AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM: UMA ANÁLISE À LUZ DA TEORIA SÓCIO-INTERACIONISTA DE VYGOTSKY1 DAIANA AZEVEDO FALCÃO2 SHEILA GOMES RANGEL3 RESUMO Na sociedade informacional, é verificada a aplicação cada vez mais frequente de ambientes virtuais de aprendizagem, inclusive no contexto educacional presencial, como recurso metodológico. Tal fato motivou o presente artigo, que enfocou o ambiente Moodle, especificamente suas ferramentas fórum e chat, correlacionando-o à teoria sócio-interacionista de Vygotsky. Os procedimentos metodológicos utilizados foram o levantamento bibliográfico sobre a referida temática, bem como a realização de um experimento, no qual o Moodle foi utilizado em sala de aula e fora dela, a fim de analisar, a partir de uma abordagem qualitativa, se este ambiente virtual de aprendizagem se faz um recurso eficiente, no que tange à interatividade entre os sujeitos envolvidos no processo ensino/aprendizagem, permitindo aos alunos se tornarem sujeitos ativos nessa relação. Os resultados obtidos apontaram que, o uso do Moodle, enquanto recurso metodológico permite integrar o processo ensino/aprendizagem às Tecnologias da Informação e Comunicação de maneira satisfatória; possibilita o diálogo, a troca de opiniões, o compartilhamento de saberes, a construção do conhecimento de forma coletiva. 1 Esse artigo é o Trabalho de Conclusão de Curso da Pós-graduação lato sensu em Docência no século XXI, cursada pelas autoras no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense, Campus CamposCentro, concluída no ano de 2013, sob a orientação da Dr. Suzana da Hora Macedo. 2 Licenciada em Geografia/IFF. Professora de Geografia da Rede Pública Estadual de Ensino do Rio de Janeiro na cidade de Campos dos Goytacazes. 3 Licenciada em Geografia/IFF. Professora de Geografia da Rede Pública Estadual de Ensino do Rio de Janeiro na cidade de Campos dos Goytacazes. 1 PALAVRAS-CHAVE: Tecnologias da Informação e Comunicação; Ambientes Virtuais de Aprendizagem; Moodle; Teoria Sócio-interacionista. INTRODUÇÃO É verificada cada vez mais no contexto escolar, a necessidade de superação da ideia do professor centralizador da relação ensino/aprendizagem, no qual o aluno deixa de ser apenas um receptáculo de informação, e passa a buscar seu conhecimento, a ser um sujeito ativo nesse processo. Isso acarreta para o professor novas responsabilidades, uma nova forma de lidar com sua prática docente, e a necessidade de inserir novos recursos metodológicos, capazes de estimular os alunos. No contexto de transformações pedagógicas, passa-se a questionar o papel da escola e do próprio professor, nessa “sociedade informacional” (CASTELLS, 1999), marcada pelo advento cada vez maior das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) no contexto escolar. Agora, a informação está mais acessível e a escola não é mais a única fonte de obtenção de conhecimento. No entanto, a mesma não pode ignorar essa nova realidade, ao contrário, precisa se transformar num lugar de análises críticas, atribuindo significado à informação (LIBÂNEO, 2000). Cabe então ao professor assumir a mediação da interação aluno/tecnologia, de modo que possa criar um ambiente desafiador, desenvolvendo nos alunos autonomia e criatividade. Candau (2000) afirma que a escola precisa se reinventar; construir novos meios de interação professor-aluno, uma vez que o professor deixou de ser o ator principal. Para tal, esta autora defende a construção de “ecossistemas educativos”, nos quais o processo de escolarização não segue um padrão único e sim pluralista, em diferentes espaços de conhecimento, seja ele formal ou popular, presencial ou virtual, sistemático ou assistemático. Em confluência com essas ideias e tendo em vista as crescentes e divergentes discussões acadêmicas acerca do uso das TIC no contexto escolar, este artigo visa analisar o Ambiente Moodle, a partir da teoria Sócio-interacionista de Vygotsky. O objetivo é identificar se este ambiente, considerando a aplicação das ferramentas fórum e chat, se faz um recurso 2 eficiente, no que tange à interatividade entre alunos e professores, possibilitando aos alunos compartilhar suas ideias, seus conhecimentos, suas experiências. Espera-se, com isso, que este trabalho possa contribuir para o incentivo da utilização das TIC, especificamente da plataforma Moodle, no ambiente de educação, incentivando cada vez mais a inserção de alunos e professores nesse novo contexto social. Criado pelo australiano Martin Dougiamas, em 1999, o Moodle é um Ambiente Virtual de Aprendizagem composto por um conjunto de ferramentas, tais como fóruns, diários, chats, lições, questionários, textos, wiki, tarefas, glossários e vídeos. Estas ferramentas podem ser selecionadas pelo professor, que no ambiente assume o papel também de administrador, de acordo com seus objetivos pedagógicos. Segundo Franciosi (2003) é um "Ambiente Colaborativo de Aprendizagem", cujo conceito evoca o modo como a aprendizagem ocorre, uma vez que possibilita o compartilhamento de ações, onde todos são agentes ativos no processo ensino/aprendizagem. Faz-se importante discutir essa temática, tendo em vista o crescente uso das tecnologias informacionais no campo educacional. Nesse contexto de novas exigências educacionais, faz-se necessário repensar a prática docente. Os professores da “sociedade informacional” devem criar meios para se adequarem às TIC, introduzir novos recursos em suas aulas, enriquecer sua metodologia, propiciando a interação cada vez maior dos agentes envolvidos no processo ensino/aprendizagem. Assim, essa pesquisa, ao propor o uso do Moodle, enquanto recurso metodológico pode contribuir