FACULDADE TECSOMA Curso biomedicina Marco Antônio Silvério Ribeiro COMPARAÇÃO METODOLÓGICA PARA A ANÁLISE DA TIRA REATIVA DE URINA E SEDIMENTOSCOPIA URINÁRIA: leucocitúria e hematúria Paracatu – MG 2012 Marco Antônio Silvério Ribeiro COMPARAÇÃO METODOLÓGICA PARA A ANÁLISE DA TIRA REATIVA DE URINA E SEDIMENTOSCOPIA URINÁRIA: leucocitúria e hematúria Monografia apresentada ao Curso de Biomedicina da Faculdade TECSOMA, como requisito parcial para obtenção de título de Bacharel em Biomedicina Orientador temático: MS. Cláudia Peres da Silva Co-orientador temático: Betânia Nunes Oliveira Orientador Metodológico: Geraldo Benedito Batista Paracatu – MG 2012 Marco Antônio Silvério Ribeiro COMPARAÇÃO METODOLÓGICA PARA A ANÁLISE DA TIRA REATIVA DE URINA E SEDIMENTOSCOPIA URINÁRIA: leucocitúria e hematúria Monografia apresentada ao Curso de Biomedicina da Faculdade TECSOMA, como requisito parcial para obtenção de título de Bacharel em Biomedicina ________________________________________ Cláudia Peres da Silva (Orientador temático) – Faculdade TECSOMA _________________________________________ Geraldo Benedito Batista (Orientador metodológico) – Faculdade TECSOMA _________________________________________ Márden Mattos Junior – Faculdade TECSOMA Paracatu, 15 de junho de 2012. Aos meus pais, amigos e familiares por todo o incentivo e carinho. AGRADECIMENTOS Agradecer primeiramente a minha família pelo apoio incondicional. A meus pais, Alzira e Antônio, e meus irmãos, Paulo e Cláudia, que contribuíram e incentivaram em meus estudos. A todos os professores que passaram pela minha vida acadêmica, em especial Camila Henriques Coelho, o maior exemplo de profissional biomédico ao qual pude conhecer durante a minha formação e Rita de Cássia Medeiros, que repassou valiosos ensinamentos. Aos meus amigos, sempre presentes, Gabriela, Daiana, Phellipe, Ueliton, Mara e Agda, o meu muito obrigado. A minha orientadora Cláudia Peres da Silva e co-orientadora Betânia Nunes Oliveira que me ampararam no desenvolvimento e conclusão deste trabalho. E a todos que direta ou indiretamente auxiliaram para a realização desta pesquisa. “Hoje, a urinálise é a arte da fita de imersão. É uma tecnologia relegada a segundo plano e muitas vezes banida a um canto obscuro do laboratório. Entretanto, com a aplicação de certos cuidados e de atenção, é um dos mais valiosos entre todos os exame laboratoriais.” (CIRIADES, 2010, p. 174). RESUMO Este estudo traz um comparativo entre as tiras reagentes de urina das marcas Biocolor e Uriquest plus em comparação a sedimentoscopia urinária avaliandose a hematúria e a leucocitúria. O objetivo foi comparar os resultados para a hematúria e a leucocitúria entre as marcas de tiras reagentes Biocolor e Uriquest plus utilizadas no exame químico da urina com a sedimentoscopia urinária. Utilizou como grupo de estudo, pacientes atendidos no Laboratório Paulo Netto do município de João Pinheiro/MG para realizar o EAS. Os resultados da análise física, química e da sedimentoscopia urinária foram comparados observando-se o indício, presença ou ausência de hematúria, hemoglobinúria e leucocitúria, avaliando-se em caráter estatístico a sensibilidade, especificidade, concordância e valores preditivos positivos e negativos de cada etapa para com o comparativo das tiras reativas. As tiras foram avaliadas quanto à reação química adotada para cada kit, largura da tira e das almofadas reagentes, tempo para ocorrer à reação, visibilidade e estabilidade da reação. Considerou-se hematúria valores superiores a duas hemácias por campos contados, assim como valores superiores a cinco leucócitos por campos contados, considerou-se como leucocitúria. Na tira reativa de urina, considerou-se hematúria, resultados positivos para a tira reativa de urina, diferenciando a hematúria de hemoglobinúria, assim como reação positiva para a esterase de leucócitos, foi considerado leucocitúria. 67 pacientes participaram do estudo, sendo que 42 (64%) são do sexo feminino e 25 (36%) são do sexo masculino. Dos pacientes que apresentaram resultados positivos para hematúria/hemoglobinúria e leucocitúria na tira reativa de urina, 9 (82%) são do sexo feminino e 2 (18%) do sexo masculino. As 3 (27%) amostras positivas para leucocitúria foram de pacientes do sexo feminino. A concentração de hemácias e leucócitos mostraram concordância entre os métodos selecionados de 97% e 100%, respectivamente, demonstrando que a tira reativa de urina apresentou boa precisão e concordância com a análise física e a sedimentoscopia urinária. Palavras-chave: Tira reativa de urina. Hematúria. Leucocitúria ABSTRACT This investigation brings a compare among the urine reative strips from Biocolor and Uriquest plus marks in comparasion with urine sedimentoscopy evaluating hematuria and leukocyturia. The purpose was compare the results for hematuria an leukocyturia among the marks Biocolor and Uriquest plus of urine reative strips, used in the urine chemical examination, with urine sedimentoscopy. It was used as the studied group, pacients submitted to EAS examination at Paulo Netto’s Laboratory from the city of João Pinheiro/MG. The results from the physical and chemical analysis and the urine sedimentoscopy were compared observing the clue, presence and abscense of hematuria, free hemoglobin and leukocyturia, evaluating the statiscal charater of sensibility, specificity, concordance and positive and negative predictives values from each step for a comparative of the reagent strips. The strips were evaluated from the chemical reaction adopted for each kit, the strip width and the reagent pad, time to occur the reaction, visibility and stability of the reaction. It was considered hematuria values higher than two erythrocytes from counted field, as well as values higher than five leukocytus from counted field was considered leukocyturia. In the urine reative strip, it was considered hematuria, positive results for the urine reative strip, differentiating hematuria from hemoglobinuria, as well as positive reaction for leukocytes esterase, was considered leukocyturia. 67 pacients were included in this investigation, being 42 (64%) of them female and 25 (36%) are male. From the patients that showed positive results for hematuria/hemoglobinuria and leukocyturia in the urine reative strips, 9 (82%) are female and 2 (18%) are male. The 3 (27%) positive samples for leukocyturia were from female patients. The concentration of erythrocytes and leukocytes showed concordance among the selected methods of 97% and 100%, respectively, showing that the urine reative strip presented precision and strong concordance with the physical analisys and urine sedimentoscopy. Keywords: Reagent strips of urine. Hematuria. Leucocyturia. LISTA DE ABREVIATURAS a.C. – antes de Cristo ADH – Hormônio antidiurético dL – Decilitros Fig. – Figura Graf. – Gráfico h – Horas H1 – hematúria H2 – hemoglobinúria L – Litros ml – Mililitros mm – Milímetros MG – Minas Gerais pH – Potencial de hidrogenização pKa – Constante de dissociação Rpm – Rotações por minuto TFG – Taxa de filtração glomerular LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 – Sistema urinário ........................................................................... 22 FIGURA 2 – Processo de filtração e processamento tubular ........................... 26 FIGURA 3 – Fisiologia renal ............................................................................. 29 FIGURA 4 – Tira reativa de urina Uriquest plus, Labtest ................................. 35 FIGURA 5 – Tira reativa de urina Biocolor, Bioeasy ........................................ 36 FIGURA 6 – Tabela de cores para Glicose Tira Uriquest plus, Labtest ........... 37 FIGURA 7 – Tabela de cores para Glicose Tira Biocolor, Bioeasy .................. 37 FIGURA 8 – Tabela de cores para Hemácias/sangue Tira Uriquest plus, Labtest e Biocolor, Bioeasy .......................................................... 38 FIGURA 9 – Tabela de cores para Esterase leucocitária Tira Uriquest plus, Labtest e Biocolor, Bioeasy .......................................................... 40 FIGURA 10 – Tabela de cores para Nitrito Tira Uriquest plus, Labtest e Biocolor, Bioeasy ....................................................................... 41 FIGURA 11 – Tabela de cores para Bilirrubina Tira Uriquest plus, Labtest ..... 42 FIGURA 12 – Tabela de cores para Bilirrubina Tira Uriquest plus, Labtest ..... 43 FIGURA 13 – Tabela de cores para Urobilinogênio Tira Uriquest plus, Labtest e Biocolor, Bioeasy ....................................................... 44 FIGURA 14 – Tabela de cores para pH Tira Uriquest plus, Labtest Biocolor, Bioeasy ....................................................................... 45 FIGURA 15 – Tabela de cores para Densidade Tira Uriquest plus, Labtest e Biocolor, Bioeasy ....................................................................... 46 FIGURA 16 – Tabela de cores para Proteínas Tira Uriquest plus, Labtest e Biocolor, Bioeasy ....................................................................... 47 FIGURA 17 – Tabela de cores para Corpos cetônicos Tira Uriquest plus, Labtest e Biocolor, Bioeasy ....................................................... 48 FIGURA 18 – Tabela de cores para Ácido ascórbico Tira Uriquest plus, Labtest ....................................................................................... 49 LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 1 Distribuição do total de amostras em relação ao sexo ................. 57 GRÁFICO 2 Distribuição de amostras positivas para hematúria/hemoglobinúria e leucocitúria em relação ao sexo ................................................ 58 LISTA DE QUADROS QUADRO 1 Influência pré-analítica.................................................................. 17 QUADRO 2 Aspecto e cor da urina .................................................................. 34 QUADRO 3 Avaliação das tiras reativas de urina Uriquest plus e Biocolor ..... 59 LISTA DE TABELAS TABELA 1 Classificação dos resultados semiquantitativos: bactérias, cilindros, muco, células epiteliais e cristais .................................................... 55 TABELA 2 Comparação entre as tiras reativas de urina e a sedimentoscopia para hematúria/hemoglobinúria e leucocitúria ................................ 60 TABELA 3 Concordância entre a contagem de hemácias e reações positivas para sangue na tira reativa de urina ............................................... 61 TABELA 4 Concordância entre a contagem de leucócitos e reações positivas para esterase de leucócitos na tira reativa de urina ....................... 61 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. .16 1.1 Justificativa............................................................................................... 19 1.2 Objetivos .................................................................................................. 20 1.2.1 Objetivo geral ........................................................................................ 20 1.2.2 Objetos específicos............................................................................... 20 2 URINÁLISE ................................................................................................... 21 2.1 Sistema urinário ....................................................................................... 21 2.2 Anatomia e fisiologia renal ...................................................................... 23 2.3 Fisiologia renal ........................................................................................ 26 2.3.1 Filtração ................................................................................................. 27 2.3.2 Reabsorção tubular ............................................................................... 27 2.3.3 Secreção tubular ................................................................................... 28 2.3 Formação da urina .................................................................................. 29 2.4 Fisiopatologia ........................................................................................... 30 2.5 Elementos anormais e sedimento .......................................................... 31 2.5.1Análise física .......................................................................................... 32 2.5.1.1 Cor ....................................................................................................... 32 2.5.1.2 Aspecto .............................................................................................. 33 2.5.1.3 Volume urinário .................................................................................. 33 2.5.2 Tiras reativas ......................................................................................... 35 2.5.2.1 Glicose ............................................................................................... 37 2.5.2.2 Hemácias/sangue ............................................................................... 38 2.5.2.3 Esterase leucocitária.......................................................................... 39 2.5.2.4Nitrito .................................................................................................... 40 2.5.2.5 Bilirrubina ........................................................................................... 42 2.5.2.6 Urobilinogênio ................................................................................... 43 2.5.2.7 pH ........................................................................................................ 