Eja Educação de Jovens e Adultos 3ª e 4ª fases do Ensino Fundamental HISTÓRIA Apresentação As políticas públicas do governo de Mato Grosso do Sul têm como objetivo garantir, além do acesso, a permanência na escola àqueles que, de alguma forma, forma excluídos do processo de escolarização, possibilitando a essa parcela da população a conclusão da trajetória escolar. Para desenvolver essas políticas, a Secretaria de Estado de Educação, buscando a melhoria significativa do ensino e da aprendizagem, incentiva práticas pedagógicas comprometidas com a emancipação e cidadania dos trabalhadores sul-mato-grossenses. Assim, um conjunto de iniciativas didatico-pedagógicas foi pensado junto ao professorado, culminando com a construção deste material de apoio didático para os componentes curriculares de Língua Portuguesa, Ciências e História. Este referencial deve ser incorporado à contextualidade histórica, valorizando a experiência extracurricular do educando. Dessa forma, o Governo do Estado de Mato Grosso do Sul assume o compromisso com a qualidade social da educação dos seus jovens e adultos. Prof. Hélio de Lima Secretário de Estado de Educação de Mato Grosso do Sul Gosto de ser gente porque a História em que me faço com os outros e de cuja leitura tomo parte é um tempo de possibilidades e não de determinismo. (Paulo Freire) Aos alunos Este livro foi carinhosamente pensado para seu aprendizado. As disciplinas escolares são nossas ferramentas na arte do aprender a conhecer, aprender a ser, aprender a fazer e aprender a conviver. No entanto, cada uma delas, como se fosse uma ferramenta única tem a sua especificidade própria. E o aprendizado de História é, sem dúvida, aquele que nos remete a uma série de análises, comparações, conclusões, permitindo-nos, a partir dele, formular nossas opiniões, nossas ações ou intervenções diante de um contexto social complexo e desafiador como o é a sociedade pós-moderna. Mãos a obra e bons estudos. Aos Professores da Educação de Jovens e Adultos Quando se propõe um caminho que deverá orientar nossa prática pedagógica é preciso compreender que o mesmo está relacionado a uma determinada visão de mundo e, é a nossa reflexão sobre essa relação que nos permitirá definir uma teoria que oriente nossos objetivos, estratégias, metodologias, avaliações e outros encaminhamentos sobre o que ensinamos. O ensino da História deve partir de problemas atuais com as interrogações colocadas pelo presente, para uma melhor compreensão dos problemas do hoje, fundamentados no conhecimento do passado. É esse “ir” e “vir” no tempo que caracteriza a História. Assim o estudo do passado permite a compreensão do presente e por sua vez o presente é que projeta a perspectiva para o futuro. Dessa maneira, a abordagem deste material, pensado em particular aos educadores e alunos da Educação de Jovens e Adultos, tem como ponto de partida a História da Província de Mato Grosso no século XVI as primeiras décadas do século XX. Para isso utilizamos diferentes estratégias de ensino como: tabelas, imagens, mapas, opiniões, textos jornalísticos, letras de música, poemas, dentre outros. Outrossim, reiteramos que as sugestões de trabalho poderão ser acrescidas de outros materiais e estratégias que o(a) professor(a) selecionar para enriquecimento do ensino. Os professores elaboradores de História Índice Cap. I - O Processo de Ocupação Paraguaia e o Movimento em Direção a Mato Grosso Cap. II - Primeiro Núcleo Populacional de Mato Grosso; a Chegada dos Jesuítas e o seu Trabalho em MS Cap. III - Povos Indígenas de MS na Atualidade; Consolidação do Território; Ocupação da Banda Meridional: o Pantanal Sul-Mato-Grossense; o Avanço para o Sul da Capitania de Mato Grosso Cap. IV - As Tensões na Fronteira e o Conflito com o Paraguai Cap. V - A Situação da Província no Pós-Guerra e os Problemas Relativos à Mãode-Obra Indígena Cap. VI - A Recuperação da Província de Mato Grosso: Novos Impulsos ao Comércio e a Produção; o Crescimento do Capital Financeiro, as Exportações de Capitais e as Transformações na Fronteira; o Substancial Crescimento do Rebanho Bovino e o Desenvolvimento das Charqueadas Referências Bibliográficas 9 19 33 47 53 63 79 CAPÍTULO I O Processo de Ocupação do Paraguai e o Movimento de Expansão em Direção a Mato Grosso Instituto Luís de Albuquerque (ILA) - Corumbá O estudo da história nos possibilita realizar muitas “viagens” onde podemos constatar os feitos dos atores em diferentes espaços e em diferentes temporalidades. E por falarmos em viagem, relacione os atuais meios de transporte com aqueles utilizados no século XVIII, as monções e o transporte terrestre sob o lombo de mulas. Nossos estudos iniciam-se a partir da observação e análise da tabela abaixo: Brasil EUA Alemanha Japão França Ex-URSS Paraguai TRANSPORTE DE CARGAS NOS ANOS 1990 Rodoviário Ferroviário 70% 18% 25% 50% 18% 53% 20% 38% 28% 55% 04% 83% 47% 04% Hidroviário 12% 25% 29% 42% 17% 13% 49% Fonte: CESP 1995 apud OLIVA, Jaime; Roberto Giansanti. Espaço e Modernidade: temas da geografia mundial. São Paulo: Atual, 1999. 9 1 - Analise a tabela e justifique a seguinte afirmativa: “o Brasil é um país em vias de desenvolvimento e utiliza majoritariamente o transporte mais caro (o rodoviário) para escoar sua produção”. 2 - Promova um debate com os colegas de sala de aula sobre as condições do sistema de cargas em Mato Grosso do Sul, destacando os seguintes pontos: - situação antiga e atual do sistema de cargas de Mato Grosso do Sul; - aspectos que podem ser melhorados. Antes de conhecer um pouco mais sobre a nossa história, lembramos que seria interessante, se possível, que você tivesse à mão alguns mapas (mundi, do Brasil, do estado ou outros) para se localizar melhor e tentar visualizar o trajeto percorrido pelos primeiros colonizadores que aqui estiveram. Como você pode observar, nossa longa viagem está iniciando. Para isto vamos ler o texto. No começo do século XVI, os espanhóis estavam empenhados na busca de um caminho marítimo que os conduzisse às Índias, rica em especiarias. Foi essa busca que os trouxe ao estuário do rio da Prata. a) A princípio, o continente americano não despertou muito interesse entre os navegantes europeus. Foi Juan Diaz de Solis quem firmou um contrato com o rei espanhol Fernando V pelo qual se comprometia a descobrir um estreito ou braço de um rio que lhe permitisse encontrar a confluência interoceânica. Em 1516, Solis chegou à altura de Candelária, atual Maldonado, de onde seguiu costeando terra firme, até entrar no Rio da Prata, acreditando que se tratava de um estreito, e ali descobriu as ilhas de São Gabriel e Martin Garcia. Na costa uruguaia, desembarcou, acompanhado de sete outros tripulantes, com o propósito de explorar a terra, porém, foi morto pelos índios charruas (CHAVES, 1968, p. 33). No retorno do restante da tripulação à metrópole, uma das caravelas naufragou próximo à ilha de Santa Catarina. Desse incidente, salvaram-se, entre outros, Aleixo Garcia, Henrique de Montes, Melchior Ramirez e Francisco do Porto, que ali permaneceram. Em contato com os indígenas, os náufragos europeus formaram famílias, aprenderam usos e costumes e se tornaram conhecedores da língua. Esse convívio permitiu que eles conhecessem histórias importantes sobre a existência de metais preciosos, principalmente a prata, situados a longa distância do litoral atlântico. Os indígenas falavam de uma serra e de um rei, cujo reino de Paytiti era o centro produtor desse metal (QUEVEDO, 1984, p. 177). b) No ano de 1523, de posse dessas informações, um desses sobreviventes, o português Aleixo Garcia, à frente de uma expedição que contava com grande número de indígenas, liderou uma caminhada desde a ilha de Santa Catarina até os contrafortes andinos. Abaixo, você pode ler um trecho, em que o historiador Cortesão (1950, p. 54), fala sobre esse acontecimento: A expedição de Aleixo Garcia atingiu o Paraná, atravessando o Iguaçu acima do salto de Santa Maria, passou daquele rio ao Paraguai; que subiu; alcançada a atual região de Corumbá (Mato Grosso do Sul) atravessou o Alto Chaco e penetrando entre os rios Pilcomaio e Grande ou Guapai, alcançou a região de Potosi e Sucre, onde atacou algumas povoações incaicas, que saqueou e cujos despojos a expedição carregou na sua retirada para o Paraguai. Aí Aleixo Garcia enviou dois de seus companheiros para a base de Santa Catarina, com a notícia do êxito da empresa e algumas amostras da prata e do ouro apreendidos. Pouco depois era assassinado por motivos que se ignoram pelos índios. 10 A expedição de Aleixo Garcia teve importante significado na medida em que confirmou a existência de metais na região andina, antes mesmo de Francisco Pizarro dominar os incas, o que estimulou a peregrinação de aventureiros ao rio da Prata, aguçando a ambição dos espanhóis e levando-os a se estabelecerem na região. Para continuar o intento de Solis, em 1520, a Coroa espanhola organizou uma nova missão, colocando à frente Fernando de Magalhães que atingiu a ilha de São Lázaro, nas Filipinas, mas que também foi morto pelos indígenas locais. A expedição foi concluída por Sebastião Elcano, que se tornou o primeiro navegante a dar a volta ao mundo (BAEZ, 1991, p. 10). c) Em 1526, a Coroa firmou contrato com Sebastião Caboto para realizar nova expedição, seguindo a mesma rota de Magalhães a procura de especiarias. A expedição deixou, no mesmo ano, o porto de Sanlúcar de Barrameda, na Espanha, com quatro embarcações e duzentos homens. Em busca de mantimentos, Caboto chegou à costa da atual ilha de Santa Catarina, onde encontrou o restante dos náufragos da frota de Solis, que lhe contaram a lenda sobre a “Serra de Prata”. Por isso, resolveu afastar-se do objetivo inicial de sua viagem para tentar encontrar os metais mencionados nessas histórias. Subiu, então, pelo rio Paraná até a desembocadura do Carcarana, onde construiu o forte de Sancti-Spiritus, primeiro estabelecimento espanhol na região (CARDOZO, 1989, p. 4142). A hostilidade dos indígenas e a falta de mantimentos fizeram, porém, com que Caboto retornasse à Espanha, lá sendo desterrado por não ter cumprido o contrato, já que se desviara de sua rota inicial. d) A divulgação, na Corte Portuguesa, dos feitos de Aleixo Garcia e de suas descobertas provocou imediata reação da Coroa. Uma vez deliberado que, por Santa Catarina, era possível atingir a Lendária Serra de Prata, naturalmente se aguçaram as rivalidades entre lusos e espanhóis em torno da posse daquela área. Imediatamente, uma expedição deixou o porto de Lisboa sob o comando de Martim Afonso de Souza. A bordo, estava Henrique de Montes, cuja presença foi significativa, pois ele ficara por mais de dez anos no litoral catarinense e conhecia bem a língua dos indígenas e os caminhos que levavam às riquezas do Peru. Foi por sua inspiração que se organizou, em 1531, a entrada de Pero Lobo, que partiu da Cananéia com quarenta espingardeiros e quarenta besteiros para buscar as riquezas peruanas. Todos, porém, foram mortos pelos nativos, na confluência dos rios Iguaçu e Paraná (CABEZA DE VACA, 1987, p. 41-42). Apesar do insucesso, os portugueses não perderam as esperanças de alcançar as riquezas almejadas. Antes de voltar para Lisboa, Martim Afonso de Souza, contrariando determinações reais, fundou, em 1532, São Vicente e Piratininga que não se situavam na Costa do Pau Brasil. Esse local, escolhido para a fundação das vilas, favorecia o acesso ao Paraguai e às minas do Peru, o que revela o prioritário interesse dos portugueses que era a busca dos metais preciosos. A preocupação dos espanhóis com as expedições portuguesas na região platina acabou por acelerar o processo de sua ocupação. A certeza da existência dos metais atraía mercadores, banqueiros e muitos aventureiros que buscavam enriquecimento fácil e rápido. Além disso, Francisco Pizarro, que se havia apoderado do império Inca, em 1531, retornou à Espanha, levando grande tesouro do Peru. A parte que cabia ao rei, o quinto real, ficou exposto à visitação pública por muitos dias, causando forte impressão nos visitantes e estimulando novas descobertas (VILAR, apud: GADELHA, 1980, p. 70). Em 1534, o rei da Espanha assinou uma capitulação com Pedro de Mendonza, nobre espanhol, para a conquista e povoamento das terras e províncias do rio da Prata. Você pode saber um pouco mais sobre esse acordo, lendo a citação que segue. Essa capitulação tinha dois objetivos básicos: consolidar a posse espanhola sobre a região do rio da Prata e conquistar a propalada Serra da Prata. A área da província do Paraguai limitava-se, ao norte, com a Capitania de São Vicente, pois a linha imaginária a separar os 11 territórios de Espanha dos de Portugal passava sobre Iguape, no atual Estado de São Paulo; ao sul, com o Rio da Prata; a leste com o oceano Atlântico e, a oeste, com a Província de Tucumán. Possuía o Paraguai, portanto, jurisdição sobre os atuais Estados brasileiros do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e sul de Mato Grosso (antiga Província do Itatim, hoje zona pertencente ao Pantanal Mato-grossense), subindo daí até a bacia do Amazonas. Igualmente, pertenciam ao seu território o Uruguai e a Argentina, com exceção da região de Tucumán. No atual território boliviano, limitava-se com a Província de Santa Cruz de la Sierra (GADELHA, 1980, p. 46-47). e) A expedição partiu de Sanlúcar de Barrameda, em 24 de agosto de 1535. Em 2 de fevereiro de 1536, aportaram à margem ocidental do rio da Prata e ali levantaram um pequeno forte, ao qual deram o nome de Santa Maria de Buenos Aires. Esses primeiros conquistadores não se preocuparam em trazer para a América nenhum instrumento de cultivo da terra, porque não havia intenção de introduzir qualquer tipo de produto agrícola. Tinham um único propósito: encontrar metais e se apropriar daquilo que o indígena produzia. A princípio, os índios querandis receberam amistosamente os espanhóis, destinando-lhes víveres, pescado e carne de caça para sua alimentação. Veja o que registrou em seu diário, Schmidl (1947, p. 38), soldado bavário que acompanhou a frota de Pedro de Mendonza: [...] nesse local encontramos os índios Querandis; ao redor de três mil homens com suas mulheres e filhos foram eles que nos garantiram pescado e carne para nossa alimentação. Durante quatorze dias forneceram diariamente todo o necessário para nossa esquadra, só um dia deixaram de fazê-lo. Quando os indígenas deixaram de fornecer víveres, o adelantado Pedro de Mendonza ordenou um ataque para escravizá-los e garantir a alimentação do grupo. Os querandis reagiram e, confederados aos charruas, resistiram e se deslocaram para o interior, impedindo a escravidão. Em função disso, os espanhóis tiveram que conviver com sucessivos ataques promovidos pelos nativos, que se opunham ao seu projeto de fixação, sendo obrigados a conseguir alimentos através do seu trabalho, o que causou profundo mal-estar entre eles. Atacados constantemente, isolados em um território hostil, os expedicionários foram quase que completamente dizimados. Leia o que conta Schmidl (1947, p. 40-41) sobre essa tragédia: Os dias passados na recém fundada Buenos Aires foram de fome, a escassez de alimentos era tamanha que não bastavam nem os ratos, nem as ratazanas, víboras nem qualquer outro animal asqueroso, também os sapatos de couro tiveram que ser comidos. Diante dessa situação de fome, miséria e desencanto, Pedro de Mendonza enviou seu ajudante Juan de Ayolas com a tarefa de encontrar víveres, buscar notícias sobre a terra e navegar o Paraná, rio acima, para fundar um forte no mesmo local em que Caboto havia construído o primeiro estabelecimento espanhol na região. Lá chegando, Ayolas ergueu uma fortificação que recebeu o nome de Corpus Christi. Próximo desse sítio, entrou em contacto com os índios timbus. Bem recebido pelo cacique principal, promoveu, então, uma aliança com esses naturais, que passaram a lhe fornecer víveres. Posteriormente, Ayolas regressou ao forte de Buenos Aires, levando mantimentos para os 12 que ficaram, aliviando, assim, a situação de penúria em que se encontravam os espanhóis. Como estavam sendo perseguidos pelos indígenas, Mendonza decidiu mudar-se com seus expedicionários para o forte de Corpus Christi, onde a resistência por parte dos naturais era menor. Deixou o comando do porto de Buenos Aires com o Capitão Francisco Ruiz Galan, com pequena guarnição de soldados. Já em território dos timbus, fundou um novo forte que recebeu o nome de Nossa Senhora da Boa Esperança. Nesse novo sítio, superadas as dificuldades iniciais, os expedicionários iniciaram os preparativos para procurar comunicação com o Peru, tendo como principal objetivo encontrar a Serra de Prata. Juan de Ayolas, incumbido dessa missão, saiu do porto de Boa Esperança e subiu para a terra dos paiaguás, próxima da atual Bahia Negra. f) A expedição subiu o rio Paraná e logo depois o seu afluente, o rio Paraguai. Nas margens deste último, no local denominado pelos indígenas de Lambaré, os espanhóis entraram em contato com os cários, índios agricultores e sedentários que estavam em condições de produzir os alimentos necessários para a subsistência dos espanhóis, enquanto estes desenvolvessem sua empresa de buscar metais preciosos e achar um caminho para o Peru. Depois de enfrentarem tantas dificuldades, veja o que Schmidl (1947, p. 54) escreveu sobre o que ele e seus homens encontraram nessa região: Ali nos deu o Todopoderoso sua graça divina, os Cários tem trigo turco e uma raiz que chamam mandiotin, batatas, mandioca-paropí e pepirá [...]. Os Cários têm peixes e carne de veados, porcos, avestruzes, galinhas e gansos em divina abundância. Essas palavras mostram a importância que tiveram as relações entre os espanhóis e os índios guaranis e o papel de Assunção como ponto de apoio para a conquista da região. Os cários pertenciam à nação Guarani, eram agricultores, plantavam, sobretudo, mandioca e milho e completavam sua alimentação com os produtos obtidos da caça, da pesca e da coleta. Fizeram uma aliança defensivo-ofensiva e de parentesco com os espanhóis, o que facilitou a permanência definitiva dos europeus no território. Embora se tivessem armado e feito guerra aos invasores, foram vencidos pelo melhor preparo militar e superioridade das armas espanholas (METRAUX, apud GADELHA, 1980, p. 74). Essa aliança, que a princípio pareceu útil aos dois grupos, pois protegia os indígenas sedentários dos ataques promovidos pelas tribos nômades inimigas, não impediu, mais tarde, o abuso e a opressão contra eles. Depois de dominar os cários, os espanhóis se instalaram em seus territórios, à margem esquerda do rio Paraguai. Organizaram, então, pequenas chácaras, onde viviam com índias que lhes foram doadas pelos caciques. Tal oferta tinha origem no pensamento dos Guaranis de que suas relações de trabalho deviam estar baseadas no parentesco. A reciprocidade na prestação de serviços era, assim, assegurada, porque guaranis e espanhóis prestavam-se serviços mútuos (BASTOS, 1972, p. 63). A poligamia constituiu a base familiar da nascente sociedade paraguaia, fator de miscigenação e, conseqüentemente, origem de vasta prole mestiça. Para reflexão: 1 - O que você já ouviu falar sobre a civilização Inca? Pesquise onde se localizavam e que relações existia entre ela e os primeiros conquistadores espanhóis. 2 - A poligamia era uma prática comum entre os nativos da América. Em grupo, faça uma pesquisa sobre o comportamento dos índios sul-mato-grossenses em relação a essa prática. Escreva um comentário e socialize através de um seminário. 13 No Paraguai, a aliança cário-espanhola foi responsável pela sobrevivência e pela expansão geográfica da colonização. Os indígenas serviram de intérpretes, guias, soldados e escravos. Além disso, sua organização social ofereceu uma base econômica que permitiu aos espanhóis continuarem a procurar um caminho que os levassem às riquezas lendárias. Durante este período, agravou-se o estado de saúde de Pedro de Mendonza, o que não lhe permitiu continuar à frente da expedição. Acabou morrendo em alto-mar, quando regressava à Espanha, deixando Ayolas em seu lugar (CARDOZO, 1987, p. 53-54). Ayolas tratou de dar continuidade à missão de atingir o Peru. Partiu, águas acima, pelo rio Paraguai, onde encontrou um porto natural batizado de Nossa Senhora da Candelária. Deixou Irala nesse local com instruções para guardá-lo por seis meses e internou-se pelo Chaco, atingindo a região de Charcas, de onde retornou com grande quantidade de metais. Em seu regresso, enfraquecido pelas muitas doenças que contraiu e sem munições, foi morto pelos paiaguás (CABEZA DE VACA, 1985, p. 234). Depois de confirmada a morte de Ayolas, Irala elegeu-se chefe, ao retornarem a Assunção, após breve disputa pelo comando. No governo, Irala tratou de organizar a “Casa Forte” de Nossa Senhora de Assunção, fundada por João de Salazar, e que deu origem à cidade do mesmo nome, e de transferir para Assunção todos os que se encontravam em Buenos Aires (SCHMIDL, 1947, p. 65). Justificou sua atitude argumentando que eram muito poucos para se manterem em pontos tão distantes e que deveriam concentrar esforços em um só local para alcançar o principal objetivo da expedição, que era o de localizar as fontes de metais preciosos. O Paraguai vivia como zona extremamente pobre, porque não possuía moeda e nem produtos de exportação. As atividades se limitavam à pequena lavoura e à criação. Além disso, não podiam adquirir escravos africanos pois não dispunham do capital necessário para isso. O isolamento foi um traço significativo dessa sociedade; a ausência de contatos com os comerciantes metropolitanos foi quase total, já que não havia o que levar e nem mesmo recursos para comprar. A mão-de-obra indígena constituía a única riqueza de que o colono podia dispor, uma vez que a terra, relativamente abundante, não tinha valor comercial e era obtida por doação real. Toda a atividade produtiva recaia sobre o indígena. Cabia à mulher o cultivo da terra, a colheita, a produção de objetos de cerâmica, a indústria de tecelagem e o trabalho doméstico. Os homens se ocupavam em derrubar e queimar as matas para as plantações, construir as tabas, caçar e pescar. Irala, como forma de premiar os primeiros colonizadores e também aliviar as dificuldades que enfrentavam, distribuiu terras e índios de serviços entre eles. Os índios foram repartidos na condição de encomendados, alguns foram levados para Assunção com o propósito de serem empregados em obras públicas (GADELHA, 1980, p. 76). O governador preparava uma nova expedição para encontrar os caminhos que levassem ao Peru e à Serra de Prata, porque esse era seu objetivo principal. Por isso, havia mandado construir alguns navios, porém a nova entrada foi adiada, visto que, em fevereiro de 1542, chegava a Assunção um novo governador, Alvar Nuñez Cabeza de Vaca, que suspendeu a operação (CABEZA DE VACA, 1987, p. 23). Cabeza de Vaca governou menos de dois anos. Aproveitou-se de sua posição para assumir o comando da entrada preparada por Irala, com o que adquiriu prestígio aos olhos dos assuncenhos, sempre desejosos de encontrar o caminho para o Peru. Deixou Assunção em outubro de 1543, com dez bergantines e quatrocentos espanhóis; entrou no atual estado do Mato Grosso do Sul, explorou o pantanal e chegou ao porto de Los Reys, de onde deu partida para descobrir aqueles sertões e suas populações. A entrada foi feita por terra. Assim que adentraram o continente, os espanhóis deram-se conta de haver tomado um caminho despovoado e de mata fechada. Começaram a faltar víveres e pareceu melhor ao governador retornar ao porto de Los Reys. Nesse local, além de falta de mantimentos, os expedicionários foram acometidos por sezões que atingiram a quase todos, inclusive Cabeza de Vaca, fazendo muitas vítimas fatais (CABEZA DE VACA, 1987, p. 213). Os indígenas socorinos, xaqueses, guaxarapós e guatós aproveitaram-se da situação em 14 que se encontravam os europeus para desferir sucessivos ataques, matando muitos deles. Além disso, as águas dos rios começaram a subir, alagando toda a terra e impossibilitando, assim, qualquer descobrimento. Acuados por essas dificuldades, o governador e seus expedicionários foram obrigados a retornar a Assunção. O fracasso da expedição, a política indigenista adotada por Cabeza de Vaca, que proibia capturar índios e escravizá-los, bem como sua oposição à instituição da família poligâmica, fez com que passasse a ter inimigos poderosos entre os conquistadores, criando um clima de resistência. Todos estes fatores fizeram com que fosse deposto (CHAVES, 1968, p. 159-160). Em uma região muito pobre que não dispunha de riquezas metálicas e de produtos que despertassem o interesse do mercado mundial, proibir o aproveitamento do indígena no processo de produção era condenar ao trabalho o colonizador europeu, que não veio para a América com esse intuito, mas em busca de riquezas e lucros rápidos. O cultivo da terra, como quaisquer outros trabalhos de produção, deveria, segundo o colonizador, ser realizado pelos naturais, uma vez que os espanhóis não dispunham de capitais para importar escravos negros. Para reflexão: 1 - Realizar um estudo sobre as relações econômicas e de trabalho, durante o século XVI, no Paraguai e no Brasil. 