filosofia alemã: idealismo e romantismo

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filosofia alemã: idealismo e romantismo
“As coisas [Dinge] são chamadas “em si mesmas” [an-sich] na medida
em que é feita abstracção de todo o ser para outro [Sein-fürAnderes], o que significa, realmente, que são pensadas sem qualquer
determinação [Bestimmung], como Nada. Neste sentido, claro que é
impossível saber o que é a “coisa-em-si” [Ding-an-sich], na medida em
que a questão “o que é?” [Was?] pede determinações a serem
concretizadas; mas como as coisas a que se exigem determinações são
ao mesmo tempo coisas-em-si-mesmas [Dinge-an-sich], tal significa
precisamente sem qualquer determinação, sendo a impossibilidade de
responder implantada impensadamente na questão ou então daremos
apenas respostas absurdas.”
Hegel. Wissenschaft der Logik. I. 1. 1ª. 2º [Das Dasein]. B [Die Endlichkeit].a
[Etwas und ein Anderes]. Ed. Eva Moldenhauer/Karl Markus Michel. Frankfurt
aM: Surhkamp. 1969, 129-130.
“Para Aristóteles a substância é qualquer material formado de
um modo determinado. Esta mesa é uma substância porque
consiste em madeira cortada com uma forma particular. Difere
de outras mesas porque consiste numa matéria diferente (i.e., é
um diferente pedaço de madeira) e difere das cadeiras tanto na
sua matéria como na sua forma. Esta visão da substância é
chamada hilemórfica. (...) O novo modelo da substância está
enraizado em Descartes. A sua famosa discussão em torno da
cera torna este novo modelo muito claro.”
Franklin Perkins. Leibniz: a guide for the Perplexed. London/New York:
Continuum. 2007, 63-64.
“Tomemos como exemplo este pedaço de cera que acaba de ser
retirada da colmeia: ainda não perdeu a doçura do mel que continha,
retém algo do odor das flores de onde foi recolhido; a sua cor, a figura,
o tamanho são evidentes: é duro, frio, podemos tocar-lhe e, se lhe
batermos, emitirá um som. (...) Mas eis que enquanto falo, o
aproximamos do fogo: o que restava nele de sabor exala-se, o odor
desvanece-se, a cor muda, a fugira perde-se, o tamanho aumenta, tornase líquido, fica quente, mal podemos tocar-lhe, e ainda que lhe batamos,
não emitirá qualquer som. A mesma cera permanece depois desta
mudança? Temos de reconhecer que sim; e ninguém pode negá-lo.”
Descartes. Méditations. Paris: Garnier. 1967, 423-424 (Trad.port. R.Pereira. Porto: Rés. 2003,
31-32).
Vontade: coisa em si
Objectivações da Vontade
Ideias - A representação considerada
independentemente do princípio da razão
Representações
segundo o Princípio da Razão/
Princípio de Individuação
Peter Kunzmann et al. Atlas zur Philosophie
”O mundo é assim representação. Aliás, esta verdade está longe de
ser nova. Ela constitui já a essência das considerações cépticas
donde procede a filosofia de Descartes. Mas foi Berkeley quem
primeiro a formulou de uma maneira categórica; por isso prestou à
filosofia um serviço imortal ainda que o resto das suas doutrinas
não mereça muito durar. O grande erro de Kant, como exponho
no Apêndice que lhe é consagrado, foi de não reconhecer este
princípio fundamental.
Em compensação, esta importante verdade cedo foi admitida pelos
sábios da Índia visto que ela aparece como a essência da filosofia
vedanta”
Schopenhauer MVR §1
”Tenho de considerar aqui que sou um homem e, por conseguinte, tenho o
hábito de dormir e de me representar, nos meus sonhos, as mesmas coisas (ou
algumas menos verosímeis) que estes insensatos quando estão acordados.
