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A PSICOTERAPIA COMO PROCESSO DE LIBERTAÇÃO NA TERAPIA HUMANÍSTICA
INTRODUÇÃO
O principal objetivo deste artigo será contextualizar a terapia centrada na pessoa, a
psicoterapia e a psicologia humanística fazendo uma correlação entre as mesmas de forma a
proporcionar um melhor entendimento sobre a relação do terapeuta com o seu cliente.
A Terapia Centrada na Pessoa foi desenvolvida por Carl Rogers durante o processo de sua
formação, tendo como principal pressuposto que o homem é livre para escolher qualquer
direção, mas, na realidade, ele seleciona caminhos positivos e construtivos onde a presença do
terapeuta irá contribuir para direcioná-lo em crescimento pessoal e bem-estar psíquico.
Através das teorias de Rogers a psicoterapia passou a ter uma nova visão da pessoa humana.
Já a psicologia humanística centra-se na figura humana surgiu a partir da década de 50, com
mais ênfase nas décadas de 60 e 70 defende a idéia de que o ser humanístico é um dom que
prioriza o jeito de ver as pessoas e de se relacionar, através da visão do conjunto, das
limitações, qualidades e defeitos.
Há ainda a idéia da psicoterapia libertadora, defendida por Angerami-Camon (1995) que
afirma que para a psicoterapia tornar-se libertadora precisa antes libertar-se das amarras
teóricas que insistem em conceituar a existente humana de forma artificial e abstrata.
As três teorias quando estudadas em conjunto proporcionam uma idéia completa sobre como
se deve proporcionar um atendimento eficaz aos clientes através de um novo olhar da
psicologia clínica.
A TERAPIA CENTRADA NA PESSOA E A PSICOTERAPIA
A primeira abordagem sobre a terapia centrada na pessoa aconteceu através dos estudos do
psicólogo americano Carl Ransom Rogers que ao longo de sua vida pessoal e profissional foi
amadurecendo suas idéias de forma que nos dias atuais seus estudos têm fortes implicações
tanto na dimensão social quanto política.
Os estudos de Rogers buscaram, em um primeiro momento, aplicar diversos contextos de
diferentes realidades da psicoterapia individual, de grupo, ludoterapia, educação, relações de
trabalho, grupos sociais de encontros, relações diplomáticas e encontros comunitários.
Sua forma de praticar psicoterapia criou um novo sentido de valorização tanto do cliente (o
termo paciente foi abolido para se evitar a conotação de doença e passividade) quanto da
própria relação terapêutica, sobre a qual pesava uma hierarquização rígida de papéis. Além
disso, as condições essenciais para a transformação terapêutica foram descritas por ele com
extrema clareza.
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A PSICOTERAPIA COMO PROCESSO DE LIBERTAÇÃO NA TERAPIA HUMANÍSTICA
No que diz respeito a psicoterapia, devido ao grande número de teorias que buscam seu
embasamento, torna-se difícil se achar uma definição precisa do termo. Para Patterson e
Hidore (1999) a psicoterapia é um conjunto “inumerável de técnicas aplicadas a problemas
ilimitados com resultados imprevisíveis”.
A Psicoterapia busca explicar as anormalidades da mente, através de um modelo que os
médicos convencionaram adotar como forma de tratamento, objetivando a cura de
determinadas doenças. Em muitos casos assemelha-se aos tratamentos específicos de algumas
outras doenças da medicina convencional, contudo alia-se a psiquiatria e a psicologia clínica
como forma de embasar suas teorias. De acordo com Angerami-Camon (1995)
A psicoterapia traz em seu bojo a questão da libertação existencial como
determinante de sua fundamentação teórica e por assim dizer de sua própria
justificativa. É desolador o número de pacientes que buscam a psicoterapia, tentando
se libertar de seus sofrimentos e aguras existenciais, e que desavisadamente, vão de
encontro a caminhos que, ao invés de levá-los a essa tão almejada libertação, ao
contrário, cerceiam inclusive sua condição de homem. (p. 06)
Através dos estudos de Rogers, a psicoterapia passou por inúmeras transformações, visto ter
sido constante à necessidade de se encontrar um caminho próprio para sua atuação. De
acordo com as afirmações desse estudioso surge uma nova abordagem a partir de hipóteses,
baseada numa confiança na tendência do indivíduo para o crescimento, para a saúde e para a
maturidade; dava maior ênfase aos sentimentos do que à compreensão intelectual; à situação
imediata do que ao passado do indivíduo e considerava a relação terapêutica em si mesma
como uma experiência de crescimento (Rogers, 1977).