para as discussões teórico-metodológicas, acerca da inserção das novas TIC no contexto escolar, especialmente os Ambientes Virtuais de Aprendizagem. A metodologia empregada consistiu no levantamento bibliográfico acerca da referida temática, buscando elucidar sobre os conceitos de TIC e Ambientes Virtuais de aprendizagem, correlacionando-os à teoria sócio-interacionista de Vygotsky. Também foi realizado um experimento fazendo uso do ambiente Moodle, enquanto ferramenta educacional. O trabalho é fruto de uma das atividades propostas na disciplina Construção de práticas educativas em ambiente virtual, do curso de Pós-graduação em Docência no Século XXI, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense (IFF Campus Campos-Centro). Os resultados desse trabalho serão apresentados ao longo desse artigo. O artigo estrutura-se em cinco seções. A primeira busca fazer uma breve apresentação das tendências pedagógicas e seus pressupostos, destacando a importância destas nas 3 mudanças ocorridas no papel da escola e do professor, frente à realidade social que os circundam. A segunda seção visa apresentar a teoria Sócio-interacionista de Vigotsky, que norteou o presente trabalho, destacando suas principais características. A terceira, por sua vez levanta uma discussão sobre as TIC no contexto escolar, evidenciando a importância de se repensar a prática docente na sociedade informacional. A quarta seção busca caracterizar os Ambientes Virtuais de Aprendizagem, especialmente o ambiente Moodle, objeto de pesquisa deste trabalho. A última seção, por sua vez, relata sobre o experimento trabalhado na pesquisa, apresentando a metodologia utilizada, bem como os resultados e discussões do trabalho. 1 AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS E A PRÁTICA DOCENTE A prática escolar consiste na concretização de diferentes tendências pedagógicas, com diferentes proposições sobre o papel da escola, da aprendizagem e da relação professor-aluno. Tais pressupostos levam alguns professores a se organizarem em função delas ou, pelo menos, a basearem suas práticas docentes. Outros ainda seguem modismos, condicionando suas práticas a alguma tendência, sem nem mesmo refletir sobre a mesma (LIBÂNEO, 1994). À medida que as tendências foram se apresentando, diferentes concepções de homem e de sociedade foram sendo formuladas e, consequentemente, diferentes pressupostos sobre o papel da escola e da aprendizagem passaram a ser objeto de análise, repercutindo na prática docente, no ato de ensinar e aprender. Libâneo (1994) classifica as tendências pedagógicas em dois grupos, considerando os condicionantes sociopolíticos da escola. São elas, a Pedagogia Liberal e Pedagogia Progressista. A primeira sustenta-se na ideia de que a escola tem a função de preparar os indivíduos para desempenho de papéis sociais, de acordo com suas aptidões individuais. Na segunda, por sua vez, a escola passa a ser vista não mais como redentora, mas como reprodutora da classe dominante. Esta tendência parte de uma análise crítica das realidades sociais, sustentando as finalidades sociais e políticas da educação. Ambas as tendências pedagógicas apresentadas se subdividem, de acordo com Libâneo (1994). A liberal abarca as tendências tradicional, renovada progressivista, renovada não-diretiva e tecnicista. Assim, para a tendência liberal tradicional, o aluno é educado para atingir sua plena realização por meio de seu próprio esforço, cabendo à escola preparar os 4 alunos para desenvolverem suas capacidades individuais. A pedagogia é centrada no professor, e o aluno desenvolve uma atitude receptiva e mecânica. Desse modo, Libâneo (1994) caracteriza também as demais tendências pedagógicas. A pedagogia renovada progressista é aquela que o aluno aprende fazendo. A mesma valoriza as tentativas experimentais dos alunos, seus interesses, a autoaprendizagem, privilegiando os estudos independentes e também em grupo. O meio é apenas um ambiente estimulador. Nesse contexto, o professor deve dar as condições para que o aluno, estimulado pelo ambiente, possa buscar o conhecimento. A tendência renovada não-diretiva, segundo Libâneo (1994) defende que o papel da escola baseia-se na formação de atitudes do aluno. Sua preocupação está mais centrada nos problemas psicológicos do que nos pedagógicos ou sociais do aluno. Todo o esforço deve visar a uma mudança dentro do indivíduo. O conhecimento ocorre a partir de um processo ativo de busca do aluno, sendo, por isso, o sujeito da ação. O professor é apenas um facilitador do processo educativo. Ele não ensina, e sim orienta. A pedagogia liberal tecnicista, por sua vez, tem como pressuposto produzir indivíduos competentes para o mercado de trabalho, atendendo aos anseios da sociedade industrial. Seus métodos de ensino são baseados na transmissão e recepção de informação, sendo o professor o elo entre o conhecimento e o aluno. No grupo das tendências progressistas encontram-se a pedagogia libertadora, libertária e crítico-social dos conteúdos (LIBÂNEO, 1994). A tendência pedagógica libertadora, também conhecida como pedagogia de Paulo Freire, sustenta os fins sociopolíticos da educação. No bojo dessa tendência a educação é vista como uma ferramenta contra toda forma de autoritarismo e dominação. Centra-se na ideia de que, o conhecimento só é adquirido por meio de representações da realidade concreta, da situação real vivida pelo educando. Na tendência progressista libertária, a ênfase é dada à aprendizagem informal, preconizando a participação em grupos, em discussões e ações práticas sobre questões da realidade social em que estão inseridos. Assim, as atividades são centradas na discussão de temas sociais e políticos, pois acredita que a educação deve ir além dos muros da escola, trazendo para dentro dela a necessidade de concretizar a democracia e formas de gestão participativa. Nesse processo, o professor é apenas um orientador da aprendizagem dos alunos. 