Andressa Trindade Berlato - Sistemas IF Farroupilha

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FILOSOFIA E INTERDISCIPLINARIDADE: NOVAS PERSPECTIVAS
PARA A ESCOLA BÁSICA
Andressa Trindade Berlato 1
Ricardo Antonio Rodrigues2
Resumo: Mediante os desafios educacionais, notamos o crescente desinteresse dos estudantes
quanto à valorização do estudo e a coerência do conhecimento como construção da autonomia
e da cidadania. Os docentes acabam se desmotivando para seu ofício, tendo a tendência de
ministrarem aulas desprovidas de perspectivas de renovação de métodos e estratégias,
linguagens, inovação etc. A compartimentação dos saberes e a desconexão entre o saber
dedutivo com o saber empírico também afetam o processo de ensino-aprendizagem na medida
em que os estudantes não são estimulados a fazer a devida passagem entre o saber dedutivoconceitual e a relação que isso tem com o seu cotidiano. Nesse trabalho, sugerimos uma
proposta de atuação a partir da Filosofia, para que professores e educandos reflitam sobre o
desencanto pela nobre missão de ensinar e aprender. O professor para ensinar precisa
exercitar-se como aprendente. A metodologia aplicada é da pesquisa-ação, com encontros
formativos, socialização dos êxitos e discussão sobre os problemas experimentados no
decorrer do processo. Os docentes que lecionam a Filosofia nos anos finais do Ensino
Fundamental, no município de Tupanciretã, são de outras áreas, a ideia num primeiro
momento é trabalhar de forma filosófica temas e conteúdos das diversas disciplinas, e com a
Filosofia gradativamente promover a religação dos saberes. Os encontros formativos foram
bimestrais e visaram levar o docente à reflexão de seu papel de mediador e gestor do processo
de ensino-aprendizagem. Esses docentes também ministram suas disciplinas específicas como
história, arte, literatura, música etc. Essa realidade favorece e estimula a trans e a
interdisciplinaridade que é o nosso objetivo maior. Em nosso entendimento, isso valorizará o
processo educativo e dará um novo ânimo para os professores e educandos, permitindo a
reflexão filosófica, fazendo os ajustes necessários para a qualificação do processo como um
todo, sempre focando na qualificação do processo de ensino-aprendizagem.
Palavras-Chave: Filosofia; Interdisciplinaridade; Educação Básica.
Considerações iniciais
Conscientes de que a educação formal precisa ser ressignificada, optamos por realizar
um projeto piloto de Pesquisa-ação no município de Tupanciretã, numa parceria entre a
Secretaria Municipal de Educação e o IF Farroupilha – Campus de Jaguari, no intuito de
enfrentar os problemas relacionados ao ensino e a aprendizagem, e também desenvolver nos
1
Acadêmica do Curso de Licenciatura em Educação do Campo: Ciências da Natureza – Instituto Federal
Farroupilha – Campus Jaguari. Bolsista de IC/CNPQ. E-mail: [email protected]
2
Licenciado, Mestre, Doutor e Pós-Doutor em Filosofia. Líder do Grupo de Pesquisa Ética, Epistemologia e
Formação de Professores. Coordenador do Curso de Licenciatura em Educação do Campo: Ciências da Natureza
– Instituto Federal Farroupilha – Campus Jaguari, Jaguari, RS. E-mail: [email protected]
1
educandos desde cedo o gosto pela reflexão, pelo senso crítico e pela ligação de sentido entre
os saberes.
As alegações comuns de que a escola e os pais têm deixado de lado os seus papéis, de
que os professores não inovam e que os estudantes perderam o encanto pelo saber foram as
nossas principais motivações para pensar uma alternativa a essas e outras dificuldades.
Sabemos que a educação acontece através da interface família-escola, e isso já foi sugerido na
Grécia antiga por Aristóteles, ao defender que por sermos animais sociais e sociáveis não
temos outra opção que não aquela de através da educação, seja ela familiar ou pública,
constituir os novos e as novas cidadãs. Aristóteles (1984, p. 11), no início de sua Metafísica
