24. Filosofia Geral

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FILOSOFIA GERAL
I. INTRODUÇÃO
1.1. Para que Filosofia?
Em nossa vida cotidiana, afirmamos negamos, desejamos aceitamos ou
recusamos coisas, pessoas, situações. Fazemos perguntas como ‘que horas são?” ou
“que dia é hoje?”. Dizemos frases como ‘‘ele está sonhando”, ou ela ficou maluca.
Fazemos afirmações como "onde há fumaça. há fogo ou não saia na chuva para não se
resfriar’. Avaliamos coisas e pessoas, dizendo, por exemplo. “esta casa é mais bonita do
que a outra e “Maria está mais jovem do que Glorinha.
Numa disputa, quando os ânimos estão exaltados um dos contendores pode gritar ao
outro: "Mentiroso! Eu estava lá e não foi isso o que aconteceu’, e alguém, querendo
acalmar a briga, pode dizer:” Vamos ser objetivos, cada um diga o que viu e vamos nos
entender”.
Achando óbvio que todos
os seres humanos seguem regras e normas de
conduta, possuem artísticos valores morais, religiosos, políticos, vivem na companhia de
seus semelhantes e procuram distanciar-se dos diferentes dos quais discordam e com os
quais entram em conflito, acreditamos que somos seres sociais, morais e racionais, pois
regras, normas, valores, finalidades só podem ser estabelecidos por seres conscientes e
dotados de raciocínio.
Como se pode notar nossa 'vida cotidiana toda feita de crenças silenciosas da
aceitação tácita de evidências que nunca questionamos porque nos parecem naturais,
óbvias. Cremos no espaço, no tempo, na realidade, na qualidade, na quantidade, na
verdade, na diferença entre realidade e sonho ou loucura, entre verdade e mentira;
cremos também na objetividade e na diferença entre ela e a subjetividade, na existência
da vontade, da liberdade, do bem e do mal, da moral, da sociedade.
1.2. A Atitude Filosófica
Imaginemos, agora, alguém que tomasse uma decisão muito estranha e começasse a
fazer perguntas inesperadas.
Em vez de “que horas são?” ou “que dia é hoje?’’,
perguntasse: O que é o tempo? Em vez de dizer ‘‘está sonhando” ou “ficou maluca”,
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quisesse saber: O que é o sonho? A loucura? A razão?
Se essa pessoa fosse substituindo sucessivamente suas afirmações, suas perguntas,
suas afirmações por outras:
“Onde há fumaça, há fogo’’, ou “não saia na chuva para não ficar resfriado”, por: O
que é causa? O que é efeito?; “seja objetivo, ou “eles são muito subjetivos”, por: O que é
a objetividade? O que é subjetividade? “Esta casa é mais bonita do que a outra’, por: O
que é “mais”? O que é “menos”? O que é belo?
Em vez de gritar “mentiroso!”, questionasse: O que é verdade? O que é o falso?
O que é o erro? O que é a mentira? Quando existe verdade e porquê? Quando existe
ilusão e por quê?
Se em vez de falar na subjetividade dos namorados, inquirisse: O que é o amor?
O que é o desejo? O que são os sentimentos?
Se em Lugar de discorrer tranqüilamente sobre ‘‘maior’ e “menor” ou “claro” e
”escuro”, resolvesse investigar: O que é quantidade? O que é qualidade?
E se, em vez de afirmar que gosta de alguém por que possui as mesmas idéias,
os mesmos interesses, as mesmas preferências e os mesmos valores, preferisse
analisar: O que é um valor? O que é mui valor moral? O que é um valor artístico? O que é
a moral? O que é vontade? O que é liberdade.
Alguém que tomasse essa decisão estaria tomando distância da vida cotidiana e
de si mesmo, teria passado a indagar o que são as crenças e os sentimentos que
alimentam, silenciosamente, nossa existência.
Ao tomar essa distância, estaria interrogando a si mesmo, desejando conhecer
por que cremos no que cremos, por que sentimos o que sentimos e o que são nossas
crenças e nossos sentimentos. Esse alguém estaria começando a adotar o que
chamamos de atitude filosófica.
Assim, uma primeira resposta à pergunta “O que é filosofia?” poderia ser: A decisão de
não aceitar como óbvias e evidentes as coisas, as idéias, os fatos, as situações, os
valores, os comportamentos de nossa existência cotidiana; jamais aceitá-los sem antes
havê-los investigado e compreendido.
1.3. Definição
Etimologicamente, “filosofia” significa “amor e sabedoria”.
Episteme – conhecimento teórico.
Sofia – conhecimento teórico e prático.
A sabedoria como “helíquia” se reportava à vida como existência vivida, no conselho:
era a sabedoria dos anciãos, forma de conhecimento emanado da existência vivida ou da
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vivencia sofrida; era uma sabedoria feita mais de prudência que de paciência, tinha mais
virtude que de que inteligibilidade era uma legislação moral, um “gnômica”.
A sabedoria como “sofia” era considerada um ideal por atingir o conhecimento
absoluto.
Filósofo - é um homem que se consagra inteiramente a uma faina de compreender o
mundo e o seu funcionamento (Platão).
Sábio – é o que conhece a razão que tudo rege e ama verdadeiramente a sabedoria.
Erudito – mera curiosidade em saber para descrever simplesmente os fatos.
1.4. Origem da Filosofia
A principio a filosofia era uma mistura de razão, mitologia e cosmogonia.
Assim pensavam os pré - socráticos; os filósofos usavam métodos racionais e os
teólogos usavam o método descritivo. A filosofia é o estudo das respostas para as
perguntas profundas, quando a, filosofia não consegui mais responde-las porque não
podiam ser explicadas racionalmente, separou-se da religião porque esta aceitava o
inexplicável pela fé.
Mesmo que a Índia e a China tenham tido os sábios antes dos gregos, foi na Grécia
que a filosofia atingiu plena maturidade. É a partir dos gregos que o homem toma
conhecimento do próprio pensamento em face do seu objeto, busca analítica da razão
das coisas pelos meios racionais de que dispõe, porque é a partir dos gregos que data
crença racional na ordem e a busca metódica da sabedoria e da verdade, onde reside a
essência da sabedoria filosófica. Não é a sabedoria de salvação, própria do Oriente, onde
há a experiência religiosa e transcendental; é o saber culto, próprio do Ocidente, racional.
Depois de muito pensar, o grego descobriu que não havia deuses por trás das coisas,
como ensinava a mitologia; partiu, então, em busca da razão de ser e acontecer.
Pode-se afirmar que a filosofia é tão antiga quanto à própria humanidade; é a força
interrogativa e intelectiva, das origens obscuras do homem, de seu próprio ser espiritual e
anímico e de tudo quanto existe como um todo.
Da busca pelo ser, nasceu a filosofia e foi tomando consciência dela mesma no
homem desde os primórdios mais distantes.
São as visões do mundo e as concepções da vida, sistemas de crenças e idéias a
propósito do lugar do homem no universo e do papel que lhe cabe desempenhar.
(Numa segunda afirmação, a filosofia é uma “reflexão crítica” sobre todos esses
problemas, sobre as soluções que lhes foram dadas e sobre o pensamento que as
exprimiu; é uma busca dos mais elevados valores do homem).
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A grande pergunta filosófica é: “Que é o homem?”.
Disciplinas da filosofia:
Gnosiologia – ou “teoria geral do conhecimento” trata dos problemas da possibilidade,
da origem, da essência e das formas do conhecimento;
Alógica – investiga os elementos e estruturas formais dos sistemas científicos.
Epistemologia – investiga a estrutura, fundamentos e métodos dos sistemas
científicos.
Semiótica – estuda a linguagem em suas três dimensões:
a)
Semântica filosófica – ligação dos signos.
b)
Sintaxe filosófica – vinculada com a lógica.
c)
Pragmática filosófica – o contexto pessoal e social do uso da linguagem.
Axiologia – “práxis humana”. A natureza do comportamento individual e coletivo, seus
fins, normais e valores (estudo da ação humana).
Ética – Exame critico do comportamento e dos princípios morais (dever, liberdade,
virtudes).
Estética e filosofia da arte – se dirige as formas e princípios da contemplação e da
criação artística.
A investigação do conhecimento e da ação supõe uma reflexão sobre o homem e sua
existência, desde a infância da humanidade, seus sintomas e doutrinas de todas as
épocas. Isso é Antropologia.
Cosmologia – especulação acerca do universo como um todo, numa visão global.
Ontologia – investigação das categorias e princípios do ser e seus gêneros.
Metafísica – quando a reflexão sobre o mundo e o homem vai além da experiência.
Para a filosofia o termo “problema” não define apenas uma questão para resolver,
como ocorreria com os problemas científicos ou políticos. É o enunciado de algo não
conhecido ou a incompatibilidade aparente de duas idéias. Um problema filosófico requer
um homem que o pense e para quem o problema existe. Mas não é se desconhecer algo
ou um fato que se tem um problema. O problema nasce da “necessidade” de saber
alguma coisa desconhecida. A filosofia tem como missão a problematização de tudo que
se lhe apresenta, tanto da realidade como das proposições sobre a realidade; isto é, ver
o problema como problema e examinar o significado de todos os problemas e de todo o
problemático.
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II – FILOSOFIA ANTIGA
Grega – O grego começa a filosofar partindo do ser: “o que é o ser?” De que modo se
pode conhecer a verdade do ser e como expressa-la? Na Grécia a filosofia nasceu para
preencher um vazio que já não podia se bastar apenas com a mitologia.
2.1. Os Pré-Socráticos
Surgem no século VI a.C., escolas filosóficas nos centros da civilização grega, que
ficavam em colônias das ilhas do Egeu, da Ásia menor, da Sicília e Itália meridional.
Nelas fixaram - se os pensadores antes de Sócrates: Tales, de Mileto; Anaximandro,
Anaxímenes,
Diógenes,
Pitágoras,
Xenófanes,
Parmênides,
Herádito,
Meliso,
Empédocles, Anaxágoras, Leucipo, Demócrito. Esses pensadores se agrupavam em
diversas escolas:
A escola Jônica - de Jônia, cidade grega, integrada por Heráclito e pelos milésios:
tales,Anaximandro e Anaxímenes. Essa escola é tida como fundadora da filosofia grega.
A escola Pitagórica - ou Escola Itálica, fundada por Pitágoras, e por Filolau, Arquitas
e Alameon, que seguiam ao mesmo tempo, tendências místico-religiosas e tendências
cientifico - racionais.
A escola Eleática - de Eléia, sul da Itália, integrava por Xenófases, Parmênides,
Zenom e Meliso (o problema entre a realidade e a razão).
A escola de Abdera – ou Escola Atomística.
O período pré-socrático é também chamado de “período cosmológico”, porque os seus
pensadores preocupavam-se com os cosmos e por sua realidade última, e com isso
suscitaram problemas capitais da ulterior // metafísica. Esses pensadores foram os
primeiros filósofos sem saberem que o eram, e só mais tarde, por meio de Platão e de
Aristóteles, é que veio a se entender que o que eles faziam era “pensar” e filosofar, isto é,
observar profundamente as coisas e buscar a razão de ser.
No que “pensavam” os pré - socráticos?
A Escola Jônica achava o objetivo da investigação filosófica é o mundo que vem a ser:
o dever. Propuseram um principio único, que é algo de permanente além da variação,
que rege e governa o múltiplo enquanto o gera, e acabaram por construir o primeiro
esboço do conceito de natureza.
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Na escola Pitagórica os filósofos procuravam responder à pergunta: Como é possível
produzir-se a harmonia entre os diversos, especialmente entre os contrários? A medida
se obtém com números e estes são o principio das coisas.
Para os filósofos da Escola Eleática a posição de um principio único da natureza faz
nascer a duvida quanto ao valor da mitologia pluralística. Perguntaram, qual a diferença
entre a existência do fundamento único do real e a existência dos objetos da experiência?
É que o mundo é o que parece porque isto não é constante, igual a si mesmo, não se
pode defini-lo uma vez por todas, porque toda definição é contraditada pelas observações
sucessivas. O verdadeiro objeto do conhecimento é o que é constante: o ser contraposto
ao devir.
Para Heráclito, da Escola Anti-Eleática, não pode explicar o real sem negar o seu
caráter fundamental, sua perpetua mutação. O real é a unidade dos contrários, um
perpétuo fluir. A antítese (guerra) é a origem de tudo, num processo que se desenvolve
ciclicamente, sendo o fogo o principio gerador e símbolo da mutação ou do devir. Cada
coisa é apreciada pelo seu contrário: a saúde pela doença, o repouso pela fadiga, o bem
pelo mal.
Na Escola Pluralista, os filósofos aceitavam os princípios sustentados pelas outras
escolas; mas, o que os faz moverem – se? O que faz passar de estado a outro? Como
formam-se cada uma das espécies? O que as ordena? É possível que uma coisa nasça
da outra// coisa diversa dela? Anaxágoras considerou impossível reduzir aos quatros
estados da matéria (água, ar,terra e fogo) as infinitas formas dos seres e concebeu que
cada ser nasce do agregar-se de partículas símiles a ele (homeomerias).
Escola Atomista- os filósofos atomistas perguntaram como deveria ser concebida uma
única matéria para que fosse possível passar dela a multiplicidade das formas.
Ai foi excluído qualquer aspecto mitológico, e entenderam o “átomo” como algo
simples, formando da mesma substancia. E tudo acontecia por necessidade. Os átomos
se movimentavam, agregavam-se e formavam algo idêntico à substancia própria.
O cheio é o ser; o vazio é o não ser.
2.2. A Sofistica – Sócrates
Atenas é o centro da cultura grega a partir da metade do século V. A ordenação
democrática desta polis fez possível a participação dos cidadãos na vida política,
permitindo aos sofistas satisfazerem a necessidade de uma cultura adaptada à educação
política das classes dirigentes. Foram os sofistas que reconheceram o valor do “saber”
para governar e elaboraram o valor do “saber” para governar, e elaboraram o conceito
de “cultura” como a formação do homem político: devia propiciar especial habilidade
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polêmica e oratória, essa especial virtude que garante o êxito de um chefe político. E
começaram pela gramática e pela retórica. Nesse interesse pelo homem adentraram pela
antropologia.
Antes, com os pré-socráticos, a filosofia era especulativa e solitária; o intelectual era o
homem em solidão, que ao invés de meditar e monologar, discute a problemática do
universo e da realidade humana.
No período antropológico da filosofia grega, Protágoras afirmou: “O homem é a medida
de todas as coisas, das que são enquanto são e das que não são enquanto não são”. Os
sofistas escrutavam profundamente o espírito do homem até encontrar nele valores
universais e necessários. Esse princípio tornou-se pleno com sua outra afirmação:
“Conhece-te a ti mesmo”.
