Poeira Vital

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ANOTAÇÕES DE:
POEIRA VITAL
TÍTULO DO ORIGINAL: VITAL DUST
AUTOR: CHRISTIAN DE DUVE
EDITORA: CAMPUS -
1997
Sobre o autor:
Em 1974 dividiu o Nobel de Biologia com Albert Claude e George Palade, por
suas descobertas sobre a organização funcional e estrutural das células. É autor
de A Guided Tour of the Living Cell e Blueprint for a Cell.
Publicado em 97, na verdade o livro foi escrito em 93, é o que se deduz da data
em que assina o prefácio (31 de janeiro de 94).
GLOSSÁRIO:
catalisadores/ catalisar - substâncias que especificamente ajudam as moléculas
reagentes a se juntarem e interagirem, mas que não se deixam consumir na
reação e, portanto, podem agir um número infinito de vezes sucessivas.
Heterótrofo - organismos que, como nós, se alimentam de produtos de outros
organismos, em oposição aos autótrofos que fabricam seus constituintes com
blocos minerais de construção (as plantas, por exemplo).
Ubíquo : que está ao mesmo tempo em toda parte
PREFÁCIO
Se, em futuro próximo, não resolvermos satisfatoriamente esses problemas, em
particular o da explosão demográfica, que se encontra na raiz da maioria dos
outros, a seleção natural o resolverá por nós, mas com conseqüências que
podem ser trágicas para a humanidade e para a maior parte do mundo vivo.
INTRODUÇÃO
Nossa informação não vem tanto dos vestígios mortos quanto dos seres vivos.
Toda a história da vida está escrita nos organismos atuais. Só o que precisamos
para reconstruir essa história é ser capaz de ler o texto.
Um dos primeiros exemplos da etimologia molecular - refere-se a uma proteína
chamada citocromo c. Esta pequena proteína, com cem aminoácidos de
comprimento, atua na utilização de oxigênio por muitos seres vivos. A versão
humano do citocromo c difere da do macaco reso por um único aminoácido e das
versões do cachorro, da cascavel, da rã, do atum, do bicho-da-seda, do trigo e
do fermento, respectivamente, por 11, 14, 18, 21, 31, 43 e 45 aminoácidos.
As bactérias são pequenos organismos, cujo tamanho em geral não excede
algumas centenas de milésimos de centímetros, com formas que vão de
filamentos a esferas, visíveis apenas com um bom microscópio.
A fonte mais rica de bactérias é o solo, onde esses organismos invisíveis realizam
a importantíssima decomposição dos vegetais e animais mortos, reciclando os
constituintes da vida.
A vida tem no mínimo 3 bi e meio de anos. Tal é a espantosa mensagem
revelada pelos estromatolitos e microfósseis. Comparem esta idade com o limite
de uns seiscentos milhões de anos, além dos quais virtualmente nenhum vestígio
de planta ou anima foi encontrado, e poderão avaliar a enormidade da parte
inferior oculta da arvore da vida: 4 ou 5 vezes o tamanho da parte superior, que
engloba toda a história evolutiva das plantas e dos animais.
A PROBABILIDADE DA VIDA
No bridge, a probabilidade de receber as 13 cartas de espadas são uma em
seiscentos e trinta e cinco bi. Mas esta probabilidade é a mesma para qualquer
conjunto de 13 cartas. Contudo, em nenhum clube de bridge os jogadores jamais
se admiram de testemunhar um acontecimento extraordinariamente improvável
todas as vezes em que as cartas são distribuídas. Este exemplo ilustra um fato
simples, nem sempre reconhecido, de que acontecimentos únicos de baixa
probabilidade ocorrem o tempo todo sem que ninguém lhes preste nenhuma
atenção a não ser que tenham algo especial.
A BUSCA DAS ORÍGENS
De um modo geral, toda a matéria orgânica no mundo vivo pode ser resumida
simbólica, se não eufonicamente, pela formula CHNOPS, que significa:
(C) arbono
(H) idrogênio
(N) itrogênio
(O) oxigênio
(P) fósforo
(E) nxofre
A CATÁLISE SEM PROTEÍNAS
Por que a vida emergente precisou de catalisadores? As reações químicas
ocorrem todo o tempo no mundo físico sem o auxilio dos catalisadores. Há duas
razões para isso: a velocidade e o rendimento.
O CASO DO HIDROGÊNIO DESAPARECIDO
Não se pode tirar o hidrogênio da água e ainda usa-lo para reconverter o
oxigênio em água. Se pudéssemos, teríamos inventado o moto perpetuo, um
sonho perseguido por gerações de excêntricos, sempre em vão, porque é
incompatível com uma das leis mais profundas da natureza: para cada evento
natural, há uma direção permitida e uma direção proibida. As maçãs
caem; elas não saltam de volta para os galhos. O açúcar se dissolve no café; ele
não se forma a partir de uma xícara de café doce. O hidrogênio se combina ao
oxigênio para formar a água; a água não se separa espontaneamente em
hidrogênio e oxigênio.
Segunda Lei da termodinâmica: se você tem que trabalhar para obter uma
coisa, então está indo na direção proibida. Na direção permitida, o
fenômeno, devidamente controlado, talvez trabalhe para você, mas nunca vai lhe
dar tanto trabalho quanto daria se você pretendesse inverte-lo. Com uma corda e
uma polia, você pode usar a manca que cai para erguer outra maca, mas
somente se a segunda for mais leve. Uma boa imagem para descrever as duas
direções é morro abaixo para o que é permitido e morro acima para o que é
proibido. A horizontalidade perfeita significa que não há trabalho em
nenhuma direção. É o resultado de equilíbrio ou estabilidade perfeita. [O que
confirma minha teoria dos ciclos. A única possibilidade de existência do universos
é o confronto pois, sem ele, não há ação.]
Se quisermos que o hidrogênio extraia oxigênio do dióxido de carbono e do
nitrato - precisamos que o hidrogênio alcance tal nível de energia que possa
continuar, daí em diante, morro abaixo.
Por definição, quando uma substância ganha elétrons (ou hidrogênio) dá-se o
nome de redução; quando ela perde elétrons (ou hidrogênio), oxidação. Para que
uma substância seja reduzida , outra tem que ser oxidada, de modo a fornecer
os elétrons necessários (ou átomos de hidrogênio). Assim, estamos sempre
tratando com reações de oxirredução, ou, como se diz mais comumente hoje,
reações de transferência de elétrons.
O RNA ASSUME O COMANDO
UM VISLUBRE DO FUTURO
Todos os organismos vivos são construídos conforme uma matriz que é
transmitida de uma geração a outra. Por isso a matriz é chamada genética.
A planta genética é formada por unidades, ou genes, que juntos compõem o
genoma, ou genótipo, do organismo. Os genes possuem duas propriedades
cardeais: (1) eles podem ser copiados, condição para sua transmissão
hereditária; e (2) eles podem ser expressos em propriedades do organismo, que
juntas compõem o seu fenótipo.
Em todas as formas de vida existentes, a matriz genética é impressa em
moléculas de acido desoxirribonucleico (DNA), um material intimamente ligado
ao RNA e igualmente construída a partir de quatro nucleotídeos. A seqüência de
nucleotídeos determina o conteúdo informativo das moléculas - da mesma forma
que a seqüência de letras determina o conteúdo informativo das palavras.
O DNA é o material dos nossos genes e, por isso, merece sua posição
preeminente no simbolismo da vida. Sua função, porém, é estritamente limitada
ao armazenamento de informação genética (e a cada célula-filha tenha uma
copia). Quanto à expressão da informação, não difere muito da replicação, pois o
RNA é quimicamente semelhante ao DNA e é construído, exceto por uma
diferença mínima e única, com as mesmas 4 bases.
As seqüências de aminoácidos nas proteínas são especificadas pelas seqüências
de nucleotídeos nos genes do DNA, embora não diretamente, mas por meio de
transcrições do RNA, que atuam como “mensageiros da informação neste
processo. Por serem as proteínas construídas com um alfabeto de vinte
aminoácidos, em oposição ao alfabeto de 4 nucleotídeos do RNA (ou DNA), a
transferência de informação do RNA para a proteína é chamada de tradução. O
conjunto de equivalências que governa a tradução forma o código genético.
DNA ------------------------- RNA ------------------ (proteína)
(replicação)
(transcrição)
(tradução)
[a replicação é o que produz a existência de duas células iguais]
A replicação do DNA ocorre da mesma forma que a reprodução fotográfica: fazse um positivo de um negativo e um negativo de um positivo. Os ácidos
nucléicos de fita dupla contêm duplicatas de mesma informação molecular
(seqüência), uns sob a forma positiva e outra negativa. Este é o verdadeiro
significado da descoberta de Watson-Crick.
O aparecimento do RNA foi uma inovação verdadeiramente revolucionária no
desenvolvimento da vida. Ao abrir caminho para a cópia molecular, ele tornou
possível, pela primeira vez, o advento de um mecanismo de aperfeiçoamento
evolutivo por variação, competição e seleção.
DARWIN BINCA COM AS MOLECULAS
O que observamos é nada mais que a genuína evolução darwinista em nível
molecular. Há um gene, uma molécula de RNA de determinada seqüência, capaz
de sofrer replicação. Este gene está sujeito a mutações. Os mutantes competem
entre si pelos recursos disponíveis - a quantidade limitada de nucleotídeos
utilizáveis na replicação. Os vencedores são os que se multiplicam mais
depressa. O importante é que o resultado é obtido sem premeditação nem
previsão. As mutações são causadas por acidentes na replicação, fenômenos
fortuitos alheios à produção de melhores replicados. Esta é a essência da teoria
de Darwin. A seleção natural opera às cegas com o material oferecido pelo
acaso.
Ao final do processo de otimização que acabamos de descrever, o sistema se
acomoda no que chamamos de estado estacionário, um estado de aparente
estabilidade em que a replicação e a decomposição química se compensam e
no qual a seqüência ideal mantém sua supremacia graças à seleção contínua.
Mesmo no estado estacionário ideal, as moléculas do RNA não são todas
idênticas. Uma vez que os erros de replicação continuam a ocorrer, o resultado é
uma população de moléculas em contínuo deslocamento, que Eigen chamou de
quase-espécies. Tal população é formada de cópias perfeitas da seqüência ideal
(“seqüência principal”), acompanhada por um leque de variantes geradas por
erros de replicação.
O NASCIMENTO DAS PROTEÍNAS.
Há o fato curioso de que dezenove em vinte aminoácidos proteinogênicos - o
vigésimo, a glicina, não existe sob duas formas - serem canhotos. A destreza
molecular - o termo técnico é “quiralidade”, do grego cheir, mão - é uma
propriedade dos pares de moléculas que, como nossas duas mãos, são
construídos de modo idêntico, exceto que espacialmente uma parece a imagem
refletida da outra.
GENES EM FORMAÇÃO
Os filetes de água se alongam aqui e ali, enquanto forcas locais de
atração lutam contra a tensão de superfície, até que ocorre uma
pequena ruptura em uma dada direção e toda a pressão se concentra
momentaneamente em um único filete. Depois as tentavas se renovam
e novos filetes de sondagem são despachados até a próxima ruptura.
Tal qual ocorre com a água que se espalha, o resultado desse processo depende
da estrutura do terreno.
Nota: possibilidades de experimentação ou condicionadores da experimentação.
Nota: Catalisador: entidade provocadora de um reação entre duas outras
entidades. Ou entidade desencadeadora de reações.
A cada estagio, a evolução pode trabalhar apenas com os materiais que
sobreviveram às tentativas anteriores. Mesmo que uma combinação previamente
rejeitada se provasse extremamente desejável em um estagio anterior, não
haveria maneira de recuperá-la, exceto por mutações aleatórias de combinações
existentes.
LIBERDADES E LIMITAÇÕES
Com o aparecimento das primeiras moléculas de RNA, a vida incipiente entrou na
era da informação molecularmente codificada e de maneira progressiva construiu
a tríade DNA-RNA-proteína que hoje governa toda a biosfera. Três conceitoschave foram introduzidos na esteira das moléculas informativas:
 o da complementaridade
 o da contingência
 e o da produção modular.
A COMPLEMENTARIDADE
A transferência de informação biológica baseia-se na complementaridade
química, a relação que existe entre duas estruturas moleculares que se ajustam
muito bem uma a outra. Imagens como chave e fechadura.... No mundo
químico, os dois elementos não são rígidos. Quando se unem, eles se moldam
mutuamente até certo ponto. Além disso, a união estabelece uma ligação.
Cada faceta da vida depende de moléculas que se “reconhecem”.
As endorfinas, que são os indutores naturais de sensações prazerosas foram
descobertas através do receptor de morfinas
A CONTINGENCIA
Os cursos d’água seguem caminhos diferentes pela montanha mas podem
acabar no mesmo vale.
A CONSTRUÇÃO MODULAR
A evolução trabalha com módulos preexistentes que são modificados e
combinados de diferentes maneiras em formações maiores, em seguida
peneiradas pela seleção natural.
A CRONOMETRAGEM DA CELULARIZACAO
Alguns cientistas acreditam que a formação das células primitivas foi o fenômeno
inicial da origem da vida.
OS LIMITES FÍSICOS CELULARES
As moléculas anfifílicas, ou anfipáticas (com duas simpatias) são
caracteristicamente compostas por duas partes com afinidades opostas: uma
cabeça hidrofílica (que gosta de água) e uma cauda hidrofóbica (que detesta
água), também chamada lipofilica (que ama a gordura).