afirma que “todos os homens têm, por natureza, desejo de conhecer”. Somos seres desejantes
de conhecimento. Nesse caso, teríamos duas funções imediatas como missão do processo
educativo, conforme o que está enunciado nos livros VII e XII da Política de Aristóteles
(1985). A de que precisamos atender a demanda da curiosidade humana, pois temos o desejo
natural de conhecer, mas também o de que o fim último da vida em sociedade e da prática da
virtude é a felicidade, como defende em sua Ética a Nicômacos (1991). Se o fim da vida
humana, segundo Aristóteles (1991) é a felicidade, e para tal, precisamos viver em sociedade
(Aristóteles, 1985) e considerando que a felicidade é o resultado e uso perfeito das qualidades
morais, mas não condicionalmente, mas absolutamente conforme nos descrê no livro da
Política, Livro VII, XII, 1332 a (Aristóteles, 1985). Precisamos compreender que, de algum
modo, o Estagirita está propondo que somos seres naturalmente sociáveis, mas que a plena
realização de nossa condição, está no bom uso da razão e que também esse bom uso da razão
precisa ser educado e construído.
O ser humano como animale rationale, revela certa distinção qualitativa diante dos
demais seres. Se para os gregos do período da cultura arcaica, as mãos eram o fator de
distinção diante dos outros animais e seres, agora com Aristóteles, e com a ajuda de Sócrates,
é a alma humana que passa ser sede de uma nova excelência. Isso porque somos zoon logikon
e zoon politikon. Somos sim animais, mas animais diferenciados, pois através do processo
educativo podemos nos tornar melhores e mais felizes.
Para Aristóteles, não basta o desejo de ser bom ou o desejo de conhecer como garantia
plena de satisfação e de conhecimento. A vida virtuosa deve ser exercitada cotidianamente, e
nesse sentido, o processo de educação formal deve desde muito cedo, levar os cidadãos a
praticar cotidianamente a virtude como modo de constituir uma sociedade harmônica e justa.
Sabemos que Aristóteles não concebia que a Filosofia pudesse ser ensinada desde cedo, por
2
causa da falta de interesse e maturidade dos jovens. Por outro lado, notamos na Política toda
uma estrutura de saberes e conteúdos visando formar o cidadão de modo crítico e integral.
Platão (1999) em seu texto da maturidade, As Leis, sugeriu a educação como askésis
(treinamento) para alcançar a sabedoria no sentido da enkrateia (bom governo de
si/autodomínio) que é a arte de governar-se e governar os outros com justiça. Essa proposição
teórica parece confirmar a proposta de seu texto A República (Platão, 2002) que pauta que a
educação deveria levar ao exercício da agón (luta interior) para superação do egoísmo,
constituindo assim a noção de justiça na sociedade como resultado do desejo individual de
justiça, sobretudo notamos essa proposta teórica no Livro X, da República (Platão, 2002).
Para esses dois pensadores clássicos, criadores do sistema formal de educação no
ocidente, quer seja pela academia de Platão ou o Liceu de Aristóteles, educar não é só treinar
e desenvolver habilidades para um determinado fim. Mas é preciso reconhecer que o fim da
existência humana é a vida feliz, e vida feliz, segundo esses pensadores é a vida em
sociedade. E é nesse sentido que pensamos esse projeto educacional, o foco central é a
formação para a cidadania, para o exercício cotidiano da reflexão e da busca pela verdade.
Certamente o resultado final de um processo educativo que pressupõe o filosofar como
atividade cotidiana, é de que estudantes e docentes encontrem no processo educativo um novo
ânimo para suas ações e atividades. Precisamos reinventar o processo educativo como
estratégia privilegiada de formação das pessoas para a vida em sociedade e uma vida crítica,
autônoma e feliz. Esse resultado qualitativo de que as pessoas tanto no processo de ensinoaprendizagem como em seu cotidiano, exercitem a cidadania de modo crítico e criativo, não
acontecerá se não for estimulado, pensado e oportunizado.
