UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA JULIANA CAMPOS DE JESUS Aquisição e generalização de mandos aprendidos através do PECS (Sistema de comunicação por troca de figuras) em crianças autistas Belo Horizonte 2013 JULIANA CAMPOS DE JESUS Aquisição e generalização de mandos aprendidos através do PECS (Sistema de comunicação por troca de figuras) em crianças autistas Dissertação submetida ao programa de PósGraduação em Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais, como parte dos requisitos para a obtenção do título de mestre em Psicologia. Área de concentração: Psicologia do Desenvolvimento Humano Orientadora: Profa. Dra. Thaís Porlan de Oliveira Belo Horizonte, 2013 Banca Examinadora: Profa. Dra. Thaís Porlan de Oliveira (UFMG) Prof. Dr. Edson Massayuki Huziwara (UFMG) Prof. Dr. Carlos Barbosa Alves de Souza (UFPA) Dedico este trabalho aos portadores de necessidades especiais, em especial aos autistas, que passaram e passarão em meus cuidados. Agradecimentos A Deus, por me abençoar nessa caminhada! À Lara, meu grande amor e motivo de tudo! Difícil encontrar palavras para tal agradecimento. Obrigada pelo apoio incondicional, pelo envolvimento e compreensão. Por tantas vezes suportar minha ausência nesses dois anos com maturidade e afeto. Por acreditar e apoiar meus projetos e sonhos! Aos familiares pelo incentivo, em especial a meu pai pela acolhida em Belo Horizonte e a Gustavo, meu irmão, pelo companheirismo. À Thais Porlan, professora e orientadora de presença “reforçadora”, que me guiou pelas trilhas deste conhecimento aprendido e produzido! Ao professor Roosevelt R. Starling por me ensinar e me fazer encantada pela Análise do Comportamento. Aos amigos do grupo de estudo: Anna Passarelli, Junio Resende, Marcela Morais, Robson e em especial aos estagiários Xilander e Rafael, pela dedicação até o fim e ao Junio pela colaboração nos gráficos. Aos amigos da APAE de Conselheiro Lafaiete, pelo apoio, torcida e principalmente à Sidméia por acreditar no meu trabalho! Às amigas do mestrado, Eunayara, Mônica, Aline, Carol, Sheila, Marina, a turminha do Desenvolvimento! Nossos cafés no meio da tarde, entre as aulas, serão lembrados para sempre, principalmente quando tiver bolo de chocolate! À Erica Acosta, pela escrita do “Abstract”, D. Avelina pela dedicação nas correções e Viviane pela ajuda nas configurações finais. Aos funcionários da Fundação Dom Bosco, que abriram as portas da instituição para que eu realizasse esse trabalho, principalmente às professoras Renata e Isabel, sempre dedicadas, que também participaram das coletas. Aos mestres do Programa de Pós Graduação em Psicologia, Cláudia Cardoso Martins, Maycoln Leoni Teodoro e Ângela Pinheiro, pelo incentivo e colaborações. Ao Toninho, pela presença sempre motivadora e de muita paz! Sua presença na minha vida foi essencial para que eu vencesse mais esta batalha com serenidade. Às crianças e seus familiares, pela confiança no meu trabalho e pela oportunidade de aprender um pouco mais sobre esse universo tão desafiador e motivante que é o autismo. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pelo incentivo financeiro que possibilitou essa jornada! Sem todos vocês este trabalho teria sido impossível! "Somos diferentes, mas não queremos ser transformados em desiguais. As nossas vidas só precisam ser acrescidas de recursos especiais". (Peça de teatro: Vozes da Consciência, BH). RESUMO Jesus, J. C. Aquisição e generalização de mandos aprendidos através do PECS (Sistema de comunicação por troca de figuras) em crianças autistas. Programa de Pós-graduação em Psicologia. Universidade Federal de Minas Gerais. Palavras-chave: autismo, comportamento verbal, generalização, mandos O objetivo deste estudo foi promover a aquisição e investigar a generalização de mandos por crianças autistas, às quais foram ensinadas as três primeiras fases do Sistema de Comunicação por Intercâmbio de Figuras (Picture Exchange Communication System - PECS). Autismo se caracteriza por prejuízos severos e invasivos em diversas áreas do desenvolvimento, tais como: interação social, comunicação e presença de comportamentos, interesses e atividades estereotipados. Em relação à comunicação, as intervenções para desenvolver uma comunicação funcional devem ser prioridades na intervenção, tendo em vista que 30 a 50% dos afetados pelo transtorno não desenvolvem nenhuma fala natural. Participaram do estudo quatro crianças autistas, selecionadas por apresentarem déficits significativos na comunicação com os outros. O estudo implementou as três primeiras fases do PECS para o ensino de respostas de mandos em um sistema de intercâmbio de cartões com representações fotográficas de estímulos reforçadores. Foram registradas as respostas de mando dos participantes durante e após a intervenção em dois diferentes contextos (escola e residência). Os resultados mostraram que a intervenção foi efetiva em promover a aquisição de mandos e que essa habilidade se generalizou do ambiente de ensino para os dois outros ambientes para três crianças. ABSTRACT Jesus, J. C. Acquisition and generalization of learned mands through the PECS (Picture Exchange Communication System) in autistic children. Master dissertation. Pos-Graduation Program on Psychology. Federal University of Minas Gerais. The purpose of this dissertation is to promote the acquisition and investigate the generalization of mands by autistic children, which were taught the first three phases of the Picture Exchange Communication System (PECS). Autism is characterized by severe and pervasive damage in several areas of development, such as: social interaction, communication and the presence of stereotyped behaviors, interests and activities. Taking into consideration that 30 to 50% of those affected by the disorder do not develop any natural speech, interventions with the purpose of developing a functional communication should be a priority in the treatment of autistic children. The study included four children diagnosed with autism who were chosen to take part in the research because they presented significant deficits in verbal performance. The study implemented PECS to teach responses to mands in a system of exchanging cards with photographic representations with reinforcing stimuli. We recorded the responses to mands during and after the intervention in two different environments (home and school). The results showed that the intervention was effective in promoting the acquisition of mands and that this skill which was acquired in a learning environment was spread to the other two environments (home and school) for three children. One child did not acquire the repertoire of mands with the teaching of PECS. Key-words: autism, verbal behavior, generalization, mands LISTA DE FIGURAS Figura 1 Situação de Ensino 1:1 Figura 2 Espaços estruturados da sala de aula TEACCH Figura 3 Materiais de comunicação alternativa e suplementar Figura 4 Esquema do arranjo experimental da Fase I Figura 5 Esquema representando a troca de figura na Fase II Figura 6 Modelo do tablado de comunicação utilizado na Fase III Figura 7 Modelo de formação de sentença na Fase IV Figura 8 Modelo do tablado de comunicação na Fase VI Figura 9 Exemplo de prancha de comunicação com símbolos - PCS Figura 10 Percentual de repostas independentes por sessão de todos os participantes na fase I do PECS Figura 11 Percentual de respostas independentes de P1 por sessão nas fases 1, 2, 3 e 3+ Figura 12 Percentual de respostas independentes de P2 por sessão nas fases 1, 2, 3 e 3+ Figura 13 Percentual de respostas independentes de P3 por sessão nas fases I e II Figura 14 Percentual de respostas independentes de P4 por sessão nas fases 1, 2, 3 e 3+ Figura 15 Número de mandos generalizados por P1 nos ambientes escolar e doméstico Figura 16 Número de mandos generalizados por P2 nos ambientes escolar e doméstico Figura 17 Número de mandos generalizados por P4 nos ambientes escolar e doméstico LISTA DE TABELAS Tabela 1 Déficits no desenvolvimento de crianças autistas Tabela 2 Operantes verbais elementares e suas variáveis de controle Tabela 3 Operantes verbais múltiplos e suas variáveis de controle Tabela 4 Caracterização dos participantes Tabela 5 Sequência geral do procedimento Tabela 6 Avaliação de preferência de estímulos para todos os participantes Tabela 7 Avaliação de preferência de estímulos para P3 e P4 Tabela 8 Estruturas das fases Tabela 9 Tempo necessário para alcançar critério do PECS por cada participante em cada uma das fases Tabela 10 Mandos generalizados na escola por P1 Tabela 11 Mandos generalizados em casa por P1 Tabela 12 Mandos generalizados na escola por P2 Tabela 13 Mandos generalizados em casa por P2 Tabela 14 Mandos generalizados na escola por P4 Tabela 15 Mandos generalizados em casa por P4 LISTA DE SIGLAS AAC Augmentative and Alternative Communication ABA Analysis Behavior Applied ABLLS Assessment of Basic Language and Learning Skills APA American Psychiatric Association CARS The Childhood Autism Rating Scale COEP Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos CSA Comunicação Suplementar e/ou Alternativa CV Comportamento Verbal DSM Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders DTT Discrete Trial Training ISAAC International Society for Augmentative and Alternative Communication MSWO Avaliação de preferência entre múltiplos estímulos NVIQ Quociente Intelectual não-verbal OE Operação Estabelecedora PCS Símbolos de Comunicação Pictória PECS Picture Communication System PEP- R Perfil Psicoeducacional Revisado QI Quociente Intelectual TEA Transtorno do Espectro Autista TEACCH Treatment and Education of Autistic Handicapped Children TID Transtorno Invasivo do Desenvolvimento UFMG Universidade Federal de Minas Gerais and Related Communication ANEXOS 1. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 2. Avaliação de Estímulos Múltiplos sem substituição (MSWO) 3. Folha de Registro - Treinos Individuais (Fase I) 4. Folha de Registro - Treinos Individuais (Fase II e III) 5. Protocolo de Registro de Mandos 6. Anamnese Infantil 7. Figuras (estímulos visuais) SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 16 Transtorno do Espectro Autista ............................................................................................ 16 Desenvolvimento e Linguagem ........................................................................................... 18 Linguagem: Comportamento Verbal .................................................................................... 21 Os operantes verbais ............................................................................................................ 23 A importância do mando ...................................................................................................... 27 Intervenções ......................................................................................................................... 30 Análise do Comportamento Aplicada – ABA .................................................................. 31 A importância da generalização ..................................................................................... 33 Treinamento por tentativas discretas – DTT ................................................................... 34 Método de Tratamento e Educação para autistas e crianças com déficits relacionados à comunicação - Método TEACCH.................................................................................... 35 Comunicação Suplementar e/ou Alternativa: Picture Exchange Communication System (PECS) ............................................................................................................................ 37 Fases do PECS ................................................................................................................ 40 Objetivos .............................................................................................................................. 51 MÉTODO ................................................................................................................................. 52 Participantes ......................................................................................................................... 52 Instrumentos utilizados ........................................................................................................ 53 Material e estímulos ............................................................................................................. 55 Situação Experimental ......................................................................................................... 56 Procedimento Geral ............................................................................................................. 57 Avaliação Inicial .................................................................................................................. 57 Linha de base .................................................................................................................. 60 Intervenção...................................................................................................................... 61 Concordância entre observadores .................................................................................. 66 Generalização ................................................................................................................. 66 RESULTADOS ......................................................................................................................... 68 Linha de Base....................................................................................................................... 68 Avaliação Inicial .................................................................................................................. 68 Aquisição das respostas nas fases I a III+ do PECS ............................................................ 69 Generalização....................................................................................................................... 77 Mandos generalizados por P1 ........................................................................................ 78 Mandos generalizados por P2 ........................................................................................ 81 Mandos generalizados por P4 ........................................................................................ 85 DISCUSSÃO ............................................................................................................................ 89 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................... 102 ANEXOS ................................................................................................................................ 117 Transtorno do Espectro Autista De acordo com as descrições do DSM-IV-TR (American Psychiatric Association APA, 2002) a prevalência do autismo é de 10 em cada 10.000 sendo que a síndrome autista atinge mais pessoas do sexo masculino, ocorrendo três a quatro vezes mais em meninos do que em meninas (Rosa, 2008). Alguns estudos epidemiológicos apontam um aumento significativo na prevalência, como 2 a 5 casos em 1000 crianças (Wing & Potter, 2002) e 60 a 70 em cada 10.000 crianças no estudo de Chakrabarti & Fombonne (2001, citado por Ozonoff, Rogers & Hendren, 2003). Klin (2006) propôs algumas explicações para o aumento dos casos, entre os quais estão: (1) adoção de definições mais amplas de autismo; (2) maior conscientização entre os clínicos e comunidade sobre as diferentes manifestações de autismo; (3) melhor detecção de casos sem retardo mental, favorecidos por diagnóstico diferencial bem realizado; (4) o incentivo à identificação precoce e à intervenção, maximizando as chances de um melhor prognóstico e desenvolvimento; (5) estudos com base populacional. Os autores deixam claro que o aumento nos índices de prevalência do autismo não significa que mais indivíduos são identificados ou que a incidência geral do autismo esteja aumentando. É provável que o aumento no número de indivíduos diagnosticados se deva a um maior reconhecimento deste transtorno em crianças menos gravemente afetadas e às mudanças nos critérios diagnósticos do DSM- III para o DSM IV-TR (Martin, 2011; Ozonoff, Rogers & Hendren, 2003; Gadia, Tuchman & Rotta, 2004; Klin, 2006). O autismo faz parte da categoria dos Transtornos Invasivos do Desenvolvimento (TID) que se caracterizam por prejuízos severos e invasivos em diversas áreas do desenvolvimento, tais como: 1. interação social; 2. comunicação (verbal e não verbal) e 3. presença de comportamentos, interesses e atividades estereotipados (APA, 2002). O transtorno é descrito como um comprometimento comportamental nesta tríade, sendo a comunicação o aspecto especialmente afetado e que, muitas vezes, apresenta-se severamente prejudicada (Rosa, 2008). Atualmente o termo mais utilizado tem sido “Transtorno do Espectro Autista (TEA)”, o qual abarca o Transtorno Autista, a Síndrome de Asperger, e Transtorno Invasivo do Desenvolvimento Sem Outra Especificação. Na 5ª edição do American Psychiatric 16 Association`s Diagnostic and Statistical Manual (DSM), Transtorno do Espectro Autista tornar-se-á o diagnóstico oficial, baseado em dois domínios comportamentais: prejuízo na comunicação e interação social e desenvolvimento de interesses e comportamentos repetitivos (www.dsm5.org.; Fazzio & Martin, 2011). O novo termo (TEA) parece mais adequado devido à variabilidade encontrada nos comportamentos atípicos que caracterizam a síndrome, que se manifestam de maneira heterogênea e com diferentes níveis de gravidade. Algumas crianças podem apresentar, por exemplo, quociente intelectual dentro da variação média normal e outras retardo mental (Marteleto, Schonen-Ferreira, Chiari & Perissinoto 2011; Lampreia, 2004, 2009; Klin & Mercadante, 2006; Gadia et al., 2004). As dificuldades na interação social podem manifestar-se como isolamento social ou comportamento social inadequado, contato visual pobre, déficit na atenção compartilhada, dificuldade em permanecer e participar de atividades em grupo, demonstrações inadequadas de afeto ou ausência destas, além de falta de empatia emocional e social (Martins, 2001; Gadia et al., 2004; Llaneza et al., 2010). A interação pode melhorar ao longo do desenvolvimento, mas as dificuldades em habilidades sociais de indivíduos com TEA estarão presentes em todo curso de vida. Um problema comum para indivíduos com TEA é a falha em aprender a se comunicar. A deficiência ocorre não somente na aquisição da fala mas, também, em graus variados, no desenvolvimento da comunicação não-verbal e na expressão da linguagem (Preston & Carter, 2009; Virgile, 2009). Algumas crianças podem não aprender certas palavras enquanto outras podem nem sequer falar, pois não desenvolvem nenhuma habilidade de comunicação oral. Quando há linguagem oral, esta pode ser imatura, ecolálica, apresentar prosódia anormal ou reversão de pronomes (Martins, 2001; DSM IV-TR, 2002; Bosa & Schmidt, 2003, Gadia et al., 2004) ou desenvolver uma linguagem própria (Sundberg & Partington, 1998). Mesmo as crianças que falam, em geral apresentam algum tipo de déficit na linguagem como dificuldade em estabelecer uma conversação, falta de reciprocidade, dificuldade em compreender e interpretar expressões sutis que complementam a linguagem como piadas, sarcasmo ou expressão corporal (Llaneza et al., 2010). Outro déficit característico nos autistas são os padrões repetitivos e estereotipados dos comportamentos, tais como: resistência à mudança; insistência em seguir rotinas; apego excessivo a determinados objetos; além de estereotipias motoras e verbais como balanceio do 17 corpo, bater palmas repetidamente, sacudir as mãos, repetir frases e sons ou engajar em uma mesma atividade de escolha repetidamente, como assistir a mesma cena de um filme ou montar o mesmo quebra-cabeça (Marteleto et al., 2011; Gadia et al., 2004; DSM IV-TR, 2002, Bosa & Schmidt, 2003, Llaneza et al., 2010). Desenvolvimento e Linguagem No autismo, o desenvolvimento das habilidades linguísticas é bem diferenciado do desenvolvimento da maioria das crianças (Lampreia, 2004). O desenvolvimento anormal, atraso ou ausência total da linguagem é um dos primeiros sintomas a serem reconhecidos pelos pais e, ao mesmo tempo, um dos principais critérios para o diagnóstico do autismo. Um estudo de Chawarska e Volkmar (2005), que aborda os sintomas precoces do autismo, afirma que 30 a 54% dos pais de crianças diagnosticadas com autismo tiveram as primeiras preocupações antes dos 12 meses, e 80 a 90% reconheceram as anormalidades aos 24 meses, idade em que a maioria das habilidades linguísticas já deveria estar razoavelmente presentes (Lampreia, 2009; Landa, 2008). A tabela 1 mostra os déficits sociais, comunicativos e motores de acordo com a etapa do desenvolvimento até os 24 meses apresentados por crianças mais tarde diagnosticadas com autismo. No primeiro ano de vida, os prejuízos observados estão nas chamadas habilidades prélinguísticas como déficits no balbucio e na imitação, a realização de gestos incomuns e falta de alguns gestos como apontar, além de padrões vocais anormais e falha no contato ocular (Martins, 2001; Lampreia, 2004). Por volta dos dois anos, a criança autista costuma não utilizar palavras para se comunicar ou usa um discurso imaturo e limitado, além de ser menos propensas a fazer requisições ou compartilhar experiências. A criança pode manter e demonstrar prejuízos também na linguagem não-verbal (não-simbólica), como no uso de gestos, na expressão facial, no movimento corporal e no olhar (Martins, 2001; Lampreia, 2004). A linguagem expressiva pobre pode estar associada com alterações de outros comportamentos (Welsh, 2010) e, portanto, algumas crianças autistas podem usar formas inadequadas de comportamento para se comunicar como agressividade, autoagressão ou birras (Gadia et al., 2004; Lerman et al., 2005; Lampreia, 2007). 18 O funcionamento da comunicação da criança, assim como o nível de retardo mental, são fatores indicadores do grau de dificuldades na vida adulta. Uma criança, por exemplo, com a linguagem mais prejudicada aos cinco anos de idade, apresenta indicadores fracos na predição das habilidades na vida adulta como, por exemplo, na independência ou desempenho escolar ou laboral. Portanto, a habilidade de comunicação é um bom preditor de comportamentos adaptativos para crianças com autismo e um dos melhores parâmetros de gravidade (grau) do transtorno (Rutter, 1976 apud Lampreia, 2004; Lerman et al., 2005; Martins, 2001; Welsh, 2010; Camargos, 2012). Quanto ao grau de autismo, o Transtorno do Espectro Autista divide-se em dois grupos, que tem a comunicação diretamente como um fator de diferença entre eles: o Autismo de Baixo Funcionamento e Autismo de Alto Funcionamento (Camargos, 2012). Autistas de Baixo Funcionamento são mais prejudicados na comunicação e na socialização, além de apresentarem QI menor que 70 no teste de inteligência não verbal (NVIQ). Podem apresentar problemas de comportamento severos na interação, além de apresentarem comportamentos de auto e heteroagressão (Llaneza et al., 2010; Camargos, 2012). Os autistas de Alto Funcionamento demonstram melhores habilidades de comunicação, além de QI maior que 70 no teste de inteligência não verbal. Demonstram menor restrição de interesses, menos comportamentos repetitivos e menor limitação social. Esse grupo apresenta inteligência normal associada a comportamentos típicos do autismo como atraso na fala, fala na terceira pessoa e déficit na interação. A fala dos indivíduos de Alto Funcionamento pode ter um vocabulário normal, mas eles têm dificuldades de compreensão, usam menos conteúdo emocional na fala e são menos capazes de interpretar pistas não verbais em um diálogo (Llaneza et al., 2010; Camargos, 2012). Apesar das diferenças na compreensão e no uso da linguagem, ambos os grupos têm prejuízos de comunicação importantes que dificultam a interação social, afetiva e a independência; são, assim, beneficiados por métodos de ensino de linguagem que podem aumentar a comunicação efetiva (Llaneza et al., 2010). Considerando que 30 a 50% dos afetados pelo transtorno não desenvolvem nenhuma fala natural, a comunicação é um fator importante para diagnóstico; e as intervenções com finalidade de desenvolver uma comunicação funcional devem ser prioridade no tratamento da criança autista (Martins, 2001; Lampreia, 2004; Llaneza et al., 2010). 