5 E por último, Libâneo (1994) entende que na tendência pedagógica crítico-social dos conteúdos, a escola é mediadora entre o individual e o social, dando um passo a frente no papel transformador da escola, preparando o aluno para o mundo adulto e suas contradições. Enfatiza a articulação entre o domínio dos conteúdos científicos por parte do aluno, com sua prática social. De acordo com o exposto, no que se refere às tendências pedagógicas, é enfatizada a superação da ideia do professor centralizador do processo ensino/aprendizagem, delegando ao aluno um novo posicionamento nessa relação. Isso acarreta para o professor novas responsabilidades, uma nova forma de lidar com sua prática docente e uma nova maneira da escola se impor na sociedade. 2 A TEORIA SÓCIO-INTERACIONISTA DE VYGOTSKY A fim de compreender o modo como às pessoas aprendem, quais as condições necessárias para que isso aconteça, bem como o papel do professor e do aluno neste processo, diferentes teorias da aprendizagem foram se delineando, todas as quais apresentando seus pressupostos. Dentre as diversas teorias da aprendizagem elaboradas, ganha destaque nesse artigo a teoria construtivista de Vigotsky, médico russo que se dedicou ao estudo dos distúrbios de aprendizagem e de linguagem, fundando o Laboratório de Psicologia da Escola de Professores de Gomel, Rego (2001), e publicando obras4 na área. A teoria vygotskiana compartilha de ideias construtivistas “onde a única aprendizagem significativa é aquela que ocorre através da interação sujeito, objeto e outros sujeitos” (COELHO; PISONI, 2012, p. 144). Nesse sentido, compreende que o ato de ensinar envolve estabelecer interações entre alunos e professores, favorecendo a possibilidade de observar e de intervir nas necessidades dos alunos. Seus estudos enfatizaram o papel da interação social ao longo do desenvolvimento do indivíduo, atribuindo o termo sócio-cultural a sua teoria. Desse modo, o mesmo buscou 4 Dentre suas diversas obras podemos citar: A formação Social da Mente; Construção do Pensamento e da Linguagem; Desenvolvimento Psicológico na Infância; Estudos Sobre a História do Comportamento; Psicologia Pedagógica e Teoria e Método em Psicologia. 6 explicar os processos mentais baseados na imersão social do homem (ARGENTO, s.d.), pois o indivíduo está inserido em um grupo social, e aprende o que seu grupo produz. Rego (2001) ressalta que, para Vygotsky, o desenvolvimento pleno do ser humano está diretamente relacionado ao aprendizado que se realiza em um determinado grupo cultural, a partir da interação com outros indivíduos da sua espécie. Assim, de acordo com esse pressuposto, a aprendizagem ocorre no relacionamento do aluno com o professor e com outros alunos, pela mediação feita com outros sujeitos, do mundo cultural que o rodeia, uma vez que “a cultura é parte constitutiva da natureza humana, pois o desenvolvimento mental humano não é passivo, nem tão pouco independente do desenvolvimento histórico e das formas sociais da vida” (COELHO; PISONI, 2012, p. 145). A cultura fornece ao indivíduo os sistemas simbólicos de representação da realidade, ou seja, o universo de significações que permite construir a interpretação do mundo real. Ela dá o local de negociações no qual seus membros estão em constante processo de recriação e reinterpretação de informações, conceitos e significações (ARGENTO, s.d.). A questão central é a aquisição de conhecimentos pela interação do sujeito com o meio, logo, o conhecimento é sempre mediado (ARGENTO, s.d.). Assim, é através das relações estabelecidas com os outros, da interação entre os sujeitos, trocando experiências e ideias, que construímos o conhecimento. Sob essa ótica, a aprendizagem é uma experiência social, na qual a mediação é fator preponderante para Vygotsky. Essa mediação ocorre por meio de instrumentos e signos, especialmente a linguagem. Segundo Coelho e Pisoni (2012, p. 145), “a linguagem é um signo mediador por excelência, por isso Vygotsky a confere papel de destaque no processo de pensamento”. Para Argento (s.d.): A linguagem, sistema simbólico dos grupos humanos, representa um salto qualitativo na evolução da espécie. É ela que fornece os conceitos, as formas de organização do real, a mediação entre o sujeito e o objeto do conhecimento. É por meio dela que as funções mentais superiores são socialmente formadas e culturalmente transmitidas, portanto, sociedades e culturas diferentes produzem estruturas diferenciadas. 7 Para Vygotsky, o desenvolvimento cultural da criança se dá por meio de uma dupla formação: primeiro a nível social, e depois, a nível individual. A aprendizagem ocorre pela interação entre os sujeitos e pela internalização do indivíduo, ou seja, por assimilações exteriores e interiores. Nessa premissa, a aprendizagem do aluno se dá a partir a relação entre aluno/professor, bem como entre aluno/aluno. Vygotsky acreditava em uma escola onde houvesse a possibilidade de dialogar, discutir, duvidar e compartilhar saberes, em que professores e alunos têm autonomia, pensam e refletem sobre o processo de construção do conhecimento (REGO, 2001). Para tanto, o professor deve criar estratégias capazes de promover a interação social em suas aulas, possibilitar aos alunos compartilhar ideias, trocar experiências, construir o conhecimento de modo coletivo. Inserir atividades capazes de incentivar os alunos ao diálogo e ao convívio social, transformando-os em sujeitos ativos, que interagem com o ambiente onde estão inseridos. Uma estratégia a ser adotada, é fazer uso das TIC no contexto escolar, por estas fornecerem uma gama de ferramentas capazes de promover essa interação, como os fóruns e os chats. 