1 A Filosofia como Perspectiva Interdisciplinar
É comum observarmos em eventos sobre Educação e até mesmo em reuniões
pedagógicas as alegações de que a escola e os pais têm deixado de lado os seus papéis.
Sabemos que a educação acontece através da interface família-escola e que neste tempo em
que vivemos, as instituições passam por profunda crise de identidade, assim nem a escola e a
nem a família conseguem desempenhar satisfatoriamente o seu papel. Para o pensador grego
Aristóteles (1985), além do desejo de conhecer somos desejantes da felicidade. Mas não de
qualquer forma de felicidade. Isso porque para ele “todos os homens aspiram a uma vida
melhor e à felicidade, mas a vida melhor requer alguns recursos (...) a felicidade é o resultado
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e uso perfeito das qualidades morais, mas não condicionalmente, mas absolutamente ( Livro
VII, XII, 1332 a).
E por essas motivações e convicções que pretendemos enfrentar os desafios da
educação básica e não simplesmente reclamá-los a quem quer que seja. No que diz respeito à
educação, sabemos que princípios e valores são essenciais para formação do bom caráter do
ser humano. Tanto na ciência como na educação, contraditoriamente é comum que o interesse
maior seja sobre métodos, metodologia, verdades, resultados, etc. O valor humano e o valor
das pessoas acabam sempre cedendo lugar ao burocrático, ao normativo, ao hierárquico e ao
procedimentalismo.
Normalmente o essencial no processo educativo, que em grande parte é o devido
esclarecimento sobre meios e fins, não é pautado. As urgências no processo educativo não são
urgências de fato, e muitas vezes, o que precisa ser problematizado de fato, fica de lado. Uma
das perguntas mais simples e objetivas é por que construímos conhecimento? Ou talvez a
questão de qual é o sentido de nossa existência? Quais são os valores, princípios e
fundamentos que norteiam as nossas escolhas? Como devemos agir para alcançar o que
desejamos? Se considerarmos as premissas de Aristóteles, que desejamos saber e sermos
felizes, o que é isso e como se alcança? Essas são questões fundamentais que não devem
negligenciadas. Como destacam Baker & Bonjour (2010, p. 23), “a Filosofia nos faz
perguntar sobre o que é a verdade? O que é a consciência? Somos genuinamente livres? Há
diferença entre bem e mal? Existe o bem e o mal? E assim por diante, essas perguntas
oxigenam a nossa existência”.
E como dizia Sócrates, uma vida que não é examinada é uma existência sem sentido, e
não merece ser vivida. As perguntas fundamentais sobre ‘o que somos’ e ‘quem somos’,
‘como devemos agir’ e ‘qual é o sentido de nossa existência’, entre outras, podem promover o
salto qualitativo entre simplesmente viver e existir. O sentido da filosofia remontando a sua
origem grega, não dar uma resposta definitiva, mas fazer a pergunta que remete a uma
reflexão mais acurada, como era o próprio método socrático. A ironia que Sócrates utilizava,
significa EIRONEIA, que é perguntar. Se passarmos pela existência e não nos perguntamos
sobre nada, nem sobre o próprio sentido de existir, mesmo vivos estamos praticamente
mortos.
A noção de existência (EX-ISTENTIA= SAÍDA), remontando o sentido medieval de
individualidade e incomunicabilidade, remonta o que o pensador Heidegger (2005)
problematiza em Ser e Tempo. Que a reflexão filosófica é justamente essa saída da condição
4
de coisa, de coisificação, de uma existência sem sentido e responsabilidade, portanto, sem
perguntas, e saltar qualitativamente para uma vida que tem autenticidade e sentido. A reflexão
filosófica para Heidegger não é ou deve ser só sobre conceitos abstratos, mas sobre a nossa
condição de existencialidade que se dá neste determinado tempo e espaço, na concretude, e
caso não fizermos isso assumindo o SORGE (cuidado) com o nosso ser, a nossa existência
resume-se a imanência, a condição de coisa. A reflexão nos remete para uma saída dessa
