vítimas de acidentes de trabalho.
Além de subordinarem-se às condições insalubres, os trabalhadores estavam submetidos a longas e extenuantes
jornadas e recebiam míseros salários. A mecanização desqualificava o trabalho, o que tendia a reduzir o salário ainda
mais; ocorriam frequentes paradas na produção, provocando desemprego, o que aumentava o já imenso exército
industrial de reserva. Era intensa a utilização de mão-de-obra feminina e infantil: na indústria têxtil do algodão, as
mulheres formavam mais da metade da massa trabalhadora, crianças começavam a trabalhar por volta dos seis anos de
idade, sofriam os mesmos abusos e arbitrariedades que trabalhadores adultos.
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B)
Submetidos às péssimas condições de vida e trabalho, explorados por longas jornadas e recebendo baixos
salários, os trabalhadores organizaram-se. Das primeiras revoltas às agremiações de trabalhadores e à formação dos
sindicatos há um razoável percurso no qual o movimento operário consolida sua maturidade teórica e prática. Contudo,
mesmo em seus primórdios, quando os trabalhadores incendiavam fábricas e quebravam máquinas (LUDISTAS) – as
quais julgavam ingenuamente responsáveis por sua situação de exploração e miséria – o movimento operário constituiuse numa grande ameaça à dominação burguesa e à continuação da reprodução das relações capitalistas de produção.
Tais ações eram por fábrica e reivindicavam basicamente melhores salários e redução da jornada de trabalho e
assolaram a Inglaterra da segunda metade
do século XVIII ao início do século XIX. Tais ameaças encontraram imediata reação burguesa. Rapidamente foram
criadas legislações que puniam tais atos e buscavam intimidar a continuidade das manifestações operárias. Como
exemplo podem-se citar a aprovação pelo Parlamento inglês da pena de morte para os destruidores de máquinas (1769)
e, logo depois – 1799 –, a imposição dos Combination Acts, que proibiram todas e quaisquer manifestações operárias.
Passo seguinte, os trabalhadores começam a construir uma identidade que extrapola os limites da fábrica e de sua
exclusiva categoria profissional. Assumem um protagonismo cada vez mais político, exigem o direito de participação
política via eleições (Cartismo), transformam-se numa força política, constituem um projeto político e traduzem-se sob a
forma de uma força política que passa a tensionar a própria atuação do estado.
SEGUNDA QUESTÃO
As cidades contemporâneas são locus privilegiado para a observação de formas culturais, estilos de vida e visões
de mundo bastante distintos.
A partir da definição de cultura, apresente quatro exemplos, elementos ou características, por meio dos quais
podemos relacionar a diversidade mencionada acima com o crescimento e as mudanças na configuração urbana
contemporânea.
Resolução:
Cultura é uma dimensão do processo social, da vida de uma sociedade, constituindo, portanto, atividade
exclusivamente humana. Assim, diz respeito à totalidade da vida social, não se restringindo a um conjunto de práticas e
concepções, por exemplo: a música, a dramaturgia, a poesia, etc. Não é apenas uma parte da vida social, como se
poderia entender a religião, a política, a tradição. Não sendo, portanto, divisível ou delimitada, a cultura diz respeito à
vida social enquanto totalidade, sendo ainda resultado de uma intrincada e conflituosa construção histórica, seja como
concepção, seja como dimensão do processo social. Ou seja, a cultura não é algo natural, não é uma decorrência de leis
físicas ou biológicas. Entenderemos CULTURA como o resultado da transformação da natureza pelo homem,
envolvendo tanto os aspectos simbólicos/imateriais (regras morais, costumes, ideologia, artes, ciência, etc.) quanto os
aspectos concretos/materiais (utensílios, ferramentas, instrumentos, técnicas, etc.). Contudo, todo objeto
significativamente tocável (material) também simboliza/significa, da mesma forma que os símbolos (imaterial) são
também práticas sociais.
Ao discutirmos sobre cultura, temos sempre em mente a humanidade em toda a sua riqueza e multiplicidade de
formas de existência. Cada realidade cultural tem sua própria lógica interna, que, se for por nós ignorada ou
desprezada, nos impede de percebermos o quanto fazem sentido práticas, costumes, concepções, e valores cultivados
por cada sociedade em particular. É preciso relacionar a variedade de procedimentos culturais com os contextos em que
são produzidos, percebendo e profundamente assimilando que as variações nas formas de família, por exemplo, ou nas
maneiras de habitar, de se vestir, contar, cantar, divertir-se não são gratuitas, fazem sentido para os agrupamentos
humanos que as vivem, são resultado de sua história, relacionam-se com as condições materiais de sua existência.
Entendido assim, o estudo da cultura contribui com o combate a preconceitos, oferecendo uma plataforma firme para o
respeito e a dignidade nas relações humanas. CULTURA equivale a um processo simbólico/concreto por meio do qual a
humanidade se diferencia da animalidade e da natureza. Os padrões de certo ou errado, em relação às manifestações
culturais, são relativos a cada cultura. Para uma cultura é certa a poligamia, para outra, a monogamia; para alguns
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povos, o sacrifício de crianças é uma questão religiosa, para outros, é caso de polícia. Por isso, uma cultura não pode
ser julgada de acordo com os padrões de outra.
O crescimento e as modificações na configuração urbana contemporânea alteram a dinâmica de ocupação
geográfica, inauguram novas tendências, decretam o colapso de formas tradicionais de associação e práticas culturais,
renovam continuamente o espaço urbano e criam novas formas de manifestação e identidade cultural.
