UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM ADMINISTRAÇÃO NÍVEA MAYSE PAIVA DA SILVA AÇÕES DE RESPONSABILIDADE SOCIAL INTERNA NA AGROPALMA: UM ESTUDO A PARTIR DA VISÃO DOS SEUS FUNCIONÁRIOS BELÉM - PA 2013 NÍVEA MAYSE PAIVA DA SILVA AÇÕES DE RESPONSABILIDADE SOCIAL INTERNA NA AGROPALMA: UM ESTUDO A PARTIR DA VISÃO DOS SEUS FUNCIONÁRIOS Dissertação apresentada à Universidade da Amazônia, Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Administração, como requisito para obtenção do título de Mestre. Orientador: Prof. Dr. Hubert Drouvot. BELÉM - PA 2013 NÍVEA MAYSE PAIVA DA SILVA AÇÕES DE RESPONSABILIDADE SOCIAL INTERNA NA AGROPALMA: UM ESTUDO A PARTIR DA VISÃO DOS SEUS FUNCIONÁRIOS Dissertação apresentada à Universidade da Amazônia, Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Administração, como requisito para obtenção do título de Mestre. Orientador: Prof. Dr. Hubert Drouvot. Banca Examinadora: ________________________________ Prof. Dr. Hubert Drouvot – UNAMA - Orientador ________________________________ Profª. Dra. Cláudia Magalhães Drouvot – UNAMA – Coorientadora ________________________________ Prof. Dra. Nirvia Ravena – UNAMA – Avaliador Interno ________________________________ Profª. Dra. Paula Bastos – NAEA - UFPA - Avaliador Externo Data da Aprovação:______/_____/_______ Conceito: ___________________________ BELÉM - PA 2013 AGRADECIMENTOS A vida é feita de desafios e obstáculos que precisamos superar. Muitos deles são necessários para que possamos acreditar no desafio e na capacidade de sairmos vitoriosos. Assim, agradeço a Deus e a Virgem Maria, por me guiarem, darem-me forças em todos os momentos deste intenso trabalho e por me oferecerem a oportunidade de cursar este Mestrado. Aos meus pais, Alberto e Luiza, pelo apoio e amor incondicional. Aos professores Dr. Emilio Arruda, Drª. Ana Vasconcelos e Drª. Nirvia Ravena pelo apoio, ajuda, motivação e compreensão no momento mais difícil que passei à conclusão desta dissertação. Estes grandes mestres foram fundamentais para o meu aprendizado e acreditaram em mim e em meu potencial como aluna e ser humano. Muito obrigada, eternamente. A pró-reitora Nubia Vasconcelos, pela compreensão e pelo apoio necessário para que eu pudesse concluir o meu trabalho. Aos meus amigos e colegas de curso, pela cumplicidade, ajuda e amizade. Aos meus colegas de trabalho da Agropalma, que não mediram esforços para me ajudar a finalizar a pesquisa de campo. Muito obrigada pelo carinho, compreensão e pela grande ajuda. A minha querida tia Rita Melém, que foi a primeira que me incentivou a cursar este Mestrado e esteve ao meu lado no momento crucial para a minha aprovação no mesmo. A todos os professores doutores deste Mestrado, pela parceria, conhecimento compartilhado e motivação. Vocês foram muito importantes na minha vida acadêmica. E a todos aqueles que de alguma forma contribuíram para o meu desenvolvimento profissional e pessoal. Muito obrigada a todos. “Não é a consciência do homem que lhe determina o ser, mas, ao contrário, o seu ser social que lhe determina a consciência”. Karl Marx RESUMO O presente estudo tem como objetivo analisar as ações de Responsabilidade Social Interna na empresa Agropalma, em Belém, Estado do Pará, a partir da percepção dos funcionários internos. Estudos demonstram que a Responsabilidade Social Interna, como segurança, saúde, remuneração e treinamento, para ser bem difundida aos funcionários de uma organização deve contar com a participação direta destes e deve proporcionar um ambiente agradável de trabalho que valorize seus recursos humanos, bem como capaz de desenvolver um modelo de gestão integrado. A metodologia de pesquisa consiste em um estudo de caso, de natureza aplicada, sendo a pesquisa qualitativa a forma de abordagem do problema. A coleta de dados apresenta-se por meio de entrevista semiestruturada e não estruturada, um questionário fechado usando a escala likert, e questionário com questões abertas, que envolvem 57 funcionários. Ressalta-se que houve também a observação direta, por meio de documentos e publicações da empresa. Os resultados indicam, a partir da avaliação da política social relatadas pelos funcionários internos, um quadro mais positivo em nível de segurança, saúde e treinamento, com avaliação negativa sobre as questões de remuneração, benefício, gestão participativa, critérios de promoção interna, política familiar, qualidade de vida e ações sociais. Palavras-Chave: Responsabilidade Social. Responsabilidade Social Interna. Estratégia Organizacional. Funcionários. 7 ABSTRACT This study has as aim to analyze the activities of Internal Social Responsibility at the Agropalma Company, in Belém, state of Pará, from the perception of internal workers. The literature is demonstrated that the Internal Social Responsibility as safety, healthy, remuneration, and training to be well diffused to their workers at the Company must have directly participation from theirs and to afford a goodly business atmosphere revaluating their human management, being able to develop an integrated management model. The research methodology is a study case, of applied sort, and qualitative form. The data were collected by interviews structured and non-structured, they were two types, the first was a close questionnaire using the likert scale, and the second was a free questionnaire, with the participation of 57 workers, besides the direct observation of them, through the documents and publishing from the company. The results showed, by means of the evaluation of social police related by internal employees, a more positive image in level of safety, healthy, and training, and negative evaluation about remuneration issue, advantage, participative management, internal promotion criterions, familiar police, quality life, and social actions. Key-Word: Social Responsibility. Internal Social Responsibility. Organization Strategic. Workers. 8 LISTA DE FIGURAS E GRÁFICOS Figura 1 Figura 2 - As cinco forças competitivas de Porter que atuam em um ambiente de concorrência Modelo bidimensional de responsabilidade social corporativa 37 Figura 3 - Modelo bidimensional de responsabilidade social corporativa 68 Gráfico 1 - O rendimento médio (kg/ha) das oleaginosas 56 Gráfico 2 - Evolução da produção mundial de óleo de palma e de óleo de soja 60 Gráfico 3 - Evolução da produção de óleo de palma no Brasil (em tonelada) 61 Gráfico 4 - Representação das Médias para cada uma das 15 afirmações 72 22 LISTA DE QUADROS E TABELAS Quadro 1 - Tipos de visão da responsabilidade social das empresas 30 Quadro 2 - Conceitos de responsabilidade social corporativa 31 Quadro 3 - Filantropia e Responsabilidade Social 33 Quadro 4 - Agricultores familiares integrados do dendê entre 2010 e 2012 42 Quadro 5 - Estimativa de área, produtividade e produção de dendê, safra 2010 58 Quadro 6 - (milhões de toneladas) 60 Quadro 7 - Escala Likert 71 Tabela 1 - Nível de estatística 69 Tabela 2 - Nível de estatística 69 Tabela 3 - Nível de estatística 69 Tabela 4 - Nível de estatística 70 LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ANP Agência Nacional do Petróleo CRA Companhia Refinadora da Amazônia CRAI Companhia Real Agroindustrial S.A. EJA Educação de Jovens e Adultos EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária IBASE Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas IBD Instituto Biodinâmico IFOAM International Federation of Organic Agriculture Movements NOP/USDA National Organic Program of the United States OIT Organização Internacional do Trabalho ONG Organização Não Governamental Oscip Organização da Sociedade Civil de Interesse Público RBV Resource-Based View SER Responsabilidade Social Empresarial RSI Responsabilidade Social Interna RSPO Rountable Sustentability Palm Oil SEGeT Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia SESI Serviço Social da Indústria SUDAM Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia UAG Unidade de Acondicionamento de Gordura UFA União Feminina da Agropalma UNAMA Universidade da Amazônia SUMÁRIO 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS 12 2 REFERENCIAL TEÓRICO 20 2.1 ESTRATÉGIA E CULTURA ORGANIZACIONAL 20 2.1.1 O conteúdo do conceito de estratégia 20 2.1.2 A visão Externa - Escola de Posicionamento 22 2.1.3 A visão baseada em recursos 23 2.1.4 Estratégia e Cultura Organizacional 26 2.2 27 O CONCEITO DE RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS (RSE) 2.2.1 Definição do conceito 27 2.2.2 O desvio positivo 33 2.2.3 As contribuições do Instituto Ethos 34 2.2.4 As diferentes visões da RSE nas empresas 36 2.3 RESPONSABILIDADE SOCIAL INTERNA 37 3 42 4 O LUGAR DA EMPRESA: A EXPANSÃO DO DENDÊ E A AGRICULTURA FAMILIAR NA AMAZÔNIA RESPONSABILIDADE SOCIAL DA ORGANIZAÇÃO ESTUDADA 45 4.1 A MISSÃO DA AGROPALMA 45 4.2 PROGRAMAS SOCIAIS DA EMPRESA 46 4.2.1 Agricultura Familiar 46 4.2.2 Escola Agropalma 46 4.2.3 Programa Educação de Jovens e Adultos (EJA) 47 4.2.4 Programa Atleta do Futuro 47 4.2.5 União Feminina da Agropalma (UFA) 47 4.3 48 OS CERTIFICADOS 4.3.1 Sistema Integrado de Gestão 48 4.3.2 Sustentabilidade – RSPO 49 5 METODOLOGIA 51 5.1 O TIPO DE PESQUISA 51 5.2 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS 53 5.3 SELEÇÃO DOS SUJEITOS E AMOSTRA 54 5.4 OS INDICADORES 54 6 CONTEXTO DA PESQUISA 56 6.1 O PRODUTO DENDÊ 56 13 6.2 A LOCALIZAÇÃO DO CULTIVO DO DENDÊ 57 6.3 CARACTERISTICAS DO SETOR DE ATIVIDADE 58 6.4 HISTÓRICO DA ORGANIZAÇÃO ESTUDADA 61 7 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS 65 7.1 O DESVIO POSITIVO NA AGROPALMA 65 7.2 A PESQUISA DE CAMPO 66 7.2.1 A visão da RSE na Agropalma 66 7.2.2 Conteúdo da Amostra 68 7.2.3 Resultados sobre as 15 Afirmações (Questões Fechadas) 70 7.2.4 Análise das Questões Abertas 74 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS 79 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 81 APÊNDICE A - As afirmações do questionário aplicado ao público interno 90 APÊNDICE B - Questões abertas 91 12 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS A Responsabilidade Social Corporativa ou Responsabilidade Social Empresarial (RSE) vem conquistando um espaço significativo de discussão e reflexão nas organizações e na academia (FERRAZ, 2007), haja vista que a necessidade de expandir o conhecimento sobre o assunto retrata que a empresa tem como propósito principal ser economicamente eficiente, conciliando seus interesses com os stakeholders e a sociedade em geral, verificando a existência da associação entre responsabilidade social e estratégia. Para Milton Friedman (1962), a única responsabilidade da empresa anteriormente era produzir dinheiro para os investidores. Porém, esta visão nos dias atuais apresenta controvérsias quando se percebe a pressão advinda do próprio mercado, ou de outras instituições como o poder político e a sociedade civil, que regulam as ações das empresas. Nesse sentido, quando se fala de RSE, fala-se de stakeholders, isto é, as partes interessadas ou grupos de interesses pertencentes ou não à cadeia de negócios de determinada organização. Entretanto, ao se abordar práticas de responsabilidade social interna nas empresas, trata-se das ações pertinentes a um só grupo de interesse: os funcionários, conhecidos comumente pela administração tradicional por funcionários e/ou empregados. Para Melo Neto e Froes (2001), o tema responsabilidade social é amplo, o que gera a complexidade do conceito, isto porque tema e conceito compreendem um vasto aspecto, indo desde a discussão da conduta ética organizacional às ações comunitárias, ao tratamento dos funcionários e ao dinamismo das relações que a empresa mantém com os seus variados públicos. Responsabilidade social corporativa é o comprometimento permanente dos empresários de adotar um comportamento ético e contribuir para o desenvolvimento econômico, melhorando, simultaneamente, a qualidade de vida de seus colaboradores e de suas famílias, da comunidade local e da sociedade como um todo. (ALMEIDA, 1999 apud MELO NETO; FROES, 2001) Ainda segundo estes autores, a responsabilidade social interna (RSI) por sua vez se dirige aos funcionários da empresa, ou seja, seu público interno, tendo como principais ações aplicadas, para o bem estar dos funcionários e seus dependentes: a preservação dos direitos trabalhistas; os programas de remuneração e participação nos resultados; a gestão participativa, o respeito aos direitos humanos, a assistência médica, social, odontológica, alimentar e de transporte; os investimentos na qualificação dos funcionários; e a gestão do ambiente e das condições de trabalho, o que envolvem questões como jornada de trabalho, 13 organização do trabalho, materiais e equipamentos, segurança e saúde do trabalhador e outras (FURTADO; PENA et al, 2006). Para auxiliar as organizações quanto às ações voltadas para a responsabilidade, o Instituto Ethos criou indicadores para classificar as empresas quanto ao desempenho relativo aos pressupostos de responsabilidade social. Tomado como parâmetros válidos para a aferição da Responsabilidade Social, o Instituto Ethos é referência neste trabalho. Na Amazônia, as instituições de controle de qualidade apresentam dificuldades para implementar certificações acerca da responsabilidade social. Isto decorre da situação periférica da região em relação ao centro dinâmico da economia nacional, e também resulta das desigualdades regionais. A empresa Agropalma, objeto de estudo desta dissertação, declara que ao longo dos anos vem concretizando a qualidade de seus serviços, das prestações, do meio ambiente, das condições de trabalho e qualidade de vida de seus funcionários. Esse reconhecimento deu-se em decorrência da consolidação das certificações adquiridas nas normas ISO 9001, ISO 14001 e OHSAS 18001 em dezembro de 2002, que legitimam métodos voltados para a qualidade de produtos, proteção do meio ambiente, saúde e segurança dos funcionários, em todas as etapas do processo produtivo. A empresa reforça ainda que possui implantado um Sistema Integrado de Gestão – SIG, que está em constante aperfeiçoamento. Em agosto de 2009, esse sistema foi reforçado pela certificação ISO 22000; e em julho de 2013, na FSSC 22000, voltada para o processo de segurança de alimentos (AGROPALMA, 2013). As certificações, conforme Gruninger e Oliveira (2002), são modelos aceitos de procedimentos, práticas e particularizações e diferenciam-se de normas pela apresentação de atestados de conformidade a um conjunto de regras que a organização segue, a partir da auditoria e verificação de um órgão certificador ou uma terceira parte. “A certificação é um sistema de reforço dos atributos do produto, que requer a existência de um padrão, um sinal, um procedimento e uma penalização em caso de descumprimento das normas”. (COMPES, 2002) Para Ballester (2005), as certificações são canais de inovação para a empresa, ao garantir diferentes áreas e aspectos da organização, sendo de suma importância às certificações relativas a sistemas de gestão e a produtos, para alavancar a eficiência empresarial. Até determinado período a certificação se torna canal catalisador de inovação para a organização, uma vez que a aquisição de uma certificação gera inovações até o momento de a empresa adquiri-la. A partir do momento que ela obtém a certificação, suas práticas voltam a 14 igualar a de seus concorrentes para seguir seus mesmos padrões e normas, haja vista que seus processos correm o risco de se engessarem e caírem na rotina. Neste aspecto, as empresas preocupam-se mais em conservar a certificação que permanecer com o seu processo de inovação, criado no início do processo para alcançar a certificação (ACOSTA; PÁDULA; WAGNER, 2009). McWilliams e Siegel (2000) enunciam que a variável inovação deve estar inserida no estudo de responsabilidade social, pois, relaciona-se com a inovação do produto e com as estratégias de diferenciação. Hull e Rothenberg (2008) afirmam que em alguns casos a inovação é um artifício necessário para o desenvolvimento da empresa, logo, a RSE pode não causar muito impacto. No entanto, se a empresa não apresenta necessidade, mas mesmo assim investe em inovação, a RSE provavelmente apresentará um impacto sobre o desempenho financeiro da organização, porém não na mesma proporção. Em contrapartida Mackey e Barney (2007) e Siegel e Vitaliano (2007), dizem que quando um produto de uma determinada empresa é produzido com qualidade, seja ele semelhante ou igual ao da concorrência, com a RSE pode-se obter vantagem competitiva, mesmo que essas sejam carentes de práticas inovadoras. Por esse viés, normas e certificação nascem com o objetivo de atender uma demanda crescente por transparência e prestação de contas, relevantes para qualquer processo de gestão socialmente responsável. Normas e certificações estão inseridas em um contexto de gerenciamento estratégico da responsabilidade social empresarial, que tendo como base a transparência, valores éticos e diálogo, considera todas as partes envolvidas ou impactadas pela empresa e visa à melhoria das relações com estas partes. (GRUNINGER; OLIVEIRA, 2002, não paginado). Segundo Borger (2001), não existe um único modelo de RSE a ser implantado nas empresas. Portanto, deve ser inserido um modelo que se enquadre ao tamanho, setor e cultura da empresa, tendo como base: a) Uma visão integrada e sistêmica; b) A melhoria continua; c) Uma perspectiva de atuação a longo prazo e sustentabilidade na operação dos negócios, abrindo-se mão dos resultados de curto prazo, à medida que esses interfiram na relação com os stakeholders; d) Comunicação aberta e transparente com as partes interessadas, o que implica adotar transparência, honestidade, integridade e padrões de conduta éticos. 