condição de inautenticidade para assumirmos a verdadeira e autêntica responsabilidade pela
nossa existência.
Pensamos que as instituições formais de ensino e os educadores, precisam agir de
modo mais proativo diante dos desafios da sociedade contemporânea. Não apenas constatar a
falta de reflexão, mas oportunizá-la desde cedo aos nossos discentes e docentes. A Filosofia é
uma atividade e uma atitude importante para renovar as nossas convicções e compreensões
sobre o que é aprender, o que é ensinar, como aprendemos e assim por diante. A autonomia
crítica, a cidadania plena e ativa, a responsabilidade pelos demais humanos, pelo meio
ambiente, entre outras coisas, precisam ser configuradas e oportunizadas. É preciso que
nossos estudantes aprendam a constituírem-se como ‘seres humanos’ e exercitem isso
diariamente, até fim de suas vidas, de modo concreto e reflexivo.
Para Baker e Bonjour (2010), a Filosofia serve para analisar e avaliar profunda e
criticamente o que queremos dizer ao definir um objeto, um ser, quais são os fundamentos e
as condições para a formação e apropriação do conhecimento, permite-nos a clarificação dos
conceitos, estabelece critérios para aceitar ou refutar alegações, etc. Esse exercício de diálogo
com os demais humanos, quando oportunizado desde cedo, favorece a construção de uma
sociedade livre e consciente, e também deve ser a nossa principal convicção que senso crítico
e espírito livre precisam ser constituídos.
Segundo os autores acima, clarificação facilita e melhora muito que o queremos dizer.
Permite-nos avaliar criticamente o que lemos, vemos e ouvimos. O exercício filosófico desde
cedo permite a elaboração de argumentos mais consistentes e de avaliação crítica dos
argumentos postos pelos meios de comunicação, pela ciência, pelo universo da tecnologia,
pela família, pela escola, pelas religiões, pelos partidos políticos, etc.
Desenvolver a capacidade crítica desde cedo contribui para aquilo que Sócrates já
enunciava através dos textos de Platão. O primeiro e grande desafio da Filosofia é distinguir
entre aquilo que é e aquilo que aparenta ser. Numa sociedade de ostentação onde ter é mais
importante que ser, onde aparentar substitui o verdadeiro sentido de ser, convém
5
instrumentalizarmos conceitualmente os nossos estudantes para analisarem e se relacionarem
com o mundo contemporâneo e seus mecanismos de forma crítica, livre e autônoma.
Acreditamos que um mundo melhor, uma sociedade melhor, resulte de pessoas
melhores e estas de uma educação crítica e criativa. A Filosofia é desafiadora, questionadora e
inspira a capacidade humana de perguntar e questionar sobre o sentido de tudo. Eis aqui um
propósito que julgamos ser fundamental, não apenas constatar as distorções na forma como
vivemos ou percebemos o mundo, mas buscarmos juntos a retomada das questões
fundamentais, das perguntas mais elementares que provocaram homens e mulheres de todos
os tempos a produzir saberes e fazeres para dar sentido e valor à própria existência e à vida
em sociedade. Nada é tão grave e nos escraviza mais do que o não saber sobre o que (quem)
somos, sobre porque tomamos essa e não aquela decisão, enfim desconhecermos as
verdadeiras razões porque agimos desta e não daquela forma.
Estamos convictos daquela antiga demanda de que nossos estudantes não são
autônomos, críticos, participam pouco da sociedade, que não cultivam valores, leem pouco,
não gostam de estudar, etc precisa ser avaliada de forma mais crítica. E, está mais que na hora
chegou o momento de não apenas diagnosticarmos que nossos estudantes não gostam de
aprender, mas de fato, estimula-los e incentiva-los a gostar de aprender, a querer aprender, a
sentir gosto pela vida e pela convivência harmoniosa com tudo e com todos, a fazer bem feito
o que escolher como profissão, saber ser e ser capaz de analisar criticamente a si mesmo, suas
escolhas e ações e o meio onde vive. Exercitarmos com eles o gosto de aprender e não apenas