19 Tabela 1- Déficits no desenvolvimento de crianças autistas Déficits sociais, comunicativos e motores registrados antes dos 24 meses de idade em crianças mais tarde diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista Características Déficits registrados Déficits registrados Déficits registrados dos Comportamentais dos 6 – 12 meses dos 9 - 14 meses 20 - 24 meses Déficit na imitação; Orientação anormal à déficit no interesse por voz de outras outra criança; pessoas; Olhar para as pessoas infrequente olhar à respostas de atenção infrequente ou expressão dos outros; compartilhada relutância em fixar o Responsividade social pequena duração do infrequentes para olhar contato ocular com outras pistas não- verbais pessoas; dos outros; Iniciação social Pobre iniciativa social Interação socioemocional Ausência de expressão facial; baixa frequência do sorrir; pouca expressão emocional; Comunicação e brincar Comportamentos sensórios, motor e atenção Atraso no balbucio; menor frequência de vocalizações; Controle da postura anormal; movimentos atípicos; hipoatividade e passividade; pouca exploração de objetos; Infrequente iniciação de atenção compartilhada através do apontar ou mostrar; infrequente brincar direcionado aos outros; infrequente iniciação de atos comunicativos com propósito social; Infrequente compartilhamento de afeto Infrequente e pouca variedade de gestos convencionais; atraso na linguagem expressiva e receptiva; reduzida variedade de ações e sequências no brincar; Ações repetitivas e perseverativas; dificuldade com a atenção; anormalidades sensoriais; Infrequente solicitação para compartilhar Limitada expressão facial; infrequente oferta de conforto ou afeto; Falha ao integrar o contato ocular com outros comportamentos de comunicação; número reduzido de palavras produzidas; prosódia anormal; Comportamentos repetitivos e interesses limitados Fonte: Landa, R. (2008) 20 Linguagem: Comportamento Verbal A Análise do Comportamento estuda a linguagem como comportamento verbal, cuja forma mais comum é o comportamento vocal, a fala (Skinner, 1957/1978). Porém, o termo verbal é um termo genérico, que se aplica tanto à linguagem falada quanto às outras formas de linguagem como gestos e sinais, Braille, linguagem escrita ou uso de figuras comunicativas (Catania, 1999). Tais formas de comunicação, embora possam ter alcance a uma quantidade mais restrita de pessoas do que a fala, também são respostas verbais que podem ser analisadas da mesma forma que as respostas vocais (Fidalgo & Godoi, 2008). Na perspectiva de Skinner (1957/1978), comportamento verbal é definido como um comportamento operante. Na medida em que o indivíduo emite uma resposta operante, ele age sobre o ambiente e o seu comportamento é alterado pelas consequências, que determinarão a seleção e a probabilidade futura do comportamento ser emitido. A característica particular que individualiza um operante como verbal, diferenciando-o dos demais comportamentos operantes, é que as relações entre a resposta e o reforço provido pelo ambiente são regulados por práticas culturais. Isto é, as consequências produzidas pela resposta verbal são mediadas por um ouvinte que foi especialmente treinado pela mesma comunidade verbal do falante (Barros, 2003; Passos, 2004; Guilhardi, 2009). A expressão falante refere-se, aqui, à pessoa que emite um comportamento verbal, e ouvinte àquela que provê estímulos verbais que funcionam tanto como discriminativos para outros operantes verbais do falante e como estímulos reforçadores para os comportamentos verbais do falante. A comunidade verbal, assim, é composta por falantes e ouvintes que, nas constantes interações verbais, têm seus repertórios verbais construídos. De acordo com Skinner (1957): O comportamento verbal é modelado e mantido por um ambiente verbal – através das pessoas que respondem de certas maneiras por causa das práticas do grupo do qual elas são membros. Estas práticas e a resultante interação entre o falante e o ouvinte produzem os fenômenos aqui considerados sob rubrica de comportamento verbal (p. 226). O ouvinte, então, tem o papel fundamental na instalação e manutenção do comportamento verbal do indivíduo, exercendo dupla função: prover consequências ao seu comportamento e poder criar ocasião ou contexto para a emissão do comportamento verbal, sendo assim chamado também, por Skinner, de audiência. A audiência funciona como 21 estímulo discriminativo na presença do qual o comportamento verbal é caracteristicamente reforçado e, na presença do qual, por esta razão, é fortalecido (Skinner, 1957; Medeiros, 2002; Barros, 2003; Passos, 2004; Brino & Souza, 2005). Em uma situação de fala, como em uma conversa entre duas pessoas, cada uma delas exerce função de audiência para a outra (Catania, 1999), e as consequências que podem servir de reforçadores para o comportamento verbal durante uma interação são numerosas e variadas. Podem ser não verbais (como um gesto de confirmação com a cabeça, o recebimento de algo) ou verbais (uma resposta oral). Essas variações das consequências fazem parte do ambiente natural em que as interações acontecem a todo o momento (Catania, 1999). A audiência presente quando uma criança começa a falar, que geralmente são os pais e familiares, são responsáveis por modelar o repertório vocal inicial da criança. Essas verbalizações iniciais (balbucios) são respostas inatas, apresentadas incondicionalmente, isto é, não são falas em formas específicas e apresentadas em ocasiões específicas. A partir desse repertório inicial da criança, a audiência vai modelando as respostas verbais emitidas pela criança, gradualmente fornecendo consequências que reforçam as respostas que se aproximam cada vez mais ao comportamento verbal utilizado pela comunidade. À medida que essa modelagem ocorre e se ampliam as relações da criança nos grupos sociais, ela vai se tornando um falante e um ouvinte adaptado (Barros, 2003). Um aspecto bastante relevante do estudo do comportamento verbal de Skinner é a ênfase na função das respostas verbais e não na sua topografia. Para a compreensão do comportamento verbal, o importante é o efeito que a resposta verbal tem sobre o ouvinte, ou seja, os aspectos funcionais da relação entre falante e ouvinte, definidos pelas consequências no ambiente (Matos, 1991; Barros, 2003; Passos, 2004). Por exemplo, ao pedir alguém para desligar o ar condicionado devido ao frio, posso vocalizar, apontar ou mesmo gesticular ou apresentar expressão de frio; caso o ouvinte atenda ao meu pedido e desligue o ar condicionado. Esses comportamentos com diferentes topografias produziram a mesma consequência no ambiente: ar desligado e diminuição da sensação de frio. Para Barros (2003), na análise funcional, a investigação da aquisição e manutenção de comportamento verbal está voltada necessariamente para o exame das contingências de reforçamento mantidas pela comunidade verbal. São nas interações entre falante e ouvinte que são definidos os determinantes do comportamento. 22 Assim, ao comparar o operante verbal a outros operantes em relação à questão da topografia, Matos (1991) considerou que, “ao analisarmos o verbalizar, contudo, não há constrição (e deve ser evitada a intrusão) de qualquer topografia/anatomia; só o efeito sobre o comportamento do outro importa (...) ele é interação pura” (p. 2). Os operantes verbais Tendo em vista a perspectiva funcional sobre o comportamento verbal, Skinner (1957) criou alguns neologismos baseados nas possíveis relações funcionais entre as respostas verbais e os eventos ambientais (antecedentes e consequentes) que as produzem. Dessa forma, propiciou a classificação e a identificação didática dos chamados operantes verbais. Há, assim, operantes verbais baseados primordialmente nas relações funcionais entre as respostas verbais e os estímulos antecedentes (ecoico, cópia, ditado, textual e tato); e um operante, o mando, baseado prioritariamente na relação entre respostas e seus consequentes (Passos, 2004); além desses operantes, há categorias de respostas operantes que estão sob controle do comportamento verbal do próprio falante (intraverbal e autoclítico). O tato é uma resposta verbal (vocal ou motora) ocasionada por um estímulo discriminativo não-verbal ou certas propriedades do estímulo no ambiente (Skinner, 1957; Catania, 1999; Barros, 2003; Guilhardi, 2009; Grow & Kodak, 2010). Rotular ou nomear objetos, eventos e atividades, incluindo as relações entre itens ou eventos do ambiente do falante, são tatos. O tato tem como consequência um reforçador generalizado, como, por exemplo, um elogio provido pelo ouvinte. Exemplos comuns de tato incluem: na presença de uma maçã, a criança diz “maçã”; diante da água que cai, diz “chuva”; ou, ao sentir determinadas sensações, diz “dor”. O nome da categoria expressa justamente o fato de que o ouvinte é posto em contato com o evento que antecede e controla o comportamento verbal do falante (Matos, 1991). Um mando pode ser definido como um operante verbal no qual a resposta (vocal ou motora) é reforçada por uma consequência específica e está sob controle funcional de condições antecedentes específicas de privação ou de estimulação aversiva (Barros, 2003; Passos, 2004). Por meio da emissão de um mando, o falante obtém reforçadores específicos. Sendo assim, um pedido como “Por favor, fulano, pegue água para mim” é classificado como 23 um mando por ter a função de, diante de uma estimulação aversiva (sentir sede, no caso) produzir um comportamento do ouvinte (trazer água para o falante, no caso), que retire a estimulação aversiva. É importante considerar que, no caso de tatos e mandos, respectivamente, a presença de um objeto/evento ou a privação destes, não é suficiente para que o tato ou o mando ocorra. O operante verbal é mais provável de ocorrer em situações que, no passado, estavam presentes quando houve emissão do operante e ele foi reforçado (Lerman et al., 2005). Por exemplo, a presença de um ouvinte que reforçou o comportamento verbal no passado quando o objeto estava presente, pode se tornar uma condição de estímulo para que o operante ocorra. Esses estímulos vindos do ouvinte podem ser verbais, como “O que é isso?” (tato) ou “O que você quer?” (mando). O operante ecoico é o operante verbal que está sob controle de outro comportamento verbal, cuja topografia das respostas corresponde ponto a ponto com estímulo discriminativo (Bondy, Tincani & Frost, 2004; Guilhardi, 2009). Cita-se, como exemplo, a imitação de sons (“moo”, “ahhh”, etc.), de palavras (“biscoito”, “cachorro”, etc.) ou de frases inteiras (“Eu amo você”, “Muito obrigado”, etc.). O termo intraverbal é usado para definir a resposta verbal (vocal ou motora) que está sob controle de estímulo de outro comportamento verbal, inicialmente de outras pessoas, mas também de si mesmo à medida que o repertório verbal se expande (Bondy et al., 2004). Exemplos comuns incluem as respostas verbais à questões tais como “Qual seu nome?”, “Como você está?” ou responder a frases como “um, dois, três...”. Os intraverbais recebem reforço generalizado e não apresentam correspondência ponto a ponto à forma do estímulo verbal precedente. Os operantes, textual e cópia, são tipos de operantes verbais controlados por estímulos discriminativos verbais auditivos ou visuais ou táteis e por reforço condicionado generalizado (Skinner, 1957). No textual, o estímulo discriminativo que o controla é um texto escrito (estímulo visual ou tátil) e a resposta é vocal, gerando, pois, estímulos auditivos (Skinner, 1957). Na cópia o estímulo discriminativo verbal é visual, a resposta é escrita e há correspondência formal e/ou ponto a ponto entre os dois. O comportamento autoclítico consiste de respostas verbais, vocais ou motoras, controladas pelo próprio comportamento verbal (antecedente, simultâneo ou concorrente) do falante. Essas respostas verbais articulam, organizam ou modificam as respostas verbais que 24 as controlam. São unidades de comportamento verbal que comentam, qualificam, enfatizam, ordenam, coordenam e alteram a função de outros comportamentos verbais (Barros, 2003). Catania (1999) define o autoclítico como comportamento verbal que depende de outro comportamento verbal e que modifica os efeitos desse outro comportamento verbal. Por exemplo, palavras como acima, antes e de ocorrem em combinação com outras respostas verbais e dependem de outras respostas verbais quanto a seus efeitos. A tabela 2 apresenta os operantes verbais mais importantes para a habilidade de comunicação vocal (Lerman et al., 2005; Grow & Kodak, 2010), definidos quanto às suas variáveis antecedentes e consequentes. Tabelas 2 - Operantes verbais elementares e suas variáveis de controle Mando Tato Intraverbal Ecoico Autoclítico Antecedentes Comportamento Consequência Exemplo Operação estabelecedora Comportamento verbal (CV) Especificada da pelo CV Dizer “Coca” e receber a coca. Social (generalizado) Ao ver uma coca, diz “coca” e recebe um elogio “É coca mesmo, legal!”. Social (generalizado) Escuta alguém dizer “1,2,3,4”...e diz “5” e recebe um elogio “Muito bem!” Social (generalizado) Escutar alguém dizer “bola”, dizer “bola” e receber o elogio “Certo, muito bom!” Estímulos do ambiente CV de outra pessoa CV de outra pessoa CV do falante CV CV CV idêntico ao CV da outra pessoa CV Social (afeta o comportamento do ouvinte relativo ao do falante “Eu quero muito um sorvete”, informa ao ouvinte sobre um aspecto do falante. Fonte: Bondy, Tincani e Frost (2004) 25 Alguns operantes verbais podem ser controlados por mais de um estímulo discriminativo. Estes operantes foram chamados por Skinner de “impuros”, em oposição aos operantes verbais “puros”, controlados somente por um estímulo bem definido (Lerman et al., 2005; Grow & Kodak, 2010). Os operantes impuros são definidos por múltiplas variáveis de controle, sendo algumas categorias mais frequentes, como as citadas por Bondy, Tincani e Frost (2004). Abaixo, a tabela 3 mostra os principais operantes múltiplos e as variáveis que os controlam. Tabela 3 - Operantes verbais múltiplos e suas variáveis de controle Antecedentes Mando-tato Intraverbalmando Intraverbaltato Intraverbalmando-tato Operação estabelecedora (OE) + aspectos do ambiente OE + CV de outra pessoa CV de outra pessoa + um aspecto do ambiente Comportamento Consequencias Exemplo CV Especificada pelo CV e o aspecto do ambiente especificado Com um chocolate ao alcance da visão, diz “chocolate” e recebe chocolate. CV CV OE + CV de outra pessoa e um aspecto do ambiente CV CV de outra pessoa + objeto CV que é formalmente Reforçador especificado + reforço social Sob OE e “O que você quer?”, diz “biscoito” e recebe o biscoito e um sorriso. Reforço social Com a caneta sob visão e a pergunta “O que é isso?”, diz “caneta” e recebe o elogio “Muito bem!” Reforçador especificado + reforço social Sob OE e a visão da bola, escuta “Eu quero _____”, diz “bola” e recebe a bola e o elogio “Muito bem!”. Com a bola sob visão, escuta 26 Ecoico-tato Intraverbalecoico Intraverbalecoico-tato específico ou aspecto do ambiente idêntico ao CV da outra pessoa CV (mando por ação) + CV (modelo) CV que é formalmente idêntico à parte do CV da outra pessoa CV de outra pessoa + um aspecto do ambiente CV que é formalmente idêntico ao CV de outra pessoa Reforço social Reforço social Reforço social “bola”, diz “bola” e recebe elogio: “Parabéns!”. Escuta “Diga bola”, diz “bola” e recebe elogio “Bom!”. Com a caneta sob visão, escuta “Diga caneta”, diz caneta e recebe elogio “Muito bom!”. Fonte: Bondy, Tincani e Frost (2004) A importância do mando O operante verbal de maior interesse para esta pesquisa é o mando. Por ser o tipo de resposta verbal que especifica claramente o que a pessoa quer e necessita, pode-se dizer que o mando é o operante verbal que beneficia diretamente o falante. Essa característica ocorre independente se a escolha da modalidade de comunicação for a comunicação vocal, a troca de figuras ou os sinais manuais (Barros, 2003; Rosales & Rehfeldt, 2007). Mandos são importantes no desenvolvimento da linguagem e da comunicação porque por meio deles as crianças aprendem pedir o que querem, ou seja, o que é reforçador para elas (Troconis, 2011). Quando aprendemos a nos comunicar, a linguagem inicial consiste de mandos por reforçadores incondicionados, isto é, por itens que são importantes para a nossa sobrevivência, como comida e água; ou por fortes reforçadores condicionados como chamar pela mãe, pedir a chupeta ou algum brinquedo (Sundberg & Michael, 2001; Ziomek & Rehfeldt, 2008). Crianças autistas, por apresentarem dificuldades em estabelecer relações sociais, além de déficit em manter contato visual e compartilhar emoções, ficam prejudicadas, pois dependem da interação entre o falante e ouvinte para estabelecer uma comunicação funcional (Barros, 2003). 27 As crianças com atraso no desenvolvimento precisam aprender de maneira sistematizada habilidades como ganhar acesso a itens desejados, a comunicar suas necessidades e desejos, pedir informação e a obter atenção das outras pessoas de maneira apropriada. O mando aumenta as possibilidades de interação da criança, considerando que ela precisa interagir com as pessoas para que seu mando seja compreendido e consequenciado. Dessa forma é possível que a criança que desenvolve a habilidade de emitir mandos tenha maior controle social do seu ambiente e se relacione mais adequadamente com as pessoas (Murphy, Barnes-Holmes & Barnes-Holmes, 2005; Vollmer et al., 2007). Alguns indivíduos podem ainda apresentar histórico de se engajar em comportamentos disruptivos para terem acesso ao que desejam e estabelecer um repertório de mandos apropriado é importante para que as crianças com déficits de linguagem tenham a oportunidade de se expressar de forma mais benéfica para elas e para os outros (Piazza, Bowman, Fisher & Thompson, 1997; Chambers & Rehfeldt, 2003; Kelley, Shillingsburg, Castro, Adisson & LaRue, 2007). Skinner (1957) definiu o mando como “operante verbal no qual a resposta é reforçada por uma consequência especificada e está sob controle de condições relevantes de privação ou estimulação aversiva”. Saciação, estimulação aversiva e privação são variáveis independentes nomeadas como variáveis motivacionais ou operações estabelecedoras (OE), que atuam no controle do nosso comportamento verbal e não verbal. Operação estabelecedora é definida como um evento ambiental ou condição de estímulo que afeta o organismo e momentaneamente altera a efetividade reforçadora de outro evento e a frequência da ocorrência de comportamentos relevantes no repertório do organismo que são reforçados diante daquele evento (Shafer, 1999; Miguel, 2000; Vollmer et al., 2007; Ziomek & Rehfeldt, 2008). Privação de comida pode aumentar a efetividade da comida como reforçador quando a criança está diante de um lanche, além de aumentar a frequência de comportamentos que no passado foram seguidos de receber comida, como por exemplo, apresentar mandos como “comer”, “comida”, “Quero comer”, “Tô com fome, me dá comida!”. Uma estimulação aversiva como dor de cabeça pode diminuir a efetividade de ouvir uma música como reforçador e, ao mesmo tempo, aumentar a frequência de comportamentos que no passado retiraram aquela estimulação como, por exemplo, diminuir ou desligar o som (respostas não-verbais) ou apresentar o mando “Por favor, desliguem o som” (resposta verbal). 28 A manipulação de uma OE, seguida de reforçamento específico é essencial para implantação e desenvolvimento de mandos efetivos (Sundberg & Michael, 2001). O mando, quando está unicamente sob controle de variáveis motivacionais relevantes, é considerado um mando espontâneo. Tanto o mando quanto o tato têm por característica serem espontâneos, pois não estão sob controle de estímulos antecedentes verbais, como os demais tipos de operantes verbais (Bondy et al., 2004). O mando espontâneo é também chamado de mando puro, isto é, que ocorre sob controle apenas de variáveis motivacionais. Porém, as respostas verbais apresentadas por um falante no ambiente natural são emitidas sob controle de diversas relações entre estímulos. No caso do mando e tato, os estímulos reforçadores produzidos pela resposta verbal de mando se assemelham aos estímulos discriminativos que controlam um tato. Assim, na prática, algumas respostas podem ter traços tanto de mando quanto de tatos (Skinner, 1957; Guilhardi, 2009). Este é um dos motivos pelos quais a classificação de Skinner foi considerada didática. Assim, o mando emitido na presença do estímulo reforçador é considerado um mando impuro, pois além da variável motivacional, está presente o estímulo discriminativo. Nesse caso, a resposta verbal se caracteriza como um mando-tato, um operante sob múltiplos controles (Bondy et al., 2004). Algumas crianças podem emitir tatos, ou terem sido ensinadas a tatear um estímulo, e não apresentarem a resposta de mando referente ao mesmo estímulo. Assim, a criança pode ser capaz de, na presença de um livro (condição antecedente) emitir a resposta oral “livro” e ser reforçada, por exemplo, por um elogio. Porém, a resposta de tato não garante que ela pedirá pelo “livro” numa situação de mando, isto é, quando o acesso ao livro lhe for reforçador (Kelley et al., 2007). Dessa forma, a mesma resposta verbal (no caso “livro”) pode ser funcionalmente independente, sob diferentes condições ambientais, mesmo tendo topografias idênticas. Ao estabelecer uma resposta sobre controle de determinados estímulos, não é esperado que a mesma topografia seja emitida em outras condições de estímulos (Bondy et al., 2004; Kelley et al., 2007; Guilhardi, 2009; Troconis, 2011). A esse fenômeno segundo o qual uma resposta verbal pode ficar sob controle de diferentes estímulos Skinner (1957) denominou independência funcional entre os operantes verbais e vários estudos corroboraram esta hipótese através de seus resultados (Lamarre & 29 Holland, 1985; Nuzzolo-Gomez & Greer, 2004; Petursdottir, Carr, & Michael, 2005; Miguel, Petursdottir, & Carr, 2005; Lerman et al., 2005; Kelley et al., 2007; Guilhardi, 2009). Identificar as variáveis de controle do comportamento verbal de pessoas com dificuldades em comunicação pode elucidar problemas no desenvolvimento da fala espontânea e dessa forma, colaborar com o desenvolvimento de programas de ensino mais específicos e eficazes (Bondy et al., 2004). A análise dos operantes verbais e das prováveis variáveis de controle para sua aquisição e emissão colabora com efetivo ensino de comportamento verbal para crianças com deficiência de comunicação e com a avaliação das características dos métodos de ensino. Intervenções Hoje existem muitas intervenções para as crianças diagnosticadas com autismo, mas não há uma única abordagem que seja totalmente eficaz para todas as crianças e em todas as etapas do desenvolvimento. Segundo Bosa (2006), uma intervenção específica que pode ter um bom resultado em certo período de tempo (e.g. anos pré-escolares) pode apresentar eficácia diferente nos anos seguintes (e.g. adolescência). É consenso, entretanto, que a intervenção para o autismo seja precoce e que seja dada prioridade à comunicação (Bosa, 2006; Paul, 2008; Koegel, Matos-Freeden, Lang & Koegel, 2011). Isso se deve ao fato de que 61% das crianças autistas em idade pré-escolar apresentam pouca ou nenhuma fala comunicativa, o que pode acarretar problemas na vida escolar já que déficits na comunicação têm sido ligados a problemas de comportamento e reduzidas oportunidades no ambiente escolar (Koegel et al., 2011). Segundo Lord & Rutter (2002) apud Bosa (2006), quaisquer intervenções psicoeducacionais para o autismo devem ter como alvo: estimular o desenvolvimento social e comunicativo; aprimorar o aprendizado e a capacidade de solucionar problemas; diminuir comportamentos que interferem com o aprendizado e com o acesso às oportunidades de experiências no cotidiano; além de ajudar as famílias a lidarem com a criança autista. Recomendações feitas pela National Research Council (2001) sugerem que tais intervenções englobem o treinamento de pais para que se estendam ao ambiente natural da criança e que sejam, de preferência, em ambientes menos restritivos. 30 Neste trabalho serão apresentadas as intervenções mais citadas e aplicadas no tratamento do autismo que são baseadas em teorias behavioristas e aplicam técnicas comportamentais (Paul, 2008), como ABA e DTT, o programa psicoeducacional TEACCH e o sistema de comunicação alternativa e/ou suplementar PECS. ABA (Análise do Comportamento Aplicada) ABA refere-se à sistemática aplicação dos princípios de aprendizagem e técnicas comportamentais para avaliar e alterar os comportamentos dos indivíduos (Catania, 1999; Eikeseth, 2008; Fazzio & Martin, 2011). A ciência do comportamento humano, desde a década de 60, tem sido aplicada no estudo do desenvolvimento humano, linguagem, educação especial, autismo e transtornos do comportamento (Green, 2001). As intervenções em análise do comportamento para crianças autistas também iniciaram nessa mesma década, com o trabalho de Ivar Lovaas e seus colaboradores. Em 1987, Lovaas publicou os resultados de um pioneiro estudo de longo prazo sobre o tratamento de modificação comportamental em crianças pequenas com autismo. O grupo de tratamento, composto por 19 crianças, recebeu intervenção um por um durante 40 horas por semana, e a idade média das crianças era de 35 meses. O grupo controle, composto por 40 crianças, recebeu 10 horas por semana de intervenção e a idade média das crianças era 41 meses. Os resultados mostraram que 47% dos que receberam tratamento atingiram níveis normais de funcionamento intelectual e educacional, com QIs na faixa do normal e uma performance bem sucedida na 1ª série de escolas públicas. 