geografia humana e econômica

Propaganda
GEOGRAFIA HUMANA
E ECONÔMICA
Autor
Rafael Lacerda Martins
1.ª edição
Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,
mais informações www.videoaulasonline.com.br
© 2007 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor
dos direitos autorais.
M386
Martins, Rafael Lacerda
Geografia Humana e Econômica./Rafael Lacerda Martins. —
Curitiba: IESDE Brasil S.A., 2007.
124 p.
ISBN: 978-85-7638-765-7
1. Geografia humana - Brasil 2. População - Estatística 3.
Globalização 4. Geografia econômica I. Título
CDD 304.20981
Todos os direitos reservados
IESDE Brasil S.A.
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482 • Batel
80730-200 • Curitiba • PR
www.iesde.com.br
Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,
mais informações www.videoaulasonline.com.br
Sumário
Introdução à Geografia | 7
Geografia | 7
Geografia Humana e Econômica | 9
Espaço geográfico | 11
Escala geográfica | 12
Conceitos fundamentais | 15
Níveis de análise em Geografia | 15
Região | 16
Lugar | 18
Território | 20
Geografia Cultural | 25
Introdução à Geografia Cultural | 25
Temas da Geografia Cultural | 26
A noção de gênero de vida | 28
Geografia Cultural: reflexos da globalização | 28
Geografia Política | 33
Introdução à Geografia Política | 33
Geopolítica | 35
Geopolítica e nova ordem mundial | 37
Globalização | 41
Processo de globalização | 41
Blocos econômicos: o caso do Mercosul | 42
Economias mundiais | 44
Implicações espaciais das atividades econômicas sob a visão do capitalismo | 45
Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,
mais informações www.videoaulasonline.com.br
Abordagens do espaço agrário | 49
Organização do espaço agrário | 49
Caracterização geográfica como propósito de indicações de procedência | 50
Geografia Agrícola: o caso da produção do arroz | 52
Abordagens sobre o meio técnico | 59
O meio técnico-científico-informacional | 59
Constituição dos espaços econômicos | 61
Integração territorial | 62
O espaço regional | 67
Dinâmica regional brasileira | 67
Organização econômica: o espaço regional em transformação | 69
Urbanização brasileira | 71
Temas em Geografia da População | 75
Demografia na análise geográfica | 75
Estudos populacionais e fontes de dados | 76
Distribuição e estrutura da população | 78
Crescimento populacional | 80
Abordagens no estudo da população | 85
Políticas de população | 85
Ferramentas do demógrafo | 86
Teorias de população: O pensamento Neomalthusiano | 88
Teoria de Marx acerca da população | 89
Concepções sobre populações: as migrações | 89
Elementos da dinâmica populacional | 93
Dinâmica populacional brasileira | 93
Desenvolvimento populacional | 96
Algumas considerações sobre o Índice de Desenvolvimento Humano | 97
Abordagem socioambiental em Geografia Humana | 103
Questão ambiental | 103
Conceito de gestão ambiental e planejamento ambiental | 104
Sustentabilidade ambiental no contexto da Geografia Humana | 106
Reflexões socioambientais: recursos hídricos | 107
Gabarito
Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,
mais informações www.videoaulasonline.com.br
Apresentação
Prezados alunos,
Sou o Professor Rafael Lacerda Martins. Ao iniciarmos a disciplina de Geografia Humana e Econômica, quero desejar as boas-vindas e convidá-los para iniciar os estudos dessa disciplina imbuídos de curiosidade, disponibilidade e
responsabilidade crítica em torno das temáticas apresentadas.
A disciplina tem como objetivo central o desenvolvimento de uma análise a respeito das diferentes abordagens em
Geografia Humana e Econômica. A estrutura e construção dos textos expressam conceitos, pensamentos e interpretações do espaço geográfico e suas categorias. Procurei enfocar a evolução das dinâmicas ambientais, culturais e
socioterritoriais, em conjunto com as características e os estágios do processo histórico-geográfico. Dessa maneira,
a realização e o desenvolvimento dessa disciplina pretendem ser um processo desencadeante de alterações objetivas e subjetivas em nossa forma de inserção e futura intervenção na realidade social e ambiental.