3 AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO CONTEXTO EDUCACIONAL Uma das discussões mais levantadas, tanto no meio acadêmico, como no cerne da sociedade civil é sobre a crise pela qual passa a educação brasileira nesse novo cenário mundial, marcado por profundas transformações ocorridas nos pilares econômicos, político e social. Essas mudanças foram possibilitadas graças ao advento das tecnologias, iniciado a partir do século XVIII, com a I Revolução Industrial, que modificou a relação homem/natureza e aumentou a capacidade de transformação do meio ambiente (SENE, 2004). Mais tarde, já no final do século XIX, isso se intensificou com a eclosão da II Revolução Industrial, baseada na descoberta de novas matrizes energéticas, tais como o petróleo e a eletricidade. Mas foi a III Revolução, a chamada científica-tecnológica, a partir de 1970, que se disseminaram as tecnologias informacionais (SENE, 2004), dentre as quais estão os computadores, satélites, cabos de fibra ótica, telefones digitais, internet, e uma variada gama de recursos técnico-científicos que hoje se fazem presente em nosso cotidiano. 8 Por Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) compreende-se a “conjugação da tecnologia computacional ou informática com a tecnologia das comunicações” (MIRANDA, 2007, p. 43). Inúmeras são as vantagens do uso das TIC em diversos ramos da sociedade, na medicina, na ciência, nas comunicações, e por que não dizer também na educação. Seu uso nesse último se manifesta como possibilidade de um novo estímulo, uma oportunidade para a educação superar seus tradicionais paradigmas de ensino/aprendizagem, onde o professor é o centro do processo. É imprescindível a superação do modelo educacional vigente em busca da qualidade do ensino e inserção da escola no contexto informacional, e o uso das TIC manifesta-se como possibilidade de inserção da escola num novo paradigma. O advento das TIC aumentou as possibilidades de efetivação desses novos ecossistemas educacionais, a partir de um ensino que valorize o aluno enquanto sujeito ativo no conhecimento (ALMEIDA, 2003). Dessa forma, dessas tecnologias tornou-se cada vez mais incentivado para fins educacionais, visto o crescente uso das tecnologias nessa sociedade, intitulada de “sociedade informacional” (CASTELLS, 1999, p. 38), tendo em vista que a escola não é neutra, pois está sempre inserida num contexto sócio-histórico, sofrendo influência direta de seu contexto social, repassando valores e condutas da sociedade. Conforme Almeida: As Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), a partir das potencialidades e características que lhe são inerentes, apresenta-se como estratégia para democratizar e elevar o padrão de qualidade da formação de profissionais e a melhoria de qualidade da educação brasileira (ALMEIDA, p.2, 2003). De acordo com o mencionado, é possível os educadores utilizarem-se das novas tecnologias da comunicação como metodologia de ensino, para facilitar a relação ensino/aprendizagem, melhorar a comunicação entre professores e alunos, deixando-os mais próximos da realidade social. Por outro lado, isso não significa que o uso desses recursos possa suprir a deficiência do ensino. É notório também que muitos professores resistem às mudanças e muitos deles sequer sabem interagir com esses meios (ALMEIDA, 2003). É preciso que a escola se adeque às novas exigências da sociedade informacional, que os professores se atualizem, se informem, se insiram nesse novo contexto social, mas não adianta apenas ter o acesso a esses recursos; eles sozinhos não farão milagre. De acordo com Pontes: 9 A utilização das TIC como ferramenta tanto pode ser perspectiva no quadro de atividades de projetos e como recurso de investigação e comunicação, como pode ser reduzido a uma simples aprendizagem, por processos formais e repetitivos, de uns tantos softwares e programas utilitários. Ficam, ainda, por equacionar novos papéis para a escola, novos objetivos educacionais e novas culturas de aprendizagem. (PONTES, 2000, p. 73) 4 MOODLE: UM AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM No tocante aos ambientes virtuais de aprendizagem, é necessário retroceder no tempo para entender como as TIC foram inseridas na educação. Verifica-se que o uso do computador no ambiente educacional teve início na década 1960, como meio de apresentação e controle de instrução. Com isso, era dada uma ênfase expressiva na individualização da aprendizagem e na redução de custos, as vantagens atribuídas eram: instrução individualizada, treinamento uniforme, apresentado no ritmo do aprendiz, feedback imediato, apresentação no próprio ambiente de trabalho do aprendiz, disponibilidade permanente, conteúdo facilmente atualizável, reduzido tempo de estudo e material distribuído geograficamente. Assim, na ocasião os conteúdos eram apresentados apenas na forma textuais devido às limitações tecnológicas existentes (BECHARA, 2006). Nesse sentido, as interfaces gráficas, no decorrer do tempo apresentaram um grande desenvolvimento e trouxeram novas possibilidades para os materiais digitais. Assim, desenvolvedores passaram a produzir softwares educacionais que suportam diferentes mídias, tais como imagens, sons, vídeos, entre outros. Nesse compasso, a internet foi se disseminando, inicialmente em acessos mais restritos, por meio da linha telefônica até chegar à banda larga, se