Para dar resposta à problemática antropológica, Sócrates, filósofo nascido em Atenas,
em 420 a.C., buscou a ciência como fundamento da moral e transformou o problema da
natureza em problema da relação entre a essência da natureza e o fundamento do agir
humano; examinou o que era o bem e o mal, como produto do agir deliberado do homem
ou inconsciente, e quais os resultados para a natureza e para o homem.
Quando Sócrates refletiu sobre o oráculo delto: “Conhece-te a ti mesmo”, percebeu
que nada sabia e nem entendia uma vez que ele era um desconhecido para si próprio.
De acordo com os sofistas, a realidade é relativa e o sujeito humano é o espelho dessa
realidade.
2.3. Platão
Filósofo nascido em Atenas (427-348 a.C), de nobre e ilustre família; foi discípulo de
Sócrates.
O platonismo é uma eterna busca da verdade; o problema é enunciado e examinado
profundamente em sucessivos diálogos e, quando é resolvido, outros problemas surgem
da própria solução. Entre suas obras, conhecemos:
Apologia de Sócrates – narrativa de seu mestre diante dos juízes quando foi
condenado à morte, sob a acusação de corromper a juventude.
Eutífron – diálogo sobre a piedade (santidade).
Criton – narrativa sobre as leis.
Laches – sobre a unidade da virtude.
Protágoras – sobre a ensinabilidade da virtude.
Ménom – relações entre ciência e opinião.
Górgia – sobre retórica.
Banquete – sobre o amor.
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Fédon – sobre a imortalidade da alma e a doutrina das idéias.
República – sobre a justiça e o Estado ideal.
Fedro – sobre a possibilidade de conjugar dialética e retórica.
Teeteto – sobre a definição de conhecimento.
Parménides – sobre o problema do uno e dos múltiplos.
Sofista – sobre a relação das idéias entre si.
Político – sobre uma nova concepção mais realista do Estado.
Filebo – sobre o prazer.
Timeu – grande enciclopédia científica.
Leis – novo plano realístico sobre a constituição do Estado.
Para Platão o que é mas pode deixar de ser, não é realidade; a idéia de cada coisa é
sua essência. O objeto próprio da ciência é o mundo real das Idéias, do qual o mundo
sensível é apenas a sombra ou a cópia.
A palavra “idéia” é utilizada por Platão para designar a forma de uma realidade, sua
imagem ou perfil “eternos” e “imutáveis”. As idéias platônicas desfrutavam de quatro
propriedades:
1 - Espiritualidade – são de ordem inteligível, invisíveis aos olhos corporais e,
imediatamente, intuídas pela inteligência, e por ela apenas.
2 - Realidade – as Idéias não são nem os conceitos abstratos do espírito humano, nem
sequer os pensamentos do Espírito divino: são realidades subsistentes e individuais;
constituem um mundo separado, o único que é completamente real. A realidade é o
atributo fundamental das Idéias, pois existem “em si” e “por si” e toda sua razão de ser
reside nelas mesmas; são incausadas e independentes, verdadeiras primeiras causas em
sua ordem. Daí estas outras duas propriedades:
3 - Imutabilidade – excluem qualquer mutação, seja para mudar, progredir ou declinar,
seja para desaparecer: são eternas;
4 - Pureza – sua essência é completa e som elemento estranho. São absolutamente
determinadas.
Para Platão as Idéias são as próprias coisas em seu estado de perfeição. São a
unidade de algo que aparece múltiplo; não são “visíveis”, apenas inteligíveis; são “vistas”
com o “olhar interior”. (coisas espirituais).
Várias idéias repelem-se ou participam uma das outras, por exemplo: a idéia de
rouxinol participa da idéia de ave.
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2.4. Aristóteles (discípulo de Platão)
O mundo das Idéias de Platão é perfeito, imutável, sem mácula, mas muito distante do
homem a quem ilumina, faz sonhar e amar.
Aristóteles (384-322 a.C) segue a mesma linha de seu mestre, e vai elevando cada
criatura, pouco a pouco, de forma em forma, até o vértice da escala de valores, o
Princípio absoluto.
Mas Aristóteles difere de seu mestre e para ele as Idéias não existem em si, numa
esfera à parte, mas são formas intrínsecas à matéria.
O filósofo começou a diferenciar as disciplinas filosóficas como ciências, ao formular:
O problema lógico – qual é a forma do pensamento científico?
O problema metafísico – quais são os princípios primeiros do ser e do pensar?
O problema estético – qual é o valor das artes?
O problema ético – que é a virtude e como se adquire?
O problema político – quais são as formas do Estado e qual é a melhor?
O problema psicológico – quais são as atividades da alma?
O problema físico – quais as espécies de movimento?
A filosofia primeira é o saber daquilo a partir do qual toda coisa recebe o seu ser e o
saber do último fim a que o ser tende. As coisas não são meros reflexos. A substância
não é a essência nem o universal, é o sujeito; a substância é , primordialmente, aquilo
que existe, mas o que existe o faz em virtude de algo que constitui sua essência. A
essência se acha na substância, porque é aquilo que faz da substância um “algo que é”.
Ao fazer uma estátua, o artista “pensa” na forma; é como se tivesse dentro de si uma
estátua, mas que não é ainda uma estátua; existe a condição especial que a determina
como tal, inseparável da matéria. Depois da estátua printa, é possível desprende-la da
matéria e ver o princípio imaterial a que deve a existência. E não existe uma “potência”
que dá a possibilidade da estátua existir, e o “ato” que é o acabamento perfeito.
Passar de uma forma a outra forma, passar do potência ao ato, evidencia as
“transformações” e os movimentos.
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III - FILOSOFIA HELENÍSTICO-ROMANA
Assim chamada por não mais está o pensamento filosófico confinado à Grécia e suas
colônias, mas na área que formava o Império Romano e s comarcas helenizadas do
Império de Alexandre. Sua característica é a grande ausência dos grandes sistemas de
tipo platônico e aristotélico, com a verdade fundada sobre o “Logos”.
Essa corrente filosófica helenística atravessa a era imperial romana até perder-se
dentro do pensamento cristão: os estóicos, os epicureus, os cépticos.
Esta fase é caracterizada pelo sincretismo e a formação dos grandes sistemas
neoplatônicos, que representam o último florescimento da especulação grega inserida
profundamente no cristianismo. A filosofia helenístico-romana fez parte da transição do
paganismo ao cristianismo com a progressiva fusão da noção grega do “logos” com a
moção cristã do Filho de Deus.
Neoplatonismo – Espeusipo e Xenócrates fundem a idéia platônica do Bem com a
idéia potagórica do Uno, que é a suprema perfeição da realidade e de onde toda
existência se deriva.
3.1. Plotino
Nasceu em Licópolis, Egito (205-270) e por influência de Ammônio Saccas, professor
em Alexandria, ingressou no estudo da filosofia. Depois de onze anos em companhia de
Saccas, Plotino viajou pela Síria e Pérsia, fixando residência em Roma onde fundou sua
própria escola e deixou 54 tratados recopilados por eu discípulo Porfírio em seus
Enneadas ou novenas.
Para Plotino, no Uno estava a expressão da perfeição e da realidade, e por isso se
empenhou na especulação baseada nos conceitos da unidade, da participação e da
emanação. Para ele, todo ser tinha como princípio e fundamento, como modelo ao qual
aspira, uma unidade superior, de modo análogo ao corpo que tem sua unidade superior
na alma. Portanto, a unidade é um princípio de perfeição e de realidade superior, o
absoluto.
O Uno a sua super abundância e essa relação do Uno com o diverso, é uma
emanação.
Plotino entende o Uno anterior a todo ser, mas sendo o próprio Ser e dele nasce, por
emanação, a segunda hipótese: o Inteligível. A identificação do Ser inteligível com a
Inteligência é a identificação do ser com o pensar, a racionalização completa do ente.
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Por emanação do Inteligível nasce a terceira hipótese: a Alma do mundo, que anima e
unifica todo ser. Como o Uno é o princípio do mal, o último ela da cadeia de emanações.
IV - FILOSOFIA MEDIEVAL
Cristianismo e filosofia – As escolas teológicas e os Pais da Igreja, lançaram mão da
filosofia para explicar a “boa nova cristã”. O Cristianismo não era uma filosofia vida, era
um Caminho para a salvação, cujo alicerce principal era o amor ao próximo. Entretanto, a
doutrina da salvação pregada no cristianismo, deu ao homem uma idéia, até então
desconhecida, sobre a criação e à vida. O homem procurava através de especulações,
saber o que era o ser-em-si, não como vida, mas porque se movimentavam e deixavam
de existir, o não-ser, o cristianismo foi mais fundo, chegou no “nada” que ameaçava o
não-ser quando é. E veio a idéia da Criação, de Deus o Criador.
A filosofia cristã defendia a fé nessa idéia.
4.1. A Patrística
O País da Igreja lançaram mão do “logos” grego, o fundamento de tudo que, a
essência da existência e do qual todas as coisas passaram a existir, para fundamentar o
pensamento religioso cristão, com dogmas que a simples filosofia não poderia explicar e
nem a razão aceitar. O Cristianismo era uma religião mística e não uma filosofia, e
também não era uma alternativa, mas uma opção de vida. Ele dava um sentido para o
mundo existir e para a vida humana; mostrava a liberdade do ser que lhe dava
movimentos e destino; o mal e o bem são evidenciados, o sentido da redenção, etc. Eram
verdades reveladas e só entendidas intelectualmente. Para os Pais da Igreja, o
Cristianismo era a Revelação última, única verdade da Razão de tudo existir: Deus! o
“logos” que aos homens: Jesus Cristo.
Jesus Cristo era o único Caminho por onde a humanidade poderia trilhar e chegar a
Deus.
4.2. Agostinho
Nasceu em Tagaste, na província romana da Nu mídia África, no dia 13 de Novembro
de 354, filho de um oficial romano e de Santa Mônica; seu nome era Aurelius Augustinus.
Faleceu em Hipona, onde era bispo, no ano de 430.
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Sua mãe era cristã e o pai pagão; educado de maneira liberal em meio às riquezas, o
rapaz recusava-se a ler a Bíblia oferecida, insistentemente, por sua mãe. As escrituras
sagradas pareciam-lhe vulgares e indignas de um homem culto. Imagine estudar coisas
irracionalmente inaceitáveis!
Em sua reflexões, mergulhava em graves questões existenciais; depois de passar por
várias correntes filosóficas, aportou no cristianismo em agosto de 386, dando muita
alegria a sua mãe que jamais deixara de orar por ele e de falar-lhe do amor de Jesus
Cristo. Em 391, tornou-se presbítero coadjutor das funções sacerdotais, na igreja de
Hipona, Argélia, para o ministério da pregação.
As exigências ministeriais tomara-lhe quase a totalidade do tempo, pois exercia função
pastoral, mas despertaram-lhe a grande necessidade de “saber”, e, entre as tarefas
administrativas e pastorais, Agostinho imergia nas reflexões filosóficas.
Preocupado em pregar a verdade de maneira compreensível, escreveu inúmeros
sermões, laboriosamente preparados.
Agostinho dirigia a instrução dos discípulos preparando-os para o batismo, era
conselheiro espiritual e dirigia as obras de caridade; defendia os pobres e intervinha
como advogado dos condenados ou oprimidos, diante dos poderosos e magistrados;
administrava o patrimônio da Igreja e era juiz secular pois o império reconhecia, desde
Constantino, a autoridade da competência episcopal.
O cristianismo era uma fé de quatro séculos quando Agostinho o aceitou; era uma
doutrina aparentemente simples, uma religião revelada, não era uma filosofia. Mas, sua
conduta moral e social, conflitavam com os senhores romanos. Foi quando estudiosos
procuraram buscar no campo da filosofia uma explicação em defesa da fé. Surgiam os
“apologistas”.
Santo Agostinho encerra esse período de tensão entre o cristianismo e a filosofia,
formulando questões gnosiológicas e éticas:
-
o que se deve entender por verdadeira felicidade, qual é a origem do mal e do
livre-arbítrio;
-
questões religiosas: qual é a verdadeira vida religiosa;
-
questões cosmológicas: o que se deve entender por tempo e eternidade;
-
questões da graça: resultando daí, sob nova forma, o problema do livre-
arbítrio;
Na teologia, explicava o problema da existência e natureza de Deus, e na história, o
drama do mundo e contraste entre a “Cidade de Deus” e a “Cidade Terrena”.
A filosofia de Santo Agostinho expressa fundamentalmente, dois termos: Deus e a
Alma.
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A experiência mística revelaria ao homem a existência de Deus e levaria à descoberta
dos conhecimentos necessários, eternos e imutáveis existentes na alma e de um Ser
transcendente que daria fundamento à verdade. Deus é inefável e indefinido pelas pobres
palavras humanas; só Ele mesmo pode dar uma fórmula capaz de designa-lo: “Eu Sou o
que Sou”.
Agostinho ensinava que “não se entra na verdade senão pela caridade”. Disto resulta a
colocação do amor, da caridade, no primeiro plano da vida intelectual do homem, já que o
conhecimento não se dá sem amor. A raiz do pensamento agostiniano é movida pela
religião, que por sua vez, movimenta sua filosofia. Dele procede a idéia da “fé que busca
a compreensão” e o princípio “creio para entender”, que muito influenciarão Santo
Anselmo e São Tomás de Aquino.
Para Santo Agostino, a história depende de Deus, é Ele que permite os eventos que
marcam o tempo e as eras; foi Ele quem criou o homem, um ser intrinsecamente
histórico. Como há a História da Humanidade, dentro da qual é inerente a História da
Revelação, Agostinho terminou fazendo os intelectuais mergulharem na filosofia da
História.
V. A ESCOLÁSTICA
Entre o século V, quando morre Santo Agostinho, até o século IX, não há filosofia
no mundo ocidental; quando, com o advento carolíngeo, aparecem as escolas em estreita
relação com a organização eclesiástica, o que dá continuidade ao pensamento unitário
de doutrina que influenciará vários pensadores individuais, posteriormente. A Escolástica
teve quatro períodos:
a)
Pré-escolástico – fins do séc.VII a fins do séc. XI. Suas características são o
tradicionalismo, a submissão à autoridade, a produção intelectual baseada em
recopilações, a receptividade, os inícios do pensar dialético através da ordenação das
sentenças.
b)
Escolástica inicial – fins do séc. XII e começo do séc. XIII. Caracterizado pelos
debates entre “dialéticos” e “antidialéticos”, pelos comentários às sentenças, pelas
primeiras Sumas, pelo auge da questão dos universais e de suas implicações teológicas
e lógico-gramaticais.