2 - Faça uma discussão sobre o aproveitamento da mão-de-obra indígena no processo de produção do período colonial brasileiro. Após a deposição de Cabeza de Vaca, voltou a ocupar o cargo Domingo Martinez de Irala, que iniciou um período de guerra civil, tendo, de um lado, os alvaristas, fiéis seguidores de Cabeza de Vaca e, de outro, os seguidores de Irala. Em seu diário, Schmidl (1947, p. 96) registra o seguinte: Depois que foi enviado o capitão general Alvar Nuñez Cabeza de Vaca, de volta a Espanha, estivemos em guerra, guerreávamos entre nós mesmos, o diabo nos governava nesse período, ninguém estava seguro do outro. Quando os índios que eram nossos amigos perceberam que estávamos divididos, planejaram se aproveitar daquela situação para matar todos nós. Os cários aliaram-se aos seus tradicionais inimigos, os agaces, e se lançaram contra os invasores numa guerra que durou cerca de um ano e meio. Percebendo o perigo que representava aquela frente de indígenas, os espanhóis se uniram novamente contra eles, derrotando-os em diversas ocasiões. Milhares de indígenas foram exterminados, e, por volta de 1546, os sobreviventes acabaram rendendo-se ao domínio espanhol. A ferro e a fogo, Irala sufocou a insurreição indígena. Em 1547, já tinha o completo controle da situação e, aproveitando-se das experiências anteriores de Ayolas e de Cabeza de Vaca, empreendeu nova expedição. Navegou pelo Paraguai até o morro de São Fernando, local hoje conhecido como Pão de Açúcar, em território sul-mato-grossense. Nesse sítio, deixou uma guarnição para que se ocupasse da vigilância das embarcações e entrou por terra em direção ao Peru, acompanhado de um grupo de espanhóis e de um grande contingente de indígenas, especificamente guaranis. Ao atingir, em 1548, o território de Charcas, em terras peruanas, constatou que as mesmas já estavam ocupadas por patrícios seus. Desfez-se, dessa forma, o sonho dos colonizadores de Assunção de se apossarem daquelas riquezas (CABEZA DE VACA, 1987, p. 24). 15 Após a malograda entrada, os espanhóis não mais procuraram explorar o território existente ao norte e nordeste do rio Taquari. Por pouco não atingiram as minas de ouro de Cuiabá. No retorno, os expedicionários lutaram com violência e crueldade contra os indígenas chaquenhos, escravizando-os em grande número e levando-os para Assunção. Era a compensação possível para aliviar as frustrações daquela aventura malsucedida. Lá chegando, terminando o encanto e a atração que exerciam as minas do Peru, trataram de abrir novas vias de comunicação e comércio no sentido leste e sul, visando expandir a província do Paraguai. Em princípios de 1553, Irala tratou de fundar o porto de San Juan, na costa oposta de Buenos Aires, que serviria de escala para as embarcações que vinham da Europa. A ação dos índios charruas e chana impediram, através de constantes ataques, o desenvolvimento desse núcleo, sendo seus moradores obrigados a abandoná-lo (AZARA, 1987, p. 134). Por essa mesma época, os nativos do Guaíra se deslocaram para Assunção com o propósito de pedir proteção aos espanhóis. Veja o que aconteceu: [...] Chegaram a Assunção alguns índios da Província do Guaira e solicitaram a proteção de Irala contra os insultos que lhes faziam os portugueses, cativando-lhes e levando-lhes para a costa brasileira, onde os vendiam como escravos” (AZARA, 1987, p. 134). Diante dessa situação, o governador partiu, em fins de 1553, para a província do Guaíra, na região do Salto, com o objetivo de combater os portugueses e conhecer a região, levando consigo uma companhia de soldados. Cruzou o rio Paranapanema em perseguição aos traficantes dos guaranis, atingindo o Anhembi ou Tietê, e, juntamente com os colonos portugueses, castigou os tupis (AZARA, 1987, p. 135). De volta, resolveu fundar nova povoação, tendo enviado, em 1554, o conquistador Garcia Rodrigues de Vergara que, acompanhado de sessenta soldados, fundou Ontiveros, à margem esquerda do rio Paraná, uma légua ao norte do salto de Guaíra. A partir de 1555, a Corte de Madrid determinou que as ligações do Prata com o Peru fossem interrompidas e proibiu também o uso de moedas no Paraguai para limitar as relações de comércio nas áreas coloniais. Ou seja, a metrópole procurava evitar os descaminhos da prata e impedir que as recentes descobertas de Potosi escapassem do controle das autoridades (BASTOS, 1972, p. 82). Para reflexão: 1 - Como eram estabelecidas as relações comerciais entre as metrópoles Portugal/Espanha e as colônias Brasil e Paraguai. 2 - Com um mapa, procure identificar as rotas comerciais entre as colônias e suas respectivas metrópoles. Você observou que foram tomadas medidas pela corte espanhola para proteger as zonas produtoras de metais. Tais ações, acabaram por confinar o Paraguai, uma vez que ele não poderia ter relações de troca com as áreas mais prósperas e também porque estava fora das rotas comerciais. O tráfico era realizado, na Espanha, através dos portos de Cadiz e Sevilha, e, no continente americano, por Havana, Vera Cruz, Portobelo e Cartagena. As rotas do Atlântico sul achavam-se excluídas e toda a atividade comercial era realizada por meio do mar das Caraíbas e do istmo do Panamá. Em conseqüência dessa situação, os assuncenhos foram obrigados a abrir novas frentes de expansão, a fim de romper com o isolamento a que estavam submetidos. A fundação de Ontiveros e, posteriormente, de Ciudad Real não deverão ser entendidas como um obstáculo ao comércio entre portugueses e espanhóis; pelo contrário, visava impedir 16 abusos e discipliná-los. Os portugueses deveriam pagar pelas peças indígenas que estavam em território da Coroa castelhana, como fizeram em anos anteriores, quando negociavam com o próprio governador do Paraguai. Segundo Henrique de Gandia (1936, p.16): “Juan de Salazar deixou registrado em uma carta escrita em São Vicente que os portugueses traziam escravos do Paraguai e os que faziam o tráfico, afirmaram que Domingo de Irala tinha conhecimento daquelas transações”. A cidade de Ontiveros não prosperou. Dois anos após a sua fundação, Nuflo Chaves levou o restante de sua população a três léguas ao norte de seu local original, na confluência do rio Paraná com o rio Piquiri, dando-lhe o nome de Ciudad Real. Irala, que ordenou essa mudança, justificou: “[...] Fundar uma cidade na Província de Guaíra, por ser escala e passagem do caminho para o Brasil [...]” (GUZMAN, 1979, p. 123). Em correspondência com o Marquês de Mondejar, Presidente do Conselho das Índias, o governador mostrava-se preocupado com a presença de portugueses nas proximidades do rio Paraná, cativando naturais e, possivelmente, pensando em estabelecer-se na região, através da construção de algum povoado em terras da Coroa Espanhola. Dizia ele: [...] Alguns portugueses de São Vicente tem vindo ao rio Paraná e capturado nativos da região levando-os para serem vendidos como escravos. Para evitar prejuízos maiores decidimos pela povoação dessas áreas para impedir ações dos portugueses, evitando assim que a população local continue sendo escravizada pelos paulistas (LAFUENTE MACHAIN, 1939, p. 539). Avançando a colonização e fundando cidades nas margens do rio Paraná, Irala procurava assegurar a posse dessas regiões e obter o controle da mão-de-obra indígena, que estava sendo levada para São Paulo pelos portugueses, gratuitamente. Essas pequenas cidades, localizadas em pontos estratégicos, sempre próximas dos grandes rios e de seus tributários, constituíam meio de garantir a soberania espanhola, a posse e a colonização da área, de limitar a expansão portuguesa e de facilitar a comunicação e, conseqüentemente, o comércio e a administração. Portanto, essas fundações no Guaíra, na ilha de Santa Catarina e, posteriormente, em Mato Grosso, refletem o conflito que já existia entre espanhóis e portugueses pela posse da mão-de-obra indígena. Mais tarde, após a morte de Irala, durante o governo de Soares de Toledo, continuou a ocupação de Guaíra. Em 1570, Ruy Diaz de Melgarejo fundou Vila Rica do Espírito Santo, a sessenta léguas da costa oriental do rio Paraná. Juan Garay também fundou, em 1573, na margem direita do mesmo rio, um pequeno forte que recebeu o nome de Santa Fé de Vera Cruz, localizado exatamente na metade do caminho que liga Assunção ao estuário do Prata. Em 1593, os espanhóis chegaram a Mato Grosso e fundaram Santiago de Xerez, primeiro núcleo de povoação do centro-oeste brasileiro. Ainda no mesmo ano, Juan Garay fundou, pela segunda vez, Buenos Aires, no mesmo local em que Pedro Mendonza o fizera há aproximadamente quarenta anos. O período que se estendeu desde a tentativa frustrada da fundação do porto de San Juan até o estabelecimento de Santiago de Xerez e a reedificação de Buenos Aires é conhecido como o ciclo do expansionismo assuncenho. Desde a região do médio Paraguai até o planalto paranaense, a conquista e a colonização espanhola se efetuou através de grupos de pessoas vindas de Assunção. Saíam liderados por algum conquistador para fundar novas cidades, levando soldados, agricultores, animais e instrumentos agrícolas. Esse movimento de expansão territorial obedeceu a um sentido de unidade, uma vez que os colonizadores que o impulsionavam traziam consigo os mesmos valores, sonhos e objetivos. Frustradas as tentativas de atingir o Peru, cuja entrada fora proibida por ordens reais (a bem 17 da verdade, nem sempre cumpridas), Irala e a principal nobreza de Assunção passaram a desenvolver um plano de expansão territorial que visava romper o isolamento a que estava submetida a província. O objetivo prioritário era o de atingir duas áreas: o Guaíra, no Paraná e o Itatim, em Mato Grosso. Ante a impossibilidade de sustentar núcleos povoados na entrada do rio da Prata, os paraguaios trataram de assegurar as terras guairenhas garantia fundamental para se estabelecer comunicação entre Assunção e o litoral de Santa Catarina, região em que se deveria fundar um porto que ligasse o Paraguai à Espanha. Procuravam, assim, conseguir, o mais rapidamente possível, comunicação com a Europa e abrir o Paraguai ao comércio espanhol. A tentativa não trouxe resultados positivos, já que, em princípios de 1557, o porto de San Francisco, única possessão espanhola na costa atlântica, fora abandonado pelos seus habitantes, que se encontravam à mercê de sua própria sorte. O estabelecimento do Itatim era muito importante, porque essa região era a porta de entrada ao Peru, e o sonho acalentado pelos assuncenhos era o de participar do comércio na região mais próspera das colônias espanholas. Outro aspecto que justifica a expansão em direção ao Itatim são as boas condições que a região oferecia ao povoamento. A predominância da população guarani nessas áreas, além da facilidade do trato, asseguraria a manutenção dos europeus. Por outro lado, os próprios encomendeiros já se organizavam e exigiam o avanço da colonização, uma vez que enfrentavam problemas quanto ao reduzido número de índios de serviço. Essa situação não atendia aos interesses dos exploradores, e, por isso, procuravam novos territórios onde houvesse habitantes que poderiam ser explorados. Os conquistadores nunca deixaram de sonhar com a possibilidade de encontrar metais preciosos. Essa busca de novos territórios foi uma das razões da expansão em direção ao planalto do Paraná e de Mato Grosso. Atividades: 1 - Explique o processo de povoamento e expansão do território brasileiro no período colonial, principalmente no Estado de Mato Grosso do Sul. 2 - Segundo informações fornecidas pelos historiadores, os povos nativos apenas dificultaram a instalação do europeu na América. Até que ponto essa afirmação pode ser considerada verdadeira? 3 - No princípio da colonização, o indígena se constituiu como o mais valioso elemento de cultura. Por intermédio desse nativo, o colono europeu enriqueceu sua dieta com uma série de alimentos (mandioca, milho, inhame ou cará, mel de abelhas etc.), além de passar a usar remédios conhecidos pelos índios. Como é possível entender a importância do indígena, no processo de colonização, conhecendo seus hábitos e costumes? 4 - Santiago de Xerez, primeira cidade sul-mato-grossense, fundada pelos espanhóis, começou a ser estudada nos últimos trabalhos das universidades locais, mostrando, assim, a importância que teve no processo de colonização. Procure localizá-la em um mapa e descubra sua importância estratégica no momento de sua fundação. 18 CAPÍTULO II Primeiro Núcleo Populacional de Mato Grosso; A Chegada dos Jesuítas e o Seu Trabalho em Mato Grosso do Sul Escadaria da XV de Novembro - Conj. Histórico do Casario do Porto (Corumbá) Um grande obstáculo para a colonização européia na América foi o clima quente, que impedia o cultivo do trigo, alimento básico do europeu. Aqui o trigo foi substituído pela mandioca indígena. Talvez por ser valiosa contribuição indígena, foi, por muito tempo chamada de pão dos pobres. Até as hóstias, os padres jesuítas faziam com a farinha da mandioca. No passado, ela foi um dos principais produtos que garantiu a vitória da colonização. Hoje, a mandioca passa a ser encarada como um produto estratégico. Mato Grosso do Sul plantou, em 2003, 30 mil hectares de mandioca e já existem, no Estado, 17 unidades industriais para seu beneficiamento. Para entender a importância histórica da mandioca e a sua contribuição, hoje, para o seu Estado, na garantia de novos empregos e atração de investimentos, leia com atenção a reportagem abaixo para posterior análise: A MANDIOCA PASSA A SER UM PRODUTO ESTRATÉGICO Agora a mandioca passa a ser encarada em Mato Grosso do Sul como um produto estratégico. Por isso, a Câmara Setorial da Mandioca passa a atuar de forma planejada, para acabar com o ciclo de safras excelentes e safras péssimas, que foi resultante justamente de uma falta de planejamento que fazia com que os produtores plantassem quando o preço estava bom, muito embora a boa safra resultasse na derrubada do preço na safra seguinte. Hoje Mato Grosso do Sul tem 17 unidades industriais de beneficiamento da mandioca, e estão protocoladas junto ao Conselho de Desenvolvimento Industrial - CDI, da Secretaria de Produção, 17 outros empreendimentos que deverão representar investimentos de R$ 116 milhões no segmento. 19 Também está garantido que mais de 40 projetos e ações serão desenvolvidas pelos parceiros da Câmara Setorial da Mandioca visando a melhor articulação e à construção coletiva de estratégias. Só para se ter uma idéia do que cresceu a atividade no Estado, em 2002 foram efetuados apenas 265 contratos de crédito rural no Estado, num montante de R$ 1 milhão e 903 mil. Em 2003, o número de contratos aumentou para 2.418, atingindo o montante de R$ 12 milhões e 365 mil em crédito. E 13 indústrias aderiram ao sistema de parcerias. (Mauricio Hugo. In: Jornal Correio do Estado, Campo Grande, MS, 09 -02-2004) Atividades: 1 - Faça um comentário por escrito sobre a notícia publicada no Jornal Correio do Estado. 2 - Por que a mandioca passou a ser um produto estratégico no Mato Grosso do Sul? 3 - Cite alguns produtos que podem ser produzidos a partir da mandioca. 4 - O hábito de se consumir a mandioca, aqui no Estado, é um legado de quem? 5 - É sabido que, em outros estados ou regiões do país, a mandioca recebe nomes diferentes. Consulte o professor (ou um dicionário) para saber quais são e registre. 1 - O Avanço Espanhol e a Fundação de Santiago de Xerez, Primeiro Núcleo Populacional de Mato Grosso O Itatim se revestiu de grande importância durante os séculos XVI e XVII, pois era através do porto localizado abaixo da embocadura do rio Mbotetei que os espanhóis mantinham comunicação com o Peru. Foi nessa região que se instalaram os primeiros colonos, tentando romper com o isolamento com que estavam submetidos e buscando alternativas para desenvolverem suas atividades de produção. Segundo o padre Diego Ferrer, o Itatim estava situado na altura dos paralelos 19,5º e 22º, tendo como limites, ao norte, o rio Mbotetei, ao sul, o rio Apa, a leste, a Serra de Maracaju e, a oeste, o rio Paraguai. A terra era muito áspera e, por isso, se chamava Itatim (que quer dizer pedras com pontas), pelos muitos pedregais que existiam nela (CORTESÃO, 1951, p. 29-30). Tratava-se de zona estratégica de comunicação entre o Brasil e o Peru, entre o vale do Paraguai e do Amazonas (CORTESÃO, 1951, p. 4). Embora bem conhecida pelo seu valor estratégico, a primeira cidade espanhola de Mato Grosso, Santiago de Xerez, foi fundada em 24 de março de 1593, por Ruy Diaz Igreja Matriz - Aquidauana 20 de Guzman, na margem direita do baixo curso do rio Muney, hoje Ivinhema, no atual município sul-mato-grossense de Naviraí. Portanto, muito longe de Itatim (MARTINS, 2002, p. 248). No ano de 1600, Guzman transferiu Santiago de Xerez para um lugar mais ao norte, à margem esquerda do Mbotetei, voltando a experimentar novas dificuldades. Acabou, entretanto, por assentá-la, definitivamente, contrariando os interesses em Assunção, num sítio localizado a 20º23'08” latitude sul, 55º50'34” longitude oeste, às margens do rio Aquidauana, cerca de 30 léguas acima da confluência deste último com o Miranda. Santiago de Xerez, quando transferida das barrancas do Ivinhema, foi erguida nas proximidades do rio Aquidauana, que era chamado pelos espanhóis de Mbotetei, nome dado também ao atual rio Miranda. Santiago de Xerez, foi resultado de uma busca de um caminho para o Peru. As ligações comprovadas desse território com os Andes, através de diversas expedições, foram decisivas para seu estabelecimento. Ficava a apenas quatrocentas léguas de Potosi e, apesar das dificuldades de acesso, a possibilidade de contato com as regiões produtoras de metais animava os colonos. Sua fundação constituiu um ato de desobediência civil, já que os espanhóis estavam proibidos de estabelecer comunicação e comércio entre as áreas coloniais, principalmente com regiões argentíferas. A fundação da cidade se deve, ainda, a proximidade das minas de prata que os espanhóis supunham existir na cordilheira do Amambaí. Outra razão que contribuiu, decisivamente, pela vinda dos espanhóis à região foi a grande quantidade de índios guaranis nela existente, que, em sua maioria, era sedentária e de fácil trato e já praticava a agricultura. A notícia da existência de diversas nações indígenas na região despertou a cobiça em muitos que, nessa época, sofriam as conseqüências da distribuição de encomendas, levada a cabo pelo governador do Paraguai, Domingo Martinez de Irala, que beneficiou amigos e parentes, enviando-lhes um grande número de indígenas. Para os demais exploradores, sobraram poucos que, com o passar do tempo, consumidos pela brutalidade do trabalho, foram morrendo. Assim, nessa época, passou surgir a figura do encomendeiro sem índios. A região era habitada pelos nuaras. Gadelha (1980, p. 308) esclarece que todos os povos que habitavam desde o rio Miranda até o Apa chamavam-se Itatins; Itatins eram nuaras, niguaras, guasorapós, entre todos guaranis. Santiago de Xerez representava um reservatório de mão-de-obra. Na parte alta da cidade estavam concentrados os nuaras, os conumyais, e os cuataguas, que falavam a mesma língua; eram bons agricultores e já haviam entrado em contato com muito dos religiosos que andavam pela região catequizando. Os nuaras, segundo Guzman, foram espontaneamente ao encontro dos colonizadores, oferecendo seus préstimos por ocasião de sua chegada. Na parte baixa da cidade, às margens do rio Mbotetei, estavam os guanchas, divididos em três povoados que reuniam, aproximadamente, mil índios. Também ali estavam os guatós, divididos em dois grupos com cerca de mil índios, e os guapis, com cem. Na base da Cordilheira, entre os rios Taquari e Mbotetei, encontrava-se a nação guetu, com grande número de indígenas, a umas quinze léguas de Xerez. Ainda muito próxima, encontrava-se outra nação, os nujaras, que contava, na ocasião, com cerca de mil e duzentos indígenas. Todos esses grupos falavam línguas diferentes, eram nômades e, em algumas ocasiões, costumavam cobrar tributos dos nativos que viviam da parte alta de Xerez. Habitavam entre rios e lagoas e cultivavam arroz silvestre e o armazenavam em silos. Colhiam, também, grande quantidade de algodão (CORTESÃO, 1951, p. 316, v. II). As relações entre nativos e espanhóis foram amistosas somente no início da ocupação. Os naturais serviam aos invasores, ao mesmo tempo em que produziam todo o necessário para sua subsistência. Com o passar do tempo, porém, o abuso por parte dos invasores acabou deteriorando as relações entre eles. Os espanhóis passaram a praticar todo o tipo de arbitrariedade contra os indígenas e apropriavam-se de todos os produtos produzidos por eles. Em função da superioridade bélica, exerciam um grande domínio sobre os nativos, que eram vistos como propriedades suas e tinham que se ocupar das tarefas que mais convinham ao dominador. Todo o trabalho considerado desonroso era, obrigatoriamente, feito pelo indígena. De certa forma, o 21 2 - A Chegada dos Jesuítas e os Desdobramentos do Trabalho Missionário em Mato Grosso O segundo núcleo de ocupação espanhol também se desenvolveu na região do Itatim, através de uma frente missionária organizada pela Companhia de Jesus no século XVII. Esse núcleo estava situado entre os rios Apa e Taquari. As missões organizadas pelos jesuítas constituíram instrumento de expansão territorial, do qual lançaram mão os espanhóis para a ocupação do continente americano. No início do século XVII, o Estado Espanhol vivia uma séria crise econômica, não estando em condições de arcar com as despesas decorrentes do processo de colonização de uma região que não lhe oferecia retorno financeiro. Dessa forma, viu com bons olhos a iniciativa da Igreja Católica que, através da Companhia de Jesus, se propunha a reduzir os naturais em aldeias para lhes oferecer educação religiosa e fazê-los súditos de Sua Majestade, retirando, assim, dos seus ombros, o encargo da colonização. Além disso, os indígenas, liderados pelos padres, seriam naturais protetores das fronteiras, rechaçando os possíveis ataques dos inimigos, solução mais barata para os enfraquecidos cofres da Coroa Espanhola, que não precisaria lançar mão da construção de presídios para a defesa de seus territórios (GADELHA, 1980, p. 31). Os primeiros jesuítas entraram no Paraguai, em 1588, tendo começado a desenvolver seus trabalhos em Assunção. Logo, passaram a entrar nos povoados da província do Guaíra e do Itatim. As missões ambulantes junto aos nômades, apesar dos êxitos alcançados, nunca conseguiam formar comunidades sólidas e duradouras. Quando os padres deixavam as suas áreas de atuação, os nativos voltavam à sua antiga maneira de viver, entregavam-se à influência dos feiticeiros e abandonavam os ensinamentos cristãos. Para pôr fim a essa situação, era necessário fixá-los nas proximidades de uma igreja, onde a educação religiosa seria sistemática (LUGON, 1976, p. 31). Os religiosos identificaram ainda outro obstáculo à evangelização: o serviço pessoal que, segundo eles, não deixava de ser uma forma brutal de escravidão, pois provocava a separação de famílias e impedia