5º Imagem da Semana: Radiografia de Tórax - Unimed-BH

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5º Imagem da Semana: Radiografia de
Tórax
Imagem 1: Radiografia de tórax em incidência ântero-posterior.
Recém nascido, masculino, 28 dias de vida, IG: 36 semanas, PN:2.850g, em
aleitamento materno exclusivo, assintomático, porém sem evacuar há 4 dias.
Mãe administrou óleo mineral por considerar que a criança estava com
constipação intestinal e, logo após, observou que ela ficou cianótica. Foi
entubado pelo SAMU e deu entrada no PA do HC em cerca de 4 horas, onde foi
diagnosticada Pneumonia Lipoídica por aspiração de óleo mineral.
Imagem 2: Extensa opacificação de todo o hemitórax esquerdo, de aspecto
homogêneo, caracterizando padrão alveolar. A borda cardíaca permanece bem
definida (sinal da silhueta em reverso (1)), mas o contorno do diafragma está
borrado (sinal da silhueta (2)), indicando comprometimento do lobo inferior.
Nota-se opacificação menos extensa na base do hemitórax direito, discretamente
heterogênea, caracterizando padrão misto, com borda cardíaca bem definida e
pequeno borramento do diafragma próximo ao seio cardiofrênico (junto ao
coração), também mostrando comprometimento do lobo inferior. Nesta
topografia, percebe-se consolidação com broncograma aéreo de permeio (3).
Diagnóstico:
LETRA A: sinal da silhueta: É a indefinição radiológica dos limites de duas
estruturas contíguas e com densidades semelhantes que se encontram no
mesmo plano anatômico. Na radiografia, é possível visualizar o sinal da silhueta
com a borda diafragmática esquerda.
LETRA B: sinal da silhueta em reverso: Corresponde à opacidade das estruturas
contíguas, mas sem apagamento do contorno desses órgãos, pois não se
encontram no mesmo plano anatômico. Na radiografia, é possível visualizar o
sinal da silhueta em reverso com a borda cardíaca esquerda.
LETRA C: broncograma aéreo: Quando o parênquima circunjacente está
preenchido por fluido, o brônquio é visualizado como tubos radiotransparentes
com ar. São estruturas dispersas e lineares, geralmente presentes na
consolidação pneumônica e edema pulmonar.
LETRA D: sinal da vela: É a resposta. É um achado normal em crianças até 5
anos e decorre de um formato peculiar do timo, que apresenta uma configuração
triangular da silhueta mediastinal superior, sendo mais comum à direita.
Discussão do caso:
Pneumonia Lipoídica exógena resulta da aspiração, ingestão ou inalação de
substâncias oleosas, de origem vegetal, animal ou mineral. Os principais fatores
de risco são doença esofágica, doença neurológica que interfere na deglutição e
extremos de idade. A gravidade depende do tipo de óleo, do volume aspirado e
da cronicidade. O óleo mineral e animal causam danos mais extensos e o vegetal
é relativamente inócuo. O óleo mineral, usado para constipação intestinal, inibe a
função do epitélio muco-ciliar, não estimula o reflexo da tosse, pois não irrita a
mucosa da faringe, e não pode ser metabolizado por enzimas. É emulsificado e
fagocitado por macrófagos, formando células gigantes e fibrose. O paciente pode
apresentar febre moderada, dispneia, taquipneia, dor torácica, perda de peso,
anorexia, hemoptise, calafrios, hipoxemia, cianose, roncos, sibilos e crepitações
na ausculta pulmonar, mas cerca de metade dos casos são assintomáticos e são
diagnosticados ao acaso. Os achados radiográficos são pouco específicos,
simulando pneumonia bacteriana, tuberculose ou tumor pulmonar, e variam de
opacidade perihilar a extensas áreas de consolidação com broncograma aéreo
que predominam nas porções inferiores e posteriores dos pulmões e podem ser
difusos ou nodulares. Na forma crônica da pneumonia, há uma fibrose
considerável que causa contração do pulmão afetado, compressão alveolar e,
com frequência, compressão e obliteração brônquica. Ao exame do escarro ou
lavado brônquico encontra-se macrófagos contendo lipídeos. O lavado bronco
alveolar pode apresentar função terapêutica.