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c)
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A alta-escolástica – Com o amadurecimento dos temas anteriores, a absorção
definitiva dos motivos do pensamento árabe, judeu e aristotélico, o desenvolvimento e a
formação das grandes Sumas teológicas e filosóficas.
d)
A escolástica “decadente” – séculos XIV e XV. A escolástica estava presa a
problemas especiais, preocupada por questões lógicas e por divisões e subdivisões de
conceitos
5.1. São Tomás de Aquino (1225-1274)
Nasceu no castelo de Roccapeca, próxima de Aquino, Nápoles. Começou seus
estudos com os beneditinos e terminou com os dominicanos. Estudou em Paris e em
Colônia, com Alberto Magno; voltou a Paris onde doutorou-se em teologia no ano de
1259. retorna à Itália e leciona em Agnani, Orvieto, Roma e Viterbo. Foi professor
também em Paris, mas voltou para a Itália, onde morreu em 7 de março de 1274, aos
quarenta e nove anos, no convento dos cistercienses.
Alberto Magno havia dado início ao movimento de aristotelização do pensamento
filosófico medieval e Tomás de Aquino ordenou sistematicamente os materiais recolhidos
por seu mestre e aprofundou-se na assimilação do aristotelismo, especialmente nos
comentários dos árabes judeus.
Em sua obras, São Tomás de Aquino, se interessou mais pela apologia e a
exegese de textos sagrados, mas também escreveu sobre a teologia, a dogmática e
assuntos jurídicos.
As obras tomistas são inspiradas em Santo Agostinho e em Aristóteles, mas em
alguns problemas fundamentais, deu forma própria:
-
problema da existência de Deus (teológico)
-
problema dos universais (gnosiológico e lógico)
-
problema da individuação (cosmológico e metafísico)
-
problema da unidade do intelecto (psicologia racional)
Entretanto, o tema fundamental é a relação entre a revelação e a filosofia, entre a fé e
a razão.
A razão é serva da fé, mas uma serva que se mantém em sua verdade, pode chegar a
coincidir sempre, mesmo partindo dos seus próprios princípios, com a verdade da
revelação. Por isso a razão deve penetrar até onde seja possível no dogma, mas, ao
mesmo tempo, partir dele para desenvolvê-lo e esclarecê-lo. É um círculo que nenhum
filósofo da religião pode escapar. Mas o “círculo” dentro do qual atua o teólogo é mais
estreito do que o que atua o filósofo da religião. Existe um vínculo entre Deus e o homem,
que segundo o pensamento tomista é por ele que se aprende a verdade de Cristo, o
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Verbo, o Logos encarnado, ou seja, a verdade última de Deus tornada palavra e ação
humanas.
O pensamento tomista cristão da Idade Média foi, posteriormente, pela Igreja Católica
como forma mais adequada ao magistério eclesiástico.
5.2. Duns Scotus e Ockham
No fim do séc. XIII e início do séc.XIV, ocorre uma nova etapa na Escolástica que
culmina com sua decadência. À plenitude tomista são incorporados pensadores da
evolução dialética dos grandes problemas da filosofia medieval. Os maiores
representantes desse período foram Duns Scotus, nascido em Maxton, Escócia, em
1266 e falecido em Colônia, Alemanha, em 1308, e Willian Ockham, nascido em Ockham,
no condado de Surrey, em 1298, discípulo de Duns Scotus em Oxford, e falecido em
Müchen, em 1349. os problemas fundamentais destes pensadores são: as relações entre
razão e fé, entre intelecto e vontade, o princípio de individuação e a questão dos
universais.
Duns Scotus, franciscano, apresenta-se num completo contraste com Santo Tomás de
Aquino e esse contraste, clássico em filosofia, foi razão de debates entre Tomistas e
escatistas. Na ênfase à célebre máxima de Santo Agostinho: “Amas e fazes o que
quiseres”. Era o ensino sobre a relação de amor entre Deus e o homem;
o amor
estabelece vínculo essencial anterior a toda a razão e crença. Duns Scotus revela na
religião e na filosofia, essas duas irmãs, o amor e a liberdade, como princípios divinos,
formas acessíveis do homem do ser de Deus. mesmo quando nos afastamos de sua
verdade, o amor de Deus continua, porque o nosso espírito é uma centelha divina mas
somos distintos dEle e por isso há a liberdade. A razão humana está suspensa entre o
amor e a liberdade, não podendo o homem anular cada um dos extremos sem se anular
a si próprio, à sua fé e ao seu pensamento. Como para Duns Scotus, a vontade
prevalece sobre a razão, assim a fé, abrange algumas verdades que o pensamento
tomista demonstrava pela razão, como a imortalidade da alma. Duns é voluntarista,
afirma a primazia da vontade sobre o conhecimento, e isto em todas as ordens; para ele
a vontade não é passiva, mas ativa, não se determina por uma necessidade, sua
importância moral é superior e, por isso, o amor é superior a fé; vale mais amar a Deus
que conhecê-lo e a perversão da vontade é mais grave que a do entendimento.
Ockham completa o pensamento de Scotus, de quem foi seu discípulo; a fé não
pode ser explicada pela razão e tem verdades que nada dependem da filosofia. Deus não
é a razão e nem pode ser compreendido por ela. A teologia não pode aceitar a razão “
raciocinar” a existência de Deus, e nem fica pelos ataques à mensagem cristã feita pelos
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racionalistas. Esses ataques não atingem o nível no qual se firma a religião; eles podem
destruir superstições, mas nem mesmo atingem a fé.
VI - Filosofia Moderna
Humanismo e Renascimento – renascimento é o período de ressurreição da
antiguidade clássica e de fermentação das crenças e idéias que produziram o amor e
culto dos valores greco – romanos considerados como afirmação da independência do
espírito humano, do seu valor autônomo e dignidade do homem enquanto homem,
individualmente ou como “humanidade”; surgia o Humanismo, uma reforma total do
homem.
É claro que o Renascimento é uma continuidade da história, não se podia quebrar o
curso do tempo, mas se revestiu de uma atmosfera própria espiritual ao substituir o
objeto inteligível
pelo intuítivel. A exegese fazia lembrar e buscar os principais
representantes da tradição especulativa (sofistas). O dialetismo era uma ginástica
intelectual. Vieram as descobertas de novas terras; historiadores investigaram o passado;
o homem foi estudado em seus costumes; a ciência beneficiou o homem em suas ações;
houve o progresso das artes e a concorrência política e comercial. O clima intelectual é o
da livre investigação: na Academia Platônica de Florença, na Academia aldina de Veneza
e no Colégio de França, a reflexão não é limitada pelas necessidades práticas do ensino
universitário. E surgem os líderes pensadores jogando na atmosfera intelectual uma
proliferação de doutrinas que se expandem e confundem.
O Humanismo se caracteriza pelo desenvolvimento do interesse estético e filosófico,
científico e histórico, e o homem se descobre como um ser cultural, capaz de pensar e
estruturar seu próprio mundo; como parte integrante da natureza como dominador dela e
o seu lugar na história; o homem em seu valor, não é nada, mas pode vir a ser tudo, pelo
seu próprio esforço.
6.1. Telésio, Bruno e Campanella
Estes filósofos tornaram-se individuais, livres de qualquer vínculo com alguma ordem e
escola, e espalharam suas doutrinas de livres pensadores que dão o clima renascentista.
Bernadino Telésio - (1509-1588). Estudou em Pádova e em Nápolis. Superando o
aristotelismo metafísico, defendeu o domínio das forças naturais pelo empirismo na física,
dentro do conhecimento adquirido. Para ele, os princípios de mudança e da diferença são
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o calor e o frio, a expansão e a contração, isto é, o movimento e o repouso. Descrevia a
alma dos seres vivos revestida de uma fina e sutil matéria, que seria o princípio de todo o
movimento, o calor que anima. A alma humana tem a forma do corpo e é imortal. Telésio
é um naturalista radical, e sustentava que na conservação de sua personalidade estava o
fundamento moral de todo homem. Ao desvincular-se de qualquer metodologia escolar
mostrava não ser maleável e nem moldado por outros.
Giordano Bruno – (1548-1600). Desenvolveu a astronomia. Dominicano de vida
dramática, peregrinando por toda Europa ocidental, acabou denunciado ao Santo Ofício
como herético, e após sete anos de prisão, foi queimado vivo. Ele conciliou a imanência
com a transcendência, isto é, o natural com o sobrenatural. Em suas observações
descobriu a infinitude do universo e percebeu que este não era como tinha sempre
estudado: formado por seres rígidos que desde a eternidade obedeciam uma mesma
ordem que os tornavam imutáveis. O universo era formado por uma infinitude de seres
em movimento e em contínua transformação. Essa descoberta levou-o à conclusão de
que a grandiosidade do universo infinito corresponde a infinitude de Deus, que se acha
ao mesmo tempo, fora do tempo e além do tempo; Deus é a causa imanente de tudo que
há e está infinitamente acima de tudo. Para Bruno, o universo está cheio de vida, sendo
ele mesmo vida, com infinitos sistemas solares análogos ao terráqueo. E quem regia tudo
isso, como uma harmoniosa orquestra, era unicamente, Deus. O universo tinha muitos
mundos formados por manadas, que seriam a menor parte do casso, mas que em si era
um mundo completo em potencial. Nessa contemplação do infinito o homem chegaria a
adoração do infinito, que é Deus; aí podiam-se unir todas as crenças religiosas. Foi
perseguido pela Igreja Católica, julgado e condenado como herege, mas defendeu sua
tese até o fim.
Tommaso Campanella (1568-1639). Também denunciado ao Santo Ofício, foi
perseguido, preso e processado pela Inquisição, por trinta anos sofrendo terríveis
torturas. Ao ser libertado fugiu para Paris onde foi acolhido com grandes honrarias e se
dispôs a refazer todo o seu trabalho que fora destruído pela igreja. Para Campanella, o
conhecimento é uma relação entre o mundo externo e o sujeito; o indivíduo vê,
compreende e estrutura o seu mundo; o saber intelectual difere do saber sensitivo por
não vir do exterior, mas da alma, do conhecimento que ele tem de si mesmo. Deste
conhecimento se eleva à contemplação das idéias chegando até Deus. A alma conhece
sua transformação nas demais coisas e chega a conhecer o divino porque tem em si a
projeção das categorias da sabedoria, amor e poder, pertencentes a Deus. Nenhum outro
ser vivo tem conhecimento de si mesmo. Em sua obra “Sobre a Monarquia
Espanhola”(1625), desenvolve uma filosofia política e moral na imagem de um Estado
ideal teocrático, regido pelo Papa e organizado pelo rei da Espanha. Ao contrário, o
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Estado ideal descrito em sua “Cidade do Sol”(1623) é antes de tipo platônico, onde é
suprida a propriedade privada e a sociedade se acha organizada numa hierarquia em
cujo ápice se encontra o príncipe supremo, ajudado por três príncipes representantes da
sabedoria, do amor e do poder. Trata-se de um comunismo utópico que admite
comunidade de mulheres, de filhos, de habitações e de propriedade, num Estado regido
pela eugênia e pela educação em comum, isto é, as qualidades físicas e mentais do povo
eram encargos estatais.
6.2. A Segunda Escolástica
Por volta do século XVI, surgiu a “filosofia escolástica ibérica”, assim chamada por
pertencer alguns dos seus mais ilustres representantes a Portugal e Espanha. Foi a
barbárie da Contra-Reforma que motivou esse movimento, não para suprimir os castigos
impostos pela Inquisição, mas para justificá-los. Essa Segunda Escolástica era de
natureza ética e jurídica; seus pensadores se voltam ao tomismo e às grandes caras
sistemáticas da Idade Média. A teologia, porém, predominou sobre a filosofia, uma
teologia orientadamente marcada pela Contra-reforma, separou-os do pensamento
filosófico da Europa Moderna. Foram duas grandes ordens que expandiram a Segunda
Escolástica, um pensamento sobre a teologia católica: a ordem dos dominicanos ,
fundada por São Domingos de Guzmán, e a Companhia de Jesus, os jesuítas, fundada
por Santo Inácio de Loyola, ambos espanhóis.
Foi o pensamento desses religiosos que predominou no Brasil colônia.
6.3. Bacon, Galilei e a física moderna
Giordano Bruno já tinha tido a idéia do progresso da ciência e o método científico fora
tema de debate já nos fins da Idade Média entre tomistas-aristotélicos e ockhamistas. Os
aristotélicos defendiam a ciência obtida por dedução de alguns princípios tidos como
verdadeiros por intuição intelectiva. Os ockhimistas, porém, afirmavam do valor das
matemáticas e da experiência. Entretanto, nenhum desses pensadores dava absoluta
independência à experiência, ligados uns, aos vínculos religiosos, e outros às ciências
ocultas(teosofia, magia, cabala, metapsíquica, etc.).
É com Bacon e Galilei que a ciência se liberta e procura nas experiências os seus
problemas e as suas situações. A física aristotélica e medieval é a ciência da natureza
que procura descobrir “o princípio” ou as “causas” do movimento. A partir do ockhamismo
o conhecimento deixa de ser conhecimento de “coisas”
para se converter em
conhecimento de “símbolos”, instituindo-se o “pensar matemático”. Desta maneira a
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natureza deixa de ser entendida do ponto de vista das coisas para ser compreendida
como variações de fenômenos: algo quantitativo, capaz de ser “medido” e ser expresso
matematicamente.
Francis Bacon( 1561-1626). Suas idéias não partiram do nada, foi estudando as
enciclopédia Summas que Bacon se predispôs a reformar a ciência começando pelas
classificações : a história passaria a ser a ciência da memória, a poesia , a ciência da
imaginação, e a filosofia a ciência da razão.
Dentro de suas observações, Bacon designa os empiristas puros como formigas, que
somente acumulam; os metafísicos puros como aranhas, que extraem de si mesmos a
tela de suas especulações; e apresenta como exemplo as abelhas, que elaboram o
néctar extraído das flores para transformá-los em mel. Contudo , para levar a prática o
método, o físico tem de se libertar dos preconceitos. Mas o seu método era eliminatório,
por exclusão.
Galileo Galilei (1561 - 1626). Defensor do heliocentrismo copérnico, foi preso pela
inquisição e obrigado a retratar-se.
Segundo Galilei, " o livro da natureza está escrito em língua matemática e suas letras
são triângulos , círculos e outras figuras geométricas, de maneira que sem elas não se
pode entender uma única palavra ".
A base de todos
os fenômenos é a qualidade: a relação numérica e matemática,
ficando a continuidade do movimento decomposto em elementos simples e mensuráveis.
O problema filosófico fundamental de Galilei, era distinguir a ciência da reflexão moral,
encontrar o método próprio da ciência e considerar "qual é a natureza do real que só se
revela através de uma investigação científica. Seu método era
"compositivo"
e
"resolutivo".
Galilei tratou em campos diferentes a filosofia e a física; filosofia é reflexão, física é
mais ação que é igual ao movimento.
O ceticismo renascentista e Francisco Sanches. Nasceu em Braga, Portugal em
1551, e faleceu em Toulause, França em 1628, onde formou-se em medicina e passou a
maior parte de sua vida. Para Sanches, os dados de experiência
tinham de ser
submetidos à análise e à crítica do juízo. A experiência e o juízo seriam as únicas
possibilidades de um conhecimento e mesmo assim, de um conhecimento imperfeito,
pois "não atingiriam as pretendidas essências".