40% dos participantes do grupo tratado foram depois diagnosticados como portadores de retardo leve e frequentaram classes especiais de linguagem, e os 10% remanescentes do grupo foram diagnosticados como portadores de retardo severo. Comparativamente, no grupo controle, somente 2% atingiram funcionamento educacional e intelectual normais, 45% foram diagnosticados como portadores de retardo leve e 53% foram diagnosticados como portadores de retardo severo (Rosenwasser & Axelrod, 2001; Lear, 2004; Corsello, 2005). Hoje, ABA é uma abreviação usada para referir-se apenas à metodologia de ensino para crianças com autismo (Lear, 2004) e especificamente ao método de Lovaas, que defende a importância da intervenção precoce, intensiva (40 horas semanais) e que priorize o 31 treinamento de linguagem no processo educacional (Rosenwasser & Axelrod, 2001; Weiss, 2001; Lear, 2004). No processo de ensino de novas habilidades, são aplicados princípios básicos da Análise do Comportamento, tais como: ensino de unidades mínimas passíveis de registro; ensino gradual de habilidades, partindo das mais simples às mais complexas; uso de reforçamento positivo; uso de prompts (ajudas) e a retiradas destes à medida que o comportamento é instalado no repertório e análise de tarefas (Green, 2001; Corsello, 2005, Miguel, Braga-Kenyon & Braga-Kenyon, 2005, Fazzio & Martin, 2011). Segundo Eikeseth (2008) os componentes importantes e que norteiam uma intervenção ABA são: 1- Intervenção precoce: tratamento tão cedo quanto possível, preferivelmente antes dos três anos e meio de idade, apesar de o tratamento também ser efetivo para crianças maiores e adultas. 2- Envolvimento dos pais: pais são treinados para serem coterapeutas e são essenciais na generalização e manutenção das habilidades aprendidas. 3- Aproximar a criança do seu desenvolvimento típico: as crianças podem superar seus déficits de aprendizagem, apresentando comportamentos exibidos por crianças com desenvolvimento considerado típico e serem capazes de se beneficiar de educação típica. 4- Ensino intensivo no esquema um a um, apresentado na figura 1: o trabalho desenvolvido requer um terapeuta para cada criança. 5- Inclusão de currículo individual, que tenha como alvo ensinar habilidades dentro de todas as áreas do funcionamento, tais como: linguagem e comunicação, brincar, habilidades sociais, atividades de lazer, habilidades pré-acadêmicas e acadêmicas, habilidades de autoajuda e socioemocionais. O programa foca também na redução de comportamentos aberrantes tais como comportamentos agressivos, déficits de atenção e comportamentos estereotipados e ritualísticos. 32 Figura 1. Situação de ensino 1:1 ABA valoriza também o ensino nos contextos naturais, uso de reforçadores naturais e oportunidades para que a criança inicie alguma atividade, a fim de trabalhar generalização e interação social (Corsello, 2005, Eikeseth, 2008). A importância da generalização Além da aquisição e manutenção dos comportamentos, ABA também envolve a generalização das habilidades adquiridas. Segundo Baer, Wolf e Risley (1968) “uma modificação comportamental tem generalidade se ela se prova durável ao longo do tempo, se ela aparece em uma ampla variedade de ambientes possíveis, ou se ela se espalha para uma ampla variedade de comportamentos relacionados” (p. 96). Crianças autistas frequentemente apresentam dificuldades em generalizar (Mesibov & Shea, 1996; Fazzio, 2002; Klin, Chawarska, Rubin & Volkmar, 2006; Capellari, 2010; Green, 2011), isto é, podem adquirir muitas habilidades como resultado de uma intervenção estruturada, mas não conseguem apresentar as mesmas respostas em outras situações e com demandas diferentes. Elas podem aprender, por exemplo, a lavar pratos, mas não perceber que o mesmo procedimento básico é usado para lavar copos. Elas podem aprender a enunciar literalmente uma regra, mas não entender o seu propósito subjacente e, então, terem problemas em aplicá-la em situações diferentes (Melsibov & Shea, 1996). Klin et al. (2006) afirmou que as dificuldades de generalização são provavelmente um dos desafios mais difíceis no autismo, sendo assim fundamental que a generalização dos comportamentos adquiridos em intervenções seja planejada, por meio da repetição da aplicação do procedimento em outros ambientes para os quais se deseja que a mudança 33 comportamental se estenda (Baer et al., 1968; Fazzio, 2002; Corsello, 2005; Green, 2011; Souza & Juliani, 2012). Também é preciso enfatizar ocasionalmente e especialmente na avaliação da análise comportamental aplicada, que a generalidade não é conseguida automaticamente sempre que o comportamento é mudado. Às vezes, presume-se que a aplicação falhou, quando a generalização não ocorre de alguma forma muito abrangente. Tal conclusão não apresenta, ela própria, qualquer generalidade (Baer et. al., 1968: 8). Algumas estratégias foram propostas para promover generalização, tais como: tornar o ambiente onde acontece a intervenção o mais semelhante possível ao ambiente natural; usar de esquemas intermitentes de reforçamento, bem como usar de contingências em que o reforçamento seja natural; programar a generalização em diferentes condições, entre pessoas, ambientes, estímulos diferenciados; e realizar treinamento de pais (Schreibman, Koegel, Charlop-Christy & Egel, 1990 apud Fazzio, 2002; Callahan, Shukla-Mehta, Magee & Wie, 2010; Green, 2011). Assim, o treinamento de pais é importante, na medida em que possibilita o trabalho de generalização e manutenção dos resultados de uma intervenção comportamental. Transferir o controle do analista do comportamento para terceiros, como pais e outros profissionais, pode ser uma solução para a dificuldade de generalização dos resultados de intervenções em ambientes controlados para o ambiente natural da criança. Métodos de ensino da ABA podem ser ensinados a pais para que eles ensinem suas crianças (Fazzio, 2002; Lafasakis & Sturmey, 2007). Allen e Wazark (2000) afirmam que o sucesso da intervenção é dependente não somente da efetividade em implantar repertórios, mas depende também da consistência que os pais se envolvem no tratamento. DTT (Treinamento por tentativas discretas) Também conhecida como intervenção para ensino de habilidades a autistas, DTT é mais um tipo de técnica do método ABA do que propriamente uma intervenção em si (Smith, 2001; Corsello, 2005; Fazzio, 2011). Treinamento por tentativas discretas é um método para ensinar habilidades em simplificados passos. Ao invés de se ensinar uma habilidade completa, esta é quebrada em 34 pequenas tentativas discretas a serem ensinada uma de cada vez. Tentativas se referem às oportunidades de aprendizagem oferecidas às crianças. Depois de selecionada a habilidade a ser ensinada a criança, as oportunidades são oferecidas para que a resposta ocorra. Diante de um antecedente (seja o material ou um prompt verbal) a resposta alvo ocorre e imediatamente é consequenciada. Cada ciclo antecedente-resposta-consequência (reforçadora) oferecido é uma tentativa (Green, 2001). Por exemplo, numa situação de ensino, o professor apresenta dois itens, uma caixa e uma bola e os coloca sob a mesa, em frente à criança, e diz: “caixa”. A resposta esperada da criança neste caso é que ela aponte a caixa. O professor imediatamente sorri, elogia e lhe entrega uma bala. As respostas corretas são sempre seguidas por consequências que no passado serviram de consequências reforçadoras. As respostas incorretas não são seguidas de reforçadores e são ignoradas por parte do professor (Miguel et al., 2005; Fazzio & Martin, 2011). Uma hierarquia de ajudas (prompts) pré-estabelecida é oferecida e esvanecida aos poucos (o chamado fading out) para que a criança não fique dependente delas. O uso das ajudas possibilita a aprendizagem sem erro e, assim uma aprendizagem e construção de habilidades de um modo mais motivador (Weiss, 2001). As tentativas são oferecidas repetidas vezes até que a criança atinja o critério de aprendizagem estabelecido e realize a atividade de maneira correta, fluente e sem nenhuma ajuda. Segundo Smith (2001), há diferentes razões para DTT aumentar a motivação e aprendizagem da criança autista. Primeiro, as tentativas são curtas então muitas tentativas de ensino podem ser completadas permitindo, assim, numerosas oportunidades de aprendizagem. Segundo, o método de ensino um a um permite que o programa seja completamente individualizado de acordo com a necessidade de cada criança. A estrutura do programa é clara, facilitando a compreensão da criança. Além disso, a quebra das tarefas em pequenas tentativas e o uso apropriado de ajudas maximizam o sucesso da criança e minimiza as falhas. Método TEACCH (Tratamento e Educação para Autistas e Crianças com déficits relacionados à Comunicação) O TEACCH é um programa que envolve esferas de atendimento educacional e clínico, em uma prática com abordagem psicoeducacional, o que faz dele um programa 35 transdisciplinar (Kwee, Sampaio & Atherino, 2009; Fernandes, 2010). A estrutura conceitual e filosófica do modelo TEACCH é baseada nas perspectivas teóricas comportamentais, cognitivas e desenvolvimentistas (Erba, 2000; Kwee et al., 2009; Fernandes, 2010). O modelo baseia-se numa intervenção direta com as crianças num programa curricular centrado nas áreas fortes e emergentes, identificadas na avaliação especializada PEP-R (Perfil Psicoeducacional Revisado), levando em conta tanto os pontos fortes como fracos do repertório da criança. Dessa forma, os programas específicos de ensino e tratamento também são individualizados e baseados em uma compreensão personalizada de cada indivíduo (Schopler, Reichler, Bashford, Lansing & Marcus, 1990). O TEACCH utiliza-se de pistas visuais para clarificar as informações e prover estrutura e previsibilidade que o autista requer para adaptar-se melhor ao seu ambiente (Panerai, Ferrante & Zingale, 2002; Kusmierski & Henckel, 2002; Marques & Melo, 2005; Hume & Odom, 2007). Além disso, Frost & Bondy (1994) enfatizaram a vantagem da utilização de estímulos visuais tendo em vista que estímulos auditivos podem ser percebidos pelos autistas com ambiguidade, fazendo com que eles não compreendam o que os outros esperam deles. Isso pode gerar aversividade e consequentemente estresse, ansiedade e comportamentos disruptivos. Assim, o TEACCH é um programa de ensino estruturado no qual os objetivos principais são aumentar a independência do indivíduo e desenvolver a comunicação. Os quatro componentes principais do método são: 1) a estrutura física (organização da sala de aula); 2) painéis de informação visual informando onde, quando e quais atividades devem ser realizadas; 3) os sistemas de trabalho, que informam o que deve ser feito na atividade ou na área de lazer e 4) a organização das tarefas (Hume & Odom, 2007). Vários estudos mostraram a efetividade do ensino estruturado em promover independência de crianças autistas durante as sessões de trabalho e a diminuição de comportamentos inadequados (Panerai, 1997; Norgate, 1998; Panerai et al., 2002; Kusmierski & Henckel, 2002; Hume & Odom, 2007). A Figura 2 traz exemplos de diferentes espaços de um ambiente estruturado. 36 Figura 2. Espaços estruturados da sala de aula TEACCH: mesa de trabalho individual, espaço de lazer e descanso, e agendas da rotina diária individualizada. Comunicação Suplementar e/ou Alternativa: Picture Exchange Communication System (PECS) O termo Comunicação Suplementar e/ou Alternativa (CSA) advém do termo Augmentative and Alternative Communication (AAC); porém, não há consenso quanto a um nome específico em português para fazer referência a este conceito. Assim, verifica-se a utilização de diferentes versões brasileiras para AAC. Chun (2009) investigou os termos usados nas publicações nacionais que se referiram à CSA, através de um levantamento bibliográfico nas bases Lilacs e Scielo até 2007. Foram encontrados os seguintes termos: Comunicação Alternativa e Suplementar, Comunicação Alternativa, Comunicação Suplementar e/ou Alternativa, Sistemas Alternativos e Facilitadores de Comunicação, Comunicação Suplementar, Comunicação Alternativa e Ampliada. Para se ter uma ideia da relevância da discussão a respeito do termo, os primeiros trabalhos em CSA datam do final da década de 70, e devido ao crescente interesse no meio clínico, educacional e científico em 1985 foi criado um Comitê da International Society for Augmentative and Alternative Communication (ISAAC) para discutir a terminologia. No 37 Brasil, somente em 2007 foi realizado II Congresso Brasileiro de Comunicação Alternativa – ISAAC e ainda hoje não há um termo bem definido (Chun, 2009). As definições se baseiam no entendimento do autor das traduções de aumentative a alternative. O primeiro termo tem sido traduzido como suplementar; uma comunicação suplementar à fala. Para Deliberato (2005) suplementar é aquela que é realizada por meio de suporte, pois as vocalizações já existem. O segundo termo não apresenta problema de tradução e refere-se à comunicação alternativa à fala, no caso em que a oralidade é muito prejudicada. Neste trabalho, consideraremos o termo Comunicação Suplementar e/ou Alternativa (CSA), o qual os autores (Pires & Limongi, 2002; Chun, 2003; Trevizor & Chun, 2004; Orrú, 2006) que o utilizam destacam primeiramente o termo suplementar, ressalvando que mesmo aqueles indivíduos mais comprometidos podem produzir alguma vocalização. Além disso, consideram outras formas de comunicação que complemente, substitua ou apoie a fala (olhar, vocalizações, gestos, expressão facial, sorriso, alteração de tônus muscular, etc). Assim, CSA é o nome dado aos sistemas de comunicação desenvolvidos para suplementar e/ou substituir a comunicação natural em pessoas com déficits de linguagem e comunicação. Eles se dividem em dois tipos segundo Chong (2006): métodos sem apoio de equipamentos (p. ex., a linguagem de sinais – LIBRAS); e métodos com apoio de equipamento (p. ex., o Picture Exchange Communication System – PECS, que será descrito detalhadamente como o principal instrumento deste trabalho). A figura 3 apresenta alguns modelos destes métodos. Ambos os métodos apresentam vantagens e desvantagens e vêm sendo amplamente estudados a fim de identificar quais técnicas são mais efetivas ou práticas para promover a aquisição de comunicação por autistas (Ganz & Simpson, 2004; Marckel, Neef, & Ferreri, 2006; Preston & Carter, 2009; Welsh, 2010). 38 Figura 3. Materiais de comunicação alternativa e suplementar (prancha de comunicação, vocalizador com varredura e vocalizador portátil) Reconhecido por ser um método de intervenção em CSA e uma Tecnologia Assistiva1, o PECS, desenvolvido por Frost e Bondy (1994), consiste em uma forma de comunicação por meio da troca de estímulos visuais por objetos ou atividades de interesse. Tem como objetivo ensinar comportamento verbal não vocal a indivíduos com déficit no repertório verbal para que eles possam se comunicar funcionalmente, isto é, emitir comportamentos sob controle de estímulos antecedentes verbais ou não verbais e que produzam consequências no ambiente social. Frost e Bondy (1994) desenvolveram um protocolo de intervenção que visa orientar profissionais a ensinar a comunicação por troca de figuras. Assim, em cada uma das seis fases do procedimento, são utilizadas estratégias para ensinar a criança o que se chama de “requisitar” e “comentar”. Requisitar consiste em iniciar uma interação, pedir, especificar o que deseja (mando); e comentar implica em descrever (tato) coisas do ambiente e responder (intraverbal) a diferentes questões. 1 Tecnologia Assistiva é uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação, de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social (CORDE - Comitê de Ajudas Técnicas – ATA VII) – Bersh, 2008. 39 Fases do PECS: Fase I – Troca Física Esta fase se constitui da modelagem ou ensino da troca da figura pelo objeto ou atividade supostamente reforçadora. Estão presentes nesta etapa, juntamente com a criança, um terapeuta e um coterapeuta. O terapeuta e a criança sentam-se em uma mesa, de frente um para o outro, e o coterapeuta posiciona-se atrás da criança para fornecer as ajudas necessárias em cada etapa, para que a criança desempenhe os comportamentos requeridos adequadamente. Sobre a mesa há uma figura que representa o objeto que o terapeuta tem em mãos, no campo visual da criança, porém fora do seu alcance. A Figura 4 mostra um esquema do arranjo experimental nesta fase. O terapeuta, então, permanece com uma das mãos aberta e estendida em direção à criança e o coterapeuta auxilia fisicamente a criança a pegar a figura, direcioná-la ao terapeuta e colocá-la na mão do terapeuta. Assim que a figura tenha tocado a mão do terapeuta, este deve reforçar socialmente o comportamento (p. ex., “Ah, muito bem, você quer bala!”) e dar a ela o item pedido. Nenhum prompt verbal é dado anterior à troca. Este passo é realizado durante cinco tentativas. Caso a criança não esteja realizando o passo, mesmo com a ajuda do coterapeuta, deve-se verificar se o item utilizado tem de fato função de reforçador. Em seguida, o elogio verbal começa a ser atrasado até que este ocorra somente quando a criança largar a figura na mão do terapeuta, recebendo em seguida o item. A criança deve repetir 80% das tentativas de forma independente e a ajuda deve ser oferecida ainda para estender o braço em direção ao terapeuta e pegar a figura. Inicia-se o fading out (retirada das ajudas) para estender o braço e pegar a figura, e somente a mão esticada do terapeuta permanece como ajuda. A fase I termina quando a criança realizar a troca em 80% das tentativas, de forma independente, recebendo o elogio verbal seguido do item pedido. 40 Figura 4. Esquema do arranjo experimental da Fase I Fase II – Expandindo espontaneidade Nesta fase a criança já inicia a comunicação e realiza a troca da figura pelo item de maneira independente, assim inicia-se o treino do distanciamento e da persistência. As figuras agora ficam disponibilizadas em um tablado, uma a uma, de onde a criança vai puxá-la. Para este comportamento pode ser necessária a ajuda do coterapeuta. A criança deverá remover a figura do tablado, ir em direção ao terapeuta, estender a figura e colocar a figura na mão do terapeuta. Aumenta-se, aos poucos, a distância entre o terapeuta e a criança; enquanto o tablado, contendo a figura, permanece próximo à criança. Nesta etapa, o reforçador social é oferecido enquanto a criança realizar a troca em 80% das tentativas, de forma independente e, então, começa-se a aumentar a distância entre a criança e o tablado. A figura 5 representa a troca da figura realizada na fase II, na qual, além de iniciar interação social, a criança busca a atenção específica do mediador, seja ele o terapeuta ou outra pessoa do contexto. Tanto o mediador quanto o espaço físico devem ser modificados em algumas sessões a fim de garantir que a criança não fique sobre controle apenas de um mediador e de um contexto (Frost & Bondy, 1994). 41 Figura 5. Esquema representando a troca de figura na Fase II Fase III - Discriminação de figuras Após ter sido treinada nas fases anteriores e realizar de forma independente os comportamentos envolvidos na troca, a criança é ensinada, agora, a discriminar entre duas figuras. Duas figuras são colocadas no tablado, a figura de um item reforçador e uma figura não-relevante para o contexto ou que não seja um item de preferência. É realizado, então, o reforçamento diferencial da escolha da figura definida como correta pelo experimentador (S+): a escolha da figura com função de S+ é seguida por reforço social e a disponibilidade do item. A escolha do item errado (S-) é seguida da disponibilidade do item sem reforço social. Em situações de erro deve-se verificar se a criança deseja mesmo o item que está indicando ou se está emitindo escolhas aleatórias. A permanência do erro exigirá uso de procedimentos de correção e ajuda como parear o item à figura, colocar uma figura em branco ao lado da figura-alvo, aumentar tamanho da figuras-alvo em relação às figuras nãorelevantes, entre outros. O método de ajuda fica a critério do terapeuta, devendo ser escolhido de acordo com as habilidades de cada criança. A fase termina quando a criança realiza 80% das tentativas de maneira independente usando uma variedade de figuras diferentes, apresentadas uma de cada vez. Em seguida é 42 aumentado o número de figuras balanceando entre itens mais reforçadores e menos reforçadores, até que a criança seja capaz de discriminar e escolher entre vários itens reforçadores. Até a fase III, PECS prevalece o ensino da troca, a iniciação da interação e o aprendizado básico para requisitar (mando). No decorrer das outras fases, o PECS estabelece, progressivamente, formas mais complexas de comunicação, através do uso de sentenças, repertório de tato, habilidades básicas de conversação e comentários (Tincani, Crozier, & Alazetta, 2006). Na figura 6 é apresentado o modelo de tablado de comunicação durante a fase III, com vários estímulos reforçadores e neutros. Figura 6. Modelo do tablado de comunicação utilizado na Fase III Fase IV: Estruturar sentenças Nesta fase a criança já possui várias figuras no seu tablado de comunicação e se comunica com mais pessoas além do terapeuta e do coterapeuta. Em outro tablado é disponibilizada uma figura com a sentença “Eu quero” com um espaço para a criança colocar a figura do item desejado. Quando a criança escolhe uma figura, o coterapeuta a ajuda a colocar a figura ao lado da sentença iniciadora e a mostrar para o terapeuta a sentença agora contendo “Eu quero + a figura de um item desejado”. Gradualmente as ajudas são retiradas até que a criança seja capaz de pregar a figura ao lado da sentença e mostrar para o terapeuta sem nenhuma ajuda em pelo menos 80% das tentativas. 43 Em seguida, a figura da sentença “Eu quero” também é retirada do tablado e a criança recebe ajuda para pegar a figura da sentença, colocá-la em local indicado e depois colocar a figura do item desejado ao lado da sentença. Quando a criança for capaz de montar a sentença completa e mostrar ao terapeuta em 80% das tentativas e com pelos menos três parceiros de comunicação diferentes, inicia-se as oportunidades para que ele requisite os itens que não estão no seu campo de visão. A figura 7 mostra a sentença formada na fase IV. Figura 7. Modelo de formação de sentença na Fase IV Fase V: Respondendo a “O que você quer?” Com a figura do item desejado presente e a figura da sentença “Eu quero” no tablado de comunicação, o terapeuta ao mesmo tempo, aponta a sentença e pergunta “O que você quer?”. A criança deverá pegar a sentença e realizar a troca pelo item em 80% das tentativas sem ajuda. Em seguida o intervalo de tempo entre a pergunta “O que você quer” e a ajuda gestual de apontar a sentença “Eu quero” é aumentado, através da estratégia de ensino delaying 44 prompt, até que a criança seja capaz de pegar a figura e entregar ao terapeuta sem a ajuda de apontar a figura. Fase VI: Comentar responsivo e espontâneo Nesta fase uma variedade de perguntas é oferecida como por exemplo, “O que você vê?”, “O que você escuta?”, “O que você tem?”. Do mesmo modo da fase V, utiliza-se a estratégia de ensino delaying prompt para retirar as ajudas, aumentando o tempo entre a pergunta feita pelo terapeuta e a ajuda gestual de apontar as figuras das sentenças referentes às perguntas. Nesta fase a criança recebe apenas o reforço social. Inicia-se o treino apenas com uma sentença (p.ex., “O que você vê?”), até que 80% das tentativas sejam realizadas sem ajuda. Em seguida, randomicamente, apresentam-se duas sentenças (p. ex., “O que você vê?” e “O que você quer?”