1 ENSINO MÉDIO 1º ANO – 2º SEMESTRE Prof. Evaldo Botelho GAROPABA – SC 2013 Capítulo 5: Força e movimento Tradicionalmente, no primeiro ano do Ensino Médio de Física, tratamos do estudo da Mecânica. Como já dissemos anteriormente, a Mecânica se preocupa sobretudo com as idéias de movimento, forças e equilíbrio. O sub-ramo da Mecânica que trata dos movimentos, sem se preocupar com as suas causas é denominado Cinemática (do grego kinema, que significa “movimento”), e a parte que estuda os movimentos e suas causas (as forças) com base nas leis de Newton, é denominada Dinâmica (do grego dynamis, que significa “força”). Intimamente relacionado ao estudo dos movimentos, temos o conceito de velocidade. A noção qualitativa de velocidade está relacionada com a rapidez com que o movimento se processa, e existe desde o tempo de Aristóteles. No entanto, até a época de Galileu não se conhecia uma maneira de quantificar (medir) a velocidade de um objeto. A grande sacada de Galileu foi perceber que a velocidade pode ser calculada dividindo-se a distância percorrida pelo objeto pelo tempo gasto no percurso. Velocidade e aceleração Como já antecipamos acima, a velocidade é definida matematicamente como o quociente entre a distância percorrida pelo móvel (corpo em movimento), e o intervalo de tempo gasto no percurso, isto é: velocidade distância tempo Isto é equivalente à fórmula: v d t Na fórmula acima, para determinarmos o valor da velocidade (símbolo v) do móvel, colocamos a medida da distância percorrida no lugar da letra d, e o valor do tempo gasto no lugar da letra t. Como já comentamos na introdução, as medidas de velocidades misturam distâncias e tempos, e portanto suas unidades devem combinar unidades de distância com unidades de tempo. Por isso, a unidade de medida da velocidade no S.I. é o metro por segundo (m/s). Outras unidades de velocidade bastante usadas, especialmente nos automóveis, são o quilômetro por hora (km/h), e a unidade equivalente nos países de língua inglesa, a milha por hora (mi/h). M uitas vezes, no entanto, é necessário mudar de unidades. Isso é fundamental para compararmos velocidades que estão medidas em unidades diferentes. Na prática usa-se um “macete” (dica) para efetuar a conversão de km/h para m/s: basta dividir por 3,6. Para entender de onde vem isso, veja a questão abaixo: Qual carro está correndo mais, um que está a 25 m/s ou outro que corre a 60 km/h? Fazendo as contas: 1 km = 1000 metros 1 h = 3600 segundos 60 km/h 60 km 60.000 m 60 16,7 m/s 1h 3600 s 3,6 Um outro conceito que também está ligado à idéia de movimento é a aceleração. De fato, uma das dificuldades dos alunos que começam a estudar física é perceber qual é a diferença entre o conceito de velocidade e o de aceleração. Do ponto de vista qualitativo (sem usar fórmulas), podemos dizer que, assim como a velocidade mede a rapidez com que o movimento se processa, a aceleração mede a rapidez com que a velocidade varia, ou seja, um objeto está em movimento acelerado quando podemos dizer que ele se move cada vez mais rápido. Portanto, para que você memorize mais facilmente essa diferença, lembre-se: velocidade: rapidez com que o corpo se movimenta aceleração: rapidez com que a velocidade muda Do ponto de vista quantitativo, a aceleração é uma grandeza física relacionada com a variação de velocidade, da seguinte forma: aceleração variação de velocidade tempo M atematicamente, temos: a Δv t Na fórmula acima, para determinar a aceleração (símbolo a), devemos colocar a medida da variação de velocidade no lugar do símbolo v, e a medida do tempo gasto no lugar da letra t. Na Física o símbolo não significa nada sozinho; mas quando vem acompanhado de outra letra é usado para representar variação. Na maioria dos problemas com aceleração temos duas velocidades: a velocidade inicial (símbolo v1) e a velocidade final (símbolo v2). Neste caso, a variação de velocidade v é calculada como sendo igual a diferença (subtração) entre essas duas velocidades, isto é: v = v2 — v1 Note que, quando a velocidade está aumentando (o móvel está “cada vez mais rápido”) temos v2 > v1, e consequentemente a aceleração será positiva (v > 0 a > 0); por outro lado, quando a velocidade está diminuindo (o móvel está “cada vez mais lento”) temos v2 < v1, e portanto a aceleração será negativa (v < 0 a < 0). Unidade de aceleração: Considere o exemplo de um automóvel que acelera de 0 a 100 km/h, no intervalo de 10 segundos. Calculando a aceleração pela fórmula acima, temos: a Δv 100 km/h km/h 10 t 10 s s O resultado acima indica que o carro varia a sua velocidade em 10 km/h, a cada segundo. No entanto, a notação acima não é muito conveniente porque mistura as unidades de tempo (hora e segundo). Para unificar as unidades de tempo, devemos sempre expressar as velocidades em unidades S.I (metros por segundo), como já mencionamos anteriormente. A unidade de aceleração no S.I. é o quociente da unidade de velocidade (m/s) pela unidade de tempo (s), e lê-se metro por segundo quadrado (m/s 2). Exercícios de Fixação 1. Determine a velocidade de um trem que percorre 80 km em 30 minutos: A) dê o resultado em km/h; B) dê o resultado em m/s 2. Um esquiador das olim píadas de inv erno, saltou a dis tância de 105 metros, em 4 segundos. Qual era sua v elocidade (em km/h) no momento do salto? Portanto, ao invés de transformar separadamente de quilômetros para metros e de horas para segundos, basta dividir diretamente a medida em km/h (no nosso exemplo é o 60) por 3,6 3. Em 10 segundos a velocidade de um carro aumentou de 20 km/h para 120 km/h. Determine a aceleração do carro. para achar o valor da velocidade em metros por segundo. 4. Um avião parte do repouso, e após 50 segundos atinge a velocidade de 180 km/h. Qual é a aceleração do avião? LEMBRE-SE: 5 Um carro está a 90 km/h, quando o motorista pisa no freio, e o carro km/h m/s: dividir por 3,6; para após 5 segundos. Determine a desaceleração (aceleração m/s km/h: multiplicar por 3,6. negativa) sofrida pelo carro, durante a freada. 2 Capítulo 5: Força e movimento 3 Tipos de movimentos Os movimentos normalmente são classificados, de acordo com o modo como a velocidade varia, e em alguns casos especiais, de acordo com a forma da trajetória (caminho) percorrida pelo móvel. Quanto à velocidade, os movimentos podem ser uniformes (M RU), uniformemente variados (M RUV), onde a velocidade varia uniformemente, mas a aceleração é constante, e movimentos com velocidade e aceleração varáveis, como por exemplo, o movimento harmônico simples (M HS), que consiste no movimento de vai-e-vem, onde os valores da velocidade e da aceleração “oscilam” (ex: movimento de um pêndulo). Quanto à trajetória, os movimentos podem ser retilíneos (trajetória reta) ou curvilíneos (trajetória curva). Entre os tipos especiais de movimentos curvilíneos, destacamos o movimento circular uniforme (M CU), caracterizado por uma trajetória circular e velocidade constante. Na tabela abaixo, organizamos alguns tipos de movimento “puros”, conforme os critérios acima: Tipo de Movimento Velocidade Aceleração Trajetória MRU constante zero retilínea MRUV variável constante retilínea MCU constante zero circular MHS variável variável vai-e-vem Em outros casos, temos movimentos que são combinações de movimentos puros. Assim por exemplo, o movimento de um projétil (trajetória parabólica) resulta da combinação de um M RU na direção horizontal (eixo x) com um M RUV na direção vertical (eixo y). Da mesma forma, a trajetória descrita no ar pelas extremidades das hélices de um avião em movimento (trajetória helicoidal) resulta da combinação de um M RU (movimento de translação do avião) com um M CU (movimento de rotação da hélice). Na tabela abaixo, apresentamos algumas características destes movimentos compostos: Tipo de Movimento Composição do movimento Movimento de projéteis MRU + MRUV Movimento da hélice de um avião MRU + MCU Velocidade vx = const vy = variável Aceleração Trajetória ax = 0 parabólica ay = const. vTRNSL.= const aTRNSL. = 0 vROT = const. aROT = 0 helicoidal Exercícios de Fixação 1. Um estudante vai de sua casa até a escola em 30 min, com velocidade de 0,8 m/s. Qual é a distância entre a sua casa e a escola? 2. Um avião supersônico desenvolve uma velocidade de 1200 km/h. Qual a distância percorrida pelo avião, em 1 minuto de vôo? 3. Um carro anda 160 km com um velocidade de 80 km/h. A) Qual foi o tempo gasto no percurso? B) Qual será a distância percorrida pelo carro, em um percurso de 5 horas? 4. Um automóvel percorre o trecho Garopaba-Florianópólis (80 km) com velocidade de 100 km/h. Q uanto tempo ele gasta para chegar na metade do percurso? Movimento retilíneo uniformemente variado Outro tipo de movimento relativamente simples, é o caso do movimento retilíneo onde a velocidade é variável, porém varia de maneira uniforme, isto é, a velocidade aumenta (ou diminui) sempre na mesma taxa. Em outras palavras, neste tipo de movimento a aceleração é constante (seu valor nunca muda), como acontece com o movimento de queda dos corpos sem resistência do ar. Este tipo de movimento é denominado movimento retilíneo uniformemente variado (M RUV), e é caracterizado pelo fato de que a velocidade do móvel é diretamente proporcional ao tempo, enquanto a distância percorrida é proporcional ao quadrado do tempo gasto no percurso. Como a velocidade varia como tempo no M RUV, então a cada instante temos uma velocidade diferente. Para calcular a velocidade do móvel em um dado instante, usamos a fórmula conhecida como função horária da velocidade: v = v0 + a.t Na fórmula acima, devemos colocar o valor da velocidade (em metros por segundo) no lugar da letra v, o valor da velocidade inicial do móvel no lugar do símbolo v0, o valor da aceleração no lugar da letra a, e o tempo gasto (em segundos) no lugar da letra t. Exemplo: Um carro acelera de 0 a 90 km/h, no intervalo de tempo de 10 segundos. A) Qual a velocidade do carro após 5 segundos? B) Quanto tempo o carro leva para aumentar a velocidade de 0 a 72 km/h? Resolução: Inicialmente precisamos calcular a aceleração do carro. Para isso, expressamos a variação de velocidade em m/s: v = 90 km/h = 90 : 3,6 = 25 m/s e então, usamos a fórmula de definição da aceleração: Δv 25 2,5 m/s 2 t 10 A) Para determinarmos a velocidade após 5 segundos, usamos a função horária da velocidade: v = v0 + a.t = 0 + 2,5 . 5 = 12,5 m/s B) Neste caso, fazendo a transformação de velocidades: v = 72 km/h = 72 : 3,6 = 20 m/s e substituindo na função horária da velocidade, temos: 20 = 0 + 2,5 . t 20 0 = 2,5 . t 20 t t 8 segundos 2,5 a Movimento retilíneo uniforme Certamente o tipo de movimento mais simples consiste no caso em que a velocidade é constante e a trajetória é uma reta; este tipo de movimento é denominado movimento retilíneo uniforme (M RU), e é caracterizado pelo fato de que a distância percorrida pelo móvel é diretamente proporcional ao tempo gasto no percurso. Assim sendo, uma vez conhecendo a velocidade do móvel, podemos determinar a distância percorrida ou o tempo gasto, por simples regra de três. Alternativamente, podemos usar a fórmula: d = v.t Note que antes de substituir nas fórmulas, é necessário transforNa fórmula acima, a letra d representa a distância percorrida, a mar as velocidades de km/h para m/s. Portanto, lembre-se que nas letra v representa a velocidade do móvel, e a letra t é o tempo fórmulas do MRUV não se pode usar velocidades em km/h! gasto no percurso. Capítulo 5: Força e m ovim ento 4 Calculando a distância no MRUV Quando o movimento se processa sempre com a mesma velocidade (M RU), a distância percorrida pelo móvel, é dada pelo produto da velocidade pelo tempo gasto no percurso, como já discutimos na página anterior. No caso dos movimentos com velocidade variável e aceleração constante (M RUV), também podemos usar uma fórmula similar: d vt No entanto, na fórmula acima devemos lembrar que a velocidade que entra na fórmula é a média aritmética: v0 v 2 onde v0 é a velocidade inicial (velocidade no instante t=0) e v é a velocidade final (velocidade no fim do percurso), que pode ser calculada através função da horária da velocidade. Alternativamente, se quisermos evidenciar a dependência da distância com o quadrado do tempo, basta substituir a expressão da função horária da velocidade no lugar de v, o que resulta na expressão conhecida como função horária da distância: v d v0 t a t2 2 Estudo gráfico dos movimentos 2) MRUV com acelerações diferentes: Nesse caso, estamos interessados em calcular a distância total percorrida pelo móvel. Neste tipo de gráfico, a inclinação representa a aceleração, e portanto temos acelerações diferentes em cada trecho do percurso. No entanto, para calcular a distância total percorrida não é necessário conhecer as acelerações; ao invés disso, basta calcular o valor da área sob a curva (triângulo sombreado). Exercícios de Fixação 1. Um carro parte do repouso (v 0=0), e adquire no fim de 8 segundos, a velocidade de 40 m/s. Qual a distância percorrida nesse intervalo de tempo? Um veículo parte do repouso, com aceleração de 2 m/s 2 . Qual a velocidade e a distância percorrida após 5 segundos? Um carro parte do repouso, e atinge a velocidade de 36 km/h em 5 segundos. Determine a aceleração, a velocidade e a distância percorrida nos 5 segundos. Durante uma de suas caçadas, a velocidade de um leão varia de 36 km/h para 90 km/ h em 5 segundos. Calcule a aceleração e a distância percorrida no intervalo de tempo de 5 segundos. (Unimar-SP) Um automóvel, com velocidade inicial de 10 m/s, acelera sua marcha a uma taxa de 1,0 m/s 2. A distância percorrida após 6 segundos é igual a: A) 18 m; B) 42 m; C) 60 m; ) 63 m; e) 78 m; 2. 