44 2.5.2.8 Densidade ........................................................................................... 45 2.5.2.9 Proteínas ............................................................................................. 46 2.5.2.10 Corpos cetônicos ........................................................................... 47 2.5.2.11 Ácido ascórbico................................................................................ 48 2.5.3 Sedimentoscopia urinária..................................................................... 49 2.5.3.1 Hemácias............................................................................................. 49 2.5.3.2 Leucócitos ......................................................................................... 50 2.5.3.3 Outros elementos ............................................................................... 50 4 METODOLOGIA ........................................................................................... 52 4.1 Análise física da urina.............................................................................. 53 4.2 Análise química da urina ......................................................................... 54 4.2.1 Tira Biocolor ......................................................................................... 54 4.2.2 Tira Uriquest plus .................................................................................. 54 4.3 Sedimentoscopia urinária........................................................................ 55 5 RESULTADOS .............................................................................................. 57 6 DISCUSSÃO ................................................................................................. 62 7 CONCLUSÃO ............................................................................................... 63 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 64 APÊNDICES .................................................................................................... 67 16 1 INTRODUÇÃO O exame de urina proporciona informações relevantes sobre a função renal, hepática, equilíbrio ácido-básico, metabolismo de carboidratos e infecções do trato urinário. Pela sua simplicidade, baixo custo e fácil obtenção é considerado um exame de rotina. (BIOEASY, 2010; COLOMBELI, 2006; RAVEL, 2009; STRASINGER; DI LORENZO, 2009). Basicamente o exame de urina divide-se em três etapas: exame físico, químico e a sedimentoscopia urinária. (COSTAVAL et al., 2001). O exame físico de urina inclui a descrição de características físicas, como cor, aspecto e volume urinário. (MUNDT; SHANAHAN, 2012). No exame químico, é feita a análise dos constituintes bioquímicos da urina através de tiras reagentes, com o objetivo de tornar a determinação de elementos da urina mais rápida, mais simples e mais econômica. Ela permite avaliar dez ou mais parâmetros bioquímicos clinicamente importantes, como urobilinogênio, glicose, corpos cetônicos, bilirrubina, proteína, nitrito, potencial de hidrogenização (pH), densidade, sangue e leucócitos. (BIOEASY, 2010; COLOMBELI; FALKENBERG, 2006). “Há algumas variações relativas a reações químicas, sensibilidade, especificidade, e ocorrência de substâncias interferentes entre as tiras reativas de urina presentes no mercado.” (STRASINGER; DI LORENZO, 2009, p. 162). As tiras Biocolor contêm um suporte com 10 parâmetros em detrimento da tira Uriquest plus que apresenta 11, como diferencial o acréscimo da reação para o ácido ascórbico e variações entre as reações para a glicose, urobilinogênio, sangue, nitrito, leucócitos e densidade. (BIOEASY, 2010; LABTEST, 2009). Inúmeras variáveis podem intervir no desempenho da fase analítica e, consequentemente, na exatidão e precisão dos resultados dos exames, vitais para a conduta médica e, em última instância, para o bem-estar do paciente. A contaminação menstrual, enzimas bacterianas, ácido ascórbico e formol são alguns interferentes, em destaque a interferência de medicamentos em análises clínicas que assume importante papel na rotina laboratorial por interferir nos ensaios e modificar o diagnóstico clínico-laboratorial. (FERREIRA et al., 2009; LABTEST, 2009; STRASINGER; DI LORENZO, 2009). 17 Nas reações para a tira reativa de urina podem ocorrer falso-negativos e falso-positivos em todos os parâmetros analisados na tira pela ação de diversas classes de medicamentos. (BIOEASY, 2010; LABTEST, 2009). A bula da marca Bayer Multistix® 10 SG destaca suas limitações na presença de captopril, fato também relatado por Labtest (2009), no qual age interferindo na sensibilidade do teste de hemoglobina em tira reagente para exame de urina, acarretando em um falso negativo. (STRASINGER; DI LORENZO, 2009; LIESENFELD et al., 2009). Segundo Bonini e colaboradores (2002), a literatura sobre erros laboratoriais é escassa, mas foi possível verificar que uma grande parcela destes erros ocorre nas fases pré ou pós-analíticas, evidenciando assim a importância da etapa pré-analítica na incidência dos erros laboratoriais. No quadro 1, Labtest (2009) relaciona alguns fatores pré-analíticos que podem influenciar nos resultados obtidos na tira reativa. Bilirrubina Corpos cetônicos Densidade Glicose Leucócitos Nitrito Ph Proteína Sangue Urobilinogênio Quadro 1 – Influência pré-analítica Diminuição/Ausência Aumento/Presença Luz solar direta sobre a ______ amostra Evaporação das cetonas Jejum prolongado, gravidez, exercício físico Ingestão acentuada de líquidos, utilização de ______ diuréticos Bacteriúria Intoxicação com chumbo, gravidez ______ Contaminação com secreção vaginal Baixa ingestão de Crescimento bacteriano vegetais, conversão de em urinas armazenadas nitrito a nitrogênio à temperatura ambiente por mais de duas horas Produção de amônia por ______ bactérias produtoras de uréase Gravidez ______ Contaminação com menstruação Luz solar direta, amônia Acetona, bilirrubina Fonte: Adaptado de LABTEST, 2009. 18 O exame químico para hemoglobina e esterase leucocitária fornecem bons indicadores para a presença de sangue e leucócitos na urina. A sedimentoscopia urinária detecta hemácias e leucócitos intactos, mas a hemoglobina livre e leucócitos lisados não são detectados. (FULLER; THREATTE; HENRY, 2008; STRASINGER; DI LORENZO, 2009). Strasinger e Di Lorenzo (2009) citam que a técnica imprópria pode levar a erros. Elementos formados como hemácias e leucócitos, sedimentam na parte inferior da amostra e não serão detectados em uma amostra de urina não homogeneizada. “As áreas reagentes que sofrem influência frente à presença de ácido ascórbico são glicose e sangue, por isso estão protegidos de sua ação antioxidante reduzindo a frequência de resultados falso-negativos e a necessidade de se obter nova amostra.” (LABTEST, 2009, p. 01). Bioeasy (2010) salienta que a tira Biocolor detecta hemoglobina livre somente em valores de ácido ascórbico inferiores a 50 mg/dL, ao qual deve ser avaliado independentemente. Lyon e colaboradores citado por Colombeli (2006), definiram em 58% a sensibilidade da esterase de leucócitos para sua capacidade em prever a quantidade de leucócitos no sedimento urinário, porém observaram uma relação inversamente proporcional entre a densidade e a sensibilidade para a esterase de leucócitos. Wallach (2011) reforça que o ensaio não oferece condições para medir a concentração de leucócitos e desta forma, a quantificação deve ser feita durante análise do sedimento urinário. Em relação à interpretação de resultados positivos para a hematúria, presença de sangue na urina e leucocitúria, presença de leucócitos na urina, deve-se ater a algumas condições onde a sua presença não necessariamente representa uma condição patológica. (CARMO et al., 2007; RAVEL, 2009). Wallach (2011) exemplifica esta condição ao relatar que a hematúria pode ser encontrada em até 18% das pessoas após exercício físico muito extenuante, assim como Labtest (2009) ao citar que a presença de fluidos vaginais na urina pode acarretar em falsos positivos para a leucocitúria. No Brasil, devido à despadronização dos métodos de análise do sedimento urinário, acarreta em problemas metodológicos, contribuindo para a imprecisão dos resultados, todavia, devido à excreção normal de um número 19 pequeno de elementos celulares, a grande maioria dos resultados dos exames em amostras normais não contaminadas mantém-se dentro dos valores clínicos normais, independentemente do grau de centrifugação da amostra. (BOTTINI; GARLIPP, 2006; RAVEL, 2009). Atualmente, tanto o National Committee for Clinical Laboratory Standards dos EUA como o European Urinalysis Guidelines sugerem a padronização da contagem de células no exame de urina. O exame do sedimento urinário, de grande utilidade clínica, deve ser realizado por meio de um sistema automatizado e/ou de um procedimento padronizado em uma câmara de contagem de células de volume pré-definido. (BOTTINI; GARLIPP 2006; COSTA et al., 2006). Conforme foi citado no estudo de Costaval e outros (2001, p. 264) por Ringsrud e Linné, orienta-se que a decisão de se realizar a microscopia do sedimento deve ser de cada laboratório individualmente, com base na característica de sua clientela, [...] e sugere que [...] ela deve ser feita quando solicitada pelo clínico, quando determinada pelo protocolo do laboratório ou quando se encontram anormalidades no exame físico-químico. Diversas técnicas laboratoriais para a análise da urina foram implantadas na tentativa de se automatizar a análise química pela tira reativa de urina e a microscópica do sedimento urinário, com o objetivo de auxiliar o microscopista na liberação de resultados mais rápidos e precisos. Contudo, o método manual ainda é o mais empregado, provavelmente devido a fatores econômicos e/ou estruturais. (BOTTINI; GARLIPP, 2006; COLOMBELI; FALKENBERG, 2006; COSTA et al., 2006; MUNDT; SHANAHAN, 2012). 1.1 Justificativa Em exames de urina, boa parte dos estudos de interferência relacionase com a pesquisa de drogas de abuso ou hormônios, havendo relativamente poucos estudos de interferência em fitas de urinálise e na prevalência de hematúria e leucocitúria. (COLOMBELI, 2006, BASTOS; MARTINS; DE PAULA; 2000). Sua aplicabilidade segundo Machado e colaboradores (2003), em um resultado positivo na tira reagente é um pré-requisito usado com segurança para que a sedimentoscopia urinária seja executada. 20 Alguns inconvenientes no uso de tiras reagentes semi-quantitativas são os bem conhecidos resultados falso-positivos e falso-negativos, quando as leituras não são padronizadas, principalmente, levando-se em conta a qualidade das tiras, o tempo entre a imersão da tira reagente na urina que pode provocar a saída de reagentes das almofadas e a leitura visual da cor resultante da reação. (LABTEST, 2009; MACHADO et al., 2003; STRASINGER; DI LORENZO, 2009). A meta do laboratório clínico é produzir resultados exatos e precisos. Componentes endógenos e/ou exógenos presentes em fluidos biológicos podem interferir na exata determinação de um analito. (FULLER; THREATTE; HENRY, 2008; RAVEL, 2009). Define-se interferência como “o efeito da substância presente na amostra que altera o valor correto do resultado, usualmente expresso como concentração ou atividade para um analito”. (COLOMBELI; FALKENBERG, 2006, p. 91). 1.2 Objetivos A seguir estão descritos os objetivos propostos neste trabalho. 1.2.1 Objetivo geral Comparar os resultados para a hematúria e a leucocitúria entre as marcas de tiras reagentes Biocolor e Uriquest plus utilizadas no exame químico da urina com a sedimentoscopia urinária. 1.2.2 Objetivos específicos Associar os dados obtidos pelas tiras reagentes no exame químico da urina com o exame físico da urina e a sedimentoscopia urinária; Correlacionar os dados obtidos e avaliar a confiabilidade frente à comparação dos métodos selecionados; Coletar dados relevantes para o estudo através do uso da entrevista estruturada, abordando possíveis interferentes. 21 2 URINÁLISE O primórdio da medicina laboratorial se deu pela análise da urina. As primeiras descrições datam de desenhos dos tempos das cavernas e nos hieróglifos egípcios, como o de Edwin Smith Surgical Papyrus. (COLOMBELI, 2006; FUNCHAL; MASCARENHAS; GUEDES, 2008; FULLER; THREATTE; HENRY, 2008; RAVEL, 2009; STRASINGER; DI LORENZO, 2009). No século V antes de Cristo (a.C.), Hipócrates propôs em um livro sobre “uroscopia” as primeiras etapas do exame de urina. Inicialmente analisando-se parâmetros mais simples, como cor, odor e sabor, o exame de urina evoluiu, ganhando complexidade, fato observado pela implantação do exame do sedimento urinário e o desenvolvimento por Thomas Addis de métodos de quantificação do exame microscópico de sedimento que surgiram no século XVII, com a introdução do microscópio. (COLOMBELI; FALKENBERG, 2006; STRASINGER; DI LORENZO, 2009). A partir de 1827, o exame de urina começou a fazer parte do exame médico de rotina do paciente, e no século XX, devido à expansão do conhecimento técnico-científico, veio a se tornar a urinálise como ciência. Por ser uma amostra de fácil obtenção e exigir métodos simples e baratos, e que permite obter informações de muitas das principais funções metabólicas do organismo é considerado exame de rotina, tendência atual da medicina preventiva e de menores custos médicos. (FUNCHAL; MASCARENHAS; GUEDES, 2008; FULLER; THREATTE; HENRY, 2008; STRASINGER; DI LORENZO, 2009). 