A DIVISÃO CELULAR
À media que cresce, sua massa e, portanto, sua manutenção e reparo precisam
crescer em função da terceira potência de seu raio. Por outro lado, a área de
superfície que ela tem disponível para a importação de alimentos cresce apenas
em função da segunda potência do raio. O crescimento de tal célula precisa
necessariamente atingir um ponto em que a importação é apenas suficiente para
manutenção e reparo.
O processo conjunto pára quando a quantidade de trabalho exigida para
empurrar mais proteínas contra o potencial existente se torna igual à quantidade
de energia liberada pela transferência de elétrons. Esta quantidade de energia é
em si uma função da diferença entre os níveis de energia em que o doador cede
os elétrons transferidos e o aceptor os recebe.
A ADAPTAÇÃO À VIDA EM CONFINAMENTO
A SENSIBILIDADE
Podemos pensar nessa proteína como um comutador controlado por um gatilho
químico. A substância que aciona o gatilho é o agonista, ou agente ativo. A parte
externa do comutador que se liga ao agonista é o receptor. A parte interna
reagente é o efector. O comutador se desliga (efetor inativo) quando o receptor
esta vazio, e se liga quando o receptor está ocupado pelo agonista. Há em geral
muitos comutadores de um dado tipo na superfície de uma única célula. Isto
permite uma reação seriada entre todos os comutadores desligado e todos os
ligados. A extensão da reação depende de quantos sítios receptores totais estão
ocupados por molécula agonistas.
Um número menor de canais permanece aberto, mas cada um deixa entrar um
número maior de moléculas da substância por unidade de tempo, de modo que o
número total de moléculas da substância que entra, por unidade de tempo, se
mantém aproximadamente o mesmo para uma ampla faixa de concentração.
A MOTILIDADE
As proteínas transmembrana também podem servir para transmitir sinais
químicos do interior da célula para sua superfície. Uma dessas moléculas
particularmente curiosa tem uma parte interior consumidora de energia ligada a
uma parte móvel externa, de forma tal que a energia gasta do lado de dentro é
convertida em trabalho mecânico do lado de fora, como um braço preso a um
remo ou um motor a uma hélice.
A capacidade de procurar substâncias úteis e evitar as nocivas é
conhecido como quimiotaxia.
UMA PITADA DE SEXO.
Certos pili (pelos) específicos aos componentes celulares de superfície permitem
às células se tocarem de forma especial. Chamar tais contatos entre bactérias de
carinho seria sem duvida demasiado antropomórfico [semelhante ao homem].
Mas permanece o fato de que o desenvolvimento desses pêlos levou realmente
ao sexo e, portanto, desatrelou uma das forças de diversificação mais poderosas
para impulsionar a evolução, se na a mais poderosa. As células que possuíam
pili sexuais - chamadas machos - usavam tais filamentos como uma espécie de
pênis molecular para copular com as células fêmeas, isto é, células desprovidas
de pili sexuais. Durante tal conjugação, como chamamos este mecanismo, as
células masculinas introduzem nas células femininas um pedacinho circular de
DNA, o plasmideo, em que, entre outras coisas, estão localizados os genes que
especificam o código para as proteínas do pilus sexual. Não é infreqüente que
uma duplicata de uma parte maior ou menor do cromossomo masculino seja
injetada na célula feminina juntamente com o plasmideo. A recombinação
subseqüente do DNA injetado com o DNA da célula receptora, promove então a
formação de cromossomos híbridos, feitos de genes doados pelos dois pais.
O ANCESTRAL DE TODA A VIDA
A evidencia de que todos os organismos vivos descendem de um único
antepassado comum é esmagadora.
Bifurcações e não trifurcações, traçam o desenvolvimento de uma
arvore evolutiva. [ou seja, todo o sistema da vida é binário]
As respostas a essas perguntas são eminentemente técnicas e dependem da
interpretação dos dados tanto quanto dos próprios dados.
A UNIVERSALIDADE DA VIDA
Todos os organismos vivos existentes descendem de uma única forma ancestral
de vida. Isto é ponto pacifico. Mas por quê? Há várias respostas possíveis a esta
pergunta.
Primeiro, poderíamos, com os proponentes de uma origem extraterrestre para a
vida, identificar o ancestral com o germe imigrante que inseminou a Terra há
quatro bilhões de anos.
Uma segunda explicação é que nenhuma outra forma ancestral de vida era
possível. É única porque é singular.
Uma terceira possibilidade é que a forma ancestral surgiu entre várias formas
concorrentes por um processo de seleção darwinista.
Ou, alternativamente, havia no inicio várias formas, mas todas as outras
linhagens se extinguiram.
Finalmente, há a possibilidade de que um mero acidente deu origem à forma
ancestral entre varias outras igualmente possíveis.
Tendo concordado em desprezar a primeira possibilidade, ainda nos restam 4. A
questão fundamental aqui é a velha dicotomia entre o acaso e a necessidade.
Quanto no antepassado comum se deveu à contingência, quanto ao
determinismo.? Não temos pistas sólidas para responder a pergunta, apenas
suposições baseadas no que conhecemos da natureza da vida, e suspeitamos de
sua origem.
[Nota: o acaso e a necessidade, na verdade, formam um evento de opostos na
teoria dos confrontos.]
A VIDA EXTRATERRESTRE
Há uns 100 bi de estrelas somente em nossa galáxia, e há bi de galáxias no
universo. Quantas estrelas, entre os trilhões que existem, possuem planetas?
Quantos desses planetas poderiam ter uma história geológica comparável à do
planeta Terra? Em quantos desses o cenário físico-químico que ensejou o
nascimento da vida na Terra poderia ser reproduzido? E, finalmente, em quantos
planetas que apresentam tais condições a vida realmente nasceria e em que
medida aquela vida se assemelharia à vida na Terra.
A cifra de um milhão de planetas “habitáveis” por galáxia não é considerada
desarrazoada. Mesmo que tal valor tenha sido sobreestimado em várias ordens
de grandeza, ele ainda somaria trilhões de berços potenciais para a vida. Se a
minha leitura das evidencias estiver correta, isto significa que existem trilhões de
planetas que tiveram, têm ou terão vida. O universo está inundado de vida.
A VIDA ARTIFICIAL
O termo não tem qualquer relação com a vida em um tubo de ensaio, embora
isso talvez venha a acontecer um dia, mas com a vida em um computador.
Desde que o famoso matemático hungaro-americano Johannes von Neumann
concebeu o primeiro “autômato celular”, em fins da década de 1940, os teóricos
têm demonstrado um enorme interesse na construção de um modelo
matemático das propriedades típicas dos organismos vivos, como a
complexidade, a auto-organização, o crescimento, a reprodução e a evolução.
Têm dedicado especial atenção ao aparecimento espontâneo de tais
propriedades em conseqüência das interações entre diferentes variáveis,
destinadas a representar os catalisadores e seus reagentes, ou os genes e seus
produtos.
Estes modelos têm trazido à luz condições sob as quais a ordem pode surgir
do caos, através de oscilações que ocorrem aleatoriamente até que o
sistema seja apanhado em uma rede de interações que o impele a uma
configuração dinamicamente organizada, à qual ele se acomoda. O que
descrevemos é a exploração errática de um “espaço” que como o tempo, leva o
sistema a cair em uma “bacia”.
Este processo inclui períodos prolongados de pseudo-estabilidade, durante os
quais pequenas mudanças ligadas entre si por saltos ocasionais são induzidas
por algum acontecimento aleatório.
Segundo Kauffman, a condição para tal processo é uma espécie de instabilidade
restrita que separa o caos da fixidez. “A vida”, ele conclui, citando uma frase
dos colegas Norman Packard e Christopher Langton, “se adapta ao limite do
caos”. A evolução darwinista opera dentro dos limites de uma paisagem e só
pode ser compreendida nos termos da configuração de paisagem.
A vida é um processo químico. Se algum dia tiver que ser criada
artificialmente, será por um químico e não por um computador.
AS BACTERIAS CONQUISTAM O MUNDO
A diversidade de bactérias é espantosa e ainda não foi completamente
inventariada. A razão de seu sucesso é simples: as bactérias são construídas
para crescer e se multiplicar tão depressa quanto for materialmente possível.
Elas resumem a vida no que esta tem de mais tosco, e menos atraente.
[Nota: é por isso que elas rapidamente se adaptam ao antibiótico.] [Na verdade,
não é isso. A resistência não é fabricada mas fruto da seleção natural que
manteve vivas as que tinham maior resistência.]
O SEGREDO DO SUCESSO DAS BACTERIAS
Assim que dispõem de duas cópias do seu genoma, elas se dividem. Em
conseqüência, a bactéria média não leva mais de vinte a trinta minutos para
completar um ciclo de crescimento e divisão, em oposição às vinte horas exigidas
por uma célula animal ou vegetal típica.
Uma única célula bacteriana poderia, por crescimento exponencial irrestrito,
cobrir toda a face da Terra de descendentes em menos de dois dias. Uma célula
eucariota levaria pouco mais de dois meses para alcançar o mesmo resultado.
Obviamente, a falta de recursos não tardaria a limitar a multiplicação em ambos
os casos. Parece que não há muita vantagem em andar mais rápido do que o
relógio das gerações.
Não, a principal vantagem que as bactérias obtêm com o seu ritmo veloz de
multiplicação reside no número enorme de mutantes que elas podem oferecer à
seleção natural. No tempo em que um eucarionte produz outros dois, uma
bactéria pode produzir até um trilhão de células, entre as quais disseminaria
vários milhares de mutações devidas somente a erros de replicação. (Um
genoma bacteriano contém uns 3 trilhões de pares de bases, e a freqüência
mínima do erro de replicação é da ordem de uma base inserida por
engano em cada bilhão. (...) há probabilidades de uma mutação ocasional
mostrar-se vantajosa, particularmente se o meio ambiente mudar. (...) Por mais
que se descubram novos antibióticos, sempre é provável que surja algum
mutante resistente que prolifere preferencialmente em presença da droga.
Se fossemos bactérias, o indivíduo não contaria. Deixaríamos que a maioria de
nos perecesse de congelamento ou de cegueira, e confiaríamos que o ser
humano esporádico que por acaso estivesse agasalhado ou tivesse pulilas
naturalmente estreitadas reporia o nosso estoque com indivíduos igualmente
adaptados. (...) Os seres humanos não poderiam agir assim, porque levariam
demasiado tempo para se recuperar.
Os pesquisadores franceses François Jacob e Jacques Monod ganharam um
prêmio Nobel por demonstrar que as bactérias possuem a capacidade de
produzir enzimas todo o tempo, mas não conseguem faze-lo na ausência do
açúcar porque os genes correspondentes são bloqueados por uma proteína,
chamada repressora, que impede sua transcrição para o RNA.
Não desperdice seu tempo e sua energia fazendo uma coisa até que precise
dela. [Mas eu, neste momento, estou fazendo alguma coisa que não preciso
dela. Ou estou?]
A operação do sistema imunológico nos humanos e nos animais superiores nos
oferece outro exemplo curioso de um mecanismo aparentemente instrutivo.
Quando o organismo é exposto a alguma macromolecula estranha, conhecida
como antígeno, ele responde com a produção dos anticorpos correspondentes,
que são proteínas com a tarefa especifica de neutralizar o antígeno. Se o
portador do antígeno é um vírus, um micróbio ou uma célula estranha de
transplante, por exemplo, a reação inclui o desenvolvimento de células
destruidoras especificas para aquele dado antígeno.
Quando paramos de crescer, a maioria de nossas células não se divide mais. As
exceções incluem as células que precisam se renovar porque são perdidas na
esfoliação, como as células que revestem nossa pele e nossas mucosas. A
maioria dessas células, porém retém a capacidade de se multiplicar quando
devidamente ativadas, por exemplo, na cicatrização dos ferimentos.
Toda a evidencia disponível indica que o oxigênio molecular não começou a
surgir na atmosfera senão há dois bi de anos e a atingir um nível estável há
apenas um bi e meio de anos.
200 milhões de anos é na realidade um lapso imenso, mais de 20 vezes o tempo
que um macaco levou para se tornar humano. Nesse ínterim, a vida como a
conhecemos poderia ter aparecido e desaparecido muitas vezes.
A GRANDE CRISE DO OXIGÊNIO
Até o desenvolvimento do fotossistema II, o mundo permanecera virtualmente
livre de oxigênio. Tendemos a pensar no oxigênio como um elemento vital, o que
realmente ele é para nós e para outros organismos aeróbios, isto é, aqueles que
vivem no ar.
O NUCLEO EUCARIOTO
Imaginem um pau de sebo em miniatura, adornado com guirlandas de contas
enroladas em espiral. O pau é o esqueleto interno do cromossomo, construída
com proteína. Na guirlanda, a fita de contas é feita de DNA e as contas são
pequenos carretéis de proteínas em torno dos quais a fita de DNA da algumas
voltas antes de passar para o carretel seguinte. A fita de contas é torcida de
modo a formar um fio grosso, com a aparência aproximada de um fio de
telefone. O fio em si é dividido em uma série de alças grandes ancoradas em
determinados pontos dispostos helicoidalmente em torno do esqueleto central.
Via de regra, algumas alças estão desfeitas, outras, apertadas em esferas
compactas.
O FAGOCITO PRIMITIVO
Cada passo dessa extraordinária viagem foi tomado em seu próprio contexto
presente, em conseqüência de alguma mutação aleatória que aconteceu conferir
um beneficio imediato e favoreceu, assim, a sobrevivência e a proliferação da
célula afetada ali e então.
Quanto mais recortado é um litoral, tanto mais protegidas as enseadas em que
dois parceiros - as enzimas digestivas - podem se encontrar sem perturbações.
