FILOSOFIA E INTERDISCIPLINARIDADE: NOVAS PERSPECTIVAS PARA A ESCOLA BÁSICA Andressa Trindade Berlato 1 Ricardo Antonio Rodrigues2 Resumo: Mediante os desafios educacionais, notamos o crescente desinteresse dos estudantes quanto à valorização do estudo e a coerência do conhecimento como construção da autonomia e da cidadania. Os docentes acabam se desmotivando para seu ofício, tendo a tendência de ministrarem aulas desprovidas de perspectivas de renovação de métodos e estratégias, linguagens, inovação etc. A compartimentação dos saberes e a desconexão entre o saber dedutivo com o saber empírico também afetam o processo de ensino-aprendizagem na medida em que os estudantes não são estimulados a fazer a devida passagem entre o saber dedutivoconceitual e a relação que isso tem com o seu cotidiano. Nesse trabalho, sugerimos uma proposta de atuação a partir da Filosofia, para que professores e educandos reflitam sobre o desencanto pela nobre missão de ensinar e aprender. O professor para ensinar precisa exercitar-se como aprendente. A metodologia aplicada é da pesquisa-ação, com encontros formativos, socialização dos êxitos e discussão sobre os problemas experimentados no decorrer do processo. Os docentes que lecionam a Filosofia nos anos finais do Ensino Fundamental, no município de Tupanciretã, são de outras áreas, a ideia num primeiro momento é trabalhar de forma filosófica temas e conteúdos das diversas disciplinas, e com a Filosofia gradativamente promover a religação dos saberes. Os encontros formativos foram bimestrais e visaram levar o docente à reflexão de seu papel de mediador e gestor do processo de ensino-aprendizagem. Esses docentes também ministram suas disciplinas específicas como história, arte, literatura, música etc. Essa realidade favorece e estimula a trans e a interdisciplinaridade que é o nosso objetivo maior. Em nosso entendimento, isso valorizará o processo educativo e dará um novo ânimo para os professores e educandos, permitindo a reflexão filosófica, fazendo os ajustes necessários para a qualificação do processo como um todo, sempre focando na qualificação do processo de ensino-aprendizagem. Palavras-Chave: Filosofia; Interdisciplinaridade; Educação Básica. Considerações iniciais Conscientes de que a educação formal precisa ser ressignificada, optamos por realizar um projeto piloto de Pesquisa-ação no município de Tupanciretã, numa parceria entre a Secretaria Municipal de Educação e o IF Farroupilha – Campus de Jaguari, no intuito de enfrentar os problemas relacionados ao ensino e a aprendizagem, e também desenvolver nos 1 Acadêmica do Curso de Licenciatura em Educação do Campo: Ciências da Natureza – Instituto Federal Farroupilha – Campus Jaguari. Bolsista de IC/CNPQ. E-mail: [email protected] 2 Licenciado, Mestre, Doutor e Pós-Doutor em Filosofia. Líder do Grupo de Pesquisa Ética, Epistemologia e Formação de Professores. Coordenador do Curso de Licenciatura em Educação do Campo: Ciências da Natureza – Instituto Federal Farroupilha – Campus Jaguari, Jaguari, RS. E-mail: [email protected] 1 educandos desde cedo o gosto pela reflexão, pelo senso crítico e pela ligação de sentido entre os saberes. As alegações comuns de que a escola e os pais têm deixado de lado os seus papéis, de que os professores não inovam e que os estudantes perderam o encanto pelo saber foram as nossas principais motivações para pensar uma alternativa a essas e outras dificuldades. Sabemos que a educação acontece através da interface família-escola, e isso já foi sugerido na Grécia antiga por Aristóteles, ao defender que por sermos animais sociais e sociáveis não temos outra opção que não aquela de através da educação, seja ela familiar ou pública, constituir os novos e as novas cidadãs. Aristóteles (1984, p. 11), no início de sua Metafísica afirma que “todos os homens têm, por natureza, desejo de conhecer”. Somos seres desejantes de conhecimento. Nesse caso, teríamos duas funções imediatas como missão do processo educativo, conforme o que está enunciado nos livros VII e XII da Política de Aristóteles (1985). A de que precisamos atender a demanda da curiosidade humana, pois temos o desejo natural de conhecer, mas também o de que o fim último da vida em sociedade e