15 De acordo com Karkotli (2004), com relação ao ambiente externo, a empresa não realiza a gestão das relações junto aos seus interlocutores, mas sim a gestão das expectativas das partes interessadas e de como elas serão inseridas à gestão empresarial e sustentadas. Sendo assim, a estratégia empresarial se dá em diversificados contextos para cada grupo de interesse nela envolvido, haja vista que os consumidores querem qualidade e confiabilidade nos serviços, mas sem aumento de preço; os acionistas, a credibilidade e maximização do lucro e redução de custos; a comunidade, a responsabilidade da empresa em ser empregadora de longo prazo e que esta não demande serviços de infraestrutura; e, finalmente, os trabalhadores internos almejam que a empresa ofereça um ambiente estimulador, dinâmico, seguro e compensador. Conforme Melo Neto e Froes (2001), os trabalhadores da empresa e seus dependentes devem ser interpretados no contexto da gestão, como agentes sociais que desenvolvem papéis dentro e fora da organização, ao propagarem valores éticos em suas relações com os diferentes públicos da empresa ao assumirem comportamentos sociais responsáveis em seu cotidiano de vida e de trabalho. Para o autor, na medida em que as organizações investem nas pessoas, a empresa transforma-os em seu principal ativo. O setor de recursos humanos pode ser um apoio de suma importância para a empresa, gerenciando a RSI, promovendo um ambiente organizacional em que traga resultados satisfatórios para a empresa e seu público interno, aderindo às práticas de: a) Retenção de talentos; b) Melhoria na qualidade de vida de seus empregados; c) Maior integração de vida no trabalho e de sua família, e de ambos na comunidade; d) Aumento da autoestima dos empregados; e) Melhoria no clima organizacional, entre outros. A responsabilidade social de uma empresa versa na decisão desta em compartilhar suas ações mais diretamente com as comunidades na região em que se encontra inserida e diminuir possíveis danos ambientais decorrentes do tipo de atividade que exerce. Não basta apenas estimular o desenvolvimento da comunidade e preservar o meio ambiente; é preciso investir no bem estar de seus funcionários, bem como de seus dependentes, e em um ambiente de trabalho saudável, equilibrado, seguro, dinâmico. Acrescente-se a isso, o feedback aos acionistas, assim como garantir a satisfação dos seus clientes e/ou consumidores. É necessário, porém, repensar o papel e a filosofia empresarial, uma vez que o mercado está exigindo das organizações o exercício de cidadania, forçando os gestores a 16 atentar para as mudanças ambientais de forte impacto. Sabe-se, portanto, que as variações no ambiente interno das organizações inclinam-se ainda para uma visão tradicional de administração de pessoas, sendo necessário o deslocamento para uma perspectiva mais atual, passando a tratar o fator humano como um fator “chave” para o sucesso. Neste contexto, ressalta-se a ação de órgãos que legitimam a justiça social e qualidade de vida no trabalho para todos os cidadãos, a partir de suas formas de trabalho. De acordo com a declaração sobre os princípios e direitos fundamentais no trabalho da Organização Internacional do Trabalho (OIT) 1998, foi proposto o lema de Trabalho Decente. Este se reporta ao trabalho produtivo e adequadamente remunerado, praticado em condições de liberdade, equidade e segurança, extraindo qualquer forma de discriminação. Dessa forma, possibilita um reforço para a superação do desenvolvimento desigual, advindo do processo de globalização, que compromete as condições de vida dos trabalhadores de todo o mundo e demonstra reflexões sobre seus opostos, como: o trabalho em situação análoga à escravidão, trabalho precário, informal, desemprego e a pobreza, e sobre as formas de ultrapassar estes dilemas. Conforme a OIT 1998: A RSE é voluntária e implica que as empresas adotem uma conduta socialmente responsável, para além de suas obrigações legais e não substitui o papel dos governos e nem a negociação coletiva ou o diálogo social. Assim, é a regulação internacional do trabalho, que politicamente também impõe às empresas um comportamento voltado à responsabilidade social empresarial e interna, pois essa regulação responsabiliza o empresário a maximizar os seus contributos positivos para o desenvolvimento econômico e social e minimizar os impactos negativos na sua atividade. (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO, 1998, não paginado). Cheibub e Locke (2000) defendem a ideia que a RSE implica ações para além da “letra da lei”, não se resumindo apenas a sindicatos, embates políticos e organizações de trabalhadores. De fato, ela é um conjunto de ações que vai além do que é requerido por lei, por obrigação ou por necessidade. Na visão dos autores, a RSE é entendida como autointeresse, já que não há bons argumentos morais que justifiquem a participação das empresas, dos empresários e dos executivos em projetos ou programas de responsabilidade social, privilegiando estes a quaisquer outros atores sociais; ou seja, a responsabilidade social deve ser do interesse econômico das empresas. Para Cheibub e Locke (2000), as empresas podem e/ou devem ter responsabilidades sociais apenas se for de seu interesse, do interesse de seu negócio e se trouxer benefícios para sua atividade e posição de mercado. Os autores consideram prejudicial inquirir sobre os 17 motivos que levam as empresas a assumirem determinadas práticas de responsabilidade social. Falar se os determinantes da responsabilidade social são valores ou interesses de uma questão política e moralmente irrelevante, além de mal formulada. Na abordagem defendida por Melo Neto e Froes (2001), a responsabilidade social interna tem como alvo o público interno da organização, ampliando um modelo de gestão participativa importante para seus funcionários, originando comunicações transparentes, motivando-os para um melhor desempenho e oferecendo diversas contribuições, como: assistência médica, odontológica e social, educação, salários e benefícios, financiamentos de cursos externos a oferta de programas de capacitação, e o caso das iniciativas para promover a inclusão digital. Este modelo de gestão interna abrange ações dirigidas aos funcionários e seus dependentes. A empresa socialmente responsável no seu ambiente interno se destaca das demais pelo seu padrão de comportamento social, econômico, cultural e político. Assim, justifica-se esta pesquisa por apresentar as ações de RSI em uma organização, numa região onde as empresas têm grande liberdade para não implementá-las, propiciando um ambiente de trabalho adequado às normas da OIT e aos indicadores do Instituto Ethos, estimulando aos funcionários para a produtividade e colaborando para o bem estar da coletividade. Por esse viés, disponibilizam-se boas condições para que o trabalho aconteça, reduzindo conflitos inerentes à relação empresa/trabalhador, bem como os conflitos resultantes da natureza intrínseca da empresa em gerar lucros. Assim, independe das formas de trabalho assumidas nesse processo de maneira prazerosa e produtiva aos seus funcionários, terceirizados ou não, havendo um retorno para o acionista e para todos da organização, ou seja, o ambiente transforma a empresa e o seu público interno. Por conseguinte, cria-se assim um clima organizacional onde todos se auxiliam, a empresa ajuda o indivíduo quando faz aquisições para o seu quadro de pessoal e os funcionários retribuem esses investimentos com qualidade na produção, satisfação no trabalho, pontualidade, assiduidade, cumprimento de regras, entre outros. Para Porter (2001), a responsabilidade social como atividade empresarial possui um caráter reflexivo interessante, em que a competência no desenvolvimento de projetos como este que promovam o desenvolvimento socioeconômico é vista de modo significativo pelas partes interessadas, dando conotação de diferenciação comparativa ao negócio. Trabalhadores de uma empresa sentem-se motivados quando a organização atua socialmente. As ações de responsabilidade social e as tarefas voltadas para o desenvolvimento da comunidade de modo sustentável são importantes para a imagem da empresa e, 18 consequentemente para os funcionários, pois estes são partes integrantes desse processo, que auxilia outras pessoas que têm maiores necessidades sociais. O Grupo Agropalma, objeto de pesquisa dessa dissertação, desenvolve suas atividades no ramo agroindustrial desde 1982, iniciando seu projeto com a empresa Cia. Real Agroindustrial, desenvolvendo o cultivo de palma e extração do óleo de palma e de palmiste, em uma reserva de 5mil hectares, localizada no município de Tailândia, no Estado do Pará, a 200 km de Belém. É o maior produtor de óleo de palma da América latina. (AGROPALMA, 2013) O Grupo é composto de duas empresas de capital 100% nacional, sejam elas: Agropalma S/A e Cia. Refinadora da Amazônia – CRA. A Refinadora, inaugurada em agosto de 1997, foi à primeira empresa refinadora de óleo de palma do Brasil e representa um grande avanço para o grupo, que deixou de ser apenas produtor de matéria prima bruta para se tornar exportador do produto final, agregando mais valor ao segmento que lidera. Em consonância ao desenvolvimento sustentável, inaugurou em abril de 2005 a primeira fábrica de Biodiesel do mundo, para a produção de biocombustível com aproveitamento do resíduo do processo de refino, mantendo-se na vanguarda do negócio de palma do Brasil e do mundo (AGROPALMA, 2013). Conforme Cruz (2006), o Grupo faz parte do Conglomerado Alfa, integrando as empresas do ramo financeiro: Banco Alfa de Investimentos, Financeira Alfa, Alfa Arrendamento Mercantil, Alfa Corretora de Câmbio e Valores Imobiliários; e também empresas não financeiras, como Águas Prata, Alfa Seguradora/Alfa Previdência e Vida, Hotéis Transamérica, C & C-Casa e Construção, Instituto Alfa de Cultura, La Basque, Rádio Transamérica, Transhopping, Transamérica Expor Center e TV Transamérica. Atualmente, o espaço territorial da empresa configura “107 mil hectares de terra, 39 já de palmeiras plantadas” (MARCOVITCH, 2011, p. 109). Esse grupo constitui-se no precursor e principal vetor do agronegócio do dendê na microrregião de Tomé-Açu, por meio do qual a configuração territorial do lugar e a dinâmica social do espaço agrário reorganizam-se à medida que a Agropalma usa o território como recurso para manutenção, expansão e diversificação da dendeicultura. (NAHUM; MALCHER, 2012, não paginado). Ainda para Marcovitch (2011), a dimensão espacial tornou-se possível devido ao investimento do Banco da Amazônia, da Superintendência do Banco da Amazônia e do governo do Estado do Pará no agronegócio. “A implantação do cultivo de dendê na Amazônia, em escala agroindustrial, está associado direta e indiretamente ao papel 19 desempenhado pelo Estado, que via nessa cultura uma opção de desenvolvimento econômico e social para a Região Amazônica.” (CRUZ, 2006, p. 60). Neste contexto, introduz-se um novo tempo geográfico na ampliação desse cultivo, a partir de ações movidas pelo Estado e investimentos em ciência aplicada em pesquisas das relações entre espécies endafoclimáticas e dendeicultura da Amazônia, uma vez que condições políticas, científicas, tecnológicas e territoriais foram erguidas desde a segunda metade do século XX (NAHUM; MALCHER, 2012). Mesmo com a ação do Estado criando regras e estimulando empresas à produção de determinados cultivos, o ambiente interno nem sempre é alvo de regulação do mesmo. As empresas decidem a partir de suas expectativas econômicas em que medida adotarão ou não padrões de RSI. Com base nas informações produzidas pela pesquisa, busca-se responder: Existem ações de RSI na Agropalma? Caso existam, foram identificadas e qualificadas pelos funcionários? A partir destas perguntas, este trabalho tem como objetivo principal identificar se existem ações de responsabilidade social interna na empresa Agropalma, a partir das percepções de funcionários em atividade ou que tiveram uma longa experiência de trabalho na empresa. Traz como objetivos norteadores do alvo principal conhecer as ações de responsabilidade social interna praticadas pela organização, com base nos parâmetros no Instituto Ethos; identificar a implementação de indicadores do Instituto Ethos como reflexo de Responsabilidade Social da empresa; e avaliar a política de RSI da empresa a partir das percepções e práticas de uma amostra de funcionários. 20 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 ESTRATÉGIA E CULTURA ORGANIZACIONAL 2.1.1 O conteúdo do conceito de estratégia A RSE é um modelo empresarial que pode ser considerada como parte estratégica do negócio da organização, tendo como parâmetros comportamentos éticos, economicamente sustentáveis e socialmente responsáveis perante seus funcionários e a sociedade em geral. (COELHO; OLIVEIRA, 2011). A partir de uma abordagem gerencial em uma perspectiva utilitarista e instrumental defende-se a ideia de que o que é bom para a sociedade também o é para a empresa. Aproxima-se a essa vertente da RSE a teoria de estratégia, uma vez que as empresas podem adquirir sob essa ótica vantagem competitiva e oportunidades de mercado. (JONES, 1996). Conforme Pontes: Desta forma, adotar a RSE como estratégia gerencial torna a empresa reconhecida como executora de boas práticas, voltadas à dimensão social, inserindo-a como corresponsável pela solução dos graves problemas que provocam exclusão social. (PONTES, 2011, p. 42). Neste sentido, a cultura organizacional também deve estar atrelada ao alinhamento estratégico da empresa. Ela é fundamental para compreender como a RSE está sendo incorporada ao mundo dos negócios. A RSE sustentada na cultura organizacional de forma efetiva proporciona uma visão ampla das pessoas e a sua valorização, quanto à realização de suas operações e modo de pensar, bem como das pessoas envolvidas dentro da empresa. O alinhamento estratégico da corporação baseado na cultura organizacional pode fornecer diretrizes fundamentais para direcionar o alinhamento entre os diversificados níveis de estratégia corporativa (CUSTÓDIO; KATO; BELACHE, 2009). De acordo com Oliveira (2001), a expressão estratégia é um conceito militar bastante antigo, definido como a aplicação de forças contra determinado inimigo. O termo advém da palavra grega strategos, do qual se deriva o significado de a arte do general, ou ainda, a ciência dos movimentos guerreiros fora do campo de visão do general. Em termos organizacionais, esta trata de mobilizar recursos para atingir objetivos, mediante a utilização pela alta administração de um plano, uma direção ou um curso de ação para o futuro. 21 Para Silva e Fernandes (2009), ao definirem o conceito de estratégia, indicam que se trata de um processo que sofre desdobramentos ao longo do tempo, em que as atividades são planejadas e executadas ao longo de um determinado período, sendo tradicionalmente definidos a longo, médio e curto prazo, com o seu horizonte de duração peculiar a cada empresa estudada. Já Nicolau (2001) diz que, subjacente às definições de estratégia, está de maneira implícita ou explicita uma dimensão temporal que dá sentido à relação entre empresa e meio envolvente. A forma como a dimensão temporal se associa ao conceito de estratégia é objeto de controvérsia que as diferentes perspectivas sobre o processo de formação criam. No entendimento de alguns autores, estratégia é como um meio de configurar uma relação futura entre a empresa e o ambiente, isto é, planos capazes de antecipar a mudança para enfrentar os desafios do ambiente. Neste sentido, Chandler (1962) entende que a estratégia é a determinação dos objetivos básicos de longo prazo. Para Steiner e Miner (1977), estratégia significa moldar as missões da empresa. Já para Newman, Logan e Hegarty (1989), estratégia representa o principal instrumento utilizado pelos gestores para formar o rumo do seu negócio. Acompanhando esta observação, Silva e Fernandes (2009) mostram que o conceito de estratégia é explorado na literatura sob várias perspectivas distintas. Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2006) identificaram dez diferentes escolas sobre o tema. Isto ocorreu porque, de acordo com Greenwald e Kahn (2006), estratégia tem sido uma das principais preocupações gerenciais há mais de meio século. O objetivo das escolas é evidenciar a forte influência do ambiente em constante mutação, das ferramentas, das pessoas como parte integradora das estratégias, bem como a importância de compreender que a empresa é parte interessada nesse ambiente com um envolvimento em conjunto e não isolado. Para Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), estratégia é uma palavra que muitas vezes pode ser definida de uma forma e utilizada de outra. Define-se como um padrão, ou seja, algo realizado ao se olhar o comportamento passado; pode-se também defini-la como um plano, algo pretendido, ou ainda, olhar para frente. Do ponto de vista empresarial, deve-se analisar que, ao contrário da estratégia militar, nem sempre se podem identificar claramente as batalhas ou os inimigos. Entretanto, estes constituem um instrumento administrativo que permite otimizar as interações com os fatores ambientais, sejam eles internos ou externos. 22 Toda ação deve fluir da razão, como também as estratégias eficazes derivam do pensamento humano rigidamente controlado, ou seja, é um processo determinado pelo pensamento consciente (MINTZBERG, AHLSTRAND; LAMPEL, 2000). Compreender o comportamento competitivo em que tais perspectivas interagem continuamente, além da disposição para agir, certamente encaminharão as organizações a patamares de desenvolvimento mais elevados. Conforme preconizam Cheibub e Locke (2002), a adoção da RSE é do interesse estratégico das empresas, haja vista que a partir das ações realizadas, além da vantagem competitiva, adiciona benefícios à atividade, à imagem e melhora a posição no mercado de trabalho e no mercado consumidor. 2.1.2 A visão Externa = Escola de Posicionamento É exatamente nesta análise que se fundamenta a reflexão sobre as vantagens competitivas que culminam com os trabalhos conhecidos de Porter. Sendo estas vantagens as cinco Forças Competitivas determinadas por meio de um panorama de categorias que as distinguem no mercado, permitindo um entrosamento preliminar do foco teórico levantado neste estudo. Figura 1 - As cinco forças competitivas de Porter que atuam em um ambiente de concorrência Fonte: Porter (1989) 23 Essas foças reunidas determinam a potencialidade de atuação. O modelo de Porter visa identificar os elementos da estrutura de um dado setor e originar a importância de cada um deles nesse contexto. Assim, compreende-se a complexidade e os fatores críticos dos concorrentes internos e externos que chantageiam o desempenho e desenvolvem-se estratégias para neutralizá-los. Conforme Pontes: As Cinco Forças que causam impacto sobre a lucratividade em um setor, determinam a intensidade da concorrência no mesmo, sendo que a força ou as forças mais acentuadas predominam e tornam-se cruciais do ponto de vista da formulação de estratégias. Portanto é importante que cada uma dessas forças seja avaliada, em um nível de detalhamento considerável, para que uma empresa possa desenvolver estratégias competitivas eficazes. (PONTES, 2011, p. 46). Para Porter (1999, p. 27), a essência da formulação estratégica versa em enfrentar a competição. Na luta pela fatia do mercado, a concorrência em um apurado setor se encontra aprofundada na sua economia subjacente e algumas forças competitivas vão bem além dos combatentes nele situados. Os clientes, os fornecedores, os entrantes em potencial e os produtos substitutos, todos são concorrentes mais ou menos ostensivos ou ativos, dependendo do setor. Em complementação às contribuições de Porter, no segundo momento adquire-se uma ruptura, colocando em ênfase uma estratégia situada na intenção e no movimento; e, neste momento, a estratégia tende essencialmente a transformação do jogo concorrencial e da própria empresa. Mintzberg (1973) foi o primeiro a questionar o modelo de planificação estratégica, questionando sobre o seu caráter determinado e adentrando uma noção de dinâmica organizacional. Ainda para o autor, a estratégia organizacional define o negócio com o qual a organização irá competir e enfoca os recursos, competências, como características, transformando-as em vantagens competitivas. 2.1.3 A Visão Baseada em Recursos De acordo com Hill e Deeds (1996 apud LUZ, 2006), em contraponto às teorias de Porter (1989), o fator preponderante do desempenho está nas diferenças entre as empresas, distinguidas fundamentalmente por seus processos internos. Tal escola de pensamento avalia 24 que a estrutura de um dado setor conjectura a busca por eficiência das firmas dentro deste, e que não tem influência relevante no seu desempenho. Entende-se assim que a análise da Resource-Based View (RBV) está, portanto, nas ações internas às firmas, que poderiam explicar a transformação de desempenho dentro de uma indústria. Firma a idéia de que a mais determinante fonte de vantagem competitiva está nos recursos e nas capacidades desenvolvidas e controladas pelas empresas, e que a estrutura das indústrias nas quais elas se distribuem tem influência secundária (WERNERFELT, 1984 apud LUZ, 2006; PETERAF, 1993 apud LUZ, 2006). Wernerfelt (1984 apud LUZ, 2006) adota como premissas a heterogeneidade e a não “imitabilidade” dos recursos das empresas, avaliadas como “feixes de recursos” impetrados por ativos, tangíveis e intangíveis. Para Barney (2002 apud LUZ, 2006), um recurso carece permitir o emprego de estratégias que instituam valor para a firma, de forma a superar seus concorrentes, ou restringindo suas fraquezas. Já Carneiro (1999 apud LUZ, 2006) refere como protótipos de recursos: marcas, reputação, conhecimento tecnológico desenvolvido internamente, informação acumulada sobre clientes, força de trabalho especializada, habilidade gerencial, contratos, equipamentos, cultura organizacional, processos eficientes, recursos financeiros etc. Diante disso, ambas as partes são resultados de um método de gestão estratégica da organização. É um processo organizativo que de certo modo é essencial à estrutura, comportamento e cultura da organização daquele que a desenvolve. Neste processo podemos retirar dois aspectos importantes, sendo que o primeiro respeita o modo de formular a estratégia organizacional, e o segundo, a sua prática. A implementação da estratégia organizacional é um método no qual diferentes grupos de funcionários poderão ser abrangidos quando da planificação da aprendizagem e no desenvolvimento dos processos que andam lado a lado numa relação muito estreita. Os objetivos estratégicos providenciam a orientação para todas as esferas da organização e deliberam um quadro geral de condições para o marketing em médio prazo, contando com o desenvolvimento das atividades de venda e planificação dos recursos humanos, indispensáveis para a implementação das atividades. G. Hamel e C.K. Prahalad (1989) questionaram também a abordagem clássica da estratégia, apoiando-se primeiramente nos exemplos das empresas japonesas, demonstrando que a abordagem clássica não consentia explicar a trajetória concorrencial das empresas, que partindo de uma posição mais antagônica conseguia mudar o jogo adversário a seu favor. 