popularizando permitindo maior velocidade na transmissão de imagens e vídeos (HAGUENAUER, 2007). Com efeito, os ambientes virtuais de aprendizagem, criados a partir de recursos das novas tecnologias digitais e utilizando como meio de difusão e comunicação a internet, dispõe de uma gama de recursos, que vão desde o gerenciamento das atividades acadêmicas, como criação de turmas e inscrição de alunos, passando pelo fornecimento de ferramentas para a comunicação entre os participantes, até a criação, em tempo real, de ambientes imersivos e interativos, como no caso dos jogos. Uma definição possível para ambientes virtuais de aprendizagem consiste em: 10 Sistemas computacionais disponíveis na internet, destinados ao suporte de atividades mediadas pelas tecnologias de informação e comunicação. Permite integrar múltiplas mídias e recursos, apresentar informações de maneira organizada, desenvolver interações entre pessoas e objetos de conhecimento, elaborar e socializar produções tendo em vista atingir determinados objetivos. As atividades se desenvolvem no tempo, ritmo de trabalho e espaço em que cada participante se localiza, de acordo com uma intencionalidade explícita e um planejamento prévio denominado design educacional1, o qual constitui a espinha dorsal das atividades a realizar, sendo revisto e reelaborado continuamente no andamento da atividade. (ALMEIDA, 2003, p.5). Não obstante, uma vez constituído, o AVA oportuniza a colaboração/interação entre os participantes, que, depois de familiarizados, passam a explorar as ferramentas disponíveis (tais como fórum, biblioteca, tira-dúvidas, chat, FAQ, bibliografia, arquivos para download, mural de avisos etc.), adquirindo uma visão geral do funcionamento da plataforma (HAGUENAUER, 2007). Diante desta perspectiva, o mercado de tecnologia oferece uma série de plataformas, ou ambientes virtuais, ou ainda sistemas de gestão da aprendizagem que podem dar suporte a atividades educacionais colaborativas como o Teleduc e o blackboard. O Moodle surge com a ideia de colaboração, isto é, os usuários da plataforma mantém um portal na internet para colaboração e aprimoramento da ferramenta. Esse portal facilita a troca de informação e, consequentemente, o aperfeiçoamento constante do Moodle enquanto ferramenta de educação. Isso significa dizer que qualquer instituição que utilize o Moodle está colaborando com o seu desenvolvimento, apenas o divulgando ou mesmo identificando e solucionando problemas e ainda propondo novas ferramentas e possibilidades para a atuação dos professores ou tutores, mediadores da aprendizagem (DELGADO, 2009). É importante ressaltar que este software oferece toda a estrutura administrativa, que é acessada apenas pelo administrador, que pode ser o professor e quem mais ele delegar esta função (dados cadastrais, relatório, lista de presença, calendário). Também possui a estrutura acadêmica que permite a propor pesquisas, disciplinas, glossários, roteiros de estudo, bem como ferramentas de interação (e-mail, chat, wiki e fórum), permitindo uma ampla gama de canais de comunicação entre os participantes, que podem ser selecionadas pelo professor, de acordo com seus objetivos pedagógicos. Sendo assim, o Moodle é um software altamente flexível e adaptável, os professores têm a possibilidade de criar cursos utilizando as diversas ferramentas de interação e de 11 comunicação, de publicação de materiais de diferentes formatos e uma diversidade de recursos que os permitem criarem atividades como exercícios de múltipla escolha com autocorreção, entre outros. da maneira que cada um considerar mais eficiente para a aprendizagem dos seus aluno (DELGADO, 2009). De acordo com o exposto, sendo o Moodle ou Objeto Modular Orientado ao Ensino, um ambiente virtual de aprendizagem, é pertinente salientar que: Um ambiente virtual de aprendizagem - AVA - é um sistema de software que constitui um espaço virtual educativo e interativo baseado na WEB, tratando temas específicos e reconfigurando-se a partir das interações entre os usuários, e destes com o sistema (MADSEN, 2001 apud DIAS, 2003, p. 37). Nesse sentido, o processo educacional constituído nesse tipo de ambiente, promove uma aprendizagem mais dinâmica e participativa, voltado para a aprendizagem que transcende a sala de aula. Esta pode ocorre em diferentes espaços, presencial ou virtualmente. No entanto, envolve uma postura cooperativa, determinada por atitudes de interação e tomada de decisão em grupo, dado as responsabilidades tanto do aprendiz, quanto do grupo que participa do ambiente. Na concepção de Santos (2003, p. 2), um ambiente virtual “é um espaço fecundo de significação onde seres humanos e objetos técnicos interagem potencializando assim, a construção de conhecimentos, logo a aprendizagem”. Dessa maneira, os AVA, dado a interatividade que promove entre os sujeitos envolvidos (alunos com alunos; alunos com professores; professores com professores), possibilita um meio eficaz no processo de aquisição de conhecimento, uma vez que no ambiente os alunos tendem a ser também protagonistas do processo ensino/aprendizagem. Assim, A aprendizagem mediada por AVA pode permitir que através dos recursos da digitalização várias fontes de informações e conhecimentos possam ser criadas e socializadas através de conteúdos apresentados de forma hipertextual, mixada, multimídia, com recursos de simulações. Além do acesso e possibilidades variadas de leituras o aprendiz que interage com o conteúdo digital poderá também se comunicar com outros sujeitos de forma síncrona e assíncrona em modalidades variadas de interatividade (SANTOS, 2003, p. 4). Neste processo, os papéis de aluno e professor se integram, uma vez que os sujeitos envolvidos podem ser emissores e receptores das informações publicadas. 