Foi dessa forma que surgiu a Terapia Centrada na Pessoa, que de acordo com Wood (1995)
citado por Messias (2001, p. 18) deve obedecer as seguintes etapas:
1. Ênfase na descrição e compreensão das atitudes do terapeuta.
2. Preocupação com métodos de psicoterapia.
3. Enfoque na experiência e nos processos internos.
Ainda segundo os mesmos autores a Abordagem Centrada na Pessoa aplica diversos
princípios da teoria rogeriana:
4. Aplicabilidade das idéias no campo da educação e aprendizado.
5. Enfoque nos trabalhos de relacionamento interpessoal.
6. Ênfase nos processos sociais e culturais.
Após toda a experiência adquirida a partir dos estudos da teoria de Rogers, em 1993 foi a vez
de Cury propor os estudos da psicoterapia centrada na pessoa, com ênfase nas atitudes de
empatia, aceitação positiva incondicional e congruência, no sentido de uma fenomenologia da
relação psicoterápica enquanto encontro de subjetividades num processo experiencial a dois.
De acordo com esta autora:
Nossa posição é a de que não estamos mais falando do terapeuta como fornecendo
apenas uma atmosfera de calor humano, genuinidade e empatia para o cliente
quando nos referimos a este modelo psicoterápico em sua fase atual. O terapeuta que
incorporou o conceito de experienciação e participa das aplicações correntes da
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A PSICOTERAPIA COMO PROCESSO DE LIBERTAÇÃO NA TERAPIA HUMANÍSTICA
Abordagem Centrada na Pessoa aos Grupos de Encontro e Workshops Intensivos
adquiriu uma perspectiva nova em relação à terapia individual: passou a considerá-la
como um grupo didático. Ao fazê-lo, redimensionou os elementos envolvidos no
processo, passando a conferir igualdade de posição às duas pessoas que se
encontram face-a-face, num processo a médio e longo prazo (Cury, 1993, p. 233)
Verifica-se, portanto, que a teoria defendida por Cury deriva da compreensão sobre a
psicologia humanística onde a figura do terapeuta vai muito além de um simples profissional,
mas reveste de um grande aliado no tratamento das patologias mentais inseridas no contexto
da psicoterapia, que serão discutidos nos tópicos a seguir.
A Abordagem Centrada na Pessoa (ACP) ou Terapia Centrada na Pessoa se diferencia das
outras principalmente por não haver técnicas. Segundo Rogers (ROGERS; KINGET, 1977,
p.9), o terapeuta precisa se esforçar plenamente o máximo possível em se conduzir como
pessoa e não como especialista. Assim, seu papel consiste em colocar em prática atitudes e
concepções fundamentais relacionadas ao ser humano e não na explicação de conhecimentos
e habilidades especiais.
PRINCIPAIS NOÇÕES DA TERAPIA CENTRADA NA PESSOA
TENDÊNCIA ATUALIZANTE: ENERGIA DA VIDA
De acordo com Rogers (1977) a tendência atualizante diz respeito ao fato de que todo
indivíduo tem a capacidade latente ou manifesta de compreender a si mesmo e a de solucionar
seus próprios problemas de forma suficiente para alcançar a satisfação e eficácia necessárias
ao funcionamento adequado de sua mente. Esta tendência é a mais essencial ao ser humano,
pois serve como impulsionadora ao pleno funcionamento do organismo e é responsável por
todas as funções, tanto físicas, quanto experienciais.
Essa parte da teoria ACP tem como principal objetivo que o indivíduo esteja sempre em
constante desenvolvimento de suas potencialidades, buscando o equilíbrio e o enriquecimento
enquanto pessoa ciente de suas possibilidades e limitações. “O que a Tendência Atualizante
procura atingir é aquilo que o sujeito percebe como valorizador ou enriquecedor – não
necessariamente o que objetiva ou intrinsecamente enriquecedor” (Rogers e Kinget 1977
p.41).