reclamarmos que eles não gostam de aprender.
Quando a vida tem sentido, efetivamente, não é preciso enfatizar tantos a prevenção
das drogas, pois as pessoas sabendo do valor da vida e do perigo destas saberão fazer a
melhor escolha. Enquanto a vida não tiver muito sentido, as drogas serão apenas uma das
consequências. Quando a vida do outro faz sentido, o respeito é algo natural. Quando a vida
do outro não faz sentido, a violência é apenas uma das consequências.
Estamos cientes de que educar é uma das missões mais difíceis! Como se preparar na
vida e para a vida? Todo ser humano tem suas crenças e com base nelas seus pensamentos e
sentimentos, que culminam nas atitudes. Acredita-se numa sociedade mais humana e justa,
sem preconceitos, em que os cidadãos atuem compromissados com o bem comum, mas não
nascemos prontos e dispostos a compartilhar a vida em sociedade de forma óbvia e natural.
Para Japiassu (1997)
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O mundo contemporâneo, marcadamente dominado pelo pensamento
tecnocientífico, pensamento este que leva os homens a exteriorizarem
comportamentos desencantados face à política e adotarem atitudes céticas face aos
valores, parece não reservar um papel relevante ao pensamento propriamente
reflexivo (p. 7).
A convivência em sala de aula possibilita, a cada dia, uma nova experiência
profissional. Com o intuito de auxiliar os professores, pretende-se abordar a Filosofia como
um elo entre as demais disciplinas, valorizando o processo educativo, motivando e criando
expectativas animadoras para educandos e educadores.
Não nascemos cidadãos prontos, precisamos exercitar as novas gerações desde cedo
para essa experiência. A escola se tornaria vazia e ineficiente se omitisse de resgatar certos
valores "adormecidos" na consciência humana. Por esse motivo, torna-se essencial refletir o
mundo atual, fortalecer e renovar as "crenças", inserindo no processo educacional dentro do
Currículo Municipal a Introdução da disciplina de Filosofia, como uma das providências para
intervir no sistema educacional, para tal é preciso que tenhamos novas abordagens, trazendo
assuntos e valores que possibilitem a formação integral de nossos alunos visando o exercício
crítico e criativo na construção e desconstrução do conhecimento e no exercício cotidiano e
pleno da cidadania.
Conforme aborda Pimenta (1997)
[...] as recentes modificações nos sistemas escolares, e especialmente na área de
formação de professores, configuram ‘uma explosão didática’. Sua re-significação
aponta para um balanço do ensino como prática social, das pesquisas e das
transformações que têm provocado na prática social de ensinar (p. 71).
Assim, para que a sociedade se desenvolva devemos ter esta diferença em mente:
escola é o lugar onde se aprende e a educação é o conhecimento adquirido em qualquer lugar,
agregando a isso, os educadores devem se preocupar com as relações que estabelecem entre o
saber escolar e aquele que existe fora da escola, ou do país em que está inserido, fazendo um
balanço no ensino agregado a prática social.
Esse em parte foi realizado na Secretaria Municipal de Educação de Tupanciretã. É
uma pesquisa-ação – baseado em Tripp (2005), uma experiência baseada na combinação de
formação dos professores que atuarão nas aulas de Filosofia e os encontros para reflexão e
avaliação da experiência, de modo sistemático, com registro e posterior relato das atividades e
estratégias que estão dando certo e daquelas que precisam ser aprimoradas. A avaliação do
processo dar-se-á através da cotidiana avaliação dos resultados e avanços em termos
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metodológicos e estratégias de abordagem da Filosofia. A distribuição dos conteúdos e
estratégias de Ensino são:
Série/Ano
6º
Ano
Introdução
Lógica
–
à
7º
Ano
–
Introdução à Ética
8º
ano
Introdução
Política
9º
ano
Introdução
Estética
–
à
–
à
Conteúdos