O fenômeno recente que constroi periferias nobres, protegidas e assepticamente separadas das periferias pobres
faz com que criações culturais muito distintas disputem e convivam em espaços geográficos cada vez mais próximos: as
aburguesadas raves versus os populares pancadões do funk. Símbolos de formas de sociabilidades diametralmente
opostas, configuram diferentes percepções do lazer e do prazer. Enquanto nas primeiras a música eletrônica e o uso de
drogas sintéticas e caras constituem a identidade dominante, nas segundas a experiência do dia-dia, a relação políciatráfico e drogas menos sintéticas e mais baratas dão a dinâmica da construção identitária.
No mesmo sentido, assistimos à formação de grupos de identidade coletivas por parte dos jovens (tribos ou
gangues), que expressam de forma contundente a realidade inóspita produzida continuamente pelos grandes centros
urbanos: punks, metaleiros, homens e mulheres de preto; clubbers, cossplay, homens e mulheres multicoloridos; carecas
e neonazistas, homens e mulheres preconceituosos; etc.
As migrações produzem novos cenários de conflitos e oposições. Estruturas sociais tornam-se permeáveis por
novas influências culturais regionais. Cada vez mais cosmopolitas, as cidades tornam-se verdadeiros caldeirões
culturais, recheados por influências das mais diferentes matrizes e origens étnicas. Manifestações identitárias que
disputam entre si espaço e visibilização social procuram influenciar políticas públicas e assegurar mecanismos estatais
que viabilizem sua preservação e reprodução. Recentemente, as polêmicas envolvendo a presença de nordestinos em
São Paulo são evidência branca do que afirmamos.
TERCEIRA QUESTÃO
A industrialização e o surgimento concomitante de grandes centros urbanos com seus aglomerados populacionais
e um crescente processo de individualização constituíram temas recorrentes na investigação sociológica clássica.
Discorra a respeito da relação entre os processos de urbanização, a partir da abordagem sociológica de Émile
Durkheim.
Resolução:
Para o autor francês, a solidariedade orgânica é característica de sociedades complexas, onde os laços de
coesão nascem espontaneamente do aprofundamento da divisão do trabalho social, substituindo laços outrora
mecânicos.
Essa transição resulta do crescimento demográfico, que exige uma nova forma de densidade moral. Não sendo
mais possível que a coesão se sustente por meio da semelhança, tem lugar um poderoso e exterior processo de
diferenciação das funções, cujos efeitos são eminentemente morais, numa palavra, suscita novas formas e justificativas
para os laços de coesão e solidariedade.
Sendo fundamentalmente morais, antes de serem econômicas, tais laços estabeleceriam os vínculos entre cada
indivíduo e a totalidade social, agora baseados na diferenciação e numa natural interdependência que dela emerge.
Assim, a formação e o crescimento das cidades e o necessário crescimento demográfico que os acompanha
tornariam o espaço urbano o locus privilegiado da vida moral – na modernidade, fazendo indispensável a diferenciação e
atomização social, posto que, sob condições de extremada densidade demográfica, ou se desenvolvem novos vínculos
morais, ou estamos diante de uma violenta possibilidade de anomia social. É assim que tem lugar a especialização de
funções e os novos laços de solidariedade orgânica.
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QUARTA QUESTÃO
Em muitos países em processo de industrialização, principalmente da América Latina, os grupos ambientalistas
têm se multiplicado e se dedicado - para além da observação dos pássaros, da proteção das florestas e
despoluição do ar- a uma série de outras causas, situando o movimento ambientalista em um cenário bastante
amplo de direitos e reivindicações .Nos anos 1990, uma série de questões socioambientais, principalmente na
cidades, passou a integrar a pauta do movimento ambientalista cada vez mais diversificado.
Apresente algumas dessas questões sociais e ambientais mais amplas que levam a uma queda da qualidade de
vida urbana e que são tratadas por esses movimentos.
Resolução:
O crescimento urbano desordenado, acompanhado das mudanças bruscas na paisagem, tem como efeito tanto
a perda de referenciais da relação do ser humano com o lugar, e consequente empobrecimento da sua cultura e
identidade, quanto o prejuízo direto via impactos ambientais. As derivações dos quadros formados são implicações na
qualidade ambiental e de vida das comunidades humanas e, consequentemente, das suas condições de saúde.
O conceito de qualidade de vida abrange as condições nas quais vivem os indivíduos no trabalho, em sua casa e
na cidade. Ela está, portanto, relacionada às coisas, direitos, sentimentos que são vivenciados no cotidiano.
Recentemente tem havido uma tendência clara de considerar que qualidade de vida é tudo que possa proporcionar uma
vida melhor. As condições de saúde, renda, educação, nutrição, moradia, lazer, segurança, auto-realização das pessoas
são alguns dos fatores determinantes na qualidade de vida humana.
Assim, os movimentos socioambientalistas têm ampliado continuamente o espectro pelo qual compreendem os
problemas ambientais, caminhando no sentido de uma relação holística que compreenda a natureza na sua relação
sociometabólica com os seres humanos, bem como as relações sociais construídas por eles.
Dessa forma, a questão do lixo urbano: sua coleta, tratamento e condições de armazenamento, não pode ser
pensada apenas como uma variável química, biológica e geográfica. Diferentemente, é necessário pensar os hábitos
sociais, os padrões de consumo, a exclusão e a marginalização social de populações, que muitas vezes, nutrem-se dos
lixões urbanos, pensar a própria construção da indústria da reciclagem (mas, percebendo-a como inserida na lógica que
norteia a indúsrtria em geral, e, por isso mesmo, minimiza as possibilidades de impacto sobre mudanças sociais e
comportamentais mais profundas). Pensar o ambiente pressupõe pensar também o homem, não só os impactos
naturais, mas também os sociais, logo, tais movimentos socioambientais continuamente percebem que o discurso
meramente técnico é insuficiente, precisa fazer-se político.
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