3. 4. 5. Na maioria dos livros de Física (e nos testes de vestibular ou do ENEM ) é muito comum aparecerem problemas de Cinemática na forma de gráficos ou tabelas, especialmente da velocidade como função do tempo. Neste tipo de gráfico, segmentos 6. horizontais indicam M RU (a velocidade correspondente pode ser lida no eixo vertical), segmentos inclinados representam M RUV, e curvas propriamente ditas indicam movimento com velocidade e aceleração variáveis. É importante observar que em qualquer 7. um desses gráficos, o valor da distância percorrida pelo móvel é igual à área sob a curva, para um determinado intervalo de tem8. po. Para entendermos melhor, vamos analisar em detalhes dois casos particulares: 1) MRU com velocidades diferentes: No gráfico da figura ao lado queremos descobrir a velocidade média desenvolvida no percurso total. Para isso, inicialmente separamos o problema em dois trechos distintos; em cada um dos trechos o móvel se desloca em M RU com uma velocidade diferente. Usando os dados da figura ao lado temos: Trecho 1: Neste trecho a velocidade é de 20 km/h, e o tempo gasto é de 3 horas. A distância percorrida neste trecho é igual à área do retângulo da esquerda: d1 = base x altura = 3 . 20 = 60 km Trecho 2: Este trecho corresponde ao retângulo da direita, cuja “base” (tempo gasto) mede 5-3=2 segundos. A distância percorrida nesse trecho é igual a área do retângulo: d2 = base x altura = 10 . 2 = 20 km A distância total é igual à soma d 1+d2 = 80 km, e o tempo total gasto pode ser lido diretamente do gráfico (t=5 horas). A velocidade média (vM ) no percurso todo é calculada como: vM distância total 80 km 16 km/h tempo total 5h (Fuvest-SP) Um veículo acelera, a partir do repouso, com aceleração de 2 m/s2. A velocidade após 3,0 segundos será: A) 6 m/s; B) 3 m/s; C) 12 m/s; D) 2,0 m/s; No problema anterior, a distância percorrida será: A) 9 m; B) 18 m; C) 12 m; D) 36 m; (DESAFIO) Uma partícula parte do repouso, e com aceleração constante (MRUV) percorre 18 metros nos primeiros 3 segundos. Aos 4 segundos sua velocidade será: A) 16 m/s; B) 12 m/s; C) 10 m/s; D) 8 m/s; E) 6 m/s; Com base no gráfico mostrado ao lado, e no exemplo mostrado no texto, responda as questões abaixo: 9. (UFES) Um automóvel percorre metade de sua trajetória com velocidade v1=20 km/h, e a outra metade com com velocidade v2=30 km/h. A velocidade média (em km/h) no percurso total é: A) 28; B) 26; C) 24; D) 22; E) 20; 10. (U. Católica de Salvador-BA) Um carro viaja entre duas cidades com velocidade constante. Na viagem de ida a velocidade é v 1=60 km/h, e na volta a velocidade é v 2=90 km/h. A velocidade média (em km/h) no percurso total é: A) 76; B) 74; C) 72; D) 70; E) 68; 11. Quanto mede a distância entre as duas cidades, para o caso do problema 10? 12. Usando a relação área = (base x altura)/2, descubra o valor da distância total percorrida, para o problema representado pelo gráfico (triângulo sombreado) mostrado no alto da página. Capítulo 5: Força e m ovim ento 5 Queda livre e lançamento de projétei s Desde a Grécia antiga até os dias de hoje, o homem se pergunta a respeito de como se dá o movimento de queda dos corpos perto da superfície da Terra. Uma teoria satisfatória começou a ser construída pelo s ábio italiano Galileu Galilei (1564-1642). Observando que a rapidez de um corpo em queda livre aumenta conforme o corpo vai se aproximando do solo, Galileu quis saber que lei da matemática governa esse movimento. No entanto, a queda livre dos corpos se dá com demasiada rapidez para que pudesse ser estudada sem o auxílio de equipamentos modernos, como na época de Galileu. Apesar disso, o sábio italiano, pai do chamado método experimental, criou uma experiência em que se pudesse verificar se um corpo mais “pesado” caía mais rápido do que um corpo mais “leve”, e chegou a conclusão de que, quando a resistência do ar pouco influi: “Corpos diferentes soltos da mesma altura, atingem o chão ao mesmo tempo”. Nos dias de hoje, com auxílio de uma lâmpada especial, chamada “estroboscópica”, que pisca em intervalos de tempo bem definidos (30 vezes por segundo), pode-se verificar por meio de experimentos, que os corpos em queda nas proximidades da superfície da Terra, aumentam sua velocidade em aproximadamente 10 m/s, a cada segundo, ou seja, são acelerados numa taxa de aproximadamente 10 m/s2, devido ao efeito da força da gravidade que a Terra exerce sobre eles. Esta aceleração é denominada aceleração da gravidade (símbolo g), e seu valor obtido experimentalmente é g=9,8 m/s2. O movimento de um corpo largado de uma certa altura é denominado queda livre, quando desprezamos os efeitos da resistência do ar. Este tipo de movimento constitui um caso especial de M RUV, onde o movimento se processa na direção vertical, com aceleração a=10 m/s2. Nesse caso, como o corpo é largado em repouso, consideramos que a velocidade inicial é nula (v0=0), e a posição do corpo em cada instante corresponde a altura do corpo em relação ao solo (símbolo h, do inglês height, que significa “altura”). Um outro movimento que se passa na direção vertical é o caso em que um corpo é disparado verticalmente para cima , o que chamamos de lançamento vertical. Nesse caso, é conveniente separar o processo completo (subida+descida) em duas etapas, como mostra o esquema abaixo: MRUV para o movimento vertical Na subida: velocidade inic ial = velocidade de lançamento velocidade final: nula (velocidade no ponto de altura máx im a) aceleração: negativa (a= −10 m/s2 ) Na descida: velocidade inic ial : nula (repouso) velocidade final: velocidade de lançamento aceleração: positiva (a = 10 m/s2 ) Em ambos os casos, seja queda livre ou lançamento vertical, podemos calcular a velocidade do corpo em qualquer instante usando a função horária da velocidade no M RUV: v = v0 + a.t Por outro lado, combinando a função horária da velocidade (equação acima) com a função horária da distância (ou posição) citada na coluna da esquerda da página anterior (e trocando a letra d de distância, pelo símbolo h da altura), obtém-se a expressão conhecida como equação de Torricelli: v2 = v02 + 2.a.h Como não estamos levando em conta a resistência do ar, para qualquer que seja altura, valem as relações: tempo de subida = tempo de descida velocidade na subida = velocidade na descida Exemplos 1. Uma pedra cai de um certa altura, e leva 2 segundos para atingir o solo. Calcule a velocidade com que a pedra atinge o solo, e a altura de onde ela caiu. Resolução: Para achar a velocidade basta substituir t=2 segundos, v 0=0 e a=10 m/s2 na função horária da velocidade: v = v0 + a. t = 0 + 10 . 2 = 20 m/s Para determinar a altura de queda, usamos o resultado acima na equação de Torricelli ( v2=v02 + 2.a.h): 20 2= 0 2+2.10.hh= 400 = 20 m 20 2. Uma pedra é lançada verticalmente para cima, com velocidade de 30 m/s. Calcule a altura máxima atingida pela pedra, e o tempo gasto na subida. Resolução: No ponto de altura máxima a velocidade é zero (v=0). Assim, substituindo v=0, v0=30 m/s, e a=−10 m/s, na equação de Torricelli, obtemos a altura máxima: 900 = 30 m 30 Além disso, usando esses valores na função horária da velocidade ( v=v0+a.t), achamos o tempo de subida: 2 2 0 = 30 − 2.10.hh= 0= 30− 10.t t= 30 = 3s 10 Exercícios de fixação 1. Um corpo é abandonado de uma altura de 78,4 metros em relação ao solo. Desprezando a resistência do ar, calcule: A) o tempo de queda do corpo; B) a velocidade no instante em que o corpo atinge o solo. 2. Uma pedra cai de uma certa altura, e atinge o solo em 3 segundos. Determine a velocidade com que a pedra atinge o solo, e a altura de onde ela caiu. 3. Uma gota de chuva cai de uma altura de 245 metros. Desprezando a resistência do ar, determine a velocidade com que a gota chega ao solo, e o tempo que ela leva para cair. 4. Suponha que a maior velocidade com que um gato pode atingir o solo, sem se machucar, seja de 8 m/s. Qual deve ser altura máxima de onde o gato pode saltar, sem se machucar? 5. Um projétil é lançado verticalm ente para cima, com velocidade de 20 m/s. Determine a altura máxim a que o projétil atinge; o tempo que ele gasta na subida, e o tempo total para subir e descer. 6. (Supra-SC) Um caçador dispara um projétil de seu revólver calibre 38, verticalmente para cima, atingindo a altura de 4500 metros acima do ponto de disparo. Desprezando a resistência do ar, determine a velocidade com que a bala saiu do cano do revólver. Quanto vale essa velocidade em km/h? 7. (DESAFIO) Considerando a velocidade do som igual a 320 m/s, deixa-se cair uma pedra em um poço, ouvindo-se o som do choque contra o fundo 4, 25 segundos após ter-se soltado a pedra. Qual é a profundidade do poço? A) 40 m; b) 80 m; c) 120 m; d) 160 m; d) n.d.a Dica: O tempo total é igual ao tempo de queda da pedra (tQUEDA) mais o tempo que o som leva para alcançar o ouvido do observador (tSUBIDA). Você pode resolver por tentativas (chutando valores para o tempo de queda da pedra: 1, 2, 3, ... segundos), fazendo tSUBIDA = 4,25—tQUEDA, e testando até que se verifique a igualdade: distânci a percorrida pelo som = altura de queda da pedra (M RU) (M RUV) Capítulo 5: Força e m ovim ento 6 Estudo gráfico do MRUV Em muitos casos, especialmente quando a velocidade varia, as situações de movimento são descritas através de gráficos: posição x tempo ou velocidade x tempo. Em particular, para o caso do M RUV na vertical (queda livre ou lançamentos), o uso de gráficos pode ser bastante útil. 1. Gráfico posição x tempo Em um gráfico posição x tempo do M RUV, os valores da velocidade inicial e da aceleração podem ser obtidos a partir das coordenadas do vértice da parábola que representa a função horária da posição. Na figura ao lado, as coordenadas do vértice são representadas pelo par ordenado (X,Y), enquanto Y0 representa o ponto em que a parábola corta o eixo vertical. Os valores da aceleração e da velocidade inicial são dados pelas relações: v 0= 2 (Y − Y 0 ) X a= − 2 (Y − Y 0) X 2 Resolução: Do gráfico obtemos que as coordenadas do vértice da parábola, e o ponto em que a curva parábola toca o eixo vertical: X = 5; Y = 50; Y0 = 0; A) A aceleração da gravidade do planeta é igual ao valor da aceleração do corpo (sem o sinal de menos): a= − 2 (Y − Y 0) X2 =− 2 (50− 0) = − 4 m/ s2 52 B) A velocidade com que o corpo foi lançado para cima é igual à velocidade inicial (v0 ): v 0= 2 (Y − Y 0 ) (50− 0) =2 = 20 m/ s X 5 C) O tempo que o corpo gasta até atingir a altura máxima (tempo de subida) pode ser lido diretamente do gráfico. Temos: tSUBIDA = X = 5 segundos D) Do gráfico vemos que no instante t=7 segundos, o corpo passa pela posição de 42 metros, isto é, o corpo está a uma altura de 42 metros acima do solo. E) O tempo que o corpo leva para voltar ao solo (subida+descida) é igual ao dobro do tempo de subida: t SUBIDA+DESCIDA = 2×t SUBIDA = 10 segundos 2. Um objeto lançado para cima na superfície de um certo astro, tem seu movimento descrito pelo gráfico velocidade x tempo, mostrado na figura abaixo: A) Qual é a velocidade com 2. Gráfico velocidade x tempo que o objeto foi lançado? Se ao invés do gráfico posição x tempo, tivermos um gráfi- B) Determine a aceleração co velocidade x tempo, podemos obter a velocidade inicial e a da gravidade do