os naturais de receber educação religiosa. A situação se mostrava favorável ao trabalho missionário. O governador do Paraguai, Hernandarias, anunciou ao rei a incapacidade do seu governo de submeter os índios apenas por meios militares e propôs o envio de religiosos para a catequese. Convencido das vantagens econômicas e militares que poderiam resultar da solução recomendada pelos jesuítas, o rei Felipe II ordenou que os indígenas fossem subjugados pelos ensinamentos do Evangelho. A princípio, foram tomadas medidas que proibiam os colonos de organizarem malocas nas províncias em que se estruturavam as reduções e de obrigarem os indígenas aldeados a prestarem serviço pessoal. Em 1608, os padres da Companhia de Jesus se instalaram nos territórios do Guaíra e, em seguida, no Tapes e no Itatim, onde iniciaram o trabalho de aldeamento. Para reflexão: 1 - Quais eram as estratégias usadas pelos jesuítas para catequizar os indígenas? As principais reduções surgiram em 1609, ocasião em que a Companhia de Jesus havia decidido pela fundação de três missões: a primeira, na província do Guaíra e Tibajiba; a segunda, entre os índios paranás; a terceira, entre os índios guaicurus, em futuro território sul-matogrossense. A terceira missão mostrava a preocupação dos religiosos em buscar, assim como os colonos, uma via de comunicação com o Peru. Leia atentamente o que escreveu o padre Torres (apud GADELHA, 1980, p. 196): 22 Entre os frutos e resultados que esperamos da conversão e redução desses índios, o mais importante é que não impeçam o tráfego de Assunção ao Peru que será de só cento e vinte léguas, atualmente percorre-se em torno de quatrocentas léguas por caminhos despovoados que impedem o comércio e a conversão de outras nações indígenas. A missão dos guaicurus deveria dar grandes frutos, pois, facilitando a ligação entre Assunção e o Peru, quebraria o isolamento econômico em que se encontrava o Paraguai. Para iniciar esse trabalho missionário foram enviados os padres Vicente Griffi e Roque Gonzáles, que chegaram em 1612. Preste atenção às dificuldades encontradas por eles, na ocasião: Com os Guaicurus o contato foi mais difícil, e apenas temporário. Achavam-se culturalmente em estágio mais primitivo de civilização, desconhecendo a agricultura e o amor que prende o camponês fixado à sua terra. Por isso revelou-se, praticamente impossível reduzilos. Não era fácil obrigá-los a lavrarem a terra, preferindo os índios emigrarem sempre que a caça se tornasse escassa, ou as enchentes e secas obrigassem a partir (GADELHA, 1980, p. 214). Diante da impossibilidade de reduzir (subjugar) esses indígenas, a missão foi definitivamente abandonada e, então, os religiosos resolveram priorizar o trabalho de aldeamento entre os guaranis. Assim sendo, organizaram as primeiras reduções entre os índios itatins em Todos os Santos de Guarambaré e Piticu, para onde foram enviados os padres Vicente Griffi, Baltazar Seña e Francisco de San Martin. O período de existência dessas reduções foi muito curto. Os padres enfrentaram grandes dificuldades, inclusive a falta de alimentos: as refeições eram feitas de farinha de raízes e de carne de caça, quando havia, e, na maioria das vezes, tão pouca que eles preferiam deixá-la para os doentes. Além disso, a aldeia foi acometida, no primeiro ano, por uma epidemia que matou grande número de seus moradores (CORTESÃO, 1951, p. 12-13, v. II). Apesar dos grandes danos causados pela doença, a ação dos padres contribuiu para elevar seu prestígio entre eles, pois tratavam dos enfermos, levando-lhes comida, além de oporem-se à opressão do serviço pessoal e aos costumeiros aldeamentos que os portugueses e os espanhóis impunham aos nativos. Logo se ativou o ódio dos colonos contra os jesuítas. As reduções foram instaladas em área anteriormente ocupada por colonos espanhóis, que nela possuíam índios encomendados. Tal situação propiciou o surgimento de conflitos entre dois grupos, que culminaram com a expulsão dos religiosos. Expulsos, os padres se refugiaram nas províncias do Guaíra e se envolveram no trabalho que ali começava, contribuindo para a organização das primeiras reduções indígenas naquela região. Conseguiram, num curto espaço de tempo, construir, aproximadamente, treze aldeias, onde reuniram uma grande quantidade de naturais. Por volta de 1628, porém, essas reduções foram invadidas e completamente destruídas pelos portugueses de São Paulo, que levaram os índios aldeados na condição de escravos. É necessário que se abra um parêntese para explicar os motivos pelos quais os portugueses invadiram as reduções religiosas. É que, em 1850, a morte do cardeal D. Henrique, Rei de Portugal, sem deixar herdeiros diretos ao trono, levou o reino a uma crise político-dinástica. O parente mais próximo Felipe II, Rei da Espanha acabou impondo-se como legítimo herdeiro, o que provocou a incorporação do reino lusitano pela coroa espanhola, proclamando, então, a “União Peninsular” ou “União Ibérica”. Firmada a União, Felipe II embargou todo o tráfego holandês nos portos portugueses e brasileiros, eliminando sua participação no comércio. Em conseqüência, os holandeses invadiram 23 Pernambuco e, mais tarde, estenderam seu domínio de Alagoas até a Paraíba. Submeteram grande parte do nordeste produtor de açúcar, invadiram portos de escravos de São Tomé e Angola e bloquearam o tráfego para as áreas coloniais não dominadas, especialmente a Bahia que, imediatamente, se ressentiu da escassez de mão-de-obra. A solução de emergência foi a escravização indígena, realizada maciçamente a partir de então pelos bandeirantes, os quais se aproveitaram das aberturas criadas com a quebra de fornecimento de escravos ao Brasil, para ampliarem o mercado de venda (SODRÉ, 1984, p. 115). O índio tornou-se, assim, mercadoria altamente valorizada. Os portugueses que, desde a metade do século XVI, já conheciam os caminhos que levaram aos guaranis, passaram a vir fortemente armados em sua busca. Organizaram, então, grandes bandeiras, cujo objetivo principal era fornecer mão-de-obra aos engenhos nordestinos. A população de São Vicente foi mobilizada para essa busca, permanecendo na vila apenas os velhos, as mulheres e as crianças. Os bandeirantes lançaram-se, principalmente, sobre as aldeias indígenas organizadas pelos jesuítas, onde eles estavam concentrados, dóceis e acostumados ao trabalho agrícola. Dessa forma, fugindo dos assaltos dos portugueses, religiosos entraram na província do Itatim. Vieram muito bem orientados para fundar uma nova redução entre os índios itatins, que sempre mereceram especial atenção dos jesuítas. Os padres receberam amplos poderes para reunir os naturais em povoados e os governarem sem qualquer dependência das cidades e fortalezas vizinhas. Além disso, podiam opor-se, em nome do Rei, a quem quisesse sujeitar os novos cristãos ao serviço pessoal dos espanhóis sob qualquer que fosse o pretexto (MONTOYA, 1985). O propósito dos jesuítas era fazer dos indígenas, cristãos. Quando os padres iniciaram seu trabalho no Itatim, as aldeias das mais diversas facções estavam dispersas pelas florestas, sendo que cada uma delas reunia em torno de 100 a 200 famílias, que dispunham de áreas que lhes permitiam viver perfeitamente bem. Esses guaranis, que eram agricultores e cultivavam milho, mandioca, batata-doce e feijão, completavam a sua alimentação, principalmente, com produtos da caça, da pesca e da coleta de arroz silvestre, de mel e de palmito. O algodão nativo era colhido e fiado pelas índias, que ainda se dedicavam à cerâmica, em cujas peças preparavam sua alimentação diária (FERRER, apud CORTESÃO, 1951, v. 2). Antes da conquista, os guaranis não possuíam animais domésticos, à exceção de patos, de papagaios e de macacos. A sua permanência entre os colonizadores foi que permitiu, bem mais tarde, adotarem o galinheiro e a criação de bovinos, de eqüinos e de caprinos. Entre os indígenas, as terras pertenciam ao coletivo, ou seja, a todos os membros de uma aldeia, sendo que cada família tinha um lote particular, cultivado para o seu sustento. O crescimento demográfico e o esgotamento do solo, devido ao uso de técnicas rudimentares, como o emprego sistemático do fogo antes do desmate e, posteriormente, com a coivara, obrigavam os indígenas a procurarem novos campos. Ao adentrarem em uma nova comunidade e decidirem pela redução e exclusão do modelo de aldeamento tradicional, os padres foram colocando o indígena sob o jugo da Igreja, e o seu sucesso dependia, antes de mais nada, do rápido desenvolvimento da agricultura tradicional indígena. As reduções que se formaram no Itatim se organizaram no mesmo formato que as demais reduções de guaranis do Paraná. Os povoados eram formados por palhoças rústicas no meio da aldeia e, cada agrupamento desse, tinha áreas cercadas para criação de aves domésticas para o abate. Os campos estavam reservados para o cultivo de cereais e de algodão e os pastos nativos serviam às manadas de ovelhas, cabras, mulas, além do gado vacum e cavalar (DOCUMENTOS PARA A HISTÓRIA DA ARGENTINA, 1929, p. 725/26, t. 20). Porém, como você pode constatar, abaixo, o maior problema enfrentado pelos religiosos foi fazer com que os guerreiros se tornassem agricultores: 24 É verdade, porém, que o esfôrço mais árduo, nos primeiros tempos, terá sido aplicado não na criação de uma agricultura, mas para formar agricultores, com os caçadores guerreiros das antigas tribos nômades: Era-se mesmo coagido, nos primeiros tempos, a não deixar ao cuidado dêles os bois de que se serviam para a lavoura, com receio de que, por preguiça, não se dessem o trabalho de os desatrelar, quando o serviço acabava, ou os fizessem em pedaços para comê-los (CHARLEVOIX apud LUGON, 1976, p. 124). Assim, antes da pregação do evangelho e de fazer dos indígenas, cristãos, era necessário transformar toda a sua tradicional base material, ensinando-lhes a lavrar a terra e as novas práticas de cultivo e de trabalho. A fixação do indígena, por si só, criava novas necessidades e, a principal delas, era a produção de alimentos em grande escala para suprir as necessidades dos membros da coletividade. Além disso, cobrir a nudez dos índios implicava na produção do algodão e era isso o que, de certa forma, mais preocupava os jesuítas, ou seja, cobrir o que poderia ofender a olhos castos. Para eles, este seria o primeiro sinal da transformação do “bárbaro” (MONTOYA, 1985). Era necessário, em adição a isso, desenvolver as habitações, construir igrejas e casas. A casa comum, ou casona, deveria ser abandonada para se eliminar de vez, no olhar do jesuíta, a incidência do pecado. Com isso, a indústria da construção sofreu um rápido desenvolvimento e sempre esteve muito ativa pelo contínuo aumento dos índios aldeados. Também se construíram embarcações de transportes, pequenos barcos, carros de boi, arados de madeira e galpões para armazenar a produção. O bovino e o eqüino tornaram-se, dentro de um aldeamento, bens de valor inestimável, pois era com eles que se preparava o solo para o cultivo, que se fazia aração, gradagem, tratos culturais e colheita. Não havia outras enxadas, senão as omoplatas de cavalos e de bois (AZARA apud LUGON, 1976). Observe o que foi registrado em Documentos para la História Argentina (p. 734, 1929, t. 20): “Cada uno tiene sua yunta de buyes para la labranza” (“Cada um tem sua junta de bois para o cultivo da terra”). Todo transporte da produção do campo para os armazéns, da madeira para a construção de casas, de carros de bois ou embarcações, só era possível com o auxílio dos animais de tração. Além de tudo isso, no princípio de um aldeamento era a carne desses animais que compensava a insuficiência de qualquer gênero alimentício. Nessa empresa, o primeiro passo era o de garantir aos novos cristãos a alimentação, sem a qual fracassava toda tentativa de mantê-los aldeados. Qualquer provisão que faltasse era motivo para que se ausentassem para a selva ou para os rios onde pudessem saciar sua fome. O gado, embora muito importante, não era muito numeroso, pois o provincial recomendava aos padres que criassem galinhas por causa da dificuldade em ter carne disponível (Pe. ZURBANO apud CORTESÃO, 1951, p. 66, v. 2). No Itatim, a princípio, os padres enfrentaram muitas dificuldades para obterem uma oferta regular de alimentos. O inimigo invisível da agricultura era o clima, de modo que, em determinados momentos, toda a produção era perdida, ora pelo excesso de chuvas, ora pela seca, ora pelas geadas. Quando os padres encontravam clima e solo que permitiam o cultivo de cereais, vegetais e frutos que se desenvolviam na Europa, como trigo, batata, maçã e pêra, rapidamente dispunham de uma boa oferta para atender aos novos cristãos, como ocorreu no Paraná, no Uruguai e no Rio Grande do Sul. No entanto, no Itatim, eles se defrontavam com uma natureza inóspita, cujo clima quente impedia o desenvolvimento das tradicionais culturas européias. Além disso, o total desconhecimento das condições ambientais impediu o rápido desenvolvimento da agricultura. Enquanto na Europa o clima é bem definido, com quatro estações e grande amplitude térmica anual, inverno frio, com queda de neve, e verão ameno, com a precipitação de chuvas, distribuindo-se, uniformemente, durante o ano, no Itatim as temperaturas são quentes e as áreas dominadas por massas de ar quente equatoriais e tropicais. Apenas no curto inverno ocorre a 25 penetração de frentes frias, que se diluem rapidamente, fazendo retornar o calor. Notam-se duas estações do ano, o verão mais quente e, geralmente, chuvoso e o inverno, menos quente e seco, geralmente, prejudicando os vegetais (MAZZA et al., 1994). Dada essa situação, os padres foram obrigados a introduzir mais rebanhos bovinos, aproveitando-se dos privilégios em pastagens naturais que a terra oferecia. O jesuíta, ao lançar mão do gado bovino e cavalar para desenvolver suas reduções entre os índios itatins, estava lançando, sem o saber, as bases da pecuária mato-grossense e sul-mato-grossense, como fizera no Rio Grande do Sul e no Uruguai. Com a abertura de propriedades rurais, o indígena foi incorporado à disciplina do trabalho, o que mais tarde favoreceu a posse desses imensos territórios pela coroa portuguesa e pelo império brasileiro. Somente a partir da década de 40 é que os padres foram se familiarizando com os caprichos climatéricos do Pantanal e obtendo sucessivos êxitos com os mais variados cultivos. Em todo esse processo, o gado bovino teve grande importância para garantir a presença dos jesuítas no sul de Mato Grosso. Sem ele, dificilmente os padres teriam conseguido aldear os nativos e os colonos não teriam se fixado; ele foi o motor de todos os transportes, a tração para a agricultura e a fonte de proteína para os habitantes das aldeias nascentes. A introdução de equipamentos mais produtivos, em substituição àqueles empregados pelos indígenas, possibilitaram o aumento das áreas cultivadas. A intensificação da agricultura, que sempre floresceu nas reduções, permitiu a estruturação dos rebanhos. O abate sem critério que envolvia fêmeas aptas à procriação foi substituído pelo descarte apenas de machos ou algum outro espécime estropiado, o que permitiu o crescimento vegetativo do rebanho. Embora as reduções que se formaram no Itatim espelhassem o que a Companhia de Jesus havia desenvolvido no Paraná e no Rio Grande do Sul no século XVIII aqui elas ganharam uma feição completamente diferente. Na região missioneira do sul, havia verdadeiros núcleos urbanos e uma economia agropastoril rigorosamente organizada, com a utilização da mão-de-obra indígena, pelos jesuítas. No Itatim, isso nunca aconteceu: o período de existência dessas reduções foi em torno de vinte anos, mesmo assim, com intervalos em que os padres foram obrigados, por um motivo ou outro, a abandonar a missão, deixando-a sem qualquer trabalho missionário. Nos momentos em que a Companhia de Jesus deu mais atenção às reduções do Itatim, ela disponibilizou apenas cinco padres para atender uma área superior a 100.000 km2, o que, de certa forma, impediu a catequese em massa. Além disso, os padres enfrentaram forte resistência dos indígenas, o que não aconteceu no Guaíra, atual Paraná, onde havia uma hegemonia dos índios guaranis e estes sempre foram mais suscetíveis ao trabalho missioneiro. Aqui, as tentativas com os índios guaicurus, agachis, paiaguás despendeu energia do projeto sem qualquer resultado prático. Por essas razões, os produtos religiosos do Itatim são extremamente insignificantes, sobretudo quando comparados aos de outras regiões. Para reflexão: 1 - Quais foram as dificuldades enfrentadas pelos jesuítas para empreender o processo de catequização dos índios no território do Itatim? 2 - Realize uma pesquisa procurando detectar os objetivos dos jesuítas em promover a catequese no continente americano? 3 - O que eram as bandeiras? Procure identificar as diferenças entre bandeiras e monções. As missões do Itatim foram invadidas pelos bandeirantes paulistas em duas ocasiões, 1632 e 1648. Na primeira, os bandeirantes ameaçaram a cidade de Santiago de Xerez, mas a população não ofereceu resistência e uniu-se aos invasores. O tenente D. Diogo de Orrego e outros cidadãos 26 guiaram-nos até as reduções do Itatim, levando cativa grande parte dos índios aldeados (ESSELIN, 2000). Após a invasão, muitos desses castelhanos passaram para a Capitania de São Paulo com suas famílias e de posse de muitas peças indígenas, mas, na pressa de deixar a cidade, temendo represálias das autoridades paraguaias e da própria Companhia de Jesus, deixaram, na campanha chamada Vacaria, grande quantidade de bovinos que não conseguiram reunir (LEME, 1914, t. 1). Na segunda vez, em 1648, os padres jesuítas foram obrigados a abandonar a redução, incapazes de enfrentar os invasores em condições tão desiguais, já que não tinham armas para se defender dos ataques. Consta do manuscrito “Informe da Companhia de Jesus” (CORTESÃO, 1951, p. 19, v. 2) que os religiosos reuniram em torno de 700 cabeças de gado vacum deixando-as de esmola aos indígenas aldeados e que, muitas outras, ficaram na antiga povoação, juntamente com os animais de trabalho: bois, éguas, cavalos e mulas. Esses animais, que constituíram o casco inicial da pecuária mato-grossense e sul-mato-grossense sobreviveram, silvestremente, em um ambiente favorável, propício para a atividade pecuária. Essas invasões contribuíram, decisivamente, para a propagação do gado por todo o pantanal sul-mato-grossense. Derrotados pelo conhecido bandeirante Raposo Tavares e seus comandados, os jesuítas e os indígenas que puderam escapar transpuseram o rio Apa e foram se estabelecer no Paraguai, abandonando muito gado que haviam ali conseguido reunir. Nesse local o gado encontrou condições ambientais favoráveis para se desenvolver. Além disso, epidemias e enfermidades contribuíram para o decréscimo da população indígena no Itatim. Uma grande quantidade de doenças que eram praticamente inofensivas para o organismo imunizado dos europeus, provocava efeitos desastrosos nas populações nativas, biologicamente sem condições de fazer frente ao inimigo desconhecido. Desde os primeiros contatos entre os nativos dessa região e os padres da Companhia de Jesus, ou mesmo entre os colonos espanhóis e portugueses, há constantes registros de epidemias que levaram à morte muitos dos primitivos habitantes. O padre Boroa conta que, em 1634, em conseqüência da fome, surgiu uma epidemia que exterminou 2/3 dos índios reduzidos e, posteriormente, em 1648, durante uma fuga, os índios foram vítimas de uma nova epidemia que matou muitos deles (GADELHA, 1980, p. 246 e 270). Outro fator importante foi que os jesuítas recomeçaram um trabalho de realdeamento da população do Itatim, dispersa após a última invasão, conseguindo, com sucesso, reunir 800 das 1000 famílias anteriormente aldeadas e conduzi-las para as margens do rio Ipané, a 40 ou 50 km de Assunção (GADELHA, 1980). Ou seja, o território do Itatim foi praticamente despovoado (LABRADOR, 1910, p. 62). Os indígenas que já haviam incorporado a carne bovina à sua dieta foram levados para muito longe, condição importante para a rápida proliferação do gado, pois as demais nações indígenas, embora o abatessem, preferiam caças como veados, antas, caititus, capivaras, onças, tatus. Havia também muitas aves, como patos, marrecos, araquãs, jaós, jacus e jacutingas, além do que, os rios tinham peixes em abundância, oferecendo aos nativos, pacus, dourados, curimbatás, piranhas. Veja como Moura (1982, p. 19) descreve toda essa riqueza natural: Quando o [rio Taquari] leva pouca água deixa várias praias descobertas, as quais se enchem de caça, principalmente fatos de extraordinária grandeza, e outras mais pequenas, a que chamam marrecos. Há também pelos matos muitas araquãs, jacus e jacutingas [...] mutuns do tamanho dos nossos perus novos [...]. A caça de pêlo também é infinita: muito porco bravo, muito veado e capivara. 27 Assim como o rio Taquari, ricos eram o Miranda e o Aquidauana: Um piquenique no arroio azul - Bela Vista É prodigiosa a abundância de pescado e carne [...]. Explorando esses rios víamos a cada instante possantes antas, veados de todas as espécies e intermináveis varas de porcos montezes [...]. Bandos e bandos de lontras, ariranhas e capivaras [...] innumeras aves, mutuns, jacus, jacutingas. [...] Em peixes é fartíssimo, abundam os jahús, surubys, dourados, em certos mezes os pacús, piraputangas, piranhas, além de corumbatás, trairas, pacupévas, abotoados, papaterras, raias, piáus e outros comuns aos rios do Brasil (TAUNAY, s/d., p. 8 e seg.). O mesmo acontece em todo o Pantanal, que abriga em seu território “656 espécies de aves, 122 de mamíferos, 264 de peixes e 162 de répteis” (COELHO NETO, 2002, p. 53). A variedade da fauna pantaneira permitiu que os indígenas continuassem a consumir animais, como, por exemplo, aves, incorporadas culturalmente à sua dieta, embora a base da alimentação deles não fosse a carne. Gostavam de frutas, mel, insetos de todo gênero, répteis, e eram muito gulosos de uma lagarta que ataca o capim mimoso e que eram saboreadas vivas (VIVEIROS, 1958). O gado das missões jesuíticas do Itatim, encontrando uma grande área com condições ambientais extremamente favoráveis ao seu desenvolvimento, expandiu-se pelos campos da planície do Pantanal, em cujo território ficou confinado. As barreiras naturais impediram que o rebanho ganhasse outros campos. Isso só seria possível se fosse conduzido, como mais tarde ocorreu, mas, a princípio, o gado esteve encerrado a leste pela serra de Maracaju, acompanhando o lado ocidental do rio Paraguai, entre o Mbotetei e o fecho dos morros.. 28 Com os ataques portugueses e a conseqüente escravização dos indígenas, os constantes surtos epidêmicos que levaram à morte milhares de nativos e à transferência de famílias aldeadas para as proximidades de Assunção, a província do Itatim foi completamente despovoada de índios guaranis. Disso se aproveitaram os bandeirantes, já que as ruínas da cidade de Santiago de Xerez e das reduções serviam de ponto de apoio para as suas investidas. Já em meados do século XVII, eles se instalaram às margens do Aquidauana e do Miranda, fronteira com o Paraguai. Tinham como objetivo escravizar os indígenas sobreviventes, que eram muito poucos, promover o contrabando com os vizinhos, manter um arraial onde se reuniam para cultivar o solo, colher e até descansar no lugar onde foi Xerez e que, finalmente, era o centro das correrias que faziam até Santa Cruz de La Sierra (ALMEIDA, 1941). Nas referências a data é 1951, trata-se da mesma obra? A formação de uma base de operações na antiga Província do Itatim permitiu que, no último quartel do século XVII, numerosas bandeiras cruzassem toda essa região, rasgando-a em vários sentidos. Essa maciça presença portuguesa causava preocupações e temores entre os espanhóis, justamente devido à facilidade com que eles poderiam dispor de cavalos e bovinos. Um jesuíta espanhol, Padre Diogo Altamirano, em correspondência às instâncias do Conselho das Índias, afirma que a ocupação daquelas áreas pelos portugueses era mais prejudicial até do que a da colônia de Sacramento, por ficarem apartados dos olhos dos castelhanos e porque ali podiam dispor de cavalos, mulas e outros gados (PASTELLS, 1912, v. 4). Para reflexão: 1 - Por que doenças inofensivas ao organismo europeu provocaram tantas mortes entre os nativos? 