25 Conforme os autores, faz-se necessário substituir o padrão da adequação por uma nova filosofia, ou seja, a finalidade estratégica. Esta última incide em colocar as empresas no cerne da formulação da estratégia, tendo como escopo a mutação das regras do jogo da envolvente e a inspiração de novos espaços concorrenciais. Esta filosofia baseia-se sobre dois pressupostos: a perseguição de uma visão ambiciosa e de longo prazo e o desenvolvimento baseado em uma carteira de competências centrais. A finalidade estratégica ora estabelecida sobre os recursos supõe a perseguição de um objetivo de longo prazo, onde a era da transformação carece de uma organização capaz de perseguir objetivos que mudam e de se mover rapidamente no tempo, mesmo se a plataforma estratégica tornar-se inconstante, sendo permanente apenas na mudança. As tarefas de atualização estratégica exigem dos gerentes e de toda a organização uma capacidade de adaptação muito grande. Kaplan e Norton (2001, p. 290) citam que a estratégia evolui em tempo real à medida que a própria organização gera novas ideias e trajetórias. Com o sistema gerencial focalizado na estratégia, as equipes gerenciais monitoram o desempenho em função da estratégia; trabalham como equipe na interpretação dos dados; desenvolvem novos insights estratégicos; definem novas trajetórias estratégicas; atualizam os indicadores dos scorecard; alteram os orçamentos. Silveira (2002) afirma que a escolha dos itens acima é uma opção, fundamentada na capacidade do enunciado proposto por Slack et al (1997), e que se resume em três aspectos básicos para a moderna administração estratégica, a saber: a) O alinhamento interno da organização, que é entendido como a consistência no que se refere a processos, ações, informações e decisões entre as suas diferentes unidades funcionais e se infere no padrão global de decisões e ações, isto é, para toda a organização; b) O posicionamento da organização em seu ambiente, condição sine qua non para a sobrevivência em ambientes competitivos, como o são na maioria dos ambientes de atuação das organizações atuais; c) A visão de longo prazo, que proporciona maiores condições para a manutenção da coerência da organização ao longo do tempo; d) Meta desafiadora face à dinâmica do cenário atual. 26 2.1.4 Estratégia e Cultura Organizacional É o conhecimento do comportamento individual que leva a empresa a enquadrar cada membro no seu âmbito interno, tornando evidente a importância dos valores organizacionais fixados na cultura da organização para que as ações da responsabilidade social interna sejam implementadas. Stewart (1998) diz que, para liberar o capital humano que existe na organização, fazse necessário minimizar as tarefas irracionais, o trabalho burocrático, inútil, e as competições internas; e, neste enfoque, a cultura organizacional deve ser considerada, pois é por meio desta que as crenças individuais são as norteadoras do comportamento do indivíduo. O sucesso dos resultados é medido pelo alcance dos objetivos e por sua perenidade. A administração da empresa se faz sob a sua visão empresarial de longo prazo, sendo a rentabilidade fator de desenvolvimento autossustentado, capaz de garantir o crescimento e a perpetuação da organização. O principal fator de motivação para a empresa é a adoção de uma dinâmica cultural e a necessidade de contar com pessoas e equipes comprometidas com o sucesso da organização em todas as suas atitudes. Para Hall e Taylor (2003), uma questão importante é como construir a relação entre o comportamento dos indivíduos e instituições, haja vista que, se de um lado tem-se a instituição como reflexo do individuo e grupos que a compõe, de outro quando se comportam conforme uma convenção social, os indivíduos se organizam ao mesmo tempo como atores sociais e cultivam ações imbuídas de significado social. A estruturação e implementação da gestão da cultura e dos valores compartilhados deve contar com o apoio da alta direção e o envolvimento de todos, sendo estimulada a próatividade, encorajando e recompensando iniciativas para superar metas. Sendo assim, busca-se um clima interno saudável e uma cultura organizacional caracterizada pela habilidade para vencer os desafios presentes e futuros. A retomada da consciência da importância de um indivíduo nas funções, que cada vez mais exigem dentro de tais modelos de gestão empresarial a criatividade e a pró–atividades, passam a ser foco das novas estratégias de recursos humanos em muitas empresas. Por isso, fala-se em avaliação 360º, avaliação de desempenho e meritocracia. Os canais de comunicação entre a alta direção e os funcionários de base passam a ser comuns, e os almoços e cafés da manhã com os presidentes tornam-se veículos de comunicação essenciais em resultados. (FUKUNAGA, 2009, não paginado). Desta forma, a eficácia na gestão de pessoas somente se integraliza por meio da educação de seus líderes. Esse processo educacional deve ser fundamentado na gestão da 27 cultura como forma de garantir a difusão e compartilhamento dos valores organizacionais, da missão, da visão e do negócio da empresa. Para Macrh e Olsen (1989), a influência e transformação entre indivíduos e a organização é fundamentada pelo pensamento neoinstitucionalista: (a) perspectiva normativa: os indivíduos se adaptam a regras e normas da instituição; (b) perspectiva cognitiva: onde as instituições influenciam o comportamento, ao fornecer esquemas, categorias e modelos morais e cognitivos que são indispensáveis à ação. A gestão da cultura organizacional deve estar inserida em um conjunto de valores e crenças, alinhados com a filosofia, visando resgatar a satisfação pela realização própria do colaborador, no contexto proporcionado por uma empresa que valoriza o homem. Ademais, destaca-se por seus níveis de qualidade e ética empresarial que, dentro da comunidade, fortalecem os agentes econômicos e atendem aos interesses públicos e comunitários, implicando na prática constante do respeito; desenvolvimento; participação; oportunidade; simplicidade e desempenho; relacionando o cliente à qualidade, à produtividade, à competência e à inovação. 2.2 O CONCEITO DE RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS (RSE) 2.2.1 Definição do conceito Para Porter (2001), a responsabilidade social como atividade empresarial possui um caráter reflexivo interessante, na medida em que a competência no desenvolvimento de projetos como este que promovam o desenvolvimento socioeconômico é vista com bons olhos pelas partes interessadas, dando conotação de diferenciação comparativa ao negócio. Funcionários de uma empresa sentem-se motivados quando a organização atua socialmente. As ações de responsabilidade social e as tarefas voltadas para o desenvolvimento da comunidade de modo sustentável são importantes para a imagem da empresa e, consequentemente, para os funcionários, pois estes se percebem como integrantes desse processo que ajuda outras pessoas que têm maiores necessidades sociais. Neste contexto, a responsabilidade social interna e externa deve ser implantada pelas organizações como investimento, como ativo passível de retorno, seja em termos de deduções de tributos, seja relacionado à imagem e à credibilidade da organização. As ações de responsabilidade social corporativa podem levar a sociedade a legitimar as empresas como ordenadoras e provedoras centrais do bem comum. As empresas têm, 28 assim, seu poder ampliado, tornando-se necessário delimitá-lo, pois as mesmas são apenas mais uma faceta social, com objetivos próprios e específicos. Para tanto, a responsabilidade social da empresa está intimamente ligada ao tipo de relacionamento desta com os seus interlocutores. A natureza desta relação depende muito das políticas, valores, cultura e, principalmente, da visão estratégica que prevalecem no centro da organização e no atendimento a essas expectativas. De acordo com Livro Verde: Dado que a responsabilidade social é um processo, pelo qual as empresas gerem as suas relações com uma série de partes interessadas, que podem influenciar efetivamente o seu livre funcionamento, a motivação comercial torna-se evidente. Assim, semelhante à gestão da qualidade, a responsabilidade social de uma empresa deve ser considerada como um investimento e não como um encargo. Através dela é possível adotar uma abordagem inclusiva do ponto de vista financeiro, comercial e social, condizente a uma estratégia a longo prazo que minimize os riscos decorrentes de incógnitas. As empresas deverão assumir uma responsabilidade social tanto na Europa como fora dela, aplicando o princípio ao longo de toda a sua cadeia de produção. (COMISSÃO DAS COMUNIDADES EUROPEIAS, 2001). Para o Instituto Ethos: Responsabilidade social é uma forma de conduzir os negócios da empresa de tal maneira que a torna parceira e corresponsável pelo desenvolvimento social. A empresa socialmente responsável é aquela que possui a capacidade de ouvir os interesses das diferentes partes (acionistas, colaboradores, prestadores de serviço, fornecedores, consumidores, comunidade, governo e meio ambiente) e consegue incorporá-los no planejamento de suas atividades, buscando atender às demandas de todos e não apenas dos acionistas ou proprietários. (INSTITUTO ETHOS, 2013, p. 210). Nesta definição, apresenta-se a necessidade de “ouvir” os grupos de interesse com uma configuração de diálogo. Em relação ao diálogo, conforme Laville (2009): “A aposta é de que a empresa, na realidade, corre menos riscos (crise de imagem ou de reputação) ao assumir tal postura do que se fechando em uma torre de marfim cercada de certezas... A comunicação de amanhã consistirá em escutar tanto quanto falar”. A autora considera que a empresa possui o poder de resolver prejuízos e problemas que atingem a sociedade. Assim, apenas devem ser postos mais em evidência pra cada um – consumidor, cidadão, funcionário etc. Modificando inquietude em confiança, revolta contraditória em força de proposta e medo do futuro em energia de mudança. Para D’Humières (2010, p. XIX), “A empresa moderna não tem inimigo, ela só tem públicos insatisfeitos”. Desta forma, empresa aberta ao diálogo assume uma função de regulação social. Entretanto, as expectativas dos diferentes grupos de interesse podem ser 29 arduamente incompatíveis, uma vez que este entendimento, que subestima os conflitos entre atores, perde sua relevância. Diante disso, estudos revelam que empresas que praticam a responsabilidade social tem grande probabilidade de apresentar uma maior taxa de crescimento comparado às organizações que não as pratica. Segundo Robert Dunn: Ser socialmente responsável é um dos pilares de sustentação dos negócios tão importante quanto à qualidade, à tecnologia e a capacidade de inovação. Quando a empresa é socialmente responsável, atrai os consumidores e aumenta o potencial de vendas, gerando maiores lucros para os acionistas. Além disso, também é, hoje, um sinal de reputação corporativa e da marca. (DUNN, 1998, p. 5). De acordo com Frederick (1960), a RSE abrange um caráter público no que diz respeito aos recursos humanos e econômicos, desde que estes não sejam funcionários de forma limitada aos interesses de pessoas e empresas privadas. Contudo, para Drucker (1996), o desempenho econômico é a primeira responsabilidade de uma empresa, sendo que, se uma empresa não apresenta um lucro ínfimo igual ao seu custo de capital, esta será socialmente irresponsável, desperdiça os recursos da sociedade. O seu desempenho econômico é o seu alicerce e sem o mesmo esta não pode exercer nenhuma outra responsabilidade, nem ser uma empregadora capaz, nem uma boa cidadã, nem uma vizinha adequada. Refletir a responsabilidade social nas empresas requer compreensão e revisão de conceitos, sobretudo prática do comportamento socialmente responsável, não apenas em relação à comunidade e ao ambiente externo, mas também ao ambiente interno da organização. De acordo com Srour: A responsabilidade social deve ser entendida como orientação para os outros, fruto dos interesses em jogo. Reflete tanto um sentido de realidade quanto um olhar para o futuro. A responsabilidade social remete, em síntese, à constituição de uma cidadania organizacional no âmbito interno da empresa e a implementação de direitos sociais no âmbito externo. (SROUR, 1998). Melo Neto e Froes (2001) argumentam que empresas socialmente responsáveis convergem a se destacar pelo seu modelo de comportamento ético e social, evidenciando o comprometimento com a comunidade local e com seus empregados por meio de ações sociais, sendo que o principal objetivo destas não é o marketing, mas sim o desenvolvimento local. 30 Os mesmos autores demonstram ainda que existe tanto a predominância de ações sociais externas voltadas para a sociedade ou para a comunidade local, quanto às de caráter interno, cujo alvo são os funcionários e seus familiares. Tem-se o conhecimento ainda de que grandes organizações construíram suas fundações e operam socialmente na área de educação, por exemplo, como é o caso da Fundação Bradesco, entre outras, que se utilizam no país do molde assistencialista com ações sociais esporádicas, em particular as empresas de pequeno e médio porte, embora algumas grandes empresas tenham identificado a relevância de ações sociais sustentáveis. A partir da revisão da literatura, percebe-se que a responsabilidade social vem, ao longo dos anos, sendo catalogada às afeições ligadas a visibilidade e a imagem das organizações. Para Tinoco (2001), o conceito de responsabilidade social corporativa está atribuído ao reconhecimento de que as deliberações e os resultados das atividades das organizações alcançam um universo de agentes sociais muito mais vasto do que o composto por seus sócios e acionistas (shareholders). Assim sendo, a responsabilidade social corporativa ou cidadania empresarial, como também pode ser chamada, ressalta o impulso das atividades das empresas para os agentes com os quais dialogam. Vários teóricos mencionam, entretanto, que este conceito anuncia acordos que vão além daqueles obrigatórios para as empresas, tais como o cumprimento das obrigações trabalhistas, tributárias e sociais, da legislação ambiental, de usos do solo e outros. De acordo com Asociación Española de Contabilidad y Administración de Empresas (2004), os elementos relacionados abaixo promovem uma definição mais concisa de responsabilidade social corporativa: Quadro 1 – Tipos de visão da responsabilidade social das empresas Capacidade para reconhecer, aceitar e estabelecer Responsabilidade respostas nas consequências de um comportamento realizado consciente e livre Qualidade de pessoa como elemento integrante de Social um sistema social ou coletivo de indivíduos Entidade de interesse público, comumente Corporação associada a um projeto econômico; em particular, a empresa Obrigação contraída por vontade própria sem Compromisso voluntário interferência de nenhuma classe Entorno físico natural, incluídos o ar, a água, a Meio ambiente terra, a flora, a fauna e os recursos renováveis, tais como os combustíveis fósseis e os minerais. Grupos de interesses, partes interessadas ou Grupos de pessoas ou indivíduos afetados de uma ou outra forma pela existência ou ação das stakeholders organizações e com algum interesse legítimo sobre as mesmas 31 Fonte: Guzzo (2003, p. 52) Em torno do conceito de responsabilidade social corporativa, ainda de acordo com Asociación Española de Contabilidad y Administración de Empresas (2004), existem vários termos relacionados, dentre os quais destacamos os seguintes: Quadro 2 – Conceitos de responsabilidade social corporativa Ajuda voluntária, expressa em recursos econômicos ou de outro Ação Social tipo, outorgada pelas empresas a projetos externos de caráter filantrópico e desenvolvimento socioeconômico (assistência social, saúde, educação etc.). A ação social é um dos diversos comportamentos socialmente responsáveis que a empresa pode acometer. Pronunciamento formal de valores e boas práticas dos órgãos de Código de bom governo gestão e administração da organização, enunciado com dignidade de preceito a cumprir por todas as pessoas que compõem os departamentos, de maneira muito especial o Conselho de Administração. Modelo de desenvolvimento que busca compartilhar a exploração Desenvolvimento Sustentável racional de recursos naturais e sua regeneração, eliminando o impacto nocivo da ação do ser humano, em geral, e dos processos produtivos, em particular, para satisfazer as necessidades das gerações presentes, sem pôr em perigo a satisfação daquelas que possam ser apresentadas pelas gerações futuras. Concepção de empresa como membro integrante da sociedade, Empresa Cidadã com o dever de promover seu desenvolvimento e a preservação do entorno vital onde realiza sua atividade. O cumprimento de suas obrigações como cidadão corporativo é uma forma de alcançar a legitimidade na sociedade da qual faz parte. É o estudo e a aplicação da moral ao mundo da empresa. Ética Empresarial Compreende o conjunto de valores, normas e providências que as organizações vinculam aos seus membros em forma de ideais compartilhados e obrigações, em torno do que é bem e mal, do que é correto e incorreto. Ação social da empresa, formulada e implantada sobre a base de Filantropia Estratégica um planejamento estratégico de negócio, associando a ação filantrópica a alguns benefícios determinados em termos econômicos e de vantagem competitiva. Gestão orientada à prevenção, redução, minimização e eliminação Gestão ambiental do impacto ambiental negativo que ocasiona ou pode ocasionar a atividade da empresa. Campanha com apoio da comercialização de produtos e serviços Marketing com Causa Social oferecidos por países com vistas ao desenvolvimento e organizações não governamentais que canalizam ajuda aos países. Expressão do impacto de atividade de empresa na tríplice Sustentabilidade dimensão: econômica, social e ambiental. Compromisso com o modelo de desenvolvimento sustentável que se pode alcançar por meio da responsabilidade social corporativa. Capacidade ou qualidade para alcançar o desenvolvimento sustentável. Tríplice conta de resultados É aquela que representa, em termos quantitativos, o valor econômico, o valor para o desenvolvimento social ou para o meio (triple bottom line) ambiente que as empresas criam ou destroem. Este conceito reflete a importância de considerar as consequências econômicas e, também, ambientais e sociais das decisões que tomam as organizações. Fonte: Guzzo (2003, p. 52) 32 Neste contexto, apresentam-se abaixo acepções das relações entre filantropia e responsabilidade social. A responsabilidade filantrópica é voluntária e orientada pelo desejo da empresa em fazer uma contribuição social não imposta pela economia, pela lei ou pela ética. Ela inclui as ações de fazer doações às obras beneficentes, de contribuir financeiramente para os projetos comunitários ou para instituições de caridade, iniciativas onde não são esperados retornos financeiros para a empresa. Segundo o dicionário Larousse (1965), a filantropia é: “o sentimento que incita os homens a ajudar os outros”. A palavra vem do grego philos (amigo) e anthropos (homem). Ela caracteriza um comportamento voluntário destinado a melhorar, de uma maneira gratuita, as condições de vida de uma população ou de uma comunidade determinada. Ela é baseada sobre a noção de “don”, de um presente, que pode ser de natureza monetária material (distribuição de presentes em favor de uma população carente), ou pessoal (o voluntário) (L’ HERMINIER, 2012). Pelo viés das empresas, a filantropia pode se manifestar dentre os objetivos de uma politica de responsabilidade social, apesar de que a incorporação da filantropia no conceito de Responsabilidade Social Empresarial é o objeto de diversas interpretações entre os pesquisadores. Dentro da diversidade de conceitos da Responsabilidade Social das Empresas (RSE) existe uma tendência de confusão entre filantropia e responsabilidade social. Na tentativa de esclarecer essa questão, recorre-se às ideias de Oded Grajew, Diretor Presidente do Instituto Ethos. Para Grajew (apud INSTITUTO ETHOS, 2013), a responsabilidade social é uma ampliação da filantropia. A filantropia consiste em ações sociais externas da empresa, tendo como beneficiária a comunidade (conselhos comunitários; organizações não governamentais, associações comunitárias etc.). Já a responsabilidade social foca a cadeia de negócios da empresa e inclui preocupações com acionistas, funcionários, prestadores de serviço, fornecedores, consumidores; comunidade, governo e meio ambiente, cujas demandas e necessidades a empresa deve buscar atender e incorporar em seus negócios. Para Melo Neto e Froes (2001), existe uma grande diferença entre as ações de responsabilidade social e as ações de filantropia (mecenato). Estes autores afirmam que, a responsabilidade social está diretamente relacionada com a promoção da cidadania e com a auto-sustentabilidade das comunidades, enquanto que a filantropia se baseia em ações assistencialistas que visam contribuir para a sobrevivência de grupos sociais desfavorecidos. 