2.1 Sistema urinário O sistema urinário é formado por quatro componentes principais, como pode ser visualizado na Figura 1: o rim, local onde a urina é formada a partir da filtração do sangue, os ureteres, que conduzem a urina até a bexiga, ao qual armazena a urina produzida e a uretra que transporta a urina para ser eliminada do organismo. (FUNCHAL; MASCARENHAS; GUEDES, 2008; MUNDT; SHANAHAN, 2012). 22 Figura 1 – Sistema urinário Fonte: MUNDT; SHANAHAN, 2012 Os rins são os meios primários para excretar os metabólitos, devendo ser eliminados do organismo tão rapidamente quanto são produzidos. (GUYTON; HALL, 2006). Removem do sangue os produtos de metabolismo como a uréia, ácido úrico e creatinina, e retém substâncias valiosas tais como a glicose, aminoácidos e proteínas. (BAYNES; DOMINICZAK, 2007; FULLER; THREATTE; HENRY, 2008). 23 A função excretora dos rins inclui a filtração do plasma nos glomérulos, transporte de água e solutos a partir do lúmen tubular de volta para o sangue (reabsorção tubular), e a secreção de diferentes substâncias a partir das células tubulares para o lúmen. (BAYNES; DOMINICZAK, 2007). 2.2 Anatomia e fisiologia renal Os rins estão situados um de cada lado da coluna vertebral, no espaço retroperitoneal. Cada rim de um humano adulto pesa cerca de 150 gramas e tem o tamanho aproximado de uma mão fechada e por conta da localização anatômica do fígado, o rim direito encontra-se ligeiramente mais abaixo do rim esquerdo. É um órgão em forma de feijão, e sua borda medial contém uma indentação, o hilo renal, através do qual a artéria renal penetra no rim, e a veia renal e o ureter deixam o rim, assim como vasos linfáticos e o suprimento nervoso. O rim é circundado por uma cápsula fibrosa resistente que protege as estruturas internas, mais delicadas, encimado pela glândula adrenal. (COMPRINARDY; STELLA; OLIVEIRA, 2011; GUYTON; HALL, 2006; MUNDT; SHANAHAN, 2012). A dissecção longitudinal completa de um rim permite visualizar duas regiões principais: uma mais externa, o córtex, e uma interna, denominada como medula. A medula se divide em múltiplas massas teciduais com o formato de cones, as pirâmides renais. Na base de cada pirâmide entre as regiões cortical e medular, na borda externa da pelve estão divididas os cálices maiores e menores, os quais coletam a urina dos túbulos de cada papila. As paredes dos cálices, pelve e ureter contêm elementos contráteis que propelem a urina em direção a bexiga, onde a urina é armazenada até que seja eliminada pela micção. (GUYTON; HALL, 2006). A bexiga é uma câmara de músculo liso composta de duas partes principais: o corpo, a parte principal da bexiga e onde a urina é armazenada e o colo, uma extensão afunilada do corpo, passando inferior e anteriormente ao triângulo urogenital e conectando-se com a uretra. (GUYTON; HALL, 2006; MUNDT; SHANAHAN, 2012). O córtex e a medula renais contêm os túbulos renais, os túbulos dos néfrons e os ductos coletores. O néfron é a principal unidade funcional do rim, 24 e possui mais de um milhão de néfrons em cada um, no entanto, ele não pode regenerar novos néfrons. Portanto com a lesão renal, doença ou envelhecimento, há um gradual declínio no número de néfrons. (COMPRINARDY; STELLA; OLIVEIRA, 2011; GUYTON; HALL, 2006). O néfron é constituído por um plexo capilar chamado glomérulo, pelo qual grande quantidade de líquido é filtrada do sangue e um túbulo complexo, no qual o líquido filtrado é convertido em urina no trajeto para a pelve renal. Ele é dividido pela cápsula de Bowman, uma terminação de túbulo cega, invaginada e dilatada, e os túbulos contorcidos proximal e distais, que se ligam entre si pela alça de Henle, constituída pelo ramo descendente, curvatura em grampo e ramo ascendente. (GUYTON; HALL, 2006; COMPRI-NARDY; STELLA; OLIVEIRA, 2011; MUNDT; SHANAHAN, 2012). As paredes do ramo descendente e da curvatura em grampo são muito finas e, portanto, são denominadas de segmento fino da alça de Henle, e como seus nomes denotam, possuem membranas finas, poucas mitocôndrias e níveis mínimos de atividade metabólica, já o ramo ascendente por possuir paredes mais espessas, são denominadas de segmento espesso do ramo ascendente, e por possuírem células epiteliais espessas, apresentam alta atividade metabólica e são capazes de reabsorção ativa de sódio, potássio e cloreto. (GUYTON; HALL, 2006; LIESENFELD et al., 2009). A função dos glomérulos é a filtração do plasma e para que ela ocorra à pressão dos capilares dos glomérulos deve ser maior que a pressão dentro do túbulo. (MUNDT; SHANAHAN, 2012). Na formação do glomérulo, a arteríola aferente penetra na cápsula de Bowman, ramificando-se para aumentar a área de filtração, reunifica-se e então sai como arteríola eferente. (COMPRI-NARDY; STELLA; OLIVEIRA, 2011). O espaço formado entre a cápsula e o glomérulo corresponde ao espaço de Bowman, onde o plasma dos capilares glomerulares é filtrado. (MUNDT; SHANAHAN, 2012). A filtração glomerular depende do tamanho da superfície de filtração e da permeabilidade da barreira de filtração que inclui a camada de células endoteliais com os poros característicos conhecidos como fenestrações. As fenestrações na camada endotelial formam uma peneira filtrante que permite a livre passagem de água e moléculas de baixo peso molecular. A filtração de 25 moléculas maiores através desta barreira é limitada pelo tamanho, forma e carga elétrica. (BAYNES; DOMINICZAK, 2007). O líquido filtrado dos capilares glomerulares flui para o interior da cápsula de Bowman e daí para o interior do túbulo proximal, que se situa na zona cortical renal. (GUYTON; HALL, 2006). No interior do córtex renal, as células da arteríola aferente estabelecem contato com as células da mácula densa do túbulo distal, formando o aparelho justaglomerular. Ele mantém a pressão sanguínea em uma taxa relativamente constante, independente das flutuações da pressão sanguínea sistêmica, pela regulação da dilatação e da constrição da arteríola aferente, por meio de um mecanismo conhecido como feedback tubuloglomerular. (MUNDT; SHANAHAN, 2012). No túbulo proximal, todas as substâncias essenciais são completamente reabsorvidas: glicose, aminoácidos, creatina, piruvato, lactato e ácido ascórbico, todos eles absorvidos por transporte ativo por meio das membranas celulares. Neste mesmo segmento, o sódio é reabsorvido pelo mecanismo de bomba do sódio. A água, ácido carbônico (HCO3) e cloretos acompanham o sódio por difusão passiva, e à medida que o filtrado desce pelo ramo descendente da alça de Henle, perde um pouco de água para o fluído intersticial, mas quando atravessa o ramo ascendente da alça, impermeável a água, reabsorve mais sódio. Ao passar pelo túbulo contornado distal, todo o sódio restante é reabsorvido em troca de potássio ou íons hidrogênio. Este mecanismo envolve o hormônio aldosterona, um retentor de sódio. (BAYNES; DOMINICZAK, 2007; COMPRI-NARDY; STELLA; OLIVEIRA, 2011). Durante a passagem por este segmento e do ducto coletor primário, pode ocorrer uma reabsorção facultativa da água, inteiramente dependente da ação do hormônio antidiurético (ADH), também conhecido como vasopressina. (COMPRI-NARDY; STELLA; OLIVEIRA, 2011). Embora os ductos coletores medulares reabsorvam menos de 10% da água e do sódio filtrados, eles são o local final para o processamento da urina e, portanto, tem um papel extremamente importante na determinação da quantidade final de saída na urina de água e de solutos. (GUYTON; HALL, 2006). Um desenho esquemático do processo de filtração e processamento tubular pode ser visto na Figura 2. 26 Figura 2 – Processo de filtração e processamento tubular Fonte: MUNDT; SHANAHAN, 2012 O fluxo de urina dos ductos coletores para o interior dos cálices distende-os e aumenta sua atividade e com isso, iniciam-se contrações peristálticas que se difundem para a pelve renal e ao longo do ureter, propelindo a urina da pelve renal em direção à bexiga, até sua excreção, no processo conhecido como micção. (FUNCHAL; MASCARENHAS; GUEDES, 2008). 2.3 Fisiologia renal Os rins tomam parte em várias funções reguladoras: excreção de metabólitos, tais como os produtos nitrogenados do catabolismo das proteínas e ácidos e bases orgânicas e inorgânicas, eliminação de substâncias estranhas ao organismo, regulação do equilíbrio ácido-básico, dos eletrólitos, como sódio, potássio, cálcio e magnésio, osmolalidade dos líquidos corporais e da concentração de eletrólitos, regulação da pressão arterial, secreção, metabolismo e excreção de hormônios, como a eritropoetina e renina bem como a ativação da vitamina D e gliconeogênese. (GUYTON & HALL, 2006; FULLER; THREATTE; HENRY, 2008). Desta forma, o rim participa da homeostase por meio de três processos: a filtração, na retenção de todas as substâncias de baixa massa molecular, principalmente proteínas, a reabsorção seletiva, na seleção das substâncias 27 que devem retornar ao meio interno e a secreção, na expulsão das substâncias que foram filtradas, mas devem ser excretadas em quantidade maior do que a filtrada. Neste percurso, o volume, a composição e a osmolalidade do filtrado glomerular são modificados durante o fluxo através dos túbulos renais. (BAYNES; DOMINICZAK, 2007; COMPRI-NARDY; STELLA; OLIVEIRA, 2011, GUYTON; HALL, 2006) Desses processos citados resulta a urina, que reflete de forma direta as alterações do meio interno e proporciona, por meio de sua análise, informações valiosas sobre a patologia renal e do trato urinário, além de algumas moléstias extra-renais. (COMPRI-NARDY; STELLA; OLIVEIRA, 2011, FULLER; THREATTE; HENRY, 2008; RAVEL, 2009). 2.3.1 Filtração Aproximadamente 120 mL/min, ou um quinto do fluxo plasmático renal é filtrado através dos glomérulos para o interior da cápsula de Bowman, formando o ultrafiltrado plasmático, um líquido essencialmente livre de proteínas e desprovido de elementos celulares como as hemácias. (GUYTON; HALL, 2006; MUNDT; SHANAHAN, 2012). A taxa de filtração, conhecida como taxa de filtração glomerular (TFG), é proporcional ao tamanho corporal e, portanto, varia de acordo com a idade e o sexo. Ela é um indicador importante da função renal, sendo utilizada para monitorar a progressão de doenças renais. (MUNDT; SHANAHAN, 2012). A TFG é determinada pelo equilíbrio das forças hidrostáticas e coloidosmóticas agindo através da membrana capilar e pelo coeficiente de filtração capilar, o produto da permeabilidade e da área de superfície de filtração dos capilares. (GUYTON; HALL, 2006). 2.3.2 Reabsorção tubular À medida que o ultrafiltrado atravessa os túbulos proximais, uma grande quantidade de água, cloreto de sódio, bicarbonato, potássio, cálcio, aminoácidos, fosfato, proteína, glicose e outras substâncias necessárias ao organismo são reabsorvidas e retornam a corrente sanguínea. Essas 28 substâncias são reabsorvidas em proporções variadas, de modo que as proteínas e a glicose são quase totalmente reabsorvidas, ao passo que o cloreto de sódio é reabsorvido apenas parcialmente, e não há reabsorção de creatinina. (MUNDT; SHANAHAN, 2012). Grande parte do filtrado é reabsorvido no túbulo proximal, devido as suas características celulares especiais. As células epiteliais do túbulo proximal mantêm o metabolismo elevado devido ao grande número de mitocôndrias, necessárias para suportar muitos processos de transporte ativo. Além disso, as células tubulares proximais apresentam uma borda em escova com microvilosidades que fornecem uma área de superfície de membrana extensa nos lados luminal e basolateral do epitélio para a reabsorção e a secreção. Essas microvilosidades contêm diversas enzimas como a anidrase carbônica, que auxiliam neste processo. (GUYTON; HALL, 2006). O ramo descendente da alça de Henle é bastante permeável à água, em contraste ao componente ascendente, incluindo tanto a porção fina quanto a espessa, que é praticamente impermeável à água, uma característica importante para a concentração da urina. No ramo ascendente, há reabsorção ativa de sódio, cloreto, cálcio e magnésio devido à carga ligeiramente positiva do lúmen tubular em relação ao líquido intersticial. Nesta seção do túbulo e na sua porção restante, íons hidrogênio e amônia são secretados. Portanto, a maior parte da água que chega a esse segmento permanece no túbulo, apesar da reabsorção de grandes quantidades de soluto. (GUYTON; HALL, 2006; MUNDT; SHANAHAN, 2012). 2.3.3 Secreção tubular A secreção tem um papel importante na determinação das quantidades de potássio, íons hidrogênio e outras poucas substâncias que são excretadas na urina. (GUYTON; HALL, 2006). Contrário à reabsorção, a secreção tubular envolve o envio de moléculas do sangue nos capilares peritubulares para o filtrado tubular, visando sua excreção. (MUNDT; SHANAHAN, 2012). O processo de secreção tubular remove produtos finais exógenos indesejáveis que não são filtrados pelo glomérulo, inclusive diversos medicamentos e toxinas, ao qual de outra forma não seriam excretados, isso 29 por estarem frequentemente ligados a proteínas carreadoras, impossibilitando sua remoção da circulação durante a filtração glomerular. (COLOMBELI; FALKENBERG, 2006; GUYTON; HALL, 2006; MUNDT; SHANAHAN, 2012). Diversos íons são secretados, incluindo íons sódio, potássio, hidrogênio, amônia, bicarbonato, e também ácido úrico e alguns ácidos e bases fracos. Estes processos exigem alto gasto de energia por requerer transporte ativo para esta atividade. (GUYTON; HALL, 2006). A Figura 3 resume os processos de filtração, reabsorção e secreção necessários para a formação de urina. Figura 3 – Fisiologia renal Fonte: MUNDT; SHANAHAN, 2012 2.3 Formação da urina “A água, os resíduos do metabolismo e os eletrólitos e não-eletrólitos em excesso no meio interno são excretados por meio de um líquido corporal chamado urina.” (COMPRI-NARDY; STELLA; OLIVEIRA, 2011, p. 122). A urina é um ultrafiltrado plasmático e apresenta a mesma composição do plasma sanguíneo, exceto pela menor concentração de proteínas de baixo peso molecular por volta de 10 mg/dL. (MUNDT; SHANAHAN, 2012). 