2 - Consultando documentos, livros, relatos de viajantes e seu próprio conhecimento, procure caracterizar a flora e a fauna do Pantanal sul-mato-grossense. Os bandeirantes continuavam suas ações em direção ao sul e a oeste, rumo às fronteiras castelhanas, e isso levou-os à descoberta das minas de ouro de aluvião, abundante em Cuiabá, o que atraiu milhares de portugueses, seus escravos africanos e índios para a região. Com as novas descobertas, desenvolveu-se o bandeirantismo de povoamento ou de comércio, conhecido por monções, como relata Hollanda (1945, p. 43) na seguinte passagem: A história das monções do Cuiabá é de certa forma um prolongamento da história das bandeiras paulistas em sua expansão para o Brasil Central. Desde 1622 numerosos grupos armados procedentes de São Paulo, Parnaiba, Sorocaba, Itú, trilharam constantemente terras hoje matogrossenses, preando índios ou assolando povoações de castelhanos. As bandeiras aprisionadoras de índios foram substituídas pelas monções, que se especializaram na atividade comercial visando ao abastecimento do recém-fundado arraial do Cuiabá. A chegada de grandes contingentes humanos tornou a vida de todos eles muito difícil. Como conseguir se manter em uma região tão hostil onde tudo faltava, até mesmo os instrumentos para a mineração? Muito rapidamente, porém, os empreendedores trataram de tirar proveito dessas novas oportunidades para a agricultura e, sobretudo, para o criatório do bovino e do eqüino. Desde o princípio, houve necessidade de animais de tração para transportar artigos (desde vestuário e alimentos até ferragens e ferramentas), movimentar moinhos, fazer a lavoura e fornecer proteínas. Observe a importância de São Paulo para o comércio da época: 29 É esta vila o interposto de todos os objetos de exportação, e importação da Província; de Goyas, e Mato Grosso; ou conduzidos por terra, ou pelos rios. As produções, que descem dos estabelecimentos centrais, para saírem à barra, são açucar, o algodão, tecidos do mesmo, toucinhos, aguardentes, café, courama, fumo e carnes chamadas ensacadas; estes generos são transportados, em sumacas, a outras Províncias, [...]. Os principais efeitos de importação vêm a ser o ferro, o aço, o sal, as fazendas sêcas e vinhos, e além destes, em mais ou menos quantidade, todos os que a Europa produz, e costumam ser exportados para o Brasil (D' ALINCOURT, 1975, p. 29). Ao contrário das bandeiras do século XVII, as monções usavam basicamente a navegação fluvial. Os bandeirantes seguiam quatro roteiros, cuja primeira parte era comum: de Araritaguabá (Porto Feliz) desciam o rio Tietê até o Paraná (o qual desciam também). A partir daí, decidiam-se por um dos roteiros descritos abaixo: 1 - Subiam o Ivinhema até suas cabeceiras entrando no Brilhante, onde navegavam até um porto (mais tarde chamado Santa Rosa ou Sete Volta), aí deixavam suas canoas e caminhavam por terra até as cabeceiras do Nioaque (ou Urumbeva), ali faziam novas embarcações e navegando pelo Nioaque entravam no Miranda e desse passavam para o Paraguai, atingindo o São Lourenço e encontravam o caminho fluvial das minas, cuja descoberta deu lugar à fundação de Cuiabá. 2 - Subiam o rio Verde até o seu salto, onde deixavam as canoas e daí tomavam, por terra, um caminho, cujo percurso durava em torno de 25 dias, até o Porto do Rio Piquiri. Posteriormente, cortavam os rios Correntes, Itiquira, e São Lourenço até chegar a Cuiabá. 3 - Subiam o Rio Pardo, entravam no Anhandui até chegar ao Aquidauana, deste ao Rio Miranda e daí ao Paraguai, onde navegavam até o Rio Cuiabá pelo qual se chegava à cidade de mesmo nome. 4 - Subiam até os campos de Camapuã. Num curto varadouro, atingiam o Camapuã, que os levava ao Coxim, e desciam até o Taquari, continuando pelo roteiro comum até a região central (SODRÉ, 1941). Os monçoeiros preferiam a rota do rio Pardo, Anhandui e Aquidauana, provavelmente pela grande abundância de gado que ali encontravam e que supria as dificuldades de transporte dos mantimentos necessários ao consumo durante a jornada (HOLLANDA, 1990). Essa rota foi abandonada a partir da criação de um estabelecimento fixo na paragem de Camapuã, em 1725, onde se organizaram as primeiras roças. Tratava-se de uma grande fazenda onde os viajantes podiam refazer-se da longa viagem e suprir as suas necessidades. Ali era possível obter feijão, milho, galinhas, toucinho, tecidos, carne fresca de vaca e de porco, farinha de milho, arroz e aguardente de cana-de-açúcar. Além disso, contava com boas acomodações para atender aqueles que se deslocavam para a região das minas ou retornavam a São Paulo. No dizer do primeiro capitão general da Capitania de Mato Grosso, “com mais asseio do que ali se podia imaginar” (MARTINS DE PAIVA, et al., 1982, p. 15). Essa fazenda foi fundada pelos irmãos Leme, Antônio, Domingos, João e Lourenço, fugitivos da Justiça paulista, e constituiu-se no primeiro núcleo fixo português de Mato Grosso do Sul. Localizava-se em uma faixa de terras que separa as cabeceiras dos rios Sanguessuga e Camapuã. Os monçoeiros atravessavam esse trecho, geralmente a pé, deslocando-se através do Varadouro Camapuã. A partir de meados do século XVIII, o ouro começou a declinar em Cuiabá, diminuindo, portanto, o número de migrantes que se deslocavam para as minas, o que significou o abandono quase que completo do caminho fluvial de Porto Feliz àquela cidade. O abandono da rota tradicional, que ligava o litoral àqueles longínquos sertões, teve conseqüências positivas no desenvolvimento dos rebanhos na planície pantaneira e no planalto central. A parte meridional da Província de Mato Grosso, que constituiu rota obrigatória para 30 aqueles que desejavam atingir as lendárias riquezas cuiabanas, praticamente desapareceu para o florescimento de uma nova via. Dessa antiga rota, que passava pelos campos de Vacaria, sobretudo na planície freqüentemente visitada por pequenos sertanejos para reunir magotes (grande quantidade) de gado e iniciar o criatório em algum lugar ou vendê-los em qualquer região onde fosse possível o comércio. Esses sertanejos foram, porém, aos poucos, se distanciando, pois buscavam outras regiões onde pudessem se estabelecer. Sem a presença do homem branco, esses animais ajuntados, permaneceram abandonados à lei da natureza por mais de vinte e cinco anos, sem que houvesse grandes abates, sendo esse mais um fator que permitiu o seu rápido crescimento. Atividades: 1 - No princípio as relações entre naturais e invasores eram amistosas, com o passar do tempo tornaram-se conflituosas. Por quê? 2 - Que grupo indígena não foi reduzido pelos jesuítas? 3 - Como viviam as comunidades indígenas da região de Itatim antes da chegada dos jesuítas? 4 - Como o indígena era visto pelo jesuíta? E pelo colono? 5 - A principal riqueza de Mato Grosso do Sul é o gado bovino. O Estado detém o segundo maior rebanho do país com aproximadamente 24 milhões de cabeças por ano, abate-se 2,8 milhões, exporta-se cerca de 300 mil para outras unidades da federação e produz 613 mil toneladas de carne. Sua economia baseia-se, preponderantemente, na pecuária bovina. Com base nas informações do texto, procure entender como essa riqueza foi organizada desde o seu início, em fins do século XVI, e produza um texto sobre isso. 6 - Atualmente, o deslocamento de Mato Grosso do Sul a São Paulo, por via aérea, se dá em pouco mais de uma hora e, por via terrestre, em quinze. No século XVIII, essas ligações eram realizadas através das monções, (expedições que desciam e subiam os rios das capitanias de São Paulo e Mato Grosso) numa viagem que durava de cinco a seis meses. Com base num mapa, procure refazer esse trajeto, vital para a sobrevivência do núcleo cuiabano. 7 - Leia o texto abaixo e faça um comentário escrito sobre o mesmo: “Assim, antes da pregação do evangelho e de fazer dos indígenas cristãos, era necessário transformar toda a sua tradicional base material, era lavrar a terra e, além disso, de ensinar novas práticas de cultivo e de trabalho”. (Montoya). 8 - O Continente Americano não despertou muito interesse nos espanhóis, após a sua descoberta. O que eles almejavam era encontrar um novo caminho para as índias em busca das especiarias. Você sabe o que são e pra que servem as especiarias? Produza um texto a respeito. 9 - Procure compreender o processo histórico de ocupação do atual território paraguaio. Ele foi possível graças à aliança entre alguns grupos nativos e os espanhóis, formando uma sociedade que favoreceu a mestiçagem. Segundo informações que nos são passadas, os povos nativos apenas dificultavam a instalação do europeu na América. Até que ponto essa afirmação pode ser considerada verdadeira? 31 CAPÍTULO III Povos Indígenas de MS na Atualidade; Consolidação do Território; Ocupação da Banda Meridional: O Pantanal Sul-mato-grossense;Avanço para o Sul da Capitania de Mato Grosso 1 - Povos indígenas de Mato Grosso do Sul na atualidade Iniciando o estudo das Sociedades indígenas de MS, vamos ouvir a música Quyquyho e refletir: 1 Quyquyho 2 Quyquyho nasceu no centro entre 3 montanhas e o mar 4Quyquyho viu tudo lindo tudo índio por 5 aqui 6 Indiamérica deu filhos foi Tupi foi 7 Guarani 8 Quyquyho morreu feliz deixando a 9 Terra para os dois 10 Guarani foi pro sul, Tupi pro norte e 11 Formaram suas tribos cada um no seu 12 lugar. 13 Vez em quando se encontravam pelos 14 rios da América 15 E lutavam juntos contra o branco em 16 busca da servidão 17 E sofreram tantas dores no sertão. 18 Guarani foi pro sul 19 Tupi entrou no Amazonas 20 Quyquyho na lua cheia 21 Quer Tupi quer Guarani 22 Quyquyho na lua cheia 23 Quer Tupi quer Guarani... Tela da artista plástica Gisele Ulisse Letra e música: Geraldo Espíndola (in CASTILHO, M.A. O texto no ensino da História. Campo Grande: UFMS, 1989) Atividades: 1 - Qual o tema da música Quyquyho? 2 - Qual a visão do autor sobre os povos indígenas? 3 - Interprete os versos 15 e 16 . 4 - Quais são as políticas públicas educacionais que o atual governo de Mato Grosso do Sul tem procurado implementar? 5 - Faça um debate em sala de aula sobre as lutas dos povos indígenas para conservar a posse de suas terras. Essas lutas são justas? 33 Sabemos que na História das populações indígenas, como retrata a letra da música Quyquyho, as populações precisam realizar suas conquistas. A luta contra os índios foi sempre desigual e, muitas vezes, promotora de extermínio diante das condições superiores a que os não índios se encontravam. Assim como as populações Tupi e Guarani que povoaram a América e o nosso Brasil, os indígenas, atualmente, continuam sofrendo por conquistas ainda não alcançadas. A notícia abaixo refere-se à luta de alguns índios de Mato Grosso do Sul, os quais reivindicam a demarcação de suas terras. Vamos ler e depois responder as questões propostas. Em Aquidauana (190 km de Campo Grande), na aldeia Ipegue, cerca de 5 mil índios, entre guaranis, caiuás, kadiweus, guatós e ofaié-xavantes, fizeram um protesto reivindicando a demarcação das terras. Em Dourados (220 km de Campo Grande), aproximadamente 300 índios da etnia guarani, caiuá e terena bloquearam das 7h às 13h a MS-156, rodovia que dá acesso ao município de Itaporã. In: AGÊNCIA DO ESTADO. Protesto. Disponível em < htpp: www.clajadep.hpg.ig.com.br/ba73.htm >. Acesso em 22 jul. 2002. Atividades: 1 - Segundo o texto acima, o que os índios estão reivindicando? 2 - Pesquise outros conflitos envolvendo índios e não índios no seu estado e escreva um comentário. 3 - Os indígenas têm sido atendidos nas suas reivindicações? Justifique sua resposta. 4 - Se você fosse de alguma comunidade indígena, qual seria a sua luta? 5 - Que fatores podem ser identificados como responsáveis pela situação precária em que vivem a maioria dos grupos indígenas do Brasil? Refletindo e Historiando As sociedades indígenas do mundo contemporâneo enfrentam graves problemas com a fome, a falta de demarcação de suas terras, a aculturação, os suicídios (Guarani/Nandeva), as doenças, o forte choque cultural e outros. Tal situação de miséria a que estão sujeitas essas populações, revela as péssimas condições de vida a que os índios, hoje, estão sujeitos, sendo-lhes negado o direito à cidadania. A população indígena no Estado do Mato Grosso do Sul é a segunda em relação aos outros estados e não difere muito da problemática das demais nações de outros estados do Brasil. Atualmente, esta população é de, aproximadamente, 53 mil índios. Desse total, cerca de 10 mil vivem na condição de desaldeados. O Estado conta também com a primeira aldeia urbana do Brasil, Marçal Tupay de Souza, situado num local denominado de Desbarrancado, no bairro Tiradentes. Na aldeia, procurou-se preservar características das moradias de etnias indígenas, construindo-se ocas de tijolos e cobertas de telhas romanas, cuja arquitetura lembra a oca original. Na aldeia, moram, atualmente, mais de cem famílias de índios que vivem na área urbana e que exercem as profissões dos não índios, ou seja, do Mercado Municipal, os produtos trazidos da aldeia como milho, feijão, caju, guavira, guariroba e outros. Hoje, a comunidade conta com um museu que resgata a cultura indígena através do seu artesanato nesse local, os produtos são expostos e comercializados para turistas e visitantes. Dentro da aldeia urbana há, também, uma escola para as crianças indígenas. 34 Atividades: 1 - Relacione as nações indígenas de Mato Grosso do Sul, indicando a população de cada uma e o total da área demarcada. 2 - Faça um levantamento da menor população indígena e da menor área demarcada. 3 - Faça um levantamento da maior população indígena e da maior área demarcada. 4 - Na sua opinião, porque ocorre tanta demora na demarcação das terras indígenas? 5 - Com ajuda de seu professor de matemática, elabore um gráfico e uma tabela de dados das populações indígenas e das áreas demarcadas no Estado. Nações Indígenas de Mato Grosso do Sul NAÇÃO TERENA Municípios: Dois Irmãos do Buriti, Sidrolândia, Nioaque, Aquidauana, Miranda, Porto Murtinho, Anastácio, Dourados e Campo Grande. População: Cerca de 19 mil índios. Áreas demarcadas: 19,1 mil hectares. NAÇÃO OFAIÉ XAVANTE Município: Brasilândia. População: Cerca de 40 índios. Áreas demarcadas: 484 hectares. NAÇÃO KADIWÉU Município: Porto Murtinho. População: Cerca de 2 mil índios. Áreas demarcadas: 542,5 mil hectares, porém não ocupam mais que 100 mil hectares. NAÇÃO GUARANI/CAIUÁ Municípios: Amambaí, Antonio João, Laguna, Carapã, Ponta Porá, Bela Vista, Maracajú, Japorã, Tacuru, Paranhos, Eldorado, Coronel Sapucaia, Dourados, Caarapó, Juti e Douradina. População: Cerca de 25 mil índios. Áreas demarcadas: 16,9 mil hectares. NAÇÃO GUATÓ Município: Corumbá. População: Aproximadamente 400 índios. Áreas demarcadas: 10,9 mil hectares. NAÇÃO GUARANI/NANDEVA Municípios: Paranhos, Dourados e Antonio João. População: Cerca de 1,8 mil índios. Áreas demarcadas: 2,1 mil hectares. Fonte: Mendes, Gilda Cristina F. Conhecendo Mato Grosso do Sul - conhecimentos históricos e geográficos. São Paulo. Ed. Ática, 1997. Aprendendo com a cultura Terena Apesar dos diversos e complexos problemas enfrentados, atualmente, pelas nações indígenas, há, por parte das etnias, empenho em preservar a sua cultura. O exemplo abaixo nos dá uma idéia dessa luta como resistência à aculturação. Vamos ler: A Dança do Bate Pau Denominado pelos não índios como a Dança do Bate Pau, é a dança milenar da nação Terena. Esta dança teve sua origem durante o ritual de um pajé, quando em sonho, visitou uma floresta onde assistiu o Kohixoti Kipaé, que levou para aldeia, onde ensinou e adotou. É uma das 35 mais lindas danças indígenas que poucos têm oportunidade de apreciar. Conhecendo outras danças de outras etnias do Brasil, comparando, podemos observar que a dança da ema, possui um cerimonial de sete partes e uma linha harmoniosa nas suas pinturas, indumentária, música e ritmo. Além do que, traz em sua coreografia o regime político do povo Terena, que é caracterizado pelas cores azul e vermelho, Xúmono e Súkirikióno. Durante estes anos de experiência com o grupo TÊ, todas as vezes que colocamos a indumentária, existe um processo espiritual que vai tomando conta dos componentes à medida que os mesmo vão se transformando com as cores dos colares, cocares e saia. Toda essa preparação leva em torno de uma hora e trinta minutos. Fonte: http://www.almasdessaterra.hpg.ig.com.br/terena.htm Atividades: 1 - Organize um painel com algumas contribuições dos indígenas de Mato Grosso do Sul na alimentação, na língua, no artesanato, na música, na dança, ilustrando a atividade. 2 - Na sua opinião, os indígenas devem preservar sua cultura? Escreva um pequeno texto para debate sobre o assunto. Ampliando os Conhecimentos: Aventuras do Descobrimento do Brasil A partir desse momento, iniciaremos uma aventura sobre o descobrimento do Brasil. Feche os olhos e vamos imaginar a chegada de Cabral no solo brasileiro, em Porto Seguro, no ano de 1500. Desta forma os historiadores têm se manifestado em apresentar uma análise do que foi o choque entre duas culturas bem diferentes: índios e portugueses. A esse respeito, MORISSAWA (2001) argumenta que: “Cá em terra, um punhado de índios e índias nus, observando, pelo menos curiosos, aquela gente estranha, envoltas em muitas peças de roupa, barba na cara, pele branca [...]. De repente, estavam cara a cara”. O texto a seguir nos levará a uma longa viagem ocorrida nos séculos XV e XVI resultado da expansão comercial e marítima realizadas por algumas nações européias. Leia-o para saber do que se trata e depois responda as questões abaixo: Invasores x invadidos Os indígenas? Eles não tinham a menor idéia do que era tudo aquilo que vinha do mar. Os Portugueses? Alguns dizem que sabiam muito bem onde se encontravam. Outros defendem que não... que aquilo era o descobrimento do Brasil. Mas pense bem. Você está dentro de sua casa e, de repente, chegam uns desconhecidos... Vamos puxar na memória aquelas primeiras comunidades que estivemos visitando. Nossos indígenas também eram caçadores-coletores, nômades, que viviam da pesca, da caça ou da coleta de frutos silvestres e raízes, ou semi-nômades, que já praticavam a agricultura de forma rudimentar. Viviam em aldeias que tinham, mais ou menos, entre 500 e 3 mil habitantes. Segundo o antropólogo Darcy Ribeiro, os indígenas eram 5 milhões e atualmente são apenas 320 mil no território hoje chamado Brasil. Enquanto Portugal tinha na época somente um milhão. Para eles, a terra era de todos, não existia a propriedade privada da terra. O trabalho era naturalmente dividido entre a comunidade, assim como tudo o que era produzido, caçado, pescado e coletado. Não geravam excedentes de produção, não tinham comércio. A natureza tão rica que os cercava constituía fonte de vida, e não de lucro. Muitos ainda vivem assim. Como poderiam, portanto, imaginar que aqueles barbudos cheios de roupas estavam ali 36 para serem seus usurpadores? Que eles vinham a serviço de um estado mercantilista? Que iriam obrigá-los a trabalhar, a esconder o corpo, a adorar um deus que não fazia parte de seu imaginário? Fonte: Morissawa, Mitsue. A História da luta pela terra e o MST. São Paulo: Expressão Popular, 2001, p. 56. Atividades: 1 - Quais eram os objetivos dos portugueses quando planejaram a viagem para o Brasil? 2 - Quais foram as atitudes, os comportamentos e as reações dos povos indígenas com a chegada dos portugueses? Organize um debate do tema. 2 - A Consolidação do Território e o avanço para o Sul da Capitania de Mato Grosso Boiada da Fazenda Esperança - Ponta Porã As pesquisas científicas para datar há quanto tempo e de onde teriam vindo os primeiros habitantes da América ainda caminham. Nesse sentido, as descobertas da pesquisadora Niède Guidon como restos de fogueira, pedaços de machado e facas de pedras são indícios de que, talvez, a presença humana no Brasil remonte à 48 mil anos. Assim, quando os europeus, principalmente portugueses e espanhóis, aqui aportaram, a América já tinha donos há muito tempo, embora estes não soubessem o que fosse isso: ser donos. E em Mato Grosso do Sul, quando teriam aportado os colonizadores? Nossa aventura através de leituras dos textos a seguir certamente nos darão esta resposta. 37 Foi somente no governo do quarto Capitão-General, Luis de Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres, que as atenções portuguesas se voltaram para o sul da Capitania. A iniciativa da ocupação do sul da Capitania de Mato Grosso coube ao Governador de São Paulo, D. Luis de Antônio de Souza Botelho Mourão que, em 1767, fundou o presídio de Nossa Senhora dos Prazeres, à margem esquerda do Iguatemi. Sua edificação, planejada na Corte Portuguesa, visava, sobretudo, povoar os campos de Vacaria, a fim de desenvolver-se ali a agricultura, a criação bovina e a exploração dos recursos naturais e, também, servir de obstáculo à invasão espanhola pela fronteira do Iguatemi. Esse projeto exigia elevados investimentos, recursos de que os portugueses não dispunham nem no reino, muito menos em São Paulo, o que resultou em completo fracasso. Além disso, foi edificado em uma região onde as constantes epidemias produziram grande mortandade entre os pioneiros. Isolado dos demais centros coloniais, foi invadido sem oferecer qualquer resistência. Em janeiro de 1773, chegou a notícia de São Paulo de que os espanhóis haviam fundado o forte de Vila Real da Conceição, acima da boca do Rio Ipané, à margem esquerda do Paraguai, por onde visavam manter comunicação entre Assunção e as aldeias dos chiquitos, o que, para os portugueses, representava perigo de expansão dos inimigos em direção ao norte. Por outro lado, a presença de paiaguás e de guaicurus, no mesmo rio, abaixo do Jauru, ainda dificultava a expansão portuguesa em direção ao sul da capitania (MELLO, 1959, p. 47-48). Considerando esses fatores, Luis de Albuquerque, procurando assegurar a exclusividade da navegação no médio Paraguai e conter as incursões dos naturais, resolveu fundar um presídio em Fecho dos Morros, à margem direita desse rio, área que, pelo tratado de Madrid, pertencia à Coroa Espanhola. A posse de ambas as margens do rio Paraguai, dava aos portugueses o controle da parte superior da bacia desse rio, impedindo o avanço espanhol. Tratava-se de local estratégico: um estreito que permitiria, sem custo, manter o controle da navegação; sítio facilmente fortificável, tornando as embarcações inimigas alvo fácil dos canhões. Além disso, ficava no caminho que ligava Assunção às reduções dos chiquitos, o que impedia o projeto de comunicação entre eles. Porém, o forte construído para deter o avanço espanhol e garantir o uso privado da navegação do rio, na verdade não cumpriu bem o seu papel, pois, em boa parte do ano, com as cheias do pantanal, toda a área ficava alagada, permitindo que as embarcações inimigas o contornassem, deixando de ser alvo fácil dos canhões portugueses. Outro aspecto negativo da escolha do sítio foi destacado por Francisco Rodrigues do Prado (1856, p. 45), como você pode ler abaixo: O lugar não é próprio para o desenvolvimento da agricultura, como também para a pecuária, por ser alagado durante até sete meses do ano, e ainda houveram períodos que os campos ficaram cobertos de água por dois anos (1791-1792): assim pouco pode o presídio servir para impedir a passagem dos espanhóis, e nada para evitar a fuga dos portugueses ou dos seus escravos. Além da localização do forte, abaixo da embocadura do rio Mbotetei, permitir que tropas inimigas vindas do sul, navegando por esse rio, pudessem surpreender as forças ali estacionadas, convém acrescentar que se tratava de uma construção bastante rústica, de madeira e de terra, coberta de palha e extremamente frágil. Os portugueses, temendo represálias por parte dos espanhóis, por se instalarem em área que, segundo o tratado de Madrid, pertencia a eles, trataram de fundar um povoado às margens do Rio Paraguai, próximo da foz do Rio Mbotetei, para cobrir a parte posterior de Coimbra e prover o forte de alimentos, uma vez que o sítio era inadequado para a criação e para a lavoura. Com essa incumbência, o governador enviou, em 1776, o sertanista João Leme de Prado com instruções de 38 proceder à exploração desses rios e identificar locais que pudessem abrigar novas fundações. Nessa busca, os lusitanos não descartaram a possibilidade de ocupar as ruínas de Santiago de Xerez, porém, após examinarem aquele território, optaram pela ocupação de uma área à margem direita do rio Paraguai, a atual Albuquerque, localizada a uma légua do seu leito, abaixo da foz do Mbotetei, à altura do paralelo 19º25', latitude sul. Após a fundação do pequeno povoado, Leme do Prado continuou a explorar a região, colhendo novas informações que foram enviadas para o Capitão-General Luis de Albuquerque, em Vila Bela. De posse dessas informações, ele decidiu pela fundação de outro núcleo “sobre os altos barrancos a altura do paralelo 19º, imediatamente a jusante do canal dos Tamengos”(MELLO, 1959, p. 121). A fronteira sul de Mato Grosso vivia no mais completo abandono, situação que se estendeu por longo período. Os soldados, além de enfrentarem atrasos em seus salários, tinham alimentação deficiente nas trincheiras, assim como era constante a falta de munição. Todas as vezes, porém, que se divulgavam notícias sobre a possibilidade de uma invasão por parte dos espanhóis, procuravase dar melhores condições às tropas: o pagamento era colocado em dia e recursos eram destinados à compra de munição e armamento para garantir a defesa. Quando, porém, a situação se normalizava e desapareciam as ameaças, tudo voltava ao estado anterior. Portanto, a parte meridional da Capitania de Mato Grosso permaneceu isolada por todo o século XVIII. Foi somente no século XIX, que o processo de colonização deslanchou. Para reflexão: 1 - Através de leituras procure entender os objetivos econômicos da Coroa Portuguesa na exploração da Capitania de Mato Grosso. 