Cultura MINAS GERAIS TERÇA-FEIRA, 12 DE ABRIL DE 2011 - 8 Minas sobre tela FOTOS MARCO EVANGELISTA BDMG Cultural comemora o centenário de José Assunção de Carvalho, pintor do povo STÁ ABERTA, na Galeria de Arte do BDMG Cultural, exposição que celebra o centenário de nascimento do pintor José Assunção de Carvalho. Natural de Gandra, pequeno povoado do município de São Domingos do Prata, Assunção é um dos mais admirados pintores primitivos de Minas e assina obras que encantam o mundo. Uma das suas características é sempre homenagear, em cada tela, o povo mineiro e as cidades por onde passou. Ele morreu aos 92 anos e deixou para seus cinco filhos um grande acervo com imagens da cultura popular mineira. Durante sua trajetória, Assunção trabalhou como lavrador e barbeiro para sustentar a família. Passou por Nova Era e outras cidades do interior de Minas, até se estabelecer com a família e a barbearia em Itabira. Foi neste período que seus dons artísticos tomaram forma e, em 1953, ele pintou suas primeiras bandeiras religiosas, sem nenhum conhecimento didático sobre pintura. E Religiosidade As obras de José Assunção são caracterizadas por um estilo comprometido com a vida simples do povo mineiro, tendo como marca registrada os motivos religiosos. Suas obras retratam procissões e relembram festas populares que marcaram importantes momentos de sua vida. Márcio Sampaio, amigo da família e curador da exposição, ressalta a habilidade do pintor em retratar os fatos do cotidiano. "Ele foi um artista que mostrou, com fantasia e ingenuidade, o espaço em que viveu. Sua alegria e sensibilidade facilitaram o registro do ambiente festivo que o envolvia", afirma Sampaio. A filha do pintor, Margarida Carvalho, reforça a sensibilidade e a tranquilidade com que seu pai pintava, o que, de acordo com ela, pode ser visto em suas telas. Em relação ao interesse do pai pelos motivos religiosos, Margarida lembra que ele era um homem muito religioso. "A religião sempre esteve presente em nossa família, exatamente por causa de nosso pai. Todos os domingos a gente ia à missa", conta. Assunção fez de sua casa, em Itabira, o seu ateliê, e o quintal era o lugar preferido para pintar. "Meu pai trabalhou até o fim de sua vida em Itabira. As pessoas passavam pela rua e admiravam os trabalhos que ele fazia tão bem", diz Margarida. Do quintal de Itabira, os quadros com a assinatura de Assunção ganharam o Brasil e o mundo. Podendo ser encontradas em importantes museus nacionais e de países europeus, asiáticos e norte-americanos. A família tenta manter uma lista de compradores e os locais onde estão as obras do patriarca mas, como muitas foram vendidas para turistas em Ouro Preto, o controle nem sempre é exato. No currículo de José Assunção, há inúmeras exposições e importantes prêmios. Recentemente, a família recebeu, durante a abertura da exposição do pintor, que acontece no BDMG Cultural, em Belo Horizonte, a moção de aplauso aprovada pela Câmara Municipal de Itabira, tornando o ano de 2011 como "Ano do Centenário de Nascimento do Mestre José Assunção". A entrega foi feita pelo vereador e presidente da Câmara, Sebastião Leite e os vereadores Martha Mouzinho e Paulo Chaves. Além de consagrado pintor e chefe de família, Assunção também revelou tendências musicais. Durante sua carreira, atuou nos ambientes culturais das cidades por onde passou. Compositor e cantor, compôs inúmeras músicas, que se tornaram conhecidas no círculo que frequentava, inclusive as que fez para cada um de seus filhos. José Assunção sempre demonstrou seu gosto por cartas enigmáticas e charadas que, em meio aos desenhos, fazem parte do seu acervo de cadernos e almanaques. Quando a arte corre nas veias A família de José Assunção carrega no sangue o legado do patriarca. Entre filhos, netos e bisnetos, vários manifestaram aptidão para a pintura. Ana Lúcia Carvalho, a caçula, já participou de salões de arte e agradaram ao público. Margarida Carvalho, a outra filha, também já expôs suas telas. Agora, bisnetos do pintor seguem os passos do bisavô em seus primeiros traços. A mostra no BDMG é composta por quarenta obras, além de materiais utilizados pelo artista, manuscritos, cartas enigmáticas, charadas, premiações e homenagens que recebeu, fotos e material de divulgação que atestam o sucesso do pintor por mais de trinta anos. A curiosidade do acervo é um quadro inacabado, apresentando igrejas ainda sem portas ou janelas. Assunção faleceu em 2003, antes de conseguir concluir essa última obra. A Galeria de Arte do BDMG Cultural fica na Rua Bernardo Guimarães, 1600. A exposição, com entrada franca, pode ser visitada das 10 às 18 horas.