30 De acordo com Ciriades (2010), a urina, excretada pelos rins, é uma solução cujo solvente é a água e cujo soluto é uma mistura de inúmeros elementos químicos: proteínas, nitrogenados, aminoácidos, bases e ácidos orgânicos, pigmentos sanguíneos, carboidratos, lipídeos, hormônios, vitaminas, enzimas, sais orgânicos e inorgânicos e metabólitos finais e intermediários. Variações nas concentrações destes solutos podem acontecer por influência de diversos fatores, dentre os principais: atividade física, ingestão de alimentos e líquidos, medicamentos, metabolismo corporal, funções endócrinas e inclusive a posição corporal. (BAYNES; DOMINICZAK, 2007; CIRIADES, 2010; STRASINGER; LORENZO, 2009). “Além de uma solução, a urina também é uma suspensão de elementos figurados representados por micro-organismos, hemácias, leucócitos, células de descamação, cristais, cilindros e outros.” (CIRIADES, 2010, p. 174). Estes elementos são analisados no exame microscópico de rotina da urina, efetuado no sedimento da urina centrifugada. (RAVEL, 2009). Algumas destas são consideradas normais, ao passo que outras são observadas em diversos distúrbios renais e metabólicos. (MUNDT; SHANAHAN, 2012). No adulto normal, o fluxo sanguíneo para ambos os rins é de aproximadamente 1.200 ml/min, o que contribui para aproximadamente 25% do débito cardíaco. O volume do filtrado glomerular original de aproximadamente 180 L em 24 horas é reduzido para aproximadamente 1 a 2 L, dependendo das condições de hidratação, tendo em vista que o volume mínimo necessário para remover os produtos metabólicos, principalmente uréia e creatinina, é cerca de 0,5 L/24h, um fluxo extremamente alto comparado a outros órgãos. O propósito deste fluxo adicional é suprir plasma suficiente para se ter altas taxas de filtração glomerular que são necessárias para a regulação precisa dos volumes dos líquidos corporais e concentrações de solutos. (BAYNES; DOMINICZAK, 2007; GUYTON; HALL, 2006; FULLER; THREATTE; HENRY, 2008). 2.4 Fisiopatologia As doenças renais estão entre as causas mais importantes de óbito e de incapacidade em diversos países em todo o mundo (GUYTON; HALL, 2006). Certas doenças sistêmicas podem produzir alterações quantitativas ou 31 qualitativas dos constituintes urinários ou resultar na excreção de substâncias anormais, sem considerar os efeitos diretos sobre os rins. Por outro lado, a doença do trato urinário pode produzir sintomas sistêmicos notáveis. A progressão ou a regressão das várias lesões provocadas pode ser monitorada com um mínimo de estresse ao paciente por meio do exame de urina. (COSTA et al., 2006; FULLER; THREATTE; HENRY, 2008; RAVEL, 2009). Segundo Ravel (2009), o exame de elementos anormais e sedimento (EAS) representa um elemento indispensável da patologia clínica, considerando-se que pode detectar doenças em qualquer parte do trato urinário. Desta forma, o EAS contribui significativamente para direcionar o diagnóstico, baseado nos resultados obtidos das diversas moléstias que podem refletir através da urina, desde hepatite, diabetes e intoxicação, assim como na detecção de doenças renais, em destaque, a glomerulonefrite, a síndrome nefrótica e até mesmo o câncer. (COLOMBELI; FALKENBERG, 2006; COSTA et al., 2006; FULLER; THREATTE; HENRY, 2008; FERREIRA et al., 2009). No que se refere às doenças renais, podemos classificá-las em quatro categorias diferentes: insuficiência renal aguda, em que os rins param por completo ou quase completamente, doença renal crônica, em que há uma redução do número de néfrons, síndrome nefrótica, em que há um aumento da permeabilidade glomerular dando como efeito perda de grande quantidade de proteínas na urina e distúrbios tubulares específicos, como a deficiência de reabsorção de glicose, diabetes insípido, dentre outras. Tais doenças podem levar a alterações nas características físico-químicas da urina e/ou ainda nos seus constituintes químicos. (COMPRI-NARDY; STELLA; OLIVEIRA, 2011). 2.5 Elementos anormais e sedimento No Brasil, a realização do exame de urina, Urina tipo I ou EAS é realizada em três etapas. A urina como solução é investigada por métodos físicos, físico-químicos e químicos, correspondente a análise física e química da urina e como suspensão é investigada ao microscópio óptico e por métodos microbiológicos, relativo à análise do sedimento urinário. (CIRIADES, 2010; COSTAVAL et al., 2001; RAVEL, 2009). 32 Costa e outros (2004) ressaltam que a aceitabilidade da amostra de urina, deve ser avaliada segundo as condições de coleta, armazenamento e identificação antes de se realizar o teste. 2.5.1 Análise Física A urina apresenta uma composição básica composta essencialmente por água, uréia, ácido úrico, creatinina, sódio, potássio, cloreto, cálcio, magnésio, fosfatos, sulfatos e amônia, mas que pode variar segundo alguns fatores, assim como, em algumas condições patológicas, onde determinadas substâncias como corpos cetônicos, proteínas, glicose, porfirinas e bilirrubinas podem acarretar em alterações tanto físicas como químicas. (MUNDT; SHANAHAN, 2012; COMPRI-NARDY; STELLA; OLIVEIRA, 2011). Costa e outros (2004) citam que o exame físico da urina corresponde à primeira análise a ser realizada na urina, onde pode ser observado principalmente a cor, aspecto e volume urinário. Os achados nesta etapa representam grande valor na confirmação ou explicação dos resultados da análise química e da sedimentoscopia urinária. 2.5.1.1 Cor O urocromo é o pigmento responsável pela coloração amarela característica da urina de aspecto físico-químico normal, e sua excreção em geral é proporcional a taxa metabólica, ao qual pode estar aumentada durante processos febris e inanição. (FULLER; THREATTE; HENRY, 2008; COMPRINARDY; STELLA; OLIVEIRA, 2011). Diferenças sutis na coloração da urina são indicativos rudimentares da hidratação e concentração da urina. Em condições específicas, urina de tom avermelhado ou acastanhado pode indicar a presença de sangue, sendo a cor alterada mais comumente encontrada. Quando observada em mulheres, levar em consideração a possibilidade de contaminação menstrual. (FUNCHAL; MASCARENHAS; GUEDES, 2008; FULLER; THREATTE; HENRY, 2008). Conforme a intensidade do sangramento pode-se classificar a hematúria em microscópica, quando as hemácias só são visualizadas ao microscópio e 33 macroscópica, frente à mudança visível na cor da amostra de urina. (LIESENFELD et al., 2009). Em urinas de cor âmbar-escura, pode indicar alta concentração de urobilina ou bilirrubina ou formação de metemoglobina, enquanto urina de outras colorações podem surgir, de acordo com os alimentos e corantes em pessoas geneticamente propensas e também por medicamentos que o individuo consumir dentre outras condições patológicas e não patológicas. (MUNDT; SHANAHAN, 2012; STRASINGER; DI LORENZO, 2009). 2.5.1.2 Aspecto A urina normal é límpida, de aspecto claro, transparente, podendo estar mais clara ou escura, dependendo de sua concentração. (COMPRI-NARDY; STELLA; OLIVEIRA, 2011). Pelo exame visual da amostra homogeneizada em frente a uma fonte luminosa, pode se determinar o aspecto da urina, ao qual pode ser classificado como límpido, opalescente, ligeiramente turvo, turvo e leitoso. (STRASINGER; DI LORENZO, 2009). A turbidez é um elemento de diagnóstico variável e inclui diversas entidades não patológicas. Ela pode ser resultante da precipitação de cilindros ou de cristais amorfos, como fosfatos e uratos, e até mesmo por contaminação, entretanto a presença de material particulado exige investigações, e está mais associado ao crescimento bacteriano em infecções do trato urinário (ITUs), principalmente em mulheres devido a alta prevalência e pela alta concentração de leucócitos. (FULLER; THREATTE; HENRY, 2008; PEREIRA; BORDIGNON, 2011). 2.5.1.3 Volume urinário Em condições normais, o principal fator determinante do volume urinário é a ingestão de água, e esta quantidade de urina excretada está em relação direta com o líquido extracelular, intracelular, a temperatura, o clima e a sudorese. (COMPRI-NARDY; STELLA; OLIVEIRA, 2011). Para efeito de padronização nacional é indicado à utilização de 10 mililitros (ml) para o EAS, ressalva casos onde seja usado um volume menor 34 decorrente de amostras difíceis, principalmente em neonatos e pacientes anúricos. (ASSOCIAÇÂO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2005, p. 5). O quadro 2 apresenta uma listagem abrangente das principais condições que afetam o aspecto e cor da urina. (FULLER; THREATTE; HENRY, 2008). Aspecto Incolor Turva Leitosa Quadro 2 – Aspecto e cor da urina Causa Considerações Urina muito diluída Poliúria, diabete insípido Fosfatos, carbonatos Solúvel em ácido acético diluído Uratos, ácido úrico Dissolve em 60° C e em álcalis Leucócitos Insolúvel em ácido acético diluído Eritrócitos Sofrem lise em ácido acético diluído Bactérias, leveduras Insolúvel em ácido acético diluído Mucina, filamentos Podem apresentar mucosos floculação Piúria Insolúvel em ácido acético diluído Gordura: lipidúria, Nefrose, Lesão por opalescente, esmagamento Gordura: Quilúria, Obstrução linfática leitosa Amarelo-alaranjada Urina concentrada Urobilina em excesso Bilirrubina Vermelha Hemoglobina Eritrócitos Mioglobina Vermelho-acastanhado Marrom-preto Beterraba Contaminação com sangue menstrual Eritrócitos Hemoglobina em repouso Metemoglobina Metemoglobina Febre, desidratação Sem espuma amarela Espuma amarela se houver bilirrubina suficiente Positiva com tira reativa para sangue Positiva com tira reativa para sangue Positiva com tira reativa para sangue Genética Coágulos, muco pH ácido Sangue, pH ácido Fonte: Adaptado de FULLER; THREATTE; HENRY, 2008. 35 2.5.2 Tiras reativas Com o objetivo de tornar o exame de urina mais rápido, simples e econômico no laboratório clínico, fez-se a implantação do sistema de tiras reativas na análise química da urina que permite verificar diversos parâmetros bioquímicos, dentre eles: a glicose, hemácias/sangue, esterase de leucócitos, nitrito, bilirrubina, urobilinogênio, pH, densidade, proteínas e corpos cetônicos, facilitando a análise e acelerando a liberação de resultados. (MUNDT; SHANAHAN, 2012; RAVEL, 2009; STRASINGER; DI LORENZO, 2009). Uma tira reagente consiste em uma tira estreita de plástico com pequenos campos afixados. Cada campo contém reagentes para uma reação distinta, permitindo assim a realização simultânea de vários testes. Uma reação química ocorre quando o campo entre em contato com a urina, daí as reações são interpretadas pela comparação da cor produzida no campo com uma tabela fornecida pelo fabricante. O tempo para as reações ocorrerem se diferencia entre os testes e os fabricantes e pode variar de uma reação imediata para o pH e para 120 segundos para leucócitos. A urina deve ser testada à temperatura ambiente, uma vez que as reações enzimáticas sobre as tiras dependem da temperatura. (MUNDT; SHANAHAN, 2012; STRASINGER; DI LORENZO, 2009). A seguir estão descritas as reações para os parâmetros analisados nas tiras reativas de urina Uriquest plus da Labtest (FIG. 4) e Biocolor da Bioeasy (FIG. 5), abordando o significado clínico além de possíveis interferentes. (BIOEASY, 2010; LABTEST, 2009). Figura 4 – Tira reativa de urina Uriquest plus, Labtest Fonte: ENZIPHARMA, 2012 36 Figura 5 – Tira reativa de urina Biocolor, Bioeasy Fonte: SUPRALAB, 2012 2.5.2.1 Glicose A presença de quantidades detectáveis de glicose na urina é chamada de glicosúria, e acontece quando a concentração de glicose no sangue extrapola o limiar renal de absorção, geralmente em valores superiores a 180 ou 200 mg/dL, observada frequentemente no diabetes melito. Esse fenômeno pode aparecer na urina em diferentes valores de glicose sanguínea, e nem sempre se relaciona a hiperglicemia. Alguns fatores, como fluxo sanguíneo glomerular, taxa de reabsorção tubular e fluxo urinário também influenciam no aparecimento de glicosúria na tira reativa. (MUNDT; SHANAHAN, 2012; FULLER; THREATTE; HENRY, 2008; RAVEL, 2009). As determinações da glicose urinária são mais úteis para os diabéticos bem controlados que não necessitam de ajustes frequentes de insulina/agentes hipoglicemiantes. No diabetes dependente de insulina, uma determinação negativa na urina corresponde a uma ampla variedade de valores séricos de glicose: isto é atribuído a uma grande variação no limiar renal para a glicose em pacientes diabéticos, portanto as determinações urinárias podem ser enganosas. O monitoramento domiciliar da glicose sanguínea ainda é o método preferido. (FULLER; THREATTE; HENRY, 2008, p. 438). Na tira reativa de urina ocorre uma reação específica para a glicose por impregnação da zona de ensaio com uma mistura de oxidase e peroxidase com o indicador cloridrato de tolidina para produzir uma reação enzimática dupla sequencial. Na primeira etapa, a oxidase catalisa a reação entre a glicose e o ar ambiente para produzir ácido glicônico e peróxido. Na segunda 37 etapa, a peroxidase catalisa a reação entre o peróxido e o cromógeno, cloridrato de tolidina para formar um composto oxidado de cor variando de verde claro à verde escuro (FIG. 6). (LABTEST, 2009; STRASINGER; DI LORENZO, 2009). Reação 1: Glicose + O2 glicose oxidase ácido glicônico + H2O2 Reação 2: H2O2 + cromógeno peroxidase cromógeno oxidado (1) Figura 6 – Tabela de cores para Glicose Tira Uriquest plus, Labtest Fonte: Criado pelo autor com dados extraídos de LABTEST, 2009 Apesar de apresentar o mesmo processo químico, a cor variante na reação para a glicose da tira Biocolor vai de azul para marrom (FIG. 7). (BIOEASY, 2011). Figura 7 – Tabela de cores para Glicose Tira Biocolor, Bioeasy Fonte: Criado pelo autor com dados extraídos de BIOEASY, 2010 Resultados falsamente elevados podem ocorrer em urinas de densidade específica baixa, e o contrário, de urinas com densidade específica elevada, urina muito ácida e ocasionalmente o ácido ascórbico produzir falsos negativos. (FULLER; THREATTE; HENRY, 2008; LABTEST, 2009). Bioeasy (2010) relata que a tira de urina Biocolor não reage com a lactose, galactose e frutose e que níveis elevados de corpos cetônicos pode levar a falsos negativos. 