A NOÇÃO DO “EU”
Enquanto a anterior é a essência da teoria de Rogers, a Noção do “Eu” é considerada o pivô, é
quando o indivíduo percebe a ele mesmo, suas características, atributos, qualidades e defeitos,
capacidades e limites, valores e relações. A pessoa, então, adquiri a capacidade de se autoRevista Comunicar Psicologia, 2012, Maria Eliza Rosendo
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descrever e definir a própria identidade. Em conjunto com a Tendência Atualizante, a Noção
do “Eu” a pessoa passa a construir o próprio comportamento, sendo que a primeira indica a
dinâmica e a segunda regula o comportamento, ou ainda, a primeira fornece energia e a
segunda a direção. A Tendência Atualizante é contra tudo que afeta o “eu”. Na direção da
diminuição, desvalorização, contradição, etc., pois, ela age na conservação e enriquecimento
do eu. No entanto o sucesso ou a eficácia vai depender não da situação “real” ou “objetiva”, e
sim da situação como o individuo a percebe. A pessoa percebe a situação em função de sua
noção de seu “eu” (Rogers e Kinget 1977 p.44).
NOÇÃO DE LIBERDADE EXPERIENCIAL
De acordo com Rogers e Kinget (1977) a liberdade está diretamente relacionada com a
experiência e os fenômenos internos. É quando o indivíduo se sente livre para reconhecer e
elaborar suas experiências pessoais sem ser obrigado a negar ou desfigurar suas opiniões e
atitudes para manter afeição e apreço das pessoas que significam algo para ele. Desse modo, a
liberdade acontece quando o individuo percebe o que lhe é permitido expressar, pelo menos
verbalmente. Suas experiências, emoções e desejos tais e quais ele os experimenta,
independentemente de sua conformidade às normas sociais e morais que está inserido. Só se é
psicologicamente livre a partir do momento que não há obrigação de se negar ou deformar o
que experimenta, a fim de manter um afeto ou estima, por exemplo, daquelas que representam
um papel fundamental, seja na sua economia interna, seja na sua auto-estima.
PSICOLOGIA HUMANÍSTICA
Os primeiros relatos sobre a psicologia humanística surgiram a partir da década de 50, com
mais ênfase nas décadas de 60 e 70, quando aconteceram diversos movimentos liderados
pelos psicólogos conservadores contra as idéias do behaviorismo e da psicanálise, buscando
um novo olhar para a psicologia. A principal crítica ao behaviorismo referiam-se a sua
abordagem estreita, artificial e estéril da natureza humana, onde o homem era visto com uma
máquina, uma condicionalidade.
A teoria da psicologia humanística defende a idéia de que o ser humanístico é um dom que
prioriza o jeito de ver as pessoas e de se relacionar, através da visão do conjunto, das
limitações, qualidades e defeitos. Assim, o ser humano completo, ou seja, bio-psico-socialespiritual, jamais deverá ser comparado com uma máquina, não é singular, mais total e
completo e como tal, quando em tratamento com um terapeuta, deve ser analisado também na
sua totalidade (Silveira, 2009).
Para Finkler (2000) citado por Silveira (2009) apesar da grande variedade de estilos
profissionais frente às pessoas que o procuram, o psicólogo humanista se encontra em quatro
pontos em comum:
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A PSICOTERAPIA COMO PROCESSO DE LIBERTAÇÃO NA TERAPIA HUMANÍSTICA
1. Fixa sua atenção sobre a experiência da pessoa e procura compreender o significado
dessa experiência para a pessoa;
2. Procura compreender a pessoa na base de suas escolhas, da sua criatividade, de seus
valores e da sua auto-realização;
3. Considera importante a escolha dos aspectos problemáticos a serem tratados,
procurando aprofundar aqueles que têm relevância para a pessoa e encontrar o significado
que tem para a mesma;
4. Trata a pessoa com grande respeito à sua dignidade e valor, assim como se
empenha a ajudá-la a desenvolver todas as suas potencialidades.
O compromisso ético do terapeuta centrado na pessoa é com a promoção das forças de seu
crescimento. Difere das relações de ajuda usuais, que procuram “diagnosticar” e “resolver” os
problemas dos indivíduos, a terapia centrada na pessoa procura promover a autonomia do
cliente para que ele próprio possa decidir quais são os seus problemas e como poderá resolvêlos. A relação terapêutica centrada na pessoa não é uma relação tutelar, isto é, não é uma
relação que tem por objetivo oferecer apoio, orientação ou esclarecimento, como
tradicionalmente são as relações terapêuticas em outras abordagens. Ao contrário, o único
objetivo do terapeuta centrado na pessoa é promover a liberação da tendência atualizante do
cliente. De acordo com Rogers (1942/1997, p. 28): “A terapia não é uma forma de fazer algo
para o indivíduo ou de induzi-lo a fazer algo sobre sim mesmo. É antes um processo de
libertá-lo para um amadurecimento e um desenvolvimento normal, de remover obstáculos
que o impeçam de avançar”.