33 Contudo, acontece uma mudança com uma evolução em filantropia de situações onde as relações reais das empresas com as comunidades eram muito fracas, as relações de cooperação em longo prazo onde as mesmas tomam uma participação mais ativa na formulação e a implementação dos projetos sociais locais (GREENWOOD, 2011). Segundo L’Herminier (2012), a forma moderna de filantropia se situa na ação e não mais na assistência. Esta nova visão implica uma relação de diálogo e de reciprocidade entre as empresas e as comunidades e necessita da participação das empresas para um desenvolvimento local baseado sobre os três setores (governo, ONGs e empresas). Ela aproxima as fronteiras entre o setor lucrativo e não lucrativo com a aplicação dos métodos de gestão do setor privado nas organizações sociais. O quadro abaixo faz um paralelo entre filantropia no sentido clássico e a responsabilidade social para melhor compreensão deste termo. Quadro 3 - Filantropia e Responsabilidade Social Efeitos Filantropia Humanitárias Motivações Reativa e com ações isoladas Participações Relação pleiteante\doador Público Alvo Opção pessoal do dirigente Atuação Social Resultados Divulgação Estado Gratificação pessoal de poder ajudar Não procura associar a imagem da empresa com a ação social Não há relação Compromisso Social Sentimento de responsabilidade Proativa e com ações integradas Relação de parceria Incorporada à cultura; Envolvendo os funcionários. Comprometimento com objetivos e metas Dá transparência à atuação para multiplicar as iniciativas sociais Relação de controle e complementaridade Fonte: Guzzo (2003, p. 52) 2.2.2 O desvio positivo Os autores Hartman e Arnold (2006) explicam a definição do conceito de “desvio positivo”, trazendo a ideia de uma empresa que deve possuir uma cultura que favoreça a imaginação moral: “é a hipótese de um conceito que leva os líderes da empresa a tomar decisões mais éticas e mais responsáveis”. Este desvio positivo refere-se à conduta de empresários que regulam a sua direção sobre ações reveladoras de que uma resposta dinâmica às perguntas de práticas sociais e ambientais possam ter implicações positivas (HARTMAN; ARNOLD, 2006). Entre estas consequências, os autores citam vantagens: a) Em nível dos assalariados: empregados mais leais, mais fundamentados e mais produtivos; 34 b) Em nível dos clientes: uma imagem mais favorável da empresa aumentando as suas preferências no mercado; c) Em nível da política de recrutamentos: esta é facilitada pela reputação moral da empresa. Este conceito pode ser acentuado com relação às normas legais e éticas. Sendo essas respectivamente propagadas e aplicadas pelos governos, e padrões determinados em referência aos direitos humanos: O desvio positivo produz-se quando um grupo de trabalho, uma empresa ou outra instituição afasta-se das normas legais e éticas de forma a melhorar a posição estratégica da empresa medida em parte pelo mercado, em volume de negócios ou lucro. (HARTMAN; ARNOLD, 2006). Para tanto, as ações dos indivíduos e da organização reforçam-se reciprocamente. Percebe-se que o desvio positivo exercitado em certas organizações pode ter um efeito de treino no nível da indústria por efeito de imitação. Estes “best practices” podem ser também originalmente de uma evolução das legislações para regulamentos mais adequados ao plano social e o respeito do ambiente. Propaga-se, assim, a adoção e a transmissão de valores, comportamentos e procedimentos que levam e instigam o sucessivo aperfeiçoamento dos processos empresariais, para que também procedam em preservação e progresso da qualidade de vida das sociedades, do ponto de vista ético, social e ambiental. É neste contexto que o Instituto Ethos corrobora com o conceito de responsabilidade social empresarial, a partir da gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com o público que ela se relaciona e por meio das metas empresariais impulsionadas pelo mercado ao seu compromisso com o desenvolvimento sustentável da sociedade, bem como a preservação de seus recursos naturais, ambiental e cultural, para as gerações futuras (INSTITUTO ETHOS, 2013). O trabalho do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE) na ascensão do estudo de balanço social das empresas é uma dessas demonstrações e tem logrado progressiva repercussão. Como um dos principais articuladores da responsabilidade social no Brasil, o Instituto Ethos é designado com a missão de originar e disseminar práticas empresariais socialmente responsáveis, cooperando para que empresas e sociedade obtenham um desenvolvimento sustentável em seus aspectos econômico, social e ambiental. É uma associação de empresas, sem fins lucrativos, criada com a missão de mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas a gerir seus negócios de forma socialmente responsável, tornando-as 35 parceiras na construção de uma sociedade sustentável e justa. Juridicamente é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip). Não desenvolve atividades de consultoria, não autoriza ou credencia profissionais a oferecer qualquer tipo de serviço em seu nome, nem se trata de entidade certificadora de responsabilidade social que fornece selos com essa função. O trabalho de orientação às empresas é voluntário, sem nenhuma cobrança ou remuneração (INSTITUTO ETHOS, 2013). O Instituto Ethos conta com mais de 800 companhias integradas e, ao contrário do que se possa imaginar, não são apenas as grandes organizações que estão engajadas, bem como as pequenas, médias e micro empresas. A ferramenta fundamental estabelecida pelo Instituto Ethos é a autoavaliação com base em indicadores dos quais dispõe a empresa sobre o seu exercício de responsabilidade social empresarial. O questionário composto de afirmativas considera temas como Valores, Transparência e Governança; Governo e Sociedade; Público Interno; Meio Ambiente; Fornecedores; Consumidores e Comunidade, equivalente a todos os stakeholders da empresa. Tais questões são relativas ao III Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia (SEGeT), cujas interconexões foram adaptadas a cada público, a saber: como contrata, retém e demite empregados; como aperfeiçoa e avalia seus fornecedores; se inclui em seus contratos cláusulas expressas contra o trabalho infantil, dentre outras (INSTITUTO ETHOS, 2013). O referido questionário pode ser respondido por qualquer organização, independente do porte, e dá embasamento para que um plano de ação seja organizado com vistas ao desenvolvimento dos pontos delicados apontados pela avaliação, contribuindo assim para inovações de práticas de responsabilidade social que estejam ligadas à gestão do negócio. Vale enfatizar que todas as iniciativas são instintivas e fruto da visão estratégica de administradores que compreendem que em um ambiente altamente competitivo há uma necessidade de uma performance diferenciada. Entretanto, existe um projeto de lei que tem em vista regulamentar as técnicas socialmente responsáveis no país, tornando imprescindível a publicação do balanço social, a composição de comitês internos para segurança das práticas de responsabilidade social, além de punições pelo descumprimento do proposto pela lei. O fundamental é que as empresas reconheçam a seriedade dessa nova configuração de gestão e a incorporem no seu dia a dia, ocasionando sustentabilidade para seus negócios, mas também para a sociedade. Nesta perspectiva, o Instituto Ethos é um polo de organização de conhecimento, troca de experiências e desenvolvimento de ferramentas para auxiliar as empresas a avaliar suas práticas de gestão e enraizar seu compromisso com a responsabilidade social e o 36 desenvolvimento sustentável. É também uma referência internacional nesses assuntos, ampliando projetos em parceria com várias entidades no mundo todo, bem como uma referência em gestão social, daí a iniciativa e preocupação desta pesquisa em utilizar todas as informações que o Instituto poderá fornecer e contribuir para o enriquecimento da mesma (INSTITUTO ETHOS, 2013). 2.2.4 As Diferentes Visões da RSE nas empresas Ashley (2003) comenta que as organizações, a mídia e a academia têm dado particular ênfase à abordagem instrumental da responsabilidade social corporativa, como uma forma de melhoria da reputação da empresa para alcançar a vantagem competitiva. Segundo Donalson e Preston (1995), aparecem dois tipos de representação da RSE: a visão instrumental e a visão normativa. A visão instrumental, qualificada também como «orientada business» (CAPRON; QUAIREL-LANOIZELEE, 2010), considera a RSE como uma medida que permite a uma empresa desenvolver uma estratégia que oferece retornos econômicos e financeiros e que, em consequência, oferece uma vantagem competitiva sobre o mercado. A visão normativa é fundada sobre a tomada de consciência dos dirigentes de uma empresa que a organização tem obrigações morais em relação aos grupos de interesse. A empresa se estima assim devedora à sociedade e, por causa disso, ela deve tomar em consideração diversas expectativas das partes interessadas. Nesta perspectiva se estabelece, implícita ou explicitamente, um contrato social entre a empresa e a sociedade que a obriga a conduzir as atividades econômicas dentro um compromisso entre os objetivos empresariais e as expectativas de diversos grupos de interesse (LÉPINEUX, 2006). Segundo Quazi e O’Brien (2000), as diversas políticas de responsabilidade social podem ser apresentadas em um modelo com duas dimensões: a) Uma avaliação da amplitude da responsabilidade: estreita até ampla; b) Os resultados financeiros das ações: geração de custos até realização de benefícios. Com esse modelo (figura 2) aparecem quatro diferentes visões sobre a responsabilidade social empresarial: a) A visão clássica com o princípio de que a responsabilidade social não gera valor (FRIEDMAN, 1970) e, por isso, ela é incompatível com o objetivo de maximização do lucro; 37 b) A visão socioeconômica, onde a empresa pratica ações de responsabilidade na medida em que estas são criadoras de valor. Esta perspectiva de “criação de valor compartilhado” (PORTER; KRAMER, 2011) caracteriza a relação da Agropalma com os agricultores familiares integrados. Esta cooperação provoca um aumento de receita e renda para os dois parceiros (o agricultor e a empresa); c) A visão filantrópica, onde as ações sociais são praticadas, apesar de que elas não trazem retornos econômicos para as organizações; d) A visão moderna, onde a responsabilidade social em favor de uma comunidade favorece o bem estar de uma população e ao mesmo tempo gera benefícios para a empresa. Figura 2 - Modelo bidimensional de responsabilidade social corporativa Visão moderna Benefícios das ações Responsabilidade ampla Visão socioeconômica Responsabilidade Estreita Visão clássica Visão filantrópica Custos das ações de RSC Fonte: Quazy e O’Brien (2000) 2.3 RESPONSABILIDADE SOCIAL INTERNA A Responsabilidade Social Interna (RSI) é vista por muitos como uma ação coerente, uma forma de investimento no público interno e, muitas vezes, como uma obrigação moral das empresas. Estas, além de criarem muitos projetos de responsabilidade social, envolvem-se em setores diversos da sociedade e necessitam preocuparem-se em assistir também os seus próprios funcionários, focando na relação entre estes e seus dependentes, favorecendo um ambiente agradável de trabalho que contribua para o bem estar dos indivíduos como um todo. 38 Para Melo Neto e Froes (2000), a RSI compreende programas de seleção de pessoal; benefícios que se estendam para seus dependentes; programas de qualidade de vida; treinamento e desenvolvimento; e manutenção de pessoal, entre outros. Para Debastiani e Bitarello (2005), uma empresa socialmente responsável caracteriza-se como tal, não somente por meio da ética, como também disponibilizando condições de trabalho, mas, sobretudo, criando condições internas de satisfação e realização profissional aos funcionários. A empresa deve reconhecer que o seu colaborador é parte integrante do seu processo e de seu sucesso. Muitos gestores consideram os empregados como o maior ativo da empresa, portanto, devem ser tratados e valorizados a partir de suas capacidades. Isso é verdade, no entanto, nem sempre se vê a prática deste valor na gestão de pessoas. A administração moderna pressupõe que os gestores precisam garantir que seus empregados tenham boas condições de vida no trabalho para obter o sucesso. A qualidade de seus produtos e serviços é fortemente condicionada à qualidade de vida de quem produz ou presta serviços, em um contexto dentro do qual as pessoas se sentem envolvidas e estimuladas a dar o melhor de si. (SILVA; GREIS, 2007). Não se pode desconsiderar que o capital humano, sendo a fonte de riqueza para as organizações face ao seu mercado, muitas vezes são tratados como último recurso para o gestor, o que acaba ocasionando frustrações e insatisfações ao colaborador, mostrando que mesmo que os discursos sejam comuns, na prática nem sempre o capital humano é o ativo mais importante da empresa. Para Furtado e Pena (2005), a responsabilidade social interna e as relações de trabalho ainda são aspectos pouco estudados no âmbito organizacional, sendo que a sua relação com a gestão de pessoas é um campo multidisciplinar, englobando não apenas o local de trabalho, mas também aspectos sociais, políticos e econômicos na relação entre patrões e funcionários. No que tange ao público interno, procura-se compreender as relações de conflito, jogos de poder e força, o conteúdo da relação homem e trabalho, os processos de gestão de pessoas e as relações com sindicatos e comissões internas. A capacidade de dialogar com o público interno inclui práticas específicas para diferentes esferas. Por exemplo: com relação aos sindicatos, é fundamental a criação de canais efetivos de comunicação com a transmissão de informações sobre condições de trabalho, dados financeiros e objetivos estratégicos que atinjam os trabalhadores. De acordo com o Instituto Ethos (2013), a empresa socialmente responsável não se limita a respeitar somente os direitos dos trabalhadores que estão consolidados na legislação trabalhista e nos padrões da Organização Internacional do Trabalho (OIT), ainda que esse seja 39 um pressuposto indispensável. Vai além, investindo no desenvolvimento pessoal e profissional de seus funcionários, bem como na melhoria das condições de trabalho e no estreitamento de suas relações com os mesmos. Entre os indicadores do Instituto Ethos de 3ª. Geração (2013), que são voltados para o público interno, enfatiza-se a gestão participativa, que aceita envolvimento dos funcionários nas soluções em problemas da organização, trabalho decente que inclui cuidado com a saúde, segurança e condições de trabalho; e os processos de gestão de pessoas relacionados ao desenvolvimento profissional de forma integral. Esta iniciativa tem influenciado o pensamento sobre o papel da empresa e o impacto de suas ações na sociedade, onde pesquisas demonstram que a preocupação com a responsabilidade social ainda tende a focalizar-se em estratégias de negócios ou ao público externo (em geral, ações de filantropia) para fins de construção de imagem pública. Ao se falar de responsabilidade social, percebe-se que o fator humano se expande saindo de uma fronteira para além dos Recursos Humanos de uma organização, alcançando uma importante construção de sua imagem, reputação e produtividade nas organizações. Sob a perspectiva dos recursos humanos, relacionam-se itens que se enquadram no perfil de responsabilidade social da entidade para com seus colaboradores, a saber: proporcionar ou facilitar o aprendizado constante; privilegiar a busca de melhor equilíbrio entre trabalho, família e lazer; maior igualdade salarial; perspectivas de crescimento profissional; participação nos lucros; aproveitamento adequado da formação dos trabalhadores; além do cumprimento dos direitos trabalhistas. Com isto, a responsabilidade social interna poderá apresentar efeitos positivos na produtividade, no comprometimento do colaborador para com a cooperativa, motivação, entre outras. (NASCIMENTO; FEY; GARCIA, 2008). Neste contexto, propõe-se uma nova gestão que entenda a prática de responsabilidade social, a fim de considerá-la por trazer benefícios tanto para a empresa quanto para a sociedade e, principalmente, para os funcionários, que acabam percebendo um espaço de realização mais significativo. “O universo corporativo já sabe reconhecer que o diferencial do negócio tem por base o ser humano. A preocupação com os funcionários deve ir muito além do desenvolvimento dos profissionais e de uma oferta atrativa de remuneração” (COSTA, 2010). Entretanto, um programa de responsabilidade social interna para ser bem sucedido deve contar com a opinião e participação direta dos seus funcionários. Portanto, uma empresa que cria um ambiente agradável de trabalho, valoriza seus recursos humanos, é capaz de desenvolver um modelo de gestão integrado, em que as pessoas têm um papel decisivo no seu compromisso com relação à comunidade do seu entorno e à sociedade em geral. Ademais: é 40 uma empresa que se organiza e constrói com maneiras alternativas de participar, conviver e viver melhor, tendo como seu compromisso a promoção da cidadania e do desenvolvimento de todos, os tais pontos fundamentais ao seu diferencial competitivo. A percepção pelos empregados de que no local de trabalho existe potencial para satisfação de suas necessidades psicológicas, gera maior comprometimento, entusiasmo e dedicação ao trabalho e, em consequência, maior produtividade para a organização, sendo a capacidade, o conhecimento e o comprometimento os grandes diferenciais para a organização. (PFEFFER, 1994 apud COSTA, 2010). A empresa deve proporcionar boas condições de trabalho aos seus funcionários, capacitação profissional e uma adequada política de recursos humanos que atenda suas ambições profissionais e pessoais: É preciso que se diga e “rediga” que a gestão responsável dos recursos humanos não é apenas uma tendência simpática e humanista, mas corresponde também a um interesse mútuo bem compreendido, pois funcionários realizados constroem as empresas que funcionam. (LAVILLE, 2009, p. 337). Ao mesmo tempo em que se investe na modernidade administrativa para fins de garantir a competitividade no mercado, as empresas precisam sustentar no centro de suas atenções a qualidade de vida das pessoas e do ambiente próximo da organização sob sua responsabilidade. Existem muitas maneiras de se desenvolver um bom clima na empresa. Exemplos disso são os programas de benefícios sociais tais como: vale alimentação, transporte, assistência médica e social, qualificação, participação nos lucros, entre outros. Bem como os programas de voluntariado, em que os funcionários participam e se sentem valorizados por contribuir e desenvolver outras pessoas que não tiveram o mesmo acesso à cultura, estudo, lazer. Para ilustrar essa RSI, podemos pegar como exemplo os objetivos da Petrobrás: Buscamos atrair, desenvolver, treinar e reter pessoas, investindo em seus talentos e aprimorando as competências técnicas e gerenciais, atendendo à dinâmica dos negócios, visando sustentar a excelência competitiva. Investimos no desenvolvimento pessoal e profissional, estimulando o aprimoramento contínuo por meio da Universidade Petrobrás e buscando sempre que nossos empregados tenham autonomia para desenvolver suas atividades com qualidade e segurança. No relacionamento com os empregados, obedecemos à legislação dos países onde estamos presentes e às convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Contamos com as políticas corporativas de Recursos Humanos, de Segurança, Meio Ambiente e Saúde, e de Responsabilidade Social, que incluem temas como “princípios de trabalho” e “compromisso da força de trabalho”. (PETROBRAS, 2013). 41 Desta forma, onde se disponibiliza boas condições para que o trabalho aconteça de maneira prazerosa e produtiva aos seus funcionários, terceirizados ou não, há o retorno para o acionista e para todos da organização, ou seja, o ambiente transforma a empresa e o seu público interno. Cria-se assim um clima organizacional em que todos se auxiliam e a empresa ajuda o indivíduo quando faz aquisições para o seu quadro de pessoal e os funcionários retribuem esses investimentos com qualidade na produção, satisfação no trabalho, pontualidade, assiduidade, cumprimento de regras, entre outros. 