É importante destacar que o óleo mineral pode ser usado para tratamento de
constipação intestinal, mas, dado o risco de desenvolver pneumonia lipoídica,
deve-se prescrever hidróxido de magnésio ou polietilenoglicol sem eletrólitos e
indicá-lo apenas como hidratante, com uso tópico. Vale lembrar, que a criança
em aleitamento materno exclusivo pode ficar 5 a 7 dias sem evacuar, mas isso
não é considerado constipação intestinal se as fezes permanecerem pastosas e
não houver distensão abdominal excessiva ou vômitos.
Sobre a técnica de imagem:
O aparelho de Raios-X móvel é útil, pois evita que o paciente acamado seja
transportado ao setor de radiologia do hospital. A qualidade da imagem obtida
através do aparelho portátil é inferior à de uma realizada na sala de exame
radiológico, pois a ausência da grade anti-difusora (filtra a radiação secundária),
distância inferior à necessária, que é de 1,8m, e o posicionamento do paciente
em AP e decúbito quando deveria ser em ortostatismo e em PA diminuem o
contraste da imagem. Outra desvantagem do uso do aparelho de raios x portátil
é a exposição dos demais pacientes à radiação secundária.
Aspectos relevantes:
- Causa comum: óleo mineral para tratamento de constipação intestinal.
- Prescrever hidróxido de magnésio ou polietilenoglicol sem eletrólitos em casos
de constipação intestinal.
- Óleos minerais inibem ou não estimulam mecanismos de defesa das vias
aéreas.
- Fatores de risco: doença esofágica, doença neurológica que interfere na
deglutição e extremos de idade.
- Principais sintomas: febre moderada, dispneia, taquipneia, dor torácica, perda
de peso, anorexia, hemoptise, calafrios, hipoxemia, cianose.
- Achados radiográficos são pouco específicos.
- Diagnóstico diferencial com pneumonia bacteriana, tuberculose e tumor
pulmonar.
Referências:
- BARON, SE; HARAMATI, LB; RIVERA, VT. Radiological and clinical findings
in acute and chronic exogenous lipoid pneumonia. Journal of Thoracic
Imaging. v. 28. p. 217-224. 2003
- CECIL, Russell L; GOLDMAN, Lee.; AUSIELLO, Dennis. Cecil medicina. 23.ed.
v.2 Rio de Janeiro: Elsevier, 2009
-
MONNIER,
Jean-Pierre;
TUBIANA,
J.
M. Manual
de
diagnostico
radiológico. 5. ed. Rio de Janeiro: MEDSI, 1999.
- SIAS, S. M. A. ; QUIRICO-SANTOS, T. Pneumonia lipóide na criança revisão da literatura. Pulmão RJ, v. 1, p. 9-16, 2009.
Responsável:
Fabiana Resende, acadêmica do 7º período
E-mail: fabianaresende1[arroba]gmail.com
de
Medicina
-
UFMG.
Gabriela Avelar, acadêmica do 3º período de Tecnologia em Radiologia – UFMG.
E-mail: gabiavelarr[arroba]gmail.com
Renato Oliveira, acadêmico do 3º período de Tecnologia em Radiologia – UFMG.
E-mail: datonett[arroba]gmail.com
Orientadores:
Dr. Cássio Ibiapina - Prof do Departamento de Pediatria da Faculdade de
Medicina
da
UFMG.
Dra.Fabiana Paiva - Professora do Departamento de Propedêutica Complementar
da FM -UFMG e coordenadora do Setor de TC do HC-UFMG.
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