2 - Por que podemos afirmar que houve disputa entre o Império Português e o Espanhol pela posse do Território de Mato Grosso do Sul? 3 - A Ocupação da Banda Meridional: O Pantanal Sul-Mato-Grossense Dono de fauna e flora riquíssimas, o sul de Mato Grosso reduzia-se a dar abrigo a caçadores de peles de animais e penas de aves e a explorar apenas produtos que brotavam espontaneamente de seus solos. Certamente, o início de sua ocupação teria demorado ainda mais não fosse a importante contribuição da Rusga, na quase metade do século XIX. No caso de Mato Grosso, a rebelião reconhecida como Rusga irrompeu na noite do dia 30 de maio de 1834 e durou alguns meses. Ela marcou o triunfo do movimento nativo local e a completa desarticulação das forças tradicionais, representadas pelos comerciantes portugueses, com importantes desdobramentos para o futuro da Província. No período que se seguiu à Independência, a situação nacional refletiu em Mato Grosso: ocorriam intensos debates em torno de qual forma assumiria o novo Estado nacional, entre os caramurus que pregavam o retorno ao absolutismo e a restauração das duas Coroas e os liberais que defendiam a manutenção do livre comércio e da escravidão. À medida que a crise ia se agravando, acirravam-se as discussões e, conseqüentemente, o ódio contra os portugueses, os quais, na sua maioria comerciantes, eram responsabilizados por todos os males que afligiam o povo. Nas mais diversas províncias do Império explodiam manifestações armadas. A disseminação da violência dirigida contra os portugueses pareceu incontrolável e uma onda de saques, perseguições e mortes se estenderam por dias seguidos, alcançando diversas regiões da Província (NEVES, 1988). A revolta nativista foi vitoriosa e, restabelecida a normalidade, a facção dos comerciantes 39 portugueses foi subjugada completamente. A elite emergente substituiu-os à frente dos negócios públicos e do comando militar da Província. Famílias inteiras, procurando áreas novas onde pudessem desenvolver atividade criatória ou se livrar dos inconvenientes da Justiça, chegaram ao Pantanal, sul da província de Mato Grosso, para iniciar o processo da sua colonização. Essa empresa de migração foi feita pela iniciativa particular de alguns colonos sem que houvesse o envolvimento do Estado. Os pioneiros foram atraídos pela facilidade em se obter terra abundante e devoluta, cuja pastagem natural, em grande quantidade, abrigava milhares de cabeças de bovinos e eqüinos selvagens e domesticados na posse dos grupos indígenas. Geralmente, as comitivas que deixaram o norte de Mato Grosso eram muito numerosas, com famílias inteiras, parentes, amigos, compadres, agregados e alguns escravos, ou seja, os que vinham tomar posses das terras não eram pessoas miseráveis, mas reuniam condições que lhes permitiam a fundação de fazendas. Muitas vezes, esses grupos de colonos, fugindo do centro do inóspito Pantanal, embarcavam em pequenos navios em Cuiabá e vinham pelo Paraguai abaixo até Corumbá, onde se dispersavam com suas comitivas para o local que preferissem. Nesse primeiro momento de ocupação, era possível escolher as terras que se queria para tomar posse, geralmente nas proximidades dos fortes, onde se poderia encontrar auxílio em caso de necessidade e proteção contra os naturais. Para reflexão: 1 - O que se entende por Revolta Nativista? 2 - Faça um estudo sobre o processo migratório do norte para sudoeste de Mato Grosso no início do século XIX. Vindo de Cuiabá os colonizadores que chegaram à região, antes da metade do século XIX, reproduziram os mesmos processos políticos a que estavam afeiçoados no norte e trataram logo de tomar posse de grandes áreas, herança da consciência do Brasil colonial, onde quem dispunha de terra era considerado rico, poderoso, respeitado e gozava do prestígio social. Havia a clara possibilidade de os pioneiros se apossarem de grandes áreas, achando ter direito a elas. Além disso, o fator que determinou o tipo de propriedade fundiária foi a criação extensiva do gado bovino, que por si só exigia grandes áreas e impelia os colonos a se apossarem delas. No Pantanal, como unidade territorial, generalizou-se a sesmaria de uma légua de frente por três de fundo, o que eqüivaleria a 13.068 hectares. A justificativa para incorporar grandes áreas no Pantanal era a de que, durante as cheias, como parte das terras ficava alagada, necessitava-se de outro terreno correspondente, que não fosse atingido pelas enchentes, para onde o gado pudesse refugiar-se. Além do que, a pecuária extensiva praticada no Pantanal tem características próprias, é realizada em extensas áreas, exigência do pequeno suporte dos campos, que comporta, em cada 3,3 ha, apenas uma cabeça de gado. Os bovinos eram criados à solta até as primeiras décadas do século XX, pois não havia cerca para deter o seu avanço e, à medida que, instintivamente, procuravam melhores pastagens, fugindo das áreas macegosas, iam descobrindo novas pastagens, cujas terras os homens que acompanhavam os seus deslocamentos iam incorporando ao seu patrimônio e requerendo junto às autoridades estaduais. Com isso, foram surgindo megalatifúndios no pantanal mato-grossense: 40 Exemplos: Fazenda Palmeiras, com 106.025 hectares - legalizada em 03/12/1894 Fazenda Rio Negro, com 118.905 hectares - legalizada em 03/09/1893 Fazenda Firme, com 176.853 hectares - legalizada em 27/08/1899 Fazenda Taboco, com 344.923 hectares - legalizada em 24/04/1899 Fazenda Rio Branco, com 384.292 hectares - legalizada em 22/06/1901 (CORRÊA FILHO, 1955, p. 23). A própria situação do lugar levou a esse processo de concentração de terras, uma vez que não era possível a prática da pecuária em outros moldes que não fosse a extensiva. Aproveitando o capital natural (a terra e o gado selvagem), a lucratividade do empreendimento seria garantida com custos baixíssimos. Os investimentos necessários a uma prática intensiva, ou seja, construção de cercas, plantio de pastagens artificiais e outros, eram, naquele momento, impraticáveis. Ao tomar posse de uma área, a primeira tarefa do novo proprietário era a de reunir o gado alçado espalhado por todo o Pantanal Sul, por meio da chamada bagualeação. As comitivas organizadas para tal empreendimento permaneciam por mais de 15 dias na região, distantes do núcleo da fazenda (BARROS, 1998). Os homens saíam, sobre o lombo de cavalos, para recolher os animais descendentes dos rebanhos introduzidos, séculos antes, por jesuítas e colonos espanhóis, como também aqueles que os índios guaicurus, devido aos seus rápidos deslocamentos, abandonaram Pantanal afora. Geralmente, os vaqueiros saíam em noite de luar para melhor visualizar os animais que tinham o hábito de pastar apenas à noite, os quais eram laçados e amarrados em árvores, onde passavam horas nessa condição para que fossem quebradas as suas resistências e, mais tarde, o peão voltava ao local para conduzi-los. Não era raro encontrar alguns animais mortos. Morriam de pura raiva e, recolhidos, eram levados para as proximidades das sedes da fazenda. (PROENÇA, 1958, p. 72-73). Eram as vaquejadas: “vai-se escondido, pelos matos, e sai-se em cima do gado, de repente.. Pior, porém, era caçar a rês feroz, em ermas regiões, perante a lua. A pega do gado bagual, de noite, é trabalho terrível” (ROSA, 2001, p. 117). Para manter esse gado nas proximidades do núcleo da fazenda, sob os olhos dos criadores, usava-se o seguinte estratagema: cortava-se a ponta do casco, para que a dor da pisada o impedisse de fazer longas caminhadas. Com relação às fêmeas, aproveitava-se seu instinto materno: prendiam-se as crias para que as mães não se alongassem (PROENÇA, 1958). Foi assim que os bovinos foram sendo reunidos em torno dos ranchos dos pioneiros e, desta forma, começavam a se estruturar os primeiros rebanhos e, com eles, as fazendas. À medida que esse rebanho encontrado pelos campos ia sendo recolhido, recebia imediatamente a marcação a ferro, o que determinava que, daquela data em diante, ele estava na posse de um fazendeiro, passando à condição de mercadoria e, conseqüentemente, não poderia ser abatido por outrem. No final do século XIX, quando muito gado selvagem ainda estava espalhado pelo Pantanal, essa lógica do homem “branco” já havia sido absorvida pelos índios guaicurus, entre os quais já reinava a compreensão de que o gado orelhano não dividido (não marcado) era gado de ninguém, era de todos, era gado bravio, era como bicho (RIVASSEAU, 1941). A pecuária tornou-se a principal atividade do Pantanal. O regime das cheias e a distância das regiões mais ricas impediram o desenvolvimento de outras atividades. A posse do gado, que podia ser conduzido para outras regiões, significou que a sobrevivência dependia quase que exclusivamente desse recurso. Ao lado da atividade criatória, o pioneiro teve que desenvolver a agricultura para garantir a sua subsistência e a de sua família, no mesmo modelo do norte de Mato Grosso. Enquanto lá a atividade agrícola se desenvolveu para atender à atividade mineira, no sul deu suporte para o 41 desenvolvimento da pecuária. Cada latifúndio tinha o seu cultivo próprio de gêneros alimentícios para o sustento daqueles que viviam e trabalhavam no núcleo rural. Praticamente produzia todo o necessário, não havendo a necessidade de recorrer para além dos limites da propriedade, a não ser para a aquisição de ferro, louça, vinhos e outros produtos, cuja produção interna não era possível. A maioria dos produtos elaborados nas fazendas era fabricada por processos manuais ou com instrumentos rudimentares de baixíssimo rendimento. A alimentação básica era mandioca, carne, leite, muita farinha de milho e de mandioca, abóbora, batata-doce, moranga, feijão, açúcar. No entanto, o maior consumo era de carne (CORRÊA FILHO, 1955). Ela era servida em, pelo menos, três refeições: ao raiar do dia, no desjejum o chamado “quebra-torto” , no almoço e no jantar (BARROS, entrevista, 2001). Também contribuía na alimentação do mato-grossense, tanto do norte como do sul, o peixe dos rios e baías. Era comum, igualmente, o cultivo de árvores frutíferas, como a laranja, o limão, a manga, a jabuticaba, o mamão. Dessas frutas faziam-se doces e, de algumas delas, licores que eram servidos o ano todo. Instalou-se, no Pantanal sul-mato-grossense, a grande propriedade rural voltada basicamente para o criatório bovino e adotou-se o indígena como mão-de-obra principal numa relação de semi-escravidão. O vaqueiro se originou do índio, do guató, do guaná, dos chamacocos e dos guaicurus, os primitivos donos da terra, também do negro escravo que veio para as minas de ouro e, depois, para as plantações de cana no norte de Mato Grosso. Esse vaqueiro acompanhou o desbravador por vários caminhos e, já no sul, recebeu a influência do sangue paraguaio, absorvendo-lhe os costumes e traços fisionômicos, formando um tipo diferente do vaqueiro do norte (PROENÇA, 1997). Na verdade, a origem do vaqueiro sul-mato-grossense pautou-se pela violência e pela expropriação. O recrutamento da mão-de-obra para a pecuária teve por base o elemento indígena, que sofreu conseqüências dramáticas, porque, apesar de se opor quando expropriado de suas terras, de seu gado, de seus bens e de sua gente, teve que se sujeitar a um regime de semiescravidão. Nas primeiras décadas do século XIX, os indígenas, sobretudo os terenas e os guanás, tradicionais agricultores, eram livres e economicamente autônomos. Em contato com os religiosos que promoviam a catequese e com os soldados dos fortes instalados na fronteira, transformaram toda a sua tradicional base material por incorporarem novas práticas de cultivo e de trabalho, além de instrumentos mais produtivos, ao ponto de se tornarem os responsáveis pela produção de hortifrutigranjeiros de alguns núcleos populacionais do pantanal sul de Mato Grosso, como Miranda e Corumbá. Com o processo de colonização do pantanal sul, os pioneiros foram expropriando os indígenas de suas terras e de todo o seu gado e submetendo-os violentamente. Aqueles que não foram mortos refugiaram-se pelo interior em busca de segurança, os que ficaram, foram submetidos e transformados em força de trabalho. Nesse processo de expropriação, foram surgindo imensos latifúndios que concentravam milhares de cabeças de gado. Por volta de 1860, já havia algumas substanciais propriedades e, à frente delas, os primeiros colonizadores que se tornaram importantes figuras na economia e na política de Mato Grosso. A presença do paraguaio em Mato Grosso aparece somente no final do século XIX e começo do século XX. Em meados do século XIX, o isolamento, a solidão e a falta de renda constituíram uma marca significativa da nascente sociedade sul-mato-grossense, o que obrigou alguns poucos a produzirem praticamente tudo dentro da propriedade, inclusive tecidos. As unidades mais bem aparelhadas produziam a vestimenta de seus empregados e também a dos nativos nas aldeias. Nesse período, já haviam se estabelecido as primeiras fazendas regulares, sobretudo na fronteira, onde estavam concentrados os fortes e as aldeias indígenas dirigidas por padres. No 42 começo, o principal negócio desses pioneiros foi a produção do couro que se exportava em grande quantidade, tanto do gado vacum como dos animais silvestres. A carne era desprezada devido ao pequeno mercado interno, tanto que, muitas vezes, abatia-se a rês apenas para retirar-lhe o couro. Dispondo de uma imensidão de campos e de uma vegetação que permitia boa forragem, o gado se multiplicou muito rapidamente: em meados do século XIX havia previsões de que “somente o distrito de Miranda possuía 150.000 mil cabeças de gado, segundo o testemunho de vista de José Barbosa Bronzique” (TAUNAY, 1923, p. 114). O volume de gado existente no sul da Província era substancial e despertou a atenção de tropeiros mineiros, já acostumados a conduzirem boiadas de Cuiabá para engorda em Minas Gerais, desde 1836, quando Manoel Bernardo inaugurou o intercâmbio conduzindo para Uberaba um magote de legítimo gado pantaneiro (CORRÊA FILHO, 1969). Desde 1848, formou-se uma corrente contínua de boiadas no norte de Mato Grosso, compradas por gente de Minas Gerais, que cuidava da engorda na sua Província antes de levá-las à capital brasileira (LEVERGER apud MAMIGONIAN, 1986). O processo de concentração urbana foi um fenômeno registrado no Brasil no início do século XIX e deveu-se ao desenvolvimento comercial estimulado, tanto pela abertura dos portos como pelo aparecimento de atividades econômicas urbanas, e, mais tarde, também pela expansão das áreas de cultivo do café nas Províncias do Rio de Janeiro e de São Paulo. Esta última, por ser incompatível com o criatório bovino, conduziu a uma ampliação do mercado da carne nessas regiões e permitiu que o gado do sul de Mato Grosso, como já acontecia com o do norte, fosse comercializado com produtores do Triângulo Mineiro, tradicionais invernistas, e, posteriormente, levados para abate na capital administrativa. A colonização do Pantanal sul de Mato Grosso se fazia com uma corrente que vinha do norte, formada, sobretudo, por cuiabanos e poconeanos livramentanos, que conheciam as relações que se estabeleciam entre os comerciantes mineiros e os produtores mato-grossenses. Não demorou muito para que os mineiros chegassem à região de Miranda e Aquidauana com o propósito de comprar bois. Logo, teve início a exportação do gado em pé, como você pode constatar lendo o trecho a seguir: Em 1850 os boiadeiros do triângulo mineiro, conhecedores já do sertão sulmatogrossense para onde passavam atravessando o Paranaíba, abaixo da barra do Rio Grande, iniciaram as suas viagens periódicas a estas paragens, fazendo negócios de gado com criadores estabelecidos nas margens do Miranda, Ivinhema, Apá e planos da Vacaria (ALMEIDA, 1933, p. 2). A cidade de Uberaba, no Triângulo Mineiro, havia se transformado em importante centro comercial. Devido a sua privilegiada posição geográfica, aderiu ao grande comércio entre o Centro-Oeste e o litoral do Sudoeste, tornando-se importante entreposto de comércio do gado bovino. Logo foi estabelecido importante canal de mercantilização entre os invernistas mineiros e os criadores de Mato Grosso. O gado sulino era conduzido para o Triângulo Mineiro e, após a engorda, era vendido a abatedouros paulistas e cariocas. Os animais eram vendidos uma vez por ano, os compradores apareciam geralmente no período da seca, de maio a julho, e os fazendeiros começavam a reunir o gado com, pelo menos, trinta dias de antecedência. O isolamento e a distância do sul de Mato Grosso dos centros mais dinâmicos do País tornaram o pantaneiro um produtor dependente dos tropeiros, que eram poucos e sabiam tirar proveito dessas fragilidades. “Daí que, no ato do negócio havia sempre certa insegurança por parte do pantaneiro, temor de perder a oportunidade e ficar sem vender” (BARROS, 1998, p. 107). 43 Uma outra alternativa comercial para os colonos do sul de Mato Grosso era a cidade portuária de Corumbá, que recebia, com freqüência, mercadorias vindas de Cuiabá. No entanto, apesar da pequena distância entre o porto e os pólos da nova colonização e da facilidade em se fazer o percurso via marítima, em função da rica rede hidrográfica que levava ao rio Paraguai, havia um fator limitante, ou seja, ali só era possível a venda de peles de animais e plumagem de aves, pois as fazendas localizadas nas proximidades de Corumbá abasteciam os pólos colonizadores de carne seca e carne verde. Os mascates vinham com suas embarcações até o ponto comercial de convergência, que era Corumbá, traziam aquelas mercadorias impossíveis de serem produzidas no interior das fazendas e em seu retorno levavam, sobretudo, couro e penas de aves, produtos da região, para serem vendidos. Por último, o contrabando que se realizava com o país vizinho, o Paraguai, seguiu forte até as primeiras décadas do século XX. As boiadas conduzidas pelos tropeiros entravam livremente em território paraguaio, onde eram vendidas com relativa facilidade. Isso porque as únicas alternativas que os pioneiros do sul de Mato Grosso tinham para vender seus produtos eram através de comerciantes que vinham de Cuiabá, pelos tropeiros de Minas Gerais, ou então, o contrabando com a República vizinha. Para vencer as dificuldades de ligação da Província com todo o Império, era imprescindível a busca de uma via mais rápida que superasse os problemas das grandes distâncias, uma vez que os antigos caminhos tornaram-se obsoletos. Desde o ano de 1828, Luis d'Allincourt chamava a atenção das autoridades brasileiras para a necessidade da abertura da navegação pelo rio Paraguai, a fim de possibilitar a comunicação do litoral Atlântico com Mato Grosso, integrando, assim, a Província à economia e à soberania do País. Ou seja: através da navegação fluvial, assegurar-se-ia, estrategicamente, o domínio de toda a fronteira oeste do Império, procurando acelerar seu processo de definitiva ocupação, permitir o seu desenvolvimento econômico e libertá-la das limitações impostas pelo caminho terrestre. Resolver esse problema, no entanto, não dependia apenas do desejo das autoridades nacionais, mas também de situações extremamente complexas que envolviam as relações diplomáticas do Brasil com a República do Paraguai. Embarcações com as quais se fazia n transporte de pessoas e mercadorias de um lado a outro (MT/SP), no Rio Paraná 44 Atividades: 1 - Leia atentamente o texto e responda a questão proposta. “No final do século XVIII a coroa portuguesa, decidiu pela fundação do Forte Coimbra e das cidades de Albuquerque e Corumbá, no território em que hoje é o estado de Mato Grosso do Sul. Até então, as atenções dos portugueses estavam voltadas apenas para Cuiabá e regiões auríferas”. a) O que mudou nas relações entre portugueses e espanhóis para que a fronteira sul viesse a ser ocupada? 2 - Forte de Coimbra, importante marco na consolidação do território sul-mato-grossense, foi construído em lugar errado devido a um engano cometido por Mathias Ribeiro da Costa, encarregado de fundá-lo. Procure identificar o sítio onde foi fundado o forte e o local recomendado. Em grupo, produza um texto, justificando se o erro causou prejuízo ao Brasil e à consolidação da colonização. 3 - Mesmo após a construção do Forte de Coimbra, Albuquerque e Corumbá, a fronteira sul de Mato Grosso vivia no mais completo abandono, situação que se estendeu por longo período. Quais foram as razões que levaram o colonialismo português a dar tão pouca importância a essa região. 4 - Recém-chegados, os pioneiros se apropriaram de grandes extensões de terras, pois não se contentavam com pequenas propriedades, não buscaram a condição de modestos agricultores e aspiravam a condição de grandes senhores e latifundiários. Em duplas, discutam o peso da grande propriedade rural na formação histórica do Brasil e do Estado de Mato Grosso do Sul e registrem em forma de texto. 5 - O que significa bagualeação? 6 - Para os indígenas, o gado bovino descendente de rebanhos introduzidos séculos antes pelos jesuítas e colonos espanhóis era uma caça como qualquer outro animal, já para o colono, era uma mercadoria. Eis aí a chave para entender os primeiros conflitos entre o nativo e o colono. Comente em forma de texto. 7 - Considerando as condições ambientais e as longas distâncias dos mercados consumidores, a pecuária bovina vai, ao longo dos séculos, se constituir na principal atividade econômica do pantanal sul-matogrossense. Cite as possíveis causas desse sucesso. 45 CAPÍTULO IV As Tensões na Fronteira e o Conflito com o Paraguai Forte Coimbra - Pantanal A letra da música Trem do Pantanal de Geraldo Roca e Paulo Simões pode nos dar alguns subsídios para o entendimento de algumas razões que levaram à guerra do Paraguai. Primeiro vamos ouvir e cantar esta bela canção. Trem do Pantanal (Ed. Peer Music) Geraldo Roca e Paulo Simões Enquanto esse velho trem atravessa o pantanal As estrelas do cruzeiro fazem um sinal De que esse é o melhor caminho pra quem é como eu Mais um fugitivo da guerra Enquanto esse velho trem atravessa o pantanal O povo lá em casa espera que eu mande um postal Dizendo que estou muito bem e vivo Rumo a Santa Cruz de La Sierra Enquanto esse velho trem atravessa o pantanal Só meu coração está batendo desigual Ele agora sabe que o medo viaja também Sobre todos os trilhos da terra. Voz e viola: Almir Sater/ violino: Zé Gomes/ violão de 12: Carlão de Souza/ baixo: Nadinho/ teclados: Luis Lopes. 