Este livro está estruturando em 12 aulas, no qual irei abordar uma breve introdução da Geografia como ciência e
seus conceitos fundamentais na análise das relações entre a sociedade e natureza. Apresento a Geografia Cultural,
procurando enfocar os estudos das relações humanas. Abordo a Geografia Política, como um conhecimento importante para interdisciplinaridades das ciências humanas. Apresento considerações sobre o processo de globalização
e suas implicações culturais e geoeconômicas no mundo e no Brasil. Trato também da organização do espaço agrário, como o espaço de interesse nas relações do território e nas funções de integração territorial. Por fim, relaciono
um quadro-síntese e o objetivo dos estudos populacionais, concentrado na geografia da população, identificando
os conceitos e as definições importantes para os cientistas sociais, numa análise e uma interpretação nas diferentes
abordagens de estudo. O conteúdo do livro busca acrescentar uma leitura informativa, crítica e interpretativa sobre
os diferentes estudos nas distintas áreas da Geografia Humana e Econômica. Apresenta uma abordagem socioambiental capaz de produzir uma visão critica e fundamental nos dias de hoje.
Bem, convido todos à leitura, e que esse livro auxilie na construção do conhecimento. Boas leituras!
Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,
mais informações www.videoaulasonline.com.br
Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,
mais informações www.videoaulasonline.com.br
Globalização
Processo de globalização
A globalização vem se estabelecendo na economia mundial a partir dos anos 1980, voltando-se
principalmente para a integração dos mercados financeiros. O que levou ao aparecimento das empresas transnacionais, à desregulamentação do sistema bancário e à desestatização de empresas nacionais
estratégicas. Tais processos manifestam-se de formas distintas, tornando os mercados mais eficientes e
mais complexos do ponto de vista econômico-financeiro. As mudanças no cenário econômico decorrentes evidenciam a permanente necessidade da obtenção de informações de caráter quantitativo a
respeito desse fenômeno econômico-social, permitindo uma melhor percepção do processo de integração dos mercados e de sua influência sobre a economia dos países.
A globalização e a integração regional constituem-se em aspectos centrais do funcionamento
da economia mundial. A globalização aprofunda o caráter internacional dos processos econômicos
e a integração regional, cuja definição caracteriza-se pela regionalização da economia, o que remete
ao surgimento de espaços de relações de trocas comerciais e financeiras privilegiadas entre países. A
formação dos blocos econômicos tem revelado-se como um forte elemento para a globalização, no
sentido de que a soma de esforços entre os países em blocos aumentam sua potência e o seu poder
econômico e político. Portanto, a globalização pode ser compreendida como um processo de integração
mundial, que se intensifica de forma muito rápida e feroz, principalmente nas últimas décadas. A
globalização1 aparece fortalecida por bases conceituais da liberalização econômica, associado a países
que abandonam, por exemplo, as barreiras tarifárias que resguardam sua produção de concorrência
estrangeira e abrem-se para entrada estrangeira de capitais, serviços e bens.
1 Designa a tendência atual das grandes empresas a delegar parte de seu poder a filiais espalhadas pelos quatro cantos do mundo. Com
efeito, para melhorar sua competitividade, as multinacionais confiam suas filiais a administradores autóctones, mais aptos a perceber as
especificidades locais nos métodos de gestão e de produção (globalização + localização). (BENKO, 1996).
Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,
mais informações www.videoaulasonline.com.br
42
|
Geografia Humana e Econômica
Blocos econômicos: o caso do Mercosul
O Mercado Comum do Sul (Mercosul) aparece num cenário internacional aparentemente regido por
duas tendências de relações: regionais e globais. Esses fenômenos são mais convergentes que divergentes,
na medida em que o processo de regionalização se mostra como uma etapa para a globalização. Os países
não deixam de comercializar individualmente com países de outros blocos. O fato de um país participar de
mais de um bloco econômico permite trocas e intercâmbio de forma bilateral com distintos parceiros.
A necessidade de uma crescente ampliação de mercado para o funcionamento da ideologia capitalista faz com que os grandes grupos econômicos ultrapassem as fronteiras de seus países e concentrem
a renda internacional. Esse movimento político-econômico cada vez mais complexo é respaldado pelos
governos de países centralizadores, como os Estados Unidos e Inglaterra, por exemplo. Os grandes grupos financeiros e produtivos se utilizam então do escudo de seus países para garantir sua manutenção
ao mesmo tempo em que se lançam no mercado internacional exigindo abertura comercial por parte
dos países menos estruturados industrialmente, o que caracteriza uma relação global assimétrica.