Enquanto os organismos estão adaptados ao seu meio ambiente, a evolução é
em geral conservadora. As células se multiplicam por simples divisão,
perpetuando o mesmo genoma. Mas no momento em que a sobrevivência das
células é ameaçada por alguma convulsão ambiental, elas repentinamente
entram em uma frenética atividade sexual, que, interpretada em termos
evolutivos antropomórficos, equivale à sôfrega busca de uma combinação
genética melhor adaptada às novas condições. Para os organismos unicelulares,
o sexo é uma medida de emergência, não é um prazer.
Nota: os eventos de ruptura são essenciais para o processo evolutivo. Ruptura é
um “colapsar” como outro qualquer. O que o difere dos demais é a
abrangência de sua área de influência.
Um dado grupo permanece estático por um período prolongado, marcado apenas
pelo tipo de mutação pontual que não influencia o desempenho da molécula
afetada, mas fornece valiosa sinalização sobre a distância evolutiva. Então, um
tanto subitamente, muitas vezes em conseqüência de mudanças climáticas ou
outras que afetam o ambiente, ocorre uma transformação bastante rápida, que
produz a impressão de um salgo evolutivo, embora apenas correlacionado ao
longo período estático que o antecedeu. O ritmo da evolução é variável mas não
descontinuo.
OS BENEFÍCIOS DO COLETIVISMO CELULAR
Não existe vestígio de vida multicelular antes de 600 ou 700 milhões de anos.
PRINCÍPIOS DO COLETIVISMO CELULAR
A evolução age por mutações casuais, cujos efeitos passam pelo crivo da seleção
natural. Isto não significa que a evolução seja aleatória. Percorrem os processo
de complexificacao multicelular alguns fios unificadores: a associação, a
diferenciação, a especiação e a reprodução.
A planta de desenvolvimento de um organismo é impressa no genoma das
células genitoras. Para reproduzir um impacto evolutivo, as mutações da célula
genitora devem afetar os genes que controla o desenvolvimento, isto é, os genes
reguladores.
A evolução opera dentro dos limites de uma planta de desenvolvimento
existente. Quanto mais complexa for a planta, tanto mais rigorosos os limites.
Um desenho, com apenas algumas linhas esboçadas, potencialmente ainda pode
se tornar uma paisagem, uma natureza morta ou um nu, dependendo do
capricho do artista. À media que lhe são acrescentados maiores detalhes, seu
comprometimento se torna cada vez mais restritivo. Esta regra, absolutamente
importante para a nossa compreensão da evolução multicelular, explica por que
apenas um pequeno número de plantas de corpos distintas, todas remontando
aos primeiros estágios da evolução, subjazem a profusão de diferenças de
organismos que surgiu.
O ESVERDEAMENTO DA TERRA.
Mesmo uma forma mal adaptada pode sobreviver indefinidamente se a
concorrência for fraca. O recurso prudente à reprodução sexuada por parte de
muitos protistas ilustra a resistência à mudança inerente à natureza.
OS MUSGOS INVADEM AS TERRAS
O recuo contínuo da linha d’água exerceu uma grande pressão seletiva em favor
dessas modificações, que teriam tido pequena valor em um meio aquático. Tais
fatos ilustram o poder que têm os fatores ambientais de influenciar a direção da
evolução e os empecilhos inerentes que a forçam a agir dentro do arcabouço de
um plano de corpo já estabelecido.
OS PRIMEIROS ANIMAIS
Disse Erns haeckel, filosofo alemão do século XIX, discípulo de Darwin: “a
ontogenia recapitula a filogenia” [ou seja, o desenvolvimento embrionário
reproduz a história evolutiva da espécie]
A solução-chave dada pela evolução ao problema da oxigenação foi a criação
daquilo que o grande fisiologista do século XIX, Claude Bernard, chamou de
milieu intérieur, um fluido interno, de composição especifica, que banha todas as
células do corpo. Graças a este fluido, o oxigênio captado pelas células em
contato direto com a água do mar poderia ser transferido a células situadas em
um nível mais profundo. Três aquisições aumentaram a eficiência desta
transferência: (1) a formação de guelras, órgãos especializados em trocas de
superfície, formadas por dobras finas e extremamente amplas que permitem um
fluxo rápido do oxigênio da água circundante para o fluido interno; (2) a adição
ao fluido interno de moléculas especiais transportadores de oxigênio - ou a
hemoglobina vermelha, uma hemoproteina que contem ferro, ou a hemocianina
azul, uma proteína que contem cobre - que aumentaram extraordinariamente a
capacidade de oxigenação do fluido; e (3) o desenvolvimento de bombas
(corações) para mover o fluido e facilitar o transporte de oxigênio.
OS ANIMAIS POVOAM OS OCEANOS
Os músicos descobriram que se têm um bom tema, podem criar uma obra rica,
repetindo o tema muitas vezes em diferentes variações. Compositores de musica
serial exploraram tal possibilidade ao máximo, passando imperceptivelmente de
uma variação para outra. Coisa semelhante aconteceu com a evolução animal.
Depois que a matriz genética ficou pronta, o progresso foi feito por meio de
duplicações e variações na matriz.
aqui
A segmentação representa um mecanismo principal na diversificação
evolutiva, talvez o mais importante na história da vida. Ela iniciou um
extraordinário jogo combinatório que envolve módulos completos e originalmente
viáveis, que podiam ser mudados, fundidos, reduplicados, eliminados e
rearrumados de outros modos, tudo graças ao toque mágico de uma única ou de
poucas modificações genéticas, para oferecer à seleção natural uma grande
variedade de planos de corpo ao teste. Os investigadores que trabalham com a
mosca-das-frutas Drosophila, objeto de uma pesquisa genética clássica,
descobriram a surpreendente flexibilidade criativa deste jogo. Conseguiram
produzir, por simples mutações homeoticas de genes, moscas sem cabeça com
duas caudas; animais com mais de um par de pernas ou asas; ou monstros
estranhos com pernas saindo das cabeças em lugar de antenas. Utilizando os
meios da moderna biologia molecular, esses pesquisadores começaram a
desvendar os notáveis mecanismos moleculares pelos quais os genes homeoticos
controlam o desenvolvimento.
Uma mudança não precisa ser vantajosa para ser conservada pela
seleção natural, especialmente sob condições de fraca concorrência; a
mudança só precisa não ser suficientemente adversa para causar a
erradicação.
OS ANIMAIS ABANDONAM O MAR
Da lagarta à borboleta, do bicho-da-seda à mariposa, do gusano à mosca, o
animal realmente morre e se decompõe no interior do túmulo que constrói casulo ou outra proteção à pupa - deixando vivos apenas alguns remanescentes
embrionários (discos de imagens). Desses túmulos que se transformam em
úteros surge então um organismo novinho produzido segundo uma matriz
completamente diversa. Ao lado de tal genialidade arquitetônica, inscrita em
pouco mais de meios metro de DNA, que são meia dúzia de gestos
estereotipados que servem para construir uma morada primitiva? É o mesmo que
admirar os construtores do Taj Mahal por sua capacidade de erigir um casebre
de palha e barro.
A sorte só favorece a mente perceptiva. Louis Pasteur
[Sobre o desaparecimento dos dinossauros] um imenso asteróide, com uns dez
quilômetros de diâmetro, ou mais, caíra em nosso planeta há 65 milhões de
anos.
Como poderia tal evento causar uma catástrofe de âmbito planetário? Por usa
absoluta força bruta. Estima-se que o impacto liberou o equivalente a 100
milhões de megatons de energia, ou seja, dez mil vezes a energia que seria
liberada por todas as bombas atômicas do mundo explodindo ao mesmo tempo!
Nuvens de poeira, fumaça e fuligem obscureceram o sol durante anos.
Incêndios violentos destruíram a vida vegetal e animal em grandes áreas dos
continentes. A um período de frio cortante (inverno de impacto) seguiu-se um
aquecimento intenso devido ao efeito estufa provocado pelos gases liberados. A
chuva ácida envenenou as águas. Diante deste cena de fim de mundo, a imagem
bíblica empalidece e os alertas dos ecologistas se tornam risíveis. Mais uma vez,
porém, a força irresistível da evolução acorreu em socorro da vida e transformou
a calamidade em uma benção. E que benção, pelos menos do nosso ponto de
vista egoísta e antropocêntrico, porque talvez nem estivéssemos aqui se um
asteróide não tivesse colidido com a Terra e exterminado os dinossauros, há 65
milhões de anos.
As penas, obviamente não surgiram de uma só vez, convertendo
instantaneamente seus felizes donos em maquinas voadoras. Devem ter exigido
muitos passos sucessivos para transformar uma pelagem em arranjos tão belos
de barbas e calamos. O vôo esteve fora de questão durante todo aquele tempo.
Sobreveio depois como um beneficio adicional, por assim dizer, talvez de
fantástico valor. Uma outra vantagem evolutiva deve ter estimulado a seleção
natural. Muitos cientistas têm refletido sobre a possível natureza deste beneficio.
[De minha parte, penso que as asas surgiram em função dos ventos fortes, os
mesmos que fizeram o “sauro” voador. É sabido que para esse ser existir, era
necessário que ventos fortíssimos dominassem. Só eles seriam capazes de fazer
voar um animal de tal tamanho. Neste mesmo cenário, animas menores viviam
sendo empurrados por este vento. Imagino então alguns deles abrindo os
“braços” tentando enfrentar o evento. Alguns deles começaram a voar. A
galinha, me parece ser aquele que ficou no meio do caminho. Ela ainda não tinha
desenvolvido as asas suficientes para fazê-la voar quando este ventos
diminuíram. ]
O papel desempenhado pelas catástrofes naturais na evolução das plantas e dos
animais merece menção. A evolução é pontuada por extinções em massa por
vezes de proporções cataclísmicas. Quase invariavelmente, a resposta da
vida tem sido notavelmente inovadora. Parece que quando a evolução
reduz o passo não é tanto por falta de uma mutação aleatória
apropriada quanto por falta de um desafio ambiental que valha a pena.
[Notas: Qual a influencia da tecnologia no aprimoramento da raça humana?
Como se dividirá o galho que contem o ser-humano? Como será a nova espécie?]
A TEIA DA VIDA
A história da vida não é apenas um crescimento vertical em direção à
complexidade; ela é também uma expansão horizontal em direção à
diversidade.
Daqui a 10 milhões de anos, porém, poderíamos nos situar em um galho lateral,
ou em lugar nenhum. O novo tronco poderia ser um prolongamento do que hoje
nos parece um galho lateral; poderia comportar uma forma de vida mais
complexa do que a humano, que ultrapassasse a nossa capacidade de
imaginação.
O equilíbrio dinâmico, como existe em um estromatolito vivo, também estabiliza
as diferentes partes da biosfera. Uma população de raposas não pode
crescer mais do que a dos coelhos de que se alimenta. Por sua vez, os
coelhos têm a sua expansão limitada pela proliferação das raposas.
Donde, os números de raposas e coelhos sofrem oscilações cíclicas, em
que a ascensão de um coincide com o declínio do outro. Este exemplo
clássico é conhecido como o ciclo Lotka-Volterra, em homenagem aos cientistas
que o estudaram teoricamente na década de 1920. No entanto, essas interações
simples, predador-presa, não são capazes de descrever as relações complexas
que ligam os componentes dos ecossistemas reais. Até o mais simples dos
campos ou poços são sistemas multifatoriais, costurados para formar redes
intricadas por interações dinâmicas entre os animais, plantas fungos e
microorganismos que eles contêm. Os sistemas, por sua vez, se unem para criar
tecidos mais amplos e complexos que, com o tempo, se fecham em uma única
teia gigantesca de formidável complexidade, que envolve toda a Terra: a
biosfera.
A compreensão desta teia tornou-se uma meta importante para a pesquisa
ecológica. Apesar dos extensos estudos de campo e do aumento das simulações
em computadores de grande capacidade, esta área de investigação ainda se
encontra na infância, tão complexas e, até certo ponto, imprevisíveis são as
inter-relações que ela tenta desvendar. Um inseto raro pode controlar o equilíbrio
de toda uma floresta tropical pelo papel que desempenha na polinização de
certas plantas essenciais. Alguns princípios-chaves reguladores permanecem
aplicáveis em seu sentido geral.
A síntese e a decomposição tendem a se contrabalançar, de modo que a
biosfera se mantenha estável e os principais elementos biogênico
sejam reciclados.
A teia da vida está intimamente ligada ao meio ambiente por uma densa rede de
interações mútuas. (...)Menos evidente, talvez, são as influencias exercidas
pelos organismos vivos sobre seu ambiente. No entanto, tais influencias eram, e
ainda são, de fundamental importância. Sem vida, o nosso planeta seria
inteiramente diferente do que é.
A vida e a Terra são tão indissociáveis, que há quem as veja unidas em uma
espécie de superorganismo planetário, formado por partes interligadas vivas e
não-vivas, unidas por uma rede de relações cibernéticas. Esta visão foi
popularizada sob o nome de Gaia.
GAIA
Gaia foi ressuscitada por James Lovelock, um renomado cientista inglês, Membro
da Sociedade Real, físico por formação, inventor de instrumentos científicos. Gaia
era a deusa mãe Terra dos gregos antigos. O que distingue Gaia dos outros
conceitos globais é a homeostase, a auto-regulação. Em Gaia, a vida e a Terra
agem de uma forma que tende a corrigir operações desequilíbrios que se
infligem mutuamente.
As margaridas claras e escuras agem como um termostato. Reagem às
alterações de temperatura de maneira contraria às mudanças; tendem
a manter a temperatura ambiental constante. Este modelo simples
lembra o modelo predador-presa de Lotka-Volterra. A diferença é que o
modelo Daisyworld envolve a vida e um fator ambiental e não duas
formas de vida.