47 Atividades: 1 - Produza um texto tecendo um comentário sobre o tema da música. 2 - Faça uma pesquisa sobre a Guerra do Paraguai e organize um debate. Como podemos perceber, a letra da música nos fala de guerra, uma guerra real, cuja história vamos conhecer agora estudando este texto. As primeiras décadas após a independência da América Espanhola foram marcadas por violentos debates políticos e econômicos. Emergiram desse processo grupos internos contraditórios: de um lado, aqueles que defendiam um atrelamento ao Império Britânico e desejavam organizar as novas repúblicas independentes como fornecedoras de matéria-prima à indústria inglesa e consumidoras dos seus manufaturados; de outro, aqueles que advogavam para seus países um desenvolvimento autônomo com medidas que protegessem a produção artesanal platina frente a um impacto da manufatura inglesa, lançando mão dos mais variados recursos para atenderem seus propósitos. Verifique você que, no caso do Paraguai, após a sua independência, o então Presidente Havia assegurado um sensível distanciamento frente ao imperialismo inglês. [...] além de monopolizar a navegação dos rios interiores, o que lhe permitiu controlar rigorosamente todo o comércio de importação e de exportação, o governo paraguaio tomou iniciativas que viabilizaram o desenvolvimento acentuado das forças produtivas. Uma delas foi a estatização das terras, donde o surgimento conseqüente das estâncias de la patria, que expandiram vigorosamente a pecuária. Também o arrendamento das terras agriculturáveis, a baixo preço, rapidamente assegurou a auto suficiência do país em arroz, milho, algodão, legumes. [...]. O Estado Paraguaio também incrementou o desenvolvimento da indústria manufatureira, especialmente nos ramos têxtil, de papel, de tintas, de pólvora, etc. A exportação de erva mate, de algodão, de tabaco, de couros curtidos, de cigarros e mel de abelha propiciou ao país superávits sucessivos nos exercícios orçamentários, o que deu margem à implantação de estaleiros em Assunção e da siderurgia de Ibicuy, através dos quais o Paraguai chegou a construir seus próprios navios e fundir peças militares (ALVES, 1985, p. 7). O Paraguai contrariava, assim, todo um novo pensamento gestado em Londres, que pregava o livre comércio, a utilização das vias navegáveis para o comércio, a eliminação das barreiras alfandegárias, enfim, tudo aquilo que impedia a livre circulação da mercadoria. A única via de comunicação do Paraguai com o exterior era através do rio Paraguai, estando assim obrigado a utilizar essa via quem desejasse entrar ou sair do País. Para evitar contatos indesejáveis e controlar todo o comércio importador e exportador, o Governo paraguaio “mandou colocar postos de guarda de 300 em 300 metros de distância para assim alcançar seus objetivos” (VERSEN, 1976, p.51). A política isolacionista e contrária aos interesses internacionais praticadas por Francia teve continuidade no governo de Carlos Antônio Lopes. O Brasil e a Inglaterra reclamavam do exclusivismo característico do sistema colonial. No caso do Brasil, o fechamento dos rios afetava os seus interesses, pois ameaçava a integridade do seu território, uma vez que o rio Paraguai era a via de comunicação mais rápida com a Corte e com o resto do mundo, como também permitia o transporte de mercadorias mais pesadas e volumosas com o conseqüente barateamento do frete, e a possibilidade de estimular a economia local, então completamente estagnada, era uma alternativa para minorar a situação de empobrecimento por que passava a Província após o ciclo do ouro. Enquanto permanecia fechada a banda meridional, só era possível a vinculação com as demais Províncias do Império basicamente através do comércio de caravanas, com todas as dificuldades conhecidas: transpor relevos acidentados, 48 enfrentar a presença hostil de algum remanescente indígena, levar alimentos para atender aos animais que compunham a tropa. Eram vias inseguras, verdadeiras trilhas de salteadores. Além disso, o Império corria o sério risco de ver a Província de Mato Grosso girar economicamente em torno dos círculos comerciais paraguaios, com tendência a se desligar da precária unidade monárquica e se juntar à nova República. Do outro lado, a Inglaterra, afetada seriamente em seus interesses comerciais, exigia a abertura dos rios que compunham a Bacia do Prata. Os comerciantes de Liverpool e de Manchester pediam a interferência do Governo britânico no sentido de tomar medidas que limitassem as restrições postas ao comércio no Prata e assegurassem acesso ao rio Paraguai e às regiões do interior. Esses reclamos eram respaldados pelos centros industriais de York Shire, Manchester, Leeds, Halifaxe e Bradford e subscritos por 1.500 banqueiros, comerciantes e industriais das cidades citadas. A opinião generalizada, na Inglaterra, era de que o comércio livre com Buenos Aires e Montevidéu não teria tanta importância se as comunicações com o interior sul-americano não fossem estabelecidas. O Brasil, através de seu governo, manifestava constante preocupação com a integridade de seus territórios a oeste e mantinha conversações com o governo paraguaio, sempre com o respaldo da Inglaterra, que defendia seus objetivos comerciais. O estabelecimento de um cenário de crise na região platina fez com que o Governo paraguaio revisse a sua posição e adotasse medidas que pudessem resguardar sua independência nacional, fortemente ameaçada. O que mais importava, naquele instante, era uma aliança com o Império, tanto é que, em 1856, foi assinado um acordo de comércio entre o Brasil e a República do Paraguai que liberou a navegação do rio de mesmo nome até o porto de Corumbá, ligando, então, Mato Grosso ao Rio de Janeiro e a todas as demais províncias do Império, cuja navegação fosse possível. A assinatura desse Tratado promoveu mudanças substanciais na região meridional de Mato Grosso que, através do franqueamento da navegação, ligou-se ao comércio mundial via o estuário do rio da Prata. A principal beneficiária desse Tratado foi a cidade de Corumbá, que teve possibilitada a abertura do seu porto a navios nacionais e estrangeiros. Já no ano de 1858, foi criada a Companhia Nacional de Navegação a Vapor, que manteve, a partir de então, uma viagem mensal entre Corumbá e Montevidéu (MOUTINHO, 1869). A abertura da navegação pelos rios Paraguai e Paraná deu a Corumbá a condição de principal entreposto comercial da Província e porta de acesso às mercadorias européias da América do Sul e da Europa. A princípio, não havia muito o que levar da região: apenas couro do gado vacum e de animais silvestres, sebo, charque e penas de aves. A vida econômica da Província passou a se desenvolver. Ao longo das regiões ribeirinhas havia um crescente movimento de mercadorias e pessoas, quebrando, assim, uma rotina de profundo paradeiro e abandono. O mesmo decreto que habilitou o porto de Corumbá ao comércio criou uma mesa de rendas. Em 1861, instalou-se a alfândega e, em 1862, o povoado foi elevado à categoria de vila (FONSECA, 1986, v. 1). O Pantanal sul de Mato Grosso, depois de permanecer isolado pela conjuntura colonial portuguesa por mais de 150 anos, foi favorecido por fatores que provocaram a dinâmica do seu crescimento. Da abertura do porto ao início da guerra com o Paraguai, passaram-se somente oito anos, período marcado pelo progressivo crescimento da região. Embora o tratado de comércio e navegação estivesse em pleno vigor com o porto de Corumbá recebendo não só navios brasileiros, mas de todas as demais bandeiras, a guerra entre o Império brasileiro e a República paraguaia parecia ser uma questão de tempo. Desde meados do século XIX, o governo imperial que, até então, pouca atenção havia dado ao sul da Província de Mato Grosso, passou a tomar iniciativas visando assegurar o domínio das regiões em disputa com o Paraguai. Para isso instalou novas colônias militares, ao longo da fronteira, enquanto promovia conversações com o governo paraguaio para a abertura da 49 navegação do Rio Paraguai. Além disso, encorajava os colonos para estabelecerem permanente controle sobre a área, desenvolvendo atividades que pudessem, mais tarde, justificar a presença brasileira. Tanto o governo brasileiro como o paraguaio tomavam iniciativas para assegurar a propriedade das terras que consideravam suas. O Brasil, para defender as terras sulinas da província de Mato Grosso, construiu fortes, incentivava a abertura de fazendas, o criatório e o cultivo, ações que nada mais eram do que a manifestação da política lindeira dos gabinetes do Rio de Janeiro e a aplicação de um único princípio, o uti possidetis. O Paraguai, por sua vez, com medo da expansão brasileira no que era considerado território paraguaio, juntamente com os ataques dos guaicurus desde fins do século XVIII, estabeleceu pequenos fortes ao longo do rio Apa, além de estimular os colonos a se fixarem e manterem permanente controle sobre a região. Já em princípios da década de sessenta do século XIX, a fortaleza de Humaitá foi concluída e, em adição a isso, o governo comprou da Inglaterra centenas de canhões e grande quantidade de munições. Tinha, também, uma esquadra que contava com dezessete pequenos vapores (VERSEN, 1976). Aumentou grandemente os seus efetivos militares, evidenciando, assim, a intenção de declarar guerra ao Brasil. Em princípio de 1862, o Presidente Solano Lopes enviou a Mato Grosso o oficial do seu Exército, Isidoro Resquim, disfarçado de comprador de gado e terras, para fazer um levantamento do rebanho eqüino e bovino das propriedades que concentravam maior número de cabeças, dos armamentos que dispunham as unidades fronteiriças, enfim, fazer o mapeamento da região (GUIMARÃES, 1999). Outro espião foi o tenente Andrés Hererro. Em 1863, ele visitou Mato Grosso com o pretexto de que desejava estreitar relações comerciais entre o Brasil e o Paraguai e, assim, anotou tudo que pudesse ser de interesse militar. Passou por Coimbra, por Albuquerque e pelo estabelecimento naval de Dourados, à margem direita do rio Paraguai. Subiu o rio São Lourenço e o Cuiabá e só não foi até a capital porque era estação da seca e as águas baixas não permitiam o tráfego de navios de alto calado. Como os paraguaios pretendiam invadir Mato Grosso também através do rio, aproveitaramse do trabalho de seus espiões para estudarem previamente as singularidades mesológica e patomográfica das áreas-chave da região que iriam ocupar (SILVA, Praça dos Monumentos Históricos - Nioaque 1999). 50 A guerra era iminente e foi deflagrada. Após a invasão de tropas brasileiras na República do Uruguai, o Presidente Solano Lopes ordenou a intensificação dos preparativos militares para fazer guerra ao Brasil. Ele considerava a ocupação do território oriental perigosa para o equilíbrio dos Estados do Prata e que o Uruguai, pela sua posição geográfica extremamente estratégica, tinha que manter-se livre, independente e distante da influência do Brasil e da Argentina. As hostilidades entre a República do Paraguai e o Império do Brasil começaram em novembro de 1864, quando o Presidente Solano Lopes deu ordens para capturar o vapor brasileiro Marquês de Olinda, com a conseqüente prisão do Presidente nomeado para Mato Grosso, o coronel Carneiro de Campos, que nele seguia como passageiro (CUNHA MATOS apud VERSEN, 1976). A Guerra da Tríplice Aliança interrompeu um promissor processo de desenvolvimento econômico na região do Pantanal sul de Mato Grosso. Durante quase cinco anos, desapareceu a livre navegação no rio Paraguai, sobretudo no trecho brasileiro, já que as cidades ribeirinhas permaneceram sob o domínio do invasor. À exceção de Santana do Paranaíba, na fronteira de Minas Gerais e Goiás, os poucos núcleos urbanos organizados no sudoeste de Mato Grosso foram completamente arrasados pelos exércitos invasores. Batalha Riachuelo Atividades: 1 - No século XVI, com a fundação da cidade de Santiago de Xerez e da redução do Itatim, o Pantanal sul-mato-grossense ganhou destacada importância, tornando-se palco de conflitos entre portugueses e espanhóis. A luta estendeu-se até o século XIX quando iniciou a guerra entre a Tríplice Aliança e o Paraguai. Com base no texto, relacione as raízes dessa guerra considerando as contradições que se iniciaram no período colonial. 2 - Pandiá Calógeras afirma que o Presidente Paraguaio Solano Lopes, cometeu erros que levaram seu país à derrota na guerra como, por exemplo, a invasão de Mato Grosso, que nenhum objetivo militar existia, pois a conquista do território constituía mero alvo geográfico, “golpe de espada na água”. Você concorda com essas afirmações? Procure descobrir as verdadeiras razões da invasão de nosso território. Escreva-as em seu caderno. 51 CAPÍTULO V A Situação da Província no Pós-guerra e os Problemas Relativos à Mão-de-obra Indígena Criação da raça Nelore - Fazenda Bela Vista - Nova Alvorada do Sul Durante muitos anos, acreditou-se que a pecuária praticada no Planalto não causara qualquer dano ao meio ambiente, sobretudo na planície. Estudos recentes, ao contrário, mostraram que a exploração pecuária provocou o desastre do Rio Taquari. Na edição do dia 8 de dezembro de 2003, no Correio do Estado, técnicos da Embrapa afirmaram que: o que provocou o assoreamento do Rio Taquari, na região norte de Mato Grosso do Sul, não foi a atividade agrícola dos sojicultores gaúchos. Muito mais que a atividade agrícola, a implantação de pastagens cultivadas em solos arenosos foi fator importante para o aumento do aporte de água e de sedimentos que acabaram chegando a planície pantaneira pelo Rio Taquari, provocando grave processo de assoreamento daquele curso d'água. A pecuária constitui-se uma das mais importantes atividades econômicas do Estado. Como associar desenvolvimento econômico e preservação ambiental? Leia a notícia abaixo: Pecuária provocou o desastre do Rio Taquari Ao contrário do que até agora se alardeou, o mais grave fator que provocou o assoreamento do Rio Taquari, na região norte de Mato Grosso do Sul, não foi a atividade agrícola dos sojicultores gaúchos que introduziram a soja na região de São Gabriel do Oeste no final da década de 70, após o desastre do café. Muito mais que a atividade agrícola, a implantação das 53 pastagens cultivadas em solos arenosos foi fator importante para o aumento do aporte de água e sedimentos que acabaram chegando a planície pantaneira pelo Rio Taquari, provocando o grave processo de assoreamento daquele curso d'água. Os técnicos chegaram a essa conclusão a partir do experimento que vem sendo desenvolvido sobre a denominação “Perdas de Água e Solo do sistema de recuperação e manejo de pastagens na bacia do Alto Taquari”, fruto de uma parceria envolvendo a Embrapa Pantanal, a Embrapa Gado de Corte, a Embrapa Florestas e a Agropecuária Miguel Sergio Ltda. Esses estudos mostraram que a pecuária foi grande responsável pelo processo de assoreamento pelo fato de as pastagens terem sido implantadas em solo de areia muito fina em 28.450 quilômetros quadrados da bacia. Com os incentivos dados por programas como o Polocentro e Polonoroeste, a partir de meados da década de 70, intensificou-se o desmatamento na área da Bacia do Alto Taquari. Em 1977, apenas 3,4% da área da bacia eram ocupados para atividades agropecuárias. No entanto a Embrapa Informática Agropecuária, mostra que, no ano de 2000, 62,1% da área da Bacia do Alto Taquari passaram a ser ocupadas pela agropecuária bovina, caracterizando aí o grave processo de desmatamento que acabou provocando o desastre do Rio Taquari. Fonte: Correio do Estado, Campo Grande, MS, 08 de dezembro de 2003. Atividades: 1 - Leia atentamente o texto “Pecuária provocou desastre no Rio Taquari”e responda as questões propostas abaixo. 2 - Qual é o tema central da notícia? 3 - Qual o fator apontado na matéria como responsável pelo assoreamento do Rio Taquari? 4 - Produza um texto emitindo sua opinião e promova um debate a respeito. 1 - A Situação da Província no Pós-Guerra e os Problemas Relativos à Mão-de-Obra Indígena Terminada a guerra, muitos eram os problemas. Um deles foi o isolamento a que foram submetidos os habitantes do sul de Mato Grosso. Os habitantes dessa região, sobretudo aqueles residentes na zona de fronteira, foram, direta ou indiretamente, afetados pela guerra, uma vez que, com o fechamento do rio Paraguai, a região ficou completamente isolada das demais regiões brasileiras, ocorrendo, com isso, o aumento dos preços dos alimentos e de outros artigos, o que agravou a situação material da população pela falta de suprimentos. Apesar do empenho das autoridades, ainda em 1872 o quadro era desolador a ponto de o governo imperial ter sido obrigado a enviar alimento para Corumbá para aliviar a fome que grassava naquela cidade. A desarticulação da produção agrícola, sobretudo no sul de Mato Grosso, resultante do conflito entre o Brasil e o Paraguai era conseqüência, também, da destruição das aldeias indígenas de Miranda e do Bom Conselho, em Albuquerque. Essas duas unidades desempenharam importante papel na produção de gêneros alimentícios para consumo e troca, tais como o milho, a Trabalhadores típicos dos ervais; agachado, está o majordomo, que em dialeto ervateiro mandioca, a cana, o feijão, significava o homem encarregado de empreitar a mão-de-obra guarani. 54 bem como alguns produtos artesanais como chapéus, redes para dormir, balaios, cerâmicas e tecidos, que eram absorvidos pela pequena população urbana dos vilarejos próximos. A invasão paraguaia, a prisão do padre responsável pelas aldeias, Frei Mariano de Bagnaia, e a fuga em massa dos indígenas contribuíram para desmantelar completamente a produção, levando a população a conviver, nesse período, com a ameaça da fome que se seguiu aos primeiros anos após o fim das hostilidades. Com o fim dos combates e com o tratado de paz, os índios tentaram retornar para as suas antigas aldeias, o que, entretanto, não foi possível, uma vez que elas foram sendo invadidas por fazendeiros e militares desmobilizados do exército brasileiro, que passaram à condição de criadores de gado e preferiam se apossar de terras onde já houvesse algumas benfeitorias, tais como áreas desmatadas que facilitassem o começo das atividades naqueles distantes rincões. O processo de expropriação das terras e escravização do indígena, que se iniciara no século XVI, intensificou-se no século XIX, sobretudo após a guerra com o Paraguai, devido à expansão pastoril empreendida pelos pioneiros que se afazendaram em diversos pontos da Província, sobretudo no Pantanal Sul. Com isso, a população indígena foi se dispersando pelas fazendas da região, na condição de vaqueiros e agricultores. Quando da construção da rede telegráfica, no trecho Aquidauana-Miranda, o Major de Engenharia Cândido Mariano da Silva Rondon, em contato com os nativos, fez um relatório dos trabalhos realizados de 1900 a 1906 pela Comissão de Linhas Telegráficas do Estado de Mato Grosso a fim de apresentar às autoridades do Ministério da Guerra. Parte dele você pode ler a seguir: A linha naquele trecho passou pelos campos de quatro Fazendas que possuem cerca de 6.000 cabeças de gado. Em tôrno destas, outras se grupam com um número triplo de criação, sendo a mais importante a do Cutape, de propriedade do Coronel Estevão Alves Correa, com cerca de 10.000 rezes. [...]/ Os camaradas dessas fazendas são, na sua maior parte, índios Terêna, os mais dóceis que conheço da raça ameríndia. [...]/ Estão já transformados e há mais de século que sua gente não conhece mais o arco e a flecha. Andam vestidos e apenas as mulheres nas aldeias gostam de andar mais a vontade. [...]/ Cultivam a mandioca de que fazem farinha, a banana, a batata, a cana de açúcar e o algodão com que fabricam rêdes e tecidos diversos. [...]/ Por estes motivos são muito procurados pelos fazendeiros, que também os preferem em razão de se contentarem com pouca remuneração, o bastante para se vestirem, comerem e satisfazerem seus vícios. [...]/ São comumente explorados pelos fazendeiros (RONDON, 19001906. p. 83). Os indígenas, sobretudo os terenas, transformaram-se no principal elemento de mão-deobra nas fazendas que se organizaram no sul de Mato Grosso, na condição de vaqueiros e em outras atividades que se desenvolveram por toda a região. Trabalhavam na lavoura, na colheita e preparo da erva-mate, da ipeca, da borracha e, também, nos transportes, como barqueiros ou remeiros, ou seja, em todos aqueles postos que a nova civilização exigia. Mas não apenas os terenas foram utilizados. Na ausência de oferta de mão-de-obra no sul, outros grupos também se constituíram elemento de trabalho, requerido em todas as áreas do pantanal. Aqueles que restaram do povo guaicuru tornaram-se exímios vaqueiros e passaram a prestar serviços em áreas que se estendiam do Nabileque a Corumbá. Obviamente esse grupo se enfraqueceu muito a partir de 1850, principalmente após a guerra, quando sua cavalhada foi atingida pela peste das cadeiras que dizimou quase todo seu rebanho. No entanto, ainda nos dias de hoje, são extremamente disputados pelos fazendeiros do Pantanal, em especial na região do Nabileque. 55 Na época das cheias, a condução dos rebanhos para as áreas mais altas, não alagáveis, é um trabalho difícil que exige do vaqueiro habilidade, conhecimento e perícia. Nesse período, os nativos são disputados em verdadeiros leilões. No momento em que as águas estão subindo, o rebanho bovino e eqüino tem que ser retirado rapidamente, por isso não é qualquer peão que se adapta às condições ambientais do Pantanal e que pode realizar esse trabalho. Os guaicurus estão adaptados às condições da região. Historicamente, eles incorporaram a questão da sazonalidade das enchentes anuais, pois acompanhavam o movimento das águas, levando e trazendo seus rebanhos, aproveitando-se da renovação das pastagens para oferecer-lhes uma melhor alimentação (MARTINS, entrevista 22-9-2000). O mesmo sucedeu com os kinikináus, layanas, guatós e guanás, uma vez que perderam muitas de suas terras para os invasores e se integraram ao trabalho nas fazendas de gado ou, então, em outras atividades por toda a extensa faixa de fronteira. Os nativos, mesmo disseminados pelas novas áreas que se abriam no pantanal sul-matogrossense, continuaram a desempenhar papel essencial na produção de alimentos e como trabalhadores nas fazendas. Embora os indígenas tenham, em sua maioria, lutado ao lado das tropas brasileiras, durante a Guerra do Paraguai, a segunda onda humana de ocupação da região sul de Mato Grosso iria proporcionar aos grupos Guanás e, especialmente aos Terêna, uma nova situação de conseqüências dramáticas, para eles, porquanto determinou o engajamento dessas populações a uma economia de caráter escravista. A esse período referem-se os Terêna modernos como ao tempo do cativeira (OLIVEIRA, 1976, p. 57). Mas, de forma muito clara, entre o terena e o colonizador branco havia uma acomodação, uma troca comercial: o nativo precisava das ferramentas que o colono possuía, sem as quais não conseguia produzir, por outro lado, o branco precisava do alimento que o nativo produzia. Obviamente, isso não impediu que fosse praticada toda sorte de arbitrariedades contra o indígena, inclusive a escravidão. Segundo alguns historiadores, todo o trabalho recaiu sobre os ombros dos imigrantes paraguaios que entraram na Província após o fim da Guerra da Tríplice Aliança. Na verdade, foram necessários alguns anos para que a população paraguaia se reestruturasse, consumida que foi no esforço da guerra. Veja o que Paul Lewis (apud MORAES, 2000, p. 13) afirma a esse respeito: “ao iniciar a guerra, o Paraguai contava com uma população de 550 mil habitantes e, no final da mesma, mais da metade havia morrido. Afirma ainda que dos sobreviventes apenas 14.000 eram homens”. De acordo com Efraim Cardozo (apud MORAES, 2000, p. 13), “dos cerca de um milhão e trezentos mil, habitantes paraguaios, apenas cerca de trezentos mil sobreviveram à guerra, sendo na sua maioria mulheres e crianças”. Imagine, ainda, o número de inválidos que, pela natureza dos combates, certamente era um número significativo. Apesar da diferença dos números apresentados, de uma coisa você pode ter certeza, a nação paraguaia sofreu um duro golpe, porque a população masculina sobrevivente era, na maior parte, formada por crianças e idosos, mesmo assim indispensáveis ao esforço nacional de recuperação econômica do país no pós-guerra. As mulheres, grande maioria da população, tiveram que ocupar postos na produção e no comércio, tarefas até então reservadas aos homens, como o de empunhar o arado para tirar da terra o sustento dos seus filhos ou exercer atividades comerciais e industriais. Após o fim da Guerra da Tríplice Aliança, a população paraguaia que emigrou para o Brasil era insignificante. Segundo o censo de 1872, havia em Mato Grosso 1.669 estrangeiros, computados em toda a Província. Destes, 764 habitavam a região sul, dos quais 226 eram 56 paraguaios, sendo 122 homens, 101 solteiros, 18 casados e 3 viúvos, e 104 mulheres, 93 solteiras, 5 casadas e 6 viúvas (MATTOS, 1990). No sul do Pantanal mato-grossense, a mão-de-obra continuou a ser principalmente indígena. Somente mais tarde, com as sucessivas crises econômicas e golpes de Estado, no país vizinho, os vencidos começaram a cruzar a fronteira em busca de trabalho. Muitos deles, exímios vaqueiros, não encontraram dificuldades em obter abrigo nas fazendas de gado que se desenvolviam na região. O período pós-guerra foi de consolidação, em que triunfou a grande propriedade rural dedicada ao criatório bovino. Através de expedientes violentos e ilegais, o índio foi sendo expropriado de suas terras e de seus bens e incorporado ao trabalho escravo ou, então, recebia uma insignificante remuneração, processo que se iniciou na década de 30 do século XIX e se intensificou após a Guerra do Paraguai. A ausência crônica de capitais entre os latifundiários pantaneiros para investimentos em mão-de-obra escrava fez com que o indígena fosse largamente empregado tanto no trabalho doméstico como no da lavoura e da pecuária. Outro impulso à utilização da mão-de-obra do indígena veio com a valorização do negro no mercado de trabalho, devido aos impedimentos que a Inglaterra colocou ao tráfego, e também com a expansão da lavoura de café no Brasil. Atividades: 1 - “Após a guerra, o processo de reconstrução do pantanal sul-mato-grossense esteve majoritariamente em mãos dos indígenas. Todos os encargos exigidos para a recuperação da Planície contou com a mão-de-obra desse povo, como a pecuária, a agricultura, os transportes, etc. Poucas são as pessoas que têm consciência disso, pois os índios são, preconceituosamente, vistos como maus trabalhadores e preguiçosos. Produza um texto destacando a participação do indígena na sociedade. 