A hierarquia internacional de poder hoje, mais do que nunca, é balizada pela economia e pela
alta tecnologia2. Após a Guerra Fria, com a quase hegemonia do sistema capitalista, a Europa e o Japão
puderam desenvolver seus setores produtivos como um todo e fortalecer suas autonomias frente às
relações internacionais. Em outras palavras, houve uma pluralização do poder internacional, no qual
o padrão mundial passou a ser ditado por uma disputa mais horizontal, resultando num enfraquecimento relativo das partes e na possibilidade de emergência de acordos de abertura comercial regionais.
O Mercosul surge nesse contexto representado inicialmente por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai,
conforme representação da figura a seguir, com o intuito de construir um mercado comum frente às
crises da década de 1980. A formalização do Mercosul aconteceu a partir da assinatura do Tratado de
Assunção em 1991.
Temática Cartografia.
Configuração do Mercosul em 1991
2 A partir dos anos 1970 o conceito de alta tecnologia tornou-se primordial na literatura de Geografia Industrial, mas permanece relativamente
vago. A tecnologia pode definir-se como a sistematização dos conhecimentos e das técnicas que permitem à indústria realizar concretamente
uma produção. A alta tecnologia simboliza o grau de aperfeiçoamento do produto realizado. (BENKO, 1996).
Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,
mais informações www.videoaulasonline.com.br
Globalização
|
43
A configuração espacial atual do Mercosul visa a incorporação de novos países, que são divididos
em três categorias: os observadores, que pretendem estabelecer participação e estreitar relações com o
bloco; os países-membros, que efetivamente participam e são signatários do bloco e os países associados ao bloco econômico, que apresentam objetivos relativamente comuns com os países-membros e
se caracterizam por movimentos econômicos próximos ao bloco. Tal mudança espacial pode ser observada pela entrada da Venezuela em 2005, que protocolou seu pedido de adesão ao Mercosul em 4 de
julho de 2006. Os países associados, que são a Bolívia e o Chile com entrada em 1996, além do Peru em
2003 e a Colômbia e o Equador em 2004. Como o único país observador temos representado o México.
Na composição dos países-membros do Mercosul, podemos citar: o Uruguai, o Brasil, a Argentina e o
Paraguai. A seguir a figura apresenta a configuração do Mercosul do ano de 2007.
Temática Cartografia
Configuração do Mercosul em 2007
O interesse em avançar nas negociações, entretanto, emerge neste momento como uma tentativa de contraponto à Área de Livre Comércio das Américas, a Alca. Sobre a situação do Mercosul,
podemos incidir que um de seus acordos importantes refere-se à questão aduaneira, na medida em
que serve para a manutenção da identidade do bloco, como uma tentativa de assumir uma economia
forte e capaz de atingir mercados externos na competição comercial. A Alca, por exemplo, não prevê
a união aduaneira, meta esta atualmente imperfeita para muitos países. Além da questão aduaneira,
o Tratado de Assunção prevê a constituição de um mercado comum, com livre circulação de todos
os fatores produtivos, inclusive a mão-de-obra. Os avanços da produção industrial e áreas comerciais,
porém, encontram-se extremamente limitados. A etapa preliminar de harmonização das legislações
nacionais encontra-se ainda em estágio incipiente. Enfim, pouco se avançou nos acordos intra-regionais
e segundo avaliações recentes. O Mercosul vem privilegiando as negociações de acesso ao mercado de
bens em determinados setores de produção: calçados e eletrodomésticos.
Optou-se por uma via facilitada de integração, essencialmente comercialista, evitando a cessão de
soberania que decorria da questão de políticas comuns, bem como da implementação de instituições
de natureza supranacional. A análise leva a conclusão, então, de que a Alca efetivamente pode diluir
o Mercosul no âmbito hemisférico, pois a identidade mais visível dessa relação regional é o comércio.
Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,
mais informações www.videoaulasonline.com.br
44
|
Geografia Humana e Econômica
Logo, para sua preservação, faz-se necessário aprofundar a integração sub-regional em campos não
exclusivamente comerciais. Em 1997, o governo argentino apresentou uma proposta no sentido de que
a integração deve avançar em campos como o da adoção de uma política de defesa e segurança comum,
e até mesmo uma moeda única, com vistas a fortalecer o Mercosul, enquanto espaço econômico e
político comum. Esses assuntos presentes hoje nos debates políticos poderiam indicar um interesse
pela preservação e fortalecimento do bloco por parte dos países-membros.