42 3 O LUGAR DA EMPRESA: A EXPANSÃO DO DENDÊ E A AGRICULTURA FAMILIAR NA AMAZÔNIA O Estado do Pará é o maior produtor de Óleo de Palma do país, e principal parceiro do governo federal para a expansão do dendê na região amazônica. Várias empresas do ramo agregam 80 mil hectares de dendê, sendo a maior delas a Agropalma, instalada no município de Tailândia – PA. Esta atualmente comporta a maior estrutura e o maior projeto de expansão de dendeicultura, com 51 mil hectares até 2015. Em seguida, apresenta-se a Denpasa, que visa chegar com 10 mil hectares; a Dentauá, que tem por objetivo permanecer com os seus atuais 5,6 mil hectares; e a Palmasa, com seus 5 mil hectares, todas no mesmo período (GLASS, 2013a). Já a Biopalma, oriunda da canadense Biovale, com visão um pouco mais audaciosa, pretende chegar com 80 mil hectares até 2016. Em sequência, a Petrobrás almeja os seus 70 mil hectares até 2018; e a Multinacional ADM, de origem norte-americana, estabeleceu como meta iniciar sua plantação já com 21 mil hectares desde a sua instalação na região (GLASS, 2013a). O programa da Agricultura familiar está cada vez mais se expandindo no território do Nordeste paraense com a cultura do dendê. As fragilidades dos processos produtivos na opinião do poder público têm explicado os investimentos como alternativa viável de renda (GLASS, 2013a). Conforme Santos e Sacramento (2013), como empresa de maior produção de dendê no Pará, com 106 ha de extensão e com 34 mil hectares plantados, a Agropalma se destaca das demais com relação ao investimento no programa da agricultura familiar, demonstrando o atrativo em investir neste modelo de agricultura (SANTOS; SACRAMENTO, 2013). Quadro 4 – Agricultores familiares integrados do dendê entre 2010 e 2012 43 Fonte: Glass (2013b) Ressalta-se que dentre todas as empresas do ramo alimentício e de cosméticos sucedidas do óleo de dendê, a Agropalma se destaca, destinando até meados de 2010 a doação de uma parte de sua porcentagem de produção ao biodiesel. Isso implica no sucesso agro energético do governo, que dependerá um curto período das empresas investidoras e dos novos empreendimentos, sendo um fator que definirá como os agricultores familiares e trabalhadores rurais se enquadrarão na cadeia produtiva da dendeicultura. O governo federal tem como propósito garantir o máximo de participação dos agricultores familiares nessa obra. O Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) presumiu que 800 famílias estariam agregadas ao cultivo do dendê até final do ano passado. Já o governo do Pará aposta em 13 mil até 2014. A vinculação para o novo negócio da agricultura familiar é a conexão com uma grande empresa. Neste aspecto, o compromisso do governo com o projeto da Agricultura Familiar é que a renda de uma família com o cultivo do dendê chegue a R$ 2 mil por mês, após o quarto mês de vida da palmeira, quando ela começa a produzir (GLASS, 2013a). Divulgados pela ONG Repórter Brasil, estudos revelam que a economia tradicional e pequenos produtores estão sendo engolidos pela produção agroindustrial, em decorrência dos principais benefícios estarem apontados para as grandes empresas a favor da produção do biodiesel. Assim, os grupos inseridos na agricultura familiar que fazem parte da expansão da dendeicultura têm conquistado mais danos econômicos do que benefícios. Ainda conforme dados da ONG, a expansão do dendê na região foi infligida e pouco discutida entre os moradores das comunidades rurais. Segundo levantamento realizado, seus efeitos são alarmantes, como: impactos ambientais e econômicos; influência na alta de preços e produtos locais, como a farinha de mandioca, devido à substituição dos roçados tradicionais pelo dendê; contaminação de igarapés; reflexos na segurança alimentar e nutricional, com intensas alterações sociais e de vida destas comunidades. O modelo monocromático de dendeicultura já mostra indícios sobre a reconcentração de terras, a transformação de pequenos agricultores em trabalhadores assalariados (estes que muitas vezes ficam vulneráveis à exposição de drogas, prostituição, condições precárias de subsistência, perda de autonomia de suas terras, trabalho escravo, entre outros), problemas que se alastram sobre as comunidades relacionadas à área do dendê e biodiversidade (FARIAS, 2013). De acordo com a Embrapa, os agricultores familiares são o grupo mais afetado pelas mudanças do clima devido às alterações dos ciclos das chuvas e do aumento do efeito estufa. Para o pesquisador Eduardo Assad – pesquisador da empresa em foco, como tentativa de 44 minimizar os impactos do clima, propõem-se alternativas para amenizar as emissões dos gases causadores do efeito estufa, para não intensificar os problemas existentes advindos da alteração do clima na região. O programa sobrevém da aquisição de sistemas agrícolas, com a aplicação de técnicas e tecnologias que podem ser administrados tanto por agricultores empresariais quanto por seus familiares, sempre alternando as escalas das ações. Ainda para Assad, no caso da agricultura familiar, é fundamental o engajamento de atores estratégicos, no sentido de alertar as famílias para a adoção desses sistemas (AGÊNCIA BRASIL, 2013). De acordo com Overbeek: Os contratos que esses agricultores (as) fazem com as grandes empresas produtoras é justamente o ponto que deve ser mudado, por significar um retrocesso para a qualidade de vida das famílias rurais e para o próprio Meio Ambiente. Além de ficarem presos às condições extremamente desumanas, onde o/a agricultor (a) deve plantar e produzir nada menos do que está no contrato, tendo que arcar com os prejuízos, caso a meta de produção não seja alcançada, representa ainda a criação de mais uma monocultura, trazendo assim o risco do uso de agrotóxicos. (OVERBEEK, 2013, não paginado). Os maiores beneficiados com o cultivo do dendê são as empresas Agropalma, Biovale e Biopetro e os mais prejudicados são os agricultores familiares, ribeirinhos e comunidades quilombolas. Ressalta-se que grande parte dos problemas são ocasionados pelo uso de agrotóxicos, uso de venenos nas propriedades das empresas, o que afeta a agricultura familiar e inviabiliza a reprodução socioeconômica dessas famílias (VAZ, 2013). Para Silva: Desta forma, a regularização fundiária e ambiental baseada nos princípios da função social da terra; a preservação da territorialidade, dos símbolos e tradições das populações locais; o ordenamento territorial participativo; o impulsionamento de uma política agrícola que estimule a segurança alimentar e nutricional; a dinamização de sistemas agroflorestais baseados em princípios agroecológicos; a inovação tecnológica; e a eficiência socioeconômica dos empreendimentos da agricultura familiar constituem alguns dos desafios que permeiam o desenvolvimento da palma de óleo na Amazônia brasileira. (SILVA, 2013, não paginado). Para tanto, Glass (2013b) traz a reflexão sobre como os recursos e investimentos em tecnologia designados ao cultivo do dendê poderiam ser mais bem utilizados no campo da agricultura familiar de maneira social, ambientalmente correta e economicamente saudável. Desafio este que envolve a participação das organizações governamentais parceiras dos agricultores, universidades, instituições de apoio, poder público, sindicatos e os próprios agricultores familiares, levando-os a repensarem as práticas realizadas na dendeicultura, aprofundando este debate. 45 4 RESPONSABILIDADE SOCIAL DA ORGANIZAÇÃO ESTUDADA 4.1 A MISSÃO DA AGROPALMA Segundo registros da Agropalma, a empresa tem por missão valorizar a qualidade de vida nos diversos segmentos que atinge, focando em clientes, fornecedores, funcionários, acionistas e comunidade, fortalecendo o desempenho produtivo e social. A política da organização se baseia na promoção de valores fundamentais nas áreas de meio ambiente, direitos humanos, trabalho e social, pautadas em condutas éticas que valorizam a qualidade de vida. Para Aligleri, Aligleri e Kruglianskas (2009), alguma fragilidade da cadeia prejudica a imagem responsável de uma empresa. Em especial, as multinacionais, em atividade nos países onde as regras legislativas sociais são muito restringidas, que precisam fazer pressões sobre as empresas terceirizadas ou fornecedoras para que elas apliquem condições de trabalho aceitável. Grande parte das empresas exige atualmente dos fornecedores documentos ou certificações que sejam transparentes e mostrem que eles são adeptos da sustentabilidade com respeito a um conjunto de critérios, podendo os mesmos passarem por uma auditoria de avaliação das condições de trabalho e de proteção ambiental. É neste âmbito que o Grupo Agropalma sofre pressões de seus clientes, em particular as multinacionais, que têm uma reputação a proteger, e sobretudo no setor de óleo de palma, onde o produto possui uma imagem negativa devido aos excessos na Indonésia (líder sobre o mercado). Os clientes de fora da empresa não vão correr o risco de comprar óleo de palma na Amazônia, uma vez que se trata de uma região sensível ao nível ambiental, se o fornecedor não comprovar que ele segue uma politica íntegra de Responsabilidade Social e Ambiental, a partir de um conjunto de certificações. Tem-se como filosofia o compromisso da Agropalma em promover o desenvolvimento sustentável, evitando impactos ao meio ambiente e contribuindo para o crescimento de comunidades próximas, respeitando as leis, normas e hábitos vigentes onde atua, de forma que esta consiga manter uma sinergia com as partes interessadas, fortalecendo o desempenho da empresa. As atividades sociais na organização surgiram a partir das demandas identificadas pela empresa, no intuito de implementar uma política com foco no ser humano, de clientes a comunidades, havendo uma força que impulsiona o trabalho social a ser realizado em um contexto mais amplo nas demandas externas. 46 4.2 PROGRAMAS SOCIAIS DA EMPRESA 4.2.1 Agricultura Familiar O Grupo Agropalma acredita na sustentabilidade socioeconômica da região Amazônica e, para contribuir com a geração de renda e emprego na região, formou parceria com diversas entidades governamentais para desenvolver e implantar o Programa de Agricultura Familiar. O primeiro plantio, que beneficiou 50 famílias, foi realizado em 2002. Atualmente o Programa conta com 185 famílias de pequenos agricultores, que possuem plantações de 6 a 10 hectares de palma. No Programa, os governos são responsáveis por fornecer a terra e a infraestrutura de estradas. O banco é responsável por fornecer o financiamento. A empresa fornece as mudas, fertilizantes, ferramentas e equipamentos de proteção a preço de custo, bem como assistência técnica. Os produtores são responsáveis por fazer a gestão adequada das plantações e produzirem os cachos de palma. A empresa garante a compra de toda a produção em função do preço no mercado internacional. Os contratos que regem a parceria possuem validade de 25 anos, o que traz segurança a todas as partes envolvidas - agricultores, empresa, banco e governos. Com a produção da palma, a renda das famílias aumentou significativamente, juntamente com sua qualidade de vida. Estudos socioambientais realizados nas comunidades beneficiadas concluíram que o Programa de Agricultura Familiar melhorou o desempenho ambiental das comunidades como um todo, inclusive das atividades não relacionadas com o plantio de palma. 4.2.2 Escola Agropalma Fundada em 1986, a Escola Agropalma adota o Sistema de Ensino Positivo. Atualmente possui cerca de 500 estudantes nos ensinos infantil, fundamental e médio. A Escola é mantida pelo Grupo Agropalma, que também fornece o transporte aos estudantes. O ensino é gratuito e a Empresa paga 70% do valor do material didático. Os estudantes têm a sua disposição 10 salas de aula, laboratório de informática, laboratório de ciências, refeitório e biblioteca. Todos os ambientes são climatizados, para melhor conforto térmico dos estudantes e professores. 47 4.2.3 Programa Educação de Jovens e Adultos (EJA) A Escola Agropalma também aderiu ao Programa EJA, do governo federal. Esse programa tem como público-alvo os adultos a partir de 18 anos que não concluíram seus estudos e buscam uma oportunidade para fazê-lo. As aulas do EJA também são gratuitas e acontecem no período da noite. Atualmente, o Programa beneficia aproximadamente 200 funcionários da Empresa. O Grupo Agropalma também fornece transporte aos alunos do EJA e há dois anos criou um sistema de incentivos para reduzir a evasão escolar, que obteve bastante sucesso entre os alunos. 4.2.4 Programa Atleta do Futuro Programa sócio-educativo de cunho esportivo desenvolvido pelo Serviço Social da Indústria (SESI) para atendimento de crianças e jovens de 7 a 17 anos, preferencialmente beneficiários da indústria. Esse Programa visa desenvolver o hábito da prática esportiva e inclusão, por meio da oferta de programas sócio-educativos e da promoção de iniciativas esportivas e culturais, com a participação de crianças e jovens. No Grupo Agropalma a parceria com o SESI foi estabelecida em meados de 2009. A Empresa fornece a infraestrutura esportiva (campos de futebol, quadras e piscina) e os materiais (uniformes, bolas etc.); o SESI fornece o professor e o suporte técnico-administrativo. O Programa tem grande aceitação e representa uma oportunidade de interação entre a comunidade e a empresa. 4.2.5 União Feminina da Agropalma (UFA) A UFA é um grupo de mulheres, esposas de colaboradores, fundado em 2005, que recebe apoio do Grupo Agropalma no aprimoramento de suas competências profissionais e organizacionais. Em 2009 e 2010, a UFA elaborou seu planejamento estratégico apoiada por uma ONG social especializada. Os trabalhos de planejamento estratégico consolidaram e oficializaram a vontade do grupo em se tornar uma cooperativa para a fabricação de roupas. 48 4.3 OS CERTIFICADOS 4.3.1 Sistema Integrado de Gestão O Sistema Integrado de Gestão do Grupo Agropalma integra e monitora a aplicação dos requisitos das normas ISO 9001, ISO 14001 e OHSAS 18001. Com a integração das três normas é possível: produzir com qualidade, respeitar e preservar o meio ambiente e zelar pela saúde e segurança de todos que trabalham direta e indiretamente na empresa, objetivando atender aos requisitos de seus clientes, aos requisitos regulamentares aplicáveis, aos princípios do desenvolvimento sustentável e da responsabilidade social, e em respeito à saúde e segurança de seus funcionários e prestadores de serviço (AGROPALMA, 2013). Com esta visão, o Grupo Agropalma orgulha-se de ser a única empresa no setor de palma no mundo a possuir as certificações ISO 9001, ISO 14001 e OHSAS 18001, que atestam a qualidade de seus produtos e processos e a gestão dos sistemas de proteção ao meio ambiente, saúde e segurança ocupacional. A conquista destes certificados, em 2002, representa para a empresa o reconhecimento da implementação de um Sistema Integrado de Gestão, fruto de um intenso trabalho de mobilização dos funcionários e da aplicação de programas de treinamento e capacitação. Um fator considerado favorável pela empresa nesse processo de engajamento é o fato do seu corpo gerencial, com idade entre 29 e 42 anos, possuir uma mentalidade empresarial diferenciada, aberta às questões socioambientais, como reflexo do maior acesso à educação e aos tempos em que vivemos de preocupação com o futuro do planeta. A conquista dos certificados ISO 9001, ISO 14001 e OHSAS 18001 pela Cia. Refinadora da Amazônia para produção e comercialização de óleo de palma e palmiste, gorduras e cremes vegetais, incluindo os processos de refino, branqueamento, desodorização e ou fracionamento, representa para o Grupo Agropalma a primeira etapa para o reconhecimento do Sistema Integrado de Gestão implementado, mantido e em constante aprimoramento. O Grupo Agropalma objetiva certificar as demais empresas, visando produtos de qualidade suprema; a plena satisfação dos clientes; ambiente de trabalho saudável e seguro para os funcionários e prestadores de serviços; e o desenvolvimento sustentável mediante processo agroindustrial ecologicamente correto, com aproveitamento total dos resíduos sólido e líquido, originário do processo produtivo. 49 Na esteira desse processo, a Agropalma conquistou também importantes certificações para sua linha de produtos orgânicos, o que permitiu o acesso da empresa a mercados internacionais, como Suíça (Bio Suisse), Japão (Japan Agricultural Standard – JAS) e Estados Unidos (National Organic Program of the United States – NOP/USDA). Além dos certificados para a agricultura orgânica propriamente dita, destaca-se a obtenção, em 2008, do Selo EcoSocial, emitido pelo Instituto Biodinâmico (IBD), órgão reconhecido pelo International Federation of Organic Agriculture Movements (IFOAM), instituição internacional que regulamenta a agricultura orgânica. O selo atesta que uma parte da produção é comercializada dentro dos princípios de comércio justo, pois exige a aplicação total do prêmio (valor a mais pago pelos clientes por produtos certificados) em projetos e ações socioambientais previamente aprovados pela entidade certificadora. Em janeiro de 2009, produtos orgânicos com o selo EcoSocial já estavam sendo exportados para os Estados Unidos. A tonelada de óleo certificado vale de 35 a 40% mais do que o óleo convencional. 4.3.2 Sustentabilidade – RSPO Em agosto de 2011, o Grupo Agropalma recebeu a certificação da Rountable Sustentability Palm Oil (RSPO), tornando-se a primeira empresa das Américas a conquistar o selo de sustentabilidade para toda a sua produção própria de cachos de palma e óleo de palma bruto. Essa certificação atesta que a produção é realizada de acordo com os oito princípios, 39 critérios e mais de 120 indicadores de sustentabilidade desenvolvidos de maneira participativa por diferentes partes interessadas no mercado mundial da palma (ONGs, bancos, produtores de óleo bruto, processadores, redes varejistas, produtores de bens de consumo, entre outros). Os Princípios e Critérios da RSPO abrangem o comprometimento com a transparência, as dimensões ambiental, social e econômica da sustentabilidade e o compromisso com a melhoria contínua. Ao cumprir com estes requisitos, o Grupo Agropalma contribui para a geração de riquezas e bem estar para a sociedade, pois mantém o equilíbrio saudável entre a utilização dos recursos naturais, a geração e distribuição de renda e a rentabilidade do negócio. Ressalta-se que a organização estudada não dispõe das certificações ISO 26000 e SA 8000, as quais são de grande importância para a mesma por serem normas voltadas a oferecer 50 as melhores práticas para a sua própria organização, cadeia de fornecedores e mercado (DNV, 2013). Em suma, trata-se de uma empresa de grande porte e que tem em suas prioridades o meio ambiente e as pessoas. Desde sua criação, no início da década de 80, o Grupo tem a preocupação de garantir o desenvolvimento sustentável da região Amazônica através de ações de preservação ambiental e desenvolvimento social. No final da década de 90, o Grupo tem investido na melhoria do seu desempenho socioambiental, por meio da adequação de processos internos, elaboração de diagnósticos sociais e ambientais, parcerias com ONGs, implantação e certificação do Sistema Integrado de Gestão em todas as atividades, obtenção de certificações socioambientais e orgânicas, e desenvolvimento e implantação própria de programas e projetos que visam à proteção do meio ambiente. 