da prática da virtude é a felicidade, como defende em sua Ética a Nicômacos (1991). Se o fim da vida humana, segundo Aristóteles (1991) é a felicidade, e para tal, precisamos viver em sociedade (Aristóteles, 1985) e considerando que a felicidade é o resultado e uso perfeito das qualidades morais, mas não condicionalmente, mas absolutamente conforme nos descrê no livro da Política, Livro VII, XII, 1332 a (Aristóteles, 1985). Precisamos compreender que, de algum modo, o Estagirita está propondo que somos seres naturalmente sociáveis, mas que a plena realização de nossa condição, está no bom uso da razão e que também esse bom uso da razão precisa ser educado e construído. O ser humano como animale rationale, revela certa distinção qualitativa diante dos demais seres. Se para os gregos do período da cultura arcaica, as mãos eram o fator de distinção diante dos outros animais e seres, agora com Aristóteles, e com a ajuda de Sócrates, é a alma humana que passa ser sede de uma nova excelência. Isso porque somos zoon logikon e zoon politikon. Somos sim animais, mas animais diferenciados, pois através do processo educativo podemos nos tornar melhores e mais felizes. Para Aristóteles, não basta o desejo de ser bom ou o desejo de conhecer como garantia plena de satisfação e de conhecimento. A vida virtuosa deve ser exercitada cotidianamente, e nesse sentido, o processo de educação formal deve desde muito cedo, levar os cidadãos a praticar cotidianamente a virtude como modo de constituir uma sociedade harmônica e justa. Sabemos que Aristóteles não concebia que a Filosofia pudesse ser ensinada desde cedo, por 2 causa da falta de interesse e maturidade dos jovens. Por outro lado, notamos na Política toda uma estrutura de saberes e conteúdos visando formar o cidadão de modo crítico e integral. Platão (1999) em seu texto da maturidade, As Leis, sugeriu a educação como askésis (treinamento) para alcançar a sabedoria no sentido da enkrateia (bom governo de si/autodomínio) que é a arte de governar-se e governar os outros com justiça. Essa proposição teórica parece confirmar a proposta de seu texto A República (Platão, 2002) que pauta que a educação deveria levar ao exercício da agón (luta interior) para superação do egoísmo, constituindo assim a noção de justiça na sociedade como resultado do desejo individual de justiça, sobretudo notamos essa proposta teórica no Livro X, da República (Platão, 2002). Para esses dois pensadores clássicos, criadores do sistema formal de educação no ocidente, quer seja pela academia de Platão ou o Liceu de Aristóteles, educar não é só treinar e desenvolver habilidades para um determinado fim. Mas é preciso reconhecer que o fim da existência humana é a vida feliz, e vida feliz, segundo esses pensadores é a vida em sociedade. E é nesse sentido que pensamos esse projeto educacional, o foco central é a formação para a cidadania, para o exercício cotidiano da reflexão e da busca pela verdade. Certamente o resultado final de um processo educativo que pressupõe o filosofar como atividade cotidiana, é de que estudantes e docentes encontrem no processo educativo um novo ânimo para suas ações e atividades. Precisamos reinventar o processo educativo como estratégia privilegiada de formação das pessoas para a vida em sociedade e uma vida crítica, autônoma e feliz. Esse resultado qualitativo de que as pessoas tanto no processo de ensinoaprendizagem como em seu cotidiano, exercitem a cidadania de modo crítico e criativo, não acontecerá se não for estimulado, pensado e oportunizado. 1 A Filosofia como Perspectiva Interdisciplinar É comum observarmos em eventos sobre Educação e até mesmo em reuniões pedagógicas as alegações de que a escola e os pais têm deixado de lado os seus papéis. Sabemos que a educação acontece através da interface família-escola e que neste tempo em que vivemos, as instituições passam por profunda crise de identidade, assim nem a escola e a nem a família conseguem desempenhar satisfatoriamente o seu papel. Para o pensador grego Aristóteles (1985), além do desejo de conhecer somos desejantes da felicidade. Mas não de qualquer forma de felicidade. Isso porque para ele “todos os homens aspiram a uma vida melhor e à felicidade, mas a vida