De acordo com a teoria de Gaia, a Terra é um organismo vivo que
automaticamente regula o seu meio ambiente de modo a torna-lo ideal para a
vida. [eu concordo com a primeira formulação mas não com a segunda, como se
o objetivo fosse garantir a vida]
Segundo Lewis Thomas, as observações de Lovelock “podem um dia ser
reconhecidas como uma das maiores rupturas no pensamento humano”. Já
Freeman Dyson afirmou: “O respeito por Gaia é o começo da sabedoria”.
Os ecologistas tendem a desconfiar do conceito de Gaia por uma razão diferente.
Ele retrata a Terra viva como um organismo robusto, capaz de resistir a muitos
insultos, ao invés da frágil estrutura que eles vêem ameaçada de todos os lados
pelas atividades humanas. No entanto, Lovelock não merece ser acusado de
insensibilidade às causas ambientalistas. Ele tem criticado o que considera uma
ênfase equivocada sobre certas ameaças, como carcinogenos fracos e energia
nuclear. Mas, ao mesmo tempo, tem falado com eloqüência contra o que chama
de três Cs fatais, carros (cars), gado (cattle) e moto-serras (chain saws), aos
quais culpa pela destruição do campo inglês.
A história da vida na Terra oferece algum respaldo ao ponto de vista geral de
Lovelock. Esta história tem atravessado repetidas catástrofes provocadas por
movimentos tectônicos, erupções vulcânicas, mudanças climáticas e impactos de
asteróides, que exterminaram grande parte da flora e da fauna existentes. A
cada vez, a vida não somente renasceu como o fez com decisivas inovações. Mas
isto levou milhões de anos para acontecer. Não podemos depender da
flexibilidade natural de Gaia se quisermos salvar a Terra para nossos filhos e
netos.
AS VIRTUDES DO DNA “LIXO”
Em contraste marcante, o genoma eucarioto é formado predominantemente por
DNA não-codificador, sem função obvia, por vezes chamado DNA “lixo” ou
“lastro”. Menos de 5% do DNA humano tem uma função codificadora. As
salamandras se saem muito melhor. Alguns desses animais têm vinte vezes mais
DNA do que nós, e as que habitam o oeste dos Estados Unidos têm muitas vezes
mais DNA do que as do leste.
O DNA EGOISTA
A quantidade de DNA aparentemente inútil no genoma das plantas e animais
superiores exige uma explicação. Segundo o etólogo britânico Richar Dawkins, a
explicação reside no “egoísmo” do DNA. A unidade da seleção é o DNA e não o
corpo.
É, portanto, possível que os eucariontes transmitam o DNA “egoísta” de uma
geração a outra porque a vantagem de se livrar dele não é suficiente para
estimular a seleção natural. Por outro lado, a possibilidade de que este DNA
desempenhe um papel, por exemplo, na estrutura cromossômica, ou outro
qualquer que se desconhece, não pode ser excluída.
Nota: restaurar uma evolução ou se adaptar a novas condições. Ou melhor, ao
se restabelecerem as mesmas condições de uma etapa passada da evolução, os
organismos podem “voltar” a assumir qualidades perdidas.
A DUPLICACAO DE GENES
Imaginem interpor um texto com bobagens, imprimir a coisa toda, e depois
cuidadosamente cortar fora as bobagens e unir os pedaços que fazem sentido.
Nenhum pessoa sensata acrescentaria voluntariamente tantos riscos
desnecessários de errar ao processar as informações. Misturar textos genéticos
assim parece particularmente absurdo porque as bobagens sobrecarregam em
demasia a transcrição e a replicação. Além disso, não se pode deixar de encaixar
ou extraviar uma única letra na montagem, se não a mensagem em si se
transforma em uma bobagem. Por todas essas razões ninguém imaginaria a
existência da duplicação de genes. A “colinearidade” era um dogma. Sua notícia
foi uma absoluta surpresa científica, quando, em 1977, dois biólogos
moleculares, Philip Sharp, do MIT, em Boston, e o britânico Richar Roberts, que
trabalhava no laboratório Cold Spring Harbor em Long Island, encontraram
independentemente a evidencia inconfundível de que um gene se dividia em
vários segmentos que eram duplicados e remontados na transcrição do RNA.
A ERA DA MENTE
O PASSO PARA A HUMANIDADE
Lucy foi encontrada na região de Afar, na Etiópia, por Donald Johanson. Lucy
tem aproximadamente a mesma idade dos caminhantes de Laetoli. Sua anatomia
pélvica indica que também caminhava sobre duas pernas. E o mesmo ocorria
com o dono de um joelho, datado de 3 milhões e 900 mil anos, que foi
igualmente encontrado por Johanson na região de Afar.
A evolução tende a estagnar quando não é estimulada.
Todos os nossos parentes distantes subsistiam da caça e da coleta, vagueando
de um lugar a outro, segundo os ensinamentos de sua experiência sobre as
estações em que certos frutos eram mais abundantes ou os filhotes de suas
presas mais vulneráveis. Alguns encontravam abrigo em cavernas e se fixavam
temporariamente até que a escassez de comida os expulsasse. Muitos afiavam
pedras para retalhar os produtos da caça, ajudados por mudanças anatômicas
nas mãos - a mais importante foi o polegar oponível - que aumentavam a
destreza. Vários capturaram o fogo que caia dos céus e aprenderam como
reacende-lo com uma faísca de silex quando ele morria ou a chuva o apagava.
Os machos lutavam entre si com ferocidade, embora até certo ponto ritualmente,
pela posse das fêmeas. Os bandos rivais em geral, guardavam distancia e
cobriam territórios separados, se confrontando apenas quando ambos estavam
interessados no mesmo terreno privilegiado ou sofriam a escassez de fêmeas.
Eles alimentava, protegiam e cuidavam da prole comunalmente. Emitiam
diferentes tipos de grunhidos, cada um com um significado especial e eram
capazes de se comunicar à distância ou no escuro. Raramente viviam mais
tempo do que o necessários para produzir uma progênie suficiente. Alguns
sobreviviam à idade reprodutiva e talvez fossem cuidados pelo grupo pelos
serviços já prestados. A seleção natural favorecia os grupos que cuidavam de
seus velhos reprodutivamente inúteis, em detrimento daqueles que
abandonavam ou matavam os cidadãos idosos, porque isto aumentava o sucesso
reprodutivo global dos grupos altruístas.
Entre o antepassado mais próximo que temos em comum com os
chimpanzés e nós mesmos transcorreram mais de 300 mil gerações.
O POMO-DE-ADAO
Fosse a Eva mitocondrial ou outro antepassado nosso, um dos nossos
ascendentes distantes deve ter adquirido uma característica que concedeu à sua
progênie uma vantagem evolutiva definitiva. Que característica seria essa? A
resposta a esta pergunta torturante poderia vir dos lingüistas que estudaram a
origem e a evolução da linguagem. É possível que este antepassado tenha
nascido com um “defeito” genético que deslocou a laringe mais para o fundo do
pescoço. Conforme destacado pelo lingüista americano Phjilip Lieberman, da
Universidade Brown, esta característica anatômica é única nos humanos e
aparece em um estagio tardio de seu desenvolvimento. Mas nos bebes recémnascidos, bem como nos chimpanzés e em todos os outros animais, a laringe é
muito mais próxima da boca. Até o homem de Neanderthal, que se extinguiu por
volta de 35 mil anos atrás, mostrava tal disposição, segundo Lieberman, embora
haja algum desacordo sobre este ponto. É a nossa laringe inferior que nos dá a
capacidade de emitir uma variedade muito mais ampla de sons do que a de
outros animais. O que deu início à linhagem humano moderna deve ter sido a
capacidade de falar e, com ela, o poder de se comunicar de maneira cada vez
mais requintada e, assim, conquistar o mundo.
Há uns 50 mil anos, a evolução de nossos antepassados começou, um tanto
precipitadamente, a produzir uma abundância de frutos, criando uma série de
novas invenções em um tempo relativamente curto. Os humanos daquele tempo
fabricavam ferramentas e armas cada vez mais sofisticadas, construíam abrigos
ao lado das cavernas de seus antepassados, equipavam as moradas com lareiras
e luminárias de pedra alimentadas dom gordura, costuravam pêlos de animais
para fazer agasalhos, construíam embarcações suficientemente navegáveis para
transporta-los a terras distantes, e adquiriram habilidades notáveis na caça e na
pesca. Inauguraram as viagens e o comércio, espalharam-se pela Europa e,
atravessaram o oceano até a Austrália, avançaram até a Sibéria e a Mongólia, e
migraram pela desolação gelada do Ártico para invadir as Américas. Eles
estabeleceram um colar de colônias, cada uma criando sua própria subcultura
adaptada ao terreno, ao clima e ao biotipo locais. Eles começaram a contemplar
a natureza com assombro e admiração e a venerar os poderes ocultos que a
subjaziam. Expressavam seus sentimentos em pinturas e esculturas, cuidavam
dos doentes, enterravam seus mortos, e penduravam enfeites de contas,
conchas e ossos trabalhados no pescoço e nos pulsos das mulheres. Nasceu a
cultura e, com ela, a possibilidade uma nova forma de transmissão hereditária
que alterou por completo as regras da evolução.
O CÉREBRO
A MAGIA DOS NEURONIOS
O neurônio é, em essência, a miniatura de um dispositivo receptor-transmissor.
Ele tem um corpo celular com um núcleo, uma rede de citomembranas,
elementos citoesqueleticos e cotomotores, organelas e todos os outros atributos
característicos das células animais. O corpo celular se encarrega de todas as
tarefas domesticas necessárias à vida da célula; é uma unidade combinada de
energia, manutenção e reparos. O transmissor consiste em uma única fibrila, o
axônio, que em geral se subdivide em ramificações terminais somente nas
proximidades de seu alvo. O receptor é mais comumente formado por
arborescencias densas chamadas dendritos (do grego dendron, arvore). Um
neurônio funciona como um relê de sentido único, do dendrito para o axonio. Se
um dendrito é perturbado, física ou quimicamente, o axônio entra em atividade,
segregando, na maioria dos casos, uma substância especifica, chamada
neurotransmissor. Esta substância, por sua vez, estimula uma resposta em
qualquer célula que possua os receptores apropriados e esteja ligada à ponta do
axonio ativado por uma união especial chamada sinapse. Dependendo da
natureza da célula-alvo, a resposta pode ser uma contração (célula-muscular),
uma secreção (delula-glandular), ou um estimulo ou inibição de comando (outro
neurônio). [onde ficam as sensações???]
Sob muitos aspectos, a saga da evolução animal pode ser vista como se tivesse
sido escrita por essas células notáveis que, graças às suas propriedades
combinatórias únicas, foram capazes de tecer as intricadas redes combinatórias
que sustentaram uma complexificacao crescente.
Houve um grande progresso quando os neurônios começaram a estabelecer
ligações entre si. Uma cadeia de dois ou mais neurônios pode então ligar células
dermicas a células musculares. E, o mais importante, os neurônios de tais
cadeias poderiam ser transpostos por neurônios em ligações cruzadas que
acionavam ou bloqueava a ação de um neurônio de acordo com o que ocorria
com outro. Este foi um progresso fundamental, que não podia deixar de ser
conservado pela seleção natural, pois permitia que os neurônios ligados fossem
“informados” das atividades mútuas e “programassem” as próprias atividades de
acordo com a informação recebida. O filamento circular de neurônios encontrado
em alguns tipos de águas-vivas representa um dos mais simples e talvez mais
primitivos desses arranjos. Ele permite ao animal contrair o corpo de maneira
coordenada e assim locomover-se.
Uma vez que as ligações entre neurônios se tornaram possíveis, as ligações
diretas entre pele e músculo não tardaram a ser substituídas por ligações
indiretas mediadas por neurônios. Estas células se subdividiram em neurônios
sensórios, que transmitem impulsos da pele para o neurônio; em neurônios
motores, que transmitem impulsos do neurônio para operação músculo; e
neurônios intermediários, que transmitem impulsos de neurônio para neurônio.
Além disso, os aconios e os dendritos se ramificaram cada vez mais, de modo
que, com o tempo, um único neurônio podia transmitir impulsos simultâneos a
milhares de neurônios e, por outro lado, podia receber impulsos de um número
igualmente grande. Uma maior diversificação foi obtida pela multiplicação de
neurotransmissores e seus receptores cognatos, que formaram uma variedade
de sinapses quimicamente distintas. Assim, iniciou-se um jogo combinatório com
possibilidades quase infinitas. Sua realização mais complexa até hoje foi o
cérebro humano, com mais de cem bilhões de neurônios interligados por uma
media de dez mil ligações por neurônio, que envolvem no mínimo cinqüenta
tipos diferentes de sinapses. Todos os comutadores do mundo juntos não
poderiam formar um processador de informações tão versátil. [ainda]
A principal função do cérebro primitivo era colher informações no meio ambiente
e no próprio corpo e reprocessar tais informação em reações motoras
apropriadas. [Aqui ele atribui ao cérebro a função de “colher” que é dos
sensores: visão, olfato, paladar, audição etc. !!!] Percebe-se imediatamente que
qualquer mudança na “fiação” do sistema que conduzisse a uma reação mais
adequada, tal como a fuga mais veloz de um predador ou a captura mais rápida
de uma presa, conteria uma importante vantagem evolutiva. Assim que os
neurônios apareceram, uma incansável pressão seletiva impeliu o sistema
nervoso a uma complexidade sempre crescente.