51 5 METODOLOGIA 5.1 O TIPO DE PESQUISA Esta investigação consiste em um estudo de caso que, para Yin (2005), apresenta como fundamento avaliar uma teoria por meio da crença de que as proposições definidas sejam verdadeiras, através de um caso único que ofereça a ratificação, contestação ou uma nova direção para investigações futuras. É considerada como estudo de caso holístico, pois abrange mais de uma unidade de análise, por meio do conhecimento da equipe e funcionários de diversos departamentos, em uma única companhia. Ainda para o autor, o estudo holístico permite ao pesquisador examinar qualquer fenômeno específico dentro de uma abordagem global. Segundo ele, o estudo de caso é um método possível de pesquisa quando se deseja compreender um fenômeno social complexo, pois este implica um maior nível de detalhamento das relações entre os indivíduos e as empresas, bem como dos intercâmbios que se processam com o meio ambiente nos quais estão inseridos. O foco temporal é outro componente decisivo para a escolha do método, sendo neste caso utilizado o método de casos como o mais adequado ao estudo de eventos contemporâneos. De acordo com Lazzarini: Tal compreensão, para fins de pesquisa, não deve ser buscada sem que haja retroalimentação de um corpo teórico que necessite de consolidação e ou aperfeiçoamento. Assim sendo, o estudo de caso é particularmente aplicável quando se deseja obter generalizações analíticas e não estatísticas, que possam contribuir para um certo referencial teórico. Sem este enfoque, o estudo de caso acaba tornando-se apenas uma história bem contada. (LAZZARINI, 1997, p. 21). Salienta-se que o trabalho científico deve implicar uma metodologia que dê sustentação e acompanhamento teórico ao tema abordado na pesquisa, de modo que os objetivos demarcados possam ser impetrados com êxito (MATTAR, 1995). Portanto, o presente trabalho caracteriza-se por uma pesquisa descritiva e exploratória, apoiando-se em análises documentais e bibliográficas, buscando sistematizar o contexto desenvolvido por outros autores de forma a atingir os objetivos nomeados. À revisão da literatura realizada se integram as entrevistas dirigidas e conversas informais com profissionais e tomadores de decisão diretamente envolvidos com a questão da 52 responsabilidade social interna na organização pesquisada. Dessa forma, a pesquisa proposta é de natureza qualitativa. Bonoma (1985) enfatiza que as evidências qualitativas admitem compreender mais profundamente o fenômeno, dentro do seu próprio contexto. Yin (1998) sobressalta que questões do tipo “como” e “por que” apresentam natureza mais explanatória, não podendo ser tratadas simplesmente por dados quantitativos, enquanto questões do tipo “quem”, “o que”, e “onde” têm melhor tratamento neste quesito. De acordo com Silva e Menezes (2001, p. 20-23), existem várias formas de classificar uma pesquisa e, portanto, o presente trabalho pode ser assim caracterizado: a) Quanto à natureza: aplicada; b) Quanto à forma de abordagem do problema: qualitativa; c) Quanto aos procedimentos técnicos: um estudo de caso. Para os autores acima mencionados, a pesquisa aplicada é aquela que visa gerar conhecimentos para aplicação prática dirigida à solução de problemas específicos (SILVA; MENEZES, 2001, p. 20). Esta tem como objetivo demonstrar qual a importância das ações de responsabilidade social interna na visão dos gestores e funcionários de uma indústria de óleo de Palma e palmiste, localizada no Município de Tailândia – PA, bem como sua refinadora na cidade de Belém. Desta forma, as informações resultantes da pesquisa poderão ser essenciais aos gestores na utilização eficaz destas práticas, e também na prática e melhoramento do programa de RSI, o que caracteriza a pesquisa como aplicada. Quanto à abordagem do problema, Silva e Menezes afirmam que: Uma pesquisa qualitativa considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzida em números. Não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas e é descritiva. O processo e seu significado são os focos principais da abordagem. (SILVA; MENEZES, 2001, p. 20). Concomitante, o estudo tem características de uma pesquisa exploratória, onde a referida subentende o levantamento de dados bibliográficos e entrevistas com pessoas que apresentaram experiências práticas com o problema pesquisado, como o estudo de caso proposto. Para Gil (2002), este procedimento permite um estudo profundo e exaustivo de um ou de poucos objetos, de maneira que se permita o seu amplo e detalhado conhecimento, tarefa praticamente impossível mediante outros delineadores de pesquisa. 53 Portanto, a pesquisa exploratória tem como objetivo o de: Proporcionar maior familiaridade com o problema com vistas a torná-lo mais explícito ou construir hipóteses. Pode-se dizer que estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de ideias ou a descoberta de intuições. Seu planejamento é, portanto, bastante flexível, de modo que possibilite a consideração dos mais variados aspectos relativos ao fato estudado. (GIL, 1991, p. 20). Sendo assim, admite-se um conhecimento mais amplo de quais ações de responsabilidade social são indispensáveis para a manutenção da imagem junto ao público interno e externo tornando a pesquisa como exploratória, não esquecendo que o foco da mesma é o âmbito interno. 5.2 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS De acordo com Vasconcelos (2002, p. 2), a seleção dos instrumentos e das fontes de informação e dados devem ser ponderados e levar em conta algumas regras básicas que são: a) Ser coerente com a estrutura teórico-técnica do projeto, que define o tipo de olhar e a forma de enquadramento do fenômeno em estudo, e que acaba por priorizar tipos específicos de instrumentos e fontes de investigação; b) A disponibilidade e acessibilidade a dados sob investigação; c) Adequar-se às características específicas dos indivíduos, da população, do ambiente ou organização sob investigação; d) Considerar os recursos humanos, financeiros, técnicos, de análise, bem como o tempo e as condições concretas disponíveis para a realização do projeto, tornando-o factível; e) Ser coerente com a estratégia institucional e com as questões éticas definidas no planejamento do projeto. A coleta de dados da pesquisa é realizada por meio de entrevistas semi-estruturadas e não estruturadas, bem como a observação direta e por meio de documentos científicos e não científicos. A partir do roteiro de entrevistas, é aplicado um questionário fechado para avaliar as potencialidades e fragilidades da RSI da empresa em estudo, utilizando-se da escala Likert para mensuração. Salienta-se que a escala Likert aplicada possui, como pontos de interferência, Totalmente em Desacordo ( -3), Em Desacordo ( -2), Algo em Desacordo (-1), Indiferente (0), Algo em Acordo (+1), De Acordo (+2) e Totalmente em Acordo (+3). Escala usada na pesquisa de campo para levantamento da opinião dos entrevistados quanto ao tema abordado, 54 lembrando-se que o trabalho refere-se à forma como as empresas se estruturam para desenvolver atividades de responsabilidade social interna voltada para seus funcionários. Os dados colhidos foram analisados por meio do programa SPSS, uma vez que o tratamento dos dados na abordagem quantitativa, que para Siena (2007) é uma avaliação numérica (RICHARDSON, 2007 apud SIENA, 2007). 5.3 SELEÇÃO DOS SUJEITOS E AMOSTRA O estudo se aplica a linha da gestão organizacional e despertou-se o interesse em descobrir e compreender a responsabilidade social interna a partir da visão dos funcionários. Os atores envolvidos na pesquisa foram 57 funcionários. O perfil deles figura na seção de apresentação dos resultados. Com este público-alvo, buscou-se analisar as diferenças entre as percepções destes trabalhadores sobre a temática da responsabilidade social interna da organização. 5.4 OS INDICADORES Os indicadores de responsabilidade social interna foram introduzidos na pesquisa com a finalidade de examinar o desempenho das empresas no que menciona as suas práticas de responsabilidade corporativa, sendo estes desenvolvidos pelo Instituto Ethos (2013). Eles foram empregados com o objetivo de avaliar as ações empresariais voltadas para a responsabilidade social interna, e de medir o grau de comprometimento da empresa com os funcionários. Os indicadores também proveem uma ferramenta de autoanálise e um modelo de gestão para as empresas, por indicar os caminhos para que as mesmas se tornem socialmente responsáveis. Ressalte-se que esse instrumento pode ser utilizado por empresas de qualquer porte ou segmento industrial, sendo uma ferramenta disponibilizada no site do Instituto para qualquer empresa que se interessar. Destaca-se que na pesquisa de campo, os questionários foram aplicados utilizando como embasamento a escala Likert e que os indicadores foram colocados em quinze afirmações. (Apêndice) As quinze afirmações do questionário aplicado ao público interno: a) Tudo o que é proposto como ação social pela empresa é cumprido; 55 b) Os gestores da empresa escutam o que você tem a dizer; c) Sua opinião quanto ao que você faz é ouvida; d) A empresa é aberta a discussões; e) A empresa pratica ações voltadas à educação; f) A empresa pratica ações voltadas à saúde; g) A empresa pratica ações voltadas a treinamentos; h) A empresa pratica ações voltadas à segurança do trabalho; i) Você pode expor suas ideias, que elas serão ouvidas e aproveitadas; j) A empresa se preocupa com o futuro de seus filhos; k) A empresa tem compromisso com a sua qualidade de vida; l) A empresa tem compromisso com o não preconceito e a não discriminação no trabalho; m) Você tem acesso à boa politica de remuneração, benefício e carreira na empresa; n) A empresa faz diferenciação entre seus trabalhadores; o) A empresa tem compromisso e se preocupa com a comunidade local. 56 6 CONTEXTO DA PESQUISA 6.1 O PRODUTO DENDÊ Palmeira de origem africana, introduzida no Brasil junto com os escravos no século XVIII, o dendezeiro teve sua implantação industrial no Brasil no inicio da década de 60, respectivamente na Bahia, Pará e Amazonas. De acordo com uma publicação da Embrapa, o dendê pode ser caracterizado como: Uma planta perene que permite perfeita cobertura do solo, proporcionando boa reconstituição do ambiente florestal, com aceitável estabilidade ecológica e de baixo impacto negativo ao meio ambiente. O dendezeiro começa a produzir comercialmente três anos após o plantio. A produção é de quatro a seis toneladas de óleo/ha/ano. Socialmente, por ser cultura perene, com utilização intensiva de mão de obra, sem entressafras, permite a interiorização e a fixação do homem no campo. Em média, cada 10 hectares de dendezal significam trabalho rentável para uma família por 25 anos. Por essas características, a dendeicultura representa excelente desempenho como atividade âncora em programas de interiorização, como projetos de reforma agrária, colonização, cooperativas e outros modelos de desenvolvimento rural, sendo comprovados benefícios econômicos, ecológicos e sociais. (BARCELOS; SANTOS; ROSARIO, 2002). O processo de industrialização precisa dar-se em um raio de 50 km da área de plantio, devido à exigência de o produto ser industrializado no máximo em 24 horas após a colheita. A partir desse processo, vários empregos são gerados na região onde há o plantio do dendê facilitando a integração entre o produtor e a empresa. Gráfico 1 - O rendimento médio (kg/ha) das oleaginosas Fonte: Franco (2010) 57 Villela (2009) acredita no dendê como alternativa energética sustentável em áreas degradadas da Amazônia; e a conclusão da pesquisa é que a palma dispõe de grande potencial de mitigação nas emissões de gás de efeito estufa, bem como uma alternativa vastamente favorável quando confrontada a outros usos típicos do solo na Amazônia (soja, pecuária, entre outros). Em uma dada área, o cultivo de dendê gera mais renda anual, demanda mais mão de obra não qualificada e causa menos impactos ao solo... Ao proporcionar mais empregos e renda por m2, o cultivo de dendê evita que trabalhadores rurais se dediquem, em uma área mais extensa, a outras formas menos sustentáveis de uso da terra. (VILLELA, 2009, p. 142). Para Becker (2011), devido sua grande produtividade ocupar somente 5% das terras cultivadas para a produção de óleo, o dendê produz 38% do total, recomendando que qualquer substituto careceria de muito mais terra para obter esse montante de produção. Entretanto, é de suma importância analisar que o custo da implantação de um hectare de palmeira (dendê) está estimado em R$7.500,00 e os ganhos alcançados são ponderados entre US$1000 a US$2000 por ano e por hectare. Como para a cana-de-açúcar, os resíduos são recicláveis na produção para gerar energia. As fibras dos frutos servem de rações orgânicas (adubos). 6.2 A LOCALIZAÇÃO DO CULTIVO DO DENDÊ No ano de 2013, foram dedicados ao cultivo do dendê, no Estado do Pará, cerca de 160.000 hectares. Assim sendo, a previsão é que no ano de 2014 a superfície das plantações chegue a 210.000 hectares, contando com a participação de 14.500 grandes e médios agricultores e 13.000 agricultores familiares. Quarenta e quatro municipalidades do Estado devem ser implicadas no Programa de Produção sustentável de Óleo de Palma. A grande maioria delas é localizada na região de “Guajarina”. Esta, conhecida como território do dendê, abrange sete municipalidades: Tailândia, Mojú, Tomé-Açu, Acará, Igarapé-Miri, Concórdia do Pará e Bujaru, onde a densidade rural é bastante elevada, com 7 a 8 pessoas por km2. Conforme Droulers et al (2010), a área foi ocupada há mais de 50 anos. É um local onde a pressão da terra é alta e existem muitos conflitos de sociedade, onde habitam comunidades quilombolas, que lutam por seus direitos às terras reconhecidas, durante as operações de cadastro rural que irão se desenvolver. Ainda assim, nesta região à margem 58 esquerda do Rio Tocantins, os municípios de Cametá e Baião também estão envoltos na plantação de dendezeiros realizada pela Petrobrás. O Estado do Pará, por ser o primeiro produtor do país, destaca-se com a melhor produtividade, além de ser o responsável pela quase totalidade das áreas que podem ser replantadas, ou seja, em formação (Quadro 4). Quadro 5 - Estimativa de área, produtividade e produção de dendê, safra 2010 Região Área* Produtividade** Em formação Em produção 40.432 Norte Roraima Amazonas 73.347 600 Total 113.779 Em produção Em produção 14.455 1.060.236 600 2.949 350 3.299 36.883 72.997 109.880 Nordeste 1.750 5.799 7.549 Bahia 1.750 5.799 7.549 Brasil 42.182 79.146 121.328 Pará Produção*** *Em hectares; ** Em kg/ha; *** Em toneladas. Fonte: Brasil – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (2011) 6.3 CARACTERISTICAS DO SETOR DE ATIVIDADE Segundo Barros (2008), produtos de óleo de palma, em países asiáticos têm gerado grande devastação. Presente em 70 países, a ONG Amigos da Terra, estimou em 2005, que no período de 1985 a 2000, 87 % dos desmatamentos da floresta nativa na Malásia estariam atreladas às plantações de palmas. Neste mesmo período, na Indonésia, seis milhões de hectares de floresta tropical foram modificados em palmeirais tanto em Bornéu quanto em Sumatra. Atualmente, mais de cinco milhões de pessoas na Indonésia dependem inteiramente da cultura de palma. De acordo com Durval (2007), a Indonésia prevê duplicar seus 6,5 milhões de hectares de plantação (palma) em cinco anos e triplicar até 2020. Existem sete milhões de hectares de plantio de palma na Indonésia, e lá são produzidos 16 milhões de toneladas de óleo por ano. ONGs como Amigos da Terra, Greenpeace, CCFD, Walhi Friends of the Earth, expandiram os estudos sobre as políticas exercitadas pelos grandes investidores do país na cultura de palmas. Trata-se de políticas ordenadas de desmatamento e exclusão dos pequenos produtores. Com a devastação 59 indiscriminada de florestas tropicais, a Indonésia se destaca como a terceira maior emissora de gases de efeito estufa do planeta. Conforme Grisa 2010, na Indonésia e Malásia, a agricultura familiar responde respectivamente, por 76% e 44% das áreas cultivadas. Contudo, o conhecimento destes países comprova que muitos agricultores perderam suas terras pela influência das grandes empresas em expandir as áreas de produção. Foram revelados por meio de pesquisas que em 2007, 196 mil hectares foram expropriados de quase 25 mil famílias de pequenos agricultores na Indonésia. Chabas (2009) diz que, a partir dos exageros de desmatamento da floresta virgem, em particular na Indonésia, os mecanismos de defesa do ambiente fazem pressão sobre as multinacionais, de maneira que estas reconsiderem a sua política de compra. A partir das obras do Greenpeace, para produzir o seu sabão Dove, a Unilever resolveu, em maio de 2008, não comprar mais o óleo de palma na Indonésia, enquanto as mesmas decorrerem de terras contraídas sobre a floresta virgem desmatada. De acordo com as considerações de Doan Bui (2009, p. 266), após anos de ações, os grandes grupos indonésios, como Wilmar, garantem que agora prestam mais atenção ao meio ambiente; e, para recompor a sua imagem, estão sempre em contato com as ONGs presentes sobre o terreno e aderem a “Roundtable on Sustainable Palm Oil” (RSPO), rótulo de fabricação do óleo de palma “sustentável”. Conforme Doan Bui, teoricamente, o RSPO é responsável por certificar que óleo de palma é ecologicamente correto, supervisionando se há desmatamento e/ou se há fogos nas florestas. Dois países se destacam como os maiores produtores mundiais do óleo de palma: a Indonésia e a Malásia. A Indonésia, com oito milhões de hectares plantados com a cultura, e a Malásia, com 5 milhões de hectares. Os demais países produtores, juntos, respondem por dois milhões de hectares. A Indonésia não é mais exportadora de petróleo, saindo da OPEP e esta situação acelerou a pressão para desenvolver as plantações de óleo de palma destinadas à fabricação de biodiesel. O quadro abaixo indica de um lado o grande potencial no Brasil de produção de Dendê. Segundo Butler e Laurance (2009), Becker (2011), a área adequada no Brasil para o dendê é de 2.283.000 Km2, de um a outro lado. A tabela classifica os países produtores de dendê e indica que a posição do Brasil estava em 2008 somente no décimo quinto lugar. 60 Os principais países de óleo de Palma em 2008: Quadro 6 - (milhões de toneladas) Área adequada para o dendê (km2) 1.Brasil: 2.283.000 2. Rep. Dem. Congo: 778.000 3. Indonésia: 617.000 4. Peru: 458.000 5. Colômbia: 417.000 6. Venezuela: 150.000 7. Malásia: 146.000 8. Papua Nova Guiné: 144.000 9. Suriname: 101.000 10. Bolívia: 90.000 11. Camarões: 83.000 12. Gabão: 81.000 13. Guiana: 81.000 14. Guiana Francesa: 70.000 15. Rep. Congo: 66.000 Fonte: Butler e Laurence (2009), Becker (2011) Produção de Dendê (ton. métricas) 1. Indonésia: 19.700.000 2. Malásia: 17.400.000 3. Tailândia: 1.400.000 4. Colômbia: 830.000 5. Nigéria: 820.000 6. Papua Nova Guiné: 425.000 7. Equador: 340.000 8. Costa de marfim: 320.000 9. Costa Rica: 285.000 10. Rep. Dem. Congo: 175.000 11. Camarões: 165.000 12. Honduras: 165.000 13. Guatemala: 155.000 14. Gana: 120.000 15. Brasil: 110.000 Enfatiza-se aqui que, em 2011, com o crescimento da produção na região norte, o Brasil subiu nesta classificação e conseguiu a 13ª posição entre os principais países. Foi publicado na revista Exame um artigo de Herzog (2010), a respeito do óleo de palma, em que o forte crescimento da demanda mundial deste produto e a evolução da produção nacional aparecem em evidência. Gráfico 2 - Evolução da produção mundial de óleo de palma e de óleo de soja Produção (em Milhões de toneladas) 50 47,1 48 46 43,1 44 42 40 Palma Soja 38,6 37,1 38 36 37,3 37,1 2007 2008 37,8 33,8 35,2 34 32 33,6 30 2005 2006 Fonte: Herzog (2010, p. 129). 2009 61 Gráfico 3 - Evolução da produção de óleo de palma no Brasil (em tonelada) Fonte: Herzog (2010, p. 129). Para Tulio1, Gerente de Responsabilidade Social da Agropalma, a empresa brasileira encara uma certa desvantagem em comparação aos concorrentes da Indonésia, no nível dos custos de mão de obra. Neste país, o salário mensal dos trabalhadores rurais é estimado em US$ 150, quando, ao comparar com o Brasil, o salário mensal é de US$ 600. Em função das cargas sociais ligadas a esta remuneração, o custo salarial final é de US$ 1200 por mês. É importante frisar que o Brasil, em 2008, importou 63% do produto destinado à indústria, um crescimento de 45% em relação a 2003; e em 2009, menos da metade do consumo de palma no Brasil (445.000 toneladas) foi produzida internamente. Por conseguinte, considera-se que a produção de óleo de palma tem um grande espaço para se desenvolver, sendo que o primeiro objetivo seria substituir as importações do produto com a expansão da produção nacional. Atualmente, segundo Centro Nacional de Pesquisas de Solos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), o Brasil possui 31 milhões de hectares apropriados ao plantio da palma. Apenas os estados do Pará, Bahia e Amazonas produzem a oleaginosa. 6.4 HISTÓRICO DA ORGANIZAÇÃO ESTUDADA O Grupo Agropalma iniciou suas atividades em agosto de 1982, no município de Tailândia, a 200km de Belém, e tornou-se o maior produtor de óleo de palma da América Latina, dominando todo o ciclo de produção, da semente ao óleo refinado, gorduras vegetais, creme vegetal, margarina e biodiesel. 1 Entrevista realizada em 19 de maio de 2013 no Hotel Sagres. 