. E assim, sequencialmente, é realizado o treino de questões novas separadamente e em seguida alternadas com perguntas treinadas anteriormente. É importante que oportunidades no ambiente natural, dentro do contexto e com pessoas diferenciadas também sejam disponibilizadas. A figura 8 mostra o tablado contendo as figuras de estímulos e o uso de frases a serem usadas para apresentar tatos e mandos. Figura 8. Modelo do tablado de comunicação na Fase VI 45 O PECS apresenta algumas vantagens em relação a outros sistemas de comunicação, tais como: o baixo custo e a portabilidade, possibilitando o seu uso em diferentes lugares; requer que a criança emita poucos movimentos complexos e não exige que o ouvinte tenha conhecimento de outro sistema de linguagem para responder às solicitações da criança, como no caso do uso de LIBRAS. PECS ainda requer menor tempo de treinamento para a aquisição do comportamento quando comparado a outros sistemas de comunicação (Frost & Bondy, 1994; Charlop-Christy, Carpenter, Le, Leblanc & Kellet, 2002; Preston & Carter, 2009) e por estes motivos tem sido frequentemente utilizado com mais sucesso nas intervenções com pessoas autistas em comparação com sistemas de CSA sem apoio (Chambers & Rehfeldt, 2003). Alguns autores consideram que o sucesso na intervenção deve-se ao fato do método considerar as características autísticas e não exigir muitos pré-requisitos em habilidades como imitação motora e verbal, contato visual, habilidade de emparelhamento ou de seguir instruções (Preston & Carter, 2009; Welsh, 2010). Tendo em vista a aplicabilidade e aceitação na intervenção houve o interesse de pesquisadores sobre aspectos específicos da comunicação através de figuras para pessoas com déficits de comunicação. Os aspectos mais investigados nas pesquisas se referem à influência do uso do método na comunicação falada, nos comportamentos sociocomunicativos, bem como no aprendizado do mando e as consequências do ensino nos comportamentosproblemas. Os estudos também avaliam o tempo de aprendizado e a generalização da habilidade de comunicar por figuras. Frost e Bondy (1994) registraram dados longitudinais de 66 crianças autistas com idade de até cinco anos, submetidas ao treino com PECS, as quais estavam incluídas no Delaware Autistic Program. Suas habilidades cognitivas não foram avaliadas formalmente, mas estimou-se que a deficiência intelectual das crianças variava de média a profunda. Os dados revelaram que após um ano ou mais de iniciar o PECS, 59% das crianças foram capazes de usar fala sem figuras para se comunicar, 20% usaram a combinação de fala e figuras e 7 % foram capazes de usar figuras efetivamente, embora elas não tivessem desenvolvido fala. Estes autores consideram que um possível “efeito colateral” positivo ou ganho secundário do PECS seria a emergência da fala. Ganz e Simpson (2004) examinaram o efeito do PECS em aumentar o número de palavras faladas, aperfeiçoando a complexidade e extensão das frases e a diminuição de 46 vocalizações de não palavras. Os participantes foram uma criança com diagnóstico de autismo e duas crianças que apresentavam atraso no desenvolvimento e características autísticas, entre as idades de três a sete anos, pré-verbais ou com limitações na fala. Os resultados indicaram que os três participantes rapidamente dominaram o programa PECS e tiveram as vocalizações verbais aumentadas em número de palavras e complexidade de gramática, seguindo o treinamento de PECS. Os dados do treinamento de PECS registrados neste estudo não incluíram linha de base e nem de observações de generalização. Os autores recomendaram que uma melhor replicação do estudo fosse examinar a generalidade dos achados para um número maior de participantes. Um dos objetivos do PECS é ensinar a criança a iniciar a comunicação, considerando que esta é uma dificuldade da criança autista. Carr e Felce (2007) avaliaram o efeito do PECS no comportamento de iniciar comunicação de crianças autistas com seus professores. O grupo de intervenção foi formado por 24 crianças, que receberam ensino das três primeiras fases do PECS, e o grupo controle foi composto de 17 crianças que não receberam nenhuma intervenção. As crianças que receberam a intervenção demonstraram aumento de frequência nas iniciações com professores e receberam menos iniciações comunicativas dos adultos. No grupo controle foram observadas mais iniciações feitas pelos adultos e as iniciações feitas pelas crianças não aumentaram de frequência. Os estudos que aplicam o PECS como intervenção mostram também mudanças concomitantes à aquisição do PECS em comportamentos que não são alvos da intervenção, como: aumento da linguagem verbal e de comportamentos sociocomunicativos como atenção compartilhada e iniciação comunicativa ou diminuição de comportamentos inapropriados. Uma possível explicação para tais mudanças é que o procedimento de treino do PECS tem como alvo comportamentos que são centrais no desenvolvimento, como iniciação social e atenção compartilhada. Mudanças nestes comportamentos resultam, então, em mudanças em outros comportamentos (Jurgens, Anderson & Moore, 2009). Assim, alguns estudos têm demonstrado aumento nos comportamentos sociais comunicativos e diminuição dos comportamentos-problemas a partir do uso do PECS. O estudo de Frea, Arnold e Vittimberga (2001), por exemplo, investigou os efeitos do PECS no comportamento agressivo de um menino de quatro anos com autismo. Foram ensinadas à criança as fases 1-3 do PECS, que foi introduzido em dois momentos de brincar na rotina da sala de aula. Os resultados indicaram que comportamentos agressivos foram eliminados em 47 seis dias após a introdução do PECS. O número de ocorrência de troca de figuras também aumentou em dois settings, dois diferentes locais para brincadeiras livres na escola. Neste estudo, o prompt verbal “O que você quer?” foi apresentado para a criança no início de cada sessão da generalização. Segundo os autores, estes dados reforçaram a importância da comunicação ser o primeiro objetivo de intervenção em crianças com problemas de comportamento. Ainda a respeito dos ganhos decorrentes ao treino de PECS, Charlop-Christy et al. (2002) avaliaram além da emergência da fala (respostas verbais espontâneas ou imitativas), a interação social (iniciar um diálogo, manter contato visual) e os comportamentos-problemas (jogar ou chutar objetos no chão, levantar da cadeira) em três meninos autistas. Paralelamente, investigaram o tempo de treino necessário para que os participantes atingissem o critério de aprendizagem de cada fase do Manual do PECS de Frost e Bondy (1994). Além das sessões de ensino do PECS, foram realizadas sessões de brincadeiras livres e de tarefas acadêmicas a fim de observar fala espontânea, imitação e/ou uso das figuras. As sessões foram realizadas com diferentes pessoas e em diferentes locais a fim de promover a generalização. Porém, na fase de generalização, no pós-treino, o objetivo foi verificar os efeitos nos comportamentos sociocomunicativos e comportamentos problema; e não do uso da comunicação no cotidiano das crianças. Os autores apontam como lacuna do estudo a ausência de avaliação de generalização em diferentes settings e durante as atividades diárias (Charlop-Christy et al., 2002). Chambers e Rehfeldt (2003) investigaram a aquisição e generalização de mandos através do PECS e de linguagem de sinais. Os participantes foram quatro adultos, sendo dois com retardo mental profundo e características autísticas, dos quais o primeiro apresentava déficits na linguagem expressiva e receptiva e o segundo era totalmente não verbal. Os outros participantes foram uma portadora de síndrome de Down e retardo mental profundo e seu repertório verbal consistia de repetição de 12 palavras e outro adulto com paralisia cerebral e retardo mental que emitia vocalizações ininteligíveis e somente duas palavras inteligíveis. Para cada participante foram ensinados quatro mandos, referentes a itens selecionados individualmente como reforçadores. Tanto no ensino do PECS, quanto na linguagem de sinais, os mandos se referiam aos mesmos itens, que variavam entre comestíveis e brinquedos. Seus resultados mostraram que os participantes precisaram de menos tempo para a aquisição de mandos através do PECS comparado à linguagem de sinais. Dos quatro participantes, três 48 utilizaram mais o PECS na fase de generalização, quando o reforçador não estava presente. Os autores apontaram que uma fragilidade do estudo foi o fato de terem avaliado a generalização apenas em um dia, com apenas uma figura de cada vez e somente em um setting. O estudo de Fidalgo e Godoi (2008) investigou a eficácia do PECS na produção de verbalizações espontâneas e comportamentos relevantes de duas crianças, uma portadora da Síndrome do X-frágil (P1) e características autísticas e a outra portadora de Síndrome de Down (P2). Para P1, os comportamentos relevantes observados foram contato visual e permanecer sentado e para P2, descer escadas. Nesse estudo, o treino foi realizado apenas para a fase I do PECS, que ensinou a requisitar e observou as respostas verbais nos treinos dos comportamentos relevantes. Além de o estudo não ter realizado a fase II, que é considerada a fase do treino na qual a generalização é ensinada, as respostas verbais foram avaliadas somente em situações de ensino. A resposta específica do treino do PECS, a troca de figuras, não foi avaliada em nenhum momento além da fase de treino. Alguns estudos utilizam prompts durante a generalização, enquanto outros estudos não utilizam. O uso ou não da técnica contribui para as diferenças nos resultados (Welch, 2010). Como no estudo de Frea et al. (2001) e Stoner et al. (2006), que utilizaram prompts gestuais e verbais para testar generalização do uso do PECS, que foi ensinado a 5 adultos com retardo mental e não falantes. Três participantes apresentaram a generalização em um restaurante fast food e dois participantes não alcançaram o critério de ensino até a fase IV do PECS. Dois estudos não proveram nenhum tipo de prompts no uso do PECS na generalização, obtiveram baixos resultados na generalização de mandos para novas condições. Jurgens et al. (2009) avaliou a aquisição do PECS até a fase III e as mudanças concomitantes na linguagem falada e comportamentos sociocomunicativos, bem como nas brincadeiras funcionais, em um menino autista com idade de três anos e sete meses. A criança apresentava pouca linguagem funcional, apesar de regularmente apresentar fala ininteligível ou fala ecolálica (no caso palavras e frases do seu DVD favorito). Resultados indicaram que o participante adquiriu o critério de ensino do PECS até a fase III, mas raramente apresentou mandos através da troca por PECS nos settings em que a generalização foi testada, casa e escola. Apesar disso, foi observado aumento nos mandos verbais e outras iniciações, bem como aumento no vocabulário falado e no tempo envolvido em atividades de brincadeira nos mesmos settings. 49 Carré, Le Grice, Blampied e Walker (2009) ensinou as três primeiras fases do PECS a três crianças, de até cinco anos. O ensino iniciou-se numa sala separada de Educação Especial e gradualmente foi realizado na sala de aula. Generalização foi avaliada em casa e na escola. Todas as três crianças adquiriram o repertório de requisitar por objetos ou atividades de preferência através do uso das figuras. Resultados baixos foram encontrados para generalização nos dois settings, embora as crianças tenham utilizados mais o PECS na escola do que em casa. Também há estudos em que a generalização dos resultados do ensino de PECS é observada durante a fase de intervenção, como no estudo de Jurgens et al. (2009) e de Carr e Felce (2006). Em outros estudos, a generalização dos efeitos do PECS é avaliada nas verbalizações ou comportamentos relevantes e não especificamente no uso da troca de figura após o treino, ou seja, na resposta de mando por PECS (Almeida, Piza, & Lamônica, 2005; Fidalgo & Godoi, 2008; Rosa & Britto, 2008). Conforme descrito, no âmbito da literatura internacional são encontrados muitos estudos sobre o comportamento verbal dos autistas e métodos para melhorar a comunicação destes como o PECS. No Brasil, além de poucos estudos achados, a maioria deles trata da aplicação do método e verificação de resultados durante os treinos (Rosa & Britto, 2008; Fidalgo & Godoi, 2008). Fidalgo e Godoi (2008) enfatizaram a existência de poucos estudos sobre a generalização e principalmente estudos com participantes brasileiros e a necessidade de que as pesquisas com essa clientela preocupem-se com a variação entre contextos e pessoas que fazem parte da vida do autista. Esses autores sugerem, então, a necessidade de se pesquisar a generalização dos comportamentos treinados no ambiente natural das crianças após os treinos. Sendo assim, mostra-se relevante a demonstração da efetividade do PECS na implantação de repertórios verbais funcionais no ambiente natural, contribuindo para melhor desenvolvimento do indivíduo nas suas interações e aumento de sua qualidade de vida. Além disso, o presente estudo também visa produzir conhecimento a ser utilizado como suporte na prática de profissionais que trabalham com indivíduos autistas (fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, psicólogos). 50 Objetivos Investigar o desempenho de crianças autistas na aquisição e generalização dos comportamentos de mando, aprendidos através Sistema de Comunicação por Troca de Figuras (PECS). Os objetivos específicos foram: Ensinar os participantes, através do método das trocas de figuras (PECS), a requisitar o que eles querem ou necessitam (emissão de mandos); Investigar e descrever algumas das variáveis, levantadas através dos registros das mães e professoras, que afetam a aprendizagem do comportamento de mando com a utilização do PECS; Verificar, por meio do registro da mãe e da professora, a generalização dos mandos para dois ambientes naturais da criança: a casa e a escola. 51 MÉTODO Participantes Participaram do estudo quatro crianças entre sete e doze anos, duas meninas e dois meninos, diagnosticadas segundo os critérios do DSM-IV como autistas. Os critérios definidos para participação no estudo foram presença de baixo repertório verbal e nunca ter sido exposto ao Sistema de Comunicação Alternativa por Troca de Figuras (PECS); a escolha do gênero foi aleatória, de acordo com a disponibilidade dos responsáveis pelas crianças em participar. Todas as crianças estavam matriculadas na Fundação Dom Bosco (Belo Horizonte/MG). Foram tomadas todas as providências éticas necessárias de acordo com as normas do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da UFMG – COEP (Parecer nº 0662.0.203.000-11). As características dos participantes e seu breve histórico foram levantadas por meio da realização de anamnese (disponível em anexo) com os pais das crianças, disponível no anexo 6. P1 recebeu diagnóstico de autismo com um ano e três meses. Começou a falar aos dois anos, apresenta ecolalia, fala na primeira pessoa apresenta bom repertório de tato (nomeia figuras de propaganda e letras do alfabeto) e déficit em mandos. Segundo o relato da mãe, por algumas vezes, quando ele quer algo, ele fica andando perto do item desejado, sem pedir diretamente. E em outros momentos fala o nome do item, mas sem direcionar olhar para alguém ou mostrar/apontar o item. Esporadicamente apresenta comportamento de birra diante do “não”, principalmente quando quer algo na rua. P1 entende regras e segue instruções simples. P2 foi diagnosticada aos quatro anos de idade e começou a falar as primeiras palavras aos seis anos. Apresenta ecolalia imediata e tardia. Comunica-se pouco verbalmente e geralmente guia as pessoas até o que ela precisa ou quer. Nomeia alguns objetos e nesse caso verbaliza o nome para solicitá-los. Apresenta choro diante do não e tem dificuldade em seguir regras. A mãe relata que quando quer algo e não sabe dizer, P2 fica parada próxima ao item e, às vezes, é difícil para as pessoas entenderem o que ela deseja, pois o olhar dela nem sempre é direcionado para o item. A mãe insiste para que a criança fale o nome do que deseja. 52 P3 foi diagnosticada aos três anos. Não verbaliza nenhuma palavra. Emite sons repetitivos, mas não imita vocalizações de sons. Guia as pessoas até o que ela precisa ou quer e segundo a mãe apresenta birra diante do “não” ou quando quer algo, porém não consegue se comunicar. Apresenta estereotipias como balançar o corpo para frente e para trás e tamborilar os dedos em objetos. Apresenta contato visual ruim com objeto, além de apresentar dificuldades em seguir regras e permanecer sentada para realizar atividades. P4 foi diagnosticado aos três anos. No momento do início da coleta a única palavra vocalizada era “alô”. Balbucia bastante e emite sons diversos, mas sem significados comunicativos. Não imita vocalizações de sons. Guia pessoas até objetos, quando os quer ou direciona o olhar para o item. Apresenta contato visual mas têm dificuldade em seguir regras e não responde pelo seu nome. No início do estudo, os participantes foram avaliados quanto ao o repertório de linguagem por meio da aplicação da Assessment of Basic Language and Learning Skills – ABBLS (Sundberg & Partington, 1998) e quanto ao grau de severidade do autismo por meio da aplicação do CARS - The Childhood Autism Rating Scale - (Schopler, Reichler & Renner, 1988). A tabela 4 sintetiza as características dos participantes. Instrumentos utilizados ABBLS Além de instrumento avaliativo do repertório verbal e social, a ABBLs serve como um guia curricular e instrucional, que possibilita o levantamento de déficits e a seleção de objetivos terapêuticos. Segundo Aman et al. (2004), a ABBLs foi desenvolvida com o objetivo de calcular a motivação da criança para o responder, avaliar a habilidade para atender a uma variedade de estímulos do ambiente e generalizar habilidades, bem como a tendência em usar habilidades aprendidas espontaneamente. Os itens foram desenvolvidos para avaliar crianças com o funcionamento abaixo da idade típica de cinco anos, por isso apresenta-se como uma boa avaliação para crianças com autismo. Shafer (1999) destacou a utilidade da avaliação para determinar se a criança tem necessários pré-requisitos para desenvolver fala ou se outro método de comunicação pode ser necessário. 53 Neste estudo, a ABBLS foi utilizada para avaliar, além do comportamento verbal, os comportamentos que, mesmo não sendo indicados como pré-requisitos por Frost e Bondy (1994), são indicados por alguns autores como fatores que podem influenciar positivamente o aprendizado, como permanecer sentado para atividade, contato visual, habilidade de matching-to-sample (MTS) e imitação motora (Welsh, 2010). A avaliação ocorreu nas dependências da Fundação, em três sessões de 15 a 30 min para cada participante. Algumas informações foram coletas por observação e informação das professoras. CARS A escala CARS - The Childhood Autism Rating Scale - (Schopler et al., 1988) é um instrumento que permite avaliar as características autísticas, bem como o grau de severidade do transtorno. As informações avaliadas pelo instrumento foram levantadas através das observações dos participantes em períodos de sala de aula e recreação, e por informações dos professores, profissionais da escola e por dados coletados em anamnese com os pais. A Tabela 4 apresenta as principais características dos participantes e os resultados obtidos a partir da aplicação do ABBLS e CARS. Tabela 4 - Caracterização dos participantes P1 P2 P3 P4 Diagnostico Autismo Autismo Autismo Autismo Sexo M F F M Idade (anos e 8 anos e 4 11 anos e 4 8 anos e 8 6 anos e 1 meses) meses meses meses mês CARS Moderado Severo Severo Severo (15-60) (31.0) (38.0) (43.5) (40.5) ABBLS 54 Imitação vocal 31- 36 31- 36 0 – 36 0 – 36 (0-36) (86,1%) (86,1%) (0%) (0%) Mandos 24- 68 8 – 68 3 – 68 2 – 68 (0-68) (35,29%) (11,76 %) (4,41%) (2,94%) Tatos 58- 146 32 – 146 0 – 146 0 -146 (0-146) (39,72%) (0%) (0%) (21,91%) * CARS: Chilhood Autism Rating Scale (Schopler, Reichler & Renner, 1988) * ABBLS: Assessment of Basic Language and Learning Skills (Partington & Sundberg, 1998) Material e estímulos O material utilizado para o ensino das fases do PECs foram os tablados - fichários nas medidas de 30 x 24 cm, revestidos com papel contact preto, com fitas de velcros de 25 cm colocadas na frente do tablado para pregar as figuras (estímulos visuais), além dos itens concretos relativos a cada figura. As figuras eram quadradas, tinham no início 12 cm e posteriormente 7 cm (fase III), eram coloridas, plastificadas e continham velcro atrás. Para a confecção das figuras foi utilizado o software Boardmaker ou imagens do Google quando o item não era encontrado no programa utilizado ou quando foi notada dificuldade para a criança reconhecer a figura do programa. O Boardmaker é um software que contém um banco de dados gráficos contendo mais de 4.500 Símbolos de Comunicação Pictórias – PCS em português brasileiro. Esses símbolos formam um sistema de comunicação completo com mais de 11.000 símbolos e foram originalmente desenhados para criar, rápida e economicamente, recursos de comunicação consistentes e com acabamento profissional. No Brasil, os símbolos PCS se popularizaram com a introdução dos recursos traduzidos e vêm sendo amplamente utilizados por educadores em muitas instituições e escolas e por terapeutas que trabalham com a Comunicação Alternativa. A figura 9 representa um exemplo de prancha de comunicação confeccionada com os símbolos PCS. 55 Figura 9. Exemplo de prancha de comunicação com símbolos - PCS Os estímulos utilizados foram de natureza visual (figuras e objetos concretos correspondentes), selecionados individualmente para cada participante, de acordo com os itens considerados reforçadores para cada um. Eram compostos de brinquedos, materiais escolares, utensílios domésticos e itens alimentícios (comidas e bebidas). Para as fases de treino foram utilizados inicialmente somente os estímulos levantados na avaliação de preferência. Na fase III+, foram utilizados estímulos coerentes ao contexto e rotina da sala de aula (por exemplo: lápis de cor). No anexo 7 são apresentados os estímulos utilizados no procedimento. Situação experimental As sessões foram realizadas em salas de atendimento individual da Fundação Dom Bosco, durante horário escolar, duas ou três vezes por semana. Na fase para avaliar generalização, as coletas foram realizadas em sala de aula e na casa das crianças. As salas da Fundação Dom Bosco tinham o tamanho aproximado de 12m2, continham uma mesa infantil de madeira, com três cadeiras de tamanho infantil e uma mesa grande de trabalho, onde ficava posicionada a câmera, ao lado da mesa infantil. Três pesquisadores se revezaram na condução das coletas de dados, que tinham sempre a presença de dois experimentadores e do participante. Nas sessões na sala de aula, também estavam presentes a professora e cerca de seis alunos. Em cada sessão realizava-se, no mínimo, um bloco de cinco tentativas e, no máximo, 20 tentativas. O número de blocos de tentativas foi oferecido de acordo com a motivação e interesse do participante. As sessões compreendiam 15 minutos em média e eram 56 interrompidas sempre que o participante apresentava sinais de cansaço ou de que a tarefa estava sendo aversiva (por exemplo, querer levantar da mesa, recusar o item, ou selecionar aleatoriamente os estímulos). Procedimento Geral O Procedimento geral foi dividido em três etapas, apresentadas na tabela 5. Tabela 5 - Sequência geral do procedimento Etapa Etapa Seleção dos participantes Etapa 2 Procedimento Seleção através do diagnóstico; Anamnese com os pais; Avaliação do repertório verbal através da ABBLS; aplicação da escala Avaliações CARS Avaliação de potenciais reforçadores Etapa 3 Intervenção Etapa 4 Generalização Ensino das Fases I, II e III do PECS Ensino Fase III+ Coletas de dados e registros na escola e em casa *CARS: Chilhood Autism Rating Scale (Schopler, Reichler & Renner, 1988) *ABBLS: Assessment of Basic Language and Learning Skills (Partington & Sundberg, 1998) Avaliação inicial Nesta etapa foi realizada anamnese clínica com os pais dos participantes a fim de levantar comportamentos, habilidades e dados referentes à interação e comunicação da criança. Sete itens foram selecionados para cada participante, indicados pelos pais como itens 57 de preferência, a serem utilizados como prováveis reforçadores. A partir da identificação desses itens, foi realizada a Avaliação de preferência entre múltiplos estímulos (MSWO) de DeLeon e Iwata (1996) com o objetivo de levantar uma hierarquia de reforçadores para cada um dos participantes, apresentada na tabela 6. A avaliação de preferência foi composta de cinco sessões, realizadas em dois dias, em momentos diferentes, para cada participante. Cada sessão era realizada em no máximo 10 minutos. A cada sessão, todos os itens reforçadores para a criança foram disponibilizados em uma mesa, numa sequência randômica e em linha reta, separados entre si por uma distância de aproximadamente 5 cm. Antes de iniciar cada sessão, o participante teve acesso a cada item por cerca de 5 segundos para certificar a sua familiaridade com o item. O participante permaneceu sentado em frente à mesa e ao conjunto de estímulos. O avaliador instruiu o participante a selecionar um item com o comando verbal: “Fulano, pegue um!”