2 - Alguns importantes historiadores brasileiros sustentam que, após a guerra, muitos paraguaios cruzaram a fronteira em busca de trabalho, obtendo-o sem dificuldades nas fazendas sul-mato-grossenses. Com base nos recenseamentos pós-guerra, com o texto e seus conhecimentos é possível escrever um comentário sobre essa afirmação. 3 - Após a guerra da Tríplice Aliança o governo imperial obteve a abertura do Rio Paraguai à livre navegação internacional, o que garantiu a comunicação marítimo-fluvial da Província com o Rio de Janeiro. Relacione as vantagens econômicas, sociais, políticas e culturais que esse ato proporcionou. 4 - Estabeleça uma relação entre a invasão paraguaia ao solo sul-mato-grossense, a instalação da alfândega e a construção da estrada de ferro Aquidauana - Miranda. 5 - A década de 70 do século XIX foi muito importante tanto para o Brasil como, também, para o que é hoje o Estado de Mato Grosso do Sul. Procure identificar o que de mais importante aconteceu nesse período e como a realidade econômica foi completamente transformada. 6 - Não esqueça de duas expressões chaves que são muito importantes para entender o final do século XIX: imperialismo e capital financeiro internacional. Faça uma pesquisa sobre isso. Ampliando os Conhecimentos: A Luta pela Terra no Mato Grosso do Sul Desde os primórdios da humanidade a terra sempre esteve presente na vida dos atores humanos como bem necessário a sua sobrevivência. Nesta unidade você vai estudar uma das lutas pelas terras no Brasil. Vamos discutir o papel da grande propriedade rural na formação histórica do Brasil e do Mato Grosso do Sul. 57 Leia a reportagem abaixo: Acampados Fecham Acesso à Fazenda em Protesto à Justiça Os sem-terra do acampamento 17 de abril, em Nova Andradina, estão bloqueando as entradas de acesso à Fazenda Teijin, em protesto à morosidade da Justiça em definir se a fazenda será destinada para a reforma agrária. O protesto começou na manhã de ontem e já teve como resultado o agendamento de reunião entre uma comissão da Federação da Agricultura (Fetagri) e representantes do Ministério Público Federal (MPF). “Os sem-terra vão ficar nas entradas por tempo indeterminado, até que se tenha uma determinação”, disse o presidente do Sindicato Rural de Nova Andradina, Adilson Remelli. O acampamento é formado por 1,4 mil famílias ligadas à Fetagri e ao Movimento Sem-Terra (MST). Desde ontem, quatro grupos de oitenta pessoas estão nas quatro porteiras de acesso à Fazenda Teijin. Os sem-terra estão controlando a entrada e saída de funcionários, deixando passar o ônibus de estudantes e somente os casos de doença. A Fazenda Teijin, com 27 mil hectares é alvo de pretensa reforma agrária há três anos, porém uma ação impetrada pelo MPF recomendou que o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) não procedesse a desapropriação, pois o investimento para tornar a área agricultável seria muito alto. O INCRA recorreu da decisão e a análise do processo está tramitando na Justiça Federal de Dourados, ainda sem definição. Adilson Remelli disse que os sem-terra “se cansaram de esperar” e resolveram fazer o protesto para agilizar a decisão judicial. Hoje às 13 horas, a Fetagri e o MPF reúnem-se para discutir a ação. Remelli disse que, se a ação do Ministério for retirada, o processo pode ser considerado nulo e o INCRA pode iniciar o processo para reforma agrária. A Fazenda Teijin pertence ao grupo Teijin Desenvolvimento Agrário, sob responsabilidade de um grupo coreano. Fonte da matéria: Jornal Correio do Estado, 10 de fevereiro de 2004. Atividades: 1 - Cite algumas reivindicações feitas pelos sem-terra? 2 - Aponte a opinião do governo sobre a pretensa reforma agrária na Fazenda Teijin? 3 - Qual a alegação do Ministério Público Federal? 4 - A que solução podem chegar FETAGRI, MPF, MST e INCRA? 5 - Dê sua opinião sobre a reforma agrária. 6 - Pesquise o significado das siglas: MPF, MST, INCRA, FETAGRI. A Reforma Agrária na Voz do Poeta Popular Na análise do poema a seguir vamos perceber qual é o sentido da reforma agrária na voz do caboclo. Leia o poema: Reforma Agrária é assim - Antonio Gonçalves da Silva (Patativa do Assaré) Cabôco Mané Lorenço. meu colega e meu amigo que pensa aquilo que eu penso e diz aquilo que eu digo, nós samo da mesma laia dos coitado que trabaia ou na diara ou na meia Era só que fartava. Deus fez a terra pra gente prantá fejão, mio e fava. arroz e toda semente, e estes latifundiaro egoista e uzuraro sem que nem pra que se apossa. E nós neste cativêro 58 nós pertence a mesma crasse destas crianças que nasce Iinriba da terra aléia. sendo agregaro e rendero da mesma terra que é nossa. Ninguém vê ninguém repara nosso grande padicê por isto a Reforma Agrara nós mesmo vamo fazê, nós todos juntos, os sem-terra, por vale sertão e serra promovendo uma campanha abalando toda gente, ficando assim iguamente Furmiga quando se açanha. Amigo, o que você pensa, onde a gente vai chegá com esta sentença sem terra para trabaiá? Quem presta atenção descobre que o sacrifício do pobre é de arrupia cabelo. derne o campo até a praça quanto mais dia se passa mais omenta o dismantêlo. E você, Mané Lorenço, que tem voz forte e grossa e pensa aquilo que eu penso vai gritando: a terra é nossa! Leste, Oeste, Sul e Norte, uvindo este grito forte com corage se prepara e assim com esta união sem precisá de lição nós faz a Reforma Agrara. (Transcrito de Silva, 1994) Tá tudo correndo istreito quando um geme o outro chora. é priciso havê um jeito pra vê se a coisa miora. nós matuto brasileiro vivemo no cativêro. as terra desta nação pra todo lado se espande dominada pelos grande e os pobre na sujeição. Atividades: 1 - Que formas de trabalho são citadas no poema? 2 - Interprete os seguintes versos: “nós matuto brasileiro/ vivemo no cativêro/ as terra desta nação/ pra todo lado se espande/ dominada pelos grande/ e os pobre na sujeição”? 3 - Qual o significado de reforma agrária, na visão do poeta? 4 - Os versos abaixo apresentam duas possibilidades de uso da terra. Indique qual você considera mais justa e explique por quê. - Uso da terra 1: “era só o que fartava,/ Deus fez a terra pra gente/ prantá feijão, mio e fava/ arroz e toda semente” - Uso da terra 2: “e estes latifundiaro/ egoísta e uzuaro/ sem que nem pra se apossa,/ [...]/ da mesma terra que é nossa”. Você sabe o que é latifúndio? A palavra latifúndio já era utilizada na Roma Antiga para designar “uma grande área de terra sob posse de um único proprietário”. Tomando em âmbito mundial, a aplicação do adjetivo “grande” varia de acordo com a realidade de cada país ou de uma região de um mesmo país. Tomemos como exemplos extremos o Japão e o Brasil. No Japão, que é um país pequeno e superpovoado, uma propriedade que tenha mais de cem hectares pode ser classificada como latifúndio. Já no Brasil, um país muito grande e relativamente pouco povoado, o latifúndio pode ser uma propriedade com mais de 5 mil hectares, se estiver localizada na Amazônia, ou, no outro extremo, de 500 hectares, se estiver situado no Rio Grande do Sul. Tudo depende das 59 características de cada região. No caso brasileiro, o nome foi classificado em lei pelo Estatuto da Terra, de 30 de Novembro de 1964, para designar as grandes propriedades improdutivas. Fonte: Morissawa, Mitsue. A História da luta pela terra e o MST. São Paulo: Expressão Popular, 2001, p. 13. Atividade: 1 - Volte ao capítulo 3 e encontre exemplos de megalatifúndios e produza um texto sobre o assunto. (Lembre-se, caso tenha dúvidas, consulte o professor). 2 - Para enriquecer o conhecimento socializem os textos produzidos promovendo um debate em classe. Cenário da Fazenda Estrela, formada em sua maioria por pastagens onde nascem e se criam bezerros da raça Nelore Antônio João Diferentes opiniões sobre a questão da terra no Brasil No painel abaixo, estão as opiniões de representantes de diferentes segmentos da sociedade brasileira a respeito da questão da terra. Leia atentamente: Representante dos pecuaristas Na tribuna do parque de exposições (63ª Expozebu), em Uberaba, Minas, FHC ouviu o discurso de Olavo Borges Mendes, presidente da ABCZ (Associação Brasileira de Criadores de Zebu), que chamou a reforma agrária do governo de “falida” e o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) de “movimento sem lei”. “Não acreditamos nesse arremedo de reforma agrária que está sendo colocado em prática afoitamente, por pressão ou mesmo chantagem conduzida pelo MST”, disse Mendes. O ruralista afirmou que o MST desafia autoridades e manipula a imprensa. Ele disse que o direito de propriedade é sagrado. Segundo ele, há risco de os conflitos no campo se agravarem. “o que está acontecendo é inaceitável para nós, proprietários rurais. Tem trazido insegurança e intranqüilidade”, afirmou. (Folha de São Paulo, 03/05/1997). Representante da Igreja Católica O cardeal arcebispo de São Paulo, D. Paulo Evaristo Arns, afirmou que a Igreja Católica apóia as invasões promovidas pelos sem-terra. Disse também que é preciso fazer a reforma agrária “urgente” no Brasil. “É legítima a ocupação de uma terra que não está sendo 60 trabalhada”, disse o cardeal. D. Paulo criticou o ritmo da reforma agrária no país, mas defendeu o presidente Fernando Henrique Cardoso. “FHC precisa do apoio do povo, senão os partidos que o apóiam vão dificultar”. As declarações foram dadas ontem na reunião anual dos bispos da Arquidiocese de São Paulo, no Centro Santa Fé. O local também foi ponto de parada da caminhada de 1.000 km dos sem-terra, que saíram anteontem de São Paulo rumo a Brasília onde chegarão no dia 17 de Abril. A marcha é um protesto contra a política agrária do governo e pede a punição dos responsáveis pela morte de 19 sem-terra, em Eldorado dos Carajás, no Pará. O cardeal afirmou que a Igreja “está ao lado dos sem-terra”, disse que a reforma agrária está atrasada 500 anos. “O Brasil não pode esperar mais” (Folha de São Paulo, 19/02/1997). Presidente da República O Presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu ontem a união entre o governo e o MST para acelerar a reforma agrária. Em entrevista a Rede Globo, FHC considerou “inútil” a discussão sobre os números da reforma agrária constantemente questionados pelos sem-terra. “Agora, eu acho inútil brigar: assentou-se tanto ou quanto, o MST diz que é tanto, o ministério diz que é não sei quanto mais. Não é esse o problema. Se nós dermos as mãos, vamos assentar mais gente. E é isso que nós temos que fazer”, afirmou FHC [...]. Para FHC, a marcha dos sem-terra é um exercício normal da cidadania. “Acho que um país democrático como o nosso, precisa se acostumar a que haja esse tipo de manifestação dentro da democracia, uma demonstração construtiva”. (Folha de São Paulo, 18/04/1997). Atividades: 1 - Com base no painel da página anterior, faça um quadro (modelo sugerido abaixo) indicando a que instituição pertencem as pessoas que fazem as declarações, bem como a que acontecimentos as situações se referem. Quem emite opinião Instituição Tema Opinião 2 - Verifique a opinião manifestada nos textos sobre: -a reforma agrária; -o movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra; -as invasões de terras. 3 - Discuta com os colegas e responda: -um trabalhador rural, participante do MST, concordaria com as afirmações acima? Com qual(is)? Por quê? -de qual(is) ele discordaria? Por quê? 4 - Pesquise sobre os movimentos messiânicos ocorridos no Brasil durante a Chamada República Velha (Canudos e Contestado). 5 - Escreva o significado dos termos: campesinato; latifúndio; escravidão; capitalismo. A partir das definições encontradas, produza um texto com os termos que pesquisou. 6 - Pesquise para saber se está acontecendo algum conflito por terras no Estado de Mato Grosso do Sul e organize um painel com os resultados obtidos. 7 - Escreva sobre o Quilombo de Palmares destacando possíveis remanescentes na sua região. 61 CAPÍTULO VI A Recuperação da Província de Mato Grosso: Novos Impulsos ao Comércio e à Produção; O Crescimento do Capital Financeiro, as Exportações de Capitais e as Transformações na Fronteira; O Substancial Crescimento do Rebanho Bovino e o Desenvolvimento das Charqueadas Fonte: Atlas Histórico Básico - Editora Ática Atividades: 1 - Com um lápis colorido percorra o caminho dos monçoeiros; 2 - Pinte a Província de Mato Grosso ; 3 - Localize no mapa a redução do Itatim e crie uma legenda para os itens 1,2 e 3. Sugestão: Se em sua escola tiver sala de informática essas atividades poderão ser desenvolvidas nela. 1- A Recuperação da Província de Mato Grosso; Novos Impulsos ao Comércio e à Produção Fachada do prédio onde funcionava o escritório da Charqueada Matto Grosso - Porto Murtinho 63 Após a guerra, as atenções do Governo imperial voltaram-se para Mato Grosso, e medidas foram sendo tomadas para estimular a economia local. A primeira delas, e a mais importante, foi a obtenção da livre navegação do rio Paraguai, garantindo a comunicação marítimo-fluvial da Província com o Rio de Janeiro. Ainda no ano de 1869, assim que as forças paraguaias deixaram o território matogrossense, o governo imperial, como medida de apoio ao desenvolvimento comercial da região, baixou o Decreto nº 4.388, de 15 de agosto, isentando de tributos todos os gêneros de importação e exportação comercializados em Corumbá por um período de dois anos e liberando o porto corumbaense para a entrada de todas as embarcações de qualquer origem. Essa concessão estendeu-se por dez anos, até 1879 (PÓVOAS, 1995, p. 314, v. 1). Essa foi uma decisão muito importante, uma vez que inúmeras embarcações voltaram a transitar pelo rio Paraguai e seus afluentes. Empresas nacionais e estrangeiras estabeleceram-se e passaram a prestar serviços de navegação entre Corumbá e as cidades do Prata, com o estabelecimento de linhas de cargas e de passageiros. Para o porto da vila chegaram mercadorias dos mais longínquos países. Corumbá “passou a ser uma cidade-empório constituída na sua maior parte de comerciantes, de nacionalidades diversas. Era a porta de entrada para a Província de Mato Grosso” (ROCHA, 1977, p. 78-108). Essa pequena cidade portuária tornou-se o centro distribuidor da Província e de todas as cidades e zonas ribeirinhas. Era ali que se processava o transbordo das embarcações de menor calado, destinadas a Cuiabá, Cáceres, Miranda, Coxim e escalas (SOUZA, s/d.). A cidade passou a desempenhar o papel de capital do rio Paraguai. Era o entreposto entre os portos platinos e europeus e de toda a Província, tornando-se a principal porta de embarque da exportação dos bens produzidos no pantanal e da entrada da cultura platina, com todas as suas decorrências. Investimentos do governo imperial também contribuíram, no começo da década de 70 do século XIX, para impulsionar a economia local. A construção de um estaleiro da Marinha em Ladário ofereceu muitas oportunidades de emprego e se constituiu em tentativa de reanimar a economia da região: “Ladário converteu-se numa florescentíssima povoação, com cerca de três mil almas, várias ruas e boa casaria” (FONSECA, 1986, p. 317, v. 1). No Arsenal, instalaram-se a Escola de Aprendizes Marinheiros e as oficinas de habilitação técnica de serviços náuticos e fabricação de acessórios de transportes fluviais. Com o objetivo de resguardar Corumbá e Ladário de qualquer ataque, o governo imperial preparou um projeto defensivo com a construção de cinco fortes às margens do rio Paraguai que iam desde o canal dos Tamengos até a cidade de Ladário. Dessa forma, dinamizou ainda mais o setor de construção. No ano de 1870, o comando do Exército em operações no Paraguai deslocou o 21º BC para Corumbá. Como de costume, um grupo de mercadores encarregados de fornecer suprimentos à tropa acompanhou-na e se estabeleceu na vila, contribuindo para o incremento do comércio e, mais tarde, atraindo um maior número de comerciantes (FONSECA, 1986, v. 1). Em 1872, a Alfândega foi reinstalada em Corumbá com o objetivo de vistoriar e controlar as mercadorias que entravam e saíam pelo porto da Província, além de cobrar direitos dos produtos que não tinham isenção fiscal. Devido à ausência de edificações públicas para o armazenamento das mercadorias em trânsito, as instalações alfandegárias funcionavam, também, como depósitos dos artigos com destino a outras cidades. Ainda no ano de 1872, instalou-se, na cidade de Corumbá, o 2º Batalhão de Artilharia a Pé, que reunia 605 homens. A invasão paraguaia em solo mato-grossense produziu profundas modificações econômicas, transformando, completamente, a face da Província. O término da guerra deu grande impulso à fixação de novos fazendeiros na área central e meridional do Pantanal. 64 2 - O Crescimento da Capital Financeiro, as Exportações de Capitais e as Transformações na Fronteira Primeira participação de Mato Grosso em uma Feira Internacional de Amostras. Rio de Janiero, sob patrocínio da Cia. Matte Laranjeira O fim da guerra com o Paraguai coincide com o surto ferroviário no Brasil. As hostilidades na fronteira de Mato Grosso deixaram claro para as autoridades brasileiras que o Império precisava buscar recursos para estabelecer comunicações mais rápidas e eficientes com a imensa área do Centro-Oeste. Essa providência seria importante para, em caso de guerra: 1- proporcionar deslocamentos dos equipamentos militares e de soldados mais rapidamente; 2 - promover a colonização e o desenvolvimento da região, drenando para os portos do Atlântico as matérias-primas e os alimentos ali produzidos; 3 - possibilitar o desenvolvimento de novas atividades econômicas; 4 - assegurar ligações mais estreitas com os países vizinhos e o transporte de passageiros. Um fato importante a destacar é que o fim da guerra com o Paraguai coincide com a Guerra Franco-Prussiana, na Europa, cuja grande novidade fora a utilização, com extremo sucesso, da rede ferroviária pelo exército de Bismark, “mobilizando e concentrando milhões de homens na fronteira, como nunca antes ocorrera” (MEIRA MATTOS, 2003, p. A3). Certamente, esses acontecimentos influenciaram o governo brasileiro e o estimularam a construir, mais tarde, a Rede Ferroviária Noroeste do Brasil. No começo da década de 1870, muitos projetos que ligavam, por via férrea, São Paulo a Mato Grosso já eram constantemente debatidos nos círculos governamentais ou fora deles. Para confirmar essa preocupação geral, observe a citação que segue. Essa formidável obra de penetração pelo território de Mato Grosso coube na parte final, à Noroeste do Brasil, com que se realizou lentamente uma velha aspiração alimentada por debates sucessivos. [...] Já em 1876, notável comissão de engenheiros, presidida pelo Visconde de Rio Branco, se debateu às voltas com dezesseis dêles, “tão discordes, lembra Euclides da 65 Cunha, que, malgrado a valia de juízes daquele porte, o controvertido tema não teve decisivo desfecho e chegou ao nosso tempo (1905), disparatando em trinta pareceres”. Foi do Clube de Engenharia, do Rio de Janeiro, que partiu o último e mais vigoroso impulso para sua realização quando, em outubro de 1904, “deliberou indicar ao govêrno 'como problema nacional inadiável' o traçado de um caminho de ferro que, partindo de São Paulo dos Agudos (ou de Bauru), transpondo o Paraná e o Urubupunga, se dirigisse a um ponto do rio Paraguai adequado a encaminhar para o Brasil o comércio do sudeste boliviano e norte paraguaio, permitindo ao mesmo tempo rápidas comunicações do litoral com Mato Grosso, independentes do percurso em território estrangeiro”. Fundada a Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, de capitais mistos, brasileiro e franco-belga, com concessão de garantia de juros pelo govêrno federal, em 1904, e incorporada por Teixeira Soares e Pereira da Cunha, iniciou-se em 1905 a construção da estrada, cujo trecho de Bauru a Itapura essa emprêsa inaugurou em 1910 (AZEVEDO, s/d., p. 69-70). A ferrovia de Bauru a Porto Esperança, no Paraguai, que foi iniciada em 1905, só ficou pronta e em condições de tráfego, em 1914. O mesmo processo aconteceu com a navegação. Você pode comprovar isso pelos dados apresentados por Calógeras (1945, p. 244): de 1839 a 1874, o número de viagens aumentou de 50% sob a bandeira brasileira, e de 101% sob o pavilhão de outras nações, a tonelagem cresceu 130% no primeiro caso, e de 414% no segundo. Em 1859, quase todos os barcos eram veleiros; ainda em 1873, somente 29% eram movidos a vapor. Os navios à vela estiveram em maior número do que os movidos a vapor até a década de 70 do século XIX. Foi somente a partir daí e, sobretudo, de 1880, que a frota foi dando lugar aos mais modernos. Junto com o desenvolvimento das linhas férreas e da navegação a vapor instalaram-se as primeiras linhas telegráficas e os cabos submarinos. Os portos foram organizados e reaparelhados, uma vez que eram “até então meros ancoradouros” (SODRÉ, 1978, p. 88). No que diz respeito à indústria, foram implantadas sessenta e duas empresas, vinte companhias de navegação a vapor, oito de mineração, três de transporte urbano, duas de gás e oito estradas de ferro, na década de 1860 (PRADO JUNIOR, 1959). Foi um período em que o país viu crescer as suas cidades, tirou proveito do capital financeiro internacional para a exploração dos serviços públicos, transporte, fonte de energia e portos. Vieram os bondes, os trens urbanos e as companhias de iluminação. Tais concessões foram feitas em virtude da ausência de capitais Velha locomtiva em frente a Fazenda Serrinho - Três Lagoas 66 nacionais interessados, sen-do esses campos de explora-ção entregues ao capital estrangeiro. Esse vento modernizador que tanto beneficiou o Império brasileiro não deixou de bafejar no Pantanal mato-grossense: enquanto aguardavam, ansiosamente, pelo trem, as autoridades procuraram desenvolver a navegação. A reabertura do Rio Paraguai permitiu o contato direto da Província com as Repúblicas sulamericanas platinas, como, também, o intercâmbio com o Rio de Janeiro e o acesso ao Atlântico. Essas companhias de cargas e passageiros colocavam a Província em contato com o mundo. A intensidade e a regularidade dessa navegação possibilitaram um surto de desenvolvimento para Mato Grosso. Embora a Província tivesse uma pequena população e, por isso, não fosse uma grande consumidora de produtos platinos e europeus, a expansão do mercado se deu na perspectiva daquilo que a região podia oferecer de matérias-primas e alimentos. A abertura de linhas regulares de navegação permitiu grande afluxo de comerciantes estrangeiros para a região, negociantes de gado, couro e expedições científicas. Mercadorias dos mais distantes países chegavam ao Porto de Corumbá, no coração do Pantanal Sul, e dele saíam matérias-primas da terra, como peles, ipeca, charque, subprodutos do boi, penas e, mais tarde, borracha e erva-mate. Era aí que acontecia o transbordo das mercadorias para as embarcações menores destinadas às cidades ribeirinhas da Província, como Cáceres, Cuiabá, Miranda e Coxim. Os grandes vapores da linha nacional não iam além de Corumbá, que recebia as riquezas das frotas do mundo inteiro e, depois, funcionava como centro distribuidor da Província. Foi, por isso, que, além das linhas de navegação regulares, surgiram empresas armadoras organizadas por comerciantes e empresários dos portos regionais que conduziam passageiros e mercadorias por todo o alto e médio Paraguai, levando produtos às pequenas cidades ou a determinados portos para atender fazendeiros recém-estabelecidos e, de lá, trazerem produtos produzidos na região. Em meados da década de 70 do século XIX, começou-se a perceber a presença do capital financeiro europeu em Mato Grosso. Em 1895, constituiu-se, na Antuérpia, a Compagnie des Produits Cibils, que adquiriu e passou a explorar a Charqueada de Descalvado. Os negócios relativos à borracha, que começaram a ganhar força, atraíram, também, capitais belgas, surgindo a Compagnie des Caoutchoucs du Matto Grosso e a Albuna S. A. (STOLS apud ALVES, 1984, p. 49). No começo do século XX, diversas empresas estrangeiras estabeleceram-se no Pantanal sul-matogrossense para explorarem o criatório bovino. 