Era o cetiscismo, uma tendência do homem moderno e culto de reflexão metodológica.
Até escreveu o livro "Que nada se sabe", para mostrar que nada se podia provar, pondo
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em dúvida a inteligibilidade, as
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concepções da ciência que teria de se libertar da
metafísica tradicional, como da validade
de uma metodologia silogística. Sanches
deixava claro que os sentidos não percebem o absoluto, há somente sensações que dão
todo conhecimento acerca das coisas que não poderiam ser provados ou conhecidas
pela razão.
6.4. Idealismo e Empirismo
O amor à novidade e o desprezo à tradição caracteriza a época moderna, um princípio
novo sancionado unicamente pela razão.
A filosofia moderna se opõe à filosofia medieval que tornava o homem totalmente
dependente de Deus e a impossibilidade de uma justificação do saber que não procede
de Deus. Os filósofos modernos também desprezaram a doutrina cristã da salvação,
onde o primeiro homem peca e transmite o pecado a raça humana, e, que Deus, com
Seu amor, providencia um redentor.
René Descartes (1596 - 1650). (Cartesius em latim). Diferentemente de qualquer
outro formando, Descartes ao terminar seus estudos, sentiu-se vazio e insatisfeito, pois
não acreditava em nada do que lhe fora ensinado. Ele estava em busca do verdadeiro,
comprovadamente; mas não queria usar o silogismo aristotélico e nem demonstração
lógica de princípios já estabelecidos, a exemplo da matemática. A primeira condição seria
"não admitir como verdadeira coisa alguma que não se saiba com evidência que o é", e
evitando a precipitação. A segundo condição seria "dividir cada dificuldade em quantas
partes seja possível e em quantas se queira sua melhor solução". A terceira consiste em
"conduzir ordenadamente os pensamentos". E a quarta condição consiste "em fazer em
tudo recontagens tão integrais e revisões tão gerais, que se chegue à convicção de que
nada foi omitido".
Para Descartes, não se pode reconhecer nenhuma verdade, à princípio, a menos que
seja
imediatamente evidente. Consequentemente,
toda verdade se compõe de
evidências originárias, simples irredutíveis ou de porções relacionadas com elas. E ' o
processo da "dúvida metódica", onde se indaga o último critério de toda verdade. Não é
ceticismo. Descartes duvidava tanto que chegou a afirmar que só não duvidava de sua
existência porque "pensava" na dúvida: "Se penso, logo existo". Se Descartes pensava,
era porque um ser havia pensado antes dele e colocado o pensamento nele, portanto,
existe, pode pôr sua idéia numa natureza finita.
A filosofia admitia três estágios: o metodológico, o crítico e o construtivo, porém toda
sua originalidade está no primeiro, que tem por fim responder a pergunta: "Como e onde
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encontrar o fundamento do saber?" A resposta segundo Descartes, vem decorrente da
dúvida metódica; é que duvidar é pensar, e o pensamento é a realidade onde é lícito que
morram todas as dúvidas: "se eu penso, eu existo". Deus, Ser perfeito e Criador de um
mundo de harmonia, introduziu no pensamento as idéias claras e distintas, que , uma vez
descoberta ou desentranhada da tela envolvente da matéria, conduzem o homem à
certeza.
Descartes ainda destingue duas esferas da alma: "a res cogitans" e "a res extensa" (
o pensamento e a matéria). O pensamento abrange as idéias conscientes e reflexivas,
mas a sua conceptualização é prejudicada pela Segunda, isto é, pelo espaço e pelo
movimento. O filósofo teria de libertar-se das ilusões da matéria e da contingência e
elevar-se à contemplação das idéias que surgirão na sua plena verdade. Daí, Descartes
elaborou uma física e uma psicologia.
6.5. Cartesianismo: Malebranche e Spinoza
Processo da dúvida, evidência do
"Cogito"e existência de Deus, são
os três
elementos fundamentais da filosofia cartesiana e o núcleo substancial do cartesianismo.
Nícolas Malebranche, ( 1638 - 1715 ) - Membro da Congregação do oratório, depois
de ler o "Traité" da l' homme pela reverência às modalidades da substância extensa,
podem ser conhecidas, parcialmente, as modalidades que se referem à alma:
entendimento e indicação. Mas essas demonstrações da alma não a tornam numa força
motriz de causas. Deus é a única eficiente, agindo em conformidade com a ordem da
sua sabedoria, consoante leis imutáveis e universais, e não em obediência a casos ou
circunstâncias particulares. Em suma: as leis de Deus manifestam-se na "ocasião" dos
acontecimentos particulares e por intermédio das criaturas, mas segundo um
determinismo inflexível. Esta única causa é também das nossas idéias: só vemos as
coisas em Deus. Numa época de ceticismo espiritual, a doutrina de Melabranche era
arriscada.
Baruch Spinoza, (1632 - 1677) -
Nasceu
numa
família de judeus portugueses
exilados na Holanda. Pregava buscar, primeiro , na filosofia, o bem supremo, que seria o
produto do conhecimento de Deus como unidade do conjunto do universo. Spinoza
descreve quatro tipos de representações:
1 - Aquelas que são produzidas pela mera transmissão verbal:
2 - As que nascem por experiência vaga:
3 - As originadas pela relação de um efeito com sua causa:
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4 - As que proporcionam um conhecimento intuitivo e direto da natureza simples
examinada, tais como se realizam no conhecimento das verdades matemáticas. Esse
conhecimento é o único certo e verdadeiro.
O método, é definir os princípios, e o primeiro deles a ser definido, por conter a chave
de todo o resto, é o princípio que responde ao nome de Deus, "o que é em si mesmo, e
por si mesmo se concebe. Aquele cujo o conceito não necessita do conceito de outra
coisa para ser formado". É substância infinita da qual dependem todos atributos. É uma
doutrina de salvação, pelo conhecimento de Deus, e que é conhecido aplicando ao Ser
Divino, os métodos da geometria , e partindo do princípio de que a revelação de Deus
foi transmitida, natural e diretamente, ao espírito humano. Um racionalismo tão
extremado que elimina to o mistério.
A filosofia espinosiana, era meio panteísta, pois colocava em total equivalência os
"decretos Divinos" e as leis a natureza.
O homem não é dotado de liberdade, pois os seus mínimos atos e pensamentos são
guiados pela necessidade. Tudo o que somos, tudo o que vemos, ouvimos e fazemos ,
são atributos de Deus, ou "modos "da única substância que verdadeiramente existe:
Deus.
Spinoza procurou uma ética capaz de guiar os homens no caminho da salvação. Esta
ética, consiste no amor intelectual de Deus, no amor da parte pelo todo, do atributo pela
substância.
6.6. Leibniz e o racionalismo alemão
Na Alemanha o Renascimento foi, essencialmente religioso e não um movimento
cultural universal e profano, como aconteceu em outros países europeus.
O crescimento da Igreja Evangélica e a decorrente luta religiosa, canaliza todas as
correntes intelectuais da época para o campo r3eligioso, e o próprio humanismo serve à
Teologia, surgindo uma escolástica protestante e aristotelismo teológico eclético.
Gottfried Wilhelm Leibniz, (1646 - 1715) - Desde de muito jovem Leibniz mostrou ser,
assombro somente precoce, mostrando grande interesse por todas as ciências , pela
história e pelas questões políticas e religiosas. Descartes era um católico nominal, e
Spinoza um judeu livre pensador que vê o mundo em ordem geométrica, enquanto
Leibniz diz ser o universo formado de um número infinito de "mônadas". E segundo ele,
tudo o que existe é uma possibilidade que se realizou por uma regra não necessária e
livremente aceita. Entretanto, nem tudo o que é possível se realizou ou se realiza, e o
mundo dos possíveis é muito mais vasto que o mundo real. Deus em Sua sabedoria,
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entre a infinidade de suas possibilidades, escolheu a melhor e realizou, como também
criou os homens com o destino que terão, com as disposições que se desenvolverão
nesse destino. Tudo numa harmonia pré - estabelecida.
Leibniz unia e formava o mundo numa ordem espiritual livre, formada por "mônadas".
A mônadas de Leibniz era o átomo espiritual, uma substância simples, sem partes,
uma unidade amorfa e indivisível; não podia desagregar-se, e era eterna: somente Deus
a podia criar ou aniquilar; tinham a capacidade de ação.
A mônada constitui um centro imaterial de forças ativas, são eternas e indestrutíveis, e
não podem nascer nem perecer por via natural, nem podem mudar sob a influência
exterior. Cada mônada é um vivo espelho do universo, e de acordo com o grau de seu
desenvolvimento, elas dividem-se em:
1 - Mônadas simples - ( representações confusas ) que correspondem ao mundo
inorgânico;
2 - Mônadas- almas - a potência de sensação e de representação destas mônadas,
corresponde ao nível do desenvolvimento dos animais;
3 - Mônadas- espíritos - seres racionais.
Giovanni Batista Vico, ( 1668 - 1774 ) -
O filósofo napolitano começou o seu
pensamento contra a filosofia cartesiana, que reduzira todo o conhecimento à evidência
racional, à razão necessária e geométrica, como se estivesse tratando com uma ciência
exata. Vico julgou a pretensão cartesiana quimérica: existem certezas humanas
fundamentais, como a retórica, a poesia, a história e a prudência que rege a vida, não se
fundam sobre verdades geométricas, mas, unicamente sobre o verossímil.
A natureza não pode ser compreendida como a história ou matemática, pode ser
pensada, mas não entendida porque o homem é um ser histórico, cada indivíduo tem sua
própria história dentro da história da humanidade. Tudo está sob o controle de Deus.
Segundo Vico, este controle consiste na invariável repetição de três sucessivas idades
nas nações:
-
Idade Divina - teocrática, sacerdotal.
-
Idade Heróica - arbitrária, violenta
-
Idade Humana - razoável, moderada.
Uma vez terminada a etapa humana, das ruínas da nação, emerge após uma
inevitável crise, uma nova Idade Divina, e recomeça o ciclo. A história é um contínuo
renascimento dos povos, sempre repetindo as mesmas idades.
O conhecimento humano, por isso, apresenta-se capaz de investigar uma certa ordem
da realidade, e é incapaz diante de outras ordens.
É incapaz diante do mundo da natureza, porque a natureza é obra Divina.
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6.8. O Empirismo Inglês: Hobbes, Looke, Berkeley e Hume
Enquanto na Europa os filósofos seguem o racionalismo, os britânicos
seguem o
empirismo, afirmando que a fonte do saber não é a razão ou o pensamento, mas a
experiência.
Thomas Hobbes, ( 1588 - 1679 ) - O ponto de vista empirista de Thomas, se revela
em sua concepção da sensação como base do conhecimento. A linguagem que foi
fundada e definida pelo homem, é a base de toda construção conceitual, pelo que urge
ater-se à linguagem vigente e formar, partindo do convencialismo
universalmente
admitido, as definições gerais que permitem chegar ao conhecimento científico; a ciência
racional está fundada no método matemático. Pensar "é calcular" com as palavras, no
mesmo sentido em que na aritmética operar equivale a calcular com números.
O processo espiritual é derivado da sensação, e o conceito de verdade, consiste na
concordância dos dados sensíveis entre si. Com mesmo critério em virtude do qual
reconduz as faculdades mais elevadas da vida cognoscitiva aos dados elementares da
sensibilidade, também na análise da atividade prática do homem, Hobbes explica os
valores morais como manifestações de egoísmo. "Bem e mal" são apenas o que é útil
ou nocivo ao instinto de conservação e ao interesse do indivíduo. Toda a ação, segundo
seja útil ou nociva à sociedade, é chamada "boa ou má", e recebe consequentemente,
prêmios e penas. A doutrina do Estado, de Thomas Hobbes, parte da igualdade entre
todos os homens, pois é de opinião que todos aspiram a mesma coisa e se não
consegue o que aspira, desconfia do outro e, para precaver-se, ataca-o.
Os três motores da discórdia entre os homens são: a concorrência - que provoca as
agressões pelo lucro; a desconfiança, que faz com que os homens se ataquem para
alcançar a segurança; e a vanglória, que os torna inimigos por rivalidade de reputação.
Esta situação "natural" um estado de perpétua luta, de guerra de todos contra todos, e
para conseguir segurança, o homem tenta substituir o "status naturae" por
um " status
civilis", mediante um convênio em que cada um transfere seu direito ao Estado, um
convênio de cada um com cada um. Essa transferência faz do Estado um poder absoluto,
pois para o Estado, "o poder não tem mais limite que o próprio poder". Os homens
perdem o poder e passam a ser controlados pelo Estado, que manda e comanda sem
limitação: é uma poderosa máquina, um monstro que devora os indivíduos e diante do
qual não há nenhuma outra instância. Por isso Hobbes denominou o Estado de "Leviatã".
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John Locke, ( 1632 - 1704 ) - Formado em Oxford, Inglaterra, foi considerado um
teórico do liberalismo por investigar a origem ou fontes das nossas idéias. Discordava da
noção das idéias inatas, o homem adquiria suas idéias por um processo psicológico.
Nenhum indivíduo já com as idéias prontas no seu espírito ou alma, elas vêm com a
experiência; a alma é uma folha em branco onde a experiência marca suas impressões,
que são as representações gerais da consciência.
Assim, a crítica lockeana do princípio inatista, se converte em enunciado do princípio
empirista: "a mente do homem é uma folha não escrita, sobre a qual inscreve a
experiência suas impressões".
Para Locke, todo o conhecimento tem origem na experiência, que produz as idéias de
duas formas:
como
"sensação" produz as idéias do que nos é externo; como a
"reflexão" do que é interno a nós. No primeiro caso, obtemos a idéia da dor, do conhecer,
do desejar; no segundo, as idéias simples - quente, verde, amargo....
Locke distingue ainda, entre as idéias simples, as que têm validez objetiva e as que
apenas têm validez subjetiva.
Validez objetiva - ( qualidades primárias ) número, figura, extensão, movimento,
solidez, etc., são inseparáveis dos corpos e lhes pertencem.
Validez subjetiva - ( qualidades secundárias ) cor, odor, sabor, temperatura, etc., são
sensações subjetivas de quem as percebe.
A formação das idéias complexas se funda na memória; são idéias substanciais, de
relação e resultam da atividade associativa da mente.
George Berkeley, ( 1685 - 1753 ) - Fundamentado na teoria das idéias de Locke, vê
no empirismo o meio de superar o materialismo ao invés de ser o seu sustentáculo. Ele
quer mostrar a origem empírica do conceito de matéria e, assim, desmaterializar o
mundo.