melhor requer alguns recursos (...) a felicidade é o resultado 3 e uso perfeito das qualidades morais, mas não condicionalmente, mas absolutamente ( Livro VII, XII, 1332 a). E por essas motivações e convicções que pretendemos enfrentar os desafios da educação básica e não simplesmente reclamá-los a quem quer que seja. No que diz respeito à educação, sabemos que princípios e valores são essenciais para formação do bom caráter do ser humano. Tanto na ciência como na educação, contraditoriamente é comum que o interesse maior seja sobre métodos, metodologia, verdades, resultados, etc. O valor humano e o valor das pessoas acabam sempre cedendo lugar ao burocrático, ao normativo, ao hierárquico e ao procedimentalismo. Normalmente o essencial no processo educativo, que em grande parte é o devido esclarecimento sobre meios e fins, não é pautado. As urgências no processo educativo não são urgências de fato, e muitas vezes, o que precisa ser problematizado de fato, fica de lado. Uma das perguntas mais simples e objetivas é por que construímos conhecimento? Ou talvez a questão de qual é o sentido de nossa existência? Quais são os valores, princípios e fundamentos que norteiam as nossas escolhas? Como devemos agir para alcançar o que desejamos? Se considerarmos as premissas de Aristóteles, que desejamos saber e sermos felizes, o que é isso e como se alcança? Essas são questões fundamentais que não devem negligenciadas. Como destacam Baker & Bonjour (2010, p. 23), “a Filosofia nos faz perguntar sobre o que é a verdade? O que é a consciência? Somos genuinamente livres? Há diferença entre bem e mal? Existe o bem e o mal? E assim por diante, essas perguntas oxigenam a nossa existência”. E como dizia Sócrates, uma vida que não é examinada é uma existência sem sentido, e não merece ser vivida. As perguntas fundamentais sobre ‘o que somos’ e ‘quem somos’, ‘como devemos agir’ e ‘qual é o sentido de nossa existência’, entre outras, podem promover o salto qualitativo entre simplesmente viver e existir. O sentido da filosofia remontando a sua origem grega, não dar uma resposta definitiva, mas fazer a pergunta que remete a uma reflexão mais acurada, como era o próprio método socrático. A ironia que Sócrates utilizava, significa EIRONEIA, que é perguntar. Se passarmos pela existência e não nos perguntamos sobre nada, nem sobre o próprio sentido de existir, mesmo vivos estamos praticamente mortos. A noção de existência (EX-ISTENTIA= SAÍDA), remontando o sentido medieval de individualidade e incomunicabilidade, remonta o que o pensador Heidegger (2005) problematiza em Ser e Tempo. Que a reflexão filosófica é justamente essa saída da condição 4 de coisa, de coisificação, de uma existência sem sentido e responsabilidade, portanto, sem perguntas, e saltar qualitativamente para uma vida que tem autenticidade e sentido. A reflexão filosófica para Heidegger não é ou deve ser só sobre conceitos abstratos, mas sobre a nossa condição de existencialidade que se dá neste determinado tempo e espaço, na concretude, e caso não fizermos isso assumindo o SORGE (cuidado) com o nosso ser, a nossa existência resume-se a imanência, a condição de coisa. A reflexão nos remete para uma saída dessa condição de inautenticidade para assumirmos a verdadeira e autêntica responsabilidade pela nossa existência. Pensamos que as instituições formais de ensino e os educadores, precisam agir de modo mais proativo diante dos desafios da sociedade contemporânea. Não apenas constatar a falta de reflexão, mas oportunizá-la desde cedo aos nossos discentes e docentes. A Filosofia é uma atividade e uma atitude importante para renovar as nossas convicções e compreensões sobre o que é aprender, o que é ensinar, como aprendemos e assim por diante. A autonomia crítica, a cidadania plena e ativa, a responsabilidade pelos demais humanos, pelo meio ambiente, entre outras coisas, precisam ser configuradas e oportunizadas. É preciso que nossos estudantes aprendam a constituírem-se como ‘seres humanos’ e exercitem isso diariamente, até fim de suas vidas, de modo concreto e reflexivo. Para Baker e Bonjour (2010), a Filosofia serve para analisar e avaliar profunda e criticamente o que queremos dizer ao definir um objeto, um ser, quais