3 - O Substancial Crescimento do Rebanho Bovino e o Desenvolvimento das Charqueadas Durante o período da Guerra do Paraguai, poucas famílias permaneceram em suas propriedades. Tão logo foi anunciada a invasão, as fugas se sucederam em massa: as cidades foram abandonadas e entregues ao inimigo. No campo, o processo foi o mesmo: aqueles com mais posses se dirigiram para Cuiabá ou Santana do Paranaíba, os de poucos recursos se abrigaram na serra que circunda o Pantanal e, dos que permaneceram, muitos se engajaram nos exércitos formados para deter o invasor, ficando as fazendas abandonadas e o gado sem manejo. Os rebanhos bovinos que estavam apascentados nessa grande área foram, em boa parte, apanhados, serviam para abastecer não só os exércitos invasores mas também a população civil mato-grossense e assuncenha. Porém, a peste das cadeiras que, na ocasião, atacou os eqüinos, permitiu que o gado bovino fosse se alongando e se juntando às grandes manadas selvagens que há muito haviam se espalhado por todo o Pantanal, garantindo, assim, a sobrevivência de considerável número de animais, de Touro Nelore - Rio Brilhante 67 forma a tornar raro que alguma fazenda tivesse um único animal de sela para manejar o rebanho. Por causa da falta de eqüinos e da redução do comércio e do consumo, uma vez que a população abandonou praticamente todas as áreas do Pantanal mato-grossense, palco da guerra, o gado bovino cresceu numericamente. Quando terminaram as hostilidades, ao retornar às suas terras, os fazendeiros foram obrigados a recorrer ao mesmo procedimento que os seus antepassados utilizaram para juntar o gado bovino, a “bagualeação”. No entanto, tinham maiores dificuldades devido à falta de cavalos. Aos poucos, os animais iam sendo juntados e as propriedades rurais, reorganizadas. Os bois mansos, geralmente animais de carga, tornaram-se, por força das circunstâncias, animais de montaria, era com eles que se fazia o manejo. O desenvolvimento da atividade comercial em Corumbá, através das casas de importação e exportação, geralmente entrepostos de Buenos Aires e de Montevidéu, despertou o interesse de investidores estrangeiros em expandir a indústria da carne em Mato Grosso. Em 1885, estimava-se que havia em torno de 800 mil cabeças de gado bovino em toda a Província (RAMOS FERREIRA, 1887). A falta de cavalgaduras impedia um levantamento minucioso dos estoques, isso significa, então, que os números poderiam ser bem maiores. A grande quantidade de excedentes bovinos pouco aproveitados e a excelente posição de Mato Grosso para atender o mercado consumidor do Rio de Janeiro e do nordeste brasileiro estimularam a instalação das charqueadas no fim do século XIX e no começo do XX. A existência do mercado consumidor de charque e a livre navegação internacional dos rios da Bacia Platina facilitaram o aproveitamento do gado bovino pela possibilidade de transportes mais rápidos e baratos e pelo interesse dos investidores platinos (MAMIGONIAN, 1986). Esse período coincidiu com a crise da indústria do charque na Argentina e no Uruguai, devido ao rápido desenvolvimento nesses países, com vistas à exportação de lã e à criação de ovinos, que passaram a ocupar as pastagens antes destinadas à pecuária bovina, abastecedoras das charqueadas platinas que, além disso, entraram em crise por causa da queda das exportações de carne salgada ao Brasil, à Cuba e aos Estados Unidos (PUIGGROS & DEFFONTAINE apud MAMIGONIAN, 1986, p. 48). Por essas razões, houve um deslocamento de capitais platinos ligados à exportação de charque para a Província de Mato Grosso. Contribuiu, ainda, para a instalação das charqueadas, a facilidade para o escoamento da produção pelo rio Paraguai, principal via de comunicação de Mato Grosso com o restante do Brasil e que passava, através do Rio da Prata pelos vizinhos Uruguai e Argentina. Fator não menos importante foi o baixo preço do gado bovino. Em 1908, ainda era possível comprar uma vaca por 15$000 e um novilho por 30$000. No entanto, em 1910, quando as charqueadas estavam em pleno funcionamento, os valores saltaram respectivamente para 26$000 e 45$000 (AYALA & SIMON, 1914). Ainda assim, o preço era muito baixo pois, no mesmo período, em São Paulo e no Rio de Janeiro pagavam-se 100$000 por um novilho. Esse conjunto de fatores, aliado ao baixo custo da mão-de-obra, Padaria Cuê (Padaria velha) - Porto Murtinho 68 garantiu alta rentabilidade aos negócios. Aproveitando-se de todas essas condições, os capitalistas platinas passaram a investir no Pantanal. Em 1907, foi fundada a Charqueada Miranda, em Pedra Branca, próximo da Vila de Miranda, de propriedade da firma montevideana Deambrósio, Legrand & Cia. Em 1909, começou a funcionar a Charqueada do Barranco Branco, no município de Porto Murtinho, pertencente à Empresa Extrativa e Pastoril do Brasil S.A., com sede em Montividéu. Ainda em 1909, foi instalada, também em Porto Murtinho, o Saladeiro Tereré, de propriedade de Moali & Grosso Ledesma, igualmente de Montividéu. Esses três estabelecimentos tinham capacidade para abater de 50 a 60 mil reses por safra (AYALA & SIMON, 1914). Até o princípio da década de 20 do século XX, a grande maioria das indústrias de charque que se instalaram em Mato Grosso o fizeram no Pantanal Sul, às margens do rio Paraguai ou de seus afluentes. A escolha desses locais se explica pelos estoques de bovinos que existiam na região, uma vez que as charqueadas têm a necessidade de se instalar em locais onde há uma oferta regular de matéria-prima. Por outro lado, o rio Paraguai se constituía no principal escoadouro para essa produção. O período que se estendeu de 1870 a 1910 foi marcado pela lenta integração do Pantanal Sul de Mato Grosso ao mercado nacional, quando foram sendo construídas as bases para o desenvolvimento da pecuária de corte. Esse foi um período que coincidiu com a substituição da criação do bovino pela ovelha, na Argentina e no Uruguai, com o conseqüente deslocamento de capitais desses países para a exploração dos imensos rebanhos que estavam sendo pouco utilizados na planície pantaneira. Pouco mais tarde, quando grandes frigoríficos ingleses se instalaram naqueles dois países para a exportação da carne congelada ou em conserva para o mercado europeu, ambos deixaram de fabricar o charque que, em parte, era exportado para o Brasil, cujo mercado foi, então, suprido exclusivamente pela indústria nacional (FLORES DA CUNHA, 1928). Isso permitiu novo aporte de investimentos no Pantanal Sul de Mato Grosso, o que acelerou o processo de transformação de toda a região. Os produtores passaram a vender mais e melhor e, conseqüentemente, começaram a ser feitas benfeitorias nas fazendas, com cercas separando as propriedades e permitindo melhor seleção dos animais, o que abriu caminho para a estruturação de um dos mais importantes plantéis de gado bovino do mundo. Atividades: 1 - Observe a foto ao lado e produza um texto sobre as origens desse profissional no Mato Grosso do Sul. 69 Agora leia o texto a seguir: Tratamento dispensado ao gado é bom A marcha do gado remonta ao início da atividade pecuária de corte no estado. As pessoas que trabalham nessa atividade foram criadas na lida com o gado e, mesmo com a evolução dos transportes, o custo fala mais alto para o criador de gado na hora de levar o seu rebanho. Mesmo percorrendo longos percursos, o gado não emagrece significativamente na maioria das vezes. Em muitos casos, chega a ganhar peso porque ao longo das estradas onde as pastagens são viçosas ele consegue comer. Também nas pousadas (e muitas delas são piquetes), há alimentação suficiente para repor o que foi gasto durante a caminhada, além de água. O Correio Rural ouviu uma comitiva que saiu em meados de janeiro de Bonito para Antonio João, numa marcha estimada de 20 dias. Eram 1.300 cabeças de touro de sobreano que caminharam mais de 100 quilômetros até seu destino. Um grupo de sete peões, residentes a maioria em Bela Vista, daria conta do trabalho. À frente a carroça, puxada por burro, com o cozinheiro e todos os mantimentos; roupas; redes; utensílios e outros equipamentos básicos, garantindo a logística da viagem. Arroz-carreteiro, guisado de mandioca, macarrão, arroz e feijão são o cardápio básico desse pessoal, que fazia a sua parada diária em locais predeterminados, perto de rios ou córregos ou nas cidades, nos clube de laço e parque de exposições, porque o gado precisava de um local seguro para o pernoite. (CF) Fonte: Jornal Correio do Estado: Campo Grande/MS, 09/02/2004. Atividades: 1 - Escreva uma notícia para algum jornal ou revista salientando a questão bovina no Mato Grosso do Sul. 2 - “Apesar da guerra, o rebanho bovino foi, em grande parte, preservado. Isso contribuiu para a instalação da indústria do charque no Estado. Por isso, hoje, nos tornamos um dos principais produtores de carne do Brasil”. Levando em consideração o texto acima, estabeleça uma relação entre o papel da pecuária no começo do século XIX e nos dias de hoje e faça um painel com gravuras, destacando frases do capítulo. 70 Glossário Adelantado: Antiga nomenclatura dada às várias funções exercidas por civis ou militares nas colônias da América Espanhola, como governador de uma província, Capitão-general, em tempo de guerra. Aluvião: depósito de cascalho, areia e argila que as enxurradas formam junto às margens ou foz dos rios. Aração: lavrar, sulcar a terra. Bagual: diz-se de ou potro recém- domado; diz-se de ou animal domesticado que voltou ao estado selvagem.sent.fig. intratável, espantadiço. Bavário: Habitante da Bavária (região alemã). Bergantine: antiga embarcação à vela e remo, esguia e veloz, com um ou dois mastros de galé e oito a dez bancos para remadores, usada no oriente pelos portugueses; bergantim real bergantim luxuosamente equipado, com toldo à popa, destinado ao serviço exclusivo do monarca. Capitulação: rendição militar,render transigir. Confluente: lugar onde se juntam um ou mais rios. Encomienda: instituição segundo a qual , o proprietário de terras devia cristianizar os índios, conquistando em troca o “direito” de receber deles um pagamento em trabalho. Estaleiros: lugar onde se constrói ou consertam navio. Estuário: tipo de foz em que o curso de água se abre mais ou menos largamente. Gradagem: revolver e aplanar a terra lavrada. Inóspita: em que não se pode viver. Ipeca: erva rasteira, lenhosa, de flores brancas e raízes longas, de onde se extrai um alcalóide de propriedades medicinais. Macegosa: terreno coberto de erva daninha. Mesológica: estudo das relações entre os seres vivos e o meio. Omoplatas: cada um dos ossos chatos delgados e triangulares, que forma, cada um, a parte posterior de cada ombro. Política lindeira: Política de favores estabelecida entre os governantes das regiões de fronteira. Rechaçar: fazer retroceder, opondo resistência, repelir. Sazonal: relativo a ou que ocorre na sazão ou estação. Cada uma das estações do ano. Tempo próprio para a colheita dos frutos. Oportunidade. Sezões: Febre intermitente ou periódica; malária. Trincheiras: escavação no terreno para que a terra escavada proteja os combatentes. Varadouro: passagem. 71 Adendos Fonte: Atlas Histórico Básico - Editora Ática 73 Fonte: Atlas Histórico Básico - Editora Ática 74 Fonte: Atlas Histórico Básico - Editora Ática 75 Fonte: Atlas Histórico Básico - Editora Ática 76 Fonte: Gilda Cristina Falleiros Mendes - Conhecendo Mato Grosso do Sul 77 Referências ALINCOURT, Luiz d'. Memória sobre a viagem do porto de Santos à cidade de Cuiabá: São Paulo: Itatiaia, 1975. ALMEIDA, Valério. Santo Antonio de Campo Grande. Esboço histórico. In: Revista mensal ilustrada Folha da Serra. Campo Grande: 1933. ALMEIDA, Mario Monteiro de. Episódios históricos da formação geográfica do Brasil: Fixação das raias com o Uruguai e o Paraguai. Rio de Janeiro: Pongetti, 1951. ALVES, Gilberto Luiz. Mato Grosso e a História -1870-1929. Boletim Paulista de Geografia. n. 61. São Paulo: Gráfica da FFLCH/USP, 1985. AMORIM, Anníbal. Viagens pelo Brasil. Rio de Janeiro: Garnier, 1917. AYALA, S. Cardoso e SIMON, F. Album graphico do Estado de Matto Grosso (EEUU do Brazil) Corumbá, Hamburgo: 1914. AZARA, Felix de. Descripción e Historia del Paraguay y del rio de la Plata. Madrid: Imprenta de Sanchiz, tomo I e II, 1847. AZARA, Felix de. Descripción General del Paraguay. Madrid: Alianza editorial, 1987. AZEVEDO, Fernando de. Um trem corre para o Oeste. 2. ed. São Paulo: Melhoramentos, s/d. BÁEZ, Cecilio. Historia colonial del Paraguay y rio de la Plata. Asunción: Carlos Schauman Editor, 1991. BARROS, Abílio Leite de. Gente pantaneira: Crônicas da sua história. Rio de Janeiro: Lacerda Editores, 1998. BASTOS, Uacury Ribeiro de Assis. A expansão territorial do Brasil Colônia. 1972. Tese (Doutorado em História) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo CABEZA DE VACA. Naufrágios e comentários trad. De Jurandir Soares dos Santos (texto) Bettina Becker (Introdução). Porto Alegre, LEPM Editores, Coleção Os Conquistadores, 1987. CABEZA DE VACA. Alvar Nuñez. Naufrágios y comentários. Madrid: Edicion de Roberto Ferrando, 1985. CALÓGERAS, Pandiá. Formação Histórica do Brasil. São Paulo: Nacional, 1945. CARDOZO, Efraín. Breve Historia del Paraguay. Asunción: El Lector, 1987. ______. Paraguay de la conquista. Asunción: El Lector, 1989. 79 CHAVES, Julio César. Descubrimiento y conquista del rio de la Plata y el Paraguay. Asunción: Ediciones Nizza, v. I, 1968. COELHO NETTO, Paulo Renato. Mato Grosso do Sul. Coleção Frans Jcberg, Campo Grande: 2002. CORRÊA FILHO. Virgílio. História de Mato Grosso. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1969. CORRÊA FILHO, Virgílio. As fazendas de gado no Pantanal Matogrossense. Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura, 1955. CORTESÃO, Jaime. Introdução à História das Bandeiras. Lisboa: Portugalia Editora, v. I, 1949. CORTESÃO, Jaime. (org). Manuscritos da Coleção de Angeles. Jesuítas e Bandeirantes no Itatim (1596 1760). Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, Divisão de Obras e Raras Publicações, vol. II, 1951. ______. Rapôso Tavares e a formação territorial do Brasil. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura / Serviço de Documentação, 1950. CUNHA, Flores da. Contrabando nas fronteiras do sul. Anais da Câmara dos Deputados Federais, 1928. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1936, V.S. Documentos para a História da Argentina. Iglesia, Buenos Airies: 1929. FONSECA, João Severiano da. Viagem ao redor do Brasil:1875-1878. Rio de Janeiro: v. II, Biblioteca do Exército, 1986. GADELHA, Regina Maria A. F. As missões jesuíticas do Itatim: um estudo das estruturas sócio-econômicas coloniais do Paraguai. (séc. XVI e XVII) Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980. GANDIA, Enrique de. Las misiones jesuíticas y los bandeirantes paulistas. Buenos Aires: Editorial La Faculdad, 1936. GUIMARÃES, Acyr Vaz. Mato Grosso do Sul, sua evolução histórica. Campo Grande: UCDB, 1999. GUZMAN, Ruy Diaz de. Relacion de la entrada a los Chiriguanos. Santa Cruz de la Sierra: Publicaciones de la Fundacion Cultural Ramón Dario Gutierrez, 1979. HOLLANDA, Sérgio Buarque de. Monções. Rio de janeiro: Coleções Estudos Brasileiros, 1945. HOLLANDA, Sergio Buarque de. Monções. 3ª ed. São Paulo: brasiliense, 1990. KERSTEN, Ludwing. Las tribus indígenas del Gran Chaco, hasta fines del siglo XVIII. Resistencia (Chaco): Universidad Nacional del Noroeste, Departamento de Historia, 1968. LABRADOR, P. José Sanchez. El Paraguay Católico. Buenos Aires: Intrenta de Coni Hermanos, 1910. 80 LAFUENTE MACHAIN, R. de. El gobernador Domingo Martinez de Irala. Buenos Aires: Librería Y Editorial “La Faculdad”, 1939. LEME, Pedro Taques de Almeida Paes. Nobiliarquia paulistana histórica e genealógica. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1914, V. 1. LUGON, C. A república comunista cristã dos Guaranis (1610-1768). 2.ed., Rio de janeiro: Paz e Terra, 1976. MAGALHÃES, L. A. M. 1952 - Mato Grosso do Sul - Fazendas: Uma Memória Fotográfica. Campo Grande: Gráfica e Editora Alvorada, 2003. MAGALHÃES, L. A. M. 1952 - Mato Grosso do Sul - Fazendas: Uma Memória Fotográfica. Campo Grande: Gráfica e Editora Alvorada, 2004. MAMIGONIAN, Armen. Inserção de Mato Grosso ao mercado nacional e a gênese de Corumbá. In: Revista do departamento de Geociências de UFSC. Florianopolis:1986. MARTINS, Gilson Rodolfo. Santiago de Xerez: uma problemática para a arqueologia histórica. In: Anuário de la Academia Paraguaya de la Historia, 2002. V. XLII. MATTOS, Joaquim Francisco de. A Guerra do Paraguai. (história de Francisco Solano Lopes, o exterminador da nação paraguaia). Brasília: Centro gráfico do Senado Federal, 1990. MATTOS, Carlos de Meira. Nova guerra, novas armas. In: Jornal Folha de São Paulo, Tendências e debates, 12 de fevereiro de 2003, p. A3. MARTINS DE PAIVA, Ana Mesquita et al (org) NDHIR. D. Antonio Rolim de Moura. Correspondências compilação, transcrição e indexação. Cuiabá: UFMT, 1983. V.I MAZZA, Maria Cristina Medeiros. et al. Etnobiologia e conservação do bovino pantaneiro. Corumbá: Embrapa, 1994. MELLO, Gal. Raul Silveira de. História do Forte Coimbra. Rio de Janeiro: Imprensa do Exército, v. I e II, 1959. MONTOYA, Antônio Ruiz (S.J.). Conquista espiritual. Porto Alegre: Martins Livreiro Editor, 1985. MORAES, Ceres. Paraguai: A Consolidação da Ditadura de Stroessner (1954-63). Porto Alegre: Editora da Universidade Católica do RS, 2000. MORISSAWA, Mitsue. A História da Luta pela Terra e o MST. São Paulo: Expressão Popular, 2001. MOUTINHO, Joaquim Ferreira. Notícia sobre a província de Matto Grosso, seguida d'um roteiro de viagem de sua capital a São Paulo. São Paulo: Typ Henrique Schroeder, 1869. NEVES, Maria Manuela Renha de Novis. Elites políticas: competição e dinâmica partidárioeleitoral (Caso de Mato Grosso). Rio de janeiro: IUPERJ, 1988. OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. Do índio ao bugre: o progresso de assimilação dos terêna. 81 Livraria Francisco Alves. Rio de Janeiro, 1976. PASTELLS, Pe. Pablo. História de la Compañia de Jesús en la Província del Paraguay. Madrid: Librería General del Victoriano Suárez, Tomos I-III, 1912. PÓVOAS, Lenini C. O ciclo do açúcar e a política em Mato Grosso. IHG/MT. São Paulo: Resenha Tributária, 1983. PÓVOAS, Lenine C. História geral de Mato Grosso: dos primórdios à queda do império. Cuiabá: 1995, V. I e II. ______. Síntese de História de Mato Grosso. 2.ed. Cuiabá: Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso e da Academia Matogrossense de Letras, 1992.] PRADO Junior, Caio. História econômica do Brasil. 5ª ed., São Paulo: Brasiliense, 1959. PROENÇA, M. Cavalcanti. No termo de Cuiabá. Ministério da Educação e Cultura. INL. Rio de Janeiro: 1958. PROENÇA, Augusto César. Pantanal, gente, tradição e história. 3ª ed. Campo Grande UFMS, 1997. QUEVEDO, Roberto. Paraguay años 1671 e 1681. Asunción: El Lector, 1984. ______. Saltos del Guaira: un siglo de síntesis historica (1524-l632). Asunción: anuario de la Academia Paraguaya de la Historia, v. XXI, 1984. MISSÃO RONDON. Relatório dos trabalhos realizados de 1900 1906 pela comissão de Linhas Telegráficas do Estado de Mato Grosso, apresentado às autoridades do Ministério da Guerra pelo major de Engenharia Cândido Mariano da Silva Rondon como chefe da comissão. Publicação nº 69-70 do Conselho Nacional de Proteção aos Índios, Ministério da Agricultura. Imprensa Nacional. Rio de Janeiro. Relatorio que o Exm. Sr. vice Presidente Dr. Jose Joaquim Ramos Ferreira devia apresentar a Assembléa Legislativa Provincial de Mato Grosso na 2ª Sessão da 26ª Legislatura no dia ... de Setembro de 1887. Cuyaba, APMT. Manuscrito. RIVASSEAU, Emílio. A vida dos índios guaicurus. 2ª ed. Rio de Janeiro: 1941. ROCHA, Eunice Ajala. O processo de emancipação dos escravos na Vila de Santa Cruz de Corumbá (1873-1888). In: Revista Dimensão (UEMT/CPC). Corumbá: UFMS/CEUC, 19751977, nº 5/7, p. 78-108. RODRIGUES DO PRADO, Francisco. História dos índios Cavalleiros ou da nação guaicuru In: Revista Trimensal de História e Geographia do Instituto Histórico e Geographico Brasileiro. Rio de Janeiro: Typ. Ass do Despertador, 1856. ROSA, João Guimarães. Entremeio com o vaqueiro Mariano. In: Estas estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. SCHMIDL Ulrico. Derrotero y viaje a España y las Indias. Buenos Aires. Espasa Calpe. 1947. 82 SILVA, Maria do Carmo Brazil Gomes da. Rio Paraguai o mar interno brasileiro: uma contribuição para o estudo dos caminhos fluviais. São Paulo: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, USP, Departamento de História, Tese de doutorado, 1999. SODRÉ, Nelson Werneck. A ideologia do colonialismo, seus reflexos no pensamento brasileiro. 13. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1984. ________. As razões da independência. 3ª ed. Rio de Janeiro. Civilização brasileira. 1978. ______. Formação Histórica do Brasil. 13. ed. Rio de Janeiro: Destrand Brasil, 1990. SOUZA, Lécio G. de. História de Corumbá. s/ed, s/d. TAUNAY, Visconde de. Memórias. São Paulo: Instituto Progresso Editorial, 1948. ______. Campanha de Mato Grosso: cenas de viagens. São Paulo: Livraria do Globo, 1923. ______. Paisagens Brasileiras. São Paulo: Companhia Melhoramentos de São Paulo, s/d. VERSEN, Max Von. História da guerra do Paraguai. Belo Horizonte. Itatiaia, 1976. VIVEIROS, Esther de. Rondon conta sua vida. Rio de Janeiro: Livraria São José, 1958. Site http://www.almasdessaterra. Hpg.ig.com. br/ Terena.htm 83