. O tempo de latência entre o comando e a resposta de escolha esperada foi de 15 seg. O tempo que a criança ficava com o item nas mãos era de 30 seg. ou até que fossem consumidos, no caso de itens comestíveis. Cada item escolhido era retirado e as oportunidades de escolhas foram repetidas até que não houvesse mais nenhum item a ser selecionado. Toda vez que o participante não respondia ao comando do avaliador ele era repetido até duas vezes; tentativas de pegar mais de um item de uma vez foram bloqueadas pelo avaliador e a tentativa era repetida. Caso o participante não respondesse mesmo depois das duas oportunidades, os itens eram removidos e uma nova tentativa era iniciada. Após as seleções dos participantes nas cinco sessões foi feito um cálculo dividindo o número de vezes que o estímulo foi escolhido pelo número de tentativas nas quais ele estava disponível. Depois, as porcentagens de escolha dos itens foram ordenadas do valor maior para o menor, gerando uma classificação dos itens em uma hierarquia de estímulos de baixa, média e alta preferência (DeLeon & Iwata, 1996; Roane,Vollmer, Ringdahl & Marcus, 1998; Carr, Nicolson & Higbee, 2000; Daly et al., 2009; Milo, Mage & Nevin, 2010). Para P1 e P2 os estímulos de preferência utilizados na fase de ensino foram exatamente os mesmos levantados na avaliação de preferência: já para P3 e P4, outros itens que não fizeram parte da avaliação de reforçadores foram incluídos, pois os experimentadores observaram, durante o convívio com a criança, que poderiam ser prováveis itens reforçadores. A avaliação de reforçadores foi, então, repetida para esses dois participantes com a inclusão de novos itens, apresentados na tabela 7. Entre os itens selecionados para P3, que constavam 58 de brinquedos e comestíveis, foi observado que receber cócegas era bastante reforçador e foi utilizada como estímulo para a situação de ensino. P3 apresentou dificuldade em escolher o item, apresentou excessos comportamentais durante a sessão, como birra por querer o item novamente e levantar da mesa várias vezes. P3 também demorou mais tempo que os outros participantes para escolher, assim foi aumentado o tempo de tolerância para que P3 escolhesse o item. Tabela 6 - Avaliação de preferência de estímulos para todos os participantes P1 RANK 1 2 3 4 5 6 7 ITEM % Biscoito 71,42% Bombom 50% Iogurte 23,8% Revista 22,72% DVD P2 ITEM P3 P4 ITEM % ITEM % Banana 35,7% Feijão 33,3% Bala 71,4% Biscoito 33,3% Chocolate 25% Todynho 50% Pulseira % 33,3% Cenoura 17,64% Carrinho 26,3% Chocolate 22,7% Papel 17,64% Giz de cera 25% 22,72% Revista 21,7% Melancia 17,64% Brinquedo 20% Pregador 17,85% Iogurte 20,8% Biscoito 16,66% Balão 17,2% Cocacola 16,66% Papel/ Caneta 17,2% Pão 4,34% Refrigerante 16,6% MSWO: Avaliação de preferência entre múltiplos estímulos (DeLeon e Iwata, 1996) 59 Tabela 7 – Avaliação de preferência de estímulos para P3 e P4 P3 P4 RANK ITEM % ITEM 1 Bala 62,5% Batata 62,5% 2 Feijão 31,25% Doce 38,46% 3 Chocolate 27,77% 4 Morango 26,31% Bala 22,72% 5 Maçã 22,72% Chocolate 21,73% 6 Pote 20% Carrinho 19,23% 7 Pão 12,5% Todynho 9,67% Brinquedo % 29,48% MSWO: Avaliação de preferência entre múltiplos estímulos (DeLeon e Iwata, 1996) Linha de base Após as sessões de avaliação do repertório verbal, foi realizada uma linha de base de três sessões cujo objetivo foi verificar se os participantes tinham ou não a habilidade de requisitar por um item utilizando troca de figuras. Um item identificado como reforçador foi disponibilizado em um local em que o participante pudesse visualizá-lo, porém fora do seu alcance. O tablado de comunicação permaneceu próximo ao participante contendo uma figura referente ao item. Caso o participante pegasse a figura e entregasse ao experimentador, ele recebia o item e era registrado que a criança utilizava troca de figuras; caso o participante não pegasse a figura no tablado, nenhuma consequência acontecia. 60 Intervenção A intervenção foi composta pelo ensino sistemático das três primeiras fases do Sistema de Comunicação por troca de figuras (PECS), de Bondy e Frost (1994), a saber: ensino da troca física, ensino da espontaneidade e ensino da discriminação entre vários estímulos. FASE I Nesta fase, o comportamento ensinado “trocar a figura” foi composto por um encadeamento de três respostas: 1- pegar a figura (P), 2 - estender o braço em direção ao experimentador (E) e 3 - colocar a figura na mão do experimentador (S). Cada resposta foi ensinada separadamente, de acordo com a habilidade da criança. O segundo experimentador poderia fornecer ajuda para que a resposta ocorresse, porém o auxílio foi esvanecido ao longo do aprendizado. As ajudas foram classificadas como total, parcial e gestual e foram planejadas e padronizadas previamente a maneira como cada uma das ajudas seriam aplicadas por quaisquer um dos experiementadores, de acordo com a descrição a seguir: 1. Pegar a figura (P) Ajuda total: pegar na mão da criança movimentando os dedos dela para pegar a figura; ajuda parcial: colocar a mão da criança sobre a figura ou somente ajudá-la a retirar a figura da mesa; ajuda gestual: apontar para a figura. A mão aberta do experimentador também foi considerada uma ajuda gestual e foi retirada ao final da fase I. 2. Estender o braço em direção ao terapeuta (E) Ajuda total: pegar no braço da criança e estendê-lo até alcançar a mão do experimentador; ajuda parcial: somente iniciar o movimento direcionando o braço para a mão do experimentador; ajuda gestual: estender o braço do próprio experimentador para que a criança acompanhe com o seu braço (imitação). 3. Soltar a figura na mão do terapeuta (S) Ajuda total: segurar na mão da criança, movimentando os dedos dela para que ela solte a figura na mão do experimentador; ajuda parcial: somente “sombrear” a mão da criança para garantir que ela solte a figura na mão do experimentador; ajuda gestual: indicar a mão para que a criança coloque a figura na mão do experimentador. 61 FASE II Na fase II o objetivo foi ensinar e estimular a espontaneidade para a criança interagir com o experimentador na troca. Três etapas foram necessárias para o ensino desta fase: 1ª- Troca Física com retirada da figura do tablado Nesta etapa as ajudas se limitaram a auxiliar a criança a retirar a figura presa ao tablado por um velcro. As seguintes ajudas foram utilizadas: Ajuda total: pegar na mão da criança e retirar junto com ela a figura do tablado; ajuda parcial: sombrear a mão da criança, na frente da figura, para que ela puxe a figura; ajuda gestual: levantar a figura de modo que facilite para ela puxar. Poderia ser usado um objeto embaixo da figura ao invés de o experimentador levantar a figura. 2ª- Distância entre experimentador e criança Nesta etapa o experimentador se distanciou da criança e ela permaneceu próxima ao tablado. Depois de retirada a figura do tablado, a criança levou a figura até o terapeuta para realizar a troca. O segundo experimentador foi importante nesta etapa para guiar a criança até o experimentador que continha o item nas mãos. Ajuda total consistia guiar a criança até o experimentador, pegando na mão dela; ajuda parcial foi direcionar a criança até o experimentador, acompanhando ao lado da criança; e ajuda gestual foi apontar para a criança onde ela deveria ir trocar a figura. 3ª- Distância entre criança e tablado de comunicação O tablado permaneceu distante aproximadamente 1 a 1,5m da criança. Ajuda foi fornecida para que a criança fosse até o tablado e pegasse a figura. Ajuda total era guiar a criança até o tablado, pegando na mão dela; ajuda parcial, direcionar a criança até o tablado, acompanhando ao lado da criança; e ajuda gestual foi apontar para a criança onde ela deve ir trocar a figura. FASE III Na fase III a criança deveria escolher a figura de um item tendo disponibilizado, ao mesmo tempo, dois ou mais estímulos (discriminação). Os estímulos disponíveis para escolha 62 foram sendo modificados: primeiramente estavam disponíveis um estímulo reforçador e um estímulo neutro, depois dois estímulos reforçadores e por último a resposta de escolha deveria ocorrer entre vários estímulos neutros e reforçadores; no máximo, seis estímulos foram apresentados juntos. As figuras dispostas tiveram, portanto, sua quantidade aumentada e seu tamanho diminuído ao longo da fase III. Os itens solicitados pela criança poderiam ser registrados como estímulo reforçador ou neutro. Não foram fornecidas ajudas para as habilidades já aprendidas em outras etapas, como retirar a figura do tablado, pegar a figura e entregar a figura ao experimentador. Para a nova resposta, discriminar entre as figuras, foram utilizadas ajudas na modificação do procedimento, descritas abaixo: o uso da figura branca e uso de mais estímulos neutros por mais tempo. A ajuda total, como apontar a figura, foi utilizada para indicar a figura correta enquanto apenas um item reforçador estava sendo disponibilizado. Um procedimento diferenciado de correção “uso da figura branca” foi utilizado como ajuda para P2 e P4. Uma figura em branco foi apresentada em par com um estímulo reforçador para facilitar a discriminação de estímulo de preferência, evitando assim que o erro persistisse e possibilitando que a escolha e troca fossem reforçadas. No caso de P2, assim que retornou o uso de estímulos neutros e reforçadores, ela entregava uma figura de cada vez, recebendo o item pedido todas às vezes, independente se o item fosse reforçador ou neutro. Tal desempenho gerou dúvidas quanto à sua aprendizagem da discriminação entre os itens. Foi conduzida, então, uma checagem de correspondência, indicado por Frost e Bondy (1994): três figuras foram apresentadas à P2, enquanto os itens referentes às figuras estavam na mesa. Após uma figura ser escolhida, era pedido para que P2 pegasse o item na mesa. Como P2 acertou todas as três tentativas realizadas, foi considerado que havia discriminação entre os itens de preferência e neutro. FASE III+ Esta fase foi adaptada e estendida para o ambiente natural para que as crianças emitissem mandos por itens necessários para completar uma cadeia de comportamento. Uma operação estabelecedora (OE) foi criada para que mandos fossem emitidos num procedimento de apresentação de três tarefas que as crianças tinham em seu repertório, escolhidas entre os seguintes comportamentos (Lechago, Carr, Grow & Almason, 2010): colorir um desenho, 63 jogar bola, recortar, colar figuras e lanchar. Esta nova etapa, referida como 3+, foi realizada somente para P1, P2 e P4, pois P3 não obteve desempenho suficiente para chegar até esta etapa. Para P4 foi utilizada somente uma cadeia de comportamento – pedir lanche – na qual o item pedido era comestível, pois o participante não apresentava habilidades escolares em seu repertório e as habilidades de brincar não eram suficientemente motivadoras. Mando pelo lápis de cor A professora colocou a folha com a atividade para colorir sobre a mesa, diante da criança e deu o comando verbal para iniciar a atividade, “Fulano, colorir!”. Os lápis de cor que deveriam ser utilizados para a criança colorir estavam nas mãos do experimentador, aproximadamente 1m de distância, e o tablado de comunicação estava disponível no campo de visão da criança, contendo dois estímulos: uma figura do lápis de cor e uma figura de um estímulo neutro. Respostas de mando corretas de pegar a figura do lápis e entregar ao experimentador foram consequenciadas com a entrega do lápis e do elogio. Respostas incorretas da criança de pegar a figura do estímulo neutro - foram seguidas de ajuda gestual até que a criança pegasse a figura correta de maneira independente. O número de oportunidades disponibilizadas variava de 5 a 15 tentativas. Mando pela bola A professora manteve a bola sob seus cuidados sem entregá-la ao aluno. O experimentador disponibilizou o tablado de comunicação para a criança contendo uma figura da bola e uma figura de um estímulo neutro. Respostas corretas do participante de pegar a figura da bola e entregar ao experimentador foram consequenciadas com a entrega da bola e elogio. Respostas incorretas, a criança pegar a figura do item neutro, foram seguidas de ajuda gestual até que a criança pegasse a figura de maneira independente. O número de oportunidades disponibilizadas variava de 5 a 15 tentativas. Mando pela tesoura e cola 64 A professora colocava sobre a mesa, diante da criança, a folha com a atividade para recortar e dava o comando verbal para iniciar a atividade, “Fulano, recortar!”. A tesoura permanecia nas mãos do experimentador e o tablado de comunicação esteve disponível próximo à criança contendo uma figura da tesoura e uma figura de um estímulo neutro. Respostas de mando corretas de pegar a figura da tesoura e entregar ao experimentador foram reforçadas com a entrega da tesoura e elogio. Respostas incorretas, no caso de a criança pegar o item irrelevante, foram seguidas de ajuda gestual até que a criança pegasse a figura de maneira independente. Mais de uma oportunidade foram disponibilizadas durante a mesma atividade. O mesmo procedimento foi feito quando o momento da atividade era para colar a figura. Mando pelo lanche A professora distribuía a merenda das outras crianças e dava o comando verbal para iniciar a atividade, “Crianças, vamos merendar!”. A lancheira permanecia nas mãos do experimentador e o tablado de comunicação esteve disponível próximo à criança contendo uma figura do item para lanche e uma figura de um estímulo neutro. Respostas corretas de mando de pegar a figura do lanche e entregar ao experimentador foram reforçadas com a entrega do lanche e elogio. Respostas incorretas, no caso de a criança pegar o item irrelevante, foram seguidas de ajuda gestual até que a criança pegasse a figura de maneira independente. O número de oportunidades disponibilizadas variava de 5 a 15 tentativas. Na tabela 8 é apresentado um esquema das etapas de cada fase do ensino do PECS. Tabela 8 - Estrutura das fases FASE I P- Pegar a figura E- Estender o braço em direção ao experimentador S- Soltar a figura na mão do experimentador FASE II FASE III 1- Troca física Discriminar entre duas figuras (um estímulo e 2- Distância entre criança reforçador e um neutro) e experimentador Discriminar entre dois 3- Distância entre criança estímulos reforçadores e tablado Discriminar entre vários estímulos (neutros e reforçadores) 65 Concordância entre observadores Três experimentadores participaram da coleta dos dados. Nas fases I e II, foi necessária a presença dos três (terapeuta, coterapeuta, filmagem), e na fase III e III+ apenas de dois experimentadores. As sessões foram filmadas e as respostas foram registradas sempre por um dos experimentadores. Na fase de análise dos dados foi realizado o teste de concordância, que contou com a colaboração de um observador neutro que, a fim de garantir a fidedignidade dos registros. Para o cálculo do índice foi utilizada a fórmula: [Concordância / (concordância + discordância)]× 100. Para a análise de concordância dos dados entre os observadores, foram analisadas 10 sessões de cada fase, incluindo intervenção e generalização. Pelas filmagens foi possível avaliar que as respostas emitidas pelos participantes foram emitidas tal e qual as registradas pelo experimentador, com concordância de 95%. A análise acima apresentada revela que o procedimento foi fidedigno ao descrito na sessão de método. Generalização Após o procedimento de ensino das três fases do PECS, foi feito o treinamento de mães e professoras que seriam os parceiros de comunicação na nova fase do estudo, a generalização. O treinamento oferecido às mães e professoras dos participantes ocorreu em uma reunião com todos os presentes, na escola, em uma sessão de duas horas. O treinamento foi composto de informações a respeito das características autísticas de interesse para o estudo, a importância da comunicação (verbal ou não-verbal) e consequência do déficit na comunicação no comportamento do autista. Também foi explicado o que é o PECS, qual a sua importância e como ocorre o procedimento de ensino do PECS. Foram apresentados os estímulos que seriam usados – tablados e figuras – e as folhas de registro para coleta dos dados. Foram dadas instruções de como responder adequadamente ao mando e como criar contingências para que estes mandos ocorressem. Como por exemplo, não deixar os itens ao alcance da criança e não disponibilizar os itens do tablado sem a apresentação do mando. Também foram 66 sanadas todas as dúvidas, incluindo o receio quanto à utilização da figura, o que leigamente é visto como substituta da comunicação oral, bem como dúvidas a respeito do uso das folhas de registro. Todas as informações foram fornecidas em slides contendo ilustrações e linguagem acessível. As mães e professoras foram orientadas a disponibilizar o tablado durante meia hora por dia, em horários diferentes, para o participante. O tablado de comunicação ficava ao alcance do participante, contendo itens reforçadores treinados e não- treinados, num total de 8 a 10 figuras. Para cada criança foram confeccionados dois tablados, um para o ambiente escolar e um para a residência, contendo figuras treinadas e figuras não treinadas que as mães e professoras consideraram itens reforçadores ou necessários em tais ambientes. Os itens deveriam permanecer fora do alcance da criança, não poderiam ser disponibilizados em outras situações e foram sempre disponibilizados quando pedidos. A coleta dos dados foi feita no seguinte esquema, num total de cinco semanas: primeira semana – cinco dias de coleta; segunda semana – três dias; terceira semana – nenhum dia de coleta; quarta semana – cinco dias e na quinta e última semana, três dias de coleta. Os dias não foram obrigatoriamente consecutivos, já que lidamos com falta das crianças à escola, feriados e atividades da escola incompatíveis com a coleta. Durante a coleta, uma vez por semana, foi realizada a filmagem do momento da coleta, também sem a presença dos pesquisadores. Estas filmagens serviram como amostra para verificar se os dados registrados pelos responsáveis eram compatíveis com o que era observado pelos pesquisadores nas filmagens. As mesmas orientações foram aplicadas na escola e o mesmo esquema de 5 semanas foi procedido no contexto escolar. Na escola, a professora fazia os registros e outros alunos estavam presentes durante a coleta, pois o funcionamento das atividades escolares ocorreu normalmente. Nas folhas de registro dadas para mães e professoras foram registrados: o item pedido, o local que a criança estava no momento da troca, quem estava presente e foi o ouvinte, se o item foi liberado ou não para a criança bem como o porquê se não foi liberado, se junto com a troca houve comportamento vocal e se a criança recebeu consequências sociais (como elogios) junto com o item pedido. 67 RESULTADOS Linha de base Nenhum dos participantes requisitou pelos itens fazendo uso de figuras, nas três tentativas disponibilizadas na linha de base; assim, foi considerado que eles não possuíam em seu repertório o comportamento de mando com figuras. Avaliação Inicial Repertório verbal O uso dos operantes verbais tato, mando e ecóico foram avaliados por meio da aplicação da ABBLs. Todos os participantes apresentaram déficits de comunicação significativos nas 36 habilidades de ecóicos, 68 de mandos e 146 habilidades de tato avaliadas. P1 apresentou déficits em mando (35,29%) e tato (49,72%) e não apresentou dificuldade em ecóicos (imitação) respondendo corretamente em 86% dos itens. P2 apresentou maior prejuízo em mandos (11,76%), seguido por 21,91% em tatos e teve bom desempenho em ecóicos, 86%. P3 e P4 apresentaram baixo repertório em todos os operantes verbais; ambos não apresentaram fala e nos itens que avaliaram comunicação/interação, sem fala, eles também apresentaram déficits. P3 apresentou 4,41% de mandos, 0% de ecóicos e 0 % de tatos. P4 apresentou 2,94% de mandos, 0% de ecóicos e 0% de tatos. P3 apresentou mandos por indicação (apontar, levar a pessoa até o que necessita) e movimentos com a cabeça (sim/não); P4 apresentou somente mando por indicação. Imitação Motora Foram avaliados 27 itens de imitação motora contidos na escala ABBLs, incluindo habilidades de mãos, braços e dedos. P1 foi o participante que apresentou melhor habilidade motora, obteve 92% de sucesso, seguido de P2 que apresentou 59%. P3 e P4 não apresentaram nenhuma habilidade de imitação motora. 68 Emparelhamento Os participantes foram avaliados quanto à resposta de emparelhar figuras: dez figuras foram apresentadas em arranjos de duas figuras de cada vez e a mesma figura foi entregue ao participante junto ao estímulo verbal do experimentador: “Coloca com o igual”. P1 e P2 apresentaram 100% das habilidades, demonstrando fluência em emparelhar figuras com figuras. P3 apresentou baixo repertório (30%) e P4 não apresentou resposta de emparelhar em nenhuma das tentativas. Aquisição das respostas nas fases I a III + do PECS Resultados da proficiência na aquisição das respostas requeridas pelo PECS são apresentados na tabela 9. P1 terminou as 3 fases em 38 sessões (190 tentativas). A fase I foi concluída com 35 tentativas (7 sessões), a fase II com 45 tentativas (9 sessões), a fase III em 60 tentativas (12 sessões) e a fase III+ em 50 tentativas (10 sessões). A fase que P1 levou mais tempo para alcançar o critério foi a fase III, na qual as figuras foram acrescidas gradualmente, primeiro duas, três, quatro, estando entre elas misturadas figuras reforçadoras e neutras. Para todos os três participantes que finalizaram o procedimento de ensino, a fase III foi a mais demorada. P2 adquiriu a habilidade total do PECS em mais tempo, 58 sessões (290 tentativas). A fase I foi concluída em 30 tentativas (6 sessões), a fase II com 50 tentativas (10 sessões), a fase III em 115 tentativas (23 sessões) e a fase complementar, III+, em 95 tentativas (19 sessões). P3 não alcançou o critério para passar da fase II. O ensino foi interrompido após um total de 345 tentativas (69 sessões), somente até a fase II. A fase I foi concluída após 160 tentativas (32 sessões) e a fase II foi interrompida com 185 tentativas (37 sessões). P4 obteve o desempenho total com 100 sessões (500 tentativas). A fase I foi concluída com 105 tentativas (21 sessões), a fase II com 95 tentativas (19 sessões), a fase III com 205 tentativas (41 sessões) e a fase III+ com 95 tentativas (19 sessões). P4 precisou de um maior número de sessões e tentativas para desempenhar as três fases. O critério para obter o desempenho necessário em cada fase foi 80% de tentativas desempenhadas de forma independente em três sessões consecutivas (cada sessão de cinco tentativas). 69 Tabela 9 – Tempo necessário para alcançar critério do PECS por cada participante em cada uma das fases. Fase I P1 P2 P3 P4 7 sessões (35 6 sessões (30 32 sessões (160 21 sessões (105 tentativas) tentativas) tentativas) tentativas) 9 sessões (45 10 sessões ( 50 37 sessões (185 19 sessões (95 tentativas) tentativas) tentativas) tentativas) 12 sessões (60 23 sessões (115 tentativas) tentativas) tentativas) 10 sessões (50 19 sessões (95 19 sessões (95 tentativas) tentativas) 38 sessões (190 58 sessões (290 69 sessões (345 100 sessões (500 tentativas) tentativas) tentativas) tentativas) Fase II Fase III 41 sessões (205 NA NA Fase III + tentativas) Total/fases A figura 10 traz a representação do percentual de respostas independentes por sessão de todos os participantes na primeira fase do estudo. De maneira geral pode-se observar que P3 foi o participante que apresentou mais dificuldade em adquirir as respostas nesta fase e que as respostas de P4 foram pouco constantes, se alternando bastante. 