62 A caminhada do Grupo apresenta-se em decorrência dos planos do governo militar brasileiro de ocupar estrategicamente a Amazônia, por meio da exploração econômica da madeira, agropecuária e da mineração. Uma vez que, incentivado por benefícios fiscais da Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM) e convencido do potencial da cultura da palma na região, o Banco Real (então controlado pelo banqueiro Aloysio de Andrade Faria, hoje dono do Grupo Alfa) fundou, em 1982, a Companhia Real Agroindustrial S.A. (CRAI) no município de Tailândia, no Estado do Pará (CARIDADE; CASTRO, [2013]). O óleo de palma e seus derivados têm diversas aplicações no mercado de óleos e gorduras. São elas frituras industriais, aspersão de extrusados, chocolates, massas, margarinas, cremes vegetais, biscoitos, sorvetes, cosméticos, sabões e sabonetes. O Grupo Agropalma é composto de duas empresas de capital 100% nacional, controlado pelo Grupo Alfa, quais sejam: Agropalma S\A e Companhia Refinadora da Amazônia (CRA). A maior parte do óleo bruto sai das fábricas do Complexo Agroindustrial e segue em balsas até o terminal do Grupo, em Belém, Capital do Estado do Pará, onde está a matriz da Companhia Refinadora da Amazônia. Inaugurada em agosto de 1997, ela é a primeira empresa refinadora de óleo de palma do Brasil e representa um importante passo para o Grupo, que deixa de ser apenas produtor de matéria prima bruta para se tornar exportador do produto final, agregando mais valor ao segmento que lidera. A empresa conta com o maior e mais moderno complexo agroindustrial do Brasil para o plantio e processamento de óleo de palma. Responde por 75% da produção nacional de óleo de palma, sendo que 15% deste volume são exportados para a Europa e os Estados Unidos, com faturamento anual de cerca de R$ 650 milhões em 2009. A refinaria tem capacidade de produção de 320 toneladas por dia e a Unidade de Acondicionamento de Gordura (UAG), inaugurada em março de 2002, tem capacidade para produzir 154 toneladas de margarinas, cremes e gorduras vegetais por dia, sendo a primeira fabrica de cremes vegetais e margarinas de palma do Brasil. A UAG completa a cadeia produtiva do Grupo Agropalma. O grupo Agropalma, em consonância com o desenvolvimento sustentável, inaugurou em abril de 2005 a primeira fábrica de Biodiesel do mundo para produção de biocombustível com aproveitamento do resíduo do processo de refino do dendê, mantendo-se na vanguarda do negócio de palma no Brasil e no Mundo. 63 Esta mini usina foi concebida em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro. Contudo, ela foi fechada em junho de 2010 por falta de rentabilidade em relação aos preços dos leilões da Agência Nacional do Petróleo (ANP). A empresa apresenta atualmente em seu quadro de pessoal cerca de 4.500 funcionários e beneficia indiretamente mais de 21.000 pessoas na região onde atua. A fazenda, onde são realizados o cultivo das palmeiras e a extração de óleo bruto de palma e palmiste, localiza-se nos municípios de Tailândia, Moju, Acará e Tomé-Açú, no Estado do Pará. Já a Refinaria, a Usina de Biodiesel e a Unidade de Acondicionamento de Gorduras estão instaladas em Belém, enquanto o escritório comercial está localizado na cidade de São Paulo. Todo o processo de refino do óleo é físico, sem a presença de quaisquer substâncias químicas, e possui um dos mais modernos sistemas utilizados no mundo, totalmente controlado por equipamentos de ultima geração. A sociedade e o meio-ambiente são prioridades para o grupo. Desde sua criação, no começo da década de 80, a preocupação do Grupo com o crescimento sustentável na Amazônia se reflete em práticas de preservação ambiental e responsabilidade social voltadas não só para seus funcionários, mas também para a sociedade como um todo. O programa de reflorestamento do Grupo, criado para revitalizar áreas degradadas por pastagens, gado e culturas de subsistência, demonstra seu respeito pelo meio ambiente. Desde 1997, a iniciativa recuperou mais de 15 mil hectares de áreas degradadas pela atividade humana, convertendo-as em competitivas plantações de palma. Firmar-se na região significou para a Agropalma tomar para si a responsabilidade de programar uma infraestrutura local, como a geração de energia elétrica a partir da queimada dos resíduos. No Complexo Agroindustrial, em Tailândia, existem quatro agrovilas com 350 casas e 15 alojamentos, onde residem cerca de 2,5 mil pessoas. Nas agrovilas, foi criada pela organização uma infraestrutura de apoio, com clubes recreativos, serviço médico, academia, escola do ensino infantil ao supletivo, e até mesmo uma universidade, em parceria com a Universidade da Amazônia (UNAMA). Impetrada a uma cultura empresarial rigorosa, disciplinada e de baixo risco, a empresa caminhou próxima às movimentações do mercado internacional e vivenciou um processo de entrosamento e persuasão de que ações socioambientais trazem benefícios e reduções de custo a longo prazo, e que, para isso, era preciso preparar-se para este novo cenário competitivo. 64 Durante este período, a organização começou a investir profundamente na melhoria de seu desempenho socioambiental, alcançando oito certificações relacionadas ao sistema integrado de gestão, à agricultura orgânica e ao comércio justo, e tornou-se signatária do Round Table on Sustainable Palm Oil (RSPO). Criou um bem sucedido programa de agricultura familiar, e cultiva um programa de levantamento e monitoramento da fauna, como parte da iniciativa de proteção das suas reservas florestais. O grupo lançou seu programa de levantamento e monitoramento da fauna em 20042006, em parceria com a Universidade de São Paulo - USP. Na época, foram estudados apenas aves e mamíferos em suas áreas de preservação. As iniciativas de levantamento e monitoramento florestal são hoje realizadas em parceria com a renomada ONG Conservação Internacional. O mais recente estudo de campo também abrangeu répteis e anfíbios. No primeiro semestre de 2009, o Grupo Agropalma firmou um acordo com a Universidade Francesa de Montpellier e patrocinou um estudo de mestrado sobre a biodiversidade da fauna nas plantações da Agropalma (AGROPALMA, [200-]). 65 7 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS 7.1 O DESVIO POSITIVO NA AGROPALMA No dia 19 de maio de 2013, durante uma entrevista no Hotel Sagres, em Belém, o Gerente de Responsabilidade Socioambiental da Agropalma, Tulio Dias, explicou que a responsabilidade social é um conceito incerto. Para ele, cada autor tem uma definição adequada do conceito, não há uma norma determinante para descrever seu conteúdo. (MAGALHÃES; DROUVOT, 2009). Tulio diz que a simples aplicação da legislação não é uma manifestação de RSE, e que o fato de atribuir os custos sociais de um projeto dentro de um investimento não é uma verdadeira prática de responsabilidade social. Por exemplo, se os trabalhadores rurais residirem em locais afastados, se as estradas são ruins, existe a necessidade dos mesmos ficarem no local de produção durante a semana de trabalho. Neste caso, a empregadora destes funcionários tem a obrigação de construir domicílios decentes para atender este requisito. O Gerente relata que o fato da Agropalma construir uma vila, com toda a infraestrutura necessária para viver, inclusive em nível da demanda de lazer (clube, equipamento esportivo), de educação para as crianças ou de saúde (centro médico, farmácia), pode ser compreendido como uma ação de responsabilidade social. No contexto, a RSE só irá ser considerada se a empresa colocar em prática uma política de prestações sociais que ofereça aos trabalhadores diferentes serviços, com melhores qualidades em comparação aos padrões locais. Esta análise corresponde à noção de desvio positivo apresentado anteriormente. A RSE carece de um desvio positivo que origine uma ação para além das normas legais e éticas. Para os autores Williamson e Winter (1991), em referência a teoria dos contratos, os gerentes de uma empresa se comprometem dentro de um conjunto de contratos assinados com diversas partes interessadas: os funcionários, os acionistas, os clientes, os fornecedores, as comunidades etc. Apesar de uma situação de “assimetria de informação”, a coordenação das relações com os grupos de interesse constitui uma tarefa essencial da gestão corporativa. No caso das atividades da Agropalma, existem duas partes interessadas que são prioritárias à direção, que são os funcionários e os agricultores familiares associados. Os funcionários da Agropalma se beneficiam de diversas vantagens sociais dentro do local de produção - alojamentos, serviço de saúde, escola para as crianças, centro de lazer; quanto aos agricultores associados no cultivo do dendê, a relação se limita à aplicação do 66 contrato de produção, assim os agricultores ficam de fora sem usufruir dos benefícios oferecidos aos funcionários, o que acaba causando certa frustação na medida em que eles não podem aproveitar das mesmas prestações (DROUVOT et al, 2013). Tulio Dias2 defende a ideia que, devido à legislação, os serviços de saúde da empresa não podem ser designados a um grupo de pessoas que não tem o estatuto de assalariado. Com relação à escola, o gerente explicou que, por causa do número expressivo de agricultores familiares (185 famílias), a empresa não dispõe de condições financeiras para assumir tal investimento na formação das crianças. Inclusive, por ele, a empresa “não faz nada de graça” e se recusa a assumir uma politica de assistência publica. Em relação com o modelo das cinco forças de Porter, no caso da Agropalma se destaca, sobretudo, o poder de barganha dos clientes, principalmente dos clientes estrangeiros, grandes grupos multinacionais em atividade no setor de alimentação e dos cosméticos. Estes incorporam como insumo o óleo de Palma (Nestlé, Unilever, Ferrero) e são pressionados pela sociedade civil, em particular por intermédio das ONGs, para adotar práticas socioambientais na seleção de fornecedores de óleo de Palma em frente às questões de desmatamento e de expulsão dos pequenos agricultores. A política de responsabilidade social interna da Agropalma tem uma ligação direta com as expectativas deste tipo de clientes. Esta relação se opera pelo fato de que os compradores exigem dos fornecedores certificações do tipo OHSAS 18001, que atestam o comprometimento com uma politica trabalhista relativa aos aspectos de formação, saúde e segurança. Assim, não é por acaso que estes três pontos são os mais reconhecidos pelos funcionários entrevistados na avaliação da politica de responsabilidade social interna da empresa. 7.2 A PESQUISA DE CAMPO 7.2.1 A visão da RSE na Agropalma Em relação com Donalson e Preston (1995), os dois tipos de visão da RSE identificados para a visão instrumental e a visão normativa, parece que a direção da 2 Entrevista realizada em 19 de maio de 2013 no Hotel Sagres. 67 Agropalma privilegia uma política de RSE centrada sobre a visão instrumental, “orientada business”, e não sobre uma visão normativa e moral. Segundo Donalson e Preston (1995), a visão instrumental, qualificada também “orientada business”, considera a RSE como uma medida que permite a uma empresa desenvolver uma estratégia que ofereça retornos econômicos e financeiros e que, em consequência, ofereça uma vantagem competitiva sobre o mercado. Em uma entrevista, o diretor comercial da empresa, Marcello Brito, indica que: “as empresas que não se redesenharem vão ficar fora do cronograma futuro dos negócios”. Assim, é para conquistar status de responsável e a aprovação de clientes engajados na causa socioambiental que a Agropalma tem a obrigação de se adaptar em função das novas condições do mercado. Por ele, se Agropalma tem um comportamento responsável em nível socioambiental “não é porque estamos bonzinhos, mas porque somos inteligentes” (RIBEIRO, 2009). Este ponto de vista em referência à noção de bondade pode ser interpretado como o receio do gerente que as ações da empresa sejam percebidas como uma prática de assistencialismo. Como empresa privada que deve justificar suas decisões estratégicas para os acionistas, os dirigentes da empresa não têm nenhuma intenção de empenhar a organização em compromissos de natureza filantrópica que não geram um retorno econômico e financeiro. Esta tomada de posição é diferente daquela encontrada em outras organizações, em que predomina uma cultura organizacional que incorpora a noção de obrigação moral em favor da sociedade, e que ilustra muitas vezes, dentro das grandes empresas internacionais para a criação de fundações um caráter caritativo e filantrópico. Contudo, a criação de fundação não é uma prática ausente de crítica na medida onde ela pode ser justificada dentro de uma política de evasão fiscal. Este enfoque utilitarista e estratégico da RSE na Agropalma é um elemento chave da politica de comunicação. O fornecedor Agropalma se deve a apresentar aos clientes nacionais e estrangeiros uma imagem em conformidade com os critérios de compra deles. Neste sentido, a empresa emprega os serviços de uma ONG, Peabiru, associados ao cultivo do dendê, para avaliar a evolução das condições de existência das famílias. Podemos também avaliar a visão de RSE na Agropalma em relação com a tipologia de Quazi e O’Brien (2000), na qual as diversas políticas de responsabilidade social são apresentadas em um modelo com duas dimensões: 68 a) Uma avaliação da amplitude da responsabilidade: estreita até ampla; b) Os resultados financeiros das ações: geração de custos até realização de benefícios. O gráfico abaixo apresenta o posicionamento da empresa. Conforme as informações coletadas nesta pesquisa, podemos inserir o posicionamento da empresa Agropalma no quadro “visão econômica”. Esta posição se explica para um compromisso da alta administração, de um lado, às expectativas dos clientes que querem comprar os insumos de fornecedores, que apliquem uma verdadeira política de responsabilidade socioambiental; e de outro lado, à cultura organizacional de tipo financeira, que limita a implicação da empresa na vida da comunidade. Figura 3 - Modelo bidimensional de responsabilidade social corporativa Visão moderna Benefícios das ações Visão socioeconômica AGROPALMA Responsabilidade ampla Responsabilidade estreita Visão filantrópica Visão clássica Custos das ações de RSC Fonte: Quazy e O’Brien (2000) 7.2.2 Conteúdo da Amostra Este capítulo contém os resultados da pesquisa realizada no período de junho a setembro de 2013, com participação de cinquenta e sete pessoas entrevistadas da organização. Esta análise apresenta o perfil dos entrevistados no que se refere à faixa etária, gênero, escolaridade e função dos entrevistados. Sendo assim, a natureza da amostra não é representativa da população dos funcionários e os resultados não têm nenhuma validação em nível de estatística. 69 Tabela 1 - Nível de estatística IDADE Valid Frequency Percent Até 25 anos 13 22,8 De 25 a 35 anos 23 40,4 Acima de 35 anos 15 26,3 6 10,5 57 100,0 Sem resposta Total Fonte: Pesquisa de campo (2013) Elaboração Própria Em relação ao critério de idade, é a população de 25 a 35 anos que predomina na amostra; a proporção de jovem (até 25 anos), a população de jovem (acima de 35 anos) é quase a mesma, respectivamente (22,8% e 26,3%). Tabela 2 - Nível de estatística Frequency SEXO Valid Percent Masculino 40 70,2 Feminino 17 29,8 Total 57 100,0 Fonte: Pesquisa de campo (2013) Elaboração Própria Dentro da população pesquisada figura uma grande proporção de homens (70,2%). Tabela 3 - Nível de estatística ESCOLARIDADE Valid Frequency Percent Ensino Médio 22 38,6 Ensino Superior 24 42,1 Pós Graduação 7 12,3 Sem resposta 4 7,0 57 100,0 Total Fonte: Pesquisa de campo (2013) Elaboração Própria Em relação ao critério de escolaridade, aparece uma proporção quase igual de pessoas com nível de ensino médio (38,6%) e ensino superior de (42,1%). A pesquisa foi administrada com funcionários de nível médio ou superior de educação, inclusive 12,3% das pessoas entrevistadas são titulares de um diploma de pós-graduação. 70 Tabela 4 - Nível de estatística Frequency FUNÇÃO Valid Percent Gerente 1 1,8 Coordenador 6 10,5 Supervisor 2 3,5 Outros 48 84,2 Total 57 100,0 Fonte: Pesquisa de campo (2013) Elaboração Própria Em relação à função, aparece grande proporção de funcionários na categoria Outros (84,2%). Na realidade, dentro desta categoria encontram-se, sobretudo, cargos de Assistentes Técnicos, Analistas e Auxiliares. Vale ressaltar que o questionário aplicado se restringe a um pequeno grupo de funcionários que trabalham no serviço administrativo no polo de Belém, onde se encontra a Refinadora. 7.2.3 Resultados sobre as 15 Afirmações (Questões Fechadas) A lista das 15 afirmações é conforme os indicadores do Instituto Ethos 3ª. Geração (2013), que são voltados para o público interno. O Instituto enfatiza como critério a gestão participativa, que aceita envolvimento dos funcionários na solução de problemas da organização; trabalho decente, que inclui cuidado com saúde, segurança e condições de trabalho; e os processos de gestão de pessoas relacionados ao desenvolvimento profissional de forma integral. A dimensão Gestão Participativa dos Funcionários aparece nas afirmações 2, 3,4 e 9. A dimensão Cuidado Com a Saúde figura na afirmação 6. A preocupação com o desenvolvimento profissional (Treinamento), na afirmação 5 e 7. O critério A prática voltada à Segurança do Trabalho, na afirmação 8. Além dos indicadores citados acima, figuram alguns pontos complementares: a) O primeiro o grau da aplicação das medidas, afirmação 1; b) A política da empresa em relação à discriminação no trabalho, afirmações 12 e 14; c) A questão do bem-estar dos funcionários, afirmação 11; d) A questão da preocupação com a política familiar, afirmação 10; e) A politica de remuneração, afirmação 13; f) A última afirmação, 15, é relativa ao compromisso da empresa com a comunidade local. 71 Estes aspectos foram mencionados para saber se a Responsabilidade Social da empresa leva em consideração os problemas e as expectativas de seus funcionários. Desse modo, refere-se a questão se a RSE da empresa é limitada aos dois grupos de interesse que têm relação contratual com a empresa, os funcionários e o grupo de agricultores familiares associados, ou se, além disso, a direção da empresa estima que ela tenha uma obrigação moral com a comunidade local (DONALSON; PRESTON, 1995). As Frequências das respostas na escala Likert, em relação às 15 Afirmações, são indicadas no quadro abaixo: Quadro 7 - Escala Likert AFIRMATIVAS Tudo o que é proposto como ação social pela empresa é cumprida. Os gestores da empresa escutam o que você tem a dizer. Sua opinião quanto ao que você faz é ouvida. A empresa é aberta a discussões A empresa pratica ações voltadas à educação. A empresa pratica ações voltadas à saúde. A empresa pratica ações voltadas à treinamentos. A empresa pratica ações voltadas à segurança do trabalhador. Você pode expor suas ideias que elas são ouvidas e aproveitadas. A empresa se preocupa com o futuro de seus filhos. A empresa tem compromisso com a sua qualidade de vida. A empresa tem compromisso com o não preconceito e a não discriminação no trabalho. Você tem acesso a boa política de remuneração, beneficio e carreira na empresa. A empresa faz diferenciação entre seus trabalhadores. A empresa tem compromisso e se preocupa com a comunidade local. Totalmen te em Desacord o -3 Em Desacord o -2 Algo em Desacor do -1 Indifere nte 0 17,5 7,0 19,3 17,5 7,0 15,8 Algo em Acordo 1 De Acordo 2 Totalmen te de Acordo 3 12,3 21,1 21,1 1,8 19,3 1,8 22,8 28,1 3,5 1,8 14,0 3,5 31,6 26,3 5,3 14,0 8,8 15,8 12,3 24,6 21,1 3,5 10,5 3,5 12,3 7,0 26,3 28,1 12,3 1,8 7,0 5,3 3,5 31,6 28,1 22,8 14,0 1,8 7,0 5,3 17,5 38,6 15,8 14,0 1,8 7,0 1,8 17,5 33,3 38,6 17,5 5,3 5,3 8,8 36,8 24,6 1,8 21,1 10,5 12,3 38,6 10,5 7,0 1,8 15,8 10,5 17,5 12,3 17,5 21,1 5,3 7,0 3,5 8,8 15,8 29,8 19,3 15,8 29,8 8,8 21,1 14,0 15,8 8,8 1,8 17,5 1,8 7,0 17,5 17,5 24,6 14,0 1,8 5,3 14,0 21,1 21,1 21,1 15,8 Fonte: Pesquisa de campo (2013) Elaboração Própria A partir dos resultados das frequências, apresenta-se em geral que as frequências mais altas são na escala a nível “Algo de Acordo” ou “De Acordo”. Por exemplo, sobre a 72 primeira afirmação “Tudo o que é proposto como ação social é cumprida”, nos dois níveis agrupam 42,2% das respostas; ou sobre a segunda afirmação, “Os gestores da empresa escutam o que você tem a dizer”, 50,0% das respostas são dentro dos dois níveis. Contudo, a análise das repartições das frequências indica que falta unanimidade e existe opinião divergente. Por exemplo: nas duas primeiras afirmações, 17,5% das respostas estão na categoria “Totalmente em Desacordo”. A lista das afirmativas quase constata resposta mais crítica sobre a política social da empresa. A quando da afirmação “A empresa se preocupa com o futuro de seus filhos”, só 28,3% das respostas figuram dentro os três últimos pontos da escala: “Algo em Acordo”, “De Acordo” e “Totalmente de Acordo”. O último ponto que se destaca na interpretação da tabela é relativo à afirmação “Você tem acesso à boa política de remuneração, benefício e carreira na empresa”, em que neste item se constata uma alta proporção das respostas que estão na categoria “Totalmente em Desacordo”. Isso indica que a maior insatisfação dos funcionários entrevistados se situa em nível da politica salarial. Gráfico 4 - Representação das Médias para cada uma das 15 afirmações Fonte: Pesquisa de campo (2013) Elaboração Própria O gráfico indica as médias das respostas sobre a escala Likert aos 6 pontos, que vai dar valor -3 para “Totalmente em Desacordo”, até valor 3 “Totalmente em Acordo”. 