Para ele, o materialismo consiste em demonstrar que a estrutura das noções abstratas
intermediárias, fictícias, sugeridas pelos filósofos, não tem a menor realidade sem a
presença dos dados vivos, concretos e imediatos do conhecimento; ( um espiritualismo e
idealismos extremados ). A realidade é a espiritual, ela é o sujeito, a consciência, na qual
residem as idéias. A matéria inexiste, tudo é idéia da percepção, o eu espiritual, de
certeza intuitiva.
Davi Hume, ( 1711 - 1776 ) - Adere ao princípio Berkelismo até às últimas
conseqüências. Locke que afirma ser "todo conhecimento experiência", mas esta
experiência é um fato de consciência ( Berkeley ). Com esses dois princípios, Hume
desenvolve sua filosofia. Com esta mistura, o filósofo foi considerado um camponês
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grosseiro por outros filósofos, em vez de alguém sábio e refinado. Se algo não podia ser
entendido racialmente, aceitava-se pela fé. A afirmação de que a causa produz o efeito,
não é segura em tese empirista, onde a "causa" é algo que precede a outro algo, efeito".
O mundo não era o "efeito" de uma grande "causa", Deus.
Suas obras não foram bem aceitas.
6.9. Iluminismo
A Idade das Luzes - O período histórico que vai desde os últimos anos do século
XVII, até ao fim do século XVIII. É' caracterizado pelo emprego da crítica e das normas
da razão a todos os campos da experiência humana.
'' O Iluminismo é libertação do homem de sua culpável incapacidade. A incapacidade
significa a impossibilidade de servir-se de sua inteligência sem a direção do outro. Esta
incapacidade é culpável porque sua causa não reside na falta de inteligência, mas de
decisão e valor para servir-se de si mesmo dela..." ( Kant ).
O Iluminismo compreende três aspectos deferentes e conexos:
1 - A extensão da crítica a toda crença ou conhecimento, sem exceção;
2 - A religião de um conhecimento que, para abrir-se à crítica, inclua e organize os
instrumentos da própria correção;
3 - O uso efetivo, em todos os campos, do conhecimento obtido deste modo, com a
finalidade de melhorar a vida individual e associada dos homens.
O Iluminismo tem, porém, duas características fundamentais: a rigorosa auto-limitação
da razão no âmbito da experiência humana, e a desmesurada possibilidade da razão de
examinar qualquer aspecto e domínio compreendido nestes limites. O Iluminismo
marcado pelo otimismo no poder da razão e na possibilidade de reorganizar a fundo a
sociedade à base de princípios racionais, vê no conhecimento da natureza e em seu
domínio efetivo, a tarefa fundamental do homem. Os iluministas eram hostis à tradição,
mas não à história. Dentro da história, o passado não é uma forma de evolução, e sim,
um conjunto de erros explicáveis pelo insuficiente poder da razão;
no Iluminismo o
conhecimento vem pela sensação especularizada pela razão. A tendência utilitarista do
Iluminismo é difundida e chega às massas, porque nela ressalta a idéia da filosofia como
meio para de chegar ao domínio da natureza e para reorganizar a sociedade. Ao lado
disso, ocorre a tendência naturalista que se reflete no predomínio dado à maneira de
conhecimento das ciências naturais, enquanto a tendência antropológica deriva do
interesse superior despertado pelo homem e seus problemas em face das grandes
questões de ordem cosmológica.
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O utilitarismo, o naturalismo e o antropologismo, ressurgirão, em toda sua plenitude,
nos meados do século XIX, com o Positivismo. Essa "idéia de progresso" é fundamental
no iluminismo. O ideal clássico, aspiração contínua de estabilizar o homem sob o império
da razão, foi vencido pela inquietação da sociedade européia prisioneira da "crise de
consciência", em que todos os valores políticos e religiosos serão postos em causa.
Da "libertinagem" intelectual e literária, elevam-se as consciências à crítica
racionalizadora, em que se agravam, irreparavelmente os conflitos espirituais: os
malagros
das
tentativas
de
conciliação
religiosa,
os
progressos
políticos
do
protestantismo e da cultura inglesa, serviram para reforçar as tendências do espírito
crítico. Existe um Deus arquiteto e integrado na natureza, contrapondo-se ao Deus
pessoal do cristão. Era o deísmo, chamado também, de ''ateísmo disfarçado", pois
negava a Revelação e a Providência.
Um acontecimento realmente fabuloso, foi a publicação da "Enciclopédia", na França,
iniciada por Diderot e d' Alembert com a colaboração de numerosos sábios, escritores e
filósofos, com o primeiro volume a 1 de julho de 1751, com um total de 35 tomos, o último
terminado em 1772. Foi um dos grandes acontecimentos intelectuais e sociais da época.
Não obstante seus autores e partidários discordar em muitos pontos particulares,
coincidem todos, com exceção de Rousseou, na confiança, no poder da razão livre, no
otimismo do progresso pela cultura, na luta contra a autoridade onipotente da Igreja, no
interesse pelos problemas sociais, na tendência naturalista e no respeito à experiência.
Àqueles que aderiram às tendências da Enciclopédia, deram-lhes o nome de
"enciclopedista" e a esse cruzamento de tendências foi dada a origem de uma nova
moral ao invés de uma filosofia determinada.
Era mais um estado de espírito cuja
principal característica é a crença de que com sua época ocorreria uma radical mudança
em todas as ciências e de que se chegava a uma fase histórica superior, regida pela
razão.
6.9.1. Iluminismo Inglês
O iluminismo francês foi muito difundido na Europa, graças à Enciclopédia que juntava
a obra de todos os sábios e filósofos, entretanto, a base de tudo isso foi buscada na
filosofia inglesa, a partir de Locke.
Na "Escola Escocesa" ( séc. XIX ) desenvolveu uma "filosofia do senso comum",
baseado na física de Newton e sua decorrente metodologia, e a química de Bayle, e
inaugurada por Thomas Reid ( 1710 - 1796 ). Segundo Reid, se faz preciso substituir toda
explicação por uma simples descrição, na qual se descobre a permanência do senso
comum, entendido como conjunto de percepções evidentes que resolvem o problema
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metafísico do mundo externo, e, ao mesmo tempo, permitem superar o ceticismo na
esfera religiosa.
A Escola Escocesa irradiou-se para toda a Europa, de modo especial na França. Os
iluministas ingleses se interessam pelos problemas referentes à moral, à economia e ao
direito. O fundamento da eticidade para Anthony Cooper, conde de Shaftesbury ( 1671 1713 ) e para sua escola, não é o sentimento utilitário, mas uma necessidade inata de
equilíbrio de harmonia e de beleza. O "senso moral" enraizado na natureza humana,
consiste nessa exigência estética que nos induz a compor em justo equilíbrio a nossa
vida interior, e a difundir o indivíduo no complexo social e na vida do todo, evitando o mal
que é dissonância e feiura.
O suposto otimista de Shaftesbury renasce na obra de Adam Smith ( 1723 – 1790) ,
professor catedrático de filosofia moral de Glasgow e que ocupa um lugar eminente na
história da Economia Política por Ter feito em sua "investigação sobre a natureza e as
causas das riquezas das nações" (1776 ) a primeira exposição científica dessa matéria
como disciplina curricular. Sua obra "teoria dos sentimentos morais" (1759 ) tende a
explicar o funcionamento da vida moral do homem com um princípio simples de harmonia
e de finalidade. Sua doutrina ética baseia-se no sentimento imediato de simpatia como
determinante da aprovação das ações alheias, mas a simpatia em acepção moral, não é
um movimento de reação instintiva dominada pela utilidade e pelo egoísmo; para Adam,
é o fato de uma comunidade com o próximo, por meio da qual se outorga a seu ato, um
juízo totalmente imparcial e desinteressado. Defende a liberdade completa de comércio:
as nações só podem aumentar suas riquezas, se o Estado não intervir. Suas teorias
econômicas políticas constituem o fundamento do liberalismo econômico que influencio a
Inglaterra e outras nações. No Brasil, seu maior representante foi Visconde de Cairú (
sécs. XVIII - XIX ).
A tese da coincidência do útil individual com o útil coletivo, inspirou a "Deontologia "de
Jeremias Bentham ( 1748 - 1832 ), na qual a ação utilitária se torna moral, quando quem
age considera não apenas a vantagem imediato, mas também as conseqüências
remotas, a si mesmo e aos seus semelhantes. Partindo de um conceito racionalista do
prazer e da dor, pelo qual esses afetos podem ser analisados e medidos
quantitativamente, aplica Bentham à moral e à reforma política, orientado num sentido
democrático radical, o princípio do maior prazer possível para o maior número possível
de indivíduos.
Aí é necessário despertar o interesse individual com o coletivo, e estabelecer um
sistema legal de sanções que permite castigar o transgressor das leis destinadas a
proporcionar à sociedade, e com isso aos indivíduos particulares, a maior felicidade e
bem-estar possíveis.
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6.9.2. Iluminismo Francês
Pierre Bayle ( 1647 - 1695 ), protestante, depois católico e por fim protestante, foi
o primeiro iluminista francês. Em sua obra "Dicionário histórico e crítico" (1695 ), fez uma
ampla exposição por ordem alfabética dos sistemas e temas filosóficos fundamentais e
uma das contradições implicadas nas tradições teológicas e metafísicas; faz comentários
sobre os problemas da liberdade e da teodicéia, e sustenta com base em exemplos
históricos, que as crenças religiosa não supõem sempre um comportamento moral
perfeito, já que podem coexistir os vícios com a crença ou as virtudes com a
incredulidade. Mesmo assim, Bayle percebeu que as contradições encontradas no afã da
justificação dos dogmas e nas violentas lutas temáticas entre teólogo e filósofos de
diversas tendências, não terminavam numa atitude cética diante da religião, mas na
autonomia da verdade religiosa, cujo valor independe das contradições racionais.
Defendeu a tolerância diante as divergências teólogo-políticas de católicos e calvinistas,
e combateu as doutrinas de Spinoza.
Charles de Secondat Barão de Montequisteu ( 1689 - 1755 ) - Criticou ironicamente
a sociedade francesa de seu tempo e defendeu a tese de que "as leis de cada país são
um reflexos do povo que as tem". Comentou sobre três formas de constituição:
1 - Despativo - no qual não cabe senão a obediência fervorosa.
2 - Monarquia - motor principal - honra.
3 - República - motor principal - a virtude.
François Marie Arouet Le Jeune ( 1694 - 1778 ), chamado Voltaire, foi uma das
personalidades mais relevantes de sua época, tendo sido o escritor mais lido, comentado,
discutido e admirado, em literatura, filosofia e história, assuntos esse, impregnados das
doutrinas de Locke e Newton. Para ele, a cultura era polimento do homem grosseiro e
egoísta por natureza.
A filosofia abria aos horizontes da obscuridade humana, pelo
"poder das luzes" do saber e compreender.
A deidade da religião criara e ordenara o mundo, mas não fazia nenhuma intervenção
para mudar a incurável loucura dos homens. Foi um dos fundadores da filosofia da
História, afirmando ser a história uma sucessão de manifestações da paixão humana que
pouco a pouco vai sendo iluminada pela razão, uma luta da cultura e da tolerância contra
a ignorância e o fanatismo, tornando o homem um ser culto e racional.
Jean Antoine Caritat ( 1743 - 1794 ) - Marquês de Condorcet, fez um trabalho inédito
no campo da filosofia da história, e conseguiu com ele, demonstrar a ordem dos eventos
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históricos num esquema de progresso ininterrupto no decurso do tempo, sempre
caminhando pela razão; esse progresso pode ser mais lento em certos povos e mais
acelerado em outros; há povos, onde praticamente, o tempo parou; era um estudo
antropológico explicado filosoficamente. Em suma, para Condorcet, o espírito humano
não pode atingir todo o saber, mas pode progredir de um modo contínuo, e para isso, é
necessário uma educação intelectual e moral que conduza o espírito à consciência desse
progresso. Sua principal obra é o "Ensaio de um quadro histórico dos progressos do
espírito humano" ( 1794 ).
Robert Turgot ( 1727 - 1781 ) - Foi economista, e por breve tempo, ministro
reformador de Luís XVI. Segundo Turgot, o objetivo da história consiste em "encontra a
influência das causa gerais e necessárias, as das causas particulares e a das ações
livres dos grandes homens, relacionando tudo isto com a própria constituição do homem
e, além disso, mostrar os móveis e a mecânica das causas morais através de seus
efeitos".
Para Turgot, a história universal é uma "história do espírito humano" e da razão
humana, que se elevaram por gradações insensíveis à medida que os homens
analisaram mais e mais suas idéias; é um progresso de análise empírica.
Sua colaboração para a Enciclopédia foi o artigo "Existência", onde fez um estudo
aprofundado sobre a existência do "eu", baseado em Locke, do mundo do externo e de
Deus.
Denis Diderot ( 1713 - 1784 ) - Representante típico do enciclopedismo e das idéias
iluministas, Diderot foi o principal redator da Enciclopédia.
Seu pensamento filosófico é determinado pelo empirismo inglês, pelo criticismo cético
de Bayle e pelas diversas correntes materialistas e naturalistas do seu tempo. Sobre a
natureza: "Todos os seres circulam uns em outros... Tudo se acha em perpétua fluência...
Não há outro indivíduo que a totalidade. Nascer, viver e morrer é mudar de forma". A
natureza para Diderot, era uma totalidade orgânica na qual toda desaparição é
transformação e onde cada ser participa dos caracteres dos demais seres. Eterna e
contínua metamorfose.
Ao afirmar este tipo de vida sempre desaparecendo para reaparecer em outra forma,
numa transformação sem fim, Diderot pregava a existência incontestável de Deus, cuja
existência poderia ser melhor confirmada pela física experimental que pelas meditações
de Malebranche e de Descartes. Mas é uma divindade do deísmo e não da religião; Deus
atua na natureza, nas transformações, e só na natureza o homem pode buscar e
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alcançar as regras de seu comportamento. A natureza atua sobre o homem através de
seus instintos e sua paixões.
Jean Jacques Rousseou ( 1712 - !778 ) - Tinha ligações com os enciclopedistas,
porém, na história das idéias iluministas, desfrutava de uma posição especial. Em seu
"Discours sur hessciences et hes arts", o homem é bom em sua índole, a civilização é
que o torna mau. O naturalismo trata da volta do homem à natureza baseado em idéias
religiosas calvinistas. O pecado original inexiste. O iluminismo procurou libertar o
pensamento da repressão dos monarcas terrenos e do despotismo sobrenatural do clero.