Segundo Mônica Arroyo, um elemento importante para análise do processo de integração
econômica é o Mercosul, pois representa o caso de um dilema ainda não resolvido3. A posição política
de intervenção assumida pelos governos dos países-membros do bloco seguem dois caminhos possíveis e necessários: o primeiro implica em uma elevada desregularização das atividades econômicas,
simultaneamente a uma reestruturação orientada pelos mecanismos do mercado. Essa opção pode
resultar em graves custos sociais e em um aprofundamento do esquema da especialização intersetorial, que consiste fundamentalmente no processo dos países estabelecerem acordos e associações em
segmentos industriais, marcados por setores especializados e efetivos na economia nacional. A outra
via, que está cada vez mais no centro da experiência internacional, exige uma regularização estatal com
políticas industriais e tecnológicas ativas em cada país e um esforço deliberado da harmonização das
políticas econômicas além do plano cambial. O Estado parece ser o único com o poder de facilitar a participação de todos os agentes econômicos no processo de integração, fundamentalmente das pequenas e médias empresas, pois é ele que legisla ações e proposições e estabelece uma agenda política
junto aos parceiros do bloco.
Economias mundiais
O novo contexto econômico mundial, segundo Sedi Hirano, pode ser entendido a partir do fim
da bipolarização do poder entre o leste e o oeste do mundo (capitalismo x socialismo) no período
iniciado nos anos 1990. A nova ordem econômica mundial é marcada pela formação de megablocos
geoeconômicos e configuram assim três regiões de atuação do capitalismo. O autor descreve a pax
americana, a pax européia e a pax do Pacífico4. A interpretação para o termo Pax, pode ser entendida através
da representação do período da paz do mundo, após a II Guerra Mundial, configurando grandes áreas e/
ou agrupamentos espaciais reconhecidos no mundo. Para facilitar a espacialização dessas áreas, podemos
observar a seguir, o esboço da organização geopolítica da “nova ordem” mundial desenhado por Zbigniew
Brzezinski, conselheiro especial para assuntos de segurança nacional do presidente norte-americano Jimmy
Carter (1976-1980). Publicado originalmente no documento Word Media – A nova Desordem Mundial.
3 Arroyo, Monica. Mercosul: novo território ou ampliação de velhas tendências. In: SANTOS, M. et al (org). O Novo Mapa do Mundo. Globalização
e Espaço Latino Americano. 3. ed. São Paulo: Hucitec-anpur, 1997. (p. 122-131).
4 Hirano, Sedi. A América Latina no novo contexto mundial. In: SANTOS, M. et al (Org). O Novo Mapa do Mundo. Globalização e Espaço Latino
Americano. 3. ed. São Paulo: Hucitec-anpur, 1997. (p. 28-44).
Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,
mais informações www.videoaulasonline.com.br
Globalização
|
45
Temática Cartografia.
A Nova Ordem Multipolar
Enquanto no passado havia dois pólos político-ideológicos em permanente conflito, hoje o foco é
a globalização e a regionalização econômica e social. Nessa nova ordem sobressaem-se dois conceitos:
o de mercado e o de democracia, tendo ambos os conceitos fundamentos na liberdade. Na democracia,
a liberdade traz implícita a necessidade de igualdade e de justiça nas relações sociais, políticas e
econômicas, o que, em tese, deve levar à construção das sociedades justas.
Atualmente, a globalização e a regionalização fundamentam-se sobretudo na idéia de interdependência de mercados, com preponderância do sentido econômico sobre o cultural. O mercado e a democracia necessitam de regras estáveis e o capitalismo moderno precisa de trabalhadores livres e assalariados, assim como de empresas estáveis e livres para interagir entre si, o que só se consegue por meios
“pacíficos”, tais como as relações de trocas e cooperações científicas e tecnológicas, por exemplo.