Validade

Verdade

Regras do Silogismo

Quadrado lógico

Construção
e
identificação de argumentos

Falácias

Sofismas

Tipos de Raciocínio.

Ética

Moral

Direito

Valor

Justiça

Bem comum

Solidariedade

Responsabilidade

Liberdade.

Política

Voto

Representatividade

Representação

Cidadania ativa

Estado

Democracia

Poder

Governo.

Estética

Belo

Beleza

Arte

Indústria cultural

Cultura de massa

Sociedade
do
espetáculo

Meios
de
Comunicação e estética.































Estratégias de Ensino
Filmes
Músicas
Recortes de jornais e revistas
Trechos de artigos científicos
Documentários
Propagandas (mídia)
Analisar discursos – trechos de
filmes/novelas
Charges, Imagens.
Séries – Simpsons, etc;
Músicas
Filmes ou fragmentos de filmes
Internet
Parte de novelas
Jornais, revistas, livros.
Júri simulado
Teatro
Jogos (regras).
Fragmentos dos textos clássicos
Filmes
Músicas
Reportagens (assistir ou fazer)
Séries DVD (Simpsons)
Jornais, revistas
Vereador, governador, presidente,
deputado – mirim, etc.
Estudo da Constituição, ECA, etc.
Análise detalhada de uma obra de arte
Música
Comparação entre diferentes formas
de arte
Despertar o olhar crítico sobre
estética
Avaliar a função e o papel da arte
Envolver
os
estudantes
em
experiências
de
transcendência
(promover a experiência da beleza –
filmes, música, ópera, pintura, etc).
Considerações finais
Diante do exposto até aqui, este projeto de pesquisa-ação e investigação pretendia
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como resultado principal a implantação da Filosofia como componente Curricular nos anos
finais do Ensino Fundamental nas escolas municipais de Tupanciretã, Rio Grande do Sul.
Esse projeto piloto pretendia estimular os professores para a inovação em Educação, através
da Filosofia como estratégia de ligação dos saberes, para ressignificar a relação entre ensino e
aprendizagem através da reflexão filosófica aos professores e aos educandos, pois para termos
adultos conscientes em suas atitudes, precisamos auxiliar as crianças, adolescentes e os jovens
em sua caminhada escolar com motivação, técnicas, métodos e estratégias e compreendendo a
interdisciplinaridade como a busca do ser como pessoa integral, com conhecimento
articulado, aprendizagem e compreensão da realidade. Isso porque do modo como
estruturamos a proposta, os professores de outros componentes curriculares é que lecionarão a
Filosofia, a essa perspectiva de integrar os saberes, partindo do diálogo entre as áreas afins e
as conexões possíveis, oportuniza um novo olhar sobre o ensino e a aprendizagem. Não se
trata de forçar conexões entre os saberes, mas oportuniza-las dentro daquilo que é possível,
plausível, e que contribui para uma melhor compreensão dos estudantes sobre o sentido e o
significado do que se ensina e se aprende.
Um dos principais desafios é que os docentes que irão trabalhar não tiveram formação
em Filosofia e, além disso, tiveram uma formação disciplinar em sua graduação. No entanto, a
formação pedagógica e filosófica oportunizada pela Secretaria Municipal de Educação
pretende oportunizar espaços de debates e investigação em torno do ato de ensinar e aprender,
sendo que a Filosofia é o espaço e o pretexto para que isso de fato aconteça. A
interdisciplinaridade é um modo de compreendermos e praticarmos o ensino, num primeiro
momento, a Filosofia é a estratégia de ligação entre os saberes, de revisão da metodologia,
dos métodos e abordagens dos conteúdos e saberes.
O próximo passo do projeto é a produção de material didático que possam atender as
demandas locais – preferencialmente com enfoque na metodologia inter e transdisciplinar.
Novamente o papel da Filosofia é favorecer a constituição de um espaço reflexivo na escola