Acentuou o movimento pela liberdade individual iniciado no período anterior e buscou
refúgio na natureza: o ideal de vida era o "bom selvagem", livre de todos
condicionamentos sociais. E' evidente que essa liberdade só podia ser praticada por uns
poucos, aqueles que, de fato, livres do trabalho material, tinham sua sobrevivência
garantida por um regime econômico de exploração de trabalho. A idéia de volta ao
"estado natural do homem" é
demonstrado pelo espaço que Rousseou dedicava a
descrição imaginária da sociedade existente entre os homens primitivos. Dava como
exemplo, os índios que viviam nas Américas. Rousseou resgata primordialmente, a
relação entre a educação e a política. Centraliza, pela primeira vez, o tema da infância
na educação. A partir dele, a criança
não seria mais considerada um adulto em
miniatura: ela vive num mundo próprio que é preciso compreender; a criança nasce boa,
o adulto com sua falsa concepção da vida, é quem perverte a criança. Essa pedagogia de
Rousseou é demonstrada em sua obra "Emihe". Reagiu contra a secura, frieza e
racionalidade na Enciclopédia, apesar de Ter contribuído para que ela fosse compilada.
Em seu livro "Contrato Social" afirma que sociedade e Estado se fundam num acordo
voluntário, no que resulta ser o indivíduo é anterior à sociedade; os homens, a partir do
estado de natureza, fazem um "contrato tácito", que é a origem da sociedade e do
Estado. O que determina o Estado é a vontade, distinguindo, porém, afora da "vontade
individual", duas vontades coletivas: a vontade geral e a vontade de todos. Esta é a soma
das vontades individuais, e quase nunca é unânime: politicamente, o que mais importa é
a "vontade geral", a vontade da maioria, que é a "vontade do Estado".
A vontade majoritária é a vontade da comunidade como tal, isto é, também dos
discordantes, não como indivíduos, mas como membros do Estado. E' este o princípio da
democracia e do sufrágio universal, a aceitação da vontade geral pela minoria, como
expressão da vontade da comunidade política.
Na tentativa de formar cidadãos conscientes, o filósofo lança suas idéias pedagógicas
que muito influenciaram os educadores da época. Ele divide a educação em três
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momentos: o da infância; o da adolescência e o da maturidade. Só na adolescência
deveria haver desenvolvimento científico mais amplo e estabelecimento de vida social.
A primeira fase Rousseou chamou "idade da natureza" ( até os doze anos ).
A Segunda, "idade da força", da razão e das paixões (dos treze aos vinte anos).
A terceira, "idade da sabedoria" e do casamento (dos vinte e um aos vinte e cinco
anos).
Através de Rousseou podemos perceber que o século XVIII, realiza a transição do
controle da educação da Igreja para o Estado. Nessa época desenvolveu-se o esforço da
burguesia para estabelecer o controle civil, não religioso, da educação através da
instituição do ensino público nacional.
A Revolução Francesa baseou-se também, nas exigências populares de um sistema
educacional. A Assembléia Constituinte de 1789, elaborou vários projetos de reforma
escolar e de educação nacional. O mais importante é o projeto de Condorcet, que propôs
ensino universal como meio de eliminar as desigualdades, sob o lema de liberdade e
fraternidade.
Condorcet reconhecia que as mudanças políticas precisam ser
acompanhadas de reformas educacionais. E o mais importante, embora revolucionário
para a época, Condorcet defendeu ardorosamente a educação feminina para que as
futuras mães pudessem educar seus filhos.
6.9.3. Iluminismo Alemão
Na Alemanha este movimento chamou-se de "Aufklarüng" que quer dizer:
"iluminação ou ilustração". Era o pensamento de Leibniz comentado e divulgado por
Christian Wolff que por sua vez influenciou Kant. Foi Wolff quem introduziu o idioma
alemão nas universidades e na produção filosófica, sempre se inclinando para a religião.
A Aufklarüng tentou aproximar religiões positivas, em particular a hebraico-cristã, aos
princípios da religião natural e racional.
Moses Mendelpsohn
também trabalhou nesse intuito, o de oferecer às várias
confissões um único pensamento religioso. Gotthold Ephraim Lessing desacredita em
tudo que fosse vinculado à religião; Jesus fora uma grande fraude e os seus discípulos
pintaram Dele um quadro floreado a fim de faturarem mais. Mesmo assim, para Lessing,
o cristianismo tinha boas e válidas lições morais que deviam ser ensinadas, porque o
valor de uma religião, não está no prezado poder de sua deidade, mas de sua
capacidade de transformar vidas mediante o amor.
O iniciador do movimento pietista foi Spener (1635 - 1700), seu maior representante,
porém, foi o filósofo educador Francke ( 1663 - 1727), que fundou em Halle uma "Escola
dos Pobres" que foi o início de numerosas obras escolares.
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O movimento filantropista tinha em vista fomentar as idéias do humanitarismo e do
cosmopolitarismo "formando europeus cuja vida fosse útil e feliz". Kant teve sus
educação iniciada num colégio pietista de Königsberg, o que se percebe na sua filosofia
moral.
Johann Gottfried Herder ( 1744 - 18o3 ) foi a "ponte" de transição do "Aufklarüng para
o Sturm und Drag", ou seja, do iluminismo para o idealismo.
6.9.4. Iluminismo Italiano
Os estudos econômicos e jurídicos nos meados do século XVIII, em Nápoles, foi
influenciado pelo iluminismo francês, no tocante ao bem-estar humano.
Pietro Gionanni ( 1626 - 1748 ) foi o iluminista que mostrou como o poder eclesiástico
debilitara o poder político e quanto convém ao poder político limitar o poder eclesiástico
aos poderes espirituais.
O abade Fedinando Galiani (1728 - 1787 ), sustentava a liberdade de trabalho e de
troca e criticava o mercantilismo, afirmando que uma riqueza de uma nação não consiste
na posse de metais preciosos.
Antonio Genovesi ( 1712 - 1769 ), ensinava o valor da ciência contra a metafísica e
defendeu o pensamento laico, apesar de ser religioso. A ciência da Economia tem como
"princípio motor", o desejo de evitar a dor que nasce da necessidade insatisfeita, e chama
este desejo de interesse" que impulsiona o homem não só em sua atividade econômica,
como também na criação das artes, das ciências e de todas as virtudes. Em suas
"meditações
filosóficas sobre a religião e sobre a moral", Genovesi recompõe o
pensamento cartesiano à sua maneira, no "prazer de existir": "Eu existo. Este
pensamento e o prazer que traz consigo, me enche totalmente; e consciente de que este
pensamento é tão grande e belo, eu, de hoje em diante, estudarei tudo quanto posso,
para entreter-me nele e fazer, se posso, que ele se converta, tanto por reflexão quanto
por natureza, na substância de todos meus pensamentos e dos demais prazeres meus".
O prazer para Genovesi, é o ato originário do "eu", o fundamento e substância de toda
sua vida. Defendia a espiritualidade e a imortalidade da alma, o fim do mundo físico e a
existência de Deus. Seus trabalhos foram utilizados pelo Marquês de Pombal, Portugal,
na sua luta contra a escolástica barroca dos jesuítas.
6.9.5. Repercussão Iluminista em Portugal
As idéias iluministas entram em Portugal; na cultura portuguesa, o quadro de valores
defendidos pela companhia de Jesus, de índole aristocrática, se chocava com as
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ascensões vitoriosas e definitivas da burguesia, liderada pelo Marquês de Pombal, que
incrementou uma acirrada guerra, de alto nível, mas bombástica. O Marquês lutava com
as mesmas armas, e nas suas publicações anti-jesuítas, figura os atentados dos
inacianos contra a inteligência portuguesa, como a introdução dos "index" romanos e os
crimes, como o extermínio ou exílio de sábios e cultos. Esse conjunto de eventos teriam
constituído, de acordo com um dos documentos, "o último golpe mortal na literatura
portuguesa", vítima de horrorosos estragos que estabeleceram no país "um geral
idiotismo é manifesto". Vieram também, as idéias filosóficas da Enciclopédia, e um sócio
correspondente d' Alembert, foi admitido na Academia de Ciências de Lisboa.
O iluminismo português foi
"reformista e pedagógico", pois seu espírito não era
revolucionário e nem irreligioso, mas "progressista, reformista e humanista"; um
iluminismo cristão e católico.
Luís Antonio Verney ( 1713 - 1792 ) - Foi um pedagogo da era pombalina, em Portugal,
que trouxe da Itália o iluminismo; foi a "consciência objetiva" de todo o movimento
reformador de sua época, de que Pombal procurou ser executor.
Era um padre, Verney e um político, Pombal, o primeiro a sensibilidade e o cérebro
desse movimento de idéias; o segundo foi a sua vontade forte, o impulsionador. Tudo o
que essa mentalidade continha de radicalismo reformista, de filosófico desdém pelo
passado como fonte de sabedoria, do culto pela igualdade das classes perante o trono,
de utopismo iluminista, de presunção doutrinária, de otimismo e abstratismo políticos, de
intelectualismo ético, de pedagogismo, de ciênciomania e de todos os demais traços que
caracterizam o que hoje se poderia chamar a "política do espírito" do reinado de D. José.
A essa cultura e época pertenceu o pensador paulista Matias Aires da Silva e Eça (1707 1763 ). Matias depois de transitar por Coimbra, onde se licenciou em artes, foi para Paris
e se dedicou ao estudo de ciências naturais, de matemática e de línguas clássicas e das
idéias que agitavam o mundo europeu.
Restaram-nos duas de suas obras: "Reflexão sobre a vaidade dos homens" ( 1752 ) e
"Problemas de Arquitetura Civil "( 1770, póstumo ). Matias uma espécie de traço de união
entre os séculos XVII e XVIII, ligando o providencialismo do primeiro ao empirismo do
segundo, através dos dois livros citados. Nas "Reflexões", Matias Aires, define o homem
pela fluidez, pela mudança: inquieto, insaciável, correndo de desejo em desejo, de razão
precária, a cada passo iludido pelos sentidos, pela imaginação e pelos afetos, acima de
tudo, joguete do amor-próprio, que ele chama de vaidade. Daí seu desempenho em
desmascarar os artifícios sociais, como pretensões de sangue azul, trajes distintivos, etc.
Uma afirmação sua: "Hoje as filosofias todas se compõem de matemáticas ; de sorte que
já não há silogismo que conclua, se não é fundado em alguma demonstração geométrica;
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na física não se está pelo que se diz, senão pelo que se vê". Para Matias, tudo é amorpróprio, tudo 'e vaidade, inanidade. Em suma, a filosofia do pensador brasileiro é sobre a
corrupção irremediável da natureza humana, a vaidade social em todas as suas
manifestações; o poder inapelável da Providência, a natureza e o homem, são os três
termos da filosofia aireseana.
6.10. Immanuel Kant
A - O criticismo - Proussiano, Kant era filho de um seleiro, e foi criado dentro do
pietismo. Personifica a confiança no poder da razão, para tratar das coisas materiais e na
sua incompetência para tratar de qualquer coisa além delas. A corrente iluminista estava
em declínio e seguiam-se agora, duas correntes de tendências: a empirista e a
racionalista que Kant resumira num criticismo sincrético. Para Kant, o iluminismo teria
uma definição própria: seria o tempo em que o homem mergulhou na imaturidade de
não lutar por suas próprias idéias, aceitando tudo o que lhe era imposto, sem reagir ao
entrega seu próprio entendimento e estruturação das coisas.
A corrente empirista empenhava-se em extrair da experiência todo elemento ideal,
fazendo deste um derivado ( a posteriori ) com relação ao que se manifesta
imediatamente na sensibilidade; e à corrente racionalista caberia a tarefa de extrair o
sentido das coisas da pura
"razão racionante" que teria em si , tudo quanto é
pressuposto ( a priori ) para uma penetração numa realidade concreta. Mas a corrente
empirista findara com Heme, embaralhada entre a racionalidade e a validade da ciência;
e a corrente racionalista chegou com um corpo doutrinário chamado "racionalismo de
Leibniz Wolff" onde se tornava necessário a aceitação de qualquer princípio não
justificável racionalmente, e pois, dogmático, para interpretar de maneira cabal toda
realidade. No meio dessas correntes, o iluminismo se debatia. Kant entrou no momento
certo com sua
"crítica" ou investigação crítica da razão. Não seria uma crítica
interpretado pejorativamente, mas de juízo ou de apreciação sobre os poderes da razão.
Kant estudou a obra de David Hume e conseguiu vencer a dúvida que do filósofo inglês,
saindo ele mesmo do sono dogmático, e explicou sua crítica de três maneiras:
1 - A crítica da razão pura;
2 - A crítica da razão prática;
3 - A crítica do juízo.
1 - A crítica da razão pura - Kant, a princípio, adverte que a ciência se compõe de
juízos e que estes podem ser divididos em analíticos e sintéticos, a priore e posteriori. A
crítica da razão culmina numa reflexão cujo sentido está justamente em dilucidar e
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estabelecer a impossibilidade de um conhecimento metafísico dogmático por razão pura,
único meio de arraigar a metafísica num terreno mais firme que o constituído pelo
contínuo tramar e destramar da razão com ela mesma.
Para Kant, o conhecimento pode ser "a priori ou a posteriori", sendo o primeiro que não
funda sua validez na ciência experimental ( experiência ) e o segundo o que se deriva
dela. Este último não pode ser universal nem necessário; a ciência requer um saber "a
priori" que não seja limitado pela contingência da experiência aqui e agora. Com isto, a
verdade e o conhecimento ocorrem nos juízos, porquanto um ciência é um conjunto
sistemático de juízos, o que obriga a fazer, antes de tudo, uma teoria lógica do juízo.
São juízos analíticos, aqueles cujo predicado está contido no sujeito, por ex: os corpos
são extensos; e juízos sintéticos, aqueles cujo predicado não está incluído no conceito
do sujeito, mas que se une ou se apresenta a ele, por exp. Este corpo é um metal . Os
juízos analíticos explicitam o conceito do sujeito, e os juízos analíticos o ampliam, estes
são os que tem valor para a ciência porque aumentam o sabor.
2 - Crítica da razão prática - A problemática aqui pode ser resumida em duas
questões: o que distingue aquela atividade prática chamada moral daquela chamada
técnica? Quais exigências postula , se realmente postula, este caráter distintivo?
Para Kant, o que caracteriza o agir moral, é ter ele como fundamento, o conceito de
dever.
Diz-se no campo "técnico": para obter tal fim, são necessários tais meios. Os
imperativos do campo técnico são todos hipotéticos, sendo técnica toda forma de
atividade se ela é dirigida para a consecução de um fim, isto é, o indivíduo não age
inconsciente, faz algo pensado para conseguir o desejado, por exp.: a honestidade do
comerciante para conseguir a confiança do freguês. Uma ação é ética somente se ela é
executada porque "devemos cumprí -la", independente do seu resultado, vantajoso ou
não.
A forma dos imperativos éticos é: "tu deves porque deves". Somente são morais os
atos praticados de "boa vontade". Kant é muito rigoroso no dever moral. E' a autonomia
da vontade, que afirma a liberdade e fica desligada do mundo, onde vale, unicamente a
lei causal. Por isso a razão pratica pode estabelecer como postulados a liberdade, a
imortalidade e Deus, e o primado da vida moral e religiosa.