Por necessidade, este progresso dependeu do aperfeiçoamento da coleta de
informações. Donde o aparecimento de células especializadas sensíveis a uma
variedade de sinais físicos e químicos, inclusive a pressão, o estiramento, o sol, o
calor, a luz, a eletricidade, o dano e uma série de compostos químicos. Algumas
dessas células vieram a se agrupar em órgãos de fantástica complexidade e
sensibilidade. O objeto de maior admiração é em geral o olho. Mas não devemos
esquecer o ouvido do morcego, que fornece em fração de segundo
reconstruções de um meio ambiente em contínua mutação, por meio da refração
de ondas ultra-sônicas que o próprio animal emite, nem o requintado faro do
sabujo e, particularmente, dos insetos machos que são capazes de perceber os
feromônios de atração que as fêmeas liberam a centenas de metros de distância.
Mesmo tão longe, o composto atinge as células olfatoriais do animal literalmente
molécula por molécula.
A FIACAO DE UM CEREBRO
Não há dois indivíduos, nem mesmo gêmeos idênticos, que possuam as mesmas
ligações neuronais, e essas ligações mudam no curso do desenvolvimento
embrionico e, principalmente, pós-natal. O cérebro humano completa todos os
neurônios que irá produzir uns 5 meses antes do nascimento. Ao contrario do
que acontece com outros tipos de células, a multiplicação dos neurônios cessa
em seguida. Daí em diante, os neurônios apenas morrem, desde o útero, ao
ritmo de centenas de milhares por dia. Já perdi alguns bilhões de neurônios
desde que nasci. A idéia é perturbadora, mas me consolo com o que dizem meus
amigos neurobiologistas, que muitas ligações cerebrais são supérfluas e
redundantes e que, embora eu não possa repor meus neurônios, ainda posso
religar algumas conexões se me mantiver suficientemente ativo.
A plasticidade residual do meu cérebro é muito limitada, porém se comparada ao
de um recém-nascido. Um bebe vem ao mundo com todos os neurônios que
terá, mas com relativamente poucas ligações completadas, apenas as suficientes
para sustentar as funções corporais essenciais, bem como algumas atividades
motoras como mamar, chorar, movimentar simetricamente os membros, e
passado algum tempo, sorrir, este atributo singular é singularmente cativante do
bebê humano.
O desenvolvimento da arvore neuronal é uma notável mistura de eventos
deterministas e aleatórios. O aspecto determinista é revelado pelo fato das
diferentes partes do corpo serem projetadas nas áreas sensoriais e
motoras do córtex sob a forma de “mapas” que têm a mesma
disposição em todos os seres humanos e são, de maneira obvia,
geneticamente determinadas.
Os neurônios precisam ser ativados regularmente para estabelecer ligações
sinapticas com outros neurônio, ou melhor, para manter tais ligações. A
característica notável do desenvolvimento neuronal é que os neurônio
começam por produzir um número extravagante de ligações soltas e
então, progressivamente, fortalecem as ligações que são usadas e
desligam as que não o são. Este fenômeno importantíssimo foi chamado
estabilização seletiva pelo biólogo francês Jean-Pierre Changeux, neodarwinismo
pelo bioquímico americano Geral Edelman, e de neuroedelmanismo por Francis
Crick.
Se quisermos entende resta referencia, basta considerar o mecanismo da seleção
natural segundo Darwin. Ele opera em três passos: variação, seleção e
amplificação. Primeiro, um grande número de variantes é produzido por
mutações aleatórias. Depois, as variantes passam por um crivo em termos de
adaptado para um dado ambiente. E, por fim, as variantes selecionadas são
amplificadas graças à sua taxa mais acelerada de reprodução.
O conhecimento que se adquiriu recentemente sobre o desenvolvimento do
cérebro é de suma importância e deveria ser martelado nos ouvidos de todo
pai/mãe futuros. A maneira com que tragamos nossos bebês literalmente molda
os cérebros deles. SE quisermos que eles desenvolvam uma rica rede neuronal,
pré-requisito para uma rica personalidade, precisamos falar com os bebês desde
o primeiro dia de vida, cantar para eles, aconchega-los, atrair sua atenção visual,
dar formas coloridas para brincarem; em resumo, precisamos oferecer uma
riqueza de estímulos sensoriais, de modo a ajuda-los a construir os incontáveis
circuitos neuronais alternativos que sustentam o desdobramento da vida mental.
Uma criança privada desses estímulos permanecerá para sempre danificada em
seu desenvolvimento psíquico, conforme atestam muitos casos exemplares. Por
outro lado, a história notável de Hele Keller, que ficou cega e surda aos dois
anos de idade - e já possuía, então, uma personalidade incomumente
desenvolvida - e aprendeu a falar com uma governanta muitíssimo dedicada e
persistente, que ganho acesso ao cérebro da criança exclusivamente pelo toque,
demonstra a fantástica plasticidade do cérebro em desenvolvimento, sua
capacidade de estabelecer ligações com os impulsos a seu dispor. Contudo,
apesar dos incríveis esforços de pesquisadores dedicados, nenhum bebê
chimpanzé conseguiu aprender a “falar” nada além da linguagem de sinais mais
rudimentar.
Aquilo que podemos fazer está em nossos genes. O que fazemos com o nosso
potencial depende do meio ambiente, especialmente durante os anos críticos da
primeira infância. Essa é a lição da moderna neurobiologia no que diz respeito à
famosa controvérsia natureza/criação.
DA IMPORTÂNCIA DE SER RETARDADO
O recém-nascido humano é na realidade um bebê prematuro, forcado a vir à luz
precocemente devido ao tamanho de sua cabeça. Um parto mais retardado teria
exigido mudanças profundas na anatomia do esqueleto da mulher, o que seria
impossível em tempo tão curto. Os riscos do nascimento prematuro foram
pesados pela seleção natural como algo que valia a pena diante dos benefícios
de um cérebro maior. Nenhum recém-nascido animal é tão desamparado quanto
o humano. Observem um potro. Ele se põe de pé, desajeitado mas vitorioso,
quase imediatamente após o nascimento. Um bebê leva de oito a nove meses
para começar a engatinhar e quase duas vezes mais para caminhar sozinho.
Os nossos primos de Neanderthal tinham cérebros do mesmo tamanho que os
nossos, talvez até maiores. No entanto, atingiram apenas uma cultura
rudimentar. O que fez a diferença, segundo a maioria dos autores, foi a fala. SE
a teoria de Lieberman estiver correta, os homens de Neanderthal careciam dos
requisitos anatômicos necessários à fala diversificada e se comunicavam apenas
por grunhidos e gestos. (...) Mas para que a fala fosse possível, precisava surgir
a consciência, a mais misterioso das qualidades humanos.
O FUNCIONAMENTO DA MENTE
Não há maior mistério no universo conhecido, exceto o próprio universo, do que
a mente humano. Ao mesmo tempo, a mente humano é, coletivamente, a
criadora de toda a tecnologia, a ciência, a arte, a literatura, a filosofia, a religião
e o mito. A mente gera os nossos pensamentos, raciocínios, intuições,
ponderações, invenções, desígnios, crenças, duvidas, imagens, fantasias,
desejos, intenções, ansiedades, frustrações, sonhos e pesadelos. [Tudo isso em
eventos de confronto.]
CEREBRO E MENTE
Não existe mente sem cérebro, mas grande parte do cérebro funciona sem a
mente. A consciência mental é a ponta do iceberg. Não temos consciência de
uma infinidade de impulsos que continuamente regulam os nossos batimentos
cardíacos [como se pode falar então em morte cerebral????], os movimentos do
intestino, as secreções de nossas glândulas....
Quando seguramos um objeto ou fazemos uma caminhada vigorosa, estamos
totalmente inconscientes das instruções complexas que estão sendo
despachadas continuamente a muitos dos nossos músculos para se contraírem
ou descontraírem, ou dos sinais igualmente complexos pelos quais nossos olhos,
músculos e outras partes do corpo mandam informações para o nosso cérebro, e
da interação complicada entre os impulsos sensoriais e motores, pelos quais
obtemos a coordenação. Além disso, as muitas atividades que exigem atenção
consciente quando as aprendemos, como andar de bicicleta ou dirigir um carro,
vão-se tornando mais automáticas e inconscientes à medida que ganhamos
destreza.
Quando olhamos um objeto, simultaneamente percebemos vários elementos de
forma, cor e movimento que estão de alguma foram integrados em uma imagem
unificada e coerente. Descobriu-se que cada elemento é percebido por um
subconjunto especial de células retinianas e que cada subconjunto projeta sua
informação para um grupo distinto de neurônios, ou mapa, no córtex visual.
Identificaram-se trinta e duas áreas diferentes no córtex visual dos símios do
gênero Macaca. Um problema critico, conhecido como o da “aglutinação”, é de
que maneira essas múltiplas representações são correlacionadas e integradas em
uma única imagem.
O APARECIMENTO DA MENTE
Nos últimos anos, Griffin tornou-se campeão das “consciências físicas”,
“pensamentos” e “mentes” animais, palavras-chaves nos títulos dos três livros
que publicou sobre o assunto em 76, 84 e 92. Diante da oposição por vezes
acirrada da corrente principal dos etólogos animais, ele advogou a consciência e
intencionalidade não somente para os mamíferos superiores, como também para
as aves, peixes e até mesmo as formigas e as abelhas. Nem todos os
pesquisadores estão dispostos a seguir Griffin tão longe, mas a maioria hoje
aceita - aquilo que com certeza você sabia o tempo todo - que o nosso cachorro
expressa sentimentos quando nos contempla com um olhar “triste”, ou que o
chimpanzé, quando pega um galhinho, arranca as folhas, enfia-o em um
cupinzeiro, retira-o e lambe os insetos que ali se grudaram com visível prazer,
“sabe” o que está fazendo e por que o faz, e na verdade planejou todos os seus
movimentos com a intenção de se regalar com uma iguaria.
Ao conversar com você, posso racionalmente me convencer de que algo análogo
à minha consciência mental existe em seu cérebro, embora suas experiências
sejam inacessíveis a mim.
Nota: E o inverso, pensar no homem com reações animais?
[Na minha visão, o cérebro humano tem, na essência, a mesma estrutura e
forma de funcionamento que o cérebro do animal. Nós não temos nada de
essencialmente “diferente” ou “a mais”. Eu acredito que os humanos apenas
desenvolveram mais conexões.]
O que dissemos anteriormente sobre a fiação do cérebro é criticamente relevante
para essa história. E igualmente para a memória, esta capacidade notável do
nosso cérebro de armazenar informação de maneira a permitir que a mente a
resgate mais ou menos à vontade.
A CONSCIÊNCIA EXPLICADA?
Monismo: doutrina, oposta ao dualismo, que considera a mente e o corpo
humanos uma única entidade.
Dualismo: Doutrina, advogada pela primeira vez por Descartes, que considera o
corpo e a mente humanos duas entidades distintas ligadas no cérebro.
Para o filosofo americano Daniel Dennet a consciência não existe. Dennett
não afirma isto tão explicitamente, mas é ao que equivale a sua conclusão. Ele é
apenas um entre muitos filósofos contemporâneos que levantam dúvidas sobre a
realidade de nossas experiências mentais.
Uma forma mais branda de monismo aceita a consciência mas a vê como um
epifenomeno irrelevante, algo que surge da atividade neuronal do córtex cerebral
mas não controla essa atividade. Consoante esta visão, nossos neurônios fazem
todo o trabalho, inclusive aqueles, tais como escolher, desejar e decidir, que
instintivamente atribuímos a algo que chamamos de eu interior e que dotamos
com as qualidades de livre-arbítrio e responsabilidade. Nossa sensação de estar
no comando é uma ilusão. Somos meros espectadores, equipados com uma
janelinha pela qual observamos uma fração mínima do que o cérebro está
fazendo por nós. Nossa observação não afeta em nada o resultado final.
Uma teoria que leva a subjetividade um pouco além do epifenomenismo,
enquanto permanece fiel ao materialismo monista ortodoxo, é a teoria do
“estado nuclear” ou “identidade”, favorecida por muitos especialistas atuais.
Segundo esta teoria os fenômenos neuronais e os fenômenos mentais são dois
aspectos de uma mesma e única coisa. O eu (self) não é um observador, é um
participante. Os pensamentos e as sensações são facetas indissociáveis de certos
acontecimentos polineuronais que têm lugar no córtex cerebral. SE, por exemplo,
“pondero” mentalmente se devo apertar a mão de um inimigo ou dar-lhe um
murro no queixo, circuitos neuronais diversos em meu cérebro projetam
diferentes cenários, cada um acompanhado por representações conscientes das
conseqüências racionalmente deduziveis e concomitantes emocionais. Se afinal
decido em favor do gesto de paz é porque o cenário do aperto de mão se
apresentou como o indutor mais compulsivo do comportamento motor, vinculado
a sensações prazerosas de alívio, cordialidade, magnanimidade, talvez presunção
e complacência farisaica.
Diz-se que uma explicação darwinista análoga explica a capacidade de resolver
problemas. Redes neuronais apresentam diferentes cenários conceituais que
competem entre si no contexto ecológico de redes de dados adquiridos, padrões
de pensamento, inclinações, preconceitos e outros produtos de experiências
anteriores. O vencedor desta competição, se há um vencedor, é a solução
adotada, que resulta da mistura de muitos circuitos por uma espécie de processo
unificador de ressonância, semelhante ao mecanismo inconsciente que produz
uma imagem coerente pela integração das várias informações visuais distintas.