Implicações espaciais das atividades
econômicas sob a visão do capitalismo
O capitalismo da pax européia teve início com a internacionalização da economia promovida
pela Inglaterra, a qual, enquanto detinha a supremacia de investimentos de capitais, considerava
países como Argentina e Brasil celeiros do mundo. Toda a produção dos países do terceiro mundo era
destinada à indústria manufatureira britânica. Essa forma de capitalismo favoreceu a criação de grupos oligárquicos no interior dos países do terceiro mundo, gerando grandes desigualdades sociais e
econômicas, afinal os trabalhadores estavam sujeitos a condições de trabalho subumanas nas fazendas
de café e pecuária, engenhos e outras formas de produção. Outra conseqüência nos países periféricos
foi a imigração maciça de europeus, de forma que o desenvolvimento nos países da América Latina foi
baseado na importação de mão-de-obra e na conseqüente marginalização das populações locais.
O capitalismo da pax americana desenvolveu-se após a Primeira Guerra Mundial e tornou-se
hegemônico após a Segunda Guerra Mundial, tendo início com o fordismo5. Os impérios coloniais
5 Da lógica tayloriana nasceu o fordismo (com o nome de seu conceptor, Henry Ford), que constitui uma forma organizacional distinta. Ele cria
o principio da cadeia contínua, que implica submissão à cadeia do conjunto de máquinas. (BENKO, 1996, p. 236).
Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,
mais informações www.videoaulasonline.com.br
46
|
Geografia Humana e Econômica
capitalistas perderam a sua importância estratégica diante do novo padrão de acumulação6, porque
sua acumulação de capital não dependia do mercado externo. Precisava somente do auxílio da forte
articulação interna para a produção de manufaturados, caracterizado por um capitalismo autônomo.
Essa autonomia é assegurada pela expressiva demanda interna, que lhe dá independência para a
formação dos preços. Houve um aumento do comércio e dos investimentos de capitais dos países do
Hemisfério Norte no próprio Hemisfério Norte, excluindo o Sul. Os países do Hemisfério Sul se integraram
à economia do Norte, deixando de desenvolver o intercâmbio entre países Sul-Sul.
Podemos citar ainda que o capitalismo da pax americana, centrado na lógica da acumulação intensiva do capital e na divisão interindustrial do trabalho, provocou enorme concentração dos investimentos estrangeiros nos países da América Latina, através do processo de transnacionalização da economia,
acentuando assim as desigualdades econômicas, sociais e políticas. A fase de expansão territorial das empresas norte-americanas desenvolveu na América Latina uma política de incentivo e facilidade ao capital
estrangeiro, tornando o mercado interno latino-americano dependente do mercado externo.
A industrialização observada no Brasil e na Argentina, baseada nas exportações de matérias-primas
e não-manufaturadas, demonstra que a industrialização nesses países é uma simples adaptação à nova
forma de dependência controlada pelos países desenvolvidos. Um dos resultados desse capitalismo foi
o endividamento dos países da América Latina. Essa nova reorganização espacial da produção industrial das multinacionais em regiões periféricas ocasionou falência das pequenas empresas nacionais.
Nessa nova ordem econômica mundial há proeminência da economia dos Estados Unidos e o aprofundamento da internacionalização do capital. O processo de transnacionalização dos grupos econômicos
gerou, na década de 1980, um retrocesso econômico na América Latina, não havendo modernização do
modelo de desenvolvimento7 econômico.
O capitalismo da pax do Pacífico, também está associado ao fenômeno de globalização da economia entre o fim dos anos 1980 e início dos anos 1990, ocasionando uma grande discussão em volta da
globalização e da regionalização, em amplitude e escala, com os seguintes elementos: a posição central
do comércio exterior no mercado internacional e os investimentos estrangeiros diretos; a articulação entre os países, visando a integração através da regionalização da economia como movimento de defesa
contra a competitividade global; a formação de megablocos econômicos, a partir da década de 1990; a
“regionalização aberta” da Ásia, em torno da Associação de Cooperação Econômica (APEC); a importância decisiva da terceira revolução comercial (avanço tecnológico – semicondutores); a mudança do eixo
geoeconômico do centro dinâmico do Atlântico para o Pacífico; o marco da nova divisão do trabalho
(robotização). Para completar os elementos envoltos na idéia de regionalização da economia, podemos
citar a mudança da mobilidade e acumulação ampliada da transnacionalização para a globalização.
6 As sociedades capitalistas se caracterizam, segundo as épocas, por diferentes formas de acumulação. Um regime de acumulação designa
urna forma de alocação das riquezas sociais criadas, que asseguram correspondência mais ou menos bem estabelecida entre as transformações
das condições da produção e a evolução da demanda social: esse equilíbrio não é um equilíbrio natural. (BENKO, 1996, p. 225).