são os fundamentos e as condições para a formação e apropriação do conhecimento, permite-nos a clarificação dos conceitos, estabelece critérios para aceitar ou refutar alegações, etc. Esse exercício de diálogo com os demais humanos, quando oportunizado desde cedo, favorece a construção de uma sociedade livre e consciente, e também deve ser a nossa principal convicção que senso crítico e espírito livre precisam ser constituídos. Segundo os autores acima, clarificação facilita e melhora muito que o queremos dizer. Permite-nos avaliar criticamente o que lemos, vemos e ouvimos. O exercício filosófico desde cedo permite a elaboração de argumentos mais consistentes e de avaliação crítica dos argumentos postos pelos meios de comunicação, pela ciência, pelo universo da tecnologia, pela família, pela escola, pelas religiões, pelos partidos políticos, etc. Desenvolver a capacidade crítica desde cedo contribui para aquilo que Sócrates já enunciava através dos textos de Platão. O primeiro e grande desafio da Filosofia é distinguir entre aquilo que é e aquilo que aparenta ser. Numa sociedade de ostentação onde ter é mais importante que ser, onde aparentar substitui o verdadeiro sentido de ser, convém 5 instrumentalizarmos conceitualmente os nossos estudantes para analisarem e se relacionarem com o mundo contemporâneo e seus mecanismos de forma crítica, livre e autônoma. Acreditamos que um mundo melhor, uma sociedade melhor, resulte de pessoas melhores e estas de uma educação crítica e criativa. A Filosofia é desafiadora, questionadora e inspira a capacidade humana de perguntar e questionar sobre o sentido de tudo. Eis aqui um propósito que julgamos ser fundamental, não apenas constatar as distorções na forma como vivemos ou percebemos o mundo, mas buscarmos juntos a retomada das questões fundamentais, das perguntas mais elementares que provocaram homens e mulheres de todos os tempos a produzir saberes e fazeres para dar sentido e valor à própria existência e à vida em sociedade. Nada é tão grave e nos escraviza mais do que o não saber sobre o que (quem) somos, sobre porque tomamos essa e não aquela decisão, enfim desconhecermos as verdadeiras razões porque agimos desta e não daquela forma. Estamos convictos daquela antiga demanda de que nossos estudantes não são autônomos, críticos, participam pouco da sociedade, que não cultivam valores, leem pouco, não gostam de estudar, etc precisa ser avaliada de forma mais crítica. E, está mais que na hora chegou o momento de não apenas diagnosticarmos que nossos estudantes não gostam de aprender, mas de fato, estimula-los e incentiva-los a gostar de aprender, a querer aprender, a sentir gosto pela vida e pela convivência harmoniosa com tudo e com todos, a fazer bem feito o que escolher como profissão, saber ser e ser capaz de analisar criticamente a si mesmo, suas escolhas e ações e o meio onde vive. Exercitarmos com eles o gosto de aprender e não apenas reclamarmos que eles não gostam de aprender. Quando a vida tem sentido, efetivamente, não é preciso enfatizar tantos a prevenção das drogas, pois as pessoas sabendo do valor da vida e do perigo destas saberão fazer a melhor escolha. Enquanto a vida não tiver muito sentido, as drogas serão apenas uma das consequências. Quando a vida do outro faz sentido, o respeito é algo natural. Quando a vida do outro não faz sentido, a violência é apenas uma das consequências. Estamos cientes de que educar é uma das missões mais difíceis! Como se preparar na vida e para a vida? Todo ser humano tem suas crenças e com base nelas seus pensamentos e sentimentos, que culminam nas atitudes. Acredita-se numa sociedade mais humana e justa, sem preconceitos, em que os cidadãos atuem compromissados com o bem comum, mas não nascemos prontos e dispostos a compartilhar a vida em sociedade de forma óbvia e natural. Para Japiassu (1997) 6 O mundo contemporâneo, marcadamente dominado pelo pensamento tecnocientífico, pensamento este que leva os homens a exteriorizarem comportamentos desencantados face à política e adotarem atitudes céticas face aos valores, parece não reservar um papel relevante ao pensamento propriamente reflexivo (p. 7). A convivência em sala de aula possibilita, a cada dia, uma nova experiência