Na terapia centrada no cliente, a pessoa é livre para escolher qualquer direção, mas, na
realidade, ela seleciona caminhos positivos e construtivos. Só é possível explicar isto em
termos de uma tendência direcional inerente ao organismo humano – uma tendência para
crescer, se desenvolver e realizar plenamente seu potencial.
É comum se observar que a representação social do psicoterapeuta é a de uma pessoa
revestida de alto poder de resolução de problemas, um “expert” em psicologia, ou seja,
alguém que adquiriu, através dos anos de estudos, um conhecimento teórico que lhe habilita a
discernir o que é o adequado, o correto, o maduro e o ideal para o comportamento das
pessoas. Considera-se que o psicoterapeuta possui um “poder” de avaliar e orientar a conduta
dos indivíduos. A primeira dificuldade enfrentada pelo terapeuta centrado na pessoa,
portanto, é a de abrir mão dessa representação social e não se colocar na relação terapêutica
como um expert detentor de um saber e de um conhecimento “superior” ao cliente.
Neste sentido, Freire (2000) afirmam que a terapia centrada na pessoa pode ser vista
como uma arte, onde a vivência das atitudes de congruência, consideração positiva,
incondicional e a compreensão empática não podem ser alcançadas apenas por meio de um
aprendizado teórico ou intelectual. As atitudes não são apenas “técnicas” que o terapeuta
aprende a utilizar através de algum “treinamento”. Pelo contrário, precisam ser vivenciadas
de forma genuína, autêntica, sincera e espontânea.
Dessa forma, essas três condições podem ser encontradas em outras relações além do
terapeuta-cliente, entretanto, Rogers (1957, apud Freire, s.d, [s.p]) estabelece para a relação
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terapêutica uma hipótese mais completa, postulando seis condições necessárias e suficientes
para que ocorra a mudança na personalidade:
a) Que duas pessoas estejam em contato psicológico;
b) Que a primeira, a quem chamaremos cliente, esteja num estado de incongruência,
estando vulnerável ou ansiosa;
c) Que a segunda pessoa, a quem chamaremos de terapeuta esteja congruente ou
integrada na relação;
d) Que o terapeuta experiencie uma consideração positiva incondicional pelo cliente;
e) Que o terapeuta experiencie uma compreensão empática do quadro interno de
referência do cliente e se esforce por comunicar esta experiência ao cliente;
f) Que a comunicação ao cliente da compreensão empática do terapeuta e da
consideração positiva incondicional seja efetivada, pelo menos num grau mínimo.
Desse modo, nenhuma outra condição se é necessária, quando estas seis condições
estão presentes.
AS CARACTERÍSTICAS DE UMA RELAÇÃO DE AJUDA
“Meu interesse pela psicoterapia gerou meu interesse por toda espécie de relação de ajuda.
Entendo por esta expressão uma relação na qual pelo menos uma das partes procura promover
na outra o crescimento, o desenvolvimento, a maturidade, um melhor funcionamento e uma
maior capacidade de enfrentar a vida.” (Rogers, 2009).
Ainda segundo este autor, a relação terapêutica deve ser alicerçada no respeito, consideração e
valorização do outro. Os elementos atitudinais na relação entre o terapeuta e o cliente são
responsáveis pelas modificações verificadas: a confiança que tinham sentido no seu terapeuta;
o terem sido compreendidos por ele; o sentimento de independência que tiveram ao fazer
opções e tomar decisões. O procedimento do terapeuta que os clientes consideravam de maior
ajuda era o de este clarificar e exprimir abertamente o que era trazido vagamente e com
hesitação pelo cliente. A atitude de querer compreender o outro na relação é fundamental para
o crescimento do outro e para que essa relação continue. Para o cliente a orientação teórica do
terapeuta tem pouco significado, mas as atitudes e os sentimentos deste são mais importantes,
pois a percepção do cliente se foca nesses pontos. A percepção com relação à atitude está
presente na relação cliente/terapeuta.