38 2.5.2.2 Hemácias/sangue Segundo Ravel (2008), a presença de um número alterado de células sanguíneas na urina é denominada hematúria, enquanto o termo hemoglobinúria se refere à presença de hemoglobina livre em solução na urina, e há também a mioglobinúria, uma condição rara, onde a mioglobina, uma proteína encontrada em tecido muscular estriado, está presente na urina. Através de testes químicos para hemoglobina associado à realização da sedimentoscopia urinária é possível diferenciar a hematúria da hemoglobinúria, cada uma delas com um significado clínico diferente. (STRASINGER; DI LORENZO, 2009). A hematúria está mais relacionada a doenças de origem renal ou geniturinária nas quais o sangramento é resultado de trauma ou dano aos órgãos desses sistemas, enquanto a hemoglobinúria indica hemólise intravascular significante, como acontece em anemias hemolíticas, reações transfusionais e infecções, primariamente não relacionada aos rins, embora secundariamente possa resultar em dano renal. (FULLER; THREATTE; HENRY, 2008; MUNDT; SHANAHAN, 2012). Entretanto, a determinação das hemácias somente pela tira reativa pode não ser eficiente. Um problema comum com esse método é a inibição da hemoglobina por substâncias interferentes, comumente o ácido ascórbico, que só enfatiza a necessidade de se realizar a sedimentoscopia urinária para a triagem de hematúria. (FULLER; THREATTE; HENRY, 2008; WEIDE; LARA, 2005; LIESENFELD et al., 2009). A reação para hemoglobina na tira reativa de urina é baseado na atividade da pseudoperoxidase da hemoglobina e da mioglobina que catalisa a oxidação do cromógeno tetrametil benzidina na presença de peróxido orgânico, o qual tem cor verde azulada (FIG. 8). (BIOEASY, 2010; LABTEST, 2009). Figura 8 – Tabela de cores para Hemácias/sangue Tira Uriquest plus, Labtest e Biocolor, Bioeasy Fonte: Criado pelo autor com dados extraídos de BIOEASY, 2010 e LABTEST, 2009 39 H2O2 + cromógeno heme cromógeno oxidado + H2O (2) Atividade da peroxidase De acordo com Labtest (2009), falsos negativos podem ocorrer em urina de densidade específica, proteínas e nitrito aumentados, e na presença de medicamentos, comumente o captopril. A reação não é afetada pelo ácido ascórbico, devido à área reagente para hemoglobina/sangue estar protegida de sua ação antioxidante, reduzindo a frequência de falso negativo, o mesmo não ocorre para a tira de urina Biocolor, relatado por Bioeasy (2010). 2.5.2.3 Esterase de leucócitos Indica o aumento de leucócitos na urina, ocasionado geralmente por ITUs, sendo o leucócito mais comumente encontrado em uma amostra de urina o neutrófilo. A pesquisa de ITUs também inclui a avaliação de pH, proteínas e nitritos. Resultados mais precisos são obtidos com amostras frescas, não centrifugadas e homogeneizadas, à temperatura ambiente. (COLOMBELI; FALKENBERG, 2006; MUNDT; SHANAHAN, 2012; RAVEL, 2009). “O teste de esterase leucocitária pode ser útil na avaliação da uretrite suspeita em pacientes masculinos, e possui um valor preditivo negativo elevado no contexto do diagnóstico.” (FULLER; THREATTE; HENRY, 2008, p. 449). Uma vantagem adicional do teste químico para esterase de leucócitos é que ele detecta a presença de leucócitos que foram lisados, particularmente em urina alcalina e diluída, os quais não aparecem na sedimentoscopia urinária. (STRASINGER; DI LORENZO, 2009). Os neutrófilos contêm enzimas denominadas esterases que podem ser detectadas pela tira reativa de urina. A reação é baseada na hidrólise de carboxilato heterocíclico pelas esterases dos neutrófilos liberando uma fração capaz de reagir com um sal diazônio formando um pigmento violeta (FIG. 9). (BIOEASY, 2010; LABTEST, 2009). Reação 1: Carboxilato heterocíclico esterase granulocítica indoxil ou pirrol 40 Reação 2: Indoxil ou pirrol + sal diazônio = cor púrpura (3) Figura 9 – Tabela de cores para Esterase de leucócitos Tira reativa Uriquest plus, Labtest e Biocolor, Bioeasy Fonte: Criado pelo autor com dados extraídos de BIOEASY, 2010 e LABTEST, 2009 Altas concentrações de glicose e albumina, assim como a densidade específica elevada e alguns antibióticos, como gentamicina e tetraciclina podem levar a falsos negativos. Falsos positivos podem aparecer pela presença de agentes oxidantes e contaminação com secreção vaginal. (BIOEASY, 2010; LABTEST, 2009). 2.5.2.4 Nitrito Muitas bactérias que são patógenos do trato urinário produzem uma enzima denominada redutase, que tem a capacidade de reduzir nitrato a nitrito. Organismos comuns capazes de causar ITUs, geralmente compreende bactérias gram negativas, sendo o principal microorganismo isolado de ITUs a Escherichia coli, seguido de Klebsiella, Enterobacter, Proteus, Pseudomonas, dentre outros. (AMORIM; PACHECO; FERNANDES, 2008; RAVEL, 2009). Os testes de tira reagente de urina para nitrito oferecem um método rápido e indireto para a detecção precoce de bacteriúrias significantes e assintomáticas. O objetivo é rastrear casos em que a necessidade de uma cultura pode não ser aparente, mas não se destina a substituir a urocultura como principal teste para o diagnóstico e o acompanhamento de infecção bacteriana. Um teste negativo na tira de urina jamais deve ser interpretado como indicador de ausência de infecção bacteriana. (MUNDT; SHANAHAN, 2012; STRASINGER; DI LORENZO, 2009). A caracterização de uma infecção do trato urinário deve ser avaliada pelo EAS, a urocultura e avaliação clínica. A urocultura é o principal artefato 41 para se identificar uma ITU, pois além de indicar a ocorrência de multiplicação bacteriana no trato urinário, também permite a identificação do microorganismo causador e o estudo de sensibilidade pelos antibióticos, no entanto, é importante destacar que o EAS é um ótimo auxiliar no que se diz respeito à infecção do trato urinário. (AMORIM; PACHECO; FERNANDES, 2008). Um teste de nitrito verdadeiro-positivo deve ser acompanhado por um teste positivo para esterase leucocitária, o que aumenta a sensibilidade do teste de esterase leucocitária para a detecção de ITUs. (RAVEL, 2009; STRASINGER; DI LORENZO, 2009). A base química do teste de nitrito é a capacidade de redução específica de Griess que identifica a presença de nitritos formados por redução de nitratos produzida por bactérias gram negativas pela ação do ácido sulfanílico e um composto de quinolina, originando um composto diazônio. Como pode ser observado na figura 10, qualquer tonalidade rosa deve ser interpretada como teste positivo para nitrito. (BIOEASY, 2010; LABTEST, 2009). Reação 1: Nitrito + ácido p-arsanílico composto de diazônio Reação 2: 3-hidroxil-1,2,3,4 tetra-hidrobenzo-(h)-quinolina + composto diazônio = cor rosa (4) Figura 10 – Tabela de cores para Nitrito Tira reativa Uriquest plus, Labtest e Biocolor, Bioeasy Fonte: Criado pelo autor com dados extraídos de BIOEASY, 2010 e LABTEST, 2009 Labtest (2009) cita que altas concentrações de ácido ascórbico na urina podem acarretar em falsos negativos. Falso positivo pode surgir na presença de fenazopiridina. Bioeasy (2010) relata que densidade específica alta e urinas alcalinas podem reduzir a sensibilidade do teste. 42 2.5.2.5 Bilirrubina A bilirrubina é um produto da degradação da hemoglobina que se forma nas células reticuloendoteliais do baço, fígado e medula óssea. A presença de bilirrubina na urina é observada quando há aumento de bilirrubina conjugada (direta) no sangue. Desta forma, a bilirrubina conjugada será filtrada e então excretada na urina, sendo de suma importância na detecção de icterícia, assim como em outras doenças hepáticas e em doenças hemolíticas. (COLOMBELI; FALKENBERG, 2006; COMPRI-NARDY; STELLA; OLIVEIRA, 2011; FULLER; THREATTE; HENRY, 2008; MUNDT; SHANAHAN, 2012). Geralmente, a bilirrubina conjugada surge na urina por distúrbios no ciclo de degradação normal, devido à obstrução do ducto biliar ou quando a integridade do fígado está comprometida, gerando o refluxo de bilirrubina conjugada para a circulação. A bilirrubina urinária fornece desta forma, além da indicação precoce de doença hepática, a determinação da icterícia clínica do paciente, pela ausência ou presença de bilirrubina na urina. (STRASINGER; DI LORENZO, 2009). A tira reagente de urina baseia-se na reação de acoplamento em meio ácido com sal diazônio estabilizado e formação de cromógeno vermelho (FIG. 11). (LABTEST, 2009). Bilirrubina glucoronato + sal diazônio ácido cromógeno vermelho (5) Figura 11 – Tabela de cores para Bilirrubina Tira reativa Uriquest plus, Labtest Fonte: Criado pelo autor com dados extraídos de LABTEST, 2009 Na presença de bilirrubina, produzirá uma cor rosa-bronzeada proporcional a sua concentração na urina (FIG. 12). (BIOEASY, 2010). Bilirrubina glucoronato + sal diazônio ácido cromógeno rosa-bronzeado (6) 43 Figura 12 – Tabela de cores para Bilirrubina Tira reativa Biocolor, Bioeasy Fonte: Criado pelo autor com dados extraídos de BIOEASY, 2010 Falsos negativos podem ocorrer em urinas com alta concentração de ácido ascórbico ou nitrito ou expostas a luz por um período prolongado, onde é foto-oxidado em biliverdina, ao qual não reage com testes diazóicos. Já os falsos positivos podem aparecer em urinas com urobilinogênio elevado e pela ação de alguns metabólitos de medicamentos, como a fenotiazina e a clorpromazina, que produzem uma cor avermelhada no pH baixo da tira e mascaram os resultados. (BIOEASY, 2010; LABTEST, 2009). 2.5.2.6 Urobilinogênio O urobilinogênio é um produto metabólico da bilirrubina formado no intestino por enzimas bacterianas. A maior parte do urobilinogênio é excretada nas fezes como estercobilina, que se formam após a remoção de hidrogênio. Uma pequena quantidade é excretada na urina, isso porque o sangue que circula no fígado passa através dos rins e é filtrado pelo glomérulo. (FULLER; THREATTE; HENRY, 2008; MUNDT; SHANAHAN, 2012). O aumento de urobilinogênio pode acontecer em decorrência da maior quantidade de bilirrubina excretada, de disfunção hepática e nos transtornos hemolíticos e embora a tira reagente não possa detectar a ausência de urobilinogênio na urina, é uma informação significativa do ponto de vista diagnóstico. Ela representa obstrução do ducto biliar, que impede a passagem de bilirrubina para o intestino, gerando como resultado fezes claras pela ausência de urobilina. (COMPRI-NARDY; STELLA; OLIVEIRA, 2011; STRASINGER; DI LORENZO, 2009). A tira reativa de urina utiliza a reação de acoplamento com sal diazônio, formando pigmento de cor rosa (FIG. 13). (BIOEASY, 2010; LABTEST, 2009). Urobilinogênio + sal diazônio ácido cromógeno vermelho (7) 44 Figura 13 – Tabela de cores para Urobilinogênio Tira reativa Uriquest plus, Labtest e Biocolor, Bioeasy Fonte: Criado pelo autor com dados extraídos de BIOEASY, 2010 e LABTEST, 2009 De acordo com Labtest (2009), a exposição da urina a luz por períodos prolongados pode acarretar em resultados falsos negativos. Falso positivo pode ocorrer pelo consumo de determinados medicamentos e corantes diazóicos. 2.5.2.7 pH O rim juntamente com o pulmão são os principais responsáveis por manter o equilíbrio ácido-básico no organismo. O pulmão excreta dióxido de carbono, enquanto a contribuição renal é a de reabsorver bicarbonato do filtrado nos túbulos contornados e secretar íons amônio, fosfato de hidrogênio e ácidos inorgânicos fracos. (FULLER; THREATTE; HENRY, 2008; STRASINGER; DI LORENZO, 2009). Um individuo saudável costuma produzir a primeira urina da manhã com pH ligeiramente ácido de 5,0 a 6,0, já um pH alcalino é encontrado após as refeições. O pH das amostras aleatórias normais pode variar de 4,5 a 8,0. Desta forma, não são atribuídos valores normais do pH urinário, devendo ser considerado em conjunto com outras informações do paciente, como o equilíbrio ácido-básico do sangue, a ingestão alimentar e o tempo de coleta da amostra. (FUNCHAL; MASCARENHAS; GUEDES, 2008; STRASINGER; DI LORENZO, 2009). A reação da tira reativa de urina é uma combinação de dois indicadores de pH que produzem cores laranja, amarela, verde e turquesa no intervalo de pH de 5,0 a 9,0 (FIG. 14). (BIOEASY, 2010; LABTEST, 2009). Vermelho de metila + H+ (vermelho – alaranjado azul de bromotimol – H amarelo) (verde azul) (8) 45 Figura 14 – Tabela de cores para pH Tira reativa Uriquest plus, Labtest e Biocolor, Bioeasy Fonte: Criado pelo autor com dados extraídos de BIOEASY, 2010 e LABTEST, 2009 Labtest (2009) destaca que substâncias acidificantes, alcalinizantes e também a contaminação bacteriana pode acarretar em resultados contraditórios. 