astro. coordenada X (abscissa) do vértice diretamente do gráfico. C) Quanto tempo o objeto Nesse caso, a velocidade inicial é o ponto em que o gráfico gasta até atingir a altura “toca’ o eixo vertical, enquanto a coordenada X do vértice é máxima? o ponto em que o gráfico “toca” o eixo horizontal. Conhecen- D) Determine altura máxido esses valores, podemos determinar a aceleração: ma que objeto pode alcançar. v E) Quanto tempo objeto a= − 0 X gasta até voltar ao chão? Em particular, em problemas de lançamento de projéteis a partir do solo, a parábola toca o eixo vertical no ponto zero (Y0=0). Nesse caso, a coordenada Y do vértice indica a altura Resolução: Nesse caso, podemos obter a velocidade inicial e a coormáxima atingida pelo corpo, e a coordenada X do vértice re- denada X (abscissa) do vértice diretamente do gráfico. presenta o tempo de subida (isto é, o tempo que o corpo gasta A) A velocidade com que o objeto foi lançado para cima é igual à veloaté atingir a altura máxima). Temos então as relações: cidade inicial, cujo valor é igual ao ponto em que o gráfico “toca” o eixo vertical, isto é: v X t SUBIDA= X h MAX = Y = 0 v 0 = 9 m/s; 2 B) A aceleração da gravidade do planeta é igual ao valor da aceleração do corpo (sem o sinal de menos): Exemplos v 9 1. Um corpo lançado para cima em um certo planeta, tem a= 0 = = 3 m/ s 2 X 3 seu movimento é descrito pelo gráfico da figura abaixo: A) Qual é a aceleração da C) O tempo que o objeto leva para atingir a altura máxima (tempo de gravidade do planeta? subida) é igual ao valor da coordenada X do vértice: B) Com que velocidade o tSUBIDA = X = 3 segundos corpo foi lançado para cima? D) A altura máxima que o objeto pode alcançar é igual ao valor da C) Quanto tempo o corpo coordenada Y do vértice, a qual pode ser obtida pela relação: gastou até alcançar a v X 9× 3 altura máxima? h MAX = 0 = = 13,5 m D) Qual a posição 2 2 (altura) do corpo, no instante t=7 segundos? E) O tempo que o corpo leva para voltar ao solo (subida+ descida) é E) Quanto tempo o corpo igual ao dobro do tempo de subida: gasta para voltar ao solo? t SUBIDA+DESCIDA = 2×t SUBIDA = 6 segundos Capítulo 5: Força e movimento 7 Forças: as causas do movimento Os movimentos e suas causas foram, sem duvida nenhuma, os primeiros fenômenos de nosso mundo fís ico a serem investigados pelo homem, e as primeiras indagações remontam às antigas civilizações da Asia M enor. No século IV a.C., na Grécia Antiga, Aristóteles desenvolveu uma visão cosmológica em que relacionava idéias hoje discutidas separadamente em diversas áreas do conhecimento, como ciência, política, ética, poesia e teologia. Suas idéias mostraram-se de grande valia em muitas áreas, mas suas teorias físicas tinham limitações. Além disso, ele não usava a M atemática para descrever os fenômenos naturais, entre os quais os movimentos. M esmo assim, a concepção de Aristóteles permaneceu aceita por cerca de 2000 anos, até a época do Renascimento. O Renascimento trouxe consigo uma nova arte, uma nova música e novas idéias acerca do universo e do papel do ser humano dentro dele. A curiosidade e as atitudes questionadoras tornaram-se aceitáveis e até mesmo valorizadas. Foi então que alguns pensadores como Galileu Galilei e Isaac Newton, começaram a reconhecer o uso da M atemática para analisar e descrever os fenômenos naturais. O sábio italiano Galileu Galilei (1564-1642) mostrou como descrever o movimento de objetos ordinários, como uma bola rolando por uma rampa. Seu modo de pensar, o uso que fez da M atemática, e a confiança depositada nos resultados obtidos experimentalmente lançaram as bases da ciência moderna. Inspirado nas idéias de Galileu, o inglês Isaac Newton (1642-1727), conseguiu elaborar leis que permitem lidar com toda a variedade de situações envolvendo forças e movimentos, descrevendo as causas dos movimentos como interações (forças) que agem entre os objetos. Cada interação representa uma força diferente, que depende das diferentes condições em que os objetos interagem. M as obedecem aos mesmos princípios elaborados por Newton, e que ficaram conhecidos como Leis de Newton. Hoje sabemos que as causas dos movimentos estão diretamente ligadas a um conceito essencial na Física, o conceito de força. Temos intuitivamente a idéia do que é força toda vez que puxamos ou empurramos um objeto. Além disso, a aplicação de uma força pode movimentar uma objeto parado (em repouso), assim como pode parar um objeto em movimento. As forças surgem da interação entre os objetos, e as formas pelas quais os objetos interagem uns com os outros são muito variadas. A interação entre uma raquete e uma bolinha de pingue-pongue, por exemplo, é diferente da interação entre uma lixa e uma parede, ou entre um imã e um alfinete. De modo geral, quando ocorre contato entre os objetos, as forças envolvidas são chamadas de forças de contato. Por outro lado, como no caso do exemplo imã-alfinete, a interação (atração) ocorre à distância, sem necessidade de haver contato físico entre os dois corpos, e neste caso, as forças são denominadas de forças de campo. As forças de contato aparecem em situações como batidas, pancadas, espetadas, ou simplesmente quando um corpo se apóia sobre o outro (forças de reação normal), em arranhões, esfregadas, deslizamentos (forças de atrito) ou quando um objeto se movimenta dentro de um líquido ou gás (forças de resistência). Na tabela da coluna ao lado, esquematizamos a classificação dos diversos tipos de forças. Importante: Do ponto de vista microscópico, todas as forças de contato são descritas em ter mos de forças de campo. Geralmente elas são o resultado da interação eletromagnética (à distância) entre os átomos e moléculas das super fícies que estão em contato macroscópico . forçasde reaçãonorm al forçasde contatoforçasde atrito forçasde resistência Forças gravitacional (atraçãoentreastros) forçasde cam poeletrom agnética (ligaçõesquím icas) nuclear(ligaçãopróton- nêutron) As forças que atuam à distância são produzidas devido a ação de um coisa chamada campo. No estudo da M ecânica, vamos nos preocupar somente com os efeitos do campo gravitacional sobre os objetos. O campo gravitacional (ou simplesmente gravidade), aparece ao redor dos corpos, devido à sua massa, mas seu efeito só pode ser percebido se o corpo possuir uma massa imensa, como a Terra, o Sol, a Lua, ou um outro astro qualquer. Quando um objeto qualquer está mergulhado em um campo gravitacional , sofre a ação de uma força denominada força peso, como vamos discutir mais adiante. Força elástica Em situações nas quais os objetos podem ser considerados elásticos, como é o caso de uma mola ou de um elástico propriamente dito, é possível determinar o valor da força de uma forma bastante simples. Imagine, por exemplo, um menino puxando o elástico de um estilingue. Quanto mais o garoto puxa a borracha, maior é a força que ele tem de fazer parar mantê-la esticada. Esse fato revela uma importante relação entre a força aplicada e deformação do elástico. Na medida em que o elástico é puxado, seu comprimento aumenta, e a força por ele também aumenta. De fato, verifica-se que: Obs: a força elástica atua sempre no sentido contrário ao da deformação (alongamento)! As conclusões acima podem ser expressas em termos matemáticos, através da fórmula: F = -k.x Na fórmula acima, a letra F representa a força elástica, a letra x representa o quanto a mola (ou elástico) foi deformada, e a letra k representa uma constante de proporcionalidade denominada constante elástica da mola, a qual depende do material que é feita a mola (ou elástico); o sinal menos (-) indica que a força atua no sentido contrário à deformação. Balança de peixeiro O instrumento usado para medir forças é denominado dinamômetro, conhecido popularmente como “balança de peixeiro” (figura ao lado). O dinamômetro consta basicamente de uma mola previamente calibrada, que, submetida à aplicação de uma força (geralmente o peso de um objeto pendurado), sofre uma deformação. Conhecendose a deformação sofrida pela mola, pode se obter a intensidade da força aplicada. Quando é usado como balança, o dinamômetro possui um escala graduada em gramas, quilogramas ou outra unidade de massa. Na figura acima, o deslocamento para baixo é proporcional ao peso. Portanto, podemos usar esse deslocamento como uma medida da forçapeso, e também de outras forças. Capítulo 5: Força e m ovim ento 8 1a Lei de Newton: Princípio da Inércia “Quando é difícil parar” Até a época de Galileu, acreditava-se como Aristóteles, que uma força era necessária para manter um objeto em movimento, ao longo de um plano horizontal. Galileu realizou várias experiências para analisar o movimento dos corpos, e concluiu que, se um corpo estiver em repouso, é necessária a ação de uma força para colocá-lo em movimento; por outro lado, uma vez iniciado o movimento, cessando a ação das forças, o corpo continuará a se mover indefinidamente em linha reta, com velocidade constante. Baseado nessas conclusões, Newton enunciou a sua 1a Lei, conhecida como Princípio da Inércia. O Princípio da Inércia, está presente em muitas situações do cotidiano, como por exemplo, quando as pessoas viajam na carroceria de um caminhão. Se o caminhão, que estava parado, sair em disparada: todos serão jogados para trás, como na figura ao lado. Também os cavaleiros, ao saltar obstáculos com seu cavalo, podem encontrar dificuldades, quando o cavalo vem em disparada e refuga na hora do salto: o cavaleiro vai para o outro lado, mas sem o cavalo. As constatações acima constituem a essência da 1a Lei de Newton ou Princípio da Inércia, que pode ser Corpo livre da ação de forças significa que ou nenhuma enunciada assim: força age sobre ele, ou agem várias forças que se anulam mutuamente. Aplicações do princípio da inércia 1. Equilíbrio estático e equilíbrio dinâmico: Conforme a descrição no balão explicativo acima, a expressão “um corpo livre da ação de forças” equivale a dizer que a resultante da soma das forças que atuam sobre ele é nula. Nesse caso, de acordo com a 1a Lei de Newton, o corpo estará em repouso ou em movimento retilíneo uniforme, e quando isto ocorre dizemos que o corpo está em equilíbrio. A) B) Há dois tipos básicos de equilíbrio: Equilíbrio estático: Quando a velocidade é constantemente nula com o passar do tempo, ou seja, o corpo esta em REPOUSO. Equilíbrio dinâmico: Quando a velocidade é constante e não-nula, com o passar do tempo, ou seja, o corpo está em movimento retilíneo uniforme (M RU). 2) O conceito de inércia e os referenciais: O conceito físico de inércia está ligado à propriedade geral da matéria, de resistir a qualquer variação em sua velocidade; um corpo em repouso tende, por inércia, a continuar em repouso; um corpo em movimento tende, por inércia, a continuar em movimento retilíneo uniforme. Assim, como descrito nos exemplos da coluna anterior, quando o carro parte, os passageiros, por inércia sentem-se atirados para trás (em relação ao carro); quando o cavalo pára diante de um obstáculo, por inércia, o cavaleiro é atirado para a frente. Em ambos os casos, isto ocorre porque o corpo tende a manter o seu estado de movimento. Observe que o estado de movimento (repouso, M RU, movimento acelerado, etc.) depende da escolha de um referencial, isto é, de um ponto de referência, em relação ao qual o movimento é observado. Os referenciais em relação aos quais, vale o Princípio da Inércia (1a Lei de Newton), são denominados referenciais inerciais. Em relação a um referencial inercial, um corpo livre da ação de forças está em repouso ou em movimento retilíneo uniforme. Nestes referenciais, para variar a velocidade do corpo, é necessário a ação de uma ou mais forças sobre ele. Por outro lado, os referenciais acelerados em relação à Terra não são inerciais. A própria Terra, em virtude de seu movimento de rotação, não é um referencial inercial. Entretanto, nos problemas comuns dos movimentos dos corpos na superfície da Terra, podemos desprezar os efeitos da rotação da Terra, e considerá-la como um referencial inercial. Galileu versus Aristóteles As relações entre forças e movimentos tem sido objeto de estudo desde a Antiguidade. O filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.), por exemplo, acreditava que um corpo só poderia permanecer em movimento se existisse uma força atuando sobre ele: “Se um corpo estivesse em repouso, e uma força agisse sobre o ele, então o corpo se poria em movimento; mas cessando