70 Figura 10. Percentual de respostas independentes por sessão de todos os participantes na Fase I do PECS. As figuras 11 a 14 apresentam respectivamente os desempenhos de P1, P2, P3 e P4 em todas as fases de ensino do PECS. P1 na quarta sessão já obteve critério da fase I, porém mais um bloco de 3 sessões foi repetido usando uma figura nova, a fim de garantir fluência na prática da fase (Ganz & Simpson, 2004). Após adquirir a habilidade da fase I rapidamente, P1 iniciou a fase II, na qual três modificações foram exigidas no comportamento de troca (denominadas etapas 1, 2 e 3 da fase II) nas quais a habilidade de trocar a figura foi tornandose cada vez mais complexa. Primeiramente exigia-se retirar a figura do velcro e ir até o tablado e o terapeuta se distanciava progressivamente do participante. P1 alcançou o critério para a primeira etapa já na 3ª sessão, na 6ª sessão superou a etapa 2 e a etapa 3 foi superada na 9ª sessão. Não apresentou dificuldades em nenhuma das etapas da fase II. Já na fase III, até a 4ª sessão foi apresentado um estímulo reforçador (sorvete ou revistinha) e um estímulo neutro somente (clip ou chave); depois que P1 alcançou o critério, dois estímulos neutros (clipe e chave) foram apresentados junto ao estímulo reforçador. As sessões foram finalizadas quando P1 alcançou o critério discriminando um total de 6 estímulos reforçadores e 3 estímulos neutros, mas que foram apresentados aleatoriamente no tablado contendo 3 reforçadores e 3 neutros. Na fase III+ houve a diminuição no tamanho das figuras, o que não influenciou no desempenho do participante. P1 apresentou 100% de desempenho em todas as 10 sessões realizadas com estímulos relevantes no ambiente de sala de aula, alternando os parceiros de comunicação (experimentadores e professora). As 10 sessões foram realizadas para P1 ter muitas oportunidades de apresentar mandos e ter contato com uma variedade de estímulos maior. P1 alcançou o desempenho na aprendizagem das três fases do PECS. 71 Linha de base Percentual de acertos Fase 1 Fase 2 Fase 3 Fase 3+ Sessões Figura 11. Percentual de acertos de P1 por sessão nas fases 1, 2, 3, e 3+. P2 também não apresentou dificuldades na fase I, obtendo o critério na 5ª sessão que também foi estendida em mais uma sessão para o contato com outras figuras. Na fase II, alcançou o critério para a primeira etapa já na 3ª sessão, na 6ª sessão superou a etapa 2 e a etapa 3 foi superada na 10ª sessão. Nove itens diferentes foram apresentados a P2 e não houve dificuldade em nenhuma das etapas desta fase. P2 também apresentou mais de 80% de respostas corretas nas tentativas em todas as sessões divididas nas três etapas e alcançou o critério rapidamente. A fase III iniciou com as figuras em tamanho menor. Na fase III foi apresentado a P2 um estímulo reforçador (banana ou biscoito) e um estímulo neutro (chave ou clip) até a 5ª sessão. A partir da 6ª sessão começaram a ser apresentados dois estímulos neutros e um reforçador, sendo que na 7ª sessão P2 respondeu 100% independente quando o reforçador apresentado foi banana (estímulo de alta preferência de P2). Na 10ª sessão iniciouse a apresentação de dois estímulos neutros e dois reforçadores, até que na 13ª sessão P2 apresentou mandos independentes em 100% das sessões por dois estímulos (biscoito e banana). Até 20ª sessão P2 alternou os mandos entre neutros e reforçadores, deixando a dúvida se ela conseguia discriminar entre os estímulos. Na 21ª sessão iniciou-se o procedimento de correção com o “uso da figura branca”, no qual uma figura em branco foi 72 apresentada conjuntamente com um estímulo reforçador para facilitar a discriminação de estímulo de preferência, evitando assim que o erro persistisse e possibilitando que a escolha e troca fossem reforçadas. Dessa forma, P2 respondeu 100% independente na 21ª sessão e em seguida foi realizada uma checagem de correspondência na qual se verificou que P2 reconhecia o estímulo relacionado à figura que entregava ao experimentador. Assim, na sessão seguinte foram introduzidos novamente os estímulos neutros e reforçadores e P2 alcançou o critério da fase III na 23ª sessão. A fase III+ foi iniciada com a apresentação de dois estímulos neutros e um estímulo relevante de acordo com a atividade de sala de aula. Nesta fase houve variação de parceiros de comunicação e mudanças de ambiente, além da sala de aula, na 6ª sessão as oportunidades de mando ocorreram no pátio da escola e o estímulo reforçador foi bola. Na sessão anterior já haviam sido inseridos mais 3 estímulos neutros e um único estímulo reforçador era o item relevante para atividade; este estímulo era alterado a cada dia de coleta. Nessa fase o que determinava o estímulo como sendo reforçador ou neutro era a atividade apresentada. Na 12ª sessão P2 alcançou o critério, mas como um novo estímulo foi apresentado nessa sessão e por duas vezes não foi selecionado, foi repetida mais uma sessão na qual P2 respondeu independente em todas as tentativas. Na 19ª sessão P2 alcançou o critério da fase III+. Linha de base Percentual de acertos Fase 1 Fase 2 Fase 3 Fase 3+ Sessões Figura 12. Percentual de respostas independentes de P2 por sessão nas fases 1, 2, 3 e 3+. 73 P3 realizou a fase de ensino somente até a fase II. Abaixo a figura 13 apresenta o desempenho de P3 nas fases I e II. Para a fase I foi selecionado o feijão cru como estímulo reforçador para instalar a resposta de trocar a figura. Feijão cru foi o estímulo de alta preferência para P3 indicado pelas duas avaliações de reforçadores realizadas. Durante 23 sessões foi usado esse mesmo reforçador sem nenhuma resposta totalmente independente, isto é, P3 sempre precisava de ajuda, ou para pegar, direcionar ou para soltar a figura. Outros reforçadores foram mostrados para ela no inicio de algumas sessões para ver se haveria outra escolha do item a ser usado, mas P3 escolhia sempre o feijão. Por este motivo esse estímulo foi mantido insistentemente até que foi observado que P3 gostava de receber cócegas. Na 26ª sessão iniciou a apresentação da figura de “cócegas” e as respostas independentes começaram a aumentar de frequência e na 31ª sessão alcançou o critério fase I. Mais uma sessão foi realizada com bala como estímulo e P3 respondeu 100% das oportunidades de maneira independente. P3 aprendeu a troca de itens por figuras. Na fase II o estímulo inicial foi cócegas, já que P3 respondeu bem a este estímulo; porém, na 3ª sessão P3 não apresentou nenhum mando por cócegas, então outros reforçadores foram apresentados, como bala e todynho, e as respostas permaneceram em baixa frequência. Na 10ª sessão foi reapresentado cócegas e P3 respondeu 100% de respostas independentes, e na 12ª sessão P3 alcançou critério da etapa 1 da fase II. Quando iniciou a etapa 2 (13ª sessão), na qual P3 tinha que ir até o experimentador que se mantinha à distância, ela começou a apresentar comportamentos inadequados como levantar e sair da mesa várias vezes, ou recusar a sentar-se, tamborilar os dedos nas figuras e assim acabava se distraindo e precisava de ajuda para ir até o experimentador. O número de respostas independentes era muito baixo nesta etapa. Nessa mesma sessão (13ª) não houve respostas independentes com um novo estímulo (chocolate); em seguida cócegas foi reapresentado e 100% de respostas independentes ocorreram. Na 15ª sessão bala foi apresentado por duas sessões consecutivas e novamente não houve respostas independentes. Na 17ª sessão os experimentadores retornam P3 para a etapa 1, em que tinham controle sobre ela sentada na mesa já que não era necessário que ela andasse pela sala. Este procedimento também foi adotado para que ela não permanecesse sem responder adequadamente e sem receber reforçadores. Até a 20ª sessão foi apresentado, alternadamente, os estímulos bala, chocolate e cócegas, mas em todas as sessões o desempenho de escolhas de P3 foi baixo. Na 21ª sessão foi reapresentado o feijão cru como estímulo e na sessão 23 P3 alcançou critério para passar para a etapa 2. Nas sessões 24 e 25 foi realizada a etapa 2, P3 74 respondeu 100% independente e apesar das respostas independentes abaixarem na sessão 26, P3 respondeu 100% novamente na sessão 27. P3, então, passou para a etapa 3 na sessão 28. Até a 37ª sessão foram apresentados mais alguns estímulos (como milho verde, bala, feijão cru e cócegas) mas as respostas independentes permaneceram baixas. Assim, depois de várias sessões inclusive com retorno para fase anterior, foi encerrado o ensino do PECS para P3. Foi observado que P3 entregava aleatoriamente as figuras para o experimentador, demonstrando não discriminar entre as figuras. P3 aprendeu o comportamento de entregar a figura na fase I, portanto, algumas vezes, entregava a figura e acertava e em outras entregava a figura de um Percentual de acertos item qualquer sem demonstrar qualquer interesse pelo item ou chegava a recusá-lo. Linha de base Fase 1 Fase 2 Sessõe Figura 13. Percentual de acertos de P3 por sessão nas fases 1 e 2. P4 precisou de 21 sessões para superar a fase I. Na 14ª sessão alcançou critério com uma figura, carrinho. Porém P4, apesar de responder sem as ajudas estabelecidas, ainda necessitava da pista visual da mão do experimentador aberta. Assim, foram realizadas mais 3 sessões com a pista e apresentando bala como estímulo. P3 alcançou o critério novamente e na 18ª sessão foi retirada a pista visual. P3 respondeu 100% independente 3 sessões consecutivas mandando por todynho. Na fase II, P4 alcançou na 6ª sessão o critério da etapa 1 porém uma nova figura foi inserida e na 9ª sessão iniciou-se a etapa II, que na 11ª sessão já tinha sido superada. A partir da 12ª sessão foi iniciada a etapa III finalizada na 19ª sessão com o ensino de três estímulos 75 diferentes. Na fase III P4 permaneceu respondendo a um estímulo neutro e um reforçador até a 9ª sessão. Mais sessões foram realizadas devido à diminuição de sessões por semana (de 3 para 2); assim, os experimentadores na sessão seguinte repetiam a última sessão para observar se o desempenho do participante tinha se mantido. A partir da 10ª sessão foi apresentado a P4 dois estímulos neutros e um reforçador. Nesta sessão P4 respondeu 100% independente e o estímulo apresentado havia sido carrinho, estímulo da mais alta preferência; já na sessão seguinte o desempenho do participante caiu e só voltou a melhorar até atingir 100% quando, na 14ª sessão, foi introduzido o procedimento de correção da figura branca. A partir da 17ª sessão mais estímulos foram apresentados: dois estímulos neutros e dois reforçadores. Na 21ª sessão mais um estímulo neutro e um reforçador foram introduzidos e quando chegou a 24ª sessão P4 não havia alcançado critério de desempenho e a escola entrou de férias. As atividades foram retomadas depois das férias com a mesma exigência nas sessões realizadas anteriormente. Na 28ª sessão os experimentadores tiveram que realizar a sessão na hora do recreio e P4 ficou muito disperso com o barulho das outras crianças do lado de fora da sala, o que provavelmente explique talvez o seu mau desempenho. Como o desempenho nas três últimas sessões não tinha sido bom, retomou-se na 29ª sessão a apresentação de somente um estímulo reforçador e um neutro. Três sessões foram realizadas com 100% de respostas independentes de P4. Na 32ª sessão foi reapresentado o arranjo de 2 estímulos neutros e um reforçador e na 35ª sessão o participante alcançou o critério, permitindo a apresentação de um arranjo de dois reforçadores e dois neutros até a 39ª sessão. P4 respondeu 100% independente até a 41ª sessão. A fase III+ de P4 foi realizada com estímulos relevantes no horário do lanche. Já nas três primeiras sessões P4 apresentou mandos independentes por itens de preferência. Porém foi apresentado somente dois estímulos reforçadores e dois neutros, assim iniciou-se mais sessões com 3 itens neutros e 2 reforçadores. Este critério só foi alcançado na 13ª sessão e a partir dessa sessão permaneceram no tablado de comunicação três estímulos de cada até a 19ª sessão, quando P4 finalizou o ensino. 76 Linha de base Percentual de acertos Fase 1 Fase 2 Fase 3 Fase 3+ Sessões Figura 14. Percentual de acertos de P4 por sessão nas fases 1, 2, 3, e 3+. Generalização Das três crianças que participaram da fase da generalização, para uma delas a coleta foi diferenciada da proposta inicial da pesquisa, que seria a coleta dos dados durante 5 semanas, no esquema descrito anteriormente. Isso ocorreu porque a família de P1 encontrou alguns problemas para realizar a coleta. A mãe começou a trabalhar em outro lugar, o que dificultou os horários dela com a criança, e a avó, além de ter dificuldade de registrar os comportamentos de P1, iniciou exames por graves problemas de saúde. Uma alternativa que buscou viabilizar que a família realizasse os registros foi fazer a coleta dos dados apenas uma vez por semana, durante 30 min, em dias e horários diferenciados, quando os pesquisadores também realizavam a filmagem. O experimentador colocava a filmadora em local escolhido para deixar o tablado e se retirava da casa, retornando após 30 a 40 min. Foi realizado um menor número de filmagens das coletas de P2, planejadas para produzir amostra dos registros, por indisponibilidade da mãe em receber os pesquisadores em casa. Na fase de generalização os pesquisadores notaram desmotivação da mãe de P2 e conversaram algumas vezes com ela sobre a importância da etapa para a pesquisa; os pesquisadores também relembraram a mãe que de acordo com o termo de consentimento a sua 77 participação era voluntária e ela poderia interrompê-la sem problemas, caso fosse sua vontade. A mãe decidiu continuar no estudo. Mandos generalizados por P1 Durante a etapa da generalização, P1 apresentou na escola um total de 107 mandos por oito itens diferentes. Dos dez itens disponibilizados os dois itens que não foram pedidos foram papel e giz de cera. Itens comestíveis também compunham o tablado, porém não foram pedidos. O tablado de comunicação continha figuras relevantes para o contexto de sala de aula e recreio, contextos nos quais os mandos foram exibidos. Os mandos foram sempre direcionados para a sua professora, mesmo estando os colegas e algumas vezes a ajudante da escola presentes. No recreio P1 apresentou mando por bola. Na escola, P1 apresentou generalização dos mandos em contextos e momentos diferentes e por figuras não treinadas, além de na presença e ausência do item desejado. Dos 107 mandos, 43 foram mandos por itens fora da visão, mandos sob controle de uma OE estabelecida na contingência de uma atividade em sala de aula (mandos por itens necessários no contexto escolar e que não estavam disponíveis para P1 porque estavam guardados nos armários ou na mesa da professora). Os outros mandos ocorreram na presença do item, quando os objetos estavam disponibilizados na mesa ou na mão de um colega ou da professora. Todos os itens pedidos foram treinados. Na tabela abaixo são apresentadas informações sobre os mandos generalizados por P1 na escola. Tabela 10 – Mandos generalizados na escola por P1 Nº de vezes Itens Treinadas pedidos (figuras) X Não treinadas que o item foi Visão Local/ pessoas presentes X Fora da visão pedido 6 Tesoura 12 Escola/Professora/alunos X 6 Pincel 3 Escola/ Pofessora/alunos 2 78 X 1 7 Tinta 9 Escola/Professora/alunos X 2 34 Lápis 45 Escola/Professora/alunos X 11 3 Lápis de cor 18 Escola/Professora/alunos X 15 1 Cola 7 Escola/Professora/alunos X 6 Bola 6 Escola/Professora/alunos 6 5 Borracha 7 Escola/Professora/alunos X 2 Figuras não Papel, giz de cera pedidas Em casa, P1 também apresentou mandos generalizados por itens comestíveis e nãocomestíveis. O tablado de comunicação continha figuras de itens de preferência e relevantes no ambiente do lar. Como a coleta de P1 em casa teve uma amostra menor, foi composta apenas de 4 dias, uma vez por semana com uma semana de pausa, o número de mandos apresentados foi bem menor. P1 apresentou 8 mandos, sendo 7 mandos por itens não 79 treinados, DVDs e sucrilhos. O tempo de filmagem foi curto e o cereal e o biscoito foram dados em quantidade grande pela mãe, o que certamente contribuiu para que P1 só tenha apresentado um mando dentro do tempo de coleta. Aconteceu algo similar com os DVDs, que a mãe colocou imediatamente. Somente o cereal não estava na visão do participante, os DVDs permanciam na estante e o biscoito na mão de um primo de P1. Dos itens não pedidos, todynho é um dos itens de muita preferência de P1, porém fica disponibilizado o tempo todo para ele e seus primos menores. Na tabela 11 são apresentados os mandos generalizados apresentados por P1 em casa. Tabela 11- Mandos generalizados em casa por P1 Itens Treinadas pedidos (figuras) X Não treinadas Visão Nº de vezes que o Local/ pessoas item foi pedido presentes 1 Cozinha/mãe 1 Cozinha/mãe 5 Quarto/mãe 1 Quarto/mãe X X Fora da visão DVD Pica-pau Biscoito DVD Rio Sucrilho X X X Figuras não DVD Era do Gelo, brinquedo de montar, bola, banana, iogurte, todynho pedidas A figura 15 mostra a frequência da emissão de mandos generalizados no ambiente escolar e em casa. Na escola os mandos foram bem mais frequentes uma vez que havia mais estímulos e necessidades de pedir pelos itens do que em casa. As atividades oferecidas pela professora criavam necessidade dos materiais e o tablado de comunicação era essencial para que a criança realizasse a tarefa, pois a professora aguardava o pedido para lhe entregar o 80 material. O número de mandos apresentados variou bastante em função do tempo total de cada coleta; apesar de ter sido planejado para ser o mesmo tempo todos os dias havia interferências que provocaram alterações tais como saídas da criança da sala, tempo mais longo para realizar a atividade, início do recreio das crianças e o tipo de material utilizado. No 14º dia de coleta observou-se maior frequência de emissão de mandos devido ao tipo de atividade realizada: foram pedidos de lápis, que era usado e devolvido em uma a atividade mais longa; P1 pegou e devolveu várias vezes o lápis, além de pedir borracha também por 5 vezes, intercaladas com o lápis. A coleta de mandos generalizados na escola durou 55 dias, tempo superior ao esperado pelo esquema de 5 semanas de coleta, influenciado por feriados, ausências da criança na escola e atividades extras dentro da escola. O aumento no tempo total do registro mostrou que a generalidade na emissão dos mandos se manteve com o passar do tempo, após o ensino. Em casa a coleta durou as 5 semanas, e a generalidade de mandos por itens de preferência também foi demonstrada. Figura 15. Número de mandos generalizados por P1 nos ambientes escolar e doméstico. Mandos generalizados por P2 P2, na generalização, apresentou na escola um total de 118 mandos dentre nove itens diferentes. Os mandos foram direcionados para a sua professora e apenas uma vez para um 81 colega, mesmo estando os colegas e algumas vezes a ajudante da escola presentes todas as vezes. Todos os itens pedidos foram treinados, mesmo o tablado contendo figuras de itens não treinados. Os mandos foram apresentados durante as atividades de sala de aula e durante o recreio. P2 gostava bastante da bola de basquete e este mando foi apresentado em apenas um dia da coleta, porém por várias vezes. A professora disse ter perdido a conta de quantas vezes ela pediu e registrou várias vezes, conforme a tabela 12 apresenta. Na escola, P2 também apresentou mandos generalizados por itens na presença e ausência do item desejado. Dos 118 mandos, 61 foram mandos por itens fora da visão, mandos sob controle de uma OE estabelecida na contingência de uma atividade em sala de aula (mandos por itens necessários no contexto escolar e que não estavam disponíveis para P2 porque ficavam guardados nos armários ou na mesa da professora). Os outros mandos ocorreram na presença do item, quando os objetos estavam disponibilizados na mesa ou na mão de um colega ou da professora. P2 esporadicamente apresentou mandos verbais, nomeando corretamente as figuras, acompanhados da entrega da figura. A tabela 12 apresenta os mandos generalizados por P2 na escola. Tabela 12 – Mandos generalizados na escola por P2 Nº de vezes que Itens Treinadas pedidos (figuras) X Não treinadas Local/ pessoas o item foi presentes pedido Escola/professora/ Tesoura Apontador Lápis Visão X Fora da visão 3 13 alunos X 10 Escola/professora/ 1 alunos X 18 Escola/professora/ 14 19 24 alunos X 10 82 4 Escola/professora/ Estojo 15 alunos Lápis de cor Cola X 11 Escola/professora/ 13 alunos X 5 Escola/professora/ 2 18 8 alunos X 6 Escola/professora/ Borracha 1 X1 alunos Escola/professora/ Tinta 15 5 Várias 15 alunos Escola/professora/ Pincel 5 alunos Escola/ Bola professora/alunos Figuras não giz de cera pedidas Em casa P2 também apresentou mandos generalizados, num total de 48 mandos dentre treze itens diferentes. Praticamente todos os mandos de P2 foram apresentados na presença do item e direcionados para a mãe, com exceção de bombom que uma vez foi pedido sem o item estar presente. Dos treze itens pedidos, 7 foram mandos por itens não treinados. Interessante notar que em casa P2 apresentou mandos por brinquedos que, segundo a mãe, estavam 83 deixados de lado e ela não pegava há bastante tempo. P2 além de entregar a figura, apresentou mando verbal referente ao item, em todas as ocasiões, nomeando corretamente as figuras. Segundo a mãe, ela sempre incentivou P2 a falar o nome dos objetos: por exemplo, só entregando a P2 algo que ela quisesse comer diante de alguma vocalização; a mãe nomeava o item e P2 repetia. Hoje ela não somente imita, mas nomeia enquanto a mãe segura o item. O item de maior preferência para P2, banana, não foi pedido. Isto provavelmente ocorreu porque P2 sempre tinha acesso a este item em outros lugares, como na casa da avó e na merenda na escola. Na tabela 13 são apresentados os mandos generalizados por P2 em casa. Tabela 13 – Mandos generalizados em casa por P2 Itens Treinadas pedidos (figuras) o item foi X Não treinadas Boneca Peteca Nº de vezes que X X pedido Local/ pessoas presentes Visão X Fora da visão 10 Mãe 6 Mãe Estojo 1 Mãe Mochila X 1 Mãe Caneta X 1 Mãe Pão 9 Mãe Leite X 2 Mãe Merenda X 3 Mãe Iogurte X 6 Mãe Biscoito 5 Mãe Bombom 2 Mãe 1 84 X Bola 1 Mãe Bala 1 Mãe 1 Figuras Banana não pedidas A figura 16 mostra a frequência da emissão de mandos generalizados no ambiente escolar e em casa de P2. Este participante também apresentou maior frequência de mandos na escola. Isso reforça a possibilidade do ambiente escolar ser um ambiente mais rico para a comunicação e apresentação de estímulos, ocorrendo, consequentemente, mais oportunidades de emissão mandos. O número de mandos emitidos variou em função da atividade oferecida; no 3º dia de coleta o uso do apontador fez com que mais mandos fossem apresentados, pois P2 precisou apontar o lápis muitas vezes; no 19º dia, que também teve um número maior de mandos, a atividade realizada necessitava de tintas e pincel. A troca de tinta e pincel também possibilitou maior frequência de mandos. A coleta de mandos generalizados na escola se estendeu durante 54 dias devido a feriados, ausências da criança na escola e atividades extras dentro da escola. Em casa a coleta se estendeu por 60 dias, iniciando no mês de maio e finalizando em julho, com mais uma sessão realizada em setembro. A generalidade dos mandos se manteve por todo esse período, mesmo tendo havido um espaço de dois meses sem que P2 utilizasse as figuras para se comunicar. Em casa o dia que maior emissão de mandos foi justamente o dia da filmagem realizada pelos experimentadores. A mãe informou que não tinha muitos itens comestíveis em casa porque não tinha feito compra do mês e estava fazendo as refeições na casa da avó de P2. Dessa forma, os experimentadores levaram alguns itens, como bombom, biscoito e iogurte. É provável que o aumento de mandos apresentados neste dia tenha ocorrido por P2 estar privado destes itens há alguns dias, segundo a mãe. 85 Mandos generalizados por P4 Mandos Generalizados por P4 Figura 16. Número de mandos generalizados por P2 nos ambientes escolar e doméstico. P4 também apresentou mandos generalizados na escola. Para P4 foram utilizadas somente figuras de comestíveis e as coletas foram feitas na hora do lanche. Tais figuras foram escolhidas por serem itens de preferência e serem relevantes ao contexto. O tablado não foi disponível em outro momento para que P4 não pedisse por comestíveis fora do horário recorrente na escola. P4 apresentou 105 mandos dentre 6 itens diferentes: bolinho, refrigerante, salgadinho, suco, chocolate e tesoura. Tesoura foi um estímulo neutro que ele pediu em um dia, uma vez. Imediatamente quando recebeu a tesoura devolveu para o experimentador. Todos os itens ficaram sob a visão do participante, não ao alcance, mas em cima do armário da professora ou na mesa dela. A merenda de P4 era bem diferenciada das outras crianças, já que P4 tem uma alimentação mais restrita, pois recusa muitos alimentos. Sua mesa era colocada num canto da sala que pudesse ser filmado durante as coletas. A professora não deixava o lanche todo disponível na mesinha de P4 para evitar que outras crianças fossem até a mesa e para que P4 não comesse compulsivamente. Apenas um item solicitado não foi treinado, o bolinho, que a mãe disse que fazia pouco tempo ele tinha começado a aceitar. A figura 14 traz os mandos generalizados por P4 na escola. Tabela 14 – Mandos generalizados na escola por P4 Itens Treinadas pedidos (figuras) Nº de vezes que o item foi X Não treinadas pedido Visão Local/ pessoas presentes X Fora da visão 86 Bolinho X 30 Escola/Professora/alunos Refrigerante 11 Escola/Professora/alunos Salgadinho 40 Escola/Professora/alunos Suco 20 Escola/Professora/alunos Chocolate 3 Escola/Professora/alunos Tesoura 1 Escola/Professora/alunos Figuras não Todynho, biscoito, iogurte, bala pedidas Em casa P4 apresentou apenas 13 mandos, de dois itens diferentes. Ficou alguns dias sem pedir nada. Apenas dois mandos não foram apresentados na presença do item, e um item não havia sido treinado. O bombom foi o item mais pedido e, segundo a mãe, ela tinha que esconder tanto o tablado quanto o bombom em seguida, senão ele pedia sem parar. Na figura 15 são apresentados os mandos generalizados em casa por P4. Tabela 15 – Mandos generalizados em casa por P4 Itens Treinadas pedidos (figuras) X Não treinadas Nº de vezes que o Local/ pessoas Visão item foi pedido presentes X Fora da visão 9 Bombom 11 Casa/Mãe X2 Bolinho 2 Casa/Mãe Itens não Refrigerante, salgadinho, biscoito , suco, todynho, iogurte, bala, brinquedo de montar pedidos e lápis A figura 17 mostra a frequência da emissão de mandos generalizados no ambiente escolar e em casa de P4. Este participante também apresentou maior frequência de mandos na 87 escola. No caso de P4, como os itens disponibilizados no tablado de comunicação foram itens de preferência e que faziam parte da merenda da criança, a probabilidade do mando ocorrer era alta. O número de mandos emitidos variou em função dos itens enviados pela mãe para a merenda; no 2º dia de coleta o número de mandos aumentou devido ao salgadinho pedido, a cada vez que pedia ganhava somente um pouco, o que fez com que pedisse muitas vezes. No 6º dia, que também teve um número maior de mandos, o item mais pedido foi suco, o que pode ter ocorrido porque P4 tinha comido um bolinho e provavelmente estava com sede. A coleta de dados da emissão de mandos generalizados na escola se estendeu durante 56 dias devido a feriados, ausências da criança na escola e atividades extras dentro da escola. Em casa a coleta foi mais rápida, durando apenas 30 dias, pois não houve interrupções. Em casa o item mais pedido foi o bombom, chegando a 8 mandos no 6º dia de coleta. No último dia de coleta P4 não apresentou nenhum mando. DISCUSSÃO Figura 17. Número de mandos generalizados por P4 nos ambientes escolar e doméstico. 