básica. Mais importante que desenvolver conteúdos específicos ou integrar todos os saberes o
tempo todo, é gradativamente promover da Cidadania através de atividades e projetos que
despertem nos jovens maior interesse e envolvimentos nos temas da ética, política, cidadania,
voto, gestão pública e temas relacionadas à boa convivência humana. A produção de materiais
didático-pedagógicos inovadores talvez possa despertar o encantamento pelo saber como
forma de ser, saber, viver e conviver melhor. O objetivo deste projeto é justamente promover
a educação crítica, responsável, criativa e inovadora através da revisão e reflexão sobre as
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escolhas e convicções que estudantes e professores constituíram e estão constituindo em seus
processos de ensino e aprendizagem.
Esta pesquisa-ação visa fomentar e contribuir com a formação de profissionais
críticos, reflexivos e aptos ao exercício pleno da cidadania, através da proposição atitudes
docentes e discentes que incidam em práticas pedagógicas integradoras como modo de
superação da fragmentação e desconexão dos saberes, estimulando desde cedo os novos
cidadãos e cidadãs a refletirem criticamente sobre quem são, o que fazem e por que fazem.
Esse é um projeto piloto que visa uma revolução endógena na educação básica, através
de uma nova abordagem do ensino e da expectativa de aprendizagem. Quem ministrará as
aulas de filosofia serão os próprios docentes da área das ciências humanas e afins, que através
da formação que receberão ampliarão suas condições de ministrarem suas aulas em prol do
desenvolvimento crítico e criativo da educação básica. Ele pretende promover e ampliar o
ensino investigativo, autorreflexivo, onde o docente tenha plena consciência de sua
responsabilidade como formador de novas perspectivas individuais e comunitárias através do
conhecimento. O foco central é o despertar de uma nova consciência sobre o sentido e o papel
do conhecimento na construção de cidadãos mais comprometidos com a construção de uma
sociedade mais justa e solidária. Onde gradativamente a democratização plena do saber
possibilite a democratização plena do poder.
Referências
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Universidade de Brasília, 1985.
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textos de José Américo Motta Pessanha. 4. ed. (Os pensadores; v. 2) Ética a Nicômaco:
tradução de Leonel Vallandro e Gerd Bornheim da versão inglesa de W.D. Ross; Poética :
tradução, comentários e índices analítico e onomástico de Eudoro de Souza. São Paulo: Nova
Cultural, 1984.
BAKER, A. BONJOUR, L. Filosofia. 2. ed. Consultoria e revisão técnica: Maria Carolina dos
Santos Rocha; Roberto Hofmeister Pich. Porto Alegre: ARTMED, 2010.
HEIDEGGER, M. Ser e Tempo. Parte I e II. Tradução de Márcia Sá Cavalcante Schuback,
15. ed. Petrópolis: Vozes. Bragança Paulista: Universidade São Francisco, 2005.
JAPIASSU, Hilton. Um desafio à filosofia: pensar-se nos dias de hoje. São Paulo: Letras &
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PIMENTA, Selma G. O. Para uma re-significação da Didática – Ciências da educação,
pedagogia e didática (uma revisão conceitual e uma síntese provisória). In: PIMENTA, Selma
10
G. (Org.). Didática e formação de professores: percursos e perspectivas no Brasil e em
Portugal. São Paulo: Cortez, 1997.
Platão. Le lois. Oeuvres complètes. Introduciòn, traductiòn, commentaire et notes par L.
Robin. Paris, Gallimard, 1992.
_______. La République. Traduction et presentation par G. Lerouk. Paris, Flammarion,
2002.
TRIPP, D. Pesquisa-ação: uma introdução metodológica. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.
31, n. 3, p. 443-466, set./dez. 2005.
11
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