12 Cabe ressaltar que o advento das novas tecnologias, sobretudo, no contexto educacional torna imprescindível sua utilização com objetivo de estender o espaço da sala de aula, tendo em vista a inserção da TIC no processo de ensino-aprendizagem, na perspectiva de maior interação entre professor e aluno, bem como dinamizar a relação do aluno com os conteúdos e temas estudados, os tornando coautores deste processo. De acordo com o contexto, é relevante salientar que: Os ambientes virtuais de aprendizagem são espaços fecundos de significações, onde agentes humanos e objetos tecnológicos interagem entre si, potenciando a construção colaborativa do conhecimento em comunidades de aprendizagem. Sendo mais do que simples conjuntos de páginas da web, não se trata apenas de ferramentas tecnológicas, mas antes de elementos técnicos e principalmente humanos relacionados no ciberespaço (Internet ou Intranet) e que possuem uma identidade e um contexto específicos (Santos et al. 2001, apud Correia; Lencastre p. 47). Desse modo, “Ambiente Virtual de Aprendizagem” relaciona-se com as condições de aprendizagem, enriquecida pelos recursos da tecnologia, a fim de estimular a construção dos conceitos e a interação do aluno com o professor, com os colegas e com os recursos disponibilizados e em construção (CORREIA; LENCRASTE, 2013). É notório que nos últimos anos, os AVA, estão sendo cada vez mais incorporados no âmbito acadêmico, como possibilidade tecnológica para atender a demanda educacional. E conforme afirma Moran (2003, p.1), ensinar e aprender, hoje, não se limita ao trabalho dentro da sala de aula. Esse processo sugere uma transformação do que fazemos dentro e fora dela, no presencial e no virtual, além de um planejamento das ações de pesquisa e de comunicação que possibilitem continuar aprendendo em ambientes virtuais, acessando páginas na internet, pesquisando textos, recebendo e enviando novas mensagens, problematizando questões em fóruns ou em salas de aula virtuais, divulgando pesquisas e projetos. 5 MOODLE: UMA EXPERIÊNCIA SOCIO-INTERACIONISTA 5.1 Quanto à metodologia do experimento 13 No curso de Pós-graduação em Docência no Século XXI, na disciplina Construção de práticas educativas em ambiente virtual, foi proposta a plataforma Moodle como recurso metodológico, a fim de promover maior interação entre aluno e professor no processo de ensino-aprendizagem. Neste curso, criado na disciplina, ocorrido entre os meses de maio e junho de 2013, os 26 alunos participantes tinham acesso à plataforma não só nas aulas, mas em qualquer lugar com acesso à internet. O curso, como parte da disciplina, fez uso de diversas ferramentas contidas na plataforma Moodle, enfocando suas funcionalidades, tais como tarefas, fóruns de discussão, publicação de aulas e arquivos, chats, enfim, a mais variada gama de recursos que a plataforma dispõe. Com isso, diversas atividades foram propostas, dentre as quais podem-se destacar os seminários apresentados pelos alunos, a partir das orientações publicadas pelos professores. Assim, cada grupo realizava suas pesquisas, produzia os trabalhos, publicava na plataforma e finalmente apresentava para a turma. Dessa forma, o Moodle não foi utilizado somente à distância, facilitando a comunicação entre professores e alunos, mas foi bem requisitado durante o curso presencial. Após a realização das tarefas, os professores propuseram que os alunos assumissem o papel de professores no ambiente. Assim, durante duas aulas5, foi realizada a capacitação dos alunos para assumirem esse novo perfil. Após essa capacitação, os alunos deveriam propor seus próprios cursos na plataforma. Como no Moodle é possível o usuário ser cadastrado em diversos cursos e com diferentes perfis, os alunos puderam, ao mesmo tempo, e com o mesmo usuário, ter o perfil de professor e de aluno. Caberia, assim, aos alunos, tomarem o papel de professores, e proporem um curso aos colegas da turma, com temas variados, à escolha de cada grupo, desde que fosse voltado à educação, e composto por conteúdo, metodologia, tarefas, fórum e chat. Todos deveriam participar das atividades e, ao final, apresentar os resultados do trabalho numa culminância. O curso proposto pelas autoras deste trabalho teve como tema O uso das TIC na educação, com o intuito de oferecer uma contribuição às discussões acerca do uso dessas tecnologias em sala de aula, como recurso metodológico, e levantar questões que se colocam frente os limites e possibilidades destas na educação. Ele foi estruturado em três aulas, conforme metodologia apresentada na figura 1: 5 Cada aula teve uma carga horária de três horas. 14 Figura 1: estrutura do curso proposto Fonte: Tela capturada no Moodle No primeiro encontro a aula foi expositiva, fazendo uso de slides que tratam da referida temática. Estes estavam publicados no ambiente Moodle, onde os alunos puderam ter acesso a todo instante. Após, foi apresentado um vídeo que elucidava sobre a ideia central do curso (uso das TIC em sala de aula), de forma que os alunos puderam expor suas ideias acerca do assunto durante a aula. No segundo encontro a aula foi baseada nos textos disponibilizados na plataforma (conforme figura 2) e, por meio deles, os alunos realizaram um trabalho, que deveria ser publicado também na plataforma. Este consistia de apresentação e discussão dos textos. 