88 DISCUSSÃO O estudo teve por objetivo demonstrar a efetividade do treino das três primeiras fases do PECS para a aquisição da habilidade de emitir mandos por indivíduos autistas utilizando figuras, e examinar a generalização do uso do sistema de maneira independente (em casa e na escola). Especificamente, a pergunta central do estudo foi se aprender a se comunicar por figuras seria generalizado para o ambiente natural dos participantes. Portanto, a discussão será dividida em duas partes, que representam os dois interesses do estudo: a aquisição e a generalização de mandos. - Aquisição de mandos Estudos têm demonstrado a efetividade do PECS enquanto sistema de comunicação alternativa, porém, alguns participantes necessitam de mais treinamento ou mesmo não adquirem as habilidades ensinadas (Frea et al., 2001; Welch, 2010). No presente estudo, três participantes adquiriram as habilidades requeridas nas três fases iniciais do PECS e uma criança não finalizou o procedimento de ensino. Alguns fatores relacionados ao procedimento de ensino do PECS podem explicar a rápida e consistente aquisição da habilidade de se comunicar por figuras de crianças autistas (Frost & Bondy, 1994; Charlop-Christy et al., 2002). Primeiro autistas aprendem frequentemente com mais facilidade as tarefas que lhes são apresentadas num formato concreto do que as tarefas abstratas. Segundo, o contexto estruturado e a natureza concreta dos estímulos envolvidos na troca das figuras favorecem a aprendizagem da criança autista quando comparada ao uso da linguagem falada. O uso das figuras do PECS provê uma representação visual para a comunicação e incorpora discriminações visuais como parte da troca na comunicação, e isso pode ser um dos determinantes para garantir a rapidez na aprendizagem de crianças autistas, ou seja, a discriminação visual-visual pode ser mais fácil de compreender pelos autistas do que discriminações auditivo-visuais. Em terceiro, o treino com o uso do PECS foca na criação de operações estabelecedoras entre as condições ambientais estabelecidas no treino e a resposta de mando. O ensino de mando no inicio do procedimento e o uso de estímulos de preferência aumenta a motivação para a aquisição das 89 habilidades requeridas pelo sistema. Além disso, o procedimento visa o estabelecimento de relações funcionais entre o mando e o ambiente, através do contato direto do falante (a criança autista) com o ouvinte (o terapeuta, a professora, os pais...), somado ao fato de que tal contato é iniciado pelo autista. Essa é uma importante característica do PECS, que pode garantir o sucesso de mandar por crianças com autismo (Frost & Bondy, 1994; Charlop-Christy et al., 2002; Ganz & Simpson, 2004). Assim, o resultado dos três participantes (P1, P2 e P4), que adquiriram a comunicação via PECS com certa facilidade, é plausível segundo a literatura já descreveu, considerando que os itens de preferência utilizados no procedimento foram determinados para cada participante antes de iniciar o ensino e que as figuras foram facilmente reconhecidas pelos participantes, até mesmo por P4 que não apresentava linguagem verbal oral (Charlop-Christy et al., 2002; Ganz & Simpson, 2004). Vários estudos mostraram que, em geral, o aprendizado de PECS até a fase III tem sido relativamente rápido (Frea et al., 2001; Jurgens et al., 2009; Kravits, Kamps, Kemmerer, & Potucek, 2002; Park, 2009). Dessa forma, a maioria dos estudos sugere a hipótese de que o resultado de P3, com excessivas sessões sem adquirir a habilidade de troca da figura de maneira independente (345 tentativas apenas até a fase II), é incomum. Em poucos estudos os participantes requereram muitas sessões para alcançar critério, como no estudo de Stoner (2006), em que um participante realizou 15 sessões na fase I, 16 sessões na fase II e 25 sessões na fase III. Também no estudo de Ganz, Sigafoos, Simpson e Cook (2008), um participante precisou de 25 e 40 sessões respectivamente, para as fases III e IV. Nesta pesquisa, todos os participantes, mesmo quando obtiveram bom desempenho, realizaram números mais altos de sessões para finalizar as fases, quando comparados com outros estudos. P4 também necessitou de muitas sessões, um total de 100 para todas as fases, embora tenha conseguido aprender a habilidade. Uma das explicações para o número de sessões elevado pode estar relacionada com o procedimento e critério para o desempenho neste estudo. De acordo com o manual de Frost e Bondy (1994), deve haver o uso de várias figuras (não há especificado no manual o número exato ou ideal) referentes aos itens de preferência em cada fase, sendo que na fase I e II elas são apresentadas uma de cada vez. Dessa forma, algumas vezes ocorreu que os participantes já tinham alcançado o critério, mas permaneceram na fase para serem acrescentados outros estímulos já que havia necessidade do contato do participante com figuras e estímulos 90 variados. Em determinados momentos, o participante já tinha alcançado o critério com um item, mas o desempenho caiu na apresentação de um novo item. Dessa maneira as fases foram mais estendidas para todos os participantes, pois para cada figura era esperado o alcance do critério de desempenho. Como o manual do PECS indica a apresentação de uma variedade de estímulos, mas não estabelece o número exato de figuras a serem apresentadas, e os estudos que avaliam o ensino do PECS alternam bastante o número de figuras ou não descrevem a quantidade de figuras apresentadas. Esta parece se uma variável relevante a ser controlada, haja vista que o número de figuras apresentadas pode influenciar nos diferentes resultados dos estudos, principalmente no tempo de treino necessário para alcançar o critério de desempenho. Outro fator que colaborou para um maior número de sessões foram interrupções nas coletas, típicas de quando o trabalho é conduzido em uma instituição escolar. As sessões ocorriam três vezes na semana, porém foram interrompidas em feriados, férias, datas em que outras atividades estavam programadas, como ensaios de festa junina, dia das mães, ou mesmo ausência das crianças na escola. Desta forma, se o espaço de tempo tivesse sido de mais de cinco dias, algumas sessões foram repetidas, mesmo após a criança alcançar o critério, a fim de garantir o desempenho apresentado fosse o mesmo que o verificado na última sessão realizada. Alguns autores sugerem que variações na latência para alcançar critério de desempenho do PECS podem ocorrer devido às diferenças individuais, cognitivas e comportamentais dos participantes. Consideram, por exemplo, que crianças com baixo funcionamento cognitivo e que são muito novas podem precisar de mais tempo para aprender o PECS do que aquelas com alto funcionamento cognitivo e que são mais velhas (Ganz & Simpson, 2004; Fidalgo et al., 2008; Ganz et al., 2010). Os participantes deste estudo foram avaliados por seu repertório de entrada segundo as características: verbais; de imitação motora; habilidade de emparelhar e contato visual. P1 e P2 apresentaram melhor desempenho em todos os itens avaliados, principalmente no repertório verbal, pois ambos já emitiam vocalizações e tatos. Já P3 e P4 não apresentaram vocalizações e o repertório verbal de ambos era bastante prejudicado. Também não apresentaram habilidades de emparelhar e imitar. Frost e Bondy (1994) sugeriram que o PECS pode ser o melhor caminho da comunicação alternativa porque não requer que o aprendiz tenha pré-requisitos para a 91 aprendizagem do sistema. Embora estes autores enfatizem que o procedimento de ensino do PECS não exija habilidades como imitação motora e verbal, MTS, discriminar figuras, responder a prompts verbais e contato visual (Frost & Bondy, 1994; Bondy & Frost, 1994; Charlop-Christy et al., 2002; Bondy et al., 2004; Tincani, 2004; Ganz, Cook, CorbinNewsome, Bourgeois & Flores, 2005; Preston & Carter, 2009), alguns autores indicaram em seus resultados a importância de tais pré-requisitos e correlacionaram os desempenhos dos participantes à presença ou não da habilidade no repertório (Fidalgo et al., 2008; Ziomek & Rehfeldt, 2008; Lund & Troha, 2008; Gregory, DeLeon & Richman, 2009). Imitação motora e verbal e habilidade de emparelhar são as habilidades básicas que mais aparecem nos estudos como pré-requisitos para a comunicação funcional. Tincani (2004) sugeriu que “aquisição de troca por figuras e linguagem de sinais podem variar em função da habilidade de imitação motora antes da intervenção” (p.152). Além da habilidade de imitar, Gregory et al. (2009) ressaltaram que também pode haver correspondência entre a habilidade de MTS e o desempenho na comunicação alternativa. A preexistência de ambas as habilidades, imitar e desempenho em MTS, podem facilitar a aquisição tanto de comunicação por troca de figuras quanto da linguagem de sinais. P1 e P2, que apresentaram no repertório de entrada bom desempenho nas habilidades avaliadas, tiveram sucesso no procedimento de ensino do PECS. P3, que obteve o menor desempenho na avaliação e também apresentou menor repertório verbal (nenhuma vocalização), não finalizou o procedimento. Esse resultado condiz, por exemplo, com o resultado de Lund e Troha (2008), no qual o participante que teve maior progresso nas fases do PECs apresentou mais habilidades verbais, enquanto o participante que não desempenhou nenhuma das fases apresentava apenas poucas aproximações de palavras (Ganz, Lashley & Rispoli, 2010). Entretanto, P4 apresentou repertório de entrada baixo em mandos (2,94%), imitação motora (0%) e emparelhamento (0%), além de não ter apresentado nenhuma vocalização, mas obteve bons resultados no ensino e adquiriu a habilidade de mandar com figuras. Ao mesmo tempo, observamos que P4 apresentou mais dificuldades para adquirir a habilidade de mando do que os participantes que apresentaram bom repertório antes do ensino. Porém, ao comparar as características comportamentais de P3 e P4, P4 não apresentou excessos comportamentais durante as sessões, demonstrou sempre motivação em direção aos reforçadores, reconheceu figuras e seus estímulos correspondentes, permanecia sentado e 92 mantinha contato visual com os experimentadores. Já P3, durante as sessões, apresentou excessos comportamentais como irritabilidade e choro, permaneceu sentado por pouco tempo e algumas vezes recusava-se a sentar, apresentava estereotipia de tamborilar na mesa e nas figuras, além de se desmotivar muito rápido pelos itens apresentados. Fidalgo et al. (2009) afirmaram que o procedimento do PECS exige que pelo menos dois pré-requisitos comportamentais estejam instalados no repertório dos indivíduos que receberão o treino: permanecer sentado e manter contato visual com o experimentador e com os objetos (figuras e estímulos reforçadores). Uma das características das crianças autistas é a pouca sensibilidade ou a tendência a não serem motivadas por elogios ou aprovação social; por isso, o uso de reforçadores tangíveis, chamados por Skinner (1957) de reforçadores arbitrários, é essencial por sua natureza não social, quando se quer instalar operantes verbais (Bondy et al., 2004). Porém, encontrar dificuldade em determinar reforçadores para pessoas com transtornos do desenvolvimento são comuns devido ao déficit no desenvolvimento, repertório verbal limitado e déficits em contato visual, entre outros fatores (Roane et al., 1998). A dificuldade em identificar reforçadores foi outro fator que pode ter contribuído para falha de P3 em adquirir habilidades do PECS. Durante as sessões de avaliação de estímulos de preferência, P3 demorava a fazer a escolha e, mesmo após escolher, nem sempre pegava o item quando lhe era permitido. Às vezes só pegava e não demonstrava interesse em comer ou utilizar o item. Segundo a professora e a observação realizada do comportamento de P3, esse é um tipo de resposta que ele apresenta com frequência. P3 usualmente pega um item, mas imediatamente larga, não permanecendo com o item por um período de tempo. Potenciais reforçadores foram identificados por informação da mãe e professora e da avaliação de reforçadores. Mesmo depois de selecionados, durante o trabalho na instituição foram identificados outros prováveis reforçadores como receber cócegas ou colocar areia em um pote e jogar fora. O primeiro, cócegas, foi utilizado na pesquisa e durante algumas sessões colaborou com a motivação de P3, mas em pouco tempo ele também apresentou desinteresse. Colocar areia em um pote e jogar fora era uma atividade interessante para P3 no recreio, porém o participante não aceitou o item na sessão. Muitos outros itens foram identificados pela mãe como reforçadores e foram recusados nas sessões, como papel picado, cenoura ralada e maçã; levantou-se a hipótese de que a recusa ocorreu provavelmente em virtude da 93 característica de repertório dos autistas de dificilmente aceitarem modificações em suas rotinas. De acordo com Murphy et al. (2003) mudanças nas taxas de respostas durante as sessões podem refletir mudanças na efetividade do reforçador. Na literatura comportamental, dois processos geralmente são mais citados para explicar a mudança na efetividade do reforçador: a habituação e a saciação. Habituação se refere à diminuição na responsividade simplesmente em função das repetidas apresentações de um mesmo estímulo, não tanto pela saciação da comida (North & Iwata, 2005). Saciação é definido por Catania (1999) como uma diminuição da efetividade do reforçador depois de repetido consumo. A fim de minimizar os possíveis efeitos de habituação e/ou saciação aos reforçadores, os experimentadores ofereceram, antes de iniciar as sessões de ensino, alguns pedaços dos itens reforçadores para P3 escolher quais seriam usados na sessão do dia. Porém, não houve diferença significativa nas respostas exigidas no treino (ir até o terapeuta e entregar a figura) depois que P3 passou a escolher entre os itens qual preferiria. Esse resultado condiz com dados encontrados por Smith, Iwata e Shore (1995), em que foi avaliado o impacto da escolha e da não escolha dos reforçadores a serem pedidos nas sessões pelos participantes nas respostas exigidas nas tarefas. Os autores também não encontraram diferenças no responder influenciado pela escolha dos reforçadores antes das sessões de treino. Outra alternativa usada pelos experimentadores em relação aos reforçadores foi repetir a avaliação de reforçadores para P3. Novos itens foram identificados e utilizados nas sessões, mas também sem apresentar modificações nos resultados. Assim, uma das dificuldades do estudo foi manter o valor reforçador dos itens selecionados para P3 para que o mando ocorresse e a participante se mantivesse motivada. Essa dificuldade foi um fator que contribuiu para a aquisição mais lenta dos comportamentos da fase I por P3. Comportamentos repetitivos como balançar o corpo, tamborilar as mãos, permanecer em pé e andando pela sala foram incompatíveis com os comportamentos exigidos na fase II, que eram pegar a figura e ir até o experimentador e colocar a figura na sua mão. Foi observado, por diversas vezes, que apesar de P3 ter aprendido a trocar a figura na fase I, ela não reconhecia as figuras e não fazia correspondência entre a figura e o item. Assim, na fase II, P3 pegava a figura corretamente, levantava, localizava com o olhar o terapeuta, mas corria pela sala, ou ficava balançando o corpo, ou tamborilava os dedos na janela, sem direcionar a figura para o terapeuta. Com a ajuda física para seguir ao terapeuta, P3 se agitava em algumas 94 vezes pelo contato físico ou entregava a figura ao terapeuta; às vezes, porém, não pegava o item, ou pegava e colocava em cima da mesa. Também se distraía tamborilando os dedos na figura. Aparentemente P3 sabia o que deveria fazer, já que obteve sucesso no treino da fase I, mas se recusava a fazer uma vez que outros comportamentos como tamborilar os dedos na figura e andar pela sala pareciam mais reforçadores do que ter acesso aos itens apresentados a ela. As sessões possivelmente tornaram-se aversivas para P3; durante as últimas sessões ela balançava a cabeça no sentido de “não”, recusava pegar qualquer item e resmungava, quase chorando. Diante de tais comportamentos e um alto número de sessões, a coleta de P3 foi encerrada. A escola foi comunicada dos resultados e o motivo para o encerramento das sessões. Os resultados da aquisição da comunicação por troca de figuras neste estudo permitem considerar que o PECS é um procedimento eficaz para o ensino de comunicação funcional, em especial para o ensino de mandos, porém o repertório de entrada do participante (habilidades de MTS, imitação motora e vocal, repertório verbal, excessos comportamentais, contato visual e sensibilidade aos reforçadores) é uma variável que interfere na aquisição e na velocidade de ensino da comunicação. Diferenças no desempenho podem estar ligadas às diferenças individuais dos participantes, decorrentes da história de cada um, conjuntamente com as variáveis instrucionais do procedimento (Dogoe, Banda & Lock, 2010). Assim, déficits de habilidades básicas e excessos comportamentais devem ser considerados e trabalhados antes do início do ensino da comunicação funcional (Fidalgo et al., 2009). - Generalização de mandos Generalização de mandos em settings diferentes da situação de ensino foi o foco deste estudo. Isto é, verificar se após o ensino das três primeiras fases do PECS a emissão de mandos ocorreria no ambiente natural das crianças (escola e residência). Esse objetivo permite considerar, neste sentido, se a comunicação aprendida foi funcional para a criança. Pessoas com autismo frequentemente aprendem habilidades ou comportamentos numa situação, mas têm grande dificuldade em transferi-las para outras situações. Por isso determinadas habilidades que são adquiridas pelos autistas em intervenções estruturadas não são usadas no ambiente natural (Mesibov & Shea, 1996; Klin et al., 2006; Capellari, 2010). Dessa maneira, quando comunicação funcional é ensinada a uma criança autista, deve haver a 95 preocupação com a generalização para que a comunicação aprendida seja de fato funcional na vida da criança. A comunicação funcional possibilita ao indivíduo expressar o que quer e o que precisa, e é, portanto, extremamente útil na vida da pessoa em diferentes ambientes devendo ser generalizada, então, para outros ambientes (Dogoe et al., 2010). Segundo Welsh (2010), a generalização do PECS pode ser considerada um continuum, com um fim representando mínimas mudanças entre as condições de treinamento e generalização, e o outro fim representando mudanças significativas. O sucesso da generalização depende parcialmente em quanto significantes são essas mudanças no ambiente, e parcialmente do uso de ajudas para promover essa generalização. Para que haja mudanças significativas, isto é, reais mudanças entre treinamento e generalização, deve haver mudanças de settings para examinar o uso de PECS durante atividades do ambiente natural do participante, e mudanças de parceiro de comunicação (Welsh, 2010). Neste estudo, todos os três participantes que foram para a etapa de generalização apresentaram mandos generalizados em dois settings diferentes (escola e residência). Um estudo de revisão realizado entre os anos de 1975 e 1991 (Northup et al.,1993), mostrou que professores estão sempre em segundo lugar no ranking, seguido dos terapeutas, de quem manipulou variáveis de controle do comportamento a ser modificado, aparecendo em menos de 25% dos estudos. Os pais aparecem em menos de 9% dos estudos como agentes de modificação, apesar de a literatura enfatizar a importância da participação dos pais para generalização de comportamentos aprendidos. Em levantamento dos estudos em relação aos ambientes avaliados, entre 1968 e 1992, a escola aparece como o setting privilegiado, enquanto a casa aparece em menos de 30% dos estudos apesar de mostrar tendência crescente para aplicação de intervenções (Northup et al., 1993). No presente estudo o ambiente das crianças foi mantido o mais natural possível e foram feitas somente alterações necessárias para criar oportunidade de mandos como, por exemplo, retirar os itens do alcance para que as crianças precisassem solicitá-los. Todos os participantes apresentaram, nos contextos extratreino, mandos por itens que estavam visíveis e itens que não estavam sob alcance da sua visão. Bondy et al. (2004) consideraram essa habilidade, de mandar por itens visíveis e fora da visão, como outro potencial do PECS: o sistema ensina também mandos impuros, isto é, mandos sob múltiplos controles (estímulo antecedente não verbal e OEs). Assim, o indivíduo aprende a trocar a figura não somente quando privado do item, mas também na presença de um item de 96 preferência, além de apresentar mandos-tatos (Bondy et al., 2004; Ziomek & Rehfeldt, 2008). Apenas um participante apresentou mandos somente por itens sob visão, no contexto da casa, mas na escola apresentou mandos por itens não visíveis. Considerando, a terminologia dos estudos de Bondy et al. (2004); Ziomek e Rehfeldt (2008) e Grow e Kodak (2010), que se referem a mandos puros os mandos por itens não visíveis e mandos-tatos, os itens que estão sob a visão, podemos afirmar que todos os participantes apresentaram mandos puros. Porém, dentre todos os mandos apresentados por todos os participantes, 72,9% foram mandos impuros, isto é, mandos-tatos. Segundo Reeve et al. (2007) indivíduos com déficits cognitivos significativos, podem requerer mais treinos para mandar por itens que estão fora da visão do que por itens visíveis. Estes resultados condizem com os estudos de Petursdottir et al. (2005) e Kelley et al. (2007) em que os arranjos antecedentes facilitaram a ocorrência de operantes verbais ‘‘impuros.’’ Isto é, o mando incluiu componentes de tato – os itens estavam sob a visão dos participantes. Em ambos os estudos, os participantes podem ter emitido respostas de mando mais provavelmente pela presença do item do que por uma operação estabelecedora relevante. Nesse caso, contudo, não se pode afirmar o que controlou a resposta de mando, se foi somente a presença do item, ou a privação ou preferência pelo item. Baer et al. (1968) enfatizaram que a generalização não é automática, devendo ser planejada, por exemplo, por meio da repetição da aplicação de um procedimento em outros ambientes para os quais se deseja que a mudança comportamental se estenda. Reeve (2007) levantou a necessidade de treinar diretamente a resposta com vários instrutores e em múltiplos settings a fim de potencialmente aumentar a probabilidade dessas respostas se generalizarem para um novo setting e diferentes instrutores (Reeve, 2007). Assim, estes autores criaram a fase III+, elaborada com o intuito de planejar a generalização, colocando as crianças em contato com itens que não fossem comestíveis, mas que fossem necessários naquele ambiente. As sessões foram elaboradas baseadas num procedimento de “tarefa em cadeia”, na qual algumas atividades foram selecionadas para gerar a necessidade do item. Esse procedimento vai de encontro com o que Bondy et al. (1994) indicaram para que outras pessoas e outros ambiente fossem inseridos na fase III. Essa foi a maneira como os experimentadores encontraram para seguir tal instrução do manual. Algumas estratégias também foram propostas por Schreibman, Koegel, Charlop e Egel (1990) para promover generalização, tais como: tornar o ambiente onde acontece a 97 intervenção o mais semelhante possível ao ambiente natural; usar de esquemas intermitentes de reforçamento; usar de contingências em que o reforçamento seja natural; modificar as pessoas, ambientes e estímulos; e a generalização mediada em que comportamentos que são prováveis de ocorrer tanto no ambiente controlado quanto no ambiente natural e que são ocasião para a ocorrência de respostas alvo da intervenção são utilizados (Fazzio, 2002; Ganz et al., 2008). Todos os participantes apresentaram mandos por itens treinados e não-treinados em casa, contexto em que os participantes mais apresentaram mandos por estímulos novos, enquanto que somente um participante apresentou mandos por itens não treinados na escola. Dentre 29 figuras apresentadas e pedidas, 11 foram itens não treinados e foram disponibilizadas somente para a fase da generalização. Como no ambiente escolar a professora também passou por uma fase de ensino, presumia-se que os resultados seriam melhores do que na casa, embora na escola mais estímulos relevantes para o contexto tenham sido treinados, pois foram relacionados às atividades do ambiente natural. Em casa, mais oportunidades para responder a estímulos novos foram oferecidas devido às possibilidades naturalmente serem mais diversificadas (lazer, comida...). O resultado mostrou que generalidade dos dados ocorreu entre settings, pessoas e estímulos. Dogoe et al. (2010) levantaram alguns fatores que contribuem para os resultados positivos na generalização de mandos com o treino do PECS. Primeiro PECS ensina a requisitar, habilidade funcional para ganhar e manter acesso a reforçadores no ambiente natural do indivíduo. Segundo, os itens usados durante o ensino são itens reais que facilitam a correspondência entre os símbolos e os itens referentes. Em terceiro, a habilidade sob controle durante o ensino é a mesma habilidade requerida no ambiente natural. Reeve (2007) aponta também o uso de várias tentativas e oportunidades da resposta ocorrer durante o ensino como um dos fatores que contribuem para promover generalização. Os resultados do presente estudo foram contrários aos encontrados em estudos prévios (O’Neill & Sweetland-Baker, 2001; Secan, Egel, & Tilley, 1989; Esbenshade & Rosales-Ruiz, 2001), segundo os quais crianças autistas tiveram dificuldade em generalizar habilidades de comunicação para novas situações. Esses estudos demonstraram, respectivamente, essa dificuldade em generalizar nas habilidades de requisitar, parar ou escapar de uma atividade indesejada, fazer perguntas (vocal) ou responder questões. Essa diferença entre as habilidades avaliadas e o desempenho em generalização pode ocorrer porque funções comunicativas, tais 98 como mandar, são mais facilmente adquiridas e generalizadas do que outras funções comunicativas (Ganz et al., 2008). Portanto, é considerável salientar que, além das características intrínsecas ao sistema PECS citadas anteriormente que facilitam o aprendizado para o autista, este estudo apresentou alguns procedimentos que contribuíram para os seus resultados serem positivos na generalização como, por exemplo: a exposição dos participantes a variados estímulos na fase de treino; o treino recebido pelas mães e professoras; o uso de reforçadores de alta preferência pelos participantes e o cuidado em elaborar a fase III+ como forma de programar a generalização. Considerações finais As principais limitações deste estudo podem ser consideradas limitações de procedimento, limitações de setting e relacionadas aos parceiros de comunicação. Considerando as características do delineamento realizado, o número pequeno de participantes e as variáveis individuais do repertório deles limitam a generalidade dos resultados para outros indivíduos. Assim, a realização de estudos com delineamentos de controle de variáveis mais bem estruturados, tanto na fase de treino do PECS quanto para produzir e registrar a generalização, e feitos com um maior número de participantes, seriam viáveis e contribuiriam para o desenvolvimento do conhecimento sobre o assunto. Quanto aos settings, Frost e Bondy (1994) orientaram a inserção de novos contextos e parceiros de comunicação nas fases II e III do PECS. Uma das limitações deste estudo foi que a fase III+, planejada para inserir novos parceiros além dos experimentadores e outros contextos (sala e aula e pátio), ocorreu nos mesmos contextos em que foi avaliada a generalização na escola. Também nesse contexto, mandos generalizados foram direcionados para a mesma pessoa que participou da fase III+. Dessa maneira, as crianças já respondiam a essas pessoas durante o procedimento de ensino. Outros settings poderiam ter sido utilizados como extensão da fase III, além de mais variedade de pessoas no contexto escolar para a criança se comunicar. Em relação ao procedimento, uma limitação ao longo de todas as fases de aquisição está relacionada ao critério para o participante passar de fase. Os participantes, por algumas vezes, já teriam passado de fase, mas o acréscimo de novas figuras os mantinha na mesma 99 fase. Não pode ser determinado o benefício que a exposição a uma variedade de estímulos proporcionou para a aprendizagem e generalização posterior ou se a extensão das fases não influenciou negativamente na motivação das crianças pelo ensino. Outra limitação de procedimento foi no uso de avaliação de reforçadores apenas duas vezes, visto que mudanças na preferência podem ocorrer. Roane et al. (1998) sugeriram o uso de avaliações mais breves, com apenas 3 sessões, que permitiriam os mesmos resultados das avaliações realizadas com 5 sessões. Por ser mais breve, poderiam ser avaliadas com mais frequência. Lidar com seleção de reforçadores para os autistas pode ser complicado porque geralmente eles apresentam números limitados de reforçadores e alguns reforçadores peculiares, como balançar um pedaço de arame, picar papel, entre outros. Observamos que o participante que apresentou dificuldade com reforçadores não tinha seus comportamentos reforçados por comida durante um período de tempo que o mantivesse motivado. Apesar de a comida ser um reforçador efetivo em implantar habilidades nessa população (North & Iwata, 2005), esse participante se interessava mais por itens físicos e sensórios, que não são incluídos nos tipos de avaliação de reforçadores disponíveis. Futuros estudos poderiam tratar a generalização somente sob controle da OE, na ausência do item na visão, isto é, verificar a resposta de mandos por itens que os autistas necessitam e não estão sob a visão, como por exemplo, pedir água ao sentir sede, pedir para ir ao banheiro quando está na rua, entre outros. Estes mandos são extremamente importantes para melhor qualidade de vida de pessoas autistas. Como o objetivo do estudo foi investigar o ambiente mais aproximado possível da rotina natural da criança, não foi possível controlar a presença do item no ambiente, já que o ambiente deveria ser minimamente modificado. Assim, mandos puros foram apresentados em alguns momentos quando o item não estava presente, quando o item estava presente, mandos-tatos foram apresentados (Bondy et al., 2004). Outros planejamentos experimentais poderiam controlar OEs de tal maneira que mandos puros fossem mais bem avaliados. Embora saibamos que a maioria dos mandos em ambientes naturais pode estar, de fato, sob múltiplos controles, para pessoas autistas é um importante benefício que elas aprendam a pedir por algo sob controle de uma necessidade apenas, sem a presença do item desejado (por exemplo, pedir água ao sentir sede). Futuras pesquisas também contribuirão ao investigar de maneira mais detalhada as habilidades necessárias para melhor desempenho no aprendizado da comunicação alternativa, principalmente do PECs. Como vimos, há muitos pré-requisitos apontados na literatura 100 (repertório verbal, imitação motora ou vocal, habilidade de MTS), mas ainda não há consenso sobre quais deles são de fato determinantes para o bom desempenho dos autistas nas tarefas do PECs. Isso contribuiria para melhor escolha de qual meio de comunicação será oferecido à criança, além de levantar os comportamentos que podem interferir com o treinamento do PECs. Os resultados de um dos participantes deste estudo (P3) reforçam a consideração de que futuras investigações também poderiam examinar a efetividade de técnicas específicas para reduzir comportamentos incompatíveis, que parecem interferir na aprendizagem das tarefas do PECs (Ganz et al., 2010). 101 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Allen, K. D., & Warzak, W. J. (2000). The problem of parental nonadherence in clinical behavior analysis: effective treatment is not enough. Journal of Applied Behavior Analysis, 33(3), 373-391. Almeida, M. A., Piza, M. H. M., & Lamônica, D. 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Dr.Maycoln Leôni Martins Teodoro e Dr. Thaís Porlan de Oliveira (colaboradora), do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais. Esta pesquisa faz parte de um projeto maior em andamento em outras universidades em que se investiga o desenvolvimento de habilidades de compreensão e comunicação por crianças autistas. Estamos interessados em documentar as atividades cotidianas das crianças e as atividades de brincadeira propostas pelos pesquisadores para saber como as crianças aprendem habilidades para se comunicar usando figuras. Você poderá ser solicitado para que responda algumas perguntas a respeito do desenvolvimento e da aprendizagem da criança. Ensinaremos ao senhor (a) também a como responder à nova maneira de comunicar que as crianças aprenderão. As tarefas serão realizadas na instituição em que a criança frequenta – Fundação Dom Bosco- e nas residências. Os riscos aos quais os participantes poderiam ser submetidos estão relacionados ao seu desempenho no procedimento de ensino. Por ex. no caso da criança não obter um bom desempenho e os pesquisadores insistirem, há o risco de que o procedimento possa gerar sessões cansativas e aversivas. No entanto, os pesquisadores tomarão os devidos cuidados para que as sessões sejam lúdicas, motivadoras e suficientes para o bem estar do participante. 118 A participação requer a sua autorização para que as atividades cotidianas e de brincadeira propostas sejam filmadas e/ou gravadas. As filmagens são importantes para o registro das atividades de pesquisa e tais registros poderão ser utilizados somente em publicações e apresentações profissionais. O senhor (a) está ciente de que o seu nome, o da criança participante e de qualquer membro da família não será mencionado em nenhuma circunstância, mantendo estrita confidencialidade e anonimato. O dados coletados durante as entrevistas e a realização das tarefas serão utilizados apenas para fins de pesquisa. O seu consentimento para a participação e realização das filmagens/gravações, assim como a participação da criança nas tarefas, é voluntário e poderá ser retirado, por meio de solicitação apresentada por escrito, quando o senhor (a) assim o decidir. Estamos à disposição para quaisquer esclarecimentos e agradecemos a sua colaboração. Atenciosamente, ________________________________________ Profa. Dra. Thais Porlan de Oliveira Permissão do responsável para participação da criança Eu, _____________________________________________________________, criança________________________________________________ participe do permito projeto que a acima descrito. Assinatura do responsável: _________________________________________________ Belo Horizonte, _______ de _________________de 20__. 119 ANEXO 2 Avaliação de Estímulos múltiplos sem substituição (MSWO) 120 Avaliação de Estímulos múltiplos sem substituição (MSWO)- Folha de Dados Nome: _____________________________________________________ Avaliador: __________________________________________________ Data: ________________ ( ) Atividade ( ) Alimento Itens: _____________ _______________ _______________ _______________ _______________ _______________ _______________ _______________ Avaliação de preferência #1 Ordem dos items # tempo de selecionados escolha/# tempo disponível 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Avaliação de preferência #2 Ordem dos items # tempo de selecionados escolha/#tempo disponível 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Avaliação de preferência #3 Ordem dos items # tempo de selecionados escolha/# tempo disponível 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Avaliação de preferência #4 Ordem dos items # tempo de escolha/# selecionados tempo disponível Avaliação de preferência #5 Ordem dos items # tempo de selecionados escolha/# tempo disponível 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Hierarquia de reforçadores Itens % itens selecionados 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 16 ANEXO 3 16 Folha de registro - Treinos individuais Aluno:____________________________________________________________________ FASE do PECS: ___________________________________________________________ Data Estímulo (figura) Tentativas P D S P D S P D S P D S P D S P D S 1 2 3 4 5 Total % /sessão Ajudas: T- Total P- Parcial G - Gestual I- Sem ajuda 17 18 ANEXO 4 19 20 Folha de registro - Treinos individuais Aluno:__________________________________________________ Fase do PECS: _____________________________ Data Estímulo (figura) Etapa da fase II 1 2 3 4 5 Total % /sessão Ajudas: T- Total P- Parcial G - Gestual I- Sem ajuda 21 22 ANEXO 5 23 24 PROTOCOLO DE REGISTRO DE MANDOS ALUNO: DATA: ANTECEDENTE COMPORTAMENTO CONSEQUENCIA ( ) Item presente ___________________________________ ( ) Pegou a figura e entregou para um parceiro ( ) Recebeu o item. ( ) Não recebeu o item ( ) Recebeu elogio junto do item. ( ) Pessoa presente _______________________________________ ( ( ) Apontou a figura mostrando para um parceiro ) O item foi citado em conversa Local: _____________________________________ ( ( ) Recebeu outro item no lugar do que ) Pediu verbalmente e não pegou a figura foi pedido. Horário: ______________________________________ Usou o verbal enquanto pegava a figura? Aproximadamente quanto tempo sem o item: ( ) Sim _______________________________________ ( ) Não Atividade no momento: _______________________________________ 25 ANEXO 6 26 Dados coletados para pesquisa “Aquisição e generalização de mandos aprendidos através do Sistema de comunicação por trocas de figuras em crianças autistas”- UFMG/ PPG Psicologia. ANAMNESE INFANTIL I – DADOS PESSOAIS Nome:______________________________________________________________ Data de nascimento:_____/_____/_____ Sexo: M ( ) F ( ) Naturalidade: ________________________________________________________ Endereço:___________________________________________________________ Instituição ou escola: __________________________________________________ a) Pai Nome:______________________________________________________________ Profissão:___________________________________________________________ Data de nascimento:____/____/_____ b) Mãe: Nome:______________________________________________________________ Profissão:___________________________________________________________ Data de nascimento:_____/_____/______ Quem são as pessoas que residem com a criança?_______________ Como é a rotina da criança? Diagnósticos recebidos e por qual (is) profissional (is): _______________________________________________________________________ Tratamentos já realizados e supostos resultados: _______________________________________________________________________ II - DADOS FAMILIARES Tem irmãos? Quantos e ordem de nascimento dos filhos: ___________________________________________________________________________ Como foi o período de gestação? Apresentou doenças, acidentes ou necessitou tomar alguma medicação durante este período? ___________________________________________________________________________ Idade dos Pais quando a criança nasceu? ___________________________________________________________________________ A mãe fez tratamento pré-natal? ___________________________________________________________________________ A criança nasceu a termo? ___________________________________________________________________________ Desenvolvimento do parto (natural, fórceps, cesariano): ___________________________________________________________________________ Relação entre os pais? ___________________________________________________________________________ 27 Relação entre a mãe e a criança? ___________________________________________________________________________ Relação entre o pai e a criança? ___________________________________________________________________________ Relação entre os irmãos e a criança? ___________________________________________________________________________ Relação entre outros familiares e a criança? ___________________________________________________________________________ Desde quando observou alguma diferença no desenvolvimento do seu filho? ___________________________________________________________________________ III- DADOS DO DESENVOLVIMENTO a) Sono: ___________________________________________________________________ b) Alimentação: _____________________________________________________________ c) Desenvolvimento psicomotor: ________________________________________________ Sorriu: ____________________________________________________________________ Engatinhou: ________________________________________________________________ Ficou de pé: ________________________________________________________________ Andou (caiu muito): __________________________________________________________ Controle dos esfíncteres: ______________________________________________________ Falou as primeiras palavras (trocou letras): _______________________________________ Falou corretamente: __________________________________________________________ Gaguejou: __________________________________________________________________ Comportamentos atípicos: _____________________________________________________ Manipulações: ______________________________________________________________ Usou chupeta? _____________________________________________________________ Chupou o dedo? ____________________________________________________________ Roeu ou rói unhas? __________________________________________________________ Puxa a orelha? ______________________________________________________________ Arranca os cabelos?__________________________________________________________ Morde os lábios? ____________________________________________________________ Tiques: ____________________________________________________________________ Comportamentos repetitivos: ___________________________________________________ Qual a atitude tomada pelos pais diante destes hábitos? ___________________________________________________________________________ Sociabilidade: Tem amigos? ___________________________________________________________________________ Prefere brincar sozinho ou com amigos? ___________________________________________________________________________ Faz amigos facilmente? Relação com os amigos: ___________________________________________________________________________ Gosta de fazer visitas? Adapta-se facilmente ao meio? ___________________________________________________________________________ Doenças: Tipos e idade: ____________________________________________________________________ Atitude da família? ____________________________________________________________________ Teve febre freqüentemente? 28 ____________________________________________________________________ Quantos graus? ____________________________________________________________________ Convulsões: ____________________________________________________________________ Desmaios: ____________________________________________________________________ Sofreu alguma queda com fraturas? ____________________________________________________________________ Passou por alguma cirurgia (idade)? ____________________________________________________________________ Vacinas: Informações relevantes sobre a criança logo após o nascimento e na primeira infância (doenças, eventos inesperados, acidentes, etc)? ____________________________________________________________________ Comprometimentos de saúde passados: Comprometimentos de saúde atuais: ____________________________________________________________________ IV- DADOS COMPORTAMENTAIS Quais comportamentos-problemas apresentados pelo seu filho? _________________________________________________________________________ O que seu filho não faz e já deveria fazer de acordo com sua idade? _________________________________________________________________________ Quais os bons comportamentos que a criança possui em seu repertório? __________________________________________________________________________ Diante dos comportamentos-problemas, como as pessoas reagem? __________________________________________________________________________ Há quanto tempo a criança apresenta estes comportamentos? Algo especial ocorreu nesse período? __________________________________________________________________________ Em que situações seu filho sempre apresenta esses comportamentos? E em quais ele quase nunca ou nunca apresenta? ___________________________________________________________________________ Características comportamentais autísticas: Movimentos repetitivos Sim ( ) Não ( ) _______________________________________ Flapping das mãos Sim ( ) Não ( ) ____________________________________________ Balanço do corpo continuamente Sim( ) Não ( ) __________________________________ Olhar ininterrupto para as mãos Sim( ) Não ( ) ___________________________________ Movimentos estereotipados dos dedos Sim( ) Não ( ) ______________________________ Hábitos de morder as mãos Sim( ) Não ( ) ______________________________________ Andar na ponta dos pés Sim( ) Não ( ) _________________________________________ Resiste a mudanças de rotina Sim( ) Não ( ) ____________________________________ Age como se fosse surdo Sim( ) Não ( ) ________________________________________ Não mantém contato visual Sim( ) Não ( ) _______________________________________ Apega inapropriado a objetos Sim( ) Não ( ) _____________________________________ Comportamentos que os pais/responsáveis gostariam de: - Diminuir a freqüência:__________________________________________________________ 29 - Aumentar a freqüência: ________________________________________________________ - Atitudes dos pais frente aos bons comportamentos:__________________________________ ____________________________________________________________________________ - Atitudes dos pais frente aos comportamentos inadequados:___________________________ ____________________________________________________________________ COMPORTAMENTO VERBAL Apresenta ecolalia (imediata ou mediata) = repetição de palavras ou expressões: ____________________________________________________ Utiliza a terceira pessoa no lugar da primeira: _________ Repertório de palavras: ( ) variado, muitas palavras ( ) poucas palavras, pouca variação A criança é capaz de comunicar o que quer ou precisa? Como? ____________________________________________________________________ Sua forma de comunicar mudou ao longo do seu desenvolvimento? ____________________________________________________________________ A criança é capaz de emitir alguns sons? Quais? ____________________________________________________________________ A criança já recebeu algum tratamento especifico para aprender a se comunicar melhor? ____________________________________________________________________ Que tipo de tratamento? ____________________________________________________________________ Por quanto tempo? ____________________________________________________________________ Qual o resultado do tratamento? ____________________________________________________________________ V- POTENCIAIS REFORÇADORES (Preferências) Alimentares__________________________________________________________ ____________________________________________________________________ Objetos______________________________________________________________ ____________________________________________________________________ Atividades___________________________________________________________ ____________________________________________________________________ Lugares_____________________________________________________________ ____________________________________________________________________ Músicas_____________________________________________________________ ____________________________________________________________________ Programas de TV______________________________________________________ Personagens em quadrinhos entre outros ___________________________________ ____________________________________________________________________ Desenho_____________________________________________________________ ____________________________________________________________________ Pintura______________________________________________________________ ____________________________________________________________________ Instrumento musical___________________________________________________ ____________________________________________________________________ 30 ANEXO 7 31 32 33 34 35 36 37