2.5.2.8 Densidade Definida pela razão do peso de dado volume de urina pelo mesmo volume de água destilada, a densidade é de suma importância, pois trata-se de um parâmetro da função tubular e afeta outros exames de urina. (COLOMBELI; FALKENBERG, 2006; RAVEL, 2009). O volume excretado e a concentração dos solutos da urina variam nos rins para a manutenção da homeostasia dos líquidos e eletrólitos corporais. Uréia, cloreto de sódio, sulfato e fosfato são os elementos que mais contribuem para a densidade específica da urina normal. (CIRIADES, 2010). A excreção de urina de baixa densidade pode ser observada em diversas patologias, como pielonefrite e glomerunefrite, embora seja no diabetes insípido onde esta característica prevaleça. A densidade alta pode ser observada na desidratação, insuficiência adrenal, nas hepatopatias ou na insuficiência cardíaca congestiva. Em amostras de um mesmo paciente, onde não há variabilidade entre várias amostras e a densidade fixa próxima a 1.010 é um indicativo de dano renal grave, no qual a rompimento da capacidade de concentração e diluição da urina. (FULLER; THREATTE; HENRY, 2008). A tira reativa de urina é um método indireto para determinar a densidade. É baseado na mudança de cor azul-esverdeada para verde amarelo ou marrom claro em função da concentração de íons na amostra. O principio desta metodologia baseia-se na alteração da pka (constante de dissociação) dos polieletrólitos pré-tratados em relação à concentração iônica da urina. Quando a concentração é alta, o pka é baixo, assim como o pH. O cromógeno 46 azul de bromotimol muda a cor relativa à concentração iônica e esta é traduzida em valores de densidade (FIG. 15). (BIOEASY, 2010; COLOMBELI, 2006; FULLER; THREATTE; HENRY, 2008; LABTEST, 2009). Figura 15 – Tabela de cores para Densidade Tira reativa Uriquest plus, Labtest e Biocolor, Bioeasy Fonte: Criado pelo autor com dados extraídos de BIOEASY, 2010 e LABTEST, 2009 Conforme Bioeasy (2010) e Labtest (2009) descrevem, as urinas muito alcalinas podem resultar em falsos negativos, assim como urinas muito ácidas podem gerar falsos positivos e também proteinúrias moderadas e presença de corpos cetônicos. 2.5.2.9 Proteínas Comprovadamente a proteinúria, presença de quantidades detectáveis de proteínas na urina acima de 30 mg/dL está associada à lesão renal. Frequentemente associada com doença renal precoce, devido o limiar renal para proteínas ser baixa faz do exame de proteínas na urina parte importante do EAS. No entanto, existem condições fisiológicas que podem levar a excreção aumentada de proteínas na urina na ausência de doença renal. Há também alguns distúrbios renais onde há ausência de proteinúria. (MUNDT; SHANAHAN, 2012; STRASINGER; DI LORENZO, 2009; VIEIRA, 2006). Normalmente até 150 mg de proteínas são excretados na urina por dia, aproximadamente um terço é albumina, e as proteínas remanescentes compreendem as globulinas pequenas, incluindo as α, β, γ globulinas. A tira reativa de urina é sensível a albumina, sendo a principal proteína observada na urina de pacientes com doença glomerular, no entanto em lesões tubulares e quando há quantidade exagerada de proteínas, é frequente o aparecimento de proteínas de pequeno peso molecular, ao qual não é tão sensível a tira reativa. (FULLER; THREATTE; HENRY, 2008; VIEIRA, 2006). 47 “As proteínas normalmente excretadas incluem uma mucoproteína denominada proteína de Tamm-Horsfall, que não está contida no plasma, sendo excretada pelos túbulos renais. Essa proteína forma a matriz da maioria dos cilindros urinários.” (MUNDT, SHANAHAN, 2012). A tira reativa baseia-se no principio de erro proteínico de um indicador de pH. Uma vez que as proteínas apresentam carga em pH fisiológico, sua presença induzirá uma alteração no pH e mudança da coloração amarela para verde (FIG. 16). (BIOEASY, 2010; LABTEST, 2009; RAVEL, 2008). Indicador (cor amarela) + prote na pH 3,0 prote na + H+ indicador H+ (cor azul-verde) (9) Figura 16 – Tabela de cores para Proteínas Tira reativa Uriquest plus, Labtest e Biocolor, Bioeasy Fonte: Criado pelo autor com dados extraídos de BIOEASY, 2010 e LABTEST, 2009 De acordo com Bioeasy (2010) e Labtest (2009), detergentes não iônicos e aniônicos podem gerar falsos negativos. Urinas com densidade específica elevada e pH extremamente alcalino podem levar a falsos positivos. 2.5.2.10 Corpos cetônicos Os corpos cetônicos são formados durante o catabolismo de ácidos graxos em ácido β-hidroxibutírico, ácido acetoacético e a acetona. A sua formação está relacionada com distúrbios metabólicos, nos quais lipídeos se tornam a principal fonte energética ao invés dos carboidratos, entretanto, esta fonte de energia proveniente de lipídeos quando ultrapassa a capacidade metabólica é excretada na urina por meio dos rins, lembrando que a taxa de excreção renal também é limitada, de modo que, quando a formação de corpos cetônicos excede a sua utilização de excreção renal, observa-se o acúmulo no plasma, sendo esta condição conhecida como cetose. (COMPRI-NARDY; STELLA; OLIVEIRA, 2011; RAVEL, 2009). 48 Esta condição é comum no diabetes melito descompensado, jejum prolongado (desidratação, vômitos, diarréia e febre) e doenças metabólicas hereditárias. (LABTEST, 2009). Utiliza a reação de nitroprussiato de sódio com ácido acetoacético e acetona em meio alcalino formando um complexo violeta (FIG. 17). (BIOEASY, 2010; LABTEST, 2009; STRASINGER; DI LORENZO, 2009). Ravel (2009) destaca que o método não mede o ácido β-hidroxibutírico e é pouco sensível à acetona quando há presença de glicina. Reação de nitroprussiato: Ácido acetoacético + nitroprussiato de Na + glicina pH cor violeta (10) alcalino Figura 17 – Tabela de cores para Corpos cetônicos Tira reativa Uriquest plus, Labtest e Biocolor, Bioeasy Fonte: Criado pelo autor com dados extraídos de BIOEASY, 2010 e LABTEST, 2009 Conforme descrito por Labtest (2009), falsos positivos podem ocorrer em urinas de densidade específica elevada, na presença de alguns medicamentos, em destaque o captopril, ao qual pode produzir reações coloridas atípicas. 2.5.2.11 Ácido ascórbico Altas concentrações de ácido ascórbico na urina de indivíduos que consomem grande quantidade de vitamina C podem interferir na determinação de bilirrubina, nitrito e hemoglobina/sangue, gerando falso-negativos. O ácido ascórbico é um parâmetro complementar, pois a ascorbúria não possui significado clínico e em caso positivo, repetir pelo menos 24 horas após a última ingestão de vitamina C. (LABTEST, 2009; MUNDT; SHANAHAN, 2012). 49 A tira Uriquest plus possui reação baseada na descoloração do reagente de Tillman, que em presença do ácido ascórbico muda da cor cinza azulada para alaranjada (FIG. 18). (LABTEST, 2009). Figura 18 – Tabela de cores para Ácido ascórbico Tira reativa Uriquest plus, Labtest Fonte: Criado pelo autor com dados extraídos de LABTEST, 2009 2.5.3 Sedimentoscopia urinária De fato a etapa mais complexa envolvendo o exame de EAS, a sedimentoscopia urinária permite avaliar e identificar distúrbios dos tratos renal e urinário, bem como de outras doenças sistêmicas por meio da análise dos elementos formados na urina, identificando e quantificando os elementos presentes. Estes incluem hemácias, leucócitos, células epiteliais, muco, bactérias, leveduras, espermatozoides, cristais, parasitas, artefatos, dentre outros. Seu valor depende de dois fatores principais: processamento adequado da amostra e o conhecimento e experiência do microscopista. (COSTAVAL et al., 2001; MUNDT; SHANAHAN, 2012; STRASINGER; DI LORENZO, 2009). O sedimento urinário fornece informações através dos elementos celulares e não celulares em detrimento de sua atividade nos rins e os principais serão abordados a seguir. (GOLDMAN; AUSIELLO, 2009). 2.5.3.1 Hemácias Na urina normal podem-se encontrar pequenos números de hemácias ao se realizar a análise do sedimento. (WEIDE; LARA, 2005). “Na urina, as hemácias aparecem como discos bicôncavos, lisos, não-nucleados, e medem cerca de 7 mm de diâmetro.” (STRASINGER; DI LORENZO, 2009). O aumento de hemácias no sangue pode indicar uma variedade de condições sistêmicas e do trato urinário. A hematúria está associada a danos à membrana glomerular ou lesão vascular e pode ser originária de qualquer 50 região do trato urinário, seja pelos vasos intrarrenais, dos glomérulos, dos túbulos ou de qualquer parte do trato urogenital. (GOLDMAN; AUSIELLO, 2009; MUNDT; SHANAHAN, 2012). 2.5.3.2 Leucócitos Em média, até cinco leucócitos por campo de grande aumento são considerados em uma urina normal, embora esses valores variem na literatura. Com cerca de 12 mm de diâmetro, o leucócito predominantemente encontrado no sedimento urinário é o neutrófilo, e podem apresentar-se isoladamente ou em aglomerados. (MUNDT; SHANAHAN, 2012; STRASINGER; DI LORENZO, 2009). O aumento de leucócitos na urina são observados mais comumente nas ITUs, mas também podem ser vistos na nefrite intersticial aguda, nas infecções causadas por Legionella e Leptospira, em infecções crônicas e em doenças granulomatosas, como a sarcoidose e a nefrite tubulointersticial. (GOLDMAN; AUSIELLO, 2009). 2.5.3.3 Outros elementos Outros elementos que podem aparecer com maior frequência no sedimento urinário são as células epiteliais, bactérias, muco, cilindros e cristais. (GOLDMAN; AUSIELLO, 2009; FULLER; THREATTE; HENRY, 2008). As células epiteliais presentes na urina podem ser originárias de qualquer ponto do trato urinário e são classificadas em três tipos principais: tubulares renais, de transição e escamosas. As células tubulares renais são clinicamente as mais significativas das células epiteliais, devido a sua importância para manter a função renal. (STRASINGER; DI LORENZO, 2009). A presença de bactérias na urina pode ou não ser significante conforme o método de coleta de urina e o tempo entre a coleta e a realização do exame. Geralmente são observadas bactérias em conjunto a leucócitos, caracterizando um processo inflamatório de uma ITU, principalmente de bactérias em forma de bastonete uma vez que os organismos entéricos são os principais agentes causais das ITUs. (FULLER; THREATTE; HENRY, 2008). 51 Muco são filamentos longos, delgados e ondulantes. Estão presentes em pequeno número na urina normal, mas podem estar aumentados em processos infecciosos ou inflamatórios. (MUNDT; SHANAHAN, 2012). Os cilindros se formam nos túbulos pela proteína de Tamm-Horsfall e são os únicos elementos formados na urina que tem o rim como o seu único local de origem. Em indivíduos normais, poucos cilindros são encontrados no sedimento urinário, embora nas doenças renais, eles podem aparecer em grandes números e em formas diferentes. Os cilindros apresentam grandes variações em aspecto, tamanho, morfologia e estabilidade e são classificados com base no aspecto e composição celular que possui. Dentre os diferentes tipos de cilindros, podem-se destacar os cilindros hialinos, hemáticos, leucocitários, de células epiteliais, granulosos finos e grosseiros, céreos e graxos. (FULLER; THREATTE; HENRY, 2008; MUNDT; SHANAHAN, 2012). Os cilindros hemáticos indicam hematúria, de caráter sempre patológico, com o diagnóstico voltado para doença glomerular, particularmente nas glomerulonefrites, endocardite bacteriana subaguda e infarto renal. A presença de cilindros hemáticos deve ser acompanhada de hemácias livres e de um resultado positivo para hemoglobina na tira de urina. Já os cilindros leucocitários são encontrados em situações de infecção e inflamação não infecciosa renal. A grande maioria dos cilindros leucocitários reflete doença tubulointersticial com exsudatos neutrofílicos e inflamação intersticial, comum na pielonefrite, no entanto, também pode estar presente em inflamações agudas não bacterianas, como nefrite intersticial e podem vir acompanhadas dos cilindros hemáticos na glomerulonefrite. (RAVEL, 2009, MUNDT; SHANAHAN, 2012; STRASINGER; DI LORENZO, 2009; WALLACH, 2011). Os cristais são formados pela precipitação dos sais urinários frente a alterações na solubilidade, seja pela influência no pH, temperatura e concentração. Raramente possuem significado clínico, contudo a presença de alguns poucos tipos anormais podem representar doença hepática, erros inatos do metabolismo, insuficiência renal ou danos causados pela cristalização nos túbulos de compostos iatrogênicos. (FULLER; THREATTE; HENRY, 2008; STRASINGER; DI LORENZO, 2009). “A avaliação microscópica da urina é importante para a detecção de cristais, uma vez que nenhum teste químico detecta a presença deles.” (MUNDT; SHANAHAN, 2012). 52 3 METODOLOGIA Traz um comparativo metodológico entre as tiras reagentes de urina das marcas Biocolor e Uriquest plus em comparação a sedimentoscopia urinária avaliando-se a hematúria e a leucocitúria. A pesquisa utilizou como grupo de estudo os pacientes que procuraram atendimento no Laboratório Paulo Netto do município de João Pinheiro/Minas Gerais (MG) para realizar o EAS no período de 10 a 18 de maio de 2012. Os pacientes que tinham em seu pedido médico o exame de EAS foram abordados na recepção do laboratório Paulo Netto e apresentados os objetivos do estudo, o termo de consentimento livre esclarecido e a garantia de anonimato dos pacientes, segundo a resolução 196/96. Os que se voluntariaram assinaram o termo de consentimento livre esclarecido em duas vias, uma entregue ao paciente e a outra anexada ao trabalho. Uma entrevista estruturada também foi aplicada visando identificar possíveis interferentes. O modelo do termo de consentimento livre esclarecido e a entrevista estruturada encontram-se em apêndice. Dentre os critérios de inclusão da amostra de urina no estudo: a) Amostras em frascos plásticos transparentes, estéreis, de 50 ml, empregados pelo laboratório Paulo Netto; b) Primeira urina da manhã; c) Sem conservantes; d) Amostras recém colhida; e) Ultra filtrado plasmático humano (urina). Dos critérios de exclusão da amostra de urina no estudo: a) Amostras de pacientes menores de dezoito anos; b) Amostras com volume inferior a 10 ml. O projeto foi realizado no Laboratório Paulo Netto no município de João Pinheiro/Minas Gerais na segunda e terceira semana de maio de 2012 com as 53 amostras de urina (urina humana) recolhidas no período de sete às dez da manhã, obedecendo-se os critérios de inclusão e exclusão das amostras. Os resultados da análise física, química e da sedimentoscopia urinária foram comparados observando-se o indício, presença ou ausência de hematúria, hemoglobinúria e leucocitúria, avaliando-se em caráter estatístico a sensibilidade, especificidade, concordância e valores preditivos positivos e negativos de cada etapa para com o comparativo das tiras reativas. As tiras foram avaliadas quanto à reação química adotada para cada kit, largura da tira e das almofadas reagentes, tempo para ocorrer à reação, visibilidade e estabilidade da reação. O procedimento técnico adotado para as amostras seguiram o modelo exame – EAS compreendido em três etapas: análise física da urina, análise química da urina e sedimentoscopia urinária. 