a ação da força, o corpo voltaria ao repouso”. As afirmações da Aristóteles podem parecer corretas à primeira vista, pois, em nossa experiência diária, vemos que os objetos, de um modo geral, só se encontram em movimento quando estão sendo puxados ou empurrados. Um liv ro empurrado sobe uma mesa, de fato, pára imediatamente quando se deixa de empurrá-lo. Durante toda a Idade Média, as idéias de Aristóteles foram acatadas sem que se tenha feito uma análise mais cuidadosa em torno delas. As críticas às teorias aristotélicas, como dissemos na introdução deste capítulo, só surgiram com Galileu, no século XVII. Introduzindo o método experimental para o estudo dos fenômenos físicos, Galileu realizou uma série de experiências que o levaram a conclusões diferentes daquelas de Aristóteles. Estudando uma esfera em repouso sobre uma superfície horizontal, Galileu observou que, empurrando-a com uma certa força, ela entrava em movimento. Entretanto, a esfera continuava a se mover, percorrendo uma certa distância, mesmo depois que ele deixava de empurrá-la. Assim, Galileu verificou que um corpo podia estar em movimento sem a ação de uma força que o empurrasse. Repetindo a experiência, usando uma superfície horizontal mais lisa, ele observou que o corpo percorria uma distância maior após cessar a ação da força. Baseando-se em uma série de experiências semelhantes, Galileu concluiu que o corpo parava, após cessado o empurrão, em virtude da ação do atrito entre a superfície e o corpo, cujo efeito seria sempre o de retardar o seu movimento. Assim, se fosse possível eliminar totalmente a ação do atrito, o corpo continuaria a se mover indefinidamente, sem nenhum retardamento, isto é, em movimento retilíneo uniforme (MRU). Generalizando suas conclusões, Galileu chegou ao seguinte resultado: “Se um corpo estiver em repouso, é necessário a ação de uma força para coloca-lo em movimento; uma vez iniciado o movimento, cessando a ação das forças que agem sobre o corpo, ele continuará a se mover indefinidamente com velocidade constante”. Capítulo 5: Força e movimento 9 3a Lei de Newton: ação e reação “Quem com ferro fere, com ferro será ferido”. Esse 1. agressivo ditado popular é muitas vezes traduzido pelo enunci- A) ado da lei que provavelmente é a mais conhecida da Física: a lei da ação e reação. Numa interação entre objetos, as forças de ação e reação atuam ao mesmo tempo, mas uma em cada corpo, possuindo mesma intensidade e direção, mas sentidos contrários. O fato da força de ação agir em um objeto e a força de reação em B) outro, é a idéia básica da 3a Lei de Newton: Um exemplo bastante comum é a batida entre dois veículos: neste tipo de incidente, ambas as partes levam prejuízo, mesmo que um deles esteja parado, pois os dois carros exercem forças um sobre o outro, e consequentemente se amassam. Da mesma forma, quando chutamos uma bola, a força exercida pelo pé impulsiona a bola para frente, enquanto a bola também age no pé, aplicando-lhe uma força no sentido oposto. Se não fosse assim, poderíamos chutar até uma bola de ferro sem sentir dor. No desenho ao lado, esquematizamos as forças de ação e reação, quando um homem empurra uma cadeira de rodas, com um outro sentado nela. Observe que as forças de ação e reação não se anulam, porque são aplicadas em corpos diferentes. Uma propriedade fundamental que emerge da lei da ação e reação, é que as forças na natureza sempre aparecem aos pares, para cada ação sempre existe uma reação, de intensidade igual e sentido oposto. Exemplos de aplicações 1. Movimento de um barco: A hélice do barco ao girar, empurra a água para trás (ação). Como resultado, o barco é empurrado para a frente devido a força de reação da água sobre ele. 2. Movimento de foguetes fora da atmosfera: Os foguetes são acelerados pelo seguinte processo: um jato gasoso, resultante da queima do combustível, é expelido para trás. Pela lei da ação e reação, o foguete é acelerado para a frente devido à força de reação dos gases sobre ele. Note que a atmosfera não participa do processo de ação e reação, o que permite que o foguete seja acelerado, mesmo na sua ausência (vácuo). 3. Movimento de caminhar: Quando caminhamos, o pé empurra o solo para trás (ação), e o solo exerce no pé uma força de reação pra a frente. Essas forças trocadas pelo pé e pelo chão são forças de atrito. Se não houvesse atrito, isto é, se as superfícies fossem perfeitamente lisas, não conseguiríamos andar. 4. Rodas de tração motora: Nas rodas de um carro, ligadas ao motor (rodas de tração motora), um sistema de engrenagens transmite às rodas um movimento de rotação. Ao acelerarmos o carro, as rodas de tração empurram o solo para trás (ação), e o solo reage, exercendo nas rodas forças de reação para frente. Com base no Princípio da Inércia, explique: Por que os passageiros são empurrados para a frente, quando o ônibus dá uma freada brusca? Por que os passageiros são empurrados para trás, quando o ônibus dá uma arrancada? 2. Qual a importância do uso do cinto de segurança nos automóveis? 3. A força resultante sobre um corpo é nula. O que podemos dizer a respeito da velocidade do corpo? 4. Um pára-quedista desce verticalmente, próximo à superfície da Terra, com velocidade constante. Qual é a resultante da das forças que atuam sobre o conjunto homem+pára-quedas? 5. Quando um avião em vôo horizontal abandona uma bomba, por que ela não cai verticalmente? 6. Os satélites giram em torno da Terra por causa da força de atração que a Terra exerce sobre eles, mantendo-os em órbita. O que aconteceria com os satélites, caso desaparecesse esta força? 7. Um menino está parado sobre um banco. Como já sabemos, a Terra exerce sobre ele uma força, devido à gravidade. Conforme a 3a Lei de Newton, a reação dessa força será aplicada sobre: A) O banco; B) A gravidade; C) O menino; D) A Terra; 8. A) Verifique se são verdadeiras, as seguintes afirmações: Se a cada ação corresponde uma reação igual e oposta, então elas se anulam e o movimento é impossível. Uma força nunca pode aparecer sozinha; para cada força (ação) necessariamente vai existir uma reação, igual e oposta, mas aplica em um corpo diferente. B) 9. Questões Um automóvel colide com um grande caminhão carregado. Você acha que a força exercida pelo automóvel sobre o caminhão é maior, igual ou menor que a força exercida pelo caminhão sobre o automóvel? A força das curvas Uma situação que você certamente já experimentou é o fato de ser empurrado “para fora”, quando está dentro de um automóvel ou ônibus que faz uma curva. Os motoristas de carros e motos, geralmente dizem que “a curva puxa você para fora”. Na verdade trata-se de um efeito de inércia. Lembre-se que, de acordo com o Princípio da Inércia, um corpo em movimento, tende a permanecer em movimento retilíneo uniforme (MRU), ou seja, movimento com velocidade constante e em linha reta. Este efeito de inércia faz aparecer uma força “fictícia” denominada força centrífuga, que tende a “jogar” você e o veículo para fora da curva. Por isso, quando você estiver dirigindo um veículo (carro, moto, bicicleta, etc.) deve sempre lembrar que nas curvas as coisas não acontecem do mesmo jeito que nas retas, e o procedimento mais seguro para evitar deslizamentos, derrapagens ou capotagens, é reduzir a velocidade (antes de entrar na curva)! Capítulo 5: Força e movimento 10 2a Lei de Newton Que carro acelera mais? A tabela abaixo mostra o desempenho de “modernos veículos nacionais”. Você e capaz de dizer por que uns aceleram mais rápido do que os outros? Exemplo: Um bloco de massa m=2 kg, é puxado sobre uma mesa horizontal, por uma força horizontal F, e adquire movimento retilíneo com aceleração de 6 m/s2. Considerando que o bloco se desloca sobre uma superfície sem atrito: A) Qual é a intensidade da força F que puxa o bloco? B) Qual deveria ser a massa do bloco, para que a força F produza uma aceleração de 5 m/s2? Resolução: Para resolver o problema devemos aplicar a Lei Fundamental da Dinâmica, ao movimento do bloco. A) Como a única força que atua na direção do movimento é a força horizontal F, temos: F = m•a = (2 kg)•(6 m/s2) = 12 kg•m/s2 = 12 N B) Nesse caso temos: F = m•a 12 = m•5 m = 12÷5 = 2,4 kg Você pode observar pela tabela acima, que alguns modelos atingem mais rapidamente a velocidade de 100 km/h. Se compararmos os dois primeiros carros, veremos que seus motores são diferentes, mas que eles possuem a mesma massa. Na verdade, a principal diferença entre eles é o motor, que é o responsável pela força. O segundo carro possui um motor mais potente, o que significa que ele é capaz de exercer uma força maior. Isso explica o menor tempo para se atingir a marca dos 100 km/h. Por outro lado, o primeiro e o terceiro carros (Trave Plus e Paramim) tem o mesmo motor, porém seus tempos de aceleração são diferentes. Por que será? Se você observar bem, verá que o carro que possui maior massa é o que acelera menos (maior tempo), o que nos leva a concluir que uma massa maior provoca uma aceleração menor. Tudo isso está de acordo como que diz a 2a Lei de Newton, também conhecida como Lei Fundamental da Dinâmica (o termo Dinâmica vem da palavra grega dynamis, que significa “força”): Em termos matemáticos, podemos escrever: a F m F ma Na fórmula acima, F é força que atua sobre o corpo (expressa em newtons), m é massa (expressa em quilogramas) e a é a aceleração por ele sofrida (medida em m/s2). A relação acima é válida também para o caso em que o corpo está sujeito à ação de várias forças. Neste caso, as forças devem se somar vetorialmente, como veremos adiante, e o símbolo F da fórmula acima representa a resultante da soma das forças. Conversão de velocidades As velocidades normalmente são expressas em quilômetros por hora (km/h), como nos velocímetros de carros e motos. No entanto, quando precisamos calcular acelerações, devemos converter esses valores para metros por segundo (m/s). Para converter de km/h para m/s, basta dividir por 3.6. Massa ou peso? Você já teve ter observado que é mais difícil empurrar (ou parar) um caminhão do que um automóvel, porque o caminhão tem maior inércia, ou seja, a tendência do caminhão em manter o seu estado de repouso ou movimento é maior do que a do automóvel, que é mais leve. Esse tipo de comparação leva à conclusão de que a inércia de um corpo depende da sua massa: o corpo com maior massa tem mais inércia. No entanto, o conceito de massa é comumente confundido com o termo “peso”, e por isso chamamos de “pesagem” ao ato de medir a massa na balança. Nos livros de Física (e no vestibular) você costuma encontrar o conceito de peso, como sendo a força que a Terra exerce sobre um corpo, devido a ação da gravidade, ou seja, o conceito físico de peso representa uma força, e portanto, é diferente do conceito de massa. Para evitar confusão, neste texto vamos usar a denominação força-peso, para representar essa força; quanto à palavra “peso”, continuaremos a usá-la no sentido corriqueiro, como sinônimo de massa. Note que massa é uma grandeza invariável, independente do local onde é medida, enquanto a força-peso depende da gravidade. Assim, por exemplo, se levarmos um corpo para a Lua, sua massa permanecerá a mesma, mas a força-peso se tornará cerca de 6 vezes menor. Isso acontece porque a gravidade na Lua é 6 vezes menor do que a gravidade da Terra. A relação entre massa e força-peso, é obtida da 2a Lei de Newton, como: FP m g Na fórmula cima, para obtermos o valor da força-peso (FP), devemos colocar o valor da massa do corpo no lugar da letra m, e o valor da aceleração da gravidade no lugar da letra g. A fórmula acima expressa uma relação fácil de memorizar: FORÇA PESO = M ASSA × GRAVIDADE Lembre-se que a força-peso deve ser expressa em newtons, e a massa m deve ser expressa em quilogramas. A unidade de medida de força A unidade de medida de força no S.I (obrigatória quando usamos a fórmula da Lei Fundamental da Dinâmica) é o newton, em homenagem ao famoso físico inglês Isaac Newton. A medida de 1 newton corresponde à força necessária para suspender um objeto de aproximadamente 100 gramas. Capítulo 5: Força e movimento 11 Exercícios 1. Determine a aceleração produzida por uma força de 18 N, sobre um corpo de massa 3 kg. 2. Determine a intensidade da força que produz uma aceleração de 3 m/s2, em um corpo de massa 9,6 kg. 3. Uma força constante de 40 N imprime a um corpo uma aceleração de 8 m/s2. Qual será a aceleração desse mesmo corpo, se a intensidade da força for de 15 N? As forças de atrito aparecem em situações como arranhões, raspadas, esfregadas, deslizamentos. De modo geral, o atrito surge sempre que tentamos deslizar uma superfície sobre outra. Quanto mais ásperas as superfícies, maior o atrito entre elas. Para expressar esse fato, inventou-se um valor chamado coeficiente de atrito, representado pela letra grega (lê-se “mi”). Os valores da tabela abaixo mostram o quanto um material tem de atrito no contato com outros. 