15 Figura 2: textos disponibilizados aos alunos para a elaboração das atividades Fonte: Tela capturada no Moodle Após as apresentações, os alunos participaram do fórum de discussão (figura 3), que continha a seguinte pergunta: A partir do exposto em sala, através das discussões e dos textos, vocês acham que o uso das TIC na educação ainda se apresenta como um grande desafio? Quais são seus limites e possibilidades? As discussões foram realizadas durante 10 dias, compreendidos entre 17 e 27 de maio de 2013, tempo em que o fórum ficou aberto. Figura 3: página do fórum de discussão Fonte: Tela capturada no Moodle 16 No último encontro, os alunos elaboraram um texto, a partir do mapa conceitual referente à temática, O uso das TIC na educação, elaborado pelas autoras e postado na plataforma como base para a elaboração de textos que propiciasse a discussão do tema em questão. Para tirar dúvidas sobre a atividade, foi proposto um chat no qual alunos e professores poderiam conversar sobre tal atividade. Depois de prontos, esses textos foram apresentados em sala, em uma culminância, na qual finalizariam as discussões acerca da temática exposta. Com base nessa estrutura o curso foi executado, tendo como moderadores três professoras, duas das quais são autoras do presente artigo. Os moderadores são atores fundamentais no processo ensino/aprendizagem por meio de ferramentas tecnológicas educacionais, uma vez que são os articuladores dessa relação. Para tanto, precisam ter capacidades imprescindíveis, tais como liderança, boa comunicação, habilidades para solucionar de conflitos, além de habilidades técnicas (LOPES et al 2008, p. 68). Ainda que essas características se façam presentes nos moderadores, isso não garante que todos os objetivos esperados sejam alcançados, uma vez que outros fatores estão envolvidos, tais como a efetiva participação dos alunos, recursos técnicos eficientes, apoio acadêmico, entre outros. Para que a proposta consiga atingir os objetivos esperados é necessária uma intrínseca relação de cooperação entre todos os atores envolvidos (LOPES et al 2008, p. 68). E foi a partir deste trabalho que se delineou o presente artigo, baseado no levantamento da participação da turma nas atividades propostas no curso formulado sobre as TIC, enfatizando as duas ferramentas do Moodle: o fórum de discussão e o chat, por estes servirem bem às proposições deste trabalho, que é analisar a interação de alunos e professores, a partir do uso deum AVA, com base na teoria sócio-interacionista de Vygotsky. Os resultados obtidos nessa experiência apresentam-se na seção seguinte. 5.2 Resultados e discussões As análises se fixaram em duas etapas principais do curso: as discussões no fórum e o chat, propostos na segunda e terceira etapa do curso. A turma tinha um quantitativo de 26 alunos. Dentre estes, todos tiveram acesso ao fórum e ao chat proposto, entretanto, nem todos os alunos participaram. O gráfico, a seguir (figura 4), apresenta o quantitativo da participação dos alunos. 17 Figura 4: gráfico da participação dos alunos no fórum de discussão Fonte: Elaboração própria Apesar de nem todos os alunos aderirem à proposta de trabalho, a grande maioria participou, e fez contribuições bem significativas no fórum de discussão, onde eles puderam expor suas opiniões acerca da temática proposta, contribuindo com o raciocínio do outro, compartilhando seus conhecimentos e suas práticas cotidianas. Alguns fragmentos das discussões ocorridas no fórum são apresentados, a seguir: A utilização das TIC na Educação é um grande desafio para nós, professores, tanto na questão de capacitação quanto na disponibilidade de recursos que deveríamos ter a disposição. Nesse contexto, devemos considerar a questão da metodologia no ensino quando utiliza ferramentas tecnológicas. Não adianta utilizar ferramentas tecnológicas inovadoras se não utilizar nova metodologia, com estratégias criativas no processo de ensino e aprendizagem. É preciso alcançar, as necessidades dos nossos alunos que nasceram na sociedade do conhecimento com bom planejamento que envolva os mesmos. Que faça o aluno, de fato, construir o 18 conhecimento. Conforme Paulo Freire, "ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção" (...). (trecho do texto publicado por uma participante do fórum) Os ambientes educacionais suportados pelas TIC apresentam para a educação desafios de diversa ordem, desde o “simples” uso das ferramentas técnicas até à verdadeira apropriação do conteúdo simbólico que as adequa. Ao mesmo tempo em que se constituem num universo estimulante e motivador para a aprendizagem, trazem o mundo (virtual) para dentro da sala de aula, disponibilizando oportunidades infinitas de desenvolvimento cognitivo e sócio-afetivo dos alunos. (texto publicado por uma participante do fórum). Outra característica observada nessa atividade foi o grau de envolvimento dos participantes. Consideramos importante o fato deles não responderam à questão simplesmente, mas estarem atentos às colocações dos outros participantes, apresentando seus posicionamentos frente às ideias expostas. Concordo com as colocações dos colegas, e acredito que um novo ambiente escolar deve ser construído sim. Claro, contando com a participação de todos os sujeitos envolvidos nesse processo. Gosto de pensar que as novas TIC certamente irão se desenvolver de forma acelerada e com custos cada vez mais baixos. Isso me leva a acreditar que nos próximos anos as mesmas caminharão lado a lado com as iniciativas pedagógicas, e ainda contribuirão muito mais para o processo de ensino aprendizagem. (Trecho do texto publicado por um participante do fórum). Nesse sentido, os alunos foram além de responder às perguntas propostas, como possivelmente ocorreria, caso fosse sido proposto numa atividade em sala, por meio de provas ou testes. Por meio do fórum, os alunos puderam ler o posicionamento