3.1 Análise física da urina Realizada a coleta da amostra de urina em frasco fornecido pelo Laboratório Paulo Netto e identificação própria da instituição, por numeração sequenciada e as iniciais do participante procede-se com a realização do exame de EAS. Inicialmente, homogeneíza-se a amostra suavemente em movimentos circulares e verte-se 10 ml de urina em tubo cônico plástico transparente, graduado em 10 ml. Na primeira etapa, a urina foi avaliada quanto à cor e aspecto apresentado. A determinação da coloração da amostra foi feita em ambiente com exposição indireta a iluminação artificial, olhando para baixo através do recipiente contra um fundo branco. A classificação obedeceu às seguintes variações de cor existentes na urina: incolor, amarelo claro, amarelo citrino, amarelo escuro, âmbar, laranja, verde, rosa, vermelha, marrom e preta. O aspecto foi determinado através do exame visual da amostra homogeneizada, mantendo-a exposta indiretamente à iluminação artificial. A descrição do aspecto da urina inclui desde límpido, opalescente, ligeiramente turvo, turvo e leitoso. 54 3.2 Análise química da urina Realizada a análise física, procede-se para a análise química da urina. O método seguiu as recomendações do fabricante do kit das marcas Biocolor e Uriquest plus para a tira reativa de urina, considerando hematúria, resultados positivos para a tira reativa de urina, diferenciando a hematúria de hemoglobinúria, assim como reação positiva para a esterase de leucócitos, foi considerado leucocitúria. Para o controle de qualidade, amostras controle foram enviadas para análise interlaboratorial e os resultados comparados entre si em todos os parâmetros analisados na tira reativa de urina. 3.2.1 Tira Biocolor A tira Biocolor determina semi-quantitativamente dez parâmetros na urina: urobilinogênio, glicose, corpos cetônicos, bilirrubina, proteína, nitrito, pH, sangue, densidade e leucócitos. Os procedimentos do kit Biocolor estão descritos abaixo: Retirar uma fita do kit da marca Biocolor e fechá-lo imediatamente. Inspecionar a tira. Mergulhar a tira no tubo cônico contendo 10 ml de urina por cerca de um segundo. Certificar de que todas as almofadas estejam umedecidas. Evitar que a tira encoste nas laterais do tubo. Retirar o excesso de urina apoiando as laterais da tira em um papel toalha. Comparar os resultados da tira com o gráfico presente no rótulo do Kit Biocolor em um ambiente iluminado artificialmente. Respeitar o tempo de leitura para cada elemento da tira. Mudanças na coloração nas extremidades da tira ou depois de decorridos 2 minutos não apresentam significado clínico. Os resultados são obtidos por comparação direta da tira teste com o gráfico de cores presente no rótulo do Kit Biocolor. 3.2.2 Tira Uriquest plus A tira Uriquest plus é um sistema de tira reagente para determinação semi-quantitativa de bilirrubina, urobilinogênio, cetonas, ácido ascórbico, 55 glicose, proteína, sangue, pH, nitrito, leucócitos e densidade na urina. Abaixo estão os procedimentos para realizar o teste: Retirar do frasco de Uriquest plus somente a quantidade de tiras necessárias para o uso imediato e tampar em seguida. Inspecionar a tira. Imergir a tira no tubo cônico contendo 10 ml de urina por aproximadamente dois segundos de forma que todas as áreas sejam imersas quase que simultaneamente. Retirar a tira, deslizando pela borda do tubo para remover o excesso de urina. Manter a tira na posição horizontal para prevenir mistura de produtos químicos de áreas adjacentes. Realizar a leitura das reações em 60 segundos e entre 60 e 120 segundos para leucócitos, comparando as cores desenvolvidas nas áreas reagentes com a escala de cores do rótulo do kit Uriquest plus. Não realizar a leitura após 120 segundos. 3.3 Sedimentoscopia urinária As amostras foram centrifugadas na centrifuga Excelsa baby com capacidade para 6 tubos, a uma velocidade de 1500 rotações por minuto (rpm) durante 5 minutos, assegurando sedimentações iguais em todas as amostras. A sedimentoscopia urinária foi realizada por bioquímico responsável do setor de urinálise no laboratório Paulo Netto do município de João Pinheiro/Minas Gerais, ao qual emprega o método de observação com lâmina em microscopia de luz, com contagem de dez campos, observados na objetiva de 10X para muco e células epiteliais, e 40X para leucócitos, hemácias, microbiota e outros elementos anormais. A presença de bactérias, cilindros, muco, células epiteliais e cristais foram expressos de maneira semiquantitativa (TAB. 1), e a presença de hemácias e leucócitos expressos em número médio por campos contados. Tabela 01 – Classificação dos resultados semiquantitativos: bactérias, cilindros, muco, células epiteliais e cristais Nº médio por campo 0 <1 1a3 3a5 >5 Classificação Ausente Raros Moderados Ligeiramente Aumentado Aumentado Fonte: Criado pelo autor com dados extraídos de Bottini; Garlipp, 2006, p. 159 56 Foi considerado hematúria valores superiores a duas hemácias por campos contados, assim como valores superiores a cinco leucócitos por campos contados foi considerado como leucocitúria. O laudo emitido foi repassado para o modelo exame – EAS, e em seguida comparado aos resultados da análise física e química da urina. O modelo exame – EAS encontra-se em apêndice. Foi adotado o sistema do Microsoft Office Word 2007 e Microsoft Office Excel 2007 para a aplicação dos dados da pesquisa em gráficos e tabelas. Utilizou-se gráficos e tabelas dos seguintes modelos: colunas agrupadas e Tabela com subtítulo 1. 57 4 RESULTADOS Foram obtidas amostras de 71 pacientes, no entanto, 4 foram excluídos do estudo por entrarem em desacordo aos critérios de inclusão e exclusão da amostra, restando 67 pacientes, sendo que 42 (64%) são do sexo feminino e 25 (36%) são do sexo masculino, como pode ser observado no gráfico 1. Gráfico 1 – Distribuição do total de amostras em relação ao sexo Fonte: Dados da pesquisa Considerando-se a idade dos pacientes, 47 (70%) se encontravam na faixa etária de 18 a 40 anos enquanto 20 (30%) tinham idade superior a 40 anos, em uma média de idade de 35,5 anos. Da faixa etária de 18 a 40 anos, se encontram 27 (64%) pacientes do sexo feminino (média de idade de 39,03) e 20 (80%) pacientes do sexo masculino (média de idade de 33,56), e acima dos 40 anos, 15 (36%) pacientes do sexo feminino e 5 (20%) pacientes do sexo masculino. Dos 67 pacientes selecionados, 4 (6%) apresentaram positividade para hematúria na tira reativa de urina, 4 (6%) apresentaram reação positiva para hemoglobinúria na tira reativa de urina, 2 (3%) apresentaram resultados positivos para leucocitúria na tira reativa de urina e 1 (1,5%) apresentou positividade para hematúria e leucocitúria na tira reativa de urina. Na análise do sedimento, 7 (10,5%) apresentaram hematúria microscópica, 3 (4,5%) 58 pacientes com leucocitúria, 1 (1,5%) apresentou cristais de oxalato e 1 (1,5%) a presença de Trichomonas spp. Dos pacientes que apresentaram resultados positivos para hematúria/hemoglobinúria e leucocitúria na tira reativa de urina, 9 (82%) são do sexo feminino e 2 (18%) do sexo masculino (GRAF. 2). As 3 (27%) amostras positivas para leucocitúria foram de pacientes do sexo feminino. Gráfico 2 – Distribuição de amostras positivas para hematúria/hemoglobinúria e leucocitúria em relação ao sexo Fonte: Dados da pesquisa Dentre os medicamentos utilizados pelos pacientes relatados durante a entrevista estruturada, estão repositores hormonais, reguladores de pressão arterial sistêmica, glicemia e colesterol, uso de contraceptivos orais, dentre outros, aos quais, segundo Labtest (2009), não interferem nas reações da tira reativa de urina. Todos os pacientes relataram estar esclarecidos sobre os procedimentos da coleta de urina e de não estarem utilizando de nenhum complexo vitamínico específico. Dois pacientes relataram ter realizado atividade física intensa no dia anterior a coleta para o EAS. Pela análise física, houve 3 (4,5%) pacientes com a urina de aspecto turvo, correlacionando aos resultados da análise química e do sedimento urinário, foram confirmados pela reação positiva para esterase de leucócitos e o aumento na concentração da microbiota, leucócitos e de muco na amostra. 59 Avaliando-se as tiras reativas de urina segundo a reação química adotada para cada kit, largura da tira e das almofadas reagentes, tempo para ocorrer à reação, visibilidade e estabilidade da reação foi possível verificar que a tira Uriquest plus e Biocolor obtiveram resultados satisfatórios e semelhantes nas amostras analisadas, como pode ser observado no quadro 3. Quadro 3 – Avaliação das tiras reativas de urina Biocolor e Uriquest plus Parâmetros Reação química adotada Largura das tiras e almofadas reagentes Estabilidade e duração da reação Reações positivas Hemácias/sangue Biocolor Pseudo peroxidase da hemoglobina Uriquest Pseudo plus peroxidase da hemoglobina* Biocolor 5 mm Uriquest 4 mm plus Biocolor 60 segundos Uriquest 60 segundos plus Biocolor H1 H2 Uriquest plus 5 4 5 4 Esterase de leucócitos Biocolor Hidrólise de carboxilato heterocíclico Uriquest pelas esterases dos neutrófilos plus Biocolor Uriquest plus Biocolor Uriquest plus Biocolor Uriquest plus 5 mm 4 mm 120 segundos 120 segundos 3 3 * Protegido da ação antioxidante do ácido ascórbico. 1 H – Hematúria 2 H - Hemoglobinúria Fonte: Dados da pesquisa Ambos os kits adotam a reação química baseada na hidrólise de carboxilato heterocíclico pelas esterases dos neutrófilos, para a presença de leucócitos enquanto que para a presença de hematúria e/ou hemoglobinúria tem-se a reação da atividade da pseudoperoxidase da hemoglobina, porém a tira Uriquest plus apresenta vantagens, devido à diminuição da interferência do ácido ascórbico na reação para hematúria/hemoglobinúria e possibilidade de detectar o aumento de ácido ascórbico na amostra pelo acréscimo da reação de Tillman. A tira de urina Biocolor por ser mais larga facilita a visibilidade da reação, no entanto a tira Uriquest plus apresenta reações com cores mais 60 definidas. A estabilidade e tempo para as reações foram semelhantes entre as tiras de urina dos kits analisados. Correlacionando os dados obtidos para a análise física, a tira reativa de urina e a sedimentoscopia urinária, é possível verificar que não houve discrepância entre os métodos realizados. 3 (27%) pacientes tiveram reações positivas para esterase de leucócitos, confirmadas na sedimentoscopia da urina, com o aumento do número de leucócitos por campos contados e turvação da amostra. Resultados positivos para hematúria na tira reativa de urina, confirmados pela sedimentoscopia urinária, foi verificado em 5 (45%) pacientes, no entanto devido a pequena concentração de hemácias, não houve alteração na coloração e no aspecto das amostras analisadas, caracterizando uma hematúria microscópica. Os resultados dos 4 (36%) pacientes para hemoglobinúria não apresentaram forte correlação com a hematúria na realização da sedimentoscopia do sedimento urinário, notado pela menor quantidade de hemácias por campos contados, permitindo diferenciar a hemoglobinúria da hematúria, porém 2 (18%) pacientes com resultados positivos para hemoglobinúria na tira reativa de urina, foram considerados como hematúria microscópica na análise do sedimento ao microscópio, correspondendo a 7 (63%) pacientes. Os dados da comparação dos métodos da tira reativa de urina com a sedimentoscopia urinária estão esquematizados na tabela 2. Tabela 2 – Comparação entre as tiras reativas de urina e a sedimentoscopia para hematúria/hemoglobinúria e leucocitúria Método Tira reativa de urina Uriquest plus Tira reativa de urina Biocolor Sedimentoscopia urinária Hematúria 5 Hemoglobinúria 4 Leucocitúria 3 5 4 3 7 – 3 Fonte: Dados da pesquisa A concentração de hemácias e leucócitos mostraram concordância entre os métodos selecionados de 97% e 100%, respectivamente. (TAB. 3 e 4). 