Outros pontos destacados por Rogers (2009) para que o terapeuta crie uma relação de ajuda
são:
1- Ser de uma maneira que possa ser apreendida pela outra pessoa como merecedora
de confiança;
2- Ser suficientemente expressivo enquanto pessoa para que o que sou possa ser
comunicado sem ambigüidades;
3- Ser capaz de vivenciar atitudes positivas para com o outro, tais como atitudes de
calor, de atenção, de afeição, de interesse, de respeito;
4- Ser suficientemente forte como pessoa para ser independente do outro;
5- Estar seguro no interior de mim mesmo para permitir ao outro ser independente;
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6- Permitir-me entrar no mundo dos sentimentos do outro e das suas concepções
pessoais e vê-los como ele os vê, sem julgamentos;
7- Poder aceitar todas as facetas que a outra pessoa me apresenta, mostrando como ela
é, aceitando a pessoa de forma incondicional;
8- Ser capaz de agir com sensibilidade na relação para que meu comportamento não
seja percebido como ameaça;
9- Poder libertar o cliente do receio de ser julgado pelos outros;
10- Ser capaz de ver o outro indivíduo como uma pessoa em processo tornar-se ela
mesma.
A PSICOTERAPIA COMO AÇÃO LIBERTADORA
Angerami-Camon (1995) defende que uma psicoterapia para tornar-se libertadora precisa
antes libertar-se das amarras teóricas que insistem em conceituar a existente humana de
forma artificial e abstrata.
A psicoterapia traz em seu bojo a questão da libertação existencial como
determinante de sua fundamentação teórica e por assim dizer de sua própria
justificativa. É desolador o número de pacientes que buscam a psicoterapia,
tentando se libertar de seus sofrimentos e agruras existenciais, e que
desavisadamente, vão de encontro a caminhos que, ao invés de levá-los a essa tão
almejada libertação, ao contrário, cerceiam inclusive sua condição de homem.
(p. 06)
O simples fato do homem buscar “ajuda” através do processo psicoterápico é um indício
seguro de sua condição mutante, pois a capacidade dessa busca pode ser vista como sendo
uma tentativa de decisão para se alcançar patamares mais altos do que aqueles dimensionados
até então. Assim, sentimentos como o amor, o ódio e outros sentimentos vivenciados pelo
homem devem ser apreendidos e respeitados em sua essência, e não como especulações
teóricas de coisificação do homem que não respeitam, inclusive sua própria essência
(Angerami-Camon, 1995).
No que diz respeito a essa particularidade de ser libertadora, Rogers acreditava que a função
do terapeuta é a de liberar (ou libertar) o potencial do cliente, e que para isso suas atitudes
devem ser cuidadosamente analisadas para que assim possa fluir de maneira satisfatória.
Messias (2001) afirma que, se o terapeuta fosse capaz de permitir a livre expressão dos
sentimentos do cliente, independente de serem sentimentos negativos ou positivos e se ele
pudesse abdicar da direção da terapia fazendo com que o cliente assumisse a responsabilidade
pelo seu próprio processo de transformação, então estaria colaborando para o crescimento e
transformação de personalidade de seu cliente.
Esse ponto de vista tornou-se bastante polêmico na época. Rogers (1977) afirma que:
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A PSICOTERAPIA COMO PROCESSO DE LIBERTAÇÃO NA TERAPIA HUMANÍSTICA
Parece genuinamente perturbador para muitos profissionais concordar com o
pensamento de que esse cliente, sobre quem eles têm estado exercitando suas
habilidades profissionais, saiba realmente mais sobre o seu próprio self psicológico,
do que eles mesmos possam saber; e que o cliente possua poderes construtivos que
fazem com que o esforço do terapeuta pareça insignificante (p.28).
Para Angerami-Camon (1995) ao paciente é dado um de seus direitos existenciais mais
básicos: o de criar e até mesmo enredar a compreensão de sua própria existência, a partir de
sua condição humana e, portanto, um ser capaz de alcançar a transfenomenalidade do
fenômeno de ser. A psicoterapia deve caminhar em total harmonia com a existência, em suas
nuances e combinações maravilhosas. O crescimento do paciente é dimensionado a parti dos
projetos de vida por ele próprio idealizados.
OS SETE ESTÁGIOS DO PROCESSO
Rogers (2009) descreve sete estágios do processo onde o indivíduo muda da fixidez para
fluidez, de um ponto situado perto do pólo estático do contínuo para o ponto situado perto do
seu pólo em movimento.