dos colegas e exporem suas opiniões, sem vergonha de se expressarem. Enfim, no fórum eles ficaram abertos às discussões, livres para darem suas opiniões, e principalmente, contribuir para a construção do saber coletivo, atuando como sujeitos ativos no processo 19 ensino/aprendizagem, o que corrobora com a proposição da teoria vygotskiana, a qual compreende que a aprendizagem ocorre no relacionamento do aluno com o professor e com outros alunos, pela mediação feita com outros sujeitos. (…) Vygotsky acreditava em uma escola onde seria possível dialogar, discutir, duvidar e compartilhar saberes, onde professores e alunos têm autonomia e pensam e refletem sobre o processo de construção do conhecimento (DELGADO, 2009, p.29). As discussões realizadas no fórum se estenderam de modo a contribuir efetivamente com o curso, contando com uma grande interação entre os agentes envolvidos, o que nos leva a considerar que a experiência com o fórum foi muito positiva. Os alunos tiveram uma boa participação e as discussões foram bem colaborativas. Ademais, a interatividade, foco deste experimento, ocorreu de forma eficiente, permitindo os alunos a atuarem de forma ativa no processo ensino/aprendizagem. Quanto ao uso do chat, apenas dois alunos participaram, somente uma vez, conforme apresentado no gráfico (figura 5) abaixo: Figura 5: gráfico da participação dos alunos no chat Fonte: Elaboração própria Alguns fatores contribuíram para que isso acontecesse. Em primeiro lugar destacamos a pouca efetividade da proposta do chat, ou seja, ele foi elaborado apenas para tirar dúvidas 20 dos alunos com relação à produção do texto. Isso talvez tenha feito com que os alunos dessem pouca importância a essa ferramenta. O segundo motivo pode ser por conta dos horários disponibilizados para os batepapos. A maior parte dos alunos trabalha em diferentes turnos, sobrando pouco tempo para participação dos chats, uma vez que o mesmo tinha horário para começar e terminar. O terceiro motivo pode ser pelo excesso de chats abertos ao mesmo tempo, pois diversos cursos foram abertos com a mesma proposta de participação de fóruns e chats. Como todos os chats estavam programados nos mesmos horários, acabou ocorrendo muitos desencontros entre os moderadores e alunos, pois até mesmo os moderadores tinham que participar dos outros chats. Enfim, diversos fatores contribuíram para o insucesso desta ferramenta. Entre erros e acertos o experimento proposto se desenrolou, e revelou a necessidade de aprimoramento do uso do Moodle, principalmente no que tange à elaboração das atividades e escolha das ferramentas que melhor atendam aos objetivos propostos. Contudo, o experimento demonstrou que é possível os professores se utilizarem dele para dinamizarem suas aulas, propor recursos metodológicos que ultrapassem a uso do quadro e giz, que coloque os alunos numa posição ativa no processo ensino/aprendizagem. CONSIDERAÇÕES FINAIS As tecnologias estão sendo cada vez mais utilizadas no contexto educacional, por propiciarem um leque de possibilidades na construção do conhecimento e nas tentativas de mudança no processo ensino/aprendizagem. Diversos recursos tecnológicos podem ser utilizados para dar suporte nas atividades de ensino, fornecendo textos, imagens, livros, revistas, vídeos, novos ambientes de aprendizagem que ultrapassam a sala de aula e os muros da escola. Essas tecnologias permitem um novo encantamento e novas funções para a escola, ao abrir suas paredes e possibilitar que alunos conversem e pesquisem com outros atores educacionais na mesma cidade, país ou do exterior. O Moodle, objeto dessa pesquisa, é um exemplo disso. Uma de suas grandes qualidades é possibilitar uma maior interação entre os agentes envolvidos no processo ensino/aprendizagem, por apresentar uma gama de ferramentas capazes de propiciar essa 21 interação (educação/tecnologia), o que pode tornar o processo ensino/aprendizagem mais interativo, dinâmico e colaborativo. Seu uso, enquanto recurso metodológico permite integrar o processo ensino/aprendizagem às TIC de maneira satisfatória; possibilita o diálogo, a troca de opiniões, o compartilhamento de saberes, a construção do conhecimento de forma coletiva. Tal fato nos remete à teoria sócio-interacionista de Vygotsky, em que o mesmo defende a presença e a implicação do macrossocial nas interações completas entre os sujeitos e as considera fundamentais desde o primeiro momento para a constituição do pensamento (DELGADO 2009). Entretanto, conciliar tecnologia e educação ainda consiste num grande desafio, pois a tecnologia subsidia o processo ensino-aprendizagem, mas não o substitui. A máquina pode ser uma importante aliada da educação, porém a relação professor-aluno jamais será substituída pela mesma. Cabe à escola ser mediadora entre tecnologia, informação e aprendizagem. É insuficiente valorizar a informação unicamente e sim as relações que as norteiam, seja no tocante à ciência, cultura, moral ou a ética e, nesta função a máquina é insuficiente. Portanto, tecnologia e educação devem caminhar juntas, tendo em vista que uma não se sobrepõe à outra, mas ambas são integrantes do modelo social em vigor. Tal fato não isenta a escola do contexto social, ao contrário legitima sua importância e necessidade de se reinventar. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Maria Elizabeth Bianconcini de. Tecnologia e educação à distância: abordagens e contribuições dos ambientes digitais e interativos de aprendizagem. Disponível em http://www.anped.org.br/reunioes/26/trabalhos/mariaelizabethalmeida.rtf Acesso em 8 de Fevereiro de 2014. ARGENTO, Heloísa. 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