profissional. Com o intuito de auxiliar os professores, pretende-se abordar a Filosofia como um elo entre as demais disciplinas, valorizando o processo educativo, motivando e criando expectativas animadoras para educandos e educadores. Não nascemos cidadãos prontos, precisamos exercitar as novas gerações desde cedo para essa experiência. A escola se tornaria vazia e ineficiente se omitisse de resgatar certos valores "adormecidos" na consciência humana. Por esse motivo, torna-se essencial refletir o mundo atual, fortalecer e renovar as "crenças", inserindo no processo educacional dentro do Currículo Municipal a Introdução da disciplina de Filosofia, como uma das providências para intervir no sistema educacional, para tal é preciso que tenhamos novas abordagens, trazendo assuntos e valores que possibilitem a formação integral de nossos alunos visando o exercício crítico e criativo na construção e desconstrução do conhecimento e no exercício cotidiano e pleno da cidadania. Conforme aborda Pimenta (1997) [...] as recentes modificações nos sistemas escolares, e especialmente na área de formação de professores, configuram ‘uma explosão didática’. Sua re-significação aponta para um balanço do ensino como prática social, das pesquisas e das transformações que têm provocado na prática social de ensinar (p. 71). Assim, para que a sociedade se desenvolva devemos ter esta diferença em mente: escola é o lugar onde se aprende e a educação é o conhecimento adquirido em qualquer lugar, agregando a isso, os educadores devem se preocupar com as relações que estabelecem entre o saber escolar e aquele que existe fora da escola, ou do país em que está inserido, fazendo um balanço no ensino agregado a prática social. Esse em parte foi realizado na Secretaria Municipal de Educação de Tupanciretã. É uma pesquisa-ação – baseado em Tripp (2005), uma experiência baseada na combinação de formação dos professores que atuarão nas aulas de Filosofia e os encontros para reflexão e avaliação da experiência, de modo sistemático, com registro e posterior relato das atividades e estratégias que estão dando certo e daquelas que precisam ser aprimoradas. A avaliação do processo dar-se-á através da cotidiana avaliação dos resultados e avanços em termos 7 metodológicos e estratégias de abordagem da Filosofia. A distribuição dos conteúdos e estratégias de Ensino são: Série/Ano 6º Ano Introdução Lógica – à 7º Ano – Introdução à Ética 8º ano Introdução Política 9º ano Introdução Estética – à – à Conteúdos Validade Verdade Regras do Silogismo Quadrado lógico Construção e identificação de argumentos Falácias Sofismas Tipos de Raciocínio. Ética Moral Direito Valor Justiça Bem comum Solidariedade Responsabilidade Liberdade. Política Voto Representatividade Representação Cidadania ativa Estado Democracia Poder Governo. Estética Belo Beleza Arte Indústria cultural Cultura de massa Sociedade do espetáculo Meios de Comunicação e estética. Estratégias de Ensino Filmes Músicas Recortes de jornais e revistas Trechos de artigos científicos Documentários Propagandas (mídia) Analisar discursos – trechos de filmes/novelas Charges, Imagens. Séries – Simpsons, etc; Músicas Filmes ou fragmentos de filmes Internet Parte de novelas Jornais, revistas, livros. Júri simulado Teatro Jogos (regras). Fragmentos dos textos clássicos Filmes Músicas Reportagens (assistir ou fazer) Séries DVD (Simpsons) Jornais, revistas Vereador, governador, presidente, deputado – mirim, etc. Estudo da Constituição, ECA, etc. Análise detalhada de uma obra de arte Música Comparação entre diferentes formas de arte Despertar o olhar crítico sobre estética Avaliar a função e o papel da arte Envolver os estudantes em experiências de transcendência (promover a experiência da beleza – filmes, música, ópera, pintura, etc). Considerações finais Diante do exposto até aqui, este projeto de pesquisa-ação e investigação pretendia 8 como resultado principal a implantação da Filosofia como componente Curricular nos anos finais do Ensino Fundamental nas escolas municipais de Tupanciretã, Rio Grande do Sul. Esse projeto piloto pretendia estimular os professores para a inovação em Educação, através da Filosofia como estratégia de ligação dos saberes, para