1º Estágio: o Indivíduo encontra-se em um estado de rigidez psicológica opondo-se a
qualquer fluxo ou mudança. A comunicação interna entre o ego e a experiência imediata está
seriamente bloqueada e ele tem pouco ou nenhum reconhecimento do fluxo de sua vida
afetiva. As relações íntimas com outras pessoas são consideradas perigosas e o indivíduo é
capaz de comunicar-se apenas através de referências e assuntos exteriores.
2º estágio: a expressão começa a ser mais fluente em relação a tópicos não pessoais.
Os problemas são captados como exteriores ao próprio indivíduo. Os sentimentos podem ser
exteriorizados, mas não são reconhecidos como pertencendo ao próprio indivíduo ou são
descritas como objetos passados.
3º estágio: a experiência é descrita no passado ou como afastada do ego e a aceitação
dos sentimentos é muito reduzida. As construções pessoais continuam rígidas, mas já podem
ser reconhecidas como construções e não como fatos exteriores.
4º estágio: o indivíduo descreve com maior intensidade os sentimentos passados e é
capaz de referir-se a eles também no presente, embora ainda os considere como objetos. O
indivíduo já é capaz de apreender as contradições entre a experiência e o ego e toma
consciência de sua responsabilidade perante seus próprios problemas.
5º estágio: os sentimentos são expressos livremente como se fossem experienciados no
presente e o indivíduo desenvolve uma tendência para perceber que a experiência de um
sentimento envolve uma referência direta. O rigor na diferenciação dos sentimentos e dos
significados pessoais se intensifica e o indivíduo aceita cada vez mais as suas próprias
contradições e incongruências. Como decorrência assume mais facilmente a responsabilidade
pela resolução de seus problemas.
6º estágio: os sentimentos são experienciados no presente imediato. Este caráter
imediato da experiência é aceito, bem como o sentimento que constitui o seu conteúdo.
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A PSICOTERAPIA COMO PROCESSO DE LIBERTAÇÃO NA TERAPIA HUMANÍSTICA
7º estágio: sentimentos novos são experienciados de forma imediata e com riqueza de
pormenores, tanto na relação terapêutica como fora dela. A experiência imediata perde seu
caráter esquemático e toma-se a experiência de um processo. As opções do indivíduo se
ampliam na resolução dos problemas e na maneira de conduzir-se (MENDES, 1994, apud
ROGERS, 2009).
A PESSOA EM PLENO FUNCIONAMENTO: ALGUMAS REFLEXÕES FRENTE
AO PROCESSO DE LIBERTAÇÃO
Rogers (2009) o processo de libertação em dois sentidos: o negativo e o positivo. Na
observação negativa a “Vida Plena” não é um estado fixo. Não é um estado de virtude, de
contentamento, de nirvana ou de felicidade. Não é uma condição em que o indivíduo esteja
adaptado, cumulado ou atualizado. Não é um estado de redução de impulsos, de redução de
tensão ou de homeostase. Já na observação positiva “Vida Plena” é um processo, não um
estado de ser. É uma direção, não um destino. A “Vida Plena” é o processo do movimento
numa direção que o organismo humano seleciona quando é interiormente livre para se mover
em qualquer direção, e as características dessa direção escolhida revelam uma certa
universalidade.
UMA ABERTURA CRESCENTE À EXPERIÊNCIA
Esta atitude é oposta à atitude defensiva. A pessoa torna-se progressivamente mais capaz de
ouvir a si mesma, de experimentar o que se passa em si. Está mais aberta aos seus
sentimentos de receio, de desânimo e de desgosto. Fica igualmente mais aberta aos seus
sentimentos de coragem, de ternura e de fervor. É livre para viver os seus sentimentos
subjetivamente, como eles em si existem, e é igualmente livre para tomar consciência deles.
Torna-se mais capaz de viver completamente a experiência do seu organismo, em vez de o
impedir de atingir a consciência.
AUMENTO DA VIVÊNCIA EXISTENCIAL
Esta característica implica uma tendência para viver plenamente cada momento. Uma pessoa
que esteja plenamente aberta a cada experiência nova, completamente desprovida de uma
atitude de defesa, vive cada momento da sua vida como novo. A configuração de estímulos
internos e externos que existe num determinado momento nunca antes existira exatamente da
mesma maneira. Por conseguinte, essa pessoa compreenderia que “aquilo que eu vou ser no
próximo momento e aquilo que eu vou fazer nasce desse momento e não pode ser previsto de
antemão nem por mim nem pelos outros”.