4. Em 3 segundos, a velocidade de um carro de massa 900 kg passa de 54 km/h para 0. Supondo que a força resultante que parou o carro seja constante: A) Calcule a intensidade dessa força; B) Calcule o peso do carro; 5. Incluindo o atrito Uma força constante aplicada durante 2 segundos em um corpo A, produz uma variação de 6 m/s em sua velocidade. A mesma força aplicada em outro corpo B durante 5 segundos, produz uma variação de velocidade de 10 m/s. Qual dos dois corpos possui maior massa? 6. Um bloco de 5 kg é puxado sobre uma superfície horizontal, por uma força horizontal F1, e experimenta uma aceleração de 6 m/s2. A) Determine a intensidade da força F1, considerando que o bloco se desloca sem atrito. B) Qual deve ser a massa do bloco, para que a aceleração reduza à metade (considere a mesma força do item A)? 7. A) B) C) D) Antes de partir em viagem espacial, um astronauta mede a sua massa, e a balança registra 100 kg. Determine a força-peso que atua sobre o astronauta: Na superfície da Terra, onde g=10 m/s2. Em órbita, a 1000 km de altitude, onde g=7,5 m/s2. Na superfície da Lua, onde g=1,7 m/s2. O que acontece com a massa do astronauta, durante a viagem espacial? 8. Na Lua, onde a aceleração da gravidade é seis vezes menor do que na Terra (g = 1,7 m/s2 ), a força-peso que atua sobre um astronauta é 110 N. A) Qual é a massa do astronauta? B) Qual o valor da força-peso, medido na Terra? 9. Para você pensar: A) Um corpo pode ter massa nula? E a força-peso? Explique. B) Um corpo está sobre uma superfície horizontal sem atrito. Qual a menor força capaz de deslocá-lo? Explique. Lembrete: Quando o valor da força vem expresso em quilogramaforça (kgf), é preciso transformar para a unidade SI (newton), antes de usar na fórmula F=m.a. A relação de conversão é: 1 kgf = 9,8 N ≈10 N Por que se usa o quilograma-força? O uso do quilograma-força (kgf) como unidade de força é bastante prático, exatamente pelo fato de neste caso a massa e a força-peso são expressos pelo mesmo valor. Note que a força de 1 kgf corresponde à força necessária para suspender um corpo de 1 quilograma, ou seja, é aproximadamente 10 vezes maior do que a medida de 1 newton, como mostra a relação apresentada acima. Além disso, quanto maior o peso de um corpo sobre uma superfície, maior a força necessária para arrastá-lo. Isto ocorre, porque quanto mais forte o contato entre duas superfícies, maior o atrito entre elas. Uma maneira matemática de expressar as idéias descritas acima, é através da fórmula: FATRITO = •FNORMAL onde FNORMAL representa a intensidade da força que comprime os as superfícies em contato. Para um corpo apoiado sobre uma superfície horizontal, a força normal é igual à força-peso do corpo. Quando consideramos o atrito, na aplicação das Leis de Newton, especialmente a Lei Fundamental da M ecânica, devemos lembrar que a força de atrito se opõe ao movimento, e portanto, contribui negativamente para a soma das forças. Assim, a resultante das forças que atuam sobre o corpo é determinada como: F = F MOTORA - FATRITO onde FMOTORA representa a força que produz o movimento do objeto, e FATRITO é a força contrária que aparece devido ao atrito. Exemplo: Um tijolo de massa 2 kg, é arrastado sobre uma superfície horizontal de madeira, por uma força “motora” de 20 N. Determine a aceleração sofrida pelo bloco. Resolução: Usando a tabela, a força de atrito que atua sobre o tijolo é: FATRITO = •FNORMAL = 0,6•20 = 12 N de modo que a resultante das forças que atuam sobre o tijolo será: F = FMOTORA - F ATRITO = 20 - 12 = 8 N Aplicando a 2ª Lei, resulta: F = m•a ==> 8 = 2•a ==> a = 8÷2 = 4 m/s2 Exercícios: 1. Um bloco de 2 kg é arrastado por uma força de 20 N, sobre uma superfície cujo coeficiente de atrito. Qual é a aceleração do bloco? 2. A) B) C) Um bloco de 3 kg, inicialmente em repouso, é puxado por uma força de 50 N, sobre uma superfície de borracha. Qual o valor da força de atrito que atua sobre o bloco? Qual a aceleração que o bloco experimenta? Qual deveria ser o valor mínimo do coeficiente de atrito, para que o corpo não saia do lugar (aceleração nula)? Capítulo 3:Capítulo Leis de Newton 6: Movimento de rotação (voltas e giros) Quando fazemos um levantamento dos tipos de movimentos estudados na Mecânica, vemos que grande parte deles são rotações, i.e, movimentos onde os corpos descrevem voltas ou giros em torno de um eixo. Eles aparecem no funcionamento de engrenagens, rodas ou discos presentes nas máquinas, motores, veículos e muitos outros tipos de brinquedos. Observe que quando falamos do movimento de rotação propriamente dito, estamos tratando de um corpo (geralmente grande) que gira em torno de si mesmo, como um pião, uma bailarina, ou a própria Terra. Alternativamente, podemos aplicar os conceitos básicos do movimento de rotação, para estudar o movimento de corpos (ou pontos) que descrevem voltas em torno de um ponto ou eixo de rotação. Quando essas voltas constituem trajetórias circulares, o movimento é denominado movimento circular. Entrando nos eixos Para começarmos nosso estudo, seria interessantes tentarmos estabelecer as principais diferenças entre os movimentos de translação (como os movimentos estudados no capítulo 2) e os movimentos de rotação. Se você observar com mais atenção cada caso, perceberá que nas rotações os objetos sempre giram em torno de “alguma coisa”. A hélice de um helicóptero, por exemplo, gira presa a uma haste metálica que sai do motor (veja figura ao lado). No centro da haste, podemos imaginar um linha reta que constitui o eixo em torno do qual tanto a haste como as hélices giram. Da mesma forma, podemos considerar que a pequena hélice, localizada na cauda do helicóptero, também efetua uma rotação em torno de um eixo. Este eixo, porém, se encontra na direção horizontal. No caso de um bailarina rodopiando, ou da Terra, em seu movimento de rotação, não existe nenhum eixo “real”, mas podemos imaginar um eixo em torno do qual os objetos giram. Isso mostra que em todo movimento de rotação sempre é possível identificar um eixo, mesmo que imaginário, em torno do qual o objeto gira. Em alguns objetos, como uma bicicleta, por exemplo, temos várias partes em rotação simultânea, e portanto, podemos imaginar diversos eixos de rotação. DESAFIO ! Tente encontrar ao menos 7 eixos em sua bicicleta. Velocidade das rotações Um exemplo clássico de objetos que descrevem movimento de rotação, são os ponteiros de um relógio. Nesse caso, enquanto o ponteiro gira, seus pontos constituintes descrevem voltas (circunferências) em torno do centro do relógio. Observe que essas circunferências tem raios diferentes: os pontos mais distantes de centro percorrem distâncias maiores que os mais próximos. Assim, um mesmo corpo — o ponteiro do relógio — tem velocidades diferentes em pontos diferentes. Neste caso, o conceito de velocidade não é muito adequado para medir a rapidez com que se processa o movimento de rotação. Por outro lado, sabemos que uma hélice de ventilador gira mais rápido do que uma roda-gigante, e que esta por sua vez, gira mais rápido que o ponteiro dos minutos de um relógio. Como fazemos para expressar a rapidez com que uma coisa gira? A maneira mais simples é determinar quantas voltas completas o objeto dá em determinada unidade de tempo, o que chamamos de freqüência. Freqüência (símbolo f) é uma grandeza física que mede o número de voltas (ou giros) por unidade de tempo. M atematicamente a freqüência é definida como: f número de voltas intervalo de tempo Por exemplo, o ponteiro dos segundos de um relógio, efetua uma volta completa por minuto. Dessa forma, expressamos sua freqüência como 1 rpm = 1 rotação por minuto. Essa é uma unidade de freqüência bastante usada, principalmente para expressar a rapidez de giro de motores. A unidade de freqüência ciclos por segundo ou rotações por segundo (rps) é a unidade de freqüência, adotada pelo Sistema Internacional de Unidades (SI). Essa unidade recebe o nome de hertz (símbolo Hz), em homenagem ao físico alemão Heinrich Hertz, que estudou as propriedades de um tipo especial de movimento periódico: o movimento ondulatório, o qual também é caracterizado por uma freqüência de oscilação, que mede o número de ciclos (oscilações) por segundo. Conjugado com a freqüência de rotação, define-se uma outra grandeza chamada período. O período (símbolo T) mede o intervalo de tempo gasto em uma volta (ou giro). O período está relacionado com a freqüência, através da fórmula: T 1 f A tabela abaixo, mostra a relação entre as unidades de período (tempo) e as unidades de freqüência. Note que cada unidade de freqüência corresponde ao inverso de cada unidade de período correspondente. PERÍODO FREQÜÊNCIA hora (h) ciclos por hora (cic lo/h) minuto (min) ciclos por minuto (rpm) segundo (s) ciclos por segundo (rps) Por outro lado, como já dissemos a trajetória descrita pelos pontos da hélice de um ventilador, ou dos ponteiros de um relógio, são circunferências. Observe que mesmo que a velocidade de giro seja a mesma para todos os pontos, quanto mais afastados do centro (eixo) de rotação, maior deve ser a velocidade com que eles se deslocam, porque estes pontos descrevem circunferências maiores! Observe que, para um dado ponto situado a uma distância r em relação ao centro da circunferência, a distância percorrida por ele em uma volta, é igual ao comprimento da circunferência (d=2r), e o tempo gasto é igual ao período de rotação (t=T). Assim, a velocidade com que o ponto se desloca será: d 2π r v t T Alternativamente, lembrando que a freqüência é o inverso do período (f=1/T), podemos escrever: v = 2•r•f Assim, se conhecemos o tempo necessário para dar uma volta, usamos a primeira fórmula, e quando temos o número de voltas por unidade de tempo (freqüência), usamos a segunda fórmula. 12 Capítulo 6: Movimento de rotação (voltas e giros) 13 Exemplos 1. Um disco, de raio igual a 20 cm, executa 50 voltas por minuto (50 rpm). Qual é o período de rotação do disco? 8. Um ciclis ta dá duas pedaladas por segundo em sua bicicleta. Se a mensaDetermine a velocidade com que se deslocam os geira traseira é três vezes menor que a dianteira, e a roda da bic ic leta tem raio de 30 centímetros: pontos da periferia do disco. A) B) 7. Duas polias A e B, de raios 10 cm e 30 cm, respectiv amente, giram interligadas por uma correia. Se a freqüência da polia A é 120 rpm, qual deve ser a freqüência da polia B? Resolução: A) Note da tabela da página anterior, que se a freqüência está em rpm, a fórmula do inverso determina o período em minutos. Temos então: T 60 1 1 0,02 min 1,2 s f 50 A) Quantos metros a bic icleta anda em um segundo? B) Qual a dis tância percorrida pela bic icleta em um minuto? Dicas: 1) O número de pedaladas por segundo é a freqüência de rotação da mensageira dianteira. 2) Quando você não tem os valores dos raios, pode escolher um deles como sendo igual a 1. B) A v elocidade de um ponto na periferia, é determinada pela fórmula: v 2π r 6,28 20 104cm/s 1,04m/s T 1,2 2. Regra das polias: As polias A e B da figura tem raios rA=20 cm e rB=50 cm, e estão ligadas por uma correia. Sabendo que a polia A gira com freqüência de 25 rps, determine: A) o número de voltas por segundo (rps) da polia B. B) a velocidade com que a correia se desloca sobre as polias. Resolução: Para as duas polias A e B acima, v ale a regra: fA•rA = fB•rB onde fA e fB são as freqüências de rotação das polias A e B. A) Usando a regra acim a, temos: 25 •20 = fB•50 ==> fB = 500 ÷ 50 = 10 rps B) A v elocidade com que a correia se desloca sobre a polia é obtida aplic ando a fórmula v=2•r•f a qualquer uma das duas polias. Escolhendo a polia A, temos: v = 2•r•f = 6,28•20•25 = 125,6•25 = 3140 cm/s = 31,4 m/s Exercícios 1. Determine a freqüência de rotação da Terra (cic los/h), e o período de translação ao redor do Sol (em horas). 2. Um dis co em rotação efetua 360 voltas por minuto. Sabendo que o raio do dis co é de 2 metros, determine: A) O período e a v elocidade de rotação do disco. B) A velocidade dos pontos da periferia do disco. 