ressignificar a relação entre ensino e aprendizagem através da reflexão filosófica aos professores e aos educandos, pois para termos adultos conscientes em suas atitudes, precisamos auxiliar as crianças, adolescentes e os jovens em sua caminhada escolar com motivação, técnicas, métodos e estratégias e compreendendo a interdisciplinaridade como a busca do ser como pessoa integral, com conhecimento articulado, aprendizagem e compreensão da realidade. Isso porque do modo como estruturamos a proposta, os professores de outros componentes curriculares é que lecionarão a Filosofia, a essa perspectiva de integrar os saberes, partindo do diálogo entre as áreas afins e as conexões possíveis, oportuniza um novo olhar sobre o ensino e a aprendizagem. Não se trata de forçar conexões entre os saberes, mas oportuniza-las dentro daquilo que é possível, plausível, e que contribui para uma melhor compreensão dos estudantes sobre o sentido e o significado do que se ensina e se aprende. Um dos principais desafios é que os docentes que irão trabalhar não tiveram formação em Filosofia e, além disso, tiveram uma formação disciplinar em sua graduação. No entanto, a formação pedagógica e filosófica oportunizada pela Secretaria Municipal de Educação pretende oportunizar espaços de debates e investigação em torno do ato de ensinar e aprender, sendo que a Filosofia é o espaço e o pretexto para que isso de fato aconteça. A interdisciplinaridade é um modo de compreendermos e praticarmos o ensino, num primeiro momento, a Filosofia é a estratégia de ligação entre os saberes, de revisão da metodologia, dos métodos e abordagens dos conteúdos e saberes. O próximo passo do projeto é a produção de material didático que possam atender as demandas locais – preferencialmente com enfoque na metodologia inter e transdisciplinar. Novamente o papel da Filosofia é favorecer a constituição de um espaço reflexivo na escola básica. Mais importante que desenvolver conteúdos específicos ou integrar todos os saberes o tempo todo, é gradativamente promover da Cidadania através de atividades e projetos que despertem nos jovens maior interesse e envolvimentos nos temas da ética, política, cidadania, voto, gestão pública e temas relacionadas à boa convivência humana. A produção de materiais didático-pedagógicos inovadores talvez possa despertar o encantamento pelo saber como forma de ser, saber, viver e conviver melhor. O objetivo deste projeto é justamente promover a educação crítica, responsável, criativa e inovadora através da revisão e reflexão sobre as 9 escolhas e convicções que estudantes e professores constituíram e estão constituindo em seus processos de ensino e aprendizagem. Esta pesquisa-ação visa fomentar e contribuir com a formação de profissionais críticos, reflexivos e aptos ao exercício pleno da cidadania, através da proposição atitudes docentes e discentes que incidam em práticas pedagógicas integradoras como modo de superação da fragmentação e desconexão dos saberes, estimulando desde cedo os novos cidadãos e cidadãs a refletirem criticamente sobre quem são, o que fazem e por que fazem. Esse é um projeto piloto que visa uma revolução endógena na educação básica, através de uma nova abordagem do ensino e da expectativa de aprendizagem. Quem ministrará as aulas de filosofia serão os próprios docentes da área das ciências humanas e afins, que através da formação que receberão ampliarão suas condições de ministrarem suas aulas em prol do desenvolvimento crítico e criativo da educação básica. Ele pretende promover e ampliar o ensino investigativo, autorreflexivo, onde o docente tenha plena consciência de sua responsabilidade como formador de novas perspectivas individuais e comunitárias através do conhecimento. O foco central é o despertar de uma nova consciência sobre o sentido e o papel do conhecimento na construção de cidadãos mais comprometidos com a construção de uma sociedade mais justa e solidária. Onde gradativamente a democratização plena do saber possibilite a democratização plena do poder. Referências Aristóteles. Política. Traduzido do grego por Mário da Gama Kury. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1985. _______. 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