73 Na comparação das médias, figuram três afirmativas que recebem a melhor avaliação, onde as médias são mais altas, sendo elas: a) A empresa pratica ações voltadas à Segurança do Trabalhador (1,89); b) A empresa pratica ações voltadas à Saúde (1,32); c) A empresa pratica ações voltadas a Treinamento (0,89). De acordo com os resultados destes itens, os quais confirmam o conteúdo da política praticada pela empresa em nível de seus funcionários internos, a empresa se diferencia das empresas concorrentes locais com bastante iniciativa, em termos de Segurança, Saúde e Treinamento. Demonstram também a satisfação e a importância que os funcionários dispensam às práticas dessas ações em seu âmbito interno. Para Costa (2006), as ações de segurança e saúde no trabalho são iniciativas que unificam políticas com iniciativas de responsabilidades, procedimentos, processos e recursos, que precisam estar integrados ao negócio da organização para que ela atenda as exigências legais e demais partes interessadas, atendendo também a sua percepção filosófica e cultural, gerenciando as suas atividades com ética e responsabilidade social. Na concepção de Carvalho e Nascimento (2002), nas organizações o treinamento deve se apresentar como processo educacional que estimule o individua à compreensão e capacitação para a resolução de problemas, utilizando a influência do ambiente que o cerca, além de uma reconstrução pessoal das experiências, sejam elas pessoais ou profissionais. Assim, analisando conjuntamente as respostas dos trabalhadores e as considerações dos autores acima com em relação à saúde, segurança e treinamento, compreendemos que a empresa apresenta uma política coerente, transparente e responsável com seus funcionários. No entanto, a partir da preocupação da empresa no que se refere a esses indicadores, acreditase que a empresa favorece um ambiente propicio a melhorias em seu processo produtivo. Existem quatro afirmações que apresentam uma média negativa, evidenciada à política de remuneração e benefício (-0,89). Os três outros pontos são: a) A empresa se preocupa com o futuro de seus filhos (-0,72); b) Tudo o que é proposto como ação social pela empresa é cumprida. (-0,18); c) A empresa tem compromisso com a qualidade de vida (-0,11). Este conjunto de percepções negativas caracteriza a insatisfação que, além da questão salarial, concerne à politica familiar e às condições de trabalho. Inclusive, a política de recursos humanos da empresa é questionada, na medida em que se constata a percepção de que as propostas de ações sociais não são bem cumpridas pela alta direção. Conforme ratificam Melo Neto e Froes (2000), fatores como política de remuneração, programas de qualidade de vida, gestão participativa, programas de capacitação, politica de benefícios para funcionários e seus dependentes, assim como outros, motivam os 74 trabalhadores a produzirem com maior eficiência e qualidade; sobretudo, empresas que investem em RSI proporcionarão melhores condições internas de trabalho, satisfação pessoal e realização profissional. Laville (2009) corrobora com a ideia de que a gestão de recursos humanos é fator fundamental para construção de relações entre empregados e empregadores, cujo objetivo não se resume apenas a uma tendência simpática e humanista entre esses atores. Todavia, o RH é canal estratégico para a empresa, com o intuito de promover interesse mútuo para ambas as partes, haja vista que o funcionário realizado constrói empresas que funcionam. Alguns problemas decorrentes da insatisfação dos ex-funcionários nas organizações geram consequências como rotatividade de mão-de-obra qualificada, elevado grau de reclamações, greves e descontentamento. Muitos destes problemas ocasionam um impacto na saúde mental e física destes funcionários. De acordo com o Instituto Ethos (2013), a organização não pode se limitar a seguir somente o consolidado na OIT. É necessário ir para além da legislação, investir no desenvolvimento pessoal e profissional dos funcionários, reter talento, proporcionar boas condições de trabalho, bem como construir um ambiente propício para o estreitamento das relações entre todos na organização. As empresas devem estar atentas, dia após dia, nos comportamentos de seus empregados, que podem mudar rapidamente, bem como dar atenção as demandas exigidas pelo mercado. De acordo com os autores citados, compreende-se que, se em uma organização a dimensão da qualidade de vida for inexistente, não se obterá produtividade e lucros para ela. Qualidade de vida no trabalho traz bem-estar, torna o trabalho saudável, humano, portanto, seus fatores devem estar claros e nítidos. 7.2.4 Análise das Questões Abertas Por meio de questões abertas e respostas espontâneas, a coleta de dados da pesquisa também foi realizada por meio de entrevistas pessoais com ex- funcionários da empresa, o que irá demonstrar alguns problemas e dificuldades enfrentadas na organização, a partir da percepção dos entrevistados sobre alguns aspectos relacionados à responsabilidade social da empresa. A partir do roteiro de entrevistas, foram desenvolvidas análises não estatísticas para o aprofundamento do objeto em estudo. É importante frisar que os respondentes são ex-funcionários da empresa estudada, em decorrência de não ter sido autorizado fazer a pesquisa nas dependências da mesma. 75 A entrevista iniciou-se com a seguinte pergunta: Houve uma publicação na Agropalma que indica que na empresa ocorreu uma transformação voltada para um compromisso de Responsabilidade Social. Realmente isso aconteceu? Como resposta, os entrevistados alegaram não dispor de conhecimento de mudanças e transformações durante os anos trabalhados, que a empresa não atende a dimensão social, e que faz parte da cultura da empresa não gastar ou investir financeiramente em algo que não lhe traga retorno financeiro. Para Donalson e Preston (1995), as respostas da primeira pergunta confirmam a visão estreita e instrumentalista da empresa. Segundo os funcionários entrevistados, a direção privilegia o retorno financeiro para os acionistas, o que indica a partir das falas que a RSE ainda não está bem difundida aos seus funcionários, bem como o gerenciamento e monitoramento adequados ao projeto de RSE a serem implantados dentro da corporação. Por conseguinte, os trabalhadores foram questionados sobre o período em que trabalharam na empresa, como se davam as Relações Trabalhistas. Em suas falas expuseram que a política de promoção interna se concretizava a partir de aspectos de relações afetivas ou relações familiares, os quais tinham uma grande importância nos critérios de seleção; geralmente esse era o parâmetro usado por alguns gestores. Havia a preocupação com a regularização trabalhista, em função de a mesma estar passando por um processo de certificação; porém havia insatisfação por parte de muitos funcionários. As promoções eram feitas se o chefe gostasse do funcionário, o acordo coletivo (dissídio) nunca saía na data certa, as férias eram gozadas normalmente, as pessoas nas mesmas funções tinham salários muito diferentes. Para análise das respostas mencionadas, Silva e Greis (2007) acreditam que alguns gestores nas organizações consideram os funcionários como o maior ativo da empresa; estes devem ser tratados e valorizados a partir de suas capacidades. Contudo, na prática não é o que acontece muitas vezes na gestão de pessoas. A empresa precisa garantir que seus trabalhadores tenham boa qualidade de vida e de trabalho para que alcancem o sucesso tanto para a empresa quanto para eles próprios, e um ambiente em que se sintam motivados e envolvidos a oferecerem o melhor de si. Para Nascimento, Fey e Garcia (2008), a empresa precisa impetrar o equilíbrio entre trabalho, família e lazer, maior igualdade salarial, cumprimento dos direitos trabalhistas, capacitação adequada para os trabalhadores, entre outros. Com relação a questionamento sobre mudança no quesito RSE na organização, indagamos os entrevistados: por que tal mudança aconteceu? Eles responderam desconhecer 76 tais mudanças, alegando que a empresa pública no site suas certificações e suas ações internas, porém as mesmas não condizem com a realidade das responsabilidades sociais internas. Outros mencionaram que algumas mudanças ocorreram de forma gradual, e que as mesmas aconteceram por exigência de mercado; reforçaram que a implantação do sistema de gestão integrado foi um grande fator para expressar algumas mudanças na empresa. Em um dos relatos, evidenciou-se que não houve mudança devido à cultura da empresa e a permanência das ações conservadoras de gestores mais antigos na organização. “A política da empresa é só para dizer quem tem, mas não funciona. As pessoas indicam sugestões, a fim de auxiliar informações para a mudança, porém não são ouvidas” (Ex-funcionário). A partir dos posicionamentos acima, identifica-se o pensamento de Dunn (1998), no qual realça a função da empresa, quando socialmente responsável, atrai os consumidores e aumenta o potencial de vendas, gerando maiores lucros para os acionistas, além de ser um dos pilares de sustentação dos negócios. Para o Instituto Ethos 2013, a empresa responsável é aquela que possui a capacidade de ouvir os interesses das diferentes partes (acionistas, funcionários, prestadores de serviço, fornecedores, consumidores, comunidade, governo e meio ambiente), buscando atender os interesses de todos. Posteriormente, ocorreu por parte dos trabalhadores resistência a alguma mudança a nível Belém, São Paulo e Tailândia. Os entrevistados responderam que aconteceram mudanças em Tailândia em termos de gestão - diretores e chefes de departamento; estes tiveram que se adequar a uma nova realidade, e os que não se enquadravam eram demitidos. Relataram ainda que a empresa é dividida em três polos diferentes, porém pertencem a um mesmo grupo, só que agem como se fossem empresas diferentes, não se subordinam, fazem o que querem. Já para outro entrevistado, “Não houve implantação e nem melhorias sociais para funcionários. Portanto, não houve resistência, muito pelo contrário; a empresa perde bons funcionários por não investir em responsabilidade social interna”. (Ex-funcionário). A partir dos relatos acima, Hartman e Arnold (2006) consideram, a partir de sua análise sobre o desvio positivo, que as empresas, por meio dos seus líderes, de forma integrada, devem tomar decisões mais éticas e responsáveis, referindo-se a conduta dos empresários a engajarem sob uma direção que despontem em implicações positivas do ponto de vista ético, social e ambiental, de forma a melhorar a posição estratégica da organização frente a seus clientes internos e externos. Srour (1998) argumenta que a RSE deve ser compreendida como uma ação para o momento presente como uma direção para o futuro, constituindo uma cidadania organizacional no âmbito interno da empresa para com seus 77 trabalhadores, e para a sociedade e comunidade de seu entorno com a implementação de direitos sociais. Outros problemas percebidos pelos entrevistados foram com relação à avaliação das Ações de Responsabilidade Social Interna da empresa. A partir da pergunta “Como você avalia as ações de RSI da empresa?”, obteve-se como respostas os seguintes relatos: Péssima! Não existem politicas eficazes de responsabilidade social para os funcionários e programas motivacionais. “A empresa não investe na qualidade de vida, exige muitas horas de trabalho dos colaboradores, plano de cargos e salários não funciona, existe diferença de tratamento e não existe postura ética e adequada da maioria dos gestores”. (Ex-colaborador). Acredito que houve algum avanço, mesmo de forma incipiente, mas acredito que a empresa precisa num todo incorporar e praticar o sentido de Responsabilidade Social. (Ex-colaborador). Não mudou nada, o trabalho do campo é desumano, as relações sociais, trabalhistas e humanas não são levadas em consideração em relação ao produto final. (Excolaborador). (Informação verbal).3 Fazendo referência aos relatos apresentados, preconizam Melo Neto e Froes (2001) que a RSI se dá pelo comprometimento dos grandes empresários em adotar uma conduta ética, contribuindo para a qualidade de vida de seus empregados e seus dependentes, da sociedade e da comunidade do entorno, bem como para o desenvolvimento socioeconômico como um todo. Por sua vez, Furtado e Pena (2006) mencionam que as principais ações aplicadas das empresas devem ser a preservação dos direitos trabalhistas, os programas de remuneração e participação nos resultados, a gestão participativa, o respeito aos direitos humanos, a gestão das condições de trabalho, que envolve questões como jornada de trabalho, entre outros. Foi solicitado aos entrevistados apontar as ações de Responsabilidade Social Interna que eles acreditam ser importantes que a empresa adote em suas práticas organizacionais. Para implantar ações ou programas de RSI, a empresa primeiramente deve respeitar e ter uma postura gerencial padrão, como: implantação de cargos e salários, agregar benefício como vale alimentação, assistência odontológica, cursos, respeito no horário de saída dos funcionários, capacitação moral dos gestores. (Ex-funcionário). Primeiramente, o respeito, o que abrirá espaço de diálogos e a comunicação, a qual é de extrema importância para o desenvolvimento para a prática de outras ações. (Exfuncionário). Valorizar a mão de obra do funcionário, fazer com que ele se sinta parte do processo, tenha participação no lucro final e valorizar a sua família, vendo a mesma como suporte para que o colaborador continue produzindo com excelência. (Exfuncionário). (Informação verbal).4 3 4 Entrevista realizada em outubro de 2013 com ex-funcionários da empresa. Entrevista realizada em outubro de 2013 com ex-funcionários da empresa. 78 A partir das falas acima corroboram as ideias defendidas por Caetano, Ashley, Giansanti (2006). A responsabilidade interna está focada no público interno da empresa; esta deve proporcionar um ambiente de trabalho saudável e propício à realização profissional das pessoas onde a valorização e reconhecimento dos mesmos são essenciais, indo além da obrigação de respeitar as leis, pagar impostos e observar as condições adequadas de segurança e saúde para os funcionários. Sendo assim, a empresa aumenta sua capacidade de recrutar e reter talentos, contribuindo para o seu sucesso numa época em que criatividade e inteligência são recursos valiosos. A correta gestão da responsabilidade social interna proporciona um aumento na produtividade dos funcionários da empresa, e se essa for bem conduzida, repercute de forma positiva na valorização da empresa no mercado, o que na visão de Melo Neto e Froes (2001) são essenciais às práticas efetivas de ações de responsabilidade social interna. 79 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS Nota-se por meio dessa pesquisa que a motivação precisa ser autêntica com relação às práticas de responsabilidade social, estando estas intimamente ligadas aos valores internos, ou seja, a missão e a visão da empresa, e ao desejo aberto de beneficiar a sociedade. Compreende-se que ações sociais duradouras bem planejadas, com base na responsabilidade social e ética, transmitidas de forma apropriada, trazem frutos longínquos. O fator humano, considerando a tríade Empresa, Estado e Sociedade, é o início para este tipo de reflexão, pois normas e leis só existem em decorrência de pessoas que as decodificam e aplicam, trazendo como fator intermediador entre discurso e prática o princípio de valores que dão sustentação às motivações mais intensas e, na maioria das vezes, não propagadas por aqueles que são responsáveis em estabelecer e gerir ações de responsabilidade social interna. Diante disso, coloca-se em pauta como os gestores estão sendo preparados quanto a sua capacidade de reflexão sobre a realidade humana e comunitária contemporânea. Portanto, buscou-se com este trabalho, por meio da visita de campo e literaturas levantadas, relatar conceitos de responsabilidade social e suas práticas, principalmente no âmbito interno, discutindo o sentido da estratégia subjacente à política da empresa, impetrando os objetivos e a problemática propostos, com a finalidade de comprovar com pesquisa empírica como a RSI poderá contribuir para o aumento da produtividade da organização e a promoção da qualidade de vida dos funcionários. Em comparação às praticas de exploração dos funcionários, evidencia-se por meio deste estudo, na Agropalma, que podemos identificar um “desvio positivo”. Desvio contrário a uma concorrente, empresa Marborges, que fez o objeto de uma publicação denunciando práticas trabalhistas muito precárias (GLASS, 2010). Inclusive, para preservar sua imagem, a direção da Agropalma tomou a decisão de excluir da lista de seus fornecedores o fazendeiro Altino Coelho Miranda, porque o nome dele foi incorporado no cadastro do Ministério da Indústria e do Emprego relativo às empresas e pessoas que praticam condições de trabalho análogas ao escravismo (NOTA..., 2013). Este desvio positivo em relação às práticas locais de RSI é reconhecido pelos funcionários entrevistados quanto às ações da direção, nas áreas da saúde, segurança e educação a favor deles. Contudo, os resultados da pesquisa indicam que a poliítica de responsabilidade social interna da empresa tem ainda bastante deficiência sobre três pontos: 80 a) A política de remuneração e de benefícios; b) A politica de promoção interna; c) A prática do diálogo com os funcionários e a implementação de uma gestão mais participativa. Por esse viés, esta pesquisa, de natureza qualitativa, não tem a pretensão de afirmar que os resultados apresentados são representativos das percepções da totalidade dos funcionários. Mas, apesar disso, ela traz interrogações sobre a questão da adequação entre os discursos e as reais práticas de uma política de responsabilidade interna. Portanto, dentre as contribuições das pesquisas acadêmicas na área da responsabilidade social das empresas, é preciso ampliar as investigações para incluir as percepções dos grupos de interesse nas avaliações dessas políticas. Comumente, evidenciamse estudos em RSE que aplicam a metodologia de estudo de caso limitando-a para a reprodução do ponto de vista dos gerentes e o conteúdo das publicações (relatórios de sustentabilidade, por exemplo), sem confrontar as declarações das empresas com as reais práticas. Esta pesquisa, focada sobre as percepções de uma amostra de funcionários, tem como objetivo fazer esta ligação ao nível da política de responsabilidade social interna da Agropalma. 81 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACOSTA, Byron; PADULA, Antonio Domingos; WEGNER, Douglas. Empresas que possuem certificações são mais inovadoras? uma análise no setor de produção de rosas no Equador . In: SIMPOI, 2009. Anais... [S.l.: s.n.], 2009. Disponível em: <http://www.simpoi.fgvsp.br/arquivo/2009/artigos/E2009_T00049_PCN24983.pdf>. Acesso em: 15 out. 2013. AGÊNCIA BRASIL. Agricultura familiar é mais afetada pelas mudanças do clima, aponta EMBRAPA. 2013. Disponível em: <http://www.gta.org.br/newspost/agriculturafamiliar-e-a-mais-afetada-pelas-mudancas-do-clima-aponta-embrapa/>. Acesso em: 15 out. 2013. ALIGLERI, L.; ALIGLERI, L. A.; KRUGLIANSKAS, I. Gestão socioambiental: responsabilidade e sustentabilidade do negócio. São Paulo: Atlas, 2009. ASHLEY, P. A. Ética e responsabilidade social nos negócios. 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Realmente isso aconteceu? Questão 2: Quando você entrou na empresa¿ Nessa época como eram as Relações Trabalhistas? Questão 3: Com relação a questionamento sobre mudança no quesito RSE na organização, por que você acredita que tal mudança aconteceu? Questão 4: Aconteceu resistência, por parte dos trabalhadores, a alguma mudança a nível Belém, São Paulo e Tailândia? Questão 5: Como você avalia agora as Ações de Responsabilidade Social Interna da empresa? Questão 6: Quais ações de Responsabilidade Social Interna que você acredita ser importante que a empresa adote?