3. Uma bic ic leta daqueles modelos do início do século XX, tem sua roda dianteira com raio de 50 cm, e a roda traseira com raio de 25 cm. Sabendo que a roda menor gira com freqüência de 4 rps, determine a freqüência da roda maior, e a velocidade com que a bicic leta se desloca (esta velocidade é igual á velocidade dos pontos da periferia das rodas). 4. Um ciclis ta dá três pedaladas por segundo em sua bic ic leta. Determine a freqüência e o período (em segundos) da mensageira dianteira da bic icleta. Se a mensageira tem raio de 15 cm, qual será a v elocidade de seus dentes? 5. Um automóvel percorre uma estrada com velocidade de 70 m/s, e seus pneus tem raio de 35 cm. Determine a freqüência de rotação das rodas do automóv el. Sugestão: a velocidade com que se deslocam os pontos da roda é igual à velocidade desenvolv ida pelo automóvel. 6. Qual a velocidade de um carro, cuja roda tem 40 cm de raio, e efetua 1200 rotações por minuto? O sentido das rotações Quando você quer dizer para alguém para que lado uma cois a está girando, o que você faz? Em geral as pessoas diz em algo como: gire para a esquerda, ou gire a manivela no sentido horário. Porém, tanto um quanto o outro jeito traz problemas. Uma roda gigante, gira no sentido horário ou antihorário? Para quem a vê de um lado é uma coisa, para quem vê do outro lado é o contrário. Faça o teste: ponha uma bicic leta de ponta-cabeça e gire sua roda. Observe-a a partir dos dois lados da bic icleta. Também não dá para definir claramente! Mas algum espertinho inv entou um jeito de definir o sentido de qualquer rotação, usando uma regra conhecida como regra da mão direita. Seus quatro dedos, fora o polegar, devem apontar acompanhando a rotação. O polegar estará paralelo ao eix o, e aponta o sentido da rotação. No desenho ao lado, definimos o sentido da rotação do disco como sendo “para dentro da vitrola”. Note que qualquer pessoa pode fazer isso, independente de sua posiç ão em relação à vitrola. Esta regra é aplicada especialm ente, nas operações de apertar e afroux ar parafusos. Quando os parafusos são fabricados nas industrias metalúrgicas, seu “enroscamento” é desenhado de modo que o sentido de avanço do parafuso coincida com o sentido apontado pela regra da mão direita. O mesmo acontece com as tampas de rosca, em garrafas e v idros de conserva. Você pode testar a regra da mão direita, tentando abrir a tampa de um garrafa térmic a. Observe o enroscamento dos dedos, e o sentido de avanço da tampa. A conservação das rotações não deixa ninguém sair do eixo! Como você sabe da Geografia, o planeta Terra apresenta um movimento de rotação em torno de um eix o im aginário, levemente inclinado em relação à direção norte-sul, o que nos proporciona as estações do ano. Sabe-se que o movim ento de rotação e a direção do eix o permanece praticamente inalterada por milhões de anos. Is to acontece, porque a Terra não tem para quem transferir seu movim ento de rotação. Quando um corpo não tem para quem transferir seu movimento de rotação (ou perde esse mov im ento lentamente), a tendência é manter inalterada a sua v elocidade de giro, e também a direção do eix o de rotação. Isso acontece, por ex emplo, com um pião. Enquanto ele tem quantidade de giro suficiente, tende a fic ar em pé. Á medida que vai perdendo giro, ele começa a “bambear” em torno do eix o vertical, até perder todo o mov im ento e cair. Também no caso da de uma bicic leta, enquanto suas rodas tem quantidade de giro sufic iente, seu eix o de rotação tende a se manter na direção horizontal, e conseqüentemente, a bic icleta se mantém em equilíbrio. Piões, bicicletas, e até mesmo o nosso planeta, “não saem do eixo’, graças a tendência de conservação da quantidade de giro. Capítulo 6: Movimento de rotação (voltas e giros) 14 Equilíbrio de rotação Existe um variedade de situações em que as forças aplicadas sobre um mesmo corpo são paralelas entre si, de modo que mesmo que a soma vetorial delas seja nula, o corpo adquire movimento de rotação (giro). Isto acontece, porque quando as forças são paralelas entre si, cada uma é aplicada em um ponto diferente do corpo, e suas linhas de ação não se cruzam. Neste caso, para que um corpo rígido permaneça em equilíbrio absoluto (repouso, sem girar) além da condição de equilíbrio translacional, resultante da 1ª lei de Newton (a resultante das forças deve ser nula), uma condição adicional conhecida como regra das alavancas, também deve ser satisfeita. A regra das alavancas: Quantas vezes você não precisou levantar um peso enorme, e sentiu dificuldades? Para essas e outras atividades importantes do nosso dia-a-dia, é que existem as alavancas. Com um ponto de apoio e um barra, nosso amigo da figura ao lado construiu uma alavanca. A força que ele faz em um a p ont a é a m p l iada (multiplicada) no outro lado da barra. O segredo da alavanca é ter dois “braços” de tamanhos diferentes. No braço maior ( d1) fazemos a força, e no outro (d2) colocamos a carga. No século III a.C. Arquimedes, após realizar várias experiências, chegou à conclusão de que quando uma alavanca está em equilíbrio, vale a igualdade: F1•d1 = F2•d2 Como se pode ver da figura acima, F1 representa a força aplicada no braço maior, e F2 representa a força (peso) aplicada no braço menor. Dependendo da posição da força aplicada, da carga e do ponto de apoio, as alavancas pode ser de três tipos: A) interfixas: o ponto de apoio (ponto fixo) fica situado entre a carga e a força aplicada. Ex: gangorras, tesouras, alicates, e as alavancas das figuras acima. B) inter-resistentes: quando a carga (força resistente) fica situada entre o ponto de apoio e a força aplicada. Ex: carrinho de mão, quebra-nozes, etc. C) interpotentes: a força é aplicada entre o ponto de apoio e a carga (força resistente). Ex: braço humano, cortador de unhas, pedal do acelerador de automóveis, etc. Exemplo 1: Como equilibramos uma gangorra de playground, com um pessoa de 60 kg de um lado, e uma criança de 30 kg do outro? Resolução: Chamaremos de d1 ao “braço de alavanca” da pessoa, e d2 o braço de alavanca da criança (braço de alavanca é a distância do ponto de aplicação da força até o ponto de apoio da alavanca). Aplicando a regra das alavancas, temos: 60•d1 = 30•d2 Para que os dois lados da igualdade dêem o mesmo número, o valor de d1 deve ser a metade do valor de d2. Portanto, o braço de alavanca da pessoa deve ser a metade do braço de alavanca da criança. Exercícios (com dicas de resolução) 1. Uma pessoa de 80 kg está sentada sobre uma gangorra, a 20 metros do seu ponto de apoio. A que distância, uma outra pessoa, de 60 kg deve se sentar no outro braço da gangorra, afim de equilibrá-la? Dica: Basta substituir os valores dados na regra da alavanca, e colocar “x” no lugar de d2. 2. No carrinho de mão da figura ao lado, considere que o peso seja P=80 kgf, e os braços da alavanca meçam d1=36 cm e d2=100 cm. Determine a intensidade da força F (em kgf) que deve ser aplicada, para sustentar o carrinho. 3. No carrinho da figura acima, se a força máxima aplicada for de 20 kgf, qual deve ser o comprimento (d2) do braço maior da alavanca? Dica (Problemas 2 e 3): O carrinho de mão se comporta como uma alavanca inter-resistente (a carga fica entre o ponto de apoio e o ponto de aplicação da força). Neste caso, basta aplicar a regra das alavancas, e colocar “x” no lugar da incógnita. 4. Usando a regra das alavancas, determine as forças exercidas pelos apoios A e B, na figura acima. Dica: Para determinar a força sobre o apoio A, considere a tábua como uma alavanca inter-resistente, com o ponto de apoio em B. 5. (Mack-SP) Qual é o peso (em kg) da pessoa que está sentada na extremidade direita da gangorra da figura acima? A) 108 kg; B) 63 kg; C) 54 kg; D) 36 kg; Dica: Use a forma generalizada da regra das alavancas (veja a observação no final da coluna ao lado). 6. (Mack-SP) No desenho ao lado, o quadro está pendurado em um prego, suspenso por um fio de 1 metro de comprimento, preso nos pontos A e B. Qual deve se a tração nos fios, para que o quadro fique em equilíbrio horizontal? Torque: o produto força x braço da alavanca define uma A) 12 N; B) 15 N; C) 20 N; D) 25 N; grandeza física denominada torque ou momento de força. Dica: O quadro se comporta como uma alavanca inter-resistente. Assim, quando atuam mais do que duas forças sobre um cor- Como o peso é aplicado no centro do quadro, o braço de alavanpo, a regra das alavancas pode ser generalizada assim: ca é de 40 cm, tanto para o peso (aliás, metade dele), quanto a soma dos torques que tendem a fazer o corpo (ou ala- para a força de tração, mas lembre-se que a força “efetiva” que vanca) girar no sentido horário deve ser igual à soma sustenta o peso do quadro é somente a componente vertical da dos torques que atuam no sentido oposto (anti-horário). tração no fio. Capítulo 7: Estudo dos líquidos Até agora estudamos as idéias sobre forças, movimentos e equilíbrio, que se aplicam a objetos sólidos. Neste capítulo (e no próximo) vamos estender estas idéias às substâncias que não possuem forma definida, genericamente conhecidas como fluídos. Os fluídos incluem tudo que não é sólido, isto é, os líquidos e os gases. No entanto, estamos especialmente interessados no estudo dos líquidos (o estudo dos gases será tratado no 2º ano); a parte da Física que estuda os líquidos em equilíbrio estático (em repouso) é denominada hidrostática, uma vez que o termo hidro vem de água, que é a substância que melhor representa o tipo de líquido considerado nesta parte da Física. O estudo da hidrostática remonta aos tempos de Arquimedes, filósofo e matemático grego que viveu na Sicília de 287 a.C a 212 a.C. Conta a lenda que Hierão, rei da província onde vivia o sábio, fornecera ao joalheiro da corte certa quantidade de ouro, para que este lhe confeccionasse uma coroa. Entretanto, ao receber a encomenda, desconfiou de que o artesão misturara prata e ouro, embolsando parte do ouro.. Coube a Arquimedes descobrir se houve fraude ou não, sem destruir a peça. Depois de passar longo tempo tentando resolver o problema, a inspiração veio para o sábio ao notar o transbordamento de água quando mergulhou numa banheira na casa de banhos públicos. Entusiasmado com a descoberta, Arquimedes ter ia saído completamente nu pelas ruas, gritando “eureka! eureka!”, palavra grega que significa “achei”. Infelizmente o trabalho em que Arquimedes deu a solução completa do problema não chegou até nós, mas especulase que o sábio tenha resolvido a questão raciocinando da seguinte maneira: “se a quantidade de água derramada pela coroa fosse igual à derramada pelo bloco de ouro, não teria havido mistura; porém, se fosse intermediária à derramada pelo bloco do ouro e à derramada por um bloco idêntico de prata, teria havido uma mistura dos dois metais”. Acredita-se que tenha nascido daí, a idéia de densidade, um conceito tão fundamental no estudo dos fluídos, quanto o conceito de massa no estudo dos sólidos. Neste capítulo vamos tratar o conceito de densidade aplicado aos líquidos, e um fenômeno intimamente relacionado, denominado empuxo. Densidade: a relação entre “quilo” e litro Uma propriedade característica dos fluídos, é o fato de p derem escoar. Devido a essa característica torna-se pouco prático medir a massa de um fluído diretamente na balança, sem antes colocá-lo dentro de um recipiente. Na prática, a massa de um fluído é relacionada com o volume que ele ocupa. Sabemos por exemplo, que um “quilo” (1 kg) de água ocupa mais ou menos o volume de 1 litro (1000 cm3). Por outro lado, a massa contida em 1000 cm3 de ferro é igual a 7,8 kg, enquanto a massa contida no mesmo volume de alumínio é igual a 2,8 kg. Dizemos que o ferro é mais denso (mais “pesado”) que o alumínio. Esta relação entre “quilo” (massa) e litro (volume) de um fluído, é denominada densidade, definida como: densidade massa volume d m V Na fórmula sombreada, devemos colocar o valor da densidade no lugar da letra d, o valor da massa no lugar da letra m, e o valor do volume no lugar da letra V. Como vemos da fórmula acima, as unidades de medida da densidade misturam unidades de massa e de volume. A unidade oficial (S.I) é o kg/m3, mas as unidades mais usados na prática são o g/cm3 (unidade C.G.S), e o kg/L (quilograma por litro). Note que essas duas unidades são equivalentes! A relação entre as unidades de densidade é: 1 g/cm 3 1 kg/L 1000 kg/m3 15 DENSIDADE DE ALGUMAS SUBSTÂNCIAS COMUNS SUBSTÂNCIA DENSIDADE (g/cm 3) SUBSTÂNCIA alumínio 2,8 gasolina 0,7 ferro 7,8 álcool 0,8 cobre 8,9 água 1,0 prata 10,5 glicerina 1,3 chumbo 11.3 ácido sulfúric o 1,84 ouro 20,0 mercúrio 13,6 .. DENSIDADE (g/cm 3) Exercícios de Fixação 1. Porque o óleo flutua na água? 2. Qual é a massa de uma chapa de ferro de volume igual a 650 cm3 ? 