Quando as informações sensoriais, inclusive as palavras ouvidas ou escritas,
penetram pela primeira vez o nosso cérebro, elas o fazem carregadas de
significação emocional e conceitual e são armazenadas como tal em nossa
memória, de modo que a invocação dos padrões neuronais correspondentes
imediatamente redespertam essas sensações e conceitos. O eu é assim
progressivamente moldado em seus aspectos físicos e mentais indissociáveis por
uma barragem de informações a que o cérebro é submetido a partir do momento
do nascimento, ou talvez até antes. Da instrução à lavagem cerebral, todas as
formas de educação, treinamento, condicionamento, programação ou impressão
dependem do processamento e de registro simultâneos das informações físicas e
seus correlatos mentais. Cérebro e mente estão indissoluvelmente ligados.
É também revelador o seguinte comentário de Dennett: “As propriedades
mentais não podem variar na ausência de variação nos estados cerebrais e,
portanto, são propriedades supervenientes. “
Crick põe na boca de Alice de Lewis Carroll: “Você não passa de um feixe de
neurônios”.
Todas as formas de monismo têm em comum o fato de verem a consciência
apenas como uma propriedade resultante de acontecimentos neuronais, ou a
eles associados, mas não concedem a essa consciência o poder de influenciar,
por sua vez, tais acontecimentos. Até mesmo Searle, que mencionamos como
um crítico impo do materialismo moderno, partilha essa opinião. Ele também nos
previne contra a “falácia do homúnculo” e define a consciência como “uma
característica que tem origem em certos sistemas de neurônios” que não podem,
em si, influenciar o comportamento destes. Em suas palavras: “A idéia ingênua
é que a consciência seja desencadeada pelo comportamento dos neurônios no
cérebro, mas uma vez desencadeada, adquira vida própria.
Destaca-se na defesa desta idéia ingênua, ao mesmo tempo que se declara
monista, Roger Sperry, o falecido neurobiologista americano que ganhou o Nobel
por seu trabalho sobre as especializações funcionais dos hemisférios esquerdo e
direito do cérebro, Sperry explicou como a “lógica materialista em que confiou
durante tanto tempo foi abalada” em 64, quando chegou à conclusão de que “a
energia mental emergente devia logicamente exercer um controle causal sobre
os níveis em posição inferior nos acontecimento eletrofidiologicos da atividade
cerebral”.
Roger Penrose distingue entre o aspecto passivo do problema - “Como e que um
objeto material (um cérebro) pode evocar uma consciência?” - e seu aspecto
ativo - “Como é que uma consciência, por um ato de vontade, realmente
influencia o movimento (ao que parece fisicamente determinado) de objetos
materiais?”
Penrose encontra na mecânica quântica uma possível solução para o problema,
na medida em que “é possível às diferentes alternativas no nível quântico
coexistirem em superposição linear”. Ele especula que “o ato de pensar
conscientemente está muito ligado à solução de alternativas que se encontravam
previamente em sobreposição linear.”
EU E O LIVRE-ARBITRIO
Se, conforme afirmam todas as doutrinas monistas, os acontecimentos neuronais
no cérebro determinam o comportamento, sem levar em consideração se são
conscientes ou inconscientes, é difícil encontrar espaço para o livre-arbitrio. Mas
se o livre-arbitrio não existir, não pode haver responsabilidade, e a
estrutura das sociedades humanos precisa ser revista.
[Às vezes eu mesmo me surpreendo com o meu conceito de eventos de
confronto. O que é “responsabilidade” se não uma opção por aquilo que me
causa menos dor? Ou seja, livre-arbitrio nada mais é do que decidir livre de
manifestações externas explicitas, apenas sujeito às implícitas ou próprias.]
Alguns se refugiam em qualquer saída oferecida pela mecânica quântica, regras
da incerteza, teoria do caos, oscilações da probabilidade, heterogeneidade
microscópica ou outras formas de indeterminancia física para se desvencilhar das
algemas do determinismo neuronal. Outros invocam a imprevisibilidade. No
entanto, nem a indeterminancia nem a imprevisibilidade explicam o exercício da
escolha, intenção ou volição.
Bernhard Rensh, um defensor da teoria da identidade da função cerebral afirma
que o “peso da evidencia é muito maior contra o livre-arbitrio do que a favor.”
Ele reconhece que “negar que o livre-arbitrio existe implica graves
conseqüências para nossas idéias éticas, religiosas e jurídicas”, e termina
afirmando que a questão não é que tenhamos liberdade de escolha, mas que nos
comportemos como se a tivéssemos: “O conceito da liberdade é em si um
importante determinante do nosso pensamento”. Para mim, isto parece o mesmo
que dizer que a verdade é importante, desde que não a conheçamos ou nela
acreditemos.
Dizem que nossa percepção da liberdade pessoal, como os conceitos de espaço,
tempo e matéria, está entranhada em nossa natureza em conseqüência de seu
valor evolutivo, adaptativo e que poderia ser igualmente enganoso. A sociedade
humana, para poder funcionar, precisa estabelecer regras a que seus membros
obedecem. Donde nós, membros de tal sociedade, nascemos com os sentidos de
responsabilidade e liberdade necessários ao seu funcionamento. Acreditamos que
somos livres pela mesma razão que acreditamos que a matéria é sólida e sujeita
às leis da causalidade, simplesmente porque tais crenças ajudaram nosso
sucesso evolutivo. Não precisam de maneira alguma ser verdadeiras.
[Não existe isso. A sociedade não estabelece regras. O que ela faz é estabelecer
prêmios e castigos para interferir nos sistema “prazer e dor” de cada um de nós.]
A segunda admoestação, obviamente verdadeira, é que a teoria não é falsa
simplesmente porque entra em conflito com as nossas convicções intimas. A
história humana está repleta de tais equívocos. Precisamos aprender a desconfiar
das falsas certezas que nossa mente tece quando se vê confrontada com o
inexplicável. Conforme ressalta Patricia Churchland, “a psicologia popular” pode
muito bem tomar o caminho da “física popular”.
O filósofo Popper, outro dualista, ou “interacionista”, não se incomoda com
mecanismos precisos e se contenta em apontar que “o cérebro é um sistema
aberto de sistemas abertos”. Ele e Eccles, na verdade, se juntam a vários
monistas para invocar uma forma de indeterminação física que permite introduzir
a consciência sem gasto de energia; eles diferem dos monistas na medida em
que vêem a consciência como uma entidade à parte.
Aqueles que por acaso possuíam um coração defeituoso foram eliminados. Na
mesma veia, nossos neurônios visuais não se comportam de determinada
maneira a fim de nos permitir ver as coisas com nitidez. Vemos as coisas com
nitidez porque os nossos neurônios foram selecionados para funcionar como
funcionam. Esta “inversão da explicação” está de acordo com a perfeita ortodoxia
darwinista e não tem nada excepcional. Mas não vejo nela uma explicação para a
maneira com que viro meus olhos em uma ou em outra direção em conseqüência
d que experimento como uma decisão livre.
AS REALIZACOES DA MENTE
O canto dos pássaros, por exemplo, estudado pelo norte-americano Peter Marler,
é apenas parcialmente instintivo e depende , por outro lado, da imitação. Na
Inglaterra, em 1930, alguns chapins descobriram um jeito de arrancar as tampas
de papel alumínio das garrafas de leite (tradicionalmente colocadas à porta dos
fregueses) e de beber a nata. Esta habito se espalhou por grande parte do pais,
muito provavelmente por imitação. [Isto é importante, comprovando uma
das minhas teses: uma experiência pode ser vivenciada ou observada]
EVOLUÇÃO CULTURAL
Lamack é conhecido por sua defesa da teoria de que os caracteres adquiridos
são transmissíveis. Já não acreditamos, como Lamarck, que as girafas adquiriram
um pescoço comprido porque gerações de girafas se esticaram para alcançar as
folhas mais altas nas arvores. Ao invés, aceitamos, com Darwin, que as girafas
geneticamente dotadas de pescoço mais longo conseguiram sobreviver melhor e
produzir uma progênie mais numerosa, porque tinham a vantagem de alcançar
as folhas mais altas. Por outro lado, a habilidade de acender fogueiras, por
exemplo, que representou um grande beneficio seletivo para os hominídeos que
a possuíam, não foi transmitida por genes mas pela comunicação.
Nossos genes e, portanto, nossas potencialidades inatas, não diferem
muito das dos cro-magnon que viveram há 15 mil anos.
Popper divide a realidade em 3 partes, ou “Mundos”.
O Mundo 1 é o “universo das entidades físicas”. Ele compreende o universo
material. Os seres humanos, inclusive seus cérebros, pertencem ao Mundo 1.
O Mundo 3 é o mundo da cultura. Ele abrange todas as noções e conceitos
abstratos, teorias cientificas, princípios tecnológicos, cânones estéticos, valores
éticos, mitos religiosos e outras criações das mentes humanos. O Mundo 3 se
une ao Mundo 1 na maioria dos objetos de produção humana, como
ferramentas, maquinas, casas, roupas livros, discos, fitas gravadas, pinturas,
estatuas e outros artefatos, que são feitos de matéria mas levam a marca do
Mundo 3.
O Mundo 2 é a interface dos mundos 1 e 3. É o reino da mente, que funciona
como um transformador das atividades neuronais próprias em entidades dos
mundos 1 e 3. [Então poderíamos entende-lo como um mundo “catalisador”]
Neste contexto, alguns pontos de vista contemporâneos sobre a mente humana
parecem absurdos. Será a teoria da relatividade, a Origem das Espécies, o teto
da capela Sistina, O Cravo Bem-temperado, o Discurso sobre o método, a Divina
Comedia, são produtos de epifenomenos irrelevantes ou de circuitos neuronais
que interagem cegamente nos cérebros de Einstein, Darwin, Michelangelo, Bach,
Descartes e Dante?
A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
O cérebro humano funciona como um computador? Essa questão é proposta
pelas conquistas amplamente divulgadas do que se conhece por IA (inteligência
artificial), ou seja, os feitos realizados por computadores cada vez mais
sofisticados, que não só executam cálculos que ultrapassam por completo a
capacidade humana como também estão começando a vencer seus construtores
em outras atividades “mentais” como aprender, traduzir, se adaptar a
circunstancias instáveis, resolver problemas e jogar xadrez. Tais realizações são
impressionantes. Contudo, a resposta à pergunta parece ser negativa. O cérebro
humano não funciona como um computador, embora as simulações desta
maquina sejam valiosas para os estudos do cérebro humano.
Cérebros e computadores são também incongruentes do ponto de vista filosófico,
segundo Searle, e do ponto de vista matemático, segundo Penrose, cuja tese
principal é que o cérebro, pelo menos o cérebro consciente, funciona por um
processo não-algoritmico.
Crick também crê que “se pudéssemos construir maquinas que tivessem as
espantosas características do cérebro os aspectos misteriosos da consciência
talvez deixassem de existir. Será que as maquinas pareceriam possuir
consciência? Crick acredita que “a longo prazo isto talvez aconteça”. O mesmo
pensa Edelman e vários outros proponentes da teoria da identidade. Se algum
dia chegarmos tão longe, o problema será descobrir se a máquina experimenta
ou não a consciência.
[Eu proponho uma reflexão sobre o seguinte computador, cuja tecnologia já está
à disposição: imagine-se um computador provido de sensores sonoros, olfativos,
táteis e visuais. Com um microfone, já é possível identificar o timbre de voz e por
ele, identificar se a pessoa esta soçobrando, falando normal ou gritando. Com
um dispositivo capaz de identificar cheiros, é possível se a pessoa que fala ao
microfone tem mau-halito, por exemplo, ou se está perfumada .... Com um
sensor de calor que toca a pele, é possível determinar se a pessoa está suada,
ou medir seus batimentos cardíacos e ua pressão sanguínea e com isto saber se
ela esta eufórica ou deprimida, por exemplo. Com uma câmera, apontada para
os olhos, o computador é capaz de saber se a pessoa esta de olhos abertos ou
fechados e, cruzando esta informação com os batimentos cardíacos, determinar
se ela está dormindo. Pode mais. Pode medir a pupila. Pode saber se a pessoa
está chorando. Com todas essas informações, o computador já pode “pensar”. Já
pode “sentir” e tomar ações adequadas como, por exemplo, emitir palavras de
encorajamento, ou um emitir um som de modo a acordar a pessoa (que está ao
volante de um carro, por exemplo).]
OS VALORES
Os humanos, como muitos de seus antepassados, são animais sociais. Suas
sociedades são regidas por leis baseadas em uma mescla de costumes
tradicionais, medidas pragmáticas e valores comuns. Quanto dessa organização é
produto da evolução biológica e quanto da evolução cultural?
A FORMAÇÃO DAS SOCIEDADES HUMANAS
A invasão de uma ciência tradicionalmente “flexível”, a sociologia, por uma
ciência “rigorosa”,, a biologia, provocou um clamor, em que o pomo de discórdia
foi a afirmação de Wilson de que grande parte do comportamento
humano é geneticamente determinado. Reacendeu-se a controvérsia
latente natureza/criação, com previsível cisão ideologia.
Em sua forma radical, o conflito pôs em oposição dois absolutos: o determinismo
genético - o comportamento é inteiramente inato - e o determinismo ambiental o meio tem o poder absoluto de moldar o comportamento. O primeiro
corresponde à doutrina conhecida como darwinismo social, segundo a
qual as desigualdades sociais são produzidas pela seleção natural e,
portanto, devem ser aceitas conforme determinadas pela natureza e,
portanto, devem ser aceitas conforme determinadas pela natureza por
serem inevitáveis. A ultima sustenta a visão marxista segundo a qual o
comportamento humano é quase infinitamente maleável e basta haver as
medidas políticas, sociais, educacionais e econômicas apropriadas para que se
estabeleça uma sociedade justa e igualitária. Até o mais radical dos oponentes
admite que a verdade se encontra em algum ponto entre esses dois extremos. É
uma questão de grau Quanto é natureza? Quanto é criação?