Quantas vezes me aconteceu sonhar, de noite, que estava aqui, que me
encontrava vestido, que estava junto à lareira, embora estivesse
completamente nu, no meio leito? Neste momento parece-me que os olhos
com que olho este papel, e esta cabeça que movo, não estão adormecidos; que
é com um desígnio e com um propósito deliberado que estendo esta mão e
que a sinto: o que acontece no sono não parece tão claro nem tão distinto
como tudo isto. Mas pensando nisso cuidadosamente, lembro-me de ter sido
frequentemente enganado, quando dormia, por semelhantes ilusões...E,
detendo-me nestes pensamento, vejo tão manifestamente que não há indícios
concludentes, nem marcas suficientemente seguras através das quais se possa
distinguir vigília do sono, que fico muito surpreendido; e a minha surpresa é
tal, que é quase capaz de me convencer de que estou a dormir.”
Descartes. Méditations. Paris: Garnier. 1967, 406 (Trad.port. R.Pereira. Porto: Rés. 2003, 12-13).
George Romney. “Miranda”
”We are such stuff
As dreams are made of, and our
little life Is rounded with a sleep”
Shakespeare: The Tempest
4,1, 156-158
“Não é, de forma alguma, uma fantasia irracional pensar que, numa futura
existência, observemos o que consideramos como a nossa presente existência
como um sonho.” Edgar Allan Poe
”O mundo é assim representação. Aliás, esta verdade está longe de
ser nova. Ela constitui já a essência das considerações cépticas
donde procede a filosofia de Descartes. Mas foi Berkeley quem
primeiro a formulou de uma maneira categórica; por isso prestou à
filosofia um serviço imortal ainda que o resto das suas doutrinas
não mereça muito durar. O grande erro de Kant, como exponho
no Apêndice que lhe é consagrado, foi de não reconhecer este
princípio fundamental.
Em compensação, esta importante verdade cedo foi admitida pelos
sábios da Índia visto que ela aparece como a essência da filosofia
vedanta”
Schopenhauer MVR §1
”«O mundo é a minha vontade.» (...) A única coisa de que aqui
[neste primeiro livro] será feita abstracção (cada um, espero,
poderá convencer-se depois), é unicamente a vontade que
constitui o outro lado do mundo: num primeiro ponto de vista,
com efeito, este mundo apenas existe absolutamente como
representação; noutro ponto de vista ele apenas existe como
vontade. Uma realidade que não se pode reduzir nem ao primeiro
nem ao segundo destes elementos, tornando-se num objecto em
si (e é infelizmente a deplorável transformação que sofreu, entre
as mãos de Kant, a sua coisa em si), esta pretensa realidade,
dizia eu, é uma pura quimera, um fogo-fátuo que serve apenas
para transviar a filosofia que lhe dá acolhimento.”
Schopenhauer MVR §1
Experiência estética
“A nossa roda de Ixião já não roda” §38
1. Antepredicativo. Existe uma cognição própria à percepção,
conhecimento pré-conceptual, um “sentir” (Gefühl/feeling) prévio ao
juízo, assim como ao princípio da razão. No caso da experiência
estética, este sentir acontece quando há a contemplação das Ideias.
Logo, a verdadeira experiência estética é antepredicativa.
2. contemplação desinteressada, i.e. o sujeito estético (“puro sujeito
de cognição”) é “sem querer” (willenlos) na percepção da natureza
ou da arte e, como tal, sente “tranquilidade” para lá da alegria e do
tédio. Questões sobre o “quando”, “como”, “porquê” são anuladas
em função do que se apresenta à contemplação.
3. reconhecimento no objecto singular de uma Ideia e, deste modo,
subtracção neste processo de conhecimento ao princípio de razão.
4. universal nos seres humanos mas pouco comum. Só o génio
consegue realizá-lo de uma forma sistemática. Por sua vez, só o
génio artístico consegue incorporar uma Ideia numa forma sensível.
”O mundo não é mais do que o fenómeno das
Ideias multiplicado indefinidamente pela forma do
principium individuationis. (...) Mas a música que
vai para lá das Ideias é completamente
independente do mundo fenomenal; ela ignora-o
absolutamente e poderia, de certo modo, continuar
a existir mesmo que o universo não existisse,”
MVR §52
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