3. Qual é a massa contida em 2 litros de água? 4. Calcule o volume ocupado por 690 gramas de mercúrio? 5. A massa de um tanque cheio de gasolina é 50 kg. Se a massa do tanque vazio é 8 kg, qual é o volume ocupado pela gasolina desse tanque? 6. Um artigo recente, na revista Veja, informou que todo o ouro extraído pelo homem, desde a Antiguidade até os dias de hoje, seria suficiente para encher uma caixa cúbica de lado igual a 20 m. Sabendo que a densidade do ouro vale cerca de 20 g/cm 3, qual deve ser a massa total do ouro extraído pelo homem (expressa em toneladas)? A) 20; B) 400; C) 8000; D) 160000; 7. Qual a diferença de massa acusada na balança, quando colocamos um bloco de ferro de 4 cm3, e um bloco de ouro de 2 cm3? 8. Um aluno encontrou um bloco em forma de cubo de 2 centímetros de aresta. Percebendo ser constituído de material bastante pesado, colocou o cubo numa balança, a qual registrou 90,4 gramas. De que material era feito o cubo? NOTAS 1) A densidade de um material não depende do tamanho da amostra considerada. Quanto maior a amostra, maior a sua massa, mas a densidade permanece a mesma. Por exemplo, a densidade da água é a mesma, não importa se é uma gota ou uma garrafa! 2) Algumas pessoas costumam dizer, por exemplo, “O chumbo é mais pesado do que a cortiça” (sem fazer referência ao volume de cada um). Tal afirmação não está correta, pois é possível obter-se um grande volume de cortiça que seja mais pesado do que um pequeno volume de chumbo. Na realidade, a idéia que aquela pessoa deseja transmitir é: “O chumbo é mais denso do que a cortiça”. Isso é correto, pois para o chumbo temos d=11,3 g/cm3, e para a cortiça d=0, 24 g/cm3. 3) A relação prática “1 quilo ==> 1 litro” só é válida para a água; para qualquer outro líquido a massa (em “quilos”) é igual ao produto do volume (em litros) pela densidade do líquido!. Capítulo 7: Estudo dos líquidos 16 Empuxo e Princípio de Arquimedes Você alguma vez já se perguntou como é que os navios, que pesam toneladas, conseguem boiar? Para entendermos a Física que existe por trás desse fenômeno, vamos iniciar fazendo uma experiência simples. Pegue uma rolha de garrafa, e tente afundá-la dentro de um recipiente com água. Você deve ter sentido um resistência, uma dificuldade, ao tentar afundar a rolha, como se algo empurrasse a rolha para cima. Se você levar a rolha até o fundo, e depois soltá-la, verá que ela sobe imediatamente. De fato, para que a rolha suba, é preciso que haja uma força que a empurre para cima. M as que força é essa? Como ela surge? A figura ao lado, ilustra um objeto mergulhado dentro de um líquido. As setas indicam as forças que atuam sobre o objeto, devido ao peso do líquido que fica acima dele. Diferente do que acontece nos sólidos, essas forças não se aplicam somente na direção vertical (de cima para baixo); ao invés disso, as forças se aplicam em todas as direções como se tentassem “esmagar” o objeto. Observe que as forças que atuam na parte de baixo do objeto, isto é, aquelas que tendem a empurrar o objeto para cima, são mais intensas do que as forças que atuam na parte de cima do objeto (lembre-se que quanto mais profundo você estiver mergulhado, maior a quantidade de líquido que fica acima de sua cabeça!). Somando todas essas forças, vemos que existe uma força resultante com direção vertical e sentido para cima. Essa força é denominada empuxo, e é ela que empurra para cima os corpos mergulhados nos líquidos, inclusive a nossa rolha! Foi o filósofo e matemático grego Arquimedes, que viveu no século III a.C., quem descobriu, a partir de cuidadosas experiências, como calcular o empuxo. Arquimedes expressou as conclusões de suas observações, em um princípio que ficou conhecido como Princípio de Arquimedes: Sobe, desce ou fica parado? Nem todos os objetos que colocamos num líquido se comportam da mesma forma: alguns afundam, outros flutuam, e outros, descem um pouco e param no meio do líquido. Quando um objeto é mergulhado dentro de um líquido, fica sujeito a ação de duas forças: a força-peso (P), devido a ação da gravidade, e a força de empuxo (E) exercida pelo líquido. Para saber o que ocorre com o objeto, precisamos estudar a relação entre essas forças. Observe que o empuxo, depende da densidade do líquido, enquanto o peso depende da densidade do objeto, de modo que podemos prever o que ocorrerá quando um objeto é mergulhado em um líquido, simplesmente comparando as densidades de ambos. Podem ocorrer três situações, conforme mostra a tabela abaixo: FORÇAS DENSIDADES SITUAÇÃO P> E dOBJ > dLIQ O objeto vai para o fundo. Ex : uma pedra ou tijolo na água. P=E dOBJ = dLIQ O objeto fic a em equilíbrio, totalm ente imerso. Ex : um submarino. P<E dOBJ < dLIQ O objeto sobe no líquido, e flutua com uma parte emersa (fora d’água). Na tabela acima, a notação dOBJ representa a densidade do objeto, e a notação dLIQ representa a densidade do líquido onde o objeto está mergulhado. Corpos parcialmente imersos Quando um objeto mergulhado em um líquido, tem sua densidade menor do que a do líquido, ele tende a subir no líquido, e flutuar (boiar) com uma parte emersa (fora d’água). Neste caso, Todo corpo mergulhado num líquido sofre a ação de uma força o volume de líquido deslocado pelo objeto é menor do que o voluvertical de baixo para cima, denominada empuxo, cuja intensime total do objeto, e geralmente dade é igual ao peso do líquido deslocado pelo corpo. estamos interessados na fração (ou porcentagem) do volume total do Então, para medir o empuxo exercido sobre um corpo, objeto, que fica dentro d’água. A basta calcular o peso do líquido que o corpo desloca quando é condição de equilíbrio entre empumergulhado. Portanto, quanto mais líquido o corpo deslocar, xo e peso, para um corpo flutuante maior será o empuxo exercido sobre ele. (parcialment e imers o) permite estabelecer a seguinte fórmula: empuxo = peso do líquido deslocado No entanto, não é muito prático medir o peso (massa) do líquido deslocado. Ao invés disso, podemos medir o volume de líquido deslocado, e então usar a relação: massa = densidade × volume onde a densidade do líquido pode ser obtida numa tabela. Observe que para medir o volume de líquido deslocado, podemos utilizar um recipiente com uma escala graduada (em mililitros, por exemplo), de modo que para saber o volume de líquido deslocado, basta verificar o nível do líquido antes e depois de mergulhar o objeto! NOTA: O empuxo é numericamente igual à massa de líquido deslocado, quando é medido em quilograma-força (kgf). Assim, para calcular o empuxo, basta determinar a massa de líquido deslocado (em gramas), e então dividir por 1000; o resultado obtido dá o empuxo (em kgf). Mas nunca esqueça que o empuxo é uma força, enquanto a massa é uma medida da quantidade de matéria; são grandezas físicas diferentes! x VIMERSO d OB J VTOTAL d LIQ Na fórmula acima, a letra x representa a fração de volume do corpo, que fica imersa (mergulhada) dentro do líquido. Note que esta fração pode ser calculada como a razão (quociente) entre o volume da parte imersa (VIMERSO) e o volume total do objeto; alternativamente, podemos determinar esta fração dividindo a densidade do objeto pela densidade do líquido (para expressar este valor na forma de porcentagem você deve multiplicar por 100). EXEMPLOS 1. Um corpo de volume 500 cm 3 é totalmente imerso em um líquido de densidade 0,8 g/cm 3. . Determine o empuxo exercido sobre ele. Resolução: O empuxo (E) é igual ao peso (massa) de líquido deslocado,: m = 0,8.500 = 400 g E = 400 ÷ 1000 = 0,4 kgf 2. Descubra qual é a porcentagem do volume de um iceberg, que fica im erso (dentro d’água) e quantos por cento de seu v olume ficam fora d’água? Resolução: Basta div idir a densidade do objeto (gelo) pela densidade do líquido (água), e em seguida multiplicar o resultado por 100: x = 0,92 ÷ 1,0 = 0,92 92% (fração de volume im erso) Portanto, a porcentagem de volume que fic a fora dágua é de apenas 8%. Capítulo 7: Estudo dos líquidos 17 Exercícios Pressão sob re uma superfície 1. Um objeto de massa 2 kg e densidade 5 g/cm3, está imerso na água. Calcule o empuxo exercido pela água sobre o objeto. Se exercermos forças iguais sobre um corpo com duas facas de cortes diferentes, veremos que a faca mais afiada cortará com mais facilidade, pois sua área de contato com o corpo é menor que a área de contato da outra faca. A situação acima está relacionada com o conceito físico de pressão. Define-se pressão (símbolo p) como o quociente entre a intensidade da força aplicada sobre uma superfície, e o a medida da área dessa superfície, isto é: 2. Um corpo de 20 kg flutua totalmente imerso em um líquido. A) Qual é o empuxo exercido pelo líquido sobre ele? B) Sua densidade é maior, igual ou menor que a do líquido? 5. 6. Um corpo de volume 100 cm3 está mergulhado em um líquido de densidade 0,6 g/cm3. Se o corpo estiver em equilíbrio no interior do líquido, qual será a sua massa? Um corpo de massa 20 g está em equilíbrio totalmente imerso em um líquido de densidade 0,8 g/cm3. Qual é o volume do corpo? 7. Um objeto flutua em um líquido de densidade 0,6 g/cm3. Sendo o volume da parte imersa igual a 2/3 do volume total, calcule a densidade deste objeto. 8. Um iceberg dentro de um líquido, com aproximadamente 70% de seu volume submerso (dentro d’água). Descubra qual é o líquido onde o iceberg está mergulhado. 10. Um tronco está boiando na superfície de um lago. Metade do tronco fica fora d’água, e a outra metade fica imersa. Sabendo que o volume total do tronco é 10000 cm3: A) Calcule a força de empuxo que atua sobre o tronco. B) Qual é o peso do tronco? E a sua massa? C) Calcule a densidade do material que compõe o tronco. DESAFIOS 11. (Osec-SP) Um cubo de madeira de 10 cm de aresta, está imerso num recipiente contendo água e um óleo especial de densidade 0,6 g/cm3. A cubo está em equilíbrio de modo que 20% de seu volume fica imerso dentro da água e 80% dentro do óleo. Determine a massa do cubo. Dica: Calcule separadamente, os empuxos exercidos pela água e pelo óleo, sobre o cubo. A soma dos dois valores (empuxo total) é numericamente igual à massa do cubo! 12. (Fuvest-SP) Um bloco cúbico de isopor, de 1 metro de aresta, flutua imerso na água, com 10% de seu volume submerso. Qual é a densidade do isopor? Quantos centímetros de aresta ficariam submersos na água, para um cubo de isopor com 2 metros de aresta? Dica: Transforme as medidas de metros para centímetros, e use a fórmula dos corpos parcialmente imersos, para descobrir a densidade do isopor. Para responder a segunda pergunta, leia o balão no final da primeira página deste capítulo. Aplicações do empuxo Navios: o aço tem densidade maior do que a água, e portanto um corpo maciço feito de aço afundará na água. Porém, se o corpo tiver partes ocas, mesmo sendo feito de aço poderá apresentar densidade menor do que a água, e desse modo flutuará, como acontece nos navios. Balões: os balões, como aqueles usados em observações meteorológicas, são preenchidos com um gás menos denso do que o ar, de modo que o empuxo supera o peso e o balão sobe. Porém, ele não sobe “eternamente”, pois, à medida que a altitude aumenta, a densidade do ar diminui. Desse modo, há uma altitude máxima que o balão pode atingir, para a qual a densidade do ar fica igual à densidade do balão, e o balão pára de subir. pressão força área p F A Na fórmula acima, o símbolo F representa a intensidade da força exercida, e o símbolo A representa a medida da área de contato sobre a superfície. Na situação acima, dizemos que a faca afiada exerce uma pressão maior do que a faca “cega” (menos afiada), porque concentra a mesma força sobre uma área de contato menor. Unidades de medida da pressão: Como podemos ver da fórmula acima, as unidades de pressão misturam unidades de força e unidades de área. No S.I (Sistema Internacional de Unidades) a unidade de medida da pressão é denominada Pascal (Pa), a qual é definida como a razão entre a unidade de força (N) e a unidade de área (m2), isto é: 1 Pa = 1 N/m2 Na prática, é comum se utilizar outras unidades de pressão, especialmente o quilograma-força por centímetro quadrado (kgf/cm2), que recebe o nome de atmosfera (atm), por um motivo que veremos mais adiante, quando estudarmos a pressão atmosférica. Há ainda uma unidade de pressão bastante conhecida por quem calibra pneus, e que chamamos de “libra”. Trata-se na realidade, de uma unidade britânica denominada libra-força por polegada ao quadrado, que em inglês se escreve pound per square inches (psi). Na tabela abaixo, relacionamos as principais unidades de pressão: Unidade Símbolo Equivalência pascal Pa N/m2 atmosfera atm kgf/cm2 libra psi lbf/pol2 A relação de conversão entre essas unidades é: 1 atm = 14,2 psi = 100.000 Pa Exercícios 1. José tem 1,80 m de altura, 65 kg e usa sapatos 42. Pedro tem 1,60 m de altura, 65 kg, e calç a sapatos 38. Qual dos dois exerce maior pressão sobre o solo? 2. Aplica-se uma força de intensidade 8 N sobre uma superfície de área 0,004 m 2. Calcule a pressão (em Pa) exercida por essa força sobre a superfície? 