Constitui um privilegio e um encargo o uso que fazemos da liberdade evolutiva
ter-se tornado critico para o futuro de nossa espécie e da maior parte do mundo
vivo.
FOMOS TODOS CRIADOS IGUAIS?
A admissão da possibilidade de existirem tais diferenças e a tentativa de medi-las
são vista como uma porta aberta para o fascismo, racismo, sexismo, exploração
capitalista das massas, e outras formas de discriminação social. Que tem a
ciência a dizer?
George Bernard Shaw respondendo à proposta de Isadora Duncan de terem um
filho: “E se ele saísse com a minha beleza e a sua inteligência?”
Se outro espermatozóide de Leopold Mozart tivesse ganhado a corrida para o
óvulo produzido por Anna Maria Pertl, em torno de 1 de maio de 1755, algumas
das mais belas pecas musicais do mundo nunca teriam sido compostas. O
projeto tolo, inventado há alguns anos, de propagar a “capacidade para o Nobel”
com a ajuda dos espermatozóides dos premiados baseou-se não somente em
uma compreensão errônea dos fatores que mandam uma pessoa para
Estocolmo, como também na ignorância das leis genéticas.
Todos nascemos diferentes, e tais diferença incluem desigualdade nas
capacidades inatas. Em uma sociedade racionalmente organizada, seria desejável
que cada indivíduo recebesse a oportunidade de realizar plenamente o seu
potencial genético. [Esta diferença é absolutamente necessária para que haja
garantia de que todas as necessidades serão satisfeitas. Mais do que isso, é a
garantia de sobrevivência da humanidade. Não fosse isso e todos nos seriamos
levados a ter as mesmas habilidades o que seria o fim]
A BIOLOGIA DOS VALORES ETICOS
Spencer e Huxley se empenharam muito para divulgar a visão de que as fontes
da moralidade, bem como seus princípios e limitações, devem ser buscados na
biologia. Spencer insistiu “na necessidade de preceder o estudo da ciência moral
com o estudo da ciência biologia. [Ou seja, o que ele quer dizer é que não existe
uma moral cultural sem uma matriz moral biológica.]
Segundo afirmavam Wilson e Charles J. Lumsden, “um conhecimento suficiente
dos genes e do desenvolvimento mental pode levar à construção de uma forma
de engenharia social que mude não apenas as probabilidades do resultado, mas
os sentimentos mais profundos sobre o certo e o errado, em outras palavras, os
preceitos éticos em si.”
Nota: só existe roubo quando existe propriedade.
A desonestidade da maioria não torna a desonestidade louvável. [!!!!] Por que
não?
Uma forma mais fraca de ética idealista é relativista e vê os princípios éticos
sujeitos à escolha e à mudança. Por exemplo, um código ético pode ser
libertário, utilitário ou igualitário, dependendo se consideramos a liberdade
individual, a felicidade da maioria ou a igualdade social a meta mais desejável a
ser alcançada na relação humana.
À primeira vista, a antropologia e a história compradas oferecem forte respaldo a
uma visão relativista da ética. Diferentes culturas obedecem a diferentes códigos.
O que é visto como uma cortesia básica na sociedade esquimó pode levar
alguém a ser decapitado na Arábia Saudita.
A moralidade é desenvolvida de maneira progressiva ao mesmo tempo que a
mente humano. Ela pode até ter raízes no comportamento animal, conforme
sustentam os sociobiologos. É possível que as regras éticas fossem criadas e
selecionadas no curso da evolução biológica e, em especial, da evolução cultural,
por um processo de ensaio e erro em que seus efeitos sobre a aptidão individual
e a coesão social atuassem como fatores seletivos.
[Falta a observação da realidade econômica sobre a moral e a ética. De minha
parte, estas dependem daquela.]
Podemos discordar do que chamamos de bom e mau, mas todos concordamos
que há uma distinção entre as coisas boas - e, portanto, a serem louvadas, - e as
mas - e, portanto, a serem evitadas. [mas isto dentro de cada cultura especifica]
A beleza, sem duvida, está nos olhos de quem a vê. Mas, e a noção abstrata de
beleza e o nosso desejo de beleza?
[Não existe “noção abstrata de beleza” o que existe é o efeito prazeroso de uma
determinada combinação de formas e cores, no caso da percepção visual, e isto
é bastante concreto.]
Em muitas sociedades, os preceitos éticos são formulados e impostos por
organismos religiosos, em geral dentro do arcabouço conceitual de um sistema
de crenças. (...) Contudo as religiões sobrevivem e prosperam em nosso mundo
cada vez mais materialista e hedonista. Conforme escreve Wilson: “o paradoxo
duradouro da religião é que grande parte de sua substancia é
demonstravelmente falsa, porém ela continua a ser uma força propulsora em
todas as sociedades. Os homens preferem acreditar a saber.
A ideologia vencedora não precisa ser verdadeira, mas apenas mais
forte do que as demais.
Segundo Monod: “postular o principio da objetividade como condição para o
verdadeiro conhecimento constitui uma escolha ética e não um juízo a que se
chegou pelo conhecimento.” Será a escolha gratuita ou um reflexo do preceito
kantiano do respeito pela verdade?
A ERA DO DESCONHECIDO
O FUTURO DA VIDA
A evolução biológica marcha em ritmo acelerado para uma grave
instabilidade.
De certa forma, o nosso tempo lembra uma daquelas importantes rupturas na
evolução, assinaladas por extinções maciças.Mas há uma diferença. A causa da
instabilidade não é o impacto de uma grande asteróide ou de algum evento
incontrolável.
Pela primeira vez, a seleção natural foi substituída, ainda que parcialmente, pela
intervenção intencional exercida por membros da comunidade biosferica. Os
fatos estão diante de nós, claros e inconfundíveis. Todos podem ler sua
mensagem e tirar as conclusões obvias.
[A minha é que esta é mais uma prova da minha teoria. Um universo que vai
crescendo e que a partir de um determinado momento deixa de ser influenciado
para ser a influencia.]
[O homem é o único ser vivo que pode atuar sobre as forças da natureza,
desequilibrando-as, porque....]
Nota: a linguagem, não a fala, é o elemento diferenciador entre o homem e o
animal.
O DESCARRILAMENTO DA SELEÇÃO NATURAL
Tudo começou há uns 40 mil anos. Até então, os humanos primitivos tinham
coexistido em certa harmonia com o resto da biosfera.
As coisas mudaram quando a caça se tornou mais bem-sucedida, como parte do
florescimento geral da tecnologia humana e da organização social que teve início
há uns 40 mil anos. (...) Que a caça e não as perturbações climáticas, ou outras
de cunho ambiental, foi a responsável pelas extinções em massa é o que indica o
fato de terem ocorrido em épocas diversas, em partes diversas do mundo, que
coincidem em cada caso com a invasão humana.
Os colonizadores forjaram vínculos sociais mais sólidos e redes mais fechadas de
organizações comunitárias, a divisão de trabalho e a ação cooperativa. Graças a
essas vantagens, geraram e criaram mais filhos, se expandindo com maior
rapidez do que os cacadores-coletores nômades. Sempre que o número de
colonizadores excedia a capacidade da terra circunvizinha, um grupo se
separava, como fazem as abelhas, para fundar uma nova colônia a alguma
distância, expulsando ou exterminando qualquer tribo errante que usasse a
mesma terra. De acordo com a evidencia genética e paleontológica mais recente,
foi assim que o modo agrário de vida se disseminou no passado, e não por
incorporação voluntária e transferência de tecnologia.
No espaço de alguns milênios, virtualmente toda a humanidade tinha adotado o
modo agrário de vida e as vastas áreas florestais cediam espaço às lavouras. Ao
mesmo tempo, o progresso da tecnologia, o nascimento da ciência moderna, a
expansão da indústria promoveram novos ataques à biosfera através da
irrigação, da fertilização e de outras medidas destinadas a aumentar a produção
agrícola e melhorar as condições da vida humano. Mas quase ninguém se
preocupava. A natureza parecia inexaurível, o que de certa forma era quase
verdade, até chegarmos ao século XIX.
Graças a esses avanços, a limitação da população humana pela seleção natural
foi truncada, trazendo em conseqüência a explosão demográfica dos últimos 150
anos.
SETE CABEÇAS UM CORPO
A humanidade se encontra agora diante de um monstro multicefalo que ela
mesma criou - devastação de florestas, perda de biodiversidade, exaustão de
recursos naturais, consumo excessivo de energia, poluição ambiental e
deterioração da própria humana. A única solução viável: atacar o corpo - mudar
o comportamento da espécie humana em si.
Ninguém sabe quantas espécies há na Terra. Em um apelo recente para salvar
espécies ameaçadas, Edward O. Wilson arrolou um total de 1.402.900 espécies
catalogadas. Mais da metade é formada por insetos (751.000), aos quais se
somam mais 123.400 artrópodes que não são insetos e 106.300 outros animais
invertebrados. Em contrapartida, há apenas 42.300 espécies de vertebrados
conhecidas, das quais menos de 10% são mamíferos.
Wilson acredita que “o número total de espécies que vivem na terra se situa
entre dez e cem bilhões. “ O especialista Robert M. May, faz uma estimativa mais
modesta mas ainda bem expressiva de 5 a 8 milhões.
O volume da devastação promovida por seus depositários é atordoante. Segundo
as estimativas mais otimistas de Wilson, à taxa atual de erradicação de florestas
tropicais, “o número de espécies condenadas a cada ano é de 27.000. A cada
dia, 74 e, a cada hora, 3”.
Nos últimos 150 anos e cada vez mais, tem-se usado um volume maior de
oxigênio do que aquele que é produzido. Tal desequilíbrio quase não afeta o teor
de oxigênio na atmosfera, mas influi apreciavelmente no nível de dióxido de
carbono atmosférico, que é 3 ordens de grandeza inferior ao do oxigênio. O teor
de dióxido de carbono na atmosfera cresceu de 0,0315% para 0,0360% entre
1958 e 1993 e continua a crescer cada vez mais rápido; calcula-se que alcançará
os 0,060% entre os anos de 2050 e 2100.
A humanidade é a única espécie viva que gasta mais energia do que precisa para
seu sustento e reprodução. Este excesso de energia durante muito tempo foi
obtido exclusivamente do mundo vivo, em sua maior parte da madeira para
produzir calor e dos músculos animais (ou humanos) para fornecer trabalho.
Hoje nos Estados Unidos, todo homem, mulher e criança gasta em transporte e
conforto cem vezes mais energia do que precisa para manter seu metabolismo.
E continua-se a empenhar esforços para descobrir um combustível seguro e
transportável que possa algum dia substituir os combustíveis fosseis, sendo o
ideal o hidrogênio que não polui e ao queimar se transforma em água.
Com relação à luz solar, precisaríamos destinar áreas imensas para a coleta de
luz (0,4% da superfície do pais para satisfazer as necessidades globais dos
Estados Unidos) e construir grandes armazéns para assegurar o abastecimento
de energia quando o sol estivesse encoberto.
Lor Zuckerman resumiu suas impressões: “Como em Estocolmo, as lições
significativas que o Rio deixou são que os interesses nacionais diferem; que há
uma diferença entre problemas ambientais nacionais e globais; as questões
sociais e ambientais de curto e longo prazos não se enquadram na mesma
categoria; e o desenvolvimento nos países mais pobres quase inevitavelmente
traz em sua esteira não apenas problemas financeiros e administrativos, mas
também novos problemas ambientais. Outra grande lição é que, na pratica, as
soluções para a maioria dos problemas ambientais dependem quase inteiramente
das esferas política e econômica.”
“Se as estimativas atuais de crescimento demográfico se provarem exatas e os
padrões de atividade humana no planeta não mudarem, a ciência e a tecnologia
talvez não sejam capazes de impedir nem a degradação irreversível do meio
ambiente, nem a continuada pobreza em grande parte do mundo.”
As cabeças de Hidra retiram energia de um corpo que cresce sem parar. Há
gente demais na Terra; e nasce muito mais todo ano. Se a expansão
demográfica continuar, a nossa espécie será encurralada por seu próprio
sucesso.
A cada segundo, três seres humanos morrem e outros seis nascem. Há
um século, a mortalidade infantil teria zerado o placar. Graças à medicina e ao
saneamento modernos, isto deixou de acontecer. Em conseqüência, cem milhões
de humanos se somam à população do planeta a cada ano.
O globo tinha um bilhão de pessoas em 1825. Este número dobrou em um
século, dobrou novamente na metade do século seguinte, e atingiu 5 bilhões em
1994 estima-se que exceda os 10 bi até 2050 se mantiver neste ritmo. (...) A
questão é se tantos humanos conseguirão viver juntos em harmonia. [Não]
O Mahatma Gandhi e madre Teresa de Calcutá são menos representativos de
nossa espécie do que Alexandre o Grande, Gengis Khan, Napoleão, Hitler ou o
padrinho mafioso. O quanto desta agressividade é genética e o quanto é
adquirida ainda não está definido. Qualquer que seja a resposta para a questão,
um fato se destaca. Somos animais agressivos. Será que nos submeteremos
passivamente às pressões da humanidade crescente? É pouco provável.
Outra forma de conflito iminente se dará entre os jovens e os velhos, talvez um
dia entre os sãos e os doentes, principalmente nos países em que a medicina é
adiantada e a demografia se encontra estável ou em declínio. O mais inquietante
é o abismo que se alarga entre o norte e o sul e as tensões resultantes que se
ampliam entre ambos. Na qualidade de biólogo, observo os fatos.
A conclusão é inevitável Se não conseguirmos, em futuro próximo, conter
o crescimento demográfico racionalmente, a seleção natural fará isto
por nós irracionalmente, às custas de privações sem precedentes para
as populações humanos e de danos irreparáveis ao meio ambiente. Tal é
a lição de 4 bilhões de anos que nos oferece a história da vida na Terra.