3 -
Crítica do juízo -
Investigação do sentimento relacionado coma nação de
finalidade nos juízos teológicos e estéticos. Existe um acordo entre estes dois mundos,
aquele que resulta do correto uso da razão, exigência na necessidade, e aquele que
resulta do justo uso da razão, exigência da liberdade? Estes juízos se distinguem em
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juízo estético e juízo teológico; são críticas entre o determinismo da natureza e a
liberdade da vontade.
No campo de estética, Kant define o belo como uma "finalidade sem fim", como algo
que encerra em si uma finalidade, mas não se subordina a nenhum fim alheio ao gozo
estético. Por exp.: a beleza de uma pessoa.
Kant também faz distinção entre o "belo'' que produz um sentimento prazeroso, e o
"sublime", provoca um prazer misturado de horror e admiração, por exp.: uma
tempestade, um vulcão em erupção, uma grande montanha, os cosmos...
6.11. Idealismo e Espiritualismo
O vocábulo "idealismo", que pode ser entendido no plano psicológico, gnosiológico ou
metafísico, se trata da manifestação mais próxima da Idade Moderna, a expressão
filosófica
de um tipo de radical, encerra todas as coisas na consciência, onde
unicamente, pode dar-se uma correlação perfeita e completa entre o conteúdo e a
verdade do conteúdo. Por isso o idealismo, seja como uma solução particular dada ao
problema do critério da verdade, seja como expressão de uma mundividência, em
qualquer de suas formas, tende sempre a encerrar o mundo no sujeito, gnosiológico ou
metafísico, a converte o mundo no produto da consciência, a qual é definida na forma
mais acabada do idealismo.
O Idealismo não só é "moderno'', como apresenta um método, uma filosofia e até uma
concepção do mundo posterior do Renascimento, tendo sido Descartes o primeiro
autêntico idealista da Idade Moderna. O Idealismo Moderno começa com uma negação,
com uma suspensão de todo juízo, com uma inversão da pergunta clássica da filosofia:
"que são as coisas ?'' Para convertê-la na pergunta: "que é o conhecimento das coisas
?'' e "que é como se pode obter o conhecimento em geral ?''
O Idealismo não se preocupava com o "ser'',
mas com o "conhecer'', que desde
Descartes a Kant, e além deste, não busca uma salvação das aparências, mas uma
verdade que não se pode achar nas coisas, seja qual for a forma em que se apresentem.
Essa verdade só se pode achar no fato de que as coisas sejam pensadas. O pensamento
deve começar com o ser; se alguém pergunta porque não há nada, atribui-se a ser o
próprio nada. Com isto, a verdade se identifica com seu conhecimento.
De 1790 a 1830, desenrola-se na Alemanha, um movimento intelectual de riqueza e
profundidade incomparáveis, que se apresenta como corrente idealista [pelo fato de
afirmar que "ser e idéia'' coincidem. Seus representantes mais destacados são: Fichte,
Shelling e Hegel, que coincidem em dois traços fundamentais:
1 - A primazia da razão ou do espírito;
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2 - O movimento dialético.
A razão é a idéia das idéias e o fundamento primitivo absoluto, que se põe a si mesma
e põe em si mesma todo o resto como momentos evolutivos ou manifestações suas,
O movimento dialético, com que também deve levar-se a cabo nosso pensamento,
traduz o curso percorrido pelo dever. Três momentos entram neste movimento:
1 - A ''tese", princípio não desdobrado, mas quiescente;
2 - A "antítese", entranhada, que põe em movimento;
3 - A "síntese", que reduz ambos os contrários à mais profunda unidade
6.12. Fichte e Schelling
Este pensamento idealista aparece em Johann Gotlieb Fichte ( 17612 - 1814 ) como
''teoria da ciência''. Desenvolvida primeiro em sua obra ''Fundamento da teoria da
ciência'', é aperfeiçoada e transformada continuamente e em seguida as suas esferas de
aplicação. Fichte parte de Kant e quer superar a cisão Kanteana entre o teórico e o
prático, a consciência e a ''coisa em si'' e coloca em posição central o ''Eu'' prático com
sua liberdade , subordinada ao teorético. Fichte se propôs em dar unidade mais orgânica
às três críticas de Kant partindo da consciência empírica; o famoso princípio do ''Eu'' .
Esse pensamento do ser em si, produz um ''choque metafísico'', o possível ''não ser''. A
mente humana trabalhou durante milhares de anos em sua descoberta, elaboração e
organização. Mas não se chegou a nenhum consenso, embora cada filósofo apareça com
seus conceitos, teorias e problemas. Muitos pensamentos foram elaborados para se
conceituar '' o poder do ser para existir'' e a diferença entre '' ser'' essencial e existencial
ser evidenciada. A resposta está preparada pela polaridade de liberdade e destino; uma
liberdade não como base da existência, mas liberdade unida à finitude. A liberdade finita
é o ponto de passagem do ''ser'' `a ''existência''.
Friedrich Wilhelm Joseph Schelling
( 1775 - 1854 ) -
Representa dentro dos
grandes sistemas do idealismo alemão, o aspecto ''estético'' ao lado do ''volutivo'' e do
''racional''. Schelling cria seu próprio sistema, que por mudanças passou por cinco
períodos:
1 - E labora a ''filosofia da natureza'' , pouco se desenvolveu.
2 - O ''Idealismo transcendental'' que apresenta ao espírito em sua vida consciente,
com a inclusão da história e da a arte.
3 - A ''filosofia da identidade'' , vistas as duas primeiras fases como tese antítese, a
filosofia da identidade constitui a síntese correspondente: no absoluto ou na razão
absoluta, como indiferença total, ficam superadas todas as diferenças.
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4 - A '' primazia do estético'' , instituição intelectual que se desloca conforme princípio
da polaridade ou do movimento dialético.
5 -
A ''filosofia positiva'', tendo como negativas todas as doutrinas antecedentes,
propõe a ''filosofia positiva'' da existência e da vontade , a liberdade, da fé.
Para Schelling a natureza é inteligência em ''devir'', espírito que chega a ser, como um
lento despertar; há uma vinculação entre natureza e espírito, que se manifesta no
organismo ou na obra de arte, cada um em sua respectiva esfera ; o absoluto que está na
base de ambos, se revela na história, na arte e na religião. A realidade é explicada como
um desprender-se, uma evolução mediante a qual se vai desenvolvendo em graus e se
manifesta a si mesma em etapas sucessivas; passa de natureza inorgânica à natureza
orgânica, e vai evoluindo gradualmente. Até chegar
a espírito, à forma suprema da
liberdade humana, o que possibilita libertar-se do absoluto, e finito, cai do pecado, mas
recomeça sua aspiração, aliás, começa para reincorporar-se no absoluto; a filosofia se
converte em explicação de uma teofania, e o universo num autodesenvolvimento ou
revelação de Deus.
6.14. Hegel e o Helegianismo
a)
O esquema lógico que rege o primeiro sistema de Fichte, é constituído por uma
“tese” (a posição do Eu), por uma “antítese” (posição do Não-Eu). Este é também o
esquema do “idealismo absoluto” (idealismo dialético) de Hegel, que compreende cada
momento da história e cada aspecto da realidade: sujeito que pensa em si mesmo, mas
não em adquirir algo para si; pensa-se e ao pensar-se determina-se. Hegel vê a dialética
na lógica (o Espírito em si), na natureza (o Espírito fora de si) e no Espírito como síntese
de lógica e natureza. A dialética helegiana descobriu o “universal como sistema da
totalidade dos particulares”.
Nada escapa a este “pensamento de si mesmo”, a esta “auto-realização” do
Espírito: nem na história, nem da arte e nem da religião. O que é chamado “real” e não
simplesmente “significado”, mas todo “constituído” no Espírito como pensamento de si
mesmo, como identidade. Todo o ser participa na estrutura do ser, mas só o homem está
imediatamente consciente dessa estrutura; o homem é aquele ser em quem todos os
níveis do ser estão unidos, aquele ser que levanta a pergunta ontológica. É a
fenomenologia
do
espírito,
que
não
parte
do
saber
absoluto,
mas
conduz
necessariamente a ele.
Para Hegel, a dialética não é um simples método de pensar, mas é a forma em
que se manifesta a própria realidade; a lógica helegiana condena a estaticidade do
pensamento, que seria a morte do pensamento por sua impossibilidade de articular-se
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em relação a variedade infinita das coisas. A realidade é vida, movimento, de vir, e a
lógica dá razão ao dinamismo da realidade; é uma lógica dinâmica, é “dialética”. A lógica
dialética se não sobre a “identidade” da lógica tradicional, mas sobre a “contradição”,
entendida agora, não como a morte, mas como o fermento da verdade: a idéia deve
morrer para renascer, precisa negar toda a posição assumida pelo pensamento,
voltando-se sobre outro que parecia contradizê-lo, reassumindo–o em si mesmo,
elevando-se a uma síntese superior (vida + morte = vida eterna). A história da
humanidade é a auto-realização do Espírito. O “mal” e o “erro”, nesta história, têm uma
função dialética; ajudam, promovem as expressões sempre mais claras e definidas da
idéia: são incisões no tronco da verdade que não o matam, mas o robustecem,
propiciando-lhe um crescimento inexaurível. É a “historicidade” hegeliana: a filosofia
identificada com a história da filosofia ou com a história, o elevar-se progressivo da
humanidade.
Na filosofia do Espírito helegiano, compreende três estádios. 1- O Espírito
subjetivo no sujeito humano particular; 2- O Espírito objetivo nas formas reais existentes
da comunidade; 3- e o Espírito absoluto, que se volta sobre si mesmo na arte, na religião
e na filosofia. Neste último ocorre a síntese do espírito subjetivo e do espírito objetivo que
se auto desdobra na intuição de si mesmo como arte, na representação de si mesmo
como religião e no absoluto conhecimento de si mesmo como filosofia. É a história da
arte e a história da religião revelada na história da filosofia.
b)
O que realmente quis dizer Hegel com sua filosofia tão difícil? Pode-se
compreender o divino na dissolução dos dogmas e mistérios em símbolos filosóficos? E
os filósofos pós-helegianos só conseguiram uma resposta: não! E mesmo sendo Hegel, o
único dos grandes idealistas que constituiu escola; esse idealismo logo se dividiu em
“direita e esquerda” helegianas.
- Direita Helegiana: São helegianos que a propósito do problema religioso, se
aproximam mais do mestre acentuando a transcendência do divino;
- Esquerda Helegiana: estes acentuam o que havia de extremista e revolucionário na
visão do mestre, voltado no sentido rigorosamente imanentístico e anti-cristão.
Essa divisão aconteceu quando D. F. Strauss publicou “Vida de Jesus”, em 1835
e ao estudar-se as doutrinas do Mestre, os helegianos optaram, uns por uma ala
ortodoxa, outros, pela radical, baseados nas doutrinas políticas, pelo método dialético ou
no conteúdo doutrinário do sistema. A “direita” adotou o conteúdo, a “esquerda”, o
método. Isso pode acontecer pelo fato da doutrina
de Hegel, com sua tese de
racionalidade do real e da realidade do racional, ser bem apropriada para toda sorte de
posições, especialmente em matéria de filosofia jurídica e de filosofia política. A ala
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“esquerda” caracterizou-se pela oposição ao regime social dominante, diversificando-se
em vários círculos e correntes de pensamento.
6.15. Kierkgaard, Feuerbach e Marx.
Depois da cisão na doutrina hegeliana em “esquerda e direita”, ocorreu também
uma espécie de “anti-hegelianismo”, resultado do progressivo ceticismo com referência
às pretensões absolutistas dos sistemas dos sistemas do idealismo. E foi precisamente,
do “anti-hegelianismo” que saíram os filósofos mais influentes na constituição do
pensamento contemporâneo. O existencialismo, a fenomenologia, a filosofia dos valores,
o marxismo, têm em Hegel um ponto de partida, de adesão, de inversão ou incitação.
Esse foi o grande legado de Hegel à humanidade como um todo; seus adeptos e seus
dissidentes perceberam o poder contido em sua doutrina e levaram-na para as ruas,
alcançaram as massas e formaram opiniões. O mundo nunca mais foi o mesmo.
a) Sörem Aaby Kierkgaard (1813-1855). Nasceu em Copenhagen, filho de um rico
negociante luterano. É considerado “pai” do existencialismo. Ele foi um menino triste,
infeliz, sem jamais fazer opção por nada porque tudo em sua vida era pré-determinado
pelo pai. Não aceitava a doutrina hegeliana como verdadeira, teria que ser especulada, o
que era verdade para Hegel poderia não ser para ele. A verdade não podia ser aceita
como um prato feito, por mais faminto que o indivíduo estivesse, era necessário saber o
que estava a comer. Era amargo e polêmico, isso tornou-o difícil de ser entendido. Em
seus escritos observava-se uma mente brilhante, porém torturada. Sua filosofia era “ele
mesmo entender-se a si e perceber o que Deus queria que ele fizesse; achar uma
verdade que fosse verdade para ele e uma idéia em prol da qual vivesse e morresse.
Toda a sua infância fora direcionada para o ministério por imposição paterna e
esse zelo intenso deu-lhe uma infância triste e infeliz. Talvez essa necessidade de se
afirmar como ser independente o tenha colocado contra tudo e contra todos que
professavam outras idéias. A essência para Kierkgaard era a existência do ser humano;
os opostos não se conciliam e a verdade se encontra no âmago da alma que quanto mais
busca o saber, maus se eleva e sofre e se angustia, em frente ao eterno. O homem não é
apenas um ser que pensa, é um ser que existe. Kierkgaard, ensinava que somente um
ser assim, que fazia da razão apenas algo que o existir leva em sua parte mais externa,
pode escapar do suicídio a que leva o puro pensar, a pura racionalidade. Era contra
Hegel em seu fundamento da religião como uma filosofia de cultura que transformava o
homem num elo de conjunto do universo; e adversário de Kent em sua “autonomia”. Ao
seu ver, não se podem começar a estabelecer juízos lógicos, a definir categorias ou a
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desenhar conceitos, sem uma prévia análise existencial do homem na sua condição de
homem, e segundo sua própria vida, Kierkgaard afirma que a evolução espiritual tem três
estágios:
-
o estágio estético;
-
o estágio ético;
-
e o estágio religioso, sendo este o mais elevado de todos.
Espírito muito religioso, Kierkgaard via o homem num desamparo radical diante do
abismo que se abre entre ele e Deus, entre o finito e o infinito. Essa angústia que
direciona o homem em busca da salvação, impulsiona-o à religião, à transcendência pela
fé. Viver suspenso sobre o abismo é existir, por isso a religião não pode ser
intelectualizada. As verdades cristãs, a imortalidade da alma, o pecado original, são
verdades porque são paradoxos; são críveis porque são absurdas e porque respondem
ao caráter do existente. Daí a transcendência do divino diante de todos os “valores”, de
uma cultura deste mundo, acentuando a angústia e o desamparo da alma na solidão! Eis
a existência humana! O primeiro diz respeito ao homem em si mesmo; o segundo ao
homem em relação aos outros.