61 Tabela 3 – Concordância entre a contagem de hemácias e reações positivas para sangue na tira reativa de urina Reação positiva Reação negativa Total > 2/ campo 7 0 7 Até 2/campo 2 58 60 Total 9 58 67 Sensibilidade = 78%; Especificidade = 97%; VP positivo = 46%; VP negativo= 54%, Concordância = 97%. Fonte: Dados da pesquisa Tabela 4 – Concordância entre a contagem de leucócitos e reações positivas para esterase de leucócitos na tira reativa de urina Reação positiva Reação negativa Total > 5/ campo 3 0 3 Até 5/campo 0 64 64 Total 3 64 67 Sensibilidade = 99,9%; Especificidade = 99,9%; VP positivo = 53%; VP negativo= 47%, Concordância = 100%. Fonte: Dados da pesquisa 62 5 DISCUSSÃO A hematúria microscópica assintomática é uma anormalidade urinária frequente independente de gênero e faixa etária, e embora existam poucos estudos populacionais sobre a prevalência de hematúrias e de seus interferentes em fitas de urinálise (BASTOS; MARTINS; DE PAULA, 1998; COLOMBELI, 2006), alguns estudos como o de Coelho e colaboradores (1997) em Recife corroboram para esta afirmação. Em seu estudo, ele rastreou urinas por meio da tira reativa, encontrando hematúria em 19% da população estudada (PROCHNOW; GONÇALVES, 2000), resultado semelhante ao obtido neste estudo de 13%. O estudo de Mohr e colaboradores citado por Bastos, Martins e de Paula (1998), realizado em 15.401 indivíduos na cidade de Rochester, Estados unidos, alcançou 13% de prevalência de hematúria microscópica assintomática. Wallach (2011) cita que episódios isolados de hematúria microscópica geralmente não necessitam de investigação, podendo ser decorrentes de infecções virais, traumatismos leves, dentre outros. Dentre os pacientes com resultados positivos para leucocitúria, todos foram mulheres na faixa etária de 30 – 40 anos. A leucocitúria está associada a casos de ITUs, e segundo Silveira e colaboradores (2010), o diagnóstico dessas infecções, geralmente é feito pela urocultura, embora o método com a tira reativa de urina e do sedimento urinário auxiliem no diagnóstico. Maldaner e colaboradores (2011) destaca que as mulheres são mais susceptíveis a ITUs, devido a questões anatômicas e a contaminação bacteriana da uretra feminina no ato sexual, confirmando os achados deste estudo em relação a prevalência. Importante ressaltar que o número de amostras estudadas deveria ser maior para se ter um resultado mais claro da porcentagem de positividade de hematúria/hemoglobinúria e leucocitúria em relação aos resultados da sedimentoscopia urinária, no entanto, frente aos dados obtidos, devem ser considerados por estarem de acordo com a literatura. 63 6 CONCLUSÃO A utilização de tiras reagentes de urina contribui para a liberação de resultados mais rápidos e confiáveis, diminuindo a necessidade de se realizar a microscopia do sedimento em urinas com características físico-químicas normais, entretanto deve-se manter atento aos fatores que podem levar a falsos negativos e falsos positivos, que podem influenciar nos resultados dos dois métodos e na necessidade de se realizar as três etapas do exame de urina. Este estudo demonstrou que a tira reativa de urina apresentou boa precisão e concordância com a análise física e a sedimentoscopia urinária na análise da hematúria e leucocitúria, mas devido ao pequeno número de amostras e escassez de dados sobre o assunto não foi possível traçar um perfil seguro em relação aos dados obtidos. Sugere-se que novos estudos sejam realizados a fim de confirmar a aplicabilidade dos métodos no exame de EAS. 64 REFERÊNCIAS AMORIM, Anne Elisa; PACHECO, Jaqueline Bento Pereira; FERNANDES, Thaís Teixeira. Exame de urina tipo I: frequência percentual de amostras que sugerem infecção urinária. Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente. v. 11. n. 12., 2008. p. 57 – 68. Disponível em: <www.scielo.br>. Acesso em: 21 set. 2011. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. PROJETO 36:000.02003: laboratório clínico – requisitos e recomendações para o exame de urina. Rio de Janeiro, 2005. BASTOS, Marcus G.; MARTINS, Geraldo Antunes; DE PAULA, Rogério Baumgratz. Diagnóstico diferencial nas hematúrias. Jornal Brasileiro de Nefrologia. v. 20. n. 4., 1998. p. 425 – 440. Disponível em: <www.jbn.org.br>. Acesso em: 19 set. 2011. BAYNES, Jhon W; DOMINICZAK, Marek H. Bioquímica médica. 20 ed. Rio de Janeiro: Editoria Elsevier, 2007. BIOEASY. Biocolor. Ref. U031.T100. Belo Horizonte. Bioeasy Diagnóstica Ltda, 2010. BONINI, P. et al. Erros em laboratório médico. Química clínica. v. 48. n. 5., 2002. p. 691 – 698. Disponível em: <www.scielo.br>. Acesso em: 16 set. 2011. BOTTINI, P. V. GARLIPP, C. R. Urinálise: comparação entre microscopia óptica e citometria de fluxo. Jornal Brasileiro de Patologia Médica Laboratorial. v. 42. n. 3., 2006. p. 157 – 162. Disponível em: <www.scielo.br>. Acesso em: 12 set. 2011. CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE. Resolução 196/96: diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Disponível em: <www.bioetica.ufrgs.br>. Acesso em: 17 out. 2011. CARMO, Pryscilla Aparecida Vieira do et al. Avaliação comparativa da sedimentoscopia urinária realizada pelo nefrologista e pelo profissional de análises clínicas em pacientes com glomerulopatias. Jornal Brasieliro de Nefrologia. v. 29. n. 2., 2007. p. 90 – 94. Disponível em: <www.scielo.br>. Acesso em: 20 set. 2011. CIRIADES, Pierre G. J. Sedimento urinário: correlação dos resultados pela gravidade específica, peso específico (ou densidade). Especial – curso de urinálise 5° parte. News Lab. n. 99., 2010. p. 174 – 178. COELHO, S. N. et al. Epidemiology of hypertension (HPT) and Kidney disease (KD) in Recife, Brazil: evidence for a serious health problem. Nephrology, 1997. p. 224 – 232. Disponível em: <www.jbn.org.br>. Acesso em: 19 set. 2011. 65 COLOMBELI, Adriana Scott da Silva. Avaliação do potencial de interferência analítica de fármacos na análise química do exame de urina. Programa de pós-graduação em farmácia, 2006. COLOMBELI, Adriana Scott da Silva. FALKENBERG, Miriam. Comparação de bula de duas marcas de tiras reagentes utilizadas no exame químico de urina. Jornal Brasileiro de Patologia Médica Laboratorial. v. 42. n. 2., 2006. p. 85 – 96. Disponível em: <www.scielo.br>. Acesso em: 23 set. 2011. COMPRI-NARDY, Mariane; STELLA, Mércia Breda; OLIVEIRA, Carolina de. Práticas de laboratório de bioquímica e biofísica: uma visão integrada. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 2011. COSTA, Marco Antônio et al. Comparação dos resultados obtidos pelos métodos de contagem por campo e contagem de Addis modificada utilizados para a análise do sedimento urinário. Revista Brasileira de Análises clínicas. v. 38. n. 4., 2006. p. 225 – 229. Disponível em: <www.scielo.br>. Acesso em: 23 set. 2011. COSTAVAL, José Aloysio da, et al. Qual o valor da sedimentoscopia em urinas com características físico-químicas normais? Jornal Brasileiro de Patologia. v. 37. n. 4., 2001. p. 261 – 265. Disponível em: <www.scielo.br>. Acesso em: 23 set. 2011. ENZIPHARMA. Produtos de laboratórios. Disponível em: <www.enzipharma.com.br/data/index.php?page=shop.product_details&flypage =shop.flypage&product_id=208&category_id=4&manufacturer_id=0&option=co m_virtuemart&Itemid=5>. Acesso em: 04 mai. 2012. FERREIRA, Bárbara C. et al. Estudo dos medicamentos utilizados pelos pacientes atendidos em laboratório de análises clínicas e suas interferências em testes laboratoriais: uma revisão da literatura. Revista Eletrônica de Farmácia. . v. 6. n. 1, 2009. p. 33 – 43. Disponível em: <www.scielo.br>. Acesso em: 23 set. 2011. FULLER, Christine E.; THREATTE, Gregory A.; HENRY, John Bernard. Exame básico de urina. In: HENRY, John Bernard. Diagnósticos clínicos e tratamento por métodos laboratoriais. 20 ed. São Paulo: Editora Manole, 2008. Cap. 18, p. 427 – 470. FUNCHAL, Cláudia; MASCARENHAS, Marcello; GUEDES, Renata. Correlação clínica e técnicas de uroanálise: teoria e prática. Porto Alegre: Editora Sulina, 2008. GOLDMAN, Lee; AUSIELLO, Dennis. Cecil: medicina. 23 ed. v. I. Rio de Janeiro: Editora Elsevier, 2009. GUYTON, Arthur C.; HALL, John E. Tratado de fisiologia médica. Rio de Janeiro: Editora Elsevier, 2006. 66 LABTEST. Uriquest plus. 150 – 150. Lagoa Santa: Labtest diagnóstica S. A., 2009. p. 1 – 6. LIESENFELD, Cláudia, et al. Avaliação de hematúria em praticantes e nãopraticantes de exercícios físicos variados. Revista Brasileira de Análises Clínicas. v. 41. n. 2., 2009. p. 143 – 146. MACHADO, M. H. T et al. Automação do exame de urina: comparação do Urisys 2400 com a rotina manual (Microscopia do sedimento urinário). Revista Brasileira de Análises Clínicas. v. 35. n. 4, 2003. p. 165 – 167. MALDANER, Nádia Ione et al. Perfil antimicrobiano de cepas de Escherichia coli isolados de pessoas com suspeita de infecção do trato urinário. Revista Brasileira de Análises Clínicas. v. 43. n. 2., 2011. P. 145 – 147. MENEZES, Ana M. B.; DOS SANTOS, Iná da S. Curso de epidemiologia básica para pneumologistas: 4º parte – epidemiologia clínica. Jornal de Pneumologia. v. 25. n. 6., 1999. p. 321 – 326. Disponível em: <www.scielo.br>. Acesso em: 1 jun. 2012. MUNDT, Lillian A., SHANAHAN, Kristy. Exame de urina e de fluidos corporais de Graff. 2 ed. Porto Alegre: Editora Artmed, 2012. PEREIRA; Anna Caroline; BORDIGNON, Jardel C. Infecção urinária em gestantes: perfil de sensibilidade dos agentes etiológicos de gestantes atendidas pelo SUS na cidade de Palmas – PR. Revista Brasileira de Análises Clínicas. v. 43. n. 2., 2011. P. 096 – 099. PROCHNOW, André A.; GONÇALVES, Luis Felipe S. Hematúria. Revista HCPA. v. 20. n. 3., 2000. p. 247 – 254. Disponível em: <www.hcpa.ufgrs.br>. Acesso em: 04 out. 2012. RAVEL, Richard. Laboratório clínico: aplicações clínicas dos dados laboratoriais. 6 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009. SILVEIRA, Solange Aparecida et al. Prevalência e suscetibilidade bacteriana em infecções do trato urinário de pacientes atendidos no Hospital Universitário de Uberaba. Revista Brasileira de Análises Clínicas. v. 42. n. 3., 2010. P. 157 – 160. STRASINGER, Susan K.; DI LORENZO, Marjorie S. Urinálise e fluídos corporais. 5 ed. São Paulo: Editora LMP – Livraria Médica Paulista, 2009. SUPRALAB. Produtos disponíveis. Disponível em: <www.supralab.com.br/loja_lancamentos_anteriores.asp>. Acesso em: 04 mai. 2012. VIEIRA, Múcio. Proteína urinária. 74 ed. Revista News Lab, 2006. p. 150 – 154. 67 WALLACH, Jacques. Interpretação de exames laboratoriais. 8 ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 2011. WEIDE, M; LARA G. M. Avaliação da presença de microhematúria antes e após exercício físico em militares masculinos. 70 ed. Revista NewsLab, 2005. p. 124 – 134. 68 APÊNDICE A – ENTREVISTA ESTRUTURADA ENTREVISTA ESTRUTURADA ID: _________________________________________________________ Sexo: ____ Data de nascimento: ___/___/___ 1 – Faz uso de algum medicamento, ou o fez recentemente? Sim Não 2 – Em caso afirmativo, qual ou quais? _______________________________________________________________ 3 – Você foi esclarecido sobre os procedimentos da coleta? Sim Não 4 – Fez uso de algum complexo vitamínico no período em que precedeu o exame? Sim Não 5 – Em caso afirmativo, qual ou quais? _______________________________________________________________ 6 – Realizou atividade física intensa no dia anterior a coleta? Sim Não 69 APÊNDICE B – MODELO EXAME – EAS Modelo exame – EAS Análise física Cor: Aspecto: Volume: pH Densidade Urobilinogênio Corpos cetônicos Glicose Proteínas Bilirrubina Nitrito Sangue Leucócitos Ácido Ascórbico Análise química R1. V. R.1 5,0 1010 – 1030 Normal Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente – Sedimentoscopia R2. V. R.2 5,0 1010 – 1030 Normal Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Células epiteliais Microbiota Muco Leucócitos Hemácias Observações:____________________________________________________ _______________________________________________________________ Resultado paciente – R1 Resultado tira reagente Uriquest plus R1 Resultado tira reagente Biocolor Valor de Referência – V.R1 Kit tira reagente Uriquest plus V.R.2 Kit tira reagente Biocolor 70 APÊNDICE C – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Tema: COMPARAÇÃO METODOLÓGICA PARA ANÁLISE DA TIRA REATIVA DE URINA E SEDIMENTOSCOPIA URINÁRIA: leucocitúria e hematúria. Pesquisador Responsável: Marco Antônio Silvério Ribeiro Instituição a que pertence o responsável pelo estudo: Faculdade TECSOMA, Paracatu – MG Este projeto tem o objetivo de avaliar os resultados para a leucocitúria e hematúria entre as marcas de tiras reagentes, Biocolor e Uriquest plus utilizados no exame químico da urina. Para tanto serão realizadas coletas de urina em frascos próprios, com prévia higienização e desprezo do primeiro jato da amostra. As amostras passarão por análise física e química da urina e pela sedimentoscopia urinária. Os resultados serão comparados e avaliados segundo o indício, a presença ou ausência de hematúria e/ou leucocitúria. Durante a execução do projeto não haverá nenhum risco e você estará garantindo com isso a qualidade de exames laboratoriais. Se você tiver alguma dúvida em relação ao estudo ou não quiser mais fazer parte do mesmo, pode entrar em contato com o telefone (38) 9158 6591. Se você estiver de acordo em participar, posso garantir que as informações fornecidas serão confidenciais (ou material coletado), de uso exclusivo para o estudo. Após ler e receber explicações sobre a pesquisa, e ter meus direitos de: 1. Receber resposta a qualquer pergunta e esclarecimento sobre os procedimentos, riscos, benefícios e outros relacionados à pesquisa; 2. Retirar o consentimento a qualquer momento e deixar de participar do estudo; 3. Não ser identificado e ser mantido o caráter confidencial das informações relacionadas à privacidade. _______________________________________________ declaro estar ciente do exposto e desejar participar do projeto. João Pinheiro, _____ de ___________ de ______ Nome do voluntário: ____________________________________________________ Assinatura: ____________________________________________________________ Eu, Marco Antônio Silvério Ribeiro declaro que forneci todas as informações referentes ao projeto ao participante. __________________________________________________ Marco Antônio Silvério Ribeiro Data:___/____/____.