7 Apresenta-se como a conjunção de três aspectos compatíveis: uma forma de organização do trabalho (um paradigma industrial), uma
estrutura macroeconômica (um regime de acumulação) e um conjunto de normas implícitas e regras institucionais (um modo de regulação).
(BENKO, 1996, p. 243).
Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,
mais informações www.videoaulasonline.com.br
Globalização
|
47
Texto complementar
O mundo tal como nos fazem crer: a globalização como fábula
(SANTOS, 2000. p. 18-20)
Este mundo globalizado, visto como fábula, erige como verdade um certo número de fantasias,
cuja repetição, entretanto, acaba por se tornar uma base aparentemente sólida de sua interpretação
(Maria da Conceição Tavares, Destruição não-criadora, 1999).
A máquina ideológica que sustenta as ações preponderantes da atualidade é feita de peças
que se alimentam mutuamente e põem em movimento os elementos essenciais à continuidade do
sistema. Damos aqui alguns exemplos. Fala-se, por exemplo, em aldeia global para fazer crer que a
difusão instantânea de notícias realmente informa as pessoas. A partir desse mito e do encurtamento das distâncias – para aqueles que realmente podem viajar – também se difunde a noção de tempo
e espaço contraídos. É como se o mundo se houvesse tornado, para todos, ao alcance da mão. Um
mercado avassalador dito global é apresentado como capaz de homogeneizar o planeta quando,
na verdade, as diferenças locais são aprofundadas. Há uma busca de uniformidade no serviço dos
atores hegemônicos, mas o mundo se torna menos unido, tornando mais distante o sonho de uma
cidadania verdadeiramente universal. Enquanto isso, o culto ao consumo é estimulado.
Fala-se, igualmente com insistência, na morte do Estado, mas o que estamos vendo é seu fortalecimento para atender aos reclamos da finança e de outros grandes interesses internacionais, em
detrimento dos cuidados com as populações, cuja vida se torna mais difícil.
Esses poucos exemplos, recolhidos numa lista interminável, permitem indagar se, no lugar do
fim da ideologia proclamada pelos que sustentam a bondade dos presentes processos de globalização, não estaríamos, de fato, diante da presença de uma ideologização maciça, segundo a qual a
realização do mundo atual exige como condição essencial o exercício de fabulações.
O mundo como é: a globalização como perversidade
De fato, para a grande maior parte [sic] da humanidade a globalização está se impondo como
uma fábrica de perversidades. O desemprego crescente torna-se crônico. A pobreza aumenta e as
classes médias perdem em qualidade de vida. O salário médio tende a baixar. A fome e o desabrigo
se generalizam em todos os continentes. Novas enfermidades como a AIDS se instalam e velhas doenças, supostamente extirpadas, fazem seu retorno triunfal. A mortalidade infantil permanece a despeito dos progressos médicos e da informação. A educação de qualidade é cada vez mais inacessível.
Alastram-se e aprofundam-se males espirituais e morais, como o egoísmo, o cinismo e a corrupção.
A perversidade sistêmica que está na raiz dessa evolução negativa da humanidade tem relação com a adesão desenfreada aos comportamentos competitivos que atualmente caracterizam
as ações hegemônicas. Todas essas mazelas são direta ou indiretamente imputáveis ao presente
processo de globalização.
Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,
mais informações www.videoaulasonline.com.br
48
|
Geografia Humana e Econômica
Atividades
1.
Qual é a idéia que se tem quando se fala em formação de blocos econômicos?
2.
Quais são os principais aspectos que formam a hierarquia internacional do poder nos dias de hoje?
3.
Como podemos descrever as configurações atuais do Mercosul?
Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,
mais informações www.videoaulasonline.com.br
Gabarito
Globalização
1.
A idéia de um forte elemento para a globalização, na direção em que soma esforços de países em
blocos que aumentam sua potência e o seu poder econômico e político.
2.
As capacidades econômicas e tecnológicas dos países, o desenvolvimento dos setores produtivos,
a alta competitividade e a padronização industrial.
3.
O Mercosul apresenta uma configuração dividida em categorias, como a categoria de países observadores, a categoria de países-membros e a categoria de países associados ao bloco econômico.
Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,
mais informações www.videoaulasonline.com.br
Download