O sofrimento, bem como a morte, é um elemento da finitude.
b) Ludwig Feuerbach era um “esquerdista” hegeliano, afirmou ser o homem um “ser”
real, não apenas pensante; é também “corpo” e necessidade. E dentro da “necessidade”
desse “corpo” que é preciso o “eu” e o “tu” para um relacionamento social e aí que o
homem adquire consciência de sua própria humanidade. Feuerbach valoriza o espiritual
que nasce do homem enquanto ser natural, mas explica que apesar do homem ser um
“ser” natural, não é um mero ser natural por ser capaz de pensar seres infinitos. O
homem cria seus deuses à sua imagem e semelhança; cria-os de acordo com sua
necessidade, desejos e angústias. Os valores que eles representam são limitados. São
imagens da natureza humana. Por isso, a religião é um produto puramente humano que
não satisfaz as necessidades do homem, onde um Ser ilusório é criado como fruto de sua
imaginação que é a projeção de si mesmo como gostaria de ser. Assim nasce a
‘alienação religiosa’, deixar que Deus atue sobre os valores e livrar-se daquilo que
compete ao homem realizar. Se o amor a Deus for substituído pelo amor à humanidade,
cessa a alienação, e com ele, se extinguem a consciência religiosa e a idéia de Deus.
Isto porque a busca do homem na religião é a si mesmo. Feuerbach esvazia a filosofia
hegeliana da teologia já que a essência teológica é o “ser transcendente”, ou o ser do
homem projetado fora do homem, e o que Hegel denominou de “Espírito Absoluto, é o
espírito finito e abstraído. O filósofo esquerdista” diz ter reconquistado a humanidade no
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sentido genuíno que a existência de cada um tem na natureza e na convivência familiar e
social.
c) Karl Marx (1818-1883) Nasceu na Romênia, de pais judeus convertidos. Foi
profundamente influenciado pelo “esquerdismo” hegeliano partindo do pensamento de
Feuerbach que afirmava ser a filosofia hegeliana “nada mais que a religião reduzida a
pensamento e desenvolvida em formas de pensamento”. Por isso Feuerbach foi por
Marx, considerado o “fundador do materialismo genuíno e a ciência positiva”, ao fazer do
relacionamento social entre o homem e seu próximo, o princípio básico dessa teoria. Ao
abstracionismo hegeliano, Marx opôs o naturalismo ou humanismo feuerbachiano. Daí o
homem ser somente homem quando está na natureza, com suas forças corpóreas, o
homem que se acha sobre a terra sólida, que respira e aspira todas as energias da
natureza e põe seu esforço essencial e objetivo em conseguir ações objetivas.
O homem atua sobre objetos, produz e formula somente objetos, é uma essência
objetiva que atua só objetivamente. Sem a atuação do homem não existiria a história da
humanidade; mas Marx não pregava um materialismo ingênuo como Feuerbach; o
natural “humano” é enquanto o homem é uma essência que existe para si mesma. Marx
desprende-se da alienação hegeliana ao reduzir as formas do espírito a “momentos”
abstratos do seu fazer-se, colocando o homem social como “ser genérico” e denunciando
Hegel na “mentira” de sua teoria de “acomodação” à religião, como um “ateísmo
mascarado”, esquerdismo hegeliano que Marx eleva a significado positivo na sua
concepção política, já que o ateísmo e o comunismo não são uma fuga, uma abstração
vazia, uma perda do mundo objetivo, mas o dever real, a “realização efetuada para o
homem pelo homem”. É a política que substitui a religião como destino último da
atividade humana, onde o estado é a realização do homem absoluto.
O que Marx pega da dialética hegeliana é seu significado essencial de que o
homem, objetivando-se, se conquista a si mesmo e concebe o trabalho como ato
mediante o qual o homem se produz a si mesmo, mas enquanto tal ato para Hegel é
puramente formal, para Karl Marx o homem deve ser o “portador” do seu dever, e não
Deus, que deve ser o predicado. A dialética marxista é a maneira de pensar feita em
função da necessidade de reconhecer a emergência constante do novo na realidade
humana. Mas há a dificuldade de tornar prática toda a teoria marxista, pois o marxismo
se converteu num endeusamento da existência humana e numa doutrina da ação, numa
“praxis” humanística de ressonância inusitada na história da filosofia.
Com a queda do império napoleônico e dos reinos e principados estabelecidos na
Itália por Napoleão, chega ao fim o iluminismo italiano vinculado à cultura e influência
francesas, mas permaneceu ali a tradição “liberal”, própria do iluminismo; para a cultura
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peninsular, “liberalismo” significava ter espírito revolucionário contra o despotismo dos
príncipes estrangeiros que haviam restaurado o antigo regime e é contra essa política
restaurada dos príncipes que se unem as forças liberais. Todo o processo revolucionário
conseqüente do difundir-se e do aprofundar-se da idéia nacional na consciência dos
italianos, foi entendida como processo educativo, e cada contribuição da cultura à obra
redentora do ressurgimento do novo Estado, foi considerado como obra da educação.
Para que a Itália pudesse ressurgir como realidade política era preciso, antes de tudo,
que se exprimisse como realidade moral da consciência dos italianos. “Sem educação
nacional não existe moralmente nação”.
Com Giuseppe Manzzine (1805-1872) a doutrina se adequa perfeitamente ao
exemplo dado com sua vida de apóstolo, isto é, na sua vida o “pensar” e o “fazer” são
uma coisa só, identidade de um ato de fé operosa e vigente; assim também sua doutrina
não retira a “ação” do “pensamento”, a “educação” da “instrução”, como se a força motriz
da vida fosse um elemento derivado e reflexo da pura atividade intelectual, no qual o
pensamento é o próprio ato da vida que se aperfeiçoa e se redime, e a ação é a própria
luminosidade da idéia operosa e construtiva.
Uma das figuras importantes do idealismo alemão é Karl Christian Friedrich Krause
(1781-1832) pela sua repercussão na Península Ibérica e na América Latina, graças à
Maçonaria, da qual fora membro relevante. A doutrina Krausiana é “panteísta” sustenta
que tudo está em Deus (o panteísmo identifica o mundo com a divindade). Segundo
Krause, o mundo é um conjunto, finito que se desenvolve no seio da infinitude divina. A
tese Krausiana fundamental é: “O mundo é e existe por Deus e em Deus, não separado
de Deus e ao seu lado, nele e sob sua dependência, como a parte está para o todo, o
efeito e a causa, a criatura e o Criador”. O mundo é a natureza e o espírito, unidos na
humanidade; esta se compõe de seres que se influem reciprocamente e que se vinculam
a Deus por suas constantes tendências para a unidade suprema. Krause insiste no
destino e valor da pessoa, entendida de um modo moral e deste ponto de vista interpreta
o direito e a sociedade, sendo a humanidade, uma federação de associações autônomas,
de fim universal ou particular. O filósofo aplica o seu pensamento à ética e à filosofia do
direito, rejeitando a teoria absolutista do Estado e acentua a importância das associações
de “finalidade Universal”, como a família ou a nação, diante das associações limitadas
como a Igreja ou o Estado. Foi grande influenciador na filosofia jurídica. Na Espanha, o
Krausismo constituiu um movimento de renovação na educação e na política.
O movimento Krausiano irrompe na Faculdade de Direito de São Paulo, na segunda
metade do século XIX, através do filósofo português Vicente Ferrer Neto Paiva, a quem
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coube reformar o ensino da filosofia jurídica na Universidade de Coimbra, e substituiu a
velha filosofia Wolfiana pelo sistema de Krause.
Ferrer procurou determinar o “princípio do direito”, como princípio independente de
todos os outros que possam também aspirar a reger o mundo moral e social e
estabelecer a distinção entre o direito e a moral. Por causa disso, a filosofia jurídica
portuguesa quase que ficou reduzida na questão da determinação do direito inato do
homem, pelo que Ferrer pregou ser o direito natural anterior a todas as leis estabelecidas
pelos homens e delas independente. Direito esse expresso na natureza e os próprios fins
com que o homem foi dotado pelo Criador.
O direito não pode ser confundido com a perfeição moral, que é objeto da ética, à qual
pertence o domínio da interioridade e da intenção das intenções humanas. O direito
visando a regulamentação das relações puramente externas entre os homens, tem por
objetivo apenas garantir as condições indispensáveis para estes sociedade, poderem
realizar seus fins
racionais, usando de sua liberdade. Segundo Ferrer, o “direito é
complexo de condições internas e externas, dependentes da liberdade humana, e
necessárias para a realização do destino racional, individual e social do homem e da
humanidade. não foi um movimento cultural nem pedagógico. Foi o Krausianismo que,
em Portugal, interpretou a idéia da personalidade na base do direito e da moral.
Foi, portanto, as formulações liberais da filosofia do direito, de Ferrer, que
influenciaram o ambiente político e jurídico brasileiro, modelando a mentalidade dos
liberais do império.
6.16. O Ecletismo e sua repercussão no Brasil
Ecletismo origina-se da palavra grega “eklegein”, que, significa “escolher”. Era
como se chamava a “reunião de elementos doutrinários alheios, num conjunto”. São
doutrinas aparentemente inconciliáveis com a doutrina filosófica. Maine de Biran (17661824) foi
um representante do ecletismo, e sua tese fundamentalmente pode ser
formulada assim: A personalidade propriamente humana só pode ser conhecida mediante
a intuição psicológica
do esforço voluntário que distingue e se opõe à passividade
sensível e ao inconsciente, no qual tem suas raízes, e pode, por outro lado, florescer
numa participação da vida divina pela oração. Assim, partindo dos problemas formulados
pelos ideólogos e de uma constante meditação introspectiva de seus próprios estados
psíquicos e fisiológicos, chegou Maine de Biran à concepção de que a consciência,
entendida como uma substância independente, só existe enquanto resistência oferecida
pelo objeto externo. É na resistência que se dá a consciência do “eu” sem possibilidade
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de separação metafísica: aí se encontra o ativo e o passivo, o problema da liberdade da
própria vontade, origem de todas as faculdades, inclusive as intelectuais.
- Victor Cousin (1792-1867), pretendeu conciliar, num sistema complicado, o que
considerava verdadeiro em todos os sistemas. Victor fora influenciado pela “filosofia do
senso comum”, de Thomas Reid (1710-1796) e no ativismo voluntarista de Maine de
Biram e Royer-Collard (1763-1843). Assim foi fundado o ecletismo moderno, filosofia
oficial da Universidade de Paris durante o reinado de Luís Felipe. Segundo Cousin, a
história da evolução natural do espírito humano, se resume na produção de quatro
sistemas:
1-
O Idealismo: cuja explicação do Universo é de ordem lógica espiritual;
2-
O Materialismo: que acredita achá-la na ordem real corpórea e sensível;
3-
O Ceticismo: que, em face de tais contradições, conclui que a verdade é
inacessível;
4-
O misticismo: que, não querendo dar-se por vencido, investiga a verdade fora
de nós.
Desses sistemas, nenhum é absolutamente verdadeiro, nem inteiramente falso; a
filosofia deve reuni-los num só corpo; isso é ecletismo.
- Theodore Jouffroy (1796-1842), foi discípulo de Cousin. Seu pensamento eclode de
uma crise espiritual, onde a crença nas religiões positivas foi perdida e o homem saiu em
busca de um substituto que o permitisse compreender o seu próprio destino, que
depende de sua liberdade.
A filosofia de Cousin se estendeu pela Espanha, Itália, Cuba e Brasil, onde foi lida,
estudada e até discutida, pelo culto imperador brasileiro. O ecletismo foi bem aceito no
Brasil por trazer consigo seu verbalismo, seu lirismo e sua superficialidade, três “virtudes”
bem brasileiras, e convertido para a língua portuguesa falada no Brasil; e de 1840 a
1880, o ecletismo foi a “filosofia oficial” de nossos eruditos e clássicos, que formavam a
sociedade escravocrata e politicamente inerte. Sobre essa época, Silvio Romero informa:
“Então o ensino filosófico era um amalgama de Storkenau e Genuiense, esses nomes
desconhecidos na história do ensino público dos povos cultos... Uns restos estropiados
de Locke e Condillac, reduzidos a figuras mínimas pelos discípulos e comentadores, e
algumas lendas enganadoras, brilhantes pelo estilo e frágeis pela análise, de
Laromiguière, tal o seu conteúdo. Tudo isto decorado, para não perscrutar o enigma do
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homem e do universo; sim para limar a argúria e secundar a loqüela. Depois, mais
alguma vulgarização das obras de Maine de Biran, que não teve contraditores por não ter
quem o lesse, segundo diz Taine, e de Victor Cousin, que sacrificava o pensamento pelo
amor da frase, como no-lo declara Renan, trouxe a propensão e finalmente a queda
completa para o ecletismo espiritualista francês. À esta fase pertencem Mont’Alverne e os
seus continuares: Eduardo França e Domingos de Magalhães. Tão pobre, tão insalubre
foi o alimento que lhe forneceu a cultura de sua pátria, em seu tempo; tão ingratas as
influências a que teve de ceder, que a crítica sente-se com impulsos de o absolver”.
O frei Francisco de Mont’Alverne (1784-1858), frade capuchinho, era dotado de
temperamento romântico e de figura física impressionante, era famoso por sua oratória,
embora sua formação intelectual tenha sido deficiente, como vimos acima, não por sua
culpa, mas incapacidade da própria escola, o que não impediu de fazer brilhar suas
qualidades oratórias.
Segundo Gonçalves de Magalhães, seu discípulo, frei Mont’Alverne era de alta
estatura, de compleição musculosa, de rosto longo, descarnado e pálido, enquadrado
escultoricamente no negro capuz de cenobita; olhos grandes, rasgados, aos quais
assomava o entusiasmo na constante dilatação das pálpebras; voz forte, prolongada,
flexível, de timbre cavernoso e áspero; movimentos amplos, precisos, majestosos. Ainda
hoje, numa capelinha construída por Anchieta, num promontório à margem do Saco de
São Francisco, em Niterói, está o púlpito onde ele pregou.
Sua docência, da qual resultou o “Compêndio de Filosofia”(1859), era o modelo
perfeito da filosofia teatralizada, expondo as doutrinas de Locke e Condillac, depois os
ecléticos franceses. João Caetano, o mais famoso ator da ribalta imperial, era assíduo
ouvinte
dos sermões de Frei Mont’Alverne, porque os considerava como a melhor
demonstração da arte cênica. Mont’Alverne chamava o filósofo Victor Cousin de
“sublime”, pela sua oratória; para ele, o eclético espiritualista francês era um desses
Gênios, nascido para revelar os prodígios da razão humana”, um homem que se
“levantou como um Deus, no meio do caos, em que se cruzavam e combatiam todos os
elementos filosóficos”.
Filosofia Geral
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