Todos, exceto uma minoria radical, concordariam que os benefícios da
ciência e da tecnologia são muito maiores que seus malefícios. [?????]
Somos capazes de adquirir conhecimentos, mas não de usa-los sabiamente. [!!!!]
Essa afirmação dispensa documentação.
Mesmo aqueles que concordam que qualquer coisa que pode ser conhecida deve
ser conhecida não estão dispostos a afirmar que qualquer coisa que pode ser
feita deve ser feita.
OS PRÓXIMOS 5 BILHÕES DE ANOS
(...) noção de que os montanheses possuem uma fonte de energia que opõem,
em uma espécie de barganha, aos moradores da planície produtores de
alimentos.
Por princípio copernicano Gott entende o pressuposto de que não temos nada de
especial, quer no tempo quer no espaço. Ou seja, somos apenas representantes
aleatórios de nossa espécie.
No caso da espécie humana, presumindo que esta tenha surgido há 200.000
anos, o calculo tem como resultados os limites de 67.000 e 600.000 anos, a um
nível de confiabilidade de 50%, e de 5.000 a 7.800.000 anos a um nível de 95%.
Todas as vezes que ocorreu uma extinção em massa na história da vida,
seguiu-se um incremento desenfreado de novas formas de vida. [A razão
me parece simples: estas oportunidades de vida deixaram de ter os opositores
(predadores) que as impediam de florescer. Sem resistência, a velocidade da
evolução cresce exponencialmente]
A minha leitura do livro da vida vê em ação, durante toda a evolução animal,
uma forte pressão seletiva que favorece a criação de redes neuronais de
crescente complexidade. Se nossa espécie desaparecer, me inclino a prever que
ela será substituída por outra espécie inteligente, quem sabe com maiores
poderes do que os que possuímos, principalmente com maior sabedoria. Esta
espécie poderia ser um ramo direto da espécie Homo, ou poderia nascer, por um
caminho separado, de alguma outra espécie animal. A vida na Terra tem tempo
para recapitular mil vezes o aparecimento da espécie humana desde seu ultimo
antepassado comum com os chimpanzés, e, umas vinte vezes, a história inteira
dos mamíferos. Muita coisa maravilhosa pode vir a acontecer nos próximos 5 bi
de anos, e sem duvida alguma acontecerá.
O SENTIDO DA VIDA
O CONTO DE DOIS FRANCESES
Pierre Teilhard de Chardin, nasceu em 1881, na Franca. De seu ambiente familiar
protegido e profundamente religioso, ele recebeu uma fe furadoura que o
impeloi ao sacerdócio sob a austera disciplina da ordem jesuíta. Durante toda a
vida, Teilhard procurou conciliar as exigências conflitantes da ciência e da fe.
Criou uma espécie de teologia naturalista que provocou a desconfiança de seus
superiores e a proibição de publicar suas idéias. Somente depois de sua morte
em Nova York, onde esteve semi-exilado, é que seus trabalhos foram publicados.
Segundo a visão de Teilhard, a mente e a matéria coexistem de forma elementar
desde o começo do universo e são impelidas, simultaneamente, para uma
complexidade sempre maior pelas forças combinadas e complementares das
duas formas de energia.
Nosso segundo francês é Jacques Monod (1920-1976). A exemplo de muitos de
sua geração na Franca, afinal encontrou um clima intelectual apropriado na
filosofia existencialista de Jean-Paul Sartre e particularmente em Albert Camus,
por quem tinha verdadeira veneração.
A principal mensagem filosófica da obra ( O Acaso e a Necessidade, de
Monod) é que a evolução biológica, longe de ser de alguma forma
dirigida por um élan vital, energia radial, ou outra força mística,
depende inteiramente de mutações aleatórias (acaso) que são
peneiradas pela seleção natural (necessidade). Não há sentido, propósito
ou desígnio a ser lido no aparecimento e evolução da vida, mesmo da vida
inteligente.
Monod conclui: “A antiga aliança está desfeita: o homem sabe finalmente que
está sozinho na imensidade insensível do universo, do qual surgiu por obra do
acaso. Seu destino não está escrito em lugar algum; nem tampouco seu dever.
O reino do alto ou as trevas de baixo: cabe a ele escolher.” O reino de monod
não tem qualquer relação com o céu, é claro; mas ao que chama de “ética do
conhecimento”, a eli que o cientista escolhe e se impõe livremente com base no
“postulado da objetividade”. As trevas são qualquer forma de “animismo”, termo
que abrange mitos, superstições, credos religioso, explicações vitalistas ou
teológicas da vida, e ideologias marxistas.
Por que o universo é como é? A resposta é: para que fosse conhecido.
A versão “participativa” do princípio antropico - que o universo deve ser tal que
produza vida inteligente - apresentada pelo físico norte-americano John A.
Wheeler, sustenta que os observadores são realmente necessários para dar
existência ao universo, uma definição que parece exigir algum tipo de criação
retroativa da mente humana após sua formação.
“No instante em que a vida tiver atingido o Ponto Ömega, ela terá assumido o
controle de toda a matéria e de todas as forças, não somente em um universo,
mas em todos os universos cuja existência for logicamente possível; a vida terá
se disseminado por todas as regiões espaciais em todos os universos que
poderiam logicamente existir, e tera armazenado uma quantidade infinita de
informações, inclusive todos os bits de conhecimento que é logicamente possível
ter. E isto é o fim.”
“E quase irresistível para os seres humanos acreditarem que temos uma relação
especial com o universo, que a vida humana não é o resultado mais ou menos
grotesco de uma cadeia de acidentes remontáveis aos primeiros 3 minutos, e
que fomos de alguma forma incluídos desde o começo.... É muito difícil acreditar
que tudo isso (a Terra, vista de bordo de um avião) é apenas uma parte
minúscula de um universo esmagadoramente hostil...”
O COSMO VIVENTE
Nesta nuvem orgânica, que impregna o universo, a vida não pode deixar de
surgir, sob uma forma molecular não muito diferente da que tem na Terra,
sempre que as condições forem semelhantes às que prevaleceram em nosso
planeta há 4 bi de anos. Tal conclusão me parece inescapável. Aqueles que
afirmam que a vida é um acontecimento extremamente improvável não
examinaram com a devida atenção as realidades químicas que subjazem a
origem da vida. Ou a vida é uma manifestação da matéria, reproduzível e
comum, dadas certas condições, ou é um milagre. [Isto, para mim, é
absolutamente definitivo, o que implica em encontrar o torna possível a vida ser
reproduzível sobre outras condições, ou seja, sobre uma outra seqüência de
fenômenos, rupturas.] São muitos os passos envolvidos necessários para permitir
uma condição intermediária.
A Terra não é uma partícula anormal que gira em torno de uma estrela anormal
em uma galáxia anormal, perdida em um imenso redemoinho “insensível” de
estrelas e galáxias que se projetam no espaço e no tempo desde o Big Bang. A
Terra faz parte, juntamente com trilhões de outros corpos semelhantes,
de uma nuvem cósmica de “poeira vital “ que existe por que o universo
é o que é.
O universo é vida com a necessária estrutura à sua volta; consiste
principalmente em trilhões de biosferas geradas e sustentadas pelo
restante do universo.
O COSMO PENSANTE
A evolução está em ação em dada biosfera, obedecendo aos mesmos princípios
universais. Graças à incessante interação de mutações casuais e circunstancias
ambientais na determinação do curso da seleção natural, na há duas biosferas
que possam ter a mesma história. [O que obriga a que haja um elemento
fundamental da vida no universo. Uma partícula vital]
Qual é a probabilidade de outras biosferas darem origem a organismos vivos e
conscientes”?
Segundo muitos evolucionistas, tal probabilidade é muito pequena, talvez tão
pequena que ocorreu apenas uma vez em todo o universo e, assim mesmo, por
um extraordinário golpe de sorte. O biólogo americano, natural da Alemanha,
Ernst Mayr, da Universidade de Harvard, não hesita em afirma em uma obra que
resume os frutos de uma vida de estudo da evolução biologia: “Um evolucionista
fica impressionado com a incrível improbabilidade da vida inteligente ter um dia
evoluído.”
Jared Diamond também acredita que os humanos sejam únicos. Sua justificativa:
Não há pica-paus na Austrália, na Nova Guine, na Nova Zelândia nem em
Madagascar. “Se os pica-paus não tivessem evoluído aquela única vez nas
Américas e no Velho Mundo, um nicho insubstituível estaria flagrantemente vazio
em toda a Terra. “ [Acontece que o pica-pau foi apenas uma das
tentativas, ou melhor, um dos caminhos que a evolução tomou para
que a partícula vital encontrasse seu melhor repositório.]
A idéia de Diamond é que não se pode confiar na evolução convergente. Os picapaus, embora idealmente adaptados, só apareceram uma vez. O mesmo deve
ser verdadeiro para os humanos. Donde, “por razões praticas, somos únicos e
sozinhos em um universo superpovoado”. [Somos únicos porque não há mais
necessidade de subdividir este ramo da arvore.]
O defensor da sociobiologia, Edward O. Wilson, destaca igualmente os pica-paus,
mas pela razão oposta. "“Pica-paus e formas semelhantes aos pica-paus”,
escreve Wilson, “ilustram os padrões duais de irradiação adaptativa e
convergência evolutiva. Durante a irradiação de pássaros nas diferentes partes
do mundo, evoluíram linhagens separadas para preencher o nicho dos picapaus.”
Se as coisas recomeçassem outra vez, aqui ou em outro lugar, o resultado final
não seria o mesmo. Mas em que medida seria diferente.
Deixem-me arrolar algumas limitações do acaso:
1. As mutações não são acontecimentos casuais, no sentido de serem regidos
inteiramente pelo acaso. Algumas áreas do genoma são mais sensíveis a
influencias mutagenicas do que outras, e esta sensibilidade em si
varia segundo influencias genéticas e ambientais.
2. Nem todas as mudanças genéticas são igualmente significativas.
3. Nem todos os genes são alvos significativos de mutação.
4. Depois, há o organismo em que a mutação ocorre. Somente em um dado
contexto de organismos uma dada mudança genética pode ser evolutivamente
influente. Uma vez tomada uma determinada direção, o leque de mudanças
futuras possíveis se reduz, e se reduz ainda mais a cada passo evolutivo
subseqüente.
5. Relacionado com a condição precedente, há o fator história hierárquico. A
cada nível de complexidade, um tipo diferente de mudança genética se torna
relevante.
6. A essas numerosas condições internas precisamos acrescentar a importância
critica do meio ambiente.
7. E, finalmente, nem toda mudança genética conservada pela evolução natural é
igualmente decisiva. Os famoso tentilhoes de Darwin, que se desenvolveram
de modo diferente em cada ilha do arquipélago das Galapagos, são um caso
exemplar. As mutações-chave são as que determinam uma bifurcação
principal na arvore da vida...
A evolução opera em fases breves de mudança rápida separadas por
longos períodos de estase ou lento desvio.
O impulso em direção a cérebros maiores e, portanto, a maiores consciência,
inteligência e comunicabilidade domina o ramo animal da arvore da vida na
Terra, e poderia realizar o mesmo em muitos outros planetas que possuem vida.
Minha conclusão: não estamos sozinhos. Talvez nem toda biosfera no
universo tenha evoluído ou evolua cérebros pensantes. Mas um subconjunto
significativo de biosferas existentes atingiram a inteligência, ou estão a caminho
disto, algumas talvez sob uma forma mais avançado do que a nossa.
Segundo o ponto de vista que defendo, está na natureza da vida gerar
inteligência sempre e onde as condições permitirem. [Contra isso, há a
realidade do que aconteceu na própria terra onde, entre milhões de espécies,
apenas uma desenvolveu a inteligência.]
O diâmetro de nossa galáxia é de uns cem mil anos-luz. !!!!!!!!!!!!
Durante séculos nos vangloriamos convencidos de sermos os donos de um
mundo que existia apenas para nós. Copérnico nos derrubou de nosso pedestal;
e cada avanço subseqüente da ciência reduziu ainda mais nossa importância. A
Terra foi deslocada de sua posição cosmologica central para a de um mero
planeta que gravita em torno do Sol. Provou-se que o próprio Sol era apenas um
entre centenas de bilhões de estrelas entre centenas de bilhões de galáxias, um
grão de poeira perdido na vastidão do universo.
Acho que a ciência não deveria ser arrogante. A mente humana talvez seja
apenas um elo - quem sabe um ramo secundário - em uma saga evolutiva que
ainda está longe de terminar e pode muito bem um dia produzir mentes muito
mais poderosas que as nossas. De acordo com a duração prevista para o Sol,
somente em nosso planeta a biosfera pensante tem mais uns 5 bilhões de anos
pela frente, mil vezes a duração do passo que levou o macaco ao humano.
Devemos nos curvar ao mistério. [ao desconhecido, melhor seria]
EPILOGO
Proclamaremos com Macbeth que a vida é “um conto narrado por um idiota,
cheio de som e fúria, que não significa nada”? Ou devemos escutar Hamlet:
“Há mais coisas no céu e na terra, Horacio, do que sonha a sua filosofia”?
“Console-se; você não me procuraria se já não tivesse me encontrado.” Disse
Deus ao pensador.
“Precisamos cultivar nosso jardim.” Disse Candide.
TITULO DO LIVRO: SACUDINDO O UNIVERSO
ESPANANDO A POEIRA COSMICA
A INFLUENCIA DA POEIRA COSMICA NA VIDA SEXUAL DOS ELEFANTES
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