3. A água contida em um tanque exerce uma pressão de 40 Pa sobre sua base, um retângulo de 2 m por 5 m. Calc ule a força exercida pela água? 4. A área da base de um cilindro é de 4 cm2, e sua massa é de 8 kg. Colocando o cilindro verticalmente (em pé) sobre uma mesa, qual a pressão que o cilindro exerce sobre a mesa? 5. Um tanque de água tem área da base igual a 2000 cm2, e contém 800 litros de água. Qual é a pressão ex ercida pela água sobre o fundo do tanque? Ex presse o resultado em atm e em pascal? 6. Qual a pressão exercida por 1000 litros de água, sobre um tanque cuja base circular mede 2000 cm2? Dê o resultado em atm e em pascal? Capítulo 7: Estudo dos líquidos 18 Pressão atmosf érica Pressão hidrostática O planeta Terra é envolvido por uma camada de gases denominada ar atmosférico ou simplesmente atmosfera. Como o ar atmosférico tem peso, ele exerce uma pressão sobre a superfície terrestre, denominada pressão atmosférica. A pressão atmosférica foi determinada pelo físico italiano Evangelista Torricelli (1608-1647), discípulo de Galileu. Ele encheu um tubo de vidro com mercúrio, e emborcou a extremidade tampada com o dedo, dentro de uma cuba contendo o mesmo líquido. Ao destampar o tubo, verificou que o mercúrio no tubo descia um pouco, e estabilizava a uma altura de 76 cm. Torricelli concluiu então que a pressão atmosférica é igual à pressão necessária para sustentar uma coluna de mercúrio de 76 cm de altura. O que acontece quando uma pessoa mergulha na água? Acima de sua cabeça existe, além da coluna de ar, uma coluna de água. Esta coluna de água também tem peso, e portanto, também exerce pressão sobre o mergulhador, denominada pressão hidrostática. De modo geral, a pressão em um líquido varia com a profundidade. Um mergulhador sente maior pressão à medida que aumenta a profundidade de mergulho. Nas grandes profundidades, um submarino pode ser destruído pela pressão da água. De fato, perfurando um recipiente com líquido, em dois pontos distintos, observamos que o jato é mais forte no orifício inferior, pois a pressão aumenta com a profundidade. A relação entre a pressão hidrostática e a profundidade no interior de um líquido, é determinada pela lei conhecida como: Princípio Fundamental da Hidrostática (Lei de S tevin): A pressão hidrostática em um ponto qualquer no interior de um líquido, é proporcional à densidade do líquido e à altura da coluna de líquido acima do ponto considerado. Se a superfície do líquido está exposta à atmosfera, então devemos adicionar a pressão exercida sobre a superfície livre do líquido, que é igual à pressão atmosférica. Isto significa que: A pressão total no fundo do mar é igual à pressão da coluna água (pressão hidrostática) mais a pressão da coluna de ar acima da superfície (pressão atmosférica). Assim, até hoje os livros didáticos usam a expressão centímetros de mercúrio (símbolo cmHg) como uma unidade de medida de pressão. Posteriormente, verificou-se que o efeito da pressão atmosférica sobre nós (ao nível do mar), equivale ao peso de 1 quilograma sobre cada centímetro quadrado de nosso corpo, ou seja, o valor da pressão atmosférica ao nível do mar é aproximadamente 1 kgf/cm2; por esse motivo, a unidade de pressão kgf/cm2 recebeu o nome de atmosfera (símbolo atm). Temos então: patm = 1 atm = 76 cmHg =100.000 Pa Como a pressão atmosférica resulta diretamente da força exercida pelo peso do ar, e o peso do ar depende da quantidade de moléculas que existem lá para cima, então quanto menor for a espessura da atmosfera menor será sua pressão, e vice-versa. Isto significa que a pressão atmosférica diminui com a altitude, isto é, com a altura do local, em relação ao nível do mar. O dispositivo que serve para medir a pressão atmosférica é denominado barômetro. Na prática um barômetro é constituído de um tubo em forma de U, contendo mercúrio, e fechado em uma das extremidades. Para pensar! Se na experiência de Torricelli, fosse usado outro líquido ao invés de mercúrio, qual seria a altura da coluna de líquido suportada pela pressão atmosférica? Só para ter uma idéia, se fosse usado água, a altura da coluna seria de 10 metros! Isso explica porque Torricelli escolheu o mercúrio. Na tabela abaixo, mostramos essa altura, para alguns líquidos familiares: Líquido Densidade (g/cm3) Altura da coluna (m) água 1,0 10 álcool 0,8 12,5 gasolina 0,7 14 glicerina 1,25 8 Cálculo da pressão no interior de um líquido Para calcular a pressão no interior de um líquido, vamos usar um esquema prático que fornece o resultado em atmosferas (kgf/cm2). Se você quiser o resultado em outra unidade, basta usar a relação de conversão dada na coluna anterior. M as antes de aplicar o esquema prático, é necessário identificar em que tipo de recipiente o líquido está contido. A) Recipiente fechado: Trata-se da situação em que o líquido está contido em um recipiente hermeticamente fechado, isto é, um recipiente que não permite a entrada de ar. Nesse caso, a pressão total no interior do líquido é igual à pressão hidrostática. B) Recipiente aberto: Aqui estão incluídas todas as situações em que temos um líquido exposto à atmosfera, ou contido num recipiente aparentemente fechado, mas que permite a entrada de ar. Nesse caso, a pressão total no interior do líquido é igual à pressão hidrostática (pressão da coluna de líquido) mais a pressão atmosférica (pressão da coluna de ar acima da superfície). Uma vez identificado o tipo de recipiente onde o líquido está contido, usamos o esquema prático para determinar a pressão a hidrostática. M as afinal, que esquema prático é esse? Trata-se de aplicar uma simples regra de três, conforme mostramos abaixo: I. Se você quiser achar a pressão hidrostática numa determinada profundidade, digamos 50 metros, basta montar a regra de três: 1 atm —— 10 m x —— 50 m II. Se você já conhece o valor da pressão hidrostática (digamos que seja 20 atm), e quer achar a profundidade correspondente, a regra de três fica assim: 1 atm —— 10 m 20 atm —— x Se ao invés da água for outro líquido, no lugar do 10 devemos usar o valor correspondente ao líquido, na terceira coluna da tabela ao lado. Capítulo 7: 9: Estudo dos líquidos 19 Exemplos 1. Um barômetro de mercúrio é conectado a um pneu de automóvel, e verifica-se que o desnível entre as duas colunas de mercúrio é de 62 cm. Qual é a pressão no interior do pneu? Resolução: A pressão no ramo do barômetro conectado ao pneu corresponde à pressão do pneu. De acordo com a lei de Stevin: dois pontos de um líquido, situados numa mesma profundidade, tem a mesma pressão. Portanto a pressão do pneu é igual à pressão no outro ramo do barômetro, na altura da linha pontilhada da figura, ou seja, é igual à soma da pressão atmosférica mais a pressão da coluna de mercúrio que fica acima da linha pontilhada. Para achar a pressão hidrostática do mercúrio, inicialmente determinamos a altura da coluna:136-64 = 62 cm, e em seguida montamos a regra de três: 1 atm —— 76 cm x —— 62 cm Temos então: 76x = 1 . 62 x = 62÷76 = 0,8 atm A pressão no pneu será então: p = p atm. + p hidr= 1 + 0,8 = 1,8 at m 2. Qual seria a pressão deste pneu, se fosse medida em “libras” (psi), como nas máquinas dos postos de gasolina? Resolução: Basta transformar o valor obtido acima para psi, usando a fórmula de conversão apresentada na página anterior. Temos então: Tal que resulta: 1 atm ——14,2 psi 1,8 at m —— x 1x = 1,8 . 14,2 x = 25,5 psi Nos automóveis pequenos, os pneus são “calibrados” com aproximadamente 2 atm (28, 4 psi). De olho no vestibular! No vestibular (e outros concursos) costuma aparecer uma fórmula para calcular a pressão no interior de um líquido: p = p0 + d.g.h Nesta fórmula, a letra d representa a densidade do líquido (em kg/m3), a letra g representa a aceleração da gravidade (g= 10 m/s2 ), a letra h representa a profundidade (em metros) em que o corpo se encontra mergulhado; o símbolo p0 representa a pressão atmosférica (expressa em Pa) que deve ser adicionada, caso se trate de um líquido exposto à atmosfera. Exercícios 1. Qual é a pressão total no fundo de um lago com 10 m de profundidade? 2. O nível de água contida em uma caixa está 6 m acima de uma torneira. Qual é a pressão hidrostática exercida sobre a torneira? 3. (UFC-CE) Um mergulhador pode suportar uma pressão máxima de 10 vezes a pressão atmosférica. Calcule a profundidade máxima que o mergulhador pode atingir. 4. Determine o valor da pressão exercida pela coluna de mercúrio da experiência de Torricelli, expresso em unidades britânicas. 5. Um barômetro de mercúrio é conectado a um tambor de ar comprimido, e as duas colunas estabilizam-se com um desnível de 45 cm. Sabendo que a pressão atmosférica neste dia é de 76 cmHg, qual deve ser a pressão dentro do tambor? Confira o exemplo ao lado! 6. Determine a que profundidade se encontra um mergulhador dentro de uma piscina, sabendo que ele está sujeito a uma pressão de 1,4 atm. Exercícios complementares 7. Um recipiente de forma cilíndrica, hermeticamente fechado, possui 900 ml de álcool em seu interior. Sabendo que a altura do cilindro é de 25 cm, determine a pressão que o álcool exerce no fundo do recipiente. 8. Uma bailarina de massa 45 kg executa um movimento no qual apóia todo o peso de seu corpo sobre a ponta de uma só sapatilha. Sabendo que a ponta da sapatilha tem uma área de 2 cm2, determine a pressão que a bailarina exerce sobre o solo. 9. Sabendo que a densidade do óleo é de 0,8 kg/l: A) Quanto pesa o óleo contido em uma lata de 900 ml? B) Quantas latas de 900 ml podem ser preenchidas com 180 kg de óleo? 10. Submerso em um lago, um mergulhador constata que a pressão absoluta no medidor que se encontra em seu pulso corresponde a 1,6 atm. Determine a profundidade em que se encontra o mergulhador, em relação à superfície do lago. 11. Em um lago, a 10 m de profundidade, a soma da pressão hidrostática com a pressão atmosférica é aproximadamente 2 atmosferas (2 atm). No mesmo lago, a 20 metros de profundiPressão sanguínea dade, a soma da pressão hidrostática com a pressão atmosféO coração é um músculo que se contrai e se dilata periodicamenrica (medida em atmosferas) será: te. Durante a contração (sístole) o sangue é “empurrado” para as artérias. a) 12; b) 4; c) 3; d) 2,33; e) 2,50; Depois de circular pelo corpo, o sangue retorna pelas veias do coração, nele penetrando durante a dilatação (diástole). Em condições normais, ao 12. (UERJ) Um submarino encontra-se a uma profundidade de sair do coração e entrar nas artérias, o sangue tem uma sobrepressão 50 metros. Para que a tripulação sobreviva, um descompres(excesso de pressão acima da pressão atmosférica) de aproximadamente sor mantém o seu interior a uma pressão constante igual à 12 cmHg na sístole e 8 cmHg na diástole, o que os médicos chamam de pressão atmosférica ao nível do mar. A diferença de pressão “12 por 8”. entre o exterior e o interior do submarino é: No entanto, se a pessoa estiver em pé, é preciso levar em conta a A) 1 atm; B) 2 atm; C) 5 atm; D) 10 atm; E) 50 atm; lei de Stevin, a qual afirma que a pressão diminui com a altura. Assim, quando a pessoa se levanta muito rapidamente, provoca uma rápida dimi- 13. (U. Mackenzie-SP) Quando um mergulhador se encontra a nuição da pressão arterial no cérebro, o que pode causar momentânea 25 metros de profundidade na água do mar, a pressão que diminuição do fluxo sanguíneo do cérebro (até que o organismo se adapte ele suporta (expresa em atm) é de: à nova situação); desse modo, a pessoa pode sentir uma pequena tontura. A) 3,5 B ) 2,85 C) 2,35 D) 2,0 E) 1,85 atm