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Uma forma de exprimir a fluidez que está presente numa tal vivência existencial é dizer que o
eu e a personalidade emergem da experiência, em vez de dizer que a experiência foi traduzida
ou deformada para se ajustar a uma estrutura preconcebida do eu. Isto quer dizer que uma
pessoa se torna um participante e um observador do processo em curso da experiência
organísmica, em vez de controlá-lo.
Esse viver no momento significa uma ausência de rigidez, de organização estreita, de
imposição de uma estrutura à experiência. Significa muito especialmente um máximo de
adaptabilidade, uma descoberta de estrutura na experiência, uma organização fluente,
mutável, do eu e da personalidade. A maior parte de nós, porém, aplica à experiência uma
estrutura pré-fabricada, uma apreciação, e nunca a abandona, comprimindo e deformando a
experiência para adaptá-la às nossas idéias preconcebidas, irritados com os aspectos fugidios
que a tornam tão difícil de adaptar às nossas esquadrias cuidadosamente construídas. Abrir o
espírito àquilo que se está a passar agora, e descobrir no processo presente a estrutura
específica que se apresenta, tal é, uma das características da “Vida Plena”.
UMA CONFIANÇA CRESCENTE NO SEU ORGANISMO
A pessoa torna-se mais capaz de confiar nas suas reações organísmicas totais frente a uma
nova situação porque foi progressivamente descobrindo que, se estivesse aberta à sua
experiência, se fizesse o que sente que seria bom fazer, essas reações revelar-se-iam como
um guia completo e digno de confiança do comportamento que realmente satisfaz. Os defeitos
que invalidam a confiança no processo em muitos de nós são a inclusão de informações que
não pertencem à situação presente, ou a exclusão de informação que lhe diz respeito. É
quando a memória e a aprendizagem anterior se introduzem nos cálculos, como se fossem
essa realidade e não memória e aprendizagem, que é fornecido como resposta um
comportamento errado.
O PROCESSO DE UM FUNCIONAMENTO MAIS PLENO
A pessoa torna-se mais capaz de experimentar todos os seus sentimentos e, por isso, passa a
ter menos medo deles; filtra a sua própria experiência e mostra-se mais aberto aos
testemunhos que provêm de outras fontes; mergulha completamente no processo de ser e de
se tornar o que é, descobrindo então que é profunda e radicalmente social; vive de um modo
mais pleno no momento que passa, pois aprende que é sempre essa a maneira mais saudável
de viver. A pessoa torna-se um organismo que funciona mais plenamente e, devido à
consciência de si mesmo que corre livremente na e através da sua experiência, torna-se uma
pessoa que funciona de um modo pleno.
Assim, adjetivos tais como feliz, satisfeito, contente, agradável, não parecem adequados para
uma descrição geral do processo de “Vida Plena”, mesmo que a pessoa envolvida neste
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A PSICOTERAPIA COMO PROCESSO DE LIBERTAÇÃO NA TERAPIA HUMANÍSTICA
processo experimente cada um destes sentimentos nos devidos momentos. Mas os adjetivos
que parecem de um modo geral mais apropriados são: enriquecedor, apaixonante, valioso,
estimulante, significativo. O processo da “Vida Plena” não é um gênero de vida que convenha
aos que desanimam facilmente. Este processo implica a expansão e a maturação de todas as
potencialidades de uma pessoa. Implica a coragem de ser. Significa que se mergulha em
cheio na corrente da vida. E, no entanto, o que há de mais profundamente apaixonante em
relação aos seres humanos é que, quando a pessoa se torna livre interiormente, escolhe esta
“Vida Plena” como processo de transformação
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Estudar a psicoterapia, a psicologia humanística e a terapia centrada na pessoa foi sem dúvida
uma experiência fundamental enquanto acadêmica do curso de Psicologia. É certo que todas
as teorias que compõe o grande acervo deste curso serão em parte, utilizadas durante o
exercício profissional, mas, com certeza, será na prática da psicologia clínica que mais
teremos oportunidades de estar em contato com esses três temas, pois de forma consciente ou
não os mesmos se tornaram um exercício contínuo.
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REFERÊNCIAS
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